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Capítulo Único




“I just can't let go” - Spoiled, Joss Stone


- Porra, eu quero a minha casa! Cacete!
- Eu tenho a leve impressão de que não sairemos daqui hoje.
- Não acredito que vou passar o Natal na porcaria de um aeroporto!
Rolei os olhos ao perceber que, com a sorte que tenho, terei que aturar mais reclamações como essas - das três vadias que eu chamo de amigos - por um longo e indeterminado tempo. Alguém me ouviu quando eu disse que essa viagem de última hora não era uma boa ideia? É, acho que não. Tanto não ouviram, que agora estávamos todos nós na véspera de Natal em um aeroporto americano lotado de pessoas cansadas e estressadas, porque metade dos voos está atrasada e a outra metade sendo cancelada por conta do mal tempo. Era provavelmente uma das noites mais frias e nada estava dando certo!
Olhei para o meu relógio de pulso e seus ponteiros não de mexiam. Bati o dedo indicador repetidas vezes sobre o visor e ele continuou da mesma forma. Ótimo!
- Mantenham a calma, rapazes! Nós sairemos daqui hoje, sim. – Fletch tentou amenizar a situação, mas eu acho que nem ele acreditava mais em suas palavras – Foi apenas um pequeno atraso, nada demais.
- Eu preciso de um café – eu disse calmamente me levantando do chão.
Sim, do chão!
Antes, nós cinco estávamos sentados nos bancos. Mas é sempre nessas horas que pessoas idosas aparecem do nada com aquelas caras de "eu sou apenas um velhinho, será que você pode, por favor, me ceder o seu lugar?" ou "pelo amor de Deus, esse povo jovem de hoje em dia que não se toca e não dá lugar para os mais velhos! Eu já tenho quase mil anos e preciso conservar o que ainda me resta" e blá, blá, blá. Então, como boas e atenciosas pessoas que somos, nós levantamos e nos acomodamos no chão gelado. Bem legal, não? É, mais ou menos, eu sei.
Para mim, seria muito melhor se todos nós voltássemos agora para o hotel. Depois a gente pegava outro voo, no máximo, amanhã de manhã. Sem dores de cabeça. Mas a maioria dos meus amigos estava com um maldito fogo no rabo e queria estar em casa para passar o Natal com as respectivas famílias e namoradas. Nem sei se eles pensavam no fuso horário... Era bem provável que não, pois senão já teriam desistido das reclamações.
- Trás pra mim tam...
- Não! – eu disse simples e visivelmente estressado, já seguindo meu caminho.
Agora me ouviram, não é? Pois eu não vou trazer porra nenhuma.
Andei vagarosamente entre as pessoas, tentando não esbarrar em ninguém. A praça de alimentação ficava do outro lado do saguão. Parei em uma cafeteria e fitei o painel iluminado com os nomes das bebidas e seus valores. Fila para pedir, fila para pagar, fila para pegar o café e enfim eu sai daquele inferno.
Pensei em voltar para onde eu estava antes, mas não queria mais ouvir os caras reclamando da situação várias e várias vezes seguidas. Eu estava pouco me fodendo para aquele Natal. Se na véspera já estava tudo sendo péssimo, ele tinha tudo o que é preciso para dar errado!
Dei voltas pelo saguão ainda sem um destino certo, até que encontrei o que, inconscientemente, eu estava procurando. Parei frente ao banco vago que tinha apenas uma blusa de moletom azul escuro da Hurley e uma bolsa preta feminina sobre o mesmo.
- Este lugar está ocupado? – perguntei para a garota que estava sentada no banco ao lado.
Ela estava quase deitada no banco, com os pés apoiados em cima de uma grande mala colorida a sua frente e mexia no celular. Ela me olhou por alguns segundos, colocou uma mecha do cabelo atrás da orelha e puxou as coisas para o seu colo.
Acho que isso foi um não, pensei.
Então eu me sentei olhando para as pessoas que circulavam por ali e tomei um gole do meu café. Suspirei. Era um alívio não ter que ouvir reclamações.
Silêncio.
- Que horas o seu voo, supostamente, deveria ter partido? – a ouvi perguntar depois de um bom tempo e dei uma risada contida.
- Cinco horas – eu disse e a olhei brevemente – E o seu?
- Cinco e quinze – disse simplesmente.
Olhei novamente para o meu relógio, esquecendo-me que ele tinha parado de funcionar, e suspirei mais uma vez. Eu queria muito saber que horas eram.
- Pois é, pelo jeito todos nós passaremos o Natal aqui.
- Fazer o que? – eu disse impassível e dei de ombros.
- Você não se importa? – perguntou e nós nos entreolhamos.
- Por que me importaria?
- O Natal costuma ser uma das datas mais importantes do ano, – argumentou – é quando você está celebrando com a família.
- A minha véspera de Natal não está sendo muito boa, então deve ser por isso que eu não me importo de ficar preso em um aeroporto... Pelo menos não mais – dei de ombros e ela assentiu levemente.
Silêncio.
- Não tem ninguém esperando por você em casa? – ela perguntou.
- Minha família. – eu disse – Mas se eu for para a Inglaterra hoje, estarei longe da pessoa mais importante da minha vida.
Ela mordeu o lábio inferior e abaixou o olhar por breves segundos, depois tornou a me encarar.
- Entendo o que está dizendo. Mas só de pensar que, quando chegar em casa, eu encontrarei a minha mãe no portão, empolgadíssima para me mostrar o presentinho que ela comprou. – ela deu um sorriso doce – Ou que meu pai ainda estará sentado no sofá da sala, me esperando todo aquele tempo acordado só para me receber com um abraço quente e forte, me deixar muito mais feliz, sabe? Quero dizer, o tempo passa rápido. Não é sempre que estou com eles e a família é importante.
- Sim, eu sei! Acho que, na verdade, meu único problema é com a distância... Eu a odeio! – eu disse e ela riu.
- Ela é mesmo uma porcaria! – disse entre risos e suspirou colocando uma mecha do cabelo atrás da orelha – Se eu for para o Brasil hoje, também estarei longe da pessoa mais importante da minha vida.
- Por isso que eu odeio a distância! Mas, ahm... Brasil? – eu sorri – Eu amo o Brasil, lugares bonitos, gente bonita, fãs maravilhosos... Talvez até um pouco insanos, mas mesmo assim maravilhosos e apaixonados.
- Fãs? – ela franziu o cenho.
- Eu tenho uma banda, McFLY – expliquei.
- Ora, então eu estou conversando com um cara famoso? – ela brincou – Mas que honra!
- É, a minha banda até que faz um pouco de sucesso por lá – sorri de lado. Tentei ser modesto. Eu sabia que minha banda arrebentava no Brasil, tanto que sempre me sinto como o Justin Bieber de tanto que as fãs gritam. Ela riu.
- Hm, talvez eu já tenha te visto na minha televisão, não tenho certeza... – ela comprimiu os olhos para mim, como se me analisasse, com um sorriso moldando seus lábios – Ou era a One Direction? Não sei, esse seu sotaque me deixou um pouco confusa.
- Ah, não tem como você confundir! – brinquei balançando a cabeça negativamente – Eu sou muito mais bonito do que toda a One Direction reunida, ok?
- Tudo bem! Melhor nem discutir – ela disse entre risos e levantou as mãos na altura dos ombros em sinal de inocência e eu vi a aliança cintilar em sua mão esquerda.
Ri fraco e balancei a cabeça levemente afastando qualquer pensamento que viesse a habitar minha mente. Você está casado, disse para mim mesmo, também tem uma em seu dedo. Olhei brevemente para a minha aliança e tomei um pouco do meu café enquanto ela tornava sua atenção à movimentação à nossa frente.
- De qualquer forma eu prefiro The Beatles, Queen, The Who... – continuou e eu ri.
- Os clássicos, com certeza, serão sempre os melhores! – sorri – – apresentei-me estendendo a mão livre.
- – ela disse fazendo o mesmo, mas ao invés de apertá-la formalmente, inclinei-me sobre sua mão, depositando um beijo ali.
- É um prazer. – eu disse e ela apenas riu balançando de leve a cabeça negativamente – Então, , de quem você vai ficar longe se for para o Brasil?
- Meu marido. Não sei como ele vai se virar em casa, não consegue nem achar o panfleto da pizzaria sem mim! – rolou os olhos, mas mantendo o sorriso divertido, e eu ri – Vai morrer de fome, coitado.
- Você vai ficar muito tempo longe?
- Ainda estou me decidindo. – ela disse e eu assenti – Mas e você, vai ficar longe de quem?
- Minha esposa. Mas diferente do seu marido, ela sabe se virar muito bem sem mim e isso até me preocupa.
- Como assim? – franziu o cenho, visivelmente confusa.
- Ela sempre toma suas próprias decisões. O que, na verdade, é muito bom. Eu gosto disso nela! – sorri desviando o olhar para meus próprios pés – Mas é tão independente, que às vezes eu sinto como se ela pudesse me deixar de lado a qualquer momento.
- Sinto muito que pense de tal forma, mas talvez não seja bem assim. – ela disse e eu a encarei – Talvez seja você quem não percebe do quanto sua esposa precisa de sua companhia.
Continuamos nos olhando por alguns segundos, ainda em silêncio, até que ela inspirou profundamente e tornou o olhar para a multidão cansada à nossa frente.
- E as suas fãs dos Estados Unidos? Elas não deviam estar fazendo fila para te pedir fotos e autógrafos? – mudou de assunto e eu afundei sobre o banco.
- Depois de duzentas horas de espera nesse saguão e a banda toda sentada no chão parecendo mendigos, estou começando a achar que elas ficaram com vergonha de aparecer – eu dei de ombros e ela riu colocando os pés no chão para vestir a blusa que era duas vezes maior que ela.
- Então você é um McGuy? – perguntou e eu assenti – Espero que seja o , eu prefiro os s.
- Sério? – eu ri.
- É, eles são sempre os mais bonitos e simpáticos. – ela disse olhando brevemente para cima, como se analisasse bem a questão, e eu ri mais ainda – Mas tudo bem se você for o tecladista ou trompetista, ainda vou te achar um cara legal.
- Foi isso que você pensou quando me conheceu? – perguntei ajeitando melhor minha postura, e a ela sorriu levantando levemente os ombros.
- Quando? Há cinco minutos?
- Não, há oito anos – eu disse, sério, e ela se aproximou trazendo consigo o perfume que eu tanto amava.
- A única coisa que eu conseguia pensar naquele dia era que você só podia ser louco se estivesse mesmo interessado em mim. Eu era só uma menina e não tinha nada de diferente das outras naquela festa – ela disse calmamente e eu entrelacei sua mão quente à minha.
- E eu não conseguia tirar os olhos de você, – eu disse e dei uma risada contida – ensaiando qual seria a primeira coisa que lhe diria.
- E você não disse nada. Não me conformo com isso até hoje! Você ficou sentado do meu lado, me olhando como se fosse um maluco – ela disse entre risos e eu reprimi o sorriso.
- Mas você gostou de mim mesmo assim – me defendi.
- É, o seu rostinho bonito te ajudou – deu de ombros e nós rimos juntos.
Silêncio.
- Desculpe pela discussão idiota hoje cedo, você é minha esposa e isso não devia acontecer.
- Tem razão, foi idiota mesmo... – ela disse entre um suspiro – Não acredito que discutimos para saber onde passaríamos o fim de ano. Não acredito que você pensa que eu vou te deixar de lado. E acredito menos ainda que você dá tanta trela pra uma mulher casada!
- Ei, foi uma brincadeira nossa e você é minha mulher! Acho que era de se esperar que eu desse a você mais atenção. – eu disse entre risos, mas logo cessei ao perceber uma coisa muito importante: – Por que se apresentou com seu nome de solteira?
- Amor, foi uma brincadeira nossa. E, por favor, o da banda McFLY, da qual eu sou fã número um, me dando mole? Você acha que eu perderia minha chance com ele? – disse mexendo nos cabelos e eu ri balançando a cabeça negativamente – Mas brincadeiras a parte, escute bem o que vou te dizer, ok?
- Ok – assenti vendo-a se desfazer a pose brincalhona para fixar seu olhar ao meu.
- Eu nunca, jamais, em hipótese alguma vou te deixar de lado, meu amor.
- Então nós vamos parar de brigar e você vem comigo para a Inglaterra, certo?
- Por Deus, ! – ela me repreendeu soltando de minha mão – Está vendo? É exatamente por isso que nós discutimos, você parece não ouvir ou dar qualquer importância ao que eu digo.
- E eu tenho culpa se não quero ficar longe de você, ?
- Eu também não quero ficar longe de você.
- Então vamos ficar juntos na nossa casa – gesticulei demonstrando que aquela era a opção mais óbvia a ser tomada e apenas suspirou.
- Ok, nós não queremos nos separar. Então por que você não vem comigo para o Brasil? – ela arqueou as sobrancelhas – Porque, primeiro de tudo, nós estamos casados e moramos juntos em Londres desde os primeiros anos de namoro, o que custa você vir comigo?
- Custa uma passagem – eu disse fazendo pouco caso. E ela tornou a colocar os pés sobre a mala e cruzou os braços, nervosa.
- Você sabe que eu vou, não é? Com ou sem você. Boa sorte pra achar o folheto da pizzaria.
- , eu não vejo a sua família desde o nosso casamento e...
- E o que é isso, medo, insegurança ou você simplesmente não gosta da minha família?
- Não faça isso, por favor – pedi num tom exausto e ela levantou a palma das mãos para cima.
- Isso o que?
- Colocar palavras em minha boca! – gesticulei.
- Então converse comigo. Diz pra mim por que você não quer ir, eu quero entender!
Suspirei.
- O que eu estou querendo dizer é que mesmo com a nossa relação de anos, morando juntos, casados, eu ainda não estou confortável. Sinto como se eles não me conhecessem de fato e é tanta coisa errada ao meu respeito e a respeito da banda que sai em revistas e sites que... – inspirei e deixei meus ombros cairem, resignado – Sei lá, pense o que quiser, talvez seja insegurança mesmo.
- , você não devia se preocupar com isso. – ela franziu o cenho – Eles te amam, porque você me ama e me faz bem, não é o que as outras pessoas dizem por ai que vai mudar isso.
- É fácil pra você, já que meus pais te conhecem muito bem, te amam e você entende tudo o que eles dizem – eu disse e ela riu.
- Para, , até parece que você não sabe que a minha mãe sempre se gaba para as amigas e irmãs dela do genro "educado e talentoso" que ela tem – disse sentando-se corretamente e me abraçou de lado.
- Você se esqueceu do "lindo" – arqueei as sobrancelhas e ela riu.
- E quanto a não entender o que dizem... – ela disse encostando a cabeça em meu peito enquanto eu colocava o braço em volta de seus ombros – Prometo que vou pedir para as minhas irmãs, primas e tias pararem de perguntar coisas indiscretas sobre nós em português.
- Coisas indiscretas? – eu sorri franzindo o cenho.
- Sim, de agora em diante elas vão perguntar em inglês, assim você entende e fica sem graça junto comigo – ela riu e eu arqueei as sobrancelhas.
- Ah, quer saber? Acho que tudo bem eu não entender algumas conversas – fiz careta e ela levantou um pouco o rosto para que pudesse me olhar.
- Vamos para o Brasil?
Tomei um pouco do meu café apenas para desviar o meu olhar do seu, pois seria muito mais difícil pensar no que fazer se ela continuasse a me olhar daquele jeito. Mesmo depois de oito anos, ainda eram raras as vezes que eu lhe negava alguma coisa.
- Por favor, é muito importante pra mim!
- Você vai brigar comigo se eu não for? – perguntei e já desmanchou o sorriso – Tudo bem, eu vou!
- Obrigada – piscou com um sorriso doce em seus lábios.
- Mas só porque você implorou.
- Não, é porque você não vive sem mim – arqueou as sobrancelhas, cheia de si.
- Não mesmo, agora vem cá!
Aproximei nossos rostos, passando a mão por sua pele macia, e matei a saudade de ter seus doces lábios selados aos meus. As línguas eram velhas conhecidas, mas sempre me traziam as novas e mais prazerosas sensações. Não deixamos que o beijo se aprofundasse mais e, depois de alguns selinhos, nós nos separamos.
Senti meu celular vibrar no bolso da calça. Me mexi sobre o banco e, com um pouco de dificuldade, puxei o aparelho. Na tela piscava uma chamada perdida e o horário.
- Feliz Natal britânico – eu ri fraco notando que aquele era o horário de Londres.
- Feliz Natal britânico – respondeu selando seus lábios aos meus uma última vez e disse contra meus lábios, quase que num sussurro: – Eu te amo.
- Não, , nós não vamos dormir na casa dos seus pais – eu disse e nós nos separamos minimamente.
- Ai, droga, eu achei que você tinha esquecido desse detalhe! – rolou os olhos, mas com um sorriso no rosto e eu ri – Mas tudo bem, eu faço qualquer coisa se você for comigo.
- Já me convenceu, , não precisa implorar mais – eu disse e ela gargalhou.
- Eu não estou implorando, que chatice! – ela me deu um tapa leve na perna e eu ri beijando o topo de sua cabeça.
- Eu também te amo.



THE END!



Nota da autora: (07/01/15): Hello, babes! Bom, para quem não me conhece ainda, eu posto no site há algum tempo e essa é a minha terceira fic publicada - yey! E ai, gostaram? Espero que sim, pois eu amei escrever essa oneshot e quero muito saber a opinião de vocês, ok? Então não se esqueçam de comentar aqui em baixo e indicar bastante. Beijos e até a próxima estória!

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