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Capítulo XXXI


Músicas do capítulo: Love Is Not A Bad Thing – Justin Timberlake.
Hands Of Love – Miley Cyrus. Play quando eu avisar!

(Play na 1!)
A luz entrou na pequena janela de seu quarto de modo sorrateiro, e franziu o cenho; ainda com os olhos fechados. Não queria abri-los. Não queria ver que tudo não passara de um sonho. Não queria ver que a realidade era outra. Não queria acordar num dia em que a noite anterior não tivesse acontecido. Não queria acordar num mundo onde não a amava.
Contrariando seus pensamentos depressivos e pessimistas, algo se moveu ao seu lado na cama e ela abriu os olhos rapidamente; olhando para o lado. O alívio veio com força e ela chegou a ofegar com um suspiro. Seu coração acelerou-se e o sorriso voltou a habitar seu rosto, como na noite anterior. estava com a cabeça encostada em seu travesseiro e com os olhos fechados, os lábios levemente abertos e a respiração tranquila. Os braços estavam envoltos em sua cintura e a garota só notou aquilo quando o viu. Ele continuava sem roupas, somente coberto por um lençol, assim como ela.
Uma felicidade inconsciente inundou seu corpo, coração e pensamento, e ela levou uma das mãos ao seu ombro, desenhando linhas e desenhos imaginários. Seus dedos desceram pelo rosto dele e traçaram as marcas que o colchão havia deixado, provando-lhe de que o rapaz realmente havia dormido ali. Algum movimento seu aparentemente foi mais brusco do que o esperado, pois abriu os olhos devagar, despertando.
E ele tinha absoluta certeza de que poderia acordar todos os dias daquela forma. Com sendo seu despertador e a primeira coisa que seu olhar fosse capaz de absorver.
- Bom dia. – Foi o que disse, colocando um sorriso no rosto. Não se lembrara de um só dia na vida em que havia acordado de bom-humor. E, bem, lá estava ele. Mais feliz do que quando acordava no conforto de sua cama, às 14h num sábado nublado e chuvoso. – Eu não disse que quando você acordasse ainda teria acontecido?
- Disse. – Sorriu também, ainda com a mão em seu rosto. – E eu ainda não consigo acreditar. Você está aqui.
- Estou. E somos dois então. Dizem que um beliscão é capaz de fazê-lo acordar de um sonho... Mas beliscão é fraco e amador demais. Acho que mordidas funcionariam melhor, você não acha?
E antes que ela respondesse, sentiu o rapaz pular em cima de si, colocando as pernas em volta de seu quadril e começando a mordê-la, num misto de cócegas. Primeiro no pescoço, depois no colo, ombros, início dos seios e braços. Uma chuva incessante de risadas se espalhou pelo quarto, e ela começou a debater-se, tentando fazê-lo parar. As mordidas voltaram a subir pelo seu corpo e, ao chegar aos lábios, depositou um beijo estalado ali. Eles sorriram enquanto olhavam-se nos olhos.
- Parece real!
- Tenho quase absoluta certeza de que é real. – Riu, voltando a ficar ao seu lado. Eles se apertaram na cama de solteiro e voltou a encostar a cabeça em seu ombro. Após um longo período de silêncio, engoliu a seco, preparando-se para o que viria a seguir. – E acho que vou ter que estragar o momento. – Fez uma careta, e a ouviu rindo, confusa.
- Se for para dar notícia ruim, eu sinceramente dispenso, . – Sorriu, ainda acariciando seu peito, num toque inocente.
Outros segundos torturantes de silêncio tomaram conta do ambiente, e então ele umedeceu os lábios.
– Não foi só pela frase, . – Disse de repente, carregando um tom mais sério. Seu sorriso também havia se fechado. Ela ergueu o olhar e o fitou, não entendendo. – “... em minha opinião, esse velho tem que ir para alguns bordéis, isto é falta do que fazer!” – repetiu a frase dita por ela e a garota enrijeceu-se, engolindo a seco. – Yan queria atingir seu país de qualquer forma, e principalmente o presidente dele. Você sempre foi o foco daquele governo, estava sempre envolvida em novos escândalos e aquela frase só foi o ponto em que Yan encontrou para o combate. A briga era por economia, e... Pessoal a um dos chefes de governo do seu pai. Foi uma soma de tudo. – arregalou os olhos, surpresa. Suas mãos ficaram frias e ela suspirou longamente, sentando-se na cama. Ele a acompanhou. – E eu vou te contar agora. – Sussurrou devagar, apoiando os antebraços no joelho. – Você deve estar se perguntando a razão de tanto ódio pessoal da minha avó e família por você. Bem, acho melhor começar do início, não é? – sorriu fraco e ela assentiu. – A Ironm4x foi concluída em 1954, mas tinham medo do que fariam caso não desse certo e quais seriam os efeitos colaterais... Uma máquina como essa seria o maior avanço da tecnologia daquele tempo, e até aos atuais, mas isso não vem em questão. Nossos cientistas começaram a trabalhar arduamente para concertá-la da melhor forma possível, ver e rever fórmulas, erratas e tudo mais. Parece que tínhamos um traidor entre nós, entretanto. Aparentemente, ele havia conversado com esse chefe de governo de John e contado sobre a máquina.
- O quê? Meu pai sabia sobre a Ironm4x?
- Sabia. Eu descobri essa parte da história há algumas semanas enquanto analisava os documentos e... Ah, merda. É muita coisa, . Uma briga interna entre os países começou ali, Yan recorrendo os direitos pela máquina, e John acionando os cientistas americanos para que fizessem uma melhor. Era uma briga de gigantes. Contudo, o modo como usariam a máquina eram distintos; John usaria para a cura de doenças, deixando a pessoa em seu estado atual até que encontrassem a cura o mais rápido possível. Para acidentes, fazendo com que seu próprio corpo se regenerasse. Para... O bem. – observou o horizonte, sentiu os olhos encherem-se de lágrimas. passou o braço por sua cintura; num abraço, roçando o nariz em sua bochecha. Ela inspirou fundo, com os lábios entreabertos. Era muita informação. – Já Yan pretendia usá-la para... Como já se era de esperar, benefício próprio. Iria revolucionar o mundo pedindo obscenas fortunas em troca da fonte da juventude. Bem, essa era só uma das ideias absurdas para a máquina, as outras é melhor nem citar. A grande discussão começou ali. Ainda em 1956 chegaram a testar a máquina por três vezes... Todas as cobaias morreram. – Disse como um sussurro e franziu o cenho, deixando uma lágrima escorrer por seu rosto. – Enfim, a economia do país começou a cair bruscamente, os EUA continuavam com a briga por debaixo dos panos com a Alemanha pela máquina e então... Você a disse. Simples e ingenuamente. Foi o estopim, Yan conseguiu uma das desculpas perfeitas. O desrespeito com ele e com o país. – Riu irônico. – Ao te sequestrar naquele dia, eles logo a trouxeram para o Ministério e não pensaram duas vezes ao te colocar na Ironm4x. No máximo, morreria e, bem, isso não seria de todo o mal para eles, pelo contrário... E se desse certo, lá estaria você, do lado da Alemanha, sendo a prova de que a máquina que eles inventaram deu certo. Com o passar dos dias e meses, só tiveram certeza de que não daria mais errado. Os químicos e cientistas começaram a trabalhar cada vez mais para o sucesso da máquina, e então... O exército americano ficou desolado com a notícia de que havia... Bem, você sabe. – Ela assentiu, piscando longamente. – E então chegamos na parte em que conheço desde que me entendo por gente: voaram contra Yan. Eles sequestraram Sophie por três meses, junto do meu pai; que não tinha mais do que um ano. Meu avô entrou em pânico e decidiu ele mesmo ir atrás da mulher.
- Ah, meu Deus. – sussurrou, levando uma das mãos à boca; tapando sua incredulidade.
- Foi uma troca dura de tiros, bombas e... Você já deve imaginar o que aconteceu. Sophie viu tudo. Como se já não bastasse, quando a capturaram e mataram meu avô, eles discursaram o grito de guerra que vinham dizendo desde o primeiro dia da guerra; quando você foi sequestrada: Por !
sentiu uma pontada forte na boca do estômago e fechou os olhos, apertando-os. “Por ”. Sua população não a odiava como ela imaginava. Eles não a queriam morta como pensava. Seu pai sabia sobre a Ironm4x. O sequestro de Sophie e o motivo dele. A mulher assistiu o marido ser morto. “Por .
Eram tantas informações que a garota tinha certeza de que desmaiaria se estivesse em pé. a fitou por longos segundos, tentando imaginar o que ela estaria pensando.
Não conseguiu, contudo.
- É por isso que aquela mulher me odeia tanto, por isso que seu pai me odiou tanto... E por isso que você...
- Eu te amo, . Não diga mais uma só palavra. Você não teve culpa alguma! Isso era entre os dois, entre os países... Você foi a mais prejudicada disso, e injustamente.
- Então é isso. – Suspirou, encostando-se à cabeceira da cama. – Por todos esses meses e semanas, em 57 uma lacuna ficou em minha cabeça: ninguém começa uma guerra por uma frase de uma adolescente irresponsável. E agora... Ah. – apertou os olhos, levando a mão à testa. – Tudo faz sentido.
- Eu só sabia uma parte da história. – Tentou se redimir, temendo a reação da outra. – Eu juro.
- Eu sei, meu amor. – Engoliu a seco, e ele voltou a respirar normalmente diante o apelido carinhoso. – Você tem ainda menos culpa do que eu. – Sorriu fraco, olhando-o. – Obrigada por me contar toda a história.
- Sei que não vai adiantar nada saber disso agora, mas...
- Adianta. – O interrompeu. – Adianta e muito, . Não para alguém... Mas para mim. Saber disso me tira uma tonelada das costas. E saber disso a partir de você... – seu sorriso aumentou, e ela levou uma mão ao seu rosto, delineando sua mandíbula. – Você confia em mim. Isso significa mais do que qualquer coisa.
- Confio mais em você do que em mim mesmo, . – Sorriu também, e ela selou os lábios aos dele. Beijando-o devagar, sentindo cada detalhe de seu toque. Terminaram com um selinho demorado, e ambos sorriram.
- Eu te amo. E acho que quero mudar de assunto. Eu... Eu não...
- Vamos mudar. – Decidiu, relaxando a postura. – Está sentindo algo? Alguma dor ou...? – sorriu sugestivamente e ela riu, sentindo as bochechas começarem a queimar.
- Não, . Não vai me examinar. – Brincou, vendo-o rir. – Eu preciso de um banho. – Fez uma careta, sentando-se.
- Acho que podemos pensar em construir um banheiro ao lado do seu quarto, o que acha?
- Está mesmo pensando em transformar esse corredor em minha casa, ? – disse em tom de brincadeira, mas sabia que no fundo tinha realmente essa dúvida.
- Não sei. – Foi sincero. – Só sei que quero te ter sempre por perto. – Sorriu carinhoso e ela o imitou. – E que também preciso de um banho. Precisamos, realmente, de um banheiro aqui. – Apontou para o lado e ela riu, assentindo. – Hoje é Natal. Tem alguma ideia? – negou, estalando os lábios. – Ótimo. Vamos almoçar naquele restaurante que eu havia dito.
- É? – mordeu o lábio inferior, enquanto sorria. – Eu acho que é uma boa ideia.
- Eu concordo. – Se aproximou dela, mordendo seu queixo. – Agora... Um banho. Vou para a minha casa e você fica aqui, daqui umas duas horas eu volto. Combinado?
- Sim, senhor.
Ele riu, esticando-se para pegar a cueca boxer que estava ao lado da cama. Enquanto a vestia, fingiu tapar olhos com os dedos entreabertos; ouvindo a gargalhada do outro. se levantou e colocou a calça social. colocou a camisa e a calcinha que usava na noite anterior e se levantou, ajudando-o a abotoar a camisa. Deram um selinho por fim e sorriram.
- Um banheiro aqui, - apontou para o lado novamente – não me deixa esquecer.
E saiu com os sapatos nas mãos, ouvindo a risada de sua garota.
Agora, sua, oficialmente.
“Por .”

Era segunda-feira e já haviam passado dois dias desde o Natal. Os dois dias mais felizes da vida de e de .
Haviam ido ao restaurante dito por no almoço do dia 25, e passaram a tarde no local; frequentado pelas mais requintadas famílias. Riam, trocavam carinhos, e se conheciam mais a cada minuto. Apaixonavam-se mais a cada segundo. Se é que fosse possível... Aquele sentimento só parecia crescer em seus peitos, e desde então não haviam passado mais de um dia separados. fez questão de ir ao Ministério no final de semana, e passavam o dia juntos; na cama.
Agora, lá estavam eles, na sala de reuniões, esperando por Franz e Eva para mais um dia de testes. entre as pernas de ; que estava escorado à mesa, com as mãos em sua cintura.
- Não. Isso é porque você não assistiu direito! Cantando na Chuva é um clássico!
- É muito chato, ! – resistiu, rindo da garra da garota ao defender seu filme favorito.
- Você é chato, . – Sorriu com os lábios próximos ao dele, enquanto estava com os braços enlaçados ao seu pescoço. – Don Lockwood é o amor da minha vida, caso não saiba.
riu, fazendo cócegas em sua cintura.
- E eu deveria sentir ciúmes? – questionou, fingindo estar intrigado. Ela estalou os lábios, parecendo pensar. – Olha!
- ou Don Lockwood... Ah, Deus. É tão difícil!
- Como você é ridícula, . – Sorriu, balançando a cabeça em negação.
Seus lábios tocaram os dela e o conhecido choque e arrepio percorreu seus corpos. Quando suas línguas se chocaram, o sabor já desvendado por ambos veio à tona e o abraço apertou. Tinham plena certeza de que jamais cansariam um do outro, ou pelo menos não daquele beijo. Era clichê, mas tudo se encaixava. Os lábios de pareciam terem sido moldados exatamente para ; e do contrário, o mesmo.
- Ah, meu Deus.
A voz de Eva ocupou o ambiente, e e se desgrudaram no mesmo segundo, tamanho fora o susto. Estavam dispostos a contar a novidade o mais rápido possível para todos, mas daquela forma, de repente, de surpresa... Definitivamente não estava em seus planos. Ambos estavam ofegantes, mas ao ver a reação de Eva, logo sorriram ao ver que a psiquiatra fazia o mesmo.
Franz; que estava logo atrás, contudo, estava com o cenho franzido e a feição não muito alegre.
- O que significa isso? – o mais velho disse, e ouviu bufar impaciente.
- É isso mesmo que você viu, Franz. Eu e estávamos nos beijando... Caso desconheça o ato. – Sorriu de lado, e sentiu sua garota cutucar suas costelas com o cotovelo. Acabou rindo, assim como Eva; que tapava o sorriso com a mão.
- Eu sei que foi isso, . Mas... Como? Desde quando? Ah, céus. E sua avó?
- Não importa, e, bem, eu já sou homem o bastante para tomar minhas próprias decisões.
- Você sabe que não é assim que funciona. – Seu tom ficou mais carregado e o rapaz rolou os olhos. – As coisas são complicadas, . Todos nós amamos a , mas...
- Mas nada, Franz. – O interrompeu. – É a minha vida e eu decido com quem irei me relacionar ou não, e se quero me relacionar com , e isso é recíproco, vamos nos relacionar. Entendo que só queira ajudar, mas dispenso. Não preciso da autorização ou aval de ninguém para ser feliz. – Disse simplesmente e, o olhou, com um sorriso comedido no rosto. Ah, ela o amava muito.
- Eu concordo. – Eva disse ao fundo, chamando a atenção dos três. – E tenho certeza de que se está agindo assim, é porque tem certeza do que quer. Estou orgulhosa, .
- Sua avó ao menos já sabe?
- Não sei, não falo com ela desde o dia 24. Mas já deve saber... As paredes desse lugar têm olhos e ouvidos. – Deu os ombros, puxando pela mão e sorrindo para a garota. – Não pretendíamos contar agora, mas já que descobriram... Não acho que seja muito difícil de adivinhar que eu e estamos juntos, certo?
- De forma alguma! – Eva sorriu, caminhando até os dois. – Ah, minha menina. – riu, abraçando-a. sorriu acompanhando a cena e olhou de soslaio para Franz, que estava com um sorriso de lado no rosto. Sabia que não seria fácil, mas ele acabaria se acostumando... Diferente de sua avó.



Anette analisava mais uma mínima quantidade de pele de , como mensalmente. Era feita uma raspagem da parte inferior da coxa da garota todos os meses para que a química pudesse avaliá-la. Outros testes eram feitos pelos cientistas, e, , como de costume, acompanhava tudo ao seu lado. Agora, ainda mais. Os três conversavam animadamente sobre a passagem de ano e como seriam as tradicionais festas de família, os falsos abraços e declarações das pessoas em tais confraternizações. descobrira que, por mais que os anos passassem, algumas coisas sempre continuariam iguais.
No entanto, ao rirem de uma piada contada por , não ouviram quando a porta bateu atrás de si. arregalou os olhos e, ao se virar, fez o mesmo.
- Eu precisava ver isso com os meus próprios olhos. – Foi o que a velha Sophie disse. Carregando a carranca de costume, amargurada como sempre, rancorosa como habitualmente. Ela se apoiou em sua bengala e mediu a cena de cima a baixo. – Você não tem vergonha, ? Uma senhora de quase oitenta anos com um menino de vinte e cinco! – disse, e foi obrigada a rir, levando uma das mãos à boca, tentando não demonstrá-lo tanto quanto precisava. – E você, querido, eu não consigo acreditar! Onde foi que erramos? Por que ela? Ah, meu Deus! O que seu pai pensaria?!
- Ah, cala a boca, velha do capeta. – disse, rolando os olhos. Anette mordeu o sorriso, virando-se de costas para continuar a trabalhar. continuou sério, preocupado com como aquela discussão terminaria. – Essa desculpa de ser mais velha... Ora, por favor. É ridículo! E, pelo amor de Deus, o que um pai pensa do filho que está sendo feliz pela primeira vez na vida?!
- Está insinuando que meu neto não foi feliz, sua...
- Meça suas palavras, Sophie. – finalmente se pronunciou, mas continuava com a feição calma. Não ia se exaltar... Não enquanto não fosse extremamente necessário. Não queria deixar as coisas ainda piores.
- Você a está defendendo na minha frente?!
- Não é uma competição para ver quem tem mais a atenção ou defesa dele. – disse, rolando os olhos. – Você não pode impedir o seu neto de fazer nada.
- Eu não posso, mas tenho certeza de que ele mesmo pode! Querido, - o olhou, com o olhar piedoso. não se comoveu nem um pouco – é ela! É , você não enxerga? É a mulher que nos destruiu!
fechou os olhos e massageou as têmporas, respirando fundo. Estava esgotada daquela mesma ladainha. Agora ainda mais, quando sabia de toda a verdade.
- Sophie...
- Eu não sei que tipo de bruxaria ela fez, mas você precisa cair em si, filho...
- Será que você só abre a boca pra dizer merda, Sophie? Caia em si, você! – disse, erguendo a mão e colocando o dedo indicador em riste. – Ninguém mais liga pra esse seu teatrinho! Não é sobre você aceitar ou não, gostar ou não, eu e estamos juntos e não há nada que irá impedir isso. Muito menos você e esse discurso que até a formiga que está passando por aquele rodapé sabe decorado.
- Você pensa que é quem para falar assim comigo? – virou-se para o neto; exasperada. – ?!
estendeu as palmas das mãos e deu um passo para trás, como se não quisesse se envolver. Era óbvio que estava do lado de , mas tinha plena certeza de que ela conseguiria se defender sozinha. Qualquer palavra que ele dissesse, pelo contrário, poderia só prejudicá-la.
- Já tivemos essa conversa, Sophie. Não seja repetitiva. – disse, dando dois passos à frente. – Você e seu marido já roubaram tudo de mim, velha maldita. Não vou deixar você roubar a única felicidade que me resta. – A mulher deu um passo para trás, e levou a mão ao peito. Sua cor de pele começou a mudar e franziu o cenho. Ela começou a ofegar. – Eu não vou perder para você de novo. – Sussurrou, e a mais velha deu um grito e curvou o corpo; ainda com a mão no peito.
- Chamem a ambulância! – ela disse, ofegante.
engoliu a seco e correu até a mulher, amparando-a. deu as costas e rolou os olhos.
Os próximos segundos foram de muita correria de enfermeiros, uma maca e na sala que a velha estava. Aparentemente, estava enfartando. não movera um só músculo, estava parada com uma das mãos segurando a lateral do rosto; observando toda a cena.
Burro seria quem achasse que ela fosse se importar.
Por ela, que a maldita morresse.
Antes de ir, correu até a garota e selou seus lábios aos dela num beijo rápido. Se havia algum só sentimento triste naquele momento, seria o dela por ao ver sua aflição. Ele não chorava e nem parecia desesperado, mas a mulher era sua avó e, bem, ele era médico. Eram instintos e não se dava para contrariar.
- Ânimos mais calmos por aqui? – foi o que Eva disse ao abrir a porta da sala em que estava. – Soube que Sophie teve um infarto. Procede?
- Procede. – deu os ombros, levantando-se e acompanhando a psiquiatra para fora da sala. Ambas guiaram para a sala da mulher. – Até um infarto a mulher consegue fazer o corpo ter, só para fugir da verdade. Ela sim é uma bruxa! Bruxa! – repetiu, entre os dentes. Eva abriu a porta de sua sala e a garota foi logo para o divã, como de costume. – Quando tudo parece bem, lá vem ela... Até quando está com um pé na cova, ela faz questão de me fazer mal! Que tipo de mulher é aquela? Nossa, ela sim. Ela eu odeio. Odeio de verdade. Odeio mais do que odiava Yan. Aposto que ele só era mais um bonequinho das mãos dela! – disse, irritada. Seu tom subia cada vez mais. – e eu estávamos perfeitamente bem, rindo, conversando... Aí ela vem e diz aquelas coisas todas horríveis e... – fungou, com a voz trêmula. – E quando acordar, aposto que irá dizer ainda mais coisas. Vai inventar novas histórias e ele vai acreditar. É sempre assim, afinal. Sempre que tudo parece bem... – engoliu a seco, sentindo o choro começar a dar as caras. – Ela não pode acabar com a minha vida pela segunda vez, Eva. – Ergueu o olhar, encarando a psiquiatra. – Na frente dela, eu sou uma mulher decidida, que não teme nada e nem ninguém, muito menos ela... Mas quando estou sozinha, assim, eu falto perder o fôlego. Eu estou morrendo de medo. Amo aquele homem e se Sophie fizer algum tipo de lavagem cerebral nele... – suspirou, fechando os olhos por incontáveis segundos.
- O amor nos faz ficar frágeis, não é? – disse de repente, encostando o queixo nas mãos. – Nos faz pensar duas vezes antes de agir por impulso. Não temos somente nós mesmos com o que nos preocupar agora, mas com a outra pessoa também. É como uma parte sua que caminha sem você. Você não sabe o que virá, o que acontecerá... E teme o futuro. Mas, minha menina, se quer realmente saber, eu acho que não há nada que Sophie fale que faça mudar de ideia sobre você. Ele te ama. Não viu o modo como ele falou com Franz ontem?
- Será mesmo, Eva? Ela é sua avó e... Ah, droga. – Riu fraco, enquanto sentia as lágrimas caírem de seus olhos. – Eu o amo mesmo, não é? Só de pensar em vê-lo chegar amanhã no Ministério, sério, como há meses... Eu não aguentaria. Bom, é óbvio que aguentaria, isso não iria me matar, mas... Seria extremamente difícil, doeria tanto que eu nem sei se poderia suportar outra perda de novo. A velha o criou, ele acredita em tudo que a mulher diz... Ela pode muito bem inventar outra história, colocá-lo na parede, fazê-lo voltar a ficar contra mim. E se ela morrer, então?! Até morta é capaz de me atormentar. Ele vai me culpar para sempre e...
- Ei, calma. – Eva estendeu as palmas das mãos, fazendo-a parar de falar. – Calma. Respira fundo. Está tudo bem, ouviu? te ama e já provou isso quando veio atrás de você, enfrentando, principalmente, a avó. Quando ele saiu com a Sophie na ambulância, ele parecia bravo ou algo assim?
- Não...
- Então. Não se preocupe, . É normal agir ou pensar assim depois de se ter algo, pós uma perda... Ainda mais tantas perdas. Mas, olhe para mim. – A garota o fez, inspirando fundo. – Ele não irá te deixar. Esse pensamento só te faz mal, querida. não ficou nos anos cinquenta, ele não está nos Estados Unidos, não existirá mais uma guerra. É uma nova história, sim?
E, inconscientemente, lembrou-se da primeira vez em que saiu com , naquela queima-de-fogos... Quando ele lhe disse que seria uma nova história. Uma nova chance.
Sua nova história seria com ele.
E sua nova chance, também.
Um suspiro aliviado tomou seu peito e ela sorriu, assentindo. Nem a própria estava se reconhecendo agindo daquela forma, mas era inevitável. Como Eva havia dito, a insegurança e medo eram compreensíveis quando já se perdeu tudo.
A psiquiatra levantou-se de sua cadeira e se sentou no divã em que a garota estava, abraçando-a fortemente. Abraçando-a como a sua mãe – que nem havia chegado a conhecer – faria.

Já havia anoitecido e estava em seu quarto, com as pernas em cima da cabeceira da cama, como de costume. Os olhos vislumbravam o teto como se aquela fosse a coisa mais magnífica e intrigante que já havia visto. Contudo, seu pensamento não estava ali... Estava no dia vinte e quatro. No dia em que tudo aconteceu, no dia em que foi dele... Um sorriso repuxou em seus lábios e ela começou a desenhar corações no ar, rindo do quão idiota aquilo era.
Alguém deu duas batidas na porta, e a garota respondeu um audível “pode entrar”.
- Então a senhorita deixa qualquer um entrar no seu quarto?
A voz de foi reconhecida imediatamente e ela se sentou depressa, com o mesmo sorriso que habitara seu rosto desde que havia se dado uma nova chance. O rapaz também sorria e ela quase chorou de alegria ao ver que não havia raiva, amargura, ou qualquer outro sentimento ruim ali.
- . – Sorriu com o lábio inferior entre os dentes, num sorriso quase ingênuo. Ele se aproximou, selando seus lábios aos dela, num beijo delicado e rápido. Desconfiava que a cada vez que o via, o amor que sentia pelo rapaz só aumentava. – Traz boas notícias?
- Depende do ponto de vista... – riu, sentando-se na cama. – Ela vai sobreviver. – não conseguiu esconder a careta de desapontamento e riu alto, balançando a cabeça e colocando seu rosto entre as mãos. – Você é impossível!
- E mesmo assim você me ama...
- Amo. – Sorriu sincero, olhando em seus olhos. – Acho que preciso de uma ou dez consultas com Eva... – brincou, referindo-se à sua pseudo-loucura por amá-la. abriu a boca, incrédula, e lhe deu um tapa no braço. Os dois riram, e voltou a se levantar. – Vamos dar uma volta no Ministério?
- Como um passeio romântico? – riu, levantando-se também.
- Como um passeio romântico, . – Sorriu, segurando a mão da garota e começando a caminhar.

(Play na 2! Deixem até o fim.)
Não demorou mais do que cinco minutos até que eles chegassem ao jardim do Ministério, que era iluminado pelos altos postes de luz. É, já se sentia em casa ali, era incontestável.
- Quando foi, ? – questionou de repente, e ele virou o rosto para encará-la. – Quando foi que se deu conta que estava gostando de mim?
- Acho que foi bem aqui. – Franziu o cenho, voltando a encarar o horizonte. – Quando você veio ver a luz do dia pela primeira vez desde que acordou da Ironm4x. Ou, bem, pelo menos foi ali que me dei conta de que não te odiava como deveria. Mas quando me apaixonei? Acho que foi no seu aniversário. Eu já gostava de você, mas naquela noite... – sorriu sem graça e ela apertou sua mão entrelaçada a dele. – Um pouco antes, quando minha avó trouxe aqueles vídeos... – disse incerto e ela assentiu. – Ali eu achei que já estava fodido, mas, bem, não era nem o começo. – Deu os ombros, e ela lhe deu um tapa no ombro.
- Me amar é estar fodido, ? – fingiu seriedade, mas o sorriso querendo escapar por seus lábios logo denunciava a brincadeira.
- Depende do ponto de vista... – riu, beijando sua testa. – E você, amor? Quando foi?
Ela demorou alguns segundos a entender a pergunta. Ser chamada de “amor” por ainda a hipnotizava, e duvidava que algum dia se acostumaria.
- Ahn, acho que foi na época em que você resolveu libertar Peter.
- Parece que nos apaixonamos juntos, então. Isso aconteceu na mesma noite do seu aniversário. – Constatou, passando o braço pelo ombro da garota, aproximando-a ainda mais. – E, sinceramente, acredito que isso de quem foi primeiro ou depois não importa. – Ela assentiu, sorrindo. – Só sei que é muito bom! Se eu soubesse já havia amado alguém antes. – Brincou e recebeu um soco leve nas costelas. Ambos riram. – Amado você antes.
- Hm, melhor. – Riu, erguendo a cabeça e lhe dando um selinho. – E concordo, amar é incrível. Fico só imaginando alguém que tem uma vida normal, com uma família e emprego normais... Imagine só quando elas amam?! Deve ser ainda mais feliz! Não têm preocupações, medos, ou um país inteiro contra. – Sorriu sem humor e ele apertou o braço em sua volta.
- E, ainda assim, eu não trocaria o que estamos vivendo por nada. – Sorriu, beijando o topo de sua cabeça. Ela sorriu, piscando longamente. – E por que só imagina isso? Quando era noiva do tal Adam a sua vida era assim, até melhor, se formos pensar... – sua voz tomou um tom mais sombrio e ela mordeu o sorriso. Ele estava com ciúmes.
- Eu não o amava assim, amor.
- Oi? – franziu o cenho, parando de andar e virando-se para encará-la. – Como não? – riu, balançando a cabeça. – Mas você ia se casar com ele, ...
- Eu tinha uma ideia deturpada do amor, . É óbvio que eu era apaixonada por ele, Adam era um cara incrível, e o amava sim, mas não desse jeito... Desse jeito que amo você. – Um sorriso tímido escapou por seus lábios, e ele sorriu abertamente. – Eu e Adam estávamos acostumados um ao outro, entende? Tínhamos os mesmos amigos, íamos aos mesmos lugares, a sociedade já estava acostumada a nós e o meu pai também. Era... Cômodo. Mas, parando para pensar num dia qualquer, eu vi que quase não o conhecia. Não conhecia seus gostos, boa parte de seus defeitos, e só vi sua família duas vezes. Acontece, amor, que Adam era o moço que todo o pai sonha para sua filha, ainda mais quando seu pai é o presidente dos Estados Unidos. – Riu, dando os ombros. – Fazíamos planos para o futuro, mas era algo tão distante... Parecíamos viver num conto de fadas escrito por Walt Disney. Iríamos ter a família perfeita e ser um exemplo. Um casal de filhos, uma casa cômoda em Washington, um cachorro de grande porte e todos os domingos iríamos a casa do meu pai para almoçarmos. Você me vê assim, ? – o rapaz negou, rindo. Não fazia sentido vê-la daquele jeito. – Então... Com você foi diferente. Bem diferente, aliás. Eu conheci o seu pior primeiro, e depois fui conhecê-lo de verdade. Vi todos os seus defeitos e aprendi a conviver com eles, mas também pude apreciar as suas qualidades. Convivemos por praticamente um ano, nos vendo todos os dias, e... Ah, eu te conheço como a palma da minha mão. Aliás, te conheço como não conheço nem a mim mesma. Quem é que conhece a palma da mão?! – brincou, rindo. gargalhou, levando seus lábios à testa dela e depositando um beijo demorado ali. – Amo quando faz isso. – Confessou. – Amo quando simplesmente beija a minha testa. É doce, é carinhoso...
- E eu amo fazer isso. – Sorriu, beijando-a novamente. – Estou alguns pontos à frente do Sargento Evans, então? – ela balançou confirmando e sorrindo, surpresa por ele saber o sobrenome do homem. – Ainda bem. – Riu, fitando seus olhos. – Mas uma coisa você não pode negar! Naquela época você era mais feliz, não era?
A pergunta a pegou de surpresa e suspirou, desviando o olhar. Queria explicar que não era por Adam, mas por tudo. Por seu pai, por Jane, por Max, pela liberdade.
- ...
- Eu sei, meu amor. – Sorriu fraco, passando a mão em seus cabelos, que estavam espalhados pelo ombro. – Não precisa me explicar nada. Só quero que saiba de uma única coisa: enquanto eu viver, vou lutar todos os dias para fazê-la feliz. – engoliu a seco e sorriu abertamente, acariciando a cintura do homem por cima da camisa. – Eu prometo, , ao que depender de mim, você vai ser a mulher mais feliz que já pisou neste mundo. Seja nos anos cinquenta, sessenta, ou dois mil e tantos. Confia em mim?
- Cegamente. – Sua voz saiu embargada e ela o abraçou, colocando o rosto no vão de seu pescoço. – Eu te amo tanto. – Sussurrou, e ele afagou seus cabelos.
Ele não precisava de promessa nenhuma.
Ele já havia cumprido antes de fazê-la.




Capítulo XXXII


Músicas do capítulo: Love Me Like You Do – Ellie Goulding.
Crazy – Daughtry. Play quando eu avisar!

- Ah, meu Deus. Nós vamos mesmo, não é? – riu, ainda incrédula. – Juro que achei que você só estava brincando!
- E eu lá sou de brincadeira, ?
- Idiota. – Riu, sentindo o instrutor ajudá-la a colocar o braço no macacão. – E se eu morrer? Você tem ideia, ? E se eu tiver um ataque cardíaco? Amanhã já é outro ano! Eu quero estar viva em 2015! – o homem ao seu lado riu, e ela não gostou. Estava brincando, mas falava sério. Ou quase isso.
- Se você morrer, será em grande estilo. Você não disse que tinha o sonho de voar?
- Mas isso era impossível! – riu, terminando de subir o zíper do macacão azul. – Quantas pessoas já morreram nisso, senhor? – virou-se para o instrutor, e viu o momento em que rolou os olhos, gesticulando para o homem.
- Nenhuma, senhorita. É totalmente seguro. Mas, caso não tenha certeza...
- Ela tem sim. – respondeu pela garota, que o olhou de soslaio. – Anda, amor, não seja medrosa! É uma sensação única.
- Se eu morrer, venho puxar seu pé toda noite, . – Apontou, lançando um olhar quase que mortal para o namorado. Ele riu, comemorando e a abraçando. – Meu coração está em perfeito estado, não está? – questionou , que além de qualquer coisa, era seu médico. Ele assentiu, apertando a ponta de seu nariz. – Tá. Acho que a gente pode ir, então. – Disse incerta, mas começando a rir novamente.
O instrutor começou a levá-los em direção ao pequeno avião e o frio na barriga começou a tomar seus corpos, principalmente o de .
Um olhou para o outro e tiveram uma crise de risos. Talvez de nervoso, talvez por acharem a situação engraçada, ou talvez somente por estarem felizes.
(Play na 1.)
O avião decolou, e a garota fechou os olhos, odiava aquela sensação. A sensação que não sentia há quase sessenta anos... Andar de avião. E agora, para piorar, saltar de um.
- Eu realmente vou pular de paraquedas? – disse alto, por causa do barulho do motor do avião. assentiu, colocando seus óculos, e, logo em seguida, os dela também. – Não está bom de subir ainda não, moço? – o piloto balançou a cabeça e riu.
Certo, ela ia morrer. Tudo bem.
- Medrosa. – sussurrou e, no mesmo segundo, a imagem dela saltando daquele cipó no lago em 1957 veio à sua cabeça. Ela estava com medo, mas aquela foi uma das melhores sensações da sua vida. Essa também seria... Seria ainda melhor.
- Vá se foder, . – Sussurrou no mesmo tom, e os instrutores e pilotos riram junto de .

O seu instrutor; o que a ajudou a colocar o macacão, logo interligou seus equipamentos e ficou atrás de si, a preparando para o salto.
O instrutor de fez o mesmo, e ele soltou uma piadinha como “essa é a pior parte”, referindo-se a ter um homem em suas costas. Todos acabaram rindo, e o nervosismo de se desfez em parte.
O avião de repente parou de subir, e a porta se abriu, trazendo um vento absurdamente forte. e ficaram próximos a porta, sendo amparados por seus instrutores. Eles se entreolharam e sorriram.
- , - disse, sem encará-lo – eu deveria ter escrito um testamento? – brincou, e todos gargalharam.
- Seus livros para Peter, suas roupas e joias para Eva, e seu amor para mim. – Disse em tom de brincadeira, mas ela sentiu vontade de parar tudo ali e beijá-lo até que o mundo acabasse.
- Eu te amo. – Disse, sentindo o vento contra seus cabelos e rosto.
- Eu te amo, . – Disse mais baixo; quase num sussurro, olhando para a garota. Os instrutores disseram: “preparados?”, e ambos assentiram. “No três... 1, 2, 3!”.
E no próximo segundo, não sentiu mais nada, a não ser o chão sumir por seus pés, o fôlego desaparecer e o coração chegar a parar por alguns milésimos de segundos. Nem mesmo um grito foi capaz de ser expelido por sua garganta. Fora a pior sensação do mundo... Se não tivesse sido a melhor.
Ao abrir os olhos, o céu azul brilhava em sua cabeça e ela se sentia como uma nuvem, ali, ao lado delas. estava um pouco acima, mas ela conseguiu ver o tamanho de seu sorriso diante àquela experiência. Seu instrutor lhe perguntou se estava tudo bem e ela fez sinal positivo com o polegar. Ouviu um grito ao seu lado e riu ao ver se aproximando. Um homem estendeu uma espécie de câmera e ambos se aproximaram um pouco mais, num beijo rápido. Ou uma tentativa do mesmo. A foto foi tirada e eles sorriram, se afastando para que os paraquedas fossem abertos. Não demorou mais de quatro segundos até que isso acontecesse, contudo. Num arremesso, seu corpo estava novamente imerso e ela segurou-se às alças do colete. Uma risada escapou por seus lábios assim que conseguiu vislumbrar a vista abaixo. Era como voar... O vento batia em seu cabelo – que já estava praticamente todo solto – e a fazia sentir as orelhas congelando. Ficaria com um problema de audição depois daquilo, com certeza. Mas quem se importava, afinal? Aquela sensação era maior e melhor do que qualquer coisa. Ela estava livre de novo... E mais livre do que já estivera em toda a vida. Gritos dos mais variados tipos eram ditos por sua boca e duvidava se algum dia já havia se sentido daquela forma. Livre, amada, feliz... Era preciso pensar por somente um segundo para ter a certeza de que não, nunca havia.
juntou-se numa distância boa o suficiente para que os paraquedas não se enrolassem e sorriram um para o outro. Ele fez sinal de positivo com a mão, como se a questionasse se estaria tudo bem, e ela respondeu com o mesmo gesto; mas com as duas mãos e um sorriso aberto no rosto.
A altura foi cada vez diminuindo mais, e desejou ficar ali para sempre. Seu instrutor disse algo como que iriam pousar e ela assentiu, mordendo o lábio. O campo gigantesco verde foi se aproximando e quando menos viu, já estava com os pés sob a imensidão. Eles caíram meio desajeitados e o homem destravou as travas que os prendiam. se sentou na grama e teve uma nova crise de riso.
Não demorou mais de alguns segundos para que também pousasse e se soltasse do seu respectivo instrutor. Ele caminhou em sua direção com um sorriso aberto e satisfeito no rosto e os cabelos bagunçados voando contra o vento.
- Parece que alguém gostou de superar os seus limites...
- Quando vamos fazer isso de novo? – continuou com o sorriso aberto no rosto e se levantou, sentindo as pernas um pouco fracas. – Eu voei, ! Nós voamos. Você entende o que é isso? – o rapaz assentiu, arrumando o cabelo da garota; num gesto de carinho. – É tanta adrenalina! Ah, meu Deus. Foi incrível! E a vista, então? Quando pulamos do avião, eu achei que fosse morrer, mas depois... Você sentiu isso também? Ah, por que você não fala também? Só eu que to falando como uma matraca! Isso é uma espécie de efeito colateral?! – arregalou os olhos levemente e viu o rapaz sorrir docemente. – ! Eu morri? – questionou com ingenuidade, e o homem riu, balançando a cabeça em negação e aproximando o rosto do dela; beijando-a com toda a calma do mundo.
Trazendo toda a calma que precisava, aliviando seus músculos e pensamentos. Sorrir durante o beijo foi inevitável, por ambas as partes. segurou seu rosto entre as mãos, como de costume, e ela abraçou sua cintura, sentindo seus lábios frios. Quando o ar foi ficando escasso, eles se separaram com selinhos demorados.
- Você é linda. – Disse de repente, fazendo-a suspirar apaixonadamente. – E vamos fazer isso quantas mais vezes você quiser. Quando você quiser.
- Desse jeito eu vou ficar desacostumada... – avisou, rindo. – E você é lindo.
- Pode ficar, . Eu deixo. – Piscou, e ela gargalhou, dando um soco de leve no seu ombro. voltou a segurar seu rosto e beijá-la, mas dessa vez mais intensamente e... Apaixonadamente.



As lágrimas escorriam dos olhos de sem pedir permissão ou aviso prévio. Ela estava há cinco minutos encarando a roupa que havia mandado para que ela usasse naquela noite, na passagem de ano. Ela ofegou e finalmente tocou na peça, erguendo-o para que pudesse ver cada detalhe.
Era um modelo exato dos anos cinquenta. As alças eram grossas, com decote redondo, a saia rodada e um palmo abaixo do joelho. O branco limpo do tecido reluzia nos seus olhos, assim como a faixa de cetim vermelho amarrada na cintura. Ao lado, ainda na pia do banheiro, havia uma faixa de cetim igual à da cintura do vestido, mas para que fosse colocada como acessório de cabelo. O sapato estilo boneca estava logo abaixo; no chão. As maquiagens eram exatamente as mesmas que usava, não as mesmas marcas, era óbvio, mas as cores e texturas exatamente iguais.
fungou e secou as lágrimas de seu rosto, caminhou até o chuveiro e tomou seu banho como estava acostumada. Ao sair, não demorou muito a vestir suas lingeries e colocar o vestido. Ela amarrou a faixa na cintura e olhou-se no espelho, sorriu imediatamente e sentiu os olhos voltarem a marejar. Respirou fundo e começou a fazer a maquiagem, exatamente como faria nos anos cinquenta. O batom vermelho suavemente passado nos lábios com batidinhas, para que não ficasse tão forte, e ainda retirou o excesso com um pedaço de papel higiênico. O delineador fino e levemente puxado e, logo em seguida, o rímel bem passado complementou os olhos. Passou um blush rosado nas maçãs do rosto, e pronto, a maquiagem estava pronta. Buscou a outra fita de cetim e a colocou no cabelo, amarrando-a como uma faixa, logo no topo da cabeça. Piscou longamente e se afastou ligeiramente do espelho, tendo uma visão melhor.
Um suspiro longo, uma lágrima e um sorriso leve ocuparam seu rosto. Ela estava vestida como a dos anos cinquenta, mas não se sentia mais como a mesma. Era estranho e nostálgico.
O soldado, que a esperava do lado de fora, a chamou e ela pareceu acordar de seus devaneios, sorriu uma última vez e caminhou até a porta. O rapaz a acompanhou até a porta da sala de , e, ao chegarem lá, logo o herdeiro pediu para que ela entrasse. Ergueu o olhar e sorriu abertamente, encarando-a de cima a baixo. Duvidava que algum dia se acostumaria a beleza daquela mulher.
Ainda mais com ela vestida daquela forma.
Ela estava assim quando ele se deu a chance de vê-la com outros olhos, enquanto assistia seus vídeos antigos numa viagem de carro.
A ponta de seu nariz estava vermelha e ele constatou que ela chorara recentemente, franziu o cenho e andou até a amada.
- Eu diria que você está especialmente linda, mas não me parece a hora certa. Por que você estava chorando, meu amor? – acariciou a sua bochecha com o polegar e ela sorriu, piscando longamente.
- Foi como voltar para os anos cinquenta, e... Eu não senti que pertencia mais àquilo. – Seu sorriso se fechou alguns centímetros, segurando a mão dele. – É como se tudo que eu tivesse vivido antes não passasse de uma lembrança... E o que estou vivendo agora é a vida real.
- E isso é bom ou ruim?
- Eu não sei. – Riu, sincera. – Só sei que preciso de um abraço e um beijo do homem mais incrível do mundo.

E não demorou mais de cinco segundos para que realizasse seu desejo. Um abraço apertado e um beijo demorado, cheios de sentimentos. Os sentimentos que ela precisava. Os sentimentos que a libertariam.
- Eu pensei em diversos lugares que poderíamos ir hoje... – começou, colocando um sorriso no rosto. A garota fez o mesmo. – E não consegui nos ver em lugar melhor a não ser ali.
- Ali onde?
- Vem. – Buscou sua mão e a beijou, para logo em seguida puxá-la para a saída.
O caminho até o certo lugar demorou cerca de trinta minutos. e foram conversando durante todo o percurso, nem sequer se preocuparam em ligar o rádio do carro. O assunto parecia nunca ter fim quando se tratava do recém-casal; que tinha como foco principal a manhã daquele dia, quando saltaram de paraquedas. não conseguia parar de falar sobre suas lembranças do momento, e não poderia ficar mais encantado do que já estava ao vê-la daquela forma. Ele se contentava em sorrir e observá-la vez ou outra, quando o sinal estava fechado. Era arrebatador. Supria todas as suas necessidades e sabia que mais nada ou ninguém no mundo seria capaz de fazê-lo agir, pensar e sentir-se daquela forma novamente. Não se tratava só de amar alguém... Tratava-se de amá-la. De amar . Era ela a pessoa certa para ele. Era o seu sorriso que o fazia feliz. Era a sua voz que imaginava ao dormir e ao acordar. Era o seu rosto que via sempre que fechava os olhos. Era os seus lábios que se encaixavam aos seus. Era seu corpo que parecia ter sido moldado para suas mãos. Era o seu coração, que parecia bater para pertencer a ele.
Era só ela...
.
A mulher que amava, pura e simplesmente.

Quando o carro estacionou, sorriu instantaneamente. Conhecia aquele lugar, e conhecia muito bem. Era o pequeno deserto que a levara na primeira saída, para ver uma queima-de-fogos. Bom, nada parecia mais propício na passagem de ano do que aquilo, de fato. O rapaz saiu do carro para abrir a porta ao seu lado, e só então ela reparou no que ele usava; uma roupa inteiramente branca. A camisa de botões estava com a manga arregaçada até os cotovelos, e a bermuda da mesma cor complementava o visual. Ele parecia leve... Liberto. Não tinha mais uma nuvem carregada em sua cabeça, e isso era visível para quem quer que fosse. Perguntava-se se fora por sua causa, e só com a possibilidade seu coração já parecia parar.
abriu a porta do passageiro e ela saiu, inspirando o ar limpo que aquele lugar cheio de lembranças boas tinha.
Ambos foram para a frente do carro e sentaram-se no capô, observando as montanhas ao longe e as luzes que a cidade de Dublin trazia.
- ? – chamou, encostando-se no vidro frontal do carro. Ele a olhou, apoiando a cabeça na mão. – O que a Kyara realmente significa pra você?
A pergunta o pegou de surpresa, fazendo-o se sentar e franzir o cenho. Engoliu a seco, respirou fundo e voltou a encarar a namorada.
- Kyara foi uma parte importante dos meus últimos anos, . Eu a conheci há dois anos, ela é jornalista como você sabe e fez uma entrevista comigo... É uma mulher muito bonita e acabamos nos aproximando. – entortou os lábios, analisando suas feições. – No começo, a intenção era sair com ela algumas vezes e pronto, mas, bem... Kyara é uma mulher inteligente, encantadora, e tem outras boas qualidades.
- Sem detalhes, . – Seu tom foi frio e ele sorriu, esticando-se para selar seus lábios, mas ela virou um pouco o rosto. Ele beijou sua bochecha, de toda a forma.
- Enfim. Acabamos nos envolvendo um pouco mais e, quando dei por mim, já estávamos saindo há meses, e não só para transar. Conversávamos, ríamos, e, por vezes, até pensei em deixar tudo mais sério, mas eu não conseguia... Gostava muito dela, mas queria ter uma vida independente. Sair com quem quisesse, me envolver com quem quisesse, e, bem... Uma coisa foi levando a outra, o tempo foi passando e lá estávamos nós. Num relacionamento aberto, ao que parece.
- Você... – engoliu a seco. Tinha medo da resposta que sua pergunta teria. – Você tem saído com ela?
- Faz meses que eu não saio com ela, meu amor. – Sorriu, encostando-se no vidro de seu carro também, encarando o céu estrelado. Faltavam poucos minutos para meia-noite. – Não a vejo desde o meu aniversário, e creio que não a verei tão cedo.
- Ela é apaixonada por você.
- E eu sou apaixonado por você. – Aproximou seu rosto do dela, roçando seu nariz em sua bochecha. suspirou, desconfortável. – Ei?
- Ela é mil vezes mais bonita do que eu, mais inteligente, mais experiente, e te conhece há mais tempo...
- Eu discordo em tudo, mas, mesmo que ela fosse tudo isso e além, eu não me importaria em escolhê-la, senhorita . Aliás, acho que isso está fora de cogitação, já que eu não tive uma escolha... Meu coração te escolheu, não pude fazer nada. – Riu, vendo-a sorrir de lado. – Mas, acredite, se eu tivesse direito a escolha: não mudaria uma só vírgula. Te escolheria ontem, hoje, e enquanto houver amor entre nós.
- E até quando vai haver amor entre nós? – virou o rosto para encarar o dele. Sua pergunta fora tão genuína que o rapaz sorriu alto, encostando suas testas.
- Eu queria poder dizer que enquanto vivermos, mas não estou no seu corpo para saber se é recíproco.
sorriu de lado, selando os lábios ao dele, num beijo calmo.
- Então acho que esse será o tempo, . Porque eu não me vejo mais com ninguém a não ser você. – Sussurrou, e ele sorriu, beijando-a novamente.
E passaram os próximos minutos assim, trocando carinhos, juras de amor e um xingamento aqui ou ali, como já era de costume. Quando o despertador do celular de tocou, anunciando três minutos para meia-noite, ele se levantou, puxando-a consigo.
(Play na 2.)

- , - começou, enlaçando as mãos na cintura dela – não mandei essa roupa para você porque queria te fazer sofrer ao lembrar-se daquela época, essa jamais foi a minha intenção. Pelo contrário, eu queria que nesse novo ano fosse tudo diferente... Que já não houvesse mais lembranças ruins do passado, e que você quisesse a todo momento estar lá, em 1957. – Eu não quero, . – Quando te trouxe aqui pela primeira vez, lhe disse que seria como uma nova história, um novo começo, uma nova chance... E, bem, ao que parece, ambos estamos tendo todos estes. – Sorriu, e o sentiu desamarrar o laço em sua cintura. – Não acho que uma roupa mude algo, que um estilo a diferencie ou que uma moda a faça repensar sobre o que for. Mas nesse novo ano... , eu não quero que seja mais a garota que teve a vida roubada nos anos cinquenta. Eu não quero que me veja como o vilão da sua vida. Eu não quero que olhe para trás e veja o quão feliz foi. – O nó foi totalmente desfeito e ele puxou a faixa, colocando-a no capo de seu carro. franziu o cenho. – Eu quero que olhe para o presente e veja o quão feliz é. Quero que se sinta pertencente a este novo século. – Levou as mãos aos seus cabelos, afagando-os. Ela o sentiu tocar sua tiara. – Não importa em qual ano, cultura, país ou classe, você está, amor. Eu só quero que seja feliz... Que tenha sido feliz ontem, que seja ainda mais feliz hoje, e que no futuro seja obscenamente feliz. – Sorriu abertamente, vendo-a sorrir também. Ele tirou a faixa de seu cabelo, colocando-a no capo, também. Suas mãos voltaram a percorrer a saia do vestido e ele pareceu encontrar um zíper, o que nem mesmo a garota havia visto. – Nesse novo ano, , eu quero que seja quem você é. – A parte rodada do vestido saiu e ela entreabriu os lábios, olhando para baixo. Era um vestido como os atuais, branco e deslumbrante. A de 1957 havia, realmente, ficado ali. Ou em 2014. Um barulho estridente começou ao longe e ela olhou na direção, onde viu os fogos começarem a se formar no céu. – Feliz ano novo, meu amor. – Sussurrou, beijando sua testa.
sentiu o nó em sua garganta se alargar e sorriu, olhando para o homem à sua frente. Seu peito chegava a latejar tamanho era o amor que sentia. Os fogos aconteciam ao longe, pintando o céu de todas as cores e formas possíveis.
- Feliz novo começo, meu amor. Eu te amo. – Sussurrou no mesmo tom, distribuindo beijos por seu rosto. Primeiro a testa, depois as bochechas, olhos, ponta do nariz, queixo, maxilar, e finalmente os lábios. – Você é a minha nova história, a minha nova chance. – Eles se abraçaram e continuaram ali, observando os próximos vinte minutos de queima-de-fogos.
Os próximos minutos e horas foram de conversa e risos embaixo das estrelas. Quando sentiu que o champanhe ingerido há algumas horas já havia sido digerido por seu corpo, decidiram ir embora. Mas, diferente do que pensara, tomou um rumo diferente do Ministério.
Ele foi para sua casa.
De novo. Ele a havia levado ali novamente. O sorriso, que não a abandonava há dias, se tornou ainda maior quando ele a levou até seu quarto; que até então a garota desconhecia. E lhe questionou se ela não queria ser a primeira a tomar um banho, o que foi negado pela garota. Preferia esperá-lo. a deixou ali e entrou no banheiro, avisando que voltaria em um minuto.
se levantou e passou a andar pelo quarto do rapaz. Tinha as duas paredes laterais brancas. Noutra, era lotada por fotos de cidades e países. Monumentos históricos e paisagens. Era excepcionalmente lindo. A cama box de casal estava no meio da parede oposta, revestida de um papel de parede discreto, dois criados mudos com abajures e acessórios de decoração. Ao lado, numa das paredes brancas; havia uma escrivaninha particularmente grande, com um computador, pastas, e outros itens. Na parede à sua frente, algumas prateleiras cheias de livros e a porta do banheiro, finalmente. O quarto era extremamente confortável, e garota podia se ver ali durante todo o resto de sua vida.
A porta do banheiro se abriu e saiu, secando os cabelos com uma toalha pequena, e já usava uma cueca samba-canção, pronto para dormir.
- Seu quarto é lindo, .
- É bom saber que gosta, amor. – Sorriu, caminhando até ela e lhe dando um selinho. – Porque eu pretendo passar muitos momentos com você aqui. – A garota sorriu, roçando seus narizes. – Tudo que você precisa tem no box, caso tenha alguma dúvida ou precise de algo...
- Eu te chamo. – Completou, rindo e saindo para tomar seu banho.
deitou-se na cama e se apoiou na cabeceira, encarando a porta fechada do banheiro. Mulher alguma jamais havia dormido em seu quarto, quanto mais imaginou dividir a cama com alguém sem antes terem transado na noite. Mas com era diferente... Tudo era diferente.
Era óbvio que sentia vontade de tê-la novamente, agora ainda mais intensamente, mas decidira que a respeitaria. Quando chegasse a hora, nada impediria. Controlaria seus hormônios e a respeitaria, por mais difícil que fosse.
não demorou tanto a sair do banheiro, mas quando o fez, encontrou num sono leve. Sorriu sozinha e sentou-se na cama, para logo depois deitar-se ao seu lado. Observou seu rosto com os olhos ligeiramente fechados e a respiração tranquila. O rapaz sorriu fraco e a puxou para si, colocando sua cabeça encostada ao seu ombro, enquanto a abraçava.
Não disseram mais uma só palavra, e acabaram caindo no sono.
Ou, bem, em parte. chegou a dormir por uma hora, mas logo acordou, observando a mulher ao seu lado. Seu coração enchia-se só em vê-la. Amar... Amar parecia pouco comparado ao sentimento que possuía por .
Seu rosto estava relaxado e ele se permitiu sorrir, enquanto passava o polegar por sua bochecha rosada.
O que ela diria se descobrisse que Jane estava viva? O que sentiria?
Era errado enganá-la daquela forma, não era? Se ele realmente a amava, deveria querer sua felicidade acima de tudo... E a amiga era a pessoa que mais amava na vida.
Ter ao menos pequena parte de sua vida de volta... Reencontrar a amiga, voltar a Washington, ter sua própria casa, ser livre... Dona de suas escolhas. Descobrir o que havia acontecido com Adam, talvez.
Um nó na boca de seu estômago e apertou os olhos, aconchegando-a ainda mais em seu abraço. Era o certo... Mas não tinha certeza se conseguiria viver bem num mundo sem sua garota.
“Eu te amo”; sussurrou, colando os lábios na testa de , num beijo demorado. “Desculpa”.
Não podia perdê-la agora... Teria de ser egoísta, pelo menos por enquanto.




Capítulo XXXIII


Músicas do capítulo: Often – The Weeknd. (1)
Then You Look At Me – Celine Dion. (2)

Dois meses passados desde o início do ano. Ou um ano e um mês, se fosse contar desde que acordara da Ironm4x.
Um ano e um mês no século XXI.
Um ano e um mês de angustia, tristeza, saudade, alegria e amadurecimento.
Um ano e um mês enfrentando seus próprios demônios.
Um ano e um mês de convivência diária com .
Um ano e um mês de aprendizados.

Dois meses de relacionamento com .
Os dois meses mais felizes de toda a sua vida.

Lá estava agora, rotineiramente na sala de Eva, com mais uma de suas “consultas” com a psiquiatra. Há muito tempo aquelas horas sentada no divã haviam deixado de ser consultas, para serem conversas de amigas. Troca de conselhos. Confiança.
- Peter não existe! – riu, ouvindo mais uma das histórias de Eva sobre Peter. – É tão bom vê-lo vivendo, Eva. – Sorriu, encarando a psiquiatra. – Livre por aí, fazendo o que bem entende... Ele está feliz, não está?
- Duvido que exista alguém nesse mundo mais feliz do que Peter. – Sorriu.
- E algo me diz que essa felicidade é contagiante... Porque consigo sentir daqui a sua áurea.
- , ... Não crie expectativas.
- E quem está falando de expectativas, aqui?! Aliás, expectativas sobre o quê? – a olhou sugestiva e a mais velha riu, balançando a cabeça. – Para, mulher! Não queira enganar a si mesma. Não era esse o conselho que me dava há quase um ano? Você gosta do Peter, admita.
- O que eu faço com você, menina?! – riu, olhando para sua mesa. Sabia que se a encarasse, iria logo perder a compostura e agir como uma adolescente apaixonada. – É complicado... Não é nada fácil.
- Ah, você quer dizer que um relacionamento não é fácil justamente para mim, Eva?!
- Querida...
- Já é hora de ser feliz. Olhe para mim. – A mulher o fez, mas sem o sorriso de antes. – Você gosta muito dele, não gosta? Não é um pecado.
- Dizer que estou me sentindo como uma adolescente de dezoito anos é muito exagerado? – sorriu fraco e a outra riu, levantando-se. – Eu esqueci tudo o que aprendi na faculdade. É como se não funcionasse para mim. – Deu os ombros, vendo-a dar a volta em sua mesa. – Estou muito apaixonada por ele, . – Confessou, e a outra somente sorriu, abrindo os braços. A psiquiatra se levantou e abraçou. – É diferente de tudo que já vivi. – Sussurrou, ainda abraçada a ela.
- Pra ele é ainda mais, Eva. E acredite, mesmo não tendo contato com ele há meses... Eu posso te afirmar com toda a certeza do mundo de que ele não poderia estar mais feliz. Perdido, mas feliz. – Riu, passando a encará-la. – E se ele está feliz, eu estou mais ainda.

estava no jardim conversando com Joshua, em mais uma tarde no Ministério. Ambos falavam sobre o tempo e as condições do mesmo, rindo de uma brincadeira ou outra. Contudo, uma voz infantil invadiu seus ouvidos e eles olharam para a direção. Encontraram Liebe correndo em direção ao pai, com um sorriso gigantesco. A primeira reação foi de total surpresa, mas logo em seguida o homem ajoelhou-se, esperando-a. Um abraço apertado.
- Achei que estivesse sentindo falta dela... E já que Maomé não vai à montanha, a montanha vem a Maomé. – disse, sorrindo e indo abraçar a namorada.
- Você é inacreditável. – Sussurrou, lhe dando um selinho demorado. – Oi, princesa! Senti saudades.
- Eu também, tia ! – a criança disse, abraçando o pescoço do pai. se aproximou e recebeu um beijo molhado e estalado na bochecha. – Eu ganhei um carro para a Barbie. Ele é rosa e brilhante!
- Ah, mentira?! – exagerou, rindo. a abraçou por trás, repousando o queixo em seu ombro. – Então precisamos brincar com ele o mais rápido possível! E dessa vez a Barbie Califórnia é minha, hein? Como o prometido!
- Tá bom! – riu, fazendo seus pequenos olhos fecharem-se. – O titio me pegou na escola, papai!
- Foi mesmo, filha? Anda sequestrando minha filha, então? – Joshua fingiu tom ameaçador, e todos riram. – Me diga que a Heidi sabe, pelo amor de Deus! Não quero ficar viúvo.
- É óbvio que ela sabe, idiota. – Continuou rindo, dando um beijo no ombro de . – E ainda recebi uma ameaça. Se Liebe chegar com um só arranhão em casa... – fez uma careta simulando dor, e gargalhou, virando o rosto e beijando sua bochecha; enquanto tinha as mãos entrelaçadas as dele. – Você vê, amor? Antes eu deixava todo mundo com medo, era o carrasco... Agora você me deixou assim.
- Ah é, ?! – olhou-o de soslaio, e o rapaz riu, balançando a cabeça em negação. – Eu sou um anjo, meu amor.
- Você é. – Disse, e piscou para Joshua; mas viu e lhe deu um tapa no braço. Ele gemeu em reclamação, e todos acabaram rindo, mesmo Liebe; que não entendera nada.

estava com o dedo indicador na campainha de Kyara, pronto para terminar, de uma vez por todas, seja lá o que tiveram. Não via a mulher há meses, mas continuava recebendo insistentes ligações e mensagens, e já estava cansado de toda aquela situação. Amava irreparavelmente, e jamais correria risco de perdê-la por Kyara.
E, bem, não podia mais deixar Kyara pensando que teria mais alguma chance.
Respirou fundo, pronto para a longa discussão que teria nos próximos minutos (ou horas), e tocou a campainha, finalmente.
A ruiva não demorou a abrir a porta, já que havia sido avisada pelo porteiro da visita de .
Sua feição não estava nem um pouco contente, mas também não era como se o quisesse matar no próximo segundo. Já era um ponto positivo.
- Espero que tenha vindo aqui para dizer que seja lá o que teve com terminou, e que finalmente está disposto a ter um relacionamento de verdade comigo. Caso contrário, pode dar meia volta. – deu um passo para trás, girando os calcanhares, e a mulher bufou. – ? Entra. – Deu os ombros, dada por vencida. O rapaz suspirou cansado e entrou em sua casa. Ela apontou para o sofá, mas ele negou. Queria ser o mais breve possível. – Fala de uma vez.
- Kyara...
- Sem floreios, . Somos adultos. – Cruzou os braços, encarando-o.
- Eu pretendia ser mais sutil, mas já que quer assim. – Deu os ombros, torcendo o lábio. Dane-se. Ele podia ser a melhor pessoa do mundo, mas quando estalasse os dedos poderia ser a pior, também. Contudo, ao ver o olhar de Kyara baixar, ele respirou fundo. Gostava da mulher. – Estou com .
- Não acho que isso seja algum tipo de novidade...
- E eu a amo.
- Bom, isso é uma novidade. – Riu sem realmente achar graça, puxando a cadeira ao seu lado e sentando-se.
- Kyara... Só aconteceu, eu não previ nada. Não pude controlar...
- O que ela tem? – ergueu o rosto, voltando a fitá-lo. – O que a difere de mim? É o cabelo? Porque eu posso pintar. O jeito? Eu posso mudar. O que ela faz? Eu faço também! ...
- Kyara, pelo amor de Deus. Não se humilhe dessa forma. – Franziu o cenho, incrédulo. – Não se trata disso... É muito além. Não tem explicação! – deu os ombros, vendo-a engolir a seco. – Você é uma mulher incrí...
- Para! Para, ! Se eu fosse incrível você estaria comigo, e não com ela.
- Incrível. – Completou seu raciocínio anterior. – Mas não pra mim. é... – procurou as palavras, mas não as encontrou.
- Uma vadia. Uma vadia que te roubou de mim. Uma vadia que nem se importou em perguntar se você tinha alguém... Um vadia que te enfeitiçou.
- Sei que está nervosa, mas é melhor medir suas palavras...
- Ótimo. Me oferece uma régua? – zombou, levantando-se. – Vai embora. – Caminhou até a porta, abrindo-a. Ele suspirou, rolando os olhos e caminhando até a mesma. – Mas se você acha que isso realmente terminou, , você está irrevogavelmente errado.
- É o que veremos. – Ele disse, dando os ombros novamente e passando pela porta. Ouviu o pedaço de madeira estrondar atrás de si e apertou os olhos, respirando fundo. Ao menos havia colocado o ponto final.
Ou esperava, profundamente, que tivesse.



- Ah, meu Deus! Isso é tão incrível! – sorriu animada, levantando-se e indo abraçar Lily e James. Os dois casais estavam na casa de . – Mas... Dez meses?! Vai ser uma loucura, imaginem só organizar um casamento em dez meses!? – riu, separando-se da amiga.
- Eu disse pra eles que é loucura. – disse, dando os ombros. se sentou ao seu lado e ele passou o braço por corpo, puxando-a mais para perto.
- Ah, para, ! Não é tão difícil assim, e vamos ter a ajuda dos nossos pais. – Lily sorriu, com os dedos entrelaçados aos do noivo. se enrijeceu ao ouvi-la citar a família e a mulher pareceu perceber, porque pigarreou, balançando a cabeça. – E além do mais, não será nada grandioso, só queremos... Oficializar isso. – Sentiu James beijar sua bochecha e riu.
acompanhou a cena e não deixou de sorrir apaixonadamente. Eles se amavam, e por mais tempo que tenha demorado para que ficassem juntos, havia acontecido e agora parecia ser o tempo ideal. rodeou o dedo em seu braço, fazendo círculos imaginários e ela riu, abaixando a cabeça.
Acontece que, nos últimos dias, o rapaz havia se tornado algum viciado em sexo ou como era mesmo a palavra? Ah, ninfomaníaco.
Lily e James continuavam a falar, mas palavra nenhuma mais parecia fazer sentido a seus ouvidos. subiu a mão que antes estava acariciando seu braço para sua nuca, afagando-a com uma calma quase inocente. Ela sentiu os membros arrepiarem-se e resfolegou, levantando-se depressa. Ele a olhou confuso, mas logo riu... Uma risada que transbordava malícia.
- Eu vou ao banheiro. – avisou, engolindo a seco e saindo.
Ao chegar no local, olhou-se no espelho e não teve outra reação a não ser rir. A que ponto havia chego? Um toque... Somente um toque, e lá estava ela, sedenta por tê-lo novamente. Desejando se tornar mais uma vez dele.
Como se ainda não fosse completamente... Outra risada saiu de sua garganta e ela ligou a torneira, deixando as mãos em concha para logo após jogar uma quantidade satisfatória de água no rosto e nuca.
respirou fundo duas vezes e abriu a porta e saiu do banheiro.
- Finalmente! – Lily disse, sentando-se mais para frente no sofá. – Senta, , que queremos te pedir uma coisa!
- É? – ela sorriu, voltando a se sentar ao lado do namorado, mas agora um pouco mais distante. Pôde ouvir a risada dele, no entanto. Maldito.
- Bom... Você nos ajudou muito, foi peça fundamental para que eu e James voltássemos...
- Eu que o diga! – James disse, rindo. – E para de enrolar, amor. Eu e Lily queremos saber se você e o querem ser nossos padrinhos de casamento.
e se entreolharam surpresos e riram. Em qual mundo paralelo eles negariam aquilo aos amigos? Não deveria ser um pedido, mas, sim, um comunicado.
- Acredito que minha agenda estará disponível para o dia, o que você acha, ? – brincou, passando um olhar sofisticado. Todos riram.
- Tenho que fazer o mesmo. Minhas assistentes do Ministério entrarão em contato com vocês, para respostas mais concretas. – James rolou os olhos e jogou uma almofada no amigo, enquanto o via gargalhar. – Seu filho da mãe, é claro que aceitamos! Obrigado! – se levantou, estendendo a mão ao amigo, que a aceitou prontamente e o puxou para um abraço. também se levantou e os abraçou.
Aquilo era incrível.
Lembrar-se de Jane e Max foi inconsciente, e quando percebeu, já havia o feito.
Ela olhou para ao seu lado e sorriu, vendo-o conversar com James.
Algum dia ele a pediria em casamento? Algum dia aqueles seriam os papéis invertidos? Algum dia ele seria capaz de assumi-la para quem quer que fosse? Algum dia a libertaria, de todas as formas possíveis? Algum dia teriam um relacionamento normal?
não sabia.
Mas, naquele exato momento, não importava. Ela segurou sua mão e beijou seu rosto carinhosamente. “Algum dia” eles saberiam o que viria a seguir... E enquanto isso não acontecia, viveriam cada dia de uma vez.
Os amigos ficaram na casa de por mais alguns minutos e logo foram embora, alegando terem outras casas para visitar e avisar sobre o casamento. Eles tinham sido os primeiros a saber, como de costume.
estava encostada à parede, com os braços cruzados, enquanto o namorado terminava de fechar a porta. Ela sorria, observando-o. Duvidava do dia em que fosse se acostumar à sua beleza. O rapaz girou os calcanhares, virando-se para encará-la. Os dois riram, sem dizer uma só palavra.
O casal havia descoberto essa mania há cerca de um mês; encaravam um ao outro, num silêncio cômodo, somente observando-se. E, por mais incrível que fosse, sabiam o que estavam pensando. A ligação que tinham ia muito além de palavras, do físico... Era como se pertencessem um ao outro antes mesmo de se conhecerem.
- Eu te amo. – sussurrou, descruzando os braços e erguendo a mão, chamando-o.
Aquele “eu te amo” era muito mais do que três palavras banalizadas. Eles realmente sentiam o forte significado. O amor... O amor lhes dizia tanto. Era sinônimo de libertação. De felicidade. Não tinham dúvida de que aquele sentimento movia o mundo, em todos os sentidos. Se há alguns bons meses dizia que o ódio era o sentido de tudo, hoje via que não poderia estar mais errada.
O amor nos alimenta, nos ergue, nos guia.
E ali, na sala de , só se via sendo guiada pelo seu coração. O rapaz segurou sua mão e a puxou suavemente para si, colando os lábios em sua testa, como estavam acostumados. Ou, quase acostumados. Para ela era como sempre a primeira vez.
- , se existisse algo maior do que um “eu te amo” para lhe dizer, eu diria. – Disse no mesmo tom, erguendo os braços e segurando seu rosto entre as mãos. – Mas enquanto ainda não o descobrem... – sorriu, acariciando suas bochechas com os polegares. – Eu te amo.
A garota piscou longamente e apertou o abraço em sua cintura, enquanto sentia o coração saltitar em seu peito. Os olhos encheram-se de lágrima inconscientemente e ela riu, encostando suas testas. O amava tanto que até temia o futuro... Temia não tê-lo em seu futuro. Temia viver num mundo sem . Temia perdê-lo assim como perdera tudo em sua vida.
- Fica aqui. – Roçou seus narizes, e o viu sorrir. Ele sabia muito bem do que ela estava falando, porque aquele já havia sido um dialogo muito usado pelos dois no decorrer desses meses que estavam juntos.
- Eu sempre vou estar. – Fechou os olhos e encostou os lábios aos dela, somente sentindo-os juntos ao seu.
(Play 1!)
- É oficial, . – Sorriu, ainda com os lábios dele contra os seus. – Estamos perdidos. – Subiu o olhar, olhando em seus olhos.
- Tenho que discordar, . Acho que sempre estive perdido e então finalmente encontrei o caminho certo. – Riu, finalmente beijando-a.
O beijo começou de forma singela e carinhosa, com o toque conhecido de suas línguas e o movimento gentil dos lábios. Contudo, a medida em que desceu a direção das mãos e subiu as suas, o beijo tomou maiores proporções. O rapaz deu alguns passos e a prensou contra a parede, afastando seus lábios e sorrindo malicioso para ela; que riu, jogando a cabeça para trás. Ele começou a beijar seu pescoço, enquanto se decidia entre deixar as mãos espalmadas em seu bumbum ou se as subia em direção aos seios.
- ... – sussurrou, erguendo a camisa dele e arranhando suas costas. O rapaz negou, ainda beijando seu pescoço. Ele sugou um pedaço de pele e fechou os olhos, apertando-os, enquanto segurava o lábio inferior entre os dentes.
- Quietinha. – Disse, no mesmo tom. O homem ergueu o rosto, olhando em seus olhos. – Quando for para falar, eu aviso. – Sorriu de lado, puxando seu lábio com força. sentiu-se contorcer-se internamente e levou as mãos aos cabelos do namorando, trazendo seu rosto para si e beijando-o com toda a paixão e tesão que sentia no momento. Não soube se conseguiu, contudo. Amava aquele homem mais do que sua simples e inocente mente poderia medir, e o desejava da mesma forma.
A pressão firme dos lábios de contra os seus a fez ver estrelas, e sentiu que jamais havia estado mais excitada quanto no momento. Aquele era o ápice do amor de ambos, e o jeito de como o namorado estava. A malícia na voz e o modo como ordenava cada passo, como um verdadeiro líder... Ah, havia acabado de descobrir que amava aquele . Aquele, que se parecia tanto com o que havia conhecido no Ministério há pouco mais de um ano. Agora sabia que não era sobre odiá-la, mas por amá-la. Não se tratava mais do que de uma brincadeira e, se ele soubesse o quanto ela estava amando brincar, teria descido ao playground antes.
desceu uma das mãos até a altura de seu shorts jeans e o desabotoou, descendo o zíper logo em seguida. Vendo que estava em desvantagem, subiu sua camiseta e a tirou, não deixando de acariciar cada parte de seu tórax enquanto fazia isso. Ela passou a beijar todo seu peito, roçando os dentes no mesmo, vendo-o sussurrar palavras desconexas. Ah, se ele soubesse o quanto aquela extensão era apreciada pela garota, certamente desfilaria por aí o dia inteiro sem nenhum pedaço de tecido cobrindo aquela obra divina.
o sentiu subir sua camisa também, e tirá-la numa fração de segundo; sendo tão rápido que nem a própria viu quando a peça foi parar no meio da sala. O olhar que lhe foi lançado seria capaz de fazê-la ter um orgasmo, caso não tivesse se segurado e fechado os olhos, apertando-os com força. pareceu perceber o porquê de sua atitude e umedeceu os lábios, olhando-a ainda mais intensamente. Ele chegou próximo a sua orelha e mordeu seu lóbulo levemente, fazendo com que o corpo da mulher se arrepiasse por completo. Ela ofegou e jogou a cabeça para trás, sentindo as pernas fraquejarem, e, como se não bastasse somente a troca de olhares, o maldito ainda a fez virar-se de costas, passando a beijar todo o seu ombro e extensão do mesmo. espalmou as mãos na parede e empinou o quadril, grudando a testa na superfície fria.
A garota ouviu o seguinte momento em que abriu seu botão e desceu o zíper, assim como a calça. Um arrepio de tensão tomou seus corpos e arranhou a parede, inutilmente. O rapaz enterrou o rosto em seu pescoço, dentre os cabelos. Suas mãos guiaram-se para as costas da namorada, desabotoando seu sutiã e o tirando com rapidez, passando por seus braços; acariciando-os levemente. No próximo segundo, as mãos que antes estavam em suas costas, já envolviam os seios dela, apertando-os sem medir força ou cuidado. gemeu baixa e longamente, ao mesmo tempo em que sua cabeça pendia para trás, apoiando-a no ombro do outro.
brincou com os bicos de seus seios com os dedos, apertando-os e roçando-os na palma das mãos. Com isso, passou a descer a direção de seus beijos por toda as costas – que já transpiravam levemente – dela, não se esquecendo de qualquer pedaço de pele do local. Ele soltou sua carne e deslizou as mãos por sua barriga, enquanto descia ainda mais os beijos. Ao chegar em seu quadril, mordeu seu bumbum, fazendo-a gemer num misto de prazer e risadas. Oh, um ótimo lugar para se sentir cócegas, . sorriu abafado contra sua pele, e raspou os lábios pela lateral de seu corpo, ajoelhando-se no chão. Suas mãos finalmente chegaram ao ponto desejado e não teve outra reação a não ser voltar a virar o corpo dela para frente, encarando seus olhos desejosos. Eles brilhavam excitação e o rapaz conseguia ver lágrimas ali, lágrimas de prazer, de ansiedade, de... pura e simples paixão.
- Ah, ... Você me deixa louco. – Sussurrou, contra sua parte interna da coxa. A mulher não deixou de sorrir maliciosa, mordendo o canto do lábio inferior. Amava a voz rouca do homem quando estava nas preliminares. E amava ainda mais o que ela lhe dizia.
Os lábios de voltaram a subir por sua coxa, agora somente provocando-a, deslizando e resfolegando sobre a pele arrepiada. Contudo, tão calmamente como começou, no mesmo segundo acelerou os movimentos. Num segundo, beijava sua virilha, no outro, desceu sua calcinha, fazendo-a engolir a seco e cravar as unhas em seus ombros. O tecido chegou à altura de seu joelho e ela ergueu uma perna de cada vez, retirando-a por completo. O sorriso cruel que o namorado lhe deu foi o bastante para que ela sentisse as pernas cederem novamente, e ele a ajudou, segurando com força na parte de trás de suas coxas.
- ... – implorou, imaginando o que viria a seguir. Ah, droga, ela queria tanto aquilo, mas sentia tanta... Oh, ela nem conseguia se lembrar da palavra certa. Não quando passou a língua sem pedir permissão por toda a extensão de sua intimidade. resfolegou, jogando a cabeça para trás, apoiando-a na parede.
- O que eu disse sobre não falar nada até que eu permitisse? – questionou, com uma sobrancelha erguida e os lábios umedecidos por sua língua. Ah, merda, era possível ter um orgasmo somente com uma visão? – Boa menina, . – Sorriu cruel, beijando todo o seu ventre, mas nunca chegando aonde ela realmente queria. Bom, esse pensamento ocorreu alguns segundos antes dele lhe penetrar um dedo, e o mesmo deslizou com tanta facilidade, que ele não conteve um gemido também. o imitou, afagando com força seus cabelos. – Ah, merda... Você tá tão pronta pra mim, amor. – Sussurrou em tom sofrido, parecendo falar mais para si mesmo do que para a outra. E, antes que ela tivesse tempo de pensar em respondê-lo, foi calada novamente pela boca do homem no centro de seu corpo, agora sem mais delongas ou brincadeiras. A língua fez pressão contra o clitóris e os dedos foram lhe fazer companhia, tocando-a sem medir esforços. Os gemidos que saíam por sua boca já eram incontroláveis e ela tinha certeza de que entraria em combustão em algum segundo muito próximo, iria explodir em mil pedaços, não havia duvidas quanto a isso.
- ...! – gemeu, mordendo o lábio com tanta força, que sentiu o exato momento em que o sangue entrou em contato com sua saliva.
pareceu perceber sua ansiedade, porque no próximo segundo, tirou a língua de seu ponto principal e sugou toda sua entrada, fazendo-a arquear as costas e puxar seus cabelos, com força. Após alguns segundos, ele a soltou, passando a rodear a língua por toda a extensão, brincando... Brincando. Oh, certo, aquela era a hora em que se arrependera de ter descido ao playground.
Contudo, como uma miragem de muito mau gosto, a garota sentiu a boca de a abandonar e abriu os olhos, arregalando-os. Ele se levantou, sugando o próprio dedo; que antes estava nela.
- Filho da puta! – disse, esganiçada. Como ele ousava parar naquele momento? Não se tratava só de... De... Ah, como era mesmo que as palavras se formavam? Ela não conseguia mais se lembrar. Estava excitada e frustrada demais para isso.
- A brincadeira terminou, vamos fazer isso de verdade, . – Murmurou rouco, tirando a própria cueca boxer e virando-a novamente contra a parede, sem ao menos esperar que ela protestasse. No entanto, diferente do que pensara, ela não parecia querer seguir o roteiro, já que levou uma mão para trás, segurando seu membro. Ele resfolegou, olhando na direção. – ... – gemeu, voltando a enterrar o rosto em seu pescoço, tirando os cabelos do caminho e beijando sua nuca.
- Não aguenta brincar mais? – provocou, fazendo movimentos mais rápidos e intensos com seu membro, vendo-o arfar contra seu pescoço. Ele levou as mãos aos seus seios, e ambos gemeram no mesmo segundo. Ninguém aguentava mais.
pareceu perceber isso, porque no mesmo segundo em que rodeou o polegar sobre a ponta de sua ereção, ele tirou sua mão dali. Engoliu a seco e a manuseou sozinho, posicionando-a na entrada da namorada. Ele soltou-se por um segundo para ajudá-la, abrindo um pouco suas pernas, e a penetrou devagar, centímetro por centímetro. A posição era tão inusitada que nem o próprio conseguia raciocinar direito, enquanto segurava o quadril dela com força. voltou a apoiar a testa na parede e entreabriu os lábios, sentindo-os secos. Os gemidos começaram a escapar sem pedir permissão de ambas as partes. se retirou quase que por completo e voltou com mais rapidez e força. Uma de suas mãos encontrou a intimidade de novamente e ela apertou os olhos, dizendo, ou gritando, alguns palavrões. Ele riu contra sua nuca, dando leves mordidas no local. Sem ter onde depositar sua energia, voltou a arranhar a parede, ao mesmo tempo em que o homem começava a aumentar o movimento de suas investidas. Cada vez mais rápido, mais preciso, mais forte. Gemidos mais altos, mais longos, entrecortados. O suor já descia por suas costas, e umedecia seus corpos, fazendo que deslizassem cada vez mais. E, algum tempo depois, nenhum deles soube quando exatamente; mas os dois corpos entraram em combustão, ao mesmo tempo, pela primeira vez. mordeu com força o ombro da garota e ela socou a parede, tamanha a intensidade do orgasmo que apoderara seu corpo.
O único barulho que poderia ser ouvido na sala era de suas respirações ofegantes, tentando retomar o ritmo correto. Ambos estavam com sorrisos bobos e satisfeitos no rosto.
Oh, sim. O melhor orgasmo da vida nunca se esquece, não é?
- Eu acho que esqueci de dizer, amor... – disse, ainda ofegando. – Mas você já podia voltar a falar. – Riu, vendo-a rir também e lhe mostrar o dedo do meio, apoiando a testa na parede.
Ela já havia voltado a falar há muito tempo.
Ou a gritar.


(Play 2!)

já encarava a estrutura de aço a sua frente há cerca de cinco minutos, sem dizer uma só palavra. Ela passava os dedos por toda a extensão da máquina, enquanto não tirava os olhos dela por um só segundo. Seu olhar era perdido, como se estivesse em outra dimensão.
Talvez estivesse, de fato.
estava logo atrás, a alguns passos de distância; observando-a.
- A máquina do futuro. – Sorriu fraco, um tanto sarcástica. analisou suas expressões e conseguiu enxergar exatamente aquilo que esperava... Nada. Ela não expressava sentimento ou emoção alguma. E temia o que quer que estivesse se passando por sua cabeça no momento.
- A famosa Ironm4x. – Deu os ombros, colocando as mãos nos bolsos da calça. o olhou brevemente e sorriu de lado, voltando a olhar a máquina à sua frente.
- Eu passei quase sessenta anos nessa... Coisa. E não me lembro de exatamente nada. Isso não é...?
- É, . Isso é. – Abaixou levemente a cabeça, observando-a com o olhar alto. Ele sabia exatamente o que ela queria dizer, e não encontrava as palavras certas. – Seria egoísta demais pensar que essa máquina te trouxe para mim?
riu baixo, ainda passando os dedos pela extensão da Ironm4x. Analisando cada detalhe. Ela balançou a cabeça, virando-se para encará-lo, finalmente.
- Você foi a única coisa boa que essa máquina me trouxe, . Ela me tirou tudo... Tudo. Você consegue entender?
Doía. Doía, mas ele conseguia entender plenamente. Sempre soube que seria assim, afinal. nunca estaria completamente satisfeita ao seu lado. Não quando o passado ainda a prendia, não quando ela achava que o passado continuava lá; nos Estados Unidos, exatamente como nos anos cinquenta. Não importava o quanto ele tentasse; sua cabeça sempre estaria verdadeiramente procurando respostas.
- Eu sinto muito. – Foi a única coisa que conseguiu dizer. Era sincero, e ela tinha certeza disso.
- Quando estive aqui, há quase cinquenta e nove anos, eu ainda era uma menina... Uma menina cheia de desejos e defeitos. Me prenderam nessa máquina sem ao menos que alguém que eu conhecesse soubesse. Me enclausuraram aqui por uma vida, . – Sua voz se tornou embargada e ele suspirou, sem saber o que fazer. Os olhos dela brilhavam com as lágrimas. – Me tiraram o direito de fazer as minhas próprias escolhas, me tiraram o direito de envelhecer ao lado de quem amava, me tiraram tudo o que eu tinha. – Fungou, passando as costas da mão pelos olhos. O choro estava se aproximando, e ela olhou para cima, inspirando fundo. – E se essa porcaria nunca tivesse existido, ? E se eu estivesse com setenta e oito anos e realmente aparentasse essa idade, ainda ao lado de Jane, Max, e Adam? Como seria a minha vida hoje? Eu nunca vou saber... Nunca vou poder saber o que aconteceria. E se meu pai não houvesse descoberto sobre a Ironm4x? E se eu não tivesse dito aquela maldita frase e Yan não encontrasse a ideia perfeita para acabar tudo isso? E se...
- São muitos “e se”s, . – riu sem humor, se aproximando da garota. – “E se”s que nunca se concretizarão. Você nunca saberá, infelizmente. E me desculpe o pleonasmo, mas o passado ficou para trás. Se essa máquina não tivesse existido, você não estaria aqui. Se você tivesse setenta e nove anos e aparentasse a idade junto dos seus amigos e noivo, provavelmente estaria nos Estados Unidos, sentada numa cadeira enquanto assistia a algum programa de TV com seu marido. – Sorriu sarcástico e ela franziu o cenho. – E se tudo isso tivesse acontecido, eu provavelmente estaria tendo uma vida normal agora, . – Seu tom foi frio e ele deu os ombros, com o mesmo sorriso irônico no rosto. Virou-se de costas e começou a andar até a porta. Estava ressentido.
- . – Sua voz saiu tremida e fraca, como há muito tempo não era. Ele parou de caminhar, mas continuou de costas. – Eu não tenho culpa. – Sussurrou, num ofego, em meio ao choro.
engoliu a seco e fechou os olhos, apertando-os. Ele estava sendo um imbecil. Era o seu passado... E ela tinha o direito de se lembrar. De saber.
Seus calcanhares giraram-se no sentido oposto e ele balançou a cabeça, olhando-a.
- Me desculpa. – Sussurrou, voltando a andar, mas agora em sua direção. – Desculpa, desculpa, desculpa, meu amor. – Colocou seu rosto entre as mãos, beijando sua testa como habitualmente. Ele sentiu seu rosto molhado e fechou os olhos, apertando-os. Como desejava vê-la realmente feliz. – Eu te amo tanto, . E eu sinto muito por tudo. Se houvesse um modo de reverter... Eu juro. – Sorriu fraco, olhando-a. Um nó começou a se formar em sua garganta e ele pigarreou. – Eu juro que te levaria de volta para os anos cinquenta, se isso te fizesse feliz novamente. Eu juro que te entregaria nas mãos de Adam, John, Jane ou quem quer que fosse, desde que soubesse que você ficaria protegida e bem. Eu te amo tanto que deixaria que você partisse, somente por saber que você estaria assim como deve ser. – Ela soluçou, roçando seus narizes, e ele sorriu fraco. Não ia chorar, não ia chorar... Repetiu como um mantra, logo inspirando fundo. – ? Está me ouvindo? – ela assentiu, olhando em seus olhos. – Eu vou te fazer feliz de novo, eu vou... – suspirou, resignado. – Confia em mim.
Mesmo que isso custe a minha felicidade.




Capítulo XXXIV


Músicas do capítulo: Earned It – The Weeknd. (1)
Gabrielle Aplin – Salvation. (3)

- Aéreo ! – chamou, em meio à risadas, enquanto colocava outra batata frita na boca. – Você anda mais pra lá do que pra cá nessas ultimas semanas, tem notado?!
- Tenho? – sorriu fraco, observando-a. Ele sabia que estava assim, e pior; sabia o porquê que estava assim. – Devo pedir desculpas à senhorita, então. Desculpa. – Sorriu mais abertamente, pegando uma batata de sua bandeja. Ela entreabriu os lábios, incrédula, e deu um tapa em sua mão. – Que egoísta, . – Estalou os lábios, jogando algumas batatas na boca.
- Você que é um olhudo. Acabou com suas batatas e quer comer as minhas agora. – Rolou os olhos, rindo e ouvindo-o rir também. – Ah, temos que comprar batatas! Me lembra. Eu sabia que estava esquecendo de algo. – Olhou para o carrinho de compras ao seu lado. – Ah! O sal, amor. Lembra que falou que o sal estava acabando?
- Você está se saindo uma ótima companheira de compras, .
- Eu sei. Eu sou a melhor em tudo o que faço. – Piscou, rindo. Ele somente riu, assentindo; parecendo estar longe. – Estou começando a ficar preocupada, . Vamos logo continuar essa compra antes que eu peça para que você mesmo se medique, hm? – brincou, levantando-se e levando o copo de refrigerante junto de si. – Tudo bem, tudo bem, pode pegar o resto das batatas. – Rolou os olhos, como se estivesse fazendo algum tipo de sacrifício. comemorou exageradamente e ela gargalhou, começando a empurrar o carrinho.
- Acha que é seguro dizer que Eva e Peter estejam tendo algum relacionamento? – ele disse, andando ao seu lado, mudando de assunto.
- Mm, talvez... Ah! A quem quero enganar? – riu, pegando uma embalagem de café; lendo-a. – Se não ficarem juntos, são dois idiotas. Eles estão apaixonados! – deu os ombros, colocando a embalagem no carrinho. – Você gosta de chocolate em pó?
- E desde quando você se tornou uma conselheira amorosa, mulher? – riu, assentindo ao olhar para o chocolate em suas mãos. Ela o colocou no carrinho. – Dois corredores à esquerda. – Instruiu e ela assentiu, voltando a empurrar o carrinho como se aquela fosse a maior diversão que já tinha tido nos últimos tempos.
- Eu sou uma boa conselheira, seu chato. Meu lema é: você deve apenas seguir seu coração. Sempre.
- É um bom lema. Um ótimo, na verdade. Eu devo agir dessa forma, também?
- É óbvio! Siga seu coração e eu estarei lá, querido. – Piscou ao dizer a frase pronta e riu no mesmo segundo, a acompanhou; rindo também. . – Mm, batatas. Prontas ou para fazer? – ele lhe olhou parecendo óbvio e ela estalou os lábios, colocando as prontas no carrinho. – Certo, vou buscar o sal e é só...?
- Isso. Vamos passar no caixa, e... Já te disseram o quão lindo é o parque principal no inverno? – sorriu de lado e ela negou, enlaçando os braços em seu pescoço e sorrindo abertamente. – Me dá a honra de te acompanhar em sua primeira visita, então, senhorita ?
- Toda, doutor . – Sussurrou, roçando seus lábios e logo depois beijando-o. Beijá-lo, beijá-lo, beijá-lo... Ela poderia fazer aquilo mil vezes ao dia, e jamais se cansaria. Duvidava até que algum dia o frio em sua barriga se esvaísse ao sentir os lábios dele junto aos seus.
- Isso é tão legal! – gritou, em meio a risadas, enquanto tentava se equilibrar numa espécie de corrimão na guia da calçada da praça. observava a cena enquanto tomava seu café. – Ei, ?! – chamou em tom de deboche, como uma criança faria. Ele a olhou, sorrindo. tirou um pé do corrimão, tentando se equilibrar, como se fosse uma competição consigo mesma e uma forma de surpreendê-lo. Contudo, o vento pareceu não favorecer; já que o copo de chocolate quente que estava em sua mão escorregou, e ao tentar manter o equilíbrio das duas coisas, acabou caindo. correu até seu lado, esticando a mão para ajudá-la, mas a garota não tinha quaisquer força para aceitá-la. A risada alta ecoava pelo parque, e então ele finalmente pôde rir também. A cena havia sido hilária. – Eu o-d-e-i-o esse corrimão! – soletrou, apontando para o objeto. Suas risadas ainda eram altas, e as de ainda mais. Parece que alguém tinha o humor tardio... Ele acabou se sentando ao seu lado, apoiando os antebraços nos joelhos dobrados; com a cabeça baixa. – Você é um filho da puta, ! – pegou a toca que estava em sua cabeça e jogou na direção do namorado, mas ainda ria.
- Você é muito tapada, mulher. – Ofegou, se recuperando das risadas. – Deus, como você fez isso?!
- Deus eu não sei, mas, eu, foi porque quis me mostrar. – Brincou, e ele voltou a gargalhar, agora jogando a cabeça para trás; evidenciando seu pomo-de-adão. Ah, como ela o amava. O pomo-de-Adão e ele, claro. – A culpa é toda minha, admito. Mas você continua sendo um filho da puta por rir da sua namorada e não ajudá-la. – Apontou, com o dedo em riste. Ele finalmente se levantou, puxando-a junto e selando seus lábios num beijo rápido. – Mm, bom mesmo.
- Mole, . Você é muito mole. – Pegou a toca que continuava em sua mão e a colocou de volta na cabeça dela, com delicadeza. Deu um beijo em sua testa por fim, vendo-a sorrir de lado, um tanto maliciosa. – Eu juro que se você fizer alguma piadinha de duplo-sentido com “duro”, te levo para casa agora.
- Você é muito duro, . – Provocou, mordendo o canto do lábio. mordeu um sorriso, enquanto olhava em volta e dava meia-volta, puxando-a consigo.

mal estacionou o carro na garagem e já subia a escada de sua casa beijando , suas mãos passeavam de sua cintura para seu quadril. Ela riu, separando-se por alguns segundos para tomar ar. O rapaz aproveitou o espaço de tempo e abriu a porta de sua casa, entrando depressa e voltando a beijá-la.
- Sabe, ... – desgrudou seus lábios por alguns instantes, fazendo-o observá-la. – Acho que você estava certo quando disse que acabaria me transformando numa... Como é mesmo o nome? – fingiu pensar, enquanto mordia o lábio. apertou as mãos em seu quadril, trazendo-a mais para si. – Ninfomaníaca. – Sussurrou num tom rouco, e ouviu o murmúrio sofrido do namorado, começando a beijar seu pescoço.
- ... Você é uma pessoa horrível. – Cravou os dentes em sua pele e a ouviu ofegar, ao mesmo tempo em que sentiu suas mãos se embrenharem em seus cabelos; num misto de carinho e possessão.
- Você já disse isso outras vezes... – brincou, olhando em seus olhos e puxando seu lábio entre os dentes.
riu, subindo uma das mãos para sua nuca; embrenhando os dedos em seus cabelos e puxando-os com certa força, mas sem machucá-la. deu alguns passos para trás, sentindo a parede chegar. O barulho de suas costas contra a superfície dura a fez gemer em descontentamento. Ela acabou rindo, enfim, massageando a própria cabeça.
O namorado teve tempo para observá-la por alguns segundos e com isso, sorriu. Não era um sorriso malicioso ou debochado, era somente... Apaixonado. Seus olhos se encontraram e ela o imitou, sorrindo da mesma forma.
- Eu te amo. – Ele sussurrou, voltando a roçar os lábios pelos dela. – Eu te amo tanto, . – Continuou sorrindo, agora roçando seus narizes.
- Eu te amo um pouquinho, . – Segurou o lábio entre os dentes, passando os dedos pela lateral de seu cabelo; num carinho. – O que foi? – riu, vendo-o em silêncio. – Por que está me olhando desse jeito?
- Você é a melhor coisa que já me aconteceu. – ia fazer alguma colocação com “coisa”, mas parou no mesmo segundo em que viu a seriedade nas palavras dele. Franziu o cenho por alguns poucos segundos e logo em seguida sua expressão se desfez, transformando-se num sorriso ainda maior do que o anterior. Ela colou a testa à do namorado, ao mesmo tempo em que afagava seus cabelos. – E eu jamais falei tão sério em toda a vida.
- Você sabe que é totalmente recíproco, meu amor. Mas por que está dizendo isso? – sorriu fraco, erguendo a outra mão para acariciar sua bochecha com o polegar. Ele lhe sorriu, virando o rosto levemente e beijando seus dedos. – Você é a luz na escuridão que minha vida se tornou, .
E então ele voltou a encará-la, mas agora mais intensamente, quase como se a idolatrasse. voltou a beijá-la, e dessa vez não deixou de esperar por um segundo que fosse. Com um impulso, a colocou com as pernas em volta de seu quadril, começando a andar e subir as escadas; em direção ao seu quarto.
(Play 1!)
Dizem que sempre há um momento na vida em que você irá se lembrar eternamente, e de cada detalhe dele. E, naquele segundo, nenhum dos dois tinha dúvida de que aquele era um momento daqueles. Não sabiam exatamente o porquê, no entanto. Talvez fosse a troca de olhares intensa, as declarações há alguns minutos, ou somente por estarem juntos novamente; como um casal normal, sem qualquer outro empecilho. Ao menos ali, no quarto dele, enquanto o dia entardecia lá fora, eles eram apenas e , um casal como qualquer outro no mundo.
E para eles, não havia melhor colocação do que aquela. Um casal como qualquer outro no mundo.
desceu de seu colo e caminhou de costas até a cama, ainda sendo beijada por . Beijada daquela forma que amava... O melhor beijo que já tinha ganhado em toda sua existência. Sem dúvidas, cada um era melhor do que o anterior. tinha o incrível poder de sempre lhe fazer parecer melhor, de sempre... Amá-la ainda mais, e deixar transparecer isso em cada gesto como aquele.
Quando a parte inferior de seus joelhos tocaram a cama, ela se sentou, subindo o olhar para o de ; que continuava em pé. A garota começou a desabotoar sua camisa lentamente, botão por botão... Eles não precisavam de pressa. Não naquele momento. O namorado lhe sorria, ao mesmo tempo em que acariciava seus braços, passando as unhas curtas por toda a extensão do mesmo. Ao chegar no ultimo botão, passou a distribuir beijos pelo seu abdômen, assim como ele fizera com a própria em todas as vezes anteriores. As mãos dele seguiram para os cabelos dela, afagando-os com tanta delicadeza que poderia até ser considerada inocente, se não fossem às situações.
curvou o corpo, retirando a própria camisa sem muita dificuldade, jogando-a ao seu lado, no chão. Ele voltou a tomar o rosto de entre as mãos, beijando sua testa longamente, e retirando sua toca; colocando-a no criado mudo. A garota colocou as mãos na cama e engatinhou de costas, chegando aos travesseiros. O namorado a acompanhou, com um sorriso de lado. O calor começava a dar as caras, e sentiu a necessidade de retirar a própria camiseta; o que acabou fazendo em poucos segundos, jogando-a na mesma direção que a camisa do namorado. Eles sorriram assim que seus olhares voltaram a se encontrar, e mordeu seu queixo, raspando os dentes na pele; em alguns segundos, os lábios do rapaz já estavam em seu pescoço, trilhando uma espécie de rumo pelo local. Hora mordidas, hora lambidas, hora sucções. Ele diversificava as carícias, e a namorada já começava a sentir o conhecido frio na barriga. O corpo já estava completamente arrepiado, e sorriu com isso; era bom ver o que causava na garota.
Com ela, não era diferente, contudo.
O volume do homem contra a calça jeans já começava a esbarrar em sua coxa, e foi inevitável não morder o lábio e empurrar o corpo um pouco mais na direção do membro. enterrou o rosto na curva de seu pescoço com o gesto suave, porém cheio de malícia; soltando um suspiro um tanto sofrido.
Sem mais demoras, levou as mãos a calça dele, desabotoando-a e descendo o zíper, enquanto o sentia erguer levemente o quadril para que aquilo facilitasse a passagem. Não foi tão fácil, entretanto. Quando a peça já estava em seus joelhos, ele mesmo a retirou por completo.
Aproveitando a posição na beira da cama, buscou as pernas dela, pegando um pé de cada vez e retirando lentamente a sapatilha de cada um deles. Ao fazer isso, o massageou com cuidado, nunca perdendo o contato visual. prendeu o lábio inferior entre os dentes e se apoiou nos cotovelos, observando-o. O rapaz subiu as mãos pelas laterais de suas pernas até que chegassem ao topo, e com um beijo demorado em seu ventre, começou a desabotoá-la com uma calma invejável. A garota subiu o quadril e então ele pôde, finalmente, retirar a peça de seu corpo.
Agora de volta à beira da cama, ergueu uma das sobrancelhas e olhou num misto de malícia e carinho para a namorada; abaixou a cabeça e começou a distribuir beijos por toda a extensão de suas pernas nuas, subindo cada vez mais.
Lembrava da primeira vez que a teve, em seu quarto, no último e fatídico Natal, e jurou a si mesmo que algum dia ainda a beijaria por completo. Não esquecendo-se de um só centímetro, e era isso o que estava fazendo agora. riu, sentindo cócegas na parte interna das coxas e ele somente sorriu, continuando a distribuir beijos molhados em sua pele. Ao chegar na virilha, contudo, mordeu o lábio inferior e raspou os dentes pela lateral do tecido que ainda a cobria. Ela entreabriu os lábios, na tentativa de conseguir recuperar parte de seu fôlego; fora inútil, embora.
Mas, diferente do que pensara, não se demorou no local, já que voltou a subir a direção dos beijos, passando os lábios por toda sua barriga, não esquecendo-se de sequer algum pedaço. Mordidas também lhe faziam companhia, e com isso, ela fechou os olhos, umedecendo os lábios.
Ainda seguindo sua trilha, o rapaz parou ao chegar na altura de seus seios. Sem pestanejar, desceu uma alça de cada vez e levou uma das mãos às suas costas, desabotoando-o sem qualquer dificuldade. Alguns segundos depois – que não viu ao menos passarem, tamanho era seu transe –, o sutiã já estava fazendo companhia às outras peças de roupa, no chão, à beira da cama. ia dizer algo, no entanto, foi interrompida pelos lábios do namorado em seus seios, fazendo-a arquear as costas num susto. Suas mãos tomaram o rumo de seus cabelos, entrelaçando ali os dedos e puxando os fios. O arrepio que tomou sua nuca a fez ofegar depressa, ao mesmo tempo em que colocava uma das pernas em volta do quadril dele, tentando fazer com que o atrito de seus sexos fosse maior. não parecia estar com pressa, entretanto.
- Amor... – chamou, num gemido baixo. Ao sentir os dentes dele em seu seio, contudo, gemeu alto, jogando a cabeça para trás; apoiando-a na cabeceira da cama. – Por favor! – implorou, num ofego.
Parecendo entender o recado, lhe deu um último beijo no local onde se demorava, e assentiu. Olhando para baixo e começando a tirar a própria cueca. observou a cena e prendeu o lábio entre os dentes, se existia cena mais sensual do que aquela, ela definitivamente precisava vê-la ou ficaria hipnotizada pelo resto da vida. O homem voltou a encará-la, agora com os olhos mais sedentos do que nunca, e então ela o surpreendeu; invertendo os jogos.
Ou posições.
Num movimento rápido, acabou empurrando seu tórax, fazendo-o cair ao seu lado, e, logo em seguida, subindo em seu colo. Os cabelos desgrenhados caíam por seu rosto e seios, trazendo um ar ainda mais sensual do que a situação já permitia. Quando se recuperou do susto, finalmente, desconfiou que fosse gozar ali mesmo, como um virgem de dezesseis anos faria. Respirou fundo e pôde vislumbrar a vista de montada em si, mais mulher do que nunca. Uma de suas mãos se direcionou à coxa dela, apertando-a com tanta possessão que podia jurar que a deixaria roxa... Não importava agora. Os dedos da outra mão passaram a trilhar uma lenta e tortuosa trilha pela parte interior de sua perna, chegando ao centro de seu corpo – ainda coberto. A viu morder o lábio com força e foi inevitável não imitá-la. Ele a massageou por alguns segundos, ouvindo os súbitos gemidos e ofegos da garota. O tecido de algodão estava tão precariamente úmido, que o próprio não conseguiu controlar um gemido de seus lábios.
Vendo que ele poderia continuar ali por quanto tempo fosse, ficou de joelhos na cama e desceu a própria calcinha, ganhando um olhar de descontentamento de volta. Ele mesmo queria tirá-la. Demorou demais, querido...
Sem mais nenhum tecido em seus corpos, o olhar – que antes já era imensuravelmente erótico – triplicou a intensidade e era possível quase enxergar labaredas de fogos em meio à suas pupilas dilatadas.
- Quer que eu... – começou, mas ela o calou com um beijo. Suas línguas pareciam terem sido feitas exatamente para serem preenchidas, isso era fato, mas agora... Agora parecia ainda mais natural. Tudo parecia ensaiado, não como se estivessem cansados e acostumados à mesma coreografia, mas como se em toda a vida houvessem treinado mesmo que inconscientemente para que agora estivesse tão perfeito. A apresentação final no teatro principal.
Em meio ao beijo, sentiu seu membro ser envolto por uma das mãos de , e desgrudou seus lábios no mesmo segundo, passando a prestar atenção no que viria a seguir. Ela cerrou os olhos e entreabriu os lábios, provavelmente com o mesmo problema que ele estava tendo para recuperar o ritmo normal de respiração. voltou a se apoiar nos joelhos e direcionou o membro de até sua entrada. Um gemido escapou por seus lábios ao senti-lo invadindo-a, mas continuou fazendo-o lentamente, ao mesmo tempo em que jogava a cabeça para trás, com os lábios secos e entreabertos; ofegantes.
segurava suas coxas e erguia devagar o quadril, encontrando-a. Ele tinha certeza de que estava quase babando, literalmente, com a cena bem a sua frente. Quando os dois se tornaram um só, por completo, a garota voltou a olhar para frente, mais precisamente em seus olhos. Um palavrão rouco saiu pelos lábios de e ela sorriu, começando a rebolar em seu colo. O homem empurrou o corpo um tanto mais para frente, ajudando-a na fricção de suas intimidades. Os cabelos da garota já começavam a grudar em suas costas pela primeira camada fina de suor. Suas mãos estavam apoiadas no abdômen do namorado, arranhando-o e apertando sem qualquer vestígio de pena. Duvidava que ele fosse se importar, e, ela não podia estar mais certa.
- Cacete – xingou, ao sentir que ela o apertou internamente, talvez inconscientemente. E era por ser inconsciente que aquilo se tornara tão... Como era mesmo a palavra? Céus, ele havia até se esquecido. Com isso, esticou a parte superior do corpo, beijando e mordendo toda a extensão de seu pescoço; enquanto apertava e brincava com seus seios, com as mãos.
A dança de seus corpos podia ser coreografada, assim como o beijo. Cada movimento era simétrico e se encaixava por si só. rebolava e a penetrava. Hora mais rápido, hora mais devagar... Forte, depressa, devagar, cuidadoso, lento, depressa, forte...
Apesar de todo o erotismo da cena, não era como das outras vezes. Tinha algo diferente... Era como se estivessem fazendo completa e inteiramente amor. Não que das outras vezes não estivessem também, mas agora... Agora havia algo em seus toques, suas palavras, seus olhares. Como se seus corações houvessem, oficialmente, pertencido um ao outro; num jogo sem chance de retrocesso.
levou os dedos ao seu ponto mais sensível, estimulando-o. apertou os olhos e gemeu alto, enquanto curvava o corpo mais para frente; numa espécie de abraço com o namorado. Ele sorriu, continuando as estocadas; mas agora ainda mais próximo dela. Era como se fosse, literalmente, se fundir. Os dois corpos, num só. Rosto, tórax, abdômen, intimidades... Um só.
Mais alguns minutos de estímulo por ambos lados, e com um “você é maravilhosa”, acabou chegando ao ser clímax, explodindo em gemidos e ofegos. Não havia sido uma palavra suja, ou outro estímulo senão aquele em seu clitóris, mas, sim, suas palavras doces. O seu amor por ela a fez chegar ao seu máximo. Não demorou muito mais para que ele também chegasse, alguns poucos segundos depois; um urro escapou por sua garganta, fazendo-o apertá-la ainda mais em seus braços. caiu sobre seu corpo, apoiando a cabeça em seu peito.
Nenhuma palavra mais foi dita pelos dez minutos que se seguiram. afagava os cabelos da garota, enquanto a sentia inspirar e expirar longamente; tentando recuperar o ritmo da respiração. Vez ou outra, os dedos dela acariciavam seus braços num carinho delicado, mas que significava tanto.
Aquele não era um silêncio intimidador, incômodo... Era outro tipo de silêncio. Algum que se tem quando nem mesmos palavras são capazes de expressar o que aquele momento lhes dizia. Ia muito além de gestos, frases prontas ou qualquer coisa que fosse. A chuva branda começava a bater contra a o vidro da janela de seu quarto, e aquela era a trilha sonora mais propícia para aquela situação; deixando tudo ainda mais mágico.
Mágico...
Aquela era a palavra que, sem dúvidas, poderia chegar próximo de representar aquele momento.

Alguns minutos se passaram e com um olhar cúmplice, o casal se levantou e guiaram-se para o banheiro da suíte.
O banho não demorou mais do que quinze minutos, em meio a risadas de sobre quando o sabonete caiu no chão, ou o sorriso apaixonado de enquanto ela ensaboava seu cabelo; nas pontas dos pés. O rapaz retribuiu o gesto logo em seguida, passando a esponja macia sobre todo o corpo da namorada, não esquecendo-se de qualquer parte. No entanto, não eram movimentos maliciosos ou tendenciosos, mas, sim, extremamente carinhosos. A risada alta de sua garota ecoava pelo ambiente apertado do box, e era impossível conter o próprio riso. Ele se sentia feliz... Feliz pela felicidade dela.
E, por Deus, tudo o que o movia era fazê-la feliz.
Desligando o chuveiro, pegou a toalha estendida ao lado do boxe e antes que a própria se envolvesse; tirou a peça de suas mãos e a abriu, abraçando-a com a toalha. Ao sentir seus corpos tão próximos, separados por somente aquela toalha; ambos riram.
- Ai, meu Deus. – fez uma careta, enquanto voltava a ficar na ponta dos pés, lhe dando um selinho demorado. – Quanto amor e carinho! Tá me traindo, ? – brincou, vendo-o sorrir e negar; balançando a cabeça. – E o que fiz para merecer tudo isso? – sorriu de lado, tirando o cabelo molhado do rosto.
- Karma, lembra?
- Faz sentido... – beijou a linha de seu maxilar, mas ainda sem nenhuma malícia em seus gestos. – O que acha de... – beijou a ponta de seu nariz, fazendo-o rir, apertando-a ainda mais em seus braços. – Vermos um filme... – levou os lábios a suas bochechas, beijando-as longamente. – Tomarmos um chocolate quente... – sorriu, beijando sua testa. – E passarmos o resto da noite na cama? – e, finalmente, selou seus lábios rapidamente, num beijo estalado.
- Você não poderia ter sugestão melhor, .
- Eu sempre tenho boas ideias, querido. – Piscou os olhos assiduamente, como uma criança faria. Ele riu, pegando a outra toalha no boxe e enrolando sua cintura contra ela. – Ei? Eu te amo. – Disse de repente, sem mais sorrisos ou risadas. Disse por sentir vontade de dizer. Por não aguentar guardar aquilo no peito por mais um segundo que fosse.
- Eu te amo um pouquinho. – Brincou, sorrindo, puxando-a com um braço e beijando-a. Mas agora, mais intensa e apaixonadamente. Aquele beijo. O beijo que estavam “acostumados”, o beijo que lhes tirava o fôlego, o beijo que deixava o frio logo abaixo de seus estômagos prevalecer. O arrepio, o coração acelerado, a transpiração das mãos. O amor.

A luz dos abajures e da televisão ligada num filme de comédia eram as únicas coisas que iluminavam o quarto de , naquela noite de fevereiro. estava com a cabeça apoiada em seu peito, enquanto desenhava pequenos círculos imaginários em seu tórax nu. riu com uma cena qualquer do filme e apertou o abraço em sua cintura, trazendo-a ainda mais próximo de si. mordeu o lábio e olhou para cima, ainda sem chamar sua atenção, somente observando-o. Lembrava-se de uma conversa que tiveram há meses, sobre momentos felizes.
O momento mais feliz de suas vidas.
A luz forte da televisão refletia nos olhos e o sorriso do homem à sua frente. Aqueles olhos, aquele sorriso...
De repente, ele a surpreendeu; abaixando o olhar para o seu, fazendo-a sorrir na mesma intensidade. Seus olhares se intensificaram e ela depositou um suave e longo beijo em seu peito, sentindo-o afagar seus cabelos. Subiu a direção dos lábios e depositou outro beijo, agora próximo ao pescoço. Logo em seguida, um em seu pomo-de-adão. Depois, queixo; linha do maxilar; e, finalmente, lábios.
- Acho que esse é aquele momento, .
- Que momento?
- Que conversamos há meses... O momento em que queremos parar o relógio humano para que ele pause exatamente naquela hora, dia e ano. – Sorriu sem mostrar os dentes, enquanto passava o polegar pelos lábios do namorado, delineando-os. Ele franziu o cenho; ainda não entendendo do que ela estava falando. – “Este é o momento mais feliz de toda a minha vida e gostaria de permanecer nele para todo o sempre”. – Repetiu a frase que havia dito no dia, e então ele compreendeu. Compreendeu exatamente o que ela queria dizer, porque era assim que se sentia também.
- Então quer dizer que ele aconteceu? Você estava errada, ? – ergueu uma sobrancelha; desafiador. O que sua garota havia dito havia sido incrível, mas não podia perder a oportunidade. Ela riu, balançando a cabeça e escondendo o rosto na curva de seu pescoço.
- É, não se pode estar certa cem por cento do tempo, . – Suspirou, sorrindo. – E você poderia dizer algo como: “ah, meu amor. É ótimo saber disso, porque é exatamente assim que me sinto também.” – Imitou uma voz masculina e ele não teve como não rir, ao mesmo tempo em que virava o rosto em sua direção e beijava sua testa longamente.
- Você tem alguma dúvida de que eu não me sinta assim também, ? Seja sincera consigo mesma. – Buscou sua mão ao seu lado e ela riu, mordendo o canto do lábio. Aquela frase.
- E é engraçado porque... Eu já tive centenas de momentos cheios de luxo, cercada por pessoas extremamente importantes da mídia e para mim, eu já estive até mesmo com Elvis Presley. – Ela arregalou os olhos e a sua voz saiu esganiçada. voltou a rir, observando-a. – E nenhum desses momentos chegou perto de significar tanto quanto este. – Seu sorriso diminuiu, se tornando ainda mais verdadeiro. – Obrigada por estar aqui.
- Eu sempre vou estar. – Sussurrou, roçando seus narizes. Ela riu, sentindo cócegas pela mão dele em sua barriga. – Um desejo.
- Mm?
- Um desejo. Para agora.
entortou os lábios, parecendo pensar. Ela fechou os olhos por alguns segundos, passando a sorrir fraco. Conseguia vislumbrar exatamente a cena que mais desejava. Não é como se aquele momento não fosse o suficiente, porque era. Definitivamente era. Mas se ela pudesse escolher algo mais... Se ela pudesse... Ser livre.
- Liberdade. – Abriu os olhos devagar, encarando os dele; que estavam tão confusos... Misteriosos. Como jamais haviam sido. – Queria poder ir à casa de Jane, sabendo que ela estava viva, é claro – sorriu, e não o viu fazer o mesmo –, e vê-la. Contar sobre você, sobre nós... Visitar Peter. O direito de ir e vir... Escolher o quê fazer... – riu, vendo a feição do namorado se tornar ainda mais séria. Como se estivesse distante. Tão distante. – ? Não é que você não...
- Eu sei. – Pareceu voltar à realidade e sorriu fraco, umedecendo os lábios. – Eu sei, querida. Não precisa explicar nada. – Balançou a cabeça em negação, ainda com aquele sorriso... Ela não conseguia entender o que aquele sorriso dizia. – Boa noite, meu amor. – Selou seus lábios num beijo rápido, arrumando-se na cama. franziu o cenho. O que estava acontecendo? abaixou a altura do travesseiro e virou o corpo na direção da namorada, abraçando-a apertado. E aquilo foi o suficiente para que ela pudesse respirar aliviada e abraçá-lo de volta, ainda carregando aquele sorriso bobo que estava acostumada a dar sempre que estava com ele. E, principalmente, sempre que dormia em seus braços.

(Play na 3!)
estava sentado na poltrona ao lado da cama há cerca de três horas; e acordado há seis. Não havia conseguido dormir por mais de dez minutos naquela noite. Não enquanto tanta coisa passasse por sua mente... A sua vida inteira passasse por sua mente.
estava de bruços, abraçando seu travesseiro; enquanto o edredom grosso a cobria. Ele sorria, ainda com o pensamento longe, mas sorria por vê-la daquele jeito... Como uma garota normal. Uma mulher como outra, sem qualquer história por trás ou passado para persegui-la e assustá-la.
Um ano e três meses... Um ano e três meses vendo aquele mesmo rosto, diariamente. Um ano e dois meses vendo seus sentimentos mudarem tanto, se tornarem completamente opostos e tão intensos.
O ódio e o amor. A indiferença e a paixão. A culpa e a alegria. A confusão e a esperança.
Ele havia enfrentado a tudo e todos por ela. Um por um. A si mesmo, Franz, avó, Kyara.
E enfrentaria o país.
O mundo.
Se aquilo a fizesse completa e inteiramente feliz...
Mas ela não seria feliz enquanto não se desprendesse totalmente do passado. Enquanto não deixasse o presente falar mais alto em seu coração. Ela tinha que saber, tinha que esclarecer todas as suas dúvidas, tinha que tirar as suas próprias conclusões. E para isso, precisava saber; precisava ver.
Por mais duro e difícil que aquilo fosse para ele, tinha que fazê-lo. Havia feito uma promessa, e agora cumpriria. Mesmo que aquilo lhe custasse a sua própria felicidade.

abriu os olhos devagar ao sentir a luz de início de dia começar a entrar pelas frestas da janela, e com isso, tocou o seu lado na cama; sentindo a falta de algo. Ou de alguém. Ela virou o rosto, ainda com sono, e o encontrou sentado na poltrona logo ao lado; na ponta da cama. estava com um sorriso fraco nos lábios, o cotovelo apoiado no braço da poltrona e o dedo indicador contra os lábios; observando-a.
- Bom dia, amor. – sorriu, dizendo com certa manha e rouquidão. não respondeu, mas fechou o sorriso no mesmo instante que algo pareceu lhe fazer sentido. – Amor? Está tudo bem? – se sentou, cobrindo-se com o lençol. O rapaz não lhe disse mais sequer uma palavra e ela franziu o cenho, confusa. – ?
- Ninguém tem o direito de tirar a liberdade de ninguém, . – Disse, passando a encará-la mais intensamente. – Quando meu avô te prendeu naquele fatídico dia em 1957, ele não tinha o direito. Quando meu pai lhe manteve em cárcere durante esses quase sessenta anos, ele não teve o direito. E eu, em 2015 – engoliu a seco, sentindo os olhos marejarem. entreabriu os lábios, ao mesmo tempo em que uma lágrima escorreu por seu rosto. Ele não... –, não tenho o mínimo direito de continuar com essa palhaçada. – Seu olhar se manteve firme, assim como a sua postura. Era como o de um ano atrás.
- Onde você está querendo chegar?
- Você está livre, . Está livre para pegar suas coisas no Ministério e ir para onde quiser, fazer o que quiser, com quem quiser. Está livre para ir atrás do seu passado e esclarecê-lo. Livre para voltar a ser inteira e verdadeiramente feliz. – E dessa vez, um pequeno sorriso apareceu em seus lábios. – Estou te dando a liberdade que você tanto deseja, . Estou te devolvendo o que lhe tiraram há cinquenta e oito anos. Está livre.



Capítulo XXXV


Música do Capítulo: Gabrielle Aplin – Salvation.


(Play!)
As palavras levaram alguns segundos até que fizessem realmente sentido nos ouvidos de . Tudo parecia acontecer num mundo paralelo, onde as laterais de sua visão estavam embaçadas e a única coisa que conseguia absorver era lhe dizendo aquele pequeno e tão significativo monólogo. O movimento de seus lábios parecia ser em câmera lenta, assim com o piscar demorado de seus olhos.
As palavras que esperara tanto para ouvir, e quando as ouvira, não sabia se realmente as ansiava tanto.
estava atônita, com os olhos arregalados e os lábios entreabertos; as mãos apertavam o lençol entre os dedos, com os punhos cerrados. Seu peito subia e descia numa velocidade impressionante, quase como ficava assim que fazia amor com o rapaz à sua frente. O rapaz à sua frente... Ele engolia a seco a cada segundo, parecendo tão nervoso quanto ela; mas com mais capacidade de controle.
- Por quê? – foi a única coisa que a sua voz frágil conseguiu dizer. Ela nunca pensou que receber aquela notícia fosse ser tão... Difícil.
- Por que eu estou te libertando, !? – sorriu sarcástico, parecendo óbvio. Ela balançou a cabeça, inspirando fundo.
Não era aquele o ponto...
- Por que está me libertando agora? – reformulou a pergunta, com a voz ainda mais embargada. se levantou, andando de um lado para o outro e ela se encolheu contra os travesseiros, sentindo outra lágrima rolar pelo seu rosto.
- Sabe, você deveria estar feliz – riu irônico, sentando-se na cadeira da mesa de seu computador, olhando para a tela. De costas para . – Estar agradecida...
- O que aconteceu, ? Por que essa decisão agora? Você não está fazendo sentido – se levantou, pigarreando; tentando afastar a voz fraca. Era inútil, no entanto.
- Estou te dando o que você sempre quis, ! – explodiu, batendo as mãos na mesa de seu computador e virando-se para encará-la novamente. Ele se levantou. – Estou te devolvendo o que te roubaram, sei que já é tarde, mas... Mas você voltará a ser feliz como era – sorriu de lado, e dessa vez conseguiu enxergar o brilho das lágrimas em seus olhos. – Irá reencontrar seus amigos, ter parte da sua vida de volta... Eu não entendo! É o que você quer!
engoliu a seco novamente e deu um passo para trás. O que eu quero é você, . O que eu quero é estar com você, seja onde for. Nos Estados Unidos ou na Alemanha, em 1957 ou em 2015. O que eu quero é que largue a sua vida por mim... O que eu quero é muito. O que eu quero é impossível.
Impossível.
- Eu só não entendo... – desviou o olhar do dele, sentando-se na cama. Ela estava com uma camisa do rapaz, e no momento se sentia tão... Nua. Nua fisicamente, nua internamente. Completamente exposta.
- O quê, ?! Por Deus! – gesticulou com os braços, aumentando o tom de voz. Quem não conseguia entender era ele. Ele estava se sacrificando por ela! Ela não conseguia enxergar? estava trocando a própria felicidade pela dela... Por Deus. Ele só queria vê-la bem.
- Sua avó... – sussurrou, voltando a sustentar o olhar. A garota abraçou os próprios braços, tentando proteger-se. – Você falou com a sua avó durante a madrugada! – acusou, vendo-o franzir o cenho; totalmente incrédulo. – É ela, não é? Ela está considerando me libertar somente para não me ver com você!
E, no próximo segundo, a risada incrédula e ligeiramente alta de ocupou o ambiente de seu quarto; surpreendendo-a.
- É engraçado saber que a essa altura do campeonato você acha que eu me importaria com o que a minha avó diria – buscou sua camiseta no chão do quarto, colocando-a. – Achei que me conhecesse mais, – sorriu sarcástico, apoiando as mãos nos quadris.
- Eu conheço! – disse depressa, sentindo a vontade de chorar voltar a ocupar sua garganta. – Meu Deus, . Eu te conheço mais do que conheço qualquer outra pessoa! Só não consigo entender por que agora... Por que quer me afastar de vo-você? – e dizer isso foi mais difícil do que planejara, pois na última palavra sentiu a voz falhar e parou no mesmo segundo; fechando os olhos e apertando-os.
inspirou fundo, olhando para cima. Vamos lá, você consegue manter isso até o final. O rapaz pigarreou, espantando todo e qualquer vestígio de choro.
Havia um jeito de fazê-la compreender... Um jeito que a faria, provavelmente, odiá-lo também. Mas ele tinha...
- Você cansou de mim? – começou, interrompendo seu raciocínio. – Você não me quer mais por perto, mesmo que tenha que passar por cima de todas as suas prioridades como herdeiro do Ministério, me deixando presa naquele lugar pelo resto da minha existência? – Ele voltou a franzir o cenho, mas agora mais incredulamente. – E eu prometi... – riu sem humor, ao mesmo tempo em que sentia as lágrimas escorrendo por seu rosto. Não iria mais segurar porcaria de choro algum. – Prometi que ficaria no Ministério em troca da liberdade de Peter, e eu cumpro com as minhas promessas. – E naquele momento, quis sorrir. Sorrir em meio ao choro e a confusão que se formava em sua mente. Ela estava arrumando todas as desculpas possíveis para fazê-lo mudar de ideia. Dessa vez, não, amor. – Eu não tenho mais ninguém e...
E aquilo foi o suficiente.
- Jane está viva.
Sua voz foi firme, alta o bastante para que se sobressaísse à dela, e, no segundo seguinte, pôde observar a confusão de sentimentos que se formaram em suas expressões.
Primeiro, os olhos arregalados; em surpresa. Depois, o cenho franzido; provavelmente não compreendendo o que havia escutado. Em seguida, os lábios entreabertos; olhos agora ainda mais marejados e finalmente o soluço de ofego, fazendo-a se sentar na cama, provavelmente pela falha de suas pernas.
pensou em se aproximar para ajudá-la, mas não o fez. Sabia que ela precisava pensar sozinha, ao menos naquele minuto.
Seu olhar estava perdido, observando o horizonte; enquanto os lábios entreabertos proferiam palavras mudas. Seu peito subia e descia assiduamente, como se ela tivesse acabado de correr uma maratona. As lágrimas escorriam de seus olhos sem qualquer permissão ou aviso.
- Eu soube há alguns meses... – começou, e apesar de estar ouvindo, não movia um só músculo. – Ela está viva, bem, teve filhos e netos... – disse baixo, com os braços cruzados. – Eu achei que o mundo fosse pequeno, , mas não achei que fosse tanto... Jane estava mais próxima do que esperávamos. Lily... – e, ao dizer o nome, sentiu o exato momento em que os olhos arregalados da garota passaram a encará-lo.
A semelhança; não somente física, mas internamente também.
Sua respiração voltou a faltar e seus ofegos ganharam ainda mais proporção. Seus olhos se encheram ainda mais e os lábios secaram.
- Neta.
- Neta.
Os dois disseram uníssonos, mas em tons completamente distintos. disse baixo, mantendo a calma impressionante que estava tendo desde o início da conversa. , pelo contrário, praticamente gritou; com a voz esganiçada.
A neta de sua melhor amiga estava ali, bem embaixo de seus olhos, durante todo esse tempo e ela não sabia. Havia achado as semelhanças incrivelmente assustadoras, mas jamais... A possibilidade, por Deus. Sua melhor amiga... Viva. Ela havia perdido mais tempo sem ela. Menos conversas, menos risadas, menos companheirismo. E ele sabia de tudo... Ele sabia quando a viu chorar tantas vezes dizendo o quanto sentia sua falta e a amava. Ele sabia quando a aconselhou dizendo que onde quer que ela estivesse, estaria com ela em pensamento.
Ele sabia durante todo o tempo.
E ela iria matá-lo.
Após um soluço de ódio, se levantou depressa e correu na direção de ; com os punhos fechados e sangue nos olhos, quase literalmente.
- Você sabia! – gritou, começando a distribuir socos e tapas por todo seu tórax e braços. Ele tentava segurar suas mãos, um tanto inutilmente. Não conseguia mensurar a raiva e frustração que a mulher tinha naquele momento. – Você sabia todo esse tempo e não me falou, ! – continuou gritando, em meio ao choro e mais tapas. – Você sabia o quanto ela é importante pra mim, seu filho da puta! – lhe deu um último tapa estalado no braço, enquanto dava alguns passos para trás, colocando o rosto entre as mãos. Ele inspirou fundo, tentando recuperar o fôlego, também perdido. – Você... – disse, com o dedo em riste, mas não conseguiu continuar. O nó em sua garganta era tão extenso que ela mal conseguia falar. – Eu não consigo acreditar que tenha me enganado por tanto tempo. Por quê?!
- Eu não te enganei, ! Enlouqueceu? Só foram motivos diferentes, em diferentes épocas, eu não podia te falar!
- Você disse que eu era a pessoa a qual mais confiava no mundo!
- E é! E é, . Mas eu não...
- Sobre o que mais mentiu, ? – fungou, passando as costas das mãos pelo rosto. – Sobre os sentimentos também? – deu ênfase, com um certo desprezo.
- Não seja ridícula, . Você realmente acha que eu não te amo?!
- Eu não sei mais de nada! – gritou novamente, gesticulando com as mãos. – Você escondeu que a minha melhor amiga estava viva, ! Mesmo sabendo o quão importante isso era pra mim! Você me viu chorar milhares de vezes, me martirizando pela saudade que sentia! Ela é a única pessoa que me resta, você não tinh... – e antes que terminasse a frase, viu a feição de se transformar. “É a única pessoa que me resta”. O homem primeiro a olhou incrédulo, e em seguida sorriu sarcástico, assentindo. – Não inverta os papéis... Eu sou a vítima aqui.
- Acho que essa conversa se encerra aqui, – virou-se de costas, caminhando até o guarda-roupa e buscando uma roupa para si mesmo. – Já esclarecemos tudo o que precisávamos. Veste alguma coisa e vamos para o Ministério, vou marcar uma reunião de urgência.
- Não tente inverter os papéis – repetiu; sua voz saiu mais fraca dessa vez, embargada novamente. Mas ainda com uma boa carga de raiva.
- Eu não estou invertendo nada – a olhou, parando na porta do quarto. – Não há um culpado nessa história, . Nós dois somos as vítimas – e assim se foi, fechando a porta atrás de si.
Simples assim.
ofegou uma última vez e se sentou na cama, colocando o rosto entre as mãos e deixando o choro vir com força dessa vez.
Seu mundo voltaria a ser o que era; com perdas, mas ela finalmente poderia voltar ao seu país e desvendar o seu passado.
Ela voltaria à sua vida.
Então, por que não se sentia feliz?

O caminho ao Ministério foi em completo silêncio. Nem mesmo o som aconchegante do som do carro lhes fazia companhia. A garoa lá fora e os suspiros longos dos dois eram a única trilha sonora da viagem. Aquilo estava tão distante do que estavam acostumados nos últimos meses... Os assuntos, as risadas, a música alta no rádio. Tudo estava distinto.
Tudo estava nublado, e ela não falava só do tempo.

Quando chegaram na sala de reuniões, todos já estavam apostos. Franz, Eva, Anette e Klaus.
- O que aconteceu de tão importante para marcar essa reunião, ? – Franz questionou, cruzando os braços.
- É domingo! – Anette resmungou, dando os ombros.
- ? – Eva pareceu perceber a retração de , e chamou. A garota estava no canto da sala, com os braços cruzados e a postura curvada; como se protegesse o próprio corpo. Seus olhos estavam úmidos e o rosto corado. – Querida, está tudo bem? – se aproximou, tocando em seu braço. Ela suspirou, balançando a cabeça.
- Diga logo, . Está nos deixando preocupados – foi a vez de Klaus falar, e inspirou fundo antes de começar.
- Bom, como todos sabemos; está aqui há mais de um ano. Um ano de testes diários, e... Eu não vou enrolar – balançou a cabeça, interrompendo a si mesmo. o olhou de soslaio e sentiu um nó voltar a tomar posse de sua garganta. Ele não estava como o herdeiro do Ministério, ao menos não fisicamente. Estava como , o seu ; usando calça jeans larga, uma camiseta qualquer e jaqueta de couro. Ela apertou os lábios numa linha fina e tentou desfazer o nó que travava sua garganta. Foi impossível, no fim. – Está mais do que comprovado de que a Ironm4x é, sim, um sucesso completo. E decidiremos; nem hoje e nem em um mês, mas em anos, o que fazer com esta máquina. Contudo, no momento, não vejo mais necessidade de manter conosco – e nesse segundo, um uníssono soluço de surpresa ocupou a sala. “?!” “, o quê?” “Mas...” “...?”; Seu nome era dito das mais variadas combinações, e ele pediu silêncio, gesticulando com as mãos. – Chega, chega. Está decidido. Não eram vocês os primeiros a decidirem libertá-la? Então, aqui está – apontou para a , que engoliu a seco. – A garota está livre – sorriu sarcástico, olhando-a de soslaio. – Reunião encerrada. Acertamos os detalhes de indenização, moradia e toda a burocracia amanhã – suspirou cansado e caminhou até a saída, deixando todos atônitos. Antes de fechar a porta, no entanto, lançou um último olhar para ; um sorriso fraco, torto...
O seu sorriso.
- Alguém pode me explicar o que está acontecendo? Por que eu acho que perdi algum capítulo – Anette se pronunciou, com o cenho franzido.
inspirou fundo, tentando organizar as palavras de . As formas como foram ditas. Duras, frias, cheias de sarcasmo e angustia.
- Todos nós. – Klaus riu irônico. – Espero que amanhã ele nos dê uma explicação mais...
- Cabível. – Franz continuava olhando para a porta, parecendo perdido. – ? O que aconte...
Antes que ele terminasse o raciocínio, a garota balançou a cabeça em negação, caminhando depressa até a porta e abrindo-a, passando a correr pelo corredor, em direção ao seu quarto. Eva resfolegou e não pensou duas vezes ao segui-la. Ao chegar no quarto da garota, a psiquiatra a encontrou de bruços na cama, com o rosto contra o travesseiro.
- Será que você pode me explicar o que está acontecendo? – pediu, fechando a porta atrás de si. ofegou e se virou, encarando a mulher.
- Não está claro? Estou livre, Eva. Livre – sorriu, mas não parecia nem um pouco feliz. Ou ao menos, não tanto quanto deveria.
- Parece que alguém se acostumou a essa vida, então – entortou os lábios, mordendo um sorriso. Ela deu alguns passos para frente, sentando-se na beira da cama. – Ou a quem estava lhe acompanhando nessa nova jornada...
- Por que ele está me mandando embora? É como se estivesse me descartando – questionou com a voz embargada, sentindo as lágrimas voltarem aos seus olhos. A psiquiatra sorriu fraternalmente, chamando-a com as mãos. – Não quero acordar num dia e saber que está há milhares de quilômetros – balançou a cabeça em negação, se aproximando da outra e encostando o rosto em seu ombro, sendo aconchegada por seus braços. – E isso parece tão errado... Porque estou sendo mal-agradecida. É contraditório. Há um ano, tudo o que mais queria era estar fora daqui, era ser livre, desbravar o meu passado... Até ontem, na verdade. E agora que tenho tudo isso a disposição, eu não sei... Eu não sei por que estou assim.
- Se não me engano, um dia alguém lhe falou que nos acostumamos com tudo nessa vida. E você se acostumou... Se acostumou a Alemanha, ao Ministério, as pessoas que convive aqui, a esse quarto, a ... E voltará a se acostumar aí fora, querida. Poderá ir para onde quiser, ver o que quiser... – sorriu, afagando seus cabelos. – Conhecer novas pessoas...
- Por que nada pode ser bom o suficiente? – soluçou, apertando os olhos. – Eu... Eu sei que é impossível, mas queria tê-lo comigo. É tão egoísta! – riu irônica. – Queria que ele largasse tudo isso e fosse comigo para Washington, que fosse me ajudar a buscar o meu passado, que estivesse... – parou de falar, não encontrando forças. Eva apertou seu abraço.
- Talvez ele só queira deixá-la tirar suas próprias conclusões, querida. Talvez queira que você não tenha mais qualquer coisa que lhe prenda aqui, quer que descubra e viva sem qualquer pressão. Você vai ficar bem, e ele também. Nós todos vamos. Mas para isso, , você tem que ir. É a sua vida, e as rédeas estão sendo devolvidas às suas mãos.
Eva não desconfiava, mas aquela frase havia significado muito mais do que qualquer outra.
As rédeas de sua vida estavam sendo devolvidas às suas mãos... Ela voltaria a ser responsável por si mesma. Agora, ainda mais do que nos anos cinquenta; quando tinha a proteção do pai e até do país. Agora ela estava... Sozinha.
Não iria mais haver um para dizer que ela era sua responsabilidade.
Não iria mais haver um para abraçá-la e lhe dizer: “vou estar sempre aqui.”
Ele não estaria...
Ele jamais voltaria a estar ali.



- Eu não sei o que pensar, . Você está libertando-a! – Sophie disse, em pé; assim como estava desde que havia chegado à sala do neto, naquela segunda-feira. – Mas por outro lado... Bom, é melhor do que... Você sabe.
- É melhor do que tê-la comigo – sorriu, tentando esconder o sarcasmo de sua expressão. – A senhora sempre esteve certa, vovó. Era só uma atração – deu ênfase, engolindo a seco. Dizer aquilo havia doído mais do que imaginara. – A garota se apaixonou por mim... Foi tão fácil – ergueu o olhar, encarando o da mais velha; tentando transparecer o máximo de realidade que conseguira. – Não acha que foi a vingança perfeita? Mantê-la aqui pelo resto da vida seria muito... Comum. Ela fez amizades, já havia se acostumado. Mas não; colocá-la para fora sem nenhuma noção de como o mundo está me parece mais cruel. E ainda mais por saber o quanto ela vai sofrer... – Sophie sorriu, como há muito tempo não havia feito. E naquele momento, sentiu vontade de jogar a mesa contra a mulher. – não tem mais ninguém, lembra? A solidão é o pior castigo que podemos receber, Sophie... Vovó – corrigiu-se, pigarreando.
- Estou orgulhosa – disse de repente, parecendo acreditar piamente no discurso do neto. Era exatamente o que ele queria... Só assim ela não representaria mais risco à . A mulher se sentou, apoiando-se em sua bengala. – A família vem em primeiro lugar...
- Sempre – completou, deixando a postura ainda mais rígida; firme. – Eu sou um . Esse sangue corre em minhas veias... É mais forte do que qualquer mulher ou sentimento.
E, no próximo segundo, viu a mulher abrir a pequena bolsa que carregara, tirando uma embalagem de joia dali. Ele já devia desconfiar.
- Só consigo pensar no quão orgulhoso seu pai está agora – sorriu abertamente e naquele momento abaixou o olhar, cerrando os punhos. Aquilo não... – Você voltou a ser o nosso pequeno , querido. Eu mal consigo acreditar! Você pensou melhor do que todos nós. finalmente provará o gosto da nossa vingança. Ela pagará por tudo aquilo que nos deve – segurou a mão do neto, acariciando-a. – E você... Você foi o percursor.
- É o meu dever, não é? – puxou sua mão devagar, colocando-a sobre a ponta da mesa; apoiando os antebraços no braço da cadeira. – Você conhece o seu neto... Realmente achou que ele se apaixonaria?
- Cheguei a quase acreditar nisso, querido, admito – riu, relaxando a postura na cadeira. – O Natal passado... Por Deus. Você quase matou a sua avó! – levou a mão ao peito, num sobressalto. – , não. A partir de hoje vou aceitá-lo até com a filha do zelador, se quiser assim. Foi um tamanho susto! – abanou o ar, ainda rindo. sorriu, observando-a. – Tenho asco em pensar no meu neto querido com aquela mulher... Oh – rolou os olhos, e trincou o maxilar, fechando o sorriso. – Parte de mim torce para que tenha se atracado com aquela vadiazinha, para que assim ela sofra o dobro. Mas a outra parte tem vontade de pular dessa janela – apontou para a enorme janela logo atrás da cadeira do neto – ao sequer citar essa situação tenebrosa. Me embrulha o estômago.
- Chega – apertou o punho contra a cadeira, e mordeu a língua; controlando-se. – Chega, vovó. Não me faça lembrar – sua voz se amenizou, tornando-se mais suave na segunda frase. Não podia se perder justo agora, quando tudo já estava praticamente feito. Inspirou fundo disfarçadamente e estalou o pescoço, ganhando tempo e contando mentalmente uma boa quantidade de números. – Eu tenho um dia cheio...
- Eu sei, querido – abanou o ar, interrompendo-o. – Não quero atrapalhar a minha preciosidade – sorriu carinhosa, e aquilo não foi capaz de comover nem um pouco. – Só quero que saiba... Que você é o maior orgulho da minha vida. E tenho certeza que onde quer que seu pai esteja agora, também é o dele. Barth te amava mais do que tudo na vida, ... Me lembro como se fosse hoje, da primeira vez que ele lhe pegou no colo. “Esse é o meu filho, mãe. Eu não poderia estar mais orgulhoso. Olha só esse garoto!”. Lembro-me de suas palavras como se pudesse ouvi-las nesse exato momento – riu, e sorriu verdadeiramente, pela primeira vez naquele dia. – E agora, como um homem, ele está ainda mais orgulhoso. Confie em mim. Seu pai está feliz com isso – prometeu.
- Espero que esteja – disse baixo, olhando nos olhos da mais velha. Um sorriso fraco e perdido ocupou seus lábios e ele sacudiu a cabeça; espantando os pensamentos que ali vagavam.
- – sussurrou, chamando a sua atenção. – Isso lhe pertence – abriu a caixa de joias que segurava, revelando o anel dos . sentiu um arrepio tomar seus braços, e suspirou. – Ele jamais deixou de lhe pertencer. Isso nos representa, querido... Representa o nosso sangue. O sangue dos – sorriu, vendo-o analisar o anel e deslizá-lo pelo dedo anelar. – A família vem sempre em primeiro lugar – finalizou, assim que o anel foi completamente colocado. – Eu te amo – o homem sorriu, tentando parecer o mais sincero possível. – Não precisa me acompanhar até a porta, continue trabalhando e nos orgulhando ainda mais – piscou, levantando-se.
- Se prefere assim... Boa tarde, vó – assentiu, vendo-a caminhar até a porta; mais alegre do que em muito, muito tempo. Ele fechou o sorriso falso que carregara no rosto e olhou para a mão, vislumbrando o anel dos .
Não importava o que acontecesse, sempre seria um deles.
Um sobrenome que, sim, poderia lhe mostrar quem você seria e que atitudes tomaria.

Sophie deixou a sala de e arregalou os olhos brevemente ao encontrar encostada à parede, com os braços cruzados; olhando-a. Não era mais desafiadora como de costume, quanto mais debochada... Era um olhar vazio. Não havia sentimento algum ali.
E aquilo a deixou feliz.
- Parece que conseguiu o que queria, Sophie – sorriu sem humor.
- Eu sempre consigo. Não se engane – ergueu uma sobrancelha, medindo-a de cima abaixo. – Lhe desejo toda a infelicidade do mundo, .
- É totalmente recíproco, senhora – disse entre os dentes, cuspindo o sobrenome. – Mas não se engane – imitou sua frase, chamando sua atenção –, eu posso desapontá-la – voltou a sorrir, mas dessa vez, mais verdadeiramente.
Sophie balançou a cabeça em negação e riu... Uma risada cruel que arrepiou todo o corpo de . Em seguida, a mulher deu meia-volta com sua bengala e saiu andando, em direção à saída do corredor.
O sorriso da garota se desfez e ela voltou a encarar a sala entreaberta de , vendo-o observar o anel em sua mão. O rapaz subiu o olhar por alguns segundos, encontrando o dela.
A troca de olhares que estavam acostumados a darem há alguns dias, a troca de olhares que jamais se rompia. A troca de olhares que sempre era acompanhada por um sorriso bobo ou uma palavra de carinho.
A troca de olhares hoje estava tão fria... Seca.
Ela, em frente à porta de sua sala, assim como estava há vários minutos; observando-o.
Ele, com o anel dos de novo em suas mãos, sem qualquer vestígio de sorriso no rosto.
- ... – seus lábios se moveram devagar e ela caiu em si novamente, balançando a cabeça e arrumando a postura.
- Eu já ouvi o necessário, Orgulho da Alemanha – ironizou, girando os calcanhares e passando a caminhar com passos pesados e longos em direção ao seu quarto.
voltaria a ser o orgulho de seu país e de sua família, como jamais deveria ter deixado de ser.
sabia que boa parte das palavras que havia dito para a avó em sua sala haviam sido falsas; ou pelo menos esperava que fossem... Tudo havia sido verdadeiro demais para ser levado assim. Tudo havia sido sincero demais para ser mentira.
Ela inspirou fundo e olhou para cima, tentando fazer as lágrimas voltarem. Não podia culpá-lo por voltar a ser quem era. Não podia culpá-lo por ser um .
Era a sua origem, e, por pior que fosse, amava sua família. E, principalmente, o pai. Da mesma forma qual amava John; amava Barth.
E orgulhá-lo seria a única razão de sua vida.
Brandon abriu espaço para que ela passasse para seu quarto com um sorriso fraco e ela o fez, sentando-se em sua cama e olhando ao redor.
Hora de voltar para casa.




Capítulo XXXVI


Música do capítulo: Follow Your Heart – Nathan Angelo.

Os preparativos para a festa de despedida de começavam a ficar prontos.
A mulher estava em seu futuro-ex-quarto, terminando de colocar a última peça de roupa na mala. Ela fechou o zíper sem muita força e inspirou fundo, sentando-se na cama; ao lado da mala.
Seu último dia no Ministério... Um ano e três meses.
Um ano e três meses desde que acordara daquilo que antes parecia um pesadelo, e que havia se tornado um lindo sonho há alguns meses. Era engraçado pensar em quanta coisa havia passado nesse tempo.
Brandon, Joshua, Liebe, Heidi, Lily, James, Franz, Eva, Peter, ... Haviam sido tantas pessoas. Tantas importâncias, de diferentes formas e intensidades. Um sorriso invadiu seus lábios e ela fechou os olhos; vendo um filme resumido de sua história na Alemanha no ano de 2014 e início de 2015.
havia se descoberto, havia descoberto sentimentos dos quais jamais imaginou sentir ou existir, havia vivido mais intensamente em um ano do que muitas pessoas que vivem cem.
Havia amado de verdade... Quantas pessoas passavam a vida inteira procurando por alguém qual amará daquela forma em que se mostravam em filmes e livros? Quantas pessoas viviam sem medo do que viria amanhã? Quantas pessoas procuravam algo que talvez nunca encontrassem? Quantas vidas se passaram sem que as pessoas fossem capazes de aproveitá-las?
Ali, sentada em sua cama, um mês depois de ouvir dos lábios de que estava livre, ela riu. Riu por tudo que havia passado. Riu por ter vivido aquilo. Riu por todos os aprendizados e amadurecimentos que havia tido. Riu por estar viva.
Ela passou as mãos pelo lençol recém-trocado, lembrando-se de quantos momentos havia passado com ali. Fossem eles carnais ou apenas conversas normais, como os companheiros que eram. Momentos únicos... Que ficariam guardados em sua memória pelo resto da vida. Nem que inventassem outra máquina capaz de fazê-la voltar no tempo, ela seria capaz de se esquecer de tudo que havia visto, ouvido e sentido. Seus olhos encheram-se de lágrima e os fechou, engolindo a seco. Não queria chorar de novo. Ela voltaria para casa, finalmente, e teria parte de sua vida de volta. Por mais indescritível que fosse a sensação de ter passado aquele ano no Ministério, estar em seu lar seria algo infinitamente melhor. Estar ao lado de quem amava... Jane. Oh, Jane. As lágrimas em seus olhos ganharam mais proporções e ela suspirou, abraçando os próprios braços. Iria poder abraçar a amiga como antes, iria poder conversar, saber sobre tudo... Iria poder tê-la de volta consigo.
Duas batidas na porta chamaram a sua atenção e ela passou as mãos no rosto, secando-o. Disse um audível “entre”, e então a porta se abriu; revelando Joshua.
- Acho que é a última vez que venho te buscar – o homem disse, e ela riu, sentindo o choro voltar. Lembrava-se da primeira vez que o havia visto.
“A porta abriu, revelando dois homens grandes e fortes, que mais pareciam armários. Ela respirou ofegante e encarou os dois, que a puxaram, colocando uma venda em seus olhos.
- Por favor! Me ajudem! – implorou, sentindo ser levada por eles. Nenhum dos homens respondeu, deixando-a ainda mais aflita. Depois de alguns minutos caminhando, eles finalmente pararam. ouviu uma porta se abrindo e logo depois seus olhos foram descobertos.”

- E para onde o soldado Joshua me levará? – sorriu emocionada, levantando-se. – Alguma missão especial ou só o maldito do ? – usou o mesmo tom que usava há um ano e ele riu. A garota somente sorriu, observando-o. Sentiria tanta falta do amigo. – Eu vou sentir falta disso – sussurrou com a voz embargada. Joshua sorriu, balançando a cabeça e chamando-a com as mãos. Ela caminhou depressa e o abraçou, sendo acarinhada pelos braços do homem que mais parecia um armário. – Promete que não vai se esquecer de mim?
- E teria como se esquecer de você, ? – riu com o queixo apoiado no topo de sua cabeça. – Nós todos vamos sentir muito a sua falta, garota rebelde; não só da América, mas da Alemanha também. – A ouviu rir e se afastou, olhando em seus olhos. – Vejam só, você vai voltar para casa! Quem diria, hein? Estou muito feliz por você, . – Passou o polegar por sua bochecha, secando a lágrima que havia caído. – Agora vamos, acho que tem uma última surpresa do para você no banheiro.
franziu o cenho, confusa. Surpresa do ? Mas... Ele não falava com ela há dias. A garota somente assentiu, com um meio sorriso no rosto, enquanto caminhava para fora; abraçada ao soldado.
Não demorou mais do que alguns poucos minutos para que eles chegassem ao banheiro, e ao entrar no vestiário, levou as mãos aos lábios; controlando o choro que agora vinha com força.
Havia roupas novas sobre a pia extensa; um vestido amarelo colado ao corpo, um palmo acima do joelho. Lingeries pretas de renda. Uma pequena quantidade de maquiagens. A mesma joia que havia usado na saída com , no dia em que foram ao bar mais precário, e, ainda assim, melhor que já havia frequentado. Logo abaixo, no chão, ainda havia um sapato muito parecido com o que usara no dia em que foi a uma boate com o rapaz; era preto, extremamente alto, e com a sola vermelha.
No entanto, o que mais lhe chamou atenção não foram as peças; mas sim, um bilhete logo em cima do vestido. Reconheceria aquela letra em mil anos.

“Você continua sabendo ler, não é? Espero que sim! Haha.
Estou deixando essa muda de roupa para que você as coloque depois do banho. Quando terminar, chame Joshua e ele irá lhe instruir.
Feliz
nova vida, srta. Insuportável!”

Uma risada baixa escapou por seus lábios, em meio ao choro que tomara proporções maiores agora. Era um bilhete absolutamente igual – com exceção de duas palavras – ao que ele havia deixado da primeira vez em que saíram do Ministério. No seu aniversário.
Ela dobrou o papel novamente, e, quando o colocou de volta em cima do vestido, pôde ver exatamente as três palavras com tanto significado no canto do bilhete: eu te amo.
E, nesse momento, não houve mais como conter. levou uma das mãos aos lábios, contendo os soluços que teimavam em escapar por sua garganta. Seus olhos apertaram-se e ela resfolegou, balançando a cabeça.
Eu te amo tanto, .
Ele havia lhe escondido sobre Jane. Havia dito coisas horríveis a seu respeito para a avó. Havia deixado de falar com ela há dias. E, mesmo com tudo isso, o sentimento em seu peito só parecia crescer. apoiou as mãos na pia e ergueu o rosto, encarando seu reflexo no espelho. Seu rosto estava vermelho, encharcado de lágrimas, os cabelos desgrenhados, e, mesmo com isso; a garota sorriu. Sorriu por ter tido o prazer de viver aquilo. Sorriu por tê-lo tido, nem que fosse por tão pouco tempo.
Tão pouco e tão significativo tempo.

Após alguns minutos de um bom e relaxante banho, desligou o chuveiro e se vestiu sem qualquer vestígio de pressa. Colocou peça por peça, avaliando cada detalhe no espelho à sua frente. Depois fez uma maquiagem leve, acentuando seus pontos mais marcantes. Por fim, penteou os cabelos e os modelou com os dedos. A mulher inspirou fundo e deu alguns passos para trás, encarando seu reflexo. Havia sido somente um ano, mas ela havia mudado tanto. E não falava agora somente da parte interna, mas externamente também.
Seu olhar... Havia algo nele. Havia maturidade, entendimento, e até mesmo felicidade. Ela era outra pessoa, uma mulher... Uma mulher de verdade que havia crescido em um ano o que não cresceria durante a vida inteira.
girou os calcanhares, sem deixar de encarar seu reflexo no espelho e ao terminar, riu olhando a si mesma. Riu, com os olhos cheios de lágrima. Respire fundo e os encare, garota.
E foi o que ela fez. Inspirou longamente e saiu, com passos lentos até a porta.
Que começassem as despedidas.

Os raios do pôr-do-sol entravam pelas janelas entreabertas do salão principal do Ministério. As mesas estavam decoradas com frutas e petiscos dos mais variados exemplos. A música calma e as vozes dos funcionários conversando formavam a trilha sonora do espaço. Todos estavam vestidos especialmente sofisticados, segurando suas taças de champanhe. Brindando... Brindando à liberdade.
passeou o olhar pelo salão novamente e então o encontrou. Seus olhares cruzaram-se em questão de segundos e ambos engoliram a seco; ela o viu sorrir, um tanto triste, e então inspirou fundo.
usava uma composição de calça social, camisa de botões e blazer, todos em tom negro. Os cabelos bem penteados com uma pequena quantidade de gel; uma das mãos no bolso da calça e a outra segurando uma taça de champanhe. Ele fez um brinde imaginário, erguendo a taça no ar em sua direção e ela suspirou.
O quão grande era o seu amor?

- !?

“- É claro. E eu com mais de setenta anos continuo com essa aparência de vinte. Boa genética – zombou, se levantando devagar, tentando chegar até a pequena janela.
- Eu também não sei como você continua assim... Estou preso nesse lugar desde que me entendo por gente – suspirou. – Você se lembra da governanta de sua casa? Louise? – a outra não respondeu nada, estava assustada demais para manter algum diálogo. Como aquele senhor poderia conhecer Louise? Nunca vira aquele homem na Casa Branca antes. – Ela estava grávida, não estava? – riu amargurado. – Prazer, senhorita . O meu nome é Peter.”


A garota ouviu seu nome ser chamado e se virou na direção, encontrando quem mais esperara naquele exato momento. Seus olhos voltaram a se encher de lágrimas e ela levou as mãos aos lábios, contendo o choro de surpresa e saudade que sentira durante esses quase cinco meses desde que o vira pela última vez.
- Peter – sussurrou, andando rapidamente até o homem. Peter abriu os braços e abraçou com toda a força e carinho que tinha em si. E, de repente, toda aquela sensação de que tudo estaria bem voltou. Era como ser acarinhada pelo próprio pai, era como se aquele fosse um pedido calado para que ela voltasse a sorrir. Como se, naqueles braços, a esperança fizesse moradia. – Ah, meu Deus! – ela riu, encostando a cabeça em seu ombro, fechando os olhos e deixando as lágrimas rolarem por sua face. – Como... – começou, afastando seu rosto para encará-lo. – Como você...
- me trouxe pessoalmente – sorriu, passando os dedos por suas bochechas; secando-as. engoliu a seco e olhou de soslaio para ; que conversava com Franz. – Eu não disse que um dia ele também te libertaria?
- Disse – suspirou, voltando a olhar para o homem à sua frente. Ela sorriu fraco. – Você estava certo, afinal – deu os ombros, observando-o. – Você está tão... Novo. Bem – riu, fungando.
- É a felicidade, . Ela nos faz tão bem! Fiz amigos na minha vizinhança, conheci pessoas boas e ouvi histórias das quais sequer pensava existir quando vivia aqui no Ministério. Passeei por lugares que me parecem inacreditáveis até hoje. Experimentei sensações que são inexplicáveis – sorriu abertamente, e fez o mesmo; olhando em seus olhos. Sentia-se tão feliz por tudo aquilo. – E como uma dessas sensações, posso citar a paixão – suas bochechas tomaram uma cor avermelhada e a garota riu novamente; mas agora com ainda mais vontade. Havia sentido tanta falta dele. – Não ria, ! – implorou, o que só a fez rir ainda mais, chamando a atenção de quem estava à sua volta. Ela balançou a cabeça em negação e o abraçou. – Senti a sua falta – confessou, e dessa vez foi ele quem apertou os braços ao seu redor.
- Você não tem noção do quanto isso é recíproco, Peter – disse baixo, beijando seu rosto, por fim. Ela voltou a se afastar brevemente, olhando em seus olhos. – Saber que está feliz é a melhor notícia que eu poderia receber.
- E eu vou me sentir assim também em alguns meses, quando te ver tão feliz assim também. Eu já soube sobre Jane! Eva me contou – disse inocentemente e a viu olhá-lo sugestivamente. Ele rolou os olhos, passando a rir; assim como ela. – Nós estamos tentando algo, é só isso que posso falar.
- É o suficiente. – Tocou a ponta de seu nariz, vendo-o rir ainda mais. – Você está conhecendo o mundo, meu amigo.
- Graças a você. – Fechou mais o sorriso, dando um maior ar de seriedade. – E ao . – Acenou com a cabeça, fazendo-a olhá-lo. Ele os encarava, enquanto dava um gole em sua taça. Já era a terceira, pela mínima conta de . – Eu sinto muito por vocês...
- Não sinta – pediu, engolindo a seco; ainda olhando o ex-namorado. – Vai ser melhor. Para nós dois. Nunca ia dar certo mesmo... – sorriu sem humor, virando o rosto para o amigo novamente. – Foi maravilhoso enquanto durou, mas acabou – deu os ombros, suspirando.
- Ele não parece estar tão bem quanto você.
- E quem foi que te disse que estou bem? – parou um garçom que passava na hora, pegando uma taça de champanhe. – Só sei disfarçar melhor, Peter. Já sofri o suficiente por nós dois nesse ultimo mês. – Deu um bom gole na bebida. – E, são muitos anos de experiência – brincou, encostando suas testas. Ela inspirou fundo. – Nós vamos ficar bem – assentiu, beijando sua bochecha. – Ele, aqui. E eu, lá. É poético – ironizou, tomando o resto do champanhe.
- É a sua história... Sua vida. Está sendo devolvida, . Não seja mal-agradecida – imitou a frase que ela havia lhe dito há meses e não deixou de não rir. Havia dado as balas para aquele revólver. – Ele não tinha culpa alguma, e mesmo assim, está te libertando.
- Peter, já chega – umedeceu os lábios, balançando a cabeça. – Vamos mudar de assunto, por favor? É a nossa última noite no Ministério – olhou em volta, rindo; sentindo a emoção começar a voltar. – Ah, droga, quando eu pensei que diria isso?! E que, pior, sentiria falta disso?!
- Até dessa psiquiatra? – Eva disse, chegando ao lado de . A garota sorriu, fechando os olhos marejados. – Ah, não. Sem mais choro. Não é uma despedida para sempre! – avisou, mas tinha a voz embargada.
- É claro que não é para sempre! – exclamou, virando-se para a mulher. – Mas, de qualquer modo... – sussurrou, sentindo o nó em sua garganta alargar-se. – Obrigada por sempre ter estado aqui – uma lágrima rolou por seu rosto e a psiquiatra suspirou, puxando-a para um abraço apertado.

começou a andar atrás de , encarando suas costas largas. O que teria feito um homem tão jovem ser tão amargurado? Ela se perguntava se era somente com ela, por todo o passado, e, mesmo assim, não conseguia encontrar a razão de tanto ódio. Não fora culpa dela! Ela suspirou, apertando os olhos. Após sentir uma mão em suas costas, ela se virou depressa, encontrando Eva; sempre sorridente.
- E então, está melhor? – a mulher questionou e ela deu os ombros. Por alguma razão, não odiava tanto aquela mulher quanto a todos os outros ali.”


- Isso não se faz, garota – sussurrou, olhando para cima; tentando fazer com que as lágrimas voltassem para o olhos. Peter tocou em sua mão e ela sorriu, inspirando fundo. – Você foi pra mim muito mais do que pode imaginar, querida. Como já te disse uma vez, hoje repito e com ênfase: você é a filha que eu nunca tive – afagou seus cabelos, sentindo seu choro tomar maiores proporções. – Shh, shh. Não é o fim. É só o começo – sorriu, afastando o rosto do dela, encarando-a. Eva passou os polegares por suas maçãs, acariciando-as e secando-as. – Acho que, de certa forma, eu sempre soube que o Ministério seria o meu maior desafio. Não dizem que os maiores desafios têm os maiores prêmios? – sorriu, olhando para ela e brevemente para Peter. – Agora coloque um sorriso neste rosto agora mesmo. – Apertou seu queixo entre o dedo indicador e o polegar; carinhosamente balançando sua cabeça. – Não quero te ver triste. Você quer ver eu e Peter tristes? – ela negou, fungando. – Então...
- Eu só... Vou sentir tanta saudade – murmurou, com a respiração entrecortada. Eva e Peter a abraçaram ao mesmo tempo, e ela sorriu, sentindo-se protegida. – Vocês vão me visitar nos Estados Unidos, não vão?
- Quando você menos esperar, querida. – Eva riu, beijando o topo de sua cabeça. – Agora respire fundo, seque essas lágrimas e vá comer algo. Os petiscos estão incríveis! – avisou, vendo-a sorrir; passando a mão no rosto. – Vou passear um pouco com Peter. – Tocou a mão do namorado.
- Fique bem – ele pediu, acenando para . A garota sorriu enquanto os via sair, e então suspirou; olhando para a porta fechada. Era tão bom saber que agora um tinha ao outro.
- Parece que chegou a hora de retomar a sua vida...
A voz rouca e baixa disse, logo atrás de si. O conhecido arrepio tomou seu corpo e ela ofegou, engolindo a seco. Coração acelerado, transpiração nas mãos, boca seca, frio na barriga e olhos marejados. É. Só podia ser ele.

“A garota abriu os olhos lentamente, se acostumando com a claridade do lugar. Ela olhou em volta e pôde ver como tudo era diferente. As paredes eram pintadas de branco e havia uma mesa de vidro no centro, junto de duas cadeiras escuras, de madeira. Ao lado, um armário de aço e no teto uma lâmpada cumprida, da qual jamais havia visto.
- Sente-se – uma voz masculina soou e só então se deu conta de que não estava sozinha na sala. Ela encarou o homem que estava de costas e se deu a chance de observá-lo, talvez o conhecesse, afinal. Ele tinha os ombros largos e os cabelos curtos, totalmente diferente dos topetes que os homens usavam. O desconhecido vestia aquilo que parecia ser uma farda, entretanto, não era verde como a dos soldados, mas sim, azul.”


- . – Girou os calcanhares, encarando-o. Seus olhares se encontraram e o incêndio estava consumido. – Eu acho que sim. – Deu os ombros, olhando-o com certa confusão no olhar. franziu o cenho, mas logo assentiu, balançando a cabeça. Ela havia respondido o que ele lhe dissera há segundos. - Em comemorações como essas deveríamos brindar, não é? – sorriu fraco, lhe entregando uma taça de champanhe. Ele também segurava uma. riu amargurada, encarando o líquido claro e borbulhante. – A você, . – Ergueu a taça, esperando o brinde. Seu tom era carregado de distintos sentimentos, e ela soube avaliar cada um deles.
- À Ironm4x – sussurrou, brindando. Suas taças estalaram e então ambos deram um bom gole no champanhe. – Já está na quinta taça, .
- Virou fiscal de álcool agora? – ironizou, dando outro gole.
- É assim que quer estar na nossa despedida, então? Bêbado?
- E há outro jeito de encarar isso? – sorriu sarcástico, virando o resto da bebida. Ele virou-se de costas, dando um passo, mas segurou seu cotovelo; fazendo-o parar.
- Foi você quem fez essa escolha...
riu, já um pouco alterado pela bebida. Ele voltou a encará-la, e carregava aquele sorriso sarcástico que sempre usava em momentos como estes.
- Agora eu sou o culpado por você estar indo embora?! Eu sou o errado por fazer o certo? – seu tom cresceu algumas oitavas e ela sussurrou um “shh”, gesticulando com as mãos. – Eu te libertei, ! Assinei sua carta de alforria para que você pudesse ter a sua vida de volta. Sou eu quem está se dando mal nisso, você não vê? – deu os ombros, e ela suspirou longamente, fechando os olhos.
- Você quer que eu me desculpe?
- Não! Eu quero que você vá embora logo. Quero que vá o quanto antes – pediu, fungando. conseguiu ver o exato momento em que as lágrimas brilharam em seus olhos; contra a luz. Ela deu um passo para trás, com os lábios entreabertos. Ele não podia chorar. Não . Não o homem que nunca chorava. – Vá viver a sua vida, – sussurrou, com a voz embargada. – Vá ser feliz. – Porque é a única aqui que pode fazer isso.
E então voltou a lhe dar as costas. entreabriu os lábios para falar algo, mas não conseguiu. Não teve forças o suficiente para encará-lo novamente e lhe dizer que ficaria ali, mesmo que ele não quisesse. Mesmo que ele implorasse para que ela fosse embora. Que Jane viesse visitá-la na Alemanha! Sua vida estava ali agora.
Mas não... Não era assim. Ela tinha muito o que resolver. Tinha pendências há mais de cinquenta anos. Perguntas, respostas, dúvidas...
fungou, respirando fundo e virando o resto do champanhe de sua taça; caminhou até a mesa de doces e buscou algum qualquer, só para que o tempo passasse o mais rápido possível.
A garota olhou para a porta e avistou Lily e James, conversando rapidamente com ; que parecia tão transtornado... Um aperto tomou seu coração e ela resfolegou.
Tudo vai ficar bem, tudo vai ficar bem, tudo vai ficar bem...
- Não vá matar a minha avó com um infarto, ok, ?! – Lily a surpreendeu, abraçando-a. abriu os olhos, só então se dando conta de que algum certo tempo devia ter passado desde que ela começara seu mantra de “tudo vai ficar bem”. Ela correspondeu o abraço, sorrindo verdadeiramente. – Lembre-se de que ela não sabe de nada.
- Eu sei – riu, afastando-se e abraçando James. – Ah, meu Deus. Quem precisará se controlar para não ter um infarto sou eu!
- Não é surreal?! Você, melhor amiga da avó da minha noiva... Isso daria um filme. – James sorriu, abraçando Lily de lado. observou a cena brevemente e suspirou; sorrindo.
- Minha vida inteira daria um filme, J. Uma trilogia, se formos ser sinceros...
- Best-Seller – Lily completou, rindo. Ela olhou de soslaio para . – Isso é tudo? – suspirou, passando as mãos nos braços; sentindo-se desconfortável. – , há milhares de relacionamentos à distância hoje em dia...
- Não foi uma escolha minha, Lily.
- E muito menos do . Eu nunca o vi des...
- James, não. – Balançou a cabeça, interrompendo-o. Ela sorriu fraco, inspirando fundo. – Agora não. Já chega desse assunto. Nós dois vamos ficar bem, você vai ver. E, por favor, enquanto isso não acontece... Não deixe que ele... Caia. – Engoliu a seco, dizendo a última palavra como se aquilo doesse. E, realmente, doía.
- Vou fazer o meu melhor. – Piscou longamente, assentindo.
- ? Seu voo decola em uma hora – Franz avisou, chegando ao seu lado. despertou de seus devaneios e sentiu o corpo inteiro esfriar. – Precisamos ir logo. Vou te levar até o aeroporto. – Sorriu fraco, dando um passo para trás.
- Mm, certo – pigarreou, sorrindo sem humor. – Eu só... Queria dizer algumas palavras antes, se for possível. – Franz assentiu, se afastando. – Atenção, atenção. Por favor! – pediu, gesticulando com as mãos. Todos pararam o que estavam fazendo e viraram-se para encará-la. – Está na hora de ir e vocês sabem o quanto gostaria de me despedir de um por um, conversar e abraçar por vários minutos. Mas não é possível, infelizmente. Então preferi dizer algo aqui, rápido, mas sincero. – sorriu, observando-os. – Foi um ano e três meses de convivência diária, conhecendo cada um de vocês. E, provavelmente, essa é a frase mais difícil e contraditória que já disse na vida, mas: vou sentir falta do Ministério – riu, sentindo os olhos começarem a marejar. – Vivi momentos inesquecíveis aqui, experiências inacreditáveis e senti coisas inexplicáveis – olhou brevemente para , que engoliu a seco; olhando-a intensamente. – Só queria agradecer por terem me tratado muito melhor do que imaginei que seria, assim que acordei da Ironm4x. Vocês se tornaram a minha família. – Secou uma lágrima que rolou por seu rosto, enquanto passava o olhar por todos ali. Peter, Eva, Franz, Anette, Klaus, James, Lily, Joshua, Brandon... . – E eu jamais, em nenhuma hipótese, vou me esquecer de cada um de vocês. É isso. – Deu os ombros, os vendo erguer suas taças e brindarem imaginariamente consigo. Ela os imitou, pegando uma taça na mesa ao seu lado e a erguendo. deu um sorriso sem vida e num só gole terminou com o champanhe.
olhou de soslaio para Franz, vendo-o acenar para a porta. Ela assentiu, começando a andar em tal direção, após alguns acenos e abraços. A garota apertou os olhos e cerrou os punhos ao chegar à porta, ao mesmo tempo em que balançou a cabeça em negação e deu alguns passos para trás.
- . – foi mais rápido e lhe chamou, ficando atrás dela. entreabriu os lábios num sobressalto e virou-se, encarando-o.
- – disse, no mesmo tom. Mas, ao ver seus olhos, ela voltou a sorrir. Os olhos que a fizeram apaixonar-se por aquele à sua frente. – .
- Só... Seja feliz. – Riu sem tanto humor, com aquele tão desconhecido nó na garganta que ultimamente havia estado ali mais do que em qualquer outro momento. – Aproveite essa nova chance que a vida está te dando.
- Isso é uma ordem? – brincou, vendo-o sorrir e suspirar. – Essa será uma que farei o possível para obedecê-la. Espero que seja feliz também, . – Mordeu o canto do lábio inferior, segurando o choro que estava mais próximo do que nunca.
- , temos que ir – Franz avisou, tocando em seu braço. Ela assentiu, olhando-o brevemente.
passeou os olhos por seu rosto, assim como havia feito da primeira vez que a vira. Eram situações tão distintas... Ele se sentia tão frágil agora. parecera perceber isso, porque no próximo segundo; vencendo seu próprio orgulho e relutância, acabou abraçando-o.
Oh, sim. Era tudo o que ambos precisavam.
retribuiu o abraço, apertando-a contra si e beijando o topo de sua cabeça. A garota fungou contra seu ombro, usando a última força que tinha para controlar o choro.
- Embaixo da minha cama – sussurrou, chamando sua atenção. afastou seus rostos e franziu o cenho. – Há uma carta embaixo da minha cama. Assim que eu for embora, quero que leia – avisou e ele assentiu, fechando os olhos brevemente e levando os lábios à sua testa. segurou o fôlego, apertando as mãos em seus braços. Aquele toque... Aquele gesto. Aquele carinho. A simbologia daquilo...
- Vai logo, disse, afastando-se dela de repente. Ele pigarreou e passou as palmas das mãos nos olhos, espantando todo e qualquer vestígio de lágrima. – Você está cinquenta e oito anos atrasada. – Apontou para a porta, enquanto torcia os lábios. assentiu e sorriu uma última vez, acenando com a cabeça e se afastando.
Indo embora.
Indo embora para sempre.
prestou atenção no exato momento em que ela saiu do corredor, saindo de sua visão. Ele cerrou os punhos e apertou os olhos, trincando o maxilar.
Seu jeito de andar; seu sorriso e meio abraço em Franz; o segundo em que ela encarou o teto acima, na vã tentativa de se livrar daquele choro que parecia ter formado moradia.
James o chamou, tocando em seu braço; no entanto, somente balançou a cabeça em negação e saiu com passos apressados na direção oposta.
O quarto de .

A noite começava a cair; o céu já tinha um tom mais escuro de azul, a lua cheia e estrelas iluminavam a vista de sua janela.
A imagem de saindo do Ministério, pela vista do vidro de sua sala.
segurava o papel dobrado da carta que ela lhe dissera; enquanto estava encostado em sua mesa, observando-a abraçar Peter e Eva, despedindo-se pela milésima vez.
jogou a cabeça para trás, rindo de algo que Eva havia dito e sorriu, sentindo uma lágrima escorrer por seu rosto. O rapaz inspirou fundo, balançando a cabeça e deixando finalmente o choro guardado há semanas, vir.
Ele mal se lembrava da última vez que chorara, já fazia tanto tempo... Mas não parecia doer tanto quanto agora. Era como se parte de si houvesse sido afastada, como se faltasse algo... Alguém. Um soluço alto e levou o antebraço aos olhos, querendo esconder o desespero. Não havia ninguém na sala, mas ainda assim ele sentia a necessidade de se esconder. Sempre havia sido assim. Era o neto de Yan , e jamais poderia demonstrar medo. Era o filho de Barth, e nunca, em qualquer hipótese, poderia fraquejar.
E agora era exatamente assim que ele estava.
Frágil. Temeroso.
Se há um ano se sentia assim, hoje era ele. Ele entendia, sentia. Havia sido somente uma mulher, e tudo parecia ter desmoronado. Sem ela, não havia um sorriso ao amanhecer. Sem ela, não havia um pensamento ao anoitecer. Sem ela, voltaria a ser aquele de um ano atrás.
Não haveria mais xingamentos, birras, tapas, e nem cara feia quando ele chegasse no Ministério, no dia posterior.
E ele sentiria falta de cada uma dessas coisas. De suas qualidades, e até de seus defeitos; que havia aprendido a conviver e a gostar de todos.
entrou no carro de Franz e acenou uma última vez para os amigos. O carro acelerou e ela se foi, de vez.
sorriu fraco e então se lembrou que estava cumprindo a sua promessa. Ela seria feliz novamente. Iria reencontrar Jane, esclareceria todas as dúvidas e questões pendentes há cinquenta e oito anos. Encontraria o próprio caminho. Faria o que sentisse vontade e saberia o que fosse melhor para si, sem qualquer pressão ou julgamento.
Ele suspirou, abaixando a cabeça e olhando para a carta em suas mãos. E então a desdobrou, fechando os olhos por alguns segundos antes de tomar coragem para lê-la, finalmente.

“E acho que entendi, finalmente, .
Entendi o porquê de tudo isso acontecer. Entendi por que tudo isso teve que acontecer.
O amor. Acho que finalmente o compreendi.
Foi amor quando olhei para você naquela tarde em que fugi do Ministério, há um ano. Foi amor o que senti quando te beijei naquela mesma noite.
Era amor quando meu coração acelerou daquele jeito ao te ver entrar por aquela porta, segurando uma rosa, no dia do meu aniversário. Eu senti o amor na noite dos fogos-de-artifício; amor pela liberdade, amor pela sensação que aquela vista me trouxe, amor por você.
Quando libertou Peter; na boate (eu aprendi, viu?! Prometo jamais falar “baile” novamente.), no meu quarto novo, ao ver as fotos da minha família; até mesmo quando você chegou naquela manhã de segunda-feira, diferente e rude.
Na casa de Joshua, no seu aniversário, nas nossas conversas secretas em meu quarto.
Quando Peter foi embora; quando me defendeu da sua avó; quando me levou para pular-de-paraquedas; na nossa viagem para a praia; quando eu disse: “fica aqui” e você respondeu: “eu sempre vou estar”, quando... Quando chegou pela porta do meu quarto (vê só? Agora até o chamo de quarto!), dizendo que me amava... Eu já te amava, . Já te amava há tanto, tanto tempo.
Eu te amei por todos os dias, a cada momento. Eu te amei por estar aqui.
E agora você está aí... E eu estou indo embora.
E eu finalmente entendi.
Você me mostrou que posso ser muito mais. Posso ser quem quiser ser, posso fazer o que quiser fazer. Posso agir como desejar. Posso ser muito mais do que a garota taxada nos anos 50 como a Vergonha da América. Posso ser muito mais do que qualquer dia já sonhei me tornar. Posso ser feliz, e agradeço tudo isso a você, . Obrigada por me fazer descobrir quem sou de verdade. Obrigada por me libertar, em todos os sentidos da palavra.
Com carinho, e todo o amor do mundo,
(Insuportável).”


Uma última lágrima emocionada rolou pelo rosto de e ele inspirou fundo, ao mesmo tempo em que sorria. Naquele exato segundo, também havia entendido. Entendido o que, de fato, era o amor.
O amor não era egoísta como pensara há semanas, pelo contrário... O amor era genuíno. Era sentir a necessidade de querer o bem do outro acima do seu. O amor era, de toda a forma, o sentimento mais puro e bonito que o ser-humano já teve capacidade e dignidade de sentir.
E naquele dia, naquela noite estrelada, ao ver partindo, teve certeza de que tudo ficaria bem; pois não existia felicidade maior do que ver quem ama, feliz. Tudo valeria a pena.
Não havia egoísmo, sacrifício ou infelicidade.
O rapaz abriu a gaveta ao seu lado e encarou a foto da garota, tirada há alguns meses, enquanto sorria, parada ao lado de uma árvore no jardim do Ministério. E aquilo foi o suficiente para que um sorriso aberto tomasse seu rosto.
Aquilo era o amor.
E ele, finalmente, havia entendido.

“O amor é paciente e bondoso. O amor não é ciumento, nem orgulhoso, nem vaidoso. O amor não é grosseiro nem egoísta; não fica irritado, nem guarda mágoas. O amor não fica alegre com a injustiça, mas se alegra com a justiça. O amor tudo sofre, tudo crê, tudo espera e tudo suporta. O amor é eterno.”
1 Coríntios 13:4-8




FIM?



Nota da autora: (26/01/2016) PS: Vejo vocês em Liberdade – Ironm4x II

Eu sou ótima com palavras. É a melhor coisa que faço na vida, inclusive. Escrever... Contar uma história a vocês. Falar com vocês. Colocar em palavras meus sentimentos e, nesse momento, é tudo o que eu não tenho. Sei que muitas estão querendo me matar agora (e com razão, eu entendo! Hahahah), mas peço encarecidamente que leiam essa nota até o FIM, ok? Vou explicar t u d o. Bom, vamos começar... Pelo começo!? Ironm4x foi o melhor presente que minha mente já me ofereceu. É o meu maior orgulho! Lembro de quando estava finalizando Wonderwall – minha fanfic anterior –, e nenhuma ideia para uma nova história surgia. Então assisti A Hospedeira... E toda a ideia surgiu. Quem lê Ironm4x não encontra qualquer semelhança, mas, acreditem, não sei que mágica aconteceu: mas aconteceu. Em questão de duas semanas eu já tinha a ideia toda preparada e já havia escrito o prólogo. Eu escrevia cada página mais rápido do que a outra e, quando percebi, cinco capítulos já estavam prontos. E eu estava completamente apaixonada por Ironm4x, pela nossa Vergonha da América e compreendendo todas as razões por trás da personalidade do nosso Orgulho Alemão.
Eu tinha pouquíssimos leitores, alguns capítulos entravam sem um sequer comentário, mas isso não me desanimou. Pelo contrário, aquilo só me deu mais gás para que Iron tivesse um pouco mais de reconhecimento. Divulguei. Divulguei de todos os modos possíveis, e, quando menos vi, o grupo no facebook já tinha mais do que 200 membros. 200!!! Isso é um mero número para algumas autoras reconhecidas, mas, para mim? Já repeti incontáveis vezes que na época do falecido Orkut eu não tinha mais do que 5 leitoras, e torno a falar: isso é MUITO mais do que imaginei em qualquer época da minha vida. E, de lá para cá, só coisa linda aconteceu! Duas indicações ao FFOSCAR, “melhor tema amor e ódio”; “melhor personagem principal”. Não levamos, mas quem precisa de um título quando se já é indicado entre os 5 melhores, em ambas categorias? E, finalmente: o FFOBS Awards! Esse sim, esse ganhamos com louvor! Melhor Fic Original de 2015; ouro. Vocês tem noção do quanto isso significou para mim?! Diante centenas de histórias postadas no FFOBS, a nossa levou essa colocação?! Saber que em meio a tantas fanfics, Ironm4x se destacou desse modo... Eu só tenho a agradecer! São também +300 membros no grupo; e, de verdade, eu não faço ideia ainda de que são pessoas. Não são somente um número ali, são 300 pessoas!!!! 300 pessoas que admiram Iron, que leem, e que eu jamais vou poder agradecer a altura do quanto sou agradecida. Obrigada! Obrigada, obrigada! Vocês fizeram do meu 2015 um ano – em meio há tantas coisas ruins – inesquecível. Eu amo vocês!
Gostaria de dedicar um parágrafo à minha beta, Letticia Costa, que mesmo não estando há muito tempo comigo, foi maravilhosa! Obrigada por ter aceitado betar Ironm4x – que já estava na reta final, lindona! Você é uma pessoa maravilhosa e espero que continue comigo por muitas histórias ainda! <3
Obrigada a Brunna, também. Minha antiga beta! Você me acompanhou não só durante Ironm4x, mas bem antes, ainda em Wonderwall. Obrigada por ter sido sempre tão incrível, me ajudando a evoluir sempre! <3
E, agora, sobre o final Ironm4x: sei que ele não agradará a todas, mas, acreditem: era necessário. Tem MUITA coisa para acontecer ainda, e eu não podia finalizar essa história com tantas lacunas entreabertas. Então, que venha LIBERDADE! Que venha uma história antiga com cheirinho de nova. Com muitos capítulos, muito mistério, amor, saudade, restritinhas hehe, e, principalmente: o final de e . O de verdade. Foi só uma pausa! Eu não estava preparada para dizer adeus, espero que entendam... Hahahaha. E, como costumo dizer às minhas amigas que leem: Ironm4x só foi a introdução para a história de verdade! Liberdade abordará assuntos que vocês estão curiosas há muito, muito tempo. E, claro, coisas novas! Mas sem perder o foco: é óbvio. Então, desejemos boas-vindas à “Liberdade”? Dentro de algumas semanas vocês poderão saber o que aconteceu depois dessa carta! Heheheh Não é um “adeus”, é um “até logo”. Até logo, Ironm4x. Até Liberdade! <3 E, caso ainda reste dúvida: SIM, IRONM4X TERÁ CONTINUAÇÃO! HAHAHA. E se chamará Liberdade! <3

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Nota da beta: Ana, foi um prazer betar essa reta final de Ironm4x! Você é uma pessoa, e uma autora, incrível, que Liberdade seja tão legal e bem escrita como Ironm4x foi. Parabéns pelos prêmios, você mereceu e merece muito mais. Que venham mais fics por aí! <3




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