O Fim: ou Como o Universo Deixou de se Preocupar e Abraçou a Inexistência
Autor: Eric P.
Beta-Reader: Amy Moore




Muitos são físicos que vem a gastar seu tempo por fazer pesquisas sobre nosso Universo. Fazem perguntas diárias do feitio de “como ele nasceu?”, “como está se adaptando?” e, minha favorita, “até onde ele vai?”. Com suas mentes tão cheias de perguntas e inteiramente despreocupadas com o que vinha se passando nos confins do Universo, esses mesmos físicos esqueceram-se de pausar em suas tão importantes perguntas e questionar-se da mais importante ainda: “teria o Universo em questão consciência?”. Foi por causa desse pensamento (ou falta dele, no caso), que numa noite escaldante e tranqüila do ano dois mil e doze, no dia vinte de dezembro, faltando precisamente um minuto para a meia-noite, que o Universo veio a se enfezar.
Em suas bordas, no que pareciam ser milhões de anos-luz da Terra, mas na verdade não poderia começar a ser imaginado, o Universo veio a se tornar constantemente bravo com o comportamento dos seres vivos que o habitavam, mais precisamente o daqueles que vinham a habitar uma pequena e inferior galáxia localizada em uma área que seria próxima de seu umbigo, se tivesse um. Nessa galáxia havia inúmeros planetas e seres vivos, mas um em particular vinha a irritá-lo. Um planeta pequeno, equivalente a um grão de areia, localizado nem mesmo no centro de uma constelação. Tudo nele era irritante. O jeito que seus prédios não eram abatidos pelo vento e ficavam a reclamar do Sol em suas superfícies, a maneira com que as folhas das árvores vinham a balançar desdenhosamente à brisa da manhã, como os animais vinham a passar o resto do dia a esmo com seus pequenos rabos abanando de maneira que implicasse que nenhum trabalho árduo tinha a ser feito; um abano e o mundo estaria a seus pés. E, é claro, os Humanos.
Todos esses seres e objetos e coisas (mencionando de maneira não opressora, é claro), vinham se esbaldando do trabalho árduo que era exercido pelo Universo. Os Humanos, em questão, tinham como pensamento unificado que o trabalho dele jamais viria a acabar; o Universo se expandiria infinitamente. Foi com raiva de tal pensamento que ele deixou uma mensagem a um povo barbaresco do ano de sabe-se-lá-quando que vivia numa pequena comunidade em meio às montanhas. Ele a escreveu nas estrelas, vendo que tal povo não tinha direito o suficiente (nem a inteligência) para ouvir a magnífica e esplêndida voz de um ser superior. Surpreendentemente, tais seres foram capazes de desvendar o que ele queria dizer e, assim, medo foi instalado nos Humanos centenas de anos depois.
O Universo, porém, não contava com a evolução. Alguns dos Humanos a evoluírem deixaram de crer em seu poder, escolhendo, no entanto, acreditar na historia de um simples homem de uma cidadezinha ao norte que sabia alguns truques como: “Como Transformar Pureza em Bebida Alcoólica”, “Mar? Que Mar?” e “Vejam-me Andar Sobre a Água... Só que Não” ou ainda “O Poder das Palavras: ou Como Terei Seguidores Até o Fim do Universo e Além.” Apesar de gostar daquele cara, isso só veio a provocar o Universo ainda mais.
Foram naqueles últimos segundos do dia vinte de dezembro que o Universo, então, pensou “danem-se vocês, vou voltar a dormir” e desistiu, para sempre (ou o que na verdade seriam apenas alguns segundos em tempos de seres superiores como ele) de seu trabalho. Como um elástico a ser solto, o Universo implodiu na velocidade da luz, deixando de existir a exata meia-noite do dia vinte e um, no que foi menos de um piscar de olhos. Alguns Humanos, é claro, não vieram nem a reconhecer sua inexistência, tal era sua inteligência. Num momento uma mulher numa cidade longínqua do Egito estava para se deliciar num pedaço de batata roubada da cozinha em que era mantida prisioneira e, enquanto fechava seus olhos para comer, foi desintegrada em mais um capítulo da grande novela intergaláctica “Como Ser Um Idiota Babaca em Apenas Um Passo.” Havia também aqueles que não eram tão idiotas, porém temiam seus ancestrais. Não levando o aviso de seus antepassados na brincadeira, esconderam-se em abrigos subterrâneos contra radiação, o que não veio a adiantar em nada, já que seus porões encontravam-se na mesma dimensão que estava a roer.
Enquanto milhões de pessoas sequer admiraram o fim do Universo como o conhecemos, alguns outros com caros telescópios vieram a presenciar uma pequena e estranha mensagem na tela de seus computadores, algo que vinha a se assemelhar com uma careta debochada, algo conhecido pela maioria dos adolescentes como “;P”.
No entanto, aproveitando tudo isso, em posição fetal nos cantos do vazio, estava o Universo a tirar seu primeiro cochilo depois de sabe-se-lá-quanto-tempo, uma medida de espaço-tempo totalmente aceita, criada pelo Professor-de-Todas-as-Coisas, Frederik Idiotiquè (que não vinha a ser totalmente idiota assim), e que veio a salvar a vida de muitas pessoas por aí. Foi durante esse cochilo que, inexplicavelmente, assim como todas as coisas que agora ainda existem, ele recebeu a visita de um simples homenzinho Humano daquele planeta insignificante chamado Terra, que veio a acordá-lo e dizer algo parecido com “não se chateie tanto. Eles ainda não são tão idiotas quanto você naquela festa de ’88. Volte ao trabalho e tudo será esquecido.
Foi então assim que, em meio à desilusão de um cochilo rápido, o Universo voltou rapidamente ao trabalho, todo o espaço-tempo restaurado à sua forma original, cientistas de uma grande empresa pesquisadora de tudo sobre essa enorme vastidão culpando para sempre alguns hackers de um site obscuro na internet que começava com algum igualmente obscuro dígito por toda a confusão ao receberem uma misteriosa e irritante careta debochada em seus monitores.
O Universo voltou a expandir-se novamente, porém para sempre irritado com aquelas malditas árvores num pequeno planeta que debochavam de sua existência. Mesmo após um breve cochilo, a vida ainda não era tão fácil.




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