História por Anny e Jhullie | Revisão por Cocó



Prólogo

Foi como um pesadelo. Não; foi pior. Muito pior. Em um minuto, os braços dela estavam envoltos em meu pescoço e, no outro, ela estava sendo levada. Eu ainda me lembro de seus olhos acinzentados me olhando, lacrimejantes. Ela sabia que não iria durar e, sinceramente, algo dentro de mim também sabia, embora eu me esforçasse para recusar o fato.
Quando vi aqueles dois soldados a escoltando para longe, certo pânico tomou conta de mim. É óbvio que ela resistiu. Minha garota resistia a tudo o que não lhe agradava. E então, fomos obrigados a nos separar. Naquele dia, eu me lembrava de ouvir meu pai conversando animadamente com um amigo sobre a desinfestação.
Então isso era a desinfestação? Eles iriam prender todos a quem Hitler achava necessário prender? Era sobre isso que havia tentado me alertar mais cedo? E agora eu conseguia me lembrar dos papéis... Os papéis que havia lido na mesa de meu pai. Campos de concentração, formas de tortura... Era para isso.
! – tentei pegá-la dos soldados, mas um deles colocou o braço na minha frente, me impedindo de passar.
! – escutei sua voz. Mas, diferente do que fizeram comigo, ao invés de apenas a impedirem de se aproximar, a atingiram com um tapa forte no rosto.
– Desgraçado, solte-a! – gritei.
– escutei a voz contente de meu pai. – Não me faça te tirar daí. Venha, temos motivos para comemorar! – indicou à nossa volta. Eu estava tão centrado em minha sendo levada, que ao menos notei que todo e qualquer judeu, homossexual, cigano, polaco, etc., estavam sendo presos. Dava para se ouvir os gritos das famílias sendo separadas, dos homens e mulheres resistindo, e das crianças confusas e assustadas.
Voltei o olhar para frente, tentando ver , mas tudo o que vi foi seus cabelos sendo puxados até uma multidão. E então, tudo apagou.

Capítulo 1


’s pov:

Aquele não parecia um ponto de encontro “antinazismo”. Mas é claro! Se parecesse, todos estariam mortos nesse momento. desligou o carro e respirou fundo, olhando para a mesma direção que eu.
– Não parece um lugar antinazismo – disse, e eu desconfiei que ele pudesse ler meus pensamentos.
– Acho que não devemos entrar – sussurrei, ainda encarando o grande portão preto.
– E viemos até aqui à toa? – resmungou. Rolei os olhos e olhei para ele. – Eles não sabem quem nós somos.
– E se descobrirem?
– Pare de ser frouxo, ! – vociferou e saiu do carro. Repeti seu gesto e bati a porta, escorando-me à mesma. – A gente entra, vê como é, e sai. Ninguém irá saber quem somos.
– Mas e se souberem, o que nós faremos?
– A gente corre – sorriu, fazendo um gesto para segui-lo.
Nos aproximados do grande portão de aço e nos encaramos antes de dar três batidas no mesmo. Um homem abriu uma pequena janela no centro do portão e nos analisou.
– Qual é a senha?
Olhei para , que me encarou de volta. Tinha a droga de uma senha e nós não sabíamos.
– Er... Não sabemos – começou a falar e o homem ameaçou fechar a janelinha. – Nos convidaram para vir até aqui, mas não nos contaram a senha.
O homem fitou , impaciente.
– Quem os convidou?
– Er... Er... – olhou para mim, em um pedido mudo para que eu o ajudasse, mas apenas arregalei os olhos.
– Fui eu, Albert, pode deixá-los entrar! – uma voz feminina soou atrás de nós, e eu me virei imediatamente.
Ela era linda.
Um rosto angelical e o sorriso suave nos lábios aparentavam seus doces quinze anos, mas suas roupas denunciavam mais. Como uns vinte, ou vinte e um. Seus cabelos eram loiros e lisos com ondas nas pontas, que caíam sobre seus ombros. Uma touca de lã vinho aquecia sua cabeça.
– Que bom que vieram, rapazes! – ela sorriu para mim e e se aproximou do portão. – Eles estão comigo.
Albert nos encarou mais uma vez e finalmente pudemos ouvir o barulho das trancas; o portão se abriu e então entramos.
Ainda não parecia um ponto de encontro antinazismo.
– Onde estão os cartazes, pessoas fazendo discursos antinazistas? – perguntou, confuso, e a o olhou divertida.
– Acham que somos trouxas? – franziu o cenho e riu. – Se algum espião nazista entra aqui, estaremos mortos ou presos no dia seguinte.
Fitei , que parecia frustrado por não ter pensado nisso antes, e ri.
– Nós viemos aqui para nos encontrar, fazer coisas que eles dizem ser “proibidas” – ela fez aspas com os dedos. – Por exemplo, nós temos uma biblioteca com os livros proibidos. Trouxemos os que tínhamos em casa e resgatamos alguns das bibliotecas públicas. Infelizmente, não pudemos resgatar todos ou desconfiariam – suspirou e voltou a andar.
– Onde estão todos? – perguntou enquanto a seguíamos.
– Logo atrás desse portão.
Dois homens que ficavam de guarda, abriram os portões para nós e, então, entramos no pátio de uma antiga escola. Havia algumas pessoas lendo, outras jogando e conversando...
– Isso é bem diferente do que eu imaginava – sussurrei e concordou.
– Hey, a gente ainda não sabe o seu nome – falei.
– ela sorriu. – .
estendeu a mão para ela, que o cumprimentou.
, eu sei – ela me cortou, antes mesmo que eu começasse a falar. – Eu tenho que levar isso para minha mãe, mas eu já volto – disse, indicando as sacolas em sua mão direita. – Por que não se enturmam? – sorriu e se distanciou.
Eu tirei meus olhos dela apenas quando ela sumiu de minha vista.
– Seca a boca, gargalhou.
Fechei a cara e fui com ele até uma sala, a “biblioteca” deles. Passei os olhos pelas estantes e comecei a procurar algum livro que me agradasse. Vi que também tinham várias bíblias. Achei um livro de Voltaire e o peguei.
– Você está começando a me impressionar, nazista – escutei uma voz delicada atrás de mim.
– Eu não... Não sou...
– É, sim. Conheço seu pai – ela sorriu fraco. – , não é mesmo?
– Sim, mas...
– Voltaire é realmente ótimo, não é?
– Eu salvei um dele lá em casa. Está debaixo do meu colchão – ele riu.
– Seu pai destruiu os de vocês também? – ela soltou um muxoxo.
– É, ele é bastante obcecado com essas coisas agora – deu de ombros.
– Confesso que quando te vi ali na frente, pensei que estava ficando louca. Quem diria que o filho de John estaria querendo entrar em um centro antinazista? – ela sorriu fraco, pegando um exemplar de algum outro livro de Voltaire.
– Você não me conhece – dei um sorriso de canto.
– E nem você a mim. Eu poderia muito bem ter dito que você era filho de quem é, lá na entrada mesmo. Você sairia daqui roxo – ela riu fraco. – La Princesse de Babylone é meu preferido, boa escolha.
– Eu ainda posso te surpreender, Comuna – pisquei. – L'ingénu é ótimo. É esse que eu tenho escondido – apontei para o livro em sua mão. – Te vejo por aí.

’s pov:

Passava das nove da noite quando escutei a porta do meu quarto se abrir. Arqueei as sobrancelhas para a figura irritadiça de minha mãe, junto ao meu irmão, Chad.
– Hm... Oi?
– Oi? , o que diabos você pensou que estava fazendo essa tarde? – minha mãe gritou.
– Eu... O quê? – franzi a testa.
– Você sabe do que ela está falando, – Chad me olhou com fúria.
– Não, não sei. Do que diabos vocês estão falando? – levantei-me.
– Chad estava com Tyler, o amigo dele, até agora, e sabe o que Tyler falou? Que você deixou dois nazis entrarem na nossa escola! – Marylin gritou.
– Mãe, não é assim. Eles não...
– Não me venha com o papo de que eles não estão contra nós, porque eu tenho certeza que são! E agora? E se descobrirem? – ela gritou, com lágrimas nos olhos. – E se levarem você igual fizeram com seu pai?
– Mãe, mãe me escuta! – ela segurou a mulher pelos ombros. – Eles são pessoas boas. Eu juro.
– Como você pode dizer isso? – Chad semicerrou os olhos.
– Eu sei que eles são. Se alguma coisa acontecer, e eu duvidar deles... Eu nunca mais os deixo entrar. Mas, dá uma chance, mãe – ela pediu. – Por mim.
– Eu não consigo acreditar – a mãe dela negou com a cabeça. – Faça o que você quiser.
Chad deu passagem para a mãe passar e ficou olhando a irmã.
– Não tem nada de mais, certo?
– O quê? – ela franziu o cenho.
– Você e algum desses dois. Não tem nada de mais do que um princípio de amizade, não é?
– Mas é claro que não! – o olhei incrédula.
– Espero, irmãzinha, que não contrarie minha ideia de vigiá-los. Não sabemos se podemos confiar neles e todo cuidado é pouco.
Suspirei derrotada.
– Tudo bem, Chad. Agora pode me dar licença? Preciso dormir.
– Claro – deu-me um beijo na testa e seguiu até à porta, parando antes de sair. – Você é ingênua e não deve ter percebido, mas eu estava na biblioteca hoje cedo e vi como o filho do olhou para você. Você sabe que o pai dele tem um cargo superimportante no exército, huh? Apesar de correr o boato de que ele segue, mas não aprova, você sabe que não deve confiar nesse cara.
– Ficarei de olhos bem abertos – empurrei-o para fora do quarto.
Eu estava irritada. Como ele podia me chamar de ingênua?
– Estou avisando, , eu não deixarei que se envolva com esse nazi filho da mãe!
– Você não pode julgá-lo sem conhecê-lo!
– Claro que posso, ele é um nazista!
– Boa noite! – bati a porta e virei a chave.

Continua...


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Nota da Beta: Qualquer erro nessa fanfic é meu. Achou algum erro em Can You Resist? Avise-me via email ou pelo ask.fm. xx Cocó

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