Prólogo

Demorei demais para entender que ela era a mulher da minha vida. Dois anos. 730 dias, 17.532 horas e incontáveis segundos. Nunca fui muito bom em matemática, mas também nunca fui muito bom em relacionamentos. Eu era ótimo em levar alguma garota para um encontro maravilhoso, ser o cara dos sonhos de qualquer mulher, dar um jeito de arrastá-la para a cama na primeira noite e sumir no dia seguinte, ignorando a existência do telefone, redes sociais ou qualquer coisa que facilitasse a aproximação.
Foi quando ela apareceu em minha vida, completamente sem anúncio, como um furacão que devia levar seu próprio nome.
Ninguém me avisou dessa tempestade, mas tudo bem.
Ela é o tipo de bagunça que você não consegue negar que ama.

E ali estava eu, dois anos depois, completamente pelado no meio da Universidade. As pessoas me olhavam e fotografavam, algumas por curiosidade, outras porque provavelmente se lembravam. Dois anos antes eu estava ali, pelado, naquele mesmo lugar.
E se era aquilo que eu precisava para reconquistá-la, bem... Que fosse.
Eu era bem dotado, mesmo.
E de uma maneira muito estranha, sabia que ela iria adorar aquilo.

Cardiff University, Novembro de 2011

Aquele era um sábado frio demais para o começo de novembro em Gales. A temperatura beirava os quatro graus e uma chuva de granizo insistente caía do lado de fora, mas eu não estava exatamente preocupado.
Aquele era um dia muito esperado: clássico entre Manchester United Vs. Liverpool pela Barclay’s Premier League. O tipo de evento que movimentava meu dormitório inteiro, ocasionava guerras lendárias e fazia pessoas quase serem expulsas da faculdade.
Na última vez que tentamos assistir a um jogo todos juntos, dois caras saíram na porrada e caíram um andar pela janela, assustando uma professora idosa que se desequilibrou e foi encontrada em outro dormitório, do outro lado da rampa, para onde desceu rolando. Os dois, é claro, quase foram expulsos.
Um deles era eu, obviamente. Sou um pouco intenso, posso assim dizer, quando o assunto é Manchester United.
Estávamos todos reunidos quando Aiden, meu melhor amigo de infância e, para meu azar, torcedor do Liverpool, chegou. Encarei a camisa e fiz uma careta.
- Espero que eu não seja o escolhido para rolar janela abaixo com você hoje. – ele chegou dizendo e eu gargalhei.
- Não me dê motivos. – retruquei, fazendo-o rir. – Estou da paz esse ano. Meu pai achou muito engraçada a história da Sra. Simmons rolando pela rampa, mas não acho que vá achar minha expulsão muito bacana.
- Pelo menos ela rolou pelo gramado e não quebrou nada. – Aiden acrescentou, prendendo o riso. – Aliás, esqueci de dizer, convidei reforços para a torcida do Liverpool.
- Caralho, Aiden, já falei que não é pra ficar convidando desconhecidos para os jogos! Isso só dá em merda. – berrei e ele riu.
- Cala a boca, valentão. É minha prima. Convidei minha prima para ver o jogo. – disse e eu gargalhei.
- Que tipo de garota aceita ver um jogo de futebol com vinte caras? Sério, não tem mulher nenhuma aqui. – perguntei, curioso. - Conheço muitas meninas no campus que adoram futebol, mas nenhuma delas encara isso aqui, não.
- Eu tentei avisá-la, mas a tem um gênio do cão. Ela é quase pior que você. – disse e gargalhou.
- Então ela é um doce de pessoa, posso imaginar. Porque eu sou adorável. – falei e Aiden rolou os olhos, rindo.

Estávamos reunidos enquanto Tristan contava a história de seu encontro muito bem sucedido com Mackenzie Moss, uma garota do primeiro ano de Ciências Políticas, que, para mim, perdeu o ar da novidade. Não diria isso pra ele, claro, apesar de que ele e todos ali sabiam que eu já tinha ficado com ela, na semana em que ela chegou a Cardiff. Não achei que ela fosse de outro mundo como ele dizia, mas quem sou eu para julgar? Não consigo parar uma semana com a mesma garota, talvez tenha perdido a chance de conhecer essa Mackenzie que ele tanto fala.
Ou não. A voz dela era irritante.
E ela era meio burrinha para alguém que cursa Ciências Políticas.
Juro que vou parar de julgar as pessoas nos mínimos detalhes, embora tenha certeza que essa promessa só durará até a próxima cerveja.
- Ela me disse: “Tristan, não sei se isso é apropriado para um primeiro encontro, mas que tal se você subisse comigo para”...
E, então, eu a vi.
Ali, no meio do discurso chato do Tristan sobre a Mackenzie.
Ela entrou no apartamento com um vestido de verão e juro que seus cabelos estavam voando. E aquele clima meio gélido deu lugar a uma brisa de julho em pleno novembro. Uns vinte caras pararam completamente o que estavam fazendo para secar cada movimento da garota, que estava brigando com um guarda-chuva na porta, irada, e tacou o objeto aberto mesmo pelo meio do corredor, praguejando.
Quando ela chegou perto, Tristan tossiu e tratou de continuar.
- Enfim, foi mais ou menos isso que aconteceu com a Mackenzie.
- Moss? – a garota se intrometeu e todos a encararam. Tristan assentiu. – Ela é realmente muito bonita, mas tão burra que dá preguiça. – continuou e eu arregalei os olhos.
- Ela não é burra, . – Tristan disse, meio ofendido. – Ela só é um pouco... Lenta.
, a tal prima do Aiden, agora pude constatar, deu uma risada alta.
- É porque você é tão lento quanto ela. – ela sorriu de maneira angelical e eu me peguei rindo alto demais. Aiden estava certo. Ela era possivelmente pior que eu.
E muito linda. Por que diabos eu nunca tinha reparado na presença dessa garota nessa faculdade? Se eu tivesse reparado era certo que ela já teria me rejeitado, pelo gênio que aparenta ter, e eu já teria dado um jeito de fazê-la mudar de ideia, uma das minhas especialidades que quase não uso, mas que seria bem útil.
- Você tá de vestido e tá quatro graus lá fora, você é idiota? – Aiden perguntou infantilmente e só aí me dei conta que estava parada bem na minha frente, mas não parecia realmente me ver ali.
- Eu estava de sobretudo, babaca. Mas ficou encharcado porque um idiota passou com um carro quase em cima de mim! Aposto que era torcedor do Manchester. – ela disse e eu arregalei os olhos, sentindo a necessidade súbita de me meter na conversa.
Pronto, achei o defeito da menina.
E esse era dos grandes.
- Para uma garota bonita, seu gosto para futebol não poderia ser pior. – disse e ela me encarou, de sobrancelha erguida.
- E você é...?
- , prazer. – sorri, estendendo a mão. Ela estendeu a dela.
- Bennett. – ela sorriu cordialmente, depois se afastou e disse: - Para um cara que supostamente pegou Cardiff inteira, você não tem nem sessenta por cento da beleza que eu imaginava que teria.
Outch.
Ótimo, e agora a sala inteira estava rindo. Bando de filhos da puta. Só porque ela era gostosa, resolveram achá-la muito engraçada.
- Isso me parece conversa de quem gostaria muito de saber na prática se tudo o que as amigas dizem é verdade. – retruquei, sem perder a pose, e ela riu.
- E você pensa que eu não vi o jeito que estava me olhando? Sei o que estava pensando, . – ela sorriu e sentou do meu lado. – “Quem é essa garota e por que não dormi com ela ainda?”.
Strike one.
Que magia negra era essa? Ela adivinhava pensamento? Os caras estavam enlouquecidos com a conversa, todos se aglomerando perto de nós, e eu rolei os olhos.
- Então está bem, leitora de pensamentos com um péssimo gosto para futebol, me responda, então: - lancei meu melhor sorriso, encarando-a de perto. – Por que eu não dormi ainda com você? Você está a fim de reparar esse erro agora ou prefere deixar para depois do jogo?
Ouvi alguns gritos e assovios de incentivo, mas não pareceu se abalar.
- Ah, querido. – ela me olhou, de forma angelical. Sua boca era desenhada perfeitamente e eu não conseguia parar de encará-la. Que merda! – Por mais que eu odeie deixar passar uma oportunidade tão valiosa, não tenho interesse em fazer parte das estatísticas de ninguém. Obrigada pelo convite. Agora, se puder, pode me buscar uma cerveja?
Sustentei o olhar, meio estupefato e completamente puto, e apenas engoli seco. Quatro caras apareceram com cervejas para ela, antes que eu pudesse sequer pensar, e ela sorriu para um deles, pegando a garrafa e decepcionando os outros.
Voltou a me encarar, toda sorridente, e bateu a garrafinha na minha.
- Cheers, . Espero que você não chore muito quando seu timinho de merda perder hoje. – disse e, antes que eu abrisse a boca para retrucar, saiu andando para o outro lado da sala, para falar algo com Tristan.

-Isso é ótimo, cara, você nunca tinha me dito do seu parentesco de primeiro grau com o demônio de saia. – disse, pegando uma cerveja, e Aiden gargalhou.
- Nunca fomos exatamente próximos, ela é da família do meu pai e morou a vida toda em Hastings. Acho que a vi umas quatro vezes no máximo antes de reencontrá-la aqui em Cardiff. – ele respondeu.
- Se ela morou a vida toda em Hastings, por que diabos torce para o Liverpool?
- Porque é tradição de família e a família Bennett é foda. – Aiden riu. Prevendo minha pergunta seguinte, ele continuou: - Ela pediu transferência pra Cardiff esse semestre, está estudando Arquitetura. E eu só descobri isso há duas semanas, pelo Facebook.
Encarei-a de longe, rindo de algo que um dos caras diziam. Estavam quase todos em volta dela, praticamente babando, quando as escalações dos times começaram a passar na TV.
E aí, que se dane a novata.
Era Manchester United Vs. Liverpool.


“Evans passa para Van Persie, ele dribla a zaga, chuta com a esquerda e... NA TRAAAAAVE”

- PUTA QUE PARIU! – berrei, assim como metade dos caras, e me joguei para trás no sofá. Estávamos na metade do segundo tempo e o jogo estava empatado em 1x1. No meio de todo o barulho, ouvi uma risada baixa.
Encarei , que estava rindo ao ver a reprise do gol perdido por Van Persie.
- Tá rindo do quê? – perguntei, irado, e ela sorriu.
- Esse Van Persie é uma piada. Como perde um gol desses? – ela riu e eu senti o sangue correr muito rapidamente pelas veias.
Ah, se ela não fosse uma garota.
- Pelo menos o meu time tem jogadores do calibre do Van Persie e do Rooney. – desdenhei e ela riu, rolando os olhos.
- E...?
- E o que seu time tem, pelo amor de Deus? – gargalhei alto demais, deixando que aquela sensação de fúria tomasse conta de mim. Antes que ela pudesse se virar para responder, continuei: - Nem se preocupe em bolar uma resposta, Bennett. Essa briga já está ganha.
Então ela me olhou e pude perceber que estava igualmente furiosa. Apoiou a garrafa de cerveja na mesa e depois aproximou o rosto do meu, com um sorriso completamente irônico.
- Eu não dou a mínima se o seu time tem o Rooney ou o Van Persie. Não ligaria nem se ele tivesse o Messi ou o Cristiano Ronaldo. – ela riu. – Vocês poderiam até ter a Lady Gaga vestida de carne e jogando futebol de salto e eu continuaria achando o seu time uma merda – ela disse, com a voz baixa e decidida.
Dessa vez, eu que ri.
- Parei de escutar o que você estava falando há séculos. Por favor, dá pra calar a boca e me deixar assistir a porra do jogo? – vociferei, mas ela já não estava mais prestando atenção, enquanto gritava para uma jogada que eu perdi enquanto estava falando com ela.
Sério, aquela garota era demoníaca.

“Jogo decisivo e zero a zero na prorrogação! Corações dos torcedores do Manchester United e do Liverpool a mil. É, meus caros telespectadores, parece que vamos para os pênaltis”.

Nunca tinha sofrido tanto em um jogo.
Aiden tinha me arrastado para a cozinha para tentar acalmar meus ânimos com uma gelada, mas nada estava adiantando. O que me deixava mais puto não era o Manchester empatado com um timinho de merda como o Liverpool, era aquela garota que não parava de me infernizar. Cada gol perdido era uma piada – não direcionada a mim, é claro, porque ela também não era maluca – mas eu sabia a quem elas eram destinadas. Ela era pior que um garoto, com o agravante que eu não poderia dar um soco na cara. Aiden tinha acabado de sair da cozinha para atender o telefonema da namorada quando ela entrou. Rolei os olhos e bufei e ela continuou envolvendo algumas pedras de gelo num pano de prato. Observei a cena calado, o que fez com que gastasse cada gota do meu auto controle, então ela resolveu falar.
- James socou aquele garoto estudante de História. Errou o soco e quase quebrou a mão na porta. – disse e, como eu não respondi nada, ela chacoalhou a cabeça, sem dizer nada.
Segurei seu braço quando ela estava quase virando de costas e, na rapidez do gesto, nossos corpos ficaram quase colados.
- Pronta para perder? – disse, sorrindo malicioso, e ela fez careta.
- Esse papo já está ficando insuportável. – disse, naquele mesmo tom de voz de desdém, e eu ri.
- Está com medo agora, valentona? – disse, ainda segurando seu braço, e ela me empurrou para trás, rindo.
- Você não seria tão idiota de bater em uma mulher, , então realmente... – ela deu de ombros, sem finalizar a frase, e estava quase saindo da cozinha quando eu a respondi.
- Que tal uma aposta? – falei alto e ela girou os calcanhares, com um sorriso divertido no rosto.
- Quanto? – perguntou e eu me aproximei, com um sorriso malicioso.
- Que tal uma peça de roupa por gol? – questionei e percebi que a garota ficou surpresa, mas não quis deixar transparecer. Depois de uns dois segundos, deu risada.
- Isso é tudo para me ver nua, ? – ela ainda ria.
- Está assumindo que vai perder? – perguntei, desafiador, e ela gargalhou.
- Ah, como você queria isso, né? – respondeu, divertida. – Você tem uma televisão no seu quarto? – perguntou e, dessa vez, eu que fiquei um pouco surpreso.
Sorri.
- Quarto 76, me encontre lá em cima em três minutos.

estava encarando os pôsteres na parede quando eu liguei a televisão. A voz do narrador do jogo encheu o quarto, mas nenhum dos dois estava muito ligado nisso.
- O quão bêbada eu estou para aceitar vir para o quarto do valentão do Manchester em uma aposta dessas? – ela riu. – Tente não roubar meus órgãos.
- Você fez uma imagem muito boa de mim, Bennett. – dessa vez, eu quem ri e ela se jogou na cama, apontando para mim e fazendo uma conta.
- Tire o casaco. Você não vai começar com uma peça a mais do que eu. – ela disse e eu fiz as contas, encarando-a. Concordei, jogando o moletom de qualquer jeito na cadeira.
- Nunca foi tão fácil deixar uma garota nua. – murmurei e ela me empurrou, quase me derrubando da cama, enquanto eu ria.
- Isso é o que nós vamos ver.

Quando o juiz apitou e o primeiro jogador do Liverpool se posicionou para cobrar o pênalti, um sorriso vitorioso apareceu em meu rosto.
Eu sabia que ia ganhar aquilo.
Esfregaria na cara de qual o melhor time e de quebra a veria nua sem esforço algum. Aquela sim era a aposta perfeita.
Eu sabia que perderia algumas peças também, mas não estava me importando, de verdade.
- GOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOL! Do Liverpool!
O grito do narrador fez me encarar, sorrindo de orelha a orelha.
- Ah, isso será tão engraçado. – ela disse, ainda rindo, e a acompanhei, enquanto tirava os dois tênis.
- Não se empolgue, porque isso é provavelmente tudo o que você verá do meu corpo, pelo menos nessa aposta. – pisquei e ela gargalhou.

Nós dois já tínhamos perdido os sapatos e as meias e eu já tinha perdido a minha camisa.E era hora da terceira cobrança do Liverpool. Encarei , completamente vitorioso, e aproximei minha boca de seu ouvido.
- Parece que alguém está prestes a perder o vestido. – sussurrei e ela rolou os olhos.
- Sabia que devia ter vestido calças hoje. – ela respondeu, meio alheia, e eu ri.
- Então você admite que vai perder?
- O vestido? Provavelmente. – ela riu. – Mas tenho certeza que você não verá o que quer.
- Você está confiante demais, não acha?
Antes que ela respondesse, Hernandéz marcou o gol para o Manchester United. Berrei, em alto e bom som, e ela praguejou baixo.
- Quero esse vestido no chão, Bennett. – disse, malicioso, e ela fez careta.
Quando puxou o vestido florido por cima da cabeça, revelando a lingerie rendada e roxa que usava, eu quase esqueci o que estava apostando. Por um breve segundo, praticamente esqueci o jogo. Encarei seu corpo de cima até embaixo e então ela tacou o vestido na minha cara, sem a menor delicadeza.
- Para de babar, .
Gol do Liverpool.
- E pode passar essas calças para cá. – ela completou, com um sorriso de canto.
Trocamos um olhar, rindo.
Aquela sim era uma situação bizarra. E ela era indiscutivelmente gostosa, o que era um pouco perturbador, porque sabia que ela fugiria dali sem ter passado efetivamente pela minha cama.
- Tem certeza que quer continuar? – provoquei. – Você poderia só assumir que o Manchester é melhor que o Liverpool, eu sou um cara muito bondoso...
Ela gargalhou.
- Você é um perfeito idiota. E eu quero aumentar essa aposta. – disse, igualmente desafiadora.
Aumentar a aposta? Será que isso acabaria na minha cama, afinal?
- O que você sugere? – respondi e ela me encarou.
- Sexo, obviamente. – ela disse e eu arregalei os olhos, pego completamente de surpresa. E então ela caiu na gargalhada. – Você devia ter visto sua cara, . Impagável.
Filha da puta.
- E o que você quer?
- Que tal se o perdedor tivesse que nadar pelado no lago da faculdade? – ela respondeu, como quem informava as horas, e eu ri.
- Está chovendo granizo. Quatro graus lá fora, .
- Está com medinho?
- Só não queria matá-la de hipotermia, mas pelo jeito você não se importa, não é mesmo? – estendi minha mão e segurei a dela, selando a segunda parte da aposta.
Aquilo estava muito melhor do que o esperado.
Não vi mexer sequer um músculo quando Rooney caminhou até a bola. Ela sabia exatamente onde estava se metendo e, melhor ainda, – para mim – quem perderia aquela história toda. Cheguei mais perto, apoiando meu queixo em seu ombro.
- Se prepare para o congelamento iminente, Bennett. – sorri. – Quer que eu já vá desabotoando seu sutiã? – questionei e ela me empurrou para trás, irada.
- Vá se foder, !

“Rooney parte para o pênalti. Ele chuta na lateral e... BRAD JONES DEFENDE! INACREDITÁVEL!”

Ouvi berros absurdos vindos do andar de baixo, mas o pior grito foi o de , que logo caiu na gargalhada quando Rooney se jogou no chão, praticamente chorando o gol perdido.
Eu não sabia o que fazer. Definitivamente, não.
Aquilo não estava acontecendo.
- O que você estava falando mesmo, ? – ouvi uma voz atrás de mim e então ela apoiou o rosto no meu ombro, provavelmente na ponta dos pés, e como eu fizera minutos antes, sorriu. – Quer que eu já vá me livrando das suas boxers para você?
- Não me provoca, . – murmurei entre dentes, completamente puto e neurótico.
COMO O ROONEY PERDEU AQUELE CARALHO DE GOL?
Até a Lady Gaga vestida de carne e de salto alto marcaria aquele, logo pensei, depois chacoalhei a cabeça. Essa garota estava há duas horas na minha vida e já estava fazendo dela um inferno.
Pior que agora, se o Liverpool marcasse, eu estaria na merda, literalmente.
Congelando a bunda e todo o resto na frente de todos os meus amigos e da faculdade toda. Ainda havia uma chance, só uma, e eu me apeguei a ela.
não parava de falar e eu queria matá-la, mas me contive.
Ela estava igualmente tensa quando Suárez partiu para a cobrança, mexendo as mãos de forma inquieta e dando pulinhos.
Quando o narrador e gritaram gol juntos, fiquei estático.
Petrificado, que ironia.
Ela se jogou em mim e me abraçou, mas não tive reação alguma.
Que porra de dia.
Quando nossos olhares voltaram a se cruzar, percebi o quanto ela estava se divertindo com aquilo, sem nem abrir a boca. Mordeu o lábio inferior, prendendo o riso, e apontou para a minha cueca.
- Então chegou a hora em que eu verei se você é tudo isso mesmo, não é, valentão do Manchester? – ela riu. – Passa essa cueca para cá.
- ...
- Adoro quando chamam meu nome. – ela se jogou na poltrona atrás de si, cruzando as pernas em cima da mesa e tomando um gole de cerveja, depois sorriu. – Vamos lá, meu boy toy. Sua sessão de tortura só está começando.

- Manda ver, !
- Deixa a gente ver essa bunda branca!
- Esse é o melhor momento da minha vida!
Os gritos em frente à residência eram ensurdecedores.
A notícia da aposta correra a faculdade inteira tão rápido quanto o gol perdido do Rooney e uma centena de pessoas estavam paradas na frente do prédio. Gente que eu conhecia, gente que eu odiava, garotas que potencialmente passariam pela minha cama.
A demônia estava do meu lado, claro, dando risada.
- Anda logo, , está muito frio aqui fora. – ela disse, rindo, e eu encarei o lago, puto.
- Você realmente vai me deixar fazer isso? – supliquei, no alto do pânico em ver minhas bolas encolherem e nunca mais voltarem. Porra, imagine a temperatura que estava aquela merda! Ela sorriu, de forma doce e angelical, mas eu sabia que era tudo teatro.
- A escolha é sua, querido. Eu realmente não posso te jogar lá dentro, mas você vai arregar da aposta na frente da faculdade inteira? – perguntou e eu bufei, tirando as calças. – Foi o que eu pensei. – ela riu.
Mais alguns gritos. Agora só uma cueca me separava da humilhação completa.
- Precisa de ajuda? – ela gargalhou e eu xinguei todos os antepassados da família daquela desgraçada. Perdão, Aiden.
- Eu quero que você se exploda.
- Anda logo, para de ser bichinha!
- Você não tem dó? – perguntei, com a voz sedutora, e ela riu muito alto.
Ofensivo, no mínimo.
- Eu posso quebrar a aposta com uma condição. – ela sorriu. – Você vai gritar para todos esses celulares que estão nos filmando que o Liverpool é muito melhor que o Manchester.
Dessa vez, eu quem gargalhei.
- Nem no seu melhor sonho, Bennett.
- Então bom mergulho, .

Senti cada milímetro do meu corpo congelar quando me joguei no lago. Fiquei submerso por alguns segundos, xingando todos os palavrões possíveis mentalmente e tentando ter forças para emergir e encarar o que provavelmente me esperava. Quando coloquei a cabeça para fora, tremendo feito um louco, vi recolher minhas roupas e berrei.
- Ei! Você vai mesmo fazer isso? – tentei rir, mas estava batendo os dentes. – Por algum acaso você tem oito anos de idade?
Ela riu.
- Eu gosto de guardar souvenires de caras que se acham e que eu consigo fazer de idiota. – sorriu e abriu um pedaço do sobretudo para que eu pudesse ver que ela estava só de lingerie. – Mas fique tranquilo, estou deixando meu vestido para você não precisar sair daí pelado. Prometo que será divertido. Pelo menos para mim. – sorriu, maliciosa, antes de dar as costas.
- ISSO VAI TER VOLTA, BENNETT! – berrei, mas ela nem olhou para trás.
Ainda consegui ouvir sua famosa risada enquanto ia embora.
Naquele dia, nunca odiei tanto alguém. Hoje só consigo pensar no quanto ela me faz falta.

Cardiff University, Maio de 2012

- ! ! – sussurrei, batendo na janela do quarto dela pela quarta vez, esgueirando-me pelo vão do segundo andar do prédio.
Ela fazia de propósito, eu tinha certeza.
O maior hobby daquela garota era rir da minha cara quando eu estava... Vivendo perigosamente, posso assim dizer.
- , porra! – xinguei e ela abriu a janela, rolando os olhos.
Antes que perguntasse alguma coisa, joguei-me para dentro, quase derrubando um notebook e alguns porta-retratos.
- Se você destruir mais alguma coisa da Stacy, acho que ela te mata. E eu ajudo, juro por Deus. – resmungou e eu tive uma crise de riso. – O que foi, seu babaca? – ela perguntou, mas sabia que também queria rir.
Seis meses haviam se passado desde o fatídico banho no lago. Tentei me vingar dela, arquitetei planos durante semanas, mas tudo em vão.
Se eu soubesse que ela teria se tornado minha melhor – e única – amiga naquela faculdade, teria poupado serviço.
- Passei quatro janelas por esse parapeito. O namorado da Jennah apareceu. – disse, gargalhando, e ela rolou os olhos, depois riu brevemente.
- Você é ridículo! Milhares de garotas solteiras na faculdade e você se atracando com uma retardada que tem um namorado lutador. Mal posso esperar para te visitar no hospital. – ela gargalhou e eu me aproximei.
- Hmmmm, será que alguém aqui está com ciúme? – perguntei, abraçando-a, e ela me empurrou para longe, fazendo careta.
- Ciúme de quê? Esqueceu que eu já vi o que você carrega na cueca? – ela gargalhou. – E eu tenho que dizer, meu caro amigo, não fiquei exatamente impressionada.
- Eu sei que você quer meu corpo, Bennett. – disse e ela riu alto.
- Acho que o nosso maior elo de amizade é o fato de eu ser uma das poucas pessoas sensatas aqui em Cardiff que não quer seu corpo. Devo dizer para todo mundo que você acha que eu congelei suas bolas? – perguntou, entre risadas, e eu taquei um travesseiro na sua cara.
- Fique sabendo que quando você quiser experimentar essa inesquecível jornada que é uma noite de sexo com , eu estarei mais do que aberto para negócios. – provoquei, malicioso. – Não sou rancoroso, você sabe.

- Você não vai me fazer assistir isso. – reclamei enquanto colocava De Repente É Amor no aparelho de DVD.
Como de costume, ela não deu a mínima para o que eu falei e continuou o que estava fazendo.
- !
- Ninguém está obrigando você a assistir, , mas se você quiser ficar aqui comigo e não ser morto pelo lutador, sinto muito, vai ter que ver o Ashton Kutcher sendo maravilhoso e cantando Bon Jovi.
- Por que você sempre consegue as coisas do jeito que quer? – perguntei, fazendo careta, e ela riu, apertando minhas bochechas.
- Porque eu sou linda e você me ama, por isso vai parar de ser chato e ver o filme comigo. – ela sorriu e eu ri.
- Isso está longe de ser amor, Bennett.
- Ótimo, por isso que a gente se entende. – ela completou, apoiando a cabeça no meu ombro e dando play no filme que eu fui obrigado a ver mil vezes durante esses anos de amizade.

Liverpool, Dezembro de 2012

Desci do carro cambaleando, praticamente me jogando pra fora. Minha sobrancelha estava sangrando, meu pescoço estava cortado pelo cinto de segurança e eu não sabia o motivo nem como diabos tinha conseguido ir parar no quintal de , mas toquei a campainha, de qualquer jeito, sem nem lembrar que já tinha passado das duas da manhã e que eu provavelmente acordaria seus pais, que há pouco tinham voltado para a cidade onde nasceram, e para onde tinha ido passar as festas de fim de ano.
Ela abriu a porta, puta com o barulho da campainha, mas sua expressão mudou drasticamente quando me encarou. Seus olhos correram do meu rosto para o meu pescoço, para a frente do meu carro, e depois se arregalaram.
- ! O que foi que...
Não deixei que terminasse de falar, simplesmente a abracei, meio bêbado, meio dolorido, e senti as malditas lágrimas que eu tinha segurado desde que saí de casa escorrerem pelo meu rosto e caírem na curva do pescoço de , que cambaleou para trás com o meu peso, mas me apertou com força, sem dizer nada por alguns minutos.
- Seus pais...?
- Foram para Manchester para um casamento de amigos. – ela respondeu, ainda me segurando. – Foi seu avô? – perguntou, com a voz muito baixa, o que não era nem um pouco normal para ela, e eu apenas assenti com a cabeça. – Ah, ... – murmurou, abraçando-me de volta.
Ficamos ali por incontáveis minutos e então ela se desvencilhou do abraço e segurou meu rosto com as duas mãos. Percebi que também chorava.
- Você devia ter me ligado! Eu teria dirigido para Manchester e...
- Não pensei nisso. Desculpa. – disse e então me joguei no sofá. Ela sentou do meu lado.
- Onde você bateu o carro?
- Logo na saída de Manchester, mas não quis parar. Eu só queria fugir de lá, . Sou um filho da puta egoísta; – murmurei e ela me abraçou.
- Cala a boca, seu idiota. – disse baixo e eu quase sorri. – Você só está muito triste. E fazemos esse tipo de coisa quando estamos assim, é totalmente compreensível. – falou, com a voz abafada em meu pescoço, e depois me encarou. – Vou fazer um curativo em você.
- Não, , só fica aqui comigo, por favor.
- Mas você está sangrando! – ela disse e eu sorri.
- Eu não ligo. Por favor.

Naquela noite, ficou comigo no sofá de casa até que eu adormecesse. Quando acordei, no meio da noite, morto de sede, percebi que já estava com um curativo na sobrancelha e outro no pescoço e que tinha água do lado de uma cama que eu não lembrava ter deitado. E ela estava ali, segurando minha mão, dormindo toda encolhida com seu corpo junto ao meu. Instantaneamente, entendi minha reação imediata de pegar o carro e ir para Liverpool atrás dela. Era a única pessoa que eu queria ver e a única pessoa que poderia me reconfortar. E foi com aquela imagem que eu consegui dormir, mesmo com tudo o que tinha acontecido.

Cardiff University, Outubro de 2013

- VOCÊ NÃO TINHA QUE TER FEITO ISSO. – berrou, irada, e eu a encarei, transtornado.
- EU NÃO DEVIA TER FEITO ISSO? – gargalhei, nervoso. – O cara traiu você, eu enchi ele de porrada e eu não deveria ter feito isso? O quão idiota é você, ?
- Eu não pedi para você se meter na minha vida. – ela berrou e eu quis matá-la. Porra, ela não devia estar me agradecendo? – Eu não vou agradecer você por isso!
Ótimo, a leitora de pensamentos contra-ataca.
- Nossa, me desculpa por querer ser um bom amigo, Bennett! Dá próxima vez, deixo você se foder sozinha. – gritei de volta e vi que ela estava com uma expressão muito estranha no rosto, algo entre me dar um tiro ou cair no choro.
- Você é um idiota. – ela murmurou, caminhando até a porta.
- Aonde você vai?
- Para casa. – respondeu, ríspida, e eu a segurei pelo braço, mas ela não virou de frente.
- Ok, desculpa. – disse, contrariado, e ela continuou sem me olhar.
- Você me expôs em frente a toda minha turma. Isso era um assunto pessoal, . – ela respondeu, ainda de costas, e eu rolei os olhos.
- Eu sei. Mas eu não resisti, não aguentei olhar pra cara dele. – disse e ela chacoalhou a cabeça, depois me encarou.
- Está chovendo. – falou e eu franzi a testa, confuso com a mudança de tópico.
- E daí?
- Me arruma um guarda-chuva para eu ir embora.
- Eu não tenho um guarda-chuva. – disse, sorrindo, e ela rolou os olhos, jogando-se na minha cama.
- Então me arrume algo bem forte para eu beber e conseguir olhar para a sua cara até a chuva passar. – disse e eu ri.
- Sabia que você ia me perdoar.
- Vá pro inferno. E traga álcool.

- Por que mulheres não são como os caras, ? – me perguntou, com a voz arrastada, e eu gargalhei quando ela quase quebrou a garrafa de vodka.
- Porque vocês são muito mais sensatas. Pelo menos quase todas vocês. – provoquei e ela mostrou o dedo do meio.
- Eu nunca mais vou namorar, sério. Odeio os homens.
- Vai mudar de time? – gargalhei e ela fez careta. – Nem todos os caras vão te decepcionar, . Olha pra mim, eu já te decepcionei? – perguntei e ela teve uma crise de riso.
- Não me decepcionou porque nunca teve a oportunidade de tentar entrar nas minhas calças. – ela retrucou e eu ri.
- Ah, não? Eu te conhecia há duas horas quando te vi de lingerie pela primeira vez. Assuma, , nossa relação tem um outro nível. – disse e ela riu.
- Eu te conheço bem demais para cair no seu papo, . – retrucou, usando meu nome completo, como fazia logo que nos conhecemos, o que me fez rir.
- Você é a minha única garota, sabe disso. Nunca magoaria você.
me encarou com os olhos arregalados e percebi, dois segundos depois, o que tinha dito. E eu nem estava tão bêbado assim, mas que porra!
- Promete? – ela perguntou, infantilmente, e eu sorri.
- Prometo. – respondi e a beijei na testa.
se aninhou em meus braços enquanto eu mexia em seus cabelos e, depois de alguns segundos, ela me olhou nos olhos.
Ali, só com a luz do abajur acesa, continuamos nos encarando por um tempo, até que eu encostei meu nariz no dela, sem nem pensar, e ouvi sua respiração profunda. Encostei meus lábios nos dela e dei um selinho, sem realmente pensar em nada, e não sei se foi o álcool no sangue, mas ela sorriu e eu também.
E não precisei dizer nada. Quando ela fechou os olhos e me retribuiu o selinho, simplesmente a beijei e ela não hesitou. O beijo, que começou tímido demais, logo se intensificou, e eu não conseguia entender por que diabos não tínhamos feito isso antes. Entrelacei meus dedos em seu cabelo, puxando-a para mais perto, e suas mãos já percorriam minhas costas e arranhavam levemente meu pescoço.
- O que estamos fazendo? – ela sussurrou contra a minha boca e voltou a me beijar. Mordi seu lábio inferior, depois sorri.
- Não faço ideia, mas apenas... Não pare.
Sua risada leve tomou conta do quarto e eu deitei meu corpo sobre o seu, distribuindo beijos por seu pescoço e colo.
Entre beijos, nossas roupas foram parar longe rápido demais e então encostei minha testa na dela.
- Lembra quando você me disse que eu nunca entraria nas suas calças? – perguntei, gargalhando, e ela chacoalhou a cabeça, rindo alto.
- Você é um idiota, . Agora deixe eu ver se tudo que falam por aí é verdade. – ela riu, colando nossas bocas.
E não é difícil imaginar o que aconteceu depois disso.

Acordei na manhã seguinte com muito mais espaço na cama do que eu esperava. não estava mais ali, mas meu celular estava piscando insistentemente com uma nova mensagem.

Tive que correr para entregar um trabalho. Obrigada pela noite, . Vamos ver se essa jornada será mesmo inesquecível LOL. Passa aqui mais tarde para pegar aqueles livros que você pediu! Beijos”.

Sorri, olhando para a tela, e depois engoli seco.
O que diabos tinha feito?
Eu tinha quebrado todas as regras que estipulara para mim mesmo. Nunca estragaria uma amizade por sexo. E lá estava eu, lendo uma mensagem pós-transa, da minha melhor amiga.
E eu não conseguia tirá-la da cabeça, o que era pior, muito pior.
Se eu tentasse ficar de novo com ela, acabaria a magoando, eventualmente, porque era isso que eu fazia, e aquele momento foi crucial para me lembrar disso.
Respirei fundo e ignorei a mensagem.
E ignorei qualquer mensagem ou telefonema por mais dois dias, quando o inevitável aconteceu.
Encontrei-a sentada na área comum da minha residência, trabalhando em uma maquete com Austin. Tinha me sentido a pior pessoa do mundo nesses dias e tudo isso se confirmou com o olhar de desprezo que ela me lançou, virando a cara para a maquete assim que entrei na sala.
Austin me encarou, confuso, e depois saiu andando, sem dizer uma palavra.
Ele estava mais que certo. Se eu pudesse, também fugiria dali.
- Oi, . – arrisquei dizer, tremendo na base mais do que em final de jogo do Manchester United.
Eu estava fodido, sabia muito bem disso.
- Ah, você ainda sabe meu nome? – ela riu, irônica, ainda olhando para a maquete. – Achei que a vodka e o sexo apagassem esse tipo de coisa.
Respirei fundo.
- , desculpa, eu...
- Não, . – ela levantou abruptamente, olhando-me pela primeira vez. Seus olhos estavam vermelhos e eu nunca tinha a visto daquela forma. – Você não pode ser um filho da puta e achar que pedindo desculpas vai melhorar alguma coisa!
- Mas...
- Não tem “mas”, . E sabe o que é o pior de tudo? – agora ela já estava chorando, o que me deixava completamente desconsertado. – Você disse que nunca me magoaria e eu acreditei! Eu costumava pensar que todos os caras do mundo iriam acabar comigo um dia, menos você! – ela riu, sarcástica. – Sou mesmo muito idiota.
Quando ela se virou, eu segurei seu braço, e ela voltou a me olhar.
- Eu pirei, ok? Eu não queria estragar uma amizade como a nossa pelo simples fato de ser... Eu. – cuspi as palavras de qualquer jeito e minhas mãos estavam geladas. riu, sem humor.
- Você devia ter pensado que isso aconteceria de um jeito ou de outro. – disse, desvencilhando-se da minha mão. – Faz um favor, ? Finge que eu não existo ou eu juro por tudo que vou fazer da sua vida um inferno.
- Eu não vou me afastar de você. – gritei, quando ela já estava mais longe. – Porra, você não entende o quanto significa pra mim?
Dessa vez, ela riu alto.
- Imagina se não significasse. – murmurou. – Passar bem, .

Aquele mês foi o pior da minha vida.
Nada parecia me agradar. Comecei a perseguir a pela faculdade, tentando de todo jeito reverter a situação, mas nada feito.
Em um dos fins de semana, o Manchester United enfrentou novamente o Liverpool e aquilo estava me matando. Perdi a conta de todas as vezes que olhei para o lado para comentar algo com ela, ou rir de alguma coisa, e encontrei qualquer um dos caras ou um vazio imenso no sofá.
Não demorou muito para que os rumores de que ela estava com outro cara chegassem aos meus ouvidos e aí eu surtei de verdade. Dormi com umas três garotas diferentes num período de dois dias, mas estava completamente fora de mim.
Dois anos. Dois anos inteiros para eu descobrir, quando já tinha fodido tudo, que eu a queria desde o começo. Que todas as vezes que corri até ela para dar risada ou para desabafar, não era só amizade.
Que quando eu odiava um a um dos caras que ela insistia em sair ou namorar, não era proteção de irmão.
Eu a via em todos os lugares, nas músicas no rádio, nos filmes na TV e toda vez que eu abria a janela e dava de cara com aquele lago congelado.
Ela não tinha a menor noção, mas tinha realmente feito da minha vida um inferno.
Foi quando olhei pela milésima vez para o lago que me veio à cabeça nosso primeiro encontro, e eu sorri, sentindo-me idiota e empolgado.
Eu faria uma grande declaração. Nunca tinha feito nada parecido na vida, mas que se foda. Não podia mais passar um dia sequer sem ela.

E ali estava eu, dois anos depois, completamente pelado no meio da Universidade. As pessoas me olhavam e fotografavam, algumas por curiosidade, outras porque provavelmente se lembravam. Dois anos antes eu estava ali, pelado, naquele mesmo lugar. Aiden e os caras estavam gritando e filmando de novo, quando eu liguei a guitarra no amplificador quase abaixo de sua janela.
Aquele maldito filme.
Sabia que um dia ele voltaria para acabar comigo.

- I guess this time you're really leaving... – comecei a cantar e as pessoas ficaram em silêncio. - I heard your suitcase say goodbye.
Olhei para a janela, mas nenhum sinal. Respirei fundo.
- And as my broken heart lies bleeding, you say true love is suicide.
Foi então que ela surgiu, pela porta da frente, de pijama e com os olhos arregalados. Sorri, olhando-a.
- You say you've cried a thousand rivers, and now you're swimming for the shore...
- , o que diabos você tá fazendo? – ela gritou e algumas amigas dela apareceram atrás.
Decidi continuar cantando.
- You left me drowning in my tears, and you won't save me anymore. I'll pray to God to give me one more chance, girl.
- ! – dessa vez, ela berrou de novo e eu parei de cantar. Lançou apenas um olhar e não precisou dizer mais nada.
- Estou usando seu filme preferido contra você mesma. – respondi e ela chacoalhou a cabeça, provavelmente sem acreditar.
- O Ashton Kutcher está muito bem vestido na cena. – retrucou e eu ri.
- Achei que seria interessante dar meu toque pessoal. – sorri, malicioso, e pude perceber que ela prendeu o riso. – Relembrando os velhos tempos pelado no lago, você sabe.
- Aonde você quer chegar com isso? Não tenho a vida toda. – disse e eu sorri de lado. Ela nunca mudaria e essa era a melhor parte.
Como uma tempestade sem anúncio.
- Eu amo você. – disse, sem nem calcular, e várias pessoas pareceram extremamente chocadas com a revelação. Inclusive ela. – E eu fui um idiota. Eu nunca devia ter fugido de você. Minha vida não tem mais a menor graça depois disso. Quer dizer, quem é que vai livrar minha barra quando eu faço alguma coisa idiota, ou me obrigar a assistir comédias românticas... Quem é que vai me zoar quando meu time perde, me xingar o tempo todo e estar sempre comigo quando eu preciso? – disparei a falar e juro que vi uma lágrima caindo em seu rosto. – Eu sinto sua falta, demônia.
- Eu nunca pedi pra ficar com você, . – ela falou. – Mas quando aconteceu, o mínimo que eu esperava era que você agisse como um homem depois. Você não pode consertar tanta merda assim, só cantando Bon Jovi pelado. – ela riu, sem humor.
Senti meu peito afundar e, em meio a tanta gente falando, vi murmurar um “sinto muito” e virar as costas.
Foi aí que eu me lembrei.

- Eu posso quebrar a aposta com uma condição. – ela sorriu. – Você vai gritar para todos esses celulares que estão nos filmando que o Liverpool é muito melhor que o Manchester..

Larguei a guitarra, completamente enlouquecido, e apertei os olhos.
Nunca me senti tão traíra na vida. Mas aquela era uma boa causa. E se eu pensasse demais, nunca conseguiria fazer.
- When you walk through a storm, hold your head up high – apertei os olhos com força. – And... don’t be afraid of the dark.
- CARALHO, ELE TÁ CANTANDO O HINO DO LIVERPOOL!
- At the end of a storm is a golden sky, and the sweet silver song of a lark...
Foi quando ela virou, de queixo caído, e eu fiz uma careta de dor.
- Walk on through the wind, walk on through the rain...
E então ela correu, rápida como aquele furacão que devia levar seu nome.
Quando vi, já estava com as pernas ao redor da minha cintura, o nariz encostado no meu, encarando-me nos olhos.
Abriu um enorme sorriso antes de me beijar.
O sentimento de traição ao meu time se esvaiu quando nossas línguas se tocaram e as pessoas começaram a gritar loucamente.
Ninguém foi avisado da chuva – dessa vez, a de verdade – que despencou praticamente do nada sobre nossas cabeças, fazendo todo aquele público sair correndo.
Ela sorriu, encostando a testa na minha e mordendo meu lábio.
- Eu sempre consigo o que quero, não é? – disse e eu gargalhei.
- Já disse que você é o demônio de saias hoje? – retruquei e ela me deu uma tapa no ombro, rindo.
- Eu também amo você, .

FIM


Nota da Autora: Olá, docinhos! Mais uma shortfic minha, dessa vez até que ficou short, mesmo! hahahaha Aleluia! Escrevi essa fanfic em uma brincadeira no grupo da lindíssima da Rafa Julich, autora de Dear Diary, que propôs que cada uma desse um tema para outra pessoa escrever uma short. Meu tema, dado pela Lara Scheffer, foi "eles são torcedores de times rivais e se conhecem em um clássico", e foi isso aí que saiu! hahahahaha Amo/sou essa PP poderosa e atrevida, e esse PP nu? hahahahah Enfim, quero agradecer a linda da Belise Lemos, leitora querida das minhas fanfics que me ajudou com ideias para a short, e mandar beijo para todo mundo! Comentem bastante que a Cah fica feliz hahaha Beijão, e até a próxima!

Contatos:
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Outras fanfics da autora:
- Summertime: McFly/Finalizadas (/fanfics/s/summertime.html)
- Behind The Scenes: McFly/Andamento (/ffobs/b/behindthescenes.html)
- Amor Em Jogo: Challenges/Finalizada (/challenges/amoremjogo.html)
- Be Your Everything: Especial da Equipe/Finalizada (/fanfics/b/beyoureverything.html)
- One Night Only: Especiais/Finalizada (/fanfics/o/onenightonly.html)
- Never Gonna Be Alone: Especial de Natal/Finalizada (/fictions/n/nevergonnabealone.html)
- Beautiful, Dirty, Rich! : Restritas/Hiatus (/fanfics/b/beautifuldirtyrich.html)


Caso tenha algum erro nessa fanfic, não use a caixinha de comentários, entre em contato comigo pelo twitter ou pelo e-mail. Obrigada. Xx

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