Última atualização: 4/03/2018
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Capítulo 1


Ser um herói é algo muito maior do que apenas combater vilões. É uma tarefa de altruísmo e sacrifício que exige bem mais do que qualquer um pode imaginar. Para ser um herói não basta apenas força física, inteligência ou poderes sobrenaturais; é preciso compaixão, sabedoria, dedicação total e persistência imensurável. É preciso saber lutar com o poder que vem do coração. Ter coragem para fazer a coisa certa mesmo nos momentos mais difíceis. Deixar de lado a individualidade e doar-se inteiramente para ajudar os outros, com a sua vida se for preciso. É um sacrifício de tempo, do corpo, da alma, do ser inteiro, por um completo desconhecido.
Ninguém imagina quantas concessões um herói tem que fazer para que possa exercer seu papel. O perigo a que ele se expõe diariamente – e expõe aqueles que ama também. Os dias e noites de intenso treinamento, pois uma mínima falha pode custar a vida de alguém. Os sentimentos e histórias que precisa deixar de lado para que possa desempenhar seu trabalho com foco. Todas as decisões difíceis que precisam ser tomadas, algumas que podem atormentá-lo para sempre. O investimento total de si mesmo na humanidade, acreditando sempre que salvá-la tornará o mundo melhor.
Oh, sim, a fé na humanidade. Como é fácil perdê-la. Quando se é um herói, as histórias e barbáries vistas ao longo da jornada levantam a questão se persistir no ser humano é mesmo a escolha certa a fazer. Humanos são capazes de coisas incríveis, e quando unidos tem um enorme potencial para o bem; porém, eles também são autodestrutivos, perigosos e volúveis. Na maioria das vezes, precisam ser salvos deles mesmos. Será que toda a dedicação de um herói vale mesmo a pena, para salvar um ser tão imprevisível?
Eles acreditam que sim. Porém, os homens não sabem se devem retribuir a convicção na mesma intensidade. Pode a humanidade confiar suas vidas à extraordinários desconhecidos, sem nenhuma garantia de sucesso em sua proteção? Podem levantar a bandeira de heróis sem saber se não acabarão fazendo parte da estatística de fatalidades inevitáveis durante um combate? Sem saber se seus filhos e filhas estarão devidamente protegidos com a presença deles, ou expostos a mais perigo ainda?
Há anos a população mundial se pergunta. Desde o surgimento dos Vingadores, muita coisa mudou ao redor do globo. Para alguns, ele ficou mais seguro e protegido. Homem de Ferro, Thor e outros super-humanos treinados fazem parte de uma equipe destinada à proteger as pessoas quando desastres acontecem, muito melhor do que um exército humano o faria; para outros, se tornou ainda mais perigoso e incontrolável, seres como o Hulk andam por aí sem nenhum tipo de controle sobre seus poderes e podem muito bem causar um estrago muito grande, mais do que aquele que vieram remediar. Fato é que os heróis existem, e estão - ao menos tentando - manter todos à salvo. Porém, até mesmo eles entram em colapso, principalmente quando os acontecimentos trazem à tona o seu lado mais humano.
A equipe dos heróis mais poderosos da Terra está dividida ao meio. De um lado, estão aqueles que acreditam que os heróis devem ter o controle sobre os humanos para que possam protegê-los da melhor forma. Do outro, ficam os que defendem a liberdade dos homens de escolherem como e quando querem ser salvos. A notícia se espalhou e a opinião geral se dividiu em igual escala. Porém, há decisões definitivas: Steve Rogers, conhecido como Capitão América, é um fugitivo procurado pelo mundo todo, assim como todos aqueles que ficaram ao seu lado durante a batalha que dividiu os Vingadores. Ninguém sabe o que aconteceu depois que os heróis fugiram de sua prisão secreta e seu paradeiro ainda é desconhecido – mas nunca deixou de ser procurado.
Já a parte da equipe que decidiu manter-se dentro da lei e das rédeas do governo, liderada por Tony Stark, assinou o Tratado de Sokovia e agora atua em parceria com o governo, tendo suas missões subordinadas ao Conselho de Segurança da ONU. Como um exército de reserva, os Vingadores só atuam quando acionados pelo CSNU, em situações em que a segurança exclusivamente humana não foi capaz de conter os estragos. A equipe foi instalada em uma nova base ao norte dos Estados Unidos, em Massachussets, onde dispõe das mais modernas tecnologias e da mais alta segurança para realizar seus treinamentos e aprimorar seus poderes – tudo para que, quando chamados, possam proteger a humanidade da forma mais efetiva possível.
Uma nova equipe de inteligência foi designada para auxiliar nesse trabalho. Algumas das mentes mais brilhantes do mercado agora ajudam os heróis, enriquecendo seu poder e precisão de defesa. Físicos e engenheiros das mais renomadas universidades desenvolvem projetos de tecnologia e são responsáveis pela segurança e administração da base. Tudo isso é investido para que a eficácia dos Vingadores cresça o máximo possível, na intenção de que a opinião pública, tão dividida a respeito deles, seja amenizada, e para que a humanidade se sinta realmente segura nas mãos dos heróis.
Todas essas mudanças também acarretaram questões internas da equipe. Thor e Hulk, que estavam ausentes durante o processo de cisão dos Vingadores, retornaram após os eventos de Ragnarok e integram o grupo novamente. Vivendo na base onde tudo acontece, eles juntaram-se a Natasha Romanoff, Visão e Tony Stark. Porém, apesar de unida pelo mesmo ideal, a equipe parece estar com a sua coesão abalada - não só por ter sido recentemente dividida, mas por conta de seu líder, Stark, parecer cada vez mais distante do resto do grupo.
Talvez abalado ou preocupado com os recentes acontecimentos, o comportamento de Tony (que já é suficientemente excêntrico) tem alarmado seus colegas de equipe. Há alguns meses todos desconfiam de seu isolamento e seus muitos segredos, e alimentam boatos de que Stark esconde algo, mas tenta manter as aparências para não ser questionado. Apesar da preocupação, nunca houve interferência de ninguém no assunto, pois só os heróis sabem o fardo que carregam por serem eles mesmos.

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As experiências de ser um herói, com seus bônus, alguns sacrifícios e muitos aprendizados, são novidades das quais Peter Parker recentemente começou a desfrutar. Este universo passou a fazer parte de sua vida desde que o Homem Aranha se tornou o mais novo membro oficial dos Vingadores - desta vez de forma definitiva. Após sua primeira missão sozinho, o jovem aracnídeo havia escolhido afastar-se dos grandes combates por um tempo. Passou alguns meses sendo apenas um amigo da vizinhança, ganhando experiência e vivendo sua pacata vida de nerd do ensino médio, até que decidiu que estava pronto para dar um passo à frente. O garoto aceitou o convite feito por Tony Stark alguns anos antes e mudou-se da casa de sua tia May para viver com os Vingadores na sua nova sede em Massachussets.
Aquela era a vida dos seus sonhos. Parker está no último ano do ensino médio, e com uma leve ajudinha de Stark e seus antigos colegas de faculdade, entrou em um programa de senior year para jovens talentos no MIT. Agora, o garoto concilia os estudos em uma das melhores universidades do mundo com os afazeres de herói, praticando e aprimorando seus poderes no centro de treinamento. Por ser muito inteligente, Peter recebeu de Stark um convite para fazer parte da equipe de inovações tecnológicas dos Vingadores, especialmente por seus conhecimentos de computação. Tratava-se de um estágio de horas complementares na central de controle - desta vez, um estágio de verdade - que contaria como créditos para seu curso na faculdade no ano seguinte.
A luz do sol invadia a sala pelas grandes janelas e refletia no quadro negro repleto de cálculos e fórmulas, quando o sinal soou. Já eram duas da tarde, o que significava que era hora de voltar para a base para completar os relatórios sobre o novo gerador de energia do centro de treinamento. Peter pegou sua mochila e saiu da sala de Cálculo III em direção ao corredor central, caminhando pelo campus arborizado. Subiu em sua bicicleta e após algumas pedaladas pelos enormes jardins da universidade, pegou a avenida principal. Sua cabeça estava ocupada com o entusiasmo pela ótima aula sobre equações derivadas (o que era de se esperar, visto o nerd que era), e também pela preocupação em fazer com que o gerador da sala de treinamento não pifasse com os raios do Thor.
Peter chegou até os portões da base Vingadores e identificou-se, como de costume, entrando logo em seguida. Foi até seu dormitório, deixou a mochila e dirigiu-se até a enorme sala de vidro onde reside a equipe de inovações, para continuar seu trabalho. O ambiente amplo e ensolarado parecia despertar de alguma forma a sua inspiração para cálculos matemáticos e aquilo o deixava com ainda mais vontade de trabalhar. Ele sentou-se em sua cadeira giratória, deu um peteleco na cabeça balançante de seu bonequinho do Darth Vader e deixou sua mente começar a funcionar.
Apesar da mesa atolada em papéis e calculadoras (típica desorganização adolescente), Parker finalizou seu relatório sobre o gerador que ajudara a desenvolver antes do final do dia. Logo já o tinha impresso e prontinho para ser apresentado. Ele encarou a pilha de folhas, orgulhoso do resultado. Largou o lápis e foi até a mesa da responsável pelo departamento, pelos corredores estreitos que dividiam as dezenas de nerds trabalhando.
- Srta. McCall, o levantamento de dados sobre o novo gerador. - disse ele indicando a papelada, dirigindo-se à moça sentada do outro lado.
- Colocou o isolante para raios? - perguntou, e ele assentiu. - Ótimo, pode colocar na mesa. Obrigada. - disse a moça impassível sem desviar-se do computador, concentrada no que quer que estivesse fazendo.
A garota responsável pelo setor de inovações era notavelmente jovem, algo em que Peter reparara mais uma vez ao falar com ela - afinal, é bem estranho chamar alguém que tem quase a sua idade de "senhorita". Ele já tinha a visto antes, e tinha quase certeza de que ela também estudava no MIT, em algum curso que ele não sabia dizer. Ela era mesmo muito nova, e devia ser também incrivelmente inteligente, afinal, chefiava engenheiros ali com o dobro de sua idade. Constatar aquilo fez com que Parker tivesse um pequeno lapso de incentivo, afinal, quem sabe ele pudesse, em breve, chefiar um departamento inteiro também.
O garoto saiu dali e dirigiu-se até a sua mesa, onde encontrou um de seus supervisores esperando-o.
- Sr. Parker, reunião dos Vingadores na sala de estratégias. – disse o homem engravatado, e Peter reagiu de prontidão. Largou suas calculadoras e foi rapidamente até o outro lado do prédio, onde o dever o chamava.
A sala de estratégias possuía uma mesa grande e comprida no centro, onde se sentavam Thor, Banner, Romanoff, Visão e Stark, à espera do garoto. Só faltava ele para que o grupo estivesse completo e a reunião pudesse começar.
Peter sentou-se na cadeira vaga mais próxima e observou enquanto dois executivos de terno entravam na sala, fechando a porta. Normalmente, quando caras como aqueles apareciam para assistir às reuniões, era porque o assunto era muito importante. Curioso, o garoto desejou internamente que fosse uma convocação para uma nova missão - algo que não aparecia há tempos. A tela de vidro na parede frontal à mesa foi acionada, para iniciar uma videoconferência.
- Boa tarde, Vingadores. - disse formalmente o homem do vídeo e todos responderam. O sujeito de meia idade usando um terno caro sentado em uma cadeira de couro já era conhecido. Aquele era o embaixador Thomas Callahan, presidente do Conselho de Segurança, que era responsável por fazer o contato entre a ONU e os Vingadores. - Agradeço a disponibilidade de todos para que pudéssemos fazer esta reunião.
-Nós é que agradecemos, embaixador. - disse Banner, ajeitando-se na cadeira.
- Pois bem. Como sabem, nosso trabalho aqui tem sido realizado nos últimos anos de modo a tentar deixar a equipe dos Vingadores o mais próximo possível da sociedade. - o embaixador disse em tom introdutório. - Temos conseguido ótimos resultados desde então, porém, ainda há muito a ser feito. Desde o último combate em Sokovia, a população tem dividido opiniões em relação aos Vingadores protegendo a humanidade. Grande parte do medo que os rodeia parte daquilo que não conhecem. A equipe é blindada, trabalha em segredo e estes segredos tem deixado as pessoas inseguras. Ninguém sabe como as coisas são feitas, como os componentes da equipe são controlados e se a presença deles pode acarretar perigo ao invés de segurança, ou não. A reunião de hoje visa tratar desse assunto. Com o intuito de quebrar essas barreiras e aumentar a confiança da população na equipe, o governo dos Estados Unidos está organizando um evento em homenagem aos heróis, com um desfile a ser realizado em Washington, na Avenida Pensilvânia, durante o Veterans Day deste ano. Como o feriado homenageia pessoas que lutaram pela segurança e estabilidade do país durante a guerra, acreditamos que um destaque especial aos Vingadores poderia contribuir para um maior reconhecimento da equipe.
Os cinco heróis sentados à mesa entreolharam-se, sem manifestar. O embaixador continuou a falar, enquanto um dos seguranças engravatados abriu a porta da sala.
- Para organizar o desfile, estivemos em contato com a responsável técnica do departamento de equipamentos e inovações dos Vingadores, Olivia McCall. - apresentou Callahan, enquanto a moça adentrou a sala e caminhou até próximo da tela de projeção. - Pensamos que se vocês apresentarem algumas de suas novas tecnologias de batalha durante o evento, as pessoas ficariam impressionadas e isso inspiraria mais confiança. Obrigada pela presença, Srta. McCall. - o embaixador dirigiu-se a ela. - Mostre-nos o que sua equipe desenvolveu.
- Obrigada, embaixador Callahan. - disse ela. Aquela era a garota para quem Peter entregara os relatórios há pouco. - Boa tarde, Vingadores. Como todos sabem, o departamento de inovações tem trabalhado incansavelmente para desenvolver as mais avançadas tecnologias de batalha para a equipe. Acreditamos que exibir algumas de nossas criações pode ser vantajoso para vocês, no entanto, mostrar demais poderia comprometer a estratégia de combate e possíveis elementos surpresa. Dito isso, nossa equipe idealizou algumas possibilidades. - explicou a jovem, segurando uma espécie de tablet de vidro na mão. Com um toque, ela ativou um projetor de realidade aumentada no centro da mesa que exibiu algumas imagens. - Pensamos que o desfile poderia ser liderado por alguns soldados de ferro organizados em filas. Inspirados na armadura do Homem de Ferro, esses soldados foram aprimorados e possuem todos os acessórios para que deem assistência à população durante um combate. A maior inovação é que agora os robôs redefinem suas armaduras e permitem que cidadãos entrem nelas ou usem suas partes importantes para se protegerem, até serem levados para uma região segura. - enquanto ela explicava isso, imagens detalhadas do projeto dos robôs eram exibidas no projetor 3D.
- Com licença, Srta. McCall – Thor interrompeu a explicação, erguendo a mão com um pouco de receio. - Sei que a questão aqui é o desfile e não o armamento, mas isso me ocorreu agora... e se as pessoas que usarem a armadura pra proteção durante o combate não devolverem o pedaço que pegaram?
- Como assim? Elas levariam embora, tipo um souvenir de "meu primeiro ataque alienígena"? - questionou Banner. - Pra quê?
- Bom, existem várias possibilidades. Roubar nossa tecnologia, ameaçar os vizinhos... - Thor explicou seu ponto de vista.
- Os soldados de ferro se reconstituem depois de levarem as pessoas até um lugar seguro. Caso alguém decida roubar uma parte, o robô pode localizá-la por GPS e tirar satisfações pessoalmente com quem tiver roubado seu acessório. - explicou a garota, com um sorriso contido no rosto.
- Quem seria estúpido a ponto de roubar um robô de guerra indestrutível? - questionou Visão.
- Vamos voltar à reunião? - sugeriu Romanoff com as sobrancelhas erguidas, após observar certa impaciência por parte do embaixador. Todos se ativeram novamente à fala da Srta. McCall.
- Outra ideia do setor de inovações é a respeito da chegada dos heróis. Recentemente a equipe desenvolveu um novo motor para os jatos oficiais, centenas de vezes mais potente. Na utilização em missões, o novo jato vai permitir que voem de um lado ao outro do globo em poucas horas. Isso vai agilizar as missões e fazer com que cheguem mais rápido a qualquer lugar que esteja sendo atacado, podendo conter a ameaça com mais eficácia. - a garota dizia enquanto caminhava ao redor da mesa. Uma imagem enorme do jato e seu novo motor se exibia. - A sugestão é que a equipe chegue em um desses jatos, pois além de ser muito rápido, ele ainda possui um design interessante que vai surpreender o público. - finalizou a Srta. McCall, desligando o projetor de mesa.
- Senhor Callahan, não quero ser estraga-prazeres aqui, mas o governo acha mesmo uma boa ideia colocar uma equipe de super-heróis para desfilar em uma avenida pela imagem? - questionou Romanoff com o semblante fechado.
- Não era nossa primeira opção também, agente Romanoff, mas precisamos colocar os Vingadores em contato mais direto com as pessoas. A sociedade precisa parar de vê-los apenas em situações de risco ou tragédia. A imagem da equipe precisa ser associada à segurança e coisas boas, e não à catástrofes. - explicou o embaixador. - O que mais tem para nos apresentar, Srta. McCall?
- Essas são as principais ideias, Sr. Callahan. Os outros projetos dizem respeito aos trajes de cada herói, então serão discutidos com eles depois.
- Muito bem. Obrigado pelo seu trabalho, mande elogios ao departamento. - agradeceu o homem. - Acredito que este evento pode ser o início de uma fase mais favorável aos Vingadores. Sei que não é exatamente o que vocês queriam, mas alguma coisa precisa ser feita. Não temos como prever quando um novo ataque alienígena pode ocorrer, mas quando isso acontecer, precisamos de toda a população ao nosso lado. - Callahan fez uma pausa. - Mais detalhes serão discutidos ao longo da semana para fecharmos o projeto em definitivo. Tenham uma coisa em mente, guerreiros: não adianta querer salvar a humanidade, se a humanidade não quer ser salva por vocês. Tenham uma boa tarde. - concluiu o embaixador, desligando a conexão logo em seguida.
Alguns segundos de silêncio seguiram, até que um dos heróis decidiu se pronunciar.
- Não vamos fazer isso, não é? - questionou Visão.
- Acho que não temos escolha. Nossa presença já foi anunciada. - disse Peter, mostrando a notícia em um jornal virtual que acabara de abrir no celular.
- Gente famosa cancela eventos o tempo todo. - constatou Banner. - É até bom pro status.
- Stark, foi você quem concordou com isso? - perguntou Romanoff olhando feio para ele.
- Ah, parem de reclamar, não é como se fossemos fazer isso pra sempre. Andem, a reunião está encerrada. - protestou Stark, fazendo todos se levantarem. - Não é tão ruim. Não sei quanto a vocês, mas eu mal posso esperar pra ver o Banner desfilando numa avenida e acenando para as pessoas como se fosse sociável.
- Se por acaso você ficar grudado na sua armadura e não conseguir mais sair depois do desfile, a culpa não será minha. - respondeu Banner saindo da sala, fazendo Thor rir.
Os Vingadores caminharam em direção à porta, a maioria com caras bem insatisfeitas. Porém, não adiantaria discutir: ultimamente, sempre que Stark mandava todos saírem era porque a decisão já tinha sido tomada e nem longas argumentações mudariam sua palavra final. Pouco a pouco, todos foram se retirando da sala de estratégias e Peter foi o último a ficar. Quando o garoto estava quase saindo, Stark o parou.
-Ei, pirralho – ele chamou, fazendo Parker dar meia volta. - Queria falar com você sobre uma coisa.
O rapaz entrou na sala novamente, parando em frente à mesa.
- Pois não, Sr. Stark? - ele olhou para o homem ainda sentado.
- Queria te atualizar sobre o andamento dos testes do seu amigo.
Peter aprumou-se instantaneamente.
- Como ele está indo? - perguntou, curioso.
- Muito bem. A equipe de pesquisa está impressionada com ele, continua surpreendendo e passando nos testes. - contou Stark. - Ele tem potencial.
- Que bom saber. - Peter alegrou-se, e fez uma pausa logo em seguida. - E o que o senhor acha disso? - questionou, apreensivo.
- Acho ótimo. O garoto é promissor. - disse, fazendo Peter vibrar internamente. - Estou curioso para ver o que ele poderá fazer em combate.
- Eu também. Eu achei mesmo que ele poderia ajudar, especialmente agora que a equipe está... meio defasada. - Peter mordeu o lábio, inseguro.
- Com toda certeza. - concordou Stark. Os dois ficaram em silêncio depois disso. - O que foi? Não espere que eu te agradeça por isso, ajudar a equipe é sua obrigação. Agora pode ir.
-Ok, Sr. Stark, até mais. – Peter sorriu, saindo da sala novamente.
- E vê se não traz mais nenhum amigo seu para cá. Já chega de adolescentes nesta equipe. - Stark gritou de dentro da sala.
O garoto saiu rindo e dirigiu-se até o departamento de inovações para voltar ao trabalho, deixando Stark sozinho na sala de reuniões. O homem estava prestes a sair para cuidar de qualquer um dos seus afazeres empresariais, quando F.R.I.D.A.Y., o seu sistema operacional, apareceu para alertá-lo de um compromisso.
- Sr. Stark, o senhor tem, marcada em sua agenda, uma visita ao laboratório do Dr. Banner para realizar os seus exames de rotina. - disse a voz simpática saindo de seu relógio de pulso.
- Muito bem lembrado. - respondeu. - O que eu faria sem você, não é mesmo?
Tony foi sem demora até o outro lado do complexo, onde Banner já o esperava com um jaleco branco enquanto fazia algum tipo de pesquisa em seu computador.
Desde que Stark abandonara o reator ARC em seu peito e fizera a cirurgia para retirar os estilhaços de bomba próximos ao coração, Banner vinha fazendo seu acompanhamento médico dentro da sede. Já que o eletroímã não era mais necessário para manter os estilhaços afastados, o coração de Stark funcionava normalmente, mas precisava ser constantemente monitorado por meio de exames e testes, assim como todo o funcionamento do seu corpo, já que ainda haviam alguns danos.
Era tudo muito rápido, apenas um check-up de rotina. Algumas agulhas, exames de sangue, eletrocardiogramas e os resultados saiam logo em seguida. O laboratório de Banner fora propositalmente equipado com alguns dos melhores aparelhos de medicina, tudo para que Stark tivesse o melhor atendimento. Os exames eram precisos e rápidos, adequados para seu caso tão peculiar.
- Está tudo ótimo como sempre, Stark. - disse Banner após alguns minutos analisando os resultados na tela de seu computador. - Claro que você não é um sujeito comum, mas está dentro do que é normal pra você.
- Já me disseram que sou acima do normal. - disse Tony, com uma brincadeira que era verídica do seu ponto de vista.
- A única coisa que me preocupa é, como sempre, o nível de radiação apontado nos exames. - continuou Banner, voltando a uma velha história, o que fez Stark bufar. - Estes números são altos, você deveria me deixar investigar um pouco mais sobre eles.
- Eu já disse, Banner, essa radiação nunca me afetou, é besteira se preocupar com isso. - falou Stark, dando a mesma resposta de sempre. - Já sobrevivi a coisas piores.
Desde que os exames de rotina começaram, Banner alerta Stark sobre a radioatividade que o uso contínuo do reator deixou em seu corpo. Depois de tantos anos com o ARC no peito, parte da radiação ainda permanecia nele, deixando um índice um tanto elevado. Mesmo com isso apontado nos testes, Tony nunca quis que Bruce investigasse quais seriam as consequências destes níveis a longo prazo - o que não o impedia de insistir nisso em todos os seus encontros mensais.
- Tudo bem, então. - Banner deu-se por vencido, afinal já tinha cansado de fazer tal comentário. - Está liberado.
- Não fique verde de raiva só porque não deixo você me fazer de cobaia. - respondeu Stark, fazendo Bruce rir. - Obrigado, amigo. - finalizou, dando um tapinha nas costas do doutor e saindo do laboratório.
Banner voltou-se para a mesa de utensílios, negando com a cabeça. Stark era muito teimoso. Não havia uma boa razão para não fazer mais exames, exceto a chatice dele.
Bruce preparou-se para descartar amostras dos exames, como de costume. Porém, parou no meio do caminho. Seu instinto de pesquisador falou mais alto, embora tivesse acabado de receber a sua enésima negativa. Banner se preocupava com o companheiro e tinha medo que algo pudesse acontecer a ele por conta da maldita radioatividade - ele próprio sabia o efeito que ela podia causar. Além disso, estava muito curioso para ver quais seriam os efeitos de um reator tão potente quanto o ARC no corpo humano. Isso o fez ponderar por alguns segundos.
Contrariando as vontades de Tony, Banner decidiu usar as amostras que tinha para fazer alguns testes. Queria sequenciar o DNA de Stark e fazer o mapa genético dele, para ver se a radiação havia causado alguma alteração significativa na sua composição. Talvez, depois de tanto tempo de exposição, a radioatividade tivesse deslocado algum gene, ou então iniciado algum outro processo mutagênico. Ele precisava investigar, ou não ficaria em paz consigo mesmo.
Aproveitando o restante das amostras que havia colhido, Banner colocou lâminas em sua centrífuga para iniciar a análise. Realizou a eletroforese, aplicou corante e jogou os dados em seu sistema para obter os resultados. Com diversas teorias em mente, ele programou o sequenciador para que analisasse os dados e finalizasse o processo.
Aquilo deveria demorar uns bons minutos, então ele sentou-se à mesa para tomar uma boa xícara de café enquanto esperava. Algum tempo depois, Romanoff bateu à porta de vidro do laboratório e apareceu para lhe fazer companhia.
- O que o cientista maluco está fazendo? - ela brincou, entrando na sala.
- Estou processando os exames do Stark. - respondeu Banner tomando mais um gole. - Quer me ajudar a contar hemácias?
- Parece divertido. - Romanoff sentou-se. - Está tudo bem com ele? - perguntou, pegando uma xícara de café para si.
- Está sim, são os testes de rotina para o coração.
Ela fez um som em sinal de concordância, enquanto bebericava.
- Que bom que a saúde dele vai bem, porque eu tenho sinceras dúvidas sobre o resto. - alegou Romanoff com ironia, afastando a xícara da boca. - O Stark anda muito estranho.
- Mais estranho que o normal.
- Sim, e isso é preocupante. Anda todo autoritário, irredutível, fechado, e no meio disso faz algumas piadinhas típicas só pra tentar quebrar o gelo.
- Quer dizer, Stark sempre foi um péssimo chefe, mas está se superando nos últimos meses. - Banner concordou.
- Ele tenta fazer tudo parecer bem, mas no fundo dá pra ver que ele está escondendo alguma coisa. - afirmou Natasha, afogando a desconfiança com mais café.
- Tem alguma pista do que é, agente Romanoff? - Banner arqueou a sobrancelha.
- Bem que eu gostaria. – lamentou, cerrando os olhos. - Aquele cara é um dos mais confusos que eu já vi. Sinceramente, eu tenho medo do que poderia descobrir se tentasse.
- Acha que tem algo a ver com os Vingadores? Algum erro ou quem sabe uma missão da qual não estamos sabendo?
- Não sei, mas espero que não. Já basta termos que nos submeter a desfilar pro Callahan, que de repente virou melhor amigo do Stark.
- Essa eu quero ver. - riu o homem. - Como eles acham que um feriado, balões e uma avenida lotada vão fazer com que as pessoas gostem de nós?
O assunto foi interrompido por um alerta do computador, que fez Banner levantar-se imediatamente. Ele caminhou até a máquina, que avisava a conclusão de sequenciamento do DNA. Curioso, o cientista sentou-se e colocou os óculos, ignorando totalmente a presença de Romanoff – que por sua vez pouco se importou, pois sabia o quanto parafernálias científicas interessavam ao amigo.
Alguns minutos encarando a tela e Bruce começou a questionar se aquilo havia sido mesmo uma boa ideia. Ao constatar que o que pensara era verdade, ele soltou um grunhido de surpresa.
- O que foi? - perguntou a mulher.
- Os resultados... - ele respondeu, intrigado.
- O que é que tem? - ela deixou o café em cima da mesa e aproximou-se para ver o que era. - Stark está doente?
- Não, não tem nada de errado.
- Então o que houve?
- Eu deixei o computador fazendo o mapeamento genético do Stark, porque queria saber quais poderiam ser os efeitos da radioatividade a que o corpo dele foi exposto por conta do reator ARC. A radiação não apresenta nenhum perigo pra ele, mas o meu algoritmo encontrou uma coisa. - explicou Banner, com os olhos ainda vidrados na tela. - Há outro DNA registrado no sistema que é muito parecido com o do Stark.
- Espera, que sistema? - ela esforçava-se para entender, já que Banner não costumava ser muito específico quando ficava atônito com alguma coisa.
- Todas as pessoas que trabalham e circulam dentro da base dos Vingadores possuem seus dados jurídicos e biológicos salvos no sistema por segurança. Nós temos desde fichas de trânsito e biometrias até amostras de sangue e DNA, no caso de alguém ser alvo de algo ou suspeito de algo. - ele esclareceu. - Existe alguém aqui dentro da base com mais de 40% de compatibilidade com ele.
- Pra você estar com essa cara, acho que isso deve significar alguma coisa séria. - humorizou Natasha. - E quem é?
Os dados estavam terminando de ser baixados e, então, uma janela se acendeu no visor. Banner abriu o arquivo da pessoa registrada com a compatibilidade, e deparou-se com dezenas de arquivos, uma foto e um nome: Olivia McCall.
- É a garota que chefia o departamento de inovações - disse Natasha, intrigada. - Que estava na reunião hoje.
- Olha, eu não sei ao certo o que isso implica, mas... com esse nível de similaridade no DNA, não há muitas possibilidades. Só tem uma explicação para uma compatibilidade tão grande. - disse Banner, tirando os óculos e virando-se para Romanoff. - O Stark é pai da menina.


Capítulo 2



O telefone estava tocando o dia todo. Eram lembretes de reuniões, ligações internacionais, e-mails intermináveis... um típico dia de trabalho para um grande empresário multimilionário. Stark estava sentado diante de sua mesa em seu enorme escritório na base dos Vingadores, admirando a bela vista do último andar através das vidraças. Ele descansava os pés em cima do teclado do computador enquanto esforçava-se para entender o que um investidor coreano dizia num inglês enrolado do outro lado da linha, quando F.R.I.D.A.Y. interrompeu seu raciocínio.
- Thor está aqui. Devo deixá-lo entrar? - Perguntou ela.
- Qualquer um é bem-vindo, desde que fale minha língua. – Stark soltou, tirando os pés da mesa e ajeitando-se na poltrona giratória para receber a visita. Despediu-se do investidor em uma mistura confusa de inglês e coreano, para dar atenção ao deus que adentrava na sala.
- Dia difícil? - Perguntou o homem loiro com um sorriso, sentando-se na cadeira do outro lado da mesa.
Stark respondeu com aquilo que ele pensava significar "você nem imagina" em coreano.
- Vou entender isso como um sim.
- Ache como quiser, nem eu mesmo entendi. - Tony ergueu as sobrancelhas com indiferença. - Como estão as coisas?
- Tranquilas. Aliás, estava praticando meus poderes no novo centro de treinamento antes de vir até aqui, e ficou excelente. - Thor elogiou. - Bem melhor do que o que tínhamos na outra base. É amplo, tem bastante recursos, e a fonte de energia não pifou quando lancei raios.
- Que bom, isso quer dizer que a invenção do Parker funcionou. - Stark comemorou. - Ainda bem, porque senão estaríamos todos literalmente fritos agora, graças ao pirralho. - Ele fez Thor rir. - Mas a que eu devo sua visita, meu caro amigo asgardiano?
- Estava esperando que pudesse me atualizar um pouco mais sobre o andamento da equipe no tempo em que estive fora com o Banner. - Explicou Thor. - Ainda não tivemos muito tempo pra falar sobre isso.
- Bem, o governo ameaçou nos fechar. Entramos em uma divisão violenta, ganhamos novos membros, mudamos de casa... Nada demais. - Disse Tony com as sobrancelhas erguidas. - Por que a pergunta?
- Eu já sei de tudo isso, mas... parece que mais coisas mudaram. Além de uma nova base e uma nova equipe, estamos respondendo para as grandes organizações de poder dos humanos. - Continuou o deus. - É muita coisa para dois ou três anos.
- Digamos que as circunstâncias nos obrigaram a fazer algumas alterações, mas estamos bem. - Stark fez uma pausa. - Por que a preocupação assim, tão de repente?
- Eu não sei... Metade da equipe foi embora, isso gera várias perguntas. - Falou Thor, o que fez Tony se afastar na cadeira.
- Bom, alguns de nós não concordaram com as alterações que fomos obrigados a fazer. Às vezes divergências fazem equipes se dividirem e seguirem seus próprios caminhos. Como no One Direction. - Stark explicou, um pouco desconfortável com o assunto.
- Não é tão simples assim, Tony. Você não me contou a história toda. - Pressionou Thor. - As pessoas têm falado sobre isso, os outros membros da equipe também. A discussão foi bem além de apenas divergência de ideias. Os Vingadores entraram em guerra.
- Guerra é uma palavra tão pesada, não acha? - Tony franziu a testa. - Eu prefiro discussão incisiva.
- Isso é sério, Stark. - Thor fez uma pausa. Sabia que arrancar aquilo dele seria difícil. - O que houve entre você e o Rogers, afinal?
- Você mesmo disse, "divergência de ideias". - Falou Tony, sério.
- Ele quebrou sua armadura e você tomou o escudo dele. Isso é bem mais grave do que discordar sobre a cor do uniforme ou algo do tipo.
- O Rogers não queria aceitar os fatos. - Stark disparou, cedendo ao assunto ao notar que não conseguiria evitá-lo. - Ele esqueceu que no século em que vivemos agora, ao contrário da época dele, todas as grandes organizações que possuem muita tecnologia e interferem diretamente no mundo como nós, precisam passar pelos olhos do governo por segurança. Ele queria bancar o herói injustiçado, e esqueceu que nós também causamos mortes.
- Ele se recusou a assinar o acordo com as Nações Unidas?
- Ele, Clint, a gêmea Maximoff e Falcão. - Contou Stark. - Cada um pensava uma coisa e não conseguimos chegar a um acordo sobre o que fazer com a equipe. E foi aí que as coisas começaram a, digamos... sair do controle.
Com os dois maiores cabeças-duras da equipe discordando, não poderia ser diferente. - Thor ironizou. - Sempre soube que a relação entre você e o Rogers era difícil, mas não imaginei que isso pudesse fazer os dois quase se matarem. O que mais aconteceu pra que ficassem com tanta raiva um do outro?
- O Rogers escolheu o lado errado. - Tony resumiu. - E foi um traidor.
- Como assim um traidor? Eu pensei que você também não gostasse da ideia de deixar o governo controlar os Vingadores.
A fala do deus foi interrompida pelo som da porta abrindo. Banner e Romanoff adentraram o escritório e fecharam a porta logo em seguida, com semblantes estranhamente fechados.
- Será mesmo que alguém tem controle sobre essa equipe? - Comentou Stark.
- Me desculpe por não anunciar a entrada do Dr. Banner e da agente Romanoff, Sr. Stark. - A voz de F.R.I.D.A.Y. ecoou pelo escritório. - Mas eles não pediram permissão para entrar.
- Que novidade. - Tony disse com tédio. - Posso saber o motivo da reunião de última hora?
- Temos algumas dúvidas importantes pra esclarecer com você, Tony. - Falou Natasha.
- Por que todo mundo resolveu me fazer perguntas hoje? - Stark retrucou.
- Eu estava processando seus exames no laboratório agora há pouco e alguns resultados apontaram coisas bem curiosas. - Disse Banner, jogando alguns papéis em cima da mesa.
Eram os resultados dos testes no DNA de Stark, onde o sistema apontou a semelhança com a garota que chefiava o departamento de inovações. Stark analisou aquilo por alguns segundos, antes de responder com a cara fechada:
- Você testou os níveis de radiação nos meus genes, não foi?
- Queria que fosse esse o problema. - Respondeu Banner. - Sabe, seu DNA está ótimo. Inclusive, encontrou um parente no sistema.
- Parente? - Perguntou Thor, que observava muito confuso.
- Sim, alguém da família Stark registrado aqui mesmo, na sede dos Vingadores. - Banner continuou. - Curioso, não? Nós também achamos.
- Quem é? - Perguntou o semideus, enquanto Tony observava a cena toda com os olhos cerrados e o maxilar tensionado.
- Olivia McCall, a responsável das Inovações. - Disse Natasha, cruzando os braços. - O sistema está acusando que ela e o Stark têm um DNA muito parecido, que combina tanto que até poderiam ser...
- Tá bom, espera aí. - Tony interrompeu, levantando de sua poltrona. - Vamos ignorar o fato de que o Dr. Banner acabou de violar o código médico-paciente e de que os dois estavam bisbilhotando a minha privacidade, e vamos esclarecer as coisas. O sistema achou uma semelhança porque ela é verdadeira.
- Não diga, pensamos que a máquina tivesse errado na contagem de cromossomos. - Provocou Romanoff, vendo que ele estava enrolando. - Quem é a garota, Stark?
- Não acredito que vou ter que dar satisfações sobre isso. - Tony bufou, irritado. - Olivia é minha sobrinha. Ela está fazendo faculdade aqui na cidade, então dei um estágio a ela na equipe.
- Bom, se é assim tão simples, por que não nos contou? - Natasha questionou, sem comprar a ideia. - Ficaríamos felizes em saber que sua sobrinha trabalha com a gente.
- Eu não achei que fosse necessário, afinal a menina poderia ficar constrangida se todos soubessem que seu tio era...
- Corta essa, Stark. Você é filho único. - Interrompeu Banner, encurralando-o. - Não tem como ter sobrinhos.
Os olhos de Stark cerraram-se por um instante. Quando ele tomou fôlego para retrucar, Natasha disparou:
- A menina é sua filha.
- Negue o quanto quiser, eu fiz os testes. - Finalizou Banner, dando início a um silêncio constrangedor.
Tony soltou uma respiração pesada, recostando-se na mesa. Ele massageou as têmporas enquanto os três companheiros o observavam esperando uma reação.
- O que querem que eu faça? Que saia gritando? Que brigue com vocês? - Stark esbravejou. - A resposta está aí. É o que queriam ouvir?
- Você escondeu isso de nós o tempo todo. - Natasha o encarava com desdém, negando com a cabeça.
- Por quê? - Banner questionou.
- Vocês não entendem, está bem? Não sabem de nada! - Tony vociferou. - E não merecem saber, depois disso que fizeram. Esse assunto não interessa a vocês, e não interessa a ninguém. Agora, pensem o que quiserem disso tudo, mas vocês não podem contar a ninguém que a Olivia é minha filha!
Neste momento, uma garota loira adentrou inocentemente no escritório segurando uma pilha de papéis nos braços, e parou imediatamente ao ouvir a gritaria dos quatro.
Após vários segundos desconfortáveis de trocas de olhares entre os presentes, F.R.I.D.A.Y. apareceu com sua voz simpática para anunciar:
- Sr. Stark, Olivia McCall está aqui.
- Na hora certa, F.R.I.D.A.Y. - Disse Stark, ironicamente.
Os olhares de reprovação e repúdio dos três Vingadores passaram por Tony e pela garota, que estava visivelmente sem graça. Natasha, Bruce e Thor se entreolharam, contrariados, e saíram do escritório sem dizer mais nada.
O silêncio pesado permaneceu por mais algum tempo enquanto a porta se fechava atrás dos três heróis e Stark dirigia-se novamente à sua mesa, negando com a cabeça.
- Como eles descobriram? - Perguntou a garota, com frustração na voz.
- Xeretando, é claro. - Stark rosnou.
- E agora? - Ela se aproximou da mesa.
- Eu ainda não sei. - O homem suspirou. - Mas não se preocupe com isso. Só continue fazendo seu trabalho.
- É claro que eu me preocupo. - Olivia retrucou. - Não quero causar problemas pra você.
- A culpa não é sua, Olivia, não me causou problema algum. Eu vou dar um jeito nisso.
- Que jeito? Eles vão dizer pro resto da equipe.
- Não vão, não. Eu falei a eles para não dizerem.
- Você sabe que não vai adiantar. - Olivia revirou os olhos. - Isso não é um segredinho qualquer, eles ficaram muito irritados com você.
- Tá bom, e o que quer que eu faça, então?
- Eu sei lá... - A garota suspirou, colocando a mão sobre a testa. - Acho que está na hora de acabarmos com isso.
- Acabar com o quê?
- Com essa palhaçada toda. Eu estou cansada disso, nem sequer deveria estar aqui. - Olivia bufou. - Acho que eu deveria ir embora.
- Deixa de ser boba, já discutimos sobre isso.
- É, mas foi antes de todos descobrirem. Isso muda as coisas.
- Não o suficiente. Você fica aqui e ponto.
- Mas...
- Olivia, você não pode ir embora e sabe muito bem por quê. - Stark falou autoritário, fazendo a menina desviar o olhar. - Nós dois sabemos o que está em jogo e o que pode acontecer se você for.
- Está bem. - Ela cedeu, contrariada.
- Não se preocupe, eu vou resolver isso.
- Tanto faz. - Olivia falou tediosa, colocando a pilha de papéis que tinha em mãos em cima da mesa, e saindo logo em seguida. Ela se retirou e fechou a porta novamente, deixando Stark sozinho a pensar. Teria sido mais fácil continuar a conversar com aquele investidor coreano.

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-Eles acham mesmo que vamos sair assim na frente de milhares de pessoas?
-Nem pensar.
-Alguém precisa dar um jeito nisso.

O clima não era exatamente de harmonia e concordância na sala de equipamentos da base dos heróis. Aquela discussão era o que deveria ser o ensaio do desfile dos Vingadores para o Veterans Day, que acontecia em uma semana. Porém, estava mais para uma sessão de stress, risos de deboche e olhares atravessados. Os guerreiros experimentavam seus figurinos e eram apresentados aos equipamentos que usariam durante o evento, mas estavam negando a quase todos eles.
- Eu me recuso a usar isso. - Falou Banner, analisando sua roupa que fazia alusão ao verde da pele do Hulk. - É ridículo.
- Isso aqui é de ferro. - Constatou Thor examinando o martelo que tinha em mãos, uma imitação do seu próprio, que havia quebrado.
- Eu não vou nem comentar. - Retrucou Natasha, olhando para o seu novo cinto de utilidades que possuía o desenho de uma aranha viúva-negra no centro.
- Sr. Stark, o senhor tem certeza disso? - Disse Peter com dificuldade, tentando entrar em seu novo uniforme apertadíssimo - mais que o normal.
Tony observava aquilo tudo impassível, analisando a situação e pensando que, provavelmente, não tinha sido uma boa ideia mexer com o bom humor do Dr. Banner.
- Tá bom, esperem aí. - Disse ele, descruzando os braços e andando entre os colegas. - Sei que não é desse jeito que costumamos sair às ruas todo dia, mas não está tão ruim assim.
Aquele comentário resultou em uma chuva de vaias e respostas atravessadas por parte dos outros companheiros.
O famigerado desfile que traria os Vingadores para o gosto do público novamente parecia estar cada vez mais distante. A equipe de publicidade que era responsável por idealizar o evento havia ficado à mercê dos desejos do governador do distrito de Columbia, que era quem idealizava o Veterans Day, durante todo o processo de desenvolvimento do desfile. Aparentemente, aquele cara não tinha noção alguma do que eram super-heróis e não sabia diferenciá-los de um grupo de palhaços.
- Tony, sei que está tentando ajudar, mas estes acessórios não estão passando credibilidade alguma. - Colocou Visão, tentando não bater de frente. Ele usava uma espécie de capacete que ressaltava a joia brilhante em sua testa de um jeito bizarro.
- Sr. Stark, nós só fizemos aquilo que nos foi pedido – Disse um homem franzino, líder da equipe de publicidade, apreensivo diante dos comentários. - O governador nos enviou os modelos segundo os acordos que fez com o Conselho.
- Está tudo bem, a culpa não é de vocês. - Stark apaziguou. A equipe inteira deles corria e se trombava pela sala tentando melhorar as coisas de alguma forma, sem saber muito o que fazer diante daquela reprovação total.
- O nosso problema não é com o pessoal da publicidade - Esclareceu Romanoff ao rapaz trêmulo. - É o Callahan que enlouqueceu.
- Stark, você deveria ligar para ele e dizer que não podemos fazer isso. Assim não dá. - Thor argumentou, balançando seu martelo de mentira pra lá e pra cá.
Stark suspirou, observando o desastre, a correria e as caras feias ao seu redor. Ele já sabia que aquilo ia acontecer.
- Ok, sei que está todo mundo chateado, mas nós não temos escolha agora. Nós precisamos dessa publicidade. - Stark enunciou. - O Callahan não pode fazer nada.
- Mas foi ele que meteu a gente nessa - Peter discutiu por trás da máscara que o sufocava. - Ele deveria resolver.
- Nós somos super-heróis, Stark, não personagens de carnaval. - Disse Bruce.
- Ok, espera aí. Não vai ser como vocês estão pensando. Isso não é 4 de Julho, não vão ter balões e orquestras com trompetes. Nós vamos desfilar seriamente pela avenida, ao lado de veteranos de guerra, eles vão dar uns tiros para cima e vamos receber medalhas de condecoração pelos feitos que tivemos. - Stark fez uma pausa, soltando um suspiro. - Olhem, eu também não gosto da ideia de sair por aí caminhando e acenando como se fosse a rainha da Inglaterra, mas nós estamos há muito tempo inativos e a ONU quer a nossa aparição em algum lugar.
- Então a ONU que arrume alguma aparição decente para os Vingadores, já que insistiu tanto em controlar as nossas missões. - Romanoff replicou.
- A Natasha tem razão. - Disse Peter. - O Sr. Callahan não entende nada sobre os Vingadores.
- Até agora, todas as ordens do Conselho têm sido catastróficas. - Foi a vez de Visão tecer a crítica. - Eles não nos enviam para lugar nenhum e nos deixam aqui, com um monte de cientistas e funcionários que contrataram só para dirigir investimentos e fazer pesquisas. Sem ofensas. - Ele disse a última parte ao chefe publicitário, que ainda acompanhava a discussão e pareceu não ligar.
- Acho difícil que o Stark bata de frente com as equipes de cientistas. - Banner alfinetou o empresário. - São particularmente importantes pra ele.
- Tudo bem, mas ainda precisamos fazer alguma coisa.
- O Stark não vai fazer nada, ele concorda com o Callahan. - Falou Natasha.
- É claro que eu concordo, mas ainda faço parte dessa equipe. - Stark retrucou, aborrecido com a conversa.
- Então diga a eles o que achamos disso.
- Ou deixe a gente dizer. Você é o único que negocia com o Conselho de Segurança, mas nós poderíamos fazer isso também.
- Isso é verdade. - Concordou Thor. - Talvez nós devêssemos começar a participar dessas reuniões.
- Seria mais justo se a equipe inteira falasse e soubesse daquilo que eles falam diretamente.
- É, Stark, não é certo guardar segredos da sua equipe. - Romanoff provocou, arqueando a sobrancelha. Tony encarou-a com raiva.
Aquela discussão já estava se tornando desconfortável de presenciar e provavelmente não chegaria a um fim tão cedo. O homem franzino responsável pela equipe de publicidade, que àquele ponto já não era mais o alvo das críticas, achou por bem que deixar que os heróis se resolvessem sozinhos era o melhor a fazer. Por sua orientação silenciosa, a equipe começou a gradualmente abandonar suas funções e deixar a sala, a fim de dar privacidade aos Vingadores à beira de um colapso.
- Isso é verdade, Tony. Você tem andado muito fechado a respeito dos negócios ultimamente. - Disse Visão.
- Fica apenas no seu escritório, negocia sozinho, não fala com ninguém e finge que nada aconteceu.
- Ótimo, agora vamos para o lado pessoal. Quem foi que falou? - Stark questionou, na defensiva.
- Todos nós temos dito isso. - Completou Parker, receoso. - Eu sei que você não vai gostar de ouvir isso, Sr. Stark, mas você tem andado muito estranho ultimamente. Parece até que está...
- Escondendo alguma coisa. - Acusou Thor, entrando na onda dos colegas.
- Vocês acham mesmo que eu não jogo às claras com vocês? - Perguntou Stark, começando a perder a paciência. - Querem participar das reuniões? Ótimo, participem. Eu só faço isso sozinho porque pensava que seria chato demais pra vocês lidarem com o Conselho. Vocês acham mesmo que eu estou escondendo o jogo?
- Nós não sabemos, não é mesmo? Você tem tantos segredos... - Continuou Natasha.
- Segredos? - Visão intrigou-se. - Sabe de algo que nós não sabemos, Romanoff?
- Parem de besteira, não existem segredos. - Stark discutiu.
- Não queremos te acusar de nada, só estamos comentando.
- Bom, eu sei de algumas coisas. - Thor jogou no ar.
- Que coisas? - O resto da equipe parecia perdido.
- Querem parar com isso? - Stark vociferou.
- Sabemos de uma coisa. - Banner entrou na chantagem, sem ligar para o que Tony disse. - Stark tem um segredinho de cabelos loiros e olhos claros dentro da equipe de inovações.
- O Sr. Stark tem uma amante? - Agora era Peter quem estava confuso. - Mas e a Pepper? - Perguntou indignado.
- É claro que não, Parker, pare de besteira. - Stark falou, visivelmente irritado. - É que o Banner me adora tanto que não consegue deixar de interferir na minha vida, mesmo quando não é chamado.
- Vamos lá, Tony. - Bruce deixou escapar um sorriso, fazendo o sangue de Stark ferver. - Não acha que eles deveriam saber?
- Saber o que, pelo amor de Deus? Alguém pode explicar? - Parker bufou.
-Saber que eu tenho uma filha. - Exclamou Stark, em alto e bom som, o que fez com que todos se calassem imediatamente. - E vocês todos a conhecem. Ela trabalha aqui, na equipe de inovações. Felizes agora? - Ele se dirigiu a Romanoff e Banner, com um semblante fechado assim como estavam os deles. - Espero que estejam satisfeitos por arrancar isso de mim porque este é um segredo pessoal, que não interfere nem um pouco na minha honestidade com a equipe. Me desculpem por não poder ser um livro aberto o tempo todo, mas vocês todos têm muito para apontar, não é mesmo? - Ele deu um sorriso irônico. - Bom, agora já sabem. Podem espalhar por aí que o segredo por trás da antipatia de Tony Stark nos últimos meses foi revelado. Sugiro que usem isso antes que saia no TMZ. - Ele encerrou com o rosto inteiro tenso, e saiu andando pelo saguão a passos largos e pesados.
Ninguém sabia direito o que falar após aquela informação ser atirada sem mais nem menos. Stark deu as costas e, após longos segundos mergulhados no silêncio, os heróis começaram a questionar.
- Isso é sério? - Visão dirigiu a pergunta aos três que provocavam há pouco.
- É, sim. - Romanoff disse, suspirando em seguida. - Foi o Banner quem descobriu.
- Como?
- Fazendo os exames do Stark, como sempre faço. O sistema me mostrou o parentesco pela compatibilidade do DNA - Banner explicou. - Com a Srta. McCall.
Todos ficaram surpresos ao ouvirem o nome dela.
- E vocês usaram isso pra arrancar dele? - Peter questionou.
- Sim. E logo depois ele pirou dizendo que a gente não entendia nada. - Natasha falou em tom cômico. - Mas a verdade é que ele só estava escondendo as coisas da gente. Como vem fazendo faz tempo.
- Não quero discordar de vocês, mas isso realmente é algo pessoal, e não quer dizer que Stark é necessariamente um mentiroso. - Visão disse.
- Ninguém disse que ele é um mentiroso, só dissemos que ele não nos conta as coisas.
- E o que é tão sério que não entendemos, afinal?
Os heróis passaram alguns minutos pensativos em silêncio, sem mais nada para falar, mesmo que muito se passasse em suas cabeças. Ficaram assim, até que começaram a se retirar da sala também. Romanoff e Bruce foram os primeiros, seguidos por Thor e os outros. Ninguém sabia de que lado ficar e as coisas terminaram assim.

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A confusão toda durante o ensaio não foi capaz de prejudicar o defeituoso desfile de Veterans Day dos Vingadores. Após uma semana regada de rancor, olhares atravessados e momentos constrangedores, os heróis viam-se a poucas horas de embarcar em viagem para o que acreditavam ser o maior mico que pagariam em sua trajetória como salvadores da pátria.
Stark passou a semana trancado em seu escritório, rodeado de afazeres e sem dar mais satisfações – sobre o ocorrido no ensaio ou qualquer outra coisa. Ficou sem conversar com todos os colegas de equipe, principalmente com Natasha e Bruce. Como ambos não faziam questão do contato, o clima frio e estranho pairou sobre todos os encontros dos Vingadores, o que não era diferente agora.
Os heróis estavam no hangar da base fazendo os toques finais em seus trajes esquisitos enquanto as equipes de inovações e de publicidade carregavam o avião com os equipamentos necessários para o desfile. A viagem aconteceria em breve, portanto a movimentação era intensa, mas o silêncio era constante.
- Gostei do seu maiô novo, Parker, é ainda mais apertado que o de sempre. Vai conquistar muitas garotas assim. - Thor brincou, na tentativa de quebrar aquele gelo sufocante.
- Muito engraçado, Martelo de Ferro. Quero ver você lançar uma faísca sequer com esse brinquedinho aí pra impressionar a multidão. - Peter entrou na brincadeira, sem se mover muito para não correr o risco de rasgar o collant, que era realmente grudado.
- Tenho certeza que a multidão já vai estar bem impressionada ao ver a palhaçada que estamos fazendo. - Banner comentou, àquele ponto com uma crítica que já soava como piada.
A interação mínima foi interrompida pela Srta. McCall aproximando-se com sua prancheta em mãos, anotando coisas rapidamente. Todos os heróis retesaram-se, diante da presença da garota cujo nome causou toda aquela situação desconfortável. Ela parou em frente a eles e pediu sua atenção.
- Boa tarde, Vingadores. Meu nome é Olivia McCall, caso vocês não se lembrem de mim. O que eu acho difícil, afinal minha identidade foi um assunto quente durante a semana. – Ela disse em tom de voz baixo, erguendo-o logo em seguida. - Eu e minha equipe fizemos tudo que pudemos para fazer do desfile o melhor... que ele poderia ser. - Ela torceu o nariz. Claramente ninguém ali se agradava com a ideia. - Todos os equipamentos já estão no avião e os novos acessórios já estão devidamente colocados nos uniformes de vocês. O exército americano será responsável por realizar a segurança do evento, garantindo a segurança da multidão e de vocês, então estão liberados da função de heróis, no dia de hoje, são apenas as estrelas do show. – Banner e Parker soltaram um riso abafado devido à menção daquilo como um “show”. Um show de horrores, talvez. - Eu estarei acompanhando a equipe pra supervisionar as tecnologias e garantir que as coisas fiquem certas. Partimos em quinze minutos.
A garota se retirou novamente após um breve sorriso simpático e saiu dando ordens, e anotando mais coisas em sua prancheta. Banner e Romanoff trocaram olhares por conta da fala dela, rápidos e indecifráveis. Pelo menos a menina era direta. Todos os membros da equipe dirigiram a atenção para Stark, que manteve o semblante sério, fingindo que não notou os olhares sobre si - da mesma forma que fez a semana toda.
Os engenheiros e estilistas que passaram os últimos vinte minutos fazendo ajustes nos trajes retiraram-se de perto dos heróis; e as enormes equipes disso e daquilo que transitavam incansavelmente começaram a sair do hangar para abrir espaço para a decolagem, que seria em breve. Aquela seria uma viagem rápida até Washington, onde a reputação incerta dos Vingadores seria mais ameaçada ainda. A rampa do avião foi aberta e os heróis prepararam-se para embarcar, quando tiveram o trajeto interrompido por um estrondo vindo do jardim.
O barulho foi similar a uma explosão e veio seguido por alguns gritos. Todos voltaram-se imediatamente para o portão aberto do hangar, que lhes dava a vista exata de um aglomerado de pessoas correndo e do setor de inteligência destruído com cacos de vidro e papeladas voando para todo lado.
- Sr. Stark, foram detectadas falhas no sistema de segurança da base. - Alertou F.R.I.D.A.Y. através do relógio de pulso de Tony.
- Quero toda a equipe de segurança aqui agora para investigar o que foi isso. - Stark disse no comunicador enquanto já se dirigia para o lado de fora, acompanhado dos outros heróis, todos em alerta.
Não houve nem tempo para receber uma resposta de F.R.I.D.A.Y. ou de qualquer sistema. Ao chegarem ao jardim, os Vingadores avistaram uma figura erguida no céu a cerca de vinte metros acima de suas cabeças: era um homem que trajava um uniforme verde com vermelho e já se preparava para causar outro estrago.
Não foi preciso trocar qualquer palavra. Imediatamente, o time dos Vingadores entrou em ação para deter quem quer que fosse aquele sujeito intrometido e raivoso. Peter e Romanoff correram até o que restara do setor de inteligência para socorrer os funcionários desesperados, enquanto Thor, Stark e Banner iam tirar satisfações com o invasor.
- Sr. Stark, nossos firewalls de proteção estão inativos e os sistemas da base encontram-se vulneráveis. - Foi mais um alerta de F.R.I.D.A.Y.
- Ainda temos tempo para conter a ameaça. Eu instalei um firewall reserva recentemente, duas vezes mais encriptado, que se ativa automaticamente quando o primeiro cai. Deve detê-lo, ou ao menos atrasá-lo. – Constatou Stark.
- Lamento, Sr. Stark, mas o sistema de segurança II também caiu. – Aquilo alarmou Tony.
- O sistema III...?
- Já era.
Stark, que até ali se considerara muito astuto, achou que a brincadeira estava começando a perder a graça.
- Ative o protocolo de segurança Watchman, então. – Ele pediu preocupado.
- Eu já tinha acionado, Sr. Stark. – A voz fez uma pausa e então retornou a falar. – Mas ele acabou de ser derrubado também.
- Ok, acabaram meus elementos-surpresa. – Tony disse, atônito e um tanto frustrado. – F.R.I.D.A.Y., anote na minha agenda: criar mais protocolos de segurança complementares e inesperados para deter intrometidos que gostam de estragar a minha festa.
Antes que os três heróis pudessem chegar ao agressor misterioso, mais uma explosão foi causada por ele, que parecia poder lançar um poder de detonação com suas próprias mãos. Desta vez, o setor vizinho era o alvo. Um dos pilares que sustentava o prédio ameaçou desmoronar e Stark usou seus propulsores de voo – que estranhamente falharam – para chegar até lá e segurar a pilastra de concreto.
- Quem é esse sujeito tão nervosinho? - Disse Tony em seu comunicador, com um pouco de dificuldade devido ao esforço que estava fazendo. - Por acaso algum de vocês tem algum velho inimigo procurando um remember?
A pilastra de concreto começou a rachar, obrigando Tony a agilizar o processo para reequilibrá-la.
- Quem seria? Asgardiano adotado com mania de grandeza? - Palpitou Stark.
- Não que eu saiba. - Respondeu Thor, ofegante por conta do combate.
- Pai de família revoltado com tecnologia alienígena roubada? - Tony arriscou.
- Na cadeia, até onde eu sei. - Peter negou enquanto corria pelo saguão do departamento.
- Bom, pelos meus conhecimentos, ele não é nenhum funcionário louco tentando tomar o meu lugar. F.R.I.D.A.Y., conseguiu alguma pista da identidade do nosso amigo? - Questionou Stark, finalmente conseguindo colocar o pilar de concreto no lugar. Estranhamente, ele não recebeu resposta. - F.R.I.D.A.Y., está me ouvindo?
Ele dirigiu o olhar até o visor em seu capacete, onde um aviso luminoso atestava "conexão perdida" com seu sistema operacional.
- Bom, seja lá quem ele for, cortou a comunicação da base. - Stark anunciou, com frustração na voz. - Como estamos indo, equipe?
- Ele explodiu o setor de contabilidade também, estou tentando ajudar as pessoas a saírem. - Disse Romanoff. - Mas digamos que esse novo cinto de utilidades não está sendo lá muito útil. - Bufou, apertando o botão da viúva negra sem receber qualquer reação do equipamento.
- Eu mandei acionar o alarme pra evacuar a base antes da comunicação ser cortada, acredito que os outros prédios já estão sendo esvaziados. - Stark contou. - E o setor de inteligência, Parker?
- Eu estou tentando ajudá-los, Sr. Stark, mas esse uniforme é muito ruim. - Disse Peter com dificuldade. A malha de seu novo traje limitava - e muito - seus movimentos, o que dificultava sua agilidade. Ele se balançava de um lado para o outro em suas teias por entre as marquises rachadas, pegando o máximo de pessoas que conseguia e lançando-as para suas teias salva-vidas do lado de fora.
- Continue tentando, garoto. Thor, e você? - Stark disse no meio do trajeto de voo para chegar até o deus, que estava mais próximo do invasor. - Estou indo até aí. Ou ao menos tentando. - Finalizou, após notar que seus propulsores estavam falhando novamente.
- As coisas estão meio difíceis com este martelo decorativo. - Bufou o homem, tentando arremessar o objeto no inimigo, mas sem atingir a distância necessária.
Os acessórios esdrúxulos do desfile estavam prejudicando, além da dignidade, o desempenho dos heróis em combate. Com medo de expor a tecnologia dos Vingadores para um possível roubo, a equipe de inovações decidiu retirar boa parte dos adereços reais dos uniformes que usariam durante o desfile, deixando-os meramente decorativos e transformando-os nos alegóricos trajes idealizados pelo distrito de Columbia. Apenas os robôs e a nave seriam tecnologias verdadeiras, usadas para impressionar a multidão e o restante não seria necessário, uma vez que os heróis estariam lá para desfilar e não realizar um combate. Uma ideia que, agora, mostrava-se ter sido a pior possível.
Durante esse tempo de frustrações e desastres, a equipe de atiradores e seguranças da base chegou em peso para combater a invasão. Eles dispararam uma chuva de tiros em direção ao inimigo voador, que foi facilmente desviada por ele, com uma agilidade sobre-humana. Também não foi difícil para o homem pegar destroços das explosões e arremessar contra os homens, que pouco tinham para se defender. Com isso, o combate parecia vencido; para terminar de derrubá-los, uma chuva de cacos de vidro opôs-se aos ínfimos tiros que disparavam.
- Sr. Stark, não estamos equipados o suficiente para lutar com esse cara – Atestou o chefe de segurança em seu walkie-talkie. - A sala de armas foi trancada no momento em que o alarme de alerta soou, com a maioria dos equipamentos dentro.
- Retire seus soldados daí imediatamente, comandante. Nós cuidamos disso. - Respondeu Tony, ficando cada vez mais irritado com aquele sujeito que parecia ter pensado em tudo.
Após a vitória contra os seguranças, o invasor diminuiu sua altitude consideravelmente, visando, por trás da máscara que cobria metade do seu rosto, seu próximo alvo. Ele carregou seus poderes e atirou na direção do avião da viagem a Washington, explodindo-o. O estrago só não foi maior porque Banner, já transformado em Hulk, segurou a aeronave antes que pudesse atingir o hangar enquanto deslizava por ele. Com um grito de fúria, Hulk arremessou o avião de volta ao inimigo, que foi atingido em cheio, mas não pareceu se abater com o enorme impacto. Após alguns segundos, ele retornou à sua posição inicial e atacou o monstro verde diretamente, jogando-o metros longe com uma explosão.
Não sem tempo, Thor e Stark chegaram rapidamente à pista de pouso, com o semideus fazendo uma entrada triunfal ao ser arremessado por Tony contra o invasor, acertando seu martelo fajuto, porém pesado, bem no meio da enorme letra W estampada em seu uniforme.
Em uma rápida reação, o inimigo atirou o martelo de volta com o que parecia ser o dobro da força inicial, e atingiu Stark bem no meio de sua armadura. Thor já preparava o contra-ataque com seus poderes de raio, porém o adversário lançou um de seus poderes e derrubou-o bem em cima de Stark.
- Cadê o resto da equipe? - Bradou Tony no comunicador, irritado com o fato de sua armadura falsa ter ficado tão danificada com uma simples martelada. De que era feito aquele traje? Papel?!
- Estamos a cam... - Foi a resposta obtida, antes de o que parecia ser uma interferência tomar conta da comunicação integrada.
- O que essa ervilha voadora quer, afinal? - Stark bufou, dando um tiro de propulsor do qual o inimigo conseguiu desviar.
Uma troca de tiros começou entre os dois, com Thor auxiliando Stark com seus raios. Ambos desviavam dos ataques com agilidade e destreza e, após alguns segundos, Romanoff e Homem-Aranha entraram pelo portão escancarado do hangar. Peter lançou uma bomba de teia na direção do inimigo, mas uma mira surpreendentemente ruim fez com que ele atingisse o capacete de Stark.
- Está de brincadeira, pirralho? - Tony irritou-se, tentando remover o fluído incrivelmente grudento de seu visor.
- Desculpe, Sr. Stark, é que esse lança teias não está calibrado e eu... - O garoto tentou se explicar. Ele lançou mais algumas bombas de teia, todas facilmente evitadas pelo inimigo devido à mira defeituosa do traje. Uma delas acabou saindo pelo lado errado e atingiu o próprio Peter, fazendo com que ele grudasse na parede mais próxima, ficando incapaz de se mexer.
- Já chega... - Natasha irritou-se, sacando o revólver que possuía em seu cinto. Com rapidez, ela disparou três tiros certeiros na direção da cabeça e do peito do inimigo. As balas o atingiram, mas, para a surpresa da agente, não pareceram machucá-lo. - É claro que ele é à prova de balas. - Ela falou com tédio.
Na verdade, os tiros o irritaram. O homem mascarado virou-se para Natasha e estava pronto para voar na direção dela, mas Stark colocou-se no meio para impedi-lo. O escudo teria sido perfeito, se não fosse pela falha no comunicador da equipe que impediu que Thor alertasse Stark sobre seu martelo. Este veio voando rápido demais para ser visto, carregado com os poderes de raio do deus, e atingiu a armadura de Tony em cheio, outra vez.
- Quer parar de ficar jogando essa sucata por aí? - Peter protestou, ainda tentando se desvencilhar de sua própria teia que o prendera na parede.
Após ser atingido e eletrocutado, Stark caiu com sua armadura reforçada em cima das pernas de Romanoff. O impacto machucou-a e deixou-a incapaz de se levantar devido a uma provável fratura. Ao prever que Thor planejava uma reação, o inimigo mascarado agarrou uma das asas da nave destruída e arremessou em sua direção, derrubando-o metros longe. Com um sorriso cínico após constatar a falha da equipe, o homem proferiu:
- Vocês, deuses, agentes especiais, super soldados e aberrações: preparem-se para ver seu império cair.
O homem alçou voo após lançar tal frase, desaparecendo rapidamente. Stark ainda tentou ir atrás dele, mas seus propulsores de voo defeituosos não permitiram, ainda mais depois das duas marteladas que danificaram sua armadura. Tony arrancou o capacete, ajudou Peter a terminar de se desgrudar das teias e eles se juntaram a Thor, para que os três pudessem correr atrás do inimigo desconhecido. Banner, que já não estava mais verde e se recuperava da explosão que lhe atingira, ficara para ajudar Romanoff. Eles saíram correndo pelo enorme jardim, que parecia ficar mais longo a cada passo que davam para tentar impedir aquele ataque surpreendentemente catastrófico.
O homem mascarado voou sem mais dificuldades até o maior de seus objetivos: a central de comando da base. Após explodir o setor de inteligência e de contabilidade, o caminho ficou livre para que ele pudesse acessar todos os dados e controles que a base dos Vingadores possuía através daquele sistema. O invasor desativou seus propulsores de voo e foi caminhando entre os destroços e vidros quebrados pelo estrago que ele mesmo causou, e chegou até o conjunto de computadores e telas que continham as informações desejadas. Ele estava preparando-se para invadi-los, quando as luzes da sala começaram a falhar.
O homem mascarado virou-se e viu uma garota de cabelos loiros cobertos de fuligem aparecer em sua frente. Olivia McCall, com uma expressão seriamente fechada no rosto, ergueu os braços e esticou as duas mãos na direção do inimigo, concentrada.
O vilão observou a cena, confuso. De repente, os computadores começaram a pifar, e todo o sistema elétrico começou a entrar em curto-circuito, jogando faíscas para todo lado. A raiva na expressão da garota parecia se intensificar à medida que os choques aumentavam e ela movimentava os dedos tensionados das mãos com muito esforço. Seus olhos focaram o invasor e semicerraram-se.
Como se fosse por comando da mente dela, um turbilhão luminoso de força enorme foi lançado na direção do homem mascarado no instante em que Olivia projetou seus braços para frente. A força da energia elétrica à alta voltagem atingiu o invasor em cheio, dando choques intensos e arremessando-o metros e metros para longe da sala de controle, na direção do jardim.
Olivia caiu no chão, atordoada. A equipe dos Vingadores chegou ao local em tempo de ver aquela cena impremeditada enquanto corria pelo gramado do jardim, tentando chegar até a sala. A garota levantou os olhos com dificuldade, tentando enxergar por trás da poeira que havia se erguido devido ao que ela acabara de fazer.
Apesar do ataque que sofreu, o inimigo misterioso conseguiu se levantar e alçar voo. Ele se projetou no céu, com uma expressão de raiva, mas ainda assim sorrindo. Antes de desaparecer, o homem lançou um raio de cor arroxeada com as mãos, que fez a energia elétrica da base cair – como se desse um aviso de que aquele não era o fim. Em seguida, saiu em voo para longe dali, rápido demais para que os olhos o acompanhassem. Sem sistemas de segurança ou ataque ficou impossível segui-lo, rastreá-lo ou enfrentá-lo. Nada restara depois da energia ter sido cortada.
Após a partida do inimigo, a poeira que tomara conta da sala cedeu e revelou o ambiente destruído. Os Vingadores voltaram sua atenção para o lado de dentro da sala, onde os equipamentos caríssimos da equipe de controle ainda estavam curto-circuito. Curiosos e intrigados, eles observaram a garota caída no chão se erguer dificultosamente, com uma porção de perguntas em suas mentes.


Capítulo 3


O barulho de obras e a movimentação frenética de pessoas dominavam a sede dos Vingadores. A energia elétrica dos prédios havia sido reestabelecida, os softwares de segurança estavam sendo reativados e especialistas já investigavam o que os derrubara. Havia técnicos de informática restaurando sistemas, caminhões de obra carregando o entulho e centenas de trabalhadores se empenhando para reparar o estrago causado, durante a noite que já caía. Os melhores e mais eficazes serviços de inteligência e engenharia foram contratados para reerguer imediatamente a parte da sede que havia sido destruída, para que a rotina de trabalho dos heróis voltasse ao normal o mais rápido possível.
Após o incidente sofrido na base, a participação dos Vingadores no desfile de Veterans Day em Washington teve de ser cancelada. Milhares de pessoas que se uniram em multidão para ver os heróis pessoalmente voltaram para casa desapontadas por conta disso – embora seja bem provável que também se decepcionariam se eles tivessem aparecido.
Os noticiários já comentavam. O vexame do grupo de heróis que não pôde comparecer ao desfile feito em sua homenagem porque não foram capazes de deter um inimigo dentro de sua própria casa. Era irônico. Exatamente às vésperas de um evento que deveria aproximar os Vingadores da sociedade, um desastre como aquele apareceu para diminuir ainda mais a confiança da humanidade na capacidade da equipe de proteger a Terra. Tudo parecia ter sido cruel e milimetricamente planejado para desestruturá-los na frente de todos.
Os heróis estavam reunidos longe de todo o barulho e correria, dentro da sala de estratégias, que ficara intacta após o combate. Stark encarava o lado de fora do prédio através da janela de vidro, e assistia às retroescavadeiras removerem os destroços do setor vizinho, que tinha vindo a baixo com uma das explosões. Soltou um suspiro, sentindo aborrecimento e quase vergonha pelo resultado negativo daquela luta. Já os outros, estavam todos falando. Queriam saber como tinha sido possível perderem de forma tão inédita e ficarem vulneráveis a um inimigo com tanta facilidade.
- Não podemos admitir uma derrota dessas. - Falou Thor no meio da discussão. - Não agora.
- Nunca perdemos tão feio antes. O que foi que esse cara fez pra conseguir isso? - Questionou Natasha, indignada.
- Não foi só graças a ele, nossos trajes também não estavam ajudando. - Peter constatou.
- Quem foi que teve a ideia magnífica de simplificar nossos uniformes e nos deixar ir até Washington sem armamento nenhum? - Banner protestou. - Aquilo não serve nem pra fantasia, como iríamos proteger as pessoas se esse cara tivesse resolvido nos atacar no meio do desfile?
- Os armamentos foram retirados pra manter a nossa tecnologia em segredo, eu acho. Alguém poderia ter tentado roubá-la durante o evento. E se houvesse algum problema, o exército ia cuidar da segurança. - Visão esclareceu. - Deve ter parecido uma boa ideia no início.
- Aquela ervilha voadora nem era assim tão difícil de combater, só perdemos pra ele porque estávamos desprevenidos. - Thor defendeu a equipe. - O que ele tem demais, afinal?
- Ainda não conseguimos definir totalmente os padrões de combate dele. - Atestou Visão, acompanhando uma geração de relatórios através de um tablet. - Mas ele não era um ser humano comum.
- O que foi que ele usou pra explodir o complexo? Algum poder de detonação?
- Não, não era nenhuma habilidade. Os prédios foram derrubados com explosivos, segundo a perícia. - Bruce esclareceu. - Seu voo também não era natural, ele tinha propulsores nos pés. - O homem exibiu uma gravação das câmeras de segurança, pausando em um momento em que os equipamentos se tornavam visíveis.
- Bom, esse cara tem recursos, inclusive tecnológicos. Ele conseguiu burlar todo o nosso sistema de segurança pra entrar. - Falou Parker, ao notar que até agora alguns dos softwares da base continuavam fora do ar devido ao bug.
- Mas ele não é só recursos. O corpo dele resistiu ao impacto do Hulk e também era à prova de balas. - Romanoff contou. - E ele derrubou toda a energia elétrica do complexo sozinho.
- Como?
- Não sei, parecia algum tipo de raio que saia das mãos dele. Não tem como saber o que era. - Ela respondeu. - Mas esse não é um sujeito comum.
A confabulação dos heróis foi interrompida com a abertura da porta, que trouxe de fora o barulho ensurdecedor de britadeiras e soldas do escritório ao lado. Quem irrompeu pela sala foi Srta. McCall a passos acelerados, carregando um tablet de tela transparente nas mãos.
- Bom, quase todos os nossos sistemas operacionais já estão de pé novamente. - Ela comunicou aos heróis, com a fala acelerada. - Apenas os sistemas de segurança estão dando um pouco mais de trabalho, mas os técnicos dizem que devem consertá-los em algumas horas.
- Ainda? - Stark grunhiu, agoniado com a demora.
- É, aquele bug pegou pra valer. - Ela respondeu. – Mas, tirando isso, tudo anda relativamente bem. A equipe de engenheiros já está trabalhando em um projeto para reconstruir os setores de inteligência e contabilidade, e eles devem estar prontos em menos de quatro dias.
- O que mais tem pra nós? - Tony perguntou.
- São minhas informações mais atuais. - Olivia disse checando seu tablet. - Quanto ao nosso misterioso amigo verde, as pistas são poucas. Não fazemos ideia de quem ele é ou o que queria. Mas chegaremos lá.
Ela terminou a fala e dirigiu o olhar para os heróis. A sala caiu no silêncio e todos eles a encaravam, impassíveis, como se ela fosse uma assombração. Todos mantinham os olhos curiosos sobre ela, por conta da cena inusitadamente impressionante que acontecera há poucas horas. Diante da quietude dos companheiros, Stark interviu.
- Obrigado, Olivia. Vamos fazer uso das informações. Já pode ir. - Ele disse um tanto desconfortável, na intenção de que ela fosse embora.
- Espera aí. - Banner se manifestou. - Toda essa baboseira operacional é ótima, loirinha, mas não vamos nos esquecer do detalhe principal aqui. O que foi aquilo que você fez lá na central de controle?
Banner falou aquilo que aparentemente todos desejavam dizer, pois os demais heróis cruzaram os braços e se aproximaram do centro da sala ao ouvir aquelas palavras, interessados na resposta. A garota soltou um longo e pesado suspiro, e olhou para o chão.
- Claro que vocês viram, não é? - A garota disse, desconfortável.
- É, nós vimos. E adoraríamos uma explicação, se não estiver muito ocupada correndo atrás dos seus sistemas de ploftware. - Thor disse cruzando os braços.
- Software. - Peter corrigiu, camuflando a palavra em uma tosse fingida.
-Você - Olivia disse, dirigindo um olhar curioso ao rapaz. - Você trabalha no setor de inovações, não é? Não deveria estar reparando o sistema de dados? Eu disse aos outros funcionários que...
Peter logo se ligou. A garota o reconhecera como um de seus subordinados por conta do trabalho no departamento de inovações. Provavelmente, ela nunca o tinha visto sem máscara antes, e não sabia quem ele realmente era.
- Não, é um mal-entendido. - O garoto se explicou. - Eu sou Peter Parker. - Ele se apresentou, com um sorriso simpático.
Olivia ficou encarando-o, tentando entender a relevância daquele comentário.
-E...? - Ela questionou com as sobrancelhas arqueadas.
-Oh, eu - Peter embaralhou-se. - Eu sou o Homem-Aranha.
-Você é o Homem-Aranha? - A menina perguntou, encarando o garoto de dezessete anos e um metro e setenta à sua frente.
- Sou. - Peter sorriu sem jeito.
- Isso sim é uma bela identidade secreta. - Olivia sorriu, achando aquilo uma graça.
- Bom, agora que a Srta. McCall já conhece toda a equipe, talvez ela possa nos esclarecer um pouco mais sobre si mesma. - Natasha dirigiu a palavra.
A garota respirou fundo, e olhou para todos eles.
- Vocês não são os únicos aqui que tem truques esquisitos. Aquele foi o meu.
- E o que exatamente é esse seu "truque esquisito", como você chama? - Questionou Thor.
- É uma coisa que eu faço. Eu manipulo energia com a minha mente. - A garota contou. - Posso controlá-la e transformá-la, dependendo dos meus pensamentos.
- Energia elétrica? - Visão perguntou, interessado assim como todos. - Tem um poder com energia elétrica?
- Não, não só eletricidade. Faço qualquer tipo de energia me obedecer, basicamente. - Ela explicou, um tanto retraída.
- E como exatamente isso funciona? - Bruce disse diante de seus sentidos curiosos de pesquisador.
- Bom - Olivia disse, dirigindo o olhar para Stark. - É uma história um pouco complicada.
- Vai em frente. - Tony disse a ela, recostado em uma das mesas da sala.
A garota tomou fôlego antes de falar, diante da deixa do homem.
- Ok, é mais ou menos assim. Meu pai usou, durante muito tempo, um reator ARC em seu corpo. Esse reator utilizava raios gama, que são um tipo de radioatividade, para criar energia e alimentar o eletroímã que mantinha o coração dele a salvo. De alguma maneira, por conta do longo tempo de uso, a radioatividade de dentro do reator causou uma alteração nos genes dele, como toda radiação acaba fazendo eventualmente, e essa alteração atingia especificamente os seus cromossomos hereditários. Portanto, essa alteração se transmitiu pra mim, a sua descendente, e me deu esses... poderes.
- E como a alteração se manifestou em você? - Dr. Banner perguntou, fascinado. Ele não estava errado, afinal: a radiação emitida pelo reator realmente teve efeitos colaterais sob Stark.
- A mutação genética gerou uma anomalia no meu sistema nervoso. Graças a ela, meu cérebro processa as coisas um pouco diferente de uma pessoa comum. Sou mais sensível do que os outros humanos. - Olivia continuou. - Isso se reflete no resto do corpo também, e faz com que os meus nervos possam detectar energia e se conectar com ela. É através dessa conexão que eu consigo controlá-la. Posso pegar a eletricidade de um cabo de força, por exemplo, e fazer com que ela atinja algo ou alguém como fiz com o nosso invasor, gerando uma descarga. Também posso fazer com que a energia cinética de um carro se altere, fazendo com que ele se mova mais rápido, ou então pare. Dá pra pegar a energia de um cata-vento agitando-se no jardim, e usá-la pra ligar um liquidificador ou a televisão. Ou então, transformar a energia do calor que o fogo libera em impulso pra mover uma cadeira. Eu consigo converter qualquer tipo de energia para outro, basicamente. Minhas terminações nervosas fazem a conexão, e meu cérebro a comanda.
- Irado. - Disse Parker.
- Ok, além do Stark ter escondido uma filha, ele escondeu uma filha que tem superpoderes mentais excepcionais. - Disse Natasha, admirada.
- Eu não estava escondendo nada, eu estava simplesmente cuidando da minha própria vida. - Tony alfinetou-a, farto daquela discussão.
- Cuidar da própria vida longe de todas as outras pessoas me parece sinônimo de esconder as coisas. - Romanoff replicou.
- Ok, já chega de falarem sobre isso como se eu fosse um mentiroso. - Ele irritou-se. - Eu não estava mentindo pra vocês, eu estava tentando protegê-la.
- Protegê-la de quê? - Visão perguntou.
- Eu disse que vocês não entendiam. - Tony negou com a cabeça, e fez uma pausa. - Eu não mantive a Olivia em segredo esse tempo todo porque queria escondê-la de vocês. Os Vingadores não são o problema. Vocês sabem muito bem o que meu sobrenome pode acarretar pra uma pessoa, e não é só atenção da mídia. Qualquer um que é ligado a mim fica sob constante ameaça por conta de quem eu sou.
- Tudo bem, mas por que você decidiu trazê-la pra cá de repente, então? - Thor questionou.
- Porque mesmo com todos os cuidados que eu tomei durante todos esses anos, alguém a colocou em perigo. - O homem explicou.
- Como assim, perigo?
- Descobriram a minha identidade de alguma forma. - Olivia contou. - Há alguns meses eu comecei a receber mensagens com ameaças e intimidações, dizendo que alguém teria me descoberto e iria me expor pra me fazer pagar pelo segredo. As coisas começaram a ficar um pouco assustadoras, e meu pai me trouxe pra cá. Ele me deu um trabalho administrativo dentro da sede e um dormitório isolado, pra que eu pudesse ser vigiada como uma princesa indefesa no topo da torre. - A garota ironizou. Aquilo parecia não a agradar.
- Isso explica muita coisa. - Concluiu Peter.
- É como eu disse: não estava mentindo pra vocês. Não precisavam ter armado todo aquele circo. - Stark bufou, por fim.
- Chegou a passar pela sua cabeça que, se a sua filha secreta e superpoderosa estava correndo perigo, poderíamos ter ajudado? - Bruce retrucou, um pouco ferido.
- Pois é. Bastava ter falado sobre isso com a gente e entenderíamos. Se confiasse na sua equipe, não teríamos armado todo aquele circo. - Romanoff completou sua fala.
- Ficaríamos felizes em te ajudar a protegê-la, Stark. Podia ter confiado em nós. - Disse Thor.
- E vocês poderiam ter confiado em mim também. - Tony protestou.
- Fica difícil confiar em você quando tudo que você faz parece ser inteiramente problema seu. - Natasha respondeu. - Há meses que você simplesmente não fala com a gente, pensamos que tinha alguma coisa errada.
- Me desculpem, tudo bem? - Stark ergueu a voz. - É que com todas essas coisas acontecendo, eu não estava muito preocupado em ser um líder simpático e transparente. Não sou a droga de um Power Ranger.
- Não tínhamos como adivinhar, Sr. Stark. E não foi nossa intenção interferir na sua vida ou passar dos limites com a sua privacidade. - Disse Peter. - Só estávamos preocupados com você.
- Está claro que a nossa equipe precisa rever suas políticas de confiança. - Visão constatou. - Agora, podemos perdoar os erros uns dos outros e seguir em frente, sem mais segredos e suspeitas? - Ele encarou os outros. - Romanoff? Banner?
- Sim. - Ambos falaram juntos, um pouco contrariados.
- Tony? - Disse o humanoide.
- Podemos. - Stark proferiu, olhando para Natasha e Banner do outro lado da sala.
- Ótimo. - Concluiu, dando uma pausa de alguns segundos na conversa.
- Mas que tipo de ameaças a Olivia estava recebendo, afinal de contas? - Thor fez a pergunta.
- Eram todas anônimas, do tipo mais covarde possível. - Ela se manifestou, com desprezo na voz. - Tudo começou com mensagens de texto, dizendo que "máscaras iriam cair". Depois, alguém hackeou minhas redes sociais e começou a mandar intimidações, dizendo que iriam me pegar e fazendo ameaças de morte. Pensei que tudo não passava de um trote, até o dia em que cheguei em casa e tinha uma mensagem colada na janela do meu quarto que dizia "eu sei quem você é". Foi aí que percebi que era algo sério e realmente direcionado pra mim.
- Assim que Olivia me contou, vi que o anonimato que construímos pra ela não era mais seguro. - Stark entrou no assunto. - Foi aí que decidi trazê-la pra cá. Ninguém conseguiria atingi-la aqui dentro, pois estaria cercada de guardas e eu ficaria de olho nela. Dei a ela um trabalho na sede e um disfarce, pra que ficasse segura até que descobríssemos quem estava fazendo aquilo. Apagamos todas as suas redes sociais e outros dados, trocamos o número de celular e tudo mais, pra que ela sumisse do mapa.
- Ele exagerou um pouquinho. - Olivia falou em um tom mais baixo.
- E quem era o stalker? - Peter perguntou.
- Não sabemos. - Tony continuou, com frustração. - Parte da razão do meu sumiço nos os últimos tempos foi a investigação destas mensagens. Mas todas as pistas que conseguimos nos levaram a um beco sem saída.
- O que descobriram?
- As mensagens vieram de um número encriptado e sem registros, que não tem dono nenhum. - Tony explicou. - Rastreamos a localização da qual elas foram enviadas, e todas elas têm origem em um terreno abandonado que pertence ao governo. Eu tentei acessar as câmeras de segurança que cercam o lugar, mas elas não mostram ninguém entrando ou saindo de lá no último ano.
- Acha que essas ameaças podem ter alguma ligação com o invasor, Tony? - Visão levantou a hipótese.
- Acho que um cara que é capaz de invadir a nossa sede e passar todos nós pra trás tem mais a fazer do que enviar mensagens de ódio pra uma adolescente. - Banner discordou, e todos ficaram em silêncio após a sua fala.
- Bem-vinda ao misterioso drama dos Vingadores, Srta. McCall. - Thor dirigiu-se à menina com um sorriso simpático.
- É, sei. - A garota disse, revirando os olhos. - Bom, acho que eu não tenho muita escolha. Mas já que estou metida nessa de qualquer jeito, é hora de cortar a diplomacia, ok? - Ela falou tediosa. - Sem mais "senhorita McCall", "boa tarde, senhores Vingadores" e toda essa palhaçada. Estou cansada disso.
Eles ficaram um pouco surpresos diante daquela declaração. Ela não era uma chefe de departamento formal, fofa e inteligente?
- Não tenho muita certeza, mas acho que isso quer dizer "protejam-se". - Disse Stark, o que fez com que Olivia lançasse um olhar irritado para ele diante do insulto à sua personalidade.
- Está bem, se ele não é um perseguidor de adolescentes, então o que o nosso querido Ervilha Voadora é? - Bruce procurou respostas.
Olivia, olhando para a imagem do inimigo em seu uniforme verde-musgo exibida na tela principal da sala, constatou:
- Alguém com péssimo estilo.
- Alguém como o senhor, Dr. Banner. - Stark concluiu, e o homem o encarou com desdém.
- Não podemos fazer reconhecimento facial nas imagens que temos dele? - Natasha sugeriu.
- Era uma possibilidade, mas não dá certo por conta da máscara que ele estava usando. - McCall explicou. - Já tentei fazer isso com todos os softwares possíveis.
- E nenhum desses seus smoftwarves consegue nos dizer como ele fez pra entrar aqui com tanta facilidade?
- Softwares. - Peter corrigiu Thor novamente usando uma tosse disfarçada.
- Isso é mais complicado de atestar. Mas, pelo que parece, foi realmente muito fácil pra ele parar os nossos sistemas. Ele meteu o pau em quatro firewalls como se fossem redes de caçar água-viva do Bob Esponja.
Thor ficou alguns segundos tentando absorver que a garota meiga de cinco minutos atrás acabara de usar a expressão "meteu o pau".
- Ei, calma aí - Stark se sentiu pessoalmente ofendido pelo insulto aos seus firewalls. - Primeiro de tudo: olha a linguagem. Segundo: eu mesmo instalei esses sistemas e posso garantir que não foi por culpa deles que nos invadir foi tão fácil.
- Eu sei disso, pai. Fui eu que te ajudei a projetá-los. - Olivia disse com obviedade. - É por isso mesmo que eu estou falando. Um prédio com tantas tecnologias caras e perigosas como esse, precisa de um sistema de segurança à altura. Não tenho ideia de como o Ervilha fez pra deixá-los tão fracos. Mas, do jeito que eles estão agora, eu mesma posso hackeá-los pelo meu próprio computador.
O ego de Tony ficou ferido.
- Deixe de ser boba. - Ele discutiu. - Mesmo que estejam enfraquecidos, nossos programas ainda são alguns dos mais fortes do mundo. Não tem como.
Sem responder mais nada, a garota abaixou a cabeça e começou a teclar alguma coisa no tablet que havia trazido, com ligeiros toques. Após alguns segundos, alarmes de alerta começaram a soar pela sala e também pelo andar todo em que eles se encontravam. Uma mensagem vermelha apareceu no telão principal da sala, atestando que uma invasão ao sistema havia sido detectada.
- Eu adoro estar certa. - A garota disse e riu, diante da cara emburrada de Tony.
- É, Stark, ela realmente é sua filha. - Banner brincou, notando que o orgulho era genético.
- A única diferença é que eu não sou cínica e desequilibrada emocionalmente. - Ela completou, e o queixo de Banner caiu. Estava começando a ficar fã daquela menina.
- Mas se esse cara é mesmo tão incrível a ponto de derrubar todas as barreiras virtuais brincando, por que vir até aqui pessoalmente pra roubar os dados que ele queria pegar? - Natasha questionou.
- Esse é o ponto em que acabamos vencendo. Por questões de segurança, mesmo que virem os nossos sistemas de cabeça pra baixo, nenhum dado pode ser retirado do nosso servidor. A única forma de pegar qualquer informação daqui é manualmente, de dentro da sala de comando, justamente pra impedir que invasores e hackers como o Ervilha consigam tudo simplesmente implantando algum bug que não conseguimos identificar. É um sistema...
- Manual-presencial. - Olivia falou, e esta última frase foi dita ao mesmo tempo por Peter, que também entendia daquela linguagem tecnológica.
- Isso aí. - Disse ela em resposta.
- Só pra constar, isso foi ideia minha. - Peter disse erguendo a mão, cheio de orgulho. - Fui eu que desenvolvi esse sistema.
- A garota é a Oprah da segurança de computação, e o Stark está preocupado com um stalker no celular dela. - Banner disse para Romanoff, brincando.
- É que ele está muito empenhado em tentar ser um pai preocupado. - Olivia falou. - Dá um tempo pra ele.
- Tá, isso não é muito otimista. Quem garante que o Ervilha não vai tentar roubar os dados de novo, já que não conseguiu da primeira vez? - Visão perguntou.
- Bom, nossos sistemas serão reforçados ao máximo. Se ele tentar, não vai conseguir. - Stark falou.
- Acho que ele não seria ingênuo de tentar a mesma coisa duas vezes. Quero dizer, na primeira tentativa, ele pegou nossos firewalls e fu... - Olivia ia dizer, mas encontrou com o olhar de reprovação de Tony. - Fuzilou a gente. Ele sabe que vamos fazer de tudo pra que isso não aconteça de novo.
- Precisamos ficar atentos a qualquer outra alternativa que ele venha a tentar. Com sorte, ele será descuidado o suficiente para deixar alguma pista que nos leve a descobrir quem ele é e por que está fazendo isso. - Thor opinou.
- E se ele vier, vamos ter certeza de deixar que a dona do sistema nervoso superdesenvolvido seja a primeira a lhe dar boas-vindas. - Visão falou. - Viva os raios gama.
- É, viva. Eles me tornaram uma esquisitona, mas pelo menos não me transformaram em um monstro verde e raivoso. – Olivia olhou para Bruce, que não esperava por essa.
- Os raios foram bem mais gentis com você do que comigo. - Bruce respondeu, e teria achado graça se a constatação não fosse tão trágica.
- Não, senhores. - A conversa foi interrompida por Stark. - Esse sistema nervoso superdesenvolvido ficará bem longe disso, focado apenas em seus computadores e em outras coisas de adolescente, tipo fazer as unhas ou ouvir Justin Bieber. - Ele disse com certa convicção. - Ela não vai se envolver nisso.
Thor olhou para Visão, e os dois trocaram um semblante confuso.
- Ela poderia ser de grande ajuda pra nós. - O humanoide continuou.
- Stark, sei que não é tão simples assim, mas a garota foi a única que conseguiu chutar aquele maluco daqui. Não acha que deveríamos pelo menos pensar no assunto? - Thor questionou, alarmado.
- Nada disso. Ela não tem treinamento nenhum e não sabe usar as suas habilidades direito. - Tony manteve a sua negativa. - Aquele lance na sala de controle foi ótimo, e somos gratos por ela estar lá naquele momento, mas foi só.
Olivia permaneceu calada diante da discussão que lhe dizia respeito. Visão e o deus trocaram mais uma série de olhares, mas ninguém se manifestou.
- Acho que podemos declarar essa reunião como encerrada. Já chega de conversas reveladoras, papos tecnológicos e insultos à minha pessoa. - Tony disse se dirigindo à porta da sala. - Não sei vocês, mas eu estou morrendo de fome. Adoraria comer um shawarma agora, pra comemorar nossa derrota maravilhosa. Quem me acompanha?
- Mas, Sr. Stark, o que vamos fazer se o Ervilha Voadora voltar? - Parker questionou procurando uma conclusão para tudo aquilo, enquanto todos seguiam o homem para fora da sala de estratégias.
- Ele vai voltar, pirralho. E nós vamos estar preparados pra ele.


Capítulo 4


- Cara, isso é um biorreator de escalonamento de última geração. Por favor, tome cuidado.

Dr. Banner estava apreensivo diante da reforma do seu laboratório. Com a explosão do setor vizinho no dia anterior, graças às bombas do Ervilha-Voadora, muitos aparelhos de pesquisa ficaram danificados e precisavam ser trocados. Havia homens carregando caixas para lá e para cá, trazendo novos exemplares dos seus equipamentos caríssimos de pesquisa, e reparando danos físicos nas vidraças e paredes. Bruce estava inquieto, imaginando que os funcionários não faziam ideia da preciosidade, tanto científica quanto monetária, que carregavam nas mãos. Já Stark, que supervisionava as trocas e observava a cena de longe, divertia-se ao ver Banner tão preocupado com seus novos brinquedinhos.
- Devagar com isso aí. Esse vidro tem que ficar perfeitamente encaixado, ou eu não vou conseguir o isolamento da... - Ele advertia mais um dos ajudantes.
- Calma aí, cientista maluco. Eles sabem o que estão fazendo. - Tony disse colocando a mão em seu ombro e interrompendo a cena, por mais que aquilo o divertisse.
- Está bem. - Banner respirou fundo, e teve que se segurar para não chamar a atenção de um tal de Dave pela quinta vez, ao ver que ele estava quase derrubando sua nova autoclave.
- Escuta, deixa eu te falar. O Callahan me ligou pela manhã. Ele quer fazer uma reunião hoje à noite, pra falar conosco a respeito do ataque de ontem. - Stark disse ao amigo. - Acho que seria interessante se toda a equipe estivesse lá.
- Claro. - Banner respondeu. - O que acha que ele vai dizer? Nos dar uma bronca?
- Não sei, mas parabéns é que não vai ser. Provavelmente ele vai fazer algum discurso formal e politicamente correto sobre como ele e o Conselho acham que devemos agir, mas nós conseguimos evitar que o invasor roubasse qualquer coisa, então não pode ser de todo ruim.
- E ele sabe da participação especial da Olivia nessa parte? - Perguntou Bruce, arqueando as sobrancelhas.
- Não, e nem vai saber. Quanto menos gente metida nisso, melhor. Não quero ele dando palpite no que devo ou não decidir. - Stark respondeu.
- E você já sabe o que vai fazer?
- Eu sei o que eu não quero fazer. - Disse após um suspiro pesado. - Mas já deu pra perceber que com a Olivia a situação é um pouco mais complicada que isso.
- A garota é durona. - Banner constatou. - Como alguém que eu conheço.
O cientista pareceu ponderar por alguns segundos.
- Sabe, existe um lugar que poderia ser a solução. É uma escola, onde pessoas como a Olivia, com esses dons, podem aprender a controlá-los e usá-los do jeito certo. Os alunos formam uma espécie de equipe e quem os comanda é aquele professor famoso, Charles Xavier.
- Sei, os X-Men. - Tony concluiu.
- Isso. Já pensou em levar a Olivia até lá? Xavier é um visionário, com certeza ele acharia um lugar para ela e para suas habilidades.
- Já pensei, sim. - Stark contou. - Quando Olivia era pequena e começamos a perceber os poderes dela, eu pensei nisso. Mas ela não é exatamente o tipo de aluna que eles procuram, "mutante" como eles chamam. Além do mais, a mãe dela jamais deixaria.
Banner ficou um tempo em silêncio antes de perguntar, com uma expressão curiosa:
- E quem é a mãe dela?
- Já me fizeram muitas perguntas pessoais pra uma semana, não acha? - Tony disse em resposta. Logo em seguida ele colocou os óculos escuros no rosto e caminhou para a saída da sala, deixando Banner rindo sozinho em seu laboratório cheio de ajudantes.
- Dave, qual é, cara! Esses destiladores são frágeis! - Ele exclamou, com o sorriso sumindo e dando lugar à preocupação.
Stark saiu do laboratório e foi caminhando pelos corredores da sede na direção de seu escritório. Ao adentrar o bloco administrativo, encontrou Olivia esperando-o na recepção.
- Bom dia, Sr. Stark. - Ela disse, tratando-o como seu chefe que, aos olhos dos outros, ele era. - Aqui estão os relatórios que o senhor pediu, para serem apresentados na reunião com o Sr. Callahan esta noite.
A garota esticou um pen-drive para ele, enquanto ambos caminhavam na direção da sua sala.
- Obrigado, Srta. McCall. - Disse Tony, abrindo a porta do escritório e entrando. - Pode deixá-lo em cima da minha mesa.
- Está bem. - Ela respondeu e o fez. - Se quiser, durante a reunião eu posso mostrar a ele o levantamento que fiz sobre os firewalls da segurança que...
- Espera aí. - Stark franziu a testa. - Desde quando a senhorita irá participar desta reunião, Srta. McCall?
- Bom, eu assumi que, devido à minha participação... - Ela explicou, mas foi interrompida novamente.
- Que participação? Não houve participação alguma, o invasor foi impedido de roubar os dados por uma falha no sistema. Fim de papo. - Ele tentou cortar o assunto.
- Você vai mesmo tirar todo o meu crédito assim? Estou magoada. - Olivia ironizou, lentamente saindo do papel de funcionária.
- Leia os relatórios, é isso que eles dizem. Agora pode ir, Srta. McCall. Eu tenho uma reunião em quinze minutos.
- Não tem, não. Eu chequei a sua agenda, seu próximo compromisso é só depois do almoço. - A menina cruzou os braços, e Stark fechou a cara. - Os relatórios não sabem que... - Ela continuou, e o homem colocou o dedo indicador à frente da boca pedindo silêncio.
- Não é lugar pra discutir. - Ele disse com a voz baixa e os dentes cerrados, pois não queria que ninguém ali ouvisse aquilo.
Olivia balançou sua mão direita para trás, fazendo com que a porta da sala se fechasse sozinha; para movê-la ela transmutara a energia das lâmpadas, que rapidamente piscaram.
- E pare de fazer isso aqui. - Tony continuou, enquanto sentava-se em sua poltrona do outro lado da mesa. - Sabe que as pessoas podem ver.
- Por que não quer me deixar participar? - Olivia disse contrariada.
- Porque você não é uma Vingadora. - Ele foi curto e grosso. - E aquilo que você fez na sala de controle não te deu nenhum passe livre.
- E por que não? Eu ajudei vocês. Parei aquele cara quando nenhum de vocês conseguiu. - Ela argumentou.
- Olivia, nós já tivemos essa discussão. - O homem suspirou, aborrecido. - Eu já te dei um milhão de motivos pra ficar fora disso.
- É, mas você ainda tinha a sua equipe inteira, e não só metade dela. - Olivia provocou, mas Stark não respondeu e começou a ler alguns papeis que estavam sob a mesa, ignorando-a. Ela decidiu continuar. - Os outros vingadores gostaram de mim, e queriam me colocar na equipe.
- É, mas você é minha filha, não deles. - Ele ainda encarava as folhas. - Nós nem sabemos ainda com quem estamos lidando, e eu não quero você envolvida nessa loucura.
- Bom, então você deveria ter me mandado pra um isolamento de férias nas Bahamas, e não me arranjado um trabalho aqui na sede, onde toda essa loucura acontece. - Olivia comentou.
- Não me tente. – Stark ameaçou. - Eu poderia fazer isso agora, aí não precisaria mais te ouvir reclamar.
- Agora já é um pouco tarde pra isso. Eu já estou metida nessa, quer você queira ou não. – A garota continuou, arrancando uma bufada do homem.
- Você não facilita, não é?
- Eu estou facilitando! - Ela exclamou. - Estou te oferecendo ajuda pra derrotar esse cara.
- Não quero a sua ajuda. Muito obrigado. - Tony disse e virou-se para o computador.
- Qual é, pai! Você realmente acha que, com tudo que eu posso fazer, só devo usar meus poderes pra passar roupa sem ferro e pegar refrigerante na geladeira sem precisar levantar? - Olivia disse aborrecida.
- Prefiro que faça isso do que ficar por aí perseguindo maníacos com complexo de legume que não têm nada a ver com você. - Tony concluiu. Ele voltou os olhos para a garota e viu sua cara emburrada enquanto o encarava. O homem suspirou novamente, se levantou e começou a caminhar na direção dela. - Liv, eu não sou idiota. Sei o quanto os seus poderes poderiam ser úteis durante a luta contra esse novo cara. Suas habilidades são incríveis e iriam contribuir muito com a equipe. - Ele falou, carregando um pouco de culpa por sequer pensar em colocar a garota na equipe. - Só que eu não posso.
- Mas por quê...
- Me escuta. - Ele recostou-se na mesa, ficando de frente para ela. - Você nunca treinou seus poderes antes. Eles são bons, mas quando se está sob a pressão de uma luta tudo fica mais difícil. Você seria uma Vingadora incrível, mas não posso expor você a esse risco. - A declaração dele a fez bufar. - Sei que você gostaria de ajudar, mas você ainda pode fazer isso. Já faz, aliás. Todas as inovações tecnológicas que vamos usar na caçada contra o Ervilha existem graças a você. Eu te coloquei nas Inovações porque, além de você ser uma líder incrível, poderia comandar um departamento inteiro e ficar satisfeita ao fazer parte de alguma coisa.
- E você, pai? Iria se satisfazer só com burocracia administrativa e cálculos matemáticos, mesmo sabendo que pode fazer muito mais que isso?
Ele soltou uma risada abafada.
- Se sua mãe te ouvisse falando assim...
- Ela diria "você fala igualzinho ao seu pai". - Olivia respondeu irritada, imitando a voz da mãe. - Só que ela não está aqui pra dizer isso, e nem pra opinar. Além do mais, eu já estou grandinha pra tomar minhas próprias decisões.
- Claro, é uma adulta completa. Devia dizer isso pra ela. - Stark disse com ironia. - Você sabe que, no momento em que sua mãe ficasse sabendo que deixei você se envolver com alguma das minhas missões, ela voaria de Nova York até aqui pra me dar uma surra.
- Eu diria que a culpa é minha, e aí você ficaria livre dessa.
- Olivia, eu prometi pra sua mãe que iria cuidar de você enquanto estivesse aqui, e que não deixaria você se meter em encrencas, principalmente em encrencas dos Vingadores. – Ele argumentou. - Ela morre de medo dessas coisas. Você sabe, e eu mais ainda.
- Se você pôde escolher usar suas habilidades pro bem, por que eu não posso?
- Porque ela é sua mãe e você deve obedecê-la, assim como deve obedecer seu pai quando ele diz não. - Tony continuou firme. - Há outras formas de usar suas habilidades pro bem.
- Quais, por exemplo?
- Colocando seu cérebro aguçado pra pensar em ideias geniais que os Vingadores podem usar.
- Que tal isso: eles podem usar minhas habilidades em controlar a energia e também ter a companhia desse cérebro aguçado além desta carinha linda que você me deu, sempre que precisarem.
Stark ficou alguns segundos em silêncio, encarando o sorriso cínico no rosto de Olivia. De repente, arregalou os olhos e olhou para seu relógio de pulso.
- BEEP! BEEP! BEEP! - Ele começou a imitar o som de um alerta, fingindo que vinha do dispositivo.
- O que é isso? - Olivia fez uma cara confusa.
- É meu radar paternal apitando, e ele está me dizendo que eu serei um péssimo pai se me aproveitar dos seus poderes pra conseguir vantagem contra o inimigo. - Ele disse, tentado a ouvir a garota.
- "Radar paternal"? Meu Deus, você está tão empenhado nesse lance de ser um pai de verdade que já está até fazendo piadas ruins. - A menina revirou os olhos.
- Tem razão, Liv, eu quero ser um pai de verdade pra você. - Ele concordou. - E estarei sendo um bem ruim se deixar você se colocar em perigo assim.
- Escuta, você não vai ser péssimo. Se me deixar ajudar vocês, vai estar ensinando a sua filha a lutar pelas coisas que ela acredita e sobre o valor que há em lutar pelos mais fracos, e toda essa coisa. - Olivia argumentou.
- E morrer por isso também? Ou perder um braço, uma perna, um olho? - Ele levantou a voz, fazendo a menina suspirar frustrada.
- Olha, eu entendo você se preocupando comigo, mas nesse momento eu não preciso do Tony Stark, pai preocupado tentando me proteger, e sim do Tony Stark, herói estrategista que lidera os Vingadores e que vai me autorizar a entrar pra equipe, porque sabe que deve usar toda a ajuda que conseguir.
- Você já parou pra pensar no que isso te acarretaria? - Stark continuou argumentando. - Não é só perigo de vida, Olivia. Se as pessoas descobrirem quem você é, de onde você veio, você nunca mais vai ter sossego. A imprensa cairia em cima de você como um bando de abutres e sua vida nunca mais seria normal.
- Então você planeja me manter escondida pra sempre? - Ela perguntou, direta. - E não sei se você se lembra, pai, mas tem alguém por aí que já sabe quem eu sou. Se esse alguém conseguiu descobrir isso, um dia as outras pessoas vão descobrir também. Eu terei que lidar com a situação, mais cedo ou mais tarde.
- Quer saber? Estou feliz que você tenha mencionado isso. - Tony disse, apontando para ela. - Além de todo o perigo e loucura que um cargo nos Vingadores te traria, tem esse maluco desconhecido que está perseguindo você. Se todos souberem quem você é e onde está, será um prato cheio pra ele te encontrar e te fazer mal.
- É, estando em um dos prédios mais vigiados do mundo, ao lado dos heróis mais poderosos do planeta. - Olivia retrucou. - O objetivo dele é me desmascarar, não é? Se todos já souberem quem eu sou, ele não terá mais nada nas mãos.
- Prefiro que você fique nesse prédio vigiado ao lado desses heróis sem ter que arriscar sua pele em guerras. - Stark falou olhando no fundo dos olhos dela. Olivia abaixou a cabeça, soltando um suspiro.
- Escuta. - A garota disse francamente, num tom de voz mais baixo. - Eu sei que é perigoso. Sei que, quando as pessoas descobrissem que você tem uma filha, minha vida nunca mais seria a mesma, e nem a sua. Sei que minha mãe ficaria uma fera, sei que eu estaria exposta, eu sei de tudo isso. - Ela admitiu. - Mas isso não é sobre mim, é sobre todas as pessoas que estão ameaçadas com a presença de um cara perigoso como aquele que estava aqui. Ele tentou roubar nossos arquivos, e sabe Deus o que ele vai tentar fazer a seguir. E o risco de tentar detê-lo não muda o fato de eu querer fazer alguma coisa pra ajudar. Não é só ser uma vingadora, pai, é lutar por uma coisa que eu acredito, e usar os meus dons pra algo que realmente valha a pena. Porque quando você consegue fazer as coisas que eu faço, mas não faz, e então coisas ruins acontecem, elas acontecem por sua causa. - Aquela frase pegou o homem de surpresa.
Tony ficou ponderando por alguns segundos. Era uma loucura total e descabida. Mas nem todos os nãos do mundo conseguiriam segurar a teimosia e o excesso de coragem da garota. Ele já tinha visto isso em algum lugar.
- Se alguma coisa acontecesse com você... - Ele disse, cheio de culpa.
- Não vai acontecer nada. Você vai estar lá pra me proteger. - A menina respondeu, quase rendendo-se a um pequeno sorriso.
- Escuta, não é fácil como você pensa. Esses outros caras que você vê fazendo parte da equipe... eles treinaram muito pra se tornarem os heróis que são hoje. - Tony retomou o tom sério.
- Me coloque pra treinar, então. Sei que eu posso aprender.
- Ser um herói exige muito mais do que força física e bons golpes. Tem que ter muita responsabilidade, aprender a fazer escolhas difíceis e lidar com pressão vinda de todos os lados.
- Responsabilidade você tem de sobra, mesmo. - Ela ironizou.
- Leva tempo, não dá pra se tornar um guerreiro da noite pro dia. - Tony aumentou o tom, ignorando o comentário.
- Tá bom, pai, eu entendi. - Olivia disse quase rindo. - Eu consigo.
Stark bufou e ficou em silêncio, encarando os olhos cor de mar da garota.
- Você pode treinar. - Ele falou erguendo o dedo indicador com condição, e ela sorriu instantaneamente. - Depois que tiver bastante prática, eu tiver certeza de que está pronta e perceber que aquele maluco do seu celular já era, só então, nós podemos voltar a conversar.
- Obrigada, pai! - Olivia exclamou animada e deu um abraço apertado no homem recostado na bancada. - Eu não vou te decepcionar, eu prometo!
- Tá bom. Agora volta logo pro trabalho, ou eu vou te demitir por desvio das funções. - Ele disse mal-humorado, dando um tapinha nas costas dela.
Olivia soltou um riso animado e virou-se, caminhando em direção à porta enquanto Stark voltava para sua poltrona do outro lado da mesa. Antes de sair, a garota olhou para ele novamente.
- Ah, pai, mais uma coisa.
- O Dr. Banner não vai concordar em ser seu pet. Confie em mim, eu já tentei. - Tony disse já revirando os olhos, pensando em que pedido ousado ela faria daquela vez.
- Que assustador. - Ela fez uma careta. - Eu queria saber... já que os Vingadores descobriram sobre mim e eu sou praticamente uma de vocês agora, será que posso ter meu próprio quarto na torre? - A garota referiu-se à mansão em que os heróis moravam no topo do prédio central do campus. - Estou cansada de ficar naquele dormitório isolado que você me fez.
Tony ficou encarando-a com as sobrancelhas arqueadas e uma expressão de deboche.
- Ah, qual é! É muito empenho andar até lá todo dia depois do trabalho. E não tem mais sentido, agora que já sabem quem eu sou.
- Vou pensar no seu caso. - Stark respondeu, indicando a ela que fechasse a porta quando saísse.
- Valeu. - Ela cochichou enquanto ia embora, e mandou um beijo no ar para ele.
Ele respondeu com um simples barulho na garganta. Tony imaginou que ela não teria mandado aquele beijo se ele não tivesse atendido a todas as suas requisições.

- Pare de se gabar, Parker.
- Ah, qual é! Eu acertei todos os alvos com o lança teias em dez segundos. Você viu aquilo?!

A voz dos garotos ecoava pelo enorme ginásio onde ficava o centro de treinamento dos Vingadores, reverberando pelas paredes reforçadas e pelo teto alto. Era hora do treino. Por determinação do Sr. Stark, Peter precisava treinar pelo menos três horas todos os dias, para que conquistasse mais espaço dentro da equipe. Ele fazia isso agora, praticando seus tiros de teia em alvos com desenhos de bandidos.
- Não é assim tão incrível. Os alvos estavam parados.
- Vamos colocá-los em movimento, então. Aposto que consigo do mesmo jeito. - Parker disse cheio de confiança.
A conversa foi interrompida pelo som da porta pesada do ginásio sendo aberta. Olivia McCall apareceu e os dois estranharam a presença da garota ali.
- Seus novos lança teias conseguem atirar até sessenta vezes por minuto, se você quiser. - Ela disse, caminhando em direção aos alvos.
- Como você sabe? - Perguntou Peter, encarando o equipamento no próprio pulso.
- Fui eu que os projetei. - Olivia sorriu, parando em frente a eles. - Oi, Peter Parker da Inovações.
- Oi... - O rapaz respondeu, confuso. - O que faz por aqui?
- F.R.I.D.A.Y. me mandou um aviso dizendo que precisava vir até o centro pra treinar. Eu vim e parece que tenho companhia.
- Treinar, mas por quê? E o departamento? - Ele perguntou.
- Podemos dizer que eu fui... promovida. - A garota respondeu, cheia de orgulho. - O Sr. Stark aceitou me colocar na condição de potencial vingadora em observação, e pediu pra que eu começasse a treinar até que esteja pronta.
- Wow, legal. - O menino se impressionou. - Meus parabéns.
- Valeu. E você, por que está aqui?
- O Sr. Stark tem um cargo parecido pra mim. - Disse Peter. - Quero dizer, eu já sou um vingador, só que... - Ele chacoalhou a cabeça e tentou explicar de uma forma que parecesse mais importante. - Eu sou uma espécie de vingador júnior. Treino um pouco mais pra conseguir mais créditos com o Sr. Stark e com a equipe.
- Saquei. - Ela respondeu.
Olivia notou que havia outro garoto ali junto com Peter, que ela nunca tinha visto antes. Enquanto eles conversavam, o rapaz ficou alguns metros de distância praticando arremesso, e ela ficou observando. Ele parecia muito bom, pois acertou todos os alvos com muita rapidez.
- E ele, o que ele é? - Ela notou que soara rude demais, então reformulou. - Quer dizer, quem é ele?
- Oh, esse é meu amigo, Eric. - Peter indicou o outro rapaz, que olhou para eles e acenou com um pequeno sorriso. - Ele é novo por aqui.
- Olá, Srta. McCall, é um prazer conhecê-la. - O outro menino se aproximou e disse, simpático.
- Ah, por favor, me chame de Olivia. - Ela disse, um tanto farta daquela formalidade toda que tinham com ela.
- Ele é tipo um potencial vingador em observação, também. - Peter explicou. - O Sr. Stark decidiu dar uma chance a ele há algumas semanas.
- Que demais. - Disse Olivia, cumprimentando o rapaz. - Não sabia que tínhamos novas aquisições pra equipe.
- É, pois é. Eu estava há alguns meses no processo. – O rapaz novato explicou. - Fazendo alguns testes, respondendo várias perguntas e sendo analisado pelos superiores.
- Bom, acho que nós três somos a creche dos Vingadores. - A menina comentou, e os garotos riram.
A porta do ginásio se abriu novamente, e quem entrou foi Thor, vestido com um uniforme de treino.
- E aí, crianças? - Ele disse, e as palavras reverberaram enquanto ele caminhava na direção dos três. - O Sr. Stark me pediu pra tomar conta do treino de vocês hoje. Vamos começar?
- Temos até uma babá. - Peter cochichou, e os outros riram baixinho.
- Eu ouvi isso, novato. Só por conta disso, você é quem começa. - Disse o deus referindo-se a Eric.
- Mas não fui eu que... - O garoto novo disse atônito, enquanto Peter só sabia rir dele.
- Viu só, Eric? Se quer fazer parte da equipe, deveria saber: jamais mexa com um asgardiano. - Falou o rapaz, erguendo as mãos como quem não pode fazer nada enquanto o amigo o encarava com raiva.
Thor alcançou uma espécie de controle remoto na prateleira de armamentos e apertou um dos botões. Uma porta se abriu no canto direito do ginásio, revelando robôs de treinamento e cinco deles iniciaram e marcharam. Aparentemente sem escolha, o garoto novo colocou-se ao centro da arena de batalha, pronto para enfrentar os sacos de pancada.
- Vamos ver o que você faz. - Disse Thor, que parecia estar estranhamente divertido com aquilo. Ele deu um comando pelo controle e os robôs se colocaram à frente.
Os protótipos de treinamento tinham um visual muito parecido com os robôs alienígenas do exército de Loki, o qual os Vingadores já haviam combatido em anos anteriores. Logo de cara, Eric derrubou um deles com um soco incrivelmente forte, desferido no capacete.
Um segundo chegou pelas suas costas e, com reflexos muito rápidos, o garoto virou-se para ele e levou-o ao chão, ajoelhando-se no piso almofadado da arena. O protótipo desligou-se instantaneamente, ficando inerte junto com o primeiro.
Outro robô pegara o rapaz de surpresa, atingindo suas costas com um golpe que causou um corte. Eric fez uma cara de dor e em seguida levantou-se indo na direção do inimigo, defendendo seus próximos golpes com extrema agilidade. Desviou dos socos usando a parte externa dos dois antebraços e em seguida empurrou-o com enorme força na direção de outro robô, derrubando ambos.
O último combatente restante foi enfrentado corpo a corpo. Com golpes tão ágeis quanto suas defesas, Eric desferiu três socos no robô de treinamento, acertando seu capacete e seu abdômen. Nesse momento, após um movimento brusco, o braço direito do garoto se transformou em uma espécie de lâmina, que partia de seu cotovelo e ocupava todo o antebraço. Eric usou-a para perfurar a cabeça do inimigo, e assim desligou o último robô.
- Bons golpes, garoto. - Disse Thor, um pouco impressionado. - Só não precisava ter estragado esse último, essas coisas são bem caras. Mas tudo bem, o dinheiro não é meu, e foi uma ótima luta. - Ele falou a última parte erguendo os ombros em indiferença. Logo em seguida, pressionou um botão do controle remoto que fez com que os robôs ligassem novamente e marchassem de volta para dentro do compartimento de onde vieram. Menos o último, que seguiu um caminho diferente, e pareceu se dirigir a uma espécie de oficina.
- Mandou bem, novato. - Peter disse para Eric, quando o rapaz se aproximou dos dois que ficaram assistindo.
- Eu ainda não engoli essa, cabeça de teia. - Eric respondeu, fingido estar irritado.
- Então esse é o seu... "truque"? - Perguntou Olivia, apontando para a arena onde a luta acabara de acontecer. - Você é rápido e forte?
- É, acho que sim. - O garoto riu.
A menina inclinou-se e olhou na direção das suas costas, onde havia um corte ocasionado pelo golpe daquele robô.
- Você está bem? - Ela perguntou.
- O que, isso? É de boa. - Eric respondeu, e enquanto ele dizia isso, Olivia observou a ferida cicatrizar com uma velocidade incrível.
- E você se cura sozinho. - Falou a menina, completando sua fala anterior.
- Ele é bem maneiro. - Peter complementou em tom baixo, fazendo a devida propaganda do amigo, que deu um sorriso tímido.
- E desde quando você faz isso? Tipo, você nasceu assim? - Liv perguntou, curiosa a respeito.
- Não. Na verdade, é uma história meio trágica. - Eric soltou uma risada para descontrair. - Meu pai era um cientista e ele costumava trazer muito trabalho pra casa. Um dia, quando eu era pequeno, eu estava brincando escondido no laboratório dele, e acabei derrubando uma prateleira cheia de produtos químicos que virou toda em cima de mim. Tinham algumas coisas bem esquisitas naquelas prateleiras, e foram elas todas que, misturadas, causaram essas alterações no meu corpo. Eu fiquei vários meses internado depois do acidente, com feridas horríveis, mas, enquanto eu me curava, mudanças aconteceram. Então, depois que me recuperei, eu tinha esses... poderes. - Contou o rapaz.
- Caramba. - A garota reagiu. - E por que você tem essa coisa no seu braço?
- Quando alguns produtos se misturaram, acabaram fazendo uma reação que causou incêndio no laboratório. O fogo atingiu e queimou meu braço, derretendo até o osso. Depois que eu estava bem, meu pai desenvolveu uma prótese, tão real que ninguém conseguiria adivinhar que era falsa. Anos mais tarde, depois que percebi e aprendi a controlar essas habilidades, decidi usá-las para lutar. Então ele aprimorou a prótese, colocando essa foice nela. Agora eu a utilizo durante as batalhas.
- Acessório básico. - Falou Olivia, arqueando as sobrancelhas. - Deve ser um ótimo barbeador. - O rapaz riu diante do comentário. - E como você chegou até aqui?
- O Parker aqui me apresentou pro Sr. Stark. - Disse ele, abraçando Peter pelo pescoço. - Eu trabalhava sozinho, resolvendo apenas alguns problemas na vizinhança, tipo roubos e sequestros. Nós dois estudávamos juntos e Peter acabou me reconhecendo, e eu também descobri quem ele era. Ele me perguntou se eu não queria ajudar com a equipe e eu disse que sim, é claro, então ele falou de mim para o Sr. Stark e, bom... aqui estou eu. Graças a ele.
- Eu sou demais. - Peter concluiu.
- Ei, Aranha e Mini Stark - Thor berrou do outro lado da arena. - É a vez de vocês.
Peter olhou para Olivia e disse:
- Primeiro as damas.
- Que corajoso. - Ela respondeu, irônica, e saiu caminhando para o centro. Enquanto andava a garota pegou um par de luvas sem dedos e começou a calçá-las.
- Vai lutar boxe com os robôs? - Thor perguntou, olhando estranho para as mãos dela.
- É claro que não. - Ela rolou os olhos, achando graça. - São luvas especiais.
- Que seja, então. - Disse o deus, sem uma resposta satisfatória. - Vou pegar leve com você.
Thor exerceu um comando com o controle remoto, abrindo a porta novamente, e dessa vez, apenas um robô saiu do compartimento. Olivia ficou de frente para ele, colocando um pé atrás do outro e esperando a distância diminuir. O protótipo veio em sua direção e, quando estava há apenas alguns metros, a garota esticou sua mão direita para frente e liberou uma grande quantidade de energia em sua direção. As luzes que iluminavam o ginásio piscaram por um momento enquanto Olivia as absorvia e canalizava, e se acenderam de volta pra revelar o robô caindo lentamente no chão, com um rombo enorme e redondo em sua armadura.
- Eu disse pra não destruírem as drogas dos robôs... - Thor rolou os olhos ao ver o protótipo derrubado entrando em curto.
- Como você fez isso? - Peter perguntou enquanto os dois rapazes olhavam intrigados para a menina.
- É um upgrade que eu desenvolvi. - Ela disse cheia de si. - Venho trabalhando nelas desde que entrei no MIT. Ajudam a canalizar e potencializar meus poderes.
Parker aproximou-se da garota, curioso. Ela esticou as duas palmas da mão e apontou-as para ele, dando uma melhor visão. O material que compunha a luva era todo preenchido com pedrinhas minúsculas espalhadas por toda a palma, revestindo-a.
- São cristais. Eu os chamo de Omni. Significa "todo" ou "inteiro" em alguma língua descolada que não me lembro. - Olivia explicou. - Eu os desenvolvi no laboratório da faculdade. São derivados de prata.
- Como eles funcionam? - Parker perguntou, olhando as mãos dela de perto. Qualquer tipo de tecnologia nova o fascinava.
- É um material com zero por cento de resistividade. Isso significa que não se opõem nem um pouco a conduzir corrente elétrica ou qualquer tipo de energia que eu venha a absorver e transformar, deixando meus poderes mais fluídos. E são hipercondutores, então fazem o trabalho de conduzir essa energia muito melhor do que a minha pele o faria. - Ela contou. - Os cristais também conseguem armazenar muita energia, fazendo com que eu consiga muito mais força e efetividade por poder acumular mais energia de uma vez, funcionando como...
- Supercapacitores. - Ela finalizou, e Peter disse a última palavra junto com ela.
- Irado. - Parker falou, deslizando o polegar pela superfície cravejada das luvas.
- Tá legal, garota inteligente. Eu não faço ideia do que é isso que você acabou de dizer, mas acho que te deixa páreo pra mais robôs dessa vez. - Thor interrompeu. - Só, por favor, pare de quebrá-los.
- Está bem, vou tentar. - Olivia respondeu, retornando à posição de batalha, virada para a porta ainda fechada do compartimento.
Thor abriu o portão novamente, liberando três robôs dessa vez. Eles marcharam em fila na direção da garota, que se preparou e novamente apontou as mãos para frente. O mais adiantado dos inimigos chegou perto e com um movimento simples, Olivia retirou a energia difundida dentro de seus circuitos e desligou-o, fazendo-o desmoronar instantaneamente. Porém, ao invés de cair no chão, ele sentou-se no tablado fazendo o sinal da paz e amor com as mãos.
A energia acumulada nas luvas após derrubar o primeiro foi usada pela menina para atingir o segundo, que vinha logo atrás, e ele foi ao chão com superaquecimento do sistema, cruzando as pernas e apoiando-se em um dos cotovelos como uma modelo. O terceiro robô apertou o passo, vindo na direção de Olivia. Ela esticou o braço direito para frente, estendendo a palma da mão como uma barreira, e o robô ficou paralisado. McCall roubara toda a sua energia cinética e, após empurrar a palma da mão para frente, usou-a para colocá-lo de costas no chão, caindo com toda a suavidade e delicadeza em uma posição de twerk perfeita.
- Sem quebrá-los, não é? – Olivia disse, com ironia no sorriso.
Thor observava a cena, impressionado. Enquanto a garota derrubava os três primeiros com facilidade, ele liberou outros quatro de dentro do compartimento, para dificultar. Os robôs logo avançaram. Olivia colocou os dois braços para baixo e ergueu-os lentamente até a altura do queixo, usando energia da gravidade para levantar um dos protótipos a metros do chão. Quando encontrou altura suficiente, ela soltou os braços, derrubando-o em cima de outros dois robôs, fazendo com que os três caíssem: o primeiro em uma posição magnífica de break; o segundo de joelhos fazendo o símbolo do rock n’ roll com as mãos; e o terceiro saudava um tributo abatido como em Jogos Vorazes.
Faltava apenas um, que veio correndo na direção de Olivia a todo vapor. Ela parou para pensar, e usando sua criatividade, encarou um dos enormes ventiladores que arejava o ginásio pelo teto. A garota ergueu uma das mãos para cima e as pás pesadas de metal logo pararam de girar. Então, ela olhou para o robô que vinha para pegá-la e espremeu os olhos. Com um movimento rápido no pescoço, a garota tombou a cabeça para o lado esquerdo, fazendo com que o homem de metal caísse no chão em curto circuito imediatamente, com os dois dedos do meio levantados para o ar.
- Você devia ter ido primeiro. Boa sorte em fazer melhor que isso. - Eric cochichou para Peter, que assistia à cena admirado.

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O treinamento continuou normalmente após a batalha de Olivia. Peter enfrentou os robôs e depois eles fizeram mais alguns combates em equipe. Para a garota, a sensação era ótima, pois parecia que, pela primeira vez, ela fazia parte de algo efetivamente. Olivia saiu do banho em seu novo quarto após o treino, sentindo-se renovada. Após insistir para Stark, ela acabou, de fato, ganhando um dormitório na mansão, ficando com o que era de algum dos Vingadores que se foi com Capitão América. Na verdade, havia muitos quartos vazios naquela casa por conta disso.
Ela caminhou até o lado de fora, secando o cabelo com energia térmica que saía de suas mãos. Terminou de vestir-se e foi rapidamente até o andar de baixo, onde viu Peter sentado no sofá jogando alguma nova versão de Pac-Man em seu celular, enquanto parecia aguardar alguém.
- Oi. - Ela disse e acabou assustando o garoto, que estava tão concentrado que não a viu chegar. A distração acabou fazendo com que ele perdesse o jogo. - Desculpe. - Ela riu.
- Não, não tem problema. - Peter respondeu, abaixando o celular, talvez um pouco envergonhado por ela tê-lo visto jogando aquilo.
Olivia sentou ao lado dele no sofá e esticou-se para encarar a tela do telefone que ele tentou esconder.
- Nossa, você é péssimo nesse jogo. - Ela fez uma careta ao olhar a pontuação dele.
- Consegue passar dessa fase? - Ele perguntou, esticando o aparelho pra ela.
- Por favor – Ela debochou. Talvez fosse madura demais para aquilo. - Tetris é mil vezes melhor. - Ou talvez não.
- Parece justo. - Peter disse, após ponderar um pouco. - Escuta, você foi ótima no treino hoje. - Ele falou e coçou a nuca, sem jeito de começar um assunto. - Como usa seus poderes assim se nunca treinou antes?
- Oh, eu treinei. - Olivia respondeu. - Só não conta isso pro meu pai.
- Como assim?
- Ah, você sabe. Eu não tive esses poderes pra não fazer nada com eles esse tempo todo. - A garota riu, muito mais confortável com a conversa do que ele. - Eu sempre quis ter a oportunidade de usá-los em combate um dia, então eu sempre pratiquei, principalmente depois que desenvolvi os cristais Omni e as luvas. Só que meu pai nunca gostou da ideia, então, até que ele se acostumasse com a possibilidade, eu treinava sozinha.
- Entendi. Estava só esperando a oportunidade. - Peter constatou.
- Exatamente. - Ela respondeu. - Mas e você? Eu costumava ver seus vídeos no Youtube. Desde quando você faz isso?
- Desde os quinze anos. - Peter respondeu. - Foi quando fui picado pela aranha.
- E quantos anos você tem agora?
- Dezessete.
- Hm... - Olivia murmurou, e ficou em silêncio alguns segundos, pensando. - Não acha que seu nome está um pouco errado? Tipo, Homem-Aranha... não deveria ser Menino-Aranha? Moleque-Aranha? De repente, Jovem-Aranha? - Ela olhou para Peter, que parecia ter seu orgulho ferido. - Ah, qual é! Tenho que dizer, quando eu via o Homem-Aranha por aí, eu esperava algo muito diferente... disso. - Ela disse, apontando para Peter.
- Valeu. - Parker disse, irônico.
- Tá, não é como se eu tivesse muita moral pra te julgar. - A garota admitiu. - As pessoas costumam achar que eu sou mais velha por estar na faculdade, mas eu tenho dezessete também.
- Me sinto um pouco menos ofendido. - O garoto brincou. - Mas e você? Do que as pessoas vão te chamar?
- Como assim?
- Quando for uma vingadora de verdade. Qual vai ser o seu nome?
- Boa pergunta... - A menina desviou o olhar, pensativa. - Nunca parei pra bolar um. Tem alguma ideia? - Peter tomou fôlego pra falar, com um sorriso já formado nos lábios. - E não me venha com piadas relacionadas ao meu pai, tipo "Garota de Ferro" ou algo assim.
O sorriso do menino murchou instantaneamente. Eles ficaram mais um tempo em silêncio, pensando, e Peter preparou-se pra falar novamente, mas foi interrompido.
- Eu tenho certeza que Shocker e Electra já existem. - Disse Olivia, e ele perdeu a palavra novamente. - E meus poderes nem são de eletricidade, então não funciona.
- Sabe, eu tenho uma ideia... - Peter disse após pensar mais. - Uma vez eu li alguma coisa na aula de história sobre a entidade sagrada da energia, em alguma mitologia que não me lembro agora. Acho que é dos gregos.
- Tipo um deus?
- Sim, ele era imortal e filho de um deus. Acho que era de Poseidon. - Ele contou. - Mas o nome dele é usado como substantivo feminino.
- E qual era o nome?
- Começava com A... - Ele esforçou-se para lembrar. - Arion.
- Arion... gostei disso. - Olivia sorriu, após repetir o nome para si mesma. - Parece poderoso. Boa ideia, Menino-Aranha. - Ela riu, mas Peter olhou-a com remorso.
Um som de passos veio da escada e agente Romanoff apareceu no andar de cima, caminhando até a sala.
- Oi, garotos. - Ela cumprimentou os dois, e então chegou até o fim dos degraus. - O que é isso? - Ela disse olhando para o canto da sala, referindo-se a uma árvore de natal que estava próxima da janela.
- Um dos funcionários da limpeza colocou ali. Na verdade, só está escondendo uma vidraça quebrada que eles esqueceram de trocar depois da invasão. - Ouviu-se a voz de Stark, que apareceu pela porta de entrada. - Mas eu decidi deixar. Quem sabe todo esse espírito natalino nos ajuda na investigação.
- O quê? Os Vingadores terão uma noite de natal? - Exclamou Bruce, que apareceu no topo da escada logo atrás de Natasha. - Visão e Olivia podem ficar encarregados de acender as luzinhas. - Ele fez referência ao humanoide que acabara de entrar.
- Mas é claro. - Visão respondeu. - E quem vai ser o Papai Noel?
- Eu voto no bom e velho Stark. - Thor disse, aparecendo da cozinha com um sorriso brincalhão.
- Se eu serei o Papai Noel, já sei quem serão minhas renas. - Tony respondeu imitando chifres com os dedos na própria cabeça e em seguida apontando para os dois outros. - Aliás, Thor, como vai a Jane?
Bruce soltou uma risada alta e olhou para Thor, que fez uma expressão estranha.
- Está bem, crianças. Lembrem-se que só irão ganhar presentes se forem bons meninos. - Natasha disse, sentando em uma das poltronas.
- Deem um martelo decente pro Thor, ele está precisando. - Olivia tirou sarro dele, que a olhou feio.
- E um calmante pro Banner. - O deus rebateu.
- Tony não vai ganhar presentes, ele foi mal esse ano. - Bruce complementou.
- Experimenta só. Eu corto a verba disso aqui na hora. - Stark rendeu-se a um sorriso após a ameaça.
- Por que está todo mundo reunido aqui de repente? – Olivia perguntou.
- Vamos ter uma reunião com o Sr. Callahan, da qual você não irá participar. – Tony disse para a garota, com um sorriso caricato.
- Por que não? – Ela franziu a testa.
- Você não é uma Vingadora ainda, portanto não faz parte das reuniões. – Ele concluiu. - Por isso e também porque eu sei que você vai querer dar palpites e passar por cima de mim com esse seu senso de “vamos salvar o mundo e tocar fogo em tudo” se estiver lá.
Olivia pareceu ponderar e decidiu não discutir. Já tinha ganhado muita coisa naquele dia: uma vaga na equipe, treinamento e um quarto. Perder esta reunião parecia ser o menor dos problemas para ela.
- Aliás, nem sei se você vai fazer parte dos Vingadores ainda. Eu não consultei meus colegas de equipe. – Stark disse em tom majoritário. – O que vocês acham, pessoal? Alguém se opõe à entrada da Olivia? – Todos ficaram em silêncio enquanto Tony os encarava, parecendo concordar com ele. – Alguém acha que não deveríamos dar a ela uma chance?
Ninguém se manifestou, mostrando-se favoráveis à entrada da garota, afinal todos já tinham dito isso antes.
- Sério? Ninguém vai me dar uma força e evitar que eu seja um péssimo pai, e arrisque a pele da minha filha em missões perigosíssimas? – Stark continuou questionando. – Que ótimo, vocês são péssimos heróis.
A votação foi interrompida por um alerta no telão que ficava na sala, que atestava uma ligação vinda do Conselho de Segurança. Todos pararam, fizeram caras sérias e se concentraram na tela. Stark indicou o andar de cima para Olivia, que aceitou seu comando e subiu as escadas rapidinho, dirigindo-se ao seu quarto.
- Atender. - Disse Tony, dando o comando de voz para o sistema. Em instantes, o embaixador Callahan apareceu na chamada.
- Boa noite, Vingadores. - Disse o homem, com o tom diplomático de sempre. - Peço desculpas por não ter entrado em contato com a equipe antes. Depois do incidente na base de vocês minha agenda ficou muito apertada. Preferi lidar com a situação e ter dados sólidos para apresentar a vocês quando nos encontrássemos. - Ele explicou. - Sinto muito, mas terei que ser breve. Primeiro, gostaria de dizer que sinto pelo cancelamento do desfile de Veterans Day. Foi uma pena.
- Nossa, foi mesmo. - Falou Thor, soando totalmente fingido, e Peter teve que conter uma risada.
- Porém, agora mais do que nunca, a confiança na equipe precisa ser restaurada. - Callahan continuou. - O primeiro passo é encontrar o invasor o mais rápido possível e entender o que houve para uma derrota tão... catastrófica. - Ele disse com um pouco de pesar, e todos sentiram a alfinetada. - É preciso identificá-lo e prendê-lo para demonstrar eficácia e inspirar a confiança de que a equipe precisa. Para que tal etapa seja concluída com a maior rapidez e qualidade possível, o Conselho de Segurança determinou que o caso fosse encaminhado para as equipes de investigação da CIA. Os diretores já estão colocando seus melhores homens no trabalho, dando prioridade máxima. As respostas logo aparecerão.
- Todos os relatórios que geramos e os dados que coletamos sobre o dia da invasão foram enviados ao Conselho. - Disse Tony, tomando as rédeas. - Nossos sistemas de segurança foram reforçados e reestabelecidos depois da falha que tiveram. Todas as informações estarão disponíveis para consulta da CIA a qualquer momento, para agilizar a investigação.
- Ótimo. A equipe de inteligência conseguiu alguma pista adicional sobre a identidade ou o objetivo do dito invasor? - Perguntou o conselheiro.
- Não, senhor. O bug implantado é irrastreável e não aponta para nenhum dado específico que fosse de interesse para o roubo. - Visão explicou. - O reconhecimento do suspeito também se torna impossível, devido à falta de imagens caracterizáveis.
- Bom, neste caso, a CIA terá que usar sua criatividade. - Constatou Callahan. - O Conselho confia em vocês, Vingadores, e encara este acontecido como um fato isolado capaz de ser contornado. Esperamos, contudo, que incidentes como este não se tornem recorrentes. Faremos tudo que está ao nosso alcance para ajudá-los enquanto vocês defendem a humanidade. Assim que tiver mais informações, convocarei outra reunião para atualizá-los, e tomaremos as medidas necessárias para capturar e julgar o nosso invasor, encerrando esse caso. - Concluiu o embaixador. - Tenham uma boa noite. - Ele desligou e a transmissão da TV foi desligada.
- Espera aí, nós não vamos fazer nada? - Natasha disse, virando para os colegas.
- Acho que é exatamente isso que eles querem. - Perguntou Banner. – O que você sugere?
- Descobrir quem o Ervilha-Voadora é e o que ele queria. Por conta própria. - Ela respondeu.
- É, também não gosto dessa ideia. Mas acho que a investigação seria mais rápida se estivesse nas mãos do governo, não? – Thor questionou.
- Como assim? Vocês querem ficar parados esperando a CIA fazer o trabalho? - Peter contestou.
- Não estaremos parados, pirralho. Se o governo cuida das investigações, podemos nos concentrar nas batalhas e em tudo aquilo que vem depois delas. - Stark explicou. - Ficaremos prontos pro Ervilha, quando soubermos como pegá-lo.
- E que dia será "quando"? - Natasha questionou. - Isso que você disse é a definição de ficar parado esperando.
- Eu entendo seu ponto, Nat, mas nós somos heróis, não detetives. - Banner se manifestou. – Esses caras são o maior serviço de inteligência do planeta. Eu também não gosto de deixar minhas responsabilidades pros outros, mas, neste caso, não vejo motivo suficiente pra discutir. Que diferença faz se eles pegarem o Ervilha ou nós?
- Os Vingadores estão subordinados ao Conselho. Discutir isso entre a gente não adianta, pois não afetará a decisão deles de qualquer jeito. - Visão falou. - É melhor deixar que eles lidem da forma como acharem mais pertinente. Se tomarmos isso pra nós e cometermos algum erro, será um peso enorme nas nossas costas. Mais um peso, além do desastre desta semana e de todo o resto.
- Visão está certo, não precisamos de mais um deslize para nos culparem. Mas talvez pudéssemos achar um meio termo. – Disse Thor. – Podíamos fazer um acordo com eles e concordar em investigar em conjunto. Não precisamos interferir, apenas acompanhar para termos certeza de que eles estão seguindo no caminho certo, como nós queremos. Desse jeito as coisas ainda ficam no nome deles e, se der errado, a CIA é a culpada e não os Vingadores.
- O que acham? – Stark perguntou para Peter e Natasha, que estavam insatisfeitos. – Isso dá pra fazer.
- Não vamos convencer o Callahan a deixar que ajamos por conta própria, então... – Romanoff falou, ponderando. – Não que sejamos mestres em seguir ordens, é claro. Mas não vejo motivo para perseguirmos o mesmo cara com duas investigações diferentes, é como andar em círculos.
- Ok, vou falar com o Conselho amanhã de manhã e pedir pra que deixem a equipe a par do que estão investigando. – Tony disse, ficando em silêncio logo em seguida. Diante da conclusão subentendida, já que ninguém contrariou, ele continuou a falar. - Muito bem, é hora de começar a pensar em estratégias. Amanhã falaremos disso. Por enquanto, todos para a cama.
Os heróis se levantaram um a um e devagar foram se designando para seus respectivos quartos no andar de cima. Peter estava prestes a entrar no próprio dormitório, quando a porta em frente à sua se abriu e Olivia apareceu.
- Eu não comprei essa. E você? - Ela cochichou para o garoto.
- Você estava escutando tudo? – O menino perguntou com a testa franzida.
- Mas é óbvio. – Olivia rolou os olhos. – As paredes são finas e eu sou incapaz de não me meter. Enfim, o que você acha?
- Não acho que temos escolha com o Conselho. - O rapaz respondeu. – O Callahan não vai ceder e o Stark não quer confrontá-lo. Supervisioná-los é bom, mas... não posso dizer que o Ervilha não me deixa curioso.
- Queria poder saber mais sobre ele. - McCall comentou. - Por conta própria.


Capítulo 5


O barulho de socos, combates e equipamentos em uso reverberava pelas paredes altas do ginásio. Era a terceira semana de treinamento dos novatos. Peter, Olivia e Eric aproveitavam um tempo extra depois do treino para praticar e testar seus poderes de modo mais livre.
Olivia encontrava-se no centro de um circuito, com os olhos vendados e os sentidos bem atentos. Ao redor dela estavam espalhados vários robôs de treinamento, os quais ela teria que perceber usando eletrolocalização e derrotar antes que conseguissem chegar a ela. Usando seus poderes de modo mais minucioso, ela conseguia detectar a energia que alimentava os robôs correndo por dentro deles e se aproximando, para localizá-los.
Foi assim que ela derrubou o primeiro dos adversários, desligando-o e colocando-o no chão; o segundo veio por trás, com passos quase imperceptíveis, mesmo no silêncio que agora se instalava, e Olivia o desativou usando a energia logo após, para paralisar o outro que vinha pela sua direita. O quarto quase a pegou, chegando enquanto Liv combatia os outros, mas a garota o impediu segundos antes de tocá-la, tomando sua energia cinética e em seguida desligando-o.
- Terminei? - Perguntou ela aos rapazes que a assistiam.
- Uhum. - Concordou Eric, descendo do observatório onde estava, mas dirigindo seu olhar para o teto.
Cuidadosamente, Peter pendurava-se em uma de suas teias pendendo do telhado do ginásio e aproximava-se lentamente do circuito onde Olivia estava. Era uma espécie de desafio extra, surpresa, pra ver se ela conseguia detectá-lo. Sem fazer nenhum barulho, ele descia de ponta-cabeça sorrateiramente, preparando-se para pegá-la pelas costas.
- Então tira esse negócio da minha cara. - Olivia disse impaciente, com o rosto vermelho por conta da venda quente.
De repente, a garota atentou-se; virou o rosto bruscamente e ergueu a mão direita ao lado da bochecha, fazendo com que Peter caísse da teia e fosse ao chão com quase dois metros de queda.
Eric correu até o centro do circuito, rindo alto. Ele foi até a garota e desamarrou o pano do rosto dela, revelando um sorriso de satisfação ali estampado. Peter conseguiu cair sob o apoio das mãos, um pouco desajeitado, do jeito que seus reflexos aguçados permitiram, e agora caminhava na direção deles com a cara emburrada.
- Como você fez pra derrubá-lo? - Eric perguntou, curioso e muito divertido.
- Energia potencial elástica. - Olivia disse enquanto arrumava o cabelo bagunçado. - Toda corda ou mola possui esse tipo de energia pra permitir que tenha flexibilidade.
- Muito esperto. - Falou Parker, derrotado. - Você retirou a energia elástica pra arrebentar a teia.
- E a sua cara. - McCall completou, fazendo com que Eric risse mais alto ainda.
- Eu adoro essa garota. - Ele disse e ofereceu a mão para fazer um "toca aqui" com ela, que foi atendido com uma risada.
- Tá, foi muito engraçado, agora já chega. - Peter interrompeu, com o orgulho ferido, e decidiu mudar de assunto. - Me responde uma coisa, Olivia. Você já tentou usar seus poderes com todos os tipos de energia, incluindo gravitacional, certo?
- Sim. Eu consigo erguer as coisas usando meus poderes contra a gravidade que age sobre elas. - A garota contou.
- E você já tentou fazer isso com você mesma?
- Como assim?
- É que eu estive pensando – O rapaz esclarecia. - Se dá pra levitar as coisas, será que você consegue controlar a energia gravitacional sobre si mesma e, de repente, voar?
- É uma ótima ideia... - Olivia respondeu, franzindo a testa em sinal de reflexão. - Eu costumo converter a gravidade em impulso pra que os corpos se movam pra cima. Tudo fica bem mais difícil quando é com o meu próprio corpo, porque confunde um pouco as minhas percepções, mas dá pra tentar.
- Eu não entendo uma palavra do que vocês dois dizem quando começam com esses papos científicos, sabiam? - Eric se manifestou, encarando os outros como se falassem uma língua alienígena.
- Digamos que ciência não é o seu forte. - Peter disse a ele, dando-lhe um tapinha nas costas.
- Ah, fala sério, isso nem é tão avançado. Você aprende essas coisas no ensino médio. - Olivia estranhou.
- É que o ensino médio do Eric não foi muito... acadêmico. - Parker tentou achar um termo apropriado, e o amigo deu risada. - Ele reprovou o primeiro ano. Algumas vezes.
- Peter era o nerd na escola. Minha parte era com o futebol, mas de campo, afinal - Ele indicou o braço direito, substituído pela prótese. - essa belezinha engana bem, mas não é tão boa assim pra fazer touchdowns no futebol convencional. - Ele riu. - A única matéria que eu passava direto era educação física, por conta do time. Eu era uma negação em todo o resto.
- A coisa era feia. - Parker cochichou.
- Entendi. - Olivia riu, mas logo se lembrou da ideia inicial que a deixara bastante curiosa, e decidiu voltar ao assunto. - Tá bom, vamos tentar o que você disse. Vou fazer com impulso primeiro.
A garota tomou distância e os outros dois rapazes saíram de perto, para que ela pudesse desafiar seus poderes um pouco mais. Olivia se concentrou e saiu correndo, e, após cinco ou seis passadas, deu um pulo, tentando impulsioná-lo com energia. Com o estímulo da sua mente, ela conseguiu atingir cerca de dois metros de altura, e caiu no chão um pouco desajeitada logo depois.
- Deu certo! - Peter comemorou, entusiasmado.
Após se recuperar da primeira tentativa, Olivia fez novamente e saltou. Conseguiu chegar até próximo do teto daquela vez, arrancando os resquícios da teia de Peter que se penduravam por ali. Ela chegou ao chão de novo, sentindo a adrenalina da altura.
- Ok, vou tentar me manter no ar agora. - Disse ela, ofegante pela mistura de entusiasmo e esforço.
Ela tomou alcance e pulou novamente, desta vez com menos força. Chegou a meio metro de altura, e então começou a converter a energia que a puxava para baixo para erguer-se no ar. Olivia foi a metros do chão, com os olhos apertados por conta da exigência com seus poderes. De repente, ela se desequilibrou e, com um último impulso que conseguiu, dirigiu-se até a parte acolchoada do piso, onde caiu.
Os dois rapazes correram até ela, que saiu do meio dos colchonetes um tanto atordoada. Olivia se levantou com a ajuda deles, vendo tudo girar à sua volta.
- Você está bem? - Peter perguntou ao ver que ela se desequilibrou ao tentar andar.
- Seu nariz. - Eric apontou, e ela alcançou-o com a mão, constatando que estava sangrando.
- Ah, isso é normal. - Ela disse limpando a gota com a manga do uniforme. - Não foi por causa da queda. Acontece toda vez que uso os poderes demais. Só preciso repor as calorias que gastei a mais com carboidrato.
- Vem, vamos levar você pra enfermaria. - Eric falou, passando um dos braços dela pelo seu pescoço pra lhe dar apoio.
- Vou demorar pra conseguir fazer isso direito. Tenho que forçar os poderes aos poucos, ou então, isso acontece. - Olivia explicou enquanto tentava estancar o sangramento. Ela encarou as mangas manchadas de vermelho. - O sistema nervoso sobrecarrega e acaba rompendo vasos sanguíneos. Eu sou tipo a Eleven, só que não sou careca.
- Pena que você não consegue ir ao Mundo Invertido. - Peter brincou para descontrair. De repente, ele sentiu um leve choque em seu pé, que causou um formigamento e fez com que ele desse um pulo.
- Tem razão. Mas eu venho a esse treino todos os dias e aturo vocês, o que é bem mais difícil. - Respondeu a menina, também com humor. Ela tinha gosto por encrencar com Peter, isso era evidente.
Os três saíram do ginásio caminhando lentamente em direção à enfermaria que ficava no prédio vizinho. Quando chegaram lá, encontraram certa agitação por parte dos funcionários, que corriam para lá e para cá, e viram os Vingadores aglomerados em volta de uma mesa.
- Novatos, venham até aqui. - Chamou Natasha, e os três se aproximaram curiosos. - Temos uma nova missão.
Interessados e entusiasmados, os três jovens arranjaram um espaço entre as ombreiras da armadura de Thor para ouvir o que Visão e Banner tinham a dizer.
- Ele está na ponte, atacando todos que estão de carro e a pé - Ouviram Visão na conversa que pegaram andando. - O trânsito trancou muita gente lá.
- E o que é essa coisa enorme, afinal? - Thor perguntou e os três olharam para a projeção de realidade aumentada no centro. Lá se exibiam imagens de um ser metálico enorme atacando veículos e uma multidão de pessoas correndo.
- Não sabemos, mas é grande e perigoso. Parece uma armadura de guerra. - Banner explicou.
- É a ponte Harvard. – Eric constatou ao olhar as imagens, e identificou que estavam acontecendo ali mesmo em Cambridge.
- Não podemos perder tempo. Todos para o hangar, agora. - Stark ordenou, e eles saíram dali imediatamente.
Os heróis se dirigiram apressados ao setor vizinho, onde a nave de missões já os esperava. Olivia estava logo atrás deles, ofegante, e andava com um pouco de dificuldade.
- Aonde você vai? - Tony perguntou com a testa franzida.
- Vou ajudar vocês. - Ela respondeu sem fôlego.
- Nem pensar. Você fica, Narizinho. - Disse o homem apontando para o rosto da garota e, em seguida, saiu andando atrás dos outros.
- Mas eu estou bem, só treinei um pouco demais... - Olivia justificou-se, limpando a narina novamente enquanto esforçava-se para ir atrás dele.
- Combinamos que você só faria parte da equipe quando eu achasse que estivesse pronta, lembra? Depois de muito treinamento. - Stark argumentou. - Agora vá até a enfermaria e se entupa de glicose. Eu volto já. - E saiu a passos largos enquanto falava alguma coisa em seu comunicador, deixando a garota frustrada sozinha na sala, sem energia até mesmo para discutir.
Os Vingadores embarcaram na nave de combate rapidamente, já com seus uniformes e armas preparados, e chegaram ao local da missão em minutos. De longe era possível ver a fumaça que se originava na ponte, na divisa entre Boston e Cambridge, que estava lotada de carros parados desordenadamente e pessoas correndo para todos os lados. Perto do centro, um ônibus estava em chamas por conta de uma explosão que acontecera há pouco, que foi ouvida de dentro da aeronave. E, aterrorizando os civis, uma criatura robótica de cinco metros de altura fazia o chão tremer com seus passos.
O pequeno avião aproximou-se do local com um rasante e abriu a rampa traseira, liberando Stark vestido em seu traje, Parker caindo em piruetas e Visão voando, para recepcionarem o novo inimigo de batalha. Assim que os três pousaram no asfalto, Tony esticou sua mão direita e carregou a arma na palma de sua luva, disparando um tiro contra o ser metálico há alguns metros, para anunciar a chegada de forma incisiva. Porém, poucos danos foram causados à sua estrutura, resumindo-se apenas a marcas de fumaça. Era um equipamento de qualidade, Stark constatou.
- F.R.I.D.A.Y., envie soldados de ferro para a ponte Harvard, imediatamente. - Ele ordenou pelo comunicador, prevendo que precisariam de reforço para proteger a multidão.
Em seguida, o Homem de Ferro colocou-se no ar novamente, disparando diversos tiros enquanto se aproximava voando do brutamonte. Três ou quatro disparos depois e o robô gigante virou-se para trás de punho fechado, pronto para encontrar a armadura de Stark e lançá-la a alguns metros de distância, bagunçando seus propulsores de voo.
- Nada educado. - Disse Tony, estabilizando a armadura.
O imenso ser metálico caminhava a passos largos e pesados, pisoteando os carros presos no engarrafamento gerado pelo tumulto, e agitava os braços enormes no ar para atingir os cidadãos que corriam tentando escapar dali. A cena era horrível e desesperadora, e os civis gritavam e corriam aterrorizados. Peter começou a dar pulos ágeis por entre os automóveis, fazendo o possível para alcançar as pessoas com suas teias e impedir que caíssem dentro do rio Charles após os golpes do robô, ou mesmo numa tentativa desesperada de escapar. Stark chegou para ajudá-lo, deixando os civis pendurados nas teias do rapaz que pendiam das bordas da ponte conturbada.
A aeronave dos Vingadores pousara a alguns metros da cena, no primeiro espaço livre de asfalto que encontrou. De lá, os outros quatro heróis saíram em disparada, lutando contra o fluxo da multidão em fuga, para encontrar os companheiros.
Hulk foi o primeiro a chegar para a festa, a passos largos e raivosos. Com um grito de guerra, Banner atingiu o robô com o punho esquerdo, arremessando o saco de metal na fila de carros parados. Apesar do impacto, apenas um amassado surgiu em sua armadura, dando espaço para que o inimigo se levantasse, um pouco irritado. Ele ergueu um dos braços que era equipado com um potente canhão e disparou em um caminhão de alimentos que estava atravessado na pista, atirando-o bem na direção dos heróis.
Hulk e Visão se prontificaram a ir de encontro com o veículo, parando-o antes que atingisse mais civis. Logo em seguida, do outro lado da pista, Romanoff irrompeu dirigindo um carro forte a toda velocidade. Ela anunciou sua chegada com o som da buzina, e atingiu o robô em cheio no meio do percurso, desestabilizando-o e desequilibrando seus passos.
Eric encontrava-se em cima do veículo, e assim que houve o impacto, ele saltou do teto do carro indo em direção à cabeça do robô com uma cambalhota. O rapaz pousou no capacete, com o braço direito transformado em foice, e começou a usar a arma para atingir o visor da armadura. Apesar dos golpes extremamente fortes, a tela iluminada não sofreu mais que arranhões; alguns segundos depois, o gigante de aço tomou a atitude de tirar Eric dali, arremessando-o com toda a força em cima de um Volkswagen, fazendo uma cratera na lataria. O rapaz ergueu-se momentos depois, mexendo os ombros para trás e para frente, fazendo seus ossos estralarem enquanto algumas costelas quebradas voltavam automaticamente ao lugar.
- Quem está dentro da armadura? - Questionou Thor pelo comunicador. - Ela é pilotada?
- Pilotada pelo capeta, talvez. - Foi o que Eric respondeu, ainda um pouco atordoado com a pancada.
Foi a vez de o deus nórdico desferir seu ataque ao enorme robô, chamando trovões que atingiram a pequena antena que brotava no topo da cabeça do gigante. Para a surpresa de Thor, a estrutura metálica não entrou em curto circuito, mesmo com toda a descarga de energia que acabara de receber.
- Ok, homem de lata, hora de dormir. - Disse Peter, aproximando-se da zona de conflito com pulos ágeis.
O Homem-Aranha começou a dar voltas ao redor do robô, enrolando nele uma porção de suas teias mais resistentes. Com pulos e cambalhotas, ele realizou a emboscada com agilidade, pronto para derrubar o inimigo gigante. No entanto, assim que suas teias tocavam a superfície metálica do robô, elas deslizavam e iam direto para o chão, sem aderência alguma.
- Não estão grudando! - Foi só o que ele conseguiu dizer, perplexo, antes de ser atingido.
Em mais um golpe estupendo, o robô disparou um de seus canhões na direção de Thor e Aranha, fazendo com que os dois fossem arremessados pelos ares. Peter, um tanto atordoado, conseguiu amenizar o impacto ao abrir as asas acopladas ao seu uniforme, e usou-as para planar de volta até o asfalto; Visão encarregou-se de ajudar o amigo nórdico, que não possuía nenhum acessório alado, e voou até Thor para trazê-lo de volta ao chão em seguida.
- Vou ter que apelar com esse cosplay barato de mim. - Disse Stark com os dentes cerrados, selecionando comandos em seu sistema operacional.
Aquela batalha já tinha durado tempo demais, e era preciso agir de forma mais agressiva pra que acabasse antes de ferir mais pessoas. A porção de soldados de ferro que estavam no local para auxiliar os civis na fuga do campo de batalha se aprumou. Pela ordem de Tony no sistema, eles voaram até o gigante de metal e cercaram-no por diferentes direções, acionando seus propulsores à máxima velocidade.
Os soldados tentaram ao máximo não serem atingidos pelos tiros e socos que o robô usava para se defender; quatro foram derrubados pelos golpes de resistência dele, mas eles eram maioria. Os soldados se uniram e atingiram-no em cheio a toda velocidade, empurrando-o e fazendo-o cair no rio Charles. O impacto movimentou uma grande quantidade de água, o que causou uma onda enorme, atingindo a ponte e chegando a arrastar alguns carros para dentro do rio.
- Se for tripulado, o piloto vai se afogar. - Natasha constatou enquanto todos os heróis focavam sua atenção na superfície do rio, aguardando o resultado.
Alguns segundos de suspense depois, o robô submerso ergueu-se de dentro d’água. Com propulsores de voo ultrapotentes, ele lançou-se ao céu, causando mais uma série de ondas fortes, e foi rápido demais para que qualquer um dos Vingadores em terra pudesse pará-lo.
- F.R.I.D.A.Y., envie um míssil monitorado na direção daquele homem de lata gigante, agora! - Stark ordenou e seu sistema atendeu prontamente. Em instantes, uma linha de fogo apareceu cortando o céu, seguindo a direção que fora tomada pelo gigante de aço alguns instantes antes.
Minutos depois, quando nem o míssil ou o robô eram mais visíveis no céu ensolarado, F.R.I.D.A.Y. deu um relatório.
- Sinto muito, Sr. Stark, mas o alvo designado não se encontra mais nos radares e está fora do alcance do GPS. - A voz feminina respondeu, arrancando um suspiro frustrado de seu chefe.
- Envie o míssil para o mar. - Disse Tony por fim, com pesar na voz.
- Entendido.

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O laboratório de multimídia na base dos Vingadores trabalhava incansavelmente em cima dos vídeos do combate ocorrido horas antes. E havia muitos deles: imagens de satélites, celulares amadores e redes de televisão que transmitiam o atentado na ponte para o mundo todo. Depois de acabar, ou ao menos impedir que o ataque do robô gigante continuasse, era hora de deixar os pesquisadores trabalharem: quem era o inimigo, como ele funcionava e por que ele lutou como lutou?
Todas as dezenas de telas dentro daquela sala exibiam imagens de diferentes ângulos, fontes, qualidades e tamanhos, e analisavam meticulosamente a armadura de guerra humanoide que os heróis enfrentaram. Físicos, engenheiros e matemáticos faziam cálculos e tiravam conclusões a partir do que viam, e junto a eles, as mentes mais científicas da equipe também trabalhavam na investigação. Tudo para fornecer aos Vingadores o maior número de informações possível sobre seu mais recente inimigo.
- Como estamos indo na análise do homem de lata indestrutível? - Perguntou Stark, caminhando por entre os computadores pilotados pelos cientistas do laboratório.
- Bom, seus equipamentos são ultramodernos. - Disse uma das pesquisadoras próximas a ele. - Analisamos suas armas, mas não conseguimos encontrar o exato modelo. São semelhantes aos canhões mais atuais do mercado. Tem um poder de fogo devastador, destruiriam a ponte se vocês não tivessem chegado a tempo. Ele possui mais alguns atributos bélicos, como metralhadoras e bombas, que conseguimos localizar espalhadas pelo traje, mas ele não as usou no combate. Aquele robô era uma máquina de guerra.
-O grupo C tem alguns resultados. - Parker respondeu, se aproximando com alguns relatórios em um tablet. - Pelos cálculos, a armadura dele deve pesar cerca de cinco toneladas. É bem pesada, mas compensa pela quantidade de armas que tem. O soco do robô corresponde a mais ou menos quatro vezes o peso dele, ao menos na intensidade em que ele usou os braços durante a luta.
- O desgraçado é bem forte. O que mais sabemos? - Tony questionou.
- Não conseguimos encontrar nenhum indício de que a armadura era controlada por alguém que estava dentro dela. - Dr. Banner aproximou-se para complementar o relatório atualizado. - Nenhuma das imagens mostra o que tinha por trás daquele visor de LED. Tudo leva a crer que era inteligência artificial, ou então controlada remotamente.
- Mais algum resultado? - Pronunciou Stark, analisando a equipe.
- As imagens dos radares espalhados pela pista da ponte nos deram uma estimativa da velocidade com que o robô gigante se movia. - Disse Olivia, retirando da boca o pirulito que usava para repor seus níveis de energia e glicose após a queda no treinamento mais cedo. - Quando ele saiu de dentro d'água e acelerou pra fuga, chegou a atingir trezentos e trinta quilômetros por hora.
- O desgraçado é forte e rápido, ótimo. Mas o que você faz aqui? - Stark perguntou à garota, que atirou o palitinho na lixeira e abriu outro doce. - Por que não está descansando?
- Me poupe, pai. Só mais alguns desses e estarei novinha em folha. - Ela respondeu entediada, colocando uma goma de mascar na boca.
- Te mandei ficar aqui pra que não fizesse nenhum esforço.
- É, você me deixou aqui, obrigada por me lembrar. - Olivia respondeu com ironia. - Eu fiquei assistindo tudo pela TV e, já que não fui com vocês, decidi ajudar vindo até o laboratório fazer os cálculos.
- Meus instintos paternais me dizem que deveria ficar bravo com isso, mas você foi prestativa. Um ponto pra você na missão "nova vingadora". - Disse o pai, fazendo a garota lançar um sorriso orgulhoso para ele. - Bom, eu não consegui muitos resultados. Estou tentando entender por que as teias do Parker não conseguiram grudar no robô.
- Andei dando uma olhada nisso também, acho que o metal que reveste a armadura é antiaderente. - Peter enunciou, olhando para a tela de seu tablet. - Só não sei como ele faz isso. Teoricamente, minhas teias deveriam grudar em qualquer superfície. Nunca encontrei nada que as fizesse escorregar daquele jeito. - Disse intrigado.
- Será que a superfície estava lubrificada? Vejam, o metal tinha um brilho esquisito quando o sol batia nele. - Olivia sugeriu, aproximando uma imagem do gigante em uma das telas de realidade aumentada.
- Não, isso não é lubrificação. É uma característica física, mas não sei que metal tem esse tipo de brilho. - Stark respondeu analisando as imagens com cuidado.
- A armadura mal cedeu aos socos do Hulk também. Não era um metal comum revestindo aquele traje. - Bruce falou recostando-se na bancada. - Era particularmente resistente, de um jeito que eu nunca tinha visto.
- O que acham que era? - Peter questionou.
- Pela análise das imagens que fiz com o pessoal de química, deviam haver traços de Adamantium na armadura. - Stark disse pegando os próprios laudos. - É um metal raro e bem resistente. Porém, não era Adamantium puro, pois a cor estava um pouco alterada. Os cientistas apostaram em uma liga metálica, mas não sabem dizer bem o que mais estava misturado naquelas placas.
- Adamantium não é tão indestrutível. Já consegui bater em coisas desse material com os socos do Hulk antes. - Atestou Banner, com o rosto desconfiado. - Teríamos conseguido danificar mais a armadura se fosse assim.
- Vi que o Thor tentou dar um curto nos sistemas do robô usando raios, mas não conseguiu pifá-lo. - Olivia observou, e então ficou alguns segundos a pensar. - O outro metal deve ter alguma propriedade isolante, que impediu que a descarga elétrica atingisse os sistemas... Já pensaram em Vibranium? É um dos metais que menos conduz energia, e ele também absorve grandes impactos.
- Será? Misturar Vibranium e Adamantium é muito difícil. Na maioria das vezes, um anula o outro e faz com que a liga fique muito fraca. Só deu certo uma vez, com o escudo do Capitão América. - Peter observou com a testa franzida. Ele usou um aplicativo para simular a mistura dos dois elementos em uma das telas, e o resultado fracassado se concretizou.
- Quem sabe não seja só isso. Pode ter mais alguma coisa que ajude a unir os dois metais. - Banner sugeriu. - Um terceiro tipo de metal, que impediria que o Vibranium enfraquecesse o Adamantium e vice-versa. E que fosse igualmente forte, pra deixar a armadura tão impenetrável assim.
Os quatro cérebros avançados se aquietaram em seus próprios cálculos e teorias enquanto mexiam em seus simuladores, coletores de dados e imagens nos tablets individuais. Em todos os casos, aquela teoria poderia ser válida. No entanto, nenhum dos servidores apontava qualquer sugestão do metal que pudesse compor o trio da liga para formar a armadura.
- Não conheço nenhum material que pudesse fazer esse trabalho. - Concluiu Banner, que tinha conhecimento mais vasto nessa área. - Deve ser algo novo, criado em laboratório ou sei lá. Não tem como saber.
- Mas foi uma ótima invenção, independente do que for. Deixou a gente sem reação. - Disse Parker, com uma pontada de derrota ao se lembrar das próprias teias deslizando pela superfície. - A mistura fez com que nenhum de nós pudesse parar o robô.
- Todas as propriedades resultadas da mistura dos metais nos prejudicaram de alguma forma. Só pode ser proposital. Esse robô foi pensado especialmente pra nós. - Stark ousou constatar, com os olhos semicerrados. - Thor não consegue atingi-lo com raios, o Aranha não consegue amarrá-lo com teias, eu não consigo explodi-lo e o Hulk não o derruba na briga. Tudo meticulosamente calculado.
- Concordo com você, Tony. - Banner se pronunciou, retirando os óculos. - Quem quer que o tenha projetado não o pensou para enfrentar só a polícia ou o exército humano. Queria que chegássemos até o robô.
- Não acham estranho que a primeira aparição dessa máquina tenha sido justo aqui, em Cambridge? - Olivia questionou com desconfiança. - Na mesma cidade da base dos Vingadores.
- Quem fez o homem de lata queria que o enfrentássemos. - Peter concordou.
- E queria que falhássemos. - Stark complementou suas palavras com pesar na voz enquanto olhava para a tela principal da sala, que estava ligada na BBC News. Lá, uma imagem de helicóptero da ponte destruída e dos carros em chamas se exibia.
A mídia estava toda em cima da equipe. O mundo inteiro falava sobre a ponte Harvard e o robô gigante que parecia ter tirado o melhor dos Vingadores, fazendo seus poderes parecerem inúteis. O número de mortos durante o atentado já passava das centenas e crescia a cada momento; civis morreram afogados, pisoteados e queimados enquanto os heróis pareciam ter falhado em salvá-los eficaz e rapidamente. E não adiantava negar, pois estava tudo documentado: a cada segundo, novas imagens do combate feitas por cinegrafistas amadores ou redes de televisão apareciam, mostrando Homem-Aranha e Thor sendo arremessados pelo tiro de canhão ou Stark sendo atingido pelo soco do robô.
Os Vingadores estavam por baixo, de novo. Será que eram capazes de proteger a humanidade mesmo? Como, se não foram páreo para aquele gigante de aço? Será que apenas metade da equipe original dava mesmo conta do recado, sem América e os outros? Pois aquela não era a primeira vez; não fazia nem dois meses do dia em que a própria base dos heróis fora invadida por um vilão desconhecido, que inclusive nem havia sido identificado ainda. Aqueles resultados preocupavam a população e faziam com que as pessoas questionassem até que ponto estavam seguras tendo os Vingadores como seus protetores.
- É tudo um jogo. Esse robô foi feito pra causar mortes, assustar as pessoas e nos desestabilizar. - Tony continuou, ainda observando as imagens da fumaça na ponte pelo telão. - É proposital, pra nos fazer parecer inúteis e fracos. E machucar gente.
- O que mais esses caras vão aprontar? - Bruce questionou, irritado. - Porque com certeza não parou por aqui.
- Não, não parou. Eles vão tentar nos destruir um passo de cada vez.
- Sr. Stark, você não acha que o que aconteceu na ponte pode ter alguma coisa a ver com o Ervilha-Voadora? - Parker questionou ao homem. - Quero dizer, as duas coisas aconteceram muito próximas uma da outra. Não acha que podem estar interligadas?
- Eu não duvido disso. - Falou McCall, trocando olhares com o rapaz. - Tudo pode estar relacionado. Ele poderia estar brincando com a gente, tentando nos ridicularizar pro mundo todo.
- Não sei dizer. - Respondeu Tony. - Parece estranho, mas não sei onde tudo se encaixaria.
- Se aquele cara que nos invadiu é o mesmo que fez esse robô, por que no dia do ataque ele veio sozinho e não mandou seu soldadinho de chumbo pra causar um estrago maior? - Bruce discordou.
- É, tem razão. - Stark ponderou.
- Sei lá, mas isso é suspeito, não acham? - McCall insistiu. - Eu acho que devíamos investigar.
- O governo está investigando o Ervilha, Olivia, lembra-se? - Tony advertiu-a. - Não temos permissão pra interferir nesse caso.
- E desde quando você pede permissão? - A garota questionou com a sobrancelha arqueada.
- Não é essa a questão. Se houver ligação, o FBI vai descobrir. - Ele esclareceu. - Em todo caso, eu vou falar com o Callahan pra que deem uma atenção pra isso. Temos uma equipe aqui dentro que está colaborando com o ritmo das pesquisas.
- Mas, Sr. Stark... - Peter queria intervir, mas foi interrompido.
- Vocês dois, parem de brincar de detetives. Não tem Dona Branca na biblioteca com o castiçal, entenderam? As coisas são bem mais complicadas do que uma simples semelhança. - Tony deu uma dura. - Agora, todos os esforços das nossas equipes vão ficar voltados pra investigar esse robô e as propriedades dele, pra que possamos entendê-lo e criar um plano. Essa não foi a última vez que ele apareceu, com certeza. Nossa inteligência precisa ser usada pra ciência, pois é disso que entendemos. Temos cientistas aqui, não investigadores. O FBI vai cuidar do resto, e eu vou me certificar de que prestem atenção nos detalhes. Deixem as estratégias pros adultos, ok?
- Relaxem, todos sabem o que estão fazendo, inclusive nós. - Banner tentou apaziguar enquanto Stark atendia um funcionário que se aproximou para falar com ele. - Nós estamos acompanhando o FBI e agora temos mais coisas pra cuidar. Não vamos deixar que o Ervilha ou que o robô gigante escapem.
- Voltem ao trabalho, crianças. - Tony ordenou, interrompendo brevemente a sua conversa, e retornando a atenção ao subordinado logo em seguida.
Os outros três obedeceram, pegando seus equipamentos e voltando a se separar nos devidos grupos de pesquisa; porém, os dois mais jovens estavam visivelmente contrariados.


Capítulo 6


Já era tarde da noite e Parker ainda estava no laboratório de imagens da base fazendo pesquisas e levantando hipóteses. Aquele robô gigante e sua liga metálica misteriosa realmente despertaram o interesse do garoto. Como todo bom curioso, Peter não estava satisfeito em deixar toda a diversão da investigação para os federais; ele vasculhava as imagens do atentado na ponte Harvard, à procura de alguma pista que pudesse levá-lo a respostas, já que Stark decidira abster os Vingadores dessa função.
- Eu tenho uma ideia – disse ele, eufórico, ao abrir a porta do dormitório de Olivia McCall naquela noite, sem nem ao menos bater antes.
- O que está fazendo no meu quarto? - falou a menina, que estava deitada na cama com um notebook, franzindo a testa de um jeito nada receptivo.
- Precisava te mostrar. Pesquisei a noite toda. - Peter deu um passo para dentro do quarto, ofegante por correr do laboratório até ali.
- Eu fiz alguma coisa pra você pensar que somos amigos? - Olivia encarou o rapaz por cima da tela, mas ele pareceu não ligar para o comentário.
- Eu descobri uma coisa.
- Que você precisa de roupas mais descoladas? - ela questionou, arqueando a sobrancelha.
- Não...
- Que você é muito baixinho pra um super-herói? - Olivia continuou a provocá-lo.
- Não. - ele respondeu confuso e impaciente.
- Ok, eu desisto. - a garota cedeu, bufando e fechando a tela do computador. - O que é?
- Primeiro, acabei de descobrir que, além de anomalias genéticas, seu pai também te passou a criatividade cínica dele pelo DNA. - o garoto comentou e Olivia nem ficou ofendida, pois parecia concordar com ele. - Segundo, descobri uma coisa sobre o gigante de aço. Acho que posso ter uma pista sobre quem é o dono. E, julgando pela sua indignação com as investigações mais cedo, acho que você está tão interessada em saber mais sobre ele quanto eu. Por isso vim aqui.
O semblante entediado da garota mudou instantaneamente, dando lugar à curiosidade.
- Eu estava pesquisando algumas coisas aqui também, mas não encontrei nada. Qual é a sua pista?
- Bom, eu fiquei vasculhando as imagens no laboratório mais um tempão depois que vocês foram embora – o rapaz disse sentando-se em uma cadeira giratória e aproximando-a de Olivia. - Fiquei horas sem achar nada interessante, até que vi algo muito esquisito no vídeo de uma câmera de segurança.
Olivia sentou-se na cama e agarrou uma almofada, atenta. Peter esticou o tablet que segurava para a garota, e ela se aproximou da tela para observar o vídeo.
- Encontrei esse cara nas gravações. - Parker explicou, dando zoom em um dos carros que estava parado na ponte durante a luta dos Vingadores contra o robô. Dentro do veículo, havia um homem sentado no banco da frente, parado. - É muito estranho que, no meio de um desastre como aquele, alguém decidisse continuar dentro do carro ignorando todo o perigo, certo? - ele aproximou mais. - Esse cara ficou sentado aí um tempão, como se nada estivesse acontecendo. Ele só fica olhando fixamente através da janela, observando cada golpe e movimento do robô durante a luta. Por que ele estaria ali? E por que ele não teria medo do carro dele ser pisoteado ou algo assim? Isso me fez pensar: ele deve saber de alguma coisa.
- Ele só fica sentado o vídeo inteiro? - Liv questionou, franzindo a testa.
- Quando a luta acaba ele sai. - o garoto explicou, e avançou o vídeo até perto do fim. A câmera filmara o exato momento em que o sujeito misterioso abriu a porta do veículo e saiu andando tranquilamente pela ponte destruída, e no canto do vídeo, é possível vê-lo entrar em um carro preto esperando na rua, que dá partida logo em seguida. - Então essa van aparece e o leva embora dali rapidinho.
- Mas por que esse cara ficaria na ponte o tempo todo? Se ele está envolvido, por que não podia assistir ao desastre no sofá de casa? - Olivia se perguntou.
- Bom, ele precisava estar perto do homem de lata por algum motivo. Não consegui pensar por que, só achei tudo muito esquisito, e foi a única pista que encontrei.
- Acho que sei a razão... - disse Olivia, colocando a mente pra funcionar. - Eu falei com o Banner antes de encerrarmos hoje, e ele me disse que os especialistas não conseguiram detectar nenhum sinal ou frequência que prove que o robô estava sendo controlado por satélite. - McCall contou. - E também não havia ninguém o controlando por dentro, pois não encontraram nenhum sinal de vida ou de calor nas imagens. Isso nos fez pensar que talvez estivessem comandando o robô de cima da ponte.
- Esse cara poderia estar comandando os golpes dele de dentro do carro. - Peter supôs.
- Exatamente. - Olivia concordou e ambos ficaram animados com a descoberta. - Acho que o pegamos.
- Precisamos descobrir quem ele é. - Parker voltou a encarar a imagem congelada, torcendo o lábio. - Eu usei um zoom ultramoderno pra conseguir mais nitidez no vídeo da câmera, na esperança de identificar o cara. Só que o rosto ficou muito borrado.
- Não tem problema. Passe a imagem pra mim. - ordenou a garota, abrindo seu notebook no colo novamente. Peter deslizou o dedo na tela de seu tablet, e em instantes a imagem se transferiu para o computador da menina. - Esse programa é próprio pra fotos sem nitidez. Vamos fazer um reconhecimento facial nesta carinha criminosa e ver o que conseguimos.
Olivia iniciou um software rapidamente e escaneou a foto congelada e escura do rosto do suspeito, jogando-o no servidor em busca de uma correspondência. O banco de dados não demorou a dar uma resposta, que indicava um perfil e algumas referências sobre o sujeito.
- Ta-dam. - disse ela, comemorando a conclusão. Os dois adolescentes se aprumaram para verificar o resultado exibido na tela, curiosos. - Jack O'Brien. - leu Olivia. - 33 anos, desempregado, estadunidense, já foi preso duas vezes por incitar violência nas redes sociais com um perfil anti-Vingadores. Um prato cheio para terrorismo midiático. - brincou, observando a página do homem e a lista de dados escrita.
- Parece ser o mesmo cara. Anda quieto, pois não existem notícias dele desde julho do ano passado. - Parker constatou, lendo o relatório.
- Acha que ele é o dono do robô?
- Tem tudo pra ser. Ele estava lá na hora da batalha e, pelo que diz aqui, ele leva uma vida quieta até demais. Isso significa que ele tem alguma coisa pra esconder, como todo bandido tem. - Peter respondeu. - Devíamos mostrar isso pro Sr. Stark e dizer a ele pra investigar.
- Não vai adiantar. Ele vai dizer que é besteira e mandar a gente esquecer isso. - Olivia bufou. - Devíamos cuidar disso por conta própria. - ela rolou a página do computador para baixo. - Olha só, o Jack tem um endereço no nome dele aqui em Cambridge: Rua Berkeley Odds, 75. Será que ele ainda vive lá? - perguntou com a sobrancelha arqueada. - Deveríamos fazer uma visita?
- Só tem um jeito de descobrir. Precisamos de qualquer informação que nosso querido Jack possa nos fornecer sobre o homem de lata. - disse o rapaz. - Podíamos ir lá agora, já que não quer envolver o Sr. Stark. O endereço não é tão longe daqui. - sugeriu, puxando o mapa do local.
- Uau, no meio da noite? E quebrar as regras assim? - Olivia surpreendeu-se. - Pensei que você fosse certinho.
- Podemos ir amanhã depois da aula, se você quiser. Eu não tenho o quinto período. Assim você não quebra o toque de recolher do seu pai.
- Não, vamos lá. Um pouco de rebeldia vai fazer bem pra você, Menino-Aranha. - ela disse, dando uma piscadela. Imediatamente se levantou da cama e foi até a escrivaninha, pegando um casaco que estava jogado lá por cima.
- Não sou eu quem está fugindo dos guarda-costas do pai pra... – falou o garoto, franzindo a testa e formulando um riso.
- Anda logo, Peter Parker! - Olivia o interrompeu, puxando-o pelo braço para fora do quarto e fechando a porta em seguida.

-

Peter e Olivia saíram do complexo dos Vingadores driblando alguns dos sistemas de segurança e guardas, que estavam mais preocupados em vigiar quem entrava do que quem saía. Pra evitar serem identificados, pegaram um Uber com destino duas quadras mais longe que o verdadeiro, e foram andando até a Rua Berkeley Odds, número 75. Os dois adolescentes se aproximaram do pequeno prédio de tijolos e ficaram observando o local por alguns minutos, verificando o perímetro.
- Ele mora no primeiro andar, pelo que diz o registro. - disse Olivia, olhando para o celular que tinha a cópia do dossiê salva.
- As luzes estão apagadas. Parece que não tem ninguém em casa. - Peter constatou observando o apartamento por trás da lata de lixo do beco.
- O que você está fazendo? - questionou ela, intrigada, ao observar o rapaz encapuzado e escondido, usando a máscara do Homem-Aranha no rosto.
- Estou me disfarçando. - respondeu ele, como se fosse óbvio. - Somos detetives, não somos? Não podemos ser reconhecidos.
- Tem razão, ninguém aqui conhece o Homem-Aranha. - Olivia ironizou rolando os olhos.
- É melhor do que verem o Peter Parker. Aqui, tem uma pra você. - disse o rapaz, tirando da mochila uma touca preta com furos nos olhos parecida com aquelas de bandidos de filme, e entregando para Olivia.
- Eu não vou usar isso! - ela protestou. - Tira essa porcaria antes que alguém veja você, Sherlock Holmes. Vamos entrar logo.
Discretamente, os dois atravessaram a rua e abriram o pequeno portão de ferro que cercava o prédio, entrando em seguida. Não havia porteiro, e foi fácil destrancar a porta do apartamento 101 com um grampo de cabelo que Olivia tinha. Ela e Peter entraram, fazendo o máximo de esforço para serem silenciosos.
- Vamos procurar por qualquer pista ou prova do crime. Eu fico com aquele lado. - cochichou Peter, dirigindo-se aos quartos enquanto Olivia ia até a cozinha. - Não esqueça de não tocar em nada.
Havia uma pilha de louças na pia com cerca de um mês de idade, a julgar pelo aspecto da sujeira. Tudo ali era muito desarrumado e esquisito, e Olivia diria que o apartamento estava abandonado se não houvesse comida nova no pote do gato, que por sua vez descansava confortavelmente no sofá da sala. A garota vasculhava tudo meticulosamente usando a lanterna do celular, em busca de qualquer indício de crime ali. De repente, ela ouviu a voz de Peter vindo baixinha do outro lado da casa.
- Olivia, encontrei uma coisa. - disse ele. Ela foi até o quarto, tomando cuidado para não acordar o bichano pelo caminho.
- O que foi? - perguntou ela, adentrando no cômodo que possuía um cheiro fortíssimo de meia velha. - Eu já falei pra você tirar isso! - Protestou, ao notar que Peter estava usando a máscara do Aranha de novo. Ela puxou-a da cabeça dele, dando uma bufada.
- Ei! Eu estou usando a visão noturna pra poder enxergar as coisas. - Peter protestou, segurando o tecido pelo outro lado pra impedir que escorregasse pelo seu cabelo cacheado. - Olha ali. - ele indicou a escrivaninha.
A garota aproximou-se do móvel entulhado de coisas para observar. Ali, algo semelhante a um protetor auricular ou um comunicador de ouvido estava jogado, e emitia um brilho peculiar quando a luz que vinha da janela aberta batia sobre ele. Embaixo do aparelho, havia um bilhete digitado em papel reciclado.
"Faça o maior número de vítimas que puder. Ponte Harvard, 14h.
Magnum."

- Ele devia mesmo estar controlando o robô. - disse Peter num sussurro, comemorando o palpite. - E devia ser com essa coisa.
Aquilo era uma pista e tanto, e trazia muitas perguntas. Porém, não seria possível responder a todas elas ali naquela hora, pois a qualquer momento aquele gato gordo do sofá poderia acordar, e Jack logo voltaria para casa.
- Vamos levar isso pro laboratório. - Disse Olivia, esticando a mão até o objeto.
- Não podemos, ele vai dar falta. - Impediu Peter, segurando a mão dela.
- Acredite em mim, ele nem vai perceber que algo sumiu no meio dessa bagunça. - respondeu ela, encarando a mão do garoto sobre a sua. - E precisamos de mais pistas.
- Tá, vamos logo. - Parker cedeu. - Ele jamais vai saber quem foi que pegou mesmo, a não ser que o gato conte.
Olivia apressou-se em pegar um lenço dentro do bolso do casaco e colocar o objeto dentro, enrolando e guardando-os logo em seguida. Peter sacou o celular e tirou uma foto do bilhete sob a mesa, e logo os dois saíram do cômodo com passos leves. Atravessaram a sala e chegaram até o corredor do prédio em segurança, e já se viravam para dar o fora dali.
- A porta. - Falou Peter, alarmado, parando no meio do caminho. - Não podemos deixar aberta.
Olivia encarou a fechadura de metal e esticou uma das mãos na direção dela, girando o dedo indicador para a esquerda. O trinco fez um estalo ao trancar, graças ao movimento.
- Eu devia ter feito isso quando entramos. Perdi um grampo à toa. - ela lamentou, então os dois correram até o lado de fora e saíram andando na calçada, como se nada tivesse acontecido.
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- As coisas estão um pouco estagnadas. Provavelmente teremos mais informações em breve. - disse Banner recostado na bancada do laboratório, respondendo à pergunta de Olivia sobre as investigações do robô. Ela estava checando se os rumos das pesquisas batiam, e procurava mais pistas que ajudassem a investigação paralela.
- Tudo bem. Me avise se precisar de alguma coisa do setor de Inovações - a garota se prontificou enquanto servia-se de café na máquina expressa. - Não estou tão ocupada hoje.
- Ok, eu chamo você. Provavelmente vou querer aquele novo programa de...
A conversa dos dois foi interrompida por uma batida na porta de vidro. Eles viraram-se para encontrar Peter esperando do outro lado, vestindo uma camiseta do Gandalf.
- Com licença, Banner, posso roubar a Olivia um pouco? - perguntou o rapaz cordialmente, colocando a cabeça para dentro do laboratório.
- É claro. - concordou o cientista. - Nos falamos depois, garota.
Ele fez um joinha com o dedão e Olivia acenou positivamente antes de sair do local.
- Bom dia, Menino-Aranha. - cumprimentou a moça, dando um gole no café enquanto caminhava pelo corredor. - Gostei da camiseta, não poderia estar mais nerd.
- Com o passar dos anos, comecei a ver isso como um elogio. - disse ele, andando ao lado dela. - Bom, é hora de irmos ver aquela coisa.
- Seu projeto de robótica? - Olivia disse num volume um pouco mais alto que o normal, ao ver que a secretária de seu pai passava por eles com um sorriso simpático. Quando ela se afastou, a garota retornou ao tom baixo. - Ótimo, eu estava mesmo curiosa pra continuar a investigar. Aquele treco de ouvido que acham os ficou na minha cabeça a noite toda.
- Acho que tenho algumas respostas. - disse Peter, indicando a segunda saída da direita para ela. - Consegui um laboratório pra nós.
Peter e Liv instalaram-se numa sala vazia e equipada, prontos para teorizar sobre as descobertas da noite passada e tentar conectar os pontos. No telão principal, havia imagens do bilhete misterioso e do aparelho roubado para ajudá-los na análise. Os computadores e outros aparelhos do laboratório estavam todos funcionando a favor deles, na tentativa de levantar dados sobre o robô e seu mestre.
- Temos um correio elegante anônimo, um aparelho de surdez e um gato com sobrepeso. - constatou Olivia, olhando para as pistas. - Como tudo isso nos leva até um robô gigante e a ponte Harvard?
- Bom, quem quer que esteja armando tudo isso quer machucar pessoas e causar pânico. O que está escrito no bilhete prova isso. - Peter respondeu, lendo a frase "faça o maior número de vítimas que puder" na imagem do papel. - Não sabemos o motivo disso, mas sabemos que o nosso amigo Jack está envolvido.
- Não tem explicação melhor pra ele estar lá além de ser o mestre do robô. Ele estava comandando os golpes, só não sabemos muito bem como.
- Esse comunicador de ouvido que encontramos é algo importante e está diretamente ligado com o ataque, julgando pelo bilhete. É uma espécie de controle remoto pra comandar o robô, só precisamos entender como funciona. - Peter deu alguns passos em direção a uma máquina. - Eu já tomei algumas providências quanto a isso. Fiz um raio-X no comunicador e encontrei detectores de sinapses dentro dele. Significa que, quando você coloca essa coisa no ouvido, ela meio que se conecta com o seu cérebro. É um ótimo começo.
- Isso explicaria por que o Jack só ficou sentado no carro o tempo todo. - Olivia teorizou. - Se for o que eu acho, ele não precisava se mover pra controlar o robô, bastava pensar que a armadura o obedecia. Afinal, não tinha nada nas mãos dele que servisse como controle, mas não vimos seu ouvido esquerdo no vídeo. Ele devia estar usando esse negócio e controlando o robô por ele.
- Você pensou o mesmo que eu, Stark: o homem de lata é controlado com a mente. - disse Parker, e a garota fez uma careta ao ser chamada por aquele sobrenome, o que o fez rir. - Ok, isso é ótimo. Também encontrei outra coisa na análise que deve esclarecer mais pontos. Existe uma espécie de código gravado nesses receptores, como se fosse uma sequência de números e letras.
- Algum palpite do que pode significar? - McCall questionou, olhando para o tal código que Peter colocara no telão. Era uma fileira interminável de algarismos.
- Bom, eu não sei... - falou Peter, pensativo. - Pode ser um código operacional, uma trava... Mas, com o que temos até agora, parece ser muito fácil controlar o robô. A pessoa que tem inteligência pra projetar uma arma dessas não a deixaria tão simples assim de comandar, porque seria só roubar o comunicador de ouvido e o homem de lata obedeceria a todas as suas ordens. Pra mim é uma senha, só não sei como funciona.
- Olha, eu tenho uma suspeita, mas não dá pra provar – disse Olivia, entortando a boca. - Se o controle é cerebral, isso aí pode ser a trava. Assim não daria pra qualquer um comandá-lo como bem entendesse, só vestindo o comunicador. Se esse "controle-remoto" funciona com sinapses, talvez só se combine com as ondas cerebrais de uma pessoa específica. Cada um tem seu padrão, não é? Esse código deve servir pra identificar o padrão cerebral do Jack, e receber ordens apenas dele. Seria inteligente, não seria?
- É, bem esperto. - Peter ponderou. - Mas não temos como saber, porque se tentarmos usar, o robô não está aqui pra obedecer e mostrar que estamos certos.
- Exatamente. - concordou a garota, que já tinha previsto isso.
- Bom, de qualquer forma, a tecnologia que tem nessa belezinha aqui é única. - falou o garoto, encarando o comunicador que estava dentro de um dos scanners. - Eu nunca vi nada parecido com isso, é tudo muito esquisito. Não parece com nada do que usamos por aqui.
- É uma maluquice tecnológica, isso sim. - falou Liv. - E, se quer saber, eu acho que deveríamos destruí-lo. Teoricamente, se o controle se foi, não dá mais pra ligar o robô, não é?
- Ah, eles devem ter um de reserva. - Parker duvidou. - Mas concordo com você. Não duvido que essa coisa tenha autodestruição ou algum rastreador escondido dentro. Melhor nos livrarmos dele.
Dito isso, o garoto tirou o comunicador de dentro da máquina e colocou em cima da bancada e, em seguida, pegou um equipamento do laboratório que se parecia com um martelo. Peter tomou distância para quebrá-lo e, em seguida, acertou o objeto.
- Eu estava com medo disso. - disse Olivia, mordendo o lábio inferior, assim que viu que o impacto não causou nem mesmo um arranhão no controle-remoto esquisito.
- Pensei nessa possibilidade assim que peguei o martelo – Peter riu, negando com a cabeça. - É claro que eles fizeram isso.
Olivia devolveu o equipamento para dentro do scanner e teclou algumas coisas pedindo uma análise química do objeto. Em segundos, o aparelho mostrou a composição detalhada.
- Adamantium, vibranium... é a mesma liga metálica que reveste o robô. - constatou ela. - Exatamente a mesma, indestrutível.
- Pensando bem, o comunicador tinha um brilho esquisito quando a luz da rua batia nele lá no apartamento; igual ao brilho do robô. - Peter ligou os fatos. - Que ótimo. Onde vamos guardar essa coisa?
- Bom, não dá pra jogar no lixo ou largar na rua, então... - disse a garota, erguendo as mãos em sinal de rendição. - Vamos deixar aí e rezar pra que não exploda ou vire um robô espião tipo um Transformer.
- A armadura e o controle são feitos do mesmo material. - Peter falou com os olhos cerrados, encarando os resultados da análise. - E os dois tem aquele terceiro componente desconhecido.
- Não conseguimos descobrir o que era pelas fotos, mas agora temos uma prova física... Será que não dá pra mandar os scanners analisarem e tentarem descobrir ao menos uma pista do que é esse terceiro componente?
- Até dá, mas isso vai demorar semanas. - falou o garoto, pensando nas possibilidades. - O scanner trabalha com um banco de dados dos elementos que já existem. Esse não tem registro, então vamos ter que criar um dado novo, basicamente. Vão ser necessários vários testes.
- Enquanto o robô não aparecer pra pisotear pessoas outra vez, temos tempo.
- É, mas nós sumimos com o comunicador. Ele já deve ter percebido a essa hora. - alertou o rapaz. - Agora o nosso inimigo já sabe que chegamos perto dele.
- Parker, eu não sei quanto a você, mas... - Liv arqueou as sobrancelhas. - Não acho que o Jack é o cara que precisamos. Quero dizer, você viu a casa dele? Alguém com tanta inteligência e grana pra construir o homem de lata não vive daquele jeito, todo desorganizado. Tem mais alguém por trás disso.
- Esse lance do robô é maior do que a gente pensava. - Peter falou. - Não acho que seja coisa de alguém que trabalha sozinho. Jack O'Brien era só um capanga, sim. O verdadeiro vilão - disse, usando uma caneta virtual para circular a assinatura do bilhete no telão. - É esse cara aqui. O tal Magnum.
- É, e ele tem um apelidinho. O que significa que não quer ser reconhecido pelo nome real dele. - falou Olivia, desconfiada. - Conheço muito esses disfarces. Será que os funcionários sabem quem ele é, ou só conhecem o pseudônimo?
- Tem certeza de que isso é identidade secreta? Eu achei um nome legal pra um filho: "Magnum". - falou Peter com as sobrancelhas erguidas, fazendo um comentário de descontração, e levou um tapa no ombro vindo da parceira.
- Não faço ideia, mas minha cabeça já está cansada. Anda logo, Menino-Aranha, vamos almoçar. - ela chamou, pegando seu crachá de cima da mesa e virando-se na direção da porta.
Parker estava prestes a segui-la, mas quando foi desligar os aparelhos, notou uma coisa curiosa no telão, que o fez encarar a imagem exibida por alguns instantes.
- O que você tá fazendo, garoto? - Olivia perguntou confusa, estranhando a posição do rapaz, que estava parado com a cabeça torta para a esquerda.
- Olha isso. - disse ele, sério. - Na assinatura do chefão, a letra M. - indicou, e ela prestou atenção. - É bem maior que todas as outras da mensagem. E não vamos esquecer que esse bilhete foi digitado, então não tem caligrafia de ninguém.
- Tem razão, está em destaque. Será que ele se acha "Magnífico"? - perguntou ela, observando que a letra era pelo menos três vezes maior que as outras do bilhete. - Ou "Muito especial"?
Peter não respondeu, apenas correu até um dos computadores com o semblante pensativo. Com alguns cliques rápidos, ele exibiu na tela uma foto do dia do ataque à base Vingadores, e aproximou a imagem no invasor, carinhosamente apelidado de Ervilha-Voadora. Focou a exibição em seu uniforme, e então colocou lado a lado com a imagem do bilhete.
- Eu posso estar louco, mas... - falou Peter, incerto. - Esse W do uniforme do Ervilha pode ser...
- Um M invertido. - os dois falaram juntos.
- Você está um pouco louco sim, mas é possível. - disse Olivia, ficando na mesma posição que Peter estava, com a cabeça torta para enxergar a letra ao contrário.
Os dois jovens ficaram alguns segundos em silêncio, sem compartilhar mais ideias.
- Vamos mesmo fazer isso? - perguntou Parker. - Tipo, investigar sozinhos?
- Acho que não dá pra convidar o Hercule Poirot pra se juntar ao time, então... - Liv deu de ombros.
- Não é isso - Peter rendeu-se ao riso. - Será que não deveríamos contar pra alguém sobre o que descobrimos? Tipo, seu pai, por exemplo? Porque temos provas, e quem sabe ele...
- Não, você está louco? - Olivia o interrompeu, indignada. - Ele vai matar a gente se descobrir que estamos vasculhando pistas sem ele saber. Mesmo que estejamos no caminho certo, nossa investigação é meio ilegal, e meu pai está estranhamente correto com as regras ultimamente. Ele vai mandar a gente não se preocupar, vai entregar tudo pro FBI e ainda vamos perder pontos com a equipe por não seguir as ordens.
- Mas não podemos guardar isso só pra nós, Olivia – discordou o Aranha. – Tem vidas em perigo.
- Eu sei disso, mas temos que fazer do jeito certo. Vamos ser muito mais rápidos se agirmos sozinhos, e só podemos contar quando tivermos certeza. Do contrário, ninguém vai nos ouvir. - McCall insistiu. - Eu quero descobrir quem é esse cara. Seja lá quem for esse maluco do Magnum, ele está machucando pessoas inocentes por alguma razão, e não importa qual for, é a errada. E nós temos que pará-lo, pois esse é o nosso trabalho. Somos os Vingadores, e vamos vingar e proteger as pessoas que sofreram ou ainda podem sofrer com isso.
A conversa dos dois adolescentes foi interrompida pela porta do laboratório abrindo. Peter apressou-se para desligar todos os equipamentos do laboratório, ocultando qualquer prova do delito dos dois, bem a tempo de Stark entrar pela fresta entreaberta.
- Oi, crianças. Estão brincando de Alquimia? - disse ele, com um bom humor estranho. Os dois permaneceram quietos. - Vocês são os membros mais novos dos Vingadores, mas pensei que iriam querer participar da reunião que teremos agora com o Conselho da ONU. Parece que eles têm novidades pra nós. Espero vocês na sala de conferências em cinco minutos para o relatório completo. - falou Tony, e saiu dali tão rápido quanto apareceu.
Os dois jovens obedeceram, e foram até a sala indicada imediatamente. Lá, todos os outros membros da equipe já estavam reunidos esperando pela videoconferência que seria realizada com o embaixador Callahan, para trazer a tal novidade.
- Boa tarde, Vingadores! - disse o homem engravatado que apareceu no vídeo, com satisfação na voz. - Venho trazer a vocês as ótimas notícias que acabei de receber: o FBI identificou e prendeu nesta manhã o sujeito que realizou a invasão ao complexo dos Vingadores no mês passado. E, como vocês previram nas investigações conjuntas, ele estava mesmo conectado ao atentado com o robô gigante na ponte Harvard. Segundo nossas pistas, os dois criminosos eram, na verdade, a mesma pessoa.
Todos comemoraram a notícia. Era um alívio e uma vitória finalmente ter o culpado por toda aquela insegurança e desconfiança atrás das grades. Em meio às celebrações, Olivia e Peter se entreolharam, pensando no que acabaram de ouvir. Estavam confusos e muito, muito curiosos.


Continua...



Nota da autora: E ESSE OTP, PRODUÇÃO? Eu ouvi um amém em nome de Peter Parker e Olivia McCall em uma missão juntinhos? Ouvi, sim! Precisamos de um nome pra esse shipp, como acham que poderia ser? Oliveter? Spidarion? Comentem aí!
E esse maníaco dos robôs, será que os nossos jovens heróis acertaram nas investigações? O FBI o pegou? Quero teorias na minha mesa, agora!
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