Emily não parava de falar desde que havíamos pisado no aeroporto.
Enquanto isso eu carregava minha mala com esforço. Dessa vez havia a enchido de roupas, já que aproveitaria minha folga em Sydney. Estávamos atrasadas para o check-in, ainda precisávamos passar pelo D.O.* e tudo que ela sabia era entoar as qualidades físicas do comandante.
- Deus do céu, aqueles olhos, aqueles ombros... Lembro-me perfeitamente da última vez que estive escalada para um voo com ele. Aquela voz aveludada passando comandos de voos me deixava toda arrepiada. – riu, confessando.
Blá blá blá.
Não conhecia Emily há muito tempo para saber de suas paixonites. Mas conhecia comissárias a tempo suficiente para já estar ciente da síndrome de Tara Enlouquecida Por Pilotos que acometia fortemente todas as jovens comissárias entre 20 e 50 anos.
Nem todas as jovens. Já que eu me orgulhava de ser uma exceção.
Eu já estava perdendo a paciência. Emy enrolou no check-in porque conhecia o agente que tinha a atendido, e que estava claramente tentando puxar papo com ela. Além disso, parou no meio do caminho (mesmo tendo plena consciência que de já estávamos atrasadas) para retocar o batom.
- Meu Deus! Esse piloto, hm? Deve ter algo sobre ele. – sugeri, vendo a mulher guardar o batom e o espelho na bolsa.
- Com o ? – ela me olhou surpresa – Quem me dera, amiga. Mas qualquer dia pode ser um dia de sorte, não é? – Piscou, fazendo-me rir.
Na verdade eu não entendia o ponto de todo esse faniquito por pilotos. Tudo bem que nossa vida social e pessoal era bem limitada pela nossa profissão que sempre nos requeria em dias e horários mais diversos e inusitados, então a maioria de nós sempre acabava envolvida mesmo com alguém do trabalho. Um comissário ali, um funcionário de aeroporto aqui, um funcionário de hotel de vez em quando... Mas os preferidos eram mesmo os pilotos. Vai entender.

*D.O.: Despacho operacional. Dependências da Empresa em aeroportos onde os tripulantes se apresentam para efetuar programações de voo ou reserva, checar escalas e etc.

E no final das contas chegamos mesmo atrasadas ao D.O. Emily passou pela porta primeiro, a postura ereta e o nariz empinado denunciando suas intenções, fazendo-me rir abafado de toda aquela pose dela só para impressionar um cara.

E, bom, logo depois me arrependi de ter entrado rindo.

A porta, de frente para a mesa de trabalho, fez com que minha primeira visão da sala fosse um ombro robusto metido dentro de uma camisa branca e terno azul, uniforme da American Airlines que, até aquele momento, nunca havia enchido os olhos de ninguém. O homem estava sentado de frente para a mesa examinando alguns papéis. A cabeça abaixada me permitia apenas ver a pele clara de seu pescoço masculino destacando contra o tom escuro de sua roupa. O cap* descansava ao lado dos documentos enquanto ele rodopiava uma caneta nas mãos. E então, ele levantou a cabeça e dois orbes foram direcionados para mim.
E foi nesse momento que minha risada ficou presa na garganta, fazendo com que eu entrasse com uma careta ridícula no rosto.
O homem sorriu de lado brevemente.
- Bom dia. – e com o mesmo sorriso voltou seu olhos para os papéis.
Ai puta merda. Esse devia ser o tal .
- Bom dia. – falei para ninguém específico, já que toda a tripulação já estava na sala e nos encarava. E por toda tripulação eu me refiro às duas equipes de pilotos (em voos muito longos internacionais como o nosso, havia equipes de revezamento como medida de segurança, para que os pilotos e co-pilotos pudessem descansar) e seis comissários, comigo e a Emy.
- Voo para Sydney no B777* com 294 passageiros compondo classe econômica, de negócios e primeira classe. Céu com nuvens, mas sem previsões de tempestades. Alguma observação? - o comandante esperou alguma resposta, passando os olhos pela sua tripulação. Flagrei seu olhar demorando-se em mim (nas minhas pernas descobertas pela saia, na verdade). Cruzei os braços e o encarei, já deixando avisado que “hey, te peguei” vendo-o desviar o olhar com um sorriso disfarçado nos lábios. Metido.
Assim que negamos, ele assinou o documento que liberava o voo e entregou para um dos comissários levar até os agentes do aeroporto.

*Cap: Chapéu usado como parte do uniforme pelos pilotos.
*B777: Boeing 777. É o maior avião bi-jato do mundo, com o motor mais potente já produzido.

Caminhávamos na pista, o grande Boeing 777 nos esperava sinuoso a alguns metros de distância.
- Nós vamos mesmo com esse avião? – perguntei espantada para Emily.
- Parece que o comandante surpreendeu alguém... – ela sugeriu, indicando com os olhos.
Ah, pelo amor.
- Lógico que não. Ele só me parece muito novo para pilotar o maior avião da frota da American.
Ela me olhou desconfiada, mas deu de ombros.
- Não tão novo, ele parece estar na casa dos trinta. – ela respondeu, olhando para ele com os olhos cerrados.
Olhei para ela com ceticismo.
- É, eu sei. Mesmo com trinta e poucos, ele é novo para o melhor cargo de piloto. Mas dizem que ele começou realmente muito novo. Filho de comandante, sabe como é.
- Ah, isso explica. – respondi com ironia, tendo minha atenção roubada para outra coisa.
A equipe de pilotos andava mais à frente. Com dificuldade, eu tentava prestar atenção ao que Emily falava em vez de ficar observando o comportamento do compartimento traseiro do comandante enquanto ele andava. Mas a vida nunca foi fácil.

Não muito depois que nós chegamos ao avião e o checamos para ver se estava tudo certo para a decolagem, os passageiros começaram a entrar. Emy ficou na porta, recepcionando-os enquanto eu fui para a primeira classe, ajudá-los a achar seus lugares e guardar as bagagens de mão.
Eu agradecia fervorosamente a algum bom deus que há anos a companhia havia abolido aquela demonstração ridícula de medidas de segurança pelos comissários e tudo o que eu tive que fazer foi dar play no videozinho de instrução.
E tão logo o vídeo havia acabado outra voz preencheu toda a aeronave.
- Senhores passageiros, aqui quem fala é o comandante . A torre já permitiu nossa decolagem e nosso tempo de voo previsto até Sydney é de 29 horas. Espero que todos usufruam de uma viagem confortável. A American Airlines é grata pela confiança.
A voz dele alcançou todos os cantinhos do avião, confiante e tranquila. Os passageiros colocaram os cintos, como era indicado nos visores. Nós, comissários, nos sentamos e fizemos o mesmo, e então decolamos.

8 horas de voo depois, eu e Emy estávamos no galley, compartimento onde ficavam estocadas algumas comidas, repondo o carrinho para oferecer para os passageiros de novo. O compartimento ficava entre a primeira classe e a cabine de comando. E foi de lá que um dos co-pilotos saiu, arregaçando a manga da blusa e afrouxando a gravata.
- Folga, até que enfim! – brincou.
- Merecidas, né? – Emily sorriu. Sorriu até demais. Olha que danadinha!
O homem concordou.
- – apresentou-se para mim, estendendo a mão.
- . – cumprimentei. – Café?
Ele sorriu, pegando um dos copos e agradecendo.
- Já estão sabendo do happy hour no hotel, né?
- Lógico. Já é algo meio manjado quando se tem você e o num mesmo avião. – Emy respondeu, fazendo o homem rir.
- Dessa vez foi ideia dele. – deu de ombros, como quem tira a culpa de si mesmo. – Mas a gente não pode desperdiçar um dia de folga em Sydney, pode?
Bem, com isso eu definitivamente concordava.
- Pecado. – afirmei.
- Já não era para vocês terem trocado de turno com a segunda equipe? Ryan ainda estava circulando por aqui agora pouco. – Emy perguntou. Eu não sabia dizer se ela estava interessada em saber quando sairia da cabine ou em realmente puxar papo com .
Acho que provavelmente os dois.
- Já trocamos. Mas quem é que tira o da frente daquele volante? - Emily deu uma risadinha, mexendo no cabelo e tocando na mão de brevemente, continuando o assunto.

Interrompemos essa narração para registrar o nosso placar:
1 x 0 .


2 horas depois eu estava no mesmo galley, curvada para frente arrumando uns sanduíches no carrinho de comidas, quando ouvi uma risadinha abafada atrás de mim.
Muito ciente da minha posição que destacava minha bunda empinada para cima, virei-me imediatamente, encontrando a figura do comandante parado próximo a mim com as mãos no bolso.
E com uma merda de sorrisinho disfarçado na cara.
Ah, para. Ele sempre ia me achar em situações ridículas?
- Tem um sanduíche pra mim? – perguntou normalmente, embora seus olhos brilhassem em diversão. Filho da mãe.
- Ahn... Claro. – levantei-me, indo para um dos armários. – A comida da tripulação está aqui. Você não prefere um almoço? – perguntei, já que não havia o visto sair do cockpit* desde a hora que entramos no avião.
- Não, obrigado. A Emily já levou pra mim mais cedo. – respondeu, cruzando os braços e recostando-se no balcão, encarando-me.

Atualizando...
1 x 1 .

- Você é nova na empresa, comissária? Nunca tinha te visto na minha tripulação.
- . – corrigi, jogando um sanduíche e apelando para todos os santos que eu conhecia para que ele acertasse a cara dele.
Tudo bem que eu nunca fui uma garota de sorte, mas ele ter levantado o braço agilmente e pegado o pacote do sanduíche praticamente sem olhar, levantando uma sobrancelha para mim em deboche, foi meio humilhante.
Então vamos fingir que eu não tinha tentado acertá-lo.
- Não tão nova. – retomei o assunto, com naturalidade. – Tem mais de seis meses desde que fui transferida para cá.
- Então foi só uma questão de falta de sorte. – sorriu, aproximando-se. – A propósito, . – estendeu a mão, olhando-me com presunção.
Falta de sorte?! Falta de sorte eu nunca ter estado numa tripulação dele?
Encarei-o bem por alguns segundos, certificando-me de que ele não estava brincando.
Ele não estava. Ok, então.
- Vai te catar, . – sorri simpática, frisando o nome dele e virando-me de costas, empurrando o trolley* para fora do compartimento.

*cockpit: A cabine de pilotagem.
*trolley: Carros com rodas multidirecionais onde ficam acondicionadas as refeições e/ou bebidas que serão servidas aos passageiros.

19 horas depois estávamos em solo australiano. Como de praxe, depois da saída dos passageiros a tripulação se reunia como ordem do comandante, para checar como havia sido as condições de voo.
Mas na prática era um pouquinho diferente.
- À noite, né, gente? Precisamos de tempo para fazer umas comprinhas durante o dia... – Emy defendia.
- E perder um dia inteiro de sol? Eu fico com o dia. – Stacy contrapôs.
- À noite tem mais cara de festa! A gente põe uma musiquinha e improvisa uma pista...
- Mas durante o dia dá pra aproveitar a praia. – Chris, um outro comissário, falou.
- Ok. Quem quer de dia e quem quer à noite? – , que estava no seu canto de braços cruzados, se pronunciou pela primeira vez.
- Noite. – Emy falou. Dois comissários e um piloto a apoiaram, mas eu, Stacy, Chris e o resto da equipe de pilotos escolhemos por dia.
- Sinto muito, Emily. Mas a festa do biquíni venceu. – sorriu.
Alguém aí me explica porque ele me olhou sugestivo quando disse a palavra biquíni?!
- E as bebidas? – Chris perguntou.
- Essa é com o , ele que conhece o dono do hotel. – indicou com a cabeça.
- O bar vai estar liberado. – ele sorriu de lado, girando o cap nas mãos. Comemorações da tripulação à parte, a reunião foi encerrada e todos saímos do avião para pegar nossas malas no aeroporto e irmos para o hotel.

Chris, Emy, Stacy e Mark estavam disputando há 5 minutos com o taxista para ver quem conseguiria executar a proeza de colocar todas as nossas malas no bagageiro do carro. Eu apenas assistia a eles, rindo da afobação de Emily.
- Gente, minha mala! Tirem ela do fundo, vocês vão amassar todas as minhas roupas! – ri baixinho, balançando a cabeça em negação. Perdia meu olhar vez ou outra, observando o movimento da saída do aeroporto. Então foi realmente uma surpresa quando, do nada, uma voz, agora muito bem conhecida, falou ao meu lado.
- Aceita jantar comigo essa noite, ? – virei-me, encontrando próximo a mim. Segurava uma mala de couro em uma das mãos, enquanto encarava-me com os olhos ilegíveis.
Uau, ele não perdia tempo.
- Não, obrigada. – tentei ser o menos irônica possível, não pretendendo alongar o papo.
- Um jantar, . Que mal tem? – perguntou.
De ultra metido para homem humilde só pra conseguir uma noite com uma garota. Mas que feio, .
- Não sei. Acho que corro o risco de engasgar com todo o seu ego sufocando o ambiente em que eu estiver comendo.
Ele achou graça, rindo em surpresa. No mesmo instante um segundo táxi parou na nossa frente.
- Te encontro no hotel, comissária. – falou, acenando com a cabeça e entrando sozinho no carro que o esperava.
Ri, sem conseguir acreditar na prepotência dele.
- Anda logo, ! – Stacy chamou de dentro do táxi, e só então notei que já estávamos partindo.

Fazia uns bons vinte minutos que eu estava ali esperando por Emily.
Eu não entendia. Qual o ponto de ligar pro meu quarto, perguntar se eu já estava descendo, dizer que eu estava atrasada e que ela já estava vindo, pra em seguida ela mesma atrasar e me deixar plantada aqui?
Suspirei. Estava morrendo de fome e estar sentada bem no meio do restaurante, sentindo aquele cheirinho de comida gostosa não estava ajudando. Olhava para a parede de vidro que separava o restaurante do hotel do lobby de 3 em 3 minutos checando se vinha alguém. Mas nada. Nem uma alma que possuía caridade para com o meu estômago passava por ali.
E numa dessas passadas de olho impacientes, pude ver o saindo do elevador. Rapidamente me afundei discretamente na cadeira, querendo evitar que ele me visse.
O comandante em questão vestia uma calça jeans escura e uma blusa de alfaiataria preta com as mangas dobradas na altura dos cotovelos. Os cabelos ainda estavam úmidos, descontraindo a figura do homem que parecia tão imponente dentro de seu uniforme de capitão. Ele andava despreocupado, fazendo o exato caminho do restaurante.
Eu devia esperar que a vida seria sacana comigo.

Não foi muito depois dele passar pelo grande portal de vidro que ele me viu, abrindo um sorriso largo e nada disfarçado, andando na minha direção.
- Sabia que você viria. – falou, sentando-se à mesa de frente para mim.
Ah, não.
- Eu vim para encontrar meus amigos. – respondi, com indiferença.
- E cadê eles?
- Estão chegando.
- Tem certeza? – sorriu divertido.
Respirei fundo.
- Tenho, .
- Ótimo, jantar com a tripulação. – ele se acomodou, tirando o celular do bolso e colocando em cima da mesa. – Eles vão demorar muito?
A cara de pau dele era inacreditável.
- Eu realmente espero que não. – sorri com cinismo, vendo-o rir e negar com a cabeça.
Pela mesma porta de vidro, para a qual o estava de costas, pude ver um pequeno grupo cruzando o lobby. Emy vinha na frente com Stacy enquanto , Chris, Mark e outras duas comissárias vinham atrás. Emily me viu primeiro e eu não consegui segurar o meu olhar de “Graças a Deus você chegou!” para ela. A garota ficou confusa por um instante, mas arregalou os olhos quando percebeu quem era meu acompanhante. Um sorriso surpreso e divertido cresceu em seus lábios.
“Sua danadinha!” Falou, por linguagem labial, parando de andar imediatamente.
Antes que o resto do grupo nos visse, ela virou de costas para mim e andou até eles, conversando por uns segundo antes de conduzi-los de volta para o saguão.

O quê?!

Ela olhou uma última vez para trás.
“Manda ver!” falou empolgada, gesticulando com as mãos.
“O quê? Não! Volta aqui!” sibilei, histérica. Ela negou rindo e se virou para frente, acompanhando o grupo até a saída do hotel.

Eu não acredito.

olhava divertido para mim, com toda certeza desse mundo ele havia acompanhado a situação e provavelmente estava gargalhando de mim mentalmente naquele momento.
- Aqueles indo embora não são... Seus amigos?– ele apontou para trás, prendendo o riso.
Levantei-me na hora, pronta para ir atrás deles.
- , é só um jantar. – ele pediu, encarando-me sem ironia.
Droga. Ir embora e deixá-lo ali era exagerado e infantil demais.
Bosta de teimosia que só me envergonhava.
Suspirei, finalmente cedendo e voltando a me sentar, vendo abrir um sorriso.
- Ok. – falei, acenando para um garçom que nos trouxe o cardápio. – Vamos acabar com isso logo. – coloquei a cartilha na frente de meus olhos, tampando a visão que o tinha de mim.
- Você p...
- Não abra a boca – interrompi, falando com ele por trás do cardápio. – Se for para fazer alguma de suas piadinhas sem graça.
- Posso falar? – ele perguntou, divertido, abaixando meu menu. Dei de ombros.
- Eu ia te indicar o carneiro, . Que é a especialidade daqui.
- Posso perguntar como você sabe? - perguntei, apenas por teimosia.
- Porque eu já me hospedei nesse hotel várias vezes? Que implicância comigo. Isso tudo é amor reprimido, comissária?
- Nossa, com certeza. – ri divertida, piscando para ele.
riu junto, chamando o garçom, que fez o nosso pedido sem demora.
- Os senhores aceitam o que para beber?
Eu ia abrir a boca para pedir uma soda, quando perguntou:
- Posso pedir um vinho pra gente?
Ok, ele estava mesmo querendo fazer disso um encontro.
Mas, ah céus, eu realmente não vou negar um bom vinho.
- Uhum.
- Pode trazer a carta de vinhos, por favor? – ele se dirigiu ao garçom, que não demorou para trazer a cartilha.
- Vamos ver, , se eu acerto seu gosto. – ele sorriu, examinando a carta.
Alguns segundos de silêncio depois, ele pediu a bebida, sorrindo satisfeito com sua escolha.
Entramos em um silêncio que para mim estava desagradabilíssimo. Bom, na verdade, eu estava ficando levemente apreensiva.
Nunca havia tido a intenção de estar num jantar com o e, numa saída inocente para um jantar rápido com os amigos, eu tinha vindo parar sentada de frente para o homem mais bonito daquele restaurante, que de uma hora para outra havia decidido agir como um ser humano normal.
Eu tinha aquela leve sensação de que estava ficando ligeiramente encrencada.
- O que te atraiu para o cargo de comissária? – perguntou, parecendo realmente interessado.
- Isso é uma entrevista, comandante? – o quê? Não, eu não flertei, gente, para! riu, respondendo-me:
- Não, comissária – ele frisou. – Eu apenas estou curioso para te conhecer melhor.
- Minha nossa, tem certeza de que você usou o termo “te conhecer melhor” sem pedreiragem? – falei, vendo-o rolar os olhos com divertimento. – Bom, eu sempre gostei de viajar de avião, de lidar com pessoas e conhecer novos lugares. Mas escolhi principalmente porque a vida de comissária permite que eu me dedique à minha paixão, que é escrever.
me encarou por alguns segundos, sorrindo misterioso.
- E o que você está escrevendo?
- Por enquanto eu ando trabalhando num projeto de um livro.
- Então em breve não vou mais poder te chamar de comissária? – Ele brincou. Por um momento eu apenas o observei, distraída com a feição leve do homem à minha frente. Era bem diferente do que eu esperava dele após as primeiras impressões.
- Teoricamente, você sabe que não pode me chamar de comissária desde o momento que eu me apresentei. – observei. Eu sabia que ele usava aquele apelido apenas para me irritar.
olhou para mim e mordeu o canto do lábio, disfarçando um sorriso travesso que me fez rir.
- E você escolheu ser piloto, por quê? – perguntei, tentando acabar com o momento bonitinho dele. Poxa vida! Ele já era bonito, precisava ficar fazendo aquelas caras?
- Eu praticamente nasci com um cap na cabeça. Meu avô e meu pai eram pilotos, eles me levavam todos os finais de semana para o aeroclube para voar com eles. Não tinha como ser diferente.
- Meus pais criam lhamas no Peru e nem por isso eu estou lá dando alfafa para elas. – rebati, vendo reagir com uma cara engraçada. Eu já estava acostumada com essa reação das pessoas.
- Pode rir logo. – falei, vendo-o gargalhar com vontade. O som me contagiando para que eu risse junto.
- Eles criam lhamas no Peru, mesmo? – perguntou, tentando se recompor, mas ainda rindo um pouco.
- Sim. – respondi, como se fosse a coisa mais normal do mundo. Eu sabia que não era.
- Bom, digamos que voar tende a seduzir muito mais um homem do que alimentar lhamas. – ele falou, respondendo minha alfinetada inicial. – Se bem que seria muito mais divertido. – ponderou, claramente achando graça da situação.
Não muito depois disso, o garçom chegou com os nossos pratos.

Nós já estávamos no meio do jantar (e o carneiro assado estava indecente de tão gostoso) quando o perguntou.
- Então, acertei? – indicou o vinho.
- Eu sou obrigada a admitir, esse é maravilhoso. Mas acho que não, eu geralmente bebo vinhos mais frutados do que esse...
Ele sorriu de canto.
- É por isso que você anda tomando o vinho errado, .
- Por quê? – perguntei, descrente.
- Eu não escolhi a bebida pretendendo acertar o que você geralmente bebe. Eu escolhi de acordo com você. Esse vinho é forte, encorpado, mas com uma certa suavidade no final. O alto teor alcoólico provoca calor e acentua o aspecto adocicado. Exatamente como você.

Eu não previ esse tipo de comentário - extremamente insinuativo - vindo.

De forma que, sim, eu corei. E ainda por cima, não soube o que responder.
notou o meu desconforto e completou:
- E é o que dizem sobre os vinhos, a gente toma de acordo com o que se identifica. – sorriu tranquilo, voltando a comer.
Meu Deus! Como é que ele conseguia sorrir tranquilo depois do que havia falado?
Enquanto eu estava ali, mortalmente divida entre enfiar aquele carneiro na cara dele ou sair daquele restaurante imediatamente. Talvez os dois.
Mas tudo o que eu fiz voltar a comer, exatamente como ele.


Eu mal havia pisado para fora do prédio e o calor do sol me atingiu em cheio, a claridade excessiva que era refletida pela areia fez com que eu cerrasse os olhos e buscasse meus óculos escuros na bolsa, ajeitando-os no rosto.
Aquele hotel era maravilhoso. Sua área de lazer residia numa praia privada. A piscina, o bar e a sauna situavam-se perto da edificação, mas estendiam-se até a orla, onde havia dois ou três quiosques e cadeiras de praia disponíveis.
Eu havia chegado mais cedo do que o combinado de três horas da tarde. Não devia passar de uma e meia e eu já estava ali, pronta para deitar debaixo de uma sombrinha e aproveitar a paisagem.
Ajeitei uma cadeira embaixo de um guarda sol e instalei-me. Deixei a bolsa em cima da mesa circular e deitei, sentindo meu corpo relaxar imediatamente. Ai, Sydney, como eu te amo.

Uma hora mais tarde eu estava sentada em minha cadeira retocando o protetor solar. Apesar de estar debaixo da sombra, o calor estava muito forte, e eu sempre fui meio paranoica quanto ao tratamento que dou à minha pele. Ouvia uma playlist no meu iPod composta por John Mayer, que tinha tudo a ver com aquele clima de praia, e observava as poucas pessoas que passavam por ali.

Uma delas me chamou atenção em especial.

vinha andando bem de longe.
Como eu sabia que era ele? Bom, depois de passar mais de três horas ontem naquele restaurante o encarando, eu sabia distinguir o porte dele entre as pessoas.

Deus, eu sabia distinguir aqueles ombros em qualquer lugar.

De onde ele estava vindo eu não sabia. Caminhava com os pés beirando o mar, vestindo apenas uma bermuda e um óculos aviador.
Que maldade, comandante.
Voltei a me deitar, observando-o melhor enquanto ele se aproximava. Os músculos definidos movimentavam-se à medida que ele se movia, e a pele clara adquiria um brilho dourado sob o sol. Naquela hora, visto daquele ângulo, ele parecia um deus grego caminhando pela praia.

Opa. E não é que de repente havia um deus grego caminhando na minha direção?

Ele provavelmente passaria direto caso não me visse, mas ele viu, e abriu um sorriso charmoso enquanto vinha até mim.
Vendo-o cada vez mais de perto, e de frente, pude notar uma tatuagem localizada exatamente em cima daquela entradinha maravilhosa que ele tinha no quadril.
Em cima.
De forma com que a frase, que era sua tatuagem, tivesse seu começo escondido pela barra da bermuda dele.
Graças a Deus eu estava de óculos, se não ficaria difícil disfarçar o meu olhar tarado pra cima do quadril dele.
- E aí, . – falou, sentando-se no final da minha cadeira, ao lado das minhas pernas.
- Oi . – respondi, tentando esquecer o fato de que a pele do quadril dele estava perigosamente perto dos meus tornozelos.
Que merda é essa? Xô, xô, tentação!
- Eu sei que é sua intenção parecer ultra sexy me chamando de , mas você pode me chamar de . - ele sorriu, tirando os óculos escuros para que eu pudesse ver suas íris extremamente enquanto ele falava. Aqueles orbes . Que ontem pareciam muito mais escuras sob a luz fraca do restaurante, e hoje praticamente cintilavam de tão claras sob a luz do sol.
Como alguém pode ser tão bonito?

Alguém manda ele parar?!

- Será que você pode me poupar do seu ego exacerbado, por favor?
Ele riu.
- Então quer dizer que você não aguentou de saudade e veio mais cedo só pra me ver? – ele falou, sorrindo maroto no final porque sabia que só tinha dito aquilo para me irritar.
- Shiu, eu mandei você guardar o ego – e cometendo o ato universal da atração, eu o toquei.
Foi apenas um chute de leve do meu tornozelo em seu quadril. Mas, merda, eu havia feito.
Duas vezes merda, porque eu tinha gostado.
- E não posso vir à praia não? Isso não tem que ter nada a ver com você. Aliás, foi você quem veio até aqui. – olhei esperta para ele.
- Sim, eu não me segurei depois que te vi. Tinha que vir até aqui pra ficar perto dessa sua presença extremamente simpática. – ele falou irônico, sorrindo de lado.
Depois que eu havia dado sinal verde para os toques, resolveu se aproveitar 100% da situação. Envolveu meu tornozelo, que naquele momento pareceu realmente pequeno, dentro de sua mão grande.
Calor.
Meu Deus, como fez calor naquele momento. Ondas quentes nasciam exatamente embaixo da pele que ele estava tocando, irradiando calor para todo o meu corpo.
Gente, tornozelos nunca tinham me perecido uma zona erógena, o que era aquilo?!

- Você que provoca. – defendi-me, puxando meu pé para longe daquelas mãos perigosas dele. sorriu de lado e deu de ombros.
- Já entrou no mar? – disse, indicando com a cabeça para trás.
- Ainda não.
- Vamos lá?
- Passo a vez. Quero continuar sequinha por enquanto. – respondi, puxando minhas pernas e abraçando meus joelhos.
Eu estava de biquíni, mas ainda vestia um vestido branco levinho por cima, e não pretendia me molhar antes de encontrar o pessoal. - Eu vou. Esqueci como era o calor daqui e andei mais de meia hora debaixo desse sol. – comentou, levando uma das mãos à nuca, como quem limpa o suor, e em seguida se levantou. – Te vejo mais tarde, .
E foi embora, levando aquela bunda avantajada dele em direção ao mar.
Eu juro que eu não era assim.

Ele voltou pouco tempo depois com a intenção de me torturar, tenho certeza.
Observei enquanto ele, no caminho do mar para onde eu estava, bagunçou os cabelos, espantando a água. Eu só queria achar uma explicação de por que, meu Deus, por que ele parecia 3 vezes mais sexy só porque estava molhado!
Acompanhei uma gotinha que desceu de seu peitoral até seu quadril, terminando injustamente sob a parte visível da tatuagem dele.
E tinha aquela maldita bermuda, cortando a graça.

- Curiosa, comissária? - só então eu notei o quão perto ele estava.
Merda.
- Nossa, , aposto que você fez essa tatuagem aí só pra poder falar essa frase.
Ele riu alto.
- Nada disso. – ele negou.
- Sei. – falei em descrença.
Ele sorriu, negando com a cabeça.
- Eu tinha que fazer num lugar que não ficasse visível quando eu estivesse de uniforme. – ele deu de ombros.
- E não existem tantos outros lugares não visíveis, certo? – falei, em ironia.
- Então eu fiz uma tatuagem no quadril. O quão errado eu estou? – ele falou, mantendo aquele sorrisinho.
Dei de ombros.
- Nunca falei isso. Eu disse que você fez a tatuagem só para poder fal...
- Também não. – ele me interrompeu, negando. – É uma frase que eu realmente gosto.
- Eu não vou te perguntar qual é. – avisei, voltando meus olhos para o mar e ouvindo-o rir.
- Teimosa...

O barulho de vozes altas se misturava com a música que saía do pequeno player. estava dentro da piscina com Mark, e os outros pilotos. Enquanto eu, Emy, Satcy e Chris estávamos reunidos no bar. Eu era feliz por ter em mãos um mojito extremamente refrescante e ouvia com atenção a história que o Chris contava.

Ou tentava contar, já que ele era interrompido pela própria risada o tempo inteiro, fazendo-nos rir junto.

-... E ela simplesmente foi se sentar no banco da praia – riu mais um pouco –, mas calculou errado, sabe? Vazou o banco e caiu de bunda no chão. – Todos rimos, encarando uma Stacy nada feliz com a pauta em questão.
- Do jeito que nós estávamos também, acho que foi leve ela ter errado o assento. – Emy ajudou.
- Você tinha que ter ido, . – Chris comentou.
- Ahh, mas a estava bem melhor que a gente, com certeza. – Emy comentou maliciosa.
Ri.
- Demais. Meu colchão estava espetacular. – falei, brincando.
Emily arregalou dois olhos.

Ri mais um pouco, com certeza ela havia interpretado errado o que eu tinha falado.

Com a desculpa de pedir outra bebida, eu me levantei, passando por ela e sussurrando um “é lógico que não, né, imbecil”.
Ela foi atrás de mim no balcão.
- Como assim?!
- Emy, eu estava brincando. – falei, pedindo outro mojito para o atendente.
- Como assim você não foi pra cama com o ?! Você é louca de desperdiçar uma oportunidade dessas?! Onze em cada dez comissárias desejam estar no seu lugar, e aí você consegue a chance e não honra nossa classe?! Shame on you*, .
Ri alto.
- Shiu. Vai que ele te ouve. – falei preocupada, checando a piscina para ver se eles ainda estavam lá. Não estavam. Ai meu Deus.
O pânico passou rápido. Encontrei-os na nossa mesa, fazendo gracinha e molhando Stacy, que gritava histérica.
- Parem, vocês! Vão molhar a Emily e a , que inferno! – a loira reclamou, quando estávamos chegando. olhou divertido para mim e eu devolvi o olhar em deboche, a mensagem “tenta pra você ver” transmitida apenas pela minha expressão facial.
Mas ele trocou um olhar nada angelical com .
Enquanto Emy e eu nos olhamos preocupadas.
- Três... – começou, sorrindo diabolicamente.
- Dois... – continuou, gargalhando da nossa cara de descrente.
- Um! – eles exclamaram juntos. Nós corremos desesperadas, ouvindo-os virem atrás da gente. Olhei desesperada para Emily e começamos a gargalhar. Corríamos em direção ao mar e sabíamos que no final das contas acabaríamos molhadas de qualquer jeito.

Então que fosse por um jeito que não desse satisfação a eles.

Ainda correndo, eu puxei meu vestido para cima (manobra perigosíssima, não tente isso em casa) e joguei pra trás. Espiei por cima de meu ombro e pude ver a peça branca voar diretamente para a cara do .
Gargalhei alto, ouvindo-o fazer o mesmo.

Provavelmente, quando ele tirou meu vestido do rosto, eu já estava mergulhando no mar.

A água extremamente gelada me gerou um arrepio no corpo inteiro. Eu emergi pouco tempo depois.
- Puta que pariu! – reclamei, passando a mão pelos braços.
vinha andando calmamente na minha direção. Os cabelos pingando pelo rosto, denunciando que ele também tinha dado um mergulho.
- Ninguém mandou ser atrevida, . Eu só ia chacoalhar meu cabelo em você. – ele falou, jogando água em minha barriga.
- Para! - reclamei, afastando-me. – Isso está muito gelado.
- Fresca. – ele rolou os olhos. Emy e chegaram perto da gente.
- Vamos mais pro fundo? – chamou, já andando de costas para o lugar.
- Ahh, não, isso está muito gelado e... Hey! – reclamei. Estava explicando meu ponto importantíssimo sobre por que eu não iria de jeito nenhum para o fundo, quando o braço do passou pela minha cintura, empurrando-me para a frente.
A mão gelada dele mandando arrepios diretamente para minha espinha.
Olhei para ele com indignação.
- Pare de ficar fazendo essa cara bonitinha de raiva pra mim, comissária. – ele falou, cerrando os olhos.
Ri sem graça.
- Idiota. - murmurei, empurrando-o pro lado e saindo de seu abraço.

Stacy e Chris vieram logo em seguida, completando a baderna que fazíamos.
Ficamos cerca de 20 minutos na água nos divertindo.
Veja bem, não devia ter tentando afundar a cabeça de Emily na água.
Agora estávamos nós duas tentando fazer o mesmo com ele, enquanto narrava os acontecimentos e os outros riam.
Com muito esforço, nós conseguimos afundá-lo. Batemos as mãos e fizemos uma dancinha de comemoração.
, por outro lado, nos observava gargalhando com vontade.
- O que é?
- Vocês duas, ridículas fazendo essa dancinha.
Emy e eu nos encaramos ofendidas.
- Acabamos com ele também? – ela perguntou, cerrando os olhos.
parou de rir, encarando-nos meio desconfiado.
- Poxa... Ele é meio forte, né? – abaixei a voz, brincando, voltando a falar alto para completar: - Vamos deixar pra lá, temos bom coração. – anunciei, dispensando a quantidades de toques que seriam necessários para conseguir afundar um homem com o porte dele na água.
Eu nem vou comentar que ainda sentia a sensação do toque dele no meu tornozelo e em minha cintura, porque é muito vergonhoso.
- Vocês estão me chamando de fraco? – reclamou, indignado.
- Não. – Emy e eu dissemos juntas, enquanto uma voz masculina se juntava a nós:
- Estão. – falou, rindo.


Aos poucos o sol começava a perder sua força, deixando apenas o dia claro. Algumas nuvens começaram a carregar a paisagem. E começou a ventar muito, arrepiando-me terrivelmente enquanto ia andava rápido para buscar minha toalha na bolsa.
Depois de secos, nós voltamos para a areia. tinha surgido com um ukelelê e estava tocando alegremente enquanto nós cantávamos.

apareceu perto de mim, estendendo-me uma cerveja.
- Brigada. – sorri, em agradecimento.
Ele acenou e se sentou do meu lado.
- Você ficou vermelho. – falei, observando as maçãs do rosto dele, que estavam levemente coradas. Nada muito gritante, estava bonitinho até.
- Hm? – ele perguntou confuso, depois de dar um longo gole em sua garrafa.
- Seu rosto. Do sol.
- Ahh. Ninguém me mandou caminhar sob o sol do meio dia não é? – ele zoou a si mesmo, apoiando os braços atrás do corpo.
- Você foi aonde? – perguntei, curiosa, tentando não desviar o olhar para a barriga dele, que estava cruelmente exposta.
Ele pensou um pouco antes de se levantar, deixando a garrafa na areia.
- Vem comigo. – falou, estendendo-me a mão.
Nós paramos na mesa apenas para eu colocar meu vestido e ele uma blusa.
- Posso saber aonde vamos? – perguntei pela quinta vez.
- Mas que bichinho mais insistente. – reclamou, fazendo um gesto com a mão para que eu o seguisse.
- Bichinho é teu...
- Óoooh – ele me interrompeu, rindo.
- Chato – reclamei, chutando a água para as pernas dele com os meus pés.

Nós andamos por mais algum tempo, fazendo graça o caminho inteiro. Seu bom humor contagiante me divertia de um jeito que eu não me sentia há séculos. Era sempre agradável estar do lado dele, e se não fosse por mim, estragando a maioria dos momentos com minhas tiradas teimosas, aposto que ele teria se aproximado muito mais, do jeito que ele estava tentando fazer.
O jantar da noite passada veio em minha cabeça. Ele havia sido verdadeiramente gentil e espontâneo do início ao fim. Se antes eu tinha imaginado que ele seria o tipo de cara prepotente, que cantava as mulheres como se tivesse passado três verões perdido no Saara, agora eu tinha que reformular tudo o que pensava.
Certo, ele tinha seus momentos de ego exagerado. Mas eu entendia, se eu fosse ele, também iria me achar.
Ri dos meus pensamentos, atraindo a atenção dele pra mim.
Neguei com a cabeça, fazendo um gesto de “deixa pra lá” com as mãos.
- É aqui. - ele falou, parando de repente e sentando-se na areia.
Olhei ao redor. Não havia nada de diferente no local para o que nós estávamos anteriormente. Provavelmente, a única diferença era que o local era complemente deserto.
- Por que você veio pra cá? – perguntei, tentando entender o que o levaria ali.
- Porque é tranquilo – ele respondeu, voltando seu olhar para o mar. – Nada de crianças gritando na água, amigos falando alto, só... O mar. – voltou seu olhar para mim. – Não é melhor assim?
Sorri.
- É sim. – falei, abraçando meus joelhos. Aos poucos o dia perdia sua claridade, as nuvens preenchiam o céu, enquanto as ondas se quebravam com violência na areia.
E continuou me olhando.
Minha visão periférica havia captado isso mais de um minuto atrás. Será que ele não tinha notado que eu já tinha percebido ele me encarando?
Pouco tempo depois o ouvi rindo.
- Você ficou vermelha. – constatou.
- Porque você é inconveniente. – rebati.
- Não. Você se faz de durona, mas é tímida. Você fica vermelha o tempo inteiro. – falou, com ar de riso.
- Não fico não. – neguei, rolando os olhos.
- Eu posso contar diversas vezes de ontem pra hoje que você...
- Não pode não.
- Ontem depois do comentário do vinh...
- Tá, ta, eu já sei. – cortei imediatamente, fazendo-o rir.
- Tudo bem, não vou ficar zoando. Mesmo porque isso é charmoso como o inferno...
- ! Vamos mudar de assunto?! – repreendi, querendo afundar minha cabeça na areia. Que merda de taquicardia era aquela?!


- Não tinha como você saber. – falei, depois que ficamos um tempo em silêncio, apenas observando a paisagem à nossa frente.
- De que? – ele perguntou, virando-se para me olhar.
- Do meu jeito. Pra acertar no vinho. – encarei-o de volta.
Ele sorriu pequeno.
- Você não sabe disso.
- Então como? – perguntei, sem usar do meu tom de voz cínico dessa vez. Eu realmente queria saber, porque no fundo, sabia que ele tinha acertado. Mas pra mim ele apenas tinha chutado alguma bobeira para falar, e agora ia se enrolar na hora de explicar.
Ele voltou o seu olhar para o mar.
- Eu preciso dizer que você é durona, sagaz, orgulhosa de si mesma e extremamente irônica?
- Sou mesmo, obrigada. – falei, fazendo-o me olhar divertido.
- Mas... Mesmo que você prefira não mostrar, você também é sensível. – disse, pegando-me desprevenida.
- Você não sabe disso. – respondi, imitando-o.
- Você disse que sua paixão é escrever. – ele deu de ombros.
- E o que é que tem isso?
- O que as pessoas fazem diz muito sobre elas mesmas, . Se sua paixão é escrever, tá na cara que você é uma pessoa sensível. Até pra escrever sobre, sei lá, assassinatos, precisa-se de um mínimo de sensibilidade, além da criatividade e da boa escrita.
Eu não esperava por isso.
- Parece que você andou observando alguém. – falei, mandando a vergonha pra puta que o pariu e imitando o , que estava ali falando aquelas coisas numa boa.
- Sou observador mesmo, obrigado. – imitou-me, fazendo-me rir.
- O que gostar de voar diz sobre você? – perguntei.
- Não era você quem deveria deduzir isso? – ele me olhou, debochado.
- Você é melhor nisso do que eu. – dei de ombros.
Ele assentiu.
- Eu não vou te dar o peixe... – falou, levantando. – Mas vou te mostrar. – estendeu a mão, conduzindo-me até uma pedra que ficava na orla.
Com dificuldade, nós subimos pela lateral, me puxando pela mão o tempo inteiro, rindo do meu medo de cair.
Quando estávamos no topo ele tentou me levar até a beirada da pedra.
- Aqui. – falei, estancando no meio do caminho. – Tenho medo de cair. – confessei. Ele concordou.
O dia já estava quase totalmente escurecido, a pouca luz que o céu recebia alaranjava as nuvens mais baixas, enquanto as mais altas já estavam mergulhadas num azul profundo. O vento forte do litoral nos atingia com força, fazendo meus cabelos voarem para trás.
saiu do meu lado, saindo também do meu campo de visão. Eu estava com tanto medo de cair que nem me mover para olhá-lo eu podia.
- Onde você está indo?! – perguntei, nervosa.
- Aqui.
A voz dele veio de trás e sua respiração bateu na minha orelha, indicando o quão próximo ele estava.
Lentamente, colocou as mãos no meu quadril, uma de cada lado.
E começou a me empurrar para frente. Passo a passo. Devagar, mas constante.
- O que você está fazendo?! – perguntei, virando o rosto pro lado e fechando os olhos de medo. Nós estávamos cada vez mais próximos do fim da pedra.
Ele não me respondeu. Deu mais alguns passos para frente e então tirou as mãos do meu quadril, colocando-as suavemente no meu ombro.
- Abra os olhos. – falou.
Mesmo contrariada, eu abri. O frio na barriga veio instantaneamente, quando eu vi o quão próximos estávamos de cair no mar agitado abaixo de nós.
- Imagine algo que faça o seu coração disparar. – falou, descendo as mãos pelos meus braços.
Eu fechei os olhos e respirei com força, o carinho dele acelerando ridiculamente meus batimentos.
- Mas que depois... – aos poucos seus braços envolveram minha cintura, levando meu corpo para encostar-se ao dele. - Te proporcione a melhor sensação de calma que você já sentiu. – apertou-me suavemente dentro de seu abraço, apoiando o queixo na curva do meu ombro.
Não foi exatamente tão rápido como ele descreveu. Demorou um tempo até que seu toque funcionasse contra o meu medo.

Mas quando aconteceu, na virada de um segundo para outro, eu me senti melhor do que jamais estive.

Eu nunca antes havia provado de uma paz tão intensa. O ato de superar um medo e se sentir segura, mesmo que apenas com a ajuda dele, fez-me sentir confiante. Calma o suficiente para realmente absorver a imagem linda que havia à nossa frente.

E o abraço dele em mim.

Estranhamente, meus batimentos não voltaram a bater com força total quando eu finalmente realizei a situação em que eu estava. Muito pelo contrário. Eu suspirei, e meus braços abraçaram os dele, que estavam cruzados em cima da minha barriga. Não há palavras para descrever todas as sensações que senti. A paz, a calma, a harmonia... Parecia que eu estava exatamente no lugar onde eu deveria estar.

- Only those who fly, understand why the birds sing*. – ele soprou em meu ouvido.

*Apenas aqueles que voam, entendem porque os pássaros cantam.

- A tatuagem? – perguntei, sem saber por que aquilo me veio em mente.
Ele concordou.
- Me sentir assim... É a minha paixão.
- É... Maravilhoso. – confessei, olhando para o lado e vendo-o assentir.

Eu sabia que existia uma ambiguidade naquele momento, e foi por isso que eu me odiei por ter quebrado o clima dizendo:

- Eu só não sei como eu vou sair daqui, de verdade.
Mas poxa, ele precisava saber que eu não conseguia me mover ali, tão perto da queda.
Ele riu abafado, sua respiração batendo diretamente na minha nuca, arrepiando-me dramaticamente.
afrouxou os braços, uma de suas mãos pegou a minha e puxou-me, para que eu me virasse de frente para ele. Eu fiz a manobra dentro de seu abraço, usando o menor espaço que eu consegui.
- No que isso me ajuda? – perguntei, quanto já estava de frente a ele.
- Acho que em nada, mas eu queria te ver. – falou, sorrindo travesso.
- Eu não acredito. – eu olhei perplexa para ele, rindo. apenas levantou os ombros.
- Você está se aproveitando da situação. – deduzi, cerrando os olhos.
Ele riu.
- Lógico que estou. – disse, em tom de obviedade, apertando meu corpo entre seus braços.
- Eu estou meio nervosa aqui! – reclamei.
Ele deu dois passos para trás, levando-me junto.
- Melhor?
- Muito. – falei, pronta para me soltar dele.
Mas percebeu minhas intenções e voltou a dar passos para frente.
- Para com isso! – exclamei, vendo-o rir. Eu acabei não aguentando aquela risada gostosa e ri junto, encostando minha testa em seu peitoral.
- Você definitivamente está se aproveitando disso. – murmurei, ainda com sombra do riso em minha voz.
- Naaah, . Eu estaria me aproveitando se estivesse fazendo isso... – falou maroto, descendo sua mão devagar pelas minhas costas.

Descendo até demais.

- Tira a mão daí! – eu praticamente gritei, antes que ele pegasse por inteiro na minha bunda. jogou a cabeça pra trás, gargalhando.
- Você é retardado, não é possível – falei, enchendo-me de coragem e dando passos para frente, forçando-o a andar para trás. Quando me senti um pouco mais segura, afastei-me, empurrando-o pelo peito.
- Idiota, doente, aproveitador. – a cada elogio, eu dava um empurrão. O problema é que era extremamente difícil manter qualquer seriedade com ele rindo daquele jeito. Ele se encolheu e se afastou, a risada o atrapalhando de se proteger dos meus punhos.
Quando conseguiu manter um grau mínimo de seriedade, voltou a se aproximar de mim. Os braços dele passaram em torno da minha cintura, juntando nossos corpos, colando nossas testas para que pudesse me olhar de perto. E foi sem demora que ele os aproximou. Os meus lábios dos dele.

Ainda com os olhos abertos, ainda com sorrisos nos lábios... E abraçados.
Era assim que estávamos quando ele me beijou pela primeira vez.
Eu fechei os olhos logo em seguida que senti sua boca encostar-se à minha, entregando-me à sensação de estar em seus braços.
Ele não se demorou para começar a me beijar de uma vez. Na verdade, ele me beijava de um jeito faminto, cheio de força e desejo, confiança e virilidade. Seus braços apertavam minha cintura contra seu corpo, fazendo-me ficar nas pontas dos pés. Cada célula do meu corpo começou a entrar num estado de estupor, envolvidas pelo jeito possessivo que ele me tomava.
Eu afundei minhas mãos no cabelo macio dele, escorregando-as para sua nuca, arranhando o local. Ele sorriu, dando-me dois ou três selinhos antes de voltar a me beijar.
Dessa vez, indo mais calmo. A língua dele brincando com a minha numa carícia sem pressa e sem fim. Aproveitando sensações, experimentando sabores, criando laços e intimidade.

Nós permanecemos naquela pedra por um espaço de tempo indefinido. Mas quando voltamos para o hotel, com me abraçando pelos ombros e eu o abraçando pela cintura, a lua já estava alta, iluminando o rastro de pegadas conjuntas que deixávamos pela areia.


’s P.O.V.

Ela devia estar querendo me matar.
podia estar lá, de vestidinho e óculos de sol. Os pés charmosinhos dela descalços e brincando com a areia distraidamente enquanto ela tomava seu café da manhã.
Deus sabe que eu podia lidar com isso.

Mas com aquele pescoço à mostra...

Respirei fundo, disfarçando um pouco minha cara de maníaco tarado por pescoços e me aproximei, colocando meu prato em cima da mesa e me sentando ao seu lado.
- Bom dia – tirei meus óculos do rosto e me virei para beijá-la.
- Sai, . – ela falou, afastando-se.

O quê?!

Eu devo ter feito uma cara muito perplexa, porque ela segurou o riso.
- Eu recebi essa mensagem hoje de manhã... De um número desconhecido. Alguém auto intitulado Sr. Comandante me chamou pra tomar café da manhã com ele. Não quero ser vista com você quando esse cara importante chegar. – olhou pra mim com desprezo.
Essa menina podia ganhar um prêmio.
Depois que eu a esganasse, lógico.

- Porra, . – ri aliviado, vendo-a rachar de rir da minha cara.
Tá vendo, , seu otário.
Ela se aproximou, toda charmosinha, pra me beijar. Eu segurei em seu rosto e trouxe sua boca pra bem perto da minha.
- Isso é por ter sido uma menina má. – falei, roçando nossos lábios, e nos separei.
Merda, ela estava comendo abacaxi e o cheirinho de fruta da boca dela fez com que eu me arrependesse que nos separar no segundo em que eu o havia feito.
Ela suspendeu uma sobrancelha.
- Mentira, vem cá. - nos aproximei rapidamente. Sem dar tempo para que ela negasse, colei nossas bocas, finalmente pondo em prática o que eu queria fazer desde o segundo em que a tinha deixado na porta de seu quarto na noite passada.
Assim que nossas línguas se encontraram, eu senti aquelas merdas todas de novo. Eu tinha um número bastante respeitável de mulheres que haviam passado pela minha vida. Mas ela... tinha o melhor beijo que eu já havia provado. Nossas bocas se encaixavam como se a dela fosse feita para receber a minha. Assim como minha mão em sua nuca. E em sua cintura.
Assim como ela todinha pra mim, na verdade. Até o jeito dela parecia ter sido feito especialmente só para me instigar, me divertir e me cativar.
É, me cativar. Eu nunca fui de mentir pra mim mesmo e sabia que estava entrando feito um furacão na minha vida, fazendo um reboliço danado dentro de mim.
Ela sorriu vitoriosa depois que nos separamos e eu me segurei para não beijá-la outra vez.

Inferno de garota viciante.

Emily mal havia saído do hotel e arregalou os olhos assim que nos viu.
Nós ainda estávamos na mesa do café, mas eu tinha aproximado minha cadeira da dela e passado um braço por seus ombros, aproximando-nos para que pudéssemos fazer... O que raios estávamos fazendo, melhor.

Sabe? Aquela coisa de conversar de pertinho e beijar, conversar de novo, beijar mais e roçar os narizes...? Então, estávamos fazendo aquilo. Pode zoar. Mas só pela minha visão periférica eu já tinha visto meio dúzia de marmanjos me invejando.

notou a reação da amiga e abaixou a cabeça, rindo abafado.
- Eu já volto – rolou os olhos e se levantou. Aquela barrinha irritante do vestido dela balançando pra lá e pra cá enquanto ela rebolava.
Emily a recebeu com uma cara debochada, escancarando a boca num nada discreto “eu sabia!”.

Aah, isso seria interessante.

Voltei a colocar meus óculos. falou alguma coisa que eu não pude entender por linguagem labial, seguida de um “cala a boca!” e um olhar nervoso na minha direção.
Eu usei de todas as minhas forças pra não gargalhar da cara de desespero dela e estragar o meu disfarce. Do ângulo que eu estava, e de óculos, ela nunca saberia se eu estava vendo aquilo ou não.
A amiga deu mais um piti, algo tipo “como assim?!” e tentou virar a mulher de costas pra mim, que negou e apontou pra minha direção, fazendo um sinal com a mão de “não importa”. colocou a mão na testa, impaciente. Não voltou a olhar pra mim e desatou a falar com pressa, enquanto as expressões faciais da amiga iam de surpresa à incredulidade e aquela cara que elas fazem quando acham algo bonitinho.
Eu não aguentei e sorri debochado. Emily viu e riu, negando com a cabeça, sem que percebesse.

Ela voltou pouco tempo depois, a expressão um pouco aborrecida.
- O que foi? – perguntei, como se não tivesse visto nada.
- Ah, nada não... – ela falou sem graça, as bochechas ganhando cor rapidamente.
Se ela soubesse como eu tinha vontade de agarrá-la todas as vezes que aquelas bochechas coravam daquela forma adorável...
Eu não aguentei por muito tempo e acabei rindo.
ficou ainda mais sem graça.
- Você viu, né? – ela mordeu os lábios. – Desculpa, ela é meio exagerada...

Eu quis mordê-la.

- Não, eu entendo. To acostumado com esse faniquito todo quando se trata de mim.
Ela riu com deboche.
- Menos, comandante. Cão que ladra muito não morde. – provocou, olhando-me em desafio.

Ela pediu.

Eu sorri malicioso e aproximei meu rosto do pescoço tentador dela. Respirei por alguns segundos, roçando meu nariz em sua pele. se mexeu, inquieta. Eu ri, tendo plena ciência de que a respiração do meu riso ia provocar um efeito ainda mais violento.
- . – ela pediu, tentando se fazer de durona. – Para com iss..
E eu a mordi.
Naquela curvinha deliciosa entre o pescoço e o ombro dela.
ofegou alto.
- Solta, ! – riu, distribuindo tapas em meus braços.
- Cão que ladra, o quê? – perguntei, ainda a mordendo de leve, fazendo-a rir.
- Morde! Seu canibal! – exclamou. Assim que eu a soltei, ela olhou pra mim com indignação.
- Cuidado com o que fala, comissária. – pisquei, debochando.

Pouco tempo depois, estávamos voltando para o hotel. Nosso voo saía na hora do almoço e precisávamos chegar mais cedo para fazer o check-in.
calçou seus chinelos e me acompanhou. Eu passei um dos meus braços por seus ombros. Ela ainda reclamava da mordida e eu rolava os olhos, o que a deixava ainda mais nervosa.
- Vai ficar marcado! Se algum supervisor vir uma marca...
Eu nem estava ouvindo mais.
Era difícil prestar atenção ao que falava quando estava daquele jeito.
Totalmente relaxada e espontânea, toda concentrada em me explicar alguma coisa.
Com um sorriso malicioso no rosto, eu desci minha mão de seus ombros.
-... E eu não vou poder dizer que foi culpa sua, porque... – ela mal havia notado que eu estava me movimentando. Seguirei o riso e desci ainda mais a minha mão. Assim como quem não quer nada mesmo...

E peguei na bunda dela.

Ela parou de falar imediatamente.
Bufou. Respirou fundo e bufou de novo.
Segurar o riso nunca foi tão difícil.
- Tira a pata daí, ! – ela falou entre os dentes e eu finalmente pude rir. Senti vontade de apertá-la e foi exatamente isso que eu fiz. Trouxe seu corpo pra perto do meu e beijei o topo de sua cabeça, sentindo-a se aconchegar em mim.

Merda, aquilo era perfeito.


Um mês depois.

’s P.O.V.


- . Parece que tem algo errado com a porta do sanitário do galley. Você pode ver pra mim? – Emy falou, passando com o trolley em direção à classe econômica. Eu assenti, atravessando o avião para chegar ao nosso compartimento.
Parei em frente à porta e tentei abri-la. Nada. Forcei mais um pouco, puxando a maçaneta. Eu mesma tinha verificado aquelas portas antes da decolagem! Não é possível ter simplesmente emperrado de uma hora pra outra. Forcei um pouco mais e a porta se abriu.

E eu fui violentamente puxada para dentro.

- ! – exclamei, quando o vi rindo. Ele atacou meu pescoço imediatamente, beijando e mordendo minha pele.
Ah, como eu senti saudades disso.
Ele se afastou para me olhar. Sorriu malicioso e puxou um dos meus lábios. Eu fechei os olhos e passei meus braços pelo pescoço dele, trazendo-o mais pra perto para que ele finalmente me beijasse.

O fato é que nossas escalas não estavam nos ajudando.
Depois do voo pra Sydney, não havíamos nos encontrado em voos internacionais mais. E os internos eram muito rápidos, logo, tínhamos folgas mínimas após eles. Às vezes não passava de uma hora ou menos. Nós aproveitávamos esses breves momentos pra ficarmos juntos. Almoçar em algum lugar ou passar tempo em alguma lojinha de suvenires dos aeroportos, nos divertindo com coisas bobas.
Numa dessas vezes ele achou um cap em forma de chaveiro e comprou pra mim, dizendo “pra você não esquecer quem é o seu comandante, comissária”. No dia eu ri e rebati a piadinha, mas depois eu vi quão bonitinho ele havia sido. E ele me ligava sempre, claro. E nós nos perdíamos nas horas conversando. Era engraçado até. Ele me ligava de Vegas, perguntando onde eu estava e eu respondia Califórnia. No dia seguinte ele estava no Canadá e eu em Nova York, ou então, eu permanecia em Miami, mas ele tinha que ir para Londres...

Eu o abracei com força quando ele terminou o beijo, dando-me vários selinhos.
- No banheiro, ?!
- Eu te agarraria em qualquer lugar, , se não houvessem tantos marmanjos tarados por aí doidos pra te ver em ação. – ele reclamou, possessivo.
Uma característica que eu tinha descoberto recentemente. O quão ciumento ele era.
- Quanta bobeira. – rolei os olhos.
- Sábado que vem, você tem alguma coisa? – ele perguntou. Puxei pela memória, certificando-me antes de responder.
- Não. É minha folga.
Ele sorriu.
- Te pego às sete. – piscou.
- Jura?! – falei empolgada, surpresa de ter finalmente uma folga coincidindo com as dele.
Ele assentiu alegre, voltando a me beijar.


Uma semana depois.


Aquele sábado não poderia ter sido melhor.
Depois de passearmos pelas ruas noturnas e movimentadas de Miami, ele me levou ao restaurante da irmã dele. É bom deixar registrado o quão ridiculamente rápido meu coração bateu quando ele apertou minha mão e me apresentou como minha para ela. Nós ficamos lá por algum tempo, o lugar era completamente aconchegante e a irmã dele um amor de pessoa.
Mas nossa noite não acabou ali.

Depois de passarmos mais de um mês tendo apenas pequenos encontros nos aeroportos da América inteira, era previsível que tivéssemos fechado nossa saída daquele jeito.

Ele me beijava como se quisesse tirar todo o meu ar. Suas mãos voluptuosas corriam meu corpo de cima a baixo, apertando cada pedacinho, fazendo-me ofegar em seu ouvido.
Ele me prensou mais contra a porta de seu apartamento. O perfume que saía de seu pescoço me inebriava, fazendo com que minhas mãos se tornassem descontroladas, sem saber que parte do corpo dele merecia mais atenção. Ele segurou na minha cintura com força, impulsionando-me para cima, de forma que eu precisei ficar na ponta dos pés. As mãos deles desceram pelas laterais do meu corpo, agarrando meus quadris com tanta virilidade que me fez gemer baixinho em sua boca. Eu adentrei sua camisa com as mãos, tateando seu abdômen perfeito e subindo sua blusa. nos separou por três segundos para retirar a peça. Sorrindo malicioso, ele afundou sua mão em minha nuca, puxando a raiz dos meus cabelos e fazendo com que minha cabeça tombasse para o lado. Logo depois senti seus lábios me provocarem no pescoço, enviando arrepios para todas as regiões do meu corpo. Eu aproveitei a posição favorável e ataquei os ombros dele, beijando e mordendo com desejo aquela área extremamente cheirosa. Ele dedilhou as minhas costas com pressa. Eu não entendi muito bem que tipo de carinho era aquele até ele dizer, meio em tom de riso, meio em tom de frustração.
- Cadê a porra do zíper, ? – ri, olhando pra ele com malícia.
Lentamente eu peguei as duas mãos dele e as coloquei na minha cintura. Fiquei nas postas dos pés e mordi o lábio dele, soprando contra seu ouvido:
- Procura. Está por aí.
Ele sorriu com o desafio e lentamente começou a subir as mãos, sorrindo safado quando elas passaram pelas laterais dos meus seios. Ele achou o fecho sem dificuldade na lateral esquerda e, com a mesma lentidão que suas mãos haviam subido, elas desceram. A peça era um tomara que caia e naturalmente já ameaçou a sair do meu corpo. Eu pude ver os olhos de ardendo em desejo enquanto acompanhavam a peça sair do meu corpo sem pressa. Ela atingiu o chão, caindo sobre os meus pés. Eu me desvencilhei, chutando-a para um lado e esperei que ele fizesse alguma coisa.
Mas tudo o que ele fazia era olhar pra mim, seu peitoral descendo e subindo num ritmo extremamente acelerado.


’s P.O.V

Mas que caralho de garota era aquela?

Por mais ridículo que seja, eu me sentia meio febril. ofegava a minha frente, os lábios corados de tanto me beijar nunca haviam me parecidos tão apetitosos. Seus seios perfeitos, amparados delicadamente pelo sutiã, subiam e desciam conforme sua respiração. Tudo, tudo nela era absolutamente incrível.
Eu voltei a segurá-la, sentindo sua pele quente encostar-se a minha. Suas mãos carinhosas vieram para minha nuca, arranhando-a e me fazendo fechar os olhos. Ela beijou meu pescoço, meu queixo e minhas bochechas. Eu segurava em sua cintura com força, tentado pela provocação.
Quando ela alcançou meus lábios, eu parei de me segurar. Desci minhas mãos e puxei uma de suas coxas para cima, envolvendo-a no meu quadril. Uma de minhas mãos foi parar em seu cabelo e a outra em sua cintura e barriga.
Ela desceu suas mãos arranhando minhas costas, provocando um tipo de corrente elétrica que corre o corpo inteiro, e termina você-sabe-onde. Logo depois ela as direcionou para minha calça, mas se enrolou tanto com o zíper que acabamos rindo.
- Deixa que eu tiro, amor. – falei, achando graça do desconcerto dela.

Tinha saído sem querer.

me olhou com os olhos cheios de admiração por alguns segundos. Eu sorri, sem saber exatamente o que fazer depois daquilo.
Ela mordeu os lábios, provavelmente na mesma situação que eu. Quando eu ia abrir a boca pra falar alguma coisa, ela disse:
- Vamos, . Estou esperando. – sorriu maliciosa, os olhos dela brilhando em desejo e alegria. Abafei uma risada safada, tirando meus jeans. Desviei meus olhos dela apenas para poder tirar, com pressa, os sapatos e as meias. E quando voltei meu olhar para cima, ela não estava mais lá.
- ?! – falei, virando a cabeça instintivamente para procurá-la.

Puta merda.

Ela estava ao lado do meu aparador, onde eu geralmente largava todos os meus pertences como chaves e carteiras.
Mas ela havia achado algo mais interessante.

Um dedinho sinuoso fazia movimentos extremamente sensuais na aba do cap que estava na cabeça dela.
A visão da minha garota, tremendamente gostosa dentro do seu conjuntinho preto de renda, sorrindo marota com um cap na cabeça, confesso, me fez perder a fala.

- Algum problema, comandante? – perguntou, fingindo inocência.

Neguei, retribuindo o sorriso e indo em sua direção. Sem demora eu a peguei em meu colo e a levei para o quarto, onde comprovei, naquele dia, todas as minhas teorias de que éramos mesmo perfeitos um pro outro.


Duas semanas depois.


Eu mexia a colher com cautela, com medo de sujar o fogão mais do que eu já havia feito.
Estava na casa de desde o dia anterior. Por causa de nossas escalas bagunçadas, tirávamos todos os nossos tempos livres para ficarmos juntos, e esse final de semana era um deles. Nosso tempo de folga era tão escasso que nós apenas ficávamos em casa, na dela ou na minha. E aí víamos algum filme, pedíamos comida, fazíamos aquilo-que-você-sabe-o-que...
- Ai, merda!- exclamei, quando o molho ferveu e espirrou na minha barriga. Apaguei o fogo e chequei o macarrão, que já estava cozido, e o coloquei pra escorrer, procurando em seguida o azeite nos armários dela.
Um risinho baixo veio da porta. Virei-me, encontrando-a de cabelos molhados e vestindo apenas minha camisa branca, encostada no batente.
- Você fica tão sexy cozinhando. – ela comentou.
- E você – falei, indo até ela –, extremamente gostosa dentro das minhas roupas. – mordi seu lábio inferior.
- Tarado... – ela murmurou, saindo de meu abraço. Eu lasquei um tapa estalado em sua bunda, fazendo-a rir alto.
Ela parou em frente à panela e eu a abracei por trás, assistindo enquanto ela levava a colher à boca.
- Hmm, está bom... – falou manhosa.
- Eu sempre sou bom no que faço.
Ela riu.
- Que droga, até seu ego exagerado me parece meio sexy agora. – ela reclamou, cruzando os braços e rolando os olhos.
Toda bonitinha.
- Me espere ouvir falar de você. – falei, enterrando meu rosto em seu pescoço e respirando aquele cheiro enlouquecedor. Ela se virou de frente e beijou meus ombros nus, dando-me uns tapinhas quando eu fui retribuir seus beijos no pescoço dela.
- Desse jeito a gente vai começar tudo de novo... Mas eu to com fome. – ela falou, dando de ombros.
Poxa, amor, essa era a intenção.
Mas tudo bem. Concordei com ela.
- Vou tomar um banho, já venho, tá? – falei. Ela assentiu e eu subi para o seu quarto.


Quando saí do banheiro, já vestindo uma bermuda e secando os cabelos, encontrei-a em cima da cama, com as pernas cruzadas em forma de índio e com o tablet nas mãos.
- Ta fazendo o que aí?
- Ah, montando a minha escala. – assenti. Eu tinha feito aquilo dois dias atrás, quando virou o mês.

Epa.

- , você já colocou a mesa? – perguntei. De onde raios eu tinha tirado que ela tinha que por a mesa pra gente eu não sei, mas foi a primeira coisa que veio na minha cabeça.
- Achei que a gente fosse comer na sala. – ela respondeu, sem ao menos me olhar. Os dedinhos marcando opções freneticamente no aparelho.
- Então vai logo. Eu não cozinhei pra gente comer na sala. – falei, tentando apressá-la.
- Calma, , eu to quase acaban...
- Eu to com fome! – apelei, fazendo-me de irritado. Ela bufou e saiu da cama, calçando os chinelos.
- Controla essa solitária aí, meu bem. – ela falou, irônica, do jeito que sempre fazia quando ficava contrariada.
Adorável essa minha namorada, né.
Assim que saiu, eu busquei meu iPhone e me sentei na cama pegando o tablet dela.

Naquela hora eu sabia exatamente o que fazer.

’s P.O.V.

chegou na cozinha pouco tempo depois, sorrindo misterioso.
- O que foi? – perguntei, terminando de por os copos na mesa.
- Nada não. – deu de ombros.- Vou esquentar, tá? Fica pronto em cinco minutos. – falou, ligando o fogo.
- Ai, ótimo. – respondi ansiosa para voltar lá pra cima e terminar meu trabalho antes que a sessão encerrasse e eu tivesse que fazer tudo de novo.
O que eu encontrei, no entanto, foi bem diferente do usual “A sua seção expirou. Atualize a página e blablabla”.

Em vez disso a tela branca exibia uma mensagem que eu conhecia bem até demais.


Parabéns. Sua escala foi programada com sucesso.

O quê?
Abri a página da minha programação mensal de voos e folgas, encontrando todos muito diferentes do que eu havia programado anteriormente.
Como assim?! Eu nem havia terminado quando desci para por a mes...

.

- ! – gritei, saindo do quarto com meu tablet em mãos.
- Oi, linda? – ele respondeu, colocando a travessa na mesa.
- Quais são seus primeiros voos desse mês? – cruzei os braços, perguntando apenas para confirmar.
- Ah, eu acho que tem Madrid, Roma, México... E vou fechar o mês na Tailândia, onde programei as folgas.
Enquanto ele falava, eu ia descendo a pagina das minhas escalas, encontrando voos exatamente iguais aos que ele estava descrevendo.

Inclusive a Tailândia com as folgas.

Ri incrédula, mal acreditando que ele havia feito aquilo.
Ele sorriu maroto.

- Algum problema, comissária?



Epílogo

Três anos depois.


Eu terminava de ajeitar nosso mural de fotos.
O problema é que toda vez que eu ia mexer ali, acabava me perdendo em todas as lembranças que vinham à tona. Eu estava pregando as últimas que havíamos tirado, no Brasil.
me abraçava por trás enquanto tínhamos os braços abertos da exata mesma forma que o Cristo Redentor atrás de nós. Bregas, eu sei.

Mas deixa a gente ser turista.

Eu tinha várias favoritas.
Uma delas era em Londres. Nós estávamos debaixo do Big Ben, ele tinha feito alguma piadinha indecente e eu o repreendi. E então Emy tirou a foto com ele sorrindo safado e eu cerrando os olhos para ele.
Outra era em baixo da Torre Eiffel. Clichê, eu sei. Nós apenas estávamos nos beijando, e nem vimos quando Emy nos clicou.
Emily estava nessas viagens por causa da história de amor torrencial que viveu com por dois meses. E como era o melhor amigo de , nós quatro sempre programávamos nossas escalas juntos.

As da Tailândia, que tiramos bem no comecinho do nosso namoro, eram as mais divertidas. Eu e ele em cima de um elefante que, numa cronometragem perfeita para a foto, jogou sua tromba para trás e espirrou água na gente. gargalhou enquanto eu tentei me proteger.
Tínhamos algumas no leste europeu também. Meu sorriso nas fotos de Moscou eram todos gigantescos, já que era meu sonho conhecer aquele lugar. Na maioria das fotos, apenas me abraçava por trás e apoiava o rosto no meu ombro, sorrindo comigo.
Decidi que as fotos do Brasil iam ficar no meio, ao lado das que tiramos no Peru.
Porque aquelas eram as melhores.

Nada nesse mundo era maior que o sorriso de no meio de um pasto cheio de lhamas.

Nós tínhamos tirado tantas fotos divertidas naquela viagem que ficou difícil escolher apenas algumas pra colocar ali.
Depois de seis meses juntos, resolveu que queria conhecer a minha família, então nós tiramos nossas férias e fomos para o Peru.
Poucas horas depois que estávamos na minha casa, ele sussurrou no meu ouvido “a gente pode ir ver as lhamas?” e eu tive que levá-lo para o pasto. Foi engraçado porque aqueles bichos são totalmente imprevisíveis. Então, enquanto alguns ficavam mansinhos, outros tentavam cuspir na gente, fazendo a risada de ecoar pelo lugar, contagiando todo mundo.

- Amor! Cheguei!

Larguei as fotos no chão e levantei correndo. Ele tinha viajado há dois dias, mas pra mim sempre pareciam como séculos quando eu tinha que ficar sozinha na nossa casa.
Encontrei parado no hall. Ainda vestia o uniforme de comandante, com a mala descansando aos seus pés. Ele abriu um sorriso gigantesco quando me viu e eu desci as escadas com pressa, abraçando-o imediatamente.
Ele me beijou, segurando calmamente em meu rosto, e quando nos separamos, falou:
- Trouxe surpresa pra você.
- O que é? – perguntei, ansiosa. Ele tirou o casaco pesado e guardou no armário, indo para sala comigo.
- Eu resolvi passar na editora. Pra ver se estava pronto. – falou, sorrindo travesso.

Eu não acreditava.

- Cadê?
- Eu nem falei se estava pronto! – ele riu da minha ansiedade.
- , por favor! – pedi, mal conseguindo me conter.
Ele buscou um embrulho na mala e trouxe pra mim.
Eu mal dei atenção pra embalagem, rasguei-a com pressa, pegando o livro em minhas mãos.

Meu livro.

Meus olhos quase encheram d’água de emoção.
Ele tinha ficado tão lindo!
Era meu sonho realizado ver ele finalmente ali, prontinho pra chegar às livrarias.
Abracei , aconchegando meu rosto na curva de seu pescoço.
- Obrigada por ter trazido pra mim.
Ele desceu as mãos pelos meus cabelos e puxou meu rosto para cima.
- Abre. – ele piscou, sorrindo maroto.
Olhei desconfiada para ele, mas fiz o ele pediu.
Passei a primeira página em branco, pela segunda, onde continha as informações técnicas, e parei na terceira.
Logo abaixo do título, havia uma dedicatória com a letra do .


Funny one thing led to another
(Engraçado como uma coisa leva à outra)
You came along, filled my days with color
(Você chegou, enchendo meus dias com cor)
And it's been an everlasting summer (E tem sido um eterno verão)
Since we found each other
(Desde que encontramos um ao outro)

Because just one thing holding us together
(Porque apenas uma coisa nos mantém juntos)
A four letter word that'll last forever.
(Uma palavra de quatro letras, que vai durar pra sempre).


Mordi os lábios, sentindo meus olhos encherem d’água de felicidade.
- Brigada, – falei, vendo-o sorrir pra mim. - Agora eu também sou uma escritora, meu bem. – empinei o nariz, de brincadeira.
- Eu fico muito feliz por você, . – ele falou, olhando-me nos olhos. – Mas pra mim... Você sempre vai ser a minha comissária. – sorriu safado, descendo uma mão pra minha bunda e a apertando com vontade.
Eu ri, puxando-o pela nuca e beijando-o com toda a saudade que eu sentia. Direcionei meus lábios para o ouvido dele, afundando as mãos em seus cabelos.
- Pronto pra fazer uma decolagem lá no nosso quarto, comandante?


FIM.



N/a: Gente, eu posso fazer um segundo epílogo? Daqui a 5 anos, eles com um filho e o comandante enchendo o quarto do menino com aviõezinhos e comprando roupinhas de piloto? UAHUAHUAHUAHUAHA Mas sério, doeu terminar essa fic. Por mim eu ficava escrevendo esse amorzinho deles pra sempre. Na verdade, não era pra ter ficado tão brega, juro. Foi tudo culpa de Love is on the radio do McFLY que ficou me influenciando com essa áurea água com açúcar enquanto eu escrevia!
Eu particularmente estou in love com esses dois. To in love com esse tema, na verdade. Essa coisa de aviação e pilotos é tão legal! UAUAHUAH Assim que eu li que esse seria o tema do especial, eu decidi escrever na hora. Mas foi tão na pressa pra conseguir cumprir o prazo que não sei se consegui passar tudo o que eu estava imaginando, enfim. Então se você, guerreira, chegou até aqui é porque leu essa short absurda de 27 páginas, então, aproveita pra fazer uma autora feliz e comenta pra eu saber o que você achou? Até a próxima!

Xx Sam.


Outras Fics: (A de cima é a mais nova, e as de baixo, mais antiguinhas).

Stairway to Heaven – Restritas/Em andamento. (/ffobs/s/stairwaytoheaven.html)
Beautiful Lie – McFLY/Em andamento. (/ffobs/b/beautifullie.html)
Our surrender – Especial dia do sexo. ( /fanfics/o/oursurrender.html)


Nota da Beta: Qualquer erro nessa fanfic é meu, então me avise por email ou mesmo no twitter. Obrigada. Xx.

comments powered by Disqus

TODOS OS DIREITOS RESERVADOS AO SITE FANFIC OBSESSION.