Ocean's four...Teen?
Fiction por BJ Stewart | Betagem por Nelloba Jones


Elenco original
Danny Ocean - George Clooney
Rusty Ryan - Brad Pitt
Terry Benedict - Andy Garcia
Obs: o personagem Clyde não aparece no filme


Prólogo


Presídio Gein, Las Vegas, Nevada – 15:10, 12 de setembro


– De novo, Ocean? – perguntou o último guarda do presídio, que guardava o portão que separava o isolamento da liberdade. Depois dele, Danny deixaria de ser o número 321416 para ser Daniel Ocean. Diante da pergunta bem-humorada do guarda, Danny limitou-se a dar de ombros. Ali, usando seu terno cinza, com seus cabelos pretos cortados e penteados para trás, fez uso de um de seus mais belos e indecifráveis sorrisos. Danny respondeu em tom de brincadeira:
– Vou ser preso quantas vezes precisar... Se sempre que eu entro aqui minha conta aumenta alguns zeros. – brincou.
Gloriosamente, o portão foi aberto e ele acenou para o guarda e podendo caminhar despreocupado até o estacionamento. Sabia que sempre havia alguém lá para esperar a sua saída, e esse alguém normalmente era Rusty Ryan.
Era a quarta vez que estava saindo daquela cadeia, e não se arrependia de qualquer uma delas. Afinal, sempre que era preso, era por uma boa causa. Sempre que ia parar lá era por mais um roubo incrivelmente bem sucedido, que por algum pequeno detalhe, o fez pagar alguns meses de prisão. Claro, porque para ganhar alguns bons milhões (ou até bilhões), é necessário sacrificar alguns meses em uma prisão.
Nunca consegui entender a mente de Danny Ocean, só para constar.
Rindo, Ocean se lembrou de que na primeira vez que Rusty foi buscá-lo, tinha ido de ônibus, usando uma blusa de malha e uma calça moletom. Agora, lá estava ele, apoiado em sua Ferrari vermelha, com seus cabelos loiros bagunçados e seus olhos azuis atrás de um caro par de óculos escuros. Dentre nós todos, Rusty era o que menos fazia questão de disfarçar o dinheiro que tinha. Girava as chaves entre seus dedos, e sorriu, falando:
– Por que só eu sou obrigado a vir te buscar?
– Porque você me deve alguns favores. – disse Danny, olhando para o carro conversível e com bancos de couro. Abriu a porta do carona e entrou na Ferrari, seguido por Rusty, que preferiu pular a porta.
– Acho engraçado como só você acaba parando aqui. Sendo que você só faz umas pequenas besteiras.
– Alguém tem que fazer o trabalho sujo, Ryan. Acredito que não iria ser você.
Rusty riu enquanto ligava o carro.
– Já mexi com trabalho sujo por muito tempo. Agora eu mexo em uma Ferrari! – gritou Rusty, saindo com o carro do presídio, ligando o rádio e indo pelo deserto de Nevada em direção a melhor cidade do mundo.

Capítulo 1

Deserto de Nevada – 15:22, 12 de setembro


– Perdi muita coisa? – perguntou Danny, olhando a bela cidade que se aproximava.
foi presa. – sem expressão, respondeu Rusty.
– Presa?! O que essa garota fez?
– O mesmo que nós, Danny. – ele deu uma risada, impressionado como Danny achava que o lado oculto de Vegas deveria ficar apenas para alguns.
– Mas ela tem dezesseis anos, Rusty. Quando eu tinha dezesseis, preocupava-me mais em arrumar um emprego.
– Eu me preocupava mais em pegar as garotinhas do colégio. – brincou, rindo com seu jeito charmoso de ser – Mas diz aí, Ocean, algum plano para este tédio de setembro?
– Dormir. Dormir muito. – respondeu Danny colocando os óculos escuros e acomodando-se no banco.
– Ah, cara... Tem tanto cassino aí para a gente... – de repente, Rusty se interrompeu, olhando para o retrovisor. – Merda. Tem alguém atrás colado em nós.
– Acelera, oras.
– Eu estou acelerando. Acho que está nos seguindo desde o Gein. – comentou, olhando novamente no retrovisor, diretamente para o Jaguar que os seguia. – Quer que eu encoste?
– Não, continue.
– Ah, olha só. – falou Rusty, irritado, quando o carro passava ao lado deles na estrada vazia. – Aprenda a dirigir antes de arrumar um carro desses! Isso me deixa irado, Danny. Só porque eu tenho uma Ferrari...
– Ei, Rusty, olha o carro.
– Eles acham que eu não sei dirigir! Ok, eu já acumulei uns pontos na carteira que não me deixariam dirigir nunca mais, só que olha só quem tem moral para falar por aqui.
– Rusty, eu falei para olhar o carro.
– Sabe, – ele continuou ignorando-o. – só não falo para passar por cima porque tenho medo que eles passem. Sabe que quando a inveja bate numa Ferrari, pode amassar...
– RUSTY, OLHA O CARRO!! – gritou Danny, puxando o volante e fazendo a Ferrari dar uma manobra que quase os faz capotar. No meio da estrada, o Jaguar estava parado, proibindo totalmente a passagem. Depois da atitude desesperada de Danny, os dois estavam com o interior do carro e suas roupas cheias de areia.
– Cara, o que foi isso?! – gritou Rusty tentando tirar a areia de suas roupas exageradamente caras e bregas. – Você acha que eu não sei dirigir uma Ferrari?!
– Eu acho que você não sabe dirigir carro nenhum! – retrucou Danny.
A porta do Jaguar se abriu, mas ninguém saiu de lá. Apenas uma voz grave foi ouvida, que gritou:
– Rusty Ryan? Rusty Ryan e Danny Ocean?
Ambos engoliram em seco e trocaram olhares.
– É, sou eu. – disse Rusty saindo do carro e indo até o Jaguar. – Você quase arrebentou o meu carro, sabia?
Um homem loiro saiu do carro com um revólver na mão. Em estado de alerta e desarmado, Rusty recuou um passo e começou a suar frio.
– Danny! – gritou ele para que o amigo não saísse do carro.
– Ei, cara, calma. – falou o loiro, guardando a arma em seu casaco preto de couro. Seus cabelos eram ondulados, chegavam a cobrir-lhe os olhos. No máximo, tinha vinte e cinco anos. Os olhos eram de um castanho esverdeado, e seu sorriso era enigmático e inexpressivo. – Estamos entre amigos. Não fale assim com qualquer um, não é qualquer pessoa que tem paciência para aguentar o seu gênio, Ryan.
– Quem é você?
– Eu sei o nome de vocês, e vocês não sabem o meu? Isso me ofende, Rusty. – falou o loiro, colocando a mão no peito e fazendo uma careta de choro.
Danny Ocean resolveu sair da Ferrari para saber o que estava acontecendo ali fora. Os olhos castanho-esverdeados do loiro tornaram-se bem mais brilhantes ao ver quem se aproximava.
– Senhor Ocean. – estendeu a mão. – É um prazer. Sou Clyde Chapman.
– Chapman. – repetiu Danny, tentando lembrar-se se conhecia alguém com aquele sobrenome.
– É um prazer finalmente poder conhecer o famoso ladrão Danny Ocean e seu parceiro Rusty Ryan.
– Ei! – disse Rusty. – Também sou ladrão, e Danny e eu somos sócios, não parceiros.
– Ah, sim, entendi. Complexo do ajudante. – brincou Clyde, provocando um sorriso educado em Danny.
– Não achei engraçado. – retrucou Rusty, irritado. – Que teatro foi esse? Quer arrebentar o meu carro, cara?
– Ah, isso foi só para vocês prestarem atenção mesmo. Tenho um assunto importante para tratar com vocês, se estiverem dispostos.
– Olha, o Danny acabou de sair de três meses de prisão e você quase me fez capotar, então o senhor poderia, por favor, tomar...
– Rusty, deixe-o falar. – interrompeu Danny, de braços cruzados, interessado no que Clyde teria a dizer.
– Eu ia falar para ele tomar seu caminho de volta para casa. – defendeu-se Rusty, ficando calado a seguir.
– Continue, Chapman. – pediu Ocean, virando-se para o loiro de novo.
– Por favor, só Clyde. – ele pediu, com seu sorriso tão indecifrável quanto o de Danny. – Meu empregador tem uma oferta para vocês.
– Não estamos interessados. – cortou Rusty.
– Acho que estão. O valor da recompensa é maior que a soma de todos seus roubos juntos.
Ocean e Ryan se olharam, arqueando as sobrancelhas.
– Sou todo ouvidos, loirinho. – falou o segundo com um sorriso.
Clyde abriu um sorriso. Danny, por outro lado, percebia que aquele jovem era com certeza mais inteligente do que deixava parecer.
– Você deve ter visto a inauguração do novo cassino de Vegas, Rusty. O Hollywood Avenue.
– Eu vi. A temática é cinema em geral, não é?
– Exatamente. Em um mês funcionando, esse cassino já arrecadou mais dinheiro do que o Bellagio em todo o seu funcionamento.
– Porra! – Rusty deixou escapar. – Foi mal. Foi de admiração.
– Mas meu empregador e o dono do Hollywood Avenue... Não se entendem muito bem. O dono do cassino andou devendo algum dinheiro ao meu chefe. Só inaugurou o cassino com essa grana...
– E ele achou que nós poderíamos arrumar. – completou Danny.
– Meio que isso, sim. Se conseguirem roubar esse valor do Hollywood, meu chefe disse que vai ficar com o que o dono do cassino lhe deve e vai distribuir o que sobrar entre vocês. E, acreditem, é muito dinheiro.
– Não vejo por que não. Agora diga o “porém”. – falou Rusty.
Clyde deu de ombros.
– Apesar de sua preferência por um grupo grande, Danny, desta vez você só vai poder trabalhar com quatro pessoas.
– Só quatro? – perguntou Danny, parecendo preocupado. Para quem costumava trabalhar com pelo menos onze homens, trabalhar com só quatro...
– Não imagine isso como egoísmo, mas como redução de pessoal. – continuou Clyde. – E um desses quatro sou eu. Se me deixar naquele cassino de olhos vendados, sei exatamente o que está em cada centímetro daquele lugar.
– Mais alguma regrinha? – perguntou Rusty, já parecendo em dúvida se aceitaria o trabalho ou não.
Desta vez, Clyde deu um sorriso desafiador.
– Tudo isso até amanhã de manhã.
Rusty engoliu em seco. Fazer um roubo daquelas proporções, com tão pouca gente e em tão pouco tempo era impossível.
– Estamos dentro. – falou Danny.
– Estamos? – perguntou Rusty.
– Ligue para , ele era um dos melhores do grupo.
– Mas, Danny, vamos precisar de alguém para compensar todos os outros.
Eles se olharam por um momento.
.
Essa é a parte na qual eu entro na história também.

Capítulo 2

Delegacia de Las Vegas, Nevada – 16:10, 12 de setembro


– Perdão, senhores, não sei se posso liberar agora. Ela está em um dos quartos da nossa assistência social. Sabem, às vezes acho que essa menina foi criada no meio de ladrões. Fico impressionada como ela não se arruma. O que os senhores disseram que são dela mesmo? – perguntou a assistente social, arrumando alguns papéis, sem parar de falar.
Desconfortável com o terno de Danny, Rusty saiu de seus devaneios quando percebeu que dar seu sorrisinho encantador não era uma resposta para o que quer que a assistente tivesse falado, que naturalmente ele não considerou importante.
– Como disse? – perguntou ele, tentando fingir um sotaque britânico carregado.
– Rusty é padrinho e eu sou o advogado da família Ocean. – respondi. Pelo menos a parte do padrinho era verdade.
Sou e essa era a quarta vez que trabalharia com Danny Ocean, e a primeira vez que eu veria Ocean. A garota tinha dezesseis anos e mais ficha criminal do que eu. Sempre era apenas um escorregão que a fazia parar na delegacia. Mas, como o tio, ela não era idiota. Fora parar ali duas vezes em dois meses, nunca foi realmente presa, e deixava todo seu dinheiro com suas parceiras.
Você leu certo, “parceiras”. O grupo de era só de mulheres e, sim, elas tinham muito sucesso. Eu precisava conhecer aquela garota de sorriso torto, cara de santa e que era uma das mais inteligentes de sua família. Só que, bem, ela era uma Ocean. Tinha que ir para o lado negro da força. E daquela vez, ela quase escorregou para dentro de uma cela.
– Ah, entendo. Bem, sinto não poder ajudá-los. – ela disse, levantando-se, mas Rusty a interrompeu.
– Não, podemos ir sozinhos, não queremos atrapalhar. Tenha um bom dia.
Rusty Ryan sendo frio e seco. Não era algo que se via todo dia.
Quando ele fechou a porta e ficamos do lado de fora, suspirei derrotado.
– E agora? Não conseguimos pegar a garota.
Rusty riu e acendeu seu cigarro.
– Não conseguimos do jeito difícil. Vamos do jeito fácil, que também é o menos honesto, e mais rápido.
Começou a andar para dar a volta no prédio, olhando para o pátio vazio. Só havia um carro parado, que era o nosso. Sem saber o que fazer, segui-o até parar atrás do prédio. Pulando em cima de um latão de lixo fechado, Rusty andou com cuidado até uma das muitas janelas do andar.
– Nada aqui... Aqui também não... – ele disse enquanto eu permanecia atônito.
– O que está fazendo? – perguntei.
– Buscando minha afilhada do meu jeito. Achei você! – ele falou, batendo na janela que estava meio aberta. Algumas batidas depois, vi a janela sendo totalmente aberta.
– O que está fazendo aqui, Rusty? – perguntou ela com um pequeno sorriso.
Ocean não parecia ser a ladra que disseram que ela era. Tinha um rosto doce, amigável. E um sorriso incrivelmente encantador.
Não considerava o trabalho de Danny algo totalmente ruim, afinal, havia regras claras de não machucar ninguém não envolvido no caso. Além do mais, Danny só fazia esse trabalho quando era extremamente necessário. O negócio de Clyde fora um bônus. Ocean não costumava querer roubar assim, do nada, ou ajudando pessoas alheias. Apesar de seu alvo normalmente ser o dono do Bellagio, Terry Benedict. Ah, sim, esse merecia: roubou a mulher de Danny e sua reputação. Mas agora as contas estavam acertadas.
– Vim buscar minha afilhada. Que droga de segurança é essa?
– Pois é.
– Se eu te roubar um pouco, consegue dar um jeito de acharem que ainda está aí? – perguntou ele.
A garota deu de ombros.
– Minha colega de quarto é minha parceira. Ela daria qualquer coisa por uma nota de cinquenta dólares.
Rusty colocou a mão no bolso.
– É dinheiro do Danny. – eu falei, baixo, percebendo que ainda não havia me visto.
– Daqui a pouco eu reponho para ele.
Depois de um acordo feito, a Ocean e sua amiga concordaram em se ajudar. Afinal, no dia seguinte elas seriam liberadas, de um jeito ou de outro. Com dificuldades, terminando de abrir a janela pequena, deu sua mochila para Rusty, que jogou-a para mim. Então, Ryan segurou-a pelos braços, para tentar fazê-la passar pela janela.
– Rusty, eu não passo aqui! – ela murmurou, rindo do quão ridícula ela deveria estar.
– Passa sim, da última vez que eu a vi, você tinha palitos de dentes no lugar das pernas!
Quando ele conseguiu, a muito custo, fazê-la sair, Ryan escorregou do latão e caiu em cima de um saco de lixo, sujando todo o terno caro de Danny.
– Ok, talvez você não tenha mais os palitos.
– Opa! – ela murmurou, descendo do latão e ajudando Rusty a levantar.
– Eu ‘tô bem, ‘tá tudo bem. – falou ele, aceitando a ajuda.
Eu ainda estava atônito pela maneira nada normal de buscarmos a sobrinha de Danny.
– Como foi parar aí? – eu perguntei, com a voz baixa.
virou-se para mim. Ajeitou a blusa branca, que a essa altura estava um pouco suja, e respondeu com um sorriso torto:
– Peguei uma bicicleta emprestada. Já ia devolver. Você é?
Antes que eu pudesse responder, balbuciando um pouco, ouvimos uma buzina.
– Deve ser o Clyde. Vamos embora. – disse Rusty, depois de tirar o excesso de lixo de suas roupas.
– Eu te daria um abraço se não estivesse tão imundo.
– Por que será que eu estou, né?
– Me ajuda a passar pelo muro. – ela disse, procurando no lixo algo que pudesse servir para passarmos pelo arame farpado. Achando um tapete velho, ela ergueu-o.
– Pelo muro? Por que pelo muro? Vamos dar a volta no prédio. – falou Rusty.
– Para a assistente me ver? Não, obrigada, quero ficar aqui fora. Aquela mulher é um radar.
Rusty levantou-a e ela colocou o tapete em cima do arame, conseguindo que ele não a cortasse.
– A propósito, Ocean. – ela se apresentou, virando-se para mim e piscando um olho.
Percebi que estava boquiaberto igual um idiota.
Ela pulou e caiu do outro lado. Depois, eu fui até Rusty para que ele me levantasse.
– Por que eu te levanto? – ele perguntou.
Olhei para suas roupas.
– Porque você caiu numa lixeira.
Alguns segundos depois, já estava do outro lado do muro. Com um pouco de dificuldade, mas usando uma lata de lixo para subir, Rusty também chegou ao outro lado. Todos fomos andando até o meu Audi preto, só para disfarçar o dinheiro que todos nós tínhamos. Rusty entrou no banco do motorista, enquanto e eu fomos para o banco de trás.
Quando a porta se fechou, a garota levantou as mãos em comemoração e disse:
– Estou livre de novo!
– Roubar uma bicicleta?! Você é presa por roubar uma maldita bicicleta?! – perguntou Rusty, virando-se para trás.
– Eu peguei uma emprestada para fugir. Não me julgue, você já fez coisa pior. Eu roubei um empresário que era sócio do meu pai, e colocou papai no fundo do poço para ficar com o dinheiro todo. Só entreguei o dinheiro ao seu verdadeiro dono.
– Aí, sim, te dou razão. – disse uma voz vinda do porta-malas – E, Rusty, você tirou essa roupa do Rocky Horror Show? Isso pinica!
virou-se para trás e logo depois de ver o rosto do tio dentro da mala, virou-se para frente, para Rusty, com raiva.
– Você trouxe ele?
– “Ele” é seu tio, sua pequena delinquente, não fale assim de mim. – reclamou Danny.
deu um sorriso sarcástico.
– Puro DNA, tio delinquente.
Danny virou os olhos, e eu não consegui conter uma risada baixa.
– Já conhece , minha pequena Robin Hood?
direcionou seus olhos para mim, deu um sorriso e estendeu a mão.
– Desculpe, , não conseguimos nos apresentar direito antes. Só pela roupa do Rusty, vi que eu não era a única Ocean nessa história. Você e meu tio trabalham juntos?
– Sim, uma vez já... Trabalhamos. Prazer em conhecê-la, . – eu disse, aceitando o aperto de mão. – Rusty e Danny falaram de suas façanhas...
– Eles falaram? Já começaram a acabar com a minha reputação?
Dei uma risada que a deixou levemente corada.
– Quero ter uma reputação acabada assim.
– Ali temos Clyde Chapman. – interrompeu Danny, colocando a mão entre nós e apontando para quem estava no banco do carona.
– Prazer, senhorita Ocean. – disse ele, educado, beijando as costas da mão de , algo que a fez franzir o cenho e dar um sorriso torto.
– Isso está me cheirando a reunião dos... Quatro do Ocean?¹ – ela disse, arrumando-se no banco e vendo o centro de Las Vegas se aproximando.
– Que bonitinho saber que você chama meu pessoal assim, . – falou Danny cruzando os braços.
– Também sou uma Ocean. E que coincidência, fazemos a mesma coisa! – ela falou sorrindo.
Ri mais uma vez, percebendo como Danny parecia uma criança falando com ... Ops, .
– Estamos recrutando você para nossa mais nova... Brincadeira. – disse Rusty, entrando na Strip². – Prefere explicar, Danny?
Sem jeito, claramente desconfortável no porta-malas, Danny contou para sobre tudo o que Clyde havia explicado para eles mais cedo. No fim, a garota limitou-se a levantar uma sobrancelha.
– O Hollywood Avenue? A segurança lá deve ser tipo a do Bellagio.
– Se não maior. – completou Clyde.
– Isso não é problema para nós. – disse Danny com um sorriso torto.
– Por mim tudo bem. Só nós. Mas com uma condição, – ela falou, erguendo o indicador para Danny. – não vou receber ordens suas em momento nenhum.
– Entendido. Vamos para um hotel para planejarmos tudo.
– Eu já tenho quase certeza do que vamos fazer. – disse , baixo. – Precisamos de algumas fantasias.
– Estou quase fantasiado então. – falou Danny, apontando para a roupa de Rusty que ainda usava.
– Bem... Você não vai poder ficar com a gente.
Rusty freou tão bruscamente que e eu quase batemos nos bancos da frente. Danny chegou a cair dentro da mala.
– Ah, merda! – gritou ele.
– Como assim o Danny não fica com a gente? – perguntou Rusty.
– A cara dele está na cidade inteira. Todo mundo conhece o ladrão do Bellagio. Se ele entrar, estaremos praticamente pedindo para nos descobrirem.
– Ele pode entrar para distrair os seguranças. – eu opinei.
– Pode, mas não vai poder ficar com a gente, como eu disse.
– Mas se você está aqui, é por minha causa, sua mimada! – reclamou Danny.
– Se você quiser a minha ajuda, precisa sacrificar alguns detalhes! Quer acabar com o plano antes de ele começar?
Danny bufou e deu-se por vencido.
– Clyde, faça o check-in do Motel enquanto nós subimos. E você, mocinha, abaixe esse nariz. Você é um caso perdido.
girou os olhos.
– Se você tivesse prestado mais atenção em mim quando devia, eu poderia ter sido uma garota melhor.
E abriu a porta do carro, saindo marchando.
Demorei um pouco para voltar para a realidade, o que só fiz depois de levar um tapa de Danny no braço.
– Aqui, abre seu olho. Ela é minha sobrinha, e só tem dezesseis anos, seu marmanjo. – ele disse.
– O quê? Mas o que eu...
– Acha que eu não vi aquela historinha de “quero ter uma reputação acabada assim”?
E saiu da mala, deixando-me mais vermelho do que a gravata brega de Rusty. Ok, era realmente uma garota linda, mas eu não podia me distrair. Aquele seria o maior roubo de nossas vidas. E aquela garota não podia roubar de mim... Outras coisas.

¹ “Quatro do Ocean” - referência ao título em inglês do filme, Ocean’s eleven
² Strip - rua principal de Las Vegas


Capítulo 3

Motel Sharon, Las Vegas, Nevada – 16:45, 12 de setembro


Clyde abriu na mesa de centro o mapa do Hollywood Avenue. , Danny e eu estávamos em volta, olhando cada detalhe que o mapa poderia nos oferecer.
– Arrumei isto com meu empregador. Aqui é a entrada oficial e por aqui – apontou Clyde. – é a entrada dos funcionários – fez uma pausa. – Caso... Queiram saber. Mas não acho que vá ser muito fácil passar por aqui, a segurança é bem pesada.
– Você pode nos ajudar? – perguntou .
Clyde ergueu a cabeça e sorriu, dizendo com uma voz de galã de cinema:
– É por isso que estou aqui.
Ok, talvez não com voz de galã de cinema, mas foi o que soou para mim.
– Os funcionários não usam fantasia, só para avisar, apenas os convidados VIP.
– Nós somos mais do que VIP. – disse Rusty, do canto do quarto, fumando seu cigarro na janela.
Todos o olharam.
– Já fez o trabalho das câmeras? – perguntou Chapman.
– Óbvio. Entrei como um eletricista que arrumaria os últimos detalhes do sistema e implantei isto. – levantou a tela de um laptop, que tinha acesso a todas as câmeras do cassino. – Eu dou pro gasto.
– Danny monitora as câmeras e Rusty entra com a gente. – falou .
– Olha a minha cara de quem sabe mexer com essas coisas. – falou Danny. – Não, Ryan fica aqui monitorando e controlando a gente com pontos. Eu vou entrar.
arqueou as sobrancelhas, mas depois relaxou-as novamente. Apontou para o mapa.
– Isso aqui é o quê?
– A sala do cofre. Podemos descobrir onde ele fica se um de nós for guardar algo nele. Ou melhor, fingir guardar.
– Também precisamos arrumar um jeito de entrar no cofre depois de descobrirmos onde ele fica. – falei.
chegou mais para trás e apoiou as costas no sofá. Pensou por alguns segundos e falou:
– Já sei o que vamos fazer. Eu explico depois que conseguirmos fantasias...
– Alguma já em mente? – perguntou Clyde.
riu.
– Eu vou de Marilyn Monroe, por causa da peruca. Danny vai de Fantasma da Ópera, para esconder o rosto. Clyde vai de Laranja Mecânica, para chamar a atenção.
– E eu? – perguntei, olhando para ela pela primeira vez desde que saímos do carro. Era ridículo o modo com que eu evitava seu olhar, como um adolescente. , controle-se! Você já tem vinte e cinco anos. Não pode parecer um moleque.
Era igualmente ridículo como conseguiu me deixar assim em poucos minutos de convivência.
– Não vai precisar de nenhuma. Só arrume um terno bem caro.
– Isso é moleza. – falou Rusty dando mais uma tragada.
– Um terno discreto e caro. – completou a garota.
– Ok, não é comigo. – retomou ele. Todos riram.
Alguns segundos de silêncio depois, Danny voltou:
, nós temos três regras básicas.
– Oras, pode falar. – ela disse, ficando de pé.
– Não roubar de quem não mereça, não ferir ninguém e seguir o plano aconteça o que acontecer.
ponderou os tópicos por alguns instantes.
– O dono do Hollywood Avenue roubou bastante dinheiro de outros empresários para abrir seu cassino. – explicou Clyde.
– Entendo. Ei, tio Danny, só um segredo. – ela falou, abaixando-se e ficando perto dele. – Estamos sob outras regras agora.
E foi para dentro do banheiro do quarto.
– Essa pirralha... – praguejou Danny, enquanto os outros se separaram pelo quarto.
– Eu arrumo as fantasias. Fiquem aqui, planejem o que faltar. – falou Clyde saindo do quarto.
Levantei e sentei-me perto de Ocean, falando baixo:
– Danny... Por que é assim com você?
Daniel suspirou.
– Ela sempre gostou muito de mim. Depois que ficou sabendo do que eu faço, desaprovou. Mas quando ela se viu na minha situação e fez igual, quem desaprovou fui eu. E não nos entendemos mais.
Cheguei para trás. Nesse momento, saiu do banheiro e voltou para perto de nós.
– Vocês usam armas? – ela perguntou naturalmente.
– Armas?! Você ficou maluca?! – perguntou Danny, quase gritando.
– Ih, calma, eu também não uso. Só quis saber.
– Olha, só para a sua informação, eu sou o melhor no que eu faço.
– E, para a sua, isso também é puro DNA.
Ela virou-se para a janela, foi para a varanda e ficou conversando com Rusty por alguns minutos. Estudei o mapa por alguns segundos. Levantei e fui até a varanda, passando por e conseguindo não olhar para ela com sucesso total — afinal, mais difícil para mim era exatamente olhá-la e passar a vergonha que seria ela perceber e me achar um idiota. Perguntei para Ryan:
– Não tem como ela entrar no cofre sozinha. Quem vai entrar com ela?
Engoli em seco, já temendo saber a resposta.
– Você, . – ele respondeu, jogando o cotoco de seu cigarro em uma lata de cerveja em cima da mesa da varanda.
Falei baixo uma das melhores palavras para definir aquele momento:
– Fudeu.

Capítulo 4

Motel Sharon, Las Vegas, Nevada – 18:00, 12 de setembro


– Então o plano é este. – finalizou , de dentro do banheiro, terminando de se maquiar.
Danny parecia bem incomodado ao usar a máscara de Fantasma da Ópera. Clyde não conseguia nem piscar direito por causa dos cílios postiços de Laranja Mecânica. E eu? Eu estava ótimo, mais confortável até do que com a minha roupa normal.
– Eu estou de Danny Ocean, olha só. – brinquei.
– Ha! Danny Ocean não apanharia do Fantasma da Ópera, apanharia?
Ergui as sobrancelhas e as mãos, na altura do rosto.
– Paz e amor. Não quero ouvir você cantar caso fique nervoso.
– Engraçadinho.
A porta do banheiro foi aberta. E eu juro que nem a própria Marilyn Monroe poderia bater uma femme fatale daquelas.
Recebi um tapa no rosto de Rusty.
– Ouch! – reclamei baixo, aproveitando que apenas ele havia me visto.
– Limpa a baba. O chefe está logo ali.
Olhei para o outro lado do quarto e vi Clyde, que olhava para com um olhar malicioso. Danny estava ao seu lado, quase boquiaberto. Eu não tenho sobrinha, nem filha, nem nada, mas sei reconhecer um pai, ou tio, quando vê que sua menininha está crescendo. Danny não a olhava como se estivesse crescendo. Ele a olhava como se ela já tivesse crescido... Como se ele já tivesse perdido isso.
– Meu vestido está sujo? A peruca está mal colocada? – ela perguntou, olhando para seu vestido branco, aquele que a Marilyn usou na cena do bueiro.
– Não, você está... Está... – Danny parecia procurar a palavra. – Magnífica.
deu um pequeno sorriso e abaixou a cabeça.
– Agora eu entendo a fama de Daniel Ocean. Você sabe escolher as palavras.
– Fama? Eu tenho fama? Achei que fosse só a de ladrão.
Ela riu.
– Acredite. A outra é maior, tio.
Juro até meu túmulo que ele ficou com vergonha da sobrinha que conseguia deixá-lo vermelho.
Eu também havia ficado hipnotizado pelo que eu vi. Desta vez quem me tirou desse transe foi Clyde, que passou na frente de todos, puxou o braço de e cruzou-o com o seu, andando até a porta.
– Vou pegar a van que usamos da última vez. Vou armar tudo nela, aí dou sinal para vocês.
– Podemos começar com a missão? – perguntou Chapman, ignorando Rusty.
Danny revirou os olhos.
– Não estamos nas Três Espiãs Demais, Clyde. Não é uma missão. É negócio.
se desfez do agarre e abriu a porta, andando até a escada do Motel.
– Apenas negócios. – ela concordou, sorrindo e vestindo um par de luvas brancas.
Percebi que tinha uma pequena tatuagem no pulso, uma linha sinuosa. Fiquei curioso para saber o que aquilo significava, mas a noite seria longa, então certamente eu teria tempo para descobrir.

Capítulo 5

Cassino Hollywood Avenue, Las Vegas, Nevada – 18:15


O Hollywood Avenue tinha um portão de entrada pequeno para tanta gente. Agora eu podia entender porque Clyde havia dito de que ele já acumulara mais dinheiro que o Bellagio: realmente, não havia sequer um caça-níquel sem alguém. Em um minuto, aquele lugar acumulava alguns mil, certamente gastos em decoração: nas paredes, pinturas a óleo de cenas históricas de cinema. Uma delas, aliás, era a da Marilyn Monroe deixando seu vestido voar em cima de um bueiro. Outra era de Indiana Jones fugindo daquela esfera de pedra, no primeiro filme.
– Qual é a do gnomo com um sabre de luz? – perguntou Clyde.
– É o mestre Yoda! – disse , ainda tentando desviar das mãos bobas de Chapman em seu braço. Confesso que aquilo me deixou com um pouco de raiva, mesmo que eu tivesse que disfarçá-la.
Separamos-nos, cada um com seu ponto no ouvido, logo após o sinal de Rusty. Eu fui para a parte do pôquer, chegando a jogar um pouco, mas prestando atenção na narração de Rusty Ryan para o que os outros estavam fazendo:
tinha ido para o banheiro, até havia conversado um pouco com uma garçonete vestida de mulher-gato para disfarçar. Saiu e passou na frente da mesa do bar, onde Clyde estaria esperando-a.
Ela parou no bar, apoiando os braços na mesa e ficando na ponta dos pés, empinando um pouco a... Bem, deu para entender. Clyde a olhou de cima a baixo, dizendo:
– Podia ser vadia que nem a original.
ergueu uma sobrancelha e olhou para ele, seguindo exatamente o plano.
– Como disse?
– Será que o gemido é rouco assim? – ele se perguntou, fazendo uma voz carregada de bebida.
– Olha, eu não sei o que o... – ela ia dizendo, porém, foi interrompida quando ele segurou-a pelo pulso, claramente forte.
Aproximei-me do bar do cassino e, fingindo flertar com algumas mulheres que passavam, observei melhor a cena. Os dois estavam atuando realmente bem.
– Ah, moça, não pode fazer jus a sua fantasia? Claramente... Não quer que eu faça jus a minha¹.
Ela girou a mão e acertou-lhe um tapa no rosto.
– Isso não estava no plano. Mas foi uma boa. – ele murmurou entre dentes.
– Nem a sua frase. Mas caiu bem.
Mordi o lábio. Ah, desgraçado.
Uma loira se aproximou de mim, com uma roupa de Lara Croft. Ou quase com a roupa.
– Você vem sempre aqui?
Filho da puta. Se aproveitando do plano para dar em cima e — por que não usar esse termo? — se aproveitar de .
– Se vem... Vou passar a vir também.
Se segura, . Estamos no meio de uma atuação... Ou nem isso tudo.
– Não, moça, não venho. – respondi curto e grosso. – Procure alguém um pouco bêbado para essa sua lábia.
Não costumo ser assim, mas ela era muito feia, precisava praticar um pouco mais sua “técnica”. Saí de perto e me aproximei um pouco da cena que e Clyde armavam.
Por um instante, não soube o que estava fazendo. Eu andava rápido, querendo observar de perto os dois.
, o que está fazendo? – ouvi Rusty perguntar desesperado em meu ouvido.
Coloquei a mão no ouvido, diminuindo o passo aos poucos. Meus olhos estavam fixos em e Clyde, mas por um instante, abaixei a cabeça, saindo do transe chamado ódio no qual eu estava. Ou ciúmes.
Ok! Eu admito. Talvez (e talveeeeeeez) eu estivesse com um pouquinho de ciúmes sim.
– Estamos tendo algum problema? – perguntou um dos seguranças do cassino, aproximando-se de e Clyde.
Parei de andar e apenas fiquei observando o desenrolar da confusão. Clyde parecia se desculpar, enquanto fingia roubar algo dele.
Mas algo não saiu como o planejado. O segurança simplesmente saiu de perto deles logo, não dando tempo para continuar o plano.
, que Diabos foi aquilo? – perguntou Rusty em meu ouvido.
– Eu... Só... Me distraí. – falei, abaixando a cabeça e saindo de perto deles.
– Sei bem com o que você se distraiu. O que ‘tá acontecendo com você, hein? Você não ficava assim.
Mordi o lábio e voltei a olhar para a garota e Clyde Chapman. Por um instante, ela olhou para mim, com o cenho franzido, parecendo fazer-me mentalmente as mesmas perguntas de Ryan. Infelizmente, eu não poderia dar as mesmas respostas aos dois.
– E agora? Se ele não voltar, não poderemos pegar a chave de entrada.
– Nem implantar o radar. – completou .
Danny também estava apreensivo, já que sua pequena participação — e, na verdade, muito importante — não iria acontecer caso o segurança não voltasse.
Entretanto, Clyde daria um jeito.
Chapman apoiou os cotovelos de costas na mesa do bar, levantando o chapéu coco preto dos olhos, deixando suas íris castanho-esverdeadas à mostra, juntas a um sorriso torto malicioso.
, venha comigo. – ele disse baixo.
– Não podemos sair daqui. – ela retrucou nervosa e ainda preocupada com o plano.
– Eu não pedi. Eu mandei. – o loiro finalizou, segurando-a pelo pulso.
– Clyde, me solta. É sério. – disse com a voz firme.
Ele virou-se para ela com uma sobrancelha erguida e um olhar mau no rosto:
– Também estou falando sério, vagabunda.
O terror nos olhos dela foi alarmante. A situação havia saído do controle.
, está me ouvindo? – ouvi Rusty falar com desespero.
– Estou aqui, Ryan. – murmurei.
– Não consigo ver Clyde e com as câmeras. Eles sumiram. Por favor, acha essa garota, senão Danny arranca nosso couro e vende no mercado negro.
Virei-me para trás, procurando os dois.
– E... – Rusty completou. – Ela é minha princesinha. Procure-a, por favor.

¹ “Não quer que eu faça jus a minha” – Alex DeLarge, protagonista de A Clockwork Orange, é um estuprador.


Capítulo 6

Cassino Hollywood Avenue, Las Vegas, Nevada – 18:38


Passei os olhos correndo pelo cassino. Podia ouvir meus próprios batimentos cardíacos, e não duvidava que Rusty também pudesse, já que ele percebeu meu pânico.
, não precisa ter medo de ser pego pelas câmeras de segurança. Quando ela vai para você faço um esquema louco aqui que muda a tela para outro ponto do cassino. Só ache e Clyde, o resto faço eu.
Quando olhei para um dos corredores do cassino que levava para o hotel, tive tempo de ver o vestido branco de passar, e os reconheci. Porém, Clyde ainda iria demorar a chegar a algum outro lugar. Havia uma sala de caça-níqueis entre onde eu estava e onde os elevadores ficavam.
Apertei o passo e fui atrás dos dois, com os punhos cerrados inconscientemente.
... , se controle. – ouvi Rusty dizer.
Quando me aproximei, consegui ver olhar para mim com o rosto em total pânico. Realmente, aquilo não devia estar nos planos.
, controle-se! – gritou Ryan em meu ouvido. – Controle isso, então! – falei, segurando a blusa branca de Clyde com a mão esquerda, pelo ombro, e dando-lhe uma surra com minha mão direita e acertando seu olho esquerdo.
Eu juro que Chapman quase voou ao cair no chão.
– O QUE DIABOS VOCÊ ESTÁ FAZENDO? – gritou Rusty. – DANNY? DANNY, ESTÁ ME OUVINDO? VÁ PARA A SALA DOS CAÇA-NÍQUEIS! O NOSSO AMIGUINHO PERDEU A CABEÇA.
– Acalme a franga, Ryan. – murmurou Clyde levantando a cabeça e colocando o chapéu de volta. – É exatamente disso que precisamos.
O sangue escorria por seu nariz e talvez ele tenha mordido o lábio, pois também produzia um filete de sangue.
– Chapman, não viaja. Uma briga é a última coisa que preci... – disse Rusty, sendo interrompido por dois seguranças que se aproximavam de nós. Um deles ergueu Clyde e o outro foi falar comigo.
Só que quem veio falar comigo era ninguém menos do que o chefe da segurança.
– O senhor perdeu a cabeça? – ele perguntou para mim, dando-me um empurrão no peito.
– Perdão, eu... – coloquei a mão na cabeça, colocando o cabelo para trás. – Este homem estava violentando minha amiga.
O homem olhou para , parecendo compreender o motivo da surra.
– A senhorita estava sendo abusada? – ele perguntou.
Tremendo, ela confirmou com a cabeça, virando-a para mim em seguida. Comprimiu os lábios, e mordi os meus.
– Levamos este para fora? – perguntou o outro segurança, erguendo Clyde.
Antes que o chefe pudesse responder, Chapman jogou-se contra ele, imediatamente colocando sua mão no paletó dele.
– Eu conheço a lei, seus bastardos! – murmurou Clyde, fazendo a voz carregada, citando uma frase de Laranja Mecânica.
– O senhor perdeu a cabeça? – perguntou o chefe, empurrando Clyde para longe. O outro segurança o arrastou para fora do hotel, por uma saída da sala de caça-níqueis.
– Ótimo, Chapman! – falou Rusty no ponto. – O radar está no chefe e a microcâmera dele está funcionando. Bom trabalho, o plano está sendo um sucesso.
– Ah, obrigada! – falou , fingindo uma voz mais doce do que a sua normal e abraçando o homem. – Obrigada por tê-lo levado para fora.
? Está com o cartão? Pegou o cartão de segurança? – perguntou Ryan desesperado.
Quando soltou o chefe, ela colocou as mãos para trás. Ali, pude ver o cartão de segurança que nos permitiria entrar em qualquer sala do cassino. Segundo o plano, trocou aquele cartão especial por um de biblioteca vencido.
– Não agradeça a mim e, sim, ao seu amigo. – ele apontou para mim. – Foi uma surra bem dada, senhor.
– Obrigado. – eu falei com um pequeno sorriso, apertando a mão do segurança. Então ele se retirou com um sorriso simpático.
Pobre chefe segurança. Estava sendo rastreado e tendo seu caminho monitorado.
– Danny irá cuidar do resto. – murmurei para .
– O que foi isso, hein?
– Aquilo não estava no plano, o Clyde te arrastar daquele jeito para cá. – falei, andando pelo corredor de volta para a parte principal do cassino.
– Eu sei que não estava. Ele também sabia. No desespero, tivemos que improvisar. – ela retrucou, com um pouco de raiva na voz. – Você arrebentou a cara dele.
Engoli em seco, percebendo que, aos poucos, estava corando.
– O estrago foi tão grande assim? – perguntei.
Ela riu docemente.
– Não ficou pior do que já estava.
Quando me virei para , surpreso pela observação dela, ela piscou para mim exatamente como no minuto que nos conhecemos, há algumas horas.
– O que fazemos agora? – perguntei para Rusty.
– Coloquem as roupas. Estão no seu quarto reservado do segundo andar, como você próprio escondeu. Vão os dois e troquem de roupa. Não tem como suspeitarem de você, afinal, você não é conhecido como membro do grupo de Danny, e você realmente fez a reserva. Tudo o que vocês precisam está lá. A camareira não vai passar se você pedir que ela não passe. Vocês sabem o que fazer depois disso.
– E Danny? – perguntou .
– Ele está... Ocupado.
Engoli em seco e fui para o segundo andar.

Capítulo 7

Hall do cassino Hollywood Avenue, Las Vegas, Nevada – 18:39


Daniel Ocean bebia seu uísque no bar do cassino e viu o chefe de segurança voltar da sala dos caça-níqueis. Parou-o e perguntou:
– Perdão, senhor, o que aconteceu ali?
O homem semicerrou os olhos, parecendo querer reconhecer aquele Fantasma da Ópera.
– Ah, uma pequena confusão. Já resolvemos, senhor.
– Graças a Deus! – disse Danny, colocando a mão no peito. – Por um minuto, achei que fosse algo sério.
– Eu não conheço o senhor? – perguntou o chefe.
Ao contrário de Rusty, que engoliu em seco, Danny prosseguiu com seu sorriso sarcástico. – o mesmo que costumava usar. Pelo visto, improviso estava no sangue os Ocean.
– Talvez conheça. Sou um homem rico, que de vez em quando vem para Vegas.
Isso era verdade.
– Já veio ao Hollywood, senhor? – perguntou novamente.
– Não, ao Hollywood é minha primeira vez, realmente... Mas se tem uma coisa que eu entendo, senhor, é segurança; e acho que o senhor também.
Isso também.
– Ah, sim, sou o chefe da segurança deste cassino. Resolvemos nossos problemas de segurança em poucas horas, não há como haver roubos aqui... Como os que aconteceram ao Bellagio. Percebo que o senhor se preocupa com isso.
– Você mal pode imaginar. – respondeu Danny sorrindo.
Um toque de rádio foi ouvido.
– Ah, perdão. Devo ir agora. Foi um prazer conversar com o senhor, senhor...
– Daniel. Só Daniel.
– Senhor Daniel. Tem certeza de que não nos conhecemos?
– Não tenho certeza. Mas o senhor não precisava ir?
O chefe balançou a cabeça e virou-se para ir embora, direcionando a cabeça para Danny uma última vez.
– Já sabem que estou aqui. – murmurou Ocean.
– Ótimo. A câmera está no seu alcance, eles podem te ver. Não saia daí, jogue um pouco, não trapaceie. Vamos deixar sua barra limpa.
Danny abaixou a cabeça e torceu o lábio.
– E a barra de ?
– Se a pegarem... Vai ser a mais suja das barras.

Capítulo 8

>Quarto do cassino Hollywood Avenue, Las Vegas, Nevada – 19:23


– Que horas são? – perguntou .
– Sete e vinte e cinco.
– E está tudo bem? Quer dizer, com Danny, Rusty e Clyde.
– Rusty avisou que Clyde já está com ele. Ele está controlando tudo. Danny vai fazer o que precisar para tirar o chefe de segurança da nossa reta.
Eu estava dentro do quarto, conforme Rusty havia dito. Usava um terno que, sem brincadeiras, deve ter sido o mais caro que eu já vi. Ok que eu ganhei muito dinheiro depois do roubo com Danny, porém, ao contrário de Ryan, eu sabia o valor daquele dinheiro. Era um terno preto, com uma gravata que, segundo , realçaria meus olhos. Claro que eu estava virado para trás, esperando ela acabar de se vestir. A fase dois do plano estava começando, e sendo um sucesso total.
– Sabe o que vamos fazer? – ela perguntou a mim.
– Sou seu segurança, você é uma herdeira, quero levá-la até o cofre para guardarmos seu colar de pérolas lá.
Pude ouvi-la erguer o colar falso que tinha usado em sua fantasia de Marilyn Monroe.
– Exato.
– Já está terminando? – perguntei.
– Quase. Mas pode virar.
Quando o fiz, vi terminando de arrumar o cabelo, prendendo-o em um coque. Usava um vestido com a parte de cima bem colada e preta, como uma camiseta. A parte debaixo era uma saia de cintura alta, preta, com camadas com rendas. Os sapatos eram botas de camurça e cano curto, pretas e de um salto fino.
– Mal consigo ficar de pé nisso. Tinha que ter treinado um pouco mais... – ela falou baixo.
– Você está ótima. – cortei-a, quase não conseguindo segurar as palavras. Quando ela me olhou de relance, tentei completar. – Quer dizer, a maquiagem ficou muito boa...
– Não coloquei maquiagem. – ela disse.
– Ah, tá. Eu acho que...
... Meu rosto é mais em cima.
Ela riu de tão vermelho que eu devo ter ficado. Controle-se, !
– Não consegui agradecer pelo que fez com o Clyde. Por ter me defendido. Bem, obrigada.
– Bem, qualquer um faria isso. Até Danny.
Ela mordeu o lábio.
– Gostaria que todo homem fosse como vo... – ela interrompeu-se. – Não, espere, não quis dizer isso! Eu só queria dizer que... Quer dizer, você é um cara legal... Não que eu...
Seu rosto ficou levemente rosado.
– Sei, prossiga. – falei, cruzando os braços e apoiando as costas na porta.
– Não perca a noção do perigo, . Você é um homem, não dois.
– E você é uma Ocean, grande coisa.
Ela abriu a porta e murmurou:
– Você não pode imaginar o quanto.
Segui-a para fora do quarto. Descemos de elevador e tive que segurá-la pelo braço, já que os saltos pareciam estar machucando-a. Ela abordou o primeiro guarda que viu.
– Com licença, senhor. Estou hospedada no quarto 1202, gostaria de guardar um pertence no cofre.
– Senhorita, posso garantir-lhe de que todos os quartos possuem um cofre.
– Sim, senhor, eu vi. Mas, se é que me entende, gostaria de poder guardar este colar. – ela mostrou o cordão enrolado em seu pulso, como uma pulseira. – Meu pai vai colocá-lo em leilão semana que vem.
– Bem, senhorita...?
.
– Senhorita , se me der o cordão, posso lhe garantir que o colocarei em um lugar seguro. – ele disse, esticando a mão para o pulso de . Ela puxou o braço para perto de si.
– Mas, senhor, gostaria de poder observar meu colar sendo guardado.
Por um minuto, senti meu coração disparar. estava irreconhecível agora, não havia como ninguém lembrar da Marilyn Monroe e da... Bem, senhorita . Gastamos quase uma hora só para ela tirar do rosto toda a massa que havia usado para ficar diferente, e todo pó de arroz. Agora, fiquei com um pouco de medo de a terem reconhecido de algum jeito, mesmo com lente de contato e mais maquiagem.
– Perdão, senhorita, mas com o roubo do Bellagio, não somos autorizados a deixar civis entrarem no cofre.
– Mas isso é um absurdo! – ela reclamou, levantando o tom de voz. – O senhor está me insultando.
Algumas pessoas olharam para nós.
– Não há nada que eu possa fazer.
– Bem, hoje mesmo meu marido e eu vamos sair deste hotel. Me senti ofendida.
– Posso ver sua chave de quarto? – ele pediu, em um tom que beirava o desafio e a ameaça.
Sem medo, virou-se para mim. Eu, por outro lado, entreguei a chave tremendo.
, o que você pensa que está fazendo? – perguntou Rusty em nosso ouvido.
O guarda olhou a chave e devolveu-a logo.
– E sua carteira de identidade, senhora ? – pediu o homem.
Sabe por que ele frizou a palavra “senhora”? Porque ele achou que fosse jovem demais para estar casada.
Bufando, ela virou-se para mim de novo.
– Que identidade, ? – perguntei entre dentes.
– Entra na onda.
Ela colocou a mão no bolso de dentro do meu paletó e senti minha pele gelar. Tirou dali uma carteira que nem sabia que estava ali.
– Aqui. – ela entregou-a.
O guarda pegou-a, mas não abriu.
– Não há realmente nenhum jeito? – ela insistiu.
– Perdão, senhora. Temo que não haja.
– Ok. Desculpe por ter gritado naquela hora, senti-me ofendida.
– Peço perdão em nome deste cassino.
– Perdão aceito. Bem, de qualquer modo, já estamos saindo. Vou pedir ao meu irmão para vir buscar nossas coisas. Agradeço pelo seu tempo. – ela disse, virando as costas e me puxando pelo braço.
– Ei, a senhora deixou sua carteira aqui! – falou o guarda.
– Amor, vá pegá-la, por favor. Já vou para o quarto. – ela murmurou para mim.
Amor.
Andei até o guarda, que me estendeu a carteira.
– Perdão por minha esposa, senhor. Ela fica nervosa quando lhe recusam as coisas, ou duvidam dela.
– Eu entendo. É preciso amor mesmo para aguentar isso.
Não respondi, pois não havia resposta.
– Amor! Espere! – chamei-a, que já voltava para o elevador. Quando a porta se fechou, soltei um suspiro pesado, e nervoso.
– Que Diabos foi aquilo?! – perguntei, tentando não gritar. Apoiei na parede e podia perceber que quase suava.
– Foi improviso.
– Mas e se ele abrisse a carteira? E se ele descobrisse???
– Não ia. Eu disse o nome de um hospedado, você estava comigo, e eu disse o quarto certo. E, de quebra, ainda consegui um jeito de não descobrirem sobre as coisas no quarto.
– Se acharem que fomos embora, temos nosso álibi. Vou descer com tudo, e...
– E vou pedir para Clyde pegá-las, não, Clyde? – perguntou Rusty no ponto. Clyde se aproximou do microfone e confirmou.
– Tenho uma ideia melhor, Rusty. – falou . – Venha com a sua van. vai colocar tudo nela.
, o sinal dentro do elevador é uma merda. Depois vou poder ouvir você melhor.
Estiquei o braço e apertei o botão.
– Como tinha certeza de que o guarda não iria olhar a carteira?
Eu mesmo a abri, e vi várias fotos tiradas de revistas de fofoca.
– Pelo mesmo motivo que os Yankees sempre vencem... Os adversários estão ocupados demais olhando o uniforme deles.¹
A porta se abriu no segundo andar e guardei a carteira, dando um sorriso torto. Sim, ela era uma Ocean. Mesmo.
– Espere um pouco, senhora . – chamei brincando. Prefiro não descrever o que eu senti quando ela usou meu nome. E, não, não gosto de Ocean.
Ela levantou o dedo do meio e ficou tudo bem.

¹ “Pelo mesmo motivo que os Yankees sempre vencem... Os adversários estão ocupados demais olhando o uniforme deles.”- frase do filme Prenda-me se for capaz

Capítulo 9

Hall do cassino Hollywood Avenue, Las Vegas, Nevada – 19:48


Juntei todas as coisas de enquanto ela mesma ia procurar a sala do cofre. Depois do mapa de Clyde, não seria difícil achar.
Admito que eu talvez estivesse com um sorriso bem bobo no rosto.
Desci com as malas e fui abordado por um funcionário:
– Senhor, já vai nos deixar?
– Ah, sim, já está na minha hora.
– Espero que tenha gostado do hotel.
Vou gostar daqui a algumas horas, talvez.
Saí e fui para o estacionamento, onde uma van branca me esperava. O cassino ficou sem luz de repente, voltando a funcionar um segundo depois. Quando me aproximei da van, Rusty abriu o porta-malas e me ajudou a colocar a mala ali dentro.
? – ele perguntou rindo.
– Não enche.
– Danny que vai te encher. De porrada. Está tudo bem?
improvisou um pouco, como você viu. Não podíamos estar melhor. Tudo ainda está funcionando, depois desse apagão?
– Funcionando... Até demais. – chamou Clyde, monitorando as câmeras.
Rusty e eu entramos na van e a porta foi fechada. Clyde desligou o microfone e selecionou uma das câmeras, fazendo a imagem aumentar para a tela inteira do computador.
Mostrava em um corredor. Ela tinha se desfeito da saia de renda, usando zíperes escondidos para transformá-la em uma pequena bolsa. Esticara o pequeno short que usava por dentro de sua saia e transformara-o em uma calça comprida skinny. Tirou também os saltos das pequenas botas, colocando-os dentro da bolsa que era uma saia. Soltara o coque e fizera um rabo-de-cavalo.
E tentava abrir o teto do elevador, totalmente sozinha.
está trabalhando sem nós agora.
– Filha da mãe, ela nos traiu! – xingou Clyde, batendo com a mão na mesa onde o computador estava apoiado.
– Aquela garotinha ordinária, como ela conseguiu fazer isso com o próprio tio? – praguejou Rusty.
A porta foi aberta novamente, por mim.
– O que vai fazer agora, ?
ainda não sabe que estamos cientes do que ela fez.
– E o que você vai fazer a partir disso?
Dei de ombros.
– Vou improvisar. Vou falar com Danny. Agora vamos seguir o meu plano.
Voltei para dentro do cassino e procurei Daniel Ocean, achando-o logo, jogando pôquer.
– Ei, Fantasma, precisamos conversar. – eu o chamei.
Danny pediu licença e levantou-se, indo até mim, um pouco mais distante. A parte do pôquer era um pouco mais vazia do que a de caça-níqueis.
– O que foi, ? Algo deu errado?
– Sim. deu errado.
Ele franziu o cenho.
– Ela nos traiu, está trabalhando sozinha. A essa altura, deve estar no elevador, dando um jeito de chegar ao cofre sem nós. E, logo, vai nos deixar para trás.
Danny murmurou um palavrão enquanto eu beirava entre a raiva e a decepção. Por que ela teria feito aquilo? Ir contra o próprio tio? Ok, eles não se amavam muito, mas mesmo assim. Danny nunca iria contra ela.
– Alguma ideia do que fazer agora? – ele perguntou.
– Eu tenho. A partir de agora, você é Danny Ocean, e vai ser pego pela segurança do hotel. Não importa o que aconteça: não deixe ninguém tirar os olhos de você.
Ele suspirou.
– Tem certeza disso, ?
– Tenho. Vou dar um jeito em e Rusty vai desligar o ponto dela. Ele vai te avisar caso qualquer coisa aconteça. Deseje-me sorte.
E dei as costas para ele, seguindo meu caminho. Mesmo assim, pude ouvi-lo dizer, com raiva:
– Do que você acabou de chamar minha sobrinha, seu bastardo desgraçado?
Ignorei-o.

Capítulo 10

Hall do cassino Hollywood Avenue, Las Vegas, Nevada – 19:59


Andando com mais calma, fui até o elevador, no primeiro andar. Em frente a ele estava um guarda, que esticou o braço e me impediu de apertar o botão.
– Senhor, desculpe o transtorno. Não queremos ninguém no elevador depois desse apagão repentino.
– Tem alguém lá dentro...? – tomei cuidado para minha afirmação virar uma interrogação.
– Não, senhor. Esse elevador não é muito usado, tem acesso a poucos andares.
estava lá dentro.
Agradeci e subi pelas escadas.
– Ela está parada no quarto andar, – falou Rusty. – Estou usando a câmera falsa para os seguranças acharem que o elevador está vazio.
– Como entro no elevador? vai ter que abri-lo para mim.
– Espere um pouco. Ela vai ter que abrir, porque acha que não sabemos de nada ainda. Vou acionar o microfone dela e avisar que você está perto. Dê quatro batidas na porta do elevador e ela vai saber que é você.
Quando cheguei ao quarto andar, fiz o que Rusty mandou e a porta foi aberta.
– Entre rápido! – sussurrou ela, e escorreguei para dentro da cabine. Foi fechada rapidamente.
Antes eu mal conseguia olhar nos olhos. Agora eu não desgrudava meus olhos do dela, de pura raiva.
– Você demorou.
– Estive cuidando de uns problemas. O que veio fazer no elevador?
Ela pareceu engolir em seco.
– Foi o jeito que encontrei de entrar no esqueleto deste cassino. Acho que nosso caminho pode ser mais fácil. Me ajuda a abrir isso aqui?
– Você viu o apagão? – perguntei, cortando-a.
Ela demorou alguns segundos para responder, parecendo estranhar o jeito sem emoções pelo qual eu a tratava. Eu era frio como um iceberg.
– Vi.
Era coincidência demais o apagão acontecer na hora que eu estava longe, e na hora que ela estava dentro do elevador.
– Você vai conseguir abrir o teto?
Ela conseguiu tirar um pedaço quadrado e erguê-lo, apoiando em cima, já fora do elevador.
– Ok, me respondeu.
– Me ajuda a subir. Eu te puxo depois.
Contraí os lábios e não me mexi.
, me ajuda a subir. – ela pediu de novo, já de costas e virando só o rosto para mim.
, eu quero te perguntar uma coisa.
Ela olhou de relance para a porta e depois olhou para cima por alguns segundos, então voltou o rosto para mim.
– Fala, .
– Por que você nos traiu?
– Puta que pariu! – ouvi Rusty dizer.
– Puta que pariu! – ouvi Danny dizer.
– Puta que pariu! – ouvi Clyde dizer.
– Puta que pariu! – disse.
Imediatamente, ouvimos uma batida forte do lado de fora do elevador.
– Quem quer que esteja aí, abra já a porta! Temos seguranças armados aqui fora, e se não abrirem por querer, vamos abrir por você!
Ela e eu nos olhamos.
– Me levanta. Rápido! – ela murmurou.
– Como eu posso confiar em você?
– Que escolha você tem? – ela perguntou, olhando diretamente em meus olhos.
Não era raiva que havia naqueles olhos. Nem vingança. Nem nada desse tipo. O que havia naqueles olhos de era... Piedade. Ela realmente precisava da minha ajuda. E eu precisava da dela.
Os guardas abriram a porta e encontraram um elevador vazio alguns segundos depois. e eu estávamos sentados em cima do elevador, dentro do cassino. Quando eu digo dentro, pode ter certeza, é realmente dentro.
– Eu não traí ninguém. – ela defendeu-se, ainda respirando fundo depois do susto.
– Sei. Estava no elevador sozinha. E avançando sem nós, sem avisar a Rusty.
– Você não iria entender, .
– Agora você fala, ! Nós confiamos em você. E seu tio está lá embaixo e, sim, ele estava orgulhoso. Orgulhoso em ver a sobrinha dele sendo independente, sendo tão inteligente. E você vai e faz isso.
, pare. Não tem como eu te explicar.
Não tem explicação, . Você decepcionou todos nós. Você é uma Ocean, isso não te faz melhor ou pior do que ninguém.
– Ok! – ela gritou, não parecendo nem um pouco preocupada se havia ou não guardas dentro do elevador embaixo de nós. – Quer saber? Não vou explicar. Você não entenderia. Acha que eu nasci querendo ser uma Ocean? Foi algo que eu aceitei. E você quer entender o que eu fiz? Se tivesse um pouco de paciência, eu poderia te contar, mas pelo jeito, você é inteligente o suficiente para descobrir sozinho. E só por causa do meu tio, não vou sair dessa agora. Se eu não gostasse de ser uma Ocean, nunca teria feito isso.
E mostrou sua tatuagem no pulso, uma pequena... Onda. Era uma onda.
– Espero que ele esteja bem orgulhoso de ter um amigo como você, também, . Porque eu achava que você era meu amigo.
E olhou para as paredes do elevador, percebendo que o único jeito de sairmos dali seria escalando.
– Rusty, vamos escalar o elevador. Entramos em contato com você depois. – ela disse.
– Er, pessoal... Desculpe incomodar. Mas tenho más notícias... – ele falou.
suspirou, parecendo realmente incomodada por ter que continuar dentro daquele túnel de elevador.
Talvez não de estar ali. Mas de estar ali... Comigo.
– Fala, Rusty. – ela pediu.
– Danny está agora com cinco seguranças dentro de uma sala. E ele não vai sair dali muito cedo.
– Ele está bem? – perguntou a Ocean.
– Não sei. Ele quebrou o ponto.
Então, deixou uma lágrima escorrer.


Capítulo 11

Sala de segurança do cassino Hollywood Avenue, Las Vegas, Nevada – 20:11


– Foi solto, Ocean? – perguntou o chefe de segurança.
– Fugi.
O chefe semicerrou os olhos. Danny levantou as mãos na altura do rosto.
– Brincadeira.
– Você quase me enganou com essa máscara, Ocean. Só estou na curiosidade de saber o que está fazendo aqui e por que nos deixou trazê-lo tão pacificamente.
Ele olhou para o lado. Ainda bem que quebrara o ponto de Rusty antes, senão, era capaz de o descobrirem e rastrearem o sinal.
– Fui solto em Vegas, estou aproveitando Vegas. E o que eu poderia fazer? Jogar um raio do trovão em vocês? Por favor, estou só querendo relaxar.
– Sabemos. Trabalhando sozinho?
– Já disse que não estou trabalhando. Vim de Fantasma só para procurar minha Christina...
– Primeiro: sei que é casado. Segundo: é Christine. Agora, diga o que veio realmente fazer aqui. Danny deu de ombros.
– Como eu já disse, – ele frisou a frase anterior. – vim aproveitar Vegas. Fiquei em um motel chamado Sharon, caso queiram conferir. Me arrumei e vim. Amanhã mesmo já vou embora.
– Vai passar a noite onde?
– Não sei. Desfiz minha reserva no Sharon porque talvez vá ficar em um cassino. Estava pensando seriamente em ficar aqui no Hollywood, mas depois de tanta simpatia de vocês, estou repensando a ideia.
O segurança ergueu uma sobrancelha.
– Que... Bom da sua parte. Vou ligar para o Oscar para te darem um prêmio. Agora, a verdade, Ocean.
– Essa é a verdade. Se quiser conferir se realmente estive no Sharon, pode conferir.
A ligação foi feita, e a certeza também.
– Só por garantia, Ocean, você vai ficar aqui até amanhã.
Danny limitou-se a rir.
– Vamos fazer o seguinte: se você tem tanta suspeita em mim, quero fazer uma aposta. Se eu tiver feito algo fora da linha, pode me mandar para o Gein, e passo um ano lá sem reclamar. Se eu não fiz nada, você e todos seus amiguinhos guardas vão ter que tomar conta desse cassino...
Ele apoiou o cotovelo na mesa, coçando o queixo, para deixá-los com mais raiva do que já sentiam.
– Vestidos de ursinhos carinhosos.
O guarda riu e estendeu a mão.
– Apostado. Prepare a sua paciência. Depois de um fracasso, ninguém vai se lembrar de você.
Danny apertou-a.
– Prepare as fantasias. Depois da minha vitória, nunca ninguém vai te deixar esquecer.


Capítulo 12

Algum lugar dentro do cassino Hollywood Avenue, Las Vegas, Nevada – 20:15


estava sentada no elevador, abraçando suas pernas.
– Não faço ideia do que fazer agora. – eu disse.
– Sem meu tio você deve estar realmente perdido. – ela murmurou com raiva.
– Ei, eu não disse nada disso!
– Tem razão. Eu que inventei coisas que não fazem sentido, desculpe.
, você está parecendo uma criança.
– Eu sou, esqueceu? Uma criança de dezesseis anos que quase foi presa, e bem pobre.
Mordi o lábio. Ponto para .
– Desculpe. – pedi.
– Ok. Também me desculpe.
– Tudo bem. O que importa agora é... Como nos livramos desta limpos. Quer dizer, estou sem esperanças de pegar algum dinheiro. Prefiro tentar sair daqui escondido e fingir que isso nunca aconteceu.
olhou em volta. Estava tudo escuro, a não ser por algumas luzes em volta do elevador logo abaixo de nós. Ela tirou o ponto de Rusty do ouvido e, quando eu ia dizer algo, ela colocou o indicador na frente dos lábios e murmurou “Shhh”.
Em seguida, jogou o ponto lá no poço.
Fiquei atônito.
? , cadê você? Perdi Danny, agora perdi você também? – perguntou Rusty no meu ouvido.
inclinou-se e, ficando de joelhos, tirou o ponto do meu ouvido.
– O que você vai fazer? – eu perguntei baixo, imaginando que Rusty não pudesse ouvir.
– Não seguir o plano.
E deixou meu ponto cair no poço. Depois de alguns segundos ela ficou de pé.
– Qual a sua ideia? – perguntei.
– Por enquanto, nenhuma. Você me lembrou do apagão...
– Ah, sim. O que foi aquilo? Eu não estava no hotel na hora...
apoiava o cotovelo em uma mão e coçava o queixo com a mão apoiada.
– Boa pergunta. Desligaram a luz, porque não houve problema com alguma máquina. Não foi curto. E foi só nas luzes do teto e dos quartos... O Cassino ficou aceso.
– Então foi um apagão proposital. Por que fariam isso?
A resposta apareceu na minha cabeça igual à pergunta.
– Porque você estava no elevador.
– É o quê?
– Foi por isso que desligaram tudo! – falei, ficando de pé como ela, cerca de quinze centímetros mais alto. – Quando você estava lá dentro, tudo se apagou e o elevador ficou parado.
Parei por um instante.
– Foi Rusty? – perguntei.
– Do carro? Ele é inteligente, mas não tanto assim. Ainda estou admirada de como ele consegue controlar aquelas câmeras todas...
– Clyde está ajudando-o, na verdade.
Ela olhou para mim.
– Clyde?
Engoli em seco.
– Você não acha que...?
– Eu não acho nada. Mas Clyde é o único suspeito nessa história toda. Rusty está limpo, meu tio, e...
Ela calou-se.
– Você não confia em mim, ?
Ela ficou séria e virou-se para as paredes, ficando de costas para mim.
– Como podemos subir aqui?
, me responda.
– Se chegarmos lá em cima... Podemos dar um jeito de chegar ao cofre. Daqui a gente não tem como descer.
! – gritei, puxando-a pelo ombro.
– O quê? – ela perguntou, virando-se para mim.
Nossos rostos ficaram a cerca de cinco centímetros um do outro. Como estava silêncio, pude ouvir sua respiração rápida e até meus batimentos cardíacos acelerados. Nunca havia ficado assim.
– Espero não me arrepender disso mais tarde. – murmurei e me aproximei de . Encaixei nossos lábios com sutileza e o mais simples toque já fez meu coração voltar a bater normalmente e a respiração dela voltar ao normal.
Mas não estava tudo normal. Estava um caos. Danny estava preso. Clyde poderia estar nos traindo. Rusty estava preocupado. E o insignificante estava beijando Ocean, uma ladra de dezesseis anos e uma das garotas mais irritantes que ele já conhecera, sobrinha de Daniel Ocean — seu chefe. Só que a garota que o beijava não era ... Era . Uma adolescente preocupada com o tio que não sabia o que fazer... E que precisava dele. E ele precisava dela. Por isso, estava tudo bem.
Não normal, só bem.
O primeiro beijo foi apenas os nossos lábios se encaixando. Sem nada mais além disso. Depois, o segundo foi um beijo mais forte.
Não houve um terceiro, me empurrou e perguntou:
– Que diabos foi isso?
Era mais uma das perguntas dela que eu não soube responder.
– Resolvemos isso mais tarde. – ela completou. – O que fazemos agora?
Pensei alguns segundos.
– Primeiro, vamos para a sala de segurança.
Ela chegou um passo para trás, surpresa.
– Qual é o seu plano, ?
– Não tenho certeza. Mas depois de desligarmos o esquema de Ryan, vamos ficar totalmente expostos. E daí precisamos ir para o cofre. Consegue fazer isso?
Ela riu torto, sarcasticamente, o meu tipo de sorriso preferido. Nela, ele ficava bem mais... Foda. Essa era a palavra.
– Não me subestime. Se quiser, posso ir sozinha e você fica me esperando.
– Ficou louca, garota? Não vou tirar os olhos de você.
Ela abriu de novo o teto do elevador.
– Nunca tinha tirado mesmo...
Eu realmente deveria treinar um jeito de não ficar tão corado.


Capítulo 13

Algum lugar dentro do cassino Hollywood Avenue, Las Vegas, Nevada – 20:27


desceu para o elevador e transformou sua bolsa em uma saia de novo. Levantou a calça, torcendo-a e vestiu a saia novamente. Colocou os saltos no lugar e soltou o cabelo, virando uma herdeira novamente.
– Vamos com o elevador para o subsolo. Não podemos correr o risco de sermos pegos fora dele. Então, só vamos usar nossas roupas pretas quando estivermos fora do alcance das câmeras.
– Ou seja, dentro do cassino. – falei, incomodado com a roupa preta e colada de espião da CIA que Rusty havia arrumado para mim por dentro do terno. Claro, porque roupa ruim é com o Rusty.
– Exato. E você vai desligar todo o sistema do Rusty.
– E depois que eu desligar, o que vamos fazer?
– Ora, o que mais, além de irmos para o nosso quarto?
Olhei para ela.
– Não pense besteira. Ainda tenho coragem de dar um tapa na sua cara.
– Eu não duvido. Enfim, prossiga.
– De lá vamos entrar na tubulação de ar.
– Entendi... Vou entrar na sala de segurança dizendo que peguei um impostor. O cara que implantou isso mais cedo. Daí, limpamos a barra do Rusty.
– Está aprendendo rápido. – ela disse com um sorriso torto. – Só uma coisa. Não, em hipótese alguma, desconecte o cabo de Rusty das câmeras de segurança do cofre. Com certeza vai haver um tipo de aviso informando os cabos de cada lugar do cassino. Nos cabos do cofre você não pode mexer, ok?
– Ok. – concordei, querendo entender o motivo daquilo, mas preferindo não perguntar diretamente. – Como vou diferenciar os cabos de Rusty dos outros lugares?
– Eles têm purpurina.
Olhei para ela assustado.
– Brincadeira. São cabos brancos e têm identificação no próprio cabo. Provas de que são cabos intrusos entre os do cassino.
– Entendi.
– Está com o cartão da segurança?
– Estou. – ergui o cartão para entrar no lugar.
– Beleza.
– Quando eu desligar tudo, tome cuidado para não ser pega no elevador.
Ela concordou e, quando a porta se abriu, preparei-me para sair, quando a ouvi:
... Boa sorte.

Concordei com a cabeça e segui meu caminho pelo corredor, ouvindo a porta do elevador se fechar.
Era um corredor claro, obviamente não usado para hóspedes. No fim, uma porta de entrada restrita separava a parte transitável... Da total e absolutamente fechada para funcionários. Peguei o cartão e destravei a porta.
O corredor em seguida estava repleto de gente do cassino. Senti um arrepio na espinha. Comecei a andar, olhando para as salas e encontrei a que deveria ser a dos cabos. Afinal, havia “Sala dos cabos de segurança” na porta.
Eu estava nervoso. Nunca corri tanto risco em minha vida.
– Com licença, como o senhor entrou? – ouvi um guarda dizer.
– Ah, senhor, sou chefe da segurança da delegacia geral de Las Vegas. Há uma suspeita de invasão no seu sistema de segurança.
O homem recuou um passo e estufou o peito.
– Receio que isso seja uma calúnia.
“Precisava virar o dicionário do Microsoft Word?” pensei e suspirei, tentando soar mais confiante.
– Receio que o senhor esteja errado. Agora, se me permite, vou fazer o meu trabalho aqui.
– Ei, só um instante. Qual o seu nome?
– Steve Roger. – criatividade para nomes nível mil. O Capitão América deve ter mordido a língua, onde quer que ele estivesse. – Costumo aparecer de surpresa e conferir a segurança sem que os donos do estabelecimento saibam.
– Nunca ouvi falar do senhor.
– Isso prova como eu sou bom. Agora, se me permite...
– Posso ver sua identificação? – ele pediu.
Revirei os olhos e suspirei, cansado.
– Ok, aqui. – entreguei-lhe a mesma carteira que havia entregue ao outro guarda – Posso?
Ele pegou a carteira e não chegou a olhá-la. Entrou comigo e logo, puxei os vários fios que Rusty havia implantado.
– Está vendo? O senhor andou recebendo alguma visita estranha nesta sala, senhor?
O homem pôs-se a pensar.
– Eu fiz uma pergunta! – gritei, erguendo os fios brancos na altura de seu rosto.
– Sim, senhor. Sim senhor! – ele respondeu tremendo.
– E por que deixaram-no entrar?
– Ele disse que ia consertar uns cabos, Sr. Roger...
– Veja bem, precisam consertar vocês! Sorte que não tiveram nenhum problema. Vou levar isso para a delegacia e vamos prender o homem logo. Espero não ter que voltar para este cassino tão cedo, senhor, isso realmente é péssimo para a reputação de vocês.
E saí da sala, indo para o elevador. Rezei para ter sido convincente o suficiente.
– Sr. Roger! O senhor esqueceu sua identificação.
Virei-me para ele e arranquei a carteira de sua mão.
– Prestem mais atenção em quem entra neste cassino.
E dei as costas, voltando para o elevador. Ele continuava no mesmo lugar. Quando a porta se abriu, eu entrei e vi ali parada.
– Como foi?
– Sabe, os Yankees...
Ela sorriu e apontou para a câmera do elevador direcionada para nós.
Descemos no segundo andar e entramos no quarto, colocando meu terno dobrado e os saltos de dentro da bolsa dela.
– Como entramos na tubulação?
Ela apontou para a entrada de ar perto do teto.
– Ainda bem que não sou claustrofóbico... – murmurei.
– Eu sou. – ela retrucou, tirando a pequena grade.


Capítulo 14

Algum lugar dentro do cassino Hollywood Avenue, Las Vegas, Nevada – 20:42


– Você sabe pelo menos onde que é o cofre?
– Sei. Mas não vamos passar muito tempo na tubulação. Daqui a pouco chegaremos ao túnel do elevador. E dali pegaremos outra tubulação e chegaremos lá.
Comecei a rir enquanto rastejava dentro do túnel de ar. Tive que entrar de costas, para poder fechar com a grade novamente. Você se pergunta: como? Eu respondo: amarrando a grade no meu tornozelo com fio dental. Quando entrei totalmente no túnel, depois de subir em uma cadeira, ele tinha espaço suficiente para eu conseguir colocar a grade de volta no lugar.
– Qual é a graça? – ela perguntou, rindo um pouco também.
– Parece conversa de Mario e Luigi.
Ela começou a rir mais. Tínhamos espaço para engatinhar encurvados.
– Então você é fã de jogos?
– Um pouco. Você é fã de Star Wars.
Pude perceber que ela deu de ombros, mesmo não podendo olhar para seu rosto.
– Não me culpe. Sempre fui fã de explosões supersônicas que desafiam a física fazendo barulho no espaço.
– Eu sou fã de um encanador que andou por mundos, matou tartarugas e, no fim, venceu um cruzamento de dinossauro com tartaruga para poder salvar a princesa do reino dos cogumelos.
– Que no final, nem se sabe se gostava do encanador.
– Será? Eu acho que ela gostava do Mario. Afinal, você gosta de mim.
engatinhou mais rápido e eu dei uma risadinha.
– Aqui, chegamos. – ela falou quando estava de frente para o poço do elevador.
– Quê? – perguntei sem enxergar, nem ouvir e acabei empurrando pela perna. Ela caiu com metade do corpo para o poço, só que consegui segurá-la pela perna.
... O que você fez?
Fiquei calado, boquiaberto, não conseguindo pensar como aquilo havia acontecido.
– Me solta. – ela falou.
– Como é?
, me solta, agora.
– Enlouqueceu, ?
!
E soltou-se de mim, caindo no poço.
! – gritei. Em resposta, ouvi o elevador subindo.
, venha para cá! – ela me chamou e quando avancei, estava sentada em cima do elevador, exatamente como estávamos há alguns minutos. Apressado, aproveitei que ele estava subindo e fui para perto dela.
– Você quase me matou de susto. – reclamei.
– Você quem me matou! Me deu um empurrão que eu quase caí. Eu não teria deixado você cair daquele jeito.
– Claro, porque você não ia conseguir nem se imaginar vivendo sem meu beijo.
Ela me olhou séria.
– Mentira, eu te deixava cair sim.
Alguns minutos depois, estávamos no subsolo. Ela apontou para um túnel e entrou nele, seguida por mim.
Chegamos ao cofre segundos depois.


Capítulo 15

Cofre do cassino Hollywood Avenue, Las Vegas, Nevada – 21:02


– É aqui. – ela murmurou.
– Deve estar cheio daqueles raios de segurança.
– Clyde disse que eles ficam só no chão.
– E você acredita nele?
Ela deu de ombros.
– Acredito no que ele disse, não nele. Se minha teoria estiver certa, ele falou a verdade.
– E se a sua teoria estiver errada?
– Aí... Aí somos presos. Por isso, vamos fingir que ele está certa, ok?
Concordei.
Ela retirou a grade da tubulação. Olhou para baixo e, como havia uma prateleira logo abaixo, deixou-a ali.
– Você deixou o cabo do cofre, não deixou?
– Putz, acho que eu retirei.
Ela olhou para mim com uma cara de pavor total.
– Se eu falar que era brincadeira você vai querer me matar?
– Talvez mais tarde. Olha, fica aí.
– Não, ! – protestei, segurando-a.
, faça o que eu estou falando! Não assuma esse risco. Você fica aqui. Eu tenho tudo sob controle.
– Que nem você tinha quando o Clyde passou a mão boba em você?
Ela comprimiu os lábios.
– Até um pouco mais.
E saiu da tubulação, colocando as mãos na prateleira. Arrastou algumas caixas para o lado para ter mais espaço.
– Se algo cair, você dispara o alarme. – lembrei-a.
– Shhh... Você fala demais. – ela disse, olhando para mim e com um pequeno sorriso. Senti-me mais relaxado.
colocou o joelho perto da mão, em um único e pequeno espaço vazio na prateleira. Girou o corpo, ainda deixando uma perna dentro da tubulação. Depois, colocou o pé desta perna no espaço que sobrara. Esticou os braços e colocou o outro pé no lugar do joelho. A partir disso, conseguiu ficar de pé.
Ela olhou para o grande caixote no meio da sala e deu um pulo para cair em cima dele, deixando o pé escorregar para fora, não chegando a cair no chão. Senti meu coração parar por um instante nessa hora.
! – falei sem querer.
Ela se virou para mim e mandou eu me acalmar, fazendo um gesto com as mãos para tal significado.
– Agora... Faça um sinal de “Sim” com a cabeça.
– O quê? – perguntei sem entender nada.
– Confie em mim!
Olhei-a nos olhos. E a obedeci.
– Isso mesmo. Finja que vai vir até mim... Mas, de última hora, volte atrás correndo. E se eu falar para me deixar para trás, me deixe, ok?
...
– Ok? – ela repetiu, com a voz mais firme.
Mordi o lábio e, olhando para baixo, confirmei com a cabeça.
Então, o alarme disparou.


Capítulo 16

Cofre do cassino Hollywood Avenue, Las Vegas, Nevada – 21:04



! – gritei.
Ela correu até a prateleira e escalou-a com dificuldade para chegar onde eu estava. Segurei-a pelas mãos e puxei-a de volta à tubulação, segurando também sua bolsa/saia.
– Qual seu plano agora?! – perguntei desesperado.
– Sair daqui. O alarme soou.
– Não me diga! – perguntei. – Como vamos sair?
– Pelo terraço. Corre!
Sem fazer mais perguntas, voltei ao elevador rapidamente, antes que ele voltasse a subir. Infelizmente, foi exatamente isso que ele fez: não subir.
– Já devem estar procurando por nós, ! Como chegamos ao terraço? – perguntei.
Ela olhou para a parede do túnel.
– Podemos escalar. É o único jeito.
Nas paredes, além dos túneis de tubulação, havia nas quinas um tipo de caminho do elevador, com espaços que pareciam ganchos.
... São cinco andares.
– Se tiver uma ideia melhor, juro que vou segui-la.
– Aqui. Siga-me – indiquei um túnel de tubulação.
– Aonde estamos indo?
– Para a escada de funcionários.
Eu retirei a grande com dificuldades, que caiu no meio da escada. Realmente, era a de funcionários, porque era toda cinza e as paredes brancas. Devia ser a única que dava para o terraço.
A desvantagem era que algumas pessoas também a usavam essa escada.
– Como vamos passar por eles sem sermos descobertos? – perguntou ela.
– Descobertos? Por quê? Fizemos algo de errado? Eu só gosto de usar preto, algo contra?
E desci, ajudando-a também. Nesse momento todas as pessoas começaram a subir e nós também. Todas ficaram pelos andares e só nós dois chegamos ao terraço. Mas a nossa frente uma porta trancada bloqueava nosso caminho para o último andar.
– Merda! – xinguei. – Subimos isso tudo para nada!
– Não tem jeito de abrir?
– Poderíamos usar uma bombinha, ou um cartão, mas não acho que isso vá funcio...
deu um chute forte e violento na porta, que se abriu rapidamente.
– Ok, isso foi mais fácil.
Ela correu para o terraço, puxando meu braço para segui-la. Ali em cima não havia jeito de sair.
– Parados, quem quer que sejam! – ouvimos da escadaria.
– Como nos acharam? – perguntei, virando-me para ela.
– Devem ter colocado um guarda em cada metro quadrado deste lugar. Temos que sair daqui.
Ouvimos o barulho de tiros.
correu até a beirada do terraço, ficando de pé no limite. Mais um passo e seria uma queda de cinco andares, direto para... Um lago?
– É o lago em homenagem ao Cantando na Chuva – ela murmurou, olhando para baixo. Estávamos de costas para a porta, os dois.
... Você é louca! – eu falei, ficando de pé ao lado dela. – São cinco andares.
– Eu vou pular.
, não faça isso.
– Nós vamos pular.
– Não faça isso, por favor, .
Ela virou o rosto para mim, franzindo o cenho.
– Do que você acabou de me chamar...?
O guarda apareceu na porta e atirou para cima.
– PULE! – eu gritei, empurrando-a para a água.


Capítulo 17

Lago do cassino Hollywood Avenue, Las Vegas, Nevada – 21:21



Cinco andares em queda livre direto para um lago. Parei por um instante para pensar como aquele cassino era baixo. O Bellagio era bem mais alto. Também era incrível como tudo naquele dia me fazia lembrar ao Bellagio. Ok, talvez fosse porque o último roubo que os outros e eu fizemos foi lá, mas... Não sei dizer.
Quando e eu caímos na água, mergulhamos e nadamos até a margem.
! ! – gritei assim que fui para a superfície.
– Estou aqui, ! – ela chamou, já saindo do lago. – Você está bem? Tudo bem? Se machucou?
– Não, eu estou bem... Estava tão preocupada comigo? – perguntei.
Ela soltou minha mão e voltei a cair na água.
– Ah! Está gelado! – gritei.
– Para você deixar de ser abusado.
Sozinho, com dificuldades, consegui subir na margem. Quando me uni a , percebemos todas as pessoas que estavam ali do lado de fora, aplaudindo.
Nós dois demos as costas para eles quando as luzes do lago se acenderam.
– Acha que nos viram?
– Não. – respondi. – Pulamos de costas para eles, subimos de costas para eles, e estamos de costas para eles.
– E como fingimos que não aconteceu nada?
Engoli em seco.
– Faça uma reverência... E vamos para o estacionamento procurar o Ryan.
Ao mesmo tempo, nós dois fizemos uma reverência de costas, recebendo aplausos. Andando rapidamente, vimos a van de Rusty parada na saída do hotel e fomos até ela ao som de aplausos. Ryan abriu a porta para nós e rapidamente pulamos para dentro, escondendo o rosto. A porta foi fechada e ele dirigiu para que saíssemos de perto do Hollywood Avenue.
Derrotados, e eu caímos no chão da van.
– Eu ouvi o alarme e vim direto para cá. – falou Rusty. – Como foi?
– Não conseguimos pegar nada. – falou e depois de olhar para o próprio corpo e para mim, completou. –, mas conseguimos sair intactos. Danny está bem?
– Ele foi liberado pelos seguranças.
– E onde está o Chapman? – perguntei, cortando os dois.
Ryan olhou para trás por um instante enquanto eu estava colocando minhas roupas falsas por cima.
– Ele está no Motel fazendo o check-out. Vamos todos para lá, então vamos embora... Porque o plano já era.
– Não! – protestou ficando de pé. – Vamos buscar o tio Danny e vamos embora. Deixe o Chapman.
, você não entendeu. – contradisse Rusty. – Eu disse que Danny foi liberado pelos seguranças. Não falei que ele está no cassino.
– E onde ele foi?
– Ele foi para o Sharon... E Chapman também.
– Chapman está com o tio Danny? No Sharon?
Rusty assentiu com a cabeça.
– Deixe-me descer da van. – ela disse.
– Ei, é o quê? – perguntou Ryan. – Me explica tudo.
– Clyde e seu “empregador” querem ver Danny em ação. Querem ver como ele trabalha e, agora, querem pegá-lo. Não sei o que podem querer fazer.
– Achei que você odiasse o Danny.
Ela suspirou.
– Ele é meu tio. Odiando ou não, é o mínimo que eu tenho que fazer.
– De onde veio tanta desconfiança do Chapman? Achei que estivesse indo tudo bem, até naquela cena cheia de pouca vergonha...
– Acontece – interrompi. – que a gente percebeu tudo na hora do apagão. A câmera do elevador mostrou lá dentro e os seguranças foram atrás dela.
– Bem, o Chapman quem estava olhando as câmeras nessa hora... O viu. E que ideia foi aquela de sumir com os pontos? Não consegui falar com nenhum de vocês!
– Tivemos que nos livrar dos pontos, senão o Chapman iria ouvir.
– Vocês trabalharam inteiramente sozinhos! Não percebem como isso foi perigoso? – perguntou Rusty aos gritos.
– Percebemos. E aconteceu do jeito que eu achei que fosse acontecer. – disse . – Quando estávamos no cofre, o alarme disparou, sendo que eu nem toquei no chão. E não aconteceu nada dentro do cofre. Nenhuma luz vermelha, nem nada... Foi um alarme da segurança interna. Alguém avisou sobre nós...
– Chapman saiu nessa hora e foi para o hotel. Deve ter feito a ligação da rua, ou no quarto mesmo. Danny tinha vindo aqui logo depois que foi liberado e nos avisou que iria para o Sharon.
– Que horas ele foi liberado? – perguntou .
– Umas nove horas, um pouco antes de o alarme soar. E antes de o Chapman fazer a ligação.
– E se Danny está no motel, e o Clyde também... – falei.
Rusty estacionou o carro em frente ao Sharon.
– Eu vou lá. – falou . Segurei-a pelo pulso.
– Não, vamos todos juntos. Clyde não fez qualquer tipo de ameaça até agora, então Danny deve estar bem.
– Se formos todos juntos, vamos estar bem mais vulneráveis.
– Se é para ir só um de nós, vou eu.
– Engoliu água daquele lago, ? – ela perguntou, puxando seu pulso. – Você não vai lá.
, escute aqui. – falei com a voz firme, sentando no banco da van, em frente ao computador desligado, e joguei a bolsa dela no chão. – Você é sobrinha do Danny. Ele daria a vida para salvar a sua, não adianta negar isso. E foi isso que ele fez quando mostrou o rosto no Hollywood Avenue. Ele chamou a atenção dos guardas e os desviou de você. Então, Rusty e eu precisamos concordar — eu olhei para ele com um olhar duro, e ele assentiu com a cabeça repetidas vezes — que você não pode se arriscar. Rusty também é o principal parceiro do Danny e está cuidando do plano todo. Se Rusty deixar nós dois para ir ao Sharon e algo acontecer, não saberemos como prosseguir. Eu preciso ir, , e só eu. Porque vocês todos sabem como prosseguir sem mim.
– Mas, ... – ela disse, mas eu abri a porta da van mesmo assim.
– Eu sou o mais... Esquecível de nós. Eu vou.
... – disse Rusty, virando-se para trás.
Ignorando os dois, saltei para fora da van. Deveria me preparar para o que quer que Clyde tivesse preparado — e para quem ele tivesse preparado. Óbvio que ele tinha achado que quem iria era . E, se ele realmente tinha pensado assim, eu realmente teria que começar a praticar umas manobras ninjas.
– Qualquer problema, dê uma ligada para mim. – falou Rusty.
Assenti com a cabeça e antes que eu fechasse a porta, me impediu. Ela pulou para fora da van, mesmo com o protesto de Ryan.
Ela parou, toda cheia de pose de açucareiro (com as mãos na cintura), na minha frente e falou:
– Você é burro, sabia?
Virei os olhos.
– Sou, é?
Rapidamente, ficou na ponta dos pés, aproximou-se mais de mim e me deu um beijo lento e longo. Quando ela parou o beijo, vi Rusty olhando para nós com as sobrancelhas erguidas e um sorriso torto, quase surpreso.
– Você não é esquecível. E espero que não tenha se arrependido do primeiro, porque não quero me arrepender de ter dado este, .
Engoli em seco enquanto ela dava as costas para mim e entrava na van, fechando a porta. Virei-me para o Sharon e comecei a andar decididamente, mas morrendo de medo por dentro pela surpresa que eu teria. Passei pelo pátio e subi as escadas, passando pelos corredores abertos até chegar ao quarto. E quando cheguei, bati na porta quatro vezes, como Rusty havia mandado no elevador, para Clyde poder me identificar.
Mas não era Clyde dentro do quarto. Não só Clyde. E essa foi a pior surpresa que ele poderia ter feito.


Capítulo 18

Motel Sharon, Las Vegas, Nevada – 21:40



– Ora, não é o Ocean, enfim. – ele disse, sentado-se na cama com as pernas cruzadas, esperando-me. – Benedict, não fizemos nada com você desta vez – defendi-me.
– Exato. Não comigo. Ou melhor, não diretamente... Mas com meu sobrinho.
Chapman estava apoiado na parede, de braços cruzados, e os músculos que nunca reparamos que ele tinha estavam expostos. Ele sempre usou mangas compridas. Sempre foi uma ameaça por ser tão forte e, aparentemente, tão inteligente, e nunca pudemos perceber isso. E agora, não satisfeito com sua lista de ameaças... Chapman poderia incluir o fato de ser sobrinho de Terry Benedict nela. Quer dizer, isso se Chapman fosse seu nome verdadeiro e não fosse Clyde Benedict. E ali estava ele, com seus cabelos loiros lhe caindo nos olhos pelo vento que saía da janela atrás de si.
– Você era... O empregador. – eu completei, fechando a porta atrás de mim, ainda querendo conectar os fatos. Tudo fez sentido.
– Empregador? Vocês caíram naquela historinha do serviço especial? Um homem rouba para construir seu cassino e, agora, um dos roubados chama Danny Ocean e seu grupo para recuperar um dinheiro.
Bem, Terry estava certo. Apesar de fazer certo sentido. Até as regras que ele havia imposto: um trabalho rápido, um dos integrantes do grupo ser um homem de confiança do empregador e um grupo pequeno para não sermos pegos.
Agora estava tudo mais claro... Um trabalho rápido, que ele poderia supervisionar pela ajuda do integrante do grupo. Um infiltrado, que em um grupo pequeno teria grande importância.
– Benedict, não roubamos nada. Clyde nos impediu antes. Estamos limpos.
Terry indicou para que eu me sentasse na cama à sua frente. Quando o fiz, Clyde tinha andando pelo quarto até parar atrás de mim. Nisso, retirou uma arma da calça e a apontou para minha cabeça.
– Estão com Danny Ocean. Para mim, não é estar limpo. Achei que talvez fosse o Ryan a vir até o hotel e não você, mas ainda dá para fazer algo. – Terry estendeu um celular para mim. – Ligue para um deles. Invente qualquer história, quero Danny Ocean dentro deste quarto em meia hora.
Olhei para o aparelho e peguei-o com a mão firme. Olhando para o próprio Terry, disquei o número de Rusty, percebendo que começava a suar frio. Coloquei-o no ouvido e limpei a garganta.
– Alô? – perguntou Rusty.
– Hey. Sou eu. .
! Como está, cara?
– Passe o telefone.
– Como é?
Limpei novamente a garganta e olhei para Terry, que ergueu as sobrancelhas.
– Passe. O. Telefone.
Ouvi Rusty dando o telefone para .
, aconteceu alguma coisa?
Pense rápido.
– A tartaruga e o dinossauro foram para o castelo da princesa. – falei rápido. – Traga o encanador e seu ajudante.
, te deram alguma droga?
– Ok. – falei, querendo fingir para Terry que, quem quer que fosse, estava entendendo o que eu falava.
... Clyde não está sozinho, está?
– Não.
– Tire-o daí. Dê um jeito, Rusty e eu vamos planejar algo. Entendi o que você quis dizer. E faça-o ver a van.
Fiquei em silêncio alguns segundos e desliguei o telefone. Entreguei-o para Terry.
– Danny só vai vir se Clyde não estiver aqui.
– Se eu mandá-lo estourar seus miolos, talvez ele se convença.
– Se fizer isso, não vai conseguir. Danny quer saber que estou vivo.
– Danny Ocean... Ou Ocean?
Mordi o lábio.
– Clyde me contou tudo. – ele falou.
– Gostaria de entender o que aconteceu.
Terry se levantou.
– Não é difícil de entender, . Eu quero pegar Danny e fiz essa palhaçada toda de roubo. Admito que fiquei apreensivo se ele aceitaria, mas quando aceitou, o resto foi fácil. Vocês contribuíram bem, e meu sobrinho foi um ótimo ator. Eu sou o dono do Hollywood Avenue, junto com alguns outros investidores. Achei que não fosse tão burro a ponto de não perceber isso, .
Dei de ombros.
– Me leve lá para fora. Me deixe ali com Clyde. Danny quer ver isso quando for chegar.
– Me dê uma segurança de que ele vai vir.
– A van de Rusty está lá fora. Ele disse que vai avisar Danny para vir.
Clyde retirou a arma e foi até a janela, sem soltá-la. A van realmente estava ali, porém, eu não saberia dizer se estava vazia ou não.
– É verdade, tio.
– Então façam isso. – Terry deu de ombros.
Levantei-me e, com Clyde me segurando com as mãos atrás do corpo, e apontando para minhas costelas, fomos até a porta. Ele virou-me para frente e abriu a porta.
Quando a fechou, cheguei para frente e consegui ver acertando uma pedra bem na cabeça dele. Eu o segurei, para não fazer barulho na queda. Tapei sua boca para abafar seu grito. Depois, com dificuldade, o fiz aparecer na janela e fazendo-o assentir com a cabeça, para indicar para Terry que o Ocean havia chegado. Assumimos o risco de ele ter acreditado.
– Tudo bem? – ela perguntou baixo, vendo Clyde desacordado.
– Ele está vivo. – respondi.
– Não ele. Você, lesado.
Dei uma risada baixa.
– Estou. E você?
– Também. Não foi difícil, na verdade.
– Ele poderia ter atirado nas minhas costelas.
pegou a arma da mão dele e abriu a carga, vazia.
– Acha mesmo que um covarde como Clyde teria uma arma carregada? Terry eu até acredito, mas ele... Não.
– Falando em Terry, o que vamos fazer?
Ela parou alguns segundos e perguntou:
– Há alguma janela aberta no quarto?
Lembrei-me dos cabelos loiros de Clyde caindo em seus olhos. Assenti. Ela completou:
– Dê a volta. E suba pela escada de emergência. Aguarde meu sinal.


Capítulo 19

Motel Sharon, Las Vegas, Nevada – 21:48



Obedecendo a , ela ficou parada na frente do quarto. Usava suas calças novamente e tinha sua saia nas mãos, para usá-la para amarrar as mãos de Clyde atrás da cabeça, também tapando sua boca. Depois, fingindo choro, bateu na porta, abrindo-a a seguir com a cabeça baixa. Enxugou os olhos, fechando a porta atrás de si e erguendo a cabeça. Deu um passo para trás, surpreendida.
– Senhor... Benedict?
– Senhorita Ocean.
Ela engoliu em seco.
– Estou sozinha. Por favor, peça para Clyde soltar .
– Ele está lá fora?
Ela assentiu com a cabeça.
– Bem, ele pode esperar. – com a voz doce ele acrescentou, apontando para a cama à sua frente, onde eu estava minutos atrás. – Sente-se.
Com os pés bambos — o que era mentira, pois ela já se livrara dos saltos —, ela foi até lá.
– Foi Clyde que acionou o alarme dentro do cofre? – ela perguntou, depois do silêncio pesado que se apoderou do quarto por alguns segundos. Terry deu de ombros.
– Ele viu vocês no computador. Foi o único cabo que não foi arrancado por um segurança do Hollywood Avenue.
mordeu o lábio. Ninguém sabia sobre o que havíamos feito sem termos sido observados.
– Esperava seu tio, senhorita Ocean. Porém, não posso negar que estou tão satisfeito quanto.
– Tio Danny não estava comigo.
Terry pareceu cerrar os punhos, mas disfarçou.
– Onde ele está?
Ela fungou e, colocando as mãos no rosto, gritou, chorando:
– Eu não sei! Eu não sei!
Terry virou os olhos, parecendo irritado.
– Tome isso aqui. – deu-lhe o celular, o mesmo que eu tinha usado, provavelmente com número oculto para realizar ligações. – e ligue para ele.
Ela limpou o rosto com o braço, enxugando as lágrimas, e respirando fundo.
– Por favor... Não faça nada com tio Danny.
– Achei que você o odiasse.
– Não o machuque.
Discou números e colocou o telefone no ouvido. Terry não se levantou, apenas inclinou-se para frente, para poder prestar mais atenção em . A garota tinha a cabeça abaixada, esperando o telefone ser atendido. Ergueu o olhar para Terry quando fingiu terem atendido.
– Tio Danny, é a .
Apareci na janela nesse momento, percebendo que não olhou para mim. Se olhasse, Terry poderia perceber, e todo o plano — plano? Improviso. — estaria acabado.
– Não, eu estou bem, está tudo bem. – ela continuou, limpando a garganta da voz chorosa.
Terry ergueu as sobrancelhas, fazendo um olhar cobrador.
– Tio... Onde está? Sim, entendo. Preciso que venha para o Motel Sharon. É, o mesmo quarto onde estávamos. Não, não, está tudo bem. Não deu certo... Tio, só venha para o Motel, ok? – ela fingiu que iria voltar a chorar. – Tudo bem.
Coloquei a perna dentro do quarto, em silêncio.
– Tio. – ela murmurou. Terry inclinou-se e percebi que era para eu ganhar tempo e poder entrar com cuidado. – Tenha cuidado. Estamos no mesmo quarto. E... – Benedict a olhou cobrador, e ela finalizou. – Venha sozinho.
Eu já estava com as duas pernas dentro do quarto nesse momento, tentando me apoiar no parapeito para entrar. Sentei no chão para poder colocar meu corpo inteiro e pude ver desligando o celular. Encarou-o por alguns segundos, com a cabeça abaixada, dando quatro toques leves com o polegar. Foi o meu sinal. levantou a cabeça, fungando e entregando o telefone para Terry.
– Ele deve vir.
– Onde ele estava?
– Não quis dizer. Ele estava com medo pelo celular não identificado.
Terry guardou o celular no bolso, ficando de pé. Eu estava a cerca de dois passos da janela a essa altura, parando por um segundo, surpreso por Benedict ter se levantado.
– Espero que Danny esteja a caminho. Realmente espero, senhorita Ocean.
– Ele está. Vai chegar logo.
– É bom mesmo. Mas, agora, enquanto esperamos, vamos conversar – ela bateu novamente o dedo, desta vez o indicador na coxa, pausadamente, para indicar que eu podia continuar. – Achei que a senhorita estivesse presa.
– Não presa, senhor Benedict...
– Terry. Só Terry.
mordeu o lábio. Não queria chamá-lo pelo primeiro nome. Evitava meu olhar nervoso, quando eu estava apenas a cerca de cinco passos de Benedict.
– Eu não fui presa. Estava só... Afastada.
– Se incomodaria em me dizer por quê?
– Sim.
Ele foi pego de surpresa.
– Bem, então não falemos disso. Mas me diga, enfim: por que a senhorita se uniu a Danny nisso?
Eu estava atrás dele nessa hora.
– Porque somos Ocean. – ela respondeu.
Segurei-o pelas costas, puxando-lhe os braços, tentando imobilizá-lo. Terry escapou, virando o corpo e tentando ma derrubar, mas eu ainda o segurava por um braço. Quando virou o corpo, consegui torcer aquele braço, apesar de não conseguir continuar segurando.
Terry sacou a arma com o braço livre, rapidamente, porém, não chegou muito longe. apontou-lhe a arma que estava com Clyde. Benedict não ousou fazer movimentos bruscos. Eu estava contra a cama, sendo segurado por Terry, enquanto este estava de joelhos e com uma arma apontada para sua cabeça.
– Não está carregada. – ele disse.
– Não tente testar.
Senti-o segurando-me não tão forte. Olhei para trás e pude vê-lo suar frio.
– Solte a arma. – ela ordenou.
– Achei que uma das regras de Danny fosse não machucar quem não estivesse envolvido.
– Não estamos sob as regras desse Ocean. Solte a arma.
Terry deixou de apontar a arma para mim, deitado na cama, agora solto. Apontou-a para o lado, para o chão. chegou um passo para trás.
Tentei levantar o corpo, porém, ele ainda me segurava, agora pelo pescoço, impedindo-me de levantar.
– Eu mandei soltar a arma, Benedict. – ela disse firmemente.
– Agora o choro passou?
encostou a arma em sua cabeça. Eu sabia que não estava carregada. Entretanto, não podia ter a mesma certeza quanto a de Terry.
Pude perceber que ele estava tentando arrumar uma boa posição para chutar a perna de e fazê-la cair. Se eu fosse agir, precisava ser rápido.
Pense, . Pense.
Olhando para cima de novo, vendo a arma de Terry apontada para o lado, assumi o risco, levantando o braço e tentando torcer o dele, que o imobilizava. Ouvindo seu grito de agonia, levantei rápido, jogando-o contra o chão. Com o corpo de Benedict contra o carpete, pisou com suas botas no pulso dele, do braço que segurava a arma. Mesmo resistindo, ele finalmente a soltou, enquanto eu o mantinha contra o chão. Depois que ele foi desarmado, puxei seus dois braços para trás, torcendo-os, enquanto eu estava sentado ao seu lado.
retirou as fronhas finas de dois travesseiros. Esticou-as e torceu-as, amarrando as mãos de Terry ao pé da cama com uma, e os tornozelos dele com a outra.
Quando foi pegar a terceira fronha, eu já estava de pé na frente de Terry.
– Vão pegar vocês, Ocean. Vocês todos.
– Aposto que você não vai querer fazer qualquer queixa. Não vai querer passar a vergonha que foi deixar todos saberem que foi roubado, mesmo fazendo esse teatro todo.
Terry levantou a cabeça, alerta.
– Nunca aposte contra um Ocean, senhor Benedict. Principalmente em Las Vegas... E com dois Ocean envolvidos. – ela disse, amarrando a fronha em sua boca para fazê-lo ficar calado.


Capítulo 20

Motel Sharon, Las Vegas, Nevada – 22:12



– Ok, agora eu quero entender tudo. – pedi para , do lado de fora do hotel, depois de termos colocado um Clyde ainda desacordado dentro do quarto. Eu tinha lhe perguntado se havíamos causado um dano grave, e ela limitou-se em me responder com simplicidade:
– Garanto que não. Acertei-o em um lugar que só o deixaria descordado, na cabeça. Aprendi no colégio que essa parte da cabeça pode matar se acertarem com força, mas se for fraco, só deixa a pessoa inconsciente.
Perguntei que colégio. me respondeu que foi na semana anterior, durante uma das aulas de biologia. Somando às suas aulas de defesa pessoal, ainda aprendeu alguns desses truques.
Ela me disse que queria ser médica.
Voltando ao presente, fora do hotel, ela apoiou-se contra a parede e cruzou os braços.
– Tio Danny sabia que Clyde era suspeito. Não demorou muito a descobrir que ele era parente do Benedict, depois de uma pesquisa rápida na internet por Rusty. Percebemos logo que o “empregador” era o próprio Terry, e planejamos tudo.
– Então tudo... Era encenação?
– Não tudo. Quando Clyde e eu fizemos a cena fantasiados, que você deu um soco nele, realmente foi inesperado. Até porque você não sabia de nada.
– Por que não me contaram?
deu um sorriso torto.
– Porque você não consegue manter um segredo por muito tempo.
Eu ri. Era verdade, pois não demorei muito a deixar saber sobre nossa suspeita de ela ter nos traído.
Lembrando-me dessa parte, completei:
– Mas e quando você nos “traiu”?
– Ah, Danny e Rusty sabiam daquilo. Quando começamos a trabalhar só nós dois, meu tio e eu já havíamos combinado aquilo do elevador. Foi algo que tivemos que fazer para Clyde não achar que estávamos sabendo de tudo.
– Por que deixaram Clyde perto de Rusty com as câmeras?
– Porque, nos livrando dos pontos e dos cabos, ele ficaria imediatamente perdido. Mas Rusty não. Por isso, quando chegamos ao cofre, ele já nos denunciou. Foi quando o alarme soou.
– Por isso que Rusty estava no lugar certo e na hora certa para nos buscar. Mas ele não sabia que estávamos no terraço – observei.
Ela deu de ombros.
– Íamos ter que sair do cassino de algum jeito. Ele foi para onde teríamos que passar: a saída.
– Entendi. Então tudo foi planejado por vocês... E me explique agora sobre aquilo que você falou para o Benedict. Sobre ele ter sido roubado.
Dessa vez ela sorriu radiante, fazendo-me dar um pequeno sorriso também.
– Essa foi a melhor parte. O primeiro roubo de Danny foi quando ele gravou cenas do roubo e as colocou na gravação do cassino, não? Pois é. Por isso falei para você deixar os cabos de Rusty no cofre. Por eles, Clyde saberia que estávamos indo para lá... E teriam imagens em vídeo de duas pessoas invadindo o cofre. Quando vissem a nós dois lá, fariam que nem fizeram no primeiro roubo. Então, acho que você pode concluir onde tio Danny e tio Rusty estão agora.
– No Hollywood Avenue, fingindo-se de guardas para fazer a “revista” no cofre depois dos invasores. Ou, como eu diria, para passar o rodo.
Ela riu pela expressão.
– Só os dois? – perguntei.
– Os dois e todas minhas parceiras. Durante todo tempo que estava sozinho no Hollywood Avenue, meu tio contatou a todas por mim. Ele escolheu as que já conhecia, que não eram poucas.
– Então você não odeia Danny.
Ela deu um sorrisinho torto.
– Nunca odiei. Mas se Clyde e você acreditaram nisso, fico feliz. Nunca suspeitariam que somos tão unidos assim.
– Estou vendo, para se ajudarem.
– Minhas amigas são muito confiáveis. Todas o ajudaram, mas tio Danny não iria roubar muito do cofre. Só o que Terry ainda lhe devia, e um pouco para cada um de nós.
– E você não é a metida, mandona e rebelde.
Ela sorriu amarelo.
– Talvez só um pouquinho de cada. Mas não sou assim. Sou bem diferente, você não faz ideia.
– Bem, teremos bastante tempo. Posso te conhecer melhor. Podemos nos conhecer, melhor dizendo.
Ela ergueu uma sobrancelha.
– É, . Podemos.
Ergui as sobrancelhas e balancei a cabeça positivamente, admirado.
– Foi um belo plano. Eu nunca perceberia.
– Eu sei que não, . Você não é o mais importante do grupo, isso não posso mentir. – devo ter feito uma cara triste. – Só que todos precisamos concordar que é destemido. Você não tem segurança do que faz, mas consegue fazer mesmo assim. Você é corajoso e faz o que precisar, mesmo não acreditando em si. Isso é importante. Nesse grande relógio dos Ocean, todas as engrenagens têm utilidade. E posso te garantir que não era para você ser tão importante assim... E olha só onde estamos.
Ela deu um sorriso reconfortante.
– Acho uma boa você voltar para a assistência. Sua amiga não vai te segurar lá por muito tempo.
– Ah, sim. Vamos com seu Audi.
Fomos para o estacionamento, eu ri sozinho.
– O que foi?
– Os homens do Ocean, e as mulheres da Ocean. Só achei engraçado, parece filme adolescente.
Entramos no carro.
– Gostaria de assistir a esse filme mais algumas vezes.
Não demorou para chegarmos à delegacia. Desci com ela e, escondidos, demos a volta no prédio. chegou na janela e bateu nela.
! Demorou! – reclamou a amiga abrindo a janela.
– Desculpe. Foi um dia longo. Deram falta de mim?
– Se dessem, iam querer te manter longe. Vem logo, daqui a pouco ela vai passar aqui para a revista de antes de dormir.
Com a ajuda da amiga, passou pela janela.
– E sua mochila? – perguntei.
– Se a assistente social der falta, vou dizer que ela está ficando velha, porque não trouxe mochila nenhuma. Eu me viro, . Te vejo daqui algumas horas.
– Não vou esquecer, Ocean. Está marcado. – falei, voltando para o Audi, dando a partida com um sorriso bem sem-vergonha nos lábios.


Epílogo



Hotel Ceasar, Las Vegas, Nevada – 09:10, 14 de setembro



Danny Ocean estava andando com seu terno velho que usara para sair da prisão no dia anterior. Também usava o mesmo sorriso de quarenta e oito horas antes, por motivos diferentes. Alguns andares acima estava seu quarto vazio que usara para aproveitar Las Vegas. Depois do roubo, Danny deixou tudo na van de Rusty e no meu carro, ambos fora de suspeita. E fomos todos para o Ceasar dormir. Fiquei inquieto, lembrando-me de tudo o que acontecera no dia doze. E pelo que o dia treze poderia trazer.
Na manhã seguinte, Danny acordou cedo para buscar a sobrinha e sua amiga.
– Fiquei sabendo do Sharon com os Benedict. Achei que não soubesse usar uma arma, .
– Eu disse que não usava, não que não sabia usar. E você disse que era a melhor no que fazia.
Rusty parou o meu Audi na frente do grande Ceasar.
– Eu sou o melhor no que faço.
Todos nós, homens e mulheres dos Ocean, pegamos vários quartos no hotel e passamos o resto do dia no cassino nos divertindo, jogando e bebendo. Porque aquilo era Las Vegas.
Danny foi dormir cedo no dia treze — ou seja, meia-noite. Pessoas como Rusty, eu, e as amigas dela ficamos até quatro da manhã no cassino, totalmente despreocupados. e eu não se separando em momento algum. Percebi que ela não era a garota rebelde que tinha sido, ou grosseira de vez em quando. era... Adorável. Era doce, simpática, e isso me impressionou. Acho que gosto muito dessa garota...
Ryan tentou dar em cima de umas amigas dela usando todo seu charme, mas nenhuma chegou a cair. Incrível, na minha opinião.
No dia catorze, acordei com ressaca umas oito da manhã. , eu e mais três amigas dela descemos para o café e encontramos Danny por lá. Ele puxou-me para um canto e murmurou:
– Se vai mesmo tentar domar aquela garota, boa sorte. Estou de olho em você, .
Ela não era a do plano. E, sim, essa eu também queria e teria tempo de conhecer.
Antes de irmos embora de Vegas todos juntos, Danny fez questão de passar pelo Hollywood Avenue. Terry Benedict estava sendo observado de perto por médicos, depois dele ter jurado veemente que foi preso por fronhas em um quarto de motel por Ocean. Claro, foi comprovado por uma colega de quarto de que ela não saiu da delegacia — colega de quarto, não parceira. Tem coisas que ficam escondidas mesmo —, e todos sabiam que Danny ficou preso no Hollywood Avenue por seguranças do hotel. Clyde não se pronunciou.
Quem diria. Tão mau-caráter que traiu o próprio tio. nunca seria capaz disso.
Danny me contou que a maior loucura que já fizera foi uma tatuagem de onda no pulso com a sobrinha. Algo que ele tentava esconder a todo custo.
Ele passou pela calçada do Hollywood Avenue. O roubo, para as condições do cassino, fora quase insignificante, então nem foi anunciado nada em um jornal. Tudo na boca miúda, sempre.
Danny acenou para um segurança, sorrindo, e entrou no meu Audi. Quando olhei pelo retrovisor, lá estava um homem vestido de ursinho carinhoso rosa acenando para mim.


| FIM |


N/A: Olá, fãs de Danny Ocean! Que tal ficou minha primeira fanfic? Esta foi a primeira que eu fiz que seguiu um filme, ou livro, ou algo assim, como uma fanfic normal.
Espero que tenha ficado boa, porque depois de uma semana escrevendo direto, eu realmente achei algo interessante. Espero os comentários, e acho que talvez essa seja minha única fic de Ocean's Eleven, mas não a única de um filme.
Xoxo comentem para me deixar feliz! BJ

Twitter da autora: @BJ_Stewart4



Nota de Beta: Se virem algum erro de português/script/HTML, não usem a caixinha de comentários, me avisem por aqui: nellotcher@gmail.com


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