Thirst






É noite. Bom, meio irônico eu constatar isso. Na verdade, ok. É bastante idiota. Mas, quando se tem uma melhor amiga como a minha, que nesse exato momento está esgotando a minha pouca paciência para sair com ela, tudo vira um inferno. Até mesmo o simples fato de ser noite. E do evento começar em uma hora e ela querer que estejamos prontas em duas horas. Beleza. Até aí, tudo "bem". Mas eis o pior: ela estava na minha casa desde as três da tarde! E já são oito horas! Cinco horas no mesmo ambiente que Amber Jetts tagarelando no meu ouvido definitivamente não são o que eu posso chamar de hobby.
- Amber... Por favor... Deixe-me só ficar em casa lendo, sim? - pedi, aliás, implorei a uma Amber só de toalha e com cara de brava na minha frente. Quem ela acha que vai intimidar com essa careta?
- ! Pelo amor de Zeus! Não aguento mais ver você trancada nesse apartamento! Ande, vamos! Levante-se daí AGORA! - gritou a última palavra.
Era realmente uma pena. Quer dizer, depois de cinco horas discutindo com a menina, juro que achei que Amber fosse ser vencida pelo cansaço. Mas não. Ali estava ela, na minha frente, a garota mais estonteantemente loira que eu já havia visto na minha vida, quicando no mesmo lugar. Literalmente. Definitivamente, ela é hiperativa, meu Deus. O café e o redbull que toma com certeza também não ajudam.
- ! - de novo esse nome maldito, meu nome todo. Amber sabe o quanto odeio que me chamem pelo nome todo mais de uma vez. - Sua vadia! Estou aqui falando que nem uma jumenta e está tudo entrando pelos seus ouvidos e saindo pelo seu rabo, não é?! - delicada. - Você vai comigo. Caso não seja por bem, seja por mal. Vou vesti-la e maquiá-la como uma boneca! Estamos entendidas?
- Não tenho escolha mesmo - bufei irritada e revirei meus olhos, levantando-me da minha tão amada e confortável cama e indo direto ao banheiro. Pouco antes de fechar a porta, porém, gritei num tom alto o suficiente para que Amber e os nossos vizinhos de cima e de baixo ouvissem: - Pau no cu! - e o barulho da porta batendo só não foi mais alto do que a gargalhada de Amber.

xx


Bom, eu ainda não estava completamente de acordo com a ideia de sair. A única coisa que mudou nas últimas duas horas foi que, definitivamente, me sinto pelo menos 20% mais atraente. Meu cabelo anteriormente desleixado deu lugar a cachos grossos que caíam pelos meus ombros. O short de lycra e a blusa de alcinhas finas deram lugar a um estonteante vestido azul escuro de frente única e que tinha uma barra mais grossa logo depois da polpa da bunda, o que o fazia não subir pelo meu corpo. Meu rosto liso agora era coberto por uma porção de maquiagens, sobre as quais eu não sabia nem os nomes. Mas uma coisa eu sabia descrever: o lindo batom vermelho nos meus lábios. Eu estava simplesmente apaixonada por aquela cor. E, para fechar com chave de ouro, uma sapatilha completamente dourada com apenas um lacinho preto como enfeite nos pés.
- Fiz um bom trabalho, hein? - Amber comentou, rindo. Dei língua para ela, fingindo discordar, mas sorri.
- Eu estou... Uau... - deixei a frase incompleta, sem realmente saber qual palavra usar, admirando-me longamente no espelho.
- Sexy? – a garota riu de novo. - É, você está. Agora vamos! O bar abre em meia hora e ainda temos que esperar o Chuck na praça.
Chuck é o namorado de Amber.
Mas espere!
- BAR? Amber, você sabe que eu odeio bares! - quase rosnei na direção dela, virando-me rapidamente. Ela se encolheu um pouco.
- Ops! - e deu uma risadinha sem graça. - Ah, vamos, ! Esse vai valer a pena. Juro! - e então fez a maior das covardias: um biquinho.
Quando ela faz esse biquinho, entendo que vai valer a pena mesmo. Não me perguntem o porquê, mas, toda vez que a menina fez esse biquinho e eu aceitei sair, algo legal aconteceu. E, quando não aceitei nem por um decreto, algo muito foda aconteceu e eu não estava lá para presenciar. Bufei contrariada.
- Está legal, está legal! Vamos logo, antes que eu me arrependa dessa decisão.
E, então, a menina fez um tipo de dancinha da vitória. Ok. Definitivamente, ela não é normal.
Fomos até a praça perto de onde morávamos, cerca de quinze minutos andando. Esperaríamos Chuck ali e não, não havia perigo. Éramos bastante conhecidas para, caso qualquer pessoa tentasse qualquer coisa conosco, com certeza nos ajudarem. Cerca de mais quinze minutos de conversas bobas rolando e várias gargalhadas, Chuck chegou. Tenho que admitir que tenho um pouquinho de inveja da minha amiga. Chuck é um cara além do legal. Ele é simpático sem ser falso, carismático e gostoso. Ainda por cima, segundo Amber, "bom de cama". Só provando para saber, então ficarei sem. Enfim.
Ele sorriu para mim e me cumprimentou, mas, quando seus olhos quando bateram em Amber, o rapaz pareceu se esquecer de mim e do mundo. Ela estava com um vestido vermelho da cor do meu batom. Seus cabelos estavam lisos e iam até sua cintura. E, em seus pés, havia uma sapatilha completamente prateada, com um lacinho rosa de enfeite. Não podia faltar seu precioso rosa, claro. Eu chegava a me sentir deslocada perto daqueles dois. Ainda mais quando eles começaram a se beijar e fiquei sem para onde olhar. Depois de algum tempo, acabei por pigarrear e dei um sorriso sem graça, quando os dois me olharam.
- Vamos?
- Hum... Claro - ele deu um sorriso meio envergonhado, meio "cumprimento".
Saímos andando em uma direção qualquer, conversando amenidades. Imaginei que eles me fariam me andar por, no mínimo, uns quarenta minutos e já estava até me preparando para quando desse meia hora começar a reclamar. Mas o que eu não esperava era que, vinte minutos depois, fôssemos chegar a um estabelecimento, no mínimo, aconchegante. A entrada era de um néon em um tom roxo, o que me agradou bastante, pois saiu do "padrão" néon verde. Havia um letreiro ao lado piscando, em um amarelo meio fosco – se é que essa cor existia –: "Música ao vivo", e me peguei me perguntando se aquilo só piscava nos dias que tinha música ao vivo. Definitivamente, ali seria um dos poucos lugares aos quais eu gostaria e muito de voltar.
Entramos e nos sentamos em uma das mesas entre o bar e a pista de dança. Levantei-me depois de cerca de cinco minutos, vendo o mel que escorria pelos poros de Chuck e Amber. Era demais para mim.
- Vou pegar bebida. Quem quer? - perguntei e eles novamente me olharam meio constrangidos. Pois é. Sou mestre nisso.
- Eu quero uma cerveja. - Chuck sorriu, pedindo-me desculpas com os olhos, mas arrependimento era algo que eu não via em nenhum gesto seu.
- E eu uma Ice, amiga - Amber me jogou um beijo e um sorriso. Revirei os olhos, sorrindo, e me virei. - ! – virei-me de volta em sua direção e só fiz leitura labial: - Arranje um gato! - e sorriu brilhantemente, como quem tem a melhor ideia do mundo. Revirei os olhos novamente, sem nem ao menos me dar o trabalho de responder.
Quando cheguei ao balcão do bar, apoiei-me ao lado de um cara meio cabisbaixo, mas não dei muita importância. Demorei bons minutos para conseguir a atenção de algum barman e, para piorar, quando consegui era uma mulher-macho, com cara de quem estava tendo "um dia daqueles". Pedi tudo que queria e acabei me virando para o estranho, pois o senti me observando. Assim que meu olhar cruzou, ele desviou o seu. Ri, descrente de que aquele joguinho de adolescentes estava mesmo acontecendo. E, então, o rapaz me olhou de volta e franziu suas sobrancelhas, como se se perguntasse o porquê de eu estar rindo.
- . Prazer - estendi minha mão em sua direção e vi sua feição ir de incredulidade a espanto e logo depois a desconfiança.
- Hum... . Prazer - ele estendeu sua mão até a minha, dando um projeto de sorriso de lábios fechados, como se aprovasse minha atitude ousada, quando eu nem sabia o que tinha de ousada naquela atitude. Seu aperto foi impetuoso e, ao mesmo tempo, receoso. Eu não sabia o que pensar daquele homem. Só que não me sentia curiosa sobre alguém há bastante tempo.

Amber's POV


Se tem uma pessoa que sempre, sempre mesmo me ajudou, essa é a . Ela é a minha melhor amiga desde a quarta série, quando a menina foi transferida para onde morávamos porque a mãe dela havia precisado se mudar e ela que havia chegado e falado comigo, puxado assunto, sido simpática. Isso porque ela diz que é tímida... Mas Chuck... Chuck já é um tipo de amor diferente. Ele é, com toda certeza do mundo, o único homem com quem quero passar o resto da minha vida, e mais a eternidade.
Sorri, olhando para Chuck, e beijei seus lábios. Com o canto dos olhos, vi sorrir para um homem no bar e ele sair andando na direção do palco. Ela ainda ficou olhando na direção de onde ele tinha ido por alguns instantes, para uns segundos depois dar um suspiro e se virar na nossa direção. Enquanto a garota vinha andando, pude perceber o homem se virar e olhar para ela e, mesmo a menina não estando olhando de volta, ele sorriu. Então o rapaz sumiu em meio à multidão e minha amiga reapareceu ao nosso lado.
- Quem era aquele cara? - fiz a pergunta mais óbvia, sem conseguir refrear minha curiosidade.
- Um cara que eu conheci, ué. Por que? - franziu as sobrancelhas, questionando-me silenciosamente se não era aquilo que eu sempre quis desde o começo para ela.
- Ele só... Talvez seja muito mais velho que a gente, né? - franzi as minhas agora, notando quando revirou os olhos e se virou para mim com a feição meio irritada.
- Amb... Eu não sei se você notou, mas não ando me interessando por muitos caras ultimamente...
- Eu notei, sim...
- Então só... Cale a boca e não estrague isso, sim? Por favor? - e se virou, bebendo do seu copo.
E eu fiquei com cara de panaca, olhando para o palco, onde o homem acabara de entrar, perguntando-me o que diabos havia sido aquilo, já que ela nunca havia falado daquele jeito comigo.

's POV


Eu realmente não sabia o que havia me feito agir daquele modo com Amber, mas isso não vinha ao caso no momento. Simplesmente não importava. Porque os olhos hipnotizantes de prendiam mais a minha atenção que qualquer outra coisa em minha volta. Ele havia subido ao palco e cantaria agora algo que eu sabia que, de algum modo, me faria entender mais dele do que qualquer história sua. Eu sabia quando a música era feita de coração e sabia quando a pessoa que cantava também a sentia. Os primeiros acordes começaram e sua voz melodiosa ecoou pelo bar.

's POV


Quando a música começou, pude sentir a história dela fluir de mim.

When I think of fates worse than death,
(Quando penso em destinos piores que a morte,)
All I can think of is something you said .
(Tudo que consigo pensar é algo que você me disse.)
You said we were golden, bright like the sun,
(Você disse que éramos ouro, brilhantes como sol,)
And now I am stranded,
(E agora estou preso)
Knowing I’m not the one.
(Sabendo que não sou o escolhido.)

Traição. Tem algo mais filho da puta que possa ser feito por quem se ama? Para mim, não.

An ocean of anger
(Um oceano de raiva)
Flowing through me,
(Flui através de mim,)
Bloodstained and broken
(Manchado de sangue e quebrado)
From what I failed to see.
(Do que eu falhei em ver.)
And, just like a snake-charmer,
(E, assim como uma encantadora de cobras,)
You led me astray,
(Você fez eu me perder,)
Living in distress,
(De viver angustiado,)
Hoping help was on the way.
(Na esperança que a ajuda estivesse a caminho.)

Eu fiquei, literalmente, na merda. Mal de verdade. Saber que quem você ama não o ama de volta já é ruim. Agora imagine descobrir que essa pessoa passou anos com você para roubar todo seu dinheiro e fugir com um dos seus melhores amigos?

In the midst of a storm,
(No meio da tormenta,)
Searching for shelter,
(Procurando por abrigo,)
I came upon
(Eu encontrei)
One single feather,
(Uma única pena,)
A half-hearted wish
(Um desejo hesitante)
For something better.
(Por algo melhor.)
Gracefully cursed, I thirst.
(Graciosamente amaldiçoado, eu anseio.)

Então eu me meti com a bebida. Por cerca de um mês, eu acordava com ressaca e ia dormir, já providenciando a ressaca do dia seguinte. Talvez procurando alívio momentâneo, não sei bem até hoje. Só sei que em momento algum eu o tive. Em momento algum, vivenciei uma típica cena de filme em que você se senta no bar ao lado de uma moça bonita e percebe que aquela é a mulher da sua vida. Demorou, mas eu finalmente me toquei que aquela vida definitivamente não valia a pena. Não por ela.

Attached to the soil,
(Agarrado ao solo,)
I’m dyed in the wool.
(Estou guiando o caminho.)
There's iron in my blood,
(Há ferro em meu sangue,)
Yet so vulnerable.
(E ainda assim tão vulnerável.)
But, after I’m gone,
(Mas, depois que eu for embora,)
Once I finally leave,
(Uma vez que eu finalmente for embora,)
You will be left alone
(Você ficará sozinha)
To the wolves and the thieves.
(Com os lobos e ladrões.)

Eu não gostava de desejar isso para quem quer que fosse, mas realmente queria que ela sentisse pelo menos 10% da falta que senti naquele um mês. Que ela sentisse, no mínimo, 10% de toda a dor que senti quando descobri sobre tudo. Queria que a menina realmente sentisse falta de tudo que tivemos, porém sabendo que nada voltaria. Nunca.

In the midst of a storm,
(No meio da tormenta,)
Searching for shelter,
(Procurando por abrigo,)
I came upon
(Eu encontrei)
One single feather,
(Uma única pena,)
A half-hearted wish
(Um desejo hesitante)
For something better.
(Por algo melhor.)
Gracefully cursed, I thirst.
(Graciosamente amaldiçoado, eu anseio.)
Gracefully cursed, I thirst.
(Graciosamente amaldiçoado, eu anseio.)
Gracefully cursed, I thirst.
(Graciosamente amaldiçoado, eu anseio.)
I thirst.
(Eu anseio.)

Graças a Deus, acho que encontrei minha metade. Sóbrio. Na noite em que decidi que a melhor escolha era não beber nada, talvez eu tenha encontrado um alguém por quem valesse a pena arriscar. Não arriscar seu seu coração partido, mas uma pessoa por quem valha a pena lutar.
. é o seu nome, e o seu sorriso ofuscou todos os outros.


Fim



Nota da autora: -





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