Ice and Fire

Última atualização: 28/04/2019

CAPÍTULO 1 - PILOTO

Essa é uma história apenas inspirada na série televisiva Game of Thrones, podendo conter traços da série ou questões originais criadas pela autora dessa fanfic.

Rhaena's Point Of View
Antes da Conquista, Westeros era composto pelos seus sete reinos originais. O Norte, governado pela Casa Stark. O Vale, governado pela Casa Arryn. As Terras Ocidentais governadas pela Casa Lannister. As Terras Fluviais governadas pela casa Hore (que posteriormente foram separadas em duas, a região continental ficou com a Casa Tully de Correrrio e a Casa Greyjoy com a porção insular). As Terras da Tempestade governadas pela Casa Baratheon. A Campina, governada pela Casa Gardener(e posteriormente pelos Tyrell). E o Principado de Dorne, governado pela Casa Martell.
A minha família, a Casa Targaryen, porém, não viera de Westeros. Nós somos originários de outro continente, o Essos. Viemos de Valiria, e antes que a cidade fosse destruída pelo cataclismo, fugimos rumo a Westeros e fomos parar na Pedra do Dragão. Ao nos instalarmos então, Aegon O Conquistador iniciou a unificação política de Westeros, juntando os Sete Reinos que até então era independentes. Grande parte do êxito dessa conquista foi devido aos dragões que minha família trouxera com ela de Valiria.
Apesar de rebeliões, guerras civis e a morte dos últimos dragões, a Casa Targaryen continuou governando os Sete Reinos por mais de 280 anos. Na minha família, a pratica incestuosa de casar irmãos era comum, para que o sangue se mantivesse puro. Por isso talvez, o traço da loucura que estava em nossa genética fosse passado para muitos Targaryens. Costumavam dizer que cada vez que um Targaryen nascia os deuses jogavam uma moeda para decidir se seria cara ou coroa, louco ou poderoso. E durante o período do reinado de meu pai, Aerys II, conhecido como O Rei Louco, suas atitudes acabaram resultando na Rebelião de Robert Baratheon. Durante essa rebelião, a casa Baratheon saiu vitoriosa e meu pai foi assassinado pelo Regicida Jaime Lannister, iniciando assim, uma dinastia Baratheon-Lannister. Quando o Usurpador tomou o trono de ferro, minha família fora praticamente extinta, só restando eu e meus irmãos.
Depois da Rebelião de Robert, meu pai, o Rei Aerys II estava morto e minha mãe Rhaella fugiu com meus dois irmãos mais velhos, Daenerys e Viserys, e comigo ainda em sua barriga. Ela conseguiu chegar até as proximidades das Cidades Livres, onde ela deixou meus irmãos com alguns servos fiéis à nossa família para serem levados ao exílio. A razão pela qual minha mãe não fora junto com eles é que haviam dezenas de cavaleiros do Rei Robert atrás dela, e para que não conseguissem pegar meus irmãos, ela fugiu de lá a procura de outro abrigo, fazendo assim com que os cavaleiros fossem atrás dela e Daenerys e Viserys ficassem a salvo. Ainda procurando abrigo ela entrou em trabalho de parto, e em um local que não sei ao certo, eu nasci. Minha mãe, ainda com os cavaleiros do rei ao seu encalce, teve que tomar uma difícil decisão. Com as pessoas que a queriam morta cada vez mais próximas, um dia após o meu nascimento ela me entregou ao único servo que ainda a restara, Laegel Celeris. Suas últimas palavras foram para que ele me levasse até a Campina e vivesse comigo lá. Após me entregar a Laegel, ela fora encontrada pelos cavaleiros do Rei que a mataram.
Anos se passaram, e quando o Rei Robert Baratheon morreu, seu filho mais velho deveria assumir. Porém, a antiga mão do Rei, Eddard Stark fora assassinada por traição assim que o Rei morreu e surgiram boatos de que os três filhos de Robert na verdade não eram filhos deles. Tanto Joffrey, quanto Myrcella e Tommen eram filhos da rainha Cersei Lannister com seu irmão gêmeo Jaime Lannister. Nada disso fora comprovado, mas perante o caos que o reino estava, assim que o Rei Joffrey Baratheon assumiu o reino uma Guerra dos Cinco Reis se iniciou. Cinco lordes de Westeros auto proclamaram-se Reis que deveriam suceder o Usurpador no trono de ferro. Iniciou-se a guerra então entre o herdeiro de Robert, Joffrey Baratheon; os dois irmãos mais novos de Robert, Stannis e Renly Baratheon; o Lorde de Winterfell, Stark e o Lorde das Ilhas de Ferro, Balon Greyjoy. Ao fim da guerra, o rei Joffrey Baratheon permaneceu vencedor e com o trono de ferro. As únicas modificações em Westeros foram que Stark se tornou o Rei do Norte e o Rei Joffrey meses após ser coroado morreu e seu irmão Tommen assumiu o reino.
Hoje, as regiões de Westeros andam normais demais e tenho um pressentimento que logo isso vai acabar.
299 D.C
Depois da morte de minha mãe, todos pensaram que eu havia morrido também. Afinal, ela ainda estava com a barriga de gestante quando foi morta. Eu e Laegel conseguimos chegar até a Campina, onde vivemos agora. Meu nome não é mais Rhaena Targaryen, e sim Florent. Laegel se passa por meu pai. Ele me ensinou a lutar, ler e escrever. As únicas "memorias" que tenho sobre a minha família são das histórias que Laegel me conta e dos poucos livros que ele conseguiu trazer na fuga, incluindo dois diários da minha mãe. Hoje vivemos no Castelo Jardim de Cima, já que Laegel serve os Tyrell, que é a casa que governa a Campina. Eu cresci no castelo, e apesar de ser apenas filha de um servo para aquele povo, eu cresci brincando com Margaery, filha de Mace Tyrell, o Senhor do Jardim de Cima. Sou uma das donzelas que vão com ela a quase todo canto. E além de Laegel, apenas Margaery sabia meu segredo.
Estava sentada em um banco em uma das partes do imenso jardim do castelo lendo um dos diários de Rhaella, minha mãe. Ela havia entregado dois para Laegel antes de se entregar aos cavaleiros do Rei. Ela amava escrever. Um era onde ela escrevia coisas do seu dia-a-dia, vai desde o nascimento de Viserys até quando ficou grávida de mim. No outro escrevia coisas sobre a nossa família que os livros não contavam e também havia uma parte no final que era uma espécie de "manual" de como ser uma excelente rainha que ela havia escrito para Daenerys e possíveis outras filhas que tivesse, no caso, eu. Como todo Targaryen, ela era intuitiva e pressentia que não passaria tanto tempo com os filhos, por isso, o diário era uma maneira dela nos passar alguns ensinamentos e ser presente na nossa vida. Eu já havia lido e relido seus diários dezenas de vezes. Era o único jeito de me sentir próxima dela e da minha família que eu sequer conheci. Toda vez que lia pensava nos meus irmãos, como estavam e onde estavam. A única coisa que sabia era que deviam estar em algum lugar no continente de Essos. Pensava se ainda estavam vivos, se um dia retornariam ou se tentariam retomar o que Robert o Usurpador nos tirou. Mas não havia o que fazer. Eu não tinha nem como mandar um corvo. Mandaria pra onde? E mesmo que soubesse para onde mandar seria perigoso demais caso descobrissem quem eu sou. Mesmo o Usurpador já estando morto, e seu filho Tommen Baratheon sendo o novo Rei, era perigoso demais que eu reaparecesse logo agora.
⁃ Deixe-me adivinhar. Diário da sua mãe? - disse Margaery se aproximando de onde eu estava sentada e apontando para o livro em minhas mãos.
⁃ Como se essa fosse difícil, milady. - respondi sorrindo. Ela se sentou ao meu lado. Fechei o diário e comecei a observar o vasto jardim a minha frente.
⁃ Você tem que me emprestar esse livro. Se eu for um terço da Rainha que Rhaella era eu serei A rainha. - Margaery sempre quis ser rainha, desde pequena. Quando o rei Robert Baratheon morreu ela se casou com Renly Baratheon, irmão mais novo do Usurpador. Na Guerra dos Cinco Reis, ela acreditava que Renly e seu exército venceriam e ele seria coroado o novo Rei de Westeros e ela se tornaria Rainha, como sempre sonhou. Mas antes mesmo de seu exército lutar, Renly Baratheon morreu e Margaery voltou para a Campina. Após os Tyrell se unirem aos Lannister para ajudarem os Baratheon na Guerra dos Cinco Reis, eles oficializaram a aliança com um casamento entre Margaery e o Rei Joffrey. Quando Joffrey morreu na festa de casamento, Margaery achou que tudo tinha ido por água abaixo. Porém, agora, ela estava prestes a realizar o que tanto queria. Estava de casamento marcado com o Rei Tommen Baratheon, irmão de Joffrey, e se tornaria a Rainha de Westeros.
⁃ Não sei não, você sabe o quanto eu tenho ciúmes desses diários.- disse rindo e Margaery bufou. - Já sabe quando vai para Porto Real, futura Rainha?
⁃ Daqui alguns dias. Assim que minhas coisas estiverem prontas.
⁃ O Jardim de Cima vai ser um completo tédio sem você, milady. - reclamei. Eu e Margaery crescemos juntas, ela era como minha irmã. Apesar de termos sido criadas de formas diferentes e termos tido oportunidades diferentes ela e Laegel eram o mais próximo de uma família que eu já cheguei a ter.
⁃ Eu já te disse para vir comigo para Porto Real.- Margaery havia me chamado centenas de vezes para ir junto com ela à capital.
⁃ E eu já disse que não posso ir. Não posso deixar o Laegel aqui sozinho e eu gosto do Jardim de Cima.- não era só por Margaery que eu havia criado afeição. É claro que ela era a mais próxima a mim mas eu tinha um imenso carinho pelos Tyrell e pelos seus criados. Afinal foi aqui que eu cresci. - Sem contar que me instaurar no castelo do filho do Usurpador é totalmente insano.
⁃ Mas todo mundo pensa que você está morta, . A Rhaenna morreu. É o que eles acreditam.- disse sussurrando para que somente eu ouvisse.
⁃ Mas basta ser um tantinho observador pra juntar o meu cabelo prateado característico da minha família, descobrirem que o Laegel servia os Targaryen e os diários da minha mãe pra descobrir quem eu sou de verdade. - sussurrei de volta. - E eu prefiro não arriscar.
Conversei com Margaery até o pôr-do-sol. Depois caminhei até o vasto jardim e cheguei ao castelo indo a caminho dos meus aposentos. Guardei os livros na minha cômoda e abri o armário buscando outra roupa. Vesti o que sempre uso quando vou treinar com Laegel. Os meus dias aqui eram geralmente parecidos. Eu acordava cedo, tomava banho, comia meu desjejum, fazia algumas tarefas para Margaery, me alimentava, ia ao gabinete de leitura do castelo, passava a tarde lendo, depois treinava um pouco de luta com Laegel e me retirava para os meus aposentos. Eu não costumava pensar muito em um futuro diferente. Eu sentia que em algum momento as coisas iam mudar. Para melhor ou pior? Eu sinceramente não sei. A única coisa que sei é que isso é natural. Afinal eu vivo escondida. Não vivo a vida de uma Targaryen nos 280 anos de reinado da Casa. Não vivo a vida de Daenerys que vive exilada em outro continente. Não vivo a vida de minha mãe Rhaella que era uma Rainha magnífica. E ainda sequer percebi que lado da moeda os deuses descobriram cair para mim, loucura ou poder. Ouvi três batidas na minha porta.
⁃ Pode entrar.- falei um pouco mais alto para quem estivesse do lado de fora ouvisse.
Laegel entrou apressadamente com a respiração ofegante.
⁃ O que foi? - questionei preocupada. Ele tinha um semblante assustado em sua face. Laegel é uma pessoa muito calma, e para algo te-lo deixado assim é porque o assunto é sério.
⁃ Precisamos conversar, milady. Mas não aqui. Venha. - ele disse e eu me preocupei ainda mais. Quando o assunto era sério, geralmente era algo sobre minha família, portanto nós não conversávamos em qualquer lugar. Afinal, as paredes tem ouvidos. Fomos andando até onde sempre íamos quando tínhamos algo importante a dizer; o calabouço do castelo.
Ao chegarmos me sentei em um banco e Laegel ao meu lado. Apenas algumas velas iluminavam o local. Segurei uma em minhas mãos.
⁃ Pronto. Agora me diga o que está acontecendo, estou preocupada com tanto mistério. - falei sussurrando.
⁃ Eu estava com o Lorde Mace em uma reunião e vi quando um corvo chegou. Peguei a mensagem, e bem, você sabe que tudo que é direcionado ao Sr.Tyrell passa por mim primeiro. - disse e respirou fundo. - E a mensagem milady, veio de sua irmã. Daenerys está em Westeros.

CAPÍTULO 2 – Em Casa.

/Rhaena's POV
Tinham se passado 5 minutos que Laegel havia me contado o que viu e ouviu e eu ainda estava sem reação. Minha irmã Daenerys Targaryen, havia saído do continente que estava exilada, Essos, e agora estava na Pedra do Dragão em Westeros. Ela havia voltado para recuperar o trono de ferro que o Usurpador havia tirado de nossa família e se tornar rainha de Westeros. O corvo que havia mandado era para sinalizar que ela havia voltado e que estava em busca de aliados para tirar a coroa do Rei Tommen Baratheon e torna-la Rainha. Eu não sabia se o lorde Mace Tyrell aceitaria a proposta, já que Margaery vai se casar com o Rei Tommen e essa aliança interferiria no casamento. Também não sabia se Daenerys havia mandado essa mensagem para outras casas e quais eram. O que realmente se passava em minha cabeça é que minha irmã estava viva e no mesmo continente que eu. Ela não sabia da minha existência, mas, de uma coisa eu tenho certeza. Preciso ir até ela.
⁃ Eu preciso ir até ela, Laegel. Precisamos ir pra Pedra do Dragão urgente.- falei me levantando do banco. Estava eufórica demais pra ficar sentada.
⁃ Como, milady? - indagou.
⁃ Podemos pedir cavalos emprestados ao Lorde Mace. - respondi a primeira ideia que veio em minha mente.
⁃ Com que desculpa? Ou contaremos a ele quem a Srta. é de verdade? - perguntou-me Laegel sussurrando a última parte.
⁃ Não, não podemos contar agora. Não sei se é seguro. Ainda mais que não sei quais são os planos de Daenerys e não quero atrapalha-lá.
⁃ Pediremos então a Lady Margaery?
⁃ Também não sei ao certo. A menos que não contemos a ela os planos de minha irmã de retomar o trono de ferro. Eu amo e confio em Margaery, mas também sei o quanto ser Rainha é importante para ela. Depois de muito pensarmos, decidimos que seria melhor não falarmos nem com o lorde Mace nem com Margaery.
⁃ Então o jeito será conseguirmos dois cavalos clandestinamente e sairmos bem cedo sem contar a ninguém.- disse por fim Laegel.
⁃ E se sairmos bem cedo de madrugada conseguiremos chegar na Pedra do Dragão e não precisaremos passar a noite na floresta.
⁃ Então vamos, vá arrumar suas coisas milady. Que amanhã partiremos antes do sol nascer.
Ao chegar em meu quarto comecei a organizar minhas coisas dentro de uma sacola de pano. Não levaria muita coisa, apenas algumas roupas, os dois livros de minha família, os dois diários de mamãe e um livro que peguei no gabinete do castelo quando era criança e até hoje não tive coragem de devolvê-lo. Era um dos meus livros preferidos. Contava a história de todas as casas de Westeros. E apesar de já saber todas as histórias na ponta da língua o carrego sempre comigo. Antes de me deitar peguei minha espada de aço valiriano que Laegel havia trazido quando fugimos quando eu ainda era um bebê e coloquei em cima da sacola de pano. Me deitei pra dormir já a à espreita do que me esperaria amanhã.
Antes do sol nascer, Laegel já havia conseguido os dois cavalos. Ele também carregava apenas uma sacola de pano com seus itens e em outra levava alguns alimentos. Coloquei minha espada valiriana na minha bainha e pendurei minha sacola atravessada pelo meu corpo e montei em meu cavalo.
⁃ Como você conseguiu os cavalos? - perguntei à Laegel enquanto acariciava o pelo marrom do animal.
⁃ Entreguei algumas moedas de veados de prata ao rapaz que estava responsável pelo celeiro.- disse me fazendo rir.- Agora vamos milady, antes que algo dê errado.
Comecei a cavalgar já pensando no enorme caminho que teria pela frente. Iríamos pela Estrada da Rosa e pouco antes de chegar a Porto Real entraríamos na Floresta Mataderrei e ao atravessarmos a floresta chegaríamos na Ponta Afiada e pegaríamos um barco até a Pedra do Dragão. Dei uma última olhada para o Castelo do Jardim de Cima. Quando eu voltaria? Será que eu sequer voltaria pra cá? Pela primeira vez, a minha vida estava tomando um rumo diferente do habitual. E há quanto tempo eu havia esperado por isso.
A Estrada da Rosa cruzava o meio da Mataderrei, e a partir de agora o caminho seria mais difícil. Iríamos atravessar a floresta e além do caminho ser mais difícil para cavalgar, também era mais perigoso.
Entrar em qualquer floresta em Westeros por si só já era uma tarefa árdua. As do sul nem tanto quanto as do norte mas ainda sim eram um tanto misteriosas. A maioria das espécies místicas já estão extintas ou vivem no além da Muralha. Porém, algumas florestas no sul espreitam tribos que se aproveitam para saquear quem passa por lá e alguns animais perigosos também. Em todas as vezes que fui em florestas e bosques na Campina nunca encontrei nenhum selvagem nem animais que me dessem medo. Já havia escurecido quando entramos na Mataderrei. Para nossa sorte o caminho foi rápido e a atravessamos em segurança. Ao chegarmos ao fim da floresta, deixamos o cavalo num estábulo próximo e caminhamos até a Ponta Afiada. O cheiro de maresia já adentrava no meu nariz e eu me senti instantaneamente bem. A ilha da Pedra do Dragão foi o primeiro lugar em que os Targaryen pisaram quando vieram para Westeros. Foi por lá que meus irmãos saíram fugidos para Essos também. E agora eu estava indo em direção a Pedra do Dragão. Só de pensar eu já ficava nervosa e meu estômago dava voltas. Eu finalmente estava começando a me sentir realmente Targaryen. Acho que eu não precisaria mais me esconder.
Ao chegarmos na Ponta Afiada alugamos um barco com um pescador por alguns veados de prata e eu e Laegel remamos em direção à ilha. Como caminho marítimo era um pouco demorado e já estávamos cansados de cavalgar e caminhar, revezamos quem remaria enquanto o outro descansava.
⁃ Pode deixar que remo primeiro, milady. Descanse um pouco.-
⁃ Obrigada pela gentileza, Laegel.- soltei as pás de remo dentro do barco e comecei a observar a imensidão escura a minha frente. Provavelmente quando chegarmos na Pedra do Dragão o sol estará começando a nascer.- Mas quando chegarmos no meio do caminho eu pego as pás e vai ser a sua vez de descansar.
Meus braços e pernas doíam, de cavalgar e andar. Meu corpo inteiro estava dolorido, devido a tensão que senti durante todo o percurso. Ao meu redor tudo estava escuro e atrás de mim em Ponta Afiada havia um pouco de iluminação, a minha frente havia um pouco mais de luzes no que já parecia ser parte da Pedra do Dragão. Olho para trás e Mataderrei me parecem apenas alguns vultos de árvores. Minha mente vai até a Campina. Provavelmente a essa hora os Tyrell e seus criados já haviam notado minha ausência e de Laegel. No entanto não deveriam entender o motivo dela, nem saber onde estávamos. A menos que o Lorde Mace houvesse contado a Margaery sobre minha irmã estar em Westeros, sabendo ela do meu segredo logo juntaria os pontos e perceberia que vim atrás da Daenerys.
⁃ Como você acha que a Margaery vai reagir, Laegel? E será que o Lorde Mace vai aceitar a proposta da Dany?- perguntei olhando para Laegel.
⁃ Para falar a verdade, milady, eu não sei. Lorde Mace aprecia muito os Targaryen desde a época da Conquista mas também há o casamento da Lady Margaery em jogo.- na época da Conquista, quem comandava a Campina eram os Gardener, mas foi o intendente dele, um Tyrell que se rendeu a Aegon Targaryen. Assim, a minha casa apreciando a atitude dos Tyrell os tornaram os Lordes da Campina.
⁃ Caso ele aceite a proposta da minha irmã, Margaery vai ter que dizer adeus ao seu casamento com o Rei Tommen.- falei e Laegel assentiu com a cabeça concordando.
⁃ Apesar de estar casando a filha dele com o Rei, Lorde Mace nunca gostou muito dos Lannister.
⁃ Mas Tommen é um Baratheon, Laegel.
⁃ Possivelmente um Baratheon, milady. Não se esqueça das histórias que circulam em Porto Real sobre o rei ser na verdade filho da Cersei com seu irmão Jaime Lannister. E o lorde Tyrell acredita levemente nesses boatos.
⁃ É, pensando por esse lado...
⁃ Mas também deve se levar em conta que Lorde Mace preza muito pela felicidade da filha e Margaery quer ser rainha mais do que qualquer coisa.
Assenti. Logo chegou a minha vez de remar e a de Laegel descansar. O caminho não foi tão longo quanto pensei e logo já estávamos na Pedra do Dragão.
⁃ Chegamos.- falei para Laegel assim que dei minha última remada. Ele levantou o olhar do livro que estava lendo pegou suas coisas e saiu do barco, logo em seguida me ajudando a sair também. Ajeitei minha sacola pendurada em meus ombros e arrumei minha roupa.
⁃ Preparada para conhecer sua irmã, milady? - perguntou-me enquanto caminhávamos.
⁃ Um pouco nervosa.- falei e Laegel sorriu.- Como você acha que ela é?
⁃ Daenerys? Presumo que só por ser uma Targaryen ela já deve ser corajosa e honrada. Isso somado ao fato de que ela pretende tomar o trono de ferro já mostra o quanto ela é destemida e determinada. O resto você está prestes a conhecer.
Assim que fui responder Laegel, dois guardas vieram em nossa direção. Logo quiseram saber quem nós éramos e pediram identificações. E obviamente quando eu disse que era irmã da Daenerys eles riram e não acreditaram. Mesmo assim conseguimos entrar no castelo, porém, acompanhados de vários guardas. A fortaleza da Pedra do Dragão era imensa e imponente, segundo as lendas que li nos livros de minha família, ela havia sido construída com pedras de dragão. O castelo estava erguido em cima do Monte Dragão, um grande vulcão. Do lado de fora haviam torres esculpidas em formato de dragões e gárgulas de basiliscos, demônios e outras criaturas grotescas. Era claramente um castelo diferente de qualquer outro em Westeros. E por dentro também predominavam os símbolos e relevos de dragão. Quando cheguei em um local que parecia a espécie de um salão principal havia um trono todo feito também de pedras. A área estava mal iluminada mas pude ver de relance um cabelo prateado. Ela era linda. Mais do que eu imaginei. Seus cabelos eram de um louro claríssimo prateado e os olhos violeta, características clássicas dos Targaryen. Os traços do rosto que consegui ver eram finos e mesmo sentada pude perceber que ela não era tão alta. Deveria ter quase o mesmo tamanho que eu, alguns poucos centímetros mais baixa. Eu finalmente estava conhecendo a minha irmã. Ao ouvir os barulhos de passos ela levantou o rosto em nossa direção e esperou que os seus guardas dissessem algo.
⁃ Encontramos esses dois no litoral, majestade. Disseram que queriam falar com a Sra.- disse um dos guardas e logo soltou meu braço com força, o que me fez dar um pequeno passo para frente com o impulso. Só então Daenerys pareceu perceber minha presença e de Laegel ali. Me olhou de um jeito estranho, parou muito tempo analisando meu cabelo, provavelmente pela cor ser quase unicamente uma característica da família Targaryen. Ela se levantou e deu alguns passos em nossa direção.
⁃ Eu sou Daenerys Targaryen, filha da Tormenta. Quem são vocês e o que querem comigo? - disse minha irmã um tanto desconfiada.
⁃ Eu sei que vai parecer estranho mas... Eu sou Rhaena Targaryen, sua irmã.- respondi a encarando. Pude ouvir alguns risos baixos de uns guardas ao meu lado e Dany me olhou um tanto assustada.
⁃ Eu não tenho irmã. Só um irmão, Viserys, e ele está morto.- falou e eu fiquei surpresa com o fim da frase. Como assim Viserys estava morto? O que aconteceu com ele? Isso eu teria que perguntar depois, primeiro precisava me explicar.
⁃ Eu não sei se você sabe, milady. Lembrar-se a Srta. não vai pois era só um bebê quando nossa mãe ficou grávida novamente. - eu disse apreensiva.
⁃ É, lembrar não me lembro. Mas sei que minha mãe estava grávida, pois onde fui criada me contavam muito sobre minha família, do seu início ainda em Valiria até sua quase extinção. - ela disse e se aproximou um pouco mais.- E também sei que minha mãe morreu grávida, então esse bebê que ela esperava morreu com ela.
⁃ É o que todos pensam, milady. Mas vossa mãe não morreu grávida. Ela teve vossa irmã um dia antes de sua morte. Enquanto fugíamos ela entrou em trabalho de parto e depois pediu que eu fugisse com Rhaena pois sabia que não conseguiria escapar dos cavaleiros do Usurpador por muito tempo. Então ela entregou sua filha a mim, seu último servo, Laegel Celeris. - ele disse e Daenerys ficou estática e a ruga de dúvida na sua testa aos poucos fora diminuindo.
⁃ Depois disso nós fugimos para a Campina e vivemos todos esses anos como vassalos dos Tyrell e eu sob a identidade de Florent.- complementei o que Laegel disse.
⁃ Entendi sua história, mas o que me certifica de que vocês não estão tentando me enganar e ganhar a vida as minhas custas? Me perdoem caso os tenha ofendido, mas Westeros é cheia de oportunistas.- ela falou ainda desconfiada.
⁃ Bom, além da minha aparência, que você já percebeu ser típica de uma Targaryen, eu tenho aqui comigo uma espada valiriana. - tirei minha espada da minha bainha e quando fiz menção de me aproximar os guardas me impediram cercando-me.
⁃ Deixem-a se aproximar, quero ver de perto.- disse minha irmã.
Os guardas se afastaram e eu cheguei mais perto dela. Quanto mais pra frente eu ia, mais via o quanto ela era parecida comigo.
Entreguei-a minha espada e ela logo pôs-se a analisa-lá.
⁃ De fato essa é uma espada de aço valiriano. Tem mais alguma coisa? - perguntou-me devolvendo meu objeto logo em seguida. Assenti com a cabeça enquanto guardava a espada na minha bainha. Abri minha sacola em busca dos diários de minha mãe e percebi que ela encarava todos os meus movimentos, provavelmente analisando meus traços certificando-se que eu pelo menos na aparência parecia uma Targaryen. Não é qualquer família que tem em seus genes características tão peculiares como cabelo louro-prateado e olhos violeta. Assim que achei os livros entreguei-na. Ela os pegou e me encarou como se perguntasse o que eram.
⁃ Esses dois livros são diários de Rhaella, nossa mãe. Ela os deu à Laegel para que eu pudesse ler quando fosse mais velha. - falei e Daenerys rapidamente os abriu e folheava cada página com um olhar fascinado.- Em um diário ela conta do seu dia-a-dia, desde quando Viserys nasceu até seus últimos dias de vida. No outro é como se fosse um manual que ela escreveu para você e para as outras filhas que tivesse, sobre como ser uma excelente Rainha para o seu Rei, seus filhos e seu povo.
Ela ficou alguns minutos folheando cada página do diário e o salão inteiro estava quieto. Nenhum pio dos guardas, nem de Laegel e muito menos meu. Eu sequer respirava direito, e se ela mesmo assim achasse que eu sou uma impostora? Daenerys levantou o olhar dos livros e me olhou com um semblante que jorrava surpresa. Rapidamente se aproximou de mim. E o que eu menos esperava aconteceu; ela me abraçou.
Eu finalmente estava em casa.

CAPÍTULO 3 – Nascida da Tormenta, A não-queimada, Mhysa, Mãe de Dragões; Dany.

Daenerys havia acabado de mostrar toda a fortaleza para mim e para Laegel. O sol já havia nascido completamente e agora estamos em uma varanda de onde é possível ver o mar. Em várias partes da ilha existiam várias quedas d'agua também, a vista era de perder o fôlego.
⁃ Princesas, peço licença para me retirar aos meus aposentos e deixar as Srtas. mais à vontade, vocês tem muita coisa para conversar.- Laegel disse.
⁃ Claro, Laegel. A viagem foi longa, você deve estar cansado também.- eu falei e ele assentiu.
⁃ Procure um dos meus criados no fim desse corredor e eles te indicarão seus aposentos.- disse Daenerys.
Assim que Laegel saiu eu voltei a admirar a vista encostada no balcão da varanda. Logo Daenerys parou ao meu lado também observando a vista.
⁃ Sabe, quando eu era criança vivia imaginando que você e Viserys voltariam e me buscariam lá na Campina. Mas conforme eu cresci isso saiu da minha cabeça. Aí quando eu menos imaginei que te encontraria você aparece...- falei e ao final olhei para a minha irmã.
⁃ Se foi uma surpresa pra você, imagina pra mim? Que nem ao menos sabia que tinha uma irmã.- ela disse e nós duas rimos.- Deve ter sido difícil crescer se escondendo, fingindo ser alguém que você não é...
⁃ Difícil foi. Mas também imagino que não tenha sido nada fácil pra você também. O que aconteceu com o Viserys? E como foram esses anos pra você? - perguntei e ela suspirou.
⁃ Longa história, quer mesmo saber? - indagou-me.
⁃ Claro, até porque eu não tenho nada pra fazer mesmo.- falei rindo.
⁃ Então, Rhaena... Você prefere que te chamem assim ou de ?
⁃ Prefiro , já me acostumei a ser chamada assim. Até prefiro como Targaryen soa do que Rhaena Targaryen.
⁃ Então, , durante a minha infância eu não tenho nada de extraordinário pra te contar. Eu e Viserys fomos criados por servos leais a nossa família e por Sor Willem Darry nas Cidades Livres. Depois fomos para Pentos na propriedade do Sr Illyrio Mopatis. Ele intermediou um acordo para que eu me casasse com Khal Drogo, dos dothraki.- ela me explicou calmamente.
⁃ E você desejava se casar com ele?
⁃ Não. Mas era o que Viserys queria. Em troca do meu casamento, Drogo daria a ele um exército de 40.000 homens que usaria para invadir Westeros e retomar o trono de ferro. De início, eu me sentia mal todas as vezes que era obrigada a dormir com ele. Até que pedi para que uma serva minha que costumava a trabalhar em bordéis me ensinasse como alegrar Khal Drogo. Logo me acostumei e as coisas foram ficando melhores, até aprendi a falar dothraki. Então eu fui adquirindo mais intimidade com o meu khalasar. - pausou por um instante.- E Viserys foi ficando cada vez pior. Ele sempre fora agressivo e ambicioso. Mas cada vez mais me desrespeitava. Ele estava ficando louco, só pensando em ser Rei a todo custo o tempo todo. Até que um dia ele me desrespeitou na frente do Khalasar e Drogo o matou.
⁃ E como foi pra você?
⁃ No fundo, eu só sentia desprezo por ele aquela altura. Tentei o meu melhor, por ele ser meu irmão... Mas ele nunca retribuía, e tinha prazer em me humilhar. Então, em meio à tudo isso, eu fiquei grávida. Meu filho se chamaria Rhaego.- instantaneamente percebi que ela ficou mais triste.
⁃ E o que aconteceu com ele?
⁃ Drogo teve uma ferida que infeccionou. Pedi para uma bruxa que cuidasse dele. Ela disse que ele já era um caso perdido... Mas eu não podia deixá-lo morrer. Eu faria tudo para que ele vivesse, amava-o mais do que qualquer coisa entende? - ela disse começando a falar mais rápido. Pude ver pelos seus olhos o quando ela amava Khal Drogo. Por um instante desejei que eu tivesse alguém para amar tanto assim um dia na vida.
⁃ Entendo... E ele sobreviveu?
⁃ A bruxa me disse que deveria haver uma troca. Que alguém deveria morrer para que ele vivesse. Entrei em trabalho de parto, e quando acordei, meu filho estava morto. - Daenerys disse e meu coração doeu só de imaginar seu sofrimento.- Drogo estava vivo, mas não falava, não reagia, não se mexia... Apenas respirava. A bruxa havia me enganado. Chegou um dia em que eu tive que matá-lo. Afinal ele já não estava vivo mais, não o meu Drogo. A partir daí tudo ficou mais difícil.
⁃ Mais difícil ainda? - perguntei surpresa.
⁃ Antes de Khal Drogo morrer, o khalasar havia nos abandonado e só alguns pouquíssimos dothraki ficaram comigo. Se já era difícil sobreviver no deserto antes, imagina agora, sem o khalasar, sem comida, sem água nem nada... Os anos que seguiram foram em busca de aliados para conseguir um exército e navios para que eu conseguisse vir para Westeros e retomar o trono de ferro. Não foi fácil, nem rápido. Mas eu consegui e aqui estou eu.
⁃ Você passou por muita coisa, nossa. Não consigo nem imaginar o que você tenha sentido.- viver escondida foi difícil, mas nem se compara ao que a Daenerys passou durante todos esses anos. Durante toda a sua vida até hoje pra ser exata.
⁃ Mas nem sempre eu fui assim... Tive que me adaptar as situações. Mas chega de falar de mim... É a sua vez de me contar como foram seus anos.
⁃ Não foi uma vida muito movimentada... Como Laegel disse, assim que nossa mãe me teve nós fugimos para a Campina. Lá ele encontrou emprego no castelo dos Tyrell, e vivemos lá.
⁃ Ah, então foi pelo corvo que mandei ao lorde Mace Tyrell que você descobriu que eu estava em Westeros, não é?
⁃ Sim. Todas as mensagens direcionadas ao Lorde Mace passam por Laegel primeiro. Enfim, eu cresci no castelo, me tornei muito próxima dos Tyrell e fiquei muito amiga da Margaery, filha do Lorde Mace. - pausei pensando no que eu tinha mais a contar.- E Laegel quem me criou, me ensinou a ler, a escrever e a lutar. Me ensinou tudo sobre Westeros, Essos, os Sete Reinos e sobre a nossa Casa.
⁃ E até hoje ninguém sabe que você é uma Targaryen?
⁃ Além do Laegel, só a Margaery.
⁃ Você deve confiar mesmo nela.
⁃ Sim... Ela é como uma irmã.- falei e me lembrei que não havia contado mais sobre os livros.- E ah, aprendi muita coisa sobre a nossa família com os livros da mamãe também. Além dos dois diários ela deixou dois livros sobre os Targaryen.
⁃ Queria ter passado mais tempo com a nossa mãe. Todos que a conheceram me contaram quão grandiosa ela era, e quão boa Rainha também.
⁃ Laegel sempre me falou o quanto ela permaneceu bondosa e gentil mesmo quando nosso pai foi perdendo a sanidade.- pausei.- Essa foi uma questão difícil pra mim, compreender que no fundo o título de "Rei louco" fazia jus aos últimos dias de nosso pai.
⁃ Essa também foi uma questão que eu demorei a entender e aceitar. - completou Dany olhando a imensidão a nossa frente.
⁃ Eu sei que você era bem nova quando teve que fugir, mas, ainda tem alguma lembrança da nossa mãe?
⁃ Infelizmente não. Às vezes me lembro de alguns vultos do dia em que eu e Viserys saímos de Westeros. Nada além disso.
Apesar de Dany ter vivido três anos com minha mãe e eu apenas um dia, sentia como se eu tivesse tido mais contato com ela do que minha irmã. Isso deve ser pelos livros, diários e pelo que Laegel me ensinou.
⁃ É uma pena. - falei e enquanto a observava tive uma ideia.- Olha, se você quiser eu posso te emprestar os diários da mamãe.
⁃ Sério? Imagino o quanto eles são importantes pra você.- ela logo se virou pra mim e percebi o quanto ficou animada com a possibilidade.
⁃ Eles são seus também. Nossa mãe escreveu pra mim e pra você.
⁃ Muito obrigada, prometo cuidar muito bem deles.- disse com o rosto radiante de alegria. Eu também sorri.
Fomos até o lugar onde Daenerys disse ser meu quarto. Era três vezes maior do que o meu no Jardim de Cima. A decoração do Castelo da Pedra do Dragão, no entanto, era bem diferente do que a do castelo em que eu vivia. Tudo na Campina era florido e claro, afinal a rosa era o símbolo da casa Tyrell. Já aqui, apesar do meu quarto ser infinitamente melhor do que o outro, o Castelo inteiro era pouco iluminado e cercado por pedras em todo canto. Mesmo assim eu conseguia ver beleza nos dois. Seguimos pelo corredor e Daenerys me mostrou seu quarto, que era duas portas após o meu. Assim que chegamos eu abri minha sacola e entreguei-na os diários da mamãe. Ela se sentou em sua cama e começou a folhea-los apressadamente.
⁃ Essa sacola é tudo que trouxe com você? - perguntou tirando rapidamente o olhar dos diários.
⁃ Sim, nós saímos escondidos então não deu pra trazer muita coisa.
⁃ Não tem muita roupa aí, pelo visto...
⁃ Só dois vestidos.
⁃ Vou pedir que façam alguns para você.
⁃ Imagina, não precisa.
⁃ É claro que precisa, vai se vestir com o que? Três vestidos pelo resto da vida? - disse e eu gargalhei.
Acordei de meu descanso e ao olhar pela janela já havia escurecido. Me levantei e preparei as coisas na banheira para tomar um banho. Quando ia começar a me despir ouvi algumas batidas na porta.
⁃ Pode entrar.- falei. Missandei, uma moça que trabalha para Dany entrou em meu quarto.
⁃ Com licença, milady.- ela disse e percebi que carregava alguns vestidos em seus braços.
⁃ Precisa de ajuda? - Missandei assentiu que não e os colocou gentilmente em minha cama.
⁃ São seus. A Rainha mandou inicialmente esses 8 vestidos para que a Srta. possa olhar os modelos, caso goste ela mandará fazer mais. E caso não goste trarei outros que sejam do seu agrado.- ela disse e eu passei rapidamente os olhos pelos vestidos.
⁃ Imagina, são lindos, obrigada.
⁃ E também trouxe um recado que um corvo trouxe para a milady. Veio da Lady Margaery Tyrell.- peguei o papel e o coloquei em cima da mesa ao lado da banheira.
⁃ Obrigada novamente.
⁃ Precisa de ajuda com seu banho? - ela falou ao olhar a banheira cheia. Assenti que não. Já havia me acostumado a tomar banho sozinha, afinal a vida inteira eu me escondi, e não era nobre nem nada. Então não era comum que alguém ajudasse uma reles criada a tomar banho.- Tudo bem, se precisar de qualquer coisa é só me chamar. Rainha Daenerys está te esperando para jantar, com licença.
Ela saiu e eu observei os vestidos na minha cama mais atenciosamente. Eram maravilhosos, tudo do jeito que eu gosto. A maioria era parecida com os vestidos que as jovens Tyrell usavam lá na Campina. Uns eram rosa, outros azuis e outros brancos. Todos tinham alguma abertura, acima do busto, nas costas ou na cintura. Dois possuíam uma espécie de capa, parecidos com o que a Daenerys estava usando hoje. Outros dois eram abertos na altura do quadril e vinham com calças, provavelmente feitos para cavalgar. Observei que junto a eles havia um bilhete onde estava escrito "A maioria dos vestidos são mais abertos, porém imaginei que esse seria seu gosto, visto o vestido que estava hoje. Mesmo que aqui seja um pouco mais frio que na Campina, são os modelos que você já está acostumada e os Targaryen são conhecidos pelo seu sangue quente. Espero que goste. - Daenerys.". Separei um para usar hoje e fui pegar o recado que o corvo havia trazido de Margaery para mim.
"Cara , Já imagino onde você esteja. Por isso mandei o corvo para a Pedra do Dragão. Mas porquê você ao menos não se deu o trabalho de me contar para onde ia e se despedir? Achou que eu iria estragar seus planos? - Lady Margaery Tyrell."
Pelo visto minha amiga está com raiva de mim. E com razão. Mas eu não sabia como ela reagiria. Era arriscado, o que eu poderia fazer? Ainda pensando nisso tudo, tirei meu vestido e adentrei na banheira.
⁃ O jantar estava maravilhoso, muito obrigada. - falei assim que acabei de comer. Estávamos na mesa somente eu e minha irmã.- Ah, adorei os vestidos também. São todos exatamente do jeito que eu gosto.
⁃ Fico feliz que tenham sido do seu agrado. Vou pedir para fazerem mais.
Esperei ela terminar de comer. Enquanto isso fui me lembrando de algumas coisas que eu tinha escutado pelo castelo e fiquei curiosa.
⁃ Dany, eu ouvi alguns soldados falando sobre dragões. Eu não sei se entendi errado, mas, eles falavam como se existissem dragões aqui. Eles conversavam sobre lendas ou sobre a história da nossa família, certo?
⁃ Não. Eu sei que vai ser difícil acreditar mas, existem dragões aqui. Os meus.
Ela disse e eu fiquei boquiaberta. Como assim dragões? Eles já estavam extintos há milhares de anos. Isso era impossível.
⁃ Como assim? Os dragões estão extintos.- falei incrédula.
⁃ Sei que é algo inimaginável, mas é a verdade. - ela falou e eu continuei sem acreditar.- No meu casamento eu ganhei três ovos de dragões que haviam sido queimados e nunca chocaram.
⁃ E de repente assim eles chocaram?
⁃ Não... Quando Drogo morreu, eu o queimei em uma fogueira. Foi lá que metade do khalasar que ainda restava foi embora. Eu cremei o corpo de Drogo e queimei viva a bruxa que me enganou. Também coloquei lá os três ovos, e em um certo momento entrei no meio do fogo. Quando amanheceu tudo havia virado cinzas, menos eu. E os ovos, eles haviam chocado e os três dragões nasceram.
Fiquei chocada. Não falei nada por minutos. Então era verdade. Minha irmã tinha três dragões. Dragão, o brasão da minha família. O animal que ajudou Aegon a conquistar Westeros. O grande símbolo dos Targaryen.
⁃ Não consigo acreditar. Eu posso vê-los? De que tamanho eles são? - perguntei eufórica e Dany riu.
⁃ É claro que pode, mais tarde te levo para vê-los. Tamanho? Do tipo que não caberiam nessa sala.- ela disse e eu ri. Minha irmã tem dragões.- Eu sou chamada de Mãe dos Dragões.
⁃ Então eu sou a tia deles?! - falei e nós rimos.- Parece até que estou lendo a história de Aegon o Conquistador de novo.
⁃ Um Targaryen que quer conquistar Westeros precisa dos seus dragões, não é? - disse sorrindo.
⁃ E quais são seus planos? Como você pretende conquistar Westeros? - perguntei curiosa. Essa era o único assunto que ela não havia tocado.
⁃ Eu preciso primeiro conquistar aliados, enviei corvos para os Tyrell, os Cavaleiros do Vale, o Norte e Dorne. Agora eu preciso de calma, o mais difícil eu já passei. Quando quis voltar eu não tinha um exército, nem dragões e nem navios. Anos se passaram e eu tenho tudo isso. É preciso calma pra que eu não perca nada que lutei tanto pra conquistar.
⁃ Então depois de conquistar os aliados você pretende derrotar o exército do Rei Tommen e tomar o trono?
⁃ Sim, mas até lá muita coisa tem que acontecer. A parte mais difícil vai ser conquistar os aliados, porque depois disso, já vamos estar com uma vantagem muito maior sobre os Baratheon-Lannister.
⁃ Entendi. E algum desses aliados já respondeu sua mensagem?
⁃ Ainda não. E muitas reuniões devem ser feitas até lá.
⁃ Olha, o que eu puder fazer pra ajudar eu estou aqui, está bem?
⁃ Obrigada, é muito bom ter finalmente minha família por perto.- disse sorrindo pra mim.- Então você vai ficar mesmo por aqui?
⁃ É claro. Eu adoro a Campina, mas esse é o meu lar agora. Agora eu posso ser quem eu realmente sou. E voltar pro Jardim de Cima seria um retrocesso.
⁃ Falando na Campina, você acha que os Tyrell vão aceitar um acordo?
⁃ Sinceramente, eu não sei. Porquê a Margaery está prestes a se casar com o Tommen. E isso selaria uma aliança Tyrell-Lannister-Baratheon.
⁃ Então provavelmente só se essa situação mudar completamente eles passarão para o meu lado.
⁃ Sim.
⁃ Os dornenses são os únicos que eu tenho quase certeza que aceitarão o acordo. Quem os lidera agora é Ellaria Sand e ela detesta os Lannister, principalmente Cersei, por terem sido responsáveis pela morte do amante dela. Oberyn Martell morreu em um combate em Porto Real.
⁃ E quanto ao Norte e o Vale?
⁃ É de extrema importância que eles aceitem o acordo, se tivermos o Norte ao nosso lado facilmente conquistaremos Westeros. E tendo o Norte ao nosso lado é bem mais fácil termos os Cavaleiros do Vale também.
⁃ Ah sim...
Continuamos conversando e Dany me explicando seus planos. Foi ficando mais tarde e eu resolvi ir até a biblioteca do Castelo. Era enorme e tinham muitos livros sobre os Targaryen. Resolvi pegar um que falava sobre a história da minha família ainda em Valiria. Algumas partes estavam escritas no idioma original. Havia aprendido um pouco de valiriano com alguns livros e a ajuda de Laegel. Mas era uma língua um pouco difícil e eu sempre preferia ter mais aulas de luta do que para aprender o idioma. Assim que comecei a ler o livro escutei alguns passos. Me virei até a direção onde vinha o som e vi Daenerys.
⁃ Dany? O que faz aqui? - perguntei enquanto ela se aproximava.
⁃ Eu estava pensando e não consegui esperar até amanhã para falar...
⁃ O que foi? Aconteceu algo? - me levantei e fiquei de frente para ela.
⁃ Não, é que... Você está disposta a fazer qualquer coisa pra me ajudar mesmo?
⁃ É claro. O trono de ferro pertence a nossa família por direito.
⁃ Durante a Guerra dos 5 Reis, Winterfell foi destruída.
Stark, teve que recuar para que não perdesse o domínio sob o Norte. A Guerra teve seu fim e até hoje o Stark se proclama o Rei do Norte. É claro que isso não foi reconhecido por Porto Real.
⁃ E onde você quer chegar? - perguntei ainda sem entender nada.
⁃ Para ter Stark como aliado, posso fazer um acordo com ele no qual em troca do seu apoio na Guerra para que eu possa retomar o trono, eu faço uma doação em dinheiro para que ele possa reconstruir Winterfell. E também dou a garantia de que quando eu me tornar Rainha de Westeros, o Norte será oficialmente um Reino isolado.
⁃ É uma ideia brilhante, Dany. E em que parte a ajuda que eu ofereci a você entra nisso? - questionei curiosa.
⁃ Pra assegurar ainda mais essa aliança seria necessário nossas famílias passarem a ter um laço consanguíneo, fazendo com que assim sejamos aliados por muito tempo. E que o Norte não se torne um problema no futuro. E pra isso, bem... Você precisaria se casar com o Rei do Norte.

CAPÍTULO 4 – A Aliança.

Então, o que você acha da ideia? - perguntou-me Daenerys.
A minha vida sempre foi monótona... E desde que minha irmã apareceu tudo isso mudou. E por incrível que pareça eu estou gostando disso. Talvez arriscar seja bom. Se bem que... Me casar com um desconhecido? E se ele for um completo idiota? E se eu não gostar dele? Dificilmente terei outro marido após me casar com esse tal de Stark. Isto é, se eu me casar com ele. Sem contar que ele mora do outro lado do continente. No Norte. Onde é frio o tempo todo. Onde neva e onde o inverno chega mais rápido. Eu vivi a vida toda em um lugar quente, onde quase sempre faz sol, usando roupas frescas... Eu sou uma Targaryen, nós temos sangue quente por natureza. E só de falar no Norte já me remete frieza.
⁃ Não sei, é muita coisa pra se pensar e...- falei.
⁃ É, você tem razão. Desculpa, é que fiquei empolgada demais com a ideia. Você não precisa me dizer agora, pode tirar seu tempo pra pensar.
Casamento nunca foi uma coisa que se passou pela minha cabeça. Quer dizer, alguma vez ou outra já. Mas eu nunca fui do tipo romântica e sempre vivi no modo de deixar as coisas irem fluindo. Quem sabe um dia eu me case, mas se não me casar tudo bem também. Minha cabeça sempre esteve em outros lugares, acho que raramente eu tirava um tempo pra pensar nos meus interesses. Hoje penso que era porquê a Florent de vez em quando era uma personagem. Pra maioria das pessoas eu tinha que ser uma coisa que eu não era na minha essência. Apenas com Laegel e Margaery eu me sentia mais como eu. E ainda assim faltava algo. Depois que eu descobri que a Dany estava viva e em Westeros que eu comecei a me sentir melhor comigo mesma. Mais livre. Cada hora me sinto me aprofundando mais em mim mesma, diferente desses anos que vivi escondida no Jardim de Cima. Eu disse que ajudaria Dany, e realmente estou disposta... Mas casamento não era um pouco demais? Se bem que, quando se trata de conquistar um continente inteiro isso é algo bem pequeno. E olha que eu nem tenho muito conhecimento sobre Guerras e Conquistas. A minha vida sempre foi monótona... E quando a Dany apareceu tudo isso mudou. E eu me senti tão melhor assim do que na minha vida inteira... E logo agora eu estou querendo ser monótona de novo só por medo de sair da minha zona de conforto? Pensei no que minha mãe faria, nas coisas que ela escreveu em seu diário e tive certeza.
⁃ Quer saber de uma coisa?! Eu disse que te ajudaria não é? E se esse é o modo que você precisa da minha ajuda eu aceito. Não dá pra tirar um tempo pra pensar quando sua irmã mais velha quer assumir o trono de ferro que é da sua família por direito.- eu disse e Daenerys riu e me abraçou.
⁃ Tem certeza disso? É uma decisão muito séria.- falou me soltando do abraço porém ainda com as mãos em meus ombros.
⁃ Acho que tenho... Quer dizer tenho.- eu disse e minha irmã riu.- O que a gente faz agora?
⁃ Bom, primeiro mandaremos um corvo pra Lady Catelyn Stark, mãe do . Quer dizer, Rei .
⁃ Porquê um corvo pra ela e não diretamente para o seu filho?
⁃ Porque eu soube que ela está saindo de Correrrio e voltando para o Norte. Mandaremos o corvo amanhã e ela virá para uma reunião. Se ela concordar irá levar nossa proposta até seu filho e nos enviará uma resposta.
Naquela noite eu demorei a dormir. Acredito que teria demorado mais ainda caso não estivesse tão cansada do dia corrido que tive. Pensei em que resposta daria a Margaery. Eu não fazia ideia ainda do que falar, ela parecia chateada no bilhete e eu não queria correr o risco de escrever qualquer coisa e magoa-lá ainda mais. Pensei em como seria minha vida caso os Stark aceitassem nossa proposta. Eu teria um marido que eu sequer conheço. Moraria em um lugar que eu nunca visitei, com um clima totalmente diferente do que eu estava habituada, e sem ninguém que eu conheça por perto. Laegel iria comigo? Eu havia acabado de conhecer minha irmã e já me afastaria de novo? Daenerys ganharia a guerra? Eram tantos pensamentos que nem percebi ao certo o momento em que caí no sono.
Na manhã seguinte Daenerys me chamou para que fosse finalmente conhecer seus dragões. Andamos por todo o castelo e fomos a uma espécie de fosso. Dany me disse que raramente os dragões ficavam lá tendo em vista que já estavam grandes e obviamente preferiam voar a ficarem presos em um calabouço.
⁃ Não se assuste, eles não vão te fazer mal algum.- Daenerys me disse antes de entrarmos.
O lugar estava pouco iluminado, apenas por algumas tochas. Eu podia sentir o calor que eles emanavam de longe e também ouvia alguns barulhos. Os sons foram ficando mais altos e o calor aumentando. As batidas em meu coração se aceleraram instantaneamente. Daenerys foi dando passos a frente e eu permaneci em meu lugar. Ouvi rugidos e quando olhei para frente três dragões enormes estavam frente a frente com minha irmã. Por pouco eles não alcançavam o teto. Dany passou as mãos em um e em seguida me olhou dizendo para que eu me aproximasse. Apenas 1% do meu corpo sentia medo, afinal eu nem imaginava que aqueles animais ainda existiam. Mas eles eram o símbolo da minha família, estiveram conosco a milhares de anos, e eu logo senti isso. Não só eu como notei que eles também haviam me notado.
⁃ Eles logo percebem um Targaryen.- disse Dany sorrindo.
Aos poucos um se aproximou de mim.
⁃ Este é o Rhaegal.- falou apontando para o que se aproximava de mim.
Ele soltou um rugido e logo abaixou a cabeça se aproximando de mim. Ele possuía escamas verde musgo e seus olhos eram cor de bronze. Suas pupilas pareciam ter se dilatado e eu senti vontade de toca-lo. O medo já havia se esvaído. Era como se ele conseguisse sentir as chamas que haviam em mim e eu as dele. Encostei minhas mãos um pouco acima dos seus olhos e ele fechou os mesmos. Meu coração disparou e eu olhei para Daenerys extasiada e ela retribuiu meu sorriso. Passei alguns minutos assim e percebi que outro tentava se aproximar. Dany murmurou que esse se chamava Viserion.
Também o acariciei. Ele possuía escamas cor de creme, mas os seus chifres, os ossos da asa e sua linha espinhal tinham uma coloração dourada. Seus olhos pareciam ouro derretido. Ele logo levantou a cabeça e soltou um rugido mais alto do que qualquer um que eu havia ouvido antes desde que pisei no fosso. O último dragão eu tive um pouco mais de dificuldade para conseguir me aproximar, ele era o maior de todos. Era o que estava mais próximo a Daenerys.
⁃ Venha, Drogon. - ela disse e ele se aproximou. Seu tamanho assustaria qualquer um.
Ele apresentava escamas pretas e seus chifres e placas eram de um vermelho sangue. Seus olhos também eram de um vermelho ainda mais intenso. O barulho de suas asas batendo soavam como trovões. Ele parecia relutante em se aproximar e eu também. Por fim, ficou frente a frente comigo e eu coloquei minhas mãos na parte inferior de sua cabeça que era o máximo que eu conseguia alcançar, visto seu tamanho. Fiquei por alguns minutos os observando sem nem perceber o tempo passar. Estava encantada, surpresa, extasiada.
⁃ Vem, temos que ir agora. Lady Catelyn Stark deve chegar ainda hoje.- soltei um muxoxo por ter que ir embora.- Você ainda irá vê-los mais vezes. Quem sabe até monta em um ao meu lado um dia?
Só de pensar na última possibilidade me arrepiei. Ao mesmo tempo que era assustador eu me sentia entusiasmada para que isso acontecesse logo.
Narração em terceira pessoa
Antes do sol se pôr Catelyn Stark havia chegado ao Castelo da Pedra do Dragão. Ainda não conseguia decifrar o que a jovem Daenerys Targaryen queria com ela. Sabia que a mesma estava tentando conquistar os Sete Reinos, mas o que teria Catelyn haver com isso? Decidiu que seria melhor ir até o Castelo ela mesma e descobrir o que a Targaryen queria com ela. Adentrou o local e foi guiada por alguns criados de Daenerys até uma espécie de sala de reuniões. Esperou por alguns instantes e logo uma Srta que se intitulou Missandei anunciou duas senhoritas bem parecidas que adentraram na sala. Uma era Daenerys e a outra Targaryen, que Catelyn descobriu ser irmã da primeira. Apresentações feitas e a reunião começou.
⁃ Bom Lady Catelyn, gostaria primeiro de pedir desculpas por estarmos apenas eu e minha irmã aqui. Meu Conselho não pôde estar presente hoje.- começou falando Daenerys. Cat assentiu. - Eu mandei um corvo para Winterfell assim que cheguei em Westeros, provavelmente a Sra ficou sabendo.
⁃ Sim, meu filho me contou sobre a mensagem.- Catelyn disse ao sentar-se em uma cadeira de frente para Daenerys.
⁃ Então presumo que já deve estar ciente sobre os meus planos de tomar o trono de ferro.
⁃ Sim, mas ainda não tomou nenhuma decisão sobre isso.- a mais velha falou.
⁃ Entendo, é algo que deve ser bem pensado. - Daenerys disse e deu uma pausa.- Mas o assunto hoje é outro.
⁃ E qual seria? - a Stark questionou franzindo a testa.
Daenerys esperava que tudo desse certo. Ela era sempre tão confiante para todo mundo, mas no fundo tinha medo de que sua ideia desse errado. Sem o apoio do Norte seria ainda mais difícil conquistar Westeros. Também tinha receio se essa tinha sido a decisão certa. Caso os Starks aceitassem o que seria de sua irmã daqui pra frente? Havia acabado de reencontrar e já estariam separadas de novo. Será que a irmã se adaptaria ao novo lugar? Seria feliz? Daenerys não deseja se consagrar rainha as custas da alegria de . Mas uma Rainha deve saber fazer sacrifícios, ainda assim a decisão não se tornava mais fácil de modo algum.
⁃ Bem, é do meu conhecimento que após a Guerra o Norte esteja passando por um período difícil e que uma grande parte de Winterfell está em ruínas.- a Targaryen mais velha começou a apresentar seus planos.
⁃ Estamos trabalhando para reverter essa situação mas uma recuperação desse porte leva tempo. Ainda mais quando não se tem o apoio da Coroa.
⁃ Talvez essa recuperação não precise demorar tanto.- sugeriu Dany. Catelyn Stark a observou intrigada. - E se eu ajudasse vocês?
⁃ De que modo?
⁃ Fazendo uma doação em dinheiro para que vocês possam reconstruir Winterfell e uma garantia de que quando eu me tornar Rainha de Westeros deixarei que o Norte seja um reino isolado e Stark possa governa-lo.
⁃ Rei .- disse Catelyn corrigindo-na. Daenerys apenas assentiu. - Essa é uma proposta maravilhosa, mas presumo que deseje algo em troca. O que seria?
Era agora. Agora Daenerys falaria sobre o casamento.
estava nervosa. Catelyn Stark aceitaria a proposta? Como seriam as coisas daqui pra frente?
⁃ Além do apoio do Norte na minha retomada do trono, gostaria de também selar nossa aliança com um casamento entre nossas famílias.
⁃ Um casamento entre você e meu filho?
⁃ Não. Eu já fui casada e eu teria que governar em Porto Real e ele no Norte, então presumo de que maneira alguma isso daria certo. O casamento seria entre minha irmã e seu filho.
A proposta era maravilhosa, pensava a Stark. O apoio das Targaryen seria de extrema ajuda a recuperação do Norte. Por ela aquele acordo já estava feito, só não sabia se o filho diria o mesmo. A questão não era a Guerra, afinal Daenerys tinha bons motivos para reconquistar Westeros e com certeza seria uma Rainha melhor do que os Baratheon-Lannister. Os Starks não tinham medo da Guerra e estavam dispostos a lutarem por uma caso necessário. O problema mesmo era em relação ao casamento. Catelyn então passou a observar melhor a garota ao lado de Daenerys. Ela era alguns poucos centímetros mais alta que a irmã mas os cabelos de ambas eram da mesma cor loiro-prateado. Os fios cor de prata estavam meio presos e as pontas encaracoladas. Os olhos eram de cor violeta, característica clássica de sua família. Possuía um nariz fino, alongado e arrebitado na ponta. Seus lábios eram grossos e rosados. Estava com um lindo vestido azul com aberturas na cintura. Targaryen era dona de uma beleza inegável, Cat duvidava que o filho não se atrairia por ela... Caso já não estivesse apaixonado. Durante a Guerra dos Cinco Reis ele tinha conhecido uma enfermeira, Jeyne Westerling, e se apaixonado por ela. Os dois estavam juntos desde então. Ambos estavam muito apaixonados e apenas por isso não tenho certeza se aceitaria o acordo.
⁃ Por mim este acordo está feito, mas quem precisa aceitar é meu filho . Por isso preciso levar isso a ele.
⁃ Entendo. Fico feliz que a Senhora tenha gostado do acordo, porém não temos muito tempo. Sei que é uma decisão que demanda tempo para ser pensada mas não temos tanto tempo assim pra conquistar os Sete Reinos.
⁃ Prometo que em três dias estarei aqui de volta trazendo-lhe a resposta de ao seu acordo.
As duas disseram mais algumas palavras e Catelyn se retirou do Castelo. O caminho até o Norte foi longo. Era um enorme percurso da Pedra do Dragão até Winterfell. Tudo que Cat pensava era no quanto almejava que o filho aceitasse a proposta de Daenerys. Sabia que a paz entre o Norte e Porto Real não duraria muito tempo, já que o Rei não tolerava que o Norte fosse um reino independente. Não aguentaria correr o risco de perder sua casa ou mais alguém que amava. Perder Ned já havia sido dor mais que suficiente. Temia que se a situação atual não mudasse perderia mais alguém e não suportaria passar por isso de novo.
Assim que chegou em Winterfell, após um dia e meio de viagem, foi em direção ao Castelo. Rapidamente cumprimentou seus filhos mais novos, Sansa, Arya, Bran e Rickon. Por maior que fosse a saudade que sentia deles tinha que correr até e encontrá-lo logo. Ao chegar a sala de reuniões em que seu filho se encontrava pediu para que os vassalos e os guardas ali presentes os deixassem a sós. Logo depois correu para abraçá-lo.
⁃ Porque demorou para voltar mãe? Já era para ter chegado a dois dias.- disse ao solta-lá do abraço.
⁃ É que quando eu estava prestes a sair de Correrrio recebi um corvo de Daenerys Targaryen.
⁃ O que ela queria com você? Falar de novo sobre a proposta que me enviou?
⁃ É. Mais ou menos isso. Dessa vez ela fez uma nova proposta.- disse calmamente a Stark.
⁃ E o que ela propôs?
⁃ Um acordo em que nos ajudaria com uma quantia monetária para restaurarmos Winterfell e mantermos o Norte. E a garantia de que ainda seremos um Reino independente quando ela se tornar Rainha de Westeros. - respondeu Cat.
⁃ E isso em troca do nosso apoio à ela na Guerra para tomar Westeros?
⁃ Sim...- já se preparava para dizer que concordava com a proposta quando sua mãe voltou a falar.- Mas tem mais uma coisa.
⁃ O quê?
⁃ O acordo também precisa ser selado com um laço consanguíneo.
⁃ Um casamento? - questionou franzindo a testa.
⁃ Sim. Entre você e a irmã de Daenerys, Targaryen.- Catelyn disse e ficou ainda mais confuso.
⁃ A Daenerys tem uma irmã? Achava que ela era a última Targaryen.
⁃ É uma longa história, antes de morrer Rhaella estava grávida e um de seus criados fugiu com o bebê. A menina viveu escondida na Campina durante todos esses anos. Mas o que você me diz sobre a proposta?
⁃ Alguma chance de extinguirmos essa parte do casamento?
⁃ Não.- imediatamente disse Catelyn.
Alguns longos segundos de silêncio se passaram.
estava analisando a proposta. Como se casaria com uma mulher estando apaixonado por outra?
⁃ É uma proposta incrível... Mas terei que recusa-lá.- falou o mais novo.
⁃ Meu filho, sei que essa é uma decisão a ser tomada por você. Mas essa proposta é a nossa chance de nos recuperarmos.
⁃ Eu sei, mas não posso aceitar. Você sabe que estou apaixonado por Jeyne, mãe, não posso me casar com outra.
, você não pode recusar uma proposta que beneficiaria todo um reino apenas por estar apaixonado.- Catelyn disse se aproximando do filho.
⁃ Você deixaria o amor da sua vida assim tão fácil? - indagou o Rei.
⁃ Não sei. O amor da minha vida era o seu pai, e nosso casamento foi arranjado.
⁃ Podemos arrumar outro jeito de nos recuperarmos.
⁃ De que maneira, ? - a mulher disse e suspirou.- Não há outro jeito. Nossas possibilidade estão esgotadas. Estamos há meses tentando arrumar aliados, e não conseguimos. E também sabemos que os Baratheon-Lannister em breve tentarão nos destruir e entregar o Norte a um de seus aliados. A proposta de Daenerys é a solução pra todos os nossos problemas.
⁃ Eu não posso abrir mão dela assim, mãe...- disse sussurrando.
⁃ Eu sei que é uma decisão difícil. Mas um Rei precisar realizar sacrifícios. Por sempre a alegria de seu povo acima da sua. Não se trata apenas de usar uma coroa.- disse Cat apontando para a mesma na cabeça do filho.- Você precisa pensar com seu coração e sua mente. Eles precisam trabalhar em conjunto, e assim você será um Rei ainda melhor. Pense no que seu pai faria.
passou alguns minutos pensando. Iria facilmente a Guerra apoiar Daenerys, mas o problema era o casamento. Não queria de modo algum se casar com outra mulher e ter que viver o resto de sua vida separado de quem ama. Por outro lado, essa seria a solução para os seus problemas. Resolveria todas as questões do Reino apenas com um acordo. Os casamentos entre lordes e Reis e Rainhas costumavam ser apenas fachada. Era algo mais contratual do que por amor. Mas se casar com a garota Targaryen e continuar com Jeyne não era uma possibilidade. Ele não era esse tipo de homem, seu pai se estivesse vivo se envergonharia disso. Por mais que doesse, lá no fundo ele sabia qual era a decisão certa. Sabia exatamente o que tinha que fazer.
⁃ Eu não acredito que vou dizer isso, mas... - mesmo que relutante começou a falar.- Diga a Daenerys que eu aceito a proposta. Um rei deve se sacrificar por seu povo.
⁃ Sinto muito por você, meu filho.- disse Catelyn acariciando o braço do filho que estava coberto pelo enorme casaco de pelo. - Mas essa foi a decisão certa, seu pai estaria orgulhoso do rei que você está se tornando.
Assim que terminou de conversar com o filho, Cat se despediu de todos e já foi para a estrada novamente com alguns vassalos indo a caminho da Pedra do Dragão. Desde que Ned morreu ela passava mais tempo longe dos filhos do que com eles. Sentia muito por isso mas acreditava que com esse novo acordo as coisas mudariam e poderia passar mais tempo com a sua família. Tinha ficado feliz por ter aceitado a proposta.
Quando Ned morreu e o filho entrou na Guerra dos Cinco Reis, os nortenhos logo o proclamaram Rei do Norte. Ser rei era uma responsabilidade gigantesca, ainda mais para um homem de apenas 20 anos, mas sabia que o filho era capaz disso. Depois de hoje ela tinha certeza do quão maduro ele estava, e que o havia criado da maneira certa. Após um dia e meio de viagem ela havia chegado na Pedra do Dragão novamente. Dessa vez, os guardas logo a reconheceram e deixaram-na entrar. Daenerys já estava a sua espera. Se encontraram as duas, e alguns guardas a cercavam.
⁃ Venho trazer a resposta de meu filho, Rainha.- disse Catelyn após se ajoelhar perante a Targaryen. Daenerys ainda não era oficialmente a Rainha mas todos que a seguiam a tratavam como tal.
⁃ E qual seria? - perguntou Dany.
⁃ Temos um acordo. Ele aceitou sua proposta.

CAPÍTULO 5 – King’s Road.

Minhas coisas já estavam todas arrumadas mas eu não sabia se estava preparada. Não tinha tempo pra pensar, é claro, por isso quando Lady Catelyn disse que seu filho havia aceitado a proposta eu me apressei em ir arrumar tudo. Tinha gostado tanto do castelo que nesses poucos dias havia me apegado a ele. Dei uma última volta por toda sua extensão tentando gravar cada partezinha em minha cabeça pois sabia que demoraria a voltar aqui. Peguei alguns livros na biblioteca e os vestidos novos que Dany havia pedido para fazerem para mim. Me despedi de todos e deixei as despedidas mais difíceis pro final. Laegel não iria comigo para Winterfell, apesar de ser difícil, concordamos que seria melhor pra todos que ele ficasse na Pedra do Dragão ajudando Daenerys. Era ruim deixá-lo aqui depois de 17 anos juntos e com ele cuidando de mim. Mas infelizmente era o certo a se fazer.
⁃ É a primeira vez em minha vida toda que estaremos tão longe um do outro.- falei a Laegel segurando em seus ombros.
⁃ É, milady. Sentirei sua falta, mas as mudanças são necessárias.- disse e eu respirei fundo. Que essas mudanças sejam boas, eu continuava repetindo em minha mente.
⁃ Eu vou sentir muita falta de você, meu amigo. Muito obrigada por ter cuidado de mim como um pai.- falei e o abracei bem forte. Não era de chorar facilmente, mas meus olhos já estavam marejados.
⁃ Imagine, eu apenas fiz o meu trabalho.
⁃ Não, você fez além. Se manteve leal aos Targaryen todo esse tempo... Tudo que eu aprendi foi graças a você. Pode ter certeza que eu retribuirei tudo isso.- falei e me soltei de seu abraço.
⁃ Também farei questão de retribuir toda essa lealdade a nossa família, Laegel. E por ter cuidado de minha irmã todos esses anos.- Dany disse e se virou em minha direção. - Pode ficar tranquila que ele irá ser muito bem tratado aqui, .
Assim que minha irmã terminou de falar à abracei bem forte. Inclinei minha cabeça em seu ombro e ela acariciou levemente meu cabelo.
⁃ Quando eu finalmente tenho minha irmã mais nova comigo ela tem que se afastar de mim.
⁃ Se é difícil pra você, imagina pra mim que passei a vida inteira querendo encontrar a irmã mais velha e pude passar apenas alguns dias com ela.
⁃ Espero que eu não tenha errado nessa decisão, . Não quero que as coisas deem errado pra você por minha culpa.
⁃ Vai ficar tudo bem.
⁃ Apesar de saber que Laegel te ensinou muito bem como se virar sozinha, alguns servos nossos irão com você. E também sei que os Starks a tratarão maravilhosamente bem.
⁃ Pode ter certeza que sim, minha Rainha.-disse Lady Catelyn.
⁃ Fique tranquila, em breve você conquistará Westeros e tudo tomará seu devido rumo.- assim que acabei de falar me despedi de todos os outros presentes ali e guardei minhas coisas no pequeno compartimento que Dany havia me entregado. Subi no barco e logo fui acompanhada por Lady Catelyn, seus três servos e os três servos leais a minha irmã. Acenei para todos e os servos começaram a remar. Olhei para trás apenas uma vez e pude ver Daenerys sorrindo para mim. Ah, como eu queria ter passado mais tempo com ela... Ouvi um barulho e senti um calor se aproximando. Olhei para o alto e pude ver Rhaegal voando no céu bem acima da Pedra do Dragão. Sentiria falta de tudo aqui. Foram apenas alguns dias mas que fizeram eu me sentir plenamente uma atmosfera Targaryen, como desejei sentir minha vida toda. Passei a olhar apenas para frente, não era hora de repensar minha decisão.
Logo chegamos à terra firme no Pouso de Gralhas e subimos em nossos cavalos. Cavalgamos pela Ilha Quieta e logo chegamos na Estrada do Rei. Permaneceríamos nessa estrada até chegarmos a Winterfell. Fiquei muito atenta durante todo o percurso, tudo era novo para mim, afinal, eu nunca havia ido tão longe da Campina. A estrada era empoeirada e tinha muitos buracos, ao nosso lado esquerdo estava a Feirajusta e ao direito a floresta que levava ao Vale de Arryn.
⁃ Está começando a escurecer, quer fazer uma parada para descansar? - disse Lady Catelyn ao virar o rosto para mim.
⁃ Não, estou bem...- falei enquanto cavalgava. Cat estava ao meu lado e três servos iam a nossa frente e os outros três mais atrás.
⁃ Tem certeza, querida? - disse ela de um jeito maternal.- Ainda temos um longo caminho pela frente.
⁃ Tenho sim, quanto mais cedo chegarmos melhor. - falei e ela assentiu.
Depois de alguns minutos de silêncio resolvi começar a perguntar as coisas que martelavam em minha cabeça.
⁃ Como é em Winterfell? - perguntei curiosa.
⁃ Bem, somos a capital do Norte, mas disso você já sabe. O Castelo é muito antigo, sempre está frio e costumo dizer que a áurea do lugar é cinza. - falou e eu ri.- Provavelmente é bem diferente de tudo que você já viu.
⁃ É, a Campina é o oposto do que você disse. Quase sempre faz calor, temos imensos jardins floridos e tudo é muito colorido.
⁃ Com certeza essa mudança será uma aventura diferente pra você, mas fique tranquila que faremos o possível para Winterfell se tornar o seu lar. - disse me fazendo sorrir.- Imagino que esteja querendo saber principalmente sobre a minha família, certo?
⁃ Sim.- assenti.
⁃ Bom, eu e Ned tivemos cinco filhos e ele também teve um bastardo, Jon Snow que é da mesma idade de . Mas Jon está na muralha* então provavelmente você não irá conhecê-lo.
Ela fez uma pausa para respirar provavelmente pensando no que iria me dizer.
⁃ Meu filho mais novo é o Rickon, que tem 8 anos. Todos os meus filhos possuem lobos de estimação.- Catelyn disse eu arregalei os olhos.
⁃ Lobos?
⁃ É, eu sei que não é algo muito comum. Mas pra você cuja irmã possui três dragões não deve ser assim tão estranho.- ela falou me fazendo rir.
⁃ É, pensando por esse lado não é mesmo.- disse e ela sorriu.
⁃ O lobo é o símbolo dos Starks, quando meu marido encontrou seis na floresta, resolveu entregá-los aos nossos filhos. O de Rickon se chama Cão Felpudo; o de Bran, Verão; a de Arya, Nymeria; a de Sansa, Lady; e o de , Vento Cinzento.
Fiquei muito curiosa para conhecê-los. Aliás, eu estava curiosa para saber tudo sobre os Starks, sobre o norte, e sobre o povo que eu governaria. Comecei a ficar mais ansiosa em relação ao que me esperava pela frente.
⁃ Bom, depois vem meu filho Bran, de 13 anos. Ele amava escalar, mas houve um pequeno acidente em uma dessas escaladas e hoje ele não pode mais andar.
⁃ Nossa, eu sinto muito.- falei com pesar. Um menino tão jovem e sem poder correr, coitado.
⁃ Está tudo bem, ele vem se adaptando até que bem à isso...- disse com um semblante mais triste.- A caçula das minhas meninas é Arya, de 15 anos. Ela é uma menina diferente do normal. Nunca sonhou em ser uma lady, sempre preferiu espadas e flechas do que bonecas. Você também foi treinada por Laegel desde pequena, certo?
⁃ Sim, ele me ensinou tudo, inclusive a lutar.
⁃ Arya vai gostar de você. Aliás, Arya e Sansa irão.- disse e eu sorri.- Sansa tem 17 anos, e é o oposto de Arya. Enquanto a mais nova é atrevida, Sansa é mais recatada e não se interessa muito por lutas. Sempre quis ser uma princesa. Por isso acho que ambas vão gostar de ti, é como se você fosse uma mistura das duas.
⁃ Espero que gostem...- era importante pra mim que os Starks e os nortenhos gostassem de mim. Afinal, talvez eu fosse passar o resto de minha vida inteira lá com eles.
⁃ Por último, vem meu filho mais velho, .- ela disse e minha atenção se redobrou. Era por ele que minha curiosidade chegava ao seu nível máximo.- Ele tem a personalidade muito parecida com a do pai. É corajoso, bondoso, intenso, um guerreiro e um verdadeiro líder.
⁃ Acha que ele vai se interessar por mim? - perguntei o que estava em minha cabeça desde que essa conversa começou. Percebi Lady Catelyn hesitante. Qual seria o problema?
⁃ Claro que sim, querida.- disse e pude perceber que ela estava escondendo algo. Resolvi não perguntar, afinal não tínhamos um enorme nível de intimidade e não queria ser invasiva.
Continuamos cavalgando quando reparei que já havia escurecido completamente. Estávamos quase chegando no Fosso Cailin quando ouvimos barulhos estranhos. Aos poucos os sons foram aumentando e percebi que se tratavam de passos. Assim que coloquei a mão sob minha espada alguns selvagens armados apareceram e nos rodearam. Deviam ser uns quinze ao todo. E nós, éramos oito, ou seja, estávamos em uma clara desvantagem. Os tribais usavam trapos e tinham uma espécie de tinta espalhada pelo rosto. Todos estavam armados com facas apontadas para nós. Paramos de cavalgar e esperamos que eles falassem algo. Mas palavras não deviam ser sei forte, já que logo avançaram para cima de nós tentando pegar nossos pertences, o que não deixaríamos assim tão fácil. Eu, Cat e os servos que nos acompanhavam pulamos de nossos cavalos. Disseram para que recuássemos atrás de uma pedra do outro lado da estrada enquanto eles lutariam com os selvagens. E foi o que fizemos.
Permaneci sentada atrás da pedra mas não deixei de observar o combate.
⁃ Está bem? - sussurrei para Catelyn que tinha os olhos arregalados.
⁃ Sim, não é a primeira vez que sou atacada por selvagens. Só não é comum a ocorrência disso aqui nessa área em que estamos.
Fiquei observando o que acontecia sem em nenhum momento tirar a mão de minha espada. Manfryd um dos servos de Daenerys lutava contra dois dos selvagens. Logo posicionou a espada na garganta de um e a enfiou sem nem pestanejar, se virou e golpeou o que estava atrás de você que caiu no chão e Manfryd aproveitou para posicionar a espada em seu peito. Damon, um dos guardas dos Starks foi cercado por três selvagens e golpeado nas costas logo caindo no chão. Conforme a luta foi se seguindo a nossa desvantagem em números pesou sob nossas costas. Oito dos selvagens estavam mortos no chão, mas três dos nossos também estavam. O que significa que a luta ainda estava desigual e agora éramos três contra sete. Quando um dos nossos caiu morto no chão e apenas Karyl e Jason lutavam para nos defender senti que era hora de fazer algo ou todos nós morreríamos. Tirei a espada de minha bainha e me levantei detrás da pedra.
⁃ O que está fazendo? - disse Catelyn apreensiva segurando meu braço.
⁃ Indo nos defender. - falei simplória.
, é muito perigoso. É melhor ficar aqui...
⁃ Fique tranquila que eu fui treinada pra situações como essa, esqueceu? Agora não saia daqui que eu já volto.
Catelyn ia falar algo mas me soltei de seu braço e atravessei a rua. Corri em direção a Jason que estava cercado por três selvagens. Posicionei minha espada nas costas de um que logo caiu no chão. Jason aproveitou o momento de distração para golpear outro selvagem na nuca. A outra selvagem se aproximou de mim rosnando irritada. Veio pra cima me encurralando em uma árvore e minha espada caiu no chão. Pôs as duas mãos em volta do meu pescoço tentando me enforcar e eu dei um chute em seu estômago, o que a fez afrouxar as mãos. A joguei no chão e sentei-me sobre suas pernas, aproveitei e peguei minha espada ao seu lado e a golpeei no estômago. Não tive tempo ao menos pra raciocinar sobre o que tinha feito quando vi que Jason e Karyl lutavam com três selvagens e um ia em direção a pedra que Lady Catelyn estava. Corri em sua direção e aproveitei que o mesmo estava de costas para mim e posicionei minha espada em sua nuca. Ele caiu ao lado da Stark espirrando sangue sob a mesma. Olhei para trás e vi que Jason e Karyl haviam matado os três últimos selvagens. Me escorei na pedra e olhei os dezenove corpos ao meu redor. Respirei ofegante e encarei Catelyn assustada a minha frente ainda sem compreender tudo que havia acontecido.
Durante o resto do percurso minha cabeça ainda estava no combate ocorrido algumas horas atrás e minhas mãos ainda estavam trêmulas. Não fomos capazes de sequer formulamos mais do que cinco frases após o acontecido. Todos estávamos com respingos de sangue e até mesmo nossos cavalos pareciam assustados. Eu era a mais assustada. Havia sido treinada pra situações como essa? Sim. Mas um treinamento não é como viver a experiência. E eu nunca tinha passado por uma assim. Em Westeros situações como essas eram comuns... Mas eu era só uma garota que vivia escondida na Campina. Nunca sequer havia matado um animal. Quem dirá uma pessoa. E hoje eu havia matado três. Minha espada valiriana que havia pertencido a membros da minha família após tantos anos estava suja de sangue novamente, a cada dia eu me tornava mais uma Targaryen. Ainda absorta em pensamentos sobre o ocorrido só percebi onde estávamos quando Cat se pronunciou.
⁃ Bem-vinda a Winterfell, .
*A muralha fica no fim do Norte, na fronteira de Westeros com as Terras-Alem-Da-Muralha, onde é sempre inverno e vivem selvagens, gigantes e outras criaturas místicas. Os vigilantes da Muralha protegem Westeros do que quer que esteja além dela.

CAPÍTULO 6 – Meet the Starks.

Chegamos em Winterfell bem cedo e quase ninguém já estava acordado. O lugar era exatamente como Catelyn descreveu, tinha uma áurea cinza. Mesmo nos dias quentes o céu deveria permanecer nublado. O Castelo também era cinza e era gigantesco. As poucas pessoas que passavam pareciam ser muito simples, nada parecido com Porto Real ou com a Campina. O estilo do castelo me lembrava da Pedra do Dragão, só que aqui era infinitamente mais frio. Todos ao meu redor estavam completamente encasacados e eu apenas com meu vestido que costumava usar no Jardim de Cima.
⁃ Não está com frio? - perguntou-me Catelyn.
⁃ Não muito. Os Targaryen tem sangue quente, e costumo dizer que também trago o clima da Campina comigo.- disse e Cat sorriu.- No máximo colocaria um vestido com as mangas mais longas.
⁃ Vem, vou-lhe indicar seus aposentos. Imagino que assim como eu esteja exausta da viagem.
⁃ Sim, e também preciso urgentemente de um banho.
Catelyn me levou diretamente até um quarto dentro do Castelo e disse que depois me apresentaria os outros cômodos. O quarto era maior que o meu na Campina porém menor do que o meu na Pedra do Dragão. Ele era temporário, afinal, após o casamento eu iria para o quarto de . Coloquei minha espada encima da mesa, mais tarde a limparia. Coloquei os livros ao lado da mesma e os vestidos no armário.
⁃ Descanse, mais tarde venho chama-la. Faremos uma festa de boas-vindas para apresentar você à Winterfell. Pessoas de todo o Norte virão para vê-la.- assenti e logo Cat saiu fechando a porta. Minha ansiedade só aumentou. Eram tantas coisas novas que meu coração batia acelerado, se eu não tivesse tão cansada da viagem dificilmente teria conseguido dormir.
Acordei praticamente na hora do pôr-do-sol. Aproveitei o tempo que tinha para arrumar melhor minhas coisas e limpar minha espada. Assim que acabei fui tomar um banho de banheira bem demorado para que todos os resquícios de sangue saíssem de meu corpo. Quando percebi que já estava escurecendo resolvi que era hora de me arrumar. Escolhi um vestido azul claro que possuía um decote, detalhes dourados e uma espécie de capa atrás. Não possuía mangas e eu também não tinha intenção de colocar um casaco.
Provavelmente todos irão me olhar estranho, mas não tenho culpa do meu sangue Targaryen me esquentar mais do que os outros. Fiz uma trança na parte de cima do meu cabelo e alguns minutos depois que terminei escutei batidas na porta.
⁃ Com licença. Me chamo Lauryn e a partir de hoje sou sua dama de companhia, milady.- disse a menina que abriu a porta.- A Senhora Stark pediu para avisa-lá que já estão à sua espera. Está pronta?
⁃ É um prazer conhecê-la, Lauryn.- falei e logo me aproximei apertando sua mão.- Vamos, já estou pronta.
Lauryn me levou à todos os cômodos tanto do andar de cima quanto debaixo do Castelo. Após me apresentar à minha nova casa foi a hora de apresentar-me a minha nova família. Fomos nos aproximando de um local que Lauryn me disse ser o Grande Salão. Era lá que davam boas-vindas aos hóspedes e onde a família recebia suas refeições. Lauryn foi na frente e abriu a larga porta de carvalho e ferro que levava ao local da festa. O salão era enorme, coberto por pedras cinzas e abarrotado de estandartes. Haviam oito longas fileiras de mesas de cavalete e Lauryn mencionou que deveriam estar presentes cerca de quinhentas pessoas. Conforme andávamos pelo salão, pude perceber que por um instante o barulho de conversas se cessou e todos passaram a me olhar. Provavelmente logo descobriram que eu era a garota a quem eles vieram dar boas-vindas. Afinal eu era a única que me destoava completamente de qualquer um ali, com cabelo loiro-prateado, olhos violetas e roupas que nem de longe poderiam ser consideradas de frio. Tentei permanecer sorrindo para todos mas a cada vez mais meu coração acelerava e minhas mãos suavam. Será que eles não parariam de me olhar nunca? Chegamos a frente do salão onde havia uma espécie de palanque no qual haviam seis pessoas paradas. Lauryn parou exatamente de frente para eles e eu presumi que eu também deveria parar ali. Logo identifiquei Sra Catelyn Stark que sorriu para mim.
⁃ Boa noite à todos. - começou falando a Sra Stark.
Passei então a observar as outras pessoas ao seu lado no palanque. Todos usavam casacos de pele, possuíam rostos finos e pele muito branca. Comecei a analisa-los da direita para a esquerda. O primeiro era o único que estava sentado, presumi que fosse Bran, já que o mesmo não andava. Ele possuía um rosto fino e cabelos castanhos na altura do queixo. Ao seu lado estava uma menina de vestido de couro com mangas longas, calças e com botas que iam até seu joelho. Ela tinha os cabelos pretos e lisos soltos até a altura do ombro. Percebi que ela tinha uma espada presa em sua bainha. Pelas características presumi ser Arya. Ao seu lado se encontrava o menor de todos eles, um menino com os cabelos em um tom loiro-escuro. Provavelmente era o caçula dos Starks, Rickon. Do lado dele estava Sansa, uma linda menina, alta, com um longo vestido rosa claro e os cabelos ruivos presos em uma trança. Ao perceber que a olhava ela virou o rosto para mim e sorriu, eu retribui o sorriso. Assim que comecei a a analisar o homem ao lado de Sansa meu sorriso se desmanchou e minhas mãos suaram ainda mais se é que é possível. Ele era alto, vestia roupas pretas, as mais imponentes dentre todos que estavam presentes, os cabelos eram castanhos e ondulados. Possuía uma grossa barba e um semblante sério. Tentei ver a cor de seus olhos mas ele encarava o público com o qual sua mãe falava. Aquele com certeza era .
⁃ Estamos aqui hoje para darmos as boas-vindas a uma ilustre convidada. Gostaria de apresentar à vocês, Targaryen.- assim que acabou de dizer me chamou para subir ao seu lado. Percebi alguns comentários sobre meu sobrenome. Senti os olhares de todos no palanque e atrás de mim me queimando. Respirei fundo, coloquei um sorriso no rosto, fingi que não estava nem um pouco nervosa e caminhei em direção à Catelyn. Subi no palanque entre Cat e e tentei direcionar meu olhar apenas a Lauryn, para que não ficasse ainda mais nervosa vendo todo mundo me olhar.
⁃ Bom, é do conhecimento de todos que após a Guerra dos Cinco Reis o Norte tem passado por um período difícil.- Cat disse e muitos muxoxos foram ouvidos.
⁃ Tentei de todas as maneiras achar uma solução para os nossos problemas e para nossa restauração; mas sem o apoio de Porto Real e seus aliados a tarefa se tornou praticamente impossível. - começou a falar e eu percebi que prendi a respiração involuntariamente. Seu tom de voz era rouco.
⁃ A alguns dias Daenerys Targaryen me chamou na Pedra do Dragão para levar um acordo que ela propôs até o rei .- disse Catelyn.
⁃ Nesse acordo ela concordava em nos ajudar financeiramente a nos recuperarmos e dava a garantia de que quando assumisse o trono o Norte seria oficialmente um Reino independente comandado pelos Starks.- disse e todos gritaram comemorando.- No entanto, em troca ajudaremos ela a apoiando em sua retomada ao trono de ferro.
Todos comemoraram por alguns minutos até que voltou a falar. Eu estava nervosa demais para mexer sequer um milímetro do meu rosto e acabar o encarando, então permaneci olhando Lauryn.
⁃ Portanto, a partir de hoje, somos aliados de Daenerys, começaremos nossa recuperação e para selar o acordo me casarei com sua irmã Rhaenna. Mantendo assim uma dinastia Targaryen-Stark.- acabou de falar e todos começaram a aplaudir. Quando ouvi meu nome ser pronunciado por ele de novo parei de respirar sem nem perceber. Estava começando a me sentir patética por isso.
⁃ Acredito que muitos aqui nem sabiam da existência de outra Targaryen. Por muito tempo achamos que toda a família havia sido extinta. Depois, descobrimos que Daenerys estava viva e planejava retomar o trono. E agora descobrimos por último que há outra Targaryen, a irmã de Daenerys, Rhaenna.- falou e apontou pra mim.- Poucos sabem, mas, a Rainha Rhaella estava grávida quando fugiu de Porto Real. Pouco antes de ser capturada ela teve seu bebê em uma caverna e a entregou a um de seus servos que fugiu com a criança. Rhaenna cresceu durante todos esses anos escondida no Jardim de Cima sob o pseudônimo de Florent. Nem mesmo Daenerys sabia de sua existência antes de pisar em Westeros.
Todos começaram a murmurar, provavelmente surpresos e curiosos sobre a minha história. Eles ainda permaneciam me encarando. Senti que os Starks ao meu lado também faziam a mesma coisa.
⁃ Antes de começarmos nosso banquete, gostaria de ressaltar que não haveria melhor Rainha para o Norte do que a . Ela é bondosa e incrivelmente corajosa. Hoje, quando vínhamos para Winterfell acompanhadas de seis servos, quinze selvagens nos atacaram tentando nos roubar. lutou bravamente contra eles e inclusive matou três deles para nos defender.- no mesmo instante todos começaram a fazer comentários cochichando, plenamente surpresos com a minha atitude.- Bom, , quer falar algo para nós?
Assenti que sim. Por mais que eu estivesse nervosa e ligeiramente tímida não poderia ficar sem falar nada, seria mais constrangedor ainda.
⁃ Meu nome é Rhaena Targaryen e eu sou filha do Dragão. - usei pela primeira vez a apresentação clássica dos Targaryen. Só de dizer isso me senti como nunca antes havia sentido. - É a minha primeira vez aqui e que enfrento uma situação como essa mas fui treinada minha vida inteira para isso. O servo dos Targaryen me ensinou a lutar e tudo sobre minha família, já minha mãe me passou seus conhecimentos sobre reinado através de um diário que escreveu para mim e Dany antes mesmo de eu nascer. Por isso, eu prometo que vou me esforçar o máximo para ser uma excelente Rainha para o Norte assim como minha mãe Rhaella foi para Westeros.
⁃ Um viva para Targaryen, sua futura Rainha.- disse Cat e todos gritaram em uníssono "viva!".
Assim que os "vivas" e os aplausos acabaram, o banquete começou a ser servido. Aos poucos as pessoas foram se distraindo e paravam de me encarar. Catelyn encostou a mão em minhas costas e foi me apresentar à seus filhos. Cumprimentei um por um e ao chegar em voltei a ficar nervosa. Ele já estava prestes a descer do palanque quando eu e Cat nos aproximamos.
, essa é a .
esse é o .- disse nos apresentando, apesar de ambos já nos conhecermos.
E pela primeira vez ele direcionou o olhar a mim. Seus olhos eram azuis e carregavam uma intensidade que eu nunca havia visto antes. Não consegui por um só instante olhar para outro lugar que não fossem seus olhos. Até tentei sorrir mas estava tão nervosa que no máximo faria uma careta. Limpei discretamente as mãos no vestido e estendi uma a ele que a pegou e beijou.
logo a soltou, pediu licença e seguiu até outra mesa. Ouvi Cat respirar fundo. Porque ele não havia dirigido sequer uma palavra à mim? Franzi a testa sem entender. O restante dos Starks desceram o palanque e se espalharam pelo salão. Lauryn me ajudou a descer e me acompanhou até uma mesa onde eu me sentei. Percebi que Arya e Sansa vinham em minha direção.
⁃ Oi , é verdade mesmo a história que minha mãe contou? Sobre você ter lutado e matado três caras no caminho pra Winterfell? - perguntou-me a mais nova.
⁃ Arya, não se pergunta esse tipo de coisa assim. Ainda mais no horário do jantar. Pare de importuna-la.- Sansa disse e Arya bufou me fazendo rir.- Me desculpe pelo comportamento de minha irmã, princesa.
⁃ Imagina, não tem problema nenhum.- respondi Sansa e em seguida me virei para Arya.- E sim, é verdade.
A mais nova me olhou com os olhos arregalados transbordando admiração.
⁃ Você não se parece com uma guerreira espadachim.- disse Sansa intrigada.
⁃ É porque eu sou metade princesa e metade espadachim.- falei brincando e elas riram.- Venham, sentem-se aqui que eu conto tudo direitinho pra vocês.
Comemos o banquete e logo as meninas voltaram a me encher de perguntas sobre a minha vida dupla de princesa-espadachim.
⁃ Eu cresci na Campina, e fui criada por um servo da minha família, Laegel. Ele me ensinou tudo sobre minha família e também sobre como me defender.- comecei falando.
⁃ Ele te ensinou a lutar? - Arya me perguntou.
⁃ Sim, me ensinou sobre luta corporal e a lutar com espadas.
⁃ E cadê ele? Ele veio com você? Será que ele poderia me treinar? - disse Arya olhando entusiasmada ao redor. Eu ri.
⁃ Não, Laegel não veio. Ele ficou na Pedra do Dragão com a Daenerys.- falei e a menina soltou um muxoxo desanimada.- Eu não sou uma professora tão boa quanto ele, mas se quiser eu posso treinar com você.
⁃ É sério? - indagou arregalando os olhos.
⁃ Claro que sim.- respondi e ela sorriu animada.- Bom, como eu estava contando... Laegel me ensinou quase tudo que sei. O resto foi minha própria mãe no diário que deixou pra mim antes de morrer.
⁃ O que ela escreveu no diário? - a mais velha perguntou.
⁃ Em um caderno ela conta coisas sobre nossa família que os livros não falam e em outro escreveu uma espécie de guia sobre como ser uma boa rainha.- falei e Sansa abriu a boca surpresa.
⁃ O sonho dela é ser rainha um dia.- murmurou a mais nova zombando da irmã.
⁃ Fica quieta, Arya.- Sansa disse e rolou os olhos.- Continua falando, .
⁃ Nesse diário ela me ensina a como ser uma boa rainha pro meu povo, minha família e meu Rei. Tudo com muitos detalhes e experiências que ela teve. Sabe, se você quiser posso empresta-lo pra você ler...
⁃ Seria ótimo. - Sansa falou sorrindo.- Seria ainda melhor se você também pudesse ir me contando tanto o que aprendeu com as coisas que ela te escreveu como com Laegel. É claro, se você puder.
⁃ Posso sim, sem problema nenhum. - respondi.
⁃ Obrigada... Deve ser fantástico poder ser as duas coisas né? Não é muito comum uma mulher que saiba lutar, ainda mais uma que é uma princesa.- comentou a ruiva.
⁃ Eu nunca tinha sido efetivamente uma princesa ou uma espadachim até agora. Só comecei a ser princesa depois que encontrei Daenerys e só comecei a por em pratica meus conhecimentos de espadachim depois do ocorrido na Estrada do Rei. Mas tenho que admitir que gostei de ser os dois.- falei sorrindo.
Algumas pessoas continuavam me encarando. Analisando meu cabelo e minha roupa. Eu não as culpava, afinal, eu era a garota nova no pedaço. Aquela da família quase extinta, a que ninguém sabia que existia e a futura Rainha deles. Mas o que estava me incomodando era uma mulher que não parava de me olhar desde a hora em que entrei no salão. A cada passo, cada palavra, cada gesto que eu dava ela estava me olhando. E o pior é que não se tratava de um olhar admirado ou curioso como o da maioria. Ela me olhava de um jeito diferente, como se estivesse com raiva de mim. Mas eu sequer havia feito algo para que ela me encarasse daquele modo. Resolvi perguntar as Starks quem ela era.
⁃ Meninas, tem uma garota que não para de me encarar um só segundo!
⁃ Ah, normal... Todos estão te olhando mesmo.- disse Sansa.
⁃ Não. É diferente. Ela não parou um só instante e me olha de um jeito muito esquisito.
⁃ Estranho... Quem é ela? - perguntou-me.
⁃ É aquela garota ali de cabelo preto com um vestido cinza. Está sentada na terceira mesa. - falei sem olha-lá.- Podem olhar, apostando que ela ainda está me encarando.
As duas olharam na direção em que a mulher estava e se encararam na hora com um semblante esquisito.
⁃ É a Jeyne Westerling.
⁃ Arya! A mãe disse que não devíamos falar sobre isso, esqueceu?
⁃ Mas ela vai saber de qualquer jeito, Sansa.
⁃ Não tem problema, vocês podem me falar, afinal eu vou ser da família de vocês. Quem é Jeyne Westerling?
⁃ Jeyne é a namorada do .- Arya respondeu e eu franzi o cenho. Como assim namorada? Como o tinha uma namorada se ele estava prestes a se casar comigo?
⁃ Como assim namorada? Como ele vai se casar comigo namorando? - perguntei sem entender nada.
⁃ Não era pra contarmos isso, mas, já que a bocuda da Arya começou é melhor explicarmos de uma vez.- Sansa disse e encarou brava a irmã.- Jeyne é uma enfermeira que conheceu na Guerra dos Cinco Reis. Ele se apaixonou por ela e desde então estão namorando.
⁃ Foi só por esse motivo que ele ficou relutante em se casar com você. - disse Arya interrompendo a irmã.
⁃ Mas no fim ele soube que era o certo a se fazer e terminou com a Jeyne.- Sansa falou acho que em uma tentativa de me tranquilizar. Apenas assenti.
Continuei conversando com as meninas pelo resto da noite. Apesar de minha cabeça estar em outro lugar. Precisamente em Stark e Jeyne Westerling. Independentemente dele ter terminado com ela, ele só o fez porquê foi obrigado, ou seja, ele ainda a ama. Eu iria me casar com um homem que amava outra. Eu já tinha noção de que talvez eu nem conseguisse conquista-lo. Quem dirá agora que sei que ele ama outra. E se eles continuassem juntos mesmo após ele se casar comigo? Adultério era uma prática comum a muitos reis. Esses pensamentos, somados ao que aconteceu na Estrada do Rei, e a todas as mudanças que me aguardavam eu não consegui pregar os olhos. Fiquei deitada na cama por muito tempo apenas pensando em tudo isso. Minha cabeça estava a mil por hora. Quando estava prestes a cair no sono comecei a ouvir uns barulhos dentro do meu quarto. Continuei estática prendendo até a respiração. Deve ser algum animal do lado de fora. Algum animal do lado de fora. Algum animal do lado de fora. Algum animal do lado de fora. Continuei repetindo mentalmente até que vi uma silhueta feminina se aproximar. Me arrastei lentamente aos lados da cama tentando chegar a minha espada que se encontrava na mesinha de cabeceira. Me arrastei mais. Os passos ficaram mais próximos. Quando cheguei próximo o suficiente fui esticar minha mão para pegar a espada mas logo fui impedida por alguém que segurou meu braço. Fiquei com um grito entalado na garganta. Alguns poucos raios de luz vinham da janela e agora mais próxima eu finalmente consegui ver quem era.

CAPÍTULO 7 – Am I a murderer?

Me arrastei lentamente aos lados da cama tentando chegar a minha espada que se encontrava na mesinha de cabeceira. Me arrastei mais. Os passos ficaram mais próximos. Quando cheguei próximo o suficiente fui esticar minha mão para pegar a espada mas logo fui impedida por alguém que segurou meu braço. Fiquei com um grito entalado na garganta. Alguns poucos raios de luz vinham da janela e agora mais próxima eu finalmente consegui ver quem era. Era a garota que havia me encarado o tempo todo durante a festa. Era a namorada do , Jeyne. Tentei soltar meu braço de suas mãos mas não consegui. Quando fiz menção de me levantar ela se jogou em cima da cama me prendendo entre as suas pernas. Comecei a me debater.
⁃ O que você está fazendo? - perguntei praticamente gritando.
⁃ Impedindo que você tire o meu de mim.
Assim que ela concluiu a frase tentei empurra-lá de cima de mim novamente e nós rolamos na cama e eu cai no chão. Jeyne veio pra cima de mim e percebi que agora ela estava com um punhal em mãos. Me levantei e comecei a andar para trás porém sem olhar para ela. Acabei ficando encurralada entre a parede. Tentei derruba-lá com um chute mas ela apenas se contorceu e logo continuou vindo em minha direção. Jeyne tentou me acertar com o punhal, mas como me movi ela acabou fazendo apenas um leve corte sobre meu quadril. Passei as mãos sobre meu ferimento e senti o sangue escorrer. A golpeei no rosto e em seguida no braço, o que a fez afrouxar a mão e deixar o punhal cair. Me joguei contra ela fazendo com que nós duas caíssemos no chão. Ela me acertou um soco e eu a golpeei três vezes na barriga e com dois tapas no rosto. Como ela ainda estava desnorteada, me posicionei em cima dela e segurei seus pulsos de uma maneira que ela não conseguisse sair. A mantive imobilizada ainda pensando no que fazer. Minha intenção não era matá-la. Afinal ela era a namorada de . E mesmo que ela tenha atentado contra minha vida eu não queria ter que acrescentar mais um assassinato na minha lista do dia de hoje. Três já era mais do que suficiente. Como havia a imobilizado e a garota já parecia desestabilizada resolvi que o melhor a se fazer no momento era pedir ajuda. Me levantei rapidamente e fui até a porta gritar por socorro.
⁃ Alguém me ajude, por favor! - gritei desesperada ainda no batente da porta.
Ia abrindo a boca para soltar mais um pedido de socorro quando fui violentamente puxada pelos cabelos. Jeyne havia levantado de novo e agora me jogava no chão ao lado de minha cama. Ela me deu vários socos seguidos e posicionou suas mãos em meu pescoço me enforcando. Tentei me soltar de todas as maneiras, mas nada foi eficaz. A cada segundo suas mãos estavam ainda mais apertadas ao redor de meu pescoço e meu ar se esvaía. Senti que já estava ficando roxa e sequer conseguia pensar em uma ideia para me soltar. Continuei me debatendo mesmo que lentamente e foi então que vi de soslaio um relance prateado. Ela estava completamente focada em manter força em suas mãos, e foi por isso que não percebeu quando peguei o punhal embaixo da cama. Não pensei duas vezes, essa era a única chance que tinha de sair viva dali. Cravei o punhal em seu peito e ela arregalou os olhos e logo soltou meu pescoço. Começou a perder sangue cada vez mais rápido e caiu de lado deixando uma crescente poça no chão. Quando vi que ela ainda respirava voltei a pedir por socorro, mas ainda no chão, pois não tinha sequer forças para me levantar. Um criado que trabalhava para os Starks apareceu em minha porta completamente ofegante. O encarei e em seguida olhei pra Jeyne no chão. A essa altura ela sequer respirava mais.
Eu ainda estava sentada no mesmo lugar e agora me encontrava cercada por criados dos Starks e até mesmo por Sansa que tentava a todo custo me acalmar. Eu havia acabado de matar alguém. Só hoje eu já havia matado quatro pessoas. Sem chance alguma de eu conseguir me acalmar. Eu havia corrido mais perigo hoje mais do que corri em minha vida inteira. Comecei a repensar se minha decisão de ter vindo pra Winterfell era a certa. Deveria ter ficado com Daenerys. Se bem que lá também não seria 100% seguro. Nenhum lugar seria. Mas eu já começava a me arrepender de minhas decisões. Estava tão assustada que não consegui nem soltar uma lágrima. Mais pessoas chegavam, conversavam comigo ou entre si e eu sequer as ouvia. Arya apareceu. Lauryn apareceu. Bran apareceu. Catelyn apareceu. E eu não havia conseguido prestar atenção em uma só palavra do que eles haviam dito. Conforme fui me acalmando expliquei passo-a-passo o que havia acontecido. Todos entenderam meu lado e viram que era a única coisa que eu poderia ter feito. Estava começando a ficar mais tranquila até que ele apareceu. Não direcionou os olhos para ninguém presente em meu quarto e foi direto de encontro ao corpo no chão. se ajoelhou e percebi que se esforçava ao máximo para não chorar. Seu rosto estava completamente abatido. Permaneceu por alguns longos minutos apenas a olhando. Até que resolveu direcionar seu olhar a Catelyn que estava ao meu lado.
⁃ O que foi que aconteceu aqui? - perguntou com um tom de voz que mesmo ressentido resplandecia raiva.
⁃ Consegue falar, querida? - Catelyn perguntou-me afagando meu cabelo.
⁃ Me desculpa, Sr Stark. - comecei falando e ele sequer me olhou. Havia voltado a encarar o corpo de Jeyne.-Ela entrou no meu quarto escondida, provavelmente com a intenção de me matar, por ciúmes, não sei... Nós lutamos e eu consegui imobiliza-la. Mas quando a soltei para pedir ajuda ela voltou a me atacar e me enforcou de um modo que eu só conseguiria sair viva se a golpeasse com o punhal. Me desculpe um milhão de vezes... Eu realmente não tinha a intenção.
Alguns minutos se passaram desde minha fala e ainda não me olhava.
Percebendo o clima cada vez mais tenso que se instaurava as Starks resolveram vir em minha defesa.
⁃ Era a única coisa que a poderia fazer .- disse Arya.
⁃ Ela não tinha intenção de mata-la, tanto que de primeira apenas a imobilizou.- Sansa complementou a fala da irmã.
⁃ Como vou saber que você não a matou de propósito? - perguntou e finalmente me encarou. Eu preferia que ele não tivesse o feito. Só de me encarar seus olhos estavam totalmente diferentes, repletos de raiva.
, você está sendo indelicado. É óbvio que não teria motivos para matá-la de propósito.- Catelyn veio em minha defesa. Era bom que alguém o fizesse pois eu não sabia nem o que falar, principalmente com o olhar odioso que estava me dando.
⁃ É claro que não, afinal ela é uma Targaryen. É nobre, nasceu para ser uma rainha e nunca sujaria suas mãos com uma reles plebeia...- o Stark disse com a voz repleta de sarcasmo.
⁃ Meu filho, sei que está plenamente chateado. Mas também passou por um trauma agora, esse não é o mo...- Cat ia falando quando a interrompeu.
⁃ Um trauma que poderia ter sido plenamente evitado... Se eu não tivesse aceitado esse maldito acordo Jeyne estaria viva e sua preciosa Targaryen não teria passado por esse terrível trauma.- ele disse aumentando ainda mais o tom de voz e sendo plenamente sarcástico nas palavras após meu sobrenome ter sido pronunciado. Ele se levantou e saiu do quarto em passos duros batendo a porta com força. Senti que todos ficaram ainda mais apreensivos e com pena de mim.
Minha cabeça não parava por um só segundo. Todas as lágrimas que estavam presas começaram a entalar em nó na minha garganta e eu me senti sufocada. Ainda mais sufocada do que quando Jeyne me enforcou. Apoiei minha cabeça nos ombros de Catelyn que logo afagou meus cabelos e Sansa segurou minha mão. Respirei fundo e chorei, chorei como se não houvesse amanhã. Chorei por estar longe de Daenerys e Laegel, chorei por ter matado quatro pessoas, chorei por medo, e chorei por meu futuro marido já me odiar antes mesmo do casamento. E foi de tanto chorar que acabei dormindo.
Dois dias depois
Os poucos raios de sol que iluminavam o céu de Winterfell queimavam sob minha pele e mesmo assim ainda estava frio. Estava se tornando minha rotina vir para o jardim tentar encontrar algo parecido com o que estava acostumada. Mas Winterfell não tinha nada a ver com a Campina. Lá era ensolarado, os jardins coloridos com grama verde, tudo era florido, as roupas com tons vivos e mais abertas. Aqui, é frio, os dias são cinzas assim como as roupas, o jardim coberto por neve e o ano inteiro é dessa mesma maneira. Tentar me lembrar do meu passado era um modo de não me perder em tudo que já havia acontecido. Já haviam se passado dois dias desde minha chegada aqui e todas aquelas mortes rondavam em minha cabeça e influenciavam todo o meu dia. Pra dormir eu tomava chás soníferos e mesmo assim me revirara praticamente a noite toda. Quase não tocava na comida em meu prato e por isso já me sentia fraca. A única coisa boa era a companhia dos Starks. Com exceção de , que sequer havia aparecido no Castelo. Me levantei do banco em que estava sentada e fui em direção ao meu quarto. Ao abrir a porta vi Sansa sentada em uma cadeira.
⁃ Espero não estar incomodando, vim fazer seu curativo.- disse a menina. Eu sorri e me sentei na cama. Apesar dos Starks terem um curandeiro, era ela que estava refazendo meu curativo duas vezes por dia. Ela vinha e eu aproveitava para contar a ela algo de um dos livros de minha mãe os quais tinha muito interesse.
⁃ Imagina, tudo o que tem feito é me ajudar.- falei. Sansa sorriu e se sentou ao meu lado. Meu vestido tinha uma abertura no quadril, o que facilitou seu trabalho.- Que parte quer que eu leia hoje?
⁃ Pode ser a introdução do diário da sua mãe sobre a sua família?
⁃ É claro.- peguei o livro na cabeceira e comecei a lê-lo enquanto Sansa organizava os curativos e medicamentos.- Os Targaryen eram uma das inumeras famílias de Valíria, a nobreza que controlava os dragões e detinha todo o poder na Cidade Franca. Depois de um sonho profético que Daenys teve, onde ocorria uma destruição da cidade, eles partiram para Pedra do Dragão, levando consigo cinco dragões onde um deles era o Balerion.Devido a essa mudança repentina eles conseguiram se salvar da Perdição de Valíria. Após um século Aegon, que posteriormente se tornaria o Conquistador resolveu unificar Westeros, onde houve a guerra da conquista que teve por consequência o ampliamento da influência dos Targaryen por todo o continente.
⁃ Então isso de os Targaryen terem sonhos proféticos realmente é verdade? - perguntou-me surpresa. E eu assenti positivamente. Ela retirou a bandagem e passou um algodão com um líquido sob a ferida. O corte havia sido superficial, então já estava cicatrizando.
⁃ Alguns possuem essa habilidade. Na próxima parte do livro minha mãe escreveu algumas características dos Targaryen que ela mesmo havia presenciado, ou nela ou em algum parente próximo.- assim que ela terminou de limpar a ferida e a cobriu novamente com uma bandagem eu passei para a próxima página do caderno. Olhei brevemente o que estava escrito e a entreguei. Essa próxima parte falava sobre características físicas, loucura, sangue do dragão, imunidade ao fogo, montar dragões, imunidade a doenças dentre outras coisas. Eram longas e detalhadas páginas
⁃ Pode ler pra mim? Prefiro o modo como você explica.- disse me fazendo sorrir.
Dia seguinte
Encontrei Arya na primeira fortaleza e saímos de Winterfell pelo portão leste. Não fomos mais do que 3 metros além disso para que continuássemos em uma área segura. A filha mais nova dos Starks havia pedido para que eu a ensinasse a lutar. Ela já havia aprendido algumas coisas mas teve que parar com as aulas quando fugiu de Porto Real com Sansa, assim que o Sr Eddard Stark foi assassinado. Entreguei a ela uma das duas espadas de madeira que estavam em minhas mãos.
⁃ Será que a gente já não pode lutar com espadas de verdade? Eu já aprendi com as de madeira.
⁃ Por enquanto não. Eu não sei em que nível você está e o que já aprendeu... Aliás, é melhor que inicialmente eu nem saiba e vá descobrindo com as aulas. Se você realmente aprendeu eu logo perceberei e em breve estará lutando com uma espada de verdade. Mas, por hoje, vamos fingir que essa é sua primeira aula da vida.- Arya bufou levemente e eu ri bagunçando seu cabelo. Ela realmente se empolgava com o combate. Não era comum garotas que possuíam esse interesse. Por isso mesmo estávamos treinando mais afastadas, para que ninguém ficasse fazendo comentários.
⁃ Bem, vamos lá.- retornei a falar. Ensinaria Arya do mesmo jeito que Laegel me ensinou.- Não se ganha um combate apenas com força física e uma lança afiada. É preciso ter visão, atenção, calma, planejamento, controle, confiança, inteligência e equilíbrio para ser um excelente espadachim. Preparada?
A menina assentiu. Arya me olhava atentamente, prestando atenção em cada palavra que saia de minha boca.
⁃ Hoje, vamos iniciar com a sua visão de campo e distância. A consciência situacional é um dos segredos da vitória. Você não só precisa estar ciente de que deve se preparar, mas também tem que apreender o seu entorno e calcular maneiras de usá-lo em seu favor.- falei e olhei ao nosso redor.
⁃ 1. É preciso ter atenção ao observar o ambiente, principalmente em batalhas abertas, que o oponente pode vir de qualquer direção. - voltei a falar enumerando as questões.- 2. Faça um estudo do ambiente a sua volta. Fique atento aos mínimos detalhes para calcular suas desvantagens e uma possível brecha para transformá-las em vantagens. A luz do sol, bosques, penhascos, pedras, neve, tudo pode ser usado ao seu favor, contanto que você esteja atenta à esses detalhes.
No dia seguinte acordei mais cedo que o habitual. O dia seria longo. Era o último dia anterior ao meu casamento e eu tinha muitas coisas a fazer. A primeira delas eu já estava fazendo, a última prova do vestido.
⁃ Como você está linda, milady.- disse Lauryn. Estávamos eu, ela e Catelyn em um quarto no Castelo enquanto a costureira media e arrumava meu vestido. Assim que ela acabou, se retirou e agora Lauryn e Cat me analisavam usando meu vestido de casamento.
⁃ Ela tem razão. Você está magnífica querida, amanhã todos só terão olhos para você. - disse sorrindo.
⁃ Menos , é claro...- sussurrei mas mesmo assim as outras duas puderam ouvir. Me sentei em um banco acolchoado e Cat sentou-se ao meu lado. Percebendo o assunto Lauryn pediu licença e se retirou.
⁃ Ainda preocupada com isso, querida?
⁃ E tem como não estar? Ele sequer apareceu pelo Castelo nesses últimos dias. Eu entendo seus motivos... O problema é que eu sinto que ele vai demorar a me perdoar.
⁃ Não pense nisso agora. Aproveite o seu dia. Tenho certeza que meu filho logo irá entender o seu lado e as coisas entre vocês vão se acertar.
⁃ Eu espero que sim.- respondi e suspirei.

CAPÍTULO 8 – Lá vem a noiva.

Depois da última prova do vestido fui correndo portão leste a fora encontrar Arya. Já estava atrasada para nosso treinamento. Mal avistei a menina e já comecei a falar.
⁃ Vamos as lições do dia. Hoje você vai aprender muitas coisas. - disse e Arya sorriu animada.- Primeiro: a rapidez na hora de sacar a espada é algo crucial. Deve treinar isso sempre. Você pode aprender a desferir belos golpes de surpresa se conseguir desembainhar a espada de forma ágil.
Assim que terminei de dizer comecei a demonstrar e a menina repetiu meus movimentos.
⁃ Relaxa, ficar tensa só vai te atrapalhar! - falei ao perceber que a Stark estava nervosa.- Ficando tranquila vai conseguir reagir de forma ágil, controlada e clara. Nos treinos vamos trabalhar seu relaxamento também para aprender a chegar a um estado de concentração e calma em meio a situações perigosas e a levar sua mente à situação ideal.
⁃ Agora me ataque. - falei e Arya veio para cima de mim e logo consegui imobiliza-la.- Isso aconteceu tão rápido pois você não estava aplicando o segundo passo, que é: equilíbrio. Equilibre o corpo para poder atacar ou se defender sem ser atingido. Mantenha os pés afastados, esteja parada ou em movimento. Nunca os deixe próximos um do outro. Segure a espada da forma mais prática possível. Fique de olho nos movimentos do seu oponente e memorize os indícios de que ele está se preparando para atacar.
A soltei e comecei a falar e me posicionar do modo que ela deveria ter feito para obter êxito.
⁃ A posição e o ritmo dos pés são os segredos do equilíbrio. Quanto mais a sua sola tocar o chão, maior vai ser a sua força. - voltei a falar e ela foi demonstrando conforme as palavras de minha boca. - Tente deslizar os pés, em vez de levantá-los do chão; não se apoie apenas nos antepés, pois pode acabar sendo derrubado pelos golpes do oponente. Por fim, mantenha a postura ereta, com o peito e o tronco projetados para frente, para conseguir evitar ataques de forma mais tranquila e em mais de uma direção.
Continuamos praticando por alguns minutos mais até que pude ouvir alguns passos atrás de mim e eu e Arya terminamos o pequeno combate em que estávamos. Me virei e encarei quem a Stark já olhava. Avistei um homem que nunca tinha visto antes durante meus dias em Winterfell. Ele era um pouco mais alto que eu, branco como os tantos outros integrantes da cidade, tinha olhos verdes e seus cabelos eram em um tom escuro de ruivo assim como sua barba.
⁃ Desculpem interromper seu combate, mas fiquei curioso para saber com quem a pequena Stark estava lutando.- o homem ainda desconhecido por mim se pronunciou e senti Arya bufar ao meu lado. - Então quer dizer que Lady Targaryen é mesmo tudo isso que estão falando pelo Norte afora?
⁃ Depende do que exatamente estão dizendo.- falei e estiquei minha mão para cumprimentá-lo.- Rhaenna Targaryen.
⁃ Lorde Theon Greyjoy. Encantado em conhece-la.- disse beijando minha mão e pude perceber que Arya revirou os olhos me fazendo ficar confusa.- Me referia ao que diziam sobre a princesa também ser uma exímia guerreira. O que já pude constatar que é verdade.
⁃ Obrigada, Lorde Greyjoy. Não lembro de tê-lo visto na minha recepção no Salão Principal. Mora em Winterfell?
⁃ Infelizmente sim. - Arya respondeu antes mesmo que Theon pudesse abrir a boca. Seu comentário o fez dar um leve sorriso de lado e inclinar a cabeça.- Agora vamos, , que já vai anoitecer e temos preparativos pra amanhã.
Antes mesmo que pudesse raciocinar o que estava acontecendo Arya já estava me puxando portão adentro e apenas tive tempo para acenar para Greyjoy e pude ouvi-lo dizer em um tom mais alto de voz:
⁃ Foi um prazer conhecê-la, boa sorte no casamento.- não entendi muito bem o tom em que disse a ultima parte da frase mas não me ative muito a detalhes. Ele parecia um bom rapaz.
Já dentro do castelo a Stark havia subitamente parado de andar tão depressa, o que me confundiu ainda mais.
⁃ Arya, pode me explicar o que acabou de acontecer?
⁃ Com o Greyjoy?
⁃ Sim.- respondi o que pra mim estava explícito.
⁃ Eu detesto ele.- a menina disse como se fosse algo simples e eu enruguei a testa.- Ah, é uma longa história... Durante a gue-
⁃ LADY ARYA. - uma das damas de companhia das meninas Stark a interrompeu. A mesma vinha ofegante e segurou Arya pelo braço.- A procurei pelo castelo o dia todo mocinha, por onde andou? Oh céus esta toda suja ainda por cima.
⁃ Annalise, não ve que estou no meio de uma conversa?
⁃ Sinto muito, mas a conversa terá que ficar para outra hora. Eu, sua mãe e a costureira estamos o dia inteiro te procurando para provar sua roupa para o casamento. Venha - disse apressada e puxou gentilmente Arya que revirou os olhos. Eu ri com a cena. A garota tinha mesmo uma personalidade e tanto. - Com licença, princesa.
Apenas assenti e segui pelo castelo adentro em passos lentos, já que não estava com a menor pressa e sabia que a noite e o dia de amanhã seriam bem longos.
Acordei bem cedo. Aliás, sequer dormi. Não sabia ao certo o que fazer e como me portar. Estava nervosa demais para qualquer coisa. Em alguns dias minha vida havia se virado do avesso. Não tive tempo sequer pra processar tudo isso, e talvez devesse ser assim mesmo. Não me sentia triste. Não mesmo. Apesar de todas as mortes e estar prestes a me casar com um noivo que sequer olha em minha cara eu não estava triste. Apenas me sentia confusa. Afinal coisas boas também aconteceram... Encontrei minha irmã, não precisei mais me esconder, e estava vivendo novas aventuras em um lugar diferente. O povo nortenho havia sido extremamente simpático comigo e eu sentia necessidade de retribuir. Por mais que me sentisse extremamente confusa com tantas mudanças sentia que aquele era o lugar que eu deveria estar. Em meio aos meus devaneios ouvi batidas na porta.
⁃ Olá, milady. Pronta para o grande dia? - perguntou Lauryn ao entrar em meus aposentos.
⁃ Sim.- respondi brevemente, mesmo sem tanta certeza.
⁃ Lady Catelyn mandou chamá-la para começar sua preparação. Vamos?
Assenti que sim. Seguimos até um outro cômodo no castelo onde encontrei Catelyn, Sansa, Arya e duas servas do Starks. Conversei um pouco com as mulheres da família que eu faria parte e em seguida elas se retiraram do cômodo para que eu começasse a me arrumar. Lauryn e as outras servas que descobri se chamarem Dolly e Brigit já haviam arrumado meu banho e estavam me ajudando a me limpar. Assim que acabei encarei meu vestido pendurado na cabeceira da cama por alguns longos minutos. Respirei fundo e pedi que Lauryn me ajudasse a colocá-lo. Em seguida me sentei para que Dolly e Brigit arrumassem meu cabelo. Havia acabado de me arrumar quando Catelyn adentrou o cômodo. Me virei em sua direção e a olhei apreensiva. A mesma sorria para mim e pude perceber que tinha lágrimas em seus olhos. Se aproximou e segurou minhas duas mãos.
⁃ Como está linda, querida. É a noiva mais linda que eu já vi. - disse sorrindo e eu agradeci. - Trouxe algo que a deixará ainda mais bela.
Ela retirou de dentro de uma sacola ao lado de seu vestido um colar extremamente lindo com pedras de esmeralda.
⁃ Esse é o colar que usei em meu casamento. Quero que você o use, para que tenha com meu filho um casamento tão feliz quanto tive com Ned.- voltou a falar.
⁃ Lady Catelyn, fico extremamente grata por isso. É um colar magnífico. Nem sei se estou à altura dele.- respondi insegura.
⁃ Imagine querida, não seja modesta...
Me virei e a Sra Stark colocou o colar em mim. Caminhei em direção ao espelho e encarei meu reflexo. Suspirei.
⁃ Entendo o motivo de estar com essa carinha apreensiva, mas não tenha medo. Tudo vai se resolver. - disse parando atrás de mim.- Tenho certeza que será uma excelente rainha. Senti isso desde o início, e minhas intuições nunca estão erradas.
Sorri para ela e esperei que tivesse razão. Respirei fundo mais uma vez e assenti que estava pronta. Caminhei com Lady Catelyn e Lauryn ao meu encalço. O castelo estava vazio, todos já estavam no bosque à minha espera. Como no Norte a religião dos Deuses da Floresta é a que predomina, os casamentos são realizados no bosque sagrado perto da árvore-coração. Ao sair do Castelo caminhamos pela leve escuridão até que as luzes de algumas tochas que os convidados seguravam puderam ser vistas. Como não havia ninguém da minha família presente para que pudesse me levar até o altar, Lady Catelyn o fez. Segurei em seu braço e fui de olhos fechados até pararmos no caminho em direção ao altar na árvore-coração. Abri os olhos e encarei os convidados ao meu redor. Fiz o meu máximo para sorrir. Sansa e Arya me encaravam mais a frente sorridentes. Continuei andando de braços dados com Lady Catelyn até que avistei . Ele estava ainda mais lindo, mas mal me encarava. Respirei fundo e continuei andando. Paramos onde o Septão e se encontravam. A cerimônia então começou.
⁃ Trago-te aqui uma mulher crescida e florescida, legítima e nobre, a Princesa Rhaenna Targaryen, filha do Dragão. Exijo saber quem vai até os Deuses antigos? - disse Lady Catelyn, recitando as frases tradicionais dos casamentos no Norte.
⁃ Viemos pedir a benção dos Deuses para o seu casamento. - respondeu o Septão cerimonialista.
Mais algumas frases do ritual foram ditas e deu um passo à frente reivindicando o pedido.
⁃ Rhaenna, você aceita se casar com o Rei Stark? - perguntou-me Lady Catelyn.
⁃ Eu aceito este homem.- respondi. Essa era a última frase da cerimônia.
Em seguida segurou em minha mão e nos ajoelhamos perante a árvore-coração. Alguns minutos se passaram em oração silenciosa até que tirou o manto dos Targaryen que eu carregava em minhas costas e prendeu um com o símbolo da Casa Stark, finalizando a cerimônia e nos tornando casados.
Após a cerimônia um enorme banquete foi feito no Castelo de Winterfell. Ao chegarmos, eu e cortamos a torta de pombo que era parte da tradição para dar início a festa. Depois disso, nos sentamos em duas cadeiras lado a lado de frente para os convidados. Cânticos podiam ser ouvidos, o público dançava, bebia e comia alegremente. A todo tempo alguém vinha nos oferecer presentes e felicitações. se mantinha sério na maior parte do tempo, e por mais que eu tentasse me comunicar com ele, o mesmo me respondia breve e ríspido. Perdi as contas de quantas vezes respirei fundo, mas me mantive sorrindo para sustentar pelo menos as aparências. A cerimônia da noite de núpcias em que os noivos são carregados foi ignorada por nós. Quando a maior parte dos convidados já havia ido embora, se levantou silenciosamente e começou a caminhar para fora do salão principal. Sansa me encarou e indicou com a cabeça que era para eu segui-lo. Me levantei rapidamente e fui atrás dele, cumprimentando todos pelo caminho que passei. Seguimos em silêncio até uma porta onde acreditei ser os aposentos de . Ele entrou e sequer segurou a porta pra mim. Suspirei. Teria que ter paciência. Entrei e fechei a porta atrás de mim. Permaneci em pé o encarando sem saber muito bem como me portar. Havia lido e relido o diário de mamãe varias vezes, mas da maneira que ele estava me tratando já havia esquecido tudo que tinha aprendido. começou a mexer no guarda-roupa e eu franzi o cenho sem compreender o que ele estava fazendo. Pegou duas mudas de roupa e se virou para mim com a mesma expressão séria que manteve durante todo o casamento.
⁃ Pronto. Esse é o seu quarto.- disse e eu o olhei sem entender.


Continua...


Nota da autora: Oiiii pessoal, bem vindxs!!!! O que estão achando da fic? A Guerra tá muuuuuito próxima de acontecer e faltam poucos capítulos para o fim de Ice and Fire :( MASSSS, uma segunda temporada já está sendo criada pq eu não podia me despedir desse meu bebê assim tão fácil! É isso... Winter is not here yet. But the war is coming! Beijos <3

P.S.: quem mais tá pirando com a última temporada de GOT?



Outras Fanfics:
The New Avenger



Qualquer erro nessa fanfic ou reclamações, somente no e-mail.
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