Medo, Morte e Sangue








Toda vez que eu ia dormir o sentia sentando na beira da minha cama, assim que as luzes se apagavam, e ela se sentava na escrivaninha, perto de minha cama.
Faziam-me abrir os olhos e encarar os dois. Ele era alto, com o rosto pálido que dava para ver o contorno de suas veias, olhos extremamente abertos e pretos sem brilho, a boca era enorme, parecia que fora rasgada. Ela por sua vez, uma menina pequena, com uma bela fita envolvida nos cabelos, uma fita que uma vez foi minha quando eu tinha meus oito anos, dei a ela assim que completei meus doze, estava muito velha para usar uma fita azul na cabeça. Era uma garotinha de pele pálida e olhos tão verdes que pareciam brilhar no escuro, sua boca pequenina, tinha formato de um coração, as bochechas quase roxas, assim como sua boca, as olheiras negras e profundas acumulavam em torno de seus olhos. Ele usava uma roupa esquisita, um terno azul com listras roxas e rosas, calças pretas de couro. Ela usava um vestidinho feminino, azul clarinho, a fita na cabeça, meia-calça finas na cor branca e os sapatinhos negros com uma fita rosa bebê.
Era sempre assim, eles nunca falaram comigo, apenas sorriam para mim. Eles aparecem desde meus sete anos de idade, nunca contei aos meus pais sobre Artemísia e Louder, como eu os chamava, somente para minha vizinha Jeniffer, que apenas gargalhou de mim e me chamou de louca na frente da escola pública de WesterHill, desde então, nunca tive amigos.
Olhei para o relógio ao meu lado, eram uma e um da manhã, Louder e Artemísia ainda estavam lá, me olhando e sorrindo para mim. Eu nunca troquei palavras com eles, então deve ser por isso que eles nunca falaram comigo.
Olhei para os dois e sorri, sendo retribuída. Levantei da cama e sentei ao lado de Louder, não tinha mais medo deles.
- Olá! – disse para os dois. – Eu me chamo Sidney! Eu gosto de chamar vocês de Artemísia. - apontei para a garota – E você de Louder! – apontei para a coisa enorme. – Qual o verdadeiro nome de vocês?
- Não temos um nome, nunca tivemos. Apenas nos chamam de Medo e Sangue. – disse a pequena garota, dando um sorrisinho.
- Por quê? Medo e Sangue? – perguntei confusa.
Os dois se encararam e riram. Depois tudo apagou. Acordei com o despertador tocando.
Medo e Sangue não estavam mais lá, mas Pingo sim. Morte é um pequeno homem, ele tem uma barba maior que ele, e não deve passar de uns setenta centímetros de altura. Morte pelo menos conversa comigo sem eu precisar falar nada, mas a única coisa que ele sabe fazer é me arranhar ou deixar meus braços roxos. Tem vezes que eu acordo com uma marca vermelha na barriga, ele mesmo diz que faz aquilo em mim, com a ajuda de Sangue e Medo.
Passei meu tempo na escola, volto a pé sozinha, são apenas três quarteirões. Temos apenas essa semana de aula, até eu completar o sexto ano na escola.
Todas as quintas, depois da escola, eu tenho que ir a um médico especial, papai e mamãe o chamam de psicólogo. Eles dizem que pessoas como eu, especiais, devo ir neste médico, para ver como nos saímos durante o dia.
Cheguei em casa, o cheiro da comida de minha mãe estava delicioso, cumprimentei ela e subi as escadas com minhas coisas da escola.
Foi uma surpresa quando abri a porta e pude ver Medo, Morte e Sangue sentados em minha cama, olhando diretamente para mim. Sorri para eles e eles sorriram para mim.
- Olá! O que fazem aqui, Medo e Sangue? Vocês não me visitam só de noite, todos os dias? Nem passaram das duas horas da tarde ainda. – sorri para eles, surpresa em encontrar meus amigos.
- Querida Sidney, queremos brincar com você! – disse o Medo, com um quase que imperceptível sorriso no rosto.
- É Sid! Nós sentimos sua falta, e agora nós queremos brincar! – disse a pequena garota, Sangue.
- Brincar de que? – perguntei.
- É simples, se chama: O jogo das almas perdidas! É muito legal! – disse Morte, sorrindo amigavelmente para mim – Sabe, Sidney, ás vezes o mundo dos vivos se encontra com o dos mortos e acaba por criar uma estranha paisagem em sua mente. O objetivo é simples, entregue a alma de seus pais para nós podermos brincar para sempre!
Entregar a alma de meus pais? Mas eu queria tanto brincar com eles!
-Tudo bem, como posso fazer isso?
-É fácil querida! O ritual já foi feito em seus pais ontem de noite! Foi para facilitar a brincadeira para você...
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E lá estava eu, seguindo a regra do jogo. Esperei meus pais dormirem e peguei o machado do celeiro ao lado da casa dos Whintersons.
Mamãe dormia feito um anjo, igual ao papai. Eles iam adorar a brincadeira.
Peguei minha filmadora que ganhei de aniversário, coloquei em cima da mesinha perto da cama, sem fazer um mínimo de barulho, e então, olhei para a filmadora que nos gravava, percebi que Medo, Morte e Sangue estavam ao meu lado, sorri para eles e fiz o que Morte havia mandado.
- Alguns são ingratos para estarem vivos, mas vocês não, mamãe e papai, não mais. Como podem achar que Deus está morto, se lhes mostrei o Diabo! – após falar isso, golpeei mamãe com o machado, o sangue jorrou por todas as paredes e inclusive um mim, aquilo estava divertido. Sangue então sorriu para mim e desapareceu.
Papai acordou assustado com a cena, mas era para ele estar se divertindo!
Então papai olhou para mim e gritou, saiu correndo, e nós saímos atrás dele, junto com Medo e Morte ao meu alcance.
Papai parou em uma parede que era fechada por mais duas, uma ao lado esquerdo e outra no direito.
- Papai! Nós só queremos brincar!
Acho que papai percebeu Morte e Medo atrás de mim, formando no rosto um misto de nojo e medo.
Medo se agachou até a minha altura e sussurrou em meu ouvido: “Pegue o coração dele para a Morte e deixe com a feição de medo para mim, meu doce!”
E foi o que fiz. Dei o coração de meu pai para a Morte, que me agradeceu e foi embora junto com Medo, que ficou feliz em ver a feição no rosto de meu pai.
E foi assim, durante anos, desde meus doze anos, vivi sempre com essa culpa no peito, de ter escutado os demônios e matado friamente meus pais. Agora sou condenada a viver nesse lugar de trevas, servindo para eles.
Agora sou um deles, quando as luzes de sua casa se apagam, eu estarei lá, embaixo de sua cama, ou ao seu lado, te observando, esperando você despertar para sua alma e a de seus pais pertencerem a mim, e somente a mim.
Boa noite e bons pesadelos.


Fim



Nota da autora: (03.05.2015) Sem nota.




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