31 de outubro, Halloween, aniversário de morte dos pais do Harry, dia das bruxas, dia de todos os mortos, minha data comemorativa preferida, mas que esse ano em especial ia ser um saco! O fato é que eu não fui convidada para nenhuma festa legal, quer dizer, não fui convidada pra festa nenhuma! A idade de pedir doces já havia passado, todos os meus amigos ou trabalhavam ou estudavam porque esse ano caia exatamente no meio da semana, e eu não podia nem ver filmes de terror porque meus pais haviam viajado e eu morreria de medo caso assistisse algum e estivesse sozinha em casa. Sim, eu sou dessas que adora Halloween e terror mas morre de medo. Fazer o quê? Se não desse medo não teria graça!
Depressivamente entrei no meu twitter e comecei a reclamar da vida! Um péssimo hábito que eu adquiri para não me sentir sozinha, a verdade é que estava tudo uma merda, eu gostava mais do Halloween do que o Tom Fletcher gosta do natal, mais que qualquer outro dia, mais até do que o meu aniversário e esse ano tudo ia ser arruinado porque ia ser uma noite qualquer, não! Ia ser uma noite pior que as outras, porque devia ser especial e não estava sendo, nem um pouco!
Comecei a fuçar o facebook dos outros, só para você sentir o tamanho do meu tédio, eu não sou do tipo que fuça as coisas ao menos que tenha algum grande interesse na pessoa, pode ser emocional ou financeiro, bom, não que eu estivesse fuçando algo de pessoas totalmente inúteis, na verdade eu estava, até que cheguei ao perfil dele! Não, não é meu namorado, nem o garoto que eu estou afim, quer dizer, não mais! Na verdade, eu fui afim dele na sétima serie, afim é bondade, eu era perdidamente apaixonado por ele, mas ele nunca soube que eu existo, quer dizer, ele sabia, assim, que eu existia, até conversamos algumas vezes, porque era uma escola pequena, mas ele tava na oitava, era o veterano da escola que não tinha ensino médio e eu era só uma nerd um ano mais nova. Na real ele saia com uma garota da minha sala na época, então acho que isso não quer dizer que o problema era eu ser mais nova, talvez só eu ser nerd e nunca ter chegado nele, mas o que eu ia fazer? Eu tinha 13 anos e só o fato de ouvir o nome dele bambeava minhas pernas. , todo mundo o chamava pelo sobrenome, eu não, eu não o chamava, eu tinha vergonha de gostar dele, e nem minhas amigas sabiam, eu fingia que não sabia quem ele era, mesmo ele sendo super popular, e quando não dava eu só fingia que não me importava.
O fato é que eu sou muito orgulhosa e eu não ia admitir pra minhas amigas que era apaixonada por um cara que não me notava, não, de jeito nenhum. O fato é que eu não sei porque estou lembrando de tudo isso. Eu não via o garoto há anos, sim, eu não via, porque eu o vi semana passada numa festa que eu fui, ele estava lá num canto, misterioso como sempre e, pior, me olhando! E meu estômago revirou por causa disso, só isso! Igualzinho na época da escola, quando ele ficava sempre me olhando do outro lado do refeitório, ou no corredor, na época eu achava que ele também podia gostar de mim, sei lá, reparar em mim, mas aí o tempo passou, nada aconteceu, cada um foi pra um lado e eu comecei a achar que era besteira minha, sabe? Coisa da minha cabeça, mas aí tudo de novo, quer dizer, será que é mesmo coisa da minha cabeça? Anos depois eu ainda tenho os mesmo problemas? Foda-se, eu nunca vou perguntar pra ele mesmo, eu provavelmente nunca mais vou vê-lo de qualquer forma.
Fechei a página, irritada com a minha constatação. Porque eu queria vê-lo de novo, queria vê-lo todos os dias, mas era burrice, ele era uma paixonite de infância, que nunca havia sido curada! Me joguei na cama, desesperançosa. Pensando no que ainda teria que fazer antes do dia acabar, eram nove horas, eu já havia tomado banho, mas faltava comer, e aí eu podia ler alguma coisa até a hora que me viesse sono, talvez a uma da manhã...
Mas aí a campainha tocou, eu fiquei com medo, porque quando estou sozinha, e é noite, tudo me assusta, principalmente se for o telefone ou a campainha, principalmente se for Halloween, porque, sabe, eu sou daquelas que não acredita em nada, mas acredita em tudo, então eu não me surpreenderia se fosse um fantasma na minha porta.
Caminhei cautelosamente até a porta da frente e olhei no olho mágico. Ai! Meu! Deus! Algo bem mais surpreendente que um fantasma estava ali parado, esperando, misteriosamente, com uma calça jeans escura e uma camiseta branca lisa, apertada na medida certa. Era ! E ele só podia ter errado de porta, porque né? Ele não sabia que eu morava aqui, e mesmo se soubesse nunca ia querer falar comigo, ia?
Eu agradeci mentalmente o fato de ter lavado o cabelo e estar com um pouco de maquiagem que me deixava aceitável, quer dizer, tirando o fato que eu estava com um short curtinho preto e uma camiseta do Mickey, respirei fundo, tremendo nas bases, mesmo que fosse só pra dizer “Oi, acho que você errou de casa, não?” e abri a porta.
O rosto dele se iluminou e ele sorriu satisfeito.
- Graças a Deus você está em casa! – ele falou e eu ficou confusa, realmente confusa, e aí ele entrou na minha casa, passando por mim na porta e eu fiquei ali olhando embasbacada. – Venha, sente-se, a gente tem muito o que conversar.
me disse sentando no sofá e eu, meio entorpecida, meio... Muito nervosa fechei a porta e obedeci, tenho plena consciência que deixar um garoto “desconhecido” e aparentemente maluco entrar na sua casa e ainda se fechar ali dentro com ele é totalmente maluco e perigoso, mas quer dizer, ele não parecia perigoso e era o , quer dizer, estava na minha casa, MINHA CASA! Eu não podia expulsar ele tão rápido.
- Oh, me desculpe, quer dizer, acho que eu acabei me precipitando e assustando você. – ele falou, reparando no meu estado em choque. – Sente-se aqui, eu tenho que explicar algumas coisas. – eu obedeci novamente, hipnotizada pelo quanto ele era mais bonito de perto e sorrindo e o quanto seu perfume cheirava bem. – As coisas não deveriam ser assim, rápidas e jogadas como eu vou fazer, há anos temos nos preparado para este dia, mas quer dizer, emergências acontecem e quanto mais rápido você souber, melhor!
- Do que diabos você está falando? – eu meio que me precipitei, mas só porque sou uma pessoa muito curiosa.
- Eu realmente não sei por onde começar. – ele me olhou sincero.
- Que tal pelo começo? O que você está fazendo aqui? Quem é você? – eu fingi que não conhecia ele, porque né, nunca fomos apresentados apropriadamente. – Acha que é só chegar e entrar? Assim, sem mais nem menos? - eu acabei exagerando no desespero.
- Calma, ! – ele sabia quem eu era, não era um engano, eu arregalei meus olhos. – Ah, vai dizer que você não sabe quem eu sou? , a gente estudou na mesma escola, meu Deus, óbvio que você sabe quem eu sou! – ele disse, um pouco irritado.
- Ah, digamos que eu lembro vagamente. – menti para tentar afagar a outra mentira, porque aquela não tinha pé nem cabeça.
Ele cerrou os olhos, desconfiado.
- Ok, olha, eu tenho que te contar algo muito importante e chocante, talvez até traumático, mas você tem que acreditar em mim, porque por mais que não pareça, eu estou falando sério!
- Agora você tá me assustando. – eu disse, verdadeiramente assustada.
Nós dois estávamos sentados no sofá da minha sala, ele se aproximou mais de mim, me olhou nos olhos e recuou;
- Eu realmente não sei por onde começar. – passou a mão nos cabelos, visivelmente irritado consigo mesmo.
- Joga tudo de uma vez. – eu falei, me coçando de curiosidade.
- A verdade é que hoje algo muito importante vai acontecer, algo que precisa ser parado, e você é a peça principal para esse evento, e eu tenho que te guiar.
- Ah sim, entendi tudo, agora fala sem os códigos! – fui irônica.
- Que você acha de a gente sair pra comer alguma coisa e aí eu te explico melhor? – ele perguntou.
- Tudo isso pra me chamar pra jantar? – eu pensei em voz alta, quer dizer, ele só precisava ter pedido, será que ele já se olhou no espelho? Ele é o Deus grego da perfeição.
- Não, não, você entendeu tudo errado. – ele bateu com a mão na cabeça. – Eu realmente preciso te contar algo, mas a gente tem que sair daqui, é o primeiro lugar que vão te procurar.
- Quem tá me procurando? – eu fiquei um pouco assustada.
- Então, é sobre isso que precisamos falar, vem! – ele se levantou, me puxando.
- Alguém vai vir aqui? Alguém mal? – eu falei, mais assustada ainda.
- É, entende agora a gravidade da coisa? – ele respondeu, exasperado.
- Eu não saio sem a minha cachorra, e se alguém tentar machucar ela? – disse desesperada.
- Sério? – ele me pediu. E eu assenti.
- A gente não pode fazer isso com a sua cachorra... – eu fiquei impassível; era minha cachorra ou nada. – Ok, a gente pode levar ela na minha casa... Que tal?
- ‘Tá, e ela supostamente estará segura lá? Não estão procurando por você também? Quem está procurando? O que eu tenho a ver com isso?
- Olha, eu prometo que vou responder todas as suas dúvidas assim que for possível, agora a gente tem que ir! – eu fiquei parada, queria saber se a minha cachorra ia estar segura ou não! – Ninguém vai procurar na minha casa, estão só atrás de você e ninguém sabe que a gente se conhece, ok? Devem ir na casa dos seus amigos e parentes próximos, mas eu e você nunca tivemos nenhuma relação. Por que você acha que eu nunca pude me aproximar de você?
Do que ele estava falando? Nunca pôde? Eu achei que ele nunca quis, que história é essa? Será que o estava enlouquecendo?
- E por que eu deveria ir com você? Como eu sei que isso não é uma brincadeira de mal gosto de Halloween? – perguntei desconfiada, como sempre.
- Eu tenho cara de quem faz brincadeiras de mal gosto de Halloween? – ele pediu.
- Na verdade, tem sim! – eu fui sincera, ele tinha, ele era daquele tipo misterioso, maroto, e muito sexy, nos filmes geralmente não se pode confiar neles!
- Droga! – ele falou concordando. – Eu nunca faria isso com você, eu prometo. – eu me senti uma idiota por pensar isso, mas a verdade é que parecia bem sincero.
- Hum, ok. – eu me “convenci”, mas deixando bem claro que ainda estava desconfiada. Diferente do que achei que iria, ele não sorriu, apenas assentiu.
- Vai pegar sua cachorra, a gente deixa ela na minha casa antes de achar algum lugar seguro pra conversar. – sentenciou.
- E comer! – eu completei.
Eu enrolei ele para me deixar trocar de roupa também, colocando um vestido larguinho e uma sapatilha, eu não ia sair na rua daquele jeito, peguei minha cachorrinha e nós fomos até o carro dele, de lá ele dirigiu até sua casa, admito que eu sabia onde ficava, eu não era stalker nem nada assim, só uma vez, segui ele, assim, mas é que ele morava perto da minha amiga, e eu estava indo pra casa dela um dia e ele passou por mim e eu assim, só observei, mas eu deixei isso bem quieto, e fingi que não conhecia o caminho enquanto ele estacionava. A mãe dele estava em casa e mesmo eu não sendo do tipo envergonhada, fiquei um pouco sem graça porque sabe se lá o que a mãe dele vai pensar de uma garota deixando a cachorra dela no quarto do seu filho, quer dizer, e não era uma mãe de um garoto qualquer, era a mãe do , e isso era importante mesmo eu não sabendo o que significava exatamente agora.
Depois disso nós fomos até o carro e, quando entramos, ele virou pra mim e perguntou:
- Onde você quer ir?
- Não sei, quer dizer, onde é seguro?
- Podemos ir ao Shopping.
- Achei que estivéssemos procurando um lugar seguro. Não movimentado. – er, Shopping como assim? Aquilo lá é lotado e eu não considero seguro, todo mundo fica exposto demais!
- Eles nunca vão procurar lá, é cheio demais, perigoso demais, entende? Seria burrice irmos lá.
- Exatamente. – disse exasperada.
- Então eles não vão pensar que iríamos! Psicologia reversa. – ele piscou pra mim, e eu senti meu coração saltar no peito. Idiota!
E então nós fomos, posso dizer que eu me sentia um pouco nervosa em estar no carro de ? Em ir ao Shopping com ? É só que eu sonhei com isso boa parte da minha vida e agora estava acontecendo e eu só não sabia exatamente o que pensar, não era qualquer um, era , sabe? É meio que algo grande!
Nas ruas, crianças pediam doces ou faziam travessuras, algumas estavam na calçada se esbaldando e ficando com caries. Algumas casas explodiam em festas, com adolescentes bêbados e dançando loucamente.
Talvez o Shopping não tivesse assim tão cheio, e eu não sabia se isso era algo bom ou ruim!
De qualquer forma, nós chegamos, e o movimento estava razoável, de acordo com isso não fazia diferença, porque afinal eles nunca iam procurar ali. Quem diabos eram eles? Sentamos numa mesa mais ao canto, de alguma forma que eu não ficasse a vista de quem passasse pela praça de alimentação.
- Podemos finalmente conversar? – eu pedi, extremamente preocupada, vai que realmente fosse uma travessura de Halloween? Fossem fazer algo com a minha cachorrinha? Acho que não, porque a mãe dele pareceu bem amável e verdadeira quando disse que ia cuidar dela, mas eu já comentei que sou desconfiada?
- Não, antes vamos pedir nossas comidas, o que você quer? – Arg! Depois de alguns minutos de discussão, nós dois resolvemos comer subway, e ele foi comprar, porque qualquer coisa era perigosa, que diabos!
Quando ele voltou tenho certeza que eu estava soltando fumacinha, porque eu queria saber quem estava atrás de mim, o que eu tinha fazer ou que tipo de alucinógenos esse garoto estava tomando! Eu admito que se ele não fosse tão bonito eu teria chutado ele da minha porta no instante em que ele apareceu lá.
- Pronto? – pedi, realmente irritada, demonstrando isso na minha voz.
- Claro. – ele falou de forma suave, sorrindo, quase derreti.
- Agora vai explicando! – falei, sem cerimônias.
- Você é especial, . – O que?! Arregalei os olhos, que tipo de cantada era aquela! Que menino maluco! Eu devia saber que não era seguro, ai meu Deus! Meus pais estavam viajando, eu não tinha para quem ligar. O que eu ia fazer? Eu comentei que também sou ansiosa? – Você tem algo raro, nasceu com você, é uma espécie de luz, poderia até dizer magia.
- Meu filho, o que tem nesse seu lanche? – eu perguntei, desacreditada.
- Eu estou falando sério. – ele pareceu bem sério, mas vai saber. – Você é uma das escolhidas.
- Escolhidas? – eu perguntei, preocupada. – Escolhida pra que?
- Então, isso depende, você foi escolhida para nascer com essa luz, essa magia, e ela pode ser usada para muitas coisas, de formas diferentes, mas escolhida para que exatamente depende muito do seu destino, e do que você escolhe como destino. Se escolhe usar isso para o bem ou para o mal. – ele me olhava dentro dos olhos e era praticamente impossível dizer que ele não estava falando sério, mas vai saber, olha o que ele estava falando.
- Eu faço parte de um grupo de pessoas. – ele continuou. – Que são ensinadas, treinadas e especializadas em cuidar dos escolhidos, nós temos que seguir vocês, e manter o mal longe dos seus caminhos. Mas só podemos nos aproximar em situações extremas. Por motivos de segurança, de ambas as partes.
- Vocês são tipo uma sociedade secreta? – eu perguntei, curiosa. Acho que o nível de drogas no sangue dele tava alto.
- Sim. – ele concordou, na maior seriedade.
- Tipo maçonaria? – perguntei.
- Não, secreta de verdade.
- Iluminatti? – tentei outra.
- Eu disse secreta, significa que ninguém sabe da existência.
- Ah! E aí? – perguntei, por que queria saber mais.
- Bom, existem pessoas que querem usar os escolhidos para o mal. Eles também são uma espécie de sociedade secreta, alguns trabalham sozinhos, acredite, existem bem mais pessoas desse lado do que do meu. – Eu arregalei os olhos assustada, como se já não bastasse ter que fugir de bandidos e pessoa más normais, agora também havia loucos que achavam que eu era especial e queriam me usar, nada legal! – Pode ficar relaxada, eu sempre fiz meu trabalho muito bem. Mas acontece que alguns anos atrás, e com anos eu digo, mais ou menos um século, um escolhido foi persuadido para o mal, e ele lançou uma maldição, mas uma maldição a longo prazo, e ela vai ser ativada no dia de hoje, à meia noite!
- Que maldição é essa? E onde eu entro na história? – perguntei ansiosa.
- A maldição levantaria todos os mortos de suas sepulturas, fazendo com que eles andassem entre os mortais, havendo assim uma quebra na ordem natural, digamos que todas as pessoas morram, e todas elas fiquem vivas, não existiria lugar para tudo isso no mundo, e as pessoas apodreceriam, mas nunca iriam se acabar, seria um caos completo.
- Mas no Halloween, quão irônico é isso? – eu perguntei.
- Exatamente, assim os mortos terão um tempo para fazer a bagunça deles até serem descobertos. – ele explicou.
- E quem são eles? Que virão atrás da gente, os mortos? – eu pedi.
- Não, está cheio de pessoas da sociedade que lançou a maldição aqui pra garantir que ela aconteça, se descobrirem um escolhido, nós já éramos.
- Por que ela foi lançada só para cem anos depois? – eu perguntei, começando a me envolver com a história.
- Bom, é uma maldição muito poderosa, ela precisou de cem anos para juntar toda a magia que é necessária.
- E como nós poderíamos parar isso? – eu pedi me desesperando.
- Nós não podemos parar, não há como, já foi tentado de tudo.
- E o que a gente vai fazer? – eu pedi com medo.
- Vamos achar o livro onde a maldição foi escrita, e quando ela estiver acontecendo, fazemos o contra feitiço, antes dela se completar, se tivermos sorte e nossos estudos estiverem certo, vai funcionar!
- E se não der certo? – eu perguntei, com medo.
- É a nossa única esperança. – ele sorriu triste para mim, e naquele momento eu tive certeza que era verdade. Mas ainda assim perguntei.
- E como você tem certeza que eu sou uma escolhida?
- Nós temos rastreadores por todo o mundo, está nos estudos das árvores genealógicas e é claro que você demonstra todos os indícios.
- Quais? – agora eu fiquei curiosa.
- Você exala essa luz, poucos percebem, mas todos podem ver ou sentir, você já percebeu como se dá bem com animais? Ou com plantas? A natureza responde ao seu poder, ela sabe que você é uma escolhida.
Eu fiquei envergonhada, de verdade, porque ele falava de um jeito como se me conhecesse quase melhor do que eu mesma, e eu percebi que ele provavelmente me acompanhara a vida toda, explicava porque ele sempre estava me olhando, isso fez minhas bochechas ferverem.
- Ok, e onde está esse livro? – eu perguntei, me sentindo num filme ou seriado.
- Então, temos que ir buscar ele. – ele explicou, meio envergonhado.
- Como assim? – perguntei, duvidosa.
- Ele não está comigo.
- Com quem ele está? – perguntei, impaciente.
- Está com os chefões da sede.
- E onde essa maldição vai ser desfeita, em qualquer lugar? É só ler?
- Tem um mapa que diz o local exato de onde ela foi feita, e onde vai acontecer, precisamos ir até o local.
- E cadê o mapa? – perguntei, querendo agir rapidamente porque já era praticamente dez horas, tínhamos duas horas para achar o local.
- Não está comigo também. – Ele falou, como quem se desculpasse.
- O quê?! – perguntei surpresa.
- Nós só temos que ir buscar, não seria seguro deixar comigo, está bem guardado na sede. – ele me explicou e eu assenti, fazia sentido.
- . – eu chamei e ele me olhou. – Por que eu? Por que você veio até mim só hoje?
- Vou ser sincero com você, , não era para ser você, você ainda é muito nova, e ficar sabendo de uma missão dessas, no dia em que ela vai acontecer, um risco terrível, mas você é poderosa, e é uma das únicas que conseguiu chegar a essa idade intacta, isso me torna também poderoso, então somos praticamente a dupla dos ovos de ouro.
- Sabe, eu sempre quis ser especial, salvar o mundo, ter algo de importante sobre mim, tipo o Harry Potter ou a Katniss Everdeen, mas agora, pra ser sincera, eu estou morrendo de medo. De não conseguir, de não dar certo, dos mortos vivos, dos caras do mal.
- Você não precisa se arriscar, só fazer a sua parte com o livro, que eu sei que vai dar certo, eu acredito em você, e eu cuido do resto.
- Mas aí eu vou ser uma idiota que não sabe fazer nada e precisa de alguém pra cuidar dela.
- Mas aí fica difícil né? Você precisa saber o que você quer. – ele riu.
- Eu quero ser útil, mas estou com medo. – fui sincera.
- Que tal se você fizer o que quiser fazer? Assim, se der vontade você banca a heroína e entra na luta, mas se não, eu cuido de você? Vou te proteger igual fiz todos esses anos sem você saber.
Ele me abraçou por cima da cadeira de forma sedutora, e eu corei mais do que morango no ponto, se é que isso é possível.
- Você vai salvar o dia de qualquer forma, porque só você pode fazer isso. E vai conseguir. – ele me incentivou, sendo extremamente fofo, e eu praticamente derreti ali mesmo, de novo.
- Então vamos lá matar alguns zumbis! – eu disse, determinada.
- Não são zumbis. – ele me corrigiu, rindo.
- Não são mortos vivos? – perguntei.
- Sim, mas são mortos que foram revividos, não vivos que não morreram direito. – ele explicou.
- Eles querem cérebro? – eu pedi.
- Nop!
- Então não são zumbis. – concordei.
- Não disse? – ele replicou.
- Então o que eles querem? – perguntei.
- Querem sua vida de volta, ou vingança, vamos dizer que eles não sabem que estão mortos, na verdade, eles são imprevisíveis, talvez você até encontre um ou outro comendo cérebros.
- ZUMBIS! - eu gritei e ele riu, se levantando e me puxando consigo.
- Vamos, nós temos um livro para achar, e alguns zumbis para matar. – eu comecei a rir também.
Nós saímos do shopping um pouco descuidados, distraídos um com o outro, e enquanto caminhávamos até o carro fomos conversando.
- E como mata esses mortos-vivos? – eu perguntei.
- Não mata, esse é o problema, se fosse fácil de matar, a gente matava todos e pronto, temos gente qualificada pra isso.
- E como agir se eles vierem pra cima da gente? – perguntei com bastante medo agora, odiava seres que não tinha como matar, pelo menos na ficção eles eram extremamente irritantes.
- A gente pode atacar eles, desmontá-los, cortar cabeça, membros, isso deve atrasá-los um pouco, mas é crucial acabar com a maldição. – ele me falou sério agora, e eu me arrepiei. – mas eu já falei, não se preocupe, vai dar tudo certo.
Toda vez que ele me olhava daquela maneira, confiante, como se acreditasse em mim mais do que eu mesma, meu corpo inteiro se aquecia, ele era lindo demais e estava ali por mim, como lidar?
- Onde vamos agora? – eu quis saber assim que entramos no carro.
- Para a sede, pegar o livro. – fiquei um pouco agitada de saber que ia numa sede de uma sociedade secreta e assim ele arrancou, dirigindo mais rápido do que eu acharia prudente.
Nós andamos alguns minutos por uma parte da cidade que eu relativamente conhecia, estava cheia de bruxas e diabinhos por todo lugar, pessoas abrindo suas portas, e muita alegria por todo lugar, eu estava distraída observando quando entrou numa rua que era praticamente invisível, e então ele desligou os faróis, o carro era quase tão invisível quanto a entrada da rua. Seguimos naquela estranha e deserta estrada, que de noite podia ser bem assustadora, porque só havia mato por todos os lados e algumas árvores atacavam o carro quando a gente passava, dando a impressão de que há muito tempo estava abandonada, eu estava um pouco apreensiva, era tão escuro e ele estava indo tão rápido.
- Tudo bem. – falou para mim me tirando de meus pensamentos. Eu olhei para ele assustada – Não precisa ficar assim, vai ficar tudo bem. – E aí ele sorriu, eu sorri de volta sem nem ao menos perceber o que estava fazendo.
Quando a estrada chegou ao fim, sim, literalmente ela acabava no nada, digitou alguma coisa em seu celular e um vão se abriu no chão, como uma garagem, completamente escondida, eu até soltei um gritinho porque me assustei e ele riu um pouco disso, de um jeito fofo, e então entrou. Era muito escuro e minhas pupilas se dilataram na hora, mas mesmo assim eu consegui ver pouco, pelo jeito já estava acostumado, porque continuou dirigindo rápido.
Quando ele trocou de marcha, aproveitou e segurou minha mão que estava ali do lado, meu coração deu um salto e quando eu o olhei em buscar de respostas ele piscou para mim, sim, isso eu consegui ver, pelo jeito estava me acostumando também, acho que a minha expressão estava um pouco mais apreensiva do que eu pensei que estava, porque era claro que ele havia segurado minha mão para me dar segurança, eu só espero que o quanto aquilo mexeu comigo não tenha ficado tão claro também.
- Já estamos chegando. – ele me contou e eu assenti, com a boca um pouco seca, tentando controlar os batimentos do meu coração, porque talvez ele conseguisse sentir que estava acelerado, já que estava com a sua própria mão bem perto do meu pulso.
Paramos numa espécie de estacionamento de shopping, mas ao invés de pegar um ticket teve que digitar uma senha, a porta abriu e nós entramos, agora era o oposto, o estacionamento era extremamente iluminado e eu fiquei cega novamente por alguns instantes. Vendo minhas caretas pela dor nos olhos, riu.
- Depois de um tempo você se acostuma, ou compra um daqueles óculos que muda depende da luz, mas tem que ser um bem rápido! – ele explicou e eu ri, porque não existia um daqueles óculos que fosse rápido, pelo menos não tão rápido, ou pelo menos eu não conhecia.
Nós descemos do carro e eu me perguntei onde seria aquela sede, porque pelo tanto que andamos, não ficava na nossa cidade, e nós só chegamos rápido porque extrapolou os limites de velocidade estipulados em todos os estados do país, talvez até do planeta!
Ele me guiou por uma porta que estava camuflada na parede, e que se você não fosse apresentado a ela nunca a notaria, e aí digitou outra senha, sim era outra, eu reparei nisso. Então estávamos em um corredor, dessa vez a luz era normal, e andamos mais um bom pedaço até outra porta camuflada, eles realmente sabiam como se esconder, se alguém chegasse até ali ainda estaria perdido e havia câmeras em todo o percurso então provavelmente a pessoa seria parada antes. Uma dessas câmeras nos abordou antes que pudéssemos entrar, enquanto digitava sua senha ela saiu da parede e filmou meu rosto em cheio.
- Ela está comigo. – ele falou para quem quer que esteja no comando da câmera, que parecia a ponto de alarmar. – É a minha escolhida.
Então a porta se abriu e agora sim estávamos em um ambiente interessante, era uma sala realmente grande, a luz baixa, dando um ar sinistro ao local, a parede do outro lado da sala era coberta por estantes cheias de livros, do pé ao teto, no centro havia uma mesa grande, bem grande, com muitas cadeiras, ela era redonda, e ao redor dela e de suas cadeiras, com uma distância significativa, havia totens com objetos diferenciados em cima, também em forma circular, e mesmo que a sala fosse retangular ficava com um aspecto oval por causa disso.
Havia muitas pessoas na sala, fazendo diversas coisas, alguns liam, outros mexiam em computadores. Outros analisavam os objetos e alguns só conversavam distraidamente, nós entramos sem chamar muita atenção.
- Hey, . – eu ouvi uma voz masculina chamar do nosso lado e me virei. Era um garoto magricela de cabelo loiro amarelado, mas aparentemente muito simpático que estava em uma mesa cheia de telas e comandos, a única coisa naquela parede além da porta.
saiu pela primeira vez do meu lado e pude sentir como a presença dele esquentava tudo em mim, ficando até mesmo um vazio, ele cumprimentou o garoto e dois começaram a conversar.
- Por que não me falou que vinha com a sua escolhida? Me assustei quando você chegou com alguém, sabe, dias difíceis, e hoje especialmente todo cuidado é pouco.
- Ah é, realmente. - pareceu meio desconcertado, por que ele não falou que eu vinha junto? – Mas viu, deixa baixo, ok? Que ela tá aqui. – ele falou mais baixo ainda e eu só entendi porque fiz leitura labial.
- Ah ok! – O garoto pareceu entender.
- E que falta de educação a minha. , esse aqui é o Josh. Josh essa aqui é a . – ele nos apresentou.
- Oi. – eu falei, indo cumprimentá-lo.
- Oi, prazer em finalmente te conhecer, falou muito de você. – ele riu e eu corei. olhou feio para Josh, passou a mão pelos cabelos e desviou o olhar.
- Bom, nós temos que ir, se cuida. – ele disse, me levando pela cintura para o outro lado da sala.
O tchau de Josh ficou no ar porque nos já estávamos longe quando ele o fez, me levou até um senhor mais velho que estava na ponta da mesa e parecia importante, ele mantinha seus olhos fechados, o rosto estava marcado com uma expressão preocupada. E eu estava ficando cada vez mais envergonhada, e eu realmente não sou do tipo que se envergonha.
- . – o senhor abriu os olhos quando nos aproximamos, mesmo sem que ele tivesse nos visto, será que ele era um escolhido também?
- Oi, Monroe. – falou com mais polidez do que havia feito com Josh, o senhor me encarou e eu sorri pra ele, educada. Agora estávamos chamando um pouco mais de atenção e várias pessoas na sala olhavam para nós.
- Olá. É ela? – ele me analisava dos pés à cabeça, e eu não me surpreenderia se estivesse corada.
- Sim, senhor. – ele respondeu sucinto.
- Você tinha razão, uma luz realmente surpreendente. – então pela primeira vez ele se dirigiu a mim, mas não falou, apenas retribuiu meu sorriso, ele era poderoso, eu podia sentir. – Vamos, sigam-me.
Ele se levantou e nós o seguimos, então foi em direção aos livros, eu achei que ele puxaria um e abriria uma passagem secreta do jeito mais clichê possível, mas ele apenas passou os dedos, disfarçando, indo até o fim da ultima prateleira, se abaixou e pegou uma caixa, do bolso tirou uma chave e a abriu, lá dentro havia um livro velho, era aquele, eu podia sentir a magia exalando.
- Essa missão é a mais importante de todas, . – ele falou baixo, entregando o livro para ele. – Coloque sua vida nela.
- Ela já está nela. – E então ele me olhou, profundo, nos olhos, e todo meu sistema nervoso explodiu, eu tentei dizer a mim mesma que ele só queria dizer que sua vida era ser meu protetor, e então como eu estava em jogo naquela missão, a vida dele também estava, já que eu não queria me iludir, tinha coisas mais importantes para me preocupar, fazia sentido, mas meu coração já havia entendido de outra maneira e todo meu corpo reagia a essa outra maneira, quando percebi havia até prendido a respiração por mais tempo do que se é aconselhável.
Monroe apenas assentiu, os olhos sóbrios, profundos de preocupação. Então se virou para mim e falou:
- Você é muito especial, . – e eu lembrei que tinha achado que era cantada do dizer aquilo há uma hora. – Não perca isso. – Espera aí, tinha como perder? Achei que tivesse sido escolhida, e nascido com o dom. Havia milhões de perguntas na minha cabeça e eu não via a hora de ficar sozinha com para poder perguntar.
- Vamos. – Ele falou no meu ouvido, me acordando dos meus devaneios. E em passo rápido nós atravessamos o salão, quando chegamos ao corredor eu quis começar a falar, mas me olhou de uma forma que eu sabia que devia ficar quieta por mais um tempo, ainda não era seguro, eu não sei porque, era a sede, devia ser seguro, não?
Quando chegamos ao estacionamento e finalmente entramos no carro ele sorriu pra mim.
- O que você quer perguntar? – ele disse, e eu ri porque queria perguntar um milhão de coisas.
- Como eu perco minha especialidade? Quer dizer, achei que fosse algo que nascia comigo, e eu tinha isso pela vida toda, afinal fui escolhida. – ele arrancou, indo embora mais rápido do que viemos e eu corri para por o cinto.
- Não acho que Monroe estava falando disso quando disse que era especial. – ele comentou, olhando para estrada. Sim, já havíamos saído do estacionamento claro, e do corredor escuro.
- Como assim? Do que mais ele poderia estar falando? – um nó estava se formando em minha mente, será que dessa vez havia sido uma cantada? Por alguns segundos fiquei com uma pulga atrás da orelha, porque não tinha ficado com ciúmes do velho dando em cima de mim, mas ai percebi que era besteira, ele não gostava de mim, coloque isso na cabeça, .
- Provavelmente da sua pessoa, que você é uma pessoa boa, entende? Ele não quer que perca isso, a pureza ajuda a luz a ficar intacta, se você usar sua luz para o mal, ela não vai mais ser pura, vai estar corrompida, não tão poderosa. Você não a perde, mas uma vez corrompida, ela nunca mais vai ser a mesma. Afinal, é uma luz, quando uma luz é pega pela escuridão ela se ofusca, se apaga. – ele explicou, eu assenti, mas ainda havia outras perguntas em minha mente querendo uma resposta.
- Por que ninguém podia saber que eu estava ali? – eu joguei e sorriu.
- Essa missão é muito importante, sua segurança vem em primeiro lugar, ninguém pode saber que você é a escolhida que vai fazer o contra feitiço. É perigoso que a informação vaze, mesmo dentro da ordem, nenhum lugar é seguro.
- Eu fui escolhida por ser poderosa, certo? – ele assentiu focado na estrada, não era a mesma de antes, para onde estávamos indo? – Por que o Monroe não pode fazer o feitiço, ele com certeza é mais poderoso que eu.
deu uma risadinha, e aí começou a explicar.
- Por vários motivos, primeiro Monroe está velho demais para algo assim, ele não sai da sede há anos. Segundo que ele não tem um protetor e, por último, a luz dele já não é mais a mesma, ele já foi corrompido. E como eu já disse, somos a dupla perfeita. – ele soltou aquilo como uma bomba, eu conhecia todo aquele mundo há pouco tempo, mas Monroe parecia o tipo confiável sabe, foi meio decepcionante.
- O quê? - eu deixei isso sair um pouco na minha voz, fazendo rir mais um pouco, não parecendo achar muita graça.
- Como acha que temos o livro? Monroe precisou entrar na ordem deles, ser confiável, ser um deles, para poder pegá-lo. Então está tudo em jogo agora, a humanidade, todos os esforços dele, todos os meus anos sendo seu protetor, sua vida.
- Ah, obrigada, muito animador. Parabéns, a pressão não aumentou nenhum pouquinho aqui. – Eu fui irônica, talvez um pouco grosseira, mas não pareceu magoado, ele apenas riu e aí quando eu vi estava rindo também.
- Desculpa. – ele disse, em meio a risadas. – Mas vai dar tudo certo. – ele me olhou daquela maneira confiante de novo, meu coração se aqueceu, e eu não era do tipo confiante, mas tudo parecia relevante e eu me sentia invencível ao lado dele.
- Pra onde estamos indo? A gente não precisa do mapa? – eu perguntei, tentando quebrar o clima que se instalou depois que as risadas cessaram.
- O mapa está em outra língua, eu e Monroe passamos algumas boas horas tentando traduzir e entender o que dizia, então eu meio que aprendi o caminho de cor.
- Onde fica esse lugar? – eu perguntei, vendo que estávamos na rodovia agora, e que provavelmente levaríamos muitas multas se não fosse Halloween e a estrada estivesse completamente vazia.
- Acho melhor você ver com seus próprios olhos. – ele falou, maroto.
- Só espero que seja perto, porque já são onze horas e nós ainda estamos na rodovia. – eu concluí, morrendo de curiosidade e tomada pelo medo de não chegar a tempo seja lá onde for.
- Já estamos quase lá. – ele sorriu, acelerando.
Por mais alguns minutos nós apenas dirigimos na noite escura até que resolveu ligar o som. Uma música dançante explodiu alto nas caixas de som. Eu me assustei e ele trocou a frequência do rádio, abaixando o volume na mesma hora.
- Era pra descontrair, não pra te assustar. – ele sorriu com pesar.
- Tudo bem, já passou. – eu falei começando a cantar baixinho a música que tocava agora, um pop punk do jeito que eu gostava, logo ele se juntou ao coro, e nós cantamos fazendo caretas e rindo pelo resto do caminho. Não mais que quinze minutos depois ele anunciou.
- Chegamos. – e eu levantei os olhos reparando na paisagem, havia me distraído com a música e todo o resto, estávamos em Arlington, eu conhecia a cidade, porque já havia ido para lá algumas vezes, mas ela era mundialmente conhecida por ter o maior cemitério do país.
- Sério? Aqui? No Cemitério Nacional de Arlington? – eu perguntei, desacreditada. Nós estacionamos perto dos portões, estava tudo escuro lá dentro, os postes iluminavam a rua, mas do grande portão pra dentro era só escuridão. A rua estava silenciosa, vazia, as crianças já tinham ido dormir e as festas aconteciam no centro da cidade, talvez alguns adolescentes aparecessem para fazer uma peça de Halloween, a única coisa que eu sabia era que eles iam levar um grande susto quando realmente houvesse mortos ali.
- Pelo que tudo indica no mapa, sim. – ele deu de ombros. – Qual o problema?
- Ah, é grande e famoso, não tinha um lugar mais discreto. – ele riu. – Tipo, o presidente Kennedy tá enterrado aí. – eu protestei.
- Pelo jeito eles queriam muitos zumbis impedindo quem quer que quisesse parar isso. – ele falou e fez sentido, seriam muitos, mas muitos zumbis, em sua maioria ex militares, então eles deviam estar ainda em clima de guerra. Foi aí que percebi quão grande seria o nosso problema.
- Provavelmente terão alguns homens deles protegendo o templo, então talvez nós teremos que lutar. – ele falou apreensivo.
- Como assim homens deles? Nós teremos que lutar? Você quer dizer, nós dois?
- É, eu sei que parece desvantagem, mas não podíamos chamar atenção, ou nem teríamos chegado até aqui. – ele me olhou como se pedisse desculpas.
- E como você pretende lutar? – eu falei, afinal a única arma que eu tinha era meu spray de cabelo na bolsa que podia servir como spray de pimenta, eu nunca tentei, mas já me falaram que arde bastante no olho.
- Eu tenho armas, e como você não sabe usar e não temos tempo para aprender, te trouxe facas e espadas, você escolhe. – ele falou, preocupado.
- Sério? – Ai que legal!
- Eu não queria te colocar na luta, mas sei que você vai estar mais segura com uma arma do que sem.
- Pode mandar. – eu falei.
- Tá no porta-mala. – ele explicou. Tipo os Winchesters? Adorei! A verdade é que eu estava me cagando de medo, mas sempre quis lutar ou algo assim, sempre imaginei minha vida como um filme ou livro e agora estava acontecendo, era real. riu da minha empolgação.
Nós estamos saindo do carro quando alguém bateu no vidro. Uma lanterna iluminou, ficou atento, seus sentidos se aguçando, eu podia ver, ele abaixou o vidro revelando um policial magrinho que parecia bem irritado. Ele sorriu pra mim, demonstrando que tinha plano antes de se virar para o oficial.
- O que vocês estão fazendo aqui, crianças? – ele perguntou, com a voz irritante. sorriu com cara de idiota e colocou a mão na minha perna, eu percebi o que ele queria fazer então coloquei a minha maior cara de vadia.
- Só, sabe como é, se divertindo. – ele falou com jeito babaca, e o policial respirou fundo, eu soltei uma risadinha daquelas bem safadas.
- Sei. – ele disse irritado. – Quero ver os documentos, seus e do carro. – providenciou tudo, mas fazendo parecer mesmo que nós estávamos ali dando uns amassos, o clima do carro ficou diferente.
- Bom. – O magrelo constatou. – Está tudo certo com os documentos, mas acho que vocês deveriam se divertir em casa, ok? – ele falou de forma autoritária.
- Tudo bem, tio. – soava bem idiota, ele era um ótimo ator. – Mas sabe como é, tava levando a gata pra dar uma assustada, Halloween, eu protejo ela, sabe como é, elas adoram!
Eu sentia muita vontade de rir, mas ao invés disso abracei ele de um jeito bem escandaloso e dei um gritinho, o policial revirou os olhos, dizendo por fim:
- Vão pra casa, crianças. – E ai virou as costas, entrando no carro e dizendo para seu companheiro “Só umas crianças descabeçadas fazendo o que não deviam fazer no carro dos pais”. Eu só pensei que ele não podia estar mais errado.
- Ai meu deus! – eu exclamei. – Se ele tivesse chegado um minuto depois estaríamos ferrados!
- Isso quer dizer que o destino está ao nosso favor, vamos, o tempo tá correndo. – sentenciou saindo do carro, eu o segui nervosa.
- Sorte que os cemitérios aqui não têm trancas nem muros. – eu murmurei enquanto ele mexia no porta-malas, se enchendo de armas e munição. – Você acha que vamos encontrar algum guardinha nos impedindo de invadir?
- Não sei, acho que não, esses policiais devem cobrir aqui para não ter que pagar outra pessoa. Mas qualquer coisa usamos nosso ótimo disfarce. – ele piscou maroto pra mim, e eu ri, porque tínhamos ido muito bem mesmo como uma dupla de adolescentes se pegando. Devia ser a nossa química, nós realmente parecíamos um casal.
Ele me fez escolher entre as várias facas e espadas que tinha ali, eu peguei duas pequenas que coloquei no corpo, uma na perna e outra na cintura, podia ser útil, e uma espada grande, porque não pretendia chegar tão perto assim de ninguém para ter que usar as facas curtas, elas estavam ali por precaução.
- Você sabe usar uma espada? – ele me perguntou, preocupado.
- Já treinei muito com cartolina brincando de pirata. – Eu brinquei e riu gostoso. – Saber eu não sei, mas já vi muitos filmes.
- Só toma cuidado, ok? Ela é pesada e depende da força que você coloca não vai cortar ou vai cortar, passar e voltar para você, com o tempo você se acostuma, mas tome cuidado.
Ele enfiou o livro numa mochila e a colocou nas minhas costas, explicando que ali ele ia proteger minhas costas principalmente e que eu devia ficar com o livro caso ele não chegasse até o anfiteatro, onde ele me contou foi o altar da maldição, comigo. Afastei esses pensamentos porque era muito triste pensar nisso e nós seguimos em direção ao cemitério.
O Cemitério Nacional de Arlington é o maior cemitério militar do país, é cheio de lápides brancas, por toda parte e tem um anfiteatro onde acontecem homenagens e pelo jeito maldições e contra maldições.
Se eu dissesse que não estava com medo ao andar por aquele cemitério no escuro, na noite de Halloween, sabendo que algum maluco do mal podia nos atacar a qualquer momento e que dali alguns minutos todos os mortos estariam se levantando, e só dependia de mim botar eles para dormir e salvar o mundo, eu estaria mentindo completamente.
pegou na minha mão como ele sempre fazia quando eu estava agoniada, era como se ele lesse meus pensamentos, queira Deus que não, porque que vergonhoso, Senhor! O caso é que ele pegou minha mão e a apertou de forma protetora, eu olhei para ele e ele pareceu um pouco acanhado, como se tivesse sido pego no flagra.
- Sabe, pra caso alguém apareça nossa historinha ser mais real. – ele mentiu, eu sabia que era mentira, porque eu sentia que ele queria ficar com a mão dele na minha, porque ele queria e não porque alguém podia chegar. Eu sorri apertando nossas mãos e ele sorriu de volta, então nós continuamos adentrando o cemitério escuro e sombrio, enquanto o relógio ameaçava bater meia noite.
- Acho bom nos apressarmos. – ele falou preocupado, olhando o relógio.
Nós estávamos indo em direção ao anfiteatro quando ouvimos um barulho vindo de trás de nós, ficou em prontidão, parecendo um gato de tão rápido que ativou seus sentidos, eu apenas gelei inteirinha.
- Eu não acredito que mandaram dois jovens inexperientes aqui para resolver isso. – Uma voz nojenta, característica de pessoa do mal soou de alguma parte que eu não sei bem qual era. Nós olhamos ao redor. Seja onde ele estava, estava escondido.
- Fique perto de mim. – sussurrou e eu assenti com medo, um vento frio passou levantando meus cabelos, e eu jurava que os mortos iam se levantar a qualquer momento.
- Cadê você, hein? Tem medo dos jovens inexperientes? – também provocou, querendo localizar o cara.
- Não, vocês estão em minoria, jovem, e quando der meia noite e vocês não tiverem desfeito a maldição, o mundo estará em minoria, sabia que tem bem mais pessoas embaixo da terra do que acima? – ele falou, desdenhando.
- Eu só acho que você deveria estar lá em baixo com eles. – Eu rebati, irritada, queria desfazer essa porra logo.
- A garota é atentada. – Outra voz falou e os dois riram debochando, nós olhávamos para todos os cantos, a visão e audição apurada, tentando localizar eles em meio às tumbas.
- Eu acho que sei onde eles estão, quando eu atirar você corre. – ele sussurrou pra mim que assenti novamente, tentando parecer corajosa, mas o vento continuava a aumentar e eu tinha quase certeza que tinha a ver com a maldição, o céu estava escurecendo de nuvens pretas, e eu podia sentir a terra tremer um pouquinho.
fechou os olhos e respirou fundo, levantou os braços à direita do anfiteatro, e atirou, foi tudo muito rápido, quando dei por mim estava correndo, eu não era rápida, o livro era muito pesado nas minhas costas, a espada me deixava desajeitada, e eu não estava acostumada com as facas nas pernas, tudo isso me deixou mais lerda que o normal, mas eu corri.
Eu não sabia ao certo o que estava acontecendo lá trás, eu não parei para olhar, por mais que quisesse, mas eu sabia pelos sons que eles haviam saído dos esconderijos, que estavam atacando e vindo em minha direção, eles haviam aberto fogo contra ele, o tiroteio era forte agora, e alguém foi atingido, agora outro, meus olhos se encheram de lágrimas, mas eu continuava na esperança de que não tinha sido ele.
Eu ainda não tinha sido alcançada até que alguém colocou a perna para que eu caísse, e assim eu fui de cara ao chão. Ouvi uma risada e me virei rapidamente, não querendo deixar o livro exposto. Era um cara grande e forte, e ele parecia bem rápido, graças a deus ele não tinha uma arma, porque se não poderia me matar facilmente, mas ele tinha braços enormes e parecia querer me atingir com eles.
Eu nunca tinha machucado ninguém seriamente. O máximo que eu já havia feito era brigar puxando os cabelos na segunda série, eu não era forte, eu não era rápida, mas eu tinha raiva, sempre tive muita raiva de tudo, e descontava destruído coisas, cadernos, lápis, travesseiros quando canalizada minhas energias podia destruir algumas coisas, sempre quis poder descontar minha raiva em alguém.
Mas seguindo meus instintos eu larguei a espada e peguei a faquinha, quando ele veio com a mão em minha direção eu enfiei a faca em sua mão, jorrando sangue para qualquer lado, ele urrou de dor, mas isso não o repeliu, só o fez vir com mais força para cima de mim, eu desviei, e me levantei correndo bem mais veloz que ele entre as sepulturas porque ele era grande e elas ficavam uma perto da outra, a espada veio comigo, porque eu havia largado ela da mão, mas ela tava presa em mim.
ainda lutava, eu podia ouvir a respiração dele, isso queria dizer que ele estava vivo, mas pelo tanto de tiros e pessoas caindo já havia matado uma boa parte da gangue, em quantos eles seriam?
O grandalhão continuou vindo em minha direção eu sabia que havia mais com ele, mas eu não olhei para trás, precisava chegar ao anfiteatro porque faltava menos de dez minutos para a maldição, eu imaginava que quando ela começasse talvez eles se atrasassem um pouco em tentar nos matar, porque afinal os mortos não iam os obedecer imediatamente, iam? Se fossem, nós estávamos ferrados.
Os tiros cessaram, mas eu ainda ouvia barulhos de briga corporal, será que havia acabado a munição, não, ele tinha pegado bastante! Eu devia ter ficado lá ajudado ele. O cara forte se jogou em cima de mim tentando me derrubar, mas eu consegui desviar de novo, me virei e joguei a faca com toda a força que pude reunir, acertando ele no ombro, isso pelo menos o tirou do meu caminho por um tempo. Eu acho. Apenas continuei correndo.
Eu ouvia passos e quando eles estavam relativamente perto eu tirei a espada da bainha e apenas me virei com ela em punho acertando tudo que estava naquele raio de ser atingido, cortei um deles bem no meio do corpo e ele bateu no outro, acabei derrubando os dois que me perseguiam, alcançando finalmente o anfiteatro, eu só havia atrasado eles, mas não acabado com eles.
corria em minha direção agora, muitos corpos deixados para trás, ele parecia terrível, seu rosto tinha sangue por toda a parte, ele estava cansado e com um corte horroroso na perna, uma bala de raspão, eu acho, se é que ela não havia se alojado ali. Eu coloquei a mão na boca, assustada, sentindo lágrimas nos meus olhos.
Ele pisou no cara que eu havia atingido no ombro, e atirou naquele que só havia caído, porque ele estava se levantando determinado. Ele chegou até mim e por incrível que pareça estava sorrindo, por mais que seu rosto se contorcesse em dor.
- Nós temos que ser rápidos. Assim que a maldição começar, os que ainda estão vivos logo vão se recuperar e os que não estão se levantarão assim que possível, então vamos. – ele falou e nós corremos mais um pouco até o centro do local, onde havia um palanque onde normalmente as pessoas falavam suas homenagens, como o presidente quando enterrava muitos militares.
Eu tirei o livro da mochila, me atrapalhando por tentar fazer isso muito rápido. tinha a mão na perna que sangrava bastante. Eu fiquei preocupada mas havia outras coisas e agora faltava saber a página, ai meu Deus. Com toda a luta corporal eu me esqueci, mas agora o tempo definitivamente estava ficando mais fechado, o vendo soprava e bagunçava nossos cabelos, havia tantas nuvens que era impossível ver o céu, e os raios começavam a aparecer.
Eu olhei para desesperada. Ele apenas colocou o livro no palanque e abriu delicadamente a primeira pagina, o vento fez seu trabalho virando as paginas e a maldição estava ali na minha frente. Seu título tinha uma fonte diferente onde dizia “noite dos mortos” e era claramente escrito à mão, com tinta e pena, era um texto enorme, pegava a página inteira e alguma língua desconhecida, eu definitivamente não sabia ler aquilo, mas ia tentar, é claro.
passou pra próxima página onde a maldição terminava.
- Você tem que começar daqui. – ele apontou para o ponto final, o texto só ia até o final daquela página e depois havia um desenho de um cemitério sombrio com mãos saindo da terra, algo bem clichê, mas eu me arrepiei ao saber que aquele desenho era a futura visão que eu teria dali alguns minutos.
- Eu só leio as palavras em ordem contrária ou tenho que lê-las ao contrário? – pedi, porque eu não ia conseguir se fosse a segunda opção.
- Leia elas ao contrário. – eu fiz uma careta assustada, tínhamos chegado até ali para eu falhar no ultimo segundo. – Você consegue, elas não fazem sentido na ordem normal, é só de trás pra frente.
Ele me encorajou e eu respirei fundo. Foi ai que ouvimos as badaladas da meia noite. O céu se fechou por completo, os raios vieram em toda sua grandiosidade, seguido dos trovões, mas não chovia. O vento fazia nós dois quase levantarmos vôo, mas o livro permanecia intacto. Um dos caras que eu não matei se levantou, mas ele não ia conseguir chegar até a gente, era impossível. As doze badaladas terminaram e foi ai que o chão tremeu, como em um terremoto. Provavelmente era a desculpa que os jornais dariam amanha quando tudo estivesse bem, isso se eu fosse bem sucedida, caso contrário, talvez nem houvesse jornais amanhã.
A escuridão era completa, as luzes ao longe das ruas e nas casas se apagaram e agora as nuvens faziam o caminho contrário abrindo um buraco bem acima do cemitério onde os raios se concentravam em cair, o chão podia se abrir a qualquer momento. E eu sabia que esse momento chegaria, ia perguntar se já podia começar a ler quando me fez sinal para que esperasse. A terra se movia e mexia e eu já ouvia gemidos vindos dela, eles estavam chegando.
- , eu estou com medo! – eu admiti, completamente assustada.
- Não precisa. – ele falou, mas a confiança não chegava aos olhos, ele monitorava a terra, esperando que os corpos se levantassem.
- , e se a gente morrer? – eu perguntei, com a voz falhando.
Ele olhou profundamente pra mim, e então brigou internamente consigo mesmo, e aí se aproximou numa distancia perigosa, eu podia estar com medo, preste a salvar ou acabar com o mundo, mas meu coração correspondeu a sua proximidade, meu corpo tremeu com o dele tão perto.
- Se a gente morrer, eu vou ter feito isso. – e ele me beijou. Uma de suas mãos foi para minhas costas e a outra segurou a minha cabeça, juntando nossos corpos bem perto. Sua boca invadiu a minha sem pedir licença, não era necessário, porque a minha buscava a dele desesperadamente e, quando elas se encontraram, bom, o chão realmente tremeu, mas a sensação foi um milhão de vezes maior, meus nervos podiam explodir naquela instante, de completamente aterrorizada eu fui para ‘no paraíso’ em questão de segundos. As minhas mãos foram para seus cabelos, apenas para apertar e massagear sua cabeça. Ele fez uma pressão contra meu corpo e nossas pernas se entrelaçaram. Sua língua explorava a minha como se aquele fosse o ultimo beijo de sua vida, e talvez fosse mesmo, mas eu não acho que a intensidade vinha do perigo que corríamos e sim da vontade que estávamos passando, não só nessa noite como ao longo dos anos. Suas duas mãos desceram para minha cintura, me apertando, e eu quis ficar assim pelo resto da vida, com a sua língua na minha, descobrindo cada canto da minha boca enquanto eu apreciava seu sabor.
Mas as coisas ficaram sérias quando os raios eram mais altos que as batidas de nossos corações, e o chão tremia de forma que quase nem ficávamos em pé, os gemidos dos mortos também se sobressaíram e nós dois tivemos que nos soltar.
Eu retomava o ar para poder ler enquanto ele, sorrindo, se colocava em posição de matar qualquer que tentasse chegar perto de mim e do livro, as armas em punho pronto para atirar em alguns zumbis. Eu estava determinada a vencer, não podia ter provado da melhor coisa da minha vida e morrer assim logo após, eu queria mais e eu pra isso eu precisava salvar o mundo.
Ele me olhou e eu estava extremamente corada, mas nós dois trocamos olhares cúmplices, as primeiras mãos apareciam cavando para fora de suas tumbas, e quando o primeiro morto vivo se levantou ele me deu o sinal de tinha que começar a ler.
A letra era difícil, estava escuro, a língua era completamente maluca, sem contar o fato de que eu tinha que ler ao contrário, os tiros e a preocupação de que tinha um morto vivo vindo em minha direção me atrapalhavam um pouco. Mas eu estava fazendo o meu melhor, os combatia com vigor e eu percebi que àquela hora ele deixou de atirar e partir para briga corporal para guardar munição para esse momento.
Os mortos vivos eram horríveis, eu dei algumas espiadas por cima do livro e eles estavam completamente em decomposição e o cheiro era nojento, mas diferente de zumbis não pareciam retardados, eles pareciam sim confusos, desnorteados e furiosos, mas era possível ver a determinação nos olhos daqueles que os tinham, eles caminhavam pelas lápides e a maioria nem vinha em nossa direção, eles estavam indo em direção à cidade e as pessoas nas ruas que não faziam ideia do que estava acontecendo. Conseguia imaginar aquelas cenas de filme de pessoas na rua passando por eles e elogiando a “maquiagem” bem feita.
Eu precisei me apressar porque eram muitos e todos descontrolados, e quando os caras que haviam acabado de matar se levantaram a coisa ficou séria, porque eles estavam praticamente vivos, e pegaram suas armas e vieram para cima da gente.
era rápido, e muito com bom armas, mas ele era um, para milhares, eu podia ver seus esforço, a perna machucada e o sofrimento, mas isso só me atrapalhava em ler porque me deixava mais nervosa.
Quando cheguei à metade do texto percebi que estava tendo progresso, os mortos pareciam mais lerdos, menos vívidos e não estavam diminuindo, mas pararam de aumentar, o chão não tremia mais tanto, e a cada palavra as coisas ficavam menores. olhou para mim sorrindo, percebendo também o progresso.
Pra que? Foi só ele se virar e alguém, sim alguém, não um morto vivo, atacou-o com uma lápide. Bem na cabeça, do lado que não estava sangrando, caiu desacordado.
- !– eu gritei desesperada lutando contra o impulso de sair correndo e ver se ele estava bem. O cara agora vinha em minha direção, e eu tinha que continuar lendo. Ele ria da minha desgraça enquanto os mortos vivos estavam nos alcançando também.
Em um ataque de instinto eu me abaixei e peguei a arma que ainda estava escondida em mim, e a joguei, ela rodopiou no ar e o atingiu em cheio, bem no coração. Eu havia matado uma pessoa, ele caiu, mas logo iria voltar, era só tempo de agonizar.
Mas faltava meia página agora, os mortos vivos estavam bem mais para mortos do que para vivos, mas continuavam investindo em minha direção. Alguns passavam sem olhar por , outros paravam e mexiam nele e outros ainda pisavam nele, eu chorava descontroladamente agora, lendo as palavras todas embargadas na minha voz, os olhos estavam desfocados e eu podia bem estar lendo tudo errado, rezando internamente para quem quer que ouvia e fazia aquilo funcionar entender.
Agora eu já tinha pegado o jeito de ler e quando carecia de apenas um parágrafo, a luz já havia voltado, os mortos quase não andavam, por mais que eu estivesse rodeada deles, e eles estavam realmente querendo mexer comigo, apareciam com suas caras faltando partes na minha frente, e pegavam na minha perna com suas mãos podres, mas eu tentava ignorar porque eu precisava. Mas sabia que talvez nunca mais dormisse direito na vida.
Quando li a última frase, ou no caso, a primeira, um grande raio caiu, e diferente do que eu pensei o céu não se abriu, mas na última palavra todos os corpos caíram e uma chuva veio, lavando a terra.
Eu levantei o rosto encharcado de lágrimas e chuva, o cemitério estava destruído, as lápides estavam sujas, havia terra levantada por toda a parte, e corpos caídos para todos os lados, havia sangue também, principalmente ao redor de .
Eu peguei o livro jogando na mochila, e então colocando nas costas e corri em sua direção, colocando sua cabeça em meu colo e beijando sua testa desesperada. Peguei seu celular e liguei para ambulância. Enquanto esperava que eles chegassem, eu apenas olhava ao meu redor horrorizada rezando para que ele estivesse bem, conferindo seus batimentos a cada minuto. Aquela foi a pior espera de minha vida, se ele morresse ali no meu colo, depois de tudo aquilo, eu não poderia aguentar. Eu iria junto dele, ou pelo menos meu coração iria.
A ambulância chegou e os paramédicos pareciam completamente assustados com tudo aquilo, quando me encontraram em meio a um mar de mortos, chorando assustada eles quiseram me atender, mas eu não deixei, mandei que eles pegassem e o levassem o mais rápido para o hospital.
Entrei na ambulância junto com eles e fui obrigada a largar a mão de quando eles colocaram tubos e outros materiais que deixavam impossível a aproximação. Eles queriam cuidar de mim também, mas eu não deixava que se distraíssem de curar , eu estava machucada sim, alguns arranhões, cortes profundos e muitos roxos, mas nada se comparava a ele, acho que eu havia sofrido mais mentalmente e emocionalmente, eu só estaria curada quando ele estivesse bem.
Chegamos ao hospital e enquanto fazia sua entrada fui separada dele, meu choro se tornou audível, queriam me dar calmantes, mas eu não deixei, pararam de me incomodar quando a polícia chegou no local querendo falar com as testemunhas de quem estava no cemitério quando aquilo tudo aconteceu. Sorte que eu era uma ótima mentirosa e modéstia a parte uma boa atriz, além de muito criativa, inventei uma história que qualquer um acreditaria e ainda tínhamos um álibi.
Depois do interrogatório eu havia me distraído e estava bem mais calma, me fizeram tomar banho e cuidar dos meus ferimentos, depois queriam me por para dormir, mas já estava estável num quarto e eu quis vê-lo, passaria a noite toda acordada se fosse preciso. Lá estava ele, deitado em seu leito, dormindo profundamente. Por um segundo quase pensei que se ele tivesse morrido teria ido lá e refeito a maldição só para poder ficar com ele, mas afastei esses pensamentos vendo seu peito subir e descer enquanto respirava tranquilamente.
Havia um curativo em sua perna e sua cabeça, o médico me falou que ele levou dez pontos em um e seis no outro, respectivamente. Os outros machucados tinham curativos menores e eu segurei sua mão enquanto ele dormia, e acabei adormecendo ali sentada, com a cabeça na cama.

- Bom dia! – eu ouvi uma voz doce me chamar e abri os olhos, meu sono estava leve por causa de tudo que havia acontecido, levantei o olhar e encarei , que sorria sonolento.
- Bom dia! – eu disse me ajeitando, acordando apropriadamente. Entrava um pouco de luz pela janela, e tirando o barulho da TV que passava o jornal matinal o hospital continuava silencioso, afinal, era um hospital. – Eu nem acredito que você está bem. – disse, com meus olhos se enchendo de água, lágrimas escorrendo sem que eu pudesse controlar.
- Eu acredito que você conseguiu. – ele disse daquele jeito confiante, levantando a mão que estava no soro e secando meu rosto. – Quero dizer, você conseguiu, né? – ele perguntou e nós dois rimos enquanto eu assentia. – E o que aconteceu depois?
- Depois de que? Que você caiu? Eu fui atacada por zumbis, mas continuei lendo, então a maldição acabou e aí eu liguei pra ambulância e depois fiquei horas dando depoimento para policia e aí...
- O que você disse? – ele perguntou assustado.
- Que eu fiquei horas dando depoimento para policia. – repeti.
- Não, isso eu entendi, o que você disse a eles? – eu sorri, e ele me olhou apreensivo.
Fiz um minuto de silêncio para dar uma pausa dramática, mas antes de começar a falar nesse meio tempo a mulher das noticias anunciou “O caso do Cemitério Nacional de Arlington” e eu deixei que ele ouvisse por ela, só porque seria mais divertido ver minha mentira sendo contada como verdade do que eu mesma falando.
“O Cemitério Nacional de Arlington foi encontrado destruído nessa noite de Halloween” ela começou de forma sensacionalista, ela estava em frente ao local e lá parecia cheio de repórteres, policiais e civis e tudo que você pode imaginar “Seria um mistério quem tirou praticamente todos os corpos de suas sepulturas, bagunçou e sujou as lápides se não houvesse apenas um casal de testemunhas.” olhou para mim e eu fiz sinal para que ele esperasse para ver com a cabeça. “A menina disse que ela estava fazendo um passeio sombrio de Halloween com seu namorado quando uma gangue de arruaceiros invadiu o Cemitério, começando a violar as tumbas e jogar corpos por toda a parte, ela e seu namorado tentaram fugir, mas eles os machucaram, outra gangue chegou e eles abriram fogo uma contra a outra, mas a essa altura o Cemitério já estava completamente destruído. Não restaram sobreviventes além do casal, que se encontra no hospital se recuperando.” E imagens de como ficou o Cemitério Nacional de Arlington eram mostradas, de dia era bem pior do que durante a noite, a luz mostrava os corpos e eles eram bem mais feios, e havia terra por toda parte, era uma tristeza, já que antes aquele lugar era realmente bonito onde as pessoas podiam ir lá e prestar condolências a seus falecidos, os mesmos que agora estavam jogados por toda a parte.
ria e ele parecia feliz, eu sorri também porque queria dizer que havia feito um bom trabalho.
- Então somos namorados? – ele falou, me provocando, eu caí, corando.
- Fazer o que, essa noticia vai ficar mundialmente conhecida, meus pais vão ver, eu não poderia dizer pro jornal que estava dando uns amassos. – ele riu concordando. - Mas tem algum problema? – eu perguntei, querendo que não tivesse.
- Talvez eu leve alguma advertência por namorar minha escolhida na sociedade, mas a gente salvou o mundo, certo? Temos que ter algumas mordomias. – ele estava concordando em ser meu namorado ou só fazendo uma piada? - Você acha mesmo que o mundo vai comprar essa história? – ele perguntou, rindo.
- Não só vai, como já comprou. – eu disse.
- Acho que você é a mesmo a escolhida. – ele me olhava interessado, meu corpo todo se agitou, aparentemente a pancada na cabeça não tinha atingido a memória, mas será que ele se lembrava do beijo? Eu corei um pouco.
- Você tinha alguma dúvida? – joguei um charme.
- Não, mas você provou que foi a escolha certa entre os escolhidos, salvando não só o mundo como o segredo da sede.
- Claro, é uma sociedade verdadeiramente secreta! – riu, e então ele levantou o corpo, fazendo uma careta, eu me aproximei para ajudar, mas era exatamente o que ele queria, já que se aproveitou disso e apenas deixou seus lábios alcançarem os meus. Eu senti pequenos choques quando eles se tocaram, e correspondi sem pensar duas vezes, deitando ele volta na cama e indo com o meu corpo cima dele, nós nos beijamos assim, calmamente, aproveitando cada segundo, cada milímetro um da boca do outro, até que as coisas ficaram um pouco mais intensas e ele tentou passar os braços por cima de mim, nos enrolando em todos os fios que o ligavam e prendiam ali.
Eu tive que me afastar porque nós dois não conseguíamos parar de rir. Dentro de mim, de alguma forma, eu sempre soube que era uma escolhida, que era especial, mas agora eu estava exatamente onde deveria estar, sendo a escolhida dele.

Fim



N/A: E ai galera? Quem gostou? Quem não gostou? Espero que todos tenham pelo menos se divertido um pouco. Essa fic é algo totalmente novo pra mim, nunca escrevi nada parecido, eu pessoalmente estou orgulhosa dela. Ela também foi um recorde porque eu a fiz em dois dias, inteirinha. Admito que me inspirei muito no estilo Disney, tem bastante coisa pessoal também, muitas referencias de coisas que eu gosto, entre outros. Espero que isso não tenha atrapalhado. Eu gostaria de agradecer a Paulinha e a Anita por terem me ajudado e me incentivado a tentar mesmo que tivesse um pouco em cima do prazo, a Reh Cegan por me lembrar do especial, e a todos que de alguma forma ajudaram. Por favor, deixem um comentário se vocês têm algo a dizer, eu ficaria maravilhada em ler! Beijos.

Nota da Beta: Qualquer erro nessa fanfic é meu, então me avise por email ou mesmo no twitter. Obrigada. Xx.

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