História por That| Beta: Bih Hedegaard


Senhoras e Senhores, bom dia. Meu nome é , sou um dos comissários deste voo. Em nome do Comandante e da American Airlines, dou as boas vindas à bordo do Boeing 747 voo 3698 para Paris. Durante a decolagem, o encosto de sua poltrona deve ser mantido na posição vertical, sua mesa fechada e travada. Observem os avisos luminosos de afivelar cintos de segurança. Em caso de despressurização, máscaras cairão automaticamente. Puxe uma delas, coloque-a sobre o nariz e a boca ajustando o elástico em volta da cabeça e depois auxilie os outros, caso necessário. Esta aeronave possui seis saídas de emergência: duas portas na parte dianteira, duas saídas sobre as asas e duas portas na parte traseira. Cartões com instruções detalhadas de segurança encontram-se na bolsa à sua frente. Como medida preventiva, o cinto de segurança deve estar afivelado durante o voo. Lembramos que o assento de sua poltrona é flutuante. Informamos que durante o voo, poderão ser utilizados laptops, jogos eletrônicos e câmeras de vídeo. Os telefones celulares deverão permanecer desligados. Dentro de instantes, daremos início ao nosso serviço de bordo. Obrigada por terem escolhido a American Airlines e tenham todos uma ótima viagem.

Reconectei o pequeno microfone ao suporte e segui para ajudar minhas companheiras a preparar o serviço do bordo. Eu sou aeromoça há cinco anos e trabalho nessa companhia há três. Eu sempre trafego por esses trechos que ligam os Estados Unidos a Europa e por isso tive a sorte de conhecer quase todos os países. Paris, por exemplo, é um destino para qual eu sempre estou me dirigindo, logo sempre me deparo com a arquitetura maravilhosa dos prédios antigos, a monumental Torre Eiffel e o majestoso Museu do Louvre. Mas todas essas viagens tomam todo o meu tempo e minha vida, logo eu preciso abrir mão de muitas coisas, como ter uma família. E isso é o que mais me faz falta nessa época do ano. Como sou solteira e sem filhos, eu tento cobrir minhas colegas casadas nessas datas especiais, assim elas podem passar um belo feriado em família, enquanto eu aproveito o Natal na França. Sozinha. Bem, nem tão sozinha assim. Há oito meses, eu comecei algo do qual eu não me orgulho, mas também não consigo mais evitar. Foi durante uma pernoite em Amsterdã, nós saímos todos para um drink e quando eu acordei, estava no quarto do Comandante , ou melhor, do . Claro que me arrependi amargamente, afinal, ele tem uma esposa e duas filhas lindas, e nessa história quem sobra sou eu, mas quando eu dei por mim já estava envolvida e agora não consigo terminar. tem um charme nato que o torna irresistível. Já perdi as contas de quantas vezes disse para mim mesma que nunca mais aconteceria nada e na noite seguinte eu já estava lá completamente entregue. Talvez seja algum tipo de carência ou um desejo intenso de me sentir amada. Não sei. Pode ser tanta coisa... Só sei que fim eu sempre estou lá, ocupando um espaço que não é meu. Ele sabe das minhas dúvidas e de tudo isso que penso sobre mim mesma, mas ele não concorda com nada disso, fala que eu sou especial, que largaria tudo por mim. Ele diz e eu acredito, ou pelo menos finjo. No fundo eu sei que se ele não largou a família até agora, ele nunca vai largar...
Mas eu resolvi deixar todos esses pensamentos e a culpa em segundo plano hoje. Pela primeira vez nós fomos escalados no mesmo voo numa data especial e passaríamos o Natal juntos. Juntos e em Paris. Acho que terei a dose de romance que mereço e não apenas algumas noites corridas entre os voos. Não pude conter um sorriso ao imaginar nós dois passeando pelas ruas iluminadas da Cidade Luz. As luzes dos postes se mesclando com as de natal e contrastando fortemente com o branco da fraca neve que caia. Era como uma cena de filme. O meu filme.

- . – Andrea me tirou de me meus devaneios e me trouxe de volta ao mundo real.
- Oi. – respondi, passando a mão rapidamente pelos cabelos e ajeitando o coque.
- Estamos prontas para servir, podemos?
- Claro, claro. – sorri de lado, enquanto Andrea e as outras meninas empurravam seus carrinhos pelo corredor. Olhei furtivamente para a porta no final do corredor, era apenas esse pequeno espaço que nos separava no momento. Disfarçadamente, atravessei o caminho e parei perto da porta, digitando rapidamente a senha e entrando sem que ninguém me visse.
estava compenetrado no painel a sua frente, por mais que não estivesse, efetivamente, pilotando o avião. Henry, o copiloto, me olhou pelo canto dos olhos e me deu um sorriso cúmplice. Enquanto ele fazia um movimento para se levantar, olhou meio confuso para ele e em seguida seguiu seu olhar, sorrindo abertamente quando nossos olhos se encontraram. Henry murmurou algo incompreensível e saiu da cabine, nos deixando sozinhos. checou o piloto automático e correu até o meu encontro, deixando as palavras de lado e tratando de juntar nossos lábios num beijo caloroso.
- Que saudade. – ele sussurrou ao meu ouvido, fazendo com que eu me arrepiasse levemente.
- Muita saudade. – respondi, colocando meus braços ao redor do seu pescoço. – Mas teremos o Natal e Paris. – sorri abertamente. tocou meu rosto e deu um pequeno sorriso. – O que foi? Não teremos o Natal? – ele começou a responder, mas fomos interrompidos por algumas batidas na porta e segundos depois Andrea entrou, mas nem se deu ao trabalho de fechar a porta.
- Temos um probleminha. – ela fez uma careta.
- Vamos lá. – falei, tocando o rosto do , antes de acompanhar Andrea em direção ao corredor. – O que foi? – perguntei, enquanto caminhávamos na direção da pequena cozinha que tínhamos a bordo.
- Um passageiro devolveu tudo o que oferecemos. Disse que o macarrão parece uma cola e que o frango está seco, duro e intragável. – ela rolou os olhos.
- Parece que ele é o intragável aqui e não o frango. – respirei fundo, colocando meu sorriso de falsa simpatia nos lábios. – Eu resolvo.
- Poltrona H10, o carinha bonitinho do corredor. – ela murmurou.
- Bonitinho? – perguntei, arqueando as sobrancelhas.
- Demais. – ela piscou um olho e me empurrou para que eu fosse logo até ele. Caminhei calmamente até parar ao seu lado, vendo que ele levantou os olhos.
- Boa tarde. – eu disse, sorrindo abertamente. – Posso ajudá-lo de alguma forma?
- O que? – ele perguntou, retirando os fones de ouvido.
- Posso ajudá-lo de alguma forma? – repeti, ainda com o sorriso no rosto.
- Bom, ... – ele me estudou por inteira, o que me incomodou um pouco, e pousou seus olhos nos meus antes de continuar. Franzi o cenho, tentando descobrir como sabe meu nome. Acho que ele entendeu a minha reação e apontou para o crachá. – Acho que informando a companhia aérea sobre a qualidade da comida é um começo. – o rapaz sorriu de lado de uma forma completamente encantadora e um pouco hipnótica, tanto que eu precisei de alguns segundos antes de voltar a pensar direito. Era um misto de charme e arrogância. Uma combinação tão perigosa que poderia se tornar irresistível.
- Sinto muito, senhor, mas o frango e o macarrão são nossas únicas opções de refeições hoje.
- , me chame de , por favor. – ele pediu, me encarando com seus grandes olhos . Fiquei alguns segundos presa em seu olhar, percebendo cada detalhe do seu rosto, desde as sardas que ocupavam grande parte da sua pele, até seus lábios finos. Ele era realmente bonito como a Andrea havia falado.
- É uma questão de respeito, senhor. – respondi, tirando meu olhar do seu e balançando um pouco a cabeça para tirar pensamentos indevidos da mesma.
- Tudo bem então, senhorita. – ele alargou o sorriso e se ajeitou na cadeira. – Acho que ficarei sem refeição, não é?
- Temo que sim, não temos outras opções.
- Acho que me conformarei com mais amendoins, por favor. – ele deu de ombros, recolocou os fones no ouvir.
- Como quiser. – murmurei, lhe dando as costas e voltando para a cozinha, onde separei uma quantidade considerável de amendoins e coloquei numa bandeja.
- Pra que tantos amendoins? – Andrea perguntou.
- O tal passageiro. Ele não quis criar caso, falou que se satisfaz com amendoins, então lhe darei uma quantidade digna de um elefante. – parei por em segundo, franzindo a testa. – São os elefantes que comem amendoins, certo?
- Talvez eu possa pegar algo da primeira classe para ele, sempre sobra. – ela disse, ignorando minha pergunta sem sentido.
- Você está querendo agradar o bonitinho? – indaguei, estreitando os olhos. – Quer dizer, bonitinho não, . – pronunciei seu nome pausadamente, fazendo com que ela arregalasse um pouco os olhos.
- Você já sabe o nome? – falou, me dando um tapa leve. – Depois eu que sou a saidinha do grupo. Não se conforma apenas com o ?
- Andrea, fique quieta, só você que sabe aqui. – sussurrei e ela fez uma careta.
- Não tem ninguém para escutar, deixe de ser paranoica. E daí que vocês tem um caso? O errado na história é ele que é comprometido.
- Até parece que as pessoas pensam assim. – respondi, respirando fundo. – Tá, vamos esquecer isso. Vá até a primeira classe e tente pegar algo para o seu namoradinho, enquanto isso eu levo os amendoins que prometi.
- Namoradinho... – ela sorriu, de forma meio indecente. – Será que se eu o convidar, ele me encontra no banheiro?
- Andrea, dê o fora daqui agora. – falei, jogando uma embalagem, que estava em minhas mãos, nela.
Caminhei pelo corredor empurrando o carrinho com as bebidas e o pedido do tal rapaz. Ofereci água, refrigerantes e sucos aos demais passageiros até chegar ao lado da poltrona H10. Virei-me em direção a ele e vi que estava dormindo, ou pelo menos mantinha os olhos fechados. Vendo que sua bandeja estava abaixada, coloquei os pacotes sobre a mesma e tentei me decidir se deixava algum suco ou talvez refrigerante? Olhei novamente para o seu rosto, não conseguindo decifrar se ele era do tipo que evitava refrigerantes e curtia algo mais natural...
- Refrigerante de uva, se tiver. – sua voz me assustou e me fez derrubar um pouco de água do copo que eu segurava.
- Um instante, senhor. – pedi, pegando um pano e secando a parte que molhou do carrinho.
- Te assustei? – ele perguntou, virando a cabeça em minha direção e reprimindo um sorriso. – Desculpe.
- Não tem problema. – falei, estendendo o copo com o que ele havia pedido. – Se precisar de alguma coisa é só chamar.
- Qualquer coisa? – ouvi sua voz baixa, quando já estava a dois passos de distancia. A malícia estava completamente explícita tanto na frase quanto no tom que ele usou. Arqueei as sobrancelhas, pensando no que responder. O desejo de responder exatamente da mesma forma, com o mesmo tom e possivelmente a mesma malícia existia, mas a sensação que era errado, que eu devia certo tipo de respeito ao estava lá. Ela sempre estava lá. Eu não podia conhecer um cara bonito e que me despertasse qualquer tipo de interesse, que eu rejeitava imediatamente, porque parecia ser errado. Idiota, eu sei, mas não conseguia evitar. Respirei fundo, encarando um ponto qualquer a minha frente e ignorando o olhar que ele possivelmente me lançava.
- O que estiver ao meu alcance, senhor. – respondi, continuando o meu caminho.

HORAS DEPOIS


Senhoras e senhores, solicitamos que afivelem cintos de segurança. Dentro de instantes pousaremos no aeroporto Charles de Gaulle em Paris. Mantenham o encosto de suas poltronas na posição vertical, sua mesa fechada e travada, afivelem o cinto de segurança e a partir deste momento é proibida a utilização de qualquer equipamento eletrônico. Informamos que durante o pouso reduziremos as luzes da cabine.
Retornei para o meu próprio acento, sentindo a suave guinada para frente e o costumeiro frio na barriga. Por mais que eu já faça isso há anos, eu nunca consegui me acostumar e controlar essas sensações. Senti a nivelação e olhei para a janela, vendo a pista se aproximar rapidamente. Com um som agudo, o trem de pouso tocou o solo e aos poucos perdemos velocidade. Levantei-me assim que o avião parou completamente, voltando ao microfone.
Bem vindos a Paris. São dez horas e cinco minutos. Permaneçam sentados até que os sinais de afivelar cintos sejam apagados. Verifiquem se estão de posse de seus pertences antes do desembarque que poderá ser efetuado pela porta traseira. Para outras informações, dirijam-se aos nossos funcionários de recepção em terra. Informamos que é proibido fumar e utilizar o telefone celular até a chegada ao saguão do Aeroporto. Em nome do Comandante e da American Airlines, agradeço sua escolha e desejo a todos uma boa noite e um excelente Natal.
Terminei, vendo os sinais serem apagados e os passageiros já começando a se movimentar. Enquanto algumas pessoas da tripulação permaneciam acompanhando o desembarque, fiz uma pequena checagem à procura de algum pertence esquecido, mas não encontrando nenhum. Segui para onde guardávamos nossas malas e me preparei para o desembarque. Esperei até que Andrea também estivesse pronta. Decidi encontrar o apenas no aeroporto, longe dos olhos de todas essas pessoas.

Parei bem na frente do desembarque, perto de uma enorme árvore de natal, e fiquei aguardando o sair, tendo Andrea como companhia. Ela tagarelava sobre alguma coisa que eu não prestava atenção, as únicas coisas que povoavam minha mente eram as imagens que eu havia imaginado durante todo o voo. Apenas eu, e Paris. Sorri comigo mesma, ignorando o fato das pessoas acharem que eu era maluca. Pelo visto Andrea falava algo engraçado, porque ela tomou o meu sorriso como resposta e emendou outro assunto que eu também não sabia o que era. Minha mente se clareou no momento em que eu vi surgir lá no início do corredor, com Henry ao seu lado. Ele segurava seu quepe embaixo do braço e tentava ajeitar o cabelo com a outra mão. Respirei fundo, tentando controlar meu nervosismo e ansiedade.

- Seu comandante está vindo e essa é minha deixa. – Andrea murmurou ao meu lado, me abraçando. – Feliz Natal, . Aproveite bastante.
- Feliz Natal pra você também. – respondi, apertando o abraço. Ela sorriu abertamente, antes de levantar a alça de sua mala e sumiu na direção da saída.

Voltei meu olhar para o corredor, que sempre foi longo, mas hoje parecia ter o dobro de extensão. Peguei um pequeno espelho na bolsa e olhei rapidamente meu reflexo, ajeitando o cabelo e checando a maquiagem. Estava tudo perfeito e no lugar. Quando olhei para frente de novo, já estava a poucos passos. Aumentei meu sorriso, já me preparando para um abraço, mas algo mudou. Ele desviou o seu caminho, passando a alguns metros do meu lado esquerdo. Olhei para a direção e, repentinamente, precisei de um apoio que não tinha. estava com os braços ao redor de três pessoas. A felicidade deles era quase palpável e me senti mal com isso. É claro que havia algo errado, eu nunca conseguiria ter um Natal perfeito assim tão fácil. Encarei aquela cena sentindo um bolo se formar na minha garganta e tive que me controlar muito para não chorar ali mesmo. não passaria o Natal comigo. Ele passaria o Natal com a sua família de verdade. Como eu pude ser burra o bastante para sequer pensar que eu teria alguma chance?

Caminhei meio sem destino por alguns segundos, acabando em frente a uma cafeteria qualquer. Sentei numa mesa perto da janela, onde eu conseguia ver a neve caindo na pista e ao fundo as luzes da cidade. Deixei minha cabeça cair nas mãos e voltei a me controlar. Não podia cair no choro como uma garotinha na frente de todo mundo. Respirei fundo, fingindo que olhava o cardápio. Vez ou outra, eu sentia uma lágrima rebelde rolar pelo meu rosto. Eu disfarçava e a secava, voltando a fingir que estava tudo bem.

- Oi? – ouvi uma voz rouca ao meu lado e me assustei. Levantei os olhos marejados devagar, encontrando um par de olhos me encarando com curiosidade. – Sou eu, . – franzi o cenho, tentando lembrar de onde eu o conhecia, mas nada vinha. – O cara do frango. – ele completou, sorrindo de lado e ajeitando a mochila no ombro.
- Ah! O senhor intragável. – murmurei e ele riu alto. – Não são todos que usam palavras assim.
- Posso? – ele perguntou incerto, apontando para a cadeira a minha frente.
- Claro, fique a vontade. – dei de ombros, voltando a estudar o mesmo cardápio que eu encarava há minutos.
- Tá tudo bem com você?
- Tá, tudo ótimo. – menti, forçando um sorriso.
- Não parece. – ele disse, apontando para os meus olhos. Suspirei derrota, jogando o cardápio de volta na mesa.
- Meus planos não saíram como eu esperava e agora eu estou aqui sozinha em pleno Natal. – fiz uma careta, passando a mão pelo cabelo.
- Mas você não tinha uma segunda opção? – indagou, pegando o cardápio. – Café?
- Sim, por favor. – respondi e ele estendeu a mão, chamando o garçom. – E não, sem segundas opções. Tinha apostado todas as minhas fichas.
- Não, não pode! Aprenda uma coisa. – disse, jogando a mochila no chão, perto do seu pé, e apoiando os cotovelos na mesa. – Sempre pense em várias opções, porque se uma falhar, você tem outras para te socorrer. E nunca mais ficará sentada num café no aeroporto na véspera de Natal.
- Bem, você também está sentado num café no aeroporto na véspera de Natal. – repeti suas palavras, misturando um tom acusatório, com um quase debochado.
- Eu estou aqui porque eu quero. – ele deu de ombros. Nesse intervalo de tempo o garçom trouxe nossos cafés. Peguei minha xícara e beberiquei um pouco, sentindo o meu corpo esquentar.
- Eu também. Poderia estar no hotel, mas achei que seria deprimente demais. – confessei, me imaginando sozinha no quarto que eu havia reservado para eu e o . Foi então que eu percebi que era a primeira vez que eu lembrava dele desde que eu tinha arrumado uma companhia. Talvez esse fosse bom para me fazer esquecer o por alguns minutos.
- Seu namorado te deu um bolo? Se a resposta for sim, ele não te merece. – falou apoiando o rosto nas mãos, que estavam cruzadas embaixo do queixo.
- Sim e não. Sim, eu levei um bolo e não, ele não é meu namorado. As coisas são um pouco mais... complicadas.
- O que não é complicado quando o assunto é amor? – falou, tomando um gole do seu café em seguida.
- Uma frase altamente filosófica para essa hora da noite. – comentei, rindo um pouco. – E você, qual é a sua história?
- Fui abandonado. – ele fez uma cara triste altamente forçada. – Meus pais inventaram um cruzeiro de férias, duas semanas viajando pelo Atlântico. Meus amigos estão com as namoradas e eu me vi sozinho. Eu sempre quis dar uma volta pela Europa e estou aproveitando o final de ano. Farei Paris, Amsterdã, Berlin, Barcelona, Atenas, Londres e onde mais o meu dinheiro der.
- Nossa, que inveja. – sorri de lado, recebendo outro em resposta. – Eu já fui a todos esses lugares, mas o mais longe que consegui ir foi até o hotel mais próximo do aeroporto. As pessoas pensam que a vida de aeromoça é fácil, mas não é mesmo. Precisei abrir mão de tanta coisa. – comentei, deixando a frase no ar.
- Não precisa abrir mão para sempre, ou precisa? É só jogar tudo pro alto.
- O que você faz da vida? – perguntei, tentando entender esse espírito aventureiro, desregrado e meio inconsequente.
- Sou músico, eu vendo emoções. – disse, levantando levemente a cabeça e me dando um olhar superior. Segurei o riso por alguns segundos, mas não aguentei. Gargalhei alto e fui acompanhada por ele.
- Talvez você possa me conseguir algumas, mas emoções boas, por favor.
- Seria um prazer. – respondeu, olhando fixamente para os meus olhos. Sustentei seu olhar por longos segundos, sentindo algo diferente em mim. Senti a pele no meu rosto esquentar. Eu, provavelmente estava corada. Abaixei a cabeça, envergonhada. – Me desculpe. – murmurou, fazendo com que eu levantasse meu olhar e encarasse novamente seus olhos .
- Não precisa se desculpar. – falei, mexendo no cabelo, altamente desconfortável. – Acho que eu deveria me desculpar, por estar aqui roubando seu tempo. Você deve ter outras coisas mais importantes para fazer, pessoas mais interessantes para encontrar...
- Eu já estou fazendo algo importante com uma pessoa interessante. – ele disse baixo, terminando seu café. Senti meu rosto quente, mas dessa vez não desviei o olhar. Mantive meus olhos nos dele, como se algo estivesse me atraindo, me puxando.
- Então você vai passar o Natal aqui sozinho? – perguntei, tentando me distrair dessa força quase magnética daqueles olhos.
- Provavelmente, mas eu não me importo. – ele deu de ombros. – A não ser que isso seja um convite... – me limitei a sorrir, sem ter nada para responder. Mas... por que não?
- Se você quer que seja um convite, então é um convite. Só que teremos que ir para o hotel ou então perderei minha reserva. – comentei, olhando rapidamente para o relógio.
- É longe daqui? – ele perguntou, pegando a mochila e colocando sobre os ombros.
- Nada, dez minutos de táxi. – falei, pegando minha bolsa e procurando algumas notas de euro na carteira.
- O que você acha que está fazendo? – ouvi perguntar e levantei meus olhos.
- Pagando o meu café. – respondi, como se fosse a coisa mais simples do mundo.
- Eu não poderia permitir isso. – disse, colocando uma nota alta sobre o pequeno arranjo floral. – Gorjeta de Natal. – ele sorriu de lado.

Seguimos para fora do terminal e logo assim que nos aproximamos da porta, senti o frio percorrer minha espinha. Meu uniforme não era nem um pouco quente. Percebendo meus leves tremores, tirou seu casaco e colocou sobre meus ombros. Sorri de lado como agradecimento e curvou a cabeça num gesto meio nobre, colocando sua mão perto da base das minhas costas e me direcionando para o táxi mais próximo. Senti um tremor diferente percorrer meu corpo dessa vez e não era frio, muito pelo contrário, era uma onda quente e aconchegante, que me aqueceu mais do que qualquer agasalho poderia fazer. Contive minhas reações para não dar tanta bandeira e entrei rapidamente no carro, colocando o casado em meu colo. deu a volta e entrou pelo outro lado, me olhando em seguida. Entendi rapidamente o que significava e logo informei nosso destino. Nos afastamos rapidamente do aeroporto, rumando para as grandes luzes da cidade. observava o caminho com atenção, da mesma forma que eu agi na primeira vez que visitei Paris. Meus olhos brilhavam numa emoção sem igual. Era a realização do sonho de uma vida inteira e parece que era o começo da realização dele.

- O que foi? – ele perguntou, com o sorriso bobo ainda nos lábios.
- Nada, é que você parece um pouco comigo na primeira vez em que estive aqui. É tudo meio mágico, né?
- Completamente mágico. – respondeu, tornando a olhar pela janela.
- O hotel fica um pouco distante do centro, mas a vista é sem igual. – comentei, vendo a construção já conhecida aparecendo no horizonte.
- Escolheu o melhor quarto?
- Sim, o com a melhor vista. Você vai ver.
- Vou? – ele perguntou, deixando toda a malicia transparecer sem máscaras. Olhei para minhas mãos, sentindo meu rosto esquentar. Sem saber o que falar, deixei a perguntar no ar, sem me atrever a responder. Talvez por uma intervenção divina, o carro perdeu velocidade e parou na porta do hotel. Um funcionário abriu a minha porta e me ajudou a descer. Pedi que eu mesma carregasse minha pequena mala e o rapaz assentiu com um sorriso simpático. Caminhei ao lado de até a recepção.
- Eu vou dar entrada na diária depois da meia noite, não quero ter que pagar mais uma só por algumas horas. – ele disse baixo, enquanto olhava no relógio.
- Tudo bem. – respondi, pegando meus documentos e os papéis da reserva. – Me espera no restaurante, eu só vou deixar minhas coisas no quarto, quer que eu guarde as suas por enquanto?
- Eu agradeceria, mas acho melhor eu te acompanhar, não vou deixar você levar tudo isso sozinha. – ele apontou para a minha mala e as suas. Olhei para trás, vendo que o rapaz já estava ocupado com outros hóspedes.
- Tudo bem, só um minuto.

Encontrei com ele na porta do elevador e esperamos pelo mesmo durante alguns segundos. Longos e silenciosos segundos. O som nos alarmou e as portas abriram, mostrando o espaço vazio. Entramos e paramos lado a lado, vendo se havia mais alguém para entrar. Mas não tinha. A porta se fechou, nos deixando completamente sozinhos pela primeira vez. Respirei fundo, sentindo minhas mãos começarem a soar repentinamente. Eu estava visivelmente desconfortável com a situação. Mas não porque ele me fazia me sentir assim, muito pelo contrário, ele me fazia querer me envolver cada vez mais. Como se existisse uma espécie de encantamento em sua voz. Percebi seu corpo se virando em minha direção muito lentamente. Ele molhou os lábios, numa intenção clara de falar alguma coisa, mas antes que fosse possível, o elevador parou no meu andar. Muito gentilmente, ele pôs a mão livre para segurar a porta e indicou para que eu saísse. Segui rapidamente para meu quarto, abrindo a porta com o cartão. Entrei, deixando a mala perto da cama e a bolsa e o casaco dele em cima da mesma. parou na porta, como se estivesse esperando um convite para entrar.

- Entra.
- Eu acho melhor não. – ele sorriu de lado, deixando sua mala perto da porta e cruzando os braços atrás do corpo.
- Só um segundo então. – pedi, seguindo para o banheiro. Me olhei no espelho, quase não me reconhecendo. Havia algo diferente em mim, alguma coisa que eu ainda não sabia o que era. Tirei o blazer na companhia aérea e desfiz o coque que prendia meus cabelos, deixando que ele caísse pelas minhas costas. Respirei fundo, sentindo algo estranho me tomar. Um desejo diferente, quase insano. Achei melhor reprimi-lo. Lavei as mãos e joguei um pouco de água no rosto, tentando me acalmar. – Não há motivos para isso. – disse a mim mesma. Respirando fundo mais uma vez, sai do banheiro e peguei minha bolsa na cama. – Vamos? – perguntei, chamando sua atenção. me olhou, arqueando as sobrancelhas e sorrindo em seguida.


- Sem chances, as pessoas de Nova York não são simpáticas. – exclamei, bebendo mais um pouco do vinho. A garrafa estava quase no fim e no prato a minha frente ainda restava um pouco da torta de chocolate e avelãs que eu havia pedido de sobremesa. estava sentado com os cotovelos apoiados na mesa e o corpo inclinado em minha direção.
- Mas você não conhece todas as pessoas de lá. – ele retrucou, de forma acusatória. – Vai dizer que eu não sou simpático.
- Você é uma exceção. – murmurei, reprimindo um sorriso.
- Exceção a essa regra?
- A quase todas as minhas regras. – respondi, terminando com o conteúdo da minha taça.
- Então você não sai para jantar com os passageiros dos seus voos?
- , eu não saio para jantar com ninguém. – confessei, suspirando em seguida. – Minha vida amorosa não é complicada, ela é inexistente. Se não fosse por esse cara que me deu um bolo hoje, eu passaria mais um Natal sozinha. Acho que é por isso que eu aceito todas as viagens em datas comemorativas, é melhor trabalhar rodeada de gente, do que ficar presa num quarto de hotel curtindo minha solidão.
- Isso não tá certo, uma garota como você deveria viver rodeada de pretendentes.
- Não há nada certo nesse mundo injusto. – murmurei, pegando a taça, mas vendo que ela estava vazia.
- Isso é apenas filosofia de bêbado ou... – ele deixou a frase morrer, enquanto enchia minha taça.
- Eu não estou bêbada. – falei de forma firme, tentando soar confiante.
- Então não precisarei me sentir culpado caso... – ele parou na metade de sentença e me olhou mordendo o lábio.
- Caso? – perguntei, inclinando meu corpo em sua direção, da mesma forma que ele estava. Olhei tão fundo em seus olhos, que pensei que conseguiria ler seus pensamentos ou até mesmo a sua alma. Mas nada disso aconteceu. Ele continuava misterioso, indecifrável e incrivelmente sedutor.
- Esquece. – pediu, voltando a se apoiar no encosto da cadeira. Eu já tinha plena consciência da forma que ele estava me afetando naquele momento. Durante todo o tempo eu sentia meu corpo reagir a sua presença, seja com leves arrepios ou faltas de ar momentâneas. Mas, por mais que eu soubesse – e ele também – nada acontecia e tínhamos plena convicção de que se ele não fizesse nada, eu nunca faria. Estava estampado no meu rosto a minha falta de iniciativa. Suspirei, encarando a paisagem visível através da janela do restaurante. Podíamos ver a Torre Eiffel ao fundo e todo o chão coberto de neve. Os prédios iluminavam emolduravam a Torre, transformando-a quase numa paisagem intocável ou puramente imaginável. O silêncio já perdurava por longos minutos e já estava começando a se tornar incomodo. Continuei olhando a paisagem, tentando parecer alheia a tudo. Mas graças a um relógio que soou por perto, o silêncio foi quebrado. A primeira das doze baladas que anunciava a meia noite ecoou por todo o saguão. Olhei ao redor e parecia que todos estavam se abraçando, desejando Feliz Natal uns aos outros, enquanto eu continuava parada como se fosse uma estátua, sem saber como agir.
- Dizem que dá sorte fazer um pedido a meia noite do dia de Natal, por que não tenta? – disse, fazendo com que eu o olhasse.
- Sério? – perguntei, estranhando nunca ter ouvido isso.
- Não custa tentar. – ele sorriu de lado. – Feche os olhos e pense em algo que você queria muito. – eu estava meio relutante, mas cedi, fechando os olhos. A princípio eu não sabia no que pensar e muito menos no que desejar. Se fosse outro momento, eu pensaria no , sem nenhuma dúvida, e desejaria ficar ao seu lado. Mas agora era como se ele não importasse tanto, como se ele tivesse sido apagado temporariamente da minha memória. Em meio aos meus devaneios, senti uma aproximação repentina e, logo em seguida, lábios pressionando os meus de forma suave. Quando alguém te beija dessa forma, a reação normal é de se afastar, mas a forma com que o beijo mexeu comigo foi completamente o oposto. Era como se os seus lábios despertaram sensações que eu desconhecia. Senti-me bem, leve e livre de culpa. Durante os dois últimos anos, todos os beijos tinham gosto de culpa, de traição. Como se os sentimentos e as pessoas por trás dele fossem ruins e não merecedores de felicidade. Eu tenho passado os últimos oito meses pensando que tudo o que o amor faz é quebrar, queimar e acabar. Mas em uma quarta-feira, em um café, eu vi começar de novo. Ele se afastou o suficiente para olhar em meus olhos e, de repente, estava tudo ali. Tudo o que eu sempre esperei sentir. Tudo o que eu não senti em oito meses, eu senti em um único beijo. Algo mudou. Eu mudei. Tudo mudou. – Me desculpe, eu queria... – ele sussurrou e eu pus um dedo selando seus lábios, ainda presa em seu olhar. Lembrei que o meu último pensamento antes desse beijo, era de mudança. Queria retirar da minha vida tudo o que não fizesse bem para mim. Na verdade, eu queria alguém que fizesse bem para mim. E por mais precipitado que fosse, esse alguém estava ali bem a minha frente. Deixei minha mão deslizar, fazendo com que ela traçasse um caminho até a sua nuca. Acho que ele entendeu meu movimento, deixando um pequeno sorriso surgir em seu rosto. E então no mesmo momento em que eu puxei novamente seus lábios para os meus, ele passou um braço pela minha cintura e me levantou, deixando nossos corpos colados. Deixei que ele aprofundasse o beijo, ignorando qualquer pessoa que estivesse ao redor. Aquele era o meu momento de libertação, descobrimento e entendimento. Eu estava recomeçando.


Senti meu corpo se chocar contra uma superfície dura e me dei conta que era a parede do corredor. Seus lábios estavam ferozmente sobre os meus, enquanto minhas mãos bagunçavam e puxavam alguns fios de seu cabelo e as suas apertavam fortemente minha cintura. Me afastei um pouco, com a respiração acelerada. me olhou um pouco confuso e eu procurei em minha bolsa o cartão que abria a porta. Quando o encontrei, levantei para que ele pudesse ver. Ele abriu um sorriso absurdamente charmoso e até mesmo um pouco safado. Assim me que virei, suas mãos voltaram para minha cintura e seus lábios seguiram para o meu pescoço. Errei o local de colocar o cartão algumas vezes, tendo que me concentrar, manter a minha sanidade e a mente clara o bastante para tal ato. Assim que consegui abrir a porta, joguei a bolsa num canto qualquer e tornei a passar meus braços ao redor do seu pescoço. olhou em meus olhos por alguns segundos, talvez procurando um sinal de arrependimento ou algo do tipo, mas ali ele não encontraria nada. Nada além de um louco desejo por ele. Incrível como ele havia conseguido eliminar qualquer vestígio de outra pessoa da minha mente. Desde o momento quem que eu coloquei meus olhos nele naquele café, tudo mudou. Selei nossos lábios rapidamente e o puxei para dentro do quarto. Nossos corpos colidiram novamente e não paramos de andar até eu senti uma superfície macia tocar minha perna. Me joguei na cama e o observei tirar a camisa lentamente. Sua pele brilhava levemente, refletindo o brilho da luz da lua que invadia o quarto. Seus olhos pareciam mais do que nunca e me hipnotizavam mais a cada segundo. tornou a se aproximar, colocando uma mão de cada lado do meu corpo e deixando o seu cair suavemente sobre o meu. Apoiado em um braço, ele trouxe a mão livre para o meu rosto e retirou alguns fios de cabelo do mesmo, fazendo um carinho em seguida. Fechei meus olhos, sentido as pontas dos seus dedos percorrem um caminho que começavam perto dos meus olhos e terminava quase em minha cintura. Eram absurdas as reações do meu corpo. Eu nunca havia sentido nada igual. Como se ele soubesse exatamente onde tocar, exatamente onde beijar. Como se tivesse feito isso durante toda a sua vida. Soltei um suspiro pesado, voltando a abrir os olhos. Forcei meu corpo, fazendo com que eu ficasse por cima e comecei a abrir os botões de minha blusa. Um a um. Com toda a calma que ainda me restava. Suas mãos, agora em meus quadris, pareciam garras afiadas de tão forte que era seu aperto, mas eu não me importava. Isso mostrava o quão entregue ele estava. Mostrava que eu não era a única que sucumbia. Ele se sentou da forma que podia e me puxou para um outro beijo, mas não nos prendemos em demonstrações de carinho, pois os movimentos já se iniciaram de forma intensa, voraz. Como se aquele beijo fosse uma prévia do desejo que sentíamos. Nossos corpos se tocaram pela primeira vez, tendo apenas uma pequena peça de roupa como barreira. Sua pele fervia, assim como a minha. Com os lábios perto dos meus ouvidos ele sussurrou:

- É isso mesmo o que você quer? – sua voz rouca assim tão baixa e melodiosa, fez com que tudo fizesse mais sentido e que qualquer culpa ou medo sumissem de vez. Não tinha como eu desistir agora. E eu também não queria desistir.
- Mais do que qualquer coisa. – respondi, com minha voz vacilante. sorriu abertamente, fazendo com que seu corpo pesasse novamente sobre o meu.

HORAS DEPOIS


Eu estava parada em frente a janela, vendo o sol nascer. Seus raios já iluminavam parte do quarto e eu podia ver claramente dormindo na cama. Suas costas largas estavam viradas em minha direção. Eu precisava conter meu desejo de correr até ele e deixar minhas mãos percorrem todo o seu corpo novamente. Nós já havíamos passado toda a noite enrolados e embolados sob os lençóis. E eu estava achando um absurdo o fato do meu desejo por ele não ter diminuído nem um pouco. Deixei minha cabeça cair contra o vidro, já pensando com como seria deixar aquele quarto e voltar à vida real no dia seguinte. Aceitar o fato de que essa não era a minha realidade, que eu não o teria sempre ao meu lado. Essa era a pior parte. Nós tínhamos nos entendido tão bem e em todos os sentidos. Ele me fez esquecer completamente do , como se ele tivesse sido apenas uma fantasia da minha cabeça. Não houve correria ou qualquer pressa. Nós nos completamos e nos satisfazemos da forma que realmente necessitávamos. Talvez eu tenha adquirido um novo vício. Um vício lindo e portador dos mais belos olhos que já conheci. Um vício chamado .

- O que foi? – ouvi sua voz antes mesmo de sentir seus braços ao meu redor. – Você sempre vive assim olhando pela janela?
- Quase sempre, quer dizer, eu vivo minha vida olhando pelas janelas. Janelas do avião, do táxi, dos hotéis. Acho que você acaba se acostumando. – dei de ombros, encostando minha cabeça em seu peito. – Eu já estive aqui tantas vezes, mas nunca pude ir até a Torre Eiffel ou ao Louvre.
- Quando que você tem que ir embora?
- Amanhã de manhã. – falei, suspirando tristemente em seguida.
- Eu te levaria a todos os lugares que você deseja conhecer, mas acho que não consigo deixar que você saia desse quarto. – ele murmurou, distribuindo beijos pelos meus ombros e pescoço.
- Mesmo depois dessa noite? De toda essa noite? – perguntei, ficando de frente para ele, com meus braços ao redor do seu pescoço.
- Justamente por causa dessa noite. – ele respondeu, selando nossos lábios por alguns segundos.
- Eu nunca me senti assim. Não tão rápido. – confessei, olhando fundo em seus olhos.
- Eu também não e é exatamente por isso. – ele falou, passando o braço pelas minhas pernas e me carregando até a cama. – Que eu não deixarei você sair dessa cama hoje.
- E Paris? – perguntei, puxando seu rosto para perto do meu.
- Nós teremos Paris para sempre.

HORAS DEPOIS


- Você acredita que eu não passo uma virada de ano em solo firme há cinco anos? – falei, sorrindo de lado. Nós estávamos deitados lado a lado da cama, eu encarava o teto. O sol lá fora já estava se pondo e nós ainda estávamos na cama. Tínhamos divido nosso tempo entre conversas, pausas para comida e muito, muito amor, por assim dizer. Acho que foi a maior quantidade de tempo que eu já passei com uma pessoa num único dia. E eu estou longe de estar reclamando. – Sabe o que eu sou louca para ver? Aquelas queimas de fogos de artifício, sabe? Acho lindo demais.
- Por que você se isola dessa forma? – ele perguntou, virando seu corpo em minha direção e me olhando mais atentamente. – Você vive pelos céus e tenta fazer todo mundo acreditar que não se importa com isso, mas eu sei que se importa. Qualquer um se importaria.
- E aquele cara? Eu entendo que ele não é assim como eu, mas ele deve ter algo de especial. – bufei, olhando para o outro lado para evitar seus olhos. Tudo o que eu não queria nesse momento era falar sobre o . Ele estava fora da minha mente há tanto tempo. – Acho que você precisa se ver de verdade, ver a garota incrível que você é e...
- Ele é casado. – falei de uma vez, voltando meu olhar para ele mais uma vez. – A família estava esperando por ele no aeroporto e eu fiquei sozinha. – ficou em silêncio por alguns segundos, como se estivesse assimilando o que havia acabado de ouvir.
- Não estou te julgando, se é o que está pensando. – ele disse rápido, antes de se sentar e me puxar junto com ele. – Só não consigo pensar num motivo?
- Eu também não, mas acredito que seja apenas carência. Acho que sempre foi carência. Ter alguém por perto para fazer um carinho, fazer você se sentir querida e até mesmo amada. Meus pais ainda moram no interior da Georgia, eu mal tenho tempo de visitá-los e não quase nunca tenho ninguém por perto. É complicado demais.
- Sabe o que mais é complicado? – ele perguntou, tombando um pouco a cabeça e sorrindo de lado.
- O que? – imitei seu gesto.
- O fato de a cada palavra que sai dos seus lábios, a vontade de te deixar ir embora diminui mais ainda. – suspirei, fechando os olhos e me permitindo quase me derreter.
- E cada vez que você diz algo assim, tão altamente fofo e clichê, minha vontade de ir embora também diminui. Mas completamente desproporcional a nossa vontade, a minha necessidade de ir embora aumenta. As horas estão passando, , e o céu me chama mais alto a cada minuto. – ele gemeu baixo, fazendo uma careta.
- Acho que temos que parar de perder tempo assim, tão desnecessariamente, certo? – ele disse, me puxando para perto e me aninhando em seus braços.
- Certo.
- Eu prometo que isso não acabará aqui, ok? – ele murmurou contra meus lábios, enquanto olhava em meus olhos de uma forma intensa e quase intimidante.
- Eu não gosto de promessas, elas nunca se dão da forma que eu espero. – respondi, passando minha mão pelo seu rosto, me demorando na forma dos seus lábios.
- Eu sempre cumpro minhas promessas, ainda mais uma promessa de Natal.
- Eu acho que você não existe. – falei, embrenhando meus dedos nos seu cabelo e puxando levemente. – Tem certeza que você é real?
- Você quer que eu te prove mais uma vez? – ele perguntou, forçando uma voz sedutora.
- Quantas vezes mais forem necessárias. – sussurrei em seu ouvido, puxando seus lábios para os meus mais uma vez.


Já fazia uma semana desde que eu o vi pela última vez. Aquele aceno do lado de fora do hotel, juntamente com um enorme sorriso, seria tudo o que eu guardaria daqueles dois dias. Os únicos que passamos juntos. Nós prometemos que não sumiríamos no mundo, mas eu acho muito difícil nos encontrarmos de novo. Ele me ligou duas vezes, falando de como havia sido incrível sua passagem por Berlin e o quanto ele estava ansioso para chegar a Atenas. Eu continuava voando de um lado do mundo para o outro e resolvi manter minha rotina nesse ano novo. Aceitei um voo para Amsterdã e nesse eu passaria a virada do ano nos céus. Sem meus desejados fogos de artifícios, mas era melhor do que qualquer quarto de hotel. Ah! E quanto o . Bem, nós nos encontramos dois dias depois do Natal, quando tivemos que dividir o mesmo avião mais uma vez. E foi quando eu realmente percebi como tudo havia mudado dentro de mim. Não havia mais lugar para ele e sua confusão. Eu era uma nova e não queria nada antigo atrapalhando e deturpando a nova versão de mim mesma.

Sentei em meu lugar, deixando que as outras comissárias cuidassem das refeições, não queria ficar no comando hoje. Observei Andrea andar de um lado para o outro servindo suco e refrigerantes, com seu sorriso falso/simpático no rosto. Algumas vezes ela olhava em minha direção e fazia uma espécie de careta, fazendo com que eu risse um pouco, quebrando minha aura de tristeza inexplicável. Será possível você sentir falta de uma pessoa que você mal conhece? Mesmo que ela tenha mudado a sua vida de uma forma absurda em algumas horas? Sempre imaginei que demandasse de muito tempo e vontade para fazer algum relacionamento dar certo, mas com o eu percebi que só precisa aparecer aquela pessoa. Aquela pessoa que, por mais que passe anos e anos, você sempre se lembrará dela de uma forma especial e eu acho que o é essa pessoa. Eu sempre acreditei que existisse alguém certo para cada um e também acreditava que quando eu encontrasse, eu ficaria com ela e não deixaria que ela escapasse por entre meus dedos. Mas como eu não deixaria o escapar se ele nunca foi meu. E provavelmente nunca será?

- ? – Andrea disse, estalando os dedos em frente ao meu rosto. – Acorda.
- Eu peguei no sono? – perguntei, passando a mão nos olhos.
- Só se você dormir de olhos abertos, o que seria muito estranho por sinal. – ela murmurou, balançando a cabeça rapidamente. – Um passageiro está reclamando do frango, de novo. – ela rolou os olhos, reprimindo um sorriso e algo dentro de mim despertou. Não podia ser. Levantei rapidamente e ela saiu do caminho. – Poltrona I12. – ela gritou. Quase corri pelo corredor, querendo diminuir logo a distância e vê-lo novamente. Desviei das outras comissárias e passageiros que estavam no caminho, chegando quase ofegante na poltrona correspondente. Mas não encontrei o que esperava, um par de olhos negros me olhou com curiosidade, antes de transformar sua expressão em algo como repulsa.
- Esse frango está terrível. – ele disse, empurrando a bandeja para longe.
- Me desculpe, senhor, farei algo a respeito. – murmurei, pegando o prato e voltando para a cozinha.
- O que foi? – Andrea perguntou, parando ao meu lado.
- Pensei que fosse outra pessoa.
- O H10? – ela riu, passando a mão pelos meus cabelos. – Não fica assim, vai vê-lo quando você menos esperar.
- Não vejo como. – suspirei pesadamente, achando, meio escondido, um prato da classe executiva perdido por ali. – Leva isso aqui para o cara do frango número dois, por favor.
- Tudo bem, eu levo. Mas leve mais alguns amendoins para o passageiro da D8. – ela disse, já se afastando. Peguei algumas embalagens e segui pelo corredor, encarando a poltrona vazia. Bufei, virando para retornar de onde vim, mas uma voz me congelou no lugar.
- Uma pessoa disse que eu me satisfaço com uma quantidade digna de um elefante quando o assunto é amendoim. – girei o corpo, vendo aquele sorriso charmoso mais uma vez. Seus braços estavam abertos, um convite claro para um abraço. – Mas na verdade é que era apenas uma desculpa para ver a aeromoça mais uma vez. – senti meus lábios se puxarem num sorriso largo e me lancei ao seu encontro. E assim que nossos corpos se encontraram, minha boca buscou enlouquecida pela dele. Seu abraço se fechou fortemente ao meu redor e ele levantou meu corpo, tirando meus pés do chão.
- O que você está fazendo aqui? – perguntei, assim que meus lábios mataram o mínimo possível da saudade que sentiam dos dele.
- Eu disse que sempre cumpro minhas promessas, ainda mais uma promessa de Natal. – ele sussurrou ao meu ouvindo, fazendo com que meu corpo todo se arrepiasse. Coloquei minhas mãos em seu pescoço e o puxei para mais um beijo. Os demais passageiros aplaudiam e eu sorri.
- Continuo achando que você não é real. – murmurei só para ele.
- Então preciso continuar de provando. Mais uma e todas as vezes.
Acho que isso era o que eu mais queria no meu Ano Novo. Nada de festa, nada de multidões. Apenas alguém que me faça bem. E sabe aqueles fogos de artifícios que eu tanto desejava? Eles estavam aqui.
Aqui, ali, por todos os lugares.
Eles estavam dentro de mim.

Nota da Autora: Vocês já devem estar de saco cheio de mim, né? Não canso de encher vocês com as minhas histórias, espero que elas sejam legais, pelo menos.
Essa fic foi feita para o especial de Natal do grupo We Heart FFOBS e especialmente para a Mariana Regina, que foi a menina que eu tirei quando o especial ainda era um amigo oculto.
Eu escutei essa música da Taylor e me apaixonei, logo vieram diversas ideias do que fazer, do que escrever e saiu isso.
Não tenho muito mais o que falar, então fico por aqui.
Beijos e até a próxima.

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Minhas outras fics:
Enchanted - McFLY/Em Andamento
Halo - McFLY/Em Andamento
Midnight in Paris - Especial do Dia do Sexo
Nothing Left to Lose - Especial do Dia dos Namorados
The Way to The Edge of Desire - Restritas/Finalizadas
Untangle Me - Especial da Equipe
What Goes Around... Comes Around - Restritas/Finalizadas
What Goes Around... Comes Around II - Restritas/Em Andamento
When I'm Hurt - McFLY/Finalizadas
You Make It Real - Especial de Natal


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