CAPÍTULOS: [1]





Nova York, Aviões e 6 Horas para se Apaixonar






Capítulo 1


Eu mantenho a minha cabeça encostada na janela do avião que dá bem de frente pra asa. Eu sei que não é um dos lugares mais seguros caso o avião caia, mesmo sabendo que há lugar nenhum seguro nessa gerigonça. Mas essas são as únicas coisas que eu sei sobre esse meio de transporte tão maravilhoso: 1) as aeromoças me remetem a filmes pornôs, não que eu já tenha assistido algum. 2) Eu sempre odiei a comida, 3) eu sempre odiei o fato de sair do chão, 4) sempre sentam gordos ou pessoas que passam mal do meu lado. Vamos lá, não tenho nada contra gordos, juro. Só que eles parecem tão desconfortáveis nessas cadeiras pequenas e apertadas que dá agonia só de lembrar as coisas que eu já passei ao lado de uns. Já as pessoas que passam mal, bom, delas eu quero distância mesmo. A verdade é que a asa sempre foi meu lugar menos pior, porque as fotos ficam incríveis aqui. Mas continuando a minha lista de coisas que eu sei agora sobre o meu destino: 1) é a cidade mais populosa dos EUA 2) onde você encontra gente de todos os tipos, 3) aqueles túneis subterrâneos sempre me dão calafrios, não que eu tenha que passar por lá, sabe, qualquer dia desses. 4) Prédios, 5) Manhattan, 6) Gossip Girl. 7) E é exatamente lá que eu passarei o próximo ano completo. Não posso ignorar o fato de que estou deixando tudo pra trás. Meus pais que não paravam um segundo sequer de chorar durante a última semana. Foi preciso um estoque de caixinhas de lenço pra minha mãe, juro. Meus amigos que me apoiaram desde quando eu soube, mas na verdade eu sei que eles queriam que eu ficasse, era inevitável não perceber. Vader, meu maine coon que não dorme sem mim. Fico pensando em como a minha mãe vai cuidar do meu pobre gatinho. Eu deixei um manual de instrução de como cuidar do Vader. 1) Ele não dorme sem mim, portanto eu sugiro que passe meu perfume durante a noite e deite-se do lado dele até que ele caia no sono. Caso não der certo, mãe, você me trará de volta imediatamente. 2) Ração três vezes ao dia, não quero ter o desprazer de encontrar meu gato magrelo. 3) Por favor mamãe, não deixe que ele fuja pela janela. Eu sei, ele é um gato, gatos tendem a fugir e depois voltar, mas entenda, Vader não é um simples gato, ele pode não saber o caminho de volta. 4) Não o deixe muito tempo sozinho, ele pode ficar entediado. 5) Vader gosta de carinho e lãs pra brincar. E a Chanel, minha burmilla que apesar do seu temperamento difícil, eu sei que no fundo ela me ama incondicionalmente e não vai conseguir viver sem mim, era o que a minha mãe dizia enquanto Chanel nos encarava de longe como se dissesse “o que essa menina ainda tá fazendo aqui? Por favor, tirem-na logo daqui se não terei que tomar medidas drásticas”. É quase um caso perdido. Me peguei com os olhos marejados só de me lembrar de tudo. Devia ser pecado enviar uma adolescente de 17 anos pra um internato do outro lado do oceano atlântico quando na verdade já se tem uma vida completamente completa em um lugar fixo. Ok. Tem um cara. Sempre tem um cara. Na verdade seu nome é Kyle e a ele pertencem os olhos mais lindos de toda a Inglaterra. E o seu sorriso. Suas roupas engraçadas com misturas de listras e bolinhas, eu sempre gostei quando na verdade todos os julgam. Porém Kyle só veio notar a minha presença quando eu já estava prestes a ir embora, na festa de halloween da empresa do meu pai.
- Você é a , não é?
Oi? Kyle Jordan está mesmo falando comigo? C-a-l-a a b-o-c-a. Pensei.
E aí o inevitável aconteceu. Eu cuspi todo o café que tinha na minha boca em cima da sua fantasia de chapeleiro da Alice.
Bom, mas ele perguntou por meu nome e acertou, isso queria dizer que ele já estava me observando. Era o que Vic dizia, por mais que ela não gostasse dele. “Esse cara é um canalha, você precisa de alguém que de fato goste de você.
- Eu aposto que ele já estava reparando em você há um tempão. – Ela disse.
Ah, qual é? Meu pai é dono da empresa que ele trabalha, é claro que ele saberia o meu nome. E além do mais quem iria reparar em uma menina de 1,59 de altura? Sim, 1,59. Não podia ser 1,60. Tinha que ser 1,59. Quando na verdade a cidade era cercada por loiras altas e esbeltas. Por favor, né?! E além de tudo meus olhos são esbulhados e esse existe um espaço vago no meio dos meus dentes da frente, do mesmo jeito da atriz Anna Paquin, que por sinal sempre sou confundida com a mesma na rua. Já vieram até pedir autógrafo, juro. Uma vez eu disse que era ela de fato. O rapaz era um nerd apaixonado por X-Men e tudo mais. Ele quase teve um enfarto e depois eu fiquei com peso na consciência. E se ela ficasse sabendo que eu que eu estava me passando por ela? Eu sei, foi só uma vez, mas se fosse eu, com certeza me processaria. E qual é? Anna Paquin é trilhões de anos luz mais linda do que eu e com certeza não tem 1,59 de altura. Que droga. Depois disso eu e Kyle ficamos super amigos. Não melhores amigos, mas os nossos diálogos eram sempre engraçados e cheio de piadinhas internas. Às vezes eu até achava que ele estava me paquerando, mas dai vinha um balde de água fria quando a sua namorada de pernas longas e corpo de modelo aparecia no escritório. Eu acho que ela percebeu meu interesse todo nele, porque engraçado, a mesma passou a frequentar o lugar mais vezes no expediente e ainda fazia questão de ficar aos amassos com ele na minha frente.
- Você sabe, Liga da Justiça nunca vai barrar Os Vingadores. – Kyle dizia enquanto brincava com uma caneta na mão e lia alguns artigos no computador.
Ele estava usando suspensórios e um sapato social vermelho de verniz, como eu poderia simplesmente resistir a tanta ousadia?
- Cala essa boca! – Joguei outra bolinha de papel na sua cabeça. – Os Vingadores nunca serão melhores que a Liga da Justiça.
- Sabe , você devia parar de jogar bolinhas de papeis em cima de mim e aceitar que Os Vingadores são melhores. – Ele parou de encarar do computador pra fazer o mesmo comigo enquanto eu estava encostada na divisória em sua frente.
- É? – O provoquei.
- É.
Rimos.
Kyle tinha um sorriso tão incrível, e o olhar que o mesmo lançava pra mim as vezes era tão...
- E você vai fazer o que comigo caso, bom... eu não pare?
- Aí... – ele olhou no relógio – eu seria obrigado a... – e foi se levantando devagar com cara de que ia aprontar alguma.
- Amor?
Ia
, no passado mesmo.
Fomos pregados pelo susto, como se estivéssemos fazendo algo de errado. Kyle ficou azul de tenso e eu vermelha de raiva.
Catharina sempre aparecia nas horas mais inconvenientes. Eu juro que devia mandar meu pai proibir a entrada daquela mulher no meu, quero dizer, no escritório dele.
- O que você está fazendo? – Catharina perguntou sem tirar os olhos de mim.
- Eu? – Kyle riu sem graça e coçou a cabeça. – Nada, só estava levantando pro... expediente.
- Ótimo! – Ela quase gritou.
Um gritinho de felicidade.
Um gritinho bem chatinho.
E olhe só que legal, eu passei a usar a capa na visibilidade do Harry Potter porque naquele momento eu não existia mais.
- Vamos, quero te levar naquele restaurante que eu te falei outro dia. – Ela envolveu seus braços no pescoço dele dando um beijo em seguida.
Não um simples beijo, tipo “oi, te amo, tchau”, foi mais um “oi, sua vadia piranha, para de dar em cima do meu namorado”.
Sempre quis envolver alguém assim nos meus braços, ou ser envolvida, não importa a ordem. O que de fato sempre importou foi o fato poder amar alguém e ser amada em troca. Andar de mãos dadas na rua. Dar beijos sem se incomodar com os olhares dos outros e todas essas coisas que os amantes fazem.
Fui acordando dos devaneios quando me dei conta de que alguém chamará por mim, algo tipo “moça? Oi? Tem alguém aí?”.
- Perdão! – quase gritei sem querer.
Quando olhei para o lado não era simplesmente uma simples pessoa com uma simples voz em um simples avião e com um simples proposito. Era um rapaz de cabelos negros e incrivelmente arrumados com cada fio em seu devido lugar. Olhos grandes e claros quase como neve, uma neve um pouco mais escura, tipo um cinza. E um sorriso encantador.
- Moça? – ele me chamou mais uma vez, mas era tarde demais porque eu já estava completamente perdida.
Completamente.
- Desculpe! – abaixei a cabeça pegando um pouco de ar.
Quanto desespero da minha parte. Quando eu comecei a agir assim?
- Ah bom... aquela senhora pediu pra trocar de lugar comigo porque ela tem pavor de sentar na asa do avião. Tem algum problema eu me sentar aqui?
- Ah meu Deus, não! – Desespero. – Digo, - cocei a garganta – pode se sentar se quiser.
, o que diabos está acontecendo com você? Foco! Daqui a um ano quando você voltar de Nova Iork, Kyle estará solteiro e esperando por você. Por favor, mantenha o foco.
- Você tá nervosa? – ele perguntou.
- Um pouco... Sabe, aviões, altura, lugares apertados... Nunca foi a minha praia.
- E qual é a sua praia? – Ele parecia curioso.
- O chão.
- Então você tem fobia a isso tudo? – ele parecia se divertir.
- É... – ri sem graça – tipo isso.
Ele tentou se ajeitar da melhor maneira possível na cadeira ao meu lado, porém foi meio complicado porque ele tem pernas longas. E braços fortes, quero dizer, não tão musculosos assim, mas o suficiente pra me abraçar e me deixar segura caso o avião caia.
- Passageiros, pedimos que acomodem-se em seus lugares e apertam seus cintos de segurança porque em questão de segundos estaremos decolando. Não esqueçam e desligar seus celulares. Obrigada.
Aquele maldito frio brotou na minha barriga e eu apertei minhas pernas com força respirando fundo. Nessa hora eu preferiria que houvesse um gordo do meu lado do que esse rapaz incrivelmente lindo me vendo passar por isso. Droga.
- Meu nome é , e o seu?
, pelo menos agora eu não precisava chama-lo de rapaz incrivelmente lindo.
- .
- Prazer . – Ele estendeu a mão pra que eu pudesse apertar.
Eu só não sabia se passava mal com ele ou com o fato de que o avião estava ganhado mais e mais velocidade a cada segundo que se passava.
- O prazer é todo meu. – Apertei sua mão que era 10x maior que a minha e macia como seda.

***


- Qual o filme que você escolheu pra assistir? – Ele estava tentando puxar assunto. Foco!
- The Breakfast Club. E você?
- Não sei ainda, tem muita opção.
Encerre a conversa, pensei. Não dê espaço pra esse rapaz bonito preencher seu coração.
- Na verdade, eu não vou conseguir prestar atenção. – Cale a boca! – Sempre fico muito agitada quando entro em um avião. Qualquer movimento já deixa em alerta.
Como sempre, falando mais do que é permitido.
- Você quer remédio? Algum calmante ou sonífero, sei lá? – ele ria, não gargalhava, mas parecia se divertir de novo.
- Então quer dizer que eu não sou a única pessoa aqui que tem medo de avião? – entrei na brincadeira.
- Descobriu meu segrego. – levantou suas mãos para o alto.
- Sabe, você disfarça muito bem, senhor .
- É, eu sou bom com essa coisa de disfarçar.
Silêncio.
- A gente pode fazer o seguinte. – Ele se virou pra mim como se tivesse tido uma ideia brilhante. Mas espere. A gente?
- O que? – perguntei um pouco surpresa.
- Podemos tomar um calmante e fazer um jogo de perguntas.
- Tipo um quizz?
- Isso! Assim a gente se distrai um pouco.
Já estava ficando escuro e o sol estava se pondo no horizonte na posição perfeita. Nuvens brancas e cinzas. Céu roxo com rosa e laranja clarinho Peguei minha maquina fotográfica, a posicionei no ângulo certo e cliquei. Perfeito.
- Então você é fotografa? – ele perguntou curioso enquanto eu analisava a foto.
- Essa pergunta já faz parte do quizz? – ri.
- Acho que sim.
- Não, só tiro por hobby mesmo. Quem sabe quando eu terminar o ensino médio não faço fotografia?!
- Espera... – ele ficou atônito – Você ainda faz o ensino médio?
- Acho que era a minha vez de perguntar, não é?
Rimos.
estava usando uma camisa cinza com o símbolo de alguma banda. Algo como Young The Giant, ou Giant The Young. Anotei mentalmente pra que quando chegasse em NYC pesquisasse. Mas eu não conseguia parar de olhar para os seus lábios largos e avermelhados se destacando da sua pele clara.
- Pegue. – Ele estendeu uma pílula pra mim e engoliu a outra.
- Isso não é nenhuma droga pra me dopar e você me sequestrar, não né?
- É sim, inclusive quando você apagar, vou pedir para o piloto pousar no oceano atlântico porque lá embaixo terá um navio com toda a minha máfia esperando por nós dois. Daí os meus capangas vão tirar seus órgãos e vender na deep web.
- Obrigada por me informar que dentro de algumas horas meu corpo será divido em partes e será vendido pra bandidos na web.
Não pude conter os risos.
Peguei a pílula e engoli.
Até que não seria uma má ideia ser sequestrada por ele.
, foco!
- Então, de onde você vem com esse sotaque mais carregado que o meu?
- Nascido e mais ou menos crescido em Paris. – Ele se virou um pouco pra que pudéssemos brincar melhor.
- Mais ou menos crescido?
- Opa! – Ele levantou os braços. – Minha vez!
- O que faz essa bela dama indo para uma das maiores cidades do mundo sozinha?
- Internato. – Fiz careta.
Ele pareceu curioso.
- Por que mais ou menos?
respirou fundo.
- Meu pai mora em Paris e minha mãe em Nova York. Então desde que eles se divorciaram eu fico intercalando entre essas duas capitais. É meio complicado. – Ele parecia um pouco incomodado.
- Perdão. Não sabia que era tão delicado assim.
Que vergonha! Cavando um buraco no avião pra cair no oceano.
- Não, – ele riu – não tem nada demais.
- E você vem de onde?
- Brighton.
- É uma bela cidade.
- Você já foi lá?
- Isso faz parte do seu quizz, só pra avisar. – Ele riu provocativo.
- Ah não! Não vale !
Rimos.
- Já sim, costumo viajar pela Europa quando o meu pai e eu estamos de férias.
Bocejei.
Já sentia o sono me atingir em cheio.
- Acho que devíamos dormir. – disse.
- Eu queria conversar mais um pouco, sabe? – Disse desejando que essa frase não tivesse saído da minha boca. – Podemos conversar até cairmos no sono.
- Ok – ele disse enquanto bocejava.
Liguei a tela do meu celular pra ver que horas eram. 19h55min.
- Tá tão escuro.
- Não me diga que também tem medo de escuro? – ele ria.
- Não! – senti vontade de bater no seu braço, mas lembrei que não éramos íntimos o suficiente. – Pelo contrario, eu gosto do escuro. Muitas coisas podem ser feitas.
me encarou com um olhar cheio de segundas intenções, mas depois caiu na gargalhada, fazendo a mulher que dormia do seu lado se mexer um pouco incomoda.
- Ok, isso soou meio pejorativo. – Escondi meu rosto com as mãos. Podia apostar que parecia um pimentão.
Porque ele me olha desse jeito?
- Eu também gosto do escuro pelo mesmo motivo. Quer dizer, não sei quais são os seus motivos, mas tenho que concordar que muitas coisas podem ser feitas.
Minha vez de encará-lo.
- Tipo isso... – ele se aproximou, aproximou até demais.
Estava escuro, mas eu conseguia ver nitidamente as curvas do seu rosto minuciosamente perfeito.
Então ele colocou uma mexa de cabelo meu atrás da minha orelha e eu senti meu estomago dar voltas.
É possível se apaixonar por alguém que você mal conhece?
- Seus olhos, menina. Eles são tão lindos. – falava com cautela e bem baixinho. Conseguia ver sua boca, sua língua se mexer, os lábios avermelhados, os dentes perfeitos. – Grandes como duas petecas, claros como o fogo.
- Senhores? – alguém chamou por nós.
Droga, droga, droga. Mil vezes droga!
- Desculpe interromper, mas vocês aceitam o jantar? – A aeromoça perguntou.
- Sim, por favor. – ele disse e eu só concordei com a cabeça, desejando na verdade que não houvesse aeromoça, nem comida, nem nada. Só eu e ele dentro desse avião.
Eu sei que ele estava prestes a me beijar, eu podia sentir.
Comemos calados. Eu estava tão constrangida por tudo que aconteceu. Só queira que pudéssemos voltar no tempo e poder fazer aquela coisa toda de me encarar por perto, mexer no meu cabelo, dizer mais uma vez que meus olhos são lindos, por mais que eu tenha um complexo horrível com eles. Sofria bullying por causa disso quando era mais nova na escola. Todos zoavam meus olhos e meus dentes, inclusive as meninas que se achavam donas do mundo. Então eu conheci a Vic. Ela usava umas outras pretas e a maquiagem carregada mesmo tendo 13 anos de idade. Ela me defendeu na frente de todo mundo no meio da sala de aula enquanto eu chorava que nem um bebê. Depois me guiou até a diretoria e disse pra eu não deixar as coisas tão baratas assim para o lado daquelas meninas malditas. Então daí pra frente eu soube que Vic estaria comigo sempre. Escalando a sacada no meu quarto na madrugada. Fofocando sobre garotos, meninas antipáticas, rindo, fazendo as minhas unhas. Toda aquela roupa preta e feição emo gótica era só uma faixada, porque na verdade Vic sempre teve um coração imenso.
Olhei para os meus pés cobertos pelo coturno que ela me dera no natal passado quando ficamos bêbadas no meu quarto e rindo baixinho pra que os meus pais não descobrissem. Queria que ela pudesse vir comigo, a queria exatamente aqui.
- Ei, você está chorando? – me tirou do transe.
Ele me encarava meio assustado.
- É só... saudades. – Mais lágrimas.
- Ei... não chora. Eu sei exatamente como é.
Ele se aproximou me envolvendo em seus braços. Ai, meu Deus. Tinha cheiro de sabonete de baunilha e eu senti vontade de mordê-lo. Aproveitei aqueles longos segundos em seus braços pra fundar meu rosto em seu pescoço e querer ficar ali presa pro resto da vida. Mal via a hora de chegar em Nova York e contar tudo para Vic, ela teria um treco.
Então ele me soltou e acariciou meu rosto enxugando algumas lagrimas.
- Alguém te disse que você é a cara da Anna Paquin?
Não contive o riso.
- Todos os dias.
- Adoro o seu sorriso. – ele disse como se tivesse ignorando o que eu havia dito.
Cego, cego, cego. Mil vezes cego.
Alguém poderia por gentileza doar um par de óculos de garrafa de fundo pra esse rapaz? Agradeço.
Ou não.
- Eu também adoro o seu. – O que? Por que você disse isso, sua idiota?
O foco já estava sumindo.
Então ele se encostou na cadeira ficando longe demais de mim e depois encarou as mãos que brincavam entre si.
- Quando meus pais se divorciaram... – começou – Eu tinha que escolher entre ficar com um deles ou intercalar entre os dois. Mas como minha mãe iria se mudar de cidade, a condição era que eu teria que passar um ano com um, e outro ano com o outro. Eu amo meu pai, de verdade, mas ele tem um temperamento muito difícil e às vezes até incompressível, por isso eu sentia que ele não iria compreender caso eu optasse por ficar com a minha mãe... – Respirou fundo. – No começo foi tão horrível quando me mudei pra Nova York pela primeira vez. Sem amigos, sem a família toda. Só eu e minha mãe no meio daquela cidade imensa. E depois me adaptar na escola com pessoas completamente diferentes do que eu já estava acostumado. , foram os piores dias da minha vida.
Eu podia sentir a dor em timbre de voz.
- Mas depois – ele riu – o tempo foi curando. Curando a raiva que eu sentia dos meus pais por terem se divorciado. Raiva porque eu odiava o fato de estar longe do que eu estava acostumado a chamar de lar. E ai eu comecei a fazer amigos, entrei pro time de basquete, namorei algumas meninas... - Detalhe desnecessário da história. – O tempo foi curando tudo. E hoje eu me tornei uma pessoa tão madura por causa disso tudo. Sou muito grato. E bom... – ele olhou pra mim – agora eu estou indo pra Nova York de vez, lá é o meu lar agora.
- Passou pra alguma faculdade ou...
- Columbia.
- Uau! Parabéns! Vai fazer o que?
- Cinema.
- Sério? Isso é incrível!
- É, eu sei. Sempre foi meu sonho.
Sua vez de bocejar.
- Se incomoda se eu der uma cochilada? – perguntou.
- Não, claro que não! – Claro que sim! Por que ele simplesmente não continuava falando mais sobre a sua vida me deixando por dentro de tudo? Porque eu estava amando aquela sensação. A sensação de fazer parte do mundo de .
- Boa noite, .
- Boa noite, .
Coloquei os fones de ouvido e dei o play em uma playlist que tinha feito especialmente pra escutar no avião. Fiquei olhando pro meio daquela escuridão do lado de fora da janela, só com as estrelas brilhando e fui sentindo o sono tomar conta das minhas mãos, dos meus braços, do meu pescoço, depois olhos, ouvidos e...

***


Abri os olhos devagar, ainda processando onde eu estava, com quem e como. Minha cabeça estava encostada no ombro de alguém. Ai meu Deus, eu peguei no sono e encostei meu rosto no ombro do . E meus fones, eles não estavam mais no meu ouvido.
- Bom dia, Sunshine. Quer dizer, eu sei que ainda está de noite, mas você entendeu, né? – sorria pra mim.
Juro que se eu acordasse todos os dias com aquele sorriso, meus dias seriam mais coloridos.
- Desculpa, você pegou no sono escutando música e isso pode prejudicar seus ouvidos, daí eu tomei liberdade pra tirá-los e encostei sua cabeça no meu ombro, porque você parecia uma barata tonta de um lado para o outro.
Ah não!
Será que eu ronquei?
- Ah, e você roncou muito, tive tampar meus ouvidos.
- O QUÊ?
se contorcia na cadeira de tanto rir.
- Tô brincando. Fica calma.
Dei um soco no seu braço, foda-se a intimidade.
- Ai! Calma! – ele ainda ria e eu não aguentei, era inevitável não rir.
- Senhoras e senhora, dentro de instantes estaremos pousando em Nova York. O tempo está parcialmente nublado e faz 7º graus. Por favor, apertem os cintos.
- Como eu odeio pousar.
- Pensava que odiava a coisa toda.
- Eu odeio a coisa toda.
Pude sentir a roda do avião tocar o chão e meu coração desacelerar. Eu seabiaque ainda poderia acontecer um desastre, mas o fato de saber que eu estava chão me permitia respirar e sentir que tinha apertado à mão de , e quando me dei conta, já era tarde demais. Tudo foi ficando devagar e eu comecei a soltar sua mão lentamente.
- Pensava que você ia arrancar minha mão fora.
- Perdão! – Ri sem graça.
- Não tem problema.

Todos foram levantando de seus acentos e eu optei por esperar até que fosse a última, porque se tem uma coisa que eu odeio é ter que enfrentar fila. O processo foi demorado e permaneceu do meu lado, calado, sem olhar pra mim. Até que todos saíram e ele se levantou pra pegar sua mochila de mão e aproveitou pra pegar minha.
- Obrigada.
Fomos andando devagar pelo corredor do avião. Um olhando para o lado oposto.
E agora? Era o fim?
- Quer saber? – Ele se virou bruscamente pra mim e tinha um olhar ansioso. – Eu não quero te perder. Quer dizer, eu não quero perder o contato com você, eu sei que é cedo a gente mal se conhece, mas eu quero... eu quero te conhecer, eu quero...
Ele se aproximou de mim segurando meu rosto com as suas mãos e seja lá o que ele fosse fazer, eu queria que fizesse porque eu também não aguentaria o fato de seguir nessa nova fase em ele.
Podia sentir sua respiração se chocar contra minha. Então ele juntou seus lábios com os meus lentamente e ali eu sabia que já poderia começar do zero. Me envolvi em seu corpo como se o mundo dependesse disso. Bom, pelo menos eu dependia naquele momento.
Separei nossos lábios devagar tentando processar tudo.
- Também quero te conhecer melhor, ...
- .
- .
- Foi um prazer te conhecer, Srta. .
- O prazer foi todo meu, Sr. .


Fim



Nota da autora: (26/4/15)
Olá, meninas e meninos (talvez). Eu espero do fundo do meu coração que vocês tenham gostado tanto quando eu. Pra quem já leu a minha outra fic, vai seguir aquele mesmo esquema de playlist, mas pra quem não sabe, eu sempre faço uma playlist pra fic de acordo com as páginas. Dessa vez foram 13, então aqui vai o link das 13 músicas que mais me inspiraram na hora de escrever: https://www.youtube.com/playlist?list=PLrm7cKBvF0pYaJilel9uj_8P9ArZCguIw . É isso! Um beijo enorme e até a próxima!




comments powered by Disqus




Qualquer erro nessa atualização são apenas meus, portanto para avisos e reclamações somente no e-mail.
Para saber quando essa linda fic vai atualizar, acompanhe aqui.



TODOS OS DIREITOS RESERVADOS AO SITE FANFIC OBSESSION.