Autora: Cintia | Beta-reader: Brunna



“ As melhores histórias são contadas em noites frias
Para corações quebrados, todo mundo precisa de uma
Boa música para escutar em noites escuras”.

Num sábado quente e ensolarado, uma garota chamada Melissa Pazan estava repousando sua cabeça sobre a janela do seu quarto. Ela estava observando as crianças brincando perto da vinha, os cavalos levando de um canto a outro as cargas, os cachorros correndo atrás de comida e os pássaros em cima das lindas e exuberantes árvores. Sua respiração era a única coisa que se podia ouvir dentro daquele quarto, ela suspirava de vez em quando. Seu pai, Sr. Pazan, entrou no quarto nesse exato momento de reflexão que ela estava tendo, ele interrompeu toda aquela visão, que estava a deixando mais tranquila.
– Filha? O que você acha de conversar com sua mãe agora? Seria uma boa deia? - Melissa levantou a cabeça e deu a última olhada para fora da janela, respirando fundo. Ela não sabia o que ia acontecer e o medo do futuro incerto a deixava com calafrios, normalmente o estranho sempre nos assusta. Levantou-se e beijou a testa de seu pai delicadamente.
– Eu estarei na sala enquanto o senhor estiver conversando com a mamãe, ela vai se irritar e isso já é o esperado, não é mesmo, pai? Mas ela não terá muita escolha, assim como eu não tenho escolha alguma. Pai, ninguém aqui sequer tem uma miserável escolha, nós temos que esperar para saber o que será de nós. – Ela se virou com os olhos tristes, seu pai também estava com um rosto horrível. Eles desceram as escadas juntos e viram a Sra. Pazan saindo da cozinha com a empregada, Dex.
– O que meus dois amores estavam fazendo lá em cima, que não me chamaram para participar também? Mais uma leitura? Deixe-me adivinhar, filosofia? - Ela sorria e parecia a única feliz naquela casa. Ela murchou o sorriso quando o Sr. Pazan foi em direção à sala de música e abriu a porta. Ele ficou lá, esperando que ela entrasse. A Sra. Pazan virou-se para sua filha, mas Melissa virou-se na mesma hora, ela não aguentava dizer-lhe. Então, ela seguiu para dentro da sala. Melissa sentou e chorou. – O que está acontecendo? O David está bem, não está? - O Sr. Pazan acalmou seu coração.
– Sim, ele está pela Europa, vai ficar por lá durante alguns anos, ele está bem e já tem um novo nome, está casado, como você já sabe, não tem nada de errado com ele. – Ela esperou ele falar até o final e questionou-lhe:
– Então, o que houve para vocês dois estarem assim desse jeito? Nossa filha está chorando lá fora e você está com essa cara de que alguma coisa aconteceu. – Ele respirou fundo, dizendo:
– O Sr. Rousseau morreu. – Sra. Pazan sentou-se numa pequena poltrona, colocando a mão em seus lábios. – Tudo o que temos é dele. Essa casa, seu emprego... O que será de nós? - Sr. Pazan sentou ao seu lado. Dizendo: – Eu sei que parece difícil, mas tudo pode se resolver. – A Sra. Pazan levantou-se e falou mais alto. – Resolver? Como tudo pode resolver? Ele morreu! Quem será o proprietário de seus bens agora? Você sabe se eles irão querer você ainda aqui? Todo mundo sabe que ninguém faria por nós o que o Sr. Rousseau sempre fez. Estamos perdidos. - Sr. Pazan fechou os olhos e pensou um pouco por um breve momento. A mulher cutucava as coisas, de tão nervosa que estava. – Seu filho, John Rousseau, será o herdeiro, eu já ouvi falar dele pelo próprio Sr. Rousseau. Temos que esperar e ver o que será da vontade dele, querida. Eu recebi a carta ontem, pelo tempo, ele já deve ter escrito outra me dizendo o que fazer. - Ela se encostou ao piano e fechou os olhos.
Melissa abriu a porta e saiu correndo para fora de casa como costumava fazer quando ia ajudar seu pai na vinha. Mas, agora, ela corria com o coração apertado e cheio de dor e preocupação. Sua amiga de infância, Lorena Collen, viu quando ela saiu correndo e foi atrás dela, correndo também. Lorena até gritou.
– Mel! Espere! O que aconteceu?! - Mas Melissa não parava de correr e chorar, quando ela cansou, caiu no chão e chorou mais forte. Lorena abraçou sem perguntar nada.
– Tudo está acabado, tudo está acabado. – Lorena acariciou seus cabelos.
– Não, nada disso, Mel. Vai ficar tudo bem. Meu pai me contou o que aconteceu. Ele morreu, não é mesmo? Mas virão outros e nos deixarão aqui como sempre foi, por que eles iriam acabar com toda a harmonia desse lugar? Está tudo tão bem por aqui, essa vinha sempre deu muito lucro, eles não vão querer mudar nada.
- Não os conhecemos, Loren, esse Sr. John Rousseau é um desconhecido, e se ele quiser fazer tudo diferente de seu pai? Ele não se importa com essa vinha, ele sempre se empenhou na fábrica de tecidos, no norte, ele é um industrial que só pensa em uma simples coisa: dinheiro. Ele apenas irá contratar outra pessoa para ficar administrando aqui, e quem será? O que fará? Ninguém sabe.
- Eu não pensaria desse jeito, eu pensaria que vai dar tudo certo, você nem o conhece e já o julga tão mal, tudo vai ficar bem.
- Eu prefiro pensar ao contrário. Se acontecer o melhor, eu estarei surpreendida, mas se acontecer o pior, não me decepcionarei. E sim, eu o julgo.
- Sua mãe já sabe?
- Meu pai acabou de contar, ela está lá gritando aos ventos, não sei se ela irá suportar.
- Minha mãe só fez chorar, eu acho que ainda está chorando, minhas irmãs estão sem saber de nada. E David?
- Ele está longe agora, pela Europa, papai escolheu não pressioná-lo com essa notícia, ele vai querer voltar e você sabe o que irá acontecer, ele precisa ficar longe.
Elas pararam de conversar quando ouviram vozes. Levantaram-se e viram uma carruagem luxuosa de quatro cavalos se aproximando, todos se juntaram e fizeram um tipo de fileira no caminho de entrada. Um garotinho correu e chamou o Sr. Pazan, que saiu depressa de casa e o aguardou na entrada.
– Quem será? - Lorena perguntou. Melissa respirou fundo.
– Nosso futuro, Loren.
- Pecamos em colocar nosso futuro num ser desconhecido dentro de uma carruagem.
- Nós pecamos em nascer e continuaremos a pecar enquanto tivermos vida, mas colocar nosso futuro nas mãos de outro, a não ser Deus, é pura tolice.
- É melhor irmos para perto dos outros, seu pai deve querer conversar com ele, temos que preparar o chá, Melissa.
- Minhas mãos estão queimadas, eu engomei ontem as tapeçarias da Igreja.
- Eu sirvo, então.
Elas saíram depressa e se juntaram aos outros num tipo de fileira, eles pararam imediatamente de colher. Eles temiam pelo que estava por vir. A carruagem parou e um homem, que aparentava ter trinta anos, de cabelos negros caindo um pouco nos olhos azuis, corpo alto e forte, seus trajes eram os mais limpos e finos daquele lugar, todos entenderam que se tratava de algum homem rico, por certo. Ele desceu da carruagem e foi andando por aquela fileira de empregados colhedores de uvas e observou o rosto de cada um enquanto passava. O sol parecia o incomodar, sua pele pálida demonstrava que vinha de um lugar bastante frio, que não tinha tanto calor assim. Seu rosto não tinha nenhum sorriso, era rígido, porém, não disse uma palavra sequer enquanto caminhava por eles. Quando ele passou por Melissa, reparou em seus longos cabelos ruivos. Mas logo seguiu em frente.
– Eu acho que ele ficou observando você. – Lorena falou baixinho.
– Não fale besteiras, ele está observando a todos. – Ela respondeu ainda mais baixo.
Sr. Pazan se aproximou dele e os dois se cumprimentaram com um aperto de mão, onde lá era o costume de se curvarem, mas ele logo percebeu e apertou a mão do jovem Sr. John Rousseau.
– O senhor deve ser o Sr. Pazan, eu sou filho do Sr. Rousseau, John Rousseau, senhor. Assim que enviei minha carta saí logo de casa, minha mãe me encorajou a conhecer as vinhas de meu falecido pai para tomar alguma decisão, certo de que será a melhor. Eu vejo que aqui está indo muito bem, mas temo não ter muito tempo, as fábricas do norte gritam por mim a toda hora, temo que passarei poucos dias aqui. – O Sr. Pazan olhou para todos de um jeito simples e rápido.
– Com certeza será o tempo suficiente, mas deixe-me mostrar onde seu falecido pai costumava ficar quando vinha nos visitar, é uma pequena casa, mas muito aconchegante.
Eles seguiram e todos que estavam ali levaram seus olhos para ele, um lindo rapaz que caminhava com seus futuros bem na palma das mãos. Melissa correu para casa junto com Lorena, a Sra. Pazan já estava na porta, esperando-as. – Vamos, garotas, ele deve estar querendo comer alguma coisa, Mel! Pegue as frutas e corte em pequenas tiras, Loren pegue o chá! – Elas corriam dentro da cozinha de um lado para outro, nervosas.
– Mas, Sra. Pazan, qual chá faremos? - Ela parou e pensou. - O de maçã, dizem que tomam muito no norte. – Acendeu o fogo e começou a esquentar a água.
– A sorte está olhando para nós, meninas, que Deus abençoe sempre a mãe dele, ela o fez vir até aqui para tomar alguma decisão, mas já sabemos que não será ele quem cuidará de nós, ele já disse que as fábricas do norte gritam por ele. – Lorena falou, sorrindo.
– Eu soube que a família Rousseau é uma das mais ricas do norte, além de ter essa vinha que dá, por ano, uma grande fortuna, as fábricas do norte dão o dobro. Não sei como ele ainda não é casado, você viu como ele é alto e forte, Melissa? De longe consegui sentir seu cheiro, que homem! – A Sra. Pazan falou, interessada no assunto.
– Ele não é casado? Mas parece já ter idade, trinta anos dou no máximo a ele.
Elas conseguiram terminar depressa e foram até a pequena casa que construíram para o Sr. Rousseau quando ele visitava o local uma vez por ano. Mas um dos empregados da vinha se aproximou da Sra. Pazan no meio do caminho e chamou-a.
– Sra. Pazan? Irá ficar tudo bem? – Seus filhos se aproximaram dele. Eram sete ao total.
– Sim, ele será bom conosco, não se preocupe. Vamos deixá-lo o mais satisfeito possível. – O homem curvou-se e foi embora. – Vamos, meninas. – Voltou a andar em direção ao Sr. John Rousseau.
Quando elas entraram, perceberam uma conversa animada entre ele e o Sr. Pazan e sentiram que Deus estava fazendo muitas coisas.
– Sr. Rousseau, deixe-me apresentar minha família... Essa é minha esposa, a Sra. Sophya Pazan; minha filha, Melissa Pazan, e sua melhor amiga, Lorena Collen, seu pai é um dos meus melhores homens aqui, meu braço direito, se assim posso dizer. - Levantou-se e foi em direção a elas, apertou a mão da Sra. Pazan, de Lorena, mas, quando foi apertar a mão de Melissa, ela se curvou, deixando-o constrangido. Ele, devagar, também se curvou.
Sr. Rousseau achou estranho tal comportamento, já que ela o viu apertar a mão de todos. Ele pensou que ela também iria apertar a sua, como fez até agora, mas aquele gesto frio da jovem garota de cabelos ruivos o deixou intrigado com sua personalidade.
– Apertar a mão ainda é uma reverência nova aqui, senhor. – Sr. Pazan falava, tentando justificar Melissa.
– Não se preocupe com isso. Quantos anos você tem, jovem? – Ele perguntou.
Melissa, de cabeça baixa, respondeu com a voz mais baixa possível.
– Dezenove, Sr. Rousseau. – Ele tocou em uma pequena mecha de seu cabelo. – Quando eu cheguei, eu vi pela janela da carruagem a vinha de meu pai e achei que iria ficar o dia todo vendo tal beleza, mas, quando vi a senhorita e seu cabelo com essa cor tão formosa, eu percebi que a vinha de meu pai ficaria em segundo plano em minha atenção. – Sra. Pazan sorriu junto com todos, menos Melissa, que corou.
– Minha filha herdou os cabelos de minha falecida mãe, Sr. Rousseau. – Sr. Pazan explicava. O Sr. Rousseau se aproximou da mesa onde estavam as frutas e o chá.
– Aqui as frutas são belíssimas, vejam esses pêssegos. – As damas saíram enquanto eles começaram a comer e a conversar sobre negócio outra vez.
Lorena parou em sua casa e deixou Melissa e a Sra. Pazan irem para casa sozinhas, ela sabia o que iria acontecer agora.
– O que você estava pensando quando fez aquilo? – Sra. Pazan falou, enquanto tirava o chapéu e Melissa subia as escadas.
– Eu não vou apertar a mão dele, esse não é nosso costume e nós não sabemos o que ele irá fazer. Qualquer cavalheiro sabe que uma dama nunca daria a mão para ser cumprimentada pela primeira vez.
- Tratá-lo mal só causará uma má impressão, e ele nos deixará na miséria.
- Um aperto de mão não causará isso, apenas a ingratidão dele nos causará sofrimento e miséria.
- Ele elogiou você, mas você nem um sorriso e nem um comentário fez, você ouviu o que a Lorena disse, ele é solteiro, Melissa.
- Está insinuando que devo flertar com ele? Eu sempre tive livre escolha para escolher quem eu quisesse.
- As coisas mudaram, Melissa.
- As pessoas também, pelo que posso ver.
- Você não sabe o que é pobreza! Quando chegamos aqui você ainda era de colo, seu irmão que sofreu vendo você comer um pedaço de pão, e ele, não. Ele só podia comer no outro dia e apenas pela manhã, nós crescemos aqui e conseguimos dinheiro, você nunca irá se acostumar com a pobreza, ela faz morrer o espírito lentamente.
- Eu sei o que passamos... E me perdoe se sou ignorante nesse ponto, mas não sou um saco de uva para vocês me negociarem, eu não sei do que ele é capaz de fazer conosco, e se vender tudo? Irá ainda querer que eu aperte a mão dele, mãe?
- Ele deixou as fábricas no norte, onde dão três vezes mais dinheiro do que essa vinha, e está aqui para resolver do melhor jeito possível. Você conhece as pessoas desse lugar, sabe como elas precisam desse emprego e sabe quantas bocas têm para alimentarem. Não é um jogo, Melissa, tem muita coisa aqui que vale a pena algum sacrifício, tente não pensar somente em você. E com essa consciência de fazer a coisa certa você irá subir, penteará seus cabelos do melhor jeito possível e colocará seu melhor vestido.
- Mas, mãe...
- Sem mais, Melissa. Loren, eu sei que está aí, entre e ajude a Melissa arrumar seus cabelos.
Lorena entrou de cabeça baixa e subiu as escadas, Melissa chorou um pouco, mas obedeceu a sua mãe. Ela passou algum tempo escolhendo com Lorena o vestido e penteando os cabelos com grandes tranças. Elas viram da janela a mesa que era costumeiramente colocada quando o falecido Sr. Rousseau vinha os visitar. As moças colocando as grandes e deliciosas comidas feitas com pressa na mesa. Todos estavam correndo naquele lugar, desesperados pelo que poderia acontecer.
– Veja, estão lutando para agradar um homem, isso é patético, injusto, nós tornamos esse lugar próspero. – Melissa falava desconsolada, olhando pela janela do seu quarto, Lorena estava arrumando seus cabelos.
– Todos estão lutando por aquilo que acham certo, Melissa Todos aqui temem perder o emprego ou coisa pior, todos aqui têm muita coisa a perder, não está sendo fácil. - Melissa cruzou os braços, revoltada com a situação.
– Por que ele foi logo me elogiar? Agora, eu tenho obrigação de me arrumar para ele.
Lorena virou-se para ela.
– A sorte sorri para você e você faz uma careta em troca, Melissa. O que seria de você esposa desse homem? Você seria rica, não estaria preocupada com essas coisas que estão acontecendo agora, você não se preocuparia com mais nada, apenas uma boa casa, um marido lindo e muito dinheiro, você poderia ter um filho por ano sem nenhuma preocupação.
– Dinheiro não é solução para tudo, eu sei que você tem razão, talvez o dinheiro dele tire todas as minhas preocupações, mas e minha dignidade?- Lorena sorriu um pouco.
– Quando a fome bate em sua porta não existe dignidade, Melissa. A fome te obriga a acreditar e a fazer muita coisa que você nunca faria se não estivesse passando por isso, todos aqui já esqueceram o que é ter fome... E com essa notícia do falecimento, é como se todos começassem a lembrar dos dias ruins que um dia eles passaram, olhe para os olhos deles, eles não querem a fome outra vez, eles estão com medo, olhe o que está em risco, Melissa. - Lorena virou-se para o espelho e voltou a pentear seus cabelos. Melissa ainda estava de braços cruzados quando se virou bruscamente e saiu de casa. Ela foi indo bem devagar por trás da casa onde o Sr. Rousseau estava e entrou sem ser vista, ele estava observando um quadro sozinho na sala com uma taça de vinho. Quando ele viu Melissa entrando, assustou-se um pouco, mas esperou ela começar a falar. Ela demorou um pouco, pois estava ainda tentando encontrar as palavras certas.
- Espero que esteja gostando de nossa recepção, Sr. Rousseau.
- Sim, vocês são muitos receptivos, eu falei para o seu pai que não seria preciso esse jantar tão festivo hoje.
- Ah, precisa, sim, senhor. Eles estão fazendo suas forças se multiplicarem duas vezes mais para tentar agradar, eles estão com medo do que o senhor possa fazer.
- Nossa! Você foi a única que foi totalmente sincera comigo hoje, você não tem medo de mim?
- Não, senhor. Eu temo a Deus, não temo ao senhor.
- E o que acha que vou fazer, senhorita Pazan?
- Seu coração irá ter compaixão de nós, deixará meu pai aqui comandando tudo como sempre foi, não precisa ser tão gentil como seu pai sempre foi, apenas nos deixe viver aqui.
- Vocês temem que eu tire essas terras de vocês? É isso?
- Sim, nós tememos isso, não temos para onde ir, todos que moram aqui um dia tinham as ruas para morar, sem esse lugar não temos nenhuma esperança.
- Eu nunca pensei em desfazer as vontades de meu pai. Antes de morrer, ele pediu para tirar seu pai daqui, mas para trabalhar comigo no norte com as fábricas de tecidos, preciso da mente brilhante do seu pai. Como o meu pai falava para mim e assim me orientou, essa foi sua vontade antes de morrer. Ah, claro, e deixar o Sr. Collen, o pai de sua amiga, comandando a vinha no lugar dele.
- O senhor está falando sério?
- Não costumo brincar, senhorita Pazan. Na verdade, não costumo nem sorrir, sou um homem sério. Tudo apenas para o trabalho, foi isso que fiz em toda minha vida. Eu estudei economia fora, mas ainda assim, de longe, eu trabalhava com meu pai, e agora sozinho não consigo fazer tudo, eu preciso de ajuda. Eu sei que devo ter conquistado sua inimizade primeiro que seu afeto, porque pensava que eu iria acabar com a esperança de muitos aqui, não é? E também porque lhe elogiei, saiba que foi sem intenção de constrangê-la, eu apenas admirei sua beleza.
- Espero que tenha um bom jantar...
- Espere, já está indo? Agora que a ameaça acabou acho que poderíamos ser amigos, já que irá morar comigo no norte. Não sou tão delicado com as palavras, mas sei ter uma boa conversa, meu pai sempre comprava um livro para você quando saía do norte, mas o último que ele lhe deu antes de falecer fui eu que escolhi, ele sempre contava de uma jovem de cabelos vermelhos e olhos grandes e fortes, e tinha um gênio muito autoritário, mas um bom coração e pensamentos independentes. – Ele levantou sua mão, mas ela não apertou. Ele baixou a mão, ainda mais sério.
- Eu gostava de seu pai, ele sempre foi muito bom para nós aqui do sul, mas agora tenho que ir, ninguém sabe que eu estou aqui. - Melissa saiu antes que ele pudesse falar qualquer coisa. Ele voltou a tomar seu vinho e ela foi em direção à mesa do jantar.
– Mel! Onde você estava? Eu pensei que tivesse fugido. – Lorena se aproximou sorrindo.
– Eu estava apenas pensando. – Elas se abraçaram e sorriram juntas.
A música começou a tocar e elas foram dançar. Melissa tinha se animado novamente e isso provocou a alegria de muitos. Seus cabelos voavam com o vento e seu sorriso era encantador. Ela dançava alegremente, o Sr. Rousseau saiu da casa e sentou-se próximo aos outros, eles começaram a servir gentilmente e mais alegres.
– Ela é encantadora. – Ele falou baixinho. Sr. Pazan se aproximou, dizendo:
– Ela sempre me equilibrou, quando alguém ficava doente, ela via que os colhedores ficavam em desfalque e começava a colher também e a carregar pequenas sacas de vinho, e quando eu passava, ela gritava de longe: “olhe, papai, não se preocupe, eu estou aqui e o dia vai ser produtivo”. - Sr. Rousseau a olhava com mais admiração.
– Ela gostará do norte, não é tão bonito quanto esse lugar, mas minha irmã Camila será uma boa companhia. – Eles apenas continuaram a observar a festa em silêncio depois dessa breve conversa.

No dia seguinte, Sr. Rousseau foi embora para o norte e o Sr. Pazan juntou todos e falou as novidades. Todos ficaram tristes e felizes ao mesmo tempo. Felizes, porque sabiam que tudo iria continuar como antes, suas vidas, seus trabalhos e suas casas, mas iriam perder o Sr. Pazan. Embora o Sr. Collen ser tão amado quanto ele. O Sr. Pazan só teve uma semana para organizar tudo. Ele enviou uma parte de sua mobília e um dia depois viajou. Fora uma viagem cansativa de navio e carruagem. Conseguiram chegar ao norte depois de quase duas semanas. Quando estavam na carruagem indo em direção à cidade das fábricas, eles observaram que quanto mais eles passavam pelas cidades, mas a névoa aumentava junto com o frio. A Sra. Pazan começou a ter dores nos ossos, Melissa pensou três vezes se sairia daquela carruagem com todo aquele frio, pensou também em seus vestidos, ela precisava comprar mais tecidos para aguentar aquela temperatura. Depois de algumas horas, chegaram à cidade das fábricas. Melissa olhou pela carruagem e viu ruas vazias, uma pequena praça escura e cercada de névoa. Ela começou a lembrar de seus livros com aquelas histórias de terror. Tudo estava vazio e silencioso, apenas alguns portões de ferro rangendo. Quando a carruagem parou, um homem de meia idade se aproximou.
– Sr. Pazan?
– Sim, sou eu.
– Eu sou o Sr. Blanc, o Sr. Rousseau está ainda trabalhando e pediu para eu vir receber o senhor e sua família. – Eles desceram da carruagem e seguiram o Sr. Blanc até a casa. Quando entraram na casa que o Sr. Rousseau reservou para eles, Melissa teve uma grande surpresa.
– O que aconteceu aqui? Nossos móveis... - Melissa parou de falar por um breve momento com o choque. E com uma voz mais zangada, falou: – Quem teve a ideia de organizar toda a mobília? Quem teve a ousadia de mexer nas nossas coisas? – O Sr. Blanc pareceu surpreso por ela ter desaprovado, já que o intuito de todos era ajudar.
– Senhorita Pazan, o Sr. Rousseau deu ordens a seus empregados a organizarem tudo e o que quiserem modificar, eles estarão aqui pela manhã bem cedo para ajudar. - Melissa fechou os olhos com força e respirou fundo. Ela subiu as escadas e sua mãe acompanhou. Elas entraram num quarto qualquer.
– Quem ele pensa que é para simplesmente meter a mão no que é nosso e praticamente dizer “vocês vão viver assim”? – A Sra. Pazan sentou-se na cama.
– Ele só quis ajudar, Melissa, ele sabia o quanto a viagem iria ser cansativa, ele precisa de seu pai logo, iriamos perder quase um mês para arrumar a casa toda, você já viu como aqui é grande? Três vezes o tamanho de nossa casa.
- Boa intenção? Depois do que aconteceu com David, eu desconfio de boas intenções, principalmente de pessoas e suas boas intenções.
- Fale baixo, Melissa, querem que escutem sobre David?
- Não, eu não quero. Ele colocou meus livros lá embaixo, os livros ficam sempre no meu quarto, ele mexeu em tudo, pegou em tudo e mudou tudo. – Ela chorava e abraçava sua mãe, a Sra. Pazan apenas a abraçou e tentou acalmá-la. Elas dormiram juntas naquela noite.
Quando amanheceu, Melissa percebeu que acordou sozinha. Ela trocou de roupa e colocou um vestido mais quente, mesmo assim o frio era grande. Quando ela desceu as escadas, percebeu que seus pais estavam conversando com alguém na sala. Ela desceu lentamente e observou a visita. Era uma garota jovem de cabelos negros e longos, seu vestido era tão luxuoso quanto sua postura. Melissa tocou em seus cabelos e se organizou devagar antes de descer.
– Filha, que bom que você acordou, deixe-me apresentar, essa é a senhoria Camila Rousseau. - Melissa aproximou-se e elas se curvaram. – Eu vim aqui primeiro para pedir desculpas, eu tive a ideia de organizar todos os móveis e meu irmão o fez, nos perdoe, senhorita Pazan. – Camila fora tão gentil, que Melissa ficou sem jeito.
– Eu estava cansada da viagem e estressada, eu que peço perdão pelo meu comportamento, eu aprecio sua preocupação conosco sem ao menos nos conhecer. - Camila sorriu.
- Eu vim também para comprarmos tecidos, John me falou que vocês vão precisar, o sul não é tão frio quanto o norte. – Elas sorriram um pouco.
– Sim, eu mesma não sabia que aqui fazia tanto frio. - Sra. Pazan sorrindo, disse.
Elas terminaram a breve conversa e foram comprar alguns tecidos e dali foram para a costureira providenciar tudo, o Sr. Rousseau não deixou que elas gastassem nenhum dinheiro com isso, ele tinha total vontade de ajudar nessa mudança de vida tão repentina, já que ele não lhe deu tempo suficiente para uma mudança organizada. Melissa e Camila se entenderam muito bem. Aquele dia foi divertido, embora o lugar ainda parecesse vazio e frio, ela estava se acostumando com a névoa. No outro dia pela manhã, ela resolveu fazer uma caminhada. Era ridículo pensar em uma caminhada num lugar como aquele. Vazio, frio e cheio de névoa cercando a cidade, mas ela sentia falta de suas caminhadas e foi andando pelas ruas, sozinha. Quando foi se aproximando das grandes fábricas, espantou-se pelo tamanho e também pelo barulho que faziam. Melissa foi em direção a uma delas e entrou, curiosa para saber o que tinha lá dentro. Tudo era realmente novo. Quando abriu as portas, se espantou. Lá dentro estava muito barulhento e com muitas mulheres com roupas rasgadas e sujas, havia homens com os rostos marcados pelo cansaço e crianças pequenas trabalhando, uma delas até estava tossindo muito e com as bochechas sujas. Ela colocou a mão em seus lábios quando viu pessoas tão pobres e famintas.
– Senhorita Pazan? – Ela escutou alguém chamando e virou-se ainda assustada.
– Sr. Blanc. – Ela disse com voz trêmula e baixa, ela passava seus olhos em todos naquele lugar.
– A senhorita veio, por certo, conversar com Sr. Rousseau, vou chamá-lo. – Melissa ficou tão atordoada que o deixou ir. Quando percebeu o que estava acontecendo, pensou em chamá-lo, mas era tarde demais, ele já estava longe.
– O que vou fazer? Por que eu tinha que entrar logo aqui onde ele está? E agora? O que eu vou conversar com ele? Eu quero distância do Sr. Rousseau. Essas pessoas têm sofrimentos nos olhos, as roupas sujas e velhas, essas crianças não tem idade para trabalhar, é como se fossem escravos desse lugar miserável.
De repente ela escutou alguns gritos e viu um rapaz correndo em sua direção, ele tinha as roupas tão velhas quanto os outros. Ele por pouco não esbarrava nela.
– O que está acontecendo? – Ela perguntou a uma garota que parecia ter sua idade. Mas ela nada respondeu. Melissa se afastou um pouco e o Sr. Rousseau apareceu, correndo atrás daquele rapaz. Ele o alcançou e começou a socá-lo, Melissa correu para perto.
– Pare, Sr. Rousseau! Não pode bater nele! – O homem assustou-se um pouco quando a viu, mas voltou a bater no rapaz. – Pare! – Ela tentou pegar em seu braço, mas ele parou e falou para um de seus empregados:
– Tirem-na daqui! Agora! – Ele falou, quase sem fôlego.
– Por favor, Sr. Rousseau, eu preciso desse trabalho. – Mas o Sr. Rousseau chutou seu estômago. Melissa foi para mais perto e socou o braço dele, fazendo-o parar.
– Por que você não bate em mim? Já que é para ser covarde, venha e faça o trabalho bem feito e perfeito. – Ele, sem paciência, apontou para seu empregado.
– O que ela ainda está fazendo aqui? – Ele pegou no braço de Melissa e ela se deixou ser levada, ela observou as mãos dele com o sangue do rapaz e chorou. O homem que estava lhe conduzindo a deixou numa sala para se acalmar e foi embora.
– Ele é um monstro, meu pai precisa ir embora daqui, nós precisamos ir embora, eu sabia que ele era uma ameaça, se fez de bom e agora nos trouxe para cá, para o inferno. – Ela olhou para baixo quando o viu entrar, ela observou suas mãos e percebeu que estavam limpas.
– O que faz aqui? - Ela ficou em silêncio. – Vamos, diga! – Ele gritou, seu cabelo caía um pouco pelos olhos e seus lábios estavam vermelhos, Melissa estava ainda sentada quando ele pegou em seus braços e a puxou para perto. – Diga-me o que veio fazer aqui. – Ele falou bem próximo ao seu rosto.
– Eu entrei sem querer aqui, quando percebi, o Sr. Blanc já tinha ido chamar o senhor. – Ele observou seus olhos, seus lábios e seus cabelos devagar e foi a soltando lentamente. – Seu pai está na outra fábrica, ele não ia gostar de ver você nervosa desse jeito, você não vai contar nada do que aconteceu agora.
- Eu não sou um de seus cachorros, Sr. Rousseau.
- Mas fará o que ordeno, senhorita.
- Não, senhor, eu não farei, eu sei o que devo ou não devo falar com meu pai ou como devo agir e, sinceramente, o senhor não é um cavalheiro; se fosse, nunca teria batido naquele homem em minha frente nem me apertado desse jeito, nem se aproximaria tanto de mim.
- Julga-me ser um tolo, senhorita?
- Sim, um tolo sem escrúpulos.
- Sinto muito, mas não encontrará muito cavalheirismo por aqui, senhorita Pazan. Os homens do norte foram criados para o trabalho, os homens de sua terra podem ter tido esse privilégio da educação tão culta, nós já contávamos dinheiro e criávamos estratégias para se multiplicar.
- O senhor mesmo julga-se ser um tolo. Para que tanto dinheiro se ele não lhe dará conhecimento?
- Eu deveria começar a me ofender com seus insultos, mas eles são insignificantes para mim.
- Assim como todo o resto, todos são insignificantes para o senhor. Olhe para essas pessoas! Elas têm fome e isso dá para ver em seus olhos. Como pode viver olhando para eles todos os dias e não ter compaixão?
- Eu nunca atrasei o salario de ninguém, sempre dei tudo o que foi combinado, eles passam fome porque não sabem administrar, são tolos!
- Do que adianta, Sr. Rousseau, dar a vara se não lhes ensina a pescar? Eles ficarão de frente para o rio vendo os peixes e com a vara nas mãos, cheios de fome, não os culpe por não terem tido o privilégio que o senhor sempre teve de sorte e boa fortuna.
- E o que sugere?
- Ensine-os a usarem o que ganham, um povo forte, com conhecimento, será de mais serventia para o senhor
- Não sou pai nem muito menos mãe deles. Eu dei emprego, pago o salário e aí termina minhas responsabilidades.
- Se acha que isso é o suficiente...
- Sim, eu tenho a plena certeza.
- Não tenho nenhum assunto para tratar com o senhor, se me permite...
- Espere. – Ele pegou em seu braço quando ela ia se afastando.
- O que quer, Sr. Rousseau?
- Eu tive muitas conversas com seu pai, e ele é brilhante, já resolveu metade dos meus problemas em uma manhã, meu pai tinha razão quando me disse que ele realmente era bom. Mas, se você disser que está triste, infeliz ou alguma coisa que aconteceu hoje, ele poderá ter sentimentos de querer voltar para o sul.
- Eu me sentiria satisfeita em voltar para casa, nada me faria mais feliz.
- Eu tenho planos e eu tento torná-los em realidade, e quem ficar em meu caminho eu terei que dar algum jeito, e eu sei que terei sua compreensão, senhorita Pazan.
- Eu nunca cooperarei com o senhor, alguém aqui tem que ter dignidade, não acha, Sr. Rousseau? - Virou-se e abriu a porta.
- Como vai seu irmão? – Ele perguntou e ela parou de repente.
- Irmão? Que irmão? – Ela olhava para os cantos, nervosa. E esperou ele responder.
- David Pazan.
- Ele morreu.
- Já imaginou se alguém simplesmente o reconhece nas ruas da grande Europa? Vamos imaginar. Um sábado bem ensolarado, ele e sua esposa são presos de repente no meio da rua. Todos pensaram que ele estava morto, mas ele estava ali vivo o tempo todo, com certeza seria executada a morte, como pensaram.
- Pare, por favor, pare.
- Foi só uma pequena história, senhorita Pazan, pensei que gostasse de ouvir histórias.
- Meu pai não vai saber de nada.
- Boa menina.
- Eu pensei que tivesse no mínimo caráter, Sr. Rousseau.
- Eu sou um industrial, senhorita Pazan, se eu fosse a senhorita começaria a me acostumar com nossos modos por aqui.
- Nunca, Sr. Rousseau, para ser igual ao senhor, prefiro a morte.
- Posso pensar no seu caso.
Melissa bateu a porta com força e caminhou até uma pequena praça e sentou. Ela olhou em sua volta e só conseguia ver névoa e um balanço rangendo quando o vento batia nele. Aquilo tudo parecia uma cidade fantasma, ela custava acreditar que esse lugar realmente existisse. Seus pensamentos correram longe, eles correram até sua casa no sul. Os dias quentes que ela corria pela vinha junto com Lorena. Os sorrisos e tudo mais. Quando suas lágrimas pararam de cair, ela se recompôs e levantou daquele banco de praça como se nada estivesse acontecendo. As pessoas normalmente não enxergam nossas cicatrizes, elas ficam escondidas lá dentro, onde ninguém consegue sentir, a não ser quem as tem. Melissa pensou em como tudo mudou de repente e como tudo iria acontecer a partir de agora, é difícil sonhar quando se está tudo quebrado por dentro, exausto, mas a força que ainda restava-lhe era realmente aquilo que ela precisava, ela acreditava em milagres, mesmo sendo eles não tão frequentes em sua vida. Melissa caminhou bem devagar para sua casa, pensando numa forma de contornar essa situação. Mas seus pensamentos foram detidos quando viu sua mãe com um pequeno bilhete em suas mãos. A Sra. Pazan lia com muita alegria. Melissa entrou e tirou o chapéu delicadamente.
– Melissa, filha, você foi convidada pela senhorita Rousseau para passar esse fim de semana em sua casa. Aqui no bilhete ela informa que é um pouco longe daqui, longe dessas fábricas e névoas. Fica perto de um campo lindo, você se sentirá melhor, Mel, vai se sentir mais em casa se aceitar esse convite. – Melissa pegou o bilhete, leu cuidadosamente e sorriu quando viu as delicadas palavras da senhorita Rousseau ao se preocupar com sua estabilidade emocional. A única coisa que a faria recuar com o pedido seria o Sr. Rousseau. Mas ele trabalha por muitas horas naquela fábrica, talvez nem o veja, ela precisava sair desse lugar frio e escuro, talvez se animasse mais perto do campo e da Camila. Sendo assim, levantou-se e escreveu a resposta numa pequena e simples carta, entregou a sua mãe e subiu sem dizer nada. A Sra. Pazan leu a carta e viu que ela tinha aceitado o convite.
Melissa contou os dias para o fim de semana, e quando finalmente chegou acordou bem cedo e pegou uma carruagem que a senhorita Rousseau mandou para que ela chegasse em segurança. O caminho foi um pouco longo, ela pensou que talvez a cavalo fosse bem mais rápido. Quando a carruagem parou e ela desceu, Melissa pôde ver uma linda mansão branca e com grandes jardins. Bancos decorados e alguns cachorros. O clima não era igual ao do sul, mas podia-se perceber que era bem diferente da cidade das fábricas. A névoa não existia ali. Camila, quando ouviu a carruagem chegar, levantou-se animada.
– John, por favor, seja gentil. – Ele estava sentado lendo um livro, sua mãe, a Sra. Rousseau, estava bordando, seu rosto estava rígido, como se não estivesse gostando de algo.
– Eu tentarei ser gentil, Camila, mas, por favor, não me peça mais do que eu possa fazer. – Ele respondeu sem tirar os olhos de sua leitura. – Não sei pra que tanto espanto por essa garota, Camila, você tem a companhia da senhorita Hemptons.
– As garotas aqui são robôs comparadas à senhorita Pazan, ela tem pensamentos próprios, sabe? Ideais e um coração bom, ela não é como as outras, falar com ela é conhecer mundos diferentes e pensamentos inimagináveis.
– Vamos ver essa incrível jovem. – A Sra. Rousseau comentou. Camila virou-se para eles.
– Por favor, ela é importante para mim. – Eles sorriram um pouco, um sorriso bem simples.
Melissa bateu à porta e Camila a recebeu com um terno abraço. Quando ela viu Sr. Rousseau sentado, seu coração bateu mais forte, ele era a única pessoa que não desejava ver. Ela entrou e curvou-se, cumprimentando a Sra. Rousseau. E quando foi em direção ao Sr. Rousseau, ele levantou-se para cumprimentá-la, porém ela não apertou sua mão, mas curvou-se, ele simplesmente curvou-se também para minimizar o constrangimento. A Sra. Rousseau observou e desaprovou, mas preferiu não comentar.
– Fez uma boa viagem, senhorita Pazan? - A Sra. Rousseau perguntou, e suas palavras eram mais secas que sua alma.
– Sim, Sra. Rousseau. Um pouco longa, talvez a cavalo demorasse um pouco menos. – Melissa respondeu com mais tranquilidade.
- Não gostou da nossa carruagem?
- Não, não é isso, eu só fiz um breve comentário, gostei de terem se preocupado comigo.
- Meu filho deu a ideia, ele é um belo cavalheiro. – Melissa ficou em silêncio, já que não achava aquilo.
- Mas me diga, senhorita Pazan, viu as grandes fábricas de meu filho? Ele é um gênio em manter aquilo tudo durante tantos anos, não acha?
- Com certeza, Sra. Rousseau. São grandes e fantásticas, mas os trabalhadores que vi não me agradei.
- Como assim? Eles não trabalham bem?
- Aí é que está o problema, eles trabalham muitíssimo bem, mas os patrões retribuem bem mal. – Sr. Rousseau fechou os olhos, Camila arregalou um pouco os seus e Sra. Rousseau tomou uma posição de contra-ataque.
- Como disse? Meu filho retribui mal?
- Eu nunca faltei com minhas obrigações, senhorita Pazan, sempre dei os salários no tempo certo, sem faltar nada. - Sr. Rousseau interrompeu um pouco a conversa.
- E vamos bater na mesma tecla outra vez, Sr. Rousseau. Além deles não saberem administrar o que tem, mesmo assim ainda é pouco, já parou seu precioso dia para ver as crianças que trabalham em sua fábrica? Eu creio que não, seu egoísmo capitalista impede de ver tal brutalidade contra aquela crianças. – Todos pararam e a observaram, mas Sr. Rousseau quebrou o silêncio.
- Eu sei que a pobreza a choca, senhorita Pazan, mas eu sempre fiz um bom trabalho e a pobreza não foi uma coisa que eu criei e que existe apenas aqui, se a senhorita saísse de seu conforto e realmente enxergasse por onde viveu todos esses anos veria que a pobreza e a fome estão em todo lugar.
- Conforto? Acredita mesmo que sou uma dessas damas que vivem bordando o dia todo, Sr. Rousseau? Desde cedo ajudei meu pai com a vinha e vi a fome nos olhos de cada homem que chegava até meu pai pedindo emprego, e eu vi meu pai administrando aquele lugar como ninguém, um bom homem de negócios faz coisas ruins se transformarem em coisas boas, duvido o senhor encontrar um empregado da vinha com roupas rasgadas e com rostos famintos, ao contrário dos seus aqui na cidade das fábricas, o senhor bateu em um homem indefeso.
- Apenas o que posso dizer é que ele mereceu tudo o que fiz.
- Ele gritava pelo seu emprego enquanto o senhor batia nele, não se preocupa com seus filhos que ficarão com fome por ele não ter dinheiro?
- A senhorita já percebeu que fala tudo o que pensa?
- Alguém tem que ser honesto por aqui.
- Melissa, venha! Eu estou morrendo de vontade de mostrar a você meu quarto. - Camila levantou-se e falou sorridente, pegando em sua mão e a arrastando pelas escadas, subindo até seu quarto. – Melissa, você precisa dar menos opiniões, meu irmão tenta, mas aqui é praticamente o triplo de funcionários que seu pai tinha lá. Ele tenta, Melissa.
Melissa sentou na cama e respirou fundo.
– Sinto muito, eu não tenho aquele botãozinho que desliga as palavras e pensamentos, é que seu irmão me faz perder a razão, ele deveria fazer mais. – Camila sentou ao seu lado.
– Então o mostre, assim como você ajudava a seu pai, mostre ao John o que pode ser melhorado. – Melissa respondeu.
– Ele não me escuta, ele tem uma ideia formada sobre minhas opiniões e posse dizer que é contra todas elas. – Camila sorriu um pouco. – Melissa, ninguém luta contra ele por aqui e nem os outros patrões de fora. John sempre foi bom com as palavras e todos que conversam com ele são facilmente convencidos. Com você é diferente, eu nunca vi John ser rude com alguma dama, na verdade, ele não costuma conversar com muitas, apenas eu e a mamãe, claro. Ele não é tão rude quanto você pensa, ele tem bom coração, mas vocês precisam ter certa sintonia para se entenderem. – Melissa apenas observou Camila falar e começou a olhar em volta.
– Esse é seu quarto? É muito bonito, e olhe! Esses são seus livros? - Camila sorriu.
– Sim, John sempre traz um quando viaja ou quando compra algum para ele. Mas, Melissa, antes que eu esqueça, quero lhe explicar algo. John me disse que você o viu bater em um de seus operários. Aquele jovem rapaz se chama Nicolas Thonky. Ele estava namorando uma operária de lá da fábrica. Só que ele batia nela e o John nunca aceitou tal violência contra uma dama e o ameaçava quando via aquela jovem com algum hematoma no corpo. Naquele dia, Melissa, John bateu nele porque teve a notícia que a jovem estava morta. O Nicolas Thonky descobriu que ela estava grávida e bateu nela até ela morrer, ele bateu em sua barriga primeiro, matando a criança; morte dela foi depois, no hospital. O John se descontrolou e bateu nele, mas ele não o matou, o John nunca tiraria a vida de ninguém. Ele está preso nesse momento, longe daqui. – Melissa ouviu todas as palavras com atenção e ficou espantada com a história, ela tinha julgado Sr. Rousseau mal.
– Eu nunca pensei que isso teria acontecido, eu julguei seu irmão mal, mas ainda penso nas crianças - Camila pegou em sua mão e sorriu de leve. Elas ouviram a porta se abrir, Sr. Rousseau já estava próximo à porta, mas ouviu Camila explicar o fato e esperou que terminasse, ele pensou que Melissa poderia ser mais compreensiva com ele após saber o que realmente aconteceu. Ele entrou. Camila, quando o viu perguntou:
– John, aconteceu alguma coisa? - Ele foi entrando um pouco sem jeito e levantou sua mão em direção à Melissa sem dizer uma palavra e deu-lhe um pequeno livro de capa branca.
– Eu comprei esse pequeno presente, senhorita Pazan, eu pensei em entregá-lo quando a senhorita assim que chegasse, mas tivemos alguns desentendimentos constantes, mas acho que agora eu posso lhe entregar.
– Vou pegar algumas frutas. – Camila levantou-se dizendo e saiu do quarto. Sr. Rousseau continuou no mesmo lugar. Melissa esticou seu braço e pegou o livro.
– Obrigada, Sr. Rousseau. – Ele, ouvindo o agradecimento, falou:
– Eu acho que agora poderemos conversar melhor.
- Acha mesmo que me comprará com um livro?
- Eu nunca quis dizer isso, senhorita Pazan. – Melissa ergueu um ar de superioridade que Sr. Rousseau desaprovou, ele se sentia um pequeno cachorro de rua ao ver aquele ar superior que Melissa acabara de fazer.
- Meus sentimentos pelo senhor são os mesmos, eu não me esqueci do que falou sobre meu irmão.
- Eu estava apenas querendo que a senhorita me escutasse, eu nunca faria nada, eu...
– Eu não preciso de suas explicações, e eu estou até agora tentando encontrar o homem cavalheiro que sua mãe disse que o senhor era.
- Julga-me não ser um?
- Sim, Sr. Rousseau, o senhor vem em minha casa, tira meu pai de sua casa, nos trás para essa cidade escura e fria, me ameaça e ainda quer que eu aplauda? Fora eu ter visto aquelas pessoas em estado de pobreza em sua fábrica.
- Você sempre baterá na mesma tecla, não é? O que pensa que sou? Um Deus? Que posso em um estralar de dedos consertar tudo?
- Eu penso que o senhor poderia fazer mais.
- E ficar pobre também? Talvez se eu fosse um pobre homem que vivi de poucas moedas por mês a senhorita fosse gostar de mim, julga a mim por causa de minha fortuna.
- Não o julgo por causa de sua fortuna, o julgo por ter meios de mudar muitas coisas aqui, mas fecha os olhos.
- Vivo de lucros, assim como todos os outros patrões, não se esqueça, senhorita Pazan, que sou, também, patrão de seu pai.
- Vai começar a me ameaçar outra vez, Sr. Rousseau?
- Eu só estou tentando mostrar qual é o seu lugar, está aqui porque Camila acredita que a senhorita é uma boa amiga, mas com aquele comportamento lá embaixo, já ganhou a inimizade de minha mãe.
- A verdade machuca, não é mesmo?
- A verdade, não, seu comportamento, deveria pensar mais em suas palavras.
Virou-se e saiu do quarto. Melissa deitou na cama e fechou os olhos. Ela pensou que ele realmente tinha razão, afinal, ela era apenas uma filha de um de seus empregados, e ele estava até suportando-a muito para um patrão cruel. Ela respirou fundo e adormeceu. Camila entrou no quarto e percebeu que ela estava adormecida e não quis atrapalhar seu sono. Aquela manhã passou rápida. Melissa acordou e se juntou a Sra. Rousseau e Camila para almoçar e passear pelo jardim. Ao contrário de seus sentimentos pelo Sr. Rousseau, Melissa tinha um grande sentimento por Camila, ela era diferente e meiga. Sr. Rousseau fora trabalhar e passou o dia todo fora. Melissa tinha a plena certeza que sei pai iria perguntar como ela estava.
Ele ficaria muito bravo se soubesse das minhas atitudes hoje, ela pensou.
No fim da tarde, antes do chá, começou a chover. Elas estavam na sala jogando cartas.
– John não virá para casa hoje, ele não se arriscará pegar essa chuva. Sempre teve uma saúde muito forte, mas não seria bom se arriscasse.
- Está chovendo muito. – Camila estava prestando atenção nas cartas e não comentou.
– Camila sempre foi mais delicada, John cuidava dela como um leão protegendo seu filhote. Eu estava junto com meu esposo construindo as fábricas, ele tinha um sonho enorme de fazer muitas delas, e eu compartilhava de todos os sonhos dele. John ficava em casa com Camila, ela era de colo, mas ele não se importava de ficar ali, o tempo todo vendo se ela estava bem. Depois eu o deixei trabalhar na construção das fábricas. Ele carregava muitas coisas pesadas, às vezes só se alimentava apenas uma vez por dia para não perder tempo. Depois, chegaram os outros empresários e se juntaram a eles. O tempo que John foi estudar economia fora foi o mais difícil, era ele a mente que fazia isso tudo aqui rodar, eu me lembro de meu esposo ficando louco com os números. John é a alma desse lugar, ele conhece cada centímetro desse lugar. - Melissa ouviu com atenção todas as palavras.
– Ele deveria fazer alguma coisa para aquelas pessoas, é de cortar a alma, se a senhora os visse, pensaria igual.
– Pensa realmente que eu fico aqui o dia todo? Eu visito as fábricas constantemente, eu gosto de ver o que faz a fortuna de meu filho crescer cada vez mais. Mas eu sei do que está falando, realmente é deplorável, mas os homens gastam metade do que têm com bebidas, enquanto as crianças ficam com fome em casa. Se dermos mais, eles gastarão com mais bebidas e a pobreza crescerá.
– Eu acho que alguém deveria orientar esses pobres homens e ouvir realmente a necessidade deles, talvez tenha alguns que gastam o dinheiro com muita bebida, mas existem outros que podem estar realmente necessitando. – Eu também acho, talvez esses rumores da greve possam parar. – Camila comentou. Melissa assustou-se com a notícia.
– Greve?
– Vamos nos preparar para o chá. – Mas Sra. Rousseau mudou de assunto. Elas se levantaram e foram se preparar.
Escureceu muito rápido e a chuva ainda não tinha parado. Quando elas tinham terminado o chá e foram em direção à sala, Sr. Rousseau tinha entrado bruscamente todo molhado e, sem perceber que elas estava perto, tirou o paletó e foi desabotoando a camisa, deixando seu corpo da cintura para cima descoberto, Melissa corou um pouco em vê-lo assim.
– John? - A Sra. Rousseau o chamou baixinho, ele virou-se e se assustou quando as viu.
– Sinto muito, eu esqueci que tínhamos visitas. - Ele tentou abotoar a camisa novamente, mas não estava conseguindo. – Eu te ajudo, você nunca consegue fazer isso. – Camila sorrindo, falou. Os dois sorriram.
Melissa viu que eles se davam muito bem e lembrou-se de seu irmão, seu coração ficou apertado em saber que nunca poderia vê-lo novamente. Depois de algumas horas, Sra. Rousseau foi para seu quarto dormir, assim como Camila e Melissa.
Quando Melissa estava deitada depois de algum tempo, ela ouviu alguém bater na porta do quarto ao lado, ela reconheceu a voz, era Sr. Rousseau. Levantou-se e abriu devagar a sua porta. Ele estava em pé um pouco curvado, quando ele virou e olhou para Melissa, tentou se recompor, mas ela percebeu que estava acontecendo alguma coisa, pois seu rosto estava completo de suor e suas bochechas vermelhas. Melissa se aproximou dele e tocou em seu rosto, ela conseguiu perceber o quanto ele era mais alto que ela. Quando ela colocou a mão, viu que estava com febre. Ele estava tentando acordar Camila para ajudá-lo, mas ela não tinha acordado, sempre teve um sono muito pesado. Melissa o abraçou e o levou devagar para seu quarto.
– Não precisa se preocupar comigo, senhorita Pazan. Eu não quero incomodar seu sono, só precisa acordar Camila.
– Eu posso ajudar, eu sempre ajudei meu pai com os enfermos, os médicos moravam muito longe, eu que baixava a febre, eu sei o que fazer.
– Mas a senhorita não gosta de mim.
– Mas não é por isso que não vou ajudá-lo. Vamos, entre, as pessoas desse lugar precisam do senhor bem, ou tudo aqui vai por água a baixo, o senhor é muito importante para essa cidade. – Ele estava tonto, mas compreendeu suas palavras e até ficou sem jeito. Melissa o deitou. – Vou fazer um chá, fique aqui e tente não levantar, ou desmaiará. – Ele a obedeceu e ficou deitado, porém, tudo rodava em sua cabeça, mesmo se ele quisesse levantar-se não conseguiria, pois seu corpo estava fraco e sem forças.
Melissa foi na cozinha, e com dificuldade encontrou algumas folhas para fazer o chá, ela era muito esperta e conseguiu fazer. Quando voltou para o quarto, percebeu que ele estava pior, ele não falava, nem estava mais consciente. Ela colocou seu colo para apoiar a cabeça dele e colocou o chá em sua boca para que pudesse tomá-lo devagar. Ela observou o rosto dele, ela tocou em seus cabelos bem devagar e sentiu um cheiro bom. Ela viu a pele macia de seus ombros suados. Melissa, com as mãos, tirou aquela camisa encharcada de suor da febre, deixando-o como tinha visto antes: sem camisa. Ela observou cada centímetro seu corpo, seu peitoral forte, seu corpo quente.
Ela passou bem levemente a ponta de seus dedos sobre ele e, quando tocou em seus lábios, ela foi se aproximando bem devagar... E encostou seus lábios nos dele. Fez isso bem depressa, porém, repetiu bem devagar por duas vezes. Sr. Rousseau acompanhou seu beijo e foi recobrando a consciência, mas ele não conseguia parar de sentir sua cabeça dar voltas e voltas, mas levantou-se um pouco e colocou seu corpo sobre o dela, beijando-lhe ferozmente. Melissa se deixou levar, porém, Sr. Rousseau foi adormecendo bem devagar e deitou em seu peito. Melissa o abraçou e dormiram.
Quando amanheceu, Melissa foi a primeira a acordar e logo viu Sr. Rousseau ainda deitado em seu colo. Ela bem devagar foi se afastando dele e saiu do quarto. Quando desceu para o café da manhã, encontrou Sra. Rousseau e Camila juntas próximo à janela, conversando.
– Ah! Até que enfim acordou, estávamos esperando você, vamos comer? – Camila perguntou sorridente. Melissa estava se sentindo mal com aquela situação e medo de alguém descobrir o que aconteceu.
– Claro, vamos, sim. – Esperem, vamos esperar John, ele não costuma dormir até essa hora, vou ao quarto dele saber se está tudo bem. - Sra. Rousseau falou.
Melissa fechou os olhos com força, ela iria saber que ele não estava em seu quarto, e se alguém o visse lá no seu? O que pensariam? Ele estava sem camisa deitado em sua cama.
– Deixe-o dormir, mãe, ele precisa descansar a mente ou ficará louco. – A Sra. Rousseau concordou e foram juntas para mesa. Depois de muitas conversas sobre vestidos, modas e fábricas, Sr. Rousseau apareceu. Ele estava vestindo uma camisa de botão branca e calças pretas. Seus cabelos estavam mais organizados e seus olhos naquela manhã estavam um azul deslumbrante. – Dormiu bem John? É estranho te ver dormindo até essa hora.
- Tive um pouco de febre ontem à noite, mas estou bem. – Ele respondeu com poucas palavras e começou a comer. Sra. Rousseau espantou-se um pouco.
– Por que não me chamou, John? Não pode ficar com febre e esperar ela passar sozinha.
– Está tudo bem. – Melissa o observava com mais atenção, já que ele não olhava em seus olhos, ela tinha total liberdade de olhar para ele.
– Você dormiu bem, Melissa? – Camila perguntou e ela engasgou com um pouco de leite. – Calma, só foi uma pergunta. - Camila falou, brincando.
– Eu dormi bem, Camila, muito bem. - Melissa respondeu, corando.
No mesmo minuto, uma empregada se aproximou.
– Sra. Rousseau, o porco já foi morto, o que eu faço com ele agora? - Sra. Rousseau olhou para Camila.
– Mas não era mais o porco, e sim os frangos. Você esqueceu, Camila, de avisar? - Sra. Rousseau levantou-se e Camila a seguiu pedindo desculpas por ter esquecido. Elas deixaram Melissa e Sr. Rousseau sozinhos. E foi um silêncio no café da manhã. Ela pensou que ele fosse comentar alguma coisa, talvez isso acalmasse mais seu coração, ela ficou com medo dele contar alguma coisa ao seu pai por tal ato. Ela se sentia constrangida em perguntar a ele alguma coisa, e ele estava comendo em silêncio, torturando-a com aquilo. Ele finalmente olhou para ela, mas ela estava olhando sua xícara de leite.
– Obrigado por me ajudar ontem, senhorita Pazan. - Melissa sentiu seu coração parar. Ela respirou fundo e disse algumas palavras que não fizeram sentido, ela estava muito nervosa. – Foi seu primeiro beijo, não foi? - Melissa levantou-se e ficou de costas para ele, pois estava muito envergonhada. Ele levantou e terminou de beber sua xícara de leite. – Tive que recobrar minhas forças ou nunca pararia de tocar em meu corpo.
– Pare com isso, Sr. Rousseau. - Melissa falou mais severa. - Melissa colocou suas mãos no rosto e chorou com vergonha do que fizera, ele estava brincando com as palavras, mas ela estava levando a sério. Ele olhou para os lados e devagar se aproximou dela e a observou chorar delicadamente. Ele pegou em suas mãos e tirou de seu rosto, ela olhou para baixo envergonhada, ele pegou um lenço da mesa e enxugou suas lágrimas devagar.
– Eu não contarei a ninguém, pode ficar tranquila, mas eu estranhei a senhorita dar o privilégio a mim de ter seu primeiro beijo, já que me detesta.
– Se não contar a ninguém já me sinto satisfeita.
– Eu quero outro beijo.
– Como o senhor já sabe, eu o detesto. – Ela falou e cruzou os braços.
– E eu vou ter que novamente lhe ameaçar para ter alguma coisa da senhorita. Então, Melissa Pazan, se não me beijar eu conto a seu pai; se me beijar, eu não contarei. – Ele deu um leve sorriso, ela não conseguia olhar em seus olhos.
– O senhor deveria ter mais compaixão de mim. – Ele descruzou os braços.
– Eu sou um industrial, sei negociar muito bem. - Ele se aproximou e devagar a beijou.
Ela colocou as mãos em seu braço e sentiu o quanto eles eram fortes, ele a abraçou e ela sentiu, por um breve momento, protegida. Quando ele terminou o beijo, pegou seu chapéu e foi em direção à porta sem dizer nada. Ela esperou que ele saísse e correu para a cozinha, onde a Sra. Rousseau estava com Camila, elas estavam ainda lá decidindo o que fazer com cada centímetro do porco. Uma jovem garota chamada Jane Hale estava entrando na cozinha, ela tinha chegado por trás da mansão e se parecia muito com uma operária. Melissa a observou com mais atenção. Camila estava aprendendo o que sua mãe estava ordenando a empregada fazer, porém Melissa caminhou até aquela jovem e participou da conversa, elas pararam de conversar quando a viu se aproximar.
– Não precisam parar por causa de mim. - Elas continuaram quietas. – Eu me chamo Melissa Pazan.
– Eu sei quem a senhorita é, seu pai trabalha na fábrica que eu fico, ele é muito bom. - Jane respondeu, pegando uma cesta e indo embora.
Melissa percebeu um gênio forte em Jane e muita opinião, ela não olhava para baixo, mas olhava bem em seus olhos e falava com muita exatidão.
– Espere, senhorita, qual o seu nome?
- Jane Hale, mas para que quer saber meu nome?
- Eu falei o meu, você tinha que falar o seu.
- Não me julgue mal, senhorita Pazan, mas essas coisas só servem para os patrões, não irá querer saber de minha vida.
- Por que não, senhorita Hale?
- Sou Jane. Minha vida, senhorita Pazan, não é cheia de aventuras e roupas caras, como a senhorita deve conversar com as suas amigas. Minha vida é de trabalho duro desde cedo, e se me permite, preciso ir.
- Espere, Jane, como posso encontrar-lhe?
- A senhorita quer me encontrar? Para quê deseja me ver novamente?
- Eu gostaria de ouvir sobre sua vida. - Jane sorriu um pouco, não acreditando na jovem senhorita que acabou de conhecer.
- Se quiser me encontrar, pode me procurar na rua das sombras. É lá que todos vivem. - Jane virou-se e foi embora.
– Rua das sombras, ruas das sombras. - Melissa pensou, tentando memorizar.
Aquele dia passou rápido demais, e Sr. Rousseau não foi dormir em casa. Na manhã seguinte, Melissa tomou a carruagem novamente e foi para casa. Na carruagem, ela lembrou de todo o fim de semana. De todas as conversas com Camila e Sra. Rousseau. Ela se lembrou do beijo em Sr. Rousseau e preferiu deixar aquela lembrança de lado, mas ela gostava de lembrar-se da sensação do beijo, dos lábios, da pele quente e de sua força.
Quando chegou em casa, seu pai já tinha ido trabalhar, ela simplesmente contou todo o final de semana para sua mãe, porém, preferiu esconder a parte do beijo. Depois de alguns dias, Melissa lembrou-se de Jane. Em sua caminhada, resolveu visitar essa rua das sombras para conversar com ela novamente. Melissa andou e andou, ela perguntou a alguns homens que vendiam comidas, e eles tentaram lhe ensinar, mas ela não conseguia entender o caminho por causa da névoa. Ela tropeçou muito e acabou arranhando os sapatos, mas continuou a procurar. Depois de algumas ruas, ela se deparou com uma totalmente podre. Onde os ratos andavam de um lugar para outro livremente. Uma criança pequena estava sentada num canto da esquina, quando ela passou, ele esticou a mão. Melissa tirou algumas moedas e as entregou. Ela via toda a sujeira daquele lugar e dos pobres que ali viviam. Mas, de repente, sentiu alguém puxando seu braço para mais perto. Era Sr. Rousseau.
– O que faz aqui, senhorita Pazan? Esse não é lugar para a senhorita.
- Aqui não é lugar para ninguém, Sr. Rousseau. - Ela olhou bem em seus olhos, ele percebeu que aquele olhar era de compaixão. De uma coisa Sr. Rousseau tinha certeza, era que Melissa iria colocar toda culpa nele. – Você poderia fazer alguma coisa por essas pessoas. - Ela falou baixinho, quase sem ar.
– O quê, por exemplo? - Ele perguntou e ela respondeu um pouco mais agoniada e com lágrimas nos olhos.
– Qualquer coisa, Sr. Rousseau, o senhor passa por aqui todos os dias e não sente compaixão por essas pessoas? Só sabe olhar para sua fortuna? - Ele pegou em seu braço e foi a arrastando para outro local mais agradável. – Para onde vai me levar? - Ela falou com voz trêmula, quando ele a levou para dentro de um galpão abandonado. Estava escuro e frio lá dentro, não tinha ninguém. Ele a encostou na parede.
– Por que você veio para essas bandas? Você não conhece nada por aqui, como descobriu esse lugar?
Ela pensou duas vezes se falaria o nome de Jane, mas talvez sem o sobrenome ele poderia nem conhecer a moça, mas seria perigoso para ela.
– Isso importa? Está com medo que meu pai veja a situação por aqui? Eu não errei quando em algum momento pensei que o senhor poderia ser ruim para minha família e o povo da vinha. - Ele sorriu ironicamente.
– Você pensa que tenho medo do que seu pai irá pensar? Você acredita mesmo nisso? Eu não tenho medo de nada, nem de você, nem das suas ironias.
– Minhas ironias começam quando minha paciência está se acabando, então me permita ir embora, senhor, não tenho nada para tratar. - Virou-se, mas ele pegou em seu braço e a jogou na parede com força, ela sentiu uma pequena dor em sua cabeça pela batida.
– Você nunca mais irá voltar a andar por essas ruas, aqui é muito perigoso. - Ele falava, olhando bem em seus olhos.
- Você realmente acredita que um dia eu vou obedecer às suas ordens como todos aqui?
- Eu sou um homem que sabe negociar, senhorita Pazan, como a senhorita bem já sabe, e eu posso ser realmente muito ruim para qualquer pessoa, todo homem tem alguma escuridão dentro do coração, a minha, se assim posso dizer, é muito perversa.
- Está tentando me fazer ficar com medo, Sr. Rousseau. Saiba que eu não sou tão fácil assim.
- Eu tento lembrar-me das histórias que meu pai contava quando chegava do sul, principalmente quando ele falava da doce menina de cabelos vermelhos, eu preciso muito dela nesse momento senhorita Pazan. Às vezes eu me pergunto se ela realmente existe ou ela sempre fora uma imaginação de meu pai. - Ele se aproximou dela e com a ponta dos dedos tocou em seu rosto. Ela por um tempo o deixou lhe tocar, mas se afastou, ficando de costas para ele. Ela fechou os olhos com força.
- As pessoas mudam, e eu mudei de acordo com a necessidade desse lugar, eu não vou mudar o que penso sobre o senhor.
- Você é forte, eu sei. Até alguém prejudicar alguma coisa que você realmente goste.
- O que está tentando dizer?
- Eu estou tentando dizer que eu tentei ser generoso, mas infelizmente a senhorita não está cooperando, e eu preciso que a senhorita coopere.
- E se eu não cooperar, Sr. Rousseau?
- Eu vou ter que fazer alguma coisa, na verdade, vou ser forçado a fazer alguma coisa que faça a senhorita parar de me atrapalhar, eu preciso de seu pai aqui. Nós estamos nos entendendo muito bem e temos vários planos juntos, e não será você que colocará ideias na cabeça dele de ir embora daqui.
- E se isso tudo não acontecer? Se seus planos falharem?
- Você ama seu irmão, não é, senhorita Pazan?
- Meu irmão morreu, Sr. Rousseau, você está tocando novamente no nome dele, me disse que nunca faria isso.
- Se a senhorita não cooperar, ele vai viver novamente, e eu acho que as autoridades policiais irão gostar dessa notícia.
- Você não seria capaz.
- Uma palavra para seu pai ou um passo para essas bandas e você fará seu irmão reviver e, por certo, ser morto outra vez, só que agora ninguém poderá reanimá-lo novamente. - Virou-se bruscamente e foi embora.
Melissa sentou no chão e olhou para as paredes vazias durante um tempo, ela não sabia o que fazer, ou o que pensar. Aquele homem talvez amável que ela acreditava que o Sr. Rousseau poderia ser tinha desaparecido por completo. Ele tinha se tornando um negociante feroz que arriscaria tudo nesse momento para conseguir passar ileso dessa greve. Mas como falaria para seu pai sem que prejudicasse seu irmão? Ela teria que fazer o impossível para seu pai ficar, se ele pensasse em ir embora o Sr. Rousseau com certeza iria prejudicar seu irmão. Ela levantou um pouco tonta e com a cabeça doendo, sua voz estava trêmula e baixa. Quando chegou em casa, percebeu que seu pai estava já com Sr. Rousseau, trabalhando novamente, talvez nem tivesse ido almoçar em casa. Sua mãe estava na cozinha, encantada com todas as tarefas que tinha que fazer durante o dia, embora seus ossos ainda doessem com o frio. Ela foi lentamente para a cozinha. Sua mãe estava conversando com uma de suas novas empregadas, quando ela viu Melissa, parou o que estava fazendo e se aproximou dela.
– Tudo bem, filha? Você parece tonta. - Melissa sentou numa cadeira mais próxima e falou baixinho, abrindo seus olhos constantemente para enxergar melhor:
– Eu acho que o frio é muito intenso aqui, mas, mãe... A senhora... Gosta desse lugar? De estar aqui?
- Claro, Mel, aqui pode ser vazio, sem árvores e com todo esse frio que meus ossos parecem reclamar a toda hora, mas a casa é muito confortável, seu pai anda com um sorriso de um lado para outro. Aqui ele pode aumentar seus conhecimentos e está gostando de nos ver tão felizes aqui, ele nunca pensou que um dia pudesse nos dar uma vida tão confortável.
- E se as pessoas que ele pensa que são nossos amigos, na verdade, só querem saber de seus interesses?
- Quem não busca seus próprios interesses? Todo mundo busca construir e realizar seus sonhos e precisamos de pessoas para conseguir isso, somos todos egoístas e materialistas, ninguém escapa.
- Eu acho melhor eu ir para meu quarto, o frio está me matando.
- Tente descansar, querida.
Ela deitou, mas seu corpo estava mole, estava cansado e sua cabeça doía muito, ela colocou as pontas de seus dedos no local da pancada e percebeu que estava um pouco molhado, ela viu sangue na ponta dos seus dedos e fechou os olhos por um breve momento até escutar sua mãe chamando-a.
- Melissa! Filha, você está bem? - Melissa abriu os olhos devagar.
– Sim! Eu estou bem. - Ela respondeu, ainda deitada.
– Você poderia vir aqui em baixo? Tem uma jovem querendo falar com você, querida.
Levantou-se depressa e o quarto deu voltas e voltas, ela caiu sentada na cama, mas respirou fundo e levantou mais devagar. Quando chegou à sala, viu Jane ao lado de sua mãe. Jane não estava com um rosto muito amigável.
– Eu vou deixar vocês sozinhas, eu preciso voltar e organizar o jantar. - Melissa sorriu de leve para sua mãe e a viu entrar na cozinha.
– O patrão pediu para vir falar com você. - Jane falou secamente.
– O que ele quer comigo, Jane? - Ela respirou fundo.
– Ele quer a senhorita longe da rua da sombra, não apareça mais por essas bandas, senhorita Pazan. - Jane virou-se e abriu a porta.
– Espere, Jane! Você vai obedecê-lo? Vai se sujeitar ao que ele quer sempre? Você é bem melhor que isso, Jane.
– A senhorita já passou fome? Sabe o que é ver outros comendo e sua barriga roncar? Ele é meu patrão, senhorita Pazan, ele é quem paga meu salário. Se eu perder esse emprego, outro patrão nunca irá me aceitar, só basta uma ordem dele. Olhe em volta, tudo é dele, todos escutam suas palavras e obedecem como cachorros, a senhorita não pode lutar contra ele, senhorita Pazan, então desista ou seu pai vai sofrer com isso tudo, ele é um homem bom, eu já conversei com ele quando ele estava na fábrica. Não queremos perder seu pai, ele tem sido bom, tem sido paciente e nos escuta, por favor, não faça nada.
Melissa apenas a olhou ir embora depois dessas palavras. Ela sabia que não devia ir, mas a ideia de ser uma pessoa que sempre obedece às ordens do Sr. Rousseau a irritava terrivelmente. Ela saiu de casa correndo e chamou Jane, ela parou e esperou Melissa se aproximar.
– Eu quero conhecer sua casa, ele pode mandar no norte inteiro, mas ele não manda em mim e você vai me levar ou eu ficarei doente de tanta tristeza. Diga isso a ele, se por um acaso ele lhe cobrar alguma coisa, minha saúde é mais importante, não acha? - Melissa conferiu se sua mãe estava bem longe e pegou seu chapéu e correu para fora. Elas correram um pouco até chegar ao local. Jane passou várias e várias ruas até chegar a sua casa, seu irmão James Hale estava sentado, tossindo bastante, suas bochechas estavam um pouco rosadas por causa da febre.
– O que essa criança tem? - Melissa perguntou. – Ele está assim já faz alguns meses, ele não melhora de jeito nenhum, ele até parou de trabalhar, o fumo estava prejudicando bastante, ele trabalha na fábrica dos Hemptons, na fábrica do fumo. - Melissa apenas o observou.
– Aqui está bastante frio, isso é ruim para ele. - Jane lembrou-se e começou a acender pequena lareira. – Então é aqui que vocês vivem... Onde está seu pai? - Jane parou um pouco de organizar a lareira.
– Cuidando da greve, não existe mais nada importante do que isso nesse momento. Os homens estão se reunindo em um galpão abandonado perto daqui.
- Mas não é perigoso? Se algum policial vir essa reunião pode fazer alguma coisa, Sr. Rousseau e os outros patrões poderão querer interferir.
- Não, não. Pelo menos o Sr. Rousseau não se importa com isso, ele diz que nós não devemos satisfação a ele, só na hora do trabalho, no nosso tempo livre fazemos o que quisermos.
- Estou farta de ouvir o nome desse Sr. Rousseau.
- Vejo que criou algum tipo de inimizade com ele. Quer um conselho, senhorita? O patrão é extremamente decidido, quando ele coloca alguma coisa na cabeça não desiste tão fácil, seu raciocínio é rápido e ele sabe negociar como ninguém, não é a toa que ele praticamente manda nos outros patrões. Eu estou falando isso para a senhorita pensar melhor com quem cria inimizade, às vezes é melhor não demonstrar isso, mesmo sentindo tal repudia.
- Não tenho medo dele.
- Mas deveria. Ele é patrão do seu pai, eu soube que vocês não têm dinheiro nem propriedade. Vocês dependem dele tanto quanto todos aqui é uma teia que todos estão ligados a ele, eu não estou dizendo que ele é um patrão ruim, ele tem o seu espaço, e nos da o nosso espaço, mas é do tipo que quando quer, ele vai até o fim. Se ele quiser a senhorita, ele fará tudo para ter, ele tem bons meios, eu estou dizendo isso porque eu o escutei falando com o Sr. Hemptons, ele elogiava muito a senhorita.
- Ele nunca me terá, meu pai me deu total liberdade para escolher meu pretendente.
- Se falo isso é porque tenho razões, quando ele me questionou sobre você ter aparecido aqui eu vi nos olhos dele que não era uma atitude normal, ele estava estranho. Apenas disse: “resolva para que ela não volte, ela precisa ficar a salvo”, ele não faz isso, ele não se preocupa com ninguém além de sua família, eu só estou alertando. Todos aqui só estão pensando na greve e ele teme que alguém possa lhe ferir, já que está do lado deles é melhor não aparecer por aqui.
- Eu não estou do lado de ninguém, estou do meu lado e do lado de meu pai. Se ele parasse um pouco e ouvisse vocês seria tão fácil de resolver isso tudo.
- Nos ouvir? Eu acho que não, o homem quando tem muito dinheiro só escutam apenas uma voz “mais dinheiro”. É um vício, senhorita Pazan, ninguém consegue parar, sempre querendo mais e mais, até os princípios são perdidos.
- As coisas não precisam ser assim.
- A senhorita tem bom coração, mas isso não basta, palavras não enchem barriga, atitudes, sim.
- Eu sinto muito.
- Sente? Pelo o quê?
- Por essa situação, isso não deveria existir.
- O homem é ganancioso, quanto mais dinheiro mais poder, quanto mais poder mais felicidade.
- Eu não acho que dinheiro traga felicidade.
- Estar de barriga cheia é estar feliz.
- E por que vocês não dizem isso? Falem com eles amigavelmente e digam que o dinheiro que vocês ganham é pouco e que precisam de mais.
- A senhorita tem palavras bonitas e boa intenção, seu rosto parece com o rosto de um anjo, mas as coisas não funcionam assim, tente entender senhorita, os patrões poucos se importam conosco, eles querem dinheiro e se isso custa nossa fome talvez nós devêssemos reagir, tente entender que a greve não é nada menos que nossa luta ou tudo ficará bem pior.
Depois de longas conversas sobre a greve e a cidade, Melissa pegou uma carruagem e foi para sua casa sem que alguém percebesse, Jane poderia ser prejudicada por causa disso e ela não queria que ela perdesse seu emprego, ela imaginava como tudo ali naquela cidade estranha e fria poderia mudar. Ela pensava em Sr. Rousseau e em como ele poderia mudar aquela situação, já que todos praticamente obedeciam-no. Ela sabia que a solução era os trabalhadores poderem ter apenas um momento com ele para poder expressar suas dificuldades, ela teria que colocar seu tão precioso orgulho de lado para ser humilde o suficiente para Sr. Rousseau poder ouvir. Ela rodou a sala, depois rodou toda biblioteca, depois foi para a cozinha com seus múltiplos pensamentos complicados. A hora do chá foi tranquila e seus pais deram várias risadas e em tudo ela analisava, ela via que eles estavam felizes em estar nessa cidade tão escura e fria. Ela poderia estar detestando tudo que tinha em sua volta, mas seu pai gostava de trabalhar com o Sr. Rousseau e sua mãe estava totalmente apaixonada pelos afazeres do dia.
- Pai, você disse que ia ler uma carta para nós.
- Claro, filha, uma eu já li, foi a carta da sua tia do sul e a outra, na verdade, é um convite da Sra. Rousseau, ela está nos convidamos para um jantar.
- Nós vamos?
- Claro, meu amor, eu, você e Melissa iremos, pode confirmar. – A Sra. Pazan confirmou, colocando a xícara de chá em seus lábios, nem dando tempo para Melissa questionar ou recusar o convite.
- Um jantar, pai? Mas por que irão fazer um jantar?
- Filha, eu ouvi o Sr. Rousseau dizer que seria bom reunir todos os donos industriais, eles precisam se organizar para a greve.
- Quer dizer que eles vão apenas se defender? Não irão procurar algum jeito de parar?
- Os operários não querem parar para conversar, filha.
- Alguém já perguntou isso a eles? Alguém já parou seu precioso dia para pelo menos ouvir esses pobres homens?
- E o que sugere, Melissa? Que os patrões escutem e aumentem os salários? Filha, é bem mais complicado que isso, eu tento fazer o possível para manter a paz, aqui não é como o sul, que resolvíamos entre nós. Aqui são bem mais trabalhadores e furiosos, por sinal.
- O senhor defende o Sr. Rousseau agora, pai?
- Ele é um homem genial, Melissa, dirige praticamente isso aqui tudo com a palma da mão, o Sr. John Rousseau tem uma mente completamente rápida e tem estratégias para tudo, embora essa greve esteja deixando-lhe muito preocupado, nós estamos fazendo o possível para ela não acontecer, eu sinto pena desses pobres operários, eu queria que aumentassem pelo menos um pouco de seus salários.
- Se Sr. Rousseau os ouvisse, pai...
- Seria realmente muito bom, filha.
- Quando será esse jantar?
- Neste fim de semana.
- Mesmo não o achando esse homem genial, pai, eu tentarei convencê-lo.
- Se você conseguir, será um grande feito, Melissa. Ele não muda de pensamento tão fácil, é um homem muito determinado, só não entendo o porquê não gostar dele, ele tem sido tão bom.
- Ele é rude, não vejo cavalheirismo algum.
- Ele nos trouxe para essa casa linda, deu um belo emprego ao seu pai, Melissa, comprou tecidos para fazermos novos vestidos por causa do frio e virá nos visitar amanhã para saber se estamos bem, isso não é cavalheirismo?
- Ele não lê romances, não tem palavras delicadas, seus movimentos são bruscos e seu pensamento forte, não saberia conquistar uma mulher. Além disso, ele tem uma multidão de trabalhadores que passam fome aqui.
- Ele não é do tipo que conquista mulheres frequentemente, Melissa. Eu trabalhei com ele por esses dias e posso dizer que não fala com mulheres constantemente e não é do tipo de dar galanteios, nasceu para o trabalho e vive todos os dias para isso, não é a toa que é tão próspero, ele fala muito bem de você, porém, você não sabe dizer um elogio sobre ele... Se pudesse, arrancaria sua cabeça fora.
- Eu não acho que ele falaria bem de mim.
- Você realmente não tem dado muitos motivos, mas ele, mesmo assim, tem sido compreensivo.
- E viva ao Sr. Rousseau, não sabia que ele tinha virado o herói e eu a vilã da história. Desde quando me tornei tão ruim assim?
- Desde quando você trata mal as pessoas que nos fazem bem. Ele poderia ter me tirado da vinha, poderia me deixar na rua, mas, não! Deu-me uma casa confortável, me trouxe para seu império industrial, aumentou meu salário e tem sido duas vezes mais generoso que seu pai, Sr. Rousseau. Você o acusa de ser rude, mas a única pessoa rude que eu vejo aqui é você, que o acusa sem ter piedade.
- Não estou me sentindo bem, vou dormir.
Melissa levantou-se e seu pai parou de tomar o chá, coçando sua cabeça, estressado. Ela subiu e caiu em sua cama, fechando os olhos bem forte, tirando todas as palavras que tinha dito a seu pai da cabeça. Sr. Pazan ainda estava sentado, olhando para o chão.
– Seria tão bom se eles se entendessem, ela não imagina que ela poderia ter a vinha em suas mãos se casasse com ele.
– Ela verá a burrice que está fazendo. - Sra. Pazan, olhando com olhos sérios, respondeu.
– Não a force, prometemos que a deixaríamos escolher.
– Você deixa fazer o que ela quer e isso será a desgraça dela, não vê que o Sr. Rousseau será uma chance que ela nunca terá mais na vida? Nenhum homem é bom o suficiente para ela – A Sra. Pazan levanta-se também, irritada. Falava em alta voz, estressada.
– Ótimo! Sou agora motivo para eles discutirem, eu odeio Sr. Rousseau. - Melissa ouviu lá de cima e falou em seu pensamento.
Sr. Pazan ficou em silêncio, apenas ouvindo. Tentou pegar em sua mão, mas a Sra. Pazan puxou a mão e saiu da sala nervosa. Ele sabia que estava ficando velho junto com sua esposa, e Melissa não teria ajuda do irmão em nenhum problema, ele percebeu que ela poderia ser uma daquelas garotas com olhos famintos que ele via constantemente nas fábricas. Eles temiam a isso. Aquela noite foi muito estranha, ela teve sonhos obscuros com Sr. Rousseau.


“ É engraçado como tudo pode mudar tão rápido, é inacreditável
Como seus olhos me fazem sentir alegria. Porém não é
Engraçado quando me lembro da minha realidade,
A realidade que te tenho longe”


Aquele dia passou se arrastando, uma manhã fria, o céu nebuloso e a névoa cercando a cidade das fábricas. Melissa observou pela janela e resolveu ir passear um pouco, o barulho do relógio já ecoava em sua cabeça. A paisagem não era igual à de sua antiga casa com árvores grandes, o céu aberto com ventos quentes e as crianças brincando, mas ficar ali dentro a deixava mais sufocada ainda. Seu pai estava trabalhando com o Sr. Rousseau, e sua mãe estava indisposta, aquele frio fazia seus ossos doerem e isso já se tornava constante, aquela casa estava fria e vazia, uma solidão de amargar a alma. As lembranças de sua antiga casa no campo fazia seu coração ficar apertado e desconsolado. Melissa saiu e começou a perambular pelas ruas, impaciente. Seu chapéu estava bem grudado na cabeça e seu vestido um pouco fino para aquele dia tão frio. Seus cabelos soltos - como gostava de usar - voavam com o vento. Ela pensou em ir ver Jane, mas, ontem, ela foi praticamente correndo o caminho inteiro e não estava lembrando muito bem como chegar até lá. Melissa não percebeu, mas ela, nesse momento, estava passando perto da fábrica de Sr. Rousseau. Ele estava lá, próximo à janela, olhando-a passar, ele sentiu seu coração bater mais forte, a sua respiração ofegante, ele olhou para o céu, pensativo, seu coração apertado por não ter essa situação totalmente em seu controle. Ele sempre teve a aprovação de todos, mas com ela é diferente, ele tem que pressioná-la com o medo, mesmo não sendo de seu “estilo”, ele tinha que ser assim para ela poder obedecer as suas ordens, mas ela tinha o seu coração, ela com sua teimosia o tinha por completo. Ele apertou os punhos e estreitou seus olhos e seus pensamentos se resumiam nela, a jovem que roubou seu coração devagar, ela tinha tanto pensamento próprio, ele deveria repudiá-la por tanta ousadia e individualismo. Mas ela era simplesmente adorada por ele, mesmo ele não demonstrando tão bem. Sr. Rousseau não se moveu, apenas virou seu rosto e olhou para o Sr. Pazan, que estava estudando alguns pedidos, sentado a uma mesa mais longe. Melissa andava e andava, e não conseguiu lembrar-se da rua em que levava a casa de Jane. Aquele lugar começou a ficar muito estranho, aquela sensação que todo mundo tem perto do perigo já estava gritando em seus ouvidos, ela tentou voltar, mas percebeu que não eram as mesmas ruas que tinha passado antes, a palavra “perdida” rodeava seus pensamentos. De longe ela ouviu som de passos, passos fortes, tentou voltar, mas uma carruagem passou bem depressa por trás, fazendo com que ela tropeçasse e caísse no chão.
– Vejam só o que a névoa trouxe para nós. - Melissa ouviu a voz de um homem e levantou-se depressa. Eram dois homens com rostos cortados e cheios de cicatrizes, corpos grandes de trabalhadores e sorrisos maliciosos.
– Eu nunca vi esse rostinho de anjo por aqui antes. – Um deles falou, o outro sorriu e juntos se aproximaram.
– Senhores. – Eles ouviram outra voz vinda de trás.
– O que você quer, Jeremy? Estamos apenas querendo assustá-la, apenas isso.
– Então já conseguiram o que estavam planejando. Agora, vão. - Jeremy deu a mão para Melissa levantar, ela observou até aqueles homens irem embora. – O que faz aqui? Com certeza deve estar perdida. – Jeremy foi andando e falando, Melissa foi o acompanhando tropeçando nos pequenos buracos. A névoa estava deixando-a cega. Só quem realmente era daquela cidade era que conseguia andar sem nenhum problema, já estavam acostumados a andarem cegos com a névoa.
– Oh! Sim! Eu estava por aqui ontem, na rua da sombra, com uma amiga, Jane, mas agora eu não consigo mais encontrar a casa dela, essa névoa parece complicar tudo, é impossível andar desse jeito.
Ele era um homem alto, seus cabelos claros e olhos negros, braços fortes, parecia trabalhar pesado, suas mãos sujas de carvão e o rosto um pouco sujo também.
– Qual o seu nome? – Ela parou também de andar e organizou seu vestido.
– Melissa Pazan. – Ele levantou as sobrancelhas.
– Sei quem você é, aqui não é tão grande, as notícias correm rápido. Você é a garota que apoia a greve e odeia os patrões, a Jane já comentou sobre você por aqui.
Se meu pai descobre isso, estou em sérios problemas, Melissa arregalou os olhos e pensou.
– Venha, senhorita Melissa Pazan, estamos todos naquela pequena casa. - Jeremy a levou para um tipo de depósito. Jane estava lá, comendo, assim como os outros. Todos se levantaram quando viram Melissa, ela era diferente, sua pele limpa e cabelos lavados, vestido de madame e rosto de anjo, uma moça fina, mesmo não estando tão bem vestida quanto Camila Rousseau.
– O que você está fazendo aqui? - Jane perguntou assim que a viu.
– Ela estava apenas andando. - Jeremy respondeu, brincando.
– Andando? Se ainda tivesse ar bom e paisagem bonita valeria a pena, não perca seu tempo senhorita Pazan, você irá sempre se perder nessa névoa, aqui só os mais antigos andariam nas ruas de olhos fechados sem se perder. - Jane brincou e todos sorriram.
– Machucou os pés, senhorita Pazan? Seus saltos irão se estragar. - Todos sorriram mais alto ainda.
– Vocês me tomam por uma garota da sociedade, não é? Cheia de regalias, finezas e luxos, meu pai é empregado igual a vocês e o patrão dele é também o patrão de vocês, nunca vivi na sociedade, sempre ajudei meu pai na vinha do falecido Sr. Rousseau. Eu carregava sacolas de uvas, ajudava a guardar os cavalos. Nunca fui de luxo, nossa casa no campo era simples, mas posso dizer que bem melhor do que a casa que estou vivendo hoje. Ela é grande e bonita, mas não tem a mesma alegria da casa no campo. Lá, o sol batia nas janelas dos quartos bem cedo, as crianças indo para escola e as mais novas brincando, os trabalhadores sorrindo e se preparando para a colheita, meu pai conversava com cada um, para ajudar ou auxiliar em alguma coisa. O ar é quente e a grama verde, os animais correm soltos e o clima é maravilhoso. - Eles olharam para ela enquanto falava. Todos se olharam e viram a miserável vida que tinham.
– Essa senhorita tem razão! Nós somos excluídos, somos pagos como quem paga a porcos, em outros lugares os homens colocam seus filhos para estudar e não trabalhar, suas esposas cozinham o dia todo e a comida é farta, os patrões escutam seus empregados para ajudá-los, mas aqui nós somos tratados como porcos, quem apoia a greve?! - Um deles, que se chamava Antônio Loren, gritou com fúria. Melissa assustou-se, pois ela não queria em nenhum momento causar fúria ou a própria greve, ela sabia que estava se metendo em um problema futuro, mas seus princípios diziam que ela estava certa. Esses trabalhadores precisavam de boa comida e de uma boa vida, mas os patrões da cidade não se importavam com isso, porcos eram melhores do que eles e ela precisava ajudar essas pessoas com fome que sofriam por causa da ganancia dos patrões, mesmo que isso custasse alguma coisa mais valiosa, ela não sabia o que, mas que iria se arriscar muito.
Aquela manhã foi divertida, Melissa pôde conhecer várias pessoas que realmente sabiam conversar, eles eram divertidos e sorriam, não era como Sr. Rousseau ou sua mãe que tinha os rostos rígidos e palavras afiadas, ela pôde se sentir mais a vontade, desarmada, pronta realmente, sorrir sem precisar ser rude com ninguém. Ela gostou do jeito de Jeremy e os outros. Depois daquela manhã, ela voltou escondida por mais alguns dias sem que ninguém soubesse.
– Melissa, você quer ir com seu vestido branco? - Sua mãe perguntava, ela estava deitada lendo um livro que não estava entendendo muito bem a história.
– Claro, mãe. Na verdade, pode escolher, esse jantar com a família Rousseau irá ser muito entediante, exceto pela Camila. - A Sra. Pazan separou o vestido.
– Ela veio aqui ontem, mas você já tinha saído para fazer a sua caminhada. - Melissa parou de ler o livro.
– Sinto falta dela, gostei de sua amizade, hoje vou pedir desculpas por não estar aqui em casa quando ela veio me visitar.
À noite, quando foram para o jantar, Melissa respirou fundo quando desceu da carruagem. Ela desejava realmente não fazer nada de errado, ou não ter que falar nada de errado, ela se preocupava com seu pai, o coração dela pesava, pois ela sabia que agora estava no meio das pessoas que ela estaria lutando contra junto com os operários. Camila já estava a esperando na porta, seu sorriso era de uma ponta a outra.
– Por onde você esteve todos esses dias? Fui visitar você, mas não lhe encontrei em casa. - Elas se abraçaram.
– Eu comecei a fazer algumas caminhadas, a paisagem não é muito boa nem o ar, mas acabei me acostumando.
O Sr. Rousseau estava logo atrás e se aproximou.
– E por onde fez suas caminhadas, senhorita Pazan? - Ele a olhou bem nos olhos. Melissa sorriu um pouco para disfarçar, os outros convidados pararam um pouco e esperaram a sua resposta assim como sua mãe e seu pai, Sr. Rousseau observou-lhe com um sorriso simples no rosto, ele sabia que ela estava pensando em mil mentiras, ela respirou fundo.
– Perto de suas grandiosas fábricas, Sr. Rousseau. O Senhor me ofende desse jeito, não acredito que nunca me reparou andando por suas propriedades, me sinto insignificante para o senhor.
Ele, um pouco corado, respondeu:
– Desculpe-me, senhorita, quando entro em minha fábrica, apenas penso em trabalho e passo o dia todo trabalhando, mas, a partir de agora, apenas olharei para sua beleza tão notável. - Melissa aproximou-se e respondeu baixinho, para que apenas ele escutasse.
– Pensa que não vejo o senhor lá de cima? O senhor sabe para onde eu vou todos os dias.
– A senhorita tem razão, e isso me faz pensar duas vezes em ter seu pai ao meu lado, afinal, se você apoia a greve, por que ele não iria apoiar também? Seu pai ficaria chateado se soubesse por onde tem andado, não acha? - Ela ficou nervosa e seus olhos se abriram por completo.
– Você sabe que ele não faria isso. - Ele levantou sua mão, mas ela apenas se curvou, como de costume.
– Com tantos amigos aqui, pensei que já tivesse perdido o costume do sul. - Melissa respondeu.
– Você pensou errado, como sempre. – Ela virou-se bruscamente, nervosa com que ele dissera, seu pai ficaria arrasado em pensar que ele perdera o emprego por causa dela, mas ele pegou em seu braço e a levou para seu escritório, apenas Camila percebeu. – O que você está querendo com isso tudo? Arruinar seu pai? - Ela o observou sem jeito, ele cruzou os braços querendo uma explicação, e se encostou à pequena mesa. – Como você não me deve explicações eu também não lhe devo, mas seria insensato de sua parte culpar meu pai por minhas escolhas, ele é devoto ao senhor, eu não, ele lhe deve fidelidade, eu não. - Sr. Rousseau com o rosto tranquilo, respondeu:
– Eu acho que não deveria ter um funcionário que favorece a greve. - Ela olhou em seus olhos, nervosa.
– Mas ele não tem nada a ver com isso.
– Eu quero vocês fora. - Ela se virou e apertou seu punho. Seus olhos encheram-se de lágrimas, mas não chorou.
– Por favor, não culpe meu pai por meus atos, você estará perdendo uma boa ajuda, um bom homem. – Ele ainda olhava em seus olhos e nada falava. Ela se aproximou devagar e respirou fundo, ela pensou em sua mãe, desconsolada com a perda do emprego de seu pai, a saúde dela frágil, eles não teriam condições de pagar tanto dinheiro em um tratamento se o Sr. Pazan saísse do trabalho. Sem casa, sem dinheiro. Isso não poderia acontecer. Melissa se aproximou bem devagar, o Sr. Rousseau descruzou os braços e ficou um pouco surpreso por ela estar tão perto. Ela ficou na pontinha dos pés e o beijou delicadamente. Ele a abraçou enquanto beijava. Ele sentiu seu cheiro, seu corpo pequeno, sua pele macia e seu cabelo longo.
– Por favor, não prejudique meu pai, ele nunca irá me perdoar. Eu não lhe devo fidelidade, mas eu preciso do senhor. – Ele ainda estava com seu rosto próximo ao dela. Suas mãos tocavam seus cabelos longos, que ela gostava de deixar solto. Ele a beijou novamente com mais força, o seu coração batia mais forte, ele adorava aquela sensação que ela proporcionava, ela o tinha por completo, corpo e alma, e ele já sabia disso e aquele beijo o deixou mais escravo de seu amor.
– Eu não farei, mas afaste-se deles. - Ela concordou com a cabeça.
Quando se virou e abriu a porta, ele falou antes que ela saísse. E de repente, ela ouviu sem aviso nenhum algo que a destruiu por dentro.
– Eu vou ficar noivo, senhorita Pazan. - Ela parou todos os seus movimentos e até sua respiração, foi engraçado como tudo ficou parado e em silêncio. – Eu vou ficar noivo da senhorita Hemptons. - Melissa continuou parada, ela pensou em nada e pensou em tudo. Ela estava sem palavras e apenas continuou a andar bem devagar. Voltando à festa, o beijo passava em sua cabeça assim como um sonho, tudo dava voltas e voltas, ela gostou de seu beijo, gostava de seu cheiro, do jeito que seu cabelo ficava e do que ouvia falar dele, os seus amigos operários não falavam mal do Sr. Rousseau, sempre diziam que ele era o mais correto, nunca dava, mas nunca tirava e os ajudou diversas vezes, que era um homem de personalidade forte, quando metia uma coisa na cabeça, ele iria até o fim.
Melissa o observou na festa, ele estava vestido elegantemente e seus olhos se encontravam de vez em quando pela festa, um pouco constrangedor, já que eles sempre foram de brigar e agora alguma coisa tinha mudado, ela reparou mais em seus olhos, seus lábios, e por um breve momento tocou os seus levemente com a ponta dos dedos. Quando a senhorita Hemptons se aproximou dele, ela sentiu uma agonia dentro de si, como se o mundo fosse acabar, como se o mundo fosse acabar e nunca mais se reconstruísse. Ele de longe observou seus olhares tristes, olhares que nem ela percebia que estava colocando em seus olhos, ela se lembrou de sua vida no campo, lembrou-se do sol quente e de como tudo era mais fácil, sem dor, sem problemas.
– Numa noite escura, com céu aberto e estrelas invisíveis, em um lugar estranho com pessoas estranhas e frias, talvez eu tenha perdido ou esteja começando a ganhar, talvez o nada possa ser o tudo, eu posso parar e pensar “está tudo dando errado”, mas quem pode me garantir de verdade que estas coisas são as erradas? Porque tudo pode está acontecendo desse jeito para uma coisa boa acontecer lá na frente. Ou não. – Ela declamava, olhando para o céu de uma janela próxima. Ele apenas observava. Um rapaz falava do outro lado junto do Sr. Pazan e do Sr. Hemptons.
– Quem é aquela jovem garota do outro lado? Posso dizer que é a mais bela do salão. - O Sr. Pazan sorriu um pouco.
– A jovem em questão, Sr. Lomberg, é minha filha Melissa Pazan. - O jovem corou um pouco.
– Eu sinto ter sido tão sincero para o senhor, eu não sabia que ela era sua filha, sempre soube que o veio junto com sua esposa e uma jovem filha, mas nunca a vi antes. - O Sr. Hemptons comentou brevemente, com sua voz grossa. – Eu sempre pensei que sua filha tinha roubado o coração do Sr. Rousseau, ele sempre falou tão bem dela, me surpreendi quando ele veio me pedir a mão de minha filha, uma surpresa em tanto, agora posso morrer tranquilo, minhas fábricas vão ter uma vida longa, mas eu vou dar mais tempo para ele pensar se realmente é minha filha que ele deseja.
– Minha filha tem uma personalidade muito forte, pensamentos e vida própria, ela tem dezenove anos agora, está muito nova para pensar em casamento, às vezes eu fico preocupado com ela, parece que nenhum homem a agrada ou parece bom o suficiente.
– Um bom desafio, Sr. Lomberg, o que acha? - o Sr. Pazan apenas observou o jovem com um sorriso curto, ele respirou fundo, olhando para ela andando sozinha.
– Desafio aceito. - O Sr. Lomberg saiu em direção a Melissa, e com as pernas um pouco bambas falou quando estava bem próximo a ela: – Boa noite, senhorita. - Ela levantou a mão para apertar a dele, mas ele se curvou, ela rapidamente cursou-se também. – Desculpe-me, senhorita Pazan, eu percebi que a senhorita sempre cumprimenta se curvando, eu apenas quis parecer um pouco com seus amigos do sul. - Ela sorriu um pouco com ele e disse.
– Por que deseja se parecer com meus amigos do sul, senhor?
– Eu também desejo ser seu amigo. - Melissa sorriu um pouco, seu coração não estava normal, mas ela sabia que pelo menos tinha que parecer normal por fora. – A senhorita poderia me conceder essa próxima dança? - Melissa o olhou, surpresa com a proposta.
– Claro, eu aceito. E pode me chamar de Melissa. - Ele olhou bem em seus olhos e beijou suas mãos. Sr. Rousseau observou de longe, ele não se sentiu satisfeito com o que ela estava fazendo, irritou-se quando percebeu que ela aceitara a dança com a maior boa vontade. Sr. Lomberg acabara de conhecê-la e já tem todo sua simpatia, o sorriso que seu pai falou quando ela estava feliz, o Sr. Lomberg já tinha todo seu carinho, ele por outra razão tinha seu desprezo quando só tinha a ajudado todo esse tempo.
Sr. Rousseau deixou a senhorita Hemptons sozinha e foi em direção à varanda da casa, onde não se tinha barulho algum, ele aproveitou aquela solidão e silêncio para se acalmar Sua irmã Camila foi em direção a ele e o abraçou suavemente, em silêncio. Depois de um momento, ele falou: – Eu só tenho ajudado ela e sua família e não tenho um sorriso, mas Sr. Lomberg a chamou para dançar e ela o recebe com sorrisos que eu busquei tanto, porém, nunca tive. - Camila o abraçou mais forte e olhou em seus olhos, acariciando seu rosto.
– Você não percebeu ainda, John? Desde quando você chegou em casa depois da viagem para o sul, eu percebi que quando você falava da senhorita Pazan, você falava de um jeito especial, como se ela fosse um ser totalmente diferente de nós, como se ela fosse uma dama diferente, no primeiro dia que você a conheceu ela já te enfrentou, uma coisa que ninguém faz a muito tempo. - Ele olhou para o céu, triste.
– Ela nunca irá me amar, eu sou rude, não sei dizer o que sinto muito bem, eu sei que sinto, porém, não consigo demonstrar nada. Ela não me julga um homem bom o suficiente. - Camila sorriu devagar.
– Tente conversar com ela, antes que seja tarde demais, você ainda pode cancelar esse noivado sem juízo que você inventou, fale com ela, eu sei o que fazer. - Camila saiu depressa da varanda e foi em direção a Melissa, que tinha acabado a dança com Sr. Lomberg, eles sorriam muito e já conversavam sobre poesia.
– Sr. Lomberg, como vai? - Camila se aproximou e o cumprimentou.
– Eu vou bem, senhorita Rousseau, vejo que cresceu. - Camila sorriu.
– O senhor também. Vejo que a viagem que fez para Espanha foi muito boa. Quantos anos longe? Dez anos? - Ele sorriu.
– Sim, já faz algum tempo que queria visitar meu pai novamente e ver como anda suas fábricas.
– Vai ficar e cuidar dos negócios de seu pai? - Camila questionou, curiosa.
– Não, não penso em ficar com os negócios de meu pai, ele até está pensando em vender suas fábricas para seu irmão e ir comigo para Espanha, ele já está velho demais para os negócios, mas eu soube que ele pretende se casar com a senhorita Hemptons, é verdade? - Camila jogou um breve olhar para Melissa, que murchou seu sorriso e olhou para o chão.
– Meu irmão está se decidindo, ele conversou com o Sr. Hemptons e pediu, mas eles ainda estão analisando, parece que o coração da senhorita Hemptons já tem seu escolhido. - Melissa olhou para Camila com mais interesse. – Mas, Melissa, você me acompanharia até meu quarto, eu gostaria de organizar meu vestido, com licença, Sr. Lomberg. – Ele se curvou e elas seguiram em frente.
Quando se aproximaram da varanda, Camila parou e disse baixinho:
– Oh, Deus! Eu me esqueci de falar com minha mãe, só vou avisar que ficarei um pouco ausente, poderia me esperar na varanda? - Melissa olhou para a varanda e percebeu que estava escuro, mas confirmou com a cabeça e entrou. Camila trancou a porta quando ela entrou, eles não perceberam. Melissa se aproximou da sacada e observou a noite, sem estrelas, pois o céu estava coberto. Ela percebeu alguém e virou-se, assustada.
– Desculpe, eu não quis assustá-la. – Ele falou delicadamente. Melissa voltou a olhar o céu. – Eu fico feliz que tenha aceitado o convite.
– Se eu pedisse um favor, o senhor o faria?
- Se estiver ao meu alcance, eu o farei.
- Os seus operários sofrem dificuldades, eu queria que o senhor os escutasse. - Sr. Rousseau fechou os olhos, sem paciência.
- Senhorita Pazan, eu tenho coisas para falar, mas é com a senhorita, eu preciso dizer algumas coisas que sinto, mas não sei dizer, é complicado, eu nunca estive numa situação antes assim, tendo que falar as coisas que quero falar nesse momento.
- Sr. Rousseau, eles precisam falar com o senhor, se o senhor escutasse ao menos algumas de suas queixas talvez a greve possa melhorar.
- A senhorita não está me deixando falar.
- E o senhor não está querendo me entender, eu quero lhe dar uma solução para seus problemas.
- Meu único problema é a senhorita. - Melissa o olhou assustada, ela não entendeu a palavra “problema”.
- Eu sou um problema para o senhor?
- Não desse tipo, eu quis dizer que quero falar certas coisas e preciso que a senhorita me escute.
- E eu preciso que o senhor acabe de uma vez por todas com as dificuldades desse povo.
- E o que sugere? - Ele se rendeu as suas súplicas.
- Eu sei que o senhor faz uma reunião por semana com os outros empresários, nessa reunião, junte seus operários e os deles e conversem todos juntos.
- Eu poderia ouvir, pela senhorita, claro, mas eles não ouvirão.
- Eles escutam o senhor, se o senhor os deixar na sala e juntar todos os operários no galpão lá embaixo e conversar com eles, o senhor só precisará falar com os outros e juntos resolverem logo ali, naquele momento.
- Eu farei.
Ela o olhou um pouco espantada por ter sido tão fácil, ele não era homem de ser facilmente manipulado, seus pensamentos eram já traçados e decididos. Eles se olharam durante um bom tempo. O vento fazia os cabelos de Sr. Rousseau voarem para perto de seus lindos olhos azuis. Ele estava vestido como um bom cavalheiro, seus olhos tranquilos eram tão visíveis e ela achava estranho. Ela virou-se devagar e abriu a porta, o olhou antes de ir embora. Quando ela saiu, ele falou baixinho com a garganta apertada:
– Meu coração é seu, minha alma está aprisionada a você, não sei mais o que fazer, como vou ter seu coração? Um dia eu o terei?
Aquela noite fora a mais solitária do jovem Sr. Rousseau. Ele deu voltas e voltas, tentando encontrar uma solução para seu sofrimento. Ele sabia que tinha coisas bem mais sérias para resolver, mas sua alma estava sufocada com tanto amor, tantos desejos de beijar seus lábios novamente, de tocar em sua pele e em tê-la em seus braços. Ele apertava os punhos todas as vezes que ela dançava com Sr. Lomberg ou sorria para ele. O seu sorriso era tão feliz, tão natural, ele pensou diversas vezes se um dia ele teria esse lindo sorriso somente para ele. Melissa parecia mais controlada, porém seus olhos percorriam a senhorita Hemptons de vez em quando. Ela olhava para os lábios dela e se perguntava se ela já tinha o beijado, se ela já tinha sentido seu cheiro o toque de sua pele, e aquilo a deixa totalmente agoniada. Mas preferiu tirar aqueles pensamentos de sua cabeça.
Pela manhã, Sr. Rousseau estava tomando café da manhã com sua irmã Camila e sua mãe. Fora um café da manhã silencioso até Sra. Rousseau comentar algo.
– Era notável que você estava preocupado, John, você não prestava atenção nas conversas nem nas discussões que os outros empresários faziam. Você não pode se deixar controlar por esse medo da greve.
– Medo do amor. – Camila, sorrindo um pouco, falou rapidamente.
A Sra. Rousseau parou um pouco e prestou atenção nos dois.
– O que você quis dizer com isso, Camila? Está acontecendo alguma coisa aqui que eu ainda não saiba?
Sr. Rousseau estava lendo o seu livro e tomando uma xícara de chá e não tocou no assunto. Camila terminou de tomar o chá.
– Eu falo em amor, mãe, seu filho está apaixonado.
A Sra. Rousseau abriu mais seus olhos como um espanto bom e ruim ao mesmo tempo.
– E quem é a sortuda que tem o coração de meu filho? Será que realmente você está apaixonado pela senhorita Hemptons, John?
Sr. Rousseau olhou para Camila.
– Senhorita Pazan. – Ele falou.
– Senhorita Pazan? Está querendo me matar de desgosto, John? O que está tentando fazer comigo? Você quer destruir todos os seus planos por causa de uma garota que não lhe trará nenhum bem? - A Sra. Rousseau falou em alta voz. Ele respondeu com voz mais firme.
– Em relação a essas coisas, mãe, infelizmente não temos escolha.
– Por Deus, John, ela é filha de um empregado. – Ela falou mais friamente, porém, mais baixo.
- Empregado esse que tenho uma consideração muito grande.
- Mesmo assim, continua sendo seu empregado.
- Esse é realmente o verdadeiro motivo, mamãe?
- Ela nunca será boa o suficiente para você, a senhorita Hemptons lhe dará duas fábricas se você se casar com ela. Pense, John, as fábricas do Sr. Hemptons serão suas finalmente, você irá controlar muito mais aqui e serão suas.
- Eu comprarei dele, já disse.
- Mas você pode ter as fábricas e não pagar nada por isso, Sr. Lomberg quer vender para você as fábricas dele, como terá tanto dinheiro assim para comprar quatro fábricas? Só que você realmente mudar de ideia e vender a vinha.
- Não venderei, meu pai gostava daquele lugar, muitas pessoas dependem daquele lugar para viver.
- Então, case-se com a senhorita Hemptons e consiga duas fábricas e compre as duas do Sr. Lomberg. Você terá 70% de tudo aqui, John.
- Meu casamento não será um “negócio”, pelo menos uma coisa na minha vida que não se resuma em trabalho e planos de negócios.
- Você nasceu para os negócios, John.
- A felicidade não pode ser parte de mim, mãe?
- A senhorita Hemptons pode lhe dar felicidade necessária, falarei com ela e direi como lhe agradar, você não precisa da senhorita Pazan, ela será facilmente esquecida por todos.
- Ela está tentando me ajudar em relação à greve.
- E o que ela poderia fazer? Ela é uma mulher, não um homem de negócios.
- Ela quer que eu escute os operários.
- Bobagem, nós sabemos o que eles querem, John.
- Ela quer que eu reúna todos os operários no dia da reunião com os outros empresários, aquelas reuniões que eu costumo fazer e lá debatermos todos juntos, se os outros não quiserem escutá-los, eu os ouvirei mesmo assim, e na reunião com os outros patrões, darei a opinião, uma boa estratégia, todos juntos e encurralados.
- E você pensa em fazer o que ela está mandando?
- Eu não vou fazer o que ela está mandando, eu vou aceitar a sugestão e o favor que ela gentilmente me pediu.
- Afaste-se dela, John, ela não lhe dará absolutamente nada.
- A senhora quem diz. Mãe, a senhorita Melissa Pazan veio com uma ideia totalmente diferente do que sempre eu enxerguei, temos que ser mais do que mil, termos que ser um. Se estivermos separados, sempre haverá guerras e rumores delas, e nós precisamos de paz, se formos um em um consenso completo talvez eu teria mais noites de sono, a senhora não entende, ela mudou meu mundo.
- De tantas garotas que você conheceu, por que ela?
- O amor não faz sentido, apenas acontece sem aviso nenhum e ficamos presos a ele, uma escravidão que nunca teremos vontade de sair dela, mesmo que nos machuque ou nos faça sofrer, não importa se ela nunca irá me aceitar, eu vou amá-la, e isso é certo, quando eu percebi já era tarde demais.

Camila olhou séria para John e ele voltou a ler seu livro. Os dias foram passando rapidamente. Melissa continuou a ver seus amigos, escondida. Sr. Rousseau não a via mais, ele estava trancado em seu escrito na fábrica, pensando em como conduzir aquilo tudo. Melissa estava sentada, bordando com sua mãe, quando percebeu que seu pai tinha chegado para almoçar com elas. Melissa levantou, pegou seu chapéu e guardou.
– Que bom que conseguiu sair para almoçar conosco, pai. - Sr. Pazan a olhou mais triste.
– As coisas estão difíceis, filha, muitas encomendas. E se eles fizerem greve, tudo vai se complicar de um jeito muito catastrófico, muito dinheiro será perdido. Todos estão pressionando. Sr. Rousseau está de um jeito assustador, ele mal come, mal dorme, pobre homem. Ele pediu para que eu viesse ficar com vocês duas esta tarde, ele disse que eu estou muito ausente de casa. - Melissa ficou feliz em saber que ele ainda com tanta pressão entendia o quanto elas sentiam falta do Sr. Pazan por perto.
– Daqui a dois dias ele fará a reunião, não é? Com os outros patrões? – Melissa perguntou.
– É, Melissa, Sr. Rousseau está um pouco contente com essa possibilidade, ele me contou que você deu essa ideia, se os operários realmente quiserem parar e conversar junto com o sindicato será muito bom e a tragédia que está por vim pode acabar. - Melissa se sentia confiante, pois conversava com Jeremy e os outros sobre a reunião junto com os patrões e eles estavam entendendo e planejando todos os seus argumentos. Eles estavam dispostos em ir conversar com eles junto com o sindicato. Os dias passaram se arrastando lentamente e Melissa estava otimista. Sr. Rousseau a observava enquanto ia visitar os operários, ele sabia que ela estava tentando acalmá-los. Ele sabia que, no fundo, ela estava tentando ajudá-lo, e não a impediu como estava fazendo antes. Eles se olhavam durante um tempo enquanto ela caminhava para a rua das sombras.
No grande dia, Melissa estava em casa, a sua agonia não a deixou ir para a reunião. Sr. Rousseau e Sr. Pazan estavam dentro de uma sala, junto de outros industriais. Eles pareciam irrelevantes a essas críticas que os operários faziam, eles não estavam enxergando de um jeito diferente como Sr. Rousseau estava enxergando, e ele tinha a incrível missão de fazê-los entender.
– Precisamos de uma boa estratégia. - Sr. Pazan falou em seus ouvidos. – Se tudo der errado, será o fim.
– Senhores. - Sr. Rousseau falava, e por trás deles via pela janela os operários se juntarem no galpão logo a baixo. Ele respirou fundo, dizendo: – Senhores, eu presumo que já sabem o que tenho a dizer, alguns dizem que eu estou do lado dos operários, mas a verdade é que precisamos deles, as máquinas não funcionaram sozinhas.
– Quer nos deixar sem lucros, Sr. Rousseau? - Sr. Lomberg falou em alta voz. Sr. Pazan olhou para Sr. Rousseau, mas nada disse.
– Sr. Lomberg, eu não quero tirar lucro nenhum, só que garantir que não ficaremos em sérios riscos se eles fizerem a greve. Olhem para trás e os vejam vindo em nossa direção, eles estão dispostos a escutar e a debater para juntos chegar num senso comum. – Eles querem mais dinheiro, não irão cancelar a greve se não dermos mais dinheiro. - Sr. Hemptons retrucou.
– Se conseguíssemos chegar num valor que seria bom para ambos os lados, hoje estaríamos dando um passo muito importante. Sr. Browndrey, Sr. Bourbom. Sr. Lwtevion. Sr. Rotefeels, Sr. Lomberg. Sr. Hemptons. Sr. Kamberi. Eu vou descer e conversar com eles e vou tentar chegar a um valor que não perderemos muito, afinal, homens saudáveis são mais produtivos em nossas fábricas, vamos dar uma vida de qualidade. Está hoje conosco, Sr. Pazan, ele muito como ninguém sabe que um operário satisfeito a produção além de boa é de grande qualidade, eu vejo a vinha de meu pai não com trabalhadores, mas de pessoas que se sentem donos de um pouco de terra trabalhando como se fossem realmente deles. Eles são mais do que mil, eles são apenas um. - Sr. Rousseau falou. Todos olharam para ele e concordaram. Sr. Rousseau e Sr. Pazan desceram e foram conversar com os operários. Eles estavam todos em pé esperando uma boa conversa. Sr. Rousseau procurou Melissa, mas ela não estava. Então começou a conversar com eles. Foram conversas com palavras afiadas, porém Sr. Rousseau conseguia entendê-los. Eles não tinham um aumento há muito tempo e alguns industriais diminuíram três moedas de seus salários e isso era desesperador. Sr. Rousseau gritava para eles poderem escutar e Sr. Pazan sempre o ajudava com palavras de tranquilidade.
– Precisamos de mais dinheiro ou morreremos de fome! - Um deles gritou e todos gritaram juntos.
- Se eu dobrar os salários, esqueceremos essa greve? - Sr. Rousseau falou, eles gritaram.
– Sim!
Sr. Rousseau e Sr. Pazan se olharam durante um tempo e foram em direção aos industriais.
– Sr. Rousseau. Dobrar? É perigoso, eles nunca irão aceitar, e agora os operários querem o dobro. - Sr. Rousseau coçou a cabeça, um pouco agitado.
– É o que eles merecem, sua filha teve razão esse tempo todo, eles vivem numa situação deplorável e ninguém naquela sala se preocupa com isso, esses pobres homens só querem um pouco mais de comida, se o senhor não estiver ao meu lado, não sei se conseguirei.
Sr. Pazan colocou sua mão sobre o ombro dele dizendo:
– Estou do seu lado, assim como estive ao lado de seu pai todos esses anos, se eles não quiserem se unir a nós, então os convenceremos a isso, Sr. Rousseau. - Eles se olharam, e com mais força de vontade entraram na sala. Todos olharam para eles.
– O dobro. - Sr. Rousseau falou e todos bravejaram.
– Está querendo nos fazer rir, Sr. Rousseau? O que aconteceu com o jovem perfeito e brilhante? - Um deles falou.
Sr. Rousseau com o rosto rígido apenas falou:
– Ele está aqui bem em vossa frente, senhor. - Sr. Rotefeels falou com sua voz tenebrosa.
– Traidor! - E todos continuaram a bravejar.
– Se os senhores estão querendo falir, me digam, porque mando esses pobres homens irem embora sem nenhum acordo agora mesmo! - Sr. Rousseau falou com voz mais alta.
– Por que tratá-los tão de igual para igual? Deus os fez pobres e eles devem morrer assim! - Sr. Browndrey falou Sr. Rousseau espantou-se.
– Como pode ser um homem desse tipo, Sr. Browndrey? Prefere ver mulheres e crianças morrendo de fome e ter vida prospera à custa de seus sofrimentos?
Eles gritavam com tanto ódio que se podia escutar do lado de fora pelos operários. Sr. Pazan gritou:
– Não chegaremos a lugar algum desse jeito, senhores, precisamos de solução, não inimizades.
– Podem fazer ou dizer o que quiserem, eu digo sim. - Sr. Hemptons falou. Sr. Rousseau ficou mais alegre por ter um voto a seu favor, ele continuou dizendo: – Minhas fábricas são suas, John, tenho plena certeza que saberá conduzi-las do melhor jeito possível, e se você diz que devemos aumentar, eu aumentarei.
Sr. Lomberg também falou:
– Também digo sim, minhas fábricas são suas, John, Sr. Rousseau deve estar se debatendo dentro de seu caixão com tanta ignorância de vocês senhores.
Sr. Pazan falou aos ouvidos de Sr. Rousseau:
– Você tem 70% de tudo agora, os pressione, ou será o fim.
– Senhores, como podem ver, tenho a maioria dos industriais ao meu lado, se eu pensar em tirar as fábricas daqui, vocês estarão perdidos. – Sr. Rousseau disse, e todos o olharam; alguns com admiração, outros com ódio. – Todos concordam em dobrar os salários? - Sr. Rousseau falou, e de um por um eles foram dizendo sim. Sr. Rousseau escreveu em um papel em branco que tinha em cima da mesa todo o novo acordo e todos assinaram e foram embora de um por um.
Sr. Rousseau mostrou o contrato aos operários e todos gritaram de alegria, se abraçando e confraternizando. Alguns até choraram. E todos os operários assinaram também. Sr. Rousseau desapareceu. Sr. Pazan tentou procurá-lo, mas acabou encontrando a Sra. Rousseau perto das portas da fábrica.
– Sra. Rousseau. - Ele se curvou e ela o cumprimentou.
– Vejo, Sr. Pazan, que vocês conseguiram, bom trabalho. - Ele sorriu.
– Onde está Sr. Rousseau?
– Ele foi para casa de Sr. Hemptons, foram terminar de organizar o noivado, marcar data e tudo mais, talvez mês que vem eles se casem logo. - O Sr. Pazan espantou-se, mas ficou feliz.
– Vejo que ele terá tempo para tentar organizar sua vida, a greve estava nos deixando totalmente sobrecarregados, minha filha mesmo irá voltar para o sul, ela merece um descanso. - Ela sorriu e os dois se despediram.
O Sr. Pazan estava indo para casa quando viu Melissa deitada em sua cama, ela estava muito inquieta. Quando ela viu o pai, levantou e sentou na cama. Ele, com um simples sorriso, disse:
– Conseguimos dobrar os salários, ele foi brilhante. - Melissa sorriu e o imaginou lutando contra os industriais. Seu coração parecia gritar pelo seu nome.
– Eu pensei que ele viesse me dar as notícias, pai.
Lembrou-se do que a Sra. Rousseau disse e comentou:
– Não, não. Ele está com a senhorita Hemptons, eles parecem que irão se casar mês que vem. - Melissa murchou o sorriso, porém, seu pai não percebeu, estava escuro e ele não conseguia ver seu rosto muito bem. Mas se aproximou e falou mais baixinho: – Eu tenho um presente. Você irá voltar para o sul, você precisa descansar de tudo. A Lorena já está lhe esperando. - Melissa arregalou os olhos e sorriu, abraçando o pai. Quando ele saiu, ela deitou e sentiu uma tristeza.
– Eu deveria estar feliz, por que eu não estou feliz? Eu vou voltar para o sul, minha casa, meus amigos, a vinha o sol e tudo mais. Por que eu não estou feliz? - Ela lembrou-se do beijo de Sr. Rousseau e que ficaria longe dele. – Irá ser melhor se eu for, afinal, não vou ficar aqui para ver seu casamento, se eu pudesse voltar ao dia que ele foi ao sul, eu faria algumas coisas diferentes, eu aproveitaria tantas oportunidades que tive para ser generosa com ele, tanta oportunidade dele ver como eu sou, mas agora ele está com outra, e eu não tenho mais nenhuma chance de dizer nada, de mostrar nada, eu só queria que ele soubesse de tudo, de tudo que sinto, de tudo o que eu penso antes de dormir, de tudo que eu planejei há algum tempo. Eu só queria uma oportunidade, mas deixei escapar todas, eu queria uma chance, só mais uma chance, mas estou tendo a plena certeza que ela não será dada. - Ela falava tristemente.

Sr. Rousseau estava procurando Sr. Pazan e viu sua mãe o esperando na porta da fábrica.
– Mãe? Conseguimos! - Ela o abraçou.
– Eu sempre soube que você iria conseguir, eu nunca duvidei disso.
– Sabe onde está Sr. Pazan? Eu acho que a senhorita Pazan precisa saber disso por mim, ela foi sempre minha fonte inspiradora, eu preciso vê-la.
– O Sr. Pazan estava por aqui, mas eu disse que você deveria estar conversando com sua irmã, mas ele disse que tinha que ir embora, não quis esperar. Ele até falou que a senhorita Pazan voltará para o sul, a pedido dela, claro, deve estar exausta desse lugar e das pessoas, ela quer ir o mais depressa possível. Ela nunca te amou, John. - Sr. Rousseau foi murchando seu sorriso aos poucos, ele pensou por um breve momento que tudo poderia dar certo, mas com essa notícia ele voltou a se martirizar.
– Eu a perdi? - Ele pensou. Sua mãe segurou em seu braço, mas ele se afastou, indo em direção à casa de Melissa.
– Não! Por favor, John, não se humilhe desse jeito, ela quer ir embora, então a deixe ir, por favor, John, deixe-a ir. Não vá. - Ele ficou parado, ela se aproximou novamente, agarrando seu braço com força, olhando bem em seus olhos. Juntos foram para casa. Camila se aproximou e pegou em seu outro braço.

Na manhã seguinte, Sr. Rousseau acordou cedo e pegou seu cavalo e foi direto para a casa do Sr. Pazan. Ele tinha que conversar com Melissa, ele não poderia deixá-la ir desse jeito, ele precisava contar de seu amor, de seus sentimentos verdadeiros. Ela estava em frente à carruagem, esperando terminarem de colocar sua bagagem.
– Quando se sentir mais aliviada volte. E nos escreva todos os dias. - Sua mãe lhe abraçava com muita força.
– Pode deixar, mãe. - Melissa olhava para o fim da rua, na esperança dele aparecer, mas fora inútil, ela não viu ninguém e só ouvia o silêncio. Sr. Rousseau já estava quase próximo, mas seu cavalo acabou parando, ele estava com medo do rato que tinha passado por ele, então ele percebeu que seu cavalo iria continuar no mesmo lugar, desceu e foi correndo para a casa do Sr. Pazan. Melissa já estava dentro da carruagem. Ele conseguiu ver quando chegou ao começo da rua, porém, não conseguiu chegar a tempo. A carruagem já tinha ido embora. Ela estava pensando nele e ele estava pensando nela.
Depois de uma longa viagem, Melissa chegou ao sul. E quando chegou à vinha, Lorena a abraçou forte. Todos a cumprimentaram com bastante carinho. Fora uma semana completa para contar tudo o que aconteceu a Lorena.
– Você teve várias chances, mas não conseguiu. E pelo que pude ver, ele tentou te falar alguma coisa sobre os sentimentos dele. - Melissa estava sentada sobre sua janela, repousando sua cabeça e suspirando observando a noite e as estrelas.
– Ele já estava praticamente noivo dela, quando tudo acabou ele foi oficializar e marcar a data, já estava tudo acabado.
– Quanto tempo pensa em ficar aqui?
– Três meses talvez seja o bastante. Eles já devem ter casado durante esse tempo. - Ela a abraçou bem apertado. Melissa pensava nele todos os dias.
E ele estava organizando junto com Sr. Pazan um dos galpões. Eles pretendiam formar um tipo de refeitório. As suas estavam mais limpas, todos estavam mais felizes. Sr. Rousseau conversava com uns de seus operários sobre o refeitório e no dia da inauguração todos comeram juntos e assim eram todos os dias. Mais do que mil. Era apenas um. Depois de mais dois meses, Sr. Pazan recebeu uma carta de Melissa informando que iria voltar depois de mais três meses, ela disse que a colheita estava boa e tinha que ajudar. Sr. Rousseau ficou triste quando Sr. Pazan leu a carta, ela parecia feliz, como se nada tivesse faltando, ele, pelo contrário, estava incompleto.
Um ano se passou e Sr. Rousseau prosperou. Ele comprou as fábricas de Sr. Lomberg e Sr. Hemptons ficando com a maioria das fábricas naquele lugar. Numa manhã, ele resolveu ir visitar Sr. Pazan, e quando a empregada abriu a porta ele se deparou com Melissa sentada num sofá mais longe. Seu coração parecia saltar pela boca. Ela o olhava com olhos de saudade e ele não sabia o que fazer. Ela olhou para sua mão e viu que não tinha nenhum anel.
Droga! Ele ainda irá se casar, um ano ainda foi pouco tempo, ela pensou.
Ele se aproximou devagar e foi se curvar, mas ela estendeu a mão, a primeira vez que ela o cumprimenta apertando sua mão, ele apertou e disse:
– Não sabia que a senhorita estava aqui.
– Eu cheguei ontem à noite, eu preferi fazer uma surpresa. - Eles se olharam durante um tempo. – Vejo que ainda não casou. - Ele olhou para ela, confuso.
– Não, eu nunca confirmei meu noivado com a senhorita Hemptons, ela está casada com outro agora. - Melissa sentiu um alivio em seu coração.
– Eu pensei que... – Sr. Rousseau pegou em sua mão e a levou para passear, ele lhe mostrou a cidade e como ela estava diferente, Melissa adorou a ideia do refeitório e o admirou ainda mais. Quando ela sorriu, Sr. Rousseau sentiu sua alma mais leve, ele tinha ganhado o sorriso que tanto buscava. Ele pegou em sua mãe e beijou, Melissa desejou que esses beijos fossem em seus lábios.
– Eu senti sua falta todos os dias. - Ela apenas continuou a observá-lo com paixão. – Senhorita Pazan, meu coração é seu, sempre foi e sempre irá ser. Se o aceitar, serei o homem mais feliz do mundo.
Ela olhou bem em seus olhos e o beijou.

“Os momentos são únicos, as oportunidades de fazer a diferenças são raras, se você for esperta, verá o momento certo de fazer as duas coisas valerem a pena no momento certo”.

Fim


Qualquer erro nessa fanfic é meu, então me avisem por e-mail caso encontrem algum.



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