NOME
Autora: Nathália e Sofia | Beta: Thais


First

Ele analisava os papeis de sua última consulta com um nervosismo evidente para qualquer um que entrasse em sua sala. "É ela” pensava. Agora que tudo já estava pronto ele só precisava dela. Seus dedos não paravam de batucar na mesa de seu escritório, no qual, o homem deixava sempre em perfeito estado. As paredes impecavelmente brancas que eram decoradas com seus quadros. No meio do recinto estava sua mesa de vidro, de um lado dela havia a sua poltrona preta, que combinava com todos os móveis, esta que ele tinha certa adoração por acha-la extremamente confortável. Do outro lado, duas cadeiras também pretas, para os pacientes. Seu escritório era realmente muito bonito e bem decorado. Olhou no seu relógio: 11h23. Já havia se passado duas horas desde aquela consulta, mas sua mente parecia ter parado no momento em que entregou o papel à menina. Seus pensamentos rápidos foram cortados pelas batidas delicadas tão conhecidas, produzidas contra a madeira escura que era sua porta. Viu a maçaneta girar-se, logo o rosto pálido e os cabelos encaracolados ruivos de Dra. Burton já poderiam ser vistos.
- Doutor ? – A voz fina da enfermeira ecoou da entrada da sala, enquanto a mesma já adentrava e girava a chave na tranca. Um cheiro forte e extremamente doce que emanava da moça ruiva penetrava no consultório.
- Já falei pra me chamar de , Meredith. – O homem pigarreou se levantando e dando a volta na mesa, encostando-se à mesma.
- Eu acho mais sexy. – A ruiva falou se aproximando devagar. Em pouco tempo sua mão extremamente pálida e delicada tocou o rosto do doutor, descendo devagar pelo lado esquerdo de seu ombro, apertando-a no braço forte do doutor até tocar sua mão na qual tentou segurar, mas se afastou rapidamente, encostando-se à grande janela do lado direito da sala, atrás de sua mesa. Meredith o fitou pegar um maço de cigarros do bolso, pegando um e o acendendo com um isqueiro que guardava no seu jaleco sem entender. – Não pode fumar dentro do prédio, . – Ela falou devagar, se apoiando na poltrona que ele tanto adorava.
- Não é permitido dar para o chefe também, mas nem por isso você obedece. – Ele falou soltando um riso nasalado e sorrindo ironicamente, tragando o cigarro ainda mais forte. Meredith abriu a boca algumas vezes tentando formatar uma frase, mas não falou nada. – Meredith, eu estou ocupado. – disse indo em direção da porta, abrindo-a e fazendo sinal para ela ir embora, a garota ficou boquiaberta, colocando uma mecha ruiva atrás da orelha e obedecendo devagar. Seu perfume enjoativo adentrou novamente as narinas do homem ao sair da sala, enquanto seus passos se tornavam mais rápidos se direcionando pelo corredor sem olhar para trás. revirou os olhos e fechou a porta atrás de si, tragando mais uma vez com força sentindo seus músculos relaxarem um pouco.
Ele ficou por um tempo pensando sobre a loucura que estava prestes a cometer encostado à sua porta, aquilo era arriscado, mas também era seu sonho. Seu sonho desde os oito anos de idade. Seu sonho desde que ela se foi. Desde que ela se foi, e levou um pedaço dele junto, a sete palmos do chão A única pessoa que fora capaz de amar foi tirada dele tão rapidamente. Após isso o rapaz não se permitiu amar mais ninguém, não se permitiu apegar-se. As poucas pessoas que ele socializava, dormiam com ele, e no outro dia, não era capaz de lembrar-se do nome delas, as outras eram seus colegas de trabalho e o outro era seu primo, parceiro e melhor amigo, o único da qual ele não conseguiu não se apegar, aquele que o ajudou quando seu mundo desabou, mesmo que, possuindo apenas nove anos de idade naquela época.
O doutor acordou de seu devaneio, estava decidido, ele faria isto, não se arrependeria, e não se sentiria culpado se algo ocorresse errado - improvável-. Ele repetia estas duas frases, para tentar convencer a si mesmo de que ele estava correto.
tirou o celular apressadamente do bolso traseiro de sua calça jeans azul clara, digitando rapidamente uma mensagem destinada ao seu querido amigo. Sentou-se novamente, apoiou seus cotovelos na mesa e suas mãos na cabeça, passando os fios de seu cabelo por entre os dedos e puxando-os. Tinha que confessar, estava nervoso.
andava aflita pela cidade, ela estava dando voltas em seu carro pela cidade de Londres há mais de uma hora. Aquela notícia era demais para ela, era informação demais para seu cérebro, era com certeza mais do que ela aguentava. Mas como sua mãe dizia "Tudo acontece por um motivo.”, não é? Se aquilo estava acontecendo com ela, não iria tentar impedir, não seria ela nem um doutor que impediriam. Conseguia lembrar as exatas palavras usadas por Dr. , aquelas que eram como uma faca que entrava e saia de seu peito no ritmo do mais pesado heavy metal. A menina ligou o som para tentar se distrair, zapeou por várias rádios até achar uma que lhe agradasse, mas a quem ela queria enganar, nem prestava atenção na voz dos Beatles que ecoava do som do carro. Olhou no relógio: 16h36.
Não iria à faculdade hoje, estava nervosa demais, e para que iria? De nada adiantaria, ela não iria se formar, não daria tempo. A garota desligou o ar condicionado do carro e abriu as janelas, ela sentia o vento bater em seus cabelos, fazendo alguns fios roçarem em sua face, se sentia um pouco melhor com isso, sentindo o aroma das flores da primavera londrina. Ela parou na sinaleira, e encarou sua bolsa no banco do passageiro. E se estava se sentindo bem antes, esse sentimento se foi como a água que caí do chuveiro e vai até o ralo. Abriu-a e pegou o papel que tanto encarou horas antes. Desamassou-o e leu novamente o resultado de seu exame, a palavra "leucemia” parecia garrafada e sozinha naquele pedaço de papel branco, e se fosse pensar, realmente estava. Ela obviamente entendia todas aquelas palavras confusas usadas na medicina, por estar no último ano da faculdade de enfermagem, e ser ótima aluna, mas elas pouco importavam no momento. Ela estava com um tumor no cérebro! Definitivamente nada importava no momento, ela morreria dentro de meses mesmo. ouviu uma buzina, largou o exame de lado e arrancou o carro. O estado do seu câncer poderia ser tratado, mas eram poucas as chances de curá-la. Com a cabeça já cheia, resolveu voltar para seu apartamento para descansar, tentar dormir e ficar enfurnada lá até domingo à noite, e apenas sairia para jantar com sua mãe e seu pai que viriam de Roma –onde moravam- para visitar ela e seu irmão gêmeo, – que cursava a faculdade de direito-.
No caminho para sua aconchegante moradia ela apenas pensava em como diria para sua família que estava com leucemia e que não pretendia tentar curar-se, pois não adiantaria nada. Sentiu uma lágrima, ela estava prestes a morrer! Não que tivesse medo da morte, nunca teve, mas nunca pensou que ela chegaria tão rapidamente. Tentava imaginar a reação de seus pais, que viriam de outro país vê-la para descobrir que sua filha estava com câncer, de seus amigos, de Catherine, sua amiga desde a quinta série, e principalmente, de seu irmão, que antes de tudo, era seu melhor amigo.
Entrou na garagem de seu luxuoso apartamento, que seus pais bancavam, e estacionou sua Range Rover Evoque branca, o presente de formatura adiantado de sua mãe, ficou parada com a cabeça no volante, se antes era apenas uma lágrima, agora eram várias, e elas não cessavam. Permaneceu parada até sua cabeça, sem querer, apertar a buzina do carro que ecoou fortemente na garagem, lhe assustando. Ainda contra sua vontade saiu do carro, quanto mais rápido chegasse em casa, mais cedo dormiria. Andou até a porta de vidro, tocou na maçaneta de ferro para abri-la, e nesse momento sentiu um braço forte puxar sua cintura para trás, enquanto o outro ia até seu nariz com um lenço nas mãos, sabia o que estava acontecendo, estava sendo sequestrada e isso era óbvio, tentou ao máximo não inalar o produto que o homem havia grudado em seu nariz junto do pano, um desafio um tanto quanto difícil. A tentativa foi falha, em segundos estava respirando, já sentia a tontura e tudo que via eram borrões, logo depois estava jogada nos braços musculosos do homem, desacordada. Apagada. O rapaz largou-a no porta-malas de um Audi A5 preto, pegou a bolsa vermelha da mulher e colocou-a no carro também.
andava de um lado para o outro, e fitava seu relógio de pulso a cada cinco minutos. O que, na verdade era desnecessário pois não estava atrasado, ele nunca se atrasava, e também nunca errava. Não tinha com o que se preocupar. Quer dizer, além de estar cometendo um crime, mas era para o bem certo? Era para ajudar as pessoas, nem que isso custasse uma vida, mas ele tinha certeza que não aconteceria isso, que daria certo, tudo apontava para um resultado positivo. Afinal, ele não gastou sua vida inteira, não trocou a brincadeira de sua infância por estudos, o escorregador, o balanço, o peão e nem a bola de futebol por livros de ciências e matemática para, no alto de seus 27 anos de idade, falhar. E isso não ocorreria. Ele não falharia. Ele tinha certeza disso.
Ele estava numa ”casa” subterrânea, um local herdado de seu falecido e odiado pai, onde o mais velho levava suas amantes para sua mulher não descobrir, quer dizer, amantes até virar viúvo. não gostava daquele lugar, tinha nojo dele, tinha nojo de seu ex-dono. Mas aquele lugar era perfeito, era no meio da estrada, longe de tudo, era grande, quase como um apartamento, não parecia nem um pouco que ficava no subterrâneo, tinha até calefação para livra-los do frio londrino. Realmente dinheiro era o que não faltava ao velho empresário . A escada ficava na sala, que antes possuía apenas um sofá, uma mesa e uma grande televisão de plasma, agora tinha balcões com os materiais médicos necessários para suas experiências, esses ficavam no canto do recinto. Ao lado da sala, uma cozinha americana, com as paredes pintadas de branco, como toda a casa, e do outro lado um corredor que levava às duas suítes. O local estava todo organizado, consequência de sua mania de arrumação. Olhou no relógio novamente, poderia demorar mais um pouco, com esse pensamento resolveu tomar um banho para relaxar.
Tirou suas roupas e foi para debaixo da água quente. Outra mania de era passar os dedos por entre os fios de seu cabelo, em sinal de nervosismo. Ele com certeza não era um exemplo de pessoa, não era nem de longe um santo, mas nunca na sua vida havia cometido um crime daquele tamanho. Daquele impacto. A água caía em sua cabeça e escorria por todo seu corpo, levando embora um pouco da culpa que sentia, para o ralo. Respirou fundo e desligou o chuveiro. Sentiu os últimos pingos e ficou no box até a água parar de cair totalmente. Pegou a toalha que estava pendurada no gancho, secou-se e enrolou-a na cintura. Saiu debaixo do chuveiro, e encarou-se no espelho que tinha em cima da pia por um tempo, até ouvir barulhos vindos da sala. Foi até o quarto e pegou o revólver que tinha debaixo do colchão. Podia ser , mas podia também ser outra pessoa.
Foi até a sala encostado-se à parede, e com a arma apontada para frente. Quando pisou nos azulejos frios do recinto, abaixou-a ao dar de cara com seu parceiro segurando uma garota desacordada nos braços completamente tatuados.
- Te assustei, primo? – perguntou sorrindo. sorri sarcasticamente e o abraça. Eles eram primos por parte de mãe, ou seja, se conheciam desde que nasceram, definitivamente, melhores amigos desde sempre.
- Há quanto tempo ela está apagada? – perguntou passando as mãos pelos cabelos molhados e respingando água pela sala.
- Mais ou menos uma hora, eu acho. – Em resposta ele recebe um "hm”.
- Se livrou da bolsa dela? Desativou as câmeras da garagem e da saída? Não dei... – foi bombardeado de perguntas e o cortou rindo.
- Sim, sim, cara, se acalme. – Ele responde e coloca a menina no sofá. – Estava pesando. – No exato momento que ele fala a última sílaba da palavra, a garota, agora deitada no sofá abre os olhos lentamente. E então, diferentemente do jeito que acordou, levanta numa grande velocidade e fita os dois homens parados à sua frente, com as mãos presas para trás do corpo, pés colados com uma corda amarrada e a boca contornada por uma fita adesiva, ela passa os olhos do rosto bem desenhado de seu médico e desce o olhar para seu abdômen nu. Fica com os olhos parados ali por um tempo e então, se toca. – Olá, a coisa aqui será bem rápida. – O homem que ela não conhecia falou tranquilamente, como se fosse normal sequestrar alguém, e finalmente quebrou o silêncio. Ela não iria gritar, se eles queriam dinheiro, seu pai daria. Não tinha o porquê de se gastar sua voz gritando, nem adiantaria, ninguém ouviria. se aproximou dela tirou a fita, vendo que a menina não armaria um escândalo.
A garota nota que o homem com a toalha na cintura a encara de um modo forte, com pena, talvez por saber de sua doença, até porque ele era Dr. , seu médico, o que descobriu seu tumor. E o fato de que seu médico estava parado em sua frente, no meio de um sequestro, apenas de toalha era o que mais lhe intrigava.
- O que... O que vocês querem comigo?


Continua...

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