She Knows Me So Well
Por: Pam | Beta: Nelloba Jones


Prólogo



— Pare este trem! — escutei uma voz ao fundo gritar e fechei os olhos automaticamente. — Pare este trem!
Olhei pela fresta da janelinha do vagão e não gostei de nada, nada do que vira. Abaixei a cabeça. Repentinamente um enjoo assombrava meu estômago sem pudor algum e eu não conseguia recuperar meus pensamentos. Como que discretamente, olhei para a porta no final do vagão e torci para que ninguém estivesse se aproximando. Eu estava tensa, completamente tensa e Sarah acabara de perceber.
Sem dúvidas, eu gostaria de dizer que eu estava bem, porque eu sabia que essa seria a primeira coisa que Sarah me perguntaria após retirar os fones do ouvido. Mas não. Eu não estava nem um pouco bem.
— Você não parece estar ótima, . Espere. — ela disse, fazendo uma cara estranha. — Alguém está gritando feito louco! Oh, santa sanidade! — Sarah deu uma das minhas risadas preferidas e me puxou pela camiseta. — Com licença, querida, eu preciso ver o que está acontecendo! — ela pediu e eu lhe dei espaço, levantando-me e deixando-a passar.
Não quis voltar para o meu lugar, nem poderia. A cara de Sarah expressava pura alegria e uma mescla de entusiasmo que me dera medo. Ela se afastou da janela, sentando-se no seu lugar e seu olhar me fez sentir um pouco de culpa.
— O que eu posso fazer? — perguntei, sussurrando baixo. Ainda estava de pé. — Não me olhe assim!
— Você não contou para ele? — foi como eu já imaginava e retornei ao meu lugar, encolhendo-me toda. — Eu não acredito que você fez isso e eu ainda acreditei em você. , não adianta tentar se esconder. — Sarah soltou um risinho. — Isso é ridículo, . Ele é seu namorado.
— Não mais... — sussurrei e ela colocou a mão na minha cabeça. Escutei um barulho de trava e a mão dela apertou meu cabelo. — Por favor, diga que não.
— Sim. Mil vezes, sim. — ela confirmou e eu continuei com a cabeça abaixada.
Alguns passos se aproximavam enquanto eu ouvia a voz dele seguir junto.
— OLHA! — um garoto gritou em companhia dos risos de amigos. — É um cara! Seus gritos pareciam os de uma garotinha de onze anos no show do Justin Bieber, cara!
— Cale a sua boca, filho de uma... — respondeu em alto e bom tom, mas bufou em seguida. — Tanto faz, eu nem te conheço mesmo.
Uma mulher reclamou com um dos “guardinhas” pelo atraso e um dos homens pediu para que ela se acalmasse. Guardas? Meu Deus! Guardas?!
— Qual é o problema aqui, senhorita? — uma voz masculina perguntou roucamente e eu simplesmente não me movi.
— Oh, não. — Sarah respondeu e eu entendi que eles estavam realmente perto. — O problema não é comigo, mas com a minha amiga. Bom dia, , ela não me disse que não havia te falado. — e eles começaram a conversar.
Sarah era uma traidora. Estava do lado dele, eu tinha certeza.
Certo. Mantenha a calma. Just ignore it.
Eu até conseguiria ignorar por mais tempo, caso a voz de um dos guardas não soasse tão terrivelmente alto em meu ouvido. Ele estava literalmente falando dentro do meu ouvido com aquela pequena voz autoritária e alta, absurdamente alta. Ok. Estava ficando surda! Surda! queria acabar comigo e pelo jeito ia conseguir com sucesso.
Aquela voz do guarda era o meu fim. Similar a uma voz dentro da sua cabeça. Era isso. Ele queria se impregnar em mim e não sabia como, então estava usando um guarda para cumprir a missão.
— Tudo bem. — eu tirei as mãos do rosto e levantei a cabeça. Fitei bem fundo os olhos do guardinha da terrível voz antes de olhar para . Evitei olhar nos olhos dele, ou seria capaz de pular em seu pescoço e arrancar sua cabeça fora. — Qual é o problema aqui?
— Não seja cínica! Não seja, ! — gritou e eu percebi o quanto sua voz era parecida com a de uma garotinha de onze anos.
— Calminho aí, rapaz. — o outro guarda, que estava do lado dele, sussurrou e o olhou com uma cara aflita. Eu estava me esforçando para não cair na gargalhada.
Sarah cutucou-me com o cotovelo e eu a olhei.
— Vamos. Vocês conversam lá fora. Há pessoas aqui que precisam partir mesmo e nós não gostaríamos de atrapalhar ainda mais. — ela disse pausadamente e eu a encarei, dessa vez com raiva.
— Eu não vou sair daqui. Também preciso partir. Por favor, senhor guarda, eu realmente acho que isso foi um equívoco. Esse cara é louco, pode ver os comprimidos no bolso esquerdo. — eu disse e arregalou os olhos. O guarda o olhou como quem perguntava até quando aquilo duraria. informou que os comprimidos eram para a pós-ressaca. — Mentiroso. Em partes. — meu sorriso atingiu em completo os olhos de e eu me senti aliviada. — Ele é mesmo um bêbado. Além da maconha, é claro.
Eu estava jogando baixo, muito baixo mesmo, mas eu não me importava. Até Sarah prendera o riso.
— Com todo o respeito — o guarda da tal voz disse. —, vocês precisam descer e resolver isso. Não queremos deixar os passageiros zangados, ou queremos? — quando ele disse, olhou diretamente para mim. — Por favor, senhorita, deixe-me levar a sua mala enquanto você se resolve com o rapaz.
— Eu não vou me resolver com...
— Não é um pedido, senhorita.
Droga. Eu odeio você. Foi o que eu quis dizer com o meu último olhar para antes de entregar a minha mala para o guarda e sair do vagão.
sorriu e eu odiei aquele sorriso.

~*~

When you gonna wise up, boy?


~*~


1h20min depois

— Com qual direito você acha que pode determinar o lugar aonde eu vou ou deixo de ir? — perguntei para , fazendo o meu melhor olhar vingativo.
Ok. Admito que não fora a coisa mais inteligente do mundo pegar um trem em rumo a uma cidade vizinha escondido de meu namorado. Nem ter me esquecido do comprovante de pagamento do bilhete em cima da mesa do meu apartamento. Maldita ideia de ter deixado uma chave reserva com ele.
Agora estávamos lá. Sarah, eu e ele. Esperando um trem que nos levasse de volta para a capital há mais de uma hora. A culpa não era minha, não era mesmo. Não importava se Sarah ficasse me cutucando o tempo que fosse. A culpa era toda dele. O problema era definitivamente ele e sempre foi.
— Certo. Essa é a décima quinta vez que você pergunta isso, . — Sarah me avisou e eu a ignorei. — Você não quer se sentar conosco, ?
estava sentado no chão, próximo de meus pés.
Ele não pagava para ver o quanto eu tinha vontade de chutar sua cara. De absoluta vontade à infinita.
— Não há lugar. — disse eu assim que o vi levantar. — Eu disse que não...
— Dá licença, né, ? — ele resmungou e se sentou do lado de Sarah. Eu o olhei. Incrédula. Ok. Então ele acha que pode ser grosso. — Sinto muito por isso, Sarah. Não queria estragar o seu passeio.
— Ah, não se preocupe, meu querido. — ela disse, dando um sorriso amigável. Encostou a cabeça no ombro dele e o abraçou de lado. Ok. Eu não esperava por aquilo.
Sarah, então, estava do lado dele. Certo. Eu podia aguentar.
— E também acredito que não sabia realmente de nada, eu podia imaginar. — ele disse, fazendo uma voz de bom menino. Eu o odiava por aquilo, sinceramente.
— Ah, faça-me o favor! — disse eu, levantando-me.
Fui à bilheteria pela quarta vez, mas “Não sei informar mesmo, moça, acho que mais vinte minutos e chegará”. Os vintes minutos estavam virando horas e horas ao lado de um terrivelmente insuportável.
Às quatro e meia da tarde o trem finalmente chegou. Os passageiros saíram de seus respectivos vagões, alguns contentes e outros expressivamente esgotados. A estação que parecia ter um clima exaustivamente pesado, agora virara uma correria só. Uma sintonia de abraços e sorrisos despertava a atenção de qualquer um, seguidos por mães desesperadas à procura de seus filhos e homens carregando pequenas ou grandes bagagens, mas que se esqueciam do quanto estavam cansados para sorrir para a família.
— Então... — Sarah suspirou como quem atrapalhava uma conversa importante e eu desviei o olhar das pessoas para adivinhar o que ela queria.
— Posso ver. — mas interferiu, levantando-se do banco.
— Eu vou. — determinei irritadíssima e ele me parou. esperou um momento, os olhos desconfiados. Mas então deu um passo para trás e abriu o caminho para mim, sorrindo com os olhos e fazendo um gesto com a cabeça para indicar que eu podia passar e ele não iria me provocar. — Ok. — eu disse, não tendo o que falar e saí.
O homem da bilheteria sorriu ao me ver, pela primeira vez. “Ok, moça, o trem parte em vinte minutos”. O quanto eu achei estranho aquela contagem de minutos fora absurdo, mas eu sorri de volta, agradeci e então pensei em voltar. Só pensei, porque eu acabara de ouvir um choro. Aqueles choros baixinhos, que você só consegue fazer quando está muito triste mesmo e não quer que mais ninguém ouça, a não ser seu coração, já que sua mente não acredita que você esteja chorando por um motivo tão bobo. Eu olhei para trás e nada vi. Andei mais um pouco, virando atrás da bilheteria e então entendi. Uma menina, linda por sinal, sentada no chão e apoiada nas costas da bilheteria velha.
Pensei em deixar para lá, porque não há nada pior do que quando se está sofrendo e saber que alguém — que você nem conhece — está vendo e querendo ajudar numa coisa que sabe que não vai conseguir. Mas só pensei novamente. Quando vi, já estava agachada em sua frente, pedindo para que ela se acalmasse. Ela não disse nada, continuou com o choro baixinho.
Eu saberia dizer que era coração partido. Acabara de lembrar-me que, na maioria das vezes, só se chora baixinho assim quando o coração pede. Então você não tem escolha melhor do que se concentrar e chorar. Fora isso o que eu fizera dois dias atrás, subitamente tendo a tola ideia de comprar uma passagem para outro lugar como desculpa para esquecer minha dor. Eu entendia que ela precisava daquele tempo, por isso a única coisa útil que eu fiz foi segurar sua mão e apertar cada vez mais forte toda a vez que ela respirava fundo.
— Tudo bem agora? — questionei com um sorriso pequeno, quando ela enxugou as lágrimas com as mãos e me olhou pela primeira vez, com o sorriso e olhos tristes. — Desculpe por me intrometer, eu também não gosto quando faço isso...
— Obrigada. — ela respondeu com a voz trêmula, apoiando as duas mãos no chão em impulso para levantar.
Não resisti e abracei-a forte. Eu estava vendo-me ali... Alguns anos mais cedo... Ela era parecidíssima comigo.
— Não foi culpa dele, eu sei que eu peguei pesado demais. — ela disse depois de me contar o motivo do choro. Acabara de terminar com o primeiro namorado. — Ele pediu transferência da faculdade para o meu campus. Eu disse coisas muito ruins a respeito dele, mas eu espero... — ela me olhou por um momento e iniciou um risinho baixo. — Me desculpe, eu estou enchendo a sua paciência com as minhas coisas bobas, não é? Eu sempre faço isso, é incrível.
— Claro que não. — eu sorri, tomando um gole do suco de maçã que havíamos pedido na lanchonete. Parecia que minha cabeça finalmente estava se acalmando. — Continue, por favor, estou adorando a história.
— Ok... — murmurou, parecendo tomar ciência de alguma coisa só naquele momento. — Patrick é bom para mim, bom até demais. Se ele pudesse entender que eu não disse tudo o que eu disse por mal... Eu não sei. É difícil. Nós nos conhecemos este ano, mas ele já tomou decisões tão complicadas como a da faculdade, é assustador e ao mesmo tempo intenso. Inteiramente intenso, eu não posso evitar. Eu vivo por meus sentimentos e isso é ruim, porque eu sabia que iria estragar tudo. — ela me olhou de novo e eu tive certeza de que ela voltaria a chorar. — Eu sou tão idiota!
Apenas a abracei de novo, sem ter o que dizer. Eu estava me sentindo tão similar àquilo.
Quando voltei para a frente da estação, Sarah me esperava com os braços cruzados e uma cara zangada. Apenas a encarei de volta e estendi o meu copo com suco, mas ela parecia não querer conversar. Ótimo. Parecia que eu estava me sentindo levemente culpada.

2h17min depois

Assim que desci do trem, toda aquela sensação de culpa sequer passou. Eu tinha certeza de que era o cara mais idiota do mundo e não, eu não estava dizendo por causa dele ter me provocado a viagem inteira, sem contar no quão machista ele foi ao dar em cima da garçonete da lanchonete.
Eu tinha dito e não foram poucas vezes. “Sarah, eu não quero ficar perto dele, vamos embora.” Mas alguém me escuta? Sarah, quem dizia ser uma irmã para mim, me escutava? Minha resposta é: não. Obviamente não me escutavam. Se me escutassem, eu não estaria ali presa dentro do penúltimo banheiro feminino da lanchonete.
Meu celular apitou algumas vezes e eu simplesmente ignorei. Mensagens desesperadas de Sarah e uma só de .

Se você voltar, prometo não irritar você por uma semana. A gente precisa conversar.


Uma semana. Ele achava mesmo que nós ainda estaríamos juntos dali uma semana?
Saí do banheiro e lavei o rosto, enxugando-o cerca de seis vezes. Droga. Era difícil esconder as marcas de choro. Tentaria respirar fundo e abrir a porta. Ia ser fácil. Dei poucos passos até alcançar a maçaneta e... Apenas respirar fundo, se concentrar e pronto.
Respirei fundo.
1,2. Tudo bem.
1,2. Tudo bem.
Coloquei a mão na maçaneta e virei. Não iria mais chorar.
— Aqui está ela! — Sarah sorriu e eu me sentei no meu lugar, colocando minha bolsa em meu colo. — Hummm... , eu acho que vocês precisam conversar. Certo? — ela perguntou, olhando-me com uma cara de dúvida. Continuei quieta, encarando a bolsa no colo. — Bom, sendo assim — ela tossiu sem querer. —, acho que estou sobrando, não estou?
olhou para ela no mesmo momento, ele também não estava esperando ficar sozinho comigo. Ótimo. Então nós iríamos todos embora.
— Estou mesmo. — ela respondeu para ela mesma, levantando-se e vestindo o casaco comprido. — Vocês vão se acertar logo, até onde sei, eu não tenho amigos cabeças-duras. — Sarah seguiu até e deu-lhe um beijo na testa. — Seja bonzinho com ela... Eu deixo o recado com o Mike, sim.
— Mas diga que não pode demorar.
— Eu direi. — garantiu-lhe, seguindo caminho até a mim. — E, você, minha pequena bela mentirosa, seja firme. Não quero que saia correndo quando ele começar a falar e nem que o trate mal para depois sofrer, ok? — Sarah segurou minhas mãos. — Você é uma garota malvada, , mas ainda é minha irmãzinha. Cuide do seu amor antes de tudo, não se preocupe com nada. — ela sorriu, abraçando-me pela cabeça e dando um beijo também na minha testa.
O olhar de caiu sobre mim e quando Sarah se afastou, encaramo-nos antipaticamente.
— Você pode começar. — declarei e ele arqueou uma sobrancelha. Era uma das graças que eu mais gostava, mas me segurei para não soltar um sorrisinho sequer. — Ótimo, fico feliz em poder começar. O primeiro ponto é que você está agindo como uma idiota, não como a minha idiota, mas a maior idiota do mundo e que não dá a mínima para o que eu penso ou sinto. Você simplesmente parece comigo alguns anos atrás.
Primeiro ponto: ok. Embora ele pensasse que fosse mudar muito tentando me ofender ao me comparar a ele, eu apenas iria esperar antes de dizer o que realmente queria. Falso sorriso de compreensão: ok.
— Posso ouvir você ainda, apesar das várias besteiras que você já tenha dito hoje terem me perturbado um pouco. — ensaiara o sorriso também, eu tinha certeza.
— Besteira? — repeti enquanto alguns maus pensamentos passavam pela minha cabeça. , pare! Concentre-se! — Então... — olhei para o fundo da lanchonete, buscando de alguma forma uma pequena parcela de concentração. De repente, eu ficara nervosa. — Eu não sou a maior idiota do mundo, . Você é.
Não era a resposta que eu mesma esperava de mim, mas foi melhor do que gaguejar. olhou para minha direção e eu desviei o olhar para ele. Olhos contra olhos, finalmente.
— Eu sei. — a voz dele soou baixa enquanto seus olhos me invadiam mais e mais.
Essa também não era a melhor resposta que poderia dar. Não. Não. Nós estávamos caindo um no outro novamente e aquilo, definitivamente, não podia acontecer. Nós não podíamos nos lembrar que nos amávamos. Não podíamos voltar tudo para como era antes, esse não era nosso objetivo. Agindo como idiotas, culpando-se como idiotas e olhando-se como idiotas.
Os maiores idiotas do mundo. Eu não queria admitir nem para mim mesma, mas estragara tudo. Nós éramos os maiores idiotas do mundo.
— Você sabe? — questionei, apesar de não querer saber a resposta. Ele sorriu com os olhos e acabou me derrubando junto. Fechei os olhos e uma onda de arrependimento me invadiu.

Flashback

— Você é idiota? — Roger gritou e eu encolhi meus ombros, tentando me afastar. — Responda o que eu perguntei a você, . VOCÊ É IDIOTA?! — ele gritou ainda mais alto e mais próximo de mim. Eu não tinha a noção de que ele era tão rápido.
— Não. — eu pensei alto, alto demais. Burra. Eu estava sendo uma burra.
— O quê? — ele deu uma gargalhada. — O que foi que você disse? — eu até tentei virar o rosto, mas agora ele segurava meus ombros e sua mão caia pesadamente sobre meu corpo, chacoalhando-me como se fosse o meu pai. — Quer saber? Você não precisa dizer mais nada. Eu sei e sempre soube que você era uma idiota. , você é totalmente inútil, deveria sentir vergonha por...
Mas ele parou de falar. Não por opção própria, é claro. Roger adorava humilhar as pessoas e não perderia o fio da meada só por pensar melhor e perceber que existiam ali pessoas como ele, obviamente, menos arrogantes.
— Mas que porra...!! — Roger grunhiu e eu levantei para trás, vendo um garoto com moletom verde e calça larga se aproximar.
Os óculos de grau em seu rosto não me permitiam notar as cores de seus olhos por ainda estarmos um pouco distante, mas conforme seus passos aumentavam, tive uma leve impressão de que fossem olhos . Encantadores.
Roger percebeu a presença do rapaz também e se virou com petulância:
— Amigo, alguém chamou você aqui? Volta pro seu cigarro que é o melhor pra você. — ele disse e eu ri mentalmente da careta que o garoto fazia enquanto ele falava. — Você tem algum tipo de problema? – e Roger olhou para o chão. — Você jogou uma bituca de cigarro em mim? Realmente tem problemas!
O garoto enxergou-me ali e abriu um sorriso, chamando-me com a mão.
— O que você está fazendo? — Roger perguntou, olhando de mim para ele. — , você conhece esse cara?
— Não conhece. — o garoto disse e encarou Roger com raiva. — Calminho aí, bad boy. Você pode tirar as mãos dela? Pela expressão no rosto dela, ela não deve estar gostando nem um pouco do seu... carinho? — naquele momento ele já estava ao nosso lado, o cigarro na boca quase acabando novamente. — Eu não me importo de atirar em você de novo, tenho um maço inteiro no bolso, “amigo”.
Aquilo era incrível. Eu estava começando a me sentir incrível ao lado dele, mesmo que não soubesse o seu nome.
— Não se preocupe, amor. — ele disse, olhando para mim. — O grande idiota aqui é esse otário, que com toda a certeza não merece você. Pode vir comigo, eu levo você pra casa, se quiser. Minhas mãos — o garoto jogara as mãos para cima, dando um sorriso radiante. — não vão tocar você, eu prometo.
Eu sorri de volta e tentei passar por Roger, mas ele segurou-me de novo e apertou meus ombros com tanta força que eu pensei que fosse cair.
— Calminho aí! Cara, você é um otário mesmo. — o menino desconhecido gritou. — Mas que inferno, o cigarro nem acabou direito... — ele disse mais alguma coisa, só que eu não consegui entender. Ele colocou a bituca do cigarro na nuca de Roger, que gritou ao sentir a queimadura, enquanto o menino forçava ainda mais a bituca. — Venha! — ele gritou para mim e eu não hesitei.
Ele poderia ser quem fosse, mas estava sendo adorável. Eu não pensaria duas vezes em segui-lo.


— Aquele cara é um idiota, você o beijava? — perguntou mais tarde, depois de termos corrido sem parar e fugido de Roger. Estávamos sentados em uma pracinha abandonada, o lugar que mais gostava de ir para poder pensar na vida. Ah, seu nome era . Ele parara de estudar e se dedicava a suas composições. Gostava de fumar e beber e comer todas as besteiras do mundo capitalista. Acordava cedo quase todos os dias para ajudar a mãe na loja da família e eu acabara de descobrir que estava me ganhando com facilidade.
— Às vezes, sim. Mas você sabe, era um namoro arranjado, meus pais precisavam ter os pais dele como sócios ou todo o esforço do meu bisavô teria sido jogado fora. Bom, acho que agora foi, né? — eu entendi, dando um sorriso.
deu risada e ofereceu outro cigarro.
— Não, eu não fumo.
— Deveria. — ele sorriu. — Eu acho que casamentos arranjados são totalmente cansativos. Ah, e dá pra perceber. O absolutismo acabou há séculos, avise seus pais.
— Você pode avisá-los, se quiser, quando chegarmos em casa. E explicar o que Roger fez... Por favor? — eu pedi e ele fez uma cara de espantado. Ok, eu estava sendo uma boba.
— Você namorava um cara chamado Roger? — ele perguntou e deu a gargalhada mais linda que eu já ouvira em toda a minha vida. — Tudo bem, vamos lá. Eu aguento essa. Sua casa é muito longe? Porque vamos ter que ir andando.
. — eu o chamei e ele me olhou. Estávamos saindo da pracinha em rumo à calçada. — Posso pedir uma coisa?
— O que quiser. — ele sorriu. — Você quer comer algo?
— Não, não... — balancei a cabeça, fechando os olhos. Respirei fundo. — Eu sei que você disse que suas mãos não tocariam em mim, mas... Você poderia segurar a minha mão, ? Porque isso é loucura. Parece que eu vou desmaiar em qualquer minuto.
Ele não respondeu nada, apenas segurou minha mão e eu me calei. Percebi que não precisava me explicar com ele, o que seria uma coisa difícil, afinal, a minha vida inteira eu havia me explicado o tempo todo para todos.
Minha vida havia mudado.


Flashback Off

... ! — a voz de me chamava e eu abri os olhos. Ele me olhou com curiosidade. — Você dormiu?
— Não. Só estava pensando... — respondi, balançando a cabeça e virando-me para olhar em volta.
— Certo. Estranho. Você é estranha.
— Você também é. — eu sorri.
— Vindo de você soa como um elogio, obrigado. — ele também sorriu ironicamente. — Então você ouviu o que eu disse e estamos entendidos?
— O que você disse? — arregalei os olhos enquanto ele soltava aquela minha gargalhada preferida. — Você é trouxa. Sério, você é muito trouxa.
— Também parece um elogio...
— Não, pare com isso, está bem? — eu disse, empurrando-o com força. — Cansei. Não quero mais conversar. Eu preciso de um banho, por favor, vamos embora.
— Mas a garçonete ainda não voltou com o número dela. — ele brincou e eu não dei risada. — Tudo bem. Não daria pra conversar com você mesmo, você está irritante. Pra mim também chega.
— Então vamos?
— Vamos. — ele repetiu e eu me levantei. — Eu vou acertar a conta, mas me espera lá fora que eu te levo pra casa.
— Não precisa... , sério. — confirmei, percebendo que o havia chamado pelo apelido. Ele negou com a cabeça e foi até o caixa, eu saí.
A noite que fazia estava linda. Tão linda que cheguei a ficar olhando para o céu durante uns cinco minutos.
Meu pensamento principal era de que eu precisava de um banho para esfriar ainda mais a cabeça.


Quando eu saí de casa pela manhã, carregando duas malas pequenas, meu objetivo era me afastar ao máximo de , até porque eu estava realmente querendo ficar longe dele. Era um desafio.
Desviei o olhar para , que chegava com uma sacola pequena.
— Comprei aquele doce que você gosta...
Nada de sorrisos, , nada.
— Qual? — perguntei.
— Não seja boba. Eu sei qual é o seu doce preferido. — ele disse, ficando ao meu lado. Começamos a andar.
— Torta de maçã. — afirmei e ele me olhou. — O que foi? A culpa disso tudo é sua.
— Aparentemente.
Aparentemente? Ok. Ele estava sendo duro, mas eu seria mais.
— Então o que você quer?
— O que eu quero? — ele parou de andar e me olhou fixamente. — Que você pare de agir como se eu tivesse mesmo feito a pior coisa do mundo, . Você quer terminar e seguir a sua vida?
— Você quer?
— Não foi isso o que eu disse. Você quer?
— E eu estou perguntando: você quer?
Silêncio.
Continuamos a andar.
Chegamos ao meu apartamento e ele estendeu a sacola.
— Quanto devo pela graça da sua gentileza?
— Ah, cala a boca, por favor. — ele jogou a cabeça para trás em sinal de raiva. — Você está me irritando muito. Muito, muito, muito. — a cada advérbio repetido, ele fechava os olhos e abria.
— Você é um idiota. — declarei, abrindo o portão do edifício. — Ah, e quando eu perguntei o que você queria, era em relação ao doce. Você me comprou o meu doce preferido, portanto devo comprar o seu doce preferido.
Ele me olhou com raiva como se entendesse muito bem onde eu queria chegar com aquilo. O doce preferido dele era o meu brigadeiro de panela.
— Sério? — ele fez uma cara debochada. — Sério mesmo? Oh, isso é sério?
, pare.
— Por quê? — disse, chegando mais perto e me empurrando para dentro. Fechou o portão. — Por que eu devo parar?
Eu odiava quando ele fazia aquilo. E me odiava ainda mais por gostar de quando ele o fazia.
— Por favor. — foi a única coisa que eu consegui dizer e estranhamente saíra como um gemido. percebeu e sorriu. — Vá se foder, está bem?
— Você sabe bem o meu doce preferido. Estaremos quites se você me encontrar daqui três horas no estúdio do Mike.
Daqui três horas será quase meia-noite. Olhei no relógio e ele segurou meu pulso, impedindo que eu visse as horas.
— Não se preocupe — ele disse e o seu sorriso era verdadeiro. — Nós temos tempo.
— Eu não vou.
— Tudo bem.
Eu fechei os olhos, pedindo forças para quem quer que fosse.
— “When you gonna wise up, girl? When you gonna wise up, girl?” — ele começou a cantarolar e eu tampei sua boca com minhas mãos. Sacanagem. A música de nosso primeiro encontro.
— Cale a boca, por favor.
Ele deu um sorriso malicioso e eu tirei minhas mãos dele.
— Você vai?
— Combinado. — eu sussurrei. — Agora, suma. Eu vejo você mais tarde.
Não resisti em dar um sorrisinho de volta e ele continuou parado ali. Eu também não tentaria adivinhar o que ele queria, embora minha mente estivesse trabalhando muito bem nisso. O sorriso de ambos agora se encurtara e nós começamos a nos encarar bravamente. deu um passo para frente, colocou da maneira mais gentil possível o meu cabelo para trás e posicionou uma das mãos no meu rosto enquanto a outra acariciava meus cabelos. Seu rosto foi abaixando e eu sabia o que estava por vir. Por mais que minha mente brigasse entre pensamentos inadequados e pensamentos de rejeição, eu permiti com todo o meu coração. encostou os lábios quentes no meu pescoço e beijou-o com carinho, depois deixou que meus cabelos voltassem para frente e beijou minha bochecha.
Eu não disse nada, nem poderia. Só fui capaz de sentir minhas bochechas corando e meu coração batendo com o dobro de intensidade.
— Vejo você mais tarde. — ele repetiu num sussurro que me machucou bastante.
Meu corpo quase tombou para trás quando eu o vi descendo as escadas correndo e saindo do prédio, acenando para mim e partindo.
Merda.
Subi para meu apartamento, indo para o meu quarto chorar como a adolescente da estação.

3h30min depois

’s POV


— Porra, como ela tá demorando! — exclamei e Sarah e Mike deram risada de mim. — O que foi? Sério. Ele tá demorando muito, eu vou embora.
— Calma aí, cara. — Mike disse, abraçando Sarah. — Ela virá, ela prometeu, lembra? Quer ensaiar outra vez?
— Não. — balancei a cabeça, andando de um lado para o outro. — Se ela não vier, eu cometo um suicídio.
— Oh, não, querido. Não é pra tanto. — Sarah disse e logo os namorados se beijaram. Fiz uma cara de nojo e abaixei a cabeça.
Se ela não viesse, eu teria um ataque cardíaco.
Havia trabalhado tanto naquela canção. A noite inteira passada antes de ela entrar naquele trem e eu ter ido atrás dela.
Não sabia o que havia dado em mim, mas eu me sentia estranho. fazia com que eu me sentisse ainda mais estranho, um estranho bom. Na verdade, desde que a conhecera, ela quase sempre fazia com que eu me sentisse uma pessoa boa. Não uma pessoa boa normal, era se sentir verdadeiramente uma boa pessoa e não só por uma noite ou por uma ação. Era completamente doente o que eu havia começado a sentir por ela e ela não fazia ideia do quanto eu tinha medo de que tudo acabasse.
Por isso, eu fazia tanto merda. Era sempre assim.
Mas achava que tínhamos de amadurecer, embora ela não percebesse que isso já estava acontecendo. Havíamos amadurecido juntos há tempos, já não éramos aqueles dois adolescentes que chegaram à casa dos pais dela molhados pela chuva e xingando de tudo quanto era nome o ex-namorado dela, um segurando na mão do outro, mesmo que naquele momento estivessem molhadas, elas pareciam deslizar.
O mesmo aperto que ela dera na minha mão naquela noite quando eu a toquei pela primeira vez era o aperto de atualmente. Nós não havíamos mudado nada entre nós, mas os outros percebiam nossas maturidades e responsabilidades agora. Adultos. Havíamos passado para essa fase quase que sem perceber.
Eu mesmo só percebi quando chegou ao meu apartamento com o recibo da minha primeira moto. Ela gritou tanto naquele dia que eu literalmente reconheci a adolescente fanática por Fall Out Boys correndo atrás de uma van e vindo me abraçar, minutos depois, no choro, por não ter conseguido tirar uma foto com eles. Conseguimos uma foto com eles um ano depois e ela deu o sorriso mais lindo da vida, aquele que só dava quando eu falava alguma bobagem que a fazia rir.
Bati a moto, fiquei no hospital, cuidou de mim. Vendi a moto e comprei mais três violões. dizia que quando tivéssemos nossa casa, teríamos um quarto só para os meus violões. Ela adorava quando eu tocava para ela antes de dormir, ou quando chegava cansada da faculdade. Nós amadurecemos quando ela disse que precisava estudar para a prova e que só faríamos amor quando ela passasse naquela maldita matéria. Eu a ajudei a estudar durante dias e me orgulhei muito quando ela disse que tirara a maior nota da sala.
Estávamos amadurecendo aos poucos. Ela não percebia?
— A campainha tocou... ! A campainha tocou, você não vai pro seu lugar? — Sarah me cutucou e eu a olhei, saindo do transe. — Pensando em formas de cometer suicídio? Acho que você não precisa se preocupar mais com isso. Mike já está ligando os aparelhos e eu vou abrir a porta pra ela. Vá para o seu lugar agora, vá... — ela me empurrou e eu me levantei, pegando o violão e entrando na sala de gravação. Sarah fechou a porta da sala e me olhou pela janela. — Não faça nada de errado, tudo bem?
Fiz um OK com a mão e ela sorriu, apagando as luzes. Só naquela hora eu percebia o quanto meu plano era bobo e o quanto os meus amigos me amavam por concordarem em fazer aquilo comigo. Eu só não esperava levar um soco de .


[n/a: recomendo que escutem She, do Ed Sheeran]


’s POV


Eu não queria me atrasar, não queria mesmo. Com certeza pensara que eu fizera de propósito, mas não. Estava tão apreensiva que queimara o brigadeiro quatro vezes, mas o quinto dera certo e eu estava carregando um potinho cheio dele.
— Ele ficou bravo comigo, não foi? — perguntei desesperadamente a uma Sarah que só sabia cantarolar e sorrir. — Por favor, Sarah, me responde. Ele ficou puto comigo, não ficou?
— Hummmm... — ela fez, dando uma risadinha. — Não posso falar.
— Ah, qual é? — disse eu, enquanto andávamos em direção ao estúdio do Mike, namorado de Sarah. — Se você não me contar, eu prefiro ir embora a aguentar ele todo estressadinho. Odeio quando ele fica assim comigo.
— Estressadinho. — ela repetiu, rindo. — Ah, , você é uma boneca.
— Pare com isso agora, Sarah. É sério, muito sério. — eu avisei e ela pareceu não ligar. De repente, minhas pernas começaram a tremer e eu percebi o quanto estava nervosa. Parei de andar e Sarah também. — Olha, você não está sendo uma boa amiga comigo. Você sabe que estamos brigados e não quer me dizer se ele está zangado?
Sarah pegou meu braço e me arrastou até a porta do estúdio, sussurrando que eu iria ver com meus próprios olhos. Permiti ser arrastada até lá dentro e quando entramos na sala de produção, tudo estava apagado.
— Acenda a luz, por favor. Eu tenho medo de escuro — pedi com uma voz de choro, fazendo com que Sarah e Mike rissem. — Ah, olá, Mike, eu não estou vendo você, mas é bom te ter por perto.
— Olá, . — ele respondeu e eu apertei Sarah ao meu lado.
— O que está acontecendo aqui? — perguntei, mas ela apenas se afastou.
Alguma coisa se acendeu, mas não era a luz. Olhei para trás e notei algumas velas aromáticas e coloridas em cima de uma mesinha. Olhei para frente e uma luz dentro da sala de gravação se acendeu. estava lá.
O violão preferido na mão e um sorriso encantador, o mesmo daquela noite em que me defendera e que me conhecera. O sorriso mais maroto e desafiador do mundo era algo impossível não sorrir também. Alguns acordes começaram e eu fechei os olhos, mal acreditando no que estava vendo.
Ele havia escrito para mim. Eu sabia.
I paid all my dues and she wanted to know that I’d never leave her now I’m ready to go, ele cantou e eu me concentrei em sua voz, prestando o máximo de atenção. Meu sorriso de orelha a orelha. As strange as it seems, she’s endless to me, she’s just like paperwork but harder to read, ele continuou e eu não conseguia mais sentir os meus pés no chão.
— Aguente firme! — Sarah gritou aos risos, talvez percebendo que eu estava começando a tombar.
Respirei fundo e ele deu um sorriso, tranquilizando-me.
Patience’s my enemy, loving’s my friend, it’s harder to leave with my heart on my sleeve than to stay and just pretend, sua voz carismaticamente invadindo meus ouvidos e eu não quis negar as primeiras lágrimas. Oh, she knows me so well… Oh, she knows me like I know myself, e eu quis entrar naquela sala pequena e impedi-lo de continuar. I made all my plans and as she has made hers. She kept me in mind but I wasn’t sure.
Aquilo era crueldade. Ele estava cantando tão bem e estava se esforçando, notavelmente, para que suas notas saíssem perfeitas. havia se esquecido de que eu tinha um coração e que batia fortemente por ele. Ele estava cantando daquele jeito e pensava que eu continuaria ali viva?
I searched every room for a way to escape, but every time I try to leave she keeps holding on to me for delight and blocking my way, ele disse e começou a abaixar o tom de voz. Cruelmente abaixando o tom de voz. Patience’s my enemy, loving’s my friend. It’s harder to leave with my heart on my sleeve than to stay and just pretend… Oh… Oh… She knows me so well, ele olhou diretamente em meus olhos e eu não desviei. Estávamos caindo de novo. Estávamos caindo juntos e eu gostaria que ele segurasse a minha mão. She knows me like I know myself... And like the back of her hand she already understands everything.
Era muito para mim. Juro que não estou aguentando.
’Won’t you stay?’, she says and she already knows how it goes and where she stands I’ll stay, anyway, ele disse e imitou minha voz no primeiro verso, arrancando-me sorrisos e suspiros. Cause she knows me so well, oh, she knows me like I know myself… Oh, oh, she… knows me so well, oh, she knows me like I know myself… I know myself…, ele me olhou profundamente mais uma vez e passou a língua sobre os lábios de maneira provocante. Eu aguento. Ok. Eu não aguento, não. Oh, she knows me like I know myself, alcançou uma nota alta e bonita, fazendo meu coração estremecer por dentro. Eu já estava pior do que quando estava chorando no quarto. Meus olhos começaram a embaçar e eu limpei as lágrimas rapidamente. I know myself... I know myself... I know myself…
Ele poderia ter parado e eu agradeceria imensamente. Mas não. era provocante, era cruel e impiedoso. Fizera o melhor solo da vida inteira olhando somente e fixamente em meus olhos, fazendo com que todas as minhas estruturas desaparecem e eu quase caísse no chão.
Mike e Sarah precisaram me segurar antes que eu fosse literalmente para o chão. tirou o violão, largou-o no chão e abriu a porta com agressividade, correndo para mim. Um deles acendeu as luzes, mas eu não sei quem foi porque fechara os olhos, buscando alguma espécie de... ar?
Levaram-me até o sofá e eu me sentei, finalmente recuperando os sentidos. Olhei para os três na minha frente e comecei a rir. O casal me acompanhou na risada, deixando as caras espantadas para trás. Mas não. Ele apenas continuou me olhando seriamente e eu o chutei.
— Está bem... você quase me matou de susto! — Mike comentou contente. — Acho que tudo está bem agora. Parabéns, cara, você quase a fez desmaiar. — ele disse, empurrando .
continuou com os olhos fixos nos meus e eu corei levemente. Ele abriu um sorriso, satisfeito.
— Pensava que fosse mais durona, . — ele comentou. — Desculpe por isso, baby. — se levantou enquanto Mike e Sarah deram espaço para ele, que se sentou ao meu lado e me puxou para si. — Me desculpe por ser o maior idiota do mundo?
— Nós somos, juntos, os maiores do mundo. Sempre foi assim, então tudo bem. — eu garanti e ele beijou minha bochecha, logo depois me encheu de beijos. — Você é linda... — ele disse, deitando a cabeça na parte superior do sofá e me olhando. — E eu não vou te magoar nunca mais.
— Estamos bem. — eu o beijei enquanto ele me colocava em seu colo. Eu precisava senti-lo e sentir o seu gosto. — Tudo está bem. Sempre vai ser assim, não vai? — perguntei quando ele tirou a minha bolsa que estava entre nós.
— Isso está atrapalhando. — ele riu e eu o olhei, esperando uma resposta. — Sim, para sempre. Eu, você, nossa casa, meus violões e o seu brigadeiro.
Brigadeiro. Eu acabara de me lembrar do verdadeiro motivo do atraso. Peguei a bolsa das mãos dele.
— Sabe por que eu demorei tanto? — disse, abrindo a bolsa e retirando o potinho de lá. — Queimei quatro vezes, mas eu consegui. Aqui está. Finalmente quites.
deu um sorriso largo e pegou o pote, abriu-o para conferir.
— Obrigado, eu te amo tanto. Você sabe o que combina mais com o seu brigadeiro? — ele perguntou e pela expressão maliciosa que fizera, não era nada muito adequado de se falar.
Não mesmo. Por isso eu apenas sorri, confirmando com a cabeça.
— Boa menina. — ele sorriu encantadoramente e me puxou para mais perto, prendendo-me em seu colo. — Nunca mais me faça parar um trem. Você promete? Minha risada não foi bem uma promessa, mas não se importou. Eu sabia que ele estava disposto a parar quantos trens fossem precisos.


| FIM |



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