The Terminal






– Parabéns para você... Nessa data querida...
Não tinha ninguém no avião, além de mim cantando aquela música.
– Muitas felicidades. Muitos anos de vida...
Comi o muffin que o comissário de bordo, adoravelmente apelidado por mim de Jimmy, tinha arrumado.
– Parabéns, ! – disse Mary, a aeromoça morena com narinas incrivelmente grandes. Ela me abraçou e, quando Jimmy disse algo em árabe, reconheci que ele também me desejava aquilo.
Devolvi o abraço de Mary, ou que eu chamava de Mary porque não conseguia pronunciar seu nome indiano. Era uma moça jovem que estava fazendo um de seus primeiros voos internacionais. Os olhos verdes expressavam tamanha felicidade em concluir mais um voo com sucesso.
Parabéns, Mary. Uma vida inteira pela frente.
Peguei minha bolsa-carteira no compartimento acima dos assentos, obrigada. Agradeci pelo muffin em árabe e saí do avião, já desejando embarcar no próximo.
Meu nome é . Fazia alguns anos que minha casa podia ser reconhecida em uma sigla de três letras. Não tenho mais nacionalidade e sei falar sete idiomas.
Hello.
Hola.
مرحبا.
你 好.
Bonjour.
Ciao.
Hallo.
Por favor, embarque no portão sete.
Adiante seu relógio em duas horas.
Perdendo e ganhando horas, mas só perdendo tempo de vida. É um paradoxo.
Em algum lugar do mundo, provavelmente na Inglaterra, eu fazia trinta e um anos. Entre os diplomatas, essa idade é conhecida como o juízo final. Se aos trinta e um não estivesse casado, as chances de casar caíam drasticamente.
Eu já falei que sou diplomata? Uma das melhores da Inglaterra e que nunca passava mais de três meses em um mesmo país?
Perdão. É que o gás de avião dá barato.
Naquele dia, eu tinha passado horas dentro de um avião para ir de Nova Déli para Paris, passando por duas pontes aéreas. E perdi algumas horas que eu já tinha praticamente desistido de contar. E tive a certeza de uma coisa: se ia querer começar a viver a minha vida, tinha que parar por um tempo. Saindo do avião, em Paris, peguei mais uma ponte aérea para uma região menor da Inglaterra que eu realmente não lembro o nome. Só me lembro do nome do aeroporto. Vocês já vão saber por que.
Assim que voei por meia hora até o aeroporto nacional Navorski, peguei minha bolsa e fui até a parte de documentação para poder finalmente voar para Londres e realmente começar a viver. Pedir um tempo no trabalho e conhecer um cara legal, casar, ter filhos...
E foi assim que eu passei a melhor semana da minha vida: achando que ela seria a pior.

– Como assim foi negado? – perguntei.
O homem careca que cuidava do entra-sai do Navorski deu de ombros.
– Perdão, senhora...
– Senhorita – corrigi.
– Senhorita . Enquanto voava até o Navorski, sua documentação passou por dificuldades na área de registros inglesa. Teve uma pane no sistema. O seu local de origem foi apagado.
– Só o meu?
– Aparente e estranhamente, sim. Pelo menos, foi em território nacional. Muita sorte.
Franzi o cenho e torci o lábio. Só faltava aquilo para me atrasar, mas, como eu não estava a fim de me apegar ao desânimo, levantei-me da cadeira e peguei minha bolsa, estendendo a mão para o careca apertar.
– Ok. Vou ficar na cidade por alguns dias e, quando tiver informações, me avise que pego o primeiro voo para Londres.
– Não acho que a senhorita tenha entendido – ele disse, tentando sorrir, indicando-me novamente a cadeira que um policial nada gentil empurrou e me obrigou a sentar de novo. – Você é cidadã de lugar nenhum, . Não pode sair desse aeroporto.
– Espere. O que eu posso fazer? Não tem nenhum hotel que eu possa ficar?
Ele pareceu estar diante da maior dificuldade da sua vida. E, que coincidência. Eu também estava.
– Temo que não. O aeroporto Navorski nunca passou por uma situação dessas. É um lugar pequeno. Não temos nenhum hotel. A senhorita não pode deixar o terminal. O governo me obriga a lhe oferecer um lugar para dormir e condições para alimentação e higiene. Entretanto, esse é o máximo que posso fazer.
– Eu vou ficar nesse terminal?
Morar seria um termo mais adequado – o careca disse, com uma careta de quem sabia que eu não tinha gostado da resposta.
– Por quanto tempo?
– Até ser considerada uma cidadã perante a rainha novamente.
Dei de ombros, peguei minha bolsa e me levantei bufando.
– Faz uns dez anos que não sou cidadã de nada.
– Agora é cidadã de Navorski! – ele disse, tentando me fazer rir.
Saí pelo corredor da imigração, xingando palavrões em cada uma das sete línguas que eu sabia e sem olhar para trás. Nenhum desacato à autoridade seria pior do que o que estavam fazendo comigo.

Minha mala preta tinha sempre tudo que eu precisava. Três camisas sociais, duas calças, cinco pares de meias, lustrador de sapatos e mais algumas coisas. Tudo metodicamente colocado.
Não achei metade dessas coisas quando arrastei minha mala capenga pelo terminal de Navorski, com uma rodinha faltando, o fecho violado e o zíper sem conseguir fechar. Parecia que um elefante tinha se sentado nela.
Praguejei algumas vezes antes de chegar à escada-rolante, com muitos olhares por todo o terminal me julgando. Subi com a mala atrás de mim, os cabelos quase todos desarrumados. Aquele lugar era muito estranho. Tinha um piano de corda no meio do terminal e um cara estava tocando violão, volta e meia tocando a mesma música. Peguei o celular no meu bolso e vi que estava quase sem bateria. E algo me dizia que o carregador que estava na mala estava ruim.
Andei com os saltos de meus sapatos sociais até a parte mais vazia do terminal, tentando evitar olhares. E foi evitando ser olhada que olhei para onde não devia.
Havia um rapaz sentado em um dos bancos, com poucas pessoas em volta dele. Lia uma revista de economia, parecendo prestar atenção no que quer que estivesse ali. Tinha cabelos e traços de quem devia ser um pouco mais velho do que eu. Usava um paletó cinza e a única coisa ao seu lado era uma mala de mão preta e de rodinhas. A blusa social branca estava amarrotada e a sola dos sapatos estava pouco gasta.
Meu Deus, aquele homem só podia ser...
Mesmo olhando diretamente para ele, enquanto andava apressada em sua direção, a imagem daquele rapaz sentado sumiu, dando lugar rapidamente uma visão do teto do terminal. E senti meu quadril entrar em choque com o piso gelado. E, sim, também senti aquela dor acentuada no osso da bacia.
– Moça! – falou uma servente, ajudando-me a levantar.
O homem se limitou a levantar os olhos, sem sequer erguer a cabeça, e levantar o canto dos lábios. Deu uma risadinha e logo voltou a ler sua tão interessante revista. Rindo. De mim.
Como ele sempre riu.
Já de pé, tirei o sapato de salto, que a essa altura já tinha um dos saltos quebrados. Andei a contragosto até o banco vazio atrás do homem e me sentei com a cara fechada. Pus os saltos pretos no meu colo e observei que nem super bonder salvava aqueles saltos.
– Sempre querendo aparecer, não é, ? – ouvi a voz dele atrás de mim. Virei o rosto um pouco para o lado e, com o rabo do olho, vi que ele não mudara de posição.
O mesmo sorrisinho sarcástico e um tanto babaca. Os mesmos cabelos e . Os mesmos olhos brilhantes e . A mesma pele lisa e bem cuidada. A mesma beleza, a mesma cara de quem sabe a cura do câncer. E a minha mesma reação em relação a tudo aquilo.
– Oi, . Que bom ver você... Depois de quase dez anos.
Dez anos, dois meses e catorze dias. Eu contava.
– Realmente. Seguiu sua carreira? De diplomata, quer dizer.
nem olhava para mim. Ele usava um sorriso com o canto dos lábios erguido, algo entre o sarcasmo e... Bem, a felicidade.
Acorde, . É o .
– Aham. E você? Continua sendo galinha?
fechou a revista e deu uma risada baixa, sem levantar o rosto. Então, levantou-se e virou a cabeça para o lado, olhando para mim com o rabo do olho.
Acontece que nós dois nos olhávamos de lado. O que fazia praticamente nós dois nos olharmos de frente, com olhares incrivelmente desafiadores.
Desde a época da faculdade, eu passei a ter uma necessidade inexplicável de ser melhor, superior a . E ele precisava saber disso.
– Assim você me magoa, – ele falou, olhando-me diretamente nos olhos.
Cruzei os braços e cheguei a cabeça para trás.
– Ah, desculpe. Pobre . Pobre – falei com uma careta de pena.
O homem ergueu uma sobrancelha do jeito que sabia que me desarmava.
– Você não é a primeira a escorregar ali. Pessoas em aeroportos costumam ter pressa e não prestam atenção nas placas. Não vai ser a última também, . Uma pena, para quem gosta tanto de chamar a atenção.
– Eu? Eu que gosto de chamar a atenção?
deu um sorrisinho.
– Vai tentar agir assim, com essa armadura.
“Armadura que você me obrigou a criar”, pensei. O máximo que fiz foi perguntar:
– Virou economista?
– Saí da faculdade depois do incidente. Por mais que não tenha sido culpa minha.
– Por favor, . Você que espalhou aquele boato. Quem mais seria? Billie?
deu de ombros.
– Não sei quem espalhou aquele boato. Eu não fui. Mas isso é passado, . Virou mesmo diplomata?
Ele apoiou o braço no banco, tomando muito cuidado para não me tocar. Limitei-me a assentir com a cabeça, apontando-a para o chão a seguir, fingindo estar concentrada nos saltos quebrados e no iPod em meu colo.
– Nossa, eu realmente achei que você fosse desistir – o rapaz comentou, parecendo realmente surpreso.
– Só me custou algumas festas. E alguns namorados.
– Posso ver isso na aliança que não está na sua mão.
– Nem na sua – retruquei.
ergueu as mãos na altura do rosto, com as palmas viradas para fora.
– Touché, .
– Por que insiste em me chamar de ?
– Quando que eu perdi esse luxo?
– Quando você espalhou aquele boato – respondi com raiva, ficando de pé e puxando minha mala de mão até o outro lado do terminal, querendo o mais rápido que pudesse sair de perto de . Pude ouvir a risada dele ecoar pelo lugar vazio e a mesma frase que ele perguntou na noite em que tudo aconteceu:
– Ainda gosta de Beatles?

O sol ia se deitando atrás das nuvens acinzentadas, fazendo o céu tomar uma cor alaranjada como se lá longe houvesse fogo. Além disso, nesse momento, comecei a pensar na forma de matar um louco tocador de violão. Um dos hangares do terminal estava fora de uso, com alguns bancos quebrados. Empurrei duas fileiras de bancos uma contra a outra, fazendo uma cama improvisada. De mau jeito, deitei-me ali e dormi, voltando a ter o pesadelo que sempre me atormentava. O pesadelo que, um dia, já tinha sido realidade:
Era o último dia do primeiro ano de faculdade. Eu era colega de quarto de , uma aluna de intercâmbio da Itália. E seria dizer pouco eu comentar que ela era linda. Tinha olhos brilhantes e um cabelo perfeito. Ela acordava assim. E não usava maquiagem. E era linda.
era um aluno do campus dois anos mais velho, e que sempre gostou de . A menina sempre soube disso. Eu sempre soube disso. E nunca conheci . Nem tinha o visto, na verdade. sempre saiu com ele, dizendo que era amizade, e eu sabia que não queria limitar-se a isso. Ela pedia minha ajuda com roupas e sobre o que fazer, e eu sempre a ajudei. Ao mesmo tempo, conheci Billie, um dos alunos de turismo do campus, que já era amigo de . Billie acabou virando muito mais amigo meu do que dela, no final das contas.
No sonho, no último dia de aulas, Billie e alguns amigos tinham organizado uma festa de saída de período. , claro, foi uma das convidadas VIP, com aquela cara de anjo que ela tinha. Foi usando uma calça comprida, e uma blusa mais solta. Eu também fui convidada, por ser uma grande amiga do Billie, e fui com um short e uma camiseta de banda.
Quando eu e chegamos à casa do Billie, estranhamos o número de pessoas ali. Era realmente algo que contrariava a lei da física de "dois corpos não podem ocupar o mesmo lugar ao mesmo tempo". logo saiu de perto de mim e foi até , onde quer que ele estivesse e quem quer que ele fosse. Timidamente, procurei por Billie, que estava falando com uma garota qualquer com quem queria ficar. Assim que me viu, logo saiu de perto da garota e foi até mim.
! A veio com você? – perguntou, abraçando-me pelo pescoço.
– Veio, sim. Já deve estar trocando saliva com o .
– Trocando saliva? Quisera ele. Venha cá. Vou lhe apresentar um pessoal.
Meia hora se passou quando esse dia aconteceu. Eu fui para o quarto um tempo depois, já cansada de beber, e me sentei na cama vazia. Coloquei o fone de ouvidos e pus “Hey Jude” para tocar, enquanto tentava ficar longe daquele barulho todo que me dava dor de cabeça.
Eu sempre fui assim: um pouco deslocada. Nunca fui festeira, na verdade. O quarto era escuro e, mesmo eu acendendo a luz da luminária, não fez muita diferença. Nas paredes, vi um pôster do Pink Floyd, um do “Poderoso Chefão” e um de “Laranja Mecânica”. Totalmente distraída, fui pega de surpresa quando a porta se abriu. Ali me apareceu um garoto de olhos brilhantes, cabelos e , e... Bem, sem camisa.
– Ops! – ele falou.
– Ei! – foi o que consegui exclamar, virando o rosto para a parede.
O rapaz se apressou em vestir uma camiseta que estava em cima da cama. Aproximou-se de mim e falou, tocando meu ombro e me fazendo me virar para ele:
– Desculpe. Não sabia que tinha alguém aqui. Esse é o meu quarto.
– Desculpe – falei.
– Por nada – devolveu, com um meio sorriso encantador e que me deixou mais à vontade. Olhou para o MP3 na minha mão e exclamou com um sorriso maior e que quase virava uma risadinha. – Ei, você ainda gosta de Beatles?
– Esses caras nunca envelhecem.
Isso era nos anos noventa. John Lennon ainda estava vivo.
– Com certeza. Já ouviu Pink Floyd?
– Não curto muito esse tipo de rock. Prefiro Sex Pistols.
Ele ergueu as sobrancelhas, surpreso.
– Uma garota que admite que gosta de Sex Pistols? Por que não a conheci antes, hein?
Dei uma risadinha sem graça. Meu Deus, quem era aquele?
. Mas prefiro que me chamem de .
Estendi a mão.
, ou só .
Ele apertou. E ali eu decretava um dos piores dias da minha vida.

Abri os olhos com a luz do sol já invadindo o terminal. Quando a visão se tornou mais nítida, a primeira coisa que vi foi um par de olhos grandes me observando.
– Ah! – gritei, assustada e pulando do banco.
– Mamãe! Ela acordou! A moça bêbada acordou!
– Moça bêbada? – perguntei para mim mesma, baixo. A menininha que me olhava correu para a mãe alguns metros adiante. Ela abraçou a filha e me olhou, enquanto o irmão mais velho gravava a cena com um iPhone. Meu cabelo todo bagunçado, meu lápis de olho provavelmente me deixando com cara do sonâmbulo de “O Gabinete do Doutor Caligari” e com a saia alta demais.
Com raiva, engatinhei para fora da minha cama improvisada e peguei minha mala de carrinho para correr descalça até o banheiro mais próximo. Assim que peguei a mala, para puxá-la, claro que ela se abriu e arrebentou. E claro que o garoto gravou. Claro que fui totalmente irritada até a mala, juntei tudo e carreguei na mão mesmo. Claro que o senhor careca, que cuidava da imigração, assistiu com cara de desaprovação.
E claro, óbvio, que estava assistindo a isso perto da família. Rindo.

Saí do banheiro mil vezes mais apresentável. Com os cabelos penteados e já com a maquiagem mais arrumada. Olhei para a mala destruída e percebi que precisava arrumar uma nova.
Assim que saí, o senhor careca estava ali fora, de pé, com as mãos na frente do corpo, como se estivesse me esperando desde o segundo que entrei naquele banheiro.
– Senhor...ita – ele chamou.
– Senhor – falei. Afinal, não sabia o nome dele.
– Temo que não tem outro jeito de você ficar aqui. A senhorita pode ir para o próximo hotel da região. Se quiser, posso passar para você o endereço...
– Ei, ei – falei, na defensiva, com as mãos erguidas e fazendo sinal para ele ir com calma. – Eu posso sair do terminal?
O careca pareceu se complicar.
– Bem... Não temos a sua documentação... Mas acho que posso dar um jeito...
– Não, senhor – protestei. – Se eu sair daqui, isso vira assunto federal. Posso ficar nesse terminal até o dia que for autorizada a sair.
– Mas isso pode levar meses...
– Sem problemas. Se você tiver uma tomada para eu carregar meu iPod, eu me viro. Posso comprar um livro.
– Mas senhorita ...
– O senhor poderia ler alguma coisa. Acho que vendem “O Poderoso Chefão” na livraria ali perto do hangar...
– ele me interrompeu. – A senhorita tem que sair do terminal. Se o fato de você estar aqui se tornar público, não sei o que isso pode refletir em mim.
Ergui as sobrancelhas, surpresa com a maneira grosseira com que ele falava comigo. O homem queria me expulsar para eu deixar de ser problema dele.
Sim, eu já assisti a “O Terminal”. Algumas vezes. Ok, umas vinte. Talvez mais.
Se eu fosse pega pela imigração, podia perder o emprego. E aí, sim, eu voltaria à estaca zero como eu queria. Porém, eu voltaria realmente zerada, e com trinta anos.
Trinta anos.
– Ok. Vamos fazer assim – falei, fugindo dos devaneios que me distraíam. – Eu fico no terminal, quieta. Vou ficar na parte vazia e fora de uso. Tomo banho de torneira e lavo o cabelo com as coisas de hotel que vocês com certeza têm e podem me dar. Quando eu sair daqui, finjo que nada aconteceu. Pode ser?
Ele deu de ombros e virou as costas, deixando-me falando sozinha. Peguei minha mala arrebentada e tentei erguê-la com os braços na minha frente. E ela se quebrou pela última vez, dispersando tudo no chão de novo.
Parei ereta, fechando os olhos e comprimindo os lábios, contendo toda a agonia dentro de mim. Tinha passado uma noite inteira em um terminal de aeroporto. Perdi maus saltos, provavelmente perderia meu emprego e estava fazendo trinta anos.
E estava perdendo cada vez mais tempo.
Depois de uma certa época, você começa a contar o tempo em contagem regressiva.
Abaixei para catar o que tinha caído no chão. Juntei as duas blusas sociais e as outras peças de roupa que estavam espalhadas.
– Esses tipos de coisa acontecem quando estamos atrasados para um voo – ouvi uma voz rouca comentar na minha frente, logo depois que abaixei para pegar minhas coisas. Era uma voz masculina e, quando ergui o olhar, um déjà vu me ocorreu de imediato.
A mesma coisa que senti quando conheci se repetiu.
– Não estou atrasada – falei com um pequeno sorriso. – Acho que se atrasaram para me buscar.
Ele franziu o cenho e ergueu um canto dos lábios.
– Como assim?
– Estou nesse terminal desde ontem. E acho que vou continuar.
O homem se levantou, segurando minhas coisas e arrumou o uniforme.
– Então pode saber como me sinto. William Hanks – ele disse, estendendo a mão. – Quer dizer... Piloto William Hanks.
Eu sorri e estendi a mão.
. Diplomata .
William recuou um pouco com a cabeça, surpreso.
– Diplomata? E está presa aqui?
– Deu um problema com toda a documentação na imigração. Acabei virando cidadã de lugar nenhum.
– Ah, sim. Acho que você provavelmente está se sentindo exatamente como eu estou.
Concordei com a cabeça.
– Já não conheço você? – emendei, franzindo o cenho.
William fez que não com a cabeça.
– E como sobreviveu um dia no aeroporto Navorski? Eu não costumo aguentar nem duas horas.
– A gente se vira depois de um tempo.
– Sei. A vida em miniatura. Tudo contado exatamente para um consumo – ele disse, referindo-se às refeições de avião e aos produtos de higiene de hotéis.
Dei um sorrisinho.
– Acho que podemos nos dar bem, William.
– Concordo. Eu pagaria uma refeição a você, mas acho que o máximo que posso lhe oferecer é uma pizza ou um sanduíche no Burger King.
Dei uma risadinha e o acompanhei.

– Olhe só quem resolveu dar o ar de sua graça – comentou com a ironia sempre presente em sua voz.
Sentei-me atrás de dessa vez.
– Ha. Nada que você possa dizer vai me desanimar hoje, .
– Longe de mim querer isso. E, quando eu falei do ar de sua graça, estava falando sério.
– Foi o que consegui fazer num banheiro de aeroporto – falei com um pouco de irritação.
– Você me compreendeu mal. De novo. Como sempre compreende. Quis dizer que você está cheirosa.
Parei por um momento, dando um suspiro. Argh, , como eu ainda odeio você.
– Bom ver que você acha isso.
– Acordou com o pé direito, ? Quer dizer, pelo menos sem o salto.
– Engraçadinho. Se quer saber, estou feliz da vida, sim. Conheci um piloto hoje.
recuou um pouco, parecendo surpreso, mas sem querer perder a pose.
– Um piloto?
– Aham. Ele é gentil, engraçado, inteligente... E tem a minha idade.
– Aposto que é solteiro.
– Acertou em cheio – falei com um sorriso sarcástico.
deu uma risada meio tossida, como ele costumava fazer.
– Qual é a graça? – minha reação foi a mesma de quase dez anos antes.
– Você. Sempre foi assim: esperançosa. Sempre querendo ver o lado bom das coisas. Sempre gostei disso em você. – Aham. Esse meu lado trouxa.
– Não é um lado trouxa. É inocente, e na melhor das interpretações.
deve achar a mesma coisa.
parou novamente e bufou baixo.
– Sempre volta para isso, não é? Sempre volta para a .
– Não é ela, sempre, o final da estrada?
– Essa estrada já se dividiu há muito tempo. Cada um foi para um lado. Eu, você, , Billie...
– Ah, sim. Agora você resolve colocar o Billie de volta nisso tudo. Nada infantil, . Palmas para você – falei, batendo palmas três vezes sem nem um pingo de animação.
– Eu? Infantil? Você que desenterra coisas desnecessárias! – protestou .
– Ok, . Ok. Se me dá licença, tenho que comprar um sapato descente para me encontrar com o William – falei, levantando-me.
– William...?
– William Hanks, o piloto. Você não tem nada para fazer? Ninguém para irritar?
Mesmo longe, pude ouvir murmurar em tom melancólico:
– Só você, . Sempre foi só você...

Eu estava sentada em um banco perto de um restaurante mais caro no terminal. Usava uma sapatilha em vez de saltos, pelo menos. E, depois de muito tempo, não conseguia tirar da cabeça.
Isso porque ele sempre esteve ali.
O rapaz tinha mudado depois de tantos anos? Duvido. Depois de tudo que fez...
No terceiro período da faculdade, eu e nos aproximamos bastante. Billie sempre foi a ligação entre mim e ele. Dava-nos cobertura. Afinal, ou qualquer outra pessoa saber da nossa amizade poderia representar um problema. Eu não queria ser uma má amiga, porque sabia que minha ligação com podia parecer repleta de segundas intenções.
Eu ia para o quarto dele e do Billie e passava quase o dia inteiro lá, conversando com os dois, ouvindo músicas e dizia para que estava estudando. Isso permaneceu por alguns meses.
Até que Billie passou um dia fora, para uma viagem da turma de turismo.
Cheguei ao quarto sem saber disso. Eu e ficamos conversando a tarde inteira, como ele sempre fez, mas dessa vez foi diferente. O garoto fez imitações do Don Corleone, eu dancei “Cantando na Chuva” e nós dois cantamos Pink Floyd. E nos sentimos mais próximos um do outro.
repousou a mão na minha perna e, quando eu percebi, estávamos em silêncio, olhando diretamente um para o outro. Então, ele me beijou.
? – ouvi a voz rouca de William me chamar.
Levantei a cabeça e fui até ele para que pudéssemos ir jantar.

– Aonde está me levando? – perguntei, andando pelo último andar do terminal, área que eu imaginava ser restrita.
– Estamos quase lá. Pare de ser tão curiosa.
Ele me fez parar de andar e tirou a venda de meus olhos.
– Meu... Deus – falei pausadamente, dentro do restaurante mais caro do aeroporto. William me indicou uma mesa, à qual me sentei ainda chocada.
– Você realmente é um piloto de avião.
Ele riu, sentando-se também.
– Não tenho motivos para mentir. Conte-me mais sobre você, .
– Bem... – falei, pensando e me acomodando na cadeira. Odiava a maneira com que ficava perto de certos homens: tão fragilizada como uma adolescente. – Eu nasci em Londres... Sou diplomata... Tenho alergia a limão... – falei, brincando.
– Vou mandar cancelarem a sobremesa então – falou ele, com um sorriso sem graça e fazendo sinal para o garçom.
Algumas horas depois, a conversa atingiu o passado.
– Onde fez faculdade? – ele perguntou, cerca de cinco taças de vinho após o começo da conversa.
– Na Guttenberg.
– Guttenberg? Que coincidência. Também fui de lá! Conheceu Billie?
– Billie? Se é o amigo de , sim.
– Costumo me referir a ele como o estudante de turismo... Do que me lembrar do .
– O que o fez para você?
William se serviu de mais uma taça.
– Ele me roubou uma garota.
– Oh. ?
– O quê? Não, não. Entrei um período após o costume. Você não deve ter me conhecido lá. O ficou com uma garota que... Bem, era a minha garota.
– Nossa. Não sabia que ele era tão galinha assim.
– O ? Ele se supera.
– Isso eu sei.
William franziu o cenho, pedindo a conta.
– O que o cara lhe fez?
– Eu e ficamos por um tempo. Ele era amigo do Billie e gostava da . Mas eles se distanciaram um pouco. E, no final do período, teve a festa.
– Sou todo ouvidos.
Mordi o lábio. Não era uma boa ideia contar aqueles tipos de coisas para um desconhecido.
– Ele tinha prometido que ia terminar tudo com . Na festa, vi os dois se beijando. E, no dia seguinte, tinham espalhado um boato...
– Espera. Você era a vadia da 1002?
Comprimi os lábios e ergui as sobrancelhas.
– Desculpe – ele pediu baixo.
– Relaxe. espalhou que tínhamos passado a noite juntos e que eu o persuadi. passou a me odiar e fiquei taxada como a vadia. Entrei em um intercâmbio e fiz um período no Canadá. Quando voltei, já tinha se formado e havia se mudado.
– Que babaca. Espalhar um boato idiota desses.
Dei de ombros, levantando-me da cadeira para sairmos do restaurante.
– Perdeu uma garota assim de um modo idiota. Quer dizer, não que você seja uma garota... Espere. Eu não quero inferiorizá-la! Putz, fiz tudo errado.
Dei um sorriso o mais reconfortante possível.
– Não fez, não. Aliás, você não fez nada de errado.
Saímos do restaurante e andamos em silêncio até uma das janelas do terminal. Quando paramos, olhando a grande lua que subia lentamente aos céus e senti a mão fria de William tocando a minhade modo totalmente tímido. Logo me aproximei dele e William não demorou a me puxar pela cintura para ficar lado a lado comigo.
O celular dele começou a tocar. Incrivelmente, era a marcha do império, do Darth Vader.
Merde. Desculpe – ele disse, atendendo ao celular, enquanto eu dava um sorrisinho envergonhado. Star Wars.
Alguns segundos depois, o homem desligou.
– Desculpe, . Vou ter que ir. Eu fiz tudo errado, argh.
– Sem problemas, William. Vejo você quando?
– Provavelmente amanhã.
– Então até amanhã.
Fiquei na ponta dos pés – afinal, ele era mais alto do que eu – e dei um beijo em sua bochecha. O rapaz devolveu e ficou parado, enquanto eu andava de volta para o meu cantinho no terminal.
– Não vou ser um idiota como o – ouvi William dizer e senti sua mão puxando meu braço. Ele me virou e rapidamente me beijou.
Era um beijo apressado, quase desesperado. William parecia estar ansioso por isto, por mais estranho que aquilo pudesse me soar. Afinal, eu tinha o conhecido algumas horas antes.
E a única coisa que consegui pensar foi em que olhava para aquilo, enquanto subia as escadas rolantes do terminal e parecia se despedaçar aos poucos.

’s POV

não podia estar fazendo aquilo. Ok, eu estava sendo um idiota com ela nos últimos dias.
Mas nunca que eu poderia contar por que ainda estava naquele terminal.
E, agora, lá estava ela, beijando aquele cara. Piloto. Pois, sim.
Claro que a mulher não esperaria para sempre, . O que o fez imaginar que esperaria? Ela já foi forte o suficiente para aguentar o boato. Chamaram-na de vadia da 1002 por muito tempo e ela nunca lhe daria uma chance. A garota se esqueceu, . Esqueceu-se da sua imitação de Don Corleone, do “Poderoso Chefão”. Esqueceu-se da dança na chuva que fez.
Esqueceu-se daquele dia, daquele último dia, antes de ela ir para o Canadá.
Esqueceu-se do último dia do período, depois de muitas pessoas dizendo: “graças a Deus, a vadia da 1002 está indo embora. Uma galinha a menos nesse galinheiro”. Ela estava com sua mala e estava chovendo. Era uma manhã escura em Londres. Quase parecia noite. Estava chovendo tanto que nem seu guarda-chuva podia protegê-la, naquele ponto de ônibus. Com certeza, se esqueceu de que fui até ela para me despedir.
! – chamei, abrindo a janela do meu carrinho modesto para a menina poder me ver.
– Achei que tinha me livrado de você, .
, por favor, escute-me. Queria falar com você antes de viajar.
– Não me chame de , . Aliás, não me chame. Vá embora de uma vez, que nem você foi quando eu precisava de você.
Abri a porta do carro.
– Entre logo, sua teimosa.
Percebendo que a chuva estava ficando cada vez pior, ela entrou no carro no banco do carona.
– Você ia para onde?
– Para o aeroporto – falou, com a cara fechada e virada para frente.
Bufei, dando a marcha para poder continuar andando. , sempre cabeça-dura.
– O último ônibus passou há uma hora. Quem a mandou vir para cá?
– O Bourne – ela respondeu com o cenho franzido.
– Acreditou? – perguntei com uma sobrancelha erguida.
Ela bufou.
– Cadê as suas malas? – perguntei.
– Todas no aeroporto. Meu avião sai daqui a quatro horas.
– Acho bom corrermos, se você quiser ir para o Canadá.
A garota cruzou os braços.
– Antes isso do que continuar em Guttenberg.
Freei o carro bruscamente e tirei as mãos do volante.
... – corrigi-me. – Se você está indo para o Canadá para fugir disso tudo, sabe que não é nada inteligente.
– Você realmente acha que estou indo para o Canadá para fugir disso? Você não é nada modesto, .
– Eu sei que você sempre gostou de lá. Sei que tem uma bandeira do Canadá na sua parede. Sei que, se eu olhar para que música está ouvindo, vou ver que é “Hey Jude”, porque é uma música que a deixa relaxada. Você não quer fugir. Só quer esquecer.
Ela comprimiu os lábios e fugiu do meu olhar.
– Você não me conhece, .
– Não conheço mesmo. Não tive oportunidade. E foi culpa minha, porque, se pudesse, eu teria feito tudo diferente.
Coloquei uma mecha de seu cabelo atrás da orelha.
– Pare, ! – ela protestou, com os olhos ficando molhados. – Isso é divertido para você? Fazer garotas se apaixonarem, ficarem que nem idiotas, para você pisar em cima? Não percebe como isso machuca?
, eu...
– Cale a boca! Você não sabe o que é levar um ‘não’. Sempre teve tudo, não foi? Por que está se importando comigo? Não sou mais um nome na sua lista?
Inclinei-me e rapidamente a puxei para perto de mim, forçando-a a me beijar.
– Você nunca foi só mais um nome em nenhuma lista. Sempre foi além disso tudo.
– ela falou baixo, mordendo o lábio e ainda de olhos fechados. – Esqueça-me. Isso nunca aconteceu.
Dirigi em silêncio até o aeroporto. Não tinha como a menina ver meu rosto. Afinal, eu olhava fixamente para frente, assim como ela. E tentei conter aquela coisa esquisita que me feria por dentro. Nunca aconteceu nada daquele estilo antes.
Estacionei o carro.
– Ligue quando você voltar – pedi.
– Você não vai fazer falta – a garota falou, saindo do carro.
– Você ainda gosta de Beatles? – perguntei, mas ela já tinha ido embora.
Dei o retorno e voltei para o Guttenberg, tentando impor na minha memória que era mais uma garota qualquer em uma maldita lista qualquer.
Mas ela era muito além disso.
E ali estava a moça, depois de quase dez anos, com ele. E, meu Deus, será que não o reconheceria nunca?
Ela nunca perceberia a verdade?

’s POV

Andei até meu banco/cama no terminal. Tirei as sapatilhas, sorrindo, preparando-me para me deitar. Peguei minhas coisas na mala de mão para escovar os dentes e poder dormir.
se aproximou de mim a passos curtos, usando a blusa social branca e um smoking aberto e desabotoado. Não parecia nem um pouco feliz.
Senti pena dele, por um momento, mesmo me lembrando de que aquele era e que ele estava desacostumado a esse tipo de coisa. Sempre achei que pessoas que sempre têm tudo, de vez em quando, precisam de dadas de cara na porta. Só assim estaria pronto para algo pior.
– Olhe só quem resolveu dar o ar de sua graça – brinquei, quando ele se sentou perto de mim.
Deu um sorrisinho sarcástico.
– Touché.
parou de sorrir e ficou fitando o chão.
– O que houve?
– Aquele era o William?
Assenti com a cabeça.
– E você o conheceu hoje – observou .
– Aham. Conheci.
O rapaz passou a mão pelos cabelos e suspirou. Pus minha nécessaire do meu lado e cheguei mais perto de , esquecendo-me absolutamente de William.
– O que foi que aconteceu?
– Uma bobeira qualquer. Não precisa se importar com isso. Pense no William.
– William o cacete. Diga-me o que aconteceu. Se fosse bobeira, você não estaria assim.
Ele ficou em silêncio, dando um pequeno sorriso por causa de minha primeira frase.
– Ei, . Pare de tentar manter essa pose de valentão. Você pode se machucar como qualquer um. Uma namorada o decepcionou? – perguntei.
– É. Mais ou menos isso.
– Não precisa ficar assim. Você é o . O Don Corleone.
– Minha ... Ninguém pode me recusar uma oferta – ele falou, imitando a voz rouca de Marlon Brando e com a mandíbula para frente.
Dei uma risada estranha, como as que eu costumava dar há anos... Nunca mais ri daquele jeito, desde as tardes que passei no apartamento de e Billie. O cara também riu, acompanhando-me.
Nossas mãos repousaram no mesmo lugar. Com um pequeno sorriso de lábio erguido, olhamo-nos com a cabeça levemente abaixada.
Nós dois, presos em um terminal de aeroporto.
... Responda-me. Algum dia, você se esqueceu de mim?
Parei por um momento.
– Eu o quê?
– Você já ignorou tudo aquilo? Deixou toda a época da faculdade para trás? Já se esqueceu de mim, da , do Billie...?
Coloquei uma mecha do cabelo atrás da orelha e fiquei inquieta. Mordi o lábio, tentando procurar a melhor resposta para aquela pergunta estranha.
– Eu... Tive que deixar. Foi algo que aconteceu... Eu segui em frente.
– E hoje está presa em um terminal. Foi seu aniversário ontem.
– Você lembrou?
– Eu lembro algumas coisas da nossa época. Como que o Billie era fissurado por ficções científicas.
– Putz, é mesmo – falei, dando uma risada. – Ele dizia que era um Jedi perdido.
Demos um uma risadinha baixa.
– A gente era retardado demais – o homem comentou.
– Tínhamos sonhos, – falei, olhando para baixo, tentando ao máximo não olhá-lo nos olhos .
– Acho que tínhamos, né?
– A gente achava que ia ficar rico, fazer família, continuar amigo para sempre... E aqui estamos nós. Eu presa em um terminal de aeroporto, e você...
Franzi o cenho por um minuto.
– O que você ainda está fazendo aqui, ?
Ele pareceu confuso. Até um pouco enrolado, para o que fosse dizer.
– Ponte aérea. Muitas pontes aéreas.
Assenti com a cabeça e voltei a olhar para o chão.
– Ei, – ele me chamou. – Você me chamou de .
– Acho que chamei.
Deu um meio sorriso, o mais sincero que tinha dado desde o dia anterior.
– Eu... Tenho que ir – ele falou, levantando-se. – Vejo você de novo amanhã.
– Até, ... .
– Até, .
E saiu, com a mala de mão.
– Ei, – chamou-me. – Feliz aniversário.
Assenti com a cabeça, tentando demonstrar que não me importava. Parecia que eu tinha dezoito anos novamente.
– Obrigada – agradeci e tomei meu caminho para o banheiro.
O que eu mais sinto falta no passado... É o futuro dele.

O cara careca da imigração certamente me odiava. E queria me ver longe do terminal.
As portas que me separavam do mundo exterior ficariam vazias por três minutos no meu terceiro dia naquele terminal.
Quando acordei, já tinha colocado o celular para despertar em um horário que não tivesse voos no hangar mais próximo ao meu. Assim, sem riscos de acontecer como no dia anterior.
Levantei-me e fui ao banheiro, tentando fazer minha higiene. Peguei na minha mala destruída, um caderninho, uma caneta e escrevi em uma das folhas: “FORA DE USO”. Arranquei-a e a coloquei na porta do banheiro, evitando novamente possíveis inconvenientes.
Eu não virei diplomata por ter dois neurônios. Ha.
Entrei no banheiro com uma trouxinha de roupas, abri minha blusa e tirei as calças. Fiquei apenas com minha roupa íntima, prendi o cabelo com um coque desajeitado e abri a torneira da pia. Tinha levado para o banheiro uma blusinha antiga que mantinha sempre na mala e a usei como esponja, molhando-a e passando no corpo, juntamente com um pouco de sabonete líquido.
Claro que eu não estava preparada para uma reunião internacional, mas estava apresentável.
Quando terminei, coloquei minha roupa limpa e saí do banheiro. Fui até onde deixara minha mala e peguei minha carteira, contando algumas notas que tinha ali. Pelo dinheiro que eu tinha, não ia conseguir ficar muito mais tempo.
Fui até o Starbucks e atraí vários olhares no caminho. Cheguei a estranhar. Se bem que muitos deveriam estar estranhando o fato de uma mesma mulher estar no terminal há tanto tempo.
Pedi ao atendente um café mais barato, que pudesse me deixar com energia. William tinha me dado um cartão dele do Starbucks que eu poderia usar todas as manhãs.
– Perdão, senhora, mas vou precisar olhar algum documento com foto para efetuar o uso do cartão.
– Sem problemas... Merde, deixei a bolsa no hangar vazio! – xinguei e pedi licença para voltar para o hangar.
– Senhora! – gritou o atendente, um ruivo sardento. – A senhora... Está molhada!
Por um instante, franzi o cenho, não entendendo o que ele queria dizer. Pessoas ao redor começaram a rir e torci o corpo para poder olhar a parte de trás da minha roupa...
Encharcada.
A pia do banheiro deixou minha roupa toda molhada.
Envergonhada, corri até o hangar ao som de algumas risadas localizadas. Quando cheguei perto dele, vi meia dúzia de policiais e mais alguns oficiais do aeroporto, sendo um deles o careca.
Um dos policiais saiu da área de concentração, levando minha malinha capenga.
– Ei. Ei, você! – gritei, parando-o assim que o alcancei. – Isso aí é meu!
– Perdão, senhora. Isso é o procedimento padrão.
– Padrão? Vocês me tiraram minha liberdade e agora estão tirando os meus pertences! – protestei com o tom de voz alto.
– Senhorita , eu... – o careca se manifestou, tentando me tocar no antebraço para que eu me acalmasse.
– Você não encoste em mim, se não, além de sem cabelo, vai ficar sem braço! – retruquei, chegando ao ápice de minha raiva.
– Senhorita ! – ele gritou, fazendo-me parar. Suspirei, liberando toda a raiva em mim e percebendo que não havia nada que eu pudesse fazer. A mala já estava longe, fora de meu alcance.
– Aqui – ele continuou, entregando-me uma trouxa de roupas e minha bolsa de mão, com meus documentos, celular, carteira e escova de dente. – Sinto muito. Foi o máximo que consegui recuperar.
– Por que levaram minha mala? Era tudo que eu tinha! – eu disse, dessa vez me lamentando.
– Sua mala e todos os documentos relacionados a ela, como o embarque dela, foram tão anulados quanto os seus documentos de entrada no país.
Peguei a trouxa e me lembrei da muda de roupas sujas que eu tinha deixado no banheiro feminino. Certamente, não falei isso para o careca.
– Mas, senhorita , se me permite dizer... Sei de uma maneira para você sair do aeroporto – o homem falou baixo e se aproximou de mim para que eu pudesse prestar atenção, diante das minhas feições interessadas. – Daqui a alguns minutos, os guardas do portão principal vão sair para tomar café e os portões ficarão vazios por três minutos. Se sair nesse tempo, sua mala estará à sua espera do lado de fora. Daí... É só ir para um hotel, sacar seu dinheiro. Não haverá mais problemas.
Franzi o cenho.
– Não vão me barrar? – perguntei desconfiada.
– Posso garantir que não – ele piscou um olho para mim, que me deixou com certo medo, na verdade.
Assenti com a cabeça, ainda com o cenho franzido, e fui até o Starbucks com minha identidade na mão. O atendente ruivo não falou nada e me serviu meu café.
Algumas pessoas olhavam para minhas roupas molhadas. Virei para trás, olhei para elas e falei:
– Que foi? Pelo menos, eu pareço limpinha.

Tomava meu café disfarçadamente na frente do portão, esperando o guarda ir embora.
Ele abaixou a cabeça, aproximando-se do rádio.
Saiu de perto do portão.
Olhei para os lados. Não tinha ninguém que pudesse suspeitar. Até porque minha roupa já estava quase seca.
Andei vagarosamente até o portão, tentando disfarçar. E, cá entre nós, tinha um motivo bem grande para eu ter escolhido ser diplomata, e não atriz.
Quando cheguei até o portão, parei por alguns segundos. Do lado de dentro, realmente não havia nenhum guarda. Do lado de fora, era necessário passar por mais de três revistas para poder realmente ficar na cidade. Que vantagem seria eu me arriscar em uma cidade que não conhecia?
E, além de tudo, tinha certeza de que o careca queria me livrar de mim o mais rápido possível. Por alguns segundos, ele quase conseguiu.
Girei os calcanhares e voltei sorrindo para o terminal. No caminho para o hangar vazio, encontrei o careca parecendo impressionado.
– Senhorita , eu...
– Eu também achei. Mas aqui, pelo menos, tenho um teto para ficar.
– Mas, senhorita , você não tem nem dinheiro!
– Vish... Boa observação – fiz uma careta. – Sabe onde estejam admitindo? Alguma loja do aeroporto, quem sabe...? Onde o senhor possa me recomendar?
Ele fez um sorriso forçado.
– Eu recomendaria, senhorita . Com certeza.
Sorri abertamente e saí feliz da vida, de volta para o meu hangar vazio. Porque posso até ficar pior... Mas vou rindo da cara de quem me colocou lá.

– Licença, licença! – eu disse alto, indo até o aquecedor do hangar.
– Quem é você? – perguntou uma senhora muçulmana em árabe. Entendi, certamente, porque falo árabe.
Mas a Shirley, funcionária do aeroporto que cuida dos aquecedores, mal fala inglês.
– Quê? O que é que é? Desculpe aí, moça, mas esse troço aqui ‘tá quebrado e ninguém pode chegar perto. Chispe! – falei, usando minha blusa molhada que eu tinha usado para “tomar banho” e uma calça vagabunda que encontrei no armário dos serventes.
Quando cheguei até o aquecedor, espalhei minhas roupas úmidas que tinha lavado no banheiro em cima da máquina.
– Mas, mas... – um senhor italiano tentou. Entretanto, voltei a interromper.
– Desculpe aí. Tenho que testar se ‘tá esquentando. Não fiquem perto dele, não. Pode explodir se ficar quente demais.
– Como? O quê? – perguntou a moça italiana ao lado do senhor.
Virei para ela. Não poderia falar em italiano.
– CABUUUUUUM! Sabe cabum? É o que vai fazer, se vocês ficarem muito perto. CABUM! – fiz gestos para indicar a explosão.
Acho que eles entenderam, até se assustaram, e saíram de perto. Quando fiquei sozinha, balancei os cabelos, que estavam presos e cruzei os braços.
Eu tinha que dar um jeito de transformar aquele aeroporto na minha casa. Não mais em um hotel.

Sentei-me em um dos bancos e comecei a contar as coisas que me restavam no aquecedor. Duas blusas, duas calças, um par de meias, a sapatilha que eu calçava...
Dio mio...
– Acho que vi umas meias suas lá no hall – uma voz comentou atrás de mim, com o cenho franzido e apontando para as escadas rolantes.
Olhei para o lado, com as mãos fechadas na frente da boca, pensativa. Era .
Dessa vez, minha raiva dele pareceu estar guardada. Claro que era porque eu tinha coisas mais sérias para me preocupar do que . Fazia anos que ele não importava para mim.
Por que todos esses anos pareceram vir em um bombardeio de novo?
– Podia ser pior. Podia ser minha roupa íntima – disse inexpressiva.
– Acho que não podia. Suas meias pareciam meio sujas.
Olhei para seriamente. Esse se sentou em um dos assentos do banco, deixando um vazio entre nós. Apoiou o cotovelo no apoio de costas e ficou de lado, com um dos seus mais sarcásticos sorrisos.
– Parece que está tendo um dia ótimo.
– Está indo de mal a pior, na verdade. Obrigada pelas condolências.
– Bem... Em justiça dos velhos tempos, você me acompanharia até a livraria do terminal?
– Tem livraria aqui? – perguntei, tentando demonstrar desinteresse, ainda sem olhar para ele.
O rapaz deu de ombros.
– Você se arriscaria a ir até ela comigo?
– Não sei... – eu disse, cruzando as pernas. – Sabe-se lá o que você pode fazer no caminho.
– Do jeito que você está, acho que eu não teria criatividade suficiente para deixá-la pior.
Derrotada, levantei-me, seguida por .
A livraria tinha dois andares, era bem iluminada e com uma escada caracol que levava ao segundo andar. Na estrutura da escada, havia ainda mais livros, além dos das estantes.
sabia que eu era fissurada por leitura. Lá dentro, ficava quase que vulnerável.
– Você encontrou o piloto? – ele perguntou, quando entramos na loja praticamente vazia, com as mãos atrás do corpo e o canto dos lábios erguido.
– Hoje não – respondi sem nem olhar para ele, apenas olhando para a sessão de livros de terror.
– Você sabe que não é aí que tem o que você procura – falou atrás de mim.
Virei para e, com uma sobrancelha erguida, falei:
– Então diga, : onde que está o que eu procuro?
Ele apontou para cima, em direção ao segundo andar.
– O sebo é lá em cima. Eu sei que você adora livros antigos, daqueles quase caindo aos pedaços. As primeiras edições.
Mordi o lábio. Porque era mais um detalhe sobre mim que ele lembrava.
Subi as escadas e foi atrás de mim. Chegando lá em cima, praticamente ataquei a prateleira de livros de terror que eram minha maior tentação.
– Acho que você vai precisar de alguma ajuda para continuar se mantendo aqui, .
– Tipo o quê? – perguntei, passando o indicador pelas lombadas dos livros.
– Tipo algo além de um piloto de ponte aérea que lhe dá um vale Starbucks.
– Como você sabe...? – olhei para ele dessa vez.
– Eu vi você andar pelo hall parecendo que tinha escorregado e caído em uma poça.
– E, para estar assim tão “gentil”, deve ter alguma ideia para me ajudar.
– Você não aceitaria.
– Talvez. Não confio em você, mas também não seria idiota. Eu preciso comer.
apoiou o cotovelo na estante e falou mais alto sua frase seguinte.
– Eu ouvi falar que você precisa de emprego...
Olhei para os lados, com dois livros nas mãos, mas nada aconteceu.
– Espere. Vou tentar de novo – ele disse baixo e voltou a falar alto depois. – Eu ouvi falar que você precisa de emprego...
Um atendente baixinho, de cabelos bem pretos e pele bem branca, apareceu na escada.
– Desculpe, senhor. Eu...
– Davis, esse não foi o combinado! – disse, virado para o tal “Davis” com as sobrancelhas erguidas e a voz mansa.
– Desculpe, senhor . Eu não ouvi...
, você...
– É, é – levantou as mãos com as palmas viradas para mim, para que eu parasse de falar. – Agora é a hora que você me agradece, diz que não pode aceitar, eu insisto, você aceita, começa a rir, me abraça, pega mil livros e desce para colocar sua camiseta de “posso ajudar?”. Poupe-me disso. Ok?
...
– ‘Tá. Acho que o abraço eu meio que aceitaria, se eu...
! – protestei. parou de falar e olhou para mim.
– Você vai aceitar?
– Como você conseguiu isso?
– Essa loja é minha – o rapaz olhou em volta. – Eu a herdei do meu pai. Não reconheceu pelo nome?
O nome da livraria era “Escarlate”. Eu sempre dizia que essa era minha palavra preferida.
– Não, não reconheci.
– De qualquer jeito. Vai aceitar?
, eu não sei... – evitei seu olhar, olhando para Davis e os livros em minha mão.
– O quê?! – falou mais alto, surpreso e fazendo toda a estante em que se apoiava cair no chão, produzindo um estrondo.
Abaixei-me e ajudei a se levantar, enquanto Davis corria para erguer a estante.
– Eu não sei se deveria. Se aceitar, o careca da imigração vai ter mais um motivo para querer me expulsar daqui. Se me fixar ao terminal, as coisas podem piorar para o meu lado.
– Não vai poder piorar. Se não arrumar um emprego, como vai conseguir comer ou comprar alguma roupa? – parecia preocupado comigo. Aquilo me impressionou.
Suspirei.
– Achei que ia gostar de trabalhar em uma livraria.
– Eu ia, mas...
– Olhe – segurou minha mão livre e a cobriu com a sua. – Fique uma semana trabalhando. Se não quiser mais, pode sair. Vai receber diariamente. E ainda vai ganhar vales de alimentação.
Eu não precisava da ajuda de . Da solidariedade dele.
De alguma forma que eu não entendia, aquele não era . Era . Uma pessoa completamente diferente.
– Ok. Ok. Eu aceito.
– Ótimo! – ele comemorou, sorrindo, e olhando para o seu empregado. – Davis, pegue uma camiseta para a .
...? – perguntei.
olhou para mim novamente, com seu sorriso diminuindo lentamente e tentando ficar sério como antes.
. Eu falei .
– Você me chamou de .
– É que é parecido.
– Parecido?!
fez uma careta e começou a dizer palavras aleatórias em um tom mais alto que o meu. Levantou-se e desceu as escadas.
Dei de ombros, aceitando que aquele era .

Passei o dia na livraria até ser a última a ficar lá, apenas eu e os livros.
A porta foi aberta, enquanto eu estava de costas.
– Desculpe. Nós já vamos fe...
Quando me virei, vi um jovem piloto perto da porta com o chapéu em sua mão.
– Eu nunca tenho tempo de ler. Posso arriscar?
Comprimi os lábios.
– Claro... Deixe-me só fechar a porta primeiro.
Passei por William e tranquei a porta atrás dele.
– Mais privacidade para nós – o homem comentou.
– Acho que sim – respondi vaga.
Ele me segurou pela cintura, girando-me e fazendo nossos corpos ficarem frente a frente colados. Por pouco, nossos rostos não estavam perto demais.
– Queria relaxar um pouco antes do próximo voo.
– William, eu...
Ele afundou o rosto em meu pescoço, beijando-o lentamente.
– William, eu não estou com...
O rapaz tirou o rosto e ficou me encarando com o cenho franzido, estranhando.
– Foi o que eu entendi mesmo?
– Desculpe. Eu...
– Eu voei até aqui, perdi duas pontes aéreas para vê-la e é assim que sou recebido? – ele pareceu começar a se irritar e me soltou.
– William, desculpe...
– Eu já estou cansado de suas desculpas, .
– William! – protestei, quando ele deu as costas para mim.
– Cansei. Sinceramente. Procure-me, se precisar de mim... Porque eu não preciso de você.
E saiu da loja, com a porta de vidro pesando lentamente até se fechar.
Eu podia estar pensando em muitas coisas. Porém, só uma pergunta tomou conta da minha cabeça.
Eu não tinha dito meu sobrenome a William. Como ele sabia qual ele era?

Quando voltei para o hangar, achei que era uma das únicas que ainda estavam no aeroporto. Eu estava errada. Entretanto, não me entristeci.
– Como foi o primeiro dia de trabalho? – perguntou , segurando o casaco de seu paletó debaixo do braço e com a outra mão no bolso.
– Foi legal.
– Pegou muitos livros antigos?
– Eu? Pegar? – fiz uma careta de espanto. – Eu comprei. Uns quinze. Não sei ainda como vou guardar tudo aquilo...
se sentou do meu lado.
– E vai voltar para o trabalho amanhã?
Suspirei com um pequeno sorriso disfarçado.
– Vou. Eu vou ter que trabalhar, de um jeito ou de outro.
pareceu sorrir satisfeito, apesar de querer fingir estar sendo sarcástico.
– Por que você fez isso, ? – perguntei, semicerrando os olhos, como se o analisasse. Estava sentada ao lado dele, de pernas cruzadas, as mãos no colo. – Por que quis me ajudar?
Ele pareceu estar sendo pego de surpresa. Balbuciou algumas palavras soltas e voltou para a pose de autodefesa que sempre usava.
– Porque sim, ora. Gosto de ajudar as pessoas.
– Sério? Não parece. Aliás, nunca pareceu.
– Fale sério, . Eu não sou nenhum vilão. Por que insiste em me tratar como um?
– Porque o que você fez só me fez imaginá-lo como um.
Ele pareceu soltar todo o ar em seus pulmões. Tinha se surpreendido? Talvez... Arrependido-se?
– Eu já pedi desculpas.
– Não. Na verdade, não pediu.
– Se eu pedisse, você não ia aceitar.
– Viu? Você nem tentou! – falei, com uma risada forçada, ficando de pé. – Calcula isso porque sempre acha que todos ao seu redor agem como você prevê. Acha que controla tudo. Adivinhe, . Você não controla.
– Realmente acha que, se eu controlasse, você estaria aqui? E eu também?
Fiquei calada.
– Eu estaria bem longe. Você também. E não iríamos nos encontrar nunca mais. Você ia gostar disso?
...
– Responda-me, . Você ia gostar de estar em mais uma cidade, exercendo seu trabalho, sozinha ou com livros... Sem amigos? Sem pessoas que você gosta?
.
– Você prefere ficar sozinha porque é assim que ninguém a machuca. É assim que você sabe se cuidar!
! – gritei.
– O quê?! – ele retrucou no mesmo tom de voz.
Aposto que apostava que eu fosse fazer qualquer coisa. Atacá-lo, sair correndo, o que quer que fosse.
Mas eu fui para seus braços e o abracei muito forte. Porque, como naquele fatídico dia, não queria que me deixasse. No caso... Eu não queria deixá-lo.
Queria ficar naquele aeroporto, com ele.
, quero que você veja uma coisa – ele falou baixo, perto do meu ouvido.
Eu me afastei e olhei para , em seus olhos . Via ali alguma sombra de sinceridade.
– Tudo bem – foi o máximo que consegui dizer.
deu alguns passos de costas para a parte mais distante e fora de uso do hangar. Com a mão, indicou para que eu o seguisse. Começou a correr e eu o segui, rindo, como costumávamos fazer quando mais jovens, quando estávamos sozinhos.
Quando éramos jovens, brincávamos de ser adultos. Adultos, sentíamos vontade de voltar a sermos jovens.
Quando chegamos à parte mais distante do hangar, estava muito escuro para eu ver algo muito distante de onde estava.
?
– Espere, garota – ele disse, forçando um tom de reclamação, rindo.
Quando abriu os portões do hangar, que davam para um tipo de varandinha do lado de fora, percebi o que ele queria me mostrar.
Dali, podíamos ver um céu estrelado como nunca vi antes. Já morei nas mais lindas cidades, como Paris, Nova York, até Pequim, com as ruas, casas e monumentos mais lindos que se possa imaginar.
Mas nunca me lembrei de olhar para o que todas essas cidades compartilhavam: o mesmo céu.
Tudo que eu achava... Toda a minha ilusão de controle... Foi apagada naquele momento.
Somos todos tão pequenos...
– Você gosta? – ele perguntou.
Não respondi. Estava boquiaberta. Pequenos pontos brilhantes no céu me hipnotizavam.
segurou minha mão e foi andando ao meu lado, até a varandinha, e se sentou no chão, puxando-me para acompanhá-lo. Em seguida, deitamo-nos, olhando para cima e exclusivamente para cima.
– Aqui há menos luzes da cidade. Fica mais fácil ver as estrelas.
... Isso é perfeito.
Aquilo era a definição de perfeito.
Era a paz. Sem confusões, sem pressa. Sem pessoas ruins.
Era perfeito.
– O que você faz nesse aeroporto, ? – perguntei, virando a cabeça para o lado, deixando de olhar as estrelas.
mordeu o lábio.
– Eu espero.
– Quem?
Ele levantou o tronco e se apoiou pelos cotovelos. Acompanhei-o, olhando para seu rosto, seus cabelos e despenteados, seus olhos serenos.
Era mais humano do que jamais fora.
– A .
?
– Depois que você foi embora, ... Tudo mudou. Billie nunca mais falou comigo. Eu e começamos a sair. Ela a odiava demais, depois do boato. Eu era o que mais sentia sua falta, mas não podia demonstrar... Voltei a ter o cotidiano que tínhamos, no qual eu ficava com . Isso evoluiu demais... Namoramos por algum tempo e, depois que terminamos, nunca mais nos vimos. Eu não a amava. Nunca a amei. Mas precisava dela para me sustentar. Nunca mais namorei ninguém, depois que terminei com ela. Saí algumas vezes, claro. Nunca algo muito sério. Até que, há alguns meses, me contatou. Ela estava em Londres, eu também, e nos encontramos. A garota insistiu em sair comigo e disse que sabia onde você estava. Ela sabia onde você estava. Claro que mantive contato. Eu queria ver você. Ela disse que você estaria aqui no Navorski, então voei para cá e, como as livrarias do meu pai tinham uma loja aqui, dei a desculpa de que tinha que voar para cá para administrá-la. disse que voaria para o Navorski também, para nos encontrar-nos, Billie... Era para ser uma reconciliação. Era para todos nos encontrarmos, para resolvermos como adultos o que deixamos sem respostas.
... – interrompi-o.
– Mas nunca veio. Claro que não. Ela nunca viria. Fui um idiota em achar que viria. A garota só queria me fazer de trouxa... Mas continuo vindo todos os dias para cá, porque não quero ir para casa. Quero ver você, quero ajudar. Eu tenho alguma esperança de tudo voltar a ser como antes.
Ele se sentou e virou o rosto para mim, que o acompanhei, prestando atenção.
– Você veio e estamos aqui. Acho que ainda tenho motivos para acreditar em alguma coisa.
Eu olhei para seus lábios, entreabertos, tentando ser sutil. Claro que ele percebeu. Aproximou mais ainda os nossos rostos, até que nossos lábios roçaram um ao outro. Fechamos nossos olhos quase ao mesmo tempo, até que permitimos o contato de nossos lábios, selando um beijo.
Eu sentia falta daquilo.
Quando nos separamos, alguns segundos depois, nossas respirações estavam lentas.
, eu não fazia ideia...
– Assim que puder sair daqui, para onde vai, ?
...
– Não pode fugir do seu futuro para sempre.
– Eu sei, ... Preciso pensar um pouco ainda.
– Ok, ok. Não vou apressá-la. Desculpe.
Cheguei novamente meu rosto próximo ao de e lhe dei mais um beijo – esse mais lento e puro.
– Não se desculpe.

Passei uma semana daquela maneira, trabalhando na livraria. William e o careca não deram um único sinal de vida. Eu estava relativamente bem.
Até o dia que William resolveu voltar para o Navorski.
Ele entrou na livraria e pediu para Davis para falar pessoalmente comigo.
– Oi, William – eu disse fria. A maneira como o cara tinha falado comigo da última vez que me vira não tinha sido nada agradável.
... Desculpe. Desculpe. Naquele dia, eu estava nervoso.
– Como você sabe meu sobrenome, William?
Ele franziu o cenho.
– Você tinha dito para mim.
– Não. Tenho certeza de que nunca lhe disse o meu sobrenome.
...
– O que você quer, William?
Ele comprimiu os lábios e olhou para o chão por alguns segundos.
– Pode ir jantar comigo mais tarde?
Ergui a sobrancelha direita.
– Um jantar?
– Um sorvete, então? – William levantou as mãos na altura do rosto, como se estivesse se rendendo.
Coloquei a mão na testa.
– Ok. Posso jantar com você. Que horas?
– Oito, hoje. Sem falta. Esteja aqui.
Dei de ombros.
– Eu vou estar. Não tenho como sair desse aeroporto. Tenho?
Ele riu e inclinou o rosto para me dar um beijo nos lábios. Desviei, evitando-o, e dei um beijo em sua bochecha.
William ficou alerta. Perguntei:
– Vejo você... Mais tarde?
William apenas assentiu e saiu da livraria.

Eu não queria encontrar antes de encontrar William. Deveria organizar essas coisas. Já estava tudo uma bagunça.
Faziam poucos dias, mas eu não queria sair daquele aeroporto.
Quando estava de volta à minha moradia de rua no hangar abandonado, não conseguia olhar o que estava fazendo. Minha cabeça trabalhava em outro lugar.
William queria tanto me ajudar...
Quando ergui a cabeça, vi um homem parado no meio do hangar. Estava escuro, mas eu conseguia reconhecer quem era.
Ele estava de pé, com um buquê de rosas apoiado no braço. Mordia a boca como se estivesse ansioso, esperando alguma coisa. Conferiu o relógio.
Por fim, simulou que estava batendo em uma porta imaginária. Não resisti a uma risadinha.
Aquele infeliz... Como eu odiava o jeito de de me deixar despreocupada.
– Posso entrar? – ele perguntou, com a mão em formato de concha em volta da boca, como que querendo falar alto, mas a voz saindo em um sussurro.
– Cuidado com os cachorros! – respondi, brincando. O rapaz riu e foi até mim, estendendo a mão livre para que eu segurasse e ele pudesse me ajudar a me levantar.
Quando ficamos frente a frente, vi seu rosto ficar avermelhado, tanto quanto as rosas que me entregava. Segurei o buquê como se segurasse um bebê.
– Você sabe. Eu não sei o que falar – ele murmurou, balbuciando as palavras. – Quer dizer... Não sou bom com essas coisas. Sou clichê e antiquado. Mas as achei bonitas...
– São lindas, . Muito obrigada. São perfeitas.
– Nesse caso... – ele prosseguiu, quando coloquei o buquê num banco perto das minhas coisas. – Você me acompanharia a um belo restaurante italiano?
– Restaurante? Você quer dizer... O Sbarro? – perguntei, rindo.
estava vermelho de novo.
Mesquinho. Egoísta. Mimado.
– Poxa... Não minimize o Sbarro! – fez bico, o infeliz. – Sou mais uma pizza do que ir a um restaurante caro e chato, cheio de gente chata fazendo coisa chata.
Mesquinho... Egoísta... Mimado...
Ele fingiu que segurava uma taça de vinho e falou com um sotaque francês puxado, fazendo bico:
– “Messiê”, estê vinhê está uma delicê.
Não tinha como. Não importava. Eu não conseguia odiar nem em um milhão de anos.
Era o mesmo daquele dia, há tantos anos, num quartinho de campus.
Comecei a rir. Ele me acompanhou e, quando paramos, nos olhamos por alguns segundos antes que eu pigarreasse. Desviei o olhar e comprimi os lábios.
, aconteceu alguma coisa?
O rapaz seguiu meu rosto e eu continuava tentando desviar. conseguia me fazer rir de novo, perseguindo meu rosto.
– Preciso acabar as coisas.
recuou e seu sorriso se tornou uma feição entristecida.
– Oh... Sei. O William.
– É. O William.
Fiquei com um peso absurdo na consciência.
– Mas não quero mais nada com ele! Você sabe que não! – defendi-me. – Eu só vou avisar para ele. Não. Ee é narigudo! Dá para abrigar uma família carente naquele nariz. Não gosto de gente nariguda, !
riu de mim, e me abraçou pela cintura. Envolvi seu pescoço com meus braços, ainda o olhando nos olhos. Ele disse:
– Então vamos fazer assim...
olhou para os dois lados, como se estivesse procurando alguém que estivesse nos olhando. Apesar de haver pessoas no hangar, ninguém olhava especialmente para nós.
– Se você tiver mesmo mudado de ideia, encontre-me aqui, aqui, aqui, daqui a uma hora – bateu o pé no chão três vezes. – Aqui. Ouviu bem? Justamente aqui! – apontou para o chão com o indicador.
– Sim, senhor! – falei, fazendo uma reverência militar. – Então é aqui mesmo? – apontei para o exato lugar onde nossos pés estavam. – Nos nos encontramos aqui?
– Bem aqui – apontou para os próprios lábios.
Por Deus...
– Então, daqui a uma hora, estarei aqui. Aqui!
– Tudo bem então. Vou estar à sua espera.
me puxou pela nuca para me beijar, antes de eu me despedir para encontrar William e acabar com tudo de uma vez.
Estranhamente, o beijo tinha um gosto incômodo de despedida.
Depois disso, fui em direção à escada rolante do terminal, sem dizer mais nada.

William não abrira a boca desde que eu tinha chegado ao restaurante. Realmente, era como tinha dito: um restaurante chato, com gente chata fazendo coisa chata.
– Você queria falar comigo? – perguntei, finalmente, rompendo o silêncio. O cardápio tinha chegado para podermos fazer os pedidos.
– Queria, mas acho que você já tomou sua decisão.
Ele colocou o cardápio na frente do rosto. Estiquei o braço e o abaixei, olhando bem no fundo dos olhos de William.
– Que decisão?
– O , – ele disse, colocando o cardápio na mesa. – Você não consegue enxergar? Ele está fazendo você de boba. Está a usando, como usou há tanto tempo. Eu o vi aqui, um dia desses. Vi vocês. Acha que não sei como conseguiu aquele emprego no Escarlate?
– William, eu preciso sobreviver nesse aeroporto. está apenas me ajudando.
– Ajudando?! – o homem começou a se alterar e algumas pessoas começaram a nos olhar. – , ele a trata como rainha para lhe tirar a coroa. E você é boa demais para perceber isso.
– William...
é um merda e sempre será um merda. Ele espalhou o boato da vadia da 1002 e vai ser sempre o mesmo . Vai ser sempre um merda.
Parei por um segundo. Todas as coisas que ele falou correram pela minha cabeça e vi uma imagem se formando na minha mente.
Ser contra ? O cara realmente não era o homem mais confiável do mundo. Eu sabia isso por experiência própria.
Com calma, declarei, erguendo o cardápio:
– Se você quiser continuar falando sozinho sobre o , não me importo em deixá-lo sozinho para isso.
William ficou calado, não como se estivesse arrependido, mas como se estivesse satisfeito em ter falado o suficiente.
– Você tem a total opção de preferir um de nós. É escolha sua. Mas também quero jogar como joga – ele disse, por fim, e vi um envelope ser empurrado para mim por debaixo do cardápio.
Deixei o cardápio de lado, sem olhar para William, e peguei o envelope. Quando o abri, só a barra do interior dele já me deixou sem reação.
– Consegui isso com uns colegas. Você não vai precisar apresentar documentação. Vai estar como minha acompanhante e o máximo de que precisam é da sua identidade como cidadã inglesa.
– Minha identificação vai ser dada como nula, quando conferirem no computador – falei, olhando para ele quase em desafio. Estava sem qualquer tipo de reação, a não ser, talvez, desconfiança.
– Aí que está – o homem apoiou os cotovelos na mesa e cruzou os dedos de uma mão com a outra. – Você não vai ter nada conferido no computador, a não ser a própria passagem que estou lhe dando. O computador vai conferir o código de barras e não vai haver a burocracia de pedir passaportes.
Olhei bem para a passagem dentro do envelope. Era para Londres.
Casa.
– Dê-me motivos para confiar em você.
A viagem era na manhã seguinte. Ficar mais tempo ali significaria perder meu encontro com .
Perder meu encontro com significaria perder .
Eu só tinha algumas horas para escolher.
– Dê-me motivos para confiar em .
Escolher entre duas coisas igualmente desconfiáveis.
Guardei a passagem na bolsa.
– Vou pensar. Preciso de um tempo.
William deu de ombros.
– Tome o tempo que precisar. Só não esqueça que quem nasce ruim morre pior.
Considerei aquilo uma ofensa e pedi licença a William, rezando para que eu não estivesse fazendo a coisa errada.

's POV

Só podia ser brincadeira! De todas as mulheres do mundo, e de todas as coincidências, tinha ido parar no Navorski.
Desde que éramos jovens, o caso nunca resolvido entre nós só me deixava agoniado. Era como se eu estivesse lendo um livro e tivesse lido um capítulo, mas não tivesse o finalizado.
Faltava o final. Faltava alguma coisa!
Isso me corroía por dentro de um jeito inexplicável.
Não mais. Nunca mais. Mesmo que tivesse preferido o piloto, o que eu sinceramente duvidava, eu era amigo de . Não nos odiávamos e tudo estava explicado.
Santo Deus. tinha mudado tanto... Continuava cabeça-dura, convencida e auto-suficiente, mas mesmo assim. Eu continuava o mesmo vaso quebrado também, oras.
Continuara a mesma de que sempre gostei, com mudanças para melhor. Mais linda, mais irônica, bem mais engraçada. costumava ser a certinha, mas agora vi que ela tinha mais senso de humor – ainda mais no que se diz do careca que impossibilitava sua ida para fora do Navorski.
Espere. Quando e eu viramos amigos, nunca imaginei que fôssemos ter problemas como os que tivemos.
Éramos jovens e éramos só nós.
Li certa vez que sempre temos uma pessoa que será nosso ponto fraco. era o meu.
Eu gostei dela. Sempre gostei.
"Gostei"? Não é esse o verbo. Se bem que é algo um pouco precoce para se pensar...
Vê-la ali, como tinha dito, era algo...
Espere um pouco. Como tinha dito? Como poderia possivelmente...
– Olá, – disse uma voz lenta e mansa. Chegava a soar alarmante.
Fechei os olhos com calma.
? – perguntei.
Ouvi seu salto se aproximando de mim. Ouvi sua risada. Como eu sequer pude gostar daquela mulher? Ela soava falsa. Soava incrivelmente fútil. A moça riu alto e ainda não pude ver seu rosto. Estava escuro e eu estava no exato lugar que tinha me deixado esperando.
. Quanto tempo! – ela disse, arrastando uma pequena mala. Estava usando um vestido rosa claro. – Perdoe-me por ter demorado.
– Você se atrasou só uma semana – falei cínico.
– Uma semana? Tem certeza? – perguntou ela com aquela voz de brinquedo de camelô. – Bem, que seja. Podemos então fazer nosso combinado. Billie está aqui?
abriu os braços e ficou esperando.
– Não vai me dar um abraço, ?
Eu estava sentado no banco e não me movi. Apenas continuei a encarando com um olhar que não transmitia nada além de julgamento.
– Bem – ela disse, desistindo e abaixando os braços. – Posso ver que você não desistiu de me esperar.
– Desisti de esperá-la há muito tempo – falei ofendido, com o cenho franzido. – Só estou aqui por outros motivos.
– Hum, deixe-me calcular – falou, cruzando os braços. – Você, , talvez Billie... Será que vocês três estão revivendo aquele triângulo que viveram na época de faculdade?
– Fique quieta sobre o que não sabe, . Triângulo?
– Claro, ora. Quem dava cobertura a você e , enquanto você me traía?
– Eu nunca a traí, até porque nunca namoramos.
– E você está com novamente? Eu devia imaginar. Onde ela está?
– Está resolvendo um problema com um amigo.
explodiu em uma risada escandalosa e ridícula. Olhei para os lados, envergonhado, caso alguém tivesse visto aquilo.
– Assim como você resolveu problemas comigo? Como você disse que iria terminar comigo e só enrolava ? Por favor, – ela se sentou ao meu lado.
– Para você, meu nome não é , . .
Conferi o relógio. tinha se atrasado cinco minutos. Não era possível que ela demoraria mais de uma hora para dizer a William "não".
Apoiei os cotovelos nos joelhos, arqueando as costas para frente.
– A menina o deixa esperando há dez anos, ignorou meu fora e continuou me chamando pelo meu apelido. – Ela que o deixou para trás. Você não enxerga que estamos vivendo de novo o que deu errado? Isso é burrice.
mudou e eu também. Somos adultos agora.
– Você e ela continuam solteiros, quase sem amigos íntimos, só se importando com trabalho. Tanto que se encontram em um terminal de aeroporto – disse, aproximando o rosto do meu. – Vamos lá, . e você não mudaram nada. Aposto que o final da história também não vai mudar nada.
– Não teremos ninguém se metendo, dessa vez – eu disse.
– Não?
se aproximou mais de meu rosto e deu um beijo no canto da minha boca, que foi rápido o suficiente para que eu não conseguisse desviar.
! Vá embora – falei, ficando de pé. Ela não moveu um único músculo.
– Ah, ... Eu o conheço. Está esperando por . E ela não vai aparecer – disse a mulher, como se desenhasse as três últimas palavras para mim.
Conferi o relógio mais uma vez. Dez minutos de atraso.
– Não me surpreende. Não estou falando para você vir comigo nem nada. Só estou lhe dizendo para você deixar de ser idiota.
– Não me chame de idiota, .
– Deixar pela segunda vez a garota que, segundo você é a certa, escorregar assim é idiotice.
se levantou e fez um sinal com a mão para que eu me abaixasse, para ela dizer algo em meu ouvido. Obedeci e a moça sibilou com a voz ensopada de veneno:
– Não trate como se ela fosse uma rainha. Você não viu sua coroa.
Nesse exato momento, conferi o relógio. Atrasada.
Olhei para a escada rolante. Vazia.
Olhei para a escada convencional. Vi uma pessoa descendo. Uma mulher de vestido creme, colado ao corpo, de mangas compridas.
Era . Subiu e desceu novamente. Diretamente para William.
Não fingi que não a entendia. Compreendi completamente. Ela tinha todo direito de desconfiar de mim. Afinal, já tinha feito besteira com ela antes. Já tinha a ferido e ele, nunca. Compreendi completamente sua decisão.
Ela devia querer alguém melhor do que eu.

’s POV

Corri de volta para o restaurante. William estava ali, conferindo o relógio. Sentei-me à sua frente de novo, onde estava antes.
– Foi rápida – ele comentou, soando companheiro.
– Não cheguei a falar com ele. Quando pegamos o avião? – não olhei diretamente para William. Ergui o cardápio novamente, escondendo o rosto.
O homem ficou calado alguns segundo, e percebi que era porque parecia ter percebido algo estranho em mim.
– Às seis. O que aconteceu, ?
– Nada, William. Encontro você amanhã de manhã no portão.
Pensei “estarei pontualmente ali, mostrando que, sim, mudei de ideia”.
Estava arrasada por dentro. Não por , exclusivamente, mas por mim mesma. Como pude ser tão idiota de cometer o mesmo erro? não tinha mudado. Muito menos a vadia da . Os dois estavam ali, exatamente onde tinha me pedido para encontrá-lo e se beijando. Depois de tanto tempo! finalmente tinha chegado, para a felicidade de . E, pelo que vi, eles pareciam bem felizes em estarem se vendo.
poderia ficar com e eu, com William, e seguiríamos nossas vidas como tínhamos seguido há anos.

Quando voltei ao hangar, percebi que era a última vez que eu estaria naquele lugar. Arrumaria minha mala capenguenta – talvez até compraria uma nova. Quem sabe? – e dormiria, esperando a hora de encontrar William no outro hangar.
Chegando a onde minha mala estava, ajoelhei-mw no chão para começar a arrumar minhas coisas. Passar tanto tempo em um terminal me deixou organizada até demais, acomodada, com minhas coisas nele.
– Ei, – chamou alguém atrás de mim. Demorei um pouco a virar. Sabia que era .
– Ei, .
Quando me levantei, ele tinha as mãos nos bolsos. Soava, definitivamente, como se estivesse se despedindo de mim.
– Você não estava aqui na hora que combinamos – ele observou.
– Eu demorei um pouco.
– É, vi você.
– Também vi você.
Era tão estranho ter uma conversa daquelas com quem eu costumava conversar por horas a fio.
– Vi você e – observei, percebendo que ele próprio não iria se lembrar desse detalhe. – Vocês, aqui no hangar.
– Você demorou por que estava com o William? – o rapaz perguntou, contra-atacando sem demora.
– Sim.
– Eu também estava com a no hangar.
– Parece que ela finalmente chegou – lembrei.
– Acho que sim. E você, pelo jeito, vai conseguir ir embora.
Ele apontou, com os olhos, para as minhas coisas. Elas estavam bem menos espalhadas.
– Conseguirei – confirmei inexpressiva.
– Quando?
– Amanhã, às seis. Da manhã. No hangar lá embaixo.
– Então... Acredito que esse seja o nosso último adeus.
Ele estendeu a mão.
– Acredito que seja, sim – falei, sorrindo, e pulando em cima de , abraçando-o com força. Murmurei em seu ouvido: – Obrigada por ter me ajudado aqui. E por termos nos ajeitado. Eu tinha sentido sua falta.
Ele tinha se surpreendido com meu abraço, mas me devolveu tal ato igualmente forte. Era nossa provável última despedida.
– Bem, talvez nos encontraremos de novo – ele disse. – Numa estação de metrô.
Ri da comparação.
– É a segunda vez que me despeço de você em um aeroporto – o homem observou.
Abracei-o mais forte.
– Aposto que talvez não seja a última.
Quando o soltei, estava sorrindo fraco.
– Até logo, . Obrigada por tantos livros do Stephan King.
– Até, . Obrigado por risadas da sua situação ridícula dentro desse aeroporto. Vejo você no Youtube.
– Aquele garoto vai me pagar – retruquei, rindo da primeira manhã que passei no terminal. Parecia tão distante, agora que eu já tratava aquele lugar como minha casa.
Tinha um emprego, tinha amigos, colegas.
Exatamente como na minha vida normal.
– Até – eu disse.
– Quantos “atés” vamos precisar dizer antes de realmente irmos embora? – ele perguntou, rindo.
– Não sei – respondi e fechei os olhos. Contei até dez.
Quando estava no cinco, senti um toque leve dos lábios de nos meus.
Quando estava no dez, abri os olhos e estava sozinha.

Quando faltava meia hora para o embarque, eu já esperava, pacientemente, a chegada do avião. William ainda não tinha me encontrado. Eu estava no andar inferior, com uma pequena bolsa no colo. A mala de mão, minha única, estava ao meu lado. E eu não sorria.
Estava indo para casa, mas parecia que a minha casa estava indo embora.
Era estranho partir. E, daquele jeito, eu e termos nos reconciliado, mas não termos deixado modos de manter o contato. Era puramente a conciliação... E não passaria disso. Um dia para nunca mais.
Levantei-me e fui até uma cafeteria. Comprei um chocolate quente e fiquei olhando do balcão à praça do terminal. Dali, tomaria meu caminho subindo as escadas e andando pelos hangares, até chegar ao lugar onde pegaria o avião.
Beberiquei o chocolate. Era lindo ver aquela praça. Várias pessoas andando de um lado para o outro, acreditando estarem no controle de suas vidas e do tempo.
Eram controladas pelo tempo.
Do outro lado, em um banco, tinha acabado de se sentar um senhor. Era tão velhinho que você imediatamente conseguiria imaginá-lo em um quadro de família, sentado no meio, sorrindo bobo ao lado dos netos, vestindo suspensórios e uma boina marrom. E tão fofo que você tinha vontade de levar para casa. Ele segurava uma valise preta e se sentou lentamente no banco, provavelmente por conta de problemas ósseos.
Olhou para mim, de longe, e sorriu pequeno. Sorri de volta.
Ele abriu a valise, olhando para o seu interior. A esse momento, já tinha desviado o olhar. O senhor pegou um conjunto de folhas de cartolina, do tamanho de uma folha normal, e as ergueu.
Voltei a olhá-lo e li o que estava escrito na folha.
"Ei, você aí!"
Franzi o cenho, sorrindo. Como?
Ele trocou a folha, colocando-a por último e mostrando uma nova mensagem:
"Sim, você! , não?"
Apontei para mim mesma, perguntando um "eu?" apenas em linguagem labial. Ele trocou as placas mais uma vez.
"Sim! Você sabe quem eu sou?"
Fiz que não com a cabeça, achando aquela situação realmente cômica e adorável.
"Nem eu sei quem você é, mas se importaria em fazer bem a um velho coração?", uma nova placa indicou e o homem a mudou mais uma vez. "Você vai tem hora para partir?"
Fiz que sim com a cabeça.
"Teria sete minutos sobrando?"
A última placa era aquela. O senhor sorriu e se levantou sem jeito, deixando as folhas em cima da valise. Ficando de pé, movimentou-se até o piano no centro do terminal, bem ao meu lado. Sorri sem graça.
Ele parou quando estava ao lado do piano, tirou a boina e fez uma reverência a mim, sorrindo. Colocou a boina em cima do piano e se sentou para tocá-lo.
Achei que aquele piano era enfeite, mas o senhor se sentou como se fosse tocá-lo. Nesse momento, vi William se aproximar.
– Vamos, . Precisamos entrar cedo, como membros da tripulação – o homem disse apressado e inexpressivo.
Despedi-me do senhor, mas ele apontou para suas orelhas e fez que não com os dedos. Era surdo. Por isso, apenas acenei.
Indo para a escada, pude ouvi-lo começar a tocar. As notas soaram por todo terminal e, por um minuto, achei que fosse um ator e estivesse puramente representando. Não era possível... Aquela música.
Inicialmente, não havia letra. Era apenas o fundo musical da canção. Fui às escadas, ainda olhando para o senhor.
O rosto de apareceu na minha mente quando ouvi aquela música.
Um homem negro, jovem, de suéter verde, tinha parado ao lado do piano. Começou a cantar a canção. Sua voz era doce e alta.
De repente, todos se calaram para ouvir aquilo.

Hey, Jude. Don't make it bad.
Take a sad song and make it better.


Uma mulher bem branquinha, com um boné de uma lanchonete da praça de alimentação, apareceu ao seu lado. Sua voz era doce e aguda, completando perfeitamente a estrofe.

Remember to ler her into your heart.
Then you can start to make it better.


Os dois se abraçaram de lado. Continuei os observando e o louco do violão começou a acompanhar o senhor ao piano. Nesse momento, cheguei ao fim das escadas rolantes. William parecia não ouvir a música, ou ignorá-la.
Eu não podia. É minha música preferida.
Os dois cantores olharam para mim nesse momento. E os vi sorrir.
Uma adolescente de cabelos negros, a não ser por mechas coloridas, estava ao meu lado na escada rolante. Ela continuou, com sua voz mansa soando pelo aeroporto. Tinha algum microfone, decerto.
Só não entendi, ainda, o que era aquilo. Pareciam cantar para mim.

Hey, Jude. Don't be afraid.
You were made to go out and get her...


Uma servente morena, parecendo árabe, limpava o chão mais adiante. Mas sua linda voz também soou, enquanto ela não parava de limpar o piso.
Um grupo de homens, aparentemente latinos, fazia um coro atrás, acompanhando a servente na última palavra.

The minute you let her under your skin.
Then you'll begin to make it better.


Vi uma senhora, também servente, mais adiante. Quanto mais eu andava, seguindo William, mais a música me acompanhava. A servente estava atrás de alguns tambores, com duas baquetas na mão, feitas de cabos de vassoura. Parecia bem animada ao tocar, acompanhando o piano e o violão. Uma bateria no meio do aeroporto!
Uma aeromoça passou ao meu lado. Era loira, com cerca de cinquenta anos, e conferia alguns papéis, puxando sua mala de mão. Atrás dela, havia outras aeromoças, mais jovens, que seguiam com um coro.

And, any time you feel the pain,
Hey, Jude. Refrain.
Don't carry the world upon your shoulders.


Um comissário vinha logo atrás, alcançando a aeromoça. Colocou o braço em volta de seus ombros e seguiu, completando a estrofe.

Well, you know that it's a fool
Who plays it cool
By making his world a little colder.


Vários jovens que estavam em uma excursão levantaram os braços, cantando em sincronia e em multidão.

Na, na, na, na, na.
Na, na, na, na.


William chegou ao portão. Um funcionário do aeroporto estendeu a mão para pedir minha passagem, para que eu e William entrássemos na fila. Ele também cantou, como se ninguém estivesse olhando. Como se estivesse cantando no chuveiro ou enquanto cozinha... Quando dezenas de pessoas em um terminal o observavam. Era jovem e sorria.

Hey, Jude. Don't let me down.
You have found her. Now go and get her.


Outro funcionário, um acima do peso, mas com uma voz maravilhosa, completou como se estivesse o cumprimentando e ambos cantaram juntos.

Remember to let her into your heart.
Then you can start to make it better.


Uma mulher mais velha, ruiva, teclava no computador inexpressiva. Confesso que me impressionei quando ela abriu os lábios, cantando a estrofe seguinte. As aeromoças, os funcionários, todos tinham vindo atrás de nós e faziam o coro juntos.

So let it out and let it in.
Hey, Jude. Begin.
You're waiting for someone to perform with.


Uma jovem funcionária, também acima do peso, que era tão fofa que dava vontade de apertar, subiu em um banco e cantou como se fosse a Beyoncé. Algumas pessoas riram e outras assistiam maravilhados.
O Navorski era chato, mas aquilo estava sendo perfeito.

And you know that it's just you.
Hey, Jude. You’ll do.
The movement you need is on your shoulders.


Todos ao nosso redor cantaram em seguida, sem excessão, com as mãos erguidas.

Na, na, na, na, na.
Na, na, na, na.


Uma última funcionária pediu meu passaporte. Era uma jovem, morena, alta. Olhando o documento, ela cantou com uma voz incrível. O coro era de suas colegas no portão. William via aquilo como uma incrível perda de tempo, mas eu estava encantada. Aquilo era perfeito.

Hey, Jude. Don't make it bad.
Take a sad song and make it better.
Remember to let her under your skin.
Then you'll begin to make it better.


Todos em volta começaram a cantar junto, cada vez mais alto.

Better, better, better, better, better.
Whoa!


Então, vieram as palmas ensurdecedoras. Era algo maravilhoso de ouvir. Todo um andar sincronizado, cantando junto. William se virou de costas para seguir seu caminho até, enfim, poder embarcar. Mas eu queria ficar ali.
A cada passo meu, mais pessoas eu via batendo palmas e cantando.
Olhando para mim e sorrindo.

Na, na, na.
Na, na, na, na.
Na, na, na, na.
Hey, Jude...


Eu sorri. Aquilo era lindo. A bateria, o violão, o piano soando pelas caixas de som. Era maravilhoso.
Algumas seguravam placas como o senhor do piano. Pude lê-las, quanto mais andava. "Você não precisa ir".
Eu sorri.

Na, na, na.
Na, na, na, na.
Na, na, na, na.
Hey, Jude...


A placa seguinte era segurada por uma criança.
"Se tiver motivos para ficar, siga em frente."
Em frente era o meu hangar, onde eu ficava.
O "aqui".

Na, na, na.
Na, na, na, na.
Na, na, na, na.
Hey, Jude...


"Você sabe... Quando o vir, sabe o que fazer, Jude!", era a placa de uma mulher.
Eu não conseguia parar de sorrir.

Na, na, na.
Na, na, na, na.
Na, na, na, na.
Hey, Jude...


No fim, eu via o hangar. Tinha um único homem parado ali, com as mãos nos bolsos, cabelo bagunçado e um sorriso de quem diz "eu não disse?".
Nenhuma surpresa na minha vida poderia ser tão boa quanto a que tinha acabado de fazer para mim.
Ele piscou um olho. Ergui o canto do lábio.

Na, na, na.
Na, na, na, na.
Na, na, na, na.
Hey, Jude...


– Ei, William... – chamei, segurando-o pelo ombro. – Desculpe, mas... – comprimi os lábios e sorri, dando de ombros. – Não posso voltar para Londres. Não agora.
– Como é? – ele franziu a testa, com a irritação aparente em suas bochechas vermelhas.
– Não quero voltar – corrigi. – Não agora.
– Você está me deixando... De novo... Pelo ? – falou pausadamente, como se procurasse paciência em algum lugar.
– William, eu...
– Não é possível que você não se lembre de mim, . Não depois de tudo que eu fiz.

Na, na, na.
Na, na, na, na.
Na, na, na, na.
Hey, Jude...


– Você não pode ser tão burra a ponto de não se lembrar... Eu ajudei você e a se juntarem. Eu precisei separar vocês.
– William.
– Depois daquele boato, tudo pareceu ter dado certo. Precisei dizer a meio mundo que você era uma puta para perceber como ele seria um babaca. Você e eu, e . Mas você se foi! Demorou dez anos para nos reencontrarmos e você ainda prefere o ?
Seu discurso incessante daria medo a qualquer um, mas me deu coragem em permanecer ali. E confrontá-lo.
Confrontar coisas que sempre aceitei.

Na, na, na.
Na, na, na, na.
Na, na, na, na.
Hey, Jude...


– William...?
Eu não entendia. Ele tinha a ira em seu olhar e falava quase sozinho.
tinha prometido que conseguiria fazer você ficar presa aqui e conseguiu. Os contatos dela conseguiram. Apagaram você do mapa. Eu fiz o possível e o impossível para conseguir pontes passando por aqui e é assim que me agradece?

Na, na, na.
Na, na, na, na.
Na, na, na, na.
Hey, Jude...


Billie?
– Ah, agora você percebe – William era desesperado. – Obrigado por lembrar que meu nome de verdade é William. Agora, precisou vir para conseguirmos fazer dar certo. Eu sempre amei você, . Agora escolha: ou eu, sua casa de volta, ou o e o Navorski.

Na, na, na.
Na, na, na, na.
Na, na, na, na.
Hey, Jude.


A canção acabou nesse instante. Todos ficaram em silêncio. Olhei em volta e, em seguida, de volta para Billie.
– Sinto falta das incertezas. E eu não trocaria essa despedida por nada nesse mundo.
Entreguei o envelope a ele e, lentamente, dei-lhe as costas, indo para o meu hangar.

estava parado no mesmo lugar em que eu tinha o deixado ontem. Cruzou os braços quando me aproximei.
– Eu avisei para estar aqui caso mudasse de ideia... – falou.
Abri os braços, praticamente apontando para mim mesma.
– Eu mudei de ideia. Só foi por outra... Perspectiva.
Ele riu. Parei à sua frente, as mãos na frente do corpo, com o canto do lábio erguido.
– Você sabe... Você continua sendo mesquinho, cabeça-dura e metido.
– E você continua a mesma garota autossuficiente, indecisa e irritante.
– E ? – perguntei, cruzando os braços e lutando para não sorrir.
– Ela tinha contatos para dar problemas ao seu passaporte. Está afastada e pode ser presa. O careca da imigração que a prendeu.
– Sério? Pensei que ele me odiasse.
– Todos pensamos que a odiamos, até fazermos uma coisa grandiosa por você.
– Tipo ensaiar um aeroporto inteiro para cantar minha música preferida e impedir que eu fosse embarcar em um avião?
Ele riu, olhando para baixo. Vi-o ficar vermelho. Completei:
– Você disse que era clichê e antiquado, além de sem criatividade.
– Você disse que nunca mais queria me ver e olhe onde estamos.
Sustentamos o olhar um do outro, quase rindo. Quando finalmente sorrimos, abracei-o e ele me devolveu o gesto. Afundei o rosto em seu pescoço. Quando me afastei, sorrindo, nos beijamos.
Eu não o beijei. Ele não me beijou. Beijamo-nos. Sorrindo.
Do melhor jeito do mundo.
– Acho que ainda gosto de você, .
– Acho o mesmo, – ele retrucou, abraçando-me pela cintura, enquanto minhas mãos se apoiavam em seu peito. – Então... O que me diz? Fui original, não? Acho que não segui esses filmes americanos.
– Você bem que podia ser o Justin Timberlake, .
– Desculpe, madame. Você bem que podia ser a Mila Kunis!
Eu ri. Éramos, realmente, os mesmos.
– Já que estamos em um aeroporto, e tecnicamente você já pode sair, que tal embarcarmos no próximo voo para Paris? Ou Roma? Cancún?
Fiz uma careta.
– Tanto faz. Você decide. Cansei de escolher para onde vou! Surpreenda-me, .
– Ok. Hum... – fez um rosto pensativo. – Ilhas gregas. O que me diz?
– Perfeito. Mas você não quer ir para casa?
Ele me deu um beijo na testa.
– Em qualquer lugar me sentirei em casa, contanto que esteja com você.


Fim



Outras fics da autora:
American Idiot [Restritas/Em andamento]
Ocean’s four... Teen? [Outros/Finalizada]
Jennville [1D/Hiatus]
Dream a little dream [1D/Finalizada]
The Fox and the Snake [1D/Finalizada]
3x4 – Stairway to Heaven [Especial equinócio de setembro/Finalizada]
Twitter da autora: @borntobj


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