História por Fran Freire | Revisão por Gabriella
Leia a série "Songs about", em Maroon 5 / Finalizadas

caminhava tranquilamente pelo supermercado em Los Angeles. Era uma tarde de sábado e ele gostava de passear junto de sua família pelo clima agradável da cidade. Sua caçula estava encantada com o CD de um dos mais novos astros teen americanos enquanto seu menino andava pela sessão de eletrônicos procurando novidades digitais. Como ambas as prateleiras estavam por perto, podia ver as crianças e desfrutar de algum tempo com a esposa.
As emoções naquele momento eram contidas e as expressões estavam bem próximas do que parecia a vida continua e feliz de um homem de meia idade. Era estranho se sentir estagnado em uma situação corriqueira e casual, mas, de certa forma, o focado e responsável sentia-se assim.

- Querido, eu estava pensando em mudarmos a sala.
- Mudar a sala? O que há de errado com a nossa sala? - ele a puxou para perto e lhe deu um beijo no rosto. A mulher sorriu e, com um olhar gracejante observou o rosto forte e bonito do marido.
- Você sabe, ela é tão démodé. – suspirou - O que acha de redecorarmos usando branco?
pensou um pouco, olhando o sorriso escondido nos lábios da mulher, conhecia os argumentos e os motivos que a levavam a tocar no assunto. - Como aquela na casa de campo do ? - A mulher não resistiu e abriu um sorriso, abraçando o marido e exagerando na manha para convencê-lo.
- Oh querido, seja razoável, aquela sala é encantadora.
- Aham. – respirou fundo e se afastou um pouco, pensando em quando a esposa deixaria de mudar os móveis por caprinho, a cada vez que via uma decoração que considerava mais bonita do que a que já tinha.

Ali ficaram argumentando e contra-argumentando até aceitar que ela comprasse apenas alguns objetos. Ele acompanhou a mulher na sessão decorativa, sem tirar os olhos das crianças, que continuavam vendo produtos ao redor. já estava completamente empolgada, pensando no que utilizaria, enquanto sorria confirmando seja lá o que a mulher apontasse como sendo a melhor opção.

***


entrou no mercado com intenção de sair rapidamente. De certa forma ela sabia que se arrependeria e gastaria uma fortuna com coisas que eram desnecessárias, mesmo assim havia o básico para ser comprado, como leite e pão, e dessa maneira entrou pensando em agir depressa para gastar o mínimo possível.
Cinco minutos depois, seu carrinho já tinha biscoitos, cereais, iogurtes e frutas. Não conseguia resistir à comida e estava fazendo um grande esforço para não se aproximar das lasanhas congeladas quando esbarrou em um homem que estava apoiado em seu carrinho, bem próximo a sessão de copos e talheres.
se virou rapidamente, tocando o ombro do homem e pedindo desculpas, quando seu coração parou e todo o sangue subiu para a cabeça. Era ele.

***


estava se cansando de esperar, mas resolveu deixar a família feliz, afinal ele estava presente - o que era uma raridade, tratando-se do de uma das maiores bandas pop da última geração. A turnê havia sido uma loucura. Descansava o corpo apoiando-se no carrinho de supermercado quando alguém esbarrou nele sem querer.
se virou espontaneamente ao sentir o toque suave em seu ombro. A moça lhe pediu desculpas e então ficou paralisada, com a mão estática sobre ele, mirando o fundo de seus olhos.

- . - Foi tudo o que a boca dela conseguiu pronunciar, balbuciando as quatro letras do paraíso.
- Yes? - Ele respondeu cerrando um pouco os olhos, como se estivesse tentando lembrar de onde conhecia aquele rosto... os lábios, o cabelo.

O momento pareceu hipnotizante e, de repente, estavam parados se observando. moveu a mão devagar e abriu um grande sorriso no mesmo ritmo. Seus olhos brilhavam e não conseguiu evitar tocar de leve o rosto do homem.
não soube o que fazer e sua reação foi tocar a mão suave que lhe acariciou e admirar a belíssima mulher a sua frente. Um barulho ao fundo fez com que despertassem e se recompôs recolhendo a mão e voltando a estendê-la para se apresentar, em seguida.

- . . – atendeu ao cumprimento - Não tive o prazer de me apresentar na ocasião, , mas fico feliz por poder agora. Sou sua fã. Sua fã brasileira.
Como se recordasse desde o vago até o completo, puxou na memória a imagem de uma moça que usava uma grande saia estampada e botas pretas. Os olhos eram os mesmos... a boca e o toque também. E ele soube por que o coração estava ligeiramente acelerado naquele dia.
- ?
teve muita emoção, mas havia prometido a si mesma que se o momento chegasse ela saberia como lidar com a situação. Afirmou com um balançar de cabeça, não desgrudava os olhos do rosto másculo daquele homem.

- Como vai você? Está vivendo em Los Angeles? - ele olhou o carrinho de compras da moça.
- Eu estou aqui por alguns dias. – Fez uma pausa olhando para ele - Nossa! Não pensei que você lembraria de mim, quer dizer, é incrível. - ela dispersou a tensão, fechando os olhos e soltando o ar com força - Será que você se incomoda em me dar um autógrafo? - indagou voltando a fitar o , especificamente nos lábios.
olhou para trás, procurando a esposa e não a avistou por perto. seria um problema em casa se a mulher, que andava com excesso de ciúmes, o visse conversando com uma fã tão... intensa quanto aquela. Pensando rápido, resolveu acabar logo com aquele momento, sem ser descortês.
- Sem problemas. Onde eu assino?

seguiu encarando o rosto de . A boca dele continuava igualzinha. Um traçado angelical, forte, másculo e aparentemente doce... talvez, picante, mas naquele momento, doce.
O percebeu que a mulher a sua frente estava hipnotizada, com o olhar parado em sua boca e aquele momento já estava começando a incomodá-lo. Não que ele estivesse se irritando, mas com certeza estava desconfortável com a possibilidade de sua mulher ou seus filhos chegarem.
- E então? - Apressou ele.
percebeu que havia divagado em possibilidades e que a havia trazido de volta ao mundo real. Sorriu. Não pegaria o autógrafo, porque aquilo seria fácil demais. E vazio demais, também.
Aproximando-se com rapidez, tocando o rosto dele com a mão direita, deu um curto e inesperado beijo nos lábios de .
O homem agiu por instinto e a afastou, depois olhou para a moça, abismado com o ato e com a pulsação ainda mais acelerada. Ela era louca!

- O que foi isso, caramba?
permaneceu em silêncio e em seus lábios brincava um sorriso atrevido.
- Nos encontramos em breve. – Disse encarando-o e saiu do mercado em disparada, sem levar nada.

***


ficou parado, constrangido e ligeiramente excitado por alguns segundos, até sua filha aparecer pulando e lhe pregando um susto. Praguejando irritado, o homem não sabia exatamente o que fazer, já que o corpo todo parecia ter recebido uma injeção de adrenalina.
- Onde está sua mãe? - Ele nem quis ouvir a felicidade da menina em encontrar um CD histórico nas prateleiras. A pequena apontou para o final do corredor e sentiu um vazio no estômago, pensando a quanto tempo poderia estar ali. Percebendo que sua esposa continuava empolgada com produtos, sem se dar conta de sua existência, sentiu-se aliviado e irritado.
Caminhou até a mulher dizendo que estava com dor de cabeça e que ela escolhesse logo, pois precisavam ir embora. Ela tentou questionar e propor que ficassem só mais 15 minutos e a encarou com legítima falta de paciência. Sem saber o motivo da fúria repentina e conhecendo seu marido, a mulher se absteve e disse que só passariam o que haviam comprado e sairiam logo em seguida.
Para , a fila do caixa pareceu infinita e sua ansiedade em sair daquele lugar só piorava. Como ela havia mexido tanto assim com ele? Como havia ressurgido do nada e se atrevido a tocá-lo, novamente? E o pior, dessa vez havia sido mais do que um abraço encorajador. Ela o havia beijado, ainda que apenas encostando os lábios, sim, ela o havia beijado... e aquela possibilidade já possuía um histórico de longas noites em sua memória. Um toque que agora possuía nome.

saiu saltitando do mercado, o Sol nunca havia brilhado tanto, assim como as flores jamais tiveram um perfume tão inspirador. Era uma primavera perfeita e o mundo era uma canção. Uau! Ela havia mesmo beijado ? Nossa, era o seu sonho desde criancinha ter um homem como aquele a seu lado ou, ainda melhor, em seus braços!
A brasileira parou de andar quando percebeu que já havia passado três quadras de sua casa. Deu meia volta e fez outra dança comemorativa, no meio da rua, feliz como uma criança que havia roubado um doce. E que doce! Mas aquilo não era nada. Não, ainda. Afinal, sabia que poderia mais. Muito mais.

Não que fosse a melhor atitude a ser tomada na vida, mas, quando duas pessoas se sentem atraídas e querem estar juntas, não há porque sentir-se acorrentado em fingir uma lealdade sóbria. Mesmo porque não seria definitivo, nem casual, apenas momentâneo. Assim como o encontro em : um inesquecível momento de entrega intersentimental. Ela estava demasiado poética naquele momento.

soltou uma gargalhada, enquanto deschaveava a porta. Era uma boba em pensar essas coisas. Mas de que valia ficar presa ao que a sociedade esperava dela, quando, na verdade não estava, de fato, fazendo mal a ninguém? Claro que o homem era casado e pai de dois filhos, mas ela não era uma ladra de maridos e nem queria que ele deixasse de ser pai de ninguém. Apenas investira em sentir novamente a energia positiva que fluía dos dois quando existia... toque.

- Um ponto de equilíbrio. - Pensou em voz alta, jogando a bolsa no sofá e arrancando os sapatos dos pés. Prenderia o cabelo, arrancaria a blusa e dançaria a tarde toda, feliz e louca. Até que a excitação fosse embora e a calmaria a invadisse em um sorriso.
Realmente parecia um belo ponto de equilíbrio, talvez o mais intenso e perfeito que ela já havia encontrado, tocado e sentido.
Era nítido que se completavam e, naquelas circunstâncias, talvez isso fosse um belo problema.

acendeu um cigarro após o outro. Não conseguia tirar o rosto dela da mente. As mãos, a boca. Como ela conseguia ser tão linda, tão jovem, tão... dele?
Irritado com os pensamentos, jogou a bituca pela sacada, tirou a roupa e caminhou para a suíte, abrindo a ducha gelada. Ele precisava esfriar a cabeça e o corpo.
Tinha uma família e uma carreira. Com certeza eram dois excelentes motivos para não se sentir tentado a rodar o bairro todo em busca do lugar em que ela havia se escondido. Então estava em Los Angeles? E morava por perto. Ou só estava passando pelo mercado? Não, havia um carrinho de compras... que ela deixou no mercado depois de roubar-lhe o beijo.
Droga! Não conseguia se concentrar em qualquer outra imagem. Até as formas no azulejo pareciam ter os traços do rosto dela. Os olhos. Em especial os olhos. Mas e a boca? O cabelo? A textura macia das mãos? Por que ele, entre todos os homens bem casados e apaixonados por suas famílias no mundo? Aquela mulher voltaria a ser um tormento para suas noites de sono e dessa vez não era apenas uma fã que morava do outro lado do continente. Dessa vez era uma mulher que vivia a alguns metros ou quilômetros de sua casa.

esperou que ele se enrolasse no roupão e fosse até a estante, pegar outro cigarro. Ela sabia que havia acontecido alguma coisa no mercado, não devia ser impaciência pelas compras dela, afinal, aquela também era a casa dele, não era? Nada mais natural do que gastar o dinheiro vivendo bem, em um ambiente agradável e confortável.
Seria uma mulher?
Não. sempre andava encanada com isso de "existe outra" e, mais de um milhão de vezes, garantiu que era ela, e apenas ela, a mulher de sua vida.
- Acho que precisamos conversar.
Era inevitável: ela perguntaria. Sempre perguntava. Estava ali, a qualquer momento, para qualquer assunto, a sua disposição como mãe, amiga e mulher. O que mais ele poderia desejar? De quem mais precisava? era sua mulher. A mãe de seus filhos. De suas maiores joias.
Ele devia estar louco em cogitar a hipótese de pegar o carro e ir atrás de um vestígio que fosse... da outra.

- Eu não estava me sentindo bem.
Realmente não se sentia bem e agora estava tentando mentir para sua esposa. Questionava-se internamente qual porcaria estaria fazendo naquele momento. não era uma adolescente tapada. Sua mulher tinha mais de 30 anos e dois filhos, ela certamente saberia quando o seu homem cogitava a hipótese de enrolá-la.
- Eu proponho que você seja honesto, .
Seu nome dito com todas as letras pelos lábios da esposa era bem pior de ouvir do que quando aprontava na infância e tinha a orelha quase arrancada pela mãe.
- Eu realmente não me senti bem. Ainda não estou bem. - Não era mentira, era? tentaria se manter o mais transparente possível.
- Certo, e o que aconteceu?

Ele respirou fundo, procurava uma camisa, agora. A calça já estava no corpo e os cabelos molhados estavam desgrenhados após terem sido rapidamente mal secos pela toalha. estava lindo. Permanecia tão lindo quanto da primeira vez em que o vira. Era sempre apaixonante reencontrar o seu homem e mais ainda viver com ele; tornara-se o maior presente de sua vida.
se aproximou do marido e acariciou seu cabelo, chamando os olhos dele para os seus.

- Não vai confiar em mim?
Ela aproximou os lábios e puxou a mulher para o seu corpo, beijando-lhe com excesso de expectativas. Queria mergulhar naquilo que era realmente seu, que lhe pertencia. era a mulher de sua vida e ele não esqueceria esse princípio. Além disso, já havia conhecido outras mulheres maravilhosas ao decorrer da vida, não havia? E ainda assim estava intacto. Não seria uma brasileira vinda dos fundos de lugar nenhum que o tiraria do chão e o faria sentir como um adolescente, ainda que, naquele exato momento, sua barriga estivesse repleta de borboletas ao imaginar os lábios de outra, quando tinha em sua boca os lábios de sua mulher.
- Não.
Ele disse ríspido consigo mesmo, xingando-se por ter se deixado levar pelo desejo; de alguma maneira sabia que a garota voltaria. Soube desde a primeira vez que seus olhos se cruzaram.
foi afastada pela palavra negativa que havia cortado o beijo, ela estava pálida e seus olhos assustados ao observar os traços que denunciavam os pensamentos de seu marido. Podia ver que havia, finalmente, acontecido o pior.
- Quem é ela?
Disse irritada e prestes a chorar. Acabara de ser humilhada, afastada pelo marido no momento de um beijo ardente, que agora ela sabia não ter lhe pertencido. Enfurecida e em pânico, estapeou os ombros daquele que já não era seu homem:
- Quem é? Me diga, quem é?
segurou os pulsos da mulher, cuidando para não machucá-la, embora tivesse certeza de que já havia feito isso, internamente.

- Não há ninguém, por favor, . Pare com isso.
Rendendo-se a emoção, sentou-se na cama encobrindo o rosto e chorando. Ela sempre soube que algo assim aconteceria. Era o que mais temia, dia após dia, ao vê-lo sair pela porta com as roupas na mala, prestes a viajar pelo mundo, com sua banda.
Sem saber o que fazer, pegou a chave da moto e desceu as escadas. Não ficaria ali ou as reações poderiam ser piores. continuou chorando na cama: seu mundo havia caído.

pediu pizza. Nada mais sensacionalmente delicioso do que pizza para comemorar aquele dia. Só de lembrar da cara de quando ela tocou os lábios nos dele, tinha um colapso nervoso.
- Ele é lindo demais! Nossa.
Falava sozinha, enquanto terminava de limpar a casa. Gostava de fazer faxina noturna, já que costumava trabalhar a manhã toda e aproveitar a tarde pelas ruas de Los Angeles.
Ouviu uma buzina de moto e saiu. Era o entregador mexicano, um amigo de albergue com quem ela saiu uma ou duas noites.
- De frango e especial, como sempre.
- Exatamente. - Ela deu um beijo no rosto do entregador que correspondeu, sem deixar de desgrudar os olhos das pernas da mulher que usava shorts e camiseta.
- Está animada hoje, em ? Festinha com as amigas?
fez que não com a cabeça, arqueando sua sobrancelha, com um sorriso sapeca que fez o mexicano quase cair da moto.
- Minha festinha é VIP e a única mulher sou eu. - Engolindo saliva, o homem que já havia tentado, inutilmente, beijar aquela boca, desceu da moto.
- Nossa, hoje você está perigosa, brasileira!
- Quem sabe. - Ela piscou e pagou a pizza, enquanto o entregador conferia o pedido e pegava a caixa.

acelerava em sua Harley. Ainda não sabia como havia lhe convencido de praticar com os outros anjos, mas já havia seis meses que sua vida era uma emocionante corrida pelas estradas americanas.
Era muito bom se sentir livre, sozinho, completo. Talvez um dia soltasse os guidões e abrisse os braços, na esperança de que a adrenalina continuasse e ele levantasse voo. Era uma sensação inexplicável e correr com sua moto era tudo o que ele precisava naquele momento.
O homem desacelerou a gigante motocicleta e parou em um sinal na fronteira do município. Estava longe de casa, prestes a sair de Los Angeles. Deveria voltar, pois sua mulher estava lhe esperando e esperava, também, por uma explicação. Mas o que ele diria? Falaria sobre a emoção que sentiu no Brasil e sobre como aquele sentimento começou... com a .

- Não posso.
Desistindo de sair e sem coragem para voltar, fez o retorno e parou para abastecer cinco quilômetros depois do contorno.
Desceu da moto para esperar o entregador de pizza que estava em sua frente abastecendo. Pelo sotaque, parecia um latino; tinha os cabelos sedosos e um ar espanhol.
- A mulher é uma máquina, cara. Eu vou ficar louco.
O estrangeiro conversava com um dos atendentes do posto e parou para prestar atenção, já que tinha de esperar.
- E ela não te convidou pra entrar?
- A ? Hãm. Quem me dera.
O coração de deu um pulo e sua barriga, relembrando os tempos de insegurança da adolescência, fez um nó que subiu até a garganta. ! Ela havia se apresentado e se chamava .
Maldição! Seria coincidência demais, a cidade era gigantesca e... mas que droga, o bairro em que estava era muito próximo ao supermercado. Não podia ser. Será que a era a mesma? Ele teria de conferir.
Os homens já haviam trocado de assunto e o entregador saia da bomba enquanto se decidia entre questionar ou não. Qual era o sobrenome mesmo?

- Pra você ver, cara, o time estava uma porcaria, eu falei que aquela substituição...
- Com licença. - ganhou a atenção do entregador. - Será que você conhece uma moça que mora por aqui? Ela é alta, , cabelos compridos...
- Qual é o nome dela, cara?
- . Não lembro o sobrenome.
Intrigado com o sujeito que procurava , Alonso resolveu não falar nada. O cara podia ter ouvido-o falando das pernas e da mulher estar sozinha, talvez o safado quisesse aprontar alguma, sabe-se lá que tipo de americano era aquele. Investigaria...
- O que você quer com ela, meu chapa?
Alonso tinha um perfil de lutador de lucha libre e já estava encarando . Entendendo a reação de defesa, tratou de se explicar, embora nem ele soubesse o que queria...

- Fica calmo, amigo. Eu estou procurando por ela e ouvi você comentando sobre alguém com o mesmo nome. Pode não ser a mesma pessoa.
- De onde você a conhece? - Perguntou investigando, enquanto o atendente do posto sorria, esperando uma briga entre o grandão cabeludo e o pequeno enfunado.
- Conheci no Brasil. Quer dizer, essa que eu estou procurando é brasileira.
Alonso mudou a feição e abriu um sorriso inocente.
- Ah, mas então é ela mesmo! Você sabe onde ela mora?

viu o homem, mais do que depressa, indicar a localização da mulher. Ficou surpreso com a facilidade que os latinos tinham de confiar informações, o entregador chegou a fazer alguns comentários sobre a postura da garota, elogiar novamente as pernas dela e, em seguida, saiu para mais uma entrega atrasada.
mal pode acreditar que tinha o telefone e o endereço de bem em suas mãos. O mexicano - agora ele sabia - havia sido muito despreparado em contar tantas informações em tão pouco tempo, além de revelar os dados cadastrais de um cliente, ainda que essa cliente em especial, fosse amiga dele antes de que se torna-se entregador.
De qualquer maneira. Agora era oficial: estava enrascado.

estava cheia. Havia comido duas fatias da pizza gigante e não pode sequer chegar perto de mais nenhuma. Sua mania de fazer dietas fez com que o apetite nunca mais fosse o mesmo e comprar pizza gigante só era um vício, porque para comer tudo levava uma semana, entre café e jantar.
A campainha tocou. vestia uma camisola bordô e em sua TV passava um episódio de Friends. Ela levantou do sofá descalça, a pizza ainda estava sobre a mesinha da sala, com a caixa aberta e o copo de coca pela metade.

ficou estático. Não conseguia entender o impulso até o momento de revê-la cara a cara. Nenhuma imagem que vinha a sua mente poderia ser tão nítida e perfeita quanto a original, ainda que as imagens viessem o tempo todo desde à tarde.
O céu já estava com um tom enegrecido há duas horas e as estrelas brilhavam enérgicas, em uma noite sem lua.
Ficaram se olhando por um tempo infinito, enquanto o coração de tamborilava acelerado. estava em sua porta. estava em sua porta. Era quase um mantra em sua cabeça, porque estava, realmente, em sua porta.
- Oh, meu Deus!
soltou a exclamação e se jogou nos braços do homem que, com um abraço apertado e afundando o rosto nos cabelos dela, segurou a brasileira com força.
não evitou o desejo de prender seus dedos nos cabelos da nuca do e, com um movimento leve, enlaçar suas pernas na cintura do californiano.

Com a respiração falha, lembrando a ansiedade que sentia enquanto pilotava até ali, além das palavras do mexicano, que ainda ecoavam em sua mente "as pernas, as pernas...", deixou uma de suas mãos escorregar para a fração de pele descoberta, que estava colada a seu corpo, deixando-se desfrutar de um passeio com a ponta dos dedos pela perna esquerda da .
sentiu o corpo estremecer e segurou-se a ele com mais força, soltando um suspiro e o apelido entredentes.
- .
A boca dela não resistia, estava com sede. Ele teria de ceder, teria de aceitar. E ela se entregou completamente com os lábios mergulhados nos dele. O homem desfrutava do beijo moderado e completo da mulher, enquanto seu corpo entrava na casa e fechava a porta atrás de si com o pé. estava equilibrada no colo dele, com as pernas presas em contato com a jaqueta de couro, os dedos envoltos nos cabelos e a boca trabalhando exaustivamente.
Parando para respirar, com o peito arfando, permanecia no colo de , agora abraçada a seu corpo.
- Eu não resisti.
Ele dizia exausto, com a voz rouca e forte, demonstrando o quão apavorantemente excitado estava. Não era uma notícia boa, a julgar pelo tom de voz que a proferia. Ele não ter resistido parecia um insulto e foi nesse momento que teve medo do homem a quem abraçava.
Afastando-se para mirá-lo, a brasileira percebeu um semblante fechado e de olhos brilhantes. Os olhos eram perigosos.
- Não foi culpa sua. - Ela queria acalmá-lo, mas não fazia ideia do que fazer, então saltou do colo e separou-se do homem, depois de deixar seu corpo colado ao dele por mais um segundo.
- Preciso de um cigarro.
não fumava e não podia ajudar.
- Eu não tenho. Desculpe.
- Não se desculpe. - Ele parecia furioso, segurando nas costas de uma cadeira e olhando para o chão.
Aproximar-se talvez não fosse uma boa ideia, mas era tudo o que poderia oferecer naquela situação.

- Eu sinto muito, .
Ele queria odiá-la pelo que tinha feito, mas dessa vez havia sido sua própria culpa. Por que não resistiu? Por que foi até ela? Era tarde para lamentar, pois estava lá e ele sabia que a noite não acabaria ali.
- Não se desculpe. Eu vim aqui... vim porque... - Era uma resposta que ele não havia encontrado em todo o trajeto. Por que, afinal, estava ali?

se aproximou, tirando as mãos de da cadeira e segurando-as, esperou que ele olhasse para os olhos dela, para então sorrir, exatamente como havia feito da primeira vez que se viram. E, assim como da primeira vez, os dois se abraçaram tornando-se completos.
Ele deixou seus dedos passearem pelos cabelos dela e ela afundou seu rosto no pescoço dele, pois precisavam desse contato e desse carinho.
delirava com o perfume e a fragrância indescritível da mulher, que mesclava o aroma delicado de perfume ao cheiro suave do shampoo em seus cabelos macios. também se perdia no cheiro que reconhecia de sonhos, de expectativas e de ilusões.
Haviam se reencontrado e estavam um para o outro, como o Sol está para a Lua.
- Preciso ir. - Ele disse, mesmo contra sua vontade. Se permanecesse ali faria uma loucura. Precisava pensar nos filhos, no amor de sua família. Ainda que jamais o perdoasse, precisava voltar para as crianças, para o seu lar.

puxou o homem mais para si, como se fosse possível fundir-se ainda mais àquela pele que a chamava e implorava por seu carinho.
- Não vá. Eu preciso de você. - Soltou em um sussurro e o homem viu sua sanidade ser borrada por uma explosão de luz.

O baile de línguas voltou a imperar, sob a constância de sons guturais e gemidos ocasionais que compassavam com as mãos entrecorpos. Ela lembrava tocando e explodia em emoções delirantes, imaginando o que seria capaz de fazer quando o instrumento fosse o seu corpo. Faria sua sanidade ir embora em minutos... segundos.
, por sua vez, tinha a sede de desvendar aquele mistério. A mulher que se mantinha desconhecida, mas que parecia ser parte de sua vida há mais tempo do que recordava ter vivido, era uma caixa de surpresas irresistível a seus instintos. Temia descobrir que jamais a leria por completo e que, assim, a livro não tivesse fim.
A sala foi palco do encontro de toques e sensações entre e . Os amantes se entregaram tão completamente quanto em sonhos, realizando as vontades que os corpos, a mente e o coração proferiam para o momento. Naquela noite de céu estrelado e sem Lua, seres místicos comentavam a união de dois mundos em um ato de paixão, desejo e loucura.


Fim


Nota da autora: Sonhos devem ser planejados. O mundo conspira a favor daquilo que você deseja, acredite. Eu acreditei e continuo esperançosa, crendo e projetando.
Quando conheci o Matt todos os sonhos pareceram uma caixa de lápis de cor em minhas mãos. Eu pintei o destino e ofereço a vocês um terço do que é sentir que seu presente está em seus braços.
Nunca foi tão intenso. Nunca foi tão chocante, nem tão abençoado, nem tão certo. Foi apaixonante e só quem estava lá testemunhou. Porque tinha que ser assim.
Abençoadas sejam.
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