Escrita por: Ju Ribeiro
Betada por: Abby [Capítulos 01, 02, 25 e Epílogo],
Nelloba Jones [Capítulos 03 ao 16]
e Ste Pacheco [Capítulo 17 em diante]




CAPÍTULOS: [Prólogo] [1] [2] [3] [4] [5] [6] [7] [8] [9] [10]
[11] [12] [13] [14] [15] [16] [17] [18] [19] [20]
[21] [22] [23] [24] [25] [Epílogo]



Prólogo



Você encontra milhares de pessoas e nenhuma delas te toca, e então encontra uma pessoa, e sua vida muda. Pra sempre.Love and Other Drugs (filme)


- Promete apenas que vai me amar pra sempre? - a garota perguntou, com uma sensação de incerteza tomando conta do seu corpo enquanto acariciava os cabelos do namorado.
- Prometo te amar além da vida. - Ele respondeu, levantando-se do colo dela e a olhando profundamente nos olhos. Os dela brilharam de uma maneira intensa após ouvir aquelas palavras, e os lábios se chocaram contra os dele, iniciando um beijo completamente apaixonado. Ao final daquele beijo, ela disse aos sussurros em seu ouvido:
- Eu aceito.
E o sorriso dele iluminou toda a sala.


"O que quer que você faça na vida, será insignificante.
Mas é muito importante que faça, por que ninguém mais fará.
Como quando alguém entra na sua vida e metade de você diz: ‘você não está preparado’. Mas a outra metade diz: ‘torne-a sua para sempre’!Remember Me (filme)



Capítulo 01



Londres, Inglaterra. - Junho de 2008.

Mais uma vez aquele sonho, mais uma vez aquela cena invadia a minha mente, enchendo-a de lembranças. Lembranças de três anos atrás, lembranças de promessas feitas por dois jovens apaixonados, dois jovens que haviam se casado, haviam enfrentado a todos que diziam que era cedo demais. Dois jovens talvez inconsequentes.
Suspirei ao relembrar aqueles momentos enquanto direcionava a minha mão direita ao lado esquerdo da cama de casal, apenas para constatar novamente que o mesmo se encontrava vazio. Há algum tempo aquilo havia se tornado constante, começara a se levantar mais cedo todos os dias, inclusive em finais de semana. Era raro senti-lo ao meu lado ao acordar, era raro sentir seu olhar me observando enquanto eu despertava, assim como ele costumava fazer no início do nosso casamento, ou quando éramos apenas um casal de namorados, jovens adolescentes apaixonados. Paixão, aos poucos eu sentia que ela ia se desfazendo. Aquele sentimento inicial desaparecia aos poucos, dia a dia.
Cansada sentimentalmente, me levantei devagar, indo em direção ao banheiro da suíte. Ouvi o barulho do chuveiro e a voz incansavelmente linda do meu marido cantando uma melodia durante o banho. Há três anos eu não pensaria duas vezes em adentrar aquele cômodo e juntar-me a ele naquele banho. Mas agora as coisas já não eram mais tão simples assim. Dei meia-volta e segui em direção ao banheiro do quarto de hóspedes, fiz a minha higiene matinal e desci até a cozinha. Talvez um café da manhã especial mudasse os ânimos da noite anterior. As brigas agora eram constantes, e o fato dele chegar tão tarde a cada dia fazia aumentar a vontade que eu sentia de discutir, de questionar o porquê daquilo tudo.
Suspirei novamente, tentando me livrar daquela sensação, e iniciei os preparativos para o café da manhã.
Algum tempo depois tudo já estava pronto, havia feito suco de uva, torradas com geleia e cream cheese e salada de frutas, tudo o que ele gostava. Ansiosa, ouvi seus passos apressados descerem as escadas. Ajeitei-me sobre a banqueta no balcão da cozinha e esperei pela sua presença.
Meu coração acelerou assim que o vi, apesar de tudo, eu o amava muito. , além de lindo fisicamente, era uma pessoa incrível. Um grande músico, um grande homem.
Seus olhos me fitaram parada, mas ele logo os desviou, indo em direção à cafeteira. Colocou o líquido escuro em sua caneca térmica e disse:
- Estou atrasado pro ensaio, , tenha um bom dia. Nos vemos mais tarde. - Ele anunciou, sem nem ao menos me brindar com um beijo de despedida, e foi saindo em direção à porta.
- , espere! Eu preparei o seu café da manhã, você não vai nem ao menos... - Mas eu não consegui finalizar a frase, pois logo em seguida ouvi a porta bater, demonstrado que ele já havia saído e não mais me escutava.
Cansada de tudo aquilo, peguei a refeição e a dispensei no lixo, não tinha o menor apetite. Subi em direção ao quarto, decidida a tomar um banho quente e demorado, depois ligaria para , minha melhor amiga de infância, e a convidaria para um passeio no shopping. Aquela vida me entediava, eu precisava arranjar um emprego urgentemente, mas me proibira de trabalhar, alegando querer que eu gastasse o meu tempo cuidando da casa e do nosso casamento. Mas aquilo não fazia o menor sentido e eu não sabia como havia aceitado me submeter a tal. E pensar que até da minha faculdade de Letras eu havia desistido após o casamento, meu grande sonho era lecionar e fazer a diferença na vida de pelo menos um aluno, como meus antigos professores haviam feito. Eu havia desistido de tudo por , para que ele seguisse o seu sonho.
Mas eu não podia deixar aquele sentimento de tristeza e frustração me acercar, eu tentaria novamente, conversaria com sobre retomar a faculdade em breve. Troquei-me após o banho e telefonei para . Ela teria aula apenas durante a tarde naquele dia, já que estava finalizando o curso de medicina e não ia mais a faculdade todos os dias, se focava apenas a residência. Suspirei pela terceira vez no dia, pensando que se tivesse continuado os estudos, também já estaria me formando.
Marcamos de nos encontrar no shopping, faríamos compras e depois almoçaríamos por lá, e em seguida ela iria para a aula. não almoçaria em casa, disso eu tinha certeza, nos últimos tempos eram raras também as refeições que fazíamos juntos. Ele estava sempre ocupado.
"A banda esta ficando mais famosa, nossos compromissos aumentaram, a gravadora exige mais a cada dia, espero que você possa compreender isso", ele me dissera no dia em que questionei a sua ausência. Nosso casamento estava por um fio, isso era fato, mas eu ainda queria me prender à minha doce esperança, ou, talvez, doce ilusão, de que tudo voltaria a ser como era no início.
A banda se chamava McFly, e , meu marido, era um dos integrantes junto com mais três amigos de infância. Aquilo sempre fora o sonho deles desde a época de escola. Escrever músicas, fazer sucesso e viver disso, fazendo o que gostavam. O talento deles era inegável, eles mereciam tudo o que haviam conquistado. Eu sentia orgulho deles, mas no fundo também queria sentir orgulho de mim mesma.

's POV

- Quando você vai conversar com ela, ? Quando vai dar fim nessa situação? Não quero mais ser a outra. - Ashley dizia sem parar enquanto acariciava o meu peito nu.
- Em breve, Ash. Não posso chegar do nada e pedir o divórcio. e eu estamos juntos há muito tempo.
- Mas você não pode ficar com nós duas ao mesmo tempo, eu já disse. Você tem que escolher, meu amor. Pensei que estivesse apaixonado por mim. - Ashley disse, fazendo manha.
- Estou, Ash, eu estou. Prometo que falo com ela o mais rápido possível. - Eu disse e ela me olhou sorrindo, de repente sentou-se sobre o meu querido amigo das partes baixas e me beijou furiosamente. Aquela mulher me deixava sem ar.
E isso era algo que eu não sentia no meu casamento com há algum tempo. As coisas haviam esfriado entre nós. E talvez um pouco por culpa minha, eu não conseguia tirar Ashley e as coisas inimagináveis que ela fazia comigo na cama da cabeça, inclusive quando dormia ao lado da minha esposa.
Ashley Johnson, esse era o nome dela, a linda filha do dono da gravadora. Nós nos conhecemos em uma premiação a qual a minha banda foi convidada a apresentar um prêmio, estávamos começando a ficar famosos e o nosso empresário conseguiu esse grande feito. Era bom pra banda ter um pouco de mídia. não pode ir à premiação e nem na after party comigo, acabamos discutindo por isso. Eu estava chateado, era algo importante acontecendo na minha vida, e para ela, consolar a amiga que havia sido dispensada por um cara qualquer era mais importante ainda.
E então lá estava eu, sozinho, na festa, aparentemente “solteiro”. Fomos apresentados a Ashley e ela imediatamente me lançou um olhar de tirar fôlego de qualquer homem. Ela era e é uma mulher de tirar folego, não que a minha esposa também não fosse, mas havia perdido o seu brilho com o tempo. Talvez casar tão jovem não houvesse sido mesmo uma boa ideia.
Naquela noite Ashley e eu flertamos, mas não passou disso. Eu procurei ao máximo ser fiel, no fundo, eu amava e devia respeito a ela. Mas nossas brigas se intensificaram e a carne é fraca. Então, um dia Ashley apareceu no estúdio durante o ensaio da banda, acompanhada do pai, Peter Johnson, dono da gravadora. Ficamos um pouco nervosos por ter que tocar diante dele, mas Ashley era só elogios à banda e o pai aprovava tudo o que ela dizia. Decidimos sair para um “Happy hour” após o ensaio, ela nos acompanhou, e em meio há algumas canecas de chopp e algumas doses de tequila, nós nos beijamos. E do beijo para a cama dela, em seu apartamento no centro de Londres, foi um pulo.
Na manhã seguinte eu me senti estranho, afinal, eu havia traído , e isso era algo que eu nunca imaginei fazer. Mas nós sempre nos enganamos nessa vida. E mesmo com a ponta de remorso por tê-la traído, outra sensação havia tomado conta do meu corpo após aquela noite, algo que eu não sentia nos últimos dois anos. Desejo.
Após aquele dia eu sabia que não teria mais volta, Ashley era filha do dono da gravadora e por mais que digam o contrário, eu sabia que se a magoasse, o futuro da banda estaria em jogo. Puro egoísmo da minha parte, ou talvez a saída que eu inconscientemente procurava para dar fim ao meu casamento com , casamento este que não teria mais futuro algum. Eu a via infeliz, eu estava infeliz. E o amor que um dia sentimos morria a cada dia.
- Eu vou falar com ela esta noite. – disse a Ashley após mais uma sessão de sexo em seu quarto. Ela sorriu, radiante. E eu esperava estar fazendo a coisa certa.



And I don't even need your love.
But you treat me like a stranger and that feels so rough.
No, you didn't have to stoop so low.
Have your friends collect your records and then change your number.
I guess that I don't need that though.
Now you're just somebody that I used to know.
Somebody, I used to know.Gotye



’s POV

Estava ali, sentada numa espreguiçadeira na sacada do quarto, com uma caneca de chá em mãos, na mesma posição por horas incontáveis, uma sensação estranha de perda tomando conta do meu corpo, o nó costumeiro na garganta. Já era tarde, umas duas horas da manhã talvez, e ainda não havia chegado. Não havia sequer ligado para avisar que chegaria tarde, mas isso não era surpresa, há algum tempo ele tinha perdido a consideração em me avisar algo do tipo. Esse com quem eu convivia poucas horas durante o dia era um total desconhecido. Esse não era o meu , não era o meu amor, não era o cara que havia me dito aquelas lindas palavras no dia em que me pediu em casamento. “Prometo te amar além da vida.” Essa frase insistia em ecoar nos meus pensamentos dia após dia, como um tapa certeiro na minha face, me acordando pra realidade de que talvez aquele amor prometido nunca fosse cumprido. Eram apenas palavras ao vento.
Remexi-me desconfortável na cadeira, aquela posição de horas começava a me incomodar, ainda sentia um enjoo inconveniente que havia me maltratado durante os dois últimos dias. Eu deveria procurar um médico. Mas preferia esperar mais um pouco, talvez fosse algo bobo, alguma porcaria que comi na rua.
E então aquela sensação terrível retornou, senti o meu estômago criar vida, o gosto ruim subindo a boca e corri em disparada ao banheiro, me debruçando sobre a privada logo em seguida, não podendo mais segurar. Odiava aquilo, odiava vomitar. É, eu deveria procurar um médico.
Quando notei que estava melhor, me levantei devagar, sentindo uma leve tontura. Nada parava em meu estômago. Segui em direção à pia e joguei um pouco de água fria no rosto, sentindo um alívio bom. Procurei pela minha escova de dente e o creme dental, e logo tratei de tirar aquele gosto horrível da boca. Molhei novamente o meu rosto e respirei fundo. Ainda cambaleante, caminhei até a cama e me deitei sobre ela, o meu lado esquerdo ainda continuava vazio. ainda não estava ali. Sentia-me só, péssima, derrotada. Encolhi-me no meu lado da cama, puxando o edredom até o pescoço. Fazia frio em Londres, mas era um frio suportável. Mas a sensação de frio triplicava pelo meu corpo. Encarei o relógio sobre o criado mudo: 2:45 am. Cansada de esperar por , fechei os olhos e adormeci.


Everybody knows the end.
When the curtain hits the floor.
(…)
It’s not over, till it’s over.
So how do we begin?
When everybody knows the end.McFly



Capítulo betado por Abby


Capítulo 02



Na manhã seguinte, levantei me sentindo um pouco melhor. O lado esquerdo da cama estava vazio como sempre, desarrumado, indicando que ele havia dormido ali, mas vazio como em todas as manhãs nos últimos anos. Eu me sentia triste naquele dia. Caminhei, ainda fraca, até o banheiro, me aprontei e desci até a cozinha. Precisava colocar algo no estômago ou não aguentaria em pé.
milagrosamente ainda estava em casa, sentado sobre a banqueta da cozinha, lendo um jornal enquanto tomava uma xicara de café. Respirei, tentando me acalmar, não queria fazer mais um dos meus questionários, não queria brigar aquele dia. Reuni forças e adentrei a cozinha.
- Bom dia. – Tentei dizer de maneira simples, ele desviou os olhos do jornal e me encarou, como não fazia há algum tempo. Analisou-me minunciosamente. Seus olhos continham um brilho estranho, talvez um toque nostálgico, eu diria. Tempo depois ele desviou novamente o olhar para o jornal e me respondeu em seguida:
- Bom dia.
- Não tem compromisso hoje pela manhã? – Perguntei de maneira casual, tentando demonstrar interesse em acalmar o clima daquele ambiente.
- Não, estamos de folga esta manhã.
- Que bom. Vocês merecem um descanso. – eu disse sorrindo e caminhei em direção à geladeira, retirando uma caixinha de suco de manga de lá. De repente senti o olhar de novamente sobre mim, eu pressentia que ele queria algo, que queria me dizer alguma coisa. – Está tudo bem? – arrisquei, ele me encarou novamente por longos minutos, sem pronunciar nenhuma palavra. Seu olhar era profundo e indecifrável. – ? – insisti, chamando-o pelo apelido, e ele me olhou com um brilho estranho no olhar.
- Nós precisamos conversar. – ele disse finalmente.
- É o que eu estou tentando fazer desde que entrei nesta cozinha. – disse brincando, ele se manteve sério.
- Estou falando sério, . – disse num tom rude, eu o encarei confusa.
- Tudo bem, sobre o que você quer falar? – eu me aproximei me sentando de frente para ele, a bancada da cozinha entre nós. Eu me mantive quieta, se ajeitou na cadeira e respirou fundo, ensaiou as palavras algumas vezes com o seu abre e fecha boca, e finalmente tomou coragem para falar.
- Eu... Eu quero o divórcio. – ele sentenciou sem rodeios; o encarei, atônita. No fundo, eu sabia que esse dia chegaria, mas não deixava de me surpreender com a atitude fria dele. Infelizmente, mesmo com todos os nossos problemas, eu ainda o amava, ainda acreditava em nós. Naquele momento eu não conseguia pronunciar uma palavra sequer, não conseguia verbalizar a minha opinião diante daquela sentença lançada por ele. Tudo o que eu sentia transparecia através da minha expressão. – , você me ouviu? – a sua voz invadiu os meus pensamentos confusos e eu me esforcei para falar.
- Desde quando? – minha voz saiu baixa e falha, quase um sussurro. As palavras me sufocando.
- Desde quando o quê, ?
- Desde quando você planeja me pedir isso? Há quanto tempo você não me ama mais? – despejei as palavras entaladas em minha garganta, meus olhos ardiam, mas eu não iria chorar.
- Você deve ter notado que nós não somos mais os mesmos. Eu posso não te amar mais, mas você provavelmente também já não me ama.
- É claro que eu ainda te amo, ! Como você pode sequer pensar o contrário?! – explodi de repente.
- Você esta tão infeliz com esse casamento quanto eu. – Ele disse, ainda frio e distante. Não conseguia me lembrar de quando ele havia se tornado um cretino tão calculista. – Não vamos mais discutir por algo tão óbvio. Eu pretendo ser sincero com você, me apaixonei por outra pessoa. Não é o tipo de coisa que se pode controlar. Quero passar a viver a minha vida do lado dela, agora. – Aquelas palavras finais me mataram completamente por dentro. Então ele tinha mesmo outra.
- Fácil você ser infiel comigo durante todo esse tempo e agora vir me dizer querer ser sincero. Quanta hipocrisia! – disse, sarcástica.
- Vamos terminar logo com isso. – ele disse, se levantando e caminhando apressadamente em direção à sala de estar.
Eu o segui e, ao chegar ao cômodo, notei suas malas já prontas ao lado da porta. A vontade de chorar persistindo dentro de mim. Algo se remexia novamente em meu estômago, eu não podia vomitar de novo.
- Aqui está. Você pode assinar agora ou entrar em contato com algum advogado. A decisão é sua. Mas está tudo dentro da lei. – ele disse, me entregando os papéis do divórcio. Ele havia feito mesmo tudo pelas minhas costas. – O telefone do meu advogado está no cartão grampeado aí no início. É só você ligar para ele depois que assinar os papéis. – ele disse, se encaminhando até a porta. Antes de apanhar as malas, se virou em minha direção, me olhando finalmente nos olhos. Um suspiro baixo saiu de seus lábios e um olhar culpado tomou conta de seu rosto. andou novamente em minha direção e com receio levou os dedos até o meu rosto, o tocando de leve, como se eu fosse um objeto frágil que se partiria a qualquer toque mais brusco.
- Me desculpe, eu não queria que tudo terminasse assim. – ele tentou acariciar meu rosto, mas eu retirei sua mão de mim bruscamente. Não o queria mais por perto, não depois de tudo o que ele havia me feito. Meu olhar em direção a ele demonstrava toda a mágoa que eu estava sentindo. O maldito enjoo voltou e eu tive que me apoiar no sofá ao lado para tentar controlar aquela sensação terrível diante dele. me observou com algo que aparentava tristeza no olhar e naquele momento me recordei do meu antigo , mas aquilo não me enganaria, não mais. Desistindo, ele caminhou novamente em direção às malas, abriu a porta, as pegou do chão e me olhou pela última vez, saindo para nunca mais voltar.
Antes que ele pudesse fechar completamente a porta eu lhe disse as últimas palavras que ele ouviria da minha boca e que seriam direcionadas somente a ele.
- “Prometo te amar além da vida”. – por um momento ele hesitou em fechar a porta diante do meu sussurro, por um momento eu pensei que ele voltaria atrás, por um momento eu pensei que significasse algo para ele. Mas esse momento passou, a porta se fechou e tudo que eu senti em seguida foi a metade do meu coração que pertencia a ele sendo destruída e o maldito enjoo me fazer correr em direção ao banheiro mais próximo, enquanto lágrimas finalmente desciam sem autorização pelo meu rosto.


"Às vezes, perder o equilíbrio por amor faz parte de viver a vida em equilíbrio."
- Eat, Pray, Love (filme)


(...)

Eu não estava vivenciando o meu melhor momento, definitivamente aquela garota estirada pela cama, pálida, fraca e triste não era eu. Não consegui distinguir a quanto tempo estava ali, o enjoo havia me dado trégua finalmente e eu só repousava, tentando recuperar as minhas forças que haviam se esvaído. O toque baixo de uma musica conhecida se espalhando pelo quarto chamou minha atenção, algo se mexia na cômoda em frente à cama, meu celular, mas eu não tinha a menor vontade de me levantar para atender àquela ligação.
Só queria ficar ali quieta, deitada e invisível para o resto do mundo.

's POV

Estava feito, finalmente estava feito. E agora não teria mais volta. Mesmo se eu quisesse, nunca me perdoaria, nunca irá perdoar. Algo dentro de mim se fora a partir do momento que saí daquela casa. As últimas palavras ditas por ela ainda ecoavam em minha mente. Aquela promessa, aquela antiga promessa. Então ela ainda se lembrava. Aquilo me feriu, mas eu não podia me dar ao luxo de voltar atrás, eu a havia perdido. Havia tomado a minha decisão. Havia jogado seis anos de relacionamento no lixo.
Agora era seguir com a vida, seguir com os meus sonhos. Aproveitar tudo o que o mundo tinha para me oferecer, tudo o que eu havia renegado por todo esse tempo pelo simples fato de ter seguido com a ideia idiota de me casar tão cedo. Meus amigos sempre se divertiam, eu era o único a não aproveitar tudo aquilo por causa de . Ainda era jovem, tinha apenas 22 anos. E um cara jovem não deve ser privado de diversão.
Era hora de me focar completamente na minha banda, sem remorsos. McFly seria um sucesso, disso eu tinha certeza. E isso não se trata de vaidade ou ego inflado. Eu sabia que nós éramos bons, realmente bons. E musica acima de tudo era a nossa vida.
Meu celular tocou sobre o banco do carona, aproveitei que o sinal havia fechado para olhar quem era. Ashley. De repente senti meu corpo todo queimar só de me lembrar da noite anterior que tivemos regada a vinho e bom sexo. Aquela garota me deixava insano.
Coloquei a ligação no viva-voz, para que pudesse continuar a dirigir enquanto a atendia.
- Oi, linda.
- Oi, tigrão. - ela respondeu com aquela voz sexy e enlouquecedora. - Então, já resolveu tudo? Agora você já é todinho meu? - o tom sexy permanecia em sua voz e eu me sentia uma marionete por responder ao estímulo que aquilo me causava.
- Sim, agora é só uma questão de burocracias que serão resolvidas pelo advogado. Não sou mais um homem casado. - disse e ela vibrou do outro lado da linha.
- E como prêmio você terá uma surpresa hoje à noite, te espero aqui em casa. Agora preciso ir, beijos, tigrão. - ela fez aquela voz novamente e eu senti o meu grande companheiro dar sinais de vida entre as minhas pernas.
- Mal posso esperar. - disse e ela desligou.
Definitivamente a minha noite seria boa. Sorri maliciosamente e segui dirigindo até a casa de , onde eu ficaria por uns dias até resolver a questão da compra do meu novo apartamento.
Vida nova para !


Não sei, mas sinto que é como sonhar que o esforço para lembrar é a vontade de esquecer. - Rodrigo Amarante

Capítulo betado por Abby


Capítulo 03




's POV

Acordei assustada com um barulho alto e irritante invadindo o meu sono, a campainha era tocada insistentemente pela pessoa do outro lado da porta. Uma pontinha de esperança acercou-me. Imaginei ser , mas ele não tocaria a campainha. Caso voltasse, ele ainda possuía as chaves da casa.
Sabia que não era , e aquele barulho infernal fazia com que a minha cabeça latejasse. Eu ão tinha a menor vontade de me levantar, todavia, se eu não o fizesse sofreria com uma dor de cabeça aguda depois.
Reuni forças e levantei-me daquela cama, a tontura e a fraqueza nas pernas seguiram comigo devido ao tempo indeterminado em que fiquei ali estirada naquele colchão. Levei alguns minutos para me recuperar, a campainha continuava a berrar. Finalmente desci e segui até a porta da frente, tentei ajeitar inutilmente as minhas roupas e cabelo antes de abri-la, mas eu não estava me preocupando tanto com a minha aparência naquele momento. Girei então a maçaneta e uma garota magra, de longos cabelos ruivos, encarou-me com os olhos estreitados,.
- , até que enfim! Já estava quase desistindo depois de tocar essa campainha por horas e você não aparecer. – tagarelava apressada, porém quando finalmente me encarou, seus olhos se arregalaram. – Mas o que aconteceu com você? Amiga, você está pálida! – ela adentrou a casa sem cerimônias e puxou-me em direção ao sofá da sala. – Você esta se sentindo bem? Quer alguma coisa? Remédio? Um copo de água? – ela não parava de falar, minha cabeça dava voltas. - Onde está o idiota do que te deixou sozinha neste estado?
E foi esse o erro de , essa pergunta, a menção daquele nome. Rapidamente senti as lágrimas se formarem em meus olhos para então correrem livremente pelo meu rosto. Um soluço preso em minha garganta foi ouvido e só o que me restou fazer foi me atirar no colo de minha amiga e chorar compulsivamente tentando explicar entre soluços o que havia acontecido horas atrás.
- Ele... Ele... Me deixou. Me abandonou, ! – consegui dizer com dificuldade, não disse nada, apenas me acolheu mais em seus braços e acariciou meus cabelos dizendo palavras de conforto em seguida.
- Vai ficar tudo bem, . Eu estou aqui com você. – ela dizia, tentando me acalmar enquanto eu apenas me afogava em lágrimas.
Estava ali, quieta com a cabeça no colo de . Ainda não tinha coragem de contar tudo, mas ela provavelmente já havia descoberto o que acontecera. De repente um cheiro estranho invadiu o ambiente e eu senti novamente o meu estômago revirar da maneira mais veloz possível. Levantei-me e corri até o banheiro. Já estava debruçada sobre o vaso quando senti as mãos de segurarem os meus cabelos enquanto ela me pedia calma mais uma vez.
- Há quanto tempo você anda tendo esses enjoos? – questionou-me.
- Há alguns dias. – confessei.
- Por que não procurou um médico ainda, ? – ela ralhou e eu a olhei sem graça.
- Você sabe que eu não gosto de ir ao médico. – respondi normalmente.
- Isso não é desculpa, e se for algo grave? – ela disse, mas se calou de repente e ficou pensativa por um momento. – Há quanto tempo você não menstrua?
- Que tipo de pergunta é essa, ? – questionei estupefata.
- Apenas me responda. É importante. – ela disse séria. Eu concordei.
- Agora que você mencionou, está um pouco atrasada. Mas isso é normal, digo, ela sempre atrasa. – ela rolou os olhos e depois me encarou.
- Não pode ser. – levou as mãos em direção ao rosto.
- Não pode ser o quê, ?
- , você pode estar grávida.
- EU O QUÊ? – berrei e ela me encarou.
- Vamos fazer um teste de gravidez. – ela disse séria e apanhou a bolsa. – Eu comprei esse há algum tempo, pois levei um susto com um namorado. – ela dizia enquanto revirava sua bolsa. – ACHEI!
- Não quero fazer isso. – disse afastando-me dela.
- Vamos lá, . Precisamos tirar essa dúvida, olhe para o seu rosto. Você está mais branca que a família Cullen inteira. – dizia enquanto me empurrava em direção ao banheiro novamente.
- Eu não posso estar grávida, não agora que estou sozinha. – eu dizia amedrontada. - É impossível! e eu não fazíamos... - impedi a fala envergonhada. - Ele não me procurava mais... - eu dizia ainda abalada. Até que algo veio a minha mente, uma noite em especial. – Espera, agora eu me lembro. - parei no meio do caminho enquanto me recordava de algo e me encarou. - Há mais ou menos um mês e meio atrás, nós voltamos de uma festa que ele me implorou para ir. estava "alegre", eu também não estava muito sã e ainda me sentia carente. Bom, acabou acontecendo e acho que sem proteção. – senti-me derrotada, meus olhos lacrimejaram. - Eu não posso estar grávida, , não posso ter um bebê agora. - um soluço fraco ecoou pela minha garganta que se trancava com a possibilidade daquela gravidez.
- Calma, amiga, vai dar tudo certo. E se você estiver realmente grávida, pode ter certeza que eu vou estar aqui para te ajudar. Eu vou ser a melhor tia do mundo! – ela disse sorrindo, tentando me animar e eu retribui com um sorriso fraco.
- Vamos acabar logo com essa dúvida. – eu finalmente disse decidida, balançou a cabeça, concordando.
Então eu fiz o teste.
Aqueles poucos minutos de espera pelo resultado pareciam uma eternidade, algo me dizia que eu já sabia a resposta, apesar de negar. Algo dentro de mim já havia mudado.
- E então? – perguntei com os olhos fechados. Havia pedido a que verificasse o resultado, eu não tinha coragem. E ela sorriu.
- Parabéns, amiga, você vai ser mãe! E eu vou ser titia. – ela disse e correu ao meu encontro para me abraçar.
- Não pode ser verdade. – eu dizia aérea.
- Nem pense em fazer besteira, . Tem uma vidinha linda começando dentro de você. – ela me abraçou e eu me senti mais forte. – Vou ligar para um médico amigo meu e marcar uma consulta para você amanhã. Precisamos tirar todas as duvidas... – ela dizia, mas parou por segundos, hesitando em terminar a frase. – Você precisa ligar pro também.
- NÃO! – eu gritei desesperada. – Se eu estiver mesmo grávida, ele não pode saber. Ele nunca irá saber. Essa criança será só minha, meu bebê.
- Mas ele é o pai, ! Tem o direito de saber.
- deixou de ter direito sobre qualquer coisa relacionada a mim desde o momento em que ele saiu por aquela porta. – eu disse decidida. A visível mágoa sendo observada por ela em meu olhar.
me encarou confusa, mas não disse nada, apenas apanhou o seu telefone e fez a ligação para a clínica do tal médico, marcando uma consulta para mim no dia seguinte.
Grávida, eu estava grávida.
Aquela notícia ainda se processava em minha mente, junto a um turbilhão de dúvidas, mas apesar do medo que senti ao receber a notícia e de tudo pelo que eu havia passado nas últimas horas, naquele momento algo dentro de mim me fazia sentir uma felicidade estranha e imensurável, como se a minha vida fosse voltar a ser completa novamente, como se a metade levada por pudesse finalmente ser preenchida.
Eu seguiria em frente, eu viveria. Por mim, mas principalmente por aquela criança que crescia dentro do meu ventre. Aquele bebê seria toda a minha vida a partir daquele momento.

You can take everything I have.
You can break everything I am.
Like I'm made of glass, like I'm made of paper.
Go on and try to tear me down.
I will be rising from the ground.
Like a skyscraper.Demi Lovato



Capítulo 04




Só enquanto eu respirar, vou me lembrar de você. - Fernando Anitelli


Quatro anos depois...

Londres, Inglaterra - Maio de 2012

's POV

Quatro anos se passaram. Nesses quatro últimos anos eu aproveitei a minha liberdade o máximo possível, mas agora, com os meus 26 anos, a vida de “Rockstar” desregrada começava a me cansar. Eu não tinha mais ânimo para baladas todos os dias da semana, festas loucas após os shows; tudo o que eu queria agora era ir para a minha amada casa e descansar até não poder mais. Ashley parecia não se cansar dessa vida louca de festas e bebedeira — que me aborrecia, estranhamente, mais e mais a cada dia.
Ainda estava saindo com Ashley, na verdade, agora estávamos noivos — segundo ela. Eu não tive como fugir dessa.
Não digo que fui fiel a Ashley nesses últimos anos, na verdade, duvido que ela mesma tenha sido fiel a mim. Nosso relacionamento é algo não exclusivo, porém, ela adora esfregar na cara das amigas que é a garota que fisgou .
Porque agora eu não era mais um idiota em início de carreira. Minha banda ficou realmente famosa, paparazzi estavam sempre escondidos ao redor da minha casa e por onde eu passasse. Isso me irritava às vezes, nunca pensei que poderia dizer isso: mas estava me cansando da fama. E os meus amigos também estavam. , que sempre fora o mais responsável e sensato, abandonou essa vida faz dois anos quando decidiu se casar com Penélope, sua esposa, que agora se encontra grávida. Inconscientemente, eu sentia certa inveja deles, eu poderia ter uma família assim agora.
Eu sabia que faltava algo em minha vida, aliás, senti isso a partir do momento que deixei . Minha esposa, espere, corrigindo minha — infelizmente — ex-esposa. Mas eu fui muito orgulhoso e estava muito deslumbrado com tudo para voltar atrás no que eu havia feito.
Quando eu achava que já não sentia mais nada por ela, quando eu achava que já não a amava mais, que conseguiria seguir em frente sem ela; lá vinha invadir os meus sonhos, noite após noite. Imagens de tudo o que passamos juntos povoando a minha mente, atingindo-me no fundo do estômago e fazendo-me pensar que cometera a maior burrada da minha vida quando a deixei.
Eu ainda a amava e após esses quatro anos, descobri que a queria e que ela fazia realmente falta na minha vida. Mas eu sabia que ela nunca voltaria para mim. havia desaparecido, havia sido apagada do mapa. Não nos falávamos desde o dia que saí de casa. Todo o processo de divórcio aconteceu por intermédio dos nossos advogados — tudo de forma rápida. Ela não quis nem mesmo ficar com a casa onde morávamos e se mudou logo em seguida, eu não fazia ideia aonde ela havia ido.
Confesso que a procurei durante esses anos sem que Ashley soubesse, ia aos locais que costumávamos frequentar, até aqueles da adolescência, com a esperança de revê-la, mas nunca obtive sorte.
E tudo o que eu queria era pedir desculpas e saber se mesmo após tudo o que eu fiz, ela ainda era feliz. O remorso seguiria comigo durante o resto dos meus dias.


Lembrança é quando, mesmo sem autorização, o seu pensamento reapresenta um capítulo.Adriana Falcão


’s POV

Os meus dias eram extremamente ocupados. As horas pareciam não durar o suficiente e eu sempre tinha muito a fazer. Conciliar a vida de mãe solteira e professora de primário não era algo fácil, mas estava lá, linda e saudável, para fazer tudo valer a pena. Minha doce e amada , a melhor coisa que poderia ter acontecido em minha vida. Minha pequena filha de apenas três anos. Ela nasceu numa noite chuvosa no dia 08 de fevereiro de 2009. As horas antecedentes ao seu nascimento foram acompanhadas de muita dor — estar em trabalho de parto não era algo agradável, mas estava lá para me apoiar. , minha melhor amiga, a única pessoa que eu tinha no mundo além de , já que meus pais morreram quando eu era apenas uma criança — eu era filha única —, e meus avós maternos, que haviam me criado, partiram um ano após o meu casamento. Eu nunca tive muito contato com o restante da família, por isso, minha família agora se resumia em e . Morávamos as três juntas em um apartamento confortável em um bairro de classe média no interior de Londres.
era médica pediatra em um hospital do centro e eu havia me formado há poucos meses em Letras. Após o nascimento de , retomei os meus estudos e conclui os três últimos anos que restavam para me formar. Agora dava aulas em uma escola primária, próxima ao local onde morávamos, e ficava na creche do local, era algo bem cômodo. agora era uma linda garotinha de cabelos castanhos e olhos , que infelizmente havia puxado os do pai, muitos de seus traços me recordavam dele — isso machucava um pouco às vezes, mas não mais como antes, eu havia aprendido a superar e nunca, em hipótese alguma, amaria menos a minha filha por isso. Ela era perfeita e me fazia ser a mãe mais babona, ridícula e feliz a cada dia.

Não havia mais entrado em contato com desde o dia em que ele deixou nossa antiga casa, mas isso não me impedia de ter noticias dele: a banda havia ficado famosa. Os via sempre em programas de televisão e os ouvia no rádio. No início eu mudava de canal ou desligava o rádio para não ter contato algum com ele — naquela época ainda doía muito. Mas tempos depois, a fama da banda tomou proporções estrondosas e não havia como fugir deles, para todo lugar em que se olhasse em Londres, havia algo sobre a McFly. E apesar de tudo isso, eu ficava feliz por eles: sempre foram tão talentosos, mereciam esse reconhecimento. Se conhecesse o pai, certamente sentiria orgulho dele, ao menos por esse motivo; mas ela não o conheceria e eu pretendia nunca contar-lhe sobre ele. Estávamos bem daquela forma, apenas ela e eu. Isso poderia ser egoísmo, ou a saída mais fácil que eu encontrei para fugir de tudo, mas eu sabia que assim seria melhor para ela, assim ela nunca se decepcionaria com ele. Pois eu sabia que ele a decepcionaria se soubesse de sua existência. nunca dera indícios de que queria ser pai, nem em nossas melhores épocas juntos, e eu não queria que minha pequena fosse rejeitada por ele como eu havia sido. Eu viveria para protegê-la.

Era final de tarde de mais uma sexta-feira e eu dirigia em direção ao nosso apartamento com no banco traseiro do carro devidamente acomodada em sua cadeirinha. Ela tagarelava sem parar desde que havia aprendido a falar e se embolava com as palavras às vezes, mas eu achava aquilo extremamente fofo. E sorria a cada palavra pronunciada pela minha pequena filha.

Minutos depois, chegamos ao prédio. Eu entrei na garagem, estacionei, apanhei tudo o que precisava e retirei de sua cadeirinha, carregando-a no colo em direção ao elevador — minhas mãos estavam ocupadas e eu fazia certo malabarismo tentando apertar o botão da máquina para trazê-la até o subsolo e para que assim pudéssemos finalmente subir em direção a nossa casa. Estava me abaixando para colocar algumas sacolas no chão e finalmente alcançar o botão, quando uma mão o apertou diante de mim, me virei para o lado e encontrei um belo homem vestido socialmente. Ele tinha os cabelos claros e um sorriso simpático no rosto. Fiquei confusa, pois estava tão concentrada na atividade de apertar o botão que nem notei o seu carro adentrando a garagem e ele aproximando-se de mim após ter estacionado.
- Boa noite. Sou Jake, seu novo vizinho. – ele disse simpático.
- Boa noite, sou . Obrigada pela ajuda. – agradeci, indicando o botão do elevador com a cabeça.
- Sem problemas, eu teria que subir também. – ele piscou. Seu sorriso era extremamente sedutor e algo estranho invadiu o meu corpo após vê-lo sorrir, fazendo-me focar meus olhos em . Afastei aquele sentimento e o encarei novamente. – Que linda garotinha, tão linda quanto à mãe. – ele disse sorrindo.
- Obrigada novamente. – eu sorri agradecendo.
- Seu marido é um cara de sorte, tem uma bela família. – ele elogiou e a menção à palavra marido me fez sorrir desconfortável.
- Eu não sou casada, somos apenas e eu. – disse simplesmente.
- Me desculpe, eu não sabia. Mas fico feliz que seja assim. – ele sorriu, o encarei confusa. – Não, não foi isso o que eu quis dizer. Não que seja melhor você não ter marido, mas sim, que é muito bom que você não seja casada, assim não me sentiria estranho em flertar com uma mulher tão bonita. – ele disse atrapalhando-se com sua explicação e me fazendo ruborizar ao final dela.
- Se queria me deixar envergonhada, parabéns, você conseguiu. – eu disse brincando, ele riu. O elevador chegou ao subsolo e ele tratou logo de segurar a porta para que eu pudesse entrar.
- Quer ajuda com as sacolas? Posso levá-las até o seu andar e depois retorno ao meu. – ele ofereceu. – Moro no sétimo andar.
- Eu moro no oitavo, e sim, agradeceria muito a ajuda, se não for incômodo.
- Incômodo algum, e pare de me agradecer tanto. Faço isso porque gostei de você, , e essa garotinha linda merece ficar confortável no colo da mãe e não toda desajeitada desse jeito. - ele piscou para , que só nos observava durante todo o tempo, ela lhe sorriu, mostrando todos os seus dentinhos em formação. Eu assenti e seguimos em direção ao meu andar.
- Obrigada, Jake. – disse e ele arqueou a sobrancelha, encarando-me. – Tudo bem, sem agradecimentos. – eu ri e ele sorriu. – Pode deixar as sacolas aqui sobre a mesa. – eu indiquei e ele o fez.
Caminhei com até o sofá da sala e a depositei sobre o local, Jake ficou parado, encostado no batente da porta nos observando até que o barulho de saltos soou no local acompanhado de e o seu perfume invadindo a sala.
- Que bom que você chegou, , eu estou de saída. Vamos comemorar o aniversário de uma colega de trabalho em um pub nesse nosso raro momento de folga. – ela dizia sem notar Jake, até que se virou para apanhar as chaves no móvel perto da porta e o viu. – Ah, não sabia que você tinha companhia. – ela me olhou maliciosa, eu revirei os olhos. – Prazer, , mas pode me chamar de . – ela estendeu a mão em sua direção.
- Prazer, sou Jake, seu vizinho do andar de baixo. – ele disse simplesmente.
- Jake veio apenas me ajudar com as sacolas, . Não pense besteiras. – eu ralhei e ela riu.
- Tudo bem, não irei mais atrapalhá-los. Estou de saída. E, , prepare-se, pois da próxima vez eu vou arrastá-la comigo nem que seja à força. Você precisa se divertir mais. E isso é uma prescrição médica! – ela disse brincalhona e se preparou para sair. – Até mais, boa noite, Jake. – despediu-se dele, que retribuiu. E ela saiu do apartamento.
- Desculpe a minha amiga, ela é completamente louca, e passar horas trabalhando no plantão do hospital a deixa um pouco confusa mentalmente. – eu brinquei e Jake riu. – Como sou mal educada, nem te ofereci nada, quer beber algo?
- Não se preocupe com isso, e eu gostei da sua amiga. Mas agora preciso ir, ainda tenho um trabalho para terminar. Boa noite, , prazer em conhecê-la. Espero que possamos nos ver novamente em breve. – ele despediu-se com um beijo, que pareceu bem demorado a meu ver em minha bochecha, eu assenti e ele saiu do apartamento, fechando a porta logo em seguida.
Sem que pudesse controlar, senti um suspiro baixo escapar por entre meus lábios assim que ele saiu e um formigamento tomar conta de meu rosto, minhas mãos estavam suadas. Já fazia algum tempo que eu não sentia aquela sensação. Aquela coisa toda de flerte, paquera, atração. Eu não tinha encontros há quatro anos, não havia saído com ninguém após o fim do meu casamento. Um pouco porque tinha medo de me envolver em uma relação e me machucar novamente, e também porque e o meu trabalho tomavam todo o tempo da minha vida, não deixando mais espaço para ninguém. sempre brigava comigo por isso e às vezes contratava babás, tentava e conseguia me arrastar para algum pub para fazer com que eu me divertisse mais. Mas eu não conseguia me divertir. Minha vida estava muito diferente agora. A antiga que adorava se divertir e sair com os amigos e o namorado aos 16 anos já não existia mais. No fundo, eu sabia que sentia falta de alguém em minha vida, sabia que tinha a esperança de me apaixonar de novo e ser feliz. E aquele encontro com Jake fez com que essa vontade se renovasse dentro de mim.
Afastei aquele pensamento idiota de minha mente, aquilo havia sido apenas um encontro ao acaso, não sabia se veria Jake novamente e muito menos se ele sentira realmente algo por mim. Segui até onde estava brincando com seu bichinho de pelúcia favorito e a apanhei no colo, seguindo em direção ao banheiro.
- Que tal a senhorita e o Sr. Piggy tomarem um banho agora? Hein, minha linda garotinha? – eu disse fazendo cócegas nela e gargalhou.
- Quelô banho, mamãe. – ela disse feliz e entre risos, agarrada ao brinquedo, e nós adentramos o local.


Acredite no amor de novo. - Eat, Pray, Love (filme)



Capítulo 05



- você ainda está assim? - adentrou o quarto, flagrando-me envolta em toalhas de banho. - O Jake não vem te buscar daqui a trinta minutos?
- Eu não sei se devo mesmo sair com ele. - comentei por alto, grande erro.
- Nem pense em não ir, mocinha, eu já até me escalei como babá da essa noite! Você não tem desculpas.
- Mas, ... - tentei em vão, ela não me deixou continuar.
- , presta atenção. Já passou da hora de você se divertir e encontrar alguém que te mereça e valorize. Estou sempre te dizendo isso. E o Jake parece ser um cara legal, ele merece uma chance. - ela disse, incentivando-me.
- Tudo bem, me ajuda com o cabelo e a maquiagem? - eu disse sorrindo fraco e tomando coragem para finalmente seguir em frente com a minha vida. assentiu e eu terminei de me vestir para que ela pudesse me maquiar.
Os encontros com Jake tornaram-se constantes desde a primeira vez em que dividimos o elevador do prédio, várias vezes nos encontramos por lá, ou em outros lugares comuns, como no supermercado. Até que ele passou a frequentar a nossa casa e, em pouco tempo, ele tornou-se um ótimo vizinho e, para mim, um grande amigo. Mas Jake parecia querer mais do que apenas amizade e ele fazia questão de não esconder isso. Após várias tentativas dele e várias desculpas negativas da minha parte, eu finalmente havia cedido e aceitado o convite de sair para jantar com ele. E essa mudança de atitude, em grande parte, era culpa de e seu interminável discurso sobre como eu merecia encontrar alguém e ser feliz.
Enfim, ali estava eu, preparando-me para o meu primeiro encontro amoroso após quatro anos de separação, primeiro após seis anos de relacionamento com meu ex-marido. Eu me sentia nervosa, com toda a certeza havia perdido a prática. Mas eu sabia que já estava na hora. Eu precisava tentar. Precisava tirar o fantasma de de vez da minha vida.
- , o Jake chegou! - estava terminando de colocar os brincos quando chamou. Olhei-me uma última vez no espelho antes de sair, gostando da imagem que vi — eu estava quase no auge dos meus 26 anos, como todos diziam, eu era uma mulher jovem e bonita, só precisava viver a minha vida com mais diversão.
Após um longo suspiro para eliminar a tensão e a ansiedade, me encaminhei até a sala, encontrando Jake sentado no sofá brincando com em seu colo. Um sorriso involuntário tomou conta de meus lábios ao ver aquela cena e a imagem de naquela situação tomou o lugar de Jake por um momento, fazendo-me sentir um leve aperto no coração. Era para ele estar ali, era para ele estar vivenciando a paternidade, mas ele havia se decidido pelo contrário.
Tratei logo de afastar todo e qualquer pensamento que o envolvesse e caminhei em direção ao Jake, que sorriu largamente ao ver-me.
- Você está linda, . - ele disse após levantar-se e me cumprimentar com um beijo demorado no rosto.
- Obrigada, mas não fique me olhando assim porque desse jeito você só me deixa mais envergonhada. - afastei meu olhar do dele e Jake riu, a sua risada era contagiante e logo percebi que e eu ríamos com ele.
- Até parece uma família feliz. - comentou ao adentrar a sala, sorrindo.
- Não fale bobagens, . - eu a repreendi.
- Mas ela tem razão. - Jake concordou. E eu o fuzilei com os olhos.
- Vamos? – pedi, querendo livrar-me da situação constrangedora que se seguiria. Jake assentiu. – Tchau, meu amor, mamãe volta logo. - apanhei no colo e dei-lhe um beijo para me despedir, ela envolveu o meu rosto com as mãos gordinhas e quentes e sorriu. Aquilo me trazia uma imensa felicidade, era algo imensurável, inexplicável.
Jake e eu nos despedimos de , após eu atormentá-la com diversas recomendações a respeito do cuidado que ela deveria ter com a minha pequena, e então, finalmente, saímos. Jake me levaria ao cinema e depois a um restaurante. Era um encontro comum, mas era algo que eu não fazia há algum tempo e isso, de certa forma, me deixava nervosa, apreensiva. Só que Jake, com o seu jeito simpático e brincalhão, estava definitivamente conseguindo acalmar o meu estado de nervos.

Os momentos que passamos no cinema foram completamente divertidos, Jake havia acertado em cheio ao escolher uma comédia romântica, o que provavelmente foi para agradar-me, pois eu sabia que esse não era o seu tipo de filme favorito. O jantar estava sendo muito agradável também, ele havia me levado a uma aconchegante cantina italiana — mais alguns pontos para Jake. O encontro estava se saindo melhor do que eu esperava, e eu estava satisfeita por ter conseguido resgatar, pelo menos durante aqueles momentos, a divertida de alguns anos atrás. Ver Jake feliz me deixava feliz. E foi aí que eu comecei a enxerga-lo de uma maneira diferente e, sem perceber, eu já começava a divagar sobre nós dois em meus pensamentos.
- Obrigada pela noite maravilhosa. - agradeci a Jake assim que paramos em frente à porta do meu apartamento.
- Só foi maravilhosa por causa da sua presença. - ele disse sorrindo e se aproximando perigosamente.
- Ficando envergonhada de novo! - eu brinquei e ele soltou um riso baixo em meio a um suspiro.
- , eu... - ele começou e se aproximou mais ainda, quase me prendendo entre os seus braços e contra a parede do corredor. - Eu juro que estou tentando, mas já não consigo mais conter o que eu estou sentindo por você desde o momento em que a gente se viu pela primeira vez. E, bom, acho que estou disposto a correr os riscos e a voltar para casa com os seus cinco dedos estampados na minha cara... - ele fez uma pausa breve, eu o encarava atônita pelo seu próximo ato. - Eu preciso muito fazer isso.
E então Jake selou os seus lábios nos meus e envolveu os seus braços ao redor da minha cintura. Eu havia sido pega de surpresa, apesar de no fundo saber que algo assim aconteceria em breve, eu já havia percebido as intenções de Jake há algum tempo.
No início do beijo eu parecia mais uma parte da parede onde estava encosta, eu permaneci inerte, sem reação alguma, mas aos poucos algo foi mudando e eu notei um sentimento diferente por Jake crescendo dentro de mim. Aquele beijo estava me envolvendo, então me soltei completamente e entrelacei os meus braços ao redor do seu pescoço, correspondendo, enfim, ao beijo. Pude notar um sorriso brincando em seus lábios durante o ato.
- Wow! Foi muito melhor do que eu imaginava nos meus sonhos. - Jake comentou ao finalizarmos o beijo enquanto tentávamos recuperar o fôlego.
E a minha reação foi me aconchegar entre os seus braços e esconder o meu rosto no vão do seu pescoço tentando não mostrar a vermelhidão que tomou conta de mim ao ouvir o que ele disse.
- Você fica linda assim: toda tímida. - Jake sussurrou próximo ao meu ouvido e eu estremeci com aquele contato. Já fazia tanto tempo que eu não era tratada daquela forma, tanto tempo que um homem não demostrava o seu carinho por mim. Senti meu coração disparar com aquelas palavras. Meus sentimentos por Jake estavam crescendo. E aquilo me assustava um pouco.
- E você ama me deixar tímida. – desvencilhei-me de seus braços e o encarei finalmente. Jake sorriu. - Eu preciso entrar para ver como a está, nunca se sabe o que ela pode ter feito com a . - disse brincando e nós rimos.
- Tudo bem, boa noite, linda. – ele aproximou-se e selou seus lábios aos meus rapidamente, fechei os olhos involuntariamente para aproveitar aquela sensação há muito tempo perdida. - Tenha bons sonhos. - Jake finalizou ao separar os lábios dos meus e se encaminhou em direção ao elevador.
- Boa noite, Jake. – despedi-me com um sorriso nos lábios e adentrei o apartamento, respirando fundo para suportar o interrogatório que me faria a seguir a respeito do encontro.


"Porque a vida segue. Mas o que foi bonito fica com toda a força. Mesmo que a gente tente apagar com outras coisas bonitas ou leves, certos momentos nem o tempo apaga. E a gente lembra. E já não dói mais. Mas dá saudade. Uma saudade que faz os olhos brilharem por alguns segundos e um sorriso escapar volta e meia, quando a cabeça insiste em trazer a tona, o que o coração vive tentando deixar pra trás."
Caio Fernando de Abreu



Capítulo 06



Uma mulher se torna mãe ao engravidar, um homem se torna pai somente ao ver o bebê pela primeira vez.
- Juno (Filme)



Seis meses depois...

's POV

- Alô? - atendi a ligação irritante que insistia em atrapalhar o meu sono.
- Cara! Nasceu! - vibrava do outro lado da linha, levei algum tempo para colocar o meu raciocínio em ordem devido ao sono, até que despertei, finalmente entendendo sobre o que ele falava.
- Dude, parabéns! – disse ao sentar-me na cama e parabenizando-o, Ashley remexeu-se ao meu lado, resmungando algo incompreensível. - Como ele é?
- Perfeito, dude! Lembra muito à mãe. - ele dizia entusiasmado.
- Graças a Deus! O pobre garoto iria sofrer se tivesse a sua cara. - eu disse brincando.
- Idiota. - respondeu. - Mas nem as suas gracinhas vão atrapalhar o meu bom humor hoje e, a propósito, acho que o padrinho do Charlie deveria vir visitá-lo. - havia me convidado para ser padrinho do seu filho, o que me deixou muito feliz, sempre quis ter filhos. Mesmo nunca tendo demonstrado, era uma vontade que eu não expressava em momento algum, acho até que se surpreenderia se soubesse. ... Lá estava eu pensando nela novamente. De qualquer forma, padrinho era uma espécie de pai e isso me deixava satisfeito. A irmã de seria a madrinha e quem não ficou satisfeita com isso foi Ashley, que achou um ultraje a noiva do padrinho não ser automaticamente a madrinha da criança, mas eu sabia que tudo não passava de birra. Ashley detestava crianças. E Penny, esposa de , detestava Ashley.
- Claro, mate, só vou me trocar e já estou indo. Preciso ensinar algumas coisinhas pro meu afilhado, quanto mais cedo melhor. – respondi, continuando na brincadeira.
- Você não vai ensinar nenhuma idiotice pro meu filho! - repreendeu, fazendo-me rir e algum tempo depois nos despedimos.
Segui até o banheiro para me arrumar e, quando estava pronto, aproximei-me de Ashley na cama para avisar que estava saindo, sabia que ela não faria questão de se levantar antes das dez da manhã e eram oito horas ainda. A garota resmungou algo assim que a chamei e virou-se de costas para mim, desisti de chamá-la e decidi deixar um bilhete ao lado do seu celular avisando onde eu estaria.
Passei pela cozinha apanhando uma maçã, as chaves do carro estavam sobre a bancada de mármore. Saí do apartamento seguindo em direção à garagem e depois até o hospital.

(...)


- Acho melhor a gente se separar, você pega as bebidas e eu pego a carne. Depois nos encontramos no caixa. – sugeriu e eu assenti, seguindo com outro carrinho em direção à sessão de bebidas do supermercado.
Passaram-se algumas semanas, e Penny estavam preparando um churrasco para os amigos e familiares para comemorarem o batizado de Charlie e eu, como um ótimo padrinho que era, estava me dispondo a ajudá-lo nas compras. Na verdade, eu havia sido intimado, mas isso não vem ao caso. Apanhei tudo o que precisava e segui em direção ao caixa do supermercado, ao longe avistei parado na sessão de congelados conversando com uma ruiva, que era muito gata por sinal, ela estava acompanhada de uma garotinha de cabelos castanhos e um sorriso muito familiar no rosto, aproximei-me aos poucos e quase não acreditei quando reconheci a tal ruiva.
- Até que enfim apareceu, cara, achei que tinha se perdido entre as bebidas. – brincou, eu rolei os olhos. E ele continuou falando. – Dra. , esse é o , meu amigo e companheiro de banda. – nos apresentou, a ruiva finalmente me encarou, um olhar sério em seu rosto. Ela parecia um pouco pálida. – , essa é a pediatra do Charlie, a...
- ? – eu o interrompi, encarando-a.
- Como está, ? – ela disse de forma séria e educada.
- Vocês se conhecem? – questionou confuso. Ele e os outros caras da banda não conheciam , ela e eram amigas de infância, mas ficaram separadas durante a adolescência, quando se mudou para Londres com os seus pais, antes deles falecerem, deixando na cidade onde havia nascido e nos conhecemos ao ingressar no novo colégio, mas alguns anos depois também se mudou para Londres para cursar Medicina na universidade. As duas se reaproximaram pouco tempo antes de e eu nos separarmos, por isso eles nunca tiveram a oportunidade de se conhecer.
- é a melhor amiga de . – eu expliquei rapidamente e me voltei novamente à ruiva a minha frente. – Você tem notícias da ? Sabe por onde ela anda? – a garota se mexeu desconfortável antes de responder, como se não quisesse me dizer algo.
- Não que seja da sua conta, mas se mudou para Essex, voltou para a antiga casa dos avós. Não a vejo há alguns anos. – ela disse e um suspiro derrotado escapou por entre meus lábios. Então era por isso que eu não a havia encontrado durante todo esse tempo.
- Tia Lo, quelô soveti. – a pequena menina sentada no suporte para crianças do carrinho de compras que portava chamou a nossa atenção.
- Você sabe que esta dodói, não sabe, meu amor? – falou afetuosamente com a garotinha, que assentiu. – Então, para que aqui não doa mais, - ela disse apontando para a garganta da garotinha, que ainda parecia muito familiar para mim. – você precisa dar um tempo ao sorvete. – ela sentenciou e a menina a olhou triste, fazendo um bico logo em seguida. – Ah, sua pequena espertinha, não faça esse bico que você sabe que me parte o coração! Que tal se a titia te comprar um chocolate? Só não conte a sua mãe. – propôs e a menina concordou, logo voltando a sorrir.
- Que garotinha linda, então você é tia? – perguntou casualmente. pareceu desconfortável com a pergunta.
- So... Sou, minha irmã a teve há três anos e eu ajudo a cuidar dela às vezes, amo essa pestinha. E sabe como é, babá e pediatra, quão cômodo isso é? – brincou e riu, meu olhar pousou sobre aquela pequena garotinha. Havia algo nela que me chamava a atenção, algo no sorriso, nos olhos, tão parecidos com os meus. – Nós já vamos, já está tarde. Peça perdão a Penélope, mas eu não vou poder ir à festa do Charlie hoje, infelizmente, . Nos vemos na consulta de segunda-feira.
se despediu de repente e seguiu para um caixa próximo que se encontrava, milagrosamente, desocupado. Eu a observei pagar tudo e ir embora, mas quando meus olhos pousaram naquela garotinha pela última vez, algo estranho surgiu dentro de mim, como se algo importante estivesse sendo tirado de mim. me chamou e eu finalmente acordei daquele transe, afastando aqueles pensamentos e o segui até o caixa para que pudéssemos pagar as compras e ir logo embora dali.

No caminho, eu pensei no que havia dito. não morava mais em Londres, ela havia ido embora. E talvez eu nunca mais fosse revê-la. Deve ter sido melhor assim. O destino às vezes sabe o que faz.


Destino é a ponte que se constrói entre você e a pessoa amada.
Ironias do amor (filme)



’s POV

Girei a chave na fechadura e adentrei o apartamento, imediatamente veio correndo em passinhos desajeitados ao meu encontro.
- Mamãe! – ela exclamou feliz, agarrando minhas pernas com seus pequenos bracinhos fofos. Minha filha é tão linda e eu, definitivamente, sou uma mãe muito coruja.
- Oi, meu amor, sentiu saudades? – ela balançou a cabeça freneticamente, assentindo, e eu a apanhei em meus braços. – Se comportou bem? Obedeceu a titia ? – a minha bebê assentiu novamente e sorriu sapeca.
- Hey, , como foi o trabalho? – se pronunciou pela primeira vez, após deixar que matasse suas saudades de mim.
- Foi tudo bem, a minha turma estava estranhamente comportada hoje. – disse brincando. – E se comportou bem mesmo? – perguntei, encarando a pequena garotinha em meus braços que se aconchegou ainda mais entre eles. Minha filha estava ficando muito carente.
- Ela se comportou sim, a Soph é uma linda, não é, meu amor? – disse fazendo cócegas nela, que riu divertida.
- Obrigada por tomar conta dela, , não queria que você tivesse trabalho no seu dia de folga, amanhã retornará a creche normalmente.
- Sem crise, , eu já disse que amo cuidar da minha afilhada linda. – disse sorrindo. – Vou terminar o jantar, já volto. Se quiser pode ir tomar o seu banho que fica comigo, ela é a minha ajudante especial. – piscou para a minha pequena, que sorriu mostrando os seus dentinhos de leite toda satisfeita com o cargo que lhe fora atribuído.
- Pois bem, eu vou aceitar. Estou desesperada por um banho quente e pelo meu pijama quentinho, lá fora está absolutamente frio. – disse me encolhendo e logo riu, chamando-me de exagerada. Ignorei e segui até o meu quarto.

Algum tempo depois, nos encontrávamos sentadas sobre o sofá da sala jantando enquanto assistíamos há algum episódio de House na TV, um hábito nada saudável este de fazer refeições em frente ao televisor, mas era preciso ter algum prazer na vida às vezes. já dormia em seu berço no quarto, o dia parecia ter sido exaustivo para a minha pequena filha.
- Alguma novidade? – perguntei para quebrar o silêncio, se remexeu na poltrona, algo a incomodava.
- Na verdade... Não. – ela disse rapidamente. – Apenas fomos ao mercado, demos uma volta na pracinha e voltamos pra cá.
- Tudo bem, agora me diga a verdade. Te conheço muito bem, , sei que está escondendo algo. – ela me olhou surpresa e se fez de ofendida.
- Ok, eu confesso. Pedi para não te contar nada, mas... Eu dei chocolates a ela. – ela disse de repente e eu assenti, compreendendo. Ela parecia estranhamente aliviada.
- Então está ensinando a minha filha a mentir para mim? Eu realmente não precisava disso, . – disse fingindo estar brava, riu.
- Ela me pediu sorvete, mas eu não podia lhe dar, já que ela está resfriada. Não é minha culpa se aquela garotinha daquele tamanho já sabe derreter o coração de qualquer um com aquela carinha fofa que ela faz de dar pena. Sua filha é uma pequena chantagista! – ela exclamou e eu a olhei indignada, mas concordei rapidamente. Rimos logo em seguida.
- Jake virá te ver hoje? – perguntou algum tempo depois.
- Ele teve que fazer uma curta viagem de trabalho, mas voltará amanhã à tarde. – eu disse e ela assentiu.
Ficamos mais algum tempo jogando conversa fora na sala e opinando sobre o episódio de House que ainda passava na televisão, depois, me senti realmente cansada e me despedi de prometendo lavar a louça no dia seguinte. Segui até o meu quarto, pronta para me jogar sobre a minha amada cama e adormecer por pelo menos oito horas. Mas antes que eu pudesse fechar os meus olhos, meu celular vibrou sobre o criado mudo, sinalizando uma mensagem recebida. Estiquei o meu braço preguiçosamente e apanhei o aparelho, sorrindo logo em seguida ao ler o que estava escrito na mensagem.

Já sinto saudades, durma bem e sonhe comigo.
Porque eu definitivamente irei sonhar com você.
Xoxo – Jake.


Adormeci feliz após ler as palavras lindas de Jake sentindo-me uma mulher de sorte por tê-lo conhecido. O nosso relacionamento ainda não era algo oficial, mas eu sentia que tudo mudaria em breve. As coisas finalmente estavam se acertando na minha vida — em todos os sentidos. O passado já não me assombrava mais, pelo menos era naquilo que eu queria acreditar.


And there will come a time, you'll see, with no more tears.
And love will not break your heart, but dismiss your fears.
- After the Storm – Mumford and Sons



Capítulo 07




"Talvez o final feliz, seja só seguir em frente." - Ele Não Está Tão Afim de Você (filme)



Aquela era uma noite atípica para o outono inglês: apesar da brisa fresca, o dia estava relativamente quente e por esta razão, as ruas se encontravam abarrotadas de pessoas circulando entre os bares e casas noturnas no centro da Londres — pessoas procurando diversão e aproveitando uma trégua no mal tempo costumeiro da cidade. Após muita insistência de , a boa vontade da babá de e mais uma viagem inesperada de Jake, eu me encontrava entre aquelas pessoas. Nós duas adentramos um pub em Notting Hill, onde costumávamos ir a algum tempo atrás, desde que minha amiga havia se mudado para a capital da Inglaterra.
- Até que enfim consegui te arrastar para fora de casa! - exclamava, enquanto pedia nossas bebidas ao barman.
- Deixa de ser exagerada, , você sabe que eu tenho saído muito ultimamente com Jake. Às vezes me pergunto se a não acha isso ruim. - disse apreensiva.
- Por favor, ! - a ruiva exclamou novamente, revirando os olhos, entediada. - Primeiro, eu não estava me referindo às suas saídas com o nosso vizinho gostoso, que, aliás, já deveria ter lhe pedido em namoro. Eu me refiro a sair só nós duas, noite das garotas, esse tipo de coisa. Sinto falta da minha melhor amiga, sabia? - ela disse manhosa.
- Oh, que fofa! – disse, abraçando-lhe. sorriu.
- E por fim, não deixe a sua vida girar em torno apenas da . Eu sei que ela é sua filha, seu maior tesouro, grande amor e tudo mais. Mas acho que até ela deseja que a mãe seja feliz e que se divirta mais. - piscou e se virou novamente em direção ao barman, apanhando as nossas bebidas, mas assim que ela tentou entregar a minha, alguém a empurrou desajeitadamente, fazendo-a derrubar todo o líquido em seus sapatos novos e xingar alto.
- Porra, idiota! Olha por onde anda! - disse nervosa. - Meus sapatos! - ela choramingou, mas logo se calou ao notar o lindo par de olhos que a encaravam. E assim que eu percebi a quem eles pertenciam, senti todo o sangue do meu corpo evaporar.
- Desculpa, linda, algum idiota me empurrou e... - , que tentava se explicar, ficou mudo de repente assim que me viu. - ?
- Vocês se conhecem? - perguntou com um sorriso estranho nos lábios e um brilho inesperado no olhar.
- . - finalmente consegui pronunciar algo e sorri, cumprimentando-o.
- Não acredito que é você mesma! Mas eu não acho que esteja tão bêbado, então só pode... Cara, que louco! Quando tempo! Como você está? - exclamou, portando um belo sorriso nos lábios.
- Eu estou bem, . - respondi simplesmente e ele avançou sem receio algum em minha direção, envolvendo-me em um abraço caloroso em seguida. - , eu não estou conseguindo respirar. - reclamei e ele me soltou, rindo.
- Continua uma pirralha fresca. - ele disse em tom de brincadeira.
- E você continua lerdo e desastrado. - eu reclamei. - Senti saudades. – disse, abraçando-o de volta e então pigarreou, fazendo-se presente.
- Com licença, eu não gosto muito de ser ignorada. - ela resmungou, fazendo careta.
- Centro das atenções. - eu brinquei.
- Claro, oi, linda! Os seus sapatos... Me desculpe, eu sou mesmo um idiota desastrado. - a olhou com aquela sua famosa cara de cachorro sem dono que derretia o coração de qualquer ser humano, principalmente do gênero feminino. sorriu toda abobalhada.
- Eu não disse? - eu falei, curtindo uma com o desespero dele, que me mostrou a língua em seguida.
- Se você quiser, eu posso te dar dinheiro para comprar sapatos novos. - ele sugeriu apreensivo.
- Cara, não é pra tanto. - revirou os olhos, respondendo-lhe do seu jeito desencanado. - Eu me contento com outra bebida. - ela piscou e sorriu, aliviado.
- É pra já! Prazer, . – ele lhe estendeu a mão.
- Eu sei quem você é. - minha amiga disse sorrindo e ele a olhou divertido. – , mas pode me chamar de . - ela completou apertando a mão dele e rapidamente pegou a dela e plantou um beijo na parte de cima. Notei o olhar de brilhar mais ainda. E então foi a minha vez de pigarrear, fazendo com que nós três déssemos risada.
- Poxa, , por que você nunca me apresentou essa sua amiga linda? - perguntou com seu sorriso sedutor nos lábios e encarando nos olhos. Eu já sabia onde aqueles sorrisos e olhares iriam terminar.
- é minha amiga de infância, mas ficamos afastadas quando me mudei para Londres e conheci vocês, ela se mudou para cá um pouco antes de... - um aperto no peito me atingiu, fazendo-me interromper o que eu dizia. Aquilo ainda doía, apesar de eu lutar com todas as forças para que não doesse mais, me olhou compreensiva e parecia confuso.
- Antes do babaca do ex-marido dela se mandar. - terminou a minha frase e eu a repreendi com o olhar. então me encarou com pena, compreendendo o meu silêncio repentino e eu tratei logo de mudar de assunto para não ter que suportar aquele olhar.
- Como estão os outros? ? ? - perguntei com um sorriso forçado no rosto.
- Continuam idiotas. - brincou e eu ri alto. - continua ciscando pelos terreiros da vida e se casou com Penny. Você se lembra dela, não lembra? - eu assenti. - E eles acabaram de ter um filho, graças a Deus o moleque se parece com a Penny! - exclamou rindo, riu completamente sem graça, como se conhecesse as pessoas de quem estava falando e eu achei aquilo um pouco estranho.
- Não seja idiota, . O sempre foi o meu favorito entre todos vocês, Penny é uma mulher de sorte. - eu disse brincando e me olhou ofendido.
- Mulherzinha cega e ingrata! - ele exclamou de maneira afetada com as mãos postadas na cintura, fazendo gargalhar alto mais uma vez. a encarou com um sorriso no olhar.
Então um silêncio inusitado se instalou entre nós, dando fim àquela conversa descontraída de amigos que não se viam há muito tempo e que me distraíra por alguns instantes, fazendo com que novamente algo assombroso retornasse ao meu pensamento enquanto nós três nos encarávamos sem saber o que dizer. Senti um arrepio de medo percorrer o meu corpo e minha respiração se tornou falha quando me lembrei de que e os outros caras da banda sempre saíam após os ensaios. Nos últimos momentos do meu casamento, eu sempre era deixada em casa sozinha, enquanto meu ex-marido se divertia com eles em algum bar da cidade. Se estava ali naquele momento, então eles provavelmente...
- Você está sozinho? - perguntei alarmada.
- Ele não está aqui, . - disse calmamente. - Fique tranquila. - ele me abraçou de lado e eu soltei todo o ar que havia prendido nos pulmões sem perceber.
- Se ele estivesse aqu,i eu daria um jeito nele, amiga. - mostrou os punhos e eu sorri fraco.
- Os caras vão amar saber que você está em Londres. - comentou e eu me soltei dele rapidamente.
- Você não pode contar sobre mim pra eles, ! Nunca! – exclamei, novamente com medo. Nem deveria saber sobre mim.
- Por que não? - ele perguntou confuso. - Nós não temos nada a ver com o que aconteceu entre você e o . - ele disse triste e meu estômago se revirou ao ouvir aquele sobrenome que um dia já havia sido meu. - Pensei que nós fossemos seus amigos, .
- Como se vocês não tivessem sido coniventes com as coisas que ele fazia. - eu disse ácida. - Quão amigos vocês eram, ! Até mesmo saíam com ele, e aposto que viam tudo, aposto que sabiam sobre a outra, mas nunca foram homens o suficiente para me contar a verdade... Desculpe, mas eu não preciso de amigos como vocês. - procurei me manter fria enquanto dizia a tudo o que estava entalado na minha garganta. Meu coração estava acelerado e toda a mágoa que eu sentia de todos eles veio à tona, explodindo como um vulcão entrando em erupção. Decidida a sair dali e nunca mais olhar para a cara de , virei as costas e me lancei em meio à multidão, esperando que compreendesse e me seguisse, mas antes que conseguisse me afastar, fui puxada novamente em direção a ele.
- Por favor, não vá embora. Me faz muito mal te ver assim tão magoada comigo e com os outros caras. Sei que nós também tivemos culpa, você não merecia, . Nunca mereceu. Eu não consigo te ver assim, você sabe que é como se fosse a minha irmã mais nova. Você faz falta nas nossas vidas, de verdade. O foi um completo babaca contigo, mas eu admito que nós também fomos. Só quero que você saiba que é sincero o que eu sinto por ti e eu compreendo a sua decisão de se afastar. - disse me olhando fixamente em meus olhos, o seu olhar demonstrava um misto de tristeza, angustia e nostalgia. Aquele olhar estava quase me amolecendo. Porém, na mesma rapidez com que havia me segurado, ele me soltou, deixando os braços soltos paralelos ao corpo e me liberando de vez.
- Espero que você consiga nos perdoar algum dia. - disse e se virou, caminhando para longe.
Eu permaneci estática onde estava, sentindo-me estranhamente triste, só e com saudades de tempos que não voltariam. Mas não merecia esse sentimento, assim como e . Mesmo não querendo admitir, ainda me sentia muito magoada. Não era apenas que havia me ferido, eles também o haviam feito. Respirei fundo, tentando conter o nó na garganta, eles eram página virada da minha vida. Eu deveria deixá-los desaparecer de vez.
me abraçou de lado, confortando-me e eu a encarei, nós não precisávamos dizer em palavras o que sentíamos, uma conhecia a outra muito bem — aquilo, sim, era amizade. Ela não era falsa comigo, ela não mentia. Quem dera , e houvessem agido da mesma forma.
Mas a quem eu queria enganar, iria foder com tudo de qualquer maneira.
- Respira fundo, amiga. Você é melhor do que tudo isso. – me disse carinhosamente enquanto me dava apoio com o abraço de lado. – Vamos pra casa, . E enterre esses idiotas no passado. – ela disse firme e me puxou em direção à saída do pub.
- Pensei ter notado algo entre você e o . – disse de repente, enquanto dirigia de volta pra casa. – Apesar de tudo, ele é um cara legal. Você iria gostar, se o conhecesse bem.
- Um cara que não impediu outro de magoar a minha melhor amiga não merece o meu interesse. – ela disse novamente, decidida.
- ...
- Vamos esquecer isso, . Eu não quero te ver triste. Vamos seguir em frente! – sorriu com o olhar fixo na estrada e eu sorri de maneira fraca, tentando acompanhá-la naquela difícil jornada.

(...)


"Dói menos arquivar as coisas do que viver com elas.Antes do pôr do sol (filme)



~~~~~


- Vem, ! Eles não mordem. - dizia rindo, enquanto me puxava pela mão em direção a uma mesa no lado esquerdo da sorveteria. Era fim de tarde, numa segunda-feira, nós havíamos nos conhecido pela manhã no colégio, mas parecia que eu o conhecia a minha vida toda, tamanha era a nossa afinidade em tão pouco tempo.
Lembrei-me daquela manhã, eu estava nervosa por ser aluna nova e estar me infiltrando no colégio no meio do ano letivo. Eu tinha 16 anos, meus pais haviam falecido há pouco tempo, num acidente de carro, logo após fixarmos residência em Londres e eu fui obrigada a me mudar novamente, desta vez para a casa dos meus avós maternos. Nunca gostei daquela sensação que se tem quando se é um "corpo estranho" em um novo ambiente, detestava trocar de colégio.
Cheguei cedo ao Dover College, no centro de Londres. Colégio caro que a minha mãe havia frequentado quando mais nova e onde meus avós fizeram questão de me matricular assim que fui morar com eles. Encaminhei-me até a secretaria para apanhar os meus horários e na saída esbarrei em um garoto lindo de olhos , ele sorriu, desculpando-se enquanto uma senhora o arrastava sem piedade em direção à diretoria. Retribui-lhe com o meu sorriso mais tímido, acenei com a cabeça, informando que não havia sido nada e segui o meu caminho à procura da sala onde teria aula de matemática — vibrando internamente pelo meu primeiro dia de aula, que já tinha começado muito bem com uma das minhas matérias favoritas, ironias à parte. O resto da manhã se seguiu normalmente entediante até o intervalo, onde eu me sentei embaixo de uma árvore afastada no pátio. Eu havia conversado com algumas pessoas durante as três primeiras aulas, mas não me enturmara com ninguém ainda. Nunca fui muito sociável logo de cara, por isso preferi ficar sozinha.
Mas foi quando eu estava sentada em uma das mesas do laboratório de química, onde teria as duas últimas aulas do dia e local que o professor havia me indicado, que ele apareceu: atrasado.
- Hey, Fred! Desculpa pelo atraso, tive uns probleminhas no banheiro. - ele sorriu sapeca. Era o garoto de olhos . - o professor respondeu sem muita paciência. - Você finalmente conseguiu uma parceira nesta aula, por favor, não a leve para o lado negro da força. - ele fez gracinha, aparentemente bem-humorado dessa vez e pediu para que o tal se sentasse.
Todos os olhares da classe se voltaram para ele enquanto caminhava em minha direção e se sentava na cadeira ao meu lado. Pelo visto, ele era um dos populares encrenqueiros.
- Oi, minha nova parceira, sou , mas pode me chamar de . Qual o seu nome? - ele perguntou com um sorriso nos lábios que me seduziu completamente, eu desviei os meus olhos dele, não entendendo aquilo que eu estava sentindo.
- . - eu disse, sentindo o meu rosto esquentar.
- , belo nome. - ele sorriu. - Posso te chamar de ? - perguntou e eu assenti. – Legal! Você não é de falar muito, não é? - ele questionou novamente, curioso, e eu assenti outra vez.
gargalhou alto e fez com que o professor nos olhasse, chamando a sua atenção logo em seguida.
- Desculpe, Fred, pode continuar com a aula. - ele disse sorrindo matreiro e se voltou novamente para mim. - Não se preocupa com o que o Fred falou sobre aquela parada de “lado negro da força”, eu não sou tão delinquente assim, ele só gosta de pegar no meu pé, ele e todos desta escola. - disse fazendo bico, o que eu achei muito fofo e não pude controlar o sorriso que se formou em meus lábios. - Você tem um belo sorriso, sabia? - ele disse e senti o meu rosto se aquecer ainda mais. - E fica linda com essa cara vermelha. - ele riu de novo e eu fechei a cara, ignorando-o e desviando o meu olhar para o professor, que explicava algo sobre alotrópicos. riu baixo novamente e fez o mesmo, ficando em silêncio, mas isso não durou muito tempo.
- Maneira a capa do seu caderno, você é mesmo fã dos Beatles? - ele perguntou virado para mim. Era óbvio que ele não me deixaria em paz. Então dei de ombros e respondi.
- Sim, eu sou. Herança dos meus pais. - respondi simplesmente, sentindo um aperto no peito ao me lembrar deles. Tudo ainda era muito recente, mas felizmente não percebeu, não aguentava mais os olhares de compaixão das pessoas sobre mim quando descobriam que agora eu era órfã.
- Legal, é difícil ver uma garota da nossa idade com bom gosto musical, principalmente nesta escola. - disse, revirando os olhos. - Do que mais você gosta, ? - ele perguntou curioso.
- , nós estamos no meio da aula. - eu disse nervosa após o professor olhar novamente em nossa direção.
- Relaxa, o Fred é gente boa. E eu sou fera nessa matéria, depois te explico tudo, se você precisar. - ele piscou. - Então, me diz, que tipo de bandas você curte? - ele insistiu e eu não tive escolha a não ser entrar na dele.
Mas no final, aquela conversa acabou sendo bem legal. realmente me explicou a matéria e a aula passou bem rápido. No final da manhã, enquanto eu guardava as minhas coisas na mochila, ele perguntou se eu não gostaria de tomar um sorvete com ele e os amigos mais tarde. Eu fiquei um pouco receosa em aceitar, era uma garota completamente tímida, mas ele insistiu tanto que eu acabei cedendo novamente. Queria que aquilo não se tornasse um hábito. Então, horas depois, lá estávamos nós adentrando a sorveteria. avistou os amigos e me guiou até a mesa. Ao longe notei os três garotos, todos igualmente bonitos, tão bonitos quanto . Algumas pessoas que estavam no local olharam em nossa direção, curiosos sobre a garota nova que estava ao lado de . Mais tarde eu saberia o quão popular eles eram e sentiria na pele a inveja das garotas do colégio, quando me tornasse a melhor amiga daqueles quatro garotos.
- Hey, , quem é a gatinha? - um dos garotos perguntou, olhando-me de cima a baixo. , estranhamente, o fuzilou com o olhar e ele riu baixo. - Pelo visto já tem dono. - o garoto resmungou e levou um pedala de .
- Idiota. - respondeu. - Se as mocinhas, como o aqui, não têm mais nenhuma gracinha a fazer, eu vou apresentar a minha nova amiga. - todos negaram rindo e ele continuou. – Cambada, essa é a , minha nova parceira de laboratório, ela se mudou pra Londres agora. - ele disse e todos vieram até onde eu estava, cumprimentando-me com beijos no rosto. - Ok, já deu. - cortou a alegria geral, eu já estava vermelha de vergonha, eles eram realmente muito lindos.
- Como o é mal educado, eu nos apresento. - outro deles falou e lhe mostrou o dedo discretamente. - Eu sou o , este aqui é o e o idiota que mexeu contigo no começo é o . - o tal falou sorrindo eu assenti.
- Seja bem vinda! - e disseram em coro.
- Obrigada, garotos. - agradeci sorrindo.
- Senta aqui do meu lado, . - falou e novamente olhou com cara feia. - A gente conversa enquanto o paga um sorvete pra você. - ele disse piscando e os outros riram.
- Não é preciso, eu posso pagar, não quero dar trabalho. - eu disse, virando-me para , encabulada.
- Relaxa, linda, eu ia mesmo pagar o seu sorvete, afinal de contas, fui eu quem te convidou. - sorriu. - Pode sentar aí com os três babacas, não precisa ter medo que eles não são de nada e se eles fizerem algo, me diz que eu quebro a cara dos três. - sorriu confiante enquanto os outros o mandavam para aquele lugar. - Você gosta de qual sabor? - ele me perguntou, ignorando-os.
- Pode ser de morango. Obrigada pelo sorvete, . - eu sorri e ele acompanhou o meu gesto. O sorriso dele era lindo.
se afastou em seguida e seguiu até o caixa, onde havia uma pequena fila, para fazer os pedidos. Eu me sentei ao lado de e ele e os outros começaram a conversar comigo. No final, eles eram realmente legais, falavam muitas idiotices que me fizeram rir e tinham o mesmo gosto musical que o meu. Disseram, inclusive, que eles e haviam acabado de formar uma banda, eu disse que queria muito ouvi-los tocar, e eles prometeram me levar a um dos ensaios. Foi fácil me enturmar com os três, quando voltou, nós já agíamos como velhos amigos e aquela foi uma das melhores tardes da minha vida.


~~~~~

A claridade da manhã tomou conta do quarto enquanto eu era lançada do meu estado de inconsciência de volta à realidade. Novamente, eu havia me esquecido de fechar a porcaria da cortina, mas isso já tinha se tornado um costume.
Porém, aquele despertar estava, no mínimo, estranho. Havia um cheiro de flores no ar, como se eu houvesse adormecido em meio ao campo. Ao longe, vozes eram ouvidas aos sussurros, meus olhos já não pesavam mais e eu sentia e todas aquelas lembranças se distanciarem de mim aos poucos, direto para as profundezas do meu inconsciente — de onde nunca deveriam ter ressurgido — e em instantes eu deixaria o mundo dos sonhos, não me perguntem como eu sabia aquilo.
Despertei de vez no momento em que senti algo pequeno e quente envolver o meu rosto e uma risadinha animada invadir o ambiente.
- Acoida, mamãe ninda! Quelô brincá! - dizia contente, deitada sobre mim e envolvendo meu rosto com as suas pequenas mãos. Não pude conter o sorriso que se formou em meu rosto. Como eu amava aquele pequeno ser!
- Bom dia, meu amor! – exclamei, me sentando na cama com cuidado para não derrubá-la e comecei a enchê-la de beijos no rosto e mordidinhas no pé. Minha filha gargalhava alto.
- Não, mamãe, tô com cóxecas! - ela dizia embolando as palavras enquanto ria. E então outra risada invadiu o ambiente e me tomou de surpresa.
- Jake! - eu exclamei contente assim que o vi encostado no batente da porta do quarto, com uma bandeja de café da manhã em mãos, sorrindo em nossa direção. Seus olhos brilharam assim que encontraram os meus, que provavelmente refletiram aquele brilho.
Segurei em meu colo e Jake caminhou lentamente em nossa direção, ele depositou um beijo carinhoso em meus lábios e sorriu, dando a volta na cama e se sentando ao meu lado, colocando a bandeja entre nós.
- Bom dia, linda. - ele disse, finalmente se virando em minha direção. - e eu fizemos essa surpresa para você. O que achou? - ele completou, apanhando em seu colo. Minha pequena filha sorria orgulhosa de si mesma. Era estranho notar o quanto ela e Jake haviam se apegado em tão pouco tempo.
Desviei os olhos dos dois por um momento e notei de onde vinha aquele cheiro de flores que invadira meus sonhos. O quarto estava repleto delas, inclusive sobre a cama. Jake havia preparado tudo enquanto eu dormia. O quão silencioso ele poderia ser? Tudo estava lindo e o mais importante, notável e tocante, era que ao meu lado, na mesinha de cabeceira, havia um buquê das minhas flores preferidas: lírios brancos. Tentei me recordar de quando lhe dissera que aquelas eram as minhas flores preferidas, mas cheguei à conclusão de que nunca o havia feito. Se não tinha lhe contado isso, provavelmente aquele homem era mesmo o cara dos meus sonhos.
Tomando cuidado para não derrubar a bandeja de café da manhã, eu abracei a ele e , enquanto sorria, agradecendo-os pela bela surpresa.
- Ficou lindo, meus amores. – disse, beijando a minha pequena na bochecha e em seguida me direcionei a Jake. - Eu senti tanta saudade, que bom que você retornou mais cedo. - finalizei depositando um selinho em seus lábios e ele sorriu satisfeito.
- Isso é porque você não imagina o tamanho da minha saudade, mas eu te mostro mais tarde. - ele piscou sugestivo e eu senti meu rosto corar.
- Jake! - exclamei rindo. - A . - reclamei, indicando minha pequena, que agora estava brincando com as pétalas de flores que estavam esparramadas aos pés da cama. Jake riu alto.
- Ela é um bebê, . Não deve ter entendido o que quero fazer com a mãe dela esta noite. - ele piscou todo sedutor e eu o abracei em seguida, rindo.
- Quando você chegou? E por que está aqui tão cedo? - perguntei confusa.
- Não é tão cedo, acredite. A senhora dorminhoca se esbaldou hoje. - ele disse rindo. - Cheguei faz três horas, me deixou entrar e depois saiu para trabalhar. Confesso que estava apreensivo, pois havia te preparado essa surpresa durante a viagem e os caras da floricultura já estavam na entrada do prédio quando cheguei, se a não abrisse a porta, nada daria certo. Você gostou mesmo? Não ficou exagerado? - ele perguntou, demonstrando nervosismo.
- Deixe de ser bobo! Ficou tudo muito lindo... Acho que nunca me fizeram uma surpresa tão linda. - disse contente, mas no fundo eu sabia que aquilo era mentira, alguém já havia feito algo lindo para mim no passado, mas aquilo não apagava o mal que ele havia feito anos depois.
- Que bom que você gostou. Quero te levar pra jantar hoje à noite, você topa? - ele perguntou e eu assenti. Jake sorriu satisfeito. – Então, que tal tomarmos café da manhã agora? Aposto que a está com fome, não está, pequena? - meu bebê nos olhou sacudindo a cabeça freneticamente em afirmação e Jake a pegou no colo novamente. - Então vamos encher a pança!... E não se preocupem, comprei tudo na padaria. - ele exclamou e nós rimos.


Naquela noite de sábado, Jake me levou a um restaurante novo no centro de Londres, o local era chique e eu me senti um pouco deslocada, pois nunca me senti confortável nesse tipo de ambiente. Sempre fui o tipo de garota que frequenta pizzarias ao invés de restaurantes franceses, mas a companhia de Jake amenizava tudo.
- Você parece desconfortável. - Jake observou enquanto comíamos a nossa refeição.
- Não estou acostumada com tanto luxo, só isso. Desculpe por ser tão caipira. - disse sorrindo.
- Mas é isso o que eu amo em você. - ele sorriu de volta e eu senti o meu coração bater descompassado. - Posso confessar uma coisa? - ele pediu e eu assenti. - Também detesto esse tipo de lugar, mas hoje é uma noite especial.
O olhei curiosa, mas Jake apenas piscou e segurou a minha mão direita por cima da mesa. Era impossível acreditar na minha sorte, depois de tudo o que eu passara, finalmente havia encontrado um homem tão incrível, às vezes eu desconfiava de tudo aquilo. Mas era tudo tão perfeito que eu acabava me deixando deslumbrar, mesmo sabendo que não deveria agir daquela maneira.
Enquanto comíamos a sobremesa, ao longe uma música começou a tocar, era uma melodia clássica e quando dei por mim, havia um violinista ao lado da nossa mesa. Jake me olhou profundamente, retirou uma caixinha de veludo do bolso, pegou a minha mão entre as suas, respirou fundo e começou a falar:
- Eu te disse que esse não era um jantar qualquer. - ele sorriu nervoso. - E correndo o risco de me achar brega, você não tem ideia de como o meu coração está disparado neste momento. - Jake respirou novamente, encarou-me e disse por fim. - , quer ser a minha namorada?
Eu fui pega de surpresa, e isso era fato. Apesar de eu já ter imaginado aquele momento antes, nós já passávamos muito tempo juntos, aquele pedido seria uma consequência, mas mesmo assim, não pude deixar de sentir algo estranho diante daquelas palavras de Jake. Era como se finalmente eu fosse me desprender do passado, como se após aquilo não houvesse mais volta. Tudo ficaria para trás. Eu teria uma nova vida. E, estranhamente, eu me peguei com receio daquilo. Eu tinha receio de me entregar de corpo e alma a alguém outra vez. E Jake estava ali, agora ele já não sorria e, sim, olhava-me apreensivo. O violinista continuava a tocar a mesma melodia romântica.
- ? - Jake me chamou novamente, ele estava realmente nervoso.
Não podia deixar que aquele medo me privasse de viver, Jake não era como , pelo menos eu esperava que não fosse. Ele já havia me provado em diversas ocasiões que realmente gostava de mim e ele era tão carinhoso com , a minha pequena o adorava. Ele merecia uma chance.
- Sim. - eu disse, finalmente tomando a minha decisão e sorrindo em resposta. - Sim, eu aceito ser a sua namorada, Jake Evans!
- Aceita?! Caramba, ! Você quer me matar do coração? - ele disse sorrindo como eu nunca havia visto, aquele sorriso preencheu todo o local.
Então Jake se levantou rapidamente e me tomou em seus braços, selando nossos lábios em seguida. A melodia ainda era tocada, mas logo fora tomada por uma inesperada salva de palmas, todos que estavam a nossa volta aplaudiam. Eu, como a mulher tímida que sempre fui, sorri para Jake após separarmos os nossos lábios e escondi o meu rosto entre o seu ombro e pescoço, ele riu, beijando o topo da minha cabeça.
- Vamos embora, namorada. - ele sussurrou e eu ri baixo, assentindo.
Aquela havia sido uma bela noite, como há muito tempo eu não tinha.

's POV

- Não, Ashley, eu não sei que horas vou pra casa! - exclamei pela 5ª vez, respirando fundo. - Tudo bem, não precisa me esperar acordada. - desliguei em seguida, atirando com raiva o celular no sofá mais a frente. - Como ela me tira do sério! – reclamei, puxando meus fios de cabelo com força.
- E você reclamava da ... - deixou a frase no ar.
- Sem sermões, ok? – pedi, ainda irritado.
- Falando nela, por onde será que anda aquela ingrata? Nunca mais nos ligou. Ela querer distância do eu até entendo, porque ele é um idiota, mas de mim? Poxa! Éramos tão amigos, desde o colégio. Feriu o meu coração. - reclamava teatralmente, eu revirei os olhos.
- Verdade, , eu também sinto falta da . - concordou. - Você não tem mesmo notícias dela, ? – virou-se para mim, questionando-me. Enquanto isso, mantinha-se estranhamente quieto e pensativo, com um olhar distante. Eu não entendia porque ele estava agindo daquele jeito, isso já tinha quase duas semanas. Será que estava tendo uma recaída? Balancei a cabeça tentando me livrar daquele pensamento, aquele passado obscuro de havia ficado para trás, meu amigo estava curado, disso eu sabia. Mas o que o incomodava, afinal? Conversaria com ele mais tarde.
- Não, nenhuma. Ela foi apagada do mapa. E agora, será que podemos trabalhar? - disse seco e me levantei, saindo da sala e deixando-os sozinhos. Panacas! Eu não precisava me lembrar de , realmente, não precisava. Ela era passado.
Mas tudo se tornava mais difícil quando nem eu mesmo acreditava nisso. A quem eu queria enganar? Ela iria atormentar as minhas memórias para sempre.

(...)


- Finalmente um descanso! - exclamou comunicando-se conosco e jogou-se no sofá após horas de trabalho no estúdio, em breve gravaríamos o nosso primeiro CD pelo nosso próprio selo fonográfico e ninguém conseguiam conter o nervosismo, ansiedade e animação com aquela notícia.
- Agora só falta definirmos quem será o produtor do disco e pronto, mais trabalho de novo. - disse, preparando-se para sair.
- O importante é que agora teremos uma semana de férias! - comemorou. - Então, minhas férias começam... Agora! Até mais, caras, vou aproveitar a semana que me foi dada da melhor maneira possível, se é que vocês me entendem. - ele piscou e se despediu rindo, dirigindo-se até a saída do local. Era óbvio que "a melhor maneira possível", significava: farra, mulheres, bebida.
- Também vou nessa, preciso buscar a Penny e o Charlie na clínica. - anunciou. - Quer carona, ?
- Vou aceitar, mate. Meu carro ainda tá na oficina. – disse, revirando os olhos em frustração.
- Vamos todos, então, talvez eu ainda consiga alcançar o e me juntar a ele. - disse, dando de ombros e saindo. Nós o seguimos para fora do prédio. andava muito estranho ultimamente.


Minutos depois, estacionou em uma vaga próxima à clínica e me disse que iria entrar para ver se Penny ainda estava em consulta, já que ela não atendia ao telefone e não se encontrava diante da entrada do local. Eu decidi acompanhá-lo.
- Boa noite, eu sou , minha esposa, Penélope , e meu filho Charlie teriam uma consulta marcada para agora no finalzinho da tarde. Eu gostaria de saber se eles ainda estão com a doutora. - ele informou à recepcionista, que sorriu exageradamente ao perceber quem estava diante dela.
- Ah, boa noite, sr. . Só um instante que irei verificar. Boa noite, sr. ! - a moça que aparentava ter em torno de vinte anos, vestia um uniforme branco e era extremamente gostosa, uma garota que com toda a certeza tiraria a sanidade de qualquer cara, principalmente se ele fantasiasse o que eu estava fantasiando com ela naquele momento. Logo em seguida encarou-me com um sorriso safado no rosto, eu sorri em resposta, arqueando a minha sobrancelha sedutoramente e sentindo meu corpo arder em tesão. Ela soltou um suspiro, mas rapidamente voltou-se para a tela do computador a sua frente, envergonhada, após cortar o nosso clima pigarreando impaciente.
- Você não tem jeito. - ele resmungou, eu ri baixo.
- A consulta atrasou um pouquinho, mas já está quase terminando. Os senhores podem aguardar ali na sala de espera. - ela indicou uma sala ao lado da recepção, um local com alguns sofás, uma mesa de centro repleta de revistas, livros para colorir e alguns gibis infantis. Nós agradecemos e seguiu até lá, apanhando um dos gibis e se sentando. Revirei os olhos, ele seria sempre uma criança grande.
- Qual o seu nome, linda? - perguntei à recepcionista com o meu sorriso mais safado no rosto.
- Jennifer, mas pode me chamar de Jenny, sr. . - ela sorriu debilmente.
- Certo, Jenny. - frisei o apelido, o sorriso em seu rosto aumentou. - Pode me chamar de . - pedi, ela assentiu freneticamente. - Você não quer me dar o número do seu telefone? Quem sabe podemos fazer algo quando você terminar o expediente? - arqueei a sobrancelha novamente.
- Claro, . - ela soltou um riso empolgado, anotando rapidamente o número em um pedaço de papel e me entregando em seguida. - Me ligue quando quiser. - piscou de um jeito sexy.
- Pode ter certeza de que eu vou ligar, uma garota linda como você merece ser lembrada. - afirmei sorrindo, ela suspirou novamente. E eu me despedi, seguindo até onde estava.
- Cara, você tem que parar de ser tão sem vergonha. Nem estando noivo da Ashley, que eu não suporto, mas relevo, nem assim você sossega. - disse assim que me sentei ao seu lado.
- Ah, me deixa em paz, . - resmunguei irritado com os constantes sermões dele.
- Você deveria tentar mudar, . Já perdeu a mulher da sua vida por ser assim. - ele continuou e eu decidi ignorá-lo, seguindo até a máquina de café do lado oposto onde estávamos na sala.
Algum tempo depois, ainda esperávamos Penny e Charlie, pois a consulta havia mesmo atrasado, eu estava estirado preguiçosamente sobre a poltrona da sala de espera de olhos fechados, quase dormindo. lia o seu segundo gibi, quando uma movimentação inesperada para aquela hora da noite se iniciou, passos apressados foram ouvidos, seguidos por um choro de criança e uma voz feminina estranhamente familiar ecoou pelo local, pedindo desesperadamente à recepcionista que chamasse a pediatra de plantão, a dra. . Aquele nome não me era estranho.
- Ei, , aquela não é a ? - perguntou com os olhos arregalados, encarando um ponto fixo logo atrás de mim, eu estava sentado do lado oposto à porta de entrada da sala de espera, mas senti meu coração palpitar acelerado com a menção daquele apelido e então eu me virei e a vi, linda como sempre. Talvez mais do que eu me lembrava. O tempo só a havia melhorado. E eu a abandonara.
E não era uma miragem, sonho ou algo do tipo. também a estava vendo. Sem pensar muito, segui ao seu encontro, deixando falando sozinho. Assim que me aproximei, ela finalmente pareceu me reconhecer, observei seu rosto ficar pálido, provavelmente aquele encontro inusitado também estava mexendo com ela.
- , é você? Quanto tempo! Você continua... Tão linda. - despejei as palavras de uma vez, quase em um sussurro ao final da frase, mas ainda assim, com receio de dar o primeiro passo.
- . - ela disse com a voz falha após algum tempo e direcionou o seu olhar para qualquer ponto longe de mim.
- O que faz aqui nesta clínica? Está tudo bem? - tentei aproximação novamente.
- Mamãeeee. - ouvimos uma voz chorosa e rapidamente se virou para a pequena garotinha sentada em uma das cadeiras da sala de espera da clínica, ignorando-me completamente.
- Calma, meu amor, a tia logo virá nos atender. - ela disse paciente diante da menininha, tentando esconder da mesma a preocupação que eu notei em seus olhos e então eu reconheci aquela criança. Era a garotinha que estava com , a garotinha que ela disse ser filha da sua irmã, mas que na realidade era filha de . "Uma filha, da , da minha ." - aquele pensamento tomou conta de mim e milhões de dúvidas surgiram. Qual seria a idade daquela garotinha? Quando havia engravidado? E se... Não.
- Você tem uma filha? - eu perguntei, aproximando-me das duas. se remexeu desconfortável.
- Amor? - uma voz nos interrompeu novamente.
- Jake! – exclamou, indo ao encontro de um cara alto que a abraçou logo em seguida.
- Calma, linda, eu estou aqui. Vim assim que recebi o seu recado. Como a nossa pequena está? – ele perguntou afetuoso, indo de encontro à garotinha e pegando-a em seu colo, a pequena o abraçou manhosa.
- Ela está ardendo em febre, eu não sabia o que fazer, então eu telefonei para e ela me pediu para trazê-la aqui. – explicava nervosa.
- Provavelmente é a garganta, acalme-se . – o tal Jake disse, aproximando-se dela com a criança agora em seu colo e abraçando-a de lado. Cena de uma típica família feliz. E eu permanecia diante deles como um mero expectador. Aquilo doeu em meu peito e senti como se recebesse milhares de socos em meu estômago. havia se casado novamente?
- Sra. ? – uma enfermeira se aproximou, chamando-a, foi até ela. – Já pode entrar, a doutora irá atendê-los.
A morena assentiu e se preparou para entrar, mas eu a impedi.
- Podemos conversar depois? – pedi segurando em seu braço.
- Eu estou ocupada, , minha filha precisa de mim. – ela disse de maneira seca, desvencilhando-se rapidamente, como se o meu toque a queimasse e sem me encarar outra vez. deu as costas e seguiu em direção à pequena criança, pegando-a em seu colo e adentrando a sala de emergência do hospital com o tal Jake em seu encalço.
Eu permaneci ali estático, pensamentos inquietos me deixando cada vez mais confuso. Eu precisava vê-la novamente, precisava que ela respondesse as minhas dúvidas.
se aproximou, anunciando que já estava partindo, Penélope o aguardava ao lado da saída, com Charlie em seus braços. Eu nem mesmo havia percebido que ela já havia saído da consulta. Assenti e o segui, já que ele me daria uma carona para casa. No caminho até o carro, ele me perguntou como havia sido a nossa conversa, mas eu disse que não queria falar sobre aquilo, não naquele momento. Deixei o hospital à contra gosto, mas grande parte de mim insistia para que eu não deixasse aquilo morrer. Eu procuraria por novamente, mesmo sem saber por onde começar. Eu correria o risco de ouvir suas duras palavras, seus insultos, correria o risco de ter a confirmação de que ela havia mesmo se casado, que havia me esquecido completamente. Mas eu tinha uma necessidade absurdamente estranha de descobrir mais sobre ela e aquela garotinha.
E então algo me ocorreu, eu poderia não saber o endereço de , mas definitivamente sabia — e eu faria de tudo para arrancar isso dela. Decidido a voltar àquele hospital no dia seguinte para procurar por , despedi-me de em frente ao meu apartamento, sem nem ao menos ter notado que já havia chegado e adentrei o prédio. As coisas seriam finalmente resolvidas entre e eu. Pelo menos era nisso em que eu queria acreditar.
- Por onde andou, ? – a voz de Ashley me surpreendeu assim que adentrei o apartamento, ela estava sentada em uma poltrona na sala, no escuro. Sua feição estava séria. Eu engoli em seco.
- Estava com o , ele me ofereceu uma carona, já que o meu carro está na oficina, mas antes tivemos que passar no hospital para buscar a Penny, que levou Charlie para uma consulta. – me expliquei, mesmo achando que não deveria ter me dado ao trabalho.
- Você poderia pelo menos ter tido a decência de me avisar que chegaria tarde. Eu preparei um jantar para nós dois! – ela disse entre dentes, com o seu tom de voz quase atingindo a histeria de costume. E, provavelmente, ela havia pedido o jantar em algum restaurante, já que Ash não era uma expert na cozinha.
- Me desculpe, querida, juro que não foi intencional. Você sabe como eu sou distraído às vezes. – disse, sentando-me no sofá ao lado e a puxando para os meus braços. Senti-a estremecer e percebi que aquela discussão idiota eu havia ganhado. Ashley selou os lábios aos meus urgentemente e depois daquele beijo, nós fizemos o que sempre fazíamos após DR’s sem sentido: sexo.
Mas, pela primeira vez, depois de muitos anos, aquilo não me fez sentir completo, satisfeito. Então, enquanto Ashley adormecia em meus braços no sofá da sala, os meus pensamentos me levaram mais uma vez até , mais precisamente até o dia em que nos conhecemos, algum tempo atrás no colégio.
Lembrei-me do que senti assim que a vi pela primeira vez, minha parceira no laboratório de química, o encontro mais clichê de todos, mas não deixei de achar adorável quando ela sorriu tímida após eu tê-la cumprimentado. E o que senti em seguida foi como se algo dentro de mim me alertasse que aquela garota mudaria completamente a minha vida, e isso foi o que ela fez.
Adormeci pensando que pelo menos deveria tentar me reaproximar dela, tentar obter o seu perdão pelas burradas que fiz e, quem sabe, um dia poderíamos ser pelo menos amigos, como éramos antigamente.


"Parecia que tinha sido, tipo, há uma eternidade, como se tivéssemos vivido uma breve, mas infinita, eternidade. Alguns infinitos são maiores que outros.The Fault in Our Stars – John Green



Capítulo 08




Enjoy the little things in life, because one day you will look back, and realize they were the big thingsThe Vow



[n/a: Ouça esta música durante o POV da principal.]

’s POV

Meu coração estava acelerado e minha mente vagava para longe enquanto cuidava da minha pequena . Ainda não conseguia acreditar que, por mais que eu houvesse tomado cuidado para me manter afastada por todo esse tempo, o acaso havia nos colocado frente a frente outra vez. A imagem dele diante de mim naquela sala de espera, enchendo-me de perguntas, perguntas que eu não queria responder — que eu nunca irei responder, pois pretendo tomar mais cuidado de agora em diante para que encontros assim não se repitam. Daniel estava tão próximo de , ele a havia visto e o medo que senti naquele momento por sua aproximação inesperada foi absurdo. Ele não pode descobrir sobre ela: nunca.
Por sorte, Jake surgiu e apenas a sua proximidade fez com que eu criasse forças para enfrentar o meu ex-marido, que eu percebi ter mudado de atitude assim que notou Jake me abraçando, mas eu pouco me importava com as suas mudanças de sentimento agora, como ele não havia se importado comigo antes... Mas ele havia chegado tão próximo...
- ? – me chamou, desviando os meus pensamentos conflituosos para a realidade daquele momento, senti-me uma péssima mãe ao notar que não estava prestando atenção às condições de saúde da minha pequena filha.
- O que ela tem, ? Meu bebê vai ficar bem? – perguntei aflita, finalmente “acordando”.
- Sim, é apenas uma febre causada por uma otite média, uma dor de ouvido, comum em crianças, principalmente nesse nosso clima frio. A ainda não se recuperou perfeitamente do último resfriado, anda brincando muito ao ar livre e exagerou no sorvete ontem, por isso a dor surgiu e levou à febre. Esse tipo de dor se torna mais intensa e pode se manifestar quando a criança tenta ingerir líquidos, como ao tomar a mamadeira, pois a sucção é dolorosa. Por isso a pobrezinha não parava de chorar. Mas eu vou receitar um antitérmico para controlar a febre e um antibiótico para dor de ouvido e você poderá levá-la para casa. Eu tenho plantão no hospital esta noite, então, caso a febre persista e ela se sinta mal, traga-a até o hospital ou me telefone imediatamente, ok?
- Certo. Obrigada, amiga. Eu estava desesperada vendo a minha pequena sofrendo daquele jeito. E para melhorar tudo, eu ainda me deparei com o Daniel aqui na recepção, acredita? – confessei-lhe.
- ? ? – eu assenti. – Não acredito! O que aquele idiota estava fazendo aqui? Ele fez algo com você? – perguntou, irritando-se.
- Não fez nada, eu não dei oportunidade. E não sei ao certo, vi e Penélope com um bebê ao longe enquanto estava entrando aqui. Fiquei feliz por vê-los juntos e, provavelmente, Daniel estava com eles, mas isso não importa... – ela assentiu. E então algo se iluminou em minha mente. – Espera... Você é médica do bebê do ? – ela me olhou assustada. – , por que você nunca me disse isso?! – perguntei nervosa.
- Não fique brava, . O Charlie é só meu paciente, isso não te envolve. e Penélope me procuraram após o nascimento do bebê com a indicação de uma amiga ginecologista que havia cuidado de Penélope durante a gravidez. No início eu não havia o reconhecido, mas quando me lembrei de quem ele era, não tinha mais como voltar atrás. É apenas trabalho e juro que nunca disse nada a ninguém sobre você. – ela disparou apreensiva.
- Tudo bem, eu acredito em você. Estou muito nervosa por causa do encontro, ele viu a ! – exclamei, levando as mãos à cabeça e puxando meus cabelos em frustração. – Meu único consolo é achar que ele provavelmente pensa que Jake é o pai dela, pois ele nos viu juntos.
- Ele insinuou alguma coisa?
- Não, mas eu o conheço bem e sei o que ele deve estar pensando. Aquele idiota deve achar que ela é filha dele e que, provavelmente, eu o traí enquanto estávamos juntos. – dei de ombros, era um imbecil.
- Se ele pensa isso, ele é realmente um babaca. E você tem sorte de ter se separado dele. Se eu o tivesse visto perto de você, cumpriria a minha promessa de socá-lo. – sorriu sapeca, fazendo-me rir com o seu temperamento. Mas logo a sua expressão se transformou. – , eu preciso confessar algo a você. – ela respirou fundo.
- Fale, você está me assustando com essa cara. – brinquei.
- Por favor, não fique brava comigo, eu venho tentando lhe dizer isso há algum tempo, mas sempre me falta coragem. O que aconteceu não foi minha culpa, foi à merda do destino e...
- , desembucha! – pedi, rolando os olhos e notando que ela não pararia de enrolar nunca.
- Aquele dia que eu estava de folga e fiquei cuidando da , nós fomos ao supermercado comprar algumas coisas, eu te disse que ela havia comido chocolate, lembra? – eu assenti. – Pois então, naquele dia nós acabamos nos encontrando com o e o sem querer. veio me convidar para a festa de batizado do Charlie. Eles me perguntaram quem a era e eu disse que ela era a filha da minha irmã, bom, agora eles sabem a verdade. Por favor, não fiquei muito brava. – ela terminou, olhando-me cautelosa e eu explodi.
- Porcaria! Por que você me escondeu isso? Eu não acredito que aquele traidor chegou perto da minha filha e você não me disse nada?! Você não tinha esse direito, ! – exclamei, um pouco alto demais, , que estava deitada sobre uma maca, começou a chorar. Eu segui até ela, balançando-a em meus braços, como fazia quando ela era menor, tentando acalmá-la e acalmar a mim mesma. havia mentido para mim. Justo ela, em quem eu confiava cegamente.
- Me desculpa. Eu tentei consertar, saí de lá o mais rápido possível, eu não disse que ela era sua filha, , não foi minha culpa. Eu só queria te poupar. – pedia apreensiva.
- Eu nunca pensei que você pudesse mentir pra mim, obrigada por clarear a minha visão das coisas, . – disse ríspida.
- Amiga, acredite em mim. Eu só queria o seu melhor, pensei que nunca mais fossemos vê-los e ia ficar por isso mesmo.
- Posso levar a minha filha pra casa? – eu ignorei o que ela havia dito, sentia-me magoada, precisava ir para longe dela para pensar. assentiu.
- , por favor...
- , depois a gente se fala em casa. – eu disse e apanhei a minha bolsa, seguindo com em meus braços até a saída. Jake nos encontrou na recepção e nos levou para casa. Ele notou o meu silêncio durante o trajeto, tentou iniciar alguns assuntos para me distrair, mas eu estava completamente monossilábica naquele momento. Então ele apenas desistiu, seguindo também em silêncio até o apartamento. Eu não queria ser rude com ele, mas naquele momento eu precisava de silêncio, eu precisava pensar em tudo o que ocorreu naquele dia, pensar em toda essa porcaria de destino.

(...)


- Droga! – exclamei, irritada por ter queimado mais uma torrada naquela manhã, eu não havia pregado os olhos direito a noite passada, em parte por estar preocupada com e em parte porque eu estava irritada por outro motivo — irritada desde certo encontro indesejado com o meu ex-marido idiota. Ainda não podia acreditar que ele havia nos descoberto, justo em uma cidade tão grande quanto Londres! Que grande falha, que porcaria de destino.
- Cê tá braba, mamy? – perguntou assustada, surgindo na cozinha agarrada ao seu cobertor preferido em um braço e o porquinho de pelúcia favorito em outro.
- Não, bebê, a mamãe só ficou um pouco nervosa porque queimou as torradas.
- Não fica braba, mamãe linda. Fica gotoso mesmo assim. – minha pequena fatia de felicidade proclamou, eu a abracei sorrindo e a peguei no colo.
- O que a mamãe faria sem você, hein, meu bebê lindo? – mordi a bochecha dela de leve e gargalhou. – Mas posso saber por que a senhorita está fora cama? Já se sente melhor, bebê? Deixe a mamãe ver se você ainda está com febre. – a pequena logo se aconchegou em meu colo.
- To melo, mamy, linda. Só aqui ainda faz dodói, mas bem poquinho. – a minha bebê disse, apontando para o ouvido. O antibiótico devia estar fazendo efeito, e já estava na hora de ela tomar outra dose.
- Vamos para a sala, a mamãe vai te dar um remedinho para curar essa dor de vez e você aproveita para assistir o seu desenho favorito que já vai começar, enquanto eu faço o seu café, tá, meu amor? – eu sugeri e a minha linda garotinha assentiu, agarrada ao meu pescoço.
Carreguei até o sofá, dei-lhe o remédio e a cobri com o seu cobertor, ligando a TV e deixando-a por lá distraída enquanto eu preparava o café da manhã. Eu estava na cozinha quando ouvi o barulho da porta da sala sendo destrancada, surgiu no local com olheiras enormes um tempo depois.
- , me desculpe. – ela pediu novamente, olhando-me triste. Eu respirei alto, no fundo sabia que nada daquilo era culpa dela, sabia que ela havia feito o que fez para me proteger, mas eu estava tão nervosa noite passada e acabei descontando na minha amiga.
- Não tem o que desculpar, amiga. Eu que fui uma cabeça dura noite passada, você não teve culpa de nada. Na realidade, eu peço desculpas por ter agido daquela forma. – sorri culpada. – Eles são seus pacientes, eu não posso fazer nada em relação a isso.
- Você teve todo o direito. – sorriu também. – Amigas para sempre?
- Amigas para sempre. – eu confirmei e nós nos abraçamos. sempre seria a melhor amiga de todas.
- Passei pela sala e vi a pequena rindo com o desenho animado deitada no sofá. Ela está melhor? Senti-me mal por não ter ficado aqui esta noite, mas eu precisava cumprir o meu plantão no hospital e outras crianças precisavam de mim. – ela disse, desculpando-se novamente.
- Não se preocupe, , ela está bem. Eu compreendo o seu trabalho. – disse sorrindo. - Apenas o ouvido ainda está dolorido, mas eu já a mediquei, logo ela ficará ótima. Obrigada por ter cuidado dela noite passada. – deu de ombros, como se dissesse que aquilo era o mínimo que poderia fazer. – Está com fome? Estou preparando o café.
- Estou morrendo, de fome e sono. – nós rimos. – Vou tomar um banho rápido e já volto para tomar o café com você, depois vou hibernar na minha cama por muitas horas, porque é minha folga e eu mereço.
- Vai lá, urso polar. – eu brinquei e ela saiu mostrando a língua.
E então meus pensamentos novamente vagaram para longe, vagaram para um lugar proibido e, infelizmente, eu não conseguia controlá-los.

~~~~~


- Me dá a sua mão. – ele pediu.
- Pra quê? – perguntei desconfiada.
- Surpresa! – piscou, rindo, e eu fechei a cara logo em seguida, eu odiava surpresas pelo simples fato de ser muito curiosa.
- Confie em mim, . – ele pediu outra vez e eu finalmente dei-lhe a minha mão, mas ainda relutante. – Não olha. – ele ordenou e eu acabei rolando os olhos e bufando irritada com toda aquela demora, eu realmente odiava surpresas, mas ele me olhou incisivo e eu decidi fechar os olhos.
Senti se afastar e em seguida algo que eu imaginei ser a ponta de uma caneta tocou a palma da minha mão e então ele começou a escrever ou desenhar algo. Que diabos! Aquilo estava me deixando mais curiosa. O que ele estava aprontando? Meu estômago estava sendo invadido por borboletas. Eu senti como se ele estivesse sorrindo e de repente a ponta da caneta deixou a minha mão.
- Pronto, agora pode olhar. – disse e eu abri os olhos, puxando a minha mão para olhá-la rapidamente e instantes depois, eu o encarei, sentindo os meus olhos brilharem e o meu coração acelerar. Os olhos de estavam apreensivos.
- É verdade? – perguntei sorrindo e ele apenas assentiu timidamente.
- Ah, ! Eu também. – exclamei e em pouco tempo meus lábios já cobriam os seus, enquanto em minha mão, aquela onde ele havia escrito “Eu te amo”, acariciava a sua nuca entre o beijo. Aquilo que ele havia feito era maravilhoso. A declaração mais fofa, simples e romântica que eu já havia visto. A primeira vez que ele me dizia aquelas três palavras. Aquela linda demonstração de amor havia sido para mim. Aquilo era tudo o que eu sempre quis. era tudo o que eu sempre quis. E foi naquele momento que eu soube que o queria na minha vida para sempre.


~~~~~


Mas o tempo nos mostra que muitas vezes nos enganamos. Pensei novamente, tentando afastar aquela memória indesejada e terminei de colocar o café da manhã sobre a mesa, indo me deitar no sofá ao lado de enquanto esperava para comermos juntas. Observei a minha pequena sorrindo, era bom vê-la melhor. Ela, sim, era o amor da minha vida, o único amor que duraria para sempre.


Mas quando você se apaixona você enlouquece, o mundo fica diferente, você faz tudo por aquela pessoa…
American Horror Story



’s POV

Alguns tempo havia se passado, a banda estava em estúdio iniciando os preparativos para a gravação de mais um CD — o que ocupava todo o meu tempo — durante aquele período, Ashley reclamava todo o tempo, exigindo atenção. Eu procurava ficar afastado de casa o máximo de tempo possível, sempre usando a gravação como desculpa para não ouvir as suas lamúrias. Até cheguei a viajar por algum tempo e na volta fui recebido com uma grande surpresa. A história parecia estar se repetindo. Aquele talvez fosse o meu carma, se eu acreditasse mesmo nessas porcarias.
Com a falta de tempo, acabei adiando a ideia de procurar novamente. Talvez o medo da rejeição, de outra briga, de ouvir verdades de sua parte me atormentassem. Já estava cansado de ouvir de todos que eu havia feito merda, não aguentaria ouvir isso dela. Eu fiz o que tinha que fazer. E era nisso que eu colocava toda a minha fé e baseava toda a minha argumentação.
E a confirmação de que ela agora fosse novamente uma mulher casada, de que havia me esquecido por completo, que aquela garotinha que havia tido era, provavelmente, filha do tal Jake, que nós nunca teríamos chances novamente, que eu não seria o cara que a havia lhe ajudado a se tornar mãe... Aquilo tudo me magoava, era egoísmo me sentir magoado diante da felicidade dela, mas era aquilo que eu sentia e pra merda com todo o resto! Eu ainda tinha sentimentos, ela não era a única vítima. Ainda mais se aquela criança fosse filha do outro cara e isso, obviamente, significava que ela havia me traído também e com isso eu tentava me livrar de um pouco da culpa que sentia pelo fim do nosso casamento — talvez ela não fosse tão santa assim.
Porém, a imagem de e daquela garotinha que eu descobri ser sua filha passara a invadir a minha mente sem autorização nos últimos dias de maneira insistente. E, enlouquecidamente, aquilo me intrigava muito.
Estava sentado no terraço do estúdio fumando e pensando, uma brisa gelada passou por mim, fazendo com que eu me encolhesse em meu casaco. Dezembro estava se aproximando, trazendo consigo o inverno. Trazendo consigo o feriado favorito de : o Natal. E eu também não poderia esquecer-me de outra data importante antes dessa: o aniversário dela.
Porém, uma memória recente e desagradável cruzou o meu pensamento, interrompendo aquela lembrança.

~~~~~


- Mas que porra é essa?! – berrei assim que adentrei o quarto após uma curta viagem de negócios aos Estados Unidos e encontrei a minha suposta noiva estirada na cama, sem roupas, deitada sobre outro corpo nu. Ashley acordou assustada, e a sua cara ficou mais pálida ainda quando me viu parado à porta.
- ... – ela sussurrou e então se levantou rapidamente, envolvendo-se no lençol e chutando o cara na cama para que ele acordasse. – Querido, não é nada do que você esta pensando, eu estava bêbada, eu não me lembro de muita coisa... Eu...
- Cala a boca. – eu disse, estranhamente controlado. – Agora se vista e peça para seu amiguinho fazer o mesmo, não sou obrigado a ver esse tipo de coisa. – disse e saí rápido do quarto, voltando à sala e apanhando novamente a minha mala de viagem.
- , espera! Para onde você vai, tigrão? – Ashley veio até mim, abraçando-me pela cintura, eu a empurrei imediatamente.
- No momento, pra bem longe de você, querida. – abri a porta e saí do apartamento, dirigindo-me ao elevador, que já se encaminhava ao meu andar.
- Você não pode ir, ! Não pode me deixar! Nós estamos noivos! Você não vale nada, NADA sem mim, ouviu bem?! – Ashley gritava histérica para a porta, senti minha cabeça latejar ao ouvir a sua voz.
- Não, Ashley, eu não preciso mais de você. A minha banda é famosa agora, se esqueceu? – disse-lhe, pedindo silenciosamente para que a porcaria do elevador chegasse logo e me livrasse dos seus gritos histéricos.
- Idiota! – ela berrou. – Você nem ao menos tem moral para se sentir ofendido com o que viu agora a pouco. Pensa que eu não sei que você também me trai? – ela correu até mim, estapeando-me feito uma louca em surto. – Eu cometi um erro, mas sei que te amo. Não me deixe, . – ela implorou, interrompendo o seu surto de repente e olhou-me de maneira estranha: louca, louca, louca. Mas, por sorte, o elevador chegou ao andar e eu desvencilhei-me dela e o adentrei, dizendo-lhe uma última coisa antes da porta se fechar.
- Foi um prazer te foder durante estes quatro anos, vadia. Mas, agora, tudo acabou. – sorri presunçoso, mas soquei a parede metálica do aparelho de locomoção assim que ele entrou em movimento, sentindo-me completamente humilhado e o meu orgulho totalmente ferido.


(...)


Aquela cena se repetia na minha mente sem parar e horas depois, sem saber para onde ir naquela tarde de sábado, decidi por um lugar onde pensava que poderia ficar só e ter um pouco de paz para curtir a descoberta do chifre que eu havia ganhado. Ironias à parte, depois de um tempo no terraço, agora eu me encontrava sentado na sala de reuniões da pequena gravadora que meus amigos e eu havíamos aberto. Um copo vazio de uísque pendia em minha mão direita, a garrafa quase sem líquido algum estava a minha frente. Minha cabeça mesmo estando apoiada sobre a mesa, doía e rodava sem parar. Porém, e haviam me descoberto ali, infelizmente. E eu tive que lhes contar toda a história que havia se passado comigo.
- Isso é bom para você aprender, novamente, que deveria ter dado valor à mulher que você tinha ao seu lado. – disse sério.
- Você vacilou feio, deixando a pela vadia mimada da Johnson. – concordou e no fundo eu sempre soube que nenhum deles gostava mesmo dela.
- Vocês falam como se nunca tivessem feito nada idiota, como se fossem santos com as mulheres. – olhei-os torto.
- Eu concordo que já fiz muita merda, mas desde que conheci a Penny, eu passei a respeitá-la e amá-la como ela merece. Ninguém pode dizer o contrário. – esbravejou e eu sabia que ele estava certo, mas não queria dar o braço a torcer.
- Você é sempre a exceção. – eu disse amargamente.
- Você deveria tentar ser como eu, quem sabe assim ainda teria a mulher que realmente ama do seu lado? – ele alfinetou.
- Tudo bem, meninas, sem brigas! Vocês vão acabar estragando as unhas. – brincou, tentando amenizar o clima tenso que se instalou no local.
- Vá se foder, ! – gritamos juntos.
- Hey, que história é essa? Só quem fode o sou eu. – surgiu no estúdio de repente, assustando-nos.
- Que merda, , vá assustar a... – ele me interrompeu.
- Olhe os modos, garoto!
- Poxa, , o quase bateu os chifres de susto. – brincou novamente, gargalhando junto aos outros em seguida.
- Idiotas! – murmurei irritado.
- Qual o motivo da reunião surpresa e do mau humor do ? – perguntou confuso.
- levou o troco. – disse, o olhou, ainda não compreendendo. Eu respirei fundo e lhe contei o que havia acontecido pela manhã.
- Encontrei a Ashley com um cara, os dois estavam nus, na nossa cama. – eu disse quase sussurrando, a vergonha e orgulho ferido me dominavam. Ele me olhou com espanto.
- É, cara, quem chifra hoje, poderá ser chifrado amanhã. É a lei da ação e reação. – filosofou seriamente, colocando a mão sobre o meu ombro em sinal de apoio e logo todos começaram a rir novamente. Ele parecia ter voltado ao normal, estava até fazendo piadinhas escrotas.
- E digo mais... – interrompeu a sessão de risos. – “Quem com chifre fere, com chifre será ferido”. – concluiu, para novamente cair na gargalhada junto aos outros.
- A amizade de vocês me comove. – eu disse rolando os olhos e eles continuaram a rir.
- Não é porque somos amigos que temos que concordar sempre com as merdas que os outros fazem. Você sempre soube a minha opinião sobre a atitude que você tomou alguns anos atrás. – disse.
- E nessas horas eu me pergunto: pra que inimigos e noivas vadias, quando se tem amigos assim ao seu lado? – eu disse, não querendo ouvir sermão deles. Não aguentava mais todas aquelas críticas, eu sabia que estava errado, que sempre estivera, mas não admitiria isso, nunca.
Acabei decidindo por ir embora daquele estúdio, antes que socasse a cara de algum deles. Levantei-me cambaleando, a cabeça girando, peguei o meu casaco e saí batendo a porta com força.
- Hey, ! Volta aqui, cara, a gente só está brincando. – dizia, mas eu o ignorei e deixei o local o mais rápido que pude, chamando um táxi que, milagrosamente, passava em frente ao prédio e pedindo que ele me levasse a um Pub qualquer onde eu terminaria em coma alcoólico. Afinal, eu merecia, Ashley me traíra,... E eu havia traído . Às voltas que a vida dá são uma grande merda!

Does it hurt when you think about me?
And how broken my heart is.Yellowcard



- Sabia que ia te encontrar em um lugar como este. – disse, sentando-se ao meu lado. Eu estava bebendo naquele Pub há algum tempo, já nem sentia o efeito do álcool, mas eu não iria voltar para o meu apartamento, pois provavelmente Ashley ainda estaria lá, talvez ela nunca se mudasse. Droga, eu precisava de uma nova casa!
- Se veio atrás de mim para continuar com as suas gracinhas, pode ir se mandando. – resmunguei com a voz arrastada, ainda sem encará-lo e levando outro gole de cerveja à boca, já havia perdido as contas de quantas ingerira.
- Relaxe, mate, estou aqui como amigo. – ele disse, erguendo as mãos em sinal de paz. – Hey, cara, me vê uma cerveja. – pediu ao barman e então se virou para mim novamente. – Se tu precisar de um lugar pra morar por uns tempos, pode ir lá pra casa, . E se quiser conversar, sabe que eu sou seu amigo. – ele ofereceu, eu finalmente o encarei, surpreso.
- Valeu, , eu acho que vou precisar mesmo de um lugar para dormir, mas não quero falar sobre a vadia agora. – soltei um riso forçado, minha cabeça anestesiada pelo álcool, mas eu não me sentia bêbado. – e não parecem estar no team , eles são certamente team . Aquelas bichas! – falei uma besteira qualquer que me veio à mente e ele riu.
- Cara, tu já bebeu demais. – torceu o nariz.
- Estou apenas começando, mate – proclamei rindo.
- Eu preciso te contar algo. – ele falou novamente, dando um gole em sua cerveja que o barman havia acabado de lhe entregar. Eu assenti. – É sobre a . – ele parou, esperando a minha reação. Eu claramente me surpreendi.
- O que tem ela? – perguntei ansioso, mesmo tentando disfarçar ao máximo.
- Estou para te falar isso há algum tempo, mas eu não podia, porque havia lhe prometido não contar nada a ninguém, mas dias atrás o me contou que vocês se encontraram, então acho que a minha promessa agora ficou inválida.
- Desembucha logo, . – pedi impaciente.
- Há algum tempo atrás, eu fui a um pub no centro após o nosso ensaio beber e caçar gatinhas, como de costume. – ele dizia e eu fiz um gesto, apressando-o. rolou os olhos para a minha falta de paciência e gargalhou. Aquele idiota estava se divertindo as minhas custas. – Calma, . Como eu dizia, eu fui a um pub e estava circulando pelo local, quando sem querer esbarrei em uma garota que saía do bar e derrubei toda a bebida dela em seus sapatos, eu já ia me desculpar e esperava por um ataque histérico, quando eu a vi: toda ruiva, gostosa e linda. Tive muita vontade de beijar aquela boca no mesmo instante, mas então eu olhei ao seu lado e me surpreendi com a amiga dela.
- Sério, , mais uma das suas histórias de ménage? – disse irritado, eu não estava com vontade de ouvir aquelas besteiras, não naquele momento.
- Deixe eu terminar a história antes de falar merda, idiota. De qualquer forma, eu me surpreendi com a amiga dela, porque a amiga dela era a . – eu o olhei atônito, que merda era aquela? O que ele fez com ela? – Não, babaca, não pense merda. Deixe eu terminar, porra! – disse irritado.
- Tá, termina a merda dessa história logo. – disse aflito.
- A garota em quem eu havia derrubado bebida se chamava . – sabia que aquela ruiva mentirosa me escondera algo no dia do supermercado. – E a estava com ela, no início do meu encontro com ela, apesar de desconfortável, foi divertido. Ela me apresentou a amiga gostosa, conversamos como velhos amigos, nós fizemos piada, mas foi só eu mencionar o seu nome e que queria dizer a você e aos caras que eu a havia encontrado, que ela pirou. Disse eu não deveria contar sobre ela estar para ninguém e começou a jogar na minha cara toda a raiva que ela sente. A saiu andando e me deixou lá plantado. Ela tá muito magoada ainda, , com todos nós. Você fez uma merda extraordinária com ela e nós o acobertamos. Eu corri atrás dela depois que a ficha caiu, a segurei pelo braço e disse que sentia muito, que nós éramos mesmo uns babacas e ela tinha razão em nos odiar. Eu pedi desculpas e fui embora. – ele finalizou, dando de ombros.
- E por que porra você não me contou isso antes? – eu perguntei entre dentes.
- Porque eu havia prometido não contar, já te disse. Mas agora com você tendo descoberto sobre ela, eu não vi necessidade de esconder isso. Espero que ela não se irrite mais comigo por ter contado.
- Ela se irritar com você? Caia na real, ! Aquela idiota mentirosa não tem esse direito. – eu disse com raiva, a ideia de que ela havia me traído e tido uma filha com outro voltava aos meus pensamentos.
- Por que você tá falando assim dela, cara? – ele perguntou assustado. – Você sabe que a foi a vítima nessa história toda de vocês, não tente se livrar da culpa, . – ele disse irritado
- De vítima a não tem nada. – eu disse também irritado. – Aquela vadia mentirosa, ela tem uma filha, você sabia? – perguntei ao , que me olhou espantado.
- O quê? Como você sabe?
- Ela estava com a menina na clínica no dia que eu fui até lá com o e foi assim que nos encontramos. – eu disse, fazendo uma pausa e lembrando-me de como havia fica ansioso ao vê-la naquele dia. Porém, agora que tudo se clareava, eu começava a sentir raiva. – Aquela idiota tem uma filha e tinha também um cara com ela, um tal de Joe... não, Jansen, não era isso também.... Jake! O babaca se chamava Jake e ele estava lá com ela e provavelmente ele é o pai da menina e eu não entendo de bebês, mas ela parece ter uns três ou quatro anos. E isso quer dizer que a me traiu. – eu finalizei, derrotado.
- , você não sabe o que tá falando. A nunca iria... E se a criança for sua?
- Impossível. Ela me traiu, . Se a menina tiver a idade que eu acho que tem, ela só pode ter sido gerada enquanto nós ainda estávamos casados, e a e eu não estávamos... Você sabe, o nosso casamento já era só fachada, pelo menos da minha parte. Não tem como a criança ser minha.
- Não pode ser, .
- Vai ficar do lado dela também? Aquela vadia com carinha de anjo me enganou o tempo todo e eu que me achava o merda da relação. – resmunguei magoado.
- Eu não estou do lado de ninguém e você não pode tirar conclusões precipitadas, ainda mais estando bêbado desse jeito. Vamos para casa e amanhã vamos pensar num jeito de você ir atrás da e tirar essa história a limpo. – disse decidido.
- Você está agindo como uma bicha casamenteira. – eu resmunguei, desvencilhando-me dele, quando ele tentou me ajudar a ficar de pé. – Eu consigo andar, idiota. – Deixei o dinheiro da bebida sobre o balcão, levantei e saí fingindo que andava normalmente, mas sabia que estava cambaleando. deu de ombros e me seguiu até a saída do pub.
O frio que retornava a Londres naquele fim de outono logo nos abraçou na noite e eu me encolhi, praguejando por não estar com um casaco mais grosso. fingiu não notar e sinalizou para um táxi que vinha em nossa direção, entramos no veículo e seguimos até a sua casa.
Durante o caminho, tudo o que eu pensava era que precisava colocar a minha vida de volta nos trilhos o mais rápido possível, antes que algum acidente de merda acontecesse e tudo fosse pelos ares. Eu precisava consertar muitas coisas, muitos erros do passado, a começar por .


I’m searching for an answer, ‘cause our love is just like a cancer.
But I just can’t cut you out or cut you off.Halfway To Hollywood (banda canadense)



Capítulo 09




A decoração de Natal já tomava conta de toda Londres, a cidade ficava repleta de luzes e parecia um local mágico naquela época do ano. A única coisa que não era de perto mágica era o frio intenso que abrangia as ruas à medida que o Natal se aproximava, mesmo sendo um nativo, você sofria com todo aquele frio. E o meu maior sonho era poder ter uma casa em algum local tropical naquele momento.
Eu caminhava a passos rápidos em direção ao prédio, encolhendo-me em meu casaco, a fim de adentrar logo o local e me aquecer. A poucos metros da entrada notei um carro estacionar por um momento e dele um homem descer e adentrar a gravadora após se despedir da motorista com um beijo, provavelmente aquela seria uma cena comum, se eu não pudesse jurar já ter visto aquele cara em algum lugar, mas a minha curiosidade logo seria sanada, pois eu entrei no prédio assim que o carro deixou o local.
- Bom dia, . – Emma, a nossa recepcionista me cumprimentou, ela era uma das poucas mulheres que resistiam aos meus encantos, por isso éramos tão amigos.
- Bom dia, Emma. Todos já chegaram para a reunião? – perguntei me encaminhando para o elevador.
- Já sim, inclusive o novo produtor. – ela respondeu sorrindo e eu assenti, despedindo-me com um aceno e adentrando à máquina que havia chegado ao meu andar.
Assim que cheguei ao terceiro andar, caminhei até a sala de reuniões, batendo na porta em seguida. Alguém pediu para que eu entrasse e assim o fiz, notando que todos já estavam no local.
- Até que enfim, ! – disse, aparentemente irritado pelo meu pequeno atraso, mas creio que no fundo ele já havia se acostumado com isso.
- Foi mal, pessoal. – eu me desculpei, sentando em um dos locais vagos ao lado de , que me olhou segurando o riso.
- Você nunca vai conseguir chegar na hora, nem parece britânico. – ele disse e eu o ignorei.
- Bom, como eu estava dizendo antes do nos interromper... – me encarou e eu fiz um gesto para que ele continuasse. – Esse é o Jake Evans e ele será o nosso produtor durante a gravação do nosso novo disco.
Havia um homem sentado mais a frente que se levantou quando o apresentou e eu finalmente percebi quem ele era. Além de ser o cara que eu havia visto entrando no prédio mais cedo, aquele também era, aparentemente, o novo marido da minha ex-mulher.

(...)

- Hey, mate, tá tudo bem? Você ficou meio estranho durante a reunião. – comentou enquanto dirigia em direção à casa dele, onde eu agora residia.
- Tô legal, só um pouco cansado, a noite ontem foi agitada. – menti, sorrindo maliciosamente.
A verdade era que aquele encontro com o tal Jake Evans havia me pegado de surpresa, revê-lo não estava na minha lista de prioridades naquele momento e o fato de que eu teria que trabalhar e conviver com ele por meses durante a gravação do álbum deixava-me mais irritado a cada minuto — porque estranhamente todos o haviam adorado e ele aparentemente era um dos produtores musicais em destaque nos últimos tempos.
E então eu me lembrei de tê-lo visto se despedir com um beijo da pessoa que o havia deixado de carro na gravadora pela manhã e meu estômago se retorceu assim que eu percebi que aquela motorista era . Tão perto e tão longe. O que ela diria ao saber com quem o seu maridinho estava trabalhando agora? Aposto que ficaria tão feliz quanto eu.

’s POV

O frio estava cada vez mais intenso naquele início de Dezembro, provavelmente nevaria em breve, eu adorava tudo aquilo. Adorava o branco da neve envolto em luzes da decoração natalina que tomava conta da cidade. Aquela era a minha época do ano favorita, pois ela fazia lembrar-me dos natais que eu havia passado junto aos meus pais, eu sentia falta deles, mas não doía mais como antigamente, eu sabia que eles estavam em um local melhor e que nos encontraríamos algum dia. Além do mais, agora eu tinha , o meu pequeno anjo protetor.
Minha pequena filha cantarolava sem parar no banco de trás do carro enquanto eu dirigia em direção a um cinema do centro, onde havia combinado de me encontrar com Jake e assistiríamos a um filme infantil que a minha pequena bebê estava ansiosa para ver. O meu namorado estava eufórico durante a manhã quando o deixei em seu novo local de trabalho, uma pequena gravadora no centro, Jake era produtor musical e havia sido convidado para trabalhar com uma banda, que segundo ele, era uma das mais promissoras dos últimos tempos. Fiz de tudo para que ele me dissesse que banda era, pois toda a sua propaganda havia me deixado curiosa, mas ele me disse que apenas revelaria o nome da banda após a assinatura do contrato de trabalho. Jake era supersticioso, não queria comemorar antes da hora, mas no fundo eu já sabia que o emprego seria dele, pois ele era brilhante no que fazia.
- Eis que vejo as duas garotas mais lindas de toda Londres. – Jake sorriu assim que nos aproximamos dele na bilheteria. – Oi, amor. – ele me deu um selinho em cumprimento e em seguida um beijo no topo da cabeça de . – E aí, minha baixinha linda. – rapidamente esticou os braços para que ele a pegasse no colo. Aquela garotinha não era boba.
- Já vi que a concorrência está forte. – brinquei assim que ela se aconchegou em seus braços.
- Desculpe, amor, mas acho que eu sou o preferido da pequena aqui. – Jake riu e eu mostrei-lhe a língua em resposta.
- Já comprou os ingressos? – ele assentiu. – Então vamos entrar, está muito frio aqui fora e essa pequena danadinha aí não pode pegar friagem, acabou de se curar de uma dor de ouvido. – fiz cocegas em minha filha, que gargalhou alto.
- Quelô popoca, mamãe. – pediu sorrindo travessa.
- Ah, sua gordinha linda, a mamãe vai comprar. Jake, pode ir entrando com ela que eu já alcanço vocês.
- Ok, amor. Tome aqui o seu ingresso. – ele me entregou o bilhete e seguiu para dentro do cinema com rindo animada em seu colo.
De repente, uma brisa fria me envolveu e eu me encolhi em meu casaco, praguejando contra aquele frio absurdo. Eu adorava o inverno, mas não gostava nem um pouco de ficar parecida com um picolé de morango sempre que a temperatura caía demais. Meu rosto ficava extremamente vermelho, e eu prefiro nem comentar sobre a ponta do meu nariz. Caminhei apressada até a pequena lanchonete do local a fim de comprar logo a pipoca de e entrar na sala de cinema. E o fiz rapidamente, seguindo para a porta de entrada, mas durante o caminho achei ter visto alguém, achei ter visto indo em direção à saída do cinema. E eu rezei para estar enganada.
- ? – eu reconheci aquela voz e então o encarei confusa.
- . – respondi, tentando me livrar logo dele. Não era possível o destino estar pregando tantas peças comigo ultimamente, aquela era a segunda vez que eu o via após a minha separação.
- Ora, se não é a fresca da de novo. – disse sorrindo.
- Mentira que essa gata é a ?! – e foi a vez de eu notar próximo a nós, ele rapidamente me abraçou.
- Oi, rapazes. – eu cumprimentei sorrindo fraco, eu não queria mais ficar ali, mesmo sentindo saudades de quando éramos amigos, eu não gostava mais deles agora. Eu não gostava mais dele agora. – Desculpe, mas eu preciso entrar, a minha sessão já começou. – apontei para a sala de cinema que estava a poucos metros, eles me olharam com uma espécie de decepção no olhar.
- Você vai assistir... “O meu malvado favorito”, sozinha? Não acha que já está grande demais para esse tipo de filme? – brincou.
- Eu não estou sozinha, estão me esperando lá dentro. – eu disse simplesmente, tentando me livrar logo deles.
- Ah, tudo bem então, não queremos prendê-la aqui. – disse sorrindo triste. – A gente se esbarra algum outro dia. Vamos, ! – ele disse me dando um beijo no rosto e saindo, sabia como eu me sentia.
- Até mais, baixinha. – pareceu entender também e se despediu, seguindo .
Eu respirei profundamente, tentando afastar todas aquelas emoções que me envolveram durante aquele encontro e entrei na sala de cinema. Eu só precisava de e Jake ao meu lado e tudo ficaria bem.

(...)


Now I'm searching the room for an empty seat.
Cause lately I don't even know what page you're on.
Taylor Swift


- Um passarinho me contou que no próximo dia doze é o seu aniversário. – Jake sussurrou em meu ouvido, pegando-me de surpresa enquanto eu estava sentada no balcão da cozinha tomando uma xícara de chá. Ele havia dormido em nosso apartamento na noite anterior, após chegarmos do cinema e estava absolutamente lindo naquela manhã: o cabelo despenteado, usando sua samba canção e regata branca. Tão lindo que eu não quis acordá-lo e fiquei observando-o por minutos incontáveis, até que decidi me levantar e preparar o café da manhã. No início eu sentia vergonha por e , mas a minha filha parecia adorar a presença dele em nossa casa, a minha amiga era a sua maior fã e eu agora admitia que era bom poder passar a noite em seus braços.
- Que susto, amor. – falei, levando a mão ao peito e me virando para ficar diante dele. – Quem é esse passarinho fofoqueiro, que mais parece um papagaio? – disse entrelaçando os meus braços em seu pescoço enquanto ele encaixava o corpo entre as minhas pernas. – Não, deixe-me adivinhar... ? – arqueei uma sobrancelha e ele riu.
- Elementar, minha cara. – Jake brincou, dando-me um selinho em seguida. – Por que não me disse que o seu aniversário estava chegando? Nós temos que comemorar! – ele disse empolgado, abraçando-me pela cintura.
- Eu não gosto mais de comemorar aniversários, Jake, já estou velha demais pra isso. Agora é a vez da . – disse, tentando livrá-lo daquela ideia, meus aniversários não eram mais como antigamente, desde a decepção da minha última comemoração.
- Ah, , por quê? Ok, que tal se a gente fizer algo pequeno, só você, eu, a , a e mais algum amigo que você queira convidar? A gente pode pedir uma pizza aqui na sua casa mesmo. – ele sorriu esperançoso, eu o olhei negando. – Por favor, linda, vai ser o seu primeiro aniversário em que estaremos juntos. – ele me olhou como o maldito gato de botas e eu senti o meu coração se apertar.
- Eu vou pensar, ok? – disse simplesmente e ele concordou.
- Tudo bem, marrentinha, mas pense rápido que o seu aniversário já é no próximo sábado. – ele disse mordendo a minha bochecha e rindo, eu não consegui conter o meu sorriso. – Eu vou me trocar, tenho uma reunião daqui vinte minutos. – Jake anunciou se afastando.
- Você não vai nem tomar café? – fiz bico, tentando fazer com que ele ficasse mais.
- Eu realmente não tenho tempo, linda. – ele respondeu me dando um selinho.
- Tudo bem, a gente se vê mais tarde. – eu disse conformada enquanto ele seguia em direção ao meu quarto.
E quando eu fiquei sozinha novamente, os meus pensamentos me levaram mais uma vez para memórias indesejadas do passado, eles me levaram para o dia em que eu me decepcionei com pela primeira vez.

Londres, 12 de Dezembro, 2007.

As luzes de natal que tanto me empolgavam já envolviam a cidade e eu estava sentada na varanda do meu apartamento enquanto o sol nascia, aguardando a volta do meu adorado marido viajante. Havia acordado cedo para aquilo. Aquele dia, de certa forma, era especial, eu estava completando 21 anos, mas no fundo eu sentia que seria a primeira vez que não estaria comigo no dia do meu aniversário desde o dia em que nos conhecemos há 5 anos atrás. Ele estava em sua primeira turnê pela Europa com a banda, que finalmente estava recebendo reconhecimento no mundo musical. Eles haviam assinado contrato com uma gravadora e agora viajam constantemente para promover o primeiro álbum do McFly. Mas prometeu que chegaria naquela manhã, e por isso eu o aguardava ansiosamente.
O telefone tocou, surpreendendo-me, eu corri até o quarto para atendê-lo rapidamente, e então eu ouvi aquela voz a qual eu sentia falta no momento.
- Oi, linda. – disse do outro lado da linha.
- Oi, amor, já está chegando? – perguntei feliz em ouvi-lo.
- Então, sobre isso, ... – se calou e eu perdi o sorriso que estava em meu rosto. – Eu acho que não vou conseguir chegar a tempo pro seu aniversário.
- Ah... – foi tudo o que eu consegui dizer. – Sinto sua falta.
- Mas prometo te compensar depois... Feliz aniversário, . Eu preciso ir. – ele encerrou a ligação, nem esperando resposta.
E aquele era o fim do meu aniversário, ele estava tão estranho durante a ligação, tão distante nos últimos tempos, uma pontada desconhecida invadiu o meu peito. Nada teria graça sem ao meu lado.
Deite-me novamente em nossa cama e adormeci tempos depois, talvez dormindo aquele dia passasse mais rápido. Talvez quando eu acordasse estivesse ali.

You should have been there.
Should have burst through the door,
With that ‘baby I’m right here, smile!’
”¹

(...)


Um barulho irritante me despertou do sono e eu reconheci a campainha sendo tocada insistentemente. Olhei no relógio sobre do criado mudo e constatei que já havia passado da hora do almoço, eu havia dormido durante toda a manhã. Considerei ficar ali na cama mesmo assim e ignorar até que a pessoa que a tocava fosse embora, mas quem quer que estivesse do outro lado da porta parecia estar disposto a me irritar e continuava a tocar a campainha sem parar.
Resmungando por conta do mau humor que havia me dominado após a ligação de , eu segui a passos lentos até a porta da sala, deparando-me com Penny, a nova “ficante” de do outro lado.
- Hey, gatinha, feliz aniversário!! – Penny me cumprimentou com um abraço, que eu retribuí sorrindo fraco. – Que cara é essa, aniversariante?
- Não estou no clima pra comemoração. – confessei.
- E posso saber por quê? Poxa, , não se faz 21 anos todos os dias, aniversários devem sempre ser comemorados! – ela piscou sorrindo. E eu a convidei para entrar.
- Acho que não vai ser a mesma coisa sem o aqui. – coloquei em palavras o pensamento que não deixava a minha mente desde o momento em que eu havia falado com ele pela última vez.
- Então, se anime! O me ligou e disse que eles estão vindo pra casa.
- Sério, mas o me disse que não iria chegar a tempo. – eu disse desconfiada.
- Oops, será que eu estraguei alguma surpresa? – Penny disse confusa. – Ok, . Finja que eu não disse nada, se isso era uma surpresa. Eu e a minha boca grande. – ela resmungou.
- Você acha que eles virão mesmo pra casa? – perguntei, animando-me novamente.
- Pelo que o me disse, sim. – Penny sorriu e eu imitei o seu gesto imediatamente. – Ah, finalmente alguém se animou com o aniversário. – ela comemorou. – Então trate de ir se trocar, porque nós duas iremos às compras, a senhora precisa de um vestido lindo pra comemorar o aniversário e a chegada do seu maridinho fofo. E também iremos ao salão. Será um dia de menininhas lindo. Vamos! Rápido, . – Penny sorriu me empurrando em direção ao quarto.
Eu gostava de Penny e mesmo que ela estivesse apenas saindo com há tão pouco tempo, eu já a considerava uma amiga. Ela era tão diferente de todas as outras garotas com que ele havia se relacionado. Na verdade, nenhuma das ex-namoradas dos garotos havia sido tão legal como ela, eram todas tão superficiais.
Assim que terminei de me trocar, saí com Penny em direção ao centro, com o cartão de crédito de na bolsa. Não queria nem ver qual seria a sua reação ao ver a fatura no mês seguinte, mas talvez ele gostasse da minha produção para aquele dia e me perdoasse rápido. Eu não costumava ser uma compradora compulsiva, de qualquer maneira, na maioria das vezes detestava fazer compras, mas acho que porque nunca tive companhia feminina para isso. , minha melhor amiga, morava longe e não era a mesma coisa sem ela. Mas agora com Penny eu esperava me divertir.
- , é esse, definitivamente! Você ficou linda nesse vestido, você tem que levá-lo. Na verdade, tenho uma ideia melhor, esse será o meu presente de aniversário. – Penny sorriu.
- Não precisa, Penny. Ele não é tão barato, não quero causar incômodo, posso escolher outra coisa.
- Por favor, né, ? Eu já disse, ele é um presente. E você ficou deslumbrante nele, irá amar. – ela disse piscando. – Nós vamos levar esse. – ela se virou para a vendedora e ignorou o meu protesto. – Agora, vamos comprar sapatos e depois iremos ao cabelereiro! – disse dando pulinhos animados, como uma adolescente.
Saímos da loja de sapatos em direção ao salão de cabelereiro, eu havia realmente adorado o vestido, e não queria ter dado trabalho a Penny, mas já que ela havia insistido que era um presente, eu acabei aceitando. No salão fiz um penteado que consistia em uma trança embutida, presa de lado. Penny apenas escovou os seus lindos cabelos negros e ambas fizemos as unhas e maquiagem. A minha era simples, mas o batom vermelho em meus lábios se destacava. Eu me sentia bem, sentia-me bonita e esperava ansiosamente que realmente chegasse naquele dia. Eu havia tentado ligar para ele novamente e confirmar o que Penny havia me dito, mas desisti pensando que talvez eu estragasse a sua surpresa.
Já havia anoitecido quando deixamos o salão e as luzes de natal já estavam acessas e iluminavam toda a cidade. Penny me convidou para uma bebida rápida em um Pub e eu tentei recusar, mas ela era ótima em persuadir qualquer pessoa e lá estávamos nós em um táxi indo em direção a um Pub conhecido aonde os garotos e eu sempre íamos. E mais uma vez eu pensei em , pensei em como sentia a sua falta, e rezei para que ele chegasse naquele dia.
Assim que chegamos ao local, eu estranhei o pouco movimento e a falta de iluminação, pensei que talvez estivesse fechado por algum motivo, mas Penny me arrastou para a porta e assim que ela a abriu, eu fiquei surpresa com o que vi.
- SURPRESA! – todos gritaram. E eu sorri admirada.

Christmas lights glisten.
I’ve got my eye on the door,
Just waiting for you to walk in,
But the time is ticking and
People ask me how I’ve been.
As I comb back through my memory.
How you said you’d be here.
You said you’d be here.
”¹


Havia várias pessoas no local, vários rostos conhecidos, pessoas do meio musical, antigos colegas do colégio, mas devo admitir que nenhum era realmente meu amigo. Penny havia feito o possível para que a festa surpresa me agradasse, mas nós não nos conhecíamos há muito tempo e ela não tinha noção de que eu tinha tão poucos amigos, na verdade, os meus verdadeiros amigos não estavam ali. Naquele momento eles ainda pareciam estar em turnê pela Europa. E eu fiquei me perguntando se eles realmente viriam. Se realmente viria.
As pessoas me cumprimentavam conforme eu ia adentrando a festa, muitos me elogiavam, dizendo que eu estava linda e consequentemente faziam a mesma pergunta que não deixava a minha cabeça. Onde estava ?
E algum tempo depois, enquanto todos dançavam, riam e se divertiam; eu estava sentada em uma mesa próxima ao bar, olhando em direção à entrada, esperando que ele chegasse.

And it was like slow motion.
Standing there in my party dress,
In red lipstick, with no one to impress.
And they’re all laughing as I’m looking around the room.
And there’s one thing missing.
And that was the moment I knew.
”¹


A neve começou a cair lá fora, surpreendendo a todos, e as pessoas se aglomeraram diante da pista de dança tentando se aquecer com todo o movimento que faziam. De repente notei algo diferente na entrada do Pub e então os vi — , e adentravam o local se encolhendo pelo frio e os três sorriram radiantes assim que me viram. Mas ele não estava entre eles.
- Feliz aniversário, gatinha! – eles gritaram me abraçando em seguida e eu retribuí os abraçando apertado. Aqueles três eram como irmãos para mim.
- Obrigada, gatões. – agradeci enquanto me abraçava de lado e já beijava Penny entusiasmado.
- O não veio com vocês? – perguntei a , que estava diante de mim e ele lançou um olhar estranho para .
- Ele teve que resolver algumas pendências da banda com a gravadora após o show, mas ele disse que tentaria chegar a tempo, . – me explicou e eu assenti.
- Tudo bem, ele disse que talvez não viesse. – comentei sorrindo fraco e me abraçou mais apertado.
- Tire essa ruguinha da testa, coloque um sorriso mais animado no rosto e venha dançar comigo enquanto o babaca do não chega, porque você tá muito gata nesse vestido, . – brincou, puxando-me para a pista de dança, não me dando tempo de recusar o seu convite.
- Se você insiste. – eu disse assim que chegamos ao meio da pista e logo começamos a dançar animados.
Eu fingia estar animada diante deles, mas no fundo eu queria estar sozinha em meu apartamento, longe daquela festa, no fundo eu queria estar com . Eu tinha esperanças de que ele apareceria.

And the hours pass by
Now I just want to be alone.
But your close friends always seems to know
When there's something really wrong.
So they follow me down the hall
And there in the bathroom I try not to fall apart
As the sinking feeling starts
And I say hopelessly:
"He said he’d be here.


As horas passavam, todos pareciam se divertir, mas eu ainda sentia como se uma parte importante estivesse faltando, e realmente estava. Já havia desistido de esperar por , ele não viria. E a cada minuto ficava mais impossível controlar o nó que crescia em minha garganta.

And what do you do
When the one who means the most to you
Is the one who didn’t show?
”¹


- Parabéns pra você, nessa data querida... – os garotos surgiram no meio da festa carregando um bolo iluminado por velinhas caminhando em minha direção, Penny estava ao meu lado e ela me abraçou sorrindo. Rapidamente um coro com as vozes de todos os presentes me desejando parabéns tomou conta do lugar.
Aquilo havia me deixado emocionada, mas ainda havia algo faltando e eu não conseguia desviar o olhar da porta de entrada.

And they’re all sitting around me singing ‘Happy Birthday to you’.
But there’s one thing missing.
And that was the moment I knew.
”¹


- Obrigada pela festa, pessoal. – eu agradeci aos garotos e a Penny assim que fui deixada diante do meu prédio naquela noite. – Foi realmente especial, obrigada Penny. – disse a ela sorrindo enquanto ela me abraçava em despedida.
- Você merece, , gosto muito de você, nos vemos em breve. – ela se despediu, seguindo até o carro e eu os olhei por uma última vez antes de adentrar o meu prédio. não chegara a tempo e no fundo eu sabia que havia algo errado.
O elevador me deixou no andar do nosso apartamento, eu caminhei lentamente em direção a ele, eu tinha gostado da festa, mas algo me deixara desanimada. Entrei no local que se encontrava as escuras e segui até o quarto, onde pretendia me despir e desfazer o penteado e maquiagem, eu só queria dormir. Mas antes que eu pudesse fazer qualquer coisa, um barulho na fechadura da porta da sala e em seguida o de algo caindo e quebrando me chamou a atenção e eu me encaminhei até o local com um taco de baseball de , morrendo de medo.
E lá estava ele, na cozinha, com um copo de uísque na mão direita.
- Droga, , você quase me matou de susto. – reclamei, levando a mão ao peito.
- . – ele disse sorrindo debilmente. estava bêbado.
- Onde você estava, ? Eu fiquei te esperando a noite toda. – afastei-me quando ele tentou se aproximar. O cheiro forte de álcool exalava de seu corpo.
- Cara, como você tá gostosa nesse vestido! – ele disse se aproximando novamente e dessa vez eu não consegui me afastar quando ele me encurralou entre o seu corpo e o balcão. – Tão cheirosa. – ele disse respirando profundamente em meu pescoço e um arrepio involuntário percorreu o meu corpo. – Tão minha, toda minha. – disse levando uma mão até a minha coxa e sem que eu esperasse, colocou-me sentada sobre o balcão. Mas ele estava enganado se achava que faríamos algo, eu ainda me sentia magoada. Por que Diabos ele não havia aparecido em meu aniversário e por que ele estava caindo de bêbado diante de mim?
- Sai, , me larga. – eu o empurrei e estranhamente ele se afastou após se desequilibrar, a bebida realmente o havia afetado.
- Ah, pare de frescura, . – ele reclamou, olhando-me com raiva. – Você anda muito fresca ultimamente. Toda hora se nega a me dar o que eu quero. Que merda de esposa eu fui arrumar! – ele dizia nervoso, puxando os cabelos.
- Se é isso o que você pensa, você pode sempre pedir o divórcio. – eu disse magoada, ele me olhou culpado. Então desci do balcão e saí da cozinha. me seguiu. Mas eu fui mais rápida e me tranquei no quarto antes que ele pudesse entrar.
- , abre. Desculpe, eu não queria ter dito aquilo. – dizia, mas para mim a noite havia acabado. O que havia de errado com ele?
- Onde você estava, ? – eu perguntei encostada na porta.
- Com o pessoal da gravadora, houve uma reunião e o nosso empresário pediu para que eu ficasse, eu não queria perder a sua festa, mas não tive escolha. – ele dizia através da porta.
- Essa reunião deve ter sido mesmo interessante, já que você está fedendo a álcool e perfume barato de mulher. Sinto muito que tenha acabado, . Mas infelizmente, agora você está em casa com a sua esposa irritante. – saí do local onde estava e me joguei sobre a nossa cama de casal, desistindo de controlar as lágrimas que desceram pelo meu rosto e ignorando as batidas que ele insistia em dar na porta enquanto implorava para que eu o deixasse entrar.

You called me later
And said ‘I’m sorry I didn’t make it, ’
And I said, ‘I’m Sorry too.’
And that was the moment I knew
”¹


Na manhã seguinte ao meu aniversário, eu o encontrei dormindo no corredor do quarto, com a cabeça diante da porta. E mais tarde naquele dia ele havia feito de tudo para que eu o perdoasse e me prometeu que nada havia acontecido, garantiu que ele havia apenas dançado com uma garota em um happy hour que eles haviam feito após a reunião. No final das contas, a grande idiota o havia perdoado. Mas tempos depois eu me arrependeria de ter feito aquilo. Eu estava cega na época, mas desde aquele dia o meu já havia partido.

- Até mais tarde, amor. – Jake surgiu novamente na cozinha, fazendo-me voltar à realidade e me livrando daquelas memórias. – Você já pensou sobre a sua festa de aniversário? – ele perguntou me abraçando.
- Tudo bem, eu te deixo me fazer uma festa. Mas nada exagerado! – pedi, eu merecia ter uma nova festa para apagar as memórias desagradáveis da última.
- Essa é a minha garota! – Jake comemorou. - Eu te pego na escola depois que sair da gravadora. – ele anunciou, dando-me um selinho rápido e saindo, então eu me recordei de algo que ainda estava me deixando curiosa.
- Amor, espera. – eu pedi enquanto ele já abria a porta da sala, pronto para deixar o apartamento.
- Sim? – Jake me olhou curioso. Eu me aproximei dele com a minha melhor cara fofa e ele riu. - O que você quer, mulher? – perguntou de um jeito brincalhão, entrelaçando a minha cintura com os seus braços fortes.
- Você ainda não me disse o nome da banda com quem você está trabalhando. Estou curiosa. – eu comentei, fazendo bico.
- Mulheres e a sua curiosidade! – Jake exclamou maroto. – Quer saber, talvez essa seja a surpresa do seu aniversário, vou conversar com eles e ver se eles poderão ir a festa e, quem sabe, tocar uma música. Eu sei que você vai adorar, é uma banda incrível e de muito sucesso! – ele disse animado.
- Mas, Jake, eu quero saber agora. Detesto surpresas. – comentei desanimada.
- Essa você vai amar, mulher. Eu garanto. Agora vou indo, porque já estou atrasado. – ele sorriu, beijando-me rapidamente de novo e seguindo em direção ao elevador. Eu esperei que ele adentrasse a máquina e depois fechei a porta da sala, encostando-me à mesma e pensando sobre a tal banda. Quem seria, afinal? Deveria ser realmente boa para Jake estar tão animado em trabalhar com eles. Droga, eu detestava surpresas! Suspirei frustrada, segui até o sofá, deitando-me e ligando a televisão em um canal qualquer e adormeci enquanto Bob Esponja era exibido na tela.


Porque amar também é isso, não? Dar o seu melhor pra curar outra pessoa de todos os golpes, até que ela fique bem e te deixe pra trás, fraco e sangrando.
Daí você espera por alguém que venha te curar. Às vezes esse alguém aparece, outras vezes, não.
Caio Fernando Abreu


*1- Canção de Taylor Swift

Capítulo 10



Love is not a place
to come and go as we please.
It's a house we enter in,
Then commit to never leave.
- Canção de Warren Barfield


’s POV

Estava sentado na cabeceira da mesa da sala de reuniões enquanto todos estavam entretidos prestando atenção ao que Evans falava sobre o seu método de trabalho, eu deveria estar sendo mais profissional e também estar focado naquilo, mas a simples presença dele me irritava, então eu me desconectei dali por um tempo, porém, algo que ele disse chamou a minha atenção de volta à reunião.
- Eu sei que talvez seja um pouco cedo demais para que eu faça algo do tipo, nós não somos exatamente amigos ainda, começamos a trabalhar juntos agora e tudo mais, mas eu gostaria de fazer um convite e um pedido a vocês.
- Pode falar, cara. – incentivou.
- Ok, lá vai. No próximo sábado será aniversário da minha namorada e eu gostaria de convidá-los para a festa e pedir para que vocês, se possível, tocassem alguma música para ela.
Eu não estava ouvindo aquilo. Primeiro: ele era apenas namorado dela, como ela ainda não havia o feito se casar com ela após tanto tempo me traindo? me surpreendia. Segundo: ele era um idiota ou o quê? Como ainda não sabia quem eu era? Pois se soubesse, nunca me faria aquele convite. Mas seria interessante ver a cara de assim que eu entrasse em sua festa como convidado. Talvez não fosse uma má ideia. Iria ser divertido provocá-la. Ela era a culpada por eu estar sentindo raiva nos últimos dias e por isso ter mudado de ideia quanto a pedir perdão a ela, quem mandou estar namorando aquele imbecil?
- Nós iremos! – eu exclamei animado e os caras, que sabiam de toda a história entre e eu, olharam-me confusos.
- , tá maluco? – sussurrou próximo a mim, para que ninguém mais ouvisse e eu o ignorei.
- Vai ser uma honra tocar para a sua garota. – finalizei, levantando-me e indo até Evans, a fim de apertar a sua mão em cumprimento.
O babaca sorriu em resposta, agradecendo, e o sorriso em meu rosto estava mais para sacana. Um tempo depois encerramos a reunião e quando Jake foi embora, os idiotas dos meus amigos não esperaram muito e logo me bombardearam de perguntas e advertências, mas eu os ignorei como sempre e confirmei que nós iríamos àquela festa de qualquer jeito. Os deixei discutindo e segui para um shopping, eu iria comprar algo que me deixasse gostoso para que nunca se esquecesse daquela festa.

(...)


No sábado cheguei atrasado e já bêbado a tal festa, aquela que comemorava o aniversário de 26 anos da minha ex-mulher e havia sido preparada pelo seu atual namorado. Ainda me perguntava que Diabos eu estava fazendo ali. Eu estava tão irritado e, confesso, também magoado por saber que agora havia deixado que ele lhe preparasse uma festa. Aquela havia sido minha função desde que nos conhecemos, menos em seu último aniversário — ao qual eu não havia aparecido, quando eu deixei me levar pela libertinagem da vida de um músico e a traí pela primeira vez, beijando outra mulher, mas não havia passado de alguns “amassos”. E na época eu inventei uma desculpa assim que ela percebeu o cheiro do perfume de outra mulher em minhas roupas, quando cheguei bêbado em casa tempos depois. Inventei que havia sido apenas um happy hour com o pessoal da gravadora e eu havia apenas dançado um pouco, ela pareceu acreditar. Talvez hoje as coisas entre nós só piorassem se ela descobrisse a verdade. E agora ela estava acompanhada de Jake, o atual produtor da minha banda. Aquilo machucava de uma maneira que eu não imaginava que pudesse machucar. Então, durante o discurso de Jake agradecendo à presença de todos e dizendo o quanto amava a aniversariante, eu decidi subir ao palco. A nossa banda tocaria logo em seguida, entramos pela porta dos fundos do salão onde nós aguardávamos escondidos atrás do palco até então, pois iríamos surpreendê-la. E tudo havia sido ideia do Evans. havia reprovado o meu estado de embriaguez assim que cheguei e e estavam apreensivos e pensando em desistir da apresentação por medo do que eu poderia fazer, então dei a eles logo o que eles mais temiam, conectei o microfone e cantei, com toda a minha alma, cantei à capela uma das músicas que eu tinha certeza que expressava tudo o que acontecia naquele momento.

Met a girl.
Thought she was grand.
Fell in Love.
Found out first hand.
Went well for a week or two.
Then it all came unglued.
”¹

(...)


Jake interrompeu o discurso, o salão inteiro se silenciou, enquanto todos me observavam, tropeçando entre os pés e caminhando em direção a um determinado local, em direção a uma determinada pessoa. Em questão de segundos, eu estava parado diante dela, estava parado diante de e eu cantei para ela aquela melodia forte, carregada de emoções que eu sentia naquele instante. O salão permaneceu deserto, todos estavam sem reação, estava sem reação, e tudo o que fiz foi me ajoelhar diante dela e cantar a plenos pulmões todas as minhas frustrações.

In a trap.
Trip I can't grip.
Never thought I'd be the one who'd slip.
Then I started to realize.
I was living one big lie.
She fucking hates me.
Trust.
She fucking hates me.


(...)

That's my story.
As you see.
Learned my lesson.
And so did she.
Now it's over.
And I'm glad.
Cause I'm a fool.
For all I Said.

She fucking hates me.
Trust.
”¹


Enquanto eu me embolava na letra por estar bêbado demais, pulando a ordem correta da canção intencionalmente, a mulher a minha frente me olhou com um brilho triste no olhar, ela parecia prestes a chorar, mas fazia o possível para conter as lágrimas. Ela não queria chorar diante de mim, disso eu tinha certeza. Ela poderia estar sentindo um nó se formando em sua garganta, mas ela não choraria, ela nunca mais choraria na frente de um cara como eu, não me daria esse gostinho. Mas aquela minha atitude claramente bêbada estava a irritando – ela odiava ser o centro das atenções – eu via aquilo em sua expressão e em uma reação inesperada, ela se levantou e retirou brutamente o microfone de minhas mãos, puxando o fio e desconectando-o enquanto despejava entre dentes sobre mim tudo o que sentia.
- Sabe, são por atitudes como esta que hoje eu fico feliz por você ter me deixado. – ela disse me fuzilando com o olhar, eu sentia a minha cabeça girar cada vez mais. – Você é patético, , consegue ser mais infantil do que uma criança, mesmo depois de tantos anos, isso chega a ser humilhante. – continuou dizendo verdades, sem se preocupar se aquilo me feria. – E, ah! Se essa sua ceninha foi para me ferir, fique sabendo que há muito tempo o que você faz ou deixa de fazer já não me atinge mais. Nem te odiar mais eu odeio, tudo o que sinto agora é pena. Pena em saber que mesmo com todo esse tempo, nada mudou em você. – ela finalizou, presenteando-me com um belo tapa na cara. Um tiro certeiro no alvo. E saiu do local em seguida, deixando-me bêbado, confuso, triste e derrotado com a marca dos seus cinco dedos em meu rosto. Sendo repreendido e puxado por , e enquanto relembrava memórias felizes de um passado que nunca voltaria.

~~~~~

- Me dá a sua mão. – eu pedi.
- Pra quê? – ela perguntou desconfiada.
- Surpresa! – eu pisquei rindo, ela fechou a cara logo em seguida, eu sabia que ela odiava surpresas pelo simples fato de ser muito curiosa.
- Confie em mim, . – eu pedi novamente e ela finalmente me deu a sua mão, mas ainda relutante. – Não olhe. – ordenei e rolou os olhos, bufando irritada e os fechou.
Eu apanhei uma caneta em minha mochila, escrevi o sentia por ela, o que senti por todo aquele tempo, desde o dia em que nos conhecemos. Tudo se resumia em poucas palavras, mas aquelas eram as mais sinceras entre todas as palavras que eu já havia lhe dito. Eu havia me decidido, iria me declarar, e talvez aquela declaração fosse ocorrer da maneira mais idiota de todas, mas eu sabia que ela adoraria. adorava esquisitices, e eu sabia disso porque ela me adorava. Sorri com o meu pensamento idiota e retirei a ponta da caneta de sua mão.
- Pronto, agora pode olhar. – eu lhe comuniquei e ela abriu os olhos, puxando a mão para si rapidamente e instantes depois ela me encarou com o olhar mais brilhante que eu já havia lhe visto dar. O olhar mais deslumbrante de todos.
- É verdade? – perguntou sorrindo e eu apenas assenti.
- Ah, ! Eu também. – ela exclamou e em pouco tempo seus lábios já cobriam os meus, enquanto a sua mão, aquela onde eu havia escrito “Eu te amo”, acariciava a minha nuca da forma mais deliciosa possível, fazendo-me sorrir entre o beijo e ter certeza de que aquilo era tudo o que eu sempre quis. Ela era tudo o que eu sempre quis. E foi naquele momento que eu soube que a queria para sempre.


~~~~~

Where there is desire there is gonna be a flame.
Where there is a flame someone’s bound to get burned.
But just because it burns doesn’t mean you’re gonna die.
You gotta get up and try.
”²

's POV

E mais uma vez havia destruído um dos meus aniversários. Após a sua ceninha bêbada, eu havia deixado o local da festa sem dar explicações a ninguém, nem mesmo a Jake, quem me ligou várias vezes durante o caminho de volta para casa enquanto eu estava em um táxi sentindo a minha cabeça girar e a mão com a qual eu havia estapeado , latejar. Eu ignorei as ligações, não estava em condições de falar com ele naquele momento, eu ainda estava confusa. Por que estava na minha festa? Como ele havia descoberto sobre ela? Como ele havia entrado? E me lembrei de ter visto os outros por lá também, eles surgiram de trás do palco e o puxaram para longe de mim assim que saí do local. Jake disse que eu teria uma surpresa durante a festa, disse que traria a banda que estava produzindo. E então a ficha caiu, McFly era a banda com a qual Jake estava trabalhando. O que eu havia feito para merecer aquilo?
Assim que entrei em casa me senti mal, Kim, a babá que sempre cuidava de quando e eu saíamos surgiu na sala e me olhou confusa.
- Já chegou, ? Eu pensei que você passaria a noite na festa, afinal, é o seu aniversário. Onde estão todos? – ela perguntou.
- Eu tive que vir mais cedo, Kim. Não estou me sentindo muito bem. já está dormindo? – perguntei e ela assentiu. – Ótimo, eu vou tomar um banho e me deitar para ver se melhoro. Você pode continuar cuidando dela pra mim até chegar?
- Claro, eu iria fazer isso de qualquer maneira. – ela assentiu sorrindo.
- Obrigada, e mais uma coisa, se alguém me procurar, diga que estou dormindo. – pedi e ela assentiu, então a deixei na sala e segui até o meu quarto.
Durante o banho eu finalmente chorei, eu não queria chorar por nunca mais e senti muita vontade de fazer isso após a humilhação que ele havia me feito passar, mas me segurei até aquele momento e agora me sentia fraca novamente. Eu o odiava por me fazer sentir aquilo, ele poderia ter sido a melhor coisa da minha vida, mas havia se mostrado ser a pior.


How it all turned to lies?
Sometimes I think that it’s better to never ask why.
” ²


(...)


Na manhã seguinte acordei sentindo a minha cabeça latejar e o meu corpo todo reagir em protesto assim que me coloquei de pé ao lado da cama, era domingo e a casa parecia estar silenciosa, olhei no relógio sobre o criado mudo e constatei que ainda era cedo, não passavam das 7 da manhã. Bufei, notando que havia perdido o sono novamente, aquilo havia acontecido muito durante toda a noite, mas a cada minuto em que eu conseguia fechar os olhos, as imagens da surpresa causada por no meu aniversário invadiam a minha mente e a insônia vinha me fazer companhia. Eu sabia que estava literalmente um trapo naquela manhã e isso se confirmou quando me olhei no espelho do banheiro minutos depois. Olheiras profundas se formaram ao redor dos meus olhos, que estavam vermelhos após tantas lágrimas derramadas na noite passada. Meu olhar estava vazio, perdido em pensamentos e sensações que eu pensava já ter sido capaz de superar. Mas, sejamos francos, como superar o grande amor da sua vida?
Mesmo que ele houvesse me ferido da pior maneira possível, eu sabia que ainda o amava e por isso estava sofrendo naquele momento. Porque todo o sonho havia se transformado em um pesadelo sem fim. E eu odiava a mim mesma por não conseguir arrancar aquele sentimento do coração.
Entrei no box e liguei o chuveiro, posicionando-me embaixo dele, a água se tornou quente em poucos segundos e eu agi automaticamente, tentando relaxar sobre aquele banho enquanto lutava para expulsar as memórias da minha mente.
E então me lembrei de Jake, lembrei-me de como ele havia sido tão perfeito comigo durante todo esse tempo, de como ele havia se tornado o meu porto seguro. Lembrei-me de que lhe devia uma explicação sobre tudo o que havia ocorrido na noite passada. E disso eu não poderia fugir, não mais. Dei um longo suspiro de frustração e tentei novamente me focar e recuperar forças para o que viria pela frente. Quando tudo parecia estar entrando em ordem, novamente uma onda inesperada surgira e derrubou o castelo de areia que eu havia reconstruído. A minha vida parecia não se cansar do status de drama mexicano, mas eu já estava farta de tudo aquilo.


Funny how the heart can be deceiving.
More than just a couple times.
Why do we fall in love so easy?
Even when it’s not right.
”²


's POV

- Enfim a Cinderela acordou. Já é hora do almoço. - disse assim que entrei na cozinha do apartamento dele, onde eu estava morando no momento.
- Bela Adormecida, imbecil. - corrigi, levando a mão a cabeça e a senti latejar novamente, tudo ainda parecia rodar. Eu queria nunca mais beber além do limite, mas sabia que aquela promessa não seria cumprida, como várias outras que já havia feito.
- Manhã difícil, hun? - ele sugeriu e eu assenti enquanto me servia de um copo cheio de água, ressaca pós-bebedeira era uma droga. - Você aprontou uma muito feia ontem, mané.
- Cara, por favor, sem sermões, pelo menos enquanto a merda dessa ressaca não passar. – esbravejei aos murmúrios, tentando fazê-lo se calar.
- Você merece uns esporros, sim, mas vou te aliviar por enquanto, porque a tua cara tá na pior, passou um caminhão por cima dela essa noite? - fez piadinha e eu o ignorei rolando os olhos, quando ambos fomos surpreendidos pela campainha. E segundos depois: , e Penny se encontravam conosco.
- Vocês não têm casa, não? – perguntou fazendo graça.
- Temos, mas é mais divertido acabar com toda a comida da sua. – dizia enquanto revirava a geladeira atrás de algo comestível.
- Parece que o te possuiu, . Porque você está com espírito de gordo. - disse sorrindo ladino, dando início a mais uma "discussão" entre eles. Eu sabia que ele estava fazendo aquilo de propósito, para que não me desse mais uma de suas broncas.
- Cale a boca, . E, cara, você precisa fazer compras. - disse enquanto remexia os armários atrás de comida. A intimidade entre nós não tinha limites, no bom sentido, é claro.
Mantive-me sentado ao lado do balcão, ingerindo em goles pequenos agora um café forte e sem açúcar, a fim de sanar aquela dor de cabeça incômoda e aliviar a ressaca. As memórias da noite passada tomando conta dos meus pensamentos, fazendo-me sentir culpa por tudo o que havia acontecido e, ao mesmo tempo, o orgulho me cegando e me dizendo que ela merecera tudo aquilo.
- Posso falar com você, ? - Penny me chamou, fazendo com que eu deixasse o mundo bolha onde havia me colocado e finalmente notando a sua presença ao meu lado.
- Claro, sobre o quê? - perguntei curioso.
- Vamos até a sala? - ela pediu, indo até o outro cômodo e eu a segui logo depois.
Penélope se sentou sobre o sofá e eu me sentei diante dela sobre a mesa de centro. Ela se remexia desconfortável, não sei se por causa do móvel, ou pela conversa que teríamos. Talvez por ambos, o sofá de não era dos mais confortáveis, as minhas costas sempre reclamavam. Sorri com o pensamento idiota que vagava pela minha mente, mas logo me voltei para Penny, que me encarava séria, ela parecia tentar escolher as palavras certas para iniciar aquela conversa.
- Sobre o que você quer falar? – incentivei, tentado terminar logo com aquilo.
- Você sabe o assunto. - ela me olhou severamente, com uma expressão dura no rosto. Eu soltei um longo suspiro.
- Não me leve a mal, mas esse assunto não é da sua conta. - eu disse sério, não queria ser grosso com Penélope, mas aquilo não lhe dizia respeito.
- Muito pelo contrário, . - ela disse ríspida. – Esse assunto envolve a todos nós, mesmo que os protagonistas da história sejam e você.
- Penny, por favor... – tentei encerrar o assunto.
- Por favor, peço que fique quieto e me ouça! – ela me olhou duramente, cruzando os braços. E naquele instante eu notei que o meu carrasco naquele dia não seria , e, sim, a sua amada esposa e amiga da minha ex-mulher.
- Penélope, eu... – ela me fuzilou com o olhar e eu decidi finalmente me calar.
- Não me interrompa, . Eu me mantive quieta sobre tudo o que aconteceu anos atrás, quando você fez a maior besteira de todas e trocou a mulher da sua vida por aquelazinha e não me olhe assim, ela ainda é a mulher da sua vida, nisso você não me engana. Bom, eu não me meti antes, pois eu não sabia de nada na época, só descobri após a separação de vocês. Deus sabe como discuti com após isso. – ela disse e eu a olhei confuso. – É, aposto que você não sabia disso, mas o dormiu no sofá da sala por uns bons dias e fez de tudo para recuperar a minha confiança depois que eu descobri que ele, e haviam te acobertado por tanto tempo e ajudado indiretamente para que você magoasse a da pior maneira possível. Mesmo eu não tendo convivido muito com ela, não tanto quanto vocês quatro, eu já a considerava uma grande amiga. E agora eu não vou me calar diante da burrada que você fez. Você, por acaso, tem noção da oportunidade que o destino colocou a sua frente? Eu acho que não, porque você simplesmente decidiu a chutar para longe no minuto em que, novamente, decidiu estragar uma festa de aniversário da . – Penélope se calou por um instante e respirou fundo, a sua expressão se tornou terna e ela me olhou com tristeza no olhar. – , você sabe que é como um irmão para mim, por isso eu me sinto no direito de te aconselhar como tal... Eu não gosto desse deslumbrado pela fama, dinheiro e sexo que você se tornou após deixar a , esse é um babaca insuportável e todos nós precisamos ter o antigo de volta. O antigo que ainda existe dentro de você, por mais que você tente escondê-lo. Eu sei que ele ainda existe, porque eu o vejo sempre quando você brinca com Charlie, ou quando estamos apenas nós e os garotos reunidos em casa, agindo como verdadeiros amigos, nessas horas o verdadeiro aparece... Preciso confessar que desde que e eu ficamos juntos, esse não se mostrou muito, mas nas vezes em que o vi, eu me apeguei a ele, e é fato que ele era muito mais presente quando você e a estavam juntos, quando os conheci um ano antes da separação. Você ainda gostava dela naquela época, , o que aconteceu? – ela me encarou, mas eu não tinha palavras para argumentar naquele momento diante do seu longo discurso, eu apenas ouvia calado. Aquelas palavras estavam mexendo comigo, Penny suspirou antes de continuar o que tinha para me dizer. – Eu a vi aquele dia na clínica, queria ter ido até ela, mas o me convenceu de que aquele deveria ser um momento só de vocês, e eu concordei, porque no fundo eu sabia que você deveria estar se sentindo nervoso diante dela, no fundo eu sei que você se sente culpado, mesmo fingindo que não. Mas você tem que saber que a não faz falta apenas pra você, . Ela faz falta para todos nós. Quando você decidiu mandá-la para longe, ela não se afastou apenas de você, ela se afastou dos amigos também, ela cortou qualquer contato que a lembraria de você e isso nos incluiu. Era para ela ser a madrinha do Charlie, sabia? – ela murmurou chorosa e eu notei o brilho no seu olhar, Penny segurava as lágrimas e eu sentia o meu coração ser esmagado ao vê-la daquela forma. Depois de , ela havia sido a única garota que inserimos no nosso grupo, ela era diferente das outras, eu a considerava como uma irmã, e tenho certeza de que e também o faziam. Como eles e consideraram um dia. Eu nunca havia percebido que ao afastar de mim, havia a tirado de perto deles, de perto da sua família. Porque após a morte dos seus pais e avós, eu sabia que nós havíamos nos tornado a sua verdadeira família. Era tudo minha culpa, mesmo que eu estivesse cego demais para admitir. Penny suspirou novamente e decidiu finalizar tudo aquilo. – Eu espero que o que eu disse abra os seus olhos e faça com que você perceba tudo o que está acontecendo a sua volta, espero que você tome a decisão certa daqui para frente. Eu acredito em você, . – ela sorriu fraco, surpreendeu-me com um abraço forte e se colocou de pé logo em seguida, caminhando para a cozinha.
Joguei-me no sofá no local onde ela estava sentada e encarei a TV desligada por um tempo. Minutos depois, Penny estava de volta à sala, acompanhada por , e . O casal se despediu de nós e partiu. Eu continuei em silêncio, perdido em pensamentos, revendo aquela conversa, absorvendo as palavras duras, porém necessárias de Penélope. e se juntaram a mim, sentando-se um de cada lado sobre o móvel. Permanecemos em um silêncio estranho por minutos incontáveis, eu por não estar com vontade de expressar nada naquele momento e eles, provavelmente, com medo de dizer algo que pudesse causar uma reação desagradável da minha parte. Mas pareceu tomar coragem, quando um tempo depois foi o primeiro a quebrar o silêncio.
- Aposto que agora você teria preferido uma bronca do . – ele sorriu de forma marota, fazendo mais uma das suas gracinhas e eu o encarei sem expressão alguma no rosto.
- É melhor aliviarmos essa tensão toda assistindo a uma partida de futebol, pelo que eu me lembre, o meu querido Manchester está jogando agora. , vá buscar cervejas, somos convidados! – exigiu, enquanto apanhava o controle remoto e ligava o aparelho de televisão, lhe mostrou o dedo médio e bufou, resmungando algo que parecia ser “babaca folgado”, mas levantou-se e seguiu até a cozinha, voltando com três garrafas de Bud³ depois.
Meus amigos se distraíram com o jogo, enquanto eu tomei um longo gole da cerveja e deitei a minha cabeça sobre o encosto do sofá, fechando os olhos e me desligando de tudo, deixando com que o meu cérebro absorvesse e tentasse encontrar uma solução para toda a merda em que a minha vida havia se metido nos últimos anos.


Every worry that it might be ruined?
Does it make you wanna cry?
”²


’s POV

Eu observava a paisagem da rua sentada sobre uma espreguiçadeira na varanda do nosso apartamento, cheia de agasalhos e envolta em um grande cobertor para tentar amenizar o frio que fazia naquela manhã. Havia uma xícara de chocolate quente em uma das minhas mãos enluvadas e um romance intocado de Nicholas Sparks ao meu lado, por mais que adorasse ler, sentia-me muito dispersa e ainda sonolenta naquela manhã. Havia ido checar minutos antes e ela ainda permanecia adormecida, já eram por volta das dez da manhã, quando eu ouvi barulhos vindos do interior do apartamento e surgiu na varanda de pijamas e esfregando os olhos, provavelmente havia acabado de acordar.
- Eu estava te procurando pela casa, parece que a senhorita caiu da cama. já acordou, eu lhe dei uma mamadeira agora e ela está vendo desenhos na sala. Quer conversar sobre ontem? – ela perguntou, sentando-se em uma cadeira ao meu lado e eu neguei em silêncio. – Tudo bem, quando você estiver preparada, saiba que eu estarei aqui para lhe ouvir. – ) sorriu carinhosa e eu assenti.
- Obrigada, eu sei. – pronunciei as minhas primeiras palavras do dia sorrindo fraco, e notei a rouquidão em minha voz, pigarreei, tentando melhorá-la. – Tem chocolate quente na garrafa térmica na cozinha. – informei e sorriu, indo até o local e voltando minutos depois, sentando-se novamente ao meu lado e também observando a paisagem.
- Jake está preocupado. Ontem ele me pediu explicações, mas eu pedi que ele esperasse, que você diria tudo depois. – ela comentou, tomando um gole do chocolate em seguida.
- Eu sei que preciso falar com ele, mas é tudo tão complicado. – comentei suspirando. – Tenho medo da reação dele.
- Você não tem o que temer, . E o Jake não irá fazer nada demais, ele vai entender que isso faz parte do seu passado, e que ele é o seu futuro. – minha amiga disse sorrindo.
- Ele tinha que estragar tudo de novo. – murmurei, fechando os olhos.
- Ele continua sendo um babaca, se os outros garotos não o tivessem tirado dali tão rapidamente, eu juro que teria lhe dado um chute nas bolas. Mas fiquei feliz com o belo tapa que você deu nele. Deu pra ver a marca dos seus dedos naquele rosto branquelo. – ela disse com um sorriso matador nos lábios. Eu ri fraco.
- Minha mão latejou depois, acho que foi a segunda vez que eu bati em alguém, depois da vez que estapeie a idiota da Sarah Michells no colegial, uma vadia que deu em cima dele no baile. – falei, recordando-me do episódio. Mas chacoalhei a cabeça, tentando me livrar dele em seguida. – Você sabe que eu detesto violência e detesto chamar a atenção, mas...
- Ele mereceu e merecia muito mais. – completou, aprovando a minha atitude. Fomos surpreendidas pelo toque do meu celular, o nome de Jake apareceu no visor e eu senti o meu estômago se remexer. Eu estava com medo, mas não poderia mais fugir daquela conversa.
- É o Jake. – mostrei o visor a .
- Atenda! Vocês precisam conversar. Eu vou te deixar sozinha e ir dar uma olhada na . - ela disse saindo e eu respirei fundo antes de atender a ligação.
- Oi, Jake. – disse nervosa.
- ?! Até que enfim! Eu estou tentando falar contigo desde ontem! Liguei e você não me atendeu, quando deixei a em casa, Kim disse que você já havia ido dormir. Eu fiquei tão confuso com tudo o que aconteceu, não quis me explicar, os caras foram embora rápido e você saiu daquele jeito... – eu o interrompi.
- Jake, nós precisamos conversar. – eu disse séria, ele se calou rapidamente e eu pude notar que ele respirou fundo antes de falar novamente.
- Você quer terminar. – Jake afirmou de repente, não compreendendo nada.
- Terminar? Não! Jake, não é nada disso, eu só preciso te contar algumas coisas do meu passado, pra que não existam mais segredos entre a gente, eu não pretendo terminar com você, eu te adoro tanto. Talvez você queira terminar comigo depois da nossa conversa. – eu disse apreensiva e ele soltou um longo suspiro e um riso fraco após isso.
- , eu nunca terminaria com a melhor garota que já apareceu na minha vida. – ele disse e eu sabia que ele estava sorrindo naquele momento e aquilo me fez sorrir sinceramente pela primeira vez no dia.
- Posso ir até o seu apartamento? – pedi.
- Não precisava nem perguntar. Estou te esperando, a porta está destrancada. Beijos. – ele informou e desligou após eu me despedir.
Eu olhei a paisagem novamente, tentando criar um roteiro para tudo o que eu queria confessar a Jake, mas não havia uma maneira fácil de fazer aquilo. Levantei da espreguiçadeira, recolhendo a xícara de chocolate quente que agora se encontrava vazia e o livro ainda não lido de Sparks e segui para dentro do apartamento. Quando me viu, veio correndo até mim.
- Bom dia, amor da minha vida. – disse sorrindo e a segurando em meu colo. – Já tomou café da manhã? – perguntei e ela assentiu freneticamente, sorrindo. Num gesto inesperado, a minha pequena colocou as mãozinhas em volta do meu rosto e me fez carinhos.
- Te amo, mamy linda. – ela declarou sorrindo e aquilo fez o meu coração amolecer. Aquele pequeno ser parecia ter percebido o estado carente em que a sua mãe se encontrava naquele dia e com aquela simples frase embolada, havia melhorado muito o meu humor.
- Ah, minha bebê, a mamãe também te ama muito, viu? – abracei-a apertado e nos olhou do sofá com os olhos brilhando de emoção.
- Deixem de ser fofas, vocês duas. Desse jeito eu vou acabar chorando! – minha amiga reclamou brincando.
- Não chora, titi, eu te amo também. – disse se virando para ela e seguiu até onde estávamos.
- Ah, sua pestinha linda, vem cá! A madrinha te ama. – declarou, pegando-a em seu colo e a enchendo de beijos. Minha filha soltava lindas gargalhadas que acabaram contagiando toda a casa.
- , será que você pode tomar conta da por um tempo? Eu vou até o apartamento do Jake ter aquela conversa. – pedi e minha amiga concordou rapidamente.
- Pode ir tranquila, o meu turno no hospital só começa às seis da tarde. Hoje é dia de plantão. – ela suspirou.
- Obrigada. – eu agradeci sorrindo. – Bebê, a mamãe vai até a casa do Jake, mas já volta, ok? – comuniquei a minha pequena e ela logo fez um bico.
- Também quero ir. – disse emburrada.
- Outro dia, , a mamãe não vai demorar hoje. – eu disse e ela concordou a contragosto.
- Que tal a gente preparar um almoço gostoso pra quando a mamãe voltar, baixinha? Você será a minha chef assistente. – sugeriu e logo mudou de humor, concordando. Com três anos de idade ela já adorava “cozinhar”. Algo me dizia que ela seria uma chef no futuro. – Que tal, panquecas?
- Eba, banqueca! – comemorou e nós duas rimos. Aquela pequena garotinha era muito fofa, elogios de mãe à parte.

Alguns minutos depois, eu me encontrava de roupa trocada em frente à porta do apartamento de Jake, protelando em entrar direto como ele havia pedido ou tocar a campainha. Respirei fundo e decidi pela primeira opção, girando a maçaneta em seguida.
- Jake? – chamei assim que me coloquei dentro do apartamento, uma canção baixa vinha da cozinha.
- Oi, linda, achei que não viria mais. – ele comentou com um pano de prato em mãos, secando-as rapidamente, vindo até onde eu estava e me presenteando com um selinho demorado. – Esta tudo bem mesmo entre nós? – ele perguntou inseguro.
- Claro, sempre. – eu disse sorrindo e ele me abraçou de lado, guiando-me até o sofá da sala, onde nos acomodamos um de frente para o outro.
- Quer beber ou comer algo? – ele perguntou e eu neguei com a cabeça. Respirei fundo pela milésima vez no dia, a fim de tomar coragem.
- Acho que não tem um jeito fácil de fazer isso, então vou ser direta. – comuniquei decidida.
- Sou todo ouvidos. – ele se encostou ao sofá, ainda virado para mim e esperou pacientemente até que eu falasse.
- me disse que você ficou confuso com tudo o que aconteceu ontem, e eu preciso... Eu quero te explicar sobre tudo. – Jake assentiu. - e eu nos conhecemos desde a adolescência, na verdade, nós já fomos casados. – lancei a bomba de uma vez, Jake me olhou surpreso. – Resumindo, e eu namoramos desde o colégio, quando terminamos os estudos ele me pediu em casamento, foi uma união precoce, muitos foram contra, com exceção dos outros garotos da banda, que sabiam do que sentíamos e da mãe de que me adorava. – expliquei, lembrando-me da minha sogra. Nós havíamos perdido completamente o contato depois que saiu de casa, e após anos eu senti a falta dela. Valerie fora uma mãe para mim. iria adorá-la se a conhecesse. Naquele momento senti-me mal por ter privado a minha filha do contato com a única avó. Afastei o pensamento, tentando continuar. – Casamos cedo porque estávamos apaixonados, para mim ele seria o único, ele era o homem da minha vida. Porém, aquele sentimento não era recíproco, já que os primeiros anos foram felizes, mas quando a banda começou a fazer sucesso, tudo mudou. mudou e um tempo depois ele saiu de casa e eu descobri que ele tinha um caso. Nunca mais falei com ele após isso, até mesmo a nossa separação ocorreu apenas por meio dos advogados, sem nenhum contato de ambas as partes. Eu deixei a casa onde morávamos com o coração despedaçado e com recente descoberta de que esperava um filho dele, eu não queria mais ficar naquele lugar que me trazia tantas lembranças, eu não queria mais nada dele. E ele nunca soube sobre a minha gravidez. – confessei e Jake me olhou de uma forma estranha. – Bom, eu não tinha ideia de que o McFly era a banda que você estava produzindo.
- Ele não sabe que tem uma filha? – ele perguntou e eu afirmei. – Ele nunca mais te procurou depois de todos esses anos? – assenti novamente. – Que babaca cínico! – Jake exclamou. – Como ele teve a coragem de fazer o que fez ontem à noite?! – disse nervoso. – Espera, era ele o cara que estava falando com você aquele dia no hospital, não era? Como eu fui cego! Aquele idiota me enganou! Ele sabia sobre você o tempo todo, ele planejou toda aquela cena. – Jake disse entre dentes, levantando-se do sofá e andando pela sala, completamente transtornado.
- Jake, fique calmo. Não foi sua culpa. se tornou um cara mimado e deslumbrado pela fama. Ele não tem mais escrúpulos. Por isso não quero que ele saiba sobre a , promete que nunca vai dizer nada a ele? – pedi.
- ... – ele me olhou com pena, eu não gostei daquele olhar, então o ignorei.
- Por favor. – pedi novamente.
- Eu nunca diria nada, esse assunto é seu. - ele se sentou novamente ao meu lado, abraçando-me. – Eu nunca faria nada que te magoasse. – ele olhou fundo em meus olhos, transmitindo a sinceridade daquelas palavras.
- Obrigada. – agradeci, aconchegando-me em seus braços. Ficamos naquela posição em silêncio por tempo indeterminado, ambos perdidos em pensamentos.
- Eu vou pedir demissão. – Jake anunciou de repente, pegando-me de surpresa.
- O quê? Não, amor, você não pode fazer isso. Só eu sei como você adorou a proposta de trabalhar para eles. Apesar de tudo, eles são uma grande banda, têm muito talento, os outros garotos não merecem sofrer por causa do amigo deles. Ignore o e faça o seu trabalho, ele não pode atrapalhar isso.
- Mas eu não sei se vou conseguir olhar pra cara dele e me controlar agora, . Eu quero muito bater naquele idiota. – ele disse me abraçando forte.
- Faça isso por mim, você não pode perder esta oportunidade. Vamos fingir que ele não existe. – pedi.
- Tudo bem, você venceu. Eu vou fingir que ele é invisível naquele estúdio, vou tentar agir de maneira profissional. E assim que terminarmos aquele álbum, não teremos mais contato com ele. – Jake disse, resignado.
- Obrigada. – eu disse sorrindo e lançando os meus braços ao redor do seu pescoço, fixando o meu olhar ao seu e selando nossos lábios em seguida.
- Tem certeza que eu não posso bater nem um pouquinho naquele imbecil? – ele resmungou com os lábios ainda colados aos meus. Eu o repreendi com o olhar. – Ok, ele não existe. – e Jake me beijou novamente.

’s POV

A manhã de segunda-feira havia chegado rapidamente, eu tinha acabado de chegar ao nosso estúdio de gravação — onde finalmente iniciaríamos o novo álbum da banda — acompanhado de .
e já estavam por lá avaliando os seus instrumentos musicais e decidimos fazer o mesmo enquanto aquele produtorzinho idiota não chegava. Eu não sabia como iria reagir quando o visse, ele provavelmente já saberia de toda a história a essa altura. deveria ter aberto o bico, talvez ele estivesse furioso, talvez ele pedisse demissão, eu não era muito religioso, mas estava rezando para isso.
- Espero que o episódio de sábado não arruíne os planos pro nosso disco. – lançou a indireta me encarando, possivelmente adivinhando os meus pensamentos.
- Deixe de ser dramático, . Existem muitos outros produtores nesta cidade. – eu disse indiferente.
- Nós avaliamos muitos, . E o Evans é definitivamente o mais competente. Espero que você não tenha estragado tudo. – ele continuou firme.
- Que seja. – encerrei o assunto, encaminhando-me até a porta de saída.
- Aonde você vai, mate? – perguntou confuso.
- Tomar um ar puro até o mauricinho aparecer. O clima aqui está pesado. – saí logo em seguida e me dirigi até o terraço do prédio, tirei um maço de cigarros do bolso e permaneci ali perdendo a noção do tempo enquanto meditava sobre a vida.
- , o Jake chegou. – apareceu no local me assustando e fazendo com que eu derrubasse uma bituca de cigarro na minha camisa.
- Porra, , vai assustar outro. – reclamei e ele riu.
- Vamos, mané. – ele saiu e fui atrás dele em passos lentos, tentando adiar o encontro com o Evans.
- Pronto, agora já estamos todos aqui. – disse assim que nos viu entrar, encarei Jake sentado em frente ao equipamento de gravação, ele também me notou, mas desviou o olhar rapidamente e uma conversa chata e profissional se iniciou. Porém, eu não conseguia ficar confortável diante da presença daquele cara e acabei o provocando algumas vezes durante o dia. Mas ele decidiu continuar a me ignorar.

- Oi, linda... Não, eu já estou saindo... Estou morto de saudades, beijos. – Jake finalizava uma ligação quando me deparei com ele perto da máquina de café expresso. E eu não conseguia mais me controlar.
- Mande lembranças a , por mim. Fale que ela ainda continua uma gata. – falei, passando propositalmente ao seu lado.
- Não mencione o nome dela, . Você não merece nem isso. – ele disse entre dentes. Então o idiota havia se irritado? Ótimo.
- Ela já murmurou o meu nome alguma vez quando vocês estavam transando? – provoquei de maneira perversa.
- Você é um idiota. – ele disse e partiu para cima de mim logo em seguida, pegando-me de surpresa, tão de surpresa que eu não consegui desviar do soco que aquele imbecil lançou sobre o meu nariz.
- Filho da puta, meu nariz tá sangrando. – eu disse quando senti o sangue escorrer pelo meu rosto. – Você quebrou o meu nariz, seu babaca, você tá morto! – eu exclamei, partindo para cima dele para revidar, mas naquele minuto os caras apareceram no local. me segurou, enquanto segurava Evans.
- Porra, , me solta! Eu vou acabar com esse viado! – eu disse completamente enraivecido por sentir o sangue cair cada vez mais.
- Sossega a bunda, . Teu nariz tá jorrando sangue, babaca. – não me soltou e eu me debatia cada vez mais, tentando me soltar.
- Não quero confusão, caras. Eu me demito. – Evans disse, preparando-se para sair dali.
- Não, Jake, espera. Acho melhor a gente conversar. Vamos até o estúdio. – pediu. E o gay do Evans concordou. - , leva o mané do pra um hospital, a merda do nariz dele deve estar quebrado. Graças a esse idiota, provavelmente ficaremos sem gravar por uns dias, pelos menos os vocais dele. – disse irritado. assentiu e saiu me empurrando para longe dali. – , vá com eles. – ouvi pedir antes de ser jogado para fora do estúdio.
- Cara, o que deu em você? – dizia no caminho e eu o ignorei, a porra do meu nariz doía.

Logo chegamos ao lado de fora e me soltou, enquanto foi apanhar o carro para nos levar ao pronto socorro, eu tentava parar o sangramento do nariz usando a minha camisa de flanela, mas aquela porra não parava sangrar.
- Merda. – resmunguei.
- Bem feito. – disse e eu o fuzilei. – Você ficou provocando o cara o tempo todo, . Eu percebi.
- Vá tomar no cu, . – disse bravo. – Belo amigo você.
- Se eu não fosse teu amigo, teria deixado o cara te dar um pau. Você estava apanhando pra caralho. – ele se defendeu.
- Eu ia revidar quando você me segurou, seu gay.
- Sei.
- Foda-se. – disse indiferente e desviei o olhar para o outro lado da rua e então eu a notei, parada dentro de um carro estacionado quase em frente à gravadora. Os seus olhos se fixaram nos meus por alguns segundos e uma corrente elétrica passou por todo o meu corpo, causando-me um arrepio estranho quando isso aconteceu. O seu olhar era assustado, confuso, e parecia preocupado. Aquilo mexeu comigo. Mas então ela pareceu recuperar a sanidade, ligou o carro e saiu de lá às pressas.
deveria estar esperando Jake ali em frente há algum tempo e, pela sua expressão, ela não esperava me ver tão cedo. Aquele olhar...
- Vamos, seus bichinhas. – estacionou diante de nós, acordando-me para a realidade. se sentou no banco de trás e eu no carona.
Permaneci calado durante todo o trajeto para o hospital, o nariz já não sangrava tanto, apenas estava dolorido, e a minha mente ainda vagava para o local da minha memória onde aquele olhar havia ficado gravado, eu nunca o esqueceria. Aquele era o mesmo olhar de tristeza que ela havia me dado no dia em que a abandonei.

"Alguns dias com ela eram doloridos, mas as horas sem ela eram muito piores."
- Ironias do Amor (Filme)


1 – Trecho de uma canção da banda norte americana Puddle of Mudd;
2 - Trecho de “Try”, canção da cantora norte americana Pink;
3 – Apelido para a cerveja da marca Budweiser.

Capítulo 11




Toda mulher leva um sorriso no rosto e mil segredos no coração.” - Clarice Lispector


’s POV

- A gente precisa sair pra fazer as compras de natal. – dizia do interior do seu quarto, enquanto eu procurava as minhas chaves na sala.
- Você trabalha no próximo sábado? Porque acho que seria um dia perfeito pra isso. – comentei em voz alta para que ela me ouvisse.
- Hum, acho que será a minha folga, mas vou confirmar antes e te aviso. – ela comentou adentrando a sala. – Tá indo onde toda arrumada assim? – ela me olhou com as sobrancelhas arqueadas e um sorriso sapeca no rosto.
- O me ligou mais cedo, disse que o Jake deu o meu número pra ele, não gostei muito disso, mas enfim, ele pediu pra que eu passasse no escritório deles porque ele quer muito falar comigo. – respondi e me olhou apreensiva e confusa, provavelmente imaginando como eu havia aceitado aquilo se queria me manter afastada de todos. – Eu sei, não faça essa cara. Quase não aceitei o pedido dele, mas ele me disse que era importante. Só espero não ter que encontrar alguém indesejado por lá, me prometeu que ele não estará no escritório nesse horário. – suspirei derrotada, lembrando-me de ter visto aparentemente machucado dias atrás, enquanto esperava Jake estacionada em frente ao prédio do estúdio, minutos depois descobri que ele havia levado um soco do meu namorado. E aquilo estranhamente não me deixou feliz. Eu havia ficado preocupada.
- Tudo bem, você é quem sabe, amiga, mas tome cuidado e tente não se estressar se der de cara com o cretino do seu ex-marido. – ela aconselhou.
- Eu já decidi ignorar qualquer tentativa de comunicação com aquele idiota. – sorri fraco. – Você pode olhar a pra mim? Não quero levá-la e correr o risco do a ver.
- Ok, eu cuido. Mas não demora porque preciso ir à clínica mais tarde. – eu assenti e fui até o quarto dar um beijo de despedida na minha baixinha, que logo resmungou por eu não estar levando-a comigo.

(...)


- Hey, que bom que você veio, eu fiquei com medo de que mudasse de idéia. – me cumprimentou assim que adentrei a sua sala.
- Pra ser sincera, eu pensei muito antes de vir e quase desisti. – eu o olhei, tentando conter o ressentimento que sentia. sorriu triste.
- Antes de tudo, acho que te devo um pedido de desculpas, . Eu sei que querendo ou não acabei acobertando o nas burradas que ele fez e me arrependo disso até hoje. Você não imagina o quanto! – ele confessou com um olhar triste em minha direção. – A Penny até me puniu por um bom tempo no nosso casamento depois que descobriu que os caras e eu, de certa forma, ajudávamos o quando ele queria dar as suas escapadas, todos nós acabamos pagando por aquilo de alguma maneira, porque no final todos ficamos sem você. – ele relatou ainda de maneira triste e eu senti meu coração apertado com aquela confirmação de . Sim, eu sabia tudo o que havia feito, mas era ainda difícil ouvir aquilo de um dos meus antigos melhores amigos tempos depois. – Perdão, . – ele parecia realmente suplicar por aquilo com o olhar.
- Esqueça, . Eu prefiro não me lembrar mais de certas coisas do passado. E quanto às desculpas, com o tempo, quem sabe. – tentei não ser grossa, mas ainda era difícil distribuir simpatia a eles. Alguém bateu na porta e eu fiquei surpresa com o que vi após pedir que a pessoa entrasse.
- Oi, . – Penélope sorria para mim com os olhos brilhando. Ela carregava um pequeno garoto, que parecia ser um pouco mais novo do que nos braços. Ele tinha os cabelos claros e os olhos do pai.
- Penny! – eu exclamei, realmente feliz ao revê-la, e a abracei apertado. Ela havia sido a única que esteve sempre ao meu lado, a única que me fez sentir mal por partir da vida de todos sem deixar rastros. Penélope era de quem eu sentia mais falta. Minha única amiga depois de .
- Essa era a surpresa. – disse sorrindo e caminhando até onde nós duas estávamos, pegando o garotinho em seu colo. – E esse é o Charlie, nosso bebê, . – ele me apresentou o pequeno, que logo me mostrou um lindo sorriso em cumprimento, o mesmo sorriso que possuía.
- Oi, Charlie, você é lindo. – disse lhe dando um beijo no rosto, ele sorriu mais ainda e eu tive vontade de mordê-lo, tamanha era a sua fofura.
- Eu não acredito que finalmente te temos de volta, senti tanto a sua falta, garota! – Penny exclamou já com lágrimas nos olhos e eu sorri feliz por estar diante dela.
- Não me faça chorar, Penélope! – pedi brincando e a abracei novamente. – Também senti a sua falta, amiga.
- Eu vou deixar vocês duas colocando as fofocas em dia e vou dar uma volta com o Charlie, certo, campeão? – perguntou ao filho, que assentiu. - Até mais, garotas. – ele disse saindo da sala em seguida, com Charlie no colo.
- Ele é mesmo lindo, Penn. – eu disse sincera, enquanto nos sentávamos em um sofá que havia no canto do escritório de .
- Sua filha também parecia ser linda quando a vi. – ela disse e eu a olhei me sentindo um pouco confusa.
- Como você conhece ? – perguntei com certo medo.
- Aquele dia que você encontrou no hospital, ele estava conosco. Charlie tinha uma consulta e nós vimos quando vocês dois se depararam um com o outro, eu queria ter ido até você, mas achei que não era o momento certo. – ela confessou com uma expressão triste no olhar.
- E eu que achei que nunca mais iria ter o desgosto de revê-lo. Agora parece que em todos os lugares que eu vou é só isso o que acontece. – disse, revelando o meu cansaço diante de tudo o que estava acontecendo em minha vida naquele momento.
- Eu soube o que ele andou aprontando, mas fique tranquila que já tive uma conversa séria com ele. – ela pegou em minha mão me confortando.
- Se isso bastasse para que o mudasse em algo, Penny, eu te agradeceria eternamente, mas eu sei que provavelmente tudo o que você disse deve ter entrado por um dos ouvidos dele e saído pelo outro em seguida. Aquele lá nunca vai mudar. – eu suspirei derrotada.
- Talvez ele não mude imediatamente, mas eu sei que plantei uma semente de dúvida no coração daquele lesado. Você vai ver, . – ela disse sorrindo esperançosa, mas eu ainda não conseguia colocar minha fé em e talvez nunca conseguisse.



Dias depois...


’s POV

Cansado, eu estava completamente cansado. Era quase véspera de natal. A gravação naquele dia parecia estar durando horas, semanas, meses. Não me leve a mal, eu adorava aquilo, adorava todo o processo de produção, mas ficar ao lado do Evans me deixava mal humorado, eu estava cansado de fingir, cansado de negar que ele me incomoda absurdamente, cansado de tentar controlar a raiva que eu sentia, afinal ele era o cara que agora fodia a minha mulher... Certo, minha ex-mulher.
E o mais intragável: ele era o cara que havia me dado um soco que quase quebrou o meu nariz e me fez ficar sem conseguir cantar direito por alguns dias. Soco este que eu não pude nem revidar ainda. Jake agora agia profissionalmente e não falava comigo fora do ambiente de trabalho.
Eu havia estragado qualquer chance de relacionamento com após a sua festa de aniversário. E aquilo tudo era uma grande merda.
Resolvi que precisava sair daquele estúdio, pelo menos por alguns minutos e informei que estava indo buscar um café, mas talvez eu precisasse mesmo de uma bebida mais forte — Vodka.
Dirigi-me à sala de espera onde havia uma máquina de café expresso, quando a minha real vontade era de ter ido para a rua em direção ao pub da esquina, mas ao me aproximar da entrada, notei que havia alguém no local, duas vozes femininas conversavam e reconheci Penny e . Ela passara a frequentar o estúdio às vezes, quando ia se encontrar com o Evans. Mas sempre se mantinha distante, evitando qualquer contato comigo quando eu estava por lá. Desconfio que em uma dessas vezes, Penny e ela finalmente se reencontraram e agora pareciam ter retomado a antiga amizade, pois não se desgrudavam. Sorri ao notar que ela estava ali, mas as duas pareciam estar discutindo. O que achei estranho. Eu precisava falar com , não queria que ela fugisse novamente, talvez eu devesse esperar até que ela estivesse sozinha. Algo fez com que minhas pernas se fixassem ali onde eu estava, mantendo-me imóvel e, sem perceber, eu já prestava atenção ao que elas diziam. Eu me sentia uma adolescente fofoqueira.
- A é filha do...? - Penny perguntou surpresa, sussurrando a última palavra, e dessa maneira eu não pude ouvi-la.
- Sim, ela é filha dele, mas ele não pode saber, eu não quero que ele saiba, nunca. não faz mais parte da minha vida. - ouvi o fim da conversa e fiquei perplexo com aquela revelação de . Como ela tinha coragem de me esconder aquilo? Como ela não queria me dizer que eu tinha uma filha?
Sem pensar duas vezes, invadi a sala de espera do estúdio, e Penny me olharam espantadas — a primeira havia perdido toda a cor do rosto e me encarava pálida como se a 3ª guerra mundial estivesse prestes a se iniciar, e talvez ela estivesse mesmo.
- Mas que porra é essa que eu acabei de ouvir?! - exclamei nervoso, eu ainda não conseguia acreditar.
- . - murmurou atônita.
- Eu não acredito que você esteja escondendo a tanto tempo de mim que a é minha filha. Qual é o seu problema, ? - a questionei, dirigindo-me até ela, apertando seus braços e a sacudindo de maneira bruta, enquanto colocava toda a raiva que eu sentia no momento para fora. – Minha filha! - esbravejei novamente e senti estremecer por entre as minhas mãos. Ela me olhou assustada, enquanto Penny implorava para que eu a soltasse.
- Minha filha, eu tinha o direito de saber! A porra do mundo todo sabe, menos eu? - repeti ainda aos gritos, eu sentia a ira me tomando, a mágoa por ter sido enganado me invadindo, mas em fração de segundos, a postura da minha ex-esposa se modificou e então ela reagiu, tentando se soltar das minhas mãos e me empurrando para longe dela em seguida. agora me olhava intensamente, a raiva que eu sentia em mim parecia ter sido transferida para o seu olhar e apesar de estar transtornado com aquela notícia, eu senti um arrepio percorrer o meu corpo diante daquele olhar.
- Me solta, imbecil! - ela gritou tão alto quanto eu e em seguida diminuiu o tom de voz. - Pare de fazer escândalo, . E não me venha com falso moralismo agora, você não tinha a porra de direito a nada, você perdeu a porcaria de qualquer direito sobre mim no momento em que saiu de casa. é minha filha, minha, e ela infelizmente não tem pai. Esqueça o que você ouviu aqui, esqueça que ela existe, esqueça que eu existo e nos deixe em paz de uma vez por todas! Quando é que você vai entender que eu não quero nunca mais ter nenhum contato com você? - ela perguntou alterada, mas tentando controlar o tom de voz, eu sentia o meu rosto queimar de raiva, que porra ela achava que estava fazendo? era, sim, minha filha.
- Você acabou de dizer que eu sou o pai dela, . - controlei o tom de voz dessa vez, levando as mãos à cabeça e puxando meus cabelos para tentar controlar a raiva. - Desculpe, mas acho impossível que eu me afaste da minha filha agora. Pelo contrário, eu nunca quis me aproximar mais ainda dela. Posso ter feito muita merda no passado, posso ter perdido qualquer merda de direito sobre você, posso ser uma merda de pessoa, mas você querendo ou não, ela é minha filha e nada vai me fazer ficar longe dela agora que eu descobri a verdade. Nem que pra isso eu tenha que ir à justiça. - conclui e ela me olhou novamente assustada.
- Você não tem esse direito, ela nem foi registrada como sua filha. Ela é minha, só minha. Por que você quer insistir nisso, ? Mas que droga! Por que você tinha que voltar pra atrapalhar a minha vida? Para ferrar com tudo de novo? Por quê? - lágrimas invadiram o seu rosto, agora chorava sem parar e aquilo fez o meu coração se contorcer em dor, mesmo que ela não merecesse. nunca deveria ter me escondido algo tão sério como aquilo.
- . - eu me aproximei novamente, arrependido, tomado por uma confusão de sentimentos que ressurgiam e levei minha mão direita em direção ao seu rosto, mas ela rapidamente se afastou.
- Não me toque! Nunca mais. - ela esbravejou, distanciando-se de mim, apanhando a sua bolsa sobre o sofá e caminhando até a porta.
- Aonde pensa que você vai? Essa conversa não terminou. – questionei, enfurecendo-me novamente.
- Para o lugar mais longe possível de você. - ela disse e saiu apressadamente, mas eu não iria deixar aquilo barato.
- , espera! Deixa a ir, ela precisa de um tempo. - Penny pediu, mas eu a ignorei e segui por onde havia saído.
- , espera! - eu gritei, alcançando-a e girando o seu corpo em minha direção. - Você não pode me proibir de ver a minha filha. - ela respirou profundamente, desviando os olhos de mim e se preparou para me responder.
- , quando é que você vai entender? Ela não é sua filha, você não tem direito nenhum sobre ela. Ela não foi registrada em seu nome. Deixe a gente em paz. - ela repetiu entre dentes e de maneira arrogante, todo o seu discurso pronto novamente, soltando-se de mim em seguida.
- Isso é o que veremos. - eu respondi em tom de ameaça.
- O que você vai fazer? - ela disse e agora parecia estar apreensiva.
- Acho melhor você contratar um advogado. - eu disse e se preparava para avançar sobre mim quando uma voz a interrompeu.
- , está tudo bem? - o senhor perfeito apareceu e se colocou ao lado dela. Aquilo me dava náuseas.
- Me leva pra casa, Jake, por favor. - ela pediu, abraçando-o e enterrando o seu rosto no pescoço dele, eu iria vomitar a qualquer momento, ou socar a cara daquele produtor metido a besta.
Porém, Evans foi mais rápido e, sem questionar o pedido da namorada, levou-a para longe de mim. Mas não por muito tempo.

's POV

- Hey, vai ficar tudo bem. - Jake acariciou a minha mão, eu olhava a paisagem sem ao menos notá-la, enquanto aguardávamos no sinal vermelho, havia contado sobre toda a minha discussão com a ele.
- Bem? Agora ele vai infernizar as nossas vidas, a minha e a da . Era isso que eu temia que acontecesse, Jake! – exclamei, ainda nervosa com tudo o que havia acontecido.
- Mas não é como se ele não tivesse o direito de saber, . - Jake disse cauteloso e eu olhei para ele incrédula.
- Ele não tem o direito de saber, Jake. - esbravejei irritada, eu estava a ponto de descontar toda a minha raiva em qualquer um e era Jake quem estava ao meu lado.
- Tudo bem, eu não vou me meter, porque isso é entre vocês dois e a . Não quero discutir com você e eu estou vendo que é isso o que você quer agora. Uma boa briga. - ele voltou atrás e se calou novamente, seguimos o resto do caminho em silêncio, cada um perdido em seu próprio mundo. No fundo, eu me sentia mal por tê-lo tratado daquele jeito, mas eu não daria o braço a torcer naquele momento.
A noite chegou e eu não conseguia dormir de maneira alguma, o sono fora substituído por todas as preocupações que surgiram em minha mente no momento em que descobriu a verdade. Eu estava com medo, muito medo. Eu pensava em várias alternativas sobre o que viria pela frente, estava receosa de que ele realmente cumprisse a sua ameaça e tentasse se aproximar de , o meu pequeno bebê era tão inocente, tão puro, ela não imaginava todo o drama em que havíamos acabado de nos meter. E eu só queria que ela nunca passasse por isso, queria que ela ficasse protegida. Ela era o meu anjo, não merecia sofrer por culpa do pai... Pai. - eu ainda não conseguia digerir tudo aquilo.
Recordei-me de algo que havia acontecido há algum tempo atrás. era bem pequena, ainda não entendia sobre muitas coisas, porém, quando ela ingressou na escola os amiguinhos faziam perguntas, ela via as outras crianças com seus pais e um belo dia ela me surpreendeu com aquela pergunta que eu desejava adiar a resposta por mais algum tempo, mas eu sabia que um dia essa pergunta surgiria. Em seu jeito infantil, ela havia me perguntado sobre o pai, queria saber onde ele estava? Quem ele era? Eu engoli em seco naquele momento, ela ainda era tão pequena. A única resposta que consegui dizer foi que o papai dela estava no céu, já que estava morto para mim de certa forma, e eu não pretendia contar para ela e nem para ele sobre todo esse segredo que eu estava guardando há três anos, um segredo que me sufocava às vezes, mas que eu sabia ser necessário. Pensamentos, eles surgiam em grande quantidade... Talvez eu estivesse pensando apenas em mim e em toda a mágoa e decepção que eu sentia por ele quando guardei aquele segredo, talvez ele não fosse tão ruim como pai, talvez o adorasse, se ela enxergasse o antigo nele, ele poderia ser o antigo para ela, aquele carinhoso, alegre, amigo, companheiro e prestativo, que sempre estava ao meu lado, e que me cativou no momento em que nos conhecemos anos atrás. O por quem eu havia me apaixonado. No fundo eu queria que ele mudasse por ela, ela merecia ter um pai. Mas pela realidade atual, por suas atitudes nos últimos tempos, eu sabia que aquilo era apenas um sonho distante, eu não poderia me enganar, ele iria magoá-la, e isso eu não poderia permitir. Se cumprisse a ameaça, ela ficaria tão confusa agora. Que grande besteira eu havia feito! Provavelmente agora as minhas noites de sono não seriam mais tranquilas.
ficou surpresa quando lhe contei sobre tudo o que havia acontecido aquele dia, disse que mesmo eu não querendo admitir, tinha direitos. Ele poderia conseguir o reconhecimento de paternidade facilmente caso procurasse um advogado ou talvez nem precisasse de um, as leis eram favoráveis quando o pai procurava a justiça querendo assumir um filho por livre e espontânea vontade — eu não gostei de ouvir aquelas verdades e acabamos discutindo. Bem, na realidade, eu havia levantado a voz, ainda queria brigar com alguém como Jake havia dito, precisava extravasar as minhas frustrações, mas ela se manteve calma, conhecendo-me tão bem e antes de se retirar para o seu quarto, aconselhou-me dizendo que eu precisava me preparar para o que viesse, precisava conseguir um advogado. E quando a raiva me deixou tempos depois, eu comecei a crer que ela estava certa.

's POV

- Hey, cara! - me cumprimentou assim que eu entrei em seu apartamento.
- E aí? - respondi sem ânimo e completamente bêbado.
- A farra foi grande pelo visto. - ele comentou, mas eu o ignorei, jogando-me no sofá da sala, pronto para cair no sono.
Ainda era difícil acreditar que aquilo estivesse acontecendo comigo, era difícil crer que ela havia mentido para mim por tanto tempo. Eu era pai. Aquele seria um grande passo na minha vida. Havia um pequeno ser no mundo que dependia de mim agora, e eu ainda não sabia o que fazer ao certo, apenas tinha certeza de que queria a minha filha na minha vida. Eu queria conhecê-la, queria cuidar dela, queria recuperar o tempo perdido que havia roubado de mim de maneira tão egoísta. Ela não tinha o direito. E se fosse preciso ir à justiça para conseguir ter perto de mim, eu o faria. Iria até o inferno se preciso. não tinha noção do mal que havia causado e das consequências do seu ato.
Eu sempre quis ser pai, por que ela nunca havia notado isso?
Parecia que a garota por quem eu havia me apaixonado anos atrás havia sido substituída por uma mulher vingativa, rancorosa e egoísta. Eu admitia a culpa por sua mudança de personalidade, admitia tê-la magoado, mas em hipótese alguma aceitaria o que ela havia me feito. Aquilo era muito sério. Ela havia brincado com a vida de duas pessoas, porque precisava de um pai, eu queria ter um filho e nos separou por um simples capricho. Eu realmente não a reconhecia mais.
- , quer conversar? - perguntou me encarando seriamente.
- Ahn? - respondi confuso, perdido em pensamentos.
- Você esta aí, sentado com o olhar vidrado em direção à porta e uma expressão estranha no rosto, acho que isso não é apenas por causa do álcool que você ingeriu. Tá tudo legal, mate?
- Tá tudo uma merda. - eu confessei.
- Pois então, fale. Eu posso fazer graça às vezes, mas você sabe que eu sou seu amigo e estou aqui pra te ajudar em qualquer coisa.
- Eu descobri que tenho uma filha. – fui direto ao ponto.
- O quê? - ele me olhou confuso.
- Tenho uma filha, ela deve ter uns três anos de idade e a mãe é uma vadia egoísta que me escondeu isso até hoje. - disse num misto de raiva e mágoa.
- Calma, cara, você tá falando coisas sem nexo. Como assim uma filha?
- Uma filha. estava grávida quando nos separamos e ela decidiu simplesmente me esconder esse fato. Quando eu a vi com aquela garotinha, algo dentro de mim me dizia que ela era minha, mas eu pensei que fosse loucura da minha cabeça, até cogitei que ela fosse filha do Evans... Se eu tivesse confiado nos meus instintos. - suspirei derrotado.
- Como a conseguiu esconder uma coisa dessas? - disse perplexo, sentando-se ao meu lado.
- Pois é, , a sua queridinha não é tão perfeita como todos pensavam.
- Ela deve ter tido os seus motivos, . - ele me encarou sério.
- Tudo bem, pode defendê-la como sempre. Eu não me importo. Agora a única coisa que eu quero é ter a minha filha comigo e não me importa se a irá sofrer com isso.
- O que você vai fazer? - ele perguntou assustado.
- Pra começar, amanhã bem cedo vou atrás do melhor advogado desta cidade. Vou reconhecer a como filha e logo depois vou tirá-la da , nem que para isso eu precise gastar todo o meu dinheiro. - um lampejo de ódio fazia com que os meus olhos brilhassem e eu dissesse coisas sem sentido.
- Não resolva as coisas com a cabeça quente, . Você deveria primeiro conversar com a , saber dos seus motivos, vocês podem tentar chegar a um acordo. Não vá fazer algo pelo qual você vai se arrepender depois. Você sabe que já tem muito pelo que se arrepender. Espero que você pense melhor esta noite. - disse, saindo da sala e me deixando sozinho com os meus pensamentos.
Talvez ele estivesse certo, talvez uma conversa séria entre dois adultos com os ânimos calmos resolveria tudo, mas eu duvidava que aquilo fosse realmente acontecer. Ela havia deixado bem claro que não me queria perto da minha filha, ela pediu que eu me esquecesse de tudo. Mas que merda de cara ela acha que eu sou? Não, ela não tinha o direito e eu iria, sim, procurar pelos meus.

(...)


Na manhã seguinte eu já me encontrava acomodado na sala de espera do Dr. Carl Peterson, havia recebido ótimas recomendações ao seu respeito. Ele era um dos melhores advogados de Londres especializado na vara da família. Eu sabia que deveria conversar com antes, mas também sabia que ela fugiria de mim a qualquer menção de proximidade de minha parte, eu não tinha outra escolha a não ser prosseguir com o meu plano. Já não pensava em tirar dela, mas eu precisava pelo menos reconhecê-la como filha e desejava que pudesse passar alguns dias da semana com ela.
- Sr. , o Dr. Peterson o aguarda, poderia me seguir, por favor? – anunciou a secretária ruiva, que me olhou de cima abaixo descaradamente assim que adentrei o escritório de advocacia. Se eu estivesse em meu juízo perfeito e não tão perturbado como estava devido às noticias recentes, eu teria flertado com ela imediatamente. Mas aquele não era um bom dia e talvez os próximos também não fossem. Por isso ignorei o seu olhar sedutor e me encaminhei até a sala do tal advogado.
- Bom dia, sr. . Por favor, sente-se. Em que posso ajudá-lo? – Carl Peterson perguntou estendendo a mão direita em cumprimento assim que adentrei o local.
- Bom dia, dr. Peterson. – recebi o cumprimento e decidi ser direto. - Bom, vou lhe explicar tudo sem rodeios. Descobri recentemente que possuo uma filha de três anos e a mãe, minha ex-esposa, escondeu esta informação de mim durante todo esse tempo. E até mesmo a registrou apenas como sua filha. Ela me nega qualquer contato com . Em resumo, eu quero obter o reconhecimento de paternidade de e também a sua guarda compartilhada. – o advogado me olhou atento, assentindo a tudo o que eu dizia e quando o finalizei, ele se pronunciou.
- Pois bem, sr. , devo lhe esclarecer alguns tópicos sobre o assunto, para que o senhor fique por dentro de tudo. O reconhecimento posterior da paternidade se trata apenas da inclusão do nome do pai na certidão de nascimento do filho, depois de a criança já ter sido registrada apenas no nome da mãe. Se o próprio pai quiser regularizar a situação, poderá fazê-lo, desde que a mãe também concorde, no caso do filho ser menor de idade. E quanto aos filhos maiores de idade, estes só podem ser reconhecidos pelo pai caso concordem. Para isso, basta que todos os envolvidos, pai, mãe e a criança, compareçam ao cartório onde foi feito o primeiro registro de nascimento para lavrar uma escritura pública de reconhecimento de filho. E, caso prefiram, poderá ser solicitado o auxílio de um advogado ou defensor público para a elaboração de um documento particular, que deverá ser levado nesse mesmo cartório, para que o nome do pai seja acrescentado na certidão de nascimento.
- Acho que no meu caso as coisas não serão assim tão fáceis, doutor. já deixou bem claro que não quer que eu reconheça como filha.
- Neste caso, o senhor agiu corretamente em me procurar, devemos então ingressar com ação declaratória de paternidade. – ele me informou.
- E sobre a guarda da minha filha? – questionei novamente.
- A guarda da criança, sr. , no caso de não haver acordo entre os pais, é determinada pelo Juiz, em favor daquele que tiver melhores condições de criá-lo. E dentre estas condições destacam-se: um lar harmonioso, ambiente sadio para a criação da criança, alimentação, carinho e educação e que atenda todas as suas necessidades. Não pense que uma criança ficará sob a guarda do pai ou da mãe apenas porque um ou outro possui condição financeira melhor. Perante a lei, o fundamental para a definição da guarda é o bem estar desta criança. – ele finalizou.
- E se eu solicitar uma guarda compartilhada, ou direito de visitar a minha filha? – perguntei confuso e ansioso.
- O direito de visitas garante que aquele que não possui a guarda da criança possa usufruir da sua companhia por tempo determinado. Ele poderá ser regulamentado por um acordo entre os pais, que podem deixar as visitas livres ou combinar dias e horários para que elas sejam realizadas. No caso de não haver acordo entre ambos, este direito será regulamentado também por um Juiz.
- nunca aceitaria um acordo como este. Não depois de tudo pelo que passamos.
- Senhor , preciso que o senhor seja sincero comigo sobre todo o caso, não questionarei os seus motivos, mas preciso me manter informado de todos os detalhes para que eu possa montar este processo e o senhor possa ganhar da forma que deseja. Mas o mais importante em questão é o bem estar de sua filha. E pelo que o senhor me informou, sua ex-mulher não é a favor de nada disso, então este processo acarretará alguns momentos de estresse. Espero que esteja preparado.
Ouvi atentamente a tudo o que o Dr. Peterson me comunicava, pesei todos os prós e contras daquele processo, eu não queria que a vida de sofresse qualquer dano, não queria que ela sofresse por minha causa. No fundo percebi que não queria tirá-la da mãe, queria apenas fazer parte de sua vida. Agradeci ao advogado por sua consulta e informei que gostaria que ele entrasse com o pedido de reconhecimento de paternidade, mas que iria pensar um pouco mais a respeito da guarda de . Talvez eu devesse tentar conversar mais uma vez com , afinal. Tentar obter um acordo amigável. Mesmo com tudo o que ela havia feito, no fundo eu não queria vê-la sofrendo mais uma vez por minha causa. Talvez ainda houvesse uma chance. Mas no final das contas, eu sabia que nada seria fácil.



*Obs: As leis a respeito de reconhecimento de paternidade citadas na história, são baseadas na legislatura brasileira


(...)


[N/A: Coloque esta canção para carregar e a ouça quando a letra surgir.]


Eu estava parado diante daquele prédio há algum tempo, já não fazia noção de quanto. Aquilo havia se tornado rotina desde o dia em que eu soube que era pai e que havia um pequeno ser de três anos habitando o mundo que carregava o meu sangue nas veias. Quase todos os dias eu estacionava o carro diante daquela escola e ficava lá por incontáveis minutos esperando ansioso pelo momento em que a veria. A minha filha, tão linda. Recordei-me de seus traços quando a vi pela primeira vez naquele hospital, se na época eu soubesse, se eu tivesse prestado atenção, se tivesse percebido... Tantas probabilidades. Tanto tempo perdido. Ela era uma mistura idêntica entre a mãe e eu. Perfeita. Minha pequena .
Eu havia contrato um detetive para seguir assim que saí do escritório de advocacia - eu precisava saber onde ela morava ou trabalhava agora mais do que nunca - e algum tempo depois, o detetive contatou-me informando de que ela era professora em uma pequena escola no subúrbio onde a minha pequena também estudava. Ela havia seguido a carreira dos sonhos, como ela sempre dissera que seguiria, mas que eu a havia impedido de exercer enquanto estávamos juntos por ser muito egoísta pensando apenas na minha própria carreira. Agora eu sabia aonde elas iam todos os dias e por isso, sempre por volta do mesmo horário, eu estava lá. Estacionava o carro diante da escola e as observava, eu agia como um perseguidor, porém não me importava com aquilo, eu apenas precisava vê-las, precisava tomar coragem.
parecia me odiar ainda mais agora, principalmente após a discussão intensa que tivemos no dia em que descobri a verdade sobre e decidi seguir com o que havia dito, pois também me sentia magoado e com raiva dela. Nunca imaginei que ela pudesse me esconder algo tão importante. Ela havia me decepcionado e eu não medi esforços para feri-la desde então. Contratei o melhor advogado da área familiar de Londres, ele me explicou tudo sobre o processo que eu queria mover, incluindo sobre a obtenção da guarda da minha filha, e após pensar muito e com mais calma, eu achei melhor obter apenas o reconhecimento de paternidade, apenas o que me era de direito. E assim que ela recebeu a correspondência do Dr. Peterson comunicando sobre os meus planos, procurou-me em seguida com a carta em mãos, despejando toda a sua raiva, mas eu não me importava mais com o que ela sentia, eu apenas queria ter o direito de conviver com a minha filha e isso ela não poderia me negar por muito tempo, não agora que eu sabia sobre .
Eu sabia que havia perdido para sempre, mas agora confesso que também sabia que ela sempre seria o meu grande amor, mesmo estando magoado com ela e por isso em hipótese alguma eu admitiria perder a minha filha, nunca. Principalmente agora que eu descobrira que ela era a outra parte de mim, a parte que completaria o vazio que havia ficado em meu coração após eu ter cometido a maior besteira de todas. Eu era muito jovem e muito burro para perceber, mas agora, mesmo não admitindo para todos, eu sabia que havia errado.
Eu sentia falta dela, como sentia! Sentia falta de tudo, até de detalhes bobos, como o seu corpo ao lado do meu na nossa cama de casal, o seu cheiro, os diversos tipos de sorriso que ela possuía. A nossa canção favorita, tudo.


Same bed but it feels just a little bit bigger now.
Our song on the radio, but it don't sound the same.
When our friends talk about you all it does is just tear me down.
Cause my heart breaks a little when I hear your name.
It all just sounds like (oooooh).
Mmm, too young, too dumb to realize.*


Ao longe observei enquanto as duas garotas da minha vida saiam pela porta da escola vestindo casacos, gorros e cachecóis para tentar conter o frio, ambas sorriam alegres. O local estava todo decorado com luzes e guirlandas. Faltavam poucos dias para o Natal. andava a frente da mãe saltitando e carregando um porquinho de pelúcia nas mãos. a segurava pela mão, tentando mantê-la parada por algum tempo enquanto falava ao telefone. Após encerrar a ligação ela se abaixou, ficando diante da filha e ajeitou o seu cabelo sorrindo enquanto lhe explicava algo. sacudiu a cabeça animada, concordando e em seguida se sentou ao lado da mãe em um banco que ficava diante da escola. Diferente da maioria dos outros dias, naquele dia elas esperavam por algo e no fundo eu sabia o que seria. O cara que havia tomado o meu lugar, o cara que tinha a sorte de poder passar todo o tempo perto delas, o cara que eu deveria ter sido.


That I should've bought you flowers.
And held your hand.
Should've gave you all my hours.
When I had the chance.
Take you to every party.
Cause all you wanted to do was dance.
Now my baby is dancing.
But she's dancing with another man.


Minutos depois, o carro de Jake estacionou diante delas e correu ao encontro dele, que desceu do carro para abraçá-la e pegá-la no colo. Mais uma vez eu senti aquela punhalada costumeira que feria o meu coração toda a vez que eu os via juntos e felizes. Ela nem sabia da minha existência — a minha pequena — e eu me questionava o que havia dito a ela sobre o pai, se ela perguntava sobre mim. Ela era tão pequena, será que sofria? Será que sentia a minha falta, como eu já sentia a dela mesmo sem nem ao menos conhecê-la direito?
O que mais feria era saber que todo o meu sofrimento havia sido causado por mim mesmo, por culpa da minha arrogância, do meu orgulho, meu ego e das minhas próprias escolhas, necessidades e maneiras egoístas e estúpidas. Era apenas em mim que eu havia pensado quando decidi sair de casa, no dinheiro, na fama e no sexo. Eu havia trocado amor por aventura e agora pagava o preço. Seria impossível limpar toda a bagunça que eu havia feito sem causar nenhum dano, pois já havia se ferido e me ferido em vingança ao me separar de .
Eu teria que aprender com os meus erros, eu precisava melhorar por . Eu deveria ter sido um cara melhor, um marido melhor, deveria ter tratado com mais amor. Ela era do tipo de mulher que merecia ganhar flores a todo o momento, que merecia receber carinho, que merecia que um cara lhe desse toda a sua atenção e colocasse todo o seu tempo a sua disposição. Era aquilo que eu havia feito quando nos conhecemos, era o que eu havia feito enquanto namorávamos, mas após nos casarmos eu havia me esquecido das coisas importantes, havia pensado só em mim. Mas Evans agora era quem a tratava com romantismo, era ele quem a tinha em seus braços e a cobria de flores. A ela e a minha pequena filha, que parecia adorá-lo.
Aquela já havia sido a minha dose diária de punição, eu não aguentaria ficar mais tempo ali o vendo com elas. Sem que eles percebessem, liguei o carro e olhei minha pequena uma última vez antes de ir embora novamente.


My pride, my ego, my needs and my selfish ways.
Cause the good strong woman like you to walk out my life.
Now I'll never, never get to clean up the mess I made.
Ooh and it haunts me every time I close my eyes.
It all just sounds like (oooooh).
Mmm, too young, too dumb to realize.

(...)


's POV

O horário de almoço havia acabado e estava tirando uma soneca no quarto. Jake havia nos apanhado na escola e nos trazido para casa, eu preparei a nossa refeição e nós curtimos a presença um do outro por algum tempo após ter adormecido, até que ele voltou para o estúdio. Meu namorado estava trabalhando muito nos últimos tempos enquanto produzia o CD da banda do meu ex-marido. Às vezes eu ainda me pegava pensando por que o destino me pregara tantas peças até aquele momento. havia descoberto sobre e desde então, sempre que nos encontrávamos - o que havia infelizmente se tornado frequente por causa do emprego de Jake - nós só sabíamos discutir. Ele queria assumir a paternidade e conviver com . Pelo menos aquilo era o que informava a carta que eu havia recebido de seu advogado semanas atrás. Ele estava com raiva por eu tê-la escondido. Mas para o inferno com o que ele sentia! Ela era minha filha e eu a protegeria sempre dele. Ele não a merecia. E juiz nenhum lhe daria a sua guarda, ele era um pai ausente, que havia abandonado o lar; e eu era uma boa mãe, pelo menos procurava ser. Porém, sempre tinha o poder de me tirar do sério e aquilo me deixava sempre estressada.
Segui para a cozinha a fim de lavar a louça do almoço e notei o palmtop de trabalho de Jake sobre o balcão. Ele havia me dito anteriormente de que todo o seu trabalho se concentrava naquele objeto e hoje ele seria muito necessário em uma reunião que ele teria com os garotos no estúdio. Telefonei imediatamente para lá procurando por ele e a secretária me disse que Jake ainda não havia chegado, eu sabia que ele precisaria daquele aparelho, então segui até o quarto e apanhei a minha bolsa, não teria outro jeito, eu teria que levar o objeto até ele e correr o risco de me encontrar com novamente. Pedi à senhora idosa do apartamento ao lado, senhora Parker, que sempre me auxiliava em momentos como aquele, para que olhasse enquanto eu levava o palmtop até Jake, garanti que não iria demorar e aquela era mesmo a minha meta. Ela pediu para que não me preocupasse e que levasse o tempo necessário, tomaria conta de com o maior prazer. No fundo ela me lembrava a minha falecida avó, e ela praticamente me tratava como uma neta desde o primeiro dia em que nos conhecemos. Agradeci mais uma vez por sua boa vontade e segui até o estúdio o mais rápido que pude.

- Boa tarde, Emma. - cumprimentei a recepcionista que já havia visto algumas vezes sempre que ia ao local. - Eu poderia falar com o sr. Evans?
- Boa tarde, sra. . - ela cumprimentou sorrindo, era sempre muito simpática. - Vou tentar localizá-lo, só um instante. - Emma pediu enquanto fazia uma ligação. - O sr. Evans foi visto no estúdio de gravação, mas não estou conseguindo contatá-lo, a senhora desejar ir até lá?
- Isso não causaria nenhum problema? – perguntei, tentando sair logo do local.
- Problema nenhum, eles não estão em gravação no momento, vá de elevador até o primeiro subsolo, o estúdio é na terceira porta à esquerda. - Emma indicou e eu assenti sem escolha.
O edifício onde o escritório e estúdio do McFly se localizavam era muito peculiar, o escritório era um andar acima, mas o estúdio de gravação ficava abaixo do térreo, em uma espécie de porão estilizado. Eu já havia entrado lá uma vez e todos os equipamentos e ambiente eram muito modernos, em nada lembravam à garagem da casa de onde eles ensaiavam no início de carreira. Eles haviam progredido.
Parei diante da entrada e notei que a porta estava aberta, corri os olhos pelo local e não consegui localizar Jake, mas uma canção triste podia ser ouvida, os sons das teclas de um piano sendo acompanhadas por uma voz muito conhecida, uma voz que infelizmente ainda invadia os meus sonhos.


That I should've bought you flowers.
And held your hand.
Should've gave you all my hours.
When I had the chance.
Take you to every party.
Cause all you wanted to do was dance.
Now my baby is dancing.
But she's dancing with another man.

Entrei em silêncio no local, com medo de ser vista, no fundo eu sabia que deveria ter ido embora assim que reconheci a voz de , mas algo no jeito como ele cantava me atraiu ainda mais para dentro do local, ele me lembrava o que eu havia conhecido anos atrás. A forma com que ele cantava cheio de verdade e sentimento lembrava-me das vezes em que ele cantava apenas para mim, quando estávamos sozinhos, quando estávamos apaixonados, quando eu o amava e quando ele parecia me amar.
A sua voz era simplesmente linda, e eu sabia que ela ainda me hipnotizava. Por isso me mantive estática enquanto o ouvia cantar após tanto tempo.


Although it hurts.
I'll be the first to say.
That I was wrong.
Oh I know I'm probably much too late.
To trying apologize for my mistakes.
But I just want you to know.

A maneira como ele cantava aquela canção, como se expressava por aquela letra marcante, quase me fazia achar que ele estava realmente sentindo alguma espécie de arrependimento, que no fundo ele queria o meu perdão. Mas eu sabia que o meu coração já estava calejado de tanto sofrer por ele, as feridas não se curariam assim tão de pressa somente por causa de uma música.


I hope he buys you flowers.
I hope he holds your hand.
Give you all his hours.
When he has the chance.
Take you to every party.
Cause I remember how much you love to dance.
Do all the things I should've done.
When I was your man.
Do all the things I should've done.
When I was your man.

Ele encerrou a canção e dedilhou mais algumas notas no piano enquanto soltava um longo suspiro, fechando os olhos em seguida, ele parecia pensar em algo, e era algo importante, pois as rugas mínimas no vão entre as suas sobrancelhas se tornaram visíveis quando franziu a testa e ele levou a mão ao local, massageando-o. Eu não o observava assim tão de perto há tempos, prestando atenção em suas ações. E senti raiva por notar que aquele idiota ainda continuava lindo, lindo como o dia em que o conheci e no fundo eu sabia que ainda sentia algo por ele; mas eu não queria mais sentir. Tudo o que eu deveria sentir por ele era raiva e mágoa. E lembrar de que ele queria me afastar da minha filha ajudava para que esses dois sentimentos aflorassem. Olhei para ele por uma última vez e segui para fora do estúdio em silêncio. Porém, antes de que eu pudesse sair, algo havia acontecido.
- ? - me olhava confuso através do vidro da cabine de gravação. Eu o olhei assustada por ter sido pega no flagra e antes que ele pudesse me questionar o que eu fazia ali, saí em disparada do local, tomando o elevador que milagrosamente estava parado naquele andar.
- Emma, eu não consegui encontrar o Jake, você poderia entregar-lhe este aparelho? Eu estou realmente com pressa. - pedi à recepcionista assim que cheguei à saída.
- Claro, sra. . Sem problemas, gostaria de deixar algum recado? - ela perguntou confusa.
- Apenas diga que eu o trouxe, mas tive de voltar para casa por causa de , peça para ele me ligar, se quiser. Obrigada! - agradeci já saindo do local, com receio de que aparecesse por ali a qualquer momento. Eu não queria dar explicações, e nem poderia. Meu coração estava acelerado quando entrei em meu carro e parei para respirar fundo algumas vezes antes de dar a partida e finalmente sair dali.


Os segredos do coração são diferentes. São privados e dolorosos e queremos escondê-los do mundo.
Não crescem nem forçam a sua libertação. Vivem no coração e, quanto mais os guardamos, mais pesados se tornam.
- Patrick Rothfuss (O Medo do Homem Sábio)


*A canção deste capítulo é “When I was your man” do Bruno Mars.


Capítulo 12




And I’ll hold you tightly and tell you nothing but truth. If you’re not inside me, I’ll put my future in you. Ed Sheeran



[N/A: Ouça esta música durante o capítulo.]


- Olha, , o papai está vindo. – disse, apontando em minha direção e a pequena ao lado dela olhou e sorriu radiante. Naquele instante, o meu coração se encheu de uma alegria palpável e contagiante. Minha filha.
- Papai!! – gritou feliz e se soltou das mãos da mãe, correndo em minha direção de braços abertos, pronta para receber o meu abraço. Eu sorri completamente feliz e me abaixei, preparado para aquele abraço que eu tanto ansiava. Mas então tudo ocorreu muito rápido e a minha alegria se transformou em mágoa.
havia se lançado nos braços de outra pessoa, outro cara havia tomado a minha frente e naquele momento a fazia rir escandalosamente. Jake.



Acordei ofegante, sentindo algo estranho, como se o meu coração estivesse sendo torcido. Aquele sonho parecia tão real que por um momento eu imaginei que tivesse posto tudo a perder, imaginei que nunca mais teria a minha filha comigo. E aquilo me deixou paranoico.
Levantei cambaleante, no relógio pregado na parede da sala de — onde eu agora dormia — indicava que era muito cedo. 7:30 A.M. Espreguicei-me, tentando me livrar de vez daquele sonho ruim e de toda a dor no corpo causada pelas noites mal dormidas no sofá daquela sala. Eu, com toda a certeza, precisava encontrar um novo apartamento. Segui até o banheiro do corredor onde decidi tomar um banho quente que durou poucos minutos, em seguida me vesti confortavelmente, calcei um par de tênis de corrida que não usava há algum tempo e caminhei até a cozinha. O apartamento ainda permanecia silencioso e pelas minhas últimas lembranças da noite anterior, talvez nem houvesse dormido lá.
Meu estômago estava embrulhado, um pouco devido às imagens daquele sonho que se repetiam em minha cabeça e pela lembrança de me observando no estúdio de gravação no dia anterior. Por essa razão engoli apenas água naquela manhã. Eu parecia uma garotinha irritantemente frágil e cheia de frescuras, tinha que mudar aquilo também. Aquele cara fraco não era eu. Deixei um bilhete para dizendo aonde iria e saí do apartamento pronto para realizar uma corrida matinal. Eu precisava extravasar todas as frustrações e a mágoa que me atormentavam ultimamente e, pela primeira vez, eu decidi agir diferente. Nada de bebidas e garotas. Eu iria praticar um pouco de exercício físico, iria correr até sentir dor nos pés e joelhos, até ficar sem ar, talvez dessa forma a dor que eu sentia no lado esquerdo do peito se dissipasse aos poucos.
Oasis tocava em meu iPod no último volume enquanto eu corria naquela praça sem parar com os pensamentos a mil por hora. Já havia perdido a conta de quantas voltas eu havia dado. Após sair do apartamento, dirigi até aquele local que eu havia encontrado tempos atrás: uma praça em Londres que possuía um lago artificial com pista para caminhada e corrida ao seu redor e um pequeno parque com brinquedos e alguns bancos ao lado, onde mães e babás levavam crianças todas às manhãs para um pouco de lazer longe dos aparelhos de televisão, vídeo games e computadores. Eu já havia me imaginado indo a um local como aquele no futuro, levando o meu filho até lá para brincar, ensinar a jogar futebol ou a andar de bicicleta. Agora eu me imaginava levando para brincar no balanço ou no escorregador, eu me imaginava finalmente convivendo com a minha filha e enquanto corria, desejava imensamente que aquilo se realizasse logo.
Eu estava distraído com aqueles pensamentos, mas isso não me impediu de notar um pequeno ser de cabelos castanhos e moletom rosa passar correndo diante de mim atrás de um pequeno filhote de cachorro vira-lata que acabava de atravessar a rua. Então notei o carro que vinha e, sem pensar, corri até a pequena garotinha que já se preparava para seguir o filhote sem nem olhar por onde andava e a impedi de seguir o seu percurso.
- Hey, cuidado, pequena. - eu disse preocupado enquanto a segurava pela pequena mão.
- Eu queria o totó. - ela murmurou fazendo bico, toda manhosa e então eu finalmente a reconheci, ela fazia a mesma expressão que a mãe quando esta estava brava com algo.
Aquela garotinha que eu havia salvado e estava diante de mim era , aquela era a minha filha. Eu estava segurando a sua pequena mão — e eu nunca havia me aproximado tanto dela. Naquele momento o meu coração disparou de um jeito bom e diferente. Eu me senti estranho.
E, então, de repente ergueu os seus lindos olhos em minha direção, olhando-me de uma forma divertida que também me fez recordar de sua mãe anos atrás. Os seus olhos eram da cor dos meus, assim como o cabelo era parecido com o meu, eu estava encantado a encarando e notando todas as semelhanças entre , ela e eu. Quando ela desfez o bico e sorriu dizendo:
- Você num é aquele moço da TV? Da música das cores! Da moça colorida. – ela disse com os olhos brilhando. – É você, sim, tio. Você era mais neném naquele vídeo, maaaas eu sei que é você. – ela disse contente e eu a encarei com ternura, sorrindo de volta. Ela já havia me visto. Ela conhecia uma das músicas da minha banda, pois no seu jeito infantil havia acabado de descrever ‘Five colors in her hair’.
- Você tem boa memória, pequena. – eu disse. – Sou eu mesmo, me chamo . – apresentei-me, agachando diante dela, que agora sorria satisfeita por ter acertado. Ela era linda. A minha filha.
- Oi, tio ! – ela disse sorrindo. – Eu vi você cantando na TV na casa da Jamie, a irmã dela gosta e ensinou a gente a dançar a música da moça colorida, mas a mamãe não sabe, porque ela não gosta muito de música assim e ia brigar comigo, porque a sua música a deixa triste. Eu vi um dia quando eu tava em casa e ela mudou de canal quando viu vocês, ela tava com a cara triste, não gosto de ver a mamãe assim. – ela fez bico novamente e ficou quieta por um instante, pensando, quando decidiu falar baixinho depois, como se estivesse compartilhando um segredo comigo, tão adorável. - Sabe, mamãe me pediu pra nunca falar com estranhos, mas eu conheço você da TV. – ela dizia confusa.
- Sua mãe está certa, é mesmo perigoso falar com estranhos, nunca faça isso... – eu a alertei, ela me olhou assustada e ainda indecisa sobre o que fazer. Eu sorri mais uma vez, observando-a. - Mas não se preocupe, eu prometo que sou um cara legal e por isso eu vou te ajudar a achar a sua mamãe. Você quer ir procurá-la, pequena? – sugeri, mas sentia receio de ir atrás de .
- Não sei onde ela tá. – a minha garotinha disse confusa.
- Eu vou te ajudar a achá-la. – disse sorrindo para ela e pegando em sua mão, respirando fundo para me preparar para o encontro que teria com , quando algo nos fez parar onde estávamos.
- ! Como você me faz algo desse tipo? – uma voz conhecida me dispersou daquele transe. Ainda confuso, senti meu coração acelerar ainda mais imaginando que pudesse ser e me preparando para a briga que provavelmente se seguiria assim que ela me notasse ali, mas rapidamente percebi de quem se tratava. – A madrinha tomou o maior susto da vida dela, sua pestinha. – dizia agachada diante da garotinha, que a olhava assustada e ainda não havia me reconhecido. – Obrigada ,senhor, eu... – e ela perdeu a fala, parecendo confusa quando finalmente me olhou. – ?
- Oi, . – eu sorri nervoso.
- O tio não me deixou pegar o totó porque tinha um vunvum vindo, titia . – explicou fazendo bico, de um jeito que novamente me lembrou a , mas logo sorriu. – Ele toca a música da moça colorida! – ela exclamou feliz.
- Que legal, amor. – riu sem graça, apanhando a garotinha em seus braços e lhe entregando um sorvete. E aquilo distraiu . – O que você faz aqui, ? Está nos seguindo? A não vai gostar nada se descobrir sobre isso. – ela disse em tom de ameaça.
- Eu não estou fazendo nada disso, . Só estava correndo pela praça quando ela passou diante de mim seguindo até a rua e eu agi em um impulso, não imaginava que fosse a . – expliquei, mesmo não devendo satisfações a ela.
- Ah, ok. – suspirou. – Obrigada por tê-la salvo, eu nunca iria me perdoar se algo acontecesse a ela, mas no minuto em que me distraí para comprar um sorvete, essa pestinha já havia sumido. – ela me olhou se sentindo culpada.
- Você deveria tomar mais cuidado, e se eu não estivesse aqui? – disse um pouco ríspido, ela me olhou indignada, por isso tratei logo de me redimir. – Desculpe, fiquei um pouco nervoso, eu não aguentaria se algo acontecesse com a minha filha antes mesmo de poder conhecê-la direito. – confessei e me olhou surpresa.
- Você quer mesmo conviver com ela, não é? – perguntou me analisando.
- Claro que quero, na verdade, é o meu maior desejo. Se ao menos a mãe dela fosse uma mulher decente e me desse uma chance, eu não teria que apelar pra medidas legais. – disse de maneira grosseira.
- está muito magoada com você , por tudo o que vocês passaram. Ela não vai te perdoar tão facilmente, afinal de contas, você foi mesmo um canalha imbecil que só pensou no próprio umbigo e em satisfazer a si mesmo sexualmente com uma vadia qualquer. – respondeu no mesmo tom, então ela fez uma pausa e eu a olhei surpreso por suas palavras diretas. A mulher respirou profundamente e continuou. – Você sabe que a só quer proteger a de você, por tudo o que ela passou, para que a não sofra e não se decepcione como ela se decepcionou. Mas agora, te vendo de perto com essa pestinha linda... Bom, eu começo a achar que você, apesar de ser o cara mais escroto da face da Terra, merece uma chance de provar pra que pode ser um bom pai para ela. Mesmo tendo sido um marido ridículo pra . Talvez você aja diferente dessa vez. – ela comentou, ainda me analisando de uma forma estranha.
- Você acredita mesmo em mim? – perguntei para , não acreditando que ela havia baixado a guarda em relação a mim tão de repente.
- Eu acredito que você queira ser um bom pai, mas continuo achando você foi um completo babaca com a minha amiga e ainda quero te meter um soco na cara e te dar uma lição por isso. – ela me olhou de modo ameaçador novamente, mas depois sorriu. parecia ser um pouco volúvel. – Esse bebê lindo aqui, merece ter uma família completa e eu espero que você faça algo logo para que isso aconteça. – ela me olhou séria.
- Eu vou ser um cara melhor, pela . – afirmei.
- Só depende de você, . E não é a mim quem você tem que convencer. Bom, a gente precisa ir, a já deve estar chegando em casa e ela vai ficar feito louca querendo saber onde nós estamos. Adeus, . – ela se despediu com um simples aceno de cabeça e seguiu com nos braços.
- Tchau, tio , feliz Natal! – gritou, acenando e sorrindo, fazendo-me recordar da data na qual estávamos. Um dia antes da véspera de Natal, mas uma na qual eu não estaria ao seu lado. Eu tentei sorrir de volta, mas aquilo de certa forma me deixou mal.

(...)


- Achei que você tivesse planejado uma fuga do país pra ter caído da cama tão cedo. – brincou assim que adentrei o apartamento.
- Eu fui dar uma volta, precisava pensar em algumas coisas. – ele assentiu, ficando sério. – Eu vi a . – confessei e me olhou surpreso. – Ela estava correndo em direção à rua atrás de um cachorro e eu a impedi de atravessar, eu segurei a sua mãozinha. Ela é tão linda, , tem tantos traços meus que não há como negar que seja minha filha. E ela conversou comigo, ela já viu a nossa banda tocar na TV, ela me reconheceu. – disse me sentindo orgulhoso.
- Que legal, mate. Mas e a ? Ela deixou que você chegasse perto da menina? – ele perguntou apreensivo.
- era quem estava com ela e nós acabamos tendo uma conversa franca. Ela disse que acredita em mim quando eu digo que quero conviver com , acha que eu mereço a chance de ser um bom pai. Mas ainda quer me matar pelo que fiz com . – eu rolei os olhos, lembrando-me da bipolaridade da amiga da minha ex-mulher.
- Essa , ela é uma garota bacana. – disse sorrindo de um jeito estranho, e eu arqueei a sobrancelha, entendendo aquele sorriso bobo.
- Vocês se conhecem? – perguntei, tentando obter algo dele.
- A gente se esbarrou algumas vezes. – ele sorriu safado.
- Você está apaixonado, ? Não acredito! – disse rindo alto.
- Não é pra tanto, idiota. Eu só acho que ela é... Interessante. – ele piscou e eu gargalhei mais uma vez. Ele tinha, sim, sido fisgado.
- Ela é bem mais que interessante, se é que você me entende. – disse de um jeito safado, divertindo-me com a cara dele e logo o vi ficar vermelho.
- Cretino. – ele resmungou. – Mudando de assunto, hoje à noite temos a festa de fim de ano da empresa e a sua mãe telefonou e disse que a sua família está te aguardando para o Natal amanhã.
- Droga! Esqueci que prometi ir pra casa este ano. – aquilo era algo que eu não estava muito a fim de fazer, não naquele ano.
- Bom, trate de preparar a mala, você sabe como a Sra. é insistente. – ele me alertou e suspirei, indo até o banheiro pronto para tomar um banho e me preparar para a inquisição da minha mãe naquela ceia de Natal. Eu não iria conseguir esconder as novidades dela por muito tempo.

(...)


’s POV

Meu corpo estava naquele estágio de transição entre o sono e o despertar, alguma parte consciente dentro de mim sentia os raios solares tocarem o meu rosto e travava uma batalha com a parte que insistia em permanecer dormindo para que esta acordasse. E, de repente, não eram apenas os raios de sol que cobriam o meu rosto, algo pequeno e quente acariciava as minhas bochechas, uma pequena brisa ou talvez uma respiração, batia em meu rosto. Senti um peso sobre mim quando a risada baixa de uma garotinha travessa ajudou o meu lado consciente a vencer a batalha do sono.
- Acorda, mamy linda. – dizia rindo com o corpo deitado sobre o meu enquanto fazia carinho em meu rosto.
- Bom dia, sua gordinha linda. – sentei-me na cama, colocando-a direito em meu colo e a enchendo de cócegas que a fizeram gargalhar.
- Tô com fome. – ela reclamou, fazendo bico um tempo depois, quando as cócegas cessaram.
- Sua garotinha interesseira, foi por isso que você veio me acordar então? E eu achando que era porque sentiu saudades da mamãe. – fingi estar aborrecida.
- Saudade também, mamãe. Mas tô com fominha. – ela disse com um sorriso sapeca no rosto e eu lhe dei uma leve mordida na bochecha. – Aí, dodói, mamy.
- Quer saber, bebê? Isso é porque a mamãe também está com fome. – disse brincando e ela me olhou assustada, tentando se esconder no meio do cobertor. – Brincadeira, meu amor, espere um minutinho aí que eu vou lavar o rosto e logo iremos até a cozinha para preparar o nosso café da manhã. – eu me levantei e ela se levantou sobre a cama, começando a dar pulinhos animados. Eu sorri, indo até o banheiro.
Minutos depois estávamos na cozinha, sentada diante de mim me “ajudando” a preparar a sua mamadeira com leite achocolatado.
- Quero bisnaguinha com queijão, mamy. – ela pediu alegre, - Hoje posso ir na casa da Jamie brincar? Por favorzinho. – ela perguntou ansiosa. Desde que havia começado a frequentar a escola e a conviver com outras crianças da idade, começara a agir de uma forma mais sociável, diferente da garotinha tímida que era antes, eu tinha orgulho daquele pequeno ser.
- A senhorita está muito exigente hoje, hein? – brinquei enquanto preparava o seu lanche e ela assentiu rindo. – Vou pensar sobre isso, primeiro precisamos ligar para a mãe da Jamie e ver se você pode ir até lá. É quase Natal, amor, ela deve ter ido pra casa dos avós ou algo assim. – expliquei e ela fez bico, triste com a minha hipótese. - Que tal você ir acordar a tia para tomar café conosco? – sugeri. , que me olhou contente, mudando logo a expressão no rosto e após colocá-la no chão, ela correu em disparada, o máximo que a suas perninhas gordas permitiam, em direção ao quarto de . Mas a minha pequena não demorou muito, retornando pouco tempo depois à cozinha com uma cara confusa.
- Titia não tá mimindo. – disse sem entender e eu a encarei também, estranhando o sumiço de .
- Ela não está no banheiro, amor? – perguntei e negou.
- Olhei lá, e não. – ela confirmou.
- Que estranho. – comentei, deixando o café de lado e indo até o interior do apartamento procurar por , quando o barulho da fechadura da porta da sala sendo destrancada me congelou no meio do caminho.
estava de frente para a porta, trancando-a e ainda não havia notado e eu paradas no meio da sala. Ela parecia tentar não fazer barulho, o que estava obviamente sendo inútil e ao mesmo tempo hilário.
- Você está chegando agora em casa? – perguntei com um sorriso zombeteiro no rosto e ela se virou, olhando-nos assustada. Olhei no relógio de pulso em seguida e imitou o meu gesto, olhando um relógio imaginário, aquilo me fez rir baixo. – São nove da manhã e, pelo que eu saiba, o seu plantão terminava as seis.
- Que susto, ! – exclamou, levando as mãos ao coração. – E que questionário é esse agora? Parece até que eu voltei no tempo e estou diante da minha mãe, levando bronca por ter chegado em casa após horário combinado.
- Não mude de assunto, espertinha, onde você estava até agora? – perguntei, fingindo seriedade, mas por dentro me corroia de curiosidade.
- Titia levou bronca. – riu e a olhou fingindo estar brava.
- E- eu?... – ela gaguejou, mas respirou fundo e se recompôs. – Eu estava no hospital, ué. Tivemos uma emergência de última hora. – ela disse, mas algo me dizia que aquilo era mentira.
- Tudo bem, não vou insistir. Mas não fique achando que eu acreditei nessa mentira fajuta, . Isso me cheira a namorado. – disse arqueando a sobrancelha em descrença e rindo em seguida.
- Deixe de ser enxerida, . Eu vou tomar um banho e dormir até a ceia de Natal, não me incomode. – ela mostrou a língua e seguiu em direção ao seu quarto.
Peguei no colo, rindo da atitude da minha amiga e juntas seguimos de volta para a cozinha.
- Sua tia está de namorado novo, amor. – eu cochichei no ouvido da minha filha, que riu concordando.
- Vou ter outro titio! – ela exclamou feliz.
- Outro titio, bebê? Quem mais é seu tio? – perguntei confusa, mas depois me lembrei de Jake. Ela não o chamava assim, mas talvez o considerasse como tio. Porém, a resposta que ela me deu a seguir me assustou completamente:
- O titio . – respondeu sorrindo.
- Que titio , ? – encarei-a nervosa.
- O titio da música da moça colorida. Ele não me deixou pegar o totó na rua. Mas ele é legal. – enquanto ela explicava, eu senti o meu coração apertar e uma onda de medo tomou conta de mim. Quem havia permitido que ele se aproximasse dela?
- Você não pode ver esse tio , bebê. Nunca mais. – eu ordenei e ela me olhou confusa.
- Por que, mamãe? Ele não é estranho, ele é bonzinho. – ela disse tristonha e o nó em minha garganta aumentou.
- Não, ! – eu exclamei nervosa, sentindo-me transtornada com a notícia e ela se encolheu em meus braços com medo. Aquilo fez com que eu me arrependesse logo em seguida, eu nunca havia usado aquele tom de voz com ela. – Desculpe, amor. – acariciei os seus cabelos castanhos e ela me olhou novamente, com os olhinhos brilhando em lágrimas contidas. – Não chore, bebê, a mamãe não queria brigar com você. Esse titio , ele não é legal de verdade. A mamãe sabe do que está falando. Prometa-me que não vai mais falar com ele? – pedi e ela assentiu balançando a cabeça, sem emitir som algum, ainda assusta. – Desculpe, bebê. – embalei-a em meus braços, tentando acalmá-la enquanto respirava fundo e tentava me livrar daquela sensação ruim que havia se apoderado do meu corpo nos últimos tempos sempre que eu imaginava se aproximando de , aquilo era medo. Medo de perdê-la. Medo de que ele a fizesse sofrer. Mas eu lutaria com todas as forças para que isso nunca acontecesse. não tinha ideia da guerra que havia se iniciado.

’s POV

Era fim de tarde,quando estacionei o carro em frente de casa, agora de cor verde, onde eu havia crescido e passado toda a minha infância e adolescência. Fui logo invadido por uma onda de nostalgia que me fez me lembrar de alguns momentos bons e inesquecíveis do passado. A garagem ao lado, onde os caras e eu nos reuníamos por horas aprendendo a tocar músicas, jogando videogame, fazendo qualquer coisa que nos desse na telha. E quando ficamos mais velhos e passamos a nos interessar pelo sexo oposto, levávamos garotas ao local quando meus pais não estavam em casa. Pegávamos escondido algumas latinhas de cerveja do esconderijo do meu pai e bebíamos até estarmos agindo feito hienas histéricas — e tudo sempre acabava em piada e pegação. Observei também a varanda com a rede onde me deitava em silêncio durante horas na adolescência, compondo músicas em minha mente. Onde também, um dia, ao meu lado já tive aninhada em meus braços.
Porém memórias são feitas para serem guardadas e as daquele tipo, as que me lembravam de eu queria enterrar no local mais profundo do meu subconsciente para nunca mais saber nada relacionado sobre elas.
A porta da frente se abriu de repente, fazendo-me despertar e eu observei mamãe descer as escadas da varanda e caminhar até onde meu carro estava estacionado, respirei profundamente me preparando para tudo o que aquele feriado me traria, para a bronca que sabia que receberia da Sra. Valerie , que agora estava parada ao lado da janela do meu carro esperando que eu saísse para finalmente cumprimentá-la.
- , quanto tempo, filho desnaturado! Que saudades! – mamãe me abraçou forte, quase me sufocando, mas no fundo eu sentia falta daquela sua demonstração exagerada de afeto.
- Oi, mãe. – disse sorrindo, ela se afastou um pouco, encarando-me desconfiada.
- Como você está, querido? Eu soube o que aconteceu com aquela sua noiva vadia. Garota mimada, imatura, falsa e irritante. – comentou de forma ácida, ela detestava Ashley.
- Mãe! – repreendi-a rindo em seguida. – Você costumava disfarçar melhor o seu amor por ela. – a mulher deu de ombros.
- Enquanto vocês estavam juntos eu era obrigada a fingir que a suportava, mas você sempre soube a minha opinião sobre ela. – ela confessou.
- Sim, eu sempre soube. – admiti, ainda rindo.
- Acho melhor vocês entrarem ou senão vão morrer congelados nesse frio! – Bill gritou da varanda da nossa casa, sorrindo assim que me virei para olhá-lo. Fora alguns fios de cabelo grisalho a mais, meu pai continuava o mesmo.
- Vamos, filho, o velho já está resmungando do frio. – minha mãe disse baixo e nós rimos em seguida. Apanhei no banco traseiro do carro a pequena mala que havia trazido para passar aqueles dois dias na casa dos meus pais e o tranquei após isso, seguindo mamãe até a entrada da casa.
- Oi, pai! – o abracei assim que ele se aproximou de mim.
- É bom tê-lo de volta, garoto. Sentimos a sua falta. – ele sorriu, transmitindo toda a sinceridade que lhe era característica.
- Senti saudades de vocês também. Onde está Lizzie? – perguntei sobre a minha irmã mais nova, a qual era muito ligado e não via há um bom tempo.
- Na casa do namorado, mas eles logo chegarão para a ceia. – mamãe respondeu e eu notei quando meu pai torceu o nariz em reprovação à palavra “namorado”. Elizabeth era a sua garotinha e eu sabia que ele provavelmente nunca se acostumaria com o fato de agora ela ser uma mulher maior de idade que não dependia mais dele e possuía namorado. Pais e seu ciúme por suas filhas. Aquele pensamento fez com que eu me lembrasse de . Será que eu agiria como meu pai no futuro? Será que teria a chance de ser um bom pai para a minha pequena como meu pai era para mim?
- Vamos entrar, . Estou sentindo o meu traseiro congelar. – papai chamou, livrando-me daqueles pensamentos e eu assenti os segui para dentro da casa rindo do que ele havia dito. Era um homem bem humorado o meu pai. Um bom homem para que eu me espelhasse no futuro.
- Por que você não sobe para o seu quarto e descansa um pouco até a hora da ceia, querido? Sei que deve estar cansado da viagem de carro. – mamãe sugeriu.
- Vou descansar um pouco, sim, mãe. Mas logo desço para ajudá-la. – respondi, seguindo até a escada que levava ao segundo andar da casa.
- Você sabe que não precisa. – ela comentou.
- Mas eu insisto. – sorri e ela assentiu, dando de ombros. – É bom estar em casa, mãe. - depositei um beijo em sua testa e ela imitou o meu sorriso. Virei-me e subi a escada carregando a mala em direção ao meu antigo quarto. Quando o adentrei fui novamente invadido pelo sentimento de nostalgia e sem se preocupar em pedir licença, as memórias me invadiram novamente, levando-me diretamente de volta às lembranças que eu tentava esquecer.

Nossos lábios pareciam estar sedentos um pelo outro, pois não conseguiam se desgrudar nem por um minuto. Ela deixava pequenos arranhões sobre a minha nuca e abdômen, enquanto as minhas mãos se ocupavam com a sua cintura e coxas, que estavam expostas devido ao short curto que ela usava. A temperatura do quarto parecia se elevar mais a cada minuto. As respirações cada vez mais aceleradas. O ar já se tornava rarefeito, mas nenhum de nós queria parar para respirar. Aquela necessidade que sentíamos um pelo outro chegava a ser insana, era algo que nos consumia inteiramente, que invadia cada um dos nossos poros, que corria por nossas veias. Os corações pareciam bater no mesmo ritmo. Uma sincronia que se tornava até musical.
Aquilo não era apenas atração carnal, não era somente paixão, era algo muito maior. Era um sentimento absurdo, grandioso. Aquilo era amor.
Posicionei minhas mãos em sua cintura, erguendo um pouco a blusa que ela usava, meus dedos percorreram a sua barriga lisa, seguindo em direção ao sutiã de renda. A sua pele estava quente, mas a minha não deveria estar muito diferente. emitiu um longo suspiro quando uma de minhas mãos envolveu um de seus seios por cima da peça de roupa que atrapalhava o contato da minha pele com a dela. Seu quadril se remexeu abaixo do meu e eu senti uma corrente de excitação tomar conta do meu corpo. Ela era tão linda e tão minha.
Ela logo tratou de se vingar puxando a minha camiseta, tentando retirá-la, o que fez com que nos afastássemos por um tempo e aquilo a fez resmungar em desaprovação e me fez rir, achando-a ainda mais linda. Ela decidiu retirar logo a sua blusa também e eu a encarei, a malícia explícita no olhar.
- Pronto, sua apressadinha. – joguei aquelas peças de roupa em algum lugar do quarto enquanto colocava novamente meu corpo sobre o seu, o contato entre as nossas peles me deixou tonto e cada fez mais sedento do seu corpo. Ela se ocupou do meu peitoral nu e eu levei os meus lábios em direção à região do seu corpo que eu sabia que a deixaria louca, beijei e dei algumas leves mordidas em seu pescoço e ela se remexeu novamente sob mim, agarrando ainda mais o meu corpo e o puxando em direção ao seu. Eu já sentia algo crescer entre as minhas pernas, o jeans cada vez mais apertado. Toquei os seus seios novamente, fazendo movimentos circulares ainda sobre o sutiã, o que a fez soltar um gemido em aprovação. Aquela era a hora em que eu deveria parar tudo, porque eu sabia que se aquilo avançasse, não teria mais volta.
- Tem certeza? – perguntei, olhando-a profundamente em seus olhos castanhos.
- Eu nunca tive tanta certeza de algo em toda a minha vida, . – ela disse sorrindo e selou rapidamente os seus lábios aos meus.
- Eu te amo, garota. – disse sorrindo.
E a partir daquele momento, nada mais nos impedia de nos tornarmos um só.


Minha irmã havia ido dormir na casa de alguma amiga e meus pais estavam viajando naquele dia, o dia em que se tornou completamente minha pela primeira vez, de corpo e alma, o dia em que eu finalmente soube o que era se sentir completo. Pena que anos mais tarde eu me esqueceria daquela sensação e a abandonaria para sempre. Porque aqueles momentos não retornariam, disso eu tinha certeza, já que ela havia deixado bem claro que nunca mais me perdoaria.
Joguei-me sobre a cama, sem nem me preocupar em retirar os sapatos e respirei em frustração por saber que nunca mais teria em meus braços, nunca mais teria seu corpo encaixado junto ao meu. Meu coração estava disparado pelas lembranças recentes. Eu estava sentindo coisas que achei que nunca mais sentiria. Meu passado insistindo em me assombrar pelo resto da vida.


E tanta coisa aconteceu… e ainda existe esse sentimento dentro de você. Você ainda sente seu estômago borboleteando por causa dessa pessoa. E tanta coisa aconteceu… Quebre o orgulho antes que ele quebre seu coração.O amor faz um homem chorar



*Canção deste capítulo: “Daughters” de John Mayer

Capítulo 13



"It's christmas day, I'm alone again. She's with him now, I'm with my loneliness.The Maine


’s POV

A decoração natalina deixava o centro da cidade com um aspecto mais acolhedor, provavelmente nevaria novamente durante a noite e a beleza do local se intensificaria. Aquela era definitivamente a minha data favorita do ano.
Jake, e eu passeávamos pelo centro de Londres naquela tarde do dia 24 de dezembro enquanto esperávamos , que havia ficado de se encontrar conosco em frente a grande árvore de natal que era montada no local todos os anos. E mais lindo do que toda aquela decoração era o brilho nos olhos e o sorriso verdadeiro que habitavam o rosto da minha pequena filha, que parecia adorar aquela data tanto quanto eu.
- Papai Noel! - ela exclamou agitada assim que viu o senhor de barba branca e cabelos grisalhos vestido de vermelho, que sempre ficava sentado na época de natal perto da grande árvore para entreter as crianças da cidade e manter aquele espírito lúdico dentro delas. - Posso falar com ele, mamãe? - puxou a barra do meu casaco e pediu com os olhos brilhando cada vez mais.
- Pode meu amor, mas não corra! – pedi, soltando sua mão quando já estávamos diante do velhinho, mas já era tarde, ela havia corrido em direção ao Noel. - Crianças, sempre tão apressadas. - resmunguei sorrindo e Jake riu ao meu lado.
- Você fala com se nunca tivesse feito nada parecido. - ele brincou, cutucando a minha cintura. Eu lhe mostrei a língua e ele logo me abraçou, rindo mais alto. – Viu? O seu lado criança ainda esta aí dentro de você.
- Bobo. - resmunguei fazendo bico e ele me deu um selinho em resposta.
- Prefiro o termo “bobo apaixonado”. - Jake disse, encarando-me com aquele tipo de olhar sedutor que deixa qualquer garota de pernas bambas, o meu coração acelerou enquanto os meus lábios se curvavam em um grande sorriso e logo tratei de juntar os nossos lábios novamente. Eu não sabia o que havia feito para merecer Jake, mas estava muito satisfeita e feliz com aquilo.
- Mamãe, o Noel disse que como eu fui uma menina boazinha, ele vai me dar muitos presentes. – dizia animada enquanto Jake a pegava no colo.
- Que bom, meu amor! Você é mesmo uma boa menina. – disse, enchendo-lhe de beijos pelo rosto.
- Olá, família feliz! – chegou nos surpreendendo e logo tratou de contar a ela sobre a sua conversa com o falso Noel enquanto seguimos caminhando em direção ao carro, prontos para ir para casa ter a nossa ceia de Natal.
- Posso saber por que a senhorita demorou tanto? – perguntei a ela após o discurso da minha filha.
- Caramba, . Você anda muito curiosa sobre a minha vida. – ela resmungou, rolando os olhos.
- E você anda sempre atrasada e misteriosa. – eu disse desconfiada. – Te conheço, .
- Chata. – ela respondeu com uma careta e seguiu Jake e , que já andavam mais adiante. Eu tinha certeza que ela estava me escondendo algo, mas também sabia que ela não conseguiria guardar aquele segredo de mim por muito tempo.

(...)


- Mamãe, venha ver! Tá nevando! – exclamava enquanto observava os flocos brancos caindo através do vidro da sacada do nosso apartamento.
- Que lindo, meu amor. – eu disse, agachando-me ao seu lado.
- Posso fazer um boneco de neve? – ela pediu em expectativa, com os olhos idênticos aos do gato de botas.
- Agora não, bebê. Já é noite e está muito frio lá fora e você, com certeza, não quer ficar dodói de novo, não é, mocinha? – eu lhe disse, mas isso não impediu que ela colocasse uma expressão emburrada em seu rosto e fizesse bico. Aquilo me lembrou completamente o pai dela. Deus, cada dia eles se pareciam mais.
- Mas eu quero! – ela reclamou, cruzando os bracinhos, ainda mantendo a cara fechada. Aquela garotinha sabia ser mimada e geniosa quando queria.
- Não, . Eu já disse que está muito frio. – insisti e ela saiu correndo em direção ao quarto, reclamando o quanto eu era chata e má. Havia algo errado com o temperamento daquele pequeno ser. Provavelmente a fase “bebê fofo” estava passando e agora, finalmente, eu teria que me desdobrar com as suas atitudes de criança em crescimento. Mães sofrem às vezes, agora eu sabia como a minha devia ter se sentido. Ri sozinha, indo em direção à cozinha preparar um leite quente, já que a ceia ainda não estava pronta, para levar a ela, no intuito de fazer as pazes após aquela nossa pequena discussão temporária.
- Por que a esta com aquela cara fechada? – entrou na cozinha confusa.
- Ela queria ir lá fora fazer bonecos de neve e eu disse não. – dei de ombros.
- Essa garotinha esta ficando muito mimada. – minha amiga disse e eu ri.
- Foi exatamente o que eu pensei após a ceninha que ela aprontou. – confessei.
- Nada que umas boas palmadas no bumbum não resolvam. – ela comentou normalmente, pegando uma xícara no armário.
- Você sabe que eu não sou esse tipo de mãe, . - repreendi-a rindo.
- Vou fazer chá, você quer? – neguei e ela continuou. – Que mal há em algumas palmadas? Minha mãe me deu algumas quando criança e hoje estou aqui, linda, saudável e educada. – ela frisou a última palavra.
- Isso lá são conselhos de uma médica pediatra? Deixe os seus clientes ouvirem isso. – eu comentei em tom de brincadeira.
- Quem disse que já não sugeri isso a alguns deles? – ela disse sapeca.
- Credo, ! – gargalhei e ela deu de ombros, também rindo.
- Certas tradições devem ser mantidas. – concluiu, fazendo-me rir mais, quando outro riso tomou conta do ambiente, um riso infantil, a risada da minha filha.
- Pronto, ela parece estar melhor. – comentei e assentiu.
Fomos até a entrada da cozinha e observamos Jake brincar com ela no tapete da sala. Eles se davam tão bem e aquilo me deixava contente. Mas por outro lado, em certas horas eu me pegava imaginando se não estava a impedindo de ter momentos como aquele com o verdadeiro pai e aquilo me fazia temer alguma reação sua no futuro, caso ela descobrisse toda a verdade.
Eu precisava parar de ter aquele tipo de pensamento.
- Bebê, a mamãe preparou a sua mamadeira. – caminhei em direção ao local onde e Jake brincavam. Ela me olhou desconfiada ainda fazendo bico e eu senti o meu coração se entristecer com aquela carinha. – Você ainda está brava com a mamãe, ? – perguntei preocupada.
- , não faça assim, olha como a mamãe tá tristinha, você gosta de vê-la assim? – Jake interferiu e ela me olhou de uma forma diferente, arrependida, como se estivesse triste por me ver daquele jeito e logo agitou a cabeça em sinal de negação.
- Desculpe, mamãe, não fica assim, eu te amo. – logo veio em minha direção, abraçando forte as minhas pernas, com os olhos brilhando em lágrimas. Eu sorri com o seu gesto, coloquei a mamadeira sobre a mesa de centro, pegando-a no colo logo em seguida e lhe dando um abraço. Sibilei um “Obrigada” a Jake, que deu de ombros, como se não tivesse feito nada demais e se levantou, indo até a cozinha enquanto eu fazia as pazes com a minha pequena filha geniosa.
- A mamãe também te ama, bebê. Não precisa chorar. – eu disse, sentando-me com ela sobre o sofá da sala. – Eu só quero que você entenda que algumas vezes eu vou ter que te negar algumas coisas, impor alguns limites, para o seu próprio bem, pra que você não fique triste ou dodói. Você entende, ? – perguntei e ela assentiu. – Que bom, agora tire essa carinha triste desse rostinho lindo e vamos tomar essa mamadeira gostosa que a mamãe preparou, ok? – perguntei e ela logo tratou de colocar um enorme sorriso no rosto.
- Ok! Prometo não ficar mais brava, mamãe linda. – ela disse, surpreendendo-me com outro abraço, que encheu o meu coração de ternura e amor.
Algum tempo depois, ela já estava deitada sobre o sofá da sala ao meu lado gargalhando enquanto tomava o leite que eu havia preparado e assistíamos a “Esqueceram de mim”, um dos meus filmes favoritos de Natal, que ela também parecia adorar. Filhos, muitas vezes nos dão trabalho, mas sempre nos enchem de orgulho e amor. A gravidez, apesar de ter enfrentado tudo sozinha, apesar de ter estado tão deprimida no início, acabou se tornando uma das únicas coisas boas que havia me deixado após tanto tempo de relacionamento. Eu nunca me arrependeria de ter tido e apenas por aquilo eu era grata a ele.
- Meus pais te mandaram um beijo e desejaram feliz Natal a todos. – Jake disse assim que retornou à sala com o celular em mãos.
- Sinto-me tão envergonhada por você não ter ido passar o Natal com a sua família para ficar aqui conosco. Seus pais devem me odiar por isso. – comentei enquanto ele se sentava sobre o tapete da sala, encostando a cabeça no sofá onde e eu estávamos deitadas.
- Deixe de ser boba, . Já disse que eles não ligaram quando eu disse que não iria, e eu também não teria tempo de ir aos Estados Unidos por conta do meu trabalho. No próximo ano, todos nós estaremos lá. – ele deixou implícito o fato de que queria estar comigo no Natal do próximo ano e aquilo me fez sorrir e acariciar os seus cabelos em um carinho de agradecimento.
- Eu também estou convidada, Evans? – entrou na sala com um sorriso sapeca em seu rosto.
- Claro, sua folgada intrometida. – Jake revirou os olhos, rindo, e ela olhou para ele indignada.
- Idiota. – jogou uma almofada sobre ele, que a apanhou no ar antes que o objeto lhe acertasse o rosto. e eu começamos a rir da cena dos dois em alto e bom som.
- Eu sei que você me adora, , venha cá. – Jake se levantou e deu um abraço em , que retribuiu relutante. – Você sempre será bem-vinda na casa dos meus pais, doutora Carter. Sabe que eu estava brincando.
- Eu sei, seu besta. – riu, ainda o abraçando.
- Tudo bem, agora pode soltar que o garotão aí já tem dona. – eu a olhei com a sobrancelha arqueada, fingindo um ataque de ciúmes e os dois riram da minha cara.
- Tio Jake é o garotão da mamãe, titia . – ficou do meu lado, tentando imitar a minha expressão séria e eu não aguentando aquele seu ato fofo, ri junto a Jake e enquanto ela nos olhava sem entender.
- Você é a pessoa mais fofa deste mundo, meu amor! – eu exclamei, enchendo-a de beijos por todo o rosto.
- Mamãe, tá me babando toda. – ela dizia gargalhando alto. Aquele riso contagiante de uma criança feliz.
- Essa sessão ternura está realmente muito linda, mas eu estou com fome, minha gente! Essa ceia ficará pronta ou não? – exclamou, logo mudando o foco do assunto na sala e todos nós decidimos ir até a cozinha terminar a nossa ceia de Natal. Aquele seria um belo feriado, pois eu estava cercada de pessoas que eu amava e pessoas que eu estava aprendendo a amar a cada dia, como era o caso de Jake. Aquele Natal seria especial.

~.~

- 3ª pessoa -


- Você fica linda com esses olhos brilhando pelo simples fato de ser Natal, sabia? – o garoto se aproximou, abraçando a agora namorada, que estava parada sob o batente do hall de entrada observando a decoração da sala da casa dos pais de .
- É porque tudo parece se tornar mais mágico nessa época do ano. – ela disse, sorrindo tímida enquanto o olhava nos olhos.
- A minha vida se tornou mais mágica no momento em que você surgiu. – disse de modo galanteador, mas no fundo ele estava sendo sincero.
- Que brega, . – disse, rindo enquanto entrelaçava os braços no pescoço do então namorado, que imitou o gesto, apertando os seus braços em torno da cintura dela.
- Eu tento ser romântico e você sempre dúvida de mim. Isso é desanimador, . Desanimador! – ele exclamou, fazendo bico.
- O que eu fiz para merecer um namorado tão dramático viu? – ela murmurou, ainda rindo das bobagens que ele dizia.
- Eu sei que devo ter feito algo muito bom pra merecer uma namorada tão linda. – ele voltou ao seu tom galanteador e ela sorriu envergonhada. – Te amo. – ele disse após um período em silêncio em que ambos, apenas se encaravam intensamente, como se mantivessem uma conversa através do olhar.
A garota mordeu o lábio inferior e acompanhou o gesto, fitando atentamente os seus lábios tão convidativos. sorriu e aproximou ainda mais o rosto, quase encostando os lábios nos dele.
- Eu também te amo, . – ela sussurrou, fitando os olhos do namorado, que estava atento a todos os movimentos que ela fazia enquanto a trazia mais para perto, apertando a sua cintura. – E veja só, acho que hoje é o seu dia de sorte! – ela exclamou feliz e ele a olhou confuso. – Estamos embaixo do visco . Acho que você deve me beijar, agora. – ela o olhou divertida e não esperou que ela lhe dissesse mais nada, selou os lábios aos dela rapidamente, beijando-a como ela nunca havia sido beijada antes. Beijando-a do jeito que somente ele sabia fazer.


(...)

’s POV

Aquelas memórias insistiam em me atormentar, principalmente em datas como aquela, mas eu não me deixaria abalar por falsas promessas. A minha vida agora parecia finalmente ter entrado nos trilhos, tudo estava em perfeita ordem: eu tinha a companhia da minha melhor amiga, tinha uma filha maravilhosa e parecia finalmente ter encontrado um homem que realmente me amava.
Era difícil confiar meu coração a alguém novamente, mas, de uma forma estranha, eu sabia que Jake nunca me decepcionaria, eu sabia que agora poderia ser feliz.
- , vamos preparar o prato com biscoitos e o copo de leite pro Papai Noel? Ele merece um lanche por trazer felicidade e presentes para tantas crianças hoje, você não acha? – dizia a minha pequena, divertindo-se com aquilo tanto quanto ela.
- Sim, titia!! – exclamou animada. – Ele é bonzinho, merece biscoitos de chocolate! – a pequena disse com os olhos brilhando e ajudando a preparar o tal lanche.
Sorri enquanto observava a minha pequena filha, que crescia a cada dia. Ela fazia tudo valer a pena.
- Uma xícara de chocolate quente para a mulher mais linda desta sala. – Jake disse sorrindo, entregando-me o objeto com o liquido quente.
- Eu sou a única mulher presente nesta sala no momento, Jake Evans. – olhei para ele indignada, ele sorriu.
- Mesmo que esta sala estivesse repleta de mulheres, você sempre será a mais bonita de todas, . – Jake disse, acariciando o meu rosto enquanto eu o observava admirada.
- Você é mesmo bom com as palavras, homem. – brinquei enquanto tomava um gole do líquido após esfriá-lo um pouco.
- Só quando alguém me deixa inspirado, mulher. – ele sorriu, entrando na brincadeira. Em seguida se aproximou mais de mim, retirando a xícara das minhas mãos e a colocando sobre a mesa de centro, abraçando-me carinhosamente. Eu depositei minha cabeça em seu ombro e inspirei o seu delicioso perfume. Meu coração disparou enquanto ele acariciava os meus cabelos. – Eu te adoro, . – Jake sussurrou em meu ouvido e eu sorri involuntariamente, afastando-me de seu ombro e encarando o seu rosto.
- Eu também te adoro, Jake Evans. – disse sorrindo e logo selei os meus lábios aos seus.
Aquele definitivamente seria um Natal inesquecível e, com sorte, talvez apagasse memórias do passado que eu precisava esquecer. Talvez apagasse pessoas que não mereciam ser lembradas.

’s POV

- Veja só quem resolveu aparecer, o meu irmãozinho desnaturado que nunca me visita. – Elizabeth surgiu na cozinha, pegando-me de surpresa.
- Lizzie! – eu exclamei, indo ao encontro dela e lhe dando um abraço. – Senti sua falta, peste. – resmunguei, ainda em meio ao abraço.
- Mesmo você não merecendo, eu devo confessar que também senti a sua, irmão. – ela disse, encarando-me e sorrindo, depois se afastou dos meus braços, indo em direção a um cara de óculos parado na entrada que nos observava em silêncio, parecendo nervoso. – , esse é o Mark, meu namorado. – ela o apresentou, encarando-me em expectativa.
- Prazer, . Sua irmã sempre fala muito sobre você. – ele disse simpático, estendendo-me a mão. Eu o encarei por um tempo antes de retribuir o gesto e notei Elizabeth me olhar receosa, prendendo a respiração, e o tal Mark me encarar desconfortável, com a mão ainda estendida no ar.
- Cara, vocês precisam ver as suas expressões neste momento, estão hilárias. – comentei rindo e finalmente apertei a mão de Mark, fazendo com que Lizzie suspirasse aliviada e ele sorrisse sem graça. – Prazer, cara, eu espero que esteja cuidando direito da minha irmãzinha. Bom, só por você aguentá-la já deve ser um santo homem. – brinquei e Elizabeth imediatamente me presenteou com um beliscão no braço. – Caralho, olha o respeito, sua peste! – reclamei.
- , sem palavrões enquanto estiver sobre o meu teto. – mamãe advertiu de onde estava, fazendo Lizzie me olhar triunfante, mostrando a língua pela bronca que eu havia levado enquanto eu revirava os olhos em sua direção. Nós já éramos adultos, mas sempre agíamos como crianças quando estávamos perto um do outro. – E, crianças, tenham mais modos, o que Mark irá pensar? – ela completou, fazendo com que Elizabeth e eu gargalhássemos.
- Sem problemas, senhora , acredite, em casa é muito pior. – Mark comentou mais descontraído e eu o cumprimentei com um daqueles típicos toques de mãos masculino. Eu havia simpatizado com o cara e iria aliviar para o lado dele, até porque, provavelmente, Bill já deveria estar o infernizando por ele estar afastando a sua filhinha dele. Meu pai mimava demais aquela garota.
- Nossos familiares já estão quase chegando, então que tal os três desocupados se tornarem úteis e me ajudarem com os últimos detalhes da ceia? – mamãe deu uma ordem disfarça de pedido com aquele seu tom de voz falsamente amável que Lizzie e eu conhecíamos bem e imediatamente nos colocamos a fazer o que ela havia pedido, e até Mark se ferrou naquele meio. Sabia que aquela história de que eu não precisaria ajudar em nada quando eu cheguei era papo furado, minha mãe não mudaria nunca e eu a amava por isso.
- , alguma novidade? – Lizzie perguntou enquanto arrumávamos a mesa de jantar.
- Fora que estamos feito loucos gravando o novo álbum, nada mais de novo acontece com o seu irmão. – eu disse, tentando disfarçar.
- Por que eu acho que você está mentindo? – ela me olhou desconfiada.
- Porque você nunca acredita nas coisas que eu digo, peste. – brinquei, tentando mudar de assunto.
- Babaca. – ela resmungou rindo. – Noticias da maravilhosa Ashley? – ela comentou sarcástica.
- Não, eu não a vejo desde que a peguei outro cara a fodendo na minha cama. – disse calmamente. Lizzie riu.
- Só você mesmo para fazer piadas com a própria desgraça e com a condição atual de corno. – ela disse sorrindo.
- Esse sou eu, nunca levo nada a sério.
- Deus sabe como isso é verdade... E a também. – ela continuou após uma pausa.
- Podemos não tocar nesse nome, por favor? Obrigado.
- Você se tornou mesmo um idiota, maninho, mas ainda tenho esperanças de que volte a ser esperto. – ela piscou e saiu da sala de jantar sorrindo sem me deixar revidar.

(...)


Estava sozinho sentado em uma antiga cadeira de balanço que meus pais ainda mantinham em um deque coberto no quintal, minha única companhia era um copo com uísque e eu já me sentia um pouco alterado pela bebida. A casa estava repleta de parentes desde a ceia de Natal na noite anterior. Meus avôs, tios, primos e seus filhos pequenos deixando o ambiente naquele agradável clima familiar de Natal. Eu sempre gostei de ter uma família grande, sempre gostei quando nos reuníamos naquela época do ano, mas naquele dia eu não me sentia animado com tudo aquilo, parecia que mesmo com a casa repleta de gente, sempre estaria faltando alguém. E eu sabia muito bem quem, havia passado aqueles dois dias sendo atingido por diversas memórias que me invadiam sem pedir licença, e a minha mente vagava de volta a Londres sempre que isso ocorria. Eu queria a minha filha comigo. E mesmo não querendo admitir, eu queria comigo.
- Pensando nela, filho? – mamãe surgiu de repente, assustando-me.
- Porra, mãe! – reclamei, rindo assim que ela se sentou ao meu lado.
- Olhe os modos, garoto. Eu sou sua mãe e ainda posso te dar uns cascudos por falar palavrão. – ela me repreendeu, também rindo. – Você não respondeu a minha pergunta.
- Nela quem? – fingi não entender a quem ela se referia. – Na Ashley? – desconversei.
- Nela, , na , a minha nora querida que você fez o favor de afastar de perto de mim. – ela disse em tom de brincadeira, mas me lançou um olhar de reprovação. Mamãe nunca superaria o meu divórcio. Para ela era como se fosse Deus no céu e na Terra. Quando e eu estávamos juntos, mamãe sempre tomava partido dela, agia mais como se fosse sua mãe, ao invés de sua sogra. No fundo eu sabia que o fato de ter perdido os pais muito cedo a havia comovido e ela acabara a adotando como filha mesmo antes de começarmos a namorar. Mas eu já estava cansado daquilo, viajei até a casa dos meus pais tentando me esquecer de toda a merda que envolvia a minha vida em Londres e todos os meus parentes só sabiam perguntar sobre . Primeiro Lizzie, depois meus avós e tios, agora até a Sra. . Carma.
- Qual é o problema de todos vocês? Por que eu pensaria na minha ex-mulher, mãe? A é passado. E pelo que eu me lembre, não fomos muito apoiados quando decidimos nos casar e agora vocês agem como se eu tivesse feito a maior burrada da minha vida por ter me divorciado. – menti, fingindo não me importar. Estava me tornando um mestre do fingimento.
- Ah, . Quando é que você vai entender, filho? Em primeiro lugar, você sabe que eu nunca fui contra o casamento de vocês, sempre adorei e os apoiei naquela época, mesmo sendo uma união tão precoce, pois eu sabia, eu via que o que vocês sentiam era verdadeiro. Vocês tinham o necessário pra fazer durar. Quando é que você vai finalmente perceber a grande besteira que fez? A nunca fará parte apenas do seu passado, porque pelo que eu me lembro de vocês dois juntos, ela foi e será sempre a mulher da sua vida. Que tipo de lavagem cerebral fizeram com você, meu filho? – ela dizia com certo tom de indignação na voz.
- Você tem que superar, mãe, nós não vamos voltar. – ignorei o seu pequeno sermão, desviando o meu olhar para o céu enquanto permanecemos em silêncio por algum tempo. Era difícil mentir para ela.
- Me diga a verdade, . O que está acontecendo com você? – ela perguntou de repente.
- Como assim? Está tudo bem. – garanti.
- Eu te conheço desde sempre, e sei que está acontecendo alguma coisa muito séria com você neste momento. Você, que sempre adorou ficar perto de todos durante o Natal, passou estes dois dias se isolando do mundo. Me conte qual o problema, filho. – ela pediu, tomando minhas mãos entre as suas. E eu suspirei, desistindo de esconder aquele segredo que estava me corroendo nos últimos dias. No fundo eu sabia que teria de ter aquela conversa com ela mais cedo ou mais tarde.
- Eu tenho uma filha, mãe. – confessei, olhando-a com expectativa. Seu rosto se contraiu, demonstrando toda a confusão que ela sentia.
- Que besteira você andou aprontando, ? Você engravidou uma moça desconhecida? Ou não vá me dizer que aquela garota mimada da Ashley engravidou e você está acreditando que o filho é seu? – ela me questionou irritada. – Não seja ingênuo, , aquela garota nunca prestou.
- O quê? Não! Por que sempre pensam que eu sou o culpado por tudo? – suspirei cansado. - Será que a senhora poderia se acalmar e me ouvir antes de concluir o que eu disse com essas teorias malucas? – pedi e ela assentiu, respirando fundo. Decidi prosseguir com o que teria a dizer antes que perdesse a coragem. – Quando eu me separei de , ela estava grávida e acabou escondendo isso de mim por todos esses anos.
- Não posso acreditar que ela fez isso. – mamãe murmurou impressionada com aquela história.
- Ela não é aquela santinha que vocês todos idealizavam. – disse amargurado. – E para melhorar a situação, ela não quer permitir que eu conheça a minha filha.
Finalizei e encarei minha mãe com a expressão séria e o olhar distante em direção a nossa casa. Ela se manteve quieta por um longo período e aquilo me deixou nervoso, esperando pelo que ela diria. A sua opinião sempre fora muito importante para mim, mesmo quando o que eu fazia a desagradava, mesmo que eu tivesse ignorado os seus conselhos algumas vezes durante a minha vida.
- Mãe? – chamei-a, não aguentando mais aquele silêncio. Ela me encarou novamente com algo no olhar que eu não conseguia identificar.
- Eu quero falar com a . – ela disse simplesmente e eu a olhei confuso.
- Isso não irá adiantar, mãe. Você não pode mais bancar a mãe super-protetora e ir defender o seu filho de todos como quando eu era pequeno e era chamado na diretoria da escola por alguma briga idiota com algum colega. não irá escutá-la, ela não quer ouvir ninguém. – expliquei sorrindo fraco.
- Quem disse que quero defendê-lo ? – ela se manteve séria e eu a encarei confuso. – Quero ouvir a versão de , conhecer a minha neta e saber o motivo de tudo isso, mesmo que eu já imagine qual seja. – a mulher me fuzilou com o olhar. – Concordo que ela não poderia ter escondido isso de você, de todos, você tem direito de conviver com a sua filha, mas acho que a entendo e você também deveria tentar compreender.
- Não acredito que até a minha própria mãe a esta defendendo nessa história! – exclamei irritado, levantando-me. – Eu já estou cansado de ter todos me julgando. Eu sei que errei, porra, mas até quando vocês irão me crucificar por isso? Quando todo mundo vai deixar de achar que a é a única vítima nisso tudo? Pra mim já chega! Vou pra casa. – ignorei o chamado da minha mãe pedindo para que eu ficasse e me distanciei dela, seguindo em direção à casa. Iria pegar a minha mala e voltar para Londres, sabia que agora todos descobririam sobre a minha filha e eu, com toda a certeza, não ficaria ali para ouvir mais sermões.
- , volte aqui! – ela tentou uma última vez antes que eu entrasse na casa.
- Foda-se! – eu gritei em resposta e saí dali sem olhar para trás.

(...)


Era madrugada e a estrada estava deserta, logo estaria amanhecendo, eu já estava nos arredores de Londres, havia passado pela placa de Boas Vindas há pouco tempo. Uma música antiga qualquer que tocava no rádio era uma das minhas únicas companhias durante aquela viagem de volta para casa, ao lado de uma garrafa de rum no banco do passageiro — uma das relíquias intocáveis do meu pai que eu havia apanhado escondido antes de sair. A cada minuto, cada pensamento confuso, eu bebia longos goles do líquido, tentando me anestesiar de tudo aquilo. Eu dirigia em alta velocidade, tentando me livrar de certas imagens da minha cabeça. A minha mente girava e eu sabia que não estava me concentrando direito na estrada, minha visão já se tornava turva, mas naquele momento não estava me importando com riscos de acidentes, só queria me esquecer de tudo. Eu queria me esquecer dela.
A saída da casa dos meus pais não foi tão rápida e amigável como eu imaginei que seria. Eles tentaram me fazer ficar, meu pai insistia em conversar, minha mãe me olhava triste, mas eu não ficaria ali por mais nenhum minuto. Eu precisava ficar sozinho, e também precisava de alguém que me entendesse. Eu era um corpo tomado por uma confusão intensa de sentimentos.
Minha vida sendo tomada por acontecimentos conflituosos a cada dia, e todos eles só se desencadearam após aquele dia em que eu havia posto tudo a perder, aquele dia em que me deixei envolver por outra mulher. O dia em que deixei de ser eu mesmo. O dia em que fiz a minha esposa chorar após abandoná-la para sempre.
Um clarão tomou conta da minha visão, cegando-me por um momento e então tudo aconteceu muito rápido. A última coisa que vi foi aquele olhar que sempre assombrava o meu pensamento.


"Um pouco antes de tudo ficar preto, quer saber a última coisa que me passou pela cabeça? Você!Nicholas Sparks (Dear John)




Capítulo 14




As amizades renovadas exigem mais cuidados do que aquelas que nunca foram interrompidas. - La Rochefoucauld



’s POV

- , eu já pedi pra você não ficar perto da borda da piscina quando não tiver nenhum adulto por perto. – repreendi-a novamente e ela me encarou, rindo da minha bronca e correndo em direção ao interior da casa, fazendo com que eu suspirasse derrotada por suas atitudes recentes. – Eu não sei qual o problema dessa garotinha, ela anda tão desobediente. É como se ela soubesse de tudo o que está acontecendo, como se soubesse que eu menti pra ela sobre o pai.
- Talvez você deva pensar em uma forma de contar a verdade, mais cedo ou mais tarde ela vai descobrir e mesmo ela sendo tão pequena, isso não fará bem a . – Penélope aconselhou e eu respirei fundo, sentindo-me derrotada, fazendo com que ela me encarasse com pena. – Quer saber? Fique calma, crianças têm suas fases, amiga, fico feliz que meu bebê ainda não esteja nessa. – Penny respondeu sorrindo e eu, discretamente, mostrei-lhe o dedo do meio, o que a fez rir mais ainda e me fez acompanhá-la.
- Posso saber do que as duas hienas estão rindo? – se aproximou de onde estávamos sentadas.
Era início de tarde e após muita insistência de Penélope, que afirmou diversas vezes que certo alguém não estaria presente, pois nem estava na cidade, nós estávamos em uma pequena reunião apenas para amigos na casa dos s, que ainda estavam em ritmo de natal, mesmo já estando no dia 26 de Dezembro. Natal era o feriado favorito de , e também para mim, e eu sabia que se Penélope deixasse, ele daria um jeito de comemorar aquela data todos os dias da semana, de alguma forma. Confesso que não estava sendo fácil estar novamente reunida com todos eles, eu ainda não me sentia confortável e algumas vezes não conseguia disfarçar que ainda sentia mágoa dos rapazes, mas por Penny, que sempre fora tão gentil, eu estava tentando suportar e seguir em frente.
- Eu estava achando graça de como a continua sendo uma criança apesar de todos esses anos. – Penny respondeu rindo.
- Vá se ferrar, olha quem fala. – resmunguei.
- , contenha os modos, você é uma mãe de família. – disse, também aos risos.
- Vá se ferrar você também. – respondi, também dando risada de como, apesar de tantos anos, ainda éramos tão amigas e tão idiotas.
- Vocês garotas têm a boca tão suja. – comentou, surgindo de repente.
- Por favor, . Você é o rei em falar merda. – Penélope comentou.
- Isso eu não nego. – ele admitiu e nós gargalhamos. Pude observar enquanto encarou por um tempo e ele a correspondeu, ambos tinham certo brilho no olhar, um brilho característico de pessoas apaixonadas. Eu, definitivamente, interrogaria mais tarde. – Acho que vocês deveriam entrar, disse que irá preparar chocolates quentes com marshmallow, além do mais, já está escurecendo e crianças não podem ficar na rua até tarde. – disse, fazendo graça e tentando disfarçar, após me pegar os encarando. - Sem falar que... Vocês só podem ter problemas mentais, está congelando aqui fora! – ele exclamou de repente, voltando correndo para dentro da casa.
- Retardado. – Penny comentou e eu concordei, rindo junto com ela.
- Querem saber? tem razão. Vamos entrar, suas loucas. – o seguiu rapidamente e Penny e eu trocamos olhares desconfiados. Ultimamente aqueles dois andavam muito estranhos e próximos.
- Aí tem. – Penélope comentou.
- Com certeza. Ela nem o chamou de desta vez, o que é uma grande evolução. – assenti e nos levantamos, seguindo até o interior da casa rindo.
- Onde esses idiotas se meteram? E cadê o meu chocolate quente? ! – Penny gritou e assim que entramos na casa e encontramos a cozinha vazia. Ela me puxou em direção à sala de TV e logo nos deparamos com uma cena que era tão familiar, mas que eu não via há alguns anos. , e jogados diante da televisão jogando videogame. A única exceção era a falta do meu ex-marido naquela cena tão comum e nostálgica, substituído por Jake, que já parecia ter se tornado amigo dos três. – ! – Penny gritou novamente, fazendo o homem que se mantinha concentrado no jogo tomar um grande susto.
- Porra, Penny, você me fez perder a porcaria da partida! – ele exclamou nervoso enquanto se vangloriava pela vitória, mas logo se encolheu de medo ao notar a expressão da esposa. – Quer dizer... Desculpe, querida. – sorriu apreensivo.
- Vá buscar o meu chocolate quente logo e eu vou fingir que não ouvi o que você acabou de dizer, . – Penny exigiu e ele rapidamente se levantou, pronto para ir até a cozinha.
- Cara, ela tem os seus colhões nas mãos. – comentou rindo e o fuzilou com os olhos.
- O que são colhões, tio ? – , que estava ao lado tentando montar um quebra-cabeça da Barbie com enquanto o pequeno Charlie ria e bagunçava tudo, perguntou.
- É... São... – gaguejou e a olhou desconcertado, sem saber o que responder.
- Obrigada, . – repreendi-o brava e ele sorriu sem graça, pedindo desculpas.
- São alguns brinquedos do tio que a tia Penny guarda, lindinha. – respondeu.
- Ah! – respondeu como se tivesse entendido. – Posso ver, tia Penny? – perguntou curiosa e todos os presentes não conseguiram evitar e caíram na gargalhada, deixando a minha pequena confusa. E e Penélope com os rostos numa tonalidade absurdamente vermelha. – O que eu disse de engraçado? – ela perguntou quando nos calamos.
- Nada, meu amor, adultos às vezes são idiotas. – eu expliquei e ela me olhou, assentindo seriamente, como se concordasse.
- Viu, , até uma garotinha concorda que você é idiota. – disse após um momento de silêncio, provocando novamente e uma nova discussão se iniciou. Eu os observei sorrindo, apesar de tudo, sentia falta daqueles momentos. Sentia falta do que éramos. Talvez demorasse um pouco mais para que eu os perdoasse completamente, mas algo já estava mudando.
- Que tal vocês calarem a boca, desligarem esse vídeo game e colocarem algum filme decente pra que nós possamos assistir? E que seja um que as crianças também possam ver. – Penny mandou e rapidamente desligou o aparelho enquanto se levantou para procurar algum filme na coleção infinita de .
- Acho que não são apenas os colhões do que a Penny tem em mãos. Garota, conte-me o seu segredo! – comentou baixinho e Penélope e eu rimos.
- . – Jake se aproximou, abraçando e dando-me um selinho. E as garotas se afastaram propositalmente.
- Diga, lindo. – eu o encarei, sempre encantada com o seu jeito carinhoso. Ao longe observei revirar os olhos e o encarei rapidamente, censurando-o. Aquilo o fez rir sem graça e ir se sentar perto de onde ainda brincava.
- Eu tenho que ir embora pra resolver uns problemas de trabalho, como nós viemos no meu carro, você quer que eu leve vocês ou...? – ele perguntou inseguro.
- Sério, trabalho um dia após o natal? – perguntei e ele assentiu, fazendo-me suspirar por pena dele. – Bom, não se preocupe, a gente chama um táxi, não quero te atrapalhar. – disse, fazendo bico por ele ter de ir tão cedo.
- Certeza? – ele perguntou, encarando-me apreensivo.
- Sim, pode ir, sem problemas. – concordei, sorrindo para confortá-lo.
- Ok. Então já vou indo. – ele disse, dando-me um beijo mais profundo desta vez. – Desculpe de novo por não poder ficar. - ele me olhou triste e me abraçou antes de se despedir de todos com um tchau geral e agradecer a Penny pelo convite, seguindo em direção à saída logo depois. Suspirei, já sentindo a sua falta.
- Pensei que no momento o Evans estivesse trabalhando apenas com a gente. – comentou, surgindo novamente de maneira inesperada ao meu lado.
- Deve ter surgido algum outro trabalho, Jake é muito supersticioso em relação aos seus novos projetos, ele só revela algo depois que tem certeza que tudo já está perfeitamente engatilhado. É um excelente profissional. – expliquei a ele, demonstrando todo o meu orgulho por Jake e completando em seguida. – Mesmo que com todo esse mistério ele me faça surpresas não tão agradáveis depois. – concluí, não conseguindo conter o desejo de alfinetar , fazendo-o lembrar-se do dia em que descobri que Jake estava produzindo a banda deles.
- Você está mesmo apaixonada. – ele disse, tentando ignorar o meu comentário maldoso.
- Acho que isso não é da sua conta. – disse sem pensar.
- Outch. – ele murmurou.
- Não pense que não te vi revirando os olhos antes, . – reclamei cruzando os braços.
- É, acho que mereci. – ele admitiu sem graça. – Mas eu não fiz aquilo por não gostar de ver vocês dois juntos ou coisa do tipo, é mais porque esses lances sentimentais são de embrulhar o estômago e você sabe que não sou um cara romântico. - ele riu e foi minha vez de revirar os olhos. - Apesar de eu achar isso estranho... Você sabe, antes era você e o . E antes que você diga alguma coisa, eu sei que ele fez merda e merece não fazer mais parte dessa cena que eu tenho gravada na minha mente, mas certas coisas são difíceis de apagar. E você sabe que o é um dos meus melhores amigos.
- Certo, . E você quer tomar partido do seu amigo. Entendo, não precisa se explicar. – olhei para ele me sentindo estranhamente magoada, porque, apesar de tudo, pensava que me considerasse sua amiga. Pensava, porque ele havia me dito antes que ele se arrependia por não ter feito nada para impedir o que fazia, arrependia-se por ter me deixado ir.
- Não é nada disso, , você entendeu errado. Eu não estou tomando partido do , não desta vez. Na verdade não quero me meter nesse assunto de vocês, exatamente por considerar os dois meus amigos, apesar de você ter se mantido distante por todo esse tempo e por ainda não confiar totalmente em nós, você vai sempre ser a minha baixinha, . E eu espero sinceramente que um dia você me perdoe de verdade. – os olhos de brilhavam, parecendo emocionados e sinceros e aquilo fez com que um nó se formasse em minha garganta e que eu inconscientemente me lançasse em seus braços, abraçando-o forte. Eu sentia falta dele, sentia falta do meu melhor amigo.
- É difícil perdoar vocês tão imediatamente, mas eu prometo que estou tentando, . Eu estou tentando porque também sinto falta dos meus garotos. – disse, sentindo meus olhos se encherem de lágrimas. – Eu só preciso de tempo. – acariciou meus cabelos e me abraçou mais apertado.
- Tudo bem, baixinha, eu espero o tempo que for.
- Acho que também mereço um abraço, porque só o idiota do está recebendo um? – comentou atrás de nós e eu o encarei, sentindo meu coração apertar mais ainda. Como eu sentia falta de todos.
- Vem cá, seu ciumento. – chamei-o e ele logo me puxou dos braços de , que reclamou do seu ato e me abraçou com vontade, do jeito que só sabia fazer.
- Saudades, , diz que vai nos perdoar um dia, pra eu poder voltar a abusar de você. – ele pediu em seu tom brincalhão tão característico. nunca conseguia dizer nada de maneira séria, mas eu sabia que o pedido de perdão era sincero.
- Vou ter perdoar um dia, . – eu disse e ele riu. – Na verdade, acho que estou tentando começar a perdoar vocês a partir de hoje. – ele suspirou, como se estivesse prendendo o ar por muito tempo, como se eu realmente fizesse falta na vida deles.
- Você fez tanta falta, baixinha. – ele comentou, como se lesse meus pensamentos e eu sorri, vendo que algumas coisas nunca mudariam.
- Abraço em grupo! – exclamou e sem que eu pudesse protestar, logo vários pares de braços se colocaram ao meu redor.
Eu realmente sentia falta daquilo. Eu sentia falta da minha família.

(...)


- Então, a gente urinou nos tênis dele e quando o os calçou imediatamente, sentiu os pés molhados e saiu berrando pelo corredor do hotel dizendo que ia nos matar, mas antes iria mijar em todas as nossas roupas, coisa que óbvio ele não conseguiu fazer. – contava uma das histórias de turnê mais recentes dos garotos da qual eu não fizera parte e todos gargalharam, notando o olhar com desgosto.
- Eu ainda vou me vingar, seus babacas.
- Pra isso você precisa ser mais esperto e aprender a pregar trotes com os mestres. – se vangloriou.
- Exatamente. – disse, concordando.
- Vão se foder, suas bichas mal comidas. – disse irritado, mas logo caiu na gargalhada. Nós todos éramos tão bipolares algumas vezes.
- Vocês continuam tão infantis e idiotas. – comentei e , que estava ao meu lado, encarou-me de maneira sarcástica.
- Não me faça relembrar os trotes que a senhorita já aprontou na vida, . – ele arqueou a sobrancelha sorrindo e eu ri sem graça.
De repente, o barulho de um aparelho telefônico invadiu o ambiente nos tomando de surpresa e impedindo que destilasse o seu veneno sobre mim.
- , vá atender. – mandou.
- Mas a casa é sua. – revidou.
- Mas eu sou mais velho e estou mandando. – continuou.
- Mas eu sou visita e estou recusando. – replicou.
- Mas... - iria continuar, porém Penny foi mais rápida.
- Calem a boca. – ela exigiu novamente com o seu ar autoritário e eles obedeceram.
- Garota, você é a minha mais nova diva. – comentou, sorrindo admirada. Penny piscou convencida.
- , vá atender a porcaria do telefone. E ... – ela disse e ele a encarou amedrontado. – Apenas fique quieto. – suspirou aliviado e todos nós rimos, Penélope tinha um poder estranho sobre aqueles rapazes.
- Acho que já está na hora de irmos, , tem alguém aqui que já está desmaiada sobre o sofá. – comentei, acariciando os cabelos de , que tinha a cabeça deitada sobre o meu colo. concordou.
- Ah, não, ! Por que vocês três não passam a noite aqui? Vocês podem ficar no quarto de hóspedes. Esses dois babacas provavelmente não irão embora também, mas eles podem ficar com o sofá da sala. – Penny comentou, apontando para e , que murmuraram algo que envolvia sofá, bruxa malvada e dor nas costas. Mas logo se calaram ao notar o olhar da dona da casa.
- Não precisa, Penn. Nós vamos acabar dando trabalho, já incomodamos o dia todo. Eu vou chamar um táxi, é o melhor. – comentei.
- Deixe de ser idiota, . Não sei onde você acha que incomodou, na verdade, foi ótimo ter vocês três aqui, é sempre tão cansativo ser a única mulher em meio a esses homens de Neandertal.
- Grossa. – comentou e Penélope o fuzilou. Mas os interrompeu antes que outra sessão de broncas começasse.
- Penny, é muita gentileza sua, mas concordo com a . Eu vou mesmo precisar ir, tenho que estar no hospital amanhã bem cedo e eu acabaria incomodando quando despertasse com o galo e acordasse todos vocês. – ela brincou.
- Eu não acharia ruim acordar com você. – comentou sem pensar. E subitamente ficou roxa de vergonha, enquanto e eu a encarávamos sugestivamente.
retornou a sala antes que pudéssemos bombardear e com comentários maliciosos. A expressão séria dele nos deixou confusos e ele nos encarou sem dizer nada.
- Aconteceu alguma coisa, amor? – Penny caminhou até ele, notando que o marido estava estranho. balançou a cabeça, concordando, ainda sem dizer nada.
- Fala logo o que aconteceu, seu idiota. Você tá branco feito leite puro. – resmungou nervoso. respirou fundo antes de se pronunciar.
- A Sra. ligou. – ele parou por um instante e eu peguei me recordando de Valerie, ela me fazia tanta falta. Mas todos ainda não entendiam o porquê de estar daquele jeito por uma ligação da minha antiga sogra.
- Desembucha logo, porra, senão vou parir um filho. – reclamou. então me encarou por um breve momento antes de continuar.
- Ontem, já quase de madrugada, deixou a casa dos pais um pouco irritado após uma discussão que ele teve com a mãe. Valerie tentou entrar em contato com ele diversas vezes pelo celular e também ligou para a sua casa, , porque todos estavam muito preocupados, já que ele havia bebido e pelo que ela me disse, o sr. descobriu que levou uma das garrafas de rum da coleção dele. Só que como está aqui em casa desde ontem, não recebeu as ligações e a sra. disse que está tentando falar com desde ontem, mas ele não atende a porcaria do celular, e não entrou em contato após os recados que ela deixou na caixa postal. Isso a está deixando aflita, porque ela disse ter tido um pressentimento muito ruim assim que o viu partir daquele jeito. Coisas de mãe, vocês sabem. Por isso ela ligou pra cá pra saber se ele havia voltado e se eu tinha notícias dele. Mas eu disse a ela que não temos notícias dele desde a véspera de natal. Bom, resumindo, já é quase de noite, ou seja, está desaparecido há horas. – ele finalizou com um suspiro profundo e nervoso. Todos se encararam rapidamente, as expressões de preocupação tomando conta de seus rostos e eu senti meu coração acelerar de medo, sentindo-me de repente tão preocupada quanto eles.
Era estranho que mesmo após tudo o que houve, eu ainda me sentisse assim por ele. Eu era uma idiota, mas é isso o que acontece quando, apesar de tudo, você continua amando uma pessoa. Por mais que ela tenha te magoado da pior maneira possível. Mesmo ele não merecendo, eu nunca desejaria o mal de , ele era o pai da minha filha e mesmo que eu a mantivesse afastada dele para o seu próprio bem. Nunca desejaria nada de tão ruim a ele. Peguei-me sentindo uma espécie de remorso por ter dito a que o pai havia ido para o céu. Se algo de terrível houvesse mesmo acontecido com , eu nunca me perdoaria por ter dito aquilo. Após momentos de silêncio, os rapazes finalmente pareceram despertar e rapidamente sugeriu que eles fizessem algo, não poderiam esperar que algo ruim acontecesse ao amigo enquanto eles ficavam de braços cruzados. saiu dizendo que iria até a sua casa para se certificar de que ele não havia chegado por lá e por alguma razão idiota não havia retornado as ligações da mãe. e decidiram ir junto e caso eles não o encontrassem, fariam uma busca pelos locais onde sabiam que ele costumava frequentar. E se nem isso adiantasse, tomariam a estrada em direção à casa dos pais de para tentar encontrar alguma pista do paradeiro do amigo pelo caminho. Penny anunciou que ficaria ao lado do telefone aguardando por qualquer notícia para avisá-los, ela ligou para a sra. assim que eles saíram e informou sobre o que os garotos haviam planejado. Valerie agradeceu e disse que todos os familiares estavam à procura dele pela cidade natal. anotou o número de , apanhou meu celular e intercalava entre ligar para o celular de tentando resposta com ele enquanto pelo seu próprio telefone entrava em contato com hospitais e amigos da área médica, procurando notícias sobre algum paciente que tivesse dado entrada na emergência com as características dele. Em meio a tudo aquilo, eu me sentia inútil por estar tão atônita e tão paralisada. Acariciava os cabelos de , que ainda estava adormecida em meu colo, e não tinha ideia do que estava acontecendo naquele momento. E fiz a única coisa que conseguia no momento, rezar silenciosamente para que nada de mal realmente tivesse acontecido, enquanto tentava afastar a angústia que havia tomado conta do meu peito. Onde estaria?

~.~


- Oi, namorada. – cumprimentou-me contente do outro lado da ligação, ele estava na casa dos avós no interior, passando os últimos dias de férias de verão antes do começo do nosso último semestre de aulas na nossa vida escolar.
- Hum. – resmunguei, sentindo meu corpo todo doer apenas por mexer a boca para murmurar. Odiava me sentir daquele jeito todos os meses.
- Nossa, com toda essa animação é fácil notar que você sente saudades de mim. – ele comentou irônico.
- Não fica me atormentado, tô com muita dor, . – reclamei, encolhendo-me ainda mais na cama.
- Dor? O que aconteceu, ? – ele disparou alarmado.
- Problemas mensais de mulher. – respondi sem jeito, não gostava de dar detalhes sobre aquele assunto.
- Ah... – ele disse, suspirando aliviado.
- Queria que você estivesse aqui, queria um abraço, cafuné, tô me sentindo tão carente. – reclamei novamente.
- Queria estar aí com você também, namorada. – ele disse com um tom de pesar na voz e foi minha vez de suspirar.
- Quer saber, é melhor você não estar aqui, assim não vai se assustar com o meu estado no momento. Seria difícil lidar comigo agora, fico completamente mal humorada quando estou assim. – falei, soltando um ruído de dor em seguida.
- Não concordo, acho que eu deveria, sim, estar aí, assim eu já vou treinando. Afinal de contas, vou ter que aguentar isso pro resto da vida quando a gente se casar. – ele disse animado e eu pude visualizar em minha mente o sorriso que deveria estar em seu rosto naquele instante.
- Isso foi um pedido de casamento, ? – brinquei, mas meu coração disparou quando ouvi o que ele dissera.
- Não, isso foi apenas uma sondagem pra notar a sua reação no futuro. – ele continuou a brincadeira. – Porque nós vamos definitivamente nos casar, . – completou decidido, fazendo meu coração bater ainda mais forte.
- Droga, eu queria mesmo que você estivesse aqui. – murmurei novamente, encolhendo-me e sentindo dores pelo abdômen.
- Por que você não se levanta e abre a porta da sala pra que eu possa entrar e cuidar de você então? – ele sugeriu rindo.
- Como? Quando você voltou de viagem? Por que não me disse que estava aqui o tempo todo? – disparei perguntas sobre ele.
- Primeiro a porta, amor, depois as respostas. – disse simplesmente e riu em seguida. Eu tentei caminhar o mais rápido que a dor permitia em direção à porta. Antes de abri-la respirei fundo e tentei ajeitar inutilmente o desastre que se encontrava o meu cabelo. A minha aparência definitivamente não era das melhores: olheiras, cabelo bagunçado, uma calça larga de moletom, uma camiseta velha de banda e dois números maior do que o que eu utilizava e pantufas de porquinho. Eu estava um completo lixo, mas se queria saber como lidar comigo no futuro, ele que visse tudo de uma vez. Balancei a cabeça, afastando os pensamentos idiotas e coloquei um sorriso no rosto, abrindo a porta em seguida.
- Por que demorou tanto? – ele perguntou sorrindo, mas logo mudou a sua expressão. – Quem é você e o que fez com a minha namorada gata? Que estado, garota. – encarou-me espantado e eu o belisquei. – Ai!
- Me abraça logo, que eu não estou aguentando ficar em pé. – reclamei e me abraçou imediatamente, rindo do meu jeito.
– Senti saudades, namorada. – se afastou alguns centímetros, o suficiente para selar os lábios nos meus e eu praticamente soltei o peso do meu corpo sobre os seus braços após outra cólica forte. – Droga, você tá mesmo mal, . Vamos te deitar no sofá. – ele disse preocupado, pegando-me no colo e caminhou em direção ao sofá da sala, onde ele se sentou e me colocou com a cabeça apoiada em seu colo, para logo em seguida acariciar meus cabelos naquele cafuné gostoso que eu tanto queria. – Tá bom assim? – perguntou sorrindo e eu balancei a cabeça assentindo enquanto me encolhia em seu colo.
- Obrigada. – murmurei, tentando sorrir de volta.
- Você me deixou preocupado quando disse que estava sentindo dor, não faça mais isso. – ele brincou, rindo fraco.
- Desculpa, mas é algo que eu não posso controlar. – encarei-o revirando os olhos e ele me deu um selinho rápido.
- ? – vovó perguntou assim que entrou na sala e o viu.
- Boa tarde, senhora . – ele a cumprimentou.
- Já está de volta, menino? Como foi a viagem? – ela se aproximou de onde estávamos com uma pequena bandeja em mãos e lhe deu um beijo no rosto.
- Tudo bem, eu acabei de chegar e vim ver como a estava. – ele respondeu contente.
- Minha neta fica um pouco dramática e manhosa nesses dias. – ela comentou baixinho, como se eu não pudesse ouvir.
- Eu estou aqui, vovó. – reclamei e ela e riram.
- Vim trazer um remédio e chá para você, querida. Logo a dor irá passar. – ela acariciou os meus cabelos e eu me sentei à contra gosto, por ter que sair do colo de e tomei o que ela havia trazido.
- Obrigada, vovó. – disse sinceramente.
- Vou precisar sair, posso contar com você para cuidar dela, ? – vovó sorriu, piscando-lhe.
- Claro, sra. , sempre. – respondeu, puxando-me novamente para o seu colo.
- Então, juízo. Até mais, crianças. – ela deixou a sala e logo me encarou de cima.
- Acho que mereço ficar mais confortável, se vou cuidar de você. – ele comentou e eu o olhei em dúvida. Então ele retirou minha cabeça do seu colo enquanto eu apenas resmungava por tal ato e logo estávamos deitados lado a lado, completamente unidos naquele sofá não muito grande. Meu corpo estava praticamente sobre o dele e eu apoiei minha cabeça sobre o peito de enquanto ele voltava a acariciar os meus cabelos e também fazia desenhos desconexos com a outra mão em minhas costas. – Pronto, agora está bem melhor. – ele comentou e eu pude notar seu peito subindo e descendo acelerado. Eu me acomodei melhor sobre ele e virei minha cabeça em direção a sua.
- Obrigada, eu te amo. – respondi e sorriu, abraçando-me ainda mais.
- Tudo para a minha dengosa se sentir melhor. – ele piscou.
- Não sou dengosa. – respondi logo, fechando a cara, mal humorada. A minha típica bipolaridade daqueles dias. rolou os olhos, sorrindo.
- Só por essa sua atitude, você já me confirmou o quanto dengosa é. – ele me encarou com uma expressão sábia.
- Idiota, retiro o que disse. Não te amo mais. – encolhi-me, desviando o rosto do dele e encarando a televisão desligada.
- Deixe de frescura, dengosinha.
- Cale a boca, . – disse irritada e ele gargalhou.
- Só existe um modo de me calar agora. E como estou aqui para fazer as suas vontades... – antes que eu pudesse protestar, ele puxou o meu rosto em direção ao dele e selou nossos lábios, o beijo agora era mais intenso, o meu corpo foi parar completamente em cima do dele, aquela cólica maldita parecia ter ido milagrosamente para o espaço enquanto acariciava agora todo o meu corpo e eu correspondia bagunçando os seus cabelos durante o beijo. Ele colocou uma das mãos embaixo da camiseta que eu utilizava e o contato da sua pele com a minha me fez arrepiar, a mão de explorava o local sem medo e aos poucos pareceu chegar aonde queria — o fecho do meu sutiã.
- Ok! Vamos parar por aqui, espertinho. – eu disse, respirando de maneira descompassada, tentando aos poucos recuperar o fôlego. – Meus avós podem voltar a qualquer minuto e eu ainda não estou disposta pra fazer isso o que você quer, . De jeito nenhum.
- Tudo bem, acho que já consegui o que queria. Como vai a dor? – ele me encarou com uma das sobrancelhas arqueadas e um sorriso safado no rosto, aquilo me fez corar.
- É, talvez o seu beijo tenha acelerado o efeito do remédio, já não dói tanto. – murmurei, não querendo fazer com que o ego dele inflasse.
- Dengosa. – disse me provocando novamente e eu me levantei, encarando-o brava.
- Até quando você vai insistir nesse apelido ridículo?
- Até quando você vai continuar brava por causa dele?
- Quer saber, não me importo. – dei de ombros e ele riu.
- Deite aqui pra eu te mimar mais um pouco, namorada. – me chamou, com aquele olhar profundo que me seduzia sempre.
- Tudo bem, mas só porque estou doente. – resmunguei, frisando a última palavra, deitando-me novamente sobre ele para que recomeçássemos tudo.
Naquele momento, por mais bizarro que parecesse, enquanto ele massageava as minhas costas, eu constatei que estava sendo realmente o meu melhor remédio para cólica e aquilo me fez rir sozinha. Ele logo me encarou com uma expressão no rosto demonstrando que ele achava que eu era louca, mas a minha risada acabou o contagiando e só por ter ele cuidando de mim, eu sabia que logo tudo melhoria.


~.~


Pena que tudo aquilo havia ficado no passado, aquele adolescente que se preocupava comigo e que faria tudo para que eu me sentisse melhor já não existia mais.
- ? – abri os olhos, encontrando Penny diante de mim com um copo com água e um frasco de remédio em mãos.
- Oi? – respondi um pouco atordoada, acho que havia cochilado e sonhado com o passado mais uma vez.
- Tome esse remédio, . – Penélope me ofereceu e eu agradeci sorrindo fraco, estávamos a algum tempo esperando notícias dos rapazes e a minha cabeça de repente parecia que estava prestes a explodir. Eu me sentia nervosa e meu coração estava estranhamente inquieto.
- Odeio sentir dor. – resmunguei e as duas me olharam com pena, todos sabiam o quanto eu era fraca para dor. Mas sempre conseguia me acalmar de alguma maneira. , eu estava mesmo o chamando pelo apelido em pensamento agora? Mais um passo e eu diria aquilo a ele em voz alta, como se tivesse o perdoado. Não, eu precisava me conter, aquilo era apenas efeito da preocupação que eu sentia pelo desaparecimento dele por causa de .
- Logo o remédio vai fazer efeito. Tente se acalmar. – pediu após encerrar mais uma ligação que tinha feito a outro hospital local.
- Alguma novidade? – Penny perguntou a ela.
- Não, ninguém com as características dele apareceu por lá. - ela disse com pesar.
- Vamos pensar pelo lado positivo, notícias ruins chegam rápido. Ele deve estar bem. – Penélope comentou, tentando acalmar a todas nós. – , querida, por que você não leva a até o quarto de hospedes e a coloca sobre a cama? Ela esta dormindo toda tortinha aí no seu colo, é a terceira porta à direita. Charlie já desmaiou em seu berço. – ela sugeriu sorrindo.
- Tudo bem. – eu assenti, ainda não conseguindo emitir muitas palavras enquanto a minha mente vagava para as diversas possibilidades que faziam com que ainda não houvesse aparecido. Levantei com cuidado com em meus braços e segui até o andar de cima. Já no topo da escada notei quando Penny disse algo estranho a em um tom de voz mais baixo, provavelmente tentando fazer com que eu não escutasse.
- telefonou e disse que havia um recado na secretária eletrônica do apartamento deles, era um recado do advogado de ... – ela comentou, mas antes de continuar levantou os olhos em direção às escadas e eu fui obrigada a andar rapidamente em direção ao quarto, não conseguindo ouvir o restante da conversa. Mas assim que acomodasse sobre a cama, iria até o andar de baixo exigir que elas parassem de me esconder as coisas.
- Mamãe. O monstro... – murmurou, acordando subitamente assustada assim que a coloquei sobre a cama.
- Está tudo bem, meu amor. Volte a dormir. – disse, acariciando os seus cabelos.
- Tô com medo. Dorme comigo? – ela pediu manhosa, com a voz rouca e arrastada pelo sono.
- Vou ficar aqui até você dormir novamente, não se preocupe, linda. – deite-me ao seu lado, aconchegando-a melhor em meus braços.
- Canta pra mim? – ela pediu novamente, encarando-me. E eu sorri, abraçando-a e cantando a primeira música que surgiu em minha mente.
- You are my sunshine, my only sunshine. You make me happy when skies are gray. You'll never know dear, how much I love you. Please don't take my sunshine away... – e em pouco tempo a minha pequena filha já ressonava novamente em meus braços.
Após ter certeza de que havia se acalmado e entrado em um estado de sono profundo, levantei-me e caminhei decidida em direção à sala — onde e Penélope ainda permaneciam — pronta para exigir algumas explicações e detalhes sobre o telefonema que havia dado a Penélope.
- Hey, tudo certo com a ? – Penny perguntou assim que me viu chegar à sala.
- Ela acordou assustada assim que a coloquei na cama, parece ter tido um pesadelo, mas eu já a acalmei. Agora ela está dormindo tranquilamente, por isso nós três teremos muito tempo para conversar. – olhei séria em direção as minhas duas amigas.
- Sobre o que você quer conversar? – perguntou confusa, notando a minha expressão.
- Nada muito importante, fora o fato de que vocês parecem estar escondendo alguma coisa de mim.
- Do que você está falando, ? Nós não estamos escondendo nada. – Penny questionou, ligeiramente incomodada com a minha afirmação.
- Ok, meninas. Vamos parar de joguinho. O que o advogado de queria? – perguntei de maneira direta e as duas se entreolharam assustadas.
- O que você ouviu exatamente? – me encarou apreensiva. E eu a fitei nervosa. – Tudo bem, você merece saber.
- ! – Penny repreendeu. E eu ficava a cada minuto mais preocupada. O que Diabos havia acontecido com ? Por que toda aquela preocupação em torno da ligação do seu advogado?
- Nós não podemos esconder isso dela, Penélope! O que arque com os seus erros. – minha amiga disse, voltando-se para mim novamente e respirando profundamente antes de me explicar tudo o que havia acontecido.

´s POV

Algumas horas antes

- Drogaair bag havia falhado. A luz que me cegara minutos antes era de outro veículo que vinha em direção contrária, eu estava fodidamente bêbado e não enxergava nada de maneira nítida, quando acabei avançando na pista contrária e para evitar a colisão em um momento súbito e milagroso de rápido reflexo para alguém tão embriagado, desviei o carro em direção ao acostamento, conseguindo frear bruscamente antes de atingir o paredão de terra de um morro que existia naquela parte da estrada, para amenizar os estragos. Mesmo com o impacto e com o susto, eu ainda estava vivo e continuava um pouco bêbado. Tudo ainda girava. Aquilo mais a frente seria um unicórnio?
- Hey, rapaz! – alguém chamou diante da janela do veículo, fazendo-me pular assustado. – Está tudo bem? – uma luz novamente me cegou quando olhei em direção a quem insistia do lado de fora do veículo. Sem que eu pudesse responder, a porta do lado em que eu estava foi aberta e com o olhar turvo pude notar um homem fardado diante de mim. Merda, um tira.

(...)



"I miss my baby and I miss my fun. I fought the law and the law won. Green Day




Capítulo 15



Fame made me a balloon, ‘cause my ego inflated. When I blew; see, it was confusing.Eminem

Arredores de Londres, pouco antes do amanhecer, após o dia de Natal




’s POV

O guarda permaneceu apontando a luz da lanterna em minha direção, aquela porcaria machucava os meus olhos e eu estava prestes a desacatá-lo por isso. Sabia que iria agir de maneira arrogante, sabia que estaria sendo um idiota, mas não conseguia me controlar. Era como se todas as minhas frustrações estivessem aguardando para serem descontadas naquele momento e aquele guarda seria a pessoa que as receberia.
- Você está ferido? – ele perguntou em tom firme, aproximando-se em seguida e ao que parecia, tentando encontrar algum ferimento. Eu neguei, sentindo ainda um pouco de dor na cabeça e cometi o grande erro de encará-lo em seguida. – O que você ingeriu, meu rapaz? – o guarda grande e gordo se abaixou, iluminando mais ainda o meu rosto. Meus olhos arderam e provavelmente estavam vermelhos e injetados.
- Dá pra tirar essa droga da minha cara? – resmunguei com aquela típica voz enrolada que todo bêbado possuía, empurrando a lanterna para longe, o guarda me lançou um sorriso sarcástico, eu estava me afundando cada vez mais.
- Olha só o que temos aqui. – ele apontou a luz em direção ao chão do veículo do lado do passageiro, encontrando enfim a maldita garrafa de rum, que agora estava praticamente vazia. – Parece que alguém andou bebendo além da conta. – ele arqueou a sobrancelha, ainda com aquele sorrisinho cretino estampado no rosto de um tira mal humorado que havia me pego no flagra e pretendia ferrar com a minha vida. – Eu estava de guarda quando te vi passando acima do limite de velocidade, playboy. Você provavelmente está tão bêbado que nem notou o barulho da sirene, que indicava que era pra você encostar. Vi quando você quase provocou um acidente em seguida e agora noto que seus olhos estão completamente injetados. Por um milagre, posso ver que está inteiro de certo modo, mas o senhor sabe que dirigir embriagado é crime, não sabe? Desça do carro. – ele ordenou e minha cabeça latejou com o volume de sua voz.
Arrastei-me para fora do veículo com dificuldade, ainda sentia tudo girar, fui obrigado a encostar na lateral do carro, enquanto aquele gordo maldito me revistava, mas aquele guarda idiota não sabia com quem estava falando. Ele não iria me ferrar.
- Olha aqui, seu guarda... – eu comecei, tentando me esquivar dele. – Eu não tô bêbado... – continuei, apesar da minha fala arrastada denunciar o contrário. – E você não sabe com quem está falando, seu funcionariozinho de quinta, eu pago meus impostos, então também pago a porra do seu salário. – cambaleie para o lado, trançando as pernas e o desgraçado ao invés de me socar como qualquer um faria após ouvir tudo o que eu havia dito, simplesmente riu.
- Não me importa se você faz parte da família real, garoto. As leis desse país valem pra todos. – ele disse, ignorando-me. – Preciso que faça um teste de embriaguez, o senhor irá colaborar ou dificultar o meu trabalho? – ele me encarou, ainda com o maldito ar de superioridade. Aquilo foi como uma ignição para que a raiva que eu estava tentando ignorar durante todo esse tempo finalmente explodisse.
- Eu não vou fazer merda nenhuma! Eu sou do McFly! Eu vou foder com a sua vida, seu babaca! – gritei, tentando me soltar e ele manteve a pose de superior, agora sorrindo ainda mais satisfeito, enquanto prendia minhas mãos atrás das minhas costas.
- Bem, vejamos, creio que o senhor acabou de desacatar uma autoridade, além de ter sido flagrado dirigindo alcoolizado, após quase provocar um acidente e também se negou a realizar o teste de embriaguez, somando tudo isso... Sr. , o senhor está preso. Tem o direito de permanecer calado e também de solicitar um advogado ou defensor público, caso não possua condições financeiras... – as palavras ficaram presas na minha cabeça que ainda girava, eu finalmente paralisei onde estava, aflito, notando a burrada que havia feito.

(...)


O tempo estava passando rápido, mas parecia que eu estava ali há séculos, o dia estava nublado como sempre, mas já deveria ser quase hora do almoço. Eu já havia visitado a latrina daquela cela algumas vezes e o vômito finalmente parecia ter cessado, mas o cheiro do lugar ficou insuportável. Eu precisava aprender a controlar a raiva e parar de tentar afogá-la na bebida. Agora que eu estava sóbrio, já conseguia ver as coisas com mais clareza. Minha cabeça parecia que ia explodir a qualquer minuto, mas eu não conseguia deter os pensamentos que gritavam no subconsciente me lembrando de que dessa vez eu havia passado dos limites. E as consequências dos meus atos não iriam afetar apenas a mim. Se a mídia descobrisse, o fato de eu ter sido preso seria um escândalo para a banda, quando eu saísse dali, provavelmente seria morto por um dos caras, mas o que mais me preocupava era que com isso eu havia ferrado e muito o futuro relacionamento que pretendia ter com . A mãe dela provavelmente não veria com bons olhos o fato de o ex-marido ter sido preso por “vandalizar” dirigindo bêbado e desacatar policiais por tabela. Se já me proibia de ver a minha filha antes, agora ela teria todos os argumentos para jogar na minha cara o fato de como eu era irresponsável, e ela teria toda a razão. Agora, após ter passado o efeito do álcool, eu via o quão idiota havia sido.
- Hey, garoto, é hora de fazer a sua ligação. – o mesmo guarda que havia me prendido apareceu diante da cela que eu dividia com um cara drogado, que permaneceu estranhamente mudo durante todo o tempo com os olhos vidrados em direção à pequena janela com grades que iluminava o local. O tira ainda possuía aquele maldito sorriso no rosto, ele provavelmente estava se divertindo muito naquele dia, iria poder contar para todo mundo como fora prazeroso poder colocar atrás das grades o famosinho metido a besta daquela banda de garotos que a sobrinha era fã. Eu o ouvi rindo junto aos outros guardas assim que recobrei a consciência dos meus atos. Babacas, fariam de mim a piada do mês, mas eu bem que merecia.
Levantei do colchão duro onde estava sentado há algum tempo e senti minhas pernas fraquejarem enquanto andava em direção à saída da cela, o guarda tirano me escoltou até uma sala onde havia apenas um telefone sobre uma mesinha e outro guarda encarregado de fazer a vigilância daqueles que eram presos e tinham direito a uma ligação — como se somente uma ligação solucionasse todos os meus problemas.
- Você tem direito a apenas uma ligação, por isso, pense bem nas suas opções, rapaz. – o vigia me disse, encarando-me com desdém. Eu respirei fundo, tentando me acalmar, já estava farto daquele lugar, mas sabia que se reagisse seria pior e eu só estava preso naquele momento por culpa exclusivamente minha. Pensei para quem deveria ligar. - Meus pais provavelmente ainda estariam chateados com tudo o que eu fiz e eu acabaria enfrentando um grande sermão que não estava disposto a ouvir no momento; os caras da banda seriam outra opção, mas seria tão alarmante quanto a minha família. - após pensar um pouco e ser pressionado pelo guarda para que ligasse logo ou eu perderia aquele maldito direito, decidi que o mais eficaz seria ligar para o Dr. Carl Peterson, o meu advogado provavelmente conseguiria me tirar daquele lugar o mais rápido possível e da maneira mais discreta. Respirei novamente, discando o número que havia decorado recentemente, três toques depois e ele atendeu.
- Dr. Carl Peterson falando. - ele atendeu de maneira profissional, aquilo era um bom sinal, poder contar com um bom profissional.
- Dr. Peterson, aqui quem fala é . – respondi apreensivo, encarando o guarda que insistia em me apressar.
- Sr. , algum problema? – sempre direto, por isso simpatizava tanto com aquele advogado.
- Houve um grande problema, resumindo, eu estou preso em uma delegacia na saída de Londres por dirigir embriagado. – confessei e ele emitiu um resmungo de surpresa. – Preciso que o senhor me ajude a sair dessa prisão.
- Isso não é bom, sr. . – ele comentou respirando fundo. – Bem, infelizmente não estou na cidade no momento, viajei para a casa de parentes por causa do feriado. – informou-me e eu senti o meu estômago afundar imaginando que a minha única chance havia sido desperdiçada. – Mas não se preocupe, entrarei em contato com uma colega da área criminal muito competente que tenho certeza que está em Londres no momento e pedirei que ela se dirija até onde o senhor está e trate com cuidado deste caso. – respirei, sentindo-me aliviado assim que ouvi suas últimas palavras.
- Obrigado, doutor. – agradeci sinceramente, mas em seguida me lembrei de algo importante. – Uma última coisa, isso pode afetar de alguma forma o meu relacionamento com ? – ele se calou por um tempo que pareceu longo demais e então finalmente respondeu.
- Isso provavelmente não será visto com bons olhos por um juiz da vara familiar, caso o senhor queira obter a guarda da criança no futuro. – tudo o que eu imaginava, mas não queria ouvir no momento, eu havia ferrado com tudo. – Mas não estamos lutando pela guarda no momento, não é mesmo? Ou o senhor mudou de ideia? – ele questionou e eu neguei, por enquanto não faria nada, eu não queria tornar a vida de um pesadelo. - O importante é o senhor tentar se aproximar de sua ex-esposa e fazer com que ela perceba que, apesar de tudo, tem vontade de fazer parte da vida de sua filha, basta você ser sincero, . Tudo irá depender dela nesse momento. – então eu estava definitivamente ferrado.
O guarda me encarou sem paciência pela milésima vez e se aproximou de onde eu estava.
- Seu tempo já se esgotou, rapaz. – ele disse, estendendo a mão para que eu lhe entregasse o fone do aparelho telefônico.
- Dr. Peterson, preciso desligar. Muito obrigado novamente. – agradeci rapidamente.
- Tudo bem, sr. , farei o possível para tirá-lo da prisão o mais rápido possível. – ele respondeu e sem que eu pudesse agradecer mais uma vez, o guarda retirou o telefone das minhas mãos e me empurrou com força em direção à saída da sala onde o guarda gordo me aguardava.
- De volta ao seu palácio, princesa. – o babaca brincou me escoltando em direção à cela e eu serrei meus punhos, tentando conter o ódio que sentia naquele momento. Outro ataque de raiva iria me trancafiar cada vez mais naquele local.

(...)


Já era noite. Eu ficava mais inquieto a cada minuto, não fazia ideia de há quantas horas eu estava ali, mas sabia que já havia passado um bom tempo desde que eu ligara para o Dr. Peterson pedindo ajuda. A colega que ele disse que iria enviar ainda não havia dado as caras e eu não aguentava mais permanecer preso naquele lugar fedorento. Só de imaginar ter que passar mais um dia trancafiado ali me fazia ter a certeza de que eu sairia de lá surtado. Eu não era uma pessoa que gostava daquela sensação, eu era livre, na verdade, acho que ninguém gostaria de passar por aquilo. O drogado estranho que dividia a cela comigo ainda não havia se pronunciado, mas agora deixara de encarar a janela e me olhava de tempos em tempos com aqueles olhos vermelhos e injetados, enquanto se encolhia tremendo sobre um canto da cela e aquilo me incomodava cada vez mais, ele ainda parecia estar sobre o efeito do que havia usado. O que provavelmente era uma droga pesada, talvez heroína, por causa das marcas nos seus braços. De qualquer modo, a sua atitude não condizia em nada com o efeito da droga, o que me fazia pensar de que planeta aquele ser havia surgido? Mas era melhor enquanto ele ficasse quieto em seu canto do que tentar arranjar alguma briga inútil comigo.
Soquei a parede mais uma vez, cansado de tudo aquilo. Já estava com fome, aquela gororoba verde que serviram há algumas horas no almoço sem nada para beber não ficou nem por meia hora no meu estômago, e eu vomitei quase tudo novamente na latrina da cela. Não sei se pela aparência e gosto repugnante daquele treco ou pelo resquício da ressaca que eu ainda sentia. Minha cabeça ainda doía e os meus olhos ardiam, porque nem dormir eu havia conseguido ainda. Meu corpo parecia não querer desligar de toda aquela adrenalina que eu sentia por conta da ansiedade de estar trancafiado, por mais que eu estivesse sentindo os sinais de cansaço, o sono não estava conseguindo vencer aquela batalha. Eu estava completamente ferrado e parecia que nunca sairia dali. Dessa vez eu cumpriria aquela velha promessa e nunca mais exageraria na bebida. Não que fosse deixar de beber, porque isso obviamente seria impossível, mas eu nunca mais me deixaria chegar àquela situação lamentável.
Agora eu era pai e deveria me comportar como uma pessoa responsável se quisesse dar bom exemplo para minha filha, e só assim a mãe dela mudaria de ideia em relação a nos manter afastados. Eu iria mudar, por .
- , venha comigo. – um guarda novo surgiu diante da grade da cela e a abriu para que eu pudesse sair, ele me algemou, como se eu fosse idiota a ponto de tentar algo contra ele e pediu que o seguisse.
- Finalmente. – murmurei baixo, seguindo-o para bem longe daquele lugar para onde eu esperava nunca mais ter que voltar.

Caminhamos a passos lentos em direção à sala do delegado, onde ele mandou que eu entrasse e aguardasse. Fiquei mais alguns bons minutos ali sentindo as algemas incomodarem, enquanto olhava de relance para o escrivão que fingia fazer o seu trabalho e era a única pessoa presente dentro daquele local.
Um tempo depois a porta da sala finalmente se abriu e o delegado, um homem de meia idade que possuía a monocelha mais engraçada que já havia visto, adentrou a sala, acompanhado. Foquei meus olhos diante da bela loira ao seu lado, vestida com um terninho elegante, mas completamente ajustado ao corpo visivelmente em forma, ela possuía um belo traseiro que estava em destaque pela calça social feita sob medida. Algo se animou dentro de mim diante daquela linda mulher, o que na verdade aconteceria a qualquer homem. Veja bem, eu poderia admitir que desde que a vira de novo pela primeira vez, não tinha saído dos meus pensamentos, mesmo quando eu enganava a todos e me enganava dizendo que tudo o que eu sentia por ela no momento era raiva e mágoa, eu sabia que provavelmente ainda gostava dela e queria fazer as pazes para que ela me deixasse fazer parte da vida de , era o mínimo que poderia exigir de . Mas eu era homem, e como tal não era feito de ferro. Aquela loira bancando a executiva diante de mim era absolutamente sexy e gostosa, então era óbvio que eu a olharia descaradamente como todos os homens presentes na sala a encaravam, mas isso não queria dizer que eu a levaria para a cama, eu estava apenas a admirando. Pensar daquela forma me surpreendeu, era a primeira vez desde a separação que eu não cogitava aquela hipótese. Além do mais, aquela loira não me era estranha.
- Sr. . – o delegado me chamou, encarando-me confuso. – Já estou o chamando há algum tempo. Algum problema, meu rapaz? – ele me olhou com um sorriso safado no rosto ao perceber o meu olhar fixo na loira ao seu lado. Eu neguei com um gesto rápido, passando a olhar para aquela monocelha bizarra. – Pois bem, esta é a Dra. Michells, sua advogada. – ele indicou a loira que me encarou surpresa.
- ? – ela disse, estendo-me a mão com um sorriso estranho no rosto.
- O próprio. – encarei lhe dando o meu sorriso mais safado em troca, e aceitando o seu cumprimento. Não que eu estivesse realmente interessado, mas eu não conseguia abandonar aquele modo cafajeste de ser que já me acompanhava há alguns anos, mesmo que nos últimos tempos eu não tenha me interessado tanto em levar mulheres para a cama. A minha vida estava um caos, todos os meus pensamentos se resumiam a e algo definitivamente estava mudando. Eu as achava bonitas, é claro, mas nunca seguia em frente com o flerte barato. De qualquer modo, a tal advogada provavelmente havia me reconhecido, talvez fosse uma fã. Uma fã bem bonita e elegante, diga-se de passagem, porque eu ainda não era cego, mas eu logo deixaria claro que nada aconteceria, caso ela levasse o flerte adiante.
- Você não está me reconhecendo, não é? – ela me olhou risonha.
- Desculpe, mas não. Eu deveria? – respondi incerto. Será que eu já havia dormido com ela? Eu tinha certa amnésia para guardar rostos. Droga, se ela fosse uma das garotas com quem eu transei e abandonei no meio da noite enquanto ela dormia sem me despedir, eu estaria fodido. Mas então ela rapidamente riu da minha confusão.
- Provavelmente não, já faz muito tempo que não nos vemos e as pessoas mudam. – ela respondeu ainda sorrindo, ela tinha um belo sorriso. Mas eu ainda a encarava confuso.
- De onde nos conhecemos então, doutora... Michells?
- Dover College, alguns anos atrás. me presenteou com um belo tapa quando eu estava bêbada no baile do último ano e dei em cima de você descaradamente. Ainda sinto a marca dos dedos dela no meu rosto às vezes. – ela respondeu, dando de ombros e eu ri ao me lembrar daquela cena única de tendo um ataque violento de ciúmes no colégio. Tanto tempo havia se passado.
- Sarah? Nossa! Quanto tempo! Você está linda. – falei sem pensar e tentei abraçá-la, mas as algemas me impediram. – Será que dá pra me livrar desse treco? – pedi a ela em um tom de voz baixo. Ela riu novamente e se dirigiu ao delegado. – Dr. Stevens, como conversamos anteriormente, acho que o senhor já pode liberar o meu cliente. Toda a papelada já foi resolvida. A multa de cinco mil libras já foi paga. E como ele é réu primário, consegui junto ao juiz o direito a um habeas corpus e ele irá cumprir a pena por desacato a autoridade e direção ofensiva, com recusa a fornecimento de material para exame de embriaguez em liberdade condicional, prestando serviços à comunidade e também ficará proibido de dirigir por um ano, como manda a lei. – ela explicou detalhadamente, provavelmente para que eu entendesse.
- Que tipo de serviços comunitários? – perguntei receoso com o que teria que fazer.
- O Juiz lhe enviará um agente de condicional, que ficará responsável por lhe informar qual será o serviço que deverá ser prestado, esse mesmo agente o fiscalizará de tempos em tempos. – ela explicou novamente, Sarah parecia ter se tornado uma ótima profissional. Eu queria saber se minha ficha criminal ficaria manchada, aquilo era o que eu menos queria. Mas achei a pergunta um tanto idiota, já que aquilo era óbvio.
- Será que posso me livrar disso agora? – pedi novamente, erguendo as mãos algemadas.
- Oh, claro. – Sarah disse, virando-se novamente em direção ao delegado.
- Dr. Stevens, acho que as algemas não serão mais necessárias e elas provavelmente não deveriam ter sido impostas ao meu cliente, que obviamente não está agindo de modo violento. Ele não tem antecedentes criminais e não cometeu nenhum crime hediondo. Por favor, solte-o. – ela pediu em um tom de voz sério e profissional.
- Desculpe, dra. Michells, aqui nessa delegacia não fazemos distinções entre os elementos que são presos. Mas vou acatar o seu pedido, já que tudo parece ter sido resolvido. – o monocelha, digo, dr. Stevens respondeu a contragosto, pedindo para que um de seus guardas que estava parado junto à porta me soltasse, dispensando-nos em seguida.

Paramos na recepção e aguardamos por um tempo enquanto eles liberavam os meus pertences, avistei o guarda gordo que havia me prendido e ele me encarou sorrindo.
- Espero nunca mais vê-lo por aqui, garoto. Fique longe da bebida, do McFly. – ele alertou, rindo debochado em seguida e caminhando para longe. Eu o ignorei, tendo a mesma esperança que ele tinha e respirei fundo, sentindo-me aliviado por finalmente estar indo embora daquele lugar.
Apanhei o meu celular e o liguei assim que coloquei os meus pés para fora daquela delegacia, havia milhares de ligações perdidas e minha cabeça latejou quando imaginei a quantidade de explicações que teria que dar a minha família e aos meus amigos. Eu, definitivamente, ainda estava ferrado.

Seguimos até o carro de Sarah, ela me levaria até a casa de , com quem ela manteve contato durante o tempo em que fiquei preso, todos pareciam estar lá me aguardando. De certa forma, seria melhor levar todas as broncas de uma vez, com exceção da bronca épica que eu levaria mais tarde dos meus pais.
- Então, como vai a vida de famoso, a vida com a ? – ela perguntou, tentando puxar assunto após ficarmos em silêncio por um tempo dentro do carro.
- A vida profissional vai bem, o casamento com acabou se tornando uma merda e nós nos divorciamos há alguns anos. E hoje ela me odeia. Fim da história. – respondi e ela me encarou surpresa.
- Não acredito que o casal favorito de todo o colégio não está mais junto. – ela disse em um falso tom de pesar, com um leve toque de humor na voz.
- Não venha me dizer que você não sabia, a mídia toda ficou falando sobre isso por meses. – comentei, não acreditando nela.
- Para ser sincera, eu sabia que vocês não estavam mais juntos. – encarei-a sarcasticamente, e ela logo emendou. – Mas não fazia ideia de que ela te odiasse. Caramba, , aquela garota te idolatrava no colégio e lembro que você também a amava. Ela até me estapeou por sua causa. Não que eu não tenha merecido, eu era mesmo uma vadia naquela época. – Sarah disse rindo e eu a acompanhei.
- Pode ser um pouco tarde, mas me desculpe por aquilo. Ela não era mesmo do tipo de garota que entrava numa briga no colégio e até eu me surpreendi naquele dia. Só que é como você disse e talvez você tenha merecido por tê-la provocado, é claro. – Sarah me encarou indignada, mas eu logo emendei. - Mas devo lhe alertar que mudou muito e até eu já provei dos seus tapas, não se sinta exclusiva. – respondi ainda rindo.
- Não acredito que vocês chegaram às vias de fato! – ela exclamou surpresa, batendo com as mãos no painel do carro, entusiasmada com a conversa. – O que você fez com a garota, ? – ela riu novamente.
- Posso garantir que não fui o marido mais perfeito, ela teve os seus motivos. – respondi, ficando momentaneamente sério e ela acenou a cabeça concordando. Ficamos em silêncio novamente, eu relembrando tudo o que havia feito enquanto Sarah dirigia atenta à direção, até chegarmos à frente da casa do .
- Você parece ter se tornado uma grande advogada. – quebrei o silêncio assim que ela estacionou.
- Eu me esforcei muito, sempre gostei dessa área, apesar de todos me acharem a loira burra na escola. – ela deu de ombros.
- Obrigado por tudo, se não fosse por você, eu ainda estaria mofando naquela cela. Te devo uma, definitivamente. – disse, estendendo-lhe a mão.
- Apenas cumpri o meu dever, . Agradeça ao Dr. Peterson por ter me contatado. – ela pegou a minha mão sorrindo.
- Quer entrar pra rever o pessoal? Tenho certeza que o será um bom anfitrião e irá te oferecer alguma bebida quente, está um frio de doer hoje. – ofereci.
- Seria legal rever todos, mas eu não quero atrapalhar o momento de vocês. – ela respondeu incerta.
- Que isso, você não irá atrapalhar nada, na verdade, você estará me fazendo um grande favor adiando o sermão que a mulher do , Penny, provavelmente me passará pelo que eu fiz. – eu disse rindo e ela sorriu.
- Tudo bem, , acho que posso ficar por uns cinco minutos. – nós descemos do carro e eu lhe ofereci o meu braço, tentando ser cavalheiro, ela aceitou um pouco receosa e nos encaminhamos até a porta da casa do .

- Cara, você tá morto, espera até a Penny... – dizia assim que abriu a porta, mas logo encarou confuso, a loira ao meu lado. – Oi? Quem é você? – ele sorriu com o seu jeito cafajeste, medindo-a de cima a baixo e Sarah retribui com um estranho sorriso tímido enquanto ele lhe estendia a mão.
- Você não mudou nada, . – ela respondeu, recuperando a pose, ficou ainda mais confuso. – Sarah Michells, nós estudamos juntos. – ela informou.
- Sarah, nossa! Eu me lembro que você era linda, mas não imaginava que poderia ter ficado ainda melhor. – ignorou o cumprimento educado e a envolveu em um abraço, logo também a beijando no rosto. Sarah parecia ter ficado ainda mais desconcertada. O que me fez rir da cena.
- Está rindo do que, ? – ela perguntou brava, ainda ao meu lado.
- Não sabia que você era a fim do . Você ficou vermelhinha quando ele te beijou. – disse baixo, próximo ao seu ouvido, provocando-a, enquanto adentrava o local chamando pelos outros, que pareciam estar nos fundos da casa e nós permanecemos parados diante da escada. – Agora eu me lembro, acho que naquele dia do baile você me confundiu com ele, até me chamou de . Não sei como, já que eu sou obviamente mais bonito. Você devia estar realmente bêbada.
- Cale a boca e pare de alucinar, seu idiota. – ela respondeu séria no mesmo tom, mas riu logo em seguida com o rosto em um tom vermelho de vergonha. Eu gargalhei com aquilo e Sarah me estapeou levemente no braço para que eu parasse de rir, mostrei-lhe a língua, agindo com um adolescente idiota, mas quando desviei os olhos em direção às escadas que levavam ao segundo andar da casa, eu paralisei.
- ? – ela estava parada no topo da escada me encarando, com algo estranho no olhar, algo que eu não conseguia identificar. Alguns anos atrás eu costumava saber tudo o que ela estava sentindo sempre que olhava em seus olhos, mas agora eles eram uma incógnita. rapidamente se virou quando notou que o contato visual que mantínhamos havia se intensificado e caminhou para o interior do andar de cima.
Eu estava confuso, só podia estar alucinando, o que estaria fazendo ali?
- Quer ir atrás dela? – Sarah perguntou ao meu lado, provavelmente notando o meu desconforto.
- Então ela está mesmo aqui. – eu afirmei, ainda atordoado.
- Do que você está falando, ? É claro que ela está. – a loira me encarou sem entender.
- , seu babaca! Como é que você conseguiu aprontar uma dessas? A sua idiotice é maior do que eu pensava. – Penny surgiu na sala, acompanhada pelos outros, carregando no rosto a sua costumeira expressão de mulher brava quando algum de nós aprontava. Charlie estava em seus braços e eu logo notei a garotinha linda que possuía os olhos da mesma cor que os meus nos braços de , que parou ao meu lado, abraçando-me de lado em um gesto de apoio.
- Se prepare que o sermão desta vez será épico. – ele falou baixo e eu rolei os olhos, encarando . Enquanto tentava acalmar Penny apresentando Sarah a ela e .
- Oi, linda, se lembra de mim? – perguntei sorrindo para a minha filha, me encarou assustada e se encolheu nos braços de , escondendo seu rosto. Eu olhei para ele confuso.
- Ela está um pouco sonolenta. – ele disse, tentando aliviar o clima. – Vamos pra sala brincar, ? Logo a sua mamãe virá se juntar a nós. – ele sugeriu e ela resmungou agitada em afirmação enquanto eu sentia meu coração afundar no peito diante da reação da minha pequena. – , pegue o Charlie dos braços da Penny e venha comigo, senão ela vai machucar o coitado com toda essa raiva. – ele respondeu rindo enquanto fingia não perceber o olhar gélido que recebera de Penélope, e me encarou de forma culpada ao seguir em direção à sala.
- Vem com a gente, Sarah. O clima vai pesar. – a chamou, já com Charlie nos braços e os três deixaram o local seguindo e .
- Então, ? – Penny pronunciou, encarando-me com as mãos na cintura e o pé direito batendo freneticamente no assoalho da casa.
- Penny, eu te adoro e sei que mereço ouvir muito sermão. Acredite, eu tenho noção do tamanho da besteira que aprontei dessa vez e me arrependo imensamente por isso, mas agora eu tenho um assunto mais urgente a tratar com o seu marido. – disse, virando-me em direção a , que estava quieto até o momento, enquanto Penélope bufava irritada e saia de braços cruzados em direção à sala, milagrosamente me obedecendo. - O que ela está fazendo aqui? – perguntei a , que estava ao meu lado, e encarei novamente o lugar no topo da escada onde tinha estado. Sentia o meu coração acelerar de um jeito estranho, de um jeito que eu achei que nunca mais aconteceria. Talvez aquilo fosse culpa.
- Ela quem? – ele me encarou confuso.
- . – sussurrei o seu nome, sem nem mesmo saber o porquê de estar fazendo aquilo, talvez por vergonha de que alguém me escutasse perguntando por ela. riu.
- Ela estava aqui quando recebemos a notícia de que você tinha desaparecido e... Bom, ela ficou preocupada. – ele piscou sorrindo e eu notei surgir também um sorriso inconveniente aos poucos no meu rosto após ouvir aquilo.
- Ela ficou? – murmurei surpreso.
- Por que você não tira essa expressão de idiota da cara e vai você mesmo perguntar isso a ela? Segunda porta à direita no corredor. – ele apontou em direção às escadas e me deu um empurrão de leve. Eu hesitei, mas acabei subindo os degraus, sentindo o meu coração disparar cada vez mais rápido pelo nervosismo de ter que encará-la. Quando cheguei ao andar de cima, notei que a porta do quarto que havia indicado estava semiaberta e a empurrei com cuidado, entrando no quarto em silêncio, mas parei de me mover assim que a notei virada de costas, pronunciando o nome do Evans ao telefone. Senti a raiva tomar conta do meu corpo novamente e logo me lembrei de se escondendo de mim.
e eu teríamos uma conversa franca assim que ela desligasse aquela porcaria de telefone.

[N/A: Coloque essa música para tocar agora.]


’s POV

- Eu sei, Jake, me desculpa. Eu estava pensando na ... Por favor, me escuta. – pedi, encarando a paisagem lá fora através da janela e tentando fazer com que ele entendesse uma atitude minha que nem eu mesma compreendia: por que eu havia passado a noite na casa de e Penélope? Por que me sentia tão preocupada com quem obviamente não merecia? Já que parecia muito bem disposto ao lado daquela loira oferecida. Será que eu havia ficado somente por ? – Tudo bem, a gente se fala mais tarde. Eu te adoro. – suspirei frustrada, despedindo-me assim que ele informou que estava ocupado demais no momento e com a cabeça cheia de problemas para falar comigo de modo civilizado naquela hora. Jake nunca havia agido daquele modo frio comigo, mas, no fundo, eu sabia que ele estava incomodado com o que eu estava fazendo, sabia que ele havia ficado chateado. Nenhum homem aguentaria aquela minha confusão de sentimentos, nem mesmo Jake.
- Problemas no paraíso? – disse em tom sarcástico assim que encerrei a ligação, eu não havia notado que ele estava ali.
- Por mais problemas que eu tenha agora, nada se compara ao inferno que eu vivia quando estava ao seu lado. – respondi no mesmo tom, virando-me e o encarando friamente.
A expressão dele se tornou tensa assim que proferi aquelas palavras. finalmente parecia ter sido atingido, finalmente parecia demonstrar algum sentimento e um toque de mágoa transpassou pelo seu olhar.
- Você fala como se tudo que tivéssemos vivido fosse algo ruim, eu me lembro das coisas boas, . – ele disse, desviando o olhar do meu.
- Algumas atitudes más, por menores que sejam, acabam se tornando tão intensas que têm o poder de anular todo o lado bom das coisas. – comentei, ainda o encarando. Ele ficou quieto por um momento, parecendo se lembrar do verdadeiro motivo que o trouxera ali. Algum pensamento que eu não soube identificar parecia tê-lo atormentado, sorriu de maneira irônica, mas logo ficou sério novamente, olhando-me com raiva, como se quisesse penetrar os meus pensamentos.
- Posso saber por que a me ignorou completamente e me olhou assustada assim que fui falar com ela? – ele perguntou irritado. – Que tipo de mentiras você disse a ela sobre mim, ? – por um momento eu não soube o que responder, mas logo me recordei de tudo o que ele havia feito e revidei.
- Posso saber por que você anda agindo pelas minhas costas e se encontrando com a minha filha às escondidas? me contou sobre o encontro no parque, . Golpe baixo. Isso seria parte de algum plano seu pra tirá-la de mim? Claro, já que agora você tem até um advogado para ajudá-lo com isso. – pareceu se assustar com a pergunta, confuso sobre como eu soubera do seu planinho sórdido.
- Do que você está falando? Não tenho plano algum! Eu só quero conhecer a minha filha, inferno! – ele elevou o tom de voz, ficando cada vez mais nervoso. – Você não tem o direito de fazer isso, ! Tenho certeza que nenhum juiz gostaria de saber que você anda fazendo lavagem cerebral na nossa filha, tentando afastá-la de mim. Isso se chama alienação parental, sabia? E isso pode muito bem vir ao meu favor no futuro. – ele me ameaçou sem pensar e eu o olhei, agora sentindo a mesma raiva que ele parecia sentir.
- Nenhum juiz daria a guarda da minha filha a um pai ausente, um pai que recentemente foi preso por dirigir bêbado e que, ainda por cima, desacatou uma autoridade. – encarei-o satisfeita por finalmente estar conseguindo enfrentá-lo à altura, mesmo sentindo o meu coração acelerar diante do nervosismo. Uma sombra cruzou os seus olhos azuis, e o seu olhar pareceu tomar uma tonalidade mais escura quando o ódio que ele sentia por mim no momento pareceu triplicar. Ele andou de um lado para o outro pelo quarto por um tempo tentando se acalmar e evitando fazer algo do qual se arrependeria. puxou os cabelos e eu me lembrava daquele seu gesto que significava que ele se sentia frustrado com algo que não conseguia resolver. Ele parou e respirou fundo enquanto eu permanecia com os braços cruzados sobre o peito, encarando-o e tentando permanecer forte e indiferente. Após se recompor, ele me encarou novamente de maneira séria, mas a mágoa que ele sentia era visível em seu olhar.
- Quando foi que você se tornou esse tipo de mulher? – ele perguntou, aproximando-se lentamente com os ombros caídos, como se tivesse se rendido. Eu paralisei onde estava, surpresa por sua atitude inesperada.
- Que tipo de mulher? – murmurei confusa, sentindo meu coração se acelerar a cada passo que ele dava em minha direção. Mas me mantive ereta, pronta para confrontá-lo quando necessário. Eu não era mais aquela garota frágil e idiota que ele havia abandonado há alguns anos.
-Nessa mulher fria e vingativa. – levou a mão em direção ao meu rosto, eu não recuei, parecia estar hipnotizada. – Eu fiz tanto mal assim a você, ? – ele me chamou pelo apelido, enquanto inesperadamente acariciou meu rosto com cuidado, como se eu pudesse desaparecer da sua frente a qualquer momento. - Tanto mal a ponto de torná-la essa pessoa tão horrível, algo que você nunca foi? – involuntariamente, fechei os meus olhos, lembrando-me do seu toque em minha pele, da corrente elétrica que ele disparava sobre o meu corpo sempre que sua pele entrava em contato com a minha e notei que, infelizmente, aquilo ainda acontecia. Infelizmente, os efeitos que a presença dele exercia sobre mim ainda eram os mesmos. Mas quando senti sua respiração quente cada vez mais próxima do meu rosto, seu hálito me envolvendo com aquela mistura única de canela e cigarro, - vício que ele provavelmente não largara - pareci finalmente despertar daquele maldito transe. Abri os olhos assustada por ter permitido aquela proximidade, encarei os seus lábios a poucos centímetros dos meus, os seus olhos me encarando intensamente e o empurrei para longe, antes que algo pelo qual eu me arrependeria depois acontecesse.
- Nunca mais me toque de novo. – ameacei entre dentes, sentindo meu coração palpitar e um nó se formar em minha garganta, enquanto meus olhos ardiam e ficavam cada vez mais embaçados, anunciando as lágrimas que cairiam a qualquer instante. Eu não podia chorar diante dele novamente, aquilo seria humilhante demais. Mas eu não conseguia me sentir confortável o tendo assim tão perto, não conseguia me esquecer do ele havia feito, do que ele havia destruído anos atrás.
respirou profundamente, como se também estivesse saindo de um transe, um mundo paralelo que nós dois havíamos construído por um momento e sacudiu a cabeça, ainda me encarando e parecendo triste e desanimado.
- , olha só, eu não... – o interrompi, antes que ele fizesse tudo piorar, antes que as lágrimas caíssem.
- Vai embora, me deixa sozinha. Essa é a sua especialidade, não é? – disse brava, tentando demonstrar a única coisa que sentia por ele naquele momento. – Estou precisando que você faça isso agora.
Ele me encarou surpreso pelas minhas palavras, ainda magoado e confuso. Encolheu os ombros, suspirando frustrado antes de se virar e caminhar em direção à porta do quarto.
- Me perdoa. – pediu de costas, tão covarde como sempre.
- É tarde demais pra isso. – respondi, virando-me para não encará-lo indo embora mais uma vez e um segundo depois ouvi a porta ser fechada. Aquele foi o sinal para que eu finalmente liberasse tudo o que estava sentindo e permitisse que as lágrimas quentes rolassem desenfreadas pelo meu rosto.

’s POV

Desci as escadas me sentindo estranho, sentindo-me mal por vê-la daquele jeito, sabendo que tudo era por minha culpa. Eu havia, sim, transformado-a nessa pessoa, a que eu conheci era completamente o oposto da mulher vingativa que não mede as palavras para te atingir, a qual ela havia se tornado.
Fui até aquele quarto pronto para tentar algum tipo de reconciliação após ter me dito que ela havia se preocupado comigo. Mas o que acabei fazendo foi confrontá-la, algo em mim se transformou quando adentrei aquele quarto e mudei de opinião ao me lembrar de , sentindo-me pronto para que exigir os meus direitos. Eu fiquei decepcionado e coberto de raiva, quando notei fugir de mim assustada, como se eu possuísse alguma doença letal e transmissível, ou como se fosse um assassino perigoso. Senti como se estivesse sendo morto aos poucos ao ver a minha filha tão assustada. Ver que ela se distanciava cada vez mais, quando o que eu mais queria era me aproximar dela.
Eu estava pronto para dizer tudo o que pensava a , sem medo algum de magoá-la novamente, porque ela parecia estar querendo revidar na mesma moeda, parecia não estar nem um pouco preocupada com o que eu sentia. Ela só agia de maneira egoísta nos últimos tempos, pensando sempre em si mesma, pensando que aquela criança seria para sempre apenas dela. Ela não pensava em , não pensava em mim. E eu queria que ela sofresse por isso.
Fiquei ainda mais furioso quando cheguei ao quarto e ouvi o final da sua conversa ao telefone. Agora ela tinha outro e parecia se preocupar muito mais com o que ele sentia do que com tudo o que estava acontecendo no momento relacionado à e eu. disse que ela estava preocupada comigo? Ele só poderia estar cego. parecia querer ir embora rapidamente, ela não tinha demonstrado sentir nenhum tipo de preocupação desde que me vira do topo da escada e virara as costas sem dizer nada se enfiando naquele quarto. Talvez não fosse comigo que ela estivesse realmente preocupada, ela parecia ansiosa para ir embora porque talvez estivesse preocupada com Jake. Qual era o problema dela afinal? Se era pena o que ela sentia, eu não precisava daquele sentimento.
Quando ela me notou no quarto, logo respondeu de maneira ácida à pergunta que eu havia feito por maldade. Antigamente ela apenas ouviria calada e me ignoraria, mas ela não era mais assim, parecia sentir necessidade em revidar tudo o que eu fizera, ela estava diferente, e eu não gostava muito daquilo. Mas sabia que a culpa era minha.
Nós discutimos e nos ofendemos profundamente mais uma vez, eu queria brigar e ela também. Mas de repente me senti mal em fazer aquilo, quando olhei em seus olhos e os notei, apesar de tudo, tão tristes e sem brilho. Desarmei-me completamente. Caminhei até ela sem pensar e a toquei como há muito tempo não fazia. A textura macia de sua pele, a temperatura quente do seu corpo, ainda era como eu me lembrava. Eu senti o meu corpo se arrepiar apenas com aquele toque inocente e, sem pensar, aproximei-me mais ainda, encarando os seus lábios enquanto ela permanecia de olhos fechados, parecendo assustada com aquela proximidade, mas incapaz de se afastar. Os seus lábios me chamavam, eu queria muito beijá-la naquele momento e sentir novamente o seu gosto se misturando ao meu. Eu estava cada vez mais perto, nossas respirações aceleradas já se juntavam, mas algo fez com que ela despertasse e ela me empurrou para longe, expulsando-me do quarto. Surpreendendo-me com o pedido para que eu a abandonasse como já havia feito por vontade própria antes.
Deixei o quarto ainda mais frustrado quando ela recusou o meu pedido de perdão. Porém, aquilo havia me dado certa esperança. Porque eu notei que a garota que eu conhecia, a garota que eu amei, ainda existia naquela estranha fria que estava diante de mim, ela estava em algum lugar, presa. E naquele momento decidi que eu faria de tudo pra libertá-la e tê-la de volta. Porque mesmo que eu negasse, era aquilo que eu queria desde que a vi novamente. Eu queria de volta. E esperava do fundo do meu coração que ela finalmente despertasse e também me quisesse.

- Terra chamando . – me chamou enquanto eu permanecia parado diante da entrada da sala da casa de após ter descido as escadas e deixado sozinha, como ela pedira.
- O quê? – perguntei, ainda um pouco atordoado.
- Perguntei se você quer uma bebida? – ele conteve o riso, mas e não deixaram essa passar em vão e caíram na gargalhada.
- Que engraçado, vocês são hilários. – disse irritado e segui até o único lugar vago no sofá da sala. – Onde está Sarah? – perguntei, notando a sua ausência.
- Ela teve que ir embora, mas te deixou um beijo. – sorriu maliciosamente, enquanto me olhou chateado e eu os ignorei. Assim que me sentei no sofá, notei e Penny brincando com uma boneca sobre o tapete de centro e logo um sorriso se formou no meu rosto ao vê-la tão concentrada na brincadeira. – Posso brincar também? – aproximei-me das duas. Penélope sorriu satisfeita, parecendo esquecer-se da bronca que queria me dar antes, mas me olhou desconfiada.
- Mas isso é brincadeira de menina e você é um menino. – ela disse emburrada, ainda parecendo ter medo de se aproximar de mim.
- Meninos também têm bonecos, sabia? – disse num tom brincalhão e depois abaixei a voz, concluindo. – Se você quiser, posso te mostrar agora a coleção de bonecos do tio para provar. – sorri travesso e me olhou surpresa.
- O tio brinca de bonecas? – ela perguntou interessada e eu assenti, rindo enquanto notava seus olhos brilharem de curiosidade. – Que legal! Quero ver, tio . – exclamou animada, mas mudou de expressão repentinamente, ficando séria.
- , vamos embora? Já estamos aqui há muito tempo. – estava parada atrás de nós, com os braços cruzados na altura do peito.
- Mas já, mamãe? O tio ia me mostrar as bonecas do tio ! – ela disse um pouco alto e me encarou desconfiado.
- Hey! Eu não tenho bonecas. – ele reclamou.
- Claro que tem. – comentou. – Você parece uma garotinha com aquele monte de bonecos guardados no quarto.
- Aquilo não são bonecos, são réplicas em miniatura dos personagens do melhor filme de todos os tempos, Star Wars. – ele resmungou.
- A gente finge que acredita pra você não se sentir como uma garotinha irritada, . – disse em desdém. E todos riram, menos , que ainda me encarava, parecendo irritada.
- Vamos, . – ela pegou a nossa filha no colo, afastando-a de mim enquanto reclamava novamente por ter que ir embora sem antes ver a coleção de bonecos do tio . Ignorando os protestos da filha, se despediu de todos carinhosamente em seguida, dando-me apenas um adeus de maneira seca, sem nem ao menos me encarar nos olhos.
E eu as observei sair pela porta, sentindo como se aquela cena toda estivesse muito errada. Eu sabia que ela estava, porque eu observava as duas garotas da minha vida indo embora e me deixando para trás pela primeira vez. E como eu queria que fosse a última, mas no momento eu ainda não era digno para impedi-las, mesmo achando que agora precisava mais do que nunca tê-las ao meu lado.


'Cuz you only need the light when it’s burning low. Only miss the sun when it’s starts to snow.
Only know you love her when you’ve let her go.
Only know you’ve been high when you’re feeling low.
Only hate the road when you’re missin’ home.
Only know you love her when you’ve let her go... And you let her go.Passenger



Capítulo 16




Aprende que há mais dos seus pais em você do que você supunha. Aprende que nunca se deve dizer a uma criança que sonhos são bobagens, poucas coisas são tão humilhantes e seria uma tragédia se ela acreditasse nisso. Aprende que quando está com raiva tem o direito de estar com raiva, mas isso não te dá o direito de ser cruel.”
- William Shakespeare


’s POV

- Bom dia, flor do dia. – adentrou a cozinha animada, ainda usando pijamas. – ? Oláááá! – ela chamou novamente, chacoalhando a mão diante do meu rosto quando notou que eu permaneci distraída.
- Ah, bom dia. – respondi finalmente, deixando de lado certos pensamentos que não me abandonavam desde o dia anterior.
- Nossa, que ânimo! Aconteceu alguma coisa? - ela perguntou preocupada.
- Talvez. – respondi monossilábica, ainda me sentindo confusa.
- Quer compartilhar? Quem sabe eu possa te ajudar. – ela se sentou ao meu lado, em frente ao balcão da cozinha.
- Estou sentindo algo estranho. – confessei.
- Estranho como? Algo físico ou emocional? – perguntou.
- Eu não diria emocional, mas não é nada físico, nada com a minha saúde. – garanti. – Aconteceu uma coisa ontem e isso não sai da minha cabeça desde então.
- Pode falar, amiga. Conte-me os seus problemas. Eu sou uma espécie de SAC para assuntos do coração, estou aqui pra ajudá-la. – ela insistiu e eu sorri fraco com o seu jeito maluco de ser, antes de finalmente lhe dizer o que estava me deixando tão confusa.
- Você já estava de plantão ontem quando o finalmente apareceu na casa do ... – pausei minha fala, tentando encontrar as palavras certas para dizer o que queria. assentiu. – Eu estava no andar de cima quando ele chegou, e algo fez com que eu saísse apressadamente do quarto em direção ao andar de baixo... Apesar de tudo, de saber que ele havia sido preso por dirigir bêbado, eu estava preocupada com ele. – confessei relutante.
- Isso todos nós percebemos. – ela sorriu fraco e eu a encarei nervosa. – Relaxa, . Todo mundo se preocupou com o sumiço do , continue o que queria me falar.
- Quando cheguei ao topo da escada, me deparei com ele de braços dados e cheio de sorrisos com uma loira. E aquilo me fez sair correndo de volta pro quarto, eu me senti nervosa e uma completa idiota por ter me preocupado com ele, nesse momento Jake me ligou. Ele estava chateado comigo, pelo menos foi o que pareceu ontem. Ele não entende por que passei a noite na casa do . – então contei a ela toda a minha conversa com Jake e como o achei diferente durante aquela ligação, mas acabei relevando por achar que talvez ele estivesse sentindo ciúmes, o que era completamente sem fundamento.
- Jake não é diferente dos outros caras, . Mesmo ele sendo tão bacana, tudo tem limite. – ela concordou.
- Eu sei, vou tentar falar com ele mais tarde. – decidi.
- Mas não é por causa da ligação do Jake que você esta assim tão distraída hoje, não é? – me conhecia melhor do que qualquer outra pessoa e era impossível mentir para ela.
- Não. – confessei, soltando um suspiro profundo em seguida. Qual era o meu problema? Eu não podia estar sentindo o que achava que estava sentindo. Eu não deveria estar tão abalada com aquilo.
- O que mais aconteceu, ? – ela perguntou, encarando-me.
- aconteceu. – respondi, parando por um instante com medo de confessar tudo, mas aquela era , minha melhor amiga, minha irmã, ela me ajudaria a entender. – Assim que encerrei a ligação com o Jake, senti a presença de no quarto e então ele falou comigo daquele seu jeito frio e estúpido e eu revidei, não posso mais ficar calada diante dele, enquanto ele diz e faz o que quer comigo. Eu não sou mais aquela mulher idiota de anos atrás que aceita tudo pacificamente. Eu não quero ser.
- Pois fez muito bem, não podemos deixar esses idiotas do sexo oposto pisarem em nós. O merece ouvir uns desaforos, na verdade, merece mais do que isso. – ela me olhou sorrindo.
- Só que tem mais. – eu disse e ela me olhou ansiosa. – Nós discutimos e eu exigi que ele saísse do quarto, mas antes de sair, disse uma coisa, uma coisa que eu nunca imaginei o ouvir dizendo, não depois de como tudo aconteceu entre nós.
- O que aquele babaca disse? – perguntou nervosa, eu respirei fundo novamente, sentindo-me cada vez mais confusa.
- Ele me pediu perdão. – disse de uma só vez e vi seus olhos se arregalarem. perdeu completamente a fala por alguns instantes.
- O ... Sério? – perguntou um tempo depois, parecendo tão confusa quanto eu.
- Entende agora por que eu estou desse jeito? – perguntei e ela assentiu. – Eu não quero mais me sentir assim em relação a ele, , eu não posso mais. – disse derrotada, sentindo lágrimas se formarem em meus olhos. Por que eu não conseguia deixar de amá-lo?
- Calma, amiga, vai ficar tudo bem. No final tudo se acerta. – murmurou palavras de consolo, abraçando-me, enquanto eu permitia novamente que lágrimas rolassem pelo meu rosto por causa de , por mais que me fizesse de forte diante dos outros, eu ainda era uma mulher fraca e cheia de cicatrizes causadas por um amor mal resolvido do passado. Um amor que me perseguiria para sempre.
- E ainda tem a Sophie. – eu disse fungando um tempo depois.
- O que tem a minha pestinha favorita? – perguntou confusa.
- Ontem eu observei pela primeira vez e ela juntos e... – parei por um momento, expirando o ar pesadamente. – Pareceu tão certo. – me mostrou um sorriso fraco no rosto.
- É, eu sei. Também notei isso naquela vez no parque. Não dá pra negar que eles são pai e filha. – ela confessou, olhando-me com medo do que dissera. Encarei-a confusa, então me lembrei do dia em que Sophie contou que havia se encontrado com , o dia em que ela fora ao parque com . Lembrei que nós ainda não havíamos conversado sobre aquilo. Mas agora não tinha mais importância.
- Droga. – murmurei. Não dava mesmo para negar. – Você acha que ele está sendo sincero quando diz que quer ser o pai de Sophie? – perguntei de súbito.
- Talvez isso não seja o que você espera ouvir de mim, mas... Sim, eu acho que esta sendo sincero em relação à Sophie, amiga.
- Droga. – resmunguei novamente e encarei ainda mais confusa do que estava antes. Será que merecia uma chance com Sophie? Não, apenas aquela sua atitude de ontem não me convenceria. Se queria mesmo ser o pai que Sophie ainda não teve, ele deveria me dar mais provas daquilo. Eu não cederia tão fácil a uma vontade dele desta vez.

’s POV

- Hey, cadê o pijama listrado? – surgiu na sala no momento em que eu acordei na manhã seguinte pronto para me atormentar.
- Cala a boca. – foi a única coisa que consegui murmurar em resposta. E isso fez com que ele risse sonoramente.
- Aceite que você ter sido preso será sempre o maior motivo de gozação para nós até o fim da sua vida. – ele se jogou ao meu lado no sofá ainda rindo. Eu o ignorei, apanhando o controle remoto e ligando o aparelho de televisão em um canal de esportes qualquer. – Falando sério agora, . – ele se virou em minha direção e eu o encarei confuso. – Ninguém abusou de você por lá, não é? Você não virou a menininha da cadeia, não foi? – ele me encarava tentando prender o riso e eu lhe dei um cascudo em resposta, afastando-me dele e indo até o banheiro sem dizer nada. Eu conhecia meus amigos e sabia que teria que aguentar aquela zoação para o resto da vida.
- Qual é, , foi só uma brincadeira! – berrou e eu surgi na porta do banheiro com a escova de dente na boca, mostrando-lhe o meu dedo médio, virei-me e cuspi na pia, enxaguando a boca e retornando a sala.
- Você é um idiota, . E ficar trancafiado naquele lugar foi uma merda, nunca mais quero passar por isso. – disse, sentando-me novamente no sofá, que estava me servindo de cama nos últimos tempos. E ele riu. – E eu acho que preciso encontrar uma casa. – comentei, mudando de assunto sem perceber.
- Cara, eu sei que pego no teu pé, mas amigos são pra isso. Não estou te expulsando daqui nem nada, é divertido morar com um de vocês de novo. – ele sorriu sincero.
- Eu sei. – sorri de volta. – Mas eu preciso encontrar um lugar pra mim, um lugar onde possa ter um quarto pra Sophie, pra quando ela for me visitar. Foi tão bom poder conversar com ela ontem e tê-la rir com a história das bonecas, mesmo por tão pouco tempo. – disse esperançoso. – Se não a tivesse levado embora ontem... Esquece, a papelada pro reconhecimento de paternidade esta quase pronta e logo a Sophie terá o meu sobrenome, eu só espero que a mãe dela não a mantenha longe de mim após isso.
- Desculpa ser sincero, , mas acho que a não vai facilitar pro teu lado. – ele deu de ombros.
- Tenho certeza disso, o nosso encontro ontem não foi dos melhores. – suspirei frustrado. – Eu pedi perdão e ela me mandou embora. – me olhou surpreso.
- Cara... – ele murmurou. – Você pediu perdão pra e ela te deu um pé na bunda? – assenti. – Cara... – ele ficou com a boca escancarada em surpresa.
- , deixa de ser idiota. – disse irritado e ele fechou a boca, sorrindo fraco. – De qualquer forma, eu sei que não vai ser fácil conseguir o perdão dela, mas eu decidi que vou fazer o possível e o impossível pra conseguir isso, porque eu quero a Sophie perto de mim e isso só vai acontecer quando a me perdoar. Tô cansado de brigar com ela.
- Se você quer mesmo mudar, quer mesmo que a te perdoe, se quer começar de novo e fazer com que dê certo dessa vez, pode contar com o meu apoio, cara. – disse e eu o agradeci por ser meu amigo. – Mas se você fizer qualquer mínima merda de novo pra estragar o relacionamento de vocês e que magoe a outra vez, considere-se morto, . Desta vez não vou ficar de braços cruzados. – eu fiquei quieto, pensando que de agora em diante eu não agiria mais como um completo imbecil, quando o celular de , que estava na mesinha ao meu lado, tocou. O nome “” apareceu no visor, indicando uma mensagem recebida. Apanhei o aparelho e mostrei para ele, pronto para sacanear.
- , é? – o encarei com a sobrancelha erguida.
- Não é o que você está pensando. – ele pegou o aparelho rápido da minha mão.
- Cara, eu não estou aqui pra te julgar. A é uma gata, se você tá afim, vai fundo. – o abracei de lado e ele suspirou derrotado.
- Ela não quer nada comigo. – murmurou. – Nada além do meu corpinho. – ele concluiu e eu ri.
- Se essa relação está baseada no teu corpinho, então ela não vai mesmo pra frente, a garota deve estar na seca. – brinquei e me fuzilou com o olhar. – E desde quando você se importa se uma mulher só quer sexo contigo? Não estou te reconhecendo, .
- As pessoas mudam... – foi tudo o que ele conseguiu responder quando o interfone tocou e ele correu para atender. - Sim, pode permitir que eles subam. – disse e desligou o aparelho após o porteiro se despedir. – Prepare-se para mais uma rodada de sermão, . Seus pais chegaram. – ele me informou e eu me afundei no sofá, sabendo que agora estaria completamente ferrado.
- . – mamãe disse em seu tom autoritário assim que adentrou o apartamento de e me viu sentado no sofá, eu imediatamente me levantei e caminhei até os meus pais com um sorriso fraco no rosto. os cumprimentou rapidamente e disse que iria para o quarto para não incomodar a nossa conversa. Covarde.
- Mamãe, pai... Olha só, eu posso explicar, eu... – tentei dizer algo, mas ela rapidamente me cortou, enquanto envolvia os seus braços ao meu redor e me espremia em um abraço sufocante a apertado.
- Ah, meu filhinho. – mamãe murmurou. – Você não imagina o quanto ficamos preocupados com o seu desaparecimento, eu me senti tão culpada por ter discutido com você, nunca me perdoaria se algo ruim tivesse acontecido. – ela dizia, apertando-me ainda mais forte em seus braços.
- Mãe, calma... Eu tô bem... Só um pouco... Sem ar... Agora... – dizia quase sem fôlego e ela me soltou, mudando drasticamente de atitude.
- Que bom que está bem, . Porque agora nós teremos uma conversa bem séria, rapazinho. – ela disse, encarando-me com os braços cruzados e uma expressão séria no rosto. Papai soltou um longo suspiro, permanecendo calado ao seu lado, seus olhos estavam envoltos em olheiras profundas e ele parecia cansado, tão cansado que havia deixado mamãe tomar as rédeas da situação.

(...)


Parecia que eu havia retornado à adolescência, pelo menos era esse sentimento que eu tinha enquanto minha mãe discursava o maior sermão de todos os tempos para mim. A bronca teve direito até a alguns puxões de orelha e cascudos constantes, mas no final ela me abraçou novamente e disse estar aliviada por me ver bem. Porém, eu preferia ter outro sermão daqueles ao ter que realizar o pedido que ela me fez em seguida.
- Tudo bem, , agora me leve até a casa da . Quero conhecer a minha neta. – Valerie disse simplesmente e eu a encarei sem saber o que dizer.
- Mãe, você está doida? – perguntei nervoso e ela me fuzilou com o olhar. – Eu nunca fui até a casa nova da e posso garantir que se eu colocar os meus pés lá, ela provavelmente vai me enxotar e bater a porta na minha cara. – afundei novamente no sofá, cruzando os braços e bufando frustrado pela verdade das minhas palavras. – E ela também não quer que eu chegue perto de Sophie. Duvido que abra alguma exceção para alguém da minha família. – concluí, sentindo-me triste com aquilo.
- Bom, em algum momento você terá que ir até ela se quiser realmente fazer parte da vida da sua filha. E este momento acabou de chegar. Vamos, . – ela disse, levantando-se e apanhando a bolsa de cima da mesa de centro. – Leve a mim e ao seu pai para conhecer Sophie e para rever a minha linda nora, tenho certeza de que irá gostar muito desta visita.
- Não tem nada que eu diga que vá fazer com que você mude de idéia, não é? – comentei caminhando até ela, que me aguardava diante da porta aberta, com papai ao seu lado, ela apenas me olhou daquela maneira que eu sabia que era inquestionável e se virou, seguindo até o elevador. Eu indiquei o caminho enquanto meu pai dirigia, já que minha carteira estava suspensa e por todo o percurso eu fui rezando nos desse uma chance desta vez e não me enxotasse de sua casa, ou para que pelo menos não houvesse ninguém no local.

(...)


’s POV

Estava dando banho em Sophie, que tagarelava sem parar sobre algo que uma amiguinha da escola havia feito antes das férias, quando ouvi o interfone tocar.
- , você pode ver quem é? Estou ocupada aqui com a Sophie. – pedi a minha amiga, que logo colocou a cabeça diante da porta do banheiro assentindo e seguindo até a cozinha, onde o aparelho ficava. Um tempo depois escutei a porta da sala abrindo e vozes que não consegui reconhecer conversando na sala, retornou, encarando-me apreensiva.
- , tem algumas pessoas querendo falar contigo e eu meio que permite que elas subissem. – ela disse, parecendo envergonhada com o que havia feito e eu a encarei, sentindo-me curiosa.
- Quem, ? – perguntei, não entendendo a sua atitude.
- Acho melhor você dar um pulinho lá na sala. Pode deixar que eu termino de arrumar a Sophie. – ela sorriu sem graça e eu me levantei, secando as mãos e caminhando até ela, com receio de ver quem estava me aguardando no outro cômodo.
- Sophie, a tia vai te ajudar a se vestir, ok, meu amor? – disse a minha filha e encarei Louise novamente antes de seguir até a sala.
- Desculpe, amiga. – ela murmurou antes que eu saísse e eu olhei para ela ainda mais confusa, ficando nervosa. Respirei fundo e segui em frente, surpreendendo-me assim que coloquei os pés na sala e o notei lá, parado em pé ao lado da estante, batendo o pé direito no piso, parecendo também um pouco nervoso diante de duas pessoas que permaneciam sentadas de costas para mim no sofá.
tinha em mãos um dos porta-retratos que permaneciam na sala e que possuía uma foto de Sophie recém-nascida e ele encarava o objeto com um sorriso afetuoso no rosto, como se fosse a coisa mais preciosa que já havia possuído, quando me notou o observando na entrada do cômodo. Ele pigarreou, parecendo tentar encontrar a melhor explicação a me dar por sua presença indesejada na minha casa. E com esse seu gesto o casal se virou, percebendo que eu havia chegado ao local e meu rosto se curvou em um sorriso sincero quando eu os reconheci.
- Valerie, Bill, o que vocês estão fazendo aqui? Quando tempo! – exclamei, seguindo de encontro aos meus antigos sogros que me receberam com abraços.
- , querida, que saudades! – Valerie exclamou, prendendo-me em seus braços, eu sentia falta dela, ela havia sido como uma mãe para mim, quando a minha própria havia falecido.
- Como está, mocinha? – Bill perguntou me encarando com aquele seu sorriso afetuoso, muito parecido com o que tinha no rosto há alguns minutos atrás.
- Estou bem, que surpresa agradável! – exclamei contente. - Sentem-se de novo. Vocês querem beber alguma coisa? – indiquei o sofá onde eles estavam acomodados anteriormente. permaneceu parado nos observando e eu admito que estava o ignorando.
- Ah, querida, não se preocupe conosco. Sente-se aqui ao meu lado, temos muito o que conversar. – Val me encarou daquele seu jeito maternal e eu a obedeci, curiosa sobre o rumo daquela conversa. – , meu amor, venha se juntar a nós. – ela pediu ao filho e eu o encarei novamente. caminhou hesitante e se sentou ao lado do pai, parecendo ainda mais nervoso. Aquele não era o que eu conhecia nos últimos tempos, mas aposto que era tudo obra da presença dos pais. Ele podia ter sido o pior dos maridos, mas sempre fora o melhor dos filhos. Seus pais fariam tudo por ele.
- Então, sobre o que vocês querem falar? – fiquei séria e olhei para Valerie e Bill, já imaginando o motivo daquela visita surpresa.
- , meu amor, você sabe que nós sempre lhe adoramos e que sempre sentimos como se você fosse um de nossos filhos, mesmo antes de e você namorarem, não é? – ela perguntou e eu assenti, lembrando-me de que quando meus avós foram contra, apesar de adorarem , ela foi uma das únicas pessoas que apoiou o nosso casamento, mesmo no início tendo nos pedido para esperar um pouco mais, porque ainda era muito cedo, ainda éramos muito jovens. Se ao menos nós tivéssemos ouvido seus conselhos. – E por considerá-la como uma filha, fiquei completamente arrasada quando você e se separaram e nós perdemos contato. Meu filho sabe como o importunei durante todos esses anos em que não tive notícias suas e como desaprovei tudo o que ele fez, obrigando-nos a ter que lidar com aquela garota fresca e vadia com quem ele se deixou envolver e que me irritava ao extremo. – soltou um riso fraco após ouvir o que sua mãe havia dito. Ela o encarou brava, não querendo ser interrompida. Era bom sentir que ainda tinha o apoio de Valerie. – Enfim, quero que saiba que sempre tive muito carinho por você e que tudo o que fez, para mim também não teria perdão, mas eu soube há pouco tempo que do casamento de vocês foi gerado um fruto, algo que eu sempre sonhei e por mais que tenha feito tantas besteiras, , eu espero que você não me proíba de conhecer a minha neta. – ela segurou em minhas mãos com um sorriso terno no rosto e um olhar apreensivo. Eu respirei fundo, sem saber como agir. Eu não queria que se aproximasse de Sophie, pois não queria que ele a magoasse, mas seria justo afastá-la do pai? E negar que ela tivesse a oportunidade de conhecer pessoas tão maravilhosas como os avós? Eu estava ainda mais confusa. Não sabia o que fazer diante daquele pedido de Valerie e pareceu notar o meu desconforto.
- Você não precisa proibir os meus pais de conhecerem a Sophie por minha causa, . Se você quiser, eu posso esperar no carro e deixar que ela os encontre a sós com você. – se colocou de pé, falando calmamente, pronunciando algo pela primeira vez desde me vira parada na entrada da sala. Aquilo me assustou, ele agia de modo estranho. E eu apenas assenti ao que ele havia sugerido, ainda não o queria por perto. Com esse meu gesto, ele soltou um longo suspiro e caminhou até a porta. – Espero vocês lá embaixo. – ele disse aos pais, sem me olhar novamente, saindo logo em seguida e pela primeira vez eu senti como se estivesse fazendo algo errado.

’s POV

Encostei minha cabeça diante da porta fechada assim que saí do apartamento, respirei fundo, sentindo-me nervoso, meu coração estava disparado como há muito tempo não ficava. Levei a mão ao bolso do casaco que usava, sentindo entre os dedos a fotografia de Sophie que havia pegado da estante sem que notasse. Eu não queria ir, eu queria fazer parte daquele momento, queria ver aquele encontro, mas eu notei como ela ficou quando ouviu o pedido feito pela minha mãe. estava a ponto de negar, mesmo adorando os meus pais, ela estava a ponto de negar e o motivo mais provável era porque eu estava ali com eles. Eu não queria que meus pais se decepcionassem, eles estavam tão ansiosos para conhecer a Sophie, minha mãe não parou de perguntar sobre ela um segundo sequer enquanto estávamos no carro. Eu não poderia privá-los disso e se a única coisa que impedia de deixá-los ver a neta era a minha presença, então eu facilitaria as coisas para ela desta vez, porque eu estava disposto a mudar, disposto a conseguir reconquistá-la aos poucos, disposto a no futuro poder finalmente chamar Sophie de filha.
Deixei o local onde fiquei parado por um tempo depois e caminhei até o elevador, apertando o botão para que ele subisse até o andar onde eu estava, pouco tempo depois, a porta se abriu e Jake apareceu diante de mim:
- , o que você está fazendo aqui? – ele questionou, parecendo nervoso e eu me senti incomodado com a sua presença, incomodado por saber para onde ele estava indo sem precisar ser anunciado.
- Isso não é da sua conta e eu já estou indo, se você puder sair logo da minha frente. – disse entre dentes e ele me encarou com raiva por um tempo, antes de liberar a passagem para que eu entrasse no elevador.
Jake ficou parado me observando com ódio no olhar enquanto as portas se fechavam e assim que fiquei sozinho naquele lugar, a minha primeira atitude foi socar a porta, imaginando que estava socando a cara daquele produtorzinho de merda. Minha mão latejou assim que a afastei da porta metálica e eu urrei baixo, sentindo dor, mas aquilo não era apenas dor física. Doía saber que Jake tinha tudo o que eu queria ter no momento. Tudo o que eu joguei fora por ser tão imaturo e idiota. Doía saber que a culpa era toda minha.

(...)

~.~

- Droga, , você ama me deixar curiosa, não é? – reclamou pela milésima vez desde que havíamos iniciado o nosso percurso até o local em que eu a levaria. Ela cruzou os braços sobre o peito, encarando-me de maneira nada amigável e aquilo me fez rir alto.
- , linda. Já te disse que é uma surpresa. – comentei, tentando acariciar o seu rosto, mas ela se afastava, ainda irritada. – E, sim, eu amo te deixar curiosa. – desviei o meu olhar da estrada por um momento, encarando-a e ela rolou os olhos em resposta.
- Você é tão chato, . Tão chato! Não sei por que aceitei ser sua amiga! – ela disse emburrada, fazendo bico dessa vez e suspirou sonoramente, virando o rosto em direção à janela, passando a observar a paisagem lá fora.
- Você aceitou porque no fundo é apaixonada por mim, mas não admite, sua boba. Tudo fruto da minha beleza excessiva. – eu disse convencido, brincando, mas ela me ignorou. O que me fez soltar um suspiro de frustração, aquele jeito dela já estava perdendo a graça.
Ficamos em silêncio pelo resto do caminho, não olhava para mim e aquilo me deixava incomodado, quando finalmente chegamos.
- Pronto, aqui estamos! – exclamei, tentando ver qual era a reação dela. Estávamos parados diante da minha casa, era domingo e toda a família estava reunida para um churrasco. nunca havia ido até lá, ela ainda não conhecia a minha família. Por isso a reunião de hoje seria um grande passo, eu nunca havia levado garota nenhuma para casa, nem mesmo alguém que fosse apenas uma amiga como a . Apresentá-la aos meus pais demonstraria a o quão importante ela havia se tornado para mim em tão pouco tempo desde que nos esbarramos pela primeira vez no colégio e logo depois nos tornamos parceiros de laboratório. Desde então eu não consegui mais me afastar de e eu sabia que queria que a nossa amizade se tornasse algo mais, o problema era que eu não tinha certeza de que esse também era o desejo dela. Algumas vezes parecia que sim, mas me deixava tão confuso. Acho que aquilo era efeito dos meus sentimentos que estavam ainda mais confusos, eu não queria ser apenas amigo de e agora eu tinha certeza disso. Mas tinha medo de revelar os meus sentimentos, medo de perder a sua amizade, de afastá-la de mim. Eu deveria deixar de ser tão covarde.
- Todo esse mistério pra me trazer nesta casa? – ela perguntou confusa. – Está rolando algum tipo de festa? De quem é a casa, ? – ela disparou todas as perguntas que surgiam em sua cabeça, olhando-me intrigada.
- Essa é a minha casa e, sim, está rolando um churrasco no momento. – disse sorrindo e ela me encarou com medo, entendendo finalmente o que eu havia feito.
- Você não fez isso, ! Você não me trouxe para conhecer a sua família sem me avisar com antecedência! – ela dizia cada vez mais nervosa. – Droga, ! Esse é o tipo de coisa que merece o mínimo de preparação. Eu vou conhecer os seus pais! – ela exclamou com os olhos arregalados. E eu ri, não entendendo a sua reação, afinal nós ainda éramos apenas amigos.
- , minha linda, fique calma. – eu pedi, pegando em suas mãos e ela se calou. – Meus pais vão te adorar, assim como eu adoro. E sabe como eu sei disso? – perguntei e ela negou em um gesto mudo. – Eles irão te adorar porque você é a minha melhor amiga. A garota que me faz ser o cara mais feliz do mundo apenas por existir. E a pessoa que traz tanta felicidade para o bebê da sra. , definitivamente será considerada a sua pessoa favorita. – finalizei brincando e riu, ficando um pouco mais relaxada. – Agora, relaxe e vamos conhecer os ! – exclamei animado, descendo do carro e o contornando para abrir a porta para ela. suspirou profundamente assim que se colocou de pé ao meu lado, mas logo em seguida me deu um de seus sorrisos lindos e entrelaçou o braço junto ao meu. E assim caminhamos em direção ao primeiro encontro de com a minha amada família maluca. Família essa que eu tinha certeza de que a acolheria e amaria da mesma forma que eu.

~.~


- Alô? – atendi a ligação que me distraiu das lembranças que me perseguiam desde o momento em que eu havia ficado sozinho esperando dentro do carro.
- Senhor ? Aqui é o Dr. Peterson. – meu advogado anunciou.
- Dr. Peterson, tudo bem? Algum problema? – perguntei confuso com a sua ligação, até onde eu sabia, estava tudo certo com os tramites para que eu reconhecesse Sophie como filha. Eu já havia comparecido a um cartório e preenchido os papéis necessários, faltava apenas que fosse ouvida por um juiz para atestar o meu pedido, concordando que Sophie era minha filha, como mandava o procedimento, e eu esperava que ela dissesse a verdade. E então o caso voltaria para o cartório de registros civil, onde a inclusão do sobrenome seria feita na certidão de nascimento de Sophie. Por enquanto eu só aguardava a conclusão do processo, que deveria ter sido rápida se tivesse comparecido ao cartório comigo e com Sophie, tudo se resolveria na hora, mas ela não quis isso porque ainda me odiava e agora o Fórum se encontrava em recesso devido às festas de fim de ano, levando-nos a não ter nenhum juiz disponível no momento.
- Problema algum, . Apenas quero informá-lo que na próxima semana, após as comemorações de fim de ano, provavelmente o juiz que cuidará do seu caso irá entrar em contato com a srta. para agendar aquela audiência necessária para a comprovação do pedido feito para que Sophie seja reconhecida como sua filha. – ele comentou e eu concordei, achando que era apenas aquilo que ele queria comigo. - E a Dra. Michells pediu também que lhe informasse que ela ligará em breve, agendando uma reunião marcada com o seu agente de condicional, para o início do serviço comunitário que o senhor terá de prestar. – ele concluiu e eu me lembrei de que ainda teria que passar por aquilo, ainda teria que realizar algum tipo de serviço comunitário por um ano inteiro, graças à besteira que cometi sendo pego dirigindo alcoolizado. Maravilha!
- Certo, Dr. Peterson, ficarei esperando por notícias sobre a audiência de com o Juiz. Quanto ao serviço comunitário, espero que seja alguma atividade bacana que inclua ajudar pessoas que necessitam e não algo comum como limpar vias urbanas. – disse incomodado, não que ser gari fosse algo ruim, era um trabalho digno como qualquer outro, mas já que eu teria que pagar pelos meus erros, que fosse ajudando quem precisasse.
- Bom, entrarei em contato com o senhor na próxima semana com mais novidades, até breve, senhor . – ele ignorou o meu comentário idiota e se despediu.
Então eu me vi novamente sozinho dentro daquele carro, parado diante do prédio onde minha ex-mulher e minha filha moravam, onde agora ocorria o encontro entre elas e os meus pais. Aumentei o volume do rádio e reclinei o banco do motorista, retirando a foto de Sophie do bolso e a encarando, tentando me distrair e não pensar em como eu queria estar lá junto a eles.

’s POV

- Então, . Podemos vê-la agora? Prometo que não direi nada que você não queira, eu só quero conhecer a minha neta. – Valerie pediu novamente assim que deixou o apartamento. Respirei fundo mais uma vez naquele dia.
- Valerie, eu espero que você compreenda o meu ponto de vista, eu não quero afastar Sophie de vocês, mas ... – ela me interrompeu, encarando-me com ternura, um sentimento que eu sentia falta.
- Querida, não se preocupe com , ele nunca mais fará algo para prejudicá-la, vejo quanto o meu filho está mudando e o quanto Sophie é importante para ele. Você pode não acreditar, mas ele está completamente apaixonado pelo fato de ter uma filha, mesmo sem conhecê-la. – eu sentia sinceridade nas palavras dela, por mais que achasse que ela estava se iludindo por ser mãe de , mas mesmo assim assenti, concordando em deixá-los conhecer Sophie.
- Tudo bem, eu vou chamá-la no quarto, aguardem um momento. – caminhei até o corredor, mas me virei novamente para eles com um último pedido. – Eu só peço que não mencionem nada sobre o fato de vocês serem os avós dela por enquanto, Sophie vai descobrir sobre o pai em algum momento, eu já não tenho como fugir disso, mas quero prepará-la para ouvir a verdade e poupá-la pelo maior tempo possível. – pedi e eles assentiram, eu lhes dei um sorriso fraco e segui até o quarto de Sophie.
- E então? – perguntou apreensiva assim que entrei no quarto.
- Obrigada por isso, . – a encarei brava e ela se encolheu sobre a cama onde brincava com Sophie.
- , eu já pedi desculpas, mas é que eu achei que... – ela tentou dizer, mas eu a interrompi.
- Nós conversamos depois, , agora preciso levar Sophie para conhecer os . – suspirei e ela me olhou surpresa.
- Você vai levá-la até a sala, mas o não...
- Ele foi embora, apenas os seus pais ficaram e eles querem conhecer a Sophie, não posso negar isso a eles, que sempre foram tão gentis comigo.
- Quem quer me conhecer, mamãe? – Sophie perguntou, prestando atenção na conversa.
- Um casal de amigos da mamãe que está passando férias aqui na cidade, vem dizer um ‘Oi’ pra eles, bebê. – chamei e ela se levantou sorrindo e correu, envolvendo minhas pernas com os seus braços gordinhos.
- Eles têm filhos? Algum amiguinho pra que eu possa brincar? Tia se cansa muito rápido das minhas brincadeiras. – ela disse fazendo bico e eu neguei.
- Hey, sua pestinha, pare de dizer calúnias contra a sua madrinha favorita. – reclamou, pegando-a no colo e a enchendo de cócegas, Sophie riu.
- Você é a minha única madrinha, tia . – ela disse após cessar o ataque de risos e lhe deu uma leve mordida na bochecha. – Ai, titia. – Sophie reclamou dessa vez.
- Te amo, sua coisinha gorda. – sorriu para ela e Sophie refletiu seu gesto, esquecendo-se rapidamente da dor fraca da mordida e abraçando pelo pescoço.
- Também te amo, titia. – ela falou.
- Hey, baixinha! E a mamãe aqui, não merece um pouco de amor também? – disse, fingindo estar chateada.
- Sua mãe é tão ciumenta, bebê. – disse baixinho para Sophie, que riu concordando. – Dê um pouco de amor pra ela. - ela concluiu e Sophie esticou os bracinhos em minha direção pedindo colo, eu rapidamente a agarrei em meus braços.
- Te amo, mamãe. – ela disse, sorrindo e envolvendo meu rosto com suas mãos pequenas. Meus olhos brilharam como sempre brilhavam quando ela me dizia coisas como aquela e enchi o seu rosto de beijos.
- Também te amo, meu bebê. Agora vamos conhecer os amigos da mamãe. – segui até a sala com Sophie no colo.
Valerie estava parada diante da entrada do corredor e sorriu assim que nos viu, indo direto ao nosso encontro, ela parecia estar tão ansiosa. Bill permaneceu mais afastado, mas com o mesmo sorriso da mulher no rosto.
- Sophie, estes são Valerie e Bill , amigos da mamãe. – eu expliquei a minha filha, que os olhou envergonhada.
- Olá, Sophie. – Valerie a olhou com os olhos brilhando em lágrimas. – Você é tão linda. – ela disse em um quase sussurro e Sophie sorriu diante do elogio. – Posso pegá-la no colo? – minha sogra pediu e Sophie se retraiu tímida em meus braços.
- Ela é um pouco tímida de início, mas logo irá se soltar e tagarelar sem parar assim que os conhecer melhor. – eu disse e Valerie sorriu terna, como uma avó sorri para a neta. Enquanto nos encaminhávamos até o sofá, onde nos sentamos.
- Olá, Sophie, você parece uma linda princesa. – Bill se aproximou, sentando ao lado da esposa e a abraçou de lado. Sophie o encarou do meu colo, ainda envergonhada.
- Desde quando você é tão tímida assim, hein, sua pestinha? – surgiu na sala, arrancando riso de todos.
- Valerie e Bill, esta é , a minha melhor amiga e madrinha de Sophie. , estes são os pais do . – eu os apresentei.
- Então você é a amiga que ajudou a cuidar da pequena Sophie durante estes anos todos? Prazer em conhecê-la, querida. – Valerie disse a abraçando informalmente, daquele seu jeito afetuoso e sorriu.
- O prazer é meu, senhora . Olá, senhor . – ela estendeu a mão ao meu sogro, que a segurou firmemente.
- Prazer, Dra. . – ele respondeu de maneira formal, mas sorrindo. E Sophie aos poucos se desprendia dos meus braços, curiosa a respeito dos novos visitantes. E logo ela estava sentada ao lado da avó.
- Vocês têm um bebê? – ela perguntou aos avós e os dois sorriram.
- Apesar de eu achar que meus filhos serão para sempre meus bebês, como todas as mães acham, eles já estão todos bem crescidinhos, meu amor. – Valerie respondeu e Sophie a encarou, mostrando toda a sua confusão.
- Você se lembra do tio , Sophie? – perguntou e Sophie assentiu. – O tio é o bebê da tia Valerie. – Louise disse rindo e minha filha a encarou com os olhos ainda mais confusos.
- Você é a mamãe do tio ? – Sophie perguntou e Valerie sorriu confirmando. – Que legal! O tio brinca com bonecas, sabia? – ela comentou, Valerie e Bill gargalharam e eu me senti estranha diante de todo o seu entusiasmo ao se lembrar de .
- Sempre desconfiei daquele garoto! – meu sogro exclamou contente, quando ouvimos a campanhinha tocar.
- Eu atendo! – disse, levantando-me rapidamente e seguindo até a porta. Jake estava parado do outro lado e ele me olhou de um jeito novo e estranho, apertando um dos meus braços em seguida e dizendo.
- Eu posso saber o que o idiota do estava fazendo aqui no seu apartamento, ? - ele disse com a sua voz grave, como se estivesse com raiva.
- Jake, me solta, você está me machucando. – eu disse baixo, com medo de que todos que estavam na sala nos ouvissem.
- Eu não vou fazer isso enquanto você não responder a pergunta que eu fiz. – ele sorriu de uma maneira diferente, de uma maneira sádica que eu nunca havia visto antes e apertou o meu braço mais ainda, fazendo com que eu soltasse um gemido baixo de dor. Aquele não era o Jake que eu achava que conhecia e ele logo percebeu que eu estava realmente assustada com a sua atitude, porque ele me soltou com arrependimento no olhar e respirou fundo, saindo em direção ao corredor do prédio e socando a parede próxima.
- Droga! – Jake resmungou. – , me desculpa? – ele pediu, voltando-se novamente em minha direção, mantendo-se distante. Eu saí em direção ao corredor e encostei a porta, tentando fazer com que aqueles que estavam na sala não nos vissem.
- Qual é o seu problema, Jake Evans? – eu o questionei baixo, irritada com a atitude dele.
- Eu não sei, ... Eu estava chegando aqui e vi o saindo do seu apartamento e eu fiquei louco... Eu fiquei louco de ciúmes. – ele confessou, encarando-me. – Eu não queria te machucar, linda, mas eu não consegui me controlar, eu não precisava ter agido dessa forma, me perdoa?
- Você estava agindo como um idiota irracional, sabia? Como o idiota do ... Talvez pior do que ele, porque nunca me machucou fisicamente. – eu comentei com os braços cruzados sobre o peito, tentando me manter firme, mas Jake, mesmo me olhando com medo, aproximou-se e me envolveu em seus braços dizendo com o rosto próximo ao meu.
- , eu posso garantir que não sou nem um pouco parecido com aquele cara, eu só senti ciúmes e prometo nunca mais te machucar de novo. Me perdoa, por favor? – ele me encarava, muito próximo e parecendo sincero. Eu respirei fundo antes de respondê-lo.
- Eu não quero me decepcionar de novo, Jake, por favor, não me decepcione. Se você tem algum problema, converse comigo antes, não tire conclusões precipitadas e tente me agredir quando estiver nervoso. Se você não conseguir se controlar, não tem por que nós continuarmos juntos, eu não quero alguém violento ao meu lado, por mim e pela minha filha. Por mais que eu vá sofrer por ficar longe de você, eu não sou do tipo de mulher que aceita sofrer abusos desse tipo. – disse, ainda me sentindo nervosa.
- Eu nunca mais vou ter machucar, eu prometo, . Eu vou me controlar. Me dê uma chance pra te provar que eu sou o cara certo. – ele me encarou novamente e eu vi que ele dizia a verdade, então o abracei de volta.
- Não me deixe triste, Evans. – pedi enquanto sentia os seus lábios sobre os meus cabelos.
- Nunca. – ele sussurrou próximo ao meu ouvido e em seguida puxou os meus lábios em direção aos seus, iniciando um beijo calmo, porém, diferente de todos os outros, naquele beijo continha arrependimento.
Ficamos abraçados por mais algum tempo, parados naquele corredor após termos finalizado o beijo, Jake massageava o meu braço, onde ele havia apertado antes, fazendo carinho para tentar compensar o seu ato falho.
- Eu preciso te dizer uma coisa. – olhei para ele apreensiva, pronta para dizer tudo o que estava acontecendo na minha vida e na de Sophie naquele dia, pronta para dizer que os pais de estavam naquele momento dentro do meu apartamento conhecendo a neta que eu havia escondido deles por tanto tempo. – E vou te dizer isso porque quero que nosso relacionamento seja baseado na confiança, porque quero ser sincera com você. Eu preciso te dizer o que estava fazendo aqui. – Jake ficou tenso assim que pronunciei o nome do meu ex-marido, mas ele logo respirou fundo, tentando se livrar dos ciúmes e assentiu, pronto para me escutar.


O ódio provoca brigas, mas o amor perdoa todas as ofensas”.
- Provérbio popular




Capítulo 17



“Just gonna have to be a different man.
Time may change me. But I can't trace time.”
- David Bowie




’s POV

Alguns dias já haviam se passado desde que recebemos a visita dos em casa e havia finalmente se libertado da timidez inicial e se dado muito bem com os avós paternos. Aquilo por um lado era bom, mas também era ruim porque de certa forma isso a aproximava ainda mais de , o que me causava medo. Os meus sogros nos visitaram novamente, dessa vez sem o filho os acompanhando, aliás não vi mais desde aquele dia. Após o ano novo, Bill voltara para casa, mas Valerie decidira ficar por mais algum tempo, alegando que queria matar as saudades de e de mim. Eu não achei aquilo ruim, porque a adorava e de certo modo ela não me forçava ou soltava indiretas para que eu deixasse o seu filho se aproximar da sua neta como a maioria das sogras fariam, o que era ótimo. A conversa que tive com ela quando nos reencontramos havia me ajudado de certa forma, Valerie parecia saber que eu apenas precisava de um pouco mais de tempo, porque tudo aconteceria inevitavelmente, eu sabia disso desde que recebera a ligação do fórum solicitando o meu comparecimento no dia de hoje para esclarecimentos sobre a ação de paternidade que havia iniciado. Tudo havia se tornado tão real de repente. Agora eu não teria mais para onde fugir, mas mesmo com ele dando o seu sobrenome a , eu esperava que ainda me desse um pouco mais de tempo antes de contar toda a verdade a ela. Eu esperava poder mantê-lo afastado dela por mais tempo, até conseguir confirmar que ele estaria mesmo interessado em ser um bom pai, confirmar que ele não agiria mais de maneira inconsequente e egoísta como havia agido quando era meu marido. Eu queria que ele fosse diferente com , mas eu ainda não confiava em e provavelmente nunca mais iria confiar completamente. Eu sabia que a nossa futura relação que se iniciaria por causa de seria tão frágil quanto um castelo de cartas próximo a uma fonte qualquer de vento, no menor contato entre os dois tudo se destruiria.
As comemorações de ano novo aconteceram normalmente, Penny nos convidou para ir até a sua casa, mas dessa vez eu não aceitei o convite, pois sabia que meu ex-marido estaria lá e não queria que um conflito entre ele e Jake se iniciasse. Expliquei ao meu namorado sobre a visita dos naquele dia em que discutimos e ele não ficou satisfeito com a aproximação deles, mas decidiu não se envolver no assunto. Jake estava tentando me compensar pelo ataque de ciúmes que me deixou confusa em relação a ele e desde aquele dia tudo o que ele fazia era pensando em me agradar, ele não me contrariava mais, ele estava cada vez mais carinhoso, mais presente, só se afastava de mim quando tinha que resolver algo do seu novo projeto misterioso, de alguma forma aquilo me incomodava. Mas eu estava contente por estarmos seguindo em frente.
- Pronta pra ir se encontrar com o juiz? – perguntou, já com a chave do carro em mãos. Eu respirei fundo e assenti ainda incerta sobre o que diria. iria conosco, mas eu a pouparia de toda a conversa, ela não entenderia mesmo. Por isso ficaria cuidando dela em algum lugar próximo ao fórum.
- Vamos passear, meu amor? – perguntei a , que brincava sobre o tapete da sala e ela assentiu contente.
- Aonde vamos mamãe? – ela perguntou, saltitando vindo ao meu encontro.
- A mamãe vai resolver um problema rápido, enquanto você e a tia passeiam pelo parque. – eu disse, e ela fez bico.
- Você não vai passear com a gente? – ela perguntou, tristonha.
- Vou, meu amor, assim que terminar a minha reunião, eu irei me encontrar com vocês duas e nós iremos tomar sorvete, que tal? – sugeri e ela logo balançou a cabeça, assentindo entusiasmada.
Nós três seguimos até a garagem, estava alegre porque iria passear e tomar sorvete. Coisas tão pequenas a deixavam contente, ela era uma criança humilde e generosa e eu ficava orgulhosa por ter como filha, por ter conseguido criá-la sozinha. dirigiu até o fórum, tentando me distrair conversando sobre um assunto qualquer, enquanto cantava animada no banco de trás as músicas do CD infantil que havia posto para ser reproduzido no carro. Eu estava nervosa, sem saber como agiria ou o que diria diante do juiz, minha vontade era de mentir, negar tudo, dizer que não era o pai da minha filha e assim afastá-lo de vez dela, mas já era tarde demais para agir daquela forma, quando todos já sabiam da verdade. Se eu mentisse, provavelmente entraria com alguma ação na justiça que iria obrigar que minha família passasse por alguma espécie de investigação de paternidade e exame de DNA como minha advogada havia dito, e o que eu menos queria era que tivesse que lidar com algo desse tipo. Sendo tão pequena ainda, isso tudo só a deixaria mais confusa. A minha missão de vida era cuidar e proteger a minha filha, eu nunca a faria sofrer e se pra isso no momento a minha única alternativa fosse permitir que desse o seu sobrenome a ela, era isso que eu iria fazer.
- Chegamos. – disse, assim que estacionou diante do fórum. – Tem certeza que não quer que eu vá com você?
- Não precisa. A Dra. York já está me aguardando lá dentro. E pelo que ela me disse, essa será só uma conversa de praxe com o juiz, para que eu confirme que é o pai de e eles finalizem o pedido feito por ele, não era necessário nem a presença dela, mas ela quis comparecer mesmo assim. Eu vou ficar bem. – disse, tentando convencer mais a mim mesma de que isso era verdade do que a , ela assentiu.
- Força, amiga, você está fazendo a coisa certa. Boa sorte! – ela desejou, apertando minha mão em um gesto de solidariedade e eu sorri fraco, respirando fundo, em seguida me despedi dela e de e caminhei em direção ao prédio do fórum, localizado no centro de Londres.
A Dra. Margot York já me esperava no interior do prédio e após nos cumprimentarmos ela me guiou até a recepção onde aguardaríamos o chamado do juiz. A cada minuto minhas mãos pareciam suar ainda mais devido ao nervosismo de imaginar que após hoje a vida de mudaria para sempre. Tomei um copo de água oferecido pela minha advogada, tentando me acalmar enquanto o juiz nos fazia esperar mais do que para mim seria o normal. Mas a minha reação piorou quando fomos chamadas e eu estava prestes a me sentar diante da mesa de um senhor grisalho e com ar imponente, que era o juiz responsável pelo caso.
- Dra. York. – o juiz cumprimentou minha advogada, que retribuiu dando-lhe um aperto de mão rápido.
- E Sra. , eu presumo. – ele se dirigiu à minha e eu o cumprimentei da mesma forma. – Sou o Dr. Charles Walker, juiz responsável pelo seu caso. – ele completou, e eu assenti. – Por favor, sentem-se.
O juiz Walker indicou os lugares diante de sua mesa e a Dra. York e eu nos sentamos imediatamente, enquanto ele remexia em alguns papéis que estavam sobre sua mesa. Finalmente separando o que parecia ser o mais importante e o colocando próximo a mim.
- Vamos direto ao ponto, este é o formulário com o pedido de reconhecimento de paternidade preenchido pelo o seu ex-cônjuge... – ele olhou novamente em outro papel, tentando se lembrar do nome. – Sr. , correto? – perguntou, e eu assenti. – Certo. Como a senhora aparentemente não esteve presente no cartório junto a ele para oficializar o pedido de imediato, essa pequena audiência se tornou necessária para que possamos atestar o pedido do Sr. e concluir os tramites para a obtenção da nova certidão de nascimento da criança, que agora passará a possuir também o sobrenome do pai em sua documentação.
Tudo o que era necessário saber me foi explicado pelo juiz, e minha advogada estava ao meu lado também me auxiliando com alguma dúvida. Ele também realizou alguns questionamentos de praxe e por fim, a pergunta mais importante foi feita e eu inspirei profundamente quando deixei a sala do juiz Walker e toda aquela situação foi finalmente concluída. Agora seria apenas necessário me preparar para as reações que o futuro reservava.

(...)


’s POV

- Sr. , pode entrar. – a secretária de Sarah me encarou com aquela tentativa de sorriso sedutor que ela não parava de me lançar a todo o momento desde que eu havia chegado ao escritório de advocacia. Mas hoje eu estava tranquilo em relação a isso, em relação a retribuir o flerte, não estava com a menor vontade para tal, por isso mantive o meu olhar em meu aparelho celular durante todo o tempo em que aguardei ser chamado por Sarah. Mas eu não estava tão tranquilo em relação ao motivo que me levara ali. Levantei, agradecendo rapidamente à garota que ainda sorria e adentrei a sala da advogada loira que não havia me dado muitos detalhes sobre a reunião que teríamos em sua sala.
Ao abrir a porta, notei que Sarah não estava sozinha, havia um homem que aparentava ter uns trinta anos, de cabelos ruivos e bigode, sentado diante de sua mesa, ele me lançou um sorriso amigável assim que entrei e Sarah logo veio me cumprimentar.
- , como vai? – ela disse, sorrindo enquanto me estendia a mão.
- Bem, na medida do possível, mas confesso que ainda estou confuso por não saber exatamente qual o motivo para que fui chamado aqui. – sorri de maneira anasalada enquanto ela ria e me indicava o lugar ao lado do homem diante de sua mesa.
- É compreensível e minha total culpa por não ter sido mais específica sobre o assunto quando te telefonei ontem, de qualquer modo, vamos sanar todas as suas dúvidas agora, , este é Richard Tolman, o seu agente de condicional. – ela explicou, me indicando o ruivo ao meu lado.
- Sr. . – Richard me estendeu sua mão e eu o cumprimentei. – Preferi marcar o nosso primeiro encontro no escritório de sua advogada para que qualquer dúvida sobre sua pena seja esclarecida por mim e assessorada por ela em seu favor. Gosto de exercer meu trabalho de maneira correta, não sou nenhum carrasco, como a maioria dos condenados imaginam. E se o senhor cooperar, eu tenho certeza que o tempo que passaremos juntos passará mais rápido. – ele explicou.
- Tudo bem, como exatamente eu devo cumprir a minha pena? – perguntei, de maneira direta querendo acabar logo com aquilo. E Sarah sinalizou para que Richard fizesse as honras.
- Bom, , sua pena alternativa envolverá o trabalho de meio período em duas escolas do subúrbio, sendo uma delas uma escola bem carente. Como você tem a música como profissão, nos foi sugerido pelo juiz que você dê oficinas de música às crianças pelo período de um ano. Mas como no momento as escolas ainda estão no período de férias, você iniciará as suas atividades auxiliando na reforma de uma delas, para que tudo esteja pronto quando o ano letivo se iniciar. Eu ficarei responsável por fiscalizar o seu trabalho junto à direção das duas instituições de ensino, trabalho este que será avaliado por um profissional de cada escola, todos os dias, e ocasionalmente eu irei até os locais para verificar como tudo estará indo, minhas visitas serão em momentos inesperados, por isso espero que leve sua pena a sério, pois caso algo errado aconteça, haverá consequências, como a perda da sua pena alternativa. – Richard finalizou o seu discurso e eu assoviei baixo diante de tudo o que ele havia dito.
- Nossa... – murmurei, sem saber ao certo o que dizer. Mas eu estava de certa forma aliviado com a pena que havia recebido, seria legal poder trabalhar com música com crianças, aquilo nem parecia ser um castigo.
- Não pense que por estar realizando uma pena relacionada à sua atividade profissional, as coisas irão ocorrer de forma fácil, algumas das crianças com que você irá lidar não serão tão receptivas, principalmente os mais velhos na escola mais carente. Mas você terá que cumprir o seu trabalho de qualquer maneira, não poderá faltar ou tentar ir embora antes do horário estipulado de nenhuma maneira. – ele concluiu, estranhamente lendo os meus pensamentos e eu assenti, pensando que nada poderia ser tão difícil. Eu já havia sido adolescente, com toda a certeza saberia lidar com alguns deles.
- Certo, acho que tudo já está definido, podemos dar esta reunião por encerrada, senhores? Tenho uma audiência em alguns minutos. – Sarah praticamente nos enxotou. Richard riu, balançando a cabeça como se já a conhecesse há algum tempo.
- Sempre andando no limite do tempo, não é, Michells? – ele brincou e ela revirou os olhos, sorrindo. Eles definitivamente se conheciam de outros carnavais. – Bom, até logo, entrarei em contato em breve, . Para lhe passar todas as informações necessárias para o seu primeiro dia de trabalho, que se iniciará na próxima segunda-feira. – ele se despediu de Sarah e de mim, saindo pela porta logo em seguida e nos deixando a sós.
- Então, você e o Tolman? – perguntei, com um sorriso sugestivo preso nos lábios.
- Não é da sua conta! – ela me olhou indignada. - Deixe de ser enxerido, . Agora mova a sua bunda gorda desta cadeira e me acompanhe até a saída porque estou mesmo atrasada. – eu gargalhei.
- Isso foi totalmente um sim. – comentei, enquanto adentrávamos o elevador, Sarah me deu um soquinho no braço.
- Fique quietinho pra eu continuar gostando de você, . – e isso foi o estopim para que eu continuasse a provocando até a saída do prédio, onde nos despedimos enquanto ela pegava um táxi em direção ao tribunal e eu seguia andando em direção à cafeteria mais próxima, com um sorriso nos lábios. Sarah estava se mostrando uma pessoa muito divertida e eu estava gostando de tê-la por perto como amiga.

(...)


Um tempo depois, atravessei a porta de entrada do nosso estúdio com um copo de café em uma das mãos e um embrulho com rosquinhas em outra, Emma me cumprimentou animada com a volta ao trabalho. Apesar de amar o que eu fazia para viver, não entendi aquela animação dela, férias era sempre uma coisa boa. Sorri para ela e segui até o elevador que me levaria ao subsolo, onde ficava nosso estúdio de gravação, os caras provavelmente já estariam lá me esperando para que continuássemos de onde paramos. E eu teria que lhes dar a notícia de que de agora em diante teria menos tempo para gravação, pois teria outro emprego de meio período para cumprir, o que com toda a certeza não os deixaria muito felizes, já que isso atrasaria o tempo de produção do nosso novo álbum, mas eu não poderia fazer nada a respeito, caso contrário iria preso. E eu não pretendia ser trancafiado nunca mais.
- Finalmente, . – reclamou, de maneira previsível assim que entrei.
- Foi mal, tive que resolver o lance da pena alternativa com a Sarah e o meu agente de condicional. – me encarou interessado ao ouvir o nome da advogada loira enquanto eu respondia me sentando ao lado de , que logo colocou as mãos sujas no meu saco de rosquinhas, eu o empurrei para longe delas. Ouvi um riso abafado ao longe e logo notei o Evans também presente no estúdio. Babaca.
- E qual será a pena, ? Você vai sair por aí catando lixo? Se quiser passar pela minha casa e fazer uma limpa, vou agradecer. A Conxita não apareceu pra fazer faxina essa semana. – disse, brincando e eu lhe mostrei meu querido dedo do meio, enquanto os outros se matavam de rir.
- Vai se foder, idiota. – disse, rindo também. – Enfim, vou dizer algo que não irá agradá-los muito, mas terei que cumprir minha pena todos os dias por um ano durante todas as manhãs. Pelo que o Richard, o agente, me explicou, vou ter que dar algumas oficinas de música pra crianças e adolescentes de duas escolas e agora de início ajudar na reforma de uma delas. – expliquei a eles e logo se pronunciou.
- Tu tá de zoação, cara? A gente está em produção de um novo álbum e tu me diz que vai ter menos tempo pra isso por um ano? Valeu, , sabia que as tuas cagadas iriam acabar ferrando com todos nós em breve. – ele disse, exaltado e pediu para que ele se acalmasse.
- Cara, eu já pedi desculpas. Sei que fiz uma burrada grande dessa vez, mas agora a merda já tá feita e eu não posso fugir disso. Sinto muito que vou acabar atrasando o trabalho, mas peço um pouco mais de paciência de vocês, porque eu juro que agora aprendi a minha lição e vou lutar para não fazer mais nada tão idiota. – pedi, sinceramente.
- Tô com você, bro. A gente dá um jeito, não é como se já não tivéssemos demorado tanto antes pra lançar outros álbuns, essa definitivamente não será a primeira vez. – disse, rindo, tentando aliviar o clima tenso que emanava em minha direção.
- Pode crer, o importante é que no final tudo vai dar certo. Um ano passa rápido, segura os faniquitos aí, . – apoiou e eu encarei , esperando o seu veredicto. Ele respirou fundo e olhos para nós três, dando de ombros em seguida.
- O que mais eu posso fazer se a merda já tá feita. – resmungou, vencido. – Você tem o meu apoio, . Sou teu amigo, tu sabe que sempre pode contar comigo. – sorriu.
- Obrigado, caras, prometo que vou trabalhar dobrado pra compensar o tempo que vou perder durante esse ano, vocês vão ver que vai ser como se eu estivesse aqui o tempo todo. – disse, animado e eles riram desacreditados.
- Acho bom começarmos logo, pra não perdermos mais tempo com conversas desnecessárias. – Jake se pronunciou pela primeira vez e eu o encarei já irritado com a sua presença. Mas o que eu poderia fazer se todos pareciam gostar daquele idiota? Levantei, ignorando o seu comentário e segui pelo estúdio, pronto pra começar mais um dia de gravação, quando uma mensagem estranha surgiu no meu celular, eu imediatamente reconheci o número, me lembrando de outras mensagens que havia recebido durante a semana, mas decidi ignorar, como havia ignorado Jake. Aquela pessoa não merecia mais nenhum minuto do meu tempo.

(...)


- Acabei de receber um telefonema com novidades. – entrou novamente no estúdio no início da noite. – Parece que no próximo final de semana haverá uma pré-estreia daquele filme em que participamos da trilha sonora, com festa em seguida e o “McFly e amigos clube” acabou de ser convidado. – ele respondeu, sorrindo.
- Finalmente, festa! Já estava sentindo falta de uma boa farra e tomar um bom porre acompanhado por gatas em vestidos curtos. – comemorou, entusiasmado.
- Cara, tá achando que vai pra uma festa em algum puteiro? – perguntou, rindo.
- Não me importa onde será, querido . O importante é que o seu amigo aqui está pronto pra pegar mulher. – ele disse, abraçando de lado.
- Assim você fere os meus sentimentos, amor, pensei que você só tivesse olhos pra mim. – perguntou, fingindo estar triste.
- Você sempre soube que nosso lance nunca foi exclusivo, querido. – o confortou, abraçando-o ainda mais.
- Deixem de ser cosplay de gays, ou se assumam logo e saiam do armário. Essas brincadeiras já perderam a graça. – resmunguei, tacando uma almofada neles.
- Isso tudo é porque o não anda comparecendo, ? – perguntou, com o rosto triste e eu o mandei ir se foder novamente. Nós três gargalhamos em seguida. Enquanto ao fundo eu ouvia de relance a conversa de e Jake.
- Então, cara, queria você fosse conosco à pré-estreia. – convidou.
- Não sei, , não tem muita lógica eu ir, já que nem produzi a música que vocês lançaram como trilha do filme. – Jake respondeu.
- Desencana e nos acompanhe como amigo. E leve a também. Estou com saudades daquela baixinha. – ele pediu e Jake pareceu finalmente aceitar. às vezes agia como um amigo bem filho da puta, que a sua adorável mãe perdoasse esse meu pensamento. Mas que merda ele tinha na cabeça pra convidar o Evans e a para aquela festa? O que esse idiota pretendia? Logo eu tiraria isso a limpo. Mas por hora eu já estava dando aquele dia como encerrado.
- Pra mim já deu por hoje. – respondeu, se levantando e tirando as palavras da minha boca antes que eu pudesse dizê-las.
- Acho que já tá na hora de ir mesmo. – concordou. – Tá de carro, ? – ele me perguntou, inocentemente e eu o encarei perplexo. – Opa, eu esqueci que tu não pode dirigir, foi mal. – ele disse, sem graça e outros riram, eu tive que rir também da idiotice dele.
- Relaxa, , eu só fui de táxi até o escritório da Sarah, porque sabia que você viria de carro e queria poupar a minha gasolina. – sorri de maneira irônica, brincando e ele me revirou os olhos.
- Pois então volte de táxi agora. – respondeu, rindo.
- Deixa de ser idiota e vamos logo. – eu o ignorei e saí do estúdio. – Tchau pra quem fica! – gritei assim que a porta do elevador se abriu e eu a segurei esperando por e . - O só pode estar querendo tirar uma com a minha cara convidando o Evans e a pra festa. – resmunguei, quando as portas se fecharam e só nós três permanecemos dentro do elevador. – Ele deveria ser MEU amigo, porra.
- Tá com ciúmes do , ? – perguntou, rindo.
- Deixa de ser idiota, . O só quis ser educado. – deu de ombros.
- Educado convidando o meu arquinimigo? Eu que supostamente sou um dos melhores amigos dele. Super legal da parte do . – cruzei os braços chateado.
- Cara, você tá agindo como uma mulherzinha chata na TPM. O convidou o cara e daí? Aguente as consequências de ter que ver a com ele, pois isso tudo só esta acontecendo por culpa sua. – respondeu, sério e eu bufei frustrado. Belos amigos!
- Foda-se. – resmunguei, e saí apressadamente em direção ao carro assim que a porta do elevador abriu diante da garagem.
- Depois diz que a gente é gay. – comentou com e eu os ignorei, apenas preocupado em ir logo pra casa e não pensar nas consequência de ver Jake e juntos naquela festa. Mas logo uma ideia me surgiu na cabeça.
- Quer saber, acho que vou convidar alguém pra ir à festa comigo. – comentei com assim que entramos no carro e seguiu para o dele, um sorriso travesso tomou conta dos meus lábios e o meu amigo balançou a cabeça em reprovação.
- Você acabou de dizer que iria fazer tudo diferente de agora em diante, e já está aí, planejando fazer mais merda, ? Cara, você não tem jeito! – ele exclamou, irritado.
- Eu não vou fazer nada demais, . Só não estou a fim de ir sozinho para aquela festa enquanto fico observando indiretamente a e o Jake juntos. Vou convidar uma amiga pra ir comigo. Eu quero que as coisas entre e eu se acertem daqui pra frente pelo bem da , mas isso não quer dizer que eu tenha que ficar sozinho pro resto da vida, porque, obviamente, ela já tem alguém e não vai voltar pra mim. – eu disse aquilo a ele, mas no fundo sabia que o que eu mais queria era de volta, e talvez eu estivesse prestes a fazer algum joguinho sujo e infantil com aquilo, mas eu precisava testar o que ela ainda sentia por mim, além de mágoa, é claro, para finalmente me tornar um novo homem, um cara melhor, ou talvez voltar a ser o velho que ela tanto amava e seguir com o plano de reconquistá-la. Aquela seria uma experiência valiosa.
- Tudo bem, . Só pensa bem no que vai fazer, não quero ver ninguém mais magoado daqui pra frente. – ele comentou, eu apenas assenti e nós seguimos em silêncio pelo resto do caminho, enquanto os meus pensamentos se resumiam a o que eu faria na festa que aconteceria no próximo final de semana.

’s POV

estava de plantão naquela noite e eu havia acabado de colocar para dormir em seu quarto quando a campainha tocou na sala. Olhei no relógio que havia pendurado na parede do corredor e notei que era por volta das nove da noite, caminhei lentamente até a sala, imaginando que provavelmente seria Jake, porque o porteiro não havia me interfonado anunciando a chegada de nenhuma outra visita. Eu estava cansada naquele dia, apesar de ainda estar de férias do trabalho, a tensão pela qual havia passado durante a manhã na presença do juiz da vara de família havia esgotado todas as minhas energias e eu estranhamente não estava me sentindo empolgada com uma visita noturna do meu namorado. Suspirei, parando diante da porta e tentei colocar um sorriso sincero em meu rosto, balançando a cabeça e tentando afastar os pensamentos irritantes que me rodearam durante todo o dia antes de finalmente abri-la.
- Oi, linda. – Jake sorriu assim que abri a porta e logo envolveu minha cintura com seus braços, me fazendo automaticamente levar os meus ao redor do seu pescoço, enquanto ele depositava em meus lábios um selinho demorado.
- Oi, como foi o seu dia? – perguntei, me desvencilhando dele e o puxando pela mão para dentro do apartamento. Jake merecia que eu estivesse bem por ele.
- Cheio. – ele suspirou se sentando ao meu lado no sofá. – A produção do álbum voltou em grande velocidade. Principalmente agora que o nosso tempo será afetado por culpa do . – ele disse, revirando os olhos e, ao ouvir aquele sobrenome, não pude evitar o interesse em minha voz quando perguntei a Jake o motivo daquele comentário.
- O que ele fez pra prejudicar o trabalho de voz? – tentei me manter indiferente, mas Jake me encarou por um bom tempo como se estivesse me avaliando antes de responder.
- Os problemas que ele tem que resolver com a justiça irão afetar o nosso trabalho. Ele vai ter que cumprir a condicional trabalhando por meio período em algo durante um ano inteiro, e dessa forma não vai estar 100% disponível para a gravação do álbum. No final, as burradas que o fez irão afetar a todos nós. – ele bufou, parecendo frustrado e eu peguei sua mão, a acariciando em forma de conforto.
- Tenho certeza que com a sua competência e a colaboração dos outros garotos, vocês vão conseguir se virar muito bem e terminar tudo dentro do prazo. Não liguem para as bobagens do e apenas façam o seu trabalho. – disse, tentando mantê-lo animado.
- É o que vamos fazer, mas isso não será fácil. – ele suspirou. – E vou acabar me mantendo afastado de você por mais tempo do que quero. – ele fez bico e eu o abracei sorrindo sincera.
- Eu vou estar sempre aqui pra você, Jake. – disse, e ele me encarou de um jeito malicioso, me envolvendo em seus braços em seguida para minha surpresa e selando os seus lábios nos meus com certa urgência. O que nos levou a um beijo cheio de intensidade e paixão. Jake não me beijava daquela forma desde que havíamos discutido no corredor do meu apartamento alguns dias atrás, tudo o que ele fazia agora era ser carinhoso demais, como se estivesse pisando em ovos quando estava comigo. Eu sentia falta daquela intensidade, sentia falta daquela paixão, sentia falta do seu corpo tão colado junto ao meu como naquele momento. Logo eu estava deitada sobre o sofá sentindo o peso do corpo de Jake sobre mim, enquanto ele me beijava desesperadamente, acariciando toda a parte possível do meu corpo e se pressionando cada vez mais em minha direção, me mostrando o quão excitado ele já estava. Eu senti que as coisas estavam esquentando ainda mais, mas eu não conseguia me frear, não imaginava o quanto o meu corpo também sentia falta daquilo.
Em um movimento rápido, ele se afastou de mim e retirou sua camiseta, voltando a me beijar em seguida. E para maior contato entre nossas peles, Jake colocou uma de suas mãos por debaixo da camiseta larga de pijama que eu usava e logo os seus dedos estavam envoltos em um dos meus seios ainda por cima do sutiã enquanto eu arranhava sem piedade as suas costas. O meu corpo pedia por aquilo e Jake também parecia a cada minuto mais empolgado, quando um choro infantil nos retirou daquele transe, me fazendo recobrar a consciência. Jake parou, bufando frustrado e se afastou de mim, sentando-se no sofá, enquanto eu ajeitava as minhas roupas o encarando com um pedido de desculpas e seguia apressada em direção ao quarto de .

(...)


Quando retornei à sala, Jake estava sentado na mesma posição em que eu o havia deixado, ele havia ligado a televisão em um canal de esportes, mas ele não parecia ligar para o que estava assistindo, e eu confirmei isso quando o chamei pela primeira vez e ele não me escutou, parecia que apenas o seu corpo estava presente naquele local enquanto sua mente vagava para algum lugar desconhecido.
- Jake? – chamei de novo, me sentando ao seu lado e passando uma de minhas mãos diante de seus olhos. Isso finalmente o fez me notar.
- Oi. – ele sorriu fraco, se ajeitando no sofá e se afastando de mim.
- Eu estava te chamando há algum tempo. Posso saber por onde o senhor andava? – brinquei e ele ficou sério de repente. Deixando-me confusa.
- Pensando em coisas do trabalho. Nada que importe. – ele respondeu, rispidamente.
- Desculpe pelo que aconteceu agora a pouco, teve outro pesadelo. – respondi, tentando me desculpar pela interrupção do nosso momento no sofá, imaginando que era aquilo na verdade que o havia deixado tão pensativo, apesar de ele dizer o contrário. Jake finalmente me encarou parecendo preocupado.
- Esses pesadelos estão se tornando constantes, você não acha? – ele perguntou. – Sobre o que ela sonhou dessa vez? – questionou, nervoso.
- Ela estava um pouco assustada, mas pelo que ela me disse foi o de sempre, sonhou com monstros. O que será que isso quer dizer? – perguntei, confusa.
- Talvez você devesse levá-la a um psicólogo. – ele sugeriu.
- Ela é pequena demais pra isso, Jake. Tenho certeza que são apenas sonhos confusos de criança, logo eles cessarão. – respondi, achando a sua sugestão exagerada demais. Ele deu de ombros, como se dissesse que a decisão era minha.
- Nós fomos convidados para uma festa no próximo final de semana. – Jake me informou, desviando o olhar novamente para a televisão.
- Festa? De quem? – perguntei, mesmo no fundo sabendo de quem seria. E em que aquilo iria resultar.
- Os garotos do McFly foram convidados para a pré-estreia de um filme em que uma das músicas deles fez parte da trilha sonora. Após isso haverá uma festa em comemoração e pediu para que eu fosse e levasse você comigo. Será no próximo sábado. – ele disse.
- Não sei se devo ir a essa festa, Jake. Eu nunca gostei desse tipo de evento, não ia a nenhum até mesmo quando e eu... – parei de falar quando notei o seu olhar aborrecido sobre mim.
- e você? Quando vocês eram casados? – Jake perguntou, e eu assenti, ficando de repente sem palavras. Por que eu ainda tinha que me lembrar dele? Jake suspirou, parecendo irritado. – Não é porque o idiota do te fez ter algum tipo de trauma em relação a eventos desse tipo, que eu farei o mesmo, ! – ele exclamou, visivelmente nervoso e se levantou do sofá andando pela sala. – Quando é que você vai se esquecer daquele cara e finalmente seguir em frente comigo? – ele abaixou-se diante de mim, me encarando magoado. – Eu não sou o , . Confie em mim. – ele pediu, pegando em minhas mãos e eu suspirei, sentindo um nó tomar conta da minha garganta. Jake estava certo, ele e eram completamente diferentes. Jake nunca havia me magoado ou feito algo do qual eu não gostasse, com exceção do seu único ataque de ciúmes alguns dias atrás, que provavelmente ocorreu por algum motivo. Apesar disso, Jake merecia que eu confiasse nele. Então respirei fundo, tomando a minha decisão.
- Tudo bem, eu vou com você. – respondi, o encarando com um sorriso fraco nos lábios. Ele me olhou intensamente, como se estivesse verificando se havia algum resquício de que eu estava falando aquilo apenas para agradá-lo.
- Tem certeza? Eu não quero te forçar a nada. – ele se sentou novamente ao meu lado, com as mãos ainda presas às minhas.
- Tenho, Jake. Quero viver uma experiência nova ao seu lado. Tenho certeza de que com você por perto tudo será diferente. – sorri de forma verdadeira e ele respirou aliviado, sorrindo também e logo selando seus lábios aos meus rapidamente.
- Você não irá se arrepender. – ele garantiu. – E tenho certeza de que irá adorar a pré-estreia, dizem que o filme é ótimo. Será como qualquer ida que já fizemos até o cinema, com exceção de algumas celebridades sentadas entre nós. – ele disse, e eu ri do seu comentário.
- Claro, amor. Apenas algumas celebridades, nada demais. – disse, com desdém e ele me mostrou a língua brincando, o que nos fez rir como duas crianças alegres. Era estranho como o nosso humor havia oscilado tanto de uma hora para a outra naquela noite.
Jake sentou-se direito no sofá me puxando em seguida para o seus braços e eu me aconcheguei com a cabeça em seu ombro enquanto ele acariciava os meus cabelos em um carinho delicioso que estava quase me fazendo dormir, quando ele abriu novamente a boca e comentou sobre um assunto do qual eu notei que inconscientemente estava tentando fugir.
- Você não me disse como foi a audiência com o juiz hoje mais cedo, sobre a paternidade de . – ele comentou, interessado e isso fez com que eu me sentisse realmente desconfortável pela primeira vez naquele dia, e tudo o que eu tentei esquecer assim que ele entrou por aquela porta pareceu voltar novamente. – Como ficou resolvido? – Jake me encarou e eu respirei fundo, pronta para lhe dizer tudo, pronta pra lhe informar sobre a escolha que eu havia feito, da qual eu esperava não me arrepender no final.


“Tenha coragem de seguir o que seu coração e sua intuição dizem. Eles já sabem o que você realmente deseja. Todo resto é secundário.”
- Steve Jobs




Capítulo 18



"Eu dormiria apenas na esperança de sonhar.
Que tudo seria como era antes.
Mas noites como essas parecem estar passando lentamente.
Elas desaparecem conforme a realidade vem a tona".

- Blind - Lifehouse.



’s POV

O dia da festa estava chegando. , Penny e eu estávamos fazendo algo que há muito tempo eu não fazia com amigas. Passando o dia em um salão de beleza e fazendo os últimos ajustes em nossos vestidos de festa. Era estranho que eu estivesse tão animada para ir àquela festa, mas acho que este era o efeito da presença das minhas amigas. Talvez eu mudasse de ideia mais tarde.
- E então, moças, o que acham? – Penny perguntou, dando uma volta para nos mostrar o seu vestido.
- Ficou lindo, Penny! – exclamei, sincera, ela estava deslumbrante.
- O que se cuide. – comentou e Penny sorriu nos agradecendo.
- Preciso confessar que é um alívio o fato de vocês também irem a essa festa, já faz algum tempo que não vou a uma delas, fiquei um pouco afastada durante a gravidez de Charlie, mas eu sempre detestei esse tipo de evento, porque você fica sempre tão rodeada de gente falsa. É maravilhoso ter amigas de verdade por perto desta vez. – ela nos abraçou contente.
- Eu sei bem o que você quer dizer, amiga. – a apoiei. – Me lembro bem o quanto sofri nas poucas vezes que acompanhei nesse tipo de evento.
- Parem de reclamar! Vocês falam como se fosse horrível poder se sentar ao lado de caras como o Joseph Morgan ou o Ian Somerhalder em eventos como esse. – disse, revirando os olhos. – Vamos esquecer a parte chata e nos concentrar nos atores gatos de cinema que iremos conhecer esta noite. Vamos nos divertir, garotas! E quem sabe eu não consiga o número de telefone de algum deles. – ela disse, sapeca e Penny e eu gargalhamos.
- Deixa só o ouvir isso. Tenho certeza que ele vai morrer de ciúmes e nunca mais irá convidá-la para essas festas. – Penny provocou.
- Penélope, querida. O e eu somos apenas amigos... Amigos com alguns benefícios nos últimos tempos, eu admito. Mas apenas bons amigos. Ele não tem o direito de sentir ciúmes e também não é o meu dono. Deixei isso bem claro quando ele insistiu em me perseguir tentando algo comigo. – ela disse, presunçosa e nós duas rimos novamente.
- , você não presta. – disse, entre risos e a minha amiga deu de ombros.
- Vocês deveriam aprender mais com as minhas atitudes, queridas. Assim seriam mais felizes. – ela piscou.
- Eu já sou bem feliz com o meu , obrigada. Não tenho do que reclamar. – Penny disse, orgulhosa.
- Eu digo o mesmo sobre o Jake. – sorri e fingiu um ataque de vômito.
- Vocês e esses seus romances açucarados me dão ânsia. – ela resmungou, entrando mais uma vez no provador e nos deixando em uma crise de risos.
O telefone de Penny tocou e ela me pediu para apanhá-lo, não pude deixar de notar o nome Sarah no visor e eu olhei para ela confusa, entregando o aparelho em sua mão.
- Oi, Sarah, tudo bem? – ela esperou a outra responder e logo disse. - Sim, o me disse que você iria. Eu estou com as meninas experimentando vestidos agora, é uma pena você não poder ter vindo conosco... – Quem era essa Sarah e o que tinha a ver com ela? Será que era a loira que estava enroscada nele dias atrás quando os vi diante da porta da casa do ? Ela deveria ser mais uma das várias garotas de quem ele se aproveita. Eu sabia que era errado ouvir a conversa alheia, mas Penny parecia não estar fazendo questão de ser discreta, então eu também não disfarcei muito bem o meu interesse e continuei a ouvi-la falar. – Claro, nos vemos lá. Até logo, querida. – ela desligou e me encarou com um sorriso estranho no rosto.
- Quem é essa Sarah? – perguntei, não medindo as palavras. Penélope riu provavelmente da minha curiosidade descarada.
- Pelo que os garotos me contaram, Sarah é a advogada que tirou da cadeia e por coincidência ela também estudou com todos vocês no colégio. Você deve se lembrar do nome, Sarah Michells. – ela disse, e eu a encarei sentindo de repente todo o meu sangue ferver. Não podia ser verdade, aquilo seria o cúmulo. Como eu não a havia reconhecido aquele dia? não podia estar saindo justo com Sarah Michells. Ele sempre soube o quanto eu detestava aquela garota. Ele devia se lembrar do que aconteceu no passado, eu não deveria ser assim tão insignificante pra ele. só deveria estar fazendo aquilo para me magoar. Mas ele não conseguiria, não mesmo. Eu não me importava mais com ele. – ? Tá me ouvindo? – Penny perguntou, me tirando dos meus devaneios.
- Oi? Claro... O que você... – questionei, perdida.
- Eu perguntei se você se lembra da Sarah? – ela perguntou, com um sorriso no rosto.
- Preferia não me lembrar. – respondi, com desdém a encarando com ódio contido nos olhos, Penny se assustou com a minha reação.
- Você não gosta dela? – ela me perguntou, confusa.
- Digamos apenas que as palavras “gostar” e “Sarah Michells” nunca surgiram em uma mesma frase formada por mim, com exceção, é claro, se a palavra “não” vier antes das duas. – disse, e me sentei ainda tentando processar aquela informação.
- Agora eu fiquei confusa, os garotos parecem se dar tão bem com ela e Sarah foi tão simpática comigo desde que a conheci, qual é o problema entre vocês duas? – Penny perguntou, e eu respirei fundo, querendo deixar aquele assunto de lado.
- Penny, deixa isso pra lá. O sai com quem ele quiser, não temos que dar satisfações um ao outro mais... Se ele quer sair com aquela loira vadia o problema é dele, eu não me importo, ele que se exploda junto com ela. – disse, com raiva.
- Ah, então há uma história entre , Sarah e você? Certo, pode me contar já! Adoro dramas com triângulos amorosos! – ela se sentou ao meu lado, batendo palmas, empolgada como uma foca. Se eu não estivesse tão nervosa, teria rido daquele pensamento.
- Eu não quero falar sobre isso. – resmunguei, cruzando os braços como uma criança birrenta.
- Minha querida, você vai falar e agora, ou eu não me chamo Penélope Marie . – ela me encarou seriamente e eu suspirei sabendo que não teria como fugir dos questionamentos de Penny.

(...)


- Sobre o que vocês estão conversando? - surgiu do provador, já usando as suas roupas e nos encarando curiosa.
- Nada demais, é só que a está com ciúmes do . – Penny disse, com desdém e eu a encarei, indignada, assim como , que me olhou surpresa.
- De onde você tirou essa ideia absurda, Penélope? – perguntei, irritada com aquele comentário.
- Ah, , vamos ser sinceras! A história que você me contou envolvendo , Sarah e você no passado, para mim, não pareceu nada demais, vocês eram só namorados, pelo que você disse. Ele não teve culpa, você viu tudo e a garota estava bêbada, essas coisas acontecem em festas de formatura. Aliás, qual festa de formatura não é marcada por um pequeno escândalo? – ela perguntou, e sacudiu a cabeça concordando. – Além do mais, você e o já estão separados há alguns anos e você vive dizendo que o odeia, então, não tem nada demais em ele querer sair com a Sarah agora. Assim vocês tocam logo essas suas vidinhas adiante, param de brigar, entram em um acordo sobre a criação de e pronto. Sem mais dramas. Eu sei que o errou muito, ele é e sempre foi um idiota, e eu também tenho raiva do que ele fez, mas ele pode mudar. Você pode mudar. Vocês não podem deixar suas vidas girarem em torno dessa mágoa pra sempre. Sejam felizes, mesmo que estejam separados, tendo relacionamentos com outras pessoas. Eu só quero ver os dois bem e quero que a tenha pais que convivam em harmonia, para o bem dela. – ela finalizou, respirando fundo após o seu discurso e eu continuei com a cara fechada. – Ah, mude essa cara! Eu só precisava expressar a minha opinião, você sabe que eu te amo, sou sua amiga e não tenho papas na língua. – Penny disse, sorrindo enquanto pegava sua bolsa e saía da loja, parando em seguida na calçada e nos aguardando do lado de fora.
- É, ela fala um pouco demais, mas eu meio que concordo com ela. – disse, baixo, eu a olhei brava e isso fez com que ela pegasse também a sua bolsa e seguisse o caminho que Penny havia feito.
Eu respirei fundo tentando me livrar daquele sentimento idiota que não me levaria a lugar nenhum e tentando me esquecer das palavras absurdas de Penélope. Ciúmes do ? Eu? Onde já se viu!
Apanhei minha bolsa e segui até onde as minhas duas amigas irritantes estavam. Penny parecia nem ligar para o meu estado e começou a tagarelar tentando aliviar o clima, no fim do dia, nós três acabamos sentadas em uma sorveteria falando além do limite, como se nada houvesse acontecido. Era por isso que eu sentia falta de ter amigas como elas.

’s POV

Há quatro dias eu havia recebido a melhor notícia de toda a minha vida. A notícia de que oficialmente era minha filha. Confesso que quando o Dr. Peterson me telefonou dizendo que compareceria ao fórum para ter uma conversa com o juiz sobre o meu pedido de reconhecimento de paternidade eu temi que ela não agisse de forma racional e fizesse algo, como negar que era minha. Aquilo acabaria comigo, mas eu não deixaria barato e provavelmente agiria de maneira impensada e a processaria, mas felizmente havia finalmente confirmado que era minha e eu não podia mais conter a minha felicidade diante disso. Era algo tão visível que os caras não paravam de me zoar um segundo sequer dizendo que eu estava agindo como um pai babão, mas eu não me importava com isso, porque minha filha era perfeita e eu realmente estava agindo dessa forma, mesmo que não tenha tido nenhuma oportunidade de vê-la ainda.
pode ter confirmado diante do juiz que eu era o pai de , porém ela ainda estava relutante em manter contato comigo e me deixar ver a minha filha, mas eu iria mudar a sua opinião, dessa vez eu faria com que o meu cérebro agisse de acordo com o meu coração e isso mostraria a ela que agora eu estava sendo sincero e que o que eu mais queria era o melhor para . Por ela eu faria mais uma tentativa. Por ela eu faria o impossível para conseguir o perdão de , mesmo que tivesse que percorrer caminhos tortos de início.

- Fiquei sabendo que o senhor convidou a para ir à festa contigo. Até que enfim tomou uma atitude de macho, ! – provoquei meu amigo, enquanto estávamos todos afinando os instrumentos para o ensaio, faríamos uma breve apresentação na festa após a pré-estreia naquela noite, tocando a música que havíamos composto para o filme.
- Isso é verdade? Gente, o está virando um homenzinho. – zoou e nos mostrou o dedo do meio.
- Por que vocês não vão cuidar das suas próprias vidas, em vez de ficarem fofocando sobre a minha como duas vizinhas de quintal? – ele resmungou, testando o instrumento.
- Relaxa, , eles estão assim porque as únicas companhias que terão na festa serão eles mesmos. – , que estava quieto até o momento, se intrometeu em favor de .
- Tá pagando de advogado agora, dude? – perguntou, rindo.
- E quem disse que eu vou sozinho à festa? Já tenho uma acompanhante. – respondi, presunçoso.
- Não vale contratar uma acompanhante de luxo para ficar com você na festa, . – disse, rindo.
- Tá insinuando que eu não sou homem o bastante pra conquistar uma mulher e levá-la a festa sem envolver pagamento em dinheiro? – perguntei, indignado.
- A sua vida amorosa não anda lá uma maravilha nos últimos tempos, então sim, estou insinuando isso. – ele riu e eu o mandei ir se foder.
- Não que seja da sua conta, mas eu convidei a Sarah para ir à festa comigo e ela aceitou. – disse, com desdém e notei bufar ao meu lado. – Tá irritado com o que ? Queria ela pra você? Dá próxima vez haja mais rápido. – pisquei pra ele, que se levantou irritado, deixando a sala de ensaios.
- Qual o problema dele? – perguntou, confuso e e eu rimos.
- Algo me diz que tem ou sempre teve uma queda pela Michells, só não é homem o suficiente para chegar nela. – eu comentei.
- E mesmo sabendo que teu melhor amigo tá afim da garota, você vai dar em cima dela, ? Será que você só pensa com a cabeça de baixo? Cadê o nosso código de amizade nessas horas? – de repente ficou bravo e se levantou vindo em minha direção. Ele sempre agia como o irmão mais velho nessas horas, sempre nos defendendo.
- Hey, calma aí, . – pediu, assustado, o segurando.
- Não é nada disso, . – eu me apressei em dizer, antes que tomasse um soco no nariz. – Eu não estou dando em cima da Sarah e ela também não está nem um pouco afim de mim, nós só fizemos um acordo. Estamos fazendo uma pequena experiência. – disse, sorrindo e ele me olhou desconfiado.
- Que porra você vai aprontar, ? Você não prometeu que ia sossegar de agora em diante? Será que você não vai crescer nunca? – ainda estava bravo.
- Calma, eu vou te contar o meu plano, o já está sabendo. – disse, fazendo com que ele encarasse e bufasse finalmente, se sentando ao meu lado para ouvir o que eu tinha a dizer.

(...)


- Que bom que você aceitou o meu convite. – disse a Sarah, assim que chegamos ao local da festa.
- Eu quase recusei, e ainda não sei onde estava com a cabeça quando aceitei esse convite, que tem a palavra confusão implícita em letras pequenas. – ela me olhou desconfiada.
- Não vai acontecer confusão nenhuma, Michells. Confie em mim. – pedi, sorrindo.
- Me desculpe, mas isso é algo que não pretendo fazer, . – ela sorriu de maneira sarcástica e eu dei de ombros. Não precisava da confiança dela, precisava somente da sua presença.
Assim que Sarah e eu descemos do carro, milhares de flashes praticamente nos cegaram, eu mantive o meu sorriso utilizado para essas ocasiões no rosto e Sarah pareceu um pouco incomodada com tanta atenção voltada para nós, mas ela tentou se manter indiferente a tudo aquilo enquanto adentrávamos o local da pré-estreia de braços dados, ignorando os milhares de questionamentos dos repórteres de plantão que perguntavam a todo o momento quem ela era, travamos uma conversa trivial pelo caminho até as poltronas numeradas onde nós havíamos sido colocados pela organização do evento. E logo notei que todos os meus amigos já estavam presentes no local.
- Pessoal. – cumprimentei de longe com apenas um aceno e eles fizeram o mesmo, voltando suas atenções para Sarah em seguida. Notei que , que estava sentado na ponta, aparentemente desacompanhado, me fuzilava com o olhar a cada cinco segundos, e aquilo estava sendo bem divertido.
Aquele “encontro” com Sarah não ajudaria apenas a mim, mas também a ela. Sorri, ignorando o olhar de e me sentei ao lado de , que estava acompanhado por , cumprimentei novamente a médica e melhor amiga de , que algum tempo atrás queria me ver morto, mas que agora parecia me tolerar e Sarah sentou-se entre e eu.
A exibição do filme estava prestes a começar. Dei uma olhada mais a frente na fileira onde estávamos sentados e finalmente vi quem estava procurando desde o momento em que coloquei os pés naquele lugar. estava sentada na penúltima poltrona do canto ao lado de Penny, com o babaca do Evans após ela, segurando sua mão de uma forma que me deixou irritado. Penélope e ela pareciam tagarelar sobre algo interessante, pois ela não se dispôs a olhar em minha direção assim que cheguei, preferindo me ignorar por completo, o que definitivamente não era o que eu esperava, mas ótimo, se era assim que ela queria brincar, eu também sabia exatamente o que fazer. Sorri, desviando meu olhar de sua direção e me acomodando novamente em meu lugar enquanto as luzes do teatro eram apagadas anunciando o início da sessão. Levei o meu braço ao redor dos ombros de Sarah delicadamente e ela se virou me encarando com uma enorme curiosidade no rosto, enquanto eu mantinha o meu olhar na enorme tela de cinema.
- Posso saber o que o senhor acha que esta fazendo, ? – ela sussurrou, para que apenas eu pudesse ouvir.
- Faz parte do meu experimento, por favor, colabore comigo. – pedi, a encarando e fazendo graça com um bico nos lábios. Sarah riu baixo.
- Você não presta, . Coitada da garota. – ela murmurou, sorrindo.
- Não reclame que isso também está te ajudando de alguma forma, olhe só para o tom vermelho escarlate de raiva que está tomando conta da cara do meu querido amigo . – respondi, rindo também, mas parei assim que me cutucou olhando feio e pedindo silêncio.
- Cuida da médica aí, , e não se mete no meu assunto com a Sarah. – murmurei, e ele revirou os olhos voltando a sua atenção para , pois obviamente o seu objetivo naquela noite não era assistir ao filme.
- Então, posso continuar te abraçando, Dra. Michells? – lancei o meu sorriso sedutor a Sarah que apenas deu de ombros sorrindo e voltou a sua atenção ao filme.
- Tudo bem, . Mas comporte-se, não quero ser violenta com você. – ela disse, e eu ri da sua ameaça, sentindo de repente a sensação de que estava sendo observado. E eu tinha uma vaga noção de quem estava fazendo aquilo. Ponto pra mim.

(...)


“Você continua gostoso, . Bela apresentação.”.

Outra mensagem chegou ao meu celular e eu olhei discretamente ao redor tentando encontrar a pessoa que insistia em me perseguir nos últimos dias. Estávamos acomodados em duas mesas próximas uma da outra, já no local da festa, após a nossa banda ter se apresentado para os convidados tocando a canção do filme, outro artista se apresentava no momento e logo as canções ao vivo seriam substituídas por um DJ para que os todos pudessem aproveitar a pista de dança.

“Procurando por mim? Você ainda não irá me encontrar, . Só vou aparecer na hora certa, mesmo que esteja morrendo de saudades. XoXo”.

Procurei novamente ao redor e notei me encarando intrigada da mesa ao lado, enquanto Jake conversava animadamente com , então desviei o olhar, me sentindo nervoso com aquela sua análise pela primeira vez na noite. Aquelas mensagens já estavam me tirando do sério, ser perseguido não era algo que eu queria no momento, ainda mais por aquela pessoa do meu passado, mas eu não deixaria que essa pessoa me tirasse do sério. Já estava na hora de mudar o número do meu aparelho celular e me livrar daquela pessoa irritante. E eu faria isso na próxima segunda-feira, sem falta.
- Algum problema, ? – Sarah perguntou, curiosa, notando a minha cara.
- Nada. – respondi, olhando para ela. – Só pensei ter visto alguém conhecido. – dei de ombros e ela sorriu parecendo aceitar a minha resposta, pois logo se virou e voltou a conversar animadamente com Penny. Enquanto eu ainda me sentia incomodado e olhando disfarçadamente ao redor de novo, notei um par de olhos ainda sobre mim, me encarava séria, mas logo desviou o olhar quando viu que eu a havia pego no flagra. Eu sorri com o seu repentino interesse, talvez tudo desse certo no final. E pelo menos aquilo havia feito com que eu decidisse ignorar aquelas mensagens misteriosas e me focasse no meu verdadeiro objetivo daquela noite.

[N/A: Ouça essa música agora]


O DJ havia tomado conta da festa e e já estavam se acabando na pista de dança há algum tempo. Ela o havia arrastado até lá e ele milagrosamente não protestou dessa vez, só confirmando que aquele ali já havia sido “encoleirado”. sumiu da mesa, havia se mantido quieto a maior parte do tempo, bravo por Sarah ter ido à festa comigo e de certa forma por ela não ter dado atenção a ele durante todo o tempo, a garota parecia saber o que estava fazendo e aquilo me garantia boas risadas. Mas Sarah logo ficou séria quando o avistou no bar agarrado a uma loira do tipo gostosona, então para ajudar a ela e a mim, decidi fazer mais um experimento naquela noite.

- Vamos dançar, Michells. – coloquei-me de pé ao seu lado e estendi a mão sorrindo, ciente de que nos encarava no momento. Mas eu fiz o máximo para ignorá-la.
- Será que você ainda sabe dançar, ? – Sarah sorriu, aceitando minha mão e eu nos conduzi até a pista de dança.
- Certas coisas a gente nunca esquece. – passei pela mesa de e me virei piscando para Sarah, mas na verdade aquele gesto era para ela, que pareceu notar, me encarando com raiva em seguida.

Aquela música que tocava na pista dava asas à imaginação, Sarah entrou no clima e logo dançávamos aquela canção que tinha uma letra tão sugestiva de um modo não muito apropriado, chamando a atenção de todos ao redor, logo se aproximou, dançando próximo a nós dois com a loira do bar e isso fez com que a minha advogada exagerasse ainda mais nos passos sensuais, tentando provocá-lo e eu a acompanhava me divertindo muito, mas eu queria ver a reação de apenas uma pessoa e assim que voltei meus olhos em direção à mesa onde os meus amigos estavam, vi sentada sozinha, enquanto todos os outros dançavam e Jake estava em pé ao lado parecendo entretido conversando com algum figurão da indústria do cinema, nos encarava ainda com raiva, o que me fez sorrir em um gesto de provocação e com isso ela rapidamente se levantou, disse algo a Jake e saiu apressada em direção ao banheiro. Ciúmes. Bingo!

“She’s got a boyfriend anyway.”


Dancei por mais um tempo com Sarah, até aquela música acabar, e logo que terminou sussurrei em seu ouvido dizendo o que eu iria fazer em seguida. Ela riu, balançando a cabeça e se separou de mim, virando-se para dançar sozinha perto de Penny e , apesar de eu saber que ela não permaneceria sozinha por muito tempo com em seu encalço e eu sorri enquanto caminhava em direção a outro lugar.

’s POV

- Eu me lembro de que há alguns anos você detestava esse tipo de evento, é estranho ver como as coisas mudaram. - disse, de modo debochado, me assustando assim que o vi parado ao lado da porta do banheiro feminino com um sorriso no rosto, que, admito, mexeu comigo. Ele havia me provocado a noite inteira, a começar por quando eu o vi chegar com Sarah Michells, segurando um de seus braços de maneira tão íntima como ela havia feito aquele dia na casa de . Como eu não havia a reconhecido antes?
Eu o encarei com ódio, tentando ignorá-lo como havia feito durante toda a noite, apenas o empurrando para afastá-lo do meu caminho, para que eu pudesse seguir adiante, o deixando falar sozinho, mas ele me surpreendeu quando em um movimento rápido prendeu meu corpo entre o seu e a parede, me encarando com uma profundidade no olhar que eu não via há vários anos. Aquilo fez com que eu ficasse mais ainda com raiva dele. Quem aquele idiota achava que era?
- Eu poderia ter gostado se não sentisse sempre que era uma espécie de peso pra você quando eu aparecia ao seu lado nessas festas. Era óbvio que eu era um incômodo, quando os integrantes da sua banda deveriam parecer "solteiros" naquela época. – disse, fria, tentando controlar a minha respiração que parecia acelerar cada vez mais com aquela proximidade incômoda e voltando o meu olhar para qualquer lugar, menos para aquele par de olhos penetrantes, fingindo estar muito mais interessada na placa da porta do banheiro masculino, do que na pessoa ao meu lado. - Eu nunca disse que você era. - Ele respondeu, em um tom diferente, com um leve toque de mágoa na voz, e eu me forcei mais ainda a não olhá-lo, sentindo a sua respiração quente cada vez mais próxima do meu rosto. Mas eu não deixaria que ele saísse vitorioso. Eu não baixaria a guarda, nunca.
- Você pode não ter dito, mas era assim que você fazia com que eu me sentisse. Como um mero acessório que te acompanhava durante aquelas inúmeras festas. Então após algumas tentativas fracassadas de te agradar, eu simplesmente desisti e passei a inventar desculpas pra não ir com você a eventos desse tipo. - confessei, olhando em seus olhos, cansada daquele jogo de poder ao qual havíamos nos colocado desde que decidiu assumir a paternidade de .
- , eu... – ele tentou dizer algo me encarando firmemente, mas eu o impedi, desviando o olhar e finalmente criando forças para afastá-lo para longe de mim, empurrando-o em seguida. cambaleou em direção à parede oposta da qual estávamos e me olhou confuso.
- Eu preciso ir. – disse, saindo dali sem olhar para trás e segui pelo local da festa a procura da única pessoa que parecia realmente me amar. Por mais que Jake estivesse tão estranho e distante de mim naquela noite.

(...)


Tentei me esquecer do encontro que havia tido com e ele também parecia ter evaporado da festa após aquilo, pois não o encontrei em lugar algum, não que eu estivesse realmente o procurando. Jake e eu estávamos na pista de dança, pois ele finalmente parecia ter se lembrado de que eu o estava acompanhando naquela festa e decidira me chamar para uma dança lenta. Já estávamos lá há algum tempo. Próximo de onde estávamos, Michells agora dançava com e eu a encarei pensando o quanto ela continuava sendo vadia, mesmo após tantos anos. Porque, aparentemente, ela era o encontro de da noite, mas isso não estava impedindo-a de flertar descaradamente com , que parecia um cachorrinho abanando o rabo em sua direção. Homens, sempre tão idiotas e manipuláveis. Enfim, pouco me importava o que aquela mulher estava fazendo, que ela ficasse com e metesse logo um par de chifres na cabeça do idiota do . Porque Deus sabe como ele merecia algo do tipo e eu me sentiria vingada caso acontecesse, não que eu seja uma pessoa vingativa.
Eu apoiei a minha cabeça sobre o ombro de Jake, tentando deixar aquela garota pra lá e os meus olhos desobedientes se fixaram imediatamente em alguém. Ele havia voltado. E era como se eu não tivesse controle algum sobre as ações do meu próprio corpo quando se tratava dele.
Eu odiava me sentir daquela maneira, odiava me sentir incapaz, vulnerável, odiava tudo isso mais do que a forma falha com a qual eu me forçava a odiá-lo.
Eu apenas o detestava por ainda ter tanta influência sobre mim, mesmo após tantos anos, mesmo após tudo o que havia acontecido entre nós. Mas em meio a todo aquele sentimento de ódio, o que mais se destacava era o que eu sentia por mim mesma por ser sempre tão fraca.
Ele estava sentado próximo a mesa que ocupávamos antes, com a cadeira virada em direção à pista de dança daquele enorme salão de festas, portava um copo de whisky em uma de suas mãos, dando goles contidos enquanto seu olhar me acompanhava atentamente, me provocando arrepios.
Era como se fosse um predador a espreita, observando cada detalhe de sua presa antes de finalmente atacá-la.
Um olhar frio agora habitava o seu rosto, enquanto seus olhos permaneciam fixos em mim, mas havia algo mais naquele olhar, parecia haver uma chama, uma chama indecifrável se reacendendo aos poucos. Notar aquilo fez com que algo dentro de mim se remexesse. Algo que nos últimos anos eu havia feito o possível para sufocar, mas que agora estava disposto a retornar a vida.
Aquilo precisava parar, eu precisava conter aquele sentimento que estava crescendo dentro de mim, ou em breve não conseguiria mais me controlar.
Fechei os olhos com força, tentando fugir daquele ambiente hostil no qual e eu havíamos nos colocado por um momento, passei a acompanhar os acordes da música que tocava - Blind do Lifehouse - e percebi quão irônica era aquela melodia, mas não existia ironia maior do que a minha própria vida.
- Está tudo bem? – Jake perguntou, próximo ao meu ouvido, me tirando daquele meu estado estranho.
- Sim, só estou me sentindo um pouco cansada. – disse, voltando o meu rosto em direção ao seu. Ele me encarou assentindo e logo levou uma das mãos em direção ao meu rosto, o acariciando com cuidado, ele olhou em meus olhos e logo se aproximou, selando seus lábios aos meus, e nos beijamos calmamente por algum tempo, aquele beijo me fez esquecer de todo o resto e eu já estava me entregando completamente ao momento quando tudo terminou cedo demais.
- Vamos voltar pra mesa pra você descansar um pouco. – ele disse, sorrindo assim que separou nossos lábios e eu murmurei em protesto. Não tendo alternativa a não ser segui-lo.

(…)

[N/A: Agora é a vez dessa canção:]


- Dança comigo. – sussurrou no meu ouvido, me pegando de surpresa enquanto eu aguardava uma bebida parada diante do bar, todos estavam na pista de dança e Jake havia desaparecido há alguns minutos dizendo que iria até o banheiro e ainda não havia voltado. Eu quis colocar a culpa nesse gesto inesperado de para explicar o arrepio que senti quando ouvi a sua voz tão próxima.
- Você ficou maluco? – perguntei, me afastando e ficando diante dele. – Eu nunca mais vou ficar tão próxima assim de você, . O que te fez pensar que eu aceitaria um pedido desses? – ri com escárnio, mas ele pareceu não se abalar com a minha resposta e continuou com aquele sorriso confiante nos lábios.
- É só uma dança, . O que tem isso demais? Eu não vou me aproveitar de você, se é esse o seu medo... Ou desejo oculto, quem sabe. – ele sorriu presunçoso e eu tive vontade de mandá-lo pro inferno. Mas preferi me conter e respirar fundo, eu queria evitar uma discussão naquela festa, não seria bom para a imagem dos outros garotos, porque eu pouco me importava com a imagem de .
- , você já conseguiu o que queria. agora já tem o seu sobrenome. Então por que insiste em ficar perto de mim, você sabe que eu te odeio, não é mesmo? Sabe que eu não suporto a sua presença. Então por que não some logo da minha vida? – disse, irritada, mas em um tom que apenas ele poderia ouvir e notei que o seu sorriso vacilou naquele instante.
- . – suspirou, tentando outra abordagem. – É só uma dança, eu prometo. Só pra relembrar os velhos tempos e de certa forma comemorar o fato de eu ter descoberto e agora ter orgulho de vê-la usando o meu sobrenome. Eu juro que depois disso não te procuro mais. Com exceção de quando eu quiser ver , é claro. – ele pediu, parecendo sincero pela primeira vez em muito tempo e eu ignorei o seu último comentário. Ele não veria tanto quanto esperava, não mesmo.
- Eu vim com Jake, não vou ficar dançando com outros homens. – disse, ainda relutante. – E não é como se alguma promessa sua valesse alguma coisa. – sorri, fazendo com que ele se lembrasse das promessas que ele já havia quebrado. desviou o olhar para o chão, como se estivesse pensando em uma última alternativa.
- Não vão ser outros homens, serei só eu e só por uma dança. Acredite em mim dessa vez. Além do mais, acabei de ver o Evans do lado de fora do evento e ele parecia bem ocupado falando ao celular, aposto que nem vai perceber que dançamos juntos. – ele disse, e eu o encarei confusa com o que ele havia dito sobre Jake. Algo estava acontecendo, eu podia sentir. Ele estivera estranho por toda a semana. – ? – me chamou e eu notei que havia ficado aérea por um tempo.
- E quanto a sua garota? – disse, com desdém, tentando me manter indiferente ao fato de ele estar saindo com a vadia da Michells.
- Sarah não vai se importar com uma dança. Tenho certeza de que ela se garante. – ele piscou, tentando me provocar e eu pensei que ela não iria mesmo se importar enquanto estivesse por perto, respirei fundo, tentando acalmar os meus nervos que ficavam a mil sempre que ele estava por perto e sorri pensando que ele não teria Michells ao seu lado por muito tempo se continuasse a agir daquele modo desleixado em relação à garota. Com tantas pessoas para se envolver havia escolhido justamente a garota com quem nós estudamos no ensino médio e de quem eu mais nutri ódio naquele período das nossas vidas. Aquilo só poderia ser por provocação, mas eu não cairia mais em seus joguinhos.
O meu estoque de desculpas já havia se esgotado. Eu não tinha mais como fugir e já que seria apenas uma dança. Dane-se! Eu só esperava que cumprisse a promessa de me deixar em paz o resto da noite e que Jake não se chateasse se nos visse juntos.
- Venha, idiota, mas não tente nenhuma gracinha. – alertei e caminhei em direção à pista de dança, aproveitando a musica agitada que tocava no local, aquilo era um bom sinal, aquilo significava que nenhum contato físico precisaria ser feito. Se era uma dança que ele queria, era aquele tipo de dança que ele teria. Ao longe, Penny e , que dançavam com seus respectivos pares, me encararam confusas. Sorri, parando no centro da pista e parou diante de mim com aquele sorriso confiante de volta aos lábios. Ele só podia ser muito idiota mesmo. Comecei a me balançar conforme o ritmo da musica, me mantendo o mais afastada possível de , que apenas me acompanhou em seu lugar, mas a expressão dele parecia não se abalar com a minha distância, o que me deixou confusa, pois eu jurava que ele desejava algo mais, quando de repente a música foi substituída por uma canção mais lenta e ele rapidamente entrelaçou os braços ao redor da minha cintura com o sorriso ainda mais confiante no rosto, enquanto eu olhava para ele atônita.

Didn't know I could fall down like this.
Didn't know I could let this leave my lips.
Didn't know I would find something so strong.
If you leave I can't move on.
But now these feelings are getting stronger.
Our phone calls are getting longer.
And I gotta know, I gotta know…
Do you feel it?
Tell me you feel it, feel it too.

'Cause my heart burns and burns and burns, when I look at you.


- Acho que a dança acabou. – disse, em um fio de voz, quando senti os seus braços ao redor do meu corpo me segurando de uma maneira firme e de novo a sua respiração quente e próxima do meu rosto. Aquilo de certa forma me deixou mole. Aquele encaixe era tão familiar que doía.
- Você me prometeu uma dança inteira, aquilo antes foi só um aquecimento, já que a outra música já estava acabando. – ele disse, sorrindo.
- Não me lembro de ter prometido nada disso, . Me solta. – ordenei, criando forças e tentando me livrar do seu abraço.
- Fica calma, , é só uma dança. Eu já disse que não vou ter agarrar. – ele disse, me encarando profundamente, com um olhar que dizia o contrário e eu senti o meu corpo estremecer diante daquelas palavras.
- Se você fizer algo, eu juro que grito. – disse, entredentes, dando um pisão forçado em seu pé que o fez se afastar um pouco mais, enquanto eu admitia apenas a mim mesma que não conseguiria me afastar daqueles braços tão cedo.
- Caralho! Tudo bem. Você já deixou o seu recado dado. – gemeu de dor, mas mesmo assim não tirou o sorriso dos lábios enquanto ainda me conduzia pela pista de dança. Eu preferi permanecer quieta durante o resto do tempo, mas aquela música já parecia estar durando demais. O olhar intenso de sobre mim começava a me causar efeitos indesejados.

I don't care what you've done.
And baby, I don't want just another one.
All I want, all I need is your love, alright.


Num movimento inesperado, me girou diante dele. Fazendo com que eu me lembrasse de como ele milagrosamente sabia dançar bem e aquilo era algo que sempre me deixou intrigada. Eu sempre lhe perguntei como ele poderia ser tão bom dançarino, contrariando todos os outros garotos do colégio, mas ele nunca me respondia. Então mais tarde, quando já estávamos namorando há algum tempo, sua mãe me confessou que o forçara a fazer dança de salão quando ele tinha treze anos porque ela achava lindo um homem que sabia dançar bem e ela não queria que o filho fosse tão desengonçado quanto o marido era. A partir daquele dia, eu sempre ria dele por isso, mas apenas porque aquela era a única maneira de vê-lo envergonhado, o que eu achava simplesmente fofo quando éramos adolescentes.
- Posso saber por que você está sorrindo? – ele perguntou, me tirando dos meus devaneios.
- Eu só me lembrei de uma coisa. – disse, dando de ombros e me encarou curioso, arqueando a sobrancelha como se estivesse me incentivando a prosseguir. Eu rolei os olhos diante do seu olhar e ele riu.
- Sabe que eu sempre amei quando você fazia essa expressão de tédio, você sempre ficava uma gracinha aborrecida. – ele disse, fazendo graça e apertou uma das minhas bochechas sorrindo, o que me fez fuzilá-lo com o olhar dessa vez.
- Comporte-se, . – disse, brava e ele riu.
- Só se você me disser no que estava pensando antes. – ele pediu e eu suspirei já começando a me arrepender de ter aceitado aquela dança que parecia não acabar nunca.

Tell me you love me.
Tell me what I'm supposed to do?
'Cause my heart burns and burns and burns…
When I look at you.


- Tudo bem, como você continua irritante! – exclamei, frustrada e ele riu novamente. – Eu só estava me lembrando de quando sua mãe me contou que havia te colocado em aulas de dança quando você era criança e no quanto eu pegava no seu pé por isso. – dei de ombros e dessa vez quem rolou os olhos, aborrecido, foi ele.
- Você nunca vai se esquecer disso não é? – perguntou, emburrado e eu gargalhei negando.
- Nunca, este é o meu único trunfo em relação a você. – disse, me sentindo vitoriosa. Ele inclinou a cabeça, posicionando os lábios próximos ao meu ouvido e eu senti um arrepio percorrer o meu corpo, quando o seu hálito quente invadiu aquela região, eu queria me afastar, mas não consegui.
- Você não sabe o quanto está enganada. Você possui muitas vantagens em relação a mim, apenas não quer mais enxergar isso. – disse, em um sussurro e depois se afastou dando de ombros, eu o olhei confusa.
- O que você quer dizer? – perguntei, quando a canção finalmente pareceu se encerrar. soltou minha cintura, fazendo com que uma brisa fria passasse por entre nós e me deixando com a sensação de que ele havia feito aquilo cedo demais.
- Sabe, essa dança também me trouxe memórias. Memórias do dia em que dancei uma valsa contigo na nossa festa de casamento. – disse, me encarando e eu queria estar enganada, mas o seu olhar pareceu brilhar emocionado quando ele pronunciou aquelas palavras. - Como eu prometi, foi somente uma dança. Até logo, . – ele beijou minha mão direita, em seguida se virou de costas e se afastou saindo da pista de dança sem olhar para trás, seguindo em direção ao bar, onde eu notei que Sarah estava e me deixando parada ainda confusa, fazendo com que eu suspirasse irritada ao vê-lo caminhando até ela. Eu era uma idiota, uma idiota por deixar que ele ainda me causasse qualquer tipo de efeito.

“Do you feel it?”

(...)


- Onde você estava? Você sumiu. – perguntei, assim que Jake sentou ao meu lado, me fazendo finalmente desviar os olhos da direção de e Sarah. Que diabos eu estava fazendo?
- Eu tive que atender a uma ligação de negócios, me desculpe. – ele pediu, parecendo chateado. – Perdi muita coisa? – Jake perguntou e eu me senti aliviada por notar que ele não estava presente enquanto dançava com e ao mesmo tempo me senti mal porque eu iria esconder aquele fato dele.
- Nada demais, acho que essa festa já está ficando entediante. Você acharia ruim se fossemos embora agora? Eu deixei com a Sra. Parker e não quero abusar da sua boa vontade chegando muito tarde em casa. – disse, e ele deu de ombros.
- Por mim não tem problema, acho que já marcamos a devida presença. – ele disse, sorrindo e se levantou me estendendo a mão. – Vamos nos despedir dos outros.

(...)


- Obrigada por sempre me ajudar mais uma vez, Sra. Parker - agradeci a bondosa senhora que sempre me socorria quando eu precisava de alguém para cuidar de .
- Não se preocupe com isso, você sabe que é como uma neta para mim, e isso é o mais próximo de um familiar que tenho no momento. Fiquei tão sozinha desde que meu Charles morreu. Meu único filho já não suporta muito a minha personalidade atual, meus netos não ligam para mim, todos eles me acham uma velha rabugenta e você é uma das únicas pessoas que me compreendem. Por isso é uma alegria poder cuidar de , como se ela fosse minha bisneta. - ela concluiu, com um sorriso sincero no rosto e eu a abracei, emocionada com suas palavras. Poucos sabiam, mas desde que havia me mudado para aquele prédio e havia conhecido a Sra. Parker, era sempre ela a quem eu recorria quando precisava de conselhos e um pouco de sabedoria, além de , ela me auxiliou muito enquanto eu tentava me recuperar após a minha separação.
Nós nos encaramos por alguns segundos, duas mulheres solitárias que haviam encontrado uma família uma na outra e eu sorri, me afastando em direção ao elevador com adormecida em meus braços.
- Sempre que precisar pode contar comigo, a senhora também é como se fosse parte da minha família, obrigada novamente. – disse, quando as portas do elevador se abriram, mas antes que eu pudesse adentrá-lo, a Sra. Parker me chamou uma última vez.
- , você sabe que eu não gosto de me meter na vida alheia e só lhe dou conselhos quando você os solicita, mas quero lhe dizer algo há algum tempo... - ela fez uma breve pausa me encarando nos olhos, demonstrando uma seriedade e sinceridade em tudo o que dizia. - Sempre desconfie de pessoas que aparentam ser boas demais, perfeitas demais, pessoas assim na realidade sempre escondem os piores defeitos. Pense nisso, querida. - ela me sorriu uma última vez antes de fechar a porta de seu apartamento e me deixar ali parada entre a porta do elevador com dúvidas plantadas em minha mente. A Sra. Parker nunca dizia coisas assim apenas por dizer, disso eu sabia. Então a que ela se referia?

~.~


Estava deitada sobre a cama, me remexendo de um lado para o outro enquanto o sono não vinha e Jake dormia um sono profundo ao meu lado. Algumas horas haviam se passado desde que tive aquela conversa com a senhora Parker assim que chegamos da festa e fui até seu apartamento buscar . E o que ela havia me dito ainda estava incrustado nos meus pensamentos, algo me dizia que eu deveria dar ouvidos aquele conselho, será que ela falava sobre ? Não, ela nem ao menos o conhecia, mas se não fosse sobre ele, sobre quem seria? Eu estava tão confusa em relação aquilo que decidi afastar aquela preocupação no momento e tentar dormir novamente, talvez com o tempo eu compreendesse aquelas palavras. Eu só esperava que nada de terrível acontecesse e que não fosse tarde demais quando eu entendesse sobre o que ela falava.


“Uma gota do mal, uma simples suspeita, transforma o leite da bondade no lodo da infâmia”.
- Shakespeare.




Capítulo 19



“Is it my fault, is it my fault?
We’ve been missing each other.”
- Imagine Dragons.



’s POV.

Eu estava parado diante da entrada daquele prédio, observando tudo antes de entrar e me embrenhando por um mundo de nostalgia ao me lembrar do local parecido onde eu estudara anos atrás, aquela escola parecia com o meu antigo colégio, o lugar especial onde encontrei os meus melhores amigos e a mulher da minha vida. Vários momentos da minha adolescência invadiram a minha mente e eu sorri com aquelas boas memórias, finalmente caminhando em direção à entrada da escola que naquele início de ano ainda não havia sido invadida pelos alunos que ali estudavam devido a uma pequena reforma que estava sendo feita. Era a penúltima semana de Janeiro, eu estava ali para dar início a minha condicional e, como Tolman havia dito, eu teria que auxiliar o pessoal do colégio na organização de tudo, para que na semana seguinte a escola estivesse pronta para receber os estudantes. Caminhei pelos corredores vazios em direção à placa que indicava a secretaria, onde eu deveria me apresentar e receber as instruções do trabalho que deveria fazer naquela escola. Na semana seguinte, eu teria que dividir o meu tempo entre aquela escola que era a mais carente e outra do subúrbio, que eu ainda não havia sido informado do nome. Sem contar com as gravações do novo álbum da minha banda, que não iriam parar por causa dos meus problemas recentes. E em meio a tudo isso, eu ainda esperava ter tempo de entrar em contato com e pedir para que ela me deixasse ver durante as minhas folgas.
- Boa tarde. – cumprimentei a senhora de idade que estava sentada atrás do balcão de informações da secretaria.
- Boa tarde, meu jovem, no que posso ajudá-lo? – ela perguntou, com um sorriso simpático no rosto que imediatamente me lembrou do sorriso da minha avó e eu me aproximei do balcão retribuindo aquele gesto.
- Eu sou e o Sr. Tolman me enviou para cumprir a minha condicional e ajudar na organização da escola para o início do ano letivo. – disse de uma vez, não omitindo nenhum detalhe do motivo de estar ali naquela escola e fiquei esperando a reação daquela senhora, que provavelmente logo me desaprovaria por eu ser um infrator da lei, mas contrariando todas as minhas expectativas, ela permaneceu com aquele sorriso no rosto e se colocou de pé, me estendendo a mão em cumprimento.
- Prazer, Sr. , sou Margaret Muller e trabalho nesta escola como secretária há mais de vinte anos, vou levá-lo até a sala do diretor e lá ele irá informá-lo sobre as suas atividades, por favor, siga-me. – Margaret seguiu por um pequeno corredor, parando diante da porta que possuía a placa com a palavra “Direção” presa no alto, ela deu duas batidas e em seguida um senhor negro que aparentava ter no máximo quarenta anos nos pediu para entrar.
Margie, que durante o caminho havia pedido para que eu a chamasse daquela forma, já que todos se dirigiam a ela por aquele apelido ali, se retirou da sala após me apresentar ao diretor e em seguida ele me informou durante um tempo sobre todas as atividades e horários que eu deveria cumprir naquele colégio para o cumprimento da minha pena, eu assenti não falando muito e pouco tempo depois eu estava de volta à secretaria com Margie, que seria a minha supervisora durante aquele período em que eu ficaria trabalhando naquela escola. Eu fiz tudo o que me mandaram durante aquela semana que se passou, incluindo ajudar os pedreiros a carregar alguns materiais de construção de uma sala a outra, pintar algumas paredes e tetos das salas de aula, limpar carteiras e quadros negros, trocar lâmpadas, ajudar Margie na organização dos livros da biblioteca e nas fichas de alunos novos. Mas no dia em que ela pediu que eu fosse arrumar os materiais que seriam usados nos laboratórios de química e biologia, foi que eu me lembrei novamente do dia em que e eu havíamos nos tornado amigos. Do dia em que ela teve de me aturar como seu parceiro de laboratório em seu primeiro dia de aula em uma escola nova. Aquilo me fez sorrir por um tempo e logo depois sentir um aperto no peito pela falta que aqueles dias me faziam.

~.~


Aquela já era a terceira vez que eu ia parar na diretoria só naquele mês e ainda estávamos na segunda semana e em início de ano letivo, eu não era do tipo bad boy, mas confesso que aprontava algumas junto com os meus amigos e a maioria dos nossos atos sempre envolvia cabular aula pra ficar de bobeira ou ir ensaiar escondido em casa, já que meus pais sempre estavam trabalhando durante o dia. A diretora me passou o sermão de sempre e eu acabei levando apenas mais uma advertência, em vez da suspensão que merecia, porque a velha me adorava. Saí da sua sala feliz por ter uma boa lábia e passei em frente à velha secretária, Sra. Norton, que sorriu pra mim, mas balançou a cabeça reprovando o meu jeito, que ela já conhecia há um bom tempo. Eu a encarei sorrindo, enquanto passava pela porta de saída me lembrando do que havia ocorrido mais cedo, quando a inspetora do colégio, que não era muito minha fã, me arrastou em direção à diretoria e eu acabei esbarrando na criatura mais linda que eu já havia visto na vida naquele mesmo local, mas a inspetora mal amada me puxou com força e tudo o que eu pude fazer foi sorrir para aquela garota me desculpando, mesmo estando curioso pra saber mais sobre ela, que apenas retribuiu com um sorriso tímido e lindo, acenando com a cabeça informando que não havia sido nada e seguiu o seu caminho parecendo perdida, mas sem olhar para trás uma única vez. Ela era uma aluna nova, eu nunca a tinha visto e eu senti que precisava conhecê-la, mas infelizmente não a vi mais, até que mais uma vez cheguei atrasado à aula de química e a primeira coisa que notei foi ela sentada sozinha em uma das mesas do laboratório.
- Hey, Fred, desculpa pelo atraso, tive uns probleminhas no banheiro. - sorri daquele jeito desleixado e o professor que também já me conhecia há um bom tempo rolou os olhos fingindo tédio.
- Poupe-me dos detalhes, . - Fred respondeu, aparentemente sem muita paciência, mas eu sabia que não levaria bronca. - Você finalmente conseguiu uma parceira nesta aula, por favor, não a leve para o lado negro da força. - ele fez graça com o seu jeito nerd e bem humorado e me pediu para sentar ao lado dela. Por isso eu adorava aquele cara.
Sorri de lado, sentindo todos os olhares daquela classe de desocupados se voltarem para mim enquanto caminhava em direção a ela e me sentava na cadeira ao seu lado.
- Oi, minha nova parceira, sou , mas pode me chamar de . Qual o seu nome? – eu logo perguntei, com um sorriso nos lábios, e ela logo desviou os seus olhos da minha direção parecendo envergonhada.
- . - ela disse, baixo, ainda séria e as suas bochechas logo ficaram avermelhadas, ela parecia ser bem tímida e aquilo era adorável.
- , belo nome. – eu elogiei, sorrindo. - Posso te chamar de ? - perguntei e ela apenas assentiu. – Legal! Você não é de falar muito, não é? - eu questionei novamente curioso e ela assentiu de novo. Aquilo me fez gargalhar alto, achando-a uma gracinha e o meu gesto escandaloso fez com que Fred nos olhasse, chamando a minha atenção logo em seguida.
- Desculpa, Fred, pode continuar com a aula. - eu disse, me desculpando com um sorriso nos lábios, me voltando novamente em direção a ela. - Não se preocupa com o que o Fred falou sobre aquela parada de “lado negro da força”, eu não sou tão delinquente assim, ele só gosta de pegar no meu pé, ele e todos dessa escola. – disse, fazendo bico, e isso finalmente a fez sorrir, o que me deixou encantado. - Você tem um belo sorriso, sabia? - eu elogiei e ela novamente ficou vermelha de vergonha. - E fica linda com essa cara vermelha. - ri de novo, achando ela linda, mas dessa vez fechou a cara, me ignorando e desviando o seu olhar para o professor que explicava algo que eu não fazia a menor ideia do que se tratava. Aquilo fez com que eu risse de novo, só que um pouco mais baixo e me virei encarando Fred, fazendo o mesmo que ela, ficando em silêncio por um tempo, mas isso não durou muito tempo, porque logo avistei algo que me faria puxar assunto novamente.
- Maneira a capa do seu caderno, você é mesmo fã dos Beatles? - eu perguntei, me virando em sua direção numa tentativa idiota de fazer com que ela conversasse comigo e sorrisse de novo. me analisou por um momento e então deu de ombros, respondendo baixo.
- Sim, eu sou. Herança dos meus pais. – ela disse, dando de ombros, mas notei uma leve mudança em sua expressão, o seu olhar ficou triste, o que me deixou intrigado pensando se havia algum problema entre ela e os pais, só que preferi não tocar no assunto pra não ser tão intrometido logo de cara. E ela pareceu aliviada quando eu não questionei nada a respeito e continuei falando sobre música.
- Legal, é difícil ver uma garota da nossa idade com bom gosto musical, principalmente nessa escola. – disse, revirando os olhos e ela retribuiu sorrindo. - Do que mais você gosta, ? – perguntei, completamente interessado em saber mais sobre os seus gostos, suas preferências.
- , nós estamos no meio da aula. - ela disse, ficando nervosa após o professor olhar novamente em nossa direção.
- Relaxa, o Fred é gente boa. E eu sou fera nessa matéria, depois te explico tudo se você precisar. - pisquei sorrindo. - Então, me diz que tipo de bandas você curte? – insisti nas perguntas e ela respirou fundo, desistindo de me ignorar e logo me respondendo a tudo o que eu perguntava sobre ela.


(...)


Talvez devido a todo o trabalho a semana passou voando como um cometa e quando parei finalmente senti todo o cansaço do trabalho me envolver. Tudo o que eu queria e planejava para aquele final de semana era ficar o dia todo largado sobre o sofá desconfortável da sala do , vegetando diante da televisão, já que na próxima semana a minha situação pioraria, pois eu teria que trabalhar em duas escolas, além de ir até o estúdio depois para agilizar a minha parte nas gravações. Tempo era uma coisa que eu não tinha e isso me irritava, pois ainda não havia tido oportunidade de conversar com pessoalmente sobre , pois nas vezes em que tentei falar com ela por telefone, ela sempre me enrolava e encerrava a ligação antes que eu expusesse a minha vontade.
Naquele sábado, a minha vontade era de ficar em casa, mas infelizmente eu tinha três amigos babacas que faziam questão de não me deixar em paz e por isso acabei sendo arrastado a força para um churrasco com direito a banho de piscina da casa dos , não que aquilo estivesse ruim, já que ficar relaxando na água também é algo bom, mas eu sempre gostava de pegar no pé daqueles idiotas. Então ficamos lá durante toda a tarde, sem nada para fazer, além de jogar conversa fora, beber algumas cervejas e é claro, comer hambúrgueres.
- Eu comprei uma casa, é um lugar bacana, com um quarto pra , que tem também um quintal grande, onde dá até pra construir uma casa na árvore, se a minha pequena quiser. - eu disse, de repente, finalmente contando a novidade a todos eles e olhei atento a reação dos três à minha frente, a expressão séria no rosto de me deixou confuso. - , algum problema?
- Não acredito! Isso é tão típico de você. É só uma relação começar a ficar séria, só a gente começar a se envolver, que você já quer logo pular fora, pronto pra fugir. Eu pensei que fosse especial, meu bem. - ele exclamou, com uma voz afetada e eu o encarei rolando os olhos, entediado com aqueles ataques gay de , quando os outros dois desataram a rir.
- Posso saber qual é a graça, seus panacas? – perguntei, aborrecido.
- , o fato de isso ser verdade é exatamente o lado engraçado disso tudo. Primeiro a , depois a Ashley vadia e agora eu. Seu insensível! - respondeu, ainda entre risos e as gargalhadas aumentaram.
- Eu queria saber o que fiz pra merecer essas merdas de amigos? – resmunguei, fingindo estar chateado com o fato de eles amarem fazer piada com situações críticas da minha vida.
- A gente tem o que merece, meu caro. Lide com isso como um macho e pare de fazer drama. - me deu cascudo e eu revidei puxando o seu short.
- Crianças, elas nunca amadurecem. - brincou e e eu nos entreolhamos prontos para atacá-lo e jogá-lo na piscina logo em seguida. Charlie, que estava sentado em uma espreguiçadeira brincando com a mãe, gargalhou quando viu o pai ser jogado na água, o que nos fez rir mais ainda quando acusou o filho de ser um traidor. Eu sorri, observando todos eles. Aqueles eram mesmo os meus melhores amigos, amigos pra vida toda. Era bom estar ali.

Depois do que fizemos com , Penny reclamou algumas vezes sobre como éramos quatro trogloditas e que ela precisava urgentemente de reforços para nos aguentar. Ela levou Charlie para dentro, já que o sol estava muito quente naquele horário, ficando lá por um tempo e quando eu menos esperava surgiu na casa, para alegria de , que logo nos abandonou se juntando a ala feminina do local, que não parava de falar por um minuto sequer.
- Eu sempre soube que era meio gay, mas agora tenho certeza disso. – comentei rindo, enquanto , e eu observávamos o nosso querido amigo tagarelando junto com as garotas. gargalhou ao meu lado.
- Ele só está apaixonado, e vai fazer de tudo pra conquistar a doutora, até bancar o amigo gay. – defendeu ao mesmo tempo em que também ria, nós dois demos de ombro e logo estávamos nos juntando aos três perto da varanda.
Aquele foi um longo descanso que eu demoraria a ter novamente, um bom dia na companhia dos meus amigos, mas no fundo eu sabia que faltava mais alguém ali. Era hora de eu demonstrar que estava disposto a mudar, pra que tudo voltasse a ser como era antes.

’s POV.

Segunda-feira nunca era o meu dia favorito da semana, mas naquele dia eu estava animada em iniciar mais um período de trabalho, pois as aulas voltaram após a pausa para as festas de fim de ano, apesar de já ter ido à escola na semana anterior para preparar as aulas e o restante do calendário escolar junto ao resto do corpo docente, aquele seria o meu primeiro dia efetivo lecionando após as férias. Era a última semana de janeiro, estava em seu último ano da pré-escola e no ano seguinte, quando completasse 5 anos, estudaria em período integral, já que iria para o primário, que também como a pré-escola onde ela estudava funcionava no mesmo bloco de prédios da escola secundária onde eu agora iria dar aulas, pois havia recebido uma proposta excelente de trabalho para lecionar literatura e inglês a turmas de alunos mais velhos. Eu gostava de trabalhar ali, porque tendo as três escolas em prédios tão próximos, eu não precisava ficar tão longe de onde a minha pequena estudava, era muito cômodo.
- Amorzinho, hora de acordar. – chamei a minha pequena fazendo carinho em seus cabelos.
- Não, mamãe. – resmungou, preguiçosa e eu ri baixo.
- Mas hoje você volta pra escola, gatinha, não está com vontade de rever os seus amiguinhos? Você estava tão animada ontem. – perguntei, ainda fazendo cafuné em seus cabelos e ela rapidamente abriu os olhos e logo sorriu.
- Quero ir sim, mamãe! – ela se levantou sobre a cama e começou a pular animada. – Tô com saudade da Mimi e do Enzo. – ela disse, feliz. Emilly - ou Mimi, como a minha pequena chamava - e Enzo eram seus amiguinhos desde que havia entrado na pré-escola e os três eram muito grudados, mas quase não haviam se visto durante as férias de fim de ano.
- Então agora a senhorita está animada. – eu a peguei no colo, fazendo leves cócegas em sua barriga, enquanto ela ria sapeca. – Vamos tomar banho então, depois tomar um delicioso café da manhã e ir matar essa saudade que você sente dos seus amiguinhos. Que tal? – perguntei e assentiu contente. E logo o nosso dia se iniciou.
- Oi, pestinha. – abraçou assim que entramos na cozinha. – Pronta para a volta às aulas? – minha amiga perguntou, servindo o café da manhã.
- Sim, titi! – respondeu animada enquanto comia panquecas. – Vou brincar muito hoje com a Mimi e o Enzo. – ela disse, sorrindo.
- Hm, o Enzo, não é? Aquele mini pedaço de mau caminho de cabelos castanhos e olhos verdes com descendência italiana. Bom gosto, querida, bom gosto. – disse, brincando e a encarou.
- ! – eu exclamei, não acreditando na conversa que ela estava tendo com a minha filha de três anos. – Você fala cada besteira, ela é só uma criança. – disse, rindo e minha amiga deu de ombros.
- É bom que a garota tenha um bom gosto. – respondeu.
- O que é pedaço de mau caminho e decência, titi? – ela perguntou, confusa.
- Descendência, minha linda, quer dizer de onde ele veio e sobre pedaço de mau caminho... – tentava explicar, quando a interrompi.
- Ok, já chega, hora de ir para a escola. – falei, apanhando no colo e encerrando o assunto.
- Mas eu quero sabeeeerr... – reclamou, e fez bico, o que nos fez rir.
- Quando você for maior eu conto, pestinha. – piscou e minha filha a olhou emburrada. – E não faz esse bico, senão eu te mordo. – ela se aproximou de nós e se encolheu em meus braços rindo.
- Tá bom, já deu. A gente tá indo, , bom trabalho pra você! – disse, apanhando a mochila e a lancheira de .
- Pra você também, amiga, sorte no primeiro dia com os aborrecentes! – ela desejou e eu ri. – E bom primeiro dia de aula pra você, minha pestinha. – beijou a bochecha da minha pequena, que sorriu dando adeus para , enquanto nós saíamos pela porta em direção ao elevador.

Estacionei o carro na vaga reservada para professores dez minutos antes do início das aulas, saí do veículo, retirando da cadeirinha em seguida e caminhamos travando uma conversa animada entre um adulto e uma criança até o prédio da pré-escola. Assim que chegamos à entrada avistou os amiguinhos ao lado da sua professora e se despediu de mim rapidamente, com um beijo no rosto antes de correr carregando a pequena lancheira e a mochila cor de rosa de rodinhas em direção a eles. Eu sorri observando a sua empolgação e a observei adentrar o local, acompanhada pela professora, antes de me virar e seguir em direção ao prédio da escola secundária.
Andei pelos corredores já repletos de alunos, que se abraçavam e matavam a saudade dos amigos de quem haviam ficado afastados durante as férias, eu sorri me lembrando de quando era adolescente e fazia o mesmo logo que voltava às aulas, mas perdi o sorriso quando me peguei sentindo saudades de como era divertido ficar na presença de e dos outros garotos na época do colégio. Balancei a cabeça, tentando afastar aquelas memórias e segui em direção à sala de professores, pronta para apanhar o material que eu utilizaria para as aulas daquele dia, quando notei um burburinho vindo de lá de dentro.
- Bom dia. – cumprimentei os outros professores, que me saudaram e logo se aproximaram para me informar a fofoca do momento.
- querida, você não sabe da novidade. – Dakota, a professora de artes, falou, animada.
- Não estou sabendo de nada mesmo, mas aposto que você irá me contar, Dak. – respondi, rindo e ela piscou confirmando.
- Parece que teremos um novo colega de trabalho. E você nem imagina de quem se trata! Ele é um gato. – ela exclamou, sorrindo de orelha a orelha.
- Não faço a menor ideia. – confirmei, confusa.
- É um novo voluntário, que dará oficinas de música para os alunos durante alguns dias da semana. – Phill, o professor de matemática, explicou, ajeitando os óculos.
- Isso! – Dak confirmou, sorridente. – Mas o melhor ainda está por vir! – ela continuou.
- Tudo bem, gente, chega de suspense, porque agora eu estou curiosa. Quem é esse maravilhoso voluntário? – perguntei, curiosa e no mesmo instante a porta da sala se abriu novamente e eu encarei a pessoa que entrava não acreditando no que via.

’s POV.

Estava parado dentro do táxi diante daquela escola, o motorista encarando o taxímetro que permanecia rodando, provavelmente imaginando o quanto faturaria com a minha demora para sair do seu táxi, enquanto eu estava olhando o endereço que Tolman havia me fornecido no dia anterior, ainda tentando entender se aquilo era algum tipo de peça pregada pelo destino. Justo aquela escola, entre tantas outras que existiam em Londres, havia sido sorteada para que eu cumprisse o meu período de serviços comunitários. Já havia passado a última semana na outra escola na companhia de Margie e estranhamente me apegado à velha senhora, mesmo tendo que trabalhar como uma espécie de servente, mas não imaginava que o lugar onde estava agora seria a outra instituição onde eu teria que trabalhar durante todo o ano. Alguém lá em cima queria me dar uma ajudinha e eu agradecia por isso.
Olhei ao redor e em direção ao estacionamento mais a frente ainda esperando, nervoso por achar que tinha chegado cedo demais, mas quando faltavam apenas dez minutos para o início das aulas eu notei o veículo escuro de estacionando em uma das vagas disponíveis para os professores, ela saiu do carro e em seguida retirou da cadeirinha, colocando-a no chão enquanto apanhava a mochila da pequena, as duas riam e conversavam sem parar, fazendo com que eu risse junto e sozinho dentro daquele carro enquanto as observava querendo estar próximo a elas.
seguiu com até a entrada da pré-escola, onde há algum tempo eu havia descoberto que ela estudava. Lugar onde também imaginei que trabalhasse, já que havia observado escondido as duas de longe, antes do período de férias, entrando e saindo daquele prédio várias vezes. Mas ela não entrou dessa vez, apenas se despediu da nossa filha e a observou por um tempo antes de se virar e caminhar em direção ao outro prédio, o da escola secundária, prédio este onde o endereço que estava em minhas mãos indicava que eu deveria ir, senti o suor tomar conta das palmas das minhas mãos quanto constatei que talvez houvesse mudado de emprego e logo fiquei apreensivo imaginando qual seria a sua reação quando me visse trabalhando no mesmo local onde ela trabalhava. No fundo eu estava feliz por poder ficar tão próximo das duas, mas aquilo seria difícil, eu podia sentir.
- Com licença, estou procurando a Sra. Lewis, disseram que ela estaria aqui. – perguntei pela diretora da escola assim que adentrei a porta da sala dos professores e logo senti aquele olhar sobre mim. Eu não precisava olhar para ela de volta para perceber a sua surpresa pela minha presença.
- Sou eu, em que posso ajudá-lo? – A senhora que aparentava ter por volta dos cinquenta anos se levantou, caminhando na minha direção.
- Richard Tolman me mandou aqui, eu sou , vou ajudar nas oficinas de música. – expliquei e ela me cumprimentou com um sorriso no rosto, assentindo.
- Oh, claro! Vamos até a minha sala conversar sobre o trabalho que irá realizar aqui nesta escola, senhor , por favor, me acompanhe. – A Sra. Lewis saiu pelo corredor e eu a segui, mas antes de sair da sala dos professores arrisquei um último olhar em direção a e ela ainda me encarava, mas eu não conseguia ler o que aquele olhar queria me dizer.
- Como sabe, senhor , o trabalho que irá realizar aqui nesta escola será dando aulas extracurriculares de música para os alunos, estou obviamente a par da sua condição e sei que esta é uma atividade obrigatória para o cumprimento das horas estipuladas pelo juiz para a sua pena por dirigir embriagado. – a senhora de cabelos levemente grisalhos disse e eu a encarei surpresa por saber de tantos detalhes. – Não se preocupe que estes detalhes foram informados apenas a mim, já que sou a responsável por esta instituição, este tipo de informação é sigilosa e o senhor não sofrerá nenhum tipo de constrangimento por isso, pode ficar tranquilo. – ela logo se explicou e eu respirei aliviado. Mesmo sabendo que provavelmente muitos imaginassem o motivo de eu estar ali, já que a notícia de que eu havia sido preso dirigindo bêbado vazara para a imprensa como sempre.
- Tudo bem, eu entendi, senhora Lewis. – respondi, pedindo para que ela prosseguisse.
- De qualquer forma, quero que saiba que será tratado como qualquer funcionário desta escola no período em que estiver trabalhando aqui e como todos os funcionários deverá seguir as regras e respeitar os horários, mesmo que o seu período de trabalho seja apenas durante dois dias na semana aqui, isso será avaliado no relatório semanal da sua condicional. O senhor Tolman me solicitou que deverá haver alguém desta escola responsável por fiscalizar o seu trabalho, fornecendo a ele o relatório após isso. Infelizmente, não tenho muito tempo para ficar com este cargo, por isso escolhi dois dos meus professores que sempre ficarão responsáveis por esta tarefa, um em cada dia. Elaborei um projeto com atividades envolvendo as oficinas de música atreladas às matérias dadas por eles no currículo escolar. Porque acredito que atividades deste tipo serão muito benéficas para os meus alunos. – ela explicou novamente e eu apenas concordei pensando em como ela era diferente dos diretores das escolas que eu frequentei quando jovem.
- Entre. – a Sra. Lewis pediu, assim que ouvimos duas batidas leves na porta de sua sala.
- Com licença, Clare, você mandou me chamar? – aquela voz invadiu o ambiente e eu me ajeitei na cadeira, me virando em direção à porta apenas para vê-la ali, parecendo incomodada por estar no mesmo ambiente que eu novamente.
- Mandei sim, , minha querida. – a diretora respondeu, sorrindo e assentiu em silêncio. – Por favor, entre e sente-se, quero lhe informar sobre uma novidade que teremos nesta escola este ano. – a mulher pediu e caminhou, sentando-se com receio na cadeira ao lado da minha.
- Pois não? – ela perguntou, ainda mais incomodada, provavelmente por sentir o meu olhar sobre si.
- , este é . – a mulher nos apresentou, claramente alheia a tudo o que havia se passado entre e eu. Eu encarei aquela senhora surpreso e soltou um riso baixo e cheio de ironia. – Algum problema? – a senhora Lewis perguntou, desconfiada.
- Nós já nos conhecemos. – eu disse, simplesmente, dando de ombros com um sorriso torto nos lábios, como se aquilo não fosse algo importante.
- Mas seria melhor se nunca houvéssemos nos conhecido. – disse, baixo, para si mesma, mas eu pude ouvir muito bem aquelas palavras certeiras.
- O que disse, querida? – a diretora questionou, nos encarando intrigada.
- e eu já fomos casados há muito tempo, mas este é um período da minha vida que eu prefiro esquecer. – ela informou a diretora, que pareceu se surpreender com a notícia. Onde aquela mulher havia vivido nos últimos anos? Tudo bem que não gostava muito de aparecer para a imprensa quando éramos casados, e que a fama real da minha banda só havia surgido quando nos separamos, mas as fãs da minha banda sabiam sobre nós. Definitivamente, a senhora Lewis não era uma fã do McFly.
- Oh, eu não sabia, querida, mas fico feliz que se conheçam, assim será mais fácil que convivam e façam o que estou planejando. – a diretora disse, a encarou apreensiva, e eu apenas ri baixo por aquela mulher ser tão ingênua.
- Ainda não entendi o porquê de ter sido chamada aqui, senhora Lewis. – minha ex-mulher falou, ansiosa, mas aparentemente tentava controlar o seu nervosismo.
- O senhor aqui irá trabalhar conosco durante este ano, dando aulas em uma oficina de música, um projeto que nós idealizamos para que... – a mulher dizia, quando a interrompeu.
- Tudo bem, Clare, sei que isso faz parte do serviço comunitário que ele está sendo obrigado a prestar para não ir para a cadeia. – disse, com desdém e a diretora a encarou parecendo envergonhada.
- E ela não podia perder a oportunidade de pegar no meu pé, senhoras e senhores! – respondi, encarando , com um sorriso confiante no rosto. Ela me olhou rapidamente, revirando os olhos daquela maneira que só ela sabia fazer, o que me fez sorrir mais ainda e isso fez com que ela bufasse irritada e se virasse novamente em direção a diretora.
- Sempre um idiota egocêntrico. – murmurou e eu ri do seu jeito, o que a deixou ainda mais nervosa.
- Tudo bem, acho que entendi que o convívio de vocês não será tão amistoso assim. – a diretora disse, tentando aliviar o clima da situação.
- Imagine, senhora Lewis, por mim tudo ocorrerá as mil maravilhas. – disse, ainda encarando , que preferiu permanecer em silêncio enquanto olhava fixamente o diploma que estava pendurado na parede logo atrás da diretora, fingindo que aquilo era mais interessante.
- De qualquer forma, vou dizer logo o motivo pelo qual a chamei aqui, . – A diretora se ajeitou em sua cadeira, encarando com um sorriso amoroso nos lábios, ela parecia gostar muito dela, e a minha ex-mulher a olhou apenas assentindo e permanecendo séria. – O senhor aqui irá trabalhar conosco, como já expliquei, mas o trabalho que ele fará deverá ser avaliado por alguém desta escola, que por sua vez fará um relatório semanal que será apresentado ao agente de condicional de . Tendo isso em mente, tive a ideia para um projeto extracurricular que irá envolver duas matérias da grade escolar e as oficinas de música que o senhor irá ministrar. Este projeto será apresentado aos alunos e valerá nota, cada professor das matérias escolhidas ficará responsável por algumas turmas para conclusão do projeto, que consiste em que os alunos façam uma relação entre tal matéria e a música, apresentando o trabalho final para toda a escola em um festival que iremos realizar no final do ano letivo. O professor responsável por cada matéria trabalhará diretamente com e ficará responsável pela avaliação do mesmo, que estará aqui nesta escola durante dois dias da semana. As matérias que escolhi para este projeto são Literatura, que é lecionada por você durante este ano e História, que tem o Sr. Landon como professor, com quem eu já conversei a respeito deste projeto. – a diretora concluiu.
- Mas, Sra. Lewis, eu sou nova nesta escola, não seria melhor escolher outro professor, outra matéria? – perguntou, tentando se esquivar, aparentemente nervosa com a proposta da diretora.
- Mas é claro que não, querida, apesar de você ser nova aqui, recebi excelentes recomendações ao seu respeito e sei que dará conta deste projeto. Estou contando com você. – a diretora disse, piscando ao final e lhe ofereceu um sorriso forçado em resposta.
- Bom, se não tem outra forma, eu aceito. – ela respondeu, visivelmente desgostosa com aquilo, eu sorri notando ali uma oportunidade de me aproximar dela.
- ficará na escola durante dois dias, segundas e quartas, você o avaliará as segundas, começando a partir de hoje e Landon fará o mesmo as quartas. Aqui está o cronograma e toda a descrição do projeto. Bom trabalho aos dois. – a Sra. Lewis disse, sorrindo e se levantou, indicando que já era hora de deixarmos a sua sala e ir trabalhar. respirou fundo e a cumprimentou antes de sair sem ao menos me esperar.
- Até logo, Sra. Lewis. – me despedi com um sorriso, que ela retribuiu.
- Até logo, Sr. . Espero que não se envolva em problemas nesta escola. – ela piscou ainda sorrindo e eu assenti, saindo da sala a procura de .
- Hey, , calma aí, isso não é uma maratona. – eu disse, um pouco sem fôlego por ter tido que correr atrás dela, que caminhava apressadamente pelos corredores da escola.
- Mas que droga! O que eu fiz pra merecer isso, Deus? – exclamou, baixinho, enquanto diminuía o ritmo dos passos. – Vamos logo, seu idiota, quanto mais cedo a gente começar, mas rápido eu me livro de você. – ela disse, sem me encarar quando eu a alcancei. – E não me chame de . – ela me olhou brava por um segundo antes de seguir. Eu sorri, porque irritada era extremamente adorável, como eu havia me esquecido disso? Eu era mesmo um idiota.

(...)


- Bom pessoal, por hoje é só. Na próxima segunda-feira espero vocês aqui para darmos continuidade ao projeto junto com o senhor , ok? – disse aos alunos, enquanto eu apenas assistia, ela realmente era boa naquilo, apesar de ser o seu primeiro dia naquela classe, como a diretora havia dito, todos pareceram adorar a sua aula e olha que Literatura não era uma das matérias favoritas da maioria. Mas ela conseguiu prender a atenção dos alunos do início ao fim, mesmo das garotas que ficaram alvoroçadas quando me reconheceram assim que entrei na sala. E de repente eu me senti mal por ter sido tão idiota e egoísta no passado e não ter incentivando-a a concluir a faculdade naquela época. Ela havia nascido para ensinar.
- Até logo, senhora e . – a última garota que estava na sala guardando o seu material se despediu sorrindo tímida para mim antes de sair e nós finalmente ficamos a sós.
- Você foi maravilhosa hoje. – eu disse, admirado.
- Obrigada. – respondeu, seca, apanhando seu material e seguindo em direção à porta da sala.
- , espera, eu queria conversar com você. – pedi, segurando o seu braço e logo senti aquela corrente elétrica tomar conta do meu corpo.
- Já falei antes pra você não encostar mais em mim. – exigiu entredentes e eu apenas obedeci a contragosto, querendo evitar qualquer briga.
- Calma, eu não quero discutir com você, só queria explicar que eu não sabia que... – eu dizia, quando ela me interrompeu, parecendo cansada de me ouvir falar.
- Eu sei, , não precisa se explicar. Agora se me der licença, eu preciso ir, pois tenho que preparar algumas coisas para a próxima aula. – ela disse, saindo pela porta, mas logo retornou me encarando. – E caso não tenha imaginado isso, você está dispensado por hoje. – e saiu sem dizer adeus.
- Até segunda, . – eu respondi para mim mesmo, em parte feliz por ter que encontrá-la em breve, em parte desanimado por saber como ela me trataria. Mas eu não deixaria o seu humor me abater, eu estava disposto a fazer as pazes com para ter por perto e no futuro, quem sabe, tê-la de volta pra mim.

’s POV.

O final de semana havia chegado e ido embora tão rápido que eu nem havia notado, ainda ficava tentando entender o que eu tinha feito de tão errado na vida para ter que aturar trabalhando comigo todas as segundas-feiras por um ano inteiro. Quando tudo o que eu mais queria era me manter afastada dele, tudo o que eu conseguia era tê-lo ainda mais perto. Ele já havia me ligado algumas vezes tentando marcar encontros para que ele pudesse ver , graças ao idiota do que lhe deu o meu número, e eu sempre conseguia inventar uma desculpa e desligava logo em seguida, mas agora com ele tão perto seria difícil me safar por mais algum tempo, uma hora ou outra ele sairia vencedor naquela batalha e aquilo já estava me deixando cansada.
Preferi não contar a ninguém sobre o que estava acontecendo no momento para evitar confusões, Jake estava cada dia mais estranho e distante. Mas ficava cada dia mais confusa e intrigada com a minha mudança de comportamento em relação ao trabalho, porque, segundo ela, antes eu estava tão animada para lecionar para uma escola secundária e na segunda-feira quando cheguei em casa o meu desgosto era visível. Mas eu precisava mudar aquilo, não podia deixar que afetasse o meu trabalho e no fundo eu precisava admitir que a ideia da Sra. Lewis para aquele projeto era ótima, os alunos ficaram muito entusiasmados e seria uma forma diferente de lidar com a matéria e ao mesmo tempo prender a atenção de adolescentes que são sempre tão inconstantes durante as aulas. Era só não aceitar as provocações do , ser sempre profissional e tudo correria bem.
- Hey, moça, não vai trabalhar hoje não? – chamou da porta do quarto, era segunda-feira novamente, o despertador havia tocado quinze minutos atrás, mas eu ainda não tinha reunido coragem para levantar da cama e ter mais um dia na companhia de , que parecia ter se tornado a minha eterna cruz.
- Não queria ir, mas não tenho escolha. – resmunguei, com o rosto enterrado no travesseiro e riu.
- Síndrome de Garfield? – ela perguntou, se aproximando.
- Algo parecido. – respondi, tentando me livrar da preguiça enquanto me sentava na cama. Eu estava mesmo parecida com aquele gato gordo e laranja.
- Compreensível. Todos nós temos essas crises em algumas segundas-feiras, no meu caso, normalmente acontece em todas. – ela disse, rindo, enquanto puxava o edredom que me cobria. – Mas levante logo daí senão a senhorita chegará atrasada no trabalho. Eu vou aprontar a enquanto isso, nós saímos juntas depois e deixo vocês lá, já que o seu carro ainda está na oficina. – ela piscou e eu concordei, seguindo desanimada em direção ao banheiro do meu quarto, lembrando de que precisava cobrar mais agilidade do mecânico que ainda não havia solucionado o problema do meu carro.
e não ficaram quietas durante todo o percurso da nossa casa até a escola, cantaram todas as músicas que eram tocadas no rádio, inclusive uma que o locutor disse que era do McFly, o que me surpreendeu, primeiro por e conhecerem a canção, segundo por aquela música não fazer exatamente o estilo das antigas músicas que eu conhecia e me recusava a escutar nos últimos anos, e terceiro por eu estranhamente ter gostado da melodia e ter ficado surpresa com a letra da canção que o locutor disse se chamar “Foolish” e que me fazia recordar do passado. Será que havia escrito aquela letra? Era tudo tão compatível.

I never thought she'd remember.
Eu nunca pensei que ela se lembraria.
The way that I left her heart.
Do jeito que eu deixei seu coração.
Didn't know I had it all.
Eu não sabia que eu tinha tudo,
Till the moment I lost it all.
Até o momento que eu perdi tudo.
People, mind, mistakes and fall.
Pessoas, memórias, erros e quedas.
And she won't ever recover.
E ela nunca vai se recuperar.


Eu observava a rua, quieta, sentada no banco do passageiro enquanto aquela canção fazia com que eu me sentisse diferente, há alguns anos eu não os ouvia, evitava qualquer contato com o McFly e o seu mundo, mas agora que toda a verdade havia vindo à tona, isso era algo que eu não poderia mais evitar. Senti meus olhos arderem e um sentimento estranho de saudade surgir à medida que a letra da canção se desenrolava.

'Cuz I keep seeing in reflections.
Pois eu continuo vendo recordações.
Flashes in every mirror.
Flashes emcadaespelho.
Kissing her when I'm alone.
Beijando-a quando eu estou sozinho.
Making love until the dawn.
Fazendo amor até o amanhecer.
Now that every night I know.
Agora, em cada noite eu sei.
I can't live without her.
Que não posso viver sem ela.


Balancei a cabeça, tentando afastar as memórias e pensando o quão idiota eu era por ficar cogitando coisas que nunca aconteceriam novamente. Me sentindo tola por ter cogitado a hipótese de que havia escrito aquela canção pensando em mim, pensando em nós dois, pensando em um passado que parecia ser perfeito, até o momento em que uma súbita tempestade repleta de egoísmo, instabilidade e conformismo o destruiu pra sempre.

Foolish to let misery let it fall apart in all...
Tolo por deixar a miséria deixá-la cair em pedaços...


parou o carro próximo ao estacionamento e eu agradeci pela carona, logo saindo do veículo e me dirigindo à porta de trás para retirar da cadeirinha. Quando nós duas já estávamos prontas do lado de fora, acenamos para , que sorriu seguindo o seu caminho até o hospital, mas assim que me virei com em meu colo, meus olhos logo se prenderam em uma cena, que parecia ter sido trazida do passado, era como se eu fosse adolescente novamente. Como se o tempo tivesse voltado. estava parado ao lado de um carro que estava estacionado em uma das vagas para os professores, ele estava encostado na lateral, com óculos de sol protegendo os seus olhos naquela manhã e os braços cruzados, enquanto algumas alunas adolescentes o cercavam, a única diferença em relação ao passado era que essas meninas estavam com caneta e papel na mão, eufóricas enquanto ele lhes dava autógrafos. Encarei aquela cena ridícula por um tempo, e quando me percebeu ali com no colo, rapidamente tentou se desvencilhar das meninas e veio caminhando em nossa direção. Mas eu me virei antes que ele nos alcançasse, seguindo com a minha filha em direção à pré-escola e não esperando por ele.
- Mamãe, olha o tio . – disse, olhando para trás e acenando.
- É, querida, eu vi. Agora vamos senão você vai chegar atrasada à aula. – eu disse, apressando o passo. – Olha a Mimi ali com a mãe dela. – mostrei a amiguinha a , tentando distraí-la e ela logo sorriu pedindo pra descer do colo e seguir em direção a Emily. Eu a deixei e ir e me aproximei da mãe da garotinha.
- Olá, Amanda. – cumprimentei, com um sorriso e ela o retribuiu, mas um pouco exagerado demais.
- Olá, . – ela disse, encarando algo atrás de mim com os olhos vidrados em surpresa e admiração.
- Bom dia, senhoras. – aquela voz conhecida me assustou e eu me virei encarando com um sorriso torto nos lábios, que me olhava de volta.
- Bom dia. – Amanda respondeu, toda alegre. Nós mulheres às vezes éramos tão idiotas, pensei.
- já entrou, vou para o trabalho. Até logo, Amanda. – me despedi, sem esperar resposta dela, que ainda babava descaradamente em cima do e segui em direção à escola secundária, ignorando que milagrosamente deixou Amanda de lado e se pôs a caminhar do meu lado. – Você virou minha sombra agora ou o quê? – perguntei, irritada com a sua proximidade. riu e mudou de assunto.
- Esse lugar não te traz lembranças? – ele perguntou, me encarando de lado enquanto caminhávamos quase chegando à escola.
- Se for alguma lembrança relacionada ao meu trabalho, sim, ele traz. – eu disse, sabendo que não era exatamente aquilo que ele queria ouvir.
- Você sabe muito bem do que eu estou falando. – ele resmungou, desviando o olhar que estava sobre mim e encarando qualquer coisa à nossa frente.
- Certas coisas devem ficar enterradas no passado, . Porque trazê-las à tona só irá causar sofrimento. – respondi, acelerando o passo e subindo as escadas em direção à entrada, enquanto ele finalmente parecia ter resolvido me dar espaço, ficando parado onde estava enquanto eu seguia em direção à sala dos professores, sabendo que logo o encontraria de novo para o projeto de fim de ano. Aquela segunda-feira seria difícil.

’s POV.

Oi gatinho, ansiosa pelo dia em que iremos nos encontrar, falta pouco, . Xoxo.

Outra mensagem havia chegado ao meu aparelho celular e eu já estava maluco imaginando como aquela pessoa havia descoberto o meu novo número, eu havia pedido pro nosso empresário me conseguir aquele número novo pensando que assim me livraria daquilo, mas eu estava errado. Inferno de perseguidor.
- , será que você pode prestar atenção no que eu falo pelo menos uma vez na vida? – disse, aparentemente irritada, como ela ficava desde que havíamos começado a trabalhar juntos. Confesso que lidar com Landon às quartas e com Margie e os adolescentes um tanto problemáticos da outra escola nos outros dias era muito mais fácil.
- O quê? – perguntei, não disfarçando que não havia escutado uma palavra do que ela disse.
- Você fica aí trocando mensagens com as suas namoradinhas, quando deveria prestar atenção em quem está fazendo a sua avaliação pro seu agente de condicional. Será que você nunca vai mudar, ? – ela disse, rolando os olhos e se levantando. Ela estava linda brava daquele jeito.
- Ciúmes, ? – perguntei, sorrindo e ela me fuzilou com os olhos, respirando profundamente em seguida.
- Quer saber, pode ir embora, eu termino isso aqui. – ela pegou os papeis sobre a mesa e ia saindo em direção à porta, mas eu me levantei e rapidamente corri para impedi-la, segurando seu braço e a virando para mim.
- Eu não estava falando com nenhuma namorada, porque não existe nenhuma garota na minha vida no momento, com exceção da . Eu posso garantir. – disse, encarando os seus olhos surpresos. Eu percebi quando a sua respiração acelerou quando a toquei, assim como a minha. O calor da sua pele irradiou pela minha mão e em um ato involuntário eu levei a minha outra mão em direção ao seu rosto, querendo tocá-la ainda mais, mas não permitiu, afastando-se do meu toque imediatamente, soltando um suspiro em seguida.
- A sua palavra não vale nada, . – ela disse, antes de sair pela porta da sala de aula onde estávamos discutindo alguns detalhes do projeto e eu me encostei àquela porta mais uma vez me sentindo frustrado. Mas no fundo eu sempre soube que não seria fácil.
Depois de algum tempo, deixei a sala de aula e segui em direção à saída da escola, o dia estava milagrosamente ensolarado em Londres e aquilo de certa forma melhorava o meu humor. Aquela segunda-feira seria um dia cheio de tarefas, pois aproveitando que teríamos folga no estúdio, eu havia agendado a minha mudança para a casa que eu havia comprado algumas semanas atrás e mudança era sempre algo demorado e cansativo.
Desci as escadas da escola em direção ao portão de saída, quando um barulho distante de choro que vinha da direção da pré-escola me chamou a atenção, eu olhei ao redor, tentando encontrar algo, quando meu olhar parou sobre a linda garotinha que tinha os olhos da cor dos meus, sentada perto de um canteiro de flores na entrada daquela escola, encolhida e agarrada a um bichinho de pelúcia. Meu coração se apertou assim que reconheci chorando e sem pensar corri ao seu encontro.
- Hey, gatinha, por que você está chorando? – perguntei, me agachando ao seu lado e ergueu o olhar em minha direção, me deixando assim observar aqueles olhos que haviam adquirido uma tonalidade vermelha, assim como o seu rostinho, por conta do choro.
- Tio ? – ela perguntou, fungando e aquilo me deixou de coração partido, enquanto ao mesmo tempo eu estava morrendo de vontade de tirar satisfações com a pessoa que havia feito a minha menina chorar.
- Sou eu, gatinha. Por que você está sozinha aqui fora chorando? Alguém te machucou? – perguntei, preocupado, imaginando várias coisas enquanto tentava examiná-la a procura de algum machucado. negou em um gesto mudo, fungando novamente e se jogou nos meus braços, me deixando desarmado com aquela atitude. – Me conta o que aconteceu, gatinha, você está deixando o tio preocupado. – pedi, desesperado por mais alguma informação e ela continuou chorando baixinho. – Onde está a sua professora, como ela te deixou aqui fora sozinha? – perguntei, nervoso. – Não chora, . – a abracei ainda mais forte e ela entrelaçou os bracinhos ao redor do meu pescoço, deixando o bichinho cair no chão.
- Piggy. – ela se virou, olhando para o chão quando notou que ele não estava mais em seu braço.
- Calma, eu pego ele. – estiquei o braço, agarrando o porquinho de pelúcia e entregando a ela, quando notei que ele estava rasgado.
- , é por isso que você está chorando? – perguntei, mostrando o estrago no bichinho e ela sacudiu a cabeça afirmando. – Não precisa chorar, lindinha, eu compro outro bichinho pra você. – sugeri, tentando fazê-la se acalmar.
- Não, eu quero o Piggy. – ela disse, voltando a chorar.
- Hey, calma, gatinha. O tio vai dar um jeito de consertar o seu bichinho, eu prometo. – disse, sem pensar, apenas querendo que ela ficasse bem.
- Promete? – ela me encarou com aqueles olhos chorosos de novo e eu tive certeza naquele momento que faria tudo o que ela quisesse.
- Prometo, pequena. – eu disse, sincero e ela sorriu pela primeira vez desde que eu havia a encontrado, sozinha naquele lugar.
- Obrigada, tio . – ela disse, me abraçando novamente e eu senti algo estranho no meu coração.
- De nada, gatinha. Agora me explica como o seu bichinho se machucou assim? E por que você não está junto da sua professora? – disse, tentando fazê-la falar.
- Foi o Enzo. – ela disse, ficando de repente com uma expressão brava no rosto, que me lembrou muito a mãe dela minutos atrás.
- Quem é Enzo, minha gatinha? – perguntei, confuso e ao mesmo tempo querendo dar uns socos nesse tal de Enzo.
- É o meu amiguinho. A gente tava brincando no parquinho ali atrás, todo mundo ta lá agora. – ela disse, eu pedi que continuasse. – Aí a Mimi foi brincar no escorrega e eu fiquei com o Enzo no gira-gira. O Piggy estava brincando com a gente, eu segurava um bracinho dele, quando o Enzo segurou o outro com força e puxou enquanto a gente girava, daí o bracinho dele rasgou, eu empurrei o Enzo do gira-gira brava e ele chorou quando caiu. Aí eu saí correndo e vim me esconder aqui. – ela contou, escondendo a cabeça no meu pescoço. – A mamãe vai brigar comigo, eu fiz dodói no Enzo. – ela fungou novamente, eu logo disse algo tentando impedir que ela chorasse de novo.
- Ela não vai brigar não, gatinha. Pode deixar que eu converso com ela. – respondi, sorrindo e ela me encarou também com um sorriso no rosto.
- Sério, tio ? – perguntou, e eu assenti. – Brigada. – ela me abraçou de novo.
- ! – surgiu gritando e nos surpreendente. rapidamente se encolheu nos meus braços, enquanto eu encarava a minha ex-mulher, que parecia transtornada. – Graças a Deus! – ela exclamou assim que parou, se agachando ao nosso lado.
- Calma, , ela está bem. – disse a ela, que me encarou confusa.
- O que vocês estavam fazendo aqui? A professora dela me ligou dizendo que ela havia sumido do parquinho. – disse, baixo, acariciando os cabelos da nossa filha.
- Eu estava saindo da escola, quando a ouvi chorando e logo a encontrei encolhida aqui nesse canto. Ela ficou com medo porque um amiguinho rasgou o bichinho de pelúcia e ela empurrou o garoto de um brinquedo fazendo ele chorar. – eu contei, enquanto ainda se encolhia em meus braços com medo da mãe brigar com ela.
- Ah, sua pestinha, por que você me dá esses sustos? – perguntou, ainda nervosa e a olhou, receosa. – Vem aqui, meu amor, a mamãe não vai brigar com você, eu só estava preocupada porque não te encontrava. – ela explicou, ainda acariciando os cabelos de .
- Desculpa, mamãe. – minha filha respondeu, soltando-se de mim e estendendo os braços em direção a mãe.
- Tudo bem, minha linda, só não faça mais isso, ok? – pediu, a encarando séria. assentiu. – Agora você tem que pedir desculpas pro Enzo, mocinha.
- Ah, mamãe, mas ele é um bobo que estragou o Piggy. – reclamou, e eu ri baixo do seu jeito, aquilo fez com que me encarasse com a sobrancelha arqueada, me reprovando e eu logo fiquei sério novamente.
- Eu sei que ele estragou, meu amor, mas nem por isso você deveria ter empurrado ele. E se ele se machucasse sério? – disse a ela e fez bico.
- Não queria machucar o Enzo. – ela disse, triste.
- Ele não se machucou, meu anjo, só levou um susto. Mas o certo agora é você pedir desculpas. – falou, e notei minha filha finalmente concordando. – Vamos lá então. – ela tentou se levantar com nos braços, mas acabou se desequilibrando um pouco e eu, que já estava de pé, as segurei.
- Cuidado. – eu disse, sentindo algo bom ao ter as duas ali comigo.
- Obrigada. – respondeu, sem graça e se afastou de mim se ajeitando com a filha no colo.
- O tio vai também? Ele disse que ia me ajudar e prometeu que ia consertar o Piggy. – disse, de repente, e a mãe dela me encarou.
- Prometeu, não é? – me olhou desconfiada.
- Eu sei de um lugar que conserta brinquedos, já fui com o lá uma vez pra consertar um carrinho do Charlie. – expliquei, dando de ombros e continuou me observando de uma forma estranha.
- Toma, tio . – me entregou o porquinho com um sorriso no rosto. – Cuida do dodói dele tá? – ela pediu. E me lançou um sorriso torto, como se dissesse “agora se vira”.
- Tudo bem. - disse, respirando fundo e parecendo derrotada. - Nem pense em quebrar essa promessa, . – mas ela logo me encarou de um jeito que deixava claro que se eu magoasse não cumprindo aquela promessa, ela faria algo doloroso comigo. – Agora vamos pedir desculpas ao Enzo, mocinha. – seguiu com em seus braços até o parquinho e eu fiquei parado as observando com o porquinho de pelúcia nas mãos.
- É, Piggy, acho que isso é um começo. – sorri enquanto me virava apressado em direção à saída da escola, disposto a não quebrar aquela promessa que eu havia feito a minha filha e pronto para levar aquele bichinho para o conserto, antes de fazer a minha mudança. logo teria o seu porquinho são e salvo de volta. Aquela era uma promessa de pai. Aquele era o início de uma nova fase da minha vida.


“I guess I’m ready.I think I’m ready.
I hope I’m ready.For something new.”
- Tom Fletcher.





Capítulo 20



“Well, I guess you'll say:
What can make me feel this way?
My girl”
- The Temptations.




's POV.

- Não tem problema, querido, eu também estou bem cansada essa noite, a gente se vê amanhã. - eu dizia a Jake no telefone, enquanto estava recostada no balcão da cozinha esperando o risoto de legumes e frango que eu preparava para o jantar ficar pronto.
- , eu tô indo pro meu plantão, tchau. - disse, já da porta da sala, se despedindo e eu acenei para ela, voltando a prestar atenção na ligação em seguida.
- Era a saindo pro plantão. – respondi, quando ele me perguntou quem estava falando alto. - Tudo bem, eu entendo. Também vou sentir a sua falta, beijos, até amanhã. - me despedi de Jake a tempo de ouvir a campainha da sala tocar no instante seguinte.
- Mamãe, tem alguém na porta. - disse, alto, do sofá da cozinha, onde ela estava deitada assistindo um filme de animação. Eu havia dito a ela que sempre chamasse ou eu quando a campainha tocasse, e pra que ela nunca atendesse pessoas desconhecidas, mesmo que as pessoas precisassem se identificar na portaria, pedindo permissão aos moradores antes de subir até os apartamentos, uma exceção poderia acontecer, caso o porteiro se descuidasse. Eu estava feliz por ela ter me obedecido.
- Já tô indo, meu amor, deve ser a tia que esqueceu a chaves de novo. – respondi, enquanto abaixava o fogo do fogão, para que nada acontecesse com o risoto. E caminhei em direção à sala, quando a campainha tocou mais uma vez. - Que pressa é essa, , quem mandou você... - fiquei muda quando notei que a pessoa parada do outro lado não era e sim .
- Oi. - ele sorriu, parecendo constrangido, e eu pisquei algumas vezes para comprovar que ele estava mesmo ali.
- Tio ! - surgiu ao meu lado, abrindo mais a porta e sorrindo para .
- Oi, princesa. - ele se agachou, a pegando no colo com apenas um dos braços e dando-lhe um beijo no rosto.
- , o que você está fazendo aqui? Como você? Quem deixou você subir? - eu questionei, ainda surpresa com aquela visita.
- Calma, . - disse, sorrindo, enquanto colocava novamente no chão. - A permitiu a minha entrada na portaria. - ele respondeu apenas uma das minhas perguntas. - Posso entrar? Prometo que não vou demorar. - pediu e eu o encarei, pasma.
- Vem, tio . - o puxou pela mão para dentro do apartamento, antes mesmo que eu pudesse negar a sua entrada.
- ! - ralhei e ela me encarou confusa. Respirei fundo, tentando evitar dar uma bronca na minha pequena filha que era tão espontânea e não sabia a besteira que havia feito.
- Que cheiro bom, tinha me esquecido de como você cozinha bem. - elogiou, permanecendo em pé no meio da sala. Eu o encarei sem expressão alguma no rosto e ele sorriu desconfortável com a minha atitude. Ele queria o quê? Que eu o convidasse para jantar? Um jantar em família? Idiota.
- O que você veio fazer aqui? – perguntei, tentando logo me livrar dele.
- Eu vim cumprir a minha promessa. - ele respondeu, sorrindo, enquanto revelava o embrulho que escondeu o tempo todo com o braço esquerdo atrás das costas e o entregava a . Eu fiquei ainda mais surpresa.
- É o Piggy? - ela encarou com os olhos brilhando de alegria.
- Sim, pequena, é o Piggy novinho em folha, abra o embrulho. - pediu e rapidamente rasgou o pacote sem dó alguma e agarrou o seu porquinho de pelúcia favorito.
- Ele não tá mais dodói. - ela pulou alegre, abraçando o bichinho. – Obrigada, tio ! – disse, agarrando em seguida uma das pernas de , que sorria parecendo encantado.
- Eu só cumpri a minha promessa, princesa, não precisa agradecer. - respondeu, a pegando novamente no colo.
- Como é que você conseguiu consertá-lo tão rápido? – perguntei, impressionada com o fato de ele ter cumprido a promessa que fez a em tão pouco tempo, já que o estrago no braço do porquinho de pelúcia havia acontecido na tarde daquele dia.
- Eu disse que conhecia um lugar que consertava brinquedos. - ele respondeu, dando de ombros.
- Mesmo assim, eles nunca iriam consertar ele tão rápido, normalmente você só conseguiria pegá-lo de volta no dia seguinte, se tivesse sorte. – disse, ainda confusa.
- Talvez eu tenha implorado um pouco. - sorriu sem graça, o que me fez rir.
- Essa cena eu pagava pra ver. – disse, rindo divertida e ele me acompanhou com aquele seu sorriso lindo, o que me fez ficar séria, de repente parecia que éramos íntimos novamente e aquilo parecia errado depois de tudo pelo que havíamos passado. - Mas você não precisava ter trazido ele hoje, poderia ter me levado na escola no dia do projeto. – disse, me afastando dele.
- Eu prometi pra que o consertaria logo, nós só iremos trabalhar juntos na próxima semana e eu aposto que ela iria sentir falta do porquinho de pelúcia favorito. Não custava nada trazê-lo hoje. - ele deu de ombros novamente. E concordou quando ele disse que ela sentiria falta do bichinho.
- Que bom que você decidiu cumprir alguma promessa uma vez na vida, fico feliz por . – disse, sem pensar, apenas expondo os meus sentimentos e ele me encarou sério.
- Logo você vai perceber como eu levo essa garotinha muito a sério, . E como eu levo a sério outras pessoas também. – disse, colocando sobre o sofá, e me olhando profundamente em seguida. Eu não consegui desviar o olhar e logo nós estávamos presos naquela nossa atmosfera intensa, onde nada era dito, mas cada um tentava provar que era mais forte que o outro apenas com o olhar.
- Mamãe, tá cheirando queimado. - disse, fazendo com que eu despertasse, sentindo o cheiro que vinha da cozinha.
- Droga. – resmunguei, seguindo apressadamente até o outro cômodo que era divido da sala apenas por um balcão, e rapidamente desliguei o fogo da panela que já emanava bastante fumaça. surgiu ao meu lado, jogando uma toalha molhada sobre ela.
- Pronto, acho que isso irá ajudar, mas é melhor abrir as janelas. - ele disse, abrindo a única janela que ficava sobre a pia da cozinha. Eu bufei frustrada por ter perdido parte do jantar.
- Porcaria, eu tinha abaixado a droga do fogo. – murmurei, descontente. E que estava na entrada da cozinha me encarou espantada.
- Mamãe falou palavrão. - ela apontou para mim rindo.
- Não foi um palavrão, sua pestinha. Mas não quero que você repita essa palavra, ok? – disse, seguindo até ela e a pegando no colo. - Desculpa ter dito aquilo. – pedi, beijando o seu rosto e dando uma leve mordida em sua bochecha, o que a fez rir.
- Ai, mamãe anibal. - ela disse, rindo, tentando me afastar.
- Canibal, meu bebê. - eu corrigi, enquanto ria junto a ela, ao longe notei nos observando também com um sorriso besta no rosto. - Acho que o nosso jantar já era, filha. - disse a , tentando me desconectar do olhar de e ela fez bico.
- Você sempre pode pedir pizza quando essas coisas acontecem, eu posso pagar uma, se você aceitar, . - ofereceu.
- Pizza! - exclamou, animada. - Eu quero, mamãe. - ela pediu, sorrindo e eu olhei para o meu ex-marido, brava.document.write(Jones). – murmurei, de maneira irônica, o encarando e ele me olhou de volta confuso.
- O que eu fiz? - perguntou.
- A sabe que só pode comer besteiras no fim de semana. – disse, rigorosa e minha filha bufou descontente.
- Desculpa, eu não sabia. - pediu, sem graça. - Posso buscar alguma coisa saudável ou te ajudar a preparar algo, duas pessoas trabalhando juntas fazem o trabalho render mais rápido. - ele propôs e eu o encarei incomodada. Ele devia ter algum problema.
- Você ouviu o que acabou de sugerir? Em que mundo paralelo você acha que nós estamos pra que eu aceite cozinhar algo junto com você, como se nós fossemos uma família feliz reunida, ? – disse, debochada e ele pareceu ficar novamente envergonhado.
- Foi só uma sugestão, . Eu só quis ser gentil. – murmurou, parecendo ofendido. Eu respirei fundo, achando que talvez havia ido um pouco longe demais.
- Eu vou pedir uma pizza mesmo, agora não terá mais como tirar essa ideia da cabeça da e fazer com que ela coma legumes. – disse, vencida e encarou sorrindo cúmplice. Garotinha sapeca. - Mas é só dessa vez, viu, sua pestinha. – avisei, a colocando no chão e apanhando o telefone sem fio para ligar na nossa pizzaria favorita, ela rapidamente foi até e o puxou em direção à sala enquanto falava.
- Tio , você vai comer pizza comigo e com a mamãe hoje? - Ouvi dizendo, me deixando em uma saia justa novamente e me fazendo pensar qual era o problema da minha filha naquela noite?

’s POV

Encarei que nos olhava com os olhos esbugalhados em surpresa pelo convite repentino que havia me feito, ela claramente desejava que eu recusasse o pedido da minha pequena e era aquilo que eu pensava em fazer, pois não queria arranjar confusão com , mas assim que olhei para e vi os seus olhos brilhando em expectativa com a minha resposta, enquanto um sorriso lindo habitava os seus lábios, eu instantaneamente mudei de ideia.
- Claro, gatinha, eu adoraria comer pizza com vocês. – respondi, sorrindo para ela, enquanto a pegava no colo mais uma vez, mas assim que encarei novamente, que havia terminado de encerrar a ligação para a pizzaria, senti um arrepio percorrer a minha espinha dorsal observando a expressão dura em seu rosto e acrescentei engolindo em seco. – Mas antes precisamos ver se a mamãe concorda. – sorri sem graça para a minha ex-mulher que ainda me encarava da mesma forma assassina.
- O tio pode, mamãe? – perguntou, se voltando para a mãe, que não desviava o olhar de mim. respirou fundo, parecendo considerar qual seria a melhor forma de me expulsar dali. Mas por fim apenas disse.
- Contanto que ele apenas coma e vá logo embora, por mim não tem problema. – respirou profundamente, desviando o seu olhar de mim, e eu me espantei com a sua resposta. - Eu vou limpar a bagunça da cozinha, enquanto a pizza não chega, você pode sentar aqui na sala e ficar com a se quiser, . – ela disse, com descaso e passou rapidamente em direção à cozinha.
- Vamos assistir a um filme, tio ? – me perguntou, apontando para a estante onde havia alguns dvd’s expostos.
- Claro, princesa. – Sorri, caminhando com ela em direção à estante. – Que filme você quer ver?
- A pequena Sereia! – ela exclamou, animada.
- Tem certeza que quer esse, ? – perguntei, nem um pouco a fim de ver uma animação sobre uma princesa metade peixe, metade ser humano da Disney, quem gostava desse tipo de coisas era o .
- Sim! Sim! – ela sorriu contente e vencido eu a coloquei no chão, apanhando o dvd em seguida e ligando o aparelho de televisão. rapidamente correu, se jogando sobre as almofadas do sofá. – Senta aqui, tio . – ela pediu, apontando um lugar ao seu lado, eu peguei o controle remoto para dar início ao filme e me sentei ao seu lado, feliz por finalmente estar tendo um momento a sós com a minha filha, mesmo que ela ainda não soubesse quem eu era na verdade.
Um tempo depois, a campainha tocou e finalmente retornou à sala com uma carteira nas mãos, seguindo em direção à porta, mas eu corri até ela antes que ela a abrisse.
- Eu disse que era por minha conta. – sorri, apanhando a carteira em meu bolso.
- Eu nunca disse que aceitaria algo vindo de você. – ela respondeu, seca, me empurrando para abrir a porta.
- Custa aceitar uma gentileza de vez em quando, ? – respondi, mau humorado com a atitude dela. – Eu disse que iria pagar e eu vou pagar. – disse, abrindo a porta antes que ela pudesse me impedir e pagando ao entregador, que me encarou surpreso pela minha pressa. bufou nas minhas costas, se virando e indo novamente em direção à cozinha. Eu agradeci ao entregador e adentrei o apartamento com a pizza em mãos.
- Pizza! – exclamou, pulando contente sobre o sofá assim que viu a caixa em minhas mãos.
- Onde eu coloco? – perguntei, alto, para que ouvisse do outro cômodo. Ela voltou à sala com copos e um refrigerante em mãos.
- , eu já pedi pra você não ficar pulando no sofá desse jeito, você pode cair e se machucar. – ela advertiu a nossa filha, que rapidamente se sentou no lugar, voltando sua atenção para o filme que ainda passava na televisão. – Coloca aí na mesa de centro, vamos comer aqui na sala mesmo. – me indicou o lugar, colocando o refrigerante sobre ela. – Vou pegar alguns pratos. – ela murmurou, se virando novamente para ir à cozinha e eu sorri feito idiota a observando. Eu sabia que ela estava se mantendo ocupada para não ter que ficar próxima de mim enquanto eu estivesse ali.
- Vem ver o filme, tio. – me chamou e eu sorri, me sentando ao seu lado novamente.

[Ouça essa música durante a leitura :https://www.youtube.com/watch?v=i_1P6g4vBK0&feature=kp].

Algum tempo depois, já havíamos devorado a pizza, havia ficado em silêncio na maior parte do tempo, A pequena Sereia já havia acabado, insistiu para que eu assistisse a outro filme com ela e obrigou a mãe a se sentar ao seu lado também. ficou tensa no início, mas quando olhei novamente para ela mais tarde, ela havia adormecido sobre sofá, com a cabeça levemente encostada no meu ombro, também havia dormido com a cabeça no colo da mãe e os pés no meu colo. Eu olhei para aquela cena e paralisei diante da imagem da minha filha e da minha ex-mulher entregues ao mundo dos sonhos, aquilo era algo que eu achei que talvez nunca fosse presenciar. Era lindo. As duas estavam lindas. E eu queria ficar ali pra sempre ao lado delas.

~.~

“And my eyes are closed.
And I'm way too tired.
Hoody still smells of the beach bonfire.
On the sofa, where we lay I wanna stay inside all day.
And it's cold outside, again.”


- Você tá chorando de novo? – disse, rindo, enquanto fungava ao meu lado.
Era uma noite chuvosa de sábado, e nós dois havíamos dispensado uma festa qualquer de alguém do colégio, onde os caras haviam ido, pra aproveitar para ficarmos sozinhos assistindo a um dos filmes melosos que a adorava na sala de estar da casa dela, já que os seus avós haviam viajado naquele final de semana. Aquela garota havia mesmo me domado, porque só assim pra me fazer assistir algo daquele tipo.
- Claro, esse filme é muito lindo, , seu idiota. – ela resmungou, se aconchegando mais em meus braços.
- Já perdi as contas de quantas vezes você me obrigou a ver essa coisa melosa, mas sei que todas as vezes que assistimos você quase inunda a sala. – comentei, ainda tirando sarro e ela me empurrou de leve.
- Insensível. – murmurou, me apertando ainda mais no abraço.
- Namorada emo. – respondi, brincando e ela levantou o rosto, mordendo o meu queixo. – E canibal. – resmunguei, esfregando o local.
- Fracote. – ela rebateu, rindo.
- Vou te mostrar quem é o fracote, garota. – disse, e antes que ela contestasse a enchi de cócegas, sem perceber, acabei ficando sobre ela no sofá enquanto pedia clemência. Mas eu só parei quando ela estava quase ficando roxa, tudo porque o idiota aqui adorava ouvir aquele riso lindo.
- Fiquei até sem ar. – ela reclamou, e eu a encarei com um olhar sapeca no rosto, que logo se tornou malicioso quando notei nossa posição.
, rapidamente se calou, percebendo o mesmo que eu e minutos depois estávamos nos beijando sobre o sofá, esquecendo completamente do filme meloso que assistíamos na TV. Quando ficamos realmente sem ar, quebramos o beijo e sorriu me observando, eu sorri de volta acariciando o seu rosto, e me deitei ao seu lado em seguida.
- Droga, perdi a maior parte do filme. – ela reclamou, sorrindo.
- Por um excelente motivo, pare de reclamar, garota. – eu disse, a abraçando por trás, enquanto ela se aconchegava novamente em meus braços, procurando uma posição confortável agora que estávamos deitados no sofá.
Ficamos daquela forma, assistindo ao restante do filme, que eu admitia apenas para mim mesmo que era até bonito, até que os créditos começaram a subir na tela e a música final tomou conta da sala, notei que estava adormecida em meus braços. Sorri, me achando o cara mais sortudo do mundo por ter uma namorada tão linda. E fiquei a observando por um bom tempo, até que adormeci junto com ela, pronto para vê-la de novo nos meus sonhos.

“We can go where you want.
Say the word, and I’ll take ya.
But I’d rather stay on the sofa.
On the sofa, with you.”

~.~


Havia acabado de depositar sobre a sua cama no quarto, que eu facilmente deduzi ser o dela pela decoração infantil do lugar e voltei para a sala com uma manta e um travesseiro nos braços, que apanhei no quarto de , parando novamente diante de que ainda dormia profundamente, preferi não tentar adivinhar qual era o seu quarto, porque eu sabia que ela me mataria quando soubesse que eu havia entrado no local. Ao invés disso, a coloquei melhor sobre o sofá, com cuidado para não acordá-la. Ajeitei o travesseiro e a cobri com a manta, sem perceber fiquei olhando para ela por mais um tempo, me lembrando do passado, mas me assustei quando ela se remexeu, felizmente não acordando. Caminhei até a cozinha e dei um jeito na pouca louça que havíamos sujado tentando não fazer barulho, após isso voltei para a sala, ainda dormia. Me aproximei um pouco hesitante e depositei um beijo sobre a sua testa, antes de finalmente deixar o apartamento.

’s POV

O barulho do telefone tocando invadiu a sala e eu acordei um pouco confusa, olhando ao redor. Era dia, uma manta me cobria, não estava em meu colo, a televisão estava desligada, a louça usada estava limpa sobre a pia e não estava mais lá. Ou eu havia tido algum sonho bizarro noite passada onde ele havia surgido na minha casa e jantado pizza com e eu. Eu poderia levar essa hipótese adiante, se não fosse a caixa de pizza jogava na lixeira da cozinha, que encontrei um tempo depois.
- Alô? – atendi, ainda um pouco sonolenta.
- , querida! – a mãe de cumprimentou do outro lado.
- Oi, Sra. . – disse, em resposta.
- Me chame de Valerie, por favor, não se esqueça que perdemos essas formalidades há muito tempo. – ela pediu e eu concordei. - Já vi que te acordei, me desculpe por ligar tão cedo, mas imaginei que você já estivesse saindo para o trabalho.
- Que isso, na verdade eu deveria te agradecer por isso, e eu já estamos atrasadas pra escola. – respondi, olhando a hora no relógio de parede. Como eu havia dormido tanto?
- Oh, fico mais aliviada então. – ela riu do outro lado. – Vou ser breve, estou indo para Londres na próxima semana e gostaria de saber se posso visitar você e . – ela pediu.
- Claro, não precisava nem pedir, Valerie. – disse, sorrindo e ela agradeceu do outro lado, conversamos mais algumas coisas rapidamente e ela logo encerrou a ligação, dizendo não querer me deter mais, já que eu estava aparentemente atrasada. Eu agradeci e em seguida corri até o quarto de para acordá-la.

- Aqui moço, obrigada. – entreguei o dinheiro ao taxista, já que ainda estava sem o meu carro e rapidamente saí do veiculo, pegando pela mão, enquanto caminhávamos apressadas em direção à pré-escola. – Rápido, meu amor, estamos muito atrasadas. – pedi a ela enquanto acelerava o passo.
- Minha perna já está doendo, mamãe. – ela reclamou, e eu a encarei culpada, apanhando-a em meu colo para continuarmos.
- Ainda bem que tenho aula apenas a partir do segundo horário hoje, mas você não pode chegar atrasada à aula, meu bem. – disse a ela, que concordou balançando a cabeça.
- Nós mimimos muito, mamãe. – ela disse, sorrindo sapeca e eu acompanhei seu riso.
- Verdade, meu amor. E a sua tia nem ao menos apareceu em casa ainda, voltando do plantão para nos acordar. – disse, estranhando o fato de não ter dado notícias naquela manhã, passando do seu horário de costume. Eu iria ligar para ela assim que deixasse em sua sala.

(...)


Era horário de almoço de quarta-feira, eu aguardava do lado de fora da pré-escola, teria que levá-la à aula de ballet e depois retornar ao colégio para dar mais um período de aulas durante a tarde, eu ainda estava sem carro, por isso me preparava para chamar um táxi assim que ela saísse.
- Mamãe! – minha pequena gritou, enquanto corria em minha direção.
- , não corra! – eu pedi, a pegando no colo em seguida, ela me encarou culpada. – Você pode se machucar se continuar correndo assim, mocinha.
- Desculpa, mamãe. – ela pediu, com um sorriso lindo com janelinha no rosto, ela havia perdido mais um dente de leite. Meu bebê a cada dia ficava maior.
- Só tome mais cuidado da próxima vez. – respondi, sorrindo e lhe dando um beijo no rosto em seguida. – Pronta pra aula de ballet? – perguntei e ela assentiu contente, adorava dançar e eu a achava linda com aquela roupa de balllet.
- Tio ! – chamou, e eu me virei em direção ao estacionamento a tempo de ver caminhando em nossa direção.
- , por que você tem que ficar sempre chamando ele? – resmunguei, baixo.
- Não pode, mamãe? – ela me olhou confusa. E eu apenas respirei fundo, colocando um sorriso falso no rosto antes de encará-lo de perto.
- Oi, gatinha! Como estão você e o seu porquinho? – perguntou a assim que se colocou ao nosso lado.
- Bem, tio, olha ele aqui. – ela sorriu mostrando o bichinho de pelúcia em seus braços.
- Fico feliz que vocês estejam bem. – ele sorriu pra ela, acariciando o seu cabelo e logo depois me encarou. – Boa tarde, . – cumprimentou, sorrindo.
- Não temos intimidade pra você ficar me chamando pelo apelido, . – respondi, séria e isso fez com que ele risse. – O que você tá fazendo aqui? Hoje não temos projeto? Tá perseguindo a gente? – o enchi de perguntas e ele riu mais ainda, me deixando irritada, então eu me virei com nos braços o ignorando e seguindo em direção à rua.
- Posso não ter projeto com você hoje, mas é quarta-feira, dia do Landon. – ele respondeu, caminhando ao meu lado. – E nós já ultrapassamos a barreira da intimidade tempo atrás, é prova disso. – ele concluiu, com um comentário idiota, tão típico.
- Você continua o mesmo idiota de sempre. – respondi, decidida a ignorá-lo enquanto tentava chamar um táxi.
- Você tá sem carro? – ele perguntou, eu não respondi. – Precisa de carona? Greg, o motorista da nossa van de turnê, está me dando uma ajuda dirigindo pra mim hoje enquanto resolvo alguns assuntos externos, como o que me trouxe aqui. – insistiu, eu não o encarei, ainda acenando para que um táxi parasse no local e nenhum parecia me ver, justo quando eu mais precisava. – Estamos com a tarde livre na gravadora hoje, por um milagre. – ele comentou, rindo. – Se você quiser, posso levar você pra casa.
- Tenho ballet hoje, tio . – abriu a boca quando menos devia e sorriu para o pai.
- É mesmo, gatinha? – ele perguntou, e ela assentiu. – Posso ir te ver dançar? – pediu, agora me encarando com um sorriso travesso no rosto.
- Você não vai se atrever a fazer isso! – exclamei, surpresa com a cara de pau dele.
- Ah, então você fala. – brincou, com uma expressão cínica no rosto. – Achei que um gato tinha comido sua língua, estava até disposto a te beijar pra confirmar a hipótese. – ele arqueou a sobrancelha, me olhando nos olhos.
- Vai se f... – eu me calei antes que dissesse mais uma bobagem na frente de , que nos encarava curiosa e gargalhou.
- Cuidado, linda. Temos crianças no recinto. – ele sorriu e eu o olhei furiosa.
- Por que esses táxis não param? – reclamei, o ignorando novamente e antes que eu pudesse reagir, retirou do meu colo e caminhou rápido com ela em direção ao seu carro parado no estacionamento da escola, onde Greg o esperava ao volante. – ! – eu gritei, correndo rapidamente atrás dele, parecia estar se divertindo com a cena, porque ela ria sem parar.
- O tio vai levar vocês até o ballet, gatinha. – ele disse a minha filha, enquanto a colocava sentada no banco de trás do carro.
- Eba! – comemorou, contente.
- O que você pensa que está fazendo, idiota? – eu perguntei, puxando o seu braço, enquanto ele estava prestes a prender o cinto de segurança nela.
- Estou te oferecendo uma carona, linda. – ele me encarou sorrindo.
- Quem disse que eu planejo ir a algum lugar com você? – perguntei, irritada.
- , você já está há um bom tempo tentando pegar um táxi e hoje parece não ser o seu dia de sorte, já que nenhum parou até o momento. Eu sei que você tem que voltar pra dar aulas logo depois do almoço. Olhe para o relógio, o tempo está correndo, você não vai querer chegar atrasada, então eu estou só querendo te ajudar levando a até o ballet, deixe de ser orgulhosa e apenas aceite a minha carona. – ele pediu, ainda com aquele sorriso no rosto. Eu estava irritada, muito irritada. Mas também sabia que ele tinha razão. Se não aceitasse a sua carona, chegaria atrasada à aula de ballet e eu me atrasaria para as aulas da tarde. Derrotada, eu respirei fundo antes de concordar com aquele absurdo.
- Espero que você não abra a boca durante o caminho. – disse, seguindo em direção ao outro lado para entrar pela outra porta de trás, mas antes que eu abrisse a porta ele surgiu ao meu lado a abrindo para mim.
- Senhorita. – disse, segurando a porta enquanto eu entrava e em seguida correu para frente em direção à porta do carona e entrou no carro, ele se virou para trás, observando , depois me encarou mais uma vez sorrindo antes de pedir para que Greg desse a partida no carro e seguíssemos para o nosso destino.
rodopiava junto às outras garotinhas pelo pequeno estúdio, ainda um pouco desengonçada por estar aprendendo. A professora as orientava de perto, enquanto e eu estávamos sentados observando a aula, eu olhei para ele e notei o sorriso bobo em seus lábios e o olhar de admiração enquanto observava dançando.
- Ela é tão linda. – ele comentou, um tempo depois.
- Sim, ela é. – eu concordei, porque era verdade.
- É porque ela se parece muito com você. – ele disse, agora me encarando, eu senti meu rosto se aquecer e me virei olhando a rua através da grande janela do estúdio de dança. Era só o que faltava, eu ficar com vergonha com algo bobo que ele dizia novamente, como se fosse uma adolescente idiota e apaixonada. Ele riu baixo e voltou a encarar .
Olhei para o relógio na parede e vi o quanto estava atrasada, eu iria apenas deixá-la na aula e retornaria para a escola, já que me prometera que buscaria naquele dia no fim da aula de ballet. Fiquei de pé, apanhando minha bolsa e respirei antes de encarar .
- Preciso voltar pra escola, vem buscar , se quiser pode ir embora. – disse, me virando e olhando minha filha, que nos olhava de longe. Acenei, me despedindo, pois ela sabia que viria pegá-la. E segui em direção à saída sem esperar resposta alguma de , mas ele não parecia estar pronto para me deixar ir ainda.
- Espera. – tocou o meu braço, quando eu já estava na porta. – Eu posso ficar e levá-la pra casa, se você deixar. Por favor? Ligue pra e diga que ela não precisa vir, eu deixo com ela mais tarde. – ele pediu, me encarando como se estivesse implorando para que eu aceitasse aquilo.
- Você está louco? Até parece que vou deixá-la com você, . – ri, me virando e saindo do estúdio.
- Por favor, . – ele pediu, me seguindo até o lado de fora. – Eu não vou fazer nada demais, só quero passar um tempo com a nossa filha. – ele me encarava, parecendo dizer a verdade, segurou meu ombro enquanto dizia. – Sei que fiz muita coisa errada, que estraguei a melhor coisa da minha vida quando me separei de você, por isso não me deixe errar com a , eu só quero uma chance pra te mostrar que posso ser um bom pai pra ela, e só preciso que você me deixe fazer isso, só preciso ficar junto dela. Eu posso me ajoelhar e implorar, se você quiser. – ele estava prestes a realmente fazer aquilo.
- O que você está fazendo? Levanta, . – o puxei de volta, olhando ao redor, aliviada por ninguém na rua parecer notar aquela cena. – Isso é golpe baixo, sabia? – respirei fundo, me sentindo nervosa por fazer aquilo, mas no fundo eu sabia que não podia impedi-lo, como pai ele merecia ao menos aquela chance. – Tudo bem, você pode ficar com ela durante essa tarde. Vou ligar para avisando. – concordei, olhando para qualquer lugar, menos para ele. – Mas se você estragar tudo, nunca mais terá outra chance, ouviu? – ameacei e apenas me encarava sorrindo.
- Eu não vou estragar. – ele prometeu e antes que eu pudesse me afastar, levou a mão ao meu rosto, me acariciando com aquele sorriso no rosto. – Obrigado, .
Algo em mim despertou, eu permiti aquele carinho, mesmo sabendo que estava agindo errado. Fechei os olhos e senti a sua aproximação, meu coração, o órgão mais idiota do corpo humano, disparou quando os seus lábios tocaram a minha testa em um beijo rápido. Eu sabia o que aquele gesto significava, há muito tempo minha mãe havia me dito que aquele tipo de beijo demonstrava confiança. Assim que recobrei a consciência do que estava acontecendo e abri os olhos, notei entrando novamente no estúdio, me deixando parada no meio da calçada com pensamentos confusos que eu sabia que iriam me atormentar pelo resto do dia.

’s POV.

- O que você quer fazer agora, gatinha? – perguntei a , assim que saímos do estúdio de ballet. Ela usava aquela roupa rosa cheia de frescuras e sapatilhas da mesma cor nos pés, como uma pequena bailarina. Ela estava linda, ela era linda. Mas talvez seria melhor tirar aquele traje. Já bastava as mães que estavam no local me observando com olhares apaixonados enquanto eu a esperava, não ia aguentar as pessoas na rua com as mesmas expressões. – Tem certeza que quer continuar usando essa roupa? – perguntei, novamente.
- Sim! Eu adoro minha roupa de bailarina, tio , se pudesse usaria ela sempre, mas mamãe não deixa. – ela me encarou fazendo bico ao dizer aquilo. Deus, como minha filha era fofa! E eu estava perdendo um pouco da minha masculinidade a cada minuto com aqueles pensamentos. E admitia que havia perdido também aquela batalha.
- Tudo bem, que tal irmos até a sorveteria? – perguntei, e vi seus olhos brilharem com a minha sugestão.
- Sim! Quero um sorvetão de morango, tio ! – pediu, animada.
- Vou comprar o maior sorvete pra você, gatinha, vamos lá. – disse, a pegando no colo e seguimos até o carro, onde Greg nos esperava com a maior paciência do mundo, falando bobagens que se estenderam durante todo o passeio até a sorveteria.
Eu estava feliz, finalmente havia permitido que eu me aproximasse de , e eu ainda estava surpreso com a sua decisão. E confuso com o momento que passamos antes de eu deixá-la e entrar novamente no estúdio de dança. Se alguém que nos conhecesse visse aquela cena, poderia imaginar que eu estava fazendo de propósito, mas foi algo irracional, quando eu notei já estava beijando o seu rosto, sentindo o calor da sua pele, desejando beijar aqueles lábios que há tanto tempo eu não sentia sobre os meus. Mas se eu a beijasse tudo iria por água abaixo. O melhor era esperar que com o tempo as coisas se resolvessem e eu pretendia solucionar um problema de cada vez. E a minha prioridade agora era . Quem sabe com o tempo eu não teria a mãe dela novamente?
Sorri, observando a minha filha com o rosto todo sujo de sorvete, ela também sorria, parecendo estar feliz com aquele momento.
- Sua mãe vai me matar se ver você andando pela rua toda lambuzada de sorvete assim, gatinha. – disse, sorrindo enquanto limpava seu rosto com um guardanapo.
- Mas tá gostoso, tio. – ela disse, contente.
- Está mesmo, mas tente não se sujar tanto se você quer que o tio não apanhe. – disse, rindo e ela me encarou assustada.
- Vou tomar cuidado, não quero que você fique dodói, tio . – ela me encarou assustada.
- Hey, não precisa fazer essa carinha. Eu estava brincando, princesa. – baguncei os seus cabelos sorrindo. me encarou confusa, mas logo riu.
- O Piggy também tá gostando do sorvete. – ela apontou para o bichinho, rindo enquanto levava uma colherada em direção a ele. definitivamente iria me matar por toda aquela sujeira e aquilo somente me fazia gargalhar por dentro. Eu era um maldito pai suicida.
- Já está na hora de irmos, gatinha. Termine o seu sorvete, está tarde e a sua mãe deve estar preocupada. – eu disse, olhando como as horas haviam passado correndo em meu aparelho celular e notando uma chamada perdida de um número desconhecido no mesmo. Algo me dizia que aquela era uma ligação de , ou de .
- Terminei, titio. – anunciou um tempo depois e eu a encarei sorrindo, ela estava toda suja, eu era um cara oficialmente morto.
- Vamos, vou te levar pra casa então, gatinha.
Saímos da sorveteria caminhando lentamente em direção ao carro, eu não tinha pressa, queria passar a maior quantidade de tempo possível ao lado da minha pequena.
- Mamãe disse que logo será meu aniversário, tio . – disse, do banco de trás do carro, enquanto Greg estacionava diante do prédio onde morava.
- Verdade, gatinha? – perguntei. assentiu, enquanto eu a encarava pelo retrovisor me sentindo mal por não saber ao certo o dia do aniversário da minha própria filha.
Desci do veiculo e abri a porta traseira, a retirando do carro. Caminhamos até a porta do edifício e quando o porteiro nos viu, imediatamente liberou a nossa entrada, eu imaginei que deveria ter avisado a ele sobre mim. Segui com até o elevador, e quando já estávamos dentro do mesmo indo até o seu andar, eu olhei para baixo a encarando.
- Quando será seu aniversário, gatinha? – perguntei, curioso, me entregou Piggy e em seguida ergueu as duas mãos, mostrando oito dedos em resposta. – Dia oito? – perguntei e ela concordou sorrindo, estávamos na última semana de janeiro, isso queria dizer que minha filha faria aniversário no próximo dia oito de fevereiro e eu nem ao menos sabia disso. – E quantos anos você irá fazer? – questionei e ela novamente me mostrou os dedinhos, quatro dessa vez. E eu logo me peguei imaginando o que daria a ela de presente. Deveria ser algo especial, já que eu havia perdido os seus três primeiros aniversários.
Saímos do elevador e logo correu em direção ao apartamento, tocando a campainha, a porta logo se abriu e logo a pegou no colo sorrindo.
- Oi, pestinha, se divertiu com o tio ? – perguntou, e a minha pequena balançou a cabeça afirmando, com um sorriso enorme no rosto. Linda. – Então vamos entrar que já passou da hora da senhorita tomar um banho, o que é isso no seu rosto, tá toda melada. – fez careta.
- Ah, titia, não quero banho agora. – a pequena resmungou e cheirou o seu pescoço.
- Hm, que fedô! Sua porquinha! Agora entendo porque você gosta tanto desse porco de pelúcia. – brincou, apontando para o bichinho que ainda estava na minha mão.
- , não desobedece a tia , vai já pro banho. – surgiu ao lado de , dando bronca com um sorriso no rosto. Ela era uma contradição ambulante.
- Ah, mamãe. – fez manha novamente e tentou esconder o sorriso dessa vez a olhando sério.
- Vamos logo dar um banho em você, porquinha. – encerrou o assunto e adentrou o apartamento com no colo. Mas parou por um momento. – Diga até logo para o tio . – ela pediu a .
- Tchau, tio , brigada pelo sorvete! – agradeceu com um sorriso no rosto e eu sorri junto, me despedindo dela de longe.
- Acho que ela esqueceu o Piggy. – disse, entregando o porquinho a que ainda estava parada ao lado da porta. Ela me encarou séria por um minuto que pareceu ser eterno, antes de dizer algo.
- Obrigada. – eu a encarei sem entender. - Por ter cuidado dela esta tarde. – completou, ainda me olhando de uma forma que parecia querer me analisar, me desvendar.
- Não fiz mais que a minha função de pai, e isso não foi uma obrigação. Gostaria de poder repetir o passeio de hoje mais vezes, se você permitir. – observei o seu olhar completamente hesitante.
- fará aniversário no próximo dia oito, será uma sexta-feira, por isso planejamos fazer a festa no sábado a tarde, aqui no salão do prédio. Você pode vir, se quiser. – ela disse, e sem esperar resposta fechou a porta na minha cara. Eu encarei a madeira na minha frente, um pouco surpreso com a sua atitude e muito feliz com o convite que ela havia me feito.

’s POV.

- Eu ouvi bem? Você acabou de convidar o pra festa da ? – Jake me encarou do sofá.
- Eu não sei bem por que fiz isso. Mas agora não tem mais volta e de qualquer forma os pais dele estarão na festa também, não seria justo ele não participar. – confessei.
- “Não seria justo”? Você prestou atenção no que você acabou de dizer, ? – ele se levantou ainda me olhando. – Há pouco tempo você jurava que não ia deixar que ele se aproximasse da sua filha, eu até tentei te fazer ver que ele tinha direitos e você quis brigar comigo por isso e agora, de repente, parece que você o elegeu o pai perfeito. As coisas estão acontecendo rápido demais desde que ele assumiu a paternidade da . – ele disse, e eu o censurei com o olhar.
- Fala baixo, Jake. E se ela ouve? – reclamei, e ele me olhou incrédulo.
- Ela não vai entender sobre o que nós estamos conversando, da mesma forma que eu não entendo por que o seus sentimentos em relação a ele estão mudando tão rápido. – Jake me encarou, parecendo nervoso e respirou fundo em seguida.
- Meus sentimentos não mudaram, Jake. Você não entende, eu só acho... – tentei dizer quando ele me interrompeu, caminhando e parando diante de mim.
- Como foi que ele conseguiu levar a ao ballet hoje? Vocês andam se encontrando? Ele anda te perseguindo? – Jake me olhava parecendo transtornado e eu sabia que a culpa era minha por não ter dito ainda tudo o que estava acontecendo a ele.
- O trabalho voluntário do é na escola em que eu estou lecionando. Na verdade, nós temos desenvolvido um projeto musical juntos, porque eu sou uma das professoras que faz a avaliação do trabalho dele para a condicional. – confessei, olhando profundamente em seus olhos, que logo ficaram ainda mais confusos.
- Desde quando? – ele perguntou, baixo, desviando o olhar para a porta.
- Há umas duas semanas. – respondi, incapaz de olhá-lo.
- E você estava escondendo isso de mim, porque provavelmente algo está acontecendo entre vocês. - Jake estava magoado.
- O quê? Jake, não fale bobagens, como você pode... – ele me interrompeu novamente.
- Você está diferente há algum tempo, . Eu vejo isso e agora sei a razão, mas não entendo como você pode ser tão cega e idiota em cair na conversa dele pela segunda vez depois de tudo o que ele te fez no passado. – Jake me encarou novamente e eu ergui o meu olhar em sua direção não acreditando que ele estava me dizendo aquilo.
- Quem está diferente aqui é você! Como você pode pensar algo assim? Parece que mesmo depois desse tempo todo em que estamos juntos você ainda não me conheceu de verdade. – disse, me sentindo magoada por ele achar que havia algo entre e eu. – Ele é o pai, Jake. A porcaria toda já foi feita, eu não posso impedir que ele...
- É, eu sei. Você não pode. E eu acho que preciso de um tempo pra digerir isso. – observei o seu olhar me sentindo confusa com o que ele havia dito. – Acho também que você precisa de um tempo pra esclarecer as mudanças do que você está sentindo.
- O que você está querendo dizer com isso? – perguntei, completamente perdida. Jake respirou fundo, me abraçando forte em seguida, como se tivesse medo que eu desaparecesse.
- Eu estou indo pros Estados Unidos amanhã à noite. Preciso resolver alguns problemas familiares, já avisei ao e ele ficou de comunicar o resto do grupo. – ele disse, afastando o rosto pra me olhar novamente.
- O quê? E quando você pretendia me dizer isso? Quando você vai voltar? – perguntei, querendo estar enganada sobre o que aquilo significava.
- Eu vim aqui pra isso, foi uma decisão de última hora, não sei quanto tempo levará, mas agora eu vejo que vai ser bom pra nós dois, vai ser bom darmos um tempo. – Ele me olhou de um jeito diferente e sem que eu esperasse selou os lábios nos meus, mas não aprofundou o beijo, se afastando rapidamente e me soltando do abraço. – Eu espero sinceramente que você me escolha quando eu voltar. Até mais, . – e quando eu percebi ele já havia saído do apartamento e eu permaneci ali em pé, sem compreender como tudo aquilo havia acontecido. Negando a mim mesma que aquele poderia ser o fim.

(...)


Vários dias passaram e eu não vi Jake desde aquela noite de quarta-feira, eu telefonei diversas vezes no dia seguinte, mas ele não atendeu, o procurei em seu apartamento na esperança de conseguir conversar antes que ele fosse viajar, mas ainda assim não obtive resposta. Ele partiu e nós nem ao menos nos despedimos. E eu ficava cada dia mais confusa, ainda não acreditando que ele havia pedido um tempo no nosso relacionamento, o que pra mim claramente significava que havíamos terminado.
- Nada ainda? – perguntou, surgindo na sala.
- Não. – respondi, encarando o telefone.
- Ele só precisou viajar, , logo ele volta e vocês vão ficar juntos de novo. – ela disse, claramente tentando me consolar.
- Não sei se acredito nisso, . – respondi, sem ânimo.
- Nem pense nisso, ! – ela exclamou do nada e eu a encarei confusa.
- Pensar no quê?
- Em ficar toda deprê por conta de um cara de novo, já passamos por isso por culpa do , você não merece ficar assim de novo pelo Jake. Além do mais, eu sei que você gosta muito dele, mas também sei que você não o ama, amiga. – ela disse, caminhando em direção à cozinha e eu a segui.
- Só porque não o amo ainda não significa que não posso amá-lo em breve, eu gosto muito dele, . Me deixe ficar chateada por ele ter ido dessa forma. – respondi, um pouco brava.
- Não estou desmerecendo o que você sente em relação a ele, . Eu só quero que você dê mais valor a si mesma e não sofra novamente por um homem. – ela disse, me encarando, quando Penny entrou no local carregando várias sacolas.
- Olá, mulheres! – ela entrou sorrindo, mas logo se calou notando as nossas expressões. Por que tenho impressão de que interrompi uma DR de amizade?
- Não é nada disso, . Eu só estava tentando colocar um pouco de juízo na cabeça da . Agora vamos logo descer com essas coisas e terminar de arrumar o salão pra festa daquela pestinha. As Sra. e Parker estão sozinhas lá embaixo. – encerrou o assunto, pegando uma das sacolas e seguindo em direção à porta. Eu respirei fundo, sabendo que apesar daquelas palavras, ela estava certa, em relação a tudo. Eu não iria sofrer por um homem novamente.
- Tá tudo bem mesmo? – Penny perguntou, parecendo preocupada.
- Está, vem, vamos agilizar essa festa. – peguei outra sacola e ela me seguiu pegando a última. Passamos a tarde enfeitando o salão para a festa de , enquanto passeava com ela pela cidade a distraindo. E eu ainda não entendia por que estava dando tanta liberdade a ele. Talvez fosse o fato de que sempre que eu os via juntos, algo no meu coração dizia que aquilo era o certo.

’s POV.

Escondi aquele bicho no meu casaco olhando para todos os lados, rezando pra não encontrar pelo caminho, eu tinha certeza que estava ferrado, que ela iria odiar quando descobrisse aquilo, que isso atrapalharia a estranha relação amigável em que havíamos nos metido nos últimos dias, mas eu já não podia negar nada do que aquela pequena garotinha me pedia, eu era um pai rendido aos caprichos da sua garotinha. E eu nunca pensei que fosse agir daquela forma. Caminhei com em direção ao elevador, sabendo que a hora da minha morte chegaria rápido.
- Tenho certeza que a sua mãe vai me matar, baixinha. – resmunguei pra minha filha, que riu mais uma vez naquele dia.
- Vai não, tio. Me deixa pegar ele no colo de novo? – ela pediu, sorrindo.
- Espera até a gente entrar no elevador. – falei, e ela entortou os lábios, batendo o pezinho enquanto o elevador não chegava ao térreo. Estava idêntica a mãe quando ficava nervosa.
- Vovó Parker! – exclamou de repente, correndo em direção a uma senhora que caminhava até os elevadores.
- Oi, netinha linda. Fiquei sabendo que hoje é o dia do seu aniversário, meu bem. – a senhora disse, abaixando-se e dando um abraço na minha filha. – Feliz aniversário, . – ela desejou e fez uma reverência agradecendo, eu sorri as observando. E logo em seguida elas caminharam novamente em minha direção, quando o elevador finalmente chegou ao térreo.
- Olá, meu jovem. Sou Stella Parker – a senhora me cumprimentou assim que entramos no elevador. – Você deve ser o , estou certa? – ela perguntou, e eu afirmei.
- Sou sim, prazer em conhecê-la, mas como a senhora sabe quem eu sou? – perguntei, confuso, ela sorriu bondosa, me lembrando da minha avó.
- Sou vizinha da desde que ela se mudou para o prédio e sempre que ela precisa tomo conta de , essas duas já se tornaram membros da minha família, é como se fosse minha neta e minha bisnetinha querida, então estou por dentro do que acontece com elas. – ela disse, bagunçando os cabelos de .
- Ah, agora entendi porque a chamou de “vovó”, eu achei estranho, já que a não tem mais avós vivos. – comentei.
- Eu sou a avó adotiva dessas duas meninas adoráveis e elas são as minhas netas adotivas queridas. – ela respondeu, e eu sorri em resposta quando de repente um miado inconveniente invadiu o ambiente, fazendo com que a Sra. Parker me encarasse curiosa.
- Droga. – resmunguei.
- Deixa eu pegar ele, tio , você prometeu. – pediu, e eu suspirei derrotado, entregando o gatinho a ela.
- Sua mãe com toda a certeza vai me matar. – murmurei e a senhora ao meu lado riu.
- Que gatinho lindo, meu bem. É seu? – ela perguntou a , enquanto acariciava a cabeça daquele bicho metido.
- É sim, o titio me deu de presente de aniversário. – respondeu, contente.
- Oh, é mesmo? – a Sra. Parker me encarou sorridente.
- É, mas eu sei que serei um homem morto quando a mãe dela descobrir. – resmunguei novamente. – Não vou nem poder ir ao seu aniversário, gatinha. – disse e me encarou parecendo ter medo.
- Ah, mas por quê? Você prometeu que iria! – ela reclamou, manhosa.
- Ele esta só brincando, meu bem. – a velha senhora disse, sorrindo.
- A senhora diz isso, porque, obviamente não conhece o lado assassino da minha ex-mulher. – comentei, sem pensar, o que a fez rir sonoramente.
- Tenho uma ideia para ajudá-los então. – ela disse, após conter o seu riso. – Que tal deixarmos esse gatinho lindo em meu apartamento até a festa acabar e em seguida vocês o levam para a casa de . Assim o Sr. não correrá o risco de perder a sua festa, que tal, meu bem? – ela perguntou a , que concordou imediatamente.
- Não posso incomodar a senhora dessa forma. – neguei, não querendo abusar da boa vontade de uma idosa simpática.
- Não será incômodo algum, meu jovem. – ela negou e apanhou a bola de pelos brancos em seus braços.
- Nesse caso, tudo bem. É melhor mesmo prepararmos o terreno durante a festa antes de jogar essa bomba no colo da . – disse, rindo e a Sra. Parker me acompanhou.
- E qual é o nome deste lindo gatinho? – ela perguntou a , assim que paramos em frente à porta do seu apartamento.
- Panqueca! – respondeu, contente e eu encarei aquele gato dorminhoco, sabendo que por culpa dele eu teria problemas em breve.

(...)


Crianças corriam de um lado para o outro enquanto uma música infantil tomava conta do local, eu estava sentado em uma mesa no canto, com os meus amigos ao redor, não desgrudava de , não saía do telefone e algo me dizia que ele estava trocando mensagens com Sarah. Mais a frente, brincava com Charlie, e os amiguinhos dela na cama elástica. Penny, , a Sra. Parker e meus pais conversavam perto da mesa dos doces. E após brincar por um tempo com , eu estava ali, quieto, apenas observando, guardando cada momento na minha memória do primeiro aniversário da minha gatinha em que eu estava presente.
- Acho que o perdeu o posto de pai mais babão da banda. – disse, se sentando de repente ao meu lado.
- Sou mesmo e daí? Minha filha é linda. – disse, orgulhoso e ele riu.
- Quem diria, , o pai mais meloso do mundo. – ele brincou e eu sorri não me importando com aquele título.
- Desgrudou da ou ela te deu um pé na bunda? – brinquei e ele me mostrou o dedo do meio discretamente.
- Ela foi conversar com as garotas. – ele disse, parecendo emburrado, apaixonado era hilário. – Você soube alguma coisa do Jake? Achei estranho ele ter viajado bem na época do aniversário da . – ele comentou.
- , eu tenho cara de quem liga pra vida do Evans? – perguntei, irritado e ele pareceu se tocar do comentário idiota que havia feito. - E quem deveria estar aqui no aniversário da minha filha, já está. Estou é feliz de não ter que ver aquele babaca por aqui, querendo roubar o meu papel ao lado dela. – concluí e me encarou cogitando dizer algo, mas na última hora preferiu permanecer calado.
De repente, a música ambiente parou e eu notei chamar na cama elástica e seguir com ela até a mesa onde o bolo estava exposto. Ela chamou a atenção dos convidados que se aproximaram do local, as crianças correram pra ficar em volta da mesa, os dois amiguinhos de - Emilly e aquele baixinho conquistador que estava na minha lista negra, chamado Enzo - ficaram ao seu lado diante do bolo com quatro velinhas dispostas sobre ele. sorria posicionada atrás da nossa filha, enquanto o fotógrafo contratado pedia para que todos sorrissem para tirar uma foto do momento, eu queria que tivesse me chamado, queria estar junto das duas naquela foto, mas as coisas entre nós não pareciam estar tão bem a ponto dela me conceder aquele lugar, então apenas as observei de longe, as luzes foram apagadas enquanto sorria, assoprando as velinhas.
- Tio ! - gritou, assim que as luzes se acenderam. Eu olhei para ela sorrindo, confuso. – Vem tirar foto! – ela chamou e eu notei os meus amigos se aproximando de onde ela estava. Sorri e caminhei até eles.
- Fica aqui do meu lado, . – Penny pediu, sorrindo, me colocando entre ela e . estava parada do outro lado, com próxima a ela e olhou para Penny de uma forma estranha, todos os nossos amigos estavam ao redor, quando o fotógrafo pediu novamente para que sorríssemos.
- Estou orgulhosa de você neste momento, filho. – minha mãe disse, ficando parada atrás de , com meu pai ao seu lado, eu sorri para ela e em seguida coloquei uma mão sobre os cabelos da minha filha e olhei para a câmera enquanto a foto era tirada. No final, o meu desejo se realizou.

(...)


- Tem certeza que não quer que eu fique pra ajudar na arrumação? – perguntei a mais uma vez. Já era noite e restavam poucas pessoas no salão de festas do prédio. Apenas os mais próximos que ajudavam a arrumar o local.
- Tenho, , não há necessidade. – ela negou ajuda novamente, evitando me encarar. Eu respirei fundo e decidi não forçar a situação.
- Se você quiser, posso pelo menos levar a até o apartamento e colocá-la na cama, ela já esta dormindo sobre as cadeiras. – apontei pra pequena encolhida cochilando sobre uma cadeira. pareceu pensar por um momento, olhando a filha ao longe.
- , você pode me ajudar a guardar o resto do bolo? – Penny pediu ao longe e olhou para ela assentindo e depois se virou novamente em minha direção, respirando fundo.
- Tudo bem, , está lá em cima arrumando algumas coisas, peça para ela te mostrar o quarto de . – ela disse, provavelmente se esquecendo do dia em que comemos pizza em seu apartamento e eu as coloquei para dormir, mas antes que eu pudesse mencionar algo, ela já havia se afastado e seguido em direção até onde Penny estava. Caminhei até , que ressonava parecendo cansada.
- Parece que você se divertiu bastante hoje, não é, gatinha? – murmurei, notando o sorriso em seus lábios enquanto ela dormia. – O papai vai te carregar até lá em cima. – disse, baixinho, a pegando no colo em seguida e andando devagar até o elevador.
Chegamos ao apartamento e nos guiou até o quarto, me deixando a sós com logo depois, alegando estar um pouco ocupada, eu não me importei e fiquei observando a minha filha dormir por mais um tempo, antes de lhe dar o meu primeiro beijo de boa noite, desejar bons sonhos e sair daquele apartamento, desejando ter ficado.
Segui em silêncio até em casa, sem vontade alguma de manter conversa com o motorista do táxi, recordando tudo o que havia acontecido naquele dia, tudo o que eu havia feito da minha vida, tudo o que eu havia perdido, cheguei até a minha casa sem ao menos perceber, já que não havia prestado atenção no caminho que o motorista havia feito, pois eu estava pensativo, agindo apenas no automático. Entrei no local ainda escuro, fechando a porta logo em seguida e parei por um momento, notando o silêncio que ainda parecia me perseguir, notando a solidão em que eu havia me metido por minha culpa. Cheguei a sentir falta de dividir o apartamento com , mas sabia que o que eu desejava era ter outras duas pessoas vivendo sob aquele teto comigo. Acendi uma luminária na sala, para que alguma iluminação invadisse o local e caminhei até o sofá, me jogando sobre o mesmo em seguida e encarando a televisão desligada à minha frente sem a menor vontade de ligá-la. Fiquei durante um tempo incontável pensando em tudo, revendo tudo o que eu havia feito de errado, tentando achar uma solução pra que as coisas fossem diferentes daqui em diante, uma solução que fizesse com que soubesse logo que eu era seu pai, uma alternativa que fizesse com que voltasse pra mim.
...
Fechei os olhos e sua imagem imediatamente invadiu a minha mente, ela gargalhava envolta em um vestido branco, enquanto eu a carregava nos braços em direção ao quarto de hotel onde passaríamos a noite de núpcias.

- Se você me derrubar, eu juro que te bato, . – ela disse, sorrindo assim que entramos no quarto e eu fiz menção de derrubá-la, o que a assustou, a fez soltar um gritinho de medo e se agarrar ainda mais ao meu pescoço. – Seu idiota! – ela resmungou, enquanto eu ria pela sua reação.
- Linda. – eu disse, a encarando. – Eu te amo.
- Também te amo, . – ela respondeu, me encarando com aquele sorriso lindo no rosto.


A campainha tocou, me fazendo recobrar a consciência e deixar de lado as lembranças, a pessoa do lado de fora parecia insistente, pois o barulho não cessava, bufei, me levantando e caminhando sem pressa até a porta, ficando surpreso quando vi quem estava do outro lado.
- Que merda você tem na cabeça, ? - disse, irritada, enquanto carregava uma bola de pelos brancos em seus braços. – Um gato? Sério? Como você pôde comprar um gato para ela? – ela dizia, enquanto me empurrava sem perceber para dentro da casa, me dando pequenos socos no peito com uma das mãos e apertando o gato no outro braço, o bichinho parecia estar sufocando, e eu senti pena do pobre coitado. – Quão irresponsável você é, ? A tem apenas quatro anos! Ela não tem idade para ter um bicho de estimação, você acha que ela vai ficar responsável por cuidar dele? Mas é claro que não! – ela elevou o tom de voz, parecendo furiosa, o gato miou assustado.
- , acho melhor você soltar o gatinho, ele tá quase morrendo no seu aperto. – eu disse, tentando conter o riso, ela me olhou ainda mais furiosa, soltando o gato, que correu para se esconder em algum local da casa.
- E você ainda ri, seu cretino idiota! Como você pode rir? – ela voltou a me esmurrar, agora com as duas mãos e com mais força. – Você nem ao menos perguntou se ela era alérgica a pelos? E se ela tivesse uma crise de alergia, seu irresponsável? – me encurralou em uma parede sem perceber e eu a encarei assustado, será que era alérgica? Droga, eu só fazia merda. – Por que eu fui deixar você sozinho com ela? – ela exclamou, novamente.
- Eu não sabia, ela só me olhou com aqueles olhinhos e eu me rendi, e... – eu tentei me explicar, mas ela logo me interrompeu.
- Você é um idiota que nunca irá agir como um bom pai! E não fique pensando que esse bicho irá ficar lá em casa, você é quem vai tomar conta dele, ! – ela continuou e eu me irritei com o seu primeiro comentário e a encarei demonstrando isso. – E ainda por cima o escondeu na casa da Sra. Parker, você não muda? – ela me olhava brava e eu já estava cansado de levar aqueles murros e tapas gratuitos, então segurei os seus punhos e tentei contê-la, puxando-a para perto de mim, foi quando os nossos olhares se encontraram, fazendo com que milagrosamente se calasse e me encarasse assustada. A sua respiração pareceu se acelerar ainda mais quando sem pensar eu soltei um dos seus punhos e envolvi a sua cintura com um dos meus braços a trazendo ainda mais pra perto e mantendo-a firme, presa em meu abraço. Encarei os seus lábios e a vontade de beijá-la que eu tentava reprimir desde a última vez em que havíamos dançado juntos naquela festa me tomou com força total. Em um movimento impensado, ela mordeu o lábio inferior, aquilo fez com que a minha vontade aumentasse e também sem pensar eu selei os meus lábios aos seus, explorando-os com a minha língua e sentindo o meu corpo todo se aquecer, quando ela pareceu se render entreabrindo os lábios, entregando-se aquele beijo que se aprofundava cada vez mais.


“So open your eyes and see,
The way our horizons meet.”
– Ed Sheeran.









”And I will fall for you.
If I fall for you.
Would you fall too?”
- Ed Sheeran.



’s POV.

estava me beijando. E o pior de tudo é que eu estava correspondendo. Seus braços estavam ao redor da minha cintura me segurando firme, me apertando contra ele como se ele nunca mais fosse me soltar, como se nunca mais fosse permitir que eu partisse. Minhas mãos desobedientes bagunçavam o seu cabelo, eu já sentia falta de ar, sentia meu coração cada vez mais acelerado batendo furiosamente dentro do meu peito. Sentia um calor insano dominar o meu corpo. Sentia que estava prestes a perder todos os meus sentidos e me entregar a ele, mas aquilo era errado, aquilo estava errado. As coisas não iriam se resolver daquela forma, não tão rápido. Muita coisa ainda precisava ser dita, muitas ações precisavam ser feitas, a confiança precisava ser recuperada. O que diabos eu estava fazendo permitindo que ele me tivesse assim tão fácil? Eu estava há tantos anos sem sentir aqueles lábios nos meus. E o encaixe continuava perfeito. Mas como eu poderia me entregar com apenas um beijo?
E Jake? Nós estávamos afastados, eu não sabia ao certo se tudo havia realmente terminado, mas eu não poderia agir daquela maneira impulsiva sem pensar nele.
Meu cérebro finalmente tomou a frente e colocando os pensamentos em ordem eu fiz o que tinha que fazer, eu me afastei, me afastei e fui embora sem dizer uma palavra, sem olhar para trás, mesmo sentindo uma estranha falta de estar presa naqueles braços. Me afastei, porque queria me proteger de mim mesma. Me proteger do que eu estava novamente sentindo após tanto tempo.

~.~


O despertador tocou, mas eu já estava acordada há horas. Não havia pregado os olhos durante a noite toda pensando em como as coisas aconteceriam naquele dia. Pensando em tudo o que havia acontecido naquela noite de sábado. Eu havia ido até a casa dele, estava tão brava por ele ter sido tão irresponsável, por ter feito aquilo sem me consultar, que não raciocinei direito e já o agredi assim que a porta da sua casa foi aberta. tentou argumentar, mas eu não estava ouvindo, não fazia a menor ideia porque estava agindo daquela forma, provavelmente aquilo não era apenas pelo gato que ele havia dado a sem me consultar, com certeza não era apenas isso o que havia me levado até ali no meio da noite, eu poderia ter esperado para brigar com ele sobre o gato no dia seguinte. Aquilo era um acumulo de tudo pelo eu havia passado por culpa dele durante os anos, eu estava descontando tudo naquele momento, porque eu estava cada dia mais confusa em relação aos meus sentimentos por ele após a nossa repentina reaproximação, após ele demonstrar que se importava com a filha, eu estava perdida e furiosa por sentir isso, mas foi só ele me envolver nos seus braços pra que eu me sentisse desarmada. E então tudo aconteceu tão rápido como em um clichê barato e quando eu percebi já estávamos indo longe demais. E agora eu não sabia o que fazer.
Havia ficado dentro de casa durante todo o domingo, evitando atender ligações e pela primeira vez me senti aliviada quando , que obviamente sentiu que havia algo de errado comigo, decidiu sair para um passeio com , levando com eles. Eu precisava ficar sozinha, precisava pensar e aquele tempo que me forneceu foi de grande ajuda, mas nada havia mudado completamente, eu ainda não sabia o que fazer quando elas retornaram mais tarde naquele dia. E não sabia o que fazer também agora, nesta manhã de segunda-feira. Dia em que eu com toda a certeza iria vê-lo. Nós teríamos que trabalhar juntos naquele projeto.
Como eu iria agir, quando tudo o que eu mais queria era me manter afastar dele neste momento?
Cogitei fingir algum tipo de doença, algum mal estar que me impossibilitasse de ir trabalhar naquele dia, eu estava um trapo pela noite mal dormida, poderia usar isso ao meu favor, mas essa atitude seria no mínimo ridícula e infantil. Eu não tinha mais doze anos para inventar uma doença para faltar à escola, agora eu era uma adulta, era uma mãe e deveria agir como uma pessoa responsável. Seria hipocrisia fazer aquilo depois de ter acusado por ter sido tão irresponsável. Aquela hipótese estava fora de cena.
Fechei os olhos por um momento, quando o despertador tocou novamente, tentando tomar coragem para enfrentar o que viria. Aquilo não havia sido nada, foi só um beijo. nem se lembraria dele.
Como eu queria estar certa.
Suspirei cansada de todo aquele drama que envolvia a minha vida, e logo senti duas mãozinhas quentes tocando o meu rosto.
- Bom dia, mamãe. Vamos pra escola? – cumprimentou animada e eu abri os olhos a encarando com ternura. Eu deveria seguir em frente e me esquecer de tudo aquilo por ela. – Tá dodói? – ela me olhou preocupada, quando demorei para responder e eu sorri a achando linda.
- Não meu amor, mamãe esta apenas com preguiça. – disse me sentando na cama com ela em meu colo. – Mas hoje é dia de aula, então senhorita, vamos já para o banho senão iremos chegar atrasadas na escola! – exclamei com um sorriso no rosto, tentando esconder tudo o que se passava na minha cabeça naquele momento. Tentando enterrar aquela noite de sábado no meu subconsciente, tentando viver sem aquela lembrança.

Estacionei o carro em uma das vagas destinadas aos professores, ele finalmente havia sido consertado e aquilo era bom, pois eu não teria que incomodar com caronas ou correr o risco de se oferecer novamente para nos levar a algum lugar. e eu seguimos em direção a pré-escola e eu me despedi assim que ela entrou no local acompanhada pelos amigos de sempre. Caminhei até a escola secundária me sentindo ansiosa, os alunos que já estavam no colégio me cumprimentavam pelo caminho e eu respondia automaticamente, até que parei diante da sala dos professores e permaneci em pé observando a madeira, querendo não entrar naquele local e encontrá-lo tão cedo, mas eu não era uma garota sortuda.
- Não vai entrar? – aquela voz invadiu os meus ouvidos e um arrepio involuntário tomou conta do meu corpo me fazendo ficar ainda mais petrificada ao lugar onde estava. – ?– pronunciou o meu nome com aquela voz rouca e aquilo mexeu comigo da maneira errada. Eu não conseguia encará-lo sem me lembrar daquele beijo, não conseguia me mexer, mas eu precisava sair de perto dele. – Eu preciso conversar com você mais tarde, tudo bem? – Permaneci calada. - Por favor, diga alguma coisa. Você está bem? - ele tentou novamente parecendo preocupado, depois suspirou frustrado devido a minha falta de comunicação.
Fechei os olhos soltando o ar que não tinha percebido que havia prendido e de repente não senti mais a sua presença atrás de mim, abri os olhos me virando e ele realmente não estava mais lá, finalmente abri a porta encontrando apenas os meus colegas no local, nada de . Talvez eu estivesse alucinando, talvez ele nunca tenha estado ali comigo, talvez aquela conversa unilateral nunca houvesse acontecido, fora apenas um momento imaginado pela minha mente confusa. Mas infelizmente eu sabia que aquela presença nunca poderia ter sido apenas fruto da minha imaginação e eu não poderia fugir dele por muito tempo, já que dentro de alguns minutos teríamos que trabalhar juntos na oficina de musica.
Porém eu fiz o meu melhor, tentei ao máximo não encará-lo durante aquela manhã, e apenas lhe dirigi as palavras necessárias. Ao fim do seu turno eu deveria fazer a minha avaliação, então me retirei antes que ele pudesse tentar conversar comigo novamente e me escondi no banheiro feminino como uma perfeita medrosa, esperando que ele fosse logo embora. E acabei ficando lá até o inicio da minha próxima aula. Sei que estava agindo como uma covarde, mas no fundo eu queria me livrar de toda aquela confusão que se instalará no meu coração e com ele por perto eu não conseguiria pensar direito. Pelo menos agora eu teria o resto da semana livre, teria o resto da semana para colocar a minha vida novamente em ordem.

(...)


A semana parecia ter voado quando tudo o que eu mais queria era que ela passasse lentamente. Era noite de sexta-feira, e eu seguíamos de carro em direção a um pub no centro de Londres. Ela havia ficado desconfiada do meu comportamento durante toda a semana, havia feito de tudo para retirar alguma informação sobre o que estava me perturbando desde aquele sábado, mas eu ainda não tinha coragem de confessar a ela que os meus sentimentos pareciam estar regredindo. Eu não havia dito a ninguém, ainda não estava pronta para isso. A Sra. Parker se voluntariou para cuidar de aquela noite, após fazer um discurso dizendo que eu precisava me distrair do que quer que fosse, me convencendo a sair com ela e Penny naquela noite. Adentramos o pub alguns minutos depois e Penélope já nos esperava sentada diante de uma mesa mais ao fundo.
- Até que enfim, vocês nem parecem ser britânicas, sempre se atrasam. – ela resmungou e lhe mostrou a língua enquanto eu revirava os olhos.
- Boa noite para você também, Penny . – me aproximei dela, lhe dando um beijo no rosto e fez o mesmo.
- O não anda comparecendo direito em casa, amiga? Por que só assim pra você estar neste mau humor todo em plena sexta à noite. – provocou.
- Minha querida, meu marido comparece sempre muito bem, se é que você me entende. Agora deixe de lado a sua curiosidade sobre a minha vida sexual e sente-se. – Penélope respondeu não deixando a brincadeira de por menos e eu apenas ri, me sentando ao seu lado.
- Vaca. – resmungou com um bico, sentando-se em seguida e Penny a ignorou.
- Vamos ao que interessa, o motivo pelo qual viemos aqui hoje. – ela começou a dizer, encarando e logo em seguida se virando em minha direção, fez o mesmo.
- O que? – perguntei me fazendo de desentendida.
- Por favor, . Não subestime o nosso poder de observação. – ficou séria e eu desviei o meu olhar para as pessoas que dançavam mais adiante em uma pista improvisada.
- O que anda te perturbando garota? me disse que você anda estranha, quieta e pensativa além do normal e isso tudo começou após a festa de sábado. Vamos , fale conosco. – Penny pediu envolvendo minha mão entre as suas.
- Só queremos te ajudar com o que quer que esteja acontecendo, amiga. Você sempre nos terá ao seu lado. Confie em nós. – incentivou. E eu, me sentindo encurralada naquela armadilha que elas haviam feito, respirei fundo pensando por onde começar, pensando se contaria tudo.
- Que tal pedirmos algumas bebidas antes que eu comece? – pedi tentando ganhar tempo para organizar os meus pensamentos.
- Tudo bem, mas não pense que você irá fugir dessa conversa nos embebedando para não contar nada. – advertiu, rindo logo em seguida.
- Hey, garçom! – Penny sinalizou e o rapaz alto e moreno logo parou diante da nossa mesa.
- O que desejam garotas? – ele perguntou, todo informal, com um sorriso lindo no rosto, suspirou ao meu lado.
- Por enquanto, apenas bebidas, gatinho. – ela respondeu com um sorriso malicioso no rosto e ele assentiu sorrindo da mesma forma anotando os nossos pedidos e se retirando em seguida.
- , você não presta! – exclamei rindo. - Pobre . – Penny concordou da mesma forma.
- O que eu fiz? – ela perguntou fingindo inocência. E nós a encaramos, chocadas. – Gente, é natural e saudável um pouco de flerte de vez em quando. E e eu não estamos em um relacionamento sério, me deixem curtir. – ela respondeu em desdém.
- Mas nós bem sabemos que o seu maior sonho é tornar esse relacionamento sério, deixe de fingimento, . – eu disse sorrindo.
- Ela esta louca para ser pedida em namoro, mas o pequeno ) é um idiota lento. – Penny balançou a cabeça cansada daquilo.
- Calem a boca. O foco aqui hoje não sou eu, não tente inverter as coisas . – me encarou e estava pronta para dizer mais alguma coisa quando o garçom nos interrompeu.
- Aqui estão as bebidas de vocês, garotas. – ele nos entregou os copos com o seu sorriso sedutor no rosto e continuou com o seu flerte o encarando, até o momento em que ele se afastou.
- É uma sem vergonha mesmo. – Penny comentou e todas nós rimos.
- Pronto, já temos as bebidas, agora fale . – e Penny me olharam e eu desisti de esconder delas tudo o que estava acontecendo.
- esta trabalhando na mesma escola em que eu dou aula, faz parte da pena alternativa para que ele cumpra a condicional. – despejei o que achava mais fácil primeiro e esperei por suas reações.
- Mas sobre isso eu já sei. – Penny disse como se aquilo não fosse importante, nós duas a encaramos, eu estava confusa e curiosa. – me contou, vocês sabem como aqueles quatro são fofoqueiros. – ela deu de ombros.
- Ele contou também que e eu estamos trabalhando juntos? – perguntei e ela negou visivelmente surpresa.
- Sério? – perguntou surpresa, assim como Penny e eu assenti confirmando. – Caralho. – foi a única coisa que ela conseguiu dizer.
- Eu sou um dos professores responsáveis pela avaliação dele. – completei e elas me encaravam como se não me conhecessem.
- Puta que pariu. – resmungou de novo, enquanto Penélope parecia me analisar.
- Mas essa não é a única coisa que esta te perturbando ultimamente, to certa? – ela perguntou e eu assenti a contragosto.
- Tem mais? Cacete! – ainda parecia impressionada.
- Chega de palavrões . – Penny riu. – Conte-nos tudo, .
- Aconteceu algo sábado passado, algo que por mais que eu não queira, me deixou abalada. – eu disse e nos minutos seguintes contei as minhas amigas todos os detalhes sobre o beijo roubado do ultimo sábado.

’s POV.

Eu estava no meu limite. Aquela semana de espera havia sido uma tortura desde o ultimo sábado. Eu ainda conseguia sentir a presença dos lábios dela fundidos aos meus. Conseguia sentir o calor do seu corpo infiltrado entre as palmas das minhas mãos. E aquilo estava me fazendo uma falta do caralho. Eu estava agindo como um maldito dependente químico, e era a minha droga. Bastou prová-la novamente só uma vez e eu já tinha a mais absoluta certeza de que estava em uma recaída e a queria de volta pro resto da vida.
E também sabia que eu era o mais idiota de todos os homens por ter ido embora, por ter a abandonado, por ter perdido o que eu tinha de melhor na vida. Eu sabia que poderia ter posto tudo a perder agora novamente, que talvez tivesse regredido a evolução do nosso relacionamento frágil nos últimos tempos quando a beijei, mas eu estava disposto a melhorar, estava disposto a reconquistá-la e já estava na hora de colocar os meus pensamentos em ação.
Mas para isso eu precisava conseguir conversar com , precisava fazer com que ela não me evitasse mais, não fugisse como havia feito na segunda-feira passada e como estava fazendo durante o resto da semana em que eu tentei entrar em contato com ela.
- Eu estou pregado. Tá foda essa história de além das nossas funções ainda termos que fazer o trabalho do veado do produtor musical que sumiu de repente. – reclamei me jogando sobre um sofá que ficava no estúdio.
- Deixa de ser preguiçoso, . Você se esqueceu que quando abrimos a gravadora nós fizemos de tudo um pouco? O cara teve que viajar, mas nem por isso o trabalho deve parar. – comentou, como sempre muito profissional e eu bufei, cansado.
- Também to cansado de gravar, a gente trabalhou o dobro hoje. Que tal uma saideira? – sugeriu estranhamente animado.
- Tô dentro, uma loira gelada ia cair bem. – concordou.
- Sei bem qual loira você queria agora. – comentei rindo, me lembrando de Sarah.
- Ela também cairia bem, no meu colo. – ele assentiu sorrindo malicioso.
- Como vocês são idiotas. – reclamou. – Mas devo admitir que concordo, vamos parar por aqui hoje.
- Isso ! Deixe de ser tão certinho. – disse com os dedos polegares para cima.
- E aí, para onde vamos? – quis saber.
- A Penny disse que iria para um pub no centro com as garotas hoje, que tal a gente fazer uma surpresa pra elas? – disse finalmente animado.
- A também está com ela? – perguntei interessado. Aquela era a minha chance de falar como ela.
- Tá sim, porque o interesse? – me encarou curioso.
- Nada, só não quero arranjar confusão com ela. – desconversei. Eu ainda não havia dito a ninguém sobre o que tinha acontecido no ultimo sábado. Aquilo só interessava a e eu.
- Sei. – ele me encarou desconfiado.
- A minha doutora também deve estar lá, então vamos logo pra esse pub seus babacas! – exclamou se levantando e saindo do estúdio rapidamente, nós três rimos do desespero dele para ver e logo o seguimos.

Meia hora mais tarde adentramos o pub que parecia estar cheio aquela hora da noite, olhei ao redor tentando encontrar as garotas, tentando encontrar ela, mas parecia impossível em meio a todas aquelas pessoas. Caminhamos mais um pouco para dentro do local, indo em direção ao bar, pedimos cerveja e ficamos encostados por ali observando o local por um tempo, quando finalmente as vi sentadas em uma mesa ao fundo.
- Elas estão ali. – chamei a atenção dos caras, apontando para a mesa, eles assentiram e logo seguimos até lá, desviando de várias pessoas pelo caminho. Alguns nos reconheciam e isso nos fazia parar por um momento para dar um autógrafo ou outro e aquilo já estava me deixando irritado, não que achasse ruim dar atenção aos fãs, mas eu tinha um objetivo que precisava ser cumprido naquela noite e não queria ninguém me atrapalhando naquele momento.
Pedi licença a uma garota que não quis ficar somente no autógrafo e pareceu um pouco mais atirada quando envolveu o meu pescoço com os braços pedindo um abraço e me brindou com um beijo no pescoço. Em outras ocasiões eu teria ido em frente com ela, mas agora eu sabia bem quem eu queria de verdade, eu não era mais um cara deslumbrado e eu iria me redimir com a garota que eu encarava sentada na mesa ao fundo, que conversava animada com as amigas sem notar a minha presença. Antes tarde do que nunca, . Só espero que não seja tarde demais.

As garotas só nos notaram quando já estávamos praticamente diante da mesa delas, me encarou com um mistura de surpresa e receio no olhar, enquanto eu lhe dava um inédito sorriso tímido. Lá estava ela, causando efeito na minha vida novamente, como quando nos conhecemos ainda adolescentes. Eu não era um cara de sorrisos tímidos, muito pelo contrário, mas lá estava eu parado diante dela, sem saber ao certo como agir, com medo de que qualquer movimento em falso a fizesse desaparecer da minha frente.
- O que vocês estão fazendo aqui? – perguntou, parecendo animada. Ela rapidamente se levantou, abraçando em uma demonstração rara de carinho entre os dois diante de todos nós. Ela parecia um pouco bêbada e eu ri com isso.
- , eu te disse que hoje eu teria uma noite de diversão só com as garotas. – Penny reclamou encarando o marido, que apenas sorriu culpado. – Desculpa, . – ela se virou para murmurando o pedido, mas todos nós conseguimos ouvir. apenas deu de ombros, parecendo indiferente.
- Prometo que nós não vamos atrapalhar a fofoca de vocês, amor. Se quiser podemos até sentar em uma mesa distante. A gente só tava precisando de uma folga do trabalho e então eu lembrei que vocês estariam aqui, foi mal. Não sabia que estava rolando uma reunião feminina com assuntos secretos. – ele disse rindo, tentando se redimir.
- Aí ! – Penny revirou os olhos. – Tudo bem, já conversamos todos os assuntos secretos, podem se sentar por aqui mesmo. – ela concluiu sorrindo para ele e nós rapidamente fomos procurar cadeiras para sentar próximos a elas. Em meio ao tumulto que causamos, acabei sentado em frente a , que fazia de tudo, menos me encarar, enquanto eu não conseguia tirar os meus olhos dela.
- Estou morrendo de vontade de dançar, vem comigo ! – chamou e rapidamente a obedeceu, mesmo odiando dançar em publico. Aquela médica estava mexendo com a cabeça do meu amigo.
- parece um cachorrinho treinado. – comentou e nós rimos concordando.
- O pobre coitado foi castrado e nem ao menos percebeu isso ainda. – eu disse entrando na brincadeira.
- Deixem de ser maldosos. – Penny pediu, mas também estava rindo. – Fico feliz em vê-lo finalmente em um relacionamento saudável. – ela completou.
- Isso é um milagre! – exclamei, ela me olhou sem entender. – Você nunca gostou de nenhuma das ex-namoradas dele. – Penny me mostrou a língua.
- Claro, todas eram umas vadias metidas e é minha amiga e uma garota decente, apoio completamente que os dois fiquem juntos. – Ela disse sorrindo e sorriu também pela primeira vez desde que havíamos chegado, eu a observei sorrindo e quando ela notou ficou séria novamente. - As do também nunca prestaram, mas eu ainda tenho esperanças de que ele tome jeito. – Penny continuou e a encarou indignado.
- Sério Penélope, você às vezes parece nossa mãe, não a mulher do . – resmungou e eu concordei rindo.
- Alguém precisa colocar vocês na linha, meninos. – ela respondeu dando de ombros. – Infelizmente esse trabalho árduo ficou pra mim.
E eles continuaram a discutir sobre qualquer coisa que a minha mente não mais captava porque eu estava novamente observando , tentando achar um modo de chamar a sua atenção, eu precisava falar com ela a sós, mas ela parecia mais interessada em observar e dançando de um jeito estranho e hilário do que em me dar qualquer tipo de atenção.

- Cara, disfarça um pouco, porque o teu nível de perseguidor está muito elevado. – que estava sentado ao meu lado, comentou baixo e me encarou com a sobrancelha elevada enquanto mantinha um sorriso cínico no rosto.
- Tá falando do que? – respondi, tentando me fazer de desentendido.
- Daqui a pouco a vai correndo te denunciar por perseguição. – ele continuou, agora rindo.
- Cala a boca. – respondi, desviando o meu olhar em direção ao bar e gargalhou ainda mais.
- , nem pense nisso. Você esta em condicional, nem uma gota de álcool pra você hoje. Além do mais, você fez uma promessa. – alertou sério, como um pai irritante. E eu senti nos encarando.
- Se a Penny é a mãe, você definitivamente é o pai . – resmunguei, cruzando os braços.
- Não me importo, já que sou o mais responsável mesmo. – ele disse fazendo pose e eu revirei os olhos apontando pra sua camiseta do Mickey Mouse. Ele logo ficou quieto.
- Eu não vou beber nada, cacete. Relaxa Disney. – respondi rindo, voltando a olhar pra , que quando notou o meu movimento, logo desviou o olhar novamente. ao meu lado riu.
- Hey , quer dançar? – ele pediu, com certeza pra me provocar. Eu o encarei com raiva.
- Quero. – respondeu simplesmente, sorrindo para ele enquanto se levantava e o seguia em direção a pista de dança.
- fura olho. – resmunguei, fazendo com que e Penélope rissem da minha cara.
- Vamos aproveitar essa nossa folga hoje à noite e dançar também, amor? – Penny pediu manhosa e suspirou sem vontade.
- Dançar? – ele perguntou a ela e Penélope apenas lhe deu um daqueles seus olhares do mal em resposta.
- Certo , se não quer dançar com a sua esposa, fique ai com a bunda colada na cadeira que eu vou encontrar quem queria dançar comigo. – ela se levantou, com a cabeça erguida e vasculhou o local com os olhos, rapidamente a puxou em direção a pista de dança. E eu fiquei sobrando sentado no mesmo lugar. Eu precisava muito de uma bebida.

“Por que tão sério, lindo?”

Aquela mensagem chegou inesperadamente no meu celular, que me despertou com o barulho do bipe. Após lê-la, eu olhei ao redor, tentando encontrar quem eu sabia que a havia enviado, mas aquele pub estava ficando cada vez mais lotado naquela hora da noite e estava impossível localizar aquela pessoa em meio a tanta gente. Aquilo já estava me irritando, eu precisava fazer algo a respeito que surtisse algum efeito, que parasse com aquilo de vez.

“Já disse que só nos encontraremos no momento certo. Não adianta me procurar”.

Outra mensagem, eu fiquei ainda mais irritado. Decidi desligar a merda do celular pra ganhar um pouco de paz naquela noite, a única coisa que eu poderia fazer era ignorar. Então me voltei novamente para a pista de dança e vi se divertindo enquanto dançava, mas aquela cena não me deixou contente, porque não era mais que dançava com ela e sim um babaca desconhecido qualquer, olhei ao redor tentando encontrar o idiota do , mas ele havia sumido. Ótimo.
Eu não iria deixar aquele desconhecido se aproximar do que era meu.
Levantei em um pulo e caminhei decidido em direção a pista de dança, ela não notou quando eu me aproximei, porque estava de costas, mas o idiota percebeu a minha cara de poucos amigos e logo tirou as mãos da cintura dela.
- Se divertindo, amor? – perguntei próximo ao ouvido de , que se virou me encarando assustada. – Acho que agora é minha vez de dançar com a minha garota, se manda cara. – disse ao playboy, que pareceu considerar sair dali ou não.
- Você conhece esse cara, gata? – o idiota perguntou a ela. respirou fundo e se afastou encarando a nós dois.
- Eu só queria me divertir . Seria pedir muito que você me deixasse em paz uma vez na vida? – ela me encarou, parecendo furiosa.
- Nós precisamos conversar. Você tem que parar de fugir de mim. – respondi, também nervoso.
- Eu não tenho nada pra falar com você. – ela me disse e encarou o idiota desconhecido. – Obrigada pela dança. – ela sorriu para ele e se afastou, indo em direção ao banheiro.
- , volta aqui. – exigi, indo atrás dela.
- , deixa ela em paz. – me segurou e quando o encarei pronto para revidar notei o seu olhar sério. – Você não vai conseguir nada forçando uma aproximação desse jeito, . Dá um tempo pra .
- Você não sabe o que aconteceu, eu preciso falar com ela. – respondi, pronto para ir atrás dela novamente.
- O que você aprontou? – ele me encarou ainda mais sério. E que estava ao seu lado me olhou parecendo brava.
- Devo lhe dar um soco na cara ? – ela perguntou. – Você se lembra da promessa que eu fiz, não lembra? Magoe minha amiga novamente e eu me tornarei o seu maior pesadelo. – ela ameaçou.
- E se for a sua amiga quem estiver me magoando? – questionei irritado.
- Então seria bem feito, porque você sabe muito bem que merece ser magoado por ela. – ela concluiu séria.
- Me deixem em paz. – me soltei das mãos de e segui para o lado oposto ao que havia ido. Ele não me impediu quando eu caminhei apressado em direção ao bar. Eu deveria me manter responsável, mas precisava de uma bebida naquela noite, só assim pra me livrar de toda aquela frustração chamada .


’s POV.


Sai do Pub para tomar um ar e confesso que também para ficar um pouco mais longe de , mesmo que ele houvesse se instalado permanentemente no bar, após a discussão que tivemos na pista de dança. A noite estava com uma leve brisa fresca, a rua parecia vazia. e não se desgrudavam na pista de dança e eu sinceramente já estava cansada daquele local e pensando em chamar um taxi para ir embora, já que , que era a minha carona, estava muito ocupada no momento. Depois eu mandaria uma mensagem avisando a ela que já havia ido pra casa. Me aproximei da beirada da calçada quando notei um taxi vindo, mas antes que eu pudesse acenar, senti um braço envolver a minha cintura e logo meu corpo girou e eu acabei parando em frente a um cara estranho, que sorria pra mim de uma forma ruim, senti um arrepio de medo tomar conta do meu corpo e logo tentei empurrá-lo para longe de mim com toda a força que consegui, mas ele era obviamente mais forte que eu.
- Me solta, seu idiota! – gritei completamente desesperada enquanto me debatia entre os seus braços.
- Calma, gata. Você é das ariscas, eu gosto disso. – ele disse e eu senti o seu mau hálito fedendo a bebida tomar conta do ar.
- Me deixa em paz! – pedi novamente, ainda tentando me soltar em vão.
- Quietinha gostosa. Nós vamos nos divertir muito essa noite, fica calma. – ele disse levando o rosto em direção ao meu pescoço o beijando em seguida. Eu já estava desesperada e já me preparava para meter o meu joelho no meio das suas pernas quando alguém finalmente apareceu.
- Sai de perto dela idiota. – ouvi o tom de voz raivoso de por perto, mas o cara que estava me atormentando pareceu não ligar e logo a confusão se instalou, quando o puxou para longe de mim e acertou um soco em seu rosto sem aviso prévio. O idiota ficou atordoado por um momento. Porém assim que se recuperou sorriu de um jeito maldoso para e não deixou barato, revidando. Meu ex-marido cambaleou para o lado e de repente caiu deitado sobre a calçada. Eu soltei um grito assustado ao ver aquela cena e corri pra perto de que parecia estar desacordado, tentando ajudá-lo. O cara que havia acertado o soco nele correu após notar que havia exagerado e eu fiquei parada ao seu lado, sem saber o que fazer. e Penny já haviam ido embora, porque como os bons pais super protetores que eram, não aguentavam mais ficar longe de Charlie. tinha recebido uma ligação misteriosa enquanto dançava comigo e saído para encontrar alguém há algum tempo. Só me restava pedir ajuda a e , mas aqueles dois idiotas também tinham desaparecido. A rua estava praticamente deserta e eu já estava entrando em desespero, quando ao longe um taxi apareceu, me fazendo levantar rapidamente e acenar para que ele parasse. Eu precisava levar para um hospital.
O taxi parou e eu corri até o motorista pedindo ajuda, ele me olhou com receio, provavelmente pensando que aquilo seria um golpe para um assalto, noticias de golpes daquele tipo corriam por toda a Londres nos últimos tempos e ele estava prestes a ir embora, quando começou a gemer e se mexer tentando se levantar. Eu deixei o motorista de lado e corri para ajudá-lo.
- , você tá bem? Quer que eu te leve para um hospital? – disparei perguntas, ainda me sentindo nervosa. Ele me encarou parecendo confuso e fez uma careta de dor.
- Hospital? – murmurou. – Não, eu só preciso ir pra casa. – completou com a fala arrastada. Aquele idiota havia bebido demais.
- Por que você foi beber seu imbecil. Você sabe que está proibido de ingerir álcool dessa maneira. Você tá em condicional, ! – exclamei furiosa com a irresponsabilidade dele.
- Não grita, . – ele pediu baixo e levou a mão ao local onde havia batido a cabeça o esfregando.
- Acho melhor eu te levar pro hospital, . – disse novamente preocupada.
- Não, por favor. Você sabe que eu odeio hospitais. – ele suplicou segurando o meu braço. Sim, eu sabia como ele tinha medo de hospitais e antigamente achava aquilo fofo e engraçado. Aquilo o deixa vulnerável, coisa que ele não era normalmente. Com esse pensamento um sorriso fraco invadiu os meus lábios enquanto ele fechava os olhos reclamando de dor de cabeça. – Eu só bebi um pouco demais, só isso. É só me ajudar a entrar no taxi, que eu vou pra casa. – ele pediu, parecendo envergonhado e eu olhei para trás, notando que o taxista havia nos deixado.
- Droga, ele foi embora. – reclamei e me encarou.
- Eu vim de carro. – anunciou e eu olhei pra ele brava, ele sabia que não podia dirigir. - Quer dizer, veio dirigindo o meu carro, porque eu estou proibido de fazer isso já que estou em condicional e também não estou em condições de dirigir de qualquer forma. – ele comentou agora gargalhando como um bêbado idiota. Ele deveria ter duas personalidades. – O carro estava a muito tempo parado na garagem e pra não dar problema na bateria pedi pra ele usar ele por uns dias. – ele concluiu assim que a crise de risos inesperados passou.
- Tudo bem, onde estão suas chaves? Eu te levo pra casa. Depois o pega uma carona com a . – disse derrotada e ele me encarou sério por um momento e em silêncio levou a mão ao bolso da calça tentando apanhar as chaves, sem sucesso. – Não acredito que vou ser obrigada a fazer isso. – reclamei, me aproximando dele, levando a mão ao bolso da frente onde as chaves estavam. sorriu com isso, mas eu o ignorei e ele milagrosamente achou melhor não fazer nenhum dos seus comentários idiotas. – Pronto. Agora tenta se levantar, eu não posso com todo o seu peso, . – disse já em pé, estendendo uma mão para que ele se apoiasse e após algumas tentativas no mínimo engraçadas, ele conseguiu ficar de pé e nós seguimos, com ele apoiado sobre os meus ombros, até o seu carro no estacionamento.

[Ouça essa canção de agora em diante.]

Settle down with me
. Cover me up, cuddle me in.
Lie down with me, yeah.
And hold me in your arms.


- Não, não ! Colabora. – resmunguei, suspirando cansada quando notei que ele havia dormido ao meu lado no banco do passageiro. Por que eu havia me metido naquela situação? Por que senti pena daquele idiota? Onde estavam os idiotas dos meus amigos que sumiram quando eu mais precisava? Era para algum deles estar com naquela hora, não eu.
- . – ele murmurou ainda de olhos fechados e eu o encarei por um tempo, mas ele parecia estar sonhando. E sonhando comigo. era uma caixinha de surpresas.
Voltei minha atenção para a estrada, tentando lembrar exatamente onde era a sua nova casa. Eu havia ido lá apenas uma vez durante a noite do ultimo sábado, e havia também jurado que não voltaria aquele lugar após o que aconteceu entre e eu. Mas lá estava eu voltando atrás em um juramento feito a mim mesma.
Eu me perdi durante o caminho e levamos ainda mais tempo para chegar, mas finalmente estacionei o carro diante da casa em que morava em um condomínio fechado, um pouco afastada do centro de Londres. Desliguei o carro e o encarei, ainda adormecido ao meu lado.
- , acorda. – cutuquei seu ombro de leve, mas não obtive sucesso, então tentei novamente aumentando o volume da minha voz e a força, quando o empurrei em direção a porta do carro tentando acordá-lo de vez. – !
- O que? - ele acordou, parecendo desorientado.
- Já chegamos, agora desce que eu te ajudo a entrar em casa antes de chamar um taxi.
Ele massageou a cabeça, parecendo sentir dor e então me encarou ainda confuso, antes de finalmente destrancar a porta e sair lentamente do carro. Eu saí também e andei rápido até o seu lado, dando apoio enquanto seguíamos até a porta de entrada. colocou as mãos no bolso e o revirou ainda com dificuldades em encontrar uma chave, então levou a mão à testa e riu, parecendo se lembrar de algo importante.
- A chave esta no chaveiro junto com as chaves do carro. – ele apontou para o objeto na minha mão. Eu revirei os olhos com o seu jeito lerdo de ser e lhe entreguei o chaveiro. Ele demorou um pouco mais para achar a chave certa, e quando eu já estava cansada de observar ele tentando colocar a chave no buraco da fechadura tirei ela de suas mãos e abri a porta eu mesma. riu de novo enquanto entravamos na casa, mas de repente ele ficou calado e sério e se apoiou ainda mais em mim.
Eu o encarei, confusa, e logo notei a palidez no seu rosto, que ganhava uma tonalidade esverdeada.

- Merda, acho que vou vomitar. – ele disse se separando de mim e cambaleando rápido até uma porta no corredor, que eu deduzi ser um banheiro. Eu fiquei parada por um momento no hall da sala, considerando ir ou não até ele, mas no fim, acabei seguindo até o banheiro e encontrei de olhos fechados com a cabeça sobre o vaso e nada de vomito no local.
- Não acredito que você dormiu. – disse rindo e revirando os olhos, enquanto o encarava dormir com a boca aberta. Caminhei até ele, para acordá-lo, porque se eu o deixasse dormir naquela posição ele iria acordar todo dolorido. – , acorda. Vai pra cama. – cutuquei e ele se mexeu murmurando algo incompreensível. – Aí , você me mete em cada uma. – reclamei abrindo a porta do box e ligando o chuveiro na água fria, em seguida fiz um pouco de esforço tentando arrastá-lo para dentro do local e quando a água gelada bateu em sua cabeça, finalmente despertou xingando baixo.
- Puta merda, ! – ele reclamou enquanto tentava se levantar.
- Ninguém mandou não acordar quando eu te chamei antes, o bom é que agora a sua bebedeira vai passar, seu babaca. – eu disse rindo e ele me encarou parecendo furioso.
- Você me paga, mulher. E o pagamento vai ser agora. – ele me olhou de um jeito maldoso e antes que eu pudesse adivinhar o que ele iria fazer, acabei sendo puxada para debaixo do chuveiro junto com ele, que me abraçou em seguida e agora gargalhava vendo o meu estado.
- Seu idiota! – exclamei tentando me soltar. – Essa porcaria ta fria, . – reclamei ainda me debatendo, ele levou meu corpo até a parede contrária ao chuveiro, nos tirando debaixo da água fria e me manteve presa entre os seus braços ainda rindo. Mas o seu riso cessou aos poucos e logo estava me encarando de uma forma intensa novamente, fazendo as batidas do meu coração zunirem nos meus ouvidos. Eu me sentia tão ridícula. Parecia uma adolescente sendo beijada pela primeira vez.

And your heart’s against my chest.
Your lips pressed to my neck.
I’m falling for your eyes but they don’t know me yet.
And with a feeling I’ll forget, I’m in love now.


- Por que você esta sempre fugindo de mim? Nós precisamos conversar, . - ele dizia enquanto me prensava ainda mais contra a parede do banheiro. E o calor do contato do seu corpo junto ao meu era estranhamente confortável, apesar das nossas roupas molhadas.
- , você está bêbado. - eu reclamei, tentando empurrá-lo e me afastar.
- Não, eu não tô mais depois desse banho frio. - ele disse visivelmente chateado. - Eu só tô sofrendo. - confessou me encarando, o olhar brilhando como se estivesse repleto de lágrimas contidas e eu senti meu coração se apertar e disparar logo em seguida.
- Você não acha que merece esse sofrimento? - disse em um sussurro, sem conseguir desviar o meu olhar do seu. Ele ficou em silêncio por um tempo apenas me olhando e após um suspiro pesado respondeu.
- É a segunda vez que escuto algo do tipo, sabia? – ele me deu um sorriso triste e continuou após um suspiro. - Sim, eu mereço. Mas nem por isso as coisas são fáceis, nem por isso eu consigo me manter longe de você. Nem por isso eu consigo me esquecer do seu beijo. - E sem que eu pudesse prever ele fez de novo, selou os seus lábios aos meus e novamente eu correspondi.
Mesmo não tendo consumido muito álcool naquela noite, eu me sentia inebriada naquele momento, inebriada pelo seu toque que emanava calor e correntes elétricas pelo meu corpo, inebriada pelo sabor do seu beijo, eu me sentia fora de orbita. Era como se tudo estivesse no lugar certo novamente, como se as nossas vidas se encaixassem outra vez. E eu não podia negar que queria aquele beijo, não podia negar que havia sentido falta daquele toque. Naquele momento eu parecia não querer pensar, só queria sentir, mesmo que aquela fosse a ultima vez.
me apertou mais contra si, sugando meu lábio inferior em seguida e rompendo aquele beijo. Ele me encarou e eu notei o desejo no seu olhar, um desejo que eu não via há anos. Ele me queria, mas eu não podia mais ser dele. Eu não podia mais querer ser dele. Não depois de tudo. Mas o meu corpo não me obedecia, e eu sabia que também o desejava. Por isso não havia fugido, como da outra vez.

- Posso confessar algo? – perguntou de repente enquanto me olhava profundamente após cessar o beijo, eu ainda achava que ele não estava completamente sóbrio, por isso assenti, incapaz de dizer qualquer palavra, e também porque todos sempre diziam que bêbados sempre dizem verdades. E eu estranhamente me peguei curiosa em saber o que ele iria confessar. Nós estávamos encostados na parede do banheiro e de repente ele pegou a minha mão a acariciando em seguida. – Durante todas as noites enquanto estávamos separados, mesmo quando... – ele fez uma pausa, me olhando de maneira culpada. - Mesmo quando eu estava com outra e mesmo quando eu dormia sozinho, eu sempre imaginava e às vezes até sentia as suas mãos sob as minhas antes de dormir e sempre sonhava contigo após isso, mesmo não querendo admitir. - Ele finalizou com um riso triste e nostálgico entre os lábios e ouvir aquelas palavras fez com que algo dentro de mim despertasse.
Naquele momento eu me rendi, enquanto meu coração disparava cada vez mais dentro do peito. Naquele momento eu me esqueci de tudo, eu deixe que toda a mágoa, toda a traição, todo o nosso passado doloroso ficasse para trás, naquele momento eu me vi dando uma segunda chance ao meu primeiro amor, eu me vi permitindo que os seus lábios tocassem os meus após aquela declaração, eu me vi permitindo que ele aprofundasse o beijo, eu me vi me entregando a ele outra vez. Pelo menos por aquela noite.
E foi impossível segurar as lembranças de outra época naquele momento.

Kiss me like you wanna be loved.
You wanna be loved, you wanna be loved.
This feels like falling in love.
Falling in love, we're falling in love.

~.~


Meus olhos ardiam um pouco quando fiz menção de abri-los, não muito certa sobre o motivo; talvez pela claridade que invadia, impiedosamente, o cômodo ou pela quantidade de álcool que lembro ter ingerido na última noite. Sentei-me devagar na cama e percebi que estava nua e um vestido de noiva se encontrava jogado no chão, junto de um terno e alguns artigos de festa. Provavelmente, isso explicava muita coisa. Olhei ao redor, mas tudo que encontrei foram lençóis bagunçados e um balde de champanhe. Esfreguei os olhos na intenção de fazê-los serem fortes e se manterem abertos. Naquele instante, vi um reflexo dourado relampejando em meu dedo anelar da mão esquerda. Sorri instantaneamente; claro. Ontem foi o meu casamento. Respirei fundo, revivendo as sensações. E se eu estava conseguindo me lembrar de muitas coisas, significa que a bebida que ingeri não fora o suficiente para apagar essas memórias que agora me fazia sorrir como boba para a janela com o sol da manhã. Ontem eu era apenas . E hoje... Bem, hoje eu sou a...
- Sra. ! – Ouvi uma voz chamar e me virei devagar, me envolvendo ainda mais nos lençóis de seda brancos.
Ele vinha em minha direção com uma bandeja forrada de coisas deliciosas, que, se não fosse por minha felicidade, eu não comeria por medo de engordar. Retirou uma rosa vermelha do copo com água e me entregou, enquanto dava a volta na cama e olhava meu vestido no chão rapidamente.
- Se eu disser que já te vi mais linda do que ontem, estarei mentindo. – Sorri envergonhada. – Perfeita. – Beijou meus lábios de um jeito apaixonante. Mas interrompeu com uma risada: - No entanto, eu o prefiro jogado no chão mesmo e você assim. Passou os braços em minha cintura; nossas peles se separavam apenas por um lençol fino. Ri baixo, minha tentativa de repreendê-lo foi falha. – Não me leve a mal, é muito pano, esposa. – Disse ele se ajoelhando e com um sorriso que parecia desenhado.
- Você não precisa mais ficar de joelhos – eu disse sorrindo, aceitando a flor. – A pergunta que é feita nesta posição já foi respondida. – Peguei sua mão esquerda e entrelacei-a na minha, vendo nossas alianças lado a lado. – E acho que a resposta foi recíproca.
- Claro que sim, Sra. . Mas não costumo deixar o cavalheirismo sumir e, sempre que puder, estarei de joelhos. – Ainda com nossas mãos entrelaçadas, passou a sua em meu rosto, enquanto continuava a dizer: - Seja para falar de meu amor, renovar nossos votos ou simplesmente... – fez uma pausa e sorriu de lado – admirar a sua beleza, como estou fazendo agora.
Senti minhas bochechas queimarem e lhe dei um beijo terno. Seus lábios estavam macios e quentes. Ele se levantou, vindo para cima de mim e nós caímos deitados, até que nossas risadas preenchessem o ambiente, cortando o beijo.
- Não está com fome, Sra. ? – Perguntou estreitando seus olhos azuis de forma maliciosa. – Sim, porque o que fizemos à noite, com certeza, consumiu suas energias e deve estar querendo recuperá-las, certo?
Ri de seu jeito natural de me fazer sorrir com vontade.
- Claro que sim. – Disse, jogando-o para o lado e pegando a bandeja no criado. Coloquei-a na cama e olhei fascinada. – Não me diga que foi o senhor que preparou tudo isso! – Mordi a torrada com geléia, tentando ser sexy, mas acho que falhei porque ele riu de mim e passou a mão na nuca de um jeito despreocupado.
- Bem, eu escolhi... Já está de bom tamanho, não? Aliás... – Ele também pegou uma torrada e imitou meu gesto de segundos atrás – estamos num hotel. Não esperava que eu fosse à cozinha, deixando minha esposa, a Sra. , sozinha. Esperava?
Abaixei os olhos, tentando conter o riso. Tentava passar mais geléia na torrada de forma indiferente, enquanto perguntava:
- E o Sr. poderia me explicar por que faz tanta questão de pronunciar “Sra. ” a cada frase? Parece um antigo namorado que tive... Ele não parava de me chamar de namorada nem um minuto, depois que aceitei seu pedido.
- Não me diga! – Ironizou. – Acho que sofro da mesma síndrome que esse cara aí. E não nos leve a mal. Só queremos nos lembrar a cada segundo da sorte que temos, Sra. . Será que se importa?
- Não, de forma alguma... Eu até gosto. – Pisquei, tomando um gole do suco de laranja.
- Acho até melhor que goste, pois no que depender de mim, será chamada assim por todos os dias que estivermos vivos.
Ele sorriu de uma forma que eu não sabia explicar. Era um misto de empolgação com felicidade desmedida e só o que eu fazia era retribuir. Aliás, devo dizer que não fiz nada além de sorrir naquele dia. Eu me sentia a mulher mais feliz do mundo; o homem que eu amava estava deitado à minha frente, me olhando daquela forma entorpecente. Rindo a cada riso meu, piscando a cada olhar meu, respondendo a cada comentário meu. Terminando nosso primeiro café da manhã como Sr. e Sra. , fui ao banheiro e me olhei no espelho. E devo admitir que não estava tão ruim quanto esperava; talvez fosse o efeito da felicidade ou apenas o que ele causava em mim. Aquela sensação de desprendimento, de que nada mais importava além dele. Voltei para o quarto ainda enrolada em meus lençóis, já que não sabia onde estavam minhas roupas. Por sorte, achei minha calcinha no caminho e a vesti. Procurava meu sutiã, mas simplesmente não achava. Estava me irritando aquele abaixa e levanta, enquanto tudo que fazia era observar aquela cena patética aos risos.
- Quer saber? Eu desisto. Não vou procurar mais nada. - Peguei sua camisa no chão e a vesti. Ele me olhou de cima a baixo em sinal de aprovação.
- Sempre te achei sexy de qualquer forma. – Abriu os braços para que eu pudesse me aconchegar e toda a irritação da caça às roupas parecia ter desaparecido. Aninhei-me em seu peito e seu braço me puxou pra mais perto.
Ficamos assim por não sei quanto tempo. O movimento irregular de suas mãos em minhas costas me transmitia calma e eu estava feliz por estar ali com meu marido.
- ? – Chamei-o e recebi um ruído contra meus cabelos em resposta. Apoiei-me em meu cotovelo e minha mão esquerda acariciava sua bochecha. – Não parece tudo meio louco pra você?
- O quê? – Ele disse e senti seu hálito em minha boca com sua proximidade.
- Ah, você sabe. Um dia éramos amigos; no outro, namorados e hoje estamos aqui... – Fechei os olhos e provei de todas as sensações que aquela palavra podia me causar – casados.
roçou seu nariz em meu rosto, chegando à minha orelha. Ali depositou um beijo e logo encarou meus olhos para responder.
- , se é uma loucura... Olhando aqui pra você, para nós não restam dúvidas que foi a loucura mais certa que já fizemos. – E tive essa certeza quando ele me abraçou e senti o quanto nossos corpos se juntavam no encaixe perfeito. – Eu te amo. – Sussurrou.
- Eu te amo. Pra sempre. – Falei contra sua boca.
- Prometo te amar além da vida. – Ele respondeu e constatei que conhecia essa frase de outros tempos e queria que ela não sumisse nunca.
- Então, Sr. ? Como se sente agora que é um homem completamente algemado? – perguntei em tom brincalhão.
- Quisesse Deus que todas as cadeias fossem assim. – Afundou a cabeça no travesseiro.
- , quando você deixou de ser o meu namorado adolescente e virou o meu marido? Porque as piadas ainda são as mais sem graças de sempre. – Falei olhando para o teto, quando ele se jogou em cima de mim.
- Vou ignorar sua opinião sobre minhas piadas e, respondendo sua pergunta, pelo o que eu ouvi dizer, Sra. ... Foi no dia de ontem, por volta das sete horas da noite numa capela bem perto daqui. – Ele respondeu divertido.
- E quando, é claro, deixei de ser a Srta. e me tornei a Sra. , como você faz questão de frisar cada vez que abre a boca. – Ele sorriu meio envergonhado e me arrependi de meu comentário.
- Desculpe. É só que... Sonhei com isso a vida toda; em dar meu nome à mulher que amo e veja agora. Esta é você. – Seus dedos percorriam minhas bochechas e passaram por meus lábios antes de pousarem em meu queixo.
- Então quais são os planos para hoje, Sr. – mudei de assunto.
- Os que você quiser que sejam, esposa. – Os olhos dele brilhavam na última palavra e sabia que esta seria sua diversão pelas próximas semanas. – Mas tenho algumas coisas em mente se quiser ouvir.
Neguei com a cabeça e fiz biquinho em reprovação. Eu sabia exatamente o que ele estava pensando e fiz questão de eu mesma falar.
- Acho que poderíamos começar retomando o que fazíamos antes de dormir. – Seu rosto foi pintado por um sorriso que beirava a malícia, mas não fugia da empolgação. – E logo depois... – Rolei na cama, ficando por cima de e continuei: - Podemos almoçar fora, em algum lugar que você pode ligar e reservar nos nomes de Sr. e a Sra. .
- Aí eu gostei. – Ele falou, envolvendo minha cintura com os braços. – Aprovo totalmente, desde que após este almoço passemos o tempo todo em lugares que eu possa dizer ao mundo que estou casado e infelizmente não estou mais disponível no mercado. As fãs vão chorar, eu sei.
Estreitei os olhos diante de sua pretensão e respondi o mais indiferente que pude.
- Podemos ir a uma festa qualquer com garotas que vão babar por você, assim que poderá dar este sorriso ridículo que está agora. – Virei o rosto para a janela.
- Bom, neste caso... Serei obrigado a desapontá-las com a resposta de que este sorriso só vale para a moça que usa um anel igual ao meu. – Ele se sentou e nossos rostos ficaram próximos o suficiente para que eu sentisse seu hálito quente em meu rosto.
- , você não mudou nada. – Coloquei meus braços enlaçados em seu pescoço. – E espero, sinceramente, que não mude. Eu te amo assim e quero que seja desta forma pro resto da vida.
- Não se preocupe, . Poucas coisas estão propensas a mudar entre nós; uma delas era seu nome... No entanto, receio que seja uma mudança irrevogável. – falou com uma convicção que me deixou perplexa.
- Gastando vocabulário? – Ri de maneira nervosa.
- Não... Só dizendo que não pretendo mudar isso que há entre nós, Sra. . Minha esposa. Futura mãe dos meus filhos. – me apertou mais contra si e senti nossos batimentos se fundirem num só.
- Não me deixe voltar a assinar . Não enquanto respirarmos. – Provoquei após chocar meus lábios contra os seus de forma decidida.
- Nunca. – Me beijou novamente. – Nunca! E isto, . – entrelaçou nossas mãos, beijou nossas alianças e pude sentir seu olhar relampejar para meu vestido de noiva no chão, - é porque enquanto nos amarmos, nada mudará. E não me canso de repetir...
- “Prometo te amar além da vida” – Sussurramos juntos antes de um beijo selar, mais uma vez, aquele juramento.
Nem o sol que atravessava as cortinas se fazia tão certo quanto era aquele momento. O telefone tocou e se esticou para alcançá-lo; mesmo não sabendo quem era, sei que falou algo engraçado, pois tentava parecer o mais sério possível e não rir. Passou o telefone para mim e disse em tom divertido:
- É para a Sra. . – Gargalhei com aquilo e coloquei o fone no ouvido e tentei parecer normal.
- Pois não. – Disse formalmente e uma voz simpática tagarelava sobre uma reserva feita por minha sogra para nos presentear e gostaria de saber a data que escolheríamos. – Bom, então eu ligo dentro deste prazo para confirmar. – Pisquei para e continuei: - Só devo conferir com meu marido o melhor dia. Muito Obrigada.
Ele pareceu derreter à minha frente. E enquanto ele me abraçava e se apressava em tirar sua camisa que eu vestia, eu fazia questão de pensar no quanto eu gostava daquilo. Aquela ideia de ele ser meu marido e eu ser sua esposa. meu e sua. Sr. e Sra. . Gostava de sermos partes que formavam apenas UM.

~Flashback Escrito por Rafaela Matias.~

~.~
Settle down with me.
And I’ll be your safety, you’ll be my lady.
I was made to keep your body warm.
But I’m cold as the wind blows.
So hold me in your arms.


Senti o toque de em minha cintura agora desnuda, seus dedos traçando o meu corpo com carinho e cuidado. Nosso olhar focado um no outro enquanto as nossas peças de roupa molhada deixavam os nossos corpos aos poucos e eram jogadas sem direção pelo chão do banheiro. Não havia pressa, apesar do desejo. Havia saudade, de tudo o que aquilo representava.
Ele sorriu, quando levei minhas mãos em direção ao seu cinto e me atrapalhei tentando soltá-lo, conseguindo um tempo depois. desviou o olhar do meu pela primeira vez e abaixando o rosto, iniciando uma trilha de beijos do meu rosto até o pescoço, onde ele se demorou por um tempo, respirando profundamente, sentindo o meu perfume. O toque delicado que ele fazia em minha cintura se tornou urgente naquele momento e ele me apertou contra si, e eu senti todos os pelos do meu corpo se arrepiarem com aquele toque mais ousado. Sem que eu esperasse, se abaixou, me tomando no colo e me carregando em silêncio até o quarto no andar de cima. Eu não protestei, eu não queria mais parar. Ao invés disso o encarei novamente tentando transmitir a ele através do meu olhar o quanto eu o desejava naquele momento.br> Nossos lábios se chocaram de novo quando ele se jogou comigo no colo sobre o colchão confortável de sua cama. E então nos beijamos enquanto as nossas peças íntimas - as únicas roupas ainda presentes - eram lançadas pelo quarto sem destino, como havia ocorrido com o restante de nossas roupas que estavam no banheiro. se afastou de mim por um momento, me encarando como se pudesse ler novamente todos os meus pensamentos apenas com o olhar. E então ele percorreu o meu corpo com um sorriso satisfeito no rosto, parecendo se deliciar com cada detalhe que encontrava a sua frente. Eu me encolhi durante a sua analise, me sentindo estranhamente tímida, como se fosse a primeira vez que ficássemos nus um diante do outro.
- Você não pode estar com vergonha de mim. – ele sorriu terno.
- Já faz um bom tempo, meu corpo, com toda a certeza, mudou após a gravidez. – resmunguei nervosa.
- Bobagem, você esta ainda mais linda, . – ele disse se aproximando novamente e me dando um beijo rápido. – Não se esconda de mim novamente. – ele disse fazendo um carinho bom no meu rosto e descendo com a mão em direção ao meu ventre, se perdendo por um momento em meus seios, os apalpando com desejo, enquanto eu afagava os seus cabelos, dando leves puxões conforme ele continuava o seu percurso até a região da minha virilha. Seus dedos acariciaram a minha intimidade fazendo com que eu não conseguisse conter um gemido em aprovação, mas de repente parou e eu fiquei confusa com a sua atitude.
- , você tem certeza? – ele perguntou apreensivo. – Nós não precisamos continuar. É só você me dizer que eu paro. – ele me encarava, parecendo ter medo de ser rejeitado, mas ao mesmo tempo temendo me apressar, me magoar. Eu sorri, o encarando em silêncio por um momento.
- Eu tenho certeza, . – E no momento em que eu pronunciei aquele apelido após tanto tempo, eu tinha certeza que ele havia entendido o significado. E o sorriso que ele me deu em seguida confirmou a minha suposição.
- Eu senti tanto a sua falta. – ele disse beijando meus lábios novamente. – Me perdoa. – ele se afastou me encarando.
- O perdão virá com o tempo, . – usei seu apelido de novo e ele assentiu.
- Eu vou lutar por ele e ter paciência enquanto o espero. – ele sorriu compreensivo e me deu um beijo carinhoso novamente, que acabou se intensificando depois e logo ele estava me penetrando, enquanto minhas mãos passeavam por cada pedaço do seu corpo tentando relembrar dos detalhes.
Aos poucos a temperatura do quarto pareceu aumentar, nossos corpos entraram em uma espécie de dança sincronizada, enquanto se fundiam sobre os lençóis e aquilo se repetiu mais algumas vezes durante aquela noite.

My heart’s against your chest.
Your lips pressed to my neck.
I’m falling for your eyes but they don’t know me yet.
And with this feeling I’ll forget, I’m in love now.


’s POV.

- Hey, o que essa foto esta fazendo aqui? – perguntou, ao virar-se em direção ao criado mudo que ficava ao lado da minha cama e ver o retrato de que eu havia furtado de seu apartamento um tempo atrás. Eu prendi a respiração, tentando inventar alguma desculpa, mas nada me salvaria naquela hora. – Eu te fiz uma pergunta, . – ela me encarou séria, eu engoli em seco. – Eu procurei por está fotografia feito uma louca pela casa e esse tempo todo você estava com ela? – ela me olhou ainda mais séria.
- Tudo bem, eu confesso. – disse soltando um suspiro resignado em seguida. – Aquele dia que eu fui com os meus pais na sua casa pela primeira vez, eu vi essa foto e... – eu dizia, quando ela me interrompeu.
- Eu me lembro, te vi encarando, mas não notei que você a havia pego. – ela disse ainda séria, mas um sorriso parecia querer despontar no canto dos seus lábios.
- Eu fiquei encantado com ela, quer dizer... É uma foto da nossa filha bem pequena, de uma parte da vida dela que eu queria ter estado presente, mas infelizmente não consegui. E eu quis muito essa foto, pra pelo menos tentar imaginar como teria sido se eu estivesse com vocês duas naquela época. – comentei ainda apreensivo.
- E então você agiu como um gatuno e furtou a foto da minha casa sem ao menos cogitar a hipótese de me pedir a mesma. – ela afirmou agora o sorriso em seu rosto ainda mais visível.
- Bom, eu tinha certeza de que se eu te pedisse essa foto naquela época, tudo o que você me daria era o porta-retratos, direto na cabeça. – disse agora sorrindo, me encarou por um tempo e em seguida gargalhou, e eu senti o seu corpo tremer entre as risadas, enquanto a sentia nos meus braços.
- É, provavelmente seria isso mesmo o que aconteceria. – ela disse, contendo o riso aos poucos. E eu a encarei fingindo estar ofendido com aquilo. – Mas fico feliz que você acorde e durma todos os dias observando e pensando na nossa filha. - eu logo a abracei mais, me sentindo feliz por ela não ter ficado chateada e a trouxe ainda mais para perto de mim. Nós ficamos em um silêncio, que parecia confortável, por um tempo, presos em nossos próprios pensamentos, mas algo em que eu pensava constantemente nos últimos tempos estava me incomodando de novo e então eu resolvi colocá-lo em palavras.
- O casamento estragou o nosso relacionamento. - eu disse cabisbaixo, enquanto a mantinha presa em meus braços. Eu queria poder nunca mais soltá-la.
- Não foi o casamento que estragou o que nós tínhamos . Até porque, por mais que eu não queira confessar isso, por mais que ainda machuque, aquele amor ainda existe aqui dentro. - ela se remexeu me encarando, suspirou em sinal de derrota e sorriu de maneira triste para mim antes de continuar. - O que estragou o nosso relacionamento foram outros sentimentos, a imaturidade, o egoísmo e o deslumbre, no seu caso. – ela arqueou a sobrancelha quando eu olhei para ela fingindo estar indignado. - E também o conformismo e falta de vontade em perseguir os meus sonhos e não me deixar levar apenas pelos seus, no meu caso. Nós fomos contra quando os mais velhos nos disseram que éramos jovens demais pra casar, jovens demais pra assumir um compromisso tão sério sem antes tentar viver, sentir, nos aventurar em busca de outras coisas, de outros sonhos que não nós mesmos. E esse , esse foi o nosso erro. Foi isso o que acabou com o nosso relacionamento.
Eu não poderia concordar mais com a sua analise. estava certa, nós fizemos tudo errado, eu fiz tudo errado. Eu tinha apressado as coisas. Porque tudo o que eu queria quando era mais jovem era viver com ela para o resto da vida, mas eu não tinha parado pra pensar nos detalhes, nos sonhos diferentes, nos percursos pelos quais as nossas vidas iriam seguir. Abracei-a novamente sem saber o que fazer ou o que dizer e dei um beijo em seus cabelos. Enquanto ela se aninhava em meus braços já visivelmente sonolenta, eu desejava voltar no tempo, e ter feito tudo da maneira certa, desejava nunca tê-la magoado.

Yeah I’ve been feeling everything.
From hate to love, from love to lust, from lust to truth.
I guess that’s how I know you.
So hold you close to help you give it up.
(...)


- Não me deixe voltar a assinar . Não enquanto respirarmos. – ela pediu chocando seus lábios contra os meus de forma decidida.
- Nunca. – a beijei novamente. – Nunca! E isto, . – entrelacei nossas mãos, beijei nossas alianças e novamente encarei o seu vestido de noiva jogado no chão, - é porque enquanto nos amarmos, nada mudará...
Eu dizia, mas de repente senti um vazio em minhas mãos, me voltei novamente para , confuso e notei que ela não estava mais ali, me sentei sobre a cama olhando para todos os lados do quarto e não havia sinais dela. Chamei seu nome, mas não obtive resposta, procurei novamente o vestido de noiva no chão e ele havia desaparecido. Senti meu coração disparar e o medo tomou conta de meu corpo.


Acordei ofegante, confuso com aquela mistura de sonho e lembrança que eu havia tido enquanto dormia, mas então eu a vi ali, ainda dormindo com a cabeça sobre o meu peito. Ela ainda estava ali, não havia ido embora. Ainda estava escuro. Aquilo havia sido só um pesadelo, apenas o meu subconsciente me pregando uma peça e me fazendo de certa forma lembrar que eu havia quebrado aquela promessa, voltara a usar o sobrenome . Eu havia estragado tudo. Mas estava disposto a consertar todos os meus estragos de agora em diante.
Apertei seu corpo contra o meu com cuidado para não acordá-la e depositei um beijo leve sobre a sua cabeça. Eu iria aproveitar aquela segunda chance que a vida estava me fornecendo, iria trazer de volta pra mim e quem sabe um dia, após todas as feridas se curarem, eu a faria usar novamente o sobrenome e dessa vez seria realmente para sempre.
Fechei os olhos novamente tentando recuperar o sono, tentando não ter novamente aquele pesadelo, tentando sonhar com um futuro, onde seria novamente minha.

(...)

Kiss me like you wanna be loved.
You wanna be loved, you wanna be loved.
This feels like falling in love.
Falling in love, we're falling in love.


Os raios do sol invadiram as frestas da cortina e miraram meus olhos, eu despertei novamente, como se não houvesse dormido nada desde que havia acordado após o pesadelo. Uma preocupação estranha me envolvia, mas parecia tranquila enquanto ainda dormia em meus braços. Eu a observei por um tempo, relembrando cada detalhe do seu rosto, do seu corpo, que há tanto tempo eu não via tão de perto. Ela não havia mudado nenhum um pouco, já que sempre fora linda, só havia amadurecido e ficado melhor do que eu me lembrava. Sorri feito um idiota, ainda não conseguindo acreditar que ela estava ali nos meus braços, que havíamos feito amor novamente após tantos anos. Que ela havia cedido. Mantive-a em meus braços por mais um bom tempo, mas logo decidi me levantar para preparar algo para o nosso café da manhã. Queria tudo pronto pra quando ela acordasse.
Com cuidado separei os nossos corpos e segui até o armário apanhando uma boxer e a vestindo rapidamente, caminhando com cuidado em seguida até o andar de baixo. Assim que entrei na cozinha o gato de correu e se enrolou entre as minhas pernas, aquele bicho era tão independente, que eu sabia que ele só agia daquele modo extremamente carinhoso quando estava com fome.
Caminhei até a dispensa com ele no meu encalço e apanhei a latinha com a ração que estava sobre o armário. Logo que coloquei a comida em sua vasilha, ele tratou de me ignorar novamente e voltar toda a sua atenção pro alimento.
- Gato oportunista. – murmurei rindo baixo, enquanto voltava a cozinha.
Lavei as mãos, liguei o rádio que ficava na cozinha em um volume baixo, numa estação de rádio qualquer e em seguida abri os armários pegando o pó para preparar um café, enquanto fatiava o único pão restante no armário para fazer algumas torradas. Encontrei iogurte na geladeira, o que era um milagre, já que eu precisava fazer compras. Ele com certeza só estava lá, porque eu havia comprado para , quando ela viesse me visitar. Eu era um cara, aparentemente solteiro, morando sozinho, então tudo o que havia na cozinha eram comida congelada e latas de cerveja. Eu analisei a geladeira concordando que deveria mudar os meus hábitos alimentares de agora em diante.
Me ocupei durante os próximos minutos com o café e quando o finalizei, coloquei tudo sobre uma bandeja e segui até o quarto. Quando estava subindo as escadas, tentando não derrubar nada ouvi uma movimentação no cômodo.
- Droga, porque ela não esperou só mais um pouquinho pra surpresa ser completa. – murmurei rindo baixo, imaginando que já estivesse acordada. Mas assim que entrei no cômodo, quem acabou surpreendido fui eu.

’s POV.

O celular de vibrava sem parar sobre o criado mudo e isso acabou me despertando e sem pensar o atendi. Mas eu preferia ter continuado dormindo. Desliguei aquela ligação e respirei fundo pensando no que iria fazer, a única resposta era ir embora, ir e nunca mais voltar. Ali estava ele novamente, aquele fantasma do passado que eu imaginei nunca mais ter que enfrentar. Bom, talvez eu não o fizesse realmente. No fundo eu sabia que já não teria mais forças pra tentar me reerguer de novo, eu não conseguiria recomeçar desta vez, não se deixasse que os sentimentos que sabia ainda sentir por ele tomassem o controle da minha vida outra vez. E naquele momento, após ouvir aquela ligação, tomei uma decisão que definiria tudo de uma vez por todas.
Eu já estava vestida quando entrou no quarto sorrindo usando apenas uma boxer preta e carregando uma bandeja com o que eu imaginei ser o nosso café da manhã. Aquela visão me trouxe lembranças e por um minuto considerei ficar e dar a ele mais uma chance, mas eu seria uma completa idiota se fizesse isso. Notei o seu sorriso se desfazer quando ele me viu pronta para ir e aquilo me causou um embrulho no estomago. Mas eu sabia que era o certo a fazer, nós nunca daríamos certo novamente.
- Você já vai? – ele perguntou me encarando confuso, eu apenas assenti. – Mas eu preparei o café da manhã, achei que talvez pudéssemos passar o resto da manhã juntos. – ele dizia, enquanto caminhava até a cama, depositando a bandeja sobre ela. – Se você quiser, podemos buscar e ficarmos nós três juntos durante todo o sábado. Vai ser divertido. – tentava se mostrar animado, mas a minha expressão séria a cada investida sua já estava causando efeito. – Diz alguma. – ele pediu.
- Eu preciso ir. – Foi tudo o que eu consegui dizer, o nó na minha garganta fez com que a minha voz saísse fraca. Eu queria chorar, queria gritar com ele por ter brincado comigo outra vez, por ser um idiota egoísta. Queria gritar comigo mesma por ser mais idiota ainda e ter caído na conversa dele na noite passada. Eu estava realmente considerando tentar mais uma vez, aos poucos, é claro, mas eu queria dar outra chance a nós dois. Mulher tola. Era isso o que me definia.
- Mas hoje é sábado, por que a pressa? – ele perguntou ainda confuso e se aproximou tentando me abraçar, mas eu me afastei antes que ele me tocasse e eu desistisse de tudo. – O que ta acontecendo, ? – ele perguntou, parecendo chateado.
- Nada. – respondi apenas e ele me encarou em um pedido mudo para que eu dissesse algo mais. Eu respirei fundo e disse o que deveria dizer para me manter afastada dele. – Eu não sei o que você espera de mim, . Ou o que você esperava que fosse acontecer conosco depois dessa noite. Eu sei que não podemos mudar o que aconteceu, mas somos adultos e deveríamos admitir que isso não passou de uma recaída gerada pelo desejo. Foi sexo, foi carnal, foi um momento de luxúria. Não vou dizer que foi ruim, ou que me arrependi, mas nada mais vai acontecer, além disso. Você sabe que eu ainda estou com o Jake, cometi um erro ficando com você esta noite, mas é dele que eu gosto. – Fiz um esforço para olhar em seus olhos enquanto dizia àquelas palavras que se resumiam em uma grande mentira, ele nunca poderia duvidar de que era apenas aquilo. Era melhor assim, antes que as feridas fossem novamente abertas e expostas. ficou mudo me encarando, seu rosto ficando vermelho aos poucos e então, ele explodiu.

’s POV.

- Eu não acredito que depois de tudo, depois dessa noite... , você fez tudo por vingança?! - eu perguntei visivelmente irritado, enquanto soltava uma risada nervosa, não querendo acreditar que ela havia mesmo me usado pra algo tão baixo. Não a minha . Mas aquela era a única explicação para a sua mudança drástica de atitude. Eu sabia que não havia sido só sexo, ela tinha me demonstrado o contrário na noite passada e eu achei que ela tivesse notado que pra mim aquilo também era muito importante. Pelo visto eu estava enganado.
- Pense o que quiser. – ela disse tão indiferente e virou de costas procurando pela bolsa.
- O que aconteceu com você? Eu não pensei que você pudesse ter se tornado essa mulher tão baixa. Sei que sou o culpado por isso, mas ainda não consigo acreditar que você só transou comigo pra se vingar ou sei lá qual a merda do seu propósito... Fala pra mim , me diz qual é o plano brilhante pra foder com a vida do ex-marido traidor? Diz! – continuei gritando ainda em choque com a sua atitude. respirou fundo novamente e se virou me encarando, ela parecia estar furiosa. Ótimo querida, porque eu também estava.
- Você acha mesmo que eu sou tão baixa assim? Vê-se bem que você não me conhece , nunca me conheceu de verdade. - ela respondeu ríspida. - O que aconteceu ontem a noite foi um erro, que eu pretendo nunca mais repetir. Adeus, . - a mulher apanhou a bolsa e seguiu a passos largos em direção a porta. Eu fiquei sem reação. Era impossível que ela tivesse mentido tanto durante os momentos que passamos na noite passada. Era impossível ela não ter sentido o mesmo que eu.
O barulho da porta da sala batendo me acordou do transe em que havia me colocado. Dessa vez, era ela quem tinha ido embora.


“I'm gonna let you bleed for a little bit.
I'm gonna make you beg just for making me cry.
I'm gonna make you wish you never said goodbye.
If you're gonna get me back.
You're gonna have to ask nicer than that.”
- The Used.








“A briga mais humilhante é a que transforma a confidência em ofensa”.
- Fabrício Carpinejar.




’s POV.

Passei o restante daquele sábado dentro de casa, sobrevivendo apenas com o estoque de cervejas que havia na minha geladeira. Eu liguei pra ela diversas vezes durante aquele dia, depois que havia engolido o orgulho e ido até o seu apartamento para se informado pelo porteiro que não havia ninguém lá. Eu esperei, tendo certeza de que o que ele havia me dito era mentira, mas após algum tempo encostado diante da entrada do edifício, chamei um taxi, decidi voltar pra casa e comecei a fase das ligações, - pro celular, pro número residencial - e todas elas iam parar direto na caixa postal. Liguei para e ela disse que não tinha notícias, pois estava trabalhando. Então me sentindo frustrado abri a primeira longneck e depois veio a segunda garrafa, a terceira... Eu me joguei no sofá com a televisão ligada em um jogo de futebol qualquer e ingeri todo o álcool que havia em casa tentando esquecer que ela havia ido embora, tentando entender o seu motivo. E assim eu acabei adormecendo e agora a claridade entrava pela cortina da janela da sala que eu havia deixado aberta me despertando pra uma dor de cabeça dos infernos. Era manhã de domingo.
Acordei xingando baixo, sentindo minha cabeça rodar e latejar, meu pescoço doer pela posição em que eu havia dormido. Tão diferente da forma que eu havia acordado um dia atrás. Eu não gostava do que via hoje. Eu queria acordar de novo com nos meus braços e ver que tudo o que tinha acontecido não passava de um pesadelo, mas a dor de cabeça e o vazio no meu coração me mantinham preso na realidade. Nós fizemos amor e no dia seguinte ela foi embora dizendo amar outro cara. A realidade era uma grande merda.
O celular tocou e eu corri o mais rápido que pude até ele, por um lado porque tinha esperança de que pudesse ser ela retornando as minhas inúmeras ligações e por outro porque o barulho repetitivo só piorava a minha dor de cabeça, então atendi sem nem ao menos verificar quem realmente estava ligando.
- Alô! – atendi antes que a ligação fosse encerrada, mas a pessoa do outro lado permaneceu muda. – Quem é? – repeti quando notei a respiração acelerada do outro lado da linha, mas ainda não obtive resposta. – Isso é alguma merda de trote? Eu to desligando. – anunciei, mas antes que pudesse realmente fazer isso uma voz surgiu do outro lado.
- Oi gatinho, sentiu minha falta? – ela disse, eu fiquei mudo e logo desliguei o telefone. Agora não havia mais como negar, era ela. E pelo visto havia desistido de mandar apenas mensagens de texto e e-mails, agora ela também estava me ligando.
Acessei a lista de chamadas recebidas tentando bloquear novamente aquele numero e percebi que ela havia me ligado antes, ela havia ligado na manhã de sábado e a ligação tinha sido atendida e durado pouco tempo. Era isso, só podia ser isso! havia falado com ela e provavelmente ouviu alguma mentira que eu tenho certeza que ela deve ter dito. Era por isso que ela tinha mudado de uma hora para outra, por isso ela me disse aquelas coisas. deve ter se magoado novamente por minha causa e então ela levantou de novo o escudo que ela havia criado pra me manter afastado dela e decidiu me magoar de volta. E eu como o idiota impulsivo que sempre fui acabei dizendo o que não devia, acabei a magoando mais e mais.
Eu sabia, a minha tinha sido sincera quando ficamos juntos, sabia que tudo aquilo não havia sido só uma aventura. E aquela era a explicação que eu tinha buscado durante todo o sábado e estava bem ali.
Eu precisava ver , precisava esclarecer tudo. O telefone tocou novamente e eu gelei, eu deveria atender e mandar aquela mulher pro inferno, tirar ela de uma vez por todas da minha vida, mas quando olhei no visor percebi que quem estava ligando era - Fala . – atendi, tentando esconder tudo o que me perturbava no momento.
- Sou eu, . – Penny respondeu do outro lado e eu encarei a televisão que ainda permanecia ligada com uma expressão confusa.
- Penny, aconteceu alguma coisa? Por que você esta me ligando do celular do ? – perguntei preocupado.
- Não aconteceu nada, eu só precisava falar com você e esse foi o primeiro telefone que encontrei pela casa. – ela respondeu parecendo ansiosa.
- Ok. Pode falar. – assenti e Penny demorou alguns segundos pra dizer o que realmente queria. O que era estranho, já que ela era sempre tão direta.
- O que houve entre você e a após aquela noite no pub? – ela disse após enrolar numa conversa cheia de trivialidades.
- Por que você acha que aconteceu algo entre a gente? – tentei disfarçar, se não havia dito nada as amigas, eu também não deveria dizer. Mas aquela era Penélope e eu sabia que mais cedo ou mais tarde ela teria a resposta que queria.
- Não me enrole, . Você sabe que eu não sou mais uma dessas garotas idiotas que caem na sua conversa. – ela resmungou e eu soltei um riso baixo, sabendo que aquilo era verdade. – me ligou agora a pouco, pedindo pra que eu fosse até o apartamento delas, ela disse que a esta estranha desde ontem, que nem quis passar o sábado com e que também não dormiu em casa após a nossa ida ao pub. E eu aposto que ela não dormiu lá, porque passou a noite com você.
- Ela não esta cuidando da ? Como você pode ter certeza de que ela estava comigo? – perguntei tentando enrolar um pouco mais, mas ao mesmo tempo preocupado com o que eu tinha ouvido sobre a minha filha.
- . – foi tudo o que ela disse, com a sua voz dura de mãe repreendendo um filho, eu suspirei, sabendo que não poderia fugir dela.
- Nós dormimos juntos, é isso. – eu disse de uma vez e Penny ficou muda do outro lado. Eu também não disse mais nada, queria dar um tempo para que ela digerisse o que eu havia dito.
- Que merda você fez, ? – Penny disse entredentes, ela estava nervosa, eu podia sentir de longe.
- Não venha colocar toda a culpa em mim, eu não forcei a nada. – respondi ofendido com o tom de sua voz.
- Então, se ela não foi obrigada, por que diabos agora ela esta tão mal enfiada naquele apartamento? – ela perguntou e eu respirei fundo antes de dizer a ela tudo o que havia acontecido e explicar a suspeita que rondava a minha cabeça desde que eu havia atendido aquela ligação pela manhã.
Penny ouviu o meu relato sem emitir qualquer comentário e quando terminei de falar me preparei para ouvir sua bronca, mas ela estranhamente não veio.
- Você tem que falar com ela, tem que explicar o que acabou de me dizer. – ela disse me pegando de surpresa.
- Você acredita em mim? – perguntei confuso com a sua atitude.
- me falou sobre essas mensagens estranhas que você tem recebido, e é claro que eu acredito em você, . Sei quando você esta contando alguma mentira idiota. – ela resmungou, mas parecia sorrir enquanto falava. – Agora o que você tem que fazer é procurar . Você não pode deixar que aquela vaca loira de farmácia estrague tudo outra vez.
- Ela não vai acreditar em mim, Penny. – respirei fundo. – Eu já tentei falar com a diversas vezes desde sábado de manhã e ela só me evita.
- Você tem que falar com ela. – Penny repetiu incisiva. - Você não pode simplesmente desistir do relacionamento de vocês mais uma vez e seguir pelo caminho mais fácil. Você não vai saber se não tentar. - Penélope disse e eu sabia que ela esta se referindo a minha atitude no passado. Eu escolhi trair, mentir efugir, ao invés de ficar e tentar mudar, tentar fazer com que o meu casamento com voltasse a dar certo, tentar fazer com que os meus sentimentos por ela que tinham sido enterrados com os anos por culpa da rotina, voltassem à vida. Porque apesar de tudo esses sentimentos nunca morreriam. Eu só precisava ter agido como um homem e ter assumido que estava errado. Mas eu falhei. Agora eu admito que falhei.
- Eu vou falar com ela, Penny. Mas antes eu preciso encontrar uma maneira de me livrar dessa merda toda do meu passado, eu não quero envolvida com isso, não quero que ela se magoe de novo por minha culpa. – eu disse decidido e Penny assentiu.
- Por que você não tenta uma daquelas ordens de proteção judicial? Os famosos, como você, vivem pedindo ultimamente para se livrarem de perseguidores nojentos, vi um caso sobre aquela namoradinha do Justin Bieber nos jornais esses dias. – ela comentou e eu achei graça da maneira com que ela falou, mas achei interessante a sua sugestão.
- Será que isso vai funcionar? – perguntei confuso.
- Fale com a Sarah, ela lida com esse tipo de coisa, não lida? – ela perguntou e eu assenti, Sarah cuidava dessa parte criminal, ela deveria saber o que fazer para conseguir uma ordem dessas. – Então não perca tempo, . Ligue pra ela, resolva logo isso e acerte de uma vez por todas a sua relação com a mãe da sua filha. Eu não aguento mais todo esse drama, só quero ver mais uma família feliz. – ela riu do outro lado e eu a acompanhei, feliz por ter alguém como Penny por perto, pra sempre me colocar de volta nos trilhos.
- Eu vou fazer isso, obrigado Penny. – agradeci e ela se despediu em seguida, me deixando sozinho pensando se primeiro tentaria contato com mais uma vez ou se procuraria logo Sarah.
Mas uma mensagem no celular interrompeu meus pensamentos, meu corpo gelou achando que era mais uma das mensagens irritantes que ela me mandava, mas vi que na verdade agora era uma mensagem de , me lembrando que em poucas horas teríamos um show beneficente em uma cidade próxima. A minha cabeça ainda doía por conta da ressaca e eu não queria estragar a nossa apresentação, por isso precisava melhorar logo. Me joguei sobre o sofá um pouco desanimado, porque eu precisava resolver a minha vida, mas naquele momento o trabalho viria em primeiro lugar. Infelizmente, eu teria que adiar mais uma vez a minha conversa com .

’s POV.

- Alô? , gatinho é você?... Que brincadeira é essa, ? Responde! É a Ashley.– ela disse rindo com aquela voz irritante. Era ela novamente. Aquele nome, eu nunca ia esquecer. – Ok, vou entrar na sua onda... Só queria confirmar o nosso encontro de hoje à noite, vou te esperar no meu apartamento, mal posso esperar pra ter você todinho pra mim de novo. Até mais, um beijo gostoso na sua boca, gatinho. – ela desligou. E sem que eu percebesse soltei o ar que havia prendido nos pulmões, enquanto uma lágrima solitária rolava pelo meu rosto.

Eu queria esquecer aquela maldita ligação, mas queria mais ainda me esquecer de tudo o que havia acontecido entre e eu naquele dia. Queria não ter que vê-lo nunca mais na minha vida, mas sabia que aquilo deveria ser impossível por causa de . Maldita hora em que eu havia concordado em deixar que ele se aproximasse dela, que se aproximasse de mim novamente.
O domingo passou voando e eu tentei fingir para todos que estava bem, mas falhei consideravelmente. e Penélope acabaram desconfiando, mas eu preferi manter tudo em segredo por um tempo. E acabamos passando o dia com as crianças, assistindo a filmes de animação na TV, enquanto os garotos faziam um show beneficente em uma cidade vizinha.
Não fui trabalhar naquela segunda-feira, usei a famosa desculpa da doença, sabia que era imaturo, mas se eu sabia que não conseguiria olhar para de novo, imagine ter que trabalhar com ele tão pouco tempo após tudo o que havia acontecido. Eu desabaria diante dele, com toda a certeza.
não questionou, quando eu disse que estava doente, mas ela me encarou sabendo que era mentira. E então disse que levaria a escola por mim, antes de ir para o seu turno na clinica naquela manhã. Nem a minha pequena conseguiu me animar, quando silenciosamente subiu em minha cama e se embrenhou pelos lençóis para me acordar naquele dia. Ela me encarou tristinha, quando eu disse que não estava bem e que a levaria para a escola.
- Mamãe não esta se sentindo muito bem hoje, meu amor. – disse a aconchegando em meus braços.
- Você ta dodói, mamãe? Quer que eu fique fazendo cafuné em você? – ela perguntou lembrando-se do carinho que eu sempre fazia nela quando ela ficava doente.
- Não precisa meu amor, é só um mal estar bobo, logo vai passar. – eu olhei pra ela assegurando que estava tudo bem. - Agora vá logo se arrumar pra tia te levar pra escola. A senhorita não está doente pra também ficar em casa. – eu disse, sabendo que estava agindo como uma hipócrita, mas eu não conseguiria agir diferente naquele dia. Eu precisava de tempo.
- Ah mamãe. – fez bico, emburrada por não poder ficar também em casa por mais um dia.
- Sem esse bico, . Você sabe que tem que ir pra escola, e os seus amiguinhos estarão lá te esperando. Vá logo se trocar, meu amor. – mandei e em seguida lhe dei um beijo demorado na bochecha, desfez o bico me obedecendo, me abraçou e logo saiu correndo em direção ao seu quarto.
Um tempo depois me levantei e encontrei e ela terminando de tomar o café da manhã na cozinha. me encarou mais uma vez, transmitindo pelo olhar o fato de que ela sabia que algo de errado tinha acontecido e que isso não tinha nada a ver com uma doença repentina, mas ela não disse nada. Apenas apressou e logo as duas saíram do apartamento em direção à escola.
Eu não queria mentir para elas, mas eu não conseguiria colocar tudo pra fora naquele momento. Eu precisava pensar.
Como não sentia fome, fiz apenas uma xícara de chá e segui em direção à sacada do apartamento com um livro qualquer em mãos para me distrair. Mas apanhar aquele livro foi apenas algo automático, eu sabia que não conseguiria prestar atenção na história e confirmei isso quando,meia hora depois, notei que ainda estava parada diante da segunda página, enquanto meus pensamentos ficavam indo e vindo, me inundando de memórias proibidas com cenas da noite de sexta e da manhã de sábado. Se eu fechasse os olhos ainda podia sentir os lábios de sobre os meus, podia sentir o seu toque sobre o meu corpo e aquilo me enchia de calor, mas ao mesmo tempo eu me lembrava daquela ligação e logo um nó se apoderava da minha garganta e o meu coração parecia se partir mais uma vez.
E então eu me lembrava do momento em que ele entrou no quarto carregando uma bandeja com o nosso café da manhã e um copo com água com uma flor dentro. Ele tinha um sorriso de satisfação no rosto, que logo se desfez. Aquilo quase me comoveu, quase me fez ficar. Se eu não estivesse com a voz daquela mulher ecoando pela minha cabeça a cada movimento que fazia em minha direção parecendo confuso com a minha atitude. Ele quase me enganou mais uma vez. E eu deveria lembrar o quão bom ator ele era, já que ele atuou por um bom tempo durante o nosso casamento, quando dizia que me amava, quando fingia que não tinha casos com outras mulheres. Sem perceber senti o liquido quente escorrer sobre o meu rosto. As lágrimas desciam sem parar e logo eu chorava com direito a soluços irritantes ecoando pela minha garganta.
“... Mal posso esperar pra ter você todinho pra mim de novo.”, de novo, estava me enganando de novo. Me encolhi sentindo um aperto no peito, sentindo a confusão que os sentimentos que eu tinha por ele me causavam. Ele parecia tão sincero naquela noite de sexta.
“... Eu sempre imaginava e às vezes até sentia as suas mãos sob as minhas antes de dormir”. Mentiroso, tão mentiroso. Provavelmente ele disse aquilo sabendo que naquele momento eu estava frágil diante do seu toque. Eu era sempre tão fraca quando ele estava por perto, mas conseguia fingir que era forte, só que naquele momento, após as semanas que ele passou demonstrando uma mudança que eu achei que nunca fosse ver. Naquele momento eu cedi e esse foi o meu erro. não tinha mudado, ele não mudaria nunca.
A campainha tocou e eu me assustei com o primeiro barulho que ouvia no apartamento após a saída de e . Levantei sentindo dor por todo o corpo por ter ficado encolhida na mesma posição por tempo indeterminado, eu não sabia há quanto tempo estava ali e me surpreendi quando notei que já era praticamente hora do almoço assim que olhei no relógio de parede que ficava na sala. teria aula de ballet novamente naquele dia, então só voltaria para casa por volta das três da tarde. A mãe de Emily prometeu levá-la para almoçar, depois levaria as garotas ao ballet e traria de volta para casa quando ligou para ela pedindo aquilo pela manhã durante o café, e como a filha dela também teria aquela aula, ela não negou o pedido. O barulho invadiu a casa novamente, já que eu ainda não havia atendido a pessoa do outro lado da porta. Levei a mão ao rosto numa tentativa frustrada de melhorar a minha aparência após o choro e caminhei até a porta.
- Já vai. – respondi, mas minha voz saiu tão fraca e rouca que provavelmente a pessoa que batia a minha porta não teria escutado. Logo me toquei que aquilo era estranho, já que o porteiro não havia anunciado ninguém, só poderia ser alguém conhecido e o pensamento de que talvez fosse tentando mais uma vez falar comigo, me deixou receosa em atender. Por isso olhei pelo olho mágico antes de abrir a porta e notei o moreno parado diante dela, parecendo nervoso enquanto eu não abria a porta. Jake estava de volta. E eu me senti horrível e completamente nervosa naquele momento.
- ? – ele chamou agora batendo na porta, então eu respirei fundo e me afastei a abrindo em seguida. – Oi. – Jake disse com um sorriso torto no rosto, mas assim que notou o meu estado ele franziu o cenho, parecendo preocupado.
- Oi. – eu respondi, ainda sentindo minha voz rouca de choro.
- Você esta se sentindo bem? – ele se aproximou, me abraçando em seguida.
- É só um resfriado. – murmurei com o rosto pressionado sobre o seu peito. Jake se afastou e me encarou parecendo desconfiado.
- Eu posso não te conhecer por tanto tempo, mas sei que isso não é apenas um resfriado, . O que aconteceu de verdade? – ele perguntou tentando me analisar.
- Não quero falar sobre isso por agora. Vem, entra. – chamei dando espaço pra que ele entrasse no apartamento. – Que surpresa é essa? Achei que você fosse demorar mais lá pelos Estados Unidos. – disse tentando colocar um sorriso no rosto, Jake me encarou ainda sério, mas logo balançou a cabeça, como se houvesse decidido atender o meu pedido e deixado os seus questionamentos de lado por um tempo.
- O meu problema familiar acabou se resolvendo por lá e eu decidi voltar. – ele respondeu caminhando até o sofá. – Posso? – Jake apontou o móvel e eu sorri.
- É claro, sente-se. Que falta de educação a minha. – respondi e ele sorriu de maneira carinhosa, dando de ombros.
- Sou praticamente de casa. – ele piscou antes de se sentar e eu concordei. – Devo dizer que fiquei confuso quando o porteiro me disse que você estava em casa hoje, pensei que estivesse na escola. – ele comentou. – também esta por aqui? – perguntou sorrindo ao citar a minha pequena.
- Fiquei em casa por causa do resfriado e levou a escola. – respondi e ele assentiu, novamente sério.
- Eu senti sua falta, . – ele disse, me encarando de maneira intensa.
- Eu também. – respondi sincera, por mais que tanta coisa houvesse acontecido enquanto ele esteve fora, por mais que os meus sentimentos estivessem confusos agora, Jake sempre fora um bom amigo e fazia falta tê-lo em minha vida. Ficamos nos encarando em silêncio por um tempo, mas Jake logo o quebrou.
- Nós precisamos conversar. – ele disse e eu assenti, me sentando ao seu lado no sofá. Pronta para esclarecer as coisas. Eu não podia ficar com ele de novo. Não com toda a confusão que envolvia a minha vida naquele momento. Eu não podia ser egoísta, não podia colocá-lo no meio de tudo isso e magoá-lo como estava me magoando mais uma vez.

’s POV.

estava fugindo de mim de novo, aquilo era tudo o que eu podia pensar quando a diretora me informou que ela não iria trabalhar comigo naquele dia, mas quando a Sra. Lewis me disse que ela havia ligado dizendo estar doente, eu logo me preocupei. Então, assim que encerrei o expediente na segunda escola em que cumpria condicional durante a tarde, peguei um taxi e segui novamente em direção ao seu apartamento. Já estava escurecendo, eu tinha um encontro marcado com Sarah logo mais, para resolver a questão da ordem de proteção, mas eu precisava falar com ela, precisava saber se ela estava bem, precisava esclarecer as coisas.
O porteiro da noite me reconheceu de outras visitas e deixou que eu subisse sem ser anunciado e logo eu estava parado diante da porta do seu apartamento, me sentindo completamente nervoso e ao mesmo tempo preocupado com ela. Toquei a campainha enquanto respirava fundo reunindo coragem pra enfrentar a sua fúria, que eu sabia que seria jogada sobre mim em algum momento, mas relaxei um pouco assim que notei que era quem havia aberto a porta. A doutora me encarou confusa e logo ficou séria.
- O que esta fazendo aqui, ? – ela me perguntou com os braços cruzados sobre o peito, tentando me intimidar.
- Clare me disse que estava doente, por isso não foi à escola hoje. Eu passei pra ver como ela esta se sentindo agora. – disse sentindo um nervosismo bobo e um buraco no estômago que eu não sentia desde o dia em que havia pedido em casamento.
me analisou em silêncio por um tempo, mas antes que ela dissesse qualquer coisa aquela linda garotinha que tinha os olhos iguais aos meus surgiu ao seu lado sorrindo.
- Tio ! – exclamou, parecendo ser a única pessoa que estava feliz em me ver naquele apartamento.
- Oi gatinha. – respondi, me abaixando diante dela, pronto para pegá-la no colo.
- Que saudade. – ela disse me abraçando. – Me leva pra ver o panqueca? Mamãe não deixou ele ficar aqui e eu também to com saudade dele. – ela disse fazendo uma carinha triste que eu achei completamente fofa e me senti um idiota alegre por isso.
- Levo gatinha, mas antes temos que pedir pra sua mãe. – respondi olhando o interior do apartamento a procura de .
- Ah, mas a mamãe saiu. – respondeu emburrada.
- Saiu? Mas ela não estava doente? – perguntei encarando .
- Foi só um mal estar passageiro, amanhã ela já volta pro trabalho. – respondeu ainda séria.
- E pra onde ela foi a essa hora? – perguntei sentindo algo estranho no peito.
- Ela saiu pra jantar, com o Jake. – respondeu fazendo questão de me dizer com quem ela havia saído.
- Ele voltou? – perguntei sentindo a minha garganta seca, ele não tinha aparecido no estúdio ainda. Aquele idiota tinha voltado pra ficar no meu caminho.
- Parece que chegou hoje, eles conversaram durante a tarde e ele a convidou pra jantar. – informou ainda séria. Eu apenas assenti, sentindo novamente o buraco no estomago. Não podia ser, não podia voltar para aquele produtor idiota.
- Tio . – chamou, me tirando do torpor que me envolveu assim que recebi aquela noticia. Eu a encarei, tentando colocar um sorriso no meu rosto. – Você me leva pra ver o panqueca depois então? – ela perguntou e eu assenti.
- Claro, pequena. Peça a sua mãe pra me ligar se ela permitir e eu venho te buscar. – informei a colocando no chão e lhe dando um beijo na testa em seguida. – Agora eu preciso ir. – disse com um sorriso forçado envolvendo os meus lábios.
- Tudo bem. – respondeu parecendo desconfiada. – Não fica triste, tio . Até logo. – ela disse me surpreendendo e após abraçar as minhas pernas, correu em direção ao seu quarto me deixando a sós com .
- Eu sei que algo bem sério aconteceu entre você e a após aquela ida ao pub, . Mas eu pretendo respeitar o silêncio dela e espero que você resolva as coisas logo pra que eu não tenha que cumprir aquela minha promessa. – ela disse me encarando.
- É isso o que eu vim fazer aqui hoje, . Mas parece que a sua amiga não esta sofrendo tanto assim pelo que houve, já que ela até já saiu com o namoradinho. – respondi de forma fria, mas por dentro eu me sentia magoado. – Até mais. – me despedi sem deixar que ela me dissesse mais nada e segui em direção ao elevador que por sorte estava parado no andar.
Será que estava mesmo dizendo a verdade quando foi embora naquela sábado de manhã? Será que ela gostava mesmo do Evans e tudo o que aconteceu entre nós dois não teve pra ela o mesmo significado que teve pra mim?
Eu precisava tirar aquilo a limpo de uma vez por todas.

(...)

Vinte minutos depois eu estava entrando no restaurante onde eu havia marcado o encontro com Sarah, o garçom me indicou uma mesa no canto e eu segui até ela, me acomodando em seguida, Sarah chegou cinco minutos depois e nós logo fizemos nossos pedidos.
- Desculpe ter partido logo para os pedidos, mas o dia hoje foi agitado e não tive nem tempo pra almoçar. – ela informou, se desculpando e eu dei de ombros, não me importando com aquilo. – Me diga, . Qual é o problema dessa vez? – ela me encarou tomando um gole do seu suco, enquanto nossos pedidos não chegavam.
- É um assunto um pouco complicado. – eu disse tentando encontrar o melhor modo de lhe explicar o que eu queria. Então decidi ir direto ao começo de tudo. – Você sabe que eu me separei da porque conheci outra mulher e que eu tive um relacionamento com ela por três anos. – eu afirmei, sem esperar respostas. Mas Sarah assentiu concordando. – Eu terminei com Ashley há algum tempo, quando a peguei me traindo. – soltei um riso de escárnio e Sarah me encarou do mesmo modo.
- O feitiço virou contra o feiticeiro. – ela deu de ombros e eu concordei, continuando a minha história.
- Eu não vi mais Ashley por um bom tempo após aquele episódio, mas ela reapareceu há pouco tempo. – Sarah ergueu a sobrancelha direita, me analisando.
- Eu pensei que o seu plano agora fosse reconquistar a , não reatar um caso com uma ex-amante, . – ela me censurou com o olhar.
- Não é nada disso, Michells. – bufei cansado de todos pensando o pior de mim. – Eu quero a de volta, mas a Ashley acabou atrapalhando tudo. – disse e ela me olhou confusa. – Há algum tempo eu tenho recebido essas mensagens e e-mails estranhos, no inicio eu não soube quem era, porque eram enviadas de um numero desconhecido, mas depois ela resolveu se identificar e tem me mandado essas porcarias todos os dias. – retirei o celular do bolso e mostrei algumas das mensagens de Ashley a Sarah. – Eu já até troquei de numero, mas de alguma forma ela conseguiu o novo e continuou mandando as mensagens e não parou por aí. – eu fiz uma pausa pensando se deveria dar aqueles detalhes a ela, mas Sarah parecia ansiosa pelo desfecho.
- O que mais ela fez, ? – perguntou visivelmente curiosa.
- Antes de tudo espero que você saiba que esse encontro é entre advogado e cliente e invocando o meu direito, quero que você guarde apenas pra si mesma tudo o que eu te disser aqui hoje, pelo menos por enquanto. – pedi.
- Por favor, . Você sabe que eu sou profissional. Acha que vou agir como uma adolescente fofoqueira? – ela me encarou séria, parecendo chateada e eu assenti me desculpando.
- Eu só queria ter certeza. – murmurei.
- Tudo bem, agora termine logo essa história. – ela pediu ainda chateada.
- Eu dormi com... – parei tentando escolher melhor as palavras. - e eu passamos a noite juntos na ultima sexta-feira. – confessei observando sua reação de espanto logo ser tomada por um sorriso malicioso.
- Até que enfim, ! Achei que aquela minha ajuda durante aquele evento do cinema não daria em nada. Já estava começando a questionar o seu poder de sedução. Já estava da hora de vocês dois voltarem. – ela riu satisfeita, mas a minha expressão séria a parou. – Que cara é essa? Não vá me dizer que você fez alguma merda outra vez? – ela perguntou apreensiva.
- No sábado eu acordei e desci pra preparar o nosso café, ainda estava dormindo, eu achava que as coisas iriam realmente se acertar entre nós, mas quando voltei ao quarto ela já estava pronta pra ir embora, eu fiquei confuso com a sua mudança de atitude de uma hora pra outra e então ela me disse coisas terríveis, que eu prefiro não dizer, nós brigamos, eu também disse coisas que não devia e ela foi embora. Eu tentei conversar com ela desde então, tentei descobrir porque ela tinha partido, até que Ashley me telefonou no domingo.
- A vadia agora também esta te ligando, então. O que ela disse? – Sarah perguntou, entendendo a situação sem que eu precisasse explicar.
- Ela só queria saber se eu sentia sua falta, mas eu nem respondi e logo desliguei o telefone surpreso por ela ter me ligado. Quando fui tentar bloquear o seu numero de chamada, notei que ela já havia me ligado antes, no sábado, pela manhã. Mas eu não tinha atendido nenhuma ligação da Ashley antes, então imaginei que tivesse e logo pensei que foi por esse motivo que ela discutiu comigo naquele dia. Resumindo, Ashley atrapalhou tudo outra vez, mas dessa vez eu não tive participação, eu não tive culpa. Mas não quer me ouvir, não quer uma explicação e eu quero acertar as coisas entre a gente, só que parece que o namoradinho dela esta de volta e agora eu já não sei se tenho chances. – disse frustrado.
- Droga, . – Sarah disse parecendo comovida, ela segurou minha mão sobre a mesa. – Não se deixe abater, vamos dar um jeito nessa perseguidora maluca que é a sua ex. – eu sorri agradecido.
- É sobre isso que eu queria realmente conversar com você, Penny sugeriu que eu entrasse com uma ordem de proteção contra ela, mas não sei se isso é possível, já que ela não me fez nenhuma ameaça séria. Eu só quero que ela pare de perturbar a minha vida. – comentei.
- A situação é mesmo complicada, mas você e ela já tiveram um relacionamento que acabou e ela esta te enviando diversas mensagens que você claramente não quer receber e isso de certa forma esta trazendo alguns constrangimentos para a sua vida, e como é constante poderíamos considerar um caso de perseguição, eu posso tentar conseguir uma medida provisória de inicio e depois vemos no que vai dar. – ela disse sorrindo.
- Sério? – perguntei levemente esperançoso e Sarah assentiu. – Obrigado, Sarah! – apertei sua mão em agradecimento, mas quando levantei novamente meu rosto eu a vi se levantando de uma mesa mais a frente, com Evans ao seu lado.
me encarou séria e parecendo ao mesmo tempo confusa. Em seguida seu olhar foi em direção a minha mão que ainda estava sobre a mão de Sarah, eu logo a afastei quando notei seu olhar se cobrir de mágoa. Jake virou, tentando entender para onde ela olhava tão intensamente e logo me viu, ele se virou novamente em direção a ela e disse algo a que aos poucos parecia sair de um transe, ela logo assentiu e eles rapidamente saíram do restaurante. Jake a abraçava pela cintura, e tudo o que eu queria era ir até lá e arrancá-la dele de uma vez por todas.
Meu celular vibrou sobre a mesa me afastando daquela cena que havia ficado gravada na minha mente, Sarah e eu nos encaramos desconfiados. Eu desbloqueie a tela e logo vi um sinal de mensagem piscando no canto direito.
- Olhe logo. – Sarah pediu ansiosa, eu abri a mensagem com certo receio.
“Quem é essa mulherzinha que está com você, gatinho? Livre-se dela. Você é todo meu, só meu. Nunca se esqueça”. A primeira mensagem dizia, mas o aparelho vibrou novamente em minhas mãos e uma segunda mensagem fez com que eu sentisse meu coração se contorcer no peito após ler o seu conteúdo.
“Eu já me livrei da sua ex-mulherzinha. Dê os parabéns a ela pelo noivado com o nosso querido Jake”. Aquilo não podia ser verdade. não podia ter ficado noiva daquele cara tão rápido, não depois de tudo o que aconteceu entre a gente há tão pouco tempo. As coisas entre nós ainda estavam mal resolvidas, ela não poderia simplesmente ignorar isso. Nós precisávamos conversar, ela tinha que me escutar, que entender. Ela não podia brincar comigo daquele jeito. Aquele sentimento não foi mentira. Eu tinha certeza, bom agora talvez não. Pra ter aceitado se casar com Evans, tudo o que ela me disse naquela manhã de sábado teria que ser verdade. Só que eu sabia que ela tinha recebido uma ligação de Ashley.
Mas como Ashley sabia sobre aquela história de noivado? Como ela conseguia estar em todos os lugares sempre? Onde aquela maldita estava?
Mostrei as mensagens a Sarah que logo ficou surpresa. Olhei ao redor do restaurante, procurando Ashley por todos os lados, Sarah dizia algo tentando me acalmar, mas meus olhos logo reconheceram a loira maldita sentada no canto oposto a nossa mesa, usando um vestido vermelho, com as pernas cruzadas e sorrindo de forma maldosa na minha direção. Sem pensar eu me levantei e caminhei até onde ela estava, me sentindo completamente puto com tudo. Irritado com a sua perseguição sufocante, irritado com as suas mentiras. Ela não poderia inventar aquelas coisas sobre .
- Oi gatinho. – Ashley me encarou sorrindo, e logo se levantou ficando diante de mim com aquele sorriso estranho no rosto. – Eu senti muito a sua falta. – ela disse levando a mão em direção ao meu rosto o acariciando, eu me afastei não gostando nem um pouco daquele toque.
- Me deixa em paz. – disse entredentes. – Pare de me mandar mensagens, Ashley. – exigi e tudo o que ela fez foi rir.
- Não vou parar, . Não até você voltar a ser meu. – ela sorriu e sem que eu esperasse me deu um beijo, mas eu a empurrei para longe.
- . – Sarah surgiu ao meu lado. – Não faça nenhuma besteira em local publico, lembre-se da sua situação. – ela murmurou apenas pra que eu ouvisse, me lembrando que eu estava em liberdade condicional. Eu respirei tentando me acalmar e encarei Ashley novamente que permanecia com aquele sorriso maldoso no rosto, mas que tinha o olhar fixo em Sarah.
- Quem é essa vadia, ? – Ashley perguntou visivelmente irritada. Senti Sarah ferver em raiva ao meu lado.
- Queridinha, a única vadia aqui nesse ambiente é você. – minha advogada respondeu com classe controlando sua raiva. Ela sabia que não deveria entrar em uma discussão naquele momento. Ashley urrou irritada.
- Livre-se dela, . Eu preciso falar com você. – ela exigiu e Sarah soltou um riso debochado.
- Ele não vai se livrar de mim, querida. Eu sou a advogada dele e não pretendo sair do lado do meu cliente nesse momento. Agora, o que quer que você tenha a dizer a ele, terá que dizer na minha frente. É pegar ou largar. – Sarah sorriu vitoriosa e eu a encarei agradecido.
- Como você sabe sobre e o Evans? – perguntei a Ashley, querendo logo resposta para a única coisa que eu precisava saber dela.
- Da mesma forma que você sabe tudo sobre a vida da chata da sua irmã Elizabeth. – ela disse sorrindo. – Jake é meu irmão, gatinho. – Ashley confessou e eu a encarei não conseguindo acreditar naquela coincidência infernal.
Era difícil crer no que Ashley havia dito, principalmente pelo fato de termos ficado juntos por quase três anos e nem ela e nem o pai terem mencionado a existência de um irmão. Na verdade eu tinha quase certeza de que ninguém no mundo sabia sobre isso, é completamente impossível você se relacionar com alguém, conhecer sua família e não ser apresentado a um irmão, isso é algo que não se esconde. Mas lembrando bem de como as aparências eram extremamente importantes pra família Johnson, talvez aquilo fosse real. Mesmo sem querer, aquela duvida se implantou na minha cabeça.
E se Jake era mesmo irmão de Ashley, então ela não deveria estar mentindo sobre o noivado. havia mesmo feito sua escolha. E eu tinha sido só uma diversão pré-casamento. Aquela seria a pior vingança que eu poderia ter imaginado, pois significava que realmente não me amava mais e eu estava completamente perdido porque a queria de volta mais do que tudo na vida.

’s POV.

(N/A: Ouça essa musica durante o restante da leitura.)

Na terça-feira eu retornei a escola, não teria como fingir uma doença durante toda a semana e eu sabia que não correria riscos de ver naquele dia, então tudo correu tranquilamente, de certa forma. Porque a minha mente permanecia confusa e inquieta, ainda mais após o retorno de Jake e após a proposta inusitada que ele havia me feito, mesmo quando eu abri o jogo e contei a ele sobre a loucura em que havia se transformado os meus sentimentos no momento. Ele disse compreender, mas eu notei a decepção no seu olhar quando neguei o seu pedido. Eu não estava pronta para aquilo, talvez nunca estivesse realmente. Não antes de me resolver. E Jake não precisava de alguém confuso como eu atrapalhando sua vida, então decidimos permanecer apenas como amigos. Mas ele deixou claro que não desistiria de mim, apesar de estar me dando o tempo que eu preciso pra colocar a minha vida em ordem.
Penélope me ligou naquele dia com um convite, e ela fariam aniversário de casamento no próximo final de semana e eles planejaram uma pequena festa na casa de campo dos pais dela, iriam apenas os amigos mais próximos e eu sabia muito bem quem estaria presente, logo tentei inventar alguma desculpa para não ir a tal comemoração, mas não era fácil se livrar de Penny e no final acabei concordando em ir passar dois dias no local acompanhada de e .
No dia seguinte cheguei cedo a escola tentando evitar mais uma vez um encontro com , porque eu sabia que naquele dia ele estaria lá, e felizmente não teria que trabalhar com ele. Mas o destino é sempre uma grande porcaria e assim que entrei na sala dos professores lá estava ele conversando com Landon, e foi só colocar meus olhos sobre ele para que as memórias da noite de sexta-feira viessem com tudo na minha mente, porém elas não estavam sozinhas, porque me lembrei também da noite de segunda-feira, dia em que aceitei o convite de Jake para jantar e por coincidência o dia em que vi segurando a mão de Sarah naquele restaurante. Um nó tomou conta da minha garganta quando me recordei daquilo e assim que encarei novamente vi que ele também me olhava, mas de uma maneira séria, como se ele estivesse me analisando e ao mesmo tempo chateado com algo, provavelmente por eu ter ido embora naquela manhã de sábado. Mas depois do que eu vi naquele restaurante eu sabia que havia agido da forma correta. nunca mudaria. Então desviando o meu olhar, que já estava sendo invadido pelas lágrimas, eu dei meia volta e saí daquela sala, pedindo a Deus que não me fizesse cruzar com naquele dia novamente.

(...)


, , e eu chegamos à casa de campo próximo ao horário de almoço no sábado, Emily e Enzo, amigos de também estavam conosco, já que a minha pequena havia insistido para levar os dois reclamando que não teria com quem brincar em meio a tantos adultos, pois Charlie ainda era muito pequeno segundo ela e só sabia dormir. Por algum milagre não pegamos muito trânsito durante o caminho. Jake, que também havia sido convidado, mas que ficaria por lá apenas durante a tarde, por um motivo que eu não havia entendido completamente, já que era final de semana e nenhum de nós iria trabalhar, também chegou logo em seguida e estacionou ao nosso lado. O restante do pessoal parecia já estar na casa e eu tive que respirar fundo antes de seguir adiante, aquele provavelmente seria um longo final de semana.
- Finalmente vocês chegaram! – Penny exclamou assim que atendeu a porta. – Entrem, vou mostrar a vocês os seus quartos, o resto do pessoal esta lá fora na área da piscina aquecida, vamos guardar as suas malas e seguir pra lá. – ela disse não nos dando tempo para repostas e parecendo estar completamente animada naquele dia.
- Essa casa é linda, Penny. – elogiou enquanto percorríamos os corredores da casa em direção aos quartos. O local possuía apenas um andar, mas a casa era extremamente ampla e arejada, e tinha um bom número de quartos, como uma típica casa de fazenda.
Alguns minutos depois estávamos indo em direção a parte externa onde os outros convidados estavam, éramos apenas o nosso grupo seleto naquele momento, os caras da banda, as meninas, Jake, as crianças e eu. O restante do pessoal - familiares e amigos - apareceria no final da tarde para a festa que Penny e haviam preparado, mas apenas nós passaríamos a noite no local. estava visivelmente entusiasmada com aquele lugar e vestida em trajes de banho, logo correu com seus amiguinhos a nossa frente curiosa para ver a área da piscina, que apesar daquele dia estar um pouco fresco, Penny me garantiu ser aquecida, por isso não havia problemas em deixar as crianças nadarem nela.
Os rapazes estavam todos espalhados pelo local, grelhava carne na churrasqueira, enquanto e faziam guerra de água na piscina como duas crianças. E mais a frente encontrei quem eu queria evitar. estava sentado sobre uma espreguiçadeira, mas ele não estava sozinho. Sarah estava novamente ao seu lado e eles pareciam estar tendo uma conversa séria, pelas expressões em seus rostos. O que ela estava fazendo aqui? Senti meu estomago se embrulhar ao ver aquela cena. Os dois juntos novamente. Desviei o olhar tentando me livrar daquele sentimento estranho e procurando por , que já estava perto da borda da piscina.
- ! – chamei e ela me encarou confusa, enquanto eu caminhava até ela. – Lembra o que eu disse sobre vocês três próximos a piscina sem um adulto por perto?
- Mas mãe, o tio e o tio estão ali dentro. – ela respondeu emburrada.
- Minha querida, e não são bons exemplos de adultos. – que surgiu ao meu lado disse rindo.
- Hey, eu ouvi isso, doutora! – se aproximou da borda. – E saiba que sou um excelente exemplo de adulto, você mesma pode comprovar isso dois dias atrás. – ele a encarou com um sorriso torto nos lábios.
- Cale a boca, . – respondeu se afastando em direção a Penny e que estavam cuidando da churrasqueira. riu alto e logo saiu da piscina correndo atrás delas. Eu rolei os olhos diante da cena.
- Que idiota. – Ouvi dizer e me virei o encontrando também à borda da piscina. – Que bom que vocês chegaram. – ele me cumprimentou sorrindo.
- Bom ver você, . – sorri em resposta.
- Mãe. – chamou e eu a encarei. – Deixa a gente entrar na água. – ela fez bico, acompanhada de Emily e Enzo.
- Ah, isso não é justo! Agora os três vão ficar fazendo bico pra mim? – perguntei achando graça naquilo, mas permaneci séria.
- Eu cuido das três pestes, . Pode deixar. A piscina nem é muito funda. – disse dando de ombros.
- Viu, tio cuida da gente. – exclamou contente.
- Eles não vão mesmo atrapalhar? – perguntei a e ele negou. – Tudo bem então, mas obedeçam ao tio . E quando o almoço estiver pronto quero todos fora da piscina sem reclamar. – mandei e os três assentiram contentes. os pegou um a um e colocou na piscina na parte mais rasa, brincando com eles em seguida.
Jake se aproximou de mim com um sorriso no rosto, ele vestia uma regata branca e bermuda azul escura e eu me peguei encarando o seu corpo. Nós éramos apenas amigos agora e eu poderia estar envolvida novamente por tudo aquilo que eu sentia por , mas Jake Evans era um homem bonito e era difícil não encará-lo vestido daquela forma.
- Quer que eu ajude o a conter as ferinhas? – ele perguntou parando ao meu lado.
- Você faria isso? – perguntei sorrindo.
- Claro, até porque acho que o não vai conseguir lidar com aqueles três sozinho. – Jake disse rindo enquanto indicava tentando colocar ordem na bagunça que a minha filha e os amigos faziam na água, mas parecia mais que ele estava bagunçando com eles e eu tive que rir disso também.
- Tudo bem, são todos seus. – pisquei para ele e me virei seguindo até onde , e estavam, mas não sem notar me encarando da espreguiçadeira com o olhar cada vez mais sério. Eu preferi não falar com ele e passei por onde Sarah e ele estavam fingindo não vê-los.
- Então, o que temos de bom pra comer nessa casa? – perguntei a , assim que me aproximei deles.
- Já chega pedindo comida, nem ao menos me cumprimenta? Você já foi mais educada, . – ele resmungou sério, mas logo sorriu me dando um beijo no rosto.
- Tô com fome e já sou de casa, pra que essas formalidades? – disse e todos riram.
- Depois dessa eu não deveria, mas vou preparar um hambúrguer pra você. – sorriu e se virou para a churrasqueira.
- E aí, ... Você e o Evans voltaram? – perguntou me encarando com curiosidade no olhar.
- Deixa de ser fofoqueiro, . – disse beliscando sua barriga sarada desprovida de uma camiseta.
- Essa doeu. – ele reclamou esfregando o local.
- É pra você aprender a não ser fuxiqueiro e a não ficar andando seminu por aí. – ela disse dando de ombros e ele a encarou com um sorriso malicioso no olhar.
- Tá com ciúmes, gata? – perguntou a abraçando por trás.
- Vê se me erra, . Vou ajudar Penny na cozinha. – ela disse se desvencilhando dos braços dele e andando em direção a casa.
- Essa doutora ainda vai me deixar maluco. – ele disse se jogando em uma cadeira que havia por perto.
- Minha amiga causa esse efeito nos homens, . – disse rindo e me sentando ao seu lado, ele suspirou. – Mas fique calmo, que eu acho que você esta indo pelo caminho certo. – pisquei para ele e sorriu, me abraçando de lado.
- Mas e então? Você e o Evans? – ele perguntou novamente e eu rolei os olhos pra sua curiosidade excessiva.
- Agora nós somos só amigos, . Só amigos. – o belisquei como havia feito e ele reclamou novamente de como nós éramos garotas violentas tentando mutilar o seu corpinho sarado.
- Olá . – Sarah cumprimentou se aproximando com um sorriso nos lábios, com ao seu lado. – Acho que não nos vimos ainda. – ela sentou por perto.
- Oi. – disse sorrindo de maneira falsa e ela riu. Aquela mulher me irritava. não disse nada e parou ao lado de , conversando algo com ele em um tom de voz tão baixo que não consegui entender. Aquele idiota estava me ignorando. Bom, eu sabia jogar o mesmo jogo.
- Vou ajudar as garotas na cozinha. – disse me levantando de repente.
- Mas e o seu hambúrguer? – perguntou.
- Depois venho pegar. – sorri e me virei seguindo em direção a casa, ansiosa para me livrar da presença nauseante de e Sarah.
Ocorreu tudo bem durante o almoço e também durante a festa que aconteceu no final da tarde. Consegui evitar na maior parte do tempo, mas ele não parecia querer conversar comigo de qualquer forma e aquilo me deixava ainda mais intrigada e brava.
Eu estava do lado de dentro da casa, descansando um pouco do barulho da musica alta que tocava lá fora, enquanto observada Jake e brincando com as crianças. Jake pegou no colo e a girou por um tempo enquanto ela ria escandalosamente. E eu sorri ao observar aquilo.
- Tira aquele cara de perto da minha filha. - a voz grave de me assustou e eu me virei notando ele me observar cada vez mais sério.
- O que? – perguntei tentando confirmar se havia ouvido direito.
- Eu não quero o Evans perto da . – ele disse parecendo enciumado.
- Jake sempre brincou com ela, . Não vou afastá-los agora só porque você quer. – eu disse dando de ombros e me virando novamente para a janela, e notei que não havia mais ninguém brincando por lá.
- Eu também tenho meus direitos, . – me virou diante dele, apertando meu braço.
- Me solta. – eu disse brava.
- Não, porque senão você vai fugir novamente. – os seus olhos tinham uma tonalidade mais escura enquanto ele me encarava, eu sabia que ele estava com raiva por isso.
- Aprendi isso com você. – dessa vez eu não desviei o olhar e o encarei com a mesma intensidade. Algo pareceu mudar em seu olhar.
- Afasta o Evans da . – ele repetiu novamente, ainda apertando o meu braço.
- Por que eu faria isso, ? – respondi com deboche.
- Porque ela é MINHA FILHA, porra! – ele gritou irritado.
- Tio é o meu papai? – nós ouvimos aquela voz infantil dizendo e rapidamente nos viramos em direção à porta. estava parada nos encarando com os olhos arregalados, Enzo e Emily ao seu lado.
- . – e eu dissemos juntos, paralisados por um instante, perdidos.
Mas eu logo me recuperei do choque e me soltei dele, caminhando em direção a minha pequena, que tinha os olhos assustados.
- O meu papai que tava no céu é o tio ? – ela nos encarava com uma confusão de sentimentos no olhar.
- Filha, vem cá, a mamãe vai explicar. – me aproximei, mas ela se escondeu atrás de Enzo.
- Gatinha, nós precisamos conversar com você. – se colocou ao meu lado e se encolheu ainda mais.
- O que ta acontecendo aqui? – Penny surgiu na sala, com os outros a sua cola. rapidamente correu para ela e começou a chorar em seu colo.
- Me deixa conversar com ela, Penny. – pediu se aproximando e tocando seus cabelos e eu notei a minha filha soluçar cada vez mais assustada.
- Sai de perto dela! Deixa que eu resolvo, . – praticamente rosnei para , o empurrando para longe de que se escondia no colo de Penny cada vez mais e ele ficou ainda mais irritado. Mas acabou me obedecendo, e saiu pela porta dos fundos em direção ao jardim, e foram atrás para tentar acalmá-lo e eu ouvi quando algo se espatifou lá fora. Eu não queria continuar aquela briga com ele, mas eu precisava proteger a minha filha agora e se isso significava mandá-lo para longe, eu não me importava se ele estivesse chateado com a minha atitude.
De repente todos ficaram em silêncio, absorvendo toda aquela confusão, até que quebrou o momento de tensão soltando mais uma de suas pérolas.
- Agora que toda a merda já foi jogada no ventilador e a sujeira tomou conta de tudo, nada mais vai poder ser feito pra impedir o fedor de se espalhar. - disse seu estranho pensamento filosófico dando de ombros e logo se encolheu quando lhe deu um pisão no pé e Penny o fuzilou com o olhar. - O que? Eu só disse a verdade! - ele exclamou confuso.
- , você tão é lindo, pena que não tem nenhum filtro nessa porcaria de boca. - murmurou para ele, que a encarou com um misto de admiração e indignação no olhar. - Você não achava a minha boca uma porcaria quando a estava beijando alguns minutos atrás. - ele sussurrou baixo próximo ao ouvido dela abraçando-a pela cintura, mas como eu estava ao seu lado também ouvi. E notei quando a minha amiga corou e o empurrou levemente para longe.
- Idiota pretensioso. - ela disse completamente envergonhada. riu, envolvendo a cintura dela novamente, o que a fez sorrir, era bonito ver a sintonia entre aqueles dois. Eles eram o casal mais improvável de todos, mas eu adorava vê-los juntos, por mais que eles ainda tentassem se esconder e negassem que agora rolava algo mais que amizade colorida entre eles.
Mas eu não poderia me focar em e nesse momento, eu não tinha tempo para isso, a minha prioridade agora era , que estava agarrada ao pescoço de Penny, tentando se esconder de mim, completamente chateada.
- Vamos deixar elas a sós, . – disse sempre me entendendo tão bem e assentiu. – Venha você também, Jake. – ela chamou e os três seguiram com as crianças para os fundos da casa.
- Filha. – me aproximei tentando chamar sua atenção, mas ela escondeu mais ainda o seu rosto. – A mamãe precisa conversar com você, . Eu preciso explicar. – pedi tentando acariciar os seus cabelos, mas ela se esquivava a todo custo.
- Não. – ela murmurou com a voz embargada e ouvir o seu choro em seguida partiu meu coração em milhões de pedaços e os destroços foram maiores do que quando me deixou. Eu tinha magoado a pessoa mais importante da minha vida. E aquilo doía como brasas queimando no inferno.
Penny nos observava e quando a encarei vi em seu olhar que ela se sentia completamente de mãos atadas em relação aquela situação. Ela tentava acalmar que continuava negando proximidade comigo.
- Deixa eu tentar acalmá-la um pouquinho . Dê um tempo para ela, depois vocês conversam. – Penny pediu e relutante eu assenti seguindo em direção ao meu quarto, completamente arrasada com tudo aquilo.
Eu queria culpar por ter revelado aquele segredo, mas no fundo eu sabia que a culpa era toda minha. Eu havia escondido aquilo de , eu havia partido o seu pequeno coração. Eu era o monstro da vez.
(...)

Um tempo depois a casa parecia mais calma, os convidados da festa haviam ido embora, dentre eles Jake, que me disse para ligar caso precisasse de algo. E a advogada irritante de , Sarah.
Por falar nele, ainda estava do lado de fora da casa junto de , e que tentavam acalmá-lo a todo custo. tentou me consolar, quando mais uma vez eu voltei do quarto de Penny, onde estava, recebendo mais uma negativa de sua parte. A minha pequena não queria falar comigo e aquilo me matava.
Tentei contato com por mais algumas vezes durante a noite, mas na ultima vez em que fui até o quarto, ela havia dormido. Então, desanimada, voltei ao meu quarto, me deitando encolhida sobre a minha cama, deixando que algumas lágrimas caíssem do meu rosto enquanto me sentia triste com toda aquela situação. Eu deveria ter pegado no sono quando o barulho da porta se abrindo de uma só vez me colocou desperta.
- Que porra você pensa que esta fazendo? - entrou gritando um tempo depois, sem ao menos pedir licença e me encarou furioso, enquanto fechava a porta atrás de si.
- Desculpa, mas acho que quem deveria estar fazendo essa pergunta sou eu. Como você entra assim no meu quarto sem... - eu dizia enquanto me levantava da cama pronta para expulsá-lo do quarto, quando ele me interrompeu.
- Foda-se a etiqueta nessas horas, . Foda-se! - ele gritou de novo, ainda me encarando de forma intensa. – Eu não aguento mais isso! Não aguento mais ver você se afastando de mim, ou me usando. Não aguento me lembrar da reação da , de como ela estava assustada. Não quero mais isso, .
- Do que você esta falando, ?! - disse já irritada com a sua atitude incompreensível. – Você bebeu? – perguntei, mas ele ignorou aquela pergunta se aproximando de mim.
- Você não pode se casar com ele. - ele disse de repente, e notei o medo dominar a raiva que estava estampada em seu olhar.
- Como você soube sobre isso? – o encarei confusa, sorriu debochado e com isso o meu sangue ferveu. - Você não manda em mim. Você não tem nada a ver com a minha vida. – disse, ainda estava brava com ele e comigo mesma, por tudo o que havia acontecido. - Você não pode se mudar com ele pros Estados Unidos. Não pode levar minha filha pra longe de mim. Vou procurar o Dr. Peterson, eu posso te impedir de fazer isso. - ele ameaçou, me ignorando de novo e continuou falando enquanto caminhava na minha direção parecendo transtornado.
- De onde você tirou essa ideia? - perguntei confusa com aquela história de mudança e soltou um riso de escárnio. Jake havia sim me pedido em casamento, mas não havia dito nada sobre nos mudarmos pra América e de qualquer forma, não haveria casamento algum.
- Você não pode ir. - ele repetiu cada vez mais próximo. – Eu posso falar com Sarah também, ela vai me ajudar.
- Eu já disse que você não manda em mim, ! – explodi assim que ouvi o nome daquela advogadazinha, cada vez mais irritada. – E essa conversa sobre casamento é tão... – eu dizia quando ele me interrompeu, me deixando ainda mais brava.
- Mas eu sou o pai da e você não pode me afastar dela assim! - ele disse novamente bravo.
- Oh, você deixou isso bem claro horas atrás , e criou toda aquela confusão. nem esta falando comigo por sua culpa! Mas saiba que ela viveu muito bem sem você durante três anos, não acho que você fará falta. - falei tentando atingi-lo porque estava nervosa com aquela discussão inesperada e me encarou surpreso e magoado.
- Sua megera. - ele murmurou. - Você não vai me separar dela, . - ele agora estava parado bem na minha frente, eu sentia a sua respiração quente bater no meu rosto, ele tinha sim bebido de novo.
- A sua opinião não me interessa. Mas mesmo assim eu quero esclarecer que... - disse, olhando bem em seus olhos e fui novamente interrompida.
- Sua vadia egoísta... - ele disse, e sem pensar duas vezes minha mão acertou o seu rosto em cheio. me encarou surpreso, não sei se pelo tapa que havia levado, ou por ter se dado conta do que ele iria dizer em seguida, ele tocou o lado do rosto onde eu havia o esbofeteado e que agora estava vermelho e com a marca da minha mão expressa nele. Eu olhei para ele imediatamente, me sentindo brava e arrependida ao mesmo tempo. Eu era uma confusão ambulante.
se aproximou e tomou meu pulso, num movimento rápido puxou meu corpo em direção ao seu e sem hesitar me beijou, de uma maneira que ele nunca havia feito antes. Ele agarrou os meus cabelos da nuca com a outra mão e aprofundou o beijo, parecendo querer se fundir ao meu corpo. Eu não tinha mais controle, meu cérebro dizia para eu me afastar, mas o meu corpo se envolvia ainda mais ao seu.
- Me perdoa, eu não queria dizer aquilo, sou um idiota, um imbecil, mas eu sinto tanto sua falta. E ver você de novo perto dele me deixa louco de raiva. - ele disse entre beijos com um olhar arrependido tomando o seu rosto. – Não vai embora. Me deixa te ajudar com a . Não me deixe de fora de novo. – e ele me beijou novamente sem esperar respostas.
E então ele me deitou sobre a cama, sem afastar os lábios dos meus por um segundo, se encaixou sobre mim e eu notei que aquilo já estava indo longe demais quando senti as caricias ficarem cada vez mais perigosas. A sua mão tocando o meu seio esquerdo, suas pernas entrelaçadas as minhas, o volume entre as suas pernas cada vez mais notável. A lembrança do que ele havia acabado de me dizer preencheu a minha mente. Eu não podia continuar com aquilo. Mas eu não queria parar e me sentia uma mulher fraca e masoquista por isso.
- Não, . Para. - consegui dizer entre o beijo e ele imediatamente parou. me olhou e eu não consegui identificar o que se passava pela sua cabeça naquele momento. Ele se levantou, se afastando de mim e levou uma das mãos ao cabelo, o puxando com força e soltando murmúrios indecifráveis. Depois da mesma forma com que havia chegado, ele se preparou para partir, sem dizer nada. Pronto para me deixar sozinha e confusa, mas o meu corpo reagiu por conta própria e antes que saísse eu corri e o abracei, olhando em seus olhos confusos e os ignorando enquanto o beijava em seguida.
Ele tentou dizer algo entre o beijo, mas eu o impedi. Se palavras fossem ditas, aquele momento com toda a certeza acabaria num passe de mágica. O puxei pelo colarinho da camisa em direção a cama onde estávamos deitados antes, acariciava a minha cintura por baixo da blusa, enquanto minhas mãos se embrenhavam sobre o seu cabelo já bagunçado. Ele soltou um gemido baixo, quando eu dei uma leve mordida em seu lábio inferior e eu agi da mesma maneira, quando suas mãos avançaram sob a minha blusa e envolveram os meus seios sobre o sutien.
- Eu... – tentou novamente e eu pedi que ele se calasse, voltando a beijá-lo intensamente. Eu não podia pensar naquele momento, eu não queria pensar. Queria apenas sentir o seu corpo envolto ao meu, queria apenas sentir o prazer e carinho que só ele sabia me dar mais uma vez. Como eu precisava do seu carinho. Precisava do meu melhor amigo de volta.
- Eu não vou me casar com ele, . – sussurrei entre o beijo enquanto o encarava com intensidade no olhar e ele me retribuiu com a mesma intensidade enquanto um sorriso despontou no canto dos seus lábios e ele voltou a uni-los aos meus mais uma vez.


“As brigas são como o ensaio de um grande amor”.
- Júnior Medeiros








”Você pode quebrá-lo. Você pode queimá-lo.
Você pode guarda-lo em uma caixa. Enterrá-lo no chão.
Você pode tranca-lo. Você pode afastá-lo.
Tentar diminuí-lo seis pés abaixo do chão.
Mas o amor não morre."
- The Fray.




’s POV.

Acordei sentindo os braços de envoltos na minha cintura, aquilo era tão familiar e confortável que me fazia querer ficar entre eles pro resto da vida. Nós havíamos dormido juntos de novo, e eu tinha prometido a mim mesma que aquilo nunca mais aconteceria. E aconteceu. Sentia como se estivesse agindo como uma mulher louca, mas o sentimento que eu nutria por desde que nos conhecemos ainda era muito forte e parecia ter ressurgido com tudo na minha vida. Dessa vez eu não iria fugir, eu precisava enfrentar aquilo, precisava seguir o meu coração. Por mais confusa que eu estivesse. Mas eu tinha alguém mais importante para me preocupar naquele momento. Eu precisava ver como estava. Então, com cuidado, tentei me desvencilhar daqueles braços sem acordá-lo, mas o pequeno movimento que executei fez com que me apertasse ainda mais contra si.
- Onde a senhorita pensa que vai? – ele murmurou com a voz rouca de quem havia acabado de acordar, bem próximo ao meu ouvido e o meu corpo todo reagiu àquela proximidade, me fazendo demorar um pouco para responder.
- Eu... Preciso ver a . – respondi enquanto tentava me virar para ficar diante dele. me encarou com compreensão nos olhos.
- Você vai me deixar fazer parte disso? – ele perguntou me lembrando do seu pedido na noite anterior. Eu simplesmente assenti. – Só precisamos ter um pouco de paciência e dar tempo a ela, pra que ela se acostume com tudo isso. Ela é pequena e mesmo assim deve estar muito confusa. – ele disse me abraçando, conversando como se nós nunca houvéssemos nos separado, como se ainda fossemos um casal no inicio de tudo que discutia junto aquele tipo de coisa, que tentava chegar a um consenso.
- Acho que ela me odeia, ontem ela nem quis falar comigo. – disse sentindo as lágrimas virem aos meus olhos quando me lembrei da reação da minha pequena. – E é tudo minha culpa, eu não deveria ter escondido isso dela.
- Talvez não devesse ter mesmo, e eu não concordei com o que você havia feito por um tempo, mas agora eu começo a compreender os seus motivos. E a nossa pequena também irá entender. – disse acariciando meu rosto. – Ela não te odeia, Ju. E nunca vai odiar. Você é a mãe que sempre cuidou dela, deu amor e carinho, por todo esse tempo. Tentou suprir a falta de um pai, a minha falta, na vida dela da melhor maneira. Ela só esta confusa e magoada. Mas ela vai nos perdoar. – ele sorriu confiante, tentando arrancar um sorriso do meu rosto. Mas eu não iria conseguir sorrir enquanto não resolvesse tudo com .
- Espero que você esteja certo. – murmurei com a voz embargada.
- Eu estou. – ele respondeu dando um leve selinho nos meus lábios. Um gesto carinhoso, tão cotidiano, automático. Tão nostálgico. – E , eu não quero te pressionar, mas você sabe que em algum momento nós teremos que ter uma conversa sobre nós mesmos, não sabe? – ele perguntou parecendo ansioso.
- Sei, mas nós teremos tempo pra isso , minha prioridade agora é e sempre será a . – respondi me afastando dele, pronta para levantar daquela cama.
- Ela esta no topo da minha lista também, não se preocupe, sei que logo tudo irá se resolver. – ele disse, enquanto já estava de pé ao meu lado e rapidamente vestia suas roupas que estavam jogadas pelo chão do quarto. – Agora vamos até lá encarar a nossa pequena ferinha. – ele se virou sorrindo assim que ficou pronto e logo deixávamos o local, prontos pra confortar a nossa pequena filha.
- Acho melhor eu ir na frente. – comentei enquanto caminhávamos pelo corredor. me encarou confuso. – Não que eu queria esconder nada de ninguém ou te manter afastado enquanto converso com a , mas é melhor não criarmos boatos por enquanto entre os nossos amigos. Eu vou até a cozinha, você espera uns segundo e depois aparece, certo? – expliquei e ele apenas assentiu completamente sério. Eu suspirei e segui o meu caminho.
Assim que cheguei à entrada da cozinha ouvi as vozes animadas dos meus amigos, que provavelmente estavam tomando o café da manhã naquele momento, antes que todos partissem de volta para a cidade.
- Bom dia. – respondi, com um sorriso fraco nos lábios e todos me cumprimentaram. Logo, me aproximei de onde Penny estava. – E a minha bebê, Penny? – perguntei, procurando por .
- está com ela, Charlie e os amiguinhos lá fora, brincando. – ela apontou para o grande quintal. E eu me virei vendo-os ao longe. – Ela já esta um pouco melhor, . Mas decidiu distraí-la mais um pouco antes de vocês conversarem.
- Tudo bem, obrigada por cuidarem tão bem dela durante a noite. – agradeci sincera.
- Amo aquela pestinha, não foi trabalho algum. Espero que tudo se resolva logo. – Penny respondeu segurando a minha mão, enquanto tentava me transmitir força. – Agora senta aqui do meu lado e coma algo! – ela exigiu.
- Eu não estou com fome, quero falar logo com a minha pequena. – respondi, quando finalmente adentrou a cozinha.
- Bom dia. – ele cumprimentou a todos com a aquela voz rouca que me causou um arrepio bom, que há tempos eu não sentia. Seus olhos logo pousaram sobre mim e ele me encarou por um momento que pareceu eterno, quando chamou a nossa atenção.
- deve estar faminto, porque esta quase comendo a com o olhar. – ela disse sorrindo maliciosa. rapidamente desviou o olhar, parecendo desconfortável e eu logo senti meu rosto esquentar de vergonha.
- Cala a boca, . – resmunguei entre dentes.
- Depois sou eu que não tenho filtro, não é querida? – respondeu, e todos gargalharam em seguida.
- Apenas constatando um fato. – ela disse dando de ombros e logo puxou um assunto qualquer, piscando pra mim, tentando aliviar o clima e eu o agradeci mentalmente por isso.
- Eu vou lá fora. – comentei com Penny que estava ao meu lado e ela assentiu.
- Eu vou com você. – disse em seguida, chamando a atenção de todos. Mas ninguém se atreveu a tecer nenhum comentário naquele momento.
Caminhamos lado a lado, até a área externa da casa, tocava uma canção infantil no violão, parecendo querer distrair as crianças, que o acompanhavam cantando a musica. Eu sorri ao mirar , parecendo um pouco mais feliz do que na noite anterior quando suas lágrimas fizeram meu coração se partir. colocou o braço em volta do meu ombro e apertou meu braço direito, tentando demonstrar apoio, eu o encarei com um leve sorriso no rosto e juntos nós nos aproximamos de onde eles estavam. E aguardamos em silêncio, enquanto encerrava a canção.
- Pronto pestinhas, agora é hora de irmos arrumar nossas coisas pra voltar pra casa. – ele disse se levantando e sorrindo para e eu.
- Ah! – as crianças disseram em coro, parecendo não querer sair dali.
- Sem “Ahs”, vamos logo! Não estão com saudades dos pais de vocês? – ele perguntou, Emily e Enzo assentiram efusivamente, mas permaneceu quieta. Eu suspirei novamente, me sentindo nervosa. – Então vamos! – ele disse com Charlie agora em seu colo, esperando as outras crianças seguirem para a cozinha. – , acho que alguém quer falar com você. – ele apontou em nossa direção e minha pequena se virou, finalmente encarando e eu. A confusão tomando conta dos seus olhos. Ela agarrou a perna de , parecendo ter medo. – Hey princesa, aquela é a sua mamãe, você não a ama muito? Não é ela que sempre cuidou de você? – a encarou com um sorriso no rosto e assentiu. – Então vá lá falar com ela e fazer as pazes. – ele pediu, enquanto lhe dava um beijo na testa e se afastava seguindo o caminho que Emily e Enzo haviam feito segundos antes.
e eu nos aproximamos de , aquela pequena menininha linda que era uma junção perfeita de e eu, nos encarou de pé parecendo perdida. se sentou sobre a grama ao seu lado e eu imitei o seu gesto me sentando do outro lado. Ela logo nos acompanhou, mas ainda em silêncio.
- Esta melhor meu amor? – perguntei passando a mão em seus cabelos, ela ainda estava emburrada, então se esquivou e surpreendentemente se sentou mais próxima a , que a pegou em seu colo sem que ela protestasse. – A mamãe esta tão triste e preocupada com você, . Por que não fala comigo? – pedi novamente.
- Você é mesmo meu papai, tio ? – ela encarou , me ignorando e aquilo me deixou ainda pior. Ele olhou em minha direção parecendo culpado e suspirou antes de responder.
- Sim gatinha, sou o seu papai. – ele afirmou agora a encarando.
- Mas por que você não mora comigo e com a mamãe então? – ela perguntou tão inocente. – Por que mamãe disse que você estava no céu? – questionou de novo e senti um nó na garganta me sufocando. Era tudo culpa minha. também pareceu emocionado com a pergunta e me olhou procurando saber se eu deixaria que ele respondesse aquilo. Não teria jeito, aparentemente não estava falando comigo, então eu assenti em silêncio, enquanto ele tirava a duvida da nossa filha.
- Mamãe e eu acabamos nos afastando antes de você nascer, porque papai fez besteira e ficou muito ocupado com a banda. Então eu fui embora e mamãe não teve mais noticias minhas. Por isso ela disse aquilo, ela não sabia onde eu estava e eu não sabia que você existia. – ele respondeu acariciando seus cabelos. o encarava atenta a cada palavra.
- Como você encontrou a mamãe então? E como agora você sabe que é meu papai? – ela fez mais perguntas difíceis pra uma criança tão pequena, como se ainda duvidasse de tudo e me pediu ajuda com o olhar, eu me aproximei deles, me sentando ao lado de .
- Lembra daquele dia em que você ficou dodói do ouvido e a mamãe te levou pra clinica da tia ? – disse e assentiu em silêncio. – Aquele dia, seu pai nos viu, ele me encontrou após muito tempo e depois logo soube que você era filha dele. Seus olhos são iguais aos dele bebê, vocês tem o mesmo sorriso, não há como negar. – eu disse, com os olhos lacrimejando, enquanto me encarava com um sorriso no rosto.
- Por que ele não foi morar com a gente de novo então? – ela perguntou diretamente a mim, pela primeira vez. – Se ele é meu papai e você minha mamãe, por que nós não somos como a família do Enzo ou a da Mimi? – concluiu parecendo confusa.
- Como seu papai disse, nós nos afastamos por um tempo e só nos encontramos de novo agora. Eu tenho a minha casa e a minha vida, morando com você e a tia e ele tem a casa dele, a vida dele. Mas mesmo que não estejamos morando juntos ele ainda é seu pai e acho que a partir de agora vocês ficarão sempre por perto um do outro. Lembra-se quando ele te levou pra passear após o ballet? Ou quando ele te deu o Panqueca? – perguntei e ela assentiu. – Seu pai quer ficar perto de você, mesmo não morando junto.
- Por que você disse que ele tava no céu? – ela fez a pergunta novamente, agora para mim. Parecia triste com isso, com toda a razão.
- Porque mamãe achou que era melhor assim, porque achei que nós nunca mais iriamos ver o papai de novo e eu não queria que você sofresse com isso, bebê. Eu só queria cuidar de você, minha princesa. Essa é minha meta de vida. Você é a pessoa mais importante na minha vida e eu faria tudo pra te proteger, porque te amo muito, . Você pode perdoar? – levei minhas mãos até o seu rosto, a acariciando. fungou, de repente se lançando no meu colo e me abraçando.
- Perdoo mamãe. – ela disse com o rostinho vermelho e os olhos brilhando, meu coração se partia ao vê-la daquele jeito. – Também te amo. - E eu a apertei nos meus braços, sentindo logo em seguida os braços de ao nosso redor, também nos abraçando, enquanto nós duas agora derramávamos lágrimas em silêncio e me encarava com os olhos brilhando contendo as suas lágrimas.
- Tio vai voltar pra casa com a gente? – perguntou um tempo depois referindo-se a nossa viagem de volta, ela ainda o chamava de tio, notei com um sorriso amarelo nos lábios, eu sabia o que ele queria ouvir dela, ele queria que ela o chamasse de pai, mas sabia também que aquela história que havia acabado de ouvir e aceitado tão estranhamente bem, ainda levaria tempo para fazer sentindo. Ela era uma criança inocente, esperta em muitos aspectos para a sua idade, mas inocente. E eu sabia que levaria um bom tempo até que ela se acostumasse com aquela condição, até que ela o chamasse de pai. Eu esperava do fundo do meu coração que compreendesse aquilo também.
- É tão bom ter vocês por perto finalmente. – ele disse me puxando pela cintura e segurando nós duas em seus braços, tentando disfarçar a decepção em seus olhos por ainda chama-lo de tio. Nós parecíamos uma família feliz. Mas ainda estávamos longe disso. Tanta coisa precisava ser conserta e esclarecida ainda.
- Vai tio ? – Sophie perguntou de novo, já que parecia ter se esquecido de responder.
- Ah, claro. Não sei pequena o... Tio ... – ele parou por um momento e sorriu fraco novamente, se esforçando agora a falar daquela forma para não força-la a chama-lo de pai. - Eu vim pra cá de carona com o tio e o tio . Mas se não tiver problema, posso voltar com vocês. – ele sorriu me encarando.
- Nosso carro está um pouco cheio. – disse me lembrando das três crianças que iriam no assento traseiro e de ao meu lado. E talvez, no fundo, eu quisesse um tempo junto de , afastada de , só pra colocar tudo em ordem antes de ter a conversa definitiva com ele. me encarou com um bico enorme no rosto, e não querendo brigar com ela novamente, voltei atrás. – Bom, podemos ver com a tia se ela não pode voltar com o tio , assim seu pai poderá ir conosco. – sugeri vencida e os dois me olharam com um sorriso idêntico em seus rostos não negando o parentesco que havia entre eles. De agora em diante eu sabia que estava perdida se eles sempre agissem daquela forma adorável em conjunto.

(...)

Mais tarde naquele dia após ter deixado Enzo e Emily em suas casas, parei o carro diante da casa onde morava. Desde o primeiro dia em que havia estado ali, achei o local lindo, mas um pouco grande demais para um cara que vivia sozinho. Aquele era um bairro de subúrbio, perfeito para famílias criarem os seus filhos, não pertencia aquele grupo e eu preferia não imaginar as suas intenções futuras com a compra de uma casa naquele local.
e ele vieram tagarelando e cantando musicas aleatórias, incluindo as da banda dele que ela conhecia, durante todo o caminho. Ela parecia contente por ter descoberto que era seu pai, talvez por ser ainda tão pequena e tão inocente, ela não havia se revoltado da forma que eu pensei que aconteceria quando imaginava a cena daquele dia. Claro, ela ficou triste e irritada conosco, principalmente comigo no minuto em que descobriu, mas agora após termos conversado ela parecia estar levando aquilo tudo muito bem e eu ficava aliviada por isso.
- Podemos entrar pra ver o Panqueca, mamãe? – perguntou, me tirando dos meus pensamentos. estava sentado ao meu lado nos encarando com um sorriso ansioso nos lábios.
- onde estão os seus modos? Você não pode se convidar assim pra casa de alguém. – disse a repreendendo de brincadeira. Ela fez bico e eu sorri. - Não sei gatinha, já esta um pouco tarde, seu pai deve estar cansado. É melhor voltarmos logo pra casa, você pode vê-lo outro dia.
- Mas mamãe! Eu estou com saudades dele. Tio deixa, não deixa? – ele o encarou e simplesmente assentiu com um sorriso besta no rosto. Aquilo já demonstrava o tipo de pai que ele seria com ela. Do tipo que faz tudo o que a sua menininha quer. Do tipo que ira deixa-la mimada. Aquilo era algo adoravelmente fofo, mas eu estava ferrada, pois eu teria que ser a chata da vez, teria que ser aquela que diz não. Obrigada, . - Por favorzinho. – ela pediu fazendo aquele bico novamente e infelizmente estava conseguindo tudo com aquilo no momento, porque eu ainda tinha medo de deixa-la triste após tudo o que ela descobriu. Mas as coisas voltariam ao normal em breve.
- Pra mim não tem problema, eu iria gostar muito de ter vocês aqui em casa hoje. Podemos até jantar juntos, eu cozinho uma massa, que tal? – sugeriu me encarando com expectativa.
- Desde quando você cozinha? – o encarei rindo. - Eu me lembro muito bem daquela vez que você tentou fazer um macarrão instantâneo em casa, o que seria a coisa mais fácil do mundo, até uma criança que já sabe ler poderia fazer, já que ele vem com instruções atrás e elas são bem detalhadas e bastava você colocar em um pouco de água fervente e deixar por três minutos e acrescentar o tempero. Mas você surpreendentemente conseguiu queimar o bendito macarrão, . – zombei dele com um sorriso no rosto. Ele revirou os olhos e depois sorriu.
- Eu posso ter aprendido a não deixar o macarrão queimar com o tempo, afinal de contas tenho que me virar enquanto moro sozinho. Mas espero que isso não dure muito tempo. – ele me deu um olhar sugestivo que eu preferi ignorar.
- Mamãe! Posso ver o Panqueca? – me chamou novamente, esperando a minha resposta. Eu suspirei vencida.
- Tudo bem, vamos entrar por alguns minutos. – resmunguei desligando o carro que estava parado em ponto morto.
- Vocês vão ficar para o jantar. – se virou, afirmando para que sorriu e depois ele retornou o olhar para mim piscando, eu o fuzilei com o olhar.
- Youhuuuu! – ela gritou, erguendo os braços alegre. E eu não pude ficar brava com ele por muito tempo.
Assim que adentramos a casa chamou pelo gato que não apareceu, claro, felinos eram sempre tão autossuficientes, por isso eu preferia os cachorros, mas não achava que ela poderia lidar com qualquer animal de estimação ainda. Por isso não a deixava leva-lo para casa. Notando que o gato não estava ali pela sala ela seguiu correndo em direção a cozinha, já se sentindo muito intima do local, enquanto eu fiquei parada a porta, sentindo o completo oposto.
- , o que eu já te disse sobre correr por aí?! – falei alto assim que ela sumiu cozinha adentro.
- Desculpe mamãe! – ela gritou. – Encontrei ele! – disse em seguida e surgiu na sala novamente sorrindo, acariciando o pequeno gato em seus braços, que parecia confortável com aquilo.
- Você vai ficar mesmo parada aí, agarrada a essa bolsa, como se fizesse parte da porta? – me encarou, sentando-se no sofá da sala. – Vem até aqui. Eu não mordo, a não ser que você peça. – ele sussurrou a ultima parte, sorrindo sugestivo. Eu senti um calor seguir do meu coração em direção ao sul do meu corpo. E respirei fundo tentando me livrar daquilo. Aquele desejo repentino por ele não me faria bem.
Atravessei a sala e me sentei em uma poltrona ao seu lado, sorriu com o meu gesto e logo sentou-se perto dele, com o gato no colo, tagarelando novamente sobre como sentiu falta do bichinho e prestava atenção em tudo o que ela dizia com genuíno interesse, aquilo causou um sorriso enorme no meu rosto.
- Bom princesa, tio vai preparar o jantar, enquanto isso fique sentada aqui assistindo televisão e brincando com essa bola de pelos. – ele sorriu após ligar o aparelho e deu um beijo na testa dela antes de se virar pra mim. – , quer me ajudar?
- Achei que você iria me demonstrar as suas novas habilidades culinárias, não me obrigar a ajuda-lo com o jantar. – disse sorrindo debochada.
- Eu vou preparar, não duvide de mim mulher! – ele afirmou, enquanto me puxava do sofá e envolvia um dos braços ao redor da minha cintura e me levava com ele em direção à cozinha. – Só quero conversar contigo enquanto isso e ficar admirando esse seu rosto e corpo lindos enquanto faço o jantar. – sussurrou enquanto caminhávamos para o local. Meu corpo inteiro se arrepiou com aquilo e eu me perguntei quando aquele efeito que ele causava em mim havia surgido, provavelmente ele esteve apenas adormecido durante todo o tempo em que ficamos separados, mas nunca morreu de verdade.
- Não se preocupe com o fato dela ainda te chamar de tio, vai levar algum tempo pra ela se acostumar, mas eu sei que logo ela te chamará de pai. Ela te adora, sempre te adorou, por mais que eu me negasse a aceitar isso. E além do mais, a reação dela diante de tudo esta sendo boa até demais. – eu disse com os braços cruzados sobre o peito, enquanto me encostava diante da mesa da cozinha, tentando saber o que ele estava sentindo a respeito daquilo. me encarou com um sorriso torto no rosto.
- Eu sei, . – ele disse simplesmente, suspirou em seguida dando de ombros, mas notei que ele queria muito que aquilo acontecesse logo.
se abaixou diante de um armário abaixo da pia procurando por algo e eu encarei descaradamente a sua bunda perfeitamente moldada por aquele jeans de lavagem clara que ele usava. O que estava acontecendo comigo? Céus! Eu não poderia ficar o desejando a cada segundo! Antes nós deveríamos ter uma conversa séria sobre tudo. Ele levantou com a panela funda e a colocou ao lado da pia, lavou as mãos e em seguida encheu o vasilhame com água, acendeu o fogão e a colocou sobre ele, virando-se novamente, pegando um avental pendurado em um gancho sobre uma porta lateral, que mais tarde eu conheceria como a despensa. colocou a alça sobre a cabeça e se aproximou de mim, virando-se de costas.
- Pode amarrar pra mim? – ele pediu e eu novamente me peguei encarando o seu traseiro. Droga!
- Pronto. – disse após um momento muito longo para fazer um simples nó. Ele se virou sorrindo de um jeito sapeca e envolveu minha cintura novamente com os braços, chegando mais perto, ficando com o rosto a centímetros do meu e logo me beijando sem aviso. Deixando o meu corpo completamente mole e entregue com apenas aquele gesto.
- Fiquei louco pra fazer isso durante toda a viagem de volta. – ele murmurou com os lábios ainda colados aos meus e em seguida puxou o inferior encerrando o beijo. Mil vezes droga! Eu parecia uma adolescente encantada diante dele outra vez.
- Melhor não fazermos isso, pode aparecer aqui a qualquer momento. – eu disse com a voz rouca, enquanto ele me encarava com os olhos escurecidos em algo que eu notei ser desejo e acariciava minha cintura por baixo da camisa xadrez que eu usava. – . – pedi novamente e ele me soltou suspirando a contragosto.
- Você vai me deixar louco, sabia? – disse se afastando novamente em direção aos armários. - Ok, vamos fazer o jantar!
- E qual será o cardápio? – perguntei, tentando aliviar o clima. Ele se virou e disse sorrindo.
- A melhor refeição do mundo, o seu prato favorito, macarrão com queijo! – disse piscando e eu sorri por ele ainda se lembrar daquilo.

[N/A: Ouça essa musica agora.]

Loving can hurt.
Loving can hurt sometimes.
But it's the only thing that I've known.
When it gets hard.
You know it can get hard sometimes.
It is the only thing that makes us feel alive.

We keep this love in a photograph.
We made these memories for ourselves.
Where our eyes are never closing.
Our hearts were never broken.
And time's forever frozen still.


Nós jantamos algum tempo depois, ele realmente havia aprendido a cozinhar, e eu o elogiei, mas ele logo confessou que aquela era a única coisa que ele havia aprendido a fazer até o momento e ele estava feliz por ser o meu prato favorito. Rimos daquilo, tomamos sorvete de sobremesa e enquanto eu o ajudava a organizar a cozinha, algo que tive que insistir para fazer, ficou na sala vendo algum filme da Disney, quando entramos no local a vimos dormindo deitada sobre o sofá, abraçada ao seu pequeno filhote de gato. Deus! Como eu amava aquela pequena criança.
- Acho melhor deitá-la na cama no quarto dela, ela pode acordar com dor no pescoço dormindo assim de mau jeito. - ele disse caminhando em direção a ela.
- Espera, não precisa, acho melhor leva-la pra casa. – eu disse apressada, se ele colocasse no quarto eu ficaria com mais pena ainda de tirá-la da sua casa dormindo.
- Nem pensar. – ela passa a noite no quarto dela aqui em casa. – ele disse a pegando no colo com cuidado, deixando o gatinho sobre o sofá.
- Tudo bem, amanhã de manhã eu volto pra busca-la antes da escola então. – disse apanhando a minha bolsa sobre a poltrona onde a havia deixado.
- Nada disso. – segurou com habilidade em um dos braços e com o outro me impediu de seguir até a porta. – Você passa a noite aqui também, no meu quarto. – ele me encarou com os olhos novamente em um tom mais escuro o que me fez engolir em seco e ficar sem reação por um momento.
- Como? O que você... eu? Quarto?... Eu... Eu não posso, amanhã tenho que trabalhar. – eu respondi como uma débil.
- Eu sei. Amanhã é segunda, e nós trabalhamos juntos no projeto, esqueceu? – ele disse sorrindo e eu me senti idiota por ter esquecido aquilo. – Então, podemos poupar tempo e proteger o meio ambiente indo juntos no mesmo carro. Eu não posso dirigir, então você estará me ajudando. Além do mais, precisamos conversar sobre algumas coisas hoje. Ligue pra avisando que vocês irão passar a noite aqui, porque dormiu e esta tarde para voltarem sozinhas pra casa. – ele piscou e seguiu com no colo até o quarto que ele disse ter feito pra ela, não me dando chance de responder. E eu os segui pronta pra lhe dar outra resposta negando aquele convite.
- Eu não vou passar a noite com você . – sussurrei no caminho, os acompanhando de perto. – Só porque passamos a noite juntos antes não fique você pensando que agora a hora que você quiser eu vou estar disposta a... – minha voz ficou presa na garganta assim que entrei no local, no quarto que ele disse ter feito pra , era... Simplesmente lindo. Era maravilhoso.

Loving can heal.
Loving can mend your soul.
And it's the only thing that I've known.
I swear it will get easier.
Remember that in every piece of you.
And it's the only thing to take with us when we die.


Todo delicado, com cores que adorava, cheio de bichinhos de pelúcia e uma pequena estante com livros infantis. Era chocante imaginar que um cara como houvesse planejado aquilo. Provavelmente ele contratou alguém pra decorá-lo, mas mesmo que ele tivesse feito aquilo, só de notar que ele havia se preocupado em ter aquele lugar na sua casa preparado pra nossa filha, ele ter feito aquilo pensando em tê-la com ele ali, encheu meu coração com um sentimento indescritível de carinho e amor. Ele queria mesmo ser um pai para ela, realmente queria em sua vida. Aquilo me deixou completamente emocionada, meus olhos se encheram de lágrimas de felicidade, quando notei cada cantinho decorado com cuidado e por fim coloquei os meus olhos sobre eles, a havia colocado sobre a cama e agora a cobria com uma manta lilás. Aquela cena acabou comigo, de uma maneira boa. Aquela cena trouxe tudo à tona, aquela cena fez com que o amor que eu sentia por aqueles dois, que o amor que eu tentava negar ainda sentir por explodisse no meu peito. Uma lágrima solitária correu pelo meu rosto enquanto um sorriso bobo tomava conta dos meus lábios. Como eu os amava!
Mas amar era tão perigoso. Amar novamente me deixava confusa, com medo. Medo de estar me enganando, de estar estendendo o amor que ele visivelmente sentia pela filha para mim, de estar confundindo o desejo em seu olhar com a paixão que ele dizia sentir por mim e que eu tinha certeza que ele sentia quando ainda namorávamos. Medo de me ferir novamente. De repente o sorriso morreu em meu rosto. e eu precisávamos conversar e eu precisava ir com mais calma.
- Gostou do quarto? – ele perguntou me tirando dos meus devaneios. Ele estava perigosamente perto me analisando com o cenho franzido e eu não havia notado a sua aproximação estando tão perdida em pensamentos. – Tá tudo bem, ? – eu engoli o nó em minha garganta e assenti tentando secar disfarçadamente o canto do olho com a mão direita.
- Sim, esta. – disse tentando conter a rouquidão em minha voz. me olhava sério, não acreditando nas minhas palavras. – Eu só fiquei emocionada quando entrei nesse quarto, ele é... Lindo! E você fez tudo por ela, disse apontando para nossa filha adormecida em sua nova cama. Você se superou, . – disse sincera tentando colocar novamente um sorriso em meus lábios. Nós precisávamos conversar, mas eu não queria mais brigar com . Ele me retribuiu com um sorriso torto, e envolveu meu rosto com suas mãos me dando um selinho rápido em seguida.
- Obrigado, mas eu acho que você não estava tão calada apenas por causa disso. – ele disse me encarando fixamente. – Vamos até a sala conversar, nós precisamos disso. – ele pediu pegando minha mão esquerda entre as suas e a acariciando enquanto esperava a minha resposta. Eu assenti em silêncio, me guiou para fora do quarto, nós demos uma ultima olhada em que parecia dormir profundamente, ele encostou a porta do quarto e nós fomos até o outro cômodo.

So you can keep me inside the pocket.
Of your ripped jeans.
Holding me close until our eyes meet.
You won't ever be alone.
And if you hurt me that's okay baby.
Only words bleed.
Inside these pages you just hold me.
And I will never let you go.
Wait for me to come home.


Eu me sentei sobre o sofá e logo se acomodou ao meu lado, ele parecia nervoso, eu estava nervosa. Aquela conversa definiria muita coisa nas nossas vidas de agora em diante, ela nos daria um rumo. Eu precisava saber sobre os sentimentos dele, precisava ter certeza, precisava saber que o que aconteceu no final do nosso casamento não se repetiria novamente. Porque eu não aguentaria passar por tudo aquilo outra vez, por mais forte que eu estivesse no momento. Se eu entregasse meu coração novamente a , dessa vez eu esperava que ele cuidasse dele com todo o cuidado do mundo e não o largasse jogado ao chão e o pisoteasse de novo. Levei a mão ao peito, sentindo um aperto no lado esquerdo ao me lembrar da nossa ultima conversa antes dele me deixar. Aquela imagem iria sempre ficar em algum lugar na minha mente, me lembrando de que ele foi capaz de fazer aquilo em algum momento, mas no fundo eu esperava que pudesse afastar aquela imagem pro lugar mais profundo do meu subconsciente inundando a minha mente com novas memórias, com memórias boas, alegres e cheias de amor. No fundo eu queria dar uma nova chance a nós dois. Mas levaria tempo pra todos os cacos serem recolhidos e colados de novo no local ao qual eles pertenciam.
- Sobre o que você quer falar? – arrisquei tentando quebrar o silêncio desconfortável em que nós dois havíamos nos colocado. me encarou por um momento sem resposta, mas logo respirou fundo e disse.
- Sobre nós dois. Sobre como as coisas serão daqui pra frente agora que sabe que eu sou o pai dela. E principalmente, como será entre você e eu depois do que anda acontecendo. – ele se virou e pegou em minhas mãos novamente fazendo com que eu ficasse de frente pra ele. – Há alguns anos atrás eu cometi o maior erro de toda a minha vida, eu magoei e abandonei a pessoa mais importante do mundo pra mim. Eu fui um idiota egoísta e eu vou me culpar por isso pra sempre. Vou me culpar por ter te deixado grávida e sozinha, por mais que eu não soubesse sobre o bebê, vou me culpar por ter ido embora daquela maneira. Vou me culpar por ter perdido o seu período de gravidez, por não ter sido acordado por você durante as madrugadas pra que eu fosse a algum lugar longe procurar por algo que você desejasse comer quando teve desejos estranhos. Por não ter segurado os seus cabelos enquanto você se debruçava sobre o vaso sanitário sentindo enjoos matinais, por não ter ficado louco e perdido enquanto te levava para o hospital na hora do parto. – ele disse e eu sorri, tentando imaginar a cena. Sempre tentei imaginar como teria sido e pelo visto ele também. – Vou me culpar por não ter visto nossa filha nascer, por não ter visto ela dar o primeiro passinho, por não ter visto o seu primeiro dente nascer, por não ter estado presente durante os seus primeiros aninhos de vida. – fez uma pausa para respirar, seus olhos brilhavam sinceros, os meus também estavam repletos de lágrimas. – Mas se você me der uma chance, . Eu prometo, eu sei que você não acredita mais nas minhas promessas, eu não te culpo por isso, eu fui um canalha filho da mãe, mas essa eu nunca vou quebrar, eu juro pela nossa filha, que se você me der outra oportunidade de te mostrar o quanto eu mudei, o quanto eu quero tudo o que nós tínhamos no inicio de novo, agora melhorado com a presença da nossa , eu juro que dessa vez eu nunca mais vou sair do seu lado. Nunca mais eu vou te magoar. Eu não prometo não falar besteira ou fazer burradas, porque eu sou um idiota e isso seria impossível, mas eu tô aqui pra dizer que eu te amo, que eu sempre te amei e sempre vou te amar e eu espero que você me aceite de volta. Eu não espero que você me perdoe por tudo, eu sei que isso seria impossível, mas eu quero saber se nós dois teríamos outra chance? – ele finalizou me encarando enquanto segurava minhas mãos entre as suas, que tremiam um pouco.
Eu estava sem palavras, havia acabado de se declarar, e tudo pareceu tão sincero, mas ele já havia agido daquela forma muitos anos atrás e mesmo assim me decepcionou da pior maneira logo depois. Eu respirei fundo, confusa. Eu não conseguiria esquecer e perdoá-lo, por enquanto ainda não. Mas eu queria realmente que o nosso relacionamento atual melhorasse.
- , eu não... – respirei fundo enquanto ele me encarava ansioso. – Foi muito difícil passar por tudo o que eu passei quando você foi embora e me deixou grávida, sem saber o que fazer, sem ter com quem contar. Porque você se foi e toda a minha família foi junto, porque você e os garotos eram a minha família. Eu fiquei perdida, tendo que aprender a me virar sozinha, apenas com a ajuda da , que também tinha a vida dela, que tinha que estudar muito durante a faculdade de medicina, mas mesmo assim estava sempre ali me apoiando, algo que deveria ter sido o seu papel. Eu sei que você não sabia sobre a minha gravidez. Mas perder você da forma que eu perdi me deixou arrasada, porque eu te amava, eu sempre amei e você simplesmente pisou no meu coração e seguiu em frente. – agora havia abaixado a cabeça e assentia a cada palavra que eu dizia. – Foram momentos muito difíceis, mas depois de um tempo eu também consegui seguir em frente, minha vida havia voltado aos trilhos, tudo ficaria bem, eu estava me curando e esquecendo o passado. Era isso o que eu imaginava quando você surgiu novamente na minha vida trazendo toda a bagunça de volta. Não me entenda mal, mas quando nos reencontramos eu te odiava tanto. Ou pelo menos eu queria odiar, só que com o tempo as coisas foram mudando novamente, você soube sobre a e reagiu de uma forma que eu nunca poderia imaginar. Você realmente quer ser o pai dela e isso enche o meu coração de amor. Porque a pessoa mais importante na minha vida agora é aquela garotinha e eu nunca quero vê-la magoado pelos nossos erros do passado.
- Eu nunca vou magoar a minha gatinha. – ele disse me encarando novamente.
- Eu sei disso. Agora eu sei. – apertei suas mãos.
- Mas? – ele sorriu triste e eu respirei fundo.

And you could fit me.
Inside the necklace you wore when you were sixteen.
Next to your heart right where I should be.
Keep it deep within your soul.

And if you hurt me.
But that's okay baby.
Only words bleed.
Inside these pages you just hold me.
And I won't ever let you go.



- Mas eu sei que ainda não estou preparada pra ficar contigo de novo, não como antigamente. No momento, tudo o que eu posso te oferecer é a minha amizade, pelo bem da nossa filha, pra que tenhamos um novo tipo de relacionamento. Eu ainda não consegui te perdoar, . Você tem razão. Mas eu acho que com o tempo as coisas poderão mudar, eu sinto isso. Eu só espero que, se você estiver sendo sincero, você possa ter um pouco de paciência com tudo isso. Eu não posso te dar uma chance de ficar comigo agora, mas eu não descartaria essa oportunidade no futuro, porque apesar de tudo eu sei que ainda te amo. Eu só não estou segura se seria certo ficar com você agora. Não quero apressar ou confundir as coisas agora que sabe a verdade, eu não quero que ela se magoe caso algo dê errado. E espero que você consiga me compreender. – conclui com um sorriso triste no rosto. E ele assentiu em silêncio. Eu me aproximei lhe dando um beijo terno no rosto e em seguida me levantei, apanhando minha bolsa sobre a mesa de centro e me encaminhando até a porta.
- , espera! – me surpreendeu ao correr em minha direção e me encurralar diante da porta enquanto segurava o meu rosto e me olhava profundamente. – Eu vou lutar por você, . Vou provar que eu mudei, vou provar que nós devemos ficar juntos de novo. – ele selou os nossos lábios e me deu o beijo mais carinhoso e terno que havia dado na vida. Um beijo repleto de sentimento. Eu senti a sua sinceridade através daquele gesto. E senti a sua falta quando ele se afastou, desejando que tudo logo se acertasse entre nós. Desejando que o meu coração ferido se curasse com o tempo.

When I'm away.
I will remember how you kissed me.
Under the lamppost back on 6th street.
Hearing you whisper through the phone.
Wait for me to come home.


(…)


- E então, você vai? – surgiu na porta do quarto em uma tarde algumas semanas depois.
- Vou aonde? – questionei não entendendo a sua pergunta.
- A festa de aniversário do . – ela disse me encarando com um sorriso no rosto.
- Por que eu iria à festa do ? E até onde eu sei isso ainda levará tempo para acontecer. – disse dando de ombros e me virando novamente em direção ao computador, eu estava corrigindo algumas provas e lançando as notas dos meus alunos no sistema naquela tarde. O prazo final para entrega dos boletins daquele bimestre estava se aproximando.
- Ah, vamos ! Não tente me enganar. – ela disse com deboche.
- Com o que estou te enganando, ? – perguntei me fazendo de desentendida.
- Vocês dois são tão idiotas. Ficam aí tentando fingir pra todo mundo que não estão se encontrando as escondidas para transar como dois coelhos desde aquela noite na casa de campo dos pais da Penny. Vocês me fazem rir. – ela disse, realmente rindo. E eu a encarei sem expressão, me perguntando de onde ela tirava aquelas ideias malucas? – Você sabe que eu farejei tudo rapidamente, sou especialista nesse lance de amizade com benefícios.
- Não viaja ! De onde você tira essas ilusões? – Eu sabia que estava desconfiada imaginando coisas sobre e eu. Ela me encarou com um sorriso presunçoso no rosto. – Segure essa sua mente poluída. Aconteceu sim naquele dia na casa de campo, mas foi apenas aquele dia. e eu não estamos transando feito loucos como você pensa, estamos só saindo juntos de novo, saindo juntos pra conversar, como amigos, pra colocar a nossa vida em ordem, porque temos uma filha em quem pensar. E nós não queremos que tenha falsas esperanças, as coisas estão acontecendo aos poucos, estamos fazendo tudo com cuidado e é melhor não desconfiar de que há algo rolando entre seus pais no momento, pra não criar nenhuma expectativa em relação a isso. Não que esteja rolando algo mais que amizade. – reiterei para que ela entendesse de uma vez por todas. - Sei que ela ainda é pequena, mas ela já entende as coisas e eu não quero que ela se decepcione caso algo dê errado, não quero magoar minha filha outra vez. – disse enquanto digitava uma nota no computador. - E desde quando você apoia o meu relacionamento com o ? Eu pensei que você o detestasse.
- Ele tem melhorado. – ela sorriu. - E tudo bem, eu entendo isso. Mas espero que vocês dois deixem de ser idiotas achando que nenhum de nós desconfia sobre tudo o que esta acontecendo ou aconteceu entre vocês. Eu respeito o seu silêncio, respeito a sua atitude em relação a ele. O modo com que você quer conduzir as coisas, mas não pense que vocês nos enganam... – ela fez uma pausa e seguiu em direção a porta do quarto, mas antes de sair concluiu. - E eu apostei com o que vocês já devem até ter feito no armário de vassouras da escola, numa dessas segundas-feiras em que trabalham juntos por lá. – ela riu quando eu me virei a encarando com um olhar de poucos amigos. E logo deixou o quarto quando eu lancei uma almofada em sua direção, e ela riu me ouvindo xingá-la baixo. às vezes era muito irritante. Principalmente quando ela estava irritantemente certa sobre as coisas.
- E não precisa ir buscar a no ballet! esta com ela e eu vou busca-la mais tarde. – eu gritei fingindo esquecer o seu ultimo comentário e depois me virei tentando continuar o meu trabalho.

’s POV.

ria enquanto eu tentava montar um brinquedo com ela no quinta nos fundos da minha casa, havia pedido pra que eu passasse à tarde com ela naquele dia, já que ela tinha algum trabalho da escola a fazer e aquela seria uma boa oportunidade para que eu passasse algum tempo de qualidade com a minha filha. Como eu tinha aquela tarde livre aceitei sem hesitar. parecia estar se divertindo e aquilo me deixa feliz e aliviado. Cheguei a pensar que, mesmo sendo tão pequena, ela não nos perdoasse tão cedo por não termos lhe dito que eu era seu pai no inicio, mas as coisas estavam surpreendentemente indo bem, tirando o fato de ela não me chamar de pai ainda, mas pelo menos com ela tudo corria bem. Por que as coisas com eram outra história.
Nós havíamos tido a conversa. Aquela conversa importante, que definiria o rumo das nossas vidas de agora em diante. A minha vontade de tê-la de volta na minha vida estava bem visível, mas eu decidi esclarecer tudo com naquela noite de domingo, decidi pedir outra chance. Mas minhas expectativas foram dizimadas quando ela disse claramente que ainda não estava preparada para aquilo, que por enquanto deveríamos ser apenas amigos. Eu concordei, porque sei que se eu apressar as coisas agora posso acabar perdendo-a de vez. A estupidez que cometi no passado foi fenomenal e ela tem razão em querer ir com calma, eu entendi isso. Mas isso não quer dizer que eu aceitei. Vou dar a ela o espaço que ela pediu e a minha amizade. Foi a amizade que nos aproximou quando nos conhecemos e será ela que a trará de volta pra mim. Resolvi ser a partir de agora o melhor cara pra ela e pra minha filha. E com o tempo espero que tudo fique como deveria ser.
- Não tio , tá errado! – disse rindo, retirando a peça de Lego das minhas mãos e a colocando ela mesma. Eu revirei os olhos sorrindo. Ela era tão esperta e me deixava tão orgulhoso e honrado em tê-la como filha. havia feito um belo trabalho até agora. Mas sinto não ter participado disso, sinto ter deixado ela sozinha. Isso não se repetiria. Eu iria consertar as coisas. E um dia, quem sabe, me visse finalmente como seu pai, não como um tio legal, um dia ela me chamaria de pai, mas por enquanto, eu estava feliz em saber que ela me deixava participar da sua vida.
- Já esta quase na hora da sua mãe chegar, que tal tomar um banho e ficar cheirosinha pra mamãe ficar feliz com o papai, pequena? – perguntei a ela que balançou a cabeça negando. – Você precisa tomar um banho, . – disse tentando ficar sério.
- Não preciso não, já tomei hoje de manhã. – ela respondeu com um sorriso sapeca no rosto. E eu a encarei arqueando a sobrancelha descrente com a capacidade de argumentação daquela coisinha de quatro anos.
- Sim, você precisa. Você foi a aula de ballet a tarde, depois nós brincamos aqui em casa, todo mundo precisaria de um banho depois disso. – continuei a olhando sério, mas quando ela arregalou aqueles olhos e fez a cara mais fofa do mundo, eu soube que estava ferrado.
- Por favorzinho, titio lindo. – ela juntou as duas mãos implorando. – Tomo banho quando a mamãe me levar pra casa, eu prometo. Vamos brincar mais um pouco, por favorrrrrr! – Aquela criança tinha o poder.
- Tudo bem. – eu suspirei, me dando por vencido. Eu precisava mostrar pulso firme diante dela algum dia, senão ela iria fazer o que quisesse, mas obviamente aquilo não iria ocorrer naquele dia. E com certeza, me mataria. – Vamos pelo menos entrar e fazer um lanche, depois brincamos na sala. Já esta começando a serenar e você pode se resfriar aqui fora. – pedi e pelo menos com aquilo ela concordou.
- Podemos ver desenho na sala? – ela pediu assim que terminamos de comer. E eu assenti, aliviado por ela não querer brincar com algo que envolvesse correr por aí novamente, porque eu sinceramente não tinha mais idade pra todo aquele exercício que as crianças pequenas faziam.
Passamos o resto do tempo deitados sobre o sofá assistindo os desenhos amados por na televisão e devo admitir que eles não eram tão ruins assim, eu poderia me acostumar com aquilo. Um tempo depois a campainha tocou e eu olhei no relógio imaginando que havia se adiantado um pouco. Deixei no sofá e caminhei até a porta da sala, mas me arrependi no mesmo instante em que a abri.
- O que você esta fazendo aqui? Como descobriu o meu endereço? – Ashley me olhava com aquele sorrisinho que agora eu achava completamente irritante no rosto.
- Tenho minhas fontes gatinho. – ela respondeu se aproximando. – Não vai me convidar pra entrar? – ela perguntou passando a mão pelo meu rosto. Eu me afastei.
- Não. – respondi seco, querendo me ver logo livre dela. Eu precisava ligar para Sarah para saber como estava o processo sobre a ordem de restrição que eu havia pedido.
- Poxa , eu só quero conversar, só cinco minutos e prometo que vou embora, se você quiser, é claro. – ela sorriu tentando ser sedutora, eu a achei ridícula.
- Te dou cinco minutos se você prometer que após isso vai me deixar em paz pro resto da vida. – disse cruzando os braços, ela piscou, mas logo concordou.
- Tudo bem, prometo. – ela sorriu e eu respirei fundo pedindo a Deus que ela cumprisse com aquela promessa. E que ela fosse embora antes que chegasse. – Posso entrar agora?
- Cinco minutos, Ashley. – disse e permiti que ela adentrasse a casa.
- Oh, mas quem é essa coisinha linda? – ela exclamou assim que viu sentada sobre o sofá.
- Não te interessa, diz logo o que você tem pra dizer. – ordenei não aguentando mais tê-la na minha casa. E tentando afastá-la da minha filha, mas era inocente e educada demais.
- Eu sou a . – minha filha respondeu sorrindo.
- ? Que lindo nome, lindinha. – Ashley se aproximou dela e eu corri para impedir isso, ficando entre elas.
- Pensei que você quisesse conversar comigo e eu pensei ter dito que te daria apenas cinco minutos Ashley. – a encarei sério.
- Ela tem os seus olhos . – Ashley comentou sorrindo. – É sua filha? – ela perguntou e eu apenas assenti. – Ela é linda. – seus olhos não desviavam de e um arrepio estranho invadiu o meu corpo ao notar aquilo.
- Diga logo, Ashley. – ordenei novamente entredentes e ela finalmente me encarou.
- Posso me sentar? – pediu indicando a poltrona atrás dela.
- você pode ir para o quarto arrumar suas coisas? – pedi a minha filha que fez bico.
- Mas eu estou vendo desenho, tio . Não quero sair! – ela resmungou cruzando os braços, fechando a cara e fazendo bico. Ashley arqueou a sobrancelha ao ouvi-la me chamar de tio.
- Não é necessário ela sair, o que eu tenho pra dizer não é nada demais. – Ashley me encarou sorrindo. Aquilo me deixou enojado.
- Eu não concordo. – disse sério. – , por favor... – eu dizia quando a campainha tocou novamente. Agora só poderia ser . Eu estava ferrado, como iria explicar a presença de Ashley pra ela? – Fique aí, não se mexa. – disse a ela e me levantei.

[ N/A: Agora é a vez dessa canção]

Respirei fundo e caminhei até a porta, parando um pouco antes de abrir e respirando novamente. precisa entender, ela iria entender se eu explicasse tudo, não iria? Eu não tinha feito nada demais. Na verdade já estava pronto pra expulsar Ashley dali. tinha que entender. E além do mais ela queria ser só minha amiga, não tinha porque ter ciúmes. Principalmente da Ashley, eu nunca faria aquilo novamente, nunca me envolveria com ela de novo. iria entender. A campainha soou novamente e eu abri a porta sem escolha.
- Oi . – disse com um sorriso forçado no rosto.
- Oi. – ela respondeu parecendo alegre e meu estomago deu um nó. – A esta pronta? Terminei o meu trabalho, mais ainda preciso arrumar algumas coisas para amanhã, posso entrar? – ela pediu e me encarou confusa quando eu hesitei não me movendo da entrada da porta. – Algum problema ?
- , gatinho. A pizza chegou? – me olhou surpresa. Eu imediatamente fiquei sem ar e amaldiçoei Ashley com todos os palavrões possíveis na minha mente.
- Tem alguém aí com vocês? – ela sorriu desconfortável. E seu olhar logo ficou escurecido. – Bom, eu não quero atrapalhar o seu encontro. Chame a pra que nós possamos logo sair e te deixar em paz. – ela disse séria e meu coração palpitou de uma só vez no peito.
- Não é nada disso, . Eu preciso que você confie em...
- ! – Ashley surgiu ao meu lado e logo encarou que no mesmo instante me lançou um olhar obscuro.
- Essa não é? – ela perguntou e eu me senti paralisado.
- Ashley Johnson, prazer. – Ashley lhe estendeu a mão. – Espere, você não é... Oh! – ela exclamou com uma falsa expressão de surpresa e vergonha no rosto. Eu iria matar aquela mulher.
- Tio nós vamos comer pizza? A moça disse que... Mamãe! – exclamou assim que surgiu ao meu lado e viu a mãe parada diante de nós. parecia tão em choque quanto eu. Precisava me livrar logo da Ashley e explicar toda a situação a ela. Ela teria que entender.
- , vamos embora. – ela disse com um tom de voz rouco e baixo. Desviou o olhar para nossa filha e a puxou para perto dela.
- Mas ouvi a moça dizendo que a pizza tinha chegado... – dizia, completamente confusa e alheia a situação.
- Agora, ! – disse mais alto em um tom firme e se calou no mesmo instante assentindo.
- Posso dar tchau pro Panqueca? – ela pediu baixinho.
- Não, depois você o verá de novo, vamos. – saiu a puxando pelo braço em direção ao carro. Ashley soltou um riso cínico ao meu lado. E eu a empurrei para o lado de fora sem o menor cuidado. Ashley se desequilibrou, caindo sentada, mas eu não me preocupei em ajuda-la. Ela não merecia nada. Ela logo se levantou e me encarou parecendo irritada, mas não revidou e saiu logo dali em direção a um carro estacionado mais a frente.
- Sai já daqui e não aparece nunca mais. – disse entredentes. Puxando a porta atrás de mim e seguindo em seguida. – , espera! – gritei quando notei seus passos apressados. Ela já estava abrindo a porta de trás do carro e colocando sobre a cadeirinha. Não se deu ao trabalho de parar e me olhar. – , por favor, não vai embora assim, entra que eu te explico tudo. – pedi tentando para-la. Mas ela se esquivou do meu toque e correu para o lado do motorista entrando no carro assim que ficou devidamente segura no banco de trás.

You say I'm crazy.
'Cause you don't think I know what you've done.
But when you call me "baby".
I know I'm not the only one.


- , por favor, não é nada disso! – pedi batendo no vidro do carro. Ela o baixou e eu respirei aliviado.
- Sai do caminho, . – ela disse séria e logo ergueu o vidro novamente. Eu neguei com um gesto de cabeça e apelei pra única solução que tinha ficando na frente do carro. Ela logo abaixou a janela novamente. – Sai da frente seu idiota! – gritou tentando se conter.
- Eu não vou sair antes que você ouça o que eu tenho pra dizer, pode me atropelar se quiser. – disse apoiando minhas mãos sobre a frente do veículo. Ela esmurrou o volante, visivelmente irritada. E um tempo depois saiu de dentro do carro, caminhando de novo em direção a porta traseira e tirando de lá.
- O que foi mamãe? – nossa filha perguntava completamente confusa.
- Nós vamos pra casa de taxi, o carro esta com problema. – ela explicou ainda séria.
- Não, vocês não vão. Vocês vão voltar pra dentro comigo. – eu disse, pegando no colo e seguindo em direção a casa ignorando os protestos de atrás de mim. Aquela era uma atitude injusta, mas eu estava desesperado.
Entrei na casa com no colo, ela não parava de fazer perguntas, mas eu não podia respondê-las no momento. Deixei a porta aberta, esperando . Enquanto pedia pra que fosse até o quarto brincar com o gato e não saísse de lá até eu chama-la. demorou um bom tempo e aquilo me deixou nervoso, imaginando que ela havia ido embora, mas ela logo adentrou o local parecendo completamente enfurecida.

You've been so unfaithful.
Now, sadly, I know why.
Your heart is untainable.
Even though, Lord knows, you have mine.


’s POV.

Eu não podia acreditar que aquilo estava acontecendo de novo. estava com ela de novo. Aquela mulherzinha... Eu não gostava nem de pensar no nome dela. Ele disse que iria lutar por mim quando eu pedi que fossemos apenas amigos. E no fundo eu acreditei que ele iria, mas eu estava sendo enganada de novo. Enganada por aqueles dois cretinos de novo.
- Merda! – chutei o pneu do carro, tentando conter o ódio que eu sentia deles no momento e segurar as lágrimas que invadiam os meus olhos. Eu era tão idiota.

~.~

- Me desculpe, eu não queria que tudo terminasse assim. – ele tentou acariciar meu rosto, mas eu retirei sua mão de mim bruscamente. Não o queria mais por perto, não depois de tudo o que ele havia me feito. Meu olhar em direção a ele demonstrava toda a mágoa que eu estava sentindo. O maldito enjoo voltou e eu tive que me apoiar no sofá ao lado para tentar controlar aquela sensação terrível diante dele. me observou com algo que aparentava tristeza no olhar e naquele momento me recordei do meu antigo , mas aquilo não me enganaria, não mais. Desistindo ele caminhou novamente em direção as malas, abriu a porta, as pegou do chão e me olhou pela ultima vez saindo para nunca mais voltar.
~.~

I have loved you for many years.
Maybe I am just not enough.
You've made me realise my deepest fear.
By lying and tearing us up.


Chutei o pneu novamente tentando me livrar daquela lembrança. O pobre carro não tinha culpa, mas eu estava com tanta raiva de e de mim mesma no momento que precisava descontar em algo antes de entrar naquela casa e levar de volta pra nossa casa. Ele tinha sido um imbecil infantil usando ela pra me levar pra dentro e eu diria algumas boas palavras a ele. Respirei fundo e caminhei com passos pesados em direção a casa de .
- Onde esta a minha filha? – perguntei assim que entrei na sala e o notei sozinho em pé diante do sofá. – Atitude ridícula, . – disse não disfarçando a minha raiva.
- Você não vai sair antes que eu te explique tudo. – ele disse sério, com uma expressão sonsa no rosto, como se ele não fosse culpado por nada e a louca ali fosse eu.
- Eu não vou ouvir nada. Cadê a ? – perguntei seguindo em direção ao quarto dela, mas ele me impediu de ir quando segurou o meu braço e me puxou em sua direção me prendendo em um abraço.
- Me deixa explicar, . – ele pediu em um tom de voz doce. Filho da mãe.
- Me solta! – disse ainda mais enfurecida quando ele apertou ainda mais o abraço.
- Não. – ele disse e senti sua respiração acelerada batendo em meus cabelos.
- Droga , deixa de ser idiota. – eu me remexi, tentando chutá-lo, mas ele rapidamente nos jogou sobre o sofá, me colocando em seu colo e segurou minhas pernas entre as suas. – Me deixa ir! – pedi sentindo o nó na garganta.
- Você precisa me ouvir, você precisa entender. – ele disse baixo, próximo ao meu ouvido.
- Eu não quero ouvir nada. – disse tentando me mexer. – Você estava com ela aqui na sua casa, de todas as pessoas você estava com ela de novo e você me disse que aquele telefonema não havia sido nada e eu acreditei em você, eu acreditei de novo e resolvi dar a nós dois uma chance de aproximação pela , mas você estava com ela aqui, na sua casa. E vocês estavam juntos se divertindo como uma família feliz com a minha filha. A-minha-filha! – explodi tentando me livrar dele, enquanto as lágrimas que eu tentei conter em vão rolavam pelo meu rosto. – Você deixou aquela vadia se aproximar da minha filha! – disse chorando diante dele de novo. me abraçou ainda mais forte e começou a me embalar em seu colo. – Que diabos você esta fazendo? Me solta!
- Shhh... – ele pediu acariciando os meus cabelos. – Fica calma, vai ficar tudo bem. – ele disse baixo. Aquilo fez com que eu chorasse ainda mais me sentindo derrotada. Meu coração parecia querer sair do peito. Então tudo o que eu fiz pelos próximos minutos foi chorar em silêncio enquanto me embalava em seus braços.

You say I'm crazy.
'Cause you don't think I know what you've done.
But when you call me "baby".
I know I'm not the only one.


Respirei devagar assim que as lágrimas cessaram. ainda me prendia em seus braços e eu me sentia sem forças para me mover de onde estava. Eu ainda estava brava e decepcionada com ele, mas algo mais forte fez com que eu não tentasse mais sair do seu colo.
- Você parece melhor. – ele disse levantando meu rosto e secando uma ultima lágrima com o polegar. – Odeio te ver assim, acaba comigo. Me desculpa. – ele pediu selando os lábios aos meus em um beijo leve, depois ele beijou a minha testa e eu não me afastei, parecia que eu não tinha mais poder sobre o meu corpo, eu estava esgotada. – Por favor, me ouve agora. – ele pediu encarando meus olhos e eu permaneci sem reação. Isso fez com que ele suspirasse antes de continuar. – A Ashley estar aqui em casa quando você chegou foi um mal entendido do inferno. Eu não a convidei , eu nem sabia que ela tinha o meu novo endereço, mas ela deve ter descoberto de alguma maneira estranha, como descobriu o numero dos meus telefones e decidiu me perseguir agora como uma louca psicótica. Ela apareceu dizendo que queria conversar comigo por cinco minutos e que após isso iria sumir da minha vida, então eu fui um idiota ingênuo e a deixei entrar permitindo que ela ficasse apenas por cinco minutos, mas ela começou a enrolar e eu já estava prestes a coloca-la pra fora de casa quando você chegou. Ela não passou a tarde comigo e com , muito pelo contrário. Eu não deixei ela se aproximar da nossa filha, eu não quero que isso aconteça. Ela parece estar louca e eu já pedi pra Sarah preparar uma medida cautelar que restrinja a aproximação dela a mim e também pedi que ela acrescentasse vocês. Assim que tudo estiver pronto, caso ela chegue perto da gente de novo, ela vai ser presa. – ele fez uma pausa, me encarando de novo. – Você acredita em mim? – eu olhei em seus olhos e eles pareciam tão sinceramente tristes que algo dentro deles fez com que eu acreditasse e eu apenas assenti. – Graças a Deus! – soltou a respiração e me abraçou ainda mais. - Eu prometi que nunca mais iria te magoar e eu não vou, entendeu? – ele me olhou profundamente e eu assenti de novo. Ele sorriu fraco e me surpreendeu com um beijo mais apaixonado em seguida.
e eu acabamos passando a noite na casa dele naquele dia.
(...)


A semana estava chegando ao fim, e a situação entre e eu pareceu ter voltado ao normal atual após a conversa que tivemos, ele me explicou melhor sobre a medida cautelar que havia pedido que Sarah fizesse, eu torci os lábios ao ouvir o nome dela e riu, me explicando logo em seguida sobre a confusão que havíamos feito quando mais novos, quando eu presenteei a advogada com um tapa bem dado no colégio quando ela de repente o agarrou e selou os lábios aos dele na minha frente. Eu estava tão brava na época que não notei detalhes que agora notava, explicou que Sarah estava completamente chapada naquela festa e que ela estranhamente o havia confundido com . Ela nutria uma paixão secreta por ele desde aquela época e agora estava tentando ajuda-la a conquistá-lo, por isso ele havia a levado na premiação aquele dia, tentando causar ciúmes em e ele confessou estar tentando me causar ciúmes também. Revirei os olhos diante daquilo. Depois ele me mostrou as mensagens que Ashley estava enviando a ele há algum tempo, elas eram enjoativas e algumas completamente estranhas. Aquela garota tinha algum problema sério. disse estar sendo sincero e esperar que eu acreditasse em suas palavras, mesmo sabendo não ter crédito nenhum comigo. Meu coração dizia que eu deveria acreditar, então decidi segui-lo dessa vez, mesmo que o meu cérebro me dissesse para ter cuidado.
Sai do shopping onde havia ido comprar sapatilhas novas de ballet para e caminhei em direção ao meu carro que estava parado duas vagas a frente no estacionamento quando uma voz feminina me chamou e eu logo a reconheci.
- Olá queridinha. – Ashley se materializou na minha frente sabe-se lá de onde com um sorrisinho falso nos lábios. Eu a ignorei e continuei caminhando em direção ao meu carro. – Oras, não seja mal educada garota. Seus pais não lhe ensinaram bons modos? Ops... Esqueci que eles já estão mortos. – ela provocou e eu imediatamente me irritei quando ela os mencionou.
- Lave essa sua boca imunda antes de falar algo sobre os meus pais. – eu disse baixo, me virando pra ela.
- Então agora você decidiu falar? – ela riu cínica.
- Me deixa em paz. – exigi, me virando novamente, destravando o alarme e me aproximando da porta do carro.
- Sabe, não sei como o consegue aguentar uma coisinha tão songa e sem graça como você. Olhe só como você se veste! Como ele pode gostar disso? – ela continuou provocando e eu respirei fundo abrindo a porta. – E ainda por cima você empurrou aquela menininha remelenta e chata pra ele, sério que você acha que dar o golpe da barriga ainda esta na moda? – ouvir ela falar da minha filha foi o estopim. Em segundos eu me afastei do carro e avancei sobre ela acertando a sua cara nojenta com um tapa estalado que fez minha mão arder e o seu rosto ficar imediatamente vermelho. Mas aquilo não me deixou satisfeita.
- Nunca mais fale sobre a minha filha, nunca mais fale sobre nenhuma pessoa da minha família, nunca mais me dirija a palavra sua vadia ladra de maridos! – eu gritei apontando o dedo para ela.
- Sua vaca! – Ashley avançou em minha direção tentando me devolver o tapa, mas eu rapidamente segurei o seu pulso e puxei os seus cabelos com a outra mão, ela então pisou no meu pé que estava calçado com uma sapatilha aberta com a ponta do seu salto e eu o senti latejar, fazendo com que eu soltasse um gemido de dor e ela sorrisse vitoriosa.
Sem pensar eu lhe acertei um soco no olho e ela revidou agarrando os meus cabelos e enfiando as unhas no meu braço. Em pouco tempo nós duas rolávamos pelo chão do estacionamento e eu retirei forças de toda a raiva que sentia dela ficando por cima e enchendo o seu rosto de tapas pesados. Eu não notei ninguém se aproximar, mas logo senti braços me agarrarem pela cintura e me erguerem no ar, enquanto Ashley se levantava com dificuldade e tentava novamente avançar em minha direção, quando alguém entrou em sua frente e eu reconheci Sarah.
- Nossa , não te vejo brigando assim desde o colégio. Fica calma. – a pessoa que me segurava pediu e eu percebi que era ali e logo me acalmei.
- Pode me soltar, eu não vou fazer nada. – pedi e ele o fez.
- Sua desgraçada, eu vou acabar com você! – Ashley gritou. - Olha o que você fez com o meu olho! Vou te denunciar pra policia, você não sabe com quem se meteu. – ela ameaçou.
- Quem não sabe com quem se meteu é você, queridinha. – Sarah respondeu antes que eu pudesse dizer algo.
- Você de novo, sua vadia? – Ashley exclamou.
- Vadia é você, sua mulherzinha baixa, olha bem como fala comigo e com a minha cliente. – ela disse apontando em minha direção. – Lembre-se que sou advogada do e também da e se você não tomar cuidado quem será presa será você, já que o meu cliente entrou com um pedido de restrição contra a sua pessoa insuportável. Tenho certeza que você já recebeu a intimação do juiz. E por essa medida você deve saber muito bem que não pode nunca mais se aproximar dele ou da sua família, ouviu bem? Ou quem irá parar atrás das grades é você. Agora suma da nossa frente antes que eu chame a policia. – Sarah ameaçou e Ashley estranhamente obedeceu e se afastou, caminhando irritada em direção ao fundo do estacionamento.
- Nossa. – murmurei.
- Você esta bem, ? – Sarah e perguntaram ao mesmo tempo e eu assenti.
- Que bom. E preciso tirar o meu chapéu pra você, . Aquela mulherzinha estava merecendo uma boa surra. Foi gratificante ver, pena que e eu tivemos que tira-la de cima dela por medo da policia aparecer. – ela disse sorrindo.
- A briga como um cara, foi lindo de ver. – disse rindo e eu não aguentei sorrindo também.
- Eu que o diga, ainda me lembro da força do tapa que ela me deu. – Sarah comentou, mas ela não parecia chateada com aquilo.
- Acho que preciso me desculpar com você por isso, me contou que... – eu dizia, mas ela me interrompeu.
- Sem problemas, além do mais a culpa foi minha. Eu não deveria ter agarrado o seu namorado. Sei que é meio tarde, mas eu peço desculpas por isso. – ela sorriu.
- Tudo bem, já faz muito tempo. Amigas? – perguntei estendendo-lhe a mão.
- Claro, amigas. – ela apertou a minha e nós sorrimos sinceras.
- Que cena linda e comovente. – murmurou e nós duas reviramos os olhos pra ele.
- É melhor eu ir logo pra casa. – eu disse tentando me ajeitar após o ataque daquela vadia maluca, mas acabei mancando até o carro por causa do pisão no pé e me parou.
- Acho que você se machucou sim, . – ele me encarou preocupado.
- É só o meu pé, aquela vaca pisou com o salto sobre ele com força. Mas te garanto que ela ficou bem mais destruída que eu. – sorri satisfeita e gargalhou alto.
- Com toda a certeza ficou. – ele disse um tempo depois. – Mas acho melhor te levar ao hospital pra ver isso. – ele concluiu agora sério.
- Deixa de ser exagerado, eu só preciso colocar gelo no pé. – respondi.
- Tudo bem, mas você não vai dirigindo pra casa assim. – ele ordenou. – Sarah, você pode ir nos seguindo com o meu carro, enquanto eu levo o carro da até a casa dela? – ele perguntou e a advogada prontamente aceitou.
- Claro, me de as chaves. – ele as jogou pra ela e alguns minutos depois nós estávamos saindo do estacionamento do shopping em direção ao meu apartamento.
- Então, você e Sarah estavam tendo um encontro? – perguntei maliciosa e pareceu ficar envergonhado.
- Algo do tipo. – ele respondeu.
- Algo do tipo? Você poderia ser um pouco mais detalhista, . – murmurei emburrada com a sua falta de informação e ele riu.
- Você não tem jeito, baixinha. Tudo bem, eu vou te contar. – ele disse e então seguimos o resto do caminho fazendo confidências amorosas.
Um tempo depois quando eu já estava em casa deitada sobre o sofá com uma bolsa de gelo sobre o pé, irrompeu no apartamento parecendo preocupado, ele logo se aproximou de mim e fez uma vistoria minuciosa em cada pedacinho do meu corpo antes de me surpreender com um abraço apertado.
- Me desculpe, . Eu vim assim que soube. – ele contou me apertando ainda mais, quase me sufocando.
- , eu estou ficando sem ar. – reclamei e ele me soltou encarando o meu rosto.
- Você esta bem? Onde ela te machucou? Eu vou acabar com aquela mulher! – ele ameaçou ficando imediatamente irritado.
- Hey, calma! – pedi segurando seu rosto. – Tá tudo bem, eu só machuquei um pouco o meu pé, mas te garanto que ela ficou bem pior. – disse sorrindo, mas ele não sorriu, ele ainda estava preocupado.
- É tudo minha culpa, . Me desculpa. – ele pediu também segurando o meu rosto, o aproximando do dele.
- Não foi sua culpa, ela que é uma louca. – eu respondi olhando em seus olhos.
- Foi sim, se não fosse por eu ter sido um idiota e por ter me envolvido com ela, você nunca teria passado por isso. – ele disse sincero.
- Esquece isso, . Foi gratificante finalmente acertar uns tapas naquela vadia. – eu sorri triunfante e ele finalmente riu.
- Você não tem jeito. – ele disse o mesmo que havia me dito tempos atrás e eu ri. – Tá rindo do que? – ele perguntou confuso.
- Nada. – respondi sorrindo. – Me dá um beijo? – pedi atrevida, sabendo que não deveria fazer aquilo, afinal de contas eu havia dito que deveríamos ser apenas amigos por enquanto, mas algo me dizia que um beijo dele era tudo o que eu mais precisava no momento.
- Não precisa pedir duas vezes. – respondeu sorrindo e me beijou carinhosamente por um bom tempo e ficamos assim abraçados sobre o sofá da sala até que e aparecerem e eu me separei dele, para que não fizesse perguntas para as quais eu não teria respostas agora. felizmente não fez nenhum comentário e terminamos a noite de sexta os quatro juntos, dividindo uma pizza metade mussarela, metade pepperoni. E tudo naquele momento parecia perfeito.


“E de repente a vida te vira do avesso, e você descobre que o avesso, é o seu lado certo”.
- Caio Fernando Abreu.









“As pessoas ao longo da vida, vão sempre acabar te decepcionando. Algumas com algum propósito e outras sem querer. Mas quem escolhe sofrer ou superar cada uma dessas decepções, não são elas, é você. ”.
? Ana Carolina




Jakes’ POV.

Estava aguardando o elevador no subsolo do prédio, quando as portas se abriram e saiu com pressa, parecendo toda atrapalhada digitando freneticamente no celular em suas mãos.
- Hey, qual é a emergência, doutora? - chamei assim que a percebi se afastando em direção ao carro sem ao menos ter me notado parado ali.
- Jake! - se virou me encarando. - Me desculpe, eu não te vi. Tenho uma emergência no hospital, houve um acidente doméstico com uma criança que é minha paciente e eu preciso ir para lá logo. - ela dizia sem parar.
- Ok, tudo bem. Não vou te prender aqui. Até mais e boa sorte, . - disse me dirigindo novamente em direção aos elevadores.
- Jake, espere! - ela disse de repente e eu me virei novamente para ela, confuso. Ela não estava com pressa?
- Sim? - perguntei a encarando.
- Você tem que trabalhar essa tarde? - ela perguntou ainda não fazendo sentido algum pra mim.
- Não, estou livre durante a tarde. Por quê?
- Pode me fazer um favor? Eu teria que ir buscar no ballet, prometi a que faria isso hoje porque eu estava de folga à tarde, mas agora com essa emergência de ultima hora eu não vou poder ir até lá. Estou tentando falar com a , mas ela esta em aula e não esta atendendo ao telefone. também não atende e Penny também não, a mãe da Emily muito menos, todos parecem ter combinado de não me atender justo hoje! - ela exclamou visivelmente perdida.
- , se acalme. - pedi e ela respirou fundo antes de concluir o que queria dizer.
- Você poderia buscar no ballet para mim hoje e se possível ficar com ela no seu apartamento até a voltar da escola às cinco da tarde? - ela me olhou com um olhar suplicante e eu não tive como negar diante do seu desespero.
- Tudo bem, eu vou buscá-la. Pode ir pro hospital. - disse colocando minhas mãos sobre seus ombros e ela respirou aliviada.
- Obrigada, Evans. Você é o melhor! - ela disse sorrindo. - sai daqui à meia hora. - completou.
- Ok, eu já estou indo pra lá então. - eu concordei, dando meia volta em direção ao meu carro novamente.
- Você é mesmo o máximo! Obrigada de novo, nos vemos depois. - e retomando a mesma pressa de antes, entrou em seu carro e saiu cantando pneus em direção ao hospital onde trabalhava.
Entrei no meu carro rindo do jeito louco de e segui calmamente em direção ao local onde fazia ballet. Eu já havia ido até lá algumas vezes com buscá-la, então já estava acostumado com o caminho. Estacionei um tempo depois próximo a entrada e sai do carro seguindo para dentro do prédio, algumas mães já saiam em direção à rua com suas filhas vestidas com tutus cor de rosa e sapatilhas da mesma cor nos pés, segurando em suas mãos.
Era uma bela cena maternal e eu me lembrei de admirar saindo do mesmo modo outras vezes com ao seu lado. Desde que as conheci, aquelas duas haviam me cativado imediatamente. E agora eu me sentia culpado por ter dado ouvidos a Ashley e a ajudado antes me aproximando de para afastá-la do . Eu não estava mais ajudando a minha irmã há algum tempo. Não desde que ela havia sido internada e eu notei o quão desequilibrada ela estava. Sem contar que eu passei realmente a gostar de e também de . E as duas não mereciam uma atitude dessas da minha parte.
- Tio Jake! - me viu assim que entrei na sala de ensaios e correu em minha direção, se a visse correndo daquela forma de novo, logo lhe daria uma bronca, preocupada que a filha caísse e se machucasse. Eu sorri me lembrando do dia em que fomos ver o Papai Noel no centro.
- Hey baixinha, deixa só sua mãe te ver correndo assim. - eu brinquei e ela sorriu sapeca.
- Cadê a tia ? - ela perguntou confusa.
- Sua tia teve uma emergência no hospital com uma criança que ficou dodói e pediu para que eu viesse te buscar. Então, vamos pra casa? - perguntei sorrindo e ela concordou. Então seguimos para fora do prédio em direção ao meu carro e assim que acomodei no banco de trás senti alguém cutucando o meu ombro e me virei surpreso por encontrar Ashley na minha frente.
- Ash? - perguntei não acreditando que após tanto tempo a procurando ela finalmente havia aparecido e tão inesperadamente.
- Hey maninho, saudades. - ela disse sorrindo e logo me deu um abraço apertado.
- Onde você estava? Nós estamos te procurando há tanto tempo! Eu até fui para os Estados Unidos ajudar Peter a... - eu dizia confuso quando ela me interrompeu.
- Eu vim para Londres assim que consegui sair daquele lugar. - ela respondeu dando de ombros. - Não suportava mais ficar na América com todos me julgando pelas costas.
- Mas porque você não me procurou antes? Eu estava preocupado! - exclamei um pouco alto, me sentindo nervoso com a sua falta de noção.
- Desculpe te deixar preocupado Jake, mas eu só precisava ficar sozinha por um tempo. - ela me deu um sorriso triste e eu fiquei com o coração apertado diante da imagem frágil da minha irmãzinha.
- Tudo bem, o importante é que você parece estar bem e agora esta aqui comigo. - disse a abraçando de novo. - Onde você esta morando? Quer ir para o meu apartamento? - perguntei ainda preocupado.
- Acho melhor não, você tem alguns vizinhos desagradáveis por lá. - ela disse fazendo cara de nojo.
- Ashley. - ralhei e ela sorriu.
- Eu estou morando numa casa um pouco afastada de Londres, uma das propriedades que papai tem por aqui, lá é calmo e eu me sinto bem por lá. - ela respondeu dando de ombros.
- E como você esta se sustentando? Você tem se alimentado? - perguntei tocando o seu rosto que parecia bem mais magro que a ultima vez que a vi.
- Esta tudo em ordem, eu tenho alguns amigos por aqui me ajudando. - ela respondeu sorrindo.
- Ashley. - ralhei novamente.
- Não se preocupe, não estou fazendo nada ilegal para sobreviver. - afirmou parecendo dizer a verdade.
- Certo, mas venha comigo até o meu apartamento para que a gente possa conversar sobre esse seu desaparecimento mocinha.
- Tio Jake! - exclamou de dentro do carro antes que Ashley pudesse me responder e eu finalmente me lembrei de que teria de cuidar dela hoje. Estapeei minha testa me sentindo um idiota por ter esquecido aquilo por um momento. Mas estava tão preocupado com minha irmã nos últimos tempos que vê-la novamente me deixou aéreo.
- Hey, quem é essa gracinha? - Ashley se aproximou da janela do carro observando .
- Eu conheço você, é a amiga do tio , da pizza. - disse contente por ter reconhecido Ashley.
- ? Pizza? Do que ela esta falando, Ashley? - perguntei cruzando os braços, irritado. Ela estava se encontrando com o idiota do de novo? Ele não estava tentando reconquistar a minha ? Foi por isso que me afastei quando ela recusou meu pedido de casamento, porque achei que eles iriam tentar outra vez. Eu não confiava em , mas também não iria manter uma família separada.
- Fui fazer uma visitinha para ele esses dias e essa gracinha estava lá. - Ashley respondeu com um sorriso estranho no rosto. Ela não me enganava.
- Ashley, vocês dois não estão novamente... - ela me interrompeu.
- Isso não é da sua conta, Jake. - disse ríspida, mudando bruscamente de humor. - Você desistiu de me ajudar. - me encarou parecendo magoada.
- Você sabe que aquele seu plano não era algo legal. Você tem que esquecer o , se ele quer mesmo voltar para a ex-mulher, nós não poderemos impedir. - disse sério.
- Mas eu sei que você também gosta dela, por qual motivo estaria aqui cuidando dessa menina agora? - ela me encarou sarcástica.
- Por que sou uma boa pessoa e estou ajudando alguém, Ashley. – respondi tentando soar convincente para mim mesmo. No fundo eu sabia que fazia aquilo porque ainda gostava muito de e também de .
- Jake, você não me engana, eu sei que desistiu de me ajudar porque se apaixonou por aquelazinha. - me encarou brava, mencionando com desgosto.
- é uma ótima pessoa e sim, eu gosto muito dela. Mas também sei quando é a hora de recuar. Ela ama o e não sou eu quem ficara no caminho dos dois, você deveria fazer o mesmo. - disse notando seu rosto ficar vermelho e seus olhos brilharem.
- Argh! Mas eu não consigo, Jay! - Ashley disse cerrando os punhos. - Eu amo o , nunca vou deixar de amar. - lágrimas brotaram pelos seus olhos e eu senti meu coração se apertar diante daquela cena da minha garotinha tão frágil.
- Você tem que tentar, Ash. Esse amor que você acha que ainda sente por ele não esta te fazendo bem. - eu disse a abraçando.
- Não consigo! - ela murmurou com o rosto apoiado no meu ombro. - Eu queria que ele sofresse pelo menos um pouco, depois de tudo o que ele me fez. Mas ao mesmo tempo queria que ele voltasse logo pra mim, ele já fez isso uma vez. Sei que fará de novo! – exclamou convencida.
- Você nunca me contou essa história direito, o que aquele idiota fez? Por que vocês terminaram? - perguntei irritado, ignorando a sua ultima frase de propósito.
- Eu não quero falar sobre isso. - ela se esquivou novamente, ela sempre fazia isso quando eu pedia detalhes sobre o que havia acontecido com eles. Eu suspirei frustrado. De repente ela me encarou sorrindo de novo, com esperança no olhar. As suas oscilações de humor ainda eram visíveis. - Jake, você precisa me ajudar a dar um susto no .
- Não Ashley, eu não vou te ajudar novamente com esse seu plano maluco de vingança. Isso não te faz bem, eu já disse. - respondi ainda bravo. Irritado com ela e principalmente irritado com o idiota do que havia transformado a minha irmãzinha naquela pessoa estranha.
- Eu não tenho nenhum plano de vingança, Jake. Só quero que ele fique preocupado, que sofra, pelo menos por algumas horas. Só quero ver ele se sentindo mal pelo menos um pouquinho como eu me sinto desde que ele foi embora, quero isso para me sentir livre dele de uma vez por todas. Me ajude a me libertar Jake, por favor. Nós não faremos nada ruim. - ela me encarou suplicando e aquele sentimento de amor fraterno e incondicional que eu sentia por Ashley e me fazia agir de maneira irracional sempre que precisava defendê-la, sempre querendo fazer com que ela fosse feliz, me invadiu fazendo com que eu concordasse naquele momento com o que quer que ela pedisse.
- Não é nada ruim mesmo, não é? - perguntei e ela sorriu de novo, assentindo.
- Só quero dar um susto nele. - ela respondeu e eu a encarei ainda reticente. - Você esta cuidando da filha do , não está? Que tal se nós fossemos dar um volta com ela por algum lugar e sumíssemos por poucas horas? Assim que o seu telefone estiver lotado de ligações e mensagens - que obviamente você não irá responder - mostrando que eles estão loucamente preocupados com ela, nós simplesmente voltamos e deixamos a garotinha em casa. É isso, apenas um pequeno susto e eu já me sentiria bem melhor. - ela disse ainda sorrindo, mas aquele sorriso me deu certo arrepio.
- Não acho uma boa ideia usarmos a , também ficará preocupada e eu não quero que... - Ashley me interrompeu pela terceira vez.
- Nós não faremos mal a garota, só a levaremos para passear, talvez tomar um sorvete. Por Deus, Jake! Eu sou a sua irmã mais nova e você se preocupa mais com a do que comigo?! - ela disse agora irritada.
- Abaixe o tom, Ashley. – pedi, notando as pessoas que passavam pela calçada nos encararem curiosos. - Você sabe muito bem que a pessoa mais importante na minha vida é você e que eu faria qualquer coisa para te ver bem, só não acho que devemos envolver uma criança nisso. - disse cruzando os braços.
- É só um passeio, Jake! - ela exclamou mais baixo. E então foi novamente até a janela do carro e se inclinou sobre ela falando com em seguida. - Hey gatinha, que tal passar à tarde comigo e com o tio Jake enquanto sua mãe esta trabalhando? Dessa vez prometo que haverá pizza. - ela disse a menina e inocentemente aceitou. - Viu, ela irá se divertir. Vamos? - Ashley seguiu em direção a porta do carona e logo entrou no carro. Eu segui até o lado do motorista, e respirei fundo antes de entrar no carro, me sentindo frustrado por dar ouvidos a mais um de seus caprichos. Aquele gênio de Ashley era tudo culpa de Peter.
- Para onde nós vamos? - perguntei derrotado. Ela sorriu colocando os óculos de sol sobre os olhos.
- Vamos para a minha casa, assim você já fica conhecendo o local onde a sua irmãzinha esta morando e lá tem uma boa área livre pra garotinha aí passar a tarde brincando. Mas antes pare no caminho em alguma pizzaria para que ela não fique reclamando de novo. - ela disse a ultima parte mais baixou e em seguida se virou em direção a no banco de trás. - Pronta para um passeio lindinha? - Ashley perguntou.
- Siiim! - exclamou feliz e alheia a tudo o que aconteceria naquele dia. E assim seguimos em direção a casa de Ashley.

(...)


- O que você esta fazendo? – perguntei vendo Ashley digitar mais uma vez uma mensagem no celular algumas horas depois, aquela não era a primeira vez que ela fazia aquilo durante a tarde.
- Apenas dando uma melhorada no meu plano. – ela respondeu sorrindo e eu a encarei desconfiado, retirando o celular de suas mãos enquanto ela protestava e verificando a ultima mensagem que ela havia enviado. Era uma espécie de ameaça de sequestro. E ela havia enviado aquilo para .
- Que porra é essa? Não foi isso que combinamos, Ashley! Você disse que só iria dar um susto no . Que só iria sumir com ela por algumas horas e depois devolvê-la para se vingar daquele babaca. Nada de sequestros e ameaças! – eu disse irritado e cansado daquela atitude da minha irmã mais nova que a cada dia parecia ficar mais desequilibrada. Teria que levá-la de volta para a clinica de reabilitação onde ela esteve internada nos Estados Unidos após o surto pós-rompimento com que ela havia tido.
- Os planos mudam, maninho. – ela respondeu com um sorriso estranho no rosto e uma escuridão no olhar.
Ashley tinha fingido para todos que estava bem, inclusive para mim no momento em que nos reencontramos, ela havia até mesmo enganado os médicos que estupidamente a haviam liberado sem avisar a nenhum dos familiares sobre a sua saída da clinica. E assim que deixou o local ela desapareceu do mapa. Eles não deveriam tê-la liberado, Ashley não estava e provavelmente nunca ficaria bem, era tudo culpa da educação falha que ela havia tido durante a vida. Ela era uma garota mimada. Sempre recebendo tudo o que queria dos pais, nunca ouvindo não. Convivendo diariamente com um pai rico, prepotente e dissimulado e uma mãe frágil emocionalmente que havia cometido suicídio há alguns anos, deixando a filha aos cuidados do marido crápula. Minha meia-irmã tinha um sério transtorno de personalidade diagnosticado recentemente. E ela estava movida a vingança. Eu sabia quais eram os seus planos, pelo menos a parte que ela havia me confiado e no inicio havia a ajudado por não achar que ela faria mal a alguém com exceção do , não me orgulho de admitir isso, mas o fiz com a intenção de fazer com que ela desistisse daquilo, lhe mostrando que não valia a pena. Que ela deveria seguir em frente e não ficar presa para sempre a um homem que obviamente não a queria e que visivelmente não prestava, pois havia traído a ex-esposa com ela. Se ele havia feito isso antes, poderia fazer de novo. Nunca soube o real motivo do rompimento dos dois, Ashley nunca me forneceu detalhes e nunca ouvi outros comentários sobre o final do noivado deles, mas imaginava que o idiota do deveria estar traindo também a minha irmã. Por isso a ajudei quando ela me ligou chorando um tempo antes de realmente se separar dele e me pediu que fizesse o que eu havia feito. Eu já estava morando em Londres naquela época e coincidentemente conheci . Não sei como Ashley descobriu que morávamos no mesmo prédio e que já éramos próximos. Não entendia o seu ponto. Se ele não estava mais com a ex, se não sabia do paradeiro dela, porque então eu teria que me envolver com ela para afastá-la de ? Mas Ashley nunca fez sentido. E infelizmente, ela é e sempre será a minha garotinha, minha irmã caçula, a garotinha que eu descobri ser minha irmã quando criança e que me acolheu como irmão mais velho sem questionamentos, mesmo quando o pai queria nos manter afastados. Para mim custava vê-la da forma que estava nos dias atuais, aquela não era a minha doce Ashley, Peter a havia estragado.
Peter Johnson, o cara que eu deveria chamar de pai, mas que na realidade foi apenas um estúpido que meteu seu esperma onde não deveria, eu nunca conseguiria chamá-lo de pai. Após vários anos de distância, Peter entrou em contato comigo durante a noite em que eu estava na festa após a pré-estreia de um filme que os caras do McFly haviam convidado e eu para assistirmos, eu segui para o lado de fora do local do evento, enquanto ele me informava sobre o recente desaparecimento de Ashley. E algumas semanas depois após tentar entrar em contato com ela por diversos modos e não aguentando mais ficar sem noticias e de mãos atadas na Inglaterra, decidi partir pros Estados Unidos.
Eu realmente gostava de . Não deveria ter começado nosso relacionamento daquela forma, mas no final acabei me apaixonando por ela de verdade e logo quis dar um basta aquele plano idiota da Ashley, mas então voltou. E eles tinham uma filha juntos. Não queria deixá-la com ele, porque eu sei que ele não a merece, mas eu via no olhar de que apesar de ela negar a todo custo, ela ainda o amava. Então terminei o nosso namoro antes de ir procurar Ashley, achando que a distância e as preocupações com a minha irmã me ajudariam a tirar da cabeça e do coração. Mas quando voltei para casa e a vi, notei que aquilo não seria tão fácil, por um impulso agi sem pensar e a pedi em casamento, mas ela claramente não aceitou o meu pedido. Estava na cara que ela era dele de novo. E aquilo me deixava furioso, porque não soube tratá-la como devia antes e nunca saberia. Mas isso não cabia mais a mim. Se queria quebrar a cara e o coração novamente se envolvendo com ele, era problema dela.
Só que Ashley apareceu diante de mim naquela tarde, ela estava se escondendo em Londres esse tempo todo, e em meio à raiva que eu sentia de no momento por ter ajudado a transformar a minha irmã naquela pessoa diante de mim que havia ficado tanto tempo internada em um hospício e por ter também me tirado , eu acabei cedendo novamente a um de seus pedidos insanos e concordado em ir com até a casa dela. Isso seria algo pelo qual eu me arrependeria pro resto da vida. Algo que eu nunca deveria ter feito. Não com aquela pequena garotinha, aquela princesinha por quem eu realmente havia me afeiçoado, quem eu considerava como filha. Eu não sabia onde estava com a cabeça para colocá-la naquela situação de risco diante de Ashley. Mas eu nunca deixaria minha irmã fazer mal a ela ou a . Eu daria um basta naquilo.
- Nós estamos indo pra casa, . – eu disse seguindo até a garotinha que brincava sobre um sofá na sala com uma boneca Barbie que Ashley havia dado para distraí-la. me olhou sorrindo.
- Que bom tio Jake! Gostei de brincar com a boneca nova, mas to com saudades da mamãe. – ela disse contente.
- Eu sei pequena, então vamos nessa! – disse, mas então me encarou com pânico no olhar e antes que eu pudesse entender a sua mudança de expressão senti algo atingindo a minha cabeça com força, a imagem de diante de mim ficou fora de foco, logo tudo escureceu e eu não vi ou senti mais nada.

(...)


’s POV.

e eu não nos víamos desde segunda-feira, quando tivemos que trabalhar novamente juntos no projeto. Aquele dia foi um pouco estranho, eu sei que havia pedido a ele aquele beijo alguns dias atrás, mas preferi me afastar novamente depois disso. As coisas não poderiam caminhar tão apressadamente e eu tinha prometido a mim mesma ir com calma em relação a ele. Então agimos apenas como companheiros de trabalho.
não parecia contente com isso, mas também não forçou a barra e ao final do expediente se despediu rapidamente e deixou a escola me deixando ainda mais confusa e desde então não nos vimos mais.
Ele saiu com após isso, mas sempre a deixou em casa quando eu não estava por lá.
Pensando sobre tudo aquilo caminhei até o meu carro no estacionamento do colégio e religuei meu celular assim que entrei no mesmo, notando algumas chamadas perdidas de . Um arrepio estranho percorreu o meu corpo e preocupada logo retornei a ligação de . Ela não atendeu na primeira vez e senti minhas mãos suarem imaginando ter acontecido algo sério a ou a ela. Respirei fundo tentando me acalmar e liguei novamente, desta vez atendeu.
- ! – exclamei soltando o ar que havia prendido sem notar. – O que houve? Por que você me ligou tantas vezes? Aconteceu algo com ? – disparei perguntas sem deixar que ela respondesse, então me interrompeu, gritando o meu nome.
- Fica calma e me deixa falar. – ela pediu rindo e eu me calei. – A esta bem, eu estava tentando falar com você e com o , porque tive uma emergência no hospital e não pude ir buscá-la no ballet. – ela explicou.
- Então esta com ela? – perguntei me sentindo mais calma. – Você me deu um susto com todas aquelas ligações perdidas. – reclamei, riu.
- Desculpe, eu estava um pouco histérica na hora sem saber o que fazer. – ela confessou. – E não, não esta com . – disse e confusa eu já me preparava para perguntar quem estava com a minha filha quando ela imediatamente respondeu. – Ela esta com Jake, eu não consegui falar com você e nem com , então Jake estava chegando no prédio no momento em que eu saia de lá perdida sem saber o que fazer e ele gentilmente aceitou ir buscá-la e cuidar dela durante a tarde depois que eu pedi. Ele esta com ela no apartamento dele. – explicou.
- Ah, tudo bem. – respondi me sentindo incerta sobre ter Jake cuidando de depois de tudo. Nós não tínhamos nos visto desde a festa de Penny e . E eu sentia ele se afastando cada vez mais de mim. Mesmo ele tendo concordado em sermos amigos, ele não parecia querer levar essa amizade adiante. – Estou indo pra casa então, desculpe por não ter atendido suas ligações. – e eu nos despedimos e eu segui em direção ao prédio onde morávamos, mas aquele pressentimento estranho que tomou conta de mim quando vi a quantidade de ligações de ainda estava lá, me deixando inquieta. Como se algo ruim ainda fosse acontecer e eu sabia que só ficaria bem quando visse em casa. Dirigi o resto do caminho desejando que tudo estivesse realmente bem.

(...)


- Jake! Até que enfim. - exclamei me sentindo aliviada por finalmente ter noticias dele. - Onde vocês estão? me disse que você se ofereceu para buscar no ballet, porque ela teve uma emergência no hospital, mas eu cheguei em casa e não encontrei vocês aqui. Já estava ficando preocupada. Está tudo bem? Por que não voltaram pra casa ainda? Por que não atendeu as minhas ligações anteriores? - perguntei aflita, Jake permaneceu em silêncio por um momento, mas logo depois um riso estranho foi emitido do outro lado da linha.
- Nós estamos bem, mamãe. – uma voz feminina que eu reconhecia bem brincou e eu soltei o ar que não havia percebido estar preso em meus pulmões durante todo aquele período de expectativa. No fundo eu tentava me convencer de que eles estavam bem, que eu estava me preocupando por bobagens, que minha pequena e Jake deveriam apenas ter perdido a hora passeando por algum lugar, mas logo voltariam pra casa. Jake e eu não estávamos mais juntos romanticamente, mas eu gostava de pensar que éramos amigos agora e que ele sempre cuidaria bem de . Jake era um cara incrível. Mas no minuto em que ouvi aquela voz um alarme disparou no meu coração, algo de muito errado estava acontecendo.
- Quem esta falando? – perguntei, mesmo sabendo de quem se tratava e a mulher riu novamente se divertindo as minhas custas. – Onde estão e Jake? - pedi e ela novamente emitiu aquele riso estranho, que dessa vez fez com que um arrepio incômodo percorresse o meu corpo.
- A garotinha irritante esta dormindo sobre o sofá. E o meu amado irmão também se encontra inconsciente no cômodo ao lado. O pobrezinho estava cansado. - ela disse em um tom de voz diferente. – Só liguei para dizer que nós não voltaremos para casa hoje, queridinha.
- O que você quer dizer? Irmão? Como assim? - perguntei confusa, com uma sensação estranha se apoderando de mim.
- Jake é meu irmão, sua idiota. Só você ainda não sabia sobre isso? – ela gargalhou. - Bem, é melhor eu dizer que não voltaremos para casa, nunca mais. - ela emitiu outra risada, que agora eu percebia ser maléfica.
- Do que você esta falando Ashley? Que brincadeira sem graça é essa? Devolva a minha filha! - exclamei irritada.
- Oh, então você sabe bem com quem esta falando, . Uma corna nunca se esquece da pessoa que ajudou o seu marido a lhe meter chifres. – ela gargalhou como uma pessoa insana. - A pequena , Jake e eu estamos a caminho da nossa nova casa mamãe, bem longe daqui e infelizmente, você não irá morar conosco. – Ashley concluiu ficando séria de repente.
- Johnson, o que você... - senti meu coração disparar, meu estomago se embrulhar, meus olhos se embaçaram e arderam, todas aquelas sensações causadas por uma grande decepção, todas aquelas sensações que definiam o medo. O que Jake havia feito? Ele era irmão daquela puta? Ele entregou minha filha nas mãos daquela maluca assim? Eles estavam a sequestrando. A minha pequena. Jake havia me enganado esse tempo todo. Pra onde eles estavam indo? Ashley emitiu novamente a sua risada assustadora do outro lado da linha.
- Você e o nunca mais irão ver a , queridinha. - ela disse ameaçadoramente, rindo em seguida. – Essa é a minha vingança por tudo. Culpe o seu ex-maridinho pelo resto da vida. Porque só estou fazendo isso por causa dele. Porque ele me humilhou de novo, ele me rejeitou e agora vocês vão sofrer as consequências. E também culpe um pouco a si mesma, pois isso também é em retaliação ao soco que você me deu aquele dia no estacionamento sua corna. Adeus! – o telefone ficou mudo do outro lado enquanto eu sentia o meu coração disparado.
- Não... - eu murmurei, minha cabeça girava e tudo estava ficando escuro. - Minha filha, não. - e eu não vi ou ouvi mais nada.

(...)


- Ela esta acordando. - uma voz feminina chegou até os meus ouvidos, enquanto eu tentava me acostumar com a claridade ao abrir os olhos.
- Graças a Deus! - outra voz, também feminina exclamou e eu então consegui visualizar as duas mulheres paradas a minha frente. e Penélope.
- O que... Aí. - tentei me levantar e senti minha cabeça latejar. Notei como a minha voz saiu fraca, parecendo apenas um sussurro, minha garganta estava seca.
- Fique calma aí, mocinha. Você provavelmente levou uma pancada na cabeça ao desmaiar. - disse fazendo com que eu me recostasse novamente na cama.
- O que aconteceu? - murmurei novamente.
- Você não se lembra? Eu te deixei sozinha na sala quando você disse que iria ligar para o Jake, enquanto fui tomar um banho e quando voltei você estava desmaiada ao lado da mesa de centro. Acho que você bateu a cabeça nela quando caiu, porque tem esse pequeno corte na sua testa. - explicou.
- me telefonou logo em seguida, me dizendo o que havia acontecido com você. Ela disse que tinha realizado todos os cuidados médicos necessários, mas que você não acordava, então vim pra cá tentar ajudar. Já estávamos prontas pra te levar ao hospital. - Penny disse se sentando ao meu lado na cama e tomando minhas mãos entre as suas com um olhar preocupado. não estava diferente.
- Por quanto tempo eu apaguei? - me sentia confusa e um pouco desnorteada.
- Já faz quase uma hora. Já íamos te levar pro hospital, nós só estávamos esperando... - respondia enquanto em um flash, tudo se clareou na minha mente.
- ! - eu exclamei tentando me levantar novamente e me sentindo tonta. Eu precisava encontrar a minha filha.
- Calma , ela ainda deve estar com o Jake, não se preocupe... - dizia quando eu a interrompi novamente.
- Jake é um canalha que me enganou, . Jake é um merda que estava ajudando a irmã maluca esse tempo todo. Eles são dois sequestradores. Eles levaram a minha . - eu dizia sentindo meus olhos se encherem de lágrimas ao lembrar-me das palavras proferidas por Ashley ao telefone. - Eles levaram o meu bebê, quero o meu bebê de volta. - murmurava desnorteada já sentindo as lágrimas quentes percorrerem furiosamente o meu rosto.
- , se acalme. Você está dizendo coisas desconexas. Que irmã? O que aconteceu? - Penny me encarava tentando entender.
- Ela esta confusa, deve ser pela pancada na cabeça. É melhor irmos pro hospital para fazer uns exames. - tentou explicar.
- Não , eu não estou confusa! Eu quero a minha filha! - gritei sentindo raiva por elas não me ouvirem. – Jake e Ashley são irmãos! E eles levaram a minha ! - as duas mulheres me olharam assustadas pela minha reação.
- , ele não pode ter feito isso. Jake foi seu namorado, conviveu conosco por um bom tempo, ele é um cara legal. E o que a biscate da ex do tem a ver com isso? Como assim eles são irmãos? - falava comigo como se estivesse explicando algo a uma criança, ela parecia não acreditar. Eu me sentei na cama a encarando cada vez mais irritada, pronta para explicar o que havia acontecido, quando alguém bateu a porta. foi até a mesma girando a maçaneta para atender quem quer que fosse.
- Ela já acordou, mas acho melhor a levarmos pra fazer uns exames por causa da pancada. - explicava a alguém que permanecia do lado de fora do quarto, quando a minha amiga o puxou para dentro e eu notei me encarando. Ele não estava sozinho, outros dois homens entraram logo atrás dele me lançando olhares preocupados. e . O primeiro carregando o filho nos braços. Provavelmente havia trazido Penny até a nossa casa. Mas o que e faziam ali?
- Melhor nós irmos no meu carro, ele é maior e ela vai ficar mais confortável no banco traseiro. - comentou.
- Mesmo assim não caberá todo mundo. e eu seguimos vocês no meu carro. - comentou.
- Eu levo a no colo. - disse caminhando até onde eu estava.
- Não! - eu gritei quando se aproximou, cansada de ser ignorada. - Eu não vou a lugar algum antes de descobrir onde está . - disse com raiva.
- Mas ... - Penny tentou me persuadir, mas eu não ficaria nem mais um minuto sem noticias da minha filha.
- Onde está o meu celular, ? - perguntei os encarando seriamente.
- Pra que você precisa do celular ? Deixe de ser teimosa pelo menos uma vez na vida, você precisa ir para o hospital. - respondeu nervosa. Eu fechei os olhos respirando profundamente para me acalmar e fazer com todos eles me ouvissem.
- Escutem, eu estou bem, mas nesse momento a minha filha pode não estar e imaginar isso me deixa louca e furiosa como uma maldita mãe urso. Eu estava falando com Ashley antes de desmaiar, eu liguei para o número de Jake, porque queria saber onde eles estavam e aquela filha da... Aquela vadia irritante foi quem atendeu e ela me disse que tinha levado minha filha embora, que Jake estava com elas e que eu nunca mais a veria. - Todos me olharam surpresos. - É isso mesmo que vocês ouviram. Jake me enganou esse tempo todo. Ele e Ashley são irmãos, ele estava ajudando ela em algum tipo de plano doentio de vingança. E eles levaram embora, isso não é uma brincadeira e também nenhum delírio meu por ter batido a cabeça. Eu preciso tentar ligar para aquele canalha novamente. Preciso tentar obter alguma notícia, por mais impossível que seja o fato de que algum dos dois vá atender novamente a alguma ligação minha, eu não posso deixá-los nem mais um minuto com a minha pequena. Por isso me tragam logo a porcaria do celular! - terminei o meu discurso exaltada e todos finalmente pareciam ter compreendido, embora visivelmente não acreditassem. e rapidamente deixaram o quarto, nervosos, provavelmente em busca do aparelho telefônico, enquanto os outros permaneceram me inundando de perguntas.
- A gente precisa avisar o . - tentou falar baixo para que somente ouvisse e o mesmo assentiu, mas eu também acabei escutando.
- Porque vocês o chamariam? - perguntei brava, ainda me lembrando de tudo o que Ashley havia dito, que ela estava fazendo aquilo por vingança, que isso tudo só estava acontecendo com a minha por culpa dele. Ashley havia deixado aquilo bem claro. E ele era mesmo culpado por ter se envolvido com ela e colocado aquela vadia maluca nas nossas vidas. Eu sabia também que estava sendo egoísta, porque também era culpada de alguma forma. Mas uma mãe desesperada não pensa em detalhes nessas horas. Uma mãe desesperada só quer seu filho são e salvo em seus braços de novo e o mais rápido possível.
- Ele é o pai da , ele precisa saber, . - respondeu apreensivo.
- Ele pode nos ajudar a encontrá-la, você sabe que quanto mais ajuda melhor nesses casos, deixa o orgulho e o passado de lado e pensa na sua filha, . - concluiu com um olhar sério em minha direção, alheio ao novo relacionamento que e eu mantínhamos. Os encarei em silêncio por um tempo e depois assenti, sabendo que eu não poderia esconder isso de , ele era pai de , tinha o direito de saber. logo deixou o quarto com o celular em mãos, pronto para avisar o amigo.

(...)


- Jake? - atendi rapidamente quando notei o seu nome no visor do aparelho, eu já estava preparada para ligar para ele, já que acabara de me entregar o celular. E havia me deixado sozinha no quarto indo até a cozinha preparar uma sopa que segundo ela eu precisava comer, pois não tinha me alimentado direito durante o dia.
- Olá queridinha, como esta? – foi Ashley quem atendeu novamente e perguntou com falsa simpatia.
- Onde está a ? Devolva logo a minha filha! - exigi ignorando a sua pergunta.
- Tsc, você acha mesmo que esta em posição de exigir algo, querida? - ela parecia transtornada, sua voz lembrava o tom de voz de um maluco psicopata transtornado e isso me deixava mais desesperada a cada segundo. Respirei fundo tentando me controlar, eu precisava me acalmar e falar com ela normalmente para tentar fazer com que Ashley mudasse de ideia.
- Johnson, ouça bem. Você não precisa fazer isso, não precisa ir embora com , e eu nunca mais teremos nada um com o outro, você pode ficar com ele e se você tem medo de...
- Você acha mesmo que eu vou cair num papo furado desses? Você é mesmo muito ingênua , por isso o te traiu e enganou por tanto tempo. - ela disse de maneira ácida e rindo alto, fazendo com que eu ficasse mais nervosa.
- Porque você está com a minha filha então? - perguntei em um fio de voz. Ela riu por um momento e logo em seguida me contou todo o seu plano doentio. - Então você planejou isso tudo? E Jake te ajudou. - eu disse finalmente compreendendo. – Mas isso não faz sentido? Porque ele se envolveu comigo? Todo mundo sabia que e eu havíamos nos divorciado, que ele havia me deixado pra ficar com você. Todo mundo sabia que não me amava. Eu não tinha mais importância alguma pra ele. Nós não tínhamos mais nenhum contato e ele nem mesmo sabia sobre a filha. – eu questionei não vendo lógica no que Ashley havia feito. – Então Jake nunca gostou de mim de verdade, ele apenas me usou pra que você se vingasse do ? – conclui.
- Bravo, querida! Você esta se tornando mais esperta. - Ashley disse em deboche. – E é claro que há lógica no meu plano, sua idiota.
- Sua vadia dissimulada... Eu pensei que Jake era diferente, pensei que ele me amasse. Mas vocês são dois filhos da puta querendo destruir a minha vida. – respondi nervosa.
- , não acredito que te fiz dizer um palavrão. Uma mulher tão santa, certinha, sonsa e sem graça. Não sei como e o meu irmão aguentaram se envolver com você. - Ashley gargalhou do outro lado da linha. E isso me enfureceu mais ainda. Já estava cansada de ser chamada de certinha e sem graça.
- Cale a boca, sua vaca! - esbravejei sentindo a ira tomar conta do meu corpo.
- Bem, nem tão santa assim não é? Afinal você teve a coragem de trair o seu suposto namorado transando com o seu adorado ex-marido. - ela comentou de forma sarcástica.
- Não que eu te deva alguma explicação, mas Jake e eu não estávamos mais juntos quando e eu... Espera! Como você sabe...? - murmurei surpresa.
- Sempre vigiei todos os passos de a partir do momento em que ele veio morar comigo, sempre quis garantir que ele andasse na linha comigo e não fizesse o mesmo que ele havia feito com você, sua idiota. Fiz isso mesmo antes de nos separarmos e por consequência também vigiei os seus passos quando descobri o seu paradeiro antes dele, querida. E então meu irmão por uma obra do destino foi morar no mesmo prédio que você. ainda não sabia onde você morava ou que tinha uma filha, mas eu previ que seria questão de tempo até que vocês se encontrassem, Londres pode ser grande, mas merdas assim acontecem o tempo todo. E a partir daí bolei o meu plano de fazer com que Jake se aproximasse de você, no começo sem que ele mesmo soubesse, eu procurei saber de tudo o que te agradava e no inicio dava indiretas ao meu irmão sem que ele percebesse que eu a conhecia. Porque acha que ele te conquistou tão rápido? Eu soube manipulá-lo muito bem. – ela riu.
- Eu não consigo acreditar. – murmurei.
- Acredite querida, é tudo verdade. E preciso confessar algo, quando decidi seguir com esse plano, um pouco modificado na época em que me abandonou por um pequeno erro que cometi quando estava bêbada, no inicio eu fiz tudo por vingança, queria usar você para atingir , porque você pode ser ou se fingir de cega em relação a isso e achar que ele não te amava, mas eu pesquisei muito sobre a vida dele, sobre a vida de vocês dois, o idiota sempre te amou e isso sempre me deixou irritada, eu sabia que um dia ele voltaria atrás e te procuraria, que tudo o que o encantava e o prendia a mim era o sexo ardente que compartilhávamos por todos os lugares possíveis e eu já havia planejado tudo para que vocês se reencontrassem, e pra que nesse momento você e Jake estivessem juntos, pra assim eu fazer com que sofresse tanto quanto eu quando perdesse de vez a mulher que ama pra outro. Só que então descobri que você tinha uma filha e então quando Jake e você ficaram íntimos, você confessou para ele que a pequena era filha de e ele comentou comigo, pois na época eu já havia lhe dito a respeito de vocês dois terem sido casados e lhe pedido ajuda para mantê-los afastados. E por uma coincidência divina, foi graças a pirralha fedida que vocês dois se reencontraram naquele hospital. Nesse tempo eu apenas recebia informações, de um detetive que contratei para segui-los, que Jake já havia conquistado a sua confiança e já tinha conseguido um jeito de se aproximar de e da banda como produtor. Logo pensei que , que sempre me disse querer ter filhos um dia, ficaria muito mais desolado caso algo acontecesse a sua filha do que com a ex-mulher, ele sofreria mais se ficasse sem e se tivesse você o culpando por isso pelo resto da vida, então fiz algumas mudanças. Era o plano perfeito e tudo aconteceria ao seu tempo, porque sou uma garota muito paciente, mas notei algumas pontas soltas no meu plano conforme o tempo passava e percebi que o meu querido irmão passou a realmente gostar de você , mesmo você sendo essa mulher chata e sem graça. E então antecipei os meus planos, porque Jake já queria desistir e eu não posso permitir que o meu irmãozinho também tenha sentimentos por você. - Ashley confessou ainda rindo. Aquela vadia, maluca e psicopata.
E era tudo culpa de , novamente era tudo culpa dele.
Eu me sentia desolada, não conseguia acreditar que era tão cega, que mais uma vez havia deixado me enganar, e o pior de tudo, havia colocado a vida da minha filha em risco por ser uma mulher ingênua e idiota. Se algo acontecesse com eu nunca me perdoaria, eu não iria mais querer viver.
- Ashley não faça isso, não faça mal a uma garotinha que ainda esta começando a vida, não machuque a minha . Desconte tudo em mim, eu admito que a culpa seja minha, deixe que eu troque de lugar com ela, deixe que eu vá até onde vocês estão, eu prometo não dizer nada a ninguém. Eu me encontrarei com vocês, onde você quiser. Só não faça nada a minha filha, por favor. - implorei em uma ultima tentativa, eu faria qualquer coisa pra ter sã e salva.
- Você acha que eu sou idiota? - ela respondeu rispidamente. - Você provavelmente trará a policia até onde nós estamos.
- Não Ashley, eu prometo. Estou disposta a fazer qualquer coisa pela a minha filha. Pode me matar. Eu dou a minha vida por ela se for preciso. - joguei a ultima carta na mesa esperando que ela cedesse as minhas palavras.
- , querida... Eu posso ser maluca, mas não sou idiota. - Ashley murmurou parecendo confusa, transtornada. - Não, eu não posso fraquejar por culpa dessa mulherzinha irritante de novo! – ela conversava consigo mesma.
- Por favor. - implorei novamente. Ela ficou em silêncio pelo que me pareceu um longo tempo, até pensei que houvesse desligado, quando ela finalmente disse.
- Merda vadia, preste bem atenção no que vou dizer...

(…)


’s POV.

Estava no taxi indo para casa após ter passado pela produtora, meu celular havia ficado desligado durante a tarde toda enquanto eu compunha algumas canções e as ensaiava no violão sozinho, a musica era a única coisa que me ajudava a manter a promessa que eu havia feito a mim mesmo de dar espaço a . Ela havia me beijado, e eu havia tido esperanças naquele dia, mas depois tudo pareceu voltar a estaca zero e ela voltou a me tratar apenas como pai da sua filha, não como alguém por quem ela havia sido ou ainda era apaixonada. Tudo o que eu queria era ficar com ela, mas eu entendia que ela precisava recuperar a confiança que perdeu em mim antes de tentar algo mais.
Os caras já haviam ido embora há um bom tempo, mas eu fiquei perdido no mundo das melodias e perdi a noção do tempo saindo de lá quando o dia já havia escurecido, então liguei o aparelho outra vez para verificar se haviam mensagens ou chamadas, havia algumas chamadas perdidas de e e uma mensagem de um número desconhecido. Eu sabia a quem aquela mensagem pertencia, Ashley. Ela havia me deixado em paz por alguns dias, provavelmente após ter recebido a intimação da justiça sobre o processo da medida de restrição que a manteria afastada de mim e da minha família. Mas ali estava ela de novo, me infernizando.
Eu ia deletar a mensagem sem ao menos olhar, mas achei melhor salvá-la para mostrar a Sarah mais tarde, aquilo deveria ser algum tipo de violação no processo. Relutante, abri a mensagem e senti falta de ar assim que li o seu conteúdo.
Aquela vaca estava com ? E ela fazia ameaças contra a minha filha caso eu não fosse imediatamente até ela.
Não, aquilo era impossível. Como deixou isso acontecer? Tentei entrar em contato com aquele numero desconhecido, mas obviamente estava bloqueado. Ashley não havia me fornecido nenhum endereço indicando onde estava. Como aquela idiota queria que eu fosse até ela? Que tipo de brincadeira de mau gosto era aquela?
Chamei o taxista e pedi que ele mudasse a rota e me levasse em direção ao apartamento de , eu precisa descobrir se aquelas ameaças de Ashley eram verdadeiras, precisava conversar com e ter certeza de que estava bem. Mas naquele exato momento meu telefone tocou. Era .
- , você precisa vir até o apartamento da o mais rápido possível. – ele disse parecendo preocupado. Então era verdade. Ashley estava com a minha filha.
- Aquela puta esta mesmo com a ? – perguntei com raiva.
- Como você sabe? – questionou, confuso.
- Ela me mandou uma mensagem, . Dizendo que estava com a minha filha e que nós nunca mais veremos de novo. – respondi enquanto rezava para que o taxista andasse mais rápido por aquele transito infernal de fim de tarde. ficou em silêncio.
- Nós vamos dar um jeito, vamos descobrir para onde essa louca foi. – ele disse de repente.
- Chego aí o mais rápido possível, reúna e , chame Sarah também, o melhor é ligar para a policia e ela como advogada talvez possa ajudar. – pedi e ele concordou, logo se despedindo, mas antes que ele desligasse perguntei algo importante. – , e a , como ela esta?
- Fora de si. – foi tudo o que ele disse e logo encerrou a ligação.

(...)


Eu estava quase saindo do taxi e tentando percorrer o restante do caminho a pé quando o transito finalmente se desfez em um ponto da cidade, e um pouco depois o taxista finalmente estacionou diante do prédio de , dei a ele o dinheiro e nem esperei pelo troco, desci as pressas do veículo e corri para o interior do prédio, o elevador estava parado no décimo andar e eu xinguei baixo pela demora, desisti de esperar, porque a minha ansiedade no momento não permitia e segui até o andar de pelas escadas. Cheguei quase morto e sem fôlego ao apartamento, com o coração disparado, mas a adrenalina que percorria o meu corpo por conta de tudo o que estava acontecendo não me deixou ficar cansado por nenhum minuto sequer. Toquei a campainha e a porta logo foi aberta por uma que tinha um olhar assustado no rosto.
- O que aconteceu? – perguntei já imaginando o pior. – Ashley entrou em contato? Onde esta ? – disparei perguntas e logo se colocou ao meu lado também parecendo extremamente assustado e preocupado.
- A sumiu, . – ele disse em um sussurro incomum para o .
- O que? – gritei completamente confuso. – Como a sumiu? me disse que ela havia desmaiado hoje e que não estava bem, como ela saiu daqui sem que vocês todos percebessem! – exclamei irritado e eles se entreolharam parecendo culpados.
- Eu não sei como aconteceu, eu deixei ela sozinha para preparar algo pra ela comer, Penny estava me ajudando e os garotos deixaram o apartamento por um momento, tentando contato com alguém que nos ajudasse a localizar e Jake. pediu o celular para tentar ligar para ele novamente e eu a deixei fazendo isso e quando voltei, ela não estava mais no quarto e ninguém a viu sair. – se jogou sobre o sofá frustrada, lágrima surgiram no seu rosto. – É tudo culpa minha, eu não deveria ter deixado ela sozinha, agora ela vai querer agir por conta própria. – se culpava e logo sentou ao seu lado tentando acalmá-la.
- Não é sua culpa, linda. Nós todos deveríamos ter prestado mais atenção nela. A estava transtornada, não deveríamos ter saído do apartamento. – ele a consolava.
E eu por um momento fiquei ali parado diante deles vendo meu mundo desmoronar. Ashley estava sabe-se lá onde com a minha filhinha, pequena e indefesa. A minha princesa que não tinha culpa de nada e estava sofrendo consequências por conta dos meus atos. E agora também havia sumido. a mulher que eu amava e sempre amei desde a minha adolescência, a mulher que me deu o presente mais maravilhoso do mundo, . tinha ido atrás da nossa filha e aquilo era exatamente o que eu também iria fazer. Eu não iria deixá-las sozinhas, nunca. Eu iria trazer as duas garotas da minha vida de volta pra casa, sãs e salvas.
- , onde esta a Sarah? – perguntei, pegando meu celular no bolso.
- Ela já esta a caminho, estava em uma audiência. – ele explicou. – O que você vai fazer? – questionou enquanto todos me encaravam perdidos.
- Vou tentar ligar para a Ashley novamente. Vou trazer e de volta. – me afastei deles em direção a varanda enquanto discava o ultimo numero pelo qual Ashley havia entrado em contato comigo há algum tempo atrás que ainda estava gravado na memória do meu celular e que não estava bloqueado ou era desconhecido e rezei para que ela me atendesse.

’s POV.

Estacionei o carro diante de uma casa de madeira, que mais parecia uma cabana e se localizava em um local isolado na saída da cidade. Era o ambiente perfeito para uma psicopata como Ashley. Eu havia prometido a ela que não diria a ninguém sobre o lugar onde estava, mas eu nunca cumpriria qualquer promessa feita àquela vadia maluca. Então antes de sair do veículo digitei uma mensagem para informando onde estava e logo respirei fundo e desci do carro, ajustando o punhal que havia ganhado de presente do meu avô quando era mais nova. Eu não tinha um revolver e precisava ter algo com o que me defender, caso aquelazinha estivesse armada e tentasse algo contra ou contra mim. Eu não mediria forças para salvar a minha família, mesmo que cometesse um crime para isso.
Bati na porta da casa e logo a mesma foi aberta pela mulher por quem eu mais nutria ódio na vida. Ashley me encarava com um sorriso falso no rosto, enquanto abria passagem para que eu entrasse na casa.
- Onde esta a minha filha? – exigi rapidamente, avançando em direção a ela, doida para lhe acertar outro soco na cara.
- A pirralha esta brincando lá dentro. – ela sorriu de uma maneira que me causou um arrepio de medo e em seguida sacou algo do cinto, antes que eu pudesse agir e acertá-la com os meus punhos. – Agora, vamos ao nosso acerto de contas, . – Ashley apontou o revolver em minha direção e eu senti o meu coração disparar. Aquele punhal idiota não me ajudaria em nada diante daquela arma de fogo. – Me dê às chaves do seu carro. – ela exigiu esticando uma das mãos em minha direção, sem muita alternativa eu lancei as chaves para ela.
- Você disse antes iria me levar até . Disse que a deixaria ir para casa. – disse com a voz tremula tentando não pensar que ela poderia disparar a qualquer momento, não querendo morrer antes que a minha filha estivesse bem e salva daquela loira psicótica. Ashley gargalhou.
- Eu não vou te matar, queridinha. Pelo menos não por enquanto. Eu não sou maluca! – exclamou. Ela tinha um olhar ameaçador no rosto, indicando o contrário.
Um telefone tocava sem parar por perto e após bufar de raiva, Ashley pegou o aparelho, encarando o visor, confusa, mas ao mesmo tempo com um sorriso satisfeito no rosto.
- Ora, olha só quem resolveu me procurar finalmente. – ela sorriu mais ainda diante da insistência da ligação. – Bom, prefiro falar com a sós. Enquanto isso você ficará com o meu querido irmão, . Entre logo naquele quarto! – ela gritou apontando a arma novamente em minha direção e indicando uma porta a esquerda. – Já! – ela se aproximou quando notou a minha hesitação e me deu um tapa forte no rosto, eu levei a mão até a minha bochecha sentindo o lugar do tapa arder e a fuzilei querendo revidar, mas ela rapidamente apontou a arma de novo em minha direção com um sorriso vingativo no rosto, me obrigando a andar logo até o quarto, enquanto ela me empurrava para dentro e trancava a porta em seguida. Testei a fechadura assim que ela se afastou e a porcaria realmente havia sido trancada. Chutei a porta me sentindo frustrada, eu precisava sair dali e encontrar . Precisava levar minha filha pra casa.
Algo que Ashley disse levou a duvida de volta para o meu coração. Por que estava ligando para ela? Ele havia jurado que não tinha mais nenhum contato com Ashley. Será que ele havia descoberto algo? Será que viria nos salvar?
Um murmúrio por perto me tirou do meu devaneio e eu me virei encarando Jake sentado sobre uma cadeira no canto do quarto, completamente amarrado e com um hematoma na testa, ele parecia estar despertando de um sono profundo.
Então ele levantou a cabeça e me encarou com os olhos confusos.
- ? – sua voz saiu baixa e rouca, e ele fez uma careta como se sentisse muita dor.
- Jake. – eu respondi friamente, apesar do seu estado, eu estava irada com ele por ter levado minha filha até aquela louca.
- O que você esta fazendo aqui? – ele perguntou parecendo confuso. – Foi você quem me amarrou?
- Mas é claro que não, seu idiota! – exclamei estupefata por ele achar que eu tinha feito aquilo, apesar de ele merecer. – Foi a vadia da sua irmãzinha quem fez isso. – resmunguei.
- Ashley? – ele ainda parecia confuso. – Aí minha cabeça! – exclamou demonstrando dor.
- Pelo visto ela não te amarrou apenas, ela também fez um estrago aí. – disse apontando para sua cabeça enquanto me aproximava dele.
- Eu estava indo embora, ia levar a pra casa, quando algo me acertou. – ele disse baixo. – Ashley me deu uma paulada? Como ela pôde!
- Não sei se você notou, mas a sua queridinha não esta batendo muito bem das ideias, Jake. – cruzei os braços diante dele e ele ficou calado por um tempo me encarando.
- , me desculpa. – ele pediu sem desviar o olhar do meu. – Por favor, acredite em mim, eu não imaginei que ela fosse ir tão longe. Ashley esteve internada em uma clinica por um tempo, mas eles a liberaram sem avisar e ela logo veio pra cá, eu não sabia que ela estava em Londres até está tarde, Peter e eu estávamos procurando por ela há um bom tempo. – ele disse me deixando confusa.
- Hey, espera. – pedi tentando acalmá-lo para que ele me contasse tudo devagar. – Primeiro, por que nunca me disse que Ashley era sua irmã? Por que a ajudou a raptar a minha filha?! Eu quero explicações, Jake Evans. E como não iremos sair daqui até que aquela maluca apareça novamente, eu as quero agora. – exigi firme e ele respirou profundamente.
- Será que você poderia pelo menos soltar as minhas mãos antes? – pediu e eu o encarei com receio. – Eu nunca iria te machucar, . Por favor, só as mãos. – pediu de novo.
- Primeiro me conte tudo, depois eu te solto. – arrastei outra cadeira que estava no quarto e me sentei diante dele. – Quero todos os detalhes sobre a história da sua vida. – Jake me encarou parecendo derrotado, respirou fundo assentindo. E logo despejou sobre mim toda a sua história.

(...)


- E Ashley não aceitou muito bem o fim do noivado com o , após ele deixá-la ela surtou, mas como uma herdeira de uma das famílias mais ricas do ramo fonográfico, tudo sobre o seu surto e internação em uma clinica para tratamento foi abafado e encoberto da mídia pelo dinheiro. Da mesma forma que a minha existência foi. – Jake respirou fundo antes de continuar. – Eu sou irmão da Ashley, um clichê vivo, filho bastardo de Peter Johnson com uma de suas empregadas domésticas. Mas obviamente o mundo não sabe disso. – ele sorriu triste e me encarou por um tempo. Eu me aproximei, soltando as cordas que mantinham os seus pés amarrados, enquanto ele continuava a relatar sua história. Sei que deveria desconfiar de Jake, mas ele parecia sincero. – Ashley e eu nos conhecemos ainda quando éramos crianças, minha mãe estava tendo dificuldades para me criar sozinha e então foi atrás de Peter exigindo que ele assumisse a paternidade ou ela contaria tudo à mídia, ele não o fez, mas prometeu lhe dar uma boa quantia todos os meses e custear todos os meus estudos para que ela nunca vazasse aquela noticia. Peter era casado com a mãe de Ashley na época e não queria que a esposa soubesse do filho fora do casamento que ele havia tido. E ela não soube, até sua morte premeditada após cometer suicídio. Mas Ashley acabou descobrindo sobre mim e ao contrário do que se poderia imaginar, ela adorou o fato de ter um irmão mais velho. Nós ficamos muito próximos e logo o amor fraternal surgiu e eu adorava tê-la ao meu lado, por mais que o mundo não soubesse que nós éramos irmãos, eu sempre a protegeria. Ela me procurava quando estava triste e também quando queria dividir alguma alegria. Mas eu também sempre notei que minha irmã tinha uma personalidade um pouco instável, por isso não me surpreendi quando descobri sobre o seu surto. – ele finalizou, enquanto eu estava parada atrás dele me preparando para desamarrar as suas mãos desta vez.
- Quero confirmar uma coisa, você sabia sobre mim desde o inicio? – perguntei ainda um pouco incrédula com tudo aquilo. Fiquei diante dele novamente, tentando confirmar se valia mesmo a pena desamarrá-lo completamente. Confirmando pela ultima vez a sinceridade que eu notava em suas palavras e no seu olhar enquanto ele falava.
- Não, . – ele respondeu parecendo desesperado e me encarou com um olhar que pedia por perdão e eu desviei o meu olhar para os meus pés, enquanto Jake suspirava parecendo derrotado. - Quando nos conhecemos naquele dia no estacionamento do prédio, eu não fazia ideia de quem você era. – ele concluiu, e eu o sentia ainda me encarando.
- Mas você logo descobriu não foi? – perguntei e ele assentiu. – E se envolveu comigo só pra ajudar a sua irmã. – afirmou, e eu senti um nó se formar em minha garganta triste por ter sido enganada novamente.
- De certa forma, no inicio, sim. – ele confirmou, desviando o olhar. – Mas tudo o que vivemos foi verdade, eu realmente me apaixonei por você. – ele me olhou de novo, os olhos cheios de tristeza. – Mas você sempre vai ser dele. – Jake concluiu, parecendo cansado de toda aquela história.

Antes que eu pudesse lhe dizer qualquer outra coisa a porta se abriu de uma vez, Ashley entrou no cômodo acompanhada pela minha pequena e eu respirei aliviada por ver que estava bem, apesar de parecer assustada com tudo aquilo.

[N/A: Ouça Your Guardian Angel durante a leitura.]

When I see your smile
Tears run down my face I can't replace
And now that I'm stronger I've figured out
How this world turns cold and breaks through my soul
And I know I'll find deep inside me I can be the one

I will never let you fall
I'll stand up with you forever
I'll be there for you through it all
Even if saving you it sends me to heaven


- Mamãe! – ela gritou puxando o braço com força das mãos de Ashley e correndo em minha direção, eu a abracei e segurei forte em meus braços.
- Meu amor, você está bem? – perguntei checando cada pedacinho dela a procura de algum ferimento. Se ela estivesse machucada, Ashley iria morrer.
- Ashley, o que você esta fazendo? Por que me bateu? – Jake disse encarando sério a irmã que permanecia com uma arma apontada em minha direção. – Largue essa arma, querida. – ele pediu tentando soar carinhoso. Ashley o observou com culpa no olhar quando Jake fechou os olhos, provavelmente sentindo a cabeça doer novamente pela pancada.
- Jay, me desculpa. Eu não queria te machucar, mas você estava prestes a estragar os meus planos. Eu não podia deixar isso acontecer. – ela disse, pelo menos parecendo arrependida do que tinha feito com o irmão. – Prometo te desamarrar e levar ao médico assim que me livrar da . – ela o encarava, visivelmente desequilibrada.
- Ash, deixe a ir embora. Isso já foi longe demais. – Jake pediu.
-Não! – ela rosnou, mudando novamente de atitude. – Ela nunca irá embora daqui. – Ashley sorriu maldosa.
- Mamãe, tô com medo. – sussurrou em meu ouvido.
- Calma bebê, o papai virá nos buscar. – murmurei tentando acalmá-la. Ashley gargalhou.
- Não iluda a criança, . Você sabe que sempre te decepciona por minha causa. – ela disse, ainda com a arma apontada em minha direção. – Agora mande essa peste de volta pra cá! – ela gritou exigindo que eu lhe entregasse minha filha novamente.
- Não. – eu praticamente rosnei, apertando em meus braços.
- Você esta pedindo para morrer, queridinha. – ela disse debochada se aproximando de onde nós estávamos e quando ela estava prestes a fazer algo Jake urrou parecendo sentir muita dor, ele fechou os olhos com força e contraiu o rosto.
Nós duas rapidamente nos viramos em sua direção. A atitude de Ashley mudou novamente, ela deixou aquela pose de mulher maluca e rapidamente um manto de preocupação e hesitação atingiu o seu olhar ao notar o irmão daquele jeito. Por mais psicótica que ela pudesse ser, era visível que o amor que ela sentia por Jake ultrapassava tudo. Sem pensar duas vezes ela se dirigiu até onde ele ainda estava amarrado apenas pelos braços.
- Jay, o que você esta sentindo? Me diz! – ela pediu parecendo aflita. E surpreendendo a ela e também a mim mesma, Jake se levantou quando ela estava bem próxima e com um rápido movimento girou a atingindo com a cadeira onde ele ainda estava amarrado. Ashley cambaleou tonta pela pancada surpresa e caiu sentada no chão, completamente desnorteada.
- Vai, ! Foge! – Jake gritou enquanto a irmã tentava se recuperar do que havia a atingido. Eu o encarei surpresa e confusa, com agarrada ao meu colo.
- Mas e você? – perguntei temendo por ele.
- Eu vou ficar bem, agora corre! A chave do meu carro esta pendurada perto da porta da sala. Fuja! – ele gritou de novo, quando notou Ashley se arrastar pelo chão tentando pegar a arma que havia caído de suas mãos quando ela sofreu o golpe. Eu não esperei mais e sai correndo daquele quarto com em meus braços. Ashley gritou, parecendo furiosa e tomando impulso agarrou a arma a apontando em minha direção. Um arrepio de terror percorreu o meu corpo quando eu ouvi o disparo. chorava em meus braços e eu fiz de tudo para protegê-la correndo ainda mais em direção a saída, esperando pelo pior.
Mas o tiro não me atingiu e Ashley logo gritou novamente, mas dessa vez era um grito que possuía um misto de raiva e de tristeza.
- Jake! Não, não, não! Por quê? O que foi que eu fiz? – eu hesitei diante da porta ao apanhar as chaves, algo grave havia acontecido com Jake, porque Ashley gritava descontrolada. Eu queria voltar para ajudá-lo, mas precisava pensar primeiro na garotinha preciosa que estava completamente assustada em meus braços, então me sentindo mal por deixá-lo ali após ele ter nos salvado, eu saí daquele lugar em disparada, entrando logo no carro após colocar afivelada no cinto de segurança no banco traseiro e segui para longe cantando pneus, sem olhar para trás.
Era noite. A estrada estava escura e mesmo com isso eu procurei me acalmar por não notar ninguém nos seguindo a principio, respirei aliviada quando entramos na rodovia iluminada, bem mais movimentada e diminui um pouco a velocidade tentando dirigir com cuidado por ter ali comigo presa apenas pelo cinto, fora da cadeirinha e segui o fluxo de alguns poucos carros a nossa frente. estava estranhamente quieta no banco de trás.
- Esta tudo bem, meu amor? – perguntei a encarando pelo retrovisor, ela ainda tinha os olhos úmidos de choro, quando assentiu sem emitir nenhum som. Eu temia o trauma que tudo aquilo havia causado nela. – Mamãe vai nos levar para casa. Nós estamos a salvo, meu bem.
Garanti, me virando por um instante para encará-la rapidamente, quando algo nos atingiu com força pela lateral e eu perdi o controle da direção. Ouvindo a buzina constante de um caminhão que vinha em alta velocidade pela pista contrária.

It's ok. It's ok. It's ok.
Seasons are changing
And waves are crashing
And stars are falling all for us
Days grow longer and nights grow shorter
I can show you I'll be the one
I will never let you fall
I'll stand up with you forever
I'll be there for you through it all
Even if saving you it sends me to heaven


’s POV.

Eu estava enlouquecendo tentando ligar para Ashley sem respostas, quando gritou dizendo ter recebido uma mensagem de , com o endereço informando para onde ela havia ido. Estava praticamente desligando o telefone naquele momento, quando Ashley atendeu. Eu fiquei sem reação ao ouvi-la falar do outro lado da linha, então Sarah que havia acabado de chegar tomou o aparelho das minhas mãos e saiu do apartamento dizendo algo a Ashley que eu não consegui prestar atenção.
tinha o endereço e aquilo era tudo o que eu queria.
Agora eu já poderia ir atrás delas, agora eu poderia ir resgatar as duas pessoas mais importantes da minha vida.
Levantei da cadeira onde estava sentado e segui em direção a porta, apanhando as chaves de no aparador.
- Onde você pensa que vai com as chaves do meu carro, ? – ele perguntou arqueando a sobrancelha.
- Vou buscar a minha família! – gritei saindo pela porta sem esperar resposta, mas me alcançou lá fora antes do elevador chegar.
- Me dá isso aqui, idiota. – ele disse arrancando as chaves da minha mão, eu o encarei com uma cara de poucos amigos, que ele prontamente ignorou. – Você sabe muito bem que não pode dirigir. – ele disse dando de ombros enquanto eu o fuzilava com o olhar.
- Que porra, ! Você acha que eu tô preocupado com detalhes como esse agora? – esbravejei irritado.
- Mas deveria se preocupar, porque se você for parado pela policia no caminho e eles puxarem a sua ficha, você vai acabar preso e vai ferrar com tudo. – ele explicou pacientemente.
- Então que merda eu devo fazer, ? – questionei o encarando ainda mais bravo.
- Eu dirijo, idiota. – ele respondeu e entrou no elevador assim que o mesmo chegou ao nosso andar. – Vamos logo! – insistiu quando me viu parado o encarando, eu iria protestar, dizer que não precisava de babás, porque no fundo não queria que nada acontecesse com mais ninguém, Ashley era louca e eu temia pela minha família, se meus amigos também fossem envolvidos eu ficaria desnorteado, mas me olhou impaciente e eu decidi parar de enrolar e o obedeci.
- Esperem! – Sarah gritou, segurando a porta do elevador a tempo. – Eu vou com vocês. – ela anunciou se virando para a porta. – E nem pensem em questionar isso, sou a advogada, sei mediar e lidar com criminosos.
- Ser advogada acostumada com sessões no tribunal e ser um policial treinado que lida com os criminosos em ação são duas coisas muitos distintas, Sarah. – eu resmunguei tentando desencorajá-la.
- Temos mais coisas em comum do que você imagina, . – ela disse ainda virada de costas. – Eu já acionei a policia, idiota. Eles estão a caminho do local.

Então ali estávamos nós três no carro de , a velocidade com que ele dirigia teve que ser drasticamente reduzida quando atingimos um ponto na rodovia que nos levaria até o local onde havia indicado por mensagem. O trânsito a nossa frente parecia não terminar e eu já estava enlouquecendo de preocupação e ansiedade preso dentro daquele carro. Se ainda não estivéssemos um pouco distantes, juro que desceria do carro e correria a pé até o local.

- Você tem que se acalmar, ! – Sarah pediu. – Não adianta ficar nessa pilha de nervos. – ela me encarava do assento do carona quando eu bufei alto pela milésima vez, enquanto dirigia em direção ao endereço que havia nos passado.
- Onde esta a porcaria da policia que você chamou pra cortar esse transito infernal e nos levar logo até elas? – reclamei. – Não podemos mais perder tanto tempo, Sarah!
- Eles já devem ter mandado uma viatura para o local do endereço a essa hora, mas algo deve ter acontecido mais a frente. – ela comentou parecendo tão confusa com aquele transito quanto eu.
- Tem um guarda parado mais a frente, vou até lá ver o que houve. – anunciou desligando o carro. – Esse trânsito não esta andando, não adianta deixar o carro ligado. – ele disse antes que eu perguntasse e saiu do veículo caminhando até o guarda que apitava tentando organizar aquela parte da estrada. Não conseguindo esperar sentando naquele banco traseiro do carro, eu também desci e o segui, notando Sarah fazer o mesmo logo depois.
- Como licença, seu guarda. Mas o que houve pra estar tudo parado assim? – ele questionou e o guarda o encarou com pesar.
- Houve um acidente grave mais a frente, é bem provável que este trânsito dure por mais algum tempo. – ele disse e em seguida detalhou o que havia acontecido. Eu senti minhas pernas fraquejarem conforme ele falava.

Cuz you're my, you're my, my true love, my whole heart
Please don't throw that away
Cuz I'm here for you
Please don't walk away,
Please tell me you'll stay, stay.
Use me as you will
Pull my strings just for a thrill
And I know I'll be ok
Though my skies are turning gray


- Não. – um murmúrio súbito e angustiante atravessou a minha garganta, quando o guarda relatou sobre o acidente que havia acontecido naquela rodovia. Um carro colidiu na lateral com outro veículo, que vinha em alta velocidade e parecia querer ultrapassá-lo, este carro acabou sendo jogado para fora da pista onde bateu contra a mureta de contenção, neste mesmo momento um caminhão vinha pela pista contrária, e o veículo que tentava a ultrapassagem mesmo tentando desviar acabou colidindo com o caminhão, deixando uma vitima fatal. Havia mais um adulto gravemente ferido que ocupava o veículo que foi lançado para fora da pista e uma criança que estava sendo retirada do veículo naquele momento pelos bombeiros que serravam a porta traseira. Em um exame distante, a criança parecia milagrosamente estar ilesa fisicamente, com exceção de um pequeno ferimento no braço não havia sinais de machucados mais graves, mas ela estava visivelmente em choque com tudo o que havia acontecido, pois chorava sem parar.
Imediatamente eu senti quem eram as três pessoas envolvidas naquele acidente. Só me restava confirmar o meu maior medo. Quem era a vitima fatal. estava sozinha dirigindo o seu carro quando saiu de casa. Ashley estava com . Mas eu não queria acreditar nos fatos. Não queria pensar no que estava tão obvio diante dos meus olhos.
Meu coração estava acelerado, e de repente eu não conseguia respirar direito. Sai correndo em direção ao local do acidente onde o veículo com a frente terrivelmente amassada estava parado no acostamento da rodovia, mais a frente o carro que havia batido contra o caminhão estava completamente irreconhecível, as sirenes das viaturas de policia poderiam parecer ensurdecedoras, mas eu não ouvia mais nada além das batidas rápidas do meu coração enquanto caminhava até elas. e . As duas pessoas que eu havia finalmente compreendido serem as mais importantes do meu mundo. Agora elas estavam ali, em algum lugar em meio aquele acidente. Eu precisava salvá-las, eu não poderia perdê-las.
Sabia que merecia um castigo por tudo o que eu havia feito, mas aquilo seria castigo demais. Se Deus me tirasse as duas eu não aguentaria, eu não conseguiria mais viver.
Meus passos se aceleraram, eu quase alcançava o meu destino quando fui impedido por dois guardas que eu não havia notado estarem ali até o momento. Eles me seguraram impedindo que eu continuasse o meu caminho.
- Me soltem! - esbravejei. – Eu preciso vê-las!
- Acalme-se senhor. – um deles pediu. – Deixe os paramédicos e bombeiros realizarem o seu trabalho. – ele completou e então notei, em meio a toda aquela confusão, que havia uma ambulância próxima ao local, junto com um carro de resgate do corpo de bombeiros. Eles rapidamente seguiram até o carro no acostamento e utilizando o seu equipamento, removeram a porta traseira do veículo, eu queria me aproximar, mas os guardas me impediam.
Minha garganta estava seca, meus olhos injetados, desesperados. Eu estava prestes a ter um infarto de tanta apreensão quando um dos bombeiros passou apressadamente diante de mim com um pequeno ser de cabelos castanhos no colo, envolto em uma manta e a entregou a uma mulher vestida de branco do grupo de resgate, que se encaminhou com ela para dentro da ambulância. A garotinha chorava assustada.
.
Ela estava viva. Empurrei os guardas com toda a força que tinha, me soltando deles e seguindo até a mesma ambulância, eu precisava ver a minha filha, precisava ter certeza de que ela estava bem.
- Me deixem vê-la! Ela é minha filha. – pedi assim que me aproximei da porta traseira do veículo. Os paramédicos que estavam em volta dela, tentando acalmá-la enquanto faziam os exames preliminares e os curativos necessários, se entreolharam confusos.
- Senhor, ela esta bem. Apenas com um pequeno corte em um dos braços causado pelos estilhaços dos vidros do veículo, mas ela é uma garotinha forte, vai sobreviver. – A médica disse sorrindo para , que aos poucos ia se acalmando. – Ela só esta assustada, o que é compreensível.
- Oi pequena. – eu me aproximei, quando eles abriram espaço pedindo para que eu entrasse na ambulância assim que terminaram o curativo em seu braço e me sentei em um banco próximo à maca onde ela era examinada.
- Papai. – me reconheceu e me encarou com os olhinhos da cor dos meus assustados e cheios de lágrimas, aquela era a primeira vez que ela me chamava de pai e ao mesmo tempo em que me sentia orgulhoso por finalmente ouvir aquela palavra saindo de sua boca, eu queria chorar por vê-la tão frágil. – A mamãe ta no carro dormindo? Quero a mamãe, cadê a mamãe? – ela perguntava aos soluços, completamente confusa. E eu me senti mal, pois não sabia o que dizer a ela naquele momento, já que não tinha informações suficientes sobre .
- A mamãe vai ficar bem, lindinha. Fica calma. – ela esticou os bracinhos pedindo colo e eu rapidamente a coloquei entre meus braços, ouvindo o seu choro baixo e assustado de criança. Meu coração se apertou vendo a minha filha tão frágil daquela maneira e eu me peguei rezando em silêncio pela primeira vez em muito tempo, pedindo para que estivesse bem.
De repente outra sirene de ambulância irrompeu no local e uma confusão ainda maior de bombeiros e paramédicos se instalou do lado de fora, eles se moviam apressados em direção ao acidente, e eu queria ir até lá e verificar o que estava acontecendo, queria saber como estava, mas se assustou ainda mais com o barulho e se agarrou a mim, enterrando o rostinho no meu peito enquanto chorava.
- Rápido! Há vazamento de combustível no local, precisamos retirar a outra vítima que permanece viva. – ouvi um dos socorristas informar e a angustia de não poder fazer nada por ela naquele momento tomou conta de mim.
Após a médica liberar a nossa saída da ambulância, com agarrada ao meu colo sem me soltar por um momento sequer, caminhei para fora da ambulância, tentando acalmá-la, quando meus amigos, acompanhados de Sarah, Penny e surgiram aflitos andando em minha direção. Eu me perguntei como eles haviam descoberto sobre o acidente e como haviam chegado até ali tão rápido?
- , graças a Deus ela esta bem! – exclamou parando diante de mim. levantou o rosto do meu peito e encarou a tia ainda chorando. – Oi minha pestinha linda. – sorriu fraco para ela, fez bico, deixando sua carinha mais triste.
- Titia , cadê a mamãe? – ela perguntou ainda preocupada com a mãe.
- Ela já vem meu amor, ela já vem. – fez carinho em seus cabelos.
- , você pode segurá-la? Eu vou até lá ver o que esta acontecendo. – pedi a melhor amiga de . - Claro. – ela assentiu. – Vem aqui no colo da titia baixinha.
- Não, eu quero o papai. Não me deixa, papai! – chorou se agarrando mais ainda em minha camisa. Aquilo me deixou ainda mais abalado. Ela precisava de mim.
- Gatinha, o papai vai procurar a mamãe, fica aqui com a . Eu prometo que já volto. – falei próximo ao seu ouvido, fazendo carinho em seus cabelos. E ela fungou levantando o rosto em minha direção, seus olhos cobertos de lágrimas me desestabilizavam completamente, ela me encarou por um tempo, como se estivesse verificando se eu estava dizendo a verdade.
- Tá. – ela falou enfim, esticando os braços para que a tia a pegasse.
caminhou com em seu colo e Penny ao seu lado para um local bem mais distante de onde o carro de estava parado até onde o carro em que eles vieram estava, imaginei que ela estivesse murmurando coisas em seu ouvido para distraí-la, pois dizia algo ao seu ouvido. Eu as observei se distanciarem e quando era seguro, me encaminhei na direção contrária, onde o carro em que deveria estar permanecia envolto por bombeiros.
- Ela vai ficar bem, . – apoiou uma das mãos sobre o meu ombro direito, e aquilo fez com que eu o percebesse, caminhando ao meu lado junto a e .
- A é uma mulher forte, ela vai sair dessa. – concordou, sorrindo fraco.
- Vamos ver o que esta acontecendo. Tenta se acalmar, mate. – disse seguindo adiante ao meu lado, era bom poder contar com os amigos em momentos como esse. Era bom ter algum apoio quando o seu corpo parecia prestes a desmoronar.

I will never let you fall
I'll stand up with you forever
I'll be there for you through it all
Even if saving you it sends me to heaven.

Quando nos aproximamos do acidente, minhas pernas se fixaram onde eu estava e um tremor percorreu o meu corpo quando notei um corpo envolto e um saco preto ser levado pelos paramédicos para um carro que parecia ser da criminalística.
- . – novamente um murmúrio triste surgiu entre os meus lábios e eu me forcei a correr em direção aquele corpo, eu não poderia perdê-la, não agora. Aquela não poderia ser ela.
Mas antes que nós conseguíssemos nos aproximar mais do local algo nos pegou desprevenidos. Uma pequena explosão encobriu em chamas o carro irreconhecível que havia batido contra o caminhão. E então tudo parecia ter ficado em câmera lenta.
- Afastem-se! – os bombeiros gritaram se preparando para conter o fogo e eu senti as lágrimas escorrerem pelo meu rosto, quando minhas pernas fraquejaram e eu cai de joelhos no chão me sentindo derrotado, temendo o que havia acontecido com . Fazendo uma prece silenciosa para que ela não tivesse partido de vez.


"O amor é paciente e benigno, não arde em ciúmes; o amor não se ufana, não se ensoberbece; O amor não é rude nem egoísta, não se exaspera e não se ressente do mal. O amor não se alegra com a injustiça, mas regozija-se com a verdade. Está sempre pronto para perdoar, crer, esperar e suportar o que vier."
– A walk to Remember (filme).









“I know people make promises all the time.
Then they turn right around and break them.
When someone cuts your heart open with a knife, while you beating.
But I could be that guy to heal it over time.
And I won’t stop until you believe it.
Cause, baby, you’re worth it.”
- Not a bad thing – Justin Timberlake




[N/A: Este último capítulo está bem músical, começando então com essa canção, clique no link para acompanhar: Malta – Memórias]


’s P.O.V.

- NÃO! – Gritei, e agindo sem pensar, reuni forças e me levantei, seguindo direto para a explosão, quando guardas novamente me interceptaram.
- , espera! – correu, me segurando e tentando me impedir de prosseguir. – Olha. – ele disse, ofegante. E eu observei outro corpo sendo carregado em uma maca, um corpo que havia sido retirado a tempo em meio aquela confusão, e estava no carro que colidiu contra a mureta em meio às ferragens retorcidas. Este corpo, mesmo desacordado, não estava envolto por um saco preto, porque a pessoa ainda estava viva. Era ela. Os cabelos lindos caídos ao lado do corpo. Eu não havia notado quando eles a retiraram de lá, pois fiquei tão paralisado observando o corpo no saco preto, e então houve a explosão, mas era ela, eu a reconheceria em qualquer lugar. Respirei um pouco mais aliviado.
Seu corpo não se movia e parecia sem vida. Aquilo me deixou ainda mais angustiado, apesar de aliviado por ela estar viva. Mesmo que vê-la daquela forma estivesse me matando aos poucos, se ela estava sendo retirada em uma maca, significava que ela ainda não havia partido, ela ainda lutava. Havia uma chance, iria sobreviver, eu sabia que iria. E quando ela acordasse, eu pediria perdão por tudo novamente e faria o impossível para consegui-lo, e nunca mais sairia do seu lado.
- Vamos, . Nós precisamos conseguir algumas informações. – me puxou, quando notou a minha falta de reação enquanto eu observava os paramédicos carregarem para dentro da ambulância. Assenti, sem conseguir emitir uma só palavra, e segui , ele e em direção ao local onde ela estava. se adiantou, notando o meu estado, e fez perguntas a um dos médicos. Eu encarei a porta da ambulância aberta, e sem pensar duas vezes, me lancei para dentro, observando os paramédicos a examinarem, enquanto lágrimas invadiam os meus olhos. Tudo culpa minha.
- Por favor, o senhor não pode ficar aqui dentro, precisamos de espaço para tratar a paciente. – um dos enfermeiros tentou me tirar de lá.
- O caralho que não posso! Eu não vou deixá-la sozinha! – gritei, finalmente recuperando a minha voz. O desespero tomando conta de mim.
- Senhor, assim só está piorando tudo. Nós precisamos levá-la ao hospital, sugiro que o senhor nos siga em seu carro junto aos seus amigos. – então ele e outro enfermeiro me arrastaram para fora da ambulância.
- Me soltem, me deixem vê-la, me deixem ir com ela, porra! – gritei tentando me soltar deles, mas os malditos enfermeiros pareciam ser fortes para aquele propósito, conter familiares desesperados.
- Não nos faça lhe dar um calmante. – um deles pediu, enquanto ambos me soltavam no lado de fora, perto dos meus amigos.
- , fica calmo. Já descobrimos para onde ela está sendo levada, vamos segui-los. Fica quieto! – pediu, me segurando.
- Eu preciso ir com ela. – pedi irritado.
- Sei que precisa, mas eles precisam fazer o trabalho deles também e mantê-la viva. Você nervoso desse jeito lá dentro, só iria piorar as coisas. Vamos pro carro, eles já estão saindo. – ele me puxou em direção ao veículo que ainda estava parado no mesmo local.
Sarah nos aguardava já ao volante, quando , , e eu nos enfiamos lá dentro. seguiu com Penny e para a sua casa, tentando acalmá-la. Os médicos já a haviam examinado e liberado. Então eles acharam melhor levá-la para outro lugar.
- Uma das viaturas conseguiu chegar até o endereço do cativeiro onde Ashley manteve presa. Eles encontraram alguém lá. – Sarah disse, me encarando pelo retrovisor. – Jake estava agonizando, havia levado em algum local complicado do corpo, mas uma ambulância foi chamada e ele já foi levado para o hospital, ainda estava vivo, não sei se irá sobreviver. – ela finalizou.
- Por mim, ele poderia morrer também. – disse com raiva, de certa forma ele também era culpado por ter levado minha filha para perto da vadia maluca da minha ex.
- Não fale isso, . Nós não sabemos direito como tudo aconteceu, ele levou um tiro, deve ter tentado ajudar e . – comentou.
- Claro. – eu bufei, descrente, e foquei meu olhar na estrada do lado de fora.
- Obviamente, o corpo retirado do veiculo que explodiu era o de Ashley, não é? Pelo menos a vadia teve o fim que merecia. – comentou, também visivelmente com raiva dela.
- Os peritos ainda precisam fazer exames e confirmar a identidade dela, mas está mesmo claro de quem se trata. – Sarah comentou e todos ficaram em silêncio após isso, enquanto seguíamos a ambulância que levava para o hospital. Eu tinha certeza que tudo o que queríamos era que ela saísse ilesa dessa história. Fechei os olhos por um tempo e uma memória, ainda tão vívida atingiu a minha mente. Eu tentei me apegar aquele momento para acalmar o meu coração.

~.~

- Promete apenas que vai me amar pra sempre? – ela me perguntou, parecendo incerta.
- Prometo te amar além da vida. – eu disse, tendo certeza de que a amaria mesmo após a morte.


~.~

(…)


E agora eu estava ali, encarando-a naquele quarto de hospital e me lembrando da promessa que havia feito tantos anos atrás. Horas depois do acidente, a única coisa que me fazia ainda crer que ela estava viva eram os bips constantes dos seus batimentos cardíacos sendo emitidos pelo aparelho que monitorava os seus sinais vitais, a sua respiração fraca e serena. Era como se ela estivesse apenas dormindo um sono profundo.
Mas estava em coma induzido.
Ficou horas em cirurgia e talvez precisasse de mais alguma outra, se piorasse, caso alguma hemorragia interna que não houvesse sido detectada até o momento surgisse. Ela levou uma forte pancada na cabeça após a colisão do carro, o que ocasionou uma espécie de coágulo que segundo os médicos diminuiria dentro de algum tempo e por isso ela precisaria ficar sedada no momento. A sua pele estava pálida devido à grande quantidade de sangue que havia perdido durante o acidente, as suas mãos estavam completamente geladas, como se ela tivesse segurado pedras de gelo por todo esse tempo. Eu rezava para que ela não saísse daquele estado com nenhuma sequela mais grave, enquanto o meu coração estava partido por vê-la daquela forma, por ter deixado que tudo acontecesse daquela maneira. A culpa era toda minha. Se ao menos eu não tivesse me envolvido com Ashley; se eu tivesse seguido somente o meu coração e ignorado todos os outros membros do meu corpo, que me fizeram sair de casa; se eu tivesse ficado mesmo pra sempre com ela. As possibilidades seriam tantas, mas agora era tarde demais, eu temia a estar perdendo novamente.
- Oi, linda, estamos com saudades. A não para de perguntar sobre você. – suspirei, me aproximando mais do seu leito e acariciei os seus cabelos, ela ainda parecia sem vida, estava pálida, com os lábios esbranquiçados. O único barulho existente no quarto, além da minha voz, era o bipe dos aparelhos ligados ao seu corpo que indicavam que o seu coração estava batendo. – , me perdoa por tudo. Preciso saber que você me perdoa. – pedi, sentindo as lágrimas banharem os meus olhos, eu não chorava assim há anos, mas essa regra havia se quebrado por ela. – Por favor, amor, acorda. A e eu precisamos de você. Volta pra gente, . – deitei minha cabeça sobre o seu colo, sentindo o perfume inesquecível dela, que mesmo em meio aquele quarto de hospital que cheirava a antisséptico, se destacava pra mim. Eu não sei se conseguiria seguir adiante sem ela mais uma vez. A culpa não iria me deixar seguir ileso. Mas eu precisava tentar, precisava ser forte por ela e principalmente por .
- ? – abriu a porta do quarto e permaneceu parada onde estava me encarando. – Será que podemos conversar lá fora? – ela pediu e eu assenti, dando um leve beijo nos lábios um pouco ressecados de em despedida e a seguindo para fora do quarto.
Caminhamos por algum tempo em silêncio, ambos perdidos em seus próprios pensamentos e medos até que chegamos a cafeteria do hospital.
- Quer tomar ou comer alguma coisa? – ela perguntou, e antes que eu pudesse negar, ela fez o pedido mesmo assim. – Você não se alimenta direito há horas, precisa se manter em pé e ser forte por elas. – sorriu fraco, e o seu olhar cansado e sem brilho indicava que ela sofria tanto quanto eu. – Vamos nos sentar ali. – ela caminhou com seu copo de café até uma mesa mais afastada ao fundo e eu a segui, levando o sanduiche que ela havia pedido pra mim, junto com a minha bebida.
- Pode dizer, qual a novidade? Ela vai precisar de mais alguma cirurgia? – perguntei assim que nos sentamos, ansioso por respostas. respirou fundo antes de dizer qualquer coisa, mas ela parecia aliviada. Aquilo era um bom sinal.
- Conversei com o médico que está cuidando do caso dela, ele é um antigo colega de faculdade e me afirmou que a está tendo grandes progressos, o coágulo está diminuindo consideravelmente e provavelmente ela não precise passar por mais nenhum procedimento cirúrgico, precisamos apenas esperar um pouco mais. Logo eles irão diminuir a quantidade de sedativos para fazer com que ela saia do coma. O Dr. Potter está muito esperançoso com a sua recuperação, mas ainda não pode afirmar se ela acordara com algum tipo de sequela, isso apenas saberemos com o tempo. – informou e eu senti o seu alivio tomar conta de mim. ficaria bem, eu tinha fé nisso.
- Finalmente boas notícias, obrigada . – agradeci e ela sorriu fraco novamente, segurando minha mão direita por cima da mesa.
- Acredite, estou sentindo o mesmo que você desde o acidente. Minha amiga já passou por tanta coisa ruim na vida, que não seria justo se algo ruim acontecesse com ela agora. – ela contou e eu assenti tendo certeza daquilo e sabendo também que havia contribuído para alguns daqueles momentos horríveis pelo qual havia passado. Eu sempre me culparia por tudo. Mas faria o possível para fazê-la feliz se ela aceitasse após tudo aquilo. – Agora, precisamos conversar sobre a . – me encarou séria.
- Aconteceu alguma coisa com ela? – perguntei novamente alarmado.
- Eu a deixei com Penny essa manhã, antes de vir para cá, mas ela está muito confusa, . Ela sente que algo errado está acontecendo, não para de perguntar sobre a mãe e diz que quer vê-la, na outra noite ela acordou chorando após outro pesadelo. Acho que talvez seja o caso de levá-la a um psicólogo infantil, ela está muito abatida. E também acho que ela precisa ver a mãe. – me encarou com a preocupação estampada no rosto.
Desde que havia sido internada, as poucas vezes que eu não estava no hospital ao seu lado, eu passava no apartamento que ela e dividiam cuidando de , dormindo ao seu lado sobre a cama de , tentando acalmá-la durante a noite. Os pesadelos estavam se tornando constantes e eu começava a achar que tinha razão, talvez precisássemos de ajuda profissional.
- Concordo sobre a ida ao psicólogo, mas não acho que ela esteja preparada para ver a mãe naquele estado. Ela pode ficar muito impressionada e isso pode piorar a situação. – disse a .
- Sei que isso pode acontecer, mas também conheço . Durante todos os primeiros anos de sua vida até agora, sempre foram ela e a mãe, lado a lado, dia após dia. Ela sente a falta da mais do que qualquer outra pessoa, disso você pode ter certeza. E por mais impressionada que ela possa ficar, sei que ela não vai se acalmar se não a trouxermos aqui pelo menos por alguns instantes para que ela veja que, apesar de tudo, a mãe está bem. Para que ela entenda que ela apenas está dormindo.
- Ela é muito pequena, . Não sei se deveríamos... – eu dizia quando ela me interrompeu.
- Não quero ser intrometida, . Sei que você é o pai dela, mas vivi com aquela menininha desde que ela nasceu. Não quero magoá-lo dizendo essas palavras, mas eu conheço como a palma da minha mão, e sei que apesar de ser tão pequena, ela é uma criança muito esperta e inteligente pra idade, e essa atitude pode ser a melhor opção. Mas não vou ultrapassar os limites, a decisão é toda sua. – ela finalizou, tomando um longo gole de café em seguida e eu a encarei pesando os prós e contras enquanto permanecemos em silêncio novamente por algum tempo.
- Tudo bem, vamos trazê-la para ver a mãe. – disse alguns minutos depois, eu ainda tinha receio sobre aquilo tudo, mas parecia ter certeza de que aquilo seria bom para , e mesmo doendo admitir, ela a conhecia melhor do que eu.
- Ah, e sobre Jake... – ela tentou dizer, mas a interrompi.
- Eu já soube, mas prefiro não falar sobre isso agora, . Ainda não sei o que sinto em relação àquele cara. – disse tentando encerrar o assunto e ela concordou em silêncio, encarando a sua xicara vazia de café. O que havia acontecido com Evans não me importava naquele momento.

(...)


- Papai! – exclamou quando meu viu, assim que entrou na sala de espera do hospital ao lado de , ela se soltou da mão da melhor amiga de . E ao ouvi-la me chamar daquela forma, o meu coração disparou. Eu nunca me cansaria de ouvir aquilo. Uma simples palavra que melhorava todo o meu mundo.
- Oi, gatinha. – disse a tomando no colo e lhe dando um beijo no topo da cabeça. – Saudades de você.
- Saudade também, papai, de você e da mamãe. – ela me encarou tristonha, com um bico nos lábios.
- Vamos resolver isso hoje. – sorri, tentando fazê-la se sentir melhor. – E como está o panqueca, aquele gato malandro? Você tem cuidado dele certinho? – disse, me referindo ao gatinho que eu havia lhe dado de presente e que fez questão de levar de volta até a minha casa algum tempo atrás. Ela provavelmente me mataria se soubesse que ele tem ficado no seu apartamento durante todo esse tempo, mas eu só queria alegrar a minha e a presença do gatinho parecia fazer com que ela se sentisse melhor.
- Tô cuidando, sim. Ele tá gordinho. – ela disse com um sorriso meigo nos lábios.
- Que bom, princesa. – a abracei forte e encarei na porta, que me indicava com o olhar que a hora havia chegado. – Bom, que tal se nós formos ver a mamãe agora, meu amor? – perguntei a e os olhos dela brilharam como não haviam feito durante todo esse tempo, era visível a falta que a mãe fazia pra ela.
- Nós podemos? – ela perguntou sorrindo.
- Claro, mas antes você precisa saber que a mamãe ainda está com alguns machucados e por isso os médicos pediram pra ela dormir muito, pra que ela não sentisse dor, então ela agora está dormindo e só vai poder acordar quando ficar boa.
- Mamãe tá com muitos dodóis? Eu posso beijar o dodói dela pra sarar, como ela faz quando eu tenho um dodói. – ela disse enquanto caminhávamos pelos corredores em direção ao quarto, onde estava.
- Não é tão simples assim, gatinha. A mamãe... Ela vai ficar boa, mas ela... – parei por não saber ao certo como explicar tudo aquilo para uma garotinha de apenas quatro anos. notou a minha hesitação e tentou me ajudar, enquanto adentrávamos o quarto. logo localizou a mãe deitada sobre a cama de hospital e se mexeu em meus braços pedindo pra que eu a levasse até ela. Paramos ao lado da cama, quando finalmente falou.
- A mamãe ficou muito cansada por causa dos dodóis após o acidente e acabou adormecendo, bebê. – ela tentou explicar novamente. encarou com confusão ainda estampada em seu rosto. – Você se lembra da história da Bela Adormecida que a mamãe te contou antes de dormir? Aquela onde a princesa dorme por muito tempo até que o príncipe a encontra e a acorda com um beijo? – comentou e apenas assentiu. – Sua mamãe está como ela agora. – finalizou a explicação e nos encarou em silêncio por um tempo, ainda parecendo não entender. Não sabia se aquilo havia sido a melhor saída.
- Beija a mamãe, papai. – ela pronunciou um tempo depois, com esperança no olhar. – Você é o príncipe da mamãe, beija ela pra ela acordar logo e ir pra casa. – pediu ansiosa, e eu nos entreolhamos. Aquela não havia sido a melhor analogia a ser usada no momento mesmo.
- Não é tão simples assim... – repeti o que havia dito antes, ainda não sabendo que saída tomar. – O papai pode dar um beijo na mamãe, mas ela está mais cansada do que a Bela adormecida estava, por isso os médicos disseram que mesmo que eu a beije ela ainda irá dormir um pouco mais e quando o dodói dela sarar, ela vai acordar e voltar pra casa pra brincar com você. – me olhou parecendo um pouco decepcionada, mas assentiu.
- Posso dar um beijo na mamãe? Eu sou a princesinha dela, vai que assim o dodói dela fica bom mais rápido? – ela pediu ainda com aquela esperança e inocência tão característica das crianças.
- Claro que pode, gatinha. Cuidado com os fios, okay? – pedi. – Vamos fazer de tudo pra mamãe ficar melhor. – coloquei sentada com cuidado ao lado de e ela engatinhou colocando as mãos sobre o rosto da mãe e lhe dando um beijo no mesmo.
- Fica boa logo, mamãe. To com saudade. Deus vai sarar o seu dodói. – ela disse, abraçando em seguida.
tinha lágrimas escorrendo pelo rosto diante de mim, ela se virou e seguiu em direção a saída do quarto tentando disfarçar, tentando fazer com que não a visse chorar. Meus olhos também ficaram repletos delas quando acompanhei aquela cena, da minha garotinha tão adorável e esperançosa, pedindo pra que a mãe ficasse bem. Tentei não chorar por , ela precisava que eu fosse forte, pela nossa família que está ali diante de mim. E eu seria forte por ela.

Três semanas depois, quatro dias e 12 horas depois...

[N/A: Segunda canção, acompanhe pelo link: This Wild Life – Better With You]

“I swear I see the seasons change. More often than I see your face. November came and went. The summer left without a trace. And I’m left with distance on my mind. Was it me that caused you to just pack up and leave? When you did, you took everything. I still hate seeing you without me.”

(…)


Acordei com o barulho do telefone tocando, dormia deitada ao meu lado, ela havia tido novamente um pesadelo naquela noite, mas eles já não eram mais tão constantes após as sessões que ela havia feito com o psicólogo. Aquela era uma das raras noites que eu não passava no hospital. Mesmo após os médicos afirmarem que eu não poderia fazer nada ficando lá todo o tempo, que não acordaria antes que os sedativos fossem retirados, eu não conseguia me manter afastado. Então tentava equilibrar a minha vida entre passar o máximo de tempo possível com quando não estivesse no hospital.
Levantei-me notando os raios de sol lá fora surgirem através da janela do apartamento e rapidamente atendi o celular saindo do quarto para que não acordasse. havia passado aquela noite de plantão no hospital onde trabalhava, por isso estávamos apenas nós dois naquele apartamento.
- Alô. – atendi sem ao menos ver quem havia ligado.
- , é o . – respondeu do outro lado. – Estou com aqui no hospital onde a está internada. Fui buscá-la no plantão e ela recebeu uma ligação no caminho. Eles disseram que o inchaço da cabeça diminuiu de vez, os ferimentos já estão cicatrizando, e eles vão finalmente livrá-la dos sedativos, ela vai poder acordar do coma a qualquer momento após isso. – meus pensamentos voaram pra longe após ouvir aquelas palavras, ela finalmente iria acordar. A minha finalmente iria voltar pra nós, finalmente ela voltaria pros meus braços. – , tá aí ainda? ?
- Tô, cara, eu só fiquei... – parei sem palavras suficientes pra expressar o que eu estava sentindo.
- Eu sei, mas relaxa, cara. Penny está indo aí, levando o Charlie para brincar com , ela vai cuidar dos dois e você vai poder ir ao hospital assim que ela chegar. e estão indo pra lá também. Até mesmo Sarah parece estar a caminho. Só fica calmo, logo vamos ter nossa de volta. – ele disse com uma esperança que também tomou conta de mim e eu sorri pela primeira vez desde que aquele inferno havia começado. Ela estava voltando. estava voltando pra casa.

“I’m better with you, you’re better with me. I still miss all our nights. Even fights were all better with you. You’re better with me. There is nobody else who can love me the way that you do. Better than you. I still miss all our days and the way you would carry me through. I’ll carry you, too. There is nobody else who could love you the way that I do. Who can love you the way that I do?”

(…)


’s P.O.V.

Parecia haver uma tonelada sobre a minha cabeça, senti meus lábios ressecados e uma sede descomunal, minhas pálpebras custavam a obedecer, tornando difícil o simples ato de abrir os olhos, algo estava preso em meu braço direito e parecia haver também algo em meu nariz. Tentei abrir os olhos novamente fazendo força, mas parecia haver quilos de areia sobre eles também. Era como se eu estivesse acordando da pior ressaca de todos os tempos e por conta dela não tivesse forças nem mesmo para abrir os olhos. Bufei comigo mesma por não conseguir fazer aquilo e tentei de novo com mais força e dessa vez uma fresta de luz invadiu a minha visão me fazendo fechar os olhos novamente sentindo incomodo com aquilo. Tentei abri-los devagar e aos poucos eles pareceram se acostumar com a claridade ficando finalmente abertos por completo. Um barulho constante ecoava pelo local piorando a dor que se alastrava pela minha cabeça. Olhei ao redor notando um aparelho ligado a mim, vários fios me mantendo conectada, no meu braço direito havia um tubo por onde algo, que parecia ser soro, passava entrando no meu organismo. Aquele local era completamente branco, tão branco que machucava um pouco os meus olhos. Levei a língua aos lábios, tentando umedecê-los, eu sentia muita sede. Precisava urgentemente de um copo de água, olhei novamente ao redor do quarto, procurando por algo ou alguém que pudesse me dizer o que estava acontecendo, que pudesse ao menos me fornecer um copo de água. Foi quando o notei no canto do quarto, sentado de forma desajeitada sobre uma poltrona que parecia desconfortável, visivelmente adormecido.
- . – tentei chamá-lo, mas minha voz saiu fraca e falha, como se eu estivesse falando pela primeira vez após muito tempo. Pigarreie tentando diminuir a rouquidão em minha garganta e tentei de novo. – . – chamei um pouco mais alto e ele se mexeu acordando assustado e olhando ao redor para logo conectar o seu olhar ao meu. rapidamente se levantou, parecendo um pouco atrapalhado e correu em minha direção.
- ! – ele exclamou com tanto alivio, como se algo pesado houvesse saído de cima de seus ombros após ele ter carregado por muito tempo. – Você acordou! Você finalmente acordou! – ele se aproximou me abraçando e selando os lábios aos meus sem aviso. – Eu senti... Nós todos sentimos tanto a sua falta. pergunta sobre você a cada instante, ela pareceu um pouco decepcionada quando viu que eu beijá-la como o príncipe da Branca de Neve não faria efeito... – ele começou a falar sem parar segurando meu rosto com as mãos e eu tive que interrompê-lo.
- Água… Preciso de água. – pedi devagar e ele finalmente pareceu perceber que deveria fazer algo.
- Oh, claro! Me desculpe. Eu vou… Vou apenas molhar os seus lábios, sei que você está com sede, mas não sei todos os procedimentos, não sei se você já pode ingerir liquido assim... – ele dizia todo atrapalhado enquanto molhava meus lábios com um pouco de água que havia em uma jarra por perto. – Eu vou chamar a enfermeira, não demoro, você apenas... apenas não durma de novo! – ele pediu enquanto corria para fora do quarto ainda parecendo todo desajeitado. Eu suspirei ainda um pouco confusa olhando ao redor. Não me lembrava muito bem de tudo o que havia acontecido para que eu fosse parar naquele lugar, a ultima cena que vinha à minha mente era a de Jake se jogando diante da bala que Ashley havia atirado em minha direção. Depois disso, tudo era branco. Não me lembrava de mais nada.
- Bem vinda de volta, Sra. . – uma enfermeira de meia idade surgiu no quarto logo em seguida, com ao seu encalço. – Sr. , pedi para que o senhor aguardasse do lado de fora, o médico já está a caminho e eu preciso realizar alguns exames. – ela disse a que não parecia ter a intenção de sair do local.
- Prometo que não vou atrapalhar, fico sentado ali naquela poltrona sem mexer, mas não me faça sair daqui, enfermeira Cohen. – pediu, já se sentando no local, a enfermeira rolou os olhos e sorriu dando de ombros.
- Tudo bem, rapaz insistente. – ela resmungou, voltando-se pra mim em seguida. – Então, vamos ver como a minha paciente preferida está. – a tal enfermeira Cohen disse de forma carinhosa e eu sorri, enquanto ela me examinava.
Um tempo depois, o médico responsável adentrou o quarto e aquilo se tornou uma loucura, enquanto eu era examinada. Um entra e sai de pessoas me deixando zonza. Tentaram tirá-lo dali novamente, mas não arredou o pé do quarto por nenhum segundo, permaneceu ali me encarando por todo o tempo, me transmitindo força e confiança através do olhar. Eu tinha tanto a dizer pra ele, tanto pra perguntar, precisava saber acima de tudo como estava, mas o momento em que nos deixariam a sós parecia não chegar nunca.
E confirmei isso quando nossos amigos chegaram logo depois, falando todos ao mesmo tempo, querendo saber como eu estava, eu sorri para toda a confusão que aquelas pessoas, tão importantes na minha, a minha família, causava em qualquer local ou situação. Tentei acalmá-los relatando por mais de uma vez, que com exceção de um pouco de dor de cabeça e a falta de memória do que havia me levado até ali, eu me sentia bem no geral. Mas quando Penny entrou no quarto com a minha pequena segura por uma de suas mãos, não consegui conter as lágrimas que invadiram os meus olhos, era uma mistura de felicidade e alivio por notar que estava bem e saudável. Parecia que eu não a via há anos.
- Mamãe! – ela exclamou, soltando a mão de Penny e correndo em direção à cama. Estiquei os meus braços, pronta pra recebê-la em um abraço, mas a cama era um pouco alta e teve que ajudá-la. – Me ergue, papai. – ela pediu, e eu o encarei, surpresa, ela o havia mesmo chamado de pai? Assim, tão fácil? Quanta coisa eu havia perdido em quanto dormia? O médico havia dito que eu permaneci em coma por mais de três semanas. As coisas poderiam ter mudado tanto durante esse tempo? – Saudades, mamãe! – finalmente me abraçou e eu sorri, a apertando entre meus braços.
- Meu amor, que bom que você está bem! – exclamei com os lábios tocando os seus cabelos macios e com cheirinho do bebê que ela ainda era e sempre seria pra mim. A minha pequena, o meu bebê.
- Cuidado, a mamãe ainda está um pouco fraca, . – pediu, mas minha filha pareceu não dar ouvidos, pois continuou aninhada aos meus braços.
- Deixa ela, . Eu também senti muito a falta da minha princesa. – beijei o topo de sua cabeça e me abraçou ainda mais.
- Você nos deu um grande susto, sabia? – se aproximou, me dando um beijo na testa. – Não faça mais isso, o quase teve um ataque cardíaco de tanta preocupação. Eu não aguentaria perder dois grandes amigos de uma vez. – ele sussurrou, sorrindo fraco, e eu retribui o gesto.
- Não é como se eu tivesse feito por querer, . Mas eu prometo não me meter mais nesse tipo de confusão. – ele segurou e apertou minha mão, assentindo.
- Será que dá pra você vazar daí de dar espaço para o cara preferido dela dar um beijo nesse rostinho lindo, ? – surgiu, tirando à força do meu lado, e todos nós rimos do seu jeito bruto. lhe mostrou o dedo do meio e eu olhei feio para ele, indicando com a cabeça, e ele sibilou um mudo pedido de desculpas. – Senti sua falta, baixinha. – repetiu o gesto de , me dando um beijo carinhoso na testa.
Logo se aproximou, com Penny ao seu lado, tentando obter também um pouco de contato comigo, conversei com todos um pouco, com ainda aninhada em meus braços, mas logo a enfermeira Cohen surgiu, pedindo para que todos se retirassem, porque, segundo ela, mesmo eu tendo dormido por todo esse tempo, eu ainda estava fraca e precisava de descanso. Eles foram saindo aos poucos, e quando Penny se aproximou para retirar dos meus braços, notamos que ela havia adormecido.
- A pobrezinha não tem tido boas noites de sono, estava muito preocupada com a mãe, acho que finalmente ela irá dormir tranquilamente. – Penny comentou, sorrindo.
- Deixe ela aqui um pouco mais. – pedi, e ela olhou para .
- Tudo bem, eu levo ela pra casa depois. – ele afirmou a ela.
- Certo, mas se você não puder sair daqui, apenas ligue, e e eu viremos buscá-la, ok? – Penny disse e ele assentiu.
- Obrigado por cuidar dela. – agradeceu.
- Foi um prazer, não se preocupe. – ela disse, dando-lhe um beijo no rosto. – Agora, você, se cuide, mocinha. Amanhã eu volto para te visitar de novo. – ela piscou e eu sorri, concordando. Penny logo saiu da sala e se virou me encarando, nós finalmente estávamos a sós, bom, não tão a sós assim, pois havia aquele pequeno ser fruto do nosso antigo relacionamento diante de nós. E aquela cena, apesar do local parecia tão certa, era como se finalmente houvéssemos nos transformado na família que sempre deveríamos ter sido.
- Eu tenho algumas perguntas, . Na verdade, muitas. Espero que você me ajude a compreender tudo as respondendo. – eu disse após ele se aproximar e se sentar em uma cadeira ao lado da minha cama.
- Eu já imaginava, o que exatamente você quer saber? – ele perguntou, me encarando.
- Não me lembro muito bem de tudo o que aconteceu, do que me trouxe até este quarto de hospital. Me lembro apenas de tentar fugir daquela cabana com no colo, quando ouvi um tiro, que Ashley havia disparado em minha direção, então me virei e vi que Jake havia sido atingido. Ele se feriu tentando me ajudar a fugir. Então me diga, , o que aconteceu com Jake? Ashley? E por que eu fiquei em coma por tanto tempo? – disparei perguntas, e apenas me encarou por um tempo, parecendo medir o que deveria me dizer ou não, mas eu não queria que ele me escondesse nada, eu precisava saber de todos os detalhes. – Por favor, não omita nada. Me conte tudo. – pedi, e ele respirou, se levantando e caminhando pelo quarto. levou as mãos em direção aos cabelos e os bagunçou, puxando os fios um pouco, aquele gesto que eu conhecia tão bem, indicava que ele estava nervoso com algo que deveria me contar.
- Acho um pouco cedo pra você saber sobre tudo isso, você acabou de acordar de um coma, ! Não deveria reviver esse tipo de coisa ou perguntar sobre essas pessoas. – ele exclamou, nervoso.
- Jake nos ajudou, . A mim e a . Quero apenas saber como ele está. Sei que ele não é isento de culpa em toda essa história, assim como você e eu também não somos, mas eu quero apenas saber o que aconteceu. – pedi novamente, sentindo o peso de sobre o meu peito, ela ainda ressonava, alheia à pequena discussão que ocorria entre os seus pais naquele momento. respirou fundo e voltou a sentar ao meu lado.
- Evans levou um tiro, mas sobreviveu. Só que o tiro acabou atingindo algum nervo ou coisa do tipo e... – parou me encarando novamente. – Tem certeza de que quer saber sobre isso? – ele perguntou parecendo angustiado por ter que me contar tudo.
- Tenho, vai ser melhor se eu souber de tudo logo. – disse o incentivando.
- Ok. O Evans sobreviveu, mas no momento se encontra paraplégico. – ele finalizou, me encarando. E eu me senti surpresa e triste pela notícia. Jake não era um santo nessa história, mas eu não desejava algo do tipo para ele. Afinal de contas, ele estava do nosso lado. – Sabia que não deveria ter dito nada. – comentou após o meu silêncio.
- Não, foi bom você ter me dito isso. Eu apenas estou me sentindo triste por ele. – comentei erroneamente.
- Claro, no fundo, você se sente preocupada pelo seu queridinho, mesmo após tudo o que ele fez. – se levantou e caminhou pelo quarto de novo, parecendo aborrecido.
- . – eu chamei e ele me ignorou, continuando a resmungar coisas inaudíveis. – !
- O quê? – ele parou me encarando.
- Pare de fazer drama com o fato de eu ainda me preocupar com o Jake. O fato de eu estar preocupada não quer dizer que eu ainda esteja romanticamente ligada a ele. É uma preocupação comum por outro ser humano que fez parte da minha vida. Não precisa ficar desse jeito por isso, não precisa dessa cena de ciúmes. – eu olhei para ele, sorrindo.
- Eu não estou com ciúmes! – ele exclamou ainda bravo, eu continuei o encarando com um sorriso no rosto.
- Se você diz... Agora, sente-se aqui e me conte todo o resto da história. – exigi, e ele permaneceu em pé por um tempo, relutante em se sentar ou não ao meu lado.
Mas logo ele decidiu sentar e, suspirando, me contou tudo o que havia acontecido e o que ele sabia após eu ter fugido daquela cabana. Ashley havia nos perseguido em outro carro e jogado o veículo em cima do carro de Jake, que eu estava dirigindo, tentando nos tirar da estrada, e ela conseguiu nos lançar no acostamento, mas no mesmo instante um caminhão que vinha na direção contrária atingiu o seu carro. sofreu apenas alguns arranhões e foi logo retirada do carro onde estávamos, mas a minha situação foi um pouco mais complicada e os bombeiros demoraram um pouco mais a me tirar do veículo. Enquanto isso, meus amigos ainda não tinham notícias de em qual veículo eu estava, e nesse tempo o carro de Ashley explodiu, ela havia sido retirada a tempo, mas já se encontrava sem vida. Exames feitos pela perícia reconheceram o seu corpo um pouco mais tarde. Eles me retiraram do outro veículo, também desacordada, com uma grande ferida na cabeça ocasionada por uma pancada, e desde então eu permaneci em coma induzido, devido à batida na cabeça.
Uma viatura policial havia ido até a cabana e encontrado Jake ferido naquela mesma noite. Uma ambulância o levou para o hospital e eles tentaram fazer o possível, mas não conseguiram evitar que ele ficasse paraplégico.
Ouvi todo o relato de ao mesmo tempo sentindo agonia por tudo o que havíamos passado e também alívio por, no fim, ter saído ilesa de tudo aquilo. A minha missão havia sido cumprida. A minha filha havia sido salva.
- Tudo vai ficar bem daqui pra frente, eu prometo. – ele disse, me surpreendendo com um selinho rápido. – E essa promessa eu nunca irei quebrar. Nunca mais eu irei quebrar nenhuma promessa que eu tenha feito a você. Eu juro, por esta garotinha linda aqui deitada no seu colo, e juro pela minha vida e pelo amor que eu sempre senti por ti.
deixou o quarto de hospital um tempo depois com ainda adormecida nos braços, dizendo que iria levá-la até Penny e que depois retornaria para passar a noite comigo. Quando ele saiu, a enfermeira Cohen voltou ao quarto para me examinar novamente, e ela fez questão de me deixar saber o quanto havia ficado preocupado comigo durante todo aquele tempo e frisou o fato de que ele havia passado todas as noites possíveis ao meu lado naquele hospital, mesmo sabendo que eu não iria acordar tão cedo. Meu coração acelerou uma batida ao ouvir aquelas palavras, eu poderia estar me enganando, mas era bom me sentir amada por ele novamente.

“You filled my place with his embrace. His touch was cold, you never came. You filled a hole that's in my soul. I wish you felt the same. But is it too late for things to change? It was you, because leaving is just what you do. When you finally got something to lose. I just don't feel the same without you.”

(…)


O médico que cuidava de mim, Dr. Potter, havia me mantido internada naquele hospital por mais uma longa e entediante semana. me fez companhia durante todo o tempo. Meus amigos haviam ido me visitar várias vezes, tentava ficar o quanto podia, mas precisava trabalhar como sempre. não gostava nem um pouco quando o pai a levava embora, mas eu havia prometido a ela que sairia logo dali e ela se acalmou, notando que eu havia voltado para ficar.
O dia da minha alta havia finalmente chegado, e a enfermeira Cohen me ajudava a arrumar algumas coisas, já que eu ainda estava um pouco fraca para ficar me movimentando tanto pelo quarto. estava na recepção resolvendo toda a papelada final sobre a minha saída.
- Você parece um pouco nervosa, querida. – Cohen me perguntou.
- Talvez eu esteja mesmo um pouco. Tenho uma decisão importante a tomar que pode mudar completamente a minha vida e principalmente a da minha filha e não tenho certeza ainda se isso é o certo a fazer. – comentei suspirando.
- O meu conselho pode ser um pouco clichê, e eu não tenho certeza se a sua decisão tem algo relacionado com o que eu estou pensando, mas a resposta certa está dentro do seu coração, querida. Siga o seu coração, preste atenção no que ele está te dizendo, ele sabe o que é melhor pra você. – ela piscou, sorrindo, e eu respirei fundo, tentando seguir o seu conselho.
Um tempo depois, estacionou diante do meu prédio, mesmo sobre protestos ele me carregou no colo até o elevador e em seguida até a porta do meu apartamento. Quando entramos, fui surpreendida por uma pequena reunião de boas vindas dos meus queridos amigos mais próximos, que haviam reunido também alguns colegas de trabalho, incluindo Clare, a diretora do escola, que garantiu que meus alunos estavam ansiosos pela minha volta e que todos rezaram para que eu ficasse boa logo. Sra. Parker também estava por lá, parecendo preocupada comigo como uma boa avó ficaria, eu agradeci a todos e tentei permanecer animada com a reunião, mas o cansaço após tantos dias naquele hospital me dominou, e notando o meu estado, tratou rapidamente de pedir com educação para que todos me dessem licença para descansar um pouco. me acompanhou até o quarto com adormecida em meus braços. e Penny haviam me contado que ele tinha praticamente se mudado para o nosso apartamento enquanto eu estive em coma, e fez de tudo para que se sentisse bem, dormindo inclusive com ela sobre a minha cama, nas noites em que ele não estava ao meu lado no hospital.
Eu pedi para que ele permanecesse no quarto olhando enquanto eu tomava um banho e me preparava para dormir, e quando voltei ao quarto, o encontrei deitado ao lado dela acariciando, os seus cabelos em profunda devoção. Aquela cena, aquele pequeno detalhe, fez com que eu finalmente seguisse o conselho da enfermeira.
Eu havia tomado a minha decisão e talvez as pessoas não entendessem, mas eu tinha decidido seguir o meu coração dessa vez. Ele ainda estava fragilizado, machucado, reaprendendo a viver, e mesmo assim, aquele era o seu desejo mais forte. Eu não poderia continuar com medo, tinha que seguir em frente.
finalmente notou minha presença no quarto e logo se levantou, se desculpando. Eu sorri, dando de ombros, e me sentei na cama. Ele caminhou em direção à porta do quarto, parecendo relutante em sair.
- Algum dia você irá me perdoar de verdade e dar uma nova chance a nós dois? – ele perguntou, de repente me encarando, eu me surpreendi com o seu jeito direto, como se ele soubesse exatamente o que eu pretendia fazer. Mas aquela pergunta me pegou desprevenida, e eu me vi sem uma resposta imediata. – Esquece, esse não é o momento certo. Talvez o momento certo nunca chegue. Talvez tudo esteja perdido mesmo. – ele encostou na porta, encarando o chão do quarto.
- ... - eu o chamei, mas ele continuou encarando o chão com o olhar perdido, eu respirei fundo e depois sorri, caminhando até ele e levando a mão até o seu rosto, o direcionando até o meu, para que ele me encarasse nos olhos. - Escuta, por mais que você não mereça, eu te amo e você sabe disso. Eu sinto agora, no fundo do meu coração, que apesar de tudo pelo que nós passamos, eu quero voltar pra você, quero ficar com você de novo. Quero que você, a e eu formemos uma família, como sempre deveria ter sido, mas... - eu parei por um momento, tentando encontrar as palavras certas, tentando não magoá-lo. Ele me observou ansioso.
- Mas... - cobriu as minhas mãos que estavam em seu rosto e me incentivou a continuar e eu sorri diante da sua reação.
- Mas as coisas nem sempre acontecem no momento em que a gente quer. - eu concluí, e ele me encarou, assustado, se afastando em seguida, eu vi o brilho dos seus olhos se perder, sendo engolido pela tristeza.
- Eu realmente estraguei tudo, não é? - ele disse, suspirando e virando-se de costas. - Não tem mais volta. - observei em silêncio o seu ombro cair, derrotado, enquanto ele se preparava para abrir a porta e sair do quarto. - Nós não vamos ficar juntos. – concluiu, pronto para sair pela porta.
- Eu não disse que nós não vamos ficar juntos. – eu o interrompi com um sorriso nos lábios, impedindo que ele fosse embora. ficou paralisado por um momento, notei a sua respiração acelerar antes que ele se virasse novamente em minha direção, me encarando confuso.
- Mas você acabou de dizer que... - ele falou, mas eu o interrompi de novo.

“I'm better with you, you're better with me. I still miss all our nights. Even fights were all better with you. You're better with me. There is nobody else who can love me the way that you do. Better than you. I still miss all our days and the way you would carry me through. I'll carry you, too. There is nobody else who could love you the way that I do. Who can love you the way that I do?”

“If there's a way for us to learn to forgive. There's nothing that I wouldn't give. There's still a space that I have buried away. It's deep in my heart, it's always your place.”


- Eu disse que tudo tem o seu tempo, . Eu quero ficar com você, mas quero que as coisas entre nós aconteçam aos poucos. Vamos recomeçar, mas não de onde paramos, vamos deixar o passado para trás, fingir que esta é a primeira vez que nos conhecemos. - expliquei, me aproximando de onde ele estava, me encarou, ainda confuso, mas sorriu quando eu entrelacei os meus braços ao redor do seu pescoço, e posicionei o meu rosto bem próximo ao dele, olhando-o de perto. - Eu quero que você me reconquiste, . – sorri, e o sorriso dele se iluminou ainda mais. - Quero que você me convide para um encontro, e então nós iremos sair mais algumas vezes após isso, e se tudo der certo, um tempo depois você poderá me pedir em namoro, como é de praxe. - pisquei e riu, entrelaçando os braços ao redor da minha cintura e me puxando pra perto dele. Eu senti aquele calor que emanava do corpo dele sempre que ficávamos próximos tomar conta de mim, quase me fazendo perder o raciocínio. - E depois, com o tempo, quando todas as feridas estiverem cicatrizadas, nós talvez possamos nos casar de novo. - dei de ombros, como se aquilo não fosse importante, e gargalhou do meu jeito.
- Você é incrível. - ele disse aproximando o rosto ainda mais do meu e apertando o abraço em que havia me envolvido. - Eu topo, . - ele me deu um selinho. - Eu faço qualquer coisa pra ter o seu perdão e a sua confiança. - outro. - Qualquer coisa pra te fazer feliz. - Mais um. - Qualquer coisa pra te ter de volta. - Novamente e eu já ria, completamente extasiada com o momento. - Eu te amo, . - ele me olhou profundamente. - Espero que, em breve, novamente. - piscou e eu sorri. - Mas tudo ao seu tempo, eu vou esperar o que for preciso pra te ter comigo de novo, porque eu fui o maior dos idiotas quando te deixei, quando te magoei e vou lutar até os meus últimos dias para reparar esse erro. - finalizou, finalmente me beijando de maneira intensa e apaixonada. Nós nos separamos um pouco depois sorrindo, como se fossemos novamente aqueles dois adolescentes apaixonados de tempos atrás, que finalmente após se perderem um do outro haviam se reencontrado. me beijou novamente e então nos separamos e seguimos em direção a minha cama onde dormia calmamente com um sorriso tranquilo no rosto.
- Obrigado por ter me dado o melhor presente de toda a minha vida. – ele disse, encarando nossa filha enquanto me abraçava de lado. Eu sorri para ele e também voltei minha atenção para ela em seguida, finalmente feliz por tudo estar se resolvendo. Feliz com a possibilidade de um futuro promissor em família.
Algumas pessoas não iriam entender como eu o havia perdoado após aquela traição, mesmo que este perdão ainda estivesse em período de construção, mas eu não estava ligando para o que os outros achavam, tudo o que eu queria no momento era ser feliz e no fundo do meu coração, eu sabia que eu só seria completamente feliz com e ao meu lado. E agora eu sentia a mudança, sentia que isso iria acontecer. A família que eu tanto sonhei finalmente iria se reunir.

“Who can love you the way that I do?”





[N/A: Última canção do capítulo, obrigada por acompanhar! Ouça: A Rocket to the Moon – I do]

Londres, Inglaterra - 5 anos depois.

’s P.O.V.

- Anda logo, pai! – a garotinha de nove anos reclamou mais uma vez, esperando na sala diante da porta de casa.
- Eu estou nervoso, . Será que você não entende? – perguntei, descendo as escadas apressado, enquanto dava o nó na gravata. revirou os olhos, entediada, e eu sorri, vendo o quanto ela e a mãe tinham em comum, mesmo ela sendo mais parecida comigo fisicamente. Aquele era um gesto típico de .
- Eu já te disse que sinto que dessa vez vai dar certo. – ela sorriu e correu para me dar um abraço.
- Posso saber como a senhorita tem tanta certeza disso? Afinal, eu já estou recebendo “nãos” há um bom tempo. – disse, frustrado. – O que tem de diferente desta vez?
- Tem que eu estou te ajudando dessa vez e tudo irá sair perfeito. Além do mais, eu tenho minhas fontes. – ela disse, sabichona como era, e eu a encarei, curioso. Aquela menina não aparentava ter a idade que tinha quando se metia a conversar como adulta.
- Sua mãe te disse algo? – perguntei, tentando arrancar alguma informação dela, e negou, sorrindo.
- Boa tentativa, velhote, mas você não vai conseguir nenhuma dica minha. – ela piscou, abrindo a porta e saltitando até o carro. Eu revirei os olhos, porque aquele gesto pegava, e segui para que pudéssemos logo colocar aquilo em pratica.

(...)


’s P.O.V.

- Sabe, tenho curiosidade em saber por que você não deixou o trabalho voluntário aqui nesta escola mesmo após o fim da sua condicional? - eu disse, curiosa. me encarou, sorrindo.
- Talvez eu tenha me apaixonado por ensinar, tanto quanto você e goste de fazer diferença na vida dessas crianças. - ele respondeu, e eu o encarei, incrédula, com a sobrancelha arqueada. - Ok, acho que o motivo maior é que assim eu posso ficar mais tempo perto de você e da . - ele confessou, dando de ombros, e eu ri.
- Você está tão grudento nos últimos tempos, . – disse, levando os meus braços ao redor do seu pescoço e fazendo carinho em sua nuca.
- Isso é ruim? - ele perguntou, apreensivo, enquanto envolvia a minha cintura com seus braços. Mas antes que eu pudesse responder, nós fomos interrompidos por uma garotinha de nove anos que nos encarava com aqueles olhos iguais aos do pai.
- Será que vocês dois poderiam parar de namorar um pouco em público? Isso é vergonhoso e nojento. - surgiu ao nosso lado, rindo, com as mãos postadas na cintura. E eu logo me afastei de .
- Sua pestinha estraga prazeres. - resmungou, emburrado enquanto a encarava, e eu ri com a cena.
- Tá, pai, tanto faz. - Ela disse, dando de ombros, e em seguida ordenou. – Agora, vamos logo pros bastidores, já tá quase na hora da apresentação. Seja mais profissional. - ela disse, e logo se virou, indo para a parte de trás do palco. me encarou, incrédulo.
- Sua filha. – falei, dando de ombros, como ela havia feito anteriormente, e lhe dei um beijo em seguida. - Vocês ainda não vão me dizer sobre o que será essa apresentação surpresa para os pais? - tentei mais uma vez.
- Mais alguns minutos e você verá. - desconversou. - Vou indo, senão a carrasca logo voltará para puxar o meu pé. Até daqui a pouco. - ele disse rindo e me beijou com carinho mais uma vez antes de seguir por onde havia entrado. Eu suspirei frustrada com tanto mistério e caminhei até o local aonde iria me sentar para assistir tudo. Penny e aguardavam já sentadas em seus lugares. Charlie, o filho mais velho de Penny e , que agora tinha sete anos, fazia parte do coral da escola e também iria se apresentar naquele dia.
- E então? - perguntou tão curiosa quanto eu e apenas neguei. - Droga. - ela resmungou se afundando em seu lugar.
- Laura querida, não tire as sandálias. – Penny pediu a filha de cinco anos que estava se livrando dos sapatos sem ligar para o que a mãe havia dito. – Laura ! – Penélope disse um pouco mais alto e a filha a encarou com lágrimas nos olhos.
- Por isso não queria ter filhos tão cedo, mas o idiota do tinha que ter me engravidado. – resmungou ao meu lado e eu a encarei rindo. Ela estava linda com a sua enorme barriga de quase oito meses. e ainda não haviam se casado, não por falta de pedido da parte dele, mas por recusas incansáveis da parte dela. dizia que eles já eram mais do que casados, não precisariam de apenas um papel idiota para oficializar o que já era concreto, eles estavam vivendo juntos há dois anos, mas após ela ter engravidado fez um ultimato, alegando não querer que seu filho fosse um bastardo, pois seus pais surtariam com isso e após muita insistência, havia aceitado se casar após o nascimento do bebê.
, e logo chegaram ansiosos e orgulhosos pela apresentação das crianças e eu tentei arrancar algo deles, mas eles continuaram mudos em relação àquilo. carregava a pequena Olivia em seus braços, uma linda garotinha de 1 ano, filha mais nova dele e Penélope. Eu beijei a sua bochecha com covinhas e ela sorriu tímida, se encolhendo nos braços do pai.
- Onde está Sarah? – perguntei a que se sentou ao meu lado.
- Ela tinha uma audiência mais cedo, mas já deve estar a caminho. – ele respondeu sorrindo.
- Certo. A propósito, parabéns pelo noivado. – eu pisquei e ele sorriu mais ainda em resposta. Com aquela abertura tentei a todo custo conseguir algo dele em relação a apresentação de e , mas não abriu o bico, assim como e .
Eu me recostei no assento onde estava, desistindo de arrancar alguma informação dos garotos e involuntariamente levei minhas mãos em direção a barriga a acariciando de leve, um sorriso tomou conta do meu rosto e as garotas me observaram atentas, também sorrindo. Enquanto os meninos desatentos não captaram aquele gesto. Nós três rimos, cúmplices, mas logo ficamos quietas quando os acordes de uma canção invadiram o teatro da escola e as cortinas do palco se abriram.

“You get lost on your way back home Just about anywhere You sing off key to the radio Like nobody’s there And I love that your Sunday’s best Is a holey pair of jeans And I don’t stand a chance when you smile.”


surgiu no canto direito do palco, cantando e tocando violão, enquanto a banda, que ele coordenava dos alunos da escola, o acompanhava.
Aos poucos o ballet foi surgindo, iniciando sua dança no centro do palco. estava entre eles, dançando concentrada, mas mantendo um sorriso no rosto e eu senti orgulho da minha garotinha mais uma vez.

“Yeah, the longer that we’re together The good keeps on getting better I never thought that I would ever Find someone like you And every day you show me I can Just when I think that I can’t, Love you anymore than I do I do.”


O ballet rodopiava pelo palco, agora com algumas placas que possuíam estrofes da música em mãos, enquanto a banda continuava tocando, encarei e ele sorria, ora observando , ora com o olhar focado em mim e eu sorri de volta, encantada com aquela apresentação.

“You change your hair color every week Cause you’re never quite sure of it And I know when you’re mad at me Cause you tell me what I did And all I think is beautiful When I think of you And I still can’t believe that you’re mine”


Garotinhas com perucas coloridas invadiram o palco dançando e interpretando de forma divertida e assim que saíram, entrou, acompanhada de um garoto que parecia um pouco mais velho, eles fingiram ser um casal discutindo, ela tentou ir embora, mas ele a segurou e a ergueu nos braços rodopiando. Em seguida a colocou no chão, eles se encararam e sorriram um para o outro no final da estrofe, olhei para novamente e meus olhos já estavam repletos de lágrimas de felicidade quando ele cantou a ultima nota me olhando fixamente. Eu sabia que aquilo já deveria ser efeito dos hormônios e sorri tentando disfarçar o choro incontido.

“All I see is beautiful. When I look at you.”



voltou ao palco dançando acompanhada das outras garotas do ballet, e aquele garoto também logo surgiu, acompanhado de mais alguns garotos. Eles se aproximaram e ela dançou com ele, e o restante do grupo formou outros casais que dançavam ao seu redor e eu estava cada vez mais admirada com aquela apresentação.
- Meu filho não é a coisa mais linda? - Penny sussurrou, encarando Charlie, que fazia coro junto à banda. Ele definitivamente havia puxado os genes artísticos do pai. Eu sorri, concordando. - está maravilhosa. - ela concluiu, sorrindo também, agora me olhando enquanto apertava minhas mãos entre as suas. Aquele sentimento de mãe orgulhosa era a melhor coisa do mundo e a minha amiga sabia disso tanto quanto eu.

(...)

Yeah, the longer that we’re together The good keeps on getting better I never thought that I would ever Find someone like you And every day you show me I can Just when I think that I can’t Love you anymore than I do I can't love you any more than I do I do I do.”


O ballet voltou ao palco carregando novamente algumas placas com frases escritas que eu não consegui entender enquanto eles rodopiavam pelo local ainda dançando, mas ao final da apresentação, eles se posicionaram no centro em ordem erguendo as placas, meu coração pulou dentro do peito quando eu notei a pergunta formada na frase escrita em negrito naqueles pedaços de papel.

", casa comigo de novo?"


Uma salva de palmas invadiu o teatro. Direcionei o meu olhar até onde estava, e notei o seu olhar ansioso me fitar enquanto as cortinas do palco eram baixadas, o separando de mim por um momento. Meu coração estava disparado, e eu olhei para os meus amigos, que sorriam com tudo o que havia acontecido. Penny e pareciam tão surpresas quanto eu.
- Vocês sabiam, não é mesmo? - perguntei a , e , que sorriram, culpados.
- Foi uma boa surpresa. - disse, e eu sorri, concordando.
- O que você ainda está fazendo aqui? Acho que tem um cara idiota esperando uma resposta lá atrás nos bastidores. Afinal, essa não é a primeira vez que ele pede, já deve estar surtando, o coitado. - apontou o local e eu rapidamente me levantei, concordando, e segui apressada até onde estaria.
E ele estava lá, rodeado pelas crianças da banda que comemoravam animadas a apresentação, mas seu olhar logo me localizou, ele se despediu delas sorrindo e caminhou em minha direção, parando diante de mim ainda em silêncio e me olhando apreensivo.

- E então? - perguntou ansioso quando notou que eu ainda estava calada e séria. Eu permaneci assim, o encarando. - Tudo bem, acho que ainda não foi dessa vez. - Ele deu de ombros tentando esconder que estava chateado. - Da próxima vez você não me escapa. - ele sorriu triste e eu me aproximei o abraçando, levei meus lábios perto de seu ouvido e disse.
- I do. - fiz referência à letra da música que ele havia acabado de tocar, me encarou e a expressão no seu rosto era adorável.
- Sim? - ele perguntou em um sussurro surpreso. Eu me afastei e o encarei, sorrindo.
- Sim. - afirmei e me retribuiu com aquele sorriso lindo que só ele tinha, e em seguida me ergueu nos braços, rodopiando comigo pelo local enquanto dizia a todos, entusiasmado.
- Ela disse sim! Ela finalmente disse sim!
- , me coloca no chão. - eu pedi, rindo, e ele logo parou, me encarando.
- Pai, você deveria ser menos escandaloso, às vezes. - a voz de nos chamou a atenção, mas apesar do ar reprovador no seu tom de voz, ela nos olhava, sorrindo. lhe mostrou a língua.
- Você consegue ser mais infantil que ela, quando quer. - eu o repreendi de brincadeira, e ele também me mostrou a língua.
- Me deixem ser feliz, vocês duas. - ele disse e puxou para perto, abraçando nós duas em seguida. - As duas mulheres da minha vida. - ele comentou ainda sorrindo. - Minha filha linda e “pré-aborrecente” precoce e a minha ex-futura esposa maravilhosa, finalmente teremos a nossa família perfeita reunida como sempre deveria ter sido. - disse, nos olhando, e me encarou, rindo cúmplice, ela sempre sabia de tudo.
- E você, hein, . Sempre envolvida em todos os segredos, achei que a senhorita era só minha cúmplice, mas lá estava você ajudando o seu pai também. Sua agente dupla! – comentei, a encarando fingindo estar brava.
- Ah mamãe, alguém tem que colocar vocês dois nos trilhos, seus cabeças duras. - ela respondeu, rindo. E nos encarou confuso.
- Do que vocês estão falando? - ele perguntou, olhando para nós duas.
- Acho que logo a família vai aumentar, papai. - disse, e eu sorri ao notar a expressão no rosto de mudar conforme ele assimilava o que a nossa filha havia dito.
- O quê? - ele encarou a nós duas novamente, os olhos arregalados e um sorriso no rosto. - Você está? - ele apontou pra minha barriga ainda sem palavras.
- Sério que você não notou como eu engordei nos últimos três meses, ? – perguntei, rindo, com as mãos na cintura. Ele me encarou, feliz.
- Notar, eu notei. Mas vai que eu digo alguma coisa e apanho por isso? - sussurrou, e eu semicerrei os olhos para ele. - Eu vou mesmo ser pai de novo? - ele perguntou com os olhos brilhando, parecendo uma criança ganhando o brinquedo que mais queria de natal. Eu balancei a cabeça, confirmando. E novamente me tomou nos braços, me abraçando e em seguida me rodopiando pelo local. - Eu vou ser pai!! - exclamou novamente, sem parar, e as pessoas que estavam a nossa volta riam, contentes com a felicidade de , eu também não conseguia parar de sorrir. – E também vou me casar com a mulher da minha vida!! – ele exclamou novamente.
- , para. Tô ficando enjoada. - pedi, já me sentindo tonta, e ele rapidamente me colocou no chão e me encarou, preocupado.
- Desculpa, amor, tá tudo bem? O bebê tá bem? - me atropelou com perguntas, e eu apenas ri do seu jeito.
- Nós três estamos bem, . Apenas contenha-se da próxima vez. – respondi, ainda rindo, e ele me encarou, confuso, e levou um tempo pra entender o que eu havia dito.
- Você disse três? – ele perguntou com os olhos arregalados, eu assenti. – Três, isso quer dizer que você está... Que nós vamos ser... – ele se embolou com as palavras, parecendo estar em estado de choque.
- , se acalme! – eu disse, acariciando seu rosto e o trazendo pra mim. – Sim, nós vamos ser pais de gêmeos. – afirmei devagar, dizendo cada silaba com cuidado pra que ele entendesse de uma vez.
- Gêmeos!... Dois bebês! – ele exclamou, ainda parecendo alarmado.
- É isso o que a palavra gêmeos pode significar, amor. – eu disse, rindo.
- Nós vamos ter gêmeos! Porra! – ele ergueu os braços, comemorando feito um idiota, e eu olhei ao redor, notando todos nos olhando, mas não liguei, estava aliviada por ele estar aceitando a notícia tão bem, afinal de contas, teríamos trabalho em dobro. Sem contar que agora estávamos prestes a ter que criar uma garota no início da adolescência. logo sorriu de um jeito lindo, abaixando-se em seguida e iniciando uma conversa "particular" com aqueles dois queridos bebês que cresciam a cada dia dentro do meu ventre.
- Oi, bebês, papai está aqui e ele vai cuidar de vocês e ficar do seu lado durante cada segundo. - dizia para a minha barriga levemente saliente.
- Mãe, isso está ficando constrangedor demais. Posso ir pra casa da Emily? - perguntou, rindo do pai.
- A mãe dela deixou? - perguntei a minha filha, que a cada dia crescia mais, ignorando a conversa aleatória do meu agora novamente futuro marido diante da minha barriga.
- Deixou, o Enzo também vai. - ela respondeu, já com a mochila nos ombros.
- Esse moleque não sai de perto da minha filha. - resmungou, ficando de pé e colocando toda a sua antipatia pelo pobre garoto em evidência.
- Deixa de ser ciumento, . - o repreendi, e ele me encarou, ainda chateado. - Pode ir, meu amor, mas me ligue quando quiser voltar pra casa, não venha sozinha. - adverti e ela concordou, sorrindo, deu um beijo no rosto do pai, que ainda tinha um bico em reprovação por causa do pequeno Enzo, e me beijou logo depois, seguindo com os amigos para a casa de Emily.
Sem que eu notasse, se abaixou de novo e começou a conversar novamente com a minha barriga.
- Espero que vocês dois sejam mais obedientes, bebês. E se vocês forem meninas, saibam que só estarão autorizadas a se interessar por garotos depois dos trinta e cinco anos. é uma garotinha muito geniosa. Puxou a mãe. - ele murmurou a última frase baixinho, e eu gargalhei com o seu jeito.
- Levanta daí, , vamos logo pra casa. – disse, puxando ele pra cima. Nós três morávamos há três anos na casa que ele havia comprado no subúrbio, e e eu havíamos vendido o nosso apartamento. - E geniosa era a vaca da sua ex. – disse, fechando a cara, e segui para fora do teatro, deixando para trás. Cinco anos depois, e eu já conseguia fazer piada sobre aquela mulher. Era uma grande evolução. Em pouco tempo estava do meu lado, me abraçou pela cintura com um sorriso no rosto, e assim que chegamos até o carro, abriu a porta do carona para que eu entrasse e disse.
- Vamos pra casa, minha noiva.

Eu sorri quando ele frisou aquelas duas últimas palavras, sabendo que de agora em diante tudo daria certo. Nós finalmente seriamos uma família. Quando se sentou no banco do motorista, eu me virei e agarrei o seu pescoço antes que ele ligasse o veículo e sussurrei em seu ouvido.

- Prometo te amar além da vida, meu noivo.

Ele sorriu, eu sorri de volta. Como os dois cúmplices que éramos da nossa história de amor conflituosa. Uma história de amor que os detalhes apenas nós dois sabíamos. Um amor que sobreviveu a momentos ruins, e que de agora em diante duraria para a vida toda. Porque agora esse sentimento tinha uma base forte, poderosa e sólida.
E então nós nos beijamos. E nada mais importava.

’s P.O.V.

O perdão pode surgir em algum momento da vida, mas uma vez que você erra, tem que estar disposto a enfrentar as dificuldades que esse erro trará a você. É como se você fosse obrigado a enfrentar uma tempestade de verão, preso em uma ilha deserta, desabrigado e completamente sozinho.
No início, sua vida se tornará uma bagunça, uma confusão desenfreada, sendo remexida, modificada, destruída aos poucos por uma torrente de sentimentos conflituosos: Orgulho, dúvida, vergonha, ansiedade, esperança. Como se você de repente ficasse aparentemente cego, não enxergando a importância do que fez.
Mas a tempestade não será constante, em alguns minutos ela passará, deixando pra trás apenas os destroços, fragmentos de tudo aquilo que foi feito. Mágoa e tristeza.
Porém, a vontade de obter um novo começo surgirá um momento depois, e quando ela surgir, cabe a você decidir se desta vez seguirá o caminho certo ou se colocará tudo a perder novamente.
Eu nunca mais seguiria pelo caminho errado, nunca mais a perderia, disso eu tinha certeza. Aquela seria uma promessa inquebrável, uma promessa para além da vida.



"Muitos esperam finais felizes. Mas a felicidade não está lá no final, está na trajetória". - Pat Solitano (O lado Bom da Vida)



FIM


N/A (15/12/2014): “Everybody knows the end...”
Minha ultima nota pra essa fic! Still can’t believe it. Após tanto tempo escrevendo a história está finalmente finalizada. Por um lado me sinto feliz por mais um projeto concluído, mas por outro bate aquela tristeza básica por ser o fim. YGCTS foi uma ótima surpresa, gosto de pensar que evoluí bastante na minha forma de escrever com ela. E o melhor foram os leitores maravilhosos que essa fic me trouxe.
Espero que o final tenha agradado vocês, mas mesmo que não tenha agradado a todos, eu agradeço por todo o carinho sempre.
Vou ficando por aqui pra não transformar essa ultima nota em uma longfic. Hehe
Novamente, muito obrigada!
É isso, beijos e até algum dia!

.
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Outras fics: You were Meant to Be Mine – McFly - Restritas – Y - Finalizada.
O Guru do Amor – Simple Plan – Finalizada.
Galway Boy - Especial Equinócio – Finalizada.


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