História por Khal Kamahl | Revisão por Gabriella

O jantar estava tão frio quanto a noite, a ausência da maior parte dos cozinheiros deixara a cozinha da Ordem na cidade com apenas jovens aprendizes que sabiam muito pouco sobre temperos. A lenha também estava racionada, logo o jantar não fora requentado. A reunião demorara mais que o previsto e havíamos chegado duas horas após o início do jantar.
Só sentavam-se à mesa três e a conversa não fluíra desde o fim da reunião, quando soubemos que deveríamos atravessar o rio Teja e encerrar qualquer seita religiosa pagã demoníaca que encontrássemos. Três! Era um número demasiadamente pequeno para lutar contra as forças bárbaras que cercavam a cidade nos últimos dias.
– Senhor, me permite ausentar da mesa e ir me despedir da minha mulher e filhos? – falara um dos soldados, sua cara estava pálida e suava como se este fosse seu último dia. E talvez fosse.
– Gostaria de me despedir da minha mãe também, senhor. – falara o outro soldado de modo menos nervoso, era um jovem, no entanto, aquela talvez fosse sua terceira ou quarta patrulha, não saberia de fato o perigo que enfrentaria.
– Podem ir. Às 11 da noite nos reunimos em frente à Igreja de São Tomé, podemos fazer uma prece antes de nos separarmos? – eu tinha medo de algum desertar àquela altura, uma prece ajudaria a relembrar seus votos. Eles assentiram com a cabeça. Levantamo-nos, fizemos uma corrente com os braços e fechamos os olhos. Em coro começamos:
Senhor todo poderoso que estais no céu
Santificada seja nossa Ordem
Pois é ela quem defende o reino
Que atende à tua vontade
Aqui na terra e um dia no céu
Pelo pão que nos alimentou hoje
Perdoai os nossos pecados
Pelos pecadores que serão por nós abatidos
Abençoai minha espada e meu escudo
Para que livrem a terra das trevas
Amém
Sou o Cavaleiro Templário
O teu anjo na terra
E o executor dos demônios de Lúcifer.

Os votos revigoravam a alma, não havia em toda Europa e na fé católica uma Ordem tão honrada quanto a nossa. Erámos Cavaleiros Templários e tínhamos feito um voto sagrado de expurgar os demônios da terra, mesmo que custasse a nossa vida. Eu era ainda um cavaleiro ungido e tinha feito votos de não ter terras, mulheres ou posses, um dos poucos que ainda permanecia em Toledo. Era parte da Ordem dentro da Ordem.
Toda a Ordem partira há dois anos em mais uma peregrinação para retomar Jerusalém dos islâmicos no Oriente Médio, estavam, a essa altura, em guerra contra os Mouros e o seu falso profeta Maomé, restava em nossa cidade, Toledo, pouco menos do que 300 membros da Ordem, o que diriam ser o suficiente para proteger as muralhas da cidade.
Faltava pouco mais de uma hora e meia para as 11 da noite, fui ao meu quarto fazer mais preces e afiar minha lâmina de espada, lustrei meu escudo e lavei meu rosto. Preparei-me para patrulha. Cota de malha, armadura, protetores de ombro, joelho e luvas de aço, coloquei o elmo e a manta com a cruz vermelha, selei o meu cavalo e fui ao local de encontro.
Pontualmente estávamos os três em frente à Igreja, um padre veio nos abençoar e confessamos nossos pecados, pedimos força a Deus e começamos a descida para atravessar o rio Teja. Havia pedras traiçoeiras na descida e por um tempo decidimos andar ao lado dos cavalos. À meia noite podiam-se ouvir as canções demoníacas do outro lado do rio, não muito longe de onde atravessaríamos. Elas iniciaram ao mesmo tempo em que os sinos anunciaram a chegada de um novo dia. 31 de outubro de 1332, o ano era igual a duas vezes o número da Besta e era um dia de celebrações pagãs.
Atravessamos a mata rasteira a cavalo e chegamos ao início da floresta, o volume da canção aumentara e pudemos sentir o calor que emergia das árvores, no entanto, não se via fogueira. Continuamos por mais meia hora até que conseguimos ver o ritual satânico. Deus nos abençoou com uma visão privilegiada, estávamos escondidos por rochas num monte acima da clareira do ritual e havia árvores para selar os cavalos, um dos soldados, o mais jovem, preparou a besta e eu e o outro desembainhamos as espadas. Rastejamos até ver o que acontecia.
Havia um pentagrama formado por flores vermelhas e em cada ponta da estrela havia cinco moças de joelhos, com rosas vermelhas na cabeça. Elas estavam nuas. Parecia impossível com o frio que fazia. O resto das pessoas estava em pé dançando em círculo e cantando a música. Até que eu percebera que uma das pontas do pentagrama apontava para o cume, aquilo era de fato uma armadilha, quando no mesmo instante eles pararam de cantar e olharam em nossa direção.
Não sei por que estávamos os três em pé, acima do cume, e não conseguíamos fugir. Não conseguíamos nos mexer. Consegui ver rostos conhecidos, a mulher que vendia fruta da Rua das Flechas, o ferreiro da Praça do Alentejo, até um dos monges do mosteiro de Santo Amaro, todos vestiam vestes comuns e começaram a despir-se também, e reiniciou uma canção mais macabra, minha consciência foi perdendo-se aos poucos, a sensação era de estar desmaiando, mas não de fato, parecia que me perdera do meu corpo. Até que levantei a mão involuntariamente e a canção sessou. Por fim falei, involuntariamente.
– Filhos da floresta, sentem-se, seu Senhor regressou ao reino dos vivos – aquela não era minha voz.
Os soldados reconheceram o que havia acontecido, eu havia sido possuído por um demônio, entreolharam-se, a besta foi disparada e o soldado mais velho flanqueou-me pelo lado esquerdo, graciosamente, dei um giro, a flecha acertou o soldado mais velho no pescoço e eu já estava posicionado com a espada acima da cabeça e por fim cortei a cabeça do soldado mais novo. O que fizera?
Joguei a espada no chão, despi a armadura de Templário e tirei as roupas internas, estava nu e fervendo, um brilho verde emanava de mim e, levitando, encaminhei-me para o centro do círculo. Ao tocar os pés no círculo as moças levantaram-se instantaneamente, a música reiniciou, agora era uma música mais lenta, me apreciava. As moças começaram a andar pelo caminho das rosas e eu girei lentamente para olhá-las.
Haviam escolhido bem, cinco virgens: a loira tinha seios pequenos, um nariz afilado e uma bunda grande, olhos azuis e um cabelo liso que caia até os ombros. A ruiva tinha sardas, seios e coxas grandes, havia delineado um pequeno caminho até a sua vagina, ruivo como seus cabelos. A de cabelos castanho-claros era especialmente magra, mas todas as suas curvas eram perfeitas e seus olhos eram verdes. A de cabelos castanho-escuros tinha um sinal próximo a sua boca, especialmente vermelha, era a mais bela de rosto e tinha um corpo bonito com seios e bundas médias. A morena tinha seios, bundas e coxas grandes, seus olhos eram pretos e sua pele um pouco escura, de todas era a que mais emanava a sexo, não entendia como deixaram aquela moça virgem por tanto tempo.
Enfim elas se aproximavam, cada uma me consumia em uma parte do corpo, dez mãos e cinco bocas, beijavam-me a boca, a nuca, o pescoço, o tronco e passavam as mãos em minhas costas, peito e coxas, por hora paravam de me beijar para se beijarem, fiquei imóvel por um tempo até que decidi apreciar a minha oferenda.
Comecei pela que tinha o rosto mais belo, tirei seus cabelos encaracolados do ombro e comecei a beijá-la: boca, pescoço e orelha, ela se contorcia. A loira começou a beijar seu seio e a morena se posicionou atrás dela acariciando-a na cintura e me fitando nos olhos. A ruiva permanecia atrás de mim arranhando minhas costas, e a de cabelos claros se posicionou lateralmente e se inseriu no beijo.
Começamos a trocar beijos, todos nós, até que nos ajoelhamos e elas começaram a se consumir umas às outras, trocavam carícias e beijavam-se os órgãos genitais, acariciavam-se, até que a de cabelos claros me encarou com os seus olhos verdes e começou a beijar o meu órgão viril. A loira e a ruiva se posicionaram ao meu lado e começaram a me acariciar os braços e beijar minha orelha e o meu peito. Percebi que a de castanho-escuro havia se juntado à outra para beijar o meu órgão viril. E a morena se posicionou de modo que eu beijasse a sua intimidade.
Estava ali, consumindo a minha oferenda, até que a morena lentamente percorreu o meu corpo e começou a montar-me com movimentos suaves que aumentaram rapidamente. As outras se consumiam duas a duas ao meu lado, até que me ajoelhei e comecei a penetrá-las uma a uma como os cachorros faziam nas ruas, enquanto uma estava a ser consumida, beijava a genitália de outra, enquanto outra beijava o meu escroto e as outras faziam parte do cenário.
Penetrei-as de muitas formas e por muito tempo, perdi a noção de tempo. Tudo fervia: elas ferviam, eu fervia, o mundo fervia. Até que por fim elas se ajoelharam e beijaram minha região viril, eu, de alguma forma, consegui ejacular na boca de todas e nesta hora o primeiro raiar de sol surgiu. A canção mais uma vez parou e uma criança de cabelos castanho-claros e olhos vermelhos me trouxe uma adaga de ferro com o cabo de carvalho.
Eu percebi o que tinha de fazer, cortei a garganta de todas com um só golpe o sangue jorrou em mim e bebi um pouco do sangue direto do pescoço delas, elas caíram no chão. Mortas. Não percebi que todos haviam se retirado e comecei a controlar o meu corpo aos poucos, subi ao monte e vesti minha armadura, estava nervoso, mas não havia o que fazer, eu havia sido possuído, deveria contar aos monges o que me acontecera e passar o resto da vida numa cela supervisionada.
Até que um corno de guerra tocou e os principais oficiais da ordem dos Cavaleiros Templários surgiram entre as árvores. Ao olhar para os soldados, percebeu que os corpos estavam carbonizados. O comandante da patrulha me fitou nos olhos e disse:
– Cinco bruxas de uma vez, cavaleiro? – na hora em que eu começaria a revelar o segredo da outra noite perdi a consciência mais uma vez e respondi:
– Elas queimaram com as preces demoníacas esses dois bravos companheiros que vieram na patrulha comigo. Matei-as com minha adaga, com um golpe só.
– Quero você amanhã na minha sala as oito, você é o meu novo intendente.
Eu era um demônio infiltrado na sala do comandante da ordem dos Cavaleiros Templários.

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