Baseada em fatos reais

Autora: Fran Freire
Beta-Reader: Amy Moore




México, 21 de deciembre.

Eu acho que nunca tive uma ideia tão absurda quanto essa. Escrevo porque até esse exato momento tudo o que vivi não deixou de ser um sonho. A verdade, em um sentido natural, é que estou de camisola e meu coração está acelerado.
Acabo de levantar da cama, olhar pela janela, deixar os olhos se impressionarem e correr para a geladeira, por um copo de leite frio. Meus pés estão descalços, como sonhei desde o início. Meus cabelos estão sedosos e ondulados, como eu sempre imaginei. Minha pele não poderia estar mais macia e meu corpo parece sentir o vento – que sopra desde a janela aberta na sala – com uma sensibilidade enlouquecedora.
Assim que constatei que o céu continuava lá, corri para o quarto para buscar por ele. Mais um sonho? Mais uma peça do destino? Eu não saberia como explicar, então, ao invés de tocá-lo eu corri para cá, peguei meu material de trabalho e – vejam só – iniciei está carta.
Hoje é 21 de dezembro de 2012 e se tudo acabar quero declarar que a culpa não foi minha. Que tudo o que fiz foi usar o dom que recebi e que, por Deus, estou tão impressionada quanto feliz.

Buenos Ayres, 20 de octubre.

Algumas das dicas mais importantes quando se viaja sozinha é carregar pouca bagagem, ter um plano de tudo o que deseja fazer, informações sobre seus roteiros e – o essencial – ter o “entre rotas” do Google Maps impressos, com opções de caminhos contabilizando minutos a pé e caminhando. Nunca se sabe quando você vai pegar um taxi falso e parar no meio da favela sem um tostão no bolso e, atualmente, qualquer grande cidade pode ser uma Bagdá.
Para a sorte e o desespero de , aquela cidade latina com pouco menos de 3 milhões de habitantes, não tinha nada a ver com Bagdá. Pelo contrário, o ritmo de BsAs parecia enfeitiçar a uma pessoa assim que desembarcava em Ezeiza (ainda que Ezeiza não seja em BsAs).
As pessoas eram admiravelmente bonitas, o ar parecia agradável, o barulho de movimento não era algo gritante e havia um toque europeu em tudo aquilo, que a fascinava.
Subiu as escadas e virou a esquerda, como haviam lhe ensinado, para encontrar o ponto de taxistas.
- ¿Hola que tal? – um sorriso e entrou no carro. – Por favor, 33, Orizontal.
- Ok.

Combinou o valor da corrida com o taxista e não fez questão de conversar. Lembrava bem de como havia sido enrolada por um taxista de Porto Alegre na última tentativa de ser simpática. Pelo menos 50 reais perdidos na mão do espertinho – o que uma Galaxy Defender não faz pelo show do McFLY?

Deixando o pensamento voar, observava a paisagem pensando em detalhes do sonho.
Desde pequena, a moça tinha revelações que vinham das maneiras mais loucas e com as mensagens mais toscas que poderia receber. Era uma espécie de brincadeira dos deuses, ela sabia. Uma piada interna, por assim dizer, que tinha lá a aprovação de seu mestre intelectual (como ela chamava o mentor espiritual).
havia vivido há algumas centenas de anos em um lugar inacreditavelmente mágico, no México. Trabalhara duro, tivera uma vida difícil, afeiçoara-se a muita gente, aprendera a amar a humanidade e, desgraçadamente, apaixonara-se por um espírito imundo que a levou ao abismo de pedras.
Uma vida inteira tentando ser boa para, no final da travessia, ser amaldiçoada e queimada viva. Fazer o quê? Ela não poderia desistir... e foi assim que se redimiu com a Deusa mãe, lhe pediu outra oportunidade, arrependeu-se de seus atos loucos (de amor?) e voltou a Terra, em um encarne que lhe exigia o dobro de atenção.
Suas conexões com o passado eram tão fortes que ficava evidente nos olhos e na face que aquela mulher não se enquadrava no perfil brasileiro. Não que ela detestasse o país, ao contrário, tinha orgulho, mas de alguma maneira o mundo a levava a descobrir, mais e mais, as belezas e sonhos perdidos em um encarne de sombra e de luz.

chegou a Casa de Gerard, um francês divino, com um acento esplendoroso de sotaque francês entre palavras castelhanas, em um horário de festa. Talvez não fosse festa, afinal, mas era o almoço e havia franceses na cozinha, o que certamente poderia ser traduzido como dia de festa.
A verdade é que pressentiu desde o primeiro segundo, quando tocou o pé na calçada em frente ao chalé, que o encontraria.
Ela não sabia o nome dele, nem sabia qual era sua expressão facial – ainda que rogasse com todas as forças que ele tivesse cabelos castanhos relativamente compridos e olhos azuis – mas podia sentir que estava lá.
Mal entrou no recinto e ouviu as expressões felizes que vinham de uma cozinha cheia e de um ambiente agradável. O aroma podia ser tanto francês quanto portenho e ela jamais saberia distinguir um do outro, pois acabara de encontrar franceses a cozinhar em Buenos Aires. Entrou sorrindo, segurando sua grande bolsa de oncinha, onde carregava meia dúzia de vestidos e sandálias, além da maquiagem e de acessórios – como o computador.

- ¡Buenos días mi gente! – e parou na porta.

O chalé era relativamente pequeno, simples, mas com ar receptivo. Havia algo que fazia o tom vermelho se sobressair, talvez as lajotas. Uma casa de tango com pessoas mais velhas e maduras. Gente de distintas partes do mundo, com predominância francesa e brasileira.
A comida estava no fogão e o cheiro estava inundando sua mente. Bastou olhar para as mulheres e homens à mesa – que somavam cinco – para perceber que o centro das atenções era o fenômeno humano de pé, em frente ao fogão, vestindo camisa preta, calça jeans e um avental de cozinha. “Petrificada” é um bom adjetivo para o estado em que ficou.

Assim que entrou no quarto e deixou a bolsa na cama, após fechar a porta e agradecer a hospitalidade, a mulher sentou (ou tombou) na cama e fechou os olhos com força, respirando fundo e soltando um “é ele!”, entre as batidas rápidas do coração e o suor escorrendo na testa.
Por Deus, que homem era aquele? Ela o havia desenhado na mente por quantos séculos? Lembrava exatamente dos milhares de atores e músicos que tentara combinar para chegar àquele rosto.
Só poderia ser loucura porque, por todos os santos, o homem estava ali! Havia olhado em seus olhos reconhecendo – nitidamente – a conexão entre ambos e enviando-lhe um sorriso, enquanto abria os braços para recebê-la ao melhor “bonjour” que já ouvira em toda su penra vida.
Homem? Um deus! Aquela pessoa devia ser filha de Baco com alguma modelo da Victoria Secrets! Não era possível haver olhos tão profundamente envolventes, tão pouco um sorriso sumariamente enlouquecedor e fraterno como aquele.
E o abraço? O homem envolvera-a em uma felicitação por sua chegada, como se a estivesse recebendo após esperar o dia todo por ela, apenas para compartir la cena – ainda que não fosse noite, nem tão pouco o jantar.
As sensações eram múltiplas e precisava respirar para voltar ao normal. Não se podia permanecer em estado de choque, principalmente levando em conta que teria de se trocar e sair para almoçar com o grupo, a convite dele e das pessoas que o cercavam à mesa.

Pareciam tão felizes! sorriu recordando o retrato de uma família de irmãos, que lhe veio em mente. De alguma maneira aquilo a incomodava, pois se assemelhava a uma cena qualquer que se repetia em sua mente. Algo como um choque entre histórias.
A mulher era escritora. Utilizava os dons que permaneceram de um passado distante, em outra vida, para escrever a cerca do que os espíritos ancestrais lhe enviavam em mente. Sua memória não era uma das melhores, mas tinha estratégias para recordar determinadas relações que encontrava, a torto e a direito, por onde passava. Naquele momento em questão havia algo que a chamava atenção em toda a construção da cena. era uma noraholics e sabia bem do que se tratava.
Após ler mais de 60 volumes de Nora Roberts, com uma gama de leitura avançada – pela sua formação acadêmica e pós-universitária – a brasileira não se intimidaria diante de um caso típico de “encontro dos seis”.
O número 6 é uma loucura nas vibrações cabalísticas e é, por sinal, um dos números mais utilizados por Nora Roberts quando escreve seus livros. Justamente por se tratar da soma de três homens e três mulheres (não necessariamente nessa ordem) e por fechar o chamado círculo dos seis – que pode ser lido em qualquer trilogia ou nos livros maiores, do início de carreira, que são geralmente divididos em três partes, uma para cada casal. O que de alguma maneira volta a somar 6, graças ao três vezes dois.
O número seis é regente do amor, da afeição e da emoção, símbolos estes que estão associados de tal maneira à brasileira que a fazem pensar como Nora nunca escreveu um livro em que ela própria, , fosse personagem.
E foi divagando nessas relações – que adorava fazer – que a moça lembrou da personagem que se personificara em sua frente, naquela cozinha de chalé há minutos atrás.

- Meu Deus do céu! – disse a moça com o corpo já tremendo, graças às vibrações cósmicas que começavam a se apossar de todo o seu ser e que significavam um princípio de revelação.
abriu a bolsa na cama, aflita para encontrar o laptop e esperou que a geringonça (que também era material de trabalho) ligasse.
Assim que o computador mostrou sua área de trabalho, abrindo – antes de tudo – o torrent, o antivírus, o skype, o falecido MSN e algum outro programa que ela precisou fechar, acessou a internet; rezando para o seu móvel funcionar sem problemas, como a empresa jurou de pé juntos que funcionaria.

Depois de alguns segundos, que inconscientemente duraram anos, ela viu o note mostrar aquele nome salvador em sua tela, o que a fez abrir um breve sorriso: estava finalmente na página do Google.
Digitando rapidamente, a mente de ia de zero a mil e voltava. O que raios estava acontecendo ali? Com uma pontada na barriga – que parecia ser a primeira borboleta nascendo, para então formar dentro dela o paraíso das borboletas – leu em sua tela de pesquisa a descrição de Roarke, em Nudez Mortal, primeiro livro da Série Mortal de JD ROBB, pseudônimo de Nora Roberts:

"Roarke, sem sobrenome conhecido. Nascido em seis de outubro de 2023, em Dublin, na Irlanda. Identidade número 33492, de abril de 2050. Pais desconhecidos. Estado civil, solteiro. Presidente e principal executivo das Indústrias Roarke, fundadas em 2042. Principais filiais: NY, Chicago, Nova Los Angeles, Dublin, Londres, Bonn, Paris, Frankfurt, Tóquio, Milão, Sydney. Agências fora do planeta na Estação Espacial 45, Colônia Bridgestone, Vegas II e Free Star One. Interesse em imóveis, importação e exportação, transporte de encomendas, indústria de diversão, fábricas, indústria farmacêutica, transportes. Estimativa de faturamento: Três bilhões e oitocentos milhões de dólares. Grau de instrução: Desconhecido. Registros criminais: Sem registros."
Então Eve pede a descrição e o visual na tela...
"Roarke. Cabelo preto, olhos azuis, um metro e oitenta e oito de altura, setenta e oito quilos".

leu duas vezes o que aparecia no blog, sendo a segunda com maior atenção aos detalhes.
Demoraram uns quinze segundos para ela fechar a boca, engolir a saliva e dizer:
- Caralho, mano. O Roarke está na cozinha.
Depois disso pensava em olhar no espelho e ver como o personagem mais perfeito do planeta havia visto ela assim que chegara a Casa de Gerard, mas não teve tempo, pois alguém bateu na porta. Alguém que ela constatou, desgraçadamente, era ele.

Maldição, aquele sorriso pertencia à vida na Terra? olhou para os lábios e depois para os olhos. O corpo estava recostado à porta e ele já havia dito algo, que o cérebro de não processou – por motivos óbvios: havia um francês na porta do quarto dela, com a descrição idêntica ao de um personagem que ela idolatrava e o bendito estava sorrindo e usando camisa preta e um avental.
- ¿Cómo? – Ela perguntou, voltando da semi-divagação.
- Yo he preguntado si vienes almuerzar conosotros.
Hipnotizada, sorriu e fez que sim com a cabeça.
- Perdón por tocar en tu puerta nena, es que aún no empecé a comer, pues que te estuve esperando.

Como um mantra, a mente da mulher guardou o “te estuve esperando” com todas as forças do universo, dando a ela a interpretação que lhe apetecia: ele a esteve esperando, parênteses, por toda a vida.
O fato é que precisava sair do mundo da lua e agir normalmente, deveria encarar a situação e deixar de sonhar acordada – embora sua mente estivesse grudada em um livro chamado “Era uma vez no passado” que falava, justamente, de um viajante do tempo encontrando a mulher dos sonhos e... Por Deus, era muita informação para quarenta minutos de viagem!
Afastando as bobagens e se conectando ao seu eu interior, destravou.

- Bueno, te encuentro en un rato, ya estoy case lista, ¿dale?
O homem diminuiu o sorriso e aumentou o grau de olhada power seduction, fazendo as pernas dela tremerem.
- Ok. – disse, fez um gesto de cabeça que significava “permiso” e deixou ela com a porta semi-aberta e o coração na mão.

Bastou ele virar as costas pra fechar a porta e suspirar, emendando o momento com um grito abafado e uma comemoração que ela chamava, carinhosamente, de Dança da Chuva, e fazia sempre que estava muito feliz. Daquele tipo “feliz que não cabe em si mesmo”.
fechou o computador e disse a si mesma que aquele Roarke francês, falando espanhol na porta do seu quarto, na Argentina, era seu próprio Roarke e que, independentemente dela ter certeza que ele havia se materializado, não poderia ser um personagem de livro. Portanto, era um ser humano normal, com quem ela deveria ter cautela – sobretudo porque tinha o atrevimento e a descontração que ela tanto reverenciava em um homem. Em outras palavras, ela estava certa de que aquele francês devia ter vindo ao mundo com uma plaquinha de perigo.

As pessoas continuavam felizes na cozinha e, agora que tinha a vista mais apurada do ambiente percebia que se tratavam realmente de dois casais, mais um francês e por perto estava a adorável senhora que a acompanhara ao quarto, recepcionista do chalé (encantado) de Gerard.
Ele a avistou chegando:
- Mira quien viene.
- Tranquilo , así va asustar la nena. – disse o aparente amigo.
Houve um breve sorriso e ele a convidou para sentar-se a seu lado.
Talvez nunca tenha, de fato, acreditado que poderia ser diferente. Ela sustentava um dom que a movia de cidade em cidade, de cultura em cultura e de livro em livro, mas jamais escrevera uma história de amor que resultasse em algo além de engano. Sempre que escrevia sobre si mesma retratava algo além do que ocorria.
Ela já sabia o motivo, obviamente, havia estudado que o dom poderia sofrer interferências de seu próprio pensamento e que o que os espíritos lhe diziam – fosse lá como a mensagem chegasse – em algum momento a sua própria vontade interferia na história e, por esse motivo, ainda que tudo o que ela escrevesse acontecesse, não era com os mesmos detalhes.
O que importava era que, até aquele momento, suas histórias vendiam e, verdadeiras ou não, faziam parte daquilo que ela mais amava em toda a vida. Sendo assim, se o homem a seu lado era uma propagação do inanimado, pouco lhe importava, pois havia uma comida deliciosa que saíra de suas grandes mãos e um perfume, ainda mais delicioso, que se conectara a ela desde o primeiro abraço.
era seu nome. Um homem extraordinário, ela devia dizer. Conversaram sobre viagens, sobre o mundo e sobre seus países – assuntos que, por sinal, eram do gosto de ambos. A geografia, vejam só, era especialidade de . Havia estudado por muitos anos, feito um doutorado na França e vivido em cinco ou seis países. Não revelou sua idade, mas ela sabia que devia ter mais de 40, o que não lhe importava nem um pouco, a julgar pela desconfiança inicial que teve dele: antes fosse mais velho do que viesse do futuro, com pelo menos quarenta anos a menos do que ela.
- ¿Y a ti te gusta caminar, ?
- Así es, lo hago siempre que viajo, pues que no hay mejor manera de conocer a una ciudad.
sorriu, naquele momento só estavam os dois na cozinha. As pessoas haviam saído para tomar um ar no quintal e a louça havia sido lavada há pouco.
Estar lado a lado com ele naquela cozinha era uma imagem surreal, de uma tarde tranquila de casal – algo que se recusara a viver até o momento, envolta demais em suas “pirações” cósmicas para ter tempo suficiente de relaxar a dois. Preferia fazer sozinha e se machucar o mínimo possível. O engraçado ali é que não estava com medo, nem com a intenção de se machucar, arriscando tudo. Estava ali e, simplesmente, estava ali. Sem antes, depois ou talvez. Vivia, e isso bastava.

A semana que compartiu com foi deliciosa. Conheceu o centro da cidade, passeando pelo Obelisco, o Teatro Colón, a Casa de Gardel, a Biblioteca, diversos restaurantes e muitas milongas. Durante todo o tempo não mantiveram uma relação de namoro, apenas compartiram momentos. Entre abraços e breves manifestações de carinho, o mais sensual que viveram foi uma dança.
Em uma tarde de sol, enquanto as pessoas descansavam seu almoço, em uma sesta, lá estavam eles na sala de dança do chalé.
- Me ha dicho algo acerca de una canción especial, cuando estuvimos en la Casa de Gardel, ¿no?
- Pues, sí. ¿Qué crees?
- A mi me encanta la canción. ¿Qué te parece tener tu primera clase con ella?

estava surpresa com a lembrança. O comentário sobre a emoção que sentia ouvindo “Por una cabeza”, de Carlos Gardel, foi algo passageiro. Parecia que era, realmente, o homem mais sensacional do planeta, lembrando de detalhes e fazendo-lhe sentir um turbilhão de sentimentos. Era sensacional compartir momentos com ele.
- Creo que va ser um momento inolvidable.
se aproximou de , devagar. Ele tinha os olhos cravados na boca dela e o perfume másculo a envolvia de tal maneira a despertar todos os poros de seu corpo.
O homem segurou em sua cintura com a força e a atitude necessária para o que faria a seguir. Não menos planejado do que o ato que emudeceu a mulher, o francês colou o seu rosto ao dela e tratou de fazer os passos que haviam ensaiado intuitivamente, em anos de espera por aquele encontro em comum, tornarem-se reais.
Os tacos de eram arrastados no pequeno salão e o corpo feminino era espremido sobre o corpo másculo. O perfume a enlouquecia, sua respiração quase poderia ser incontida, se ela não tivesse o controle necessário para evitar a mostra de excitação. A perna feminina subia pelo corpo de a cada parada estratégica e ele delirava, mentalmente, ao imaginar até onde iria com aquela surpresa e inesperada paixão. Desde que a mulher de cabelos sedosos, pele macia e olhos tão fortes havia aparecido, em uma tarde de verão, ele desconhecia a sua breve noção de cuidado.
As mãos de subiam pelo corpo vigoroso, em uma dança sedutora que exigia plateia, mas que era protagonizada e assistida tão somente por aqueles corpos bailando.
O refrão de Gardel, com a voz potente do maior ícone do tango argentino, fazia descuidar de seu súbito excesso de apuração e, assim, jogar-se aos braços de imaginando quando a dança seria mais que sedução e quando os toques providenciariam longos beijos. Ela o desejava e podia sentir, com o máximo das sensações, que era correspondida.
Assim que a música acabou e os corpos descansaram parados, tratou de erguer a cabeça de , para que esta repousasse os olhos nos seus. Foi um encontro de almas o que houve naquela dança, ambos sabiam que a cada passo enlaçavam-se ainda mais, como se fossem estruturas do DNA envolvendo-se para formar um novo corpo celular, em uma fusão de sentimentos, cores, conhecimento, histórias, música e prazer.
De uma das mãos de surgiu uma rosa vermelha e nada emocionaria mais àquela mulher. A rosa pairou sob seus cabelos e o sorriso sob seus lábios. contornou os lábios do homem com seu indicador e fechando os olhos tratou de aproximar as bocas. O beijo foi um toque suave e frágil como a rosa que pairava em seu cabelo; foi cheio de promessas e repleto de prazeres ocultos.
- Creo que hay algo en ti que hace una conexión directa con Dios, princesa. – Ele disse em um sussurro e um abraço.
- Así es y yo creo que eres tú ese algo, mi cariño. – envolveu-se no abraço e deixou que o tempo passasse, enquanto ele lhe arrastava para outra canção belíssima que era iniciada no vinil da pequena sala de dança do chalé.

Los Angeles, 20 de novembre.

olhava as fotos na tela do computador, parecia até loucura ter imaginado que havia saído de um livro. Embora não fosse loucura saber que, de fato, outras diversas histórias que ela escrevera saíram do papel e se tornaram fatos.
Não conseguia saber, exatamente, qual havia sido a primeira, mas desconfiava que era um enredo que tratava do amor obsessivo de um homem vaidoso. Uma historinha mal contada, sem muitos detalhes de ambiente, mas com um psicológico bem trabalhado. Era a primeira vez que entrava na cabeça de um homem e descrevia o que havia de pior nela. Foi um trabalho forte que resultou em uma de suas primeiras premonições. Tratava-se de um avião que cairia na costa brasileira poucos meses depois.
Naquela semana de novembro a brasileira estava em Los Angeles. Gostava do lugar e queria os ares daquelas terras para compor seu novo trabalho. Sabia que teria de estudar muito, pois ainda nutria algumas dúvidas sobre o destino do mundo.
Já havia sido avisada, por seus superiores, que não seria o fim do mundo – na interpretação louca feita por desequilibrados – mas sim uma reiniciação.
Desde outubro daquele ano um portal havia sido aberto e Saint Germain estava mais próximo do que nunca de seus iluminados. O grande mestre do Raio Violeta estava pronto para reger o ano de 2013, banhando o mundo com a energia violeta – relacionada às questões karmaticas – o que significava que a humanidade resolveria conflitos que em outros anos não havia resolvido.
O Senhor da Fraternidade traria ao mundo as oportunidades que ele buscava, por isso, com o portal abrindo desde outubro de 2012 até janeiro de 2013, o ápice – no dia 21 de dezembro de 2012 – faria com que a transformação fosse perceptível e palpável para os iniciados.
sabia que muitos não sentiriam nada e que, ao mesmo tempo, as energias positivas e a felicidade inundariam os que assim se mantiveram na abertura do portal – por outro lado, haveria aqueles que se sentiriam carregados e descrentes, debochando da magia que os regia (acreditassem ou não).
estava conectada, vendo as fotos recém postadas de , que permanecia na França e acabara de receber uma sobrinha ao mundo. A pequena Anne Marie ganhou um jantar em família e, embora ainda parecesse um joelho – como qualquer recém nascido – era linda aos olhos do tio.
A maneira como ele enviara as fotos para o e-mail de e, principalmente, a forma como bajulara a sobrinha, a julgar pelo vídeo da festa, mostravam mais à brasileira do que ela poderia ver em anos. Com certeza aquele homem era especial. Especial e real.

Nas fotos do dia e na constante atualização que costumava fazer em sua rotina, buscou o que havia de novo na América Latina. Aquele lado do mundo a preocupava, não apenas por fazer parte dele como por ter suas origens fincadas em solo indígena, solo asteca, solo maia.
Entre a imagem de um pôr do sol no Rio Da Prata e da lua que se destacava no Rio de Janeiro, havia uma marcha da paz no Peru e um menininho que segurava um balão com a frase “terrorismo nunca más”. Aquilo tocou profundamente.
Parecia um desacato ao pensamento moral que as pessoas, em sua ignorância, gritassem aos sete mundos que o universo acabaria – como se Deus quisesse que tudo o que ele construiu fosse destruído – e que atrocidades feitas pelo ser humano não contassem como parte do real fim do mundo.
Ela pensava em como poderia dizer a uma grande parcela de pessoas que não era possível continuar de olhos tapados, mas de alguma maneira ela própria estava cega por seus ideais. A ideia não partiria dela. Não seria ela o Francisco Madero do mundo, nem tão pouco o Zapata a enfrentar com a vida o ideal de um povo. Para esses títulos, de heróis, haveria outros nomes.
se perguntava o que ela, em sua pequenez, poderia fazer para contribuir com a abertura do portal e a consagração dos filhos da luz antes do início de um novo ciclo astral e, como era o único que sabia fazer, escrevia.
Passou tardes escrevendo e pensando em naquele mês. Ele não dava sinal e a cada segundo parecia impossível respirar por não saber notícias dele. saia pelas ruas da Cidade dos Anjos, notando que os anjos deveriam estar pasmos com o que haviam feito dela. O trânsito era caótico e as pessoas se esbarravam na rua o tempo todo, sem lugar para sequer guardar o pensamento.
A brasileira já estivera naquela parte do mundo, há anos incontáveis, antes mesmo da província – que é parte da Califórnia – ser um pedacinho surreal dos Estados Unidos. Quando viveu naquelas terras elas eram parte mexicana, e o Tratado de Guadalupe Hidalgo nem havia sonhado em existir. Não havia comércio internacional, mídia, ciência, tecnologia ou moda, mas havia magia, fé e entrega de um povo que sonhava o mundo de hoje como a ascensão de sua origem.

Ao contrário dos pensamentos positivos que emanava o povo de cultura milenar, as civilizações só fizeram entender mal o que os sábios diziam e assim escreveram sua própria degradação.
Depois de algum tempo repensando as leituras e as anotações, adormeceu em sua cama de hotel, imaginando o quão fascinante seria viver em Los Angeles com o seu francês.

México, 20 de deciembre.

O mês reflexivo rendeu um livro completo de 300 páginas retratando a história da cidade de Los Angeles em um romance épico e fascinante. mal acreditava no que havia feito e era difícil pensar que saíra de suas mãos um enredo tão marcante.
A editora americana para a qual trabalhava havia aprovado a obra na mesma semana e, de alguma maneira, sabia que aquilo era fruto do portal. O portal que realizaria tudo o que fosse semeado, a partir do ano seguinte, por um período que ela desconhecia – já que ainda não havia sido revelado.
Sentou em frente a seu laptop, quando estava na Califórnia, e escreveu sem parar por cinco dias. Entre um café e outro, uma lida nas notícias e um filme inspirador, o máximo que ela fez foi tomar banho e ir ao banheiro duas vezes por dia.
- Es impresionante que tengas este don tan peculiar, mi amor.
passeava com , de mãos dadas pela praia magnífica do Caribe. Estar no México propiciava uma sensação inigualável, ainda mais quando estava a um passo da abertura completa do portal, sentindo as irradiações de seus antepassados e de suas vidas ali: no berço da criação de seu espírito.
- ¿Crees en las profecías, ?
- Por supuesto que sí.
- ¿Me quieres hablar de ellas?
- Yo te puedo decir algunas cosas, si quieres, mi cielo.
e sentaram-se em frente ao mar e ela iniciou o relato, assim que conectou seus olhos com as ondas, pedindo as bênçãos de sua mãe para aquele reencontro tão supremo e inesperado.
O francês havia chego há dois dias. Ela há três; Hospedaram-se no mesmo hotel, como haviam combinado de antemão, por meio dos infindáveis e-mails. tinha afeição pela era digital e não demonstrava problemas em acompanhá-la, em seus milhões de bits por segundo, ao contrário: a eletricidade com que se deslocava, ia e vinha, de país em país, de cultura em cultura e, só deus sabia, de mundo em mundo, o apavorava e o excitava de uma maneira inigualável.
Aquela mulher demonstrava amor à vida e aos que naquele mundo viviam. Sua maneira simples e concreta de fazer isto era escrevendo, por isso passava semanas sem falar com ninguém e, de repente, surgia com um e-mail apaixonado em sua caixa de correio eletrônico.
recordava bem os dias em que havia acordado e observado o e-mail a espera de uma mensagem que não chegava e recordava, também, que nos últimos meses o seu sorriso havia sido modificado por uma constante onda de prazer, ao dividir a vida com ela.
Ainda esperava o momento de desfrutá-la e desvendá-la, mas era especial e ele não deveria iniciar a vida de amantes antes de colocar em pratos limpos ao que viera. era uma mulher doce e gentil, preocupada e inconstante, por isso sabia que estaria fadado a amá-la para o resto de seus dias, caso beijasse aqueles lábios como tanto ansiava.
Não que houvesse faltado oportunidade. Na noite em que chegara estava a sua espera, no saguão do hotel, vestindo algo que a aquecia e fazia parecer ainda mais sensual. Ele se negava a acreditar que vira aquela mulher com vestidos de verão, exibindo exuberantes pernas brasileiras, e que naquele momento de reencontro estava tão apaixonado a ponto de encontrar no excesso de roupas uma sensualidade inata.
o enfeitiçava com seu sorriso descontraído, com a maneira apaixonada com que defendia suas ideias e brigava por elas. Ela tinha força quando falava e, de repente, bastava que olhasse para ele e se desfragmentasse, tornando-se não mais que um lindo botão de rosa, com pétalas delicadas que o faziam rogar perdão por algo que ainda nem havia feito, mas que com certeza praticaria assim que estivesse com aquela mulher em seus braços.
Naquele momento, enquanto a ouvia falar de suas crenças e contar-lhe uma história que – à sua cultura – parecia absurda, pensava que o mundo, afinal, sabia exatamente aonde levar um coração e, de alguma maneira, sabia a hora exata de estacioná-lo.
Depois de anos rejeitando o amor e encontrando-se com diversas mulheres, em distintos lugares, pelo mesmo fim: era a primeira vez que amava.
Amava sem pensar e sem desejar muito mais que a companhia eterna. Sem querer exibir o amor, mas guardá-lo para si, como um tesouro. Ele a queria, oh sim, queria com todas as forças e desejava levá-la a Paris e então namorá-la durante um passeio pelos arredores do Sena. Ele a amava tão desesperadamente que sentira vontade de chorar quando a reencontrou no saguão de hotel, quando jantaram juntos à luz de velas e quando ela chorou ao receber uma rosa branca de suas mãos.
dizia que estava escrito, que seria para sempre e que ele era a fantasia mais linda que já havia criado. Disse algo sobre ele sair de seus contos e de outros contos, de outros autores, em outras línguas. Disse a ele que era um personagem e que de todos sempre seria o mais desejado, mas que de alguma forma já pertencia a ela e a seus próprios sonhos.
não sabia como ela encontrava aquelas palavras e procurou não entendê-las, apenas aceitá-las. Aceitou que era feliz e que havia encontrado a mulher mais louca e sedutora de toda a sua vida. Aceitou que amava e que não poderia renunciar ao amor. Aceitou que, embora sonhasse em dividir a Europa com ela, sua menina era uma latina feliz, de corpo banhado pelo sol e de uma cor que refletia o seu povo. aceitou a ela, por ela assim se aceitar e aceitou o amor, por ter sido aceito por ela.

- Así que el calendario maya fue hecho por una gente poseedora de conocimientos matemáticos, y astronómicos que tenían que ver con su cosmovisión religiosa.
- ¿Y que decían?
- Bueno, hablaban de los años que iniciaban, los venidos e el destino del hombre. En general los textos mayas fueron quemados por los españoles durante su invasión de América, por eso hay mucho que la gente desconoce.
- ¿No tienes miedo, mi chula? – ele beijou o rosto dela, abraçando-a.
- ¿Miedo?
- Sí, de hablar de los muertos tan cerca de donde estuvieron hace miles de años.
- No. Creo que siempre estuvieron cerca de nosotros, jamás se fueron de todo. Hay mucha gente que aún vive sus enseñamientos, pero estamos tan acostumbrados a vivir la tecnología y alejarnos de la fe que, bueno, pasa todo eso del desconocimiento acerca de nuestra real existencia y todo.
Passou algum tempo entre o pensamento dele e a resposta que lhe deu em palavras pausadas e pensadas, uma a uma, com muito carinho.
- ¿Sabes qué? Me encantas, . – ele a olhou nos olhos. – Te puedo decir sin embargo que eres lo más hermoso que me ha pasado en toda la vida.
tinha o corpo tremulo, ansiando por aquele momento. Ela estava sem voz e sem reações possíveis.
- Dime que también ha soñado con este momento, . – ela fechou os olhos e deixou que as lágrimas viessem. – Dime, por favor, que no estoy de todo loca.

falava do sonho que se iniciava a partir dali. Ela havia presenciado as imagens em seu subconsciente, onde após um momento terno de paixão, ambos viveram a abertura do portal e o encontro com os seres do outro mundo.
Todas as vezes que demonstrava sua fé pelo sobrenatural as pessoas, em geral, a achavam louca e ela não queria que também tivesse essa imagem. Não queria que ele pensasse estar falando com uma desequilibrada que acreditava em fadas porque, por todas as chagas de Cristo, ela sabia que naquela noite, enquanto os dois se amassem à luz da lua, haveria uma enxurrada de seres, que habitavam o outro lado, invadindo os céus de todo o planeta.
- Calmate, princesa. – a abraçou forte e deixou que chorasse em seu ombro. – Todo va quedar bien... Estoy aca contigo y eso es todo que necesitamos.
No bar que estava há alguns metros dos apaixonados, repleto de turistas, havia uma festa que iniciava uma canção latina tropical, falando de amores, sonhos e destino. Na areia, o casal permanecia sentado, intensificando o olhar que aproximou as almas e fez as duas bocas se encontrarem umedecidas, trocando seus respectivos gostos, entre gemidos de prazer e sussurros de te quiero.
e foram para o chalé alugado em Cancun, assim que banharam-se nas ondas do mar, após o início do entardecer e das centenas de beijos. Ele a carregou no colo e a amou pela primeira vez junto às pedras que guardavam em silêncio a história de muitos outros casais e, em um passado distante, a história de oferendas humanas dedicadas a Kinich Ajau, o deus sol.

O frio intensificava-se, mesmo no litoral sul do hemisfério norte. Ambos jaziam enlouquecidos de amor após horas em uma piscina de águas aquecidas, estavam agora abraçados como apaixonados e envoltos como amantes, tendo uma tira de lençol tampando sua nudez.
percebera o corpo másculo perdendo as forças e adormecendo a seu lado, no exato momento em que viu o primeiro clarão de luz, pela porta de vidro que separava o quarto do jardim. Outro clarão respondeu ao primeiro, dessa vez em um tom violeta e, em seguida, houve uma explosão de cores mágicas que fez o céu intensificar-se e mudar do negro estrelado para o violeta enérgico.
As pequenas risadas denunciavam seres elementais e os ruídos passaram a ser maiores, conforme mais e mais seres desciam em direção a Terra. continuava adormecido, com um sorriso nos lábios e , mesmo estando preparada para toda a realização de seu sonho, tinha pavor de ver que era real. Que estava ali, a sua frente.

Correu, então, para a praia, deixando com um beijo nos lábios. Não havia nada além de uma camisola no corpo dela, pois era o que estava mais próximo para cobrir-lhe.
Quando chegou perto do mar se deu conta de que havia a seu redor algumas pessoas e que estas fechavam a borda da praia e os picos das pedras, em uma distância razoavelmente semelhante.
Todos eram iniciados na arte e, assim como ela, receberam o chamado para que pudessem presenciar o que era o início de um novo ciclo.
As pessoas começaram a entoar um cântico em uma linguagem que ela desconhecia e, quando se deu conta, também estava com os lábios mexendo e os olhos fechando para conectar-se. Entendeu que era um chamado e respondeu a expectativa de seus mestres, embora fosse um pouco cabeça dura e demorasse a responder, geralmente conectava-se com rapidez e procurava entender tudo, antes de praticar qualquer ato. Para ela era importante saber com qual espírito estava lidando, antes de agir por influências negativas e enganosas.
Não era, no entanto, o caso daquele momento. sabia desde o início que seria algo de luz e que haveria, de fato, muita luz.
Ajoelhou-se na areia e reverenciou ao grande espírito que ali surgia, pouco a pouco. Cantou com seus irmãos e trouxe a esse mundo o espírito da Fraternidade, acompanhado da benevolência e do amor. Não haveria uma missão tão cativante e honrosa quanto aquela. era uma das escolhidas para levar as mensagens de Deus para toda a esfera terrestre.
O espírito passou a se expandir e sabia, sem saber o motivo, que a partir daquele ponto ele alcançaria todos os cantos do planeta. Sabia também que, como ela, havia naquele momento milhares de outras pessoas, em suas respectivas crenças, adorando a chegada de um novo ciclo.
Evitava pensar nos descrentes e nos que não receberiam com boas vibrações o espírito sagrado, pois sabia que, de alguma maneira, todos os não iniciados estariam dormindo ou simplesmente cegos para o que chegava ali.
Há sentimentos, ela pensou, que todos somos capazes de alcançar. Mas há dádivas que chegam apenas para os que buscam e para os escolhidos.
Seu querido estava adormecido, em um sonho feliz e profundo. Ela sabia que ele era, indiscutivelmente, um agente de luz e de amor em sua vida. Alguém que a acompanharia e que viveria a seu lado. Mas também sabia que a maior provação de seu amor seria, justamente, acreditar que ela não era, necessariamente, comum. E que ele não estava preparado para ouvir a voz da Deusa Mãe. Ao menos não ainda. Não naquela vida.

México, 21 de deciembre.

Eu acho que nunca tive uma ideia tão absurda quanto essa. Escrevo porque até esse exato momento tudo o que vivi não deixou de ser um sonho. A verdade, em um sentido natural, é que estou de camisola e meu coração está acelerado.
Acabo de levantar da cama, olhar pela janela, deixar os olhos se impressionarem e correr para a geladeira, por um copo de leite frio. Meus pés estão descalços, como sonhei desde o início. Meus cabelos estão sedosos e ondulados, como eu sempre imaginei. Minha pele não poderia estar mais macia e meu corpo parece sentir o vento – que sopra desde a janela aberta na sala, com uma sensibilidade enlouquecedora.
Assim que constatei que o céu continuava lá, corri para o quarto para buscar por ele. Mais um sonho? Mais uma peça do destino? Eu não saberia como explicar, então, ao invés de tocá-lo eu corri para cá, peguei meu material de trabalho e – vejam só – iniciei está carta.
Hoje é 21 de dezembro de 2012 e se tudo acabar quero declarar que a culpa não foi minha. Que tudo o que fiz foi usar o dom que recebi e que, por Deus, estou tão impressionada quanto feliz.
Parece uma canção, mas eu vejo flores por todos os lados. A janela está repleta de flores e o céu... meu bom Deus, o céu é uma aquarela repleta de seres de todas as formas e cores. Consigo ver daqui que lá fora há algumas famílias de animais que nunca vi, alguns parecem humanos mas... Bem, eu suponho que sejam de origem maya e isso me faz pensar que se eu escolhesse a Irlanda para viver o fim do mundo, haveria uma porção de elfos em meu jardim.
está adormecido e eu pretendo beijá-lo com todas as minhas forças. Meu corpo está com um excesso de poder que jamais senti e meus olhos estão quentes. Tenho medo de olhar no espelho e vê-los grandes, saltados e violetas.
Não posso mais escrever nada. A partir daqui outras ideias e outras mentes darão seguimento ao que escrevi. Um dos espíritos me diz que aquele que tiver a chama da criação poderá imaginar a sequência ideal.
O importante é que iniciamos um novo ciclo e que, sendo assim, tudo aquilo que é iniciado deverá, por ordem do destino, ser renovado.
Agora vou por meu homem. Abençoadas sejam.

encontrou como o havia deixado e sem saber se o despertava ou esperava com um desayuno, resolveu que o ideal era deitar-se a seu lado e adormecer.
O sono durou tempo suficiente para que sua mente se restituísse. Horas seguintes, lá estava lhe servindo o café e não fazia ideia do que havia vivido na noite anterior.
Ao tomar um banho e ir para o jardim, podia jurar que o vaso de plantas da área estava do outro lado do pequeno gramado, quando foram se deitar.
- ¿Pasa algo mi amor? – mesmo sabendo que havia um sonho do qual não recordava, sorriu e continuou a caminhar ao lado de .
- No. No pasa nada, cariño.

Fim


Nota da autora: Sonhos devem ser planejados. O mundo conspira a favor daquilo que você deseja, acredite.
Não posso dizer mais do que foi dito. Espero ter contribuído e demonstrado que meus últimos sonhos para uma vida completa e feliz são: conhecer o cara perfeito no momento perfeito da maneira perfeita, ter viagens incríveis, conhecer o México, conhecer Los Angeles, publicar um livro e estar com o cara ideal na minha cama. É muito? Me importa un pepino! Es mi sueño y que el mundo explote con eso en registro.
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