Ever


Escrita por: Maria Camargo
Betada por: Laura Malik




CAPÍTULOS: [1] [2] [3] [4] [5] [6] [7] [8] [9] [10] [Epílogo]



Capítulo 1


"Atenção senhores passageiros, queiram por gentileza se acomodar em seus assentos. Dentro de dois minutos pousaremos."
Assim que ouvi a voz de Samie ecoar pelo alto falante do avião me agilizei com o drink que senhor Colins, sentado na poltrona de número cinco ao lado de sua esposa na primeira classe, havia solicitado a mim. Levei a ele o pequeno copo em cima da brilhante bandeja cromada que usávamos para servir drinks leves. Assim que o entreguei o whisky duplo pedido, voltei para minha pequena cabine e sentei-me em meu banco colocando em seguida o cinto de segurança.
Já contava os segundos restantes para o avião pousar e eu correr para os braços do meu comandante, com certeza já me esperava na sala de espera do aeroporto JFK. Seria, este, o meu ultimo vôo antes de nosso casamento. Assim como eu meu noivo também trabalhava nos ares, em um avião, e fora em um vôo executivo de um empresário importantíssimo que conheci , a dois anos atrás. Ele era o comandante solteirão e eu a aeromoça solitária. Nossa relação foi meio difícil no começo porque depois que nossos chefes descobriram que nos relacionávamos além do profissional, passaram a colocar em vôo distinto dos meus. Então nosso romance passou a ser difícil, ver ele virou um tipo de luxo do qual eu não tinha o poder. E mesmo com todas as brigas e os desentendimentos corriqueiros eu não tinha intenção de me separar dele porque eu o amava, e, mesmo com todos os vacilos dele, eu sabia que a recíproca da parte dele existia.
Assim que o avião pousou, eu levantei para ajudar os passageiros da primeira classe saírem, não que eles fossem burros ou algo do tipo, mas sempre um ou outro precisava de auxilio por ser seu primeiro vôo. Eu era responsável pela primeira classe do avião, às vezes ficava sozinha e não reclamava. A primeira classe não era tão cheia, no máximo dez poltronas e dificilmente eu tinha alguma dificuldade em lidar com os passageiros, quando isso acontecia Samie ficava comigo. Ela e eu sempre fomos fixas, em qualquer vôo que eu esteja ela também está. O mesmo acontece com o nosso comandante, Johan, 8 dentro de 10 vôos nós estamos juntos. Depois de ajudar os poucos passageiros a saírem dali eu me concentrei em pegar minha mala de rodinha, estava na hora de desfilar pelo aeroporto na pose de aeromoça e ver no final do corredor meu comandante me esperando, para então correr e pular nos braços dele. Passei por todas as classes rolando as rodinhas de minha mala no chão do avião coberto por um carpete cinza e cheguei à porta de saída avistando Samie ao lado de Anastásia e Felipa esperando, obviamente, Johan e Kennedy, os pilotos de hoje. Sorri animadamente para as duas, hoje também era o ultimo vôo delas, todos nós daquele vôo pegaríamos vinte dias de férias por conta de meu casamento.
- Ansiosa ?- Johan apareceu atrás de Samie, com Kennedy em seu encalço.
- Não preciso nem dizer que sim né.- rimos.
Nos juntamos e saímos do avião, andamos lado a lado pelo extenso corredor branco e logo estávamos dentro do aeroporto, de longe eu podia ver uma movimentação nem tanto normal. Samie que estava ao meu lado apertou o passo para chegar mais perto de seu esposo Gerogie, Kennedy e Johan fizeram o mesmo com suas esposas. Felipa era solteira e irmã de , certamente ela esperava encontrar o irmão ali como eu.
Olhei em volta disfarçadamente e continuei com meu sorriso para minha cunhada, não estava lá e isso era obvio e normal. Um de seus vacilos que mais aconteciam. Sempre quando eu chegava e ele não estava em vôo e podia me esperar no aeroporto ele não ia, mas quando era eu quem podia ir encontrá-lo, adivinhe só: eu estava lá. Felipa se aproximou um pouco de mim e colocou a mão em meu ombro, me esquivei para mostrá-la que não precisava daquilo de novo, eu já me enjoara de ter que ficar recebendo olhares de pena sempre que saia de um avião esperando ver o meu comandante vacilão. Ergui a cabeça e continuei andando, eu só queria chegar em casa e ver que desta vez não estava ocupado dormindo depois de uma bebedeira com os amigos ou que pelo menos não havia me traído novamente, não perto de nosso casamento.
Assim que pisei para fora do táxi com Felipa atrás de mim senti meu estômago vibrar e um pouco de enjôo, desde que saíra do aeroporto eu estava me sentindo assim estranhamente enjoada e perdida. Algo me dizia que eu não deveria subir para meu apartamento girar a chave na porta e entrar. Mas eu ignorei tudo e entrei no saguão do prédio, Hélio, o porteiro, me deu boas vindas como de costume e me ajudou com o elevador. Subimos eu e Felipa em um silencio esmagador; sim eu queria um abraço dela e seu ombro para chorar e xingar seu irmão como sempre. O elevador abriu suas portas e eu obriguei meus pés a se moverem contra sua vontade, tropeçando entre eles eu sai para o hall do quinto andar e parei em frente ao meu apartamento, abri a porta tremendo e quando entrei meu estômago vibrou novamente. Tudo estava da maneira que eu havia deixado, exceto por um pequeno bilhete em cima de uma caixa preta com um laço vermelho sobre a mesinha de chaves ao lado da porta. Peguei o bilhete e o li em voz alta, Felipa me olhava com expectativa.
- Me desculpe , mas eu tive um vôo executivo imediato. Não sei quando volto, mas pode acreditar que estarei naquele altar. Beijo, .- ri secamente e abri a caixa.
sempre me dava algum presente quando fazia esse tipo de coisa, dessa vez não foi diferente. Dentro da caixa tinha duas entradas para uma peça de teatro na Broadway.
- Fique a vontade Felipa, a casa é sua, já sabe. Eu vou descansar ok. - me despedi dela e fui para meu quarto.
A caixa ficou lá. A entrada do espetáculo da Broadway seria um dia antes do casamento, se eu fosse seria com ele e não com sua irmã. Entrei em meu quarto e fechei a porta, precisava ficar sozinha com minhas decepções e também dormir, na manhã seguinte teria a última prova do meu vestido de noiva.
Eu esperava e rezei para, quando coloquei minha cabeça no travesseiro e abracei o de , que ele estivesse lá quando eu entrasse pela porta da igreja.

Capítulo 2



Acordei indisposta na manhã seguinte e liguei para a loja onde alugaria meu vestido, pedi para que remarcassem a ultima prova do mesmo para o outro dia, minha costureira ficou louca com isso porque o casamento seria no próximo sábado e ela temia que não desse tempo para tudo. Afirmei a ela que sim e ainda brinquei sobre não ter mais certeza se seria mesmo no sábado comentando a decepção que tive com . Quando desliguei o telefone pensei em ligar para o dito cujo do meu noivo e imediatamente peguei o celular novamente. Disquei os números já memorizados por mim e esperei a chamada ser completada. Antes de embarcar para Inglaterra no meu ultimo vôo, eu e ele havíamos brigado. Eu queria abraçá-lo e dizer que o perdoava a por tudo porque eu era uma burra apaixonada e que acreditava que ele poderia mudar alguns pontos. sempre deixou claro que me amava e eu acredito nisso sim, mesmo com todos os seus vacilos. Na briga ele me disse coisas terríveis e saiu pela porta beber com algum amigo ou sei lá.
Embarquei no outro dia e então não nos falamos mais. Quando ele tentava contato eu desligava o telefone, fiquei uma semana fora, estava morrendo de vontade de ver ele então quando sua voz rouca ecoou do outro lado da linha meu coração parou na garganta.
- É tarde demais para pedir pra você não ir?- disse manhosa.
- Eu não vou demorar, tenho um compromisso no sábado, por mais que não me lembre qual seja. Preciso chegar minha agenda com minha noiva. - ele brincou. Sorri involuntariamente.
Era esse poder que ele tinha sobre mim, o amor. Porque o amor é isso, ou isso faz parte do amor, ser uma boba apaixonada que perdoa, que aceita e acredita em mudanças.
- , - o chamei. - você vai estar aqui não vai?- pedi.
Ouvi sua respiração pesada do outro lado, ele deveria estar levantando e passando a mão no rosto e depois no cabelo, o bagunçando como sempre fazia quando acabava de acordar.
- Eu vou. Você sabe que sim. - ele resmungou, o tom de voz já não era brincalhão como no inicio.
- Esse é o problema, eu não sei.- sussurrei mais para mim mesma.
- Claro que sabe.- ele respondeu ao meu sussurro.
- Sim, sei. Mas o que eu sei prefiro que seja mentira. - alterei minha voz, já se embargando pelo choro.
- O que você sabe ?- ele perguntou.
- Que você vai me ligar de ultima hora e me implorar perdão, eu vou estar arrumada, de branco e pronta para entrar na maldita igreja, mas você não vai estar lá no nosso maldito casamento. - desesperei-me.- Porque você só preocupa com trabalho e seu hobbie favorito é me decepcionar.- completei.
- Se meu hobbie é te decepcionar e nosso casamento é maldito, por que você aceitou?- ele se descontrolou também.
- Porque eu te amo. Só por isso, . - gritei. Aquilo doía sentimentalmente e fazia minha ânsia aumentar.
Ele respirou fundo e ficou quieto ouvindo-me chorar baixinho.
- Quando você volta?- perguntei.
- Quinta de manhã. - disse simples, fiquei quieta esperando ele completar com mais alguma coisa, e ele o fez.- Você sabe que pilotar é minha maior paixão, eu não poderia perder esse vôo importante. Tenta me entender... - pediu mais calmo.
- Ta bom, vou desligar. Sua irmã deve estar querendo comer alguma coisa, vou sair com ela. - menti, Felipa me avisara que sairia cedo para encontrar algumas amigas e que não era para me preocupar com ela. Queria desligar aquele telefone logo e dormir. - Tchau, se cuida.
- Tchau , eu te amo.- ouvi ele dizer e meu estômago recebeu visita das famosas borboletas abençoadas.
Desliguei antes que parecesse a ele que dizer aquilo mudaria algo em minha decepção, eu era durona, quando preciso. Virei pro lado e voltei a dormir.
Mais tarde naquele mesmo dia eu levantei vomitando e com uma tontura inigualável a qualquer coisa, tomei um banho relaxante e depois, por pensar que meu mal estar era falta de comer, fui para cozinha onde fiz um sanduíche de peito de peru para mim. Em cima do balcão da pia tinha um bilhete de Felipa dizendo que ela jantaria fora com algumas amigas, que não precisava esperar por ela; engraçado como ela e o irmão tem a mesma mania de bilhetinhos, e isso me deixava completamente irritada. Eu e sempre brigamos por conta desse maldito costume dele, e em todas às vezes ele alegava o mesmo: "Eu e minha irmã perdemos o meu pai muito cedo, minha mãe teve que batalhar para nos criar e então trabalhava feito uma condenada como enfermeira num hospital, dia e noite, noite e dia. Foi assim que cresci com minha irmã, dessa maneira, por meio de bilhetinhos." e blá blá blá... Era sempre a mesma rotina, depois tudo acabava em pizza e sexo, algo que por um lado, eu não podia reclamar de , ele era um de
us do sexo e ás vezes eu me pego pensando que posso ter ganhado na loteria por tê-lo.
Depois de comer eu pensei que melhoraria meu mal estar, mas me enganei. Assim que engoli o ultimo pedaço do sanduíche e tomei o copo de suco, tudo pareceu voltar e eu tive que correr para o banheiro social da sala. Depois de soltar tudo o que eu tinha pra soltar, lavei meu rosto na pia e olhei-me no espelho, eu estava tão pálida que podia me camuflar no azulejo do banheiro. Resolvi que deveria ir à farmácia comprar algum analgésico, me arrumei e fui. Depois de dizer ao farmacêutico tudo o que sentia ele me olhou cético, pensou por um tempo e eu quase voei em seu pescoço por alguma resposta, quando ele finalmente abriu a boca para falar eu senti meu coração parar na boca. Segundo ele o remédio que eu precisava era de um teste de gravidez e por muito insistir eu acabei pegando vários, fui ao banheiro da própria farmácia e tentei, mas não consegui. Só para dizer que havia feito eu molhei na água pelo menos três e mostrei para o louco do lado de fora que eu não estava grávida, o resto que sobrou eu paguei e levei para casa; os faria quando a coragem batesse.

Capítulo 3



Assim que passei pelas portas do shopping vi Samie e Antony, seu marido. Era de se dar inveja como ele a tratava, sempre com carinho, sempre com flores. Já nunca me deu esse tipo de tratamento, ás vezes me pergunto por que o escolhi e não encontro respostas. Mas quando estou com ele me torno outra pessoa, mudo de humor rapidamente e me torno mais vulnerável e sensível, coisa que de costume eu não sou; sempre fui do tipo pé no chão, que vive o momento, mas não se ilude. Porém, com era diferente, tinha que ser. Nunca encontrei uma pessoa que mexesse tanto comigo quanto ele e sou realmente apaixonada por tudo nele, inclusive seus defeitos, os quais eu lido rotineiramente. Mas como toda mulher apaixonada só queria que fosse mais romântico comigo, que me trouxesse flores e me desse presentes sem motivo ou ocasião, queria que ele estivesse para mim boa parte do seu tempo assim como sempre estou para ele em boa parte do meu. Era pedir demais mudar uma pessoa que por toda uma vida agiu de
uma maneira, eu sei, mas a questão não era mudar; poxa, ele tem trinta e dois anos, poderia melhorar em questão.
Depois de um bom papo com o casal e uma cerimônia de apologias de Antony contra - vale-se ressaltar que o esposo de minha melhor amiga, o qual é meu melhor amigo, não gosta do meu noivo e prefere me ver cuidando de milhares de gatos do que casada com um cara que, segundo ele, não está nem aí para mim - fui até a loja Mila's Dress, onde aluguei meu vestido. Antony iria a uma loja qualquer comprar umas roupas para ele, nem dei bola ao meu amigo chato, segui em frente com Samie. Faria a ultima prova do meu vestido, chamei uma atendente e avisei que estava ali para provar meu vestido pela última vez, naquele mesmo dia eu já poderia levá-lo embora se tudo estivesse certo. Esperei um pouco e então minha costureira apareceu com meu vestido branco, fui em direção ao provador e o vesti com uma certa dificuldade, ele estava um pouco apertado em minha cintura. Senti-me tão bem nele tirando a cintura apertada, não estava assim da ultima vez que havia provado há algumas semanas, e os ajustes que estavam sendo feitos era na saia e nas mangas, pois quando o experimentei pela primeira vez a cintura ficou certinha, nem apertada e nem larga demais. Saí do provador e as mulheres da loja me olhavam com olhar de inveja, realmente deveria estar impecável. Chamei a costureira para analisar os últimos detalhes do vestido e ela me mandou subir em um pequeno degrau redondo, um daqueles negócios onde as noivas ficam em cima para as costureiras poderem mexer no vestido com mais flexibilidade. Reparei que ela me olhava com a sobrancelha meio erguida.
- Está tudo em ordem, moça?- Mercedez perguntou.
- Sim perfeitamente.- respondi sorrindo simples, olhei-me no espelho contemplando minha visão.
- Vou só conferir as suas medidas novamente. Se os ajustes que fiz estiverem certos acabamos hoje.- ela disse olhando para mim. Confirmei com a cabeça e fiquei quieta para não ser cutucada com os alfinetes de dona Mercedez.
Ela começou a me medir, chegou à parte da minha cintura e fez umas caras e bocas estranhas, franzindo o cenho o tempo todo.
- Você está usando o corpete?- perguntou com as mãos na cintura, parecia um bule de chá.
- Não estou usando corpete...- dei de ombros.- Por quê? Aconteceu algo de errado?- coloquei a mão em minha barriga, instantaneamente.
- Não muito, mas suas medidas mudaram bastante na região da cintura. Pra sua sorte o vestido é do tamanho exato de seu corpo, e ele se moldou em seu corpo perfeitamente. Então isso não afeta tanto na estética dele.- ela me explicou cruzando os braços.- Porém, não significa que a senhorita pode abusar nos doces até o casamento, é fácil de ganhar uns quilinhos a mais em apenas três dias, difícil é perdê-los.- Fiquei quieta me observando no espelho, eu estava mesmo um pouco mais larga, fecharia a boca a partir dali até o casamento.- Pode tirar o vestido querida.- Mercedez disse tirando-me de meus devaneios.
- Você entrega hoje mesmo?- perguntei saindo de cima do degrau redondo, juntei a saia do vestido e parei ouvindo-a falar.
- Sim, vai dar para se hoje, é só esperar mais um pouco.
Fui para o provador novamente, tirei o vestido e entreguei para a costureira ajeitá-lo mais um pouco do que tinha que ajeitar, Samie estava na entrada da loja me esperando, não a deixei entrar em nenhuma das vezes que vim aqui. Meu vestido era segredo universal até a hora em que eu entrasse na igreja. Esperei alguns minutos e o vestido estava pronto, agradeci a costureira e peguei o vestido pendurado num cabide grosso envolto por uma capa preta com o emblema da loja. Fui até o caixa e paguei o aluguel do pano e por todo o trabalho feito, então saí da loja com Samie tagarelando do meu lado. Sinto meu telefone vibrar no bolso de minha calça jeans e para pegá-lo eu dou o cabide com o vestido para Samie segurar, vi o nome de brilhando na tela e levei o celular ao ouvido para atender.
- Oi .- disse sem rodeios.
- Oi, liguei para avisar que pedi transferência de vôo. Chegarei amanha cedo para garantir que não me atrasarei pra aquele compromisso de sábado.- ele respondeu, aposto que estava sorrindo. Meu coração começou a dançar macarena.
- Isso é ótimo .- respondi eufórica.
- Fico feliz que tenha gostado da notícia. Onde você está?- ele estava sorrindo, eu tenho certeza disso.
- Estou no shopping, vim na Mila's pegar meu vestido. Agora eu vou deixá-lo em casa com Samie e Antony e depois vamos para aquele jantar que havíamos reservado no Elmo mês passado.- o respondi ainda eufórica e mais contente.
- Ah que legal, então se divirta. Amanhã nos vemos, eu prometo. Agora tenho que ir, preciso arrumar minhas coisas ainda, tchau.- ele começou a despedir-se.
- Tchau, . Boa viagem.- sorri para Samie ao meu lado que me olhava com expectativa.
- Obrigado... Eu amo você .- ele finalizou.
- Se cuida.- respondi encerrando a chamada.
Assim que tirei o aparelho do ouvido senti os braços de Samie me envolverem, apertei-a bem forte e sussurrei em seu ouvido que ele estaria aqui. E mais uma vez me surpreendera, ele não iria vacilar, eu tenho certeza.
Olhei para o lado, depois de soltar Samie, e avistei Antony nos encarando confuso, o abracei e disse:
- Acabei de falar com , ele chegará amanhã cedo.- sorri no final.
- Que legal.- ele disse sem entusiasmo algum.- Você está feliz?- perguntou.
- Sim, muito.- respondi sorrindo mais ainda.
- Então é isso o que vale.- Antony me abraçou.

Capítulo 4



Depois de ir a casa e deixar minhas coisas, nós três fomos encontrar Felipa no Elmo. Ela iria no lugar de , já que a reserva era para quatro pessoas. Quando chegamos ao Elmo, que era perto do Empire State - o restaurante que eu nunca tinha ido antes -, percebi de longe como o lugar era muito chique. Só via pessoas engomadas, e por ser um dia de semana aposta milhões que eram empresários em jantes de negócios. Eu estava feliz, a cada passo que dava me lembrava de que chegaria cedo e que as chances dele não se atrasar para o casamento eram poucas, querendo ou não tudo estava dando certo até agora para o casamento.
Sentamos em nossa mesa reservada, o restaurante estava lotado mas nenhum som escandaloso de talher batendo em louça ou de conversas altas eram ouvidas, o povo ali sabia se comportar com civilidade. Eram patente alta.
- Vocês sabiam que eu engordei?- comentei.
- Serio? Nem dá para reparar. - Felipa estava surpresa.
- Talvez seja minha menstruação vindo, ela está meio atrasada. Parei com a pílula e ela desregulou.- disse dando de ombros.
O assunto se encerrou ali quando a garçonete chegou e anotou nossos pedidos. Depois de ela saiu Antony pôs-se a falar.
- Você já fez um teste de gravidez?- ele estava sério.
- N-na-na-não!- gaguejei.
- Ah, e vai continuar nessa história pra boi dormir de menstruação desregulada até quando?- travou o maxilar.
Antony era meu amigo de anos, o conheci antes mesmo de Samie. O motivo dos dois estarem juntos hoje em dia era com toda certeza eu. Eu sempre confiei nele em tudo, por mais que ele não aguentasse esconder os meus segredos de meus pais. E doía saber que na maioria das vezes em que fiz algo certo, era sempre por impulso dele. O que quero dizer é que ele sempre tinha razão nas coisas, e eu nunca descobri por que.
Engoli em seco e o respondi:
- Eu já fiz vários testes ontem.- Samie e Felipa me olharam assustadas, olhei rápido para elas.- E todos deram negativo.- sorri para Antony.
- Se você me diz, vamos brindar a vida.- falou Antony chamando o garçom com um aceno simples de mão. O mesmo se aproximou e Antony o pediu o vinho mais caro do restaurante.- Hoje é por nossa conta, . Você merece.
- Obrigada Antony.
Depois da refeição chique, tipo aquelas de filmes que você nem sabe o que é que tem no prato, nós engatamos uma conversa animadora. Quem sabia definir o que era o quê nos pratos chiques era Samie, sabia todo tipo de prato que havia no cardápio. Muito diferente de mim, que sou acostumada a comer comida de avião mesmo, lido com isso todo dia, então já estou bastante acostumada em chegar a casa e comer coisas simples ou até mesmo comida congelada. Pedimos outra garrafa de vinho e o álcool já estava começando a fazer efeito, estávamos animados demais, conversando, ainda sim, socialmente.
- Tive uma ideia, vamos para balada ? - Felipa realmente estava animada demais, para lançar aquela ideia.
- Vamos, hoje é sua despedida de solteira ?- falou Antony animado.
- Ué, mas não seria na sexta? Mudaram de ideia?- disse rindo.
- Não, hoje é a primeira parte dela, gatinha.- ele disse rindo.
Pagamos a conta e fomos direto para a boate mais perto do Empire State. Chegamos lá e estava bastante lotado, todos os lugares de nova Iorque são lotados, não importa onde for ou qual dia for. Entramos e extravasei na pista de dança, dancei feito doida com os três que me faziam companhia. Foi o efeito do vindo que me deixou assim, louca, e saber que estava voltando para mim me deixava extasiada. Antony e Samie cansaram de dançar e foram sentar em uma mesa para beber um pouco mais, Felipe se aninhou em algum canto com um cara qualquer e eu continuei dançando. Depois de umas três ou cinco músicas - meu instinto matemático já não funcionava mais depois de tanto vinho e vodka misturados - um cara nojento se aproximou de mim, fungando meu pescoço, me esquivei mas ele foi de novo.
- E ai gatinha? Vamos ali rapidinho conversar.- falou e comecei a rir descontroladamente.
- Nem que eu quisesse e não fosse me casar no sábado.- falei mostrando a aliança de brilhantes da tataravó de em meu dedo.
- Seu casamento é sábado, não hoje.- ele retrucou sorrindo de lado.
- Sim, mas preciso ser leal ao meu noivo. - ele parecia insistente, não suporto homens desse tipo.
- Se seu noivo te amasse estaria aqui com você. - falou e bati na cara dele, foi automático, tipo ato reflexo toma lá dá cá. Antes que ele pudesse fazer alguma coisa Antony chegou e me tirou de lá, meu melhor amigo como sempre me salvando.
- Você é louca?- ele perguntou.
- Ele falou do , não aguentei de raiva e o bati. Ele estava dando em cima de mim, cara desrespeitoso.- cuspi as palavras com nojo.- Exagerei? -perguntei já mais calma.
- Acho que fez o certo.- Samie disse.- Vou procurar por Felipa, vem comigo Antony.- pediu ao marido.
Fiquei sozinha por um tempo, conforme o álcool ia dando baixa do meu sangue e sentido eu ia sentindo arrepio pelo lugar onde estava e tudo a minha volta se concentrava no nome de , parecia que eu o via de alguma maneira ali ao meu lado. Um sentimento ruim tomou conta de mim e uma vontade de ir embora também dividia espaço. Quando os três chegaram, eu os pedi que me levassem embora, Antony fez várias perguntas e eu apenas o respondia com acenos de cabeça. Queria minha cama, queria sentir o cheiro de em seu travesseiro. Eu queria, mais do que nunca, ter a certeza de que ele ainda era meu para sempre; porque aquele sentimento que tomara conta de mim me fez refletir em muitas coisas durante poucos segundos, e tudo o que eu quis no final era poder abraçá-lo e responder a todos os "eu te amo" que ele dizia para mim.

Capítulo 5



Um pouco antes de sairmos da danceteria o celular de Samie tocou, depois disso, ela ficou tão estranha, quieta; ela disse algumas palavras no ouvido de Antony, o mesmo perdeu a cor deliberadamente mas depois de Samie o repreender por isso passou a agir normalmente. Porém eu sabia que estavam me escondendo algo, com certeza. Felipa iria embora com o cara que ela estava se atracando num beco qualquer da danceteria, nem dei importância, ela é maior de idade e sabe o que faz da vida, tem mais é que viver mesmo. Antony, Samie e eu pagamos a nossa conta e fomos em direção à saída, logo o carro de Antony estava parado em nossa frente, ele tomou a direção e arrancou dali com o carro. Não disse nenhuma palavra aos dois, mais cedo ou mais tarde descobriria o que havia acontecido para a mudança repentina de humor dos dois. A cada rua que passávamos em direção a minha casa, meu coração se apertava dentro do peito. Era uma angustiam misturada com um mal estar e uma vontade imensa de ver a pessoa que eu mais amava como mulher, era atormentador se sentir assim. Quando chegamos a casa tive uma surpresa ao encontrar meu pai e minha mãe juntos no sofá, eles conversavam e quando abri a porta olharam sincronizadamente para mim, achei meio estranho quando vi Antony e Samie saindo da cozinha, com certeza haviam entrado pelo elevador de serviço. Fiquei assustada com a presença de meus pais em minha casa, não é normal eles me visitarem juntos, alguma coisa havia acontecido. Samie e Antony pararam na porta entre a cozinha e o corredor que ligava os cômodos à sala. Fechei a porta e me virei para os quatro.
- O que vocês estão fazendo aqui?- perguntei imediatamente olhando para meus pais.
- Senta filha,- mamãe pediu e eu obedeci.- precisamos conversar.- completou olhando de soslaio para papai.
- Você falou com hoje?- papai perguntou.- Hoje não,- olhou no relógio em seu pulso, já era mais de quatro horas da manhã.- ontem.- concertou.
- Sim, ele disse que voltaria mais cedo.- os olhei confusa. Algo dentro de mim não queria acreditar no que estava se passando em meu subconsciente. Um silêncio entre eles se formou, eu estava passando do mal estar para um mal humor.- O que aconteceu? Por que vocês - apontei para Antony e Samie.- entraram pela porta dos fundos?- perguntei em um tom de voz elevado.- E o que vocês - olhei de volta para os meus pais.- estão fazendo aqui?.- ainda usava o tom de voz elevado.
- Eu e seu pai estávamos vendo um filme qualquer na televisão quando deu um plantão do jornal local, foi perdida a localidade de um avião que estava vindo de Lisboa e pousaria no JFK aqui em Nova York. Tudo indica que ele tenha feito um pouso de emergência no mar.- ou seja, afundado.- Ou então, tenha sofrido um atentado.- já estava em lágrimas, já tinha uma ideia do final dessa frase, não queria escutar mais isso.- E o piloto do avião era .- meu coração veio parar na boca. Meu mundo pareceu despencar no momento em que ela disse o nome dele. Estava tudo sendo perfeito demais, depois de uma briga ele me liga e diz que está voltando... Um clichê total.
- Mas ainda estão fazendo as buscas, há esperanças filha. - falou meu pai.
Eu não queria ouvir, eu não precisava ouvir e eu não iria ouvir. Eu iria chorar porque eu sabia que não haveria mais casamento no sábado e que na manhã seguinte não tomaria café com meu noivo, porque neste exato momento ele estava no fundo do mar virando comida de peixe. Imaginar o sofrimento que ele passou, a dor que deve ter sentido ou até mesmo a angustia de ter seu avião fora de controle caindo no oceano, isso tudo que se passava em minha mente me causava agonia, arrepios e uma imensa vontade de chorar. Sei que chorar não muda nada e muito menos alivia, mas eu queria muito o fazer naquele momento. Queria gritar, botar toda aquela dor, aquela pancada, para fora de mim.
Me levantei meio cambaleante, estava firme em não chorar na frente de ninguém ali, mas meu mundo desabou, estava perdida e vendo isso explícito em minha face papai me agarrou antes que pudesse cair no chão; ele me abraçou forte e tudo o que eu conseguia fazer era chorar diante dos meus pais. De relance vi Samie chorando muito também nos braços de seu esposo. Eu estava desnorteada, perdi o amor da minha vida fazendo o que ele mais gostava de fazer, pilotando um avião, e fora que tínhamos tudo marcado para o casamento, estava tudo dando certo finalmente e como num passe de mágica acabou. Todos os momentos que passei ao lado ele com absoluto amor eu nunca esquecerei. Todo o sentimento que possuo por ele nunca vai sarar. Estava completamente perdida ainda chorando, era a única coisa que conseguia fazer naquele momento, aquele vazio e o aperto no coração logo pareceram piorar, uma dor inexplicável de perder quem mais ama no mundo tão fácil ou tão rápido. A vida é difícil e não estava aguentando a dor que sentia, era uma dor insana no peito que não conseguia explicar. O meu amado morrera, me deixara, me abandonara e a ficha ainda não caia para mim, por mais que tentasse pensar no melhor eu não conseguia enxergar algo de bom e só fazia derramar lágrimas de sofrimento, lágrimas de luto, lágrimas de quem perde aquele que ama.
Abracei meu pai com força, liberando um pouco da minha dor, mas não conseguia mostrar muita força naquele momento. Parecia que tudo acabara tão rápido quanto começou.
Vi Samie chorando abraçada no Antony e eu com papai e ainda não conseguia acreditar naquilo tudo que foi dito, era uma coisa tão surrealista. Meu rosto deveria estar inchado de tanto chorar, as lágrimas não paravam, o meu amor por não parava e vinha com uma dor imensa que latejava em meu peito, nunca desejei tanto que aquela dor parasse e nunca sentido mais nada do tipo.
Em um piscar de olhos vi a porta se abrir, de inicio não enxerguei quem era e implorei aos deuses a cima de mim para que fosse , mas era apenas Felipa. Ela poderia ser considerada um reflexo de mim, atrás dela estavam seus pais, meus sogros, seu rosto estava vermelho e inchado, assim como eu deveria estar. Não dissemos nenhuma palavra, nenhum de nós, ela atravessou o metro quadrado que nos separava e me abraçou forte. Tão forte como fazia e com isso me senti aconchegada, como se fosse o último abraço dele.


Capítulo 6



Não conseguia dormir, não conseguia comer, não conseguia parar de pensar ou ter visões do avião caindo no mar e ele, junto dos passageiros e todos os seres humanos presentes, gritando; não conseguia cessar aqueles sentimentos da falta do . Ele era tudo para mim, apesar de todas as nossas brigas e seus vacilos repetitivos eu ainda estava com ele e aceitara aquele anel porque o amava de verdade. É quase que impossível acreditar na tragédia que aconteceu com ele e toda vez que começo a enxergar a verdade o sofrimento toma conta de mim, acho que não conseguirei seguir em frente sem ele ao meu lado. Meus pais ainda me diziam que havia esperanças, mas eu não conseguia. Sou do tipo de pessoa que quando sente dor se desfoca de tudo o coloca a dor e o pessimismo em primeiro lugar, eu não sou tão forte quanto tento ser quando se trata de perdas. Quando era pequena perdi minha vó, aquilo dilacerou meu coração, achei que iria morrer. Sempre fui sensível demais, apaixonada demais. Eu e seríamos marido e mulher oficialmente no sábado, aos vinte e nove anos de idade eu iria realizar meu sonho de criança: entrar vestida de noiva na igreja, sendo levada ao altar por papai. Mas o destino quis o contrário, esse acidente veio como uma obra contrária daquilo que eu esperava que acontecesse e acabou com tudo, ele veio para me mostrar que minha vida não é um conto de fadas da Disney. Não sei dizer se serei capaz de seguir minha vida tão firme assim sem ele.
Tenho uma certa culpa guardada dentro do meu ser, pois ele veio mais cedo no vôo por causa de mim, porque reclamei de sua viajem repentina, porque briguei com por querer fazer seu trabalho e depois de ter colocado toda a culpa nele de eu ser uma psicótica egocêntrica ele queria me ver antes do casamento, porque era assim: sempre me surpreendia da melhor forma possível quando concertava seus erros. Mas dessa vez quem errou foi eu, e não tinha como concertar isso. Se não tivesse reclamado tanto dele, talvez ele não estivesse onde está agora, submerso no mar ou até mesmo dentro do estômago de algum peixe carnívoro. Se ele tivesse pegado o vôo certo eu poderia estar diferente agora, feliz quem sabe, por ele estar comigo e então nos casaríamos no próximo dia. Mas foi tudo literalmente por água a baixo. Todos os meus planos junto dele, todas as viagens que faríamos juntos, os filhos que pretendíamos ter. TUDO.
Passamos a madrugada toda tentando contato com algum ser que fosse da aeronáutica, pelo o que nos contaram eles já estavam iniciando as buscas e pelo que me parece a marinha estava ajudando, pois o avião havia sim submergido no oceano, portanto a marinha poderia nos ajudar com alguma coisa. Era território deles. Sam, comandante da aeronáutica, veio em casa para explicar tudo para mim e os pais de , e também para prestar suas condolências, e nos contou que o avião de havia mesmo sofrido de um atentado do qual eles ainda estavam a investigar. Foi-nos redigido até uma carta do nosso senhor presidente, o que eu ignorei - mesmo achando gentil de sua parte se importar - porque fui direto ao meu quarto me internar novamente, dei a desculpa real de que não estava bem. Segundos depois mamãe batia em minha porta, a chamei para entrar e ela o fez. Reparei que trazia consigo um envelope amarelo, o mesmo que Sam estava em mãos e dizia ser a carta do presidente.
- Não quero saber agora o que ele nos disse.- falei entrando em meu closet, iria pegar alguma roupa para tomar banho.
- Nem eu.- mamãe disse do quarto.
Voltei para o cômodo e estava indo direto ao banheiro quando voltei como numa fita sendo rebobinada, em cima da cama tinha alguns testes de gravidez. E eram os mesmos testes que eu havia feito dias atrás. Engoli em seco vendo o olhar de mamãe redigido a mim, ela estava séria, provavelmente esperava que eu lhe dissesse algo.
- Se você sabia que não podia mais fazer uso de bebidas alcoólicas por que saiu ontem com esse destino?- ela estava de braços cruzados.
A encarei de igual para igual.
- A senhora veio me censurar por querer viver minha vida?- disse firme.
- Não quero censurar sua vida , não vim com a intenção de te julgar. Eu só queria saber se ele sabia disso, ou se você estava guardando para alguma surpresa ou sei-lá... Não me interprete mal, filha, eu não estou te julgando.- é talvez eu tivesse a interpretado mal, eu estava sensível desde que vi naquele maldito teste dois pontinhos sinalizando o famoso positivo.
- Eu... Eu... Eu...- tentei dizer. Mamãe levantou e me abraçou forte, em meio ao choro eu disse em seu ouvido:- Eu soube disso a dois dias atrás.- solucei.- Eu não vou conseguir sem ele mãe, eu não vou...
Ela me apertou mais forte, fiquei um bom tempo ali abraçada com ela, recebendo seu colo de mãe. Depois ela me preparou um banho de banheira e me deu banho, era como se eu tivesse voltado a ser criança, ou quase parecido com isso. Não podia negar que precisava da ajuda de minha mãe naquele momento, meus pais estão em minha casa para me dar suporte e realmente estou precisando da ajuda deles, aprecio esse companheirismo deles para comigo, mas meu orgulho é maior. Não quero que percam seu tempo da vida de aposentados para ficar ao meu lado, mas eu não os mandei embora, pedi para que ficassem.
Samie e Antony foram para casa logo depois que souberam da notícia, achei melhor eles irem, Samie estava muito mal e precisava descansar. Imagino como a mãe de devia estar devastada agora. Não é normal a mãe perder o filho, o certo como os mais antigos dizem é um filho enterrar uma mãe e não uma mãe enterrar um filho. Ela deve está sofrendo muito.
Eu só queria perto de mim.

Capítulo 7



Chorar, dormir, comer quase que uma merreca de comida (mas comer porque tenho dentro de mim quem precisa disso e não merece ser culpado ou descuidado pelo o que aconteceu), chorar mais um pouco, negar todos os pedidos de minha mãe para sair do quarto; é, meus últimos quinze dias têm se resumido nisso. Não é nada animador, diga-se de passagem. Não que eu não goste de ficar deitada em minha cama dia e noite, mas é que nessas condições em que me encontro não é nada legal. Já se passaram duas semanas de buscas e nada de achar meu . Tem sido as piores semanas de minha vida, a uma altura desta era pra eu e ele estarmos finalizando nossa curta lua de mel na Itália, onde iríamos fazer um pequeno tour pelas principais cidades. Romântico, não?
Fiquei em casa por duas semanas trancada e chorando, mal falava com meus pais que ainda estavam comigo para me ajudar no que fosse preciso, nesse curto período mamãe me levou a um médico obstetra para fazer alguns exames e começar o acompanhamento médico do pré natal, tive a linda notícia de que estava com um mês e meio de gravidez e havia tirado o bilhete premiado porque as chances de serem dois fetos dentro de mim eram de noventa e nove por cento segundo o médico. Eu estava feliz sim, mas a falta de ofuscava tudo aquilo; era para eu estar compartilhando aquilo com ele, era para eu fazer uma surpresa pra ele para contar que ele iria ser pai. Mas devido a um atentado, o que foi confirmado pelo próprio presidente dos Estados Unidos em meio a dez minutos de transmissão de uma comissão de imprensa na grande casa branca, eu não me casara no sábado e meus filhos não teriam a chance de conhecer o pai e nem teria a chance de vê-los crescer.
Quando assistia televisão sempre me lembrava dele em alguma coisa que passava no jornal falando sobre o avião dele e começava a chorar mais, por isso evitava ligar aquela porcaria de tela plana. Estava cada vez mais difícil parar de pensar nele, não conseguia segurar o pessimismo e isso só aumentava minha saudade. Mesmo estando onde esteja ele sempre vai estar em meu coração, sempre o amarei apesar de tudo o que já aconteceu, ele sempre vai estar perto de mim, mesmo que esteja só em minha mente e coração, mas vai estar próximo e nunca me esquecerei do meu verdadeiro amor. Eu vou ensinar aos meus filhos o grande homem que seu pai fora, por mais vacilão que meu comandante fosse ele me tratava com respeito, pisava na bola oito dentre dez vezes mas quando eu precisava de um ombro para chorar, um amigo para conversar e um homem para amar e chamar de meu lá ele estava, do meu lado sempre; e sua presença masculina cresceu ainda mais depois de sua traição, pois eu conhecia o homem com quem dividia uma cama e sabia que ele me amava assim como eu o amava, mas que seu jeito era diferente do meu e precisávamos apenas nos acostumar um com o outro.
Mas acredito que ele foi para um lugar melhor, todos dizem que foi por isso acho o mais justo acreditar, contudo, queria ele aqui comigo me fazendo feliz e não me deixando frustrada por não poder vê-lo em um terno preto todo charmoso. Agora é tentar seguir a vida e encarar a realidade, mas será muito difícil conseguir dar esses passos à frente, foi uma imensurável perda e que nunca será esquecida por mim.

Capítulo 8


You should have been there
(Você devia estar lá)
Should have burst through the door
(Devia ter entrado pela porta)
With that ‘baby I’m right here, smile!
(Com aquele sorriso tipo "querida, estou bem aqui, sorria!")

"Entrava e saia gente no Tavern on the Green como a maré vem e volta, mas nada de entrar por aquela porta. Era meu aniversário, não podia ser possível que ele havia esquecido, três meses de namoro e nada? Queria acreditar que seu vôo teve um atraso considerável e que vai chegar uma hora ou outra antes dos parabéns. Nada melhor como ter seu namorado ao seu lado em seu vigésimo nono aniversário, mas o meu namorado é um comandante vacilão, portanto, esquecer de mim é uma coisa memorável em sua lista de prioridades - ou pelo menos parece ser. Conforme eu olhava com esperanças para a porta sentia o olhar quente de Samie em mim e seu pé me cutucando em baixo da mesa, ela estava sentada em minha frente.

And it was like slow motion
(E era como câmera lenta)
Standing there in my party dress
(Eu estava lá em meu vestido de festa)
In red lipstic, with no one to impress
(Com os lábios vermelhos, sem ninguém para impressionar)
And they’re all laughing as I’m looking around the room
(E todos estavam rindo e olhando para a sala)
And there’s one thing missing
(E tinha uma coisa faltando)
And that was the moment I knew.
(E foi naquele momento que eu soube)

Estava sentada na mesa vinte e nove - acredite ou não, isso era uma brincadeirinha da minha cunhada Felipa, ela ama fazer esse tipo de piada com os outros, hilária ela, nossa - com meus amigos, Samie e Antony que formam um lindo casal, vale ressaltar que eles são casados, Shirleny e Nancy umas colegas de e Johan meu amigo, e Felipa é claro. Não conseguia desgrudar os olhos da porta de entrada que estava bem em minha direção, havíamos, eu e o comandante vacilão, reservado esse jantar a mais de um mês não deveria ser possível que ele havia se esquecido de mim. Aquilo tudo fora ideia dele. Um dos melhores restaurante de Nova York que ficava no Central Park, um dos meus maiores sonhos para se realizar com ele, mas seria meio impossível.
Finalmente Antony tomou minha atenção, embalamos a falar sobre assuntos aleatórios e quando eu vi o restaurante já estava quase que vazio. Ele não fora e eu estava indo embora. Foi cantada aquela música de parabéns para mim um pouco depois de jantarmos com um delicioso bolo de chocolate feito por cortesia da casa, o restaurante inteiro parou de comer e conversar para cantar parabéns pra mim e quando eu me dei conta já estava passando pela porta no sentido de ir para casa sozinha em meu carro.
Quando sai do restaurante pude ver meu carro parado já ali na porta, agradeci ao moço que havia o estacionado no estacionamento do recinto e entrei no automóvel. Dirigi sem um rumo em certo por um tempo, queria pensar enquanto fazia juras de decepção a .


And the hours pass by
(E as horas passam)
Now I just want to be alone
(Agora eu só quero ficar sozinha)

Num súbito pensamento contrário ao que faria - ir para casa e blá blá blá - virei na quinta avenida indo no caminho do apartamento de , queria chegar lá e encontrá-lo dormindo ou então esperar ele chegar de sua provável bebedeira com os amigos, ambas as maneiras o pegando de surpresa. Tinha uma cópia da chave de sua casa. Eu estava furiosa e totalmente decepcionada, e tenho a certeza de que nunca aprendeu sobre como não se deve deixar uma mulher furiosa.
Estacionei o carro do outro lado da rua e desci do mesmo acionando o alarme. Atravessei a rua fazendo meu salto agulha colidir piedosamente ao chão, ecoando um barulho intimidador dele. O porteiro nem pediu alguma informação minha, Hélio me conhecia já devido às rotineiras noites que vinha para cá, ele abriu o portão de entrada e chamou o elevador para mim, a única coisa que me disse foi que havia chego fazia pouco tempo; quando o mesmo parou no térreo suas senhoras requintes saíram dele, era lindo o prédio onde morava e muito chique, coisa de patente alta. Entrei no elevador e suas portas se fecharam assim que apertei o botão do quinto andar, meu estômago já começara a revirar de nervosismo. Assim que sai do elevador travei meu maxilar e tirei meus sapatos, peguei a chave dentro de minha pequena bolsa casual e abri de vagar a porta.



What do you say
(O que você diz)
When tears are streaming down your face in front of
(Quando as lágrimas rolam pelo seu rosto em frente)
Everyone you know?
(Todos que você conhece? )
And what do you do
(E o que você faz)
When the one who means the most to you
(Quando o único que mais significa para você)
Is the one who didn’t show?
(É o único que não aparece? )
You should have been here
(Você deveria estar lá)
And I would have been so happy
(E eu deveria estar feliz)

A sala de estava cheia de roupas espalhadas, era uma mistura de roupas suas com um par de sapato feminino, o cheiro de um perfume vagabundo impregnava o local, pude ouvir alguns gemidos vindo do corredor que ligava aos quartos. Fui em direção ao som enjoado seguindo pelo corredor que ligava aos quartos, passei pelo primeiro deles que era o de sua irmã - pois ela havia se mudado a pouco tempo de Paris para cá e ainda estava procurando um apartamento pequeno para morar, já que seus pais não moravam em Nova York - e a porta estava aberta com o quarto vazio, pelo corredor tinha uma trilha de roupas femininas, a cada passo que dava eu juntava as peças. A última porta do corredor que era o quarto de estava aberta e o quarto vazio, com isso imaginei que o barulho vinha do quarto de hospedes. Dei três passos firmes até ele e abri a porta.
Travei meu calcanhar no lugar, a cena mais deplorável de toda minha vida se resumia na que estava em minha frente agora. Em cima da cama uma vagabunda qualquer estava de quatro e atrás da mesma, o ritmo dos dois era acelerado e pelo jeito que a moça gritava "vai com tudo" com sua voz ardidas, aquilo estava sendo bom. Fiquei uns dez segundos parada e quando eles foram trocar a posição eu percebi que ela gritava "vai com tudo" porque estavam fazendo sexo anal. Meu estômago revirou e eu queria voltar todo o jantar ali, naquele momento. Respirei fundo e fiquei firme em minha posição.
- Ai que vontade de vomitar.- disse apoiando a mão no batente da porta, minha mão esquerda ainda reservava os trapos de roupas daquele ser que se encontrava na cama com meu homem.
perdeu a cor ao me ver. Não soube distinguir o que era mais engraçado: a cara de bunda da garota ou a cara de bebê chorão dele. Travei meu maxilar o máximo que consegui, a raiva me contaminava por inteira.
- !- disse levantando da cama rapidamente e procurando por sua cueca ao chão, quando encontrou ele a colocou. A moça em cima da cama tentava se cobrir com o lençol, tentei ao máximo não encará-la do modo como fazia mas não consegui.
- Não querido, é a Pocahontas.- disse com certa ironia e sorrindo.
- Eu posso explicar...- ele veio até mim, desviei de seu toque.
- Não encoste em mim senhor Eu Posso Explicar.- ergui as mãos ao ar como forma de rendição.
- Não é nada do que você está pensando Amando, por Deus...- o desespero dele era insano. E enquanto isso na cama a anta da garota nos observava com cara de chiclete mastigado.
- Cala a boca!- gritei.- Não coloca Deus no meio , você não pode explicar nada meu bem, não tem o que ser explicado.- disse com a voz firme.- Eu estou pensando no que vi, e não sou burra sei que você estava transando com ela.- apontei para a vadia da cama.- Pára de tentar melhorar sua situação porque você só está piorando ela, seu infeliz!
- Me perdoa ...- ele ajoelhou em minha frente.
Oh, céus!
- , levanta.- puxei-o pelo braço e ele ficou ereto.- Vai tomar um banho, sei-lá, se aliviar aí - analisei seu corpo e ele entendeu o recado.- Depois a gente conversa.
- Você me perdoa?- ele pediu.
- Depois. A. Gente. Conversa.- disse pausadamente.
saiu do quarto em direção à sua suíte. Nada que se passava em minha mente era lúcido o suficiente para poder conversar com ele naquele momento, na verdade eu iria embora assim que despachasse a pessoa da cama e tirasse aqueles lençóis para a empregada queimar e tirasse as coisas de da sala, deixaria por escrito o que era para ela fazer.
- Você - chamei a garota.-, toma suas roupas - joguei suas roupas na cama.- se troca e vai embora antes que a coisa fique feia pro seu lado.- ordenei, ela me olhou meio cabisbaixa e eu percebi algo de errado.- O que foi?- perguntei colocando os braços na cintura.
- Eu não posso.- ela respondeu mordendo o lábio.
- Por que não?- questionei já perdendo a paciência.
- Porquê eu tenho que cumprir a hora tratada com o cliente e voltar com o dinheiro para a minha patroa, caso contrário eu estou no olho da rua e não tenho para onde ir.
O QUÊ? Ele havia trocado nosso jantar por horas com uma prostituta de quinta categoria. Meu coração começou a dilacerar-se e tudo o que repetia para mim mesma era um mantra dizendo que tudo ficaria bem, sempre fica.
Pensei um pouco nas opções que tinha e então dei uma chance para a moça, ela não tinha culpa da traição de , não merecia pagar o pato por aquilo tudo. Pelo menos com ela dava para ser boazinha naquele momento, ser o que eu realmente sou: uma pamonha.
- Então faz assim, se troca e você vai pra casa. Eu pago pelo programa dele.- estava quase me arrependendo, mas senti que aquilo seria o certo a fazer.- Mas vai logo, não quero ter que cruzar com ele antes de ir embora.
Ela não demorou para se arrumar. Não fiz nada do que planejei fazer, apenas deixei na gaveta da cozinha, onde eu sabia que só a empregada mexia, um bilhete lhe dando as recomendações do que fazer. Não lhe ofereci muita informação, apenas o necessário. Levei a moça para minha casa e tive que lhe pagar quinhentos dólares, elas dormiu no quarto de hóspedes e pela manhã tomou café comigo; conversamos bastante e ela me pediu perdão por algo que não tinha tanta culpa assim se pensarmos francamente no que aconteceu. A levei embora até o lugar onde morava, no Brooklyn e lhe emprestei roupas para que tomasse banho. Quando contei tudo isso a Samie ela disse que fui uma santa e mansa, que deveria ter matado , mas não fiz isso porque o amo e que ele não merecia tudo isso de mim. O dito cujo por sinal me ligou a semana toda, levei tempos para falar com ele e posso dizer de cara limpa que o perdoei porque ninguém no mundo se humilha por aquele que não ama. Ele fez de tudo e me teve de volta e posso completar que consigo acreditar nele a cada dia que passa. O jantar ele me recompensou de uma maneira um pouco mais romântica e isso será inesquecível para mim, até a eternidade."



Capítulo 9


Dois dias se passaram e eu tive que voltar a trabalhar, voltei mais por conta própria, precisava seguir minha vida pelo motivo de haver duas pessoas que precisariam de mim num futuro próximo e eu não me deixaria cair em depressão só por conta eles. E foi trabalhando que tive a pior notícia de toda a minha vida. Antes de partir de Málaga para Nora York eu vi o noticiário local e em uma reportagem aparecia o presidente do meu país comentando sobre o atentado. Tudo aconteceu por motivos políticos, a vontade de um país guerrear por território com outro, como se não bastasse possuir o seu próprio queria mais o dos outros; pagara por uma briga que não lhe dizia respeito e sem ser egoísta, não fora só ele, não tinha apenas ele dentro do avião e sim mais duzentos passageiros, sem contar a equipe aérea de aeromoças e co-pilotos. Na matéria do jornal espanhol o que se destacava eram as buscas da aeronáutica em parceria com a marinha que haviam cessado graças aos destroços encontrados do boeing que pilotava. Apenas os destroços tinham sido encontrados, sem sobreviventes aparente e com alguns corpos afundados junto de algumas partes do avião, outros - acredito eu - deveriam nem ter se soltados do sinto. A caixa preta também havia sido encontrada, o que foi o único milagre em todo este acidente, nas gravações o que se ouvia eram gritos e a voz de no fundo gritando com seu companheiro co-piloto, eles tentaram planar no mar, mas precisaria de muita técnica e anos de prática. tinha isso, contudo, ele não conseguiria sozinho.
Meu coração pareceu despencar de dentro de mim para fora, um vazio me domou por completa e logo as lágrimas se puseram a sair. Na televisão do aeroporto minha foto com estava estampada, pude entender que o repórter falava sobre o nosso casamento que seria dois dias depois do acidente e que havia morrido e me deixado para trás grávida. Essas notícias foram cedidas pela minha sogra, claro que, com minha autorização. Nos braços de Johan eu chorava, Cece - que estava no lugar de Anastásia naquela viajem - tentava ajudar Samie a me acalmar e todo o aeroporto me olhava. Algumas pessoas passavam por mim e diziam palavras de consolo, mas mesmo assim aquela dor não passava, não curava.



***


Seria uma cerimônia simples no cemitério central para colocar as lápides apenas, e os outros dois pilotos seriam homenageados junto com as aeromoças que também estavam naquele boeing. Tudo havia sido organizado pela aeronáutica e marinha, até a presença do presidente com sua esposa, a dita primeira dama, havia sido confirmada; seria pitoresco da parte deles, confesso. Felipa sentava-se ao meu lado direito e seus pais logo depois, do meu lado esquerdo papai me dava apoio e, de pé, atrás de mim estavam Johan, Samie, Antony e Anastásia. A família toda de estava presente.
Fazia um sol não muito quente, fresco. Meu óculos de sol preto completava meu look dark, que era uma amostra de como eu estava por dentro. Não prestei muito atenção no que cada um dos representantes das famílias disseram em frente as lápides, deitei a cabeça no ombro de papai e dormi depois de tanto chorar. Tive um sonho leve, nele me dizia para ficar bem que ele estava ali comigo, para sempre estaria, e que nossos filhos seriam fruto de um amor natural e sem comparações. Eu o disse que o amava, implorei para que não me deixasse e como uma leve brisa ele se foi. Até em sonho ele me abandonara.
Acordei de meu breve cochilo com papai me avisando que estávamos indo embora e que era hora de me despedir de . Engraçado isso, era apenas uma lápide ali sem corpo sem nada, apenas uma lápide maldita para me lembrar mais ainda do inesquecível. Me levantei e andei ao lado de Felipa, ela segurou minha mão e caminhamos poucos passos até a lápide de . , (1979 - 2011) "A alma tem refúgios estranhos.".O que estava escrito nela foi tirado de um livro que ele gostava, assim como eu. não tinha o costume de ler, mas em uma noite quando eu dormi em sua casa levei um livro chamado A Dama das Camélias, de Alexandre Dumas Filho, ele leu o livro comigo e adorou. Ele gostava dessa frase mais do que qualquer outra e tinha ela como uma "filosofia de vida". Espetacular. A frase estava em baixo de uma foto sua onde ele estava vestido com seu uniforme de trabalho, devo admitir que ficava lindo com aquilo, charmoso, sedutor, sexy. Felipa apertou minha mão e deitou sua cabeça em meu ombro, eramos cunhadas mas acima de tudo cúmplices e amigas; eu a adorava. Joguei as duas flores que tinha em mãos, uma rosa de plástico e uma natural amarela que estavam amarradas uma na outra, em direção a lápide e em seguida Felipa fez o mesmo com a sua rosa vermelha.
- Eu vou te amar até a última rosa morrer.- disse em um tom de voz natural, leve, sendo embargada pelo choro. Felipa pôs se a chorar também ao meu lado.
E eu iria amá-lo até a última rosa do mundo morrer, até a última pétala de flor cair ao chão. Todos os dias, como se fosse a primeira vez.

Capítulo 10


(n/a: aconselho vocês deixarem a música maps do maroon 5 carregando, quando eu disser que sim vocês põem para tocar.)

Eu sei que nada e nem ninguém é para sempre, mas o meu "final feliz" não aconteceu, quem sabe ele nunca aconteça. Mesmo tendo os pés firmes no chão eu amava alguém, eu tinha meu coração totalmente domado e aos trinta anos de idade ele fora quebrado de uma forma avassaladora, era como se eu estivesse presa num vazio eterno; quando perdemos alguém que amamos de verdade é isso o que acontece: um vazio assombroso te doma e tem como poder te levar para o fim, não o fim do túnel onde tem a luz branca, mas para o outro lado dele onde tem uma luz preta cheia de dor e melancolia. Você tenta lutar contra essa corrente que te leva, mas ela é mais forte, a dor é maior o vazio é cheio dentro de si e tudo o que você passa a querer é tocar aquela luz negra. Se não tem nada na luz branca que te fascine o suficiente para te fazer lutar e tentar mudar o percurso, você vai embora e não volta, mas como no meu caso você tira forças daquilo que te fascina e que te faz querer a luz branca e vai para frente, carregando a dor de uma forma diferente cada dia, se acostumando com ela mesmo que seja grande e perceptível. Você vai e a cada meta alcançada se sente renovada e viva.

Pelo menos esse é o meu ponto de vista, porém eu ainda não tinha tido forças o suficiente para voltar pra luz branca, os dois seres dentro de mim eram o suficiente mas o problema não era neles e sim a falta que fazia, o vazio conseguia ser maior que qualquer coisa ou amor. Eu ainda tinha esperanças de deixar a melancolia de lado, mas venhamos e convenhamos, a dor ainda era totalmente recente, eu precisava de um pouco de tempo para pensar, para me acostumar com aquela lacuna.

Entrei em meu apartamento, subi antes de papai e mamãe. Eles haviam ido no Wall Mart comprar algo para nosso café da tarde e eu os disse que ficaria bem sozinha. Menti pelo menos. Entrei no estreito corredor, a primeira porta era a do quarto de Felipa a dois anos atrás, passei por ele e continuei caminhando pelo corredor, era como se ele estivesse me levando de vagar para o lado frio da vida. Logo em seguida tinha o quarto de hóspedes, aquele mesmo quarto onde no começo de namoro peguei me traindo com uma prostituta nada a ver com nada. Parei na porta do quarto me apoiando na parede, as imagens eram vivas em minha mente; talvez se no mês seguinte a aquela traição eu não tivesse o perdoado, talvez se eu não o amasse não sofreria agora. Fechei a porta do quarto e caminhei até a última porta do corredor, a única que estava fechada, o quarto onde de portas fechadas já reservou muita coisa, muito amor, muita paixão. Ah, se as paredes dele falassem, elas diriam tudo o que passamos juntos em domingos de folga, em noites picantes; elas contariam o quão sujos nós fomos quando pecamos, quando fizemos amor, os limites um do outro que testamos. Seria uma história de amor emocionante, daquela que cativa o leitor. Abri a porta e senti uma brisa leve em meu rosto, meu coração levou um susto, levou um baque tremendo. Eu o via ali, parado em nossa cama, sentado semi nu me esperando. Tinha o sorriso mais sedutor em seus lábios, aquele sorriso que deixava seus olhos diminuídos, os cabelos levemente bagunçados. Ele se levantou e caminhou até mim, me tocou, me arrepiou.
- Eu disse que estaria aqui.- sua voz cantou em meus ouvidos.
Engoli o amargo em minha garganta e o abracei forte, o apertei em meus braços e toquei seus lábios aveludados com o meu, olhei em seus olhos ). Ele estava sim ali, comigo, estava vivo e voltara para mim e por mim.
- Você se atrasou.- colei minha testa na sua e fechei meus olhos.
Nada ele disse, ficou mudo e sua respiração parou. Abri meus olhos e vi que estava com a testa colada no batente da porta. Tamanha era minha decepção. Contudo, o cheiro de seu perfume estava forte.
Respirei fundo e entrei no quarto que estava totalmente vazio, a cama estava arrumada com o lençol vermelho que gostava, em seu lado da cama em cima do seu criado mudo estava o livro que ele mantinha ali por mais de um ano, A Dama das Camélias. Caminhei até ele e o peguei, sentei na cama e comecei a folhear as páginas do livro, então seu marcador de páginas caiu: uma foto minha e sua em nossa viagem para o Caribe. Na foto ele me beijava na bochecha e eu fazia careta. Tão lindo ele era, tão jovem, tão meu.

(n/a: podem dar play)

I miss the taste of a sweeter life
(Sinto falta do sabor de uma vida doce)
I miss the conversation
(Sinto falta das conversas)
I’m searching for a song tonight
(Estou procurando por uma música essa noite)
I’m changing all of the stations
(Estou mudando todas as estações)

Em um súbito momento de ódio pela dor eu rasguei a foto, lágrimas brotavam dos meus olhos como uma cachoeira igual as cataratas do Iguaçu no Brasil. Abri o livro e fui rasgando as páginas na quantidade que conseguia de uma vez, o joguei longe e levantei da cama. Abri a gaveta do criado mudo de e tirei de lá uma tesoura, puxei seu travesseiro e comecei a "esfaquear" o monte de espuma, pensava em cada momento de decepção que tive com ele e a cada memória era um furo no travesseiro. Parei quando toda a espuma já estava de fora e parti para o lençol da cama. Joguei longe a colcha vermelha que minha mãe havia nos dado e comecei a furar o colchão.
- O que adianta ter um colchão com um lençol maravilhoso, mas não te ter aqui ?- disse em voz alta, soluçando de tanto chorar.

I like to think that we had it all
(Gosto de pensar que tínhamos tudo)
We drew a map to a better place
(Que desenhamos um mapa para um lugar melhor)
But on that road I took a fall
(Mas na estrada eu sofri uma queda)
Oh, baby, why did you run away?
(Oh, querido, por quê você fugiu? )



Sentei na beirada da banheira e chorei. Chorei tudo o que estava parado. Chorei as decepções, chorei a traição, chorei a falta, o vazio. Chorei pelos dois fetos dentro de mim, chorei pela minha falta de coragem de encarar a vida. Chorei por tudo.

But I wonder where were you
(Mas eu me pergunto onde estava você)
When I was at my worst
(Quando eu estava no meu pior)
Down on my knees
(De joelhos)
And you said you had my back
(E você disse que me protegeria)
So I wonder where were you
(Então eu me perguntou onde estava você)
When all the roads you took came back to me
(Quando todas as estradas que você pegou te guiaram de volta pra mim)
So I’m following the map that leads to you
(Então eu sigo o mapa que me guia até você)

Saí do banheiro e voltei para o quarto, no caminho do closet peguei algumas roupas de do chão e as carreguei comigo, jogando-as na cama toda perfurada. A televisão que ficava grudada na parede eu derrubei ao chão. Os dois abajures de cabeceira da cama tiveram o mesmo destino que a televisão. Os livros das prateleiras de vidro na parede da janela eu joguei ao chão, rasgando algumas partes de cada um. O quarto estava todo revirado quando parei na porta para o analisar; os dois criado mudo estavam sem suas gavetas e jogados no meio do quarto. Aquilo era como uma resenha de como eu estava por dentro, bagunçada, zoada.

The map that leads to you
(O map que me guia até você)
Ain't nothing I can do
(Não há nada que possa fazer)
The map that leads to you
(O mapa que me guia até você)
Following, following, following to you
(Seguindo, seguindo, seguindo você)

Fui até a sala e comecei a gritar, extravasar. Em minha mente a voz de ecoava, todos os pedidos de desculpa após uma vacilada, todos os "eu te amo" que ele me dizia e eu não respondia, e por isso eu me culpava. Eu o amava mas não demonstrava.

I hear your voice in my sleep at night
(Eu escuto sua voz enquanto durmo)
Hard to resist temptation
(Difícil de resistir a tentação)
'Cause something strange has come over me
(Porque alguma coisa estranha vem até mim)
Now I can’t get over you
(Agora eu não consigo te esquecer)
No, I just can’t get over you
(Não, eu não consigo apenas te esquecer)

A sala ficou revirada assim como o quarto. Os quadros da parede estavam ao chão pisoteados, as cadeiras da mesa de jantar bagunçadas. Era como se um furacão tivesse passado por ali. E fora. Um furacão de dor.
Senti-me meio mal, uma tontura me fez cair ao chão apoiada no encosto do sofá de couro. Pus-me a chorar, sentia dor física e sentimental, mas não sabia qual doía mais, qual pesava mais. Senti meus olhos vacilarem e antes que os fechassem de vez vi mamãe e papai entrarem pela porta da sala. Mamãe me olhava com espanto e papai correu até mim me pegando no colo, ele caminhou de pressa até o sofá e sentou comigo em seus braços, seu abraço era forte, mas não tanto quanto a dor que eu sentia. Afundei meu rosto em seu pescoço e ouvia minha mãe dizer que tudo ficaria bem, que eles estavam ali comigo. Meu choro não cessava, era realmente igual as cataratas do Iguaçu, o soluço não me abandonava e eu parecia uma criança que havia se machucado gravemente enquanto brincava. E era isso mesmo o que acontecera, fui brincar de amar e acabei de machucando.
Eu sei que não posso me prender nisso para sempre, e eu não quero. Tenho que ser forte, ser vencedora. Me acostumar com a dor não vai ser difícil, eu só tenho que sair dessa negação que é perder , depois disso é só seguir em frente. Irei batalhar todos os dias de minha vida para me acostumar com a dor e poder criar meus filhos com sabedoria e amor, educá-los da melhor forma. Nunca esconderei sobre a vida do pai deles para eles. Tentarei ser o mais clara possível e o mais importante, os amarei da forma como amo , diferente disso os amarei mais ainda.
- Isso dói.- disse para papai e mamãe antes de sentir meus olhos pesarem e fecharem. Tudo ficou preto e a dor que eu sentia em meu ventre pareceu se anestesiar.

I was there for you
(Eu estava lá por você)
In your darkest times
(Em seus momentos difíceis)
I was there for you
(Eu estava lá por você)
In your darkest nights
(Em suas noites difíceis)



Epílogo


Nova York, Estados Unidos; 15 de junho de 2014.
Parei o carro em frente a casa de minha mãe e buzinei, não iria descer, estávamos atrasados - eu e as crianças - para ir ao cemitério, pois ele logo fecharia. Desci do carro para arrumar as cadeirinhas das crianças no banco de trás, logo ouvi suas risadas misturada com a de meu pai. Virei o rosto para ver a BMW de Felipa parando ao lado do meu Evoque. Ela estava radiante, mais loira do que o normal, sorriu para mim e desceu do carro e foi em direção a Louise que largara da mão de minha mãe para correr até a tia. Puxa saco que era.
- Mamãe!- ouvi Louis me chamar.
Louis era mais grudado comigo, ele era mais carinhoso e ficava pra cima e pra baixo ao meu lado. Chorava todas as vezes que eu o deixava na casa de mamãe ou na escolinha ele chorava e se agarrava em mim. Sem contar que Louis era o retrato perfeito do pai, Louise também era mas ela tinha mais mistura minha também. Ao contrário de Louis ela não era tão carinhosa, ela tinha a personalidade do pai bem misturada com a minha. Enquanto Louis era a cópia cuspida de Louis sua irmã gêmea era a mistura minha e dele. Porém, os dois se davam super bem, eles se adoravam e não se desgrudavam.
Hoje era dia dos pais, eu levaria os dois para colocar uma flor na lápide de e depois iriamos tomar um sorvete com Felipa. Sem rodeios me despedi de papai e mamãe e coloquei minhas crianças dentro do carro. Arranquei dali e segui até o cemitério com Felipa atrás de mim. Estacionei e desci do carro, ela veio me ajudar a tirar as crianças e então entramos no cemitério. Depois de três anos eu encontrei minha paz; quando Louise e Louis nasceram minha vida renasceu, eles me trouxeram felicidade e amor. Eu os amo com todas as minhas forças, educo-os para que sejam melhores do que eu e o pai deles fomos. Durante a gravidez foi difícil, mas depois de ver o rostinho deles e ouvir o choro de cada um, a luz branca do fim do túnel brilhou para mim novamente e eu a alcancei.
Larguei da mão de Louis e o deixei correr no gramado com Louise até a lápide do pai, eu e Felipa mantínhamos o olhar neles de longe. Louis segurou na mão de Louise quando chegaram perto da lápide e juntos cada um jogou sua flor nela. Cheguei mais perto e pude ouvir os dois conversando.
- Lou, você acha que um dia vamos ver o papai?- Louise perguntou olhando fixamente para a lápide. Olhei rápida para Felipa e ela fez sinal para que eu ficasse quieta quando percebeu que eu iria abrir a boca para interferir na conversa dos dois.
- Claro Lisy, mamãe disse pra gente que ele está nos esperando em um lugar lindo e que um dia vamos poder abraçá-lo forte igual a gente abraça ela.- Louis respondeu abraçando ela de lado.
Eu sorri e deixei uma lágrima rolar pelo meu rosto, Louise e Louis se viraram e vieram até mim, agachei e abri os braços para abraçá-los forte.
- Você tá chorando mamãe?- Louise perguntou passando a mão no meu rosto.
- Sim.- sorri, eles fizeram careta.- Estou chorando de felicidade, porque tenho vocês dois.- abracei-os de novo.
- Quem quer apostar uma corrida?- Felipa falou alto, reconheci a intenção dela, depois do cerimonial eu nunca visitei a lápide de , nunca tive coragem de chegar perto dela em todas as vezes que voltei aqui para trazer as crianças. Os dois me soltaram e começaram a correr.- Vai, você precisa disso.- Felipa me abraçou e saiu correndo atrás dos pequenos.
Caminhei alguns passos lentos até a lápide e parei, analisei aquela pedra esculpida. Senti meu rosto se molhar em lágrimas, a dor ainda era algo presente em minha vida, o vazio ainda existia mas com a presença dos meus filhos eu conseguia esquecer isso, conseguia viver com aquilo. Percebi que tinha um potinho preso à lápide, dentro dele uma flor amarela estava em pedaços e ao seu lado uma rosa de plástico estava intacta, e tinha mais duas rosas ali, a de Louis e a de Louise. As duas estavam presas á pedra. Reconheci a duas primeiras flores, eram as minhas. "Eu vou te amar até a última flor morrer.". Sorri abertamente e limpei algumas lágrimas, cruzando os braços em seguida.
- Você pode ter partido e me abandonado,- olhei em volta do cemitério e vi as crianças brincando com Felipa, as risadas de Louis se misturavam com os gritos agudos da irmã; voltei o olhar para a lápide.- mas me deixou os melhores tesouros que um ladrão nunca vai conseguir roubar...
Meus cabelos começaram a voar ao vento forte que bateu, fechei os olhos e senti aquela brisa, um choque arrepiou meu corpo da mesma maneira que arrepiava quando me tocava, senti seu toque leve ainda de olhos fechados, era como se aquela imaginação de minha mente fértil fosse real. Mas podia ser, e seria eternamente, morrera mas sua memória em mim, seus toques, seus beijos, seu amor, ainda era real e presente. Ele era e sempre seria o homem pelo qual uma vida valeria a pena esperar.

FIM.



Nota da autora: Oláaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa. E ai, o que acharam? Aqui quem vos fala é a Maria, a autora da budeguinha ali HAHAHA. Enfim, sem rodeios, obrigada mesmo por lerem e é isso aí. Eu queria agradecer à Marina, minha linda amiga que me ajudou de última hora com a fic. Me digam o que acharam, mandem-me um e-mail ou alguma palavrinha la no twitter @louismococa, podem criticar (relembrando que, criticar, é nada mais nada menos do que falar bem ou mal de algo) a vontade. Beijões e até outa ocasião. P.S: Desculpem por ter matado o comandante vacilão, mas isso é o centro de tudo da shortfic. E ah, eu escrevi ele com o LINDO MARAVILHOSO BLOOM. Tchau!!! Carolys xxxx



comments powered by Disqus

Qualquer erro nessa atualização e reclamações somente no e-mail.
Para saber quando essa fic vai atualizar, acompanhe aqui.



TODOS OS DIREITOS RESERVADOS AO SITE FANFIC OBSESSION.