Uma Aposta Perdida


Escrita por: Ceci
Betada por: Lila Zardetto


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I ain’t gonna be just a face in the crowd

Já fazia anos que o e sua banda percorriam as estradas. Milhares de fãs os seguiam, o mundo inteiro sabia quem eram. Estavam amadurecidos e já não era mais aquele garoto de dezesseis anos, de quando começou sua carreira. Ok, talvez ele não tivesse mais dezesseis, talvez estivesse doze anos mais velho, mas continuava o mesmo de sempre.
Aquele ser frágil e inseguro que sentia vontade de vomitar quando ficava nervoso, pensando besteira. E ficava mais nervoso quando pensava NESTAS besteiras. Por que ela tinha que estar chorando logo agora? E por que ele achava que não conseguiria seguir em frente? Ela estava tão linda...
Ainda assim sorriu satisfeito com o que via. Ela sorriu para ele limpando timidamente algumas lágrimas. quase não acreditava que estava fazendo aquilo mesmo, como ela conseguia aguentá-lo? Estava longe de ser perfeito. E ela continuava caminhando no ritmo de uma música do Rod Stewart. The way you look tonight. Será que ela escolheu a música adivinhando como ele se sentiria nesta noite ao vê-la entrando por aquele corredor?
Droga! Por que não tinha chamado o próprio Rod para cantar? Seria uma surpresa incrível. E ele ainda poderia cantar ‘’ em algum momento da música para fazê-la se sentir especial. , você não faz nada certo mesmo. Podia ter feito algo especial no seu casamento e, no entanto, ficou parado. Toupeira.
O suor frio fez seu rosto brilhar. E se ela dissesse não quando chegasse ao juiz de paz? Olhou para os seus padrinhos, seus colegas de banda, seus melhores amigos. Todos sorridentes também. balançou a cabeça com discrição, mostrando que o amigo estava certo. Não havia por que temer, todos estavam ao seu lado.
E finalmente ela estava ao seu lado. Sua .

It’s my life, don’t you forget.

Foi há seis anos, numa festa de aniversário da irmã da namorada de um amigo do , que ele nem estava tão a fim de ir.
“Só vai ter um bando de adolescente neurótica. É com isso que o convive...” repetia em seus pensamentos “As únicas pessoas mais velhas que ele conhece provavelmente é a mãe e o pai.”
- Eu não me importo com isso. – refletiu. – É melhor, são mais fáceis. Não to querendo namorar mesmo... Preciso passar um tempo sozinho. Cansei.
- Senhor, muito obrigado. – fingiu um agradecimento - Eu tenho um companheiro de balada novamente!
- Não posso fazer nada se você não consegue segurar uma mulher por mais de uma noite. Veja só: eu namorei quase quatro anos e nesse tempo? Você até arranjou uns namoricos, mas não conseguiu passar mais de dois meses com a mesma mulher. - o amigo riu enquanto o outro resmungava. – Mas, vamos, vai! Você precisa arranjar uma companhia, eu também. Estudantes são perfeitas.
- Estudante? Duvido que alguém queira alguma coisa com a hora do Brasil.
- Eu não me importo com isso também. Não quero conversar.
conseguia as garotas interessantes. só... Conseguia quem aparecesse primeiro.
- Conta aí, . O que você faz pra ser assim?
- Charme natural. I’m amazing, baby. – mandou beijo pra caminhando até a porta. – Eu vou pra casa, me arrumar, mais tarde eu passo aqui para irmos juntos, gato.
- Sai dessa, bicha! – fechou a porta antes da almofada que jogou o acertasse.
suspirou no seu sofá, mas se deu por vencido. Iria e fosse o que Deus quisesse. Não ia ser ruim, só ia ser a mesma coisa de sempre. As garotas se tornaram tão previsíveis e fáceis... Se bem que ele não reclamava tanto assim. Era muito boboca para ‘enfrentar’ uma mulher difícil, um desafio como esse não era para ele.
Então, conformado com a vida, se arrumou e se animou. Quando passou na casa dele, já estava com cara de festa.
Depois de alguns minutos e muitos faróis fechados, eles chegaram numa casa de festas já cheia que tinha se transformado numa grande boate com algumas mesas ao redor.
- Quem faz aniversário de 25 anos numa casa de festas? Isso é para quem esta fazendo 15 anos. Essa mulher tem síndrome de Peter Pan?! – reclamava enquanto via a festa toda decorada, bonita. – Pelo menos tem um bom DJ.
- , meu amigo, esquece esses detalhes. Olha para os lados. Vamos ali falar com o .
Eles caminharam para cumprimentar o amigo e conhecer a aniversariante também. estava com a namorada ao lado e mais algumas pessoas.
- Olha quem resolveu vir. – deu um abraço em . – . Deixa eu apresentar a vocês a aniversariante. June, chega aqui.
- Oi. – uma mulher meiguinha se juntou. a olhou com desejo. conseguiu enxergar o porquê daquela festa naquele lugar, ela realmente parecia uma criança. Com peitos, mas ainda assim uma criança. – Obrigada por terem vindo.
- Que nada. Alguém é capaz de recusar um convite para uma festa como essa?
e perceberam que era hora de sair. já tinha escolhido a ‘vitima’ da noite.
- Será que o vai perder o encanto algum dia? – a namorada de se juntou aos dois.
- Se isso acontecer ele ta perdido... E eu também. – riu abertamente.
- Até parece...
- Eu vou ali pegar uma bebida.
Mais rápido que pôde saiu de perto deles. Não sabia ao certo por que, só resolveu que precisava.
- Oi, bonitinho. – alguém o parou no meio do caminho. – Tudo bem?
- Bem melhor.
Ok, podia dizer que não gostava das mais fáceis, mas também não fazia questão de afastá-las. Era algo tipo, já que só tem tu, vai tu mesmo.
- Não ta a fim de dançar, não? – a mulher fez cara de safada e os dois foram para a pista de dança.
Nem um refrão depois e logo os dois estavam se agarrando. Era tanta mão, tanto passa ou repassa que se perderam. Quando se separaram, disse que ia pegar uma bebida e voltava, mas o encontrou no meio do caminho.
- Ué, cadê a June? – perguntou ao vê-lo sozinho.
- Aniversariante, cara. Ocupada demais, não serve. Mas você estava indo para onde?
- Ah, ia pegar uma bebida. Quer dizer, se me deixarem né.
- Legal, vou também. Preciso tomar umas boas hoje.
- Sempre...
- E aí, já encontrou alguém interessante?
- Não muito. Só uma mulher que me carregou pra pista...
- E você agarrou. – era óbvio.
- Claro, o que eu vou fazer?!
- Aposto que ela era uma feia, gorda, perebenta e sem dentes.
- Poxa... Os desdentados também amam. – ficou com pena.
- ELA ERA DESDENTADA?
- Não, claro que não, seu maluco! Eu ainda não fiquei cego, peraí. E ela não era feia, nem gorda.
- Ah, ta bom. – desenhou e imaginou-se beijando uma desdentada. EWW. – Antes fosse uma caolha, é menos nojento. Você só pega baranga, .
- Agora que eu vi! Quer mandar no meu gosto, é?!
- Eu duvido que você consiga ficar com alguém decente.
- Meu gosto e o seu são muito diferentes, cara. O que você acha que é decente, pode não ser pra mim.
Mas parecia nem estar ouvindo o amigo falar.
- Tipo, aquela morena que está indo para o bar. – lançou um olhar para a bunda da garota e se voltou para o amigo. – Duvido que você consiga se APROXIMAR dela.
seguiu o olhar de dando de cara com a morena que falava.
- Ta vendo?
- Não, o quê?
- Eu disse, que nem sempre o que você gosta é o que eu gosto. Escolhe outra, não gostei dessa.
- Na-não. – balançou o indicador na frente de . – Você precisa aprender quem presta e quem não presta.
- E quem não presta?
deu uma olhada em volta e viu uma mulher com uma cara muito suspeita.
- Ela. – ele apontou descaradamente.
E percebeu que ele estava falando da mulher que ele tinha acabado de ficar. Como o amigo tinha aquele sentido? Parecia impossível para escolher a pessoa certa.
- Amigo, você entende de mulheres. – deu dois tapinhas nas costas dele.
- Não! – segurou o riso. – Não quer dizer que... Ta precisando mesmo de umas aulinhas...
- Cala a boca, seu idiota.
- Aceita o desafio?
- Se me disser antes como você faz pra saber tudo sobre uma mulher só de olhá-la. Caramba!
- Veja bem... – se sentiu convencido, ele era o melhor. – Está escrito na testa de cada uma. Com aquela – indicou com a cabeça para a mulher que ficara - não vão ter surpresas. Você vai lá, aproveitar e acabou. O jeito dela indica que ela nunca recusaria ninguém, nem se um desdentado fosse lá.
- Olha lá. Os desdentados também amam.
- Que perseguição com os desdentados, hein. Credo. Mas, voltando, a do bar – se virou para ‘secar’ a bunda da garota. – vão ter MUITAS surpresas. Tanto se ela aceitar ir para a sua casa ou um motel depois daqui, quanto ela recusar. E às vezes até uma transa ruim pode ser boa. É experiência, cara.
- Aí é que está. Com aquela outra – apontou para a mulher que ele tinha ficado. – eu tenho certeza que vai ser boa. Por que eu trocaria o certo pelo duvidoso?
- Pelo simples fato que o duvidoso pode ser melhor que o certo. Se não for bom, pelo menos você adquiriu uma certa experiência. Aceita?
- Aceito o quê? Ficou maluco?
- Ir falar com a morena. É tipo um desafio... Que nem aqueles que a gente fazia quando era mais novo. Você sai com ela daqui...
- E o que eu ganharia em troca?
- Uma noite no motel mais caro da cidade por minha conta.
- Fechado. – eles se deram as mãos. E achou que já tinha ganhado a aposta. A tarefa era fácil, era só falar com a morena. Então, não importava o que ele falaria. E ainda poderia ir aproveitar a noite no motel mais caro da cidade com qualquer peguete, certo? Errado.
- Mas só vale se for com ela.
deu a cartada final.

It’s my life, it’s now or never.

Ela tinha dito sim. Será que fazia ideia no que estava se metendo? não parava de pensar. Aquela era a hora dela dizer não e salvar-se de vez de viver com uma pessoa que não merecia um segundo da companhia dela.
Mas não, ela tinha dito sim.
respirou fundo, assinando o livro velho à sua frente. Essa era a parte do para sempre que não dava para desfazer. Segurou forte na mão da sua, agora oficialmente, mulher.
- Pode beijar a noiva.
Foi só o que o padre disse.
Era como se fosse frágil o bastante para quebrar, a segurou com todo o cuidado e com o mesmo cuidado beijou a mulher. Tinha um gosto diferente dos outros beijos e ainda assim era igual, algo o deixava mais especial. Como se a estivesse beijando pela primeira vez, mas sem ser a primeira vez.
Complicado explicar.

It’s my life, it never ends

Ele sabia que aquela morena nunca ia topar sair da festa com ele. O que poderia fazer?
- Então, eu tenho uma proposta. – chegou ao lado da mulher.
- Não.
Não? Mas ela nem ouviu o que era! Ai, ai, aquilo ia ser difícil. Mais difícil do que estava acostumado.
- Eu te conheço. – ela chegou à orelha dele. – E do seu tipo, to fugindo.
ficou intrigado.
- Meu tipo?
- Sim. Arrumadinho, bonitinho, com cara de cafajeste. Não presta.
Ela tinha um ar de brincadeira que fez rir da situação.
- Você prefere que eu invente uma história ou seja sincero?
- Ok, criatividade é uma qualidade.
- Qual é seu nome?
- .
- Prazer, . Pode me chamar de . A festa ta chata? – ele perguntou.
- Já fui à melhores, por quê? – ela não tava entendendo nada.
- Bem, eu tenho um jeito fazer com que você ganhe 200 reais esta noite.
- Amor. – colocou uma mão em seu ombro fazendo os dois se virarem para o grande contingente que ali estava e apontou para a tal mulher que tinha ficado mais cedo. Não é possível que só tinha ela para apontar como exemplo. – Sabe ela? Pois então, é para mulheres que nem ela que você em que fazer essas propostas. Seja mais criativo da próxima vez. Passar bem.
se virou e ia tomar um rumo qualquer se não tivesse a segurado pelo cotovelo, a impedindo. Antes que ela falasse qualquer coisa, ele a interrompeu.
- Posso explicar primeiro? – ele não esperou uma resposta. – Não se ofenda, mas eu não estou pedindo para você dormir comigo ou qualquer outra coisa. Eu só disse que tinha um jeito de ganhar 200 reais.
- De que jeito, então?
- Se você sair comigo da festa agora. – viu levantar uma sobrancelha, sem acreditar numa só palavra. – Pára de me olhar assim. Eu te deixo em casa, se quiser.
Ela não conseguiu sustentar uma cara séria.
- Você quer que eu acredite que você vai me pagar 200 reais SÓ para me deixar em casa?
- Não necessariamente. – o olho como quem diz ‘ta vendo que era mentira’ – Sim! Quer dizer, se você quiser, eu te deixo em qualquer lugar... Mas precisa sair daqui comigo. Só isso.
- E por quê?
respirou fundo e chegou mais perto, fazendo se afastar. Mas ele foi em direção a orelha dela quase cochichando.
- Deixa de ser medrosa, eu não vou fazer nada. Eu estou mais em perigo que você. Mas, é o seguinte. Você ta vendo um cara alto de olhos azuis olhando para cá?
- Nossa, você acabou de descrever metade da festa.
- Com uma camisa azul da lacoste.
- Aquilo é verde.
- É azul cor-de-alguma-coisa.
- Entendo. Daltônico seletivo. Mas o que tem ele? – cochichou também.
- Então, ele disse que bancaria a minha noite se eu saísse da festa... Com você. Só que eu sabia que você não aceitaria sair comigo, então... To abrindo o jogo.
- Tenha um pouco de fé em você, homem!
- Ia aceitar? – Ela ficou sem-graça. Não, não ia. - Podemos ir lá, tirar dinheiro daquele babaca?
- Agora mesmo.
pegou na mão que oferecia e sorrindo os dois chegaram em .
- Cara, arranja uma carona, que eu vou precisar do carro. – puxou a chave do bolso do amigo. Deixando um boquiaberto olhando para .
- Essa noite vai dar prejuízo. – Ela soltou uma indireta para enquanto a puxava para sair de perto dali.
abraçou pela cintura e olhou para trás, dando um ultimo adeus a um incrédulo.
Quando chegaram ao carro, quase teve uma síncope de tanto rir. não conseguiu segurar o riso também. Deus, aquela mulher era maluca...
- Oh, seu amigo acreditou mesmo! – Ela limpou algumas lágrimas. – A cara dele foi impagável!
- Eu deveria ter tirado uma foto.
E os dois caíram na risada mais uma vez.

I ain’t gonna live forever

- Fale sério! – foi cumprimentar os noivos. – Até para os outros eu escolho mulher boa.
- Sinceramente, eu vivo um conflito interno. – sorriu – Eu nunca sei se devo agradecer ou devo te bater, .
- Agradecer sempre, claro. Sem mim você nunca ia ter conhecido esse frouxo.
- Nem vivido a noite mais hilária da sua vida. – piscou a fazendo lembrar da noite em que se conheceram.
- Então, obrigada. – abraçou .
- Ainda bem que eu acertei mesmo. Não sei se eu conseguiria arranjar uma amiga como você em outro lugar. – cochichou fortalecendo o abraço.
se afastou para limpar com cuidado as lágrimas.
- Você é um idiota, . Eu vou borrar toda minha maquiagem desse jeito.
Os três trocaram sorrisos e foi se sentar.
não conseguiu engolir mais as lágrimas e caiu em prantos ao sentir abraça-la.

I've asked myself how much do you Commit yourself

estacionara na frente da casa de e estava óbvio que nenhum dos dois sabia direito o que fazer.
- Então, eu acho que te devo 200 reais. – se preparara para pegar a carteira, mas o interrompeu.
- Não precisa.
- Precisa sim. Eu te tirei da festa por isso!
- Mas valeu só por ver a cara do seu amigo .
- Sério, minha consciência vai começar a me perturbar.
- Manda ela ir catar coquinho!
Ele a olhou suplicante.
- Eu tenho uma idéia melhor. – não conseguiria olhar para sem fazer nada. – Que tal se a gente pegasse esse dinheiro e fosse para um bar? Até porque não pode saber que você chegou cedo em casa.
- Ótima idéia!
percebeu que virava japonês quando ria, seus olhos se transformavam em apenas duas linhas no rosto, o que o tornava extremamente atraente.
- Meu Deus, topei sair com um cara que nem conhecia e furtei 200 reais de outro. Virei uma criminosa! Eu sou mesmo decadente.
- E eu não? Eu deveria estar num motel a esta hora, tendo a maior noite de sexo selvagem que eu já tive na vida e estou indo para um bar, por que encontrei uma parceira criminosa perfeita.
- Quem disse que ia ter sexo selvagem? – o olhou com descrença.
- Ok, me deixou semgraça agora.
Ela riu dele.
Eles pararam no primeiro bar que viram e sem demora, começaram a beber e conversar coisas aleatórias. Sobre ela, sobre ele, sobre o clima e até mesmo sobre geopolítica. Riam de tudo e de todos. Pareciam que estavam sentido o efeito de uma droga que experimentaram pela primeira vez.
Em alguns momentos rolava uma tensão sobre eles, mas achavam que era normal. Não tinha nada demais.
- , posso perguntar uma coisa? – ele assentiu. – Como você tinha tanta certeza que eu iria dizer não?
- Você mesmo já disse. Mulheres como você não saem com homens como eu. E a partir do momento que o me mandou ir falar contigo, você se tornou um desafio... Eu nunca fui muito bom com desafios.
- Você precisa ir a um psicólogo. Que autoestima baixa é essa?
- Não é autoestima baixa. Mas é que vocês me deixam nervoso... Vocês mulheres são muito inconstantes.
- Eu acho é que você não aprendeu a levar um não. Então, você prefere nem se arriscar.
refletiu por alguns minutos, talvez estivesse certa.
tinha entendido ele. Não, não iria arriscar investir nela... A menos que ela mesma desse em cima dele. Que babaca inseguro!
Então, desistiu dele. Talvez fosse melhor ficar conversando, nunca teria coragem de dar o primeiro passo.
A madrugada já tinha entrado e eles continuavam ali, no bar, conversando e rindo ainda mais por causa da bebida. Até o telefone de tocar.
- É o . – disse rindo olhando o visor.
- Ainda é empata foda. Que amigo é esse?!
- Veja como eu sofro. – ele fez sinal para ficar quieta e atendeu. – Porra, . Isso é hora de ligar? Tem que ser muito importante para me atrapalhar desse jeito.
segurou a risada.
- Claro que eu to! – fingia estar irritado.
entrou na brincadeira e encostou sue rosto perto do pescoço de o fazendo se arrepiar.
- Desliga isso e vem looogo.
Aquilo estava ficando muito íntimo.
- Tchau, imbecil!
desligou com o coração acelerado e os dois, mais uma vez, se acabaram na risada. Ele rindo mais de nervoso que qualquer outra coisa.
- Só uma curiosidade, você pretende contar algum dia que essa noite não aconteceu?
- Talvez depois que ele me der o dinheiro.
E riram mais uma vez.
- Bem, acho que já ta na hora da gente ir embora, não?
pagou a conta. Ao saírem, ele viu se abraçar com frio e abraçou-a também. E andaram agarrados até o carro fazendo algumas brincadeirinhas vez ou outra. Pareciam amigos de longa data.
Cinco minutos depois, estava parado mais uma vez em frente à casa de .
- É aquela amarela da frente. – ela apontou sem-graça.
- Mas... Ué, não era nessa?
- Eu não ia deixar um estranho descobrir onde era a minha casa tão fácil, não é?!
- Jesus, você não existe. Não é possível!
Ele riu ligando o carro e parando três casas a frente.
- Agora sim. – ela disse pronta para sair. – Foi bom te conhecer. Nunca ri tanto da cara de uma pessoa, como a do seu amigo. Foi a noite mais engraçada da minha vida.
Sempre com aquele sorriso enorme na cara. se perguntou se um dia ela deixaria de rir assim.
Eles se aproximaram para trocar beijos na bochecha, mas aproveitou para dizer algo.
- Não tem problema, tem?
Claro que não, era o que queria gritar, porém fez melhor, encostou sua boca na de . Era mais estranho do que ele pensava. Era bom. Ele sabia que beijar era bom, mas a beijar era melhor ainda.
- Pelo menos não saímos no zero a zero. – brincou quando se separaram.
Ele escondeu os olhos novamente num sorriso e a viu sair do carro. Abaixou o vidro do carro e gritou:
- Vê se essa é melhor.
continuaria a falar, se não tivesse voltado correndo e feito ele se calar.
- Não grita! – ela tampou a boca dele. – Eu não tive tempo de procurar uma vizinhança legal.
olhou para a mão dela e pediu com os olhos para ela soltar.
- Desculpe, mas a gatinha tem telefone? – ele riu.

I just want to live while I'm alive

- Essa era a parte que eu tinha medo que chegasse. – sentou em sua cama, enquanto assistia ao seu lado chorando.
Ainda bem que eles tinham resolvido fazer a festa na casa de .
- Medo? – Ela parou por um segundo e o encarou.
- Eu estou aqui sorrindo satisfeito e a vendo chorar. Você finalmente percebeu que não queria estar casando comigo. Este era pra ser o dia mais feliz da sua vida e você está se casando comigo? Você poderia ter casado com um cara mais especial que irá te proteger se algo ruim te acontecer, mas não.

It´s Funny how I find myself In love with you

- ?
- Olha, o cara da noite mais selvagem da minha vida. – ela riu dela mesma.
Uma semana, mais ou menos, tinha se passado, desde o dia que e se conheceram. E mesmo sem querer criar expectativas, esperou uma ligação no dia seguinte... Mas não aconteceu.
Totalmente inesperado receber uma ligação de numa sexta à noite. Logo quando ela estava terminando de se arrumar para sair com uma amiga.
- A que devo o prazer de sua ligação?
- Er... Será que você pode aparecer na porta?
olhou pela janela sem acreditar no que via. Desligou o telefone e saiu de casa.
- Deixe-me adivinhar... – fingiu pensar, enquanto caminhava para um arrumado e sem graça. – apostou mais 200 reais que você não voltava aqui.
- Não chegou nem perto. – abriu a porta do carro. franziu a testa, mas não se opôs. Esperou ele entrar. – Dessa vez, eu fiz uma aposta comigo mesmo.
- Alguma chance de perder?
Inconscientemente, os dois foram se aproximando.
- Nenhuma.
puxou pela nuca e grudou os lábios no dela. Sem perder tempo, as línguas se encontraram num desespero tamanho que o carro se tornou pequeno demais. As mãos de bagunçaram os cabelos arrumados de , enquanto esse passava a mão por debaixo da blusa dela e sentia o toque forte que ele tinha.
As coisas estavam esquentando e quando tentou tirar o sutiã de , ela espalmou suas mãos nos peitos dele e o afastou.
- Calma aí, meu rapaz. Um passo de cada vez, né?


My heart is like an open highway

- … Por que você acha que eu to chorando?
acariciou os cabelos de , enquanto via ele se afundando nas próprias mãos.
- Por que você percebeu que vai ter que pedir a anulação do casamento amanhã bem cedo? – ele a olhou sem acreditar nem em si mesmo.
- Como eu ainda não me acostumei com seu jeito? – ela riu. – Eu estou chorando pelo simples fato que hoje é o dia mais feliz da minha vida. Eu acabei de casar com o cara mais bobo da terra. E eu o amo.
Odiava ser tão inseguro assim. Mas adorava o jeito que ela o fazia se sentir tão seguro, tão confiante.
- Se hoje é o dia mais feliz, implica em você rindo. Não chorando. Me deixa nervoso, angustiado. É como se eu estivesse fazendo alguma coisa errada.
o abraçou tão forte que os dois deitaram na cama. Impossível não rir com isso.
- Já ouviu falar na expressão ‘lágrimas de felicidade’?
- Ainda assim, não combina. – pegou-a pelo queixo, fazendo com que ela o olhasse. – Eu sei, eu sou todo assim, estúpido e cheio de traumas, mas eu te amo.
- Ok, prometo não chorar mais. – limpou as lágrimas.
- Por favor. Seu sorriso contagiante é tudo o que eu preciso e o que eu mais gosto. Vamos lá, mostra os seus dentes e o que você tem por trás deles.
pediu fazendo um imenso sorriso crescer no rosto de .
- Sabe que eu achei que você não fosse ligar de volta? – fez franzir a testa. – Na verdade, eu não achava nem que você fosse me beijar naquela primeira noite. Eu já tinha desistido.
Ele gargalhou.
- Engraçado. Nem eu achava que ia. Mas mais cedo tinham me falado que é bom trocar o certo pelo duvidoso.
- Ai Deus. Você vai ter que aprender que existe uma palavrinha de três letras no dicionário antes da gente ter nosso primeiro filho. Por que você odeia tanto o ‘não’?
- Preciso de terapia urgente. Não quero que nosso filho seja que nem eu... Sabe o que é mais irônico? É que devia ser a palavra que eu mais gosto.
- Por quê?
- Foi a primeira coisa que você me disse quando eu fui falar contigo.
Os dois sorriram e roubou um beijo de .
- ... Eu já disse qual a qualidade em você que eu mais admiro? – ela disse olhando no fundo dos olhos azuis dele.
- Não me recordo, mas tenho um palpite.
- Qual?
- A minha beleza grega. – brincou e deu um selinho nela.
- Credo, sai dessa. Não chegou nem perto. – o abraçou rindo, voltando a fitá-lo – Na verdade, a sua melhor qualidade é a sinceridade. Naquele primeiro dia, você me perguntou se eu preferia a sinceridade ou a criatividade. Optei pela segunda já imaginando a história ridícula que viria... E ainda assim, você preferiu ser sincero. Mesmo que fosse uma história meio absurda e eu não tivesse acreditado até ver a cara do quando você foi falar com ele...
- Obrigada, . – a beijou. - Por tudo, tudo, tudo, tudo que você me proporcionou, meu amor, minha vida, minha geléia de mocotó, meu moranguinho com leite condensado, meu cajuzinho, minha estrela-do-mar, minha borboletinha, minha princesa...
- Esqueceu de minha Bililica, Bililico. – riu e puxou para um beijo apaixonado, intenso. - Agora chega, né? – Se levantou antes que começasse a chorar de novo e deixasse angustiado. – A gente precisa descer pra festa, antes de pegar nosso caminho para a lua-de-mel e começar a treinar a fazer filhos.
- Eu tenho uma idéia bem melhor. – abraçou por trás e beijou seu pescoço. – Que tal se a gente pulasse a parte da festa e fosse logo para a parte dos filhinhos?
- E onde fica a lua-de-mel? – ela se virou para dar um selinho.
- No meio do caminho. A gente foge e pega o primeiro trem, avião, ou vai até a pé mesmo para Paris.
- Eu aceito, mas sem a parte do ir a pé... Muito trabalho. – fez cara de ‘nojinho’ – Mesmo que me deixasse com umas pernocas incríveis, eu chegaria no destino final com vontade de fazer nada... Precisamos nos trocar. Não dá pra fugir DE noiva com O noivo do PRÓPRIO casamento. Os convidados iam nos achar fácil, fácil.
- Não antes disso.
Ele a jogou de volta na cama, a beijou até suas bocas ficarem vermelhas.

Caught in the crowd It never ends

- UOU! – parou boquiaberta assim que entrou no quarto, com mais interessado em beijar seu pescoço que na beleza daquele quarto. – Eu pensei que tinha dito que isso era um motel, não um hotel cinco estrelas!
- Todo pra você. – ele a virou e beijou-a na boca.
estava completamente e irrevogavelmente caída aos pés de . Ela simplesmente não conseguia mais parar de pensar em , nas coisas que ele dizia, a fazia sentir... Era incrível. Como um dia ele pôde ter dito que era um péssimo namorado? Não era ele que não prestava, eram as garotas com quem ele saia.
Em apenas duas semanas, tinha se deixado levar pelas emoções e não pôde se sentir melhor que isso em toda a sua vida. Todo dia ligava para , apenas para passar o tempo e marcavam de se encontrar sempre que podiam. As coisas ficavam sérias a cada minuto.
E hoje era a primeira vez deles.
desabotoou a blusa social que usava e enquanto o beijava, passou a mão sobre a tatuagem colorida que ele tinha no peito e desceu do salto, literalmente. terminou de tirar a blusa e os sapatos sem se desgrudar de e passou a mão na coxa dela até encontrar o elástico da meia-calça.
sorriu ao vê-la morder o lábio inferior e desistir de ficar em pé, ao sentar na cama. Quando levantou, puxou-o pelo cinto e fez um caminho da barriga ao pescoço dele alternando entre beijos, chupões leves e lambidas, enquanto tirava as calças dele. Era a vez de sentir as pernas bambearem e sentar.
virou-se de costas e pediu para ele abrir seu vestido, o que fez com muita ansiedade. Finalmente descobriria tudo sobre aquela mulher...
Assim que o vestido tocou o chão, olhou para , sem se virar, com um certo tom de vergonha. Mas ele não se deixou abalar por isso, gentilmente a deitou e olhou o que há tanto tempo ele queria ver.

- Meu amigo, - chegou rindo na casa de – chegou uma conta pra você.
- Ai Deus, essas contas que não param de chegar. – puxou o papel das mãos do amigo. – E que sorriso é esse? Qual a piada do dia?
- Você vai descobrir já, já.
olhou sem entender.
- Ué, mas essa conta não é minha. Tem um tempão que eu não vou nesse lugar! – ele olhou a cara marota de e entendeu tudo. – Ta danado! Mas... Peraí... Você não tinha ido naquele dia com ela?!
- Er... Na verdade não. É, ... A gente te enganou. Nós estávamos num bar perto da casa dela.
- Ah, safado! Eu não acredito, até o telefonema foi fingimento! E eu aqui preocupado em ter atrapalhado!


Like Frankie Said I did it my way

nunca imaginou que alguém toparia fugir do próprio casamento. Só podia ter sido . Onde ele encontraria mulher igual aquela? Impossível, nem se rodasse o mundo três vezes, nem se fosse para marte.
Eles saíram escondido pela garagem e pegaram um táxi. Ligaram para avisar que os noivos já tinham ido embora e para ele cuidar da casa de . A única reação sensata de foi rir do que estava ouvindo, mas acertou tudo bonitinho.
passou o caminho todo refletindo. Não costumava ser religioso, mas se havia uma coisa que precisava agradecer a Deus, era ter encontrado naquela festa. Isso fez sua vida dar uma volta, mudar completamente.
O jeito que se tratavam era tão especial... Uma mistura perfeita de amizade e romance. Exatamente como casais deviam se tratar, amores amigos. Um era parte essencial do outro.
- Ai, . Tem dez minutos que você olha para mim com um olhar tão distante. No que você ta pensando?
A vista do restaurante que ficava no terraço de um prédio em Paris tiraria a atenção de qualquer um, mas não parecia se importar com isso.
- Em nós. No nosso futuro.
E mais uma vez sorriu ao ver os olhos de se esconderem.




Fim.





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