Ever

Escrita por: Giovanna S.
Betada por: Laura Malik







“And it’s been an everlasting summer since we found each other...”

Duas e quinze da madrugada de um sábado. Uma loira pendurada em seu ombro esquerdo mordia levemente o lóbulo de sua orelha e a morena da direita parecia se divertir bastante com os lábios em seu pescoço. Alguma música com batidas pesadas tocava alta na pista de dança e diria que tudo estava perfeito... Não fosse seu celular tocando insistentemente no bolso de trás da calça. Quem quer que fosse, não entendia que aquele não era o momento propício para uma conversa ao telefone.
Tentou se concentrar em dividir sua atenção entre as duas mulheres, mas quando sentiu a vibração no bolso pela vigésima vez, bufou. Delicadamente afastou a morena de si para pegar seu celular com o intuito de desligá-lo, mas quando viu o nome de no visor apenas suspirou.
- Perdão meninas, tenho que atender. – Tentou se levantar, mas a loira segurou seu braço desajeitadamente.
- Ah, tenho certeza que a pessoa pode esperar a gente resolver o nosso probleminha.
- Sério, Chloe. Isso não dá pra esperar – terminou se desvencilhando das mãos ágeis da mulher mais uma vez.
- Ei, eu sou a Chloe. Ela é a Christine! – A morena exclamou, visivelmente afetada com o pequeno deslize do rapaz.
- Certo, tanto faz. Eu já volto – concluiu rolando os olhos e saindo do cômodo, procurando algum lugar onde pudesse escutar seja lá o que tivesse a dizer. Não precisou ligar de novo quando chegou até a varanda do último quarto da casa, porque logo sentiu o celular vibrar em sua mão mais uma vez.
- Se ninguém morreu, vou ficar bem irritado. – Escorou-se na pequena grade, olhando o breu a sua frente e esperando a resposta da garota.
- Por que você trocou a colcha da sua cama? Eu gostava da azul. – A voz dela estava leve, mas não parecia calma.
- Mas o que...
- Se você não chegar em dez minutos, vou deixar a Lilo fazer xixi na sua colcha nova.
- Eu... – ela já havia desligado. Fechou os olhos e massageou as têmporas.
Maldita hora em que foi arrumar uma melhor amiga daquela.

Flashback – doze anos atrás

- Mãe, – o menino bufava, rolando os olhos impacientes a cada dois segundos – eu não gosto daquela menina. Ela é chata, nunca quer brincar do que eu quero.
A mãe riu, terminando de arrumar o cabelo do mais novo.
- , não fale assim. Você tem que entender que a é uma menina delicada e você só gosta de brincar de coisas que machucam.
- Futebol não machuca! - ele emburrou.
- Então o que é isso no seu joelho? – ela disse apontando para o joelho machucado do pequeno.
- Por que temos que ir nessa festa? – O menino perguntou, claramente irritado.
- Porque é aniversário dela e a tia Jamie vai ficar muito, muito triste se você não for.
- Tá, mas eu não quero ir. – ele implorou.
- Você só tem seis anos, meu amor. Não tem que querer nada. – A mais velha decidiu, beijando a testa do filho e se levantando em seguida.

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- , princesa, parabéns! – a mulher a abraçou com ternura. – , entregue o presente.
O menino permaneceu parado atrás das pernas da mãe segurando um pequeno pacote rosa.
- , me dá. – falou impaciente, mas com os olhinhos brilhando.
- Kelsey, que bom que veio! , tenha calma. – a mãe pediu, envergonhada da atitude da filha.
- Não se preocupe, Jamie. Crianças são assim mesmo – a mãe de concluiu, soltando um riso leve. – Filho?
- Ei, volte aqui com meu presente! – arregalou os olhos e quando Kelsey se virou, viu o filho correndo desengonçado para a área externa do salão de festas onde estavam todas as outras crianças, juntamente com o embrulho rosa.
Antes que qualquer uma das mães pudesse evitar, saiu correndo atrás do menino como se sua vida dependesse daquilo.
- Deixe que eles se acertem. – Kelsey falou firme quando a mãe de fez menção de ir atrás da filha.
Os pés pequenos da criança de vez em quando se enroscavam em algum copo descartável pelo chão, mas ela não desistiu até que encontrou razoavelmente longe das outras crianças que brincavam no escorregador. O menino tinha um sorriso maldoso nos lábios e assim que olhou para o muro ao seu lado, sentiu o rosto queimar.
- , me dá meu presente. – A menina cruzou os bracinhos e fez a melhor cara de pidona que conseguiu.
- Ou o que? – Ele desafiou.
- Ou eu... eu...
- Viu? Você não vai fazer nada, porque você é uma medrosa. E eu não gosto de meninas medrosas. – O menino também cruzou os bracinhos. – É por isso que eu não gosto de você.
- Você não gosta de mim? – os olhos dela marejaram. – Minha mãe é amiga da sua mãe, eu pensei que você fosse meu amigo também.
- Eca, não sou seu amigo. Você é uma menina. Minha mãe falou que você não gosta de futebol. Você não faz nada legal. Medrosa! – ele provocou.
- , eu só não quero me machucar! – ela exclamou, claramente fazendo força pra não chorar. – Mas eu quero ser sua amiga. Eu sou sua amiga.
- É mesmo? – ele arqueou uma sobrancelha. – Então, se você subir no muro e pegar seu presente, volto a ser seu amigo.
- Mas eu...
- É só subir. – Ele encorajou.
A menina respirou fundo. era o mais próximo de um irmão que tinha e não soube explicar o aperto que sentiu ao ouvi-lo dizer que não gostava dela. Abaixou-se e tirou as sandálias que usava, embora soubesse que se a mãe a visse descalça, provavelmente estaria encrencada.
Apoiou as mãozinhas no pequeno degrau que havia embaixo do muro, fechou os olhos e tomou impulso, prendendo as mãos na mureta de forma que ficou pendurada.
- , eu não vou conseguir – disse assustada.
- Você está quase!
Ela colocou toda sua força nas mãos e impulsionou mais uma vez para cima. Quase agarrou o pacote com as pontas dos dedos quando soltou um grito e caiu com força no chão.
- ! – o menino correu até ela. – , desculpa! Você está bem?
- Eu falei que não ia conseguir... Eu... – viu as lágrimas gordas descendo por seu rosto e automaticamente se arrependeu do que fez.
- Não... não chora. Não tem problema. Eu estava brincando.
- Mas você disse que não vai mais ser meu amigo. – Ela soluçava.
- Era brincadeira, eu juro. Para de chorar. – Ele se sentia mal. Não gostava de vê-la chorando e queria desesperadamente que ela parasse.
Levantou-se e com facilidade, subiu no muro e pegou o pequeno pacote.
- Toma. Feliz aniversário. – Ele sorriu amarelo enquanto a via parar de chorar e abrir um pequeno sorriso.
esticou a mão para abrir o presente, mas automaticamente a afastou e gemeu.
- O que houve? – perguntou confuso.
abriu as mãos sobre o colo e os olhos do garoto quase saltaram das órbitas. Ambas estavam raladas e sangrando por conta do esforço que a menina fez pra se segurar no muro quando caiu.
- A minha mãe vai me matar. – Ela soltou com a voz embargada novamente.
O pequeno não sabia o que fazer. Sabia que contaria sobre o incidente e sabia que a mãe o deixaria de castigo. Mas, por algum estranho motivo, não se preocupou com isso. A única coisa que passava em sua mente era como aquilo devia estar doendo e o que ele poderia fazer pra amenizar a dor. De repente, olhou-a com cuidado e deu um leve suspiro.
- Tá doendo muito? – perguntou cauteloso.
- Vai passar. Não sei o que vou falar pra minha mãe – terminou fazendo uma careta.
nada disse. Apenas pegou as mãos da menina com cuidado e abaixou-se até encostar os lábios em suas palmas. A menina não sabia o que ele estava fazendo, até que o sentiu depositar dois beijinhos, um em cada mão e depois voltar a encará-la.
O rosto dela se iluminou.
- Podemos voltar a ser amigos? Pra sempre? – ela perguntou radiante.
- Sim. Eu prometo nunca mais fazer você se machucar.

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Assim que abriu a porta do quarto, a viu sentada com as pernas cruzadas e uma expressão relaxada enquanto Lilo, sua filhote de Lhasa Apso, insistia em pular em seu colo e colocar as patas pequenas em seu pescoço, implorando por maior atenção.
ficou apenas a observando por alguns minutos antes de entrar no quarto, pensando qual seria o motivo da vez. Sempre que aparecia em sua casa no meio da madrugada, era porque algo estava errado com ela e, como todas as outras vezes, odiava quando isso acontecia pelo simples fato de que odiava que algo a fizesse ficar mal.
- Você já reparou que a partir do momento que te dei a chave de casa, você automaticamente decidiu que prefere minha cama a sua? – perguntou assim que entrou e fechou a porta cuidadosamente atrás de si, tentando evitar que a mãe acordasse.
- Não finja que prefere dormir sozinho. Sei que quando estou aqui você fica mais feliz – ela disse, pegando Lilo no colo e a colocando no chão. Assim que o fez, a cachorrinha correu até os pés de e começou a pular.
- Lilo, tomara que você não fique tão convencida quanto a sua dona, se não terei que parar de gostar de você. – O garoto brincou abaixando-se para fazer carinho no filhote. Sem demorar muito, tirou o tênis e se jogou na cama, virando-se para e apoiando-se no cotovelo.
A menina fez o mesmo e os dois ficaram um longo tempo assim, apenas se olhando e sentindo a presença um do outro.
Era sempre assim. ficava lá com ela mesmo que em silêncio, esperando até que ela decidisse falar, chorar, gritar ou apenas dormir.
- Derek terminou comigo – ela finalmente desabafou.
fechou a cara.
- Eu nunca gostei desse cara – falou simplesmente.
- Você nunca gosta de nenhum cara que me beija em qualquer outro lugar que não seja a bochecha, – a menina falou com um leve humor.
- Isso não é verdade. Eu gosto do Luke e do Jesse – ele pareceu pensar por um instante. – Você sempre dá selinho neles.
- Porque o Luke tem quatro anos e é meu irmão e o Jesse é gay! – ela exclamou enquanto ele ria.
- Você já está rindo. Isso é bom sinal, não é? – ele perguntou levando a mão até a bochecha dela.
Ela suspirou.
- Ele era um idiota – respondeu, se aproximando um pouco mais do amigo.
- Que bom que você se tocou rápido que o único idiota que você está permitida a amar sou eu – ele brincou ao mesmo tempo em que a puxou pra um abraço.
- Por que nenhum cara consegue me levar a sério, ? O que eu tenho de errado?
- Você não tem nada de errado, . Eles é que não são certos – ele respondeu baixinho.
Houve um longo momento de silêncio.
- ?
- Oi.
- Quantas meninas você largou naquela festa pra vir ficar comigo?
- Isso importa?
- Responda.
- Duas.
Ela apenas riu.
- Qual a graça, ? – perguntou confuso.
- Nenhuma. Apenas estou contabilizando quantas meninas eu já fiz você largar por aí. Juro que um dia te compenso por tudo isso. Vou arrumar um harém pra você.
Ele riu.
- Eu não quero um harém, – ele respondeu calmo. – Você e minha mãe são as mulheres da minha vida. Isso só vai mudar o dia que eu casar.
A menina levantou a cabeça rapidamente.
- COMO ASSIM ISSO VAI MUDAR QUANDO VOCÊ CASAR?
- Não grite, minha mãe vai acordar.
- , SE VOCE NÃO RETIRAR O QUE DISSE, EU VOU ACORDAR ESSA VIZINHANÇA INTEIRA! – ela exclamou em voz alta mais uma vez.
- Para de ser brava, você não me deixou terminar – ele a puxou de volta e a abraçou novamente. – Isso só vai mudar o dia que eu casar, porque em vez de duas, terei três mulheres da minha vida. Só isso.
A menina fez uma careta.
- Já odeio sua futura esposa.
- E eu amo você. Agora dorme.
Em questão de minutos, sentiu a respiração pesada da menina junto a seu peito. Não demorou muito para que pegasse no sono também.

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- Bom dia, crianças! – A mãe de dizia alto enquanto abria as cortinas do quarto, deixando que o sol entrasse e fizesse os dois apertarem os olhos ainda na cama. – , que bom que está aqui. Fiz aquelas panquecas de chocolate pra você e ainda tem um pouco de ração da Lilo no armário da lavanderia.
- Obrigada, tia Kelsey. Mas eu acho que prefiro dormir mais um pouco – a menina terminou enfiando a cara no travesseiro novamente, enquanto já se espreguiçava.
- , dê um jeito nisso – a mãe terminou saindo com Lilo nos braços e fechando a porta atrás de si.
- Minha mãe gosta mais da sua cachorra do que de mim – comentou enquanto se levantava. – Toda vez que você traz a Lilo aqui, ela faz questão de comprar ração, ossinhos e outras merdas assim. Se eu peço um chiclete, ela me xinga. Esse mundo é mesmo injusto.
gargalhou.
- Quem vê pensa mesmo, né? Você é muito mimado, pare de reclamar da sua mãe.
- Você sempre a defende. – O menino emburrou.
Os dois escovaram os dentes e trocaram de roupa enquanto reclamava que as roupas que tinha na casa de já estavam feias e precisava trazer mais.
- Daqui a pouco vou ter que comprar um armário novo pra mim, porque você quer tomar conta do meu.
No mesmo instante, pulou em suas costas.
- Cala a boca e me leva até lá em baixo. Estou com preguiça de andar – ela falou enquanto apoiava o queixo na cabeça do garoto.
- , você é muito folgada.
- E você é muito lerdo. Anda, estou com fome.
apenas balançou a cabeça e saiu do quarto carregando a amiga nas costas.

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“If this room was burning, I wouldn’t even notice…”


Uma semana depois

- , se você não descer logo eu vou ser obrigado a ir aí em cima e te puxar pelos cabelos. Jesus, pra que tanta demora? – andava frenético e impaciente de um lado para o outro na sala da casa de .
- Será que você não consegue parar de encher o meu saco por um segundo sequer? Parece que sua meta de vida é me apressar desde que nos conhecemos – ela dizia enquanto descia as escadas ainda terminando de colocar o sapato.
Ele apenas sorriu.
- Vamos, seu chato, vamos – ela continuou falando enquanto passava por ele, que continuava parado. – Mas o que foi agora? Perdeu a pressa?
- Você está linda – ele falou enquanto pegava a chave do carro em cima da bancada. – Tenho dó do seu futuro marido.
vestia uma blusa de paetê preta e uma saia tubinho branca que ia até um palmo e meio acima do joelho. Nos pés usava um scarpin vermelho e carregava uma grande carteira também vermelha na mão. Já usava uma camisa social preta com os dois primeiros botões abertos, uma calça jeans escura e seu tênis também eram brancos.
Ela revirou os olhos.
- Por quê?
- Porque além de demorada, você é insuportável quando está de TPM. E acredite, eu sempre sei quando você está de TPM – ele terminou colocando a mão em sua cintura e fazendo um leve movimento para que ela fosse em direção ao carro e ele trancasse a porta atrás de si.
- Eu te odeio – foi a última coisa que disse antes de entrar no carro e cruzar os braços.

- Ok, vamos as regras. – disse enquanto os dois saltavam do carro.
- Não começa – ela pediu revirando os olhos.
- Não quero te carregar, o único carregado aqui sou eu. Não quero te ver agarrada com qualquer um, apenas eu posso agarrar qualquer uma e...
- Ai, cala essa boca – ela riu, impaciente. – Quantas vezes tenho que dizer que você não é meu pai?
Não houve tempo para uma resposta quando do meio da multidão de pessoas tentando entrar na festa, uma criatura alta e esguia, com cabelos que de tão louros pareciam brancos e grandes olhos azuis saltaram em cima da menina.
- , meu amor! – o menino gritou.
- Jesse! – gritou jogando os braços ao redor do pescoço do amigo mais gay que já tivera na vida.
– Ainda bem que você já chegou, não sabe como estamos bem de público hoje – completou, dando uma risada meio escandalosa.
Entre risos e conversinhas, já ansiava por uma bebida. Quando conseguiram entrar, não se demorou muito com os amigos.
- Vou tentar encontrar os caras, nos vemos mais tarde - disse, dando um beijo na bochecha de . – Foi bom te ver, Jesse! – terminou, se afastando. Gostava dele, mas quando os dois começavam a falar dos caras gostosos dos lugares aonde iam, preferia manter distância.
1 – Porque não gostava de garotos.
2 – Porque não gostava de ouvir falando de caras gostosos.
3 – Volte ao item dois.

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Algumas horas de festa já haviam se passado desde que deixara sozinha com Jesse e saíra à procura dos amigos. estava um tanto quanto irritada por não ter bebido muito, mas sabia que devia estar bêbado em algum canto do lugar e no final ela teria que dirigir.
- Me procurando? – sentiu a voz do garoto bem perto de seu ouvido, fazendo com que inconscientemente os pelos de seu braço se eriçassem e uma reação estranha tomasse conta de seu corpo.
- ! Onde se enfiou? – falou rapidamente se virando para ele.
- Por aí – ele deu de ombros. – Vamos dançar?
- Ah, ... – ela não tinha terminado de falar quando ele tomou sua cintura e a empurrou de volta para a pista de dança.
- Não reclama, só dança – ele falou novamente próximo ao ouvido dela.
fechou os olhos, odiando a si mesma por estar recebendo aquele tipo de reação.
Pelo amor de Deus, era só o .
Começaram a se mover no ritmo da sequência de músicas que tocavam e às vezes entre uma e outra, saía pra buscar uma garrafa de cerveja e logo voltava. Quando o DJ começou a tocar uma de suas músicas favoritas, ela se esforçou ao máximo pra dançar e cantar o mais próximo do rosto do garoto que conseguiu. As mãos dela passeavam por todo o tronco do rapaz, enquanto o mesmo mantinha os olhos hipnotizados no rosto da menina a sua frente. sabia o quanto ficava arisco quando bêbado e esperava do fundo do coração não estar passando dos limites.
- , o que você está fazendo? – perguntou com a voz um tanto quanto rígida.
- Dançando – ela respondeu naturalmente. Virou-se de costas e colocou as mãos do menino em seus quadris enquanto fechava os olhos e sentia a música tomar conta de seu corpo.
Ele a virou de volta para si rapidamente e grudou seus corpos firmemente. Segurou-a pelos cabelos da nuca e os levou um pouco para trás.
- ... – ela tentou dizer.
Ele apenas levou o nariz até seu pescoço e subiu até passar por seu queixo, boca, nariz, finalmente chegando à testa e depositando um beijo ali.
- Não tente me provocar, . Estou bêbado, mas não o suficiente pra esquecer que você é minha melhor amiga.
Terminando a frase, deixou-a ali parada, com o coração na garganta. Que porra havia acabado de acontecer?

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- , VOCÊ ESTÁ SUFOCANDO A LILO! – A menina gritava enquanto tentava tirar Lilo dos braços de , que havia dormido abraçado com a cachorrinha, mas no momento a apertava tanto que a mesma tentava se soltar desesperadamente.
- ! – vendo que o menino não acordava, começou a estapeá-lo nos ombros nus até que abrisse os olhos assustado e soltasse Lilo rapidamente.
- O QUE É ISSO, SUA LOUCA? – perguntou desesperado. – Quer me matar do coração?
- Você. Ia. Matar. A. Minha. Cachorra – ela disse pausadamente e com uma cara horrorizada, enquanto abraçava a cachorrinha e fazia carinho perto de seu focinho.
– Seu bêbado de merda.
- O quê? Que horas são? – ele perguntou visivelmente irritado e sonolento.
- São quatro e meia da tarde, você não acorda nunca, estou sozinha, de TPM, irritada e nem minha cachorra estava me fazendo companhia porque você a estava sufocando com esse seus braços de brutamontes e...
- , cala a boca. Um dia eu vou achar um botão que desliga essa sua matraca – disse bufando.
- ... – ela disse manhosa, se sentando na cama ao lado do rapaz.
- O que você quer? – perguntou com uma sobrancelha arqueada. – Não, eu não vou ao mercado te comprar essas coisas que engordam porque logo menos você vai virar uma bola e me culpar por nunca desencalhar.
Ela arregalou os olhos.
- Mas...
- Também não pense que estou disposto a passar o resto do dia vendo seus filmes de menininha enquanto você repete as falas e chora como um bebê.
Ela amarrou a cara.
- Você é um péssimo amigo – falou tentando demonstrar mágoa.
- Já fiz isso por muitos anos. Sabe o que eu recebo por ser bonzinho com você? Murros.
- Isso não é verdade! – ela continuou manhosa. – Por favor.
- Blá, blá, blá – ele fez uma mímica como se estivesse falando com a mão.

Quarenta minutos depois, um com cara de tédio assistia a menina se esticar para alcançar o pote de Nutella que estava na prateleira mais alta do mercado. - Tira essa cara de bosta, vou levar um pra mim e um pra você. Assim a gente não briga – ela disse, logo depois se inclinando e dando um beijo estalado na bochecha de . Quando foi para trás, se desequilibrou e antes que o menino pudesse segurá-la, alguém dobrou o corredor onde estavam e a virou pelo cotovelo. - Obrigada, eu... – assim que viu quem era, emudeceu.
- Mas era só o que me faltava mesmo. – resmungou.
- Te salvei e não ganho nem um beijinho de agradecimento? – Derek perguntou arqueando as sobrancelhas. – Já fomos melhores nisso.
- Você é tão engraçado que acho que vou vomitar – ela respondeu, seca.
- Brincadeiras a parte, você deveria tomar mais cuidado por onde anda... E com quem anda – terminou olhando de cima a baixo, que já travou o maxilar, e colocou uma expressão debochada no rosto.
- Nisso eu concordo, aliás ela deixou de andar com você quando dei o mesmo conselho a ela. – piscou e se aproximou da menina, que estava com cara de quem ia vomitar.
Ela simplesmente odiava quando seus namorados (ou no caso, ex-namorados) se encontravam com porque sabia o quanto ele ficava irritante em momentos assim.
- Olha, Derek, obrigada. Mas a gente tá com pressa agora, ok? Nos vemos outra hora – terminou de falar apressada e segurou a mão de , enquanto o arrastava dificilmente pelo resto do corredor.
- Eu estou arrependido, – o menino soou alto quando ela já estava de costas, mas quando ouviu, paralisou. Juntamente com , que ainda segurava sua mão.
- Mas que porra... – já estava se virando quando Derek continuou.
- Vamos sair amanhã à noite? – Derek falou com o tom de voz mais suave que conseguiu, mas seus olhos famintos não enganaram .
- Ele só pode estar de brincadeira. – murmurou e apertou sua mão mais forte. Depois, olhou em seus olhos como quem queria muito rir e o garoto não entendeu.
- Pode repetir a parte do “arrependido”? – pediu fingindo profunda emoção.
- Eu... – ele franziu a testa. – estou arrependido – disse rapidamente.
Ela sorriu e soltou a mão de . Aproximou-se do lindo menino que estava poucos passos a sua frente e passou a mão em seu rosto. Ele sorriu vitorioso e antes que pudesse se preparar, disparou:
- Você é um merda, Der. Você acha que fazendo essa ceninha patética no meio de um supermercado vai me fazer esquecer que contou a todos os seus amigos que me comeu quando na verdade você não é bom o suficiente pra isso e nem nunca vai ser?
arregalou os olhos enquanto via a menina andar completamente ereta a sua frente. Assim que a alcançou, disse um tanto quanto bravo:
- Não acha que se esqueceu de me contar alguma coisa?
Ela deu de ombros.
- Não achei que fosse importante. Afinal, não menti. Ele realmente terminou comigo. Depois que eu o desmenti na frente de seus amigos e todos riram da minha cara, inflando o ego dele e fazendo com que eu me sentisse uma idiota.
O rosto do menino ficou vermelho.
- COMO É QUE VOCÊ NÃO ME DEIXA ESTOURAR A CARA DE UM BABACA DESSE?
Ela apenas sorriu.
- Qual a chance de eu deixar você se machucar batendo em alguém por minha causa?
Então se calou, e ele soube que o assunto estava encerrado.

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- Você me salvou de todas as maneiras que alguém poderia ter sido salvo. – ouviu fungar pela décima quinta vez enquanto terminava a frase.
- Já chega desse filme, pelo amor de Deus – ele implorou.
- Você não tem coração? – perguntou com os olhos vermelhos.
Ele levou a mão direita até seu rosto e limpou uma lágrima gorda que insistiu em descer.
- Tenho. Mas por que você sempre chora com filmes de amor? São só filmes.
- Por que você goza com filmes pornôs? São só filmes. – Ele escancarou a boca e ela riu divertidamente.
- !
- !
- Você é uma pervertida. Vou contar pra sua mãe – terminando a frase, saiu correndo do sofá como se realmente estivesse indo em direção ao telefone.
Recuperada da crise de risos, ela resolveu entrar na brincadeira e correu atrás dele.
- Ei, você não era rápida assim. – O garoto pareceu surpreso quando ela se enfiou rapidamente a sua frente, ficando entre ele e a bancada. – Além de pervertida e corredora de maratona, o que mais deixei passar despercebido sobre você durante esses anos?
- Muitas coisas.
- Tipo?
- Coisas. – Ela revirou os olhos e tentou descer da bancada.
- Não, agora você vai me contar. – Ele a prendeu de volta, passando os dois braços pela sua cintura e fazendo com que a menina tivesse que se concentrar pra não deixar sua respiração entrecortada bater diretamente no rosto de . Não que já não tivessem ficado próximos assim, mas com o passar do tempo as sensações quando estava em contato firme com ele eram diferentes.
- Me deixa descer, seu idiota. – Ela forçou de novo e ele a prendeu com mais força.
- Lembra quando a gente estava no primário e quando queríamos algo dos amigos, eles só davam se pagássemos um tipo de pedágio? – perguntou fazendo com que ela risse nervosa.
- Claro que lembro. Você ficou sem as calças várias vezes.
- Só vai sair daqui se pagar pedágio – ele disse calmo e cauteloso, porém nada discreto ao descer os olhos para a boca meio aberta da menina.
- Para de ser tarado e me deixa sair – ela disse também baixo.
Ele só sorriu e aproximou seus narizes.
- Não vou te beijar, .
- Eu não quis... Eu... – Sua garganta se fechou. Aquele menino era psicopata.
Como ousava ficar tão perto e depois insinuar que não a desejava? Bufou. – Eu não quis dizer isso, idiota - disse rapidamente.
- Eu sei.
- Sabe o que? – Ela indagou.
- O que agora eu sei. – Como de praxe, levou os lábios até sua testa e se demorou um pouco por lá. Depois afrouxou seus braços ao redor da menina e deu passagem para que a mesma passasse a sua frente rapidamente.
- Vou tomar banho – ela declarou, calçando os chinelos e já subindo alguns degraus.
- Precisa de ajuda? – brincou, recebendo uma cara feia e um gesto obsceno em resposta.
Quando já estava sozinho, se jogou no sofá e fechou os olhos. Não queria pensar, mas acabou pensando em tanta coisa...

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“Lately I’ve been losing sleep, dreaming about the things that we could be...”


Duas semanas depois

sentiu a claridade do sol invadir seu quarto subitamente. Abriu um olho de cada vez e por culpa da visão ainda embaçada, pensou ter visto se aproximando. Os fechou novamente e quando voltou a abri-los, uma mistura de glacê cor de rosa com massa branca atingiu seu rosto em cheio, pegando parte de seu cabelo bagunçado e espalhando alguns pedaços pelo edredom.
- PARABÉNS! – O coro feito por , Luke e Jamie invadiu seus ouvidos.
- Mas que... – ponderou o palavrão em respeito a sua mãe. – , eu vou te matar!
Retirou o bolo que cobria sua visão e antes que pudesse respirar, Luke jogou os braços em seu pescoço sem se importar com a sujeira.
- Você fica mais bonita assim – disse parecendo se divertir.
- Suja? – fingiu estar brava.
Ele balançou a cabeça.
- Você é um capetinha! – Segurou a cintura do irmão e ameaçou fazer cócegas. Luke gritou de surpresa e saiu correndo, tropeçando em alguns brinquedos pelo corredor.
Rindo da cena, Jamie se aproximou da filha e a beijou na testa.
- Meu bebê já tem dezoito anos, tão linda! – fingiu secar uma lágrima e a menina jogou um travesseiro nele.
- Sem fortes emoções, mãe.
- Impossível. Ainda me lembro como se fosse ontem do dia que você nasceu...
- AH NÃO, CHEGA DESSA HISTÓRIA! – gritou rindo, antes que a mãe contasse a pela milésima vez sobre como sentira a melhor dor de sua vida quando ela passou a cabeça pela sua...
- Eu acho que essa é uma ótima história pra contarmos à visita. – se jogou ao lado de .
- Visita? – A menina olhou surpresa de um para o outro. – Que visita?
Jamie sorriu e sorriu em seguida.
Assim que a menina ruiva passou pela porta, gritou.
- EU NÃO ACREDITO QUE VOCE ESTÁ AQUI! – Levantou-se depressa e pulou na prima.
- EU NÃO ACREDITO QUE ESTOU AQUI! – Madison gritou de volta, abraçando-a tão forte que sentia as costelas espremidas.
Madison era filha de seu tio Edward que havia se mudado para a Itália quando as duas tinham doze anos. Antes disso, eram como irmãs. Brigavam em poucas ocasiões e em 99,99% dessas ocasiões, era o motivo.
- Eu estou com tanta saudade, meu Deus! Tenho tanta coisa pra contar... Como você veio? Claro que você veio de avião, mas... como? Do nada? Tio Ed veio também? – estava tão eufórica que estava quase se esquecendo de como respirar. Depois de seis anos sem ver a prima, quase se esqueceu do quão linda ela era. Seus cabelos ruivos e lisos que batiam nos ombros, os olhos de um castanho claro fascinante e um sorriso que fazia qualquer tristeza ir embora.
- Ele veio também, está lá embaixo te esperando. Segundo ele, queria que tivéssemos nosso momento de “menininhas”. – Ambas riram. – Ele tem uma série de coisas importantes da empresa pra resolver por aqui e adivinha? Vamos ficar por quatro meses!
gritou mais uma vez.
- Fico feliz de ouvir isso.
- Tia Jamie! – Madison aproximou-se e abraçou a tia. – Você continua tão linda. Não te dou mais do que 25!
Jamie gargalhou.
- Que falta me faz a sua alegria, Maddie. Seja bem vinda de volta! Vou já buscar o Luke pra que você o conheça.
Abraçando a sobrinha mais uma vez, saiu do quarto em busca de Luke que estava provavelmente escondido embaixo da cama, ainda com medo das cócegas da irmã.
- Tanto tempo na Itália assim que já se esqueceu dos bons modos? – de repente assumiu um tom de voz contente.
- Claro que não, , seu idiota. Vem cá! – Madison quase se jogou nos braços do amigo. – Meu Deus, e eu que achava que você nunca conseguiria ficar mais bonito do que já era.
Automaticamente, fechou a cara.
- Venho praticando... – os dois riram. Relutante, soltou um riso fraco também. Respirou e pensou o que diabos estava fazendo. Fechar a cara para a relação de Madison com depois de tantos anos era tão infantil que se chacoalhou levemente como se aquilo fosse levar o sentimento de ciúmes embora.

Os três ficaram horas conversando sobre, principalmente, a Itália e a cada relato de Madison sobre o país, parecia mais encantada. Depois relembraram e riram de algumas velhas histórias e quando o relógio marcou três da tarde, Maddie disse o quanto estava cansada da viagem e pediu para tomar um banho e dormir um pouco antes da festa. providenciou tudo o que a prima precisava (não que ela precisasse de muito, já que suas três malas pretas e elegantes estavam praticamente gritando ao lado da porta) e então se retirou do quarto com em seu encalço.
- Vamos. – O menino passou a sua frente e ela estacou.
- Onde?
- Não estrague a surpresa, aniversariante. – Ele deu seu sorriso presunçoso. Aquele sorriso ocupava a terceira posição na lista dos cinco melhores sorrisos do mundo.
- Mas é meu aniversário, eu exijo saber tudo que eu quiser. – Ela cruzou os braços.
- Infelizmente, algumas coisas não mudam nem sendo seu aniversário. Se eu quiser fazer uma surpresa, farei uma surpresa. Agora vamos antes que eu te pegue no colo e saia com você à força.
Ela abriu a boca fingindo uma leve ofensa.
- Minha mãe não permitiria isso.
- Permitiria sim. – Ouviu a mãe dizer de longe e logo depois aparecer na porta da cozinha que dava para a sala. – Confio mais no do que em você.
gargalhou.
- Eu posso ir junto? – Luke perguntou com os olhos brilhando esperançosos.
olhou para com uma sobrancelha arqueada.
- Claro que pode.
A menina bufou.
- Está vendo como é confiável?
Jamie deu um último sorriso e desapareceu pela porta.
- Fala sério que vamos fazer um passeio eu, você e meu irmão?
- E o Toby.
- Não se esqueça do Toby, . Que falta de educação. – colocou a mão no peito, fazendo um leve drama enquanto Luke pegava seu dinossauro azul e gritava “Vamos, Toby. Não ligue para ela”, logo depois correndo até a rua.
- Isso vai ser TÃO divertido. – Disse sarcástica.
- Sua mãe confia em mim. Você deveria fazer o mesmo.
Ninguém disse mais nada.

Assim que pisaram no Navy Pier, teve a impressão que Chicago inteira estava em festa apenas pra ela. O sol estava mais quente do que nos últimos cinco meses e havia tantos pássaros que não soube contar. Sentiu um leve vento bagunçar seu cabelo, mas antes que pudesse passar a mão para acalmá-los, Luke a tomou e entrelaçou seus dedos nos da irmã. sorriu com a cena.
Enquanto andavam, o garotinho puxou-a leve e insistentemente para baixo enquanto andavam, até que a menina resolveu parar e se abaixar.
- O que foi?
O menino aproximou-se de sua orelha e falou bem baixinho para que não ouvisse, o que o deixou confuso.
- Tudo bem. – Ela disse enquanto sorria. Pegou a mão do irmão e continuou caminhando como se nada tivesse acontecido. decidiu não perguntar.
Emendaram uma conversa sobre a festa que haveria mais tarde e embora estivesse relutante, acabou que se animando um pouco mais. Falaram também sobre como o parque estava cheio e colorido, e insistiu de que aquilo era um sinal de que seria um dia muito especial.
Ao chegarem perto de uma oficina de desenho para crianças, e Luke se olharam cúmplices. Ela deu seis dólares na mão do irmão e disse que voltaria para buscá-lo em quarenta minutos. A moça que estava recepcionando as crianças deu um sorriso sereno para quando Luke entrou e logo se virou para enturmá-lo com as outras crianças.
- O que foi isso? – perguntou desconfiado.
- Ele não queria ir na roda gigante, tem medo. Mas você não sabe disso. – Piscou para o amigo.
- Oh. – Ele piscou de volta.
Enquanto estavam na fila do brinquedo, percebeu olhando o Michigan um tanto inquieto, como se ao observá-lo, o lago fosse transmitir toda sua calma pra ele. Dez minutos depois, já estavam na cabine espaçosa da roda gigante, juntamente com mais três turistas que falavam uma língua bem estranha e tiravam duas fotos a cada um segundo.
- O que há de errado? – Ela perguntou cautelosa.
- Já percebeu quanto tempo faz que estamos um na vida do outro? – Ele responde com outra pergunta.
- Mas isso não é segredo pra ninguém, – respondeu calma.
- Não, eu sei que não. Mas você já percebeu? – Ele enfatizou a última palavra. – Você consegue imaginar a sua vida sem mim?
A pergunta a pegou desprevenida.
- , eu nunca...
- Porque eu não imagino a minha sem você.
Segundos de silêncio se seguiram. O coração da menina disparou de uma forma que ela pensou que nunca mais fosse morrer. Como seria possível parar um coração que era capaz de bater tão freneticamente?
- Você me viu dar o primeiro beijo na menina que você mais odiava no ensino fundamental e ainda assim continuou minha amiga. Viu quando eu decidi que queria ser um astro do rock aos 14 anos e colocar aquele piercing horrível na sobrancelha e mesmo que ele não tenha durado mais de um dia porque minha mãe me ameaçou de morte, você continuou minha amiga. Você foi a primeira e única menina que dormiu na minha cama fedorenta, odiou minha primeira namorada, chorou porque inúmeras vezes eu disse que gostava mais do Gabe do que de você e mesmo assim continuou comigo. Você... – ele fez uma pausa. – Você viu meu pai morrer, . – O coração dela afundou tanto no peito que aquela cabine enorme começava a ficar pequena demais. Quanto mais ele falava, mais o ar parecia sumir de seus pulmões e por alguma estranha razão, tinha certeza que o remédio estava nele. A única pessoa capaz de fazer seu oxigênio faltar. – Eu não chorei na frente de ninguém, mas quando você me abraçou... – ele fechou os olhos. – Eu chorei como nunca porque eu sei que você é e sempre vai ser minha pessoa favorita no mundo. Você me levantou e me ajudou com esse jeito que é só seu e eu não acho que algum dia vou ser bom o suficiente pra te agradecer por isso.
- ...
- Me deixe terminar – ele a interrompeu. – O que eu quero dizer, é que eu amo você. – Ele parecia meio branco demais. - E eu falo sério. Eu te amo muito. Tanto que não suporto te ver chorar por qualquer outro babaca. Amo a ponto de jurar que se você me pedir pra dizer isso na frente desse parque inteiro, eu vou dizer. Porque você é a minha melhor amiga e a única garota com quem eu me importo.
Dizendo isso, tirou um pequeno pacote dourado com finas fitas cor de rosa formando um laço e tirou de lá um colar prateado que carregava na ponta um pingente em forma de uma borboleta delicada. O mesmo era contornado com pequenas pedras em lilás e a ponta das antenas da borboleta eram corações minúsculos. Era lindo.
Ele colocou o colar nela tão delicadamente que quem os visse provavelmente acharia que ela era de vidro.
- Eu não sei o que dizer... Como você... Por que... Da onde veio tudo isso? – Ela disparou. – E que coisa mais linda esse colar!
Não esperou que ele respondesse. Se jogou em cima do garoto e lhe deu o abraço mais apertado que já dera em alguém em toda sua vida. Não queria soltar. Queria ficar ali pra sempre. Segura. Confiante. Com ele.
- Eu também te amo. – Ele pareceu relaxar no abraço. Talvez estivesse tenso depois de tudo que havia dito e com aquela resposta tivesse tido a certeza de que não era um completo idiota. – Te amo muito, muito, muito.
Eles se afastaram. E então o ar pesou.
- AI MEU DEUS! – Ela gritou de repente, levando a mão até a testa. – Quanto tempo faz que estamos aqui? Luke!
Só então percebeu que a cabine já estava chegando ao chão e assim que as portas se abriram, saiu correndo. Deixando-o para trás com uma frustração enorme e acompanhado do grupo de turistas esquisitos.

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“You don’t know how lovely you are...”


- O vermelho ou o rosa? – Madison segurava os dois batons em frente à prima.
- O vermelho. Combina com o seu cabelo. – As duas riram.
- E então, o que fizeram essa tarde? – congelou. Apesar de não saber por que, não queria falar sobre isso. Não com Maddie.
- Fomos ao Navy com o Luke. Nada demais. Você sabe.
- Ai que saudades eu sinto daquele lugar! Tenho que ir lá antes de voltar para a Itália.
- Você tem que fazer muitas coisas antes de voltar para a Itália. – comentou enquanto se olhava no espelho. – Como estou?
Ela usava um vestido branco que vinha até o meio das coxas e seus scarpins pretos favoritos. Os longos cachos caíam sobre seus ombros e havia escolhido deixar os olhos fortes e a boca clara. Pra finalizar, levou a mão ao pescoço só pra ter certeza de que o colar que lhe dera estava mesmo lá.
- Você. Está. Radiante. – A prima enfatizou cada palavra e abriu um sorriso largo no final. – Se ninguém casar, eu caso.
gargalhou.
A prima tinha no corpo um vestido preto quase sem detalhe algum que ia até um palmo antes do joelho, nos pés um lindo scarpin também preto, maquiagem forte e seus lindos cabelos ruivos jogados pelo ombro esquerdo. Uma tiara de laço fino completava delicadamente seu traje e não se lembrava da última vez que a vira tão bonita.
- Você também está linda! – Elogiou. – Não consigo entender como não arrumou um italiano maravilhoso ainda.
Maddie riu.
- É porque não consigo escolher um só.
Rindo mais ainda, as duas deixaram o quarto e se dirigiram escada abaixo.

A casa estava incrivelmente lotada e não sabia até o momento que colocou os pés em sua sala enorme, que havia chamado a cidade inteira para lhe prestigiar. A mãe e Luke não se encontravam em lugar nenhum, o que a fazia imaginar que tivessem ido passar a noite na casa de sua vó. O pai havia ligado um pouco mais cedo dizendo o quanto sentia por estar em uma viagem de negócios em Washington bem no dia do aniversário de sua princesa. Jurou que voltaria o mais rápido que conseguisse e se lembrando dessa promessa, implorou mentalmente que ele não voltasse naquela noite. Não que não estivesse com saudades, mas não sabia se iria aceitar muito bem garotos com beerpong por todos os lados de sua casa. Estava parada ainda na ponta da escada quando alguém a segurou por trás e deu um beijo estalado em seu ouvido.
- Bem vinda à sua festa – sussurrou o garoto.
- , odeio beijos na orelha, por que insiste? – Tentou fechar a cara, mas estava concentrada demais em acalmar o corpo dos arrepios que o beijo seguido daquela voz rouca a fez sentir.
Ele não se afastou. Grudou a boca em seu ouvido novamente e voltou a falar:
- Porque no fundo eu sei que você gosta.
fechou os olhos. Não queria se sentir assim. Não queria pensar na sensação boa que era ter os lábios do amigo roçando de leve em sua orelha. Não queria ter vontade de pedir para que ele o fizesse novamente.
- Você é um idiota.
Tentou se soltar, mas ele a segurou ainda mais firme e a virou de frente. Quando os olhos de ambos se encontraram, achou que iria desmaiar. Aqueles nunca foram tão e a respiração dele batendo diretamente contra sua boca entreaberta nunca foi tão convidativa.
Ele se afastou um centímetro.
- Gostou da festa? Sua mãe e eu planejamos tudo.
Ela tentou parecer indecisa.
- Talvez eu precise de uma ou duas vodkas pra ter certeza de que gostei.
Ele riu. O estômago dela se contorceu. Mas que diabos?
- Seu desejo é uma ordem. – Deu-lhe um beijo estalado na bochecha esquerda e saiu abrindo caminho em direção à mesa de bebidas.

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Duas horas e meia de festa depois. Muita tequila em seu organismo, muita vodka em seu sangue. não aguentava mais beber e ao mesmo tempo, não queria parar. Não se lembrava de ter tido uma festa de aniversário tão animada como aquela. realmente havia pensado em tudo. Seus amigos que mais gostava, suas bebidas preferidas, as comidas mais gostosas e as músicas que mais adorava dançar. Embora sua visão já estivesse meio turva, conseguiu ver muito bem quando Jesse subiu na mesa central e dançava alguma música da Britney Spears. Sem pensar meio segundo, se juntou a ele, arrancando gritos animados de todos os seus amigos. Dançou até os pés pedirem socorro e então decidiu começar a se hidratar. Sentindo-se um pouco mais sóbria, caminhou até a mesa de bebidas e encheu o maior copo de água que conseguiu. Enquanto se balançava ao ritmo da música, saiu procurando o amigo que havia sumido há algum tempo.
- Carly, você viu o por ai? – tentou perguntar para a amiga que estava dançando.
- Se eu vi quem? – Carly respondeu completamente bêbada.
deu de ombros, teria que continuar procurando. Procurou em quase todos os cantos da casa, até se lembrar do banheiro atrás da cozinha. Bateu três vezes na porta e não obteve resposta. Decidiu entrar.
- SEM SEXO NO MEU BANHEIRO! – Gritou tampando os olhos e escancarando a porta ao mesmo tempo para que o casal desconhecido saísse correndo.
- Jesus, que falta de consideração com meu banheiro tão limpinho – resmungou para si mesma.
Apagou a luz e caminhou até seu quarto, bufando pela cena que tinha acabado de presenciar e por não ter encontrado . Assim que abriu a porta, deu um grito.

Algumas velas distribuídas estrategicamente iluminavam o quarto escuro, sua cama continha um urso gigante que segurava um coração vermelho escrito “feliz aniversário” e estava ao pé da mesma, segurando uma rosa branca e o sorriso que ocupava a posição número um.
- Mas o que é isso? – Perguntou ainda surpresa.
- É o meu presente de verdade pra você.
Enquanto ele caminhava em sua direção, não ouvia mais nada. Nem as batidas altas que vinham do piso inferior, nem as vozes bêbadas gritando por toda a casa. Era um silêncio completo carregado de sentimento. Era o momento mais lindo da sua vida.
fechou a porta e colocou a rosa em cima da bancada que se encontrava ao lado. Foi até seu celular que estava plugado nas caixinhas de som e rapidamente apertou o play.

(Coloque essa música para tocar)

Ele se aproximou lentamente dela e colocou as mãos em sua cintura. Ainda que desajeitadamente, a puxou para mais perto até que as testas estivessem apoiadas uma na outra. Assim que olhou em seus olhos, ela se lembrou de todas as sensações que vinha sentindo quando estava perto dele nas últimas semanas e sentiu as pernas fraquejarem.

You know I'd fall apart without you
(Você sabe que eu desmoronaria sem você)
I don't know how you do what you do
(Não sei como você faz o que faz)
'cause everything that don't make sense about me
(Porque tudo que não faz sentido sobre mim)
Makes sense when I'm with you
(Faz sentido quando estou com você)
Like everything that's green, girl I need you
(Como tudo que é verde, garota, eu preciso de você)
But it's more than one and one makes two
(Mas é mais do que uma vez e uma faz duas)
Put aside the math and the logic of it
(Coloque de lado a matemática e a lógica disso)
You gotta know you want it too
(Você tem que saber que quer também)

A voz dele seguia a música no tom mais suave que ela já havia ouvido em toda sua vida. Começou a tremer enquanto entrelaçava suas as mãos na nuca dele e sentiu seu estômago se comprimir. O que estava sentindo ia muito além do que havia sentido aquela tarde. Era mil vezes mais forte, mais certeiro e, com certeza, mais bonito. Antes do refrão, ele sorriu sem mostrar os dentes, como sempre fazia quando estava com vergonha de algo. Respirou fundo e cantou um pouco mais alto.

'Cause I wanna wrap you up
(Porque eu quero te envolver)
Wanna kiss your lips
(Quero beijar seus lábios)
I wanna make you feel wanted
(Quero fazer você se sentir desejada)
And I wanna call you mine
(E eu quero te chamar de minha)
Wanna hold you hand forever
(Quero segurar sua mão pra sempre)
Never let you forget it
(Nunca te deixar esquecer)
Yeah, I wanna make you feel wanted
(Eu quero fazer você se sentir desejada)

Ela não soube dizer o que deu em si mesma, mas parou de dançar. Sentiu a respiração falhar e antes mesmo que pudesse pensar, encostou os lábios nos dele. pareceu surpreso por meio segundo, mas depois subiu a mão firme até a nuca dela e aprofundou o beijo. A música continuou ao fundo e era, naquele momento, a única testemunha do melhor beijo que ambos haviam dado em suas vidas. Era como se o mundo inteiro tivesse parado de girar e em algum lugar de sua mente, implorou ao tempo que parasse.

Anyone can tell you you're pretty
(Qualquer um pode dizer que você é linda)
You get that all the time, I know you do
(Você ouve isso o tempo todo, eu sei)
But your beauty's deeper than the make-up
(Mas a sua beleza é mais do que a maquiagem)
And I wanna show you what I see tonight
(E eu quero mostrar a você o que eu vi esta noite)

- Eu amo você, . Mais do que qualquer outra coisa. – Ele sussurrou, enquanto a música chegava ao fim.
Ela apenas sorriu antes de completar:

As good as you make me feel
(Por mais bem que você faça eu me sentir)
I wanna make you feel better
(Eu quero fazer você se sentir melhor)
Better than your fairy tales
(Melhor do que seus contos de fada)
Better than your best dreams
(Melhor do que seus melhores sonhos)
You're more than everything I need
(Você é mais do que tudo que eu preciso)
You're all I ever wanted
(Você é tudo que eu sempre quis)
All I ever wanted
(Tudo que eu queria)


- You're all I ever wanted.

And I just wanna wrap you up
(E eu só quero te envolver)
Wanna kiss your lips
(Quero beijar seus lábios)
I wanna make you feel wanted
(Quero fazer você se sentir desejada)
And I wanna call you mine
(E eu quero te chamar de minha)
Wanna hold you hand forever
(Quero segurar sua mão pra sempre)
Never let you forget it
(Nunca te deixar esquecer)
Yeah, I wanna make you feel wanted
(Eu quero fazer você se sentir desejada)
Yeah, baby I wanna make you feel wanted
(Eu quero fazer você se sentir desejada)
Cause you'll always be wanted
(Porque você sempre vai ser desejada)

“Pull the trigger without thinking, there's only one way down this road.”


Três semanas se passaram após a festa e pouca coisa havia mudado entre e , além do fato de que agora se beijavam. Era incrível como pequenos detalhes ganharam espaço em tão pouco tempo e tudo a fazia se perguntar por que haviam demorado tanto. Agora, mais do que nunca, tinha certeza que foram feitos um para o outro.
- No que você tanto pensa? – Ele se virou pra ela com um sorriso mínimo e depois voltou os olhos pra estrada.
- No que vou comer quando chegar na sua casa. – respondeu, divertida. Eram sete e meia de uma sexta-feira extremamente quente e ela estava realmente faminta. O último ano do colégio a estava deixando louca, mas sempre dava um jeito de ir busca-la ou de passar em sua casa após sair da loja em que trabalhava com sua mãe.
- Sinto te desapontar, mas minha mãe ainda não chegou. Logo, não tem comida. – Ele respondeu, colocando a mão na perna dela e fazendo um leve carinho. – Quer que eu passe em algum lugar e a gente compra?
- A gente pode fazer, .
- Você está louca? – Ele arregalou os olhos. – Não acha mesmo que eu vou comer alguma coisa que você faça, né?
- Idiota! – Bateu na mão dele, que saiu rapidamente de sua perna. – Saiba que um dia o mundo vai acabar, eu vou ter o último pedaço de pizza e não vou dividir com você.
- Claro que vai, eu sou mais velho, mais inteligente e mais bonito. Três motivos pra você me dar o pedaço de pizza e um beijo.
Ela riu.
- Você é só um ano mais velho que eu. Nem tão inteligente e muito menos bonito. Não merece nem um nem outro – respondeu olhando as unhas.
- Ah, é? – Ele ergueu as sobrancelhas.
- É.
- Você vai retirar o que disse, – disse, desafiador.
- Não vou não.
- Veremos.

---


Quatro horas depois, tudo estava quase resolvido. A mãe de chegou, pediram pizza e ficaram os três vendo filmes e conversando na sala. Várias vezes Kelsey parecia encantada com a relação dos dois e não parava de falar sobre como sabia que aquilo aconteceria um dia.
- Também estamos felizes, mãe. Mas agora está tarde e eu tenho que levar a pra casa. Vamos? – Ele se voltou pra ela.
- Porque não dorme aqui? – A mulher se voltou pra que pareceu ficar sem graça. – Ah, pelo amor de Deus, querida! Namorando ou não...
- Mãe! – interrompeu. – Nós não estamos... namorando. Ainda.
ficou vermelha no mesmo minuto. Kelsey riu.
- Ok, ok. Independente do relacionamento de vocês agora, você dormiu aqui a vida inteira. As coisas não precisam mudar agora. Confio em vocês. – Disse e sorriu em seguida. – Ligue pra Jamie e pode ficar se quiser. Eu vou dormir, ok? Boa noite, queridos. – Deu um beijo na testa de cada um e saiu.
- Bom...
- Bom...
Falaram juntos e riram logo após.
- Fala sério, . Eu vou ligar pra minha mãe. Vê se sobe e dá um jeito naquela cama, pois não mereço dormir no meio da sua bagunça.
- Arruma você, folgada.
- Eu sou visita! – Ela exclamou, enquanto discava o número de sua mãe.
- Você não é mais visita faz tempo, mocinha. – Ele deu um beijo na bochecha dela e seguiu para o quarto.

Por incrível que pareça, sua mãe tinha a mesma opinião de Kelsey. Pediu que tivessem juízo, mas falava isso todas as vezes, então não detectou nenhuma diferença. O que não sabia se era bom, já que só de pensar em dormir na mesma cama que seu coração começava a palpitar de um jeito diferente. Foi até a cozinha, tomou um copo d’água e enquanto caminhava até o quarto, respirou fundo. Nada seria diferente.
Ao abrir a porta, deu um grito. estava deitado na cama com uma mão apoiando a cabeça e as pernas entrelaçadas, como se fosse um modelo, apenas com sua cueca boxer e uma cara de quem estava tentando ser sexy, mas havia chupado 5 limões. A gargalhada que ela deu havia sido tão alta que por um segundo se perguntou se todos os vizinhos tinham escutado.
- Que porra é essa? – Perguntou, enquanto fechava a porta atrás de si e tentava conter os risos.
Ele segurava a risada.
- Esse sou eu seduzindo você. – Ele levantou da cama e a pegou no colo.
- ... – estava com um ataque interminável de risos. – Você estava tão ridículo naquela posição!
Ele a jogou na cama de qualquer jeito e ela riu mais ainda.
- Estou ofendido – disse, colocando as mãos na cintura e rolando os olhos.
- Desculpa, baby. Não rio mais. – Ela tentou permanecer séria. Ele fez uma cara satisfeita e se deitou de frente pra ela.
- Vou me trocar, Gisele Bundchen. – Antes que ele pudesse bufar, ela o beijou na ponta do nariz e foi até o armário. Pegou uma camiseta e um samba-canção qualquer e respirou fundo. Lentamente tirou a blusa que estava usando e começou a desabotoar o shorts. Sentia um par de olhos cravado em suas costas, pois nunca havia se trocado na frente dele. Sempre ia ao banheiro ou pedia pra que ele saísse do quarto. Soltou o cabelo que estava preso e o arrumou levemente com as mãos. Não sabia o que estava fazendo, mas não sentia vontade de parar. Pegou a camiseta que havia escolhido e quando começou a colocar, sentiu duas mãos quentes em sua cintura. A respiração dele bateu em seu ouvido e ela sentiu o arrepio ir até seus pés e voltar mais de três vezes em menos de dois segundos. As mãos dele subiram a camiseta novamente e lá estava ela, seminua. afastou seus cabelos e plantou um beijo em seu pescoço, logo subindo e mordendo seu lóbulo.
- Você é linda.
As pernas dela tremiam tanto que achou que fosse cair. Puxou mais uma lufada de ar e virou-se pra ele.
Aqueles olhos estavam escuros, com um desejo incontrolável e indecifrável. Ela arquejou quando as mãos dele se firmaram mais ainda em sua cintura. beijou a testa dela, o nariz, a orelha, as duas bochechas e quando chegou a sua boca, sorriu.
- Pede.
Ela balançou a cabeça, confusa.
- O que?
Ele parecia vitorioso.
- No carro você falou que eu não era bonito e que não merecia um beijo. – Ele chegou mais perto ainda. Levou o nariz até seu pescoço e depois desceu e subiu pelo colo dela, tão devagar como se estivesse em câmera lenta. – Agora pede.
- Eu não vou pedir nada. – disse, incrédula com tamanha cara de pau.
- Uma pena... – ele manteve uma mão firme na cintura dela e a outra desceu e apertou de leve sua bunda.
- ! – Ela exclamou, mais alto do que pretendia.
- O que? – Ele fingiu cara de inocente.
- Sua mãe disse que confia na gente. Não podemos...
- Eu não estou fazendo nada. Você já está pensando nisso? Que coisa feia, ! – Ele tirou a mão da bunda dela e colocou em si mesmo. – Estou chocado.
Ela riu e balançou a cabeça.
- Você não existe, . – Inclinou-se pra beijá-lo, mas ele recuou.
- Já falei que tem que pedir.
Ela bufou.
- Você gosta desses joguinhos, né?
- Pra falar a verdade, gosto sim.
- Mas no fundo sabe que uma hora vai me beijar, de um jeito ou de outro. – Ela decidiu jogar também.
- Não tenha tanta certeza, baby.
- Poxa... – ela desceu as mãos pelo peitoral dele. – Seria uma pena perder essa oportunidade. – Ela beijou o pescoço dele e passou a língua na parte de trás de sua orelha, logo mordendo seu lóbulo. – Porque eu gosto tanto de te beijar.
Ele fechou os olhos, mas não se conteve. No segundo seguinte embrenhou a mão nos cabelos dela e a beijou. Ela tentou rir, vitoriosa, mas não havia espaço. A intensidade do beijo fez com que ela esquecesse onde estava. Ele passava as mãos por todo o corpo dela sem pudor algum e em certo momento, a levantou, fazendo com que ela colocasse as pernas ao redor de sua cintura.
Deitaram na cama, ainda sem pensar em mais nada que não fosse o outro.
- ... – ela se afastou.
- O que foi?
Ela não respondeu.
- Você não quer? – ele parecia aflito.
- Não, não é isso. Eu quero. – Ela enrubesceu. – Mas sua mãe, minha mãe... elas confiam na gente.
- ... – ele começou. – Você acha que elas não sabem que um dia você vai fazer sexo?
- Claro que sabem.
- Então, pronto! Que seja comigo, que sou lindo e querido pelas duas. – Falou, convencido. Mas logo depois mudou de expressão. – A não ser que você queira com outra pessoa.
- NÃO! , claro que não. – Ela sorriu. – Tem que ser você. Se não for com você, provavelmente vou morrer virgem.
- Nossa, que susto. Achei que você ia realmente morrer virgem. – Ela deu um tapa no ombro dele.
- Não há com o que se preocupar, . – Ele a puxou pra perto novamente e recomeçou os beijos em seu pescoço. – Você confia em mim? – Sussurrou em seu ouvido.
Ela apenas balançou a cabeça, confirmando.
- Eu também confio em você. É só disso que a gente precisa.
E foi a última coisa dita aquela noite. Ali, naquele quarto, aconteceu a melhor coisa que já havia acontecido na vida de ambos: se sentiram completos pela primeira vez.

---


Conforme os dias foram passando, teve a certeza de que nada era mais fácil e acolhedor do que beijá-lo e abraçá-lo quantas vezes quisesse, na frente de quem fosse. Sentia, todos os dias, uma vontade imensa de gritar pro mundo inteiro o quanto o amava e o quanto ele era dela. Após tantos erros, soube que nenhum cara que tinha passado em sua vida tinha realmente valido suas lágrimas, as tantas que secou. Ele era tudo o que tinha e sempre havia sido assim.
- Mãe, pelo amor de Deus, fala pro que não quero ir. – Ela desceu as escadas batendo os pés, enquanto o menino vinha em seu encalço rolando os olhos.
- Posso saber qual o motivo do passo do elefantinho? – Jamie brincava sempre que quando a filha estava emburrada, pisava tão fundo quanto um elefante.
- Acontece, tia Jamie, que ela não quer ir à festa do Gabe. – Ele parecia realmente irritado. – Todos os anos ela foi, esse ano não quer ir e não adianta eu argumentar, simplesmente colocou na cabeça que não vai. – se jogou no sofá.
- Eu já disse que você pode ir sozinho. Não tem porque fazer esse drama todo, .
- Ele não vai sozinho. – Madison surgiu no topo da escada. – Eu também quero ir. Poxa, ! Tenho menos de duas semanas aqui antes de voltar pra Itália. O que custa você ir?
jogou a cabeça pra trás, fechou os olhos e não respondeu. As lembranças do ano anterior a atingiram em cheio.

- Gabe! – tentava chegar até o aniversariante, que estava rodeado de outros garotos que ela nunca sequer tinha visto. – Você pode me dar licença, por favor? – Pediu a um desses meninos, finalmente encontrando com Gabe. O menino tinha o cabelo tão loiro que os olhos doíam. Seus olhos castanhos eram grandes e um tanto quanto maliciosos, sempre que olhava pra ela. Era bonito, mas nada que a fizesse suspirar.
- Hey, . – Ele sorriu.
- Olha, da próxima vez que você fizer 17 anos, pode, por favor, escolher um lugar maior ou convidar menos gente? Tá praticamente impossível de andar aqui sem ser esmagada. – Bufou, enquanto tentava desamassar a saia.
- Se você quiser, lá em cima tem vários quartos sem ninguém pra incomodar. Deve estar bem mais confortável do que aqui. – Ele piscou e ela fez uma careta.
- Você viu o ? – Foi logo ao assunto.
Ele deu de ombros.
- Como eu te disse, lá em cima estava mais confortável... Se é que você me entende. – Ela sentiu o coração apertar um pouco.
- Mas ele prometeu que não íamos embora muito tarde. Tem que me levar pra casa. – Cruzou os braços. Já estava começando a sentir sono.
- Eu posso te levar se você quiser. – Ofereceu o menino.
- Não, Gabe. Não vou te tirar da sua festa. Eu espero ele terminar seja lá o que esteja fazendo.
- Você não mora longe, te levo e volto rápido. - Insistiu. – Ei, Matt! Vou levar a em casa e já volto. – Avisou antes de pegar na mão da amiga e conduzi-la pra fora da casa.
O caminho até a casa dela não era muito longo, mas aproveitaram o tempo pra conversarem sobre inúmeras coisas inúteis. Quando mais novos, e Gabe tinham muito ciúme um do outro. Ele ficava puto com por não querer sair com ele pra ficar com ela e ela ficava um poço de ódio quando a ignorava pra fazer qualquer coisa com Gabe que não a envolvesse. Mas no fundo, eram amigos e se davam muito bem. Há tempos Gabe soltava algumas indiretas pra ela e ao invés de retribuir, ela prestava atenção em como sempre ficava meio emburrado, mas nunca tocava no assunto. Com certeza sabia de algo e esse algo não o agradava muito.
- Chegamos! – Ele parou o carro. A rua estava muito escura e duvidava que houvesse alguma alma viva por ali àquela hora.
- Obrigada pela carona, lindinho. – Se aproximou pra se despedir com um beijo no rosto, mas o garoto foi mais rápido. Virou a cabeça e os lábios se encontraram sem querer. Ela abriu os olhos sem se afastar e viu que ele sorria. Respirou fundo e segurou a nuca do garoto, o trazendo mais pra perto de si. Aprofundaram o beijo e ela jogou as pernas uma de cada lado da cintura dele, ficando os dois no mesmo banco. Ele a beijava com vontade e às vezes parecia se perder no caminho entre sua orelha e seu pescoço. Ela aproveitava, mas pensava constantemente no que pensaria daquilo. Não sabia porque, mas sentiu medo. Medo de que ele a julgasse ou a odiasse. Sentiu os beijos do garoto descerem para o seu colo e simplesmente não acreditava que estava naquela situação com o melhor amigo do seu melhor amigo.
- Gabe, eu acho melhor... – ele a calou com outro beijo.
- Gabe, é sério. – Tentou se afastar mais uma vez, mas ele simplesmente parecia não ouvir.
- GABRIEL! – Ela gritou e ele finalmente abriu os olhos, assustado.
Ela voltou ao banco do carona, arrumando a alça da blusa e descendo sua saia. Passou as mãos no cabelo e tentou ajeitá-los o máximo que pôde.
- Eu fiz algo errado? Desculpa, eu... – Ele tentou falar.
- Não foi nada que você fez, Gabe. – tentou parecer calma. – Eu só não estou no clima.
- Ah, você não está no clima? Não sei se você lembra, mas quem me beijou foi você! – Ele parecia bravo.
- Ei! Foi você quem me beijou primeiro! Tudo bem que foi um selinho, mas já é um beijo... – os dois se calaram.
Ele suspirou.
- É o , não é? – Falou baixo.
- O que? – Ela tentou ganhar tempo pra pensar em algo que não fosse “sim”.
- Por favor, . Todo mundo sabe.
- Sabe o que? – Ela começou a ficar nervosa.
- Todo mundo sabe que vocês se gostam, mas aparentemente vocês mesmos não sabem. O menos ainda, né? Já que ao invés de estar aqui com você, está lá em casa comendo qualquer uma. E adivinha: sem nem sequer lembrar que você existe. – Ela sentiu as palavras magoando lentamente seu coração. Gabe nunca havia falado assim com ela, muito menos falado mal de .
- Obrigada pela carona. – Destravou a porta.
- , desculpa! Eu não quis...
Bateu a porta e virou as costas. Quando entrou em casa, sentiu as lágrimas vindo. Tudo o que Gabe tinha dito era verdade. não se importava com ela daquele jeito. Eram amigos e sempre seriam. Talvez no fundo já soubesse disso, mas aceitar era mais doloroso do que ela imaginava.


O tempo havia passado e nunca nem sequer havia desconfiado do acontecido. Ela sabia que as chances do clima ficar pesado caso fosse nessa festa eram enormes, por isso, não se atreveria.
- , – ela se aproximou e colocou a mão no rosto do garoto – pode ir! Quando chegar em casa só me liga, tudo bem?
Ele apenas assentiu, ainda emburrado. Não eram namorados ainda, mas a ideia de sair sem ela o incomodou muito.
- Maddie, vou em casa me arrumar e passo aqui em 40 minutos pra te pegar, ok? A ruiva assentiu ainda do topo da escada e sorriu, angustiada.

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“I was praying that you and me might end up together…”


Exatas duas horas depois que e Maddie haviam saído pra festa de Gabe, não conseguia se concentrar em mais nada. Havia se arrependido amargamente de não ter ido. Onde estava com a cabeça? Se ele descobrisse alguma coisa, ela tinha que estar lá. Pulou da cama, tomou outro banho e começou a se arrumar. Tentou ligar mais de 10 vezes no celular de e, curiosamente, ele não a atendeu. Começou a suar frio. Não tinha mais a quem recorrer.
- Mãe? Pai? – bateu carinhosamente na porta do quarto. Ninguém respondeu.
Chamou mais duas vezes, mas o silêncio prevaleceu. Tudo bem, eles a matariam por aquilo pela manhã, mas sua única saída era chamar um táxi.
Que demorou apenas 20 minutos pra chegar. Durante o caminho, se perguntou várias vezes se estaria fazendo o certo indo até lá, mas agora era muito tarde. Não tinha mais volta.
A casa estava tão ou mais lotada que no ano anterior e ela xingou Gabe mentalmente mais de cem vezes por ter convidado tanta gente. Tinha certeza que demoraria décadas pra encontrar no meio de tantas pessoas, então decidiu primeiro perguntar pelo aniversariante.
Repetiu a frase “hey, você viu o Gabe ou o ?” umas quinze vezes e todas as vezes as pessoas a responderam dando de ombros. Estava ficando irritada já quando parou próxima ao bar e pediu um shot de tequila. Sempre havia se embebedado nas festas de Gabe, mas dessa vez só precisava de algo que a desse coragem e sabia que nada funcionaria melhor que álcool.
- ? – ouviu uma voz conhecida atrás de si e se virou imediatamente.
- GABRIEL! – jogou os braços ao redor do amigo, sentindo um alívio imediato só de saber que ele não estava com .
O menino ficou imóvel com o abraço repentino e arregalou os olhos. Ela se arrependeu no momento seguinte e se afastou.
- O que você está fazendo aqui? – ele parecia realmente assustado.
- Eu... eu vim... te dar parabéns! PARABÉNS! – Ela levantou o copo e virou o líquido de uma vez só.
- , meu aniversário foi segunda-feira e você já me deu parabéns. Veio procurar o ou curtir a festa? Seja sincera. – Ele ainda parecia aflito.
- Os dois? – Ela respondeu com uma pergunta e um sorriso amarelo.
Ele fechou os olhos.
- O que foi? O que há de errado? – Ela perguntou, cautelosa.
- Eu acho que você devia ir pra casa. – Disse simplesmente.
- O que? – ela riu. – Você acha que eu vim até aqui pra você me expulsar? Qual é, Gabe! Já faz um ano. O que aconteceu foi um...
- Não é sobre o que aconteceu, . Não é sobre eu e você. Você apenas deveria dar meia volta, ir pra sua casa e conversar com o amanhã. – Ele realmente parecia nervoso.
Ela enrijeceu.
- Onde ele está? E não minta pra mim! – As pernas dela fraquejaram.
Ele permaneceu em silêncio. Ela automaticamente olhou para as escadas.
- Tudo bem. Vou acha-lo sozinha.
- Você não devia...
Ela saiu como um raio, esbarrando em tudo e todos à sua frente. Jurou pra si mesma que não estaria lá em cima, em nenhum quarto. Jurou também que se isso fosse uma piada, mataria todos os envolvidos. Subiu cada degrau tentando respirar fundo e desacelerar seu coração. Tentou abrir a primeira porta, mas estava trancada. Bateu na segunda, um cara qualquer gritou que estava ocupado. Ao chegar na terceira e última, que por sinal era o quarto de Gabe, prendeu a respiração antes de girar a maçaneta e ouvir Gabe gritar.
- , não...
No mesmo momento, aquele shot de tequila parecia ter sido multiplicado por vinte e tudo começou a rodar. Tentou focar sua visão nos cabelos ruivos jogados pra trás e nos dois corpos nus à sua frente. Madison estava de costas, sentada no colo de algum cara que ainda não tinha conseguido ver muito bem, devido à pouca claridade do quarto. Mas pedia, implorava, rezava que não fosse . Todas as suas preces foram pro inferno quando os olhos dele se encontraram com os dela.
- Por favor, diz que é mentira. – A voz dela saiu tão baixa que quase não deu pra ouvir.
No mesmo momento, Maddie rolou para o lado e se cobriu com o lençol. Com os olhos arregalados, notou que estava exposto e também puxou uma almofada para si.
- , eu...
- NÃO SE ATREVA! – Ela gritou e provavelmente a festa inteira ouviu. – VOCÊS DOIS! COMO VOCÊS... COMO VOCÊS PUDERAM?
- , vamos. – Gabe tentou puxá-la, mas ela tirou seu braço rapidamente.
- EU NÃO VOU A LUGAR ALGUM COM VOCÊ. EU QUERO FICAR! – Ela andou até a cama. – Eu quero olhar pra vocês. – Chegou bem ao lado de Madison e sentiu as primeiras lágrimas rolando.
- , me desculpa! A gente não... – o barulho do encontro da mão de com o rosto da prima ecoou pelo quarto inteiro.
- Por que? – ela observou a prima cobrir o rosto com a mão. – ME RESPONDE, POR QUE?
- , por favor... – tentou dizer, mas sua voz embargou.
- Não ouse chorar! – Ela limpou as próprias lágrimas. – Aliás não fale nada. Não quero mais ouvir, não quero mais ver. – Ela deu as costas.
- Você quer que eu te leve embora? – Gabe perguntou baixinho.
- Por favor.
A única coisa que quebrou o silêncio que ficou quando ela fechou a porta, foi o soluço de Madison.

---


Uma semana depois, ainda não tinha falado com nem com a prima, que havia se mudado para o hotel que o pai estava hospedado. Ele havia ligado mais de cem vezes e todas as vezes os recados eram iguais: “Me ouve”, “posso explicar”, “me desculpa”, “eu te amo”. O “eu te amo” então era o pior. Ela tinha vontade de vomitar cada vez que ouvia isso e se lembrava da cena, dos corpos suados, do olhar assustado dele quando a viu entrar.
Ouviu duas batidas na porta, seguidas de uma pergunta:
- Posso entrar?
Assim que ouviu a voz de Madison, sentiu o corpo enrijecer.
- O que você está fazendo aqui? Já deixei claro que não quero te ver. – Falou, enquanto cerrava os pulsos.
Maddie entrou mesmo assim.
- Eu vou voltar pra Itália.
Um silêncio se instalou entre elas. virou de costas para a prima e ficou encarando a janela. Sentiu o peito inflar, uma tristeza tão grande que quase não cabia nela.
- , eu...
- Você se lembra de quando me contou que ia sair do país e eu disse que aquele era um dos dias mais tristes da minha vida? – Ela limpou uma lágrima. Não obteve resposta. – Nunca pensei que ficaria tão feliz de saber que você vai embora de novo. – Virou-se e encarou a prima. – Eu sempre soube, Madison. Desde o primeiro dia que colocou os olhos nele, eu soube que você o queria.
- É verdade. – Madison respondeu. – Eu o queria sim.
- Como você teve...
- Deixa eu terminar, . Eu o queria. Mas eu queria tê-lo por um capricho, . Pelo simples prazer de ter. Eu não o amo, meu Deus, nunca amei! Foi um erro, eu sei disso, não espero que você sorria pra mim. O que eu quero é que você saiba que eu sinto muito, muito mesmo. Nunca vi alguém amar tanto outra pessoa como o te ama. Ele está acabado, .
ergueu as sobrancelhas e riu.
- Se ele me amasse o tanto quanto diz, não teria feito o que fez. Me poupe de bancar a defensora. Você veio, estragou tudo e agora vai voltar pra Itália e viver o resto da sua vida realizada, como se nada tivesse acontecido. Porque exatamente como você disse, Madison, VOCÊ NÃO O AMA! MAS EU AMO – o choro se desprendeu de uma vez só. – E SABE-SE LÁ O TEMPO QUE VAI LEVAR ATÉ QUE CURE ESSA FERIDA QUE VOCÊS FIZERAM EM MIM! – Levou as duas mãos ao rosto e chorou sem vergonha alguma.
- Eu sei que nada do que eu disser vai mudar o que você tá sentindo, mas leve em consideração que ele bebeu além da conta quando descobriu sobre você e o Gabe.
- O quê? – Perguntou, retirando as mãos do rosto.
- Assim que a gente chegou na festa, o Gabriel perguntou de você. disse que você não quis ir e então Gabe começou a pedir desculpas infinitas e ninguém entendeu nada. Depois eles saíram juntos conversando e quando o voltou, ele parecia tão... decepcionado. Foi aí que ele me contou, nós bebemos e...
- Chega. – Não quis ouvir o resto. - Isso não justifica nada.
- Eu sei. – Madison suspirou. – De qualquer forma, tente conversar com ele.
não respondeu.
- Tenho que ir. Sinto muito, mesmo. Tchau, .
Maddie saiu sem esperar resposta e quando se viu sozinha, quis gritar. Tudo deu errado, todas as suas expectativas foram para o lixo no segundo que abrira aquela porta e simplesmente não conseguia acreditar. Doía tanto que chegou a preferir que tivesse levado cinco tapas na cara de uma vez só. Independente de de ter descoberto sobre ela e Gabe, já tinha tomado sua decisão. Não falaria com ele até juntar todos os pedaços de seu coração. Logo, não falaria com ele nunca mais.

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Três meses depois.

- YAY! Nós conseguimos! Daqui há exatos – Zoe olhou no relógio rapidamente – vinte minutos, vamos nos formar! – Abraçou tão forte que quase ficou sem ar. - Ok, Zoe. Menos empolgação! – estava aflita. Iria discursar em vinte minutos e não se sentia nem um pouco preparada pra isso.
- Qual é, ! Você vai se sair bem, como sempre. Joey! – A amiga deu um beijo estalado em sua bochecha e saiu saltitando de encontro ao namorado, que havia acabado de chegar.
riu, balançando a cabeça negativamente. Respirou fundo e tentou se lembrar do discurso que havia preparado. Fechou os olhos e começou a repeti-lo incessantemente em sua cabeça.
- Você vai se sair bem.
Abriu os olhos, estática. Aquela voz rouca só pertencia a uma única pessoa. Pessoa essa que não via há exatos três meses. Virou-se rapidamente e desejou não ter feito isso.
- Não achou mesmo que eu perderia sua formatura, né? Você pode me odiar, mas não é recíproco. – Ele estava absurdamente lindo. Estava com a sua camisa branca mais simples com os dois primeiros botões abertos, uma calça jeans escura e tênis pretos. Seu cabelo estava impecavelmente arrumado e o perfume... como ela amava aquele perfume. Tentou controlar as batidas do seu coração conforme analisava cada centímetro de saudade que estava a sua frente.
Limpou a garganta antes de responder:
- Está certo, odeio você.
Ele sorriu, sem graça.
- Você está linda.
Ela desistiu de encará-lo.
- Vai embora, . Tenho um discurso pra fazer e você está me atrapalhando.
Ele levantou as duas mãos.
- Ok, eu vou. Mas depois a gente pode conversar?
- Não.
- Por favor, . – Ele implorou.
- Não há absolutamente nada pra conversar, . Acabou.
Não esperou ele responder. Apenas saiu apressada, tentando não tropeçar nas próprias pernas.

Vinte minutos depois, estava de frente para mais de duzentas pessoas tentando começar seu discurso.
- Olá! – Outro suspiro. – Finalmente, depois de anos, aqui estamos. Prontos pra encerrar uma das melhores e piores etapas das nossas vidas. – Olhou para frente, mas no mesmo momento encontrou os olhos dele do outro lado do salão. estava encostado na parede, olhando fixamente pra ela, como se nada mais existisse no mundo. Tentou voltar o foco para tudo que havia ensaiado mais cedo, mas era tarde demais.
- Durante todos esses anos eu perdi pessoas, oportunidades, conselhos, esperanças, sonhos, amores, encantos, amizades, lágrimas, sorrisos e até mesmo saudades que senti. Nesses mesmos anos eu ganhei tudo isso de volta e até mesmo saudades do que achei que não lembrava mais. Esse pode não ter sido o melhor ano de todos, mas quem disse que foi o pior? Ainda temos muitos anos pela frente pra dizer que já sofremos demais ou que já fomos felizes o suficiente. Minha mãe diz que quando a gente é adolescente, a gente sente tudo em dobro. É por isso que certas coisas – como aquelas provas de matemática – parecem o fim do mundo. – Todos riram. – Mas não é. Não há nada de errado nas músicas tristes, nas fotos que estão espalhadas nas gavetas, na saudade que não passa, nas pessoas que ficaram pra trás ou na ferida que não fechou. – Ela olhou diretamente pra ele. - Errado é viver, amar, se apegar. Ser humano é ser errado. Então deixa vir, deixa estar, deixa errar. Qualquer hora dessas, mesmo errando, a gente acerta.
O salão inteiro aplaudiu, mas ela não acreditava que toda aquela gente houvesse realmente prestado atenção em tudo que disse. Mesmo assim, acenou e sorriu, antes de dar um último abraço em seu professor de história favorito e voltar ao seu lugar.

---


- Chega de beijos, mãe. – Jamie ainda estava a apertando. – Luke, fala pra ela que você está com ciúmes.
- Não tô não. – O menino disse, com uma careta.
- Será que ainda tem beijo pra mim? – apareceu novamente e ela quis sair correndo.
- , querido! – Jamie foi até ele e encheu suas bochechas de beijos. – Que saudade!
Ele sorriu.
- Também sinto sua falta, tia Jamie. E de você também, Luke! – Ele se abaixou pra bagunçar os cabelos do menino, mas esse fez cara feia.
- Não gosto mais de você, . Você fez a chorar.
- LUKE! – e Jamie falaram juntas.
- Tudo bem. – pareceu sem graça.
- Vamos, eles precisam conversar.
- O quê? , você vai conversar com ele mesmo depois de chorar? – O menino parecia incrédulo.
Ela apenas riu.
- Eu já vou pro carro, prometo que não demoro. – Se abaixou e beijou a bochecha do irmão.
- Qualquer coisa você grita, tá bom? – Ele perguntou.
Até riu baixinho.
- Combinado!
Luke saiu em disparada em direção ao carro, enquanto Jamie acenava dando tchau pra .
- Foi um discurso e tanto.
- Obrigada. – Ela cruzou os braços.
- Eu vou me mudar.
- Como assim? – Ela sentiu o coração gelar.
abaixou e pegou uma pedra.
- Não há mais muita coisa pra mim aqui. Vou passar um tempo na casa do tio Jack na Califórnia. – Disse enquanto observava a pedra deslizar entre seus dedos.
- Hm. – Tentou segurar o choro o máximo que pode.
- Fiz uma coisa pra você, mas quero que você leia só quando chegar em casa. – Ele retirou um envelope branco do bolso da calça. – Está meio amassado, desculpa.
Ela pegou o envelope sem dizer uma palavra.
- Eu vou pegar o vôo ainda hoje, então tenho que ir.
assentiu e ele comprimiu os lábios. Suspirou e deu as costas, seguindo para o carro enquanto segurava o envelope e sentir seu coração se partir mais um pouco.

---

“Eu já tentei te odiar de todas as maneiras possíveis. Já tentei não pensar em você e acabei pensando ainda mais. Já sonhei mil vezes que você apareceu, assim mesmo, do nada, só pra dizer que me perdoou. Já te escrevi mil e-mails e não mandei. Já me odiei por ter errado tanto, por ter sido tão estúpido ao ponto de te perder. É engraçado porque, eu sempre acho que nunca mais vou falar com você. Nunca mais vou saber como você está, como você se sente ou vou ouvir a sua risada escandalosa. Você nunca mais vai me irritar como antes e nem me agradar quando eu estiver estressado. Não vai mais ter ataques de ciúmes de qualquer garota ou mandar eu ir dormir alegando excesso de idiotice causado pelo sono. Não vamos mais discutir se chocolate é melhor que morango e também não vamos brigar pelo fato de você não comer queijo. É engraçado porque você sempre me mudou, de todas as maneiras. Você me fazia ficar vermelho de vergonha e de raiva também. Me fazia querer te bater e te abraçar até a morte. Você me alegrava e entristecia nas horas erradas e constantemente dizia que me amava de surpresa. Eu não sei onde você está ou o que está fazendo agora, mas sei exatamente o quanto te magoei. E quero que saiba que todos os dias uma parte de mim parece morrer sem você. Você é a minha melhor amiga, a menina mais linda que eu já conheci nessa vida, a única que tem tanto poder assim sobre mim. Eu não sei se dizer tudo isso me faz menos homem, mas se fizer, quero que saiba que vale a pena por você. Qualquer coisa vale a pena por você e eu fui um idiota de não ter dado valor nisso antes. Eu te amo tanto, que só o pensamento de você com outro cara me faz perder a cabeça. Por favor, não me odeie. Eu realmente sinto muito, . Espero que um dia você possa me perdoar.”

Ao terminar de ler a carta, percebeu que o papel estava todo molhado. Precisava falar com ele e precisava falar agora. Apesar de tudo, viver uma vida sem era como viver no deserto sem água. Sufocava. Não sabia quem estava tentando enganar esse tempo todo, porque o queria de volta. O aceitaria de volta quantas vezes fosse necessário, porque não havia mais ninguém que ela quisesse ao seu lado. Tinha que ser ele.
- , onde você pensa que vai nessa chuva? – Jamie perguntou assustada, enquanto a filha apertava o casaco no corpo e descia as escadas apressada.
- Mãe, não dá tempo de explicar agora! – Sentia que o coração iria parar a qualquer momento.
- Você não quer que eu... – fechou a porta antes da mãe terminar a frase.

- , atenda a porta! Você não está ouvindo a campainha? – Kelsey gritou de seu quarto.
rolou os olhos e praticamente rastejou até a porta, tropeçando em uma de suas caixas no caminho. Quando abriu, levou um susto.
estava completamente encharcada, com alguns fios de cabelo grudados no rosto e o casaco derrubando água em excesso. Observou que em sua mão direita estava a carta que havia escrito mais cedo. No mesmo momento, seu coração disparou.
- Eu preciso dizer, nem que for pela última vez, o quanto eu gosto de você. Então não me interrompa, ok? É, eu gosto mesmo. Gosto ao ponto de ter tomado essa chuva do caralho só pra vir aqui te dizer isso. Gosto também de quando você me abraça, me beija na bochecha, ou na testa, porque é mais bonito. Me faz rir e até quando me deixa com raiva. Gosto de quando eu te xingo e solto a sua mão, só porque sei que você vai pegá-la de novo. Gosto da sua risada e de quando você toca violão. Também gosto quando a gente tá junto e de tanto te abraçar, no fim do dia o seu cheiro tá na minha roupa. – A esse ponto, ela não sabia diferenciar o que era chuva e o que era lágrima em seu rosto. - Eu gosto tanto, tanto quando você fica sem graça ou ri da própria piada! E de quando você fica sério, parecendo até um homem de verdade. Gosto do modo como você sempre está com uma música que absolutamente ninguém conhece na cabeça – ele riu. - E faz questão de cantá-la sem parar. Entre essas e outras, gosto e desgosto de tanto em você, que já não entendo mais. Eu tentei te odiar tantas vezes, . – Houve uma pausa. - Mas eu não parei de me importar com você e com tudo o que a gente viveu. No fim, somos eu e você como sempre foi. Porque quando eu vi aquela maldita cena – ele respirou fundo. - Eu me perguntei “E agora? O que eu faço com esse tanto de amor dentro de mim?” E nenhuma das opções me parecia certa. Porque é seu. É só seu e de mais ninguém. Então se você ainda quiser ir embora, tudo bem. Mas saiba que eu... Eu te perdoo. E te amo. Muito.
A chuva parecia ter perdido todo o barulho quando ele ouviu aquelas palavras. Nada mais existia. Abriu o maior sorriso de sua vida ao perceber que tudo aquilo era real. Ela estava realmente ali, pingando água, tremendo de frio e... Linda. E dele.
Não quis esperar mais. Puxou-a de encontro a si e quando seus lábios se encontraram, o mundo pareceu explodir. Era, definitivamente, o melhor beijo que já haviam dado.
- Acho melhor a gente sair da chuva, né? Assim, talvez eu esteja com frio. – Ela disse entre o beijo, percebendo que ele estava começando a ficar ensopado também.
- Minha mãe vai nos matar em 3, 2...
- O QUE VOCÊ DOIS ESTÃO FAZENDO NA CHUVA? – Kelsey apareceu, olhando a cena com um sorriso meio bravo. – Já pra dentro!
- Já estamos indo, mãe.
- Agora, ! Vocês vão ficar doentes e como você pretende pegar um avião doente? – Ela perguntou, confusa.
Ele segurou a mão de e os dois entraram. Assim que fechou a porta, empurrou uma das caixas para o lado e se virou para a mãe.
- Não pretendo pegar o avião. – Olhou pra e sorriu. – Estou exatamente onde deveria estar.



FIM!



Nota da autora: EU ACABEI MESMO? É SÉRIO ISSO? HAHAHAHHAHHA FINALMENTE!!!!! Eu prometi que dessa semana não passava e cá estou, cumprindo minha linda promessa. Espero do fundo do meu coração que vocês tenham gostado! Essa é a coisa mais clichê que eu já escrevi na minha vida, mas tem um significado bem especial pra mim. Acho que já comentei no grupo, mas essa fic surgiu de um sonho que eu tive! Uma pena que eu tenha demorado tanto pra conseguir deixar mais ou menos como queria. Muito obrigada a todas vocês que tiveram paciência de esperar, que sempre me apoiam em tudo e principalmente à Lau, meu amorzinho, que me ouviu falar TANTO de Everlasting, que scriptou e betou pra mim com o maior amor, me deu opiniões ao longo do tempo e enfim, obrigada mesmo, princess! Agradecimento especial também à ingrata da Letícia que escolheu o nome da Lilo e ficou me enchendo o saco pra eu terminar de escrever logo.
É isso aí, agora é só comentar bastante pra eu ficar bem feliz, ok? Beijinhos xx

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