We're Afire Love


Escrita por: Naomiis
Betada por: Vivian Rezende




CAPÍTULO ÚNICO


- Olá vovô! - Thomas chegou perto de seu avô e beijou sua testa, o senhor olhou sorrindo para o menino de cabelos castanhos e voz grossa, mas logo seu sorriso desapareceu dando lugar a uma expressão confusa e assustada.
- Quem é você? - O senhor falou com dificuldade devido sua fraqueza, sua pele que antes era grossa e forte, agora era fina, e se machucava com facilidade, até mesmos o colchão fazia com que suas costas ficassem roxas. O jovem apenas sorriu com tristeza e com algumas lágrimas que se acumulavam nos cantos dos olhos.
- Sou eu vovô! Thomas – Ele disse se aproximando de novo do mais velho, sua avó e seus pais olhavam a cena da porta do quarto onde se encontrava deitado na maior parte do dia, todos ali se fingiam de fortes e não deixavam as lágrimas caírem - O senhor não lembra de mim? - Thomas falou com a voz baixa e delicada como se tratasse de uma criança.
- Lembro de você sim - O idoso sorriu de novo e seus olhos ficaram luminosos - Meu netinho! Você veio para a pescaria? Fale para sua mãe não esquecer de pegar suas fraldas caso você precise.
- Vovô... - O rosto de Thomas agora já estava vermelho, seu nariz e boca foram os primeiros a ficarem assim, ele passou uma das mãos rápido pelo rosto e secou as lágrimas que ali estavam, ele respirou fundo e mordeu o lábio inferior antes de voltar a falar - Eu já tenho 23 anos, não preciso mais de fralda.
- 23 anos já? - tentou se levantar, apoiou no neto que o ajudou a subir menos de 10 centímetros.
- Pois é vovô... - Thomas sorriu divertido para o avô que sorria do mesmo jeito. Os dois ficaram assim mais alguns segundos, então Thomas olhou para a porta do quarto e só viu sua avó ali, sua mãe foi provavelmente chorar e seu pai foi com ela. Ao voltar seu olhar para , ele não estava sorrindo mais, e o jeito de olhar confuso voltava para seu rosto, a memória dele já tinha ido de novo.
Thomas sentiu seu peito doer e um reflexo, por estar segurando o choro fez que seu peito se contraisse, ele sabia que seu avô tinha acabadado de se esquecer dele - Vou te deixar descansar - Ele deu um beijo em sua testa e foi saindo do quarto.
Thomas foi para a cozinha, logo quando desceu as escadas da casa de sua avó, ele conhecia cada parte daquela casa, cada esconderijo, cada centímetro dali, ele conhecia, graças aos seus pais que iam todos os fins de semana com ele para lá, assim como seus outros primos, tios e tias. Ali, foi onde ele passou metade de sua infância, não via chegar a hora para poder ir ver seus avós. Sua avó , era a melhor avó que poderia ter, tinha um restaurante que ficava ao lado da casa, isso significava comidas deliciosas para todos, ela também contava histórias e estórias, todos os netos se sentavam com ela no jardim para poder ouvir o que a senhora contava com animação, seu avô fazia a trilha sonora dos contos de sua mulher, as crianças riam com as caras e bocas da avó e com os sons que o avô fazia. Seu avô, era um antigo musico que trabalhou com grandes astros do mundo, saiu logo cedo, aos seus 20 anos para tocar na Terra da Liberdade, mesmo o Reino Unido tendo seus grandes astros, ele sabia que teria que deixar a terra da rainha para que conseguisse algo bom. E assim o fez, saiu de casa e foi dar a cara pra bater no outro lado do mundo. Foi seu avô que fez Thomas querer ser músico, o jovem se espelhava em seu avô, com todas as forças, ele que comprou a primeira guitarra para o menino, e também ensinou ele a tocá-la, assim como fez com piano e gaita.Tudo que poderia ensinar sobre música, ele mostrava para o neto, que era o único a mostrar interesse pela arte.
- Sua avó, cadê? - Rebeca, mãe de Thomas falou, seu rosto estava vermelho e sua boca e olhos inchados, seu pai, Daniel, não estava diferente, e nem mesmo o menino estava. Todas as vezes que iam visitar seu avô, era a mesma coisa, choros e mais choros vindo de todos da família.
- Na sala... - Thomas respondeu um pouco atordoado, ele pegou um caneca no armário e foi se servindo de chá. Ele então, apoiou as costas na pia da cozinha, colocou um de seus braços sobre a barriga e com a outra ia levando a bebida à boca. Depois de longos minutos sem ninguém falar nada e Thomas ter acabado de tomar seu chá, ele voltou a falar com a voz ainda um pouco abalada - Gostaria que ele lembrasse...
Um choro saiu do fundo do seu ser, Thomas cobriu seu rosto com as duas mãos e foi se afundando na tristeza que tomava conta de seu peito. Ele não gostava de chorar, era sempre o forte da família, mas ver sua maior inspiração assim, doente e fraco, o machucava no mais íntimo. Seu pai deu alguns passos para poder alcançar o filho que ainda chorava com dor, ele envolveu seus braços sobre o menino que se encaixou no ombro dele, como uma criança a ser protegida. Os soluços de Thomas tomavam conta do ambiente, sua mãe saiu do lugar, porque sabia que não iria poder ajudar quando chorava também. Depois de minutos, em que os dois se abraçavam, Daniel deixou seu filho se esvaziar,, sabia que ele estava guardando aquilo desde o dia que tinham descoberto a doença em . Aos poucos os soluços de Thomas iam sumindo, assim como as lágrimas, que agora tinham parado de rolar. Daniel separou seus corpos, mas ainda segurava o filho pelos ombros, os olhos do menino, idênticos a do seu avô, assim como cabelos e sorriso, estavam vermelhos, ele olhava com dificuldade para seu pai que se esforçava para não chorar junto.
- Filho, não é sua culpa que ele não se lembre de você! - O senhor de seus 50 anos falou docemente e viu o filho assentir mordendo o lábio para não voltar a chorar - Você não é o único que ele não se lembra, isso é da doença. Alzheimer é assim mesmo...
O jovem não falou nada, concordou com a cabeça e deu outro abraço em seu pai que o apertou forte, os dois se soltaram e sairam da cozinha.
O dia foi passando devagar, e as horas queriam que aquele dia durasse mais do que somente 24 horas. Thomas ficou ao lado de seu avô na maioria do tempo, agora que estava mais velho e seu trabalho como músico estava indo bem, ele tinha pouco tempo para visitar seus avós, então cada minuto daquele dia ele queria passar do lado de . Ele tentava conversar com ele, mesmo dormindo, e quando estava acordado, demonstrava algumas respostas, algumas faziam sentido, outras não. O jovem perdeu as contas de quantas vezes ele teve que se apresentar de novo para o avô. ia algumas vezes ver os dois e oferecer algo para o mais novo comer, da última vez que fez isso acabou levando alguns biscoitos e chá, a senhora se sentou ao lado do neto em uma das poltronas que estava vazia no quarto.
- Sinto saudades... - quebrou o silêncio enquanto olhava com paixão para seu marido.
- Eu também, vovó...
- Acho que eu nunca contei como a gente se conheceu, não é mesmo? - A senhora sorriu fraco e pousou seu olhar sobre o menino que balançou a cabeça em negação - Você quer ouvir?
- Amaria! - Thomas se ajeitou na poltrona, deixando suas costas retas, pegou uma xícara de chá e fixou seu olhar na avó, esperando ela começar.
- Era 1968 ou 1969, não me lembro bem... - Ela riu de si mesma.
Thomas soltou uma risada abafada, mas ainda deixou sua avó continuar.

"- Em 15 minutos, ok? - Eu falei entrando no camarim, na porta uma estrela dourada com o nome Elvis Presley no centro dela.
- Tudo bem... - Ele cantarolou sorrindo de lado, do mesmo jeito que sempre fazia e deixava todas as meninas da América loucas - E o novo guitarrista?
- Está junto da banda! - Falei olhando para a prancheta com tudo que estava programado para o show de hoje.
- Ouvi ele tocar, muito talentoso... Que pena que é britânico! - Elvis falou brincando e foi chegando perto de mim, que já estava acostumada com isso, ele poderia ser o Rei do Rock, mas ainda era o meu antigo amigo de infância.
- Não fale assim... - Ri com o comentário dele e fui chegando perto da porta sendo seguida por ele. Ele cantava baixinho uma parte de Sweet Caroline, fiz a música no fundo fazendo ele rir, saimos do camarim e fomos rapidamente para o palco, ele estava vestido todo de branco, tinha milhões de pedras coladas em seu figurino, o colarinho sempre levantado e um V que deixava amostra parte do seu peito; o topete estava, como sempre, arrumado, apesar que hoje estava mais baixo do que o normal.
As luzes do teatro onde estava acontecendo o show se apagaram, e só a do palco permaneceu acesa, logo uma gritaria se instalou pelo ambiente e ri junto com ele que respirou fundo e virou para mim.
- Deseje me sorte!
- Boa sorte, Elvis the Pelvis... - Ri do apelido que o povo tinha dado para ele, graças aos seus passos de dança, que eram muito para aquela época.
Os gritos das meninas logo cresceram, quando ele subiu ao palco, ri comigo e fui caminhando com calma para o outro lado do palco, saindo do lado do coro e indo para o lado dos músicos, passei o olho pela plateia e sorri.
- Casa cheia - Falei para mim e olhei para a prancheta verificando se faltava algo - Tudo certo, posso curtir mais um pouco até In The Ghetto... - Voltei a falar comigo mesma e depois balancei a cabeça notando que eu estava parecendo louca. Olhei para meu amigo que se mexia todo enquanto cantava Johnny B. Goode, as meninas se descabelavam e pulavam, quando chegou parte do solo de guitarra procurei o nome do guitarrista no meio de tantos músicos, e lá estava ele - ... Falei lendo o nome dele em minha prancheta e voltei meu olhar para o menino novo, e ele era a coisa mais linda que eu já tinha visto, seus olhos e sua pele branquinha me prenderam os olhos. Ele mordeu o lábio inferior enquanto tocava o solo animado, seu cabelo estava com um topete jogado para frente, as maçãs do rosto, que é marca nos britânicos estavam ali, fazendo o rosto fino dele ficar ainda mais bonito. Ao final do solo, a luz que se manteve nele até então foi ficando fraca, ele deu um passo para trás voltando para seu lugar.
- Deus, salve a rainha... - Falei ainda boquiaberta - E todos os seus súditos!

-


- Ótimo show rapazes! - Elvis falou sorrindo para todos os músicos em sua volta - Vocês foram fantásticos essa noite, agradeço por todos! Hoje foi o primeiro show dessa tour, e foi a primeiro do nosso novo membro da família! pessoal, que mandou ver nos solos hoje. - Elvis falava animado e abraçou de lado, o jovem por outro lado estava vermelho de vergonha, mas sorria descontraído - Hoje, vamos comemorar! Espera - Ele parou de repente e olhou para quando todos estavam à caminho do bar que sempre íamos - Quantos anos você tem? Você pode beber? Porque se for menor, vai ter me acompanhar no suco de maçã...
- Tenho 24 - sorriu para o rei.
- Ah... Igual a minha amiga aqui... - Elvis apontou para mim que estava um pouco atrás o seguindo, como sempre fazia. O olhar de pela primeira vez encontrou o meu, ficamos nos olhando durante segundos, afundando um dentro do olhar do outro até Elvis cortar o silêncio – Essa é , melhor amiga desde quando ela tinha 15 e eu 25... Estou ficando realmente velho - Ele riu e riu junto. - Ou eu sou muito nova! - Me pronunciei pela primeira vez e me coloquei na frente do jovem britânico - Prazer - Estendi a mão e o cumprimentei, ele pegou minha mão e um arrepio subiu pela minha espinha. Ele sorriu bobo, quando soltamos as mãos, Elvis nos encaixou, cada um em um dos braços, e foi nos levando para fora.

-


Os músicos já tinham todos ido embora, só ficando eu, , alguns cantores do coro e o saxofonista. O rei tinha ido embora fazia tempo. Uma música calma tocava e alguns casais ainda dançavam, tinha me tirado para dançar e passamos metade da noite dançando, mas agora apenas músicas românticas tocavam e isso me deixava um pouco incômoda.
- Essa música é horrível - parou de repente a conversa que estava tendo com o barman para reclamar da música.
- É de um dos seus... - Falei divertida, recebi uma careta em troca.
- Normalmente, quem faz músicas boas somos nós... Britânicos!
- É... As vezes - Sorri para ele que ia se levantando e indo até a Jukebox. Ele ficou um tempo parado lendo as músicas que a máquina possuia, sorriu largamente e olhou para mim, mostrando seus lindos dentes brancos, o vi apertando a sequência de números e logo um disco se moveu no meio de tantos. Antes da música começar, ele andou rapidamente em minha direção, um sorriso de lado não saia do rosto dele, e minha cara de confusa era o que ele tinha em troca. Ele pegou minha mão assim que conseguiu chegar em mim.
- Você poderia dançar essa música que vai mudar a sua vida? - Ele disse galanteador me fazendo rir.
- O que uma dança poderia mudar em minha vida?
- Dance comigo, e eu te explico - O sorriso dele aumentou e eu me rendi, levantei da cadeira e fui sendo levada por ele até o centro do lugar.
I Can't Help Falling in Love With You começava a tocar, a voz do rei saia pelas caixas de som e me fazia rir. Ele ria junto e olhava no fundo dos meus olhos, eu aos poucos fui deixando de rir sobrando somente um sorriso bobo no rosto.
- Pode me falar agora, como essa dança vai mudar minha vida?
- Simples, essa dança... - Ele rodou comigo pelo salão - Vai ser a primeira, e uma das mais importantes também!
- Uma das? - Fiz cara de confusa e ele riu.
- Sim, uma das.... - O sotaque britânico era a coisa mais gostosa que já tinha escutado, poderia não estar entendendo nada e nem onde aquela conversa chegaria, mas só de ouví-lo falar, já era motivo para eu ficar sorrindo como boba - Porque essa, é a primeira, como eu falei muito importante. Mas não tão importante como a do dia que a gente casar!
- Casar? - Minha voz saiu em um tom acima e ele riu. Tentei me soltar na dança, mas ele foi mais forte, ele não estava me machucando, apenas me segurando para que nossos corpos continuassem juntos.
- Sim, casar... - Ele dançava com calma e ainda olhava nos meus olhos, que agora eu evitava olhar, mas era impossível já que estávamos tão perto um do outro - Escute seu coração... E agora o meu, estão batendo juntos, na mesma sincronia. Desde que eu coloquei meu olhos em você eu soube que você é a mulher da minha vida, eu poderia passar a vida olhando para você, olhando para esses seu lindos olhos.
- Todos os britânicos são assim?
- Assim como?
- Poéticos para conseguir uma menina?
- Ah! - Ele riu abafado - Não, nós não somos assim. Só quando sabemos que encontramos o amor da nossa vida.
- Você... - Falei sorrindo de lado. Nunca alguém tinha falado aquilo pra mim, mas eu sempre fui sensata, não deixei meus sentimentos tirarem o lugar da razão - Você me conheceu hoje...
- Escreve o que eu estou te falando. Nós ainda vamos nos casar...
- Você é louco! - Falei e a música tinha acabado, ele me soltou, mas as nossos mãos ainda estavam juntas.
- Sim, louco... Por você, Norte Americana..."


- Wow! - Thomas falou rindo e impressionado com a história.
- Seu avô sempre foi um homem de atitude... Acho que eu me apaixonei por ele naquele dia... - Ela olhou para a cama onde o senhor dormia, seu olhar de amor ainda era o mesmo.
- Mas demorou para que a senhora se rendesse aos encantos do vovô?
- Não muito - Ela riu - Depois que eu contei para Elvis o que tinha acontecido ele ficou decidido a juntar a gente... Um bobo... Lembro quando eu parei de trabalhar com ele para vir para cá e abrir meu primeiro restaurante... Ele vinha quase todos os meses me ver e ver seu avô... Ele foi um bom homem... Assim como seu avô!
- Eu sei... - Thomas falou sorrindo e olhou seu avô - Bom, vou para cama, já está tarde.
- Ok querido, durma com Deus! - Thomas se levantou e beijou o topo da cabeça de que sorriu. viu seu neto saindo do seu quarto e logo fechou a porta quando o jovem sumiu pelo corredor. A senhora foi caminhando em passos pequenos e nem tão rapidos, ela chegou perto da cama onde o amado estava e sorriu se sentando a beirada, ela passou as mãos pelos cabelos finos dele, e ele abriu os olhos e sorriu, ela sorriu de volta.
- Olá meu amor - Ela falou e sorriu docemente.
- Oi...
- Lembra de mim?
- Eu lembraria de conhecer uma mulher tão linda como você! - Ele sorriu e seus olhos pareciam sorrir junto.
- Seu bobo - Ela se aproximou do amado – Obrigado por aquela dança... Você é realmente o amor da minha vida.
- ... - O senhor agora sorria por reconhecer a mulher em seus braços - Eu te amo tanto minha Norte Americana.
- Eu também, meu Britânico Poético... - Ela riu e segurou em suas mãos, desejando que a memória dele não fosse, não agora. Ela beijou a bochecha dele e sussurrou- Hoje foi um bom dia...
- Foi... - Ele respondeu sorrindo, mas não sabendo exatamente do que ela falava, ela tomou distância dele, olhava cada parte do rosto dele. Ela se encaixou do lado dele, apesar de fraco ele se esforçou para tocar no cabelo dela, ela sorriu e fechou os olhos. O sorriso dela foi sumindo e logo os dois pegaram no sono, aos seus 91 anos, os dois dormiram pela ultima vez juntos. Com o cair da noite o último suspiro que foi dado pelos dois foi dado juntos, assim como a primeira dança dele foi com ela e a dela foi com ele. Os corações que batiam em conjunto, no mesmo ritmo, agora, depois de anos, pararam juntos, no mesmo ritmo.




FIM



Nota da autora: (23/01/2015) - Sem nota.


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