Escrita e betada por: Cocó





Só podia ser parte de uma grande piada, na qual Lydia, apesar de sua genialidade ser muito mais avançada do que basicamente 80% de toda Beacon Hills High, ela não era capaz de entender a graça. Mandá-la como isca atrás de Stiles? Sozinha? Sem reforços, sem armas, sem absolutamente nenhum tipo de proteção? Scott só podia ter ficado louco aceitando conselhos de Derek – e pior, de Peter.
“Talvez ela consiga trazê-lo de volta à sanidade”, eles disseram. Mas por que ela e não Scott, o melhor amigo?
Ah, claro. Nem mesmo Scott passara ileso das mãos do Nogitsune. Nem mesmo Scott. Então, como alguém como Lydia poderia fazê-lo?
“Ele é apaixonado por ela desde a sexta série”, Scott disse, antes de cruzar os braços, pensativo e questionando-se se realmente estava fazendo a coisa certa.
Agora era tarde demais.
Lydia caminhava em seus salto alto vermelho pela grama, desequilibrando-se vez ou outra, quando o sapato ficava preso na terra úmida. Aquilo era um erro. Alcançou o portão enferrujado do hospício e o abriu com as mãos trêmulas. Seu coração pulsou freneticamente dentro do peito, assim que pôs os pés na estrada de pedras que a conduzia à entrada daquele maldito lugar. Só o pensamento de que Stiles, o seu Stiles, estaria lá dentro, preso em seu próprio corpo e sem poder falar, agir, viver... Fazia-a tremer em seu encalço. Não era justo, não, não com Stiles.
O vento gélido entrava pela lã do seu cardigã, fazendo os pelos de seus braços eriçarem. A situação seria cômica – o prédio aparentemente assombrando, o céu tão preto quanto à escuridão e o frio, ah, o frio – não fosse o fato de que cada partícula do seu ser estava congelando de medo e desespero.
Respirou fundo, tomou o fôlego necessário e sem mais delongas, entrou na instituição. Assinou “Lydia Martin” em sua caligrafia moderna e impecavelmente perfeita na folha de visitas e um enfermeiro, ranzinzo e grosso, acompanhou-a até o quarto de Stiles. Se é que podia chamar aquilo de quarto; o choque inicial deu-se por conta da precariedade do lugar. O cheiro de mofo e clorofórmio exalavam das paredes encardidas e a “cela” de Stiles não era exceção.
O enfermeiro girou a chave na tranca e a porta se abriu. De início, Lydia se perguntou se havia alguém no recinto, pois aparentemente não havia nada além do escuro e o cheiro de decomposição.
“Você tem quinze minutos. Nem mais, nem menos”, ele disse, e o tom monótono de sua voz continuou o mesmo, apesar da leve indicação de preocupação com a garota e o filho do xerife.
Lydia entrou no quarto e suas narinas começaram a arder. A garota levou as mãos ao nariz, tampando-o, a fim de conseguir estancar o odor. Em vão, é claro.
A porta fechou atrás de si e o enfermeiro foi embora, deixando-a completamente vulnerável àquele de quem ela mais tinha medo.
“Lydia, Lydia, Lydia...” a voz de Stiles, levemente destorcida, ecoou ao seu redor. Maneou a cabeça, olhando de um lado, ao outro, porém, sem o encontrá-lo. “Isso é jogo baixo, você sabe.”
“Jogo baixo?” ela perguntou. A voz trêmula e rouca. Seu corpo parecia ter se fixando ao chão.
“Ora, Lydia, não se faça de burra. Nós sabemos que você não é”, ele frisou a palavra nós. Lydia ainda não podia vê-lo, mas podia sentir o sorriso em seus lábios. “Você se voluntariou para resgatar o seu queridinho Stiles, ou a ideia surgiu daquele imbecil do Scott?”
A diferença entre as vozes do Nogitsune e de Stiles era real e extremamente perceptível. Algo naquele novo Stiles emanava confiança e saliência. Lydia estava condenada. O que era aquilo que estava sentido? Sempre gostara de garotos maus e agora Stiles era um. A excitação misturando-se, pouco a pouco, com a adrenalina. Oh, céus.
“A ideia foi minha”, finalmente se pronunciou. Ele riu.
“Sua?”, a risada parecia propagar pelo cômodo quase vazio. Era empolgante, ao mesmo tempo em que amedrontadora. “Vamos, Lydia, não minta para nós.”
Stiles parecia distante, ainda que estivessem no mesmo local. Lydia tremia, em uma mistura de milhares de sentimentos e confusão. Vultos cresciam, turvos, em sua visão, até que, finalmente, a figura magra de Stiles apareceu diante seus olhos.
Mal podia vê-lo por conta da má iluminação, mas sabia que as condições que este se encontrava não eram muito adequadas. Podia imaginá-lo perfeitamente: os cabelos desgrenhados, o sorrisinho sarcástico e repleto de maldade entalhado em sua face, além das grandes bolsas arroxeadas embaixo dos olhos.
Stiles se aproximou, ficando frente a frente com Lydia. Ela podia ouvir a respiração firme de Stiles. Ele a rodeava, tocava-a, brincava. Chegou até a mexer em uma mecha do seu cabelo loiro framboesa¹ perfeito, que caía solto em seus ombros. Lydia tremia cada vez mais, incapaz de se mover. Sua respiração era falha e a presença de Stiles, tão perto de si, incomodava-a mais do que deveria.
“Stiles?”, ela chamou. Ele continuou a rodeá-la, brincando, divertindo-se.
“Ele não está aqui no momento.”
“Stiles, por favor, eu sei que você pode me ouvir.”
A raposa agora cantarolava uma música de ninar qualquer. O coração de Lydia parecia explodir dentro do peito.
“Por favor, Stiles. Volte pra mim...”
“ELE NÃO ESTÁ AQUI!”, Stiles gritou, parando em frente à garota. Ela pulou, em susto, temendo as lágrimas que ansiavam em escapar. Ele levantou o braço, passando os dedos frios no rosto de Lydia. Dedilhou desde as maças, até os lábios. “Lydia... Doce Lydia. Tão frágil, tão solitária. Acha que não sei da sua dor? Que não a conheço? Que não a desejo?”
Seus dedos continuavam a roçar os lábios grossos e vermelhos da garota. Lydia estava com tanto medo, mas, uma parte de si apreciava.
“Nós sabemos por que você está aqui, Lydia. Aquele bando de babacas acharam mesmo que te mandando até aqui, eu iria desaparecer e o seu querido, fraco e ingênuo Stiles iria correr para os seus braços?”, ele sussurrava, agora, tão próximo do ouvido de Lydia, que ela sentia a respiração quente de Stiles contra sua pele. “Vocês me subestimam, Lydia. O amor que ele sente por você não se compara com a minha vontade de viver. Ele não me afeta.”
“Você parece se importar muito com isso para ter tanta certeza de que não te afeta”, Lydia tentou soar desinibida, firme. Mas sua voz a enganava, era apenas um sopro. Um fio. Nada mais, nada menos. Ele riu.
“A única coisa que me importa, Lydia, é a sua dor. Como se sentiria se soubesse que o Stiles que você conheceu nunca mais voltará?”, ele se aproximava cada vez mais. Seu corpo colava-se ao de Lydia em meio à escuridão. “Agora, por que não vamos ao que interessa?”
“O quê?”, ela pareceu confusa. Stiles sorriu.
“Não sei se Scott lhe contou... Mas as raposas precisam de dor, Lydia. E quem melhor do que você para me fornecer isso?”, o rosto de Stiles estava centímetros de distância do de Lydia. Seus narizes tocaram e Lydia prendeu um grito na garganta. “Vamos, Lydia, não seja tímida. Conheço sua dor, compartilho-a. Vamos, a dê para mim!”
Lydia não pôde combater. Os lábios de Stiles cobriram os seus e a dor, toda a dor que já sentira em sua vida – Peter, Jackson, Boyd, Jennifer, Scott², ela mesma, esvaía de seu pequeno corpo. Dor, trancafiada em seu mais profundo e intrínseco ser. Tudo se propagava e doía quinhentas vezes mais. A dor, apesar de tudo, não era tão ruim quanto à vontade que sentia de retribuir o beijo. Nada era tão aterrorizante. O medo não se equiparava à atração evidente. Stiles sugava cada gota, cada pingo de sofrimento que Lydia passara. Sentia em sua pele a sensação de perda, de amargura, de crueldade e aquilo, ah, como era bom. Um veneno, mortal; doce, irresistível. Queria mais, muito mais. Queria sentir aquele gosto até o fim de sua existência.
O corpo de Lydia fraquejava, suas pernas balbuciavam e seus lábios mal resistiam aos de Stiles.
“O horário de visitas acabou”, o enfermeiro voltou, abrindo a cela.
O beijo foi cortado e Stiles lambeu o lábio inferior, sugando o restante do conteúdo desesperador para dentro de si.
“Sabia que valeria cada minuto, Lydia”, ele disse, parecendo deliciado. “Agradeço por sua solidariedade. Stiles também.”
Lydia não sabia o que dizer. Seu coração palpitava fortemente e seu peito arfava, em desolação.
“Vamos, Srta Martin”, o enfermeiro voltou a dizer. Poucos feixes de luz adentraram o cômodo, o suficiente para que ela pudesse ver o rosto de Stiles pela primeira vez. Desmaiar parecia uma opção favorável, afinal.
O enfermeiro segurou em seu braço, empurrando-a porta a fora. Contudo, antes que a porta fosse fechada, a voz de Stiles soou no recinto. Algo estava diferente, no entanto. “Lydia?” A claridade era escassa, mas ainda sim pôde ver o brilho que bem conhecia naqueles olhos amendoados. Uma lágrima escapou dos seus próprios.
Não era o Nogitsune.


¹ Na primeira temporada, Stiles descreve o cabelo da Lydia como “perfect strawberry blonde hair”. Essa foi a tradução mais próxima que eu encontrei.
² Os nomes citados, são de cada pessoa por quem ela já sofreu. Peter, por tê-la mordido e a manipulado para fazê-lo voltar à vida; Jackson, por ter ido embora e a deixado em Beacon Hills; Jennifer, que a amarrou e quase a matou – foi aí que ela descobriu que era uma banshee; e Scott, quando ele tentou se suicidar no Motel.






Fim.



Nota da autora: Oi! Bom, essa oneshot foi escrita pra uma brincadeira do grupo da Rafa Julich, e quem me deu esse tema, foi a Sah, linda! Ficou uma bostinha, mas eu não resisti e tive que fazer uma história Stydia com o Stiles possuído. Espero que gostem, não me xinguem, é isso aí. x

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Liquid State [McFly/Finalizadas/
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