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Capítulo 1.



Cheguei em casa às 4 horas da tarde. Estava muito cansado, pois acordei cedo para vender meus quadros por aí. Mal coloquei os pés em casa e me joguei na cama de roupa e tudo. Acordei às 7 da noite, olhando para os lados tentando ver algum vestígio do sol, mas nenhum canto do meu apartamento estava iluminado. Eu me encontrava numa total escuridão, exceto pelas luzes da rua.
Ainda zonzo de sono, levantei e acendi as luzes, determinado a acabar a última tela. Uma encomenda feita pelo vizinho de cima para o aniversário da sua sobrinha mais nova.
O pincel deslizava lentamente sobre a tela branca com desenhos de um castelo e uma grande floresta cheia de fadas e outros tipos de criaturas mágicas logo atrás, em carvão que eu fizera 2 dias antes, deixando um pouco de vida em cada canto. A tela, antes com aparência de morta, criava vida, colorida como um mundo de uma criança deve ser. Escolhi cada cor caprichosamente, imaginando o sorriso que brotaria nos lábios da criança.
Tinta azul acabou respingando na minha regatava branca, tirei e joguei em algum canto. Uma hora essa blusa se tornaria pano de chão como tantas outras.
A maioria dos quadros eram vendidos nas ruas, mas de vez em quando surgiam clientes batendo na porta porque acabaram gostando do quadro pendurado na parede na casa de um amigo.
Seria hipocrisia da minha parte dizer que ganhava muitas libras por dia e que isso me permitia freqüentar lojas chiques, mas isso nunca foi considerado um problema, pelo menos não até o dia do aluguel. Ter o prazer ao ver uma tela pronta era muito maior do que maconha para um viciado. A arte nasceu comigo, penetrando em minhas veias, como se para viver eu dependesse dela como o ser humano depende do oxigênio para respirar. Às vezes as inspirações aconteciam em sonhos ou até mesmo atravessando a rua para comprar pão. Instantânea e natural.
Nunca fui o exemplo de organização, não seria diferente vivendo sozinho onde tinha todo o espaço que me era permitido. Quadros prontos, telas em branco e potes de tintas espalhados por todos os lados, mas eu me sentia orgulhoso em chamar aquele lugar de meu. Um lugar bem arejado, com um médio ambiente dividido entre sala, quarto e cozinha, com o banheiro em outro cômodo.
Quando terminei de pintar um pônei que caminhava a longa estrada até o castelo, a campainha tocou e o pincel foi posto no descanso do cavalete. Peguei um pano já encardido para limpar a tinta ainda fresca nas mãos. Ajeitei o cabelo rapidamente no espelho e olhei pelo olho-mágico. Não vi ninguém. Abri a porta varrendo o corredor escuro e estreito com os olhos, parando em um vulto uma pessoa que parecia perdida olhando para os números dos apartamentos.
- Precisa de ajuda? – Perguntei, botando a cabeça para fora, a fim de chamar atenção.
Por um breve momento ela ficou assustada, mas depois soltou um suspiro, vindo em minha direção.
- Você sabe se tem um pintor nesse andar? – A voz era uma mulher. Doce e calma. Os barulhos dos saltos ecoavam pelo corredor enquanto ela caminhava em minha direção.
- ? - Eu tentava enxergar melhor seu rosto, mas ela ainda não chegara perto o suficiente.
- É, ele mesmo.
- Sou eu. O que deseja?
- Meu amigo tem um quadro na casa dele que foi pintado por você. Gostei muito e queria fazer um auto-retrato. – Eu apertei num interruptor para iluminar o corredor, mas a luz não foi acesa.
- Entre. – Abri a porta e saí do caminho para que ela passasse. – Desculpe a bagunça. – Pedi arrumando algumas telas espalhadas pelo chão.
Ela parou no meio da sala e se virou para que eu pudesse vê-la. Belíssima, com cabelos pretos presos em um rabo-de-cavalo. A blusa que usava destacava seus seios volumosos e seus olhos brilharam quando sorriu. Me olhou de cima abaixo. Meus olhos procuravam para o que ela olhava e percebi que só vestida minha calça jeans.
Eu indiquei o sofá de couro preto para que ela se sentasse enquanto vestida uma blusa azul.
- Então.. – Eu comecei sentando no sofá. – Como posso te ajudar? Ela olhou para mim e depois para a vista da rua. Tive a impressão de que procurava a maneira certa de começar a conversa.
- Você já pintou essa vista não pintou? – Ela apontou para a janela.
- Pintei, dei de presente ao..
- ! – Ela completou a frase antes de mim, rindo pela minha cara de surpreso. – Eu vi o quadro na casa dele que foi pintado por você. Gostei do seu trabalho. Ele me contou que era de um amigo, me deu seu endereço e aqui estou.
- Ele deve ter lhe dito que eu não estou fazendo quadros por fora, ando muito ocupado com uma exposição.
- É, ele disse, mas eu queria conversar com você mesmo assim.- Pensei por um instante. Aquilo poderia ser rápido, mas ainda tomaria o pequeno tempo que eu precisava. Não poderia fazer o que ela pedia.
- Eu não estou com tempo, me desculpe. Mas conheço algumas pessoas que são muito boas, posso te passar o telef..
- Não! Eu quero que você o faça, digo, o retrato será algo íntimo – Ela corou ao dizer isso. – e pela suavidade que eu vi no quadro da casa de , tenho certeza que ele ficará do jeito que eu imagino com você fazendo.- Sinceramente eu não queria fazer isso, eu sentia que não podia fazê-lo.
- Eu sint..
- Pago o quanto for!
Eu já estava ficando irritado. Ela não me deixava terminar minhas frases, odiava quando faziam isso. Odiava quando insistiam para pintar o que não queria. Vivia daquilo? Vivia, mas não é dinheiro que compra inspiração, vontade de pintar, senão qualquer que desenhasse bem seria rico. Eu não queria ser rico, isso nunca foi o meu objetivo. Sempre pintei o que gostava e ganhava o merecido por isso.
- Olha, eu não sei nem o seu nome – Eu encarava seus olhos castanho-claros. – mas eu realmente não posso, nem por quanto você quiser me pagar, desculpa. Agora se não se importar, eu tenho que terminar aquele ali. – Apontei para o quadro cheio de fadas e unicórnios.
Me levantei do sofá e caminhei até a porta, sendo seguindo por ela. O silêncio tomou conta da ambiente, e eu não sabia ao certo, mas aquilo me incomodou. Abri a porta e dei espaço para ela passar.
- Você teve tempo para fazer esse quadro infantil. – Ela se virou para me encarar, aborrecida. - Vou deixar o meu telefone com você, caso mude de ideia. A propósito, meu nome é . - Ela não me deixou falar e seguiu até as escadas.

Poucas horas depois o quadro já estava terminado. Fui até a ‘cozinha’, peguei a garrafa de Black Label já aberta, despejei o conteúdo dentro de um copo com gelo, e voltei a encarar o quadro encomendado. Isso era uma mania que eu sempre tive quando terminava um quadro, por mais bobo que ele fosse como era o caso desse.
Meus olhos passavam por toda a tela, me fazendo rir dos desenhos que havia feito, parando em uma menina que passava a mão na crina do unicórnio. Eu encarei o desenho por um tempo e constatei que ela não se parecia nenhum pouco com a sobrinha do meu vizinho. Na verdade nem com uma menina. Eu estava confuso. Não podia ter pintado a mulher que acabara de conhecer e muito menos não estando ciente disso.
Cheguei perto do quadro e toquei com as pontas dos dedos o rosto da "menina". Os longos cabelos, os traços finos do rosto.. Tudo era daquela mulher, lógico que não estava idêntica, mas eu sabia que era ela. Alguma coisa me dizia isso. Mas na verdade eu prefira a mulher de verdade. Seus olhos eram muito mais claros e brilhantes..

Resolvi não sair àquela noite, nem terminei a bebida do meu copo. Só queria deitar em minha cama e relaxar um pouco. O dia havia sido muito cansativo e a visita acabou mexendo comigo muito mais do que deveria.
Não consegui dormir. Me movimentei tanto na cama, que o lençol acabou soltando um pouco. Mesmo tentando ignorar, não saia da minha cabeça por alguns dias. Aquele pedido dela não havia mexido só com o meu eu consciente, mas o meu inconsciente também. Tive sonhos um atrás do outro, todos com ela. E eu não conseguia entender o motivo.

Capítulo 2.



Na quarta-feira, ainda com aquele pedido martelando na minha cabeça, quando finalmente o sono parecia que havia chegado, o sol nasceu e foi direto pra o meu rosto. Tinha esquecido de fechar as cortinas antes de deitar. Revirei-me na cama para tentar cobrir meus olhos, mas não adiantou. A impressão que eu tive foi que mesmo com as palmas das mãos sob meus olhos, a luz do sol passava entre as pequenas aberturas, parecia que o sol não iria me deixar dormir mais.
Sentei na cama e olhei para o relógio na cabeceira, ainda eram 7 horas da manhã. Levantei e fui até a geladeira, tomei o leite quase acabado pela caixa mesmo. Meus olhos vagaram pelo apartamento e pararam no quadro. Olhei para ele por minutos que se observados pelos olhos de outra pessoa, parecia que eu estava procurando por alguma coisa. Toquei na pequena menina-mulher e decidi. Decidi que faria o bendito auto-retrato que havia me pedido.

Após andar um bom tempo de um lado para o outro na sala com o papel e o número de anotado, tomei coragem e disquei. O telefone tocou algumas vezes e quando eu estava preste a desligar quando uma voz aveludada atendeu, fazendo meu estômago embrulhar e querer desligar o telefone na mesma hora. Estava me comportando como um adolescente. Respirei fundo, rindo de mim mesmo e tornei a ligar.
- Alô? – Ela disse me deixando desconsertado sem nem conseguir responder. Que diabos estava acontecendo comigo? – Alô? Tem alguém aí?
- ? – Minha voz saiu mais baixa do que eu pretendia. – Sou eu, .
- Nossa.. – Ela pareceu surpresa. – Não imaginei que você me telefonaria.
- Nem eu. - Eu falei mais para mim do que para ela. – Eu estive pensando se você ainda quer que eu faça o seu auto-retrato.
- Uau, o que te fez mudar de ideia? Arranjou tempo?
- Sim. Estava olhando alguns quadros, há alguns atrasados, mas não são muitos. Acho que consigo encaixar você.
- Sério? Ah, que ótimo! Quando podemos começar?
- Pode ser no sábado de manhã aqui em casa? Tenho que adiantar 2 quadros e não vou ter tempo nem de respirar.
- Por mim, tudo bem.
- Então te espero às 10 horas.

Parecia que o tempo insistia em demorar a passar só para me torturar no dias seguintes. E eu não sabia a explicação de tanto nervosismo e ansiedade. Uma vez me peguei tendo um frio na barriga só de imaginar entrando no meu apartamento.

Frio na barriga foi exatamente isso que eu senti ao ouvir a campainha tocar naquele sábado. Respirei fundo e caminhei até a porta passando as mãos pela camisa que estava um pouco amarrotada. Parei enfrente a porta e olhei pelo olho mágico, uma frustração tomou conta de mim. Não era que estava parada e sim..
- Olá . - Eu falei de mau humor e me virei. Ele entrou e bateu a porta atrás de mim.
- Esse humor todo é por me ver? Fico lisonjeado.
- Desculpe, esperava outra pessoa.
- É, reparei. Dá pra sentir o perfume no começo da escada. O que anda fazendo? Nunca vi esse lugar tão arrumado. - Ele andava pra lá e pra cá verificando o apartamento como se fosse minha mãe avaliando o meu desempenho na arrumação. - Está esperando quem?
- Uma pessoa.
- Quem é ela? É alguma nova ou eu a conheço?
- De onde você tirou a ideia de que seja uma mulher? - Eu sentei no sofá e foi até a geladeira pegar um copo de água.
- , eu te conheço. Anda, fala, quem é ela? - Ele sorriu. Sabia qual era a minha resposta e nem esperou que eu fizesse. - É a , não é? Soube que você vai pintá-la.
- É. Vou - Eu respondi sem graça.
- Pode deixar que eu não vou atrapalhá-los, só vim te chamar para jantar daqui a duas semanas na minha casa. vai fazer um jantar para alguns amigos e vai estar lá, provavelmente.
- Você veio me chamar para um jantar que vai acontecer daqui a duas semanas?
- Na verdade eu estava aqui por perto e resolvi aparecer. E se eu não te avisasse com antecedência e aparecesse algum compromisso, iria me matar, então você já está avisado. Além do mais, o padrinho não pode ser o último a saber das coisas. - Ele colocou o copo na pia e abriu a porta. estava com a mão levantada para bater, levantei em um pulo como se a mola do sofá estivesse me machucando. Ela olhou para e depois para mim. – Olá, , como vai? - passou por ela e a empurrou para dentro.
- Olá. - Ela respondeu olhando pra mim. - Desculpe a demora.
- Anh... Tudo bem. - Eu alcancei a porta e indiquei as escadas para . - Vai logo. - Sussurrei.
- Boa sorte. - Ele sussurrou em resposta e depois falou em tom normal. - , não sei se já falou com você. Vamos fazer um jantar na minha casa para alguns, sinta-se convidada.
- Ah, claro.
- Tchau. - Ele falou e deu uma piscada para mim como se me desejasse sorte mais uma vez.
- Então.. – Eu coloquei a mão nos bolsos sem saber o que fazer. – Você quer chá? Acabei de fazer.
- Eu aceito.
- Você pode se sentar se quiser. – Eu indiquei uma poltrona, pois ela estava parada no mesmo lugar e na mesma posição desde que chegara. Ela assentiu e se acomodou, parecendo um pouco envergonhada, os braços cruzados por cima da bolsa e nunca, jamais, olhando para mim.
Entreguei a caneca com o chá e sentei no sofá. Ela tomou um pouco, mas eu nem toquei no meu. Estava prestando a atenção em cada detalhe do rosto dela. Seus olhos eram muito mais claros do que eu havia percebido. Sua pele era morena, bronzeada, como se fosse à praia todos os dias. Dessa vez os cabelos pretos estavam soltos, eram um pouco abaixo do busto, ondulado nas pontas e com uma franja de lado. Sua boca era carnuda e parecia que havia sido desenha minuciosamente..
- ? – Eu escutei meu nome e sacudi a cabeça para voltar à realidade. – Aconteceu alguma coisa? – Com certeza ela percebeu que eu a fitava.
- Não, eu só estava pensando. Quer mais chá? – Eu perguntei quando ela me entregou a caneca.
- Não, obrigada.
- Você ainda não me disse como quer o quadro, só disse que é um auto-retrato.
- Bom, é meio complicado. – fez uma careca e olhou para os próprios pés.
- Complicado?
- Eu quero que você me pinte nua. – Ela disse de repente, mordendo o lábio inferior.
- Como? – Eu achei que estava escutando mal. – Fazer um quadro seu nua?
- É. – Ela cobriu o rosto com as mãos - Eu era adolescente quando vi o Titanic, e bom, fiquei fantasiando várias coisas. Sempre achei lindo aquele filme, mas em particular quando o Jack pinta a Rose. A idéia de fazer um quadro parecido não saiu da minha cabeça, mas eu não tinha coragem. Não é exatamente um nu, é um seminu, entende?
- Bom, é.. – Eu não sabia exatamente o que dizer. Como iria agir diante daquela mulher nua no meu apartamento? – Você pensou em que posição quer? Quero dizer... – Eu me apressei a dizer quando ela levantou uma sobrancelha. – Como quer ficar?
- Não sei... Só não quero que fique uma coisa vulgar. - Eu olhei para o apartamento todo imaginando um lugar. Pensei na janela, mas aí iria ficar mais implícito do que ela queria, a única alternativa foi...
- A minha cama. – Eu levantei e fui até o guarda roupa pegar um lençol de seda creme. Estendi por cima da cama e depois comecei a desarrumá-la. – O que você acha?
- E sua namorada chegar? Ela pode não gostar.
- Eu não tenho namorada. – sorriu e foi até a cama.
- O que acha?
- Eu acho isso tão estranho. – Ela alisou o lençol e olhou pra mim. – Eu sei que você é um profissional, mas ainda sim é estranho ficar nua na frente de um homem que mal conheço.

Se ela acha isso estranho, imagine a minha situação vendo aquela linda mulher nua na minha cama e não poder fazer nada..

- Você pode ficar deitada e se cobrir um pouco com o lençol. – Eu sugeri e ela pareceu aliviada com a idéia.
- Ok. – olhava da cama pra mim sem parar. – Onde posso me trocar?
- Ali. – Apontei para o único cômodo separado. – Você pode usar o meu roupão, se quiser.
- Ah, obrigada.

Ela demorou lá dentro. Com certeza estava tão envergonhada quanto eu. A idéia de ficar nervoso por ver uma mulher nua era ridícula.
Abri mais uma garrafa de Black Label. Tomei dois copos e sentei em uma cadeira para esperá-la.
Um 'hãm-hãm' tirou minha atenção do chão e fez com que eu olhasse pra frente. estava com meu roupão, à mão junta ao próprio peito e mordendo o lábio inferior.
Isso com certeza seria mais difícil do que eu imaginava.
- Er, p-pode se deitar aqui. - Apontei para a cama.
Ela parou perto da cama e olhando para mim. Eu virei o rosto para que ela despisse o roupão e se ajeitasse na cama.
- E agora? - Olhei para o roupão no chão e depois para ela encolhida na cama com o lençol de seda sob o corpo.
- Você pode ficar como quiser. - Evitei olhá-la, pegando algumas folhas de papel e o meu lápis para fazer o esboço do desenho.
Ela estava irresistivelmente maravilhosa deitada com o lençol enrolado no corpo. O contraste da sua pele com a cor da seda era tão linda quanto um pôr-do-sol na praia num dia de verão. Seus cabelos estavam totalmente soltos e jogados pela cama, a cabeça inclinada em minha direção, os olhos fixos nos meus.. O silêncio era um grande ajudante quando eu pintava, mas não nesse caso.
- Você pode ajeitar o seu braço esquerdo? - Pedi depois de reparar que o braço tampava uma parte do seu rosto que o sol iluminava fracamente.
- Assim?
- Não, mais pra cima.
- Melhor?
- Não, um pouco mais para baixo.
- E agora?
- Deixa que eu te ajudo. - Caminhei em sua direção e parei enfrente a ela - Quer dizer, posso? - Perguntei meio sem graça.
- Claro, você sabe o que está fazendo.
Uma corrente elétrica percorreu do braço de até a minha mão quando eu a toquei levemente. Ela pareceu sentir a mesma coisa e ajeitou-se um pouco no mesmo momento que sorriu. Meu coração ficou acelerado quando vi que o lençol deixou que cobrir uma parte de seu seio. Ela não notou e eu não me atrevi a dizer nada com medo de que ela pudesse pensar alguma besteira. Ignorei, ou pelo menos tentei, tal fato.
Voltei à cadeira. Não porque eu era quem estava fazendo, mas o desenho estava realmente ficando lindo – Por mais que fosse só o esboço – As curvas delas por mais simples que fossem, davam suavidade ao desenho. Não estava vulgar como eu achava que ficaria; pelo contrário, ficou leve, agradável e com um traço feminino forte.

Com o passar dos dias, o desenho ficou pronto e comecei a pintá-lo. Nesse tempo nós, eu e , ficamos muito amigos. Marcamos de sair algumas vezes e descobri a mulher incrível que ela é. A cada sorriso que ela me dava, meus pêlos da nuca arrepiavam-se e eu tinha que conter o meu impulso de beijá-la.
Quando estava com ela, esquecia de todo o resto. Não sentia mais vontade de sair e voltar para casa com alguém, transar só por transar. achava que era isso que estava mexendo comigo... "A falta de sexo está te deixando louco" era o que ele sempre dizia.
É, eu sei, ele é um babaca.
As duas semanas se passaram rapidamente, e quando me toquei, já era o último dia de retoques no quadro. Eu tentei de todas as formas adiar aquele dia, não queria me afastar de agora que estávamos nos conhecendo tão bem. Hoje mais do que nunca.
- Está maravilhoso, ! – Ela exclamou enrolada somente no lençol de seda, quando viu o quadro quase pronto.
- Ainda preciso dar alguns retoques, mas obrigado pelo elogio. – Tentei de todas as formas conter o meu sorriso, mas ainda sim ela conseguiu vê-lo e sorriu de volta para mim.
- Já volto, vou colocar minha roupa. – Ela avisou e saiu correndo para o banheiro com seu vestido rodado azul. – Você vai no jantar hoje? – Ela perguntou depois de certo tempo, ainda dentro do banheiro.
- Não sei... Não estou com muita vontade. – Sentei na frente da cama para esperá-la.
- Vontade eu estou, mas não conheço ninguém. – Ela saiu ajeitando o decote do vestido e eu fiquei bobo ao ver que mesmo simples, ela continuava linda. – Por que não vamos juntos? Assim fazemos companhia ao outro.
- Tudo bem. - Me levantei para abrir a porta. – Pego você às 8 horas, tudo bem?
- Ok. – Ela parou no caminho para a porta, me entregando um papel. Eu o abri e vi um endereço que provavelmente seria o dela. continuava parada, me encarando. Cheguei a abrir a boca para perguntá-la se precisava de alguma coisa, mas ela foi mais rápida. – Hm... Então até mais tarde.

Capítulo 3.



Ainda eram 18:00 horas e o tempo não passava. Eu estava ansioso, parecia meu primeiro encontro. Procurava desesperadamente alguma roupa descente para vestir e nada prestava. “Nota mental: comprar roupas, urgente!”. Acabei por pegar uma calça jeans, uma camisa social branca e uma jaqueta preta, joguei tudo na cama e fui tomar banho.

Eram 20:15 quando estacionei em frente à casa de . Procurei pelo celular para avisá-la que havia chegado quando a porta da frente se abriu. Eu já iria sair do carro quando vi um cara saindo. Ele era um pouco mais alto que ela o que a fez desaparecer no abraço que ele lhe deu. Um sentimento nada agradável surgiu em mim e uma dor terrível na mão direita também, maldita falta de alto-controle, tinha acabado de socar o volante.
ficou olhando-o até o carro fazer a curva. Ela estava mais linda que o normal, se isso ainda era possível, usando uma calça jeans justa, sapatos de salto alto, uma blusa sem mangas e mais comprida do que normalmente com gola alta. Tinha feito alguma coisa no cabelo, ele estava preso num coque. Esperei que ela entrasse novamente para ir até a porta. Mas na verdade minha vontade era de acelerar e voltar para casa. Se ela queria tanto ir, que chamasse seu tal amigo para levá-la!
Bufei e tirei esse pensamento da cabeça, afinal nós nunca tivemos nada e eu havia prometido ao que iria ao jantar. Toquei a campainha e logo ela veio atender.
- Oi, ! – Ela sorriu e seus olhos brilharam. Quase perdi o controle.
- Oi. – Disse secamente e seu sorriso deu uma vacilada.
- Só vou pegar minha bolsa e apagar a luz da cozinha... Quer entrar?
- Não, vou esperar no carro. – Ela ia dizer alguma coisa, mas eu simplesmente me virei e voltei para o carro de onde eu nem deveria ter saído.
Ela demorou ou então eu estava tão fulo da vida que pensei isso. Sentou ao meu lado com o mesmo sorriso que me atendeu na porta. Ela parecia muito animada... Fiquei imaginando se o motivo era o tal homem misterioso.
Não abri a boca durante todo o trajeto. Ela tentou puxa conversa, mas minhas frases eram monossilábicas. acabou desistindo.

Durante todo o jantar tentei chamar para termos uma conversa, mas sempre o chamava ou então algum convidado chegava. Ambos estavam radiantes. Nunca havia visto mais feliz, a não ser no dia em que conheceu . Às vezes chegava a sentir inveja desse amor que um tem pelo o outro.

sem dúvida era a segunda mais bela do jantar, usando seu vestido tomara-que-caia estampado nas cores azul e branco. Só não era tão bela quanto .
Estava me sentindo o cara mais babaca do mundo. estava tento um caso com outro cara e eu continuava babando por ela! Mesmo com alguma coisa na minha mente dizendo que aquilo era besteira.
- , você quer beber alguma coisa? – perguntou, estendendo um copo de vinho branco para mim.
- Não, , obrigado. – Abaixei a cabeça e fitei meus pés quando passou perto de mim e nossos olhares se cruzaram. sentou na cadeira ao lado e pôs o copo na mesa.
- Aconteceu alguma coisa? Você não está com os meninos... Eles estão te esperando.
- Estou cansado, só isso. – Ela colocou a mão sob a minha e apertou num gesto reconfortante.
- Você parece triste, vou chamar o para vocês conversarem. Talvez você se abra com ele. – Ela se afastou e eu esperei pelo . Ela estava certa, precisava me abrir com ele.
- Ei, cara. – Um risonho me chamou. – Vamos conversar lá fora, aqui tem muita gente.
Obedeci sem abrir a boca. se ajeitou num banco de madeira da varanda, dando alguns goles no seu copo cheio de vinho e eu continuei em pé.
- Brigou com a ? – Ele perguntou, mas não deixou que eu respondesse. – Ela também não parece nada bem.
- Ela tem outro, ! Outro! – Andei de um lado para o outro, indignado. – Como isso? Ela nunca comentou comigo que tinha algum namorado.
- Ela deveria? – A pergunta saiu irônica. – Ora, , vamos ser francos, você é lerdo com as mulheres. Ela sabe sobre o seu interesse?
- Cla.. Não. – Respondi nervoso. – Mas é óbvio, não é?
- É. – Ele concordou e tomou mais um gole. – Talvez ela seja tão lerda quanto você. Aí meu amigo, fodeu. Como você sabe que ela tem outro se ela nunca comentou com você?
- Porque quando eu parei na porta da casa dela hoje, um homem saiu de lá. Eles se abraçaram e você tinha que ver o tamanho do sorriso dela quando abriu a porta pra mim! Ela estava feliz por tê-lo visto! Com certeza tiveram uma tarde de sexo intenso..
- , você viaja demais sabia? Nem ao menos sabe quem é o cara, pode ser o irmão dela..
- Ela é filha única.
- Que seja! Você não pode ficar com essa cara a noite toda. Ela veio com você porque quis ninguém a obrigou, converse com ela, diga sobre o seu interesse. Além do mais, hoje é meu grande dia! Não pode ficar feliz pelo seu melhor amigo?
- Desculpe, . Essa história mexeu comigo, é claro que eu estou feliz por você. Mas seu grande dia ainda não chegou.
- Bom, estamos a caminho dele, não estamos?
- Sim.
- Então. – Ele se levantou e segurou meu braço. – Vamos lá pra dentro, você vai beber e dançar um pouco com . Divirta-se! Ou eu conto para , ela vai resolver isso rapidinho.
- Isso foi bem gay. - Revirei os olhos rindo de . – Mas vindo de você não é nenhuma novidade.
- Não espalhe isso, preciso da para esconder o meu verdadeiro eu. – Ele brincou e tomou o último gole da bebida.
Sentei na mesma cadeira de antes, querendo me isolar. Minha vontade era sumir, mas estava comigo e eu não poderia simplesmente dizer que iria embora sem ela, ainda mais por não estarmos nos comunicando como duas pessoas normais.
Todos sorriam, dançavam ou procuravam uma nova garrafa para encher a taça. Por mais que e conversassem comigo de vez enquanto, eles não podiam me dar atenção a noite toda, até porque era a festa de noivado deles.
Olhei para o meu copo de uísque vazio, abaixei a cabeça decido a levantar dali e curtir a noite, quando alguém sentou ao meu lado. Não estava interessado em saber, ela falou alguma coisa, mas eu demorei a perceber que falava comigo.
- Mas eu realmente me surpreendi... – Não reconheci a voz, então simplesmente resolvi ignorar. – Eles formam um casal super fofo, não acha?
- Hum? – Olhei para ela sem saber o que responder. – Estou.. Sim. Acho sim. – Levantei bruscamente, deixando a mulher com a boca levemente aberta, quando vi do outro lado me encarando com cara de poucos amigos. – Desculpe, preciso sair.

Ao contrário da ida, nossa volta foi um silêncio só. Nenhum de nós se atreveu a abrir a boca. Se não fosse por , eu a teria deixado lá, se divertindo. Pois era isso que ela estava fazendo. Rindo e dançando como ninguém sem se importar comigo.
Parei em sua porta sem ter noção daquilo. não saiu imediatamente. Já estava quase mandando minha paciência para um lugar nada agradável quando ela soltou um longo suspiro e se voltou para mim.
- Não sei o que está acontecendo, mas gostaria de saber. Você parece chateado. – Soltei uma risada nervosa, mas não respondi então ela continuou. – Você parecia bem hoje de manhã.
- Não é nada. – Respondi antes que ela insistisse.
- Então vamos conversar lá em cima. – O tom de sua voz saiu como uma intimação. – Faço um chá e conversamos um pouco.
- Acho melhor não. Você parece cansada, dançou muito hoje. – Tentei ser o mais casual possível, mas a última frase saiu um tanto quanto irônica.
- Não se preocupe, estou acostumada. – Ela saiu do carro e já abria a porta. Bufei por estar fazendo que ela queria.
O apartamento era bastante grande para uma pessoa que morava sozinha. Ou não. Aquele pensamento me fez ficar mais nervoso ainda.
estava colocando a água para esquentar quando cheguei à porta da cozinha extremamente limpa. Havia tulipas brancas dentro de um jarro com água em cima da mesa da cozinha, ao lado, um pequeno cartão que provavelmente havia sido entregue com o buquê. Coloquei as mãos dentro dos bolsos para reprimir o impulso de apanhar as flores e jogá-las no lixo.
Quando percebeu minha presença, voltou-se para mim. Ela estava séria, mas não aparentava estar brava, e sim curiosa.
- Gostou do apartamento? – Ela cruzou os braços e pediu silenciosamente com a cabeça para que eu entrasse na cozinha.
- É bem bonito. – Me limitei a passar pelo portal. – Mas você não me chamou para saber se gosto ou não dele.
- Não, não chamei. – Ela chegou mais perto ainda com os braços cruzados. – Te chamei aqui para que me conte o que aconteceu, o motivo por você estar me tratando assim, tão indiferente.
- Não estou fazendo isso. – Neguei e desviei meu olhar para um pano de prato sob a cadeira. Não queria fitá-la e muito menos queria que ela conseguisse ver a mágoa dentro dos meus olhos.
- Então você é sempre bipolar? – Ela descruzou os braços parecendo insultada com a minha resposta. – , o que eu fiz?
- Nada. – Não era verdade, nós dois sabíamos disso, mas eu não iria abaixar a guarda tão facilmente. – Olhe, , está ficando tarde, preciso ir para casa.
- Você não vai sair daqui enquanto não me contar porque está me tratando assim. Mal olhou para mim durante toda festa, repeliu todo o tipo de aproximação e não conversou comigo durante a ida e muito menos durante a volta.
- Sou uma pessoa reservada.
- Não, você é o pior mentiroso da face da Terra. – O bule apitou avisando que a água já estava fervida, mas ignorou. – Ande, , me conte logo.
- Bonitas flores. – Desconversei.
- Sim, são. – respondeu secamente e eu percebi que ela estava ficando brava. – Um amigo me deu.
- É, eu sei. – Fitei-a com toda a raiva que estava sentindo. A imagem de abraçada tão intimamente surgiu na minha frente mais rapidamente e viva do que durante toda a noite. – Cheguei aqui bem na hora em que seu namorado ia embora.
- Meu namorado? – Seus olhos se arregalaram e sua boca abriu levemente. – Do que está falando?
- Do homem que lhe deu essas flores, de quem mais eu estaria falando? A não ser que você tenha mais de um namorado.
- O quê?! – cerrou os olhos e avançou em minha direção, novamente ignorando o apito do bule. – Você não me conhece, , não ouse me ofender desse jeito!
- Não estou falando mentira nenhuma, estou? – Segurei seu pulso bem em tempo de evitar um tapa na cara. Ficamos muito próximos um do outro e eu pude ver que seus olhos estavam marejados.
- Você não é o homem que eu pensava ser. – Ela se afastou, puxando bruscamente o pulso que eu segurava. Sua voz estava carregada de rancor.
- Você também não é a mulher que eu pensava ser. Estamos quites. – O bule de chá apitou e ela bufou, virando-se para o fogão.
- Que merda! – Foi a última coisa que eu escutei antes de fechar a porta.

Capítulo 4.



3 longos dias se passaram depois daquela noite. Minha cabeça doía de tanto pensar sobre todas as coisas que haviam acontecido durante aquele último mês. Lá no fundo eu sabia que não tinha direito de cobrar nada de e muito menos ter dito todas aquelas coisas. Mas eu estava apaixonado por ela e vê-la com outro homem, mesmo que nunca deixássemos claro como seria nossa relação, me deixou abalado. Queria mandar flores e um cartão pedindo desculpas pelas farpas que havíamos trocado, mas nem pra isso tive coragem. Durante esses dias não recebi nenhum telefonema dela, nem para saber se o quadro estava ou não pronto.
Cheguei a discar seu número para avisá-la, mas logo que deu a primeira chamada, desliguei.
Ele estava realmente lindo. Tão lindo quanto à modelo que posou para que ele fosse feito. Nunca em minha vida pensei que poderia retratar uma pessoa tão vivamente como fiz com .
Definitivamente eu estava apaixonado por ela. E apaixonado de um jeito que nunca fui por ninguém. Depois de tanto tempo solitário, eu havia encontrando a mulher da minha vida.
Na terça de manhã acordei bem cedo para passar na galeria. A exposição para “novos artistas” seria dali a 1 mês e as coisas estavam começando a ficar tensas. Cheguei em casa por volta das 11 horas, cansado e com o começo de uma dor de cabeça. Falar de negócios sempre me deixava assim, precisava de um agente, e bem rápido.
A campainha tocou quando eu estava enchendo um copo com suco. - Hey, . – Cumprimentei e ele logo entrou fechando a porta. – Pensei que só nos veríamos amanhã à noite.
- É, mas precisei passar aqui para pegar uma coisa. – Ele apontou para o quadro da que estava em cima do sofá. – Ela pediu para eu pegar e deixou o cheque com o pagamento.
- Como assim? Ela não vem pegá-lo? Pediu para você vir aqui? – Ele confirmou. – Mas por quê? Ainda está brava por causa de sábado?
- Sim, e vou te dizer , não foi legal da sua parte. Você é meu amigo, mas também é, e odeio dizer isso, mas você exagerou. Então ela pediu para eu vir buscar o quadro. Não quer te ver.
- Ela.. Não quer me ver? – Aquilo foi como um balde de água fria. – Que pena, mas você não vai tirar esse quadro daqui. Se ela o quer tanto, que venha buscá-lo.
- ... – Ele fez uma cara de “preciso pegar isso”, mas eu o interrompi.
- Olhe, , você é meu melhor amigo, não quero brigar com você por causa de besteira. Avise pra ela que se ela quiser, pode ter o quadro, mas terá que vir aqui ou então o quadro vai ficar mofando.
- Tudo bem, então, mas vê se pelo menos dessa vez dá um beijo nela. Até mais. – Ele piscou e saiu.

Naquele mesmo dia fui até a casa de . , e eu decidimos que precisávamos fazer uma despedida de solteiro só nossa, em memória dos velhos tempos. Bebemos demais. Aquela noite havia sido ótima, divertida como sempre, mas acabou comigo. Precisei sair cedo para passar na galeria e entregar alguns quadros para a exposição. Nem participei da reunião. Estava absurdamente cansado, com dor de cabeça e sono. Parecia que qualquer sonzinho faria minha cabeça explodir. Foi quando vi minha salvação: uma Starbucks brotando na minha frente, apenas a alguns passos de distância: Café! Era disso mesmo o que eu precisava para recuperar minhas energias. Entrei e sentei em uma mesa perto da janela. Depois de fazer o pedido, olhei ao redor da cafeteria e meus olhos bateram na imagem que eu jamais gostaria de ver de novo. e o tal homem misterioso. Ela provavelmente não havia me visto, pois estava num canto mais reservado. Ou simplesmente resolveu ignorar a minha presença. Meus olhos ficaram fixos neles. Por mais que eu tentasse achar alguma coisa interessante, nada aparecia. Cadê uma manchete falando sobre um atentado terrorista quando precisamos dele?

Não demorou muito para que virasse o rosto e me visse. Claro, com o jeito intenso de olhá-la, seria impossível que ela não percebesse. Na mesma hora seu sorriso se desfez. Ela me olhou tão séria que meu coração deu leves paradas. Bufei tentando recuperar o meu estado normal e desviei para olhar a rua.
Ela não foi falar comigo e nem eu me atrevi a olhá-la novamente. Tomei meu café o mais rápido possível e acabei queimando minha língua. Mas não me importei. Tudo era melhor do que estar no mesmo local que aqueles dois.
- Por que você está dificultando as coisas? - postou-se em frente a minha mesa sem que eu percebesse.
- Pensei que não estivesse falando comigo. - Respondi sem deixar de olhar para a rua. - Que grande avanço.
- , estou falando sério! - Ela se sentou e eu fui quase obrigado a olhá-la. - Pedi para pegar o meu quadro e você não deixou. Qual é o seu problema? Por que está dificultando as coisas?
- Não estou dificultando nada, , você que está. - Indiquei seu acompanhante com a cabeça. Ela seguiu o meu olhar e depois me fitou confusa. - Por que você não quis apanhá-lo?
- Você me ofendeu sem nem ao mesmo eu saber o motivo! - Pude perceber que ela lutava para não gritar. Seus olhos não tinham mais aquele brilho de antes. - Como acha que eu reagiria? Apareceria no seu apartamento como se nada tivesse acontecido? Não tenho sangue de barata!
- Sinto muito se te ofendi, não era minha intenção. - Levantei e ela fez o mesmo com a cabeça para continua me olhando. - Não tenho nada a ver com a sua vida, faça o que quiser dela.
- Mas , eu..
- Se quiser seu quadro, terá que ir ao meu apartamento. Até mais, . - Saí o mais depressa possível dali. Meus olhos estavam ardendo.

Cheguei em casa morto no sábado à noite. A exposição estava começando a tomar muito mais do meu tempo. Naqueles dois dias sem notícias de , terminei 2 quadros e já começava o terceiro. Aquilo estava me deixando angustiado e aflito. Como ela havia dito, eu não estava facilitando as coisas e nem iria. Se ela realmente quisesse seu quadro, teria que ir até mim.
Vesti uma calça de moletom e terminava de enxugar o cabelo com a toalha quando a campainha tocou. Provavelmente seria me chamando para sair. Aquele puto não entendeu quando eu disse que não iria ao pub. Ele certamente queria ouvir um fora dos mais bonitos.
Abri a porta e me deparei com última pessoa que pensava ver naquela hora.
- ? – O choque foi tão grande que eu deixei a toalha que enxugava o meu cabelo, cair. – O que você faz aqui?
- Vim pegar o meu quadro. – Ela respondeu rispidamente. – Posso entrar? Ou você está ocupado? – Perguntou encarando o meu abdômen nu e corando levemente ao perceber que eu havia notado.
- Não. – Sorri involuntariamente, dando passagem para que ela entrasse. – Eu vou pôr uma camisa. Não demoro.
- Não se preocupe com isso, o que eu vim fazer aqui não vai demorar. – Abriu a bolsa e pegou o cheque.
Fiquei paralisado com a forma cordial que ela me tratou. Nem parecia que realmente havíamos nos conhecido. Aquilo era somente negócio, ou era o que estava parecendo ser. Eu devo ter feito uma merda muito grande.
- Nós precisamos conversar. – Falei antes que pudesse pensar.
- Não temos nada para conversar, . Eu estou só para buscar o meu quadro e te pagar.
- Eu não quero seu dinheiro, mas que merda, ! Eu só quero...
- Alô? – Ela tirou o celular da bolsa sem ao menos me deixar terminar de falar. – Josh, querido, você já chegou? Ainda estou aqui em cima...
Me afastei. Não queria ouvir a conversa de jeito nenhum. Era melhor olhar para a rua e tentar acha alguma coisa interessante do que escutar conversando com seu namorado. Já era tortura demais, ainda mais estando na minha própria casa. Olhei para um carro estacionado na porta, dois homens saíram de lá, um deles falava ao telefone. Reconheci facilmente, era ele.
Senti meu sangue ficar quente.
- Desculpe. O que dizia? – falou me fazendo olhá-la. – Seja rápido, não tenho todo o tempo do mundo.
- É claro que não tem. Você deve ter deixado alguém esperando. – Ironizei.
- O que você quer dizer com isso? – Ela cruzou os braços e levantou levemente uma sobrancelha. – Você é esquisito.
- Esquece... – Bufei. – É o quadro que você quer, certo? Então eu vou buscá-lo.
- Sabe, .. – Ela começou a dizer quando me virei. – Eu não sei o que deu em você e muito menos o que eu fiz. Só não entendo essas suas reações.
- Você não entende? – Tentei me controlar, mas aquele ar de desentendida estava realmente começando a me irritar. – Durante esse mês.. - A campainha tocou. Nós dois olhamos para a porta. Aquilo só podia ser brincadeira.
- Você não vai atender? – Ela perguntou irritada e jogou os braços para cima. Eu não respondi. Não conseguia pensar: atender a porta ou falar com ?– Ótimo, eu atendo! – Dois homens estavam parados em frente a minha porta. Um deles era seu o ”amigo”. – O que vocês dois estão fazendo aqui em cima? Deveriam estar me esperando lá em baixo! Ryan, não consegue segurar seu namorado por 5 minutos? – Ela falava com um deles.
- Você demorou demais. O Josh já estava me tirando do sério. – O mais alto reclamou apontando para o outro.
- , querida, fiquei preocupado. – Quase ri com a voz do outro. – Está tudo bem por ai? – Ela assentiu, mas ainda assim, ele meteu a cara dentro do apartamento para se certificar. – Ok, vamos esperar lá em baixo então, mas não demore, tenho cabeleireiro marcado.
Aquilo foi a gota d’água. Quando bateu a porta e virou para me encarar, soltei uma grande gargalhada. Não conseguia parar de rir e ela me olhava como se eu fosse algum ET.
- Sou um idiota! – Disse aos risos.
- Parabéns. – Ela revirou os olhos. – Como você chegou a essa conclusão? Foi sozinho ou alguém te ajudou? Dá pra parar de rir?! Qual é a graça afinal?
- .. eu.. – Minha barriga doía de tanto rir e o ar começava a me faltar. Não acreditava que aquele homem era gay, com todas as letras. G-A-Y. – Ele é gay?
- Ele quem? O Josh? – Ela perguntou confusa e apontou para a porta. – Isso não é meio óbvio?
- Não quando ele te abraça do jeito que te abraçou na noite do jantar. - Ela parou um minuto como se não acreditasse no que eu havia dito.
- Você.. – Sua cara de surpresa e o jeito como gesticulava as mãos me faziam me sentir um idiota. - Pensou que eu estava saindo com ele? - Ela disse formando um sorriso. – Não acredito nisso! , você é definitivamente é um idiota!
- Eu.. eu.. Você queria que eu pensasse o quê? – Me senti ofendido. – Chego na sua casa à noite e te vejo na porta abraçada com um homem e ainda por cima que te dá flores!
- Então foi por isso que você me ignorou a noite toda? Não acredito que estava sentindo ciúmes! E do Josh ainda por cima. – Ela não escondia seu divertimento com a situação. – Ryan estava doente e Josh me deu flores para agradecer o tempo em que eu fui visitá-lo no hospital... Mas mesmo assim, você não tinha o direito de me ofender e muito menos de me cobrar alguma coisa.
- Você realmente sabe como fazer um homem se sentir idiota, não é?
- Não. Você é por si só. – Agora não existia mais o ar engraçado de antes. Sua voz saiu pesada e fria.
Me sentei no sofá com as mãos na cabeça. Aquilo era informação demais num dia só. Me senti frustrado com aquilo. Não estava acreditando que havia feito papel de babaca. Toda aquela raiva que eu senti se transformou em vergonha. Vergonha por ter tratado daquele jeito.
Ela não falava nada, e eu muito menos. Só escutávamos o barulho do apartamento de baixo ou dos carros.
- Desculpe. – Foi a única coisa que eu consegui dizer. Minha vontade era de me enfiar num buraco e nunca mais aparecer tamanha era a minha vergonha.
- Tudo bem, já passou. – Mas eu sabia que aquilo era mentira. estava se sentindo ofendida e eu era o culpado. – Eu...
- , entenda. – Levantei e caminhei até onde ela estava. – Eu... – Como eu diria aquilo? – Eu estava com ciúmes. Não consegui raciocinar direito a partir daquela noite.
- Você tinha que ter perguntando, não sair me ofendendo e dizer tudo o que disse.
- Eu sei disso. – Ela se afastou quando tentei tocar seu rosto. – Me desculpe.
- Eu preciso ir, , já demorei demais. – Ela virou e pegou sua bolsa. – Vou chamar os meninos para pegarem o quadro. – Pegou o cheque e colocou em cima da mesa. – Aqui está seu dinheiro.
- Já disse que não o quero.
- Você trabalhou por isso. – Ela não se mexeu.
- Não me importo com o dinheiro. Isso nunca me interessou. Eu quero você. Sempre foi você. Desde o dia que você veio aqui me pedir para fazer o quadro. Não tirei mais você da minha cabeça. Foi por isso que eu voltei atrás. – Ela virou e pude ver que seus olhos estavam marejados. – Eu não entendo nem como e nem motivo, mas eu me apaixonei por você. Em tão pouco tempo.
- Eu não sei o que dizer sobre tudo isso.
- Você não precisa dizer nada.
Não dei tempo para que ela pudesse responder. Envolvi sua cintura e capturei seus lábios. Os lábios que eu tanto sonhei em beijar, e ter certeza se eram ou não tão macios quanto pareciam. Ela respondeu mais rápido do que eu poderia imaginar envolvendo seus braços ao redor do meu pescoço, me puxando para mais perto. Aquele era o melhor beijo na minha vida, sem dúvida nenhuma. Minhas mãos foram para sua cintura, desnudando aquela região para que eu pudesse sentir sua pele. Seu cheiro começava a tomar conta de mim, me deixando desnorteado.
Novamente o telefone tocou. Aquilo era realmente frustrante.
- Merda, não acredito nisso! – Ela soltou um gemido quando desgrudou seus lábios dos meus. – Josh, pode ir para o seu cabeleireiro, vou demorar aqui. Te ligo depois. – Ela desligou o celular e jogou em cima da mesa. – Onde estávamos? – Sorriu e mordeu o lábio inferior. – Ah sim... – E me agarrou com tanta força que nos fez cambalear um pouco.
- , eu amo você. – Falei entre um beijo e outro.
- Eu também amo você, .
- Passa a noite aqui comigo?
- Passo quantas noites você quiser!

Aquela foi a melhor resposta que ela poderia ter me dado.

FIM.





Mylla: hey meninas \o/ é bobinha a short né? eu sei, mas eu e tashão ficamos com vontade de escrever uma fic assim. Na verdade ela já era pra ter sido postada há muito tempo, tipo, em março HAEUIEHAUI mas acabamos enrolando, enrolando.. enfim, está aí o resultado. Espero que vocês tenham gostado, sejam boazinhas conosco, afinal é a nossa primeira fic. Pretendemos logo logo postar outra, mas dessa vez uma que contenha todos os membros e a história seja maior. Beijos (:
Tasha: Nossa,essa short foi um surto que me deu. Eu acordei uns dias antes do ‘Dia das mães’ com vontade de escrever alguma coisa relacionada a isso e contei para a Gorda,ela gostou da história e começando a escrever,porém somos bem indecisas sabe? Então nós demoramos mais que o previsto e mudamos muiiitas coisas – vai dá pra ver que a Fic não tem muito a ver com “mães” né OIHSOISH . Então,nós esperamos que vocês gostem e deem um desconto porque é a nossa primeira fic. E já estamos escrevendo outra como a Gorda disse..então é isso. Beeijos meus xuxus (:

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