7 Weeks for the End
Autora: Georgia Fernandes
Beta-reader: Bia



“Tudo começou quando um programa de rádio anunciou o fim do mundo. Eu estava, como em todo o sábado, ouvindo a rádio e correndo pelo HYDE PARK. Era por volta das sete e meia da manhã quando o locutor afirmou o que antes era só especulação e que eu tinha visto somente em filmes ou lido em livros. O mundo estava realmente acabado. E não havia como escaparmos desse fim. Quer dizer, só se fôssemos morar em outro planeta, porque o fim da Terra estava a cada nanosegundo mais próximo.”

#1st Week

A minha rotina não havia se alterado em nada. Eu já estava formada e só tinha que me preocupar com o meu trabalho e em manter minha casa limpa. Eu não tinha família para visitar ou algum “melhor amigo” que morava longe – na verdade, eu só tinha uma amiga, que eu considerava irmã, e ela era minha vizinha .
BIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIII. O barulho da buzina tirou-me dos meus pensamentos e eu mostrei o dedo do meio pro cara atrás de mim, que havia acionado a buzina do estúpido carro preto que dirigia. Bufei e troquei de marcha, ultrapassei o sinal e fui andando devagar. Esperei o apressado do carro preto emparelhar comigo e abaixei o vidro.
– Você tem que ser apressado até mesmo com o fim do mundo? – Perguntei.
– Com ou sem fim do mundo, eu tenho que trabalhar, docinho. – Arqueei a sobrancelha com o tom sarcástico do estranho e fechei o vidro, acelerando em seguida, e revirei os olhos quando o sujeito me ultrapassou e me mandou um “tchauzinho”.
Um tempo depois, tive que diminuir a velocidade por conta de outro semáforo. Fiquei batucando no volante uma música qualquer que tocava no rádio. E, como sempre, me distraí e outro idiota acionou a buzina.
– Caramba! O mundo acabando e esses seres não vivem o resto da vida deles. – Reclamei pra mim mesma e dessa vez não mostrei o dedo do meio, por notar que havia crianças no carro. – O mundo acabando e crianças tendo que estudar para nada. Tsc. No lugar de deixá-las brincarem e se divertirem... Mas não! Vão encher a cabeça delas com ladainhas. – Continuei reclamando e o meu carro resolveu morrer quando eu ia passar pelo sinal. Encostei minha cabeça no volante e respirei fundo. Virei a chave e agradeci mentalmente aos deuses pelo carro ter pegado na primeira.
Entrei na rua da esquerda e, cinco minutos depois, estacionei o meu carro na frente de uma casa branca com azul bebê de tamanho médio e com dois andares. Felizmente ou não, dependendo do meu estado de espírito, eu só trabalhava por meio período e tinha folga todos os fins de semana.
Destranquei a porta de casa e a fechei atrás de mim após entrar. – , amor? Cheguei. – Chamei por meu gato, que apareceu enquanto eu retirava o meu casaco. – Oi, amor. Como você está? – Pendurei o meu casaco no “cabideiro” e o peguei no colo. – Aprontou muito na minha ausência? – Perguntei, acariciando-o atrás da orelha e o ouvi ronronar. Fui para a cozinha e coloquei o meu gato no chão.
– Como eu sei que você se comportou direitinho, adivinha o que você vai ganhar... – Disse em um tom animado e fiquei na ponta dos pés para retirar do armário um sachê de whiskas sabor carne. – Você vai ganhar WHISKAS. – Disse feliz e abri o sachê, colocando o conteúdo dentro do pote do . Joguei a embalagem vazia fora e peguei uma maçã na fruteira. Sentei no balcão de mármore e fiquei comendo minha fruta. Ao terminá-la, joguei o que sobrou no lixo.
– O que vamos fazer agora? – Perguntei pro meu gato. – Filme? – Questionei, em dúvida, e por fim dei de ombros. Peguei o telefone e disquei pra uma pizzaria.
– Aham. Uma pizza tamanho família de calabresa, frango, catupiry e prestígio. – Confirmei o pedido e em seguida informei o meu endereço. Após desligar o telefone, comecei a fazer pipoca e em menos de cinco minutos ela já estava pronta. Coloquei a pipoca em um recipiente e despejei leite condensado por cima dela, agradecendo mentalmente por ter conhecidos no Brasil que vez ou outra faziam o favor de me mandar esse delicioso sweet milk. Aproveitei para fazer brigadeiro, um doce brasileiro, e quando este ficou pronto, levei a bacia da pipoca e a panela com o doce para o meu quarto. Deixei os dois em cima da cômoda, longe do alcance do e liguei a TV. Fiquei trocando de canal até achar algum filme que realmente valesse a pena assistir. Acabei me decidindo por assistir, de novo, Sherlock Holmes – O Jogo das Sombras. Fiquei surpresa ao notar que em seguida passaria Contra o Tempo e Edward – Mãos de Tesoura (n/a: propaganda de filmes legais, we.).
– UAU. – Foi tudo o que eu disse. Liguei o ar condicionado e peguei a minha comida. Enfiei-me embaixo do meu cobertor e fiquei assistindo o filme.
Quarenta e cinco minutos e uma bacia de pipoca vazia depois, tocaram a campainha. Provavelmente era o cara da pizza. Peguei o dinheiro que estava sobre o criado mudo e desci os degraus da escada um tanto quanto feliz. É, eu amo pizza.
– Boa noite. – Disse para o entregador de pizza assim que abri a porta, com um sorriso no rosto.
– Boa noite, senhorita. Aqui está sua pizza. – Ele disse, me entregando a pizza.
– Quanto é? – Indaguei. O entregador me olhou como se dissesse “Sério que você tá me perguntando isso?”. – Tá, . É só que poderia ter acontecido um ajuste, né? Nunca se sabe.
– Ok, . – Entreguei o dinheiro pra ele. – Obrigado, madame.
– Não tem de que, galanteador. – Fiz uma espécie de “agradecimento com um vestido imaginário” ao ver , o entregador, tocar a aba de um chapéu imaginário em forma de agradecimento. Como sempre, ele me esperou entrar e me falou para trancar a porta. E como resposta, eu revirei os olhos pela preocupação e tranquei a porta. Voltei pro meu quarto com a pizza e passei o resto da noite assistindo filme até cair no sono.

#2nd Week

Seria muito estranho se eu dissesse que eu mantive a mesma rotina por uma semana? Quer dizer, eu só não me encontrei mais com o apressado do carro preto, o que foi de certo modo bom. Ah, e às vezes eu trocava o sabor das pizzas. E às vezes eu comia lasanha ou comida italiana. Sabe, variar na comida é bom.
E, bem, nessa semana eu resolvi ir até a London Eye após o meu trabalho. Não estava afim de ficar mofando em casa naquele dia. Enfrentei uma pequena fila e acabei ficando na cabine de número onze, com mais três casais. Fui para um canto meio afastado e fiquei apreciando a vista. Acabei me distraindo e só notei que o “passeio” havia acabado quando um carinha chamou a minha atenção e me pediu – até que calmamente – para sair. Dei um pequeno sorriso e saí da London Eye. Fiquei andando a um raio de dez quilômetros da “Maior Roda Gigante do Mundo” (n/a: na verdade é a maior roda de observação em movimento do mundo.) e observando casais passearem com seus filhos, adolescentes com seus cachorros, turistas, etc. Estava pensando em dar a volta e ir para o meu carro quando eu vi uma coisa.
– Eu não acredito. – Disse para mim mesma e fui correndo até um homem que estava em uma espécie de barraquinha.
– Nossa! Eu pensei que nunca mais iria encontrar essa barraquinha por aqui. – Comentei e abri um sorriso. – Por favor, um hot dog. – Pedi gentilmente e agradeci quando a comida me foi entregue. Paguei pelo “lanche” e fui comendo até o meu carro. Terminei de comer e, sem mais delongas, dei partida e fui para a minha casa onde eu era aguardada pelo . Ou não.

~


Mal entrei em casa e já disquei o número da minha pizzaria favorita – Domino’s – onde o meu entregador favorito com cachinhos – – trabalha.
– Isso. Pizza tamanho família de prestígio, calabresa e mussarela com catupiry. – Confirmei o meu pedido. – . Vocês já têm o meu endereço. – Informei e sorri com a resposta. – Certo, obrigada. – Finalizei a ligação e me joguei no sofá.
Liguei a TV da sala e acabei me distraindo com um filme de comédia de um ursinho de pelúcia que falava (n/a: TEEED.). Confesso que esse filme me fez lembrar de Chuck, O Boneco Assassino. E o pior de tudo é que eu tinha que lembrar isso justo quando começa a chover. E então um trovão dá o “ar da graça de sua presença” no mesmo tempo que a campainha toca, e o que eu faço? Óbvio que eu dei um grito, né? Mas logo me acalmei porque, obviamente, era a minha pizza.
Peguei o dinheiro e quase abri a porta, até que me lembrei de dar uma olhada no olho mágico. Logo identifiquei uma silhueta masculina, não pude ver melhor por estar escuro. Mas é claro que era .
– Hey, . – Cumprimentei o rapaz e então um relâmpago cruzou o céu, iluminando tudo por um segundo. E então eu percebi. Quem estava parado na soleira da minha porta não era o meu entregador de pizza.
– Você? – Falei ao mesmo tempo em que o estranho e tentei fechar a porta. É, só tentei, porque minha porta foi segurada por uma mão.
– Espera. Eu só vim entregar a sua correspondência. Eu moro na casa da frente. O carteiro deve ter colocado na minha caixa por engano. – Arqueei uma sobrancelha ao ouvir tais palavras. Então quer dizer que o idiota do carro preto era meu “vizinho da frente”? Realmente, o mundo ia acabar.
– Obrigada. – Disse simplesmente e apanhei a correspondência que estava meio úmida. Daí eu me lembrei que estava chovendo e que deveria convidá-lo para entrar. Mas, tecnicamente, eu não era obrigada e não seria falta de educação, até porque a casa dele era em frente à minha, porém, ele ainda podia pegar um resfriado...
– Você não vai me convidar para entrar? Sabe, estou encharcado.
– Sua casa é em frente à minha. – Eu disse o óbvio.
– É... E você não está sendo educada. Além do mais, são apenas cinco minutos. Por favor. – Acabei me deparando com a cara mais fofa de cachorro abandonado que caiu do caminhão de mudança e que só quer sua família de volta. Sério, ele ganharia do gato de botas. Acabei não resistindo e soltei um “awn” e apertei a bochecha do meu vizinho. – Por favor. – Ele repetiu e fez biquinho, ficando com uma carinha mais fofa ainda. – Prometo me comportar. – Respirei fundo e acabei dando passagem pra ele. Infelizmente, eu não era uma mulher de ferro. Se bem que, se eu fosse... Olá, Iron Man. Certo, foco.
– Ok, cinco minutos. – Disse após um tempo de... Bem, é.
– Muito obrigado, mesmo. – O ajudei a retirar o casaco que usava e pendurei no cabideiro.
– Você tem sorte. Nem molhou tanto a sua roupa. – Comentei.
– É... Eu posso... Tirar o tênis? – Apenas assenti e segui para a cozinha. Tranquei a “portinha do ” para não correr o risco dele se aventurar com aquela chuva.
Gritei ao virar, pois me deparei com a minha visita atrás de mim.
– Desculpa, desculpa, desculpa. Eu não queria te assustar, eu juro.
– Ah, sim, claro. Você só queria me matar do coração. – Respondi sarcástica, com a mão sobre o órgão citado.
– Juro que não. Só vim avisar que o Dan, digo, o entregador de pizza chegou.
– Ah sim. Valeu. – O agradeci e fui atender a porta. Acabei sorrindo pro nada ao lembrar a minha “falta de atenção” ao abrir a porta para o meu vizinho e ainda chamá-lo de . – Desculpa a demora, . Tava trancando a portinha pro não sair e.
– Tudo bem, sem problemas. – Sorri e peguei a pizza, entregando o dinheiro em seguida.
– Obrigada. – Agradeci.
– Não esquece de trancar a porta.
– Sim, senhor. – Bati continência, em brincadeira, e ri. Estava prestes a fechar a porta quando ele voltou. Daqui a pouco vou começar a achar que ele tem algo contra portas fechadas.
– Hey, . Tudo de boa?
– Sim, dude. E você? – Arqueei uma sobrancelha com a intimidade dos dois e fiquei lá, parada, ouvindo a conversa deles.
– Também. Tem como entregar minha pizza aqui?
– Problemas para entrar em casa de novo? – Pude perceber prender o riso e eu acabei afundando na minha curiosidade. Como assim o meu vizinho que eu nem me dei ao trabalho de perguntar o nome está com problemas para entrar na casa dele? – Você não toma jeito mesmo. – sumiu por um momento, provavelmente para pegar a pizza do meu vizinho.
– Dessa vez foi mais do que sem intenção.
– Então, né? O papo tá bom e eu estou boiando legal, então vou ir ali pro meu encontro romântico com a minha pizza e já volto. – Disse me despedindo do meu entregador e do meu, hm, vizinho.
Menos de quinze segundos depois, a minha visita estava sentada no meu sofá. As caixas de pizza estavam sobre a mesinha de centro.
– Então... Eu queria pedir desculpas por aquele dia no sinal e tals.
– Seus cinco minutos acabaram. – Foi tudo o que eu disse.
– Sabe o que é engraçado? Eu moro aqui há mais de seis anos e nunca tinha te visto. – Arqueei uma sobrancelha com a mudança de assunto.
– Certo, excelente, agora...
– Prazer, o meu nome é . – Vi a mão dele estendida em minha direção e suspirei. Talvez não fosse tão ruim se eu tivesse companhia para comer pizza...
. – O cumprimentei e em seguida me levantei. – Vem. – O chamei e fui pra cozinha sem me certificar se ele me seguia ou não. – Pega algo pra gente beber que eu vou pegar os copos. – Disse e abri uma gaveta, pegando dois copos em seguida.
– Sem álcool?
– É, eu não bebo. – Respondi a pergunta e dei de ombros. Voltei para a sala com ele no meu encalço. abriu o refrigerante e nos serviu.
– Sua pizza é do quê? – Perguntei curiosa.
– Calabresa e frango catupiry.
– Sério? Eu amo esses sabores! – Disse com um sorriso.
– E a sua pizza? – Ele refez a minha pergunta e eu sorri de canto.
– Prestígio, mussarela e, é claro, calabresa.
– Opa! Temos um sabor em comum. – Assenti, ainda com o sorriso de canto.
Acabamos sentando no chão e sintonizando em um canal qualquer. Nós ficamos comendo, bebendo o refrigerante e conversando. Daí ele me contou que aquela era a quarta vez na semana que ele se trancava do lado de fora da própria casa e que naquele dia o chaveiro não pôde ir até a casa dele por causa da chuva. E foi aí que ele resolveu ir até a minha casa. Ah, e ele ainda disse confessou que pegou as minhas cartas na minha caixa de correio para ter um motivo para entrar. Eu acabei brigando com ele, dizendo que aquilo não se fazia e distribuí alguns tapas sobre o braço direito dele, nada que o machucasse pra valer. De repente, eu ouvi uma música conhecida e, ao olhar para a TV, me deparo com o começo de Ghostbusters.
– Eu amo esse filme! – Falamos ao mesmo tempo e nos encaramos. – Você também? – Perguntamos juntos de novo e acabamos rindo.
Dude, esse filme é muito bom.
– Mais do que bom. – Concordei.
– If there’s something weird and it don’t look good, who you gonna call? – começou a cantar.
– GHOSTBUSTERS! – Respondi, rindo em seguida. Ficamos cantando esse intro e rimos no final.
Após essa sessão “eu sei cantar, beijos”, peguei o último pedaço da pizza de prestígio e dei uma mordida.
– Posso provar? – Como estava de boca cheia por ter mordido a pizza, apenas assenti e ele se aproximou da minha fatia e, consequentemente, de mim. – Hm. É muito bom. – disse após provar (e aprovar) a pizza.
– Eu sei. – Disse, fazendo cara de convencida.
– Convencida. – Ele revirou os olhos.
– Nope. Sou realista. – Meio que retruquei e rimos.
Logo voltamos a assistir ao filme e, em um gesto quase automático, encostei minha cabeça no ombro do meu vizinho e relaxei um pouco ao sentir seu braço envolver minha cintura. A pizza havia acabado e nós prestávamos atenção no filme. Não sei exatamente em que parte, só sei que, sem querer, acabei pegando no sono.

~


? – Ouvi uma voz me chamar. Ao fundo pude identificar a música do filme Ghostbusters. Aos poucos fui recuperando a consciência e me lembrei onde eu estava. No chão da minha sala com o meu vizinho do meu lado e, para completar, os nossos rostos estavam próximos porque ele estava tentando me acordar. – Hey. – Ouvi dizer e olhei para os seus lábios ao vê-lo mordê-los. – Eu só queria avisar que o filme acabou. – Era impressão minha ou a voz dele estava meio rouca? E toda aquela proximidade... Apenas a TV como fonte de iluminação, criando um “clima” que não deveria existir.
– Obrigada. – Murmurei o agradecimento e umedeci os lábios em um gesto automático.
– Eu... – começou a dizer e pareceu desistir. Nossos rostos estavam cada vez mais próximos e nossos lábios iam se juntar no exato momento em que um relâmpago cortou o céu, iluminando tudo e, em seguida, a luz acabou.
– Acho melhor eu ir pegar umas velas. – Falei após três minutos de silêncio e não recebi resposta, pude perceber que o estava respirando fundo. Suspirei e fiz questão de me levantar, mas fui impedida por uma mão que segurou o meu braço. – O que foi? – Perguntei, tentando identificar as feições do meu vizinho no escuro.
– Não... Não me deixa sozinho. – A voz dele estava realmente estranha. Até parecia que ele estava com medo.
... Você tem medo do escuro? – Acabei perguntando, em dúvida.
– Eu... É.
– Certo. – Respirei fundo e mordi meu lábio. – Olha, eu acho que tem uma lanterna na gaveta do raque. Eu não vou demorar, tá? Não vai ser nem um minuto direito. Vai ficar tudo bem, tá?
– Só... Não demora, ok? – Fiz um gesto afirmativo, apesar de não ser vista, e fui até o raque para procurar a bendita lanterna. Acabei não a encontrando e olhei ao redor, não enxergando nada por causa da escuridão. A chuva continuava a cair lá fora, talvez estivesse mais forte nesse momento. De repente um raio cortou o céu iluminando a sala e pude ouvir o barulho do trovão e eu acabei me assustando e, por conta do susto, bati o meu pé na mesinha de centro.
? – Pude ouvir a voz preocupada de .
– Não se preocupe. Eu estou bem. Só bati o pé. – Respondi rapidamente e fui para a cozinha sem avisá-lo. Ele iria sobreviver dois minutos sem a minha presença, não é? É só que eu sabia exatamente onde havia velas na cozinha. Mas, antes de ir atrás delas, liguei uma das bocas do fogão para proporcionar pelo menos 25% de luminosidade. Peguei uma “caixinha” que estava no armário e deixei em cima do balcão. Apanhei uma vela que estava na gaveta e a acendi, colocando-a dentro da “caixinha”. Sorri com o resultado e peguei na alça do meu porta-velas, levando-o para a sala.
– A salvadora da pátria chego-ou. – Anunciei minha volta com um sorriso em um tom animado e deixei o dito porta-velas sobre a mesa de centro e voltei a me sentar do lado do . – Sabe, você pode abrir os olhos agora. Juro que tem fonte de iluminação. – O “encorajei” e mordi o lábio ao vê-lo tão... Frágil.
– Obrigado. – Ele murmurou e eu apenas assenti.
. – O chamei e continuei somente quando este olhou para mim. – Sabe, você tá meio tenso. Relaxa, tá? Vai ficar tudo bem.
– Eu não estou... Tenso. – Revirei os olhos com a resposta.
– Não, claro que não. Você só está contraindo todos os músculos possíveis nesse momento. – Respondi com uma pitada de salcasmo {n/a: Cebolinha haha}. Segurei a destra de , entrelaçando nossos dedos. – Você confia em mim? – Perguntei olhando dentro daquele par de olhos azuis. Aquele momento, por mais estranho que pudesse parecer, já que era a primeira vez que conversávamos, parecia completamente certo para mim.
– Eu confio. – Pude ouvir e ver sinceridade ali. Acabei sorrindo.
– E eu estou dizendo que vai ficar tudo bem, então...
– Tudo vai ficar bem. – Ele complementou, dando um sorriso de canto.
– Exato! – Confirmei e me remexi, um tanto incomodada com a posição.
– Vem cá. – disse, me puxando para perto dele.
– Pra quê? – Indaguei.
– Você parece desconfortável, daí eu achei que você se sentiria melhor se...
– E por que você acha que eu me sentiria melhor tendo você como “apoio”? – Arqueei uma sobrancelha, em certo tom de desafio.
– Você parecia bem confortável enquanto assistia Ghostbusters. Tanto que até dormiu. – O fuzilei com o olhar, não falando mais nada por saber que ele estava certo e me aproximei um pouco mais.
– Sai. Agora quem não te quer mais aqui sou eu. – Fiz que ia levantar e me segurou, passando o braço pela minha cintura e me puxando pra ele. – Estou brincando, sério. Fica. – Suspirei.
– Já que você insiste. – Apoiei minha cabeça sobre o ombro direito do meu vizinho e ficamos conversando sobre tudo um pouco. Falamos sobre nossa infância, animais, trabalho, gostos musicais, entre outros, até que caímos no sono. Em determinado ponto da madrugada, a luz havia voltado, mas nós estávamos muito ocupados sonhando para desligar a TV (ou para expulsar um certo alguém da minha sala).

#2nd Week, 4 Day

Nossa amizade havia progredido muito nesses últimos dias. Já nos chamávamos por apelidos e tínhamos nossas piadinhas internas e, é claro, eu tinha uma cópia da chave da casa dele e ele da minha. Para ser sincera, a minha cópia da chave da casa dele era mais utilizada pelo verdadeiro dono da casa do que por mim mesma.
– Hey, . – Não me assustei ao ver no sofá da minha sala assistindo um jogo qualquer de futebol entre o Chelsea e o Corinthians {n/a: não pude resistir haha}. Isso andava acontecendo com frequência, digo, na minha casa. Na primeira vez que isso aconteceu, eu gritei muito alto, tanto que minha melhor amiga – e vizinha –, , chamou a polícia e eu demorei uns bons cinco minutos para convencer as autoridades locais que tudo não passava de um mal entendido. Ah, e foi nesse dia que eu apresentei os dois. E também foi nesse dia que eu conheci “o famoso ”, namorado da minha melhor amiga que eu tanto ouvia ela falar sobre. E o meu vizinho havia dado a bela ideia de um dia sairmos juntos. Claro que eu já pulei fora da história. Até porque seria estranho eu e o no meio de um casal, né...
– Hey. – Respondi ao cumprimento após voltar à realidade.
– Já cansou de comer pizza na janta? – Fiz uma careta com a pergunta. Apesar da pizza do Domino’s ser realmente gostosa, estava enjoada de comer a mesma coisa todo dia. – É, pelo jeito, sim.
– Não me diga que você...
– Não, eu não pedi pizza. – me cortou e eu apenas assenti. – Na verdade, eu resolvi cozinhar. – Arregalei os olhos com as palavras dele e parei de tirar o meu casaco, fiquei apenas o encarando sem reação. – Nossa. Até parece que eu acabei de revelar que sou gay. – Continuei muda com a brincadeira dele e respirei fundo. Ok, ele havia resolvido cozinhar.
– Só me diz que você não destruiu a minha cozinha.
– Juro que nem cheguei perto da sua cozinha. – Assenti e deixei o meu casaco no cabideiro.
– Certo. Qual é o prato da noite? – Perguntei, curiosa e dei um beijo estalado na bochecha dele.
– É surpresa. Então vai lá pra cima, tome um banho e relaxe. O jantar será servido às sete e meia.
– Sete e meia? Ainda são seis horas. – Reclamei.
– Como se você fosse ficar quinze minutos no banheiro, né? – Revirei os olhos e mandei o dedo do meio pro enquanto subia as escadas.

~


Fiquei um pouco mais de uma hora no banheiro, já que havia resolvido lavar o meu cabelo e... Bem, eu demorei. Fiquei uns cinco minutos encarando as peças de roupa do meu guarda-roupa e dei de ombros. Era uma noite de sexta feira e eu não ia sair e eu também não receberia visitas, então eu não deveria fazer uma super produção, certo? Certo. Até porque eu não quero “impressionar” o meu vizinho e também não quero nada com ele, certo? Bem... Por enquanto, né?
Respirei fundo e acabei vestindo um pijama do Mickey e coloquei por cima uma calça de moletom preto e um blusão, também do Mickey, por cima do pijama e calcei uma pantufa de elefante. Aquela noite estava fria, até mesmo para quem era acostumado com o clima de Londres. Desci as escadas com dez minutos de adiantamento, os ingleses e sua mania de sempre chegar na hora, tsc.
– Demorei muito? – Perguntei, apesar de já saber a resposta.
– Não, você está no horário. – me respondeu. – Agora espera na sala um pouquinho, tá? Eu vou terminar de colocar a mesa, daí eu te chamo.
– Ok. – Sentei no sofá e mudei de canal. Estava passando Pânico na Neve {n/a: esse filme é, de certo modo, bom. Só que é muito sangrento :c Se você gostar desse tipo de filme, recomendo para você assistir rs}. Menos de cinco minutos depois meu amigo veio me chamar e, só para não perder o costume, ele resolveu me assustar e eu acabei acertando-o com o controle remoto por causa do medo, achando que poderia ser um dos irmãos Hilliker {n/a: Three Finger, One-Eye, Saw-Tooth}. Fazer o que, né, às vezes eu realmente entro no filme...
– AI, MEU DEUS. DESCULPA, . – Praticamente gritei meu pedido de desculpas e levei a mão à boca, me sentindo realmente culpada por tê-lo machucado. apenas levou a mão à testa e resmungou de dor.
– Não. Tá tudo bem, relaxa. A culpa é minha, eu sei. Só vamos esquecer isso e ir comer, tá?
– Certo. Só me deixe fazer uma compressa de gelo. Ai, deve estar doendo. Desculpa, tá?
, tá tudo bem. Não precisa pedir desculpa. E, sobre a compressa... Bem, ela seria bem vinda. – Ele sorriu de canto e eu correspondi ao sorriso. Fomos juntos para a cozinha e meu sorriso se alargou ao ver a mesa posta. – O prato de hoje é macarrão com brócolis e... Vinho!
– Nossa! – Foi tudo o que disse e me virei, dando um beijo na bochecha direita. – Obrigada. Está tudo muito lindo.
– Eu sei que sou lindo. – Ele disse convencido e eu apenas revirei os olhos. Fui até a geladeira pegar um pouco de gelo para fazer a compressa. Após fazê-la, entreguei-a para o meu amigo e sentamos cada um de um lado da mesa. nos serviu de macarrão e eu ia recusar a bebida, mas desisti ao ver a cara dele.
Comemos em silêncio durante os primeiros cinco minutos, até que resolvi elogiar a comida.
– Está realmente muito bom. Quantas vezes você fez a receita? – Indaguei.
– Contanto com a noite de hoje? – Assenti, aguardando a resposta. – Então... Contando com a noite de hoje eu fiz macarrão com brócolis... Uma vez.
Engasguei-me com a resposta e precisei dar dois goles do meu vinho para me “controlar”.
– Uma vez?
– Sabe... Essa parte da cozinha costumava, quer dizer, ainda costuma, ficar com a minha mãe. E daí eu resolvi fazer algo diferente hoje. – Suspirei e assenti.
– Isso é muito legal, sabe? Cozinhar pros amigos. Suas namoradas deveriam adorar. – Comentei.
– Na verdade eu não costumo cozinhar para as pessoas. – deu de ombros e eu levantei os olhos para encará-lo. Estava mais do que surpresa e um silêncio acabou se instalando entre nós. Terminamos o jantar em silêncio.
– Sabe, o jantar estava ótimo para quem fez a receita apenas uma vez. – Comentei.
– Obrigado. – Acabamos, como sempre, indo nos refugiar na sala. Sentei-me no sofá e fiz com que ele deitasse, deixando a cabeça sobre o meu colo. Pressionei uma segunda compressa de gelo sobre a testa dele. – Ai.
– Para de resmungar, . – O chamei pelo apelido. – Ou você prefere amanhecer com um galo do tamanho do mundo na sua testa amanhã?
– Eu não amanheceria com um galo se você não tivesse acertado o controle na minha testa. – disse, tirando a compressa da nuca e a deixando sobre a mesinha de centro.
– Eu não te acertaria com o controle remoto se você não tivesse me assustado. – Retruquei, fazendo com que ele levantasse as duas mãos em sinal de rendição. Como o meu vizinho estava sentado, resolvi deitar minha cabeça em seu colo para... Sei lá.
– Hey! Eu que ia deitar.
– Larga de ser chato, . – Fechei os olhos quando ele começou a fazer cafuné em mim. Dali a pouco eu acabaria dormindo, tudo por conta desse carinho gostoso... E foi só eu pensar em dormir que parou com o carinho e fez com que eu levantasse. – . – Resmunguei.
– Eu também quero deitar. – Já ia retrucar dizendo que não ia dar quando ele deitou e me puxou de encontro ao corpo dele. Estávamos de lado, eu de costas para ele.
, não dá. Eu vou cair. – Informei.
– É só você não se mexer. – Bufei. Como se fosse possível. Tentei levantar, o que foi uma tentativa completamente fracassada, já que estava me segurando. – Onde você quer ir?
– Pro meu quarto. Lá eu posso deitar. – Não precisei nem pedir para que me soltasse. E... Ele estava me seguindo. – Onde você pensa que está indo? – Perguntei quando estava quase em frente da porta do meu quarto.
– Pro seu quarto, óbvio.
– Não mesmo.
– Como não? – Fui indagada e, antes que eu pudesse responder, fui ultrapassada e, quando dei por mim, havia um jogado na minha cama.
– Pelo amor de Deus, !
– O quê? Eu estou cansado. E você sabe que sono e direção não combinam.
, querido, você mora em frente da minha casa. – O “lembrei”.
– Não me diga o óbvio.
– Então... Por que você não vai pra lá? – Perguntei um pouco cansada daquela conversa e já sabendo que eu iria perder a discussão.
– De acordo com a previsão do tempo vai chover.
– E?
– E você tem medo de trovões. E provavelmente a luz vai acabar. E nós costumamos jantar juntos. Então eu juntei o útil ao agradável e... Voilá. – Fiz uma cara de “sério mesmo?” e suspirei derrotada. Apenas tirei minha pantufa e me deitei na cama, já me cobrindo.
– Se você roncar de noite, juro que enfio uma meia na sua boca.
– Eu não ronco.
– E é bom que você não tente se aproveitar de mim!
– É mais fácil o contrário. – O ouvi murmurar.
– Eu ouvi isso, ! – Apontei o dedo indicador pra ele. – Se quiser assistir TV, o controle tá no criado mudo do seu lado. – O informei e então apaguei a luz. Quinze segundos depois, a TV foi ligada. Aposto meu pôster do The Maine que o Senhor Folgado ali havia colocado em um filme de terror de propósito. Estava passando A Casa de Cera, com o Jared Gato Padalecki. O filme havia acabado e eu estava bem, tirando o fato de que eu morri de medo. Para a minha infelicidade, começou o filme Dia dos Namorados Macabro, com o Jensen Gostoso Ackles. Dude, o filme podia ser de terror, mas não havia como negar que os dois atores eram muito hot’s. E sem falar que no filme o Jensen fazia umas caras do Dean {n/a: eu assisti o filme e é sério. Tem uma parte que eu fico tipo “omg, o Jensen fez a ‘cara do Dean’}. E, para finalizar, Sexta-Feira 13, com o Jared, de novo {n/a: acho que já deu para perceber que eu gosto dos atores né? Rs}. E foi exatamente nesse filme que eu fui para perto do .
– O que foi? – Ele ainda teve a cara de pau de me perguntar.
– Você sabe que eu tenho medo. – Murmurei.
– Awn. Vem cá. – me puxou para perto e eu repousei a cabeça sobre o peito dele. Ficamos assim, meio abraçados e assistindo o filme, até cairmos no sono. Se choveu realmente de noite, eu não sei. Aquela foi uma das melhores noites que eu passei com o meu amigo desde quando nos conhecemos.

#3rd Week

Reli pela terceira vez a mensagem que havia me enviado. Dizia simplesmente para eu ir à casa dele às sete da noite. E, bem, agora eram exatamente cinco para as sete. Suspirei e calcei uma rasteirinha qualquer, chequei se o tinha água e comida suficiente para aquela noite e saí de casa.
Olhei para os dois lados antes de atravessar e apertei a campainha. Nada. Apertei mais uma vez e nada, de novo. Revirei os olhos, do jeito que o meu vizinho era, deixou a campainha queimar e nem se deu ao trabalho de mandar arrumar.
! – Gritei o nome dele e fiquei sem resposta. – , , ABRA ESSA PORTA NESSE INSTANTE – A vizinha de , uma velhinha, que estava saindo, me olhou com olhar de reprovação por conta dos meus gritos.
– Minha filha, esqueça esse rapaz. Ele não toma jeito. Existem melhores. – Arqueei uma sobrancelha ao olhar para velhinha.
– Como é? – Foi tudo o que disse.
– Ah, minha filha. Ele não presta. Vive saindo com as garotas e eles... Eles passam a noite fornicando. É horrível! Ele não as respeita. – Nesse instante, um só de toalha abriu a porta pra mim e eu fiz o máximo para não olhar para o seu abdômen.
– Hey, . Desculpa a demora, eu tava tomando banho e... Oi, senhora Scout. Como a senhora está? – A velhinha arregalou os olhos ao vê-lo apenas de toalha e fez o sinal da cruz, indo embora sem respondê-lo.
! Que coisa horrível! – O repreendi.
– O que eu fiz agora?
– Você sabe que sua vizinha é uma senhora de idade e que não aprova a sua conduta de pegar uma garota a cada noite.
– Fazer o que se ela não vive completamente no século XXI? – Revirei os olhos com a resposta.
– E agora? Ela vai achar que nós estamos nos pegando.
– Como se vocês fossem as melhores amigas do mundo e você ligasse para a opinião alheia, né? – revirou os olhos. – Além do mais... – E então ele me abraçou por trás e eu tentei me livrar de seus braços, o que não foi possível. – Ela sabe que somos apenas amigos.
– E como você pode ter tanta certeza disso?
– Se eu tivesse aberto a porta e já começado a te beijar, assim, do nada, daí ela saberia que temos alguma coisa.
– Idiota. – Murmurei, sendo guiada até a sala.
– E você fica aí, sentadinha e assistindo TV, enquanto o senhor idiota aqui vai lá em cima vestir uma roupa, tá?
– Como se eu nunca tivesse te visto trocando de roupa. – Murmurei, esperando que ele não ouvisse.
– Querida, você me viu de cueca vestindo uma calça. Você nunca me viu pelado. Maaaaaaaaaas, já que você insiste.
, nem... – Não pude nem terminar a frase e já havia tirado a toalha e, em um ato automático eu fechei os olhos. Senti em seguida uma toalha sobre o meu rosto e eu a tirei, para xingá-lo. Abri os olhos e, ao olhar para trás, vi um correndo escada acima e rindo, dando-me uma bela visão da sua bunda. – SEU... SEM VERGONHA! – Gritei para que ele pudesse ouvir e joguei a toalha em cima da TV. Fiquei sentada no sofá, com os braços cruzados e um tanto quanto emburrada.

~


– Peraí. Deixe-me ver se eu entendi. – Comecei a dizer. Estava na cozinha da casa do , sentada em cima do balcão e vendo-o encher o balcão com diferentes bebidas com nomes que eu jamais havia ouvido falar. – Hoje nós vamos encher a cara? É isso mesmo?
– Você entende rápido as coisas.
– Só tem uma falha no seu plano para hoje, .
– É mesmo? E qual é?
– Eu não bebo. – O lembrei.
– Eu sei. E o mundo está acabando. E eu estou aqui para lhe desvirginar no quesito bebida alcoólica.
– Me desvirginar no quesito bebida alcoólica? Você por acaso ainda acha que sou virgem? – Bufei.
– Nas melhores coisas da vida, sim, eu acho. Aposto que você nunca fumou ou saltou de bungee jump ou paraquedas. E também aposto que você só fez sexo com, no máximo, três caras diferentes e...
– Já deu, . Ok. Você venceu. Mas apenas um copo, ok?
– Ok. Um copo de cada.
– Um de cada? Caramba. Tem pelo menos umas dez bebidas diferentes!
– Quinze, na verdade. – Revirei os olhos com a correção.
– Que seja. Vamos começar logo. Quando mais cedo começarmos, mas rápido acabamos.

~


– E daí, né, hahahaha, o idiota me disse “cara, larga a minha mina” e tipo, eu estava abraçando um amigo meu porque ele queria mandar uma foto pra tia, hahahahaha. – me contava uma de suas histórias malucas e eu fiquei rindo. A história nem era de fato engraçada, mas tudo fica engraçado após umas doses de tequila. – Hey, . Você já brincou de “eu nunca”?
– Não. Como é? Podemos brincar? – Perguntei, já toda animadinha.
– É assim, ó. Alguém fala algo tipo “eu nunca dormi na casa de um amigo” e quem já fez isso, tem que beber.
– Vamos brincar, vamos. – Bati palmas feliz, coisa que eu jamais faria em sã consciência. Sentamos no chão, um de frente pro outro, e começou.
– Eu nunca beijei um homem. – Mordi o lábio inferior e dei um gole em uma garrafa de vodka.
– Eu nunca fiquei com alguém que acabei de conhecer. – Vez do beber.
– Eu nunca fiquei bebendo com alguém sem querer ter algo com a pessoa no fim da noite. – Eu não bebi, uma vez que eu não bebia. Uns cinco segundos depois o deu um gole na sua bebida.
– Quem era a pessoa? – Indaguei, curiosa.
– Bem, se eu não contar com os guys, você. – Fiquei um tanto surpresa com a sinceridade.
– Isso quer dizer que eu não sou, sei lá, bonita o suficiente para você? Ou sexy? Ou atirada? – abriu um sorriso de canto com a minha pergunta e me olhou nos olhos.
, você é extremamente sexy e bonita. A questão é que... Eu não sou o cara certo pra você, sabe? Não curto relacionamento sério. E se eu fosse diferente do que sou...
– Nós não seriamos amigos. – Completei.
– Exato. E se a gente ficar... Eu tenho medo de destruir a nossa amizade.
– É maior do que o medo do escuro?
– Eu... – suspirou e mordeu o lábio, provavelmente procurando a resposta certa.
– Você sabe que pode me contar tudo, né? Principalmente agora já que eu bebi e não vou me lembrar de nada pela manhã. – apenas soltou uma gargalhada que eu adorava ouvir.
– Acho que destruir a nossa amizade é um pouco inferior ao medo do escuro. Só tem uma coisa que é maior que o medo do escuro.
– O medo de morrer? – Arrisquei.
– Não. É o medo de te perder mesmo. – Apenas assenti, para sinalizar que havia compreendido.
– O sentimento é recíproco. Quer dizer, eu não tenho medo do escuro. Eu tenho medo de...
– Palhaços e trovões, eu sei. – me cortou.
– Exato! – Ficamos até umas três da manhã acordados, bebemos toda a bebida alcoólica que havia na casa e seria mais do que surpreendente se não entrássemos em um coma alcoólico. Não me lembro exatamente o que fiz durante a madrugada. Tudo o que sei é que acordei com uma p*ta dor de cabeça e com uma camisa branca masculina e um só de cueca do meu lado.
. – O cutuquei na barriga. Só faltava ele ter morrido! Ah, não. O peito dele tá se mexendo. E que peitoral, hein... Ok, foco, . – ... – O chamei mais uma vez e respirei fundo. Fechei os olhos e tentei me lembrar o que havia acontecido na noite passada. Nada. Certo, o jeito era acordar o meu amigo mesmo. – ! – Berrei o apelido dele, sentindo minha cabeça latejar por causa do meu grito. Cara, se aquilo que eu estava sentindo era ressaca... Eu nunca mais vou querer beber.
– O QUÊ? QUANDO? ONDE? – gritou e acabou caindo da cama. Xingou por alguns instantes e se levantou, coçando os olhos. – Que p*rra aconteceu? – Ele perguntou, levando a mão às têmporas. – Que merda! Minha cabeça tá doendo mais do que o meu dedo mindinho quando eu bato ele na quina dos móveis. – murmurou e eu fiquei quieta, o encarando. – O que a gente fez na noite passada? – Ele perguntou pra mim e eu apenas dei de ombros, afinal, não fazia a mínima ideia. O ouvi suspirar e se dirigir até o seu guarda-roupa, apanhou uma calça de moletom na cor cinza e vestiu. – Se quiser vestir alguma roupa, fique à vontade. Eu vou ver o que tem de bom pra comer. – Assenti e o esperei sair do quarto. Fiquei fuçando no guarda-roupa dele até desistir, uma vez que todas as roupas iriam ficar enormes em mim. Contentei-me em ficar com a camisa branca mesmo e procurei algum calçado, decidindo-me por um par de pantufas pretas. Desci as escadas e o encontrei na cozinha.
– Tome isso daqui. Daqui a pouco a dor alivia um pouco. – Apanhei o comprimido que havia recebido e o engoli com o auxílio de um copo de água que me era oferecido. Sentei-me no balcão e fiquei quieta. Era mais do que provável que eu estava com o rosto cheio de olheiras e o meu cabelo deveria estar horrivelmente bagunçado. Suspirei e resolvi manter uma conversa e ignorar aquela dor chata.
– Então... Lembra de alguma coisa da noite passada?
– Me lembro que brincamos de “eu nunca” e que eu te chamei de sexy e que você admitiu que tem medo de me perder. – Engasguei com a água que eu estava bebendo e veio até mim, dando tapinhas nas minhas costas para me “ajudar”. O que não ajudou muito, já que eu lembrei o que ele havia dito a alguns segundos atrás e eu fiquei vermelha como um pimentão. – Hey, , relaxa, tá? – Apenas assenti e o vi se virar, indo em direção do fogão. – Gosta de omeletes?
– Yep.
– Ótimo. Pois eu só sei fazer isso pro café da manhã. E leite com cereal.
– Eu adoro leite com cereal. – Murmurei e riu, provavelmente tinha escutado.
– É muito bom mesmo.
Ficamos conversando animadamente enquanto o café não ficava pronto e eu ajudei o meu amigo a arrumar a mesa. Menos de dez minutos depois estávamos comendo.
– Dude, esse foi o maior porre da minha vida inteira. – comentou, do nada, e eu dei um meio sorriso.
– Esse foi o meu primeiro e você deve estar brincando.
– Não estou brincando, é sério. Foi tão feio que o mundo poderia ter acabado e eu nem ia ter notado. – Após essa declaração, um silêncio se instalou entre nós. Provavelmente por sabermos que o fim do mundo estava cada vez mais perto de acontecer.

#4rd Week

Após o nosso café da manhã in hangover, descobrimos que havíamos jogado, hm, preservativos no quintal da senhora Scout. E eu simplesmente rezei para que ela não tivesse me visto naquele estado, er, deplorável. Sabe, não é todo dia que alguém resolve encher a cara pela primeira vez e sair para jogar preservativos no quintal de uma velhinha solteira e muito conservadora.
Desde aquele dia, o resolveu que eu iria fazer coisas que eu nunca havia feito antes, pois eu deveria aproveitar a minha vida, já que o fim do mundo estava chegando. E, é claro, ele sempre me surpreendia. Ele havia me feito saltar de paraquedas e bungee jump, como também faltar no emprego – coisa que eu jamais fazia, só quando estava muito doente – sem motivo aparente.
Nessa semana ele havia me feito entrar em um sex shop com ele. E ainda me fez passar por namorada dele. E ainda me convenceu a comprar umas, er, coisas muito inapropriadas que eu jamais iria usar. Algo como roupas de látex, chicote e... É, acho que você já pode imaginar o quê.
Confesso que estava um tanto ansiosa com a noite de hoje, já que o estava enrolando a mais de três dias dizendo que estava muito ocupado para fazermos nossas sessões de filmes e que o que ele tinha planejado para aquela semana necessitava de vários preparativos especiais. Confesso que pensei muita merda, uma vez que já havíamos visitado um sex shop. O que ele estava preparando agora? Uma visita em um clube de strip tease ou o quê? Estava ensaiando alguma música com pole dance para depois apresentá-la para mim e me ver morrer de vergonha? Ok, agora viajei legal.
Olhei para o meu relógio pela terceira vez e constatei o óbvio: estava quinze minutos atrasado. Aquele garoto, com toda a certeza do mundo, não herdou o pontualismo inglês. Respirei fundo três vezes e a campainha tocou em seguida. Abri a porta e me deparei com um já me estendendo uma jaqueta de couro.
– Rápido, ou nós vamos chegar atrasados. – Não hesitei duas vezes e vesti a jaqueta, colocando em seguida o capacete que me era estendido. subiu em uma moto e, apesar do medo, subi também e segurei forte em sua cintura.

~


O meu vizinho dirigia, sem dúvida alguma, como um louco. Saiu cortando os carros em uma velocidade absurda até chegarmos a uma rodovia que não era utilizada com frequência.
– O que nós estamos fazendo aqui? – Perguntei enquanto tirava o meu capacete.
– Nós iremos nos divertir. – Foi tudo o que ele me disse. Guardou os dois capacetes e pegou na minha mão, me guiando pela rodovia escura. Em determinado momento, ouvi o canto de um pássaro. Franzi a sobrancelha por conta do horário. “respondeu o pássaro” com um barulhinho tipo de coruja e então me toquei que deveria ser uma espécie de código. Apertei a mão dele e ele apenas sorriu pra mim, me encorajando, e logo um cara apareceu.
– Eai, .
– Hey, Jay! – Os dois se cumprimentaram com um high five e eu fiquei com cara de quem sobrou. – Essa daqui é a . – me apresentou e eu disse um “oi” tímido.
– Os dois vão correr? – O amigo do perguntou e eu fiquei tipo “como é?” – Você não disse pra ela?
– Não. Era surpresa. – sorriu pro amigo, que correspondeu ao sorriso. Por que será que eu não gosto quando o sorri desse jeito? Aé, porque no final dá merda.

~


Lembra quando eu disse que quando o sorria daquele jeito no final dava merda? Então... Digamos que eu me equivoquei só um pouquinho. O começo que deu merda. O motivo? havia me levado para uma “corrida”. Aquelas ilegais, sabe? Os tais rachas.
– Você vai ir sozinha? – O tal Jay perguntou e o não me deu tempo de responder.
– Não. Ela vai comigo. – abriu uma porta pra mim e eu entrei. Seria até legal se eu fosse correr no mesmo carro com ele, até porque eu poderia ir brigando com ele pelo caminho por ter me arrastado até ali com ele. Certo? Errado.
deu a volta e entrou no banco do motorista. Observei outras pessoas entrando em seus respectivos carros. Tinha, no máximo, cinco competidores.
– Vocês fazem algum tipo de aposta? – Perguntei, curiosa.
– Não. É só por diversão mesmo. – Assenti. – Coloque o cinto. – Não foi necessário pedir duas vezes para eu o fazê-lo. Estava muito nervosa. Imagine, então, se eu fosse dirigir! – Relaxe, . Ninguém vai se machucar, ok? – Respirei fundo e menos de dois minutos depois um carinha foi lá pra frente e os “competidores” ligaram os carros e ficavam pisando no acelerador, como se estivessem testando a potência do carro. Logo depois, percebi que quem estava na frente para dar a largada era o Jay, amigo do . Em seguida Jay fez um sinalzinho e os carros começaram a correr. Eu e o estávamos em segundo. E ele corria, definitivamente, como um louco. Confesso que soltei um grito quando o meu amigo realizou uma manobra chamada drift. E também confesso que só sabia disso por causa dos filmes que eu assistia.

~


A corrida foi, de fato, rápida. Nós ficamos em terceiro lugar e ninguém parecia ligar se havia ficado entre os três primeiros ou não. Eles realmente estavam apenas “brincando”. Confesso que me arrepiei em imaginar como seria se aquilo não fosse apenas uma diversão pra eles, se eles estivessem realmente apostando.
– Desculpa por ser estraga prazeres, mas eu preciso colocar a baixinha aqui na cama. – Revirei os olhos com as palavras do e alguns até zoaram, chamando-o de babá.
– Se você estiver cansado, , eu até entendo. Mas também não precisa me usar como desculpa, né?
? – Jay repetiu o apelido que eu dei para o meu vizinho, estranhando.
– É, . – Confirmei.
– Por que ? – Um cara que eu não sabia o nome perguntou.
– É porque a ...
– Licença, , mas a pergunta foi pra mim. – Interrompi o , que apenas revirou os olhos. – É que ele tem cara de , não acha?
– Ok, hora de dormir. me mata se você chegar em casa depois das três da manhã.
– Só se você me prometer que vai me ensinar a fazer o tal drift. – Os caras ficaram nos encarando. Acho que ninguém costuma trazer mulheres pra cá...
– Feito.
– Jura? – Perguntei desconfiada.
– Palavra de escoteiro. – levantou a mão direita.
– Você nunca foi escoteiro, . – Disse séria.
– Mas não foi por falta de tentativa... – Ele se defendeu e eu apenas sorri.
– Tchau, pessoal. Foi legal conhecer vocês. – Me despedi de todos com um aceno e peguei a mão do , o puxando. – Vem. Você não queria ir? – Ele se despediu dos amigos que ficaram zoando ele. Para ser sincera, não sei do que eles o chamaram. Estava um tanto distraída para não tropeçar.
Chegamos à minha casa em tempo recorde, uma vez que meu vizinho adorava costurar enquanto dirigia, e fiquei do lado de dentro pedindo comida italiana pelo telefone enquanto ele guardava a moto na garagem da casa dele. Uns vinte minutos depois, e a comida chegaram. Sabe, o meu vizinho havia resolvido tomar banho na casa dele. Nesse pouco tempo de convivência andávamos tão juntos que ele até tinha roupas dele – coisas mais básicas como calça jeans, cueca e camisas – no meu guarda-roupa. E eu, como era legal, deixava, né?
– Sabe, eu adoro quando chego na sua casa e tem comida pronta e quentinha me esperando.
– E quem disse que eu pedi pra você também, ? – Retruquei.
– Essas duas caixinhas tamanho família que estão no balcão da cozinha. Nem adianta tentar se defender, eu sei que você não consegue comer tudo isso sozinha. – Bufei e acabamos, como sempre, no sofá da sala assistindo um filme qualquer, comendo e conversando. E, é claro, com um bebendo cerveja e eu bebendo um suco – depois que o meu vizinho passou a frequentar a minha casa, ele passou a comprar bebida para deixar na minha geladeira. Mais folgado do que ele, só dois dele.

#5rd Week

Tudo estava como quase sempre. Eu continuava com a rotina de sempre, ia para o trabalho, voltava para casa, alimentava o , saia para correr, voltava, cumprimentava o , que estava jogado no sofá da minha sala, ia tomar banho, me trocava, descia e eu e escolhíamos o que íamos jantar no dia. Minha rotina não possui imprevistos. Quer dizer...
– Ai, não. Por favor, por favor, por favor. – Disse para mim mesma um tanto desesperada por meu carro não estar querendo ligar. Bati o rosto duas vezes contra o volante e girei a chave. Nada. Joguei a minha cabeça pra trás, olhei para o teto do carro e suspirei. Apanhei o celular e liguei para a minha amiga.
– Hey, ! Você tá muito ocupada? – Perguntei assim que o celular foi atendido. – Estou aqui na frente da empresa. Meu carro resolveu não pegar. – Fiz uma careta e revirei os olhos com a resposta. – Nem ouse dizer que esse é o fim do meu Ford Maverick, ok? – Ouvi a resposta e suspirei. – Ok, ok. Vou ligar pro , então. Tchau. – Me despedi e disquei o número do meu amigo. Enquanto eu não era atendida, fiquei batucando no volante.
– Hey, ! – O cumprimentei. – Então... Eu preciso de um favor seu.

~


Nesse momento, eu estava no sofá da minha sala, de pijama, com uma xícara de chá na mão e olhos vermelhos. Sim, eu estava chorando.
– Ah, , não fica assim. – Funguei ao ouvir a voz de .
– Ele era tão bom, . Ele era o meu companheiro, o meu amigo para todas as horas. Ele não poderia ter ido embora assim, tão de repente. Ele era tão saudável. – Disse entre lágrimas e fungadas.
– Eu sei, . Mas já estava na hora dele ir. Ele já estava velhinho. A hora dele ia chegar mais cedo ou mais tarde...
– Ele tinha toda uma vida pela frente. Nós tínhamos tantas viagens planejadas... – suspirou e me deixou sozinha por um momento, ao voltar, tomou a xícara de chá pra mim e me entregou uma garrafa de vodka.
– Se for pra se lamentar, então bebe isso que já, já você apaga. – Arqueei uma sobrancelha e abri a garrafa. Eu queria beber e esquecer daquela história horrível. Eu ia dar o primeiro gole quando o meu amigo tomou a garrafa de mim. – É, você tá realmente mal.
. – Reclamei.
, tá na hora de parar de chorar, ok? Eu sei que ele era “novo” e “saudável” – fez aspas com as mãos –, mas a hora do seu carro chegou, ok? Então vai logo se despedir dele para que eu possa cobri-lo com a capa e então nós pedimos uma pizza, nos fundimos no sofá e ficamos assistindo filme, comendo pizza e tomando sorvete e comendo chocolate. Podemos até passar a noite fora. Só para de chorar, ok? – Limpei as lágrimas que escorriam pelo meu rosto e respirei fundo. Ok, teria que me controlar. Respirei fundo três vezes e me levantei.
– Vamos lá. Eu tenho que me despedir do meu Maverick. – Fui para a cozinha e abri uma porta que dava acesso à garagem. Fiquei com vontade de chorar ao ver o meu Ford ali, paradinho e pronto para ser usado. Isso é, se o cara do guincho não tivesse compartilhado a pior notícia do mundo: o meu carro foi para o céu dos carros. Toquei na maçaneta da porta do carona e funguei. – Eu vou sentir saudades suas, Rick. – Me despedi do meu carro e fiz um sinal para para que este o cobrisse. Olhei para o teto da garagem, como se para impedir que lágrimas saíssem de meus olhos, e depois entrei, sendo seguida pelo .
– Nem foi tão difícil assim, não é?
– Eu... Eu só quero ir pro meu quarto, tá? – Murmurei e fui para o meu santo refúgio. Cinco minutos depois apareceu e deitou do meu lado. Aninhou-me em seu peito e eu fiquei ali, chorando silenciosamente até perder a consciência.

#6nd Week

A semana havia passado rapidamente. Agora, com o meu carro “morto”, costuma me levar para o trabalho e costuma me buscar. Eu até tento recusar as caronas, o que acaba geralmente uma discussão e, acredite em mim, é muito difícil ganhar uma discussão deles.
Havia chegado, como sempre, no horário e fui para a minha sala. Comecei a organizar a pilha de papéis que estava sobre a minha mesa em duas pilhas, a que eu iria utilizar hoje e a que eu iria fazer no dia seguinte. A pilha de hoje ficou horrivelmente maior que a última. Mal comecei o meu trabalho e Cindy, a secretária do presidente da empresa, me ligou dizendo que o Chefão queria falar comigo. Dei de ombros, uma vez que não costumava faltar ao trabalho e sempre entregava as coisas em dia. Quer dizer, eu só faltei no trabalho três dias e foi por causa da morte do Rick, fora isso, eu era uma funcionária exemplar.
– Com licença, senhor MacMillan. – Dei as típicas três batidas na porta e a abri. – A Cindy disse-me que o senhor queria falar comigo.
– Ah, sim. Senhora , correto? – Assenti e entrei, fechando a porta atrás de mim. – Sente-se, por favor. – Obedeci ao comando de meu chefe e sentei em uma cadeira nem tão confortável, ficando de frente para ele. – A chamei aqui apenas para dizer que está despedida. – Fiquei olhando séria pro meu chefe e depois fiz uma cara de “como é que é?”
– Como? – Acabei perguntando.
– A senhora andou faltando no serviço recentemente sem faltas aparentes e nós estamos fazendo uns cortes para que a empresa continue tendo um bom lucro e...
– Peraí. – Interrompi o meu então “ex-chefe” – O senhor está me dizendo que me demitiu por que eu faltei três dias? – Frisei a quantidade das minhas faltas. – Sendo que tem funcionários que faltam um mês, aparecem para trabalhar por uma semana e depois faltam mais um mês? – Perguntei incrédula. – Sinceramente, o senhor me surpreendeu. Até porque está pensando em dinheiro em pleno fim do mundo!
– A senhora pode estar redondamente enganada, uma vez que esse dito fim do mundo pode ser, e provavelmente é, uma jogada de marketing dos USA! – Revirei os olhos com as palavras do senhor MacMillan.
– Vai nessa, vovô. – Fiz um legal pra ele e levantei. – Ah, me faça um favor. Enfie a merda do meu emprego em um lugar que não bate Sol! – Comecei a andar em direção da porta e me virei. – Ou enfie no cu mesmo. Pra mim não vai fazer diferença. – Dei um sorriso cheio de escárnio para o meu ex chefe e saí da sala dele, batendo a porta com força.
Fui para a minha mesa apenas para pegar meus itens pessoais, ou seja, peguei somente minha bolsa e meu celular. Nunca fui de colocar porta retratos com fotos ou coisas do gênero sobre a minha mesa. Estava prestes a desligar o computador quando tive uma ideia. Abri o meu típico sorriso de garota má e apaguei vários arquivos importantes e “redeletei” quando estes pararam na lixeira. Apanhei minha bolsa e saí da empresa com um sorrisinho no rosto. Liguei para , que não me atendeu e me passou uma mensagem dizendo que estava em reunião e eu acabei tendo que ligar para o .
– Hey. Você tá muito ocupado? – Mordi o lábio com a resposta. – Ah, é só que preciso de uma carona. Mas se você estiver ocupado, eu pego um táxi. – Sorri com a resposta. – Certo. Estou te esperando na frente da empresa. See ya. – Encerrei a chamada e em menos de dez minutos parou o carro e eu entrei.
– Saiu cedo hoje. Brigou com o chefe? – brincou e eu apenas sorri de canto.
– Acertou na mosca.
– Uou. Sério? – Ele pareceu assustado com a minha resposta e eu apenas assenti.
– Ele me demitiu e eu disse pra ele enfiar o meu emprego no c...
– Ok, eu entendi. – me interrompeu. – Ele é um idiota. Perdeu uma excelente funcionária.
– É... E isso me faz lembrar uma coisa. Você não deveria estar trabalhando?
– Estou trabalhando.
– Como é? – Perguntei, surpresa.
– Isso que você ouviu. Resolvi mudar de emprego. Agora sou chofer. – Soltei uma risada pelo nariz. – Na verdade hoje eu só preciso passar na Starbucks, entregar o café pra um pessoal e estarei livre.
– Por isso que é bom ser chefe. Você faz os seus horários. – Murmurei pra mim mesma.
– Hey! Eu não sou o chefe. – Olhei de canto pra ele, desconfiada – Sou o filho da chefa.
– Idiota. – Revirei os olhos com a brincadeira e cruzei os braços. Não demoramos muito para chegarmos até uma Starbucks, já que existia uma a cada quarteirão – exagerada, eu sei.
– Já volto. – Murmurei um “vai lá” e fiquei no carro, esperando o meu amigo retornar.

~


Já havia se passado uns quinze minutos e nada do . Resolvi sair do carro e perguntar se ele demoraria muito, e foi o que fiz. Ou quase isso né. Ao entrar na Starbucks, o vejo beijando uma mulher loira. Senti um aperto no peito ao ver a cena, sendo que eu não estava com o direito de sentir algo. Dei meia volta e voltei para o carro. Felizmente – ou não – não havia me visto entrar na Starbucks. E também não havia me visto observando-o praticamente engolindo aquela... Loira.
Quinze minutos depois do ocorrido, finalmente volta para o carro com seis prováveis cafés e uma caixa de muffins.
– Demorei muito? – Ele perguntou.
– Oi?
– Nada. Só tinha perguntado se eu demorei muito para comprar as coisas.
– Ah, não. – Disse e tentei segurar minha língua antes que falasse demais, o que foi uma tentativa falha. – Você demorou mais tempo beijando aquela loira do que fazendo e recebendo o pedido. – Um silêncio estranho se instalou entre nós e eu, de certo modo, não estava ligando para isso.
... – parecia medir as palavras que proferia. – Você está com ciúmes?
– Não, . Eu não estou com ciúmes de você. – Eu não estava com ciúmes dele. É claro que não. Mais do que óbvio e...
– Tem certeza?
– Sim, eu tenho, . Eu estou é com raiva. – Isso! Eu estava com raiva e não com... Ciúmes. – Estou com raiva porque nós somos amigos e você poderia muito bem me dizer que ia se encontrar com alguém!
– Desculpa. – Foi tudo o que ele disse e eu apenas revirei os olhos. Cruzei os braços e fiquei olhando através da janela.
– Me deixe em casa, sim?
. Me desculpa? – Nem ousei olhar para a cara dele, uma vez que eu o conhecia suficientemente bem para saber que ele estava fazendo a carinha do gato de botas para que eu o perdoasse.
– Me. Deixe. Em. Casa. – Disse pausadamente. O restante do caminho foi bastante silencioso. Um tempo depois, o meu dito amigo parou o carro em frente da minha casa e quando eu tentei sair, ele me segurou.
– Só me responde uma coisa, por favor.
– O quê? – Disse logo, para que eu pudesse ir logo para a minha casa.
– Você está gostando de mim? – Arregalei os olhos com aquela pergunta.
– Não! – Respondi de imediato e senti um aperto no coração.
– Você está gostando de mim. – Dessa vez não foi uma pergunta.
– É claro que não estou, !
– Então por que você está me chamando pelo meu sobrenome?
– Porque...
– E nem ouse me dizer que é porque eu não disse do meu encontro inexistente!
– Encontro inexistente? VOCÊ TAVA BEIJANDO ELA! – Gritei o obvio.
– NÓS NÃO TINHAMOS MARCADO UM ENCONTRO!
– TEM CERTEZA? POR QUE EU VI VOCÊS DOIS SE AGARRANDO NA STARBUCKS!
– Nós não tínhamos um encontro. – disse, sem gritar dessa vez. – Eu jamais marcaria um encontro com alguém quando já estou gostando de outra pessoa. – Meu coração falhou uma batida com aquelas palavras. Talvez fosse porque ele olhou nos meus olhos quando disse aquilo e eu vi sinceridade. Eu não sei. Eu estava confusa.
Abri a boca para dizer algo, mas nada saiu. Diante da minha hesitação e confusão, aproximou o seu rosto do meu e juntou nossos lábios em um selinho. Em um ato um tanto impensado {n/a: como se você realmente fosse pensar coerentemente se um mcguy te beijasse né} concedi passagem para a língua do meu vizinho e amigo por quem eu nutria um sentimento que ia além da amizade. Antes que o beijo fosse de fato aprofundado, o empurrei.
– Nunca mais toque em mim, ! – Disse com certa amargura na voz. Eu o conhecia. O conhecia tão bem que sabia que eu acabaria sendo mais uma. E eu não queria ser mais uma. Também não queria conhecê-lo tão bem...

~


Eu tinha saído do carro correndo e entrado em casa. Mil e uma coisas tomavam conta da minha mente. Mil sensações diferentes. Um único sentimento muito nítido para mim. E esse sentimento nítido acabava gerando o Medo.

#6nd Week, 1 Day

Após aquela “briga” e de pensar muito, resolvi assumir para o meu vizinho que eu estava gostando dele e admitir que sim, que eu havia sentido ciúmes daquela loira da Starbucks. Havia me levantado tarde, já que não teria que trabalhar e como o saía sempre cedo para trabalhar, eu teria o dia todo para rever o que diria para ele quando o visse.
Estava terminando de lavar a louça quando a campainha tocou. Eu não estava esperando ninguém, então provavelmente era o carteiro. Sequei minhas mãos e fui até a porta. A abri e me deparei com o nada. Revirei os olhos ao ver algumas crianças correndo e rindo. Estava prestes a fechar a porta quando vi, do outro lado da rua, se despedindo da mesma loira do Starbucks com mais um super beijo. Fiquei estática, observando a cena e, antes que eu fechasse a porta, me viu e ainda teve a cara de pau de acenar para mim. Fiz de conta que não havia percebido e fechei a porta. Aquilo só poderia acontecer comigo mesmo...

#6nd Week, 4 Day

Já se passavam das dez da manhã quando eu resolvi abrir a porta para apanhar o jornal. E a mesma cena se repetiu pela quarta vez consecutiva. se despedindo de uma mulher diferente. Diferente mesmo, uma vez que essa era morena. Ele acenou para mim e eu me limitei em mandar o dedo do meio pra ele. Estava cansada de ignorar a cena todos os dias. O apenas riu do meu gesto e deu mais um beijo na mulher, entrando em casa em seguida, exemplo que segui.
– Hey, ! – Cumprimentei o meu gato e deixei o jornal sobre o balcão da cozinha. Peguei um sachê de whiskas e despejei o conteúdo no pote de comida do meu gato e joguei o pacote vazio fora. Fiz um suco para mim e o tomei. Geralmente eu estaria na minha cama ou no meu sofá assistindo filme, mas isso me lembrava ao . E desde que o vi se despedindo das “amiguinhas” dele, procurei esquecê-lo, o que era muito difícil, já que tínhamos inúmeras coisas em comum. Acabei deitando no chão gelado – e limpo – da cozinha e logo o veio para perto de mim.
– Pelo menos você não me abandonou. – Disse para o meu gato e fiquei fazendo carinho nele. Um tempo depois me levantei e fui para o meu quarto me trocar. Estava cansada de ficar sem fazer nada, iria correr.

#7nd Week

Estava lendo Harry Potter e As Relíquias da Morte pela terceira vez e acabei “travando” na parte em que Snape responde a Dumbledore uma simples e única palavra: Always. E as malditas lágrimas tiveram que ser contidas. A simples pergunta de Dumbledore seguida pela resposta de Snape me fez pensar no meu sentimento por . E então eu me dei conta de que eu o amaria para sempre. Que nós éramos como Evans e Snape e que o nosso final seria igual o deles se nenhum de nós tomasse uma atitude, porque, no fundo, bem no fundo, eu sabia. Eu sabia que era correspondida. Respirei fundo e arranquei a folha do livro. Peguei a primeira caneta que vi e escrevi duas simples palavras naquele pedaço de papel e o dobrei com cuidado. Abri a porta de casa e mordi o lábio inferior. Eu precisava de apenas vinte segundos de coragem. Apenas vinte segundos.
Fechei os olhos e respirei fundo. Um. Comecei a contar. Dois. Comecei a andar em direção da casa de e atravessei a rua. Quinze. Estava em frente da porta da casa dele. Apenas precisava passar o papel por debaixo da porta... Dezoito. Passei o papel e... Vinte segundos de coragem. Não havia mais volta. Acabei saindo correndo para a minha casa e fechei a porta assim que entrei.

#7nd Week, 3 Days

Nada de ou de sua resposta. Ele parecia ter sumido do mapa. Ele poderia, pelo menos, ter ligado. Ou ter tido a maldita consideração de avisar que havia lido o que eu havia deixado em sua casa. Três dias sem resposta. Aparentemente eu estava enganada. Aparentemente ele não sentia nada por mim.
Encarei , que estava deitado no tapete. Tapete que eu e vivíamos sentados, um implicando com o outro. Eu precisava esquecê-lo. Precisava esquecê-lo para o meu próprio bem. E se o mundo fosse mesmo acabar... Até que seria bom. Pelo menos haveria um modo de esquecê-lo.

#7nd Week, 6 Days

Era por volta das sete da noite do dia vinte e um de dezembro. Os estudiosos diziam que quando aquele dia chegasse ao fim, a humanidade também pereceria. Eu estava dormindo e um barulho insistia em perturbar o meu sono. Apanhei o celular e não era ele. Quinze segundos depois percebi que era a campainha que tocava sem parar.
– Bela hora para essa merda estragar. – Murmurei, com sono. Acabei me levantando e calcei um par de pantufas. Desci a escada com certa preguiça e então ouvi alguém batendo na porta. É, aparentemente a campainha não estragou. – JÁ TÔ INDO! CALMA! – Gritei com voz de sono para a pessoa que estava desesperada do outro lado da porta. – Diz logo, que eu quero dormir. – Disse sem ver de fato quem era a pessoa e quando eu dei por mim já estava sendo abraçada por braços fortes e beijada por lábios um tanto conhecidos e eu acabei me entregando ao momento.
O beijo foi desfeito apenas porque eu e a visita inesperada precisávamos de ar.
– O que você está fazendo aqui? – Perguntei ofegante.
– Me desculpa. Eu estava viajando. Cheguei em casa agorinha e li o papel. E... Caramba, eu te amo, . E eu vou te amar para sempre. – Sorri com as palavras que me eram ditas.
– Eu também te amo, . – Ele sorriu e me soltou por um momento. Fechou a porta e me olhou de cima abaixo.
– Então quer dizer que a senhorita estava dormindo? Tsc. Tão cedo... – disse em um tom de reprovação.
– Eu não tenho culpa se não tinha nada melhor para fazer. – Me defendi.
– Sabe, eu sei uma coisa muito boa para fazermos nesse momento... – O encarei desconfiada.
– Filme! – Falamos ao mesmo tempo e rimos. me pegou no colo e subiu as escadas, rindo, enquanto eu o mandava me soltar porque ele iria me derrubar. Ficamos um tempo assistindo filme e quando ele acabou, passamos o restante do tempo conversando.

~


Estava tudo silencioso e tudo o que era ouvido era o som das nossas respirações. Tudo estava calmo, até que algo proporcionou um grande barulho. me abraçou com força.
– Eu estou com medo. – Sussurrei, podendo ser ouvida por conta de nossa proximidade.
– Não precisa. Eu estou aqui com você. – Eu não respondi. Não conseguia pensar em nada para dizer, apenas conseguia pensar em tudo o que não tinha feito com por falta de tempo e por conta de nossas brigas. – Hey. – Ele me chamou como se soubesse o que eu estava pensando. – Não fica assim.
...
– Você se lembra da Lily e do Severo? – Apenas assenti. – Vai ser para sempre, . Eu prometo.
– O nosso final é diferente do deles. – Murmurei.
– Sim, ele é. Mas isso não significa que nos amamos menos. – Dei um sorriso de canto e fiquei quieta, apenas inspirando o perfume que o corpo de exalava. – , olha pra mim. – Olhei no segundo seguinte e me perdi dentro daqueles olhos que tanto me encantavam e que, nesse momento, pareciam me desvendar por completo. – Você é linda.
– Eu te amo, . – Ele sorriu e me deu um selinho.
– Eu também te amo, . Para sempre. – Uma luz começou a entrar no quarto, mas eu a ignorei. Sim, eu estava com medo. Não por mim e sim pelo . Durante todo o tempo eu olhei nos olhos dele e ele nos meus. A claridade tomou conta de tudo e eu sabia, então, que o fim havia chegado.

FIM?


Estava tudo escuro e algumas pessoas choravam. Dois casais se levantaram de poltronas vermelhas e saíram da enorme sala escura e adentrando em um ambiente muito iluminado.
Dude, esse filme foi muito bom! – Uma garota comentou.
– Concordo. – Seu namorado, , concordou e sorriu. Os dois acabaram se beijando e o casal que os acompanhava começou a fazer gracinha, deixando-os sem graça.
, vai logo pra pizzaria que a gente te encontra lá. – “expulsou” o amigo.
– Mil vezes a pizzaria do que te ver trocando saliva com a... – acabou recebendo um tapa da namorada, então ele se calou e se despediu do casal, alegando que era melhor eles – ele e sua namorada – irem logo para a pizzaria antes que o estabelecimento lotasse. Cada casal seguiu para um carro diferente com um local em mente: Pizzaria!

FIM.


Nota da Autora:
Everybody knows the end, When the curtain hits the floor, It’s not over, ‘till it’s over. ♪ E mais uma história chegou ao fim… Dessa vez nenhum McGuy morreu de fato porque eu não conseguiria matar eles. Pelo menos não de novo. Espero que vocês tenham gostado da história e tudo o mais. Queria agradecer a minha amiga Gabrielle por me emprestar o “porta vela” dela. A história não seria a mesma sem ela. Sério. Foi algo tipo “eu preciso desse porta vela em 7Weeks! Também queria agradecer ao Igor Kailer, outro amigo, por ter aceitado ser o meu “modelo fotográfico” junto com a Gabi porque eu simplesmente precisava ver como a cena ficaria rs. Gostaria de agradecer os dois, de novo, por terem paciência comigo e por me aturarem falando sobre o quanto eu precisava daquela foto em pleno sábado, dia do meu aniversário rs. E eu simplesmente tenho que agradecer a Bia, a minha beta ninds, por não ter me deixado desanimar e por pegar no meu pé para que eu escrevesse de uma vez 7Weeks e mandasse para ela. E agradecer a você, leitor/a, por ter lido essa nota até o final rs. Qualquer coisa, é só me bipar no meu twitter, @RodriguesGeo.

Nota da Beta: Dougster é amor. <3 E dessa vez nem quero te matar pelo fim u.u
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