Que noite estranha, hein, Kate?
Que noite estranha, hein, Kate?

Jornal da Manhã
“A menina Kate Summers, de 15 anos, foi raptada na noite de ontem, 27 de junho. A polícia procura pela menina, mas nada foi encontrado, exceto uma pequena pista que até agora não foi de grande valia: o laço verde que a menina usou na noite em que aconteceu a tragédia caído e com marcas de pegadas na rua St. Paul.
Família e amigos estão extremamente aflitos e não podem imaginar o que houve com a garota.
“Ela era muito doce e tímida. Jamais sairia sozinha pra muito longe, muito menos com estranhos. Por favor, eu quero minha menininha de volta!” Esse foi o pedido desesperado da mãe aflita, Lia Summers.
“Ela nunca iria embora. Era muito doce e amável. [...] Uma garota de ouro.” O amigo da família, Ed Lowis, diz entristecido.
Estamos torcendo pra que a polícia encontre alguma pista do desaparecimento dessa menina, e se a vir, telefone para o nosso jornal, entre em contato com a polícia local, ou com a família Summer (contatos disponíveis abaixo).”


Olhar aquelas manchetes nunca ajudou muito na minha recuperação emocional do que tinha acontecido. Eu sentia falta da minha prima e apesar da saudade, eu venho me virando bem em relação a tudo isso.
Foi a pior época da minha vida e era duro lembrar daquilo mesmo sem querer. Se eu pudesse, eu arrancaria da minha mente toda essa tristeza, mas era impossível.
Era estranho. As pessoas te olham como se você fosse um pobre coitado que necessitasse de uma atenção discreta. Ah, como se eu não percebesse tudo aquilo. Não paravam de me observar. Era extremamente irritante. Mas eu sabia que só queriam me ajudar. E era por isso que eu aceitava toda aquela áurea de preocupação e me deprimia ainda mais.
Kate sempre foi a pessoa mais incrível do mundo. Acho que sempre foi a mais importante da minha vida. E perdê-la assim, sem saber como ela está, se vive, se está morta, se está ferida, se está bem... Imagine a sensação de perder um cãozinho de estimação com o qual você passa a maior parte do tempo. Você não sabe o que aconteceu com ele e isso só o mata mais por dentro.
Bom, é quase a mesma sensação, só que bem mais forte, afinal ela era minha prima. Da família. Eu a tratava como uma irmã mais nova e ela me acompanhava pra todos os lugares que fosse. Não sei como ela conseguiu aguentar um primo tão chato como eu. Digamos apenas que eu era protetor e isso a irritava de vez em quando. E mesmo sabendo que ela sempre foi forte e corajosa o bastante pra enfrentar as coisas, até mais do que eu, eu me sentia na obrigação de protegê-la. E, bem, eu fazia isso.
Ela não conhecia o pai. Nunca o viu, pelo menos que se lembrasse, então eu era como a figura masculina que ela tinha. O porto seguro dela, até que ela arrumasse um namorado.
Ah, e por falar em namorado, esse foi o motivo pelo qual ela saiu sozinha naquele dia.
Como eu disse, eu sempre ia pra todos os lugares com ela, nunca permitia que ela ficasse só, ou andasse só. Mas por isso ela estava brigando comigo durante aqueles dias. Queria encontrar o tal de David Mark, um menino da escola, que dava em cima dela no colégio, mas que era uns 4 anos mais velho que ela. Não que a diferença fosse o principal problema. É que eu conhecia o sujeito com quem ela estava ficando e sabia que ele não prestava.
Tentei explicar a ela e acabamos discutindo. Aquela menina quando encasquetava com uma coisa... Só quebrando a cara.
No dia 27, ela estava indo se encontrar com ele. Kate foi a minha casa antes para dizer aonde ia. Eu não pude convencê-la a desistir e apenas assenti. Acho que não deveria ter feito isso e me culpo até hoje pela minha burrice.
Sei que David ficou triste quando soube, mas no outro dia ele já parecia um pouco conformado. Claro, Jenny Humfrey tinha dado um trato nele no banheiro masculino do ginásio naquela manhã. Muito delicado da parte dela.
Eu resisti com a ajuda de psicólogos a toda a raiva de mim mesmo, do David e daquele(a) que havia levado minha Kate. Ela não merecia. E cá estou eu, quase 4 meses depois, descrevendo em detalhes os estranhos fatos que aconteceram durante essa época horrível da minha vida.
E tudo começou em 29 de outubro.

**

Eu estava desanimado para comemorar o Halloween. Isso me lembrava das estripulias e dos filmes de terror que assistia com Kate. Os filmes não me transmitiam nada senão diversão. Ver a minha prima agarrando meu braço e escondendo o rosto na almofada sempre que o monstro matava alguém era uma das cenas mais engraçadas que já vivi. Sem falar nos gritos finos de estourar os tímpanos.
Aquele era um dia como qualquer outro depois que Kate desaparecera. Eu estava na frente do Ava atenção computador com o headphone tocando uma música aleatória, na qual eu não prestava atenção, no último volume.
Fazia dias que eu não abria meu e-mail e imaginei que estivesse cheio de besteiras e vírus, consequentemente. E, obviamente, mandados por . Esse idiota o qual você acabou de ler o nome é meu mais novo amigo. Era um menino novo que havia chegado à cidade, mas era muito escanteado, assim como eu, e meus pai fizeram amizade com os pais dele, o que facilitou nossa comunicação.
Abri as mensagens mais importantes e deixei as idiotices de lado. O primeiro e-mail era do meu curso de francês, informando que não haveria aula no dia 31 por conta dos preparativos da festa que teria lá. E que eu não iria.
Os outros eram informações sobre assuntos morais e novos eventos que aconteciam na cidade.
Rolei mouse pela página e vi uma coisa interessante. Bom, eu primeiro achei que era piada e ri. O riso foi embora no mesmo instante que eu caí na real: Era mesmo um e-mail enviado do e-mail pessoal de Kate.
Com os olhos arregalados e suando eu cliquei uma vez e a página se abriu.
O e-mail dizia:
“1648, Marcoux Dr. Jerk!”
E eu não sei de onde veio a o fôlego, só sei que dei o maior grito da história da minha vida. Eu empurrei a mesa do computador e quase caí na cadeira com o impacto que fez ao bater na cama.
Eu levantei meio sem jeito e me segurando no criado-mudo, chegando ao guarda-roupa. Parei ali. Me recostei lá e respirei fundo de olhos fechados. Aquilo não podia estar acontecendo.
Todos já tínhamos nos conformado de que ela estava morta e que não voltaria. Ela era muito esperta. Ok, tínhamos que manter as esperanças, mas era impossível.
Eu olhei a tela do computador, chegando perto devagar, e reli o que tinha escrito na minha frente. Dei outro grito, que saiu mais como um gemido, e entrei no banheiro correndo. Me apoiei no batente da pia e olhei para o espelho.
- Calma, , você não está enlouquecendo! – Eu repetia para mim mesmo. Liguei a torneira e molhei o rosto. Abri a porta devagar e olhei sorrateiro para o computador, que continuava com a página aberta. Fechei-a com força.
Espera, e se a Kate estivesse viva? Aquilo poderia ser uma pista de onde ela está! E se ela quisesse que eu a encontrasse? Mas, é claro, ela era muito ligada a mãe. Mandaria um e-mail pra ela. E até onde eu sabia, não tinha recebido nada, até porque ela teria corrido pra contar a polícia.
E se ela quisesse que eu contasse a polícia? E se fosse uma piada, uma mentira? Ninguém brincaria assim comigo, não é possível. Mas não, eu tinha certeza de que era a Kate. Ela tinha assinado o e-mail com “Jerk!”. Só ela assinava assim, especialmente pra mim.
Eu fiquei ali, estático.
- Oh, meu Deus. E agora? E agora? O que eu faço? Não posso simplesmente chegar para tia Lia e dizer “E aí? Então, recebi um e-mail da sua filha desaparecida”. É loucura! – Eu me olhei no espelho. – Oh, meu Deus!
Saí do banheiro pegando meu celular em cima da cama e, sem olhar para a tela, puxei o fio do computador da tomada.
Eu fui andar pela rua. Estava tão perturbado que não ouvia quando acenavam para mim ou falavam comigo.
O que aquele e-mail queria dizer? 1648, Marcoux Dr. De onde eu conhecia isso? O que aquilo queria dizer? Seria um livro? Um assunto de história?
O que tudo aquilo significava, meu Deus? Me sentei na calçada, imaginando e lembrando de cada detalhe do e-mail, tentando entender algo que estivesse oculto talvez. Mas não, não tinha nada.
- Ei, ta brisando aí, car...
- Aaaaaaaaaaaaah, meu Deus, nunca mais faça isso! Imbecil. Que susto!
- Desculpe, eu só falei com você. – disse, assustado com minha reação mirabolante. – Tá tudo bem contigo?
- Sim, sim. – Soltei o ar pesadamente – Desculpe por isso. Eu só to meio desatento hoje.
- É, pois é. Cara, você ta pálido!
-Não é nada, foi o susto que levei agora. – Eu me levantei tentando disfarçar meu estado estupefato – , o que vai fazer dia 31?
- Bom, fui convidado para uma festa, mas vou ter que sair com meu irmão pra pegar uns doces antes de ir. Quer ir comigo?
- Não, eu não gosto muito de Halloween...Você sabe. – torceu a boca, entendendo os meus motivos.
- Ele ta louco pra ir lá na casa dos Bakers, mas não acho que é uma boa ideia.
- O lugar não é abandonado?
- Pois é. Ele gosta de coisas assim, o dão prazer. E ainda mais pelas lendas de ser assombrada. O instiga mais.
- Deixe de besteira! Está com medo? Seu irmão de 9 anos não tem e um homem de 18 vem me dizer que não quer ir numa casa na rua Marcoux Dr., porque tem medo de uma casa assombrada? Isso foi digno da Kate, ela... – E então a ficha caiu. Rua Marcoux Dr., é claro!
- Ela o que?
- Ei, essa casa, dos Bakers, é a número 1648, não é?
- Sim, creio que sim. É na outra rua, não é?
- Sim. Mas é claro, agora começa a fazer sentido. A Kate morre de medo daquela casa. Eu sempre pedia pra que fôssemos lá no Halloween, mas ela tinha medo e sempre se recusava a ir lá. Mas por quê?
estava parado, me encarando como se tivesse mudado de rosto pra algo extremamente estranho, como se uma antena tivesse surgido na minha cabeça, do nada.
- Do que é que você ta falando? Cara, você ta bem? – Ele pôs a mão sobre o meu ombro e eu o olhei.
- Es-estou. – Controlei minha euforia e resolvi pensar naquilo mais tarde, se fosse possível esquecer aquela história em algum momento. – Escute, preciso lhe contar uma coisa, mas não agora. Mais tarde. Pode ir pra minha casa, se possível, dormir lá comigo?
É claro que o meu pedido foi estranho, mas confiava muito nas pessoas pra pensar algo de ruim.
- É claro, durmo sim. Só preciso falar com meus pais, vamos lá.
- Beleza. – Eu que não vou dormir só naquela casa.

**

- Onde estão seus pais? – perguntou, colocando a mochila na cama e se deitando ao tirar os sapatos.
- Viajaram pra visitar uma tia minha. Voltam dia 3.
- Ah.
Eu me sentei na frente do computador e conectei o fio a tomada novamente. Eu sentia que estava suando frio e tremendo. Como eu contaria a história pra sem parecer um louco desvairado?
Abri meu e-mail e com um pouco de medo procurei o que queria. Achei e cliquei, meio que fechando os olhos antes pra ter certeza de que aquilo era realmente real. Bom, estava lá quando eu abri os olhos.
E o falou bem no meu ouvido, me assustando de novo.
- 1648, Marcoux Dr. Jerk! O que isso significa?
- É, olha o remetente. – arregalou os olhos e gaguejou ao falar.
- Vo-vo-você t-tá me dizendo que a... a...
- Sim, a Kate me mandou esse e-mail. Eu tive a mesma reação multiplicada por 20. Isso quer dizer que quase caí da cadeira.
- Isso explica o buraco que tem na madeira do pé da sua cama. – disse e eu olhei. Estava realmente bem grande. – Mas e aí, o que você acha? Viva?
- Não sei. Se ela estivesse, mandaria o e-mail para a mãe. Mas eu não sei o que é isso. Estou realmente assustado.
- Acho que ela quer que você vá até a casa, né não?
- A princípio eu nem entendi o e-mail, mas agora eu acho que sim.
- Mas... Por que ela iria querer uma coisa dessas?
- Não faço ideia. – Eu olhei, derrotado. Voltei minha atenção ao e-mail – mas eu não posso ignorar isso.
- Sabe que a casa é protegida. Não conseguiríamos entrar lá assim, do nada. A família era muito rica e pagaram a prefeitura pra que fosse protegida como “patrimônio municipal”. E então, o que vamos fazer?
- O que? Você quer mesmo ir comigo? – Como assim? E se fosse algo muito perigoso? E se ela quisesse só me encontrar? Eu não poderia deixar.
- Quero! E não importa pra mim toda essa baboseira de “Ah, ela era minha prima, pode querer só a mim”. Não engulo isso. Vou com você e sem discussão. – Tentei relutar, mas eu queria mesmo que ele fosse. tinha sido minha companhia e eu precisava de alguém, tinha de admitir. Apenas soltei o ar e fechei a página.

**

À noite jogamos um pouco de videogame e comemos pra tentar esquecer a merda toda, mas era impossível pra mim.
Subimos as escadas e o ligou meu computador enquanto eu me esparramava na cama. Precisava dormir e esquecer tudo aquilo.
E aí eu decidi que era melhor ter ficado acordado, afinal o sono veio assim que minha cabeça bateu no travesseiro e isso nunca mais aconteceu depois do que houve com Kate.
E eu não estava mais no meu quarto.
Eu estava numa casa velha, com paredes mofadas e os móveis se desfazendo. Olhei ao redor e não havia nada além disso. Ah, é claro, um feixe de luz podia ser visto pela janela por um buraquinho no pano que a cobria. A lua estava cheia e enorme lá fora. A poeira entrava nas minhas narinas e me causavam irritação. Passei a mão na mesa quebrada e bati duas vezes a mão suja pra tirar a poeira.
E aí eu senti o frio mais intenso da minha vida. O ar que eu expirava saia como fumaça e meus pelos se arrepiaram. Afaguei meus braços e, olhando em direção ao que parecia ser um cômodo, apareceu uma pessoa. Tinha os cabelos compridos e louros, como os de Kate. Suas roupas estavam manchadas de sangue e ela tinha o rosto entre as mãos. Eu tremi inteiro e da minha garganta não saiu nem um som sequer, por mais que eu forçasse a boca, tanto que meu maxilar doía.
A menina levantou o rosto triste e assustado e olhou para dentro do cômodo e depois para mim por um tempo e se virou, entrando mais no lugar pra onde olhara pouco tempo antes. Eu não resisti ao impulso de ir atrás dela. Entenda, por mais que ela estivesse daquele jeito, eu queria saber o que havia acontecido com ela. Por que ela estava ensanguentada? E por que tão pálida? Eu queria saber da minha prima!
Quando consegui alcançá-la, ela estava deitada sobre uma grande caixa, como baús antigos que se colocava no pé da cama das crianças para guardar os brinquedos ou as roupas da cama. Ela batia, chorava e depois parava, apenas sentada e olhando o nada.
- Kate,o que... - Antes que eu pudesse completar ela desapareceu!
Eu fui pra mais perto de onde ela estava, com um tufo de coragem que veio de um lugar desconhecido. A única coisa que encontrei ali foi um papel onde tinha escrito: 31 de outubro.
E aí eu acordei!
estava ao meu lado, me balançando e me empurrando, tentando me fazer acordar, supus. Eu estava todo molhado de suor e quando finalmente abri os olhos quase caí da cama.
- Cara, você estava gritando, depois parou e ficou gemendo como se tivesse sentindo uma dor. E ficou dizendo o nome da Kate quando parou de gemer. – Meu amigo me explicava com a cara de assustado mais estranha do mundo. Parecia ter um pouco de preocupação.
- Eu sonhei com a Kate. A gente tava lá, lá mesmo. E ela apareceu pra mim com a roupa toda ensanguentada e depois ela tava em cima de um baú antigo e... – Ele me interrompeu.
- , sério, eu to ficando preocupado. Beleza, tudo isso é estranho, mas qual é?!Você quer me dizer que sua prima raptada chegou pra ti num sonho e... e tentou um contato?
Eu só continuei o olhando e sorri com a ideia.
- Não, , sério. Para com isso. Isso não existe. Presta atenção em mim – Ele segurou meu rosto e o sorriso de antes ainda tava estampado lá – Essas coisas não acontecem de verdade, ta? Só em filmes.
- Não, , você não entende. Ela apareceu pra mim, desapareceu e deixou um papel que tinha escrito: 31 de outubro. É amanhã, cara. O que isso quer dizer?
me olhou e falou exasperado:
- NADA! Não quer dizer nada, foi só um sonho bobo! Esqueça isso, pro seu bem. Ficar se martirizando pela Kate vai te deixar mais deprimido.
- Você não entende? Eu posso encontrar minha prima, cara. Eu preciso saber o que isso quer dizer e digamos que eu tenho um cara bastante esperto pra isso na minha frente agora!
olhou pra trás e depois levantou a sobrancelha.
- Eu não vou nos Bakers com você e ainda mais no Halloween. Esqueceu? Preciso levar meu irmão. Se ele descobrir ele vai querer ir e eu não to afim de fazer isso.
- Por favor, , vamos...
- Sério, não!
Eu me sentia derrotado. Não fazia parte de voltar a atrás. Eu tinha certeza que ele não iria.
- Então eu vou sozinho!

**

A noite de Halloween estava animada. As crianças estavam fantasiadas e com suas abóboras nas mãos, prontas para recolher doce ou jogar espuma na cara dos outros.
Eu estava na rua Marcoux Dr., esperando o fluxo de pessoas se dispersar, o que demorou relativamente muito.
Eu não sabia bem o que fazer, então resolvi pegar apenas um bastão de baseball. Qual é, eu não iria pra uma casa abandonada a noite, sozinho!
No caminho eu comecei a me lembrar de alguns bons momentos entre mim e Kate nos Halloweens passados. Teve um em que ela se vestiu de princesa e eu estava vestido de um zumbi. Então eu simplesmente a empurrei no chão e ela se sujou inteira. Rasguei a barra do vestido e aí ela tava quase como uma noiva cadáver. Bom, eu não preciso dizer o que ela fez comigo - ou pelo menos quis fazer.
Era sempre assim, divertido. Dividíamos os doces, brigávamos e logo depois estávamos zombando de algum idiota juntos. Éramos como uma família, realmente. Ela era a minha melhor companhia.
Quando cheguei no portão, percebi que a casa era bem menos sombria do que parecia. E o mato não estava alto como na maioria das casas abandonadas, era devidamente aparado e limpo.
Abri o portão e entrei. Ah, é claro, a escuridão não ajudava em nada. A única luz que havia era a da frente da casa, fraca e amarelada.
- Achei que precisaria de uma lanterna. – disse atrás de mim. Eu sorri e ele bufou – Eu jamais deixaria você vir só.
Andamos até a frente da casa e forçamos a entrada. Ouvi alguns passos, mas não quis comentar com o , assustá-lo não ajudaria muito.
- Tudo bem, eu vou na frente e você não desgruda de mim. – Eu disse e ele assentiu. Andamos até eu encontrar aquela sala. Já havia ido lá uma vez em brincadeiras com alguns amigos e lembrava do lugar, apesar de ser muito mais bem cuidada na época do que no sonho.
Subimos algumas escadas e encontramos o lugar. Estava exatamente como no sonho, até a luz do luar. E aí o deu dois passos pra trás e teu um grito abafado.
- Cara, a Kate. Olha cara a Kate. – Eu olhei na direção para onde apontava e ela estava lá, exatamente como no meu sonho, mas sua fisionomia era menos perturbada.
- Prima! Prima, eu estou aqui. Você me mandou aquele e-mail? Eu tive um sonho. Você tava nele e... – Kate apenas levantou a mão e a fechou no ar, como se me chamasse. Eu não hesitei e fui atrás dela. preferiu ficar lá, quieto, no mesmo lugar de antes.
- , não! Volta, cara. Por favor, vo... – Ele se calou do nada e ficou catatônico. Eu apenas ri de seu medo. Não tinha por que ter medo, era só a Kate.
Ela me levou para aquele quarto e ele estava frio como uma geladeira. Ela apontou para o baú e eu a olhei, sem entender.
- O que, Kate?
Ela simplesmente apontou para o baú outra vez e eu entendi. Fui lá e o abri e, bem, o que eu vi me fez derramar lágrimas na hora. Minha prima estava lá dentro, morta e com as roupas rasgadas. Parecia ter sido violentada. Eu a olhei, ela finalmente falou.
- Não chore. Tinha que acontecer. Só siga minhas instruções: Lá fora há um grupo de meninos que fazem magia negra e eu servi de sacrifício. Entregue-os a polícia, mas saia daqui de fininho. Leve o antes que ele comece a gritar.
- Prima, por que você?
- Esqueça isso seja feliz e continue sua vida. – Ela tocou meu rosto e seu toque foi frio e sem vida, nada a ver com a minha Kate. – Meu tempo aqui acabou. Não se prenda às tristezas. Eu te amo, ok?
Eu não controlei minhas lágrimas e elas rolaram como uma cachoeira. Ela me olhou com pena e pôs a mão no meu ombro, como costumava fazer quando eu ficava triste.
- Tudo bem, ta bom. – respirei fundo e esperei – Você vai ficar bem, não vai?
- Sim, primo.
- Eu te amo. – E assim que eu disse isso, ela riu e desapareceu. Eu solucei no choro e apareceu na porta do quarto. Viu o que tinha no baú e me abraçou pelos ombros.
- Sinto muito, cara. – E então fomos embora. Eu expliquei o que a Kate tinha me dito e assim que saímos de lá, procurei a polícia.
E tudo começou a ficar mais tenso outra vez. A mãe e o pai dela estavam desesperados e sedentos por justiça. Os policiais conseguiram prender todos que estavam na casa no dia, que era a maioria, já que era Halloween.
- E então, , ainda está cético?
- Bom, acho que não. – Ele se sentou na calçada e eu me sentei com ele. – Me faça um favor?
- Fala aí.
- Nunca mais me diga se você tiver um sonho, entendeu? Jamais!
Eu ri e ele levantou a sobrancelha. Ficamos conversando por mais um tempo. Eu já não chorava pela Kate. Era recente sim e eu sentia muita saudade, mas ela me pediu que não ficasse triste, então eu não ficaria.
Foi o Halloween mais louco da minha vida. Bom, que noite estranha, hein, Kate?

FIM

Nota da Beta:
Hey, pessoa! Só pra avisar que se você encontrar qualquer erro na fic pode entrar em contato comigo por e-mail ou pelo twitter. E não custa nada deixar um comentário pra fazer uma autora feliz, porque ela merece.
Letii

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