Jolene Jolene Jolene Jolene
I'm begging of you, please don't take my man
Jolene Jolene Jolene Jolene
Please don't take him just because you can




Os dedos corriam pela fotografia, levando consigo partículas de poeira grudadas ao antigo porta-retratos. Há quantos anos aquele momento havia sido registrado? Sentia o peso da idade caindo sobre seus ombros ao ver a si mesma mais jovem naquela foto, os cabelos mais brilhosos, sedosos, sem fios brancos. Mas o que mais lhe atraía atenção àquela foto era o sorriso dele. Brilhoso, grandioso, os olhos brilhavam em conjunto com seus dentes, parecia radiante, parecia tão feliz em tê-la como esposa.
Seu olhar levantou da fotografia, encarando o outro lado da sala, vendo o mesmo homem da foto, mais velho como ela estava, com uma ruga entre suas sobrancelhas, concentrado no violão que tinha em mãos, dedilhando uma melodia suave que preenchia o aposento. Ela deveria estar relaxando, sempre gostava quando o marido pegava o violão, coisa que não andava fazendo nos últimos tempos, mas ali estava ele, estava ao seu lado, então por que se sentia tão insegura?
Pôde notar o brilho do ouro no anelar esquerdo da mão dele. Olhou para a própria mão, vendo o mesmo brilho ali, a mesma aliança que trocaram anos atrás, a prova da união e do amor deles. Então por que parecia que aquela pequena peça não representava mais nada?
Colocou o porta-retratos de volta ao seu lugar, vendo outro ao lado, quase a mesma moldura, o mesmo homem, o mesmo sorriso, mas com uma mulher diferente...
Ela.


Your beauty is beyond compare
With flaming locks of auburn hair
With ivory skin
And eyes of emerald green
Your smile is like a breath of spring
And your voice is soft like summer rain
And I cannot compete with you Jolene




Não havia uma única foto em que não estivesse bonita, com os cabelos sedosos brilhando, o sorriso estampado nos lábios grossos, os olhos bem emoldurados, piscando atrás de grossos e longos cílios. Maçãs do rosto coradas, cheias, lhe davam sempre o ar juvenil, um ar infantil, mas seu corpo não condizia com o que o rosto mostrava. Curvas perigosas, as quais, se ela usasse algo mais curto, algo com mais decote, beiraria o vulgar. Considerada “cheia” pelas garotas de seu colégio, não tinha nada de gorda, apenas um corpo feito para provocar homens, homens como o que estava ao lado dela.
A foto na praia exibia ainda mais de ambos os corpos, os músculos salientes de seu marido, o calção sempre caindo sobre os quadris, os pelos claros descendo pelo umbigo e sumindo na barra de sua roupa. Os cabelos molhados, bagunçados, jogado sobre seu rosto. Mas o sorriso estava lá, o mesmo sorriso que estava em sua foto de casamento.
Melanie não conseguia entender, não conseguia compreender por que tudo aquilo estava acontecendo, sabia que poderia estar acontecendo somente em sua cabeça, não teria como ser real, mas como poderia ser falso também? e sempre foram unidos um ao outro, desde que esta era uma criança, era o colo dele que ela pedia, era os braços dele que a acolhiam, tudo era em favor da sobrinha, até mesmo ela, Melanie, ficou diversas vezes em segundo lugar na vida do marido, a prioridade era .
Mas quando ela era apenas uma criança, Melanie entendia, entendia porque era a filha do irmão, era parte do desejo de de ser pai, era alguém para cuidar, para ver crescer, para ensinar. Aquele tempo havia passado, havia deixado de ser apenas uma garotinha inocente e nada do que via nos olhos, nos gestos e nas palavras daquela garota eram inocentes.
Ela não era cega, não nascera ontem, percebia o que estava acontecendo debaixo de seus olhos, mas que seu coração e sua mente não conseguiam aceitar. Era difícil, mas não impossível... Afinal, que homem resistiria àquela garota? Aqueles sorrisos doces, palavras bem escolhidas, provocações na medida certa. Quem era ela perto de ?
“Sou a esposa dele”, uma voz ressoou com força em sua mente. Podia ser a esposa dele no papel, mas na vida real, não compartilhava nada além de um teto com ele.
já não lhe procurava na cama com a mesma frequência de antes, não lhe dava beijos de bom dia, nem de boa noite. Não dormia abraçado a si, preferia o travesseiro, e diversas vezes durante a noite, Melanie o escutara proferir um nome.
.


And he talks about you in his sleep
And there is nothing I can do to keep
From crying when he calls your name, Jolene




Seu olhar percorreu a sala, caindo novamente sobre , ainda alheio à sua volta, com a atenção voltada para o violão. Sentiu os lábios vibrarem, o nariz congestionar e os olhos queimarem, a sensação de chorar crescendo, subindo por sua garganta. Ele era o homem que amava, que havia se encantado desde a primeira vez que o vira, que a fizera feliz, e que ela fizera feliz, mas nada daquilo parecia importar mais, não parecia fazer diferença. O que ela poderia fazer? Estar grávida dele não iria prendê-lo a si, não a largaria com o bebê na barriga, mas também não a amaria, não como antes.
Se de fato havia lhe amado algum dia.
Prometera a si mesma que não choraria mais por homem, não depois de seus desastrosos encontros românticos, e quando apareceu em sua vida e lhe mostrou que nem todos eram como os outros, que nem todos queriam lhe magoar, ela acreditou e viu a possibilidade de ser feliz alguma vez, e tinha a garantia daquela felicidade quando ele fez o pedido de casamento, mas mal sabia ela que aquele bebê engraçado que havia conhecido em seus dias de namoro viraria o pior de seus pesadelos.
Como aquilo era possível? Eram do mesmo sangue, eram parentes, mas aquilo não impedia de provocá-lo, não impedia de medi-la de todas as maneiras. O pior não era o desejo carnal que um sentia pelo o outro, era o carinho que via em seus olhos, era a intimidade que Melanie nunca teve com ele, um laço maior do que poderia desejar.
A melodia continuou, e ela respirou profundamente, controlando as lágrimas que queriam cair, mas no momento seguinte, quando a campainha tocou, seu coração deu um salto em seu peito, a vontade de chorar ficou mais evidente, quando largou o instrumento e abriu a porta da sala, revelando o pior de seus pesadelos.
E ela estava ali, radiante como sempre, sorridente como sempre. Melanie olhou para o rosto do marido, vendo a satisfação estampada em seus olhos, todo o amor, todo o desejo, estavam ali, ele nem ao menos conseguia disfarçar. E o mesmo ocorria com , o jeito que as mãos apressadas da adolescente correram para os ombros do homem, abraçando-o com força, enterrando seu rosto em seu pescoço, apreciando aquele perfume tão delicioso que possuía. O perfume favorito de Melanie.
Por um momento, achou que os dois esqueceriam que ela estava no local, mas logo se soltaram e a cumprimentou, da mesma maneira fria que sempre fez, o mesmo jeito distante, mas, ainda assim, chamando-lhr de “tia”, o que só distorcia as coisas na mente de Melanie.
Não teve coragem de interferir quando avisou que subiriam, dizendo que queria mostrar algumas coisas para a sobrinha, e Melanie apenas afirmou com a cabeça, vendo-o pegar o violão e subir com , conversando animadamente as suas costas.
Melanie respirou fundo, controlando o choro, e, com o coração na mão, subiu, silenciosamente, as escadas atrás do casal. Queria ver de perto, queria ter certeza, ao mesmo tempo em que não queria saber de nada. A dúvida já estava plantada em sua mente, a faca cravejada em seu coração, bastaria uma espiada para toda a tristeza inundar seu corpo.


Well I can easily understand
How you can easily take my man
But you don't know what he means to me Jolene
Well you could have your choice of men
But I could never love again
He's the only one for me Jolene
And I had to have this talk with you
My happiness depends on you
And whatever you decide to do Jolene




Caminhou calmamente pelo corredor da casa, tentando fazer o menor barulho possível, por mais que, do escritório de , se ouvia uma música alta. Para a sua sorte, a porta estava entreaberta, não chamaria a atenção tentando abri-la, por isso se aproximou cada vez mais, podendo espiar parte do escritório do marido, vendo o mesmo sentado à ponta da mesa, com apenas as pernas encostadas contra a madeira do móvel, ambas abertas, e no meio, estava , o corpo colado com o dele.
“Pequena, melhor não fazer isso” a voz dele ecoou por debaixo do som. Melanie sentiu a doçura proferida por aquelas palavras. “Melanie está em casa”
“Eu sei disso” bufou “Mas, só um pouco, por favor... Sinto tanta falta desses lábios” levou o dedo indicador aos lábios do homem, contornando-o. sorriu malicioso e mordiscou a ponta do dedo dela, fazendo-a rir.
“Você me faz percorrer caminhos perigosos, garota” as mãos dele encontraram a cintura dela, deslizando por todo o local, amassando o leve vestido que ela usava.
“Como se você não me fizesse fazer o mesmo, não é?” Ela levou as mãos aos cabelos dele, antes de se aproximar do rosto de , selando os lábios em seguida.
Melanie ofegou com aquilo, levando uma das mãos aos lábios, enquanto a outra ia para o ventre arredondado. Tanto tempo imaginou que aquilo poderia estar acontecendo, mesmo não querendo acreditar, e agora estava ali, a prova a sua frente, sendo esfregada contra seu rosto. As lágrimas correram soltas, como rios de água salgada por suas bochechas, ela mordia os dedos tentando conter os soluços. Mas não conseguia desviar o olhar.
O jeito que a beijava, o jeito que a segurava pela cintura, puxando-a cada vez mais contra si, como se quisesse se fundir a ela. não estava muito atrás, puxava com ferocidade os cabelos do homem, ficava na ponta dos pés para alcançar melhor seus lábios, os olhos firmemente fechados.
nunca havia lhe beijado com tamanha paixão como fazia com a sobrinha.
A sobrinha.
Melanie estava perdendo seu homem para uma garota, uma adolescente, a menina que trocou as fraldas quando bebê, que ensinou a andar, a usar uma bicicleta, a escrever, a ler... Tudo. Ela havia sido trocada por alguém que ele considerava como filha, mas não era a filha que ela via ali. Melanie sentia que estava vendo a outra parte de , a parte que faltava. E não era ela.
E o que ela poderia fazer para competir contra aquilo? O que ela poderia fazer para mudar? O coração não escolhia quem se amava, quem desejava. O dela havia escolhido, era , sempre fora , e sempre será . Mas o coração dele não havia lhe correspondido. E ela nada poderia fazer, de nada poderia brigar, de nada poderia argumentar. Que poder tinha uma mulher contra um homem apaixonado? Contra um casal apaixonado? E um casal que já tinha o mundo contra eles.
Ela poderia muito bem contar para a família, poderia tirar fotos dos dois, arruinar com a carreira de , arruinar sua relação com o irmão. Mas ele nunca mais iria olhar em sua cara, nunca mais ficaria perto de si.
O casal se separou, mantendo sorriso nos lábios, e aquela foi a ruína para Melanie. Ela se afastou, com a mesma calma de antes, tentando não proferir nenhum barulho, e desceu as escadas, enxugando o rosto no caminho. Ainda era a esposa dele, tinha o sobrenome de , carregava seu filho.
Aquilo não iria terminar assim.


Jolene Jolene Jolene Jolene
I'm begging of you please don't take my man
Jolene Jolene Jolene Jolene
Please don't take him even though you can



Fanfic betada por Madu Alves



Fim



Nota da autora: (01.05.2015)
Sem nota.







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