Era o funeral de Dumbledore. Eu queria ir embora, fazer qualquer coisa. Fazer alguma coisa.
Eu encarava a Floresta Proibida segurando as lágrimas. Desde a noite anterior àquela, nenhuma lágrima fora derramada por mim – com exceção àquele momento em que tive que assistir Draco partir. Mas depois, mantive-me fria, tentando não sentir. Perdi Dumbledore, e Draco...
— Você vai com a gente, né? – perguntou Rony.
— Não – eu disse. – Vocês têm que me perdoar, mas eu não posso ir com vocês.
— E por que não? – Era Hermione quem perguntava. Havia censura na voz dela.
— Hermione, os destinos de vocês estão traçados, sem mim. Se eu for com vocês... as coisas podem sair muito erradas. Eu não posso mudar o que está para acontecer. Não posso.
Ela assentiu.
— O que vai fazer, então? – perguntou.
— Também tenho uma missão – eu disse. – Tenho muito o que fazer também.
— Dumbledore? – perguntou Rony.
— Dumbledore – eu disse, apenas.
Eu abracei cada um dos três.
— Vamos precisar ficar unidos de hoje em diante. Os tempos difíceis só começaram.
Segurei a pulseira dourada que eu ainda usava como se minha vida dependesse disso. Fechei os olhos, enquanto a leve brisa mexia com meus cabelos, e uma lágrima rolou por meu rosto e caiu na mão que eu segurava. Em minha mente, dois rostos me assombravam, um mais que o outro.
Dumbledore se fora para sempre.
Draco me deixou.
Abracei-me, como se isso pudesse juntar meus pedaços, mas não podia.
A vida seria incerta. Meu conto de fadas acabara.
E o pesadelo ainda estava por começar.
Capítulo Único
Não consegui dormir naquela noite e não fui a única. Não sei quanto a Rony e Hermione, mas Harry e eu não pregamos o olho. Por coincidência, ambos escolhemos o alto da torre de astronomia como refúgio. Ele já estava lá quando cheguei, mas não pareceu incomodado com minha presença, por isso fiquei.
— Não faz bem para você ficar aqui depois de tudo o que viu, Harry – eu disse.
— Acredite – disse ele, sem me olhar. – Não fará a menor diferença.
Pensei um tempo a respeito. Imaginei que não visitar o lugar não evitaria que os fantasmas dos terríveis acontecimentos o seguissem onde quer que fosse.
— É – concordei. – Suponho que você está certo.
O silêncio prevaleceu durante um bom tempo. Estávamos sentados no chão, olhando o céu, sem falar nada.
— Alguma vez você pensou em como as coisas seriam se você não tivesse se apaixonado pelo Draco? – Harry não olhava para mim. Continuava de costas, encarando o céu. Eu acabei me sobressaltando um pouco, em parte por vê-lo quebrar o silêncio, em parte pelo rumo que ele deu à conversa, mas logo recuperei-me.
— Todos os dias – confessei. Saí do chão e sentei-me na barra de proteção, que era a única coisa me impedindo de cair do alto da torre de astronomia. – Sabe, sempre pensei em Draco como uma boa pessoa, que fazia besteira por influência das pessoas. Do pai, para ser mais exata. Ele não é mau, só covarde. Sempre pensei isso dele, mesmo quando vocês eram só ficção para mim, sabe? Quando eram só personagens do meu livro favorito? Sempre procurei uma justificativa para o comportamento dele, sempre vi um lado bom nele.
— Isso é porque você gosta dele – comentou Harry.
— Sim, sem sombra de dúvidas. – Eu ri, sem humor, e depois suspirei. – Mas não me faz bem amá-lo. É como... como se fosse tóxico. Entende? Como se ficar perto dele pudesse me matar. – Algo no que disse despertou o interesse de Harry, pois ele olhou para mim pela primeira vez desde que invadi seu espaço. – E mesmo assim não consigo me afastar dele.
Harry me deu um pequeno sorriso, saiu do chão também e veio ficar ao meu lado, com os braços apoiados na barra de proteção. Continuava a observar o céu, enquanto eu estava de costas para lua e estrelas.
— Acho que você deveria aprender a amar o que é bom para você – disse ele, surpreendendo-me com suas palavras.
— Então preciso me apaixonar perdidamente por você, Potter – brinquei, dando um soco de leve em seu ombro.
Harry disse alguma coisa, mas eu não consegui entender o que foi. Pedi que repetisse. Notei que ele estava nervoso e gaguejava, de modo que eu não conseguia entender. Sorri ao perceber que eu já o “vi” fazendo isso. Foi quando ele foi convidar Cho para o baile de inverno – no filme, claro. Bom, não era ele no filme, mas, ainda assim...
— O que foi, Potter?
— Talvez você devesse – disse, bem baixinho.
Sorri. Era impressão minha ou a conversa havia tomado um rumo completamente novo?
— Acha que eu deveria gostar de você, Harry?
— A-acho... Acho que... Bem, talvez fosse... – Ele não quis continuar. Fechou os olhos, constrangido e voltou a encarar o nada.
— Mas você gosta da Gina – lembrei a ele. – Eu acabaria sofrendo por alguém que não posso ter.
Ele levou um tempo para formular o que dizer, – quase era possível ver o esforço que ele fazia – mas quando conseguiu, seu olhar demonstrava determinação.
— Você sabe tudo sobre nós, especialmente sobre mim, devido ao que leu nos livros – disse ele. Eu acenei positivamente com a cabeça em resposta. – Mas, aqui está você, modificando a história que você já leu. Ou por acaso neste livro existe essa conversa que estamos tendo agora?
— Não, ela não existe – respondi.
— Exatamente. Então, leve em consideração a ideia de que você estar aqui pode ter mudado algumas coisas. – Franzi o cenho, tentando entender exatamente onde ele queria chegar. – Como meus sentimentos por Gina, por exemplo. – Meus olhos se arregalaram. Como isso era possível?
— Não entendo... – comecei, mas Harry não me deixou prosseguir.
— Não é Gina que passa o tempo todo invadindo meus pensamentos. Não é Gina que aparece com frequência em meus sonhos. Não é nela que eu penso antes de dormir. – Harry segurou-me pela cintura e me fez descer. O movimento foi inesperado e eu me surpreendi. Quando desci, fiquei realmente muito próxima a ele. Harry não era muito alto, e eu era só um pouco mais baixa. Nossos olhos ficavam quase no mesmo nível, tanto que eu só precisava inclinar a cabeça um pouquinho. A proximidade de nossos corpos fez meu coração acelerar em resposta. – É você, . É você quem não sai de minha cabeça. Eu penso em você o tempo todo... Em como seria te beijar... – Eu não conseguia acreditar no que estava ouvindo. Jamais poderia imaginar algo assim. Quero dizer, Harry não faz esse tipo. Ele é sempre tímido e desajeitado... Eu realmente jamais poderia pensar em algo assim acontecendo. – Então, sim, acho que você deveria gostar de mim. Realmente acho que você deveria esquecer Draco de uma vez por todas e... ficar comigo. – Ele fez uma careta. – Quando estiver pronta – acrescentou rapidamente. – E me desculpe por revelar isso num momento tão tumultuado com o este, mas... Nunca aparecia a oportunidade. Só quero ter certeza de que não estou deixando de fazer algo de que eu provavelmente vou me arrepender de não ter feito.
Parecia surreal que Harry tivesse interessado por mim. Quero dizer, eu sei com quem o cara vai casar, quantos filhos terá com ela e quais serão seus nomes. Pensar que isso não estaria mais no futuro dele (não neste momento, pelo menos) parecia algo errado. Eu sentia culpa, sentia como se tivesse roubado o namorado de uma amiga. E não deixava de ser isso, convenhamos!
— Eu não sei o que dizer, Harry – respondi. Eu não enganaria Harry de maneira nenhuma. Ele melhor que ninguém seria capaz de aceitar e compreender minha sinceridade.
— Desde que não me diga não, está tudo bem – disse ele. Eu o encarei, mas ele continuava a evitar meu olhar. – Sei muito bem o quanto gosta de Draco. Eu vi o estrago que ele fez em seu coração quando virou as costas e te deixou para trás. – Fechei os olhos, tentando não pensar a respeito. Era doloroso até pensar. – Mas eu não ligo, . E já que vocês não deram certo, não sei, talvez comigo dê; quem sabe? Mas jamais use meu futuro que você leu num livro como desculpa.
— Não vou te dar nenhuma desculpa. Serei honesta contigo – eu lhe disse, mantendo uma expressão séria. – Eu quero deixar Draco para trás e você é... Bem, você é meu melhor amigo, Harry. – Eu sorri e corei. – Você me entende, você é bom, gentil, adorável e se preocupa comigo... O que mais poderia pedir? – Ele sorriu. – Preciso de um tempo para pensar no assunto, mas um sim é bem possível. Acho que mereço ser feliz... e com você, talvez eu consiga ser.
Harry arrumou a postura e se aproximou de mim. Olhava-me nos olhos com intensidade. Eu parei de pensar; só me perdi naquele verde profundo dos olhos dele, que não parecia ter fim. Ele ficou entre minhas pernas e me abraçou com muito carinho e eu retribuí. Não havia nada mais belo, mais genuíno que o afeto que ele demonstrava por mim. Aquele momento foi tão bonito que até cheguei a sentir as borboletas ficarem inquietas no estômago. Depois de me soltar, ele enroscou seus dedos em meus cabelos, segurando-me enquanto me dava um beijo. Foi só um selinho demorado, nada demais. Ele queria ir devagar e provavelmente estava certíssimo. Apressar as coisas só tornaria tudo ainda mais complicado.
Depois disso, não conversamos mais.
Quando estava bem perto de amanhecer, imaginei que era bom ir tomar um banho e trocar de roupas; foi o que sugeri e Harry concordou. Seguimos abraçados até a torre da Grifinória. Ele só me soltou quando chegamos a divisão dos dormitórios entre femininos e masculinos. Ali, ele me deu outro selinho, e só. Murmurou uma despedida e se foi.
Depois de tudo o que ouvi nesta madrugada não consegui parar de pensar em Harry Potter num só minuto.
***
Harry e eu não voltamos a ter outra chance de ficarmos sozinhos como acontecera na torre de astronomia. Em nome de nossa segurança, fomos todos separados. Eu retornei ao Brasil e Harry a Little Whinging. Antes disso acontecer, só conseguimos trocar algumas palavras em público. Despedimo-nos normalmente, mas quando ele me abraçou, pediu baixinho que eu pensasse sobre o que conversamos. Prometi que pensaria – e ia mesmo, querendo ou não, uma vez que eu não o tirava da cabeça.
Um ano afastada de casa me transformou. Eu já não era mais a mesma . Mudara tanto, amadurecera tanto... Ficar em casa já não era mais a mesma coisa. Só o que me impedia de me sentir uma estranha naquele mundo no qual durante vivi integralmente durante toda a minha vida eram meus pais. Eu senti tanta falta deles... Era ruim ficar longe do mundo bruxo, mas por eles valia mais que a pena. Claro que, depois de um ano, sentia falta de meus amigos também, mas decidi não fazer contato. Isso deixou minha mãe particularmente aborrecida. Ela achava que eu estava menosprezando-os por serem trouxas e que isso era muito ridículo de minha parte. O que mamãe não sabia era que este ano no mundo bruxo haveria caos, destruição, mortes e uma grande guerra entre o bem e o mal. Ela também não sabia que eu não queria falar com meus velhos amigos porque não sabia o que seria de mim e não conseguiria vê-los sem chorar até não poder mais. Sem falar que como eu poderia olhar nos olhos dos meus amigos e não dizer onde passei o último ano, ou porque sumi sem me despedir ou qualquer outra coisa? Era um segredo muito grande para se guardar e eu não sabia se conseguiria. Com tudo isso acontecendo, minhas férias foram muito solitárias. Só não se tornaram amargas porque eu estava muito feliz em ver meus pais.
Mas essa felicidade não durou muito.
Draco me traiu. Ele trouxe Bellatrix Lestrange e vários Comensais da Morte até minha casa. Foi uma luta feia... e no fim minha família foi assassinada pela tia de meu primeiro amor, e eu não pude fazer nada. Vi minha casa queimar com meu pai lá dentro, incapaz de ultrapassar o fogo mágico. Enquanto isso, o corpo de minha mãe jazia lívido no chão. Bellatrix acertou-a com a Maldição da Morte. Num dado momento, notei que se eu ficasse ali seria morta também, e tive que fugir para me salvar.
Quando desaparatei, caí de costas numa superfície plana (o chão, provavelmente), tonta e sem forças. Todo o meu corpo doía demais.
— ? – Quem me chamou foi Harry, mas várias vozes lhe fizeram coro.
Abri meus olhos, mas a visão era turva. Pela quantidade de pessoas que vi e a claridade do céu, deduzi que eu tinha "invadido" a festa de Harry. A festa a qual me esqueci de ir. Antes tivesse ido; minha família estaria viva.
— Harry...
— Ela se estrunchou – ouvi Hermione dizer.
— Vou cuidar disso. – Essa certamente era a voz da Sra. Weasley.
— O que houve? – perguntou Harry, segurando minhas mãos.
— Comensais... Quinze Comensais... Draco... Bellatrix... – Eu não conseguia falar direito. Caí no choro.
— Ela precisa ir para um quarto – disse Sra. Weasley, num tom urgente.
— Eu levo – disse Fred.
Ele me pegou em seus braços e eu me vi gritando de dor e chorando ao mesmo tempo. Quando minha cabeça tombou no travesseiro, adormeci quase que imediatamente. Tive diversos pesadelos diferentes, mas todos envolviam quem eu perdi e os culpados da perda.
***
Era noite quando despertei. Ainda sentia dores no corpo. Alguém certamente me limpara, pois lembrava-me de estar muito suja graças aos destroços de minha casa. Meus machucados eram horríveis.
Minha casa, minha família. Destruídas.
Levantei e me olhei no espelho que ali havia, pendendo na parede. Eu estava num vestido que ia até pouco acima dos joelhos, e que era lilás. Não era meu. A maior parte de meu cabelo era um caso perdido; destroçado e chamuscado. Usando a varinha, cortei-o até estar bem curto. Ficou um Chanel, mas deixei duas mechas na frente um pouco maiores. Era como um corte em V invertido, por assim dizer.
Eu odiava cabelos curtos.
Desci as escadas e me deparei com uma sala cheia. Era hora de responder perguntas.
— ! – Hermione veio para meu lado.
— Mione – murmurei, abraçando-a. Logo Harry, Rony e Fred vieram me abraçar também.
— Agora pode nos contar o que houve? – perguntou Gina, abraçando-me.
— Aham – murmurei.
Eles se sentaram e eu fiz o mesmo, sentando numa cadeira disponível. Encarei os Weasley e meus amigos.
— Draco Malfoy foi me procurar – comecei. – Eu não estava em casa. Ele levou Bellatrix Lestrange e mais quinze Comensais.
Todos arfaram.
— Quando eu o encontrar... Ele vai se arrepender de ter nascido. Vou torturá-lo até a morte.
Eu tremia de ódio e uma lágrima me escapou, seguida de outras. Fred parecia deprimido.
— ... acredito que isso não irá resolver nada – disse Hermione. – Entendemos que foi um risco enorme, mas você está bem. Já passou.
— Você não entende! – Eu estava gritando. – Lestrange matou minha mãe com a Maldição da Morte na minha frente. Eu pude VER o pânico nos olhos dela enquanto aquela filha da puta lhe tirava a vida! E, como se não bastasse, ateou Fogo Maldito à minha casa e meu pai estava lá! Tudo por culpa dele!
Ninguém disse nada.
— Ele fez com você o mesmo que Pettigrew fez com meus pais – disse Harry, com a voz rouca.
— Ele disse que precisava de ajuda, e depois ficou olhando enquanto a tia destruía minha família. Ele ficou parado quando ela ia me matar.
— O que aconteceu foi horrível, mas você não deve querer vingança – disse o Sr. Weasley.
— E agora? Como serão as coisas? – perguntou Rony.
— Vou voltar para Hogwarts, como eu disse no ano passado – eu disse. – Desculpe mais uma vez, Harry... Dumbledore deixou bem claras as consequências de eu ir com vocês.
— Nós entendemos, – disse Harry. – Lamento pelo que houve.
Harry me puxou para um abraço reconfortante. Eu escondi meu rosto, chorando silenciosamente enquanto o apertava.
— Sei bem como se sente – disse Harry, ao meu ouvido.
— Ele... eu confiava nele, Harry. Eu o amava.
— Isso deve tronar tudo muito pior.
— Aham.
Seria difícil eu conseguir superar aquilo. Eu precisava de uma dose de vingança.
***
Eu sofria uma agonia terrível da qual ninguém parecia ser capaz de me tirar, embora tentassem de todas as formas. Me isolava e só sabia chorar. Era compreensível e inquestionável... Não era algo que esperassem que eu superasse facilmente. Todos eles tentavam me ajudar de alguma forma. Eu agradecia e fazia um esforço para ficar melhor, pois uma hora precisaria limpar as lágrimas e fazer algo de minha vida. Só que, naquele momento, além de estar de luto por minha família, sofria por ser impedida até de enterrá-los. Só conseguia chorar e chorar.
Harry era o mais persistente de todos. Fred ainda tentava ficar o tempo todo, mas não conseguia. Seu irmão gêmeo sempre procurava por ele. Harry, por outro lado, se recusava a sair do meu lado. Sozinha ou não, meu comportamento era o mesmo. Falava o mínimo possível e acredito que depois de um certo tempo tanto silêncio foi torturante para Harry, já que perdeu a paciência numa noite, quando todos estavam conversando lá dentro e eu continuava sentada do lado de fora:
— , você tem que parar de me afastar! – protestou Harry, já nervoso.
— Afastar? – repeti. A voz estava muito rouca devido ao desuso.
— É, ! – disse, exasperado. – Eu sei o que você está sentindo. Acredite, eu sei. E dói demais. Por isso, não sofra sozinha. É para isto que estou aqui!
— Não... não mesmo! – eu disse, balançando a cabeça negativamente. – Você está entendendo tudo errado. A tragédia que aconteceu só me fez ver o que você já vê, Harry. E acredito que isso nos conectou, pois o que eu sinto é parecido com o que você sente, como você mesmo disse. Agora sei exatamente o que você veio suportando durante anos. Não pense nem por um minuto que o que aconteceu me afastou de você. Pelo contrário. E perdoe-me por não facilitar... não é por mal. – As lágrimas rolaram com mais frequência. – Eu sinto tanta... tanta culpa! – Suspirei.
— Shh. – Harry, que estivera sentado ao meu lado nos degraus da varanda, levantou-se e me puxou num abraço apertado. – Não fale nada. Me desculpe. É que eu logo precisarei ir e dói demais deixar você para trás... Fico louco só de pensar em te deixar quando você mais precisa de mim.
— Pare com isso – eu disse. – Sério. Eu vou ficar bem. E não é como se você tivesse uma escolha. Nem eu tenho. Não se preocupe... não por isso.
Afastamo-nos só o suficiente para que pudéssemos olhar nos olhos um do outro. Harry transbordava intensidade e isso fez meu coração dar saltos em meu peito. Eu não conseguia pensar no que acontecia entre nós. Não sabia se era certo ou errado, se eu queria ou não... agora não era mais só pensar na dor de ser deixada para trás, mas também na traição, que me trouxe ao fundo do poço. Harry me queria e eu não demonstrava objeção.
— Eu sei que você disse que ia pensar – começou Harry, agora sentando nos degraus novamente, evitando meu olhar. – Também sei que não é a hora mais apropriada para isto, pois você ainda não... – Ele ia falar de Draco, tive certeza. Mas, pelo modo como parou, achou melhor não tocar no assunto. – Não decidiu e também nem tem como, pois é muito cedo... – Ele ficava cada vez mais nervoso, tentando expressar o que sentia, porém sem saber como. – Mas logo eu já não estarei mais aqui e não sei quando voltarei a ver você, ou sequer se voltarei a te ver. – Ele fez uma nova pausa. Estremeci. Surpreendendo-me por completo, ele virou para me olhar. Encarei-o de volta.
— Verdade – eu disse. – O momento em que você vai partir está muito próximo. – Ele assentiu. Claramente queria algo de mim e travava batalhas internas, imaginando se devia ou não falar. Aquilo mexeu comigo. Ele era meu amigo, gostava de mim e me respeitava. Eu não podia negar nada a ele. Muito menos quando sei perfeitamente que no dia seguinte ele vai partir e não terá nem chance de se despedir. – Harry, seja o que for, pode dizer.
— Não tenho direito de te pedir nada num momento como esse – disse ele, desviando o olhar. – Desculpe. Foi muito indelicado de minha parte.
— O que você quiser, Harry – eu disse, ignorando-o. – Você só precisa dizer.
Quando ele voltou a me olhar, eu soube instantaneamente o que ele queria. E eu tinha dado o sinal verde para ele, mas não me arrependi disso. Percebi que parte de mim queria aquilo. Eu não estava em condições de entender ou de explicar o que senti, mas não achei que fosse necessário, de qualquer forma. Todavia, Harry era gentil demais para se aproveitar de mim, mesmo quando claramente deixei. Ele suspirou e baixou o olhar. Fiquei comovida pela ternura que sentia emanar dele, que mesmo claramente querendo muito, deixava seu desejo de lado só para me ver bem. Então, fiz o que meu coração mandou e dei o que ele queria – e merecia. Encostei em seu ombro para que ele me olhasse nos olhos e foi exatamente o que ele fez. E eu, sem hesitar ou dizer qualquer coisa, beijei-o intensamente. Não foi como da última vez, em Hogwarts. Desta vez, foi um beijo demorado, muito intenso e surpreendentemente bom. Tínhamos a mesma sintonia, a mesma química. O encaixe era perfeito, como duas partes que se completam. Nosso beijo despertou algo em mim. Em algum momento, meu pensamento foi além da sensação boa de suas mãos em meu corpo, de sua boca acariciando a minha, de seu gosto e de como as borboletas voltaram a ficar inquietas no meu estômago. Meu pensamento foi parar na conversa que tivemos, quando ele me contou que gostava de mim. Eu me sentia cada vez melhor, como se meu coração despedaçado, de alguma forma, estivesse bem e cheio de vida. Como se eu não tivesse destruída por dentro. E então lembrei do que Harry me perguntou: “Alguma vez você pensou em como as coisas seriam se você não tivesse se apaixonado pelo Draco?” E mesmo sem querer, pensei nisso. Imaginei que, obviamente, Harry seria o primeiro a tomar a minha atenção, devido a tudo que sei dele. Nós já somos próximos... Teria me aproximado cada vez mais e um envolvimento seria mera consequência. Eu não teria sofrido a metade do que sofri. Talvez Lestrange nunca tivesse como chegar até mim. Talvez meus pais não tivessem morrido. Quando cheguei a essa conclusão, o beijo já havia acabado e agora eu só estava abraçada a Harry. Sem aviso, comecei a chorar. Isso o deixou aflito.
— ?
— Está tudo bem – garanti a ele enquanto encharcava seu ombro com minhas lágrimas. – Eu só estava pensando no que você me perguntou... se pensei em como seria se não tivesse me apaixonado por Draco. – Harry afagava meu cabelo, tentando me consolar. – Harry, queria tanto que eu tivesse me apaixonado por você desde o primeiro momento. Eu queria tanto ter o poder de escolher por quem sentir o que senti... Eu teria sido bem mais feliz e talvez hoje... tudo estivesse... bem... – Não consegui mais falar durante um instante. Harry esperou pacientemente. – Perdão. Não queria chorar desse jeito depois de um beijo tão bom, Harry. É injusto. Mas, entenda... – Levantei a cabeça e o olhei nos olhos. – Pensar em como seria se tivesse me apaixonado por você me deixou triste por não ter de fato me apaixonado.
Harry sorriu e secou minhas lágrimas.
— Você não precisa se desculpar, – disse ele. – Temos todo o futuro pela frente. E quem sabe? Talvez você se apaixone por mim. – Eu sorri e o beijei mais uma vez. – O que sei é que cada dia gosto mais de você. Estou feliz por ter tido coragem de te contar.
— Também estou feliz por ter me contato, Harry. – Eu afaguei a bochecha dele. – E o que eu sei é que estou muito feliz por ter você em minha vida e por poder chamar você de amigo. Não é uma decisão que eu possa tomar agora, mas espero no futuro dizer que meu melhor amigo é também meu namorado.
— Sou seu – disse ele, com um meio sorriso. Dei um tapinha de leve em seu braço e ri.
— Você é maravilhoso, Harry.
— Eu fiz você rir – disse, parecendo satisfeito consigo mesmo. – Uma vez Dumbledore disse uma coisa que nunca mais esqueci, e tenho certeza de que você vai se lembrar... “A felicidade pode ser encontrada mesmo nas horas mais difíceis, se você lembrar de acender a luz.” Isto, ... Eu e você... essa é a nossa luz. Não importa se é amizade ou se é algo mais. Enquanto tivermos um ao outro, nenhum momento será difícil demais. Nós somos fortes. E quando um de nós não for, o outro segura a barra pelos dois. Sempre.
— Viu só? Eu disse que você é maravilhoso – eu sorri para ele. – O que você disse é lindo, Harry. E você está certo.
— Mesmo que não queira ficar comigo no futuro, estarei ao seu lado – disse ele. – Ouviu? Nada muda. Você pode continuar contando comigo.
— Você não existe – eu disse, abraçando-o com muita força. – E só sendo muito burra ou muito louca eu não vou querer você. Mas isso não importa. Afinal, como você mesmo disse, você é meu.
Ainda sorrindo, beijei Harry novamente. Dessa vez, a tristeza não conseguiu me alcançar. Com ele, consegui afastar a tristeza do momento mais sombrio de toda a minha vida. Afinal, ele era minha luz.
Nota da Autora: Olá! Quem é leitora de Bleeding Love Life Lies COM CERTEZA notou que eu descaradamente escrevi uma fic da minha própria fic. HUEHUEHUE! Fiz isso PRIMEIRO pensando. Poxa, hoje é dia 31 de julho, aniversário da minha autora favorita e do personagem protagonista da minha história favorita. SEGUNDO, pensando nas meninas que me pediam por favooooooooooor, faz a PP ficar com o Harry! Bom, de certa forma, eu fiz! Não ficou como eu imaginei, mas... Tentei! É que com o Harry eu simplesmente não consigo imaginar muita coisa. O que eu quero dizer é que eu vejo Harry como meu irmãozinho e vejo o Draco como o dlç que domina meus sonhos (ui!). MAS, enfim, surgiu um especial interno livre e eu pensei: por que não fazer pelas minhas leitoras o que elas tanto me pedem? E aí está! Ficou bem pequeno, mas a culpa é minha, que fui ter ideia muito em cima do prazo. Anyway, espero que tenham gostado e, por favor, digam-me o que acharam!
Obrigada por ler minha short. Beijinhos!
xx, Amy. 31 de julho de 2014.
Nota da Beta: Erros? Avise por email ou Facebook. Obrigada. Xx, Moore.