Chandelier


Escrita por: Aria
Betada por: Ebonny


CAPÍTULOS: [Prólogo] [1] [2]



Prólogo


Enlouqueço, porque não é aqui que quero ficar
E a satisfação parece uma lembrança distante
Não consigo me conter
Só quero ouvir ela dizendo "Você é meu?"
Bem, você é minha?
Você é minha amanhã?
Você é minha? Ou minha só por esta noite?
Você é minha? Você é minha?
Você é minha amanhã?
Ou minha só por esta noite?

Capítulo 1


’s POV

- Ela não para de insistir! - suspirei, jogando-me na cama e tirando com meus próprios pés os sapatos sociais. – Fala de namoro, noivado, casamento e o caralho a quatro. Não sei o que fazer!
- Te dou duas opções: ou namora sério com a mulher, ou manda ela voar. – a voz calma do meu melhor amigo retrucou. Apesar do divertimento impresso em suas palavras, pude perceber um certo nervosismo também.
- Não quero namorar porque não me sinto pronto, mas não posso deixá-la ir. Estamos juntos a quatro anos, afinal. É muito tempo.
- Juntos entre aspas, na verdade.
- Sendo companheiros, amigos, esquentando a cama um do outro. - rolei os olhos impaciente. - Você entendeu o que eu quis dizer.
- Você é um filho da puta egoísta, sabia? - pude sentir a reprovação em sua voz.
- Sabia. – concordei. Ele acabou rindo.
- Ela vai cansar de você.
- Veridiana teve todo esse tempo pra cansar de mim, . Se não o fez até agora, vai me amar pra sempre.
- E vai sofrer.
- Ela precisa entender...
- Você precisa se tocar, .
- Ouvi-lo falar assim quase me faz sentir culpa, .
- É a intenção. Sério, pense no que está fazendo com a vida de vocês dois. - suspirei e assenti, mesmo sabendo que não podia ver.
- Tudo bem.
- Promete?
- Prometo, . - revirei os olhos. - Agora preciso ir. Tenho um compromisso.
- Balada? – questionou.
- Festa de um amigo. Trabalhei pra cacete hoje, estou merecendo. Você deveria ir.
- Tenho plantão na delegacia hoje, não vai dar.
- Boa sorte! – sorri torto por alguns segundos e desliguei, massageando as têmporas em seguida. Aquele assunto com Veridiana estava me deixando louco.
Parte de mim sabia que deveria deixá-la seguir seu rumo, mas a maior achava que poderia convencê-la a esquecer aquilo de relacionamento sério. Afinal, para que se preocupar com namoro se uma amizade colorida era bem mais divertida? Por que as pessoas sempre escolhiam o caminho mais difícil?
Aquilo simplesmente não entrava na minha cabeça. E nunca entraria.
Levantei-me, mesmo com o corpo cansado exigindo cama, minha alma, tão sobrecarregada com os problemas do trabalho, desejava uma noite de sexo e diversão. Com todo aquele drama de Veri, acabei ficando tempo demais em abstinência e não aguentava mais. Não era acostumado a ser privado das coisas.
Se estava mal acostumado? Provavelmente. Se queria mudar aquilo? De forma alguma.
Uma rápida ducha gelada me animou ainda mais - botei uma calça jeans escura, uma blusa de botões cinzas e um sapato preto, antes de partir, ansiando achar uma bela boca para beijar e um ainda mais belo corpo para tocar. Assim que cheguei, cumprimentei o aniversariante - que me deu um copo do whisky que tanto adorava -, e sentei-me a mesa. Algumas mulheres sorriam para mim, provocantes e sensuais, despertando minha vontade de tê-las. Escolher uma foi difícil, tendo tantas boas opções, mas creio ter feito a melhor decisão. O tempo que dancei com ela e posteriormente, toquei-a na cama, me fez esquecer de tudo, mesmo que por apenas alguns minutos.
O que poderia ser melhor do que aquilo? Por que eu trocaria minha liberdade, por algo que traria apenas problemas? Todos sempre sabem que as histórias de amor terminam em merda. Eu próprio já havia visto aquilo, na minha infância. E era baseado naquelas memórias que fortalecia minha certeza absoluta e inquestionável.
Sexo fazia parte da minha rotina e, modéstia a parte, eu era bom naquilo.

’s POV

- Você me liga? – o garoto perguntou, de braços cruzados na cama. Balancei a cabeça em negação. - Eu te ligo, então? - levantou uma sobrancelha.
- Nem um, nem outro. – sorri com condescendência. – Sexo de uma noite só, conhece? – ele acenou com a cabeça lentamente. – Foi o que aconteceu agora.
- Mas... Você não gostou? – por um momento, tive pena de sua aparente insegurança.
- Eu gostei. Juro. - tranquilizei-o. - Acontece que... Tenho uma doença terminal. - menti como sempre.
- O-oque? - gaguejou, sentando.
- Não se preocupe, não é contagioso. - terminei de me vestir e coloquei os sapatos rapidamente.
- Quanto tempo de vida você ainda tem? - olhou-me com lamentação, como se eu já estivesse morta.
- Alguns dias. - balancei a cabeça lentamente, pressionando os lábios como se quisesse segurar o choro. Esperava que minha atuação estivesse boa. - Papai já tentou pagar o melhor médico e me curar, mas não tem jeito... - fingi limpar as lágrimas e virei de costas. O homem veio até mim, puxando-me delicadamente pelo braço.
- Sinto muito. Mesmo.
- Obrigada. - toquei uma banda de seu rosto e dei-lhe um selinho breve. - Eu aceito minhas escolhas. Espero que aceite as suas.
- Isso não é de A Culpa É Das Estrelas? - franziu a testa. Sorri amarelo.
- Até outra vida! - afastei-me, acenei e parti. Quando me vi do lado de fora, comecei a rir, assustando quem passava ao meu redor.
Eu sabia que aquelas desculpas eram patéticas e que logo seriam descobertas, mas simplesmente não conseguia parar de inventá-las. Era divertido demais ter que bolar uma resposta convincente, dependendo da personalidade de cada um. Não abriria mão daquilo por nada.
No auge dos meus dezenove anos, creio que era particularmente bonita, com meus cabelos longos e olhos grandes. Não me envergonhava nem um pouco em admitir que já havia passado por muitas camas, principalmente as de desconhecidos. Gostava daquilo. Aquele dom de não me apegar já havia me salvado de muitas enrascadas.
No fundo, talvez eu desejasse um namoro sério. Acho que toda mulher, pelo menos uma vez na vida, sente falta de um namorado para lhe proteger - crescemos achando que devemos casar e ter filhos, afinal de contas. Mas eu sabia que aquilo não era coisa pra agora. No momento, só me preocupava com minhas noitadas, minha família, sair daquela cidade miserável e, claro, esquecer Mark.
Distraída como estava, mal notei o telefone tocando.
- ! – cumprimentei, animada.
- Hey, maninha. Demorou por quê?
- Estou com umas amigas. - menti e ele riu do outro lado.
- Pare de ser mentirosa, . Você não tem amigas. Admita que estava com algum macho.
- Okay, okay. - ri também. - No momento estava apenas distraída, mas há alguns minutos atrás, estava mesmo com outro homem.
- Eu odeio isso.
- Por favor, . Você sabe que não sou mais um bebê há muito tempo.
- E por isso precisa pegar tantos? - resmungou ciumento. Meu irmão era extremamente protetor comigo.
- Diz isso, mas faz a mesma coisa. - provoquei.
- É diferente.
- Por que você é homem? - bufei. - Não seja tão machista. Temos os mesmos direitos.
- Desculpe. É que...
- Você se preocupa comigo. Eu sei. Sabe que sou grata por isso. - sorri de lado. - E, em falar nisso... Quando vou poder morar com você?
- De novo? - suspirou. - Já não te falei que divido apartamento com mais dois colegas?
- E daí?
- Não, não, não. Definitivamente: não.
- ! - reclamei.
- Apesar de morar com eles, não confio o bastante para que fique aqui. Eu os conheço, ; eles não valem o chão que pisam.
- Não aguento mais viver nessa cidade arcaica, onde todo mundo está sempre pronto para me julgar! Há quatro anos atrás, era você no meu lugar. Lembra-se de como era ruim? - levei o silêncio como um sim. - Quero fazer faculdade, . Quero ser uma jornalista famosa. Quero expandir meus horizontes.
- E onde você poderia ficar?
- Sabe que sei me cuidar, não sabe?
- Deixe-me pensar um pouco, tudo bem? Preciso refletir. - pediu.
- Prometa que vai ser racional.
- Eu prometo. Te amo.
- Te amo também. - desliguei o celular e o guardei na bolsa, finalmente achando um taxi para me levar até em casa.
Assim que paguei o motorista e saí do veículo, pude ouvir os murmúrios exaltados vindos da sala. Como sempre, meus pais discutiam com fervor. Desta vez, porém, uma pequena garota de vinte anos assistia encolhida no canto. Imaginei ser a amante de papai. Aquela cena estranha me fez querer rir de novo.
Apesar de estarem efetivamente separados há mais de seis anos, Suzana e Genry continuavam vivendo na mesma casa, orgulhosos demais para abrir mão do lugar que mobiliaram com tanto esforço. Quer dizer, aquela era a desculpa deles, mas no fundo eu acreditava que os dois ainda se amavam. Só aquilo explicava toda aquela confusão - o que além do amor causava tanta discórdia entre as pessoas?
- Boa noite, família feliz! – ironizei. Todos se viraram para mim.
- Onde estava? - perguntou minha mãe, histérica. Sorri torto como resposta. - O que diabos é isso no seu pescoço?
- Um chupão, mamãe.
- Mais um? – gritou. – Os vizinhos vão falar!
- Falar ainda mais? – gargalhei. – Nossa família está na boca do povo. Não há como fugir.
- Isso é culpa do seu pai, que quer trazer a amante para casa. – a pequena mulher no sofá se encolheu ainda mais. – Olhe para ela! Apenas uma criança. Você é um pedófilo imundo, sabia? – ralhou com Genry, que revirou os olhos.
- Ela é maior de idade, Suzana. Se não quer ficar pra ver, a porta da rua é serventia da casa.
- Nem morta que eu saio. – teimou.
- Não saio também. Vamos todos morar juntos, então.
- Isto é um absurdo! – minha cabeça doeu com o agudo de Suzana. – Que Deus nos salve, isto é prevaricação!
- O que você acha, querida? – papai se virou para mim. – Aceita que Lucy more conosco?
- Se eu disser não, faz diferença?
- Viu, ela aceita! Pare de fazer drama, mulher.
- Olha, tanto faz para mim. Só não se matem, por favor. Amo vocês. Prazer lhe conhecer, Lucy. – a amante de papai piscou longamente, assustada. Parecia um animal indefeso e, sinceramente, a achei extremamente sem graça. – Boa noite novamente! – subi as escadas e acenei. Era estranho, mas não me importava mais com isso.
Tomei um banho demorado na banheira, examinei o chupão em me pescoço e me vesti, antes de deitar. Logo após desligar a luz, ouvi meu telefone tocar e apressei-me para atender. A voz de meu irmão do outro lado era indiscutivelmente animada.
- Arrumei uma casa para você, princesa! Pode vir para cá.

’s POV


Suspirei, abrindo a porta do apartamento e acendendo a luz da sala. Estava ainda mais exausto do que antes, mas havia valido a pena. Tomei uma xícara de café e um banho antes de me deitar, ansioso para dormir, porém meus planos foram momentaneamente frustrados quando ouvi o telefone tocar e tive que me erguer para atender.
- O que foi, ?
- Lembra-se daquela vez que a Veri chegou cuspindo fogo no seu apartamento, e quase te pegou na cama com a Laura? Se eu não tivesse a enrolado, você estaria morto agora.
- Sim. Veridiana sempre teve dificuldade em entender que não sou propriedade dela...
- Lembra-se daquela vez que te ajudei a curar a ressaca e você vomitou nos meus sapatos novos?
- Sim. Fiz um grande estrago. - ri com a lembrança.
- Lembra-se daquela vez que você saiu no meio do expediente para pegar a ruivinha gostosa que foi fazer um boletim e eu inventei uma desculpa pro chefe?
- Sim. Bom momento, inclusive...
- Lembra...
- Por Deus, ! - interrompi impaciente. - O que você quer?
- Pedir-lhe um favor.
- Qual? – questionei, temeroso. Para tanta enrolação, deveria ser algo grande.
- Eu vim para Nova York faz quatro anos, você sabe. As coisas lá em casa estavam sinistras, meus pais não paravam de discutir e toda as donas de casa me olhavam de rabo de olho, porque eu já tinha comido as filhas delas...
- Eu sei, eu sei! Não preciso ouvir a história de novo. Conta logo. Quero dormir!
- Minha irmã está passando pela mesma coisa e precisa de uma casa aqui em Nova York. Preciso que dê abrigo a ela! – sentei na cama de olhos arregalados.
- Como é?
- é como eu e não aguenta mais ficar naquela cidadezinha, sofrendo os comentários daqueles cidadãos tradicionais. Não posso deixa-la ficar aqui em casa, porque o Travis e o Josh são dois safados, mas em você eu confio.
- Aqui em casa, ? Ficou louco?
- Por favor!
- Veridiana vai pirar!
- Se estou pedindo, acredite, é porque preciso demais. Vai me deixar na mão? - uma maldita batalha se iniciou em minha mente. Se por um lado eu não achava ser uma boa ideia, por outro não podia negar isso a meu melhor amigo. – ?
- Tudo bem.
- Sério? – riu, feliz.
- Sim, filho da puta.
- Você é o melhor amigo do mundo!
- Eu sei. Agora, por favor, me deixa dormir. Amanhã a gente se fala melhor. – desliguei o telefone e o joguei no chão, enfiando a cabeça em meu travesseiro em seguida. Uma dor aguda começou a cutucar meu cérebro.
Só esperava não estar fazendo merda com minha vida.

Capítulo 2


’s POV

Apesar das constantes brigas, nunca tive realmente medo de deixar meus pais sozinhos - confiava no amor que eu sabia que nutriam um pelo outro. Para falar a verdade, sempre achei que era questão de tempo até eles voltarem.
Naquele momento, porém, um medo sem sentidos me fez sufocar. Ao encarar o rosto tristonho de minha mãe, comecei a temer que as brigas levassem a algo mais. E se Suzana acabasse matando Lucy? E se Genry matasse minha mãe em forma de retaliação? E se...
Sentia-me uma mãe abandonando os filhos.
- Mamãe, por favor, não agrida e nem mate a amante de papai. – murmurei, fazendo-a rir. Vi Lucy arregalar os olhos pela minha visão periférica. – Nem mate ele. Não corte seu membro, nem nada disso. Por favor.
- Querida, eu não irei. – me olhou com amor e diversão, lembrando-me que apesar de seu jeitinho doido de ser, ela ainda era minha mãe, a mulher mais independente e forte que eu conhecia. Suspirei. – Espera... Você falou membro? – olhou-me chocada. Mesmo sabendo que não era mais virgem, Suzana falava de sexo para mim usando as expressões ‘namorar mais intimamente’ ou simplesmente ‘namorar’. Ignorei-a, sorri amarelo e andei até meu pai.
- Não agrida mamãe e nem a mate. – repeti o discurso. Genry riu debochado.
- Vou tentar, filha.
Dei um beijo em sua testa e um passo para o lado. Lucy me encarou com seus grandes olhos azuis arregalados.
- Espero que faça meu pai feliz. – sorri amigavelmente. Ela me devolveu o ato. – Mas se fizer algo contra minha mãe, eu te mato. – estreitei os olhos. – Estou falando sério.
Mamãe gargalhou e Genry me afastou de sua namorada, o olhar reprovador, mas vi uma sombra de divertimento por trás. Ele podia até estar apaixonado pela vara pau, mas amava Suzana.
- E você, mocinha, se cuide. Use preservativo, não fique até tarde na rua. Lembre-se que Nova York é grande e perigosa. Não saia sem seu irmão. E...
- Mãe. – sorri, paciente. – Sei disso.
- Se fizer algo errado, volta para casa na hora. – olhou-me de rabo de olho. Depois sorriu. – Eu te amo. Sentirei sua falta.
- Sentirei sua falta também.
Ela me abraçou de lado. Rumamos para fora de casa, onde o carro me esperava. Seria uma viagem longa, mas valia a pena. Dei um beijo estalado em seus rostos – até no de Lucy – e entrei no automóvel. Assim que virei à esquina, aumentei a velocidade. As pessoas me olharam com reprovação quando eu passei arrastando pneu pela rua, e uma senhorinha em especial balançou a cabeça duramente. Em resposta, ergui meu dedo do meio para ela.
Um estúpido sorrisinho se recusava a deixar meus lábios, apesar da tristeza da despedida ainda estar presente em mim.
Bye bye, cidade de merda. Hello, Nova York!


**


Cheguei lá seis horas depois de sair de casa – como fiz uma parada para descansar a bunda, demorei um pouco mais. Não sabia onde era o apartamento do melhor amigo de , então marquei com ele em frente à delegacia que trabalhavam.
O lugar era extremamente grande e imponente, exibindo beleza e poder. Observei-o com admiração, encostada à porta do carro. Pouco demorou até um risonho sair pelas portas e me puxar em um abraço sufocante.
- Princesa! – exclamou. Meu irmão, no auge de seus vinte e cinco anos, era muito bonito. Apesar de ser um pouco baixo em comparação aos outros, tinha cabelos escuros e escorridos, belos olhos claros e sorriso meigo que faziam esse detalhe passar desapercebido.
Parecia um anjo, mas não era. Por trás daqueles olhos inocentes, havia um grande cafajeste.
- Este lugar é maravilhoso! Sempre me admiro ao vir. – falei, referindo-me a delegacia. sorriu orgulhoso.
- Verdade. Vamos, não posso demorar, preciso voltar logo ao trabalho.
- Muitas mortes? – ele gargalhou, entrando no carro. Mesmo tendo ciúme do meu bebê, permiti que dirigisse, afinal não sabia onde era o lugar.
- Aqui é Nova York, baby. – falou em tom óbvio. – Em falar nisso, tenho que lhe dar alguns avisos.
- Por favor. – revirei os olhos. – Sei que aqui é perigoso, bla bla bla. Não sou criança.
- Deixe-me fazer o papel de irmão zeloso, por favor. – ralhou. Ri e balancei a cabeça.
- Tá bom, . Fala.
- Por favor, evite sair sem minha companhia ou a de , pelo menos por enquanto. Sei que acha que é tolice, mas Nova York é realmente uma cidade diferente das quais está a acostumada. - abriu mais os olhos. Acenei com a cabeça. - Logo iremos passar nas faculdades, tudo bem?
- Certo. - fiz uma curta pausa. - Vamos falar de outra coisa agora. - ele continuou me encarando, curioso. - Vamos falar do seu melhor amigo. - seus olhos instantaneamente se estreitaram e uma carranca surgiu em seu rosto. Suspirei profundamente, cansada. - Por favor, não corte meu barato com seu extremo ciúme. Não vou largar minha rotina porque mudei de cidade, okay? Muito pelo contrário.
- Qual seu interesse nele?
- Vou morar com o cara, . É claro que estou interessada. - rolei os olhos.
- Não vai rolar nada entre vocês.
- Você não tá a fim dele nem nada disso, né? - ergueu o dedo do meio pra mim, fazendo-me rir e levantar as mãos em rendição. - Okay, okay! Guarda essa agressividade aí.
- tem uma namorada bem ciumenta. Nem pense em dar em cima dele, se preza por essa carinha linda que papai e mamãe fizeram.
- Só quero saber como ele é, . - cruzei os braços. Sinceramente, desejava saber como era sua aparência também, mas com a última informação, acabei desanimando. - Ele é bagunceiro? Trabalha muito? Gosta de fazer muitas festas?
Um exalo aliviado deixou seus lábios, antes que ele começasse a falar:
- é muito organizado. Às vezes até demais. - deu um sorrisinho. - Ele sabe cozinhar, também, então não se preocupe quanto a isso que de fome você não morre.
- Eu sei fazer comida.
- Verdade. Deixe-me reformular: ele sabe cozinhar bem, diferente de você. - bati em seu ombro com força. - Enfim, continuando. Meu amigo trabalha tanto quanto eu e folgamos uma vez na semana, em dias diferentes. - fez uma cara pensativa e inclinou a cabeça para o lado. - Acho que só.
- Só isso? Nada sobre a personalidade dele?
- Bem, esse tipo de coisa você vai descobrir. - parou o carro e sacou o celular, digitando os números rapidamente. Trocou algumas palavras com quem percebi ser meu anfitrião e depois se virou para mim. - Prometa-me que não vai deixar nada rolar entre você e ele.
Bufei fortemente.
- Que besteira! De onde vem todo esse ciúme?
- Prometa-me. - insistiu sério.
- Tudo bem. Prometo. Satisfeito?
apenas sorriu e saiu do carro. Fiz o mesmo, ajeitei a saia com as mãos e ergui a cabeça.
- Boa tarde. - falou um homem, se aproximando com um sorriso torto na boca. Senti todos os pêlos do meu corpo se arrepiarem instantaneamente
Que não seja o melhor amigo de . Que não se...
- ! - cumprimentou , frustrando qualquer esperança que eu tinha.

’s POV

Enquanto eu subia as escadas, só conseguia passar e repassar uma palavra em minha mente: merda.
Mil vezes merda.
Dividir apartamento com outra pessoa? Difícil. Dividir apartamento com uma mulher? Muito difícil. Dividir apartamento com uma mulher gostosa? Impossível.
Segure-se, . É a princesinha do seu melhor amigo. Você lembra do que ele falou - você sabe do ciúme que ele tem.
Mulher nenhuma vale a amizade dele.
Abri a porta e pus as duas malas para dentro – os dois fizeram o mesmo. Os olhos de imediatamente adquiriram um brilho admirado, assim que ela fitou meu apartamento.
- É lindo. – comentou, sorrindo. – Obrigada por me aceitar aqui, . Serei eternamente grata. – virou-se para mim com sinceridade na face.
- De nada. – acenei levemente com a cabeça e dei de ombros. sorriu com satisfação.
- Preciso ir, mas venho mais tarde aqui. Fica com Deus, mana. – beijou o alto da cabeça dela e saiu. Enfiei as mãos nos bolsos dos meus shorts e mexi os tornozelos, sem saber o que dizer ao certo.
- Vou mostrar seu quarto. – falei, quebrando o clima. Peguei duas de suas malas enquanto ela pegava outras e levei-as até o meio do quarto.
- Obrigada. – repetiu. Dei de ombros.
- Quando estiver instalada, estarei te esperando na sala. - fiz um gesto desajeitado com a mão e deixei o recinto.

’s POV

Sentei-me na cama, sentindo-a quicar abaixo de mim. Novamente, o sorriso bobo não deixava minhas feições - parecia tudo surreal demais.
Depois de tanto tempo, finalmente consegui convencer meu irmão a me mudar para Nova York. Logo meu sonho de virar Jornalista se tornaria real e eu poderia ganhar meu próprio dinheiro, ter minha própria casa. Claro que, enquanto isso, eu teria que morar com o melhor amigo dele - algo que seria completamente delicioso, se não fossem as circunstâncias. Vamos ver o quanto eu sou boa em me controlar... Para o bem de , espero que seja ótima nisso.
levantou a cabeça assim que ouviu meus passos e sorriu.
- Tá com fome?
- Sim, na verdade. - soltei um risinho, o homem se ergueu.
- Fiz panquecas. - segui-o até a moderna cozinha, escorando-me no batente. pegou os pratos, os talheres e começou a botar. - Não precisa me servir! – corei, fazendo-o sorrir paciente.
- Não custa nada ser gentil. – piscou. – pediu-me para ser educado com a princesinha dele.
- Obrigada. – ele pôs a comida e me entregou, antes de pôr a sua própria.
- Pare de agradecer.
- Obrigada. - repeti sapeca. O homem rolou os olhos, mas sorriu.
- Seu irmão me falou que deseja fazer faculdade.
- Oh, sim, de Jornalismo. Vou começar a procurar sobre isso amanhã.
- É um bom dia, já que estará de folga. Em falar nisso, eu trabalho das nove as sete todos os dias, então não precisa me esperar para comer. Se quiser trazer alguém para cá, está tudo bem. – olhou-me profundamente, deixando claro sobre quais companhias se referia. Achei legal da sua parte frisar isso. Nem todo homem gostava de abrir suas portas para outros, acho que era algo sobre demarcar território. Mas bem, não precisava dessas coisas estúpidas. Ele tinha o tipo de confiança que exalava, embriagava. Um tipo que eu conhecia muito bem.
Levei nossos pratos até a pia e fez o mesmo em seguida, aproximando-se de mim por trás, não o bastante para colar nossos corpos, mas o bastante para me fazer sentir sua presença. Quando me virei, acabei minando os poucos centímetros que nos afastavam. O senti meio desconfortável quando deu um passo para trás. Sorri com tranquilidade e apontei com a cabeça para as louças.
- Pode deixar que eu lavo.
- Nem pensar. Você é visita.
- Uma visita que irá morar aqui. – revirei os olhos. – Por favor, . – levantei as sobrancelhas.
- Seu irmão disse que você era teimosa. – falou, com ar de risos.
- Ah, ele me conhece. Sabe qual o meu gênio. Sabe que não é legal discutir comigo. – olhei-o, sugestiva.
- Sério que estamos disputando uma pia cheia de pratos? Nem faz sentido. Se te faz tão feliz, pode lavar, . – olhou-me com sarcasmo antes de virar e entrar na sala. Observei sua bunda bem desenhada antes de virar e começar a lavar.
Quando terminei, sua voz se estendia sobre o cômodo, parecia estar discutindo com alguém. Encostei-me a soleira da sala, sem querer atrapalha-lo, e nem me notou.
- Veridiana, por favor... Sim, ela está aqui. Sim, é a irmã de . Sim, é bonita. – sorri de lado. – Deixe de ciúme idiot... Veri, por favor, me enten... – esperou um tempo, balançando a cabeça. – Amanhã às 12. Tudo bem. Te espero no café em frente a delegacia. Até mais.
Após desligar, o homem jogou o telefone ao seu lado no sofá e embrenhou as mãos em seus fios . Só me notou na sala segundos depois, percebi que ficou sem ação e achei adorável.
- Desculpe ouvir, mas terminei de lavar os pratos e não quis te atrapalhar. – expliquei. Ele assentiu. – Sua namorada está com ciúme de mim? – não consegui controlar os risos que vieram em seguida. Tampei a boca, sabendo que era indevido. – Desculpe, mas soa engraçado.
- Ela não é minha namorada, na verdade. - corrigiu suavemente. - É minha... Amiga colorida.
Sentei-me ao seu lado, subitamente interessada.
- Vocês se conhecem há muito tempo? Desculpe perguntar.
- Quatro anos, nos conhecemos no enterro da avó dela. - pisquei, estupefata. riu. - Sei que é uma situação pouco convencional, mas... - balançou os ombros.
- Que interessante. E mesmo assim ela quer te controlar?
- Veridiana é um pouco complicada, às vezes. - escolheu as palavras com cuidado. - Queria encontrar alguém tão desencanado quanto eu.
- Quem sabe um dia? – pisquei, deixando um pouco da minha malicia escorrer pelos lábios. Levantei e rumei para meu quarto.
- Quem sabe... – respondeu, rindo levemente em seguida.


***


As paredes do local pareciam tremer com o som que reverberava alto. Sorri ao olhar o redor ao ver pessoas dançando, conversando e bebendo sem parar enchiam os quatro cantos.
- Esta é a balada mais famosa de Nova York. – explicou meu irmão. – Só entra quem tem convite.
- E como você conseguiu? – gritei de volta.
- Ah, você sabe... Uma transa, que levou a outra, que levou a outra... Que levou a filha da dona do lugar. – piscou. Ri.
- Ah, sei bem. – entramos e nos esprememos entre os corpos. Conseguimos chegar ao terceiro andar, que era reservado, onde uma mesa nos esperava. Sentamos e meu irmão nos pediu uma bebida.
- Como foi o primeiro dia? – perguntou-me, os olhos inocentes beirando entusiasmo. Dei meu melhor sorriso.
- Foi ótimo. é muito simpático. – e gostoso.
- Ai dele se não for. – brincou.
- Quando vai me levar para conhecer sua casa?
- Em breve, princesa. Já sabe o que quer fazer amanhã?
- Quero visitar os lugares turísticos, comprar roupas, visitar faculdades... – levantou a mão.
- Vai com calma, gafanhoto!
- Estou com sede de novidade.
- Entendo, fiquei assim também quando cheguei. Mas temos tempo de sobra. – nossas bebidas chegaram. Dei um gole no liquido vermelho, que saiu rasgando em uma sensação boa.
Conversamos mais algumas besteiras antes de terminarmos nossos drinks e rumarmos para a pista do primeiro andar. Pouco tempo depois, dançava com um rapaz de belas orbes castanhas e cabelos da mesma cor, enquanto meu irmão beijava uma ruiva de curvas eminentes. Passei horas maravilhosas de amasso com o desconhecido, mas não consegui ir até o fim porque irmão me cutucou, dizendo que deveríamos ir - sabia que não adianta discutir com ele e apenas obedeci. Se gostaria conhecer a casa do outro homem? Sem dúvidas. Mas pelo menos por enquanto, tentaria não irritar meu irmão.
Por enquanto. Não estava nem um pouco disposta a largar meu estilo de vida.
Nem um pouco mesmo.


CONTINUA



Nota da autora: 14.12.2014 – Sem nota

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