Fic por Skyler W. | Revisão por Patrícia


PRÓLOGO


Ninguém sabe ao certo qual é a origem dos cupidos. Alguns afirmam a existência de apenas um, o deus grecoromano Eros, representante do amor e do desejo. Para outros, este é um grupo de semideuses sob a proteção de Afrodite que, ao atirarem seus arcos, fazem humanos e deuses apaixonarem-se uns pelos outros. Há ainda aqueles que acreditam que nada mais são que humanos com certa inclinação para formar casais duradouros.
A dúvida permanece não apenas para os mortais, mas também entre os próprios cupidos. Dentre as várias, porém, duas teorias prevalecem. Primeiramente, a de que são filhos de Afrodite com humanos, nascidos, portanto, como semideuses. Em segundo, a de que são crianças perdidas, abençoadas ou oferecidas aos deuses do amor, às quais foram concedidos dons divinos e a responsabilidade de espalhá-los entre o reino dos mortais.

CAPÍTULO 1


Esperava impacientemente, entrelaçando meus dedos entre si.
Ao meu redor, dezenas de outros erotes¹ também aguardavam até que seus nomes fossem chamados. A lista não seguia uma ordem alfabética, então eu não fazia ideia de quando seria minha vez.
Eu estava ansioso, afinal aquela seria a minha primeira missão.
Era permitido aos mais novos assistir à convocação semanal desde que permanecessem afastados dos mais velhos. Por isso, eu já sabia o que estava prestes a acontecer. O representante de cada um de nós diria nosso nome e, então, iríamos até o ponto mais alto do pátio. Chegando lá, seríamos levados a outro local onde, enfim, ouviríamos qual seria nossa tarefa.
- Harry - uma voz masculina chamou, tirando-me de meus devaneios.
Levantei a cabeça, procurando seu dono. Apesar de já saber quem era meu deus patrono, não fazia ideia de quem seria meu representante. Assim que me deparei com um homem alto e robusto que pacientemente encarava seus arredores. Sobrevoei até ele, pousando a cerca de um metro e meio de distância.
- Eros? - ele perguntou.
Assenti e, com apenas um meneio de cabeça, o homem em minha frente gesticulou para que eu o seguisse. Sobrevoamos até o fim do pátio antes de entrar em um dos corredores. Olhei ao meu redor, tentando memorizar o caminho, mas meu cérebro parecia não acompanhar o bater de minhas asas. O corredor era comprido, e as portas ao longo dele eram todas iguais, feitas de algo que eu presumia ser mármore branco e ouro. Comecei a contá-las. Ao atingir a décima quarta à direita, meu representante parou e se virou em direção a ela. Distraído, quase esbarrei nele, parando a apenas poucos centímetros. Neste exato instante, ele me encarou e franziu a testa, como se tivesse me visto quase colidir, antes de se voltar para a porta e girar a maçaneta.
Entrei rapidamente depois dele; a inquietude me atingindo de novo enquanto eu imaginava o que poderia haver naquela sala que eu esperara tanto tempo para visitar.
Senti a decepção me atingindo ao que me deparei com o lugar vazio. Ao meu lado, ouvi a risada do homem.
- Diferente do que você esperava? - ele ergueu a sobrancelha, ainda sorrindo.
Dei de ombros, mas, antes que pudesse responder, uma nova presença se fez presente na sala.
- Eros! – meu representante prontamente se curvou, em sinal de respeito.
Repeti o gesto, olhando para o jovem deus à minha frente. Segundo os mitos, Eros tinha, atualmente, mais de três mil anos. Sua aparência, porém, beirava aos dezessete. Ele tinha um dos rostos mais bonitos que eu já havia visto e eu não entendia muito bem como era possível ter traços tão delicados e masculinos ao mesmo tempo. Eu o avistara poucas vezes antes, incluindo quando descobri que seria meu padroeiro. Era uma espécie de honra trabalhar para uma das divindades do amor mais conhecidas. Poderia ter acabado com Pothos, de quem mal se ouvia falar, mas, ao invés disso, fui selecionado para Eros – justo aquele que dava nome a todos os Erotes.
- Harry?
Assenti. Percebi, pelo canto do olho, meu representante deixar a sala.
- Primeira missão? – Eros sorriu abertamente. – Ah, elas são sempre divertidas! Todo esse tempo esperando e finalmente poder interferir no destino dos mortais!
Concordei, meu riso mimetizando o seu.
- E o que eu vou ter que fazer? – indaguei.
"Quem eu vou fazer se apaixonar?", pensei, animado, comigo mesmo. Comecei a imaginar rostos e histórias, apenas esperando para serem interligadas.
- Calma, calma! – ele ergueu os braços, zombeteiro. – Antes disso... Já tem seu arco e flecha?
- Já!
- Do que são feitos?
- Ouro.
Eros mexeu a cabeça afirmativamente.
- Só tinha que confirmar. Procedimento padrão.
Ficamos em silêncio por alguns segundos e quase me pronunciei. O cupido apenas ergueu a mão em minha direção, pedindo-me para aguardar, e percebi que estava pensando. Esperei, coçando a nuca, até que ele me encarou.
- Nada muito difícil para sua primeira vez... Uma missão padrão – Eros gesticulava. – Seu alvo é um garoto chamado Zayn Malik e sua tarefa é encontrar a alma gêmea² dele.
Não fazia ideia de quem era Zayn Malik e, pela primeira vez desde que me lembrava, peguei-me questionando como faria para encontrar não só ele, mas todos os outros.
Percebi que tinha emitido a pergunta quando Eros sorriu de novo e estendeu sua mão. A atitude era estranha, mas ofereci a minha em retorno. O cupido as entrelaçou e, de repente, pude visualizar um local perfeitamente. Não só isso, mas suas exatas coordenadas me vieram à mente.
Olhei para ele de olhos arregalados, não sabendo como tinha feito isso. Ele soltou uma gargalhada e largou minha mão.
- Eu também vou conversar com seu representante mais tarde... Desde a minha época não deixam novatos saírem sozinhos – seus lábios se repuxaram maliciosamente, como se estivesse se lembrando de um acontecimento passado engraçado. – Faça-o se apaixonar o mais rápido possível e, assim que conseguir, nos veremos de novo.
- E se eu tiver alguma dúvida?
- Pergunte ao seu representante – Eros disse simplesmente, dando de ombros. – Se ele não souber responder, a pergunta vai chegar até mim.
Assenti, sentindo que a conversa tinha chegado ao fim.
- E, Harry – seu tom era mais severo agora do que havia sido durante toda a conversa, como se todo aquele ar de diversão do deus tivesse desaparecido. –, lembre-se: nossa influência pode levar os mortais a fins drásticos. Tome cuidado.
Mal tive tempo de responder. Com um rápido meneio de cabeça, Eros se foi.

¹Erotes, também chamados de Erotis ou Erotheis, são um grupo de deuses e semideuses da mitologia clássica associados ao amor e ao sexo e parte da comitiva de Afrodite. Erotes é o plural de Eros, que literalmente significa desejo.
²O termo alma, nesse caso, equivale ao conceito de psique. Para os gregos seria algo como “sopro”, “respiração” do ser humano. Hoje em dia, as traduções mais comuns se referem à alma, à mente ou ao ego do indivíduo. Mas sempre que eu usar os termos alma e psique nessa história, eu vou estar me referindo a eles como sinônimos.


Continua...



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