We're both confused

por Paulinha | betada por Deh
revisada por Lelen

Prólogo

Eu nunca havia pensado que uma mudança repentina e um ato totalmente desesperado pudessem mudar todos os sentimentos que eu lutava indefinidamente para esconder.
Sabia que algo dentro de mim estava se transformando, e eu tentava inutilmente lutar para que isso parasse de acontecer. Era uma coisa nova e totalmente boa – pelo menos para mim -, mas eu sabia que se continuasse desse jeito, meu coração ficaria mais despedaçado do que já estava. Isso porque eu fui totalmente evasiva em acreditar que amizade e amor são coisas totalmente diferentes e que nunca seriam capazes de se misturarem.

Capítulo 1

Isso é algo totalmente injusto. E eu não estou falando sobre a fome na África ou qualquer coisa do gênero. Eu estou me referindo a você ter que escolher entre seus dois progenitores prediletos – seu pai e sua mãe.
Como se já não fosse o bastante lidar com a separação repentina deles, ainda tenho que escolher com qual deles eu quero ficar. Isso é frustrante. E, para melhorar ainda mais a minha situação, vão morar em lugares totalmente diferentes!
Minha mãe sempre foi apaixonada por essa cidade (e quem não é?). Paris, capital da França, local da Torre Eiffel, do Palácio de Versalhes, do Museu do Louvre! Já meu pai não é ligado a lugar nenhum. Pelas histórias que me contava, já deve ter visitado todas as cidades do mundo inteiro – desde Nova York até Hong Kong. Deve ser também por esse fato que, nos meus primeiros cinco anos de idade, eu já tinha visitado tudo o que se possa imaginar da França e da Inglaterra e falava os dois idiomas fluentemente. Mas quem se importa com isso quando você está tendo que tomar a pior decisão de toda sua vida?
Ficar na França com a minha mãe iria ser realmente legal, eu terminaria o último ano escolar com as minhas amigas, terminaria meus cursos e até poderia subir no mini emprego que eu havia arranjado. Só que iria ser decepcionante para o meu pai, obviamente. Mas se ficasse com ele, eu poderia visitar o mundo inteiro, conhecer novas culturas e línguas, o que é o meu sonho. Mas nessas horas eu penso na minha mãe, e em como ela ficaria se soubesse que escolhi meu pai a ela. Foi por isso que eu tomei a decisão mais precipitada de toda a minha vida – morar sozinha em Londres.
Não pode ser tão ruim assim, se você pensar bem. Eu conheço o local e posso me comunicar com qualquer pessoa que seja. Além disso, quem perderia a oportunidade de conhecer a London Eye e o Big Ben? Bom, alguém como eu poderia perder, afinal, já visitei tudo isso. Mas não pensemos no lado negativo das coisas. Eu agradaria os dois, aprenderia a ser mais independente com apenas dezessete anos de idade, terminaria a escola num lugar totalmente diferente, faria novos amigos, novos cursos e poderia arranjar um novo emprego. Não poderia ser tão ruim assim.

- ? – É a minha mãe. Ela sempre me chama assim. Não que eu não goste, mas sabe como é, seria mais legal. - Pensando? – perguntou sentando-se ao meu lado no sofá.
- Pois é... – foi o que consegui responder. Afinal, eu estava pensando, não estava?
- Seu pai e eu sabemos que está sendo uma mudança muito radical para você... – ela começou passando a mão pelos meus cabelos.

E ela começou com todo aquele discurso que os pais fazem quando estão se separando e não querem que você se rebele ou faça alguma besteira. Já estava cansada disso tudo, mas deixei-a falar. Afinal, mãe é mãe. Até soltei alguns risinhos enquanto ela gesticulava, reparando em seu rosto. Depois que eles me informaram da separação, passei a reparar mais nas coisas. Os cabelos castanhos escuros de mamãe que antes eram ondulados passaram a um tom mais claro e ficaram lisos, assim como a boca agora se estreitava a uma linha. Adorava seu cabelo, e realmente fiquei um pouco chocada com o que vi. Afinal, era ela quem falava que eu tinha herdado dela tudo o que tinha de bom – os cabelos escuros lisos na raiz e ondulados da metade para baixo e a boca fina. Os olhos, que variam de castanho escuro para um tom mel, e a estatura baixa foram influências de papai. Embora eu ainda duvide que ele tenha me passado esse tipo de genes, eu finjo que acredito.

- Mãe, está tudo bem – cortei o que ela falava para informar o que eu havia decidido. – Eu já me decidi.
- Jura? – perguntou-me surpresa e eu apenas acenei com a cabeça. Eles não poderiam reclamar da minha atitude, afinal, eu já tenho dezessete anos. Tenho que aprender a viver sozinha, embora eles achem que eu já seja excessivamente independente.
- Hoje à noite, quando papai chegar em casa, nós iremos conversar.

Capítulo 2

Estou muito aliviada em dizer-lhes que meus pais aceitaram a notícia. Não tão bem quanto eu esperava, é claro, mas eles aceitaram. Disseram que iriam me ajudar com alguma despesa e que se eu tivesse algum problema deveria ligar para eles o mais rápido possível. Como se eu fosse atrapalhá-los com besteiras minhas, mas eu preferi omitir sobre essa parte.
A minha suposta mudança aconteceria no dia seguinte, junto de meu pai. Ele iria passar um tempo no Canadá, esquiando ou qualquer coisa do tipo, enquanto minha mãe ficaria na França e eu iria para Londres. Como você pode ver, de família unida passamos a viver sozinhos.
A papelada do divórcio já estava toda pronta e meus pais decidiram que cada um ir para o seu “canto” o mais rápido possível seria o melhor. E vocês devem estar se perguntando por que os meus pais estão se separando, se eles se dão tão bem. O que acontece é que, segundo eles, o casamento ficou desgastado e eles acharam melhor se separarem do que acontecer coisas piores. Para falar a verdade, eu acho que também prefiro desse jeito.
O dia seguinte chegou tão rápido que eu já comecei a sentir saudades antes mesmo de ir embora.
Dei um abraço forte em cada um e deixei algumas lágrimas saltarem de meus olhos, afinal, ninguém é de ferro e eu estava entrando numa vida totalmente nova.
Eles reforçaram a fala de: “Por favor, ligue para nós se tiver qualquer problema, ok? QUALQUER problema, mocinha!”. Ri baixo e funguei no pescoço dos dois. Não queria ir, queria que voltássemos a ser a família que éramos, queria ficar com meus amigos e com tudo aquilo que eu gostava. Só que querer está muito longe de poder, não é? Além disso, eu tinha que me mostrar decidida e firme na frente deles.
Algumas amigas minhas também apareceram para a despedida, e, dessa vez, eu decidi não fingir mais sobre as minhas lágrimas. Amigas de infância, poxa! Prometemos umas as outras que nos falaríamos por telefone e que, quando tivermos oportunidades, todas iriam se encontrar, seja na França ou na Inglaterra. Afinal, não são tão longes um do outro, certo?
Embarquei tentando controlar o choro e tentando convencer a mim mesma de que aquilo era o melhor a ser feito, porque realmente era.
Foram apenas algumas horas de viagem, e eu já estava pronta para a minha nova vida. Tudo bem, eu queria estar pronta, mas era algo realmente difícil.
Desci do táxi com duas malas enormes de roupas e mais uma de mão. É, eu estava mesmo parecendo uma menina de intercâmbio que não fazia a mínima idéia de onde ir. Mas a questão é que eu sabia para onde tinha que ir – o papel em minhas mãos indicava isso – só não sabia onde ficava. Eu só tinha cinco anos quando morei aqui, não me lembro de tudo, oras.
O taxista colocou as minhas malas no chão ao meu lado, enquanto eu tentava me localizar onde ele tinha me deixado. O endereço era o mesmo do papel, mas o hotel não estava à vista. Segundos depois observei o carro se afastar, ainda olhando para o papel.
“Olhe à sua volta, , disse a mim mesma. Dei um giro de 360 graus, não visualizando a minha hospedagem. Só me faltava eu ter anotado o endereço errado.
Balancei a cabeça ainda olhando para o papel e dei um passo para frente. Se eu quisesse achar o local, teria que procurar. Senti algo passando pelo meu pé no mesmo instante em que havia tocado o chão. Olhei para frente e me assustei ao ver uma bicicleta caída e uma pessoa por debaixo dela. Maravilha, eu mal tinha chegado à cidade e já estava causando um tumulto e tentando matar alguém.
Corri para ver quem eu tinha quase assassinado e reparei num menino com cabelos e descabelados olhando com seus olhos profundamente para mim.

- Pardon mounsier! – gritei em francês, correndo para tirar a bicicleta de cima do menino.
- Hã? – Ele fez uma cara espantada para mim. Como se ele tivesse entendido alguma palavra do que eu havia dito.
- Me desculpe! – apressei-me em dizer na língua correta. Estendi a mão para o garoto, tentando ignorar seus olhos tentadores e .
- Não tem problema – ele respondeu gentil, pegando uma de minhas mãos e se levantando com a bicicleta.

Um silêncio altamente constrangedor apossou-se de nós, mas eu tive tempo de reparar naquele garoto que estava na minha frente. dos olhos , alto e de cabelos .

- – ele disse sorrindo e mostrando a mão para mim.
- – respondi também sorrindo e apertando sua mão. – Você poderia me ajudar? – perguntei repentinamente. Afinal, eu precisava descobrir onde ficava o bendito hotel!

Indiquei o papel que estava em minhas mãos e ele pegou-o delicadamente, apontando-me numa direção. Visualizei o hotel e senti meu rosto ficar mais forte do que carmesim. Estava praticamente na minha frente e eu não havia visto. Parabéns, .

- Precisa de ajuda para chegar lá? – ele perguntou risonho, mas eu havia entendido a piada.
- Não, eu me viro daqui pra frente – respondi sorrindo, fazendo com que a piada não tivesse efeito.
- A gente se esbarra por aí, – ele disse subindo em sua bicicleta e começando a pedalar.
- Até, – respondi me movimentando na direção contrária a ele. “Meu Deus, que olhos! Se concentra, , se concentra senão você não agüenta.” Pensei comigo mesma, agora entrando no hotel.

Capítulo 3

Fui à recepção, peguei a chave do meu quarto e subi de elevador até o mesmo. Ainda estava meio em choque com o que havia acontecido, afinal, não é todo dia que você quase assassina uma pessoa com um par de olhos perfeitos.
Entrei em meu quarto, deixando as malas ao lado da porta de entrada e sentando na cama. Eu tinha exatos cinco dias para arranjar um local para morar antes que me jogassem para fora do hotel. Claro, se eu tivesse dinheiro para continuar ali, seria outra história. Mas isso é uma coisa que eu não tenho, então voltemos à minha situação.
Além disso, preciso ir confirmar a matrícula numa escola totalmente nova (a minha mãe já havia iniciado o processo pelo telefone ou pela internet, sei lá) e tentar arranjar algum emprego. Afinal, eu preciso morar em algum lugar e pagar a escola.
O ruim de tudo isso é que já estamos quase em abril. Vou entrar praticamente no meio do ano letivo, e isso é o que me dá desespero. Digo, eu não conheço ninguém e todo mundo vai me achar uma idiota por não ter entrado na escola alguns meses antes.
Tentei tirar esses pensamentos de minha cabeça e fui tentar organizar meu horário. Minhas aulas de italiano continuariam, já que eu só fui transferida de sede e já estava praticamente tudo pago. Amanhã, logo pela manhã, passaria na escola para resolver as coisas pendentes e a tarde procuraria um apartamento e um emprego.
Levantei da cama e tirei os tênis com os próprios pés, indo em direção ao banheiro. Precisava de um banho gelado mais do que urgente.
Dito e feito, esse abençoado banho me ajudou a parar de me preocupar com coisas fúteis e fez com que eu pensasse no que aconteceria daqui para frente. Joguei-me na cama de bruços, massageando as têmporas. É incrível como eu sinto vontade de chorar nas horas mais inusitadas. Algo no meu peito parecia explodir, e eu tratei de fazer alguma coisa antes que caísse em lágrimas.
Eu realmente não queria ficar desse jeito, mas descobri que era inevitável. As lágrimas se acumularam nos meus olhos e começaram a cair, enquanto o meu peito inchava cada vez mais. Eu queria parecer independente e queria que todos pensassem que eu era capaz de fazer as coisas sozinha e que toda essa mudança não estava interferindo tanto em mim quanto todos pensavam. Mas acontece que, dentro de mim, eu sabia que isso estava acabando comigo. Eu queria parecer independente, mas não era; queria ser capaz de fazer as coisas sozinha, mas não conseguia; queria que isso tudo não estivesse me afetando, mas afetava. Peguei o celular e liguei direto para minha mãe. Era incrível como já estava morrendo de saudades. Pedi que ela conversasse comigo até que dormisse e, quando dei por mim, minhas pálpebras já pesavam e a voz de mamãe parecia um tanto distante.

Capítulo 4

Acordei com os olhos latejando e com alguma coisa perto demais da minha bochecha. Percebi que estava com a roupa de ontem e que a “coisa” que estava do meu lado era o meu celular.
Levantei-me rapidamente, tomei um banho e coloquei uma roupa básica. Prendi meus cabelos num rabo-de-cavalo, joguei os papéis de que precisava na bolsa e saí do quarto.
Ao por os pés fora do hotel, arrependi-me inteiramente de não ter colocado mais uma blusa, já que eu sentia que iria congelar. Vivendo e aprendendo, .
Passei na Starbucks para tomar um café e tirei um mapa da bolsa, tentando visualizar a escola ou qualquer coisa do tipo. Não demorou muito e eu segui em direção à mesma.
A sorte é que era quase nove horas da manhã e a maioria dos alunos estava na sala de aula. Com isso, foi mais fácil e muito menos constrangedor achar a diretoria do local sem ajuda nenhuma.
Sai do local pouco depois das dez e meia e, para a minha surpresa, vi-me rodeada de jovens. Xinguei-me mentalmente por ter esquecido do horário do intervalo, mas agora era seguir em frente e não dar pinta de turista ou novata na instituição.
Andava pelos corredores agora cheios de gente, olhando para frente como se soubesse para onde deveria ir. Parece que a minha tática de não mostrar a todos que eu sou nova não deu muito certo, já que todo mundo praticamente me encarava. Isso fez com que eu me sentisse constrangida e decidi abaixar a cabeça.
“Péssima escolha”, gritei mentalmente. Agora sim todo mundo já sabia que em breve teriam uma nova aluna na esc...

- Ai! – gritou alguém na minha frente, e eu senti todos os pares de olhos voltados em mim.
Mais uma vez eu tentei assassinar alguém sem nem mesmo perceber. A menina não havia caído no chão, mas mantinha os braços cruzados por cima de uma jaqueta branca. Reparei nas unhas delicadamente pintadas e um anel de ouro nos dedos. A pele clara contrastava com a roupa também clara, e eu levantei meus olhos para reparar nos cabelos enrolados um pouco abaixo dos ombros e acabei encontrando um par de olhos tremendamente castanhos encarando os meus. Não poderia ser mais clichê, a novata esbarrando na garota mais popular da escola.

- Oi, eu sou , me desculpa, mas é que eu... – comecei a falar, mas fui cortada.
- Não me interessa saber quem você é. – Ela deu um singelo sorriso e eu queria me afundar dentro de um buraco ou coisa do tipo. Parecia que uma roda havia se formado em volta de nós e eu nem havia percebido. – E você acabou de esbarrar em Chelsea Worfly Landy.
- Ótimo, também não me interessa saber quem você é – respondi no mesmo tom. – Eu já pedi desculpas, oras.

Abaixei os olhos e me encolhi. Jesus, aquela menina estava à beira dos 1,70 e eu não passava nem dos 1,62. Agilizei meus passos para fora daquele local, cortando o círculo que havia se formado e encarando as pessoas que me olhavam de volta, surpresas.
Decidi também não olhar para trás, vai que a tal menina ficou com raiva e quer me bater ou sei lá.
Dei graças a Deus quando o sinal bateu e consegui apenas ouvir os murmúrios de desaprovação das pessoas e seus passos em direção as salas de aula. Eu mal tinha entrado na escola e já havia arranjado confusão.
Esperei ter a certeza de que todos já haviam entrado para parar de andar, já que mais uma vez eu me encontrava perdida. Suguei o ar com toda força que consegui e senti meu coração latejar. Decidi que tirar o mapa do bolso não ajudaria em nada, e eu me senti cansada mesmo sem ter feito esforço algum.
Olhei para todos os lados na tentativa de achar algum lugar para sentar. Percorri o olhar para trás, vendo o corredor, os armários, o gramado da parte de fora, um banco de pedra, um quadro de anúncios, um... Espera ai, um quadro de anúncios.
Voltei praticamente correndo e ficando de frente ao quadro. Rezei para que o que eu estivesse procurando estivesse lá.
Meus lábios abriram-se num sorriso e eu quis pular de felicidade. Claro que isso não iria parecer normal, e foi por isso que eu não o fiz. Comecei a abrir a bolsa para pegar o celular quando uma voz atrás de mim soltou:

- Se eu fosse você, não moraria ai.

Iria começar a gritar e perguntar à pessoa o porquê de se intrometer na minha vida e nas minhas decisões. Mas isso me pareceu rude demais, e a menina me olhava extremamente sorridente que eu não tive coragem.
A menina andou até o meu lado e olhou fixamente para o anúncio que eu olhava. Em seguida, virou-se para mim ainda sorrindo e disse:

- Mary Jane Stubb. MJ.

Mary Jane Stubb, ruiva com cabelos lisos na altura dos ombros, sardas pelo rosto, estatura mediana e olhos incrivelmente verdes.

- Mabelle Fontaine – respondi do mesmo modo que a garota e depois dei de ombros. – .

Ela sorriu e eu perguntei:

- Como você sabe que eu estava vendo os anúncios de apartamentos?
- Você é novata, todos os novatos procuram um lugar para morar.
- Puxa, ‘tá tão na cara assim? – perguntei sorrindo.
- Pois é. – Ela sorriu também. – Ai não é um lugar bom para se morar, falo isso por experiência própria.
- Por quê? – limitei-me a perguntar.
- Festas todo dia. Pessoas bêbadas. E pessoas chatas. – Ela riu com o comentário. – Você não me parece ser esse tipo de garota. Além do mais, os garotos são barra pesada.
- Nossa. – Tentei processar a informação. – Como você sabe de tudo isso?
- Experiência própria, eu já disse. – Ela continuou sorrindo. – Eu moro com a minha avó, e quis ter uma vida er... mais social, vamos dizer assim.
- Pelo jeito não deu certo – falei dando de ombros.
- Achei melhor desse jeito – ela falou também dando de ombros. – Mas, enfim, você é da onde?
- Cheguei ontem da França. Passar uns tempos aqui.
- Ah, entendo! Pelo jeito vamos ser colegas de sala.
- É! – respondi feliz. Pelo menos eu já conhecia alguém! – Bom, acho melhor eu ir... Você tem aula e eu ainda preciso arranjar um lugar pra ficar...
- Eu acho que sei de um lugar! – ela respondeu sorridente. Essa é a pessoa mais simpática que eu já conheci, estou te garantindo. O melhor de tudo é que ela parecia legal e ainda vai arranjar um lugar para eu morar!
- Onde? – perguntei com os olhos brilhando.
- Meu namorado divide um apartamento com um amigo. Lá tem espaço para mais uma pessoa, se você quiser, eu falo com eles!
- Ah, mas... só eles dois? – O fato de eu ter que morar sozinha com dois homens fazia a minha cabeça girar e não me agradava nem um pouco. Iria ser uma experiência totalmente nova.
- É, mas eles são pessoas legais. A gente pode ir lá no apartamento, para você poder conhecer e ver!
- Ah, eu não sei... – Não gostei muito da idéia. Digo, ela tinha se mostrado simpática e tal, mas eu nem a conhecia direito e muito menos os garotos.
- Vamos fazer assim: o sinal bate 12h15. A gente se encontra na lanchonete aqui do lado, sabe qual é? – ela perguntou e eu fiz que sim com a cabeça. – Depois vamos todos ao apartamento. Quero dizer, eu, você e o . O Robin faltou. – Soltou uma risada que eu não entendi muito bem, mas preferi ignorar.
- Tudo bem então – respondi, tentando esconder a vergonha.
- Tenho que ir agora! – Ela correu para me dar um beijo no rosto e saiu correndo para a sala de aula. Espero que não tenha se encrencado por minha causa. – Até mais tarde, !
- Tchau, MJ! – Balancei a mão sorrindo e fui para o gramado da escola. “Sempre existem aquelas pessoas boas”, pensei comigo mesma.

Havia entregado os papéis pendentes ao diretor e ele falou que eu já poderia começar a vir para as aulas amanhã, já que eu tinha perdido muita matéria e seria melhor evitar que isso continuasse a acontecer.
Olhei a minha volta e finalmente visualizei a saída. Arrumei a bolsa que estava nos ombros e olhei no relógio. Tinha quase duas horas para tentar arranjar um pequeno emprego e voltar àquele mesmo local, a fim de encontrar MJ e ver o que poderia ser o meu futuro lar.

Capítulo 5

As horas passaram-se muito rápidas enquanto eu caminhava pela cidade. O ar frio de Londres fazia meus cabelos voarem e eu me senti totalmente independente por estar nessa situação. Sorri de olhos fechados, sentada num banco. Havia caminhado bastante e meus pés latejavam, mas pelo menos havia conseguido. “Dois em um!”, pensei.
E isso ajudaria em alguma coisa. Digo, a placa indicava “Aulas de Hip Hop – somente esse mês” e eu não consegui resistir e tive que entrar. Adoro dançar, e acho que foi perfeito para mim. Porque eu faria aulas de dança em troca de ensinar algumas garotas a falarem francês. Isso foi muito bom, até porque o pessoal me pagaria a diferença em dinheiro.
As aulas de hip hop seriam apenas duas vezes por semana, enquanto as que eu daria de francês ocupariam toda a semana. Por isso a diferença em dinheiro. Não me pergunte por que eu cheguei falando em francês no local, deve ser a força do hábito. Porém, pelo menos ajudou.
Saí dos meus pensamentos para ver um garoto loiro, alto, forte e de olhos acinzentados e uma Mary Jane feliz e sorridente na minha frente, com o vento batendo em seus cabelos e deixando sua pele branca um tanto rosada.

- , essa é . , esse é o .
- A garota que enfrentou a Chelsea. – Ele riu e estendeu a mão.
- Parece que as notícias correm, né? – Sorri um tanto encabulada e apertei sua mão.
- Você não faz idéia do quanto. – Ele sorriu e deu um selinho em Mary Jane, que ria da minha cara rosada.
- Vamos? – ela perguntou entrosando seus dedos nos de . A outra mão estava segurando uma espécie de salgadinho.
- Acho que sim. – Sorri para o casal à minha frente e arrumei a bolsa no meu ombro direito.

Percorremos o caminho conversando, a garota foi me falando o que se passava na escola e o menino me explicou como eu faria para andar do apartamento até a mesma. Sentia meu coração palpitar forte dentro de mim, já que eu achava que não estava preparada para esse tipo de coisa. Embora estivesse feliz com a escola, o emprego e os cursos, a questão da moradia era um tanto delicada e eu não queria fazer nada precipitado. Mas também não podia ser grosseira com as únicas pessoas que haviam se mostrado tão legais e hospitaleiras comigo.

- Você não vai almoçar não? – perguntei do nada e apontei para o salgadinho em suas mãos.
- Até eu chegar em casa, a minha fome já voltou – ela disse e riu. Fiquei um tempo sem entender, mas ri da mesma forma que ela. Eu posso ser meio lerda às vezes.

Caminhamos mais um pouco e dessa vez eu fui reparando nas coisas. Um parque com uma ciclovia banhava o nosso lado direito, e eu visualizei um pequeno lago no local. Era um lugar hospitaleiro, havia muitas casas com seus jardins altamente cuidados.
Paramos frente a um prédio do outro lado do parque, de cor creme e incrivelmente bonito. Sorri para mim mesma enquanto Mary Jane abria o portão e dava um bom dia para o porteiro, do mesmo modo que .

- Espero que ele não esteja dormindo – MJ falou com uma cara brava entrando no elevador. Reparei que o quinto andar havia sido acionado.
- Se estiver, nós o acordamos – o namorado da menina disse rindo e ela riu também.
- Alguma tática nova?
- Nós podemos apelar para um balde de água, ao invés do copo. – Ele gargalhou abrindo a porta do elevador, já no andar correto. Estremeci.

colocou a chave na fechadura da porta de número cinquenta e quatro, girando-a. Ele entrou primeiro gritando um: “OOOOOOOOOOI, SEDENTÁRIO!” para o amigo que eu não conhecia e Mary ficou para trás. Pegou em minhas mãos e disse em tom baixo.

- , relaxa. Se você não gostar é só falar, tudo bem? – Assenti e, depois dessa fala da garota, senti-me um pouco mais confiante.

Fechei a porta atrás de mim, já que todos haviam entrado. Observei um apartamento médio e um tanto acolhedor. Espiei pela cozinha para ver MJ tomando um copo de água; reparei na sala com um sofá grande e uma televisão que não ficava atrás. Virei o rosto tentando olhar para o outro lado, onde deveriam ser os quartos.
Só que nessa hora um jato passou pelo meu lado, me fazendo tombar – mas não cair. Os dois garotos gargalhavam e foram em direção ao sofá, numa espécie de brincadeira de luta.
estava em cima do outro menino tentando colocar as mãos para trás, enquanto o outro dava chutes com a perna acertando as costas de . Não consegui ver o rosto da pessoa, mas pude notar os bíceps definidos e o cabelo . A cena estava um tanto engraçada, e quem observasse de outro ângulo poderia pensar outra coisa. Ri no “mute” ao ter esse pensamento, até notar a minha mais nova amiga do meu lado, com os braços cruzados e o pé batendo no chão, como se fosse uma verdadeira mãe.

- Vocês querem se comportar? Temos visitas! – ela disse e andou em direção ao sofá, onde os dois garotos estavam jogados. Continuei em pé sem me mover milímetros.
- Temos visitas? Já se fixou na nossa humilde residência então? – ouvi uma voz abafada, e deu um tapa na cabeça do garoto que estava abaixo de si.

Dessa vez não consegui aguentar e gargalhei alto, no mesmo momento em que saía de cima do amigo, deitando-se no colo da namorada. Notei um par de olhos incrivelmente irresistíveis olharem fixamente na minha direção, e parei de rir no mesmo instante. Eu havia reconhecido aquele olhar.

- Hey, a garota do hotel! - ele disse se levantando e sorrindo na minha direção. Tentei não olhar para aquela visão imaculada na minha frente. Digo, ele estava com uma blusa regata branca, um shorts altamente largo que estava na metade da bunda e um sorriso enorme que me fazia ficar cega.
- Olha só, o garoto da bicicleta! – respondi também rindo e andando para perto dele, que me puxou para um abraço. Decidi não respirar nesse momento, mas foi meio que impossível. Agora eu já estava totalmente drogada em seu perfume, e seus braços apertavam a minha cintura com uma certa força.
- Vocês se conhecem? – perguntou, levantando-se do colo da namorada e arqueando uma sobrancelha.
- Pois é – respondi saindo do abraço e pedindo a Deus não me deixar vermelha naquela hora. Deus é malvado.
- Mundo pequeno. – Ele sorriu e olhou para mim.
-Põe pequeno nisso – respondi sorrindo também, enquanto os outros dois nos chamavam para sentarmos no sofá.

Capítulo 6

Ficamos um tempo conversando no sofá, eu expliquei a minha situação para os garotos e eles concordaram na hora em ter uma menina morando no mesmo apartamento. Só que agora o problema era comigo, porque eu não tinha certeza de nada. Além disso, o não me deixava pensar e ficava fazendo palhaçadas, tirando toda a minha concentração. E antes que você fale: “Nossa, já chamou o garoto de , olha a intimidade”, achei o menino realmente legal e ele também me chamava pelo apelido.

- Mas e então, , já se decidiu? – Mary Jane perguntou logo de uma vez, fazendo-me ter um surto.
- É... eu... bem... – eu disse que ela me fez ter um surto.
- Relaxa, nós somos pessoas legais – disse arqueando uma sobrancelha e fazendo pose.
- É, ‘tô vendo. – Gargalhei e ele fechou a cara, enquanto os outros riam comigo.
- Olha, gente, eu vou abrir o jogo com vocês – comecei, endireitando-me no sofá e pousando as minhas duas mãos - que estavam enlaçadas como se nunca mais fossem se soltar – no colo. – Assim, vocês me parecem ser pessoas legais e tudo mais; foram os únicos que me ajudaram aqui... Mas sei lá. É uma experiência estranha para mim, eu nunca morei sozinha antes. E muito menos com dois garotos – acrescentei rindo ao ver a cara dos meninos. – Eu acho que...
- Eu acho que você nunca vai saber se não tentar – disse um tanto sério e um silêncio se apoderou de todos.
- Nossa – disse, seguido de um suspiro de MJ.
- É a primeira vez que eu vejo ele falando algo filosófico e bonito – exclamei espantada e o garoto olhou na minha direção com uma expressão bastante engraçada.
- É a primeira vez que ele fala alguma coisa filosófica e bonita – acrescentou , bastante calmo. Caímos na gargalhada enquanto dava um tapa na cabeça de cada um de nós.
- Vamos fazer assim – começou o garoto de olhos acinzentados. – Você trás as suas coisas para cá hoje à noite, e fica como se fosse um tempo de experiência. Se não gostar, volta para o hotel.
- Mas se não, seja bem vinda, pimpolha! – o mais idiota de todos completou a frase do amigo, me puxando para um cafuné. Ri e desvencilhei-me dele, pensando na proposta de .
- Ninguém vai te obrigar a ficar se você não quiser – Mary Jane disse calmamente brincando com os dedos do namorado, que estavam entrelaçados nos seus.
- Imagine se ela morasse aqui, você já estaria sendo intimada a vir para cá – disse para mim, referindo-se à MJ, que lhe deu a língua. O garoto retribuiu do mesmo jeito. Mas que palhaço.
- Hm... certo – respondi animada e me levantei do sofá. – Bom, acho que vou para o hotel e depois eu volto trazendo as minhas coisas!

riu da minha cara, enquanto Mary Jane me puxou para um abraço e fez um “joinha” com o polegar. Peguei a minha bolsa que havia deixado no quarto que seria meu quando os garotos me mostraram o apartamento.
Havia um quarto de hóspedes, que estava coberto de tralhas e coisas “não utilizáveis”, como eles mesmos diziam. Mas era até que bem amplo, e já tinha uma cama, uma mesa e um guarda-roupa. A única coisa que eu teria de fazer seria limpar, mas para isso eu teria ajuda.
Segui em direção à porta, dando um abraço em todos e me despedindo. MJ e entraram de novo no apartamento, agora aos beijos. Acho que estavam matando as saudades. Coitado do .

- Eu te acompanho, vai que você se perde e não encontra o hotel – o garoto afirmou rindo e tirando uma com a minha cara enquanto fechava a porta atrás de si.
- Como você é idiota! – disse rindo e cruzando os braços. – Mas acho que vou aceitar a sua ajuda sim.
- Viu, eu sou uma cara legal, coração – ele disse me puxando para um abraço. – E sim, eu tenho mania de abraços – ele acrescentou risonho ao perceber que eu havia ficado rígida. Poxa, duas vezes em menos de uma hora.
- Deu para perceber – falei retribuindo o abraço. Ele me lembrava muito o meu pai. Fazia piada de tudo e ria de todos.
- “Como você é idiota!” – ele disse me imitando e rindo da minha cara, enquanto chamávamos o elevador.
- Sabe, , você é legal – disse de supetão e entrei no elevador. Ele meio que congelou atrás de mim, mas depois fez o mesmo que eu.
- Você também é legal, .

Sorri para ele, tentando não chorar. Ele havia me chamado do mesmo jeito que a minha mãe, e uma lembrança súbita dela apoderou-se de mim. Senti o coração latejar e coloquei a mão delicadamente onde ele estava.
- ‘Tá tudo bem? – ele perguntou ao ver a minha reação.
- Nada com o que precise se preocupar. – Sorri e abri a porta, saindo do elevador e indo em direção à rua.
- Não vai contar para o seu melhor amigo aqui? – ele disse batendo no peito e fazendo cara de poderoso, enquanto eu só conseguia rir.
- E quem disse que você é o meu melhor amigo? – perguntei colocando as mãos no bolso da calça e andando ao lado do garoto pela rua.
- Ouch, essa doeu em mim – ele acrescentou e eu ri.
- Já disse, nada com o que você precise se preocupar – falei me virando para ele e apertei suas bochechas. – Melhor amigo!
- Ainda, melhor amiga. Ainda – respondeu meio envolto aos pensamentos e nós continuamos andando, agora em silêncio.

Capítulo 7

O tempo de chegar ao hotel, pegar as minhas coisas e resolver a questão do pagamento aconteceu tão rápido que, quando percebi, já estava no apartamento dos meninos, acompanhada de Mary Jane.
foi muito gentil e me ajudou com a bagagem durante todo o caminho, me fazendo rir ao perceber meu nervosismo e me explicando como as coisas aconteciam por ali.
Abrimos a porta e a cena não foi uma das mais agradáveis: MJ deitada por cima de no sofá, a televisão da sala ligada enquanto os dois se beijavam furiosa e calorosamente.
e eu nos entreolhamos e eu segurei o riso. O garoto já parecia estar acostumado em ver uma cena dessas, então a única coisa que fez foi jogar a minha mala no chão com força e bater a porta do apartamento do mesmo modo.

- Vão para um quarto – disse passando a chave pela porta e segurando as gargalhadas, assim como eu, que permaneci parada do lado da mala jogada.
- Uhum, para o seu – grunhiu e a garota de cabelos ruivos saiu de cima dele, rindo.

gargalhou e jogou-se no sofá por cima dos outros dois, enquanto eu ri e também andei em direção ao sofá e me joguei por cima dos outros três.

- Meu deus, tem uma gorda em cima de mim! – berrou e eu me afundei mais neles.
- O quê? Não consigo te ouvir! – falei rindo.
- TEM UMA GORDA EM CIMA DE MIM! – ele tentou gritar, mas era o que estava em baixo de todos, ou seja: sua voz ficou totalmente abafada.
- NÃO CONSIGO OUVIR! – gritei sem parar de rir.
- Saiam de cima de mim! – MJ gritava.
- Eu vou dar um jeito nisso! – empurrou a minha cintura, fazendo com que eu caísse no chão, e se aproveitou para se jogar em cima de mim.
- VOCÊ ‘TÁ ME MATANDO! - esganicei e senti mais dois pesos, que supus ser a outra garota e o namorado.
- NÃO ESTOU TE OUVINDO! – foi a vez de gritar antes de todos se jogarem para o lado e despencarem no tapete da sala, um ao lado do outro, arfando.
- Vocês são bobos – foi o que consegui falar. – Principalmente você, ! - disse e dei a língua, já que ele era o único que estava do meu lado.
- Não é minha culpa, você também estava me matando – ele disse dando de ombros, enquanto os outros riam.
- Não precisava quase me matar! – falei me sentando com as costas apoiadas no sofá.
- Já chega aqui e quer mandar, tsc tsc – Mary falou se sentando também e desligando a televisão.
- Olha quem é que ‘tá falando alguma coisa. – puxou o nariz da namorada delicadamente enquanto ela arqueava uma sobrancelha.
- Bom, o papo ‘tá tudo uma beleza, mas eu preciso ir, antes que a minha avó me mate. – A garota se levantou e começou a procurar a bolsa.
- Poxa, amor, agora que a gente iria para o quarto do Robin! – disse e eu percebi revirando os olhos.
- Robin? – perguntei sem entender enquanto ajudava a namorada a procurar a bolsa perdida pelo apartamento. - É o apelido dele – começaram a me explicar. – Por causa do sobrenome.

Devo ter feito cara de interrogação porque em seguida eles (leia-se: MJ e ) riram e continuaram:

- Brandon Wood – o garoto de olhos acinzentados me falou mexendo a mão numa espécie de trocadilho. Gargalhei.
- Não sabia que você era o príncipe dos ladrões – disse gargalhando e me levantando enquanto ele me olhava de um jeito estranho.
- Não só dos ladrões – ele disse se levantando e dando de ombros. – De acordo com as mulheres, claro.

Ele riu mais ainda, assim como eu e os outros dois. Pelo jeito, a fama de pegador era mesmo verdade.
Mary Jane se despediu de todos e, pela terceira vez ao dia, nos sentamos no sofá da sala.

- E então... – começou um dos garotos. Fiquei em silêncio.
- Você tem que se instalar! – exclamou o outro.
- É o que parece... – falei e fitei meus pés. Era muito mais constrangedor sem MJ para amenizar a situação.
- É novidade para nós termos uma garota morando com a gente – disse.
- É, eu percebi – disse rindo. – Não se preocupem, pensem que eu sou só outro garoto!
- Isso é bastante difícil... – passou os olhos por mim. Eu ri.
- ‘Tá, vamos desistir dessa idéia – comecei. – Quem vai me mostrar o meu quarto? – perguntei entusiasmada e me levantando do sofá.
- Vai lá, , eu vou pedir uma pizza. – se levantou do sofá e foi para a cozinha.
- Tudo bem, vamos lá! - Ele levantou-se e me puxou pela mão para um corredor.
- Só espero que vocês não jantem todo dia pizza. Eu preciso manter a forma – disse enquanto ele me puxava.
- Nós agora temos uma nova moradora para nos fazer mudar o hábito! – ele falou apertando as minhas bochechas. Corei involuntariamente. – Não que você precise. ‘Tá em ótima forma!
- Er... obrigada? – perguntei meio descompassada.
- Disponha, melhor amiga! – Ele deu uma piscada enquanto eu me limitava a rir.

Puxou-me pelo resto do corredor e paramos na porta ao fundo. Havia mais três portas; uma do lado da minha; outra na frente; e a última um pouco para a diagonal.
Visualizei o banheiro, mas fiquei meio confusa em descobrir qual quarto era de cada menino, já que os dois estavam praticamente bagunçados e com as paredes lotadas de posters.

- O meu quarto é esse – ele disse apontando para a porta ao lado da minha ao ver a minha confusão. – O do é aquele ali. – Apontou para a porta à diagonal. – Muito mais bagunçado, te garanto.
- Certo, eu vou fingir que acredito. – Ri alto enquanto ele abria a porta do quarto. Estava igualzinho eu tinha visto a última vez: cheio de pó, bagunçado, com várias revistas em cima da cama, assim como móveis e algumas coisas de cozinha que eles não usavam – e que eram importantes.
- Er... acho que precisamos dar uma arrumada – ele disse coçando a cabeça. Percebi a vergonha do garoto e sorri para deixá-lo menos constrangido.
- Tudo bem, já é um alívio vocês me deixarem morando aqui! – Ele sorriu de volta para mim, olhando nos meus olhos. – Bom, vamos começar a faxina! – Levantei os braços para cima e fiz pose de poderosa.
- ! – ouvi alguém correndo em direção a nós. – Seu celular ‘tá tocando que nem louco.

O pegou o celular e olhou para o identificador. Revirou os olhos assim que viu o número.

- Eu falei que ela iria te encher o saco até a morte. – riu e voltou para o que estava fazendo.

Fiz cara de interrogação e fiquei parada assim que o meu mais novo amigo me pediu isso.

- Oi, Taylor... – ele começou e revirou os olhos. Fez algo com a boca e eu comecei a rir. – Quem ‘tá rindo? – Ele olhou para mim desesperado e tampou a minha boca com a mão. – Não tem ninguém rindo... É só o aqui... Sair? Hoje? Nem dá... O ‘tá... er... passando mal... Eu estou aqui ajudando ele... Amanhã? Ah, a gente pode combinar isso depois, tchau!

E praticamente bateu o celular na cara da menina. Soltou a minha boca ao ver que eu parara de rir e respirou, aliviado.

- ? Passando mal? – Cruzei os braços ele fez uma cara suplicante.
- Ah, , qual é! – Estremeci mais uma vez com ele me chamando por esse nome. – Eu não vou sair com ela hoje. Eu vou te ajudar a fazer a faxina! – ele disse fazendo uma cara sapeca e eu ri, pra variar um pouco.
- Certo, você quer é se livrar dela e me arranjou como desculpa – disse ainda rindo.
- Ok, você acertou – ele falou e abaixou a cabeça. – É que ela é a da quarta-feira...
- Você não presta! - Gargalhei dando um tapa em seu braço e ele me puxou para um abraço em seguida.
- Nem vem – ele falou antes que eu pudesse dizer alguma coisa. Teria que me acostumar com aquelas manias de abraço.
- Eu não ia falar nada! – objetei.
- Se você diz, eu acredito. – E continuou me abraçando.

Dessa vez, decidi retribuir o abraço. Passei as mãos em volta de seu pescoço e o puxei para mais perto, assim como ele fazia comigo pela cintura.

- Seu abraço é gostoso – ele disse com os olhos fechados e sem me largar. Eu ri.
- Seu abraço também é gostoso – respondi e nos separamos ainda rindo.

Depois disso, fomos em direção à lavanderia para pegar algo para começarmos a limpar o quarto. E, claro, para arrastar o na limpeza também. Mesmo que fossem nove horas da noite.

Capítulo 8

Terminamos a arrumação por volta da meia noite. E nem assim estava completa, já que precisávamos arranjar um lugar para as tralhas que estavam lá e eu tinha que arrumar minhas roupas na gaveta.

- Estou exausta! – disse me jogando na cama.
- Dois votos! – exclamou, jogando-se ao meu lado da mesma maneira.

Ficamos um tempo assim, deitados. Fechei os meus olhos e logo senti o cansaço de todo dia batendo sob o meu corpo. Eu havia andando, me mudado, arranjando um emprego, feito a matrícula na escola e arrumado – pelo menos uma parte – das minhas coisas.

- Acho que tem alguém caindo de sono – ele sussurrou no meu ouvido de um modo risonho, assoprando em seguida. Estremeci e ri, me encolhendo, ainda de olhos fechados.
- Ah, eu tenho cócegas, pára! – disse ainda encolhida e ele gargalhou. Só que continuou a fazer isso, só de pirraça. Vê se eu mereço um carma desses. – , pára! – disse agora abrindo os olhos e me esquivando dele.
- Isso não vai acabar tão cedo, ! – ele riu e me empurrou de lado, fazendo com que eu quase caísse da cama. Puxou a coberta dos pés e me cobriu, me deixando totalmente sem palavras.

Levantou-se do colchão e se inclinou contra mim, encostando seus lábios em minha bochecha. Estremeci mais uma vez.

- Boa noite – ele disse e eu sorri, respondendo:
- Boa noite.

Ele saiu porta afora e eu decidi que não me levantaria mais. Dormiria com a mesma roupa e amanhã de manhã tomaria um banho para o primeiro dia na escola.

~~

Eu acho que estava me acostumando com Londres. O sol que surgia pela janela invadia o meu quarto, e foi o que me fez acordar. Levantei da cama, ainda meio sonolenta. Segurei um grito quando bati o dedinho do pé na quina da cama e corri para a janela, a fim de ver o tempo. Uma brisa gelada bateu no meu rosto e eu estremeci, mas olhei para o céu. Claro como o mar, as nuvens pareciam tão fofinhas e brancas que eu tive a certeza de que não iria chover por um bom tempo. Apesar do frio – eu ainda estava me acostumando com o clima do local -, fiquei feliz ao notar que no primeiro dia no novo colégio não estaria tão feio.
Fechei a janela e, depois de escolher uma roupa confortável e simples, fui para o banho. Não queria chamar atenção e, além disso, eu não fazia questão de estar na moda.
Sai do quarto com as roupas e uma toalha em mãos e notei que os meninos estavam dormindo ainda. Dei graças a Deus por isso, já que eu teria que dividir o banheiro com eles e isso realmente me deixava... constrangida. Teria que aprender a lidar com isso.
Aproveitei para deixar alguns cremes e a minha escova de dente por lá mesmo. Só quero ver a reação deles quando vissem tudo isso.
Coloquei a minha roupa e enrolei os cabelos na toalha. No instante que abri a porta, alguém trombou em mim e eu não consegui esconder o berro.

- Calma, , sou eu! – exclamou desesperado.
- , meu deus! – disse vermelha. Não é todo dia que eu saio do banho e dou de cara com um garoto. Mesmo que estivesse vestida.
- Desculpa, eu esqueci que você tava... hm... aqui – ele disse coçando os cabelos, visivelmente nervoso. Reparei no garoto pela primeira vez e, meu Deus, ele estava só de boxers. Fazia um frio tremendo lá fora e ele só de boxers. Garotos são complexos.
- Eu... hm... é, eu acho que vou fazer o café – disse ficando mais vermelha. – Acho que ainda não me acostumei a viver com dois garotos. – Soltei um riso.
- É, eu acho que eu não acostumei a ter uma menina no apartamento. – Ele riu também e entrou no banheiro, enquanto eu fui para o quarto terminar de me arrumar.

Penteei os cabelos e corri para a cozinha, com o olho no relógio. Era exatamente 7h15, ou seja: eu tinha quarenta e cinco minutos livres até entrar no colégio.
Abri a geladeira e os armários e não achei nada de tão interessante para se comer. Eles definitivamente precisavam fazer compras decentes. A sorte é que tinha um pouco de açúcar e pó de café, e foi o que eu consegui fazer.
Tomei o meu café calmamente, pensando nas coisas. 7h30. apareceu na cozinha apressado, parecendo não mais se importar com o que havia acontecido há alguns minutos.

- O não acordou ainda? – perguntei assustada.
- Que novidade – ele respondeu sem ligar muito, colocando café na xícara e em seguida bebendo. – Meu deus, isso aqui ‘tá bom! - ele disse.
- Obrigada – respondi agradecida. – Ele não vai para a aula? – voltei ao assunto e o garoto deu de ombros, mais interessado no pão em que estava comendo.

Arqueei a sobrancelha e saí da cozinha de fininho. Seria a hora perfeita para poder dar o troco de ontem. Ele não me deixava arrepiada e saia ileso, ok?
Corri até o quarto dele, rindo mentalmente. Abri a porta e o quarto também estava claro por causa do sol, e eu consegui visualizar a maior bagunça de todas. Olhei para cama e o garoto estava totalmente esparramado em cima dela, de barriga para baixo. O travesseiro no chão e ele por cima das cobertas, do mesmo jeito que eu havia encontrado no banheiro. Tentei ignorar os pensamentos e fui fazer o que tinha prometido a mim mesma que iria fazer.
Andei calmamente até ele e, num segundo, pulei com tudo em cima de suas costas, gritando:

- BOM DIIIIIIIIIIIIIIIA, MEU CORAÇÃO DE DRAGÃO! – disse rindo enquanto ele se mexia debaixo de mim.
- Porra, , pára de ser gorda! – ele disse de olhos fechados, tentando me tirar de cima dele, mas eu só consegui rir.
- Você ‘tá atrasado – disse sentando em cima de suas costas. Era incrível como de um dia para outro havíamos nos tornado tão amigos.
- Eu não acredito que você me acordou para ir à escola – ele disse puxando o travesseiro do chão e cobrindo rosto.
- Escola é importante! – Eu ri e joguei meu corpo para trás. Estava deitada em cima dele, de barriga para cima. Sentia minhas costas na dele, e minha cabeça encostada em seu travesseiro que, por sinal, estava em cima da dele.
- , é melhor você correr – ele disse, e eu notei suas mãos vindo em minha direção.
- Por quê? – perguntei, mas já não havia dado mais tempo. Suas mãos estavam em volta da minha cintura, fazendo cócegas.

Eu me remexia gargalhando e pedindo para ele parar, fazendo chantagens. Mas de nada adiantou. Menos a parte em que eu me desequilibrei e caí com tudo de cara no chão. Porque logo depois disso, eu estava deitada no piso gelado tentando verificar se não havia quebrado nenhum osso enquanto ele ria deitado na cama e olhando para mim.

- Não ria de mim, eu podia ter fraturado a coluna! – disse fazendo drama e ele jogou-se em cima de mim, com tudo. – Filho da puta, eu não consigo respirar!
- Bem feito. – Ele riu e se levantou, me ajudando a fazer o mesmo em seguida.
- Vai se arrumar, você vai ter que aturar uma chata como eu na escola hoje – disse saindo pela porta enquanto ele corria para o banheiro e gritava algo como: “É, você é o meu carma, menina!”

Cinco minutos depois, eu e conversávamos na sala, até que passou correndo por nós gritando e falando:

- Vamos, estamos atrasados! – gargalhou e nós saímos correndo atrás do garoto, que já trancava o apartamento com rapidez.

Caminhamos rapidamente e conversando. Avistamos a escola e alguma coisa passou por mim, me fazendo ter um arrepio. O coração bateu descompassado e eu notei que aquele não seria só mais um ano no ensino médio. Seria o último ano de ensino médio. Totalmente diferente dos outros.

Capítulo 9

Respirei fundo antes de dar mais um passo, e parece que os garotos notaram o meu estado. Os dois me abraçaram pelo ombro e falaram que tudo ficaria bem. Agarraram-me pelas mãos e me puxaram até a entrada. É, exatamente como se eu estivesse no primeiro dia de aula da educação infantil. Eu ligaria para isso se não estivesse tão nervosa.
Atravessamos o pátio recebendo olhares curiosos de algumas pessoas, mas nada que me deixasse tão sem graça assim. Os meninos me mostraram o meu armário (eu já havia combinado tudo com o diretor no dia anterior) e depois fomos para o jardim lateral. Pelo jeito era lá que eles se encontravam com a Mary Jane antes de irem para a aula.
Seguimos para o local rindo de alguma piada que havia contado. Era incrível como a nossa amizade havia crescido tanto em apenas um ou dois dias. Avistamos uma mesa de granito e decidimos nos sentar por lá mesmo. Ela ficava no jardim lateral da escola, onde geralmente o pessoal passava o recreio e o começo das aulas – segundo os meninos.

- Adivinha quem é? – Olhei para cima e vi MJ tampando os olhos do namorado com um sorriso no rosto. O garoto apenas riu e a puxou pela cintura, fazendo-a cair em seu colo. Os dois gargalharam e passaram a se beijar, enquanto eu e ríamos dos dois.
- Ih, que melação! – o garoto disse do meu lado, me cutucando com o cotovelo enquanto eu só conseguia rir. Podia ser meloso, mas até que era fofo – e romântico.

O segundo que se passou me deixou estarrecida. Isso porque, quando eu vi, tinham dois braços em volta do e bem... era uma garota. Uma garota chata.
Ela deu um beijo no rosto dele e ele sorriu, e isso fez com que as línguas deles se entrosassem e bem... Eu não fiquei reparando muito nos dois, já que e MJ haviam parado de se agarrar e olhavam para o casal ao meu lado com uma cara de... nojo? Ou sei lá o que.
Dei um sorriso amarelo para os dois, me sentindo desconfortável com a situação. Digo, tinha um casal se comendo do meu lado, não era nada agradável.
Os dois pararam com a pegação e o garoto se levantou, enquanto a menina passava os braços pela cintura do . Ele riu desconcertado e tratou de tirar logo a mão da garota de lá, e em seguida falou:

- Chels, essa é a ! – disse entusiasmado enquanto eu tentava arranjar um meio de enfiar a cabeça num buraco sem chamar atenção. Será que ele não sabia o que havia acontecido ontem?
- Eu sei, meu amor. Nós já nos conhecemos, né? – Ela deu um sorriso e colocou as mãos na cintura.
- Oi – disse tentando sorrir, mas o máximo que consegui foi um muxoxo. Por que aquilo estava acontecendo mesmo?
- Bom, a gente se vê mais tarde er... Eu vou mostrar a escola pra ... Tchau, Chelsea! – E ele pegou minha mão, correndo para longe da garota. É, às vezes esse garoto realmente me assusta.

Ele me puxou pela mão até saímos do alcance de visão da garota de cabelos castanhos, e os outros dois vieram atrás de nós com os dedos entrelaçados.

- ‘Tá, , espera – disse parando e fazendo com que ele parasse também. – O que foi isso? – perguntei, tentando respirar.
- Er... hm... nada – ele disse e sorriu com a cara mais deslavada do mundo, também ofegante com a corrida.
- Eu disse, cara, a drama Queen acha que você e ela namoram – disse batendo nos ombros do amigo.
- , eu e a Chelsea mantemos um relacionamento aberto – disse calmo e eu tentei não rir. É rir para não chorar, certo? Certo. Eu acho.
- Se você diz, a gente acredita – MJ falou, e o garoto só riu, fazendo um gesto do tipo: “ Eu e ela só ficamos algumas vezes, é sério.”
- Que aulas vocês tem agora? – disse tirando um papel da bolsa para olhar... bem, as minhas aulas. Eu queria mudar de assunto logo, falei.
- Física II – disse e indicou com a cabeça que tinha o mesmo.
- Ah, eu tenho biologia – disse desanimada. Passaria as primeiras aulas do dia sozinha?
- Legal, , eu também! – MJ disse feliz. – Vamos, eu te mostro onde é a sala! Até mais, garotos!

E assim ela deu um selinho no namorado e riu para , enquanto eu olhava tudo um pouco nervosa. Dei um tchauzinho com a mão para os garotos e me deixei ser guiada pela menina.

Capítulo 10

Entramos no laboratório e, graças ao meu bom Deus, as mesas eram formadas por cadeiras em duplas. Sentei-me com Mary Jane, quieta demais e olhando tudo ao meu redor. Era realmente uma sorte eu não ter essa aula com a Chelsea... Imagina o que poderia ter acontecido?

- Eu não sei como o aguenta isso, é sério – ela começou, tirando alguns cadernos da bolsa e se virando para mim.
- Você quer dizer sobre aquilo que aconteceu agora a pouco? – perguntei.
- Claro! Mas, pelo o que eu conheço do , ele nem está tão preocupado assim.
- Dá para perceber – disse rindo.
- Ele e a Srta. Drama Queen estão ficando, mas ao mesmo tempo não.
- Hein? – disse surpresa.
- É. Eles saem juntos algumas vezes e ficam, mas nada muito sério. Pelo menos da parte dele.
- Por que ‘tá me contando essas coisas? – perguntei segurando o riso.
- Nada, só achei que você deveria saber. – Ela fez uma cara que eu não conhecia e depois riu. – O não namora. Na verdade, eu acho que o relacionamento mais comprido que ele já teve durou um mês... Ou menos.
- Caramba. – Eu ri, mas fiquei assustada do mesmo jeito. Como assim o relacionamento máximo dele só havia durado um mês?

~~

- Hey, ! – alguém disse puxando os meus ombros e grudando sua cara na minha, me fazendo rir.
- , pára com isso! – disse rindo. É claro que era ele. Primeiro porque só ele chega todo meloso para cima de mim, e segundo porque só ele me chama de . Tirando a minha mãe, claro.
- Nossa, depois dessa eu vou até embora. – Ele largou de mim e fez cara de cachorro sem dono, me fazendo rir e apertar suas bochechas.
- Ah, pára com isso! – disse rindo enquanto andávamos em direção à saída. As aulas haviam passado tão rápido que eu nem tinha percebido e, quando notei, já estava no portão dos fundos esperando o outro casal apaixonado aparecer.

Fiquei no local, escorada num poste, enquanto estava ao meu lado, conversando com alguns amigos que eu não conhecia. Ainda não conhecia. Porque, segundos depois, fui apresentada para três garotos – Mark, Austin e Jake. Eram muito bonitos e, para falar a verdade, esse último... era gato. Mentira, era MUITO gato! Tinha a mesma altura que o , mas os cabelos eram loiros e um pouco compridos, e os olhos num tom verde altamente babável.
Foi o primeiro que começou a puxar papo comigo e, pela primeira vez na vida, não me senti muito tímida. Ele era bastante legal e me fazia rir. Ficamos conversando por um tempo e, de vez em quando, sentia meu braço roçar pelo de . Às vezes ele me olhava e sorria, e eu fazia o mesmo. Existem coisas que a gente não explica.
Cadê a droga do e da Mary Jane?
Dez minutos depois, o casal aparece, um agarrado ao outro, sorrindo e dando altas gargalhadas. cumprimenta o resto do pessoal enquanto MJ faz o mesmo e corre para o meu lado, me puxando e dizendo que nós iríamos na frente. Não entendi muito bem o porquê disso, mas decidi acompanhá-la.
‘Tá legal, eu já sei o porquê agora de ela ter me puxado: . Ela foi falando dele o caminho inteiro, e como ele estava mais fofo ao passar dos dias e como ele era antes de eu ter chegado à cidade. Eu só conseguia rir e exclamar gritinhos de aprovação, já que era realmente fofo.
Logo os dois garotos se aproximaram da gente e Mary correu para o encontro do amado, enquanto eu fiquei para trás, ao lado de .

- Parece que os garotos gostaram de você – ele disse passando a mão pelo cabelo.
- Sério? - perguntei. E eu que me achava anti-social! Mas espera, se ele disse os GAROTOS... significa que o Jake também! Yeah, ponto para mim!
- Claro! A minha melhor amiga é demais. – Ele riu e me puxou pela cintura, num abraço um tanto quanto desengonçado. – Além disso, nós combinamos de sair na sexta à noite, e você também vai!
- E eu tenho alguma escolha? – disse rindo. Mesmo se eu tivesse, quem disse que eu deixaria de ir? – Aonde vamos?
- É um pub aqui perto. Chama Red Stokes.
- Parece ser legal.
- E é! – ele disse e eu ri ainda meio nervosa com a idéia. Nervosa, mas ao mesmo tempo animada. – A MJ também vai. Ela e algumas outras garotas...
- Sei – disse arqueando uma sobrancelha e ele riu, apertando o braço em minha cintura.
- São amigas dos caras!
- Eu não falei nada! – disse balançando as mãos, agora rindo.
- Ah, pára de ser chata! – Ele fez com que eu parasse e me puxou para sua frente, me dando um abraço apertado e fazendo meus pés saírem do chão.
- Preciso me acostumar com essa sua síndrome de abraços – disse ainda abraçada a ele, no meio da rua.
- Pois é. – Ele riu no meu ouvido e me soltou, agora me puxando e fazendo com que corrêssemos até o casal à nossa frente.

Soltou a minha mão e subiu com tudo em cima do , quase o fazendo cair com o peso e com o susto.

- Filho da puta! – gritou gargalhando e começou a correr atrás de , que saiu correndo em direção ao apartamento.

Eu e Mary Jane fomos rindo e chegamos bem depois que os dois. Ela me falou um pouco sobre os outros três garotos e as meninas que geralmente saíam com eles. Eram um grupo, e eu era a integrante mais nova disso tudo.

Capítulo 11

- , anda logo! – gritou pela milésima vez, batendo na porta do meu quarto.
- Já ‘tô acabando! – gritei de volta. Claro, já era sexta feira e nós iríamos sair com todo o pessoal. Eu não deveria – e nem poderia – ir feia. Além disso, eu estou me arrumando o mais rápido possível.
- Você ‘tá dizendo isso faz quase meia hora! – gritou também.
- Vão para a sala que eu já vou, caramba! – gritei terminando de arrumar alguns fios de cabelo e ouvi os passos dos garotos se dirigirem à sala. Fiz mais alguns minutinhos – de propósito, é claro – e em seguida fui à sala, falando:
- Meu Deus, vocês têm mesmo que aprender a viver com uma menina – disse chegando à sala e puxando minha bolsa no sofá.

levantou-se instantaneamente, e reparei que estava vestido com uma jeans escura e uma camisa verde, o all star no pé verde também. Seus cabelos estavam muito bem penteados e os olhos mais acinzentados que o normal. Ele batucava na perna de uma forma nervosa – nós ainda teríamos que buscar MJ na casa da avó e já estávamos atrasados. Passava das 22h.
Enquanto fez questão de levantar, ficou parado no sofá, me olhando. E eu, obviamente, tinha que ficar vermelha. Qual é, nós nos abraçávamos a toda hora, fazíamos piadinhas um com o outro e vivíamos numa amizade melosa, como eu ainda ficava vermelha com ele me olhando desse jeito?!
Ele se levantou de repente do sofá e caminhou na minha direção e, durante esse pequeno percurso, pude reparar no quão arrumado estava. Uma calça jeans clara e muito larga, uma camisa vermelha com as mangas dobradas até os cotovelos e um all star vermelho também. Seus cabelos estavam arrepiados e, mais uma vez, eu achei que ia me afogar nos de seus olhos. Isso sem contar no sorriso ofuscante. Fala sério, o meu melhor amigo é um gato.

- , você ‘tá muito gata – ele disse e eu me limitei a gargalhar (tentando esconder o vermelho das minhas bochechas, claro). Parecia que ele havia pensado o mesmo que eu.
- Você também ‘tá muito bonito, – disse rindo e ele riu também.

Eu estava no meu modo mais básico: uma calça jeans escura, uma blusa preta de meio ombro e um saltinho também preto. O tempo de demora foi devido à maquiagem e o rabo com alguns fios soltos, ok?

- VAMOS!- gritou da porta e agarrou a minha mão, me puxando para fora do apartamento. Ele havia feito muito disso esses últimos dias.

Para a minha incrível surpresa - e depois de uma semana – eu descubro que o tem um carro. Vê se não é de matar. Ele fala que só usa em ocasiões especiais, e essa é uma delas. Só não entendo porque nós temos que ir a pé para a escola todos os dias, mas tudo bem. Eu supero essa.
Entrei no banco de trás e, para a minha segunda surpresa do dia, foi ao meu lado. Disse que não queria me deixar sozinha, e eu gargalhei. Por que céus eu havia feito um amigo tão idiota?
Fomos em direção à casa da Mary e encostei-me ao vidro, pensando. Havia falado com meus pais desde a mudança e explicado como estava toda a minha rotina, mas ainda sim sentia falta. Era uma mudança e tanto, e eu morria de vontade de vê-los. Telefone não saciava mais as minhas saudades.
Entretanto, Mary Jane, e faziam o possível para que eu me distraísse e não ficasse pensando muito em casa, já que esse era um dos motivos que me faziam chorar – embora eles não tivessem conhecimento dessa parte.
No trabalho, estava tudo certo, assim como no apartamento. Os garotos eram engraçados e me deixavam muito a vontade, então eu não tive nenhum problema com eles. Eu e Jake havíamos ficado bastantes amigos também, às vezes ele ligava no meu celular e nós ficávamos conversando. Nos intervalos também era desse jeito, ele sempre me fazia rir – não tanto quanto o , obviamente. Mas ele era legal e a Mary Jane tinha a certeza de que ele estava a fim de mim. E bem... Parece que eu também estava a fim dele, mas alguma coisa me impedia de fazer isso. E não me pergunte o quê, mas toda a vez que ele se aproximava, eu recuava. Como se eu quisesse me proteger de alguma coisa.
A única coisa que me incomodava era a escola, mas por causa de quem? Da garota-super-popular-que-me-odeia-e-parece-amar-o-meu-melhor-amigo. Não que eu veja problema nisso, sabe, mas até o diz que não agüenta essa melação. Ele dizia que não foi feito para essa vida de namorado e que quer curtir até o quanto conseguir. Homens, né?!

- Pensativa? – chegou perto de mim subitamente e perguntou. Quando me dei conta, já estávamos parados em frente à casa da minha amiga, e já estava na porta.
- Pois é... – disse agora desviando minha atenção da janela para olhá-lo.
- Posso saber em quê? – perguntou.
- Família... – disse dando de ombros. – Mudanças... Coisas estranhas – disse e sorri.
- Ah, – ele disse carinhosamente –, eu sei que você ainda deve estar nervosa com toda a mudança, mas...
- Eu sei! – cortei. Ele já havia me falado tudo aquilo, mas, dessa vez, eu não estava disposta a ouvir. Isso porque eu estava na TPM e ficava emotiva demais, então eu tinha a certeza de que iria chorar. – Mas me diz, você já sabe tudo sobre mim – o que era verdade, devido ao fato de nós ficarmos conversando até tarde no quarto um do outro – mas eu não sei nada sobre você. Vai, me conta da sua família, ou sei lá! – disse rindo baixo e ele virou o rosto para a janela. Fiquei um pouco espantada com a atitude, mas ele logo encarou meus olhos, sério.
- Eu não gosto de falar muito sobre isso... – ele começou coçando a cabeça.
- Ah, certo. Sem problemas. – Mordi o lábio inferior e evitei fazer mais perguntas.

Olhei para a casa e pude notar na sala da namorada, com sua avó. Ele batucava nas pernas de um jeito nervoso, e eu quis rir da situação. Acho que a MJ atrasava muito mais que eu.

- Eu nasci em Southsea. – Voltei meus olhos para e vi que ele me olhava de um jeito estranho. Vire-me mais a ele, ficando frente a frente com o garoto. – Mas me mudei para cá com catorze anos.
- Puxa! E se mudou por quê? – perguntei totalmente interessada.
- Eu queria uma vida agitada... Esquecer o que passou, sabe? – ele continuou. Olhei para seus olhos e percebi que eles estavam mais brilhantes do que nunca, e tentei não me perder (mais uma vez). Fiz cara de confusa e ele riu, continuando a explicação. – Digamos que minha mãe tinha... Outro homem. E o meu pai acabou descobrindo.
- Ah! – Fiz cara de assustada. – Me desculpa. - Eu nunca achava mesmo que isso teria acontecido com a família dele. Ele pareceu rir da minha cara. Onomatopéias idiotas.
- É. Depois disso as coisas lá em casa mudaram, então eu decidi mudar também. Nada como uma nova cidade e novos amigos para esquecer o que passou. – Ele agora olhava para a janela, atrás de mim. Abaixei a cabeça, nervosa. Eu nunca sabia o que falar nessas horas. – ‘Tá tudo bem! – ele disse rindo e me puxando para um abraço agora. – Eu sei que não dá para se esquecer de uma coisa como essas, afinal, se trata dos meus pais. Mas a gente pode fazer um esforço né? – ele disse rindo e me fez rir também.
- Uhum! – exclamei e ele me puxou para si, fazendo com que eu apoiasse minha cabeça em seu ombro.

Passou o braço em volta de mim e ficou fazendo carinho na minha mão. Fechei meus olhos, e pela primeira vez o cansaço do dia apoderou-se de mim.

- Nossa, já com sono, ? – ele disse rindo e fazendo desenhos no meu braço. Eu ri. Pensei um pouco e, em seguida, não sei como, soltei:
- Sabia que só você, além da minha mãe, me chama de ?
- Sério? – ele perguntou, me fazendo abrir os olhos e olhá-lo.
- Uhum – exclamei, mais uma vez.
- Caramba – ele disse dessa vez estarrecido. Mais uma vez, me fez rir.
- Eu não sei por que te contei isso – disse ainda rindo.
- Porque eu sou demais, diz ai! – ele disse gargalhando. Parecia que todo o clima triste de minutos atrás havia se evaporado num instante.
- É, talvez você seja demais mesmo – disse sincera e ele chegou perto de mim, fungando perto da minha orelha. Cheio de graça, olha só.
- Pára, , eu já disse que tenho cócegas! – Comecei a rir e senti as mãos dele contornando a minha barriga.
- Se você fizer isso, morre – disse prontamente, querendo sair dos braços dele.

O que não deu certo, já que segundos depois ele começou a fazer cócegas na minha barriga, me fazendo parecer... Hm, uma desesperada? É.
São nessas horas que eu não entendo por que as mulheres demoram para se trocar. CADÊ A MARY JANE, MEU DEUS?
decidiu me deixar respirar quando viu o casal atravessando a rua. Dei graças a Deus por isso.

- Vai demorar muito para chegar? – perguntei um minuto depois de estarmos andando.
- Nós acabamos de sair de casa, ! – disse MJ.
- Eu sei, mas eu sou impaciente – disse dando a língua e eles riram. – Vamos brincar? – disse agora batendo palminhas. Sério, às vezes nem eu mesma acredito na minha idade.
- Brincar de que? – disse do meu lado e o casal da frente riu murmurando algo como: ”São duas crianças mesmo.”
- Assim – disse chegando mais perto do garoto. – Fecha os olhos – falei e ele arregalou os olhos fazendo uma cara safada. – Vai, ! – ri e ele fez o que eu pedi. – Agora, eu vou escrever alguma coisa no seu braço e você tem que adivinhar o que é, ok?
- Certo – ele disse ainda de olhos fechados, concentrado no que eu iria “escrever” no seu braço.

Como se meu dedo fosse a caneta, escrevi, em letras de forma, em seu braço: “”. Ao término disso, ele falou:

- Sua egocêntrica! – Ele abriu os olhos, rindo.
- Por quê? – Fiz cara de indignada.
- Escreveu seu nome no meu braço!
- Ah caramba, você é bom nesse jogo!
- Eu sei!
- É, MJ, eles são duas crianças mesmo – falou do nada, fazendo as gargalhadas aumentarem.

Pelo resto do percurso fomos brincando desse jogo, se é que podemos chamar assim. Mary Jane também entrou na brincadeira e todos os três parecemos retardados fechando os olhos e escrevendo com uma caneta imaginária no braço do outro.

- Vai, a última vez! – exclamou quando já havíamos chegado. estava estacionando e Mary já havia saído da brincadeira fazia tempo.
- Não, , nós já chegamos! – disse tentando pegar a bolsa, mas ele foi rápido e escondeu antes.
- Vai, zinha! – ele falou todo dengoso e me fez rir. – Começou com você e tem que acabar comigo!
- ‘Tá bom, ‘tá bom! – disse estendendo o braço ao garoto e fechando os olhos. Senti as duas portas da frente se abrindo e o casal saindo.
- Presta atenção, hein!

Ele falou e eu acenei com a cabeça. Voltei o máximo da minha atenção para sentir o que ele estava escrevendo. “E... U...” E foi escrevendo. Senti meu braço se arrepiar por baixo da mão dele, ao mesmo tempo em que me dava uma sensação de calor.

“Eu amo você.”

- Pronto, pode abrir os olhos. – E eu fiz o que ele falou, encontrando seu rosto muito próximo do meu. Meu coração ainda batia descompassado ao perceber o que ele havia “escrito” e eu só consegui sorrir.
- Vamos logo! – bateu no vidro do carro e nós nos sobressaltamos.

Saímos do carro e eu ainda pensava naquelas palavras. Será que aquilo lá significava algo além do que eu entendia?
saiu pelo mesmo lado que eu e, então, fiz uma coisa que nem eu mesma esperava que fizesse.

- Eu também – sussurrei em seu ouvido e ele sorriu, com aqueles olhos altamente babáveis. Tenho que me lembrar de comentar isso com ele.

Corremos até o casal que estava à nossa frente e nos deparamos com outros três garotos – incluindo Jake – e três meninas. Fizemos os devidos cumprimentos e Jake chegou ao meu lado, colocando as mãos nas minhas costas e falando:

- Oi!
- Hey, Jake! – disse sorrindo ao vê-lo. Era mais uma forma de tentar esquecer o que havia acontecido segundos atrás, no carro.
- Vamos entrar? – ele me perguntou.
- Claro! - E, assim, seguimos os outros. Notei que também conversava animado com uma das três meninas, atrás de mim.

É, pelo visto a noite iria ser longa.

Capítulo 12

Após a entrada, nos sentamos numa única mesa e começamos a conversar. Jake estava ao meu lado, assim como Mary Jane. Mas ela e o namorado não paravam de trocar beijos, carícias e abraços. Era um tanto quanto assustador.
estava do outro lado na mesa, um pouco na minha diagonal, sentado entre duas garotas com quem conversava animadamente também. Às vezes ele fazia alguma palhaçada ou algum comentário idiota que me fazia rir, e parece que Jake ficava um tanto quanto estático do meu lado quando isso acontecia.

- , vamos dançar? – perguntou uma das garotas ao meu amigo. Tentei não ligar muito para isso, já que Jake estava me entretendo com alguns de seus casos do colégio.
- Vamos! – não deixei de ouvir a resposta dele. – Vamos dançar, pessoal! – ele chamou o resto de nós, fazendo com que uma boa parcela fosse.

Eu decidi ficar sentada mesmo, e Jake decidiu me acompanhar. Na mesa só estava agora nós dois e mais um casal – Austin e uma das meninas. Mas eles a gente não conta, já que estavam se agarrando.

- E então, me conta como você veio parar aqui! – A música estava muito alta ( Electrovamp- Drinks taste better when they’re free ), e Jake teve que falar perto do meu ouvido e gritando. Eu ri da situação.
- Eu vim da França! Meus pais se separaram e eu decidi vir morar sozinha – respondi gritando do mesmo modo.
- Puxa, é um grande passo! E ‘tá gostando daqui?
- Uhum! As pessoas são muito legais! Pelo menos algumas – acrescentei. Olhei para a pista de dança e vi pessoas fazendo coisas mais interessantes do que dançar – incluindo . Jake falou alguma coisa que eu não ouvi, e eu passei a me sentir de um jeito estranho.
- Acho que vou buscar uma bebida! – disse me levantando e ele me olhou com uma cara interrogativa. Sorri e falei que já voltava, me dirigindo ao balcão.

Jesus, alguém me diz por que eu pedi uma coisa mais forte que uma ice. Digo, eu não sou dessas de beber – não mesmo –, mas eu senti que precisava. Muito legal mesmo, , agora você sente o seu estômago sendo massacrado.
Tentei não olhar mesmo para a pista de dança, mas não consegui evitar: lá estava dançando animado, agora com outra garota, enquanto a primeira... Beijava outro cara? É, nessa hora eu faço cara de espanto e as pessoas me acham louca.
Sei lá, agora a menina ‘tá se esfregando nele. E ele gosta. Meu Deus, homens! Onde é que esse mundo vai parar?

- E ai, gatinha, quer dançar? – perguntou um ser desconhecido ao meu lado. E o melhor é que ele era velho, feio e cheirava a bebida.
- Me vê mais uma dessas, por favor – disse para o garçom apontando o meu copinho vazio, e ele tratou de enchê-lo logo. São nessas horas que eu preciso MESMO de uma bebida.

Minutos se passaram (eu não sabia o quanto, mas sabia que tinham sido muitos porque... bom. Eu já não lembrava quantos copos de bebida eu havia ingerido. Alguém me mata, por favor). Minha primeira noite fora e eu já faço isso. Pera ai, ali em cima são luzinhas coloridas se mexendo?

- Nossa, , eu não sabia que você bebia! – Era o Jake? É. Eu senti o garoto sentando-se ao meu lado e eu acho que meio que tombei. Quando eu disse que não estava acostumada a beber, eu falei sério. – Uou, vai com calma! – ele riu e me segurou pela cintura.
- Desculpa... – tentei falar, inutilmente, claro. Já que a minha cabeça martelava mais do que o normal. – É que eu não estou acostumada a beber! – E comecei a rir. Não me pergunte por que eu fiz isso.
- É, eu percebi! – ele riu e apertou mais a mão em minha cintura. Senti o loiro se aproximando de mim, bastante lentamente. Parecia que estava passando muitas coisas pela cabeça dele e, bem, parecia que ele não sabia se estava certo de fazer aquilo que bem... ele ia fazer comigo. Faz algum sentido? Para mim também não.
- Eu preciso ir ao banheiro! – disse desesperada e meio que me levantei tropeçando.
- Você está bem mesmo? – ele perguntou se levantando também e ficando ao meu lado, para o caso de eu tropeçar ou algo do tipo.
- Eu ‘tô bem, é sério! – disse rindo e fazendo o garoto se sentar. – Eu já venho!

Tentei andar reto e sem tropeçar até um ponto onde Jake não pudesse me ver, e parece que eu consegui. Cheguei ao banheiro, meu estômago revirando e minha cabeça parecendo que iria explodir. Não senti enjôo nem nada, até porque eu tinha comido antes de beber.
Dirige-me a pia e joguei os braços em baixo da água fria. Isso pareceu dar uma sensação de resfriamento por todo o meu corpo. Passei água nos dois pulsos e atrás da nuca, tentando combater o calor. Ah, e claro, também tive que jogar água no meu rosto. Meu Deus, eu estava horrível.
Ao sair do local, ainda consegui trombar com a porta. Sei lá, ela parecia ter diminuído de tamanho, para falar a verdade.
A música alta e a escuridão me deixaram mais tonta ainda, e eu tive que me apoiar na parede para não cair. É sério, me lembrem de nunca mais beber.

- , você ‘tá bem? – senti uma voz no meu ouvindo e uma mão na minha cintura, me guiando para fora do local. Por que as pessoas estavam fazendo a mesma pergunta para mim?
- Eu ‘tô! – exclamei que nem uma retardada, embora não quisesse parecer uma. Espera ai, eu conheço essa voz. E esse apelido. – Mãe? – exclamei ridiculamente, e a pessoa do outro lado riu. Ah meu Deus.
- , meu Deus! Você andou bebendo o quê? – A essa altura eu já estava sentada num banco do lado de fora do pub. Um vento gostoso batia no meu rosto e eu me senti derreter ali mesmo.
- Alguns copos e só. – Agora eu havia me dado conta que era o . Claro.
- Alguns quantos e de quê? – ele disse sentando-se ao meu lado.
- Uns três – disse e ele continuou me olhando. Não consegui encarar mais os seus... dois pares de olhos lindos? Ah, acho que eram seis pares, na verdade. Pus a mão na cabeça sentido-a pesar. – De tequila.
- E eu pensando que você não bebia! – ele disse rindo e se levantou. – Você precisa ir para a casa agora – ele disse me ajudando a levantar.
- Não, eu ‘tô bem... – Tentei me soltar do garoto o que, como sempre, não deu certo.
- Vem comigo – ele disse me puxando para dentro do pub novamente, sua mão colada a minha. - , eu não vou estragar a sua noite! – disse gritando. Nós estávamos passando no meio da pista de dança, aquele som alto fazendo a minha cabeça rodar e rodar.
- Não ‘tá estragando! – ele gritou de volta. – Você é minha amiga, eu não vou te deixar aqui passando mal!

E essa é uma qualidade perfeita do . Ele é muito fiel às amizades e se importa MESMO com os melhores amigos. E bem, pelo que ele dizia, eu era uma melhor amiga.

- , meu Deus! – Cheguei à mesa e senti Jake se levantar, se aproximando de mim. – Você ‘tá melhor?

Tentei falar algo que não deu certo.

- Pessoal, a não ‘tá bem. Posso ir com o seu carro, ? – perguntou e o garoto afirmou, tirando as chaves do bolso. – Vamos.

Ele me agarrou pela cintura e foi me guiando até a saída, já que eu me sentia totalmente indisposta e não conseguia nem colocar um pé antes do outro. Percebi-o acenando para algumas garotas e elas o olharam interrogativamente. E eu fiquei me perguntando que porra estava acontecendo no momento. Digo, o desprezando a sua noite e as suas mulheres para levar uma melhor-amiga-monga-que-achou-que-sabia-beber-para-casa.
Quando ele me colocou dentro do carro e puxou o cinto pelo meu corpo, senti tudo escurecer e meus olhos pesarem mais do que o normal. Ouvi algumas risadas e só uma única voz no meu ouvido:

- Dorme, .

Capítulo 13

Acordei com a minha cabeça martelando. E quando eu digo martelando, é martelando mesmo. Como se tivessem colocando um prego e estivessem batendo até que entrasse na madeira. Preciso parar com os meus dramas.
Demorei um bom tempo para abrir os olhos e, quando o fiz, senti-os lacrimejarem com a claridade. Minha cabeça estava mais dolorida do que o dia anterior, e eu fiz um tremendo esforço para ao menos me sentar na cama.
Tentei esquecer a noite anterior, já que não estava nada lúcido mesmo. Olhei para as minhas roupas e vi que não vestia nenhum dos pijamas – mas sim uma camiseta e um micro shorts, ambos meus. Ri e fiquei envergonhada com a idéia de quem pudesse ter me vestido, e só consegui pensar em uma pessoa. Pois é, ele mesmo.
Levantei-me da cama devagar e calcei os chinelos, andando em direção à cozinha. Um cheiro de... Panquecas? Pois é. Panquecas pela manhã. Fui seguindo o cheiro, passando reto pela sala e ouvi risadas de um casal.

- Meu Deus, MJ, você já está aqui? – exclamei soltando uma risada.
- Haha, bem engraçada você – ela disse abraçando-se ao . – E ai, como começou a ressaca? – ela perguntou rindo e eu revirei os olhos.
- Acho que nunca mais vou beber na vida – falei sem graça e mais uma pergunta foi direcionada para mim.
- Eu achei que você não bebia, – começou . – O que aconteceu ontem então?
- Sabe de uma coisa? – disse, tentando responder aquela mesma pergunta em minha cabeça. – Eu não faço a mínima idéia.
- Ah, finalmente acordou! – saiu da cozinha e eu só consegui gargalhar histericamente.
- ... Meu Deus... O que é isso? – disse tentando parar de rir. Só que não deu certo, mesmo depois da minha cabeça doer mais forte.
- O que foi, nunca viu um homem cozinhar, não?
- Não! - Só que era mentira, claro. Mas eu precisava tirar uma com a cara dele.

estava com um prato de panquecas em mãos e com um avental incrivelmente ridículo. Seus pés tocavam o chão frio e ele estava... sem camisa? É. Jesus, me abana.
O garoto voltou para a cozinha com o prato em mãos e eu fui atrás dele, ainda ouvindo as gargalhadas de MJ e , embora eles já estivessem acostumados.
O colocou o prato na mesa e virou-se para pegar um copo de suco – na verdade, dois – enquanto eu sentei-me à mesa e joguei a cabeça em cima das mãos, numa tentativa frustrada de fazer a dor parar.

- , parece que você passou a noite inteira sem dormir – falou depois de puxar uma cadeira à minha frente e se sentar.
- Quem me dera fosse isso – disse ainda com a cabeça abaixada. – Meu Deus, minha cabeça vai explodir!

O garoto riu e mandou-me comer um pouco das panquecas. Em seguida, retirou-se da cozinha e voltou em menos de um minuto com um comprimido em mãos.

- Depois que comer, toma isso. Vai melhorar. – Ele sentou-se ao meu lado dessa vez.
- Obrigada – disse colocando uma garfada das panquecas à boca. – Meu Deus, isso está delicioso!
- Eu sei, eu sou um ótimo cozinheiro. – Ele riu e eu fiz o mesmo. Segundos depois, um silêncio havia se apoderado do local. – Você me deixou preocupado ontem, . – Notei que um sorriso não estava mais em seus lábios e seus olhos estavam cravados no meu rosto. Levantei os olhos lentamente, tentando não me perder nos dele.
- Eu sei. Me desculpa – exclamei e senti meu rosto esquentar. Por que nós estávamos tendo aquela conversa?
- Tudo bem. Só me avise quando você for beber, para eu poder já ir preparado – ele disse e gargalhou, me fazendo soltar um sorriso também. Como ele podia ser ao mesmo tempo tão galinha e tão fofo?
- Eu não estou acostumada a beber. Eu não sei por que isso aconteceu ontem. – E era verdade mesmo.
- Sei – ele disse arqueando uma sobrancelha enquanto eu tomava o comprimido com o suco.
- É verdade!
- Você sabe que pode me contar tudo, né? – ele disse acariciando minha mão em cima da mesa, e eu sorri com o toque.
- Claro!
- E então, não vai me contar? – ele disse mostrando a língua e eu dei um tapa em seu braço.
- , eu já disse! Não sei o que aconteceu! Eu acho que fiquei com vontade de beber, sei lá! – Resposta errada. Às vezes a gente faz coisas sem saber o porquê. Ou será que a gente só esconde esse porquê?
- Quando for a hora certa você vai me contar – ele disse fazendo uma cara de esperto e eu me limitei a rir.

~~

- Qual das duas?

Já era quase dez horas da noite e eu estava deitada na cama do , com um livro em mãos. Minha cabeça já não doía tanto, eu havia passando a tarde inteira dormindo no sofá e dando uma volta pelo prédio.
iria sair com uma menina que ele havia conhecido algum dia desses e pedia a minha ajuda para escolher a camisa. Isso, agora você me diz se isso é coisa de um homem fazer. Digo, pedir ajuda de uma garota para se trocar.

- Vai, , você disse que iria me ajudar! – ele reclamou ainda com as duas camisetas em mãos. Trajava uma calça jeans clara e um all star branco, os cabelos de uma forma diferente do que usava: totalmente bagunçados.
- A branca – disse apontando fraco e voltei para o meu livro.

Eu realmente não sabia o motivo do meu mau-humor. Era um sábado à noite e eu estava em casa, lendo um livro e com uma baita dor de cabeça – sim, ela tinha voltado. Deve ser por isso.
jogou-se na cama ao meu lado e passou os braços em volta do pescoço, olhando o teto e em seguida desviando para o meu rosto.

- Amor, você não ‘tá legal, né? – ele disse se aproximando de mim.
- Eu ‘tô – respondi monossilabicamente, sem tirar o olhar do livro. Que merda essa que ‘tá acontecendo comigo agora?
- Não, você não ‘tá – ele disse puxando o livro e colocando de lado. – Algum problema? – ele me perguntou carinhosamente.
- Nenhum – disse tentando evitar contato visual. Sabe como é, quanto mais perto, pior.
- , nós somos amigos há quase duas semanas e eu já posso dizer que te conheço bem o suficiente para saber que você não está bem.
- Eu ‘tô bem, caramba! – disse nervosa e me levantei da cama.

Andei e andei em direção a porta e parei. Por que as minhas pernas travam nessas situações, hein? É uma coisa que eu não entendo. Alguma coisa estranha estava acontecendo comigo, isso era fato. Por que eu sentia vontade de chorar e sentia alguma coisa se apertar dentro de mim?
Minutos depois de parar e respirando profundamente, senti dois braços envolverem a minha cintura e o garoto encostou o seu queixo perto da minha clavícula. É, eu precisava mesmo de um ombro amigo nesses momentos.
Senti duas lágrimas teimosas escaparem pelo meu rosto, e eu nem mesmo sabia o porquê. E isso me deixava com raiva. Com muita raiva. As coisas aconteciam comigo e eu não processava a informação. Traduzindo, estava acontecendo alguma merda dentro de mim e eu não sabia o quê era, e muito menos o motivo.
puxou um lado do meu corpo, fazendo com que eu ficasse de frente para ele. Minhas mãos estavam caídas ao lado do corpo por pouco tempo, já que eu senti o garoto colocar as mesmas em seu próprio pescoço, e me puxar para mais perto de si. Senti mais duas lágrimas caírem do meu rosto e meu corpo inteiro começou a tremer.

- Calma, vai ficar tudo bem... – Ele passava as mãos pelos meus cabelos para tentar me acalmar. Dei um sorriso debochado e me afastei dele, agora limpando o rosto com as mãos.
- Desculpa, eu não sei o que aconteceu, é só que... – tentei falar, mas ele me impediu, passando a mão pelo meu rosto e limpando o restante das lágrimas.
- Não precisa explicar. – Ele deu um singelo sorriso e me deu mais um abraço. – Fica calma, ok?
- É difícil quando você não sabe o que está acontecendo. – Foi mais um pensamento alto, e o garoto me olhou com uma cara interrogativa. – Deixa pra lá – disse sorrindo e em seguida o agilizei. – , você está atrasado! Anda logo, ou vai deixar a menina esperando! – disse batendo em suas costas para que ele andasse. Como eu disse, ele tinha algum encontro ou algo do tipo.
- Nah, acho que nem vou mais – ele falou olhando para mim sincero.
- Nem vem! – disse jogando para ele o celular, carteira e tudo o que estava na minha frente. – Você não pediu a minha ajuda para nada, agora vai logo! – Vá antes que eu me arrependa. É, eu ando tendo pensamentos estranhos.

Empurrei-o até a porta e ele fez com que eu parasse com o ato.

- Tem certeza de que está bem? – perguntou preocupado. Dei um sorriso - falso, só para esclarecer - e respondi:
- Eu ‘tô! Aquilo foi só uma crise.
- Certo, mas se acontecer alguma coisa, você sabe que pode me ligar, né?! – disse apontando o celular no bolso.
- Claro! Agora vai logo! Divirta-se! – disse da porta enquanto ele entrava no elevador e me dava um tchauzinho feliz.

Fechei a porta e finalmente minha cabeça parou de zunir. Estava sozinha, já que Mary Jane havia convidado para jantar em sua casa.
Passei pelo meu quarto e peguei o mp4. É, definitivamente eu precisava ouvir alguma coisa no momento. (Blink182- I’m Lost without you)

I swear that I can go on forever again
Eu juro que eu posso continuar para sempre, de novo
Please let me know that my one bad day will end
Por favor, me diga que esse dia ruim irá terminar

I will go down as your lover, your friend
Eu serei até o fim seu amor, seu amigo
Give me your lips and with one kiss we begin
Dê-me seus lábios e com um beijo nós começaremos

Are you afraid of being alone
Você está com medo de ficar sozinha?
Cause I am, I'm lost without you
Porque eu estou, fico perdido sem você
Are you afraid of leaving tonight
Você está com medo de ir embora essa noite?
Cause I am, I'm lost without you
Porque eu estou, estou perdido sem você

I'll leave my room open till sunrise for you
Eu deixarei meu quarto aberto até o sol nascer, para você
I'll keep my eyes patiently focused on you
Eu manterei meus olhos pacientemente focados em você
Where are you now
Onde está você agora?
I can hear footsteps
Eu posso ouvir seus passos
I'm dreaming
Eu estou sonhando
And if you will, keep me from waking to believe this
E se você for, impeça-me de acordar pra continuar acreditando nisso

Are you afraid of being alone
Você está com medo de ficar sozinha?
Cause I am, I'm lost without you
Porque eu estou, fico perdido sem você
Are you afraid of leaving tonight
Você está com medo de ir embora essa noite?
Cause I am, I'm lost without you
Porque eu estou, estou perdido sem você

Fui em direção ao sofá, meu coração quase saindo pela boca. Respirei o mais fundo que consegui e liguei a televisão, embora estivesse prestando mais atenção na música do que nas imagens que a TV mostrava.

- Se mata, . Janela, faca ou veneno. São várias as opções – disse a mim mesma e capotei no sofá, meus pensamentos ficando mais desordeiros a cada minuto.

~~

- ? – ouvi alguém falar perto do meu ouvido e abri os olhos. Olhei a volta, toda escura. As janelas estavam fechadas e a televisão desligada. Voltei meus olhos para cima e percebi me encarando confuso.
- Já chegou? – perguntei levantando e, nesse ato, senti um forte perfume doce vindo do pescoço do garoto. Perfume que não era dele, só para lembrar. O garoto preferia os amadeirados.
- , são quatro da manhã. Por que você não foi para o seu quarto? – perguntou e eu me levantei repentinamente. Eu havia adormecido na sala, que ridícula.
- O não chegou? – perguntei, ignorando as perguntas.
- Ele me ligou e disse que iria passar a noite lá na casa da MJ mesmo.
- Ah – balbuciei.

Levantei-me do sofá e finalmente consegui olhar para o garoto. Suas roupas estavam um tanto amassadas, o perfume de mulher que vinha dele era inconfundível e sua boca inchada me fez lembrar de como a noite dele havia sido muito mais interessante que a minha... Calma, por que eu estou reparando nessas coisas? Senhor, me ajuda.

- Boa noite – disse fingindo um bocejo e fui para o meu quarto.
- Boa noite –ele respondeu, mas eu não fiquei lá para ouvir.

Joguei-me na cama mais uma vez, minha cabeça rodeada de pensamentos e meus olhos querendo aguar novamente. Sabia o que estava acontecendo comigo e fiz questão de reprimir. Por que é que quando a gente pensa que sabe todas as respostas, vem a vida e muda todas as perguntas?

Capítulo 14

Um mês se passou mais rápido do que eu imaginava. Tudo continuou exatamente como estava: e Mary Jane saindo todos os dias juntos; beijando mais de duas meninas por dia e saindo todos os finais de semana (alguns junto comigo, outros não); eu com meu emprego e meus estudos; as saídas com o Jake e o resto do pessoal e assim por diante.
Confesso que tentei me acostumar com as saídas do , mas não consegui. Digo, nós havíamos nos tornado MUITO amigos. Muitas vezes a gente conversou sobre o futuro e sobre como seria dali para frente. Muitas vezes ele apareceu de surpresa no meu quarto e me pegou chorando por causa da saudade que eu sentia dos meus pais e me fez dormir e esquecer aquele assunto. Pois é, o tempo passava e a minha relação com ele ficava mais confusa a cada minuto – pelo menos em minha opinião.
Era um sábado bastante frio e eu me encontrava no sofá, com um balde de pipocas em mão e vendo um desenho animado que eu havia alugado – Wall e. [n/a: o melhor desenho, dicona *-*]
Não havia ninguém em casa até aquele momento. e haviam saído para comprar algumas coisas - coisas de homens, segundo eles – e eu fiquei em casa vendo televisão e comendo. Como eu já disse antes, até aquele momento. Porque, no segundo seguinte, a porta abriu-se num estrondo e Mary Jane entrou gritando, saltando e batendo palminhas de felicidade.

- ELA DEIXOU, ELA DEIXOU! - Ela se jogou no sofá ao meu lado, enquanto eu pausava o filme e a olhava assustada. – ELA DEIXOU! - gritou mais uma vez e me abraçou rindo.
- Você parece uma maluca - disse assustada e ela jogou algumas pipocas para cima, ainda rindo. – Vai me falar o que aconteceu ou não, criatura de Deus? – perguntei rindo e me acomodando no sofá.
- A minha avó deixou! – ela disse com os olhos brilhando.
- Deixou o quê? – perguntei colocando algumas pipocas na boca.
- Eu morar com o ! Na casa que os pais deixaram para ele! – Ela sorriu feliz e eu cuspi toda a pipoca que estava em minha boca. Aquilo significava apenas uma coisa.
- Parabéns, amor! – disse sem saber o que falar.
- Nossa, mas que ânimo. – Ela parou de sorrir e me olhou com cara feia. Não consegui esboçar um sorriso.
- É que você indo morar com o significa...
- Que você vai morar aqui sozinha com o !
- É!
- E isso é um problema? – perguntou.
- Não. Quer dizer, é, mas não tanto, mas... – Fiquei confusa. Por que eu estava confusa e gaguejando?
- ?
- É que... eu nunca morei sozinha com um menino antes – disse inventando a melhor desculpa que consegui. Se esse fosse o verdadeiro problema...
- Ah, , relaxa! – Ela me puxou de canto, sorrindo. – Eu e o vamos passar aqui todos os dias, e você vai poder ir lá em casa todos os dias também! Não é tão longe!
- Uhum – disse abrindo um sorriso e tentando me animar com a situação.
- Vai ser legal! Afinal, vocês dois são tão amigos também! Acho que não vai ter nenhum problema, vai?
- Claro que não!
- Então pronto! – Ela me abraçou feliz e começou a falar.
- Ai, , foi tão perfeito! Quando o me chamou para morar com ele, eu nem acreditei! Nós estávamos jantando e ele falou! Eu acho que surtei na hora! – ela disse rindo e eu fiz o mesmo.
- Dá pra perceber!
- Eu sei! – Ela bateu palminhas e me abraçou novamente. – E eu nem achei que a minha avó deixaria. Mas, claro, ela simplesmente AMA o ! Ela disse que como o nosso relacionamento era sério, ela deixava! E que qualquer problema, eu poderia ligar para ela! Fala sério!
- Uau, eu queria uma avó dessas! – disse me animando e tentando tirar pensamentos da cabeça
- Eu ‘tô tão feliz!

E passou-se mais uma hora falando a respeito disso.
Eu tentei ignorar os espasmos musculares, já que eu estava nervosa. Digo, agora eu moraria sozinha com o . O , meu melhor amigo. Que era considerado o maior pegador. Meu Deus, meu Deus. Não sei se isso é uma coisa boa ou ruim, ok? Só sei que agora eu teria que me conformar com tudo o que acontecesse.
Minutos mais tarde, os dois garotos chegaram e nós passamos a ver o filme juntos, comendo pipoca e rindo das besteiras que eram faladas. Ou pelo menos era o que parecia. e Mary Jane estavam mais preocupados em sorrir e falar no quão a futura casa deles seria perfeita, e havia decididamente tirar o dia para me encher a paciência. Ele apertava a minha barriga me fazendo cócegas e fazendo com que eu soltasse várias gargalhadas. Isso quando não assoprava no meu ouvido – ele também sabe que eu sempre fico arrepiada com isso – ou passava a mão cheia de manteiga na minha mão ou ainda lambuzava todo o meu rosto de chocolate derretido. É, desse jeito eu não agüento mesmo.

~~

- Andem logo, antes que cheguemos atrasados! – gritou a professora de biologia para que nós entrássemos o mais rápido possível no ônibus.

Era sexta–feira, um dia totalmente quente e nublado. É, definitivamente não era um dia bom para o último ano do Ensino Médio ir fazer uma pesquisa de campo. Digamos assim, era uma espécie de estudo fora da sala de aula, onde iríamos fazer uma trilha para ver diversos animais, plantas e essas coisas chatas. Teríamos que fazer um relatório de um filme e do que observaríamos durante o passeio. Depois é que poderíamos andar pelo próprio parque.
Eu não estava entusiasmada com essa idéia, já que parecia que no final do dia cairia o mundo, e também pelo fato de eu não gostar desse contato com a natureza. Insetos são nojentos.
Subi os degraus do ônibus tomando cuidado para não tropeçar. Odiava que me apressassem.
Mary Jane sentou-se no fundo do ônibus ao lado de , obviamente. Eu achei melhor sentar-me em um lugar na frente mesmo, já que eu estava com uma baita enxaqueca. E com motivos, claro.
No dia seguinte MJ se mudaria para a casa de , e eu estava totalmente com os nervos à flor da pele. A idéia de eu e o morarmos no mesmo local, e ainda sozinhos, não parecia boa coisa. Claro que não para ele, que ficava toda hora fazendo piadinhas e dizendo o quanto iria ser maravilhoso nós morarmos sem o , já que era ele fazia bagunça e causava problemas. É óbvio o fato dele falar isso brincando, mas alguma coisa me dizia que ele estava esperando há muito tempo a mudança do outro casal para longe de nós.
Isso não era nada bom. Nada bom mesmo. Como agora eu conseguiria esconder tudo o que eu estava começando a sentir? Simplesmente não dava. Se já era difícil com o , imagina sem ele.

- Vai ficar ai, sozinha? – perguntou se apoiando no banco do corredor. Eu tirei os olhos da janela e voltei-os para o rosto do garoto.
- Dor de cabeça. – Sorri fraco e notei o garoto jogando a bolsa vermelha sexy [n/a: ALESSAAAAAAAAAAAAAAAANDRA <3] no bagageiro de cima e sentando-se ao meu lado.
- Nem vai. Não consigo te deixar aqui sozinha! – Ele apertou minhas bochechas e eu ri, ficando vermelha. – Ah, eu não acredito que você ‘tá com vergonha de mim! – ele falou me soltando e eu soltei um riso alto, ficando mais ainda vermelha. Não sabia o porquê daquilo estar acontecendo agora.
- Eu não ‘tô! – disse prontamente e ele colou seu nariz no meu num ato repentino. Agora parecia que meu coração havia parado de bater.
- Você... – ele apontou o dedo para mim – não... – agora ele fez o gesto com o dedo – me... – apontou o dedo para si mesmo – engana – terminou se afastando de mim e sorrindo.
- Você é chato – disse me ajeitando no banco e rezando a Deus para que ele não tivesse notado o meu desespero.
- Olha como você me ama. – Ele cruzou os braços e se fingiu de bravo. As pessoas que ainda adentravam ao ônibus nem reparavam na gente.
- Ah , pára! - disse me jogando em cima dele e o garoto me abraçou, rindo. – Você sabe que eu te amo, né? – disse me soltando e ele me puxou de volta, fazendo com que meu rosto ficasse apoiado em seu ombro.
- Sei? – ele perguntou arqueando uma sobrancelha e eu fiz uma cara desesperada.
- Pois então fica sabendo agora! – disse levantando dele e dando a língua. – , eu te amo! – Ele me puxou fazendo um cafuné na minha cabeça e eu ri tentando esconder o vermelho do meu rosto. Às vezes, palavras ditas são muito mais que meias verdades.
- Eu também te amo, pequena – ele respondeu me dando um beijo no topo da cabeça e sorrindo para mim.

Após os professores conferirem se todos os alunos estavam dentro do ônibus, partimos.

~~

Após mais ou menos uma hora para o local, descemos do ônibus. Minha bunda estava quadrada e eu estava capengando, já que havia passado a maior parte do tempo dormindo no ombro do .
Batia um vento gelado frente ao rosto de todos os alunos, e as instruções que se seguiram foi de nos dirigirmos ao teatro, na nossa frente.
Olhei para o céu, havia nuvens cinza e bastante carregadas. No final da tarde iria chover, e muito. Esperava que já estivesse em casa quando isso acontecesse, embora fosse uma probabilidade muito remota.
O Sr. Linderman e a Sra. Jackson distribuíram aos alunos as folhas de pesquisa durante a entrada ao salão.
Era como se fosse numa espécie de escola, com as cadeiras estofadas, a parte do fundo mais alta e uma tela enorme para todos poderem enxergar.
Adentramos o local, os alunos se espremendo entre si. Eu estava entre o e a Mary Jane, que ia à frente segurando a minha mão e sendo guiada pelo namorado.
Sentamos em algumas cadeiras ao fundo, ainda na mesma ordem. Tirei a bolsa que estava nos ombros e coloquei no colo, esperando o restante das instruções dos professores ou de algum monitor do próprio parque. É, esse passeio estava sendo um tremendo saco e eu não conseguia me concentrar com uma tal pessoa do meu lado.

- Amor, eu vou ali e já venho, ok? – o garoto perguntou se levantando e eu olhei-o assustada e em seguida afirmei com a cabeça.
- Vou guardar o seu lugar! – Sorri e ele fez o mesmo, dirigindo-se aos fundos do salão.

Amigos estranhos, mas tudo bem. Joguei minha bolsa na cadeira ao lado e me preparei para dormir durante o filme inteiro. Tinha dado uma olhada no questionário e era só procurar as perguntas em algum livro e estava tudo resolvido.
Enquanto o pessoal terminava de se acomodar e os professores tentavam conter a situação, eu e Mary Jane ficamos conversando sobre coisas aleatórias até o horário de o filme começar.
Minutos se passaram e os professores davam as instruções na frente, enquanto o local do estava vazio – a não ser pela minha bolsa.
Meus pés batiam insistentemente. Meus braços cruzados e a minha cara emburrada informavam aos outros que eu estava de péssimo humor, e isso era verdade. Os recentes acontecimentos me deixavam muito agitada mesmo, falei.
Mordi os lábios em sinal de nervoso e notei MJ me olhando estranho. Dei um sorriso falso para não levantar suspeitas e tentei fazer minha perna parar de balançar, controlando o nervoso.
Meu rosto voltou-se para trás quando eu observei alguns risinhos camuflados. As luzes já estavam apagadas e em breve o filme explicativo iria começar, mas eu consegui distinguir muito bem o envolto de quatro meninas.
Elas passaram pela fileira em que estava eu, o e a Mary Jane. O outro casal pareceu não reparar, mas eu sabia muito bem o que estava vendo. Observei o garoto passar por mim junto com as garotas, sorrindo. Senti meu coração fraquejar no momento.
Olhei para o fazendo uma cara interrogativa do tipo: “que raios você ‘tá fazendo com elas, vêm para o seu lugar ao meu lado agora mesmo!”. Mas acho que ele não entendeu muito bem a frase, porque me olhou com a maior cara pidona e fez sinal de que iria sentar com as meninas lá na frente.
E eu não tive tempo nem de responder, porque segundos depois ele já estava sentando com aquelas meninas-com-cara-de-vadias. Preciso me controlar.
O filme começou e eu não consegui pensar e nem ver nada a não ser uma cabeleira escura e arrepiada a umas três fileiras à frente. Agarrei as mãos numa tentativa fracassada de passar o nervoso. Sentia meus olhos ficarem pequenos e estreitos, e eu jurava que iria arrancar meus lábios pela tanta força com a qual eu o mordia.

- , ‘tá tudo bem? – Mary J. perguntou ao meu lado, segurando uma de minhas mãos.
- ‘Tá – respondi monossilabicamente, curta e grossa.

A garota continuou me olhando e eu me afundei na cadeira, os braços cruzados e as pernas tremendo. Tirei com violência a bolsa na cadeira ao lado, colocando-a em meu colo. Eu estava mesmo muito nervosa, e alguma coisa querendo explodir dentro do meu peito fazia o meu nervosismo aumentar mais ainda.
Afundei-me na cadeira nos minutos seguintes. Minha cabeça martelava muito mais do que quando eu havia chegado, e eu definitivamente não conseguia prestar atenção no filme. Às vezes eu olhava para o garoto, e preferia não fazer isso, mas era um ato involuntário. Ele não havia beijado ninguém – ainda. Era o que eu achava pelo menos, já que os dois estavam de carinhos e coisinhas e... Meu Deus, que masoquista eu sou.
Sair de lá era a melhor coisa que eu deveria fazer, e foi o que aconteceu. Puxei a minha bolsa com uma rapidez extraordinária e me dirigi ao Sr. Linderman, que estava sentado na última fileira.

- Professor, onde é o banheiro? – perguntei e ele me olhou com uma cara desgostosa. – É urgente.

Ele me olhou e indicou com a cabeça para um corredor depois da porta de saída, e eu praticamente sai correndo até lá.
Cheguei ao banheiro pouco depois que já haviam caído duas lágrimas de meus olhos. COMO ASSIM EU ESTOU CHORANDO POR CAUSA DE UMA BESTEIRA? É uma besteira enorme. Eu não sei por que estou chorando. Eu e o somos amigos, ele pode ficar com quem quiser e eu também. Sempre foi assim e não teve nenhum problema, por que havia começado agora?
Senti algo na minha garganta e não fiz questão de deixar passar. Não iria chorar por causa de um garoto. Não iria e muito menos queria.
Após ficar algum tempo no banheiro fazendo com que o meu coração parasse de latejar, o estômago parasse de doer e a cabeça parasse de rodar, lavei o rosto tentando tirar todo o vermelho (sim, eu ficava vermelha quando estava irritada, era uma característica minha que eu simplesmente odiava) e fui em direção ao salão.
O tempo estava pior, e eu tinha certeza de que em algumas horas iria chover forte. Um vento gelado fazia meus cabelos esvoaçarem, e isso fazia bem para a minha cabeça. Como se ela estivesse leve e longe dos problemas.
Não precisei seguir até o fim do corredor e meu frenesi com o tempo acabou, já que eu visualizei a maioria dos jovens do lado de fora do local comprando algo para comer na lanchonete.
Meu coração saltou novamente quando eu vi agora Mary Jane, e juntos, conversando e sorrindo enquanto comiam uma espécie de salgado. Colei meus punhos em volta do corpo com raiva, tentando parecer... normal? É.
A ruiva acenou para mim, pedindo que eu andasse até ela. Eu fui, pé ante pé, o mais lerdo que consegui. Cheguei lá ainda parecendo um zumbi e o me olhou com uma cara preocupada.

- ‘Tá tudo bem com você, ? – perguntou . – Parece meio pálida.
- Eu ‘tô bem sim, – disse tentando ignorar o e os olhares dele sob o meu rosto. – Deve ser só a dor de cabeça.

Que bela mentirosa eu era.

Capítulo 15

Ficamos (leia-se: eles ficaram) conversando e terminando de comer até que nos dissessem que estávamos prontos para a trilha. Os professores distribuíram algumas capas de chuvas para nós, caso chovesse enquanto estivéssemos fazendo a trilha. Perguntei se não era melhor fazermos isso outro dia, mas o Sr. Linderman disse que não teríamos outra oportunidade como aquela.
Vestimos as capas, com a mochila nas costas e blocos de anotações para as explicações em mãos.

- , ‘tá tudo bem com você? – me perguntou enquanto eu começava a caminhar, adentrando as árvores.

Era uma mata fechada, e o caminho minúsculo de terra estava molhado, devido às chuvas anteriores. Havia alguns galhos molhados também no chão, sem contar os insetos. Fiz questão de focar toda a minha atenção para eles, tentando deixar o de lado.

- , dá para me responder? – ele perguntou depois de sei lá, cinco segundos?
- – disse tentando parecer calma –, ‘tá tudo bem sim.

Os alunos estavam um pouco mais à frente, observando e anotando a explicação dos professores. Mary Jane andava na minha diagonal, conversando com outras garotas, enquanto estava com o grupo do Jake.

- Por que você não está me olhando nos olhos para falar isso? – Ele me puxou pelo braço e nossos corpos se aproximaram. Olhei para todos os lados antes de encontrar os olhos do garoto e percebi que éramos os últimos e que estávamos nos afastando de todos.
- , é sério! – Dei um sorriso extremamente falso, mas o garoto continuou sério. – Eu não gosto muito de natureza e caminhadas ao ar livre – disse me afastando dele e começando a andar, mas ele me seguiu. – E a minha dor de cabeça não passa.
- Mas n...
- Eu vou lá com a Mary Jane! – cortei o garoto e saí andando apressadamente até a garota de cabelos ruivos. Tropecei e escorreguei algumas vezes antes de chegar até ela, mas não vamos dar alguma importância a isso no momento.

Conversei algo rapidamente com MJ e olhei para trás, a tempo de ver o garoto me olhando cabisbaixo com as mãos no bolso. Mas que DROGA! Como ele ficava incrivelmente lindo desse jeito e eu não conseguia mais ficar bravo com ele? ALGUÉM RESPONDE AS MINHAS PERGUNTAS, CARAMBA!
O deu um singelo sorriso para mim e eu não consegui pensar em mais nada, abrindo um sorriso maior que o dele e para ele, obviamente. Às vezes eu consigo ser tão idiota.
Ele correu até os outros garotos e foi caminhado com eles, enquanto eu e Mary Jane também andávamos conversando. Decidi colocar o bloco de anotações na bolsa e me segurar nos troncos das árvores enquanto andava, já que eu havia escorregado nas pedras lisas e na terra no mínimo umas cinco vezes.

- Ponham as capas de chuva! – gritou a Sra. Jackson. Como se ela tivesse que mandar nós fazermos isso.

A chuva começou forte e grossa, e todos os alunos se vestiram e deixaram as mãos livres para segurar em vários lugares para não tropeçarem. Isso iria ser um problema maior para mim, já que, como eu disse, a minha coordenação motora para fazer trilhas e andar em cima de folhas, galhos, pedras e derivados é péssima.

- Hey, ! – Jake exclamou chegando ao meu lado, mas eu nem olhei para o seu rosto. Estava mais preocupada em desenganchar o meu pé de uma pedra, para falar a verdade. – Precisa de ajuda ai? – Ele sorriu e segurou minha perna, ajudando-me a tirá-la. Como eu consigo fazer coisas desse gênero, só Deus sabe.
- Valeu, Jake! – Dei um sorriso e fomos acompanhar a turma, com o garoto ao me encalce.
- E ai, como anda a vida? – ele me perguntou, querendo puxar algum assunto.
- Ah, vai bem. – Dei um sorrisinho e o garoto coçou a cabeça, extremamente sem graça. – E a sua?
- Bem também. – Ele ficou vermelho e eu não segurei um riso alto. – Viu, domingo eu vou dar um churrasco em casa. Não quer ir? – perguntou.
- Claro! Você só precisa me dar o endereço.
- Pode deixar, mas o pessoal sabe onde é, e acho que você vai com eles. – Ele sorriu mostrando os dentes incrivelmente brancos. Seus olhos se cravaram nos meus de uma hora para outra e eu não consegui não sorrir de volta. Santo Pai, o Jake é a prova que Deus existe de verdade.

Mary Jane veio ao me encontro junto com as outras garotas e eu me despedi de Jake, agradecendo o convite e falando com a minha amiga sobre o domingo.
Parei para anotar mentalmente algumas explicações dos professores, que agora falavam de uma árvore ou sei lá o que. Mas minha atenção não estava totalmente voltada a eles, porque todos os garotos – Jake, Austin, , Mark e o – estavam com caras maléficas, sussurrando e rindo de alguma coisa.

- ‘Tô com dó da próxima vítima deles – a garota ao meu lado disse, repentinamente olhando com pena para mim.
- Ah não, por que você ‘tá me olhando desse jeito? – perguntei. Parecia que a MJ queria falar que EU seria a próxima vítima.
- Boa sorte, eles já fizeram comigo também. – Ela bateu no meu ombro. – Lembre-se: meninos podem ser idiotas muitas vezes. – Isso me deixou com cara de interrogação e em seguida ela chamou: - Professor! – E correu na direção dele.

Já estávamos há quase uma hora e meia andando. Meus pés latejavam, minha cabeça doía e eu tinha certeza de que iria pegar um baita resfriado por causa da chuva que, embora não estivesse mais forte, estava gelada. Ah sim, e eu estava de péssimo humor, só para constatar.

- E ai, ! – chegou me abraçando de lado com um sorriso torto nos lábios e eu estranhei.
- Oi, – disse singelamente e pulei algumas plantas. O garoto riu com o meu desespero e eu preferi ignorá-lo.

Após tal ato, o foi à frente para encontrar os outros amigos e eu fiquei me perguntando que espécie de pessoa era aquela.

- E ai, eles não fizeram nada ainda? – perguntou Mary Jane. Sério, as pessoas aparecem do nada.
- Acho que não – falei e senti algo incomodando o meu braço, mas não virei para olhar.
- Amooooooooor! – chegou agarrando Mary Jane e, quando eu percebi, estavam todos em volta de nós.

Os garotos olharam para mim com um sorriso cínico no rosto, quase estourando de tanto rir. Perguntei-me se eu tinha alguma coisa no rosto, mas eu senti alguma coisa andando pelo meu braço e parei repentinamente de me mexer.
quase se engasgou com o riso preso e as garotas me olharam estranhas.
“Não, não, relaxa, . Não é nada,” disse a mim mesma enquanto voltava meus olhos lentamente ao meu... ombro?

- AH, MEU DEUS – gritei estática, olhando para a coisa estranha, nojenta, feia, preta e... – TIRA, TIRA ISSO DE MIM! – gritei desesperada.

Se tem uma coisa que eu tenho pavor, são insetos. Acho que eu já disse isso antes. E tinha um GRANDE, NOJENTO, INCRIVELMENTE ENORME, COM UMAS PATINHAS INCRIVELMENTE NOJENTAS E ANTENINHAS OU SEI LÁ O QUE, E ESTAVA OLHANDO PARA MIM! ELE VAI ME MORDER E EU ACHO QUE VOU SURTAR.

- TIRA ISSO DE CIMA DE MIM, AGORA! – gritei, ouvindo os risos dos meninos sem tirar os olhos do meu ombro e tentando não me mexer.

Mary Jane correu até mim para ver o que estava acontecendo, assim com as outras meninas que eu havia conhecido no dia do pub.

- , ele não faz nada! – disse rindo e eu senti todo o meu sangue subir à cabeça. EU VOU MATÁ-LO, SIMPLES ASSIM.
- , TIRA ELE DE CIMA DE MIM AGORA SE VOCE QUISER PENSAR EM VIVER QUANDO CHEGAR EM CASA! – bufei, ouvindo alguns “UUUUUUUUUUUUH” do resto dos garotos.

O garoto riu e foi andando até mim, mas Mary Jane empurrou-o e bateu no meu ombro, fazendo com que a coisinha nojenta voasse ou fosse jogada no chão. A minha vontade agora era de dar um soco em cada um dos meninos. COMO ELES ACHAVAM DIVERTIDO ASSUSTAR AS GAROTAS? Isso é tão cara de meninos de sexta série. Ou menos.

- É, dessa vez vocês se superaram! – Mary Jane exclamou olhando enfezada para e passou a mão pelos meus ombros e me empurrou dali, já que as minhas pernas não queriam se movimentar.

Dei um olhar mortífero para o resto do pessoal e eles pararam de rir instantaneamente.

- ... – ouvi , Jake e correrem atrás de mim para falar comigo. Só que, bem, EU NÃO QUERIA VÊ-LOS NA MINHA FRENTE NEM QUE ME PAGASSEM.
- SAIAM DAQUI, AGORA! – gritei, mas eles continuaram andando atrás de nós.
- Fora, ! – disse Mary Jane, até que o garoto a segurou pelos ombros, fazendo-a parar, enquanto eu decididamente segui adiante, andando mais rapidamente e tropeçando mais vezes do que antes.
- , espera! – Os passos dos outros dois garotos estavam se aproximando de mim, e eu definitivamente não queria falar com eles. Não queria, simples assim, ok? E eu posso parecer uma menina de sexta série falando também, nesse momento, mas não quero nem saber.
- EU NÃO QUERO FALAR COM VOCÊS, QUE SACO! – gritei pisando numa pedra lisa e... não, isso não é nada bom.

Meu pé deslizou pela pedra, fazendo com que eu perdesse o equilíbrio e caísse para trás. Senti um baque na minha cabeça e tudo começou a girar, mas logo voltou ao normal. Mais essa. Hoje definitivamente não é o meu dia.

- ! – ouvi o garoto gritar e, quando percebi, ele estava na minha frente, com as mãos esticadas para me ajudar a levantar.
- Sai – disse ainda brava e continuei deitada, esperando a minha cabeça voltar ao normal para poder fazer uma tentativa de levantar.
- , foi mal, era só brincadeira... – Jake começou, passando as mãos pelo cabelo. Eu teria achado extremamente fofo se eu não estivesse tão nervosa.
- SAIAM DAQUI! – gritei, apertando os olhos por causa da chuva que caia direto sobre o meu rosto.

e o loiro se olharam e esse último saiu cabisbaixo, sussurrando um pedido de desculpas para mim antes de virar o rosto.

- Vem, disse se abaixando para pegar os meus braços, mas eu não os levantei com intuito de ser içada para cima.
- Aquilo lá serviu para você também – disse brava. Já disse que minha cabeça está girando?
- Nem serviu – ele falou e se abaixou repentinamente, pegando os meus braços e fazendo com que eu ficasse em pé, ainda cambaleante.
- Eu não preciso da sua ajuda. – não ligou para o que eu havia falado e passou as mãos pela minha cintura para se certificar que eu não fosse cair, mas eu o empurrei, ainda para longe, e tentei andar sozinha. O que foi uma péssima escolha, porque segundos depois senti meu corpo tombar novamente.
- Tem certeza? – ele disse sorrindo maroto e eu trinquei os lábios, tirando suas mãos de cima de mim.
- Às vezes você consegue ser tão idiota! – pontuei e logo corri para Mary Jane que, pelo que me pareceu, já havia feito as pazes com o . O garoto me pediu desculpas e eu só balancei a cabeça falando que estava tudo bem. O meu problema era com o mesmo, mas não me perguntem o porquê.
- , espera! – ele gritou e eu fiz questão de me juntar ao professor, fazendo algumas perguntas banais para que o garoto não me interrompesse.

Os outros dez minutos seguintes seguiram-se dessa maneira e, assim que cheguei ao ônibus, fiz questão de puxar a Mary Jane ou qualquer outra garota para sentar-se ao meu lado.

- , a gente pode conversar? – ele perguntou virado para mim, em pé no corredor. MJ olhou do rosto dele para o meu e em seguida começou a se levantar para dar liberdade ao garoto. Que bela amiga eu tenho.
- Não se atreva! – disse olhando para a ruiva e ela me deu um singelo sorriso num sentido de “desculpa, mas vocês têm que se acertar!” e saiu, dando espaço para o .

Virei a cara para a janela e cruzei os braços, esperando que o professor acabasse logo de verificar os alunos para que nós pudéssemos partir.

- ? – ele me chamou, mas eu continuei olhando pela janela, emburrada.

O professor entrou e o ônibus deu partida, enquanto chamava pelo meu nome diversas vezes. Nós estávamos sentados no mesmo banco em que havíamos vindo na ida, ou seja: nada de pessoas ao nosso redor. Isso porque a maioria dos alunos prefere a bagunça do fundão, e os professores seguiram para lá para conter o entusiasmo de todos ou fazer um social com eles.

- ... – ele chamou acho que pela milésima vez, mas isso foi diferente. Isso porque ele chegou perto do meu ouvido e começou a sussurrar o meu nome numa voz incrivelmente sexy.
- Pára, – disse estupidamente. O garoto não atendeu aos meus pedidos, claro.
- Desculpa... – ele falou, agora grudando os lábios no meu ouvindo e eu me encolhi com o toque.

Não conseguia falar. Aquele garoto me deixava LOUCA! No sentido literal da palavra. Ele passou a distribuir beijos pelo meu pescoço, queixo, bochechas e até pelo lóbulo da minha orelha. É, e com isso o meu coração deu voltas e meu estômago também. Digo, muitas voltas MESMO. Tanto que eu até fiquei tonta e não consegui pará-lo, porque ele ficava incrivelmente lindo e sexy sussurrando o meu nome e um pedido de desculpas maravilhoso no meu ouvido.
Prendi a respiração tentando formular alguma resposta, e isso só aconteceu minutos depois.

- Às vezes você consegue ser tão idiota – repeti a frase que havia dito na trilha e o garoto parou de me beijar, mas puxou o meu rosto para perto do dele, fazendo nossos narizes quase se tocarem.
- Eu sei – ele disse olhando fundo nos meus olhos, e eu achei que iria morrer ali, é sério. – Desculpa, não fica brava comigo – ele disse fazendo um biquinho e eu sorri involuntariamente com esse gesto. Alguém me fala por que, já que ele percebeu o meu ato e alargou a boca em um sorriso, dando-me um beijo na ponta do nariz.
- Se você fizer isso de novo alguma vez na sua vida, você morre – disse apontando o dedo para ele, que logo o puxou fazendo com que eu segurasse em seu pescoço. O garoto sorriu e mordeu a minha bochecha, e eu quase me perdi em suspiros. – Eu odeio insetos – disse prontamente enquanto ele enlaçava a minha cintura e eu afundava a cabeça em seu pescoço incrivelmente cheiroso.
- Não vai mais acontecer – ele disse passando a mão pelos meus cabelos e fazendo com que eu colocasse uma perna em cima da dele.

E não falamos mais nesse assunto. Eu encostei minha cabeça no banco, fechando os olhos enquanto sentia o garoto me olhando e brincando de enrolar os meus cabelos no seu indicador.
Minha perna estava em cima da dele e eu brinquei com nossas mãos em cima desse monte de pernas. Pensamentos passavam pela minha cabeça, e o que havia acontecido horas antes já estava esquecido. Por que ele me fazia tão bem? Era realmente uma droga.

- ? – ele perguntou e eu abri os olhos, ainda encostada no banco, só que dessa vez olhando para o garoto.

Ele estava do mesmo modo que eu, e seus olhos pareciam muito mais do que nos outros dias. Eu acho que me perdi novamente.

- Sim? – perguntei, brincando de arranhar o dedo do garoto enquanto ele mexia em meu cabelo.
- Por que você ficou daquele jeito, depois do filme? – ele perguntou, ainda olhando nos meus olhos. Enrijeci.
- Qual jeito? – disse tentando mudar o foco do assunto.
- Não sei. Você parecia desanimada, e não era só a dor de cabeça.
- Ah, sei lá – disse tentando inventar alguma história. Eu não poderia falar: “Ah, é que eu vi você com as meninas-com-cara-de-vadias e fiquei com ciúmes porque você estava com elas e não comigo.” – Sabe os dias que você não sabe o que tem, e fica desanimado com tudo? – perguntei e ele afirmou com a cabeça. – Então, acho que eu estou num dia desses. Ou eu sou bipolar. – Sorri fraco e ele fez o mesmo.
- Ou você é estranha. – Ele alargou o sorriso e eu dei a língua.
- Ou eu sou diferente! – Sorri batendo na ponta do nariz do garoto, e isso fez com que ficássemos mais perto.
- Não é que você seja diferente, – ele disse sério, puxando o meu queixo para que eu não desviasse o seu olhar do meu. – É que não existe ninguém igual a você.

E foi nessa hora que eu senti que iria desmaiar. É sério, eu comecei a rir bestamente para o garoto, sentindo a minha respiração ofegante e meu corpo tremendo. Como ele fazia uma coisa dessas comigo e queria que eu ficasse em condições normais? Simplesmente não dava.

- Não existe outra garota tão chata, insuportável e ao mesmo tempo tão incrível como você. – Foi a vez dele dar a língua e rir para mim. Ele me achava incrível. Morri.
- Digo o mesmo de você! – Sorri e me joguei no peito do garoto passando a mão pelo seu pescoço e brincando com o seu cabelo.

Ele passou uma mão pela minha cintura, fazendo carinho, enquanto a outra se instalou no meu pescoço. O pescoço dele estava muito cheiroso e muito convidativo para mim, fazendo com que eu desse um beijo no mesmo e afundasse meu rosto pelo local. O garoto estremeceu ao perceber o que eu fiz e em seguida me puxou para cima dele, fazendo com que eu ficasse praticamente em seu colo.

- Amo você, – disse fechando os olhos e me drogando com seu cheiro. Jesus, eu acho que poderia ficar aqui pela eternidade, é sério.
- Definitivamente eu te amo muito mais. – Notei o garoto sorrir e ele encostou sua cabeça na minha, fechando os olhos assim como eu.

Sentir a mão dele na minha pele era tão bom, e me acalmava de monte. Estava confortável e um tanto quanto quente naquela posição, mas não sairia de lá tão cedo. Bom, até que eu chegasse pelo menos à escola.

Capítulo 16

O resto do dia se passou sem mais acontecimentos importantes. O meu problema seria amanhã, mesmo.
E foi o que aconteceu. Logo que eu acordei, me esperava na sala, terminando de arrumar algumas coisas, enquanto o ajudava. Sorri para os garotos, mas eu queria mesmo era desaparecer.

- Bom dia! – falei entrando na sala, e os garotos me olharam e riram da minha cara. – O que foi?
- , vai por uma roupa – disse rindo e confirmou com a cabeça. Olhei para o meu corpo e vi que vestia um camisetão (que mais parecia um vestido curtíssimo) e meias coloridas.
- Ah, vão se catar – disse abrindo a boca de sono e me jogando no sofá. Eu não estava me importando mesmo. – Precisa de ajuda ai? – perguntei a , que tentava fechar o zíper da mala.
- Não, mas valeu do mesmo jeito. – Ele fechou a mala e se levantou de supetão, abrindo um sorriso. – Acho que está na hora de eu ir, ainda vou buscar a MJ.
- Certo – falei sentindo meu coração palpitar mais forte do que antes.

O garoto se levantou, puxando as bagagens e deu um abraço apertado no . Achei fofa aquela parte, até que eles fizeram um cumprimento com as mãos e passaram a se socar, gargalhando. Homens.

- ‘Tá ‘tá, já chega, vocês vão se ver todo dia, meu Deus – disse os separando para dar um abraço apertado no , que me puxou e fez com que eu ficasse hm... fora do chão? É.
- Olha quem é que ‘tá falando, vocês vão se ver todo dia na escola! - repetiu rindo enquanto me soltava e eu dava a língua para ele.
- Cuida bem do Robin, ok ? – ele disse e notei o revirando os olhos. Gargalhei.
- Pode deixar, ‘tá comigo, ‘tá com Deus! – disse firmemente enquanto ele abria a porta do apartamento.
- Agora sim eu me sinto melhor! – disse balançando as mãos e eu ri, assim como o outro garoto.
- Tem certeza que não precisa de ajuda com isso ai? – perguntei mais uma vez me referindo à mala, mas o garoto balançou a cabeça negativamente. Dava para ver que ele estava explodindo de tanta alegria.
- A gente se vê amanha, ok? – falou o loiro chamando o elevador e arrastando as malas.
- Ok! – eu e o respondemos juntos e em seguida sorrimos. entrou no elevador acenando, e eu fiz questão de me jogar no sofá novamente assim que fechei a porta, tentando me acalmar.

(Sugestão de música: Lifehouse- Hanging by a moment )

- E então, , agora somos só eu e você – ele disse fazendo uma cara pervertida e sentando-se no sofá à minha frente. Eu ri para esconder o quão vermelha havia ficado.
- Pois é, Robin, a gente sobrou – disse ainda rindo e ele arqueou a sobrancelha.
- Do que você me chamou? – perguntou se levantando e tendo um sorriso maroto nos lábios. Ah meu Deus.
- DE NADA! – gritei, mas não adiantou nada, porque hm... ele meio que subiu em cima de mim e começou a me fazer cócegas. Fala sério, eu mereço esse cara.
- Do quê? – ele perguntou, tentando prender as minhas mãos em cima da cabeça.
- , EU VOU MORRER! - Drama, drama, drama. – PÁRA COM ISSO! – gritei rindo, enquanto ele se acomodava do meu lado e colocava as minhas mãos acima da minha própria cabeça.
- Retire o que disse! – ordenou sorrindo, já que ele havia me nocauteado. É isso ai, eu não conseguia me mexer, e não era só porque ele estava segurando as minhas pernas com uma mão e os meus braços com a outra, mas porque agora sua cabeça estava em cima da minha e me encarava de um jeito extremamente intimidador. Claro, sem contar que o seu nariz estava muito perto do meu e eu sentia a respiração dele.
- Não vou retirar, você é Robin e Robin será para sempre! – ‘Tá, nem eu entendi o que eu disse, e o garoto decidiu me torturar, é sério. Isso porque ele passou a mão que estava me segurando pelos tornozelos para os meus joelhos, e bem... eu simplesmente morro de cócegas no joelho.
- Ainda não vai retirar? – Ele riu maroto apertando os meus joelhos, enquanto eu me matava de rir.
- Não... – O quê? Se mata, , retira o que disse e ele pára de abusar de você! Só que, bem, eu não sei se quero parar de ser abusada agora. Cara, eu pareço uma tarada, mas fique bem claro que eu não sou, ok? Eu só... gosto de ficar perto dele.
- Última chance... – ele sussurrou no meu ouvido, fazendo o meu corpo inteiro tremer. Por que ele gostava de sussurrar justo no MEU ouvido? Fala sério.

Fiquei em silêncio e o garoto considerou aquilo como um não. Eu não respondi porque os olhos dele meio que me hipnotizaram e eu não consegui falar nada, ok?
Ele desceu as mãos que estavam nos meus braços suavemente até o meu pescoço e as mãos que estavam no meu joelho até a minha cintura (n/a: ele passou pelas suas coxas –qq tarado! :B). Jogou-se mais ainda em cima de mim, fazendo-me soltar um gemido, e seus lábios praticamente grudaram na minha cara quando ele falou:

- Se você não vai retirar o que disse com as cócegas, vai ter que retirar na base das mordidas.
- Hein? – perguntei confusa. Já disse que eu não estava raciocinando muito bem essa hora?

Ele não respondeu e passou os lábios pela minha bochecha, mordendo e me fazendo dar um grito baixo.

- Você é um canibal – disse. – E eu não vou retirar coisa nenhuma. – Mentira, eu iria retirar, mas eu queria ver até onde ele chegava. Melhor ainda, eu queria ver até onde EU agüentava.

Ele descolou os lábios das minhas bochechas e desceu até o meu queixo, me dando mais uma leve mordida. Isso não estava nada certo... Nada certo mesmo.

- ... – exclamei, mas não adiantou nada. Minha respiração falhou quando sua boca escorregou ainda mais pelo meu pescoço e passou a dar leves mordidas pelo local. Meu coração queria saltar do peito, minha cabeça parecia querer explodir e algo dentro de mim estava extremamente feliz. Aquilo não estava NADA certo, o havia acabado de ir embora e nós éramos melhores amigos, certo? CERTO?!
- ... – sussurrei de novo, mas o garoto não parou. Ah meu Deus, eu acho que vou agarrá-lo aqui mesmo! Tortura mesmo, seu idiota. – EU RETIRO! – gritei não agüentando mais aquilo.

O garoto instantaneamente parou o que estava fazendo e sorriu me dando um beijo na bochecha e se jogando no chão, arfando do mesmo jeito que eu estava.
Preferi ficar deitada no sofá mesmo, enquanto ele se acomodava no chão. Um turbilhão de pensamentos passava pela minha cabeça, e eu não queria nem saber o que teria acontecido se eu não tivesse parado. Ou sei lá o que, né?

- Acho que a gente deveria fazer isso mais vezes – ele disse dando de ombros e eu virei meu rosto para ele, completamente assustada. ELE DISSE MESMO O QUE EU OUVI?
- Você é um completo tarado. – Apontei para a cara dele, que riu.
- Você é que é incrivelmente irresistível – ele falou olhando para mim e eu fiquei vermelha inconscientemente. – E completamente descerebrada! – acrescentou e eu continuei olhando para aqueles olhos hipnóticos .
- Explique-se – disse arqueando uma sobrancelha.
- Você não pode me deixar chegar tão longe assim, ‘tá legal? – ele falou sério agora, e eu fiquei pensando que espécie de garoto era aquele.
- Posso saber por quê? – perguntei interessada.
- Porque depois eu não sei se vou conseguir parar. – Ele olhou fundo mais uma vez nos meus olhos. Por que nós estávamos tendo essa conversa incrivelmente patética e sem noção? Pelo o que eu sabia e pelo o que os meus olhos observaram, nós éramos apenas amigos e ele ficava com pelo menos duas garotas por dia. Espero não estar inclusa nisso, ok?

Balancei a cabeça afirmativamente e ele sorriu. E quando ele sorria... bem, eu sorria de volta, abobalhada.
O garoto levantou-se num pulo e eu fiz o mesmo. Fui em direção ao quarto para trocar de roupa, com a minha cabeça pesando muito mais do que antes.
Assim, eu e o já nos conhecemos há... sei lá, dois, três meses? Deve ser isso. E já estávamos a esse ponto? Sei lá. Aquilo não era nada bom para mim, nada mesmo. Não era ele que falava que não gostava de relacionamentos? Mas calma ai, quem disse que eu e o estávamos tendo um relacionamento? Sabe quando dizem aquela frase: “A tarefa mais difícil é aprender a esquecer quem aprendemos a gostar”? Então, ela bate perfeitamente comigo.
Meus devaneios foram cortados quando eu ouvi a voz do gritando da cozinha:

- COMIDA CHINESA?
- NÃO! - disse sorrindo enquanto colocava um shorts. – NÓS VAMOS COZINHAR HOJE!

Capítulo 17

- Vamos logo, ! - gritei batendo na porta de seu quarto. É, hoje era totalmente o contrário. – O já está esperando lá embaixo!

Ele nada respondeu e eu aproveitei para arrumar o meu vestido branco que estava por cima do biquíni rosa.
Era quase meio dia, e nos daria uma carona para a casa de Jake, que ficava um pouco distante do nosso bairro. Esse churrasco do dia de hoje iria dar o que falar.

- ! – gritei mais uma vez batendo na porta, e o garoto abriu-a repentinamente, trajando um shorts e havaianas. Porque a camisa estava em mãos.
- Já acabei, mon amour – ele disse me dando um beijo na testa e eu estremeci.

O garoto pegou a carteira e o celular que estavam em cima de uma mesa de canto e jogou-os no bolso, enquanto colocava um óculos de sol extremamente sexy no rosto.

- Vamos? – ele perguntou abrindo a porta do apartamento e eu sorri comigo mesma ao ver aquela cena. “Pare agora com esses pensamentos idiotas, ,” gritei mentalmente a mim mesma.

Puxei minha bolsa do sofá e tirei os meus óculos de sol gato, colocando-o no rosto e fazendo cara de sexy igual o . Ele riu enquanto eu atravessava a porta do apartamento e dava um beijo em seu rosto. Se ele queria me fazer ficar louca, estava conseguindo, porque eu nem sabia mais o que estava fazendo.

- Vamos – exclamei séculos depois, chamando o elevador.

A corrida de carro até a casa do Jake ocorreu tranquilamente e sem acontecimentos especiais.

- Ah, meu Deus – exclamei espantada quando chegamos a frente à fachada da casa.
- Você não viu nada – Mary Jane disse e eu sai do carro, ainda observando o que estava diante de meus olhos.

A casa do Jake era simplesmente maravilhosa e enorme. Tinha dois andares e ocupava no mínimo dois terrenos. Podiam-se ouvir alguns gritos de meninas e em seguida barulhos de pessoas sendo jogadas na piscina, além da música incrivelmente alta e risadas escandalosas. Eu juraria que eles já estavam mais que bêbados. Ou era uma coisa normal – para eles.

- Hoje você vai se divertir mesmo! – Mary J. disse para mim, saltando e me puxando pela mão até a porta da casa.
- Mulheres – disse e nós rimos.
- VOCÊS VIEEEEEEEEEERAM, AEEEEEE! – gritou Jake abrindo a porta da casa segundos depois que havíamos tocando a campainha. Ele fez um toque masculino com os garotos e deu um beijo na bochecha de Mary Jane. Fiquei parada na porta, observando o pessoal entrar e esperando ele me dar atenção. – Você veio também! – ele disse abrindo um sorriso e passando a mão pela minha cintura para me dar um abraço.
- Pois é! – Estendi as minhas mãos até o seu pescoço e o puxei para perto. Senhor, ele estava cheiroso. Morri.
- Vem, vamos lá no fundo! – Ele agarrou a minha mão igual geralmente fazia e me puxou até os fundos da casa, onde o pessoal estava.

Cumprimentei o resto dos garotos e peguei uma bebida, sentando-me na borda da piscina para conversar com as meninas que eu já conhecia – Lily e Hillary. Mary Jane sentou-se na borda ao meu lado e Lily começou perguntando:

- E então! Como anda sua nova morada com o príncipe encantado da sua vida? – A ruiva olhou apaixonadamente para o namorado e abriu um sorriso, respondendo:
- Ai, perfeito! – disse com os olhos brilhando. – Ele é perfeito.
- Você já disse isso – Hill exclamou e eu ri da conversa.
- Ah, me deixa! – ela disse jogando água nas garotas que estavam na piscina num ato brincalhão. – Mas está sendo uma experiência incrível. Ontem foi só o primeiro dia, mas vocês sabem... – ela disse abaixando o rosto e eu gargalhei ao vê-la ficar mais vermelha que a cor de seus cabelos.
- Pelo visto a noite foi MUITO boa ontem, né! – Lily fez uma cara pervertida que fez a outra garota corar mais ainda.
- E agora não tem como negar! – disse apertando as bochechas dela que deu a língua para mim.
- Ela fica tão fofa quando está vermelhinha! – Hill disse rindo e Mary Jane deu mais uma braçada de água na cara delas.

As garotas riram e puxaram a ruiva, fazendo com que entrasse de roupa e tudo na piscina e me olharam com cara de quem iriam fazer o mesmo comigo.

- Já ‘tô entrando! – gritei tirando os pés da água. Definitivamente eu não iria entrar na piscina nesse momento, mas sai e fingi que iria tirar o vestido.

Nesse instante, três jatos passaram por mim e se jogaram na piscina, fazendo as meninas gritarem e subirem em cima deles numa tentativa fracassada de afogarem Austin, e Mark.

-, vamos na piscina! – disse me abraçando por trás e depositando um beijo na minha nuca. Estremeci e ri, sentindo um par de olhos sobre nós.
- Já já eu vou! – disse rindo e me jogando numa cadeira, pegando mais um copo de bebida. Eu acho que estava mais é fazendo doce, mas o que eu posso fazer. Piscina não era uma coisa que me agradava muito.
- Você vai agora, e comigo! – ele disse tirando a camiseta e me puxando pelo braço, enquanto eu fazia força para trás para não ir. Mas era meio que difícil me concentrar com uma visão dessas.
- Eu já disse que vou! – disse rindo e notei Jake chegando perto de nós, rindo também. soltou-me instantaneamente, fazendo com que eu voasse para trás por causa da força que estava fazendo, e Jake me segurou pela cintura evitando a minha queda.
- , já vi que você gosta de tropeçar. – Ele riu fazendo-me lembrar do que havia acontecido na trilha, mas eu não liguei muito para isso. A voz dele me chamando por esse apelido não era tão perfeita quando era a do , mas eu preferi não falar nada.

Eu ri também para não ficar tão sem graça, e apontou o dedo para mim dizendo:

- Se você não entrar em cinco minutos, eu vou vir te buscar – ele falou e correu para piscina, jogando-se em cima das garotas. MJ deu um pedala em sua cabeça e chamou-o de Robin, enquanto ele fazia careta. Totalmente ridículo.
- Pode deixar, ela vai sim! – Jake gritou assim que o entrou na piscina e eu me virei para ele.
- Você vai me obrigar, é? – disse com um sorriso maroto e ele se aproximou de mim, fazendo-me dar um passo involuntariamente para trás.
- Eu vou – ele falou sedutoramente perto do meu ouvido e meu corpo estremeceu. Meu corpo tem reações que nem eu entendo.
- Nem vai – disse sensualmente girando o meu corpo e fazendo com que o garoto ficasse de costas para a piscina. Dei um passo para frente e isso fez com que o garoto desse outro para trás, e eu prendi o riso para que ele não pudesse descobrir o que eu iria fazer.
- Como você pode saber? – ele perguntou muito perto do meu rosto, e isso fez com que eu ficasse vermelha e parasse de encarar seus olhos.
- Por causa disso! – Dei a língua e empurrei-o de repente, fazendo com que caísse na piscina.

O resto do pessoal riu e eu fiz o mesmo, enquanto o garoto submergia e dizia:

- Você me paga, ! – ele gargalhou e correu para a borda da piscina.
- NÃO! - gritei e tentei sair correndo, mas o garoto foi mais rápido e me pegou pela cintura por trás. – Você ‘tá molhando todo o meu vestido, Jake! – gritei rindo enquanto ele fazia cócegas pela minha barriga.
- Claro, porque ALGUÉM me jogou na piscina! – Eu gargalhei e senti-o me puxando para a piscina. Muitos pares de olhos estavam sobre nós... Ou não né.
- EU JURO QUE VOU! – gritei perto da borda tentando respirar, enquanto o garoto ainda me puxava.
- Você tem dez segundos para tirar esse vestido e cair na água – ele deu a ordem e pulou na piscina, fazendo com que todo mundo me olhasse com uma cara de “faça isso ou você estará ferrada”.

Tirei o vestido num jato só e meus olhos se encontraram com os do instantaneamente. Ele riu sem graça e mordeu o lábio inferior, fazendo com que eu soltasse um sorriso involuntário.
Foi difícil tirar os olhos dele, mas, assim que consegui, percebi Jake me olhando também. Achei melhor eu entrar na piscina logo.
Corri e joguei-me por cima de todo mundo, rindo.
O tempo passou tão rápido que eu nem percebi. Fazíamos brincadeiras típicas de crianças idiotas, mas era um tanto quanto divertido. Até que eu senti que essas brincadeiras infantis iriam realmente tomar outro rumo, embora esse não fosse o momento certo para isso acontecer.
Saímos da água para aproveitar a comida e ficamos conversando e bebendo. Muitas vezes meus olhos se encontraram com os de e nós ficamos nos observando enquanto o pessoal conversava. Isso me dava uma sensação tão boa, até que Jake sentou-se ao meu lado pedindo toda a minha atenção.

- Pessoal, está na hora! – Austin gritou minutos depois e os garotos juntaram-se a ele, falando que iriam para a sala e já voltavam. A essa altura do campeonato, estávamos praticamente bêbados e não nos importávamos com muita coisa.

Os fundos da casa do Jake era enorme. Havia a piscina e, num canto, uma churrasqueira feita de tijolos. Em frente a ela, havia uma mesa enorme de granito para fazer as refeições.
Alguns metros à frente e ao lado da piscina havia um gramado livre e enorme, que eu presumi que fosse para jogarem bola ou para simplesmente correr. As paredes eram altas e havia uma certa folhagem nas mesmas, dando um ar completamente natural ao local.
disse para nós arrastarmos a cadeira de sol para aquele gramado e nos sentarmos na mesma, esperando que eles aparecessem. O que iria acontecer, eu não sabia. Mas estava com medo.

- Ai, o que será dessa vez? – Lily perguntou e Mary Jane fez uma cara de pensativa. Fiquei perdida em pensamentos para saber o que estava acontecendo.
- Com certeza irão superar o ano passado – Hill afirmou e Mary Jane me explicou:
- Eles sempre fazem alguma coisa idiota e retardada. É o efeito da bebida.
- Idiota e retardada tipo o quê? – perguntei agora com medo.
- Tipo comprarem spray de carnaval e jogarem na gente – começou Mary J.
- Ou jogarem bexigas d’água nos vizinhos – continuou a outra.
- Ou pegarem vinte garrafas de bebidas e fazerem nós bebermos elas inteira no gargalo – continuou a outra.
- Meu Deus. – É sério, isso estava me dando medo.

Segundos depois, os cinco garotos apareceram com calças sociais, terno preto e um chapéu totalmente ridículo também preto. Havia garrafas vazias de bebidas em suas mãos, e os cinco pararam de costas, numa posição totalmente sexy. Que bando de gogoboys.

- Meu Deus do céu – Mary Jane fez uma observação à parte, olhando para a bunda do .
- Vocês não vão fazer o que eu estou pensando, vão? – Hillary perguntou olhando dos meninos para nós. Eles nada responderam.
- Eles vão – exclamei espantada enquanto Jake apertou um botão no controle e jogou-o para o lado, fazendo uma música extremamente alta começasse a tocar. ( Busted – Falling for you )
- Semester's coming soon – Jake começou a cantar, quer dizer, dublar, virando-se primeiro de frente para nós, e eu quase tive um enfarte ali mesmo.
- So I would like to mention – continuou , virando-se e olhando apaixonado para Mary Jane, e eu tinha a certeza de que ela estava se segurando para não agarrá-lo.
- I woke up in my room – e foi a vez do Austin dublar e eu notei Lily comê-lo com os olhos. Também não era para menos.
- Alone your always welcome – e depois o Mark.
- Next week my mum's away. – E ai foi quando eu enfartei de verdade. Porque o virou-se extremamente sexy e olhou para mim com um sorriso malicioso nos lábios. Só consegui olhar abobalhadamente para ele, demonstrando todas as minhas emoções.

A calça um tanto quanto apertada realçava suas coxas, o chapéu na cabeça fazendo com que alguns fios dos cabelos caíssem pelos olhos incrivelmente .

- So now my futures brightened – Mark e Austin dublaram juntos e começaram a abrir os botões do paletó. Hill e Lily gargalharam sem conseguir tirar os olhos dos garotos. Eu acho que vou morrer, é sério.
- I'd ask to have you stay – e Jake continuaram e fizeram o mesmo que os dois primeiros, fazendo Mary Jane suspirar ao meu lado. Mas eu nem estava prestando atenção no Jake para falar a verdade. Havia uma pessoa muito mais sexy e interessante na minha frente.
- If I wasn't so frightened – terminou a primeira parte da música e chegou perto de mim, tirando o chapéu que estava em sua cabeça e colocando na minha. Ele piscou um olho e eu gargalhei bestamente, tomando um cuidado muito grande para a baba não cair da boca, enquanto ele juntou-se ao resto dos garotos e tirou de vez o paletó.

E foi ai que eu tive a certeza de que estava no céu e não tinham me avisado. É sério. Porque ver o e o Jake no mesmo recinto e SEM camisa, com uma gravata frouxa enrolada no pescoço, dançando de uma forma totalmente ridícula e desengonçada, dublando como se a garrafa de cerveja vazia fosse o microfone não era para mim. Não mesmo.

- I, I'm really falling for you – os quatro dublaram juntos e na última palavra da frase Jake apontou para mim, fazendo-me rir e corar. As meninas gargalhavam ao mesmo tempo em que se deliciavam com a cena, e posso dizer que eu fazia o mesmo.
Logo o refrão já havia passado, assim como a segunda parte da música, e os meninos deixaram as garrafas de lado para correrem rindo de encontro a nós.
Mary Jane arrancou o chapéu de e lhe lascou um beijo ousado, enquanto Hillary e Lily se agarraram em Jake, Mark e Austin, gritando a música num tom extremamente alto.
Eu continuei sentada na cadeira, enquanto andava na minha direção e eu... bem, e eu ficava admirando aquele corpo perfeito na minha frente. Fala sério, eu não sou forte para esse tipo de coisa.
Ele estendeu a mão para que eu me juntasse a ele, mas eu ri e balancei a cabeça negativamente. O garoto arqueou a sobrancelha numa forma incrivelmente linda e começou a desamarrar a gravata do pescoço.

- ... – Eu ri quando ele passou o acessório pelo MEU pescoço e me puxou, fazendo seu corpo colar no meu. Meu coração bateu forte e ele girou meu tronco agarrado à minha cintura, gargalhando e cantando. Tirei o chapéu que ele havia posto na minha cabeça e passei a mão pelos seus cabelos numa forma de arrumá-los. Em seguida coloquei o chapéu de volta.

puxou mais ainda a gravata, fazendo nossos narizes se tocarem e cantou a música no meu ouvido:

- I'm really falling for you.

Sorri e passei a mão pelo seu pescoço, enquanto ele acariciava a minha cintura. Eu estava prestes a fazer uma coisa que bem... eu sabia o que era, mas não sabia se queria fazer. Ele me provoca e depois eu não tinha controle sobre os meus atos! Fala sério!
parou de cantar e sorriu, puxando minha cabeça para cima e fazendo meus lábios se entreabrirem de leve. Meus olhos encontraram-se com os dele rapidamente e eu sorri com isso. Parecia que ele era o único que conseguia me desvendar, tão observador e ao mesmo tempo tão idiota. Eu mesma estava confusa com o que ele estava fazendo, mas eu meio que não me importava. Porque bem... eu sei o que está acontecendo, e isso não é nada bom. Não para mim.
O garoto passou a mão pela minha nuca e eu meu rosto se aproximou do dele. Senti sua outra mão fazendo um carinho gostoso na minha pele debaixo do vestido, e eu brinquei de enrolar seus cabelos no meu dedo. Meus olhos se fecharam num ato involuntário enquanto ele aproximava seus lábios nos meus, e tudo aquilo que eu estava sentindo se tornou um borrão nesse minuto. Porque eu simplesmente havia parado de respirar.

- AI! - muitas pessoas gritaram e esbarraram em mim e no , fazendo com que nós caíssemos. Notei Jake, Austin, Lily, Hillary e Mark em cima de nós e os xinguei mentalmente.

Logo todo mundo estava gargalhando idiotamente, inclusive eu. Os garotos se levantaram e Lily pediu que Robin – nas palavras dela – a levasse para andar de cavalinho, e o garoto aceitou de bom grado. Fiquei no chão rindo com a cabeça meio perturbada, até que uma voz incrivelmente doce me chamou:

- Quer ajuda? – Jake sorria com aqueles dentes brancos perfeitos e estendia a mão – mais uma vez – para mim. Segurei-as e sorri, deixando que ele me içasse para perto de seu corpo.

Segundos depois, continuamos cantando a música, dançando igual retardados e tomando mais cervejas. Quando fui perceber, eram quase sete horas da noite.
Nesse exato momento, todo o pessoal se encontra na sala, deitados no sofá e em colchões, conversando sobre alguma coisa para que a dor de cabeça da futura ressaca fosse embora.
Já a minha pessoa, como é totalmente esquisita, ofereceu-se para arrumar a bagunça do lado de fora enquanto eles decidiam qual filme assistir e, após o feito, sentei-me na cadeira de sol que eu e as garotas havíamos arrastado para o gramado, observando o sol se pôr.
Fiquei um tempo perdida em pensamentos, tentando assimilar tudo o que vinha acontecendo nesses meses, mas uma voz fez com que minha mente parasse de divagar e que prestasse atenção nela.

- Sozinha aqui? – Era o Jake. Ele andou até o onde eu estava e sentou-se bem próximo de mim.
- Pois é... – disse tentando me concentrar. O garoto aproximou seu rosto do meu e eu o encarei confusa. O que ele estava fazendo?

Capítulo 18

Eu sei que o Jake era extremamente gato e legal, ou seja: ele era perfeito. Só que bem, eu não sei se isso que estava prestes a acontecer era o certo. Assim, eu não posso ficar com ele sendo que eu não gosto dele... Entende? Ele é só meu amigo.
O garoto parou o que estava fazendo e sorriu, fitando o meu rosto. Eu enrubesci e abaixei os olhos, evitando essa hipnose entre nossos olhares. Meu corpo estava tremendo, mas eu sei que era de nervoso por não saber sair da situação. Eu nunca consegui dar um fora em ninguém. Mas se bem que eu não sei se QUERIA dar um fora no Jake. Ele era legal e desde o primeiro dia de aula todo mundo me dizia que ele queria pelo menos me beijar. Acho que não vai ter tanta importância se eu fizer isso, certo? Digo, eu sou uma garota livre para poder beijar e ficar com quem eu quiser, eu acho.
Além disso, o Jake me fazia bem – quando não estava rindo ou colocando insetos no meu braço -, e eu me sentia confortável com a sua presença. É, acho que não vai ter problema...

- ... – ele me chamou, puxando o meu rosto para que nossos olhos se encontrassem novamente. Levantei a cabeça de leve e encontrei um sorriso em seus lábios, ao mesmo tempo em que as sobrancelhas estavam unidas na testa. Isso era um sinal de que ele estava nervoso.
- Jake... – quis tentar pronunciar como se fosse um ‘stop right now!’, mas pareceu meio que uma súplica.

O loiro mordeu o lábio inferior e passou uma das mãos por minha cintura, puxando-me para mais perto de si. Eu só consegui ficar estática e entender se eu queria que o que eu estava prevendo ocorresse. Ou coisas do gênero.
Com a mão livre, puxou o meu pescoço e notei seu rosto aproximar-se do meu, enquanto fechava os olhos. Isso não está nada certo. “SAIA DAÍ!” gritei na minha cabeça, mas foi inútil. Eu não conseguia me mexer.
Aquilo não estava sendo uma das minhas experiências mais prazerosas, fala sério. A minha cabeça poderia martelar, mas era de nervoso e inquietação. Não havia o famoso formigamento no estômago nem a respiração descontrolada, além do coração batendo mais forte. Nada disso. Então por que eu não me afastava?
Quando o garoto se impulsionou para encostar nossos lábios, a porta dos fundos se abriu repentinamente e nós ouvimos uma voz:

- ! Jake! – A silhueta de alguém começou a se mover em direção a nós. – Nós já escolhemos o fil... – E a pessoa parou.

ficou parado olhando para Jake e eu, que havíamos nos afastado subitamente. Tentei encontrar os olhos do , mas ele só conseguia olhar para baixo, evitando esse contato.

- Eu só vim dizer que a gente já escolheu o filme e que ‘tá todo mundo esperando vocês! – Ele olhou somente para Jake e deu um sorriso totalmente forçado e falso. Alguém me diz o que está acontecendo aqui? Por que eu percebi os olhares – inconformados e cabisbaixos – do garoto? Por que ele estava me evitando? POR QUE OS HOMENS SÃO COMPLEXOS A PONTO DE UMA SIMPLES GAROTA COMO EU NÃO ENTENDÊ-LOS?
- Nós já vamos! – O loiro passou a mão nos cabelos extremamente sem graça, e só fez menção de virar o corpo e voltar para o lugar de onde veio. E eu fiquei com vontade de me matar nesse instante, mas ainda mais com vontade de matá-lo! Pois é. Deixa eu viver a minha vida em paz, caramba!
- E então, onde nós estávamos? – O garoto sorriu maroto se aproximando mais de mim, enquanto eu tentava colocar meus pensamentos em ordem.
- Jake. – Agora a minha voz saiu num tom de imposição e, quando eu empurrei-o para mais longe, o garoto se assustou. – Olha... – tentei formular as palavras, embora elas não viessem. – Você é legal e tudo mais... só que... eu não... – tentei falar, entortando a boca e tropeçando nas próprias palavras.
- É por causa dele, né? – Ele suspirou se afastando de mim e apontando a porta.
- O ? – disse dando um riso nervoso. – Claro que não! Não tem nada a ver! – exclamei de prontidão enquanto ele ainda me olhava.
- Sei – foi o que falou. Legal, agora eu meio que tinha que partido dois corações na mesma noite.
- É sério! – Levantei-me da cadeira e fiquei de frente para o garoto. – Não é um problema com você ou com qualquer outra pessoa – pontuei. – É comigo mesma. Eu não estou pronta ainda.

Juntei as mãos e fiquei brincando com as mesmas, parada em pé em frente ao loiro. Ele deu um sorriso cansado e se levantou, pegando minhas mãos e me dando um beijo na testa.

- Tudo bem – disse no meu ouvido. – Mas saiba que eu sempre vou estar aqui.

Ele sorriu mais uma vez e disse que era melhor voltarmos para sala. Fiz que sim com a cabeça, com uma incrível vontade de chorar no momento. Ele era tão perfeito que me dava uma coisa só de vê-lo triste. E não era só ele.
Corremos para a sala extremamente sem graça, com o pessoal rindo e comendo besteiras enquanto o filme ainda não havia começado. Sentei-me ao lado de Mary Jane extremamente pensativa e ela me olhou estranho.

- O que aconteceu? - perguntou mexendo os lábios, mas eu dei uma resposta inaudível.

Olhei para e ele conversava desanimadamente com Austin e Mark, embora quisesse sorrir. Ele voltou seus olhos para mim de uma hora para outra e me encontrou fitando-o. Dei um meio sorriso – foi o máximo que consegui – e ele devolveu o gesto.

- Bom, pessoal, eu já vou indo. – exclamou subitamente, levantando-se. Todos o olharam assustado, mas o garoto não ligou. Agora só esperava Austin lhe entregar a chave do carro, porque combinaram que ele lhe emprestaria.
- Mas e a ? – perguntou Mary Jane e eu quis matá-la. - Ela não sabe voltar direito.
- É, não tem como você ir amanhã? – Austin perguntou e ficou extremamente corado por estar desconfortável.
- Tudo bem, gente, eu acho que vou embora também – disse me levantando e pegando a bolsa, enquanto todo mundo me olhava.
- Ah, , depois eu te deixo em casa! – disse sorrindo e eu neguei com a cabeça.
- Tudo bem, . O já vai para lá mesmo. – Dei um sorriso sem graça e olhei para o garoto.
- Bom, então vamos! – Ele acenou para todos dando um tchau e eu fiz o mesmo, seguindo o garoto até o carro que estava na garagem.

Ele entrou no carro um pouco carrancudo e eu fiz o mesmo, até que ele deu a partida e eu percebi suas mãos tremerem.

- , ‘tá tudo bem? - perguntei jogando a bolsa no banco de trás e me virando para ele. É claro que não estava tudo bem, sua idiota. Ele estava tremendo!
- Uhum – ele respondeu sem colocar o pé no acelerador. – É que quando eu fico nervoso meu corpo reage desse jeito. – Ele olhava para frente, esperando que a porta da garagem terminasse de abrir para colocar o carro em movimento.
- Quer conversar sobre isso? – perguntei singelamente dando de ombros, até que ele voltou seu olhar sincero para mim e sorriu.
- Não – ele disse fazendo uma careta. – Acho que eu ‘tô muito confuso para falar algo sobre isso.

Ele finalizou e o carro se pôs a andar, enquanto eu colava a cabeça no vidro, pensativa. Notei o rádio sendo ligado – era uma boa corrida até o apartamento – e fechei os olhos evitando que as lágrimas caíssem e prestando atenção somente na letra da música. ( The Veronicas- This Love )

I can see it in your eyes
Posso ver nos seus olhos
Taste it in our first kiss
Sentir no nosso primeiro beijo
Stranger in this lonely town
Estranha nessa cidade solitária
Save me from my emptiness
Me salve do vazio
You took my hand
Você pegou minha mão
You told me it'd be ok
Você me disse que tudo ficaria bem
Trusting you to hold my heart
Confiei em você pra ter meu coração
Now fate is pulling me away, from you
Agora o destino está me tirando de você

Even if i leave you now
Mesmo se eu te deixar agora
And it breaks my heart
E isso parte meu coração
Even if i'm not around
Mesmo se eu não estiver por aqui
I won't give in
Eu não vou desistir
I can't give up
Não posso desistir
On this love
Desse amor

Era incrível como aquela música batia exatamente com o que eu estava sentindo e passando no momento – mesmo que fosse de uma forma diferente. Porque recordar é fácil para quem tem memória, mas esquecer é difícil para quem tem coração. Pense nisso.

Capítulo 19

Abri a porta do apartamento lentamente, cansada e com os olhos chorosos. Acho que o havia percebido, mas ele também não falou nada a respeito.
Não falávamos havia um bom tempo, sendo assim, o silêncio era o que predominava em qualquer lugar em que estivéssemos.
Joguei a bolsa no sofá enquanto se dirigiu ao banheiro, entrando debaixo do chuveiro. E eu sei disso porque ouvi a água batendo no piso lajota do chão.
Fui em direção ao quarto, jogando os sapatos longe, e coloquei um pijama de algodão, já que o meu próprio banho ficaria para amanhã de manhã.
Andei até a cozinha para pegar algo na geladeira, passando pelo telefone e ouvindo as várias mensagens de voz. As duas primeiras foram para o , uma de um amigo desconhecido e outra de uma tal garota. Fiquei me perguntando - enquanto colocava suco de laranja de caixinha num copo - se aquilo lá se tornaria algo mais formal, já que geralmente deixava o seu celular com as garotas – pelo menos era o que havia me dito. Ele dizia que o apartamento não era só dele e ele não queria ficar incomodando eu e o – agora somente eu – com ligações de mulheres que ele nem se lembrava do nome.
Prendi o cabelo num coque frouxo enquanto levava o copo a boca e ouvia a última mensagem do dia. Só que eu praticamente cuspi tudo o que havia ingerido quando a voz da minha mãe chegou aos meus ouvidos. Corri direto para frente do telefone, que ficava na porta para a sala.
Com o copo em mãos, fiquei observando o telefone “falar”, envolta de pensamentos. Não me lembrava de ter passado o telefone da minha nova moradia para minha mãe, porque ela geralmente ligava no meu celular, então eu fiquei assustada. Claro, além do fato de ela não ter retornado as minhas ligações e eu não ter falado com ela há muitos dias.

- Meu amorzinho! – começou a mensagem. Minha mãe às vezes é carinhosa em excesso, mas notei seu tom de voz mais baixo que o normal, e isso significava que ela estava extremamente cansada. – Como andam as coisas por ai? Desculpa não ter retornado as suas ligações, é que você sabe como o Bob é... Não me dá folga para nada! Eu bem que achei que a promoção que ele ganhou subiu à cabeça... – ela soltou um bocejo, fazendo-me dar um risinho só de ouvir aquilo - ... e me desculpe por isso também. E antes que você pergunte como eu consegui esse número, foi através do seu amigo... , né? – A entonação da sua voz me fez rir. Às vezes a minha mãe não parece a minha mãe falando esse tipo de coisas. - Eu liguei no seu celular e ele fez o favor de atender, passando-me o número do apartamento. – Que delicadeza da parte dele, atender o meu celular e dar o número da casa para a minha mãe sem eu nem saber. E sim, foi irônico. – Sinto saudades de você, ... – ela disse ainda com a voz baixa, e eu senti minha visão começar a turvar por causa das lágrimas. – Saudades da época em que nós ficávamos aqui em casa comendo e vendo filmes. – Ela deu um riso baixo no final da frase e eu senti as lágrimas banharem meu rosto. – Saudades de quando você morava aqui e eu não precisava dividi-la com ninguém. – Percebi que ela sorriu por trás daquela fala, e notei a mão que segurava o copo tremer. Apoiei-a no balcão, ouvindo o que a minha mãe havia para dizer. – Mas enfim, não vamos ficar voltando à nostalgia, né? – a voz disse e eu percebi que ela fungava também. Dei um riso alto, mas acho que foi mesmo um soluço. Alguma coisa no meu peito se apertava, e era saudades. – Espero que tenha falado com o seu pai, ele deve estar morto de saudades. – O que era verdade, meu pai era bem coruja também. Só que, do mesmo jeito que a minha mãe, nós não conseguíamos falar muito por causa do fuso horário diferente. – Enfim... Sinto sua falta, , muito – ela falou e senti meu braço fraquejar, fazendo com que o copo caísse e se espatifasse no chão. Tentei controlar o choro, mas não deu. Eu era fraca para esse tipo de coisa, e nunca havia pensando no quanto a minha família me faria falta. Além disso, eu não estava num dia muito legal, então parecia que tudo o que estava acumulado finalmente decidiu sair através desse choro. – Me liga quando conseguir, tudo bem? Te amo demais.

E a voz dela foi silenciada por um bipe. Eu não conseguia acreditar que havia tido tanto tempo para minha mãe falar tanta coisa quanto falou, mas eu tinha a certeza de uma coisa: ela sentia a minha falta. E eu sentia dela.
Coloquei as mãos no rosto para controlar o choro e mudei meu pé de posição para ficar mais equilibrada. Isso foi uma péssima escolha, porque logo depois senti alguma coisa cortando-o profundamente. Reprimi um grito e engoli o choro ao ver que eu havia pisado num caco do copo e decidi retirar-me do local para ter algum controle sobre os meus atos.

- ? – A voz de fez o meu corpo se arrepiar antes mesmo que eu me mexesse, e eu só virei o rosto para olhá-lo. Acho que ele deve ter ouvido o copo se quebrando e saiu rápido do banho, até porque eu consegui notar algumas gotículas de água em sua nuca e em seu peitoral, já que ele estava descalço e usando apenas uma boxer.

Eu mordi o lábio e meneei com a cabeça como se estivesse tudo bem, mas ele percebeu que eu estava totalmente torta – eu não me atrevia a colocar o pé de novo no chão, embora o corte não parecesse ter sido grande – e ele olhou para minhas pernas, parando no meu pé e vendo uma quantidade demasiada de... sangue no chão?
É. Ele correu até mim e me pegou pela cintura, fazendo com que eu deitasse no sofá. O corte não havia sido profundo, mas por ser nesse local saia muito sangue. [n/a: fato!]

- Põe o pé aqui em cima que eu já venho. – Ele colocou uma bancada diante de mim, ajudando-me a estender o pé. Fala sério, nem havia sido um corte tão enorme...
- , ‘tá tudo bem, eu só cortei... – Mas ele não estava mais na sala.

Limpei as lágrimas que estavam no meu rosto, sentindo ainda um aperto no coração. Puxei o celular que eu havia deixado na bolsa em cima do sofá, discando o número da minha mãe. Tocou umas dez vezes e ninguém atendeu, mas eu não desisti por ai.
Quando o voltou com uma caixinha de primeiros socorros, eu ainda estava com o celular em mãos, tentando conversar de VERDADE com a Sra. Minha Mãe.
O garoto sentou-se ao meu lado, agora vestindo uma camiseta de algodão branca um pouco molhada. Ele puxou o meu pé da bancada para o seu colo, enquanto eu bufava e jogava o celular para o outro sofá. Mas que grande merda.

- Pode deixar, eu me arranjo por aqui. – Dei um falso sorriso, inclinando-me para pegar o algodão e o anti-séptico, mas ele me empurrou delicadamente e disse:
- Pode deixar que eu te ajudo por aqui. – Ele deu um sorrisinho e eu confirmei com a cabeça. Mesmo se eu quisesse fazer o próprio curativo no local, acabaria arrancando-o fora, de tão nervosa-chorosa-depressiva que eu estava.

O observou o machucado e em seguida disse que não havia sido um corte muito fundo, mas que havia sangrado bastante por estar no pé. Como eu havia dito.

- Isso pode arder - ele disse segurando o vidrinho branco e eu fechei os olhos, pegando uma almofada e colocando-a no colo.

Senti o corte arder enquanto ele dava algumas borrifadas e mordi o lábio numa forma de reprimir a dor. Meu Deus, às vezes eu me sinto uma garota idiota e indefesa. É por isso que eu odeio me machucar. Abri os olhos e percebi o garoto assoprando o local. Depois sorriu para mim, perguntando:

- Melhorou?
- Uhum – disse tentando ver o machucado (o que era totalmente inútil, já que ele estava na parte debaixo do pé).
- Você fica bonitinha quando faz cara de dor – ele disse para mim rindo, e eu revirei os olhos e jogue-lhe a almofada que estava no meu colo.
- Como você é idiota!
- Ai, eu ainda te ajudo e você me faz isso, é? – Ele colocou uma gaze no local e prendeu com esparadrapo.
- Eu não pedi a sua ajuda! – disse dando a língua, mas não consegui sorrir totalmente.
- Você pode pelo menos fingir, né? – Ele riu e me ajudou a colocar o pé em cima da bancada, que havia posto em frente ao sofá novamente.

Soltei um suspiro e o garoto firmou seus olhos nos meus, levantando-se e parando na minha frente. Joguei a cabeça para trás e fechei os olhos, sentindo-os pesados. Claro, além de sentir alguma coisa dentro de mim faltando.

- Eu já venho, vou limpar a sua bagunça mocinha. – Ele me deu um beijo no topo da cabeça e saiu em direção à cozinha.

Eu quero a minha mãe, e quero agora. Meu Deus, isso soou tão criança, embora seja a mais pura verdade. Eu preciso saber por que ela anda trabalhando tanto, por que ela ‘tá com a voz mais cansada que o normal, por que ela está tão carente, por que ela anda me ligando tanto, por que, por que, por que! Sinto-me tão idiota e carente. Quando dizem que eu sou MESMO filha da minha mãe eu não acredito muito, porque nós somos totalmente diferentes fisicamente. Agora emocionalmente vocês podem ver. Nunca havíamos passado tanto tempo longe uma da outra e, como ela mesma disse, sentia falta.
Meus olhos aguaram-se mais uma vez e eu quis me jogar do terceiro andar [n/a: Alessandra, Luisa, Ana Carolina ! :B]. Acho que isso não seria muito saudável, então me contorci até pegar o celular que eu havia jogado no outro sofá.
Era quase uma da manhã, então eu acho que meu pai estaria acordado. Disquei o número de seu celular e fiquei esperando alguém atendê-lo. Quando ouvi algum barulho e estava prestes a falar algo, surge-me a voz de caixa postal, dizendo que ele não poderia atender e que me retornava quando desse.

- MERDA! – gritei nervosa e joguei o celular no chão, tentando me arrumar no sofá e fazendo o favor de bater o pé machucado na madeira da bancada. – AI PORRA! – gritei de dor, notando uma lágrima caindo do rosto. Que merda que merda que merda.

correu até mim assustado e eu joguei o rosto nas mãos, chorando abafado. Eu estava na TPM, literalmente. Ou não né. Porque eu listarei os meus problemas aqui e AGORA para vocês:

1. Estava com saudades da minha mãe e não conseguia falar com a mesma.
2. Idem número um, só que em relação ao meu pai.
3. Eu havia cortado o pé, e estava doendo.
4. Eu estava de TPM, e isso automaticamente gerava choro descontrolado.
5. Eu quase beijei um menino legal e que gosta de mim.
6. Só que eu fui interrompida pelo meu melhor amigo.
7. Que mora SOZINHO comigo.
8. E por quem eu praticamente estou apaixonada.

Percebi o garoto sentando-se ao meu lado e me puxando para perto de si, e eu me afoguei em lágrimas, fungando no seu pescoço.

- Ai ... – estremeci, e ele passou a mão pelos meus cabelos, afagando-me.
- Calma, amor... – ele dizia. – Quer desabafar?

Ah claro. Menos a parte em que eu digo que estou perdidamente apaixonada por você. É estranho falar isso do meu mais novo melhor amigo, e parece ser algo tão intenso que não dá para explicar em apenas, sei lá, três meses? Ou coisa do tipo. Foi por isso que eu decidi falar só sobre a minha família.

- O meu pai não atende a merda do celular! – disse nervosa, enlaçando-o pela cintura e enterrando minha cara em seu pescoço. Caramba, ele tomava banho de perfume, não é possível. – E eu não consigo falar com a minha mãe!
- Ela ligou para você? – perguntou.
- Ligou! E ainda deixou um recado emo na caixa eletrônica que me fez quebrar um copo e cortar o pé – disse e o garoto riu. – Mas é verdade! Ela não pode fazer essas coisas comigo, eu sou emotiva demais, eu sinto saudades!
- , calma! – Ele riu e beijou o topo da minha cabeça.
- E você me chama de ainda! Poxa vida, eu não agüento desse jeito. – Fiz bico, mas as lágrimas já haviam parado de escorrer pelo meu rosto. Ele me fazia parar de chorar só de estar abraçado comigo, fala sério.
- Desculpa se esse é o melhor apelido de todos os tempos que eu arranjei para você! – Ele riu e eu fiz o mesmo, ainda grudada em seu pescoço.

Não falei nada e fiquei sentindo a presença do garoto. Algo nele fazia meu coração parar de bater nervosamente, mas ao mesmo tempo o acelerava, numa espécie de transe. Sentir a pele dele na minha era uma sensação incrível, e os carinhos que ele fazia em mim eram tão relaxantes que eu não conseguia mais pensar em nada sem ser estar ali com ele. Toda angústia, saudade e medo que eu sentia iam embora quando ele estava perto de mim. Como se eu me sentisse segura como nunca havia me sentido antes quando estava na presença dele.

- Ajudei? – ele perguntou depois de um tempo, ainda fazendo carinho nos meus cabelos. Meus olhos estavam fechados, o ouvido apoiado em seu peito, sentindo as batidas do seu coração.
- Uhum – balbuciei, entorpecida com a sua voz e com o seu perfume. – , seu coração ‘tá acelerado. – Ri colocando a mão no lugar onde deveria ser o local. Ele riu ficando um pouco rubro e eu achei aquilo fofo. O garoto se mexeu fazendo com que minha cabeça se descolasse de seu peito e nossas cabeças ficaram na mesma altura, e seus olhos encontraram os meus.
- O seu também ‘tá – ele disse agora colocando a mão por cima do meu coração, que estava pulsando tão violentamente que eu achei que iria sair do meu peito.

Mordi o lábio inferior em sinal de nervoso, não conseguindo desviar seu olhar do meu. Acho que me perdi pela milésima vez no dia nos seus olhos incrivelmente . Eles estavam mais chamativos do que qualquer outro dia. Muito mais penetrantes e hipnotizáveis do que alguma outra vez.

- Como é que eles dizem... – Ele fez cara de pensativo e em seguida continuou: - "As melhores coisas da vida, não podem ser vistas nem tocadas...
- Mas sim sentidas pelo coração" – continuei a frase junto com ele, e sorrimos com isso.

Ele me deu um beijo na bochecha e me puxou, fazendo-me deitar entre suas pernas. Passou a mão pelos meus ombros e chegou até minhas mãos, apertando-as levemente. Aquilo me fazia tão bem e me fez fechar os olhos, esquecendo de todos os problemas.

- Eu desejaria tanto não precisar de você – exclamei bêbada de sono, e me aconcheguei a ele. Ele apertou as minhas mãos com mais força, brincando com meus dedos, e em seguida disse:
- Digo o mesmo.

Capítulo 20

Os meses se passaram muito mais rápidos depois daquele dia e, quando fui perceber, já estávamos entrando de férias de meio de ano.
O meu momento desesperador e emo já havia ido embora, além de eu ter conseguido falar com meus pais. Estava tudo certo com eles, o problema era a saudades mesmo, já que não estávamos acostumados a viver separados e estava sendo uma experiência incrivelmente diferente.
Como eu já disse anteriormente, o tempo passou, mas os meus sentimentos ficaram estacionados – para falar a verdade, eles se intensificaram mais ainda, mesmo que eu não quisesse.
Sabe quando você sente o seu corpo tremer, a cabeça rodar, o ar faltar, as mãos suarem frio, o coração bater mais insistentemente e alguma coisa dentro do seu estômago fazer cócegas? Então, era isso – e mais um pouco – que eu sentia quando estava com o . E eu não queria, mas era impossível resistir. Eu me sentia carente e o era demasiadamente fofo e compreensivo comigo, além de nós passarmos as 24 horas do dia grudados. Não era para menos, né?
Aquilo não era nada bom, eu tinha certeza que iria quebrar a cara, como sempre acontecia. Embora o fosse o meu melhor amigo, ele não iria me magoar nem se quisesse. Isso é COMPLETAMENTE desnecessário e IRRITANTE! Não posso estar apaixonada por ele, não posso!
Aquilo precisava acabar de alguma maneira, mas eu não conseguia mais agüentar e muito menos esconder. Uma hora tudo iria vir à tona, e eu tinha a certeza de que meu coração se estilhaçaria em mil pedaços quando ele me dissesse: “Mas, ... Nós somos só amigos, certo?” E eu iria engolir as lágrimas e acenar com a cabeça, dando um riso falso. Então ele iria me abraçar e pedir desculpas, como ele sempre faz. É, às vezes eu queria MESMO que ele fosse um estranho a quem eu pudesse me desligar completamente. Sonho meu.
Agora, com as férias, eu e ficaríamos muito mais perto. Isso porque eu não teria mais escola e as aulas de hip-hop haviam acabado, então eu só passava algumas quatro horas fora dando aula de francês.

- ? – ouvi alguém me chamando, mas não precisei me virar para saber quem era.

Meus pensamentos param de avançar involuntariamente enquanto eu desapoiava do muro e me virava para encarar a minha melhor amiga me olhando e sorrindo.
Estávamos num lugar que a própria Mary Jane havia me mostrado pouco depois que havia se mudado. Era como se fosse a laje do prédio, mas, ao invés do que você possa estar pensando, não era mal-cuidada.
Havia um pequeno caminho cimentado por entre a grama úmida, que se alternava num verde bandeira para um verde musgo, conforme iam chegando às bordas. Tulipas, margaridas, cravos e rosas empesteavam o gramado, deixando-o mais colorido e atraente quando a luz solar batia nas pétalas, realçando o brilho.
Passando o gramado, poderia se encontrar algumas samambaias penduradas em vasos na parede coberta de trepadeiras e algumas árvores que ainda estavam crescendo.
Além de toda essa vegetação, havia alguns bancos de madeira envernizados, se você entrasse numa bifurcação do caminho feito pela grama. Eles estavam estrategicamente posicionados perto de um muro – que estava coberto de pequenos vasos e flores artificiais. Se você sentasse ali e olhasse para cima, poderia observar claramente o céu e as nuvens se mexendo, admirando a beleza dos mesmos. Caso não quisesse, poderia se apoiar no mesmo muro e observar a cidade abaixo, vendo as pessoas andando como se fossem formigas trabalhando em um formigueiro.
Olhei para o céu, resplandecente e límpido. O sol se prostrava no alto, rodeado de nuvens brancas e cheias de formas.

- Como você ‘tá? – ela perguntou trilhando o pequeno jardim e sentando-se no banco, ainda me olhando. Notei seus olhos mais esverdeados do que nunca, a expressão sorridente e os cabelos mais vivos e brilhantes em contato com o sol do final da tarde.
- Bem, dentro do possível – falei sorrindo ainda de pé, de frente para a garota. E não, antes que você me pergunte, ela não sabia sobre os meus sentimentos em relação ao – pelo menos era o que eu pensava.
- , senta aqui. – Ela me puxou pela mão, fazendo com que eu sentasse ao seu lado e ficasse encarando aquele par de olhos fitando o meu rosto. – Quando você vai me contar, hein?
- Contar o quê? – perguntei meio nervosa.
- Não precisa mentir para mim. – Ela pegou as minhas mãos e sorriu. – Eu sei que você gosta do .

Sabe? Como assim sabe? Claro que não, ela deve estar jogando verde. Ela não vai me fazer confessar, NÃO VAI! É constrangedor demais. Só que, na verdade, eu acho que preciso desabafar com alguém sobre isso mesmo. Tentar reprimir o que eu sentia não havia dado certo. Foi por isso que eu disse:

- Não sabia que estava tão na cara assim. – A garota riu, tirando sua mão da minha e entrelaçando os próprios dedos. A aliança de prata em seu anelar direito reluziu com o sol, e isso me fez começar a ter sensações estranhas.
- Bom, eu posso ser muito perceptiva às vezes – disse ainda sorrindo sem desviar o olhar do meu. – Além do mais, o é um novo cara desde que conheceu você!
- Hã? – ‘Tá legal, agora eu estava confusa. – Do que você está falando?
- Ai, , acorda! – Ela gargalhou e bateu na minha testa de leve. – Ele também gosta de você!

E foi ai que eu comecei a gargalhar. Gargalhar como nunca havia acontecido antes, e a garota parou e estreitou o olhar, trincando os dentes e balançando a cabeça numa forma negativa.

- MJ, você sabe que o que acabou de me dizer é uma coisa totalmente impossível, né? – perguntei em meio a risos, mas ela só continuou me olhando séria.
- – ela exclamou e eu parei de rir instantaneamente. – ‘Tá tão na cara! Ele faz tudo por você. Ele mudou TOTALMENTE o jeito de ser só morando contigo! – ela começou a listar as mudanças, mas eu levantei-me de repente, sentindo-me mais confusa do que as outras vezes e falei:
- Mary, isso não é verdade. O só me considera uma amiga, você sabe – disse começando a andar de um lado para o outro, olhando a cidade abaixo.
- É diferente com você – falou, mas eu balancei a cabeça.
- Não, não é! Ele é fofo com todo mundo.
- Com você ele é mais.
- Não é!
- É sim!
- Não é!
- É SIM!
- ISSO NÃO PODE ACONTECER! – gritei, escondendo meu rosto nas mãos. Notei MJ se levantar e me dar um abraço. Eu correspondi. – Eu não agüento, amiga... – Solucei, sentindo as lágrimas caírem dos olhos. – Não pode! O me faz sofrer, ele não pode ser o cara ideal!
- Calma, ... – ela exclamou, passando a mão pelos meus cabelos. – Quem sabe ele ainda não está com tudo isso...
- Obrigada, Mary – cortei-a, dando um riso falso. – Mas isso é algo improvável. Todo mundo sabe que o vive saindo e conhecendo garotas novas, ele é o maior pegador de todo o colégio e todo mundo baba nele...
- Mas ele sempre acaba voltando para você! – ela falou, puxando-me pelos ombros.
- Mary Jane... – exclamei, desvencilhando-me dela e colocando as mãos no bolso, olhando para o céu. – Eu gosto do ... Gosto muito, você sabe disso – confessei. – Mas eu não quero levar isso adiante. Eu tenho que me contentar em ser somente amiga dele – pronunciei, e ela continuou me olhando.

Sentei-me novamente no banco, os pensamentos passando adoidados pela minha cabeça. Eu havia acabado de confessar que amava o , mas que não queria sofrer por causa dele. Maravilha, .

- Mas, , ele mudou... Você não iria achar que ele é o mesmo rapaz desde que te conheceu. – Ela sentou-se ao meu lado, continuando a falar. – É fato que ele ficava com muitas garotas, mas você não vê? Isso não acontece mais. Ele vive preocupado contigo, fala de você o tempo todo para todo mundo... Vocês moram juntos!
- Pode ser verdade... Mas eu não sei se quero acreditar – continuei, notando uma lágrima gorda cair pelo meu rosto. – O sabe como lidar com uma garota. Ele me entende, e eu me sinto tão segura perto dele... Eu não sei como agir, não sei o que fazer... Me sinto tão confusa! Prefiro ainda acreditar que ele só me considera uma amiga.
- Melhor amiga – MJ disse dando a língua e eu sorri com o gesto.
- Tanto faz. – Deitei-me em seu colo e continuei. - Pior que a convicção do não, não é a incerteza do talvez, mas a desilusão de um quase.

O silêncio predominou no local, enquanto a ruiva acariciava meus cabelos e eu parava aos poucos de chorar. Para falar a verdade, aquele desabafo tinha sido um alívio.

- Onde estão os garotos? – perguntei. e viviam saindo juntos, mas eu nunca sabia onde haviam se enfiado.
- O foi ajudar o em algo lá em casa, e eu aproveitei para vir aqui te ver. Acho que já devem estar chegando.

O que aconteceu rapidamente porque, nem dez minutos depois, ouvi uma voz me chamando. Levantei-me do colo de Mary Jane para ver um lindo e perfeito atravessando o gramado e vindo na minha direção, um pouco ofegante.

- Hey! – Ele sorriu e Mary Jane levantou-se do banco também. – Posso falar com você um minuto? – O garoto apontou para mim, e Mary Jane deu um singelo tchau.

Continuei sentada no banco e o garoto sentou-se ao meu lado, ajeitando as minhas pernas e em seguida colocando a cabeça nas mesmas.

- ! – esganicei, mas ele continuou deitado em mim, olhando para o céu. – O que você queria falar comigo? – perguntei, mas ele apenas apontou para o céu e respondeu:
- Aquela nuvem parece um sorvete – o garoto desconversou, mas eu olhei para o céu vendo a nuvem que ele indicava.
- , não desconversa e responde a minha pergunta. – Tirei os olhos da nuvem-sorvete para encontrar os dele me olhando fixamente.
- Para falar a verdade, eu não sei – ele respondeu cautelosamente e eu senti meu corpo estremecer. – Acho que eu estava querendo ficar sozinho com você.

Capítulo 21

(Sugestão de música: Mandy Moore- It’s gonna be love )

Legal, meu coração quer explodir. Por que ele faz esse tipo de coisa comigo, HEIN? Eu não agüento, é fato. Mas que tal eu esquecer todos os problemas... e ficar aqui, conversando com ele como uma garota normal? É, acho que seria uma boa.
O não disse nada depois disso, e nem eu. Ele apenas se aconchegou nas minhas coxas e ficou olhando para o céu, enquanto eu acariciava seu cabelo e passava a mão pelos seus olhos, boca e nariz, tentando memorizar os mínimos traços perfeitos.
O dia estava ensolarado e insuportavelmente quente, mas o céu estava como eu gostava. Incrivelmente azul e envolto por nuvens com forma de sorvete e coração. Às vezes eu consigo ser tão estranha e idiota.

- O que você foi fazer na casa do ? – perguntei, mexendo em seus cabelos e olhando para a paisagem à frente. Péssima pergunta, .
- Ele comprou uma televisão nova e precisava de ajuda para instalar. Ou algo do gênero. – Ele riu e eu voltei meu rosto para o seu, notando que o garoto me encarava com um sorriso maroto. – Por quê, sentiu saudades?
- Ai, acho que a modéstia se perdeu quando passou por você! – Revirei os olhos e ri, tirando os próprios de seu rosto.
- Como você me ama! – Ele deu a língua e eu só revirei os olhos novamente, ainda sorrindo. Em seguida, acrescentou: - Porque eu senti!

E ele colocou as duas mãos na minha nuca e forçou minha cabeça para baixo, me dando um beijo na ponta do nariz. Legal, , faça-me morrer mesmo.

- ‘Tá legal, eu senti sua falta – disse rindo ainda com meu rosto próximo ao dele e mordi o lábio inferior para reprimir o nervoso.
- Cara, você fica tão sexy quando faz isso. – Ele fez uma cara de pervertida citando o meu ato e eu apenas enrubesci, rindo baixinho.
- Ah, pára de me deixar sem graça! – disse dando um tapa de leve em sua barriga, ainda com a cabeça abaixada.
- Eu só falei a verdade, oras! – resmungou, e eu dei a língua levantando a cabeça. Aquele contato muito próximo estava me fazendo mal.

Mais uma vez o silêncio predominou entre nós dois. Estava sendo mais estranho do que os últimos dias, mas o que eu podia fazer? Eu não podia agarrá-lo e forçá-lo a me beijar, ou qualquer coisa do tipo. Foi por isso que eu fiquei sentada vendo o garoto se levantar e estender a mão para mim.

- O que é isso? – disse rindo da sua mão estendida para o “ar”.
- Dança comigo. – Ele fez uma cara fofa com os olhos brilhando. Tentador, mas eu sou uma péssima dançarina e me recuso a pagar esse mico.
- De jeito nenhum! – exclamei tentando de algum jeito me firmar mais forte no banco, mas o garoto puxou a minha mão e me fez levantar.
- Pára de ser chata! – ele disse rindo e me pegando pela cintura. Eu tirei as mãos dele de mim ainda rindo e me apoiei no muro que estava ao nosso lado, fingindo-me interessada pelas pessoas lá em baixo parecendo formigas.
- Não tem música! – disse inventando uma desculpa qualquer, e o garoto ficou em silêncio, rindo de um jeito abafado.
- Você vai ficar me devendo uma dança – ele disse andando para o meu lado e apoiando os cotovelos no muro do mesmo jeito que eu.
- Ok – respondi rindo sem desviar os olhos do cenário que estava diante de meus olhos.
- Eu vou cobrar. – Ele fez bico e encostou seu braço ao meu, olhando para o mesmo ponto em que meus olhos estavam direcionados.

E mais uma vez o silêncio predominou. Observei um pássaro percorrer o que eu poderia chamar de horizonte e sorri com isso. Ele contrastava com o céu azul celeste, e percebi as nuvens brancas da cor da neve darem passagem para algumas mais acinzentadas. Tempo estranho, é só isso que posso dizer.

- Você já se sentiu confusa? – me perguntou do nada, ainda olhando para frente. E eu sei disso porque fiquei encarando seu perfil incrivelmente lindo. Brandon Wood era um cara simplesmente gostoso e cativante. Ok, ele era perfeito.

Eu ri com a pergunta que havia feito, mas não alto, obviamente. Parecia que ele sabia EXATAMENTE como eu estava me sentindo. Quem contou essas coisas pra ele, hã?

- Muito confusa – disse, e em seguida continuei: – Como se todos dissessem uma coisa e você não acreditasse naquilo, mesmo querendo saber se não podia ser real.
- É! – Agora foi a vez dele encarar meu perfil, já que mais uma vez meus olhos estavam voltados ao céu azul. – Como se nem você acreditasse no que está acontecendo. Você quer fazer, mas ao mesmo tempo tem medo do que pode acontecer.
- É exatamente como eu me sinto! – disse rindo e me virando para ele, que me olhava risonho também. Se ele soubesse que toda essa confusão era por sua própria causa... - Mas falta coragem para dar um passo adiante...

E depois dessa minha frase, ele deu um passo na minha direção. É, totalmente contrário à minha fala. Estremeci com o gesto. O que ele pensava que estava fazendo para meu coração querer saltar do peito, hein?

- Acho que às vezes a gente tem que arriscar – ele disse olhando nos meus olhos, mas não estava sorrindo.
- E por que acha isso? – Eu não vou arriscar porra nenhuma te contar e você me dar um pé na bunda! Como será a nossa amizade depois disso, hein? Que tremendo idiota, pára de me dar conselhos ridículos!
- Porque você nunca vai saber se não tentar.

E, terminando com essa frase, o garoto colocou uma mão na minha cintura, os olhos quase perfurando o meu rosto. Tremi e minha pele se arrepiou sob o toque do garoto, e eu comecei a sentir cócegas no estômago. Ele pôs a outra mão na minha nuca, acariciando-a de leve, enquanto eu inalava todo o perfume proveniente de seu pescoço. Acho que era mais uma forma de eu tentar me manter sã, mas não estava dando muito certo, já que eu sentia minha respiração falhando enquanto ele aproximava sua cabeça da minha e colava nossas testas.

- ... – É, foi um gemido mesmo. – O que você está fazendo? – perguntei me sentindo nocauteada, e todo o peso que estava no meu estômago pareceu sumir. Minhas mãos estavam grudadas ao corpo, e eu não queria que saíssem de lá. Isso porque se eu as retirasse do local e colocasse em alguma parte do corpo do menino, eu não seria mais responsável pelas minhas ações.
- Não fala nada, . – Ele continuou com a testa colada na minha e fechou os olhos, transferindo a mão que estava em meus quadris para o meio das minhas costas. – Eu estou há séculos tentando criar coragem para fazer isso e só agora eu consegui.

apertou as mãos que estavam nas minhas costas, e os dedos que estavam na minha nuca fizeram uma ligeira pressão, puxando-me lentamente em sua direção. Seus lábios estavam convidativamente abertos e eu sentia as veias bombeando sangue a todo vapor para todas as partes do meu corpo com o que estava prestes a acontecer. Ele se aproximava, eu não conseguia me mexer. Isso está errado, muito errado... Mas quem disse que eu me importo?
E foi por isso que eu estendi as minhas duas mãos pelo pescoço do e o puxei para mim num gesto totalmente violento, fazendo nossos lábios colidirem num beijo apaixonado.
Eu sentia a minha cabeça rodar. O ar estava preso em meus pulmões, mas eu não me importava nem um pouco com isso. Eu estava beijando o cara que eu esperei por quase oito meses, não tinha mais controle sobre o meu corpo, céus!
Deslizei as mãos da sua nuca para o seu pescoço e seu peito, enquanto ele me puxava para si e passava os dedos pela minha bochecha, num carinho gostoso.
Os lábios dele eram como fogo, e minha boca parecia se desmanchar sob a dele; os carinhos que fazia em mim me deixavam arrepiada, e eu não estava mais me importando com nada. Eu havia tanto esperado por aquilo, e estava mais perfeito do que eu poderia imaginar. Nossas línguas brincavam numa só, num beijo desesperador e ao mesmo tempo calmo, que fazia nossos corpos fundirem um ao outro. Ele era tudo o que eu precisava e nada mais.
Sorri no meio do beijo e senti que o garoto fez o mesmo. Ele desceu a mão que estava no meu rosto até a minha cintura, enlaçando-a por trás e chegando até a ponta do meu cabelo, e eu notei que estava enrolando-o no dedo. Exatamente como eu estava fazendo com o dele.
Abri os olhos ainda com nossas bocas coladas e nossos corpos grudados, e parece que o garoto pensou o mesmo que eu, porque eu observei o par de olhos encarar os meus castanhos claros.
Passei as duas mãos pelo seu peito e parei-as no cabelo, enquanto voltava a fechar os olhos e sentia-o mordendo meu lábio inferior, fazendo-me soltar um gemido abafado.
riu por entre o beijo enquanto eu experimentava diversas sensações com o que estava acontecendo, tentado grudar mais o seu corpo no meu, numa tentativa de nos tornarmos um só. Acho que eram tentativas desnecessárias, viso que nós parecíamos MESMO um só.
Segurei-me agora em seus ombros, fazendo força para cima e descolando nossos lábios enquanto meus pés saíam do chão e ele me içava para cima, rodando o meu corpo.
Foi só depois desse momento que eu consegui perceber que minhas roupas e a do estavam todas molhadas, por causa de uma chuva passageira que ainda não tinha cessado por completo.
O ar voltou incendiando aos meus pulmões quando percebi que nossas bocas já não estavam grudadas e nossas línguas não estavam mais entrosadas, e ele ainda fez questão de passar a mão por toda extensão do meu tronco, pegando minha mão e levando-a até sua boca em mais um beijo adocicado. Puxei-o pelo rosto, nossos narizes agora gelados por causa da chuva se encontrando, e fechei os olhos, sentindo meu coração se aquietar dentro do peito.
passou as mãos em volta da minha cintura e me guiou até o muro, ficando atrás de mim ao mesmo tempo em que nos deliciávamos com a cena à nossa frente: o céu continuava incrivelmente azul, não havia mais nuvens agora que a chuva havia passado e um arco-íris imenso e radiante cortava o céu.
O garoto colou seus lábios no meu pescoço, enquanto eu segurava suas mãos firmemente em volta da minha cintura. Perdi-me um tempo em suspiros e sensações agradáveis e exclamei:

- Eu acho que te amo. – Ri baixo com a minha própria frase, já que eu tinha certeza de todos os meus sentimentos.
- Eu acho que é recíproco – respondeu colando sua bochecha na minha, ainda atrás de mim.

Suspirei e sorri, rezando para que aquele momento nunca mais acabasse.

Capítulo 22

Mais uma semana se passou... Ou seriam duas? Eu meio que estava perdida no tempo depois de tudo o que vinha acontecendo. É, vinha. Porque eu e o não paramos por ai... Não mesmo. Podem me chamar de tarada, pervertida ou o que for, mas todos os dias depois que eu voltava do trabalho, eu e o ficávamos nos beijando no sofá da sala. Ou na mesa da cozinha. Ou na porta do apartamento. Ou na lavandeira. Ou no quarto. Em todos os lugares que você possa imaginar, mas não aconteceu nada demais, certo? Eu pelo menos acho, embora os beijos tenham sido mais violentos do que o normal... mas quem liga? Eu estava com ele e estava feliz, era isso o que importava.
Decidimos não contar nada a ninguém e, por isso, nós ficávamos nos agarrando escondidos. Não que fosse ruim, claro. Mas eu tive que desabafar com a Mary Jane, então ela sabia. E ou ela ou o tinha falado com o também, então significa que o outro casal também sabia do meu novo... - relacionamento – se é que pode se chamar assim. Embora eu soubesse disso, não ligava e fingia que era uma coisa somente minha e do garoto. Porque, bem, o que eu e ele fazíamos com nossas línguas também só dizia respeito a nós.
Mas, continuando, estava sendo realmente bom ficar com o . Para quem ficou séculos esperando, né. Mas não pensem que eu esqueci tudo o que havia acontecido! O fato dele ficar com outras garotas, de sair muito, de ser tremendamente atraente e as outras garotas caindo em cima... Só que eu não me importava mais com isso. Não quando nós ficávamos nos agarrando no sofá, porque ai sim eu esquecia até o sentido da minha existência. Às vezes eu consigo ser tão escrota, diz ai.
E para variar, o que eu estou fazendo agora? É, isso mesmo o que você pensou. Parecia que eu e o estávamos tentando recuperar todo o tempo perdido, e posso dizer que isso era extremamente bom. Quem diria, uma garota como eu deitada no sofá por baixo de um garoto, que passava a mão por toda região que podia alcançar do meu corpo. Só que ele também não era o único que fazia isso... Me sinto tão tarada.

- Uou – ele disse sem fôlego depois das nossas bocas estarem grudadas hà... sei lá, cinco minutos sem parar? Eu só consegui rir, sem fôlego do mesmo jeito que ele. Aquela situação estava um tanto quanto ousada.
- É – foi o que exclamei, observando meu peito subir e descer, num ato desesperado de puxar oxigênio.

O garoto riu e saiu de cima de mim, se jogando do outro lado do sofá. Ficamos nos olhando por um tempo e depois começamos a rir. Qual é, eu e ele havíamos dado o primeiro beijo não fazia nem duas semanas! Aquilo estava indo rápido demais.

- Bom, agora eu acho que FINALMENTE irei para o banho – disse me levantando enquanto o garoto me observava.

É, eu havia chegado do ‘trabalho’ e encontrei o jogado no sofá, assistindo televisão. Ele logo desprendeu a atenção de lá e andou em minha direção, me prensando na parede e me beijando. E foi ai que chegamos ao sofá e o resto você já sabe.

- Ah, fica mais – ele disse estendendo a mão para mim e fazendo manha, enquanto eu procurava pela minha bolsa em algum lugar da sala.
- Sério, eu não sei como você consegue me beijar desse jeito. Eu acabei de chegar do trabalho, estou feia, suada e nojenta! – disse ainda procurando a bolsa, e o garoto gargalhou.

Em seguida, notei uma mão estendida ao meu lado, com a minha bolsa preta.

- Você é linda de qualquer jeito. – Ele me deu um beijo na bochecha, atrás de mim, enquanto eu ri sem graça e pegava a bolsa, me virando para ele e lhe dando um selinho para que ele não visse o vermelho do meu rosto.
- Você é fofo – disse após separarmos nossas bocas e corri para o meu quarto, rindo.

Peguei meu pijama legal – a camiseta enorme e dessa vez um pequeno shorts – e fui em direção ao banheiro para um banho relaxante.
Após vestir a roupa e dar uma arrumada no cabelo para que ele pudesse ficar decentemente solto, calcei meus chinelos e fui em direção à cozinha, a fim de comer alguma coisa. Eram quase sete horas da noite e eu não havia comido nada desde o almoço – que foi às treze horas – então eu precisava ingerir alimento antes que meu estômago atacasse de alguma maneira.
Passei pela sala para ver onde estaria e o vi observando a janela, que era de onde provinha a única fonte de luz – já que ele havia apagado a luz. Ri alto vendo o garoto sentado no sofá e olhando para a mesma janela, em silêncio.
Peguei um pacote de bolachas recheadas no armário da dispensa e joguei-as num pote, pegando o mesmo e andando em direção à sala. Mais tarde eu iria fazer a minha janta de verdade, ok? Isso era só um aperitivo.
Joguei-me no sofá ao lado do garoto, rindo e oferecendo a comida. Ele negou com a cabeça, ainda olhando para a janela. Iria perguntar o que estava acontecendo quando ele levantou-se de repente, fechando a cortina da janela e nos deixando numa escuridão profunda.

- – exclamei rindo baixinho. Estava sendo cômico mesmo. – O que você está fazendo?
- Fica quietinha que já já você descobre – ele falou de repente aparecendo na minha frente e tirando o pote de bolachas da minha mão. Andou até o lado da televisão e depositou a minha fonte de alimento por lá perto – ou assim eu achava, já que não enxergava nada.

Foi só quando eu ouvi o rádio sendo ligado numa música calma que eu percebi o que o garoto estava fazendo. ( Ronan Keating - When You Say Nothing At All ) [n/a: eu TIVE que colocar essa música, embora muita gente já deva conhecer de outras fics ._.]

- ... – esganicei enquanto ele andava até mim com um sorriso perfeito nos lábios.
- Você ficou me devendo uma dança – ele disse estendendo a mão para mim.
- Mas... mas... – disse me encolhendo no sofá, mas ele apenas riu e me puxou pela mão, juntando nossos corpos.
- Relaxa – exclamou, passando a mão por meus braços e colocando-os em sua própria nuca, enquanto me apertava pela cintura.
- Mas... eu não sei dançar... – falei meio embasbacada pela nossa proximidade. Sim, eu ainda ficava retardada só de pensar no quanto nós estávamos próximos.
- Eu também não – disse me dando um beijo no rosto e sorrindo. – Mas nós vamos aprender.

Eu sorri com isso, ainda não enxergando muita coisa. Foi por isso que decidi prestar atenção na letra da música, que era tão perfeita que eu senti meus olhos aguarem. Ele realmente entendia e sabia como eu me sentia quando estava perto dele.

It's amazing how you can speak right to my heart
Without saying a word, you can light up the dark
Try as I may I can never explain
What I hear when you don't say a thing

É maravilhoso como você consegue
Falar diretamente ao meu coração
Sem dizer uma única palavra
Você consegue iluminar a escuridão
Tente como eu,
Mas nunca vou conseguir explicar
O que eu ouço
Quando você não diz nada

Olhei para os meus pés e eles tropeçaram algumas vezes nas pernas dele, até que ele riu e abriu a cortina novamente, deixando a claridade entrar.

- Acho que assim é melhor. – Ele riu me dando um selinho e eu ri também, afirmando com a cabeça.

Firmei minhas mãos em seu pescoço, sentindo-o perto de mim como eu havia sentido nesses últimos dias. Fechei os olhos e apoiei o rosto em seu peito.

The smile on your face
Lets me know that you need me
There's a truth in your eyes
Saying you'll never leave me
The touch of your hand
Says you'll catch me wherever I fall
You say it best when you say nothing at all

O sorriso no seu rosto
Me faz saber que você precisa de mim
Existe uma verdade nos teus olhos
Dizendo que você nunca vai me deixar
O toque da tua mão
Me diz que você vai me segurar
Onde quer que eu caia
Você diz isso melhor
Quando você não diz nada!

Desviei os olhos para o garoto, que me olhava sorrindo. Empurrei sua cabeça delicadamente para mim e colei nossos lábios, sentido choques perpassarem as partes mais inusitadas do meu corpo.

All day long I can hear people talking out loud
But when you hold me near,
You drown out the crowd (drown out the crowd)
Try as they may they could never define
What's been said between your heart and mine

Durante o dia
Consigo ouvir pessoas conversando alto
Mas quando você me traz para perto
Você destrói a multidão.
Tente como eles,
Eles nunca vão conseguir definir
O que foi dito
Entre o seu coração e o meu

me apertou mais para si, e eu sorri entre o beijo. Minhas mãos agora avançavam por toda a região do seu pescoço e peito, não querendo que o nosso contato fosse quebrado. Senti as mãos dele dançando por toda minha nuca e minhas costas, enquanto a outra acariciava minha bochecha.

The smile on your face
Lets me know that you need me
There's a truth in your eyes
Saying you'll never leave me
The touch of your hand
Says you'll catch me wherever I fall
You say it best when you say nothing at all

O sorriso no seu rosto
Me faz saber que você precisa de mim
Existe uma verdade nos teus olhos
Dizendo que você nunca vai me deixar
O toque da tua mão
Me diz que você vai me segurar
Onde quer que eu caia
E você diz isso melhor
Quando você não diz nada!

Os beijos estavam ficando mais... intensos, por assim dizer. E eu também não conseguia me controlar. Desci as mãos que estavam em seu pescoço para seu peito, por dentro da camiseta branca. Acho que ele pensou o mesmo que eu, já que agora ele fazia um carinho gostoso na minha cintura, por baixo da camiseta enorme. Nossos lábios não descolaram durante nenhum segundo, e o garoto deu um passo para frente, me fazendo dar um involuntariamente para trás na direção do sofá.
A música já havia acabado, e eu já não me importava mais com isso. Na verdade, eu não me importava mais com nada. Só com os choques do meu corpo e a boca do no meu pescoço parecendo fogo, fazendo com que eu me segurasse em seu cabelo enquanto ele me colocava delicadamente no sofá.
Isso estava acontecendo definitivamente rápido, mas quem ligava? Eu que não. O era perfeito e eu o queria comigo, aqui e agora. Ele me fazia bem e ponto final. E foi por isso que quando ele me deitou no sofá e ficou por cima de mim, eu não me importei. Na verdade, eu até sorri entre o beijo.
Aquilo estava sendo diferente demais do que os outros dias, e eu sabia onde iria dar. Só que, por incrível que pareça, eu não estava nervosa. Porque eu sabia que estava com ele.
Senti suas mãos deslizarem pelas minhas coxas, dando leves apertões que não me fizeram bem. É sério, porque eu meio que soltei um gemido de prazer e deslizei minhas mãos pelo peitoral inteiro do , levantando um pouco a sua blusa.
Ele descolou nossos lábios por meio segundo e terminou de retirar a própria vestimenta. Meus olhos faiscavam e, antes de ele grudar nossas bocas de novo, ficamos nos olhando por um tempo. Sorri cúmplice, e ele fez o mesmo me olhando com uma cara preocupada. Alarguei o sorriso e disse que estava tudo bem. E então ele mordeu o lábio inferior e eu senti meu corpo inteiro tremer e esquentar com o gesto. Oh meu Deus, aquilo SIM era desejo.
Puxei-o pelo corpo agora descoberto e nossas bocas juntaram-se violentamente, num ato um totalmente desesperado. Ele parecia precisar de mim e eu precisava dele também.
Seus lábios passaram da minha boca para o meu pescoço e meu colo, dando beijos apaixonadas e mordidas prazerosas. Eu tinha certeza absoluta que iriam ficar roxas mais tarde, mas quem ligava?
Deslizei minhas mãos do seu pescoço ao umbigo, arranhando de leve e sentindo-o se arrepiar, e isso me fez sorrir. Senti suas mãos ainda na minha coxa, e elas subiram para a barra do shorts. Sem pudores, puxou-a para baixo, arrancando-a, enquanto eu reprimia um gemido.
Aquilo fez com que eu voltasse à realidade e o afastasse de mim, olhando-o um pouco assustada. Ele me encarou com os olhos cabisbaixos e disse em seguida:

- Me desculpe. – Deu um sorriso estonteante e eu senti todos os meus órgãos cambalearem. Todos menos o coração, porque esse já havia saído de dentro de mim faz tempo.
- Eu acho que estou um pouco nervosa. – Ri baixo e mordi o lábio inferior por causa do nervoso. Ele suspirou vendo o meu gesto e eu dei uma risada baixa, me lembrando de quando ele me disse que achava isso sexy.
- Nós não vamos fazer nada que você não queira – ele disse olhando nos meus olhos e eu mais uma vez me perdi na imensidão deles. Mesmo já estando escuro e eu não estava enxergando nada, reconheceria aqueles olhos em qualquer lugar, sabendo o que eles estavam transmitindo. Nesse momento, era compreensão.
- Eu sei disso. – Ri e lhe dei um selinho. – Mas eu quero.

Ele sorriu também e afirmou com a cabeça, levantando-se do sofá e me pegando no colo. Eu ri novamente, sentindo o corpo dele mais quente que o meu. Nossos lábios colidiram em mais um beijo enquanto ele me levava para o meu próprio quarto, e não nos importamos com as roupas deixadas na sala.
Fechou a porta do meu quarto num chute sem desgrudar nossas bocas, mas eu senti o garoto reprimir um grito enquanto me colocava sentada na cama e eu o soltei, perguntando:

- O que foi?
- Bati o dedinho na quina – ele respondeu nem ligando mais para dor. Eu gargalhei alto enquanto ele me mostrava a língua e em seguida o puxei pela nuca, ainda sentada na cama.

O garoto se encaixou entre as minhas pernas, ainda de pé na borda da cama, acariciando meus joelhos enquanto eu me arrastava para o centro do colchão e puxava ele para mim.
Meus dedos brincaram com o elástico da sua boxer num ato involuntário, e senti suas mãos puxando minha camiseta para cima enquanto dava leves mordidas em meu pescoço.
Ri e mudei de posição, ficando por cima dele. Agora era minha vez de distribuir beijos e mordidas pelo seu pescoço, enquanto ele terminava de tirar minha camiseta e a jogava no chão, me deixando apenas de roupas íntimas.
Giramos de novo, com ele parando por cima, nossos lábios grudados novamente. Senti sua mão subir das minhas coxas para o elástico da minha calcinha, e parei instantaneamente o beijo, tendo certeza daquilo que iria fazer e olhando-o.
Ele parou o que estava fazendo, ainda por cima de mim, e olhou nos meus olhos numa forma de quem me compreendia. Sorri sinceramente e puxei-o para mim, depositando um beijo em seu ombro e o abraçando.

- Eu te amo – sussurrou no meu ouvido, e eu senti meu coração explodindo no peito, além do estômago cambalear e a cabeça girar. Ah claro, a respiração falha! Não posso me esquecer desse sintoma de garota totalmente apaixonada também.

Essas três palavras exatas geralmente eram proferidas por mim, já que ele respondia sempre um “eu amo mais” ou “ é recíproco” ou coisa do gênero. Nunca um ‘eu te amo’ – e somente isso – foi dito até agora. Senti todo meu corpo queimar e abri um sorriso enorme, enquanto dizia:

- Eu te amo também. – Mordisquei o lóbulo de sua orelha ainda com os braços em volta de seu pescoço, e afirmei com a cabeça.

Eu sabia que estava preparada, e ele também. Foi por isso que nós avançamos ainda mais em relação ao que estávamos fazendo, nossos corpos explodindo e querendo se tornar um só de tão quentes que estavam, e eu tive a certeza de que a minha primeira vez tinha acontecido num momento perfeito, com a pessoa perfeita e havia sido simplesmente perfeita.

Capítulo 23

Não sei quanto tempo ficamos ali e, supondo que haviam passado horas, cai suada e ofegante na cama, com ele ao meu lado do mesmo modo.
Joguei uma das mãos à cabeça e olhei para o teto, sorrindo. É, aquilo definitivamente tinha sido mais que o esperado. A parte ruim é que nós nem estávamos namorando – ainda, pelo menos da minha parte. E isso me fez lembrar que o odeia compromissos e fez com que eu me arrepiasse, desviando os olhos do teto para ele, que estava deitado ao meu lado fazendo carinho na minha bochecha e me olhando apaixonadamente.
Dei-lhe um selinho enquanto puxava os lençóis até a altura do meu busto, cobrindo-o. O sorriu e continuou olhando para todas as partes possíveis do meu rosto, depositando uma mão na minha cintura por debaixo do lençol e acariciando o local.
Aninhei-me em seu peito, passando uma das mãos pelo seu pescoço e colando nossos corpos novamente. Não havíamos falado coisa alguma, mas quem precisava disso? O momento estava perfeito – até quando a parte racional de minha cabeça começou a falar mais alto que tudo e me fez pensar em coisas horríveis.
Mas foi só olhá-lo na minha frente, com aqueles olhos perfeitos, aquela boca maravilhosa e aquele rosto perfeito, que eu esqueci todos esses problemas recém colocados na minha cabeça e comecei a sorrir idiotamente. Ele riu também, me dando mais um selinho e enrolando meu cabelo num dos dedos da outra mão.

- E então, foi bom para você, mademoiselle? – perguntou-me sorrindo maroto.
- Que tipo de pergunta é essa, monsieur? – ri baixo e devolvi com uma pergunta também. Isso para que ele não visse o quanto eu havia ficado vermelha. E quem perguntava isso depois de sexo? Eu é que não, mas ele eu já não sei.
- Eu gosto de saber a sua opinião, oras – ele riu e me deu um selinho, enquanto eu apoiava minha cabeça em seu ombro desnudo e fechava os olhos.

Mordi o lábio, um pouco nervosa, e disse em seu ouvido:

- Foi ótimo – respondi e ele gargalhou, falando:
- Foi ótimo para mim também.

E depois disso, nós começamos a rir. É, nos chame de problemáticos e doentes que eu vou entender perfeitamente.

- Ah , você é tão problemático! – disse ainda rindo e descolando minha cabeça de seu ombro para olhá-lo nos olhos.
- Você é linda demais – ele riu e me deu um novo selinho, enquanto eu revirava os olhos para não rir de volta.
- Você é doente – continuei, agora dando a língua.
- E você é uma garota incrivelmente perfeita – ele disse sério e eu acho que fiquei mais vermelha que um tomate. Ele não pode ficar me elogiando desse jeito caramba, há poucos segundos eu o estava chamando de doente! – E não precisa ficar vermelha, , é verdade.

Ele disse sorrindo e eu afundei na cama mais envergonhada do que nunca, colocando o lençol em cima da cabeça para me esconder.

- Você não pode fugir de mim! - ele disse meio que cantando entre gargalhadas, tentando de todas as maneiras tirar minha mão do lençol para me puxar para cima.
- Mas eu posso tentaaaar! – respondi do mesmo modo segurando uma gargalhada e apertando minhas mãos no lençol, acima da minha cabeça.
- Mas você não vai conseguir – ele falou normalmente, agora na minha frente, debaixo do lençol também. Soltei um grito agudo de susto e comecei a rir descontroladamente, enquanto ele me enlaçava pela cintura e aproximava nossos narizes.
- Se Maomé não vai até a montanha... – o garoto sussurrou no meu ouvido e passou o nariz por toda a região do meu rosto, numa forma carinhosa.
- ... a montanha vai até Maomé – finalizei a frase passando as duas mãos pelo seu pescoço, enquanto nossos lábios juntaram-se em mais um beijo apaixonado.

É, nós estávamos nos beijando debaixo de um lençol. E sim, era até melhor do que dos outros jeitos. Como eu me sinto tarada em dizer isso.
Estávamos entretidos em recomeçarmos a noite, mas um barulho estridente vindo do quarto do interrompeu-nos.

- Merda – ele disse parando de me beijar e colando nossas testas quando reconheceu o toque do celular.
- Não vai – pedi de olhos fechados, nossas bocas a milímetros de se grudarem novamente.
- Eu não vou. – Ele não conseguiu nem falar direito e nós já estávamos nos beijando novamente, enquanto eu sorria mentalmente.

Tentei me concentrar nos choques do meu corpo, na respiração falha, no acariciando minhas costas, na minha língua brincando com a dele e no coração falhando no peito, mas aquele barulho era realmente estridente e estava me irritando.

- Vá atender aquela merda antes que eu surte – pronunciei e ele riu, me dando mais um selinho apaixonado e disse:
- Eu já venho.

E então ele vestiu sua boxer – que estava jogada em algum canto do quarto que eu não pude reconhecer – e saiu em direção ao seu próprio.
Aproveitei esse momento para vestir-me também, sem colocar o shorts que deveria ter ficado na sala. Ele estava demorando um pouco, mas sua voz era abafada pelas paredes, e eu senti a exaustão da noite batendo frente ao meu corpo.
Virei-me de costas para porta, observando a janela do outro lado e me agarrando ao travesseiro. Estava bastante escuro, mas eu ainda podia reconhecer o que eram pingos de chuva, refletidos na janela por causa da iluminação da lua cheia que estava no alto do céu.
Senti as pálpebras pesarem e, quando estava prestes a deixá-las abaixadas, os passos de invadiram o corredor e eu senti-o deitando na cama, pouco depois que a porta do quarto havia sido fechada.

- Desculpe-me por isso – ele sussurrou nas minhas costas, mordiscando o lóbulo da minha orelha e dando leves mordidas e beijos no meu pescoço. Parecia que ele havia gostado de fazer isso essa noite, me deixando ficar louca com isso.
- Tudo bem – respondi baixo, fechando os olhos por causa do cansaço e sentindo seus lábios gelados na minha pele.

me abraçou pela cintura, juntando nossos corpos pela vigésima vez na noite, distribuindo beijos agora pelo meu ombro, por debaixo da camiseta. Passei uma das minhas mãos por cima da que ele mantinha em minha cintura, encaixando nossos dedos por cima da minha própria pele.

- Cansada? – perguntou-me com uma entonação totalmente pervertida, as mãos descendo do meu quadril para minha coxa e a boca deslizando dos meus ombros para o meu colo, pescoço e queixo. Isso sem contar nas nossas pernas totalmente entrosadas por debaixo do lençol. É.
- ! – ri e me encolhi, sentindo a língua dele deslizando pela minha pele e me causando arrepios – além do fato do meu corpo ter ficado numa temperatura febril novamente. Nesse instante eu acho que não me sentia mais cansada.

E foi por isso que eu virei com tudo, subindo nele e deixando sua cintura presa entre meus dois joelhos. Grudei meus lábios em seu pescoço com certa urgência, enquanto pegava suas duas mãos e entrelaçava nossos dedos, acima de sua cabeça.
Descolei minha boca de sua pele macia e olhei em seus olhos, que pareciam faiscar de tanto desejo. Mordi o lábio inferior, mas dessa vez foi de propósito mesmo. E, com isso, o garoto içou-se para cima, grudando mais uma vez nossos lábios e me virando, fazendo com que eu ficasse por baixo.

- Isso, me provoca mesmo – ele disse em cima de mim, enquanto eu ria e enlaçava a sua cintura com a perna, já que agora eram os meus braços que estavam presos.
- Você me provocou antes – disse içando meu corpo para cima e falando perto de seus lábios.

E não deu outra, sua língua já estava dentro da minha boca com certa urgência e ele mordia meu lábio inferior, soltando as minhas mãos e acariciando toda a região alcançável das minhas coxas, que estavam enlaçadas em sua cintura.
Com as mãos agora soltas, agarrei-o pelos ombros me içando o quanto consegui para colar nossos corpos. Já sentia tudo dentro de mim revirar no momento, e já não tinha mais ação sob os meus atos. Era um impulso que passava pelo meu corpo e que não tinha volta.
E foi assim que a noite estendeu-se muito mais depois dessas duas primeiras vezes.

Capítulo 24

- Bom dia, meu amor. – Senti alguém dando beijos de leve por todo meu rosto.

Abri os olhos, encarando uma claridade demasiadamente alta para seis da manhã. Era uma quinta feira e eu teria aula, assim como , mas parece que havíamos perdido o horário. Também, depois de uma noite daquelas, quem acordaria às seis sendo que foi dormir às duas?
Olhei para , que estava deitado na minha frente e mantinha os olhos no meu rosto.

- Bom dia, amor – respondi do mesmo modo enquanto ele me dava um selinho.
- Como foi a sua noite? – perguntou-me enquanto tirava os meus cabelos do meu próprio rosto. Eu deveria estar horrível, meu Deus.
- Foi... cansativa – disse mordendo o lábio e rindo. – E a sua?
- Também. – Ele deu um beijo na ponta do meu nariz e levantou-se da cama, me fazendo reparar que já estava vestido (se você contar apenas uma boxer, ele estava vestido).
- Que horas são? – perguntei me espreguiçando enquanto ele andava em direção a porta do quarto.
- Onze – disse sorrindo e me fazendo sentar na cama, um pouco assustada. – Acho que passamos um pouco do horário. – Ele piscou para mim, fazendo meu coração bater desesperadamente dentro do peito. – O café está na mesa, eu estou te esperando.
- Calma ai, onze horas? E VOCÊ fez o café? – perguntei abobada. Geralmente era eu que o acordava e fazia o café, embora hoje tenha sido totalmente ao contrário.
- Sim – ele respondeu sorrindo com aqueles dentes brancos perfeitos e achei que teria um treco por lá mesmo.
- Que menino prendado – ri e ele deu a língua, dizendo:
- ‘Tô te esperando lá na cozinha.

E dizendo isso, fechou a porta do quarto.
Sorri comigo mesma, levantando-me da cama e procurando minhas roupas. Notei meu shorts colocado perfeitamente ao pé da cama e suspirei apaixonada. Fala sério, o é o cara perfeito.
Calcei os chinelos depois de me vestir – com a roupa do pijama – e fui em direção ao banheiro, escovando os dentes e prendendo o cabelo num rabo. Lavei o rosto, que estava mais brilhante do que nunca. As minhas feições eram de quem estava emanando uma felicidade intensa, e eu estava mesmo desse jeito. Mais feliz do que nunca, embora alguma coisa me dizia que sempre tem alguma coisa para dar errado.
Andei até a cozinha, onde me esperava sentado com um sorriso no rosto. Observei a mesa e, para minha surpresa, havia muito mais que café e bolachas recheadas.
Além do próprio café, havia uma jarra de sucos, frutas e torradas quentinhas. Ele sabe como ser perfeito, pode falar.
Sentei ao seu lado, sorrindo como uma completa apaixonada. Ele me enlaçou pela cintura e me beijou calmamente durante um bom tempo.

- Para você – disse me estendendo uma rosa vermelha depois que nossas bocas já estavam separadas e nossa respiração ofegante.
- Obrigada! – Sorri pegando a flor e a admirando. Sentia meus olhos brilharem como se uma felicidade plena os tivesse invadido, e não sei o que me deu, mas acho que eu comecei a chorar.
- ‘Tá tudo bem? – ele me perguntou, um pouco preocupado. – Não gostou?

Eu soltei uma fungada como uma risada e abracei-o pelo pescoço, dando um beijo em seu ombro e dizendo:

- Eu amei muito muito – disse que nem criança, colocando a rosa em cima da mesa, ao meu lado. Ele fez com que eu o soltasse e me olhou nos olhos.
- Eu amo você. – E eu senti o meu corpo inteiro derreter com aquelas três palavrinhas mágicas.
- Eu também te amo – respondi e virei para a mesa, enquanto ele passou a me servir e nós começamos a conversar sobre diversas coisas.

~~

- O QUÊ? – Mary Jane berrou e eu quase as estapeei por isso. Mesmo que estivéssemos apenas nós duas no ‘meu’ apartamento, alguém poderia ouvir.
- CALA A BOCA! - gritei enquanto ela se levantava do sofá com certo nojo e exclamava:
- Estou sentada no sofá do pecado, que nojo.

Eu gargalhei alto com aquilo e a puxei pela mão, fazendo-a sentar ao meu lado novamente.

- Fala baixo que os meninos podem chegar!

Era assim. Eu e o não havíamos ido para a aula e MJ mandou-me uma mensagem dizendo que ela e o iriam aparecer aqui para ver como estava tudo. E assim foi dito, até que nós iríamos começar a ver um filme quando o síndico do prédio tocou a campainha. E então ele falou de uma reunião com os moradores para resolver um assunto e disse que eu não precisava ir porque essas reuniões eram um porre. Olha que lindo! E ele fez questão de arrastar o com ele, então sobramos eu e a Mary Jane sentadas no sofá. E claro, eu a informei sobre a noite de ontem e então você sabe o que aconteceu.

- Vamos para o seu quarto, você precisa me contar tudo! – E foi ai que eu suspirei e deixei a ruiva me levar ao meu próprio quarto. Caso os garotos chegassem, não poderiam ouvir a nossa conversa.

E então eu sentei na cama toda apaixonada e comecei a falar como ele havia sido fofo e me chamou para dançar e enfim... aconteceu. Foi fofo, mas ao mesmo tempo desesperador, porque hello, nós nem estávamos namorando e já tínhamos... feito coisas a mais.

- Mas você não acha que foi muito rápido não? –ela perguntou-me olhando de soslaio.
- Eu sei... mas... não deu para evitar – disse enrubescendo e tentando esconder a cara.
- Ah meu Deus! – ela disse tirando as minhas mãos do próprio rosto e olhando fundo nos meus olhos. – Vocês tomaram os devidos cuidados, né?
- É CLARO, ENDOIDOU? – gritei. Ela havia ficado louca? Não quero ser uma mãe precoce, obrigada.
- Agora você me deixa mais aliviada – ela riu e eu fiz o mesmo, ouvindo um barulho.
- É o seu celular? – perguntou e eu fiz um ‘não’ com a cabeça, indicando o meu celular na minha própria cama. O barulho vinha da sala.
- Já venho – disse levantando-me da cama num salto e indo em direção à sala.

Corri e fui capaz de observar o celular de na mesinha do telefone, perto da cozinha. Ele tocava desesperadamente, e eu fiquei na dúvida se atenderia ou não. Até que eu lembrei que foi ele quem havia falado com a minha mãe e me ajudou, então poderia ser alguma coisa importante e eu achei melhor atender.

- Alô? – perguntei, ainda arfando por causa da corrida.

Um silêncio instaurou-se na linha e a pessoa desligou, sem falar nada. Estranhei, mas pude observar uma mensagem de texto e a abri:

“Amor, eu consegui! Me encontra hoje a noite, ok? Beijos, Emma”

Emma? Não, eu me recuso a acreditar. Tentei fazer meus pensamentos não me enganarem, mas meio que não deu certo. Eu já estava desconfiada. E foi então que o celular na minha mão vibrou novamente, indicando outra mensagem. Quase deixei o mesmo cair no chão, e mordi o lábio pensando se deveria ler aquela mensagem. No final, a minha curiosidade – que alguma hora iria me matar – e a minha desconfiança fizeram com que eu abrisse a mensagem, que era:

“O quê ELA faz com o seu celular? TÔ TE ESPERANDO AQUI EM CASA! Chels.”

E foi então que eu quis morrer mesmo. Digo, eu sei que o e a Chelsea tinham um rolo, mas não era uma coisa assim. E eu pensei que eles já haviam terminado, porque o e eu estávamos ficando. Só que bem... parece que eu havia me enganado. E eu não queria acreditar nisso, era só a minha imaginação fértil e idiota. Era isso.
E foi por isso que quando a MJ entro uma sala, eu estava tremendo, ainda com os olhos no visor do celular. A Chelsea tinha ligado para o e eu havia atendido, e ela sabia que era eu. É, digo, a minha vida não pode ser pior.
E só pelo fato de lembrar que ontem a noite alguma dessas duas poderia ter ligado para ele e interrompido a nossa noite perfeita – embora ela tenha sido perfeita mesmo com isso -, eu me senti com raiva e machucada.
E quem era essa Emma? O que ela havia conseguido? E por que chamou o de amor? E COMO ASSIM ELES VÃO SE ENCONTRAR ESSA NOITE? Por favor, , pára de paranóia.

- ? – a ruiva me chamou, mas eu ainda não conseguia me mexer.

Indiquei o celular com a cabeça, e ela leu somente a mensagem da garota mais popular e odiada de todo o colégio e soltou um “oh!”. E então eu mostrei a outra mensagem, e ela somente disse:

- Você não deveria ter fuçado nas coisas dele.

E foi então que eu caí no choro.

Capítulo 25

Não consegui distinguir muito as coisas depois disso, mas quando me dei por mim, estava deitada em minha cama, Mary Jane ao meu lado me fazendo carinho nos cabelos e me olhando preocupadamente.

- Eu dormi? – perguntei sonolenta. Percebi minhas mãos encolhidas em volta dos joelhos, fazendo-os ficarem doloridos. Só que eu meio que não me importava com isso. A dor era mais profunda em outra parte do corpo.
- Uma meia hora só - a ruiva me respondeu. – Os meninos já chegaram, estão na sala. Eu disse que você estava com um pouco de dor de cabeça e fiquei aqui.
- Obrigada – respondi fraca, fechando os olhos novamente.
- ? – ouvi aquela voz que eu bem conhecia na porta, e passos de pessoas andando até mim. Meu coração afundou-se no meu peito e eu apertei os meus joelhos com mais força.
- ‘Tá tudo bem com ela? – ouvi a voz de no quarto também, enquanto eu fechava os meus olhos para que as lágrimas não caíssem.
- Acho melhor a gente deixá-la sozinha – MJ disse tentando me ajudar, e senti ela se levantando da cama enquanto eu virava meu corpo para o lado oposto da porta.

Eu sentia meu coração soterrado dentro de mim. As lágrimas estavam acumuladas nos meus olhos, mas deixei-as apenas ficar como um aperto na garganta. Eu nem sabia o que pensar caramba!

- ? – aquela voz familiar agora se aproximou muito mais perto do meu ouvido, e eu senti uma mão na minha cintura. Tentei controlar os espasmos, mas não deu muito certo. Quando fui perceber, estava sentado na beirada da cama, com uma mão na minha cintura e a outra massageando meus cabelos. Ele quer me matar, não quer? Ele quer. Eu sei que quer. Como eu posso aguentar isso?
- , acho melhor você deixá-la descansar... – Mary Jane falou, mas não adiantou muito, porque o garoto continuou me chamando.

Respirei fundo algumas vezes antes de falar alguma coisa, passando as mãos freneticamente no rosto antes de me virar para ele.

- ‘Tá tudo bem? – o perguntou olhando nos meus olhos, sua mão ainda colada a minha cintura.
- ‘Tá.

Oh meu Deus. Porque a minha voz tinha que ter soado desse jeito? Totalmente fraca e chorosa. Não é possível, eu só me dou mal nessa vida. COMO EU VOU ESCONDER DELE AGORA? Aliás, por que eu estava desse jeito? O não era assim. Ele havia mudado quando eu cheguei – era o que haviam me dito. Então porque ele tinha recebido mensagens de duas garotas - sendo que com uma delas ele havia dito que não tinha mais nada?

- ? – Ele agora estava praticamente em cima de mim, uma das mãos no meu pescoço enquanto eu girava os olhos de um lado para o outro, frenética. Isso porque se eles parassem de se mexer, a lágrima que havia formado iria cair. É, eu sou tão patética e desprovida de inteligência, pode falar.

Encontrei o rosto de Mary Jane, e notei-a com os lábios prensados nos dentes. olhava dela para mim e para , totalmente perdido, enquanto a minha melhor amiga apertava com força os braços do namorado. Vi que ela me olhava mais desesperada do que eu mesma estava, e tive que menear com a cabeça dizendo que tudo ficaria bem. Mesmo que eu não acreditasse nisso.

- , acho melhor deixá-la sozinha... – Mary Jane começou mais uma vez, mas o garoto não tirou os olhos de mim, fazendo com que a minha vontade de chorar fosse cada vez mais difícil de segurar.
- Mary Jane, pode me deixar sozinho com ela, por favor? – disse sem desgrudar os olhos do meu rosto.
- ‘Tá tudo bem – consegui dizer novamente, com a voz mais firme. – É só a dor de cabeça... – Tentei virar o meu corpo para o outro lado, mas o garoto não deixou, apertando as mãos em torno da minha cintura e depositando um selinho nos meus lábios.
- Você anda tendo muita dor de cabeça. Já foi ao médico? – perguntou com os lábios colados aos meus. Legal, tenho que me lembrar de inventar outra desculpa sem ser a dor de cabeça.
- Não, mas farei isso – disse com os olhos petrificados. Era incrível o efeito que aqueles olhos tinham sobre mim. – Pode me deixar dormir agora, por favor? – perguntei rapidamente, querendo que ele fosse embora para que eu pudesse dormir em paz. Leia-se: chorar em paz e pensar na vida.
- Tudo bem – ele sussurrou beijando a minha testa e levantou-se da cama. – Fica melhor, ok? – ouvi sua voz e eu afirmei com a cabeça, sentindo meu estômago embrulhar.

passou a mão pelo meu pescoço, e sua boca colou-se na minha. O melhor é que eu não consegui impedir isso e, quando fui perceber, a língua dele já estava entrosada com a minha e eu senti que estava chorando.
Empurrei-o delicadamente para longe, separando nossas bocas e virando para o outro lado para que o garoto não visse o meu estado.
Ouvi seus passos até a porta e vi a luz do meu quarto sendo apagada. Esperei um tempo até que ouvisse a voz do pessoal fora do meu quarto e, quando isso aconteceu, voltei meu corpo em direção à porta para confirmar minhas suspeitas. Só que eu acho que não deveria ter feito isso, porque, quando me virei, estava parado, com a mão na fechadura me olhando de um jeito esquisito, como se estivesse confuso.
Seus olhos encontraram-se os meus e em seguida ouvi-o dizendo:

- Eu te amo.

E a porta fechou-se. Escondi meu rosto debaixo do travesseiro e chorei, como se nunca tivesse feito isso na vida. Seria tão bom se pudéssemos colocar a dor em um envelope e devolvê-la ao remetente.

Capítulo 26

Quando consegui abrir os olhos de novo, a escuridão me cercava. Olhei para a janela fechada e, como não havia resquício de luz solar, tinha a certeza de que estava de noite. Levantei um pouco cambaleante e fui em direção ao banheiro sem nem me preocupar em acender a luz para observar o caminho.
A porta foi fechada e a luz desse cômodo foi acesa, enquanto eu me via de frente para o espelho. A vontade de soltar um grito foi reprimida, mas a minha boca abriu tanto que eu jurei que fosse cair por lá mesmo. Legal, agora o espelho tinha efeitos assassinos sobre o meu corpo. Um tanto quanto sádico, mas tudo bem.
Só que não era para menos. Observei os meus cabelos lisos e desgrenhados, todos colados ao meu rosto suado – e nojento. Bolas arroxeadas estavam em baixo dos meus dois olhos pequenos e vermelhos, devido ao choro descontrolado. A boca estava seca, fechada, e eu olhei para o lugar onde deveria estar o coração – ele parecia estar menor. Como se alguma parte de mim houvesse sido arrancada e ninguém tivesse percebido. Ninguém exceto eu.
A água gelada que eu fiz questão de jogar no rosto fez com que eu me arrepiasse e que meus olhos ardessem, mas não dei muita importância. Peguei um elástico em alguma gaveta e prendi os cabelos, logo depois de dar uma disfarçada nas olheiras. Definitivamente o não poderia ver-me desse jeito.
Fui em direção a cozinha, não percebendo a presença de alguém no local. Tirei alguma coisa congelada da geladeira e joguei no microondas, já que estava morta de fome e sem saco para cozinhar e/ou pedir coisa pronta. É, bem assim mesmo.
Olhei para o relógio e vi que era pouco antes das 21h. Onde estaria? Porque eu achava que e Mary Jane já haviam voltado para sua casa. Minhas memórias voltaram aos acontecimentos da tarde, e eu senti meu estômago embrulhar. De uma hora para outra aquela comida não parecia mais tão apetitosa.

- ? – ouvi uma voz atrás de mim enquanto eu terminava de jogar a comida lixo abaixo. – Melhorou, amor? – perguntou enlaçando sua mão em minha cintura e me dando um beijo de leve no pescoço. Algo no meu peito pulou e eu sorri com o ato do garoto.
- Sim – respondi me virando para ele, tentando ignorar os espasmos.

Olhei fundo em seus olhos enquanto ele colocava minhas mãos em seu próprio pescoço. Acho que não acreditou muito no que eu havia dito, porque me olhava preocupado.
E como ele podia ser assim? Eu me recusava a acreditar naquelas mensagens. Digo, a Chelsea eu até entenderia, porque ela é a garota mais galinha, chata, popular e grudenta de todo o colégio. Ela deveria ter tido um ataque pós-término de não-relacionamento com o meu ex-melhor-amigo-e-futuro-namorado e ter surtado, por isso mandou a mensagem e ligou para ele. Eu acreditava no porque, além de eu amá-lo, era meu melhor amigo. A primeira pessoa com quem eu havia conversado quando cheguei à cidade, a primeira que me ajudou em muitos aspectos. Se ele me disse que nunca teve nada sério com a Chelsea, eu acreditava. Ok, as palavras dele foram: “Eu e a Chelsea não estamos mais ficando. Nunca foi sério.”, ou algo assim. E eu acreditava nisso. Na verdade, quem seria capaz de acreditar na Chelsea ao invés do seu melhor amigo perfeito?
Meus pensamentos foram quebrados quando ele me beijou e eu senti aquele perfume que eu tanto amava emanando de seu pescoço. O-oh, alguma coisa errada. Ele só usava aquele perfume comigo. Mentira, aquele era o perfume diário dele. Mas as calças e a blusa que eu nunca tinha visto antes não eram diárias. E isso fez com que eu o empurrasse para longe e perguntasse:

- Vai sair?

Ele coçou a cabeça e mordeu o lábio, nervoso. Outra coisa errada.

- Vou – ele respondeu simplesmente, e eu cruzei os braços no corpo. – Tenho um compromisso com o .
- E você precisa ir chique desse jeito só para ver o ? – perguntei com os dentes colados aos lábios. Sim, eu estava com ciúmes. E eu acho que ainda não tinha relacionado todos os acontecimentos do dia a isso.
- Own, você fica tão linda quando está com ciúmes. – Ele apertou minhas bochechas e me deu um selinho. – Não se preocupe, amor, eu volto cedo.

Deu-me mais um selinho e beijou o topo de minha cabeça, indo para a sala enquanto eu ouvia apenas os seus passos, não tendo chance de falar nada.
Nem consegui formular hipóteses quando o telefone de casa tocou. Sai tropeçando em tudo a tempo de atender, e a voz que eu ouvi do outro lado me fez sorrir inconscientemente.

- Heey girl! – Mary Jane me perguntava feliz. – ‘Tá melhor?
- Acho que sim – respondi. Isso fez com que eu me lembrasse de certas mensagens... E isso me fez congelar. – Mary Jane, por que você ligou? – perguntei, e acho que ela notou meu tom de voz nervoso.
- Nossa, amiga, calma. Só liguei para saber se estava tudo bem.
- O vai sair com o hoje? – perguntei. Sim, as palavras jorravam de minha boca sem que eu tivesse algum controle sobre isso. Minhas mãos já estavam em formas de bolas e eu sentia minhas unhas machucarem a palma de minha mão.
- Com o ? – Ela deu uma risada debochada. – Claro que não! Ele está todo quebrado aqui na cama, de tanto esforço que fez hoje. Não acordaria nem se o mundo tivesse acabando... Ai meu Deus – ela parou de falar e eu fechei os olhos com força. O mal-estar da tarde tinha voltado.
- É – foi o que eu respondi.
- Fica calma... – ela me falava, mas eu não estava ligando. Isso porque minha mente estava voltada à mensagem de hoje a tarde, de uma tal Emma para o .
- Mary Jane... – solucei, mas lágrimas ainda não caiam do meu rosto. – O está me traindo, não ‘tá? – perguntei, querendo me afundar em algum buraco.
- NÃO! Claro que não, amiga, ele nunc... – E eu a cortei mais uma vez.
- Você viu a mensagem, amiga – disse andando de um lado para o outro tentando me controlar. – Ele ficou de encontrá-la hoje à noite! E ele MENTIU PARA MIM!- jorrei as palavras com raiva, sentindo meus olhos arderem. Grande merda.
- Não, , vai ver aconteceu alguma coisa e...
- ENTÃO PORQUE ELE ESTAVA TODO ARRUMADO E USANDO AQUELE PERFUME MARAVILHOSO? – gritei. E estava chorando de novo. É uma maravilha, simples assim.
- ... – a garota sussurrou o meu nome, mas eu não ouvi.
- Mary Jane, por favor, posso ir até a sua casa? – perguntei me sentando no chão e abraçando meus joelhos. – Eu não quero ficar aqui. Eu não quero mais ver o . Não hoje.
- Claro, amor, mas...

E então eu desliguei o telefone. Corri para o quarto, as lágrimas invadindo o meu rosto mais uma vez ao dia. Como eu era chorona, meu Deus do céu. Só que quando você sabe que o cara que você ama está com outra neste exato momento quando deveria estar contigo e mente para você, o que você faria? É. E foi por isso que eu soquei as primeiras roupas que vi pela frente numa mala, coloquei uma calça forrada por baixo de alguns casacos e sai porta a fora. Claro, sem contar os fones de ouvido que sempre me ajudavam a extravasar a dor e a noite escura e gelada. É, , você acaba comigo. Pedacinho por pedacinho. Como o Freddy Krueger. Mas nas circunstâncias atuais, você é pior que qualquer serial killer, assassino ou ladrão. Você simplesmente é o cara que pisou no meu coração, e que mentiu para mim. E EU TE ODEIO TANTO POR ISSO!

Capítulo 27

As batidas de Candles, do Hey Monday, ecoavam na minha cabeça conforme eu andava. O medo não se apoderava de mim, já que eram quase dez horas da noite. Claro que não, já que a minha cabeça estava preocupada demais em me deixar bem novamente. Como se isso fosse possível. (Hey Monday - Candles)

The power lines went out
Faltou luz
And I am all alone
E eu estou sozinha
But I don't really care at all
Mas eu realmente não ligo
Not answering my phone
Não atender o meu telephone
All the games you played
Todos os jogos que você jogou
The promises you made
As promessas que você fez
Couldn't finish what you started
Não poderia terminar o que você começou
Only darkness still remains
Somente escuridão permaneceu

Lost sight
Visão perdida
Couldn't see
Não foi possível ver
When it was you and me
Quando foi você e eu

Blow the candles out Assopre as velas
Looks like a solo tonight
Parece um solo essa noite
I'm beginning to see the light
Estou começando a enxergar a luz
Blow the candles out
Assopre as velas
Looks like a solo tonight
Parece um solo essa noite
But I think I'll be alright
Mas eu acho que ficarei bem

Been black and blue before
Foi preto e azul antes
There's no need to explain
Não há necessidade de explicar
I am not the jaded kind
Eu não sou insensível
Playback's such a waste
A reprodução é um tal desperdício
You're invisible
Você é invisível
Invisible to me
Invisível para mim
My wish is coming true
Meu desejo está se realizando
Erase the memory of your face
Apagar a lembrança de seu rosto

Lost sight
Visão perdida
Couldn't see
Não foi possível ver
When it was you and me
Quando foi você e eu

Blow the candles out
Assopre as velas
Looks like a solo tonight
Parece um solo essa noite
I'm beginning to see the light
Estou começando a enxergar a luz
Blow the candles out
Assopre as velas
Looks like a solo tonight
Parece um solo essa noite
But I think I'll be alright
Mas eu acho que ficarei bem

One day you will wake up
Um dia você acordará
With nothing but “you're sorrys”
Com nada a não ser "as suas desculpas"
And someday you will get back
E algum dia você terá de volta
Everything you gave me
Tudo que você me deu

Blow the candles out
Assopre as velas
Looks like a solo tonight
Parece um solo essa noite
I'm beginning to see the light
Estou começando a enxergar a luz
Blow the candles out
Assopre as velas
Looks like a solo tonight
Parece um solo essa noite
But I think I'll be alright
Mas eu acho que ficarei bem

Após alguns minutos – na verdade, foram muitos minutos - andando e muitas músicas me acalmando, cheguei à casa da minha melhor amiga e salvação Mary Jane. Toquei a campainha, desesperada para poder entrar logo. O frio estava tão intenso que eu nem sentia mais meus músculos faciais. Só consegui notar o lábio roxo e trincando, mas tudo bem.
Nem precisei esperar muito tempo porque, cinco segundos depois, a ruiva já estava na porta me olhando desesperada com uma caneca de chocolate quente em mãos e um cobertor enrolado no corpo. Ela olhou para mim e deu um sorriso forçado, quando o que eu mais queria era chorar e nunca mais parar.

- Amiga... – sussurrei e ela me puxou, livrando-me do vento congelante.

Abraçou-me enquanto eu tirava os fones do ouvido, desligando o iPod e me segurando para não chorar. Eu precisava ser forte, mas isso estava sendo muito difícil no momento.

- Por que ele ‘tá fazendo isso? – Fechei os olhos com força enquanto sentia aquele abraço quente, simpático e totalmente apropriado para o momento.

Não entendia com o poderia estar mentindo para mim. Sabe, me enganando desde o momento em que havíamos nos conhecido. E a raiva que eu sentia era maior em relação a mim mesma, pensando o quão idiota eu fora. Desde que havia chegado à cidade, sabia quem era o . O cara gostosão lindo de olhos penetrantes e que fica com qual garota quiser. Por que eu tinha pensado que ele havia mudado por minha causa? COMO UMA PESSOA CONSEGUE SER TÃO FOFA E TÃO IDIOTA AO MESMO TEMPO? Claro que eu nunca achei que ele era perfeito, mas sabe... Machuca. É como se tivessem enfiado um punhal no meio do meu coração, e eu não tivesse percebido - até agora, já que a ferida continuava aberta e recente e pareciam querer torturar ainda mais a ferida, sem tirar a arma do local em que havia se formado.
Ouvi Mary Jane falando alguma espécie de consolo, mas nada do que eu ouvisse me faria sentir melhor. Porque eu sabia que havia sido enganada, e nada do que dissessem me faria mudar de opinião. Algumas coisas são verdadeiras, acreditando nelas ou não.

- ? – uma voz grossa falou e afastei meu corpo do de MJ.

Mesmo com as lágrimas presas nos olhos, consegui observar um com um pijama de flanela, cabelo amassado e cara de sono me olhando um tanto preocupado.

- O que você ‘tá fazendo aqui a essa hora da noite? – me perguntou, olhando de mim para a namorada e para o relógio.
- Amor, amanhã a gente conversa. A vai dormir aqui hoje, tudo bem? – a outra garota perguntou andando calmamente até o namorado com a minha mochila em mãos.
- Claro, sem problemas. – Ele me olhou e me abraçou. Oh meu Deus, a minha cara de pessoa-morrendo está tão visível assim? – Aconteceu alguma coisa entre você e o ? – ele perguntou me soltando e me olhando nos olhos. E socorro, aqueles olhos acinzentados me fazem querer chorar mais e mandar que tudo se explodisse.
- A gente conversa amanhã, pode ser, ? – perguntei esboçando um sorriso e ele confirmou com a cabeça. – Só... Não digam para o que eu estou aqui, ‘tá legal?

O casal me olhou estranho, mas confirmaram com a cabeça. Imagina se eu quisesse que o me procurasse nesse estado. Nunca. O que eu mais queria nessa hora era jogar um vaso na cabeça dele, ou alguma coisa cortante. E que, claro, quebrasse na cabeça dele, deixando cicatrizes. E que doesse. Ó sim, como estava doendo em mim. Entretanto, a dor que ele sentiria não chegaria nem perto da que eu estava sentindo no momento. Eu queria que ele explodisse, que me esquecesse de vez e que parasse de falar os ‘eu te amo’, como sempre dizia. E que eu achei que eram verdadeiros. Queria que ele parasse de me acalmar, e que saísse da minha cabeça. Que não me visse mais como uma amiga ou coisa a mais. Isso porque seria difícil voltar a confiar nele.
Sentei-me no protótipo de sofá que estava na sala improvisada enquanto a minha amiga passava o cobertor que estava nas suas costas na minha. Ela disse para eu não reparar na bagunça e que iria buscar uma xícara de chocolate quente para mim. Não que eu me importasse com a bagunça ou com a bebida. Na verdade, no que eu menos estava reparando era nisso. Porque o meu subconsciente estava mais preocupado em resgatar as lembranças lindas e fofas e românticas que eu tinha com o , para depois o meu superego me colocar na realidade novamente e me lembrar que ele fingiu estar com o para estar com uma tal de Emma que chama ele de amor.
Deitei-me numa almofada e fechei pesadamente os olhos. Queria voltar a me embriagar no mundo das músicas, mas sabia que ficar fora da realidade por pouco tempo não bastaria. Logo a vida me puxaria de novo para fora daquele mundo de sonhos e princesas onde tudo era perfeito e o meu príncipe encantando nunca me faria sofrer.

- Aqui está, amiga. – Do mesmo jeito que tinha ido, a ruiva voltou, sentando-se na borda do sofá. O mais legal é que ela havia trazido também um travesseiro e muitos cobertores.
- Obrigada por me ajudar, Mary. Não sei o que eu faria sem você, mesmo. – Sorri fraco enquanto ela me olhava seriamente.
- Você já sabe o que vai fazer? – ela perguntou-me e eu senti vontade de enterrar meu rosto nas mãos. Legal, o que eu menos sabia era o que iria fazer. – O Robin vai surtar se chegar em casa e não ver você por lá. E nem as suas coisas – ela terminou apontando para a minha mala.
- Não sei se ele vai surtar. Acho que ele vai estar mais interessado em relembrar como foi a noite maravilhosa que ele teve com aquel...
- ! – MJ advertiu-me num tom extremamente alto que fez com que eu me assustasse e quase derrubasse aquele chocolate fervendo no meu colo. – Eu já disse que o não é esse tipo de garoto! Ele pode ter cometido erros, mas ele gosta de você e vai ficar preocupado se não ver a melhor amiga dele por perto!

Virei a cara. Não precisava dela me falando essas coisas no momento. Quem disse que ele se importava? E que ele havia mudado? Não era o que parecia.

- Vou deixar você sozinha para pensar no que quer fazer. Qualquer coisa eu estou no meu quarto, você pode me chamar se precisar.

Agradeci e ela me deixou sozinha. Os minutos em que eu passei trocando de roupa, forrando o sofá e levando as coisas que eu havia utilizado para a cozinha foi de muita luz e raciocínio. Quando finalmente deitei-me para dormir, uma coisa já estava resolvida, e não seria modificada por nada que fizessem ou dissessem. me fazia mal, então ele precisava ser evitado. Para que eu ficasse bem, eu teria que abrir mão de muitas coisas – como sempre. Sabia que era uma questão de tempo para que ele descobrisse, mas jurei não contar a ninguém. Iria sentir a falta dele com toda a certeza do mundo, assim como a de , Mary Jane e até do Jake. Mas eu não aguentava mais isso. Viver no mesmo ambiente que ele faria com que eu me despedaçasse mais ainda, e eu sabia que se isso acontecesse, seria uma tragédia. Foi por isso que então eu decidi fazer uma visita à minha mãe, de surpresa. Ela ficaria feliz quando eu lhe dissesse que voltei para a França por tempo indeterminado para matar as saudades. De uma coisa eu estava certa: Inglaterra, nunca mais.

Capítulo 28

No dia seguinte, eu acordei já decidida sobre uma coisa: iria para a França o mais rápido possível. Pois é, eu sei. Era dramático? Era. Era irracional? Era. E eu sabia de tudo isso, mas por que não conseguia me convencer a mudar de opinião?

- Você não ‘tá falando sério – disse Mary Jane brava, enquanto eu discava os números da companhia aérea.
- Nunca falei tão sério em toda a minha vida. - A essa altura eu já estava com o telefone no ouvido, esperando que alguém me atendesse.
- ! – a ruiva berrou e bateu na minha mão, fazendo o telefone voar longe. – PÁRA DE FUGIR DOS PROBLEMAS!
- Não estou fugindo! – tentei dizer calmamente. – Só estou... me livrando – inventei uma desculpa qualquer e me levantei do sofá para procurar o telefone.
- Ah, , qual é. – MJ correu atrás de mim e me segurou pelo braço, evitando que eu continuasse o que estava fazendo.
- Mary Jane, que droga! – disse bufando e revirando os olhos. – Eu PRECISO esquecer o , antes que eu surte ou vire uma vegetal. E você está PROIBIDA de contar para ele sobre minha volta à França, já que você fez o favor de NÃO conseguir esconder do . E mande ele não me delatar também! – Cruzei os braços antes de buscar o celular no bolso.

Era fato que eu não queria contar a ninguém sobre a minha ida, mas eu não consegui esconder da Mary Jane. Sabe, quando você está mal e precisa desabafar com alguém, esse alguém sempre acaba sendo a sua melhor amiga e você não consegue mais esconder as coisas dela. Que repetitivo. Mas enfim, só quero ver se essa teoria vai funcionar também no caso do melhor amigo.

- Eu não... – a garota tentou falar enquanto eu discava novamente os números, agora do meu celular.

Vi a boca da menina parar de se mexer na metade da frase quando eu levantei o meu rosto dos números e a olhei com aquele olhar ameaçador que eu sei dar. Pois é, eu consigo ser malvada demais às vezes. Só que a minha malvadeza acabou em instantes, pois eu comecei a falar do jeito mais nostálgico e emo possível:

- Eu sei que você não consegue esconder nada do ... Mas você sabe, ele e o são amigos. E, se ele souber... Ele vai querer vir atrás de mim. E eu não vou aguentar, você sabe disso. Eu preciso ir embora o mais rápido possível e para longe dele. Por favor – implorei, sentindo meus olhos agora brilharem por causa do acúmulo de lágrimas. O pigarro na garganta havia se formado novamente, e fiquei com raiva disso.
- Tudo bem, eu não vou falar nada. – Ela segurou a minha mão e sorriu delicada, muito diferente do que estava anteriormente.
- Vou para lá – sussurrei, apontei para o telefone, sorri amarelo e levantei-me para ir em direção à cozinha ainda em construção.

Não consegui observar a cara que a ruiva fez, mas ouvi o suspiro que ela soltou. Estava certa em me acusar de estar fugindo dos problemas - e ainda mais: importando-me só comigo mesma -, mas eu não conseguia mudar de opinião e arranjar alguma medida para acabar com a dor que sentia. Eu era fraca demais para isso.
Terminei a ligação para a companhia aérea e reservei minha passagem para dali a três dias – ou seja, na sexta.
Nós todos já estávamos de férias, já que o ano havia sido finalizado. Eu não conseguia perceber que durante todo esse período eu havia conhecido muita gente importante e havia tido momentos incrivelmente marcantes. E, se me atrevo a dizer, havia encontrado o cara da minha vida. É, mas eu teria que esquecê-lo e me apaixonar por um francês gato. Isso, esses são os planos, foque sua mente nisso, .
Corri até minha bolsa minutos depois, puxando um cachecol felpudo e enrolando-o ao meu pescoço. Manhãs era o pior horário para se sair, devido ao intenso frio e ao vento cortante e gelado. Mas eu teria que fazer isso nesse horário, ou meus planos estariam por água abaixo.
Puxei meu iPod fiel e joguei o celular no bolso, assim como algum dinheiro, e mandei um beijo para MJ, saindo porta afora. Avisei-a que voltaria rápido, e assim seria feito.
Estava rezando para que não estivesse no apartamento, assim eu poderia pegar o resto das minhas roupas rapidamente sem que ele percebesse. Ok, para falar a verdade, acho que ele também não estava ligando muito para mim ou sei lá, já que nem notou que eu havia passado a noite fora. Que se dane.
Andava distraidamente pela rua, já que meus pensamentos estavam focados em como eu era idiota. Não deveria ter sido curiosa. Não deveria ter fuçado nas coisas do . Não deveria ter acredito nele. E muito menos deveria ter me apaixonado por ele.
Algo roçou no meu braço com força de repente, fazendo que meu corpo dar uma girada de leve para trás. Legal, agora eu vou ficar sem ombros. Instintivamente, meus lábios moveram-se no famoso:

- Desculpa!
- Nada – respondeu a pessoa sem nem olhar para mim. Iria recomeçar a andar com meus pensamentos quando a pessoa continuou. – ?

Confesso que estremeci quando ouvi esse apelido. Meu rosto ficou branco e percebi minhas mãos suarem, mesmo que estivéssemos numa temperatura abaixo de zero.
Virei meu rosto lentamente em direção ao dito cujo, implorando para que eu não tivesse encontrado AQUELA pessoa que eu não queria mais ver na minha frente por um longo período de tempo.
Soltei o ar com toda a força que eu tinha quando uma cabeleira loira e um belo par de olhos claros fizeram com que eu reconhecesse a pessoa como sendo o Jake. Claro, aquele corpo era incrivelmente reconhecível para mim, mesmo sob o moletom escuro que trajava da Puma.

- Hey, Jake! – disse abrindo um sorriso. Era uma sorte eu não ter encontrado... bem, aquela pessoa.

Jogamos um pouco de conversa fora – sim, parados no meio da rua e no meio do frio -, e eu notei algumas... Como vamos dizer? Algumas frases maliciosas direcionadas à minha pessoa (leia-se: cantadas). Sorri de novo com isso, já que notei que o garoto ainda não havia desistido de mim. Entretanto, eu não me via ficando com ele. Era gato? Era. Tinha um par de olhos claros penetrantes e perfeitos? Tinha. Era o meu melhor amigo por quem eu estava perdidamente apaixonada? Não. E então notamos o erro na história.

- Olha, Jake, eu tenho que ir, a gente se fala mais tarde.
- Tudo bem, . Legal te ver! – O garoto me deu um beijo na bochecha que durou um pouco mais que o esperado e saiu andando na direção contrária à minha.

Organizei meus pensamentos pela milésima vez ao dia e andei até o apartamento. A chave do local estava no meu bolso, e parecia pesar muito mais do que antes. Minha cabeça deu algumas voltas e a respiração falhou novamente enquanto o elevador subia pelos andares.
“Ele não vai estar em casa!”, gritei mentalmente a mim mesma. Sabe, dizem que quando você mentaliza muito alguma coisa, a probabilidade de ela acontecer é maior. Só que isso é mais um livro estúpido e idiota.
Coloquei a chave na fechadura [n/a: er, é meio óbvio isso ‘-‘] e girei a maçaneta o mais silenciosa possível, tentando ouvir ruídos que indicassem em que cômodo do apartamento o garoto estaria.
Televisão desligada. Nenhum barulho de água que indicasse banho ou cozinha. Andei em direção ao corredor dos quartos, o desespero tomando conta do meu corpo. E se o tivesse passado a noite fora? Estremeci ao pensar nisso, e decidi engolir o choro mais algumas vezes. Chorar era uma coisa que eu fazia muito ultimamente.
Passei por uma porta, visualizando o ex-quarto de , que estava totalmente vazio. Observei o meu próprio quarto ligeiramente bagunçado pela correria de ontem à noite, segundos depois. Por último, observei a porta entreaberta do quarto de e sorri involuntariamente, querendo me enforcar.
Ele estava lindo naquela roupa desgastada de algodão que fazia de pijama há algum tempo; e totalmente gostoso esparramado na cama; as feições sérias e preocupadas faziam com que o suor em sua testa e o molhado de seus cabelos ficasse muito mais visível; além da respiração descompassada, que me mostrava que o estava tendo um sonho ruim.
Pus a mão na boca para que o soluço não saísse, e observei o celular do garoto na mesa de cabeceira. O tempo voltou e eu quis chorar novamente ao me lembrar da mentira que ele havia contado, mas antes que isso pudesse acontecer, decidi correr ao meu quarto para recolher as últimas peças.
Fiz questão de não deixar nenhum objeto que indicasse que eu estive no local. Melhor ainda, tirei todas as evidências que pudessem provar que eu havia passado um tempo naquele apartamento, que tivesse existido e que tivesse entrado na vida DELE.
Peguei a minha última bolsa e olhei pela última vez para aquele local. Três dias não passariam assim tão devagar. E então eu decidi fazer aquilo que eu não queria, mas era a última oportunidade.
Abri a porta do quarto do garoto novamente, observando o que poderíamos chamar de paisagem. Desperdicei longos dez minutos só o observando, tentando memorizar pela última vez os detalhes de seu rosto e corpo. Após a saída do país, qualquer lembrança sobre ele seria apagada.
Correndo o risco de ele acordar e me ver ali, andei rapidamente até a cama, me inclinando sobre o seu corpo para me deparar com a boca convidativamente aberta. As lágrimas se acumularam nos meus olhos mais uma vez, criando coragem para o que eu iria fazer no momento.
Sem encostar-me em qualquer outra parte do corpo de , inclinei a cabeça para colar meus lábios fracamente em cima dos dele, num selinho extremamente rápido e tentador.
Antes que eu pudesse fazer qualquer outra coisa, as lágrimas caíram de meus olhos para a pele dele, sem que eu pudesse evitar. Levantei-me de súbito, sem fazer barulho algum, saindo do quarto e em seguida do apartamento. Coloquei a minha chave do apartamento debaixo do tapete da porta. Aquele havia sido o último contato direto que eu teria com Brandon Wood antes de fingir que ele nunca havia existido.

Capítulo 29

Deixei os portões do prédio com o porteiro me olhando estranhamente, mas eu fiz questão de sorrir e balançar a mão para ele numa espécie de último adeus.
A bolsa que estava em minhas costas não pesava, e eu definitivamente não queria voltar para a casa de Mary Jane e nesse momento. Meu coração precisava se acalmar e minha respiração normalizar, e nenhuma caminhada de vinte minutos faria isso. Precisa ir a um lugar mais longe ou tomar algum café para me esquentar e para o tempo passar.
Era necessário eu ir até onde eu dava aulas de francês, para cancelar e falar que eu estaria voltando para França – e por isso não poderia dar mais aulas, obviamente. E então foi o que eu fiz. Levei meia hora para chegar lá, e mais uns quinze minutos para ser atendida. Finalizando tudo, levei quase uma hora e meia para chegar à lanchonete que eu sempre ia com o pessoal para pedir um cappuccino ou coisa do gênero. Qualquer bebida extremamente quente era necessária e convidativa no momento.
O cachecol que eu havia colocado pela manhã antes de sair não estava fazendo muito efeito, mas assim que aquele líquido fumegante passou pela minha garganta, a minha temperatura corpórea começou a mudar. Não tinha mais a necessidade de ficar com os três casacos que eu havia posto, mas preferi não tirá-los. Era mais fácil, afinal, antes de sair eu teria que colocá-los novamente.
Joguei a cabeça na mão, que estava sendo segurada pelo braço com os cotovelos apoiados na mesa. Com a mão livre, segurei a alça da xícara e observei o líquido marrom borbulhar. Não queria mais pensar nele, mas isso era uma coisa totalmente impossível. Não podia. Não queria.
Flashbacks de um dia invadiam a minha mente, e as palavras que o havia dito – por mais que o tempo tivesse passado – ainda estavam bem lúcidas. Eu devia ter escutado quando tive tempo.

Flashback on

- Não, , eu não sou assim... – dizia mexendo em meus cabelos.

Fazia mais ou menos uma semana desde que havíamos nos conhecido. E era o quarto dia que ele passava deitado na mesma cama que eu, me acalmando e tentando fazer com que eu me sentisse melhor e mais adaptada. E até que estava funcionando.

- Como não é assim? Pára, vai me dizer que você nunca namorou antes? – perguntei rindo enquanto me aconchegava em seus braços e apertava de leve seu nariz.

É, a conversa havia mudado de rumo, mas eu não me sentia desconfortável com isso. Melhores amigos conversam sobre tudo, certo? Certo.

- Digamos que eu... bem, não goste de compromissos. – Ele me pareceu totalmente encabulado ao dizer isso, já que continuou mexendo nos meus cabelos - ele tinha muito desse costume – e não me olhou nos olhos.
- Caramba – foi o que consegui responder. Não sei por que havia ficado tão assustada.
- Relacionamentos não foram feitos para mim – ele continuou falando. – Não gosto de pensar na possibilidade de alguém me machucar. Ou, principalmente, de eu machucar alguém. Essas coisas são complicadas – ele continuou falando seriamente, e eu pensei sobre o assunto.
- Mas você já tentou para saber se isso vai acontecer? – perguntei. Não sabia por que queria meter outra idéia na cabeça do garoto, mas eu pressentia que precisava tentar.
- Eu não preciso tentar. – Ele parou de mexer nos meus fios escuros e levantou-se repentinamente, ficando sentado na cama enquanto eu observava o teto do quarto, ainda deitada. – As outras pessoas já tentaram. E eu já percebi o que acontece.

Desviei minha atenção do teto para os olhos penetrantes do garoto. Não havia entendido nada, mas só depois de alguns dias eu descobriria que ele estava se referindo aos pais.

- Melhor eu ir dormir, temos aula amanhã – ele continuou, levantando-se da cama, e eu fiquei a observá-lo. Era incrível. – Boa noite, .

Ele beijou o topo da minha cabeça e eu sorri com esse gesto, apenas acenando como uma resposta. Ele sorriu na minha direção e eu memorizei aquele sorriso. Seria algo que eu não me esqueceria durante um bom tempo.

- Boa noite, – sussurrei também, mas ele já havia fechado a porta e me deixado no breu que era o meu quarto. Garanto a vocês que esse momento já estava marcado fortemente em minha memória – consciente, subconsciente e inconsciente, como preferir.

Flashback off

Voltei à realidade e notei que já passava do meio dia e que o café já havia acabado. Deixei algum dinheiro em cima da mesa e saí, arrependendo-me instantaneamente de não ter dado mais uma volta no cachecol quando passei pela porta.
O frio parecia mais cortante do que nunca, e aquilo me machucava. Não mais machucado do que estava meu coração – obviamente – mas machucava. E tudo isso me fazia lembrar ELE. Aquela pessoa. Eu amava o , era fato. E era por isso que eu ficava me perguntando de cinco em cinco minutos sobre o que fazer quando o desejo de amá-lo era maior do que a necessidade de esquecê-lo.
Enquanto atravessava a rua para um lugar mais afastado da cidade – leia-se: casa de e MJ -, coloquei as mãos no bolso para que o frio não me pegasse. Fui cantando uma música aleatória durante todo o percurso, para que eu não tivesse pensamentos sobre ele – o que, é claro, foi em vão.
Dez minutos depois, quando percebi, estava fechando a porta da casa da ruiva. Ela me olhou mais assustada do que o normal, enquanto eu jogava minha mala no chão junto com as outras e desenrolava o que estava no meu pescoço.

- ! O que você ‘tá fazendo aqui? – ela me perguntou, levantando-se rapidamente e passando a mão pelos meus braços. Eu ri do desespero dela.
- Como assim o que eu ‘tô fazendo aqui? Já se esqueceu que eu sou agregada da casa?
- E então, aí ela disse que tinha conseguido aquilo que eu... – ouvi a voz de uma pessoa e me virei instantaneamente para o lugar de onde ela vinha.

Eu não precisaria virar meu corpo de frente para aquela voz. Eu a conhecia muito bem.

Capítulo 30

(Sugestão de música: David Archuleta - Barriers )

- O que você está fazendo aqui? – As palavras jorraram da minha boca sem que eu tivesse controle sobre elas.
- , você quer me deixar maluco? – perguntou um pouco rude, se afastando de e me pegando pelos ombros.
- Vá embora – falei mexendo desconfortavelmente onde ele estava segurando até que soltasse.
- Melhor nós deixarmos os dois conversarem. – Minha audição supersônica permitiu-me ouvir o sussurro de Mary Jane para antes de eles saírem do quarto.

Eu tinha a certeza de que iria explodir. Não iria aguentar fingir igual havia feito no quarto, já que estava tudo entalado e querendo sair de qualquer maneira. Eu iria gritar e chorar, mesmo jurando a mim mesma que nunca mais faria isso. Ele precisa se retirar imediatamente do local. O alarme dentro de mim, na minha consciência, estava tocando insistentemente.

- Quer me falar, pelo amor de Deus, o que aconteceu? – Ele me olhou preocupando e passou as mãos dos meus ombros as minhas mãos, segurando-as com força.
- Você tem que ir embora daqui agora, . – Desenrosquei meus dedos dos dele e comecei a andar em alguma direção. Se ele não fosse embora, eu iria. Não suportava olhá-lo. Estava acabando comigo.
- , olha para mim. – Ele correu atrás de mim, entrando na minha frente e pegando meu rosto entre suas duas mãos frias. Algo dentro do meu estômago revirou e, quando fui perceber, o choro já estava sendo preso na garganta.

Olhar naqueles orbes era tão insuportável que não só meu estômago passou a doer, como meu coração, meu fígado e sei lá, todos os órgãos dentro de mim.
E toda essa sensação piorou quando eu notei os lábios dele vindo na direção dos meus, sem pudor algum. Eu estava dolorida, eu estava com raiva. Empurrei-o com toda a força que eu tinha, tentando fazer meus olhos não aguarem. Senti minhas cordas vocais fazerem um demasiado esforço quando eu gritei:

- COMO VOCÊ É CÍNICO! ME DEIXA EM PAZ!

O garoto se recuperou e me olhou com se eu fosse louca. Notei-o arqueando uma sobrancelha e me perguntando sem extravagâncias:

- Do que é que você está falando?
- Você acha que eu sou idiota, ? – recuperei o meu tom de voz normal, já que minha garganta arranhava. Sentia as lágrimas presas, assim como meu maxilar. – Você acha que eu não sei que você mentiu para mim quando disse que ia encontrar o ontem?

Observei a expressão do garoto mudar de desentendida para preocupada e depois para aliviada. Fiquei sem entender aqueles gestos, mas segurei os punhos com força para que eles não saíssem por ai atacando os rostos perfeitos de pessoas perfeitas.

- Tudo bem, eu posso ter mentido sobre isso, mas foi por um bom motivo... – ele começou a se explicar e deu um passo na minha direção, me fazendo dar outro para trás.
- Eu sei dos seus motivos – falei dando um riso falso e recomeçando a andar para algum lugar longe dele.

Eu não estava suportando mais segurar as lágrimas. Minha garganta queimava e eu não conseguia nem proferir as palavras direito. Meu maxilar já estava dolorido demais, assim como as palmas das minhas mãos, devido à intensidade com a qual eu apertava as unhas nela.

- Sabe?! – perguntou-me confuso e estendeu as mãos na minha direção, tentando me alcançar. Em vão, é claro.
- É, eu sei de como a sua noite foi extremamente prazerosa. Só que eu ainda não entendo porque eu me importo com isso. Nós somos só amigos, né? – Eu não sabia por que havia soltado essa frase. Mas relembrar da época em que éramos apenas amigos era um pouco dolorida. Eu não queria mais isso. Eu o queria. Não só como amigo.
- , do que é que você está falando? – ele perguntou confuso enquanto dava mais um passo para frente e eu contornava o sofá, querendo me manter salva ao ficar longe dele.
- Os nomes Emma e Chelsea não te lembram nada? – perguntei cínica, mas foi numa forma de sussurro. Minha voz não saía mais. Para isso acontecer, eu precisava soltar tudo o que estava preso. E sim, eu me referia às lágrimas.
- O quê?
- NÃO SE FINJA DE IDIOTA! - Comecei a correr para a porta mais próxima, ou seja: a do banheiro.

O garoto pulou o sofá, chegando até mim e me segurando pelo braço. Num ato totalmente reflexivo, virei o cotovelo, batendo no bolso da sua jaqueta e expelindo algo para longe.
Instantaneamente, meu rosto e o rosto de viraram-se para observar algo intacto ao chão. Seu celular extremamente preto e perfeito reluzia na nossa frente, e eu quase quis rir do que havia acontecido. Era TÃO irônico!
Notei o garoto olhando do objeto para mim, sua boca aberta numa forma maior que a de um “O”, por assim dizer. Olhei para ele também, dando um riso extremamente falso e sentindo uma lágrima escorrer pela minha bochecha. Ela era quente. Quente, salgada e dolorida. Igualzinho ao meu estado de agora. Eu precisava sair de lá.
E foi o que eu tentei fazer. Girei o meu corpo para ir em direção àquela imaculada porta branca, que estava a menos de cinco metros de mim. Só que antes que eu avançasse mais alguns passos, a voz dele sussurrou no meu ouvido como se fosse uma súplica, fazendo com que meu corpo inteiro se arrepiasse.

- ...

Bati meu braço com tudo no dele, conseguindo me soltar. Praticamente corri até a porta do banheiro, enquanto percebia-o correndo atrás de mim.

- ME DEIXA EM PAZ! SAIA DA MINHA VIDA! – consegui gritar antes de a minha visão embaçar e eu não poder mais correr sem trombar em nada.
- , me escuta, não é nada disso... – ouvi a voz dele dizer ainda atrás de mim.

Dei graças a Deus quando minha mão tocou a maçaneta fria da porta do banheiro e eu girei-a com vontade, gritando um último “VÁ EMBORA” e entrando dentro no local.

- Me escuta, por favor... – o garoto pedia.

Sentia-me dilacerada. Meu coração batia desesperadamente dentro do meu peito, querendo sair numa forma de escape. Minhas costas encostadas à porta faziam eu me arrepiar cada vez mais, e um frio apoderou-se de uma forma tão rápida do meu corpo que eu não consegui fazer nada para combatê-lo.
batia na porta também de uma forma desesperada, mas ao mesmo tempo delicada, praticamente ao lado da minha cabeça.

Here we are lying here,
Aqui estamos nós, mentindo aqui
It's our last final goodnight,
É o nosso último boa noite
Just because it feels so good,
Apenas porque parece tão bom
We're used to pretending we're alright,
Estamos acostumados a fingir que nós estamos bem
Too many locks, too many cries,
Muitas fechaduras, muitos pecados
Too many tears, too many lies,
Muitas lágrimas, muitas mentiras
Too many barriers
Muitas barreiras
Oh, just too many barriers.
Ohh, apenas muitas barreiras

- ... – ouvi-o chamar meu nome novamente do lado de fora do recinto.

Empurrei minha cabeça para trás, batendo-a com força na madeira da porta. Minhas mãos estavam presas atrás do corpo, segurando a chave e a fechadura para que ninguém entrasse onde eu estava.
Lágrimas espessas caíam dos meus olhos, e eu sentia uma dor pungente no meio do peito. Estava tudo errado. Apaixonar-se era para tolos. Você se entrega àquilo e, numa hora para outra, seus sonhos são despedaçados. Seu coração é partido por causa de uma mentira, e você não consegue evitar os acontecimentos a seguir: choros, dores e a promessa de nunca mais amar alguém na vida para não sofrer novamente.
O pior de tudo era saber a mentira. Era saber que eu deveria ter ficado quieta no meu canto. Saber que eu e o deveríamos ter sido apenas amigos, desde o começo da história. Ele nunca iria namorar. Nunca iria se entregar para alguém e fazer esta pessoa sentir-se especial. Nunca iria ter um relacionamento com alguém.
Sentir a respiração do garoto praticamente na minha nunca estava me fazendo ficar tonta. As pontadas que surgiam cada vez mais no meu peito estavam ficando mais intensas, e o choro silencioso e controlado estava me fazendo perder as forças nas pernas.
De súbito, desabei, escorregando pela porta de madeira branca, não conseguindo mais ter controle sobre o choro e soluçando o mais alto que conseguia. Já não era possível enxergar a mais de um palmo a minha frente, e eu sentia meu corpo inteiro tremer.
Joguei as mãos no rosto, encolhida na porta, para que o choro não fosse tão evidente. Não deu certo, e eu mesma conseguia ouvir os meus soluços ressoando pela casa inteira.
Era tão horrível. Tão sofrido. Tão dolorido. Tão insuportável. Tão inaguentável. E o que piorava a situação era ouvir praticamente os mesmos soluços vindos de outra pessoa, do outro lado da porta.
Pela proximidade, deveria ter desabado também, ficando na mesma altura que eu e chorando pelo mesmo motivo que eu. Isso me fazia sentir tão péssima e tão desconfiada. Um relacionamento era a base de confianças, e eu havia agido como uma idiota. O meu problema era que eu colocava as regras de um relacionamento dentro do que eu tinha com o – que, relembrando, NÃO era um relacionamento. Tão tola.
E agora aqui estava eu, escorada na porta, trancada num banheiro, chorando que nem uma desgraçada. A dor alucinante no peito fazia eu me sentir meio grogue, e eu já não sentia oxigênio entrar nos meus pulmões de tão forte que eu soluçava. Chorei o mais forte que consegui, para aliviar tudo que conseguisse, de uma vez só. Não consegui continuar com isso, já que muitas vezes eu precisava respirar e dava fortes golfadas tentando saciar o meu pulmão.
Já não ligava para a dor de cabeça, para os tremores, para o frio, para a visão turva e para quem quer que estivesse ouvindo os meus murmúrios. Eu precisava chorar. Precisava extravasar toda dor que havia sentido e que sentia, como nunca havia feito antes. Era tanta coisa acontecendo.

Muitas fechaduras.
Muitos pecados.
Muitas lágrimas.
Muitas mentiras.
Muitas barreiras.

Capítulo 31

Não sei quanto tempo passou, mas, quando fui perceber, havia dormido ali mesmo, no chão congelado, encostada na porta de madeira do banheiro.
Sentia meu rosto inchado, já que não consegui abrir direito os olhos. Apesar desse sentido não funcionar, assim como o tato (minha pele estava praticamente congelada), o olfato (era impossível respirar direito e não sabia por que, talvez fosse por causa do choro descontrolado de horas anteriores) e o paladar (não tinha como utilizar esse sentido no momento), minha audição estava muito bem apurada.
E acho que foi por causa dela que eu acordei, já que tinha ouvido baixos murmúrios do outro lado da porta. Parecia a Mary Jane falando com o , que continuava no local, exatamente igual a mim.

- Vamos dar uma volta, , você ‘tá encostado nessa porta já faz quase quatro horas... – ouvi a voz da ruiva num tom muito baixo.
- Não importa, eu preciso explicar pra ela tudo o que aconteceu... Ela entendeu tudo errado – ouvi a voz do num tom mais baixo que a da Mary Jane. Sua garganta parecia raspar conforme as palavras saíam de sua boca. Eu nunca havia presenciado algo assim.
- Eu sei que a pode ser antecipada demais algumas vezes, mas agora nem ela e nem você vão conseguir se entender.

Ouvi um resmungo baixo por parte do garoto, enquanto tentava bloquear a minha mente para não ouvir mais nada do que estava acontecendo do outro lado. Mais uma vez, tudo o que eu consegui fazer não serviu para muita coisa.

- , LEVANTA DAÍ AGORA! – agora a menina berrava e eu percebi alguém caindo no chão. Ela deveria ter puxado-o com tanta força que o garoto poderia ter se desequilibrado. – , por favor, ARRANQUE a do banheiro enquanto eu cuido do .

Ouvi a porta da frente bater fortemente e a Mary Jane gritando. Tentei dar um sorriso, já que aquela fora a última vez que tinha visto o , mas não consegui. Como uma coisa podia ser ao mesmo tempo tão boa, mas tão ruim?

- ? – ouvi a voz calma do outro lado da porta, e ele dava algumas batidas delicadas na madeira. – Abre a porta, por favor?

Não estava pronta para sair ainda. Foi por isso que fiquei o mais silenciosa possível para que ele pensasse que eu tivesse pegado no sono, mas não deu certo. Eu sou tão óbvia assim?

- , você não está dormindo coisa nenhuma. Quer, por favor, abrir a porta? A Mary Jane saiu com , vai ficar tudo bem.

E não havia risco nenhum de eles voltarem tão cedo. Daria tempo de eu me trancar no quarto de hóspedes ou até mesmo no banheiro e ficar durante dois dias, que era o tempo que faltava para a minha viagem maravilhosa. Na verdade, era a minha viagem de fuga, mas quem é que liga para isso? Pelo visto, todos ligam.
E foi então que eu decidi abrir a porta. Não sei como consegui levantar, já que minhas pernas estavam trêmulas e doloridas pelo tempo que eu havia passado encolhida no chão. Observei os olhos de se arregalarem quando me viu, e dei um sorriso murcho.

- Meu Deus, você está horrível.

Apenas dei de ombros, não me importando com muita coisa. Eu queria era que os dois dias passassem voando, que eu ficasse trancada e sozinha no quarto, sem ninguém para me atormentar.
Antes que eu pudesse falar alguma coisa, senti me pegando delicadamente pelas mãos e me puxando para o que eu julguei como seu quarto.
Colocou-me sentada em sua cama e saiu do local me dando um olhar intimidador, então eu só consegui balançar os pés freneticamente para frente e para trás enquanto observava as minhas unhas e tentava esquecer o que havia acontecido horas mais cedo. Estava tudo machucado, tudo tão dolorido e frágil. Era o que a minha mãe sempre dizia: ”Na vida, todos irão te machucar, mas só você poderá decidir por quem realmente vale à pena sofrer.” Valia à pena sofrer por alguém que eu nem sabia que podia amar?

- Beba isso. – O moreno me assustou, oferecendo um copo de água e parando em minha frente assim que chegou ao quarto novamente.

Tive vontade de responder algo, mas não consegui. Apenas peguei o copo e, dessa vez, os meus olhos focaram-se neste objeto, enquanto sentia meus pés baterem irritantemente na madeira de baixo da cama.
Não tinha sede. Não tinha fome. Não tinha sono. Não tinha vontade de fazer nada, simples assim. Só queria ver a minha mãe o mais rápido possível. Acho que existia uma pequena parcela de culpa martelando na minha cabeça por ser tão teimosa e não querer enxergar as coisas como elas realmente eram.

- Você pode dormir aqui no meu quarto hoje. Eu vou trazer suas coisas para cá – ouvi o garoto dizer e ele se retirou mais uma vez do local, acho que para buscar as minhas malas.

Observei a água estagnada no copo em minha mão, enxergando o meu próprio reflexo nela. Era bem pior do que eu imaginava.
De uma hora para outra, ver aquilo, lá, me causou uma angústia tão enorme que eu senti que precisava colocar para fora. De uma maneira ou de outra, não aguentava ficar desse jeito. Eu já tinha gritado, explodido, me mudado e chorado, mas nada tinha adiantado. Involuntariamente, senti algo revirando no meu estômago e fiz questão de correr para o banheiro do , já que estamos falando de uma suíte.
Coloquei o copo desajeitado na pia do banheiro enquanto corria para o vaso, sentindo tudo que eu havia comido – o que não era muita coisa - voltar pelo mesmo lugar de onde viera.

- , cadê voc... – ouvi a voz de me chamando no quarto enquanto eu sentia a minha garganta pegando fogo ao colocar tudo aquilo para fora. Uma pequena definição de tudo aquilo: comida, sofrimento, dor e angústia.

Percebi quando ele correu até mim e tirou todo o cabelo que estava na minha testa suada.

- ... – tentei falar, mas ele fez que não com a cabeça, ainda segurando meu cabelo para trás, enquanto eu fazia uma força fora do normal para parar de vomitar.
- Termina com isso, por favor, e depois você fala. – Deu um riso frustrado ao tentar me animar.

Respirei fundo e tentei visualizar meu estômago parando de remexer, embora não fosse isso que estivesse acontecendo. Meus olhos estavam tão doloridos e fechados que eu percebi algumas lágrimas caindo deles devido ao tremendo esforço que eu fazia.

- ‘Tá melhor? – o garoto me perguntou depois de um tempo. Respirei fundo e acenei com a cabeça positivamente, enquanto ele me ajudava a levantar e me levava até a pia. – Lava a sua boca e toma um pouco de água, vai melhorar.

Acenei com a cabeça mais uma vez, tentando não me concentrar na garganta ardendo e nas lágrimas secas que estavam embaixo de meus olhos. Após lavar a boca, peguei a copo de água que estava na mão do moreno e dei pequenos goles, sentindo minha garganta aliviar da queimadura devido ao suco gástrico.

- Você precisa deitar, vamos, – ele me chamou por aquele apelido e eu apertei os olhos, evitando que mais lágrimas caíssem.

me ajudou a chegar à sua cama de casal sem que eu trombasse em nada e me colocou deitada.

- Obrigada – foi o que consegui dizer enquanto ele me dava um beijo na testa e se sentava ao meu lado na cama, olhando no meu rosto. Enrubesci mesmo não querendo com tal gesto.
- , você não pode ficar assim – ele começou a falar, e eu senti vontade de desabafar tudo com ele.
- Eu sei. Mas não tem como não ficar – respondi baixo, já que minha garganta ainda doía.
- Quer me contar o que aconteceu? – perguntou, e eu afirmei com a cabeça.

Os minutos que se seguiram foi como se tivessem colocado pilha atrás da minha cabeça para que eu falasse descontroladamente. Contei o que eu havia feito, o que eu havia lido e a mentira. Em seguida, praticamente me perfurou com aqueles olhos acinzentados perfeitos e disse:

- Se o mentiu, ele teve uma boa razão para isso.
- Não justifica – foi o que consegui responder assim que senti pegando na minha mão.
- Olha, , eu conheço o , ele é meu melhor amigo faz não sei quantos anos. Ele mudou depois que você chegou aqui, e eu sei disso melhor do que ninguém. Sei que não justifica o que ele fez, mas você não está tirando conclusões precipitadas?
- Conclusões precipitadas, ? – perguntei, começando a ficar brava. – Eu leio duas mensagens comprometedoras de duas garotas diferentes para ele, e no mesmo dia ele mente para mim! O que eu posso pensar?
- Uma coisa eu te digo: você mesma conheceu a Chelsea. Sabe que ela e o nem namoravam, mas se tivessem qualquer relacionamento, já teriam terminado. Você mesma sabe disso –reforçou novamente, e eu percebi que tinha sentido. A Chelsea era o tipo de garota que se prendia a garotos até arranjar outro melhor. Como eu podia ter acredito “nela” ao invés do meu melhor amigo e amor? Às vezes eu consigo ser tão retardada.
- Mas isso não significa que a out... – e eu fui cortada mais uma vez.
- Não faço idéia de quem seja Emma, mas nada vai se acertar se você não tiver uma boa conversa com ele.
- Não quero conversar com ele. – Virei de lado emburrada e fechei os olhos.
- , desculpa estar sendo grosso... – ele falou passando a mão nos meus cabelos exatamente igual ao que o meu pai fazia. – Mas é a verdade. Você só vai se acertar com ele se conversar. Não adianta fugir disso.
- Eu quero dormir, , se você não se importar – falei ainda com o rosto virado, e senti o garoto soltar um muxoxo. Aquelas palavras dele estavam pesando na minha cabeça muito mais do que eu queria.
- Pode ficar o tempo que precisar. – Ele deu uma risadinha e senti seus lábios tocando os meus cabelos. – Durma bem, .

Senti quando ele levantou-se da cama e foi em direção à porta para me deixar sozinha. Senti-me uma estranha completa, além de folgada. Eu estava na casa dele, no quarto dele, usando a cama dele e ainda falando grosso com ele. Idiota, .

- ? – chamei, virando-me para a porta e vendo o garoto voltar para me olhar. – Pode me trazer um papel e uma caneta, por favor? – ri com o meu pedido, e ele também.
- Claro. Eu já venho – ele disse e fechou a porta novamente quando eu gritei mais uma vez.
- ? Obrigada por tudo – falei sorrindo, e percebi-o sorrindo e acenando com a cabeça enquanto fechava a porta decididamente.

Um tempinho passou e eu formulei algumas palavras na minha cabeça. Odiava escrever qualquer coisa, fossem textos, músicas, frases ou histórias. Entretanto, nesse momento, senti as palavras corretas vindo na minha mente e, ao invés de vomitar para soltar tudo o que eu estava sentido, preferi escrever. Além do mais, quando você tem vontade de falar alguma coisa na cara de uma pessoa, mas não tem coragem para isso, o que você faz? Escreve. Exatamente. E foi por isso que eu peguei o papel e a caneta que o havia colocado em cima da cômoda e escrevi:

“Chamar alguém de gordo não te deixa magro. Chamar alguém de burro não te deixa inteligente. Chamar alguém de feio não te deixa mais bonito. E me dar uma felicidade irreal te fez mais feliz?” Eu só não sabia que iria me arrepender de ter escrito isso, alguns dias depois.

~~

Que droga é essa que ‘tá mexendo no meu bolso e me acordou do meu sono profundo?
E foi assim que eu acordei, pela milésima vez ao dia. Ou assim eu achava. Não sei se vocês perceberam, mas depois que o bagunçou a minha vida, eu tenho me perdido no tempo e dormido nos horários errados. Digo, era a terceira vez que eu dormia hoje, não era? Sabe-se lá.
Algo irritante incomodava o meu ouvido e o meu bolso, e eu fiz questão de levantar, dando de cara com o relógio de cabeceira do marcando 21h12. Aproveitei para observar a data também e... MEU DEUS! Eu dormi um dia inteiro! Isso me assustou de verdade. Amanhã eu voltaria à França!
Depois de algum tempinho eu percebi o que fazia o barulho escandaloso e vibrava no meu bolso: meu celular, que eu havia esquecido que estava ali.
Levantei-me da cama num pulo, correndo de um lado para o outro e tentando tirar o aparelho do bolso jeans velho.

- Alô? – perguntei desesperada, andando de um lado para o outro. Era mais uma mania.
? – a pessoa do outro lado perguntou.
- Pai! – praticamente gritei. Fazia um bom tempo que eu não falava com ele.
- Tudo bem, pequena? – ele perguntou carinhoso como sempre.
- Tudo indo, né, pai! E ai? Como está o frio? – perguntei rindo observando a minha meia bater no chão de madeira do quarto do namorado da MJ enquanto eu andava.
- Tudo uma maravilha! Você deveria vir para o Canadá, . É um país extremamente agradável! – ele disse e eu ri.
- É, pai, eu adoraria ir, mas tenho planos para outros países por enquanto. – Eu dou risada da minha própria desgraça, isso pode ser considerado normal?
- Ah, isso o que eu queria falar! Semana que vem eu pensei em fazer uma visita pra você, sabe como é! Ver como andam as coisas aí em Londres e ver a minha filha linda – ele disse rindo e eu congelei involuntariamente. Agora eu observava o meu pé no meio de um desenho de estrela no tapete do , pensando como explicaria para o meu pai que dali uma semana eu já estaria na França. – ? O que foi? Não gostou da ideia?
- Oi, pai! – disse esboçando um falso sorriso, mesmo sabendo que ele não podia ver. – É que... Eu estou voltando para a França amanhã.
- O quê? – a voz do outro lado soou preocupada.
- É, pai... Mas não conta para a mamãe! É uma surpresa, então ela não pode saber. – Mais um sorriso falso enquanto observava meus pés na estrela do tapete.
– Por que isso agora, ? Não era você que estava morrendo de vontade de ficar por aí?
- Eu sei, pai... Mas eu estou com saudades. Acho que eu percebi que não consigo viver sem vocês. – Dei uma boa gargalhada – falsa, obviamente. - Mas... – Tive que interrompê-lo antes que ele exigisse explicações demais.
- Nada, pai. Não conta nada para a mamãe, ok? Tenho que desligar agora. Amo você.

Não esperei que ele respondesse, desligando o celular e lutando contra as palpitações apressadas do meu coração.
Ouvi alguém gritando de longe e corri para fora do quarto, a tempo de ouvir a porta da sala batendo fortemente.

- O que aconteceu? – perguntei tentando normalizar a respiração. Olhei a minha mão, e ela estava em cima do coração. Isso não era um bom sinal.

Peguei Mary Jane olhando piedosamente para , que devolvia o olhar. O que estava acontecendo por ali?

- Nada – o garoto respondeu e saiu do local apressado, enquanto eu me peguei olhando para Mary Jane.

Os orbes verdes dela foram perfurados pelos meus, e observei a menina mordendo o lábio numa forma nervosa. Enganchava uma mão na outra, demonstrando mais uma vez seu nervosismo, enquanto eu tentava entender o que diabos se passava por ali.
A ruiva acenou a cabeça e seguiu para o mesmo lugar que o namorado, enquanto eu deixava meu corpo cair no sofá, a mão apertando o coração para que ele não inchasse e começasse a doer.
De uma coisa eu estava certa: ele sabia.

Capítulo 32

Há momentos na vida em que sentimos tanto a falta de alguém que o que mais queremos é tirar essa pessoa de nossos sonhos e abraçá-la. Não preciso dizer que essa frase encaixa-se perfeitamente a mim, certo? Certo, eu realmente não fazia ideia do porquê de eu ter sonhado com o essa noite. Uma pequena definição de sonho:

1. Ilusão, fantasia, devaneio, utopia; 2. Coisa vã, fútil, que se esvai; 3. Ideia acalentada, aspiração, ideal; 4. Desejo intenso e vivo.

Agora a minha definição de sonho: Algo que muitas vezes pode-se tornar real, uma coisa boa. O contrário de pesadelos. Sendo assim, leve só em consideração as definições 1, 2 e 4 - Eu acho.
Enfim, eu havia tido bons pensamentos com o , por assim dizer. Estava sentindo saudades dele. Saudades de ficar junto dele. De conversar com ele. De rir com ele. De senti-lo fazendo carinho em mim. De... ok, chega. E isso não era nada bom nas devidas circunstâncias, já que eu estava meio balançada com o que o havia me falado. Agora, convenhamos, não havia nada nem ninguém que conseguisse tirar a minha ideia de voltar à França da cabeça. Tanto que o meu vôo sairia daqui a quatro horas.

- , você tem certeza que quer mesmo fazer isso? – Mary Jane me perguntava com uma das mãos brincando com a asa da xícara.

Estávamos todos – leia-se: Mary Jane, e eu – na mesa da cozinha, tomando um café extremamente quente que aquecia até os nossos ossos, para depois irmos ao aeroporto. Na verdade, a única pessoa que iria comigo era o , já que a Mary Jane odiava despedida e disse que não conseguiria aguentar ao me ver pegar aquele avião.

- Tenho, MJ – disse e depois mordi um pedaço do meu pão. Não conseguiria falar mais nada.

O tempo que eu demorei a tomar o café foi tão rápido que eu nem o notei passar. Quando olhei para o relógio, já era hora de ir ao aeroporto.

- Vou colocar suas coisas no carro, disse me olhando e pegando as minhas malas. Acho que ele queria deixar eu e a Mary Jane num momento privado, porque eu sei que iriam ter choros. Claro que teria.
- E então... – começou a garota, pondo as mãos para trás e olhando o chão.

Quis escorar-me na porta atrás de mim, para que se as minhas pernas falhassem na função de segurar o meu corpo, ela segurasse. Só que não deu certo, porque eu não conseguia ficar longe da Mary Jane. Eu teria muito tempo no futuro para isso.

- Você sabe que a França e a Inglaterra não são tão longe assim uma da outra, né?! – falei como quem não quer nada, observando meus dedos das mãos se enroscarem um no outro numa forma de aliviar a tensão.
- Sei – a outra respondeu, ainda olhando para o chão.
- E você sabe que vai poder me visitar sempre que quiser, né? – arrisquei novamente, não tendo coragem em olhar nos olhos da garota. Alguma coisa dentro de mim estava apertando cada vez mais, como se tirassem todo o oxigênio que estava à minha volta.
- Sei – ela respondeu monossilabicamente de novo, ainda olhando para baixo.

Cinco segundos depois, criei coragem e olhei nos olhos da minha melhor amiga. Eles estavam pequenos, a boca estreita numa linha fina como se ela estivesse engolindo o choro. Aquilo estava me matando por dentro, e eu mesma senti a minha garganta cheia de nós.

- Mary Jane, por favor! – implorei, agarrando as mãos da ruiva e tentando segurar o choro.

O que eu não consegui fazer, é claro. A garota levantou seus olhos extremamente verdes, cintilando por causa das lágrimas que estavam caindo pelo rosto angelical. Senti meu coração bombear sangue para todas as partes do meu corpo de um jeito tão violento que acho que afetou os meus olhos. Quando fui perceber, eles mesmos estavam totalmente inchados e vermelhos, deixando o meu rosto mais molhado do que se eu tivesse tomado um banho.

- Não vai, ! – A garota soltou as minhas mãos repentinamente para me puxar para um abraço.

Sabia que eu deveria ter me apoiado na porta. Sabia, porque agora eu não consigo comandar as minhas pernas. Nem as minhas mãos e os meus braços. E deve ser por isso que eles involuntariamente foram jogados nos ombros da ruiva.
Mary Jane soluçava no meu ombro. Eu soluçava no ombro dela também. Por que raios não havia outra possibilidade de parar esse sofrimento? Meu coração doía cada vez mais. Como se cada lágrima da minha melhor amiga caísse em meu coração e o cortasse de uma forma lenta e dolorosa, como se fosse uma faca de dois gumes. Quando acabasse o choro, o local inflamado iria se remendar. Mas não para sempre. Existem sempre aqueles momentos que faz com que toda a ferida dentro de você se abra. E eu sabia que não iria aguentar esse tipo de momento.

- Na-nãoo fala-la assim, Ma-mary... – disse soluçando.

A garota não respondeu. E eu também decidi não falar mais nada, apenas aproveitar esses últimos instantes de tanto sofrimento e despedida com ela.
Percebi nossas lágrimas se misturando, e acho que eu abraçava tão forte que nem conseguia respirar. Mas não me importava. Eu havia pegado o costume de de síndrome de abraços – mais uma vez eu aqui me lembrando dele – e aquilo me fazia bem. Abraço é um gesto tão bonito, que não tem explicação, mesmo eu querendo dar-lhe uma. Só com isso parece que você consegue sentir tudo o que a outra pessoa está sentindo, assim como ela entende sobre o que você está passando. É uma relação mútua de afeto, amor, carinho e respeito. O abraço faz com que você se sinta protegida e segura. E, por incrível que pareça, você sabe que aquela outra pessoa, ali, junto contigo e naquele momento, está sentindo o mesmo que você.

- ‘Tá doendo? – A garota afastou o rosto do meu e me segurou pelos ombros, apontando para o próprio coração.
- Muito – respondi com o fio de voz que tinha. Não queria mais evitar as lágrimas, elas caiam ininterruptamente sem que eu tivesse algum controle. Coloquei a mão no peito por cima do blusão. Sentia o dito cujo martelando com toda força através de mim, quente, forte e totalmente despedaçado. Parece que somos predestinados a perder as pessoas que amamos.
- Aqui também ‘tá doendo – ela respondeu dando um meio sorriso e soltou-se de mim. – Acho que você tem um vôo para pegar ainda hoje, .

Acenei com a cabeça enquanto ela limpava as lágrimas do rosto. Demorei um tempo para me recompor e, quando consegui, parei na porta, não tendo coragem de dar passos na direção do carro de .
Mary Jane balançou a mão num singelo tchau, preparando-se para sentar-se e chorar o resto do dia – exatamente igual eu faria. Não aguentei, correndo para seu abraço novamente, os olhos inchados e não me deixando enxergar um palmo a frente do nariz.

- Amo você, Mary Jane – disse apertando-a contra mim.
- Amo você também, . Promete que nunca vai me esquecer? – perguntou.
- Não tenho como – respondi abrindo um sorriso enquanto ela fazia o mesmo.

Cinco minutos depois, eu estava sentada no banco dianteiro do carro escuro de , respirando pesadamente e tentando fazer minha cabeça parar de rodar. O garoto, antes de acelerar, ficou me olhando. Seus olhos acinzentados estavam cabisbaixos, assim como os da namorada estavam, e eles não pareciam reluzir.
Não havia sol. Não havia chuva. Não havia céu azul e muito menos nuvens. O horizonte era apenas uma mancha sem cor, sem sentido, sem vento, sem nada. Totalmente vazio. Exatamente como eu estava me sentindo.

- Vamos embora, . – E foi assim que se seguiu.

Uma frase memorável: Acho que quando estamos perto do fim, começamos a pensar no começo.

~~

- Pode me deixar aqui mesmo, – falei sem expressão alguma enquanto o garoto parava no estacionamento do aeroporto que, por acaso, estava bastante cheio.
- Tudo bem, , eu espero dar o horário do vôo contigo. – Ele sorriu e abriu a porta do carro para pegar a minha bagagem no porta-malas.

Acenei com a cabeça e tratei de ajudá-lo, tentando não lembrar-me de mais nada.

Passamos lentamente pelas portas de vidro no local, a fim de nos distrairmos até dar o horário certo. Faltava ainda uma hora e alguns minutos, então eu e o decidimos beber um café para depois passar por todo o processo que se passa quando se vai viajar para outro país. E eu digo e repito: França e Inglaterra nem são tão longe uma da outra. Conversamos sobre coisas banais, até porque o estava mais preocupado em me fazer rir do que qualquer outra coisa. Ele sabia que eu estava sendo precipitada e que estava sofrendo, mas não conseguia tirar essa idéia ridícula da cabeça.

- Acho melhor nós irmos, . – Ele desviou o olhar do relógio de pulso para me avisar, enquanto eu acenava com a cabeça e me levantava da mesa.

Puxei a carteira para pagar o que havíamos consumido, mas o moreno fez um sinal de que iria fazer aquilo por mim. Sorri cúmplice, ignorando a dor forte que agora tomava conta da minha região peitoral. A hora de deixar tudo para trás havia chegado.
Passamos por toda parte burocrática e, minutos depois, me vi em frente ao corredor de embarque. me olhava com aqueles olhos acinzentados de um jeito fraternal, e a única coisa que eu consegui fazer foi largar a minha bolsa no chão e dar-lhe um abraço apertado. Não conseguia falar tudo o que queria para ele, mas acho que um gesto vale mais que mil palavras.
O garoto acenou com a cabeça, ainda apertando a minha cintura, enquanto eu só conseguia manter a boca fechada e me segurava para não chorar. A minha segunda e última despedida. Foi um milagre muito grande, já que as minhas lágrimas não haviam saltado dos olhos. Na verdade, não foi um milagre. Foram as palavras de que não me permitiram fazer isso.

- Sem chorar, , sem chorar – ele disse enquanto me soltava, e eu acenei com a cabeça, minha garganta doendo de tanto que eu segurava as lágrimas. – Você que escolheu isso, certo? – ele perguntou segurando as minhas mãos e olhando nos meus olhos, e eu apenas mexi a cabeça para frente. – Então não tem do que se arrepender agora. Além do mais, França e Inglaterra...
-... ficam uma ao lado da outra – completei enquanto sentia minha visão parar de embaçar e ele abria um sorriso estonteante.
- Exatamente. Você vai poder visitar a gente aqui quando quiser.
- ... – comecei revirando os olhos.
- Eu sei que o motivo de você estar indo embora continua aqui, mas você pode largar de ser bobona e vir dar um oi para eu e a Mary, né? – ele disse mostrando a língua e eu ri.
- Certo. Mas vocês também terão que me visitar – disse pegando a bolsa no chão e abrindo um sorriso murcho. A vontade que eu tinha agora era de abraçar o e nunca mais largá-lo.
- Acho que alguém vai querer ir junto comigo só para te ver. – Ele sorriu maroto e eu virei os olhos, entendo o que ele estava querendo dizer.
- Acho melhor eu ir agora – disse pegando a passagem da bolsa e ele acenou com a cabeça. – Obrigada por tudo, .
- Sempre aqui, pequena, sempre aqui.

Demos um último abraço e eu andei pelo corredor, que agora me parecia mais estreito, fazendo com que eu parecesse me sufocar. Dei um aceno para o garoto do outro lado, e ele respondeu do mesmo jeito.
“Volta pra lá agora, . Desiste dessa idéia. Perdoa o e pronto! Você acha que ele seria capaz de fazer aquilo com você? Depois de tudo o que vocês passaram juntos? ANDA, , ‘TÁ NA HORA DE VOCÊ SER MULHER, E NÃO UM SACO DE BATATAS!”
Era isso o que metade da minha consciência dizia. A outra metade falava algo mais ou menos assim:
“Por que você não anda mais rápido? Quer continuar nessa cidade e ver o cara pra quem você deu o coração te fazer de idiota? Ele fingiu ser seu amigo e depois fingiu te amar, e você continua desse jeito? Dê graças a Deus que você está indo embora, está na hora dele receber de volta tudo o que fez para você...”
E na verdade eu só queria que elas calassem a boca e me deixassem em paz, para eu poder pensar nas consequências dos meus atos só quando eu tivesse com a cabeça no colo da minha mãe, deitada na cama dela, chorando que nem uma retardada por ter sido tão estúpida.
Eu precisava de música no momento, e era isso que eu pensava conforme andava com as outras pessoas que iriam pegar o mesmo avião que eu. Entretanto, música aflorava o meu lado sentimental – sim, mais sentimental ainda – e eu não queria começar a soluçar na frente de estranhos, ainda mais num vôo. Sem contar que, quando chegasse ao meu destino, minha mãe perceberia meus olhos inchados e vermelhos e me perguntaria o que estava acontecendo, e eu não conseguiria mentir.
Esbarrei em algumas pessoas apressadas e subi uma escada, entrando no avião que me pareceu confortável. Meu coração começou a bater rápido involuntariamente.
As poltronas estavam organizadas de duas em duas e eram de um azul marinho estonteante, mas eu não reparava nelas enquanto andava até o meu local marcado. Minha cabeça estava mais centrada em evitar que meu coração pulasse do peito, e com ele os meus olhos e a minha garganta. Eu precisava ver o ao menos mais uma vez, e isso não era possível. Eu não poderia abdicar de tudo por ele, que havia me feito a mulher mais feliz do mundo e destruiu logo depois tudo o que havíamos construído.
Sentei na poltrona ao lado de um senhor, que apenas acenou a cabeça numa espécie de cumprimento. Joguei a bolsa ao lado do meu corpo, encostando a cabeça para trás e fechando os olhos. Eu precisava conseguir respirar sem chorar ou ter um surto.

“ - Claro! A minha melhor amiga é demais.” “-, você ‘tá muito gata. - Você também ‘tá muito bonito .” “Eu amo você.” “-, eu não vou estragar a sua noite! - Não ‘tá estragando!” “- Não é que você seja diferente, . É que não existe ninguém igual a você.” “- Amo você, . - Definitivamente eu te amo muito mais.” “- Você não pode me deixar chegar tão longe assim, ‘tá legal? - Posso saber por quê? - Porque depois eu não sei se vou conseguir parar.” “- I'm really falling for you.” “- Eu acho que te amo. - Eu acho que é recíproco.”

Droga de vida. POR QUE ESSAS COISAS ACONTECEM COMIGO? POR QUE EU ESTOU ME LEMBRANDO DISSO AGORA? Eu vou é me jogar do avião sem pára-quedas assim que ele estiver no alto, isso sim.

- Por que está chorando, criança?

Criança? Onde? Quem falou isso?
Abri os olhos e percebi o senhor ao meu lado me olhando preocupado. Ele havia me chamado de criança? E o principal: havia perguntado por que eu estava chorando. Definitivamente ele não estava falando comigo.

- Eu? Eu não estou... – Mas parei a frase na metade assim que coloquei as mãos no meu rosto e o percebi molhado.

Era realmente muito divertido. E sim, foi irônico. Limpei as lágrimas com um pouco de raiva, atraindo mais olhares do senhor ao meu lado. Tentei respirar fundo, mas estava difícil com a minha garganta. Um nó tinha se alojado na mesma, então não dava para eu fazer alguma coisa.
E acho que a minha falta de respiração estava afetando o coração, ou vice-versa. Porque ele parecia estagnado dentro de mim, ou pulando tanto que eu não o sentia mais. Por que depois de TUDO ele ainda continua desse jeito?

- !

Eu estava com vontade de morrer, e foi por isso que eu fechei os olhos: para imaginar a minha morte. Tudo o que eu havia passado nesse último ano estava voltando à minha cabeça, e isso não era nada bom. Principalmente os momentos felizes.

- !

E eu ainda conseguia ouvir a voz do na minha cabeça. Será que ele não se cansava de fazer o meu coração estatelar e as borboletas baterem asas no meu estômago de forma preocupante?

- !

Ele não cansava de fazer a minha respiração ficar afetada? E o meu corpo tremer só com o toque dele? Ou a minha pele se arrepiar só com ele sussurrando no meu ouvido? E por que a voz dele ‘tá ecoando na minha cabeça, eu fiquei louca e ninguém me avisou?
Decidi abrir os olhos, jogando as mãos no colo, nervosa. “Que gritaria é essa?” , pensei. E foi então que eu sabia que iria ter um infarto.
Não prestava atenção à minha volta – mesmo tendo a impressão de que havia alguns seguranças na porta do avião, que não era tão longe do meu assento -, já que um par de olhos extremamente , tentadores, penetrantes e profundos estavam grudados ao meu rosto.
Abri e fechei a boca várias vezes, não sabendo o que falar ou como agir.
O rosto vermelho e a respiração ofegante de me indicavam que ele havia corrido bastante para estar onde estava, e os seguranças na porta de braços cruzados olhando para gente mostravam que o garoto não havia brigado para estar ali, na minha frente.
E eu não sei o que meu deu. É sério. Acho que eu estava tão drogada no perfume dele e me perdendo naqueles olhos que eu não percebi a água caindo dos meus olhos – algo mais conhecido como lágrimas. E elas não paravam de cair. E estávamos os dois ali, parados, com o avião inteiro olhando para gente devido à agitação.
E foi quando ele agachou no corredor ao meu lado e segurou a minha mão, ainda ofegante, que eu pirei. Meu estômago começou a ter um ataque nervoso, ao mesmo tempo em que meu coração voltou a bater meio que de uma hora para outra.
O passou a mão no meu rosto, limpando as minhas lágrimas involuntárias com o indicador e juntando as nossas testas. Soltei um soluço alto, não conseguindo evitar a minha pele de arrepiar com o toque inesperado.
Aproximou sua boca da minha e me deu um selinho demorado, ao mesmo tempo em que eu não sabia o que fazer com as minhas mãos. Estava tudo de cabeça para baixo, eu não sabia o que fazer e muito menos como reagir. Ele não sabia os efeitos que tinha sobre mim, por acaso?
Eu sabia o que ele tinha feito, mas eu simplesmente o amava. Não conseguia mudar isso. Mas eu precisava tentar. Ou eu precisava parar de ser cabeça dura e perceber que aquele cara na minha frente me amava e queria ficar comigo. Afinal, ele estava ali para quê?

- Não vai embora. Por favor – ele implorou quando desencostou nossas bocas, mas ainda assim tocando nossos narizes. Ele olhava no meu rosto e parecia me desvendar por completa, como se fôssemos predestinados a estar juntos.

E foi por causa de toda essa confusão que eu não liguei mais se meus soluços estavam altos e se estava fazendo um escândalo. Eu só queria ficar com ele, queria que ele me perdoasse e ao mesmo tempo pedisse desculpas... Eu não sabia o que queria, pra falar a verdade. Eu estava em desvantagem. O mexe comigo de uma forma que nenhuma outra pessoa consegue. Ele pisoteia meu coração. Ele me faz chorar. E ele consegue fazer com que eu me sinta a mulher mais amada do mundo.
Apenas fiquei olhando aqueles olhos , sem saber o que falar. Não pensava, não respirava e o coração não batia corretamente.
Um verdadeiro amor é como uma verdadeira amizade: fácil de começar, difícil de terminar e impossível de esquecer.

Capítulo 33

(sugestão de música: McFLY – All about you) ps: repitam até acabar o cap :B

Eu não conseguia me mexer. Não conseguia falar, muito menos pensar. As lágrimas simplesmente caíam dos meus olhos sem que eu tivesse controle sobre as mesmas, e eu não sentia nada - apenas ficava sentada com a minha cara embasbacada.

- O que você está fazendo aqui? – me ouvi perguntando depois de algum tempo, enquanto soltava as mãos dele e entrelaçava os próprios dedos em cima do meu colo, nervosa.

Ele deu um riso cabisbaixo, envergonhado e ao mesmo tempo triste, andando agora agachado para ficar na minha frente entre o banco frontal e as minhas pernas. subiu as mãos que estavam em seus joelhos - para poder se equilibrar - ao meu rosto, limpando as minhas lágrimas com o polegar.
Um silêncio permanecia no local, e toda a população de pessoas que se encontrava dentro do avião havia parado até de respirar, voltando toda a atenção para mim e para o . Porque não é todo dia que um cara invade um avião com ajuda dos seguranças. E impede esse mesmo avião de decolar, claro.
Tentei desviar o meu olhar para qualquer lugar sem ser os olhos do garoto, mas meio que foi impossível. Estava nervosa, a dor batia forte em meu coração e se esvaía logo depois; sentia que estava suando frio, com a garganta seca; a cabeça rodava enquanto eu tentava assimilar o que estava acontecendo no momento.

- Eu não vou deixar você ir embora assim tão fácil, . – Deu um sorriso torto que eu tanto amava e desceu as duas mãos que estavam no meu rosto, passando pelo meu pescoço, braços, até chegar às minhas mãos frias repousadas em cima do joelho, e apertou-as delicadamente.

Desviei meu olhar de seu rosto, tonta com tanta agitação. A parte interna da minha boca já deveria estar toda machucada de tanto que eu mordia, por causa do maldito nervoso. Por que ele tem que causar essas sensações em mim, HEIN?
Observei o senhor ao meu lado me olhando com ternura; o piloto à frente do avião com os braços cruzados e um olhar duro; os seguranças na porta com os olhos reluzindo por causa de todo alvoroço apaixonado e desesperado.
Só a minha garganta que permanecia seca e meus pensamentos estavam confusos e turvos, exatamente como a minha visão.
Algo na minha cabeça já sabia por que estava ali, na minha frente, tentando me impedir de ir para longe. O motivo que estava me fazendo ir embora me pedia para eu ficar. Como eu conseguiria lidar com isso? Senti meu estômago se remexendo desconfortavelmente dentro de mim e eu senti que iria vomitar, mesmo não sendo hora apropriada. Engoli isto, por mais nojento que seja.
Antes que eu pudesse falar ou fazer qualquer coisa, os movimentos do garoto chamaram a minha atenção. Ele remexia-se desconfortavelmente, tentando tirar algo do bolso.
Um papel reluziu em sua mão, e eu não enxerguei mais nada. Isso porque eu sabia o que era aquilo, e estava machucando por dentro de uma forma tão intensa que eu só consegui ficar arrependida, além de me sentir uma idiota. Uma palavra: frustrante. A revolta, a angústia e o arrependimento agora estavam sendo extravasados através do meu choro não tão mais silencioso.

- Não me fez mais feliz – continuou e eu percebi que tinha magoado-o. Notei suas mãos juntando-se novamente as minhas, fazendo o papel maldito ficar entre nossas palmas. – Porque não foi uma felicidade irreal, e muito menos uma ilusão. – Ele apertou ainda mais as nossas mãos, juntas, fazendo-nos amassar o pequeno papel e fazendo-o cair no carpete refinado do avião.

As lágrimas agora caíam livremente pelo meu rosto, me fazendo fechar os olhos com força e jogar as mãos no rosto completamente molhado e melecado.
Estava totalmente arrependida de ter desconfiado dele. Eu era a culpada pelo meu próprio sofrimento por ter sido tão ridícula e não ter acreditado em tudo o que havíamos passado juntos. Não só o fato de termos passado uma noite juntos ou de termos nos beijados algumas – ok, muitas – vezes. Mas pelo fato de ele ter sido a primeira pessoa que eu havia conhecido quando cheguei ao país, aquele que havia me feito sentir bem aconchegada e em casa, aquele que limpou as minhas lágrimas e me ajudou quando eu precisei, aquele que de melhor amigo fofo virou o amor da minha vida. Minha vontade agora era de bater a minha cabeça em um lugar pontiagudo mais próximo. Ridícula. Idiota. Estúpida!
Era bem feito eu não estar conseguindo respirar e meu peito doer loucamente. Daria para cortar o meu orgulho com uma faquinha de plástico daquelas que são dadas de graça quando você compra aquele rocambole gostoso de chocolate. Somente os meus soluços abafados eram ouvidos, e eu não conseguia fazer outra coisa a não ser continuar fazendo ressoar esse barulho por todo o local.
Havia aprendido do pior jeito o quanto eu precisava do e o quanto ele me fazia bem. Podíamos não estar predestinados a ficarmos juntos, mas todos os pequenos atos e sentimentos eram válidos e contáveis no vínculo forte que mantínhamos durante um bom tempo.
Meu coração agora batia novamente, todos os pedaços colados e colocados na ordem correta. Se ele estava aqui na minha frente, isso significava que ele ao menos se importa comigo. E esse pensamento me fez reluzir e quase abrir um sorriso, se a situação não fosse tão tensa e eu não estivesse me sentindo uma babaca.
Todas as vezes que ele havia tentando conversar comigo, eu o evitava, mas muitas vezes conversar é a melhor solução para todos os problemas. Não sei quem disse isso e se foram nessas palavras, mas a pessoa estava completamente correta.
Senti meus braços sendo colocados para longe do rosto ao mesmo tempo em que içava meu corpo. Eu estava presa entre o meu banco e o corpo do garoto, e estávamos agora os dois de pé. E eu não conseguia parar de chorar.
Cada milímetro dos meus músculos estava grudado aos dele. Todos os ossos, cartilagens e membros – eca, nojento. Mas era verdade. Desde meus pés, joelhos, cintura e até a região peitoral estavam encostadas umas às outras.

- Não chora, por favor – o garoto pediu, fitando todo o meu rosto, enquanto as mãos repousaram nos meus ombros. – Eu amo você, – disse com os olhos estalando de tanta sinceridade.

teve que me segurar, se não eu caía. Se as suas mãos não tivessem corrido de encontro à minha cintura e me prendido entre o seu corpo, eu estaria novamente sentada e chorando na poltrona azul – e seria bem difícil me tirar dela novamente, visto que eu estava estarrecida.
Joguei minhas mãos em seu pescoço, querendo findar aquela pequena distância que existia entre nós dois.
Senti meu coração batendo tão forte dentro do meu peito que eu pude jurar que todos estivessem ouvindo também. As batidas e, é claro, o meu choro alto, soluçante e descontrolado. POR QUE EU NÃO CONSEGUIA AGIR DE MANEIRA PENSÁVEL PERTO DELE? POR QUE ELE ESTAVA CONSEGUINDO FAZER EU ME SENTIR A PIOR PESSOA DO MUNDO? SERIA PORQUE EU ESTAVA PERDIDAMENTE APAIXONADA POR ELE E NÃO VIA UM FUTURO SEM QUE NÓS DOIS ESTÍVESSEMOS JUNTOS COMO UM CASAL FELIZ?

- ... – Depois de a minha cabeça pifar, foi só isso que eu consegui falar. Na verdade, foi isso que eu gemi enquanto afundava minha cabeça em seu pescoço descoberto, drogando-me com o seu cheiro.

Percebi minhas lágrimas molhando a camiseta do garoto ao mesmo tempo em que ele deslizava as mãos pelas minhas costas num carinho gostoso, trazendo um calor inesperado com ele.

- Desculpa, por favor, me desculpa, desculpa... – eram as únicas palavras que eu conseguia dizer, fungando alto em seu ouvido.

Estava com saudades de ouvir a voz dele cantando no meu ouvido; do seu toque que fazia a minha pele se arrepiar; do seu cheiro; dos seus olhos penetrantes e hipnotizantes focados no meu rosto; de sua mão encaixando-se perfeitamente na minha, como se fossem moldadas uma na outra; na curvatura do seu pescoço estrategicamente feita para eu poder apoiar o meu rosto nela; saudades de sentir o coração dele batendo na mesma sintonia que o meu, como se nos completássemos; dos lábios dele virados num sorriso que eu tanto amava; da respiração gelada e descompassada dele no meu pescoço exatamente como eu fazia com ele; do escrever “eu te amo” no meu braço; dele estar perto de mim, me ajudando, me entendendo, não desistindo de me fazer compreender e o principal: fazendo-me feliz.
O momento foi quebrado pela voz do comandante, um pouco enraivecido pelo vôo estar minutos atrasados e pedindo que todos sentassem para que pudéssemos partir.
Não sei quanto tempo ficamos lá abraçados, mas eu só conseguia ficar chorando no ombro do , enquanto ele afagava meus cabelos e dizia que estava tudo bem.

- Volta pra casa, . – Ele afastou o meu rosto delicadamente do ombro e o trouxe para perto do seu. – Por favor – pediu novamente.

As mãos dele estavam em meu rosto, sua boca tão perto da minha que eu me embriagava toda vez que sentia o hálito dele passando pelo meu rosto gelado. Fechei os olhos e as lágrimas que estavam acumuladas neles caíram de forma descontrolada, ao mesmo tempo em que eu colocava as minhas mãos por cima das dele em meu próprio rosto, a fim de não perdermos contato e ficarmos mais próximos. Era só desse jeito que eu conseguiria tirar todo o vazio e a dor que estavam incendiando o meu peito, dor da saudade, dor do arrependimento e dor da mágoa.
Esqueci como fazia para respirar, não acreditando no que estava acontecendo. Neste momento, eu sabia que ele pertencia a mim e que eu pertencia a ele, e nada nem ninguém poderia mudar isso.
Meus músculos se contraíram quando eu senti os lábios do garoto roçando de leve pelos meus, mas não incitando um beijo desesperado. Estava de olhos fechados, mas sabia que ele estava exatamente igual a mim. Eu só não entendia porque ele não me puxava logo para mais perto para matarmos as saudades, então decidi abrir os olhos – o que eu não deveria ter feito, já que eu fiquei ofuscada ao ver aquele olhar fitando o meu rosto.

- Desculpa ter mentido pra você... – o começou, agora mais longe do meu rosto, mas ainda tocando a minha pele.

Ele queria se explicar. Falar o que tinha acontecido de verdade. E eu NÃO podia deixá-lo fazer isto! O não precisava me dar explicações, porque agora eu enxergava como EU mesma havia sido idiota de não ter confiado nele.

- , não precisa explicar... – supliquei passando a mão em todo o seu rosto, querendo memorizar e sentir cada traço de sua pele. Tinha saudades de ficar desse jeito, grudada com ele. E não chorava mais, apenas sentia alguma coisa falhando dentro de mim devido à emoção.

fez com que não com a cabeça e impediu-me de continuar falando ao colocar o indicador suavemente por cima de meus lábios. Deu um sorriso estonteante e falou:

- Eu quero explicar.
- Desculpa interromper o momento ternurinha, mas o vôo já está atrasado e precisamos... – o comandante começou a falar, mas vários ‘shiu’ e pedidos de silêncio dos passageiros fizeram-no se calar.

Sorri torto para as pessoas numa forma de agradecimento, e elas entrelaçaram as mãos e olharam para mim e para o com os olhos brilhando. Também não fiquei olhando as que cruzaram os braços e reviraram os olhos, impacientes e de mau-humor.
O garoto apoiou os braços em meu ombro e me fez sentar na poltrona, enquanto o senhor ao lado saía do seu lugar e indicava o local para o sentar. E ele o fez, virando o corpo na minha direção – enquanto eu fazia o mesmo -, para depois começar a falar.

- Naquele dia que você me perguntou aonde eu ia, eu não fui ver o . Eu menti – ele começou e eu senti meus olhos encherem d’água pela milésima vez ao dia. – Mas foi por uma boa causa!

Ele se precipitou ao dizer e colocou a mão entre as minhas bochechas para que eu não chorasse. E eu estou fazendo o que posso, de verdade.

- Eu fui ver a Emma sim, igual você viu no celular – ele continuou falando e dessa vez eu não evitei as lágrimas. Por que ele estava explicando? EU NÃO QUERO SABER, CARAMBA! – Mas ela é minha prima, – ele falou e eu parei. Como? – Nós fomos praticamente criados juntos quando minha mãe saiu de casa, ela é como uma irmã pra mim – ele continuou falando e eu senti as lágrimas banharem meu rosto, enquanto ele ainda passava as mãos para evitá-las. – E eu fui encontrar com ela porque eu queria dar algo para você. Ela estava me ajudando, porque entende desses assuntos de jóias. – Ele deu um riso fraco e eu fechei os olhos com toda a força que consegui, tentando fazer com que ele me soltasse. O que foi em vão, claro.

Eu só queria que aquilo parasse. Eu me sentia uma completa idiota. Eu sabia que não deveria ter lido nada, eu fico tirando conclusões precipitadas. Completamente ridícula. Posso me bater agora? Por que ele ainda quer ficar comigo depois de tudo o que eu fiz? QUE DROGA DE VIDA!

- , olha pra mim – pediu tirando meu rosto das minhas mãos e sorriu daquele jeito que só ele conseguia. – Por isso que eu tive que esconder. Era uma surpresa.
- , n-não p-preci... – tentei falar, mas meus soluços me impediram e ele cortou a minha fala me puxando para um abraço.

Ah, aquela mania de abraços. Que saudades que eu estava daquilo! Meu coração parecia estar derretendo, escorrendo por todo meu peito e esquentando todos os outros membros. Ele batia de novo, mesmo eu ainda me sentindo uma completa estúpida e minha cabeça estando preenchida com muitas perguntas sobre mim mesma e sobre o .
Tentei falar alguma coisa, mas não consegui. Minha boca abria e fechava diversas vezes, mas nenhum som saía por ela. Eu pensava no que falar, mas sabe quando seu cérebro não manda mais sinais de comando para as suas cordas vocais e elas não balançam formando sons que conhecemos como voz? Era exatamente isso que estava acontecendo comigo.

- Eu te amo, . – Ele me soltou e me segurou pelo queixo, seus olhos perfurando os meus. – E eu não quero ficar com nenhuma outra garota. Eu não preciso de nada e nem de mais ninguém quando eu tenho você.
- E me tem para todo o sempre.

Foram essas palavras que saíram da minha boca, no instante em que eu as pensei. Não precisou de mais nada depois de ver o abrir um sorriso irradiante de felicidade na minha frente para eu jogar as mãos em volta de seu pescoço e apertá-lo com força.
Eu não estava mais ciente das palmas e os diversos gritos de todos os passageiros para nós quando os lábios do garoto roçaram delicadamente pelo meu, não antes de eu me afundar nos olhos dele.

- Eu amo você, . – E dessa vez as três palavrinhas mágicas vieram de mim.

Não sabia se era a primeira vez que as havia proferido, mas foi o que pareceu. E depois disso eu só senti as mãos do apertando a minha cintura numa tentativa infalível de fundir nossos corpos, enquanto sua boca estava grudada na minha. Quando a língua dele pediu passagem pelos meus lábios e eu os abri sem pudor algum, não pensei em mais nada.
Era quase um pecado não me perder no perfume que exalava do pescoço dele, e foi lá que eu deixei as minhas mãos, enquanto meus olhos estavam fechados e nossas bocas matavam todas as saudades que tinham uma da outra.
Eu não sabia o que ele tinha comprado da prima-irmã dele para mim, e não me importava mais nada. Eu confiava nele, no meu melhor amigo, no meu homem, no cara por quem eu estava perdidamente apaixonada e que fazia meu coração pulsar mais forte.
Todo aquele tempo que eu o havia evitado estava sendo recuperado só de sentir a mão dele na minha pele e deixar um rastro queimante por onde passava. Sentia-me febril, o calor que vinha da boca dele passava pela minha, atravessando meu pescoço e chegando ao que podemos chamar de coração.
E ele não estava mais quebrado e pisoteado.
Na verdade, ele não estava colado novamente. Ele sempre estivera inteiro, era só uma parte de mim que o sentia despedaçado. Como se fosse uma ilusão ou algum tipo de miragem.
Eu sabia que o nunca seria capaz de quebrar qualquer parte do meu corpo, mesmo no sentido figurado. Tudo bem, nunca é uma palavra muito forte. Se acontecesse alguma coisa, ele se reconstituiria. Entretanto, voltaria a bater novamente, porque a vida é feita de coisas assim. Nada é um mar de rosas, mas você tem que se acostumar com o fato de perdoar e ser perdoado. E, é claro, não tirar conclusões precipitadas sobre determinado assunto.
Quando a boca dele descolou da minha, eu ofeguei estarrecida com aquele ato. Ele continuava a sorrir para mim, e eu não consegui não fazer o mesmo quando senti sua mão passando pelo meu rosto agora não mais molhado.

- Eu não sei se é cedo ou se é tarde para te pedir isso... – Ele levantou-se da poltrona e foi para o corredor, agachando em seguida do meu lado. – Mas, dentro de mim, eu sinto que esse é o momento certo.

Ele puxou a minha mão, me fazendo levantar e ficar no corredor de frente para ele, ainda ajoelhado.

- Namora comigo?

Eu acho que perdi os sentidos àquela hora. Ele tinha MESMO comprado uma aliança de prata fofa que reluzia na caixinha de veludo preta e que estava estendida para mim ou era impressão minha? E ele tinha me pedido em namoro ou esse reviramento do meu estômago foi alguma coisa que eu comi e não caiu bem?
Antes que a minha mão começasse a suar demais e o coração bater em outras partes do corpo a não ser o peito, eu o fiz. Digo, eu não tenho como mudar o meu corpo, então o que eu senti foi uma lágrima caindo do meu olho esquerdo enquanto eu sorria que nem uma idiota. Meu olhar estava preso ao dele, e a única coisa que eu fiz foi dar um passo para frente e cair com tudo em cima do garoto.
Ele riu e eu fiz o mesmo, enquanto estava praticamente deitada por cima dele e beijava todas as partes possíveis de seu rosto, parando especialmente nos lábios. Às vezes eu consigo ser estupidamente romântica. Mas fazer o que se eu estava feliz?

- Acho que isso é um sim – ele disse rindo, fitando todo meu rosto.
- Isso é definitivamente um sim. – Deu um largo sorriso antes dos nossos lábios se juntarem mais uma vez em menos de dez minutos. E posso dizer que eu sentia falta daquilo.

Alguns gritinhos felizes foram ouvidos por mim e pelo , antes de uma voz que eu conhecia muito bem praticamente sussurrar no meu ouvido:

- Olha, eu sei que vocês estão se resolvendo, mas vocês vão embarcar ou não? Nós precisamos decolar, o vôo já está atrasado faz mais de meia hora.

Nós dois levantamos nervosos do chão, encabulados com a bronca que estávamos levantando do comandante – se é que eu podia chamá-lo assim.
Olhei para o resto dos passageiros e eles sorriam para nós, o velhinho que estava a pouco do meu lado com os olhos brilhando e com cara de quem não via algo romântico desse jeito fazia anos.

- Vamos para casa? – perguntou, estendendo a mão direita – onde reluzia uma aliança prata e grande que eu não sabia como havia parado lá – para mim.
- Eu já estou em casa. – Peguei na mão dele e sorri quando senti nossas alianças se tocarem. Ambos sabíamos que era apenas um símbolo, já que o que sentíamos não precisava de representações. Mas isso não importava, importava?

É claro que não. Essas coisas não te importam quando você está voltando para aquilo que podemos chamar de lar. Às vezes é muito mais proveitoso quando ficamos exatamente onde estamos.

Epílogo

Aqueles trajes não ficavam muito bem em mim. Na verdade, não ficavam bem em ninguém. Com eles, parecíamos todos iguais... Entretanto, de certa forma, naquele momento, éramos realmente iguais.
Arrumei o capelo - aquele chapeuzinho preto, engraçado e quadradinho - na minha cabeça para depois passar a mão pelo meu corpo a fim de ajeitar a beca escura.
Sentia-me estranha com aquilo. Parecia que tudo havia simplesmente acabado, e eu não estava pronta para ter uma vida longe do Ensino Médio.
Ver todos os meus amigos ali, ao meu lado, com sorrisos de satisfação no rosto por terem passado por mais uma etapa da vida, me fez sorrir também.
Mesmo com a convivência de apenas um ano, eu já me sentia incluída naquilo, como se todos fossem uma grande segunda família. Tudo havia passado tão rápido.
Voltei minha atenção a e Mary Jane, que conversavam animadamente perto do fundo de onde estavam tirando algumas fotos. Os olhos da ruiva estavam tão brilhantes e chorosos que eu tinha a certeza de que ela não havia conseguido disfarçar a emoção para o namorado, mesmo fingindo arrumar alguma coisa na lapela da beca dele.
O garoto, por sua vez, abraçava a menina pela cintura, rindo ao ver o quanto nervosa ela estava – já que não parava de falar. Seus olhos estavam de um cinza claro, chamativos e irradiando felicidade.
Perto das escadas estava Chelsea, impecavelmente linda e chamando a atenção de pelos menos 80% das pessoas do recinto. A jovem gargalhava alto e verdadeiramente com o garoto que estava à sua frente – e que, por acaso, eu não fazia a mínima idéia de quem era – e seus olhos pareciam derreter-se debaixo dos cílios longos e maquiados com rímel.
De súbito, senti que a loira havia se voltado para mim. Ela sorriu, como se fosse um pedido de desculpas, e eu fiz um aceno com a cabeça indicando que havia entendido. Para falar a verdade, eu não havia entendido muita coisa – leia-se: aquela mudança da popular do colégio em relação a mim -, mas preferi não pensar muito nisso. Afinal, uma hora ou outra as coisas têm que mudar, né?
O resto do pessoal também parecia emocionado. Não é todo dia que você se forma, certo?
Austin e Mark se dirigiam até a fila que estava sendo formada junto de Hillary, Lily e mais algumas garotas que eu não consegui identificar porque um ser alto, loiro e forte apareceu na minha frente, tampando a minha visão.

- ! – a pessoa exclamou, andando na minha direção de braços abertos.
- Jake! - Dei passos até ele e me encaixei entre seus braços, inalando uma quantidade alta do perfume que ele usava. Ai se aquele perfume não fosse dele...
- Boa sorte com seu discurso! – ele disse sorrindo enquanto me soltava.

Eu não me esqueci de falar que fui escolhida como oradora da turma, né? Pois bem, deve ser por isso que estou nesse estado de nervos.

- Jake! – alguém o chamou e o garoto virou o rosto, fazendo um gesto numa espécie de “já ‘tô indo”.
- A gente se vê! – ele disse risonho e eu abanei uma das minhas mãos para dar tchau, girando depois o corpo para poder achar aquela última pessoa importante...

Senti meus olhos sendo tapados delicadamente por duas mãos quentes e extremamente confortáveis. Com esse gesto, meu corpo parou de se movimentar e eu consegui dar um sorriso involuntário. Saber que aquela pessoa estava comigo e que – pelo menos por enquanto – não havia nenhum problema que nos impedisse de ficarmos juntos, me fez suspirar.

- E então, preparada? – a voz melíflua da pessoa soou pelos meus ouvidos, ainda me impedindo de ver. Como se eu precisasse daquele sentido para saber quem era.
- Nem um pouco – confidenciei sincera, sentindo as mãos do se alargar do meu rosto quando eu decidi virar meu corpo de frente para o dele.
- Você vai se sair bem – ele disse me puxando delicadamente pelo pescoço e me beijando suavemente nos lábios.
- Tenho certeza de que irei tropeçar quando estiver subindo ou descendo do palco – suspirei olhando-o, enquanto ele apenas soltou um riso e me abraçou pela cintura.
- Não fala besteira, – começou, enquanto apertava minha cintura com um sorriso pervertido nos lábios. – Você vai estar perfeita.

Sorri com ele e prendi meus braços em seu pescoço. Era tão bom saber que todas aquelas sensações que eu sentia quando estava com ele – tremores, enjôos, tonturas – ainda continuavam presentes. Depois de tudo o que havíamos passado, eu sentia que as coisas finalmente tinham dado certo para nós dois.
Tentei findar esses pensamentos para não me perder na conversa, mas foi difícil, além do mais quando ele insistia em ficar me olhando com aqueles olhos perfeitos. Por Deus, estávamos no meio de toda escola!

- E então, você vai estar lá para me apoiar se algo der errado? – perguntei prendendo o riso, nossos narizes se encostando enquanto tentava inutilmente puxá-lo para mais perto.
- Obviamente – ele respondeu sério, mas ao mesmo tempo confiante. E abriu aquele sorriso ofuscante de matar qualquer garota. E fazer o coração dela martelar mais forte do que pedreiro trabalhando em uma construção. Tudo bem, não foi uma comparação muito boa.

O que importa é que meus olhos se fecharam quando eu senti a mão do fazer um carinho na minha bochecha, tão delicado e ao mesmo tempo tão intimidador. Abafei um gemido quando senti meu lábio inferior preso entre os dentes dele e, quando estava pronta para juntar nossas línguas verdadeiramente, algo nos interrompeu. Algo não. Alguém.

- ENTREM NA FILA, AGORA! – foi o que uma moça baixinha e gorducha gritou quando passou exatamente entre mim e o .

Observamos aquele pequeno ser humano passar no meio de outros casais – atrapalhando as partes importantes do romance, se é que vocês me entendem – e organizar a fila de entrada para o salão, onde aconteceria a Colação de Grau.
Sorri para o meu namorado, dando-lhe um beijo na bochecha e correndo para o meu lugar, pronta para adentrar o salão e sentir toda a emoção que aquele momento me proporcionaria.

- Nós vamos nos formar, nós vamos nos formar! – Mary Jane disse dando pulinhos enquanto passava perto de mim.

Sorri e lhe fiz um sinal de positivo com os dedos enquanto ela levava uma bronca - da mesma senhora gorducha que me separou do – por ter desorganizado a estrutura da fila prestes a entrar.

Conferi o papel do discurso preso por dentro da beca e respirei fundo quando os primeiros passos foram dados em direção ao salão e as palmas dos convidados, familiares e educadores ressoavam por todo o local.
Era um sentimento novo que se apoderava de mim. Enquanto seguia a fila e notava todos os outros formandos sendo filmados, senti meus lábios se movimentarem num sorriso. Um sorriso de vitória. Não somente por agora ser uma universitária, mas também porque eu sabia que tudo o que eu havia passado desde o início do ano valera a pena. Parecia ontem que eu havia trombado no e perguntado onde era o hotel; depois a surpresa de conhecer Mary Jane e de morar com o meu mais novo melhor amigo – que se tornou o melhor namorado, apesar de todos os obstáculos que surgiram na nossa frente.
Uma imensa vontade de cair em lágrimas tomou conta do meu rosto, mas limitei meus pensamentos – e minha visão – em minha família. Minha mãe estava sentada um pouco mais atrás do meio do salão, trajando uma bela saia e uma refinada blusa branca de botões que combinava perfeitamente com seus saltos (sim, ela falou que compraria sapatos novos para a minha formatura!). Ao lado dela, meu pai um tanto quando bronzeado – ele havia passado um tempo no Caribe, acho eu – por debaixo do paletó e as calças sociais escuras. Era tão bom ver a família reunida novamente.
Duas fileiras à frente deles, estavam os pais de aplaudindo e conversando animadamente com a avó de MJ, seus cabelos não tão ruivos dançando no meio de toda aquela cabeleira preta e loira que inundava o resto do local.
Não consegui observar o pai ou a mãe da , e senti uma mão invisível apertar meu coração naquele momento. Sabia que ele tinha problemas com os pais, e que sua mãe o havia abandonado desde cedo, mas não esperava que isso refletisse tanto no presente.
Procurei o garoto com os olhos até encontrá-lo acenando feliz para um casal na ponta da platéia. Senti meus ânimos se levantarem, a mão invisível indo embora do mesmo modo que havia chegado.
Fiquei algum tempo inerte em pensamentos e, quando finalmente me dei conta, já estava sentada em uma das primeiras fileiras, esperando o momento em que a diretora pararia de falar e convidaria a oradora da turma – no caso, eu – à frente do palco para o seu discurso. Deus, eu estava tão ferrada.
Nem consegui formar palavras na minha cabeça e já estavam me empurrando na frente de toda aquela multidão de pais e o resto dos alunos. Senti minhas mãos suarem e comecei a engolir a saliva instintivamente – rezando para não engasgar com a mesma – enquanto agarrava o papel e era conduzida até o palco.
Flashes me cegaram e eu sabia que meu rosto estava exposto num telão para o resto da multidão. Cumprimentei com a cabeça os integrantes da mesa e me preparei no palco até me sentir capacitada a começar a proclamar o meu discurso.
Encostei a boca no microfone enquanto arrumava o papel com a escrita diante de mim. Instintivamente, as palavras saíram da minha boca tão facilmente que eu perdi todo o medo que havia se instalado em mim:

“- Boa noite a todos!
Acho que todos nós fazemos uma idéia porque estamos aqui, certo? Foi um ano cheio de mudanças e de novidades, e que nos colocou num lugar inimaginável. E esse colégio sempre terá uma parte de nós, já que foi graças a ele que surgiram tantas amizades e tantos momentos gratificantes. Foi um lugar acolhedor, que nos ajudou sempre que precisávamos, e que estará pra sempre em nossos corações devido ao seu significado – comecei, tentando lembrar-me de tudo que havia passado neste lugar, do início ao fim.
- Não se trata necessariamente de um final, mas sim de um novo começo, uma nova fase da vida, que não nos impede de lembrar de todos os momentos passados aqui, que com certeza nos deixarão saudades. Não importa da onde viemos ou quando viemos, e sim todo o tempo que passamos aqui, juntos. O quanto conhecemos e compreendemos dos novos amigos. Foram instantes de risadas, choros, trabalho duro e pura diversão, e que estarão sempre guardados em nossos corações. – Senti minha voz embargar, mas fui forte. A primeira vez que eu havia visto o veio na minha cabeça como uma reprise; eu fazendo-o cair da bicicleta sem querer; ele me indicando o hotel e aproveitando para fazer uma gracinha comigo.
- Foi aqui que descobrimos o quanto uma pessoa pode fazer a diferença e te ajudar, se você se importar. Tivemos a noção de que, mesmo estando nos lugares errados e nas horas erradas, aquele seu melhor amigo irá te surpreender da forma mais amável possível. – Senti algumas lágrimas se acumularem nos meus olhos, já que agora o que invadia a minha mente eram flashbacks do churrasco na casa nova de Mary Jane e , os momentos engraçados com os dois, com o Jake, com o resto das meninas e, principalmente, com o .
- Descobrimos que, mesmo quando queremos ir embora, há um motivo para ficar. E aquele motivo é o que te faz querer seguir em frente, te mostrando que tudo pode se transformar, basta você querer. – Senti uma lágrima teimosa escorrer enquanto visualizava Mary Jane chorando na minha frente, me abraçando e pedindo para que eu não voltasse para França. Lembrei de me acolhendo e me ajudando quando eu ainda estava brigada com o . Aquilo estava sendo mais difícil do que eu havia imaginado.
- Foram as amizades concretizadas aqui que nos mostrou o quanto você sentiria falta de todas aquelas pessoas, que choraram por você e zelaram pelo seu conforto, acabando com a sua timidez nos primeiros dias. Aquelas que lhe mostrou que inimigos podem se transformar em colegas, que desconhecidos podem se tornar amigos e que esses últimos ainda podem se tornar muito mais que melhores amigos. – Meu olhar voltou-se completamente ao , que estava com um sorriso resplandecente nos lábios e os olhos brilhando. Era graças a ele que eu estava ali firme e forte, na Inglaterra, terminando o Ensino Médio. Eu tinha a certeza de que já estava apaixonada por ele desde quando um ‘Eu te amo’ foi escrito invisivelmente com o dedo no meu braço. Eu já morria de amores por ele quando voltamos daquele passeio escolar juntos no ônibus; já não pensava em mais nada a não ser nele quando nos beijamos pela primeira vez no terraço do prédio; tinha a certeza de que era ele que eu queria quando tivemos a nossa primeira vez; sabia que nada nem ninguém poderia deter o que eu sentia por ele – e o que ele sentia por mim – quando correu atrás de mim no avião, me impedindo de escapar antes que fosse tarde. Ok, é melhor continuar o discurso antes que eu caia em lágrimas e não consiga mais falar.
- Não importa para onde e nem como seguiremos, porque é a partir de agora que damos os últimos passos dessa jornada. Mas isso não significa que tenhamos que esquecer tudo o que foi vivido até agora, porque toda a caminhada segue para um lugar. E, mesmo que existam obstáculos para impedir a nossa passagem e o nosso avanço, nada nos impede de tentar superá-los. E foi o que nós fizemos durante esse período. Superamos cada pedra no nosso caminho, cada dificuldade que parecia crescer cada vez mais. E todos nós conseguimos. – A minha briga com a Chelsea e a desconfiança que eu tive do já eram memórias minúsculas e não importantes. Eu não ligava mais para mais nada daquilo.
- Como Fernando Pessoa disse: ‘O valor das coisas não está no tempo em que elas duram, mas na intensidade com que acontecem. Por isso existem momentos inesquecíveis, coisas inexplicáveis e pessoas incomparáveis’.

Aplausos. Foi tudo o que eu consegui ouvir depois de soltar o ar, fechar a boca e engolir as lágrimas.
Com medo de tropeçar na própria beca enquanto descia as escadas, não consegui me concentrar em mais nada a não ser naquele famoso par de olhos cintilantes que me fitavam com fervor na primeira fileira. estava de pé e me aplaudia com entusiasmo, um sorriso resplandecente nos lábios. Eu nunca mais seria a mesma sem ele.
Corri em direção ao meu lugar sentindo minhas bochechas corarem involuntariamente. Decidi que o melhor a fazer naquele momento era sentar e esperar que o resto da cerimônia acabasse.
O que não tardou a acontecer.
Depois da colação de grau, uma festa estava preparada aos formandos – eu, no caso – e seus convidados – meus pais, e o resto – aproveitarem. Afinal, aquela era uma ocasião especial, né?
Meus pais me cumprimentaram e fomos juntos até o local da comemoração – ginásio da escola. Era engraçado revê-los depois de tanto tempo, mas ao mesmo tempo era algo que me acalentava por dentro, me dando a sensação de aconchego. Tudo bem que eles ainda pareciam casados, já que conversavam animadamente e, o melhor, sem brigas. Só que não havia mais aquele símbolo matrimonial no dedo deles. Não que eu me importasse. A meu ver, seríamos sempre uma família feliz, que só cresceria ainda mais. E depois dizem que eu não sou estranha.

- Você está ótima, – começou a minha mãe, seu braço enganchando no meu esquerdo. Qual é, a gente não tinha se falado direito até agora, ela só me abraçou, chorou e falou coisas do tipo “A minha garotinha está crescendo”. Essas coisas de mães.
- Valeu, mãe. Não achei que chegaria a tempo. Vocês dois, na verdade – acrescentei em relação ao meu pai, que segurava o meu outro braço.

Mas é verdade, quem é que consegue juntar os seus pais – separados – que moram em países diferentes para te verem se formar em outro lugar? Só uma filha mesmo. Nesse caso, eu. Acho que é assim na maioria das vezes. Minha família não pode ser tão estranha assim, pode?
Continuamos caminhando até chegar ao local, e fomos conversando e nos deixando a par da situação um do outro. Troquei alguns olhares com o , e ri um tanto envergonhada. Ele ainda não conhecia meus pais e, para falar a verdade, eu estava com medo de apresentá-lo. Não que eu não estivesse certa dos meus sentimentos, é claro que não era isso. Era mais porque... Bem, minha mãe já sabia que eu estava meio apaixonada – ela percebera pela minha entonação pelo telefone, além de que também sabia que eu fiquei um tempo morando sozinha com o , e isso ajudou a desandar o relacionamento. O problema era o meu pai. Como ele reagiria ao descobrir que eu estava namorando um cara que nem sequer morava na mesma cidade que ele? Acho melhor deixar esse assunto para depois. Sabe como é, eu sou jovem demais para ficar sem o cara que eu amo...
Quase abri a boca devido ao susto quando cheguei ao local. Estava mais perfeito do que eu poderia imaginar. Eu não achava que existia um jeito de fazer com que as arquibancadas do ginásio ficassem mais... aparentáveis. Entretanto, aqueles enfeites em vermelho fizeram um efeito maior do que a própria limpeza – os acentos estavam brilhando.
Havia enfeites nas luzes – repetindo: nas luzes! Elas, que ficam a mais de cento e cinqüenta metros do chão. Ok, acho que isso foi exagero, mas aquele enfeite de maçãs de plástico penduradas nas lâmpadas deu um efeito legal. Ainda mais com uma luz avermelhada, que deixava todos os convidados no clima, já que o tema do baile da formatura era sete pecados.
De qualquer maneira, entrei de braços dados com os meus pais, procurando a minha mesa – que estava enfeitada com uma toalha vermelha e alguns enfeites engraçadinhos do tema.
De um modo bastante superficial, apresentei meus pais a Mary Jane, e , que, da mesma maneira, apresentaram seus respectivos parentes aos meus progenitores. E então eles se embalaram numa conversa de adultos, a qual eu dei graças a Deus, porque foi um motivo para que eu e o resto do pessoal saíssemos sorrateiramente.
Dei um abraço na minha melhor amiga quando já estávamos afastadas e me impressionei ao ver o quanto ela estava bonita sem vestir aquela beca preta. Seus cabelos ruivos estavam presos numa espécie de coque frouxo, com alguns fios enrolados soltos; seu vestido longo e roxo com um decote muito bem aproveitável e as sandálias pretas dando o toque final. Estava linda.
Passei dela para seu namorado, também dando um abraço enquanto ouvia ele me parabenizar pelo discurso feito – e quase me fazendo chorar de novo, mas essas coisas são meros detalhes. Trajava um smoking preto, exatamente como os outros rapazes. Ele e Mary Jane faziam um par perfeito. Nunca havia encontrado um casal tão apaixonado e maduro. Qual é, eles já moravam sozinhos!
Conversei um pouco com os dois e em seguida olhei em volta, tendo a certeza de que o resto do pessoal estava entretido demais para que pudesse dar falta de duas pessoas... E foi aí que meu plano entrou em ação.
Não que eu seja pervertida – não sou, eu realmente não sou – mas eu sentia que precisava ficar uns minutos a sós com o meu namorado. Você sabe, não só pra ficar se pegando ou coisa parecida.
Mordi o lábio inferior quando notei aquele deus grego, divino, lindo, maravilhoso e todo poderoso andando na minha direção. As mãos estavam nos bolsos das calças sociais; a camisa branca com um botão aberto e ressaltando os músculos definidos dos dois braços; os olhos tão perfeitos que fizeram com que eu me perdesse dentro deles; o sorriso torto e brilhante que eu tanto amava, além do cabelo castanho bagunçado-arrumado que me fazia suspirar.
andou até mim e parou na minha frente, milímetros de distância. Acho que ele me observava – leia-se: me comia com os olhos – do mesmo modo que eu fazia com ele. Se bem que eu nem podia me comparar a ele, eu estava usando apenas um vestido vermelho cruzado nas costas e sandálias na cor prata. E meu cabelo estava normal. Digo, a Mary Jane só prendeu uns enfeitinhos no meu meio-rabo.

- E então... – ele sussurrou sedutoramente, somente os seus lábios tocando ligeiramente no meu ouvido. – Quer dizer que um melhor amigo pode mesmo se tornar mais que isso, hein? – Percebi um sorriso pervertido em seus lábios e suguei o ar com toda força que consegui, tentando respirar. O que foi uma péssima escolha, já que ele estava tão perto de mim que eu percebi que estava sendo levada a uma outra dimensão só de sentir o cheiro dele.
- ... – suspirei pesadamente fechando os olhos e tentando não me deixar envolver por aquelas palavras. – Não me faça te agarrar aqui. Meus pais estão aqui do lado.

Ouvi o garoto rir e senti que ele já estava chegando perigosamente ainda mais perto de mim. Oh meu Deus, garoto atrevido. Eu nem apresentei ele para o meu pai!

- Então por que não nos agarramos num lugar mais reservado? – ele falou, roçando seus lábios agora nos meus enquanto falava.

Minha vontade de agarrá-lo naquele momento cresceu tanto que eu mordi meu lábio com tanta força que acho que fiz um rasgo nele. Sério mesmo. E vocês podem estar pensando: “Qual o problema de agarrá-lo? Ele é o seu namorado!” Mas não é muito agradável pensar que todas as pessoas estarão observando você e o seu gato trocando saliva. E ainda mais quando seus pais estiverem incluídos em ‘todas as pessoas’.
Foi então que eu simplesmente visualizei o que ele havia falado. Abri os olhos, fechando a boca e erguendo uma das minhas sobrancelhas. Ele estava MUITO mais perto do que eu imaginava e seu rosto era risonho. Na verdade, ele estava rindo da minha cara de pateta.

- ‘Tá legal, você venceu.

E foi dessa maneira que eu virei as costas e o puxei atrás de mim pela camisa. E acho que foi de um modo tão violento que, enquanto ele corria ao meu encalço, a Mary Jane e o nos olharam com aquelas caras safadas e pensando: “Eu não acredito que vocês vão fazer isso aqui, na nossa formatura!”
Mas eu não liguei. Porque eu havia entendido o ‘isso’ dela, e não era igual ao meu. Eu e o só iríamos recuperar o tempo perdido, ok? E, se ele não quisesse, já teria me avisado de alguma maneira. Mas não, o que ele fez foi só fazer os meus instintos se aguçarem e eu ficar mais perdida por ele do que já estava.
É sério, eu não sei o que deu em mim. Eu não sou do tipo descontrolada, entende? Entretanto, acho que realmente não deu. Você sabe, com toda essa história de você se apaixonar pelo seu melhor amigo gato e ele te pedir em namoro e você aceitar... as coisas mudam, é fato.
De qualquer maneira, eu sabia que as coisas estavam ao meu favor. Isso porque, quando a gente saiu pela porta do ginásio, havia um corredor. O corredor das salas de aula, obviamente. E não havia ninguém. E isso foi bom.
Primeiro porque eu pude soltar o e me virar de frente para ele, sem ter medo de que alguém percebesse o quão próximo nós estávamos. Segundo porque eu não hesitei quando ele me agarrou pela cintura fortemente e me beijou.
A euforia estava grande, vou te contar. E não só pelo fato de que ele havia praticamente me prensado entre seu corpo e a parede, mas sim pelo fato de que eu não conseguia me manter sã sem arrancar alguns fios do cabelo dele.
Deixei o se ocupar um tempo com o meu pescoço enquanto suas mãos percorriam todas as partes do meu corpo – e quando eu digo todas são todas mesmo – e me prontifiquei a arranhar fortemente sua nuca e o que eu consegui – sem tirar a camisa – do peitoral dele. Se ele queria me deixar marcas, eu também iria deixar!
Não sei o que aconteceu – e nem como aconteceu -, mas, quando percebi, era o quem estava agora na parede, mordiscando meu lóbulo esquerdo. Não sei de que maneira ele conseguiu, mas infiltrou a mão por dentro do meu vestido e puxou minha perna para cima, fazendo com que prendesse em sua cintura.
Eu já não me importava mais, mesmo. Só queria estar com ele durante todo aquele momento, e foi o que aconteceu. Afinal, nós éramos namorados. E nos amávamos. Tem coisa melhor?
Novamente eu senti algo atrás de mim, mas não era a parede branca e gelada do corredor. Era algo muito melhor. Uma maçaneta. Isso significa que eu estava escorada em uma porta.
Coloquei uma das mãos para trás a fim de abrir a mesma, já que agora eu estava praticamente no colo do garoto e ele me dava toda a sustentação que eu precisava para não me esborrachar no chão.
Quase caímos assim que entramos no que eu visualizei como uma das salas de aula, mas aquilo não era a coisa mais importante no momento. O importante era o que a língua do fazia com a minha. Céus! Eu estava ficando louca ou aquela sala me pareceu ficar menor e mais quente?
Não que eu ligasse. O clima estava até que bom, para falar a verdade. Eu e o , juntos, numa sala de aula escura e com a porta agora fechada, andando – leia-se: tropeçando – até a mesa do professor, que me parecia maior mais alta... Senhor, alguém me ajude. Deveria ser um pecado uma garota como eu estar sozinha nessas circunstâncias com um cara perfeito.
A questão é que eu sabia quem era o , e que ele me respeitava. Ele era a minha cara-metade, por mais romântico e bobo que isso possa soar. Mas o que eu posso fazer? Eu estava perdidamente apaixonada por ele. E ele parecia estar por mim também. Sem contar, não era a primeira vez que nós adiantávamos as coisas... por assim dizer.
Ele me colocou sentada na mesa delicadamente, se encaixando entre as minhas pernas enquanto brincava de me fazer sofrer. Aquilo era tortura, pode ser? Eu não agüento quando ele faz essas coisas de ficar puxando e repuxando o meu lábio com os dentes daquela forma tão sexy... Era hora de eu me vingar.

- Porra, ... – ele exclamou um tanto exaltado quando eu passei a unha mais forte raspando entre seu pescoço para abrir os botões da camiseta.

Ele parecia estar sofrendo, coitadinho. Mas eu apenas sorri pervertidamente entre um beijo e outro, tentando ignorar os espasmos que meu corpo estava sofrendo cada vez que ele tocava a parte interna da minha coxa com as mãos.
Ah santo Deus, nós estávamos dando uma rapidinha ali, no meio da nossa formatura, numa sala de aula! Ah meu Deus.
Foi inevitável. Antes que eu já tivesse controle sobre meus atos, já estava rindo, lembrando do que eu havia acabado de pensar. Fez algum sentido? Espero que sim.
Ele parou o que estava fazendo – que era explorar o meu pescoço e o meu colo – e me olhou. E foi então que eu percebi que não estava numa posição muito boa para quem olhasse de fora. Digamos que eu estava praticamente deitada em cima da mesa, o em cima de mim e... você sabe. Não vamos contar o fato de que as alças do meu vestido estavam quase no pé e que ele já estava sem camisa, ok? Aquilo sim era a visão do paraíso. Controle-se, .

- O que foi? – ele perguntou olhando nos meus olhos, o sorriso estonteante no rosto. E eu tentei me manter sã e não olhar naquele peitoral definido dele, para falar a verdade.
- Nada – tentei disfarçar, passando as duas mãos pelos braços dele e içando o meu corpo de forma que meu rosto encontrasse a curvatura perfeita do pescoço dele.

Dei alguns beijinhos no local e o abracei, respirando fortemente enquanto ele mantinha uma das mãos acariciando praticamente a minha virilha e a outra se apoiava na mesa, para que seu corpo não desabasse com força sobre o meu.

- Amor, ‘tá tudo bem? – ele perguntou um tanto preocupado, uma de suas sobrancelhas se arqueando em sinal de confusão.
- Uhum – respondi entre os lábios, lutando para não sorrir. – Tudo lindo – exclamei, meu corpo ainda içado enquanto eu agora passava a língua pela região do pescoço dele. – Tudo maravilhoso. – Arrumei o meu corpo debaixo do dele e passei a língua pelos lábios molhados e entreabertos do . – Tudo perfeito – finalizei, puxando o lábio dele com os dentes e deslizando uma das minhas mãos até o bolso de sua bunda.

Ele sorriu e sussurrou um ‘Eu te amo’ que me fez derreter, e a carteira dele, que estava agora na minha mão, quase caiu no chão por causa dos efeitos que aquelas palavras causaram em mim. Sabe como é, espasmos, enjôos, dores de cabeça, respiração ofegante...
Trouxe a carteira para o campo de visão do garoto com um sorriso pervertido pinicando os meus lábios, e ele gargalhou alto.

- Você é toda perfeitinha, né? – disse carinhoso enquanto pegava a carteira da minha mão e tirava a camisinha dela.
- Sabe como é – exclamei, olhando fundo nos olhos dele. – Eu tento.

Ele riu e eu balancei com a cabeça, afirmando o que eu queria.
Suas mãos foram hábeis ao contornarem a minha cintura e chegarem ao fecho do vestido, que começaram a se soltar um por um.
Ele olhou nos meus olhos, como se eu fosse a coisa mais bela que existisse no mundo. Eu, né.
Abri a braguilha de sua calça e respirei fundo em seu ouvido. Quando ele parou o que estava fazendo, sorriu e falou:

- Eu te amo, .
- Eu também te amo,.

E aí você já deve saber o que aconteceu.

~~

- MARY JANE STUBB, SÓ FALTA VOCÊ! – ouvi alguém berrar no microfone e, pelo que me pareceu, era a mesma mulher baixinha e gordinha que estava organizando a fila para a entrada do salão há algumas horas atrás.
E eu estava na fila de braços dados ao meu pai, junto com o resto dos formandos. Dali alguns minutos iríamos todos entrar cautelosamente de novo ao ginásio, agora com a equipe que estava organizando tudo chamando nossos nomes para dançarmos as valsas da noite.
E, antes que você possa falar alguma coisa, eu estava arrumada, ok? Nem parecia que eu e o ficamos fora do ginásio por mais de uma hora. Meu vestido estava exatamente igual há horas atrás, meu cabelo estava arrumado e minha maquiagem excessiva – principalmente na parte do pescoço, mas aquilo foi necessário. Ou seja: ninguém reparou o que havia acontecido. Ou assim eu achava.

- Aconteceu alguma coisa? – perguntou meu pai ao meu lado, enquanto esperávamos para entrar.
- Por quê? – perguntei um tanto assustada. Será que ele tinha percebido?
- Não sei. Você sumiu de uma hora para outra. – Ele tinha percebido.
- Ah, eu fui ao banheiro e depois fiquei lá fora conversando com o pessoal. – O que não foi uma mentira. Eu fui mesmo ao banheiro.
- Hm... – ele exclamou um tanto desconfiado. – Você parece mais feliz – ele disse sorrindo.
- Ah, obrigada. É porque você e a mamãe estão aqui comigo. É importante para mim – disse e ele me deu um beijo amoroso na testa.

E não, não era uma mentira. Eu estava mesmo feliz que meus pais estivessem naquele momento comigo, me apoiando. Porém, eu também estava feliz com o . Sabe, eu acho que nunca vou encontrar uma pessoa como ele. Uma pessoa que faz com que eu realmente sinta aquelas borboletas no estômago. Eu não consigo me imaginar do lado de outra pessoa! Ele me faz tão bem, todas as vezes que está comigo. Mesmo quando nós não estávamos namorando, ele conseguia ser o cara perfeito – acho que isso é visível.
Virei o rosto para trás e consegui achá-lo em meio à multidão. Uma felicidade misteriosa parecia emanar de seu corpo, enquanto eu observava-o sorrir de tudo com braços dados à tia. Quando percebeu que eu o fitava, sorriu e piscou um daqueles olhos perfeitos para mim, o que me fez ter tremeliques.
Minutos depois eu entrava na frente de todos, com meu nome sendo citado enquanto as pessoas batiam palmas.
Após todo o ritual com o resto dos formandos, a primeira valsa começou a tocar. Senti meu pai passando a mão pela minha cintura e segurando a outra, rindo para mim e me dando parabéns enquanto nós ficávamos dançando durante todo aquele tempo.
Percebi minha mãe também tirando algumas fotos de nós dois, sorridente, e preferi deixá-la curtir o momento. Afinal, não é todo o dia que a única filha está se formando.
Bom, acho que isso me deu uma idéia do quanto eu precisava e senti falta da minha família durante aquele ano inteiro. Mas pensar que havia pessoas importantes me ajudando e me apoiando me fez sorrir.
Enquanto eu girava, percebia que tudo aquilo não passava apenas de um ritual de mudança, e que, na verdade, tudo estaria guardado para sempre em minha memória. O dia que eu havia trombado com a Chelsea enquanto conhecia a escola, e depois a mensagem de celular que ela havia mandado para o . E eu entendia que aquilo fora uma coisa de momento, e ela estava bem novamente. Assim como o Jake, que se tornou um grande amigo após eu meio que dar um fora nele (mesmo que na hora eu não soubesse bem o porquê).
Ri quando observei Mary Jane dançando animadamente com a avó, e percebi o quanto elas eram parecidas. Lembrei-me também do dia em que a conheci e ela se ofereceu para me ajudar com um apartamento – por mais repentino que fosse. Mas, para falar a verdade, acho que algumas coisas acontecem exatamente como deveriam acontecer. Afinal de contas, o namorado dela também era uma pessoa incrível, e me ajudou quando eu mais precisei.
Senti meus olhos encherem de lágrimas ao ver o rindo enquanto dançava com a tia, e xinguei-me mentalmente para que parasse com besteiras.
Ele era tão perfeito. Eu acho que desde aquela época de ‘Esses olhos vão me matar!’ eu já havia me apaixonado. Não era sempre que você esbarrava em alguém legal numa cidade nova, ela te ajudava e depois você a reencontrava e ia morar com ela. Na verdade, no começo foi só amizade mesmo. Claro que eu já tinha achado ele todo fofo e bonitinho, mas isso acontece, né? Afinal, o também é fofo e bonitinho – e é só meu amigo.
Percebo que foi mais do que isso. Foi pelo fato de nós nos darmos tão bem que a situação avançou. O fato de nós sermos tão chegados e íntimos ajudou positivamente para que os meus – ou melhor, os nossos – sentimentos desabrochassem e eu percebesse que era ele quem eu queria ao meu lado. E, pelo que a MJ dizia, o também sentiu isso. Afinal, não era ele quem saía todos os dias e conhecia um milhão de garotas e beijava meio milhão delas? O que me falavam dele não parecia igualar-se ao perfil que eu observava todos os dias quando estava próxima dele, mas com o tempo você enxerga a verdade. E, mesmo eu vendo a realidade, percebendo como ele era, não liguei. Porque sabia que eu era diferente para ele. Ele me tratava diferente, como se fosse mais carinhoso e estivéssemos interligados com laços muito mais fortes do que apenas a amizade. E acho que eu repreendi tanto esse sentimento que fiquei cega, e não consegui enxergar a verdade. Até o momento em que a minha melhor amiga abriu meus olhos e eu pude ver tudo o que não queria. Foi graças a isso que eu entendi que era do que eu precisava, para sempre e sempre. Porque só ele fazia com que eu sentisse arrepios quando chegava perto de mim. Era só ele que fazia com que eu me acalmasse quando sussurrava no meu ouvido, me abraçando e me dizendo que iria ficar tudo bem. Era só ele que fazia a minha respiração falhar quando me olhava carinhoso e abria um sorriso estupendo em minha direção. Era só ele que fazia meu coração saltar do peito quando fazia gestos carinhosos. Era só ele. Era tudo sobre ele.
Parece que eu havia descoberto de um jeito inusitado algo sobre a vida: Chega uma hora que ela vai te exigir um sim ou um não. E, se você não responder rápido, ela te tira a oportunidade. Chega uma hora que a vida começa, então descobrimos o que ela realmente significa.
Parei de devanear e senti a mão na minha cintura se afrouxar quando o resto das pessoas trocava de pares para a outra valsa. se aproximou de mim e de papai, um pouco envergonhado e um pouco confiante. Senti minhas mãos suarem e olhei para ele um tanto espantada. Eu e ele iríamos contar para o meu pai depois sobre... bem, sobre o namoro. Era esse o planejado, pelo menos.

- Posso? – ele perguntou para o meu pai, que soltou a minha outra mão e olhou espantado do para mim. Mordi o lábio em sinal de nervoso.

Aceitei a mão dele, que fez carinho na minha e sorriu de forma sedutora, me transpassando segurança. Respirei fundo, pronta para o que viesse acontecer. Tinha certeza de que meu pai iria entender, ele não poderia ser tão protetor assim, poderia?

- Quem é você? – ele perguntou com uma sobrancelha arqueada e reparou na mão perigosa de , que agora tocava a minha cintura. Ah meu Deus...
- , senhor – ele disse ainda com aquele sorriso que eu pensei que seria capaz de convencer qualquer pai do mundo.
- Pai, eu preciso te contar uma coisa – comecei, me agarrando com força no corpo de , que me apertava contra si. Como ele ainda poderia estar sorrindo numa hora dessas? – Na verdade, nós precisamos.
- E o quê é? – o mais velho perguntou e eu notei uma veia saltando do rosto dele. Sua voz saiu tremida, acho que mais pelo nervoso do que pelo susto.
- Pai, eu e o estamos namorando – respondi deixando que todo o ar aliviasse os meus pulmões. Agora eu tinha vontade de rir, e parece que o também, já que ele meio que se contorcia do meu lado ao prender o riso.

Observei a cara do meu pai mudar, passando de um vermelho para um roxo, depois para azul, em seguida para verde e depois para a cor normal, quando ele fitou as nossas alianças reluzindo – meu pai nunca havia sido um bom observador – e soltou pela boca com um ar pesado:

- O QUÊ?

FIM.



N/A: (6/11) Então, depois de um mês estou aqui com o epílogo, o fim da confused ): Isso me deixa depressiva sim. Desculpem a demora, mas esses dias foram corridos demais (não foi porque eu quis não qqqq), principalmente no feriado, não consegui abstrair e arranjar um tempo para mandar. Espero que essa última postagem tenha agradado, uma cena romantiquinha, uma coisinha hot, uma comédia... enfim, quis envolver de tudo, por isso que saiu essa coisa enorme. Bom, eu nem sei direito como começar a falar, eu adorei escrever essa fic e, por mais que nos primeiros capítulos a achava capenga e pensava que ninguém nunca iria ler porque ela era clichê demais, vocês foram chegando e comentando, e isso me animou DEMAIS! *-* Ok, chega de história. Eu só queria agradecer MUITO MUITO a vocês por lerem isso aqui, por me apoiarem, por me entenderem, enfim, por gostarem da fic, por indicarem, por conversarem comigo, por me aturarem, aturarem as minhas demoras e pelos comentários maravilhosos. Por isso e muito mais, que eu nem sei como falar. Foi a minha primeira fic no site, então obrigada também a Deeh, minha beta querida que me ensinou tudinho e teve a maior paciência do universo! *-*
Também queria dizer que a fic foi baseada em outra fic daqui do FFOBS mesmo :B Assim, baseada não, mas que meu de ânimo para escrever. Como vocês já devem ter notado, é uma fic de melhores amigos que se apaixonam, e a melhor fic que eu já li assim (e que é a minha favorita) é a Closer, da Kerouls. Então é isso aí, agora vocês sabem, essa fic me deu uma total inspiração para escrever a confused, porque ela é realmente uma das melhores que eu já li *-* Achei que vocês gostariam de saber qq
Eu sei que já falei demais, mas só queria agradecer mais uma vez por vocês estarem sempre aqui comigo, e que, se quiserem acompanhar, estarei postando mais uma fic em breve *-* hehe. Espero MESMO que tenham gostado da We're both confused, tentei dar um final digno, mas eu tenho problemas com finais, não sei se vocês sabem disso. E agora eu vou parar de falar porque isso tá ficando realmente muito enorme. Obrigada, pessoal, mesmo. Até a próxima!


Un Memorabile Natale (McFLY/Em andamento)

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