So I Drive II – Nothing Else Matters
Autora: Nara Prestes
Beta-reader: Bia


Não importa quanto tempo passe desde aquela noite, eu não consigo tirar aquilo da cabeça. E menos ainda tirá-lo do coração.
O que não muda nada.
Nossas vidas continuaram normalmente depois daquela noite louca na casa dele. Ou quão normal minha vida com pode ser.
Apenas para o acaso de qualquer um ter esquecido, ele é meu melhor amigo. E eu dormi com ele.
Coisa pouca.
No mesmo dia que saí da casa dele, jurando que não queria vê-lo pelo resto da semana, ele me ligou. Tinha ensaio da banda e ele passaria para me buscar. Sem chance de eu recusar. E então tudo voltou ao normal de uma forma quase forçada.
Meu coração ainda estava confuso depois de tudo que aconteceu e da maldita piadinha que ele fez depois de tudo, mas eu tinha que continuar.
E, afinal, sem mim aquela banda não era nada.
Se algum dia eles fossem pra estrada, provavelmente me levariam junto. Eles nem conseguem marcar o próprio ensaio sozinhos. Ou lembrar de levar os instrumentos. Era tudo eu.
Enfim, aquele dia passou e outros vieram. E às vezes eu e éramos apenas os melhores amigos de sempre, mas depois daquela primeira noite vieram outras. Não tão frequentes como eu gostaria, mas tudo bem. Como eu já disse, nenhum plano é perfeito.
Na frente dos outros ele fazia questão de agir como meu amigo, normalmente. Mas quando estávamos sozinhos, ele não tinha tantos pudores assim. E quando dava conta, estávamos rolando nus pela casa dele.
Nada de romance com ele. Nunca. Era puramente físico. Éramos melhores amigos que sentiam atração sexual um pelo outro. Apenas isso. Ou pelo menos era assim que eu sabia que ele encarava as coisas.
E aqui estou eu deitada na minha cama, olhando pro nada e pensando nessas coisas. De novo.
Não posso negar que estou um tanto chateada com a nossa situação. parece não perceber como me sinto em relação a ele. Ou se percebe, ignora solenemente.
Suspirei ruidosamente, querendo apagar esses pensamentos. Soprar pra longe de mim, junto com o ar que sai de meu corpo.
Mas toda essa minha baboseira é interrompida pelo toque do meu celular ao meu lado.
Parei por um momento ouvindo “Lego House”, do Ed Sheeran, que era meu toque, antes de atender.
- Você tava ouvindo a música de toque de novo, ?
A única pessoa que saberia isso e seria assim tão... Gentil, seria ele.
- Claro que não, .
Ele riu. Eu o acompanhei. Ele sabe que eu ando obcecada por Ed Sheeran, e em especial a música que eu coloquei como toque do meu celular. Coisa que ele acha irritante.
Brigamos umas 20 vezes por causa dessa música de toque do meu celular. Apenas pelo fato de eu me recusar a usar uma música da banda dele como toque.
Recuso-me mesmo. Não preciso de mais um lembrete dele na minha vida. A voz dele cantando a cada vez que alguém me liga? Não, obrigada.
- O que você tá fazendo?
Lá vem ele me chamando pra alguma coisa.
- Deitada, olhando o forro do meu quarto e pensando na vida.
Não achei necessário adicionar que eu estava pensando nele. Ele não queria saber.
- Vem aqui em casa, !
Algo no tom de voz dele me pareceu mais... Carinhoso, talvez. Bobagem.
- Agora? Que preguiça de sair da minha cama, .
- Ah, não faz drama. Vem. Eu tô com saudade.
PAROU. dizendo que está com saudade de mim? Ele nunca diz isso, mesmo que ele esteja. Ele geralmente me obriga a ir vê-lo ou coisa assim, mas nunca, NUNCA diz que está com saudade.
Algo a ver com o orgulho masculino idiota, segundo os amigos dele.
Amigos que já estavam notando nosso... Envolvimento. E pareciam apoiar muito. Sempre fazendo piadinhas e dizendo que deveríamos assumir o namoro de uma vez.
Coisa que ele sempre respondia com um gesto nada católico. E eu apenas dava risadinhas sem graça.
Talvez eu tenha ficado em silêncio tempo demais, porque ele se mexeu do outro lado da linha, fazendo barulho, o que indicava que ele estava um pouco desconfortável com a falta de resposta da minha parte.
- Vou trocar de roupa e já vou, ok?
- Certo, estou esperando. Beijo.
E desligou.
Mas, espera aí... Ele disse “beijo”? Mesmo? Ele NUNCA se despedia, de forma alguma, de mim ao telefone. Algo está errado com . E eu espero que não seja consertado.
Levantei da cama e fui tomar banho ainda pensando em o quão estranha a ligação de havia sido. Mas logo tratei de tirar isso da mente, eu tinha que correr pra não perder o ônibus.
Tomei banho rapidamente, arrumei-me de forma simples, avisei minha mãe que estava indo pra casa do e saí.
Durante todo o trajeto até a casa dele eu segui pensando que aquela havia sido uma das ligações mais estranhas da minha vida. Acabei rindo sozinha com esse pensamento.
Quando dei por mim, já estava entrando na casa dele. Eu era ótima em me perder nos meus pensamentos.
Eu não tinha que ficar chamando no portão ou coisa assim. Eu podia entrar direto. Estavam todos tão acostumados com as minhas visitas que nem se importavam. Fiz um carinho no cachorro dele, que sempre vinha me receber quando eu chegava.
Entrei na cozinha e senti aquele cheirinho maravilhoso de pão de queijo. O melhor pão de queijo que eu já comi na minha vida é o da mãe do . E ela sempre fazia pra mim.
Era engraçado a maneira como ela costumava falar de mim. Ela sempre dizia aos outros que eu era nora dela, e nem eu nem desmentíamos isso. A gente nunca se importou. Ou pelo menos eu nunca me importei mesmo. Que pelo menos os outros pensassem que eu era namorada dele. Que pelo menos os outros acreditassem no que eu gostaria que fosse real.
Achei que não teria mal pegar um sem pedir. Peguei e mordi. Divino, como sempre.
- Tia, eu roubei um pão de queijo!
Ela provavelmente sabia que eu viria pra casa, porque ela só fazia pão de queijo quando eu estava aqui. Não importava o quanto o implorasse pra ela, ela só fazia quando eu estava lá.
- Ela saiu, bobona.
Era a voz dele gritando do quarto, de onde eu havia escutado os sons do violão.
O-oh. Como assim a mãe dele não está em casa? De novo? Estou vendo um padrão se formando nisso.
Nesse momento eu acreditei que tinha descoberto o motivo dele me chamar. Ele queria sexo. Aproveitar que a mãe dele não estava em casa.
Mas até mesmo isso era estranho. A tia sempre estava em casa, e nós nunca ligamos pra isso. Mesmo com ela na sala assistindo novela, nós fazíamos sexo no quarto.
Teve até uma vez que estávamos lá, nos divertindo sozinhos no quarto, e ela começou a conversar com de lá da sala. E ele ficou respondendo ela aos gritos do quarto. Nossas pornografias eram absurdas.
Eu teria dado risada ao me lembrar disso, se eu não estivesse com aquele pensamento estranho.
Caminhei até a porta do quarto dele e fiquei apenas apoiada no batente da porta, observando enquanto ele tocava uma música qualquer no violão, distraído. Quase como se não soubesse que eu estava ali parada, olhando pra ele.
Mas ele sabia que eu estava ali. E logo ele me chamou com a mão pra dentro do quarto. Colocou o violão na cama e deixou que eu lhe desse um beijo na bochecha. Eram esses momentos que me faziam pensar se não seria melhor esquecer toda essa nossa loucura e viver como amiga dele pra sempre. Ele sempre foi o melhor amigo do mundo, mesmo com as grosserias e tudo mais. Ele sempre me entendia e às vezes era absolutamente carinhoso comigo.
- Você demorou. - Foi o que ele disse quando me sentei ao seu lado na cama. É claro que ele ia reclamar de algo. Mas ele parecia um tanto manhoso ao dizer isso. Ele sempre parecia manhoso. Mas jamais fale isso pra ele. Ele pira.
- Ônibus. Eu não tenho uma moto absolutamente linda e perfeita, . Sou pobre, lembra?
Rimos com meu comentário bobo e logo ele pegou o violão novamente e ficou dedilhando qualquer coisa enquanto, provavelmente, decidia o que tocar agora.
Acaba que ele tocou várias músicas e cantamos juntos. Mesmo que minha voz não seja a mais bonita nem a mais afinada, quando cantamos juntos, fica legal. Pelo menos eu acho.
Demos muitas risadas com o fato de eu acertar a letra e ele não, ou com a minha desafinação óbvia em algumas partes.
Mas a última música que ele resolveu tocar me deixou perdida. Mal consegui acompanhá-lo cantando. Ele tocou a música que mais amo na vida. Que sempre me lembro dele quando toca. Que sempre me faz chorar.
- Trust I seek and I find in you*... - E ao cantar essa parte ele olhou de uma forma tão profunda em meus olhos que eu já não me lembrava de mais nada nem ninguém. Nem sabia quem era mais. Apenas me perdi no brilho diferente que havia nos olhos dele.
A cada frase cantada ele me encarava, como se quisesse que eu entendesse que era pra mim. Era quase como se ele estivesse querendo me dizer algo mais com aquelas palavras.
E a frase que define minha vida sempre que estou ao lado dele: And nothing else matters. Essa foi cantada por nós dois, com uma conexão visual que faria qualquer pessoa que estivesse olhando a cena desviar o olhar, sem graça.
Mas logo a música acabou e eu senti aquele momento se esvaindo ao som das últimas notas da música. E então estávamos em silêncio, lado a lado.
Quando a última nota sumiu no ar, assisti colocar o violão no apoio ao lado da cama e voltar para perto de mim.
Quando eu estava prestes a falar algo pra quebrar o clima estranho que estava me deixando confusa, ele se aproximou de mim, sem ser brusco ou apressado, mas sem me dar chance de abrir a boca e depositou um beijo em meus lábios.
Inicialmente apenas pressionando seus lábios sobre os meus. Esses malditos lábios que me deixam mole. Logo iniciamos um beijo lento, calmo. Carinhoso.
O que é a coisa mais estranha que já aconteceu. Nunca tivemos beijos assim. Eram sempre beijos cheios de luxúria, de desejo. Sempre apressados, fortes.
Eu não estava com a mínima vontade de mudar as coisas, portanto apenas deixei que ele me beijasse dessa forma deliciosa enquanto passava a mão pelas minhas costas, com a outra firme em minha cintura.
Com esse diferente eu não sabia como agir. Estava totalmente entregue a ele. Como sempre acontecia, mas desta vez eu me sentia diferente nas mãos dele.
É como se, por um dia, ele decidisse deixar de lado todas as barreiras dele. Toda a grosseria e sarcasmo pareciam estar de lado, esperando pra voltar depois.
A mão em minha cintura me fazia carinho enquanto a outra passeava por minhas costas em um carinho gostoso e absolutamente clichê. Eu já estava com minhas mãos em seu pescoço, fazendo-lhe carinho na nuca, arranhando de leve. Era algo natural meu.
Aos poucos senti que ele me deitava na cama, ficando por cima de mim, sem parar de me beijar.
O beijo foi se tornando mais firme e menos calmo, mas ainda assim carinhoso. As mãos dele passavam pela lateral do meu corpo, bagunçando com a minha roupa. Deixando minha camiseta erguida e tocando minha pele. As mãos dele, de pele grossa e sempre quente, em contato com a minha pele fina e um tanto fria me deram arrepios. Deixei que minhas próprias mãos passeassem por suas costas, bagunçando com a camiseta dele também. Passei minhas mãos para baixo do tecido da camiseta dele e minhas palmas apreciaram o calor do corpo dele, descendo e subindo em suas costas, passando pela lateral do corpo, roçando de leve as unhas e causando arrepios nele.
Senti-o puxar meu corpo para ficar meio sentado, assim facilitando para que ele tirasse minha camiseta. Quebramos o beijo nesse momento e eu aproveitei pra tirar a camiseta dele também.
Eu não queria pensar em nada naquele momento, apenas aproveitar.
Assim que nos livramos das camisetas, que foram parar em algum lugar desconhecido no quarto dele, voltamos a nos beijar, desta vez com menos lentidão. Estávamos excitados e não há maneira de manter a calma assim.
As mãos dele estavam em meus seios ainda cobertos pelo meu sutiã. Ele estava me provocando, pois sabia que eu preferia sempre me livrar dessa peça maldita de roupa rapidamente. Deixei que ele me provocasse por alguns instantes assim enquanto eu me ocupava em passar minhas mãos por seu peito e barriga, sentindo toda a extensão dele, que eu já sabia de cor. Mas logo percebi que ele próprio cansara de ter aquele pano atrapalhando, e então tirou meu sutiã sem que eu mesma tivesse tempo de pensar, e jogou longe também.
Por um momento muito curto, percebi que ele estava admirando meu corpo. Às vezes ele fazia isso, mas sempre de forma discreta. Desta vez ele foi menos discreto, quase como se me deixasse perceber que me olhava daquela forma. Com um sorriso sacana, ele começou a beijar meu pescoço, descendo lentamente os beijos pelo meu colo, passando a boca para o seio direito enquanto a mão dele estava no esquerdo, acariciando, provocando. Fazendo-me ter arrepios, como sempre.
Eu não era a mulher mais sensível nos seios, mas sabia o que fazer, como e quanto fazer. Então, era absolutamente prazeroso.
Eu senti os dentes dele passarem não tão levemente pelo bico do meu seio, e não pude conter um gemido. Era perceptível o prazer dele com isso.
Minhas mãos apertavam o corpo dele contra o meu de forma irracional. Eu não estava pensando em nada, e passei a pensar menos ainda quando senti as mãos dele descendo até meus jeans e me provocando ao passar os dedos pela borda da peça.
Eu só podia observar e esperar que ele tirasse logo aquela maldita calça. Ele olhou pra mim e mordeu o lábio. Ele sabia que eu estava ansiosa pra acabar com a tortura, mas parecia que ele estava se divertindo muito com isso. Grande filho da puta.
Com muito alívio logo percebi que ele queria se desfazer da barreira que a calça representava entre nós. O que não fez com que ele se apressasse tanto quanto eu gostaria. Lentamente ele abriu o botão da minha calça e a puxou calmamente pelas minhas pernas, observando cada centímetro de pele que era descoberto como se fosse a primeira vez que ele tinha essa visão. Quando ele jogou a calça para o mesmo destino das outras peças de roupa, ele parou onde estava e observou meu corpo quase nu em sua frente. A única peça de roupa que restara era a diminuta calcinha vermelha. Ele sorriu.
- Qual a sua tara com vermelho, ?
Ignorando a vergonha que eu estava sentindo por ele me observar assim, já que ele nunca fazia esse tipo de coisa, eu mordi o lábio e respondi pra ele com a voz baixa.
- A mesma que a sua.
Sempre tivemos isso em comum. Eu amo vermelho. Ele adora que eu use vermelho. Em todos os anos de amizade, todos os presentes que ele me deu envolviam essa cor.
Ele apenas assentiu levemente, estava mais ocupado em passar as mãos pelas minhas coxas enquanto subia com o rosto muito próximo à minha pele, causando-me arrepios com sua respiração. E quando eu percebi o rumo que seus lábios estavam tomando, eu senti uma onda de calor. Ele estava depositando leves beijos por minha coxa direita, alternando com a esquerda e subindo lentamente os beijos, que iam se tornando cada vez mais molhados. Logo ele atingiu a barreira do pequeno tecido vermelho. Beijou a lateral do tecido antes de arrancá-lo com a maior habilidade possível. Logo eu não vestia mais nada e ele ainda estava com suas calças. De uma forma um tanto distorcida, isso me excitou ainda mais naquele momento.
Senti seus dedos acariciando lentamente toda a proximidade da minha intimidade. Com calma, sem pressa nenhuma. Ele parecia estar descobrindo cada pedacinho de mim naquele momento. Eu suspirava e tentava conter os gemidos, coisa cada vez mais difícil. Quanto mais próximo ele chegava de mim, mais eu tinha dificuldade em conter os barulhos que queriam escapar da minha boca.
Logo ele estava cara a cara comigo enquanto uma de suas mãos estava ocupada me tocando intimamente. Eu estava com os olhos semicerrados, tentando manter meu corpo sob controle. Ele me encarou por uns segundos, mas logo estávamos nos beijando como se nossa vida dependesse disso. Minhas mãos em suas costas estavam bem mais agitadas que antes e enquanto eu tentava conter os barulhos eu acabava arranhando-o mais e mais. Ele parecia gostar muito da sensação. Estávamos presos naquele momento, no prazer que estávamos sentindo juntos. Eu não me contive mais e, mesmo com os dedos dele me causando um imenso prazer e motivos para não conseguir me concentrar em mais nada, levei minhas mãos à beira da calça dele e, sem a menor cerimônia, comecei a baixá-la, mesmo com a minha mobilidade reduzida pelas circunstâncias. Ele logo entendeu o que eu queria e pareceu concordar comigo que as roupas já estavam atrapalhando muito e, parando por um momento o que fazia comigo, afastou-se e terminou o que eu havia começado. Logo ele estava sem as calças. Apenas com a cueca boxer cinza. Mas eu nem dei chance dele recomeçar as brincadeiras. Não enquanto eu ainda estivesse em desvantagem. Tirei logo a última peça de roupa que me impedia de apreciar o corpo todo dele. Ele sorriu com a minha pequena pressa.
Mas não ficamos muito tempo parados, nossos corpos imploravam um pelo outro, pelo contato, cada vez mais íntimo. Ele estava em cima de mim, puxando minha perna para ficar ao redor do corpo dele, mas ainda sem efetuar a penetração. O filho da mãe estava inspirado em me provocar. Seus olhos não desgrudavam dos meus e com uma lentidão exagerada ele se abaixou para me beijar, ao mesmo tempo em que eu senti seu membro entrar. Por um momento eu não soube o que fazer ou que sensação aproveitar primeiro. O beijo terno, doce que ele estava me dando ou o prazer que eu senti no momento que unimos nossos corpos. Mas logo tomei controle de tudo em meu corpo da melhor forma possível e eu já conseguia beijá-lo de maneira quase apaixonada enquanto movia meu corpo cada vez mais junto ao dele.
Eu queria a proximidade, queria sentir o corpo dele grudado ao meu, ouvir os barulhos baixos e roucos que vinham do fundo de sua garganta. Eu estava aproveitando o momento de entrega dele, pois era exatamente o que eu estava sentindo.
Não pude manter por muito mais tempo o beijo, pois meus gemidos atrapalhavam e eu já estava me perdendo no prazer. Com certeza eu disse seu nome algumas vezes e outras eu quase gritei que o amava, mas não faria isso mesmo que estivesse perdendo a sanidade.
Eu senti o corpo dele se chocar contra o meu com mais e mais velocidade, firme, buscando o máximo do prazer para nós dois, e eu sabia que não demoraria muito tempo para que eu chegasse ao meu ápice.
Quando senti a onda absoluta de prazer atingir meu corpo, já estávamos suados e ofegantes, balbuciando coisas ininteligíveis. E enquanto eu estava totalmente absorta no meu próprio prazer, eu soube que ele havia alcançado o dele também. Não que ele tenha feito barulhos ou coisa do tipo, eu apenas sabia. Era o tipo de coisa que eu sabia sobre ele.
Logo eu pude prestar atenção em outras coisas, o prazer estava diminuindo. Meu corpo estava quente e minha respiração saía em lufadas irregulares. Ele ainda estava em cima de mim, de olhos fechados, tentando controlar a própria respiração. Nunca que ele deixaria tão exposto o quão cansado ele estava.
Sempre malditamente orgulhoso.
Ele abriu os olhos e eu soube que eu havia conseguido um momento de paixão dele. Quase um momento de amor. E assim que ele jogou o corpo pro lado, eu soube que o momento havia passado.
Talvez não totalmente.
Ele ainda me puxou, delicadamente, para deitar no peito dele. Sem dizer nenhuma palavra. Qualquer palavra iria destruir esse momento e nós dois sabíamos disso. Nunca fomos bons com momentos delicados assim. Ele era sempre absolutamente sarcástico e até mesmo um tanto grosso, e eu estava sempre na defensiva, com algum comentário ácido pronto a ser lançado.
Quando senti que ambas as respirações haviam voltado ao normal e a temperatura do meu corpo já estava baixa novamente, percebi que ele estava se mexendo embaixo de mim. Provavelmente um sinal claro para que eu levantasse.
Fiz isso e sentei ao lado dele. Nos olhamos e eu realmente não sabia o que falar. Não queria estragar as coisas. Ele estendeu a mão pra mim e mexeu no meu cabelo, da mesma forma que meu melhor amigo sempre faz. Não da maneira que um amante maravilhoso faria. Eu sabia que o ao meu lado era o meu melhor amigo novamente.
Eu quase reclamei disso. Quase. Porque não importa qual ele seja, eu amo todas as partes dele.
Sorri de maneira divertida pra ele e me levantei.
- Vou tomar um banho. Não posso ser considerada humana nessa forma.
Ele riu. Ele sempre ria dessa maneira de falar que eu tinha.
- Pega toalha ali no armário. E separa uma pra mim que eu vou depois de você.
Eu quase disse pra ele ir comigo, mas deixei passar. Peguei uma toalha e uma calça dele, agarrei minha camiseta e saí do quarto.
Entrei no banheiro e liguei o chuveiro. Parei por um momento apenas observando o vapor que se formava. O que diabos acabou de acontecer? Era a única coisa que eu conseguia pensar enquanto meus olhos acompanhavam as formas indistintas que o vapor fazia em minha frente.
O choque da água quente em contato com meu corpo já frio foi delicioso, relaxante. Eu estava cansada, e nada melhor no mundo do que um banho quente para me deixar novinha em folha.
E longos minutos a sós para colocar as ideias em ordem.
O que diabos aconteceu naquele quarto?
Já fiz sexo mais vezes do que gostaria de admitir com e nunca, NUNCA foi como hoje. Ele foi diferente, intenso. Não que das outras vezes não fosse intenso, mas era intenso num sentido mais físico do que qualquer coisa. Desta vez foi intenso fisicamente, mas também emocionalmente. Os olhos dele não desgrudavam dos meus, seus lábios não me deixavam e ele parecia absolutamente entregue. nunca parecia entregue a ninguém. Eu sei disso porque já consolei muitas das garotas que ele levava pra cama por causa disso.
Com certeza eu sou uma excelente amiga e excelente mentirosa.
Esse não é o ponto agora.
Por que ele agiu dessa forma é uma incógnita pra mim. Ele geralmente não é assim carinhoso ou amável com as pessoas.
Claro que às vezes ele era assim comigo. Mas ele era assim com a melhor amiga dele, não com a garota na cama. Como amigo, às vezes ele me dava mais carinho do que meus pais. E ele era assim também com os caras da banda, mas de uma forma menos gay, claro.
O filho da mãe conseguiu mesmo me deixar confusa com as atitudes dele. Não que eu não tenha gostado, porque eu amei. E como eu disse, se há algo de errado com ele, eu espero sinceramente que não seja arrumado.
Perdi-me por tempo demais nos meus próprios pensamentos e quase perdi a noção de tempo e espaço.
Sacudi a cabeça e terminei logo meu banho. Desliguei o chuveiro e me sequei, ainda um pouco aérea, mas logo passaria.
Vesti-me com as calças dele e com minha camiseta e um último pensamento tomou conta de mim. Ele agiu quase como se estivesse apaixonado.
Senti meu corpo gelar e aquecer diante dessa possibilidade. Os olhos dele pareciam, sim, de alguém apaixonado.
- Não, seria bom demais... - Como sempre pensar não é suficiente, eu acabei deixando que essas palavras escapassem de meus lábios para o banheiro cheio de vapor.
Tentei me controlar e disse a mim mesma que seria impossível. Resolvi deixar pra lá e apenas aproveitar, como eu já tinha decidido antes. E cá estava eu falhando miseravelmente.
Mas tranquei minhas neuras no banheiro quando saí desse e, deixando isso para trás, eu iria aproveitar esse diferente que estava me esperando no quarto.
- Achei que tinha se afogado no banho, .
Ele estava apenas com as calças de moletom, jogado na cama com o violão no colo. Ele sempre estava grudado nesse violão. E me encarava com o sorriso de lado, o sorriso cínico dele. Quase o de sempre, não fosse um brilho diferente nos olhos. Brilho este que eu não consegui identificar de que era.
- Vá à merda, . Nem demorei tanto assim...
Respondi pra ele enquanto catava o resto de minhas roupas ainda espalhadas pelo quarto, dobrei-as e coloquei-as sobre a cômoda dele. Eu as vestiria novamente mais tarde.
- Com certeza mais de meia hora. Vou fazer você pagar a conta de luz e de água.
Mas ele estava rindo. Provavelmente da cara de indignação que eu fiz quando ele mencionou as contas. Por Deus, eu não demorei mais do que ele sempre demora.
Ele largou o violão na cama e levantou.
- Vou tomar banho agora. Depois a gente pode assistir um DVD?
Eu até já sabia que DVD ele queria assistir. Sempre assistíamos o mesmo DVD juntos. Eu já sabia todas as músicas e falas do vocalista. Mesmo.
- Claro, . Agora some daqui, você tá sujo... - Disse o empurrando, levemente, em direção à porta.
- Hey, que grosseria... - Respondeu da porta do banheiro, me mostrando a língua.
Quantos anos ele tem? 10? Porque é o que parece às vezes. Apenas ri e ele fechou a porta, cantarolando uma música dentro do banheiro. Absolutamente desafinado.
Nem parece que o filho da puta tem uma banda e canta. Sério.
Voltei pro quarto e fiquei vegetando pelo tempo que demorou no banho. Acaba que ele não demorou muito. Provavelmente porque queria assistir logo o show comigo.
Eu era a única pessoa no mundo que conseguia, ainda, assistir esse mesmo show. Eu já o vi mais de 100 vezes com ele, e ele insiste em assistir de novo e de novo.
Mas a verdade é que eu também adoro a banda em questão e o show é absolutamente lindo.
Ele veio pro quarto com o cabelo ainda molhado e com a camiseta mais velha e gasta que eu já vi na vida.
- , que camiseta é essa, garoto? Que horror! - Disse apontando pra tal camiseta, que mais parecia um trapo, por Deus.
- É minha melhor camiseta, .
Ele falou com uma certeza que eu quase acreditei. Mentira, eu jamais acreditaria nisso. Levantei uma sobrancelha em sinal de indignação pra ele.
Ele riu.
- É sério, caralho. Eu adoro essa camiseta.
- Você adorava a camiseta, . Isso não é mais uma camiseta deve ter anos.
- Não fale assim dela! - então ele olhou pra camiseta e continuou - Ela não quis dizer isso, meu amor. Ela não sabe o que diz.
Tente imaginar a cena de olhando pra própria camiseta - na falta de palavra melhor pra descrever o pedaço de pano que ele estava vestindo - e fazendo... Carinho?
Eu comecei a gargalhar loucamente. Como esse babaca consegue ser assim?
Quando percebi, estávamos os dois rindo como idiotas no meio do quarto. Esperei que os risos acalmassem antes de falar qualquer coisa.
- Ok, . Sua melhor camiseta. Fique com ela, então, já que estamos em casa mesmo.
- Como se você pudesse fazer algo a respeito, né? - Ele adora jogar na minha cara que eu não posso fazer nada né? Babaca.
- Vamos logo pra sala, .
Ele secou um pouco mais os cabelos com a toalha e depois de jogá-la ao canto fomos para a sala.
- Enquanto você coloca o DVD e arruma o sofá, eu vou à cozinha buscar Coca e os pães de queijo que sua mãe fez.
- Sempre comendo, né? Assim você vai eng... - Não deixei que ele terminasse a frase e joguei uma almofada na cara dele.
- Não ouse fala isso, . Não ouse!
Usei minha pose mais ameaçadora. Ele não ousaria me desafiar assim.
Ele ergueu as mãos, em sinal de rendição, mas seu rosto o denunciava. Sinais claros do riso que ele estava segurando.
- Idiota.
Então ele não aguentou e começou a rir. Eu preferi ignorar e fui logo pra cozinha. Enchi dois copos grandes com Coca, peguei a cestinha com os pães de queijo e tentei equilibrar tudo.
Quase fiz a maior sujeira. Ainda bem que apareceu.
- Eu sabia que você ia tentar levar tudo de uma vez. Pra que tanta preguiça de levar os copos primeiro e depois a cesta? - Ele falou pegando os copos da minha mão. Uma coisa eu tenho que admitir: Ele sabia a hora certa de aparecer.
Todos sabem que eu sou absolutamente descoordenada.
Peguei a cestinha e fui seguindo-o para a sala.
- Eu tava com preguiça, mas eu sabia que você ia aparecer.
Sorri convencida pra ele, quando fez uma cara azeda pra mim.
- Da próxima vez deixo você derrubar tudo e ainda te faço limpar.
MALDITO.
- Que maldade. Babaca!
Colocamos a comida e a bebida na mesinha de centro, nos sentamos no sofá. Na verdade, dizer que nos sentamos é atenuar a situação. Nós dois nos jogamos no sofá, com as pernas enroladas e mais deitados do que sentados. Mas absolutamente confortáveis. Adorávamos assistir filmes ou qualquer coisa assim.
Ele apertou play no DVD e ali ficamos por um bom tempo, assistindo o show, cantando as músicas. De tantas vezes que vi isso, eu já sabia até o que o vocalista falava durante as músicas, como ele instigava o publico e todas as frases de agradecimento. E eu sempre fazia graça de algumas.
Cantamos desafinados, gritamos as melhores partes, balançamos nossos cabelos por todos os lados, pulamos e imitamos os integrantes da banda. E então nos jogávamos no sofá rindo até o fôlego acabar, apenas para fazer mais alguma palhaçada e rir novamente.
Quando o show terminou, minha barriga doía de tanto que eu tinha dado risada. Minhas bochechas estavam com aquela cãibra de tanto sorrir. Minha alma estava leve.
Esses momentos me fazem ver por que somos os melhores amigos do mundo. Praticamente lemos a mente um do outro. Sabemos tudo. Ou quase tudo.
Eu nem vi o dia passar, quando dei conta já estava escuro do lado de fora das janelas. Era hora de voltar pra casa.
Nesse momento, eu estava com ele jogada no sofá, conversando sobre as histórias de bêbado dos garotos da banda. Com direito a reprodução de alguns micos deles.
Eu não queria ir embora, mas já estava tarde.
- ... Eu preciso ir pra casa.
Não foi com a maior animação que eu disse isso pra ele, e ele percebeu. E pareceu não estar nada feliz com isso.
Nosso dia havia sido perfeito. Nenhum de nós queria que acabasse. Eram raros esses momentos. Em geral estávamos fingindo que éramos apenas amigos, brigando o tempo todo, sendo sarcásticos e nos alfinetando o tempo todo. Não era sempre que a gente se deixava ser normal um com o outro. Era complicado.
Ele suspirou.
- Fica aí, .
Cara, falar assim é golpe realmente baixo. Ele sabe que eu não resisto quando ele faz essa cara de coitadinho.
- Não posso mesmo, . Eu trabalho amanhã...
- Mas você pode ir trabalhar daqui...
Ele sempre tenta achar um jeito de conseguir o que quer.
- Eu não trouxe roupa, nem dinheiro, nem nada pra cá. - Eu fiz um carinho no rosto dele. - Realmente tenho que ir.
Então levantei e fui pro quarto dele, onde estava minha roupa, já que eu ainda estava usando a dele. Eu só queria fugir dos olhos dele. Ele nunca me pedia pra ficar dessa forma.
Não é como se ele não me pedisse pra dormir na casa dele, porque ele sempre pede. Mas nunca com essa insistência no olhar. É estranho.
Mas hoje ele estava diferente o dia todo.
Sentei-me na cama dele por um momento, pensando se tinha esquecido algo. Quando olhei pra porta, ele estava lá, parado.
A exata inversão da cena de quando cheguei a casa dele, horas mais cedo.
Não pude evitar sorrir pra ele.
- Está pronta? - Uhum. - Não pude deixar de fazer um biquinho. Eu não queria ir embora. Mas eu tinha responsabilidades.
Ele me chamou com a mão.
- Então venha, eu te levo em casa, já que você quer me abandonar aqui, sozinho, no escuro, com frio...
Cheguei perto dele e o empurrei de leve no peito.
- Sem drama, . Sexta-feira eu venho dormir na sua casa, tá?
Eu ofereci, sorrindo com a ideia. Eu adoro dormir na casa dele. Mas ele pareceu, por um mínimo instante, triste.
O que logo passou, e ele sorriu pra mim. Devo ter imaginado coisas.
- Claro. Vou ter que comprar muita comida, mas isso é normal...
Eu ri e quando ele se virou pra sair do quarto pulei em suas costas.
- Eu não sou gorda, , nem adianta insinuar isso...
Ele riu, quase perdeu o equilíbrio e então foi saindo de casa comigo nas costas. Estávamos rindo juntos como crianças.
Parou na cozinha e pegou as chaves da moto, trancou a porta e fomos pra garagem. A essa altura eu já tinha descido das costas dele, pois tinha que colocar o capacete.
- Hey, fecha essa coisa pra mim... Você sabe que eu nunca consigo.
Ele já estava em cima da moto, mas se esticou e fechou rapidamente a trava do capacete, que eu nunca consegui fechar sozinha.
- Não sei como você ainda não aprendeu a fechar isso, .
- Eu não consigo e ponto final. Vamos logo.
Ele fez sinal para que eu subisse na moto. Subi e passei meus braços em volta do corpo dele.
Em poucos minutos estávamos a caminho de casa. Apertei mais meu abraço. Ele estava tão quentinho e o vento gelado nos meus braços descobertos estava me deixando arrepiada. A cada parada que ele fazia em algum semáforo, ele virava para trás e ficava me olhando, ou fazia isso olhando pelo retrovisor da moto. Eu sorri todas as vezes. Eu sempre tinha um sorriso guardado pro .
Mas havia essa sensação, esse sentimento crescendo no meu peito. Essa coisa estranha. Era um aperto, quase um vazio. Cada vez que eu olhava nos olhos dele eu sentia esse sentimento me apertar por dentro.
Era estranho.
Era quase como se eu estivesse sentindo saudade.
Mas ele estava ali comigo, nós tivemos o melhor dia das nossas vidas juntos.
Eu deveria estar me sentindo satisfeita, quase completa. Mas essa coisa em mim me impedia de me sentir totalmente feliz.
Eu sacudi minha cabeça e senti os meus cabelos chicotearem em minhas costas, tentando espantar esses pensamentos. Era tudo bobagem.
Provavelmente eu estava apenas surpresa demais com as atitudes dele. Era isso.
Deixei que meus pensamentos vagassem pelo vento que passava cortante por nós e logo reconheci as casas da minha vizinhança, estávamos chegando.
Ele parou a moto em frente a minha casa como tantas outras vezes. Eu desci e tirei o capacete, e quando pensei que apenas devolveria para ele e ele iria embora, sem ao menos descer da moto, ele estava do meu lado, tirando o próprio capacete também, a moto desligada ao seu lado.
Ele estendeu a mão pra pegar o capacete que estava comigo e então colocou os dois em cima da moto, virou-se pra mim e não se importou em ser sutil ou lento, puxou-me pela cintura e me beijou.
Um beijo gostoso, aquele que nos completa. Aquele que diz, sem palavra alguma, estou apaixonado. Senti a boca dele quente sobre a minha, a mão dele apertando minha cintura, trazendo-me cada vez mais perto de seu corpo. Joguei meus braços em torno do pescoço dele e o beijei com toda minha vontade. Deixando que ele visse, mais uma vez, que eu o beijava com amor.
E pela primeira vez desde que essa loucura toda começou, eu senti que ele me beijava da mesma forma que eu. Que no beijo dele havia sentimento também.
Foi, de longe, o melhor beijo da minha vida. E infelizmente não durou uma eternidade, como eu gostaria. Aos poucos fomos diminuindo o ritmo do beijo, e logo ele estava depositando vários beijinhos em meus lábios.
Aos poucos ele afastou os lábios dos meus e eu estava quase protestando, mas ele encostou sua testa na minha e colocou uma das mãos em meu rosto, fazendo um carinho delicioso.
Eu sorri de forma calma, olhando profundamente em seus olhos. Senti o mundo desaparecer ao nosso redor, existia apenas eu e ele agora. O carinho dele em minha pele, meus olhos conectados aos dele, minhas mãos ainda em torno de seu pescoço.
Vi abrir a boca e ameaçar falar algo, mas nesse momento percebi a mudança. Seus olhos antes brilhantes tornaram-se escuros, como se uma porta tivesse se fechado. Ele fechou a boca e se afastou lentamente de mim.
Ele ia falar algo pra mim, mas havia desistido.
Seus olhos pareciam tristes ao me olhar novamente. Por um instante pensei ter visto seus olhos encherem-se de lágrimas, mas não pude confirmar, pois ele me abraçou forte. Seus braços deram a volta em mim e seu rosto estava encaixado na curva do meu pescoço, da mesma forma que o meu rosto estava nele. Inalei seu perfume natural. tinha um cheiro tão maravilhoso. Eu poderia ter passado horas naquele abraço. E a julgar pela maneira que o senti respirando em meu pescoço, ele também pensava desta forma.
Mas o mundo não para pra que possamos fazer isso. O relógio corre e a vida ao nosso redor não diminui o passo.
Ele se afastou quase rápido demais e eu fiquei meio perdida assistindo ele balançar a cabeça pros lados, como se estivesse se recompondo.
Quando ele me olhou, não havia lágrima nos olhos, nem aquela sombra. Mas também não havia o brilho que eu tinha visto antes. Era apenas o normal de todos os dias. Nosso dia perfeito tinha acabado.
Ele sorriu pra mim, aquele sorriso meio de lado, que só ele consegue dar. Colocou o capacete e subiu na moto. Deu um último aceno para mim e saiu. Eu fiquei ali, parada, vendo a moto sumir ao longe e sentindo no peito aquele vazio me consumir. Então eu pude definir o que era aquilo: Era o sentimento de perda.
Virei as costas quando não pude mais ver nem ouvir a moto de e caminhei para dentro. Era bobagem essa coisa de perda. Ele estava indo pra casa dormir, amanhã ele vai me ligar na hora do meu intervalo e reclamar de qualquer coisa que eu provavelmente esqueci-me de fazer.
Ou então ele falaria comigo à noite me pedindo pra marcar um ensaio pra banda.
Era sempre algo do tipo.
Entrei em casa e fiquei conversando com a minha mãe por algum tempo enquanto eu arrumava meu quarto. Logo ela foi dormir e eu também não demorei pra me arrumar pra dormir. Coloquei um pijama qualquer e deitei, com o celular do lado.
Quando eu estava quase dormindo, meu celular vibrou ao meu lado. Uma mensagem.
“So close no matter how far**...”
Ele não precisava assinar, claro. . Estranho, ele raramente me manda mensagem à noite.
Sorri para o pequeno trecho da música que ele me mandou. A mesma que cantamos juntos à tarde, enquanto ele tocava violão.
Essa música representa muitas coisas pra mim.
Deixei o celular ao meu lado, acomodei-me para dormir e esperei alguns minutos até que o sono me dominasse novamente e dessa vez dormi.
Não me lembro de sonhar nada aquela noite. Apenas dormir e acordei com o som de “One More Night”, do Maroon 5, tocando super alto. Meu despertador acordaria até os mortos.
Mas eu estava de ótimo humor naquela manhã. Acordei sorrindo e cantando. Saí da minha cama sem me enrolar muito e comecei meu dia feliz.
Eu tinha passado um dos melhores dias da minha vida com . Eu tinha motivos para estar feliz.
Principalmente depois daquele beijo perfeito que ele me deu em frente de casa.
Não vou dizer que não me irritei a caminho do trabalho porque seria mentira. Nenhum bom humor sobrevive totalmente a um ônibus lotado e pessoas mal educadas.
Quando cheguei ao trabalho, meu humor estava bom ainda, mas não tão bom quanto antes do ônibus lotado desta manhã.
Trabalhei a manhã toda e tentei não pensar em nada relacionado a ele. No meu horário de almoço, tentei ligar pra ele, mas o celular estava desligado. Coisa mais normal do mundo, o celular do só serve de enfeite mesmo. Só fica ligado quando ele quer falar com alguém, caso o contrário se esquece de carregar e acaba ficando desligado.
Deixei pra lá a ideia de ligar pra ele.
Quando voltei ao trabalho, tive uma ideia maluca. Ir até a casa dele depois do trabalho.
Quando estava no final do expediente, eu já tinha criado coragem o suficiente não só para ir a casa dele como para enfim contar a ele sobre os meus sentimentos.
Depois de tudo que aconteceu no dia anterior, eu tinha certeza que ele sentia alguma coisa por mim. Nem que seja algo pequeno, ele sente. Porque se não sentisse, ele não faria nada do que fez ontem.
Muito menos aquele último beijo antes de ir embora.
Aquele olhar dele não saía da minha cabeça. Estava me perturbando. Sem falar que aquele sentimento de perda ainda estava fortemente instalado no meu peito.
Felizmente o dia de trabalho havia acabado e eu estava livre pra correr direto pra casa do . Tentei ligar pra ele novamente, mas o celular continuava desligado. Tentei no telefone de casa, só chamando e ninguém atendeu. Estranho.
Mas pensando bem, pensei enquanto entrava no ônibus, ele deve estar tocando e nem ouviu o telefone. É típico dele.
A viagem até a casa dele demorou mais do que eu gostaria, então quando desci no ponto próximo à casa dele, o sol já estava baixo, quase se pondo.
Cheguei em frente à casa, abri o portão e fui entrando. Estranhei o fato de que o cachorro dele, Fubá, não veio me receber. Ele sempre vinha correndo e latindo quando eu entrava, feliz por eu estar de volta.
Eu nunca usava a entrada da frente, sempre dava a volta por trás da casa e entrava pela porta da cozinha, que estava sempre destrancada.
Eu estava distraída, absorta nos pensamentos sobre como eu iria falar ao sobre meus sentimentos. Eu já tinha um discurso praticamente pronto em mente. Dessa vez não teria mais enrolação, ficaríamos juntos.
Eu estava muito nervosa e ansiosa, nem prestei atenção a nada em minha volta. O silêncio e a falta da companhia do Fubá enquanto eu dava a volta na casa me fez estranhar um pouco, mas nem parei pra pensar nisso. Fubá deve estar dormindo, aquele cachorro folgado.
Entrei pelos fundos na garagem e algo me ocorreu. Onde está a mesa de churrasco que a mãe do ganhou?
Ela costumava ficar aqui, ocupando metade da garagem e fazendo ter mil crises por causa disso. Segundo ele, mesas não deviam ficar no meio da garagem da moto dele. Um exagero.
O caso é que não havia mesa nenhuma. Nem a moto.
Será que o tinha saído?
Senti um arrepio e o aperto em meu peito aumentou. Olhei para a janela da cozinha, que dava pro interior da garagem, e tomei um choque. Havia apenas as paredes lisas lá dentro. Sem móveis.
Rapidamente olhei pra trás e notei que o espaço vazio era exatamente onde ficava a casinha do cachorro.
Meu Deus.
Senti minha respiração falhar. Meu coração estava batendo rápido e dolorido. Aos poucos eu estava processando a informação de que não havia nada ali.
Cheguei até a porta da cozinha e havia ali apenas um papel grudado com durex. Puxei-o e nele estavam escritas poucas palavras na caligrafia estranha do .
As palavras que me davam a certeza de que ele fora embora. havia ido embora e não pretendia voltar.
Tudo que aconteceu no dia anterior foi a maneira dele de me dizer adeus. Os beijos, os abraços, os risos. Tudo fora um adeus.
E eu, idiota que sou, não percebi.
Aquele vazio nos olhos dele, o abraço repentino e as lágrimas que eu pensei serem ilusão minha eram apenas sinais de que ele estava indo embora.
Eu devia ter percebido que aquele sentimento de perda que se instalou em mim era um aviso.
Aviso de que eu o perdera.
No bilhete pequeno em minhas mãos, estavam palavras que faziam com que a mensagem de ontem à noite fizesse sentido. Ele havia me abandonado, não havia volta.
Eu corri de lá, chorando. Tudo havia se perdido. Não havia mais nada. Nada mais importava.
E no bilhete, agora amassado em minhas mãos, estava escrito exatamente isso.
“And nothing else matters***.”

* A confiança eu procuro e encontro em você/ ** Tão perto, não importa o quão distante / *** E nada mais importa/ são todas trechos da música Nothing Else Matters, do Metallica.

Fim


Nota da Autora:
Hey peeps! Até que enfim cheguei com So I Drive II. Sei que tem muita gente aí querendo me matar pela demora e mais ainda pelo final dela. Eu sei, eu sei. Acreditem quando digo que eu mesma quase chorei escrevendo ela. Mas vamos ao que interessa: HAVERÁ UMA TERCEIRA PARTE. Portanto, vocês não precisam me matar. Até porque se vocês me matarem CABOU CONTINUAÇÃO DE SID.
Eu quero agradecer a todos que leram So I Drive e comentaram e aos que não comentaram também. A melhor coisa do mundo é saber que alguém lê o que a gente escreve. E saber que tem gente que lê e que gosta é ainda melhor. Eu tive um retorno muito maior do que eu poderia imaginar com SID. Vocês me surpreenderam.
Quanto a So i Drive II eu agradeço a cada um que ler até o final. Agradeço MESMO de coração por tudo que vocês fizeram.
Agradeço às lindas que me seguiram no twitter pedindo loucamente por uma continuação, agradeço as amizades que consegui graças a SID (Hey Débs). Agradeço o apoio pra escrever logo essa criança (Aline, Gabe :)). Obrigado a cada um que, de alguma forma, me ajudou a escrever a parte II e, enfim, espero que tenham gostado.
E o último, e NEM UM POUCO MENOS IMPORTANTE, obrigado a Bia, beta maravilhosa que aceitou betar essa segunda fic de SID! <3
Aviso: não tenho previsão de publicação para SID III pelo fato de que começo faculdade esse ano e espero que vocês me entendam.
Twitter: @Naraaa
Facebook: /Hnprestes
Se quiserem bater um papinho com a autora louca. É só isso por agora! Xx

Nota da chorosa beta: Inspira, expira. Só digo que espero por SID III porque não é justo fazer isso comigo, dona Nara. HDUAHDUA E nem precisa agradecer, adoro suas fics!
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