Beta-Reader: Abby

“Leave me out with the waste this is not what i do, It's the wrong kind of place to be, thinking of you, It's the wrong time for somebody new, it's a small crime and i got no excuse, and is that alright yeah?”
(9 crimes – Damian Rice)



A sala estava escura a não ser pela pequena luz que piscava bem em cima da cabeça da garota. Um cenário de filme macabro seria bem implantado naquele local. As paredes num tom branco, já gasto, para que não fosse notada que se tratava de branco estava ali. O Chão estava sujo de sangue já seco e velho. A sala não tinha nada além de uma única cadeira no meio dela. Ao lado da pequena porta, estava um grande painel preto de vidro, se não fosse pela situação precária, aquele local poderia ser facilmente reconhecido como uma sala de interrogatório, apenas faltava a mesa.
Ainda desacordada, começava a se mexer um pouco, sem ter noção de onde se encontrava. A fim de erguer os pulsos para se espreguiçar, ergueu a mão direita, sem conseguir mexer muito. Seu braço estava preso.
Rapidamente abriu os olhos e se deparou com a cena mais assustadora que teve o desprazer de presenciar. Ergueu os braços para tentar sair dali e escutou um barulho de motor sendo ligado. Ainda um pouco sonolenta, ergueu mais um pouco a mão e sentiu algo fino encostar em sua perna e um grito de dor jogado para fora da boca da garota.
olhava abismada para o mecanismo que estava agora encostado a sua perna, baixou rapidamente a mão e a pequena serra elétrica agora repousava sem fazer barulho ou movimento algum. Seus olhos lacrimejaram; o sangue já jorrava da sua perna e ela se viu pela primeira vez ali, perdida.
Não lembrava como havia parado naquela sala, nem como sairia dali, fazendo o possível para não se mexer, tentou avistar naquela luz fraca algo que pudesse abrir as algemas e avistou. Ao lado de cada algema estava a sua chave, com um único problema, para pegar a chave, provavelmente teria que mexer a mão, logo, a serra a machucaria.
Balançou a cabeça negativamente, não poderia ser verdade, não poderia estar passando por aquilo.
Seus olhos voltaram a lacrimejar, sem a dor, que havia se tornado constante em sua perna, mas com toda a angustia que sentia.
Não sairia dali viva, tinha esquecido o que havia ficado sabendo dois dias antes, por mais que quisesse acreditar que desde a noite passada as coisas houvessem mudado de figura, não era bem aquela a sua realidade.
Respirou fundo e tentou mexer sua mão lentamente, um dedo de cada vez, até que com o dedo polegar conseguiu tocar na pequena chave, por pouco tempo, mas havia tocado. Voltou a mexer os dedos e tentou tocar na chave mais uma vez, não conseguiu, voltou a repetir algumas vezes, até que num ato de desespero se viu tentando pegar a chave de qualquer maneira e rasgar o fio de nylon que a segurava, esquecendo o que vinha junto a isso. A serra, de modo mais rápido, fincou seus dentes na perna dela, fazendo-a voltar suas mãos até o braço da cadeira. Segurando os braços com força, a fim de jogar para longe a dor que sentia. O corte estava maior, a dor estava pior. Sua perna latejava. Seu coração doía.
Aquele não era o momento ideal para lembrar-se do que havia acontecido na noite passada, mas era impossível não se deparar com aquela realidade que mais parecia um sonho, diante da sua verdade perturbante. Um sonho. Havia vivido um sonho no meio de todo o pesadelo que a sua vida havia se tornado há 30 dias.
Fazia 30 dias que estava ali, trancafiada naquele lugar sujo e sem luz, esperando por tudo a boa ação de pessoas para que a soltassem. De um todo, os piores dias foram os primeiros. Os três primeiros dias foram os piores, havia conhecido . O que parecia ser o chefe do clã. Não lembrava se já tinha esbarrado com ele em algum lugar, e se tivesse esbarrado, teria lembrado, era bastante bonito. A única coisa que sabia dele era que eram da mesma faculdade.
Depois de longos 30 dias, deu-se conta de que aqui se faz, aqui se paga. Diferentemente do que sempre desejou, as coisas não aconteciam naturalmente. Eram cinco garotos. Cinco garotos que usavam da sua condição financeira para brincar e punir garotas que cometiam adultério. Para a maioria das pessoas, a brincadeira, que havia sido tranquila, havia tomado proporções que não gostaria nem de pensar. Não havia sido abusada sexualmente, mas de resto, tinha histórias para contar para qualquer pessoa que fosse. Pensou no seu pai, se ele estava procurando por ela ou se apenas achava que os dias de estudos estavam deixando-a mais cansada do que tudo para que nem uma ligação fosse capaz de fazer.
Uma garota do interior que havia resolvido tentar a vida na cidade grande, a história dela não tinha muitos acontecimentos, sempre havia namorado o melhor amigo, que para todos os parentes, distantes ou não, eram o casal perfeito, e até eram. Os dois cursavam Direito, iriam se formar e constituir uma família. Até uma bendita festa, a festa que mudou toda a sua vida e a deixou naquela situação.
Já tinha ouvido falar das festas que aconteciam nas casas da fraternidade, nunca seria convidada, não era do tipo que passava tempo demais saindo, não era popular, era apenas estudiosa. Um belo dia se viu convidada para uma festa de fraternidade e não se sentiu nem um pouco acanhada em ir. Seu namorado estava viajando, e ela foi escondida. Se soubesse, talvez teria feito diferente.
Teria acabado o namoro antes de ir.
Nada estava bem e ambos sabiam disso, mas uma coisa que aprendeu depois disso é que, por mais que as coisas estejam péssimas, elas podem piorar, e um ex-namorado machucado pode acabar com a sua vida.
Seu olhar caiu fixamente até a sua frente, onde uma pequena janela de vidro estava implantada. Como tudo era preto, não poderia saber se existia realmente alguém ali, mas certamente ele estaria ali.
? – Sua voz trêmula se fez presente e nada foi escutado de volta. A luz no teto fazia barulho de mal contato e mais nada além disso era escutado. – , estou com medo. – Voltou a pronunciar, sentindo um calafrio passar pelo seu corpo. Estava com medo o suficiente para deixar-se morrer e esquecer todo o resto. Estava com medo o suficiente para que, jogando tudo para o alto, deixasse que o seu corpo chegasse perto o suficiente da serra para que a vida dela fosse logo para o fim. Não entendia como alguém pagaria daquela maneira simplesmente por ter ficado com outro cara a não ser o seu namorado.
E o pior de tudo? Não se arrependia, nem por um momento, nem por um instante.
Se fosse uma garota religiosa, começaria a orar, mas não. Não gostava daquele tipo de coisa, não tinha interesse naquilo. Apesar de ter vindo de uma família cristã, não sentia necessidade em pregar, orar, cultuar algo.
Talvez seu maior pecado fosse esse, afinal.
As pessoas julgavam as atitudes de outras por se sentirem superiores a elas, e isso se aplicava a e os seus amigos.
Não teve oportunidade de conhecer o restante, mas sabia que todos eram do mesmo naipe do ou do . Mesmo ela tendo a certeza de que de todos, ainda poderia ter salvação, e que se tivesse, que fosse ela a salvá-lo.
Tão lindo que chegava a doer. Sua beleza nunca havia passado despercebido a ela, nem quando ela apenas o via pelos cantos. Ele era o que costumava definir ‘sonho de consumo’, o tipo do cara que garotas como ela nunca ficaria. Não iam para os mesmos lugares, não tinham os mesmos costumes. Ele, um garoto extremamente rico, que por meio da mídia era exposto o tempo todo nas colunas sociais. O que sabia do seu nome era o que todos sabiam, que seus pais morreram de forma desastrosa, deixando o garoto milionário antes dos 19 anos. Vida difícil a dele, não? Tao difícil que se juntou a mais alguns amigos bonitos e ricos para começar a acabar com a vida de garotas que cometiam o adultério.
Olhou para a chave próxima e tentou erguer mais uma vez a mão, vendo a serra começar a trabalhar e tocar de leve sua perna, já que ela encostou rapidamente sua mão na cadeira. Estava desesperada, precisava sair dali e sequer sabia como. Aquele jogo estava diferente, cruel. Estava se sentindo em Saw, com todas aquelas brincadeiras de mau gosto onde todas as pessoas morriam. Não era uma daquelas pessoas, não queria ter que passar por aquilo de maneira alguma. Nunca tinha feito mal a ninguém e o crime que estavam culpando-a era quase besteira diante das perversidades que as pessoas cometiam por aí.
, me ajuda. – Voltou a choramingar enquanto balançava a cabeça, sentindo dor no pescoço, percebendo que parecia que ela estava ali por algumas horas, o que levava a garota se perguntar se tudo não aconteceu de propósito.
Se tudo não estava armado por ele. Balançou a cabeça negativamente, não era possível.
Ele não seria capaz.
Ou seria?
Pouca coisa sabia da sua personalidade, apenas tinha noção do quanto ele era bipolar ou do quanto ele tentava a todo custo se manter distante dela.
– Boa noite, . – Escutou a voz do e sentiu o corpo se arrepiar, tinha medo dele, o bastante para que seu corpo respondesse a isso, como um filme de terror, que fica impregnado em sua cabeça até o momento em que você vê aquele filme em todo lugar. – Bom, você já assistiu algum filme do Jigsaw? – Perguntou com um tom de voz divertido. Fazendo a garota se perguntar se estava ali também, vendo-a sangrar. – Não irei esperar pela sua resposta, enfim. Jogos mortais é um filme que relata a tentava de pessoas de saírem de jogos que os tirará a vida. Os jogos eram muito simples, ou você passava pelo sofrimento para sair vivo, ou você morria. Nesses jogos, existia um tempo estipulado, e, no caso, o seu tempo será de 10 minutos. São 10 minutos para que você consiga pegar as duas chaves que estão presas a um fino e facilmente quebrável fio de nylon. – Sorriu antes de continuar. – Caso você se ache espertinha, saiba que cada movimento brusco do seu pescoço, fará com que um pequeno facão passe pela sua cabeça, que, diferentemente da serra que estava próxima a sua pele, apenas um movimento brusco fará você morrer. Espero que você não tenha dúvida alguma, já que mesmo se tiver, não responderei. Vou dar uma saidinha, mas meu amigo aqui ficará supervisionando você. A propósito, adorei a facilidade em que as garotas têm de dormirem nuas, facilita bastante as coisas para mim. – Deu uma gargalhada que ela não pensou em nenhum significado que fosse diferente de nojento.
O microfone foi desligado, e ela voltou a sentir os olhos lacrimejarem. Ele saiba de tudo, ele estava ali.
Não sabia se ficava com raiva do garoto ou se queria morrer logo naquela brincadeira idiota e acabava logo com tudo. Se aquilo fosse mesmo real, as coisas não acabariam bem para ela, e qual seria melhor? Acabar com aquela vida que estava por um fio ou ficar sem uma perna?
Escutou um barulho e uma luz se acendeu ao seu lado direito, deu uma olhada e viu um pequeno cronômetro marcando 09:59 minutos.
Estava desesperada, aquilo era fato, mas o que faria com aquilo era o que não sabia. Não tinha noção de que iria mesmo se deixar agir e ver sua perna sendo arremessada longe, não sabia também se aquilo era uma simples brincadeira e os meninos iriam dizer que tudo não tinha passado de uma pegadinha, mesmo tendo noção de que as coisas estavam bem distantes de ser uma simples pegadinha.
Não era, estava mesmo morta.
– Eu vou ficar falando, então? Sozinha? Porque não tenho o que fazer, estou presa numa cadeira que a qualquer movimento que eu faça, posso perder uma perna, você está aí fingindo que sequer me conhece e eu tenho dez minutos de vida. Dez, não, agora são nove. Será que vocês não entendem que uma vida é mais importante do que qualquer coisa? Sério, , eu... Merda! Não quero morrer, nem concluí a faculdade, nem... – Respirou fundo, sentindo as lágrimas caírem do seu rosto, tinha cantado sua música mentalmente, a de que não poderia chorar na frente dele, e mais uma vez havia quebrado a promessa de que não choraria. Iria chorar mais uma vez, estava chorando na verdade. – Você nunca errou? – Perguntou, esperando pela resposta dele, que parecia não vir. – Responde ! Já que vou morrer mesmo nessa merda, custa me responder?! – Exclamou, exasperada, erguendo a mão um pouco e sentindo a serra começar o seu trabalho, tocando sua perna e serrando um pouco do seu osso. – A culpa disso é sua, está vendo? É sua! Você que está fazendo isso comigo, seu bastardo! – Gritou entre os soluços desesperados de quem não sabia o que fazer para sair daquela. Sua perna doía muito, nunca havia sentido uma dor semelhante aquela, muito maior do que a dor que julgava estar sentindo no seu coração.
– Seu último pedido? – A voz dele se colocou presente no pequeno cômodo, enquanto o corpo dela ensanguentado esperava apenas pelo momento em que tudo iria acabar. A voz dele parecia estar trêmula, nervoso, não soube dizer com certeza, só teve noção do que ele estava falando porque a voz dele ecoou por todo o lugar, fazendo seu coração disparar ao escutar a voz dele diante de si, a voz perfeita dele.
Estava cansada de lutar, pensar nas possibilidades de ter que sair daquela cadeira, mesmo sabendo que não conseguiria. Queria ter a certeza de que ao pegar as chaves, apenas sua perna seria amputada, não queria ter que sofrer mais. A imagem dele ainda estava presente na sua mente, os olhos dele ainda estavam reais. Naquele momento, não foi suficiente apenas escutar sua voz por um alto falante. Ela queria ter que olhar nos seus olhos, queria poder ter a certeza de que a imagem de um anjo seria a última imagem que teria.
Tentou novamente mexer na chave que estava próxima a sua mão e novamente a serra elétrica começou a funcionar, quase tocando a sua perna já banhada em sangue, enquanto suas lágrimas não paravam de cair pelos olhos.
Pensou em Deus e no quanto ele existia, não queria deixar-se levar a isso. Não existia, nunca havia acreditado nele, não seria naquele momento que pediria clemência. Seus olhos foram fechados pesadamente e tentando não parecer estar desesperada, sua voz saiu confiante, cortante.
– Eu quero que você saia dessa sala, , venha até aqui. – Abriu os olhos e olhou diretamente para a câmara que estava ali.
Oito minutos, faltavam apenas oito minutos.
Ele não falou nada, sequer escutou uma respiração mais pesada, nada. Apenas escutou quando a porta foi destrancada e a imagem de um anjo se fez presente a sua frente.
Tão lindo como todas as outras vezes. Ele a olhava com olhos perturbados. A barba por fazer, olheiras. Estava tão fodido quanto ela, estava tão destruído como ela.
encostou seu corpo na janela de vidro e cruzou os braços na altura do corpo, para ele, uma coisa era ver o que estava acontecendo a ela diante de um vidro, onde tudo parecia um filme; outra coisa completamente diferente seria mostrar indiferença diante do que parecia querer saltar dos seus olhos diante da cena digna de pena que havia se deparado.
Ela estava acabada. Com o rosto banhado em lágrimas, a maquiagem de ontem ainda no rosto, alguns trapos que colocaram no corpo dela para que não ficasse nua não ajudava em nada. O Cabelo esta em desalinho e, ainda assim, não havia se lembrado de ter visto a garota tão bonita.
– Era para isso, afinal? No final de contas, ou eu perco uma das minhas pernas, ou eu morro, é isso? – Perguntou, mordendo o lábio inferior enquanto se limitava a respirar fundo, ainda olhando para os olhos dela diante da luz fraca que pairava naquela sala imunda.
– Acredite, seria bem pior. – Deu de ombros, indiferente, dando alguns passos aleatórios pela sala. – Quer dizer que o seu último pedido é esse? Me ver? – Seu tom de voz alcançou timbre um tanto quanto perturbador, beirando ao sarcástico. Ele tinha um sorriso sacana nos lábios e ela sentiu o coração disparar.
– Por favor, . – Perdeu toda a confiança na voz e se deixou embalar pelo aperto que pairava no seu peito. – Preciso da sua ajuda. – Sua mão se ergueu um pouco e ele parou em frente à garota, olhando intensamente para a mão dela, mais uma vez tentou tocar na pequena chave que estava ao lado da sua cadeira e não conseguiu, escutando mais uma vez a serra começar a trabalhar, direcionando os olhos da garota até os olhos dele. – Por favor, eu quero viver.
Por um momento, ela se perdeu nos olhos dele, na maneira em que ele a fitava, por fração de segundos, era apenas um homem diante de uma mulher em apuros. Talvez, para ela, ele pudesse acordar do transe em que se encontrava, pudesse ajudá-la, tirá-la dali. No começo, não morreria, as coisas tomaram proporções drásticas diante do seu envolvimento.
Parágrafo único: Nunca, em hipótese alguma, pode haver envolvimento da presa diante do seu predador e vice-versa. Diante esse acontecimento, a vadia merece morrer, sem pena, independente de qualquer coisa.
Apenas alguns abusos, jogos e brincadeiras. Deixou de ser a garota chorosa e fraca, para se tornar interessante aos olhos dele.
Tudo saiu do controle no dia em que ela sorriu para . Era um sorriso confiante, diante de olhos brilhantes, apaixonados. Havia se perdidos nos olhos dela, havia desejado conhecê-la em outra situação e tudo se complicou mais e mais. O envolvimento foi mais forte, se deixou ser fraco, se deixou levar por aquela garota normal, com um brilho diferente. Talvez, no fundo, sempre tivesse tido medo desse tipo de diversão, talvez fosse submisso o suficiente para desejar que o seu corpo estivesse naquela cadeira, junto ao dela.
– As coisas não funcionam assim, . – Ele sussurrou, sério, enquanto ela sentia o coração afundar cada vez mais. – Eu sou seu senhor, não participo de nenhum tipo de brincadeira, não sou seu pai, namorado. Você precisa pagar. – Sua voz saiu um pouco trêmula e ele fechou os olhos, suspirando pesadamente.
– Pagar por te amar, ? É isso? – Os olhos dela procuraram por algum vacilo no corpo dele, nas suas respostas diante das palavras dela, não encontrou nada, afinal. Sabia o que estava em jogo, sabia bem como as coisas funcionavam para eles. – Não acredito que você concorde com isso de me matar, eu não sou...
– Não é o quê, ? – Ele alterou a voz, fazendo-a ver as veias do seu pescoço pularem diante da reação exagerada dele. – Não é uma puta que traiu o namorado com outro? Não é? – Ele se agachou diante dela, para que seus olhos ficassem no mesmo patamar. – Se você não morrer, quem morre sou eu. – Suspirou, derrotado, tocando levemente a mão da garota. – Não sou tão insensível assim... Sei que você deve estar sofrendo, queria poder mudar as coisas, mas não posso.
– Todo mundo tem uma escolha, , não erre como eles. Você não é mais um desses garotos, você é diferente.
– Diferente em quê, caralho? Você sequer me conhece, não sabe quem eu sou. – Sua voz saiu falha e ele baixou a cabeça. não pensou duas vezes ao erguer sua mão e tentar tocar o rosto dele, tudo foi rápido demais, até o momento em que a serra, quase encostada à sua perna, a machucou um pouco. A garota logo encostou a mão na cadeira e a serra parou. Seus olhos voltaram a se encher de lágrimas, e ele deu um passo à frente, tocando o rosto ela com as mãos. – Não sou esse cara que você julga conhecer, nunca fui. – Sorriu fraco, encostando sua testa na dela, que estava suja e molhada de suor.
– Não fica muito perto, eu estou fedendo. – Reclamou, vendo-o fazer uma careta em resposta. Ainda com a testa colada à dela, fechou os olhos e desejou que tudo fosse diferente ou que ele fosse corajoso o bastante para se deixar levar pelo que estava sentindo no momento, a ponto de deixar que seus melhores amigos o matassem, em vez dela. Sabia que agora em seis minutos ela morreria. O que poderia falar? Fazer? Não sabia nem por onde começar.
– Você está linda, como sempre. – Sorriu sem graça ao dizer aquelas palavras, e um pequeno desconforto passou pelo seu corpo ao pensar que não poderia ver mais aquele brilho nos olhos dela.
– Já que vou morrer mesmo, posso fazer uma pergunta? – Seus olhos brilharam. Viu-se perdida entre a necessidade de uma resposta dele e a vontade de passar o resto dos seus dias, que queria que fossem muitos, ao lado dele, só dele. fez que sim com a cabeça e esperou pela pergunta da garota, esperou que tudo fosse diferente. Que eles ficassem juntos. Talvez num sonho, não poderia se dar ao luxo de deixar de sonhar. – O que aconteceu ontem foi real? – se distanciou um pouco dela, desencostou sua testa da testa da garota e pegou o rosto dela entre suas mãos. Seus olhos estavam marejados. Ele era um fraco.
Não conseguia fazer o que o seu corpo pedia, não conseguia ser forte o suficiente para ser o seu herói, como ela sempre havia o chamado. Não era daquele jeito. Nunca havia sido o bonzinho da história, muito menos o cara certo para casar. Durante muito tempo havia dito para si mesmo que tudo se dava pela sua infância, pelas drogas e pelo fato de sempre ter tido dinheiro para comprar o que fosse. Garotos bem nascidos poderiam fazer tudo em NY, certo? Certo. Garotos como ele poderiam transar com mulheres à força, apenas por diversão, e depois deixá-las com falta de memória, deixá-las sem saber como agir. E daí que ele não era mais um desses caras? E daí que ele nunca havia tido sua presa, ela era a primeira, não era? De todas as garotas daquela faculdade. Havia se apaixonado pela garota que não poderia em hipótese alguma. Havia se deixado levar pelo corpo dela, sua voz mansa, e depois, tudo que ela fazia havia se tornado a coisa mais encantadora que foi capaz de ver em uma garota.
Sabia que tinha que se despedir, ela seria a primeira de muitas, uma simples, bonita e educada garota. Não tinha culpa, não tinha culpa de ele ter sido fraco, de ele ter se envolvido, não tinha culpa de ter sido a escolhida, mas lembrava-se do dia em que havia escolhido a . “Ela é a sua primeira presa, , gostosa, vadia e sensual, é pegar o largar’’. Ele lembrava com detalhes como ela estava naquele dia ensolarado, sua roupa, não com perfeição, mas no rosto um Ray Ban fazia parte do seu sorriso. Ele a achou linda, naquele instante se sentiu interessado, mas não como um predador diante da sua presa, havia achado que ela era interessante demais para ser machucada como seria.
Os dias passaram, ela foi pega, a polícia surtou e eles estavam se divertindo. Ah, a diversão. Sempre drogado, gostava de pensar que poderia machucá-la com um pequeno canivete suíço. Fazia a sua inicial sempre que fazia uma pergunta sobre qualquer coisa que ela não soubesse a resposta, e se viu descobrindo coisas sobre a vida da garota. odiava tudo o que poderia julgar ser tradicional. Não sabia nada de exatas e sempre havia gostado de desenhar vestidos, sonhava ser estilista. Um sonho que havia destruído. Apesar de cursar Direito.
Não gostava de parecer o filho da puta que destruía o sonho de garotas inocentes, mas naquele momento em nada poderia interferir.
Ela era letal. O tipo de garota na qual ele e os amigos nunca se envolveriam, não estava nos planos, era impossível.
Nenhum envolvimento era passível a caminhar ileso diante da dura realidade deles, realidade essa que eles haviam aceitado, vida essa que eles haviam dito um sonoro “sim”. Demorou meses até que resolvesse se deixar levar por essa brincadeirinha, já tinha visto seus amigos em ação, mas nunca havia se sentido atraído pelo caso, até que viu andando pelo campus. havia dito que ela era a garota que havia ficado difamada na faculdade porque, numa festa qualquer, havia traído o namorado de 5 anos. No momento em que a viu, se divertiu. Ela tentava equilibrar os livros pesados de Direito em uma mão enquanto sua amiga falava sem parar. Parecia ser estudiosa, o que não se deixou passar despercebido. Havia aprendido com cada detalhe do corpo dela, até o momento em que o seu coração batia mais rápido. Ela era forte, sabia bem o que queria e isso sempre ajudava quando queria brincar como seus amigos faziam, e ele até tentou, machucou, deixou-a amarrada à cama, e a cada indagação dela em desespero, por não saber o porque de estar passando por aquilo, o canivete suíço era passado por alguma parte da sua pele. Ao final daquela noite, ela estava com um copo cheio de sangue, onde teve que beber. Lembrava com precisão das lágrimas dela, do choro, a maneira em que ela se assustou a cada gargalhada que ele dava, era algo no qual ele nunca esqueceria.
Os dias foram passando e ela foi se acostumando, deixou de queixar-se, gritar ou reclamar para cumprimentá-lo, mesmo que esse cumprimento fosse evitado por ele. A brincadeira pesada foi apenas na primeira noite, e as demais começaram a ser prazerosa para ambos. Ele começou a conversar com ela, e por mais que tudo fosse repleto de tapas e ofensas, ela tirou tudo de letra. O jeito em que ela sorria sempre que ele era frio ou dava uma tapa nela era quase como um manjar dos Deuses diante do que havia escolhido para si mesmo.
Não era um assassino, mas sabia se comportar como um. Não era um garoto mau, mas sabia fazer atrocidades quando podia, e naquele instante estava matando uma garota. Poderia trocar, não era puro? Um bom homem? Se fosse tudo isso o que a garota gostava de pensar, ele estaria sentado naquela cadeira, levaria um tiro certeiro.
Seus olhos se encontraram e ambos foram transportados para o mesmo instante, para a mesma lembrança.


Flashback
NY, Brooklyn. 22:04.
Noite anterior.


Aquele roupão estava incomodando a garota. Todo em veludo vermelho. Seus olhos estavam pretos pela maquiagem pesada, não iria fraquejar.
Havia planejado aquilo por horas sem fim. Cada detalhe da sua roupa, desde o hidratante usado até o pequeno brinco de pérolas que se encontravam na sua orelha. Os cabelos caíam em cascatas, onde foi preciso muito mais do que uma simples lavagem para ficar daquele jeito.
A enorme bolsa cheia de utensílios estava escondida embaixo da cama enferrujada. Se não soubesse quem eram aqueles garotos, até acreditaria que eles não tinham dinheiro algum, pelo péssimo local onde gostavam de brincar. Não tinha noção de onde estava, mas sabia que ao final de cada noite, ele vinha procurá-la.
Era quase como um vício para ele. Ele demorou quatro dias para aparecer pela primeira vez, os primeiro dias em que e os outros apareceram foram os piores da sua vida. Não imaginou que teria que participar daquele tipo de coisa, daquele tipo de jogo. era malvado, o típico garoto que se divertia em humilhar as pessoas. era diferente, ele era psicótico, bem mais do que , na verdade. Suas brincadeiras eram mais pesadas, ele mexia com sangue, gostava de cortar o corpo dela. No começo, o susto tomou conta do seu corpo de todas as maneiras. Em parte, a surpresa; por outra, o medo. O fato de ele parecer um anjo, esculpido, de tão bonito, só dava a ela mais um motivo para suspirar. As brincadeiras, com o decorrer dos dias, foram ficando mais fracas, e na noite passada, se limitaram a comer pizza, conversando até às quatro horas da manhã sobre qualquer coisa que fosse.
Ele era encantador. O típico garoto que fazia com que suas pernas tremessem, assim como naquele momento em especial.
As já tão conhecidas lágrimas encheram seus olhos, e ela teve que respirar fundo para espantá-las. Não era dia de chorar, não seria a mesma garota de todas as outras noites. Piscou diversas vezes, sentindo a máscara de cílios grudar quando fechava os olhos com mais força. Precisava ter força, tinha que ter ótimas lembranças daquela noite, sua última noite.
Suas mãos tremiam e um ranger de porta foi escutado. Seu coração disparou. Era ele.
Não viria mais ninguém aquela noite e em nenhuma das outras, havia dito aos capangas para que ficassem de folga sempre que ele estivesse presente e nenhum deles iria reclamar. De alguma maneira, aquela informação havia feito com que o seu coração disparasse, independente do motivo, ele queria ficar a sós com ela.
Quando ele não estava, o que era quase todo o seu dia, ela estava na presença de três capangas, o Abraham era o mais comunicativo. Não tinha cara carrancuda e sempre trazia cappuccino para ela. Exatamente desse modo que ela achou a oportunidade perfeita de perguntar sobre seu futuro ali. Quando ele falou que ela morreria, não soube como agir, no começou gargalhou, não acreditou que ele teria a capacidade de deixar que isso acontecesse, estavam bem, conversando, se envolvendo. Não conseguia entender mesmo o porque dele ter de matá-la, de ela morrer. Sabia que mandava em tudo, mas custava acreditar que deixaria. Não conseguia se deixar levar. Passou a mão pela nuca no instante em que ele entrou sorridente pelo pequeno galpão, prestes a falar o que quer que fosse, segurando um pacote da Burger King, com uma coroa de papelão na cabeça.
Quando seus olhos se cruzaram, o sorriso do morreu e ela não sabia o que fazer, se xingou mentalmente por não ter ido até o pequeno espelho que tinha ali para ver se tudo estava ok, ele era bonito demais para ela, independente do modo em que estivesse vestido, independente de qualquer coisa.
estava bastante arrumada, ele estava apenas com uma calça jeans, uma camisa de algodão e um casaco de couro por cima. O simples que a deixava fascinada, aquele jeito que ele tinha de ser perfeito ate quando não se importava com isso, o perfeito mais imperfeito que havia conhecido.
O Anjo se postou em sua frente com os olhos arregalados, teve certeza de que de alguma maneira, o havia deixado sem palavras. Os olhos se cruzaram e ela teve medo, não era aquele tipo de garota, não seduzia pessoas assim, tinha um namorado há cinco anos, não sabia o que fazer para ter que deixar que um homem se deixasse levar, mas faria aquilo com ele.
Um sorriso torto foi depositado nos lábios da garota ao notar que ele não sabia bem como agir em sua frente, lentamente, quase que em câmara lenta, deixou o pequeno pacote em cima de uma mesa qualquer que tinha ali, retirando também o chapéu de rei. O clima não estava ameno, eles não sabiam o que falar, ou o que fazer. tinha montado em sua mente todo o cronograma, diante das possíveis atitudes dele, mas naquele instante, nada vinha a mente a não ser a vontade de correr dali. Estava um milhão de vezes mais nervosa do que em qualquer outra perspectiva. Nunca havia precisado desse tipo de coisa com o seu ex-namorado, nunca havia se deixado passar por isso por ninguém.
Ele abriu a boca para falar algo e voltou a fechá-la. Repetiu esse movimento por algumas vezes antes de balançar a cabeça negativamente e fechar os olhos, deixando-a mais abobada do que tudo. Ela queria abraçá-lo, queria que ele estivesse próximo a ela, que a enlaçasse e a beijasse, mas parecia estar nervoso demais para parecer agir daquela maneira, se descontrolar aquele ponto.
Deu um passo em sua direção e viu o momento em que ele baixou seus olhos do rosto dela para a perna, que havia ficado um pouco descoberta pelo movimento do caminhar. Os olhos dele rapidamente subiram até seus olhos, e ela deixou que um sorriso surpreso escapasse dos seus lábios. Um doce movimento havia sido o suficiente para que a chama que estava presa em seu corpo se fizesse presente, mesmo ela sabendo que aquilo seria facilmente esquecido, bastava apenas uma atitude dele.
Lentamente, começou a retirar o casaco de couro, como que se quisesse um pouco de ar. pensou que aquela cena era proposital, para que ela sentisse na pele o que ele havia sentido ao vê-la com mais perna a mostra do que o habitual. Seus olhos se perderam nos movimentos do corpo dele e ali ficaram. Seu olhar estava fixo, suas palavras haviam se perdido, independente do que ele quisesse com aquilo, o efeito havia sido perfeito.
– Que roupa é essa? – Perguntou cruzando os braços na altura do peito, fazendo os olhos dela morrerem nos músculos dos braços bem torneados, engolindo em seco. – Para de ficar me encarando , o que é isso? – Voltou a questionar com a voz já conhecida por ela, a mesma voz que fez com que ela perdesse o sono por diversas noites, sem conseguir esquecer a maneira como o seu nome ficava bem mais bonito quando dito por ele, a voz que ela desejou escutar bem mais próxima do seu ouvido do que naquele instante.
Ela sorriu de lado, um sorriso sexy, tão diferente de todos os outros dias. deu alguns passos até o lugar onde ele estava e parou à sua frente, começando a desfazer o nó que fechava o seu roupão, fazendo prender a respiração. – O que porra é isso, ? – Sua voz trêmula havia denunciado o quanto ele estava nervoso, o quanto a sua mente trabalhava para que ele entendesse o porque daquelas roupas nela. O porque de tudo aquilo.
passou o olhar pelo lugar e viu que estava diferente dos dias habituas. Velas estavam intercaladas em lugares propositais, lençol limpo, chão limpo. Parecia que alguém havia feito uma faxina naquele porão sujo que ele já havia se familiarizado. ainda estava com uma roupa diferente, não estava com trajes sujos, estava com um roupão sexy e vermelho, da cor do sangue dela que ele havia visto tantas e tantas vezes.
– Primeiro de tudo: preciso que você prometa que não vai machucar o seu capanga, o Abraham, ele conseguiu tudo isso aqui para mim. Promete? – Perguntou olhando fixamente para ele – Preciso que você prometa isso e sei que você cumpre com suas palavras. – Ele, sem saber o que fazer naquele instante, se limitou a fazer que sim com a cabeça. – Também sei o que vai acontecer amanhã, sei que provavelmente vou morrer e que se conseguir sair viva daqui, você não olhará mais na minha cara, não sou tola de imaginar que um cara como você teria alguma coisa como uma garota como eu, mas nesse tempo que passamos aqui, ou que pelo menos eu passei... – Soltou o nó do roupão que estava frouxo, mas não estava solto e passou a mão pelo cabelo. – Não foi de um todo ruim, por muitas vezes vi o seu sorriso, senti você do meu lado, mesmo que por pouco tempo e de um jeito doentio... – Ele ergueu uma sobrancelha. – Te senti ao meu lado, como se eu fosse diferente de apenas um jogo, sabe? Parecíamos tão reais, nós dois. – Deu um sorriso sem graça ao falar aquilo e inclinou a cabeça para o lado antes de continuar. – Então eu te peço , por tudo, me deixa ser sua... Eu...
Ele ergueu uma mão e tocou os lábios dela. fechou os olhos, mesmo sentindo os dedos dele rígidos e imaginando que ele a pararia, deixou-se levar pela ideia de que ele a beijaria para que ela calasse a boca de uma vez. Seria melhor, rápido, do jeito que ela havia imaginado e sonhado diversas vezes.
– Você tá ficando louca? É isso? – Ele a interrompeu sentindo o coração bater rápido demais por um instante. Retirou a mão da boca da garota e passou-a pela cabeça. – Você tá louca, é isso, ? As brincadeiras te deixaram maluca? Não me lembro de ter batido sua cabeça em algum lugar, mas... puta que pariu, você tá louca. – Deu uma gargalhada nervosa e fixou seus olhos nela, que havia fechado os olhos e naquele instante voltava a colocar suas mãos no nó do roupão. – Não faz isso, por favor. – A respiração descompassada dele afirmava o que ela sabia, não sentia tudo sozinha. Na medida em que seus dedos se colocavam retirando o nó do roupão, ele parou de respirar. Prendeu a respiração a ponto de não saber por que ainda estava em pé, estava nervoso, sem saber o que fazer e quando o nó foi desfeito, fazendo a garota abrir o roupão a sua frente...
Ele parou.
Não estava esperando por aquilo. abriu os olhos e se deparou com os olhos arregalados do homem à sua frente, não soube dizer se admiração passava por eles e nem quis pensar muito, se tivesse mais alguns minutos para que chegasse a uma conclusão, sairia correndo até sua cama velha e ficaria ali escondida. Ela estava com um corselet vermelho, no mesmo tom do roupão, apertando o seu corpo a ponto do seu decote estar bastante visível. Os saltos pretos davam o contraste que ela queria e apesar de não ter visto o resultado final, de ter feito a maquiagem num espelho pequeno e quebrado que o Abraham havia conseguido, esperava que estivesse bem bonita. Não sabia dizer de onde havia surgido aquela ideia, lembrou-se da reação do capanga quando ela fez o pedido; primeiro ele sorriu, depois sorriu mais e desacreditou, disse que o nunca concordaria com isso e que o mataria. Como estudante de Direito, sabia bem como argumentar e foram esses argumentos que haviam ganhado o homem. Tinha um pequeno colar de ouro, que havia ganhado do seu pai ao completar 16 anos, não era rica nem nada e, talvez por isso, o colar tinha tanto significado para a sua família, até aquele momento.
No seu íntimo, achava que estava ficando louca. Não poderia fraquejar, não daquela maneira, não com ele.
– Você não vai falar nada? – Perguntou com a voz trêmula, sorrindo sem graça. – Talvez dizer que eu estou... Ridícula? Com essa roupa? As pessoas meio que falam algo, sabe? Não que eu tenha experiência com isso, nunca vesti esse tipo de roupa para ninguém, mas... Não sei... Estou nervosa , me ajuda. – Fechou os olhos pesadamente e tentou raciocinar. Tudo de pior que poderia acontecer com a sua vida estava acontecendo, havia sido sequestrada por um grupo de garotos que se achavam justiceiros, garotos que tinham a convicção de que fazer brincadeiras com garotas como ela era algo legal. Talvez para fosse, mas não para ela. Cresceu num mundo onde tudo havia aparecido com bastante esforço, garota estudiosa, não deixava de sair por causa disso, mas não trocava uma noite de estudos por alguma festa da faculdade. A não ser uma, a festa que havia acabado com a sua vida.
Seu ex-namorado havia dito a um único cara, o cara errado que havia acabado com tudo, que havia contado a todo mundo o que havia acontecido e talvez dessa maneira, eles haviam descoberto.
? – Abriu os olhos, vendo o garoto sair do transe em que se encontrava, dando alguns passos até onde estava segurando-a pela cintura e imprensando-a na parede mais próxima. Sua respiração parou, o coração acelerou no momento em que ele lentamente mordeu o lábio inferior da garota, que fechou os olhos instantaneamente enquanto esperava pelo momento em que os lábios dele tocariam os seus. percorreu com a mão desde a cintura da garota até seu pescoço, depositando-a ali. O garoto inclinou a cabeça um pouco para frente e roçou seus lábios nos dela lentamente, torturando.
não conseguiu controlar o fogo que consumiu o seu corpo e passou suas mãos pelo pescoço dele, juntando seus lábios de forma definitiva. Não era mais um sonho da sua cabeça, alucinação diante de um dia em que estivesse com febre, seus olhos estavam fechados, mas ele estava bem ali a sua frente, a boca dele procurava pela dela, seus lábios intercalavam movimentos repetitivos para que a ânsia que parecia os consumir fosse pouco a pouco aniquilada. Ele retirou a mão da sua nuca e voltou a movê-la pelo corpo da garota, parando em sua cintura, empurrando-a mais um pouco na parede, de modo que ela sentisse o quanto ele parecia estar extremamente excitado como ela, extremamente entregue, assim como ela.
– Você está me deixando louco. Todos esses dias... Fiquei louco, estou ficando louco. – Sussurrou com a boca encostada na dela, antes de iniciar outro beijo, onde as mãos da garota tentavam a todo custo tirar a camisa dele, mostrando o peitoral definido, o corpo perfeito. Ele era daquele jeito nos seus sonhos, era exatamente daquela maneira em todo o momento em que desejou estar daquela maneira com ele, ou mais. Parecia ser mais perfeito. – Você me deixa completamente maluco, maluco por ter querer, desejar, por estar perto de te ter e não querer nunca que você fique longe de mim.
As palavras dele soavam como música aos seus ouvidos. Ela parou de passar as mãos pelo corpo dele e fixou seus olhos nos olhos dele. Estavam sem fôlego, seu coração estava disparado. Parecia que tudo o que precisava era ele, uma dose diária de para que ela conseguisse sobreviver e por mais que soubesse que aquilo era insano, não conseguia controlar. Pegou o rosto dele por entre suas mãos e viu o momento em que ele fechou os olhos. Era real. Estava vivendo aquilo, ele estava ao seu lado, com ela.
Havia lembrado das noites sem conseguir dormir por se ver perdida nele, na maneira em que ele falava com seus capangas, no quanto ele era educado o bastante para tratá-los de igual para igual. Havia desejado aquele tipo de tratamento, havia desejado .
– Eu nunca ficarei longe de você, demorei tempo demais para estar ao seu lado, ... não quero te perder. – Sorriu antes de iniciar mais outro beijo, que levou a outro, que levou a mais outro.
Beijos apaixonados levam a uma única coisa, a um único sentimento, sensação. Não parecia que ambos estivam prestando atenção no que estavam se metendo, eles estavam apenas vivendo, apenas sentindo.
As roupas foram tiradas rapidamente, havia sido colocada em cima de uma mesa suja e velha de madeira, os movimentos eram fortes, precisos. O tempo que desejaram aquilo havia sido o suficiente para que a ânsia fosse grande a ponto de tudo caminhar daquela maneira, descontrolada, desesperada. Os gemidos dela afirmavam o que ele já sabia. Era mais forte do que eles. Era mais intenso do que as circunstancias que os separavam.
Enquanto ele não cessava os movimentos fortes dentro dela, para suprir a necessidade do grito, mordeu o ombro dele, que em resposta deu um sorriso, antes de puxar o rosto dela até o seu e encostar suas testas. Ambos sorriram abobados, extasiados. As mãos dele pousaram nas costas dela, trazendo o corpo da garota para mais perto do dele, proporcionando uma entrega maior, uma sensação mais violenta. Não tentou ser gentil com ela, não desejou que fizessem amor deitados numa cama, queria daquele jeito, eles eram daquele jeito.
Não poderia ser diferente do que estavam vivendo, algo proibido remetia àquilo. – Eu te amo. – As palavras dela saíram da sua boca sem que conseguisse controlar, parou o que estava fazendo e fixou seus olhos nos dela. Retirou suas mãos das costas dela e segurou seu rosto por entre suas mãos, roçou seus lábios aos dela, de modo lento, quase letal. Introduziu sua língua na boca da garota, diferente das primeiras vezes, seu gesto era gentil, a entrega era total. Ali, naquele lugar sombrio e sujo, apenas os corações de ambos eram escutados. Apenas a respiração descompassada devido ao beijo arrebatador. O tipo do beijo que fazia as pernas dela tremerem, se estivesse em pé, talvez teria caído. Os movimentos de dentro dela estavam mais calmos, lentos. Era como se a força das três palavras que havia dito, fosse o suficiente para que tudo mudasse, para que acalmasse o corpo e a mente dele e apesar do que havia dito, queria rapidez, queria chegar ao ápice junto a ele. Mexeu os quadris de forma provocante, vendo um sorriso brotar dos lábios dele, incentivando o garoto a agilizar.
não precisou de outro incentivo. Os movimentos voltaram a ser fortes, rápidos, cada estocada era um gemido que saía dos lábios dela sem que conseguisse controlar e no momento em que sentiu que ele havia gozado não conseguiu segurar. Juntou-se a ele, sentindo o seu membro pulsar dentro de si, sentindo um arrepio passar pelo seu corpo devido à sensação, completamente diferente do que havia sentido com o seu ex-namorado, mais forte, indestrutível.
De alguma maneira, sentia que havia se tornado dele e independente do que viesse acontecer, nada mudaria aquilo.

End of flashback


– O chamou, desviando a atenção dele dos acontecimentos para a realidade, fazendo-o deparar-se com ela sentada ali. – Você não respondeu a minha pergunta.
Ele respirou fundo e balançou a cabeça, aquele era o momento ideal para que entrasse na pequena sala e soltasse , poderia deixá-la correr dali, ir embora e depois se virava com o . Se tivesse de morrer, tudo bem. Pelo menos morreria sabendo que havia salvado uma vida que não merecia estar passando por aquilo. Deu um sorriso de leve para ela e virou de costas para a garota, caminhando até a pequena porta.
– Nem pense nisso , estou aqui. – exclamou pelo alto-falante e logo ficou pálido, denunciando o que na verdade queria fazer. De alguma maneira suspeitava que ele sequer havia saído da sala, que ele tinha dito aquilo apenas para que ambos falassem sobre tudo o que ele queria ouvir, para que admitisse que estava apaixonado pela ou que sentia um turbilhão de coisas ao lado dela.
virou-se de frente para e deu um sorriso fraco, sendo acompanhado pelo sorriso dela, que diferentemente do dele, era aberto e confiante.
4 minutos.
Olhou no cronograma e começou a cogitar a possibilidade de chamar o até ali para dar um murro nele e ir embora, tudo poderia ser válido naquele instante, tudo.
– Não gosto de bancar o cara chato da história, mas o dispositivo não está comigo, ele irá disparar daqui a vinte minutos, os quatro que estão sendo computados aí, foram apenas para ver se a sua garota amputaria logo a perninha dela. – Sorriu sarcástico e viu o momento em que enrijeceu o maxilar.
– Ela não é minha garota. – Respondeu por entre os dentes com raiva. Apenas para escutar uma gargalhada escandalosa do .
– Não, é minha. – Comentou debochado enquanto sentia a pulsação acelerar. – Vamos logo , se despeça dela, tenho outro jogo para começar.
caminhou até a cadeira da garota e se agachou na altura dela, passou uma das suas mãos pelo rosto da garota e sorriu de leve. – Desculpa. – Sussurrou baixinho, para que apenas ela escutasse e vendo a garota encher os olhos de lágrimas mais uma vez, sorriu fraco.
– Vamos logo , estou sem paciência. – Gritou revoltado, enquanto o garoto sentia que o choro estava preso em sua garganta. Havia acabado seu tempo, ela morreria.
– Foi bom te conhecer, . – Falou sem olhar nos olhos dela, que chorava sem conseguir se segurar.
– Sabe o carinha? O que eu beijei? Sabe quem é o carinha? Ele era o cara mais bonito que eu tinha visto em toda a minha vida. O sorriso dele parecia... sei lá... Sabe quando você se apaixona por uma pessoa desde o primeiro minuto? Eu havia me apaixonado por ele, ele era... – Iria passar uma das suas mãos pelo cabelo, ergueu um pouco a mão e abaixou logo em seguida, sentindo um pequeno incomodo na perna que estava todo ensanguentada.
– Não sei o que isso tem a ver com tudo, . Você vai morrer! Vai ficar falando mesmo desse cara? – exclamou irritado, erguendo o corpo e se distanciando dela, sem conseguir entender o porque dela estar tocando naquele assunto, já que nada daquilo importava naquele momento.
– Esse cara? Esse cara tinha um porsche, esse cara é quatro anos mais velho do que eu. Foi eleito o cara mais bonito da faculdade por anos e pasme , ele é você!
– Como? – voltou sua atenção até onde ela estava e ficou paralisado, sem entender do que ela estava falando.
– A festa da sua fraternidade, onde todas as garotas bonitinhas foram convidadas. Eu não fui, mas minha melhor amiga estava pegando um carinha de lá e nos deu convites. Eu estava diferente, mais arrumada, mais bonita. Queria impressionar um carinha, o carinha que já havia transado com quatro meninas naquela noite e sabe como eu sei? Eu estava próxima ao seu quarto. Doentio, não? Pois é. Eu estava só bisbilhotando... quando você entrou com a primeira garota, não parecia que você estava a fim de ficar com ela e com nenhuma das outras quatro, então quando você fechou a porta na cara da quarta, eu abri a porta com uma garrafa de vodka. Você não perguntou meu nome, só começou a falar sobre coisas aleatórias. Não vi o tempo passar, mas decorei cada detalhe do seu rosto e as palavras que você me dizia. A maneira como você disse que eu era diferente das outras garotas, como eu era inteligente. Quase chorei quando você colocou uma mecha do meu cabelo para trás. Eu era apaixonada por você desde ali! Eu me apaixonei quando você me pediu um beijo. Você me pediu! Quando disse para as meninas, ninguém acreditou, disseram que não era do seu naipe. Que você era diferente, que você era do tipo galinha! Você ficou comigo a madrugada toda e eu só queria que você me levasse para cama, sabe o que você falou? Que não. “Garotas como você não são assim, garotas como você são conquistadas a cada dia”. Era você , tudo foi por causa de você.
fechou os olhos, segurando a vontade de socar ou bater em algo, estava com raiva o bastante para passar por cima de toda a merda e acabar com a vida do primeiro que aparecesse em sua frente. ainda estava sentada na mesma cadeira de antes e respirava com dificuldade, não por estar om algum problema, mas apenas por não conseguir pensar direito. Ele mesmo estava sem conseguir pensar direito no que estava acontecendo ali.
Então era ela.
– Você está falando sério? – Sua voz saiu baixa, mais do que ele planejava expor. Seus olhos continuavam fechados, era mais fácil pensar sem precisar ter que fitar os olhos intensos da garota. Todo o tempo era ela, afinal.
Então todas as respostas para as perguntas haviam sido respondidas, o porquê dela aguentar tanta coisa, a maneira como ela olhava para ele... haviam ficado, talvez quase transado, se a sua memória fosse melhor. Como poderia esquecer uma garota como ? O álcool adorava pregar peças, mas será que teria sido ele mesmo? Não conseguia acreditar no que ela falava, de maneira alguma. Por mais que tudo parecesse real, as suas palavras ainda tinham um pouco de surrealismo. Não poderia ser. Não poderia ser o causador de tudo aquilo. E os seus princípios? Como conseguiria deitar à noite e colocar a cabeça no travesseiro sabendo que puniu uma garota que traiu o namorado, mesmo que essa traição tenha sido com ele mesmo? Massageou as têmporas e abriu os olhos, se deparando com as lágrimas descendo pelo rosto da garota.
Já tinha visto chorar diversas vezes, quase todas as noites as lágrimas caíram dos seus olhos, independente do motivo, ele as viu. Presenciar aquele tipo de cena onde tudo caminhava para um trágico fim e a culpa era sua não era nada legal. Não sabia como seus amigos se viam diante de coisas como aquela. Nenhum deles havia passado por algo parecido, sabia bem. Nenhum deles havia se envolvido, nada havia fugido do controle. Ele era o fraco, ele era o cara que se deixava levar pela garotinha indefesa. O preço por aquilo seria alto demais, se não para ele, que fosse alto para ela. Ainda precisava pensar no que fazer diante das novas e completamente diferentes situações.
Deu alguns passos até a cadeira dela e se agachou. Passou uma das suas mãos pelo rosto dela, enxugando as lágrimas, vendo a garota fechar os olhos em resposta. Aquela era ela. A garota que havia mexido com seus sentimentos, com sua frieza. A garota que havia mostrado que existia muita coisa além de sexo. Não existia garota como ela, pelo menos ele pensava isso.
, solta ela. – Falou fitando os olhos dela, que se abriram e o fitaram sem entender o que viria acontecer. – , solta a da porra da cadeira! – Exclamou alto, erguendo o seu corpo e vendo o momento em que a pequena e imunda porta estava sendo aberta e um exasperado havia aparecido.
Ele caminhava a passos largos até chegar ao seu melhor amigo, pegou pelo colarinho da camisa e o carregou até a parede, empurrando o corpo de até lá. – Você surtou seu merdinha? Ela vai foder com tudo! Não vou soltá-la , sua vadiazinha está morta! – Exclamou fazendo retrucar ao grito dele com um empurrão, jogando à outra extremidade da sala.
– Quem está morto é você se não soltá-la, seu imbecil! A culpa foi minha, fui eu quem ficou com ela! A culpa é minha, . – Sua voz saiu trêmula, digna de dar pena para quem quer que estivesse assistindo aquela cena.
– Estou pouco me fodendo para isso, ! Ela traiu o namorado porque quis, como ela mesma falou, você sequer foi atrás dela, ela correu atrás de você! – Exclamou sério, erguendo o seu corpo do chão e fitando com intensidade. – Vamos lá cara, é só mais uma garota, teremos inúmeras garotas como ela. Para de ser maricas, reaja! – Deu um sorriso nervoso antes de continuar. – Nunca passei por algo parecido, mas você sabe como funciona , você pode ser meu melhor amigo, meu irmão, mas é ela ou você.
assimilou as palavras e fechou os olhos, não tinha tempo para arquitetar um plano, não deixaria que ela morresse sem um porquê aparente. Toda a fraqueza do seu corpo foi substituída por um sentimento de proteção. Se tivesse que ser daquele jeito, que fosse, não deixaria que ela sofresse ou morresse, a culpa era sua.
– Solta ela, . – Sua voz saiu fraca. caminhou até a cadeira em que estava sentada e voltou a se agachar. – Se cuida. – Deu um sorriso fraco para ela e depositou um beijo na sua cabeça antes de erguer seu corpo.
– Não, não. Por favor, ... não faz isso, eu morro sem problemas, agora por favor. Não me deixa. Por favor... – Ela fungava desesperada enquanto erguia seu corpo sem olhar para ela. – Eu amo você, por favor... Não me deixa! – Ele fechou os olhos e balançou a cabeça, desviando seus olhos dos de e fitando intensamente , que estava em pé, quase que ao seu lado.
Não sabia o porquê daquilo, não era o herói, o mocinho, mas algo naquela história fazia com que se lembrasse dos momentos em que havia estado perto dos seus pais, quando eles ainda estavam vivos. Antes de a sua mãe trair seu pai. Uma das histórias mais fortes que NY havia presenciado era a história de ambos. O magnata americano havia assassinado a esposa, para depois se suicidar. Ela tinha um caso com o melhor amigo do seu pai, isso destruiu sua família, isso o destruiu.
Um dia, quando resolveram que iriam pregar peças nas vadias da faculdade, não imaginou que se tornaria seu pai. Não imaginou que chegaria a ponto de escolher entre tirar a vida da garota ou a sua própria, mas ali estava ele. Um garoto com uma decisão nas mãos, com a vida de uma garota em suas mãos.
– Cara, para com isso. – sussurrou com os olhos marejados, vendo pegar sua arma da calça e apontá-la para a própria boca. – Pelo amor de Deus, para com isso! – exclamou dando alguns passos para chegar até o garoto.
– Mais um passo e eu morro , solta a . – Seus olhos estavam frios, sérios. Quase psicótico diante daquela nova perspectiva. Não estava preparado para morrer, mas que se fodesse, as coisas haviam passado dos limites, ele tinha que tomar uma atitude. – Solta a . – Voltou a falar enquanto via caminhar a passos largos até a porta, desviou seus olhos do garoto e olhou para , que chorava compulsivamente. – Garotas como você são conquistadas a cada dia, como se aquele dia fosse o último, como se tudo dependesse daquilo. Tenho inveja do cara que ficar com você, . Ele é o cara certo da história, não eu. – Deu um último sorriso a ela, quando escutou todos os dispositivos serem desligados. não saiu da cadeira, não tentou se soltar dali e estava certa de que o que acontecesse a , aconteceria a ela. Se ele morresse, ela morreria. – Vá embora. – Ele disse a ela, que se limitou a cruzar as pernas, com uma delas banhada em sangue, doendo em demasiado. – Vá embora, ! – Voltou a exclamar em pânico. Aquela não seria o momento certo dela resolver bancar a garota decida. – Estou mandando você sair daqui.
fechou os olhos e se levantou. Seus passos eram lentos e ela era levada quase que instintivamente até o lugar em que ele se encontrava parado, abriu os olhos e estava parada bem em frente a ele, apenas alguns centímetros de distância. Segurou a mão dele entre a sua e foi lentamente baixando a arma que ainda estava apontada para a sua boca. O peito dele arfava e ela sentia que, a qualquer momento, ele poderia se matar. A força que havia feito com que ela fosse até ali era o que ela julgava sentir por ele, a certeza de que ela tinha. – Eu nunca vou deixar você morrer, não por mim. – Sussurrou antes de tomar a arma entre as mãos e puxa-lo pela camisa para um beijo. Ela sentiu o corpo dele tremular, um tipo de resistência foi perceptível, que não durou 10 segundos e antes que ela tivesse tempo de pensar, ele a puxou desesperado como se aquele fosse o último beijo de ambos. A sincronia era nítida, desde o primeiro momento, o primeiro beijo, mesmo que ele não aceitasse, mesmo que ele não admitisse tudo nela era diferente.
Para ela, tudo era mais simples. Acreditava em destino e em tudo o que ele explanava, desde o primeiro segundo que pôs os olhos nele, sentiu algo diferente, não é como se ali, soubesse ou tivesse certeza de que ele era o amor da vida dela, mas simplesmente sabia que ele não seria apenas mais um garotinho da faculdade. Era muito mais do que isso, era muito mais forte do que isso. Todas as garotas que o viu pegar, todas as menininhas que ele ficou sem dar a menor satisfação... não saberia dizer se de algum modo ela era diferente de todas as outras, mas para ela, ele era o único.
Poderiam ficar daquela maneira por dias e dias sem fim, se não fosse a audição apurada do , que mesmo entregue ao beijo que trocavam, soube parar no momento em que soube que avançaria. Sem pensar muito, um tiro foi escutado.
Um único tiro.
arregalou os olhos, olhando para , que apenas apertava o corpo da garota perante o seu como se não existisse algo mais importante do que aquilo. Ele fechou os olhos e se deixou respirar fundo, as coisas haviam saído do controle, os jogos passaram a ser doentios, eles haviam se embrenhado na própria teia. Não era saudável, nunca havia sido. Ele era apenas uma marionete na mão do e soube, desde o começo que uma hora ou outra, ele não pensaria duas vezes em acabar com o que quer que fosse para sair vivo dali.
– Todos temos direito à escolha, . Você fez a sua. Infelizmente, essa vadia ficou em frente aos seus amigos, azar o seu, azar o dela. Não precisava que ela morresse, na verdade, apenas queríamos ver como você se sairia. Se nós sabíamos que havia sido você? Desde o começo. Se nós sabíamos que você estava envolvido? Certamente era questão de tempo. Assim como o seu pai, você perdeu a cabeça por uma mulher e, no fundo, eu só queria vingar a morte da minha mãe. – exclamou, fazendo olhá-lo sem entender o que ele estava falando, o que quer que fosse aquilo, deveria ser brincadeira. – Seu pai era assim como você... frouxo, fraco e imbecil. Acha que essa vadia vale a pena tanto assim, o que significa que assim como ele, você e a sua amada, irão morrer. – Sua voz saiu firme, um sorriso de escárnio e antes que conseguisse fazer alguma coisa, as poucas luzes que ainda estavam acesas, apagaram. sumiu e eles se abraçaram mais forte, com segurando a arma, tentando enxergar alguma coisa.
Um barulho alto foi escutado e sem que eles pudessem agir, algo bateu forte contra a cabeça de ambos, fazendo-os desmaiar no chão, ainda juntos, ainda abraçados.
O som do alto falante foi ligado, mas nenhum deles escutou o que seria dito e por quem seria dito.
As luzes se acenderam e uma risada ecoou no local, o tipo de risada que faria qualquer pessoa ter medo apenas em escutar. Daquele filme de terror macabro, ou daquele palhaço infernal.
Aos poucos, ergueu o rosto do chão e foi levantando-se. Caso estivesse acordada, estaria maravilhada. Como o chamava desde o começo, parecia um anjo, com os olhos cerrados e o rosto contorcido em dor, ele estava com os olhos cravados no painel de vidro onde sabia que assistia a cena. Pegou a arma em suas mãos e atirou até a janela de vidro. A bala não penetrou o lugar mas trincou todo o espaço que fosse possível e dali em diante, bastava apenas um pequeno toque para que tudo caísse ao chão. Ele não moveu um passo para tal coisa, se limitou ficar parado ainda com a arma em mãos.
– Enfim, não sou o frouxo que você sempre pensou, não é, ? – Sorriu diabólico enquanto sabia que o amigo escutava tudo o que falava. – Não quer vir aqui ver o fraco quem é não, querido amigo? Diante de tantas coisas, sei lutar pelo o que eu quero e definitivamente, quero você morto. – Exclamou no momento em que o amigo dava um passo para o lado e abria a porta, fitando com os olhos abismados, mas ainda firmes.
Aas duas vertentes do jogo estavam cara a cara.
Sem mascaras, sem facetas.
Ambos estavam dispostos ao que quer que fosse para acabar com a vida do outro.
Não importando o que isso representasse, sequer dando-se conta do que estava em jogo.
estava com os olhos repletos de ódio e não ficava atrás. Estavam se confrontando com o olhar.
Uma briga de gangue, onde apenas o mais forte sobreviveria.
Nessa história, tudo depende do ponto de vista.
Para , ele não era bem o bonzinho da história, tinha seus defeitos, gostava dos jogos, mas via no seu propósito algo real.
Para , sua mãe merecia ser vingada. Descobriu sua mãe verdadeira aos 16 anos e não se assustou quando soube que a mesma era a mãe do . O pai dele havia acabado com a vida dela, ele acabaria com a vida do bastardinho.
A vida não era justa para ninguém, muito menos para eles.
Garotos ricos, imponentes, que poderiam ter tudo o que queriam a não ser uma coisa.
A paz de deitar sob os lençóis, sabendo que o outro continua vivo.
Uma amizade mascarada por ódio e rancor. Um sentimento transformado em vingança.
Em qualquer tipo de jogo, alguém só consegue ganhar com a derrota do oponente.
Desde jogos de vídeo game, até jogos da vida.
Nesse jogo em particular, apenas um jogador sairá vencedor, apenas um deles terá a vida plena.
Um trono cravejado de brilhantes, uma coroa de ouro.
Um rei.
O Clã havia sido rompido, as vertentes estavam lutando por um bem maior.
Até a morte ou além dela.
Eles lutariam até a última gota de sangue, eles só parariam quando o coração do adversário parasse de bater.
Quando a pulsação cessasse.

E que os jogos comecem!

FIM!


Nota da Autora: Posso falar? Então, acho que ficou uma merda. Desculpem. Essa última semana foi uma merda para mim, minha princesa ficou doentinha, foi um corre corre enorme e um pouco atrasada com o prazo, esse final foi o que consegui colocar para fora. Sabe aquela sensação de ‘QUE MERDA?’ to bem assim, então não liguem se realmente estiver uma porcaria, ok? Já tinha dito a abyy linda, que faria, então ta aí. A ideia é tão legal que não ficaria bem comigo mesma se não tivesse enviado. Quem sabe, isso não vire uma long e fique melhor ne? Hahahaha Deixei o final subentendido já por isso. Não quero que o final todo mundo saiba, sabe? Alguém tem que morrer, mas não saberemos quem. IMAGINEM. HAHAHAHAH Quero mandar um beijo para todas as fofas do mundo que leram isso aqui, aff. Enfim, podem comentar, criticar, me matar, ok? Amo vocês mesmo assim, hahaha beeeijos.
Ah, Impedimento é minha tb, do especial do ffobs. Podem ler! :p
ask.fm > podem encher o saco, nem ligo!



Nota da Beta: Erros? Envie diretamente para mim pelo email awfulhurricano@gmail.com ou através de um tweet para @mimdeixa (lembrando que eu NÃO sou a autora da fic). Não use a caixinha de comentários, por favor. xx Abby


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