História por Gée Freitas | Revisão por Gabriella


Draco Malfoy, 16 anos, atual estudante de Hogwarts, Sonserina.

23 de março.


“Querido diário, ridículo isso, é todo mundo tão banal nessa escola. Meu pai continua a insistir com essa ideia totalmente sem sentido de que eu devo permanecer nessa escola imunda. Quer dizer... Por que eu não posso estar lá com ele? Fazendo parte da armada de você-sabe-quem? Mas não, tenho que ficar aqui, aguentando o “Santo Potter”. É além de patético, irritante o modo como todo mundo aqui parece idolatrado. Chega a ser nojento. Todos esses sangues-ruins depositando sua fé num garoto que não chega nem aos pés daquele que não se deve ser nomeado. Ninguém me ouvirá enquanto eu estiver preso neste lugar, aprendendo coisas inúteis e gastando meu tempo fazendo essas provas detestáveis. E ainda tenho que conviver com esses imundos de sangue impuro, tudo isso, enquanto poderia estar lá fora vivendo. Vou dormir antes que a frustração me tome por inteiro. Meu pai tem que me ouvir.”


26 de março.


“Querido diário, eu não escrevi por três dias. Minha explicação é óbvia. Eu sou um garoto, que porra, não deveria ter um diário... Isso é o quê? Alguém pra quem conversar? Um lugar pra jogar coversa fora e compensar a minha solidão? Será que meus pais nunca vão se tocar que meu lugar não é aqui? E que esse maldito caderno não vai mudar isso? O que exatamente eu deveria fazer aqui? Documentar os dias tediosos? Bom, então vamos lá, vamos falar de hoje. A idiota da Granger acertou todas as perguntas do Snape na aula de poções, Weasley dormiu na aula da Minerva e o Potter não prestou atenção em nada, como de costume. Os três escapuliram para casa daquele gigante desajeitado, mas não tive a mínima vontade de seguí-los hoje. Ao invés disso, subi a torre de astronomia e li novamente a carta de Maryanne. Preciso voltar pra casa, vê-la. Preciso sentir o cheiro do seu cabelo fino, loiro quase branco... Tocar sua pele macia, beijar os lábios quentes, abraçá-la. Telefonarei ao meu pai amanhã, não suporto mais ficar aqui sem fazer nada enquanto estão todos tramando uma guerra, ainda mais longe de Mary, não está dando mais. “


27 de março.


“Querido di... Quer saber? Querido merda nenhuma, esse livro só tem me levado a ruína, eu lembro e relembro da minha desgraça. Liguei pro meu pai mais cedo. Permitiu que eu fosse vê-la 2 dias. Mas não poderei ficar, 4 dias apenas e terei de voltar. Bom, já é melhor que nada, não é? Não comentou nada sobre os planos de você-sabe-quem. Disse que não era assunto que se devesse falar ao telefone. Tenho que começar a arrumar as malas, mas estou excessivamente cansado. Amanhã faço isso.”


29 de março.


“Diário, estou esperando meu pai me buscar na estação. Ele já está atrasado 20 minutos. Mary já me mandou umas 3 milhões de mensagens. Ele não retorna minhas ligações e minha mãe tampouco. Eu mereço isso? Sinceramente, acredito que não.”


29 de março, 1 hora mais tarde.


“Diário, ainda estou aqui, ainda na espera, meu pai me atendeu e disse que estava no caminho. Mary desistiu das mensagens e eu disse que ligaria quando chegasse. Não tá fácil.


30 de março, 3 horas da manhã.


“Diário, meu pai finalmente chegou pra me buscar. Deu qualquer desculpa esfarrapada pelo atraso e a viagem de 40 minutos foi perturbadoramente silenciosa. Dei oi a minha mãe quando cheguei, larguei minhas coisas no meu quarto e liguei pra Mary, avisando que iria pra casa dela. 20 minutos de caminhada até que eu chegasse me fizeram muito bem, pelo menos esfriei a cabeça. Ela estava me esperando na sacada do quarto dela. Era por volta das oito horas da noite quando cheguei lá. Desceu correndo as escadas e me recebeu com um abraço caloroso, seguido de um beijo desesperado. Mary era bruxa, sangue puro, mas ao contrário de meu pai, quando a guerra começou, os pais de Mary a retiraram da escola. O que complicou um pouco as coisas entre nós. Entramos e comemos bolo.. Perguntei por seus pais e ela disse que saíram para um reunião com a ordem. Logicamente, presumi que meus pais estariam na mesma. Levei-a pra caminhar no parque e depois fomos pra minha casa, onde ficamos um bom tempo abraçados na cama, até que ela dormiu em meus braços. Perto da uma da manhã acordei e agora estou aqui, não consegui voltar a dormir. É bom vê-la dormindo. Sua respiração pesada e seus cabelos loiros e delicados colados no rosto. Senti tanta a falta dela. Inimaginável que alguém como eu pudesse me apaixonar. As coisas mudam, não é? As coisas mudam e simplesmente acontecem. Mesmo que muitas vezes, não possamos impedí-las.”


2 de abril.


“Diário, os dias tem passado rapidamente. Mal acredito que amanhã irei voltar para Hogwats. Implorei inúmeras vezes ao meu pai para que me deixasse ficar, mas ele se mantém firme. Não vou conseguir deixar Mary de novo, simplesmente não vou. Nesses dois dias, passamos cada minuto juntos. Ela parece diferente. Mais crescida. Mesmo assim, parece frágil perto de mim. E nosso bom palmo na diferença de altura ajuda bastante. Acabou que você foi um pouco útil, sabia? A única pessoa, ou coisa, pra quem eu posso falar de Mary. Acho que isso é bom, ou deveria ser.”


2 de abril, 23 horas e 30 minutos.


“Mary teve uma ideia louca. Fugir. Disse que a tempos, descobriu uma casa secreta de seus pais, provavelmente um esconderijo. Longe, do outro lado do país. Disse que lá tinha de tudo, luz, água, comida. Poderíamos arranjar alguns empregos e levar uma vida normal lá. Família, casamento e outras coisas. Disse que tem passagens reservadas para dia 5 de abril e que até lá poderíamos ficar em algum lugar. Eu sei que deveria ter pensado no assunto com calma, mas estava tão desesperado em tê-la só pra mim e não deixá-la nunca mais, que aceitei de imediato. Juntei minhas tralhas e peguei todo o dinheiro que tinha guardado. Passamos na casa dela e ela fez o mesmo. Deixamos cartas ao nossos pais, pedindo que não nos procurassem, que iremos viver sozinhos e, bem, que estávamos seguros, e outras coisas... E agora estamos aqui, em uma pequena pousada a alguns quilômetros do ‘nosso’ parque. Onde nos beijamos pela primeira vez em uma das férias de natal. Vamos ficar aqui escondidos até dia 5 e então iremos para o aeroporto, onde no fim da viagem, começaremos uma nova vida. Vai dar certo.”


6 de abril, 7 horas da manhã.


“Mary está dormindo. Chegamos da viagem há pouco. Estou sentado na varanda, sentido o vendo fresco no rosto. Amanhã sairemos pra procurar trabalhos e a partir daí, resolveremos o que vamos fazer com nossas vidas. Filhos talvez, viagens, vamos seguir o fluxo e viver de acordo com o momento. Não deve ser difícil. Dois bruxos novos e saudáveis, o que pode acontecer? Seja lá o que for, estaremos juntos. Ainda me causa muita dor lembrar de vários anos perdidos em Hogwarts e você ajuda muito nisso diário. Mas esteve comigo nas horas difíceis. Bom, essas horas acabaram e, portanto, nossas longas conversas também. Acabou que não final, “querido diário”, você não era tão querido assim. Mas vou guardá-lo, para que, quem sabe um dia, eu possa regozijar com as palavras aqui escritas. Boa noite, diário. A última noite. Saí para ser feliz e não pretendo voltar. Te esconderei embaixo das tábuas do assoalho e quem sabe um dia meus filhos ou netos o encontrão brincando. Até lá, adeus, diário. Meus dias de sombras acabaram e agora só me resta luz. Mary e luz.”

Capítulo betado por Larissa Console



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