Para Sempre


Escrita por: Gabi V.
Betada por: Lila Zardetto


CAPÍTULOS: [Prólogo] [1] [2] [3] [4]



Prólogo


Três da manhã. Que pessoa doentia sai do trabalho às três da manhã com um sorriso no rosto? Bom, a verdade é que eu amo o que eu faço, por isso não ligo de ficar até tarde no trabalho de vez em quando. De vez em quando. Assim que saí da agência, fui correndo pro carro, sentindo minhas bochechas congelarem com o ar frio. Havia nevado o dia inteiro. Entrando no carro, liguei o aquecedor e senti meu celular vibrar.
- Vai demorar pra chegar em casa?
- Como você sabe que eu ainda não estou em casa?
- Resolvi fazer uma surpresa pra você. - ele tinha ido pra casa. Ia ficar a semana inteira viajando, mas estava em casa essa noite. Um sorriso se formou no meu rosto e eu acelerei o carro, com pressa de vê-lo. O que não foi uma boa ideia.
A estrada estava cheia de gelo e o meu carro derrapou. Depois disso, tudo ficou escuro.
- ?

Capítulo Um



Minha cabeça doía. Doía muito. Assim que consegui abrir os olhos, a claridade os fez doer também. Eu estava em uma cama de hospital com duas enfermeiras olhando pra mim.
- Srta. ? - perguntou uma delas.
- O que aconteceu?
- Seu carro derrapou na estrada e você está inconsciente há um dia. O que está sentindo?
- Dor de cabeça e um pouco de tontura.
- Normal. Já inserimos as medicações no soro e a Srta. ficará boa logo. Não notamos nada grave até agora.
- Sorte sua. - falou a outra enfermeira. - A pancada que levou na cabeça foi bem forte.
- Em que hospital estou? - finalmente notei que estávamos falando inglês, então, não poderia estar perto de casa, poderia?
- St. Mary's Hospital.
- Mas isso é em Londres. Eu não posso estar em Londres. - as duas se entreolharam, sérias. É, parece que eu estava em Londres. - Cadê minha mãe?
- Ela está a caminho, acabou de pegar um voo. Mas tem alguém aqui que gostaria de vê-la.
Então, se eu já não estava entendendo nada, com certeza piorei com o que vi. Harry Styles (sim, ele mesmo) entrou pela porta, se sentou ao lado da cama e começou a me perguntar como eu estava, se estava sentindo alguma coisa e a me pedir desculpas. Fiquei sem reação, boquiaberta, deixando nítida a expressão de quem não estava entendendo merda nenhuma. Uma das enfermeiras cochichou algo no ouvido dele, que ficou mais sério que antes e levantou com uma das mãos na cabeça.
- Srta. , a senhora sabe quem é ele? - a pergunta é, quem não sabe? Eu queria saber o que ele estava fazendo ao meu lado, com cara de choro.
- Harry Styles.
- Certo, mas a Srta. sabe por que ele está aqui? - resolvi arriscar. Não queria fazer papel de retardada na frente de Harry Styles.
- Bom, você provavelmente soube do meu acidente e que eu sou uma grande fã, por isso veio me ver, talvez? Olha, se foi isso, muito obrigada, de verdade. Não sei nem o que dizer. - falei sorrindo. Eu estava realmente feliz. Era fã de One Direction há anos e mal podia acreditar que Harry Styles estava na minha frente. Claro, queria gritar, abraçá-lo e pedir pra tirar mil fotos, mas estava em uma cama de hospital, provavelmente parecendo um zumbi e a dor de cabeça estava tão forte que dificultava qualquer movimento que eu tentasse fazer.
- Srta. , quero que me responda algumas perguntas. - a enfermeira falou, calma até demais, sentando ao meu lado. - Qual seu primeiro nome?
- .
- De onde veio?
- Brasil.
- Quantos anos tem?
- Dezessete.
- Puta merda. - foi a vez de Harry se manifestar no fundo do quarto. - Não, você não tem dezessete anos. Sério, , para com essa brincadeira.
- Sr. Styles, ela não parece estar brincando.
- Mas vocês me falaram que nada grave aconteceu com a cabeça dela! Que a pancada foi forte, mas que ela estava bem!
- Bom, nós não podemos prever uma amnésia por meio de exames. - congelei quando ouvi a palavra "amnésia". Ela voltou a olhar pra mim com a mesma calma de antes. - A Srta. tem vinte anos.
- Não, não tenho. Nasci em 97.
- Estamos em 2017.
- Não, não estamos. Estamos no final de 2014.
- , por favor. Tenta lembrar. - Harry falou e tive a sensação de que ele estava prestes a chorar.
- Eu conheço você? Quero dizer, pessoalmente?
- Srta , vocês dois estão noivos. - senti meu queixo indo no chão. Olhei pra minha mão direita. Havia um anel no dedo anular. Ótimo. Eu estava com amnésia. Comecei a ficar ofegante e algum dos aparelhos que eu estava conectada começou a apitar. Uma das enfermeiras teve que tirar Harry da sala, que implorou e insistiu pra ficar, mas não adiantou. E tudo ficou escuro de novo.

***
Abri os olhos, mas dessa vez, a dor de cabeça estava menor. Ainda bem. Uma das enfermeiras de ontem entrou no quarto.
- Sei que foi um choque, mas você não pode ficar se estressando à toa. Ainda está se recuperando.
- Olha, eu não posso estar noiva de Harry Styles. É simplesmente impossível, eu nunca nem fui...
- Sua mãe está aqui. - vi minha mãe entrando desesperada no quarto, chorando e me abraçando, falando que eu tinha que ser mais responsável senão ela esconderia minha carteira de motorista. Tendo vinte anos ou não, minha mãe não mudou nadinha. Ainda me tratava como se eu tivesse dezessete.
- Oi, mãe... - falei em português, aliviada por ter pelo menos uma pessoa com quem pudesse falar minha língua.
- Oh, não, querida, aprendi a falar inglês. - ótimo. Obrigada pelo apoio. - Você me ensinou nesses dois anos para que eu pudesse me comunicar com Harry e seus amigos. - senti um arrepio quando escutei "Harry e seus amigos." Como eu queria lembrar disso.
- Que seja. Mãe, por favor. Me conta o que aconteceu.
- Não posso. Quer dizer, não posso falar como você e o Harry se conheceram. Posso responder todas as suas perguntas, menos essa. Você vai ter que se esforçar pra lembrar. Os médicos falaram que é bom e estimula sua memória. Tudo o que eu posso dizer é que você foi a um show deles... Escondida. - tive que rir.
- Fiquei encrencada quando voltei pra casa?
- Você nem imagina o quanto. Por falar nele, ele está aqui desde cedo. Não foi embora ainda. Acho que vocês deviam sair pra almoçar ou algo do tipo... - falou olhando para enfermeira.
- Ela não pode sair do hospital. Mas se não estiver tão tonta, pode almoçar com ele em um dos restaurantes lá embaixo.
- Espera! Eu não sei se estou pronta pra isso.
- Você ficava no meu pé todo santo dia pedindo pra ir a um show. Quando pode almoçar com ele, você fica com frescura? Não entendo você.
- Não é todo dia que eu descubro que sou noiva de um dos meus ídolos.
- E isso é ruim?
- Quando eu não me lembro, é um pouco.
- Mas você vai se lembrar, querida! - ela me puxou pra mais um abraço apertado, ignorando o fato de que sofri um acidente e estava dolorida. Mas relevei.

Saí do quarto devagar, minhas pernas doíam também. Vi Harry deitado em um sofá, dormindo. Lindo, como sempre achei. Fiquei com pena de acordá-lo, mas a voz da minha mãe veio na minha cabeça, gritando "Você não vai amarelar agora, vai?". Pigarreei alto e ele abriu os olhos.
- Oi...
- Oi... - situação tensa? Nem um pouco.
- Então, as enfermeiras me deixaram almoçar lá embaixo e... - ele abriu um sorriso e eu congelei. Meu Deus, ele é mais bonito pessoalmente.
- Vem. Eu levo você. - falou se levantando e pegando no meu braço, me ajudando a andar.
- Você não precisava ter dormindo aqui. Podia ter ido pra casa. Vai ficar todo dolorido.
- Não ligo. - falou ainda sorrindo.
Quando nos sentamos pra almoçar, aproveitei pra fazer perguntas, claro. E o que a minha mãe disse era verdade, ninguém podia me dizer como eu o conheci. Isso era por minha conta. Mas não lembrava de uns dois anos da minha vida, por isso esqueci logo dessa pergunta.
- Seu pai está bem. Infelizmente está em uma conferência séria no trabalho, por isso não pôde vir ainda... Mas acho que deve pegar um voo amanhã. Seus tios estão ótimos e sua afilhada tá enorme! Já fala tudo! - era engraçado e muito esquisito ver Harry falando sobre a minha família. Pelo visto, eles se davam bem e fiquei feliz com isso.
- Ai, meu Deus! E o meu cachorro?
- Lá em casa. Aquele lá não morre nem tão cedo. - ri, aliviada.
- E sua família? Sabe, eu me dou bem com eles, ou...?
- Minha irmã te ama e minha mãe também. Pode ficar tranquila. - falou rindo. Me senti aliviada mais uma vez. - Meu pai também te adora. E os meninos, bom... - congelei. - Eles pegam no seu pé. Mas gostam de você também. - ele viu que eu relaxei na cadeira e começou a rir.
Ele falou mais sobre nossas famílias, até eu me certificar de que estava tudo bem. Então, parti pra parte tensa da conversa... Bom, pelo menos pra mim.
- Então, você disse que meu cachorro tá "lá em casa"... Já moramos juntos?
- Faz uns dois meses. - vi que ele teve receio da minha reação.
- E eu ainda sou muito insuportável?
- Muito! - falou rindo. Vi que apesar do esforço de tentar parecer despreocupado, ele estava tenso, como se estivesse segurando o choro.
- Harry, me desculpa.
- Pelo o que?
- Por não lembrar. Eu prometo que estou tentando e que deve ser muito chato pra você, ficar narrando tudo o que a gente já passou e me ver perguntando coisas como se eu fosse uma completa estranha, mas...
- Ei, a culpa não é sua. Não precisa se desculpar, de verdade. Sei que você vai lembrar. - falou sorrindo e me fazendo sorrir também. - Não deveria te dizer isso ainda, mas parece que você recebe alta amanhã... Então, vou me adiantar e dizer que eu vou entender completamente se você quiser ir pro hotel com sua mãe. Sério, não vou ficar com raiva nem nada...
- Não. Eu vou pra casa com você. É o melhor jeito de conseguir minha memória de volta, certo? Voltando à rotina?
- É. - e pela primeira vez, vi que ele estava sorrindo de verdade.


Capítulo Dois



Fotógrafos cercavam o hospital. Repórteres gritavam meu nome. Dá pra acreditar? Eles gritavam o meu nome. Claro que também gritavam e se viravam pro Harry e perguntavam o que aconteceu ou como eu estava. Havia dois seguranças do Harry nos "protegendo" dos flashes. Entramos no carro e eles ainda nos seguiam.
- Desculpa. Nem sempre é tão ruim assim, mas você sabe...
- Tá tudo bem. - ele era Harry Styles, certo? Eu teria que me acostumar com esse tipo de coisa.

Chegando em casa, tenho que admitir que fiquei impressionada. Era grande, claro, e bem bonita. Só achei que por ser a casa de um famoso, seria cheia de frescuras, mas me senti incrivelmente à vontade. Claro, , você mora aqui. Meu cachorro correu para os meus pés assim que me viu. Ele estava do mesmo jeitinho que eu me lembrava. Comecei a reparar nos porta-retratos em cima de alguns móveis. Harry e eu na França. Harry e eu parecendo bêbados com alguém do nosso lado... Niall! Ele parecia tão bêbado quanto nós. Eu, Harry e Gemma. Virei e vi Harry me observando como se estivesse me dando tempo para que eu processasse algo... Ou lembrasse de algo. Mas não, nenhuma lembrança. Ele deve ter percebido, porque quando me viu olhando a foto em que estávamos na França de novo, falou baixinho:
- Te pedi em casamento nesse dia. - uma pontada de culpa me atingiu. Por que eu não conseguia lembrar? Merda. - Foi há quatro meses. Eu tinha um show pra fazer e te levei comigo, claro, já com essa intenção. Você não tinha ido à França ainda e eu ia te levar pra jantar um dia antes do show, mas você insistiu em parar na Torre Eiffel antes, porque queria vê-la à noite. Fomos. E aí eu vi você, encantada olhando pra Torre, com a mesma expressão do dia em que eu te conheci.
- No show?
- É. - ele afirmou, rindo. - Você estava tão linda, eu simplesmente não aguentei. Te pedi em casamento ali mesmo. Inclusive, foi um turista que tirou essa foto e nós pedimos pra ele nos passar. - realmente estávamos nos abraçando como se não soubéssemos da foto. Era como se não notássemos a existência de mais ninguém ali.
Não consegui evitar e comecei a chorar. Era angustiante não me lembrar do provável momento mais lindo da minha vida. O senti me abraçando por trás e deixei que o fizesse, me entregando ao abraço.
- Vai ficar tudo bem... Vai dar tudo certo. - ele falou com a voz rouca. Então percebi que ele também chorava.

***
Minha cabeça ainda doía um pouco, por isso fui me deitar. Harry também foi; os dois dias que passou dormindo no sofá desconfortável do hospital não devem ter sido fáceis. Depois de uma - longa - conversa com meu pai dizendo que "sim, está tudo bem e não, não precisa vir aqui só pra me ver" e com minha mãe, a convencendo de que "não, não posso ir pro hotel, porque no hotel minhas lembranças não serão estimuladas e não voltarão nunca" consegui, finalmente, dormir. Disse a Harry que ele poderia dormir na - nossa - própria cama, claro que não o privaria disso. Pra falar a verdade, eu estava gostando de passar esse tempo com ele. Ah, por favor, quem não gostaria de ficar ao lado do ídolo? Lembro da primeira vez que os vi no clipe de One Thing, em 2011. Eu tinha 14 anos. Baixei o resto do primeiro álbum deles e os acompanhei até... Bom, até quando eu me lembro.
Quando acordei, ele ainda dormia, tranquilamente, ao meu lado e decidi ir tomar um banho. Sei que pode até parecer mentira, mas ainda não tinha me olhado no espelho. Não queria ver os machucados e as prováveis cicatrizes que ficariam no meu rosto... Por isso fiquei aliviada ao entrar no banheiro, quase todo constituído por espelhos e ver que só tinha alguns machucados em cima da sobrancelha, que provavelmente sairiam depois sem deixar muitas marcas. Vi que meu cabelo estava um desastre, curto demais... E essa franja? Porque eu cortei uma franja? Coloquei algumas mechas atrás da orelha e foi aí que eu vi.
- AHHHHHHHHH! - não consegui conter o grito de susto, que fez Harry pular da cama e vir em direção ao banheiro. - Desculpa! Ai, meu Deus, desculpa! Mas, eu tenho piercings! E uma tatuagem! - levou alguns segundos para que ele se acalmasse do susto e caísse na gargalhada.
Fiquei analisando mais de perto a tatuagem de pena no meu pescoço, atrás na minha orelha e as três argolinhas na cartilagem da minha orelha direita. "Meu pai vai me matar" foi o primeiro pensamento que me surgiu, antes de lembrar que eu tinha 20 anos. Olhei para o braço de Harry e ele tinha a mesma pena no braço. Percebendo minha expressão de choque, ele confessou:
- Estávamos meio bêbados.
- Claro...
- Se eu fosse você, olharia a sua nuca... - subi o pouco cabelo que me restava, virei de costas e me esforcei para enxergar o espelho. Uma meia-lua havia sido tatuada na minha nuca. - Essa você fez sozinha. - ele parecia estar se divertindo com meu estado de choque, ainda nítido.
- Tudo bem, tudo bem. Eu só virei uma maluca tatuada.
- Na verdade, elas caíram bem em você. - falou, ainda rindo.
- Ainda bem que você diz isso... – falei me permitindo rir da situação, também.

***
- E aí? Como tá a vida com o seu amor de adolescência?
- Ele é um amor, mas eu não me lembro de nada... Então é bem estranho. - estava mesmo precisando falar com , minha melhor amiga de infância. - Você não sabe como é bom falar com alguém que eu me lembre e que me entenda. E em português.
- Digo o mesmo! A galera aqui em Los Angeles é bem antipática.
- Me explica de novo como você foi parar aí?
- A agência que você trabalha me viu em uma foto com você, no seu aniversário de 20 anos! Me chamaram, fiz uns testes, assinei contrato e aqui estou eu... Modelando... - ela cantarolou.
- Bom, pelo menos você não desistiu de ser médica pra ser publicitária...
- Amiga! Foi uma escolha sua! Tenho certeza que vai fazer sentido quando você lembrar de tudo!
- Se eu lembrar de alguma coisa... Você não pode me contar nada?
- Não, nadinha.
- Você continua sem servir pra nada. - revirei os olhos, rindo.
- Obrigada.

Capítulo Três



Minhas roupas não ficavam legais em mim. Não pareciam comigo. Não adiantava prender meu cabelo, ele continuava esquisito (pelo menos pra mim). Se eu o prendesse, não teria como esconder as tatuagens. Pelo menos, tinha tirado os brincos da minha orelha. Harry não estava em casa, tinha ido ensaiar para o próximo show que seria em Londres mesmo, na Arena O2. Só foi depois de muita insistência, depois eu ter prometido que eu ficaria bem e que Ruby, a empregada que já estava meio velhinha e não parava de tagarelar, cuidaria de mim enquanto ele não estivesse.
- Acho que a Ruby não tem muito juízo pra isso. - falou e não consegui deixar de rir e concordar. Mas ele foi, mesmo assim.
Fui procurar no meu guarda-roupa alguma coisa que tivesse pelo menos um cheiro familiar, tentando estimular minhas lembranças, mas não achei nada. Eu precisava tomar um ar.
Gritei pra Ruby que ia sair, mesmo não tendo certeza se ela tinha me ouvido. Na verdade, acho que ela estava tirando outro cochilo. Mas eu pretendia voltar pra casa cedo, então não tinha problema.
Saí andando na rua, encantada, como qualquer turista ficaria. Como eu não conseguia me lembrar que morava naquele lugar? Devo ter andando por uma hora, quando vi que já estava na hora de voltar.
- ? - eu conhecia essa voz.
Virei e lá estava meu primeiro namorado, Lucas, em Londres. Olhando pra mim com uma expressão tão confusa quanto a minha deveria estar. Tínhamos acabado um pouco antes do meu aniversário de dezessete anos.
- Oi! - sorri amigavelmente, mas levando em consideração que não lembrava o que poderia ter acontecido antes de eu conhecer Harry, me arrependi por um segundo, até ele responder o sorriso. É, felizmente não sentia mais nada por ele.
- Quanto tempo! O que você faz aqui?
- Eu moro aqui... E você?
- Vim passar a semana, por causa do trabalho. - ah é. Tínhamos trabalhos agora. Isso ainda era estranho.
- . - virei e vi Harry atrás de mim. Chegou ofegante do meu lado, e antes de falar qualquer coisa, percebeu a presença do meu ex namorado, mudando sua expressão. Agradeci mentalmente por ele ter percebido e se adiantado.
- Bom, eu tenho que ir... Tchau. Foi bom te ver. - falou se afastando.
- Você tá bem? - perguntei a Harry, que o seguia com os olhos.
- Não, você me deu um susto.
- Ah, desculpa... Eu não sabia que você ia chegar do ensaio agora e eu precisava tomar um ar.
- E esbarrou com ele por acaso?
- Claro, acha que eu marquei de me encontrar com ele aqui? - respondi irritada com a pergunta.
- Não, não é isso... Olha, você não pode me culpar por me preocupar com você. Um pouco antes da gente se conhecer, você estava meio mal por esse cara. Fora que você podia ter se perdido. - a ideia de acharem que só porque não me lembrava das coisas, eu não poderia me virar sozinha, me irritava profundamente. E não falava só por Harry, minha mãe também tinha agido assim comigo no telefone, achando que eu não ficaria bem sem ela. Eu perdi a memória, não voltei a ter 5 anos. Pensei em respondê-lo de novo, mas achei melhor ficar calada. A última coisa que eu queria era discutir com meu ídolo/noivo que eu não lembrava.
- Vem. - ele falou me levando pro carro estacionado na esquina.

***

A noite não foi nem um pouco tranquila. Eu não aguentava mais ficar naquela casa, olhando fotos minhas de momentos que eu não lembrava. Harry tentava cancelar os compromissos que tinha agendado para a semana, incluindo o show que tinha no dia seguinte, mas acabaria comprometendo campanhas, fãs ou até mesmo os outros membros da banda. E isso me irritava. Eu podia me virar sozinha. Eu precisava de um tempo pra tentar me lembrar das coisas. Quando ele desligou o telefone, hesitei um pouco, mas consegui falar.
- Olha, você não precisa cancelar nada disso por minha causa. Eu vou ficar bem.
- Que nem você ficou hoje?
- Nada aconteceu hoje, Harry... Eu nem sequer me perdi.
- Sei... Parece que eu só faço errar com você, né.
- Como assim?
- Não importa. Eu vou dar um jeito de cancelar os compromissos da semana. Não vou deixar você sozinha de novo.
- Dá pra parar de se preocupar tanto comigo? Eu tenho vinte anos. - falei um pouco mais alto do que eu gostaria.
- Não, não dá! - ele falou igualando seu tom ao meu. - Eu não ia aguentar perder você de novo! Você tem noção de como eu me senti quando me ligaram do hospital falando que você tinha sofrido um acidente e estava inconsciente? Ou quando me falaram que você não tinha ideia de quem eu realmente era? Ou quando a simples ideia de você achar que ainda é apaixonada por aquele idiota passou pela minha cabeça? Eu não aguento mais perder você!
Era isso. Os sentimentos dele por mim, pela primeira vez desde o acidente, estavam mais do que claros. Mas eu não conseguia ficar ali, olhando pra ele, sem conseguir retribuir todo aquele sentimento. Eu me importava com ele, sim. Mas enquanto aquele vazio na minha memória permanecesse ali, não ia ser a mesma coisa. Não ia ser nada nem parecido com o que ele sentia por mim.
- Acho... - comecei a falar com receio - Acho que ficar aqui não tá sendo bom pra mim, ou pra minha memória. Eu nem sei mais quem eu sou.
Ele, que antes estava sério, agora tinha uma expressão morta.
- Soube que a está em Londres esses dias... Pode ficar com ela, se quiser.
- Achei que você não aguentasse mais me perder.
- Não aguento. Mas se for o melhor pra você... - falou entrando no banheiro, indo tomar banho.
Não consegui evitar que as lágrimas caíssem enquanto jogava algumas roupas na mala. Nunca tinha me sentindo tão angustiada ou frustrada antes. Quando desci com minhas coisas, Harry já se encontrava na sala.
- Já falei com o motorista. Já sabe o hotel que ela tá?
- Já, ela acabou de me ligar.
- Certo...
- Tchau, Harry. - falei passando pela porta e evitando olhar em seus olhos. Mesmo não vendo, tinha certeza que ele estava evitando olhar pra mim também.
- Eu amo você. - ele soprou. Engoli o choro, fechei a porta e saí, o deixando para trás.


Capítulo Quatro



Me diziam que eu tinha vinte anos, mas eu realmente estava achando que tinha uns sessenta! Eu estava no meio de um bar, numa sexta à noite, teoricamente solteira e não queria nem beber. , sentada ao meu lado e animada como sempre, tentava me reanimar.
- Amiga, bebe pelo menos alguma coisa!
- Não, isso só vai me dar dor de cabeça...
- Argh, que mal humor. Discutiu com ele, deu nisso. Sempre foi assim.
- , eu não discuti com ele. Não dá pra continuar enquanto eu não me lembrar de quem eu sou. Muito menos do que nós dois éramos.
- Tudo bem, tudo bem... Mas você não me engana. - às vezes tinha raiva de como minha melhor amiga conseguia descrever minha situação emocional apenas estando no mesmo ambiente que eu, sem precisar olhar direito na minha cara - Você quer tentar, mas tem medo. Medo de não gostar do rumo que você acabou tomando. E quer saber? Talvez um dia você olhe pra trás e se arrependa mesmo. Se arrependa de ter feito tatuagens, de não ter feito medicina... Mas posso te dizer, , que ele não vai ser um arrependimento pra você. Mesmo que não dure pra sempre, vocês se amavam demais. E bom, ele ainda ama muito você. Acho que essa história ainda não acabou... Pelo menos não até você lembrar de tudo e realmente ter certeza da sua decisão.
- Eu sei... Obrigada. - trocamos sorrisos sinceros. Eu estava muito feliz por tê-la ao meu lado.
- Então, quer saber pelo menos como vocês se conheceram? Foda-se se não posso te contar, ninguém vai me impedir mesmo.
- Não, não... Não quero falar sobre isso. Pelo menos não por um tempo. - ela franziu o cenho.
- Então... Quer beber tequila?
- O que? - falei rindo - Deixa de ser alcoólatra, .
- O que? Achei que você gostasse de José Cuervo.

Tequila. José Cuervo. . Ela fez de propósito.
Não demorou para que os flashes começassem a vir.

***

- Dá pra você parar de me empurrar?
- Não sou eu! Estão me empurrando. E não precisa ficar nesse mau humor todo. Veio porque quis. - falei pra que não parava de revirar os olhos para cada menina que soltava um grito nervoso (e eram muitas).
- Desculpe se eu não quis deixar você fugir pro show da sua banda preferida, amiga. Sério.
- Você veio por causa da viagem, idiota.
- É, eu sei. Mas eu poderia ter ficado no hotel.
- Tá, desculpa... E obrigada por estar aqui. - ela deu um sorriso satisfeito e murmurou alguma coisa depois que não entendi. Uma menina gritava desesperadamente do meu lado.
- Fala sério, quem mais aguentaria um show de One Direction por você?
- Ei! Eles são bons! - falei pela milésima vez. Nenhuma amiga minha gostava deles e eu não tinha amigas virtuais como a maioria das fãs. era realmente a única que me acompanharia nessas horas.
- Eles podem até ser, mas essas fãs são malucas. - ignorei o comentário e me concentrei em ir mais pra frente, pegar um lugar perto das grades para ver os meninos de perto.

***

Eu estava na fila do Meet & Greet após o show, me tremendo. Ora por causa do show, ora porque estava prestes a conhecê-los. ficaria do lado de fora, me esperando. Quando chegou minha vez, olhei pro lado e a vi tirando algo da sua bolsa. Aquilo era...
- Tequila? Você tá maluca? Se pegarem você aqui dentro com isso...
- José Cuervo! Não chama ele só de tequila, que ele vai acabar se ofendendo. E isso não é pra mim. E nem pra você! - quando vi, ela já estava falando com um dos seguranças, dizendo que era um presente brasileiro das fãs, que estava lacrado, mas ele poderia provar antes para ter certeza que não estava envenenado ou algo do tipo... Ou ela poderia provar, se quisesse. Era só ele arrumar sal e limão. Ela ficou tagarelando no ouvido do segurança, que estava realmente perdendo a paciência, por um tempo, até eu ouvir:
- GAROTA! Eu não estou nem aí se você não bebe tequila sem limão. Entra com essa merda. Já estou vendo que tá lacrado. - falou irritado.
- Obrigada, moço! - falou com os olhinhos brilhando e voltando pra mim. - Toma, amiga! Leva pro Henry.
- Harry.
- Foi o que eu disse.

***

- VOCÊ É MALUCA? VOCÊ COLOCOU O MEU NÚMERO COLADO NA TEQUILA! - estava deitada, em cima da cama do hotel, rindo e parecendo despreocupada.
- Sabia que você não ia notar na hora, estava tremendo que nem uma doida... E que besteira!
- Besteira? Ele vai achar que eu botei isso lá! E eu não sabia o que dizer quando ele ligou, devo ter gaguejado o tempo inteiro.
- E daí? Se ele te ligou, funcionou, certo? - ela tinha razão. - O que vocês falaram lá?
- Ah, ele foi simpático... E se animou com a tequila. - dei de ombros, fingindo não estar empolgada, quando na verdade, estava prestes a soltar fogos de artifício dentro de mim. Tínhamos passado todo o tempo do Meet & Greet trocando olhares entre os autógrafos e fotos, como se já nos conhecêssemos. Alguns chamam de destino, outros chamam de atração física, outros de atração sexual... Poderiam chamar do que quisessem, eu apenas não conseguia tirar os olhos verdes me encarando da minha cabeça.
- E ele te ligou por que...?
- Tá tendo uma festa no hotel e... - no momento seguinte, já estava jogando vestidos em cima de mim e discutindo possíveis ideias de maquiagem e sapatos.

***

O hotel era bonito e a festa estava animada... disse que não iria comigo, que já tinha feito demais por mim. E tinha mesmo. Mas sabia que ela apenas queria um tempo sozinha.
Os primeiros minutos foram desesperadores. Eu não conhecia ninguém lá. O que eu estava fazendo lá mesmo? Ele nem deve lembrar que me convidou... Já devia estar sob o efeito da tequila. Cogitei ir embora assim que um gordo bêbado vomitou a 5 metros de mim. Foi uma cena bem horrível, pra falar a verdade, mas eu não conseguia parar de olhar por ser um pouco cômica. Quando o tiraram do chão e o carregaram pra longe, levantei a cabeça e vi que ele assistia a mesma cena que eu. Provavelmente com as mesmas expressões que eu estava fazendo segundos atrás. Quando também levantou a cabeça, cruzou seus olhos verdes com os meus.

Nossa. Que romântico. Acabamos de ver um bêbado vomitar.

Ele me deu um sorriso e veio andando em minha direção, fazendo meus batimentos acelerarem um pouquinho.
- Sabia que você não ia deixar eu beber a tequila sozinho.

**
- Você viaja escondida e passa duas semanas, eu disse DUAS SEMANAS em outro estado, pra voltar e vir com uma desculpa esfarrapada que estava envolvida com um dos membros da banda? Me poupe, . Se for mentir pra sua mãe de novo, use desculpas melhores. - ela estava realmente furiosa. Não a culpo. Mas eu não estava mentindo sobre o lance do Harry.
- Desculpa, mãe... Mas eu não estou mentindo, eu...
- , eu disse me poupe! - falou estendendo as mãos sem paciência pra mim.
Harry entrou no quarto confuso. Merda.
- Eu falei pra você só aparecer quando eu chamar!
- Mas eu não entendo porra nenhuma de português! Como eu vou saber?
- Eu ia te chamar em inglês, sua anta.
- Ah...
E lá estava a minha mãe. Boquiaberta. Olhando os pôsteres da minha parede ganharem vida. Bom, pelo menos 1/5 deles.
- Mãe, esse é Harry. Ele não fala português, e bom, a senhora não fala inglês... Tenho que dar um jeito nisso.
Harry tentou falar alguma coisa em português, mas nem eu nem minha mãe entendemos. Bom, eu tinha mesmo que dar um jeito nisso.

***

Depois disso, tudo voltou. Todas as lembranças estavam voltando frescas pra minha mente, como se tivessem acontecido ontem. Eu devia estar em transe há alguns minutos, porque vi ameaçando ligar pra um médico e algumas pessoas se aproximavam. Mas não me importei. Eu lembrava. Lembrava dele. De tocá-lo. De beijá-lo. Do seu pedido de casamento. De tudo.
- Ai meu Deus, , eu te amo! Obrigada! - dei um beijo em sua bochecha e saí correndo do bar e gritando - Desculpa! Depois eu te explico melhor!
Peguei um táxi e fui correndo pra arena. Chegando lá, eu não tinha ingressos. Ótimo, maravilha.
- Me deixem falar com Paul! Eu sei que ele está aí! - eu gritava desesperada para os seguranças até Paul aparecer.
- ? O que você está fazendo aqui? O Harry tá péssimo.
- Eu sei, olha, me deixa entrar, por favor!
- Ela tá comigo. - falou para os seguranças que abriram passagem imediatamente.
Contei o que havia acontecido nos últimos minutos enquanto andávamos para o camarim.
- Olha, isso é maravilhoso! Mas eles já estão lá dentro, entram em dois minutos. Você vai ter que conversar depois do show... - eu não podia perder o gás que eu estava no momento. Eu precisava... Beber. Espera aí. Beber.
- Por acaso hoje tem Meet & Greet?

***

As fãs saíam desesperadas, chorando e tremendo dentro da sala do Meet & Greet e eu devo ter ficado umas três horas esperando. Fora as duas horas de show. Mas não posso dizer que foi ruim, pois precisava me acalmar e pensar no que ia dizer.

- ... Tá na hora. - Paul apareceu na porta. Escutei ele dispensando os meninos e depois avisando discretamente a Harry que faltava mais uma fã, mas que essa só queria falar com ele. Primeiramente, ouvi o Harry reclamar, claro. "Se só gosta de um de nós, não se considere uma fã da banda. Isso é muita falta de respeito." ele sempre dizia... Mas suspirou, cansado e disse que podia mandar entrar. Quando me dei conta, lá estava eu, no meio do camarim, encarando os olhos verdes que eu agora eu me lembrava de conhecer há tanto tempo.
- Oi... - oi? Você não veio aqui pra dizer "oi", .
- Oi...
- Me desculpa. Por tudo. Por ter desistido tão fácil assim da gente.
- Não, olha... Tá tudo bem. Eu não posso culpar você. Não sei o quão desesperador deve ser não lembrar das coisas...
- É. Foi bem desesperador... - tentei enfatizar o "foi", mas tive receio que ele não percebesse.
- Foi? - é, ele não deixava passar nada.
- Eu trouxe uma coisa pra você. - abri minha bolsa e tirei uma garrafa de tequila de dentro. José Cuervo. Me corrigi mentalmente me lembrando de .
Ele pegou a tequila e a olhou, tentando processar se aquilo tudo estava mesmo acontecendo. Olhou pra mim confuso e eu dei um sorriso de confirmação.
- Espero que você goste. É brasileiro.
- Você...? - ele piscou algumas vezes.
- Eu amo você.




Fim.





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