Always and Ever
Autora: Mrs. Petrova | Beta: Sofia Queirós


Capítulo 1
– Corra, Lyra, corra!
Essa foi a última vez que ouvi a forte voz do meu pai. Era difícil ver um homem como ele ser morto debaixo da chuva. Minha vida tinha dado uma reviravolta depois dessa batalha. Foi mal, estou te deixando confusa, não é? Então me deixe começar...
Meu nome é Lyra, tenho 19 anos e sou uma Castelense. Eu digo Castelense porque eu não gosto do título Princesa, é muito tosco. Junto com meus dois irmãos Burgh e Wallace e meu pai Cedric, nos tornamos os Castelenses Reais. “Temos uma vida bela e harmoniosa. O silêncio no castelo é lindo. O sol sempre brilha mais forte e todo dia temos uma nova aventura juntos por esse mundão afora...” Esse é o mundo que eu nunca vou viver.
Tenho constantes e destruidoras brigas com meu irmão Burgh e sou privada de uma vida normal. Durante o dia, eu tenho tédio e tento aceitar do melhor jeito. Olha, eu tenho que confessar, eu não gosto de ser o que eu sou. Afinal, eu não posso cuspir na rua que no outro dia sou a "cuspidora mais odiada de Castelion". Meu pai vive me dizendo “Quando virar rainha, vai querer passar o dia sentada no trono”. Era aí que o sinal ficava vermelho: eu não queria ser rainha. Eu simplesmente queria ficar no meu quarto e gritar com tudo e com todos, mas de acordo com a meu pai “isso não são atitudes de uma mocinha de 19 anos”. Fazer o quê quando se nasce Castelense?
Nossa, como eu tenho ódio do Burgh. Somos gêmeos, por isso eu tenho tanta raiva dele. Ele tem cabelos castanhos e é formado em arco e flecha, então ele se veste como arqueiro e não sai do castelo sem eles e um punhal. Ele sempre procura um jeito de me rebaixar, e quando eu tento fazer o mesmo com ele, me sinto como se não estivesse conseguindo disfarçar o buraco que ele causava nos meus sentimentos. O pior de tudo é que ele é nojento e irritante. As nossas brigas eram tipo "Você é idiota de nascença ou fez curso?". Só pra você ter uma ideia, o mensageiro de Gothia, reino vizinho, veio nos trazer uma carta do rei Jordan e o Burgh me fez ficar vermelha de vergonha.
– Vossa Majestade Cedric, venho trazendo uma carta do Rei Jordan. E ele me pediu para con...
Blrgh. – Desculpa – Burgh falou – Acho que foi o peixe, ele sempre desce errado...
O homem foi embora e meu pai deixou-o de castigo, sem comentários. Mas quando se fala do Wallace... Esse é O Cara. Ele é inteligente e educado: a única ovelha branca da família. Ele sempre aparta minhas brigas com o Burgh, além de nos dar conselhos sobre problemas sociais e pessoais. Ele era três anos mais velhos que nós, mas tinha a inteligência de um cara que viajou o mundo. Na verdade, ele lia muitos livros, quase toda hora, mas ele gostava de admitir que não lesse livros para absorver informações, mas para sentir o prazer de entender a mensagem. Ele realmente acredita em nós e sempre nos dá conselhos por meios legais, como por exemplo, nos fazendo passar vergonha. Experimenta tocar nas coisas dele: dá pra ver o fogo queimando nos olhos e as mãos fervilhando.
Pra ser sincera, eu tenho medo de ser rainha. Será que eu vou ter que assinar tantos contratos que vou ficar de mão doída? Eu vou ter mesmo que olhar para um homem que eu mal conheço como se o amasse para todo o sempre? E se eu nem encontrar alguém? Papai disse que se eu não encontrar nenhum filho de fazendeiro ou de empresário, eu teria que me casar com o... Burgh, eca! Acho que o castelo viraria uma arena de batalha. Perguntei como ficaria Wall nessa história, mas papai disse que ele tinha uma missão maior do que sentar num trono, assinar licenças e ordenar pessoas. Até perguntei que missão era essa, mas ele disse que era “segredo de pai pra filho”.
Meu pai não é o cara presente e ciumento com a filha. Ele acha que se formos fazer uma coisa errada, fazemos e aprendemos com a consequência, por isso nunca tivemos um castigo muito ruim, era mais uma prévia do que nos aguardava pelo que fizemos. Cedric tem cabelos e barba (por incrível e estranho que isso pareça) ruiva, uma cicatriz na mão e tem um olhar de poder e tensão, que pode te acalmar nos piores momentos.
Minha mãe se chamava Fiore, era uma plebeia, por isso era ela quem regava as plantas e lavava as roupas. Em sua opinião, tínhamos de viver a vida jovem em vez de vestir longos vestidos e segurar joias pesadas. Eu realmente concordava com ela, mas eu acho que eu devo me sentir privilegiada por ser Castelense, porque pelo que eu lia nos livros, as garotas menores do que eu, sonham em ser princesas e as maiores do que eu sonham em ter meus cabelos longos e castanhos, sem falar na fila de garotos interesseiros. O meu cabelo era dela e os olhos também. Ela dizia que enquanto estava grávida de mim... e do Burgh, ela me imaginava como um lado diferente dela, a garota que ela sempre quis ser, e foi o que aconteceu. Lyra, uma menina de olhos castanhos e sorriso hipnotizante. Para mim, minha mãe era minha heroína. Apesar de falecida, eu sabia que grande parte dela ficou em mim.
Depois do momento vergonhoso do Burgh, toda a família foi chamada para a leitura da carta. Sentamos no grande mesão retangular do escritório do rei, sentamos nas poltronas e meu pai puxou a cadeira para perto.

Gothia, 13/04/1492
Cedric Castelion
Trago más notícias. O reino de Owelvski declarou guerra em dois meses. Meu exército está à todo o vapor. Lutarei junto com vós e espero vê-lo às margens do Rio Polrina, onde acontecerá.
Jordan Monleggi

– Uau. – Wallace resmungou.
– Esse cara é um molenga. – Burgh falou, com um riso no canto do rosto.
– O que vamos fazer? – perguntei, ignorando a piada sem graça.
– Ora, iremos lutar. E conto com vocês dois. – meu pai se inclinou.
– Dois? – perguntei – Eu também quero lutar!
– Você não pode, Lyra. – Wally disse.
– Você é muito bebê... – Burgh disse com voz fina.
– Não, Burgh. É porque sua irmã é mulher. Se ela morrer, não haverá sangue Castelense no herdeiro. – papai falou analisando a carta com os óculos.
– Mas se eu me casar com uma mulher e tiver um filho, ele não vai ter meu sangue? – Burgh constatou.
– Vai, mas não vai ser completamente Castelense, porque o sangue vem mais da mãe.
– Wallace está certo, Burgh. – voltando o olhar para meu irmão, papai concluiu – Temos que permanecer com uma mulher na família.
– Ok. O que eu vou fazer então? – perguntei. – Não sei. Vamos procurar um lugar seguro pra você. – Wallace decidiu.
– Então, amanhã eu vou ped... Ugh! – meu pai exclamou.
Ele sacudiu a mão e olhava para a palma. Quando olhamos, havia uma forma em espiral com um símbolo no centro.
– O que isso significa pai? – Wall perguntou.
– Que está chegando perto.
– O quê está...
Um estrondo interrompeu Burgh. Corremos para o pátio e vimos uma tropa seguida por um monte de poeira se aproximando do reino. Meu pai correu para o arsenal do castelo, acionou o exército o mais rápido que pode e se armou junto à Wall e Burgh. Logo o exército chegou e tudo o que imaginávamos como ficção, virou realidade.
Homens tombando no chão, cavalos relinchando, gritos, tilintar de espadas, desesperos, crianças chorando, pessoas pedindo socorro. Tudo isso aconteceu na meia hora em que começou a batalha. Era uma armadilha. A batalha não seria a dois meses, mas em poucos minutos. Fui para o meu quarto, mas o castelo já estava indo chão abaixo. Desci as escadas e quase fui atingida por um pilar, logo estava na porta do castelo, tendo que decidir entre passar pelas espadas, me esconder entre os escombros ou demorar muito pra decidir e morrer ali mesmo. Infelizmente, aconteceu o último. A ponta de uma das torres do castelo caiu na minha cabeça, causando um ferimento gravíssimo. Foi aí que a coisa piorou de vez.
– Por aqui, Lyra.
Uma voz me chamou e quando eu olhei, vinha uma pessoa dourada, com um vestido dourado perto de uma árvore dourada (quanto dourado). Naquele momento, eu me perguntei se a ponta da torre tinha batido com muita força.
Só me senti segura quando a mulher se virou para mim: ela tinha cabelos e olhos castanhos, sorrindo como se fosse uma velha amiga. Eu a conhecia de algum lugar, mas eu só tinha olhos para o abrigo que ela me oferecia. Corri cambaleando até o buraco na árvore e deslizei. Quando caí, vi que estava numa espécie de vale encantado, só que com criaturas fictícias. Dragões, cavalos alados, monstros que nunca vi, pessoas de capa longa, tartarugas gigantes com poderes e velocidade destruidoras. Enfim, aquilo parecia ser um depósito de experimentos que falharam. Lá tinha plantas que mordiam os bichos que passavam.
Adormeci enquanto observava um dragão lutar contra um homem de espada. Quando acordei, eu estava deitada em uma cama, com o poste de luz do meu lado. Finalmente, reconheci aquela mulher: de cabelos castanhos, me olhando como se tivesse orgulho.
– Mãe? É você? – perguntei.
– Mais ou menos. – ela dizia assentindo com a cabeça – Como está se sentindo?
– Bem. O que aconteceu com o ferimento? – perguntei me sentando.
– Enquanto estiver aqui nada pode lhe machucar e causar dor.
– Obrigada! Agora... Mãe, pode me explicar por que a senhora está aqui e o que são essas coisas...? – falei fazendo careta.
– Você está no Jardim dos Sonhos, Lyra. Se uma pessoa acredita em alguma coisa, essa coisa surge do Lago Azul, de onde saem e entram as crenças mundiais. Quanto à mim, sempre que alguém como eu precisa dar um recado futuro, parte de mim permanece aqui. Depois que terminarmos aqui, irei novamente – ela levantou as mãos para o céu – e talvez seja o último adeus... De novo.
“Mas antes que me pergunte, há dois recados essenciais para o que há de acontecer, meu amor. O que você sabe sobre a história Castelense? ‘Uma família de três componentes resolveu viver em bando e foram evoluindo.’ Errado. A verdade está mais fundo.
“Numa pequena cabana, vivam Minoto, o pai, Betty, a mãe e Almia, a filha. Sua filha era tudo que mais lhe importavam na vida. Pelo que sei, Betty não podia ter filhos, então consideraram a menina uma benção. Almia era inteligente e adorava brincar, porém, o perigo morava ao lado. O povo vizinho, os Orions, era rival da família de Minoto porque eles moravam nos limites do reino, apesar de ser o limite, era a mesma coisa que insultar o Rei. Por isso, a menina nunca podia ir mais longe do que cinco metros da cabana.
“Um dia, a menina brincava nos cinco metros que tinha direito, o pai limpava a casa e a mãe cozinhava. De repente, um grito ecoou pelas janelas da cabana. Correram para fora e encontraram a filha espetada por uma flecha, coberta de sangue. Deduzindo os culpados pela morte da filha, da benção divina, Betty e Minoto pediram aos espíritos um poder de vingança, para que nunca mais os Orions se atrevessem a atacá-los.
“E assim se fez. Os dois ganharam o poder de controlar os quatro elementos naturais: água, fogo, ar e terra (planta). Desafiaram o exército de um milhão de soldados de Orion e venceram.
– Dois contra um milhão? Venceram? – perguntei incrédula.
“Sim. De volta à cabana, os pais de Almia agradeceram aos espíritos e devolveu a arma que lhes tinha dado. Porém, os espíritos não quiseram pegar os poderes. Assim, iniciava-se uma maldição genética, que chegou à nossa época. A cada duas gerações (uma família Castelense, com nenhum componente comum à anterior) morreriam dois membros da família, que se fossem ‘salvos’, os que tentaram ajudar morreriam junto.”
– E é isso que preciso lhe contar. Temos sim os poderes sobre os elementos naturais, mas ainda perdemos dois membros em gerações. Minha morte foi um acidente, por isso, filha, prepare-se, pois a morte bate nas portas do castelo. – ela concluiu.
– Eu vou morrer? – perguntei com medo da resposta.
– Talvez. É uma probabilidade. Sabe por que seu pai queria que fosse rainha? Não tem nada a ver com a razão que ele lhe dera, é uma tentativa de quebrar a maldição. É mais um tiro desesperado. O outro recado é que devo lhe dizer que será traída pelo mais novo aliado e se não tiver cuidado, pode cair junto com ele.
– Novo aliado? – perguntei, confusa.
– Bom, como eu sou só uma parte que ficou, não posso dizer muito. Só posso lhe dizer o que deve acontecer. A união deve prevalecer. Só assim a maldição acabará.
– Como assim? A senhora me diss... – fui sugada por um buraco negro e mesclado de roxo.
Desesperada, me levantei. Estava em deitada, em frente ao castelo. Um grito de dor me chamou a atenção. Levantei e observei o local. Estava devastado, se não conhecesse meu reino, diria que tínhamos sido vencidos, mas se eu não estava numa masmorra, estava tudo bem. Então, descobri de onde vinha o som. Um corpo quase imóvel estava no chão à alguns metros de mim. A barba era irreconhecível, corri no mesmo momento.
– Vem, pai! Eu te levo! – sem muita conversa, apressei, mas ele permanecia imóvel.
– Corra, Lyra, corra!
Um monte de poeira acompanhado por um estrondo de cascos se aproximava.
– Corra, Lyra... Corra, Lyr... Cor... – meu pai ia perdendo as forças.
– Pai? Pai?!Não, pai! Vamos! – eu pedia com lágrimas no rosto.
Ele fechou os olhos e virou a cabeça para um lado. Lembrando que minha mãe me contara, corri em direção da tropa e murmurei com os braços esticados.
– Deixa minha família em paz.
Caules verde-claros saíram da terra em direção aos pés dos cavalos, segurando-os e derrubando-os. Os guerreiros mais espertos desceram dos cavalos antes de serem derrubados e voltaram a correr em minha direção. Senti que poderia fazer o que eu quisesse, então mexi meus braços e minhas mãos num movimento aberto e toda a tropa que restara agora voava pelos ares de um tornado branco-pérola.
Peguei meu pai pela axila e arrastei-o até o saguão, onde todos conversavam em altos tons sobre a guerra que achavam que havia acabado, mas em minha opinião, estava só começando.
– Lyra! – Wallace exclamou – Graças a Deus, achei que tivesse... Enfim, o que importa é que está bem!
– Não! – Burgh exclamou ao ver o que eu carregava.
– Pai! – os dois correram ao corpo imóvel.
Fraca, com a cabeça voltando a sangrar, desmaiei ao lado do corpo de meu pai.
Acordei dentro de um quarto com um monte de desenhos monstruosos pregados à parede. Aquele era o quarto-proibido do Burgh, do qual agora eu adoraria nunca ter estado. Levantei e notei que não havia ninguém no quarto se não eu. Atravessei o portal e logo me chamaram.
– Princesa! Acordou? Que ótimo! Está dormindo faz três meses, sabia? – Francis, o sacerdote do reino de Gothia falava.
– Francis? O que está fazendo aqui? – perguntei olhando-o dos pés a cabeça no corredor.
– Estou aqui por causa da mal... – ele parou ao prestar atenção ao que estava falando. –Mal... Mal... Maldita guerra!
Ele riu e desceu as escadas no fim do corredor. Com certeza ele não estava ali por causa da guerra.
Tonta, comecei a recordar os últimos acontecimentos: a guerra inesperada; a aparição maluca da minha mãe; a maldição genética e o pior. A morte do meu pai. Desci as escadas correndo desesperada e esbarrei-me em alguém no pé.
– Calma, calma. – Wall me pedia.
– Cadê o papai? Cadê ele? – desviei-me dele e corri pelo saguão principal.
No lado esquerdo, estava o gigantesco escritório do meu pai. Estavam lá sentados Peter, o Ministro, Francis, Burgh e na cabeceira da longa mesa, a cadeira parecia que alguém tinha acabado de se levantar.
– O que é isso? Por que o Ministro e o Ancião tão aqui? – perguntei rápida.
– O Ministro chegou agora. Veio deixar o testamento do papai e o Francis tá aqui porque... Eu explico depois. Agora vamos ouvir o testamento, tinha ido subir principalmente para chamá-la.
Ele me levou ao escritório com o braço esquerdo em volta da minha cabeça. No escritório, ele sentou na cadeira do papai e eu sentei numa cadeira ao lado de Burgh.
– A primeira coisa que deve saber, Lyra, é que eu vou governar até vocês chegaram a maior idade. E que...
– Tem uma maldição genética que a cada duas gerações dois Castelenses devem morrer, disso eu já sei. – interrompi.
– Como? – Wallace perguntou com a sobrancelha levantada.
– Um passarinho dourado me contou.
– Enfim. Um de nós há de morrer ainda neste ano. Por enquanto, devemos nos preocupar com a quebra dessa maldição, que será mais caro. Serão dois mortos se tentarmos nos ajudar. –Burgh completou.
– Então o Francis veio tentar quebrar a maldição? – perguntei. – Correto. Agora eu gostaria de pedir que Peter lesse o testamento. – Wallace colocou os cotovelos na mesa.
– Ah, claro! – o ministro exclamou.
“Aqui jaz as últimas vontades de Cedric Castelion. Um homem de...”
– Er... Ministro, pode ir para as partes mais importantes , estou um pouco atarefado... – Wallace pediu.
– Tudo bem, tudo bem... Hum, blá blá blá, blá blá blá blá... Aqui! – ele exclamou com os óculos quase caindo do rosto.
“Peço que se eu vier a falecer antes, meu filho Wallace I deve contar o segredo por trás dos livros de história e que tome posse do governo; meu filho Burgh deve chefiar o exército real para se assegurar que o mal não ataque outra vez e minha única filha, Lyra, deverá fazer com que a união remanesça em suas vidas. Para os três, deixo nossa maior relíquia: Castelion de A à Z, escrita por um viajante que leu todos os livros e viu tudo o que se era possível e que pode ajudá-los em meu último pedido: quebrem a maldição e deem um futuro tranquilo para seus descendentes.
“Mas claro que não morrerei deixando pra vocês só uma maldição destruidora para ser parada. Para Wallace, deixo uma Espada que pertenceu a um dos maiores guerreiros da história de Castelion; para Burgh, deixo o meu bracelete, não sei o que ele tem de especial, mas eu o confio a você. Para Lyra, deixo uma caixa lunar, da qual o meu presente jaz dentro. Certifique-se que está sozinha ao abri-la.
“Aliás, o presente não é exatamente meu, mas espero que goste.”
– Os presentes serão entregues no fim do dia. – o ministro concluiu.
– Bom, eu já fiz o que devia fazer. Burgh, irei tomar as providências depois daqui, e Lyra... – Wallace parou.
– Vou ficar no meu quarto olhando para as quatro paredes. Posso ao menos ficar com o livro? – perguntei.
– Claro, pegue-o. – Wally concordou.
Peter me deu o livro, grosso e empoeirado, e me dirigi ao meu quarto. Meu diário estava sobre a cama como eu deixara na manhã da guerra. Faziam poucos meses que tinha acontecido aquela guerra e eu tinha descoberto sobre a maldição, mas o diário na estante parecia me mostrar uma garota ingênua onde seu único problema era uma vida de princesa e um irmão com problemas gastrointestinais.
Finalmente, notei o que faltava: os súditos. Onde estaria minha Ama? Onde estavam meus preparadores de banho? Eles me faziam falta, pois eram os únicos que, sempre que eu reclamava me encaravam com um olhar fora de foco e balançando a cabeça concordando comigo. Dessa vez, eu preparei meu banho.
A espuma estava borbulhante e parecia me chamar. Tanto minha cabeça quanto meu corpo estavam exaustos. Entrei na banheira e senti meu corpo voltar a fluir. Sentindo a água passar pelos meus braços, experimentei fazer uma coisa.
Agitei os braços levemente para cima e para baixo e a água parecia obedecer como se eu fosse um maestro. Ri feliz por ter aqueles poderes. Era legal, mas logo percebi que não era certo sorrir: meu pai morrera por causa daqueles poderes. Porém, se eu iria morrer, eu teria minhas próprias mãos como armas.
Durante uma noite, uma luz tocou meu rosto. Por um momento, achei que fosse a Lua, mas era a caixa lunar de meu pai brilhando. Fui até ela e notei que agora tinha uma alça. Levantei-a e vi uma coroa com diamantes, pérolas, rubis, safiras, esmeraldas, platinas, orbes. Era mais uma joalheria ambulante. Ao lado, havia um bilhete.

Querida Lyra,
Sei que há muito estarei morta, mas não podia ir embora sem deixar isso pra você. Isso pertenceu à minha mãe, ela era muito humilde e pobre, então era sua maior fortuna. Ela dizia que aquilo deveria ser entregue de geração em geração para que essa joia nunca se perca. Espero que não deixe sua avó decepcionada.
Com amor,
Fiore


Era incontestável o porquê que minha avó queria que aquilo ficasse na família pra sempre. Era linda. Parecia que tinha vida. Peguei-a e coloquei na cabeça. Senti alguma coisa passar pelo meu corpo, como uma frente fria. Por um momento, vi uma mulher loira rindo. Ri nervosa e devolvi a coroa para a caixa e guardei-a no meu depósito secreto. Era um compartimento do meu guarda-roupa que ninguém nunca notava. Ainda chocada com a beleza da coroa, me deitei e esperei o sono me levar.
No outro dia, fui para a biblioteca pública com o livro. Sentei na mesa mais isolada e abri-o. Um monte de poeira caiu em cima de mim.
– Cuidado aí, garota! – alguém gritou.
Quase instantaneamente, senti uma dor lancinante na mão e alguma coisa escorrer por ela. A dor era insuportável, mas minha raiva era grande de mais para olhar pra mão. Puxei o objeto afiado do membro e pousei-o em cima do livro. Olhei para cima e descontrolada gritei:
– EI, OH! TEM GENTE LENDO AQUI, BELEZA? – Foi mal, dona, foi mal mesmo! – alguém exclamou lá em cima.
– Foi péssimo! Sabe quem eu sou? A princesa Lyra.
Todos se calaram e a figura mínima veio descendo.
– Desculpe-me, princesa! Está tudo... Wow! Está sangrando! – ele apontou para as costas da minha mão.
– Ah! – gritei.
Desde pequena, detestava me machucar por causa do sangue. Eu sempre tinha um AVC quando via o líquido vermelho, me sentia fraca e com o estômago roncando estranho.
Mas talvez eu perdoasse o rapaz. Uma gota de sangue caiu no livro.
– Olha o que você fez! Isso é um patrimônio de família, querido! – gritei.
De repente, olhei para o livro e vi as palavras aparecerem em uma página em branco como se estivessem sendo escritas. Me sentei e ignorando a dor, li.
“A maldição dos Castelenses só tem uma cura: se o sangue certo for derramado por Kyoshi. Porém, se o sangue errado for derramado, catástrofes podem ser causadas pelo mundo todo. Até hoje, os Castelenses vivem com o medo de que a qualquer momento um de seus membros tombem mortos ou tenham problemas neuróticos. É quase impossível de a maldição ser destruída uma vez que só uma pessoa em mil anos conseguiu se tornar um.”
Parando de ler, fiquei impressionada e confusa: Kyoshi. Quem é ele? De acordo com o texto misterioso, era um título, não uma pessoa. Como se tornar um? Eu não as sabia, mas sabia quem tinha as respostas: Wallace.
Peguei o livro e fui andando ao salão do Rei. Ele estava lá sentado, no big trono, com os cotovelos apoiados nas pernas e observando a ampla sala. Passei pelas sentinelas que me reverenciaram e me dirigi ao meu irmão.
– Wall, podemos conversar um pouco?
– Claro, vamos ao jardim. – ele me convidou.
Passamos pelos corredores do castelo e saímos para o belo jardim. Algumas esculturas permaneciam destruídas. Peguei o livro e abri-o na página misteriosa, porém lá só havia uma folha em branco.
– Mas... Mas... Eu juro que aqui havia coisas escritas!!
- Olha, Lyra. Eu sei que isso é ainda muito recente, será que você não viu outra página do livro e...
– Não, eu juro, eu juro! Tava aqui, nessa folha! – eu exclamava batendo no livro.
Enquanto Wall se afastava, eu retrocedia tudo o que acontecera antes das folhas serem preenchidas: um cara derrubou uma telha em cima da minha mão, ela sangrou, eu briguei com ele, briguei ainda mais quando ela... Acho que não preciso continuar. Peguei um espinho da rosa do jardim e fiz um pequeno corte na minha mão. Pinguei o sangue no livro e lá estava ele “escrevendo” de novo.
– Uau! – Wall exclamou – Deixe-me ler...
Depois de algum tempo ele disse:
– Hum... Kyoshi, hã? Vai ser difícil, bem difícil. Mas acho que possa ser possível.
– O que é um Kyoshi?
– O quê? Você não presta atenção nas aulas do Markus? – ele perguntou, fechando o livro.
– Não, ele só sabe cuspir. Tava mais preocupada em pegar o guarda-chuva que tava na porta...
– Enfim, o Kyoshi é também chamado de Guerreiro Perfeito. Pra você, Lyra, o que é um guerreiro perfeito?
– Tem que ser bonito, forte e inteligente.
– Isso é um Kyoshi. O Guerreiro perfeito. Porém, não é qualquer bonito, forte e inteligente guerreiro que é perfeito. São precisos três itens: a Coroa de Cynthia, o anel de Bronius e a espada de Yancy. Juntas elas formam o Kyoshi.
– E onde estão essas coisas? – perguntei.
– Não faço a mínima ideia. Porém, eu acho que não vai ser difícil encontrá-los uma vez que os Kyoshi’s adoram se exibir em reinos esnobes.
– Então, onde vamos olhar primeiro? – perguntei fechando o livro.
– Calma, Lyra. Acabamos de nos recuperar de uma guerra. Vamos parar um pouco.
– Ok. Mas não esquece, se a alma do papai puxar o meu pé de noite, a culpa é sua.
– Tudo bem... – ele disse rindo.
Voltei pelo longo caminho do jardim ao castelo, pensando na maldição e no Kyoshi. O processo de "cura" da maldição ainda me era estranho. Por que não chamávamos um sacerdote qualquer pra fazer os pimplimpim e pronto? Tinha que ser do jeito mais difícil? Wally pediu para eu esperar um pouco, mas a ideia de que a qualquer eu poderia cair morta no chão, era assustadora...
Fui à Orre, a biblioteca do castelo e pedi à bibliotecária "super animada" um livro sobre Kyoshi.
– Não temos livros sobre o assunto. – a verruga no lado esquerdo-sul do nariz dela dilatava a cada vez que falava.
– Tem sobre a Espada de Yancy, O Anel de Bronius e a Coroa de Cynthia?
– Não, mas temos sobre Cynthia.
– Posso levar, por favor?
Ela olhou de um lado para o outro e se inclinou no balcão. Pelo amor de Deus, aquela verruga era horrorosa.
– Siga o lado oposto dessa recepção e continue até a parede lá do fundo. Se prestar atenção, um lado tem a textura diferente. Bata três vezes nesse lado e depois de uma batida mais forte, tipo um soco. Aproveite o conhecimento.
Ela ia dizer mais alguma coisa, mas eu não aguentava mais aquela verruga que agora tinha um pus saindo. Andei devagar até o fim da biblioteca. Quanto mais eu seguia até o fundo, eu via gente mais assustadora que a bibliotecária. Além disso, a textura da parede mudava a cada seção. Havia uma de mitos monstruosos que a textura parecia um pântano com ogros e boitatás.
Finalmente, depois de passar pela parte terrorista da biblioteca, cheguei numa seção onde havia espadas e estrelas por toda a estrutura. Nas paredes,quadros de cavaleiros como Rei Arthur e São Jorge. Depois da seção histórica, cheguei ao fundo da sala.
A textura diferente da qual a bibliotecária me contara, era em mosaico. Bati três vezes e soquei a quarta. De repente, não havia parede, mas outra seção da biblioteca.
Aquilo era fantástico. Criaturas das mais fofas as mais assustadoras eram retratadas nas paredes. Cavaleiros, magos e magas, objetos com pontos de luz em volta vinham logo á frente. As estantes não eram exatamente estantes.
Eram magos que as levitavam. Eu não cheguei a descobrir se aquilo era vivo ou não. Ao lado de cada mago, havia um objeto. O que mais me chamou a atenção foi uma coroa linda ao lado de uma maga de tamanha beleza. Era loira, usava um casaco longo que as costas iam até o joelho e tinha pelugem circular nas pontas, um cachecol peludo e fechado no pescoço, uma camiseta e uma calça preta. Ela tinha uma franja que escondia o olho esquerdo.
Numa placa um pouco abaixo, estava escrito:

Cynthia


Cynthia Melody Castelio era uma dama conhecida como A Dama do Lago. Ela era conhecida assim por andar pelos lagos do reino e simpatizar com os animais aquáticos. Tinha um triângulo amoroso com o sacerdote Bronius e o general Yancy, tendo uma morte desconhecida.


Uau. Eu tentei imaginar uma mulher assim sendo morta brutalmente numa batalha como a dos Órion. Mas se ela era uma dama, o que fazia ali como uma maga? Eu não tinha tempo para perguntas. Peguei um dos livros, intitulado "As Confissões de uma Cynthia escondida" e abri-o.
Alguma coisa havia escrito no centro de todas as páginas. "Se quiser saber o que há escrito, diga Myto Jiga Alon. Se nada acontecer, desista."
– Myto Jiga Alon. – repeti.
De repente, eu estava embaixo de uma cachoeira. Mas não era exatamente eu, pois só o que eu conseguia pensar era no problema que tinha me metido. Bronius era um dos melhores sacerdotes que existem, mas Yancy parecia ser um homem de honra. Eu amava os dois, mas alguma coisa me dizia que se eu não escolhesse logo, não só eu, mas todos iriam se machucar.
– Lady Cynthia? – uma voz me chamou.
– Sim. – uma vez doce saiu da minha boca, coisa que eu sabia que nem querendo eu conseguiria fazer.
– A saudade não quis me deixar. – um homem de cabelos longos até o pescoço, bigode e barba, vestido com uma armadura reluzente com fogos flamejantes me contou.
– Nossa, Yancy. Achei que Larrion havia lhe mandado patrulhar a retaguarda do reino 24h por dia.
– Sim, mas eu precisava ver seu rosto pelo menos uma vez. – ele disse beijando a minha mão.
– Piegas, mas foi lindo. – finalmente, tive uma ideia repentina e falei antes de pensar – Que tal nos encontrarmos aqui mesmo, embaixo da cachoeira amanhã à noite? Soube que amanhã a lua ficará diferente.
– Ótimo. Te vejo amanhã.
Ele saiu soltando um beijo com os dois dedos da frente. O que eu tinha na cabeça em convidar Yancy para me ver no mesmo momento em que Bronius me dissera que tinha um pedido especial? Talvez eu pudesse fazer isso de um jeito mais simples.
Levantei e me dirigi ao lago e acariciei os belos cisnes que pareciam entender meu problema. Olhei para os lados para certificar-me que ninguém via nada e acariciei a garganta do cisne mais próximo.
– Oh belo cisne, o que devo fazer?
– Rainha das Águas, deveria contar a verdade, mas deixar a união remanescer.
– Como assim – perguntei me sentando a beira do lago.
– A amizade não precisa acabar junto com o amor. Seus amigos são sua maior joia, não os deixe ir com tanta facilidade.
– Você está certo, mas o pedido de uma Dama não vale muito nessa história. – não demorei muito para descobrir o que deveria fazer – Mas os dedos de uma maga sim...
Tudo ficou preto. Eu voltei a minha consciência por uns 20 segundos. De repente, tudo ganhou cor e eu era Cynthia. Dessa vez, eu não estava sozinha à margem do lago. Yancy e um homem com vestes longas e pretas com relâmpagos dourados nas bordas me olhavam com seriedade.
– Cavalheiros, eu os chamei nesta coincidência para que me concedam um pedido. Por favor, Bronius, ponha seu anel ao chão. Yancy, faça o mesmo com sua espada.
Eles puseram os pertences no chão e se afastaram. Peguei minha coroa e coloquei-a no chão e posicionei os três objetos em triângulo. Tirei a pequena pérola azul do meu colar e levantei o com as duas mãos acima de minha cabeça.
– Striatons sepilo naben hycae! – exclamei.
A pérola saiu da minha mão e levitou até o céu da bela noite. A coroa, o anel e a espada levitaram até a pérola e começaram a brilhar. Elas se juntaram e uma estrela de forma estranha parecia se formar no céu. Os objetos desceram e retomaram suas posições, enquanto a pérola agora vermelha flutuava na minha frente como se esperasse que eu a pegasse.
– Agora, não importa o que aconteça, sempre estaremos juntos.
Tudo escureceu de novo e eu estava de volta de frente à estatua de Cynthia, mas o livro voltara a estante. Aquilo já era o bastante para um dia. Olhei o céu, já era noite. Fui até o saguão do castelo, subi as escadas até o meu andar, entrei no quarto e de vestido mesmo, adormeci na cama.
Os dias se passaram. Eu sabia que se eu contasse a Wallace muito cedo o que acontecera na biblioteca, ele iria ficar chateado por não ter dado ouvidos a ele.
Hoje a noite, eu ele e Burgh estavam no escritório tendo uma boa conversa até Wallace contar sobre Kyoshi para Burgh. Ele achou interessante e que não seria fácil descobrir um Kyoshi.
– Por onde vamos começar? – Burgh perguntou.
– Eu não sei. Conta pra gente, Lyra. Como foi a experiência de ser Cynthia por algumas horas?
Meu queixo caiu. Como assim? Eu não tinha contado a ele isso... A verruga deve ter contado pra ele. Pelo menos, ele não parecia se importar com isso, então fingi fazer o mesmo.
– Eu descobri que ela amava Bronius e Yancy e para escolher um deles sem perder grandes amigos, ela criou uma pérola que reunia os poderes de seus itens de maior valor.
– Que legal. Descobri que o último Kyoshi era um camponês Castelense.
– Peraí! – Burgh exclamou – Se era Castelense, então não vai ser difícil.
– Concordo. Acho que esses itens devem estar em algum lugar, tipo cavernas, subsolos ou pessoas de confiança. – eu afirmei.
– Quem era o último Kyoshi? – Burgh perguntou.
– Marlon. Era um nerd que não sabia fazer nada se não ajeitar o óculos. Quando virou Kyoshi, quase destruiu Castelion.
– Uou. – Burgh disse – Mas por onde devemos começar a procurar?
– Olha, quando ele se rendeu (porque derrotá-lo era impossível), os objetos foram entregues à Giovanni, rei da época. Mas o que o Giovanni fez com eles, só Deus sabe. – Wallace falou, respirando fundo.
– Talvez procurássemos em lugares que ele gostava de ir. – falei, pensando em Cynthia.
– Eu discordo. Acredito que Giovanni tenha deixado com pessoas de confiança. Colocar objetos desse valor em qualquer lugar, não. – Wally apertou os olhos – Em minha opinião, deveríamos conhecer os descendentes de seus irmãos ou amigos mais íntimos.
– Essas pessoas são de Castelion? – perguntei.
– Não sei.
– Quem eram essas pessoas? Onde vivem? – Burgh perguntou.
– Bom, ele tinha uma garota, Poji, que era carne e unha com ele.
– Poji? Esse nome existe? – perguntei.
– Se ela se chamava assim, existe. – Burgh respondeu.
– Ok, mas escuta, como encontramos Poji se ela está morta?
– Sim. Boa pergunta, Burgh. – Wallace concordou – Mas não faz mais do que 70 anos que Marlon virou Kyoshi.
– Sério? Então fica mais fácil! Podemos encontrar o filho dela. – eu disse.
– Ei, se faz tão pouco tempo, ele deve estar... – Burgh pareceu pensativo.
– Num asilo. – Wall completou.
Eu dei uma risada fraca e olhei para o chão da sala. Quem sabe eu estava sentada onde Marlon uma vez sentara.
– Quer que eu esconda uma divindade dessas?
– Sim, eu não posso deixar descobrirem, ou então as nossas vidas estarão comprometidas.
Uma visão repentina de um homem robusto falando comigo, sentado onde devia estar Wallace, me deixou zonza. Eu já tinha tido aquela sensação antes, parecia que eu tinha voltado à ser Cynthia. Será que aquela "viagem em lembranças" me deixou com sequelas?
– Lyra, você está bem? – Wallace perguntou, ele estava me olhando com preocupação da mesa.
– Eu tive uma... Deixa pra lá. – respondi.
– Então, sobre Poji, como vai ser? – Burgh perguntou – Eu estou pensando em pesquisar sobre ela pelo reino ou seus arredores. Se encontrar alguma coisa, lhe aviso.
Assim, saiu andando em direção à sua nova "missão".
– Lyra, tá tudo bem? – Wallace perguntou pegando minha mão.
– É que... Eu tive uma visão da Cynthia. Ela estava sentada aqui, onde estou, e nessa cadeira estava um homem. Parecia o papai. – eu disse colocando o cabelo para trás da orelha – Eles falavam sobre ela querer esconder alguma coisa divina que poderia colocar em risco suas vidas. Não disseram as de quem.
– Divindade? Cynthia? Será que ela... Será que ela era uma maga?
– Sério? Descobriu isso sozinho? – perguntei irônica.
– Haha. Claro que não... Eu sabia que Cynthia era uma feiticeira, mas não uma maga.
– Qual a diferença? – perguntei levantando as mãos.
– Feiticeira tem mágicas, maga tem poder, muito poder. Mas, o que levaria sua vida em risco?
– Eu acho que ela se referia à pérola. – sugestionei.
– Talvez. Vamos esperar por Burgh e sua pesquisa sobre Poji. – ele terminou.
Olhei para o relógio: 21h58min. Estava ficando tarde. Dei boa-noite ao meu irmão e subi as escadas para meu quarto e me preparei para dormir. Finalmente deitada na cama, observei a flor murcha na mesa de cabeceira. De repente, ela parecia em ótimo estado. Eu já havia me esquecido dos poderes elementares. Será que Cynthia sabia deles?
No outro dia, acordei com Burgh me sacolejando. Ele pegou uma cadeira da mesa ali perto e se sentou perto de mim com as costas da cadeira para frente.
– Ai, Burgh! Que horas são?
– 6am. Bom dia, Raio de Sol! – ele disse sorrindo – Descobri sobre a Poji. Como o Wall ainda não acordou, vim te contar. O filho dela mora ali do lado, fácil, não?
– Nossa, que legal. – levantei sonolenta – Vamos lá?
– Você vai de pijamas? – ele fez careta.
– Oh. Eu vou me trocar, tomar café e já te encontro no jardim.
– Ok.
Ele saiu do quarto e me troquei. Desci as escadas no fim do corredor e fui até a sala de janta, minúscula pra não dizer o contrario. Depois, fui ter com Burgh, onde seguimos para a casa.
Batemos na porta, mas ninguém abriu. Batemos uma, duas, três vezes e nada. Espiamos pela janela e vimos um menino que aparentava ter a minha idade. Ele tinha cabelos longos e negros, usava um manto azul preso por uma fivela. Eu fiquei impressionada como um cara vestido daquele jeito estava numa casa prestes a cair. Ele era até bonitinho, o único problema era que ele tinha perdido um parafuso chamado juízo: ele tava falando com uma bola de cristal. Quando nos viu, resmungou alguma coisa e deixou o globo em cima da mesa, coberto por um pano. Então, abriu a porta.
– Bom dia! Como vai princesa, príncipe! – ele disse desesperado e com um gesto de convite para entrarmos na casa.
Lá só tinha um compartimento, sem falar nos dois pequenos quartos no fim da cozinha improvisada. Sentamos numa mesa de três cadeiras, próximo à pia.
– Olá. Viemos aqui por causa da sua mãe, Poji. – comecei.
– Poji? Ah... Ah, claro! Poji... Ela era minha... Mãe!- ele disse meio desesperado.
– Ah. Enfim, ela deixou algum objeto valioso com você ou sua família? Ou um dia ela já chegou um com um objeto? – Burgh perguntou.
– Não, ela nunca trouxe ou deu nada pra gente. – ele falou balançando a cabeça negativamente.
– Quem está aí, Lúcio? – uma voz doce que eu sabia que já tinha escutado ecoou na casa.
Lúcio mexeu a boca como se quisesse que pensássemos que ele falara aquilo.
– Lúcio? – a voz voltou a falar.
– Você quer que eles descubram? – ele falou baixo o bastante para ser escutado.
– Se estiver aí que eu acho que está, sim. – a voz falou com mais força.
Ele levantou e foi até o globo coberto com o pano. Trouxe-o para a mesa e o desenrolou.
Não dei pra ver muita coisa no começo, mais era uma pessoa. Uma mulher loira de rosto suave. Finalmente, reconheci a Dama do Lago naquela pequena bola de cristal.
– Cynthia? – perguntei.
– Almia? – Cynthia perguntou.
– Não, Lyra.
– Ah, Lyra. Você é filha de Fiore, certo? – ela perguntou, sendo que só aparecia sua cabeça no globo.
– Sim. Mas como está aí dentro, não deveria estar... – perguntei sem jeito.
– Morta? Ah sim, deveria. Mas aquele feitiço com o Yancy e o Bronius nos prendeu a vida e a juventude. Eles dois estão vagando pelo mundo, mas eu criei uma dimensão só minha, onde viveria em paz.
– Desde quando isso? – Burgh perguntou.
– Desde que me perguntaram por que eu nunca envelhecia. – ela disse assentindo com a cabeça. – Mas não acho que tenham vindo até a casa de Lúcio para tomar chá.
– Er... Procuramos sua coroa. – eu disse.
– Novidade. – Cynthia disse no meio de uma tosse.
– Mas não nos compreenda mal! Não queremos Kyoshi! Queremos nos salvar. – Burgh explicou – Temos uma maldição genética que só um Kyoshi pode quebrá-la.
– Bom, se é assim... A coroa nunca chegou às mãos de Poji tampouco para as de Giovanni. Mas prestem atenção: tudo que vai, volta. A coroa há de voltar a Castelion. Se isso não acontecer, será um milagre.
– Hum. Como podemos falar com Yancy e Bronius? – Burgh perguntou.
– Para quê? – ela perguntou.
– Para sabermos onde estão os itens, ora! – Burgh exclamou.
– Ah! Claro, mas vai ser difícil. Não tenho notícias deles há um século! – ela falou balançando a cabeça.
"Quando eu tinha 17, meu pai era muito rígido quando se falava em garotos. Ele achava que eu só poderia me relacionar com o meu esposo, do qual ele não decidira entre Bronius e Yancy. Porém, eu me relacionei com um cara chamado Juno. Nós nos encontrávamos escondidos num canto do reino. Alguns meses de encontros, eu engravidei de uma menina. Sabendo o castigo de fogo que meu pai me daria se ele soubesse disso, eu fingi uma necessidade de viagem de aprendizado, quando na verdade me escondi numa casa em Gothia durante minha gravidez. A menina nasceu e recebeu o nome da senhora que cuidara de mim: Helena. A coroa ficou com ela, mas Helena me prometeu que não deixaria a coroa cair em mãos erradas."
– Então como Marlon pegou a coroa? – perguntei.
– O local da coroa foi ocupado por uma réplica – Lúcio respondeu – Por isso, Marlon achou que era a verdadeira.
– Então onde está a coroa? – perguntei.
– Não sei. – Cynthia disse – Mas acredito que os outros itens também eram réplicas, pois assim que Marlon se rendeu, os objetos nunca mais foram encontrados, coisa de botequim desaparece assim mesmo...
Ela concluiu com desprezo e olhou para trás como se alguma coisa a chamasse.
– Com licença, estão me chamando... RICKY! SOLTA ESSE VASO, VAI QUEBRAR NA TUA CARA E EU NÃO VOU TE LEVAR PRA HOSPITAL! – ela gritou – Com licença, boa sorte...
De repente, o pequeno globo de ouro se encheu de uma fumaça preta e Lúcio o jogou dentro do forno à lenha.
– Que diabo você fez! – Burgh se mostrava incrédulo.
– Não se preocupe, isso foi necessário. – ele explicou – Se eu deixasse ele aqui, um mago ou feiticeiro qualquer poderia entrar e sair do mundo de Cynthia, o que seria um desastre. Só Deus sabe o que ela cria lá, mas eu juro que já consegui ver um mutante com cabeça de cisne, corpo de homem, nadadeiras e uma pele gosmenta. – ele empinou o nariz em expressão de fedor – Nem gosto de pensar.
– Olha, obrigado Lúcio. Nós vamos indo. – Burgh falou se levantando.
– Brigada. – falei fazendo o mesmo.
Quando estávamos à poucos centímetros da porta, Lúcio nos chamou.
– Ei! Eu... Eu posso ir com vocês? – ele perguntou sem jeito.
– Pode, mas por que o interesse? – Burgh perguntou desconfiado.
– Porque... Porque... Não contem a ninguém, por favor. – ele disse com as mãos abertas num gesto de desespero.
– Claro, diga. – eu disse.
De repente, minha tiara saiu da minha cabeça e voou pelo teto da casa e pousou na mão de Lúcio.
– Talvez eu possa ajudar. – ele falou colocando a tiara de volta em minha cabeça.
Quando ele veio para perto, Burgh tossiu alto.
– Tudo bem, mas to de olho! – Burgh exclamou.
– Calma, Burgh. O garoto não é metade cisne! – defendi.
Ele respirou fundou, se acalmou e estendeu a mão para um aperto. Lúcio apertou a mão do arqueiro e quando soltou, abanou a mão e instantaneamente, as janelas e as portas se fecharam e a porta a nossa frente se abriu. Seguimos para fora e eu senti alguma coisa me puxar.
Eu estava num canyon. Dessa vez, eu não era alguém, eu observava alguém. Essa pessoa usava uma capa longa e dourada e cobria todo o seu corpo moreno. Ele parecia sério e tinha uma espada reluzente em sua mão. Ele desceu o canyon e desapareceu no meio das areias e poeiras ao vento.
Quando voltei a mim, eu estava à sombra de uma árvore e Lúcio murmurava alguma coisa ao meu lado. Levantei e os dois estavam cada um em cada lado. Me sentei e eles perguntaram:
– O que foi, Lyra? Foi mais algumas daquelas visões? – Burgh perguntou.
– Visões? – Lúcio franziu a testa.
– É, depois que eu li um livro mágico da estante suspensa numa seção especial da biblioteca do castelo, eu fico tendo essas visões estranhas. Dessa vez, eu acho que eu vi ou o Giovanni ou o Marlon.
– Aonde? – Lúcio e Burgh perguntaram em coro.
– Em um canyon, em um lugar que eu não tenho ideia onde – eu disse massageando minha cabeça.
– O que te faz achar que era um dos dois? – Burgh perguntou.
– O cara tava com uma espada. E eu não preciso dizer o que eu acho dela.
– Você acha que era a do Yancy? – perguntou Burgh.
– Eu acho que não, lembra que a coroa era falsa? Quem garante que o anel e a espada também eram? – Lúcio respondeu.
Levantei e limpei as costas do vestido. Os dois fizeram o mesmo e começamos a caminhar em direção as portas do castelo.
– Não sei, mas não acho que esse Canyon seja muito longe. Olha, se o Marlon ou o Giovanni iria esconder alguma coisa, não iriam deixar muito longe de sua vista. – opinei.
– Eu discordo. – Lúcio contestou – Olha, se ele queria deixar a espada segura, não seria tão óbvio em colocar aqui perto, e outra...
– EI VOCÊS DOIS! – um grito forte e alto me doeu os ouvidos – VOCÊS QUEREM MATAR O IRMÃO DE VOCÊS DO CORAÇÃO? VOCÊS VÃO PERDER A CABEÇA SE ME AVISAR PARA ONDE VÃO?
– Ai, Wallace! – estávamos nos jardins do castelo – Calma, só tínhamos ido atrás da coroa. Olha, fizemos um novo amiguinho! – terminei sorrindo, já na porta do castelo.
– Nossa, que fofo! Amanhã você me conta como foi conhecer a soma e a subtração. Enfim, quem é a figura? – ele falou, sinceramente, ele era horrível para piadas.
– Wallace, esse é Lúcio, neto...
– Filho. – ele me corrigiu.
– ... Filho da Poji. Você não vai acreditar no que descobrimos...
Entramos no castelo e sentamos ao escritório. Tomamos café e conversamos sobre os acontecimentos recentes. Wallace parecia muito interessado no Lúcio, enquanto isso, Burgh olhava para ele com raiva e inveja. Acho que inveja, porque o Lúcio sabia usar magia e parecia mais "útil". Wall escutou com atenção tudo o que aconteceu com Cynthia e os outros depois do feitiço.
– Ok, muito interessante. Agora vamos ao ponto: descobriram onde estão os objetos? – Wallace perguntou.
– Não, só um. Eu tive uma visão do Marlon ou Giovanni escondendo a espada em um canyon. – respondi.
– Canyon? – uma voz cansada repetiu.
– Sim, Irís. Por quê? Você sabe de alguma coisa? – Burgh respondeu a faxineira.
– Sim, senhor. Giovanni escondeu os objetos em lugares distantes de Castelion. Minha mãe me contou que chegou a escutar Giovanni mencionar o Canyon Springfield. – ela disse se apoiando no móvel ao lado da mesa.
– Obrigado, Irís. Então, que tal começarmos a visitar estes lugares amanhã? – Wall perguntou.
– Amanhã? Calma, mano. O mundo não vai acabar em 90 dias... – Burgh contestou.
– Mas podemos cair duros no chão a qualquer momento... – respondi com uma rispidez que não usava a muito tempo.
– Lyra está certa. Hoje mesmo vou preparar tudo aqui no reino para poder viajar tranquilo. Alguém tem horas? – perguntou Wallace.
– São 15h. – Lúcio respondeu.
– O.K. Eu já vou indo. Nos encontramos aqui no castelo antes do amanhecer. – levantamos e nos dirigimos à porta, quando Wallace exclamou – Ah!, antes que me esqueça: Irís, avise aos ministros que teremos uma reunião dentro de duas horas e quero que peça para Ceiça preparar 4 bolsas de acampamento.
– Quatro? – Lúcio estranhou.
– Ué, você não vem? – perguntei.
– Ele vai? – perguntou Burgh.
– Claro que vai! – Wallace exclamou – Ele é fundamental nessa história.
Todos passaram pelo portal e pude ouvir um pequeno sussurro ao meu ouvido:
– Não precisa me agradecer.
Eu ri para Wall e o deixei passar.
Uau. Eu ia viajar com acampamento e tudo! Era excitante e aterrorizante. Mas eu não podia esquecer, claro, de que tudo isso tem um motivo em que decidirá nosso destino.
Lúcio. Que cara é esse? A voz, seus cabelos e olhos me hipnotizavam. Era isso que se chama amor, ou seria abstinência? Porque tipo, eu não conseguia mais pensar em nada, quando meus pensamentos ficavam levianos, era nele em quem eu pensava. Eu estava apaixonada por ele, completamente. Meus sonhos eram s...
– Lyra! Tá surda! – uma voz me acordou.
Eu percebi que já tinha começado a reunião que o Wallace marcou no escritório. Só que não estávamos lá, estávamos numa sala com uma mesa fina e longa nos aposentos do papai, agora ocupados por Wallace. O velho quarto dele virou um depósito sanitário, sem comentários.
– Desculpa, eu tava um pouco fora do ar. Onde estávamos?
– Estávamos falando sobre o que você acha. – Rispy, o ministro da saúde, respondeu.
– O que eu acho do quê? – perguntei como se tivesse sido abduzida.
– Lyra, você tem que prestar atenção!! – Lúcio falou.
Fiquei envergonhada mas disse:
– Desculpe, não vai se repetir.
– Deixa eu explicar: – Wallace começou – Vamos sair amanhã antes do amanhecer, para ser exato, às 4h. O ministro da justiça vai ficar cuidando das coisas e só vai tomar uma decisão referente ao meu cargo se eu concordar. Ele me enviará uma carta por pombo-correio qualquer coisa. Já que vamos ficar por mais de meses viajando, vamos precisar de um animal que possa levar carga sem que desacelere. Eu acredito que vamos precisar de um Solum.
Solum era uma espécie de baleia voadora. A diferença era que voava rápido, era voadora e tinha características de um bicho de estimação: era onívora e calma. O problema era que eram muito raras e difíceis de achar.
– Solum?! Você enlouqueceu? – perguntei.
– Deixe essa parte comigo. Ela levará nós e nossa carga. Mandaremos notícias com frequência e eles farão o mesmo. Se em 3 anos não conseguirmos, voltamos para casa e esperamos a morte. Ok?
– Por mim tudo bem. – concordei.
Eu, Burgh e Lúcio fomos autorizados a sairmos da sala (não sei por que disse autorizados, porque quando uma pessoa diz "pode ir", é porque quer que você suma). Fui para o meu quarto para preparar as coisas pro outro dia, mas me lembrei que Wallace pedira à Irís para preparar tudo. Porém, ela só havia preparado o essencial: colchões, lençol, roupas, água, comida e etc. Eu ia agora pegar as coisas que queria que viessem comigo.
Alguns livros para dias de tédio, um relógio de bolso que ganhara de 13 anos, meu diário, o livro do pai e etc. O que eu estava indecisa se levava ou não era a coroa da mamãe. Era muito valiosa, será que seria imprudente levá-la? Imprudente ou não, decidi colocar na bolsa. Tudo pronto, era só esperar pelo dia amanhecer.
– Peraí! – me toquei.
Um Kyoshi precisa ter a Coroa de Cynthia, certo? Olhei para o objeto abismada: aquela era a coroa. Porém, eu pensei melhor e lembrei que Giovanni não daria a coroa para a filha e outra, Cythia deu a coroa para uma mulher chamada Helena, camponesa, num lugar distante. Não havia como ser essa! Ainda pensando nessa possibilidade, fui dormir.
No outro dia, fui acordada com um rugido. Levantei com um pulo e olhei a janela: uma baleia de no mínimo uns 20.187kg estava parada ao lado da minha janela. Voando ao lado dela. Wallace, Lúcio e Burgh estavam sentados numa sela redonda que cabia umas 10 pessoas.
– Bom dia, Bela Adormecida! – exclamou Lúcio.
– Bom dia! Já estão prontos? Mas ainda é de noite! – respondi.
– Avisei que sairíamos antes do amanhecer. – Wallace lembrou.
– Vai se vestir logo, já estamos saindo! – Burgh gritou.
Mesmo sem tomar café da manhã, coloquei a roupa mais “florestada” que tinha. Corri até o pátio e vi a baleia descer abaixar a nadadeira para eu subir. Ficamos numa espécie de sela improvisada que mal abotoava.
Uau. Eu nunca tinha notado como Castelion era bonita. Suas árvores e rios faziam parte de um desenho colorido, como aqueles que toda criança gosta de fazer. Com o tempo, começou a ficar entediante ficar olhando para baixo, então decidi escrever no diário.
Querido Diário,
Hoje, começamos nossa busca. Tudo anda bem, Burgh brinca de ficar pendurado no rabo do Solum, Wallace está guiando o animal e Lúcio está procurando o cantil de água. Lúcio. Olha, eu não sei, mas eu acho que estou apaixonada por ele. Seus cabelos longos e castanhos, a forma que ele usa magia é uma coisa linda. Será que ele pensa em mim como penso nele? Quem sabe.
O que anda me atormentando é o fato de que eu posso morrer no momento em que estou escrevendo, agora mesmo. Talvez não vá ser eu, mas sei que quem for deixará muita saudade.
O dia parece nublado e fico pensando como seria o fim desta história. Quem de nós Kyoshi deveria matar? Será que é um de nós ou um ser qualquer? Vamos conseguir? Giovanni escondeu os verdadeiros itens ou ele ficou com as réplicas? São milhões de perguntas que não vejo a hora de vê-las respondidas.

– Pode subir! – alguém exclamou abaixo de mim.
Olhei para baixo e vi Wallace voando! O que era aquilo?
– Wall! Wall! Cuidado, volta aqui! Ah! Meu diário! – no desespero, só vi o livrinho bater em cima da cabeça de Wallace e cair dentro das árvores da floresta que passávamos por cima.
– Não! Não! – falei com as mãos na cabeça.
Wallace voou de volta para a sela e disse:
– Obrigado, Lúcio. O que foi, Ly?
– Meu diário, caiu lá embaixo! – exclamei.
– Vamos pegar! – ele pulou em cima da cabeça do Solum e disse – Molyra!
A baleia desceu e pousou no chão. Descemos com cuidado e observamos o lugar em nossa volta: as copas das árvores eram altas e o som do atrito entre a pele dos animais e as plantas dominava o lugar.
– Eu fico aqui, caso qualquer coisa. – Burgh disse, armando o arco e as flechas.
– Ok. – Wall disse – Eu, Lúcio e Lyra vamos procurar o diário.
Adentramos a floresta e Lúcio foi na frente, para caso de algum bicho aparecer, ele conjurar uma gárgula demoníaca e seguirmos nosso caminho. Então vi uma árvore com alguma coisa gravada em seu tronco. Era um globo com linhas largas em volta, tipo nuvens. Parecia uma representação terrestre. Sem me importar, continuamos andando.
Finalmente, encontramos um pequeno borrão rosa no fim do caminho. Corri para pegá-lo e então, Wallace disse:
– Lyra. – sussurrou duas vezes.
Quando me levantei, um homem me olhava com seriedade. Ele tinha cabelos grisalhos e usava uma armadura com um símbolo prateado no ombro. Atrás dele, havia homens com a mesma armadura, só que com elmos e lanças.
– Estamos encrencados. – o homem falou.
Ele acenou com a cabeça e os outros homens nos seguraram pelos pulsos e nos empurraram para frente. Continuamos a andar e ele nos levou a uma espécie de prisão, só que entramos numa salinha com uma mesa branca. Ele nos mandou sentar, mandou os outros homens ficarem do lado de fora e fechou a porta.
– Nomes? – perguntou nos encarando, ainda em pé.
– Lílian. Lílian Rockfield. – respondi.
– Ralph. Ralph Jones. – Lúcio disse.
– John. John Rockfield. – Wall finalizou.
– Lily, Ralph e John? Nomes comuns. Enfim. Onde estavam com a cabeça, – ele começou, andando de um lado para o outro com a cabeça erguida – quando entraram na floresta Aloha? – Floresta Aloha? Aquilo tem nome? – perguntei.
– Claro que tem. – ele me encarou com os olhos apertados – E é um patrimônio da cidade.
– Por quê? – perguntou Wally.
– Porque... Porque... Porque sim, ora! Agora, vão ser levados para uma cela onde esperarão o julgamento. – ele falou e de repente, os outros homens nos levaram para o local.
Andamos por muitas quadras e ruas, até que chegamos a um prédio alto. Ao entrar, um dos homens ficou para escrever alguma coisa num livro em cima de um balcão e nós continuamos. Era fedido e cinza, cheio de grades e homens iguais aos que nos levavam. Colocaram-nos dentro de uma cela e trancaram a chaves.
Fim



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