Autora: Leila | Beta-reader: Giovana


Continuei encarando a cortina que balançava levemente. Suspirei e caminhei em direção a essa última. Sabia que não resistiria. Eu sou muito fraca em relação a isso. Em relação a ele. Isso é tão insano. Abri a cortina levemente, apenas para enxergar as folhas voando do outro lado. Bufei e dei meia volta, sentando-me na cama.
- Posso saber por que está irritada? - Escutei a voz do meu melhor amigo e dei um pulo, rindo em seguida. - Te assustei?
- Não, eu só.. - Ele arqueou uma sobrancelha. - Sim.
- Legal. - Ri. - Vim te chamar pra ir ao cinema.
- Que filme?
- Sei lá, eles vão escolher quando chegar lá, você sabe que eu não li...
- Eles quem? - O interrompi. é legal, só que... Anda com pessoas não tão legais quanto ele. Admito, sou um pouco... Qual a palavra? Preconceituosa? Fiel aos meus princípios? Valores? Não sei, só sei que não suporto a elite do colégio Brieewoold, as patricinhas cheerleaders e os jogadores de futebol. Que clichê, não é?
- Jhonny, Caio... - Parou e suspirou. Jhonny e Caio são legais, não fazem parte da elite. Na verdade, eles tem uma banda...
- E... - O incentivei.
- Nataly e...
- Não vou. Desculpa, .
- Você tá brava. - Afirmou e eu o encarei.
- Não. - Disse sorrindo e ele bufou.
- ... Por favor!
- Não.
- Então fica, que droga!
- Tchau, .
- Até logo, . - Disse e saiu batendo a porta com força. Suspirei e me deitei na cama encarando o teto branco e sem graça. Que saco.
"I, I'll be okay... I, I'll be okay"
Ouvi o som de I'll be okay do McFly e levei o telefone ao ouvido.
- Quem é a pessoa que me liga neste momento entediante da minha vida?
- ? A mamãe 'tá chegando, tá tudo bem?
- Tá, Jenny, digo, mãe. Claro, eu só tava brincando. Como assim, chegando?
- Seu pai não te contou?
- Não, se eu não sei é porque ele não me di...
- Tudo bem, 'tá sabendo agora, querida! Beijos, mamãe te ama. Cinco minutos, coração.
- Mas, mãe, co...
TU TU TU TU TU TU TU
- Como assim, chegando? - Falei sozinha e bufei jogando o telefone para a ponta da cama, só que como sempre, ele caiu no chão. Não é que eu não goste da minha mãe é só que... Quem iria ter uma boa relação com a mulher que te abandonou por um mergulhador quando você tinha apenas cinco anos? Definitivamente, eu não!
- Filha, 'tô indo buscar sua mãe no aeroporto, eu não te di...
- Pai, por que a Jenny tá vindo?
- , preciso que se sente e escute, tudo bem? - Perguntou e eu me sentei. Ele se sentou ao meu lado e suspirou. - Eu vou viajar. - Arregalei os olhos e ele pigarreou. - Vai ficar tudo bem, são só alguns dias e...
- A vovó existe, pai! O vovô também. Eles me amam e eu os amo. Adoraria ficar lá. - Falei rápido e ele suspirou.
- Ela te ama. - Rolei os olhos.
- Tanto faz. Quando você vai? - Perguntei e ele me encarou respirando fundo.
- Filha... , só porque eu e sua mãe não demos certo, não quer dizer que ela não te...
- Não importa. Você é bonzinho demais. Quando você vai?
- Hoje à noite. - Inclinei minha cabeça para a esquerda arregalando os olhos e soltei todo o ar pela boca.
- Missão não sair do quarto, ativada! - Disse e ele riu.
- Com a Jenny aqui? Duvido muito. Fica bem, te amo. Ah, e se arranjar algum namoradinho enquanto eu viajo...
- Já sei, já sei.
- Menos o , ele eu permito. Agora já vou. A Jenny deve estar desesperada. - Disse e riu saindo do meu quarto.
Meu pai tem uma obsessão pelo , sei lá, talvez seja porque ele é amigo de infância da mãe dele ou porque ele o viu nascer. Tanto faz. Acho bom que seja assim, afinal, ele é meu melhor amigo e seria chato meu pai pegando no pé dele.
Encarei a única foto no mural da parede e sorri, e eu estávamos em um abraço desajeitado no escorregador do parquinho na praça. Ele estava me olhando com rabo de olho e eu estava com a cabeça no ombro dele. Aquele dia foi completamente estranho.

Flashback on
- , isso é ridículo. - Repeti mais uma vez para o garoto que estava emburrado na minha frente.
- Vem logo! Para de ser criança.
- E você é o quê? - Perguntei colocando a mão na cintura.
- Adulto.
- Nós temos cinco anos, somos, no máximo, uma criança grande. Eu não vou naquilo. - Apontei para o escorregador de, no máximo, três metros.
- Medrosa. Eu vou te levar nas costas, vamos.
- , eu vou pra casa. - Disse e ele cruzou os braços, emburrando mais.
- Você é muito chata, queria parar de ser seu amigo.
- Então para.
- Não. - Disse e puxou meu braço, me fazendo ir com ele até a escada do escorregador.
- Eu tenho medo.
- Eu tô aqui. Vai na frente e se você cair eu te pego.
- Você vai é cair junto comigo, mesmo! - Disse e nós rimos.
- Vai logo! - Me empurrou e eu comecei a subir, chegamos lá em cima e ele riu. - Não é tão alto.
- É mais alto que meu pai. - Disse baixinho e bufou cruzando os braços.
- Que o meu também, e deve ser umas cinco vezes o nosso tamanho. - Disse e me encarou subindo e descendo as sobrancelhas.
- Você é louco e exagerado.
- Viu? Não é tão alto. - Disse e balançou a mão no ar. - Vem, me dá sua mão. - Segurei a mão dele e ele se sentou, me puxando. Sentei ao seu lado e ele apertou minha mão. - No três, tudo bem?
- CRIANÇAS, OLHEM PRA CÁ! - Procurei a voz e encontrei meu pai com uma câmera, me encarou e nós rimos, logo, encostei minha cabeça no ombro dele e ele me abraçou, nosso abraço estava um pouco desajeitado, não éramos muito apegados a contatos físicos. Sorri e meu pai fez sinal de "joínha", paramos de fazer pose e descemos o escorregador.
Flashback off

Ironicamente, esse foi o primeiro de muitos obstáculos que me ajudou a superar. Ele nunca jogou na minha cara com palavras, mas aposto que tem vontade. Me levantei e escutei o barulho do carro do meu pai. Ela tinha chegado. Corri e tranquei a porta de chave. Com sorte, meu pai não havia levado a chave e eu poderia mofar em paz. Escutei passos e a voz de Jenny, logo depois, o barulho da chave abrindo a porta. Tudo bem, eu não estava com sorte. Suspirei e vi a imagem da minha mãe sorrindo e vindo em minha direção e, sem mais nem menos, me abraçando. Mas ainda bem que foi só a imagem, não sabia o que fazer e parece que ela também não. Jenny deu um passo e sorriu, mas não veio em minha direção.
- Você cresceu, coração. - Disse sorrindo e eu me limitei a sorrir brevemente. - Quantos anos? Dezessete? Dezesseis?
- Dezesseis. - Meu pai disse e ela continuou me encarando. - Bom, preciso ir, filha, se cu...
- Mas, pai. Agora? - Disse o encarando com desespero, ou, pelo menos, todo o desespero que eu consegui passar.
- Se cuida, . Amo você.
- Também te amo, pai. - Disse e o abracei. Ele sorriu e levantou as sobrancelhas como um sinal de "Você consegue", ou algo assim. Saiu e eu continuei parada na porta, de costas para Jenny.
- O que você costuma fazer essa hora?
- Nada de... - Dei meia volta e a encarei. - Interessante. Só... fico quieta.
- Você não sai com seus amigos ou...
- Não tenho muitos amigos. - Disse e ela me encarou prestes a falar algo. - Meu melhor amigo me abandonou hoje por uma turminha fútil da escola.
- Quem é seu melhor amigo? - perguntou inclinando um pouco a cabeça e percebi uma mistura de surpresa e curiosidade no seu tom de voz.
- . , lembra dele? - Perguntei e ele abriu a boca no que me pareceu um gesto de indignação, levantei uma sobrancelha e ela sorriu.
- Sim, lembro. Filho da amiguinha de seu pai. Ainda continua amiga dele? - Perguntou e eu bufei.
- Jenny, digo, mãe, não quero ser grossa com você, não por mim, mas, pelo papai, mas por que não seria amiga do ?
- Por nada. Só fiquei... Surpresa. - Disse e suspirou. - Enfim, vou me acomodar e volto pra conversar, tudo bem, coração? - Disse e saiu. Fechei a porta e me joguei na cama, assim que coloquei o travesseiro no rosto, gritei. Que droga.

***

Estava escuro. Não conseguia enxergar nada além de um prédio com janelas coloridas. Meu braço estava latejando e minhas pernas doíam. Tentei lembrar de alguma coisa e tudo que me veio a cabeça foi a minha fuga de casa. Cheguei ao prédio e me encostei na parede.
- . , olha pra mim. - A voz de chegou aos meus ouvidos mas eu não conseguia vê-lo. - . Aqui, olha pra mim. - Avistei-o e o abracei.
- . - Lágrimas caiam sem parar e eu o encarei.
- Acorda.

Abri meus olhos e vi sorrindo pra mim. Levantei e o encarei.
- Jenny? - Perguntou e eu assenti. - Ela saiu, me olhou de cima a baixo, perguntou meu nome, me abraçou e disse que você estava aqui, depois ela saiu e eu subi.
- Aí, simplesmente decidiu me acordar? - Perguntei e ele riu.
- Achou que eu ia ficar te olhando babar? - Perguntou e eu arqueei uma sobrancelha.
- Eu não babei.
- Claro que babou, o seu amigo mais gato e gostoso 'tá aqui, como você não poderia babar? - Disse sorrindo e eu lhe mandei o dedo do meio.
- Faz um favor a sociedade e cala a boca.
- Não precisa ficar com vergonha, pode falar que tem uma quedinha por mim. - Disse e eu congelei. Eu não sei se tenho uma quedinha por ele, talvez, eu não sei definir direito, é estranho. - Você falou meu nome enquanto dormia. - Disse em um tom mais serio e eu o encarei. - Parecia com medo, teve pesadelo?
- Muito estranho, por sinal. Você meio que me salvava. - Disse e ele riu.
- Como assim, meio? - Perguntou cruzando os braços e eu ri.
- Eu não sei como termina o pesadelo, não sei se você me salvou ou não, Hobbit.
- Eu 'tô aqui com você, sabe disso, né? - Perguntou e eu assenti. Ele sorriu e me abraçou, eu o afastei rapidamente.
- Não sou muito chegada a abraços e você sabe disso. - Disse e ele arqueou uma sobrancelha.
- Com os meus abraços você não tem frescura, Reddy. - Disse e riu me abraçando. Não resisti e o abracei rindo, sempre estaria comigo e eu sabia disso, por mera coincidência ou por armação do destino, ele sempre estava.

Flashback on
- Ela foi, . Ela me abandonou. Abandonou o papai. Ela me odeia. - Disse chorando enquanto fazia carinho nos meus cabelos.
- Não chora, não quero chorar. Não gosto de te ver chorando. - Disse e apertou o abraço.
- Ela se foi, . A mamãe me deixou. Minha mãe me odeia. - Disse soluçando.
- Eu vou te prometer uma coisa, tudo bem?
- O quê? - Disse e o encarei.
- Eu, , prometo que... - Enxugou uma lágrima. - Nunca vou te abandonar e vou estar sempre com você, nesses momentos ruins.
- Promete? Promete de verdade? Nunca? Nunca mesmo? - Perguntei colocando meu rosto no pescoço do garoto.
- Prometo, . Eu prometo. Vou estar sempre aqui. - Apertou mais o abraço. - Por você, pra sempre.
- Só por favor, não me segue no banheiro, ok? - Perguntei e nós rimos.
Flashback off

- O que foi, Reddy? 'Tá pensativa hoje. - Perguntou rindo e eu ri.
- Lembrei da promessa. Quando tínhamos cinco anos e a...
- Jenny fugiu.
- Pode parar de me interromper? Isso é feio! - Disse e ele arqueou uma sobrancelha.
- Você faz isso.
- Cala a boca, . - Disse e ele sorriu. Passou um tempo e ele continuou a me encarar sorrindo, sorri de volta, mas, ele não parou. Isso começou a ficar desagradável. - O que você quer?
- Tem filme a noite também, sabia?
- Qual o seu problema com os cinemas? - Perguntei e ele riu.
- Não tem graça ir sem você!
- Você foi hoje. 'Tá inteiro, não 'tá? - Disse e ele riu.
- Eu não fui, cheguei lá e senti sua falta, voltei e vi seu pai saindo, ele disse que a Jenny ia estar aqui, achei que seria bom você se acostumar com a presença dela.
- Você me abandonou. - Disse e ele suspirou. Ele se preocupa muito fácil. - Canalha! - Disse rindo e ele soltou um "ufa".
- Vamos, ? - Perguntou e eu neguei. - Por favor! - Neguei. - Tudo bem. - Concluiu e encarou a parede. Isso começou a ficar estranho. não é assim. Ele nunca desiste de tentar fazer com que eu faça algo que não quero/gosto. Encostei na cabeceira da cama e fechei os olhos. - Que tal esse tipo de ameaça? - Ele perguntou e eu abri os olhos, alguns segundos depois que ele começou a me fazer cócegas.
Comecei a rir e a me contorcer, enquanto ria do meu desespero. Todas as minhas tentativas de me esquivar foram falhas e então nós caímos. Assim que consegui parar de rir, encarei o garoto acima de mim, ele sorriu e se levantou, me ajudando a levantar em seguida.
- Eu vou, mas que filme? - Perguntei e ele riu me abraçando.

***

- , isso é ridículo. - Disse enquanto assistia meu melhor amigo enfiar um canudinho na latinha de refrigerante.
- Pelo menos não me chamou de . - Disse e colocou o canudo na boca infantilmente, não resisti e ri. - O que foi?
- Só assiste, ok?
- Eu realmente não entendo, não é tão difícil assim, me explica, por favor! - Escutei um homem falando alto no assento a minha frente e cutuquei que levou sua atenção ao homem. - Tudo bem, eu sei, mas o que significa?
- Senhor, pode por favor...
- Cala a boca, moleque, não vê que estou ocupado? - Ele respondeu e depois encarou a tela onde passava as cenas do filme que não me chamavam mais atenção. - Crianças! Acredita? Bom, continua.
- , me dá seu refrigerante? - Sussurrei e me deu o refrigerante. Tirei o canudo e virei a tampinha.
- O que você 'tá fazendo? - Perguntou e eu ri. Rapidamente joguei todo o refrigerante na cabeça do homem que se virou falando alguns palavrões, apontou o dedo na nossa cara e depois de vários gritos e pedidos de silêncio, ele saiu. Ri baixinho e me acompanhou. - Por isso eu gosto de vir ao cinema com você. - Disse rindo e me abraçou de lado.
O filme acabou alguns minutos depois, mas e eu não prestamos muita atenção já que dividíamos nosso tempo em rir e sussurrar sobre como a veia do homem pula quando ele fica irritado.
- e seu bichinho de estimação. Nossa. - A princesa do colégio Brieewoold disse nos encarando com os braços cruzados.
- Oi, Nataly. - disse e eu rolei os olhos.
- Melhor levá-la pro veterinário, , ela pode ter algum problema ocular, já que vive rolando os olhos. Tadinha. - Disse fingindo secar as lágrimas e eu bufei.
- Podem conversar, eu vou encontrar uns amigos. - Disse e apontei para Jhonny e Caio que estavam encostados na parede a mais ou menos sete metros de nós.
- Eu também vou. - disse e ela segurou seu braço.
- Deixe-a, deve estar no cio. - Disse e arqueou uma sobrancelha. Encarei , ele sibilou algo como "não faça isso" e eu bufei.
- Até sei lá quando, . - Respondi e sai em direção aos garotos que me encaravam confusos.
- Problemas no paraíso? - Caio perguntou e eu arqueei uma sobrancelha. - Desculpe. Paraíso Dark? - Perguntou cutucando minha barriga e eu suspirei.
- Não tô de brincadeira, Caio. - Disse e ele comprimiu os lábios.
- Quando eu digo que ele só fala merda ninguém acredita! - Jhonny disse e Caio deu um pedala nele.
- Sabe, também não gosto da Nataly, ela é fresca. - Caio disse e Jhonny riu.
- Ele só diz isso porque ano passado ela o esnobou e espalhou para as cheerleaders que ele curtia os Beach Boys.
- Qual o problema em gostar dos Beach boys? - perguntei e Caio riu.
- Eu te disse, só aquela fresca me julga por isso. - Disse e olhou para Jhonny que estava com os braços cruzados. - A Nataly e você. E a minha mãe. - Jhonny continuava com os braços cruzados e Caio suspirou. - E a minha avó, meu pai, meu avô e a tia Salzinha.
- Você tem uma tia chamada Salzinha? - perguntei e os garotos me encararam. Caio suspirou e Jhonny riu.
- Tenho. Na verdade, o nome dela é...
- Ele é julgado por praticamente toda a família e a única coisa que te surpreende é o fato da tia dele se chamar Salzinha? - Jhonny perguntou e eu abri a boca pra falar, mas achei melhor dar de ombros.
- Vamos, . - apareceu e segurou meu braço, o puxei e ele arqueou uma sobrancelha.
- Eu quero conversar com eles. Se quiser ir, não estou te impedindo. - Disse e ele bufou.
- Por favor. Vamos, seu pai me mata se não te levar a tem...
- Essa foi a desculpa mais esfarrapada que eu já ouvi de você. Meu pai 'tá viajando, eu 'tô praticamente sozinha em casa e mesmo que ele estivesse aqui, ele não se importaria se eu chegasse às nove horas da manhã do outro dia se eu estivesse com você. - Disse e ele suspirou, Caio e Jhonny riram, mas bastou que eu os encarasse para que eles fingissem que estavam conversando.
- ... - Suspirou. - Vem, vamos pra casa.
- Tchau, meninos. A gente se vê. - Disse e eles acenaram. puxou meu braço e quando chegamos na calçada eu o empurrei.
- O que foi agora, ? - Perguntou e eu ri sarcasticamente.
- Você sabe o que foi, . Para com isso. - Disse apontando e ele jogou a cabeça pra trás.
- Você poderia ter sido... - Me encarou e coçou a nuca. - Mais educada com ela.
- Então você quer que eu aceite patadas numa boa? - Perguntei e ele negou com a cabeça suspirando.
- ... Não me olha assim. - Arqueei uma sobrancelha e ele se aproximou. - Odeio quando você me olha como se eu fosse seu inimigo. Dói. Dói muito.
- Dane-se. Vamos pra casa. - Sai andando na frente dele e não escutei seus passos. Me virei e vi que ele estava parado no mesmo lugar encarando o chão. - VEM LOGO!
- ! - Gritou e eu arqueei as sobrancelhas, só o que me faltava, o maluco do conversando comigo por gritos no meio da rua. Tanto faz. - EU... - suspirou e eu dei um passo para frente, desistindo de ir até ele. Se ele queria gritar, que gritasse. - EU TE OBSERVO DORMINDO, EU SINTO A RAIVA ME CONSUMINDO QUANDO VOCÊ SORRI PRA ALGUM MENINO QUE NÃO SEJA EU. VOCÊ É A ÚNICA PESSOA PRA QUEM EU CONSIGO CONTAR TUDO, MEUS SONHOS MALUCOS, IDEIAS BIZARRAS, TUDO. QUE DROGA, EU 'TÔ GRITANDO, REDDY! - ri e corri até onde ele estava.
- Cala a boca, 'tá me envergonhando. - Disse e ele riu.
- Não fica com raiva de mim, eu preciso de você, . - Disse e eu o abracei.
- Se você me fizer chorar, prometo que te bato até fazer seu nariz ridículo sangrar. - Disse e ele riu me soltando.
- Acredite, não consigo ficar um dia sem ouvir suas patadas. Elas levantam minha autoestima. - Disse rindo e eu ri.
- Vamos pra casa, Hobbit. - Disse e ele me abraçou de lado, começando a caminhar comigo. - Escuta, aquilo que você disse que sente quando eu abro meu sorriso colgate pra outros meninos, é verdade?
- É, por quê? - Perguntou e eu ri. - Eu tenho ciúmes, ok? - Gargalhei mais alto e ele sorriu. - Para com isso, não é engraçado, eu tenho ciúmes, não vou negar.
- Legal, Hobbit. - Disse e ele me mostrou a língua.
- Amo você, Reddy. - Disse e depositou um beijo em minha testa.

***

- O que você acha de sorvete? - perguntou e eu bufei.
- Eu gosto. Pode parar de me encher? - perguntei e ele rolou os olhos virando para frente na sua carteira.
- Bom dia, turma! - A professora de educação física entrou e escutei a "elite da escola" gargalhar.
- Qual o problema deles? - Sussurrei e riu.
- Eles são legais. - Respondeu e eu rolei os olhos.
- Tudo bem, todos para o ginásio. - A professora ordenou e todos se levantaram. - Agora! Vamos, andando, andando, que preguiça é essa?
- Cada dia mais chata. - disse e eu rolei os olhos. Tudo bem, ela era meio maluca, mas, pelo menos... 'Tá bem, eu só não queria concordar com ele.
Chegamos ao ginásio e começamos a nos aquecer. Eu gostava de educação física, só que na teoria, o único esporte em que eu era boa era futebol, mas, por ironia do destino, a professora não curtia muito futebol. Ela avisou que iríamos jogar queimada e eu me preparei internamente para sentir dor, odiava queimada, sempre que jogava eu saia do jogo, literalmente, queimada.
- Tudo bem, o jogo é simples e todos vocês sabem, é só...
- Atirar a bola e machucar alguém, sabemos, jogamos isso toda semana, vamos logo com isso. - Caio disse olhando para o teto e todos gargalharam, menos a professora.
- Posso saber pra que a pressa? - Perguntou e Jhonny pisou no pé de Caio.
- Só quero machucar pessoas, nada demais. - Deu de ombros e a professora jogou a bola e soprou o apito, anunciando o início do jogo.
A bola ia e vinha, eu tentava apenas ir para o lado oposto a ela, mas não funcionou muito bem, já que ela sempre vinha na minha direção. Como eu sempre fui muito azarada, a bola acabou me queimando, fui para o banco e observei uns tentarem bater a bola nos outros, até que, de repente, a bola veio na minha direção, eu consegui desviar, mas acabei caindo e tudo o que eu ouvi antes de tudo apagar foi: "... Rápido, ajudem", mas não consegui reconhecer a voz.
Acordei na enfermaria, por mais que aquele lugar fosse parecido com um hospital, também parecia um quartinho para as crianças, era tudo muito colorido, as paredes eram verdes e o teto era vermelho, o piso era branco, mas tinha alguns riscos, olhei para o lado e enxerguei a prateleira cheia de livros.
- Finalmente. - Escutei a voz da enfermeira e a procurei. - Melhor não mexer muito o pescoço, mocinha.
- 'Tá muito feio? - Perguntei sentindo-a tirar um curativo da minha testa.
- Só o bastante para te confundirem com um mosquitinho, Reddy. - Ouvi a voz de e virei minha cabeça, assim que o vi, sorri. - Dói muito?
- Coloquei uma pomada com efeito anestésico, ela só irá sentir dor daqui a alguns minutos. - A enfermeira disse e ele fez careta. - Bom, pode cuidar dela pra mim, por favor? Eu já volto.
- Bom, somos eu e você. - disse assim que ela saiu. - Cara, isso 'tá horrível. Sabia que você bateu na pontinha do banco do lado que estava sentada? Acho que não, afinal, você não viu nada e... eu não 'tô ajudando, né?
- Não. Não 'tá. Agora me ajuda a levantar, vai, eu quero ver como 'tá isso. - me ajudou a levantar e eu caminhei até o espelho ao lado da prateleira. Nossa, aquilo estava feio, parecia profundo, mas nem tão profundo assim, mas a mistura do branco da pomada e do vermelho do sangue me fez sentir tontura, ou um pouco enjoo, ou os dois.
- Eu disse que 'tava feio. - Disse coçando a nuca e eu o olhei feio. - Que foi, agora?
- Nada, Hobbit, nada. - Disse e suspirei.
- Bom, melhor você ir pra casa, conversei com sua coordenadora, você tem licença pra faltar. Se cuide. - A enfermeira disse e eu sorri, andando o mais rápido possível para longe dali.

Assim que cheguei ao corredor e começou a andar ao meu lado, percebi que ele estava com a minha mochila e a dele, ele arqueou uma sobrancelha e sorriu, eu ri e balancei a cabeça. Claro que ele não me deixaria ir sozinha para casa. Às vezes eu reclamo internamente e/ou externamente sobre as atitudes cuidadosas dele, mas, às vezes, só às vezes, eu gosto. Sinto que alguém se preocupa comigo.
- CORAÇÃO! O QUE ACONTECEU COM VOCÊ?
- Oi, Jenny. - Disse e ela começou a analisar o machucado em minha testa. - Não foi nada demais, eu cai.
- Caiu? - Perguntou e eu assenti, de repente ela olhou dos pés a cabeça com uma expressão de nojo e eu fiquei alerta. - E você não fez nada? - Continuou com desprezo. - Que tipo de amigo é vo...
- O que você tem na cabeça, Jenny? - perguntei e ela uniu as sobrancelhas. - foi o primeiro a me ajudar. Ele sempre está comigo. Nunca me abandonou. Vem, . - Disse e corri, subi as escadas e esperei entrar no meu quarto para gritar no meu travesseiro.
- Hey, . - Disse e eu bufei. - Não fica assim, ela deve ter alg...
- Ela tem merda na cabeça. - Disse e ele jogou a cabeça para trás. - , ela... Que merda! - Coloquei uma mão no lado direito e outra no lado esquerdo da cabeça puxando meus cabelos para os lados.
- Você não 'tá assim pelo que ela falou de mim, . - Afirmou e eu senti meus olhos marejarem. - Vem aqui. - Estendeu os braços e eu resisti até sentir as lágrimas caindo. - Não chora. - Disse apertando o abraço. - Eu estou com você, ok?
- Eu sei... Mas, eu não tenho mãe, . Sabe o que é isso? - Disse soluçando e ele fez carinho em meu cabelo. - Minha mãe é uma egocêntrica que só liga pra si mesma, me abandonou por um...
- Shhh... Esquece. Eu estou aqui. Estou aqui. - Disse e eu me entreguei ao choro. Cada lágrima que saia era como um grito de liberdade que jamais tive coragem de gritar. Sentia saudades da minha mãe e do meu pai juntos. Sentia falta de ter minha família completa e feliz. Sentia saudades de quando era apenas uma criança e não tinha tantos problemas.

***

- Acordou! - Abri meus olhos e dei de cara com Jenny segurando uma bandeja. Ela se sentou e me encarou sorrindo. - Trouxe seu café-da-manhã.
- Já é de manhã? - Perguntei bocejando e ela assentiu rindo.
- Você sempre foi preguiçosa. - Disse rindo e eu fiquei séria.
- Cadê o ? - Perguntei e ela arqueou as sobrancelhas.
- Em casa, por quê? Ele costuma dormir com você? - Perguntou unindo as sobrancelhas e eu bufei.
- Não, é só que... Deixa pra lá. - Me sentei e peguei uma torrada.
- É integral. - Ela disse e eu murmurei um "hum" em resposta. - Desculpa, às vezes, eu esqueço que você não liga pra isso.
- Você não pode esquecer uma coisa que nunca soube. - Alfinetei e ela suspirou. - Vou tomar banho. - Disse e fui ao banheiro.
Assim que tomei banho e fui ao meu quarto me vestir, vi Jenny olhar a foto do mural, ela suspirou e saiu do quarto. Balancei a cabeça e coloquei uma roupa. Desci as escadas e encontrei na sala junto com meu pai.
- Pai? - Perguntei e ele se levantou sorrindo. - PAI! - gritei e o abracei. gargalhou e meu pai e eu também. - Quando você chegou? - Perguntei o soltando.
- Alguns minutos atrás, estava me contando o que você aprontou. - Respondeu e eu cruzei os braços.
- Eu não faria isso. - disse rápido e eu ri.
- Na verdade, ele estava me pedindo uma coisa. - Disse e eu arqueei uma sobrancelha.
- Ele também me pediu. - Jenny apareceu e eu fechei a cara.
- Confesso que estou curiosa. - Disse e suspirou.
- ... Filha, eu não queria que nossa relação fosse assim, eu só quero ser mais próxima de você, quero... Ser a mãe que eu nunca fui.
- Que pena. Realmente. - Disse e encarei . - O que você pediu?
- Férias! - Disse sorrindo e eu uni as sobrancelhas.
- pediu que deixássemos você viajar com ele neste fim de semana. - Meu pai disse e sorriu. - Como eu nego algo a esse garoto? - Concluiu e nós gargalhamos.
- Pra onde, Hobbit? - Perguntei e Jenny pigarreou, ignorei e continuei encarando .
- Na casa de campo do meu avô, eu amo aquele lugar, você sabe! - Disse divertido e eu ri.
- Divirtam-se. - Jenny disse e saiu. Olhei para meu pai e ri.
- O que você tem que encanta todo mundo, Hobbit? - Perguntei e deu de ombros rindo.

***

Encarei a grama verde e suspirei. Peguei minha mala e a tomou de mim. Arqueei uma sobrancelha e ele riu, carregando as malas para a casa. Hesitei antes de entrar, não era a primeira vez que estava lá, mas me sentia um pouco intrusa. O avô de não visitava aquela casa há muito tempo, motivos pessoais que sempre preferi ficar longe. Assim que entrei, vi um cartaz, ignorei, nunca presto atenção a cartazes, olhei para os lados procurando meu querido amigo e encontrei meu pai. Arregalei os olhos e pigarreei. Meu pai riu e então encontrei Jenny ao seu lado, com um sorriso no rosto. Caio e Jhonny estavam no balcão que ligava a sala de estar com a sala de jantar.
- Mas o quê? - Perguntei e encarei o cartaz que havia ignorado.
"Difícil de entender, Reddy?"
- Eu te explico. - apareceu com uma caixa grande na mão e eu cruzei os braços.
- O que raios 'tá acontecendo? - Perguntei e o assisti abrir a caixa. Era a coleção de DVDs do Senhor dos Anéis. Gargalhei e ele levantou as sobrancelhas.
- Reddy, só preciso que saiba de uma coisa. - Disse e eu uni as sobrancelhas. Caio sibilou algo como "manda a ver" e eu ri. passou a língua nos lábios e sorriu coçando a nuca. - Quando tínhamos cinco anos, naquele parquinho, eu descobri que qualquer coisa que me pedisse, eu... Não seria capaz de negar.
- Então por que raios me obrigou a descer aquele escorr...
- O fato é que... - me interrompeu e eu ri. - Naquele dia, eu soube que precisava de você. Não sabia como ou o porquê, só precisava. - Suspirou. - E preciso. ... Lembra no dia em que assistimos a maratona do romance no telecine? - riu. - Você disse que não queria flores ou chocolates ou uma declaração perfeita, só algo bobo como... os DVDs do Senhor dos Anéis. - Balançou os DVDs e eu ri. - Estou aqui, Reddy. Completamente apaixonado e te pedindo pra namorar comigo. - Se ajoelhou e eu arregalei os olhos. - , quer me namorar?
- Você é muito idiota, sabia? - Perguntei e ele mordeu o lábio inferior. - Infelizmente, é um idiota legal. É claro que eu quero namorar você, Hobbit. - Disse sorrindo e ele sorriu. Me abraçou e gritou, me levantando e girando. Gargalhei e ele me encarou. - Você sabe que eu não sou o tipo de menininha romântica.
- Você sabe que eu não sou um bad boy. - Colocou uma mecha do meu cabelo atrás da orelha. - Por você eu sou tudo. - Sussurrou e me beijou.

***

- Essa pode ser só uma história clichê pra você, mas é a sua realidade. - Caio disse e eu ri.
- Não é só uma historia clichê, é só engraçado. - Ri e ele me deu um peteleco. - Falando sério, eu acho que você deveria abrir o olho, a novata 'tá de olho em você.
- Ela é mais uma Nataly na minha vida. E na sua. - Disse e eu rolei os olhos.
- Dane-se. - Disse e ele riu.
- Vocês sabem que eu sou ciumento e ficam de papinho sozinhos. - disse me abraçando por trás e eu ri.
- Chegou minha hora. Tchau, . Tchau, Dark. - Caio disse e virou as costas andando.
- PARA DE DAR APELIDINHOS PRA MINHA NAMORADA, CAIO. - Gritou e eu dei um beijo na bochecha dele, rindo.
- Deixa de ser ciumento, Hobbit. - Disse e ele me virou para sua frente.
- Só cuido do que é meu. - Sussurrou no meu ouvido e eu ri.
- Quem disse que eu sou sua? Eu sou minha! - Disse e ele riu.
- Todinha minha. - Sussurrou e me beijou.



Fim

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