Intimacy, por kuronfire.



Todo mundo já teve um amor platônico, certo? O professor bonitão de Biologia, o colega caladinho da aula de Cálculo, o cara que pega o mesmo ônibus que você às 21:30h, quando você já virou uma massa descabelada e horrorosa depois do trabalho... Imagine que você fizesse faculdade em um campus relativamente pequeno, e que conhecesse, pelo menos de vista, todas as pessoas do seu turno. De todas as caras de sono que você vê às sete da manhã todos os dias, só uma te chama atenção, e você sente o coração bater nos ouvidos quando ele passa.
Não é de agora que eu alimento esse amor platônico, que eu sei que é impossível. Observo-o pelos corredores há alguns semestres, às vezes aparecendo propositalmente onde ele estiver, e sempre esqueço o que estou fazendo quando, sem querer, olho dentro de seus olhos. E por mais que eu saiba que ele nunca se envolveria com uma pessoa como eu, não consigo conter esses sentimentos idiotas que flutuam ao redor da minha cabeça quando ele passa.
Era uma sexta feira, finalmente, e meu primeiro horário era vago. Como nenhum dos meus amigos tinha chegado à sala, resolvi ficar na porta da faculdade e esperar por eles. O clima agradável tinha me feito escolher um vestido para usar hoje, e eu me sentia especialmente bem. Senti as palmas das mãos suadas pelo tempo quente e fui em direção ao banheiro mais próximo. Ele ficava no hall de entrada e era um banheiro unissex de deficientes, construído de forma a ser bem mais espaçoso que um banheiro comum, com uma grande pia de mármore.
Quando toquei a maçaneta, porém, ela foi tirada da minha mão pela porta sendo aberta. Fiquei ali, com a mão estendida e meio confusa, quando um par de olhos muito intenso olhou dentro dos meus. Antes mesmo que desse tempo de racionalizar a situação, senti a onda de sangue subindo para o meu rosto e desviei os olhos o mais rápido possível. Por que tinha que estar dentro daquele banheiro?
O olhar dele era elétrico, se é que isso era possível, e eu sentia ondas de calor me atingirem. Ao me ver, ergueu as sobrancelhas e sorriu maliciosamente, olhando-me da cabeça aos pés como se me despisse. Abri a boca, mas não consegui emitir sons compreensíveis. Derrotada e encarando o chão, inclinei-me para a direita, abrindo espaço pra que ele passasse por mim. Contrariando as minhas expectativas, entretanto, não foi isso que aconteceu. Ele enfiou a cabeça para a fora e olhou para os lados.
- Psssst! – murmurou.
Quando ergui os olhos, ele agarrou um dos meus pulsos e me puxou para dentro do banheiro. Assisti sem palavras enquanto ele girava o trinco da porta e depois se virou para mim, um sorriso cretino aberto de canto a canto.
- O que você pensa que está fazendo? – A voz que eu achei ter sumido saiu de mim em tom hostil. O que eu sempre uso quando estou assustada.
Quebrando todas as minhas expectativas de novo, ele inclinou a cabeça e olhou nos meus olhos, o sorriso ainda nos lábios. Ele estava tão perto que eu podia finalmente realizar meu sonho eterno de tocar seu cabelo, era só estender um pouco um braço e meus dedos se embrenhariam naquele algodão e brilhante.
Ele deu de ombros e pegou minha mão direita, tirou minha mochila do meu ombro e, depois de tirá-la do meu braço, ajeitou-a embaixo da pia e jogou sua própria – eternamente pendurada só em um dos ombros – de qualquer jeito ao lado dela. Ainda segurando minha mão, colocou-a entre as suas, rolando-a entre os dedos. E fazia isso enquanto olhava para mim e sorria. Suas mãos eram infinitamente quentes.
Acho que minha expressão travou entre o choque e o estranhamento, porque ele riu levemente enquanto olhava para mim e deu um passo à frente, diminuindo a já pequena distância entre nós dois. Agora, se eu quisesse tocar seu rosto, bastaria ficar na ponta dos pés. O que, diga-se de passagem, eu estava muito tentada a fazer, mas com muito medo para colocar em ação. Eu podia sentir sua respiração, seu hálito quente batendo no meu rosto.
Ele ergueu uma das mãos, e eu recuei um pouco por reflexo. No entanto, ele a colocou delicadamente em um dos lados do meu rosto, aquecendo-o imediatamente com o contato. Ou talvez fosse só eu corando da ponta dos pés à raiz do cabelo. Sei que foi como se um calor inumano começasse a se espalhar pelo meu rosto e descer pelo pescoço, tendo a mão dele como a única fonte. Ele olhava dentro dos meus olhos com um ar divertido e estranhamente curioso.
- Eu não sabia que seus olhos eram assim. – ele murmurou e aproximou o rosto de um dos meus ombros, encaixando-o na curva do meu pescoço. – Nem que você cheirava tão bem...
O nariz dele traçou uma linha reta até minha orelha, fazendo toda a minha pele comichar de tão rápido que se arrepiou. Era de se esperar que eu soltasse algum comentário engraçadinho nesse momento, como é a minha cara, porém fiquei estática: por dentro, sentindo todos os órgãos congelados contra a pélvis, por fora, sentindo o calor que vinha das mãos dele irradiar através de mim como lava corrente.
Ele cheirava a canela e perfume, um cheiro tão delicioso que envolveu meus sentidos numa nuvem e me deixou lá, embotada. Por mais que sentisse que devesse fazer algo, sei lá, corresponder, eu simplesmente não conseguia. Enquanto esse dilema interior corria pelos meus pensamentos, sua boca subiu até meu ouvido por um segundo, mas por tempo o suficiente para eu receber a lufada de ar de um suspiro.
Por um momento muito, mas muito pequeno, achei que ele viraria o rosto e me beijaria. Mas não, aquilo era muito simples para alguém imprevisível como ele, então ele agarrou meu rosto com as duas mãos e manteve a própria face terrivelmente próxima da minha. Os olhos dele pareciam poder ver através de mim.
- Me diga... – a voz dele soava rouca. De excitação, presumi. – Por que você me persegue dessa maneira?
Meus joelhos fraquejaram de medo e vergonha. Óbvio que já sabia que ele tinha notado, mas preferia fingir para mim mesma que não. Fora que, nos últimos tempos, tinha tentado evitá-lo ao máximo, pois cada vez que o via com aquela maldita camisa justa branca – que ele estava usando agora – eu voltava a alimentar aquele patético amor platônico.
Meus olhos rolaram, dividindo-se entre os dele, e abri a boca múltiplas vezes na tentativa de juntar sílabas e palavras para formar alguma frase compreensível, mas tudo o que saiu foi uma arfada rouca. Isso porque ele não havia esperado minha resposta, simplesmente entrelaçou os dedos nos cabelos da minha nuca e correu a boca por uma das minhas clavículas, os lábios entreabertos e o ar quente batendo na minha pele.
A mão livre dele agarrou minha cintura e a outra desceu para meu quadril, puxando meu corpo com força contra o dele. Ao mesmo tempo em que senti o choque dos ossos de nossos quadris e dos meus seios contra seu peito, uma ereção óbvia se encaixou contra meu púbis e lançou um choque elétrico através de todo o meu corpo. Novamente, ele aproximou o rosto do meu, lambendo os lábios malevolamente.
- Me responda.
Era um pedido, mas soava como uma exigência. Eu podia sentir meus joelhos e meus lábios tremerem, quando arrisquei algumas palavras.
- Porque... – ele colou os lábios na minha orelha. – Porque desde o primeiro semestre... – começou a sugar meu lóbulo. – Eu te acho a coisa mais linda dessa faculdade... – ele arranhou minha orelha com os dentes. – E simplesmente nunca consegui tirar os olhos de você... – concluí, fechando os olhos com força.
- Uma justificativa boa o suficiente pra mim. – ele sussurrou roucamente. – E o que você quer de mim?
Ainda com as mãos na minha cintura, ele girou meu corpo e se encaixou atrás de mim, os dentes roçando minha nuca. Busquei o apoio da pia com as mãos, as pernas fraquejando a todo o momento. A cada lufada de ar quente ou mordida que ele deixava na minha nuca, maior era o esforço que eu fazia para conter gemidos involuntários.
Assim que me apoiei, suas mãos subiram pelas minhas costelas e agarraram meus seios, apertando-os e trazendo-me mais para si ao mesmo tempo.
- Vamos, me responda. – o tom de voz dele era relativamente calmo.
- Por que...
- Hm?
- Por que você tem que ficar me torturando desse jeito? – choraminguei em voz baixa. – O que você quer de mim?
Ele deu aquela risadinha que eu mais gostava, sorrindo de lado e encaixando o queixo na curva do meu ombro.
- Te torturando? Mas eu nem comecei! – ele riu baixo, ainda contra minha pele. – E o que eu quero é fácil saber.
Ele me desvirou com um pouco mais de delicadeza, mantendo meu rosto entre suas mãos de novo, olhando novamente dentro dos meus olhos.
- Você.
Isso foi dito num sussurro, que logo foi engolido quando ele chocou seus lábios contra os meus. Seu gosto era exótico, quente e lembrava café. Finalmente, meu corpo se permitiu reagir e minhas mãos trêmulas subiram até o cabelo dele. Realmente era tão macio ou mais do que eu imaginava... Aquilo parecia um sonho. Sem que ele percebesse, belisquei uma das minhas mãos com força. Ouch.
As mãos dele apertavam qualquer aglomerado de carne e gordura que estivesse ao seu alcance no meu corpo e me puxavam cada vez mais contra si. Seus lábios se afastaram dos meus por um momento e abri os olhos temerosa de que aquilo fosse um sonho prestes a acabar. Ele deu um sorriso genuinamente feliz, aquele que sempre fazia sentir como se eu estivesse sendo preenchida com mel quente, e voltou a me beijar.
Fiz um esforço imenso para quebrar parte da minha paralisia e pensei, se isto for um sonho, aproveitarei à minha maneira. Encostei os quadris na beirada de pedra da pia e puxei o corpo dele contra o meu, sua ereção roçando dolorosamente entre minhas pernas.
Minhas mãos baixaram para seu zíper, e ele riu contra meus lábios.
- Mas já?
- Sua calça... Está me atrapalhando. – ofeguei.
- Achei que as damas sempre vinham primeiro.
Dizendo isso, ele subiu meu vestido lentamente, arrastando as mãos por minhas coxas, quadris e costelas, para por fim eu arrancá-lo por cima da cabeça. Antes mesmo que ele tivesse tempo de reagir, enquanto ele tirava a camisa – daquele jeito bem seu, puxando-a pelas costas – aproveitei sua distração para abrir seus botões da calça e deixá-la deslizar por suas pernas, revelando suas boxers já justas pelo volume nelas.
Não demorou muito tempo para nos livrarmos de nossos respectivos sapatos. Agora, só de roupas íntimas, ele voltava a me beijar com ardor. Toda vez que meus dedos circulavam próximo a borda de suas boxers, ele tirava minhas mãos dali e colocava em lugares diferentes do próprio corpo.
Depois de colocá-las na própria cintura (perfeita), no próprio peito (maravilhoso), acima de seus ombros (delineados por uma pele levemente bronzeada), eu já começava a perder a paciência. Quando ele fez menção de mover minhas mãos de novo, enfiei meus dedos através de sua boxer e agarrei sua bunda.
Ele arfou de surpresa. Mas não teve tempo de reclamar, porque no segundo seguinte eu o trazia mais para mim, friccionando-o contra meu corpo com cada vez mais força e dando-lhe uma dentada no lóbulo esquerdo. Ele respirou fundo, e senti sua pele se arrepiar sob minhas mãos, ainda agarradas às suas nádegas.
- Se você pode, então eu também posso. – a rouquidão de sua voz soou no meu ouvido, fazendo-me cravar as unhas nele sem querer.
Ele não pareceu se importar. Puxou-me um pouco mais para frente da pedra da pia e enfiou os dedos através da minha calcinha, agarrando minhas nádegas com tanta força que senti que teria marcas dele por pelo menos uma semana.
Quando comecei a arfar de dor e desejo, ele encostou a testa na minha, seu melhor sorriso tarado estampado no rosto. Mordeu meu lábio inferior e fazia pequenos círculos nele com a língua, enquanto seus dedos subiam por minhas costelas e ele abria meu sutiã. Outra peça de roupa que desapareceu.
Ele envolveu ambos meus seios com as mãos, prendendo os mamilos entre os dedos indicador e polegar. Começou a massageá-los devagarzinho, enquanto beijava meu pescoço e deixava um rastro de respiração quente pela minha pele. Depois de um tempo, a pressão aumentou, e ele estava os beliscando, ainda devagar. Minhas mãos, fora de controle, desciam a todo o momento para o meio de suas pernas, querendo de todas as maneiras sentir o volume que havia lá.
Ele sempre acabava por desviar minha atenção, mordendo meu pescoço, meu ombro, minhas orelhas. Em determinado momento, uma de suas mãos embrenhou-se no meu cabelo enquanto ele me beijava, e a outra foi descendo pelo meu colo, me fazendo cócegas. Ele circulou minhas costelas até que eu separasse o beijo com risadinhas que não conseguia mais segurar, e voltou a me beijar enquanto seus dedos roçavam o fundo da minha calcinha. Imediatamente minhas pernas amoleceram, e eu tive que desviar a atenção de minhas mãos para me segurar na pia.
Ele riu contra meus lábios, e seus dedos faziam movimentos circulares leves bem em cima do meu clitóris, por cima do pano. Eu me movia na direção de sua mão, meu corpo exigindo um contato maior. Ele sorria de encontro aos meus lábios, sabendo o efeito que causava em mim e aparentemente muito satisfeito com isso.
Puxei o ar para um suspiro profundo, de modo a recuperar minha lucidez e conseguir que as ondas deliciosas de calor que se espalhavam por mim parassem de afetar minha mente. Sorri para ele, com o mesmo sentimento que via em seus olhos, e ele me olhava curioso. Dei um passo em sua direção e, de uma vez por todas, enfiei as duas mãos em suas boxers grafite.
Ele deixou escapar um gemido, e uma de suas mãos entrou suavemente na minha calcinha. Enquanto eu envolvia seu pênis duro e intumescido com uma das mãos, com a outra massageava-lhe os testículos. No mesmo ritmo que eu aplicava nele, um de seus dedos fazia círculos pela minha vulva, enquanto ele mordia os lábios, orgulhoso, para não se deixar gemer mais. Homens e seus complexos. Minhas pernas tremiam, e ele me pressionava cada vez mais contra a pia. Pelo menos as chances de eu cair eram mínimas.
De repente, deixei de sentir seus dedos. Suas mãos adentraram as laterais da minha calcinha e iam descendo, enquanto ele deixava mordidas pela minha barriga. Mal lhe dei tempo para levantar novamente. Puxei-o pela linha das boxers, colando seu corpo ao meu, agarrei seu lábio inferior com os dentes e fui descendo as mãos pelas laterais de seu corpo, até invadir as boxers. Lentamente, fui fazendo uma trilha de beijos e lambidas das suas clavículas até seu umbigo.
Ele envolvia minha cabeça com as duas mãos, embrenhadas no meu cabelo, mas sem fazer pressão alguma, só segurando-a. Quando finalmente desci suas cuecas até suas canelas, ele as chutou para longe e me virou de costas antes mesmo que eu tivesse tempo de encarar sua ereção. Mas a senti contra minhas nádegas, dura e latente, e eu não conseguia impedir meu corpo de inclinar-se na direção dele.
Durante um terrível momento, ele cessou contato comigo, mas ao ouvir o barulho característico de um pacote de camisinhas sendo aberto, sorri comigo mesma. Foi aí que ouvi sua risada baixa e gutural e ergui os olhos. A minha frente, o espelho refletia meu olhar um tanto quanto surpreso e ele, às minhas costas, sorria abertamente. Aproximou-se novamente de mim e com uma das mãos segurava meu quadril e a outra erguia meu queixo.
- Eu quero que você olhe pra mim. – sussurrou. Um brilho quase malévolo perpassou seus olhos.
Foi então que o senti tatear minha entrada, e não precisei nem pensar no que estava fazendo: fiquei na ponta dos pés, abri um pouco as pernas e empinei a bunda o máximo que conseguia. Pelo espelho ele olhava dentro dos meus olhos, e nos olhos intensos dele brilhava um fogo que eu nunca tinha visto em ninguém. Quando finalmente começou a deslizar para dentro de mim, continuou a segurar meu queixo levantado, mesmo quando eu tentava desviar.
Não exatamente de propósito, uma carga de prazer tão grande me atingia que eu simplesmente não conseguia mais olhá-lo nos olhos. Os meus próprios giravam para dentro da cabeça, que começou a se movimentar sozinha, puxando para trás. Ele sorria, mordiscava os lábios e fazia movimentos lânguidos, quase sonhadores, para frente e para trás.
- É assim que você gosta? – o sorriso dele tinha se alargado.
Não tive forças para responder. Minha cabeça balançou numa negativa, e minha voz saiu num sussurro.
- Mais... Mais forte.
- O quê? Eu não te ouvi.
Ergui os olhos para o espelho e usei todos os fiapos de autocontrole que me restavam para encará-lo, meus olhos com as mesmas chamas dos dele, e dizer com a voz um pouco trêmula:
- Por favor... Eu quero mais forte!
Seu sorriso diminuiu, mas continuava lá, no canto da boca. Suas duas mãos desceram para meus quadris e ele começou a estocar com força, os ossos de seus quadris encontrando resistência ao se chocarem com a carne macia do interior das minhas nádegas. O caleidoscópio de sensações boas que me devorava por dentro me fez dobrar o corpo por sobre a pia, debruçando-me sobre o mármore.
Se eu segurasse por um momento a sensação maravilhosa que tomava meu corpo em ondas de calor e erguesse os olhos, ainda conseguia vê-lo, através do espelho. O rosto concentrado e tenso, os olhos fixos em algum ponto no meio das minhas costas, os dentes cravados no lábio inferior – ele nunca me parecera tão sexy. Finalmente ele se deixara levar e jogava a cabeça para trás soltando pequenos gemidos guturais, que davam fisgadas diretas no meu interior.
Quanto mais força ele usava, mais força eu queria que ele usasse. Aquilo ia acabar com meus pés, nunca fiquei tanto tempo na ponta deles, mas valeria a pena. Quando ele finalmente alcançou o orgasmo, suas mãos se agarraram às minhas nádegas e ele soltou um grunhido longo e baixo, e foi como se mil pequenos tornados girassem próximos à minha pélvis, acompanhando meu próprio gozo.
Ele diminuiu os movimentos gradualmente, até que finalmente parasse. Senti as gotas do suor da sua testa pingarem nas minhas costas, e pelo espelho podia ver seu cabelo absolutamente bagunçado e meio molhado. Ele se debruçou sobre mim e fez uma trilha de beijos suaves pelos meus ombros, me fazendo cócegas.
Nesse enorme tempo de amor platônico, nunca imaginei que uma coisa assim fosse acontecer. Sempre tive plena consciência (ou pelo menos tinha, na minha cabeça) do desprezo dele, por isso nunca tentei nada. Foi o que me fez pensar que, agora que ele tinha conseguido o que queria, voltaria imediatamente à postura de antes. Fui desperta dos meus devaneios pela maçaneta girando, sem sucesso, tentando abrir a porta. O susto fez com que ele se "desencaixasse" de mim, e soltei um gemido abafado pela nova sensação que aquilo me proporcionou.
Soltei finalmente os músculos das panturrilhas e ergui o corpo lentamente, ainda segurando a pia com as mãos, evitando erguer os olhos. Agora que o frenesi do sexo tinha passado, uma espécie de véu de contentamento baixou sobre mim. Virei-me na direção dele, tentando pensar se me vestia e saí dali ou se fazia algum esforço inútil para interagir. Mas fui pega de surpresa, outra damn time! Esse cara não parava de me surpreender. Uma de suas mãos alcançou meu rosto em forma de concha e ele me deu um beijo calmo, sem fazer muita pressão sobre meus lábios.
Quando ele finalmente se afastou de mim, seus olhos brilhavam e seu rosto se iluminou naquele sorriso que eu mais amava: ele desviava os olhos para baixo e sorria com todos os dentes. Acho que superei o dia em que fiquei em 150 tons diferentes de vermelho quando o encarei sem querer e acrescentei novas cores à paleta, pois senti meu rosto ruborizar ferozmente.
- Gosto quando você fica dessa cor. – ele passou os nós dos dedos pela minha bochecha. – Isso é só depois do sexo ou eu fiz alguma coisa?
Rolei os olhos e ri, sem responder. Virei-me novamente para o espelho, tentando prender o ninho em que meu cabelo se transformara em um coque. Ele me olhou curioso por alguns momentos, depois beijou o ponto exato onde meu cabelo encontrava minha nuca e me deu as costas para procurar as próprias roupas, enquanto eu me vestia rapidamente.
Procurando não ser rude indo embora logo, encostei-me na pia com os braços cruzados, observando ele se vestir. Não consegui conter um sorriso quando, de costas para mim, ele puxou suas boxers pernas acima e ajeitou os elásticos despreocupadamente. Ele colocou sua bermuda – sem cinto e como sempre, caída além da linha das nádegas – e vestiu sua camisa branca num gesto só, como se tivesse feito aquilo a vida toda. Por fim, ergueu os olhos, reparou que eu tinha um sorriso divertido e sorriu torto para mim.
- O que é tão engraçado?
- Nada, é que... Você faz tudo de um jeito muito bonitinho. – ele soltou uma gargalhada. – E eu não esperava ver essa cena em toda a minha vida, também.
- Que cena? – ele coçou a cabeça despreocupadamente.
- Você, nu. – não consegui conter o sorriso que se estendeu pelo meu rosto. – Ou você se vestindo.
- Pode deixar que algum dia te dou um strip particular, okay?
Ele disse isso como se fosse algo muito normal, pegando ambas as mochilas e me entregando a minha, enquanto jogava a sua num dos ombros. Depois, agarrou minha cintura e se aproximou de novo, a boca a apenas centímetros da minha, os olhos dentro dos meus.
- O intervalo começa daqui a pouco. Melhor sairmos por agora... – comecei.
- Ah, claro. – eu parecia ter quebrado a concentração dele. – Então, você... – era a primeira vez que o via sem uma frase pronta. Desviou os olhos dos meus e ficou encarando um ponto qualquer.
- Eu o quê?
- Isso vai acontecer mais vezes? Quero dizer, você quer encontrar comigo de novo?
Ouvi o som do meu coração dando um triplo mortal e se jogando no chão. n/a: só fangirl entende esse tipo de emoção.
- Eu achei que ia ser só essa vez. É claro que quero. Desde que não seja necessariamente dentro da faculdade...
Ele sorriu, travesso, e se dirigiu à porta. Destrancou-a e enfiou a cabeça para fora.
- Ninguém à vista. Sai primeiro, se aparecer alguém você me avisa.
- Okay.
Saí para o ar fresco do corredor e senti um arrepio, depois de ficar no banheiro abafado por tanto tempo. Olhei em volta, e depois de umas meninas passarem, vindas de um dos laboratórios, bati de leve na porta e ele saiu de lá. Fomos andando, eu na direção das escadas subindo, e ele descendo. Antes que eu fizesse algum movimento para efetivamente subir os degraus, ele puxou uma de minhas mãos e me acertou um beijo firme na boca, que eu sentia até já um pouco inchada.
- Te vejo depois...
Ele me deu uma piscadinha e foi-se, escada abaixo. Subi lentamente na direção da minha sala, e chegando lá, larguei minha mochila de qualquer jeito antes de me jogar sentada na carteira. Meus joelhos tremiam e minhas mãos também. O que foi que aconteceu mesmo?


n/A: Só tenho uma coisa a dizer: quem nunca quis sensualizar com o amor platônico? IOAISUEHIAUSHEO Fic dedicada aos meus Northern Lights, queridos, que incentivam essa minha imaginação descontrolada. Mwah ;*

Nota da Beta: Qualquer erro, seja de português/script/HTML, mande um e-mail pra mim. Obrigada

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