Escrita por: Samya G.
Betada por: Flávia C.








The bubblegum bitch
Ele


Um mês antes do casamento. Memórias do .

Eu a conheci a no fundamental.
Quinta série. Primeiro dia de aula. Foi no recreio, quando ela pediu minha beyblade emprestada e ganhou de todos os garotos.
Aquele foi o primeiro sinal que havia alguma coisa errada com aquela menina.
Mas na época eu vi aquilo como afinidade e nós viramos melhores amigos. E não era nada estranho eu, um garoto, ter uma menina como melhor amiga porque, veja bem, ela era a melhor zagueira do time de futebol. Fechava todos os jogos de vídeo game antes dos meus amigos. Comia dois big macs e era a mais rápida nas corridas depois da escola para casa.
Segundo, terceiro, quarto e quinto sinal.
Depois a adolescência veio, os hormônios começaram a florescer e de uma hora para outra eu estava apaixonado pela . Primeiro amor, você deve saber como é.
Aos treze anos eu roubei um beijo dela. Foi o primeiro, pra mim e pra , e cinco segundos depois eu a vi colocar a mão na boca, chocada, e sair correndo do meu quarto.
Sexto sinal.
Depois daquele episódio as coisas começaram a ficar um pouco estranhas. Nós acabamos nos afastando porque com o passar dos anos ela começou a trocar as beyblades, o futebol, e as partidas de vídeo game lá em casa por esmaltes, salões de beleza, e cafeteria com as amigas. Eu nunca deixei de ter uma queda pela . Principalmente quando ela começou a agir feito menininha e a usar saias. Naquela época eu protagonizava um otário quando estava perto dela, gaguejava, suava nas mãos, e sentia uma falta filha da puta da minha melhor amiga misturada com a vontade de meter a mão por aquelas pernas dela.
Apesar de tudo isso, eu nunca deixei de ficar com ninguém por causa dela. Muito pelo o contrário. era toda fechada e eu nunca a via com menino algum - observe o sétimo sinal – e com a minha pouca chance de conseguir algo com ela, eu descarregava todo o meu fervor juvenil nas outras garotas.
O que, vamos combinar, não era nenhum sacrifício.
O inferno começou aos dezenove. Nós e muitos amigos em comum fomos aprovados pela universidade da nossa cidade e resolvemos fazer uma festa de comemoração.
Dafne era, sem dúvidas, a garota mais gostosinha da festa. Há dias eu vinha investindo nela e preparando o meu terreno para poder aproveitá-la naquela noite. O problema era que já passava da uma da manhã, a garota havia sumido, tinha ido com um vestidinho curto me provocando inconscientemente a festa inteira, e eu ainda não tinha pegado ninguém. Eu estava basicamente soltando fogo pelas ventas. Então me disse que tinha visto e Dafne passarem pela porta e irem para o jardim, e meu maior erro foi ter ido atrás delas.
O que eu vi a seguir se tornou meu pior pesadelo durante anos.
As pernas lisas, sustentadas pelos saltos altos estavam entrelaçadas, uma das mãos Dafne estava na barra do vestido de e acariciava aquela coxa que eu sempre quis tocar. As mãos de puxavam os cabelos longos de Dafne, e elas se beijavam com fervor. Batom com batom. Unhas grandes e vermelhas arranhando a pele delicada uma da outra. Perfumes femininos se misturando no ar.
Dafne e cheias de sensual feminilidade agarrando uma a outra nos fundos da casa do .
Bom, aquele não foi um sinal. E sim um letreiro em neon estampado em frente a minha cara de panaca.
A garota que eu gostava (e que eu perdi tempo gostando a minha vida inteira) era lésbica.
Mais do que isso.
A vadia tinha um tino pra pegar justamente quem eu queria.
Convivendo com ela por cinco anos na mesma universidade, eu posso afirmar, infernizou toda a minha vida na faculdade pegando as minhas garotas, e com isso todo o amorzinho adolescente que eu sentia por ela se dissipou.
Três anos depois de formados, nós só nos víamos em aniversários dos amigos em comum ou algumas outras raras ocasiões festivas.
Até o resolver se casar e me chamar para padrinho, e chamar a para madrinha. Isso até poderia dar certo.
Se Brianna não fosse a dama de honra.

I kissed a girl and I liked it
Ela


"Us girls we are so magical
Soft skin, red lips, so kissable
Hard to resist, so touchable
Too good to deny it
Ain't no big deal, it's innocent..."


15 dias antes do casamento, reunião comemorativa de amigos e familiares dos noivos. Casa do .

Brianna era prima de e tinha a mesma idade que eu, vinte e cinco anos. Acabou caindo no cargo de dama de honra por falta de crianças nas famílias dos noivos.
Os noivos, na verdade, não poderiam ter escolhido daminha melhor.
Ela era praticamente uma boneca. Baixinha, branquinha, magrinha, sorriso doce, gestos delicados, olhos verdes, pele macia, cabelos louros platinados com cachos largos perfeitos, lábios cor de cereja, busto 38, cintura fina, coxas redondas, panturrilhas lisas, pezinhos inclinados num salto 15...
- Sai, . A dama de honra é minha.
Ah, minha puta que pariu. Tinha que ser o .
- Ah meu Deus, quer parar de me perseguir? E sinceramente, você com aquela garota? Tenha dó, .
- Eu te persigo? Essa é boa... E quer apostar? - ele subiu uma das sobrancelhas, sorrindo de lado.
- Não, desculpe, já passei da fase do ensino médio.
Ele deu de ombros.
- Você não sabe se ela vai gostar de... Você. – insinuou cheio de pretensão.
- me disse que ela já namorou uma garota um tempo atrás. – sorri vitoriosa, sorvendo meu champanhe.
- Você sabe que nós não precisamos voltar aos tempos da faculdade, não é? Somos maduros agora, podemos dividir. – sorriu travesso.
Ah, bebê, dois podem jogar esse jogo.
Coloquei minhas mãos sob a textura do suéter azul marinho que ele vestia e escorreguei os dedos por ali, sentindo a superfície rígida por debaixo do tecido.
- ... Eterno mal de vocês héteros acharem que toda lésbica está à disposição de seus fetiches threesomes. Vai com calma, amigo, assim vai parecer que você não trepa faz um mês.
Ele riu negando e depois inclinou o rosto para perto do meu, deixando um selinho na minha bochecha.
- Você não mudou nada, .
E de repente ele soou como o garotinho fofo que eu conheci 15 anos atrás.
- Ah não? Então me observe. – pisquei, saindo do seu abraço e indo para perto da mesa em que estava o pessoal.
Roubei o lugar de , que havia ido ao banheiro, e me sentei ao lado da Brianna. Poucos minutos de conversa depois, eu já havia aproximado minha cadeira da dela, colocado sua franja atrás da orelha e a abraçado para a foto que ela pediu pra tirar comigo. olhava tudo do outro lado da mesa, prendendo um sorriso de diversão. Quando eu toquei a coxa dela, assim como quem não quer nada e só está gesticulando enquanto conversa, ele se levantou e veio até nós.
- ! Quanto tempo! – Brianna se levantou e o abraçou. O filho da puta piscou para mim enquanto a abraçava. Escorregou a mão de cima a baixo pelas costas dela mais de duas vezes, ele realmente não estava para brincadeira.
- Aniversário da dois ou três anos atrás, sim? – franziu a testa, fingindo tentar se lembrar. A loira assentiu, sorrindo. – Não irei mais perder esses eventos. Você está cada vez mais linda.
Eu conhecia essa tática, era uma das minhas! Que grande filho da puta!
A tática se baseava em falar algo levemente sugestivo em tom de brincadeira e sorriso galante. Se o alvo corasse, ponto para você. Se ele não desse bola, você estaria apenas soando extrovertido.
Brianna corou e – pasmem - colocou os cabelos atrás da orelha. Garotas de vinte e cinco anos ainda fazem isso? De qualquer forma, ela riu um pouco sem graça e desviou os olhos dizendo “Vem, sente-se aqui conosco.” O filho da mãe puxou uma cadeira para o outro lado dela e iniciou um assunto qualquer com um sorriso alegre nos lábios.
Esse era o maior sex appeal do , na verdade. Ele nem devia saber, já que não era proposital, mas o diferencial dele com as garotas sempre foi o fator “garoto bonzinho” que vinha junto com aqueles sorrisos. Eu tinha alguns apelidos provocativos para ele na época da faculdade. Fofo, bebê... odiava, mas sempre foi verdade. Acho que ele só fazia o tipo garanhão porque era realmente muito bonito. Se fosse feio provavelmente seria o nerdzinho da mamãe até hoje.
- , você está ouvindo isso? está me contando da formatura de vocês... - sorriu.
- Jura? Ele já contou a você da vez em que eu, ele e quase fomos expulsos do colégio?
- Não! Me conta. - arregalou os olhos verdes e mordeu os lábios. Eu contei a história com várias pausas dramáticas, fazendo-a rir. também dava umas pinceladas nos fatos, mas eu não o deixava ganhar muito espaço. Sinceramente? que tirasse as patinhas de cima dela.
Brianna era encantadora demais para não ser minha.

Boys they like a little danger
Ele


10 dias antes do casamento, jantar dos padrinhos na casa da Brianna.

Assim que eu desci do carro, vi caminhando pela entrada da casa de Brianna. Ouvindo a batida da porta, ela se virou para trás. Mal colocou seus olhos em mim e já soltou um riso de deboche.
- Flores, ? Sério? –perguntou, tocando a companhia.
- Qual o problema com as flores? – sério? Que mal tinham os lírios?
- Nenhum, principalmente se ela fosse sua namoradinha inocente de dezessete anos.
Levantei uma das sobrancelhas, tentando entender o ponto dela. rolou os olhos e prosseguiu.
– Imagine como ela vai poder usufruir disso – apontou com o queixo paras as flores – E disto. – sorriu, movendo o objeto que segurava para frente do corpo, na minha linha de visão.
Era uma garrafa de vinho. Francês.
Realmente, ela tinha um ponto.
A porta se abriu antes que eu precisasse respondê-la. Brianna sorriu para nós e assim que botou os olhos em , exclamou.
- Oh, , um Chapoutier?! Nós vamos tomar esse vinho juntas! Obrigada, linda. - Depois me viu. – Ah, ! Que adorável! Obrigada, mas vamos, entre! - ela nos guiou até a sala, onde estavam mais alguns primos de e .
- O cheiro do seu recalque está impregnando o ar. Disfarça. – sussurrou, me provocando.
Eu juro que a cotovelada discreta que eu dei em seu braço saiu sem querer.

conversava animadamente com Brianna enquanto Marty, primo de , me amolava com seus papos sobre a última feira de lançamento de jogos que tinha ido. Eu estava apenas esperando a oportunidade de sair dali, mas o cara não parava de falar.
E eu podia ouvir a gargalhada alta e espalhafatosa da daqui. Ela contava sobre alguma coisa falando muito alto e pontuando todas suas frases com no mínimo dois palavrões. Eu ria discretamente porque aquela era uma péssima tática para conquistar alguém, mas era legal ver que não deixava de ser ela mesma. Ainda assim ela estava usando todo o seu charme para cima de Brianna. Tocava na garota toda hora. Sorria, olhava e sorria de novo. Talvez Brianna nem tivesse percebido, mas tinha acabo de tirar o sobretudo relevando o decote de seu vestido tomara que caia.
Assim como na outra noite, eu me aproximei delas e vi rolar os olhos. Sorri malicioso especialmente para ela, e depois simpático para Brianna.
- Ah, , venha aqui! Eu estou abrindo o vinho que a me deu. Quanto bom gosto... - a loira falou, puxando a rolha com dificuldade. Antes que , que já estava sorrindo vitoriosa, pensasse em estender as mãos eu me ofereci para ajuda-la, abrindo a garrafa sem dificuldade.
- Álcool é com ela mesma! – pisquei, vendo Brianna rir e me lançar um sorriso debochado.
Servi a taça das duas e depois a minha. Eu já estava virando a bebida na boca quando gritou.
- Parem! Mas o que vocês estão fazendo? Temos que brindar!
- Brindamos a que então? – Brianna perguntou divertida.
- Aos noivos. – Marty se intrometeu lá do outro canto do cômodo, e todos os padrinhos acabaram rindo e participando do brinde.
- Vocês já escolheram seus presentes para os noivos? Eu vou buscar o meu semana que vem, mas não sei se vou conseguir carregar sozinha. – espera, aquela era a Brianna fazendo charme?
- Eu posso te ajudar se você quiser. – respondi antes de , que tinha tentado se oferecer também. Tive que prender o riso pelo olhar completamente puto que ela me deu.
- Você faria isso? Ah , muito obrigada. – ela sorriu docemente.
- e eu vamos comprar o nosso amanhã. – falou. Suspeitei imediatamente do seu sorriso carregado de malícia.
- Ah, vocês vão comprar juntos?
- Sim, somos um casal de padrinhos, vamos presenteá-los juntos também. Vamos aproveitar e já buscar as alianças que separou na joalheria.
Alguém chamou Brianna e ela pediu licença para ir atender. Dei a última golada em meu vinho e peguei a garrafa para colocar mais. No meio do processo recebi um tapa na mão.
- Sai que não é pra você! É da Brianna! – ralhou. Eu apenas sorri de lado e continuei me servindo, completando o copo dela também.
- Acho que ela vai perder esse, . – Apontei para trás com a cabeça e indiquei a loira que conversava com Marty. – Ele provavelmente vai segurá-la lá por uma hora falando de jogos.
Ela olhou para os dois e franziu a testa.
- Preocupada? – provoquei.
- Claro que não, . Olhe bem para mim e veja se eu tenho com o que me preocupar. – sorriu confiante e levou os lábios vermelhos até a taça, sorvendo o líquido lentamente enquanto me olhava. Depois que ela terminou de beber e enxugou os lábios com a língua, eu não pude evitar escorregar os olhos pelo resto das curvas muito bem delineadas ao longo de seu corpo. Não havia dúvidas, ela sempre seria a porra do meu ponto fraco. era feita de praticamente tudo o que eu gostava nas mulheres. O sorriso divertido, a postura confiante, a espontaneidade e aquele senso de humor insano que ela tinha, só faziam dela uma mulher ainda mais interessante.
- Droga, , não há nada que eu odeie mais do que o fato de você ser lésbica. – virei metade do conteúdo da taça na boca, a ouvindo rir alto.
- Eu sempre desconfiei disso, fofo. – disse com um sorriso divertido nos lábios. Eu resolvi ignorar sua frase por causa do apelidinho infame.
- Me diz uma coisa. Você nunca ficou com um cara? – essa era, entre outras coisas, algo que nunca conversei com ela mas que sempre tive curiosidade em saber.
- Claro que já.
- Já? – merda, onde eu estava quando isso aconteceu?
- Lógico. Eu seria hipócrita se renunciasse a algo que nunca provei, sim? Adolescência esteve aí para isso.
- E você não gostou mesmo...?
- Foi bem sem graça, para falar a verdade. – deu de ombros. – E vamos combinar , garotas são muito mais interessantes. – disse com os olhos distraídos na figura de Brianna.
Já os meus olhos continuaram fixos nela.
E eu não pude deixar de concordar.

7 dias antes do casamento, estacionamento do shopping.

Eu havia sido acordado às oito e meia da manhã com meu whatsapp apitando a mensagem de um número desconhecido.

“Oi, ! É a Brianna. Lembra-se daquela ajudinha? Pode me buscar às 10 no estacionamento do shopping? Prometo que te recompenso direitinho quando chegarmos lá em casa, fofo. Xx”

Apesar do horário, a mensagem poderia até soar animadora se não fosse a única pessoa do mundo que me chamasse de fofo.
Salvei o numero dela nos meus contatos e no horário combinado eu estava lá. Pensei que iriamos nos encontrar para comprarmos os presentes juntos, mas quando cheguei já passava pelas portas automáticas carregando uma sacola tão gigante que deixaria qualquer papai noel com inveja.
- Venha aqui, , me ajude com isto! O presente também é seu! – falou, carregando a sacola com dificuldade. Sai do carro e peguei a sacola das mãos dela, abrindo a porta traseira para colocar o presente lá. não perdeu tempo e logo se acomodou no banco do carona. Eu estava para fechar a porta quando vi algo de relance dentro da sacola.
Ah, minha nossa. Ela não fez isso.
Eu já sabia que era verdade antes mesmo de trazer a sacola de volta para perto.
- Mas que porra é essa?
Ela se virou no banco para me olhar.
- O que foi? Você não gostou da cor? Eu achei que tom de pele cairia melhor. O vermelho passou uma impressão estranha... – falou, se referindo ao vibrador que eu segurava.
Um cara passou por perto e olhou debochado de mim para o objeto e eu enfiei aquela merda de volta na sacola. Aquilo estava entupido de artigos eróticos. Correntes, algemas, chicotes, fantasias, calcinhas...
Dei a volta e entrei no carro porque em nada adiantaria tentar conversar com aquela maluca do lado de fora. E convenhamos, eu poderia enforcá-la mais discretamente ali dentro.
- Que merda é essa, ? – por que eu estava discutindo mesmo? Era ali, afinal. Não sei se ela podia evitar ser completamente insana.
- Nosso presente, ora. – deu de ombros, me olhando como se eu fosse um ET por não entender que aquilo era de fato um presente.
- Artigos eróticos? Você acha mesmo que eu vou dar isso para e ?
- ... tem cara de quem vai passar a assistir TV antes de dormir e se esquecer de trepar no mínimo umas três vezes por semana. Nós estamos salvando esse casamento da desgraça! Acredite em mim!
Eu não pude evitar rir incrédulo por ela ter feito mesmo aquilo. riu também, tão travessa quanto uma criança de sete anos que aprontou faria.

Enquanto a gente compartilhava aquelas risadas dentro meu carro, eu já nem podia dizer que estava bravo mais.
- Você me deve... Hm, noventa euros. – falou como quem não quer nada, sorrindo ainda.
Retiro o que eu disse.

I’m curious for you, caught my attention
Ela


3 dias antes do casamento. Ensaio da valsa dos padrinhos. Estúdio de dança.

- Cristo, quando é que essa história de casamento vai acabar e eu vou poder voltar a comer bacons no café da manhã? Bom dia, gente... – entrei na sala, largando a bolsa em uma cadeira perto da porta. Logo avistei ao lado da janela. – Espera, isso aí é um caramelo macchiato? Me dá um pouco aqui.
- Dia pra você também, . – ele ironizou. Eu apenas assenti concentrada em sugar pelo canudinho todo o café da manhã dele.
Açúcar, açúcar, açúcar.
- Bom dia, pupilos! Agora que estão todos aqui... Meu nome é Mathieu e hoje vocês vão aprender a verdadeira arte da valsa inglesa! Diferentemente da valsa vienense, a inglesa se distingue por...
não havia tirado os olhos de mim.
- Aceita? – Perguntei de brincadeira, indicando a bebida dele que estava em minhas mãos.
Ele sorriu de lado e se inclinou para perto de mim. Assim que a boca dele alcançou o canudo, seus olhos também alcançaram a altura dos meus. Nem dava para ver se ele estava bebendo de verdade, mas ele levou longos segundos me encarando de perto com aqueles olhos .
Engraçadinho esse , hein?
Eu já estava por dentro dos fatos. Ele havia saído com Brianna ontem para ajudá-la com o presente. Não sabia ao certo qual foi o nível de aproximação dos dois durante essa saída, mas estava decidida a descobrir e virar o jogo o quanto antes.
Quando ele se afastou eu soltei o ar com força, aliviada. Só então notei que havia prendido a respiração enquanto ele estava perto.
Mas por que diabos...?
-A valsa é dançada com uma postura elegante e ereta. Nada de se animar e remexer os quadris ou os ombros. Em seus pares, por favor...
Deixei o copo vazio no peitoril da janela e segui para o meio da sala, onde estavam todos. Nós paramos frente a frente.
- A mão direita do cavalheiro é colocada na parte de trás do ombro esquerdo da senhora... – aproximou nossos corpos e colocou a mão direita onde ela deveria ficar. Confesso que o cheiro de perfume masculino que veio junto com a sua proximidade me deixou um pouco confusa sobre o que fazer a seguir. Mas ele parecia saber muito bem o que fazer colando nossos corpos daquele jeito.
- Isso, já podem praticar, assim, muito bem... – Mathieu circulava pela sala e quando passou por perto parou em nós, intervindo na mesma hora.
– Um pouco de espaço aqui, meu rapaz, isso não é um tango. – afastou nossos corpos com a mão, e eu abafei uma risada pela careta de . Mathieu continuou com a aula.
-Já a mão esquerda do cavalheiro segura a mão...
Constantemente a mão de escorregava da parte de trás do meu ombro para minha cintura, e quando isso acontecia ele corrigia o erro voltando com a mão lentamente, deixando uma trilha de formigamentos estranhos pelas minhas costas.

- Caralho, , não pisa no meu pé! – resmunguei. Eu já tinha sofrido duas pisadas calada, não dava mais para segurar.
- Desculpa – ele sorriu e passou a olhar para baixo, vigiando os pés.
- Não, senhor, cabeça erguida! Deixem que o ritmo embalem vocês... – Mathieu passou por nós e ergueu o rosto de com um dedo pelo queixo. Assim que nossos olhos se encontraram, um arrepio desceu pela minha espinha.
- Vamos lá, , você consegue. – falei, querendo por tudo descontrair aquele momento estranho.
- O que é que eu não consigo, não é? – aquilo foi uma indireta? Aquele sorriso largo no rosto dele por acaso teria algo a ver com o fato dele ter notado que eu estava sofrendo umas... Turbulências? Turbulências completamente sem sentido, por sinal? Porque Deus do céu, aquilo não podia ser atração.
Eu nem percebi, mas acabei perdendo o tempo que tinha para respondê-lo e o filha da mãe alargou ainda mais o sorriso. Desceu a mão do meu ombro para a base das minhas costas e aproximou nossos corpos de novo. Gente, ele está infligindo às regras da valsa inglesa! Ninguém vai parar esse homem? Ninguém?
Mathieu.
- Mathieu! – verbalizei meu grito de socorro. O professor, que estava do outro lado da sala, me olhou em dúvida.
Ok... O que eu falo agora?
Cinco pares de cabeça também me olhavam, esperando pelo o que eu tinha de tão importante para falar.

- Podemos fazer uma pausa para eu fazer xixi?

Ok, alguma coisa não estava certa nessa história.
Entrei no banheiro e apoiei as mãos na pia, me encarando no espelho. O que havia de errado comigo? Depois de tanto tempo... Um cara? ainda por cima? Sério, ?
Balancei a cabeça em negação, afirmando para mim mesma o que eu já sabia.
Eu gostava de garotas.
Todas essas coisas estranhas com não eram nada.
Pensar em garotas me fez lembrar de Brianna. Mentalizei a sua imagem e foquei no quanto ela era bonita e como seus lábios cor de cereja eram beijáveis.
Peguei o celular no bolso da calça e encarei a tela. Acho que já havia passado da hora de chamá-la para sair.

Hit me with your sweet love, steal me with a kiss
Ele


Ainda no estúdio de dança.

Eu nunca havia visto fugir, era uma atitude completamente avessa a quem ela era. E justamente por ter apelado a isso que eu sabia que ela não iria voltar.
Quinze minutos de espera depois, falei para um Mathieu realmente aborrecido que continuasse com a aula enquanto eu a procurava. Não foi surpresa nenhuma achá-la sentada no banco do vestiário feminino jogando algum joguinho no celular. Sentei ao seu lado.
- Estão todos te esperando lá fora, sabe.
- Surgiu algo inesperado. – falou, sem tirar os olhos da tela.
- Um aplicativo no celular?
- É. Cara, olha isso. Você consegue passar dessa fase? – se tinha algo que eu aprendi na vida era nunca tentar ser mais teimoso do que a . Ela sempre iria ganhar. Então em vez de questioná-la por sua fuga eu apenas peguei seu celular e perdi uns dez minutos tentando matar a porra do coelhinho azul. Quando a musiquinha da vitória tocou, ela me tomou o aparelho e jogou a próxima fase. E quando a musiquinha da vitória tocou indicando que ela tinha terminado, eu tomei o celular de suas mãos ouvindo-a rir e debruçar em meus ombros para me ver jogar.
Nós continuamos nos revezando daquele jeito até Mathieu entrar emputecido no vestiário.
- Vocês dois serão a vergonha desse casamento! Esta garota parecer ter jeito para tudo nessa vida, menos para a dança. E você sequer consegue ver a diferença entre uma valsa e um forró! Todos já foram embora e eu também tenho outras turmas para ensinar! Se não quiseram assistir a aula, que fiquem agora praticando! As chaves do estúdio vocês deixem com o porteiro ao sair. – falou falou e bateu aporta.
Nós ficamos em silêncio até soltar um risinho abafado. Aí eu também não me segurei e começamos a rir.
- Meu Deus! Eu não levo uma bronca dessas desde que saí de casa! – exclamou, a mão na frente da boca como quem está muito chocada.
- O quê? Mathieu deixou minha mãe no chinelo...

- Ok. Sem gracinhas dessa vez.
- Sim, senhora. – sorri, nos aproximando para tomarmos nossas posições. Ela me olhou desconfiada e fez cara de séria, subindo uma das sobrancelhas.
- Deixa de ser boba. – ri, juntando nossos corpos.
- Primeiro erro! Mantenha distância, cavalheiro. Onde está o seu pudor? – me afastou, corrigindo nossas posturas até que estivéssemos perfeitos para a valsa.
Ela seguiu todas as regras. O rosto virado olhando para o lado contrário ao meu, a postura ereta, os passos precisos, a elegância e o caralho a quatro.
- Tá, chega! Nó já somos mestres nisso. Vamos ver se já podemos lidar com situações improvisadas. – sorri malicioso, indo até o som e conectando meu celular.
- Aposto que não tem nada apropriado para valsa aí. – ela falou com desdém.
- Essa é intenção. – voltei até ela ouvindo os primeiros acordes de Ordinary Love do U2 começar a tocar. Posicionei minha mão atrás do seu ombro como mandava a tradição e valsamos toda a parte lenta da introdução de uma forma que deixaria Mathieu orgulhoso.
- Somos bons nisso mesmo, viu? – brinquei. acabou se rendendo e deixou que um sorriso de diversão aparecesse.
Hora de dar mais um passo.
Junto com a segunda estrofe, eu a puxei para mim, finalmente podendo sentir o calor de seu corpo pressionado contra o meu.
Assim que abriu a boca para reclamar eu a girei pela mão, transformando sua cara feia num riso contrariado.
- ... – resmungou. Eu apenas sorri e mexi nossos braços, me afastando totalmente da valsa.
Então ela finalmente se deixou levar e entrou na dança. Nós arriscamos um pouco de salsa, tango, e um tipo de dança que nem deve ter um nome. Mais rindo no processo do que realmente concentrados em não errar os movimentos.
Eu a girei mais algumas vezes, e me girei também, fazendo-a rir. Na última vez, não deixei que ela voltasse para os meus braços do jeito certo, a abracei enquanto ela ainda estava de costas para mim e embalei levemente nossos corpos no ritmo da música. Nossos sorrisos divertidos foram sumindo até nos encararmos pelo espelho sem sequer piscar. Sorri com malícia e deixei que minhas mãos descessem por seus braços, sentindo todo seu corpo ficar rígido. Afastei seus cabelos e passei o nariz por seus ombros, fazendo-a se encolher pelo toque.
- , você sabe que eu não curto isso...
Bom, eu acreditei nisso por muito tempo. Mas agora eu tinha minhas dúvidas.
Ela não estava me afastando, de qualquer forma.
Coloquei as duas mãos em sua cintura fazendo uma leve pressão e transformei o carinho com o nariz em pequenas mordidas e sopros, vendo a pele dela se arrepiar.
Com o mesmo movimento e impulso que usou para se afastar, eu a trouxe para perto e colei nossas bocas. E sem deixar tempo para que ela pudesse protestar, beijei-a sem delongas.
Foi muito mais do que eu esperava. Seus lábios quentes e macios escorregavam de um jeito torturante por entre os meus, como se fossem treinados há anos para fazerem aquilo comigo.
Um calafrio desceu pela minha espinha e eu a segurei pela nuca numa tentativa de fazê-la ficar para nunca mais sair. Parecia que sentíamos fome um do outro, e retrubia toda a minha força e desejo, embrenhando as mãos pelo meu cabelo. O outro braço eu passei em torno da cintura dela, puxando-a o máximo que eu podia para mim, fazendo-a ficar na ponta dos pés. O beijo foi terminando aos poucos, e quando acabou eu abri os olhos imediatamente, ansioso pela reação dela.
E não gostei nem um pouco do que eu encontrei, eu conhecia aquela expressão chocada de anos atrás.
- Você não vai sair correndo dessa vez, vai? – qual é, eram só beijos!
- Não... – ela disse e eu quase sorri. – Eu vou andando mesmo.
Deu-me as costas, pegou a bolsa na cadeira perto da porta e saiu calmamente.
Já eu fiquei bons minutos exatamente onde estava, um pouco incrédulo, um pouco puto... Tentando absorver o maior fora da minha vida.
Tudo bem que ela era lésbica e eu era um cara, mas caralho, ainda assim não era para tanto. Ela ainda retribuiu, parecia estar gostando tanto quanto eu. Então por que...?
O barulho de passos anunciou a movimentação fora do estúdio, e para minha surpresa voltou feito um furacão. Ela não hesitou momento algum. Deixou que a bolsa caísse pelo caminho e segurou meu rosto com as duas mãos, chocando nossos lábios com pressa.
Eu dei alguns passos para trás por conta da força que ela se jogou contra mim. Abracei seu corpo e deixei que toda a raiva que eu senti pelo recém fora, e toda a frustação da adolescência participassem daquele ato, deixando o beijo ainda mais insano.
Depois de bons segundos em todo aquele fervor, nós nos separamos e ela finalmente me olhou.
- Você não ia... Sair andando e coisa e tal? – zombei, mordendo o lábio dela como provocação.
Ela riu abafado e desviou os olhos, sem graça.
- Teimosia minha. – deu de ombros, voltando a me encarar. – Estou muito encrencada?
- Um pouco. Vou te encostar ali naquele espelho e a gente resolve isso.
- Me parece justo.
Sorrimos cúmplices, voltando a nos beijar.

This was never the way I planned
Ela


Manhã do grande dia. Fazenda de onde seria o casamento.

“Aw, , me desculpe, mas não posso. Sinto muito porque sei que passei a impressão de que aceitaria, porque eu aceitaria, mas fui convidada recentemente para um encontro e não acho certo marcar dois deles numa mesma época, não é? Queria que isso tudo não tivesse acontecido ao mesmo tempo, mas parece que esse casamento resolveu trazer tudo de uma vez só.”

.
Ele não perdia tempo.
Ninguém me mandou também cair na lábia dele naquela tarde e me esquecer de sondar como havia sido aquela saída dos dois.
Com Brianna estava tudo bem. Nós havíamos nos encontrado na despedida de solteira de uma noite atrás e meu senso de humor fez com que não houvesse clima estranho nenhum entre nós. Não pude deixar de notar, entretanto, o quanto estava feliz com ela mesma.
O encontro parecia ter sido realmente bom.
, bom, havia dois dias que eu cancelava as ligações dele. Falando assim parece que foram muitas, mas haviam sido apenas três. E uma notificação de mensagem no whatsapp que eu sequer abri. Sinceramente, tentar pegar eu e ela ao mesmo tempo... Ele não tinha vergonha naquela cara de inocente dele, não? Se fosse para ser assim, eu tinha aceitado o threesome na primeira vez que ele sugeriu.
Mas o que eu estou falando?
Tudo bem, mais importante do que isso era o que eu estava fazendo naquele momento.
Era uma atividade perigosa. Eu estava usando um roupão rosa bebê que todas as madrinhas também estavam usando e tinha bobs nos cabelos, era extremamente improvável que alguém saísse andando por aí daquele jeito, mas estava quase tendo um siricutico lá dentro do quarto de vestir e alguém tinha que vim na cozinha pegar um suco de maracujá para ela.
A pessoa mais entediada com aquela atividade toda de ter que acordar cedo e perder o dia inteiro fazendo cabelo, unha, hidratação, depilação e maquiagem foi a escolhida para essa missão.
Por isso que eu estava ali, bonita daquele jeito, no meio daquele corre-corre de gente atraindo olhares nada animadores.
Um deles, mais desanimador impossível.
Ele me seguiu enquanto eu cruzava a sala principal e ia para a cozinha, enquanto eu abria a geladeira e tentava achar um suco, e enquanto eu vasculhava os armários atrás de um copo.
- Eu sei que meus peitos ficam ótimos nesse roupão, mas você podia ser mais discreto e parar de me secar desse jeito. – falei, guardando a jarra na geladeira.
riu sem humor.
- Bom saber que agora você fala comigo. – ele cruzou os braços e encostou-se ao batente da porta, me impedindo de sair.
- Estive apenas ocupada.
- É... Eu posso imaginar. – era estranho ver com aquela expressão ao invés do habitual sorriso alegre de sempre. Ressentimento era claro em seu rosto, mas não fazia sentido nenhum naquela história.
- Eu não estou entendendo. Que direito você tem de ficar ressentido comigo?
Ele estudou meu rosto por um tempo antes de responder.
- Nenhum. Só foi inesperado. – falou dando de ombros.
Ah! Então ele podia chamar a Brianna pra sair e eu não?! Ri, sem querer esticar aquele papo.
- vai ter um troço em poucos segundos se eu não levar isso para ela. – indiquei o copo em minhas mãos, vendo apenas assentir e dar espaço para eu passar.
Cara de pau. Falso. Surtado.

I think you’re gonna be my biggest fan
Ele


Finalmente, o casamento.

Terminei de ajeitar a gravata borboleta e olhei no relógio, faltava apenas uma hora para a cerimônia.
Eu precisava passar no quarto do para checar como ele estava dos nervos e conferir se estava tudo ok com as alianças com .
Que eu me livrasse da pior tarefa primeira então.
Foi quem me contou nessa manhã que tinha chamado Brianna para um encontro. Havia sido quem comentara com ele que no dia do ensaio de dança, tinha chamado a loira para sair.
Se saber que tinha marcado um encontro com outra pessoa justamente no dia em que nos beijamos já era ruim, saber que eu havia a procurado durante todo esse tempo sem fazer ideia de que já tinha sido substituído era pior.
Não, pior foi o fato de eu ter estado preocupado e especulando o que poderia ter dado errado naquele dia para ela me evitar daquele jeito.
O fato é que metade de graça de estar ali havia acabado. Eu estava acostumado com a filha-da-putagem de na época da faculdade, onde ela roubava grande parte das garotas que eu estava interessado de propósito só para alimentar nossa guerrinha. Parando para pensar, aquilo era um tipo de brincadeira da nossa parte. Agora a história tinha sido completamente diferente e eu não estava esperando pelo seu descaso. Eu basicamente só queria que aquele episódio de casamento acabasse logo para que a desaparecesse da minha vida outra vez. Nunca tinha dado certo e nem iria. Deixá-la se aproximar era apenas permitir que ela fizesse a bagunça que queria e depois fosse embora, como sempre fez.

Antes mesmo de me aproximar muito do quarto eu já pude ouvir o burburinho de vozes. Bati duas vezes na porta com a intenção de que alguém viesse atender e que pudesse chamá-la, mas em vez disso uma voz feminina aleatória gritou um “Entra!” e eu me perguntei se elas sabiam que era um cara que estava batendo.
- Oi, garotas. – Coloquei apenas a cabeça para dentro, me dando conta da bagunça daquele lugar.
Devia ter umas quinze delas ali. Todas vestidas, se você quer saber, ou quase isso. Umas tentavam se equilibrar pra colocar o sapato, outras passavam andando com pressa colocando um brinco na orelha, Brianna tentava fechar o vestido de uma tia gordinha, e ...?
- Onde está a ? – perguntei para ninguém específico.
-Aqui! – ela gritou dos fundos do quarto.
- Preciso falar com você! – falei, tentando enxergá-la no meio daquilo tudo.
- Pelo amor de Deus, , venha aqui! Não posso sair agora!
Assim que eu pisei ali dentro todas pareceram se dar conta da minha presença.
veio em minha defesa.
- Relaxem, meninas, é o , ele é mais delicado do que uma moça.
E que defesa.
- Sim, vocês correm muito mais perigos com a aqui dentro. – brinquei sorrindo simpático, fazendo todas rirem e voltarem às suas atividades.
- Obrigada por reconhecer isso. – falou quando eu cheguei perto.
Ela ainda estava com aquelas coisas no cabelo e tinha uma mulher fazendo a maquiagem dela em frente a um espelho.
- Você trouxe as alianças? – perguntei, ignorando a provocação dela.
- Claro que trouxe.
- Onde estão?
- Ali.
- Ali?
-Na mala.
- Vou pegá-las.
- Você não vai futicar na minha mala! Eu as levo para o altar, pode deixar.
Hesitei. Deixar assumir um compromisso daquele não me parecia uma boa ideia.
- Pelo amor! O que esse padrinho está fazendo aqui?! – um cara com calças apertadas e um secador de cabelo nas mãos exclamou quando me viu. – A sua presença não é permita aqui, senhor. Se retire, por favor! – falou, tirando com pressa aquelas coisas do cabelo de .
Ah tá. O topete gigantesco dele é que não devia ser permitido ali, isso sim.

O casamento havia disso armado no longo gramado da fazenda, onde a área da cerimônia seria à esquerda da casa, e a área para festa, à direita. Eram vinte para às seis da tarde, o ponto quase exato do por do sol. Os assentos estavam preenchidos e já estava no altar improvisado. Nós padrinhos, devíamos nos concentrar na entrada do tapete vermelho com nossos pares até e Brianna chegarem.
Procurei naquela turma de mulheres e a encontrei conversando com umas primas de , terrivelmente bonita dentro de um vestido longo azul claro.
Ela devia fazer aquilo só pra me atazanar, não era possível.

(Essa nota é o auge da minha bichisse narrativa, mas se você for mulher, talvez esteja curiosa para saber: Todas as madrinhas vestiam longos de cores claras enquanto nós, uma camisa branca por debaixo dos ternos pretos, e a cor da gravata combinava com a cor do vestido da acompanhante).

- Cristo, eu estou tão gostosa dentro desse vestido que vou morrer de desgosto se ninguém quiser dormir comigo hoje.
- Não me parece ser um trabalho muito grande pra você resolver esse problema. – falei, me colocando ao lado dela. cerrou os olhos e estava para retrucar quando a mãe de chegou anunciando que a noiva estava pronta.
Nós esperamos ser exatamente a nossa vez de entrar para darmos as mãos. Nem um segundo antes disso. Sorri brincalhão para quando chegamos à frente, e ele correspondeu sorrindo nervoso, enxugando as mãos nas laterais da calça.
Algum tempo de espera depois, a marcha nupcial tocou e todos nós nos levantamos.
Brianna entrou primeiro carregando flores, e depois de braço dado com o pai. Durante todo o caminho ela sorria e chorava ao mesmo tempo, e mesmo em lágrimas, aquela foi uma visão muito bonita. Ainda que mais discretamente e em menor número, também não estava escondendo sua emoção.
Mesmo que aquele não fosse um dos meus melhores dias e eu não estivesse muito animado, eu me senti verdadeiramente feliz pelos meus dois amigos. Eu havia os visto namorarem no colegial e agora eles estavam ali, casando. Eles sorriram um para o outro e deram as mãos, dando início à parte chata da cerimônia.
Sinceramente, porque as pessoas já não pulavam logo para os votos, a troca de alianças e o beijo? Aquele sermão era completamente sacal e eu tenho certeza que assim como eu, a maioria estava apenas fingindo prestar atenção naquilo. Apenas uma hora depois que o juiz de paz finalmente disse as palavrinhas mágicas.
“Podem fazer os votos e trocar as alianças”.
Então olhou para , olhou para mim, e eu olhei para .
Ah. minha nossa... Não...
encarava o nada com os dois olhos arregalados.
Puta merda!
Com uma cara de profundo desespero ela começou a se afastar discretamente pela lateral do altar, saindo de fininho e correndo de volta para a casa buscar as alianças na porra da mala que ela não me deixou mexer.
Não foi preciso que ninguém dissesse nada. fechou os olhos com força e se voltou para ela para acalmá-la. Eu coloquei as mãos na testa, sem saber onde enfiar minha cara.

Foram necessários apenas cinco minutos para tudo virar um caos. Todos os convidados murmuravam entre si fazendo um burburinho insuportável. Muitos se levantavam e iam até o altar querendo saber o que tinha de errado e se podiam ajudar, fazendo a mãe de ficar enlouquecida e mandar todos de volta para seus assentos. O juiz de paz olhava tudo com cara de cu. As madrinhas falavam que nem um bando de matracas e estava muito vermelha se abanando com verdadeiro desespero.
- Eu não acredito que ela fez isso.
- É a cara da .
- Será que acabou o casamento?
- E se ela não tiver trazido? Não vai dar tempo dela voltar até a cidade para buscar...
- Os noivos não compraram as alianças?
- Quem colocou aquela menina como madrinha?
- A noiva está passando mal?
- Será que vai ter festa mesmo sem o casamento?
- O juiz pode casá-los sem as alianças, não pode?
- Ok, guys, calm your tits! A aliança está aqui, não há motivo para pânico. – . Ela devia calar a boca.
- Ah, graças a Deus! – exclamou fazendo suspirar aliviado.
A maluca voltou ao altar o mais depressa que seus saltos a permitiam. Segurava com uma mão a barra do vestido e com a outra estendida para o alto, a caixinha das alianças.
- Casem primeiro e eu deixo que me matem do jeito que preferirem depois. Amo vocês. – sussurrou para eles quando entregou as alianças na mão de .
Depois daquilo o casamento prosseguiu como havia de ser. voltou a chorar nos votos e gaguejou um pouco quando chegou a hora dele, depois se beijaram e sorriram, fazendo todos aplaudirem de pé.

- Parabéns, – a abracei. – Aturar o não é uma tarefa fácil. Assumir isso para sempre então, é um ato de coragem.
- Ah, eu sei! – ela riu.
- E me desculpe por aquilo... – falei sem graça, me referindo ao incidente das alianças.
- Nah – ela abanou com a mão. – Eu sabia que não teria um casamento normal quando decidir chamar aquela doida como madrinha. – ela olhou para , que no momento estava com fazendo caretas paras as selfies que estavam tirando.
- Apenas cuide dela na festa, sim?
Assenti vagamente.
- A propósito, gostei dos presentes. – falou maliciosa, só para me zoar. Nos despedimos rindo e me afastei, deixando que outra pessoa fosse cumprimentar a noiva.
Na verdade meus planos era de ver a naquela festa apenas na hora da dança. Depois eu iria encher a cara com os primos do e se possível faturar alguma solteira.
Deus me livre estar sóbrio quando ela e Brianna começassem a se pegar na frente de todos.

Eu respirei fundo quando Mathieu apareceu nos chamando para a valsa. Posicionamo-nos, claramente desconfortáveis com a intimidade que aquela posição forçava, e começamos a dançar.
Estava tudo errado.
Por mais infernizante que ela havia sido na adolescência, nós nunca havíamos compartilhado um clima ruim como aquele.
- Tantos anos longe... E foram necessários apenas alguns dias de proximidade para que eu voltasse a sentir sua falta. – falei de uma vez. Aquela poderia ser nossa última noite juntos, que eu fosse sincero então. Não queria que ficasse aquele clima estranho entre a gente. estava na minha vida, ainda que nem sempre presente, desde a infância. Não valia a pena estragar toda uma história só por uma tarde de beijos, por melhor que ela tenha sido. E o plano era perfeito, falar algo daquele teor faria recorrer a alguma piadinha para descontrair o clima, e então pronto, estaríamos bem outra vez.
- Tenho certeza que seu encontro com Brianna te manteve bem entretido enquanto sentia minha falta. – falou com deboche. Meu encontro com Brianna?
- , meu encontro? Ao contrário de você, eu nunca chamei a Brianna para sair.
- , não precisa esconder. Ela mesma me contou, tá legal?
- Te contou que ia sair comigo? – que história é essa?
- Falou. Disse que já tinha sido convidada por outra pessoa aqui do casamento quando me deu o fora. – ela deu de ombros. Mathieu nos olhava tenso, provavelmente não gostando nem um pouco da nossa conversa durante a dança.
Então ela tinha levado um fora?
- Não fui eu. – falei, começando a gostar do rumo que as coisas estavam tomando.
- , já falei que...
- Não fui eu. – repeti, olhando em seus olhos. – Nunca cheguei a chamá-la para sair. Eu soube que você chamou e então... Desisti. Perdeu a graça.
subiu uma das sobrancelhas, desconfiada, e eu assenti.
- Se não foi você... Então quem foi?
Instintivamente nós varremos o salão com os olhos e não demoramos a achar a mesma cena.
A loira observava nossa dança abraçada a um cara que nós dois conhecíamos muito bem.
- Marty? - Perguntamos juntos.
- Ai meu Deus, eu não acredito nisso. – quebrando todos os protocolos da valsa inglesa, ela encostou a testa no meu peito e riu descrente. - Aquele filho da mãe!
- Fomos enganados.
- Que rasteira.
- Estou me sentindo no ensino médio.
- Estou me sentindo com vontade de quebrar a cara de nerd viciado em jogos dele. – falou, fazendo graça.
Então tudo estava parcialmente resolvido. Seu ciúme havia ficado evidente quando disse que eu tinha me entretido com Brianna enquanto sentia falta dela, o que era mais do que um bom motivo para explicar o gelo que ela me deu depois do nosso dia no estúdio.
- Quando você soube, aliás, achou que eu tinha chamado a Brianna para sair? – falei, colando nossos corpos de uma forma que a fez rir por eu estar infligindo às regras. Mathieu por outro lado, parecia bem aborrecido.
- Logo na manhã seguinte da aula de dança. – ela falou. Eu apenas assenti. - Já eu... Eu chamei a Brianna para sair naquela hora em que fui ao vestiário. Antes de você chegar. – e antes da gente se beijar, foi o que ela quis me dizer. dando satisfação a alguém? Eu tive que disfarçar para não abrir um sorriso.
- Entendo. – falei, observando os traços bonitos do rosto dela. E se... - Você não acha que... Agora que a confusão foi resolvida, nós não podemos reproduzir aquele dia do estúdio? Com uma cena extra no final, claro.
Ela sorriu estupefata.
- , você está mesmo me chamando descaradamente para fazer sexo hoje à noite?
- Não quero que você morra de desgosto, afinal... – riu, dando um tapinha no meu ombro – Eu não colocaria dessa forma. Nós iremos apenas fazer algo que já devíamos termos feitos há muito tempo... - girei o corpo de , vendo de relance Mathieu quase enfartar pela nossa dança totalmente fora dos conformes. - Ficarmos juntos. Nem que seja só por uma noite.

Rule number one is that you gotta have fun
Ela


Epílogo da .

Eu conheci o no fundamental.
Quinta série. Primeiro dia de aula. Foi no recreio, quando pedi a ele sua beyblade emprestada e ganhei de todos os garotos. Eu nunca imaginei que aquele garotinho ingênuo que eu conheci quando criança um dia fosse voltar a se tornar importante para mim.

Quando eu fiz 17 anos, eu beijei uma garota pela primeira vez e assumi para mim mesma que eu era homossexual.
Quando eu fiz 19, eu assumi para o mundo.
Gritar para quem quisesse ouvir que eu era lésbica, sim, senhor, depois de anos de repressão pela minha própria mente, me fez pensar que eu finalmente havia dado meu grito de independência. E isso fez-me vivenciar por anos, a maior e mais plena sensação de liberdade.
Principalmente vendo a quantidade de gente que não havia tido a mesma coragem que eu e ainda vivia se escondendo da sociedade... Perto daquelas pessoas, eu tinha certeza de que, apesar de todo o preço que eu paguei por me assumir, eu era livre.
Bom, eu estava enganada.
No último mês, me conduziu a verdadeira compressão do que é ser livre.
Gritar para o mundo que eu era lésbica era apenas outra forma de estar aprisionada dentro de um padrão.
havia me mostrado que ser livre mesmo é poder transitar por entre nossas vontades. Ter as nossas preferências sem nos julgarmos por isso. É poder experimentar algo novo, mudar de ideia e trocar todas as escolhas. Dar-se ao luxo de voltar atrás. Recomeçar e dispensar o primeiro e o segundo caminho. Optar por um terceiro completamente imprevisto. Seguir em frente mesmo que depois de algum tempo, talvez fosse necessário vinvenciar o ciclo outra vez.

Eu e ficamos juntos naquela noite.
Literalmente falando.
Embebedamo-nos juntos na festa e dançamos, rimos e caímos até o dia clarear e os tios de nos conduzir para um quarto, porque nós nunca iríamos achar um naquele estado. É claro que depois daquilo tudo, a primeira vez que dormimos numa mesma cama havia sido com nós dois ferrados no sono. E que o dia seguinte havia sido usado para curar a ressaca.
Saímos três vezes ao longo da semana seguinte, e no sábado eu finalmente me desfiz do meu desgosto. Caso tenha surgido a curiosidade, nossas transas foram surreis. Eu achei que toda aquela longa parte da penetração ia ser meio sem graça, mas tínhamos um envolvimento que fez todas as partes do sexo serem maravilhosas. Mais gostoso e encaixado, impossível.
Nós continuamos saindo juntos, e o nosso relacionamento era tão bom como qualquer início de relacionamento tem de ser.
Se ficaríamos juntos depois disso, eu não faço a mínima ideia.
Iria depender exclusivamente da lição que tirei de tudo isso. Lição essa que eu vou deixar anotada aqui, e que eu desejo a mim, ao , e a quem quer que tenha lido a história dessa nossa missão de sermos padrinhos.

Para onde quer que sopre o vento da felicidade, que nunca nos falte coragem para ir atrás.
.

Fim.



Nota da autora: Oi, gente! E ai, o que acharam da fic? To curiosa pra saber! HAHAHAHA
Bom, é claro que uma ideia maravilhosa dessa não ia passar nunca pela minha cabeça, essa fic na verdade foi resultado de um challenge que eu participei no grupo das fics da Rafa Julich, onde a Abby me deu o tema para escrever. O tema era "ela é lésbica e começa a se interessar por um cara". Então obrigada Abby pela ideia, porque eu amei escrevê-la :)
Agradecimentos especiais também à Kamila que me incentivou quando eu achei que estava fazendo tudo errado com o tema, e à Marília, por sempre aguentar meus surtos e sempre ter a paciência santa de ler as minhas fics e me ajudar! <3
Obrigada todo mundo que leu, espero que tenham gostado e até a próxima! ;)

(Ah! Eu matenho um WeHeartIt com a galeria de fotos das minhas fics, geralmente são imagens que me inspiraram a escrever ou que eu acho que tem a ver com a história! Se quiserem ir lá dar uma espiada na galeria de Missão Padrinhos, fiquem à vontade :) Vocês vão descobrir com quem exatamente eu escrevi essa história! HAHAHAAHA). Beijos!

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Minhas outras fics:
Stairway To Heaven – Restritas/Andamento.
Beautiful Lie – McFLY/Andamento.
A Four Letter Word – Especial Dia do Piloto.
Our Surrender – Especial Dia do Sexo.


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