CAPÍTULO: [Único]









Capítulo Único


N/A: Sugiro ouvir essa música durante toda a leitura.

Como uma pessoa pode ser tão idiota? Nunca a frase “tem que perder para dar valor” fez tanto sentido. Estava deitado na minha cama, encarando o teto como se estivesse passando o melhor filme de todos os tempos. A garrafa de uísque estava devidamente posicionada sobre meu criado mudo. Confesso que ela já estava pela metade, então esse monte de pensamentos que não fazem sentido deve ser por culpa dela, claro. Da garrafa, que eu digo, não dela. Argh.
Dela também.
Como uma pessoa pode ser tão imbecil? Talvez o resto da garrafa me ajude a entender...

Senti meu corpo despertando e logo levei minhas mãos a minha cabeça. Tinha uma bateria tocando dentro dela. Virei lentamente, abrindo um olho e depois o outro, voltando a encarar o teto. Durmo profundamente e acordo me sentindo ainda pior, a situação só melhora, , você é bastante esperto. Você não merece só Palmas, merece o Tocantins inteiro! Apertei meus olhos, segurando-me para não me dar um tapa na cabeça pela piada sem graça. É incrível o que o ser humano é capaz de fazer para tentar ocupar a mente com outras coisas.
Olhei para o outro lado da cama: vazio. Levei minha mão até o travesseiro dela. O trouxe lentamente até meu rosto, me embriagando com seu cheiro que ainda estava impregnado nele. O abracei e suspirei. Quem, raios, eu estava tentando enganar?
Levantei calmamente, tentando não piorar ainda mais minha ressaca. Fui em direção ao banheiro, já tirando minhas roupas no caminho. Liguei o chuveiro e logo entrei sob ele. Fiquei ali por uns bons minutos, torcendo para que a água levasse embora todas as memórias da noite passada. Ressaca de merda essa, já que não me fez esquecer porra nenhuma.
Apoiei meus braços na parede dentro do box, deixando a água escorrer sobre a minha cabeça. Eu podia sentir lágrimas se formando em meus olhos. Eu juro que não sei o que está acontecendo! Segurei o choro e terminei logo meu banho. Peguei a primeira roupa que vi pelo caminho e segui para a cozinha. Tanta bebida com o estômago vazio só pioraria tudo.
Assim que cheguei à sala, encontrei os pedaços do porta retrato no chão. Nossa foto perdida no meio dos cacos de vidro ali espalhados. É claro que a primeira coisa que vi quando voltei para casa foi nossa foto, e é claro que a primeira coisa que eu fiz foi jogar o porta retrato longe. Porque é assim que um homem maduro reage ao fim do seu relacionamento, ainda mais sendo o culpado por tudo. Claro.
Passei reto e segui para o meu destino inicial: a cozinha. Peguei qualquer coisa na geladeira e preparei algo rápido para comer. Fui traído pela minha mente quando ela me levou à noite anterior, onde saiu tanta merda da minha boca que ainda nem consigo acreditar. Apoiei meus cotovelos na bancada da cozinha e minha cabeça em minhas mãos. As memórias estavam vivas demais.
A campainha me despertou dos meus devaneios e minha mente traiçoeira me levou a passos rápidos até a porta, criando uma expectativa de que ela estivesse ali.
- Ah, é só você.
- Oi pra você também, . – Virei as costas para Dean e segui até o sofá. Desviei dos cacos no chão e me sentei, esperando que ele fizesse o mesmo. Encarei meu amigo que tinha seus olhos fixos no chão, na foto, para ser mais específico. – Noite agitada?
- O que você quer, Dean?
- Ei, calma aí. – Ele levantou as mãos, como se estivesse se rendendo. – Só vim saber como você está, mas já está bem claro na sua testa, que tá escrito bem grande e em neon: IDIOTA. – Bufei e apoiei minha cabeça no encosto do sofá.
- Dean, eu não...
- Por que não me conta o que aconteceu ontem?

- , volta aqui. Para de birra e me escuta.
- Eu tô cansada de te ouvir, , cansada. Você só quer saber do seu trabalho, dos seus amigos, da sua vida e esquece que existe um “nós” nessa equação.
- Para de drama, , sabe que não é assim. – Ela parou de andar quando chegou na porta da sua casa.
- Não é assim? – abaixou o tom de voz, não querendo chamar a atenção dos vizinhos. – Então me explica que cena ridícula foi aquela de você com aquela mulher, ? Me diz! Porque eu podia jurar estar vendo um homem solteiro saindo para se divertir em uma noitada. – Uma lágrima caiu dos seus olhos, mas ela logo limpou, querendo se fazer de forte. Eu suspirei, achando toda aquela cena desnecessária.
- Ela só veio falar comigo, mas eu já estava a dispensando. Não sei nem o nome dela, . Vem cá. – Tentei me aproximar, mas ela se afastou, criando uma outra barreira entre nós. – Por favor, me deixa entrar. A gente conversa e vai tudo se resolver. – Ela riu.
- Você só pode estar de brincadeira! , eu não vou cair nessa de novo. Você precisa entender que tudo tem um limite. Eu sei que você não me traiu, mas você estava gostando do flerte, do perigo de ser visto, da adrenalina que percorria seu corpo. – Como ela sabia disso tudo?
- Você tá ficando louca, , não é nada disso que você tá falando!
- Não? Eu te conheço bem demais, seus olhos brilhando enquanto a fazia sorrir, nunca que você a estava dispensando, ! Pelo amor de Deus, para de mentir! Para de tentar me enganar, ou de tentar enganar a si mesmo. – Ela encarou o céu, segurando as lágrimas que estavam presas em seus olhos. – Eu não sei exatamente o que estava passando pela sua cabeça, não sei se você se cansou de mim, ou se cansou de nós, se é que ainda existe um nós. – Um sorriso tocou seus lábios, mas não seus olhos. – Não dá mais, . Eu não posso levar esse relacionamento assim. Essa via, que deveria ser de mão dupla, está sendo em sentido único.
- ...
- Para, não fala mais. Eu sempre te falei, , o relacionamento tem que estar bom para os dois, se não está bom pra um, não dá pra forçar. E eu já vi que não está bom pra você.
- Não coloque palavras na minha boca.
- Então não está bom pra mim! Porque eu sempre estou no fim da sua lista de prioridades, e não ouse me dizer que estou fazendo drama porque eu quero acreditar que você me conhece melhor que isso.
- Vamos entrar, você precisa se acalmar. Então a gente pode conversar com as coisas mais claras.
- , você não consegue perceber que já está tudo claro? – Sua batalha para segurar as lágrimas estava perdida. Foi então que percebi que eu também estava travando uma guerra com as minhas lágrimas.
- É isso que você quer então? Terminar tudo por uma besteira como essa?
- Só o fato de você achar que é uma besteira já me faz perceber que não adianta continuar essa conversa.
- Não vou ficar aqui me humilhando, se é isso que você quer.
- Você realmente não me conhece! – levou suas mãos em seu rosto, seus soluços estavam me quebrando aos poucos. – Eu não quero que você se humilhe, eu quero que você me diga a verdade. Eu quero que você me diga que as coisas irão mudar, que você irá lutar comigo por nós, pelo nosso relacionamento. Eu só quero saber que você...
- Que eu o quê? Fala!
- Nada, . Acho que já tive minha resposta.
Segui em direção ao meu carro, que estava estacionado em frente à sua casa. Antes de partir, abaixei o vidro e disse minhas últimas palavras:
- Olha aqui, ainda vou te esquecer... Escreve aí. – E parti com a imagem de uma completamente destruída pelas minhas palavras ditas de cabeça quente.


- Você é ainda mais idiota do que eu imaginava. O que você tinha na cabeça quando disse aquilo? Ficou louco, ?
- Não grita, Dean, minha cabeça tá explodindo, porra.
- Você não quer que eu grite? VOCÊ NÃO QUER QUE EU GRITE? – Dean levantou do sofá e foi em direção à janela. Nem me dei ao trabalho de levantar minha cabeça para olhar em sua direção. – A quem você queria enganar? – Ele falou bem baixinho.
- Não sei. – Suspirei e me afundei ainda mais no sofá.
- É melhor você consertar essa situação enquanto ainda dá tempo. já aguentou demais as suas merdas, trate de mudar e ser o homem que ela merece ter. – Dean disse e seguiu até a porta. – ? – Eu o encarei. – Seja esse homem por você também. – Dito isso, Dean bateu a porta e me deixou sozinho com meus pensamentos.

Liguei para o trabalho e informei que não iria hoje. Fiquei no quarto a tarde inteira encarando o maldito teto. Cenas de todo o tempo que passei com passavam pela minha mente. Toda a nossa história estava passando como um filme na minha cabeça. Eu já tinha desistido de tentar prender as lágrimas, elas já escorriam livremente pelo meu rosto. Eu só conseguia pensar em seu sorriso, na maneira que ela me olhava, na forma que seu corpo se encaixava perfeitamente ao meu. A cada nova lembrança, eu só conseguia pensar que apenas um estalar dos seus dedos me faria voltar para ela correndo. Seria só ela sorrir, aquele sorriso diferente que ela mostrava só para mim. Aquele sorriso que me fazia sentir o cara mais sortudo do mundo por tê-la ao me lado. E agora eu me sentia o mais babaca por ter a deixado ir.
Ou talvez ela tenha me deixado ir para que eu ficasse aqui, confuso, frágil e fraco, completamente destruído e sem forças para continuar. Porque é exatamente assim que eu me sinto. – Que droga!
Levantei rapidamente e fui buscar as chaves do meu carro, já tinha passado da hora de parar de me lamentar e de consertar toda essa situação. Fiz o caminho que eu tão bem conhecia, mas o medo me segurou dentro do carro por alguns instantes. Eu encarava sua porta, juntando forças para poder falar tudo aquilo que eu precisava. As luzes da casa estavam acesas, indicando que estava nela. Respirei fundo e saí do carro. Fui a passos lentos até sua porta. Bati uma vez, quase desistindo e saindo dali correndo. Quando estava prestes a virar as costas, a porta se abriu. Suspirei ao encarar seu rosto vermelho. Nos encaramos por algum tempo, até que abriu caminho para eu passar. Entrei em sua casa, fechando a porta atrás de mim. Ela seguiu para o sofá, mantendo sempre uma distância segura de mim. Fui em sua direção e sentei no sofá a sua frente. Continuamos a nos encarar, não parecia prestes a ceder e iniciar aquela conversa.
- Eu... – Comecei, mas estava nervoso demais para continuar. Levei minhas mãos até meus cabelos, os bagunçando completamente. – Eu amo você, . – Soltei de uma só vez e pude notar seus olhos arregalados, mas ela nada disse. – Eu tive a pior noite da minha vida, eu só consegui ficar em casa, bebendo e lembrando de nós, porque sempre houve um nós. – Eu não sabia de onde as palavras estavam vindo, mas eu também não conseguia pará-las. – Se tirar você de mim, , sobra nada. – As lágrimas tinham voltando a escorrer pelo meu rosto, mas eu não estava me importando com isso. – Eu só conseguia pensar em você, no seu sorriso, em todos os nossos momentos juntos... Eu não posso viver sem isso... Eu não posso viver sem você. Eu sei que não agi certo com a gente, mas eu estou disposto a tentar. Por favor, não me diz que é tarde demais. – também chorava nesse momento, me encarando como se pesasse todas as minhas palavras. Ela me conhecia bem demais para saber que eu nunca tinha sido tão sincero em toda a minha vida.
Todo o meu histórico de decepções tinha me tornado esse idiota que estava prestes a perder a pessoa que mais amava nessa vida. aguentou tudo isso por tempo demais, já passou da hora de eu deixar o passado para trás e entregar meu coração para quem o merece de verdade. No fundo, eu sempre soube que ela nunca o machucaria, mas estava sendo teimoso demais para admitir.
ponderou pelo que pareceu uma eternidade, até que um fraco sorriso surgiu em seus lábios, esse tocando seus olhos. Soltei o ar que eu não sabia que estava prendendo, ainda esperando por uma resposta mais clara, não querendo me precipitar e estragar ainda mais com tudo.
- ... – começou, mas parou logo em seguida. Ela secou suas lágrimas, ampliando o sorriso que me desmontava inteiro. – Você tem certeza? – De onde essa pergunta veio? Balancei minha cabeça, afirmando, não confiando na minha voz. Mas não estava satisfeita com esse gesto, esperando por minhas palavras.
- Nunca tive tanta certeza de algo em toda a minha vida. – Não consegui conter minhas pernas e me levantei, seguindo em sua direção e ajoelhando em sua frente. Tomei suas mãos e olhei bem dentro dos seus olhos. – Me desculpa por não ter me entregado desde o início, me desculpa por não ser o homem que você merece, mas eu prometo que eu estou disposto a tentar, se você ainda me quiser. – E então ela sorriu ainda mais e todo o meu corpo respondia que eu era dela.
- Me promete que volta pra ficar? Por favor. Não sei se aguento outro término como o que tivemos ontem, acho que não vou conseguir passar por tudo aquilo de novo. – Levantei e a peguei em meus braços. afundou seu rosto em meu pescoço, enquanto eu a envolvia em meus braços, de onde eu nunca mais queria que ela saísse.
- Eu prometo. – Falei com todo o meu coração.
- Eu amo você, .
- Obrigado por me perdoar e me esperar. Sei que fui um idiota, mas agora as coisas serão diferentes. Eu prometo a você.

A felicidade é uma paz de espírito que muitos procuram, mas nem todos encontram. Por tempo demais fui tolo para não perceber que ela estava bem na minha frente. Sim, ela. A felicidade, eu digo. Ok, também.
Como uma pessoa pode ser tão feliz? Confesso que não sei a resposta, sei apenas que felicidade e têm sido sinônimas no dicionário do meu coração, mas só agora, ao lado da pessoa que, com apenas um sorriso, me fez voltar para vida, eu pude perceber. Enfim enxerguei o que estava bem debaixo do meu nariz esse tempo todo. Encarando deitada em meus braços, percebi que esse é o lugar que eu quero ficar. Para sempre.



Fim



Nota da autora: Oi, gente! Tudo certinho? :D
Confesso que não sou muito fã de música nacional, mas essa tem alguma coisa na melodia que realmente não saiu da minha cabeça. Bom, o resultado foi esse.
A fic foi curtinha, mas não tive como não escrever! hahaha

Beijos e até a próxima!
Larys
xx

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