Palestina

Escrita por: Helô
Betada por: Heloïse Sanchez








Azizah era uma mulher judia, cansada em viver no meio de tanta guerra e desgraça, decidiu mudar-se para outro país, uma vez que o Estado de Israel vivia um período de guerra por conta da invasão dos muçulmanos.
Adilah foi obrigada a mudar-se para a Palestina por causa do marido, que fora mandando para Jordânia por causa da invasão no Estado de Israel junto com vários outros muçulmanos. O marido, percebendo que o local estava completamente em guerra, começou a considerar a ideia de mandar sua esposa para outro país, quem sabe assim tivesse mais chance de permanecer viva e dar à luz ao seu filho, que já estava no quinto mês de gestação.
Azizah e Adilah, por mais que fossem completamente diferentes e de religiões “rivais”, elas possuíam muitas coisas em comum. Primeiro, o desejo de acabar com toda essa guerra e deixar as diferenças religiosas para trás, e segundo, ambas estavam grávidas, com o mesmo período de gestação.
Certo dia, devido ao grande número de mortos e aumento da violência na Palestina, algumas pessoas juntaram alguns “caminhões” a fim de levar mulheres e crianças para um abrigo, em um local afastado de toda essa desgraça. Adilah, como era muçulmana, não teria direito de ir para o “abrigo”, que era exclusivo para os judeus, que estavam sendo oprimidos, ao saber disso, o marido de Adilah pediu para que ela se misturasse com as pessoas, e que salvasse sua vida e de seu filho, custasse o que custar. Adilah, com o coração na mão e o medo de ser executada na frente de todos aos descobrirem que ela era muçulmana, fez de tudo para ficar mais parecida com as mulheres locais, indo contra seus princípios e os mandamentos de boa conduta de uma mulher muçulmana, mas ela precisava salvar seu filho, acima de tudo, pois sabia que nele poderia haver uma salvação.
Felizmente Adilah conseguiu embarcar no caminhão e sentou-se ao lado de uma mulher, que tinha uma expressão preocupada e abraçava sua barriga, como se protegesse algo que estava ali, Adilah sentou-se ao lado dela, observando a mulher, esperando o momento certo para puxar uma conversa, tentar se enturmar e correr o menor dos riscos de ser descoberta. Despois de algum tempo, percebendo que todos no caminhão já dormiam, estirados por todos os cantos em situações precárias, ela começou a falar com a mulher. Antes de tudo, precisava pensar em um nome, uma vez que o seu era muçulmano.
- Me chamo Danielle, você está bem? – Danielle era um nome bom, um nome comum em muitos países e que possuía descendência judaica.
A mulher, que antes estava encolhida abraçando a barriga levantou-se, e olhou com dificuldade para Adilah, por conta da luz que entrou em seus olhos.
- Sou Azizah. – A mulher sorriu fraco, olhando para a barriga de Adilah e percebendo que assim como ela, sua nova colega também estava grávida. – Quanto tempo está grávida? – Adilah sorriu.
- Cinco meses. E você? Vejo que também está grávida. – Azizah não pode deixar de sorrir.
- Cinco meses também. Acho que eles possam nascer juntos. Você sabe o sexo? – Azizah perguntou.
- Não, e você? – Por mais que Adilah soubesse que seu filho era um homem, não queria dizer isso, com medo que Azizah perguntasse qual que seria o nome.
- Não sei, mas gostaria muito que fosse um menino, que fosse para o exército e tirassem todos esses muçulmanos de nossas terras, ou ao menos que tentasse algum acordo de paz com eles. Mas são todos tão evasivos e se acham os donos de todos os lugares.
Adilah não pode deixar de aparecer uma pontada de raiva e até pensou em rebater, mas em seguida passou a mão por sua barriga e soube que aquilo era para o bem do pequeno Jabbar. Então Adilah conteve-se em apenas assentir, com algumas lágrimas começando a surgir em seus olhos.
Passou-se algum tempo e tanto Adilah quando Azizah caíram em sono profundo, sendo acordadas apenas no momento em que chegaram ao abrigo e vários homens estavam gritando, exigindo que todos saíssem dos caminhões o mais rápido possível e arrancando dos veículos os que demoravam apenas alguns segundos a mais que os mais rápidos. Azizah e Adilah acordaram assustadas, sendo puxadas por homens fortes que gritavam com elas perguntando se elas achavam que estavam em um SPA. O local estava cheio de mulheres, idosas e crianças. Os garotos foram levados para um local separado e várias mães gritavam por eles, vendo eles serem levados para longe. Por conta da agitação, Azizah havia se perdido de Adilah, e embora estivesse sendo levada a força para o abrigo, Azizah insistia em gritar por Adilah, uma vez que era a única mulher que ela conhecia.
Já dentro do abrigo, após perder as esperanças de achar Adilah, Azizah acomodou-se em um local pequeno, e percebendo que todos também já estavam acomodados, decidiu que era melhor repousar um pouco e amanhã iria atrás de Adilah. Porém, após quase uma hora, Azizah ouviu alguém chamando por seu nome, junto com vários protestos e xingamentos de algumas pessoas, levantou-se e viu Adilah, há alguns metros de distância, pisando em algumas pessoas ou pertences delas e por conta disso, recebendo xingamentos.
- Danielle, estou aqui. – Azizah levantou a mão e disse, para que a nova amiga a achasse.
Adilah ficou radiante ao achar a nova amiga e correu até ela, recebendo o dobro de xingamento das pessoas ao redor. E assim passaram Adilah e Azizah, ao longo dos 4 meses em diante.

***


4 meses depois

Determinado dia, Adilah acordou sentindo como se tivesse urinado durante a noite. Acordou Azizah, preocupada, considerando que sua bolsa havia estourado.
- Azizah, Azizah, acorda, Azizah, minha bolsa, minha bolsa, eu acho que ela estourou.
Azizah acordou assustada, e percebeu que a área em que Adilah estava deitava encontrava-se molhada.
- Danielle, sua bolsa estourou, o que vamos fazer?
- Não sei, Azizah, acho que nós duas que teremos que fazer o parto.
Azizah arregalou seus olhos, olhou para sua própria barriga que já estava para nascer o bebê também. Fechou os olhos e pediu em silêncio. “Meu filho ou filha, que não nasça agora.”. Abriu os olhos e olhou para Adilah.
- Ok, o que vamos fazer primeiro?
Depois de arrumarem tudo que precisava, Adilah já estava quase parindo o pequeno Jabbar, de acordo com Azizah, já era possível ver a cabeça da criança.
- Azizah!
- Calma, Danielle, está quase lá, eu juro que já posso ver a cabeça dele.
- Azizah... Azizah, não é isso, Azizah. Eu... Eu tenho algo para te contar.
- Danielle, nada que não possa esperar, agora faça força.
- Azizah, meu nome... Meu nome não é Danielle.
- Deixe de besteira, Danielle, você deve estar com febre e está delirando. Vamos logo, ou sua criança não vai sair daí.
- Azizah! – dito isso o pequeno Jabbar saiu de Adilah, que estava ofegante e completamente tonta. Estava com febre, sabia que poderia ter pego uma infecção e se isso realmente aconteceu, seu tempo de vida não seria longo.
- Danielle, veja só, é um menino. É um menino. Danielle?
Quando Azizah olhou para Adilah, percebeu que sua amiga estava suando, estava basicamente desmaiada, para não dizer à beira da morte.
- Danielle, Danielle. Veja só, é um menino lindo e saudável, Danielle, acorde, veja seu filho.
Danielle abriu os olhos de leve, encontrando a amiga com um enorme sorriso no rosto, segurando um menino que se parecia muito com o pai, sorriu levemente e tentou olhar nos olhos da amiga.
- Azizah... Meu nome... Não é Danielle...
- Claro que é, não faça esforço, tudo ficará bem, Danielle. Veja só que lindo esse meninão... – Adilah, depositou a mão na coxa de Azizah, na esperança de que ela parasse de falar.
- Meu nome é Adilah...
- A... O que?
- Salve meu filho...
- Adilah?
- O nome dele...
- Você, você é você é...
- Jabbar. – dito isso o pequeno parou de chorar e olhou para o corpo de sua mãe, ao seu lado, uma vez que Azizah havia colocado o pequeno no chão e se afastado.
Azizah não podia acreditar. Todo esse tempo convivendo com uma muçulmana, não restava mais dúvidas e o filho dessa impostora, o que fazer com ele? Gritar para todos que a mulher ali morta era uma muçulmana? Deixar a criança morrer? Levar o pequeno Jabbar como um filho e depois dizer para o marido que eram gêmeos? Azizah não sabia o que fazer. Olhou para o pequeno, que tinha o rostinho virado para o cadáver da mãe, como se olhasse para ela, esperando por algum resquício de vida. Foi nesse momento que Azizah sentiu uma pontada na barriga. Havia chegado a hora de seu filho nascer e não havia ninguém ali para ajudá-la. Tentou implorar por ajuda, mas só conseguia gritar e com isso recebia xingamento das outras pessoas ali que queria dormir.
Azizah, fraca por causa da falta de comida, pela exaustão de ter realizado o parto de Adilah, que até pouco tempo atrás seu nome era Danielle, não tinha mais forças para gritar, virou a cabeça para o lado, vendo uma senhora observá-la de longe com uma bacia em seu colo. Olhou para a senhora, pediu um “por favor” mudo e fechou os olhos.

***


Azizah acordou algum tempo depois, ela havia desmaiado e assim que olhou para frente, percebeu que estava sem barriga, e isso só podia significar que seu filho havia nascido. Tentou se levantar, mas sentiu uma dor muito forte, então deitou-se novamente.
- Fique calma, minha querida.
Azizah tentou olhar quem falava com ela, e percebeu que ao seu lado estava aquela idosa a quem ela havia pedido por socorro em silêncio. A senhora torcia alguns panos na bacia cheia de sangue.
- Meu filho, onde está meu filho?
- Mantenha-se calma, minha querida. Tudo ficará bem. Agora você precisa descansar. Ou acabará como sua amiga.
- Ela não é minha amiga.
- Mas eu acho que será melhor que seja.
A senhora torceu um pano e passou levemente no rosto de Azizah para retirar o suor.
- Desculpe, minha senhora, mas é o melhor que temos agora.
- Tudo bem. – dito isso Azizah adormeceu por alguns minutos, apenas para se recuperar do que havia passado.

***


Vendo que Azizah abria os olhos, a idosa ficou observando a mulher se levantar, esperando que ela estivesse bem para poder contar o que aconteceu.
- Onde está meu filho? – Azizah perguntou, sentindo-se um pouco tonta por conta de ter se sentado rápido demais, sentindo uma leve dor nas partes baixas.
A mulher continuava a torcer os panos, sem olhar para Azizah.
- Meu filho, onde está?
- Seu filho não sobreviveu, senhora.
- O meu filho o que?
- Ele não sobreviveu, você havia desmaiado, tentei acordá-la, mas estava fraca demais. No momento em que consegui realizar o parto, seu filho já estava morto.
- Você matou meu filho?
- Muito pelo contrário, sou uma parteira, e está em último lugar na minha lista matar uma criança em seu parto, pelo contrário, estou muito chateada com o que aconteceu?
As duas ficaram em silêncio. Azizah processando o que a idosa havia acabado de lhe falar.
- Era um menino, muito parecido com esse daqui. – dito isso olhou para o filho de Adilah, que dormia calmamente ao lado do cadáver da mãe e do outro lado, percebeu uma criança, que assim como sua “amiga” também estava morta.
- Sim, aquele era seu filho. Não temos como remover os corpos, mas posso tentar dar um jeito de remover o do pequeno.
Azizah não sabia o que falar. Era um menino tão bonito. Seus olhos se encheram de lágrimas e a vontade de gritar com Adilah, morta, cresceu em seu peito, para Azizah, a culpa da morte de seu filho era dela...
- Raiva não é um sentimento bom para se ter em tempos como esse, minha querida. – disse a idosa. – Sugiro que cuide do filho de sua amiga. É um bebê muito saudável. Qual é o nome dele? Você sabe?
- Jab - Por um momento Azizah pensou em contar toda a verdade para a idosa, mas em seguida o menino se mexeu, chorando de leve, como uma criança carente, que nunca teria o carinho da mãe. – Ele se chama Caleb, esse é o nome dele.
- Bonito nome, significa fiel como um cão, sabia minha senhora? Talvez seja melhor cuidar dele, para que ele não queira vingar a morte da mãe. – dito isso a senhora levantou-se e foi embora.
- Ei, você. O que você sabe a respeito de minha amiga?
- Apenas o necessário. Até logo. – Dito isso ela saiu do local, tão ágil que Azizah mal pôde chamar por ela novamente.
Azizah ficou observando o pequeno Jabbar, que chorava levemente, com fome. Refletiu por alguns segundos e olhou para o corpo de seu filho, ao lado do de Adilah, era um menino, como sempre desconfiou e o maior sonho de seu marido fosse que o garoto se chamasse Caleb, para vingar as terras que os muçulmanos insistiam em invadir. Seus olhos marejaram, mas pegou o pequeno Jabbar no colo, oferecendo-lhe o peito, que pegou vorazmente. Azizah amamentava Jabbar, e cantava baixinho, talvez conseguisse fazer com que o pequeno se tornasse um pequeno judeu, talvez ninguém soubesse de nada, e esse então, seria o segredo que ela iria guardar para sempre com ela.

***


16 anos depois.

30 de Novembro de 1947.


Jabbar já tinha seus 16 anos, ele e Azizah haviam voltado para casa, mas vez ou outra eram removidos novamente para abrigo de antes, que sempre estava do mesmo jeito, inclusive com os corpos de Adilah e Caleb em decomposição, e nesse momento estava começando a Guerra Civil no Mandato da Palestina, os ingleses haviam se intrometido na guerra e crianças a partir de seus 16 anos estavam sendo convocadas para guerrilharem. Como primeira etapa, o exército recolhia uma amostra de sague de todas as crianças, primeiro para saber se ela possuía alguma doença, segundo para controle de feridos e terceiro para deixar no registro, uma vez que era obrigatório todos darem o tipo sanguíneo quando completavam 18 anos ou iam para o exército.
Jabbar foi fazer seu exame, e verificou-se que ele possuía tipo sanguíneo diferente de seus pais, que eram O- e A+ e Jabbar era AB-. Sua mãe, que era A+ foi acusada de traição e os muçulmanos que haviam tomado grande parte do território, exigiram que ela fosse enterrada até a cabeça e apedrejada até a morte por traição.
Jabbar, quando estava voltando para o lado da mãe e do pai, percebeu que houve uma pequena invasão na área, e que homens com lenços no rosto pegaram sua mãe e a levaram, enquanto ela gritava pelo filho, que saiu correndo atrás do veículo. Gritando por sua mãe.
Após algumas horas, Jabbar encontrou com o local em que haviam deixado sua mãe e encontrou vários homens, sentados em círculo, com algo no centro. Jabbar correu, apenas para dar de cara com sua mãe, enterrada até a cabeça e com várias marcas no rosto, inclusive profundos cortes e com o rosto cheio de sangue. Jabbar não podia acreditar no que via. Saiu correndo, passando pelos homens grandes e fortes que cercavam ela.
- Mãe... Mãe... Acorda, mãe. Fala comigo.
- Então esse é o filho da vagabunda. – disse um homem forte, com as roupas rasgadas. – Vê essa roupa, meu jovem, foi a vagabunda da sua mãe quem fez isso. Tentamos domá-la, mas ela preferiu que fosse do jeito mais difícil, então mal conseguimos nos divertir e logo já tivemos que enterrá-la para o apedrejamento.
Jabbar não entendia nada o que aqueles homens diziam. Mas começou a observar melhor e percebia que se tratava de uns 20 homens ou mais, alguns deles com marcas de sangue pelas roupas, outros com elas rasgadas e alguns apenas riam. Os olhos do menino ardiam em lágrimas.
- Relaxa, garoto. Sua mãe já pagou por tudo, quando 12 de nós tomamos conta dela e ela já não aguentava mais, chamamos o restante, ela confessou tudo, mas de nada adiantou e aproveitamos bem dessa vadia. Teve o devido fim, por roubar um de nós.
Jabbar chorava com toda a sua força, sem entender nada do que o homem dizia, mas sem conseguir parar de olhar para o rosto destorcido de sua mãe.
- POR QUE FIZERAM ISSO COM ELA? ELA NÃO MERECIA. – e voltou a chorar com todo seu pulmão.
- Claro que merecia, criança tola. – dito isso o homem deu um soco na cara de Jabbar.
- Pare com isso, deixe o garoto saber a verdade. – disse um homem mais afastado, que olhava para baixo, fazendo alguma coisa.
- Você, você sabe seu nome, garoto insolente? – perguntou o homem forte.
- Sei, me chamo Caleb. – dito isso o homem forte lhe deu outro soco. – Lógico que não sua besta. Você é um de nós, sua mãe morreu e essa vagabunda roubou você de nós. Seu nome é Jabbar.
- Isso é mentira, minha mãe me disse que chamo Caleb.
- Escuta aqui. – o homem forte ergueu o menino pela orelha. – Sua “mãezinha” vagabunda nos contou tudo. Sua mãe morreu e ela roubou você para conseguir acabar com nossa raça. Seu nome é Jabbar e você é um de nós. Sua mãe se chamava Adilah.
- Minha mãe chama Azizah! – o garoto gritava e tentava não chorar com a dor do homem forte ao puxar sua orelha.
- NÃO CHAMA NÃO, GAROTO BURRO. TRAGAM O PAI DESSE MOLEQUE!
Dito isso um homem apareceu, saindo de uma cabana, arrumando sua genitália para dentro.
- Veja aqui, o garoto acabou encontrando a mãe ladra de crianças. Está vendo garoto, como se parece com esse homem, esse é seu pai, não aquele judeu nojento.
Jabbar olhou bem para o homem que havia acabado de sair da cabana e percebeu, que realmente, era muito parecido com ele.
- Esse é meu filho então, o pequeno Jabbar. Tudo bom com você?
Jabbar apenas virou o rosto e fechou os olhos, para não ter que olhar para a cabeça deformada da mãe.
- Fale comigo, criança insolente.
Jabbar continuava em silêncio.
- Deixe ele, ele terá muito tempo para aprender conosco. Temos que nos concentrar nos ingleses que decidiram invadir aqui também, depois cuidamos dos judeus nojentos.
- Nâo quero. – disse Jabbar, encolhendo-se todos.
- O que disse, Jabbar?
- Não me chamo Jabbar, meu nome é Caleb, e não quero ficar aqui.
- Você o que?
- Não quero ficar aqui, quero voltar para meu pai.
- Você não irá voltar. Ou fica aqui ou será executado.
Jabbar pensou por um momento. Limpou as lágrimas de seus olhos. Olhou uma última vez para sua mãe e ergueu a cabeça.
- Me chamo Caleb, e se é minha única opção. Desejo ser executado.
O pai começou a gargalhar, não acreditando no que aquele moleque havia dito.
- Você que o que, meu filho?
- Não sou seu filho, me chamo Caleb e desejo ser executado.
- QUE SEJA! – gritou o pai. – AMARREM-O, HOJE, AO ANOITECER, IREMOS MATAR ESSA CRIANÇA INSOLENTE COM UM TIRO NA CABEÇA... Que eu mesmo terei a honra de dar. Pois, aquele que se nega a ser um de nós, merece ser executado. Sem piedade.
Dito isso, Jabbar foi amarrado e levado para dentro da cabana, onde ficou em constante vigia. O sol começava a se por, e seu pai, começou a limpar a arma, olhando fundo nos olhos de seu filho.
- Uma pena que tenha se recusado a tornar-se um de nós, Jabbar.
- Não me chamo Jabbar, meu nome é Caleb. – os olhos do pai se encheram de raiva, e então ordenou.
- LEVEM-O À ÁRVORE MAIS PRÓXIMA, PERTO DE SUA MÃE, E AMARREM-O DE COSTAS.
Dito isso, vieram os soldados, fazendo o que o homem havia mandando. Jabbar tentou lutar contra eles, mas recebeu uma forte pancada da cabeça, que o deixou mole e basicamente desacordado.

***


O sol já havia se posto. Caleb estava amarrado na árvore, com a testa encostada no tronco. Atrás de si podia ouvir barulhos de pessoas se aproximando.
- Você tem uma última chance, Jabbar... Tem certeza? – perguntou o pai.
- Caleb, meu nome é Caleb.
Dito isso, o som de um tiro seco tomou conta do local, tendo como destino o centro da cabeça de Caleb, que relaxou todos seus músculos antes tencionados. Seu sangue escorrendo da cabeça, e os homens dando as costas e voltando para a cabana. Sem antes o pai, Aldair, - aquele que é nobre e possui riqueza interior -, olhar para trás, para o corpo morto do filho, e um fino filete de lágrima escorrer de seu rosto.


FIM.



Nota da autora (30/12/14): Olá, pessoas. Tudo bem? Bom, confesso que esse especial me pegou de surpresa. Eu já tinha a ideia dessa fic fazia um longo tempo, mas eu nunca tive o momento certo de postá-la, então a That veio com esse especial e eu pensei “Vamos lá”. Confesso que a fic passou por várias transformações até ficar desse jeito. Eu queria algo bem triste e que tivesse judeus, primeiro pois eu acho muito triste todas essas guerras que acontecem no oriente médio, segundo que amo judeus e morro de vontade de conhecer um, tipo aqueles que usam o quipá, enfim. Eu pensei em fazer essa fic interativa, mas não teria muito sentido, uma vez que não é legal alguém sofrer tanto, não ter romance e outra que basicamente todos os nomes possuem significados. Um claro exemplo é Jabbar e seu pai. Jabbar significa rio, transmutação; na fic vemos que ele deixa de lado suas verdadeiras origens (árabe) para se tornar um judeu, com isso, ele vira o Caleb, que significa fiel como um cão, e ele foi muito fiel à sua mãe que o “adotou” preferindo morrer do que se juntar a aqueles que mataram sua mãe que o criou. Seu pai é outro exemplo disso, ele se chama Aldair, que é uma pessoa nobre e de bom coração. Ele tentou salvar o filho, perguntando diversas vezes se ele tinha certeza que preferia morrer, mas Aldair era o chefe da “equipe” não poderia se juntar ao filho, pois não teria a menor chance contra eles, e Aldair vivo, é uma esperança que esses povos vivam em paz, pois ele é uma pessoa sem preconceitos, tanto que pediu para a mulher tentar se salvar entre os judeus, inclusive não carrega nenhum ódio dentro de si, embora tenha estuprado a mãe de Caleb, mas isso é por causa do “cargo” dele, ele não poderia dizer “melhor não”, pois seus “capangas” achariam isso um tanto quanto estranho. Azizah significa precioso e querido, fato que foi provado pelo pequeno Jabbar, que sempre amou muito sua mãe, mesmo depois de saber toda a verdade. E Adilah significa igualdade, que mudou-se completamente para se passar por igual aos judeus, e disse toda a verdade em seu último momento, para mostrar que somos todos iguais.
Confesso que não sou muito boa com shortfic, pois sempre acho que fica um lixo, mas, por outro lado, morro de preguiça de escrever atualizações nas fics long. Então talvez seja melhor shortfic mesmo. Espero que vocês tenham gostado dessa fic, e eu realmente espero que ela não tenha ficado confusa.
Embora ela trate de um tema real, eu juro que não sei se as coisas que escrevi aqui são reais, pois eu pesquisei um pouco, mas também inventei muita coisa e usei Jogos Vorazes como inspiração naquela parte do sangue que a família toda tem que dar e tals. Não me matem caso eu tenha escrito algo errado e principalmente se você for judeu (judia) ou muçulmano, árabe, todos eles. Minha intenção não foi ofender ninguém, mas sim retratar um triste episódio que acontece no mundo há um longo tempo.
Chega de falar. Espero que vocês tenham gostado e não se esqueçam de comentar. :)

Outras fics:
13/07/14 - Maracanã - [Especial de Agosto (Tema Livre)]



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