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Capítulo 1


There once was a pirate
Who put out to sea
His mates all around him
No maiden on his knee
Oh sail for a little
A little little litte
Oh sail for a little
Til she finds him



As estrelas ainda não haviam aparecido naquele anoitecer em particular. O céu parecia triste lá em cima e, mesmo que não estivesse chovendo, fazia frio. O vento era forte, áspero e cheirava diferente.

A palavra diferente não era muito comum na pequena cidade de Bilderbuch. Tudo ali era rotina, até mesmo o cheiro que o vento trazia de terras distantes. A pequena Bilderbuch era uma cidade cinza, com tons de tristeza e sobriedade em cada canto. Bilderbuch era uma cidade sem saída, sem futuro e sem passado.

Então, o cheiro diferente era algo meio empolgante para duas pessoas de Bilderbuch, os únicos moradores da cidade que percebiam a estranheza do local: Nixe, filha do prefeito da cidade, e James Reizend , um camponês que vivia sozinho na floresta Purpurrot.

Os dois eram amigos, provavelmente os únicos na cidade que haviam experimentado a amizade, se encontravam todos os dias por volta das seis da noite numa pequena caverna próxima a casa de James.

O dia de hoje era frio demais para um desses encontros, porém nunca deixaria o frio roubar seu momento preferido do dia. Ela seguiu pela floresta de Purpurrot, enrrolada em seu casaco masculino e bem maior que ela, cantarolando as cantigas que ela ouvia em seus sonhos. Ela queria afastar o medo de si, afinal, ela era apenas uma garota perambulando pela floresta ao anoitecer. E aquela floresta, que cobria os limites da cidade, era meio assustadora.

A floresta Purpurrot tinha esse nome por ter árvores em diversos tons de roxo e sempre parecer estar na primavera, mesmo que toda cidade estivesse presa no inverno. Ela era misteriosa, macabra e ao mesmo tempo encantadora.

James morava lá desde pequeno. Seu pai era responsável por vigiar a torre da cidade e depois que ele morreu – pouco depois de James nascer – sua mãe tomou a responsabilidade de vigiar a pequena cidade de visitantes indesejáveis. Em vinte e um anos a cidade não recebera nenhum.

Há dois anos a mãe de James faleceu e o garoto tomou o lugar dela. Ninguém da cidade gostava muito dele, acreditando que o garoto trazia má sorte. Porém sempre gostou dele, sem nenhum motivo especial. Ela apenas gostava de James e vice-e-versa. Ele era seu único amigo e apenas ele a entendia.

chegou à pequena caverna e foi diretamente até a pequena estante de livros e cadernos que James havia arranjado para ela. Ela ascendeu uma vela e se sentou no chão frio. Ali ela podia ser quem ela era, sem medo de seu pai ou de qualquer outra pessoa.

Por algum motivo seu pai não gostava de sua paixão por literatura. Principalmente sua paixão pelos contos antigos sobre o mar. Ela amava a ideia do mar, mesmo que ela nunca tenha chegado perto do oceano. Aliás, ela nunca havia deixado a cidade, e o pequeno lago era o mais perto do mar que ela havia chegado em sua vida.

amava piratas. Ela adorava suas aventuras, sua coragem, suas canções. Ela sonhava com suas histórias dia após dia. Mas seu pai não admitia tamanha loucura, proibindo-a até de mencionar o assunto.

Foi ai que James resolveu ajudá-la. Ele descobriu uma caverna na floresta e montou um esconderijo para os devaneios de . Os dois ficavam juntos por horas, conversando sobre outras vidas e outras cidades, sonhando em fugir e descobrir um novo mundo longe daquilo tudo.

James chegou em seu cavalo, amarrando-o em uma árvore e adentrando a caverna o mais rápido que pode. era sua única interação diária e ele mal podia esperar para conversar com ela. Ele se sentou ao seu lado, pegando o livro da mão da garota, fazendo-a rir.

- Qual leremos hoje? – ele perguntou, folheando as páginas com um sorriso no rosto. recostou-se no braço direito de James, suspirando enquanto pensava em qual escolher.

- A do príncipe pirata – ela pediu, um pouco mais empolgada, afinal esse era seu conto preferido. Ela já havia o ouvido milhares de vezes, mas algo no jeito como James a contava fazia se apaixonar cada vez mais pelo príncipe que virava pirata por amor.

- Mas eu já te contei essa milhares de vezes! – ele riu, olhando-a de canto. O rosto dos dois estava bem próximo, causando arrepios nos dois, mas ambos sabiam disfarçar muito bem. sorriu mais aberto, implorando-o pela história com seus olhos verdes. – Como eu posso resistir a você, ?

- Não resistindo. – A garota riu, afastando-se de James e se recostando na parede da caverna atrás de si. Ela ajeitou seu vestido longo e roxo quando o vento frio tocou sua pele.

- Era uma vez…

“… Um príncipe de um reino distante, beijado pelo oceano e cheio de riquezas. Ele era querido por seu povo e amado por todas as garotas do reino. Porém, o jovem príncipe era apaixonado pelos mares. Ele não acreditava em romance ou em histórias de amor. Sua única paixão eram as ondas, o vento em seu rosto e o gosto salgado da água do mar.

Ele navegava em seu barco dia após dia, passando mais tempo no oceano do que em terra firme. Até que num certo dia uma forte tempestade causada pela bruxa dos mares fez seu navio perecer.

O príncipe não acreditava em sereias até ser salvo por uma. A sereia o resgatou da morte e o trouxe de volta a terra firme em segurança.

A sereia que o resgatou era a mais linda do céu, terra e mar. Nenhuma garota podia ser tamanha beleza e graciosidade como a sereia de cabelos vermelhos. O príncipe se apaixonou perdidamente, acreditando não somente em sereias, mas em amor à primeira vista.

Porém ela não pertencia à terra firme e o príncipe não pertencia ao mar. Os dois viraram amantes inusitados, se encontrando onde a terra encontra o mar. Eles sonhavam acordados com o dia em que pudessem ficar juntos, seja em terra ou no oceano. Era impossível, mas eles acreditavam no amor com a inocência de uma criança.

A sereia era filha do rei dos mares. O rei não admitia que humanos e sereias interagissem, muito menos sua filha mais nova e mais amada. Ele proibiu a sereia de encontrar seu amor, causando intensa dor em ambas as partes.

Mas a sereia não desistiria de seu príncipe facilmente. Ela procurou a bruxa dos mares e trocou suas barbatanas por pernas. Porém mágica tem um preço, e o da sereia era maior do que ela podia pagar.

O príncipe e a sereia se reuniram uma vez, trocando votos de amor antes de a bruxa aparecer em busca de sua parte do contrato. E o preço a ser pago era a vida da sereia. Obviamente a bruxa não mencionou isso anteriormente, muito menos que retiraria a vida da sereia em três dias.

Desesperado ao ver sua amada morrendo pouco a pouco, o príncipe procurou a bruxa dos mares, disposto a trocar sua vida pela da sereia, mas de nada adiantou. A bruxa precisava da alma da sereia e nada mudaria seu plano.

O único jeito de salvar a sereia era pedir ajuda ao rei. Ele amava tanto sua filha que trocou seu reino por uma segunda chance.

Porém ele deveria levar a sereia para outros mares, outros reinos, longe do príncipe.

O príncipe reencontrou a bruxa dos mares que, em troca de sua mão direita, ofereceu uma visão de sua sereia.

Desesperado pelo amor, o príncipe abandonou seu reinado e passou o resto de sua vida em um barco procurando a sereia em todos os mares, em todos os reinos, em todos os mundos.

O príncipe então virou pirata e nunca mais voltou para casa.”

- Será que eles se reencontraram? – perguntou para James, que fechava o livro e o colocava de lado.

- Eu não sei. – ele respondeu, com um pequeno sorriso – Talvez sim, talvez não.

- Será que o oceano é tão grande assim ao ponto de duas pessoas se perderem eternamente? – ela perguntou novamente, deitando-se nas pernas do garoto, que logo começou a acariciar seus cabelos.

- Eu acho que sim. – respondeu, ainda com um sorriso no rosto.

- Você acha que um dia nós veremos o mar? – ela perguntou mais uma vez, porém não sorriu.

- Por que você esta perguntando isso?

- Porque nós nunca saímos daqui. – ela se levantou num pulo, pegando o livro de perto de James. – Existe um mundo enorme lá fora que eu sonho em conhecer…

- Eu sei – ele disse, não muito feliz também. – Mas nós estamos presos aqui...

- Nós deveríamos fugir – ela falou um pouco mais baixo, fazendo o garoto gargalhar. – Eu estou falando sério! James, nós somos jovens! Nós temos uma vida inteira pela frente! Eu não quero ficar presa aqui, ter aquele corcunda estranho… Eu não quero ser um pássaro preso na gaiola.

- Ninguém quer, . – ele respondeu, segurando a mão da garota – Eu não quero também. Mas eu não sei o que existe por trás dos muros da cidade. Eu não temo por mim, mas por você. – Assumiu, fazendo a garota rir.

- Eu sou completamente capaz de me virar sozinha, Reizend. – ela bufou, fazendo o garoto rir um pouco mais.

- Ah, minha … Nunca perca seus sonhos. – O garoto loiro falou para a ruiva mal humorada, com um sorriso bobo em seu rosto.

- Essa cidade vai consumir minha alma, James – ela falou. – A sua também. Daqui a pouco seremos exatamente iguais a nossos pais. Seremos como Idina, Hugo, Charles, Pollo e…

- Eu sei, – James disse, chateado por continuar no assunto. – Eu não quero ser como eles. Sem vida, sem fé, sem sonhos… Mas existem coisas que nós não somos capazes de mudar e eu acho que viver aqui é uma delas.

- Somos sim! – ela pediu. – Por favor, James! Além desses muros existe um mundo que nós precisamos conhecer!

- Para onde nós iríamos? – ele perguntou, sentindo um aperto no peito. Ele queria, mas não queria sair de casa.

- Para a costa – ela disse. – Nós vamos embarcar em um navio e…

- A vida não é um conto de um livro sobre piratas, .

- A vida deve ser mais do que uma cidade sem vida. – ela falou, fazendo o garoto ficar em silencio por algum tempo. Ele ponderou suas escolhas e a resposta era óbvia.

- Eu vou te buscar após a terceira batida do relógio da cidade – James informou e o abraçou bem apertado.

- Obrigada, James! – ela disse, dando-lhe um beijo em sua bochecha – Você não vai se arrepender.

James parou por um segundo, analisando o sorriso embargado da garota sonhadora a sua frente. O jeito como os cabelos ruivos caiam perfeitamente em seu rosto, ou como seus olhos pareciam mais claros quando ela sorria, o encantavam profundamente. Ele não queria demonstrar, porém, ele tinha uma intensa atração pela filha do prefeito, mas, ao mesmo tempo, não conseguia sentir como se fosse certo estar com ela de um jeito mais, digamos, romântico.

Em Bilderbuch, jovens não aprendiam sobre romance. Quando faziam vinte e dois anos os jovens eram forçados a casar com quem seus pais queriam. Alguns conseguiam dar sorte e encontrar o amor, como Idina e Raureif. Porém outros viviam sua vida miseravelmente, como todas as outras sete irmãs de – Sophia, Saskia, Seraphina, Sybille, Susanne, Sabine e Selma – e muitos outros jovens da cidade.

Em Bilderbuch, também, os jovens não eram ensinados a sonhar. A vida era dura – trabalhar, estudar, honrar a família e suprir as necessidades. Não existia futuro. Por isso James estava confuso. Confuso porque não sabia o que o amor realmente era além do que havia lido no livro sobre piratas de . Ele não sabia o que era o futuro porque nunca foi permitido sonhar com um.

- Eu tenho que ir. – levantou-se, ajeitando novamente o vestido roxo. – É uma longa jornada até casa.

- Você quer uma carona? – ele perguntou, levantando-se também. sorriu, assentindo graciosamente. Ela não percebeu, mas uma folha caiu em seu cabelo e James se aproximou para tirá-lo. Perto demais.

Ela sorriu ao sentir o toque do garoto. Sorriu ainda mais ao sentir a respiração dele batendo em seu nariz. James sabia que era a hora de tomar uma iniciativa, como no conto do pirata tímido apaixonado pela mais bela princesa.

E ele tomou. Ele juntou os lábios dos dois delicadamente, sem saber muito o que esperar, sem saber se estava indo longe demais.

Foi um erro, ele percebeu assim que os dois se separaram. Não parecia certo, não parecia verdadeiro. Os dois sorriam um para o outro devido ao intenso carinho e imensa atração e seguiram para cima do cavalo de James, Butterblume, sem falar nada.

O vento esfriava a cada momento, deixando o ar da cidade mais escuro e deprimente. Porém e James estavam otimistas.

Algo no ar havia mudado.

E foi assim que o fim da maldição começou.


Capítulo 2


There once was a maiden,
Who wandered the mead
To gather blue violets.
Her mama would need
A wail through the willows,
All hollow through the willows.
She’ll wail through the willows
‘Til she finds him.

James parou o seu cavalo perto da casa de madeira de . Ela desceu com cuidado e se despediu com um sorriso no rosto, correndo para sua casa no que ela esperava ser a última vez. Seu pai estava a esperando, sem sorrir, enquanto a garota atravessava a porta. Ela respirou fundo e suspirou, tentando não mostrar nenhum sentimento em seu rosto.

Tristan era um homem grande, com longos cabelos brancos e uma barba gigantesca. Tinha um cheiro estranho, salgado, que a garota passou a vida inteira tentando desvendar.

– Onde você estava? – ele perguntou, com sua voz autoritária e fria.

– No campo – a menina respondeu, passando pelo pai e tentando não demonstrar nada para ele.

– Eu sei que você estava com o azarento – Tristan falou. – A cidade inteira já sabe de vocês dois.

– Eu e James somos apenas bons amigos.

– Não existe amizade entre homens e mulheres, filha – o homem disse seriamente, fazendo os braços da garota se arrepiarem de nervoso. – Eu já lhe falei sobre isso milhares de vezes.

– Claro que existe! – ela revidou, sem demonstrar seus medos. – EU E JAMES somos apenas bons amigos!

– Eu não quero você perdida no campo com ele. Seu noivo não está gostando dos boatos…

– Primeiro: eu não vou me casar com o Hugo – ela falou, sentindo a usual raiva invadir seu corpo. – Segundo: não ligo para o que ele pensa, ou o que todos dessa maldita vila pensam! Eu escolho com quem fico. Não o senhor!

– Eu achei que gostasse dele. E o garoto é filho do reverendo e…

– Ele é um bom amigo, mas não quero casar com meu amigo, papai! Quero um amor de verdade, daqueles que fazem seu coração voar! Daqueles que…

– Não existe amor assim. Você tem que aprender isso – Tristan falou, demonstrando uma tristeza tão conhecida pela garota. – Só me obedeça dessa vez, minha filha.

não respondeu, andando lentamente para seu quarto. Fechou a porta e, sem fazer muito barulho, começou a guardar suas coisas, na esperança de que sua vida finalmente fosse mudar.

Logo após o jantar, dirigiu-se ao seu quarto novamente, apagando as velas e se deitando na cama. Seu pai fez o mesmo. Quando o relógio bateu pela terceira vez, a garota se levantou, colocando sua roupa de noite – um vestido até o pé roxo escuro e botas resistentes, com um casaco que ela havia achado num baú na carpintaria. Abriu as janelas e atravessou o vento frio, correndo em direção à casa de James.

Ela olhou para cidade pela última vez. As casas de madeira iluminadas por velas gigantescas pareciam cenário de seu pesadelo. Não sentiria falta de nada, além de seu pai, sua caverna e do cheiro de lavanda da cidade.

Não olhou para trás, seguindo seu caminho até James. Ele estava a esperando em frente à sua casa.

– Ansiosa? – o rapaz perguntou, pegando a mala da garota e a colocando em seu cavalo.

– Absurdamente. E você?

– Ainda tentando me convencer de que é a coisa certa a se fazer.

– Ei – a menina encostou no braço do garoto. – Nós vamos ser absurdamente felizes lá fora.

James sorriu com o que a garota disse. o conhecia, querendo ou não. Ela sabia o que falar para deixá-lo feliz.

Mesmo sabendo que não deveria, ele a beijou. Dessa vez, o beijo foi mais intenso, mais forte e absurdamente melhor do que antes. Porém, ainda não parecia certo. O rapaz queria saber por que, já que claramente tinha sentimentos pela garota. Ele não conseguia sentir o que os livros de descreviam.

– Sério. Era só o que me faltava – uma voz desconhecida fez os dois se separarem em choque.

Uma garota de cabelos castanhos claros, quase loiros, usando roupas de garotos – afinal, garotas não usam calças – e uma blusa azul, estava parada com pouca distância dos dois. Ela tinha surgido literalmente do nada e não parecia feliz.

Aproximou-se de James furiosamente e, antes que o garoto pudesse pensar em algo, lhe deu um tapa bem forte. Ele ficou sem reação e apenas ria de nervoso.

– Do que você está rindo? – a garota disse e tentou ficar séria. – Você sabe o trabalhão que está me dando? – negou e a moça continuou. – Droga. Vocês não sabem de nada. Às vezes, esqueço o quão complicado tudo isso é.

– Quem é você? – James perguntou, analisando a garota absurdamente familiar. Podia ser apenas o soco o deixando tonto, mas algo na garota à sua frente o fazia se sentir diferente. Algo lhe dizia que a garota com roupas de garoto era importante, mesmo que ele não a conhecesse.

Thompson – ela respondeu com seu belo sotaque britânico. – E eu vim aqui ajudar vocês.


O vento frio fez a sereia, agora humana, tremer. Ela se enroscou nos braços de Killian, que a abraçou mais forte. Os dois estavam acampados na beira do mar, esperando o inevitável.

Se Ariel soubesse no que ela estava metendo, nunca teria assinado o contrato com Ursulla. Killian nunca permitiria que ela fizesse algo assim. Ariel nunca havia percebido o quão imatura e incoerente era até ver sua vida em risco.

Por isso doía tanto. A garota estava sofrendo e nada que ele fizesse melhoraria o que ela estava sentindo. Ariel estava morrendo lentamente e tudo por sua culpa.

O Rei dos Mares estava olhando os dois de longe, contemplando os últimos momentos de vida de sua filha. Ele tinha outras, mas nenhuma era igual a Ariel. E o homem não queria viver num mundo sem ela.

Triton e Ursulla tiveram seus desentendimentos no passado – Ursulla e o rei queriam as mesmas coisas, de formas diferentes. Mas Triton nunca pensou que ela iria tão longe assim, tirando algo tão precioso dele.

Ele respirou fundo, olhando sua filha mais uma vez, antes de partir. Nadou, nadou e nadou até chegar à costa de outro reino. Nunca pensou que chegaria ao ponto de pedir ajuda à pessoa mais maléfica de todos os Reinos.

A Enchanted Forest vivia em eterno terror devido à Rainha Má, que governava o reino em busca de vingança e nunca descansaria até alcançar sua desejada vitória. Triton sabia da maldição que a rainha estava planejando. Ele sabia que ela estava perto. Mas também sabia que seu reino não seria tocado. Apenas ficaria paralisado até o fim da maldição. Essa poderia adiar a morte de Ariel por mais algum tempo, mas ela viria uma hora ou outra.

A Rainha já estava o esperando na beira do mar, com um glamoroso vestido preto e penas em seus cabelos escuros.

- Majestade – o rei falou, abaixando seu rosto em respeito.

- Em que posso ajudá-lo hoje, Triton? – a rainha falou, com seu sorriso irônico no rosto. Ela não era mulher de rodeios.

- Eu preciso da sua ajuda. Minha filha mais jovem, Ariel, se apaixonou por um humano e agora…

- Ela foi amaldiçoada pela bruxa do mar e você precisa que eu o leve comigo para onde vou. Estou correta?

- Sim, majestade. Estou disposto a pagar o que for necessário para salvar minha filha.

- Eu não preciso da sua fortuna, Triton. Sereias não me interessam em nada. Mas você tem sorte, porque vou ajudar. Eu não vou salvar sua filha eternamente, mas posso garantir que Ursulla não a machuque no lugar aonde vamos.

- Eu tenho outro pedido, majestade.

- Sim?

- Eu preciso que o humano pelo qual minha filha se apaixonou fique longe dela. Não me importa em qual reino ele fique, contanto que fique longe de nós.

- Levar o príncipe Killian nunca esteve em meus planos.

- Obrigado, rainha. A minha gratidão não tem limites. Farei o que for preciso para agradecer a sua bondade.

A rainha sorriu e o rei se preparou para partir, quando ela teve uma brilhante ideia.

- Na verdade, Triton, existe algo que eu quero em troca.

- Qualquer coisa.

- Se um dia a maldição for quebrada e nós tivermos que voltar para esse reino, quero ter controle sobre o Reino dos Mares.

- Sim, majestade.

O rei voltou para o seu reino com o coração tranquilo, sabendo que a vida de sua filha estava salva. A Rainha a protegeria de Ursulla e nenhum mal aconteceria a ela.

Mas, para uma garota apaixonada, não existe nada pior do que perder o amor de sua vida. Porém, Triton não queria saber disso.



– Viu, ? Esse é um sinal para nós não sairmos da cidade! – James falou, um pouco mais irritado do que de costume. Talvez pelo soco, talvez pela garota nova.

– Olhe, Charmoso, nós vamos sair daqui, mas não agora. Preciso falar com o rei e conversar com vocês um pouquinho – . disse e logo dirigiu o olhar para James. – Não com você, idiota.

– O que eu lhe fiz? – ele perguntou, ficando extremamente nervoso. Afinal, não conhecia essa garota absurdamente misteriosa e incrivelmente linda, que o deixava meio fora de si.

– Nada, idiota – ela falou, ainda irritada. – Ei, vocês têm alguma coisa para beber? Essa viagem me deixou meio cansada.

– Da onde você vem? – . perguntou, ainda analisando a menina. Sob a luz do luar, parecia ainda mais misteriosa e encantadora.

– De muitos lugares, para falar a verdade. Vocês não conhecem ainda – respondeu .– Vocês dois são meio lerdos, não são? Vamos. Andem. Quero algo bem forte para beber e depois nós vamos para a cidade. Tem como ligar para o seu pai e pedir uma reunião?

– Ligar?

– Droga! Não tem telefone aqui. Tem? – perguntou e os dois negaram com uma feição duvidosa. – Existe algum meio de comunicação por aqui? Pombo-correio, sei lá?

– Posso tocar o sino da cidade, se você quiser – James ofereceu e ficou desesperada.

– James, por favor! Meu pai vai me matar! Ele vai descobrir que íamos fugir e…

– Ariel, calma aí – falou e logo se arrependeu. – Perdão. ... Está tudo bem. Ok? Seu pai tem coisas muito mais sérias para se preocupar do que se você vai fugir ou não com o seu namoradinho idiota.

– Ei, pare de me ofender! – James pediu e a garota bufou.

– Alguém já pegou a minha vodca?

– O que é isso? – James perguntou e . bufou ainda mais alto.

– Vamos para a cidade antes que dê um tiro em vocês dois.

– Eu não sei quem você é, mas, para uma mensageira ou salvadora, é uma chata – falou e apenas riu.

– Emma Swan é a salvadora. Não eu – afirmou. – Vocês vão conhecê-la qualquer hora. Ótima companheira para beber. Quer dizer, não vai gostar muito dela, mas isso não é problema meu.

– Eu acho que você precisa de um médico – James afirmou. – Não entendo nada do que você fala.

– O rei vai entender – disse. – Podemos ir?

– Rei? – perguntou e apenas bufou.

– VAMOS!


Capítulo 3


The sea was so violent,
The crew went below.
They begged him to join them,
But he would not go.
Oh, sail a little, little
For just a little, little.
Oh, sail for a little
‘Til she finds him.

– VAMOS!

James e se entreolharam, ainda meio perdidos com a situação. Enquanto tinha certeza de que não deveria seguir aquela estranha (afinal, se havia uma lição importante que aprendera com seu pai, era de nunca falar com estranhos), James, por outro lado, tinha a certeza de que deveria fazer exatamente o que a estrangeira mandava. Algo naquela garota misteriosa era extremamente familiar ao garoto, trazendo um estranho sentimento de que nunca fora uma farsante. Ele confiava nela, mesmo sem ter razões para isso.

Os três seguiram juntos até a Torre do Sino, a onde James prontamente subiu ao comando de . A melodia melancólica que ecoava com o soar dos sinos parecia, de certa forma, iluminar a pequena cidade.

Apesar dos murmúrios de uma contrariada, o grupo logo se viu de volta à cidade. A mesma cidade a que prometera nunca voltar. Os moradores estavam reunidos na pequena praça, com tochas de fogo e peitos cheios de clamores de guerra. O prefeito, pai de , estava bem no meio do grupo todo, como se estivesse esperando a filha voltar de sua jornada.

– Onde você estava? Você ouviu o sino tocar? Sabe o quão perigoso… – Tristan começou a falar, mas o fez calar. Ela já estava cansada de tanto drama.

– Com todo o respeito, majestade, nós precisamos conversar. – O vento azul está vindo – Tristan disse, baixinho e sério. Seu tom de voz era triste e sombrio, assim como o seu olhar.

– Na verdade, senhor, o vento dessa vez é verde. Azul saiu de moda ano passado – a estrangeira tentou brincar, sem muito sucesso, porque ninguém achou muita graça.

– O que vocês estão falando? – Hugo, o suposto noivo de , falou. Seu corpo meio deformado estava meio curvado, como sempre, e seus olhos estranhos pareciam meio esbugalhados. Mesmo assim, o garoto não parecia envergonhado em receber todos os olhares da cidade.

– Nós exigimos saber o que esta acontecendo! – Leslie, a garota com longos cabelos platinados e vestido azul, disse. O ar da cidade parecia mais frio.

– Silêncio! – Tristan gritou, sem muito sucesso – Está tudo sobre controle!

– Meu Deus, vocês são mais descontrolados do que em Storybrooke! E olhe que eles tem sete anões e uma criança descontrolada – afirmou. Todos ficaram em silêncio, olhando para ela com dúvida. – Ah, vocês nunca ouviram falar de Storybrooke. Tudo bem.

– Teremos que lutar, senhor prefeito? – Harold, um jovem alto e musculoso, conhecido por sua força dos deuses, causou um burburinho com seu comentário.

Todos gritaram, afirmando que estavam prontos para salvar a cidade se fosse preciso. As mães abraçavam seus filhos e as esposas apertavam seus maridos.

– Não há necessidade de lutarmos – Tristan afirmou pesarosamente. – A Guerra já foi perdida há muito tempo.

– Mas essa é a nossa casa! – Penny, uma garota morena e de longos cabelos e escuros, falou. Seus olhos cor de esmeralda brilhavam com a luz da lua. – Esse é o nosso lar! Não sairemos daqui sem uma boa briga!

– Senhor, nós temos um exército pronto – Jehan, o mais novo capitão da polícia da cidade, disse. – E, ao seu chamado, lutaremos até o fim.

– Chega de loucura! Nós não estamos lutando contra humanos, mas contra magia. Magia negra.

– Talvez Leslie saiba fazer alguma bruxaria – Agatha, uma senhora mais idosa que usava um longo casaco de pele, implicou.

– Eu não sou uma bruxa! – Leslie retrucou. – E magia não existe.

– Infelizmente, magia existe – a cidade inteira se fez quieta ao ouvir a voz do prefeito. – E não há como lutar contra ela.

– Que confuso! – sussurrou para James, que assentiu.

– Ok, galera – tomou controle da situação. Ela não estava realmente prestando atenção na conversa daquelas pessoas. Não conseguia parar de olhar para James. – Vocês são muito enrolados e eu não suporto gente gritando. Primeiro, alguém tem vodca? – ninguém respondeu, para desgosto da garota. – Ok. Enfim, eu vou explicar tudo que aconteceu, já que o Rei está com preguiça de contar.

– Eu conto – Tristan, pesarosamente, falou. – Há vinte oito anos, nosso reino foi amaldiçoado pela Rainha Má. Fomos expulsos de nossa terra e…

– Isso é mentira ! – a senhora usando um casaco de pele reclamou. – Nós nos lembraríamos disso!

– O passado foi arrancado da mente de todos nós e…

– Com todo respeito, Tritão, todo mundo vai se lembrar do passado em breve. Esses contos de fadas rejeitados não são nossa prioridade agora – disse. – E não que eu me importe, sabe, mas me mandaram aqui para ajudar a proteger Ariel da bruxa do mar ou algo assim.

– Quem a mandou aqui? – Tristan perguntou, sentindo um frio absurdo em seu estômago.

– Príncipe Killian, do Mar Norte.


No centro da selva de pedra, numa noite fria de outono, o pirata seguia uma jovem garota usando um casaco azul. A garota, ao perceber que estava acompanhada, decidiu correr, fazendo os seus cabelos voarem com o movimento.

De repente, ela parou de correr, assustando o pirata. Deixou o homem aproximar-se apenas o suficiente para chutá-lo em seu tesouro precioso. Nem toda a dor do mundo podia impedir o pirata de falar.

– Eu naveguei os sete mares, mas nunca conheci uma garota tão brutal quanto você.

– O que você quer? – a garota perguntou rudemente, olhando para o pirata da cabeça aos pés. Ela o reconhecia bem demais.

– Preciso da sua ajuda, milady – o rapaz começou a se recompor da dor, olhando a jovem garota nos olhos.

– Sim, capitão. Óbvio.

– Você é a única pessoa que pode atravessar os reinos sem precisar de um feijão ou algo assim…

– Tá. Isso todo mundo já sabe. O que quer de mim?

– Cora me falou sobre você. Ela me contou tudo sobre você, sobre o estrangeiro e…

– Não estamos aqui para falar do meu passado. Estamos?

– Não que eu me importe em passar horas olhando o seu belo rosto, love, mas…

– Você quer outro chute no saco de ouro, idiota?

– Calma, darling! Calma! Quanto nervoso – a garota resmungou algo, mas Hook decidiu começar a falar. – O príncipe do Mar Norte – Hook pigarreou. – Precisa de um favor seu. Ele… Ele se apaixonou…

– Quanta criatividade. Ninguém vem aqui me pedir um favor sobre, sei lá, descobrir em qual mundo o animal de estimação de infância foi parar. Tudo tem que ser por causa de amor. Que droga.

– O nome dela é Ariel – Hook continuou, mesmo que recitar aquela história em voz alta fosse mais doloroso do que podia imaginar.

– Ah, claro. Só faltava a Pequena Sereia! Que lindo!

– Enfim… – Hook ignorou a garota novamente. Ela já estava dando nos nervos dele. – Preciso que você a encontre por mim. Pelo príncipe, na verdade.

– Por que eu faria isso?

– Porque Cora me contou quem era o seu estrangeiro.

– E? – a garota tentou ignorar o que o pirata disse, mas o seu peito bateu mais forte e seus olhos se encheram de água.

– Ele está com Ariel… E sei que você o procura tanto quanto eu procuro a minha… Quer dizer, a Ariel.

– Em qual reino? – a voz embargada da garota fez Hook abrir um sorriso confiante.

– Bilderbuch. No meio do nada, perdido na Alemanha.

– Por que Regina os colocaria no mundo real? E tão longe? Não faz sentido! Você está mentindo, pirata de merda.

– Dear, eu não tenho todo o tempo do mundo. Tenho serviços a fazer. Você pode me ajudar ou não?




Capítulo 4


– Mas é impossível… – Tristan começou a falar, sem muita força. Aquilo tudo estava sendo um choque brutal de realidade que ele não esperava ter de enfrentar.

– Eu estou muito confusa – entrou na conversa. – De verdade.

– Calma, . Já falo com você – olhou fixamente para o antigo Rei dos Mares, como se estivesse tentando entrar dentro da mente dele. – Você sabe o que o fim da maldição significa. Certo?

– Sim.

– Eu não posso simplesmente salvar o seu reino e proteger a . Na verdade, não fui paga o suficiente para proteger o reino. Mas posso proteger a .

– Proteger como? – ele disse sem esperanças. – Não há nada que possamos fazer agora. É tarde demais.

– Ei, confie em mim. Vai dar tudo certo – a garota informou. – O preço pela sua filha já foi pago. Ela vai ficar bem.

– Para onde você vai levá-la?

– Para um lugar seguro. Não se preocupe.

Tristan olhou para a filha com tristeza. Aquilo seria um adeus e não havia nada que ele pudesse fazer – nenhuma barganha, nenhuma troca. Nada. Sabia o que estava entregando quando trocou seu reino por uma chance de trazer e suas filhas para o novo mundo. Agora, ao voltar para sua terra natal, Tristan não seria mais rei e não seria mais pai de sua amada filha.

– Nós não temos muito tempo – informou. – A maldição já foi quebrada. Em pouco tempo, ela chegará aqui e então…

– Vá embora – Tristan disse. – Vá agora.

não teve tempo de questionar. Ela logo foi tomada por um abraço apertado e cheio de dor de seu pai e, sem perceber, a garota estava chorando.

– Temos que ir – disse. Todos da cidade começaram a gritar, querendo entender o que estava acontecendo. – VOCÊS CALEM A BOCA!

James separou os dois, guiando uma emotiva para longe do pai. Ela nem sabia o porquê de estar tão emocionada assim, mas estava. Logo, os três saíram de perto do grupo que berrava em polvorosa. Como as coisas haviam escalado assim? Em uma hora, os dois amigos estavam fugindo daquele reino – e agora a garota estava aos prantos por deixar um pai que nem lembrava amar. Os sentimentos e as coisas mudavam muito rápido naquele vilarejo e, para James, era difícil acompanhar tudo aquilo

– Meu Deus – James disse, segurando o riso, enquanto seguia .

– Vamos antes que eu mate alguém – falou, ignorando todos da cidade. Ela já estava se metendo em problemas demais. Não precisava lidar com um grupo louco como aquele.

– Vamos para onde? – perguntou, sem demonstrar seu medo. – E por que vocês estão falando de mim? Quem é Killian? Por que meu pai me mandou embora?

– Cale a boca e me siga.


– O que vou ganhar em troca?

– Sua chance de ter James de novo – Hook falou e a garota à sua frente bufou. – C’mon, beauty. Você sabe que ainda o ama.

– “Mate” – Alice fez o sinal com os dedos. – Conhecemo-nos ha cinco minutos e já acha que sabe o que eu quero? Aliás, você está me perseguindo no Central Park! Tem alguma ideia de quão perigoso isso é para você?

– Só existem duas coisas em que eu arriscaria minha vida… E são amor e vingança. E estou aqui pelos dois.

– Espere. Então você quer vingança e está apaixonado por essa Ariel?

– Arrr.

– Fale como um homem, e não como um pirata. Aliás, você é o pior pirata de que já ouvi falar.

– Então você ouviu falar de mim – ele piscou sensualmente, fazendo a garota rir e mudando o assunto.

– Eu o conheço de algum lugar…

– Eu a ajudei a fugir de Cora, antes da maldição acontecer – Hook sorriu e a garota à sua frente assentiu. – Ache Ariel por mim como uma forma de me retribuir.

Alice ficou em silêncio, tentando se lembrar do dia em que Cora descobriu sobre a maldição. Ela precisava ajudá-lo, mesmo que não quisesse. Era seu dever agradecê-lo.

– E ela se lembra de você, por acaso?

– De mim? Ha. Nem do príncipe ela deve lembrar – Hook disse. – As coisas funcionam diferente no reino deles. A maldição de Regina continua funcionando, então todos lá não sabem quem realmente são.

– Por que não vai procurá-la você mesmo?

– Eu tentei, dear. Eu tentei. Sou mestre em sobreviver, mas nem eu conseguiria chegar lá inteiro – deu de ombros, mostrando com seu corpo que não se importava, quando seu interior tremia. – A única que pode chegar até ela é você, Alice.

. Aqui é .

– A única que pode me ajudar é você, .

– Eu nunca vi um pirata tão estranho assim – ela implicou, fazendo o rapaz à sua frente rir. – O que eu falo para ela?

– Só diga que vou encontrá-la e que vai ficar tudo bem.

– Como você é cafona.

– Você é um doce, my beauty.


– Explica o que está acontecendo, por favor? – pediu pela milésima vez, enquanto ela, James e andavam de volta para a floresta.

, ela parece saber o que está fazendo – James falou, tentando acalmar a garota.

– Ela me parece apenas uma lunática! Eu não sei para onde estamos indo e…

– Olhe, , eu não tenho paciência para ficar contando uma história mil vezes. Você vai descobrir em breve – disse, calando a garota. Ela segurou o choro, como sempre fazia quando queria demonstrar sua maturidade e força.

O grupo andou por mais ou menos uma hora até chegar a uma grande muralha. Era o limite da cidade, lugar proibido a todos os moradores dali. Eles pararam em frente a um buraco enorme no meio dela.

– Quando vocês pisarem fora do limite da cidade, vão se lembrar de quem realmente são. Vai ser meio estranho, de acordo com o pessoal com quem conversei, mas não vai doer. Explicando rapidamente o que houve, digamos que a dona Regina, aquela maluca que quase matou o reino inteiro, decidiu colocar uma maldição que trouxe o povo do reino dela para o mundo real. Acontece que o seu pai, , o Rei dos Mares, implorou para que a mulher o colocasse num lugar diferente para que você fosse salva. Acho que ela fez isso porque Storybrooke ia ficar superpopulado com tanta princesa. Mas enfim…

– Você não fala nada com nada – James disse, com um sorriso irônico no rosto.

– Ah, é? – a garota falou, com um sorriso ainda maior e mais irônico. Ela simplesmente empurrou James para fora da cidade e então tudo fez sentido para ele.

Como se tivessem tirado a venda de seus olhos, James finalmente entendeu o que estava acontecendo. Lembrou-se de tudo, de todas as memórias, e se perguntou como poderia ter esquecido em algum momento sobre sua vida antiga, sobre o seu precioso passado. Todas as coisas que um dia foram reais para ele voltaram fortemente como um soco em seu estômago. James finalmente podia ver.

– Alice! – ele disse, olhando para a garota com lágrimas em seus olhos. o olhou com dúvidas, enquanto apenas sorria. Um sorriso que carregava tanta coisa. – Você me encontrou!

– Ei, nós não somos seu irmão e a Branca de Neve – afirmou para a confusão do garoto à sua frente. – E, sim, eu o encontrei, mas não porque quis. Estou retribuindo um favor para um amigo.

– Eu sinto muito – James se aproximou da garota que deu um passo para trás. – Sei que eu…

– James, cale a boca. O mundo não gira em torno de você ou do nosso pseudorelacionamento de merda – murmurou e o garoto parou de falar. A feição de alegria desapareceu completamente de seu rosto. – Eu vou fazer algo muito ruim, mas você vai me entender depois. Sinto muito, .

pegou algo de seu bolso e simplesmente enfiou no braço de , que gritou por pouco tempo antes de cair no chão.

– O que você fez com ela? – James perguntou desesperadamente, ajoelhando-se para segurar a garota.

– Eu a matei por ciúmes – falou, com seu tom de voz embargado em ironia. – Claro que não, idiota. Ela é uma freaking sereia. Se acordar agora, vai voltar à sua forma natural e morrer antes que nos dois consigamos chegar à costa.

– Sereia?

– Ela é Ariel, filha de Tritão, e sinto muito partir o seu coração, mas ela já tem um companheiro – disse. – E eu desconfio que o homem que me mandou aqui odeia o seu irmão...

– Eu não tenho um irmão. Você sabe disso – James retrucou curioso.

– Tem, sim. Você só não se lembra dele. Agora se levante daí e vamos. Nós temos uma hora para chegar lá antes que ela acorde e então temos que partir, antes que a maldição acabe e todos nós sejamos empurrados para o lugar errado.

– Você não pode simplesmente se concentrar aqui e nos levar para esse lugar misterioso? – James falou, enquanto obedecia à garota.

– Poder, eu posso, mas tenho que mandar um recado para uma pessoa antes de mandar vocês dois para a sua nova casa.

James segurava em seu colo, enquanto andava à sua frente. O silêncio era constrangedor não só porque silêncios sempre são terríveis, porém porque James sentia um estranho desespero. Muitas coisas passavam em sua mente. Como ele havia parado no meio do nada? Como havia se esquecido da existência do amor da sua vida? Para ele, era difícil entender por que Alice estava agindo daquele jeito, tão hostil e rude, quando o rapaz entregou sua vida por ela antes. Era doloroso demais.

E o pior era que ela não o amava mais. Havia superado a sua existência. James sabia disso só por olhar Alice. Podia ver em seus olhos a rejeição que a garota sentia por ele. estava lá apenas por causa de , e não por ele. E isso doía muito.


Capítulo 5


Alice tinha um trabalho. A garota estava ali por isso e apenas por isso. Não havia tempo para se lembrar de seus dramas do passado, da dor que sentiu ao entender que ela e James jamais seriam o que antes foram. Enterrou no mais profundo de sua alma todos os sentimentos, tanto bons quanto ruins, e, a partir daquelas memórias, Alice construiu – o ser humano que havia se tornado. Um ser que não dependia de James para viver.

Ela havia sido traída por sua mãe... Ou pela mulher que considerava sua mãe. Havia perdido sua casa, sua família, seu James. Tinha um débito com Hook que nunca poderia ser pago ou retribuído completamente, então ali ela estava, acompanhada do homem que havia roubado seu coração e virado seu mundo de cabeça para baixo – e, em seus braços, James ainda carregava uma mulher inconsciente que, a qualquer momento, poderia se transformar em uma sereia e apenas aquela ideia a deixava meio tonta.

O plano era simples: ela apenas precisava levar aquela mensagem até o oceano e dali partiria com Ariel e James, deixando os dois em segurança, bem longe de qualquer oceano. Afinal, aquela foi a promessa que fizera ao pirata. Claro que James foi uma adição não muito agradável à sua missão, mas ela lidaria com isso depois que estivesse de volta à sua vida normal, sem viagens por mundos ou sereias desacordadas.

– Eu não acredito que você está aqui – James falou depois de horas sem palavras. respirou fundo e ignorou o rapaz. – Alice…

– Sh… – a jovem pediu, sentindo o cheiro do oceano invadir suas narinas agora acostumadas ao cheiro de terra molhada. Ela pediu que o rapaz ficasse ali e correu até o mar. Ali, antes de despejar a garrafa no oceano, chorou. Chorou pelos vinte e oito anos perdidos viajando de mundo em mundo à procura da parte perdida em sua alma. Agora que a tinha, ela sabia que jamais poderia realmente tê-lo novamente. Sabia que seria difícil dizer adeus, mas não tinha ideia de que aquele homem ainda a afetasse daquele jeito. Porém, ela era forte. E foi forte ao limpar as gotas salgadas em seu rosto e dali partir para terminar o seu trabalho.

– Aonde você foi? – ele perguntou, legitimamente preocupado. Ariel agora dormia no chão, enquanto James descansava ao seu lado.

– Dar a mensagem. Agora podemos ir.

– Eu não vou a lugar algum sem você – o rapaz se impôs. – Eu não vou perdê-la de novo.

– Não existe essa possibilidade, querido – ela, sempre firme e decidida, tocou o rosto que antes tomara por seu. – Vinte e oito anos é tempo demais.

Quando se conheceram, décadas atrás, ainda na juventude, Alice e James instantaneamente encontraram algo novo e empolgante. A garota que havia se perdido de seu mundo na infância encontrou em James, que havia sido arrancado do seu ainda bebê, uma família. Pouco antes da maldição chegar ao seu reino, a família adotiva de James foi morta – e ele foi raptado antes da garota poder resgatá-lo. Se não fosse por Hook, estaria morta. Quando James partiu – o que, na época para ela, foi uma grande traição, já que apenas soube que o rapaz havia fugido e a deixado para trás –, seu coração ficou partido. Agora era tarde demais para reconstruí-lo.

– Eu nunca teria a deixado – ele explicou. – Alice, pelo amor de Deus… Eu amo você, caramba. Eu amo você demais.

– Não é sobre eu e você, James. Nunca foi. Acho que hoje eu aprendi a viver sem você e… Eu realmente não quero tê-lo de novo. Esse tempo inteiro você foi como um fantasma. Sempre esteve lá. E agora… Quer dizer, para você, eu nem existia, sabe? Eu não existia! E agora… Você não entenderia – a garota apenas sorriu e assim fechou os olhos. A lebre correu apressada e assim ela se encontrou no novo destino.

A garota não ficou para ver Ariel acordar em pânico, tomada pelas lembranças. Não ficou para saber se o pirata havia encontrado sua sereia ou se o príncipe, que um dia existiu naquele homem, voltou a existir. Ela não ficou para ver o coração de James se despedaçar. Apenas fechou os olhos e partiu, como sempre fizera antes. Ela apenas partiu.

Em uma de suas viagens, acabou se encontrando em Storybrooke, Maine. Tomando uma caneca grande de chocolate quente, ela pensou nas pessoas que havia encontrado anos antes. Seu pensamento parou em James e um sorriso invadiu seus lábios. Agora, as memórias que tinha dele eram boas e não doíam mais. Ela pensou em Ariel e, como se seus pensamentos tomassem forma, viu o pirata entrar na cafeteria. Ele sorriu quando seu olhar encontrou o de e caminhou diretamente até ela.

– Uma surpresa agradável. Devo assumir – o moreno, em seu sotaque forte, assumiu com um sorriso. – Ao que devemos a sua ilustre presença em nossa humilde cidade? – Eu sou apaixonada por chocolate quente.

– Ouvi dizer que esses são os melhores… Bem, aqui é o único lugar da cidade que os vende, de qualquer jeito.

– Ainda bem que é bom, então – os dois sorriram cúmplices. – Você a encontrou? – ele então assentiu e um sorriso aberto invadiu o rosto de . – Ela me odeia. Acredite. Aposto que a menina lhe falou um bocado sobre como eu fui horrível…

– Ela não me reconheceu.

– O quê?

– Ela não me reconheceu, love – o pesar no rosto do pirata fez o peito de congelar de tristeza. Ela, que tanto havia sofrido por causa do amor, sofreu novamente por Hook. – Veio até mim, falando umas insanidades sobre o príncipe… Acho que a iludi com minhas próprias mentiras e aqui estamos. Eu não devia ter mentido, mas fui covarde… Quer dizer, quem diria que ela ia acreditar que um cara como eu era da realeza? – o rapaz riu, tomado pela amargura de suas palavras, por mais que houvesse paz em seus olhos. – Eu menti para ela e estou pagando por isso. É justo. Apenas isso

– Hook… Meu Deus, eu sinto muito.

– Não há o que sentir. Aye, eu mereço – ele apenas deu de ombros. – Ela vai ficar mais segura longe de mim, de qualquer jeito. É melhor assim.

– Claro que não é, Hook! Isso é ridículo. Você a ama!

– Exatamente. Por isso eu a deixei ir, oras – se via tão incrédula ao olhar Hook em sua conformidade, lidando tão bem com sua dor. – Eu achei que, se a reencontrasse, todas as peças que estavam perdidas iam voltar ao lugar, mas não voltaram. Então eu a deixei ir, porque era o certo.

– Mas…

– Love, você fez exatamente o mesmo – o moreno se levantou. – Foi bom reencontrá-la, Alice.

– Você ainda a ama?

– Aye, aye. Claro que sim – o homem deu de ombros. – Mas existem outras coisas que eu amo aqui, então eu vou vivendo.

– Mas…

O pirata não ficou para ouvir suas lamúrias. Ele estava em paz com seu destino, conformado com sua dor. Pela janela, a garota viu o pirata se juntar a uma mulher e apenas respirou fundo. Secando as lágrimas ao ver David e Mary Margareth aparecendo pela porta, ali ela soube o que deveria fazer. Só precisou fechar os olhos e permitir que seu amor, tão bem enterrado, encontrasse James. Não precisou muito. De longe, a menina o viu. E assim ela soube que não queria mais fugir.


FIM



Nota da autora (10/05/15): Eu havia me esquecido dessa fic e esse final definitivamente não foi o planejado, mas, bem, desculpe mesmo! Eu só queria terminar, mesmo que não fosse nada do que eu originalmente planejei. É a vida e desculpe por desapontar vocês! Obrigada por todo o carinho que recebi por email/twitter. Srsly. <3 Fiquem com Deus e see ya soon! @greysummersbruh.


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