08/03/1857


Escrita por: Ly
Betada por: Barbara Oliveira




CAPÍTULOS: [1]



Dia Da Mulher


Diz a história, que no dia 8 de março de 1857, operárias de uma fábrica de tecidos, situada na cidade norte-americana de Nova Iorque, fizeram uma grande greve. Ocuparam a fábrica e começaram a reivindicar melhores condições de trabalho, tais como, redução na carga diária de trabalho para dez horas (as fábricas exigiam 16 horas de trabalho diário), equiparação de salários com os homens (as mulheres chegavam a receber até um terço do salário de um homem, para executar o mesmo tipo de trabalho) e tratamento digno dentro do ambiente de trabalho.
A manifestação foi reprimida com total violência. As mulheres foram trancadas dentro da fábrica, que foi incendiada. Aproximadamente 130 tecelãs morreram carbonizadas, num ato totalmente desumano.


Eu tinha acabado de falar o que planejará para as moças da fábrica, 10 delas tinham ido embora assim que eu falei a frase: ‘’Temos que fazer algo contra o modo que somos tratadas.’’ Mas eu tentaria, até meu último suspiro, mudar. Eu tentaria convencer á todas, ou ao que restou. E eu teria triunfo na minha tarefa, pois eu estava certa, e os certos sempre vencem no final, é o que eu creio.

- E-Eu não acho que isso seja correto. Sempre foi assim, os homens comandam e nós obedecemos. – Disse Louise apreensiva, ela era a mais nova na fabrica. Bufei.
- E o que seria correto para você, Louise? 16 horas de trabalho diário, salários completamente diferentes dos homens no mesmo trabalho e sermos menosprezadas? Isso não é um tratamento humano! – Declarei enraivecida.
- Mas e a repercussão que isso geraria, Camile? Ora, podemos perder nossos empregos! – Disse Jane preocupada. Coloquei as mãos sob minha cintura.
- Ora, queremos a repercussão! O que temos de tão diferente ao ponto de nos tratarem desse modo? O que fizemos para sermos menosprezadas dessa maneira? Nada! – Me sentei na cadeira e suspirei. Sabia que minha ideia era uma loucura, mas o que eu podia fazer? Continuar subordinada aquelas condições? Isso era inadmissível!
- Mas e se não houver uma repercussão e formos demitidas? E se ninguém mais quiser nossos serviços? Os homens são superiores a nós, eles podem...- Julia começou a falar, mas, após o absurdo saído de seus lábios, minha consciência obrigou-me a interrompe-la.
- Os homens não são superiores a nós! – Disse enraivecida, eu não entendia. O que eles podiam fazer que nós não podíamos?
- O que está insinuando? Que somos superiores aos homens? Isso é um absurdo! – Marie disse incrédula, me levantei da cadeira.
- Eu não estou insinuando nada disso! – Disse exasperada. Respirei fundo, tentando me acalmar. Marie e, provavelmente, todas as outras tinham entendido outra coisa do que eu realmente queria que elas entendessem. – Eu estou dizendo que somos iguais aos homens, nem superiores nem inferiores. Ora bolas, somos todos seres humanos.Sou a única que pensa desse modo? – Suspirei.
- Eu também penso desse modo. – Declarou Rachel num tom quase inaudível, porém foi o bastante para atrair todos os olhares para si. Rachel abaixou a cabeça. – Desculpem-me.
- Não, não precisa se desculpar. É nesse ponto que eu queria chegar. Somos todos diferentes de maneiras iguais. Por qual motivo somos menosprezadas, se temos a mesma importância deles?
- Uma importância até maior! – Carson disse e sorriu, bufei.
- Claro que não! Uma importância igual. Mesmo que eles não vejam isso, faremos eles enxergarem.
- Você não os culpa, Senhorita? – Child perguntou em um tom baixo, olhando-me.
- Os culpei por demasiado tempo, Child. – Suspirei olhando-a. – Mas essa foi a educação que lhes deram. Desde o início dos tempos foram ensinados com aquilo. Como poderia culpá-los por seguirem o que lhes foi posto? Ora, é o que fazemos! – Dei um pequena risada e olhei para o meu vestido sujo. – Claro que alguns merecem ser punidos por seus atos, mas outros podem ser salvos.
- Oh, como eu espero que todos possam ser salvos! – Disse Pollyana sorridente. – Ela está correta! Eles só precisam ver que nós somos importantes!
- Vocês tem uma grande imaginação! – Disse Lygia e riu com amargura. – Eles devem ser punidos. Devem ser jogados aos abutres! Devem definhar até a morte! – Grande parte assentiu com o que Lygia dissera.
- Pelo quê, Lygia? Esse foi seu ensinamento desde o berço! Assim como o nosso ensinamento foi obedecer, o deles foi dar as ordens. – Adélia declarou e eu sorri.
- O que está querendo dizer? Que os homens são os santos? Oh céus! – Hilda disse revirando os olhos.
Logo uma discussão começou entre todas ali presentes, só eu e Sra. Cora não estávamos discutindo.
- CHEGA! – Gritei, atraindo os olhares para mim. – Não estou a dizer que os homens são os santinhos, nem que nós somos os santinhos. Não estou a dizer que os homens merecem ser punidos ou que nós merecemos a maneira com que vos tratam! Estou dizendo que merecemos a igualdade. Quem vai comigo? É algo pacífico, ninguém sairá ferido.
- Oh, querida. Seu jeito de pensar me dá até esperança nesse mundo. – Disse Miranda sorrindo. – Mas são os homens, só podemos combate-los com violência, ou perderemos.
- Não quero combater, quero fazê-los entender. – Declarei, cansada de falar a mesma coisa.
- Tenho algo a dizer. – Sra. Cora disse. Todas as garotas se calaram de imediato, as ocasiões em que Sra. Cora, a trabalhadora mais antiga viva, falara eram de extrema importância. – A verdade pode não ser simples aos olhos de todos, mas é clara para aqueles que a entendem: As mulheres, desde o início, foram menosprezadas e colocadas para baixo, mas o que fizemos para revidar? – Um silêncio esmagador ocupou o local. – Exatamente. Os homens, desde o início, tiveram o poder em mãos. Quem, com poder, iria sequer em algum dia, pensar em mudar? Claro que há um ou dois que se salvam, mas de resto só há ignorantes, e, de mulheres, só fracas que não pensam em mudar. Os homens não são totalmente mocinhos, nem totalmente vilões, por mais que alguns parecem ser só vilões, acredito que todos podem ser salvos. E as mulheres não são totalmente mocinhas, nem totalmente vilãs, afinal, quando sua vida está a demasiado tempo insuportável, devemos tentar muda-la, correto? – Sra. Cora sorriu. – O que quero dizer é que, todo esse ódio pelos homens e todo o menosprezo deles por nós pode mudar. Podemos mostrar para todos, não só os homens, que temos igual importância.
- Eu quero fazer parte da mudança. – Annie disse, sorri.
Logo, todas estávamos discutindo o que íamos fazer.

(...)


- Então, esse é o momento. Quando entramos por essa porta, será demasiadamente tarde para voltar atrás. Alguém quer voltar para casa? – Perguntei aflita. E se todas desistissem? Eu estava com medo, claro. Mas não poderia demonstra-lo, não poderia fraquejar. Não nesse momento.
Devo admitir, uma parte pequena e obscura de mim desejava desistir.
Algumas moças olharam para baixo e foram embora. Suspirei, era esperado.
Mas as outras permaneceram ali, me causando um sorriso involuntário. Me causando esperança.
(...)


- O QUE PENSAM QUE ESTÃO FAZENDO?! – Gritou o Sr. Stalin. Prendi minha respiração, sentia o medo me devorando, olhei para minhas companheiras, vendo o estados de todas igual ao meu. Não podia decepciona-las, não podia me decepcionar.
- Estamos reivindicando nossos direitos como seres humanos. Queremos melhores condições de trabalho, redução na carga horária e tratamento digno. – Disse calmamente. De início eles fitaram-me confusos. Logo, Sr. Wintson começou a rir.
- Querem guerra, empregadas? É guerra que vão ter! – Sr. Wintson disse, de certo modo, em um tom orgulhoso. Como se fosse um ato de orgulho entrar numa guerra conosco.
- Não queremos guerra, meus senhores. – Suspirei. – Queremos igualdade. Somos iguais a vocês.
- Não, nós somos superiores. – Sr. Josef disse, com um sorriso debochado.
- Não, somos todos iguais. – Retruquei, tentando manter a calma.
- Eu concordo com ela, pai. Eu nunca entendi o motivo de as tratarmos tão mal, o que elas fizeram? – Disse Thomas, sorri.
- Ora, mas que petulância! Thomas, você não entende nada disso. – Sr. Huno disse raivoso. – Não iremos acatar suas reclamações, desistam e vão fazer algo útil, como limpar o chão para pisarmos. – Sr. Huno e a maioria dos homens riram. Thomas revirou os olhos.
- Pois então, não faremos nada! Passar bem, quando quiserem uma conversa civilizada a favor da igualdade, estaremos aqui, senhores. – Pronunciei e olhei para Thomas. Ele sorriu. Virei-me adentrando na fábrica junto as minhas colegas, mas pude ouvir um grito do Sr. Sthepen ao fundo.
- VOCÊS VÃO PEGAR POR DESACATAREM NOSSO PODER!

(...)


- Estão todas bem, senhoritas? Alguém precisa de algo? – Perguntou Child prestativa, todas negaram.
Já se passavam das sete. Hoje era dia 8 de Março e eu estava com uma estranha sensação de que ia perder algo.
Suspirei e me encostei na parede, fechando os olhos em seguida.
- Camile, Camile, Camile. – Alguém me chamava e balançava-me. Abri os olhos com um pouco de dificuldade e vi a figura de Annie me olhando preocupada.
- O que acorreu, Annie? Por que me acordaste a esta hora? – Antes que Annie pudesse responder-me, senti um cheiro de queimado. – De onde está vindo esse cheiro?
- Eu não sei, Camile. Por isso vim chamar-te. – Declarou Annie. Algumas mulheres já se levantavam e falavam do cheiro. Levantei-me.
-Preciso de ajuda. – Falei em um tom alto, mas sem gritar. Todas me olharam. – Acordem as que ainda dormem e procurem o que está queimando. – Disse. Logo todas estavam acordadas e procurando de onde vinha o cheiro, que só ficava mais forte.
- SOCORRO! – Gritou Miranda assustada. Logo eu e todas as outras mulheres estávamos no cômodo onde Miranda se encontrava, o cômodo estava sendo consumido rapidamente pelas chamas, os produtos ali presentes só ajudavam na rapidez com que a chama se espalhava.
Então, a frase de Sr. Sthepen soou em minha mente, ele não seria capaz, seria?
- OLHEM AS PORTAS E AS JANELAS! – Gritei desesperada. Todas começaram a correr e olhar, inclusive eu. Mas toda janela e toda porta estavam trancadas.
- NÓS VAMOS MORRER! – Gritou Rachel começando a chorar.
- VAI FICAR TUDO BEM! – Gritei, sentindo lágrimas rolarem aos meus olhos. Minha mentira era clara, como algo podia ficar bem naquela situação?
Alguns minutos de gritos depois, eu apaguei com um cheiro forte de fumaça.

(...)


Acordei com alguém cutucando-me a costela. Comecei a tossir, abri os olhos na esperança de que tudo aquilo não passasse do meu medo se refletindo em meus sonhos, ou melhor, pesadelos. Mas, para o meu azar, era tudo real.
Percebi isso assim que o cheiro de fumaça e o calor escaldante me atingiram, passei as mãos pelos olhos e olhei em volta, eu ouvia muitos gritos, e a cena que estava acontecendo na minha frente, era... abominável, assustadora.
Rachel estava sendo devorada pelas chamas enquanto gritava de dor, meus olhos se encherem de lágrimas e minha mão foi automaticamente para minha boca. Nossos olhares se cruzaram e eu vi a luz se apagar dos olhos azuis de Rachel, dando lugar as chamas a devorando.
Um grito de horror saiu de mim. Meu peito parecia massacrado, era como se alguém tivesse pego meu coração e batido nele com um martelo. Ouvi um soluço e olhei para o meu lado.
-Ouça, querida, eu sei que dói. – Sra. Cora falava calmamente, mas o medo e a dor eram evidentes em seus olhos. – Mas você tem que ir embora. – Eu ia protestar, mas ela foi mais rápida. – Eu já estou velha, e todas as mulheres aqui já, tirando nós duas, foram devoradas pelas chamas, ou estão. Você não pode ajudar as que estão. – Ouvimos um grito agudo, Lindsey. Lágrimas caíram com mais força. Sra. Cora deixou escapar um soluço. – Você pode se salvar.
- O que eu faria da minha vida, Sra. Cora? – Soluços começaram a acompanhar minhas lágrimas.
- Escreva, Camile. Espalhe para todos a nossa história. Dê esperança, como deu para nós.
- É, e olha como isso acabou.
- É melhor ter morrido por causa da esperança, do que ter vivido sem ela. – Sra. Cora sorriu e tocou-me o rosto. – Isso não é sua culpa, querida, agora vá. Fuja, o fogo não espera, é a hora de ser forte. – Olhei para as chamas, estavam se aproximando ainda mais. O calor e o cheiro da fumaça ficavam a cada segundo mais insuportáveis.
- Está tudo trancado, como poderei sair? – Perguntei ofegante, limpando as lágrimas e me levantando. Sra. Cora estava certa, era a hora de ser forte.
- Tem uma janela, é pequena e apertada. É no banheiro feminino e fica sempre coberta. Por fora, por algumas plantas, por dento, por uma estante com produtos de limpeza. – Parte do teto caiu sobre um corpo que não pude identificar, soltei um grito. Aquilo era demais para mim.
Sra. Cora saiu na minha frente e eu a segui, minha cabeça estava a mil, meu coração batia rapidamente e dolorosamente. Cada osso do meu corpo doía, o cheiro era horrível, as lágrimas queriam sair, eu sentia o fogo se aproximando cada vez mais... Era o fim.
Sra. Cora abriu uma portinha e entrou, eu a segui, ofegando a cada passo. Cada passo dado parecia um sufoco, parecia que eu estava fugindo do inevitável.
-Me ajude aqui. – Sra. Cora disse, apontando para uma estante com produtos de limpeza, respirei fundo e fui ajuda-la. Assim que conseguimos tirar ouvimos um grito.
- Sra. Cora, por que não avisou isso as outras? – Perguntei desconfiada, minha visão estava ficando turva e eu me sentia mole, as lágrimas já não estavam mais presas em mim, passeavam pelo meu rosto e meu coração parecia desmoronar aos poucos.
- Eu desmaiei assim que senti o cheiro, Camile. – Disse. – Abra a janela. – Obriguei meus braços magros a fazerem algo e abri, com certo esforço, a janela.
- Como acordou? – Perguntei e ouvi o barulho de algo desabando, os soluços começaram a aparecer novamente.
- Acho que isso foi um milagre. – Sra. Cora sorriu. – Vá, e faça a esperança florescer nessa terra sem vida.
- Não vou deixar a Sra. aqui! – Declarei começando a tossir, tudo parecia estar rodando.
Sra. Cora me deu um tapa na cara, meu sentidos voltaram por um segundo.
- Vá logo, ou nós duas morreremos! – Ela disse raivosa, o fogo começava a abocanhar a porta. – Aquele Thomas, parece ser bom rapaz. Logo depois que você desmaiou, ele começou a gritar que o que o pai e outros tinham feito era abominável e covarde. Ele com certeza a ajudara, mas você precisa ir. – Sra. Cora me olhou suplicante, o fogo ficando cada vez mais forte.
A olhei e suspirei.
Fiz esforço e consegui passar pela janela, senti meu corpo todo doendo enquanto me espremia, caí na grama macia e soltei um suspiro ao senti o cheiro da mesma, mas a fumaça me atingiu de novo, me fazendo tossir.
Obriguei-me a engatinhar até a janela. Ouvi o grito de Sra. Cora, olhei para dento, o fogo estava perto demais dela. Meu coração pareceu se partir em mil pedaços, e as lágrimas vieram, inevitavelmente, aos meus olhos.
- Dê esperança. – Ela falou. Comecei a soluçar e senti alguém me pegando no colo, olhei para pessoa em questão, era Thomas.
- Vai ficar tudo bem. – O ouvi dizer, ele parecia desesperado.
- Eu estou com medo de fechar os olhos e nunca mais voltar. – Sussurrei baixinho, todo meu ser doía.
- Desmaiar com essa situação é normal, mas existe também risco de morte. – Ele suspirou, e eu percebi que ele estava correndo. – Mas vai ficar tudo bem, tenha esperança. – Pediu-me, e eu fechei os olhos.

(...)


Pov

- Nossa, mamãe. Essa é uma história triste! Por que todos não podem ter um final feliz? – Perguntou- me minha filha, Camile, curiosa.
- Porque o final feliz é algo difícil de se alcançar e, ás vezes, quando achamos que estamos quase lá algo desmorona e voltamos a estaca zero. – Suspirei. Camile me olhou curiosa.
- Mas finais felizes existem, não é? A Camile da sua história terminou com o Thomas, não é? O Thomas parece um príncipe! Meu nome é por causa dessa Camile, mamãe? Essa história aconteceu de verdade?
- Claro que existem, pequena. Todos temos que lutar pelo nosso final feliz, mesmo que tenhamos que correr riscos. Isso sua avó nunca me contou. Ela dizia que, ás vezes, a incerteza gerava histórias belas.- Ri lembrando-me da minha mãe dizendo isso. – Thomas era uma exceção à regra na época. Sim, seu nome é por causa dela, mas eu não sei se a história realmente aconteceu.
- Como sabemos se aconteceu? – Perguntou-me curiosa, sorri.
- Acho que essa é a graça da vida, não ter certeza, mas, mesmo assim, ter esperança.


FIM



Nota da autora: (22.03.2015) Espero que tenham gostado <3 Os dois primeiros parágrafos da fic foram pegos nesse site.


Nota da beta: Qualquer erro nessa atualização e reclamações somente no e-mail.
Para saber quando essa fic vai atualizar, acompanhe aqui.





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