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Capítulo 14


’s POV

Ela estava dormindo ao meu lado, com o braço em volta de mim. Eu olhava para teto e pensava em nada. Minha “atenção” foi desviada para o barulho da porta de entrada se abrindo, seguido do barulho irritante do salto da minha mãe. Levantei-me da cama, fazendo Melissa acordar. Peguei a minha roupa que estava jogada no chão e me vesti rapidamente.
- O que aconteceu? – ela perguntou enquanto se espreguiçava.
- Minha mãe chegou, fica ai. – mandei e peguei meu celular. Eram quatro horas da manhã.
Minha mãe deu três batidas na minha porta e Melissa me encarou assustada. Sussurrei “Fica quieta” para ela e fui até a porta.
- Oi, mãe – disse assim que saí do quarto, fechando a porta de novo.
- Oi, filho – ela falou lentamente, parecendo estar desconfiada – Onde está o seu irmão?
- Acho que ele ainda está na boate com o resto da galera.
- E por que você está aqui? – ela disse olhando para a porta do meu quarto. Já contei pra vocês que a minha mãe era muito desconfiada?
- Porque eu quis vir mais cedo, mãe. – já estava ficando impaciente.
- , tem alguém no seu quarto?
- Não. – respondi tão rápido que até parecia em outra língua.
- ...
- Mãe, não tem ninguém no meu quarto!
- Não tem problema se tiver, filho!
- Ok, mãe, boa noite.
- Você está tomando os devidos cuidados?
- Mãe! – pelo amor de Deus, odiava conversar sobre essas coisas com ela.
- Calma – ela se afastou um pouco – só estou perguntando, não quero ter que cuidar de um neto a essa idade.
- Mãe, você não vai ter que cuidar de um neto, relaxa. Agora vai dormir. – ela finalmente me escutou e foi até o quarto dela. Bufei e voltei para o meu. Melissa ainda estava deitada na minha cama, mas já vestia a sua blusa e sua calcinha.
- Sua mãe é meio desconfiada, né? – ela perguntou com humor.
- Nem me fale – sentei no canto da cama.
- Pais são assim mesmo... O meu acabou de me ligar perguntando onde eu estava... – ela mordeu o lábio – acho melhor eu ir embora.
- É... Eu também acho – ela se levantou e vestiu sua saia. Pegou a sua bolsa e seu salto.
- Hoje foi maravilhoso – ela disse me abraçando. Concordei, dando um beijo calmo nela. – É uma pena que o meu pai não ter me deixado viajar com você – balancei a cabeça fingindo que concordava com ela. Fui até a minha porta e a abri devagar e vi se a minha mãe estava no quarto dela. Tudo limpo. Descemos até a porta e nos despedimos. E voltei à merda.
Sim, o meu momento com a Melissa foi bom, mas como já disse, era só para me distrair e eu estava me odiando por usá-la dessa maneira. Agora que ela foi embora, minha cabeça se encheu de coisas que eu tinha esquecido por algum tempo, juntando o fato de eu ter sido um filho da puta com a minha namorada, né? Pois é, eu estava na merda.
Subi para o meu quarto e resolvi tomar um banho bem demorado, como se fosse resolver alguma coisa. Depois, deitei na minha cama e comecei a mexer no meu celular, não estava com sono. Bateram na porta de novo e eu mandei entrar.
- Cara, eu to puto com você – era – só queria deixar isso claro mesmo.
- Boa noite para você também.
- Você não podia segurar seus hormônios pelo menos uma vez na vida? – ele estava gritando comigo, mas eu sabia que ele estava brincando. Ou não. – Sabe, você fodeu com a carona de todo mundo. – puta merda, verdade. Boa, .
- Pois é né – me levantei – mas você está aqui, o que significa que deu tudo certo.
- É, a gente pegou um táxi. De madrugada. Saiu bem caro, sabia? – ele disse pausadamente e eu não conseguia parar de rir.
- Desculpa, cara!
- Tá, tanto faz...
- E você e a ? – perguntei quando me lembrei de ter visto os dois de mãos dadas na pista de dança.
- O que tem?
- Tão ficando ou...
- Ah, sei lá. – Ele passou a mão no cabelo – Acho que sim.
- Legal. – sai do quarto e desci para a cozinha, para beber água.
Quando subi, já estava no quarto dele e eu resolvi dormir, afinal, amanhã temos que arrumar as nossas coisas para viajar no outro dia. Ah, essa viagem. Eu estava com um pressentimento bom e ruim sobre ela. Pela primeira vez, íamos viajar como amigos e não como família, já que todas às vezes foram com os nossos pais. Eu não tinha ideia do que essa viagem me traria, mas esperava que fosse algo bom. Por favor, tinha que ser bom.

’s POV

Acordei com o barulho da televisão ligada em algum jogo de basquete. Alguém é surdo nessa casa e eu não to sabendo? Que ódio. Coloquei o travesseiro sobre a minha cabeça, mas vi que não ia adiantar em nada. Esfreguei meus olhos com as mãos e peguei meu celular: Duas e vinte da tarde. Senti o quão tarde era pelo meu estômago roncando. Me levantei da cama e fui ao banheiro fazer minha higiene matinal que, naquele caso, de matinal não tinha nada. Desci até a minha cozinha e recebi um “boa tarde, dorminhoca” do meu pai. Abri a geladeira a fim de buscar algo bom, como macarrão ou lasanha, mas tudo o que eu encontrei – no armário – foi um pacote de miojo. Ah, a vida é uma grande ilusão. Acabei comendo isso mesmo.
Durante o almoço, que eu passei sozinha na cozinha, eu fiquei pensando na noite passada. Foi tão divertido, exceto pelo final. Quando o recebeu a mensagem do avisando que ele havia ido embora com a Melissa, a gente só se preocupou com uma coisa: Como íamos embora? Mesmo eu ficando com o Jared, o deus grego daquela boate, eu fiquei pensando no se divertindo com a Melissa. Pois é, quando leu a mensagem para nós, eu senti um incomodo, não sei dizer direito o que foi, só sei que fiquei assim o resto da noite. E eu também não vi o Jared, depois que ficamos ele sumiu na multidão.
Depois de comer, subi para o meu quarto e comecei a arrumar a minha mala. Duas semanas no Havaí. Ok, como eu iria me preparar para duas longas e divertidas semanas se eu nem sei escolher uma roupa para sair? Abri todas as minhas gavetas e comecei a pegar todas as blusas, shorts, saias, vestidos e o que mais deveria ter ali que eu gostava muito de usar e fui botando na mala. Na hora de escolher as roupas, eu me decidiria como usar. A mesma coisa com os sapatos. Essa “arrumação” durou cerca de uma hora e eu já estava exausta. Ainda faltava arrumar os detalhes, como escova, pasta de dente, shampoo, condicionador, creme para o cabelo, hidratante corporal, maquiagem, creme pós-sol para o cabelo e para a pele, protetor solar e todos esses caralhos a quatro que inventaram para as mulheres e que eu tinha ali.
Depois de ter arrumado tudo, tomei banho e depois comecei a mexer na internet. Entrei no Twitter e vi toda a repercussão da minha apresentação. Muitas menções de pessoas que eu nem sabia que estudavam no Northumberland e muitos amigos meus me defendendo. Os tweets estavam divididos entre comentários positivos e negativos. Nem me preocupei em ler. Eu fiz o que eu queria (mais ou menos) e o que eu devia (mais ou menos de novo). O que importa é que esse plano maluco deu certo. Agora eu vou seguir o que eu li no diário da e vou viver a vida. Mandamento de : Não se apegarás ao próximo.
Entrei no Facebook e também tinha muitas mensagens. A maioria da minha família.
Fechei o notebook, bufando e resolvi ligar para ou para , ou para qualquer pessoa que eu pudesse conversar. Olhei para minha escrivaninha e vi que o telefone que tinha no meu quarto não estava lá. Tive que descer para pegá-lo na sala. É, eu não deveria ter feito isso. Meus pais estavam discutindo de novo e o motivo era eu.
- Mas Billie, aquela performance foi totalmente vulgar!
- Lógico que não, até ontem você estava achando tudo lindo e maravilhoso, agora que a sua irmã te ligou você fica incomodada com a reputação da sua filha?
- É lógico, não quero que ela pense que a sua sobrinha é oferecida.
- Mãe – a chamei – você acha que eu sou oferecida? É isso?
- Não, filha... – ela se aproximou de mim e eu dei um passo pra trás – É que a sua apresentação deu a entender isso.
- Por quê? Eu fiz algo demais? Não!
- Ah, francamente... – ela riu com sarcasmo – “Faça o que você quiser com o meu corpo”? , se isso não é se oferecer o que é então?
- Mãe, é uma música! Não fui eu que escrevi! Eu apenas cantei!
- Tá, mas...
- Eu concordo com a – meu pai se intrometeu – É só uma música e ela não fez nada demais no palco. Aliás, ontem você estava toda orgulhosa e hoje está se levando pela opinião dos outros. Está na hora de ter opinião própria né, Leticia? Você não é mais criança há muito tempo.
Isso foi o bastante para começar uma discussão maior ainda. Me irritei e sai de casa sem nem avisar. Andei sem rumo por um tempo pelo condomínio da minha casa. Resolvi sair de lá e andar pela rua mesmo, talvez eu encontrasse algo interessante pra fazer. Eu estava sem dinheiro, mas eu conhecia o povo do bairro, talvez eles me deixassem pagar depois. Sei lá. Continuei andando sem rumo até sentir um pingo no meu ombro. Ignorei. Andei mais um pouco e senti um no meu rosto. Outro no meu braço. Quando menos percebi, estava chovendo. Ah, que agradável. Sai correndo em direção a algum lugar coberto quando uma buzina foi tocada ao meu lado. Virei para ver o que era e era dirigindo seu carro.
- , o que você tá fazendo na chuva?
- ! – gritei e fui até o carro dele, já abrindo a porta do passageiro – Que bom que você passou aqui! – eu o abracei.
- É, que bom mesmo – ele concordou – Tava na chuva por quê?
- Eu saí de casa sem nada e começou a chover.
- Que tipo de pessoa sai de casa sem guarda chuva com o céu preto que tava? – ele riu e eu dei um tapa no braço dele.
- Eu não vi que estava escuro – me expliquei – aliás, tá tudo uma bosta. O meu dia tá uma bosta. – uma buzina foi assoada atrás de nós e era um carro querendo passar. Ele tinha parado no meio da rua. - Opa – ele riu e acelerou – O que aconteceu?
- Meus pais de novo – disse enquanto colocava o cinto de segurança – eles brigaram por causa da minha apresentação, você acredita? Minha mãe me chamou de oferecida, enquanto meu pai me defendia falando que a minha mãe estava orgulhosa até ontem e hoje mudou de opinião por causa de algo que a minha tia disse.
- Tenso... – ele prestou atenção no trânsito por um momento e depois voltou a assunto – Ignore a sua mãe, não foi nada vulgar. Ela só tá assim porque ela não gosta que os outros pensem besteira da filha dela, então ela está tentando se auto convencer de que realmente foi o que a sua tia disse pra ela não poder discutir com ela, só que isso não rolou com o seu pai, que entendeu a mudança de opinião dela como bipolaridade opinativa. – fiquei olhando pra ele com o olho arregalado – que foi?
- Desiste da carreira de cantor e se torne psicólogo. – ele riu e virou a esquina – Pra onde estamos indo?
- Bom, eu estava indo no mercado, mas você está muito molhada, então to te levando pra minha casa.
- Tem sorvete lá?
- Não, mas tem roupas.
- Tá me zoando né? Sério que vou ter que usar roupas que não servem em mim? To bem assim, nem estou tão molhada... – ele olhou pra mim e indicou com o olho o banco do carro todo molhado por causa do meu cabelo que estava pingando – Ok, eu estou molhada.
- Eu acho que as roupas da minha mãe servem em você...
- Será?
- A gente tenta.
Chegamos a casa dele e eu fui ver se alguma roupa da Pattie servia em mim. Não foi o caso. Infelizmente ela usava dois números maiores que o meu e era o suficiente para parecer que o difunto era maior e para mostrar coisas que não deveriam ser mostradas.
- Ah, eu fico aqui te esperando... Eu não quero ir pra casa mesmo. - pedi ao ver que não teria como sair de lá seca.
- Não, eu não vou te deixar aqui sozinha. – ele me puxou até o quarto dele – Sua calça está molhada?
- Não muito... A minha blusa que está bem encharcada. – ele abriu o armário dele e tirou de lá uma camiseta preta.
- Pode usar essa – ele deu para mim – eu acho que é a menor que eu tenho.
Peguei a camiseta e fiquei olhando pro , que continuava parado na minha frente.
- Eu... Eu preciso me trocar. – falei sem graça.
- Pois é, né. – ele riu de cabeça baixa e foi até a porta – Desculpa. – ele saiu do quarto e fechou a porta. Tirei a minha blusa e coloquei a camiseta dele. Mesmo sendo a menor que ele tinha, ainda estava bem grande em mim. Sai do quarto e o encontrei encostado na parede no corredor. – E aí?
- Tá meio grande, mas dá pra usar. Agora eu preciso de uma escova pra pentear o meu cabelinho.
- Tem lá no banheiro da minha mãe.
Assenti e fui atrás da escova. Penteei rapidamente meu cabelo e depois desci para sala, onde me esperava.
- Vamos? – ele perguntou e eu disse que sim. A chuva já tinha parado e nós entramos no carro. Liguei o rádio e Radioactive do Imagine Dragons começou a tocar.
- Adoro essa música – aumentei o volume e comecei a cantar. - I’m waking up I feel it in my bones.
- Enough to make my system blow – comentou a cantar comigo.
- Welcome to the new age – cantei.
- To the new age.
- Welcome to the new age.
- To the new age.
- Oh oh oh.
- Oh oh oh.
- I’m radioactive, radioactive! – gritamos juntos e começamos a rir.
- Essa música me deixa empolgada.
- Eu percebi – ele trocou de música e a próxima era Sail do Awolnation.
- Ah, que mancada! – tampei meu rosto com as mãos rindo – Mais uma música que me empolga.
- Meu gosto musical é muito bom, fala sério. – ele riu e do nada gritou – SAIL!
- This is how i show my love– cantei fazendo microfone com as mãos.
- I made it in my mind because – passei o “microfone” pra ele e ele continuou a letra.
- I blame it on my a.d.d., baby – e cantamos juntos novamente.
- Como você consegue ficar empolgada com uma música dessa? – ele me perguntou – eu acho a letra meio triste.
- Eu também acho – concordei – mas eu amo essa música e por isso ela me deixa empolgada.
Ficamos ouvindo a música em silêncio até o seu fim, que foi bem quando chegamos ao mercado. Ele estacionou o carro e fomos às compras, que pela quantidade de coisas que tinha no carrinho, era a compra do mês.
- Você é um filho muito dedicado. – comentei brincando.
- É, eu tento ser...
- Você não deveria estar arrumando as suas coisas para viajar?
- Eu já fiz isso faz tempo. – ele riu baixo – Eu não levo o dia todo para arrumar uma mala.
Deixei o meu queixo cair propositalmente.
- Nem eu! – me defendi – Saiba que eu demorei só duas horas para arrumar tudo.
- Eu levei uma hora – ele disse enquanto entregava o cartão de crédito da mãe dele para a moça do caixa – Há, ganhei!
- Nós, mulheres, somos prevenidas.
- Ok, então. – ele me entregou sacolas plásticas – aposto que você não pensou no meio ambiente e trouxe sacolas retornáveis.
- Ah, claro – ri ironicamente – até porque eu imaginava que fosse te encontrar na rua e que nós iríamos dar uma passeada no mercado.
- Boba – ele me deu uma das sacolas já cheia de coisas – está pesada?
- Um pouco, mas dá pra levar. – descemos as escadas rolantes e fomos até o estacionamento. Ao chegar no carro, colocamos as compras no porta malas e voltamos para a casa dele.
- Posso ficar um tempinho aqui? – perguntei.
- É claro! Fique o tempo que você quiser.
Realmente, eu fiquei o tempo que eu queria. Adorava passar o meu tempo com , mesmo quando fosse para fazer tarefas chatas, como ir ao mercado. Passar um bom tempo com ele era o que me fazia esquecer todos os meus problemas, talvez fosse pelo fato dele ter passado os mesmos problemas que os meus. Só voltei pra casa quando recebi uma mensagem do meu pai avisando que a minha mãe estava quase chamando a polícia para ir atrás de mim.
- Tenho que ir antes que pensem que você me sequestrou ou algo do tipo.
- Qualquer coisa eu falo que você que entrou no meu carro, o que não é mentira. – mostrei a língua como resposta e ele me levou até o carro dele, já que iria me dar uma carona.
- Preparado para me ver todos os dias durante duas semanas? – perguntei depois de um período de silêncio, levantando uma sobrancelha.
- Mas é claro que estou. – ele respondeu naturalmente – Já te vejo todos os dias mesmo.
- Ah, mas vai ser diferente...
- Sim, mas isso não me assusta. – ele sorriu torto e parou o carro ao lado da minha casa – Bom, até amanhã.
- Até – eu o abracei e depois sai do carro. Entrei na minha casa e escutei inúmeros sermões da minha mãe. Depois que o chilique dela acabou, subi pro meu quarto e percebi que eu ainda vestia a camiseta de . Ri baixo e fui tomar banho. Deitei na minha cama segurando a peça de roupa que não era minha. O perfume dele era o que mais chamava atenção naquele simples pedaço de tecido preto. Coloquei-a debaixo da minha cabeça e rapidamente, peguei no sono.
Ele estava na minha frente e vestia a tal camiseta preta. De longe, eu sentia o cheiro dela, que era o perfume dele. Ele estava muito longe. Muito mesmo. Comecei a andar e ele continuava longe. Apertei o passo, mas não conseguia me aproximar dele.
- Para de ir para trás, – gritei. Ele não me respondeu e apenas sorriu. – Para com isso, sério. – comecei a correr e ele ficava mais longe ainda. De repente, correr já não era a solução. Quanto mais velocidade eu dava, mais longe ele ficava. Depois de certo tempo, sentia dificuldade em correr. Parei ofegante para descansar e ele ia desaparecendo aos poucos – Não vai embora, por favor! – gritei, mas ele continuava ficando transparente – ! Não vai embora! – ele sorriu novamente e falou:
- Então, tente me alcançar.
- Eu não consigo! – eu gritava desesperada – Volta pra cá! – Meus gritos foram abafados por um barulho irritante. Eu tentava gritar, mas nem eu mesma conseguia me escutar. O barulho ia ficando cada vez mais forte e cada vez mais insuportável. Até que finalmente eu abri meus olhos e enxerguei o teto do meu quarto. O tal barulho era o meu despertador. Sete horas da manhã. Desliguei-o com raiva e peguei a camiseta de .
- Inferno de camiseta – joguei-a no outro canto da minha cama – ai, que sonho estranho. – levantei-me disposta, não somente pelo longo tempo em que eu dormi, mas também porque estava ansiosa.
Tomei banho e coloquei uma calça jeans e uma camiseta rosa bebê. Uma roupa confortável para ir viajar. Meu celular apitou e eu fui ver o que era. Era uma mensagem de no grupo do WhatsApp que tinha eu, a e a .
“Bom dia, vadias! Hoje é o dia! Se preparem para a melhor viagem de suas vidas! Isso é uma promessa”.
“Espero que seja mesmo! Estou muito ansiosa” respondi.
Peguei a minha mala e saí do meu quarto. Meu pai, que saia do quarto dele, me ajudou a descer as escadas. Fui até a cozinha e tentei tomar café. Não deu muito certo, eu estava muito ansiosa e não conseguia comer direito. Depois disso, chequei para ver se tudo estava certo, se eu não esquecia nada.
- Vamos – minha mãe desceu as escadas me apressando – já estamos atrasados.
Fomos até o carro e saímos de casa em direção ao aeroporto. Quando chegamos lá, fui fazer o check in e me encontrar com a galera. Percebi que eu fui à última a chegar e todos estavam com os seus respectivos pais. Olhei para e senti certo incômodo, provavelmente consequência do sonho muito esquisito que eu tive hoje. Gostaria que fosse possível controlar o meu subconsciente.
- E aí? – meu pai perguntou – muito ansiosos?
- Sim – respondemos em uníssono. Ainda faltava uma hora para o nosso voo. Eles ficaram esse tempo com a gente, mas quando o nosso voo foi anunciado, começaram as despedidas. A mesma coisa de sempre: “tenham juízo”, “comportem-se”, “não vão fazer besteira”, “grande parte do dinheiro é somente para emergência”, “não falem com estranhos”. Daria para fazer um livro com todas as coisas que falaram, mas esse não é o foco aqui.
Entramos no avião e eu sentei ao lado do . Aquele incômodo surgiu novamente quando senti o maldito perfume dele. Era o mesmo que estava em sua camiseta. “Vai ser uma longa viagem” pensei. Coloquei o meu fone de ouvido e mergulhei no meu mundo musical.

’s POV

Eu não estou esperando nada da viagem que estamos prestes a fazer. Se estou com medo? É claro que estou. tinha mesmo que aparecer na chuva sozinha? É claro que ela não teve culpa, ela nem deve imaginar que, ultimamente – digo nos últimos dois dias –, eu não parei de pensar nela. Será que viajar com ela seria perigoso? Eu juro não sei o que esperar do Havaí.



Capítulo 15


’s POV

Foram longas cinco horas de viagem até o aeroporto de Honolulu. A cidade tinha bastantes prédios, mas nada que prejudicasse a vista maravilhosa da praia. Após fazer o check out e pegar as nossas malas, fomos até o ponto de táxi. Dividimos: Eu, a e a iríamos num táxi. iria a outro táxi com e . Depois de meia hora, chegamos a nossa querida mansão. Ela era dentro de um condomínio – aberto para visitantes, já que toda praia é pública – e ela era pé na areia. Acomodamos-nos em nossos quartos e saímos numa sacada para ver o mar. A casa ficava em um canto da praia que não tinha muita movimentação.
- Olha que lugar maravilhoso – falou.
- Eu estava com tanta saudades daqui – comentou – É tão bonito.
- Sim – apoiou o cotovelo na sacada – mas não vamos ficar só aqui né? Tem tantas ilhas maravilhosas no Havaí.
- Filha, não temos dinheiro o suficiente para ir a várias ilhas todos os dias – recordei e ela me olhou totalmente frustrada.
- Vamos pelo menos pra Maui! – ela juntou as duas mãos – Por favor, por favor, por favor! Maui é maravilhosa!
- Podemos ir amanhã... – sugeriu.
- Sim, por favorzinho! – se juntou a ele e eu comecei a rir.
- Tá bom.
- Sabia que você não era tão careta assim! – ela me deu um beijo na bochecha e todos começaram a rir.
- Vocês tão a fim de descansar ou vamos dar um mergulho nesse mar? – perguntou empolgada.
- Ah, eu não to cansada.
- Então vamos para o mar! – ela gritou e nós corremos para os nossos quartos. Abri a minha mala e peguei um dos meus biquines. Ele era um tomara que caia rosa e eu o adorava. Me vesti rapidamente e coloquei um shorts branco. Desci para a sala e apenas faltava , que desceu em pouco tempo. começou a me fitar e eu me incomodei. Virei para o outro lado.
- E então... - se pronunciou - Vamos?
- Vamos! - respondemos em uníssono e seguimos para o fundo da casa, que dava direto para praia. Ah, a praia. Sua areia era fina e branca. Seu mar era azul e cristalino e não tinha muitas ondas. O céu estava limpo e nenhuma nuvem ousava a aparecer. Uma brisa leve passava, aliviando a tensão do calor. Era um dia lindo.
- Quem vai entrar no mar comigo? - perguntei enquanto tirava a minha blusa. Eu tinha 99% de certeza que certo alguém estava me olhando, mas torci no 1% de certeza que não. Aquele maldito sonho realmente tinha me deixado muito incomodada. Enfim, disse que ia entrar comigo e eu tirei o meu shorts. Ok, agora foi 100% de certeza. Entramos no mar e ficamos lá rindo sem motivos e olhando o horizonte.
Um cara alto, moreno, com a pele bronzeada e com alguma tatuagem - provavelmente tribal - veio em nossa direção. Até que ele era gatinho.
- Olá, garotas.
- Oi - respondemos.
- Qual é o nome de vocês? - ele perguntou com um sorriso maravilhoso que eu teria reparado antes se ele não tivesse um abdômen muito bem definido.
- .
- .
- Então, eu estava aqui observando vocês e vi que estão com uma galera né? - concordamos e o deixamos prosseguir - Algum daqueles meninos namora alguma de vocês? - dissemos que não - Ah, muito bom, muito bom. Eu e os meus amigos vamos dar uma festa em um pub aqui perto. Passem lá na minha barraca e eu dou o convite para vocês. - ele parou e olhou para a galera, que parecia não se preocupar com nós, exceto os gêmeos que prestavam bastante atenção no que estava rolando - E para seus amigos também.
- A festa é hoje? - perguntou.
- Sim - ele então olhou para mim - Eu gostaria muito que vocês fossem.
- Tudo bem - aceitei - Vou lá pegar o convite - falei para , que disse que ia voltar para onde o pessoal estava.
- Então vem comigo - o rapaz começou a andar e eu o segui.
- Eu ainda não sei o seu nome.
- É Jack. - ele virou um pouco a cabeça para mim e sorriu - Muito prazer. - ah, mas se ele soubesse que o prazer era totalmente meu.
Chegamos onde estavam as suas coisas, que se resumiam em inúmeras latinhas de cerveja e algumas pranchas de stand up.
- Você anda de stand up? - perguntei apontando para o objeto.
- Sim - ele respondeu sem tirar o olho da sacola onde estavam os convites - Você sabe andar?
- Não muito. - fiz uma careta - Tentei uma vez, não deu muito certo. Caí umas dez vezes. - ele riu e me entregou seis convites.
- Eu realmente quero que você apareça hoje, hein. E se precisar, eu coloco seu nome na lista e você nem precisa pagar.
- Nossa, quanta gentileza. - sorri torto - Pode deixar que eu vou estar lá.
- É bom mesmo.
- Ei cara - um homem com as mesmas características de Jack apareceu e pegou sua prancha de stand up – Vamos remar?
- Claro - ele pegou a sua e olhou para mim - Então te vejo mais tarde?
- Com certeza - mordi o lábio e ele saiu em direção ao mar.
Voltei para a galera que me olhava com curiosidade.
- Quem era aquele gatão? - foi a primeira perguntar, como qualquer um poderia prever.
- Um tal de Jack que quer que a gente vá a festa dele - entreguei os convites para cada um.
- Quer que VOCÊ vá à festa - me corrigiu, dando ênfase no "você".
- Exatamente - respondi secamente e todos fizeram um sonoro "uh" - O que foi?
- Calma aí, fofa - ele debochou rindo - Só estava confirmando o fato de que ele quer te comer.
- Cala a boca - dei um tapa na cabeça de .
- Outch! Isso doeu. - ele resmungou enquanto passava a mão onde eu bati.
- O problema é todo seu. - mostrei a língua, como uma criança, e deitei em cima de uma toalha para tomar sol.
Ficamos assim o dia inteiro, tomando sol e conversando. Os gêmeos disseram que iam para o mercado comprar as coisas que precisamos, como comida e bebida. Eu e as meninas voltamos para a casa e entramos na piscina. O caseiro tinha deixado toda a casa arrumada para nossa passagem, então não teríamos que nos preocupar com praticamente nada.
Apenas voltou com algumas sacolas na mão pedindo ajuda, que foi concedida pela .
- Onde está o ? - perguntou.
- Ele está alugando um carro, nesse momento. - ele explicou enquanto guardava as coisas na cozinha - Se queremos andar por aí, precisamos de um carro, certo? - concordamos e continuamos a nadar na piscina.
Em menos de quinze minutos, chegou buzinando com uma picape preta bem grande de quatro portas.
- Isso foi tudo o que eu consegui - ele se explicou ao sair do carro e se deparar com cinco caras de interrogação o encarando - O cara fez um desconto pra mim e poderia ser pior... Pelo menos ele tem quatro portas, pessoal.
- Verdade - saiu da piscina e foi até a picape - eu não andaria na caçamba, mas nem fodendo.
- Pois é, a de duas portas era bem mais barata, mas eu pensei em você.
- Aw, seu fofo - deu um beijo na bochecha de e correu pra pegar uma toalha. - Galera, vamos tomar banho? Já são seis da tarde e eu quero estar bem arrumada e gostosa para a festa do Jack.
Rimos e em seguida concordamos. Cada um subiu para seu quarto e tomou banho. Coloquei meu vestido preto colado que tinha rendas na parte de cima e nas mangas, que iam até o cotovelo. Soltei o meu cabelo molhado da toalha e penteei-os calmamente e depois os sequei. Passei base, pó, blush, sombra preta, lápis e rímel pretos e batom vermelho. Borrifei meu perfume Coconut Passion da Victoria's Secret, o meu preferido. Olhei para o relógio e vi que já era quase nove horas, a hora que a festa começaria. Fui até o quarto de , que era onde e estavam já prontas.
- Pode entrar - ela respondeu assim que eu bati na porta.
- Olá.
- Ui, que gatona. - começou a bater palma e assobiar - Vai matar o Jack do coração.
- Que exagero. - sentei na cama de , que estava terminando sua maquiagem - Vocês também estão gatonas. E a vai arrasar o coração do .
- Ah, vou sim. - ela concordou ironicamente.
- Claro que vai, ta lindona.
- Eu não tenho corações para arrasar - bufou frustrada, o que deixou um tanto quanto confusa:
- Mas você tem namorado!
- Na verdade... - ela estava sem graça - Daniel meio que me deu "passe livre" e disse que eu podia ficar com quem eu quiser.
- Nossa, que namorado legal. - riu, mas depois parou de repente e juntou as sobrancelhas - Então espera um pouco... Ele te deu permissão para traí-lo?
- Mais ou menos isso.
- Você sabe que ele vai fazer a mesma coisa com você, não é?
- Até sei, mas prefiro não pensar nisso. - chacoalhou a cabeça.
- Do mesmo jeito: que namorado legal. – ela guardou o rímel e pegou uma bolsinha pequena – E então, vamos?
- Claro, mas temos que descer abalando, até porque tem um garoto lá em baixo que está louco para ver a descendo assim, toda gatona – disse rindo e nós a acompanhamos.
Descemos as escadas em sincronia e os gêmeos já estavam lá em baixo, tomando cerveja. Como já havíamos previsto, ficou babando pela . Não era pra menos, ela estava extremamente linda em seu vestido prata.
- Vocês estão muito lindas – comentou, olhando para nós.
- Obrigada – respondemos.
- Quer dizer, vocês estão apresentáveis para esses dois galãs aqui. – “corrigiu” e recebeu um tapa de – Olha, eu não sou saco de pancada.
- Relaxa aí – pronunciou-se – Nós vamos sair do carro com quatro garotas. E nós somos dois.
- Você quis dizer: sair de uma picape né – reclamou e andou para a porta – Mas você não pode aproveitar essas quatro garotas, só uma delas, não é mesmo? - É claro – então ele foi até e puxou pela cintura – Isso já é o suficiente.
- Ah, esse aprendeu comigo! – riu e fez um Hi-Five com seu irmão.
Saímos da casa e entramos na picape, que por dentro não era tão ruim assim, tinha até som! O ligamos e conectamos um pen drive com várias músicas que gostamos. Nós já conhecíamos o tal pub, então não foi difícil chegar lá.
O lugar estava lotado e a música alta era ouvida a alguns metros. Todos tiveram que pagar para entrar, exceto eu:
- O seu nome está na lista – explicou o segurança – O dono da festa explicou que você entra de graça.
- Nossa, ou esse Jack está com abstinência de sexo ou ele realmente quer a . – concluiu brincando e recebeu mais um tapa meu – Esses seus tapas estão me irritando já.
- Então não fala bosta, por favor.
- Mas eu não estou falando bosta, estou falando o óbvio.
- Tá – revirei os olhos e encontrei Jack parado perto do bar – Olha só, ele ali. Tchau.
Nem esperei respostas e fui direto ao encontro do rapaz, que desta vez estava com camisa. Que pena.
- Oi – falei quando cheguei ao seu lado.
- ! – ele me cumprimentou com um beijo no canto da boca – Você realmente veio! E está muito bonita. – ele me mediu e em seguida mordeu o lábio.
- Obrigada. E é claro que eu não ia perder uma oportunidade como essa de vir a sua festa.
- É claro que não. Aceita alguma bebida?
- Sim. – ele então pediu um Bay Breeze, que pelo o que eu entendi era alguma bebida típica havaiana. – Eu gosto muito desse drink, espero que você goste também. – o barman me entregou a bebida e eu experimentei.
- É boa mesmo, gostei! – respondi com sinceridade.
- Que bom... – ficamos nos olhando por um tempo, até que alguém o chamou – Eu já volto, fica aí.
- Tudo bem – eu não iria a lugar algum. Ou eu achava que não iria.
Passaram-se dez minutos e nada. Quinze minutos e nada. Quando estava quase fazendo vinte minutos que ele havia saído, eu fui para a pista de dança. Não fazia a mínima ideia de onde a galera estava então comecei a dançar sozinha mesmo. Vez ou outra, eu olhava para os lados a procura de Jack, mas o lugar era gigante e como eu havia dito, estava lotado. Logo desisti e resolvi aproveitar a minha noite sozinha mesmo. Mas felicidade de pobre dura pouco.
- O que essa gostosa está fazendo aqui sozinha? – um cara que fedia a vodka, e isso era perceptível a quilômetros de distância, se aproximou de mim, segurando a minha cintura – Acho que você precisa de uma companhia.
- Eu não acho, obrigada – o empurrei e andei mais um pouco. Ele veio atrás de mim.
- Eu não aceito um não como resposta, desculpa.
- Que pena... Vai ter que aceitar. – eu ia voltar a andar, mas ele me puxou pelo braço – Me solta.
- Não vou soltar até você ficar comigo.
- Olha, eu até queria – menti – mas eu... Tenho namorado.
- Ah, que mentira – ele me soltou, mas continuou perto – se você quer se livrar de mim, vai ter que fazer melhor do que isso. Você tem cara de ser uma dessas garotas que são independentes, sabia?
- Eu sou! Não era eu que estava aqui sozinha?
- Verdade... Mas essa história de namorado não tá colando comigo.
- Mas é verdade! – eu sabia que dizer aquilo era meio ridículo, mas o cara estava tão bêbado que não faria a mínima diferença ser ridícula ou independente – E ele está aqui!
- Tá bom, então o chama! Estou a fim de conhecê-lo.
- Como eu vou chamar o meu namorado pra conhecer um cara que está me incomodando?
- É porque ele te largou aqui sozinha, não é mesmo? – ok, para um bêbado, ele estava bem esperto. – Que tipo de namorado faria isso?
- Eu já vou chamá-lo – me virei e sai à procura de . Sim, ele era a única pessoa que poderia me ajudar naquele momento. Eu chamaria o Jack se eu soubesse onde aquele homem se meteu. O encontrei sentado num sofá, conversando com uma garota. Ignorei o fato de que provavelmente ele estava pensando em trair Melissa e o puxei.
- O que foi? – ele gritou, não somente devido à música alta, mas também por raiva.
- Eu preciso da sua ajuda! – eu estava fazendo birra e ele parou de fazer cara de bravo.
- O que você quer?
- Preciso que você finja ser meu namorado.
- Não. – ele ia voltar para o sofá, mas eu o puxei.
- Por favor, tem um bêbado me enchendo o saco e eu falei que tinha um namorado, eu sei que isso foi ridículo, mas eu estou de saco cheio dele e ele quer falar com o meu namorado que não existe! – eu falei muito rápido e não sei como não enrolei tudo.
- Pede pro Jack.
- Eu não sei onde ele está! – eu estava quase chorando, acho que todo esse drama era uma consequência do álcool que eu tinha ingerido, apesar de ter sido apenas uma bebida, ela estava bem forte – Por favor, por favor, por favor – eu já estava quase me ajoelhando quando ele aceitou.
- Tudo bem – ele entrou na pista de dança e deixou a tal garota plantada no sofá.
- É aquele cara ali – apontei – É só falar com ele.
- Então você é o namorado dessa garota ai – o bêbado falou quando nos aproximamos.
- E você é o cara que está incomodando a minha namorada – arqueou a sobrancelha.
- O problema não é meu se você deixa a sua namorada sozinha na pista de dança – ele fez uma pausa e continuou – Mas isso não faz sentido. É por isso que eu acho que vocês não são namorados.
- O problema é seu se você não acredita. Você vai deixar ela em paz ou não?
- Não. – ele encarou por alguns segundos e depois desafiou – Já que vocês são namorados, se beijem na minha frente. Namorados não tem vergonha de se beijar na frente dos outros. – Ok, eu não tinha pensado nisso, mas ao contrário de mim, pensou, pois no segundo seguinte, ele me puxou pela cintura e me beijou.
Sim, ele me beijou. Foi um beijo confuso, inesperado, mas ao mesmo tempo bom. Muito bom. E não era um selinho ou coisa do tipo. Era um beijo mesmo e ele foi intensificado sem percebermos. Os braços de envolviam a minha cintura e os meus, passavam em volta de seu pescoço. Paramos de nos beijar assim que o fôlego acabou e eu preferi nem olhar na cara dele. Eu estava com vergonha.
- Eu só queria um beijinho, não precisavam quase se comer na minha frente – o bêbado reclamou – Olha garota, você tem um péssimo gosto – ele deu as costas e saiu andando.
Ok, agora era apenas eu e , e eu precisava olhá-lo.
- Er... Obrigada... Por me ajudar... – eu estava bem sem graça, eu acabei de beijar o meu melhor amigo.
- Por nada... Amigo é pra isso, eu acho. – ele também estava sem graça.
- Pois é.
- Pois é.
Queria que alguém me ensinasse a não ficar sem graça depois de beijar alguém, principalmente quando esse alguém é o . E eu ainda vou ter que aguentar os chiliques de , pois percebi que ela viu toda a cena.

Capítulo 16


Constrangimento. Constrangimento. Constrangida. Constrangimento. Socorro. Preciso de ajuda. Ar? Oxigênio? Que porra foi essa?
Era assim que a minha mente estava depois de ter beijado . Ou ter me beijado. Eu sei que foi só para afastar aquele bêbado, foi apenas um beijo falso. Somente isso. Constrangimento. Eu não poderia ficar quieta, precisava falar algo depois daquele repetido “Pois é” que soltou. , . Socorro, eu estava um caos.
- Eu vou lá com a – resolvi dizer logo de uma vez, pois a cara da minha amiga não era uma das melhores. Imagina a minha situação!
- Ok, eu vou ver se aquela garota ainda está lá... – ele riu baixo – qualquer coisa me chama.
- Ok – mentira, não estava nada ok – Boa sorte.
- Obrigado. – e ele saiu. Graças a Deus? Ou não? Sei lá. Fui a caminho de .
- QUE PORRA FOI AQUELA? – ela berrou assim que tinha pelo menos um metro de distância entre nós duas – Eu saio de vista para te deixar sozinha com Jack e quando finalmente te encontro você estava beijando o ? COMO ASSIM?
- Calma – eu comecei a rir – não é o que você está pensando.
- Porra! – ela berrou novamente – se não é o que eu estou pensando, é o que? passou mal e você fez respiração boca a boca nele de pé? Porque tava mais pra respiração língua a língua.
- !
- Mas é verdade, poxa! – ela riu – Agora me conta TU-DO.
- Não foi nada demais – ela arqueou uma sobrancelha – É sério! Foi assim: tinha um bêbado que não me deixava em paz, pedi pro fingir ser meu namorado e deu que foi uma bela atuação, apenas isso.
- Atuação? Aquilo não parecia atuação.
- Mas foi atuação! O bêbado pediu para nos beijarmos e eu nem tive tempo de pensar. Foi o desespero momentâneo.
- Uhum... Sei. – vi um sorriso malicioso se formando na boca de .
- É sério!
- Ok então.
- ...
- O que é? Estou concordando com você.
- Obrigada.
- Aquilo não foi atuação – ela repetiu depois de um breve silêncio, me fazendo rir. – Vem, atriz merecedora de Oscar, vamos dançar. – ela me puxou para pista e começamos a dançar sem nos preocupar com nada. Nem com bêbados chatos e insistentes.

Depois de mais algumas horas na festa de Jack – sem o Jack – voltamos para a mansão e pelo o que pude perceber, é muito fofoqueira.
- !– abriu a porta do meu quarto de repente e eu estava apenas de calcinha, estava me trocando.
- Caralho, ! – gritei, tampado os meus seios – fecha essa porta!
- Não, espera! – entrou correndo e logo atrás vinha .
- Será que está difícil ter um pouco de privacidade? – reclamei enquanto pegava meu pijama.
- Enquanto você não nos explicar que porra de beijo foi esse que você deu no nós não te daremos privacidade. – afirmou com autoridade.
- Vocês podem pelo menos fechar a porta do meu quarto? – obedeceu e fechou, finalmente, a porta – Obrigada.
- Ok, agora sem enrolação, explica essa história – pediu sentando na minha cama – explicou tudo embolado e rápido para nós, mas não entendemos nada.
- Ai meu Senhor, dai-me santa e divina paciência! – esfreguei a mão no meu rosto, bufando em seguida.
- O que é isso? Virou freira agora? – brincou e todas riram – beija tão mal assim? – mais risadas. Minha cara só ficou mais séria ainda.
- Não.
- Ah, então ele beija bem! – estalou os dedos e mais risadas ecoaram no quarto.
- Não!
- Ele não beija bem? – perguntou franzindo a testa.
- Sim! Quer dizer... Não! – estava ficando confusa – Vocês estão me confundindo!
- Você que está confundindo a gente! – falou entre risadas – Nós só queremos saber se ele beija bem ou não.
- Só responde sim ou não. – completou.
- Sim. – respondi e entrei no banheiro antes que elas pudessem dizer alguma coisa e tranquei a porta.
Fiz o que tinha que fazer lá dentro, escutando vários gritos histéricos. Abri a porta devagar e coloquei apenas a cabeça para fora. Ok, não tinha porque ter vergonha, foi só um beijinho falso.
- E então, dona . – tossiu falsamente – está nos devendo uma história.
Revirei os olhos e deitei em minha cama. Bufei novamente antes de começar a contar sobre o bêbado. Elas me ouviram como se fossem crianças escutando história para ninar. Ou como se estivessem assistindo um daqueles programas de fofocas. Na hora do beijo, foi como se elas estivessem assistindo um filme romântico ou sabendo um babado bombástico – ok, esse era o que realmente estava acontecendo.
- Mas foi só isso? – perguntou em um tom indignado.
- Foi ué, eu disse que não era nada demais.
- Ah, fala sério! – se levantou – Vocês se beijaram de verdade, não foi falso.
- Claro que foi!
- Não foi não! – também se levantou – Vocês tinham que ver a cena! Não parecia um beijo falso nem se eu fosse a mais míope do universo. Eu juro!
- Ah, eu queria ter visto – fez bico, como uma criança.
- Eu também. – fez o mesmo.
- Mas que saco! – peguei o lençol e me cobri – Não foi nada demais. Vocês vão ver, amanhã estaremos agindo como se nada tivesse acontecido!
- Impossível, amor – sentou-se novamente – A partir do momento em que você beija seu melhor amigo, nada volta ao normal. E olha que eu sei o que eu estou falando.
- Mas é diferente! Você e o já estavam num rolo aí há muito tempo. Vocês se gostam!
- E quem garante que você e o não se gostam também? – estava encostada na parede e parecia um detetive ou algo do tipo tentando descobrir algo que não existe: o meu amor além de amizade pelo e vice-versa – Você só fez a cena, . Eu vi tudo! Acredite em mim: não era um beijo falso.
- Quem tem que saber se era um beijo falso ou verdadeiro sou eu! – fui meio grossa, propositalmente. Eu estava com sono e cansada desse papo – Será que eu posso dormir?
- Ih – levantou-se da cama e foi em direção à porta – alguém está brava.
- Sem motivos. – seguiu a garota – Pense no que eu te disse, ok?
- Não vou pensar coisa nenhuma – virei do lado contrário das meninas – Não tem por que eu pensar. Boa noite.
- Boa noite – elas disseram todas juntas e saíram do quarto, fechando a porta em seguida.
Ah, enfim sós: Eu e o meu querido sono.

Dia seguinte – Ilha Maui
Apesar de termos chegado no alto da madrugada, acordamos cedo para pegar um voo – há voos especiais dentro do arquipélago para ir de ilha em ilha – para Maui. A ilha era um pouco deserta, não tinha muitas casas e prédios, mas era perfeita. Nós a adorávamos. Havia muitos turistas que passavam o dia inteiro na praia – assim como nós – e vendedores ambulantes, lugares para comer, andar de Jet Ski, alugar uma prancha de stand up e outras coisas. Falando nisso:
- Gente – parei de andar, estávamos indo nos acomodar em algum canto da praia – quero andar de stand up. Desde ontem fiquei com essa vontade.
- Mas você nem sabe andar – falou.
- Mas eu posso tentar... Vamos, vai ser divertido! O aluguel para andar agora nem está tão caro. – insisti.
- Eu concordo, vai ser legal – votou positivo, assim como e . Pude ver que e seguravam a risada. Puta que pariu, vai começar tudo de novo.
- Eu vou ficar só olhando, nem quero passar vergonha. – comentou, recebendo vaias como resposta – Ah, gente... Não quero andar!
- Mas você vai! – a abraçou de lado.
Fomos até a barraca onde tinha as pranchas para alugar e alugamos a mais barata, porém de boa qualidade. Tinha certeza que o cara que estava trabalhando lá era o amigo de Jack de ontem na praia.
- Gente – chamei assim que saímos de lá – Eu acho que um amigo do Jack está aqui. – minhas amigas arregalaram os olhos e perguntou:
- Será que ele está aqui?
revirou os olhos e resmungou:
- Quais são as chances? Nem na festa dele ele apareceu! – as meninas começaram a rir. Ele também não facilita pro meu lado. – O que foi?
- Está com ciúmes? – perguntou com um sorriso maroto.
- Não, por que eu estaria?
- Não sei... – ela começou a rir e eu queria enfiar a minha cara na areia.
- Vamos entrar no mar? – pedi impaciente.
- Vamos!
- O que aconteceu aqui? – ouvi perguntar pra e ela respondeu que depois ele descobriria.
Colocamos a prancha gigante – devia ter uns três metros de altura e uns 60 centímetros de largura – na água e o primeiro a subir foi . Ele tinha mais experiência e sabia andar. Depois foi , que também tinha experiência. Eles remaram por uns dez minutos, deram uma volta e depois entregaram a prancha para nós.
- Eu vou agora! – nos empurrou brincando e subiu de joelhos – Mas eu vou assim, não sei ficar em pé.
- Tenta, não é difícil! – a encorajou, mas não adiantou.
- Eu não quero cair com tudo na água, essa prancha monstruosa pode cair em mim e me esmagar, sei lá que tragédia pode acontecer, sou muito nova e bonita pra morrer desse jeito.
Começamos a rir do comentário dela e ela remou de joelhos mesmo. Deu uma voltinha e já reclamou:
- Não dá pra mim, eu sou sedentária.
- Então eu vou! – empurrou pra fora da prancha, que caiu no mar e quando voltou para a superfície, soltou uma série palavrões. – E eu vou em pé, ok?
E ela foi mesmo. Ficou em pé direto e começou a remar. Andou um pouco e começou a gritar de alegria. Estávamos prestes a dizer que ela era muito boa, quando ela foi andando para trás com falta de equilíbrio e caiu de costas na água.
- Nossa, foi estilo moonwalk essa queda. Muito boa mesmo. – falou com sarcasmo e recebeu o dedo do meio de .
- Vai se foder, eu andei muito bem. – ela trouxe a prancha e perguntou: - Quem vai agora?
- A me empurrou.
- Ok, eu vou! Mas já vou dizendo que eu não sei nem ficar de joelhos!
Subi na prancha com medo e posicionei meus joelhos na direção dos meus ombros. Aquilo doía muito para uma pessoa sedentária como eu. Dizem que depois da terceira vez que você sobe, você nem sente, mas era a segunda vez que eu subia numa prancha de stand up na vida e faz muito tempo que eu subi pela primeira vez. Peguei o remo e dei as primeiras remadas. Não cai nenhuma vez e consegui dar uma volta. Quando cheguei na galera, me desafiou:
- Fica em pé!
- Você tá louca? Não vou conseguir – sentei na prancha e cai na água. Senti um alívio tão grande ao sentir meus joelhos na água gelada. – Ai, isso dói demais, não sei como vocês conseguem.
- Vai insistia – Pelo menos tenta ficar em pé!
Fiquei olhando com cara de menina mimada para ela e toda a galera começou a falar para eu ficar em pé. Logo, desisti da minha postura de chata.
- Ok, vou tentar, mas eu não me responsabilizo pela cena que vocês vão ver. – deitei na prancha e primeiramente, fiquei de joelhos. Depois de respirar fundo, tentei apoiar um pé. Falhei. Cai na água e já comecei a rir. – Tão vendo? Isso não vai dar certo.
- Todo mundo cai na primeira vez que tenta, vamos! – agora que insistia.
Tentei mais uma vez e eu aleguei que aquela era a última. Fiz a mesma coisa, mas cai de novo.
- Ok, eu não tento mais.
- Não, calma – se aproximou – Você tem que conseguir, é muito fácil.
- Mas eu não consigo! – resmunguei e ele olhou para mim, impaciente.
- Eu vou segurar a prancha pra você.
- Não adianta, eu vou...
- Adianta sim! – ele me interrompeu – Agora tenta. Não faz muita força num pé só, tente equilibrar o peso e não jogue o corpo muito para frente. – o obedeci e fui devagar levantando.
- Eu to conseguindo!
- Tá vendo? É fácil! – ele continuou segurando a prancha com uma mão – Dobre um pouco os joelhos – ele aproximou a mão da minha perna, mas antes de me tocar, ele perguntou – Posso? – assenti e ele dobrou o meu joelho – Assim... Pronto! Agora é só remar.
Comecei a remar. Realmente era fácil, mas as minhas pernas tremiam sem eu perceber. Dei uma volta e quando cheguei perto de onde eles estavam, pulei na água, mal sentindo as minhas pernas.
- Foi muito bom, mas eu realmente estou com dor. – passei as mãos em minhas pernas dentro da água. Percebi que estava se afastando do grupo, com um sorriso de quem aprontou – Ei, ! – ela parou de andar e virou um pouquinho o rosto – Nada de fugir, você também vai subir!
- Ah não! – ela começou a espernear como uma criança de cinco anos – Eu não quero! – correu até ela e a agarrou pela cintura, puxando-a para onde estávamos – Não, para! – ele não a escutou – , para com isso AGORA! – ela continuou sendo puxada até que os dois caíram de costas na água – Caralho, eu disse para você parar! – Nós já estávamos chorando de rir, chamando atenção de todos que estavam perto, fazendo-os rir também. Outros nos olhavam com cara feia, provavelmente pensando “Quem deixou esses perturbados entrar em Maui?”. Ah, para! Rir é saudável. Depois de muito insistirmos, subiu, pela sua primeira vez, numa prancha de stand up. Com ajuda dos gêmeos, ela ficou em pé, dando uma pequena volta e caindo na água. Falou que iria desistir, mas eu tive uma ideia, um tanto quanto idiota, mas que renderia boas risadas e experiência.
- Vamos subir juntas! – gritei batendo palmas e me olhou como se estivesse prestes a pegar uma bazuca e atirar na minha cara.
- Você perdeu sua sanidade? – ela perguntou como se eu fosse a garota mais louca do universo e eu comecei a rir.
- Não! É muito simples. – peguei a prancha e comecei a explicar – você senta na ponta e eu fico em pé atrás de você!
- , você está tentando desobedecer alguma lei da física que eu não conheço ou...
- Lógico que não! – e eu ri mais – Isso é muito simples! Já vi em algumas fotos e eu sei que estamos aprendendo a andar de stand up, mas duas antas aprendem mais rápido do que uma! – ela riu do meu comentário, o que para mim era um progresso, e concordou. Comecei a dar pulinhos de alegria e mandei-a sentar. Ela o fez e eu tentei, com muita calma e ternura, ficar em pé naquele maldito pedaço de plástico amarelo. Até que deu certo... Durante dois segundos. Como havia dito minha perna já estava doendo muito. Ao tentar subir novamente, senti um puxão que veio do meu calcanhar até a minha coxa. Resultado: caí da prancha me queixando de dor.
- Eu acho que é melhor pararmos por hoje – avisei , que também tinha caído na água, por minha culpa – Eu estou com muita dor. – Eles falaram que isso não era normal e ficaram me chamando de sedentária. O que posso dizer sobre e que, ao pisaram na areia, quase caíram no chão. Bem feito pra elas.
- Meu Deus! – berrou parando de repente – Eu desaprendi a andar!
- Eu também! – pronunciou-se – Parece que estou com algum tipo de problema na perna. - decidimos assim que seria melhor comermos alguma coisa e voltar para Honolulu.
Devolvemos a prancha, pegamos uns salgados para comer e logo que terminamos nos arrumamos rapidamente para pegar o voo de volta a capital.
Quando chegamos ao nosso destino, eu fiz apenas uma coisa: deitei na minha cama e em menos de alguns segundos, entrei em um sono profundo.

Fui acordada por uma batida em minha porta. Era :
- Nós não vamos sair hoje, tá todo mundo com muita preguiça – ela parecia extremamente frustrada.
- Ai, graças aos deuses havaianos! – levantei da cama e recebi um olhar negativo vindo da minha amiga.
- Qual é! Eu sou a única que quer sair dessa casa? Viver, respirar o ar?
- Sai você então! – respondi enquanto pegava um short e uma regata – Você está com passe livre e não aproveita. Já eu, estou cansada e quero tomar banho.
- Velha – ela revirou os olhos bufando e eu mostrei a língua. – Velha, velha, muito velha! Mas com uma ótima ideia. – ela olhou para o nada como se estivesse vendo uma cena na cabeça dela, enquanto esboçava um sorriso malicioso – Tchau!
saiu como um furacão do meu quarto e eu nem queria imaginar o que ela iria aprontar. Ri baixo e entrei no banheiro para tomar meu banho.
Assim que terminei, resolvi descer para fazer algo que prestasse. Senti toda a minha vitória ao ficar em pé na prancha de stand up ao descer o primeiro degrau da escada. Sentia muita dor, muita dor mesmo, a cada degrau que eu descia. Fui soltando um “ai” do primeiro ao último. Ao virar para a sala, me deparei com assistindo TV. Ao olhá-lo, tive a sensação de ter sonhado com ele. Sabe quando você olha para uma pessoa e sente que a viu em seus sonhos? Não sei explicar, é uma sensação estranha, como se ela tivesse feito algo que você não consegue se lembrar. Era exatamente isso: eu sonhei com ele de novo e não lembrava como foi.
Sonhos e sensações à parte, minha perna continuava doendo e eu continuava soltando inúmeros “ais”.
- Está tudo bem ai? – ele perguntou sem tirar os olhos do programa que estava assistindo. Era algum havaiano e eu tentava entender como ele estava entendendo o que o cara estava dizendo.
- Está sim... – fui mancando, fazendo um draminha básico, até o sofá e me sentei, sentindo, agora de verdade, muita dor – Cacete, não está nada bem, nada bem. – ele riu baixo e olhou pra mim – Não estou acostumada a fazer essas coisas, daí eu fico assim. – ele sorriu e voltou sua atenção para a televisão – você está entendendo algo?
- Não. – ele riu baixo de novo – Mas é que o cara estava falando inglês até pouco tempo... E não tem nada para assistir.
- Você está entediado? – perguntei com um sorriso no rosto.
- Estou, por quê? – ele perguntou indiferente.
- Faz uma massagem em mim – então eu apoiei minhas pernas nele e ele arqueou uma sobrancelha e ficou encarando-as. Fiquei envergonhada com toda aquele silêncio – Vai!
- Você é muito folgada. – ele respondeu simplesmente depois de balançar levemente a cabeça, fechando os olhos.
- Eu estou necessitando! – reclamei indignada e ele riu, começando a fazer a massagem – Isso, bom garoto.
- Folgada.
Ficamos algum tempo em silêncio enquanto ele tentava diminuir a dor que eu sentia. Já estava ficando incomodada com a falta de assunto e resolvi me arriscar num bem constrangedor.
- Se as meninas me verem aqui com você me fazendo massagem, com certeza vão me zoar muito.
- Por quê? – ele parou de massagear a minha perna e virou para mim.
- Por causa de ontem... A nos viu... Você sabe, nos... Beijando. – ainda era muito constrangedor falar do assunto, mas eu precisava conversar com sobre isso. Percebi que ele também não se sentia a vontade, mas ele me respondeu:
- Pois é... – ele ficou um tempo quieto, mas depois me perguntou: - Você está com vergonha né? – eu arregalei os olhos e ele riu – Não, relaxa. Eu também fiquei com vergonha naquela hora, mas meio que aconteceu.
- Verdade – me ajeitei no sofá, sentando mais próxima dele – Isso vai render boas histórias.
- Com certeza. – ele olhou para o programa havaiano e riu baixo – Aquele bêbado era uma figura. – eu ri e o silêncio predominou novamente.
Por algum instinto totalmente estranho, eu senti uma vontade fora do comum de beijá-lo novamente. Olhei para ele na intenção de ficar o admirando sem ele perceber, já que na minha cabeça estava concentrado na TV, mas me enganei. Ele também me olhava e aquilo só fez a minha vontade de beijá-lo aumentar.
Sem eu perceber, coloquei minha mão em sua nuca e puxei para um beijo nada calmo e cheio de desejo. Ele correspondeu colocando cada mão de um lado da minha cintura, apertando-a. Minhas unhas arranhavam sem muita força seu pescoço e eu mordi o seu lábio inferior.
- Você está com vergonha agora? – ele perguntou ofegante e de olhos fechados.
- Nem um pouco. – o empurrei para o encosto do sofá e subi em seu colo, colocando uma perna em cada lado de seu corpo, ignorando a dor que eu sentia. Nos beijamos novamente e ele botou a mão em minha bunda, numa forma de aproximar nossos corpos. Eu puxava de leve seus cabelos e estava perdida em toda essa pegação, quando escutei a voz de gritando enquanto descia as escadas: - Eu estou morrendo de fome! – eu levei um susto e como eu estava no colo de , acabei caindo do sofá.
- ! – os dois gritaram ao mesmo tempo.
- Você está bem? – se aproximou de mim e segurou meu braço, me levantando. – O que foi isso?
- Isso o que? – eu estava meio retardada e não sabia se ela estava falando do susto ou do beijo. Ou dos dois.
- Esse tombo que você levou! – ela respondeu como se fosse óbvio.
- Ah, sei lá... - pensa rápido – Eu estava com muita dor e levantei do sofá e cai. – nossa, que merda.
- Ah ta... – ela ficou me olhando por um tempo e depois olhou para , que estava com a boca vermelha e segurando uma almofada num lugar um tanto quanto suspeito. Ops. – Bom, eu estou com fome. Vamos pedir alguma coisa? – eu juro que suspirei aliviada quando ela fez a pergunta.
Parece que ter na mesma mansão que eu durante quinze dias não vai ser algo muito fácil. E ah, me lembrei do que eu havia sonhado...

Capítulo 17


’s POV

O que estava acontecendo? O que deu em mim? O beijo na festa não era para ter acontecido, assim como o beijo no sofá também não era para ter acontecido. Mas foi mais forte do que eu. tinha o maldito poder de me tirar da sã consciência dos meus atos. Essa garota vai me enlouquecer! O pior é que eu queria, eu desejava mais. Mesmo sendo a coisa errada a se fazer, eu precisava disso.
No momento, , e me impediam de jogar no sofá e terminar o que nós estávamos fazendo. Nós estávamos comendo pizza e assistindo TV. estava entre ela e eu. e o eu irmão estavam sentados no chão abraçados e eu só queria que todos saíssem de lá. Digamos que eu estava com inveja de por poder ficar com quem ele quisesse na frente dos outros. Eu não podia pegar na frente deles, além do fato de eu estar namorando Melissa. Ah, tá tudo errado!
, que tinha saído sozinha, chegou na mansão com um sorriso que ia de orelha a orelha.
- Onde você foi? – perguntou com a boca cheia de pizza.
- Não importa! – ela fechou a porta e saiu correndo em direção a – O que realmente importa é quem eu encontrei...
- E quem foi? – eu quase comecei a rezar quando vi que sorria maliciosamente para ela. Já estava esperando o pior.
- O Jack!
Ah, ótimo. Agradeci mentalmente por ninguém ter visto a cara de bunda que eu fiz. Já deixou o queixo cair e começou a rir.
- Mentira! – ela tampou a boca com a mão – E aí?
- E aí que ele estava com uns amiguinhos, pra variar – e riu de novo. Acho que ela estava meio alegre, se é que vocês me entendem – E eu talvez eu tenha ficado com um... Ou dois amigos dele...
- Dois? – arregalou os olhos – E ainda eram amigos? Nossa, essa nem eu consegui ainda.
- Pois é... – riu mais um pouco – Mas o melhor não é isso.
- Eita, quero nem saber o que é o melhor. – brincou e elas riram. Eu continuava emburrado.
- Qual é o melhor? – perguntou. Eu já estava me preparando para a bomba.
- O Jack ainda lembra da ... – ela sorriu maliciosamente. Então, era dessa bomba mesmo que eu estava me preparando. – E ele sente muito pelo desaparecimento dele na festa, mas ele ainda te quer. – olhei para e ela encarava o chão, parecia estar envergonhada já que estava um pouco corada – E ele me contou que vai rolar outra festa.
- Esse Jack faz todas as festas do Havaí ou é impressão minha? – perguntei sarcástico sem nem dar um sorrisinho cínico.
- Impressão sua, meu bem – levantou-se do sofá e foi até – Ele apenas a convidou para a festa. – ok, dessa eu não estava preparado.
- O quê? – levantou a cabeça e em seguida começou a balançá-la negativamente – Não quero ir sozinha! – ah, fala sério. Não estou a fim de ver você se pegando com um playboyzinho pagador de surfista vulgo anfitrião do Havaí, porém desaparece de uma hora para a outra na própria festa. É claro que isso não saiu dos meus pensamentos.
- Eu sei muito bem disso, portanto eu sugeri mais uma amiga linda e gostosa – ela virou para , que já jogava seus cabelos, sabendo que estava falando dela – e eles aceitaram. Ah, um dos amigos que eu peguei me convidou sem o Jack saber. E a , o e o entram de penetra. – Não, muito obrigado.
- Eu topo! – levantou-se do chão – Quando é a festa?
- No sábado – estávamos na quinta. Ok, tínhamos um tempo até a festa e esse seria usado para eu pensar no caso de eu entrar de penetra na festa. Mas acho que isso não vai rolar...
- Eu vou! – confirmou e a minha cara de bunda só aumentou.
- Ah, ai sim! – bateu palmas – Finalmente vai pegar o Jack! – ok. Estou retirando o que eu disse: eu vou para essa festa.

Sábado – ’s POV

Eu não sei direito como tudo aconteceu. Eu não sei se o que aconteceu foi bom ou ruim. E muito menos sei se como isso aconteceu foi bom... Ou muito ruim mesmo. O problema é que aconteceu e não era para acontecer. Eu acho.
Tudo começou assim que chegamos à festa de Jack, o próprio fez questão de me mostrar o local – que no caso era a casa dele, muito grande por sinal – e começou uma conversa. A verdade é que, apesar dele ser super lindo, gostoso e tudo, eu não queria estar com ele. Queria estar com outra pessoa, mas essa já estava ocupada com outras pessoas. Sim, no plural. Então decidi me divertir com o que tinha, ou seja, Jack.
Ficamos algumas vezes, bebemos juntos, rimos juntos, ficamos mais um pouco. Eu realmente estava me divertindo, porém meu olhar sempre se desviava para outro canto da casa. O canto onde ele estava. Isso me incomodava muito. Por que eu simplesmente não consigo ficar com as pessoas e não me apegar, como está acontecendo com Jack nesse exato momento? Eu me odeio. Sempre escolho as pessoas erradas.
- Está tudo bem? – Jack perguntou em um sussurro no meu ouvido.
- Tá sim...
- Não sei, você me parece estranha... Preocupada. – ele me olhou nos olhos e eu me senti sufocada pelo azul dos olhos dele.
- Não... Eu estou bem, sério. – eu forcei um sorriso e acho que não ficou muito bonito, mas foi o suficiente para Jack voltar a me beijar.

’s POV

Por que eu que aceitei entrar de penetra nessa festa mesmo? Eu estava pagando todos os meus pecados vendo beijar Jack. Eu sei que não estamos em um relacionamento, eu sei que nem estamos ficando, nem somos peguetes, nem nada do tipo, apesar de termos ficado mais vezes – escondido – depois daquela vez no sofá. Portanto eu não podia a impedir de ficar com quem ela quisesse. Assim como ela não podia me impedir de ficar com eu quisesse.
Tinha duas garotas loiras muito gostosas que estavam praticamente se jogando em mim. Eu já traí a Melissa mesmo, já estava tudo fodido na minha vida, por que eu ia me preocupar com duas vadiazinhas querendo dar para mim? Não tem absoluto problema nisso. Aliás, não estava quase sendo comida pelo Jack? Então. Eu também tenho o direito de me divertir.
As duas meninas eram realmente duas vadiazinhas com aqueles vestidos que iam até a dobra da bunda das duas, com o maior decote que eu já vi na minha vida. Nada que me impressionasse, porém era bem bonito de se ver.
Não precisei nem dizer oi, só de sentar entre as duas – elas estavam num sofá – uma já começou a beijar meu pescoço, às vezes dando leves mordidas e chupões. A outra garota mordiscava o lóbulo da minha orelha. Eu? Bem, eu continuava olhando – quer dizer, tentava, porque as duas meninas estavam me distraindo – para e Jack, enquanto dava grandes goles na minha bebida. Não consegui segurar por muito tempo a minha atenção e logo me virei para uma das duas garotas e comecei a beijá-la. Depois me virei para a outra menina e a beijei.
Depois desse vai e volta que eu fiquei com as duas vadiazinhas, eu decidi sai de lá e pegar outra bebida. Sentei em algum lugar, que eu não conseguia me lembrar, e lá fiquei observando e Jack. Jack e . Dei o primeiro gole na nova bebida, sentindo minha garganta arder e em seguida, uma pontada na minha cabeça. Talvez eu tenha bebido demais, mas já era. A partir da cena do novo casalzinho havaiano, tudo era um borrão.

’s POV

A noite estava demorando a passar e isso só me deixava com mais ódio de ficar ali. Olhei em volta e não encontrei ninguém da galera, a não ser . Eu perdi a conta de quantas vezes eu olhei para ele e ele estava bebendo. Devia estar bem bêbado. O que eu podia dizer? Espero que as duas loiras aguadas que ele estava pegando pudessem o ajudar. HAHA, elas não podem.
Eu já estava cansando de ficar com Jack – se isso fosse há dois dias, eu seria a pessoa mais feliz do mundo, porém não mais. Peguei meu celular e vi que já eram quatro horas da manhã.
- Eu acho que vou embora... – falei para Jack, que também não devia estar muito sóbrio.
- Ah, não! – ele me abraçou – Fica mais um pouco! Dorme aqui vai! – arregalei os olhos e me afastei dele.
- Não.
- Por quê?
- Porque não, eu quero ir embora, to me sentindo enjoada – não era bem uma mentira, eu realmente estava me sentindo um pouco enjoada.
- Então tá bom... Quer carona? – eu até considerei, mas do jeito que ele estava, era melhor não.
- Não, é a sua festa, fica ai.
- Tudo bem então – ele me puxou para mais um beijo, que foi rápido graças a minha impaciência – Nós vamos nos ver depois né?
- Sim, sim – respondi rápido. Ele não ia lembrar-se dessa minha impaciência mesmo, então não estava me importando.
Saí de perto dele e fui à procura de alguém da galera. Procurei por e nada. Procurei pela e nada. Até perguntei para algum amigo do Jack se ele tinha a visto, porém a resposta foi:
- Ela foi embora faz tempo. – O quê? Eu escutei bem? Agradeci e fui atordoada a procura de e . Também não os achei. Aquilo só podia ser mentira. Fui até o jardim, que era onde estava sozinho com outra bebida na mão, e nada deles.
- Você viu o pessoal? – perguntei para ele e ele apenas balançou a cabeça negativamente, enquanto olhava para o chão. – Eles falaram algo pra você, para onde eles iam? – ele repetiu a ação. – Cacete, eles foram embora?
- Não sei, porra! – ele gritou e levantou. Cambaleou antes de começar a andar e atrapalhar-se em seus próprios passos. Ele estava muito bêbado.
- – ele virou-se para mim – E se eles foram embora?
- Ai fodeu né – ele começou a rir e beber mais um pouco.
- Solta isso – tirei o copo da mão dele e joguei em qualquer lugar.
- Ou, eu tava bebendo!
- Esse é o problema! – gritei e ele levantou as sobrancelhas – Você está muito bêbado, nós estamos na casa de um estranho, num lugar onde nós não conhecemos e sem carro! – não sei por que disse tanta coisa para alguém numa situação como a dele, já que ele continuou rindo.
O puxei e sai da casa.
- Onde estamos indo? – ele perguntou enrolado.
- Eu não sei – continuei andando e o puxando – Talvez eu encontre um ponto de ônibus, táxi, um cavalo, qualquer coisa que nos leve para casa.
- Não precisa me puxar – ele arrancou seu braço do meu – eu sei andar sozinho.
- Então me segue. – ele assentiu e continuei andando em frente. Não tinha absolutamente nada naquele lugar. Estava tudo fechado. Ninguém na rua, nenhum carro passando, nada.
Não sei por quanto tempo ficamos andando a procura de alguma alma viva, mas nada aparecia. , que não devia ter consciência do que estava acontecendo, começou a cantar Shiny Happy People do R.E.M.
- Meet me in the crowd... People! People! – o ignorei e continuei atenta ao caminho – Throw your love around... Love me! Love me! – respirei fundo e contei, mentalmente, até dez.
Ele ficou um tempo quieto e eu já estava feliz por ter o silêncio novamente. Mas essa felicidade não durou muito tempo.
- Shiny happy people holding hands! – ele berrou e começou a dançar – Shiny happy people holding hands! – ele então começou a bater palmas – Shiny happy people laughing...
- CALA A BOCA! – virei irritada e gritei, criando um eco. Ele me olhou assustado – Caralho, ! Nós estamos perdidos num lugar onde nenhum de nós dois conhecemos direito. Aliás, não ia fazer nenhuma diferença porque você está tão bêbado que nem deve saber qual é o seu próprio nome agora!
- É ! – ele apontou o dedo pra mim e começou a rir. Respirei fundo novamente.
- , foca na situação. Foca em mim.
- Minha filha, eu to focado em você há muito tempo! – ele sorriu torto e, apesar dele estar bêbado, eu considerei muito a resposta dele. Ele estava focado em mim há muito tempo? Ok, aquela não era a hora de falar sobre isso. Precisava arranjar um jeito de voltar para a mansão.
Fiquei mais algum tempo andando, quase sem esperanças, até que encontrei uma cafeteria 24 horas aberta. Eu quase sentei no chão e comecei a chorar de felicidade.
- Vamos – peguei seu braço e o puxei até o local, que estava vazio a não ser pelos funcionários com cara de tédio. Sentamos em uma mesa perto da janela e uma garçonete negra gordinha de cabelo curto veio nos atender.
- O que vocês vão querer? – ela perguntou com um bloquinho e uma caneta na mão.
- Um café puro bem forte – eu precisava arranjar algum jeito de fazer ficar pelo menos um pouquinho sóbrio, o suficiente para me ajudar a voltar pra casa. – Tem tamanho?
- Temos na xícara ou no copo, que pode ser grande, médio ou pequeno.
- Grande. – respondi rápido e ela anotou.
- Eu não quero café – ouvi resmungar com a fala enrolada e a mulher apenas o olhou levantando uma sobrancelha.
- Ele tá bem? – ela perguntou apontando a caneta para ele.
- Não muito... – respondi.
- Então um café puro bem forte e grande saindo.
- Traz uma água gelada pra mim. – pedi e ela se afastou.
- O que nós estamos fazendo aqui? – ele bateu as duas mãos na mesa, chamando atenção da caixa que estava quase dormindo.
- Eu também não sei, mas estamos andando a um bom tempo e eu preciso arranjar um jeito de chegar a casa, talvez alguém aqui possa me ajudar. – ele ficou me olhando com uma cara estranha e eu bufei – Por que eu insisto em contar as coisas pra você?
- Porque eu sou lindo e você adora conversar comigo – respondeu e fitou o teto por um longo tempo.
A garçonete chegou com um copo grande de café e uma garrafa d’água. ficou olhando para o copo e não encostou um dedo nele.
- Bebe o café. – pedi de uma forma calma. Ele me ignorou – Por favor, bebe o café.
- Eu não quero! – ele gritou e eu fiquei vermelha de vergonha e de raiva.
- Bebe a porra do café! – gritei, um pouco mais baixo que ele, e finalmente ele me obedeceu, dando apenas um gole e colocando o copo na mesa de novo – Bebe tudo.
- Caralho – ele gritou de novo – eu vou beber, dá um tempo.
- Eu dou um tempo, só não demora muito porque são quase cinco da manhã e eu to morrendo de sono!
- Então toma você o café – ele empurrou o copo pra mim e eu empurrei de volta pra ele.
- Você precisa mais do que eu, por favor, apenas beba.
pegou o copo de novo e deu mais alguns goles. Em dez minutos, ele já tinha terminado de beber. Ele arrotou e em seguida começou a rir.
- Opa – ele começou a gargalhar e eu já tava vendo que o efeito do café ia demorar um pouco – Podemos ir? – assenti e chamei a garçonete e pedi a conta.
- Er... Moça – a chamei antes de ela sair – Você pode nos ajudar num probleminha...
- Me deixa adivinhar... – ela cruzou os braços – vocês estão perdidos?
- Exatamente! – gritou novamente – Essa mulher é demais!
- Como você sabe? - perguntei juntando as sobrancelhas.
- Digamos que vocês estavam conversando um pouco alto demais... – ela riu baixo e eu a acompanhei.
- Então, você pode nos ajudar? – eu só queria saber onde tinha um ônibus e em qual bairro estávamos, mas ela nos ofereceu muito mais do que isso:
- Meu turno já acabou, vou pra casa agora e se vocês quiserem, eu levo vocês.
Eu juro que me levantei e abracei a moça.
- Muito obrigada! Muito obrigada mesmo!
- Imagina... – ela se afastou de mim – Mas estou fazendo isso por você, não por ele. Eu vi como você está preocupada, também, ninguém merece estar nessa situação.
- Ah, por mim, por ele, tanto faz! – a abracei de novo – Muito obrigada!
- Ok, agora pare de me abraçar antes que eu mude de ideia.
- Tudo bem – me afastei e pedi uma coca antes de ir ao caixa pagar.
Entramos no carro dela, que era simples e tinha apenas duas portas. ficou no banco de trás deitado – ele já tinha calado a boca, acho que estava voltando a ficar um pouquinho sóbrio – e eu me sentei no banco do passageiro. Falei o bairro onde era a mansão e a moça me respondeu que era um pouco longe de onde estávamos. Entreguei a coca a e o mandei beber. Dessa vez, ele me obedeceu, mas só bebeu até a metade. Eu bebi o resto.
Depois de uns quinze minutos de viagem, chegamos ao condomínio e eu agradeci mais umas três vezes à garçonete, que disse que já tinha passado por uma situação parecida e que não era preciso me agradecer. Ah, até parece! Aquela mulher, cujo nome era Marie, salvou a minha vida!
Entramos na casa e já estava andando reto e direito, mas ainda falava enrolado. Nunca mais duvido do poder da cafeína. Eu subi para o meu quarto e ele pro dele. Tomei banho rápido e coloquei o meu pijama.
Eu ia deitar, mas senti que deveria ver como estava. Eu sei que fui meio chata com ele, mas é que eu odeio pessoa bêbada. Agora que ele já tinha tomado banho e tomado muito café, acho que ele estava um pouco melhor. Hesitei em aparecer no quarto dele, mas depois me ignorei e bati na porta.
- Pode entrar – ele respondeu. Assenti e abri a porta. Ele estava de calça de moletom e sem camisa, com o cabelo molhado. Ele tava extremamente gostoso.
- Oi – falei baixinho – Está melhor?
- Acho que sim, as coisas não estão girando mais, mas eu ainda me sinto mais solto – e ele riu. – Só que eu estou elétrico, graças à tonelada de café que você me fez tomar.
- Que exagero, nem foi tanto assim... – sentei no canto da cama dele.
- Ah não, imagina! – ele riu e depois ficou quieto – Como é que eu vim parar aqui mesmo? Eu só lembro da festa, de você gritando e de uma mulher que parecia a Queen Latifah dirigindo. Parece que eu acabei de acordar e to tendo alguns flashs do meu sonho...
- Não foi sonho... – suspirei – Foi um pesadelo! Nunca te vi tão bêbado.
- Eu ainda estou bêbado – ele passou a mão no rosto – Eu sei disso, mas eu acho que estou melhor do que antes.
- O que te deu para beber tanto? – perguntei curiosa.
- Quer mesmo saber? – ele fechou o olho e começou a esfregar a mão no rosto.
- Se eu estou te perguntando...
- Ciúmes. – ele respondeu simplesmente e olhou para mim.
- Como assim? – eu sabia do que ele estava falando, mas queria ouvir da boca dele.
- Eu não gostei de te ver beijando o Jack-surfista-anfitrião-de-todas-as-festas-do-Havaí. – ele então desviou o olhar para suas mãos.
- Sério?
- Sim... Espero que você não se incomode. Ciúmes é uma coisa difícil de ser evitada.
- Não estou incomodada – respondi com sinceridade – Er... Eu acho que vou dormir. – ia me levantar da cama, mas senti a mão dele me impedindo.
- Não, fica aqui comigo, por favor. – pediu com a voz falhada e eu simplesmente não consegui dizer não. Merda.
Voltei a me sentar na cama dele e ele foi um pouco para o lado, dando espaço para eu me deitar. Fiz isso e ele tirou o cabelo do meu rosto, colocando atrás da orelha.
- Desculpa por ter agido como um idiota. Eu não merecia a sua ajuda.
- Para com isso – revirei os olhos – O que passou já passou, o que importa é que estamos aqui, finalmente.
- Obrigado por me ajudar. – ele então colocou a mão na minha nuca e me puxou para mais perto dele. Delicadamente, ele juntou nossos lábios. O beijo foi intensificado, meu coração começou a bater o mais rápido que podia e o beijo ficou cada vez mais desesperador, como se precisássemos daquilo. Ele deitou e eu fiquei por cima dele, sem nos desgrudarmos. Sua mão foi passando pelas minhas costas até chegar na borda da minha blusa. Senti ele a levantando e eu o ajudei a tirar. Em seguida, ele passou a mão novamente em minhas costas, o que me fez arrepiar, e depois na minha bunda, seguindo para as minhas coxas. Ele me virou, fazendo-o ficar em cima de mim. Minhas mãos, involuntariamente, passavam por todo o abdômen nu dele, dando leves arranhões. Apesar de eu estar um pouco nervosa com aquilo, eu ansiava por mais. Era incrível o poder que ele tinha sobre mim e eu não sabia se amava ou se odiava isso. Logo coloquei minha mão na borda de sua calça e a desci, mostrando a box vermelha que ele usava e o volume que ali se acumulava. Sem conseguir disfarçar, mordi meu lábio inferior e ele viu. Sorriu maliciosamente e começou a beijar meu pescoço, enquanto fazia pressão nos nossos corpos. Eu mal conseguia respirar, mas isso não me impediu de beijar sua boca novamente, mas não por muito tempo, pois em seguida ele tirou meu shorts. então acariciou as minhas coxas e as apertou. Desceu a boca até o meu colo e beijou dali até um pouco acima do meu umbigo. Voltou a beijar a minha boca enquanto passava as mãos nas minhas costas à procura do feixe do meu sutiã. Ele não teve dificuldades para abrir e logo se livrou da peça. Percebi que ele me encarava descaradamente, mas eu ignorei e voltei a beijá-lo. Percebi que ele, assim como eu, não aguentava esperar mais. Ele tateou a mesinha do lado e pegou um preservativo e logo em seguida, tirou a única peça que ainda estava no meu corpo. E eu fiz o mesmo com ele. Ele fixou seu olhar no meu e antes de continuar deu um selinho calmo e sussurrou a centímetros de distância da minha boca:
- Isso é para te recompensar. – ele falou sorrindo torto.
Mordi meu lábio e juntei o meu com o dele novamente. E assim, juntamos finalmente nossos corpos. Naquele momento eu era dele e ele era só meu. Do jeito que desejava. Do jeito que eu queria.

Capítulo 18


Acordei sentindo uma brisa balançar levemente meus cabelos, que estavam jogados no meio de meu rosto e no travesseiro. A luz forte invadiu a minha retina, me fazendo fechar os olhos novamente. Depois de um bocejo e de um pouco de coragem, os abri novamente. Virei-me e encontrei dormindo igual a uma pedra. Parecia que se acontecesse um tsunami naquele exato momento, ele não iria mexer nem um músculo. Suspirei e fiquei o admirando. Ele estava deitado de bruços e o lençol branco tampava até metade de suas costas, deixando aparecer a parte descoberta que subia e descia conforme sua respiração. Respirei fundo e esfreguei os olhos. Será que o que aconteceu era para ter acontecido? Será que foi do jeito que era para ter acontecido? Porque estava bêbado ontem e, apesar dele mesmo ter falado que estava melhor e ele realmente aparentava estar melhor, eu ainda estava preocupada com a hipótese dele não se lembrar do que aconteceu essa noite. Foi quando eu me toquei da situação: estávamos na mansão da bisavó dele, com mais quatro pessoas na casa que não sabiam do nosso sei-lá-o-que. Eu estava no quarto dele, na cama dele e eu estava nua. Ele também. E tinha mais quatro pessoas na casa! Cacete.
Levantei-me e peguei o meu pijama que estava jogado no chão. Fui até o banheiro do quarto dele e resolvi tomar banho. Quando sai do chuveiro só de toalha vi que continuava na mesma posição de antes. Não tinha mudado nem um dedo de lugar. Pensei num palavrão e abri a porta do quarto dele com cuidado para checar se não tinha ninguém no corredor. Graças a Deus não tinha, mas ouvi vozes do andar de baixo. Eles já estavam acordados. Também, não foram eles que quase atravessaram a cidade a pé. Fui até o meu quarto e me vesti com um short cinza curto que era praticamente um pijama e uma camiseta branca. Voltei para o quarto do e ele estava acordado. Ou tentando acordar.
- Bom dia – falei baixinho. Ok, era a hora de saber se ele se lembrava ou não.
Ele ficou um tempo me olhando e eu estava quase tendo um ataque cardíaco ali.
- Bom dia – ele respondeu finalmente dando um sorrisinho leve. Me aliviei um pouco, mas não totalmente.
- Na verdade, eu já acho que é boa tarde, mas tudo bem. – me sentei ao lado dele e ele me puxou para me dar um selinho. É, acho que ele se lembrava.
- To sentindo cheirinho de comida – ele disse depois de um tempo quieto me encarando – Você tá com fome?
- Sim.
- Vai descendo, eu vou tomar banho e já desço. Afinal, não era você que queria que as meninas não soubessem sobre nosso... Rolo? – concordei e antes de me levantar, ele me puxou para mais um selinho demorado. Saí do quarto dele e desci até a cozinha, onde fazia panquecas.
- Ah, olha a bela adormecida aí! – falou quando eu apareci no cômodo.
- Bom dia. – respondi simplesmente.
- São três horas da tarde, mas bom dia pra você também. – manifestou-se.
Peguei suco de laranja na geladeira e sentei-me à mesa. colocou uma panqueca no meu prato e depois me entregou a calda.
- Bom apetite – agradeci e vi se aproximando usando uma bermuda branca e uma camiseta azul escura mexendo em seu cabelo molhado. Extremamente maravilhoso, só para avisar.
- E ai está o belo adormecido – brincou com o que tinha falado de mim.
- Adormecido mesmo, por mim ainda estaria dormindo, mas esse cheiro de panqueca me acordou com uma fome avassaladora. Acho que vou querer logo umas três panquecas. – ele disse indo ao lado de .
- Nem vem, to fazendo pra mim. – ela reclamou o empurrando.
- Egoísta, aprenda a compartilhar! – então ele se sentou ao meu lado, o único lugar que estava vazio e eu senti a minha respiração parar. Não consigo fazer nada sobre pressão, mas tudo bem. Era só relaxar.
- Por que vocês demoraram tanto pra acordar? – perguntou com a sobrancelha arqueada. Se tinha uma pessoa que não dava pra esconder as coisas, essa pessoa era .
- Porque nós chegamos tarde – respondeu com indiferença enquanto brincava com o talher.
- E chegaram tarde por quê?
- Porque vocês nos largaram sozinhos na festa, esqueceram? – eu ainda estava com raiva dessa história, apesar de ter terminado de um jeito bom, e eu não consegui me segurar.
Os quatro se olharam com os olhos arregalados.
- Verdade! – balançava o dedo pra cima e pra baixo como quem acabou de lembrar alguma coisa, o que aconteceu – Nós tínhamos largado a lá porque pensamos que ela fosse dormir na casa do Jack.
Eu quase engasguei quando contou aquilo. Eu devo ter ficado muito vermelha, porque meu rosto queimava de um jeito extraordinário. Ai que vergonha.
- E por qual motivo vocês me largaram sozinho lá? – perguntou relativamente calmo.
- Porque você estava com duas loiras e eu te conheço, você não ia conseguir ser fiel ao seu relacionamento – explicou e eu me segurei para não gargalhar. Ele nem fazia ideia do que estava acontecendo ali. Dessa vez, quem ficou vermelho foi .
- Vocês poderiam ter nos consultado pelo menos. – ele falou.
- Nós tentamos, mas vocês estavam com as suas bocas ocupa...
- , sua panqueca está muito boa! – interrompi , porque aquele assunto já estava ficando bem constrangedor.
- Obrigada. – ela agradeceu enquanto se sentava à mesa – Minha mãe me ensinou a fazer, a dela é mil vezes melhor.
ficou um tempo encarando até ela se incomodar e perguntar o que tinha acontecido.
- Você realmente não vai fazer a minha panqueca? – ele perguntou num tom indignado.
- Para de ser folgado, garoto – respondeu de boca cheia. Então, pegou o garfo dela que estava com um pedaço da panqueca e comeu. Nós começamos a rir enquanto dava chiliques e se levantava para fazer a panqueca dele.

A partir daquele dia, eu e começamos a ficar direto, mas sempre escondido. Não sabia muito bem o porquê, mas nós dois queríamos manter isso em segredo. Eu acho que não queria as minhas amigas me enchendo como aconteceu quando e começaram a ficar. E talvez não queria que eles soubessem que ele estava traindo Melissa comigo, apesar de todos já saberem que ele traiu ela ou que ele iria trair nessa viagem. Olha como as coisas são: há um mês eu estava sofrendo horrores por causa do Henry, que me traiu com Emma, que é melhor amiga de Melissa, que é namorada de , que até alguns dias era apenas meu melhor amigo, mas agora está ficando comigo. Eita.
Eu estava sentada no sofá pensando no quanto a minha vida tinha mudado desde o começo dessa viagem quando apareceu na minha frente.
- Vamos à praia? – ele deu aquele sorriso maravilhoso enquanto fixava seus malditos olhos nos meus.
- Ah não, to com preguiça – comecei a fazer birra de propósito.
- Para de ser assim, garota. – ele me pegou no colo e saiu em disparada à praia.
Eu dava inúmeros berros e tapas nele, mas não adiantava. Quando chegamos à beira do mar, ele me soltou e eu cambaleei, mas rapidamente me recuperei para poder dar mais alguns tapas nele.
- Você é muito chato, .
- Você que é fresca demais, . – ele esboçou um sorriso sarcástico e em seguida me pegou no colo de novo.
- Para! – voltei a gritar – Puta merda, me solta! – pedi como se fosse adiantar alguma coisa. Ele andou mais um pouco em direção ao mar e me soltou, fazendo a água bater até um pouco acima do meu joelho, molhando a ponta do meu vestido florido. – Olha ai, molhou todo meu vestido!
- Todo?! Como você é exagerada! E fresca... Muito fresca. – ele envolveu seus braços na minha cintura e eu tentei me desvencilhar, mas ele estava fazendo força, então não foi possível.
Ele beijou a minha testa e eu limpei apenas para fazer birra. Ele levantou as sobrancelhas e se afastou de mim, enquanto fazia uma concha com as mãos para pegar um pouco de água. Quando me dei conta do que ia fazer, comecei a correr, mas correr na água é algo inútil, logo fui atingida nas costas.
- Filho da pu... – sem conseguir terminar o xingamento, fui atingida novamente no rosto, já que eu tinha me virado.
começou a rir como nunca tinha rido antes, dando gargalhadas, tosses e inspiração para pegar fôlego e depois repetia de novo. Eu me recuperei passando as mãos ainda secas no meu rosto molhado pela água salgada. Sem nem pensar duas vezes, me preparei para a vingança. Enquanto ele estava se matando de tanto rir, eu me abaixei e empurrei uma boa quantidade de água para ele, que parou e fez a mesma coisa.
Em segundos, nós dois já estávamos consideravelmente molhados, enquanto ríamos e nos xingávamos. Ele correu até mim e me agarrou, me girando e, em seguida, me jogando no mar. Ele não saiu a salvo dessa, já que eu o puxei quando cai.
Levantei-me, já sentindo dor no abdômen de tanto rir e sai do mar. veio atrás de mim e me alcançou.
- Isso sim é um vestido todo molhado!
- Cala a boca. – o empurrei de leve e seguimos andando em direção à mansão.
Estava olhando a paisagem quando vi vários pedaços de madeira amontoados no meio da areia. Perto de lá, tinha algumas pessoas jovens conversando com pessoas que passavam por perto.
- O que é aquilo? – perguntei para , que até eu chamá-lo, não olhava para a mesma direção que eu.
- Não sei... – ele forçou a vista – parece que vão fazer uma fogueira, sei lá.
- Vem cá – o puxei e fui até onde eles estavam.
- Olá – uma menina loira com piercing na boca me cumprimentou.
- Oi – respondemos.
- Queria saber o que é que está rolando aqui... – perguntei meio tímida e ela riu baixo.
- É o luau havaiano! Todas sextas fazemos um aqui, ou pelo menos tentamos! Se vocês quiserem vir, começa às nove horas. Tem música, pessoas tocando violão, open bar...
- É organizado pelo Jack. – ouvi dizer com um tom de deboche e eu dei uma cotovelada nele.
- O Jack Petterson? – a menina perguntou.
- Sim, ele mesmo. – concordei.
- Ah, ele é um ridículo. – , que não estava prestando muita atenção, passou a prestar. Revirei os olhos e escutei o que a menina tinha a dizer – Ele faz várias festas aqui só para se achar o fodão, só que ele não passa de um galinha surfista que não sabe dar festas de verdade. Às vezes ele nem aparece nas próprias festas!
- Eu falei! – me deu um tapa de brincadeira no braço e começou a fazer pose de quem estava certo – Eu sempre soube que esse cara era ridículo. Um anfitrião do Havaí não sumiria na própria festa!
- Exatamente! – a menina apontou – E nós vamos ficar no luau o tempo inteiro.
- Tudo bem então, nós vamos sim! – aceitei – Obrigada! – e sai de lá.
- Olha só que bacana! Pela primeira vez não vamos a uma festa organizada pelo Jack!
- Ninguém garante que ele não vai aparecer no luau – provoquei enquanto abria o portão da casa.
- Ah, mas se ele aparecer você vai atrás dele? – perguntou enquanto me jogava na parede e beijava meu pescoço.
- Não sei... Eu não garanto nada. – mordi o lábio segurando a risada quando vi que ele fez cara feia e entrou na casa.
Quando entrei na casa, vi que todos estavam na sala.
- Olha só se não são os dois sumidos! – gritou.
- E vocês estão molhados por algum motivo especial? – perguntou após nos analisar dos pés à cabeça.
Puts, tinha me esquecido disso também. Relevei e apenas balancei a cabeça negativamente.
- Na verdade não – subi as escadas para ir ao meu quarto – Aliás, nós vamos a um luau hoje. – e assim, deixei o motivo pelo qual eu e estávamos encharcados no ar e fui tomar meu banho.
Escolhi a minha roupa: um short jeans desfiado, uma regata branca larguinha que tinha uma foto com todas as fases da lua e uma blusinha preta de manga até o cotovelo por cima. Iria de chinelo mesmo, afinal era um luau. Passei uma maquiagem básica e desci para a sala.
- Você foi a primeira a terminar de se arrumar? – estava na cozinha segurando uma cerveja e me olhava com a sobrancelha arqueada. Ele estava maravilhoso em sua bermuda jeans e sua camiseta preta.
- Pois é, não estou com muita vontade de ficar me produzindo toda... – torci o nariz e me posicionei ao seu lado.
- Mas você está linda assim... – ele colocou uma mexa do meu cabelo atrás da orelha e sorriu enquanto me olhava nos olhos – Você é linda. – sorri e aproximei nossos rostos, fazendo nossos narizes se tocarem.
- Você mente muito bem.
- Você está completamente errada.
- Que bom... Porque assim não soaria tão idiota se eu dissesse que você é lindo, não é?
- Claro que não – ele desceu a mão até a minha cintura e aproximou nossos corpos, enquanto mantínhamos nossas bocas próximas, desejando para que elas se tocassem – Não soaria idiota porque isso é a mais pura verdade.
- Idiota – dei um tapa no ombro dele e me afastei um pouco.
- Agora é o momento em que você fala ‘mas um idiota totalmente gostoso’.
- Acho que não, hein. – fiz uma cara de desapontada, fingindo é claro, e ele levantou e foi atrás de mim.
- Como é? – ele me agarrou por trás – eu sei que eu sou e eu sei que você está louca pra admitir isso.
- Nunca. – ri alto enquanto tentava me desvencilhar de seus braços. Fomos interrompidos por alguém limpando a garganta, falsamente. Me virei e encontrei no canto da escada com um sorriso malicioso.
- Um idiota totalmente gostoso? – ela perguntou com um tom sarcástico.
- Sobre isso... – ele sorriu envergonhado e malicioso ao mesmo tempo, se é que isso é possível. Eu acho que qualquer coisa absurda quando é feita pelo se torna possível.
- Tudo bem, o segredo de vocês está a salvo comigo. – ela piscou com um olho só e se aproximou de nós – Mas se vocês ficarem de pegação pela casa não vai ser muito difícil de todos descobrirem, apenas uma dica.
- Foda-se eles. – voltou a me abraçar e eu coloquei a minha cabeça no ombro dele.
- Diz isso pra... – iria dizer algo, mas parou no meio da frase. No instante que fechou a cara, eu pude perceber de quem ela estava falando. – Ai desculpa, pensei alto.
- Não, imagina. – Eu e ele respondemos praticamente ao mesmo tempo. O clima tenso foi quebrado ao ouvirmos todos descendo as escadas.
- Então, vamos? – perguntei. foi até a sacada para ver como estava a praia.
- Está lotada! E a música que nós estávamos ouvindo vinha de lá mesmo. – ela fez uma pausa – E realmente tem uma fogueira!
- E a gente está esperando o que mesmo? – perguntou e em seguida começou a bater palmas nos apressando – Vamos!
Saímos da casa pelo portão da frente, que dava direto para a praia. Andamos um pouco até chegar onde todos estavam aglomerados. A música era alguma do Skrillex e todos gritavam e dançavam loucamente. A fogueira se encontrava um pouco mais distante de onde estávamos no centro da parte da praia onde estava sendo o luau. Aquela fogueira não ia servir pra alguma coisa a não ser para enfeitar, já que ninguém se importava muito com ela.
Não demorou muito e já estava conversando com um grupinho de meninos. a acompanhou, e sumiram e eu e ficamos sozinhos.
- É uma pena você não querer que eles fiquem sabendo sobre nós... – ele falou no meu ouvido – Porque se não, eu já estaria te agarrando.
- Você pode fazer isso em outro lugar sabia? – respondi depois de um tempo apenas sentindo o perfume dele (o melhor de todos) e passei minhas mãos pelos seus ombros, até meus braços se envolverem envolta de seu pescoço.
- Ah, eu sei. – ele sorriu malicioso e aproximou a boca dele da minha.
- Mas eu não quero – me afastei fazendo cara de sapeca – Não agora.
- Que pena... Que pena. – ele fez cara de decepcionado, balançando a cabeça de um lado para o outro.
Ri baixo e virei as costas, indo para onde e estavam com os garotos. Ao me aproximar, percebi que não devia ter feito isso. De longe eu não tinha reparado, mas agora estava claro. Era os amigos de Jack e logo mais a esquerda, o próprio Jack, que sorriu de orelha a orelha ao me ver.
- ! – ele se aproximou me abraçando – Quanto tempo, sua sumida!
- Pois é né... – respondi enquanto empurrava levemente, sem o propósito dele perceber, apenas para afastá-lo de mim, totalmente desconfortável.
- Faz quase uma semana desde a festa na minha casa, ou seja, uma semana sem te ver, você tem noção do quanto isso é ruim?
- Pra falar a verdade, não. – dei de ombros e me mostrei totalmente seca.
- Aconteceu alguma coisa? – Não, imagina, você só está achando que ainda vai ter algo comigo enquanto a pessoa que realmente está tendo algo comigo, e que no caso te odeia, está bem atrás de mim nos olhando. Mas fora isso, está tudo bem.
- Não, não aconteceu nada não. – respondi de verdade. Ah, a expectativa está sempre longe da realidade.
- Então por que você não se junta a nós? Vamos curtir a noite! – ele gritou levantando os braços e todos gritaram de volta.
Bufei e revirei os olhos. e estavam realmente entretidas no que eles estavam fazendo e falando, enquanto eu apenas queria sair dali e ficar sozinha com . Na verdade, eu podia muito bem fazer isso, estava lá esperando o que mesmo? Ah, é. O Jack vir me encher o saco de novo. Virei, na esperança de encontrar atrás de mim, mas ele não estava mais lá. Fechei os olhos respirando fundo e rezando mentalmente para que ele não tenha tido um ataque de ciúmes por causa do Jack. Cogitei em ir atrás dele, mas me chamou, tirando-me dos meus pensamentos.
- Você não vai beber nada? – ela me perguntou me entregando um red cup.
- Eu não estava pensando em... – nem consegui terminar de falar e ela já foi colocando uma bebida no meu copo. Não recusei e dei o meu primeiro gole.
Virei a cabeça de um lado para o outro à procura de , mas eu não o achava. Tomei mais alguns goles e resolvi prestar atenção na conversa do grupinho. Os meninos estavam falando sobre experiências estranhas que já tiveram com as garotas, como por exemplo, um dos amigos de Jack que era moreno, alto, usava brinco e era extremamente lindo – já estava de olho nele, certeza – contou que já ficou com uma menina depois da missa de sétimo dia do avô dela. Eu fiquei um pouco surpresa com essa história, mas ela era leve comparada a outras coisas que eu ouvi, sério.
Já tinha terminado meu primeiro copo e pedi para fazer outro para mim. Ela fez rapidamente e me entregou. Continuei ouvindo as histórias e quando perguntaram para mim se eu tive alguma experiência estranha com garotos (ou garotas) eu respondi que não, por enquanto.
- Se você quiser ter, eu estou disposto. – Jack se aproximou de mim e beijou meu pescoço, perto da minha orelha.
- Não, obrigada.
- Que isso, ? Tá chata hoje... É TPM? – puta merda, garoto, cala a boca.
- Não – sorri amarelo e fechei a cara em seguida, dando mais um gole. Eu já estava começando a ficar tonta e nem sentia mais quando a vodka queimava na minha garganta.
- Ela está tensa, conheço a minha amiga – pendurou seu braço envolta do meu pescoço – Só não sei com o que.
- Ela precisa relaxar – um cara que estava fumando entregou o que parecia ser um baseado para mim.
- Isso é maconha? – perguntei.
- Sim, é super de boa, não tem problema não. Pode fumar. – ele respondeu e continuou com o braço estendido.
- Não, obrigada.
Continuei tomando a minha bebida, que já estava quase acabando.
- É muito boa né? – perguntou apontando para o meu copo – Eu já estou no terceiro.
- Eu percebi – ela estava tonta e ria de qualquer coisa que os meninos falavam – Mas realmente é boa.
- Eu sei, vou fazer mais um pra você – e então ela fez.
A música já estava ficando abafada aos meus ouvidos e com certeza isso não era algo natural. Ao começar a beber o meu terceiro copo, eu já estava bem tonta e ria das mesmas coisas que estava rindo. Não conseguia prestar atenção nas coisas que eu falava e nem nas que eu ouvia. Jack estava muito próximo de mim, próximo demais. Eu já não conseguia afastá-lo de mim, apesar de eu dar pequenos empurrõezinhos nele.
- Eu to falando cara, ela precisa relaxar. – o menino da maconha falou novamente e me entregou um baseado. – É de boa, não faz mal não. É gostoso. Você vai se sentir bem!
- Sim – concordou. Eu sabia que ela fumava, só não lembrava disso naquela hora. Para falar a verdade eu não estava me lembrando de muitas coisas naquela hora.
pegou o baseado e deu uma tragada, soltando a fumaça densa em seguida.
- Experimenta – ela entregou o baseado para mim. Eu estava um pouco insegura, mas com coragem o suficiente para dar a primeira tragada. Tossi em seguida e escutei o menino que era o dono da maconha falando que isso era normal, mas uma vez e eu estava conseguindo fumar tranquilamente. Traguei novamente, soltando a fumaça pela boca. o pegou da minha mão e fez a mesma coisa. Aos poucos, eu sentia meus músculos relaxaram e a música ficar cada vez mais abafada. Meus olhos ardiam e eu dificilmente enxergava as coisas com nitidez.
Jack continuava muito próximo de mim e o resto parecia estar longe demais. Aos poucos, ele foi parecendo estar longe demais. O copo com vodka não estava mais em minha mão e eu não sentia mais o cheiro de maconha. Esbarrei em algumas pessoas e senti meus pés se chocarem com a água gelada. Levei um susto e me afastei um pouco, esbarrando em mais algumas pessoas. Elas reclamavam, mas eu simplesmente não entendia o que elas falavam. Continuei andando sem saber para onde eu estava indo. Eu acho que estava procurando . Não era ele ali? Não, não era ele ali. A música estava cada vez mais abafada, a visão cada vez menos nítida. Meus pensamentos? Cada vez mais estranhos. Eles não faziam o mínimo sentido. De repente, eu já não sabia mais o que estava fazendo.

's POV
Eu estava a procura de . Fui até o grupinho de Jack, mesmo que sem a mínima vontade, e perguntei onde ela estava.
- Faz tempo que ela saiu daqui – respondeu. Por incrível que pareça, ela parecia ser a mais sóbria do grupo.
- Eu também estou procurando ! – , que também estava lá, comentou – Ele estava passando mal e até agora não voltou, estou preocupada.
- Vamos procurar por eles, então. – sugeri e me afastei do grupo.
- Espera! – gritava e corria, com em seu encalço – Nós vamos com vocês! – assenti.
- Talvez eles estejam em casa, afinal, o estava passando mal não estava? – perguntei e concordou.
- A última vez que eu vi ela estava indo para o outro lado da praia. – comentou – Eu não me lembro direito se ela tinha me avisado onde iria.
- Ela não avisou. – explicou.
- Vamos para casa, talvez tenha a visto. – falou e fomos em direção a mansão.
Ao chegar lá, encontraram a porta aberta e todas as luzes desligadas, exceto uma do andar de cima.
- deve estar lá. – observei e subiu as escadas.
- Mas aquele é o quarto da , ela que está aqui então. – constatou e nós seguimos em direção ao quarto dela.
Era melhor ninguém ter ido para lá. Eu estava extremamente confuso com a cena que encontrei. Meu coração estava doendo e talvez eu estivesse sentindo na pele o que eu estava fazendo. Na verdade, era algo muito pior. e pareciam confusas, já eu e estávamos com a aquela típica cara de estado de choque. Ou de quem quebrou a cara. Mas era muito pior do que isso. Encontrar no colo do meu irmão apenas de calcinha e sutiã enquanto os dois riam era muito pior do que qualquer coisa que podia passar na minha mente. Qualquer coisa.
- ... – a chamei e ela se virou – Tira a daqui.

Capítulo 19


’s POV
não hesitou e puxou pelo braço, que olhava estática para a mesma cena que eu. continuou do meu lado e os dois nem perceberam a nossa presença.
- ? – ela chamou. A garota da qual eu estava sentindo o maior nojo e raiva que já havia sentido na vida se virou e começou a rir.
- Olha só, temos companhia! – ela se levantou da cama puxando pelo braço – Seus pervertidos!
Aquela não era . Não podia ser. As coisas que ela dizia. O seu olhar. Nada correspondia a que estava comigo há algumas horas. Isso só me deu mais raiva. Não sabia se estava com raiva da ter me traído com o , ou do ter traído a com a , raiva de mim por insistir em procurar . Raiva de mim por ter trazido . Raiva de tudo.
Meu irmão não demonstrava nenhuma reação a não ser por aquele sorriso bobo e retardado que ele tinha no rosto. Aquilo apenas aumentou a minha fúria em cem por cento, fazendo que, sem nem pensar duas vezes, eu desse um soco bem dado no meio na cara dele.
- ! – berrou segurando meu braço, mas eu me soltei dela rapidamente e dei outro soco acertando o nariz dele, que começou a sangrar.
- Você ficou louco? – gritou enquanto segurava seu nariz. estava parada ao lado dele sem nenhuma expressão no rosto. Sem expressão de preocupação, medo, raiva, nada. Absolutamente nada.
- Você que ficou louco! – o segurei pela gola da camiseta dele e o empurrei contra a parede.
- O que eu te fiz cara?
- Puta que pariu! Eu ainda preciso dizer? – eu berrava tanto que a minha garganta começou a arranhar a cada palavra que eu falava.
- – era se aproximando de mim – Não vale a pena!
- Como não vale a pena? Eu quero quebrar a cara desse... Filho da puta – dei outro soco, dessa vez na barriga dele, fazendo-o se curvar e gemer de dor.
- , pelo amor de Deus! – segurou novamente meu braço – Ele é o seu irmão!
- Não! – gritei novamente. me olhava com os olhos cheios de lágrima que apresentavam muito medo. Se eu não estivesse com muita raiva, sentiria dó. Na verdade, eu sinto dó. Mas de mim. Da . Não dele. Ele não merecia. Ainda olhando em seus olhos, respirei fundo e soltei o que eu tinha que dizer dessa vez num tom mais baixo – Ele não é meu irmão! – e finalmente o soltei, largando-o nos braços de .
Me virei transtornado pela raiva e como se não bastasse encontrei com a mesma expressão de antes com os braços cruzados e bufando:
- Ai, mas que drama! Pra que tudo isso? Aconteceu alguma coisa aqui? – a naturalidade em que ela dizia essas coisas me deixava totalmente surpreso. Quem era aquela garota? O que aconteceu com ela? Por que ela estava assim?
Olhei para aquela desconhecida na minha frente e sem nenhum cuidado a empurrei:
- Sai da minha frente, vadia.
Pude perceber que e arregalaram os olhos diante da minha atitude. dessa vez mudou sua expressão e deixou o queixo cair.
- Você me chamou do que?
- De vadia.
- , o que aconteceu? – me olhava com medo e surpresa ao mesmo tempo. O que foi? Agora todo mundo resolveu sentir medo de mim?
- Não aconteceu porra nenhuma! – gritei sentindo meus olhos arderem se enchendo de lágrima – Não aconteceu nada! – agarrei os fios do meu cabelo e os puxei – Eu só...
- Você só me chamou de vadia. – repetiu grosseiramente e fiz questão de virar pra ela, a medindo da cabeça aos pés. Tudo o que eu encontrei foi uma garota que parecia que eu conhecia desde os meus sete anos, mas na verdade, era alguém desconhecida. Alguém que eu não reconhecia, apesar de a minha consciência saber que eu a conhecia.
- Eu só te chamei pelo o que você está parecendo. – suspirei e sai do quarto. Fui para o quarto de e bati na porta.
- É o .
- Pode entrar! – a escutei falando com a voz falhada.
- Oi.
- Como você está? – que pergunta idiota. Se ela não estava pior do que eu, estava na mesma. Eu me sentei do lado dela e sem nem pedir, ela me abraçou e começou a chorar.
Eu não disse nada, apenas a abracei e a acompanhando, deixei algumas lágrimas escaparem. Eu não estava chorando pelo mesmo motivo que o dela. Eu achava. Para mim, eu estava chorando por raiva. Ela estava chorando, pois não se sentia boa o suficiente. Eu só me sentia idiota o suficiente. Otário. Enganado. Sem contar que agora eu sou corno.
- Eu só queria entender por que. – ela falou entre soluços e o meu coração ficou apertado – Ela não estava ficando com você?
- Estava – eu a abracei mais forte – O problema é que eu também não entendi nada. Ela estava tão... Diferente.
- Eles estavam diferentes. – ela se afastou um pouco e eu pude ver seu rosto vermelho e seu rímel preto escorrendo junto das lágrimas. Fiquei com mais raiva ainda do por tê-la deixado desse jeito e mais nojo de . não merecia estar sofrendo assim. Já eu... Eu merecia.
Infelizmente, eu merecia.

’s POV – dia seguinte

Acordei sentindo uma imensa vontade de vomitar. Levantei correndo da cama, ignorando toda a tontura e a cegueira momentânea que a claridade me deu. Entrei no banheiro e fui até a privada, soltando tudo o que tinha no meu estômago. Sentei no chão frio do banheiro e passei as mãos pela minha cabeça, massageando as minhas têmporas. Que dor de cabeça terrível. Senti novamente uma forte ânsia e me curvei para a privada novamente. Ao dar descarga e sentar no chão novamente, percebi – sim, depois de certo tempo – que estava apenas de calcinha e sutiã. Juntei as sobrancelhas e tentei me lembrar do que tinha acontecido na noite passada, mas nada vinha a minha cabeça. Era tudo um grande branco. Me levantei e lavei o rosto, escovando os dentes em seguida. Entrei no chuveiro e tomei um banho rápido. Assim que terminei, coloquei uma roupa qualquer e sai do meu quarto, descendo as escadas. Estava tudo um completo silêncio. Ao chegar à sala, vi sentado num canto sozinho mexendo no celular. estava na bancada da cozinha, com a cabeça apoiada no braço. estava sentada do lado do e estava em outro canto, com a maior cara de bunda que eu já vi na minha vida. era a única que estava em seu quarto ainda.
Ao entrar no cômodo, todos se voltaram para mim. Acho que era impressão minha, mas um clima tenso se juntou no local.
- Bom dia. – falei. Não obtive resposta. Eles voltaram a fazer o que estavam fazendo antes, ou seja, nada.
Aproximei-me do sofá, me sentando ao lado de . Ao fazer isso, a mesma se levantou e subiu as escadas. Resolvi então me aproximar um pouco de .
- O que deu nela? – novamente não obtive uma resposta. Me irritei. Por que eles estavam me ignorando? – O que vocês têm? Eu hein. Tá todo mundo estranho.
- Você tem certeza que é a gente que tá estranho? – perguntou secamente sem tirar a atenção de seu celular.
Estranhei sua resposta e me virei para . Assustei-me ao encontrá-lo com o olho roxo e com uma ferida debaixo de seu nariz.
- Mas o que aconteceu? – insisti e dessa vez, , que entrou na sala, me respondeu:
- Você não se lembra de nada? – balancei minha cabeça negativamente. Ela respirou fundo e olhou para . Depois, para mim – Vem comigo que eu te explico. – me levantei do sofá e fui até o quarto dela.
Ao adentrarmos o local, eu me sentei em sua cama.
- Eu juro que não me lembro de nada do que aconteceu ontem! Eu só lembro a gente no grupinho com o Jack e depois de ter acordado com enjoo, dor de cabeça e de lingerie.
- Então... – ela se sentou do meu lado – Eu nem sei por onde começar, porque na verdade eu não estava com você quando tudo começou, apenas quando tudo terminou.
- E foi muito ruim?
- Eu acho que não poderia ter sido pior.

Narrador - 3ª pessoa:

se afastou do grupinho onde estavam Jack, seus amigos e suas duas amigas. ficou bêbada facilmente com a ajuda dos três copos de vodka e da maconha. Ela certamente não sabia o que estava fazendo. Saiu à procura de , ou ela achava que estava à procura dele. Caminhou certo tempo esbarrando em pessoas que reclamavam direto. não estava nem um pouco consciente, nem ao menos sabia para onde estava indo. Seus pensamentos já não faziam sentido e suas pernas se mexiam automaticamente.
Após uma longa caminhada, desistiu e voltou para o trajeto da mansão. Passou reto pelo grupo de Jack e ao fundo viu encostado em um muro de alguma outra casa. Ele também estava bem bêbado. Ela foi ao encontro dele.
- Finalmente te encontrei! Onde você estava? – ela perguntou.
- Eu estava com a . – ele respondeu dando de ombros.
- Com a ? – estranhou.
- Sim. – ela ia perguntar o porquê, mas foi interrompida – Eu não estou bem.
- Vamos para casa. – ela o empurrou e o mesmo cambaleou.
- Você fumou? – ele perguntou.
- Sim – começou a rir – É legal.
- Eu também achei legal. – começou a rir também.
- Espera, você fumou? Com quem?
- Foi apenas para experimentar... E foi com o Jack.
- Mas eu também estava com o Jack!
- Não estava não!
- Tá, enfim, vamos para casa, eu sei o que fazer para você se sentir melhor. – sugeriu com um sorriso malicioso no rosto. assentiu retribuindo o sorriso.
Eles entraram na mansão e esbarrando nos móveis, subiram até o quarto de .
- E qual será o método da minha cura? – perguntou e em seguida, foi empurrado por até cair na cama dela.
- O tradicional... – a garota respondeu subindo em cima dele e dando-lhe um selinho. O garoto, a puxou para mais perto dela e aprofundou o beijo. Ambos não sabiam o que estavam fazendo no momento, pois se estivessem sóbrios, não fariam aquilo. Mas esse é o problema: nenhum dos dois estava e eles não conseguiam parar. – Mas vai ter uma coisinha antes.
, que ainda estava em cima de , endireitou-se e tirou sua blusa preta, enquanto sorria olhando no fundo dos olhos dele.
- Ah, você vai fazer o que eu to pensando que você vai fazer? – perguntou enrolando as palavras. apenas piscou um olho e continuou a fazer o que tinha em mente.

’s POV

Aquilo só podia ser mentira. Era mentira. Tem que ser mentira. Por favor, alguém me diz que aquilo era mentira! A minha mente tentava localizar algum vestígio de algo que aconteceu ontem, mas tudo o que tinha era até eu andar sem rumo pela praia. O resto era um branco. Era como se eu tivesse desmaiado naquele momento e acordado hoje. Nenhuma ação, nem mesmo a mínima, entre esses dois momentos estavam na minha memória. Eu não sei se isso é bom ou ruim. Só pode ser mentira.
Eu não poderia ter ficado com . Não poderia. O não pode ter visto. Nem a . O que foi que eu fiz? Por que eu fiz isso? Eu não consigo me lembrar! Que merda! Que grande merda eu fiz.
Naquele momento, eu só conseguia sentir nojo e muito muito muito ódio de mim. Eu estava me sentindo suja. Eu estava me sentindo uma completa puta. Puta e vadia, se é que existe uma diferença. Me joguei na cama de e comecei a chorar. A chorar muito.
- – ela se deitou ao meu lado e me abraçou – eu sei que vai ser difícil, mas você precisa conversar com ele.
- Você não entende! – eu estava soluçando – Era o irmão dele! O irmão! Eles brigaram feio por minha causa! Ele nunca vai me perdoar. – as palavras saiam com dificuldade da minha boca – E ainda tem a ! Como eu pude ser tão... Vadia?
- Para com isso...
- Mas é isso que eu sou! É isso que uma vadia faz! Como eu pude? Como eu pude? – comecei a berrar e bater no colchão, eu estava com muita raiva de mim, muita mesmo – Eu sou uma vadia. Eu não ficaria surpresa se o me chamasse de vadia!
Ao dizer isso, suspirou e começou a entrelaçar seus próprios dedos. Do jeito que eu a conheço, diria que ela estava nervosa e escondendo alguma coisa. - O que foi? – perguntei.
- Sobre o te chamar de vadia... Bem... – ela me olhou com um pouco de medo de me contar o que eu já imaginava – Ele te chamou... E foi na sua frente. – escutar isso foi como se me acertassem com uma faca bem no meu coração. Nada doeu mais do que ouvir isso. Acho que se eu tivesse consciente na hora que ele me chamou de... Bem, eu teria sido bem pior. Mas só de ouvir o relato de , doeu mais do que quando eu fui traída. Doeu muito mais. Talvez porque eu realmente goste do . Talvez porque nós nos conhecemos desde sempre. Talvez porque ele sempre me defendeu dos comentários desse tipo. Ou talvez porque eu realmente seja uma, só não consigo aceitar.
Mais lágrimas – se é que era possível – saíram dos meus olhos e mais soluços da minha boca. me abraçou novamente e eu chorei em seu ombro, molhando toda a sua blusa.
- Desculpa! Eu não deveria ter te contado.
- Deveria sim! Eu mereço! Eu mereço ser xingada de todos os xingamentos existentes nesse planeta! Eu mereço!
- Cala a boca, ! – ela me soltou e começou a me dar uma “bronca” – Você estava fora de si ontem! Você não sabia o que estava fazendo, então não se culpe!
- Mas eu...
- Não me interrompe! Você sabe que não faria isso se estivesse sóbria, então vai lá falar isso pro . Eu não garanto que tudo vai voltar ao normal, mas ele pode entender e te perdoar! Afinal, tem uma explicação para o que aconteceu ontem.
- Mas também tem a !
- Eu já falei com ela. A também.
- E como ela reagiu?
Ele fez uma careta meio “quer mesmo saber?”, então preferi não escutar a resposta.
- Tá vendo? Ela não vai me perdoar e nem ele. Nunca vão!
- Mas não custa tentar! , por favor! Vai falar com ele! Por você, por ele, pelo bem dessa viagem! Não vamos estragar tudo só por causa de uma coisa que nem namoro era... Aliás, eu nem sabia que vocês estavam ficando...
- Pois é! Nós não queríamos que vocês soubessem...
- Por quê? – eu ia começar a explicar, mas ela mesmo não quis ouvir – Ai, depois você me conta. Agora vai lá falar com o . – enxuguei minhas lágrimas e me levantei da cama dela – Mas primeiro, melhora essa carinha. Vai lavar o rosto, prende esse cabelo...
- Quer que eu passe batom também? – perguntei irônica e ela começou a rir.
- Não seria uma má ideia, mas não precisa. – ela me acompanhou até o banheiro e eu lavei meu rosto e prendi meu cabelo num rabo, como ela pediu. – Boa sorte. – ela desejou antes de abrir a porta do quarto pra mim. Desci com o coração na boca, com o cu na mão e com uma grande dor de barriga. Cheguei à sala e só encontrei – graças a Deus ou não – o sentado no sofá.
- Oi. – falei baixinho. Ele não fez questão de se virar pra mim. – Eu... Preciso falar com você. – nenhum gesto. – Por favor.
Ele ficou um tempo sem falar nada, mas depois, sem me olhar, respondeu:
- Eu já sei o que você vai falar.
Bufei irritada e desliguei a televisão que ele estava assistindo, me posicionando na frente dele.
- Não, você não sabe. – disse convicta – Será que você pode deixar o orgulho de lado rapidinho e me escutar?
- Se for pra acabar com isso logo e você sair da minha frente e eu finalmente poder assistir o que eu estava assistindo, sim eu te escuto. – mesmo não sendo a resposta que eu queria, me satisfiz e comecei a falar:
- Primeiramente, eu quero que você saiba que eu não estava sóbria ontem.
- Sim, você vai falar o que eu já sei, nem precisa continuar – ele respondeu impaciente e tentou pegar o controle remoto da minha mão, mas eu afastei.
- Para de ser infantil e me deixa continuar?
- Pra quê? Pra você dizer que você estava bêbada, drogada, sei lá mais o que, que o também tava, que vocês dois não sabiam o que estavam fazendo naquela hora? Que eu deveria considerar pelo menos um pouco o fato de você não estar sóbria e ter feito aquilo comigo sem ter consciência? Pra que eu tenho que ouvir tudo isso? As meninas já me contaram tudo, mas não adianta. Não vai adiantar de porra nenhuma. Isso não justifica.
- Mas isso é a única explicação! – eu não conseguia acreditar que aquela conversa já começara dessa forma. Eu sei que o que eu fiz foi errado, mas poxa, eu não sabia o que eu estava fazendo! - Esse é o problema, ! – ele se levantou do sofá com raiva e isso me fez dar um pulo para trás. – Esse é justamente o problema!
- Por quê? – eu realmente não sabia por que aquele era o problema. Eu achava que ele ia, pelo menos, entender. Eu não esperava que ele me perdoasse, mas sim entendesse.
- Porque você não era assim! – ele soltou a frase com raiva e gritando, fazendo um eco surgir pela casa. Ele ficou alguns segundos respirando alto, como se tivesse controlando o ódio que sentia.
- Como assim?
- Você se tornou uma pessoa totalmente diferente do que você era, . – dessa vez falou com calma e eu continuei com a cara de tacho que eu estava.
- Mas eu não mudei. – eu balancei a cabeça de forma negativa e ele fez o mesmo.
- Você mudou sim! E muito. – ele me olhou nos olhos e eu, pela primeira vez, fiquei muito incomodada – Você se tornou tudo o que você julgava. – o que ele estava falando? Eu continuei quieta numa forma de fazê-lo continuar a falar, o que aconteceu – Você sempre julgou aquelas garotas que viviam nas festas, viviam de bebidas, pegação, você julgava tudo o que era fútil, você odiava todas as pessoas que eram assim, você sempre dizia que nunca ficou ou ia ficar com alguém por ficar, sem ter sentimento, emoção. E o que aconteceu desde que você e o Henry terminaram? Mais festas, mais meninos desconhecidos que você ficava. – eu continuei quieta apenas pensando no que ele estava falando – Sabe, a gente ficou aquele dia depois de irmos à Maui, ficamos várias vezes depois daquele dia e na festa do Jack você não largava dele. Eu me senti um lixo.
- Mas você também ficou com duas garotas...
- E você acha que foi por quê? Eu não aguentei ver você se entregando tão fácil pra um cara que você nunca viu na vida. Um cara que não ia fazer diferença pra você. Sabe, eu nunca imaginei você fazendo uma coisa dessas. Ainda mais quando a gente estava ficando... Eu sei que não tínhamos nada sério, mas pensei que você pelo menos considerasse.
- Mas você também era assim... Você também ficava com várias garotas que nunca via na vida...
- Mas esse sou eu! Você era diferente! Você sempre se incomodou com esse meu jeito, sempre querendo me arranjar uma namorada. E eu sempre adorei esse seu jeito fofo de enxergar as coisas, sabe? Eu sempre adorei essa garota ingênua que você era. Eu sempre adorei aquela .
- Mas foi a das festas que você beijou – não sei por que eu disse isso, apenas saiu da minha boca.
- Exatamente. Mas foi porque eu estava cego. Eu estava cego por você. Não importa o que você fazia, eu sempre enxergava a de antes. A que eu realmente gostava. Mas aos poucos... Aos poucos não, a partir da festa do Jack, eu percebi que você estava mudando. Sabe, ... Nós tivemos uma coisa importante naquele dia. Eu espero que você ainda se lembre. Eu espero que realmente tenha valido algo pra você. – eu sabia muito bem do que ele estava falando.
- É claro que valeu algo pra mim! Como você pode duvidar disso? Foi a minha primeira vez!
- Ah, sei lá! Você mudou tanto, não é mesmo? Uma semana depois já estava se agarrando com o meu irmão.
- Puta que pariu! – agora eu me irritei – Eu já disse que eu estava bêbada!
- E eu já disse que isso não justifica! O fato de você estar bêbada já mostra que você mudou muito. Será que toda essa conversa não foi o suficiente para você entender? Eu não te reconheci ontem. Aquela garota não era você.
- Era uma vadia? – perguntei com a sobrancelha arqueada. Ele deu um passo pra trás e respirou fundo.
- Parecia uma. – ele respondeu convicto olhando nos meus olhos. Lembra quando eu disse que seria muito pior ouvindo da boca dele? Pois é. Realmente foi. Engoli a seco segurando as lágrimas que queriam escapar novamente. Balancei a cabeça como se concordasse com o que ele tinha falado.
- Tá... Tudo bem.
- Era só isso que você tinha pra me falar? – respondi que sim e me virei – Ei – ele me chamou e eu me virei novamente – me devolve o controle? – joguei o controle no sofá e subi as escadas.
Entrei no meu quarto e fechei a porta com força. Me joguei na cama e comecei a chorar tudo o que eu estava segurando desde o começo daquela conversa. Eu me odeio. Como eu pude estragar tudo daquela maneira? E pior que eu sabia que ele estava certo.

Capítulo 20


Capítulo betado por Bhárbara Gomes



Escutei duas batidas na porta e, com um resmungo, mandei a pessoa ir embora sem ao menos saber quem era. reclamou e entrou do mesmo jeito, sentando-se ao meu lado.
- Foi tão ruim assim? – ela ousou perguntar.
- O problema não foi nem eu ter contado, porque ele entendeu. O problema é que ele não perdoa, não aceita como justificativa e ainda falou um monte de merda pra mim. – respondi entre um soluço e outro. passou a mão nas minhas costas. – Merdas que, infelizmente, são verdades.
- Quais merdas?
- Ele começou a dizer que eu mudei, que não me reconhece mais e que gostava da outra .
- Clichê. – ela deu de ombros.
- Clichê, mas é a mais pura verdade! – como doía admitir aquilo. Doía muito mesmo. Eu não queria aceitar que aquilo era verdade.
- Pode até ser, mas...
- Viu? Até você concorda! – eu a interrompi e comecei a chorar mais ainda. – Sabe, sempre me ensinaram que a mentira machuca e que é errado mentir, mas por que quando dizem a verdade para nós, dói tanto a ponto de implorarmos por uma mentira?
Dessa vez, ficou quieta e eu me fechei nos meus pensamentos. Como me odiava naquele momento. Eu sentia nojo, muito nojo mesmo. Raiva. Tristeza. E, principalmente, eu sentia o peso da verdade. Teria eu me tornado tudo o que eu julgava? Se outra pessoa me dissesse isso, eu não me importaria. Mas foi quem me disse. O menino que eu conheço desde os meus inocentes sete anos de idade. O menino que cresceu comigo e que sempre esteve ao meu lado. O menino que eu sentia falta em L.A. O menino que eu queria que estivesse do meu lado, mas estava do outro lado do país. O menino que me fazia rir apenas sendo ele mesmo. O menino que vivia fazendo de tudo para me irritar. O menino que, até pouco tempo, era só o meu melhor amigo, mas, de uma forma extraordinariamente rápida, se tornou quem eu desejava muito mais do que apenas melhor amigo. E eu estava prestes a conseguir, se não houvesse obstáculos, é claro. O problema é que eu criei um dos obstáculos. Os outros seriam facilmente superados se eu não tivesse... Mudado. É essa a palavra que está me atormentando. Outra pessoa. Não é possível. Eu ainda era eu mesma, não era? Não senti diferença. Tudo bem que eu fiz uma grande merda, mas já disse que eu não faria isso se estivesse sóbria. Ou faria? Será que faria?
- Ei! – passou a mão nas minhas costas de uma forma um tanto quanto maternal. – No que você está pensando?
- No quanto eu me odeio. – respondi depois de cinco segundos bufando.
- Para com isso!
- Parar com o quê? – sentei-me na cama. – Eu me odeio! Eu fiz tudo errado. Acabei com algo que nem tinha começado direito, eu...
- O que está acontecendo? – apareceu ao lado do batente da porta com uma feição séria, seguida de uma cara de tédio ao me ver chorando. – Puta merda, ! Você está chorando por quê?
- Por que você acha? – respondi com um sorriso cínico.
- As únicas pessoas que têm razão para chorar, não estão chorando no momento... Então eu realmente não sei por que você está assim. – o meu queixo só não caiu porque eu não tinha forças para isso.
- Você acha que eu não tenho razão para chorar? – perguntei.
- É claro que não! – ela continuou parada na porta, ao contrário do que eu imaginei. – Você só está pagando pelo o que fez ontem. Se pensa que não tem culpa de seus atos, você tem sim! Você tinha plena consciência do que estava fazendo quando decidiu beber e fumar. Sabia muito bem das consequências desses atos. Você é a culpada de tudo!
- Eu?! – levantei-me da cama. – Por que vocês não culpam o também?
- Porque ele reconheceu seus erros! – se aproximou de mim. – Ele sabe que, assim como você, fez algo errado. Ele gosta muito da e ela gosta muito dele, mas ambos sabem que agora eles não vão conseguir nada. Além do fato dele ter apanhado do próprio irmão! Eu não sei o que aconteceu ontem e como aconteceu. Só sei que foi uma grande surpresa, principalmente vindo de você. O que foi? Resolveu se vingar com os outros pelo o que Henry fez contigo? – ela parou de falar por alguns segundos e eu aproveitei para responder, apesar de ser uma pergunta retórica.
- Não! Não era isso que eu queria! Eu só quis... Aproveitar!
- Ok, você pode ter a vontade de aproveitar, mas com um pouco de controle, né? E você estava com o , deveria ter dado atenção pro coitado!
- Eu dei atenção para ele, você que não sabe de nada! – minha voz soou grosseira e com raiva. Como ela podia dizer que eu não dei atenção à ele?
- Deu tanta atenção, que quase deu pro irmão dele, né? – elevou a voz e entrou no quarto. Agora fodeu.
- Tem alguém no quarto ao lado que quer dormir e vocês não estão deixando! – ela reclamou sem olhar para mim e deu meia volta para sair do quarto, quando foi interrompida por :
- Desculpa, eu estou tentando conversar com alguma traidora. – ela se virou para mim. – Em todos os sentidos. – então, ela voltou a olhar para , que agora me encarou. Aproveitei para chamá-la:
- , eu preciso falar com você. – andei até ela, que se virou e andou para o seu quarto – ! – puxei-a pelo braço.
- Me solta! – ela tirou seu braço. – Não me toque e não fale mais comigo! Nunca mais!
- Pelo amor de Deus, você sabe que eu nunca faria isso com você...
- Mas você fez! Agora me dê licença que eu quero dormir. – ela se virou novamente e esbarrou em , que tinha saído de seu quarto. – Ai, era só o que me faltava! Eu não mereço isso.
- , eu estou falando sério! – insisti.
- Eu também estou! Eu não quero falar com você e nem com ele. – e apontou para .
- O que está acontecendo? – subiu as escadas bufando e com um pote de pipoca na mão – Eu quero assistir filme!
A naturalidade que ele apresentava uma situação como essa, me dava mais ódio do que eu já estava sentindo. Depois de tudo o que me disse há quinze minutos, como ele tinha a divina coragem de aparecer naquela discussão? Eu queria dar um soco na cara de cada um que estava na minha frente, mas me controlei. Eu preciso ter modos. Aliás, todos ali estão achando que eu sou a louca da história, mas eu sou apenas uma menina de ressaca tentando entender como, de uma noite para outra, perdi meu melhor amigo (ou seja lá o que ele era meu), o meu outro melhor amigo, minha melhor amiga, discuti feio com outra amiga e ainda terminar com um relacionamento. Tudo em uma maldita noite.
- E eu só quero terminar essa viagem bem! – , que até então estava quieta, se manifestou. – Faltam dois dias para nós voltarmos para Los Angeles e eu não quero ficar dentro dessa casa enquanto todo mundo discute. O que aconteceu, já aconteceu. Se vocês querem resolver algo, não vão conseguir nada agora. Tem muita pessoa com a cabeça quente e vocês estão estressados. Foi tudo muito recente, é só uma questão de tempo até todos se acalmarem e conversarem como pessoas civilizadas. – ela parou para tomar ar, já que tinha falado tudo rápido e sem fazer uma única pausa. – Se vocês me dão licença, eu vou sair para aproveitar o resto da viagem. Quem quiser me acompanhar, me acompanhe. Quem não quiser, o problema é seu. – e então, ela saiu em disparada ao seu quarto e fechou a porta em seguida.
Nós cinco ficamos nos olhando sem falar nada, até que encheu sua mão de pipoca e levou-a até a sua boca.
- Está passando “Harry Potter e as Relíquias da Morte”. – ele comentou com a boca cheia e, em seguida, mastigou as pipocas, fazendo o típico barulho que, naquele momento, me irritou completamente. – Parte 2. – ele continuou, arqueando uma sobrancelha, como se tivesse certeza que pelo menos duas pessoas iriam segui-lo até a sala.
E foi o que aconteceu, já que e – viciadas em Harry Potter – saíram rapidamente daquele corredor sufocante e desceram as escadas, o acompanhando.
Olhei para , que correspondia o olhar. Ele estava com os lábios afastados um do outro, em um curto espaço, como se fosse dizer algo.
- Não fala nada. – pedi calmamente e, ao mesmo tempo, suplicando.
- Tudo bem, – ele me desobedeceu – mas alguma hora alguém vai ter que abrir a boca.
- E precisa ser eu? – perguntei irritada.
- Nós dois. – ele respondeu e voltou para o seu quarto.
Fiquei parada no corredor, sentindo meu olho arder e as malditas – mas agora familiares – lágrimas voltarem.

Sentei no chão do corredor e olhei para o teto. O que aconteceu comigo? Será que eu realmente mudei a ponto de não me reconhecerem mais? Por que o meu subconsciente me fez beijar e fazer mais coisas a ponto de me encontrarem de...? Ai, . Que merda você fez! Só era possível uma coisa: o fato de eu ter ficado bêbada me fez confundir os dois irmãos. Típico, né? Mas eu sei que, apesar de não serem idênticos, nunca confundiria os dois. Nem mesmo se eles realmente fossem idênticos. Além de eu conhecê-los desde sempre, o sempre me deixou mais... Feliz. Animada. Ele sempre me fez bem. Ele é um ótimo amigo, aquele que sempre vai estar com você. Aquele que, apenas sendo ele mesmo, te faz querer viver. Aquele que te faz enxergar a vida e o mundo totalmente diferente do que ele é, sem aquela realidade da violência, da desonra, da ganância e da falsidade.
Deslealdade. Essa palavra ecoava na minha cabeça, me fazendo sentir culpada. Mais culpada ainda. Eles tinham razão. Eu sou a culpada de tudo e quem tinha que resolver esse problema era eu. Mas como? Eu não sei. Parecia que ninguém queria me ouvir. Estavam todos contra mim. Não queria parecer dramática e nem egoísta. Eu sei que existem pessoas por aí com problemas muito maiores que o meu e que tudo isso vai passar... Só espero que não demore muito e nem tire da minha vida. Nem como amigo e nem como... Eu ainda não sei o que tínhamos, mas era especial. Ah, como era. Saudades de um dia atrás. Se eu pudesse, mudaria tudo. Dessa vez, para melhor.

’s POV

Eu não consegui prestar atenção no filme que estava passando. Não sou como e , duas viciadas em Harry Potter e apaixonadas pelo Rony Weasley. Ou Rupert Grint. Sei lá. Na verdade, eu sou viciado e apaixonado por outra pessoa. Infelizmente. E eu não conseguia tirá-la da minha cabeça, mesmo estando com muita raiva dela. aparecia direto em meus pensamentos, cada vez mais bonita e cada vez mais irritante. É normal sentir muito amor e muito ódio de uma pessoa ao mesmo tempo ou será que eu estou me tornando um daqueles caras bem loucos com problemas bastante sérios? É normal sentir nojo de uma garota – não no sentido físico, e sim no sentido de personalidade – e ao mesmo tempo querer beijá-la loucamente? Por favor, alguém me diz que isso é normal? Apesar de eu não querer estar normal. Ou me sentir normal. Eu quero tê-la e a quero longe de mim. Eu quero sentir seu calor e ao mesmo tempo parece que isso vai me sufocar. Eu quero seu corpo colado no meu novamente, quero tê-la em minha cama novamente e ao mesmo tempo quero que ela suma da minha vida e pare de me torturar. Isso tudo é normal? Discutir com ela mais cedo foi horrível e necessário. Cada palavra que saía da minha boca era como uma facada em meu peito e no dela também. Eu sabia que ela não ia aceitar nada do que eu dissesse, assim como eu não ia aceitar nada do que ela me dissesse. Fiu egoísta da minha parte, eu até entendo que ela não estava consciente na hora, mas, como eu disse, se fosse a de antes, nada daquilo teria acontecido. Como eu sentia falta...

Flashback – 7 anos atrás

- Vamos, ! – minha mãe gritava correndo pelo corredor enquanto colocava seus brincos. – Eu não quero chegar atrasada!
- Já estou indo! – eu respondi enquanto amarrava o cadarço do meu all star preto.
já estava com a minha mãe e eles estavam me esperando. Estávamos indo para a festa de aniversário de 10 anos da e eu, como sempre, estava atrasado. Quando terminei de amarrar, desci as escadas correndo e fui até o carro – que já estava fora da garagem.
- Sempre me atrasando, garoto. – minha mãe comentou enquanto eu bufava e entrava no carro. – Você sabe que eu odeio chegar atrasada.
- Mas é a , mãe. Ela não se importa. – tentei acalmá-la.
- É claro que ela se importa! Ela deve estar pensando que vocês não vão à festa dela. Imagina como ela ficaria triste?
- O não ia perder uma festa da nem se quisesse. – me zombou e eu dei um tapa no braço dele.
- , não bate no seu irmão! – minha mãe me olhou pelo espelho retrovisor.
- Mãe, por que o está no banco da frente? Ontem ele também foi!
- Mas você chegou atrasado hoje, então perdeu! – ele riu e eu pensei em dar outro tapa, mas preferi não receber um mais forte da minha mãe depois.

Pegamos um pouco de trânsito – o que não era surpresa, já que era impossível não pegar trânsito numa cidade como Nova York – e isso deixou a minha mãe bem estressada, mas não durou muito. Em dez minutos chegamos à casa de e fomos bem recebidos pelos seus pais. Eles nos avisaram que ela e os nossos amigos estavam no quintal e fomos até lá.

Havia várias crianças – todas da nossa escola e mais algumas da família de – e não foi difícil encontrar nossas amigas: , e . Elas estavam brincando na cama elástica, que foi instalada apenas para a ocasião. Mais para a direita encontrei, finalmente, com um cachorro quente na mão e com a boca toda suja de ketchup, o que combinava com seu vestido vermelho e sua tiara da mesma cor. Quando nos viu, veio correndo em nossa direção.
- Meninos! Eu pensei que vocês não fossem vir! – mais uma vez a teoria da minha mãe estava correta. Mães e essa incrível mania de sempre estarem certas.
- É claro que nós viríamos! O que se atrasou. – explicou
- Como sempre! – revirou os olhos e sorriu em seguida. – Quer cachorro quente? – ela ofereceu depois que
saiu correndo até a cama elástica e nos deixou sozinhos.
- Agora não, obrigado. – fiquei olhando-a dar mais uma mordida em seu cachorro quente e se sujando ainda mais de ketchup. – Sua boca está toda suja.
Ela arregalou os olhos e depois ficou vermelha. Resumindo: o vermelho predominava em naquele dia.
- Ai que vergonha! – ela tentou se limpar com a mão, mas só conseguiu piorar as coisas.
- Espera. – fui até a mesa mais próxima, já que havia várias montadas no extenso quintal, peguei um guardanapo e resolvi a acudir. – Isso daqui vai ajudar bastante. – e, então, eu mesmo limpei a boca dela. Foi meio estranho, mas a minha mãe me ensinou que isso era um ato de cavalheirismo, então eu apenas o fiz. Tirei todo o ketchup do rosto dela, mas ele ainda permaneceu vermelho, enquanto me olhava de um jeito tímido.
- Eu sei me limpar, sabia? – ela perguntou segurando a risada.
- Ah, para, eu nunca mais vou tentar ser cavalheiro com você. – eu fingi que fiquei irritado e joguei o papel na mesa de novo.
- Ah, seu bobo! – ela bateu de leve no meu braço – Foi superfofo. Obrigada!
- Disponha. – respondi e fiquei um tempo quieto. – Mentira, não disponha não, porque eu realmente não vou fazer isso de novo.
- É bem a sua cara mesmo. – ela respondeu me entregando o último pedaço do seu cachorro quente. – Por isso não vou comer mais, porque não vai ter ninguém pra limpar minha boca depois.
- Tudo bem então. – respondi dando de ombros e comendo o pedaço que ela me deu.
- Vem. – ela segurou a minha mão e, dessa vez, eu que fiquei com vergonha. – Vamos para a cama elástica. – ela me puxou até o local onde estava com as meninas. – O permitido são apenas duas pessoas por vez, mas ninguém precisa saber. – ela sussurrou no meu ouvido e eu ri. Entrei na cama elástica e quase morri pisoteado, sem conseguir ficar em pé. Depois que eu consegui dar meus primeiros pulos, começou uma guerra para ver quem caia primeiro.

No final da festa, sobraram apenas eu, a e o . Ele estava devorando o que restou da mesa de doces, enquanto eu e ficamos do lado de fora, numa rede que tinha lá.
- Você vai sentir falta dos meus atos de cavalheirismo? – perguntei.
- Com certeza. – ela olhou para cima. – Não é todo dia que alguém limpa a sua boca, né? – Eu comecei a rir e concordei. – Mas eu quero que o meu futuro namorado seja assim. – ela comentou ainda olhando para cima. – Namorado não, marido. Será que ele vai ser assim?
- Se ele gostar mesmo de você, eu acho que sim. – respondi me sentindo totalmente adulto.
Não precisei pensar muito nessa resposta, mas pelo jeito ela saiu realmente muito madura.
- Então espero que o meu futuro namorado e futuro marido seja cavalheiro e limpe a minha boca.
- Será que eu sou seu futuro namorado e futuro marido e você ainda não sabe? – perguntei sabendo que era uma brincadeira e que ela ia me chamar de idiota ou ia me empurrar da rede.
E foi o que aconteceu.
- Claro que não!
- E por que não? – perguntei parando na frente dela.
- Porque você já é o meu melhor amigo e isso já é o suficiente.

Capítulo 21


Capítulo betado por Bhárbara Gomes



Os dois dias passaram extremamente devagar. Parecia que as horas estavam com preguiça de trabalhar. Foram as mais longas e torturantes 48 horas, 5.760 minutos e 686.400 segundos da minha vida. Sem contar que 5 dessas 48 horas foram dentro de um avião, o que fez essas horas finais serem mais longas do que as outras 43. Resumindo: foi um processo demorado até eu me livrar de . Quer dizer, da presença de ... Porque a em pessoa não saia da minha cabeça. Adivinha em qual lugar me colocaram no avião? Exatamente. Ao lado dela. Ela fez a questão de trocar de lugar. Eu a agradeci por ter tomado essa atitude, pois, senão, eu iria fazê-la. Mas já que ela fez, soou meio maduro da minha parte. Se eu tivesse trocado de lugar, iria sair como infantil na história – apesar de eu ser totalmente a favor de não tê-la ao meu lado. Quer dizer... Eu estava tentando não querer tê-la ao meu lado.
Tirando isso, vamos voltar ao fato de eu ter chegado em casa e minha mãe estar com o meu pai – sim, os dois juntos – nos esperando. Deparei-me com várias perguntas que eu não estava com nem um por cento da mínima paciência para responder. “Meninos, meus filhos, como foi a viagem?”, “Aproveitaram bastante?”, “Como estão as meninas?”. Nessa última, eu tive que segurar a imensa vontade de revirar os olhos, resmungar algo e soltar alguns bons palavrões. Meu pai apenas me ajudou com as malas, enquanto minha mãe me enchia de abraços e beijos. Apesar de eu estar sem paciência, ainda tinha dez por cento de mim que morria de saudades da minha velha.
A noite se resumiu em uma boa conversa sobre a viagem. Eu e tentamos ao máximo agir normalmente, como se eu não tivesse batido nele – ainda não me decidi se me arrependo ou não – e escondemos vários fatos sobre a viagem como, por exemplo, o dia em que eu fiquei bêbado e... Bem, vocês já sabem como essa história termina.

O jantar foi uma bela macarronada preparada pela nossa mãe. Ah, comida caseira. Comida de mãe. Existe algo melhor? Com certeza o Havaí não é capaz de proporcionar esse tipo de prazer. Era uma família normal ali? Meu pai e a minha mãe sentados lado a lado, eu e meu irmão sentados lado a lado... Até parecia que as respectivas duplas não estavam psicologicamente (e legalmente, no caso dos meus pais) separados. Conversávamos como uma família normal. Apenas dois pais querendo saber de uma viagem que aparentava ter terminado de um jeito feliz. Só aparentava mesmo.
Ao terminarmos o jantar, subi para o meu quarto e, ao som de Pearl Jam, esvaziei a minha mala e guardei tudo o que precisava ser guardado. Ignorei o fato de eu estar cansado. Se eu parasse para deitar naquela hora, com certeza pensaria em uma só coisa... E essa coisa é exatamente aquilo que eu estava evitando.
Joguei-me na cama ao ver que tudo estava em seu determinado lugar. Deu um minuto desde então e meu celular começou a tocar. Era Melissa. Essa menina ainda existia?
- Alô? – perguntei sem ter um motivo concreto.
A partir do momento em que existe o identificador, acho que os “alôs” podem ser substituídos por “oi”, mas, naquele caso e no meu estado, a substituição não iria acontecer.
- Quer dizer que você volta de viagem e não vem falar comigo?
Como ela sabia que eu tinha voltado de viagem?
- Mas eu acabei de chegar, Melissa...
- Justamente! – ela gritou e eu tive que afastar a aparelho do meu ouvido – Não estou te obrigando a vir aqui, você deve estar bem cansado...
- É, eu realmente não iria. – fui sincero. Já disse que estava sem paciência? – Aliás, como você já sabe que eu cheguei?
- Acabei de ver a com a família dela num restaurante. Aliás, ela tá bem acabadinha hein, o que aconteceu com a coitada?
Respirei fundo pra não xingar a Melissa e a num mesmo palavrão.
- Não sei, pergunta pra ela. – respondi fechando os olhos.
- Algum problema com você, ? – franzi a testa.
- Por que ela teria algum problema comigo? – respondi prontamente.
- Não estou falando dela! Estou perguntando se você tem algum problema?
Ah, é claro. Parabéns, .
- Na verdade, não. – menti. – Estou com sono.
- Eu entendo... – ela ficou um tempo sem responder, mas depois a voz melosa voltou. – Bom, nos vemos amanhã então?
Respirei fundo de novo.
- Sim.
- Ok, então! Estou morrendo de saudades!
- Eu também... – ultimamente eu estou bom em mentir, hein.
- Beijo! Eu te amo.
- Eu também. – respondi. Nada de “eu também te amo”. Chega.
Joguei o celular em um canto qualquer da minha cama e coloquei os braços sobre a minha cabeça. Não demorou muito tempo até eu cair em um sono profundo.

’s POV

A recepção ao chegar em casa foi justamente como eu não esperava: minha família toda estava lá. Eu fiquei impressionada com aquilo. Não era como se eu tivesse saído em intercâmbio durante um ano. Eu apenas estava voltando de uma simples viagem. Ok, de simples aquela viagem não tinha nada, mas, ainda assim, foram apenas duas semanas.
- Vamos sair para jantar! – minha mãe avisou.
- Agora? Eu estou supercansada. – reclamei
- Deixe de ser tão mal educada, ! Suas tias, seus primos e seus avós estão aqui!
- Só não sei o por quê. – sussurrei alto o bastante para minha mãe ouvir e me dar uma cotovelada. – Aonde vamos? – Forcei um sorriso
- Na sua pizzaria favorita.
Até que não era uma má ideia... Se eu não estivesse sem um pingo de fome.

Ao chegar lá, sentamos numa mesa grande, bem no centro do local, que era relativamente chique para uma garota como eu estar vestida de calça jeans, moletom e all star. Mas vamos considerar que eu não estava em um bom dia. Nem em um bom humor.
Para melhorar tudo, alguns minutos depois, pensei ter visto um rosto conhecido e muito desprezado pela minha pessoa, mas resolvi ignorar. Por um mísero tempo. Após a pessoa sentar-se numa mesa à frente, percebi que realmente era um rosto conhecido e muito desprezado por mim. Era ninguém mais e ninguém menos que Melissa. Ah, era tudo o que eu precisava, não é mesmo? Melhor seria se eu estivesse arrumada e bonita, mas isso era algo que eu realmente não estava. Será que ela já falou com o ? O que será que eles conversaram? Por que ela não para de olhar para mim? Talvez seja porque eu não paro de olhar para ela enquanto faço perguntas sem nexo? Sim, talvez.
Resolvi prestar atenção para o cardápio, sem me interessar por nenhum sabor. Deixei os outros escolherem e voltei a minha atenção para Melissa, que estava linda em seu vestido preto tomara que caia. Ah, vadia. Pelo menos ela não fez nada que desapontasse o namorado dela. Ouvi minha consciência dizer.
- Preciso ir ao banheiro. – avisei e sai da mesa rapidamente.
Cheguei lá e lavei meu rosto. Eu realmente estava acabada. Tirei o moletom, mostrando a minha regata preta. Continuava nada chique, mas melhor do que antes. Prendi meu cabelo num coque e depois bufei.
- Por que estou fazendo isso? – perguntei para mim mesma.
Simplesmente pelo fato de eu querer competir com a Melissa. Mas por quê? Ela nem sabe de nada do que aconteceu e o nem gosta dela. Eu acho. Mas, naquele momento, aquilo parecia fazer sentido. Coisa de mulher.
Saí do banheiro e voltei para minha mesa, sentindo olhares da mesa da frente. Retribuí na cara de pau mesmo e Melissa sorriu para mim. Sorri de volta, sem mostrar os dentes.
- Alguém que você conhece? – minha avó perguntou.
- Sim, ela é a... – meu coração apertou ao me deparar com a realidade. – Ela é a namorada do .
- Ela é muito bonita. é um garoto de sorte.
- Sim... Ele é. – dei um sorriso frouxo e em seguida a pizza chegou.
Peguei um pedaço para mim, mas não comi nem a metade.

Três dias se passaram desde então. Eu ainda não conseguia comer uma refeição completa e não conseguia nem levantar da cama. Não falava com ninguém, só saia do quarto para ir à cozinha pegar bolacha, que era a única coisa que eu comia. Minha mãe chegou a me perguntar se estava tudo bem e quase chorou ao me ver naquele estado. Eu não tinha contado o que havia acontecido.
No terceiro dia, à tarde, a campainha tocou. Meu pai avisou que ia atender. Escutei uma voz familiar que, por algum momento, me proporcionou felicidade. Alguns segundos depois, alguém abriu a porta do meu quarto e esse alguém era .
- ! – me levantei da cama. – O que você faz aqui?
- Não conta pra sua mãe que eu te contei, mas ela me ligou e pediu para ver o que tem de errado com você.
- Acho que eu não preciso te dizer, né?
- Não mesmo. Pra mim essa história já deu. – ela se jogou na minha cama. – Ainda não entendi por que ele reagiu daquela forma... Eu nem sabia que vocês estavam juntos. Eu realmente não suspeitava de nada.
- Nós preferimos guardar segredo. Eu não queria que vocês me enchessem muito o saco por causa daquele dia na festa do Jack, que eu beijei “de mentira” o .
- Nossa, verdade! – ela estalou os dedos. – Eu tinha até esquecido disso...
- Pois é... E ele tinha medo que vocês o julgassem por trair a Melissa.
- Ah, mas isso era óbvio que ia acontecer.
- Eu sei, mas não era óbvio que ele ia trair a Melissa comigo.
- É, realmente... Um pouco estranho. – ela analisou. – Mas me conta isso direito, como foi que isso começou?
- Ah... – deitei-me ao lado dela. – Depois daquele dia, a gente acabou ficando mais algumas vezes e... Sabe quando vocês nos largaram sozinhos na festa do Jack? – ela assentiu. – Então... Naquele dia aconteceu uma coisa...
- Que coisa? – ela arqueou a sobrancelha.
- Aquela coisa... – eu tentei, mas ainda me olhava confusa. – ...
- Que coisa? – ela repetiu a pergunta.
- Eu... Dormi com ele. – soltei logo de uma vez e só consegui ver abrindo uma cratera no chão com o queixo dela.
- Espera um pouco... – ela se levantou. – Quer dizer então que vocês dois transaram?!
- Dá pra ser um pouco mais sensível e falar mais baixo?
- Ai, ... – ela começou a rir. – Deixa de ser assim! É uma coisa normal.
- Não é normal quando é o seu amigo de infância.
- Ok, mas continua a história... – ela se deitou de novo.
- Foi só isso... Depois teve o maldito luau e... Fodeu tudo.
Voltei com a minha feição triste e suspirei. esticou o braço para me abraçar e, sem nem pensar, chorei de novo.
- ... Vai ficar tudo bem... Vocês dois vão se desculpar um dia, eu tenho certeza. Vocês se conhecem há tanto tempo, são amigos há tanto tempo... Não deixe que isso estrague tudo. – eu a abracei mais forte e chorei compulsivamente.
- , eu o amo. – me escutei falando aquela simples frase que significava algo complexo. Apesar de eu já ter falado para que o amava, sempre foi no sentido de amizade. Agora, ia muito mais além. Era aquele tipo de amor que você ouve falar a sua vida inteira e passa por ela esperando conhecê-lo. Ninguém nunca contou que ia ser difícil. Me senti obrigada a repetir: – Eu o amo. – me abraçou mais forte e passou a mão em meu cabelo.
- Eu vou dormir aqui hoje.

’s POV

Encontrei-me algumas vezes com Melissa e em todas foi a mesma coisa automática: chego, dou carona, vamos para um restaurante, comemos, nos beijamos, comemos, nos beijamos, saímos do restaurante, a deixo em casa, volto com cara de insatisfeito e vou dormir.
Eu e o estávamos voltando a conversar, afinal, somos irmãos e mais cedo ou tarde isso iria acontecer. Ao chegar da minha última saída com Melissa, ele veio me questionar:
- Por que você não termina logo com ela? – suspirei e passei a mão em meu cabelo.
- Porque eu sou um covarde e não tenho coragem. – assumi.
- Mas você não gosta dela. Pensa comigo... Você não precisa concordar, mas está enganando a Melissa e ao mesmo tempo está se torturando. Você nunca teve problemas em terminar com uma garota, por que teria problemas em terminar com ela?
- Eu não sei... – eu estava me incomodando muito com as coisas que passavam em minha cabeça para pensar num motivo, até que falei a verdade. – Eu estou a usando como distração... Eu sei que isso é horrível, mas...
- , existem outras formas de distração, sabia?
Eu tinha certeza que não ia concordar comigo, afinal, ele é o oposto de mim e é totalmente um gentleman com as garotas. Já eu... Eu só sei ficar e depois largar.
- Eu sei disso, eu sei disso.
- Então por que você continua usando-a? Eu sei que você quer se distrair por causa de uma pessoa, mas quanto mais você se esconder dela, mais difícil fica.
Comecei a pensar nas palavras dele. Realmente, eu não podia me esconder da , ainda mais com a Melissa. Isso mostrava que eu não me importava com ela, mas eu estaria me enganando. Que complicado.
saiu do quarto e me deixou sozinho. Eu mergulhei em meus pensamentos confusos e percebi que estava sendo um idiota. Tanto com Melissa quanto comigo mesmo. Aliás, eu não aguentava mais aquela garota com os mesmos assuntos chatos de menina mimada. Por fim, concordei que eu realmente precisava terminar com ela. Afinal, eu sou o . Nunca fui de ficar com uma garota por muito tempo e não seria Melissa (e nem ) que iriam mudar isso.


Capítulo 22


Fazia exatamente uma semana desde terminei com Melissa. Ou melhor, desde eu me livrei de um problema. Não sei dizer ao certo se ela reagiu bem ou mal, mas eu me sinto parcialmente bem. Para dizer a verdade, as coisas já estavam voltando ao normal. Eu e “esquecemos” tudo o que aconteceu, relevamos e agora voltamos a conversar como dois irmãos normais. Eu estava solteiro novamente. E ele também, mas nossos corações já estavam ocupados. E isso, tanto para ele, como pra mim, era algo ruim. Não sabíamos se aquela parte ia voltar ao normal. Desde que chegamos de viagem, não saímos com a galera. Não nos vemos mais, não falamos mais um com o outro. Quer dizer, até falamos. Eu falo com a e com a . O fala com e . A fala com todos, até com . Aliás, eu acho que ela é a única que ainda fala com ela, mas nada mais de todos estarem conversando juntos, novamente. Isso estava me deprimindo, muito. Outra coisa também me deprimia.
Eu estava sentado numa cadeira do lado de fora da minha casa, onde ficava a piscina. O dia estava frio para o verão e nublado e eu me encontrava no maior dos meus tédios. Do lado de dentro da minha casa, era possível ouvir a minha mãe falando no telefone enquanto a televisão estava ligada em algum canal de culinária. Meu irmão estava no andar de cima, em seu quarto, provavelmente no mesmo estado que eu.
Continuei observando as nuvens, que se encontravam num céu parcialmente escuro, já que estava anoitecendo. Era bem a característica de um dia tedioso. Minha mãe desligou o telefone rindo e em seguida gritou:
- Meninos, vão se arrumar! – revirei os olhos. Apesar de eu estar entediado, preferia continuar entediado a sair.
- Aonde nós vamos? – perguntei, entrando na sala.
- Até a casa da . – parei do meio do caminho. Arqueei uma sobrancelha e a minha mãe ficou me olhando confusa. – O que foi?
- O que nós vamos fazer lá? – perguntei sem fingir um tom curioso, demonstrando a minha falta de vontade de ir justo àquele lugar.
- Nós vamos jantar lá, ué – ela respondeu como se fosse óbvio. Não mãe, não era óbvio. – A mãe dela nos convidou e eu aceitei, qual o problema?
- Nenhum problema, não... – respondi forçando um sorriso.
- Então chama o seu irmão e vá se arrumar.
Assenti e subi correndo, – sério mesmo, quase caí da escada, eu estava desesperado – entrando no quarto de quase derrubando a porta dele.
- Porra! Que susto! – ele gritou.
- Susto você vai levar quando descobrir aonde nós vamos hoje. – ele esperou eu responder, como se eu fosse dar um tempo pra ele adivinhar. Nossa, eu tava parecendo uma garota contando uma fofoca – Nós vamos jantar na casa da ! – fingi um entusiasmo e o fez a mesma cara que eu devo ter feito quando a minha mãe me contou sobre.
- Sério? – ele arregalou os olhos e eu balancei a cabeça positivamente – Isso vai ser interessante.
Interessante? Aquilo ia ser muito mais que interessante. Eu não sabia se eu estava desesperado ou se estava animado. Um pouco dos dois. Saí em disparada para o meu quarto e fui correndo tomar banho. Comecei a rir da minha situação e pensar no quão patético eu estava sendo. Foda-se. Eu ia à casa da . Não só eu, como o também. Vou repetir: isso vai ser muito mais que interessante.

Quando já estávamos chegando ao nosso destino – e que destino – eu comecei a ficar nervoso. Eu realmente não sabia se aquilo ia ser muito bom ou muito, MUITO MESMO, ruim. Qualquer uma das duas opções me assustava.
Minha mãe estacionou o carro do lado do carro da mãe de . Saímos de lá, fomos até a porta e tocamos a campainha. O pai dela atendeu e veio nos cumprimentar.
- E aí, meninos! Quanto tempo, hein? – assentimos e em seguida ele cumprimentou a nossa mãe. A mãe dela veio falar com nós.
- Oi, meninos! – ela me abraçou e depois fez o mesmo com – A está lá no quarto dela, acho que ela nem sabe que vocês vieram! – ela riu baixo e eu também. – Vão lá dar a surpresa.
- Ah, mas vai ser uma bela de uma surpresa! – comentou sarcástico, e eu segurei a risada.
Estávamos subindo as escadas, quando meu irmão parou de repente e indagou:
- Você vai mesmo falar com a ?
- Sei lá, eu estou subindo pra eles não nos questionarem depois. – terminei de subir o resto da escada e cheguei ao corredor - Eles vão achar estranho se a gente ficar lá embaixo. – eu ia falar mais alguma coisa, quando escutei o som de um violão vindo do quarto de . Pedi pro fazer silêncio, mesmo quando ele já estava fazendo. Aproximei-me de mansinho até a porta do quarto dela e pude identificar que ela estava cantando uma música.
(N/A: Essa música realmente existe, se quiserem escutar se chama Empty Handed, da Lea Michele , mas vamos fingir que na fic ela NÃO existe, beleza?)

If I came to you empty handed
A barren ocean
With nothing at all
And if I came to you empty hearted
Searching for pieces
After the fall


Ela parou de tocar e xingou baixinho. Sorri com o ato e ela repetiu esse verso. Pelo o que eu entendi, ela estava compondo uma música.

All I've ever known is how to hide a secret


Novamente uma pausa, dessa vez curta, e ela prosseguiu:

But I'm tired of going on without believing
That love is not illusion, love illuminates the blind
If I fell into you, would it be close enough?
If I finally let you in, would you show me what love is?
If I had nothing to give

Eu comecei a prestar atenção na letra e, honestamente, achei muito linda. Senti vontade de entrar no quarto, mas não ousei. Ela continuou tocando. A música já estava pronta.

If you came to me empty handed
I'd brave your ocean to bring you home
And if you came to me empty hearted
I'll find the pieces to make you whole
If I fell into you, would it be close enough?
If I finally let you in, would you show me where love is?
If I had nothing to give


A voz dela saía tão perfeita e calma, eu estava vidrado naquilo e eu não conseguia pensar em mais nada. Era como se tudo estivesse sumido e só existisse eu, a melodia e a voz da . Apenas isso.

If I am a promise
Will you let me break again?
I will be your compass, I will only let you bend

Depois desse verso, eu não consegui me segurar. Imaginei que o iria rir de mim na hora, se já não estivesse rindo da minha cara de bobo apaixonado que eu devia estar fazendo. Entrei no quarto dela e ela, devido ao susto, deu um pulo. Eu imediatamente comecei a rir.
- Puta merda! – ela colocou uma mão no rosto e outro no peito – Que susto! – e eu não consegui parar de rir. – O que você está fazendo aqui?
- Não está sabendo não? – perguntei depois de parar de rir – Sua mãe chamou a minha mãe para jantar aqui. – Eu realmente acho que ela não sabia de nada. Ela estava de shorts jeans e um moletom cinza tão grande que fazia parecer que ela não estava usando shorts. O que me deixou mais bobo ainda, só pra constar.
- Não, não fiquei sabendo... – em seguida o entrou no quarto e percebi que a cara dela foi de mal a pior. Segurei a risada, antes que ela me batesse, ou algo do tipo. – Ah, é claro. Você também veio.
- É... Ia ser meio difícil eu não vir, né? – comentou, novamente sendo sarcástico. Eu já estava roxo de tanto segurar a risada.
respirou fundo e guardou seu violão no suporte.
- Fiquem à vontade, ok? – ela se sentou na sua cama com um livro na mão. Eu estava me decidindo entre olhar as pernas dela ou o seu pescoço, ambos estavam descobertos. Ela estava de coque.
- Você não vai nos recepcionar, não? – perguntei.
- Acho que vocês já conhecem bem a casa, não será preciso. – ela respondeu grosseiramente sem tirar o olho do livro. Duvidei que ela estava lendo de verdade. Eu conheço a , só estava fingindo que não se importava. Assim como eu. Mas vamos deixar essa parte de lado.
- É verdade, conhecemos. Chegamos até aqui, certo? – me aproximei da cama dela e eu pude ver que seu olhar subiu um pouquinho acima do livro, para ver até onde eu ia chegar. – Aliás, eu ouvi você tocando. Muito bonita a música.
Ela abaixou o livro e pela primeira vez no dia, me olhou nos olhos. Senti uma pontada no meu coração. Que coisa gay. Mas eu não ligava.
- Sério? – ela perguntou serenamente, como uma criancinha que acaba de descobrir que o papai Noel não existe. Fiz que sim com a cabeça e ela abaixou a sua, sorrindo timidamente. Naquele momento tive que me controlar para não esquecer todo o ódio que eu senti há alguns dias e agarrá-la na frente do meu irmão mesmo. Ele já fez a mesma coisa. Tá, não vamos falar sobre isso agora. – Que bom que você gostou... Era importante você gostar dessa música.
Meu coração que já tinha dado uma pontada, agora deu duas e começou a bater rápido. Mas que coisa, o que estava acontecendo comigo? Nunca me senti assim.
- Por que era importante eu gostar? – minha curiosidade falou mais alto. Eu não queria perguntar, mas...
Ela ia me responder, mas a mãe dela apareceu na porta.
- Meninos, o jantar está pronto! – ela avisou e rapidamente a seguiu.
Eu e o ficamos ainda um tempo no quarto dela.
- Você está realmente gostando dela, hein. – comentou dando tapinhas nas minhas costas – Só não esquece que você está com raiva.
- Eu cheguei perto de esquecer, mas não vou. – me virei e sai do local, descendo as escadas e indo até a sala de jantar.
A mesa estava posta e a janta seria lasanha. O pai de sentou na ponta. A mãe dela sentou ao lado da minha e eu sentei do lado do , que acabou sendo na frente de .
- Podem se servir! – o pai avisou, já pegando um pedaço da lasanha, que estava com um cheiro muito bom.
Peguei um pedaço para mim e não demorei para dar a primeira garfada. Estava muito boa mesmo. Lasanha é comida enviada do paraíso. Me distraía com a obra divina, quando a minha mãe resolveu fazer a pergunta que eu estava temendo:
- Contem sobre a viagem! Esses daí – e apontou para mim e para o – não me contaram quase nada.
continuou quieta, brincando com a comida. também. Legal mesmo é que eu tenho que fazer tudo! Adoro.
- Ah... – pensa rápido – Foi legalzinha. – os dois concordaram e depois continuaram quietos.
- Isso nós já sabemos – a mãe dela riu – mas contem os detalhes. O que vocês fizeram de bom lá?
Limpei a garganta e estava me preparando para responder algo, quando me interrompeu:
- Fomos para algumas festas, andamos de stand up, muita praia e só. – ela deu de ombros e colocou um pedaço de sua lasanha na boca.
- E você, ? – a mãe dela começou – Como vão as coisas com a... Melissa? É esse o nome dela?
- Sim, é esse e nós terminamos. – na hora que eu respondi, deixou o talher cair e bater no prato e me encarou.
- Vocês terminaram? – ela perguntou.
- Sim, já faz uma semana.
- Ah... Que coisa. – ela disfarçou e comeu outro pedaço da lasanha.
O resto da conversa foi sobre assuntos cotidianos e eu me peguei observando . Eu percebi que sentia saudades dela. Eu não podia negar que, apesar de sentir raiva dela ela, – mais pelo o que aconteceu, do que dela – eu ainda sentia muita vontade de tê-la novamente. Em um momento, ela retribuiu o olhar e me pegou a encarando. Ela sorriu torto e abaixou o olhar. Controle-se, . Controle-se.
O resto da noite foi bem tranquila. Eu só falava o necessário com a e ela o mesmo comigo. Mais tarde foi servida a sobremesa, que foi uma torta de morango. Mas havia um porém: minha mãe e os pais de eram super amigos. Eles não iam embora tão cedo como eu queria. Me vi obrigado a subir para o quarto de novamente, se não eles iriam suspeitar.
Entrei no cômodo e estava falando no telefone.
- Ai, , depois eu te ligo. – ela falou rapidamente assim que me viu. O estava no banheiro.
- Você pode continuar conversando, sabia? Não vou nem te escutar. Só estou aqui pra fingir pros nossos pais que está tudo bem.
- Eu o mesmo. – ela pegou o tal livro novamente e começou a ler.
- Para de fingir que está lendo esse livro – tirei o livro da mão dela. Eu queria jogar sujo e ao mesmo tempo matar um pouco a saudade. Me aproximei muito dela, ao ponto de sentir sua respiração quente chocar-se com a minha. – eu sei que você não está prestando atenção.
Ela ficou um tempo me olhando nos olhos e depois abaixou o olhar para a minha boca, que estava muito próxima da sua. Ela soltou um ar quente, aumentando a minha vontade de beijá-la. Infelizmente, ela também sabia jogar. Ela conseguiu se aproximar mais ainda, sobrando apenas um milímetro de distância entre os nossos lábios e eu já podia sentir os dois se roçando.
- Para de se fingir de durão que eu paro de fingir que estou lendo. – e em seguida, fez a maldita questão de morder o meu lábio. SIM! ELA MORDEU O MEU LÁBIO! Eu tive que juntar todas as forças possíveis para não beijá-la com toda a vontade que eu estava sentindo naquele momento. Ela abriu seu livro novamente e se afastou de mim – Capítulo quinze. – leu em voz alta. – Esse parece ser emocionante.
Fiquei um tempo parado só a observando. Foi quando entrou no quarto que eu me recompus.

Depois de uma hora de tortura naquele quarto, minha mãe finalmente decidiu ir embora.
Assim que chegamos em casa, eu subi para o meu quarto e me seguiu.
- , aquela menina vai me deixar louco! – eu gritei assim que estávamos sozinhos.
- Eu percebi! Que porra aconteceu enquanto eu estava no banheiro?
- Não sei, só sei que eu preciso me concentrar e muito. Eu não posso ceder, o que ela fez, o que ela me disse me impede. – respirei fundo e passei a mão nos meus cabelos, puxando-os em seguida – Eu estou sofrendo.

’s POV

O que aconteceu essa noite? Meu senhor. Eu sabia muito bem que o só estava jogando, ele provavelmente pensara que eu ia ceder fácil, mas eu não ia. Eu não ia fazer o que ele queria. Ele não estava com raiva de mim? Ele não tinha me chamado de vadia? Por que eu iria agir como uma para ele? Eu não iria.
Além disso, existe o fato de eu realmente só estar fingindo que não me importava. Por dentro, eu ainda estava totalmente acabada e aquela visita só piorou tudo. Eu ainda tinha medo de o perder e não sabia se o que aconteceu ia melhorar ou piorar a situação.

No dia seguinte, recebi outra visita inesperada. Dessa vez foi de . Eu estava sozinha em casa e não sabia se isso era bom ou ruim.
- Oi – disse assim que abri a porta para ela.
- Precisamos conversar. – foi a primeira coisa que ela disse.
- Eu sei. – me afastei da porta – Entra.
Ela assentiu e eu a acompanhei até a sala.
- Então... – ela se sentou – eu vim aqui, sem ninguém me pedir, eu juro, para tentar resolver logo esse problema de vez. – assenti e ela prosseguiu – Soube que o e o voltaram a se falar e pensei ‘Bem, por que eu não converso com a ?’
- Sim, eles estão conversando, mas como você ficou sabendo?
- Isso a me contou... – ela confessou dando uma leve risada – Mas agora eu quero saber o que aconteceu, quero ouvir a sua versão da história. Mas eu só peço uma única coisa, você me promete que vai fazê-la?
- É claro! – respondi com sinceridade. Eu faria qualquer coisa para ter como a minha amiga de novo.
- Só me prometa que você vai me contar exatamente tudo o que você lembra e com total sinceridade, sem me esconder nada?
- Prometo! – e então ela me deixou começar – Bem, o que eu lembro foi que a me ofereceu algumas bebidas e eu aceitei, apenas por aceitar. E depois eu experimentei maconha e depois disso, tudo começou a ficar confuso. – eu forçava a minha mente numa tentativa de alguma cena aparecer em minha memória – Eu me lembro de andar pelo mar e depois disso, mais nada.
- Nada mesmo?
- Nada. Eu só tenho alguns flashes na praia ainda, mas nada de quando eu estava na mansão, mas pelo o que a me contou, eu fiquei totalmente sem noção do que eu fazia e pode ser que eu... sei lá, tenha confundido o com o , a minha cabeça estava bem doida.
Ela concordou e ficou um tempo pensando.
- E sobre o ? Você lembra alguma coisa?
- Dele não... Eu juro. – vi que ela fechou a cara, formando uma expressão de tristeza – , agora eu posso te pedir uma coisa? E você promete que vai fazê-la?
- Pode... – ela respondeu baixinho.
- Você me promete que agora mesmo vai pra casa do e vai falar com ele? – ela olhou para mim pronta para dizer algo, mas eu não deixei – Ele gosta muito de você e eu sei que ele não faria nada para te machucar, nada. Eu sei que ele deve estar sofrendo assim como eu estou com essa história, assim como você também está. Por favor, me promete que você vai falar com ele assim que sair daqui?
- Eu... – ela pareceu meio insegura – Eu prometo.
- Agora me promete também que você nunca vai mudar? Nunca vai deixar de ser essa garota fofa e meiga, que se preocupa com os outros, com esse jeitinho louco de ser? Nunca mude, por ninguém, porque foi essa que fez o se apaixonar. Foi essa que eu quis como amiga e ainda quero. É essa que combina com você – eu senti algumas lágrimas escorrerem pelo meu rosto – Por favor, me promete essas duas coisas?
- Prometo – ela disse com convicção enquanto chorava também. Em seguida, eu a abracei fortemente. – Eu te amo, sério.
- Eu também! Me desculpa por tudo! Você é muito importante para mim! – as lágrimas insistam em sair e foi assim que eu resolvi parte de um problema.
Depois disso, foi direto para a casa dos gêmeos. E eu comecei a torcer por ela. Pelo menos alguém tem que sair feliz nessa história.

’s POV

Eu e o estávamos assistindo um programa qualquer na TV, quando a campainha tocou.
- Ah... – reclamei. – Atende aí, vai.
resmungou algo que eu não entendi e foi até a porta. Olhou no olho mágico e virou brutalmente.
- O que foi? - perguntei.
- É a ! – ele arregalou os olhos e eu comecei a rir. – Como eu estou? Estou legal?
- Tá – comecei a rir mais ainda – abre logo a porta.
Ele finalmente abriu a porta e apareceu com uma cara meio insegura.
- Oi... – ela falou.
- Oi... Entra! – ele deu espaço para ela entrar.
- Oi – a cumprimentei de volta e ela se voltou pro – Preciso falar com você.
- Eu vou deixar vocês sozinhos – avisei com um sorriso torto. Subi as escadas de dois em dois degraus e fui até o meu quarto. Eles iriam se acertar, pelo menos era o que parecia.
Ao chegar ao quarto, vi que tinha uma ligação perdida da Melissa. O que ela queria? Ignorei. Depois de pouco tempo, ela ligou novamente. Resolvi não atender. Para mim, ela só estava querendo voltar ao algo do tipo, o que não vai rolar. Mas foi quando ela me mandou uma mensagem dizendo “Preciso falar com você urgente, por favor, me liga!” que eu fiquei preocupado. Liguei logo de uma vez, só pra ver o que ela tinha de tão urgente para me falar.
- Finalmente você me ligou! – ela disse assim que atendeu.
- O que aconteceu?
- Eu preciso muito falar com você, mas não dá para ser por telefone, será que podemos nos encontrar?
- Ah, não sei não...
- , eu to falando sério! É urgente!
Ok, ela estava me assustando e pelo tom da voz dela, realmente era algo sério.
- Ok, me encontra da praça perto do meu condomínio.
- Ok, tchau.
Bufei colocando o celular no meu bolso. Vesti meu tênis rapidamente e desci correndo as escadas. Quando cheguei a sala, encontrei e se beijando. Limpei a garganta e eles se separaram.
- Desculpa, eu não poderia passar por aqui sem interromper vocês – ri – Mas agora eu estou com pressa.
- Aonde você vai? – perguntou.
- Na pracinha, a Melissa quer falar urgentemente comigo. Estou com medo.
- Boa sorte. – desejou.
- Obrigado.
Sai de casa e peguei o carro da minha mãe emprestado. A pracinha era perto do condomínio, porém ele é extenso e nem é tão perto assim. Liguei o carro e acelerei para a saída. Em menos de cinco minutos, cheguei até a tal praça e fiquei mais cinco esperando Melissa chegar.
Quando isso aconteceu, vi que ela estava muito pálida e com os olhos vermelhos, como se tivesse chorado muito. Aquilo me assustou ainda mais.
- O que aconteceu? – perguntei.
- Primeiro, você tem que me prometer que não vai me largar sozinha nessa? – o que ela queria dizer com isso? Já comecei a pensar numa hipótese, mas não achei que realmente fosse aquilo.
- Ok, você está me assustando. – a puxei até um banco – Senta aqui e me conta, com calma.
- Olha, eu vou ser bem direta e clara – assenti e ela respirou fundo. As lágrimas voltaram a aparecer enquanto ela tirava um papel do bolso dela. – ... Eu estou grávida.


Capítulo 23


- O que você disse? – eu entendi muito bem o que ela havia falado, mas eu preferia acreditar que talvez eu tenha escutado errado e que ela fosse dizer outra frase completamente diferente daquela. Bom... Até foi, só que com o mesmo significado:
- Eu vou ter um filho! – ela juntou as sobrancelhas e balançou a cabeça – E, obviamente, você é o pai! – ai, merda.
Eu não sabia o que responder. Eu fiquei parado, olhando para o nada e de repente, um monte de coisa se passou na minha cabeça como um filme sendo avançado. Passei a mão no rosto e o tampei. Bufei irritado enquanto sentia uma leve dor de cabeça se aproximando.
- , fala alguma coisa. – ela pediu com a voz chorosa. Eu não queria falar nada, eu só queria fugir dali o mais rápido possível. Eu queria sentir alguma dor provocada por mim mesmo e assim eu acordasse desse pesadelo. Mas eu sabia que aquilo era real. E eu precisava encarar a realidade.
- Melissa, você está me dizendo que nós – eu dei ênfase apontando para mim e para ela –, eu e você, vamos ter um filho?
- Sim. E eu estou tão assustada quanto você.
- Quando foi que você descobriu isso? - comecei a contar as semanas que se passaram desde aquele dia depois da apresentação. Estava fazendo um pouco mais de três semanas.
- Eu fiz um teste de farmácia fazem uns três dias, mas o teste oficial eu fiz no médico e o resultado saiu hoje – ela me entregou o tal papel que estava no bolso dela.
Comecei a ler todas as informações. O teste fora realizado há dois dias e mostrava que ela estava grávida de três semanas. Legal. Exatamente o tempo que eu contei desde aquele dia, não dá mais pra contestar.
Suspirei ainda olhando para aquele papel que balançava devido as minhas mãos trêmulas. Suspirei mais umas três vezes, e ela se irritou:
- Você vai fazer algo além de suspirar inúmeras vezes?
- Melissa – larguei o papel e olhei para ela – Você tem noção da gravidade do problema? Nós temos dezessete anos, nem terminamos a escola ainda e nós vamos ser pais. Eu preciso de um tempo para digerir toda essa situação, preciso de um tempo para me preparar psicologicamente, para aceitar isso.
- Eu também preciso! Não vai ser você que vai ter que carregar um bebê para cima e para baixo por nove meses, passando por dor e por várias outras complicações! Não vai ser você que as pessoas vão olhar e pensar ‘Nossa, ela tá grávida! Que irresponsável!’. E se por algum acaso passou a palavra aborto pela sua mente, saiba que ela está fora do meu vocabulário, por isso não vai acontecer.
- Não passou pela minha mente. – para falar a verdade, eu nem tinha pensado assim. – Eu nunca ia pedir para você abortar ou algo do tipo. A escolha é sua. Eu só estou pedindo para você me dar um tempo e espaço, não é como se eu fosse fugir do país e te largar aqui sozinha. Não é isso. Eu só quero pensar um pouco. – ela ficou me encarando como quem não gostou muito do que eu disse – Melissa, eu não vou te largar. Olha, eu te ajudo com tudo o que você precisar, mas por favor, eu preciso de um tempo para contar isso pros meus pais e você sabe, todos esses problemas. – ela finalmente balançou a cabeça positivamente.
- É... Eu também preciso. – ela se levantou – Achei que precisava saber, aliás, você é o pai.
- Não repita tanto essa frase. – pedi sem nem perceber.
- Só estou te ajudando a se acostumar. – Melissa virou e saiu andando.
Hesitei um pouco, mas, nas circunstâncias, não tinha o que hesitar.
- Quer carona? – perguntei. Ela virou-se para mim e voltou.
- Claro. – a guiei até o meu carro e saímos de frente da praça.
O caminho foi longo e quieto. A deixei na casa dela e voltei para o meu condomínio. Durante o trajeto, minha mãe me ligou.
- Filho, onde você está? – ela parecia nervosa – Preciso do meu carro!
- Eu já estou chegando, mãe.
- Estou preocupada, o disse que você saiu daqui apressado. O que aconteceu?
- Nada demais, mãe. – vontade de matar meu irmão. – Eu só estava atrasado, mas agora eu estou chegando. Te vejo em cinco minutos.
- Ok, a mamãe te ama. – ai senhor.
- Eu também te amo mãe, tchau. – desliguei a ligação e joguei o celular no banco do passageiro.
Acelerei o carro, ignorando o limite de velocidade.
Eu ia ser pai. Eu. Ia. Ser. Pai. De um filho da Melissa. A Melissa está grávida. Pai. Filho. Mãe. Pai. Filho. Bebê. Mãe. Pai. Eu ia ser pai. Com dezessete anos.
Acelerei mais e virei com tudo a esquina, escutando o barulho do pneu raspando no asfalto.
O que a minha mãe ia dizer? O que o ia pensar? O que os meus amigos iam pensar? O que a ia pensar? O que ela ia sentir?
Meus olhos se encheram de lágrimas, atrapalhando a minha vista. Comecei a bater no volante com raiva, enquanto pensava como e quando foi que a minha vida virou essa bagunça.
Fui virar a esquina, ainda atordoado, quando escutei uma buzina de moto. A mesma se inclinou e o motoqueiro teve que colocar um pé no chão para não cair e provocar um grande estrago nele mesmo. Eu freei e a moto parou. O homem desceu e eu agradeci por não ser um daqueles motoqueiros estilo American Chopper. Eu ainda tremia de raiva e medo quando ele bateu no vidro do meu carro. Abaixei-o e me preparei para o começo de uma discussão.
- Presta atenção, né, cara! – ele gritou e eu coloquei a mão na testa. A dor de cabeça só estava piorando.
- Eu estava prestando atenção. – falei com calma.
- Ah, realmente. E foi por isso que você ia virar a esquina sem ver que eu tava atrás, né? – ele respondeu diferente de mim e eu explodi ali mesmo.
- Porra, eu errei! – gritei e o cara deu um passo para trás.
- Está bem, calma! – ele levantou as mãos – Só que eu poderia ter me machucado feio... Toma mais cuidado da próxima vez. – e então, o homem voltou para sua moto e bufei, batendo no volante em seguida.
Preciso me concentrar, colocar minha cabeça em ordem antes que eu acabasse me matando. Finalmente cheguei em casa, são e salvo, mas com a cabeça atordoada. ainda estava lá com o .
- E aí, como foi? – ela perguntou. Olhei assustado para ela e ela retribuiu o olhar – O que aconteceu?
Apesar de eu saber que eu não deveria contar aquilo naquela hora, principalmente com a lá, se bem que uma hora ela iria descobrir, eu pedi para eles subirem para o meu quarto. Eu precisava conversar com alguém, urgentemente, se não era bem capaz de eu pirar.
- Sobre o que vocês conversaram? – perguntou sentando na minha cama.
- É o seguinte... – eu juntei as mãos, que estavam geladas, e comecei a andar de um lado para o outro.
- Você está me assustando. – comentou.
- Eu preciso que vocês guardem segredo total sobre isso. – eles assentiram – É sério, ninguém pode ficar sabendo... Não agora.
- Sabendo o que? – insistiu. Respirei fundo e fechei meus olhos. Fiquei alguns segundos me preparando psicologicamente para a reação dos dois diante do que eles iriam ouvir.
- A Melissa me contou que... – fiz uma pausa para respirar fundo mais uma vez – ela está... Grávida.
Os olhos dos dois se arregalaram e ambos ficaram parados, congelados. , depois de alguns segundos, olhou para e depois se voltou para mim.
- Ela está grávida? – ele repetiu – De você?
- Pelo jeito, sim... – confirmei.
- Explica isso direito. – pediu e eu, pela terceira vez em um minuto, respirei fundo. Ultimamente tenho ficado profissional nisso.
- Ela fez um teste de farmácia e depois outro no hospital... E deu positivo nos dois. – cocei a cabeça e sentei no chão mesmo – E agora, eu serei pai...
Um silêncio se acumulou no cômodo e eu mergulhei em meus pensamentos confusos. Como seria minha vida a partir daquele dia? Teria que arranjar um emprego? Morar com a Melissa? Não era nada disso que eu queria, mas tenho que arcar com as consequências. Era tudo muito arriscado, era um problema muito complicado e delicado. Delicado demais. Eu não sabia se seria capaz de cuidar de uma criança. Dei um soco no chão e fiz os dois que estavam sentados em minha cama se assustarem.
- , calma – levantou. – Nós vamos te ajudar nessa. Estamos aqui por você.
- , não é um problema momentâneo, que vai passar daqui a alguns dias, é um problema que vai durar a vida inteira, literalmente.
- Eu sei disso, e eu serei seu irmão a vida inteira e eu estarei aqui para te ajudar com tudo o que você precisar.
Comecei a sentir algumas lágrimas surgirem nos meus olhos, mas eu não iria chorar por causa disso.
- , eu acho melhor você ir embora – falou. – As coisas vão ficar complicadas aqui em casa, você não vai querer ficar.
Ela assentiu e pegou sua bolsa. Deu um beijo de despedida em e depois me deu um abraço.
- Boa sorte – ela desejou. Eu apenas sorri fraco e pedi mais uma vez:
- Não conta isso pra ninguém... Muito menos para – eu ignorei o fato dela achar que eu ainda guardava grande rancor, já que ela aparentou confusão com o meu pedido.
- Tudo bem... Eu não conto. – e então ela saiu do quarto.
- Você precisa contar para nossa mãe – avisou, como se eu já não soubesse.
- Eu sei disso – me levantei do chão –, vou contar no jantar.
- Eu estarei do seu lado.

’s POV

Eu precisava falar com alguém. Eu sei que prometi para o , e eu não sou de quebrar promessas, mas precisava falar com alguém. Liguei para . Achei que ela seria a única que eu poderia conversar, já que a , com a cabeça maluca dela, não iria aceitar muito bem a situação. E a , coitada, pelo menos essa promessa eu não iria quebrar.
Mandei uma mensagem para avisando que chegaria na casa em alguns minutos. Peguei meu carro e fui até a casa dela. Cheguei em poucos minutos.
- O que aconteceu? – ela perguntou ao abrir a porta. – Fiquei preocupada.
- O pior aconteceu. – entrei em disparada na casa dela e vi que estava lá. Ótimo. Iria contar do mesmo jeito, desculpa .
- Que pior? – ela se aproximou de nós.
- A Melissa está grávida do . – disparei sem esperar que elas se preparassem.
- O quê?! – elas gritaram juntas.
- A Melissa? Grávida? Do ? – perguntou pausadamente.
- Sim... E ele ficou sabendo disso hoje. Não contem para ninguém, porque eu prometi que não iria contar nem pra vocês.
- Meu Deus... – estava de olhos arregalados – A sabe disso?
- Ainda não... Ele pediu para eu não contar com ela, não quero quebrar mais essa promessa. – expliquei.
- Você tá doida? – gritou – Você precisa contar isso pra ela agora.
- Eu não posso! Eu prometi pro ! E outra, ele vai contar para ela depois.
- Vai saber quanto tempo ele vai demorar pra contar! – falou – pode ficar brava com nós se não contarmos agora.
- Verdade. – concordou.
- Mas você estava brava com ela até agora, .
- Mas a Melissa está grávida! A coisa agora ficou bem mais complicada.
Hesitei muito. Eu tinha que contar naquela hora? Ou deixaria pro contar? pegou seu celular e me entregou.
- Liga para e pede para ela vir para cá.
- Não! – não iria quebrar essa promessa, já disse que não sou de fazer isso e já foram duas hoje – Se vocês querem que ela saiba, vocês que contem.
- Ok. – digitou o número dela – Está chamando. – dei de ombros, apesar de que, por dentro, estava querendo me matar.
Não demorou muito para atender e pedir pra ela vir para sua casa. Ela estranhou no começo, mas depois aceitou e já estava vindo.
- Eu não estou concordando com isso. – avisei.
- , vai por mim... – começou. – Contar para ela agora será bem melhor do que quando o contar pra ela. Se ele contasse, ela com certeza esconderia sua reação, aqui ela não precisa esconder. Além disso, não precisaremos esconder nada.
- Ainda não concordo com isso. – insisti. Elas reviraram os olhos e pararam de tentar me convencer.

’s POV

O que será que elas tinham de tão importante para me contar? Confesso que me surpreendi com a ligação da pedindo para eu ir para a casa dela urgentemente. Bom, seja lá o que for, eu já estava na porta tocando a campainha.
As caras das três não estavam nada boas. Cada uma apresentava uma cara mais feia que a outra. O que aconteceu? Foi isso que eu perguntei a elas. – que não tinha falado comigo desde o ocorrido na viagem – pediu para eu me sentar, só por precaução. Estranhei todo esse suspense, aquilo com certeza não seria nada bom.
começou a falar, meio que se enrolando, explicando que acabou de descobrir o que ela iria me contar, então não tinha muitos detalhes, apesar de ser algo fácil de se entender. Eu implorei para ela falar logo, mas eu me arrependi depois.
Então a Melissa estava grávida. Do . Eles iriam ser pais. Aquilo me atingiu de uma forma que eu realmente nunca senti algo parecido antes. Eu nem sabia explicar. Eu devo ter entrado em estado de choque, ou algo parecido, pois me cutucou freneticamente enquanto me pedia para falar alguma coisa. Eu não conseguia nem pensar em algo a dizer. Tudo o que vinha na minha mente era segurando um bebê com a cara da Melissa. Ai credo.
- Como vocês sabem disso? – perguntei só porque eu realmente não sabia o que falar.
- O me contou – falou. – Lembra que você pediu para eu ir à casa dele por causa do ? – assenti – Então, quando eu cheguei lá, ele saiu desesperado porque precisava falar com a Melissa e quando voltou, ele contou.
- Tem quanto tempo? – minha curiosidade estava enorme e eu não conseguia parar de pensar nesse assunto, por mais que eu não quisesse.
- Parece que ela está grávida de três semanas, vai fazer quase um mês. – explicou.
- Pelas contas... – começou. – Foi um pouquinho antes da viagem.
- Vocês acham que isso é verdade? – duvidei. Eu sei que pensar nisso é um pouco estranho, principalmente vindo de mim, mas eu queria acreditar que era tudo um grande mal entendido.
- Bom, era o resultado do exame... Veio num papel do hospital. – falou.
- Mas espera... – se aproximou de mim – Você acha que é mentira ela estar grávida?
- Não sei – respondi rapidamente e grosseiramente. – Na verdade, eu quero insistir nessa história pra ver se magicamente ela vira realidade. – abaixei a cabeça e deixei que uma lágrima traiçoeira escorresse dos meus olhos.
Fui abraçada pelas três ao mesmo tempo, mas nada era capaz de amenizar o que eu estava sentindo.

’s POV

Chegou a hora. A hora em que eu teria que contar para minha mãe a terrível notícia. O jantar já estava pronto e a minha mãe já havia posto a mesa. avisou que qualquer coisa que eu precisasse ele iria me ajudar. Iria ser assim para sempre. Se eu estou nervoso desse jeito, imagina a Melissa.
Sentei-me à mesa e peguei um pedaço de carne que tinha.
- E aí, filho? – minha mãe se virou para – Pelo jeito as coisas com a estão bem, né? – ele sorriu e balançou a cabeça positivamente – Aliás, eu ainda não entendi o que aconteceu para vocês terem brigado.
- Longa história – ele respondeu.
O silêncio tomou conta da sala de jantar, mas não por muito tempo:
- E você, ? – ela perguntou.
- Eu o quê? – meu coração já começou a bater acelerado. Eu tinha que me acalmar.
- Você e a Melissa terminaram de vez? – Ai, merda. Eu acho que mães têm um instinto sobrenatural de saber das coisas sem realmente saber delas. Se o meu coração já estava batendo acelerado, agora eu estava prestes a ter um ataque.
olhou para mim e balançou a cabeça levemente como se dissesse que a hora era aquela. Coisas de irmãos. Nós nos comunicamos mentalmente. Respirei fundo – de novo – e comecei:
- Sobre isso... – larguei o talher no prato e comecei a bater os dedos de leve na mesa, enquanto mexia os pés freneticamente. – Mãe, eu preciso te contar algo... Muito sério.
Dessa fez, foi ela quem largou o talher e cruzou os braços.
- O que foi? – perguntou já com uma voz de brava. Fechei os olhos e fiquei assim por um segundo.
- Acontece que... Hoje nós nos encontramos na praça – comecei a enrolar. – E ela tinha algo importante para me dizer...
- , desembucha logo.
- Ok... – respirei fundo mais uma última vez – E o que ela tinha de tão importante para me dizer era que... Bem...
- Ela está grávida? – ela chutou certo, ainda com os braços cruzados. Eu apenas balancei a cabeça confirmando e ela fechou os olhos por cinco segundos. – Você está me dizendo então, que você vai ser pai?
- Sim...
Ela levantou da cadeira, mas ainda ficou perto da mesa. Ela estava se controlando para não explodir e começar a gritar comigo. Minha mãe implicava muito com essas coisas por um motivo que eu sabia que ela iria explicar a seguir:
- , quantas vezes eu pedi para você tomar cuidado com isso? – eu fiquei quieto. Foram muitas mesmo. Como eu disse, ela implicava. – Você sabe muito bem todos os problemas que eu já tive com isso, eu pedi, quase implorei, para isso não acontecer de novo!
- Mas, mãe, foi um acidente.
- Isso eu entendo, mas todo acidente pode ser evitado. – ela tampou o rosto com as mãos – Eu não acredito que essa história está se repetindo.
Eu sabia muito bem do que ela estava falando e eu não podia ficar quieto:
- A história não está repetindo, porque eu não vou...
- Ah, mas você não vai mesmo – ela me interrompeu. – Eu não passei dezessete anos da minha vida criando e educando vocês dois para vocês se tornarem uma réplica do pai de vocês. É por isso que eu implico com isso. O tempo todo eu me preocupei se isso iria acontecer e sempre fiz de tudo para vocês não serem igual ao pai. É por isso que você vai ficar do lado da Melissa o tempo inteiro, vai cuidar dela, cuidar do bebê, o tempo inteiro.
- E o que você quer que eu faça? – perguntei depois de alguns segundos de silêncio.
- Muito simples - ela sentou-se na cadeira novamente e olhou nos meus olhos. – Você vai pedir a Melissa em casamento.


Capítulo 24


Aquilo só podia ser brincadeira. Eu sabia muito bem que eu teria que assumir o bebê, eu não tinha problema nenhum em aceitar aquilo, porém casar com a Melissa estava definitivamente fora dos meus planos.
- Você quer que eu case com ela? – perguntei incrédulo. Minha mãe respondeu na mesma incompreensão:
- Mas é óbvio! É a coisa mais sensata a se fazer.
- Não, não é! – eu sabia que aquilo ia se transformar numa discussão muito maior e pior, mas eu realmente não queria me casar com Melissa, aquilo estava fora de cogitação, fora de qualquer plano que passasse na minha cabeça. Casar, não. – Eu nem posso casar agora.
- Pode, sim, com permissão dos seus pais, e eu sou metade disso. – ela sorriu cinicamente. Só podia ser um pesadelo. Que horas eu iria acordar?
- Eu não vou me casar com ela, mãe. – reclamei me levantando da mesa. – Eu posso cuidar do bebê, mas eu não vou casar com a Melissa.
- Então como você pretende cuidar desse bebê? – ela se levantou também. continuava sentado só observando. – Uma semana aqui, uma semana lá? Isso não vai dar certo. Vocês teriam que morar juntos, porém não vou deixar vocês juntos sem um casamento.
- Mas é isso que a maioria das pessoas faz! Eu não quero me casar agora, mãe. Eu não terminei a escola, eu ainda vou fazer faculdade, não vou conseguir arranjar um emprego em que eu receba bem o suficiente para...
- E você pensou nisso antes de engravidá-la? – ela me interrompeu. Uma onda de raiva subiu pelo meu corpo, mas eu consegui me controlar, afinal, quem tinha razão era ela.
Fiquei quieto e minha mãe apenas arqueou a sobrancelha, sorrindo torto em seguida. Como ela conseguia ser tão manipuladora até numa situação como aquela?
- Foi um acidente... – respondi baixinho.
- E você também foi. – ela retrucou. Eu levantei o olhar incrédulo para ela. Eu sabia dessa história de acidente, 90% da população mundial foi um acidente, porém ela ter falado isso me deu uma pontada no coração como se ela não me quisesse ali. também olhou para ela e depois para mim. – Sabe... – ela prosseguiu – É ruim ouvir isso, não é? – ela não esperou nenhum de nós dois respondermos. – Eu arquei com as consequências, e eu tinha a mesma idade que você. Seu pai também. Mas adivinha quem teve que cuidar dos dois, sozinha? – não precisamos responder. Seu tom ficou mais calmo e ela estendeu a mão para pegar a minha. Puxou-me até a cadeira que estava do lado dela, me fazendo sentar. Ela sentou ao meu lado. – É por isso que eu estou pedindo para você casar com ela. Vai por mim. Uma mãe solteira não é tão bom quanto parece. Pode até ser se ela for mais velha, já com um bom emprego, mas não é o caso de vocês. Ela não vai conseguir cuidar do bebê, sozinha, vai perder suas amizades, sua vida social, vai ter muitas brigas com os pais. A mãe dela vai cuidar mais do bebê e vai dizer que ela não tem experiência, que é irresponsável – percebi que ela estava relatando o que ocorreu quando ficou grávida de nós, já que ela começou a chorar. – Vai ficar mais difícil para ela do que para você. Então, por favor, ajude-a. Faça o que eu te pedi, mas só se você estiver disposto a ajudá-la e não a largá-la.
Fiquei parado olhando as lágrimas escorrem dos olhos preocupados de minha mãe. Eu sabia que o certo a se fazer era casar, mas, como já disse, não era nada do que eu queria. Eu estava sendo obrigado a me casar com alguém que eu não amava. Com alguém que eu não queria passar a vida inteira. Mas tínhamos uma ligação agora, uma coisa que nos unia inevitavelmente: um filho.
Lágrimas escorreram sobre meu rosto também e eu a abracei. Ela sussurrou um “eu te amo” e eu sussurrei outro de volta. Ela se afastou e disse que iria recolher a mesa. Eu e o subimos para o meu quarto. Fechei a porta com força e me joguei na minha cama.
- Como você está se sentindo? – meu irmão perguntou, sentando-se ao meu lado.
- Péssimo. – respondi com a voz abafada devido ao fato de eu estar com o rosto afundado nos travesseiros.
- Então... – percebi uma hesitação na voz dele. – Você vai pedir a Melissa em casamento?
- Vou, né... – tirei o rosto dos travesseiros, me virando de barriga pra cima. – Mas que merda.
- Imagino... Ter que casar com alguém que você não quer.
- O pior nem é isso. – eu iria admitir tudo o que eu estava segurando desde que a minha mãe citou o casamento. – O pior é que acabou todas as mínimas chances que eu tinha com a . Acabou tudo. – minha voz saiu falha, não conseguia esconder isso de . Não mais. – Tudo por causa de uma noite. Tudo por causa de uma merda de uma noite em que eu só queria tirá-la da minha cabeça.
Mesmo olhando pro teto, consegui perceber que arqueou as sobrancelhas.
- Você usou a Melissa para esquecer a ?
- Não usa o termo “usou”, me faz sentir um filho da puta. – falei com humor, apesar de não ter rido.
- Ok... Você comeu a Melissa para esquecer a ? – ele repetiu e dessa vez só revirei os olhos e depois assenti. – Cara, você tá tão fodido.
Virei-me para ele, só faltando dar outro soco na cara dele.
- Ah, não me diga? – sorri ironicamente, controlando a raiva. – Eu nem tinha reparado - ignorei e continuei desabafando. – Eu não acredito que agora vou ter que me casar com a Melissa. Eu fico imaginado o que a vai pensar, o que ela vai sentir. Se ela vai ficar triste... Se ela ainda gostar de mim... – parei de falar e voltei a encarar o teto branco do meu quarto. – Porque eu ainda gosto muito dela. Muito, mesmo. – continuou quieto, então me vi com permissão para finalmente dizer o que estava entalado na minha garganta. – Eu amo a . Eu a amo, apesar de toda a raiva e nojo que eu senti dela, de todo o mal que eu desejei, parece que o sentimento vai muito além disso, parece que ele é capaz de superar todos esses outros. Mas um único obstáculo ele não será capaz de superar... O casamento com a Melissa.
- Eu vou te deixar sozinho... – levantou. – Se você quiser, né.
- Pode ir... Acho que vou dormir. – avisei. Ele assentiu e saiu do quarto, fechando a porta em seguida.
Por que tudo em relação a tinha que ser tão complicado? Como é que eu era capaz de ainda sentir uma pequena raiva por ela e tão grande amor? Isso era normal? Foi pensando nisso – e em todos os outros problemas – que eu passei a noite, em claro, é claro.

’s POV

Acordei com um sentimento ruim. Muito ruim. Um sentimento de que tudo ia mudar, de que nada seria o mesmo. Esse sentimento estava mais do que correto. Nada mesmo seria igual antes. Quantas eram as chances de eu me acertar com o agora que ele iria ser pai? Como é que tudo isso aconteceu? Ok, eu sei como aconteceu. Eu estava me sentindo estranha. Já acordei com dor de cabeça. É de querer me matar. Fui ver que horas eram e ainda eram nove horas da manhã. Bufei irritada. Tinha dormido muito pouco a noite inteira e, quando consegui pegar no sono, acordei muito cedo. Mas já tinha desistido, eu não ia conseguir dormir.
Levantei da cama e fui ao banheiro fazer minha higiene. Fiquei alguns segundos me olhando no espelho. Tudo o que eu enxerguei foi uma garota muito infeliz, com olheiras bem grandes e roxas, com o olhar apagado e os lábios caídos naturalmente, algo bem familiar nesses últimos dias. Suspirei. Aquela não era eu. A imagem que eu via nada era além de uma garota que nem eu era capaz de reconhecer. Eu costumava ser uma pessoa feliz. Eu era. Agora, quando eu achei que tudo ia voltar a ficar normal, só piorou.
Saí do banheiro e fui até a cozinha. Era uma garota irreconhecível, porém uma garota irreconhecível com fome. Muita fome. Encontrei pão no armário e peguei frios na geladeira. Montei meu lanche e depois esquentei leite com chocolate para mim. Comi tudo quieta e sozinha na bancada da cozinha. Cadê o povo daquela casa? Meus pais costumavam já estar acordados a essa hora. Estranhei e resolvi checar. Subi as escadas até o quarto deles e encontrei a cama arrumada e o quarto do jeito que estava ontem, na forma como ambos deixaram antes de... Ai. Meu. Deus. Eles saíram juntos ontem e até agora não voltaram! Não sabia se eu ficava preocupada ou feliz. Fui correndo até o meu quarto e peguei meu celular, ligando para minha mãe em seguida. Ela atendeu. Ufa!
- Onde você está? – perguntei um pouco mais calma.
- Estou... – a escutei sussurrando alguma coisa para alguém que tinha uma voz parecida com a do meu pai. – Eu estou na casa de uma amiga. – Sei... Hum, mamãe safada!
- E o papai? – eu adorava provocar. – Você sabe onde ele está?
- Er... Seu pai? – concordei e ela enrolou para responder. – Não sei, desde quando eu tenho que saber para onde seu pai vai?
- Desde que vocês dois saíram um depois do outro e até agora não voltaram... – respondi segurando a risada e a minha mãe respondeu rapidamente:
- Pura coincidência. Daqui a pouco eu estou aí.
- Não precisa ter pressa – ri e ela me mandou calar a boca. – Ai, ok, mãe. Aproveita enquanto há tempo.
- ! – ela gritou e eu voltei a rir. – Pelo amor, nunca mais fale desse assunto.
- Ué, mas é verdade! Uma hora as coisas acabam, né, mãe... – eu não conseguia para de rir. – Essa hora não vai demorar muito pra chegar, você sabe...
- Ok, agora chega! – ela realmente aparentou seriedade em sua voz. – Depois a gente se fala.
- Ok... – eu ia desligar, mas repeti rápido. – Aproveita!
- Vai se ferrar – e eu ri mais ainda. Eu e a minha mãe, apesar de algumas brigas, tínhamos uma relação mais de amigas do que de mãe e filha.
Mas, enfim! Ela passou a noite com o meu pai. Estava tão feliz. Pelo menos uma das coisas estava voltando ao normal. Agora, as milhares de outras... Não chegavam nem perto do normal.

Vi-me totalmente entediada. Desci para a cozinha novamente e lavei a pequena louça que eu havia deixado. Depois, ignorando as horas, liguei para . Ela atendeu com a voz rouca de sono.
- Bom dia, princesinha! – desejei com uma felicidade falsa.
- Por que você está me ligando a essa hora da madrugada? – ela perguntou de uma forma tão enrolada que eu tive que fazer esforço para entender.
- Porque eu acordei cedo e estou totalmente entediada. Quer vir aqui me fazer companhia? – pedi com voz de criança, aquilo sempre funcionava.
- Entediada ou triste? – ok, ela me pegou.
- Os dois. – admiti.
- Ah... – ela ficou quieta por alguns segundos, mas depois voltou a falar. – Vem para cá... Eu estou com muita preguiça e sono para ir até aí.
- Ai, tá, tanto faz. – eu não me importava muito com isso, só não queria ficar sozinha em casa. – Vou me arrumar, em alguns segundos eu estou aí.
- Ok. – e então, sem esperar eu me despedir, ela desligou o telefone. Eu tinha o divino poder de acordar todo mundo com os meus telefonemas. Adoro.
Subi para o meu banheiro e tomei banho. Depois fui até o meu quarto, me vestindo com um vestido florido e larguinho. Coloquei uma tiara na minha cabeça e me olhei no espelho. Parecia uma criança, mas eu gostei. Passei uma maquiagem básica, apenas base, pó, blush e rímel. Peguei uma bolsa pequena, coloquei um pouco de dinheiro pro táxi – precisava aprender logo a dirigir – e o meu celular.
Saí de casa e fui andando até o ponto de táxi. Estava um dia ensolarado e muito quente. Era um sábado e a sexta anterior não foi nada boa. Não conseguia parar de pensar no e na Melissa. E naquele inferno de bebê. Deus que me perdoe, porém eu odiava aquela criança. Ok, ela não tinha culpa de nada, mas foi instintivo.
Falando em Melissa, aquela praga estava no Starbucks em que eu entrei, perto do meu condomínio, com a Emma. Outra praga. Eu estava lá porque queria comprar um frappuccino e um capuccino para a , ela iria me agradecer. Ao entrar no local, as duas não perceberam a minha presença. Que bom. Melhor ainda era o fato de não ter fila. Fiz logo o meu pedido e torci para que elas continuassem sem me ver. Não estava prestando atenção na conversa delas, até que eu ouvi o nome de .
- Eu contei para ele ontem, né – era Melissa falando sobre a gravidez, provavelmente. – E ele caiu direitinho. – Espera, como é? Continuei prestando total atenção, sem tentar perder nem um detalhe.
- O que você falou? – Emma perguntou, em seguida dando um gole em seu café.
- Eu falei que eu tinha feito o teste há alguns dias e o resultado tinha saído ontem e ele ficou desesperado – ela começou a rir. – Você tinha que ver a cara dele quando eu mostrei o exame falso. – Exame falso? Aquela história estava ficando muito séria. E agora sim, de jeito nenhum, elas podiam me ver. Precisava me esconder, mas como? Não deu muito tempo para pensar nisso, já que a atendente gritou meu nome com o meu pedido:
- ! – droga, como eu não esqueci que ela me chamaria? Eu estava no Starbucks! E estava vazio!
Melissa e Emma se viraram para mim. Peguei rapidamente o frappuccino e o cappuccino e tentei sair apressada de lá. Senti as unhas afiadas de Melissa se fincarem em meu braço.
- Você não vai contar o que você ouviu, vai? – os olhos dela jorravam ódio, maldade e muito medo, tudo ao mesmo tempo. Soltei-me dela, sentindo aquela parte do meu corpo arder. Ela estava me apertando muito forte e as unhas delas me arranharam.
- Você é dissimulada, Melissa. – foi tudo o que eu respondi antes de sair de lá.
Com muita sorte, um táxi vazio passou por mim e eu corri para entrar no banco de trás. Falei o endereço e pedi para ele sair de lá rapidamente. Em poucos minutos, eu já estava na casa de , no quarto dela, a acordando desesperadamente.
- O que foi? – ela gritou e olhou para a caixa do Starbucks. – Ah, você comprou cappuccino para mim, sua linda!
- O cappuccino pode esperar! – coloquei a caixa na escrivaninha do quarto dela, escutando vários xingamentos. – , é sério!
- O que tem de mais sério do que o meu querido cappuccino?
- A Melissa não está grávida. – falei logo de uma vez e o olhar sonolento de se transformou em um olhar de surpresa.
- O quê?! – ela gritou. – Como assim?
- Exatamente! Ela não está grávida!
Ela ficou me olhando como se estivesse louca e depois retrucou:
- Mas eu vi o exame! Estava lá escrito em letras garrafais: po-si-ti-vo. – ela disse silabando.
- Porém era um exame falso!
Ela juntou as sobrancelhas.
- Tem certeza que você não tá ficando louca?
- ! – gritei. – Confia em mim! Eu estava no Starbucks para comprar seu querido cappuccino quando encontrei a Melissa e a Emma. Elas não me viram e eu pude escutar a vadia mor falando para o projeto de vadia que era um exame falso! Ela disse exatamente assim: “O ficou desesperado. Você tinha que ver a cara dele quando eu mostrei o exame falso!” – fiquei esperando uma resposta da , que veio depois de demorados segundos. Ela ainda estava com sono.
- Mas que vadia! – ela gritou.
- Pois é!
Ela ficou mais um tempo boquiaberta, quando de repente deu um berro:
- Puta que pariu!
- O que foi? – perguntei assustada. Ela gritou muito do nada, eu levei um grande susto.
- O precisa ficar sabendo disso, mas tem que ser agora! – ela levantou num pulo da cama. – Mas, espera! Ai meu Deus! Fodeu tudo!
- O que está acontecendo? – ela estava muito desesperada correndo de um lado pro outro. Devia ser algo muito sério, porque ela falou dois palavrões seguidos e é raro escutar ela falar um “bosta”, imagina dois palavrões de verdade, um seguido do outro!
- A mãe do o mandou pedir a Melissa em casamento! E ele concordou. Ele vai a pedir em casamento para cuidar do bebê!
Como é que é?
- O quê?! – gritei, levantando da cama num pulo também. – O vai casar com a Melissa?
- Provavelmente!
- Não, ele não pode! – eu gritava desesperada como se aquilo fosse adiantar alguma coisa. – Como você sabe disso?
- O me contou ontem! – ela pegou o telefone e ficou olhando para ele. – E aí, o que a gente faz?
- Não podemos contar por telefone, é algo muito complexo. – conclui. – Eu vou falar com ele. – já ia pegar minha bolsa, sem me importar se eu tinha acabado de chegar lá. me impediu.
- Não! Você não pode falar com ele! – ela me segurou e falou mais desesperada do que antes.
- Por quê?
- Porque você não podia saber nem da gravidez... – ela falou envergonhada e eu soltei um palavrão bem alto e grosso. – Desculpa, , mas foi a pedido do . e que insistiram em te contar.
- Bom... Agora já era. – eu estava ignorando tudo ultimamente. – Agora eu já sei e vou falar com ele. Fui eu que ouvi a conversa e se ele souber de alguma coisa, a Melissa vai saber que fui eu que contei.
- Mas ele vai ficar bravo comigo! – ela pediu com a voz chorosa.
- Não vai! – tentei a tranquilizar. – Eu dou um jeito. Não se preocupa. – e assim, saí do quarto, com em meu encalço pedindo para eu tomar cuidado com o que eu ia falar e não a meter em encrenca. Liguei para um táxi e pedi para ele vir me buscar. Eu realmente precisava aprender a dirigir. Não demorou muito e ele chegou. Pedi para ir ao endereço do .
Ainda eram onze horas da manhã e já tinha acontecido tudo aquilo. Como o dia estava rendendo. Eu nem queria imaginar como seria o resto. O começo já estava um inferno. Cheguei ao condomínio dele e o porteiro me identificou e me deixaram entrar. Fui até a casa dele, que não era muito longe da entrada, e toquei a campainha. Sua mãe atendeu.
- ! – ela me abraçou. – Que surpresa! Quando o porteiro avisou que ela você, mal pude acreditar, faz tempo que você não vem aqui.
- Pois é... – concordei envergonhada, mas fui logo ao ponto. – Preciso falar com o , ele está dormindo?
- Que nada... – ela riu ironicamente. – Não dormiu a noite inteira. Está lá na sala assistindo TV. Entra. – entrei e fui até a sala. Ele estava entretido no filme que estava passando e nem pareceu perceber minha presença. – , a está aqui. – Ele se virou assustado e olhou diretamente em meus olhos. Um longo arrepio percorreu pelo meu corpo e eu sorri torto. Ele estava tão lindo com aquela bermuda velha que eu sabia que ele só usava quando estava em casa e uma camiseta branca. Tão lindo. – Vou deixar vocês conversarem.
- O que você está fazendo aqui? – ele perguntou assim que a mãe dele saiu do cômodo.
- Preciso falar com você, urgente. Podemos ir para um lugar mais... Seguro para esse tipo de conversa? – pedi.
- Claro – ele desligou a TV e levantou do sofá, em seguida subindo as escadas que levariam para o seu quarto. Ao entramos, ele falou. – O que foi?
Respirei fundo e decidi ir logo ao ponto:
- A Melissa não está grávida. – ele franziu o cenho e apresentou uma feição de completa confusão.
- Espera, como você sabe que ela está grávida? Não era pra...
- Isso não importa. – interrompi. – O que importa é que você está sendo enganado e a Melissa não está grávida. – falei com convicção e ele continuou com confuso.
- Como você sabe disso? – ele perguntou lentamente com os braços cruzados.
- Eu a ouvi conversando com a Emma. – expliquei. Ele começou a balançar a cabeça negativamente.
- Mas ela me mostrou o exame. – ele repetiu a fala da , e eu revirei os olhos. Pessoal, vamos pensar um pouco?
- Era um exame falso! – gritei. – Isso não é óbvio? Logo depois que vocês terminaram ela aparece um teste de gravidez? Isso não é estranho?
Ele demorou para responder, mas depois voltou a balançar a cabeça.
- A Melissa não faria isso, ela não é assim. – ele negou e aquilo foi me enfurecendo de um jeito que eu tive que me segurar para não tacar um objeto qualquer na cabeça dele e gritar o quanto otário ele era. Me dava até dó dele.
- Caralho, ! Eu pensei que você já tivesse passado da fase de defender essa garota! Não acredito que você não está acreditando em mim!
- Não é que eu não esteja acreditando em você – ele se defendeu –, é só que eu não acho que a Melissa seria capaz de uma coisa dessas, eu a conheço.
- Não! – gritei. – Você não a conhece suficiente para confiar tanto assim nela, você só dormiu com ela. – eu estava com muita raiva e não medi minhas palavras antes de falar. – Você me conhece o suficiente para confiar em mim. – comparei.
- Mas eu também dormi com você. – o escutei dizendo. De repente, toda a raiva de transformou num tapa na minha cara. Ele dissera mesmo o que eu ouvi? Senti meus olhos arderem, mas engoli o choro rapidamente. – Ai, desculpa, foi da boca pra fora.
- Não, você não precisa se desculpar – minha voz saiu falhada. – Você tem toda razão. – me afastei. – Nem sei por que eu vim aqui, você vai continuar defendo ela, né? E eu vou continuar sendo só uma garota que você dormiu uma vez numa viagem em um dia que você estava bêbado.
- ... – o ouvi me chamando com uma voz piedosa, mas eu não iria cair naquela tentação.
- Não, você tem total razão! Boa sorte com o seu casamento. – desejei dando um sorriso forçado antes de virar as costas e descer as escadas.
- ! – ele gritou – , me desculpa! Volta aqui, por favor. – o ignorei e me despedi da Sra. , que ficou confusa. Saí da casa rapidamente e corri. Corri até qualquer lugar onde ninguém poderia me ver chorando.


Capítulo 25


Eu saí atordoada da casa de e corri até um lugar qualquer, ainda dentro do condomínio. Eu não sabia onde eu estava, só sabia que era relativamente longe de onde ele estava e que eu me sentei na frente de uma das casas e comecei a chorar muito. Então era isso, eu era apenas uma garota com quem ele dormiu e que ele não iria acreditar. Como ele pôde me dizer isso? Será que eu realmente significava isso para ele? Mas não foi ele que pensou que eu estivesse esquecido daquela noite? Eu estava me sentindo pior do que eu me senti desde o incidente no dia do luau – e olha que eu me senti muito mal mesmo.
Pensei ter ouvido passos, mas não me dei ao trabalho de levantar a cabeça para ver quem era. Qualquer um poderia passar por ali e mesmo se me vissem chorando, ninguém iria se importar ao ponto de perguntar se estava tudo bem comigo. Porém os passos da suposta pessoa estavam se aproximando e a minha respiração começou a falhar. E então, eu consegui sentir o perfume. O maldito perfume que ele sempre usava. O perfume que estava na maldita camiseta preta que ele me emprestara uma vez. Ele não precisou se aproximar muito, já que eu o impedi de continuar.
- Sai daqui! – gritei, ainda sem olhar para ele. É claro que ele me desobedeceu e sentou do meu lado, me abraçando. – , sai daqui! – o empurrei e em seguida me levantei.
- Não, eu não vou sair. – ele se levantou também. Eu resmunguei algo indecifrável e revirei os olhos, fazendo uma típica cena de criança mimada.
- Me deixa em paz! – gritei novamente, batendo os pés e indo na direção oposta a dele. Não por muito tempo. Ele me puxou pelo braço e me puxou para perto dele. Muito perto. Minha voz saiu chorosa de novo, contra a minha vontade, enquanto eu tentava não olhar nos olhos cor de mel dele que insistiam em procurar os meus. – O que você quer?
- Eu quero que você me escute. – a voz dele como uma súplica. Mas para mim, ela não seria atendida.
- Eu não quero te escutar – me desvencilhei dos braços dele e saí andando novamente, na mesma direção que anteriormente.
- A saída é pro outro lado – ele respondeu com calma. Bufei e dei meia volta. Por alguns instantes eu pensei que ele estivesse me enganando para que ele pudesse tentar falar comigo novamente, mas me enganei. Eu passei reto sem nem olhar para a cara dele, mas ele me acompanhou até eu virar a esquina.
Por incrível que pareça, eu não senti muita dificuldade em encontrar a portaria. Quando passei por ela, percebi que eu não tinha mais dinheiro para o táxi, afinal, eu pensava que iria para a casa da . Foi para ela que eu liguei, pedindo urgentemente uma carona. Em seguida, vi que a minha mãe tinha me ligado umas cinco vezes. Liguei de volta e recebi uma bronca daquelas. Aquele definitivamente não era o meu dia. E ainda era meio dia. O que estava por vir?
Quando chegou, eu entrei no carro chorando. Mas era tipo, chorando de soluçar mesmo. Eu estava acabada.
- O que aconteceu? – ela tirou o cinto e me abraçou. – , para de chorar, por favor.
Mas eu não conseguia. Aquela simples frase totalmente cínica me destruiu por dentro, mesmo com ele correndo atrás de mim e tentando se explicar. Ele pode ter falado sem pensar, mas num momento, aquilo passou na cabeça dele e isso bastou para eu me sentir um lixo.
- Vou te levar para minha casa – falou, já que não obteve respostas da minha parte.
Eu continuei quieta por todo o caminho, olhando a paisagem enquanto as lágrimas insistiam em cair. Escutei ligando para as meninas e falando algo do tipo “Emergência. Todas na minha casa agora.”. Eu não queria falar com ninguém, mas nas circunstâncias, isso era o de menos.
Em dez minutos, eu já estava deitada na cama de , ainda chorando. e tinham acabado de chegar.
- O que aconteceu? – a segunda perguntou.
- Eu não sei, ela não fala! – reclamou, enquanto fechava a porta do quarto.
- Mas ela simplesmente começou a chorar? – perguntou confusa.
- Não... – negou, começando a explicar em seguida. – Ela descobriu algo sobre a gravidez da Melissa... Quer dizer, sobre a falsa gravidez.
- Falsa?! – e repetiram, gritando. Eu levantei a cabeça do travesseiro e concordei.
- E eu, idiota do jeito que eu sou, fui tentar explicar pro antes que ele fizesse a besteira de pedi-la em casamento. – finalmente expliquei.
- Casamento? – perguntou incrédula. – Mas espera um pouco, eu parei na gravidez, como assim agora eles vão casar? Mas não tem nem vinte e quatro horas que descobrimos isso.
- Parece que a mãe dele praticamente o obrigou – explicou por mim, eu estava totalmente sem condições. – Você sabe como a Pattie é meio louca com esse assunto. É tipo um trauma.
estava falando sobre o fato de que, quando a sra. ficou grávida dos gêmeos, o pai deles ter aceitado cuidar deles, mas dois meses após o nascimento, desistiu e saiu do mapa, voltando depois de alguns anos. Eles ainda eram crianças e não tinham maturidade o suficiente para entender que ele estava errado, formando assim laços consideravelmente bons com o pai, por isso eles se falam até hoje.
- Ok, mas vocês ainda não explicaram por que a gravidez é falsa. – virou-se para mim, me fazendo acordar para a realidade.
Levantei a cabeça e enxuguei as lágrimas. Sabia que aquilo não iria ser de grande utilidade, porém foi algo automático.
Comecei a explicar o que aconteceu no Starbucks, ouvindo vários xingamentos em seguida. Logo depois, contei sobre o que aconteceu na casa do e, sem nem tentar segurar, comecei a chorar novamente.
- Espero que a Melissa fique paraplégica, com AIDS e também que morra com uma hemorroida, daquelas bem doloridas! – soltou rapidamente e com raiva e todas começaram a rir, até eu.
- Que diabos é uma gonorreia? – perguntou entre uma risada e outra.
- Eu não sei, mas espero que essa vadia tenha! – e mais risadas invadiram o local. se contorcia de rir, enquanto enxugava algumas lágrimas, de alegria, que escorreram pelo seu rosto. – Ok, meninas – falou quando recuperou o fôlego. – Foco no problema. – e então, todas ficaram quietas.
- Mas o problema maior é que o não acreditou na comentou. – E ele defendeu a Melissa.
- Ele é um besta e só vai se foder nessa história toda – respondeu impaciente – Ele tá assim porque vocês dois estão brigados – ela completou apontando para mim. – Se vocês estivessem de bem um com o outro, ele teria acreditado em você.
- Mas ainda essa história? – bufou levantando-se da cadeira em que estava sentada e em seguida andou batendo os pés – Todo mundo já superou isso, menos vocês?
- Como se fosse fácil – falei baixinho e em seguida revirei os olhos.
- É claro que é fácil – ela praticamente gritou comigo. Eu, por instinto, tampei os ouvidos e fechei os olhos. – Ele tá fazendo papel de idiota por causa de uma merda de uma implicância. – ela completou com a mão na cintura. – Quer saber de uma coisa? Vou falar com ele. – ela pegou sua bolsa e puxou pelo braço – Você vem comigo.
Nem me dei ao trabalho de impedir, precisava saber a verdade. Se ele não quer acreditar em mim, que acredite em outra pessoa. E eu sabia que era capaz.
- Estou com fome. – reclamei, olhando para .
- Ai! Que bom que você falou! – ela me puxou e descemos para a cozinha – Eu estou morrendo de fome também.
abriu a geladeira e tirou de lá uma marmita com comida de restaurante que provavelmente os pais dela pediram. Ela esquentou e depois entregou para mim. Subimos para o quarto dela novamente e tentando me convencer de que tudo ia ficar bem e eu que ia superar isso, comi em silêncio, enquanto tagarelava sobre assuntos quaisquer.

’s POV

Eu. Sou. Um. Completo. Idiota. Eu nunca senti tanta raiva de mim na minha vida inteira. Sobre o que a me disse, da falsa gravidez, eu até acreditaria, mas eu realmente acho que a Melissa não seria capaz de inventar aquilo. Ou seria? Sei lá, ontem ela me parecia desesperada com essa história. Eu queria acreditar na , mas algo me dizia para confiar na Melissa. Estranho.
Enfim, isso não justifica o fato de eu ter sido um completo idiota. Eu juro que não sei o que deu em mim ao falar aquilo para , mas percebi o poder daquelas palavras quando vi seus olhos se enxerem de lágrimas, quando ouvi a voz dela falhando, quando a vi chorando sentada no meio fio. Aquilo me destruiu completamente. Destruiu cada parte de mim. Senti vontade de me bater. Eu bem que merecia. É óbvio que eu merecia. nunca ia ser só uma garota com quem eu fiquei. Nunca. Jamais. Ela era muito mais do que isso. E antes de tudo isso, ela é a minha melhor amiga. Ou era. Eu sou um completo idiota.
Eu estava pensando seriamente em acabar com a minha vida.
Ok, isso é exagero.
Porém eu estava querendo sair dessa vida, porque eu não aguentava mais a merda que ela estava. Piorando ainda mais a situação, a campainha tocou e era e . Aquela seria a segunda visita do dia e a minha mãe estava estranhando tudo. Lá ia eu novamente.
- O que vocês fazem aqui? – tentei soar o mais simpático possível, mas nem ao menos tentou retribuir.
- Você é um idiota. – ela falou com raiva. Obrigado, eu já sabia disso. continuou quieta e sentou-se no sofá.
- Ah, e o que mais? – pedi, com um sorriso falso no rosto.
- Você é cego. – juntei as sobrancelhas e ela continuou – Metaforicamente. – fiz uma cara de entendido e deixei que ela prosseguisse – Eu não sei o que está acontecendo entre você e a , mas...
- Ah, não – eu já estava me sentindo mal o suficiente, não precisava ouvir broncas. – Você vai falar do que aconteceu aqui mais cedo, eu... – ela me interrompeu, assim como fiz anteriormente.
- Você vai ficar quieto e me deixar falar tudo o que eu tenho a dizer até o fim, porque se não eu não me responsabilizarei pelos meus atos. – falou com os olhos fechados e com muita raiva que eu preferi ficar quieto mesmo antes que sobrasse para mim. – Bem... Por onde eu começo? – ela andou de um lado para o outro – Ah, é claro! Do luau. – revirei os olhos, mas deixei que ela continuasse – Olha, já explicamos tudo o que aconteceu naquele dia, você já se convenceu, a já pediu desculpas, a já está com o , eu voltei a falar com a , a continua na dela e vocês ainda se odeiam. Por quê? – não respondi, estava com medo demais para isso – Eu juro que eu não faço a mínima ideia de como vocês se envolveram, não sei se começou antes da viagem, se foi durante, eu só sei que foi rápido e foi uma surpresa. Surpresa maior foi vocês terem brigado na nossa frente, porque aí descobrimos tudo. Ah, mas vocês tinham medo do que? Por que esconderam isso de nós? Tinha motivo, é claro que tinha e vocês dois já me contaram isso.
- Onde você está querendo chegar? – a interrompi e me olhou com uma cara de psicopata que eu desviei o olhar dela, só para me prevenir de uma morte ali.
- Isso é só uma introdução. – ela explicou. – Onde eu estou querendo chegar é que, eu não sei como você reagiu a toda essa história, mas está muito mal. Eu nunca a vi tão triste na minha vida e, apesar de eu ter sentido raiva dela no começo, agora eu realmente estou sentindo pena. Mas vamos ver se vocês se lembram de uma coisa: vocês se conhecem desde seus sete anos. Muito antes de você entrar no Northumberland, muito antes de vocês começarem a ficar, muito antes de vocês começarem a se odiar. Vocês sempre foram muito próximos e confiavam um no outro como nenhum de nós seis confiávamos. Onde essa confiança foi parar? – ok, eu já sabia onde ela queria chegar – Eu não sei se vocês perceberam, mas por causa dessa briga idiota e egoísta, nós seis não nos falamos mais. Vocês dois conseguiram estragar, com o orgulho de vocês, uma amizade de dez anos. Sabe o que é isso? São dez anos. Nós crescemos juntos e por causa do, repito, orgulho de vocês dois, foi tudo destruído. – ela ficou quieta por um tempo e eu não tive coragem de olhá-la – Lembre-se de uma coisa, uma só coisa: Antes da ser a garota que te magoou, ela é a sua melhor amiga. Ela é uma garota que cresceu com você, que sabe tudo sobre você e vice-versa. Só lembre-se disso. – ela puxou , que continuava quieta, e seguiu até a porta – Não são só vocês dois que estão sofrendo por causa dessa história. Nós também estamos exaustos de ver vocês assim. – e então, ela abriu a porta e saiu.
Eu continuei sentado no sofá apenas olhando para a porta. Então era isso. tinha razão em tudo o que ela falou. E eu continuei me sentindo um completo idiota. Talvez eu pudesse diminuir pelo menos 10% da minha idiotice. Precisava fazer aquilo. Tudo o que havia me dito tinha um por que e esse era simplesmente acreditar em . Eu percebi isso quando ela falou daquele negócio da confiança. Eu nunca deveria ter duvidado de , ela é a minha melhor amiga. E ela estava sofrendo. Foi o que a disse. Eu sou um idiota. Um verdadeiro idiota. Trouxa. Egoísta. Orgulhoso. Eu me odeio.
Foi assim que eu percebi que eu precisava, urgentemente, tirar essa história a limpo. Assim que saí do meu transe, peguei meu celular e liguei para Melissa. Era com ela que eu precisava falar. A garota não demorou a atender, com a voz cheia de felicidade, o que era suspeito.
- Melissa, preciso falar urgentemente com você. – minha voz saiu autoritária. – É um assunto muito sério.
- Nossa, mas o que aconteceu? – ela perguntou em um tom de deboche e eu me desesperei mais ainda.
- É sério, vem para a minha casa – apesar de ser um assunto sério, eu estava com preguiça demais para me locomover. Ela aceitou e desligou o telefone. Continuei sentado no sofá impaciente. Meu coração começou a bater rapidamente. Era exatamente aquilo que eu precisava fazer. Era o certo. Era só pedir. Não ia ser muito difícil. Era apenas um pedido. Ela iria aceitar. Se ela quisesse aceitar, é claro.
Melissa não demorou muito tempo para chegar e eu agradeci mentalmente. Atendi a porta com o coração na boca. Ela me abraçou, me se aproximou para me dar um selinho. Afastei-a de mim e ela me olhou confusa.
- Nós não estamos juntos. – a lembrei e ela revirou os olhos.
- Mas agora vamos ter um filho. – Melissa falou enquanto passava a mão na barriga. Bufei e resolvi seguir com o que eu tinha em mente.
- Sobre isso... Quero te pedir uma coisa. – minha respiração começou a sair alta e meu coração, a bater mais rápido. Ela não falou nada e eu me vi obrigado a continuar. Era algo simples, por que eu estava tão nervoso? Ah, é. Aquilo poderia confirmar meu futuro. – Eu preciso que você faça o teste de DNA.


Capítulo 26




Ela me olhava com as sobrancelhas juntas e abria a boca algumas vezes, mas só em uma delas saiu algo:
- Por que você está me pedindo uma coisa dessas?
E agora? O que eu iria falar para ela? Eu não poderia falar que eu estava duvidando dela. Automaticamente eu balancei a cabeça de um lado pro outro e respondi a primeira coisa que veio na minha cabeça:
- Sei lá... – ri baixo – Só para ter uma ideia.
- Ideia do que? – Melissa perguntou com raiva. O problema é que eu também não sabia do que eu estava falando. – Você acha que você não é o pai?
- Não... Não é isso. – passei as mãos no meu cabelo e tentei insistir – Faz o teste, por favor.
- Para que? – ela perguntou irritada novamente – Você não acredita em mim?
- Só faz o teste, por favor. – fechei os olhos e torci para ela aceitar. O que, por incrível que pareça, aconteceu. Comecei a ficar preocupado.
- Ok... – ela fechou a cara e começou a encarar o chão – Eu vou fazer no hospital do pai da Emma e você faz num outro dia, se você preferir. – ela respondeu com calma, sem parar de encarar o chão. Estranhei aquilo.
- Tudo bem, então. – respondi e ela se virou, sem dizer mais nada, e saiu da minha casa.
Aquilo precisaria ser pensado. Eu, com certeza, iria fazer aquilo escondido da minha mãe. Ela não iria aceitar a minha ideia e falaria que eu queria jogar a responsabilidade em outra pessoa. Provavelmente isso. Respirei fundo, deitei-me no sofá e fechei os olhos. Que dia. Só faz um dia que eu descobri que a Melissa “estava” grávida e eu nunca passei por tanta coisa na minha vida.

No final de semana, Melissa me ligou lembrando sobre o meu teste que tinha sido marcado para aquele sábado. Perguntei se ela já havia feito, mas ela fugiu do assunto. Novamente, uma atitude estranha. Antes de ir para o hospital, conversei com o . Já havia o contado sobre o teste, no começo ele não achou que valeria a pena, mas no final ele concordou comigo e achou necessário. Pedi para ele ir comigo e assim fomos, após o almoço. Não era necessário fazer jejum, o que eu considerei algo maravilhoso. Odeio esses exames em que você tem que ficar x horas sem comer e nem beber. Não aguento essas coisas.
Nossa mãe tinha ido trabalhar naquele dia, o que facilitou tudo. Era um dia ensolarado e de muito calor. Los Angeles estava repleta de turistas devido o verão e todos eles ocupavam muito espaço. O trânsito estava caótico, o que me deixou mais nervoso. Eu batucava a mão no volante, enquanto pedia para eu me acalmar. A voz automática do GPS falou que eu tinha que virar a próxima esquina. Essa vozinha feminina me irritou, mas não podia desligá-la, eu não fazia a menor ideia de onde ficava o tal hospital do pai da Emma.
Quando finalmente chegamos, entrei na recepção, que era muito chique. Típico de um hospital particular. Revirei os olhos com esse meu pensamento e fui até o balcão da secretária, que era bem bonita, devo acrescentar.
- Pois não? – ela falou abrindo um sorriso de orelha a orelha.
- Eu tenho um teste de paternidade marcado para as duas horas. – avisei um pouco inseguro. Era uma e quarenta e cinco.
Ela voltou sua atenção para o computador a sua frente e viu a lista de pacientes.
- Você é o ? – assenti e ela me entregou um crachá, em seguida se levantou da cadeira e saiu de trás do balcão – Me acompanhe, por favor. – Com certeza. Ok, foco .
Ela me levou até o hall dos elevadores e avisou:
- O consultório do Dr. Parker fica no oitavo andar, segunda porta à esquerda. – assenti e ela sorriu novamente, me medindo de cima a baixo. Retribui o sorriso, porém sem mostrar os dentes. Entrei no elevador e me acompanhou.
- Cara, o que foi isso? – ele perguntou rindo. Eu comecei a rir também, me sentindo mais calmo.
- Não faço a mínima ideia. – isso me acalmou um pouco, mas depois voltei a ficar nervoso, principalmente quando percebi um pequeno detalhe. – Espera aí. – meus olhos se arregalaram.
- O que foi?
- Ela disse Dr. Parker, né? – ele assentiu – O sobrenome da Emma é Parker... Será que...? – ai meu Senhor, eu ia fazer o teste de paternidade com o pai da melhor amiga da mãe. Olha, sinceramente, minha vida está cada vez mais foda. No péssimo sentido da palavra.
Chegamos ao oitavo andar, me deparei com um corredor extenso branco e azul. Fui até a segunda porta à direita e bati três vezes. A secretária do doutor – sim, outra secretária, essa era mais bonita do que a primeira, o que me fez pensar que o pai da Emma era um velho safado – abriu a porta e um sorriso – de novo. Eu dei os dados que eram precisos e esperei que o doutor me chamasse. Não demorou mais do que dez minutos e eu entrei na sala dele.
- Boa tarde. – ele estava de costas, guardando alguns papéis.
- Boa tarde. – respondi, me sentando na cadeira.
O doutor finalmente se virou para mim, arqueou as sobrancelhas e deu uma risada baixa.
- Quando li que você tinha dezessete anos eu não tinha acreditado. – ele se sentou. – Bom, mas aqui está você. Eu preciso que você me dê algumas informações, porque um teste de paternidade é algo bem complicado. Eu faço muitos destes e não estou a fim de trocar um resultado com outro, não é mesmo? – ele começou a rir, mas eu fiquei quieto. Esse comentário dele me assustou. – Então... A mãe já fez o teste? – engoli em seco.
- Ela não me respondeu isso... – expliquei – Tem como você ver se ela já fez?
- Claro, qual é o nome dela? – gelei. Ele com certeza sabia quem era a Melissa. Mas ele deveria saber da gravidez. Ou não.
- Melissa Campbell – respondi com muito medo. O doutor me olhou assustado e eu fiquei mais assustado ainda.
- A Melissa Campbell? – ele repetiu. Eu confirmei. – Campbell? A Melissa? – confirmei de novo. – Mas isso não é possível, ela não está grávida. – e eu me gelei inteiro, apesar de não ser uma surpresa.
- Então, é justamente por isso que eu estou aqui. – respondi, me aproximando.
- Eu não entendi... Como você quer que eu faça um teste de DNA se nem gravidez existe?
- Ela me disse que fez um exame aqui nesse hospital e que ele tinha dado positivo, mas estou suspeitando que isso seja falso. – o doutor juntou as sobrancelhas e se levantou de sua cadeira. – Então, eu pedi para ela fazer o teste, para ver como ela reagiria, e ela aceitou e marcou para mim. Eu pensei que ela já tivesse feito.
- Não, ela não fez. – ele abriu a porta de sua sala – Me espere aqui no sofá – sai da sala e sentei-me ao lado do . – Kristen, faz um favor para mim. – o escutei pedindo para sua secretária gostosa – Checa no registro geral o arquivo da paciente Melissa Campbell, por favor. – Ele se virou para mim – Isso não vai demorar muito. – assenti, já sentindo a raiva tomar conta do meu ser. Então a Melissa realmente seria capaz de uma coisa daquelas? Bati minha mão com força do braço do sofá, fechando o punho e abrindo em seguida.
- O que aconteceu? – perguntou e eu falei que já explicava. A tal da Kristen continuou procurando até que encontrou e perguntou o que doutor precisava. Ele respondeu que queria saber as últimas consultas dela, incluindo exames. Ela respondeu que a última foi há três meses, apenas uma consulta normal. O doutor virou para mim e se aproximou.
- A Melissa não fez nenhum teste de gravidez aqui. – ele começou a rir ironicamente enquanto debochava – Ela é melhor amiga da minha filha, eu sei que ela não está grávida, eu saberia se ela estivesse. Aliás, quando foi que ela te disse isso?
- Faz dois dias... Ela contou que está de três semanas. – outra risada irônica saiu da boca do doutor. Revirei os olhos.
- Não dá nem para fazer o teste de paternidade com três semanas, é muito pouco. – ele balançou a cabeça de um lado para o outro. Fechei os olhos respirando fundo. Então era verdade. Quer dizer, mentira. Ah, sei lá. – Bom, então acho que não temos nada para fazer aqui né? – assenti. – Não precisa me pagar nada. Agora, boa sorte com a Melissa hein. – outra risada – Quem diria... Fingir uma gravidez... Que absurdo. – foi aí que eu me toquei de um detalhe extremamente importante.
- Doutor – o chamei – Se ela não fez o exame aqui, como é que ela me mostrou o resultado? – essa pergunta fez o doutor semicerrar os olhos.
- Como assim mostrar o resultado? – eu percebi que ele não havia se tocado de como a Melissa fingiu a gravidez. Estava prestes a fazer aquele velho parar de debochar e se ligar sobre a verdadeira Melissa e Emma, já que, muito provavelmente, foi ela quem a ajudou.
- Ela me mostrou um papel, com o nome do hospital, com o seu nome e o resultado do teste. – expliquei com calma, só por fora, porque por dentro eu queria agarrar um e matá-lo lentamente e doloridamente.
- Como ela conseguiu isso? – é justamente isso que eu quero saber, homem! Respirei fundo de novo e falei, ainda fingindo calma e ternura:
- É isso que eu quero saber. – me levantei do sofá e me aproximei do doutor – Se ela não fez nenhum exame, ela falsificou um.
O velho arregalou seus olhos e abriu a boca inúmeras vezes, mas sem falar nada. Porém, sua expressão me perguntava “Como ela fez isso?”. Então respondi com o meu raciocínio, um tanto quanto bem lógico:
- A Emma, sua filha, a ajudou. – engoli em seco, com medo da reação do Dr. Parker. Ele fechou a boca por fim e balançou a cabeça negativamente. Eu não sabia ao certo se ele estava com raiva ou decepcionado. Acho que a segunda opção.
- Isso é inadmissível! – ele passou a mão pela careca e depois a botou no bolso de seu jaleco – Eu vou tomar as devidas providências. Me desculpe por isso, garoto, me desculpe. – ele balançou a cabeça rapidamente – Que vergonha! Que vergonha!
Eu estava ficando sem paciência de ficar naquele lugar e a cor branca do consultório estava me perturbando. Avisei que iria embora e agradeci, enquanto o doutor continuava pedindo desculpas. continuava com cara de desentendido e eu estava com raiva. Muita raiva e ódio de mim.
- A estava certa desde o começo! – bufei assim que entramos no elevador – E eu, o grande idiota, não acreditei. Caí na história da Melissa. Puta que pariu, essa garota é louca! – só concordou com a cabeça – Eu não sei do que sou capaz. Eu, sinceramente, estou com medo dela. Vai saber o que ela é capaz de fazer. , ela falsificou um teste de gravidez! – meu irmão continuou quieto, observando os números dos andares no visor do elevador – Eu vim até aqui para nada! Mentira, eu confirmei o quão idiota eu sou! Caralho, mas que merda de vida, vai se foder, puta que pariu, que bosta. – depois dessa me olhou segurando uma risada. – Tá rindo por que, seu viado?
- Você conseguiu juntar quatro palavrões em uma só frase. – eu nem me dei o trabalho de responder, não queria descontar nele, queria descontar na Melissa. Que ódio. Ela fodeu toda a minha vida. Que garota mais desorientada.
Cheguei na recepção e dei de cara com a outra secretária gostosa. Ela me mandou um sorriso tão bonito e cheio de malícia, que, se eu não estivesse prestes a imitar o Hitler, eu teria flertado legal ali. Bom, eu estava assim, ela não estava. No momento em que nos cruzamos, ela passou a mão na minha, colocando um papel entre os meus dedos. Me virei confuso e ela piscou para mim, entrando no elevador em seguida. Peguei o papel e vi que lá tinha um número de telefone. Guardei no bolso da calça, só por via das dúvidas, e segui o meu caminho.
Entramos no carro e achou melhor ele dirigir. Concordei, porém pedi para ele passar na casa da Melissa.
- Tem certeza disso? – ele perguntou inseguro.
- Tenho, caralho. Faz o que eu te mandei. - respondi impaciente.
- O que faz você pensar que manda em mim? – ele perguntou com uma falsa indignação.
- Eu nasci um minuto antes de você, agora vai! – ele me obedeceu e pisou no acelerador.
Não demoramos muito tempo para chegar na mansão dos Campbell. Mansão quase castelo, aquilo era gigantesco. Mas enfim, vamos ao que interessa.
Saímos do carro e eu segui na frente. Toquei a campainha e esperei. Os pais e seus irmãos mais novos podiam estar lá, mas isso não me importava nem um pouco. A própria Melissa abriu a porta e sorriu de orelha a orelha.
- ! – ela ia me abraçar, mas eu peguei os braços dela com força - não tanta, eu podia estar com raiva, mas não era um troglodita - e os afastei rapidamente de mim. – Ai, o que foi?
- O que foi? – repeti com raiva. A mãe dela desceu as escadas, mas novamente, eu não me importava.
- , o que deu em você? – ela me olhava assustada e isso só me deu mais raiva. Não era possível que ela não tinha se tocado. Ou se tocou e estava assustada com o fato de eu ter descoberto.
- Porra, você ainda pergunta? Você me fez de idiota, fez da minha vida um inferno!
- Garoto – a mãe dela se aproximou e me afastou – Quem você pensa que é para chegar na minha casa e falar assim com a minha filha?
- Me larga! – me soltei dos braços dela e dei de cara com o pai de Melissa. Ok, agora eu me importava.
- O que está acontecendo aqui? – a voz de locutor de rádio do homem me fez me encagaçar todo, porém continuei firme.
- Pergunta para a sua querida filhinha. – respondi grosso e vi que se aproximou de mim.
- Ah, na falta de um, são dois! – a senhorita Campbell reclamou e, quando ia nos expulsar, o seu marido a impediu.
- Eu quero saber o que a minha filha fez de tão errado para esse garoto vir aqui fazer esse escândalo. – e então ele se virou para Melissa, que estava toda encolhida encostada nas costas do sofá da extensa sala.
- Eu não sei do que ele está falando, papai. – como é que é?
- Ah, cala essa boca! – reclamei, passando a mão no rosto – Conta a verdade. Está com medo do que os seus pais vão achar da "filhinha querida" deles?
- Garoto, você está muito abusado, queira se retirar da...
- Já disse que ele fica! – o senhor Campbell interrompeu a sua esposa, que apenas revirou os olhos. – O que a Melissa fez? – agora ele estava perguntando para mim e não fez o uso da expressão “minha filha”, ou seja, ele já estava ficando nervoso. Seria ótimo se ele soubesse o que a “filha dele” fez.
- Pra começar assim do básico, a sua filha falou para mim que está grávida. – adorei começar com essa frase, porque seus pais arregalaram os olhos e se viraram para Melissa, que estava congelada.
- Isso é verdade? – o pai dela perguntou com uma voz tão autoritária que eu me arrepiei, mas aquela era a hora de eu continuar.
- Claro que não! – agora o senhor virou para mim e me fuzilou – Ela fingiu estar grávida porque eu terminei com ela. – a mãe começou a rir debochando, mas eu não deixei que ela falasse algo – Ela falsificou um teste feito no hospital do Dr. Parker, o pai da Emma. – a mulher parou de rir e começou a prestar atenção. – Ou seja, ela fez algo muito ruim, eu não sei se isso é crime, porém não é algo que alguém sensato, de uma família de classe altíssima como a de vocês faz.
- Isso é mentira! – Melissa finalmente se manifestou, com os olhos cheios de lágrimas. – Não acreditem no que ele está falando, ele é louco! – dessa vez quem começou a rir de deboche foi eu.
- Eu que sou louco? Melissa, eu só estou falando a verdade. - os seus pais continuaram quietos – Eu não tenho culpa se você é meio louca, desgovernada.
- Cala a boca, seu filho da puta! – ela pulou para cima de mim e começou a dar vários tapas nos meus braços e no meu peito. Seu rosto estava vermelho e as veias sobressaltadas. A mãe dela a puxou e o me salvou.
- Saiam da minha casa agora! – o pai dela não tentou impedir, então vi que realmente era a minha deixa. Porém, eu tinha que me prevenir de uma coisa ali.
- Se vocês não acreditam em mim, podem perguntar para o Dr. Parker. Ele já sabe de tudo. Eu fui lá hoje fazer um teste de paternidade marcado pela sua filha. – e apontei para ela, que estava me fuzilando com um olhar psicopata que não me assustou nem um pouco – Ele checou os arquivos da Melissa e não tinha nenhum exame lá. Podem perguntar, ele vai confirmar. – e assim, dei as costas e sai da mansão. Entrei no carro no banco de passageiro. – Não sei você, mas eu estou muito mais aliviado.
- Eu continuo assustado. – confessou com os olhos arregalados, sem tirar o olho da rua. Eu comecei a rir e, em seguida, ele me acompanhou. Estava tudo voltando ao normal. Quase tudo.
- Será que você pode me levar para outro lugar? – perguntei inseguro e revirou os olhos.
- A gasolina está muito cara, sabia? – o ignorei e pedi:
- Me leva na casa da ?
- Você gosta de sofrer né, cara? – comecei a rir de novo.
- Na verdade não, mas eu realmente preciso pedir desculpas para ela.
- Você sabe que ela não vai ficar muito feliz com isso né? – suspirei pesadamente e apoiei a cabeça no vidro. Ele estava certo. Eu falei muita merda para ela, mas precisava fazer isso. Ela poderia não aceitar, me xingar e me bater o quanto ela quisesse, mas eu pediria desculpas.
Assim que chegamos na frente da casa dela, eu pedi para ficar do lado de fora e me esperasse. Não queria que ele entrasse e presenciasse aquela cena, porém eu ainda precisaria de carona.
Toquei a campainha e dei graças a Deus por estar um silêncio na casa. Isso indicava que ela, provavelmente, estava sozinha. Ou que não tinha ninguém na casa. Não sei qual era a melhor – ou a pior – opção. Depois de demorados segundos, ela abriu a porta e revirou os olhos. Quando percebi que ela a fecharia na minha cara, eu botei metade do meu corpo pra dentro, fazendo com que ela se afastasse e reclamasse:
- O que você quer? – cruzou os braços e fechou a cara. Eu fechei a porta atrás de mim e comecei com o discurso que eu improvisei no carro. Sim, um discurso sincero.
- Você pode me xingar, me bater, fazer o que você quiser, porém eu estou aqui para te pedir desculpas. – ela arqueou uma sobrancelha e em seguida começou a rir.
- Eu não acredito nisso! – eu suspirei e olhei para o teto. Aquilo ia ser difícil. Mas eu já devia saber. – Deixa eu adivinhar: você descobriu que a Melissa estava mentindo e agora está se sentindo um idiota e sente o dever de pedir desculpas para mim, que havia te avisado de tudo isso.
- Exatamente isso. – respondi na cara dura e ela voltou a rir. – Olha, me escuta, por favor. Eu sei que você está brava e você tem toda razão, porém eu preciso que você me escute. – ela ficou quieta e eu considerei isso como uma permissão – , eu deveria ter acreditado em você. Eu sou um completo idiota. Eu queria acreditar, porém eu estava cego, eu...
- Me fale algo que eu não sei. – ela me interrompeu sem me olhar nos olhos e começou a mexer nas unhas, como se não fizesse a mínima questão de se importar com o que eu estava dizendo. Bom, ela pediu para eu dizer algo que ela não sabia, né? Então eu iria dizer.
- Desde o momento em que comecei a me cansar da Melissa, você estava envolvida nisso. – comecei, ela parou de mexer nas unhas, mas ainda não me olhava – Você estava lá o tempo todo. , você é muito mais do que uma garota que eu fiquei. Nós éramos muito amigos antes e eu sei que nós perdemos tudo, mas era preciso. Eu precisava de você como muito mais que a minha amiga.
- O que isso tem a ver com o fato de você não ter acreditado em mim? – ela perguntou agora me olhando nos olhos.
- Nada. – respondi com sinceridade – Tenta me entender, eu estava estressado. – ela continuou com a cara de tédio – , eu não acreditei em você porque eu sou um idiota, mas o que eu quero dizer é que você é muito especial para mim. Por favor, releve qualquer coisa que eu disse para você, foi da boca para fora. – ela continuou quieta – Eu fiquei bravo com você? Fiquei. Mas só Deus sabe o quanto eu tive que me controlar para não ignorar tudo o que aconteceu naquele dia na sua casa. – me aproximei dela – Você é muito mais do que qualquer garota que eu já fiquei. Eu estou... – olhei nos olhos dela e respirei fundo – Eu estou apaixonado por você, .
Ela ficou um tempo me olhando nos olhos. Apesar da distância, não me atrevi a fazer qualquer coisa da qual eu me arrependeria depois, mesmo eu querendo muito. Eu já estava ficando nervoso quando ela me respondeu:
- Isso realmente é uma pena.





Capítulo 27


’s POV

Ele estava parado na minha frente, a poucos centímetros de mim. Ele me olhava com uma cara de decepção muito grande. Eu já esperava que ele fosse se sentir assim, mas ele fez o mesmo comigo. E eu não iria perdoá-lo assim tão fácil. Ele disse várias coisas que me magoaram na viagem e depois dela, eu estava muito triste. Ele não quis me perdoar e nem acreditar em mim, por que eu teria que fazer o mesmo?
- Tudo bem então... – respondeu por fim, se dando por vencido. Ah, qual é, pensei que ele fosse implorar mais. Aquilo me surpreendeu. Ele balançava a cabeça levemente e procurava algum ponto para olhar que não fosse eu, mas no final, acabou optando me olhar nos olhos mesmo. – Vamos ver quanto tempo você fica brava comigo. – e ele se aproximou mais um pouco. Filho de uma puta. O ruim de você se apaixonar pelo seu melhor amigo, é que ele te conhece muito bem e sabe quando você só está fingindo. E bem, eu queria revidar.
- Você vai ter que implorar muito para fazer eu te perdoar. – respondi quando a distância entre nós dois era realmente muito pouca. Eu não iria ceder, apesar da vontade ser muita. Ah, mas que merda. Por que eu tinha que sentir ódio e desejo ao mesmo tempo? Isso sequer deve ser normal. Precisava desviar o foco. – Hoje à noite a dará uma festa... Ela não comentou nada com você porque ela pensou que você não estaria no clima de festa. – nós ainda continuávamos muito perto – Mas agora que você já sabe que a Melissa não está grávida, – ele revirou os olhos e eu ri baixo – acho que você iria.
- Você está certa. – ele sorriu torto e eu tive que desviar o olhar dele – Que horas?
- As oito. – coloquei o braço no peito dele, o empurrando – Com todo respeito, eu quero ficar sozinha, como eu já estava. – Ele ia contestar, mas foi interrompido pela minha mãe entrando na casa com várias sacolas de mercado.
- Olá ). – ela cumprimentou.
- Olá. – ele respondeu e depois se virou para mim, sussurrando – Parece que você não vai ficar sozinha. – e soltou uma risada baixa, porém irônica. Eu revirei os olhos e decidi fazer algo de útil.
- Mãe, quer ajuda? – me afastei dele e fui em direção das sacolas que a minha mãe tinha colocado no chão.
- Não precisa, você está com visita. – ela negou e pegou uma das sacolas indo para a cozinha.
- Na verdade – aquela era a chance – ele já estava indo embora, né )? – forcei um sorriso.
- Sim, eu estava – já estava começando a ficar aliviada, mas a sensação não durou muito tempo – Mas eu vou te ajudar, tem muita sacola aqui. – minha mãe ia falar novamente que não, porém ) fez a questão de ficar mais alguns minutos na minha casa. Adoro. Os ajudei, guardando as compras em seus respectivos lugares.
Assim que terminamos, eu só precisei olhar para ele e ele entender o recado. Falou que ia embora, mas o tom que saiu a frase deixou um ar de continuidade, seja lá o que isso for. Eu não sei explicar, porém era como se ele ainda fosse me infernizar muito. Mas eu merecia né? Eu que contei da festa da . Aliás, queria dar uma soneca antes de começar a me arrumar. Ah, qual é. Estou morrendo de sono e aquele garoto infernal não sai a minha cabeça.
Subi para o meu quarto e me joguei na cama. Não adiantou muita coisa, já que ele praticamente tomou posse da minha mente. Eu juro que eu tentei dormir, mas não conseguia. Eu sabia que uma hora ele iria descobrir a verdade e viria me pedir desculpas. Eu não iria perdoá-lo tão fácil. Ele falou um monte de coisas que me machucou muito, ele estava pensando o que?
Bufei alto e peguei meu celular. Mandei uma mensagem para as meninas e avisei que iria me arrumar na casa da . As meninas aceitaram a ideia e disseram que iriam também. reclamou dizendo que não tinha nos convidado, mas a ignoramos.
Tomei um banho rápido, tentando tirar da minha cabeça todos os pensamentos relacionados ao , apesar de eu saber que banho só faz os pensamentos voltarem e não se afastarem. Quando terminei penteei meu cabelo e o sequei. Vesti uma roupa qualquer – calça jeans e uma baby look rosa -, e fui escolher a minha roupa para a festa. A hora mais difícil do dia. Abri o meu armário e fiquei observando todas as opções. Ou o que sobrou das opções. Eu não era do tipo de ter crises de “eu não tenho roupa para usar”, mas aquele momento era uma exceção.
Peguei meu celular de novo e liguei, por facetime, para a . Ela atendeu e pude ver que ela estava de pijama. Típico de .
- Sabia que você vai dar uma festa daqui duas horas? – perguntei rindo baixo. Ela deu de ombros e respondeu:
- Já tenho tudo pronto, menos a minha pessoa. – ri com a resposta e resolvi chegar ao ponto.
- Preciso de ajuda para escolher uma roupa.
- Pensei que você fosse se arrumar aqui, apesar de eu não ter convidado.
Revirei os olhos e prossegui:
- Eu vou, mas preciso de uma roupa.
- Filma o seu armário. – pediu e eu troquei a câmera, que antes era frontal, para a traseira, gravando o meu armário. – Hum... – ela começou a pensar – Sabe aquela regata vermelha que eu amo? Aquela que tem no número 36 nela? – assenti – pega ela, um shorts e é isso ai.
- Tem certeza? – torci o nariz e ela bufou.
- Por que a pergunta?
- Por nada não. – menti. É claro que tinha um por que... Eu convidei o para festa. não pareceu acreditar no que eu disse, para variar, e eu tive que confessar. – O veio aqui em casa. – ela juntos as sobrancelhas e começou a rir.
- O que isso tem a ver com o fato de você querer ir mais arrumada para minha festa?
- Tem a ver que ele veio pedir desculpas porque ele descobriu que eu estava certa.
- E você aceitou?! – ela berrou. Ainda bem que eu não estava de fone de ouvido, porque se não teria causado um belo de um estrago.
- É claro que não. – ela suspirou aliviada – Mas eu o convidei para a festa. – fiquei com medo de ela desaprovar, mas isso não aconteceu.
- Ah, agora entendi tudo. – ela balançou a cabeça enquanto botava um sorriso malicioso no rosto. – Vocês dois também, que coisa mais chata. Eu juro que não entendo. – ri baixo, abrindo a minha gaveta para pegar a regata solicitada – Usa essa roupa mesmo, você vai ficar maravilhosa, ainda mais com esse seu corpinho maravilhoso, vai deixar o nas alturas. - , não começa – pedi seriamente, mas ela começou a rir, enquanto dava a desculpa de que tinha que desligar para tomar banho. A ligação acabou e eu continuei na mesma.
Como não tinha uma ideia melhor, peguei aquela roupa mesmo. Era a tal regata vermelha, com um número 36 grande escrito em branco e que deixava a barriga aparecendo. Peguei um shorts jeans clarinho de cintura alta, com a barra dobrada. Era um shorts bem curto, mas eu o adorava. Abri o armário dos sapatos e peguei o meu all star branco de cano médio. Depois peguei os acessórios, que não passavam de duas pulserinhas douradas. Guardei tudo numa mochila pequena, calcei uma rasteirinha – posso ser desleixada quando eu quero – e desci as escadas correndo, enquanto pedia para o meu pai, que estava largado no sofá assistindo O Senhor dos Anéis, para me levar para a casa da . Ele reclamou de início, mas depois me levou do mesmo jeito. É, eu realmente precisava aprender a dirigir.
Não demoramos muito, já que a casa dela era relativamente perto da minha. Toquei a campainha e atendeu.
- E ai, gata. Soube que hoje vai arrasar o coração de um certo alguém. – ai, eu não merecia aquilo. A tem o poder de fazer a cabeça de todos. Constrangedor e irritante.
- Não pretendo nada, querida. – entrei na casa e subi as escadas, com em meu encalço. Ao entrar no quarto dela, vi que também já estava lá.
- Eu realmente não entendo você e o começou, novamente, a falar o que ela já havia me dito no facetime – Uma hora vocês se odeiam, em outra vocês se amam, mas ai um fica com raiva do outro e o outro fica todo triste, mas depois acontece uma coisa e esse outro fica com raiva de um e o um fica sofrendo, ai credo, muito complexo. É por isso que eu não namoro.
- Mas a gente não namorava – tratei de ser rápida na correção e ela me lançou um olhar de “tanto faz”. – Mas ... Você realmente nunca teve ninguém na sua vida? Ela me olhou perplexa. Levantei uma sobrancelha e rapidamente balançou a cabeça.
- Não... – e se virou para o seu armário de roupas.
Eu estranhei muito a atitude dela e, pela cara das meninas, eu não fui a única. Era muito estranho que , com toda a beleza dela, nunca tenha se envolvido com alguém. Tudo bem que ela mesma não gostava de se apaixonar e isso ia contra os princípios dela, mas eu nunca havia entendido o porquê.
- ... – a chamei calmamente, hesitando em fazer a minha pergunta – Por que você se recusa tanto a se envolver com alguém?
Ela ficou alguns segundos muda, desdobrando e dobrando novamente a mesma regata branca. As meninas também não ousavam soltar um pio. Então, aconteceu algo que eu não esperava: começou a chorar.
- O que foi? – levantou-se da cama de rapidamente e foi ao encontro dela. Eu e a fizemos o mesmo.
- Bem... – ela respondeu entre soluços – Houve uma vez... Há mais ou menos um ano e meio...
Nós ficamos em silêncio. Saber que realmente já esteve em um relacionamento era uma surpresa, e poderia ser boa, se ela não estivesse chorando tanto.
- O nome dele era Natan... – ela não olhava para gente, estava encarando o chão com seus olhos vermelhos, que insistiam em derramar lágrimas – O conheci numa festa de família... Ele é amigo do meu primo e estava lá porque ele não queria ir à festa sozinho e o convidou. – permanecemos em silêncio. tremia e nós a segurávamos como se ela estivesse prestes a cair a qualquer instante – Nós nos tornamos amigos. Conversávamos bastante por mensagens. Nós nos encontramos, ficamos... Ele me mandava flores, me elogiava sempre. Ele parecia ser o cara perfeito, sabem? Eu me senti muito feliz por um tempo. Ele não chegou a me pedir em namoro, mas nós ficamos bem sério.
- E por que você não nos contou? – interrompi. Havia algo de errado nessa história. Se ele era tão perfeito assim como ela diz e, até agora, me parecia alguém bem legal, por que ela teria nos escondido e estaria chorando tanto?
- Aí vem a parte ruim da história. - ela suspirou e sentou-se em sua cama. Fiquei apreensiva – Ele fumava. – fez uma pausa e eu e as meninas chegamos à mesma conclusão ao mesmo tempo. Então, foi assim que ela começou a fumar. – No começo eu não queria, sabia que isso ia me fazer mal, mas ele insistia tanto que eu, com medo dele me achar uma chata,... Aceitei. – fechei os olhos. Tinha mais coisa aí, certeza. – E eu, como vocês já sabem... Viciei. – ela fez outra pausa para enxugar as lágrimas que ainda caiam com frequência. – Eu estava me apaixonando por ele, de verdade. E eu acreditava que era recíproco. Depois de alguns meses nisso, ele me apresentou a maconha... Pensei que estaria tudo bem, é menos danoso que o cigarro. – nisso tive que concordar, mas mentalmente – Porém, depois ele me ofereceu cocaína. – sua voz falhou e as meninas olharam para mim com os olhos arregalados.
- , por favor, não me diga que você... – começou, mas foi interrompida:
- Claro que não. – pela primeira vez olhou nos olhos de uma de nós três – Eu não sou tão louca assim. Natan estava diferente. Ele se tornou menos cuidadoso e fofo como era antes, ficou mais agressivo comigo. Mas eu era uma boba apaixonada. Faria qualquer coisa por ele... Mas isso mudou quando ele me pediu para ajudar com a distribuição... – sua voz ficava cada vez mais embargada e eu cada vez mais horrorizada com toda essa revelação – E quando eu recusei, ele me usou. Alguns dias depois, vi uma menina da escola xeretando a minha bolsa. Perguntei para ela o que queria e então vi. Um saquinho de cocaína que ela pegou em uma mão e o dinheiro na outra. Ele estava me usando para seus negócios mesmo quando eu recusei. E foi assim que eu descobri que ele não gostava de mim.
Nós não sabíamos o que dizer. Mesmo não tendo o poder de ler mentes, sei que as meninas estavam pensando no mesmo que eu: como tudo isso pode acontecer com ela e nós nem ao menos suspeitamos? Nós éramos tão felizes, parecíamos tão felizes, assim como , enquanto na verdade sua vida estava um inferno com Natan? De repente, ela começou a chorar compulsivamente.
- E o pior de tudo... Foi que eu estava tão apaixonada que me entreguei a ele. – tampou o rosto com as mãos – Ele foi o meu primeiro e único.
Imediatamente, eu, e abraçamos . Ela nunca se envolvera com uma pessoa e a primeira vez que isso acontece, ela se entregou de vez e se ferrou. Não me surpreende nada as atitudes dela agora. São todas geradas pelo medo. Mas uma coisa tenho que admitir: o jeito que ela enfrentou toda essa história quieta me admira e inspira.
- Você é a pessoa mais forte que eu conheço. – falei.
soltou uma risada baixa, entre seu choro.
- É... Eu tenho os meus talentos. – é disso que eu estou falando. Ela não se deixa abater por quaisquer problemas que sejam. Até numa hora como essa, ela consegue ser descontraída.
- E mais uma coisa, – continuei – não é porque isso aconteceu com Natan que vai acontecer com todos. Esse garoto é o maior babaca que existe no mundo. Você vai encontrar alguém que te mereça e saiba te valorizar. Saiba quem é a garota mais bonita, mais legal, mais inteligente e com conteúdo desse mundo inteiro.
- Ei... Peraí... – interrompeu – Só não ofenda, ok? – começamos a rir e deu um sorriso. – Mas ela tem razão. E isso já passou, eu sei que é um passado que tem marcas no presente – nós sabíamos que ela se referia ao vício de – mas vamos superar isso juntas, porque nós estamos do seu lado. – e segurou a mão dela.
- E hoje é dia de festa! – completou – É dia de aproveitar a vida e esquecer dos problemas!
- Vocês tem razão. – enxugou as lágrimas – Eu já passei tanto tempo viva com esse meu passado, tudo não passa de um grande erro na minha vida. E eu vou parar de fumar, para apagar tudo o que tem a ver com Natan de vez da minha vida! – ela se levantou e voltou para o armário – Agora vamos nos arrumar que temos uma grande festa para dar!
- Ok, ok. – falou. Foi um pouco difícil para voltarmos com o humor que estávamos antes, mas se não queria que aquilo estragasse o dia dela, não iríamos voltar a tona com a história e nós três conseguíamos entender o porquê dela ter escondido isso esse tempo todo.
– Posso ver a roupa de vocês? Assim posso me inspirar na hora de pegar alguma roupa da . – segurou a risada quando a olhou com reprovação.
Tirei a minha roupa da mochila, já começando a me trocar.
- Ai que ódio, . – se manifestou. Eu perdi alguma coisa? A olhei confusa e ela explicou – Você é muito bonita, olha esse corpo. Ah, com certeza o não vai resistir.
- Ah, cala a boca. – ri jogando uma almofada da cama de na cara dela.

Quando estávamos todas prontas, faltava apenas meia hora para as oito da noite. O DJ contratado pela chegou e se instalou no jardim da casa dela, onde ficava a piscina. O barman, que ela também contratou, chegou logo depois. E que barman. Ele era moreno e tinha os olhos claros, uma barba mal feita que o deixava extremamente sexy. Ele usava uma regata preta colada que só realçava seus músculos, tanto como os do braço, como seu peitoral e nossa senhora, o que era aquilo?
- , meu senhor, do jeito que eu te conheço posso constatar que você contratou o barman para pegar ele, porque olha. – falou olhando para o homem que estava montando sua mesinha ao lado do DJ.
- Espera até ver o outro. – sorriu maliciosamente e piscou para a gente.
- Tem outro? – virou para nós com os olhos arregalados.
A resposta veio assim que o tal saiu da casa e foi para o jardim. E puta que pariu, ele era mais maravilhoso ainda. Era loiro, tinha os cabelos bagunçados, usava uma regata também – e pelo o que eu entendi, era tipo um uniforme – e nossa senhora, ele era mais forte que o moreno. Meu senhor, obrigado por ter me dado uma amiga como a que tinha muito bom gosto para contratar pessoas. Aliás, ela estava lá com eles, puxando um papo nada profissional.
- Posso conhecer as suas amigas? – pude escutar o loiro perguntando e sorriu em nossa direção, concordando.
Eu e as meninas nos aproximamos e ela nos apresentou. Pode ter sido impressão minha, porém o loiro sorriu para mim. Só para mim. E o sorriso dele era tão lindo, com seus dentes brancos e certinhos, os lábios esticados numa forma tão perfeita que parecia terem sidos esculpidos. reparou no que tinha acontecido e começou a rir.
- É, o vai ter que tomar muito cuidado. – ela sussurrou para mim enquanto saia de perto do balcão, me deixando sozinha com eles. O loiro continuava sorrindo para mim e eu apenas retribui, mordendo o lábio em seguida. Me virei e fui até as meninas. É, talvez o realmente tenha que tomar cuidado.

Aos poucos, a galera da escola foi chegando. Daniel chegou com mais alguns garotos e pude ver a cara de desespero de .
- Não sabia que o Daniel vinha. – ela falou, esboçando um sorriso leve no rosto. Eu sabia que ela ainda gostava dele. E, pela reação do Daniel, que era se aproximar de nós, sorrir, abraçar a e falar que ela estava muito bonita, pude perceber que ele também ainda gostava dela.
- Fala se eu não sou demais. – levantou uma das sobrancelhas e cruzou os braços. Revirei os olhos brincando.
Estava tudo indo muito bem, o DJ já tinha começado a tocar as músicas, a casa estava começando a ficar cheia, quando ele chegou. e entraram no jardim em sincronia, como sempre. E ele estava maravilhoso. Usava uma bermuda jeans escura, uma camiseta preta do Arctic Monkeys e calçava um vans também preto. Seu cabelo estava bagunçado como se ele tivesse acabado de acordar, o que só o deixava mais maravilhoso ainda. Deixei um suspiro escapar sem querer e a começou a rir.
- Eu te entendo – botou a mão no meu ombro antes de ir ao encontro do , que também estava bem bonito. Esses irmãos são problema. , por sua vez, se aproximou de nós e nos cumprimentou, dando um beijo na bochecha de cada uma. Quando chegou na minha vez, ele botou a mão na minha cintura e deu um beijo perto demais da minha boca. Aquilo me deixou arrepiada e com falta de ar por algum tempo. Essa de “você vai ter que implorar para eu te perdoar” não foi uma boa ideia. Ou talvez tenha sido. Me afastei dele, dando um passo para trás. Ele então se afastou de nós e foi até os amigos dele.
Respirei fundo e decidi pegar uma bebida dos barmen gatos. Olhei o cardápio e escolhi a famosa Sex on the Beach. O loiro fez questão de preparar para mim, mesmo quando o moreno começou a fazê-la. Sorri com aquilo. Talvez eu pudesse me aproveitar da situação. Ele me entregou a bebida e perguntou se estava boa. Tomei um gole e não pude negar. Estava muito boa.
- Você pode pedir quantas você quiser, viu? Estarei ao seu dispor. – ai moço, eu que estava ao seu dispor. Pensei em falar isso, mas na verdade só agradeci e levantei o copo, como se brindasse com ele, mesmo sem ele ter nenhuma bebida – que ele fosse beber – em suas mãos.
As meninas me chamaram para o meio do jardim e começamos a dançar a música eletrônica que estava tocando. De vez em quando, meu olhar parava no , que ainda estava com seus amigos, mas agora na companhia de mais umas garotas da escola que eram bem fáceis. Balancei a cabeça e me concentrei na música. Quando voltei a olhá-lo, ele também estava olhando para mim. Ele sorriu por um momento, mas desviou o seu olhar para um pouco mais para a esquerda e seu sorriso sumiu, sendo substituído por uma cara de desprezo, que o fez virar-se de costas para mim. Estranhei sua reação e me virei para onde ele estava olhando. Minha cara deve ter sido parecida com a dele, pois quem tinha chegado era ninguém mais e ninguém menos que Henry, na companhia de Emma e... Melissa. Como eles tiveram a cara de pau de virem?
- , olha quem veio. – ela se virou para eles e arregalou os olhos. – Você vai deixá-los ficar?
- Vou né – ela levantou os ombros e deu um gole em sua bebida – Eu convidei a escola inteira e vocês sabem, o povo vai chamando e eu nem sei mais quem está aqui, quem não está. Se eles atrapalharem em alguma coisa, eu mando eles irem embora. – concordei, mesmo hesitante. A presença deles me assustava. Nesse momento, queria que a tivesse uma daquelas ideias mirabolantes de vingança, ia ser legal ver a Melissa sofrendo um pouco. Sei lá.
Espantei esses pensamentos e continuei dançando. Aquela era para ser uma boa noite, então, iria tornar isso possível.

’s POV

Cheguei à casa de e a primeira coisa que eu reparei foi em como a estava maravilhosa. Ela estava simples, mas ao mesmo tempo tão linda, tão . Só que o short poderia ser um pouquinho menos curto né? Não que isso fosse um problema para mim, realmente não era desde que eu fosse o único a poder se aproveitar daquilo.
Aproveitei para cumprimentar as meninas, assim eu poderia cumprimentar a , ela querendo ou não. Na sua vez, fiz questão de puxá-la pela cintura e sentir sua pele quente contra a minha mão e em seguida dei um beijo no canto de sua boca, quase que dando um selinho nela. É óbvio que foi proposital e ainda pude sentir que ela ficou arrepiada. Adorei isso.
Me afastei e fui até os meus amigos, não os via desde o último dia de aula. Depois de um tempo, umas meninas chegaram, mas precisamente a Brianna, Hanna e Kimberly, três loiras até que muito bonitas, porém não era o que eu queria no momento. Se fossem em outros momentos, até que alguma delas teria uma chance. Porém, naquela hora, tudo o que importava era a garota que estava no centro do jardim dançando com suas amigas. Ela retribuiu o olhar, mas logo atrás dela pude ver Henry chegando com Emma e Melissa. Não acredito que eles estavam aqui. Não acredito que ela estava aqui. Como os pais dela a deixaram vir depois do que eu contei para eles? Ah, do jeito que ela é dissimulada, devem ter acreditado nela. Ou ela tinha saído escondido. Por que eu estava me questionando isso? Tinha mais o que fazer, como por exemplo, buscar uma bebida para mim e dar mais umas olhadas na dançando. Seu corpo se movimentava de uma forma tão leve e tão sensual ao mesmo tempo que chegava a me dar raiva, raiva por não tê-la só para mim. Mas eu ainda ia conseguir isso, nem que tivesse que lutar muito.
Fui até o balcão do barman e pedi uma bebida para mim. Pode ser impressão minha, mas o barman loiro estava secando a . Não, não era impressão. Ele realmente estava. Fechei a cara e peguei o meu copo, me afastando de lá e voltando a conversar com os meus amigos e as meninas bonitas.
Melissa não se atreveu em se aproximar de mim, o que eu agradeci, já que não sei do que eu seria capaz se ela viesse falar comigo.

Passaram-se mais algumas horas, mais algumas bebidas, mais músicas, mais meninas vindo falar comigo, mais foras que eu dava, mais s dançando sensualmente e me deixando babando.
As pessoas já estavam começando a ficar animadas, algumas meninas já pulavam na piscina, chamando a atenção dos garotos, já que a maioria fazia isso só de calcinha e sutiã. Meus amigos entraram na piscina automaticamente quando isso começou a acontecer. Fiquei lá sozinho, com a bebida na mão, observando , se divertindo, e sempre com companhia. Dessa vez, femininas. Pelo menos isso. Ela e dançavam juntas, muito perto uma da outra e isso também chamava bastante a atenção dos meninos. Eles as observavam com uma cara cheia de segundas intenções que me deixavam nervoso só de pensar. Tudo começou a piorar quando o DJ colocou Beep das The Pussycat Dollspara tocar.

It's funny how a man only thinks about the *beep*
Ya got a real big heart, but I'm lookin' at your *beep*
Ya got real big brains, but I'm lookin' at your *beep*
Girl, it ain't no pain in me lookin' at yo *beep*


virou-se para mim e começou a dançar, mais sensualmente do que antes, enquanto cantava a música.

I don’t give a *beep*
Keep lookin' at my *beep*
'Cause it don't mean a thing if ya lookin' at my *beep*
Ha, I'm gonna do my thing while you're playing with yo *beep*
Ha ha-ha ha-ha


Ela e continuavam muito próximas e estavam dançando e cantando juntas, porém só uma delas me chamava a atenção. E essa mesma cantava e dançava olhando só para mim.

Every boy's the same since up in the 7th grade
They've been trying to get with me
Trying to ha ha-ha ha-ha
They always got a plan
To be my one and only man
Wanna hold me with their hands
Wanna ha ha-ha ha-ha


Eu estava calmo, só observando cada canto do corpo da , que se mexia, não exclusivamente, para mim. Aquilo só podia ser brincadeira, como ela que eu aceitasse o fato dela não me perdoar. Eu não aguentava mais ficar brigado com ela e ela sabia disso, ela só me provocava.
O que me preocupou de verdade, foi quando Henry se aproximou da roda onde um monte de menino estava para observar as duas amigas dançando sensualmente. Porém, ele estava lá pelo mesmo motivo que eu: . Tudo só ficou mais extremo ainda – para mim – quando o barman saiu de trás do balcão e foi até a garota.

I keep turning' 'em down,
But they always come around
Asking me to go around..
That's not the way it's going down.
'Cause they only want,
Only want my
Ha ha-ha ha-ha
Only want, what they want
But, na ha-ha! Na ha-ha!


Ele a agarrou pela cintura, fazendo várias garotas gritarem, porque elas deveriam estar de pernas abertas para ele. jogou os braços envolta do pescoço dele e eles dançavam muito próximos. Senti a raiva subir por todo o meu corpo. A música continuava a tocar. As pessoas gritavam para eles e eu só queria tirá-la de lá, mas não podia e nem foi preciso. Depois de um tempo, ela se afastou dele e começou a me olhar novamente, com um sorriso malicioso no rosto.
A próxima música foi I Like It, do Enrique Iglesias. Eu senti aquilo como uma indireta do destino. começou a andar em direção a casa, sem tirar o olhar de mim e sem tirar o sorriso do rosto. Eu não sei vocês, mas eu considerei aquilo como um convite. Ela entrou na casa e eu a segui.

Girl please excuse me
If I'm coming too strong
But tonight is the night
We can really let go


Passei pelas pessoas que reclamavam por ela ter saído do jardim e fui até a porta que dava do jardim para a sala, que, por incrível que pareça, estava vazia. estava na cozinha, com o copo vermelho de plástico na mão. Ela ainda sorria.
- Eu sabia que você viria. – ela falou sem olhar para mim.
Eu não respondi, apenas me aproximei dela. Ela riu baixo.
- Eu vi a sua cara quando eu comecei a dançar com o barman... – revirei os olhos. – Eu adoro te provocar, sabia?
- Eu percebi. – respondi por mim, passando a mão pelo seu cabelo, parando-a em sua nuca. A música estava alta, mesmo dentro da casa. Ela combinava perfeitamente com o momento.

No one can do the things
I'm gonna wanna to do to you


Nessa hora, eu apenas olhei para ela com uma sobrancelha arqueada, o que fez ela revirar os olhos.

Shout it out, scream it loud
Let me hear you go


Sem conseguir segurar mais, passei minha mão pelos seus braços, até depositá-las em sua cintura. A empurrei até a parede da cozinha e grudei nossos corpos. Meu olhar se abaixou dos olhos para a sua boca. Não pensei duas vezes e a beijei. Beijei com muita força e muita vontade. Vontade que eu tinha guardado por muito, muito tempo. Sua mão passou pelo meu pescoço e agarrou meus cabelos. Desci as mãos até a sua perna, pegando-a no colo. Coloquei-a em cima da parte do balcão da cozinha, e acariciei toda a extensão de sua coxa. Aquele foi o melhor beijo que nós já demos. Tinha tanto prazer, saudade, desejo, vontade que nem cabia naquele cômodo. perdeu o fôlego e se afastou, mas eu continuei. Beijei seu pescoço enquanto ela arranhava o meu. Ela virou meu rosto para o dela e voltou a me beijar.

Baby I like it
The way you move on the floor
Baby I like it
Come on and give me some more
Oh yes I like it
Screaming like never before
Baby I like it
I, I, I like it.


- Eu estava com tanta saudade disso. – falei perto da boca dela, depois a beijando novamente. A vontade realmente era imensa e a saudade mais ainda. A forma como tudo aquilo estava acontecendo me deixava ansioso por mais. Seu beijo era viciante. Eu queria mais. parou o beijo ofegante. Sua boca estava vermelha e inchada, e mesmo assim seus lábios estavam muito convidativos.
– Eu também estava com saudades. – e assim, ela voltou a me beijar, dessa vez com calma e delicadeza. Mas como eu disse, a vontade era muita, então o beijo voltou a ser intenso e estava tomando proporções muito grandes, se é que vocês me entendem, e pareceu perceber isso. – Vem. – ela entrelaçou a mão dela na minha e a mesma música continuava tocando. Ela me guiou até as escadas e eu sorri torto quando ela começou a subi-las.
Seguimos pelo corredor até uma porta que dava para o que parecia ser o quarto de hóspedes. Ela me deixou entrar primeiro e acendeu a luz. O quarto era bem grande e tinha uma cama de casal. Ela fechou a porta atrás dela e a trancou, sorrindo maliciosamente, porém seu olhar era inocente. Só ela conseguia ser assim. E eu amava.
A puxei pela cintura e a trouxe para a cama. Deitei e ela ficou em cima de mim, com uma perna em cada lado do meu corpo. Voltamos a nos beijar e ela passava a mão pelo meu abdômen, procurando a barra da minha camiseta. A minha mão passava pela sua coxa, a apertando, enquanto ela arranhava meu abdômen por baixo da camiseta, mas não demorou muito para querer tirá-la. Ela endireitou a coluna, me dando uma vista perfeita de seu corpo e o contorno de seus seios por baixo da blusa. Por que ela ainda estava lá?
Passei minhas mãos por suas costas, até encontrar a barra de sua regata, subindo-a e tirando-a, relevando seu sutiã preto de renda. era tão bonita que me deixava indignado.
- Você é linda. – aquilo não devia ficar só nos meus pensamentos, precisava ser dito. Ela sorriu e deitou-se sobre mim novamente para me beijar.
Trocamos de posição, sem romper o beijo, e eu fiquei por cima dela. Desci o beijo até o seu pescoço, mordendo e chupando a sua pele. soltou um gemido baixo e eu sorri. Sua mão arranhava toda a pele das minhas costas, descendo até a barra da minha calça, desabotoando-a e a abaixando em seguida. Com a minha ajuda, ela conseguiu, finalmente tirá-la. Ela mordeu o lábio e eu adorava quando ela fazia isso. Voltei a beijar sua boca, enquanto desabotoava seu short. Ela fez questão de tirá-lo, o que facilitou para eu passar a mão por sua bunda e apertá-la. Subi minha mão até o feixe de seu sutiã e, apressadamente, o abri, tirando a peça em seguida. Eu adorava tê-la assim, só para mim.
Em pouco tempo, nos livramos de todas as peças de roupa que ainda estavam em nós. Juntei nossos corpos do jeito que nós queríamos há muito tempo. Eu sentia isso pela forma como nós nos tocávamos. Era tão bom tê-la só para mim. Eu era dela. Ela era minha. Ninguém ia estragar isso.

Meu corpo, já todo suado caiu sobre o dela. Me deitei ao seu lado, e ela passou o braço pelo meu abdômen, me abraçando e apoiando sua cabeça no meu peito. Eu precisava falar uma coisa que estava presa na minha garganta há muito tempo, mas não queria falar naquele momento. Senti que seria óbvio demais. Ou clichê demais.
Ficamos um tempo quietos, apenas escutando a música abafada do lado de fora. brincava com os meus dedos, entrelaçando os dela.
- Eu acho que a gente deveria voltar para a festa. – ela quebrou o silêncio constrangedor. Eu poderia ter quebrado antes falando o que eu precisava, mas eu tinha medo. Que grande merda.
- Se você não se importa, eu não quero voltar para a festa. Não agora.
- Eu não me importo nem um pouco. – ela se aproximou, me dando um selinho demorado. – Ficar aqui com você vale mais do que ficar nessa festa. Pelo menos para mim.
E foi assim, que passamos pelo menos os próximos vinte minutos. Depois, infelizmente, uma música muito legal, e que amava – sei disso porque ela começou a falar inúmeras vezes que amava – começou a tocar, e ela insistiu em querer descer.
Ela pegou suas roupas e começou a se vestir. Eu fiz o mesmo. Saímos do quarto e descemos as escadas. Dessa vez, tinha pessoas dentro da sala. Umas se pegando, outras conversando. Algumas estavam tendo problemas técnicos bem legais, se é que vocês me entendem.
Entramos no jardim e me puxou pelo braço, começando a dançar com o corpo colado no meu. veio correndo, com dois copos na mão.
- Cara! – ela berrou – Eu sabia que vocês iam voltar, seus danados! Vocês sumiram, mano! – ela falava enrolado, mostrando o quando estava bêbada. – Seus safados! – começou a rir e mandou beijinhos no ar, enquanto se afastava.
- Olha essa . – comecei a rir. – Mas ela tem razão numa coisa, eu acho.
- O quê? – perguntou, mas eu sabia que ela já sabia do que eu estava falando.
- Nós voltamos?
arqueou as sobrancelhas.
- Não sei não, hein. – e então, ela voltou a dançar. Odiei a resposta dela. Era como se ela travasse mais uma disputa para que eu corresse atrás da resposta concreta: o meu querido “sim, voltamos”. Típico de .
- ! – puxou a menina – Você sumiu! Eu não to nem aí se você estava com o ou não. Vamos pra piscina!
- Não, ! – ela tentou soltar a mão da amiga, mas não conseguiu. Elas começaram a rir. – Eu não quero ir pra piscina.
Elas estavam próximas da borda da piscina e eu sabia que aquilo ia terminar do jeito como a queria. E não é quem dois segundos depois, a mesma puxou e as duas caíram na água. Muitas pessoas começaram a gritar, principalmente , mas ela xingava , que não conseguia parar de rir.
- Eu sabia que isso ia terminar assim. – falei, rindo da revolta de . Ela só estendeu a mão para mim.
- Me ajuda a sair daqui? – ela pediu com raiva na voz e eu tratei de ajudá-la logo. Mas, na realidade, me puxou e eu acabei caindo na piscina também. – Bem feito, quem mandou rir da minha cara? – ela falou assim que eu emergi.
- Ah, para, é engraçado ver você irritada. – brinquei e a abracei, a encostando na parede da piscina.
- Não é não, seu chato. – ela respondeu igual a uma criança e eu achei aquilo muito fofo.
Rocei meu nariz no dela e a beijei delicadamente, como se seus lábios fossem algo precioso. Escutei a gritando e batendo palmas, fazendo todos a imitarem.
- Finalmente. – sussurrei para ela e ela sorriu.
- Finalmente.



Capítulo 28


’s POV

As pessoas continuavam gritando e batendo palmas. Eu estava começando a ficar vermelha de vergonha e se não fosse a alegria e o alívio que eu estava sentindo depois de um tempo, eu já teria me escondido. Tampei o rosto com a mão e me afastei de . A euforia dos convidados diminuiu e isso fez com que fosse possível escutar uma voz insuportável recitando a seguinte frase:
- Quer dizer que agora vocês estão juntos? – destampei o rosto e olhei para cima para ver quem estava falando. Era o Henry. – Eu sabia que isso ia acontecer.
As pessoas ficaram quietas e começou a formar uma tensão no local.
- Só que eu não acho que vai durar muito. – ele continuou – Afinal, vocês são, respectivamente, a puta e o galinha do Northumberland, não sei quem vai trair o outro primeiro. – o povo começou a fazer um coro de “uh”, só para semear a discórdia. Eles não tinham mais o que fazer, não?
- Henry, qual é o seu problema? – saiu da piscina e se aproximou do garoto.
- Meu problema aqui é você, pra falar a verdade. – Henry respondeu despreocupado. – Por inúmeros motivos. O primeiro deles é que você é um belo de um filho da puta. – franziu a testa – Não se faça de desentendido. Eu sei muito bem o que aconteceu com a Melissa.
Ah não. Aquilo ia dar em merda. Fechei os olhos na esperança de abri-los novamente e nada aquilo estiver acontecendo, mas eu sabia que era impossível.
- Vai, . – Henry o empurrou – Assume. – meu coração começou a bater rapidamente e eu já estava prevendo o pior.
- Eu não tenho nada pra assumir. – respondeu por fim, parecendo indiferente, porém eu sabia que ele estava preocupado com o rumo que aquilo ia tomar.
- Por isso mesmo que você é um filho da puta. – continuou parado, mas pude ver que estava fechando os punhos. Saí da piscina e veio no meu encalço. – Você tem algo pra assumir, a diferença é que você não quer. Afinal, ninguém aqui quer ser pai aos dezessete anos, não é mesmo?
Nisso, as pessoas arregalaram os olhos e começaram a cochichar para a pessoa que estava ao lado. colocou a mão no meu ombro como se fosse me impedir de falar algo, porém não conseguiu.
- Ninguém mesmo, inclusive a Melissa. – comecei a falar. virou para mim balançando negativamente a cabeça, mas eu apenas retribui o olhar como se dissesse que eu sabia o que estava fazendo. – A única coisa que ela quer, ou melhor, que ela não quer, é perder o . Para mim. – soltei uma risada cínica e me acompanhou. Os olhos estavam voltados para mim, mas às vezes olhavam a cara da Melissa, que não era das boas. Adoro. – Então, ela inventa histórias sem pé nem cabeça para consegui-lo, como por exemplo, o famoso golpe da barriga, e, por favor, ela não sabe fazer aquilo direito, né? – as pessoas começaram a rir comigo e eu sorri satisfeita. – Então, eu acho que se tem alguém aqui que precisa assumir algo, esse alguém é a Melissa. – e apontei para ela, que até então, estava escondida na multidão.
- Eu tenho dó de você. – ela respondeu – Como você acha que eu seria capaz de dar o golpe da barriga por medo de perder o ? Ainda mais para alguém como você? – Melissa começou a rir – O que te faz pensar desse jeito?
Aquilo me deu muita confiança e eu tive que usá-la. Sorri para Melissa e finalmente falei a verdade:
- O fato de o ter ficado comigo enquanto vocês namoravam. – isso foi o suficiente para que todo mundo começasse a falar ao mesmo tempo e para que Melissa ficasse quieta, me olhando com muito ódio em seus olhos.
- Então quer dizer que a resolveu dar pra alguém? – a voz de Henry se sobressaiu entre as outras vozes. Eu ainda tinha muita autoconfiança, então dei outra resposta que estava entalada na minha garganta.
- Sim... – me aproximei dele – E foi muito bom.
Henry fechou a cara e a centena de adolescentes que estavam presentes no jardim da casa de começaram a gritar, ao meu favor, óbvio. Vi que levantou as sobrancelhas e começou a rir. Henry também viu isso.
- Nossa, mas a minha festa está muito foda, cara! – gritou enquanto ria, fazendo mais pessoas gritarem com ela.
Me virei para Henry de novo e ele parecia estar prestes a explodir. Ele me olhou nos olhos e sibilou, com muito ódio:
- Vadia.
Agora, as pessoas olharam para mim e eu fiquei lá parada. Por mais que eu tenha raiva do Henry, eu tenho mais raiva ainda de ser chamada de vadia. , que estava atrás de mim, me puxou pelo braço e passou para minha frente, em seguida dando um soco bem dado no meio do nariz do Henry, que caiu no chão enquanto gritava.
- Fica com isso, porque vai ser a única coisa que você vai conseguir nessa festa. – sendo assim, colocou a mão na minha cintura e me afastou de lá.
A euforia era muita, por isso demorou para o assunto Henry, Melissa, eu e passar, mas eu não ligava. Eles mereciam. Depois do ocorrido, o DJ – que tinha diminuído o volume da música a pedido dos curiosos por treta – voltou a tocar música alta e eu não sabia como a polícia ainda não tinha sido chamada.
Eu estava com a roupa toda molhada – graças a – e o também – graças a mim –, então decidimos nos trocar. me emprestou um vestido preto, nada muito festa, ele era simples, porém era decotado, o que já era de se esperar vindo da . O deu azar, já que a era filha única e praticamente não tinha um pai. Por conta disso, tirou a camiseta e resolveu que ia ficar só de bermuda.
- Quer dizer que agora você vai ficar mostrando todo esse seu tanquinho pra todo mundo? – perguntei brincando, após sair já trocada do quarto da .
- Do mesmo jeito que você vai ficar mostrando esse decote pra todo mundo. – e então ele começou a olhar muito para o mesmo.
Revirei os olhos e o puxei pela mão para a direção das escadas. Fui impedida de descer quando me agarrou por trás e começou a beijar meu pescoço. - Você quer mesmo voltar para a festa? – respondi que sim, só para fazer birra – Ah, eu estava pensando em repetir o que fizemos há mais ou menos uma hora.
- Que pena. – neguei, novamente para fazer birra, e desci as escadas.
- Sério mesmo? – ele continuou lá em cima e eu levantei os ombros. – Poxa...
Comecei a rir da frustração dele e, quando cheguei à sala, onde as pessoas continuavam se pegando e vomitando, vi que era uma das pessoas que estavam tendo um momento um tanto quanto íntimo. E era com Daniel. No sofá. Ela estava no colo dele. Sorri e bati no ombro do , que só revirou os olhos.
- Não entendo porque vocês meninas ficam tão felizes quando suas amigas estão pegando alguém.
- Não é alguém normal, é o Daniel. – tentei explicar, mas ele continuava não ligando para isso – Perderam um guerreiro.
- Esse nós perdemos faz tempo. Ele gosta muito da .
Sorri de novo e comecei a bater palminhas de felicidade. Depois, voltamos para o jardim e lá dançamos com a galera, enquanto bebíamos e ríamos. Tudo tinha voltado ao normal. Mas nem tudo estava perfeito.
Como eu já tinha previsto, duas viaturas entraram na rua da , o que causou um grande alvoroço. As pessoas corriam para lá e para cá, mas o maior problema era esconder as bebidas. Os barmen desmontaram o balcão rapidamente, enquanto abria a porta para os policiais. estava sem condições de falar com eles, já que estava extremamente bêbada.
As meninas ajudaram os barmen – não por gentileza, obviamente – e eles saíram pelo fundo, no jardim. Os policiais entraram na casa e mandaram todos irem embora. E foi só isso. Ainda bem. Porém eles esperaram que todos fossem realmente embora. Quando a casa estava somente com nós sete – eu, , , , , e Daniel – eles foram embora. Não fizeram mais nada além de dar uma multa pela infração da lei do silêncio. E não era nada barata.
- Que bosta, hein. – falou despreocupadamente – Acho que vou dormir.
Nós concordamos e ela subiu para o seu quarto. Sem nos ajudar, nós seis ficamos largados na sala. arranjou um colchão e o dividiu com Daniel. e ficaram largados no sofá. apenas olhou para mim e eu pude entender tudo. Subimos novamente para o quarto de hóspedes e lá fizemos nada além de dormir abraçados, sentindo a respiração um do outro e esperando que ambos sonhássemos um com o outro.

Acordei com a claridade batendo nos meus olhos, a janela e a cortina do quarto estavam escancaradas, fazendo com que uma brisa gelada entrasse e me deixasse arrepiada. Puxei o lençol até o meu pescoço de forma a me esquentar. tinha um braço me envolvendo. Pretendi voltar a dormir, porém escutei gritando do andar de baixo:
- Fodeu! – em seguida, começou a subir correndo as escadas – Acordem! Pelo amor de Deus! – Ela chegou à frente da porta do quarto de hóspedes e bateu repetidas vezes – Casal acorde, por favor! Desçam agora, preciso da ajuda de vocês.
Bufei irritada e se remexeu, porém continuava dormindo. Me levantei e troquei o vestido que havia emprestado para mim pela roupa que eu estava usando antes da festa começar. Peguei na mochila a escova de dente que também tinha trazido e saí do quarto. Dei de cara com ainda com a roupa da festa, com a maquiagem totalmente borrada e com o cabelo todo bagunçado.
- Minha mãe me ligou, ela está chegando! Precisamos arrumar tudo isso daqui, está uma completa zona! – ela andou de um lado para o outro – Acorda o !
- Bom dia para você também. – desejei com ironia. não me deixou passar para o banheiro.
- Escuta, minha mãe vai chegar daqui meia hora. MEIA HORA! – ela entrou no quarto de hóspedes e pegou o travesseiro que eu usei e jogou no , que estava sem camiseta – coloca uma blusa e vem me ajudar!
- Mas que porra... – levantou a cabeça assustado e encarou que estava na frente dele com os braços cruzados. – , o que deu em você?
- O que deu foi que a minha mãe está chegando e está tudo uma completa bagunça. – ela se afastou da cama e foi até a janela – Se vocês não acreditam, olhem vocês mesmo.
continuou deitado, mas eu me aproximei da janela e, meu Deus, estávamos literalmente ferrados. O jardim estava repleto de copos descartáveis, cigarros e outras coisas que naquele momento eu não pude identificar. Virei para e ela repetiu:
- Meia hora. – depois, saiu correndo do quarto e continuou a gritar – Acordem! Preciso da ajuda de todo mundo agora!
Bufei e me virei para , que estava se espreguiçando.
- Bom dia. – ele sorriu e esticou os braços, me chamando para um abraço.
- Bom dia. – me aproximei dele e o abracei. Ele deu um beijo perto da minha boca e depois se afastou para colocar sua camiseta. Fiquei o admirando de costas pra mim e achei a minha situação engraçada. Ri baixo e em seguida, os gritos de vindos do andar de baixo chamaram a minha atenção.
- EU RECEBI UMA MULTA? – ela não se lembrava do policial que veio e acabou com a festa. virou-se pra mim e começou a rir.
- É muito feio rir da desgraça dos outros, sabia? – fingir estar brigando com ele.
- Cala a boca, você também quer rir. – ele me mandou um olhar cúmplice e saiu do quarto, indo em direção ao banheiro. O segui.
- É claro que eu quero rir, mas eu não vou, porque a com certeza vai pedir o nosso dinheiro emprestado para pagar essa multa. – ele concordou e eu desci para deixá-lo usar o banheiro à vontade e para ajudar a minha amiga a arrumar as coisas.

Depois de juntar vários sacos de lixo e colocá-los do lado de fora da casa para o caminhão pegar depois, nos jogamos no sofá. Estávamos exaustos.
- Eu não acredito que recebi uma multa. – disse por fim, bufando e passando a mão no rosto – Vocês me ajudam a pagar? Minha mãe sabe que eu dei uma festa, mas ela não espera uma multa, né? – concordamos e falamos que iríamos ajudá-la nisso.
- Poderia ser pior – Daniel comentou – Tivemos sorte de esconder todas as bebidas a tempo... Aliás, como você conseguiu contratar barman sendo menor de idade?
lançou um olhar sapeca. Daniel era muito inocente, não conhecia a garota.
- Eu dou um jeito – ela deu um sorriso malicioso que fez a frase ter um duplo sentido e todos ali perceberam. Arregalamos os olhos e nos entreolhamos. revirou os olhos – Gente, eu to falando de dinheiro ok? Eu sou uma vadia, porém sou uma vadia com classe.
Começamos a rir e eu abracei a minha amiga. O pouco tempo que ficamos sem nos falar foi o suficiente para eu sentir saudades do jeito louco dela. Sabia que ela estava zoando sobre ser “uma vadia com classe”, ela nunca diria aquilo seriamente.
Depois de alguns minutos conversando sobre a festa, a mãe de chegou cheia de sacolas de lojas.
- Surpresa! – ela fechou a porta atrás de si e balançou as sacolas em suas mãos. – Nossa, quanta pessoa. Só comprei roupa pra mim e pra minha filha, espero que não se importem. – falamos que não era problema.
- Pra que tudo isso, mãe? – levantou-se do sofá e foi em direção à mesa onde sua mãe tinha colocado as sacolas. – Não que eu não tenha gostado, eu amei. Mas tem muitas roupas novas aqui.
- Quero a minha filha bem bonita no festival. – arregalou os olhos – Se esqueceu? É hoje à noite.
Na verdade, com os acontecimentos recentes ninguém se lembrava do tal. O festival acontecia aqui no nosso bairro e era anual. Praticamente todos do bairro se encontravam num espaço com muitas barracas de jogos, brincadeiras, barracas de comida e etc. tudo o que um festival tem que ter. Muitas pessoas da nossa escola iam para lá, era bem divertido, mas realmente havíamos nos esquecido.
- Nós meio que nos esquecemos dele. – tentou se explicar. Parecia sem graça, mas depois se virou para nós – Nós vamos, certo?
- Claro – afirmou – Minha mãe me mataria se eu falasse que não iria no festival. – Concordamos.
- Por que ela te mataria? – perguntou – É só um festival.
Comecei a rir irônica.
- Para eles não. Vamos para lá todo ano. – expliquei. – Têm muitas atrações, banda ao vivo e por aí vai. Nossos pais sempre ficam mais tempo que nós, mas todos nós aproveitamos. – e assim, ficamos explicando para os gêmeos mais sobre o festival.

No caminho de volta para casa, que foi concedido pela carona de , ficamos conversando sobre assuntos normais. Escutamos músicas e cantamos como sempre fazíamos.
- Sabe o que eu to louco pra fazer? – parou de cantar e me perguntou. Neguei com a cabeça – Quero pegar uma estrada, sem algum rumo, apenas por diversão. Andar escutando uma boa música, não sei, dá uma sensação de liberdade. – concordei novamente só com a cabeça. Fiquei quieta por um tempo, pensando que aquela realmente seria uma ótima ideia.
- Podíamos fazer isso um dia. – pensei olhando, pela janela totalmente aberta, a entrada do meu condomínio. Estava um dia muito bonito. – Eu queria saber dirigir. – pensei alto.
parou o carro assim que eu falei aquilo. Fiquei o encarando sem entender o motivo daquilo.
- Troca de lugar comigo. – ele pediu já tirando o cinto de segurança. Comecei a balançar a cabeça negativamente.
- Não! Você está louco?!
- Ah, vai. – ele revirou os olhos – estamos no seu condomínio, não tem ninguém passando aqui agora.
- Não vou dirigir. – neguei cruzando os braços – Eu não sei nem ligar um carro, pra você ter uma noção.
Não adiantou falar isso pra . Ele era muito teimoso. Abriu a porta do carro e saiu, dando a volta para abrir a minha porta. Continuei parada. Ele passou por cima de mim e tirou meu cinto. Ficou cara a cara comigo, nossas respirações muito próximas, mas isso não me afetou. Continuava com os braços cruzados e com cara de birrenta. Ele se aproximou para me dar um selinho e eu virei o rosto.
- Ah, vamos. – ele puxou meu braço pra fora do carro até eu finalmente levantar. – Você disse que queria saber dirigir e agora não quer que eu te ensine.
Virei meu olhar para ele e ri baixo.
- Digamos que você não é o motorista apropriado para me ensinar a dirigir. – ele levantou as sobrancelhas e eu comecei a rir, me dando por vencida. Dei a volta no carro e sentei no banco do motorista.
- A primeira tarefa é fácil. – começou assim que se sentou no banco do passageiro. Era estranho ter a cena tão invertida assim. – Ligue o carro. – sorri com vergonha e ele bufou – , não acredito.
- Eu estava falando sério quando eu disse que não sabia nem ligar o carro. – comecei a rir.
- É só virar a chave e pisar bem de leve no acelerador, ao mesmo tempo. – ele explicou. Fiz o que ele pediu e o carro deu uma tremidinha leve, indicando que o motor foi ligado. – Agora, como o meu carro é automático, você só precisa acelerar, ele engata sozinho.
- Engata o quê? – perguntei confusa e apreensiva, sem tirar o olho da rua vazia na minha frente.
- A primeira. – eu o olhei confusa e ele riu – Não precisa trocar de marcha. Você nunca viu os seus pais dirigindo, não?
- É claro que já, mas eles não ficam falando em voz alta “Agora, irei trocar a marcha. Engatarei a primeira” – falei com a voz forçada e começou ter uma crise de riso, enquanto pedia novamente apenas para eu acelerar. O carro andou um pouco e eu comecei a sorrir que nem uma idiota.
- Tá vendo? O carro está andando e ainda estamos vivos. – ignorei o que ele disse e pisei um pouquinho mais fundo no acelerador. Eu precisava virar a esquina para chegar até a minha casa. – Agora, vira. – Fiquei nervosa apenas com o fato de virar o volante, mas o fiz. O carro virou com facilidade e eu continuei sorrindo igual a uma idiota.
Quando chegamos à frente da minha casa, parei o carro e ficou me olhando.
- Se você acha que eu vou estacionar, eu não vou, meu bem. Não é tão fácil assim. – tirei o cinto e saí do carro.
- Você tem razão. – ele deu a volta e ficou parado na frente da porta do motorista. – Então, te vejo mais tarde?
- Sim. – olhei para os lados para me certificar que não tinha ninguém da minha família nos olhando e o beijei com calma. – Meus pais vão sair pelas sete horas. Nos encontramos lá. – ele concordou e dei mais um selinho demorado. Sorri por fim e virei em direção à porta de entrada.
Entrei suspirando, com o sorriso idiota ainda estampado na minha cara.
- O que aconteceu? – minha mãe perguntou.
- Aprendi a dirigir – contei apenas um dos motivos do meu sorriso. O outro só seria dito mais tarde.

’s POV

Estava me arrumando para o tal festival. Usava uma calça jeans, uma camiseta branca e uma camisa xadrez por cima. Calcei o indispensável Vans e usei o perfume que ela tanto amava. Desci as escadas e meu irmão já estava à espera da minha mãe, que desceu um pouco depois de mim.
Estava sentindo um aperto no coração, queria contar logo que eu e a estávamos ficando, queria poder trazê-la pra casa sem ter que fingir que ainda éramos só amigos. Queria fazer isso hoje, se não eu e a não poderíamos ficar juntos o tempo todo, só “como amigos”.
Chegamos ao local onde seria realizado o festival e o som da banda que estava tocando podia ser ouvido de longe. O cheiro da comida também era perceptível de onde estávamos – no estacionamento. O lugar era nada mais e nada menos que um pequeno parque de diversões, com alguns brinquedos e com uma roda gigante. Bem típico. Parecia algum festival daqueles de 4 de Julho, apesar de que não estávamos muito longe da data.
Logo avistei numa mesa com seus pais e com os pais de , que estava na barraca do lado pegando uma porção de batata frita. Ela – – estava maravilhosa sem seu shorts jeans rasgado, sua blusa preta que tinha o ombro caído e com o seu indispensável Allstar. Billie acenou para nós e nos aproximamos. Ela me abraçou e eu me sentei ao lado dela.
- Você está muito linda. – comentei – Como sempre.
Ela sorriu de lado e sentou-se corretamente. chegou à mesa com a porção, que logo foi devorada pelos famintos. chegou e também. As duas estavam muito agitadas e queriam jogar, ir para algum brinquedo e começaram a insistir para irmos com elas. Primeiro, fomos a uma cabine de fotos. A fila estava meio grande, mas logo chegou a nossa vez. Nós seis entramos na cabine. Tiramos várias fotos zoadas. Depois pedi para que eles saíssem e me deixassem tirar fotos com . começou a me vaiar e eu só mostrei o dedo para ela. Tiramos quatro fotos muito fofas, devo confessar. A primeira era uma normal, a segunda ela beijava a minha bochecha. A terceira fazíamos caretas e a última nos beijávamos. Saímos da cabine e entregaram-nos as fotos.
Voltamos para as mesas para guardas nossas fotos e eu deixei a minha cópia em cima da mesa mesmo. Não tinha como guardar. Voltamos para uma fila, dessa vez a da roda gigante.
- Não sou muito fã de roda gigante... – confessou e lançou um olhar matador para ela – Mas eu vou.
Entramos na roda gigante e do alto conseguíamos ver boa parte de Los Angeles, inclusive o letreiro de Hollywood, ao fundo. Era uma cena bem bonita de se ver. Confesso que fiquei arrepiado.
- É maravilhoso, né? – comentou olhando para a mesma cena que eu – Eu lembro quando o vi pela primeira vez, fiquei toda arrepiada e mal podia acreditar que estava lá. Los Angeles é o meu amor. – Concordei e passei os braços em seu ombro.
Saímos de lá e decidimos comer alguma coisa. Ainda estávamos com fome. Quando chegamos a mesa, estavam todos falando ao mesmo tempo e de repente pararam quando viram que nos aproximamos. Minha mãe segurava a cópia das fotos que eu tirara com a . Eles descobriram. Parabéns, .
Tirei a foto da minha mãe e ela me olhou assustada. Quando eu pensei que o clima fosse ficar tenso, ela virou-se para e falou:
- Eu sabia que vocês iam acabar juntos. – e sorriu gentilmente.
- Era mais do que óbvio – a mãe de concordou. – Desde que vocês eram pequenos, a gente sabia disso.
- Ok, estranho. – comentou pegando a sua bolsa – Mas é, aconteceu. E agora vocês têm mais um casal no grupo. – e ela me abraçou.
O coro de “aw” em seguida foi longo e eu comecei a ficar envergonhado.
- Parabéns para vocês – o pai de desejou sorrindo para mim. Ainda bem que eu não precisava passar pelo desafio de a minha namorada me apresentar para o pai dela. Billie já me conhecia há anos, pelo menos isso.
- Espera um pouco. – interrompeu todo o clima fofo que geramos ali – Quer dizer que com o e a é “sabíamos que vocês iam ficar juntos”, mas quando foi eu e a vocês ficaram indignados? – nós concordamos.
- Vocês realmente eram inesperados. – minha mãe respondeu – Mas você me sempre me deu menos trabalho que o seu irmão, então eu superei rápido. – rimos.
- No final, o assunto sempre serei eu. – comentei rindo, enquanto colocava a mão no ombro de – Não adianta tentar, eu sou demais. – e começamos a rir. O clima realmente estava bom, agora todos sabiam de mim e da . Finalmente tínhamos um pouco de liberdade. Finalmente tinha a mão dela entrelaçada na minha na frente de nossos pais. Era uma sensação muito boa, de alívio e de satisfação, de um desejo realizado. Era isso que eu sentia cada vez que estava com .

Ficamos mais algumas horas no festival, mas logo venho com uma ideia brilhante:
- Que tal pegarmos o carro do meu pai, que é uma picape bem confortável, e começarmos a vagar sem rumo? – olhei para ela surpreso e sorri.
- Escutando uma música muito boa? – perguntei.
- Claro, sentindo certa liberdade. – ela completou.
- Eu não sei onde vocês estão querendo chegar com isso, – começou – Mas eu concordo.
- Que bom. – sorri. Peguei a chave do carro com Billie – ainda bem que ele confiava em mim - e avisamos que iríamos dar uma volta. Fomos até o estacionamento e entramos na picape. Tinha quatro portas, mas ninguém queria ficar no banco de trás. Ficamos na parte da caçamba, que era até que confortável. assumiu como motorista e sentou-se ao seu lado. O resto ficou na parte de trás, apenas sentindo a brisa tocar nossos rostos.
ligou o rádio e a música Warning do Green Day começou a tocar. Logo, a sensação de liberdade tomou conta de mim. fez menção de se levantar, mas eu peguei a mão dela, a impedindo.
- Me solta, eu não vou me machucar. – ela pediu com calma – Eu já fiz isso várias vezes. – e então, eu a soltei.
Ela se apoiou no teto do carro e se levantou. Ficou em pé na caçamba e o seu cabelo voava para trás. Fiquei admirando a cena com uma cara boba. Ela estava tão linda, tão natural. Eu cheguei a perguntar se ela realmente existia, se ela estava mesmo ali na minha frente, em pé num carro em movimento, com a mão estendida para cima. Acordei do meu transe, quando a ouvi pedir:
- Levanta também. – sem hesitar, me apoiei no teto e me levantei também. Logo estávamos nós dois em pé na caçamba, um do lado do outro, sentindo o vento forte devido à velocidade bater em nosso corpo. A sensação era indescritível.
O carro entrou numa ponte e pude observar uma cena que jamais esqueceria. O céu estava estrelado, o brilho das luzes dos prédios e dos carros. Era uma paisagem maravilhosa para uma típica cidade grande. Aquele era o momento perfeito. A sensação era perfeita. Me virei para e falei:
- Eu te amo.
Ela se virou para mim e sorriu. Seus olhos começaram a brilhar e eu não conseguia acreditar no que estava vendo. Ela me segurou minha mão e finalmente falou o que eu queria ouvir:
- Eu também te amo.
E nos beijamos com muita calma, ainda em pé. Nunca senti algo tão maravilhoso num ato. Nunca me senti tão bem, tão feliz. Nunca pensei que fosse amar tanto uma garota na minha vida.



Fim.



Nota da autora: (04/03/2016) Eu não sei por onde começar. De verdade. Foi uma longa jornada até aqui. (Vou fazer drama, já vou logo avisando). Há mais de dois anos eu comecei a escrever essa fic. Eu tinha essa ideia na minha cabeça há muito tempo e resolvi por no papel. Eu não pretendia mostrar para ninguém, muito menos postar. Mas aí, minha amiga Bruna e eu estávamos conversando sobre fanfics e eu disse que escrevia uma história e ela insistiu para que eu mostrasse para ela. E ainda bem que eu mostrei. Ela me incentivou a postar Someone Else (que naquela época tinha um nome totalmente diferente) e foram mais uns dois meses até eu me convencer de começar a postar realmente. Aos poucos, as pessoas vinham falar comigo sobre a fic e aquilo foi me deixando muito feliz, de verdade. É muito bom quando você se dedica à alguma coisa e as pessoas correspondem. Eu sei que a minha fic não é tão conhecida assim e nem tão boa como tantas outras que há por aí, mas eu tenho muito orgulho dela, pois ela me fez conhecer várias pessoas maravilhosas com quem tenho contato hoje, além de confirmar que o que eu realmente quero fazer na minha vida é escrever. Someone Else foi a primeira história que eu consegui concluir e espero que não seja a última, de verdade. Eu sempre vou me lembrar dela, não importa o que aconteça. Quero agradecer a todos os meus amigos que me apoiaram e me aguentaram falando disso. Quero agradecer a Bruna, por ter me incentivado e dado várias ideias pra fic; a Sabrina, que também me deu várias ideias e frases engraçadas. A Giovanna, que me ajudou com muita coisa e , assim como eu, ama escrever (e escreve muito bem, alguém tenta convencê-la de postar as suas histórias, porque eu já desisti); e a todos os meus amigos e leitoras maravilhosas. Sem vocês eu não teria finalizado Someone Else. Se você leu até aqui, todos os capítulos + essa nota, eu só tenho duas coisas a dizer: Obrigada pela paciência e você é demais! Obrigada por tudo, de verdade! PS: A cena final da fic foi inspirada e completamente baseada na cena final do filme "As Vantagens de Ser Invisível", que é o meu filme (e livro) favorito e que eu indico muito à todos! Aqui vai um link para vocês verem a cena maravilhosa - em baixa qualidade, pois foi o melhor vídeo que eu encontrei - e entenderem melhor: As Vantagens de Ser Invisível - Cena Final Vejo vocês na próxima fic! GRUPO DA FIC NO FACEBOOK: clique aqui
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