Escrita por: Ana Mércia
Betada por: Bruna




CAPÍTULOS: [16] [17] [18] [19] [20] [21] [22] [23] [24] [25] [26] [27] [28] [29] [30] [Epílogo]



Capítulo XVI


continuava a encará-la, incrédulo. O peito de subia e descia com sua respiração ofegante, seu rosto estava molhado novamente, porém, não transparecia tristeza, e sim, amargura.
Talvez fosse loucura de sua parte, mas era o que desejava agora. Muitas vidas, mesmo que culpadas, foram tiradas pelos comandos de seu pai. O que seria mais justo que um de seus comparsas fizesse isso com ela, agora? Steve era um bom homem, mas com certeza encontraria outra pessoa, alguém que fosse tão perfeita quanto ele.
Audrey sentiria sua morte, porém Philip a ajudaria a superar. Mas ? não tinha mais nada a perder. Ela não se sentia digna de ocupar mais algum lugar no mundo. Ela não tinha esse direito.
- Enlouqueceu? Eu não vou fazer isso. – colocou a arma travada dentro da calça.
- Por que não? – fungou, cruzando os braços. – Eu quero que faça. Eu quero que olhe nos olhos do meu pai e diga que conseguiu, que você venceu dessa vez. – suspirou, desviando o olhar. – Por favor... – sussurrou, mordendo o lábio inferior.
- Se existe uma coisa que esse tempo me fez aprender foi que essa vingança toda não adiantaria de nada. – deu os ombros, olhando-a. – Eu iria te matar, iria sofrer... E eu? O que ganharia com isso?
- A chance de vê-lo derrotado – voltou a encará-lo – por você.
soltou um riso baixo, sarcástico.
- Isso seria algo que eu gostaria de ver antes de morrer... – ela entreabriu os lábios para dizer algo, mas ele continuou: – Mas não dessa forma, não tendo que matá-la. - Por quê?
- É tão difícil assim acreditar que você foi especial pra mim? – sorriu irônico, fitando o chão. – Eu nunca faria isso, mulher. – ergueu a cabeça, com um sorriso torto brincando nos lábios.
- É errado eu continuar aqui depois de tantas vidas perdidas...
- Se existe alguém que não devia continuar aqui era seu pai... – colocou as mãos nos bolsos e respirou fundo. – E eu. E toda aquela quadrilha.
- Você não fez por mal... – sussurrou, mas ele foi capaz de ouvir. O que ela queria dizer com aquilo? Ela estava achando que ele fora realmente inocente em tudo? negou com a cabeça e desviou o olhar rapidamente, logo voltando a encará-la.
- Eu fiz, ... Eu não era mais um garoto que não tem noção dos seus atos. Não quero defender o , de forma alguma, jamais – riu, abanando o ar. – Mas quando eu e entramos naquilo, sabíamos o que viria mais à frente... Os assassinatos, os perigos, tudo. E no começo tudo parecia melhor mesmo... Sem sentimentos, sem medo, ninguém mais nos maltratava. Era bom, nos sentíamos como super-heróis combatendo o crime... O que nos esquecemos de pensar era que fazendo isso, estaríamos fazendo parte do crime também. – fez um coque no cabelo e continuou a prestar atenção no que ele dizia. – Quando fomos perceber que era errado, que havíamos morrido por dentro... Que havíamos um gelo no lugar do coração, resolvemos parar. Mas foi tarde.
- Não importa mais. – respirou fundo, indo até o sofá e se arrumando nele. – Certo, , eu não vou fazer nada. Sou covarde demais para isso. – fitou as mãos que estavam inquietas em seu colo.
Ele se sentou ao lado dela.
- Ou inteligente demais para saber que não irá ganhar nada com isso. Ninguém irá. – sorriu fraco. – Mas, só por via das dúvidas, você não sai dessa casa enquanto não amanhecer.
- E devo supor que você ficará vigiando meu sono enquanto durmo tranquilamente em sua cama, correto? – questionou irônica.
- Não me parece má ideia.
Ela o olhou, incrédula.
- Vai me manter prisioneira agora? Eu já disse que não vou fazer nad...
- Papai? – uma voz doce disse, e eles olharam de onde vinha. Aaron havia acordado e segurava seu ursinho de pelúcia, enquanto olhava para . – É ela, papai! – apontou para , que mordeu o lábio, sem graça.
- Ei, filho... – se levantou e caminhou até ele. – Não é hora de criança estar acordada, não é? – Aaron deu os ombros, enquanto tirava a chupeta e a limpava em sua roupa.
- Oi, Aaron. – acenou com um sorriso tímido no rosto. Ele cruzou os braços, emburrado. Ela caminhou até ele. – Eu sei que não começamos muito bem... – se abaixou em sua altura. – Eu não queria machucar o seu pai, só estava chateada.
Aaron abraçou a perna do pai e o olhou, em dúvida. assentiu, sorrindo.
- Está tudo bem, campeão.
- Quantos anos você tem, garotão? – ela tentou, com um sorriso um pouco maior. O pequeno fez um “três” com os dedos e sorriu, mesmo por baixo da chupeta.
- Quase três, né, filho? – o pegou no colo e ele encostou a cabeça na do pai. sorriu com a cena.
- Você já é quase um homenzinho! – ela riu, buscando a mão dele.
sorriu também, observando o gesto dela. Por baixo daquelas roupas mais sofisticadas, daquele cabelo mais curto e de sua feição mais madura, conseguia enxergar a mesma de quase três anos atrás. A mesma pela qual ele se apaixonou, a mesma que parecia ser a razão e solução de seus problemas.
- é miga do papai? – questionou, depositando uma das mãos no rosto do pai.
O ex-casal se encarou, ambos incertos.
- Acho que sou, sim. – sorriu fraco, soltando a mão da criança. Ele bocejou.
- Bem, acho que já está na hora de voltar pra cama, não? – disse, olhando para o filho, que desceu a cabeça para o ombro dele. – Eu posso confiar que você não vai embora? – olhou para a outra.
- Pode.
- Mesmo?
- Eu não vou embora, . – o olhou nos olhos e ele assentiu, saindo. – Boa noite, Aaron. – sorriu, acenando.
- Ba noite! – disse alto, acenando também.
caminhou até o novo quarto do filho e o depositou na cama, devagar.
, sem saber mais o que fazer na sala, decidiu ir a passos leves ao quarto onde Aaron e o pai estavam. Ela parou na porta e se se encostou ao batente da mesma, observando a cena que via. estava ajoelhado ao lado da cama do filho, afagando os cabelos do pequeno e cantarolando uma canção de ninar qualquer. não deixou de sorrir com o que via; ele era um grande pai.

- Ei campeão, me perdoa? – sorriu, pegando o filho no colo e balançando-o levemente. – Juro que não vou mais fazer isso, pode ser? – riu, indo até a bolsa que havia trazido com as coisas do filho e pegando uma mamadeira, que estava morna. – Tá com fome, né? – colocou-a na boca do filho, que parou de chorar na hora. – Pois é, seu pai também estava. – maliciou e pôde ouvir a gargalhada de repreensão de , que estava na porta. – Que susto! – exclamou, olhando-a e rindo.

Ela se lembrou da cena e sorriu ainda mais. Quase três anos já haviam se passado desde então, mas tudo parecia tão semelhante.
Alguns minutos se passaram e a criança dormiu, devia ter voltado para a sala, mas não sentiu vontade de sair dali, queria continuar os observando.
virou-se em silêncio e arregalou os olhos, não esperava encontrá-la ali, ainda mais com aquele sorriso no rosto. Ele caminhou até ela e fechou a porta atrás de si.
- Eu disse que você seria um ótimo pai. – sussurrou, sorrindo.
- Estou aprendendo. – passou a mão na nuca, sem graça. riu, com a cabeça baixa. – Já é quase cinco horas. – suspirou, voltando a andar até a sala. Ela o acompanhou.
- Desconfiei que fosse mais ou menos isso, mesmo... – mordeu o lábio, olhando em volta. se sentou no sofá e jogou a cabeça para trás, cansado. – Eu... já vou voltar pra casa, ok?
- Tá escuro ainda, pode ser perigoso. – voltou a olhá-la.
- Acho que morrer não é muito uma coisa que está no meu destino, . – riu sarcástica e ele desviou o olhar, estalando os dedos. – E além do mais, boa parte de Nova Iorque já deve estar acordada.
- Você é quem sabe. – sorriu fraco, se levantando e indo até a porta. – Foi um prazer te rever, .
- Obrigada por me contar sobre tudo. – caminhou até ele. – Acho que essa é a despedida que deveríamos ter tido, não é? – sorriu fraco e ele a encarou, pensativo. – Eu não quero te trazer problemas com o , . – soltou o ar pela boca, devagar. Estava tensa. – Ele não vai saber que nos vimos, ok?
- Eu agradeço. – colocou as mãos nos bolsos da calça, inquieto. – Boa sorte com tudo... – ela franziu o cenho. – O casamento. – deu os ombros.
- Obrigada. Boa sorte também... – sorriu fraco. – Eu vou... – apontou para a porta, desconfortável. – Vou embora... – coçou a nuca, sentindo a respiração falhar. Não queria dizer adeus, não de novo. – Tchau, . – Ele a viu morder o lábio inferior e logo depois dar mais um pequeno passo em sua direção. E então o abraçou. A surpresa dele fora tão grande que por um momento não retribuíra o abraço, mas o fez logo que assimilou as coisas. A cabeça de estava em seu peito, ela fechou os olhos com força e enterrou o rosto ainda mais ali. acariciava com ternura os cabelos dela. Ele colocou o rosto dentre seu ombro e pescoço, deixando-se vislumbrar um pouco de seu perfume que parecia tão mais agradável do que qualquer coisa que já sentira em toda a vida. Ela fechou os olhos e respirou fundo, tentando manter-se em si.
Um minuto, talvez dois, ou mais, eles não souberam quanto, mas depois de um tempo que pareceu tão curto, eles se separaram e se encararam, quietos.
Ela abriu a porta e sentiu a brisa da madrugada em seu rosto, fazendo com que o cheiro de se afastasse mais breve do que imaginara. deu alguns passos para frente e virou-se novamente, ele continuava olhando-a. Ela acenou com um pequeno sorriso e logo saiu, cruzando os braços, com a necessidade de se sentir mais segura.
- Até logo, . – sussurrou, vendo-a entrar em seu carro. Assim que o veículo começou a andar, ele fechou a porta e encostou-se a ela. – ... – mordeu o lábio e caminhou até o sofá. fechou os olhos e passou a mão pelos cabelos, logo depois jogou sua cabeça para trás e respirou fundo, tentando concentrar-se em outra coisa a não ser , e .

- Esquece, esquece! – dizia, como um mantra. Ela estava a poucos minutos de chegar em sua casa, mas o rosto de ainda continuava insistentemente em sua cabeça. Seu sorriso, seu olhar de pai, seu abraço, suas lágrimas. Ela bateu no volante, tentando voltar a si, em vão.
O celular apitou em sua bolsa e ao estacionar em seu prédio ela o buscou, lendo a mensagem:

“Oi, meu amor! Sei que você ainda deve estar dormindo, mas eu já estou acordando... Aliás, já falei o quanto eu odeio fuzo-horário? Eu odeio, haha! Espero que tenha um ótimo dia, minha linda. Nos falamos mais tarde. Eu te amo.”

Ela fechou os olhos com força. Como queria poder compartilhar desse sentimento com Steve, mas não era assim, infelizmente não. desceu de seu carro e logo subiu para seu apartamento, onde foi logo para o quarto, ela precisava dormir o mais rápido possível.
Sem ao menos colocar algum pijama, ela se deitou na cama e inesperadamente o sono veio. Talvez fosse o cansaço... Ou o alivio que sentia.
O sol maçante entrou pela janela de seu quarto e se bateu mentalmente por ter se esquecido de fechar a janela quando se deitou. Mesmo com a mínima vontade de sair de suas cobertas quentinhas, ela se levantou e foi à janela, encarando o sol que já brilhava mais do que forte. Ao olhar para o lado, viu que o relógio da marcava 13h05, ela arregalou os olhos e decidiu já ficar acordada. Apesar de ter folga no dia, sabia que dormir mais do que aquilo seria perca de tempo. Dormir, na verdade, era perca de tempo.
Depois de observar um pouco o dia através de sua janela, ela caminhou até a cozinha para preparar um café forte. Enquanto preparava o café, se lembrou da mensagem que seu noivo a mandara e correu até o quarto para buscar seu celular, assim que o buscou, respondeu a mensagem o mais rápido que pôde:

“Bom dia, amor :) Desculpa a demora pra responder, meu dia foi bem cheio. E como está indo aí? Gostando ou se entediando? Espero que gostando! Beijos, e eu também.”

Ela respirou fundo e observou a tela do celular enquanto a mensagem era enviada. Alguns poucos segundos depois o visor indicou que o celular estava tocando: Audrey.
- Oi, Audy. – disse, sentando-se em sua cama.
- ! – exclamou. – Finalmente você atendeu, eu to ligando pra você desde as 09h00, tem noção?
rolou os olhos, impaciente.
- Eu não ouvi tocar e não apareceu nada aqui no celular, desculpa. – suspirou. – O que aconteceu?
- Como assim “o que aconteceu?”? – disse, incrédula. – Você sai da minha casa ontem disposta a encontrar o e aparece não sei quantas horas depois me perguntando o que aconteceu?!
- Tivemos uma longa conversa... E olha só que ótimo: eu descobri que continuo apaixonada por ele. – riu irônica.
- Você só descobriu o que eu já havia falado ontem. O que ele disse? O que você disse? Rolou um clima?
- Audrey, podemos conversar depois? – a outra ia dizer algo, mas ela a interrompeu: – Obrigada. – desligou e respirou fundo, olhando para a sua mão esquerda, onde uma aliança de prata com um pequeno diamante brilhava. Ela deixou seu corpo cair sobre o colchão e fitou o teto. Nunca o mundo parecera tão confuso. Steve era a calmaria, era a tempestade. Steve era um príncipe, era o badboy. Steve era o certo, era o errado.
Steve era o certo.
Steve era o cara certo.
Steve te ama.
Ela fechou os olhos, tentando seguir o que sua consciência lhe dizia, mas algo a impedia de se concentrar neste mantra: seu coração.
- Quatro meses, . Quatro meses. – sussurrou para si mesma, abrindo os olhos logo depois. – Quando a minha vida finalmente está arrumada, você volta pra bagunçar ela toda, . – mordeu o lábio, sentando-se devagar na cama. – Eu vou acabar enlouquecendo... – colocou o rosto entre as mãos, ela precisava se esclarecer.

Dois dias haviam se passado desde o reencontro de e . Ambos não haviam se visto ou trocado mais uma só palavra desde então, o que doía para ambas as partes, já que pensar na possibilidade de estarem tão pertos um do outro e não poder se ver era incrivelmente agoniante. Tão perto e tão longe.
queria dar uma basta nisso, não era possível que os comparsas de vigiassem vinte e quatro horas por dia. Ao deixar Aaron na nova escolinha, ele pegou um táxi e foi até o antigo apartamento de .
O noivo dela ainda não havia voltado de viagem, ou havia? Ele não sabia, mas a única coisa que lhe importava agora era vê-la de novo. Ver seu sorriso, seu olhos, ouvir suas palavras e risadas. era uma droga e estava viciado. De novo.
entrou no prédio assim que um carro passou pelo estacionamento, ele não queria ser visto, não poderia correr esse risco. Ao pegar o elevador, ele se encarou no espelho e riu, achou que jamais voltaria àquele lugar. Ainda observando seu reflexo ele pôde ver o quanto mudou desde a última vez que se olhara ali. Seu corpo estava maior, os braços mais definidos e as costas mais largas, resultado das duas horas diárias na academia do prédio de onde morava no Canadá. Seu cabelo estava um pouco mais curto, e ele havia adotado uma barba mal feita no rosto, que parecia bem menos fragilizado do que há dois anos. As olheiras já não eram tão mais profundas e escuras, o olhar não era mais tímido, amedrontado. Ele ergueu a sobrancelha, colocou as mãos nos bolos da calça jeans e se encarou, rindo logo após.
O barulho insistente do elevador tocou anunciando sua chegada ao nono andar, ele respirou fundo e saiu, tocando logo a campainha.

- Quais são as novidades sobre a , Garcia? – disse, enquanto encarava o notebook em cima de sua mesa.
Há dois anos, havia mandantes por toda parte para vigiar a própria filha. Uma vez por mês, pelo menos, ele exigia um relatório detalhado sobre a rotina de . Amigos, trabalho, noivo, novas companhias e até mesmo passeios. Era desse jeito que ele achava que estaria a protegendo. Estaria mais próximo dela assim.
- Tudo normal, exceto por uma coisa. – o homem analisou alguns papeis.
- Que coisa? – desviou o olhar da tela do computador para olhar Garcia, que continuava a analisar o relatório.
- O porteiro de disse que ela chegou em casa às cinco da manhã, ontem.
- Eu ainda não vi o que há de errado nisso. Ela não poderia ter saído com o noivo e voltado tarde? – cruzou os braços, confuso.
- É claro que sim, senhor. – olhou para o chefe. – Isso seria completamente normal se o noivo dela estivesse no país.
O outro se levantou, indo até o empregado.
- Onde ele está?
- México, algo sobre palestras de medicina. – o mais velho assentiu, pensativo.
- E aquela amiga dela, Audrey? Ela não pode ter saído com ela?
- Isso parece fora de cogitação, senhor, já que ela Audrey não costuma ir a esses lugares há um bom tempo, como lhe dissemos há alguns meses.
- Há mais alguma informação sobre isso, Garcia?
- Não. Isso é tudo.
- Certo... – caminhou de volta à sua mesa. – Quero que coloque alguns homens para checar tudo de perto, caso isso volte a acontecer.
- Eu o farei, senhor . – respirou fundo e saiu da sala.
- É impossível que ele tenha voltado, não é? – disse consigo mesmo, pensativo. – Ele não seria tão idiota a esse ponto... – observou o porta-canetas que estava em sua mesa. – Quase três anos já se passaram, isso está totalmente fora de cogitação. – chacoalhou a cabeça, tentando espantar aqueles malditos pensamentos da cabeça. Qual a ligação, afinal, poderia ter esse breve sumiço de Emma com ele? Sua filha poderia estar em qualquer lugar, em alguma festa ou na casa de outra amiga, quem sabe. não poderia ter voltado, ele era esperto demais para isso, sabia que se o fizesse estaria morto. E não tinha dúvidas sobre isso, o eliminaria em segundos. não teria encomendado seu atestado de óbito, teria?


Capítulo XVII


Música I
Música II

havia acabado de chegar de mais um dia exaustivo de trabalho. Aquela gráfica estava lhe sugando até a última gota. Nunca chegou a pensar que design talvez não fosse a profissão certa, mas talvez essa fosse a hora de repensar. Ao colocar os pés sobre o sofá, na intenção de descansá-los, buscou o controle remoto que estava em cima do mesmo. Ao ligar a televisão, entretanto, não pôde disfrutar de seu almejado descanso, já que o barulho insistente da campainha chamou-lhe a atenção.

Desde quando o porteiro não lhe mencionava sobre suas visitas antes de deixá-las subirem? Ela bufou, rolando os olhos, e caminhou sem a menor vontade até a porta, abrindo-a logo em seguida. Ao visualizar a figura alta, bem vestida e extremamente cheirosa em sua porta, ela não teve outra reação a não ser arregalar os olhos e entreabrir os lábios. Estava completamente surpresa.
- Como você... – sussurrou, apontando para o elevador. Sua testa continuava franzida. O que fazia ali?
- Entrar num prédio assim é mais fácil do que você pensa, – ele sorriu misterioso, olhando-a. Ela deu espaço para que ele entrasse. – Você está ocupada?
- Não... – fechou a porta e o olhou ainda meio aérea com o fato de sua visita sem aviso prévio. – Cadê o Aaron?
- Na nova escola, eu o deixei lá e decidi passar aqui pra... Não sei, te ver – deu de ombros, ainda sorrindo, mas dessa vez ela quase pôde ver um pouco de rubor nas bochechas dele.
- Eu... Eu achei que aquela conversa na sua casa havia sido o ponto final... – fitou o chão rapidamente, mas logo voltou a encará-lo.
- Você queria que fosse? - seu sorriso se fechou um pouco, transformando-se apreensivo.
- Não – disse rápido. Talvez rápido demais. – Mas... já que você está aqui e, enfim, acho que podemos ser amigos, não é? – sorriu fraco, colocando as mãos nos bolsos da calça jeans escura e torceu para que ele não visse o fraquejar de sua voz. Deus, o que aquele homem tinha que lhe fazia se sentir assim? Tão frágil, tão... desprotegida.
- Eu adoraria que fôssemos – encarou-a, voltando a sorrir como minutos atrás. Ela desviou o olhar, suspirando.
- Acho que estamos zerados, afinal. – riu, sentindo o celular vibrar em seu bolso. – Só um minuto. – pediu, atendendo o aparelho. – Alô? Oh, sim, ela mesma. Tudo bem. Não, não, os meus convites eram brancos com os detalhes em dourado. – fitou o chão, já imaginando de que convites se tratavam. – Retangulares, sim. Isso mesmo. – ela suspirou, sentindo seus ombros pesarem. Estava tão tensa. – Eu posso te ligar mais tarde? Estou ocupada agora. Obrigada. – desligou o aparelho.
estava de costas, encarando a estante de , que estava cheia de porta-retratos seus e de Steve. Ela respirou fundo, desconfortável com a situação. Era para ele estar ali, com ela. Era para ela estar cuidando do convite do casamento deles. Era para ser a merda de seu noivo.
- Steve deve ser um cara legal. – disse, pegando um dos porta-retratos nas mãos e observando-o. Nele, estava sentada no colo de Steve, no natal passado. Eles sorriam estonteantes.
- Ele é. – disse baixo, caminhando até ele.
- Ele parece te fazer feliz. – olho-a, de soslaio.
- Ele faz. – observou a foto também.
- Você deve amá-lo... – sussurrou, incerto.
O silêncio tomou conta do ambiente. Um silêncio extremamente desconfortante, diga-se de passagem.
colocou o retrato de volta à estante e virou-se para ela, ficando há alguns centímetros de seu rosto.

(Play na I)

- Você o ama, ? – levou a mão para o rosto dela, acariciando com cuidado sua bochecha. Ela fechou os olhos, sentindo o carinho. não respondeu novamente. – Você não o ama. – sorriu e ela abriu os olhos, encarando os dele.
- Eu amava... Ou pelo menos achava que sim, até dois dias atrás. – disse com calma, erguendo uma das mãos e tocando-a na de , que continuava a acariciar seu rosto. – Até você voltar e acabar com todo o conto de fadas que eu estava vivendo. – o sorriso dele se desfez. – Ainda bem que eu nunca tive muita vocação pra princesa, mesmo... – mordeu o lábio, vendo-o franzir o cenho, confuso. – Minhas Barbies sempre brincavam com o bonequinho de guerra do meu primo... Era mais legal do que com o Ken.
Ele sorriu novamente, entendendo o que ela queria dizer com aquilo.
virou o rosto devagar para alcançar a mão de , que continuava acariciando sua bochecha; ela então a beijou delicadamente, enquanto mantinha os olhos fechados, na tentativa de desfrutar ainda mais daquele momento.
levou a outra mão para a cintura dela e acariciou a mesma. Ela ergueu o outro braço e enlaçou o pescoço dele. aproximou o rosto ainda mais do de , deixando sua boca há milímetros da dela; ele roçou seus lábios e pôde sentir o hálito quente que ela expirava, suas respirações estavam pesadas.
- Você não imagina o quanto eu senti a sua falta. – sussurrou, e, no próximo segundo, seus lábios já estavam nos dela, num beijo calmo. Eles não precisavam de pressa, não agora.

entreabriu os lábios, dando passagem para a língua de , que logo a invadiu sem pudor. Ela levou a outra mão à nuca dele e a acariciou, enquanto sua outra mão ia dar atenção aos seus cabelos, entrelaçando seus dedos nele e puxando-os levemente. Suas línguas eram sincronizadas, talvez aquilo pudesse ser comparado a uma coreografia bem ensaiada de ballet. Tudo parecia tão treinado, era como se seus lábios tivessem sido feitos um para o outro. O encaixe perfeito. A perfeição estava tão próxima que eles tinham até duvida se aquilo era mesmo real ou somente fruto de suas férteis imaginações. Não era um beijo como os de anos atrás, era verdadeiro e ambos podiam sentir isso.
O coração dos dois só parecia acelerar a cada segundo que aquele beijo durava, seus corpos esquentavam e a vontade de tê-los mais próximos ainda era mais do que uma necessidade.
Alguns poucos segundos – que pareceram ser os melhores de suas vidas nos últimos tempos – se passaram e, por menos que quisessem, foi inevitável que o beijo terminasse. O ar se esvaiu de seus pulmões, e seus lábios se afastaram minimamente. Mas, diferente do que pensara, não afastou seu rosto do dela, pelo contrário, ele virou os lábios para tocarem sua bochecha, desceu para o maxilar e parou em seu pescoço, depositando delicados beijos naquela pele exposta, tão atrativa aos seus olhos.
Ela fechou os olhos novamente, sentindo o carinho dele. Queria ter coragem e vontade de se afastar, mas era como um imã, seu corpo precisava estar junto ao dele, pelo menos naquele momento. Pelo menos naquela vida. desceu os braços para as costas dele e as acariciou, sentindo-o apertar ainda mais o abraço que dera em sua cintura.
ergueu a cabeça e olhou-a nos olhos – que agora estavam abertos. Ambos sorriram e encararam os lábios um do outro, que estavam vermelhos e minimamente inchados. Eles riram baixo.

- Você parece ainda mais linda do que antes. – sussurrou, ainda com o sorriso bobo brincando em seu rosto.
- Acho que posso dizer o mesmo de você. – mordeu o lábio, olhando para a boca dele. – , eu... – fechou os olhos por alguns poucos segundos, parecendo pensar. – Eu preciso de um tempo. – abriu-os novamente, se deparando com aqueles olhos tão lindos quanto os dele, que refletiam tanta coisa. Tanta calma. A calma que precisava para continuar. – Pra pensar em mim, em nós... Em tudo. – respirou fundo, observando cada pequeno detalhe do rosto do outro. Cada pequeno sinal, cicatrizes, sardinhas. Ela sorriu carinhosa.
- Já entendi. – riu, tirando as mãos da cintura dela e erguendo-as, em sinal de rendimento. – O tempo que for necessário. – abaixou as mãos novamente e ela assentiu sorrindo como se dissesse “obrigada”. – Steve está viajando, não está?
- Sim. – assentiu, sorrindo fraco. Ele tinha que falar o nome dele agora? – Nos vemos em breve. – ergueu um pouco o corpo e lhe deu um selinho demorado. – Eu prometo. – sorriu, lhe dando outro selinho.
- Vou esperar. – riu novamente, caminhando em passos curtos até a porta, não queria deixá-la. Nunca mais. Nem por um só dia. – Até logo, . – acenou, saindo pela mesma.
Ela fechou os olhos e sorriu, mordendo o lábio, lembrando-se de minutos atrás. Seu coração continuava acelerado, tudo acontecera tão rápido. Tão surpreendente. abriu os olhos e levou os dedos aos lábios, traçando cada detalhe do mesmo, como se pudesse ainda sentir a boca de sobre a sua, o sabor dele. O toque de seus lábios sobre os dele e a sensação tão indescritível que aquilo lhe proporcionava. Era diferente de qualquer outra que já pensara sentir em toda a vida.
Mas, ao passar o olhar sobre o cômodo, avistou o porta-retratos que segurava há minutos, sua feição se fechou. O sorriso que antes habitava seus lábios havia se desfeito rapidamente, dando lugar a um semblante de culpa. Sabia que trair Steve não era certo, de forma alguma. Queria poder esquecer-se da existência de , mas sabia que nunca conseguiria tal feito. Ele era importante e especial demais para isso. Seu coração gritava por ele, mas sua mente fazia questão de apitar como um letreiro em letras enormes e chamativas: “Perigo!”. Se antes tudo estava confuso, agora ela não tinha nem mais ideia de seu próprio nome.
- Me perdoa. – Passou os dedos delicadamente sobre o vidro fino que cobria a foto onde estava com Steve.
passou brevemente os olhos pelo móvel e avistou um pequeno pedaço de papel branco amassado. Ela franziu o cenho, confusa. Aquilo não estava ali há alguns minutos. Mesmo contrariada, decidiu por fim pegar o papel e abri-lo, desamassando-o. Ao encarar as letras pequenas, meio tortas e ainda assim, incrivelmente bonitas, logo reconheceu a caligrafia. .

“Eu sou capaz de amar até os seus defeitos, . Cada um deles. Nos vemos sexta? Estou esperando por isso. Ansiosamente. Beijos.”

Quando terminou de ler a pequena frase, não deixou de sorrir. Aquele era um bilhete que fizera para ele na primeira pequena briga que tiveram, há anos. Ele ainda tinha aquilo guardado? O sorriso em seu rosto aumentou e ela balançou a cabeça, em negação. Se há segundos a dúvida e a confusão fazia moradia em si, agora talvez elas estivessem de mudança. Talvez.

caminhava desnorteado pelas ruas de Nova Iorque. Ele não sabia o que pensar ou sentir. Culpa? Amargura? Felicidade? Raiva de si mesmo por se deixar levar novamente? Ele não sabia. A única certeza que tinha no momento era que o que sentia por havia voltado, bem ali, em seu peito, em sua mente. Como há quase três anos.
Ou, talvez, nem houvesse ido embora. Estivesse somente adormecido. E isso era no que ele acreditava. Entretanto, hoje, sentiu como se um despertador tocasse no ultimo volume em seu peito, acordando-o. Trazendo-lhe à vida novamente.
Ele levou as mãos aos cabelos, bagunçando-os; aquela mulher iria enlouquecê-lo a qualquer momento. Apesar das enumeras dúvidas que tinha, sabia que seu sentimento era, pelo menos em partes, recíproco. Aquelas palavras, aquele beijo que lhe dera... Fora tão real. Seu coração acelerado, sua pele rosada, suas mãos trêmulas e o sorriso bobo que lhe dera entre o beijo. Tudo aquilo lhe parecia tão recíproco. não sabia o tamanho disso, mas sabia que também gostava dele. Talvez um afeto, uma paixão de poucos dias ou... Ainda o amava.
Mas isso era mesmo possível? Agora era diferente. Steve era seu noivo e ela deveria gostar dele, talvez até mais do que gostasse de . Ou não. Tudo lhe parecia tão confuso que ele queria poder se perder num deserto e passar alguns dias sozinho, pensando; refletindo sobre o que iria fazer a partir de agora.
Contudo, era um homem seguro de si e sabia, tinha plena certeza do que mais ansiava no momento. Ele a queria. Queria mais do que qualquer coisa que já quis em toda a existência.

- Como assim o veio aqui?! – Audrey praticamente gritou, incrédula. Ela havia acabado de chegar à casa de e estava sentada no sofá, com os olhos arregalados.
- Talvez ele tenha pegado algum táxi ou...
A outra sorriu sarcástica e riu. Que maldita - ou bendita - felicidade era essa que estava sentindo?
- Engraçadinha, estou falando sério. – cruzou as pernas, encarando a amiga, que agora apenas sorria. – Você sabe o quão perigoso isso é?
- Talvez não seja tão perigoso assim, Audrey. – se levantou, caminhando até a frente da estante, onde o beijara.
- Oh, não, não é não. – sorriu irônica, levantando-se e caminhando até ela. – Ele queria te matar, !
- Eu já sei disso. E que eu saiba, “queria” é uma conjugação no passado. – suspirou, passando os dedos na estante, fazendo desenhos na pequena camada de poeira que estava ali. - ... – disse baixo, e a outra se virou para encará-la. – Eu sei que você gosta muito dele, mas, por favor, não estraga a sua vida. Não de novo. Não pela mesma causa. – mordeu o lábio, passando a mão nos cabelos da amiga. – Steve...
- Steve, Steve, Steve! – bufou, se afastando dela. – Sempre o Steve. Será que dá pra focar um pouco em mim e não no Steve? – cruzou os braços, desviando o olhar. – Steve é uma ótima pessoa e sou apaixonada por ele, mas... – se perdeu nas palavras e respirou fundo. – Steve é a calmaria e é a tempestade. – deu os ombros. – Eu só quero ser feliz como qualquer mulher de vinte e três anos, Audrey.
- Então você quer jogar tudo para o alto por causa do ? Por causa de alguém que nem se importou com você em anos? , acorda!
- Acorda você, Audrey! – aumentou o tom de voz, dando alguns passos à frente e ficando com o dedo em riste. – Eu sempre soube aceitar muito bem os seus conselhos, mas não é por isso que eu vou segui-los. Você pode amar alguém, sim, mas não está em meu corpo para saber qual é a profundidade dos meus sentimentos por e Steve. Aliás, você mesma disse que entende! Qual é agora? – seu tom aumentou ainda mais. – Hoje o veio aqui e nós nos beijamos. – Audrey arregalou os olhos – E quer saber do que mais? Eu senti uma coisa que... – engoliu seco, procurando as palavras certas para usar. – Que eu nem sei explicar! – deu de ombros. – Eu sei muito bem que queria me matar, que me deixou por anos sem nenhuma notícia, que fez um pouco e muito mais para mim. Mas passou! Infelizmente é assim que eu vejo, saiba que não é como eu queria ver. Aconteceu... E sabe, também sofreu muito. Aposto que se você parasse um só minuto com essa matraca que você chama de boca para ouvi-lo, repensaria sobre ele. – ela respirou fundo, voltando a si. – Eu amo você, Audrey, mas você não tem o direito de me dizer o que eu tenho ou não que fazer. Eu o amo e se eu quiser lutar por isso, eu vou. Você me apoiando ou não.
- Eu só queria a sua felicidade.
- Por que não pode ser a minha felicidade? – rebateu, com pesar na voz. Odiava discutir com a amiga.
- Faça o que quiser da sua vida. – deu os ombros, indo até o sofá e buscando sua bolsa. – Eu cansei de tentar colocar algum pingo de juízo nessa sua cabeça – a encarou. – Se você gosta de ser mulher de bandido, que seja. – andou até a porta, com passos pesados. – Você não merece um amor como o do Steve, mesmo – saiu, batendo com força a porta.
estava boquiaberta, queria ter respondido Audrey à altura, mas não conseguiu. Bandido? Ela não merecia um amor como o de Steve? Céus, o que fora tudo aquilo que ela tinha dito?
- Obrigada por conseguir estragar tudo, querida amiga. – disse sozinha, num tom irônico. Ela deixou o corpo cair sobre o sofá e fechou os olhos, tentando pensar em outra coisa a não ser em seus problemas. Havia outra coisa a pensar, afinal?

28, março, 2014 – 22h46 PM.

assistia a qualquer série na TV enquanto esperava o tão merecido e desejado sono chegar. Em três dias começaria a trabalhar e sua última semana havia sido muito desgastante, precisava descansar o máximo que conseguisse. Ele bocejou, entediado. Sentia-se cansado, mas não com sono. Ao passar os olhos pelo chão do cômodo, avistou alguns brinquedos de Aaron e riu consigo mesmo. Como uma criança tão pequena quanto seu filho podia ter tanta energia para brincar o dia inteiro? Ele não fazia ideia.
Ao ver os agradecimentos finais da série, ele voltou a passar pelos canais, mas a campainha tocou, impedindo-o de continuar o que fazia. se levantou depressa e correu até a porta, abrindo-a logo em seguida.
- ? – sussurrou, surpreso por vê-la ali. Eles não haviam se falado desde... o beijo.
não soube distinguir o que o rosto dela lhe dizia, era complexo demais. Seus cabelos estavam ligeiramente bagunçados, seu rosto surpreso, mas decidido. Seu peito subia e descia rapidamente, como ela tivesse corrido uma maratona até chegar ali.
- Você... – ela lambeu os lábios secos, respirando fundo, tentando recuperar o fôlego. – É você.
- Eu o quê? O que acon...
E antes que ele pudesse terminar de falar, ela enlaçou os braços em seu pescoço e o beijou rapidamente. passou os braços pela cintura dela e a segurou com força, retribuindo-a com ainda maior intensidade. Não era como o beijo do dia anterior, era mais rápido, mais sensual. Suas línguas brigavam numa batalha por qual ficaria mais tempo na boca do outro, sentiu vontade de sorrir e o fez, ela empurrou a porta com o pé, fechando-a. deu alguns passos para trás e depois para o lado, encurralando-a na parede, o beijo pareceu se intensificar ainda mais e as carícias também. As mãos dele deixaram a cintura dela e desceram até seu quadril e ali ficaram, até segunda ordem. Um dos braços de estava nas costas dele, arranhando-as de leve mesmo que por cima da camiseta; a outra mão estava logo acima, puxando com destreza seus ralos fios de cabelo.
O ar faltou em seus pulmões e eles se separaram, ofegantes. Mas, diferente do que pensara que aconteceria, não se afastou de , ela continuou olhando-o nos olhos.
- Pode ser loucura o que eu vou dizer, , mas eu não me importo... – ofegou, passando os dedos nos lábios dele, delineando-os. – Eu corri praticamente todo o Central Park, pensando, chorando, me martirizando por isso, mas... – respirou fundo, recebendo o olhar atento dele. – Eu quero você, . – ele ia dizer algo, mas ela o impediu, deixando o dedo indicador em seus lábios, como sinal de silêncio. – Estou cansada de todos me dizendo o que eu tenho que fazer. Que se dane , Audrey, Steve, que se dane todo mundo... Eu quero cada pedacinho de você. – lhe deu um selinho demorado. – Cada detalhe – beijou seu queixo. – Eu quero ser sua e quero que você seja meu. Finalmente. – mordeu o lábio, levando a mão para acariciar lhe a nuca.
- Você não sabe o quanto eu esperei para ouvir isso... – sorriu, roçando os lábios nos dela. – Você tem certeza do que está dizendo, não tem?
- É a maior certeza que eu já tive na vida. – sussurrou, rindo. – Que me julguem, que me condenem... Não importa. Não desde que eu tenha você ao meu lado.
- Eu vou estar. Não se pode fugir do nosso destino, – disse baixo, erguendo as mãos para voltarem à cintura dela. – E, cacete, se você não for meu destino... – riu.

(Play na II)

Ela sorriu e voltou a beijá-lo, mas dessa vez não tão apressado quanto antes. Ambos queriam sentir cada detalhe daquele momento sem pressa, sem aflição. voltou a colocar as mãos no quadril dela e a ergueu; deu um impulso e colocou as pernas em volta da cintura dele. Ela jogou a pequena bolsa que segurava no sofá. Ele caminhou com dificuldade até o quarto, já que no piso ainda havia algumas caixas da mudança e alguns brinquedos do filho. Ao chegar ao cômodo, colocou-a no chão e trancou a porta atrás de si. Ela mordeu o lábio e foi até a cama, se ajoelhando ali. se deu a chance de observar a cena por alguns segundos, não sabia se poderia tê-la de novo. Ao voltar a si, caminhou depressa até a cama e se ajoelhou à sua frente. Ambos se encararam com sorrisos bobos no rosto. Aquilo estava mesmo acontecendo? Eles não sabiam se era mesmo real ou mais um dos sonhos que tiveram em todos esses meses.
levou a boca ao pescoço de , alternando entre mordidas e sugadas. Ela sorriu maliciosa, brincando com a barra da camiseta dele, aproveitando para passar os dedos frios em seu abdômen, que agora estava contraído.
- Não tem perigo de o Aaron ouvir, tem? – sussurrou, resfolegando logo após sentir a língua de no lóbulo de sua orelha.
- O mundo pode desmoronar que ele não vai acordar... – disse abafado, já que seus lábios estavam perdidos na pele de .
Ela sorriu em resposta e ergueu a camiseta dele, logo a retirando por completo. observou algumas tatuagens em seus braços e sorriu, delineando-as com os dedos. a observou fazer isso e sorriu carinhoso, acariciando a cintura dela.
- São lindas. – ela sussurrou, depositando beijos pelo ombro descoberto dele.
- Shh... – ergueu a camiseta dela também, podendo ter uma visão ainda melhor de seu colo. Ele sorriu malicioso e ela riu tímida, mordendo o lábio. sentiu algo começar a crescer embaixo de seu ventre e levou as mãos aos seios dela, mesmo que por cima do sutiã, apertando-os com delicadeza.
Num ato mais rápido, ele colocou força sobre seu corpo e deitou-a na cama, ficando por cima. desceu os lábios, beijando cada pedaço de sua silhueta. Primeiro os ombros, depois colo, barriga – onde deu uma atenção maior, distribuindo beijos por cada pontinho de sua pele arrepiada – e, finalmente, chegando à barra da calça jeans que ela usava. Ao olhar para cima, pôde vê-la olhando-o, ansiosa, ele sorriu malicioso, mordendo o próprio lábio com força. Suas hábeis mãos logo desabotoaram sua calça e após descer o zíper, colocou os dedos nos lados da calça, puxando-a para baixo, deixando rastros de beijos por onde a peça de roupa passava. No próximo segundo, a calça já fazia companhia às camisetas dos dois, no chão. Ele subiu devagar as mãos pelo lado de dentro das pernas de , deixando-a ainda mais ansiosa do que já estava segundos atrás. Ao subir mais um pouco, ele passou os polegares sobre a virilha dela, fazendo-a arfar e morder o lábio. Ele sorriu convencido.
ergueu um pouco o corpo para poder se desfazer de seu sutiã, mas antes que ela o fizesse, subiu um pouco mais, pegando as mãos dela e colocando-as sobre ele.
- Eu faço isso – disse firme, levando as mãos às costas dela e desabotoando habilmente o fecho da peça. – Quero ter esse prazer – sorriu malicioso.
desceu as duas alças da peça e beijou todo o seu colo, fazendo-a se arrepiar ainda mais. Ao libertar-se completamente do sutiã, mordeu o queixo de . Ele, por sua vez, levou as mãos para seus seios e os apertou com força. Os dois gemeram baixo. o ouviu sussurrar um palavrão e arranhou as costas dele, precisava senti-lo o mais rápido possível. abaixou o rosto, ficando na altura dos seios dela, ele levou a boca a um deles e passou a língua devagar, vendo o corpo dela se contrair na hora. O sentimento de vitória tomou conta de si novamente e ele sorriu. Em seguida, ele o sugou com o máximo de força que pôde, gemeu alto e encheu as mãos com o lençol que cobria a cama. Enquanto sua boca tomava conta de um dos seios de , sua mão direita foi para o outro, massageando-o. A mão esquerda saiu de seu outro seio e tomou outro caminho; ela desceu até sua calcinha e logo depois a afastou com os dedos, para que pudesse ter mais espaço para usá-los. começou a massagear seu ponto de prazer e ela gemeu novamente, mas agora suas mãos já estavam nas costas dele, arranhando-as com o máximo de força que tinha em si. Ao levar seus dedos para o centro da intimidade de , pôde ver o quão excitada ela estava e não pôde evitar de gemer também.
- É bom saber que está assim por minha causa. É recíproco. – resfolegou num tom que transbordava malícia. Ele retirou os dedos e os lábios do corpo dela e levou suas mãos até sua calça para desabotoá-la.
Enquanto o via tirar a calça, se ergueu um pouco na cama e tirou sua calcinha, mordeu o lábio ao olhá-la e ela corou, desviando o olhar para a cueca boxer dele, que estava mais do que apertada comparada ao volume que ele possuía no momento.
Assim que a calça já estava no chão, ele começou a puxar com certa dificuldade a cueca boxer. sorriu maliciosa e o ajudou a tirá-la por completo. Ao ver que ele já acariciava o membro para que a pudesse penetrar, ela levou as próprias mãos até ele e começou a movimentá-las num vai e vem lento. Ele fechou os olhos, sentindo o frenesi que aquilo lhe causava.
- Agora... – sussurrou, com a voz rouca. Ele passou a língua nos lábios, umedecendo-os, tentando voltar a si antes que chegasse ao seu ápice ali mesmo, nas mãos dela, como um garotinho virgem. – Precisa ser agora, – tirou as mãos dela de si e se posicionou em sua entrada. Ele pincelou algumas vezes na intimidade dela, mas ao observar o próprio membro reluzente, ele viu que havia esquecido algo. Um palavrão alto saiu por entre seus lábios e ela o encarou, confusa. Não sabia se aquele palavrão fora solto por excitação ou por algum problema. – Eu não tenho camisinha – disse num tom desesperado. – Não achei que fosse transar com alguém na minha primeira semana em Nova Iorque – riu sarcástico.
rolou os olhos e o puxou para si novamente, abrindo as pernas para que ele pudesse se encaixar.
- Eu uso anticoncepcional, – passou a língua nos lábios secos, tomando fôlego. Ela teve vontade de rir com a feição de alívio que ele fez quando foi capaz de entender a frase, mas não o fez. Estava concentrada demais para isso.
se posicionou novamente contra ela e, com cuidado, colocou seu membro em sua entrada, empurrando seu quadril devagar até que ele a completasse por completo. Eles gemeram alto, fechando os olhos.
Estar nela daquela particular forma era uma sensação que nunca ele seria capaz de descrever com meras palavras. Era imensamente satisfatório. Senti-la abraçando-o por completo, totalmente pronta e desejosa, assim como ele, era inacreditável. Eles se completavam literalmente, e aquela só era mais uma das provas disso. Ao afastar um pouco o quadril, se retirando dela, ele sentiu um frio cobrir seu estômago e seu coração acelerar ainda mais. Sentia-se vazio, incompleto. Precisava dela, de cada mínimo centímetro de seu corpo. Ele voltou a penetrá-la e sentiu-se entorpecido novamente, e agora tinha certeza: não necessitava só de seu corpo, mas de sua alma também.
fincou as unhas nas costas de e deixou a boca entreaberta, respirando com dificuldade. Ele se retirou dela por completo uma última vez e voltou a penetrá-la, mas com mais força agora. Ela fechou os olhos novamente.
- Abre os olhos – ordenou, voltando a sair do corpo dela para voltar com ainda mais intensidade. cerrou os olhos, tentando encará-lo. – Olha pra mim – ofegou, voltando a penetrá-la.
E assim, começou a fazer um vai e vem mais rápido e intenso, seus corpos estavam a ponto de se fundirem. Os olhos dos dois se encaravam e além da tamanha luxúria que se podia enxergar ali, também viam um brilho do qual jamais pensaram ver em qualquer pessoa. Era mais do que algo carnal, aquilo tinha paixão. Tinha amor. tentou prender ainda mais o olhar no de e viu um escuro total tomar conta de suas pupilas; ela sorriu involuntariamente, já sentindo seu ápice se aproximar.
levou os dedos à intimidade dela e começou a estimulá-la; ao sentir os espasmos começarem a contrair seu corpo, gemeu alta e longamente. Mais alguns segundos e ao senti-la chegar ao seu orgasmo, também chegou; ele gemeu rouco e ofegou, deixando o corpo cair levemente sobre o dela.
Um.
Cinco.
Talvez dez minutos se passaram até que suas respirações já estivessem voltado ao normal. Seus corpos suados estavam cansados, porém relaxados.

- Tá tudo bem? – murmurou, saindo de cima de e deitando-se ao seu lado. Estava preocupado com o silêncio dela. Temia que ela tivesse se arrependido.
- Acho que nunca estive tão bem. – sussurrou. Eles sorriram, encarando o teto. – Sabe... – disse, sentando-se na cama e buscando o lençol que estava em seus pés, ela o levou até seus corpos e os cobriu. ficou apoiada pelo cotovelo, enquanto encostava o rosto numa das mãos, observando-o. – Era assim que eu imaginava, há dois anos.
- Então quer dizer que você se imaginava fazendo sexo comigo? – perguntou malicioso e recebeu um tapa dela. Ele riu, pegando a mão dela e a beijando logo após. – Você é incrível, – sorriu, olhando-a nos olhos. Ela corou, desviando o olhar.
- Você também não é nada mal, . – abanou o ar e riu, ele a puxou para si e selou seus lábios num beijo calmo, doce. Eles se afastaram com selinhos e ele mordeu o lábio.
- Você era virgem quando nos conhecemos, não era? - deu os ombros, já sentindo o famoso rubor se formar em suas bochechas, deixando-as coradas. – E não adianta negar, você acabou confessando isso há três dias.
- Eu não ia negar, . – suspirou, voltando a encará-lo. – Era sim. Apesar de parecer meio louca naquela época – ele a olhou incrédulo. – Ok, ainda pareço – eles riram. – Eu sonhava com o cara certo...
- Steve foi o cara certo? – questionou, já sem o sorriso de antes.
Ela desviou o olhar e voltou a se deitar na cama, encarando o teto. continuou quieto, esperando sua resposta.
- Certo até demais. – respirou fundo, virando o rosto para fita-lo. – Sabia que, às vezes, o “certo” não é o melhor? Não é o que realmente queremos?
- Então eu sou o errado? – sorriu sem mostrar os dentes, também a olhando. Ela deu os ombros, suspirando. – Talvez seja legal ser o cara errado.
- É?
- Bem, nesse caso pelo menos, você prefere o errado, certo? – ela riu, assentindo. – Então... Ser o cara errado me parece bom, desde que você continue achando assim. mordeu o lábio, sorrindo delicada. Ela levou uma das mãos para o rosto dele e o acariciou, a barba rala espetou suas mãos, mas ela não importou. Adorava aquela sensação.
- Obrigada por essa noite. – sussurrou, mordendo o lábio.
- Não por isso. – riu, erguendo o corpo para ficar mais próximo do dela. – Se quiser, eu posso te dar muitas como essa... Aliás, não só noites, mas dias, tardes, manhãs... – sorriu malicioso, mordendo o lábio dela. gargalhou, puxando-o para um beijo.
- O que acha... – se afastou dele com um selinho demorado – de dormirmos? – sorriu marota. Ele riu, assentindo. – Boa noite, .
- Boa noite, . – lhe deu outro selinho e ela se aconchegou em seu peito. quis sorrir feito uma criança que finalmente ganha o presente que tanto espera, mas se contentou com um sorriso fraco, fitando os cabelos dela e afagando-os. A respiração quente e calma dela em seu pescoço lhe traziam sensações que ele jamais iria conseguir descrever o quão maravilhosas eram.
O sono não demorou a vir, já que o cansaço tomava conta de seus membros. permitiu-se beijar o topo da cabeça de . E a partir dali, tinha mais certeza do que nunca: a amava. Se tivesse de fazer, iria lutar com tudo e todos. Ele enfrentaria o mundo por aquela mulher.


Capítulo XVIII


A porta do quarto rangia insistentemente. ainda não entendia o porquê, talvez só fosse parte do sonho que estava tendo. Ou talvez o sono ainda lhe impedisse que seus sentidos se aguçassem.
Ele cerrou os olhos e percebeu que o ambiente ainda era escuro, a única coisa que se pudera enxergar era a luz discreta do sol entrando pelas frestas da janela. olhou para o lado e viu que continuava na mesma posição, sua respiração era calma, como se estivesse sonhando com algo. Talvez estivesse. Talvez com ele? Ele riu baixo de suas convicções e ouviu a porta bater novamente, mas agora acompanhado de uma voz infantil: “Papai?!”
apertou os olhos com força e só então se deu conta de uma coisa: ele tinha um filho. Como pudera esquecer-se de Aaron? Ele riu de si mesmo e tirou o braço de , com cuidado para não acordá-la; mas, ao sentir o vazio de suas mãos, ela despertou, com um gemido de reprovação.
- O quê... – ela sussurrou, deixando a frase morrer em seus lábios. Estava cansada demais até para falar. Ela se arrumou na cama, ficando de bruços, com o rosto no travesseiro.
- O Aaron... Acho que ele acordou – bocejou, se espreguiçando.
“Papai?! Papai, cadê?!” a voz disse novamente, mas dessa vez parecia mais desesperada.
- É, ele acordou – riu fraco. – Já vou, filho! – disse mais alto para que o pequeno ouvisse.
- Papai?! – gritou, novamente, batendo ainda mais forte na porta.
- Cadê a minha roupa? – disse rápido, se sentando na cama. Só então se dera conta do quê, de fato, estava acontecendo.
- Vou pegar uma camiseta pra você, espera um segundo. – disse, já vestindo sua cueca boxer. – Já vou abrir, filho, espera só um pouquinho! – ele correu até o guarda-roupa e buscou uma blusa para , ele logo a jogou. – Aqui.
- Capitão América? – ela riu, vestindo-a, logo depois de colocar sua calcinha que estava debaixo da cama.
acendeu a luz e caminhou até a porta, abrindo-a. Quando viu, Aaron estava com o rosto úmido e um bico enorme no rosto. Ele o pegou no colo, beijando-o na testa.
- Ei, por que estava chorando, campeão? Você não sabia que o papai estava aqui?
- Cê num falou nada – seu bico aumentou, mas agora sabia que era só manha. Ele riu e caminhou até a cama.
- Mas eu estava aqui – o sentou na cama, em seu colo. sorriu, encarando-o. Aaron arregalou os olhos.
- Cê tava aqui? – sua boca se abriu, surpreso. Eles riram.
- Estava, sim, pequeno – sorriu, dando um beijo no rosto dele. – E aí, como dormiu? – Aaron deu os ombros, com a cabeça baixa. – Ué, não gosta mais de mim?
- Claro que gosta, não é, filho? – sorriu, erguendo a cabeça dele. – Não seja mal educado, Aaron.
- Deixa ele, – sorriu, passando a mão nos cabelos levemente ondulados da criança.
- Dicupa – sussurrou, olhando-a. sorriu carinhosa e o pegou no colo, lhe dando outro beijo.
- Desculpas aceitas, anjinho!
- é namolada do papai? Igau a tia Ash? – brincou com o cabelo dela e virou o rosto para .
- Namorada igual à tia Ash, é? – sorriu irônica.
- Ashley não era minha namorada, filho.
- Quem é Ashley? – questionou, já sem o sorriso nos lábios.
- Ciúmes? – ele sorriu malicioso, erguendo a sobrancelha. Ela bufou, voltando a atenção para Aaron. – Ashley era uma ex-aluna minha...
- Aluna? – franziu o cenho, mas ainda encarava Aaron brincando com seu cabelo.
- Eu dou aulas de tiro, – ela o olhou novamente, surpresa. – Também sei fazer algo dentro da lei – riu. – E eu só me encontrei com ela duas ou três vezes, não passou disso.
- Hm... – murmurou.
- Ei, filho? – chamou, sorrindo. Aaron virou o rosto para ele. – Vá colocando seus brinquedos na sala para depois brincarmos, sim?
- Oba! – comemorou, pulando da cama e saindo do quarto.
Eles ficaram em silêncio, encarando suas próprias mãos.
- O que eu tinha com a Ashley, seja lá o que tenha sido, já acabou. O que você tem com Steve, que é algo bem maior, ainda não – ele disse baixo, respirando fundo. se virou para ele e mordeu o lábio inferior.
- Você está certo. Eu não tinha direito nenhum de te cobrar coisa alguma, desculpa.
- Tudo bem – sorriu fraco, virando-se para ela. – Vamos recomeçar da parte que o Aaron entra no quarto, pode ser? – ela assentiu, sorrindo. – Primeiro: bom dia, . – sorriu, dando um selinho demorado nela. – Como dormiu?
- Bom dia pra você também, . – riu, lhe dando outro selinho. – Maravilhosamente bem. Talvez, mas só talvez, ok? – ele assentiu, esperando-a continuar. – Tenha sido a melhor noite de toda a minha vida. – sorriu verdadeiramente, vendo-o aumentar o sorriso.
- E se eu falasse que se depender de mim, você vai ter muitas mais dessas?
- Muitas, quantas, basicamente?
- A vida inteira... Pouco? – mordeu o lábio, encarando os dela.
- Demais – sussurrou, levando a mão à nuca dele e puxando seu rosto para o dela, seus lábios envolveram os dele e outro beijo começou. Ela poderia acostumar com aquilo. Não seria nada difícil, na verdade.
- Vem, papai! – Aaron gritou da sala e e se separaram, rindo.
- Acho que é melhor irmos – ela disse, rindo e se levantando da cama.
- Antes que essa criança fique sem voz de tanto gritar, por favor – riu e se levantou também. Eles caminharam de mãos dadas até a sala e viram Aron brincando com um carrinho.
- Então, quer dizer que você gosta de carrinhos? – se desfez das mãos de e caminhou até o pequeno, que assentiu, lhe entregando outro carrinho. – Certo, e aqui é a pista?
- Não né, dã. – olhou para e eles gargalharam. Ele estava com os braços cruzados, observando-os. – A pista é ali! – disse, firme.
- Oh, claro! Como eu não vi antes?! – disse, incrédula. Ela riu de novo. Deus, há quanto tempo não ria desse jeito? Há quanto tempo não se sentia tão feliz assim?
- Escutem, crianças, eu vou fazer algo para comermos, ok? – ela mostrou o dedo polegar, como se dissesse ‘ok’, rindo logo depois.
- é namolada do papai? – Aaron perguntou, prestando atenção nos carrinhos no chão. sorriu fraco, olhando para ele.
- Talvez seja, meu amor. – passou a mão em seus cabelos, afagando-os. – Você quer que eu seja?
- Se cê blincar com eu... – a olhou e ela sorriu estonteante.
- Eu vou adorar brincar com você. – riu. logo voltou, com um prato de ovos mexidos nas mãos e uma jarra de suco. Aaron correu até ele e sussurrou algo em seu ouvido.
- Oh, Aaron, por que não disse logo? Você tá de fralda pelo menos, não está?
Aaron arregalou os olhos e colocou o dedo indicador nos lábios, sussurrando um “shh”.
- Ah, não era pra falar alto? Desculpa, filho – riu.
- Você queria ir ao banheiro? Por que não me disse, querido? – se levantou, olhando-o.
Aaron corou e agarrou as pernas do pai, escondendo seu rosto nas mesmas. e se olharam e riram baixo. Ele estava com vergonha então? Ela quis correr até o pequeno e lhe encher de beijos, mas não o fez.
- Olha, , nós vamos dar um jeito nisso e logo voltamos, ok?
- Fiquem à vontade – sorriu, vendo-os se afastar. Assim que ela respirou fundo, se espreguiçando, ouviu seu celular tocar e o buscou em sua pequena bolsa, que estava no sofá desde ontem à noite. – Alô? Steve! – disse, surpresa. – Estou bem, e você? – sentou-se no sofá, encarando os brinquedos no chão. – Ontem? Ahn, a bateria do meu celular acabou... – pigarreou, tentando parecer o mais verdadeira possível. – Como assim voltando amanhã?! – se levantou depressa. – Não, claro que não quero que fique mais tempo. – sorriu irônica. – Eu só me surpreendi por voltar mais cedo do que o combinado. – suspirou. – É claro que estou com saudades. – olhou para o lado e pôde ver que já estava ali, ele a encarava com um sorriso fraco no rosto. Merda. – Steve, nos falamos depois, tudo bem? Eu também. Beijos. – desligou, encarando-o. – Ele volta amanhã. – disse baixo, vendo-o fechar os olhos e respirar fundo.
- Vamo blincá mais? – Aaron disse, animado.
- Depois vocês brincam, filho. Vá comer os ovos que eu fiz. – ele ia se impor, mas continuou: – Não seja teimoso, Aaron. – e mesmo contra sua vontade, o pequeno foi à mesa, buscando seu copo de suco e seu prato com os ovos. – E então, ? – ela deu os ombros, colocando o rosto entre as mãos, parecendo pensar. – Nós temos o mundo contra nós... Ou você luta e enfrenta isso, ou pede clemência e fica com Steve.
- Eu poderia ter me apaixonado pelo capitão do time de basquete do colégio, pelo meu chefe... – enumerou nos dedos. franziu o cenho, confuso com o que ela estava dizendo. – Pelo meu melhor amigo, ou até pelo vocalista da minha banda favorita. Mas não, eu tinha que me apaixonar por um dos caras mais perigosos do país... Pelo inimigo do meu pai. – rolou os olhos, sentindo seus olhos se encherem de lágrimas. Ela sorriu, incrédula consigo mesma.
- É, meu bem, a vida é mais difícil do que imaginamos. – sorriu também, indo até ela e enlaçando sua cintura. – Você tá disposta a enfrentar todo mundo? Até o seu pai? Sua melhor amiga?
- Por você? – ele assentiu, olhando-a nos olhos. – Eu enfrentaria até o presidente dos Estados Unidos. – riu, levando a mão ao rosto dele e o acariciando. – E você, , os enfrentaria por mim?
- Até o mundo. – fez uma arminha com as mãos e apontou para cima. – Pôw. – fez um barulho com a boca, como se fosse um tiro. Eles riram. – Você sabe que não vai ser fácil, não é? – ela suspirou e assentiu, voltando a ficar séria. – Seu pai não vai poupar esforços para acabar comigo. Ele não vai me descansar até me ver num caixão. – sussurrou, para que Aaron não o escutasse.
- Ele não vai fazer isso. – se afastou de , já sentindo um nó se formar em sua garganta.
- ...
- Não! – o interrompeu, tapando os ouvidos. Aaron os olhou.
- Que foi, papai?
- Nada, filho. Vá ver TV no seu quarto, sim? Acho que tá na hora daquele desenho que você gosta. – sorriu fraco e o pequeno correu animado. – , por favor, não faz isso...
- Ele pode até tentar nos impedir de continuarmos juntos, mas te matar? Não, , não! – fungou.
- Está tudo bem agora, ok? Vamos esquecer isso. – sorriu fraco, indo até ela. deu um passo para trás.
- Eu não posso te perder de novo. – mordeu o lábio, segurando o choro. – E eu não vou.
- Não vai, não. – disse baixo, indo até ela e, finalmente, a abraçando-a. Ela encostou a cabeça sobre o peito dele e fungou, não queria chorar. Não na frente dele. – Você não vai me perder. – afagou seus cabelos.
- Você promete? – disse, com a voz embargada. Ele sorriu fraco. Ela parecia uma garotinha com medos dos fogos de artificio na noite de ano novo.
- Eu prometo, .

acabara de deixar Aaron na escolinha e agora estava no banco do carona, no carro de . O dia estava ensolarado, não passava das 10h00 AM, e eles sabiam, aquele seria um longo dia. Amanhã Steve estaria de volta e pelo menos uma pessoa já teria de enfrentar, não poderia enganá-lo por muito mais tempo. Não quando seu casamento estivesse marcado para daqui quatro meses.

’s POV

Lá estava ele, bem ao meu lado, observando a estrada através de seus óculos escuros. Deus, como eu pude deixar me levar tão rápido assim? Talvez não fosse tão rápido, na verdade. Talvez esse sentimento só estivesse adormecido dentro do meu peito, como uma ferida aberta.
O sol forte bateu contra minha visão e eu abaixei a aba do carro, que estava logo acima. Pus-me a observar a estrada também, não queria causar um acidente. Mas, com ao seu lado, quem consegue olhar muito tempo para frente? Ri com o pensamento e olhei-o de soslaio. Ele agora fitava através da janela ao seu lado, pensativo. No que ele pensara, afinal? Eu queria saber, mas não iria perguntar. Seria invasão demais. Invasão... Sorri ao lembrar-me da noite anterior. A melhor da minha vida. Eu já havia estado com Steve muitas vezes, é claro, mas nada se comparava à noite passada. O jeito como ele me tocou, como me olhava, como falava. Deus! Eu amo esse homem. O amo da forma mais insana que um ser-humano pode amar outro. É intenso, é forte, é extraordinariamente imenso... Imensurável. Podem me chamar de louca, sim, podem me julgar, sim, mas não somos nós quem mandamos em nosso coração, não é? Eu sei que é como se estivéssemos nos conhecendo de novo, mas amo ainda mais esse que está aqui agora. Ainda mais do que o de quase três anos. Eu... é como se uma explosão estivesse plantada em meu estômago, pronta para acabar com tudo.
Senti os olhos dele sobre mim e mordi o lábio, inquieta. Nós rimos e voltamos a prestar atenção em nossos pensamentos novamente.
O modo como ele tratava o filho, o grande pai que era. Minha mente me levou a outro tempo: o futuro. Como seria se nos casássemos? Se tivéssemos nossos próprios filhos? É lógico que Aaron sempre estaria ali, sendo tratado como um deles.
Algum pequeno ser me chamando de mãe? E chamando-o de pai? Eu sorri boba e balancei a cabeça. Nós, na nossa casa, com nossa família, sem preocupações, sem armas, mortes. Meu sorriso se fechou no mesmo segundo em que me lembrei disso. Não havia nada perto de terminar aqui, nós só estávamos escolhendo a armadura para a guerra que estava por vir.
- Ei, ? – o ouvi dizer e me virei prontamente para encará-lo. – Vira à direita e depois à esquerda. – franzi o cenho, sem entender.
- Por quê? – questionei. – Meu apartamento é logo à frente...
- Só faz o que eu disse. – pediu, mas soou mais como uma ordem. Rolei os olhos e o fiz, não queria contrariá-lo, não agora.
- Eu sabia! – exclamou, dando um soco no porta-luvas. O olhei, assustada. – Aquele carro preto, logo atrás, tá vendo? – olhei pelo retrovisor e o vi, assenti. – Estão nos seguindo.
- Oi? – arregalei os olhos. Seguindo? – Um sequestro? O quê?!
- Não, pior... – soltou o ar pela boca, devagar. – .
- ? Ahn? , dá pra me explicar? – perguntei, nervosa.
- Eu achei que ele colocaria alguém na sua cola, mas não pensei que fosse durar tanto. – riu sem humor. O que ele estava dizendo? – Segue pra sua casa, . – desafivelou o cinto, indo em direção ao banco dos passageiros.
- Como? , você tem certeza?
- Tenho, estão desde a rua 22. – bufou, se acomodando no chão do carro. O que raios ele estava fazendo? – Estaciona na vaga 07 que é mais próxima do elevador. Com sorte eles não me viram. – suspirou, escondendo-se.
- Mas que maravilha. – ri sem humor, logo chegando ao meu prédio. Passei pelo porteiro, que olhou por todo o meu carro. Estranho, muito estranho. – ? – olhei para trás e não o vi. – ?! – perguntei de novo, mas mais alto. Ele se descobriu da jaqueta preta que estava sobre si, escondendo-o. Céus, como ele sabia que o porteiro olharia pelo carro?
- Esse porteiro... Não sei, não. – pareceu pensar e voltou ao banco de passageiro, mas ainda abaixo. Estacionei o carro.
- Você não tá muito paranoico com isso, não? – desliguei o motor e abri a porta para sair do veículo, o fiz. Vi o motorista do carro preto falar algo com o porteiro e mordi o lábio. estava certo. – Ok, vai à minha frente, eu tapo a visão deles. – sussurrei, abrindo o porta-malas do carro e tirando uma caixa grande de lá.
- Vou pelas escadas, no elevador tem câmeras. – sussurrou também, logo saindo à minha frente. Vi o carro entrar no estacionamento e andei depressa. – Age normalmente no elevador. – assenti e o vi entrar pela porta de emergência. Respirei fundo, entrando no elevador.
Isso é loucura! Então é assim que meu querido papai toma conta de mim? Colocando seus homens para me vigiarem? Isso é crime. Crime, oh, sim, o que é isso para quem tem uma lista imensa de homicídios? Ri comigo mesma, enquanto apertava o botão do nono andar. Como ousava invadir dessa forma minha privacidade? Há quanto tempo? Desde que eu fiquei adolescente e comecei a sair, ou desde que apareceu? Suspirei, tentando sorrir simpática para a senhora que entrara no elevador. Quanto mais eu escalo, mais o buraco parece afundar.

’s pov

havia acabado de sair do elevador e estava sentada no sofá de sua casa, esperando por . Sua respiração era pesada, ansiosa, angustiada. Dez minutos já haviam se passado e nada dele. Nove andares não eram tão perto assim, afinal. Ela se levantou e foi até a cozinha; abriu a geladeira e buscou um copo d’água gelada. ouviu um barulho na porta e correu até ela, abrindo-a logo em seguida.
estava ofegante, com as bochechas discretamente vermelhas e uma camada de suor fina pelo rosto. Ela mordeu o lábio, sentindo-se culpada.
- Desculpa por isso. – sussurrou, abrindo espaço para que ele passasse.
- Pelo quê? Por me fazer exercitar um pouco? – sorriu, lhe dando um selinho. lhe entregou o copo de água e ele o tomou, prontamente.
- Ele não tinha esse direito. – respirou fundo, cruzando os braços. – É a minha privacidade, é a minha vida! Isso não o diz respeito.
- Você é a garotinha do papai, querida. – encarou-a. Ela sorriu com o apelido carinhoso.
- E se eu falar com ele? Expor meus sentim...
- , acorda. – riu irônico, indo se sentar no sofá. – Não seja tola, mulher. quer vidas, não palavrinhas bonitas.
- Nem da “garotinha do papai”?
- Se essa garotinha do papai estiver com , não. – riu, levando os braços para a cabeça, encostando-se aos mesmos.
- Como você consegue ficar tão tranquilo? – disse, incrédula, parando na frente dele.
- Talvez eu tenha sentido falta disso. Da adrenalina disso. – mordeu o lábio, fechando os olhos.
rolou os olhos, mas na hora pareceu pensar em algo, já que um sorriso malicioso tomou forma em seus lábios.
- E se a garotinha do papai se tornasse um dos monstros que ele criou? – ele abriu os olhos, confuso. – E se a garotinha se tornasse uma mulher? – seu sorriso aumentou e o semblante do outro ficou ainda mais confuso.
- Do que você está falando?
- Eu quero que me treine, . Eu quero que você me ensine a atirar, a lutar... Eu quero que você me ensine a ser como Smith era. Eu vou acabar com essa maldita quadrilha.


Capítulo XIX


- Você ouviu o que disse, ? – perguntou, incrédulo. Ela assentiu, com o mesmo sorriso no rosto. – Você quer se tornar um del... Um dos meus? – se corrigiu, suspirando.
- Não. Eu não quero matar pessoas... Desde que não seja necessário para a nossa sobrevivência.
- Eu não posso fazer isso. – deu os ombros, desviando o olhar.
- Ora, por favor, ! Eu vou conseguir, você não confia em mim? Eu só preciso de um pouco de treino, afinal, meu pai é um dos melhores nisso, não é possível que pelo menos um pouco disso o meu sangue não tenha.
- Não, não, você não entendeu... – se levantou, andando de um lado para o outro. – Eu sei que é capaz! – parou, encarando-a. – Eu só não quero que faça algo do qual vai se arrepender no futuro, entende? Nós vamos pensar numa solução. Alguma que não envolva armas, pelo menos da sua parte. – respirou fundo. Ela balançou a cabeça negativamente.
- Eu não vou me arrepender! – exclamou. – Será que é pedir demais por isso, ? Por favor, eu vou tentar conversar amigavelmente com o meu pai, e se isso não der certo partiremos para a outra opção. Eles escolhem... O modo mais fácil, ou o mais difícil.
- Eu não sei... – disse, incerto.
- Tá com medinho de que eu seja melhor do que você, ? – ergueu a sobrancelha, sorrindo maliciosa. Ele gargalhou.
- Você por acaso está me desafiando, ? – cruzou os braços, encarando-a. Ela deu os ombros, mordendo o lábio. correu até ela e a empurrou contra a parede, encurralando-a. – Você vai se arrepender de ter dito isso – sussurrou, beijando-a logo após. Sua boca se chocou contra a dela, fazendo-a soltar um gemido reprimido. Quando sua língua delineou seus lábios, ela abriu passagem e ele a invadiu ferozmente. Uma das mãos de subiu pelas costas dela, chegando até seu cabelo, onde ele entrelaçou os dedos e os puxou sem qualquer preocupação se estava a machucando ou não. resfolegou, afastando seus lábios dele com um sorriso malicioso.
- Isso é um sim? – puxou o lábio dele, dentre os dentes.
- É – disse somente, levando os lábios para beijar toda a extensão de seu colo e pescoço, enquanto continuava a puxar seus cabelos sem piedade para trás. gemeu ao sentir os dentes dele cravarem sua pele. levou as mãos para o quadril dela, apertando-os com a mesma intensidade que estava segundos atrás com seus cabelos. Já ela, abaixou suas mãos para a barra da camiseta dele e tocou seu abdômen definido, que agora parecia tão sensível ao toque, já que se contraiu no mesmo instante. Ela riu vitoriosa e desceu um pouco os dedos, até que chegassem à barra de sua calça jeans. a desabotoou e desceu o zíper rapidamente; num só movimento ela a desceu. , vendo que estava na desvantagem, logo fez o mesmo com a calça dela, que em poucos segundos já fazia companhia para a dele, no chão. Ela mordeu o lábio com força e o viu levar as mãos para sua blusa, erguendo-a para que pudesse ter melhor visão, já que ela continuava sem sutiã desde a noite passada.
- A cama... – resfolegou, sentindo-o sugar um de seus seios.
- Pra quê? – sussurrou, retirando os lábios do corpo dela. – Fazer assim é bem mais gostoso... – sorriu malicioso, ajoelhando-se na frente dela e puxando sua calcinha para baixo. Ela entreabriu os lábios, sabendo o que viria a seguir. colocou os dedos em sua intimidade e logo depois a sua língua. gemeu alto, embrenhando as mãos nos cabelos dele, incentivando-o a continuar. Ele moveu a língua, circulando seu ponto mais sensível.
- ... – gemeu, tentando-o puxar pra cima. Ela fechou os olhos e jogou a cabeça para trás, tentando sentir ainda melhor aquela sensação. – Não... Para... – resfolegou, mordendo o lábio. E como se ele houvesse escutado totalmente o contrário, parou na hora. Ela gemeu em contradição e abriu os olhos, encarando-o. – Continua... – ofegou, ansiosa.
- Fica quietinha – disse, com o mesmo sorriso cafajeste no rosto, erguendo o corpo novamente. Ela ia retrucar, mas ele a calou com um beijo ainda mais agitado do que o de antes. Enquanto a beijava, ele fez questão de tirar sua cueca boxer o mais rápido que pôde. parou o beijo por um segundo e encarou-a, seus olhos estavam escuros, as pupilas dilatas, o desejo brilhava ali. – Agora... – começou, buscando seu membro e o estimulando. – Quem é o melhor? – sorriu malicioso, vendo-a encarar suas mãos. – Huh? – parou o que fazia e ergueu uma das pernas dela, colocando-a em volta de seu quadril.
- Não vou falar. – sorriu maliciosa também.
- Não? – questionou, mirando seu membro na entrada dela, ele o passou algumas vezes ali, ouvindo um gemido ansioso dela. – Quem é o melhor?
- Você... – ofegou, fechando os olhos e jogando a cabeça para trás, novamente. Ele passou seu membro no ponto mais sensível dela e ela fincou as unhas em seus ombros, mesmo ainda cobertos pela camiseta. – Você! Você é o melhor – implorou, mordendo o lábio.
- Isso – sorriu satisfeito e a invadiu por completo, sem pedir permissão. O corpo dela, num susto, deu um pulo, e ele a segurou. – Você também é a melhor. – sorriu terno e ela também, mas logo fechou os olhos novamente.
E assim eles começaram num misto de gemidos, ofegos, suspiros, e até gritos abafados. Ao sentir que ela estava próxima de chegar ao orgasmo, ele levou os lábios até a orelha dela:
- Você é maravilhosa. – sussurrou, logo depois mordendo o lóbulo da mesma. E isso foi preciso para que ela chegasse lá, finalmente. As paredes de seu intimo se contraíram e apenas isso foi necessário para que também chegasse. Ambos gemeram alto e se seguraram na parede.
Um minuto se passou e eles voltaram a si, tentando recuperar suas respirações. desceu devagar a perna de e ela soltou um gemido de dor, pela pressão que fez. Ele a encarou atento.
- Eu te machuquei? – questionou, enquanto passava a mão no rosto dela, tentando tirar os cabelos grudados em sua testa, pelo suor. – Desculpa, eu...
- Shh. – levou os dedos aos lábios dele, calando-os. Ela sorriu, como se dissesse que estava tudo bem. – Deixa de ser bobo. Foi incrível! – Eles colocaram suas respectivas roupas intimas e se sentaram no sofá. tirou a camiseta. – Agora que você faz isso? – brincou, vendo-o jogar a camiseta no outro sofá.
- Isso só ia tomar mais tempo... – sorriu, lhe dando um selinho.
– Ahn... Então quer dizer que você era professor lá no Canadá? – riu. Não conseguia imaginar dando aulas, nem mesmo de tiro.
- Eu era o melhor professor daquele país, ok? – disse, fazendo pose e ela riu ainda mais. – Eu gosto disso.
- E todas as suas alunas eram muito bonitas? Assim como a Ashley? – parou de rir e virou o rosto para ele, encarando-o.
- Ashley era muito bonita mesmo. Era exatamente daquele jeito que eu sempre sonhei, sabe? – ela abriu a boca, incrédula. – Loira, tinha um corpo escultural e só pensava em sexo!
- E por que você não ficou com ela, então?
- Porque... Porque, não sei o porquê. – riu de si mesmo. – Talvez pelo mesmo motivo que faz você não querer o Steve. E ele era o cara dos seus sonhos também, não era? – ela assentiu, vendo onde ele queria chegar com aquilo. Ela riu, com a cabeça baixa. – Nós temos as pessoas dos nossos sonhos e não as queremos, por que será? – sorriu.
- Talvez porque nos temos... Quem mais precisa de alguém quando se tem ao seu lado? – brincou, como se fosse uma fã falando de algum ídolo adolescente.
- Quem mais precisa de alguém quando se tem ... ? – entortou a boca, fazendo careta. Ela gargalhou, batendo em sua perna. – Quem mais precisa de alguém quando se tem você ao meu lado, meu amor? – disse e ela parou de rir, encarando-o, surpresa.
- Meu amor? – sorriu boba.
- E vai ser o de quem, por acaso? – sorriu também, lhe dando um selinho demorado. – Sabe... Mesmo com tudo isso acontecendo, eu nunca me senti tão feliz assim. Tão vivo assim.
- O sexo faz isso com as pessoas... – sorriu, recebendo um “há-há-há” irônico dele. Ela gargalhou. – E você acha que eu já? Minha vida tem sido um caos, . – sorriu fraco, observando-o. – Eu nunca estive tão ferrada. Tem carros me seguindo, tenho um noivado pra terminar, uma melhor amiga pra fazer as pazes, um pai pra me aceitar e parece que tudo está tão melhor do que há meses. – sorriu estonteante, beijando a ponta no nariz dele.
- Eu fico feliz em ouvir isso. – sorriu também, levando a mão ao rosto dela, acariciando-o. – Quando você quer começar com as aulas de tiro? – disse de repente e ela arregalou os olhos, surpresa.
- Você vai mesmo me ajudar?!
- Não é o que você quer? – mordeu o lábio discretamente, olhando-a nos olhos.
- É claro que é! – sorriu animada e o abraçou com força e ele riu, retribuindo o abraço.
- Então, que seja feita a sua vontade. Na segunda eu começo a dar aulas na Universidade de Nova Iorque, o que acha de dar uma passada lá?
- Mas como? Eles não vão... te perguntar sobre mim? – questionou, incerta.
- Vou pensar em algo, não se preocupe. – sorriu e virou o rosto para frente, encarando a TV desligada. – Agora, o que acha de irmos tomar um banho? – voltou a olhá-la, erguendo a sobrancelha esquerda.
- Acho uma ótima ideia! – sorriu maliciosa, levantando-se e puxando-o junto. – E depois se víssemos um filme? Soube que vai passar um de suspense, ação... Do jeito que você gosta. – enlaçou os braços em volta da cintura nua dele.
- Eu acho que será ótimo. – enlaçou os braços na cintura dela também. – Temos quatro horas até que eu vá buscar Aaron. – piscou, colocando impulso sobre o corpo dela, levando-o para seu ombro. Ela arregalou os olhos, surpresa, mas logo começou a gargalhar. – Agora, vamos logo, sim? – disse, começando a andar. Ela gargalhou mais e beijou as costas dele, carinhosa.

No seu relógio de pulso as horas marcavam 14h00 em ponto. Segundo os painéis do aeroporto internacional, o voo em que Steve voltava chegaria às 14h10. estava inquieta, seus dedos batucavam no braço da cadeira que estava sentada, seu pé balançava insistente contra o chão. Forte sinal de ansiedade.
As pessoas passavam apressadas à sua volta; umas sorriam felizes e emocionadas com o reencontro com seus entes queridos. Outras chegavam e ao menos olhavam para os outros, a única coisa que lhes interessava eram seus próprios umbigos. sorriu ao ver uma garota correndo para abraçar o que parecia ser seu namorado, talvez eles houvessem passado muito tempo separados. Com o beijo que ambos deram, ela só comprovou tal pensamento. Parecia tão sedento, apaixonado. sorriu com a cena e voltou a observar o portão de desembarque de outros passageiros. Como ela queria recebe-lo daquela mesma forma, apesar dos poucos dias que passaram separados, tinha plena certeza de que teria o recebido dessa forma se não houvesse cruzado seu caminho novamente.
Agora os segundos pareciam correr, os minutos passavam apressados. Ela não queria ter essa conversa com ele, não se sentia preparada ainda. Não queria ver sua expressão de decepção quando lhe dissesse que estava terminando o seu noivado, a quatro meses de ser consumado.
voltou a encarar o painel e um frio tomou conta de seu corpo, seu estômago embrulhou e suas mãos ficaram geladas. O voo já havia pousado. Ela se levantou, tentando inspirar o máximo de ar que conseguiu, antes que ele se esvaísse por completo de seus pulmões, e, caminhou até a faixa azul que separava os passageiros de chegada de seus familiares ou amigos que vieram lhes recepcionar. A porta de desembarque abriu e algumas pessoas já saiam por lá. Mais sorrisos, abraços e lágrimas emocionadas tomavam conta do ambiente. Ao correr os olhos pelo corredor novamente, encontrou um par de olhos verdes já bem conhecidos. Eles encararam os seus também, estavam meio apertados pelo fato de seu dono estar com um sorriso extremamente aberto no rosto. E isso só dificultou tudo para , que sentiu uma pontada ainda maior em seu peito. Contudo, não foi capaz de não retribuir o sorriso; não da mesma forma, obviamente. Um pequeno repuxar em seus lábios foi a única expressão que conseguiu colocar em seu rosto.
Steve deu mais alguns passos enquanto empurrava o carrinho onde estava sua pequena e única mala. Logo a distância que os separava terminou e ele a abraçou com força. retribuiu.
- Como eu senti a sua falta, meu amor! – sussurrou, afrouxando o abraço e encarando seu rosto. A culpa tomou conta novamente. Uma das mãos de Steve foi até o rosto dela, acariciando-o com uma delicadeza quase cirúrgica. – Você parece estar ainda mais linda. – sorriu e seu rosto se aproximou mais alguns centímetros. – Essa semana pareceu uma eternidade.
E no próximo segundo seus lábios já encontravam os dela. deixou-se levar por ele, como uma garotinha que nunca beijou. Não queria fazer isso, mas enfrenta-lo e magoa-lo agora não era algo que ela realmente necessitava. Sentia-se uma covarde, e, no final, era isso o que definitivamente era. Ela acariciou as costas dele e quando a língua dele tocou a sua, não sentiu aquele conhecido choque percorrer seu corpo. Não do modo de como era com . Aquilo não lhe fazia nem cócegas, comparado ao seu querido bad boy. Quando o beijo chegou ao fim, ela lhe deu um mínimo selinho e encarou-o nos olhos, novamente.
- Eu também senti a sua falta. – sorriu verdadeiramente, encarando seu noivo. Ela poderia não amá-lo como amava , mas sentia um imenso afeto e carinho por ele. Queria poder pensar na possibilidade de seu relacionamento terminar de alguma forma amigável, mas esse pensamento logo se esvaiu assim que ela viu o sorriso e olhar apaixonados que ele lhe lançava. Ele levou os lábios à orelha dela.
- Não vejo a hora de chegarmos à sua casa para saciarmos toda essa saudade. – mordeu o lóbulo de sua orelha e ela sentiu um mínimo arrepio correr por seu corpo. Nada comparado à . Repetiu.
juntou toda a força que tinha em si, respirou fundo, olhou-o nos olhos e disse, com o máximo de firmeza que sua voz lhe permitia.
- Steve, nós... Eu preciso conversar com você. – o outro franziu a testa, confuso. Ele deu alguns passos para frente, segurando a mão dela, com a mesma delicadeza de antes.
- Você não está gravida, está? – disse, com um leve tom de preocupação. arregalou os olhos.
- Não! Oh, meu Deus, é claro que não, Steve. – balançou a cabeça em negação e soltou uma risada anasalada. Ele respirou aliviado e ela sorriu.
- Graças a Deus. – riu, começando a andar. Ela estava logo ao seu lado. – Lógico que não iria hesitar se fosse o caso, mas nada como um começo de casamento à sós, não é mesmo? – sorriu, virando o rosto para o dela, que fitava o chão. – Está tudo bem, ? – questionou, andando mais lentamente, enquanto continuava a empurrar o carrinho com a mala. Eles estavam próximos ao estacionamento.
- Está – o encarou por um segundo e sorriu, mesmo sem a mínima vontade.
- Você tem sentido algo, meu amor?
“Sim, Steve. Tenho sentido algo mais forte do que qualquer coisa que já pensei sentir em toda a vida. O amor. E não é por você, querido.” Foi o que ela pensou, mas não disse, obviamente. Ao invés disso, se contentou em sorrir em negação.
- Minha saúde está em ótimo estado. – levou as mãos suadas aos bolsos da calça jeans, enquanto suspirava pesadamente.
- Fico muito contente com isso, querida. – beijou o topo da cabeça dela. fechou os olhos por um segundo, sentindo um nó se apoderar de sua garganta. Maldito choro desnecessário. – Você parece meio tristinha, mas eu tenho algo que com certeza irá te animar. – riu, enquanto a via desligar o alarme de seu carro. – E espero que isso não soe malicioso.
- Fique tranquilo. – riu também, já abrindo o porta-malas. Steve colocou sua própria mala no mesmo e o fechou, prontamente. foi até o lado do motorista e entrou, deixando-se respirar fundo mais uma vez. Ele entrou no banco ao seu lado e colocou o cinto. – Você quer que eu te deixe em casa primeiro ou vamos direto para a minha?
- Vamos para a sua. Eu preciso de um banho, acho que deixei algumas roupas lá, não? – ela assentiu e ligou o motor. – Você não tem ideia de quão cansativa essa viagem foi! – encostou a cabeça no banco, sentindo o carro começar a andar. – Preciso de uma daquelas massagens suas, será que é pedir demais? – sorriu maroto e ela continuou com os olhos na estrada.
- Veremos isso depois, sim? – tentou sorrir o mais verdadeiramente possível. Não conseguiu.
- Aconteceu algo enquanto eu estava fora, ? – arrumou-se no banco, virando o rosto para encará-la. O sorriso de minutos atrás já não mais habitava seu rosto.
- Não.
- Tem certeza?
- Tenho.
- Você consegue dizer uma frase que tenha mais de duas palavras, por favor? – Ela rolou os olhos, já sentindo suas mãos gelarem novamente.
- O que quer que eu diga, Steve? Eu já disse que está tudo bem, querido. Não se preocupe. – suspirou, tentando sorrir.
- Se você diz... Eu confio em você. – sorriu fraco.
O caminho foi mais longo do que o convencional, segundo o parâmetro de . Ou talvez fosse só seu subconsciente que estivesse ocupado demais para pensar em algo que não fosse na difícil conversa que teria com Steve.
Ela estacionou seu carro e logo saiu, vendo seu noivo fazer o mesmo. Eles subiram em silêncio e logo entraram em seu apartamento.
- Steve... – ela começou, mas ele a interrompeu.
- Antes de tudo, olha só o que eu comprei pra você! – disse animado, indo até sua mala, que estava no sofá.
- Não precisava ter comprado nada... – comentou, com pesar na voz. Mais culpa.
Steve abriu um dos bolsos da mala e tirou de lá uma caixinha de veludo vermelha. sorriu fraco, vendo-o abrir a embalagem. O brilho da pulseira de diamantes quase a cegou e ela sorriu verdadeiramente, não pelo fato da pulseira, mas sim, pelo sorriso que Steve lhe deu.
- Espero que tenha gostado, meu amor. Contei os segundos só pra ver a sua carinha assim que visse a pulseira. – ele riu, tirando a joia da pequena caixa.
- É linda, querido. – sorriu, já sentindo o conhecido nó se formar em sua garganta. Ela esticou o braço e o noivo colocou a joia no mesmo, logo depois, deu um beijo carinhoso. mordeu o lábio, sentindo os olhos marejarem. – Eu não merec...
- Shh. – levou os dedos aos lábios dela, delineando-os. – Eu te amo, meu amor. – sussurrou, levando os lábios aos dela, novamente. Um beijo calmo se iniciou. movimentou a cabeça como se tudo já fosse mais do que conhecido, treinado. Seu corpo estava ali, mas não sua alma. Sua alma estava com . O beijo terminou e ela desviou o olhar do dele. – Você está tão estranha. Tem certeza que não aconteceu nada? – colocou as mãos nos bolsos da calça, observando-a. fitou o chão e mordeu o lábio, respirando fundo. – Hm, que tal me contar, então? – sorriu fraco. – Foi algo com nosso casamento? – ela ergueu o olhar, encarando-o. – Ainda bem que lembrei! Esqueci-me de ligar para o juiz, ele te mandou algum recado? Ele ficou de indicar um ótimo ami...
- Steve...
- Por falar nisso, eu conheci uma ótima banda no México. Acho que eles poderiam tocar no nosso casamento, você não acha?
- Steve, não...
- Ok, talvez uma voz feminina seja mais apropriada. Eu gosto daquela que Audrey nos indic...
- Para, Steve! – disse, num tom exaltado. Ele a encarou, confuso. sentiu seu peito subir e descer rapidamente, enquanto suas mãos tremiam. Era agora. – Você não parou de falar um só minuto desde que voltou! Eu preciso conversar com você. De verdade.
- Eu sabia que havia algo errado... – comento, baixo. Ele umedeceu os lábios, esperando que ela continuasse.
respirou fundo algumas vezes, sem achar a saída no fim do túnel. Encarar Steve não era uma boa ideia, já que seu coração fazia questão de palpitar cada vez que o fazia. Amar era mais do que um fato concreto, entretanto, havia vivido momentos inesquecíveis com seu atual noivo. Seria difícil para ambas as partes. Estava trocando o certo pelo duvidoso. Ou talvez nem tão duvidoso assim.
Ao lembrar-se das palavras de no dia anterior, a coragem que precisava para terminar o noivado com Steve estava ali. Ela esperou as palavras se formarem em sua mente e as libertou.
- Há pouco menos de três anos eu conheci um car...
E antes que ela pudesse terminar a frase, um barulho alto tomou conta do pequeno ambiente. O telefone tocava. Ela parou de falar e Steve virou o rosto para o aparelho. suspirou e caminhou lentamente à estante, atendendo.
- Alô? – disse baixo, desviando o olhar atendo do noivo. A voz desesperada de soou e ela arregalou os olhos.
- ! Você conhece algum hospital senão o do centro? Ele está fechado para reforma e eu não sei o que fazer! Aaron não para de vomitar e está com muita febre!
- O quê? Como?! Eu... Eu não sei! – mordeu o lábio inferior, sentindo o coração acelerar. Steve franziu o cenho e caminhou até ela. – Espera, eu sei! – sorriu aliviada. – Eu sei. Não sai da sua casa, estou indo para aí. – desligou, sem ao menos esperar a resposta dele.
- Casa de quem, ? – Steve questionou, vendo-a buscar sua bolsa no sofá.
- No caminho eu te explico. – pegou a mão dele e andou depressa até a porta, levando-o junto. – Ah, espera! Você está com sua maleta aí, não está?
- Estou amor, mas...
- Você é pediatra, não é? Pois então, eu preciso da sua ajuda. Ou melhor, alguém precisa.


Capítulo XX


agora dirigia em direção à casa de . Suas mãos estavam ligeiramente geladas e trêmulas no volante. Ao saber sobre Aaron, ela não conseguiu pensar em mais nada a não ser em Steve. Ele era médico, não era? A possibilidade de ter seu noivo e seu amante no mesmo cômodo lhe deixava extremamente constrangida e assustada, mas o que importava agora era o pequeno Aaron e mais ninguém.
- Será que agora dá pra me explicar porque estamos saindo de casa, quando eu acabo de voltar de uma viagem de cinco horas? Estou cansado, . – Steve suspirou, encostando a cabeça no assento do carro.
- Quando você se formou, provavelmente fez uma promessa de estar sempre à disposição de quem precisasse dos seus cuidados, não fez? – ele assentiu, virando o rosto para encará-la. – Portanto, não reclame, querido. – sorriu fraco, podendo ver que a casa de estava a poucos metros.
- Você pode pelo menos me dizer o nome do meu novo paciente?
- Aaron, tem três anos. – sorriu ao lembrar-se do pequeno.
- A mãe dele é sua amiga? – bocejou, se arrumando no banco. engoliu seco e pigarreou, estacionando o veículo na vaga mais próxima. Ela saiu do carro e Steve a acompanhou.
- Quase isso. – disse baixo, caminhando até a porta da casa e tocando a campainha logo em seguida. Ela respirou fundo e em poucos segundos apareceu; ele vestia uma camiseta regatas azul escuro, uma calça jeans numa lavagem clara e seu rosto estava ligeiramente rosado, talvez pelo nervosismo. – Ei. – ela sorriu fraco e ele veio lhe dar um selinho, porém, desviou.
No início não entendeu, mas assim que olhou para o lado viu um homem alto, quase tão forte quanto ele mesmo. Steve.
- O que... – ele começou, mas a mulher logo o interrompeu.
- Steve é pediatra, . Onde o Aaron está?
- Você é o cara do aeroporto, não é? – Steve questionou, com um sorriso simpático no rosto. Ele estendeu a mão e retribuiu a saudação.
- Eu mesmo. – sorriu fraco, tentando parecer não tão surpreso. Talvez não conseguira. – E Aaron está no quarto. É a segunda porta à esquerda.
- Certo. Você espera aqui, amor?
fechou os olhos por alguns segundos e contou mentalmente até dez.
- Eu espero – ela sorriu.
Steve caminhou até o corredor e logo se perdeu das vistas de e . Ela virou lentamente para encará-lo, entretanto, ele fitava o chão, com um sorriso no mínimo irônico no rosto. Suas mãos estavam nos bolsos e ele balançava a cabeça devagar, em negação.
- Não me faça essa cara, .
- Sabe o que é mais engraçado? – ergueu a cabeça, olhando-a nos olhos. – Eu saio ontem do seu apartamento com a promessa de que você vai terminar seu noivado com Steve no dia seguinte, e hoje, quando vejo, vocês estão mais unidos do que nunca. – seu sorriso irônico já não estava mais nos lábios. – E por sinal, é uma linda pulseira. – olhou para o braço dela, voltando com o sorriso de antes aos lábios.
- Você acha que é fácil terminar um noivado de dois anos, ? Oh, por favor! – riu sarcástica e ele cruzou os braços, fingindo prestar atenção no que ela falava. – Como queria que eu falasse? “Oh, Steve! Como vai? Fez boa viagem? Ah, que ótimo, porque eu vim aqui te avisar que estou terminando nosso noivado.”
- Essa seria uma boa frase. – ele riu, fazendo-a rolar os olhos.
- Ei! – Steve chegou na sala, de surpresa. O casal o olhou. – Aaron não para de chamar pelo pai, acho melhor você vir. – ele sorriu simpático novamente.
- Ah, claro. – disse, saindo na frente de , que bufou impaciente, dando passos largos até o quarto.
Ao chegarem ao cômodo, encontraram Aaron na cama; ele estava pálido e sentiu vontade de ficar ali até que o pequeno ficasse totalmente saudável, finalmente.
- Pronto, filho, o papai já tá aqui. Agora faça o que o doutor te pedir, ok? – Aaron assentiu e encarou Steve.
- Certo, grandão. Abra essa boca enorme pra eu ver como está a sua garganta? – o pequeno o fez.
se permitiu por alguns segundos apreciar aquela cena que parecia tão perfeita a seus olhos. e Steve no mesmo lugar, em paz. Ela sorriu, mordendo o lábio inferior.
- Mas essa gargantinha tá um tanto vermelha, hein? – o Doutor sorriu, tirando o palito da boca da criança. – Você é um ótimo paciente, hm, Aaron? – o menino sorriu orgulhoso. sorriu também. – Agora, pra melhorar, quero que me diga se está doendo onde eu tocar, pode ser? – ele assentiu. – Vejamos... – Steve tocou em alguns centímetros do pescoço dele e Aaron gemeu de dor. deu um passo a frente, preocupada. fechou o sorriso, encarando-o atento. – Hm, como imaginava!
- O que ele tem? – disse, o olhando.
- Já te falo, me deixa só prescrever a receita... – disse, enquanto anotava algo num papel. – Pronto! – sorriu, entregando-a a . – Então, não é nada mais do que uma inflamação de garganta... Cinco dias desse remédio e esse pequeno vai pular pela casa de novo! – sorriu, passando a mão nos cabelos de Aaron.
- Ei, príncipe! – sorriu, acenando para ele.
- Tia ! – ele sorriu de volta, acenando também.
- Essa inflamação deve ter sido causada por muito gelado, sim? Tomou muito sorvete ultimamente, mocinho? – Steve disse, rindo e se levantando.
- Tomei onti! Com a tia e o papai. – disse inocentemente e e se encararam com os olhos arregalados. – é migo da namolada do papai?
- Aaron! – chamou alto. sentiu sua respiração falhar quando Steve a encarou, incrédulo.
- Namorada do papai? – cruzou os braços, deixando o maxilar rígido.
- Isso é coisa de criança, Steve. – disse, tentando manter o máximo de firmeza que conseguiu. – Só porque viu eu e conversando ontem...
- Hoje vai domi aqui de novo? – Aaron olhou para , que continuava parada.
- De novo? – Steve questionou, num tom sarcástico. – Tomar sorvete juntos, como uma família feliz. Namorada do papai. Dormir aqui de novo. Aquele encontro conturbado no aeroporto... O jeito como vocês se olhavam hoje na sala, mais cedo. – disse devagar. Ele fechou os olhos e balançou a cabeça, em negação. fitou o chão, sentindo um elefante pesar em suas costas. – Acho que arrumei as peças do quebra-cabeça, querida.
- Steve...
Ele não disse nada, somente saiu com passos largos até a porta. foi atrás dele e se levantou, porém, ela o impediu de continuar, alegando que esse era um assunto que tinha de resolver sozinha. a entendeu e voltou para a cama do filho, onde o olhou, sorrindo fraco. O pequeno ao menos entendeu, só ligou a televisão num casal de desenhos qualquer e deixou toda a sua atenção com Barney e seus amigos.
Na sala, Steve andava de um lado para o outro, enquanto já sentia o rosto queimar e os olhos se encherem de lágrimas.
- Há quanto tempo? – Ele disse, com um tom de voz que transbordava ira. ficou em silêncio, somente encarando sua sapatilha no chão; as lágrimas já rolavam por seu rosto. – Há quanto tempo, ?! – gritou.
- Essa semana. – fungou, olhando-o.
- E você quer que eu acredite nisso? – ele riu sarcástico, indo a uma parede e socando-a com força. se encolheu. – Sua vadia! – a encarou, com o dedo em riste. – A quatro meses do nosso casamento, cacete! – gritou novamente, se aproximando dela. – Você estragou dois anos de um relacionamento por um carinha que mal conhece?
- Eu o conheço há quase três anos... – sussurrou, ainda chorando.
- E Thompson se perde nas próprias mentiras! – ele riu sarcástico novamente. – Você não disse que tinha sido só essa semana? Oh, Deus, como eu fui otário! Se aquele garoto não tivesse me falado, você teria me enganado por mais quanto tempo? – ele se aproximou dela, ficando a centímetros de seu rosto. – Filha da puta! – lhe deu um tapa certeiro no rosto, ela gritou.
- Eu o conheci há três anos, mas ele tinha sumido e só apareceu nessa semana... – ela fungou, com a mão no rosto. – Eu não tive culpa, Steve.
- Ah, não... É claro que não teve. – passou a mão no rosto, tirando todo e qualquer resquício de lágrima que tivesse ali. – Até porque você deve ter sido estuprada por ele. – disse irônico, voltando a encará-la. – Você é como todas que tem por aí, garota! – Steve encarou a parede ao seu lado. – Vagabunda! – deu outro soco e ela se encolheu mais.
ouviu um barulho alto e gritos vindos da sala e não pensou duas vezes ao se levantar. “Aumenta o som da TV, filho. Eu sei como adora essa música”, foi o que ele disse, usando a desculpa para que o pequeno não ouvisse o que estava acontecendo no outro cômodo.
Ao chegar lá, viu os olhos de fúria de Steve e abraçando seus próprios braços, totalmente desprotegida. O outro lhe olhou e a feição de fúria se transformou em psíquica.
- Veio defender sua vadiazinha, ?
- É melhor você sair da minha casa, cara... – disse, tentando manter o ultimo pingo de calma que tinha em si.
- Ou o quê? – desafiou, cruzando os braços.
- Steve, pelo amor de Deus! – implorou, indo até ele. – Você tá com a cabeça quente, a gente conversa depo...
- Ou o quê?! – disse mais alto, ainda encarando o rosto .
- Ou eu vou quebrar ossinho por ossinho desse seu rostinho de mocinha. – cruzou os braços, mantendo um sorriso sarcástico no rosto.
- Bad boy, tatuagens, cara de mau... O típico cara que toda adolescente sonha. Não acha que está um pouquinho velha pra isso, querida? – disse irônico, olhando para , que estava com a mão no rosto.
- Nem tanto, Steve. Só acho que ela está um pouco madura para brincar de boneca com você, não é, Ken? – Steve gargalhou jogando a cabeça para trás e isso só deixou ainda mais exaltado.
- É um bom apelido, obrigado.
- Então você gosta de ser chamado de veadinho, Steve? – riu também, dando alguns passos para frente.
- Pelo amor de Deus, vocês dois, parem! – implorou, mas foi como se sua voz tivesse no mudo e ela não existisse naquela sala.
- Ridículo! – o outro ficou sério, se aproximando dele também. – E você cala a merda da tua boca, ! Quer outro tapa?
- Outro tapa? – disse, olhando-a. Ele viu o quão vermelho um lado do rosto da amada estava e o sangue subiu à sua cabeça. No próximo segundo ele já voava no pescoço de Steve. – Você é louco, seu otário?! – o prensou contra a parede, ainda apertando seu pescoço.
- Para, ! – gritou, indo até eles. – Pelo amor de Deus! – levou a mão à boca, ela estava trêmula. – Se soltem! Tá tudo bem comigo... – fungou, sentindo o choro vir com mais força.
- Se ainda houver algum minuto de vida depois disso, você nunca mais ouse tentar tocar um dedo só nela, tá me ouvindo?! – apertou com mais força o pescoço dele. Steve respirava com dificuldade, enquanto tentava voltar a si. – Eu posso ser até alguns anos mais novo que você, mas eu tenho muito mais experiência, seu merda. – ele viu o outro sufocando e sorriu irônico. – Fica tranquilo, cara – soltou a mão do pescoço dele e o outro tossiu insistentemente, tentando recuperar o fôlego. – Se eu quisesse, acabaria contigo nesse mesmo minuto. Mas não... Não vale a pena. – deu os ombros. – Agora vai embora da minha casa e nunca mais procure a , entendeu?
Steve respirou fundo e encarou , que chorava silenciosamente, encarando-o.
- Você liga pra todo mundo cancelando a farsa daquele casamento, eu não vou mexer um só dedo pra isso. – cuspiu, entre os dentes. – Ter te conhecido foi a pior coisa que já me aconteceu. – trincou o maxilar, virando-se para olhar . – E você... faça bom proveito, pode durar pouco. – o olhou de cima abaixo. O outro cruzou os braços, encarando-o. – Bela troca, querida. – sussurrou, pegando sua maleta no chão e saindo pela porta; ele a bateu com o máximo de força que pôde.
O silêncio pelo cômodo se alastrou e a única coisa que podia se ouvir ali era o choro angustiado de , que tentava amenizá-lo colocando o rosto entre as mãos. respirava fundo, encarando-a. Ver sua garota assim era pior do que qualquer coisa e agora, mais do que nunca, sentia vontade de matar Steve, mas tinha de se conter.
- Me diz que isso tá terminando... – soluçou, tirando o rosto das mãos para encará-lo. deu alguns passos até ela e a abraçou, afagando seus cabelos. – Por favor, . – fungou, enquanto chorava em seu ombro, deixando parte da camiseta úmida.
não disse uma só palavra enquanto afagava os cabelos dela, como se fosse uma criança que acabasse de ter se machucado, o que, de fato, não era mentira. Ele respirou fundo, pensando que aquilo só estava começando. Aquela era só a primeira batalha; a guerra ainda estava por vir.
Alguns minutos se passaram, eles não souberam quantos, mas não foram muitos. O choro de cessou e agora só podia se ouvir os suspiros dela, angustiados.
- Desculpa. – sussurrou, finalmente. – Desculpa por te fazer passar por tudo isso. – se desfez do abraço. Ele levou as mãos ao rosto dela, segurando-o. – Se eu pudesse voltaria no tempo só pra não te ver assim. Eu não quero te ver sofrer, . – acariciou seu rosto, enquanto ela balançava a cabeça, em negação.
- Nós estamos juntos nessa, não estamos? – ele assentiu, sorrindo fraco. – Eu vou aguentar tudo isso, mas eu preciso da sua ajuda.
- Eu estou aqui, não estou? - ela sorriu, levando a mão até o rosto dele e acariciando-o também. – E vou continuar aqui... Até você me mandar embora, pelo menos. – brincou, sorrindo.
- Essa é a sua casa, se formos levar na teoria, você é que me mand...
- Cala a boca, . – ele balançou a cabeça, rindo, e, logo após, lhe beijou.

Os ponteiros do relógio já marcavam 18h49 quando finalmente acordou do pesado sono. Ela abriu os olhos e encarou o cômodo desconhecido, contudo, não ficou preocupada. Apesar do pouco tempo que passara ali, conhecia aquele lugar. Vivera o melhor momento de sua vida ali. Era o quarto de . No entanto, ele não estava ali, o que a deixou mais aliviada no momento. Ela precisava pensar... Precisava de um tempo sozinha.
As palavras grosseiras de Steve atormentavam a sua mente. Doía.
Filha da puta. Vadia. Vagabunda. Ter te conhecido foi a pior coisa que já me aconteceu. Era como um CD que estivesse constantemente no replay. sentou-se na cama e fechou os olhos, colocando o rosto sobre as mãos, cobrindo-o.
Doía ouvir aquilo do homem que lhe jurou amor eterno e que planejava formar uma família. Ela tinha plena noção de seus sentimentos, e sabia que seu coração era de , entretanto, era impossível não sentir ao menos afeto por Steve. Afinal, ele fora seu primeiro homem e seu melhor amigo por tanto tempo.
O choro se tornou um pouco mais alto e os soluços já estavam ali, novamente.
Ao ouvir passos, ela ergueu a cabeça e encontrou a encarando, enquanto estava encostado no batente da porta. Ela mordeu o lábio, tentando segurar o choro.
- Está tudo bem em chorar. – ele disse, dando alguns passos até a cama. – Eu só odeio ser o motivo dessa dor.
- Você não é.
- Oh, , ... – ele riu amargurado. – A quem queremos enganar? Nós mesmos? – se levantou, cruzando os braços. – Se eu não tivesse voltado pra cá nada disso estaria acontecendo. – deu os ombros, vendo-a fechar o semblante.
- Você me ama ou não ama, cacete? - questionou, já sem a voz tão trêmula como antes. franziu o cenho, confuso. – Como “nada disso estaria acontecendo”? Você não queria ter me reencontrado? Cala a boca, seu merda. – ela disse e eles apertaram os lábios, tentando não rir. – Eu estou sofrendo sim, mas por ter ouvido tudo o que ouvi. Por ter terminado assim... – suspirou e ele voltou a ficar sério. – Se tudo isso está acontecendo, era pra acontecer. Eu tenho meu direito em sofrer, não tenho? Mas não se culpe, por favor. Ao menos por isso. – fechou os olhos, respirando fundo. – Não existe arco-íris antes da tempestade, não é?
- Você me orgulha, mulher. – sorriu, indo até ela, que se levantou.
- E você é um filho da puta. – levantou o dedo indicador, deixando-o em riste. Ela sorriu e se aproximou dele, encostando o dedo em seu peito. – Um puta filho da puta. – riu, mordendo o lábio e olhando-o nos olhos.
- Um filho da pu... – disse, mas parou, rindo. Ele levou as mãos ao rosto dela e com os polegares, o secou por completo. – Um puta filho da puta que te ama. – aproximou o rosto do dela e lhe deu um selinho. – Muito. – sussurrou, beijando-a de verdade.
tomou os lábios de aos seus, num beijo calmo, porém, intenso. Ele passou a língua na boca dela e ela logo a entreabriu, sabendo o que aquilo significava. A língua dos dois se chocou e eles sorriram levemente, sentindo o conhecido arrepio tomar conta de seus corpos. deu alguns passos para frente, fazendo-a andar também. Ele a deitou na cama, devagar, e afastou seus lábios. Ambos sorriram.
foi ao pescoço de e depositou alguns beijos ali, deixando-a arrepiada. Era seu ponto fraco.
- ... – ela sussurrou, mas não foi num tom para que ele continuasse. Mas sim, para que ele parasse. Sem entender, ele ergueu o rosto, encarando o dela. – O Aaron... Como ele está? – perguntou e ele sorriu assentindo e saindo de cima dela.
- Melhor. Eu já fui à farmácia e comprei os remédios que... O Steve – disse, com a voz baixa – receitou.
- Amanhã mesmo ele já vai estar...
“Papai?!” A voz do pequeno soou, alta, e o casal se olhou, rindo.
- O dever te chama, papai. – disse, sorrindo.
- E eu posso ter ajuda da minha namorada nessa missão? – se levantou, estendendo a mão para ela. sorriu fraco, enquanto assimilava o que havia acabado de ouvir. Ele tinha dito “namorada”? – ? – chamou, vendo-a encarar o horizonte.
- Namorada? – disse, finalmente.
- É tudo o que eu posso te propor agora, mas eu prometo que quando tudo estiver certo, tudo estiver em seu lugar, eu vou te pedir em casam... – e antes que ele terminasse de falar, num impulso ela pulou em , beijando-o. Ele riu com o susto, mas logo o correspondeu.
“Papai?!”, a voz chamou de novo e o - agora oficial - casal foi até o quarto de Aaron.
- Ei, campeão, o que foi? – perguntou, caminhando até a cama dele. – Por que essa gritaria? Você sabe que não pode, sua garganta tá inflamada. – disse, sério. sorriu, vendo o quão preocupado era. Um grande pai.
- Mas num veio logo... – fez bico, como se pudesse comovê-lo. Conseguiu.
- O papai estava ocupado, desculpa? – fez o mesmo bico do filho e teve vontade de pular em cima dos dois e abraçá-los até segunda ordem. Eles eram tão parecidos.
- Tá! – o pequeno disse, sorrindo. sorriu também.
- Ei, anjinho? – disse. Aaron a olhou, com um sorriso sapeca brincando nos lábios. – O que acha de um hambúrguer com batatas fritas? – Ele abriu a boca, surpreso. Seus olhos brilharam e então ela riu com a felicidade dele.
- E quem é que vai fazer hambúrguer com batatas fritas, por acaso? – cruzou os braços, encarando-a desafiador.
- O papai, ué... – Ela disse, com voz infantil. abriu a boca, incrédulo. gargalhou, lhe dando um selinho demorado. – Eu vou, mas não é pra acostumar, ok?
- Prometemos não nos acostumar, não é, Aaron?
- Quê que é acostuma? – Aaron levou a mão à boca, parecendo pensar.
- Nada, meu amorzinho. – sorriu, indo até ele e lhe dando um beijo no topo da cabeça. – Bom, eu vou lá... Não se divirtam sem mim, certo?
- Não vamos! Prometemos. – levou dois dedos à testa, como se batesse continência. riu e saiu. – E aí, filhão, o que vamos assistir?
- X-men! – o menino disse, animado.
- Só porque a Jean é uma gata, hein? – brincou, se arrumando na cama, ao lado do filho. Aaron franziu o cenho e negou com a cabeça, rindo.

- ? – chamou, enquanto se aninhava nos braços do amado. O casal já estava pronto para dormir. O homem murmurou algo como “hm?” e ela continuou: – É estranho querer uma vida clichê? – ergueu a cabeça para encara-lo. Ele sorriu brevemente, olhando-a.
- Eu acho que não...
- Quando eu era pequena, só queria uma vida diferente... Ser uma atriz bem famosa, uma cantora aclamada ou alguma personalidade histórica. Eu não queria ser como todas, entende? Queria ter uma missão na vida.
- Você não é como todas as outras, . Você é especial... pelo menos pra mim. Você mudou a minha vida. – sorriu carinhoso e ela mordeu o lábio, lhe dando um selinho.
- Eu sei o que quer dizer, mas não é assim... Enfim, já que não poderia ser uma princesa e viver num conto de fadas, ou no castelo da Inglaterra, queria alguma dessas opções. E hoje... Hoje eu só queria poder sair na rua e levar o Aaron ao colégio, voltar pra casa depois de um dia cansativo de trabalho e fazer o jantar, para quando você chegasse em casa. Acordar todos os dias ao seu lado e ver que o nosso maior problema é decidir se pintamos a entrada da casa de azul ou verde. – riu com a inocência que ela disse isso e beijou o topo de sua cabeça. – Eu só queria ter uma vida normal.
- Eu também queria, querida. Acredite. – suspirou, afagando os cabelos dela. – Há alguns anos eu só me imaginava fazendo a mesma coisa que fazia... Aquela adrenalina nas veias, o frio na barriga, o sangue frio... – respirou fundo, fitando o horizonte. – Hoje eu só queria ganhar o direito de ser um cara normal.
- Será que um dia teremos isso?
- É claro que teremos. – sorriu. – Mas antes temos uma batalha para vencer. – ela o olhou, prestando atenção no que o namorado dizia. – E nós temos que começar algum dia... Amanhã eu volto a trabalhar, você quer ir?
se sentou na cama, para poder observá-lo melhor.
- Você diz... O “treinamento”? – fez aspas com os dedos e ele assentiu. Ela sorriu, mordendo o lábio. – É claro que eu quero ir! Quanto antes começarmos com isso, mais cedo terminaremos.
- Então está certo. Amanhã começamos com o projeto ! – brincou, recebendo um tapa dela. Eles riram. Amanhã seria um longo dia e eles tinham certeza disso.


Capítulo XXI


O dia havia amanhecido ensolarado, diferentemente dos anteriores. Talvez fosse um sinal... A luz estava mais próxima do que a escuridão.
acabara de deixar Aaron na escola, junto de . Ela havia conseguido desmarcar os clientes que receberia no trabalho, algo mais importante teria de ser feito naquele dia. Sua paz estava em cheque.
Após deixarem o pequeno na escola, se guiaram até a faculdade de Nova Iorque, aonde começaria a trabalhar hoje, com os alunos de Balística. Ao chegarem ao local, passaram facilmente pela segurança e caminharam à direção da Universidade. Esperaram poucos minutos e, finalmente, puderam entrar para falar com o diretor.
- Bom dia, professor . – O homem, que aparentava ter não mais de cinquenta anos, disse. Ele olhou para o lado de e pôde ver , sorrindo tímida. – Vejo que trouxe alguém.
- Bom dia, senhor Manson. – sorriu de volta, sentando-se numa das cadeiras que estavam logo à frente. – Desculpe não avisar sobre a visita de minha mentora. – disse convincente e arregalou os olhos, olhando-o brevemente. – Mas, bem... Vou ser breve. Ela é uma agente francesa e está em Nova Iorque há pouquíssimos dias, está fazendo um perfil sobre mim e meus métodos, portanto, é necessário que ela assista o meu primeiro turno de aulas. – sorriu convincente, olhando para a mão de , que estava encostada em seu próprio colo. – Os alunos ao menos vão perceber sua presença, eu tenho certeza.
- Tout va bien Avec Vous ma chère? Bienvenue à notre Université. – Manson, o diretor da escola, falou e sorriu nervosa. mordeu o lábio, tentando segurar o riso. Dizer que ela era francesa não havia sido uma boa ideia, definitivamente.
- Oui. – disse somente, tentando soar o mais francesa que pôde.
- J'espère que vous aimez notre Université. – sorriu cordialmente e virou-se para novamente. – Francês é uma das línguas que falo, professor . – riu. – Mas, bem, você sabe que é de praxe, então... Eu posso ver a credencial dela?
sentiu seu ar se esvair e mordeu o lábio, nervosa. Ela olhou para e nenhum músculo dele havia se movido, o que estava acontecendo? Ele ia perder o emprego e ainda teriam de passar por um processo de falsidade ideológica.
- Mas é claro que pode, diretor Manson. – sorriu, abrindo a pequena bolsa que havia trazido. franziu o cenho, encarando seus movimentos. – Aqui está. – esticou o braço, entregando um pequeno papel para o mais velho.
- Vejamos... Sophie Muller? – ergueu o olhar para , que assentiu com o mesmo sorriso de segundos atrás. – Então está bem, professor. É claro que ela pode assistir às suas aulas.
- Ótimo. – sorriu contente, respirando fundo. – Mas e quanto à mim, diretor?
- Oh, claro... Aqui estão os horários de suas aulas e a sua turma. É um prazer ter um profissional tão competente conosco em nossa Universidade.
mordeu o lábio, sorrindo, e encarou . Seu coração faltava explodir de orgulho.
- O prazer é inteiramente meu, acredite. – riu, esticando o braço e pegando os papeis que Manson lhe deu, juntamente com a credencial de ... Ou Sophie.
- Pois bem, era só isso mesmo. Espero que possamos trabalhar juntos por muitos anos. – ergueu o braço, para cumprimenta-lo. retribuiu o aperto de mão e logo depois de levantou, acompanhado de . - Aurevoir Sophie. – o homem acenou, sorrindo.
- Aurevoir. – ela repetiu, imitando o sotaque francês.
O casal saiu da sala do diretor e respiraram aliviados.
- Vous étiez génial, Sophie! disse em tom de deboche e lhe deu um tapa no braço, ele riu.
- Eu te mato, . – entrou na frente dele e continuo andando, enquanto o encarava. – Te mato! – disse baixo, fazendo uma arminha com a mão e apontando para a barriga de , que mordeu o lábio, olhando-a maliciosamente. Ele a puxou para um corredor vazio.
- Você me mata quase todos os dias, ... – sussurrou, com a boca na orelha dela. – Afinal, dizem que quando se chega ao paraíso é porque a pessoa morreu, não é? – mordeu o lóbulo de sua orelha e ela mordeu o lábio, sentindo o corpo de arrepiar. – Você me leva ao paraíso com um só olhar, mulher. – levou os lábios aos dela e lhe deu um selinho demorado, logo depois puxando seu lábio inferior. – Agora vamos logo com isso, minha francesinha! – afastou o rosto do dela. – Logo os alunos chegam e eu não quero ensinar uma agente federal a atirar, quero? – piscou, puxando-a para fora do corredor novamente.
- Vou evitar gastar saliva com uma resposta para você, querido. – suspirou, recebendo a gargalhada de . – Como você conseguiu aquela credencial?
- , ... Minha doce , você se esqueceu do que eu fazia há anos? Falsificações são uma das minhas especialidades... E essa era da mãe do Aaron, nem precisei fazer uma nova. – sorriu, já podendo avistar o campo de treinamento de suas aulas.
- Vocês tiveram a adolescência que toda pessoa quer... – ela riu, balançando a cabeça em negação. – Eram livres, podiam fazer o que bem entendessem, viajar para onde desejassem.
- Não era bem assim... O que queríamos no começo era só uma adolescência comum. – ele sorriu fraco, abrindo a porta da sala. Ao ver todos aqueles bonecos de alvos ali, ele não deixou de sorrir abertamente. Havia sentido saudade de seu trabalho.
- Você já foi à França, ? – questionou, sem ao menos se interessar pela sala que estava à sua volta.
- Eu já visitei os quatro cantos do mundo, meu bem. – ele sorriu, indo até o cofre. – Vejamos, a senha... – passou os olhos pelo papel que segurava nas mãos. – Aqui! 5789622... – dizia enquanto digitava os números. O cofre abriu e seus olhos brilharam ao ver o estoque de armas que aquele lugar carregava.
- E de novo eu me sinto uma garotinha perto de um cara com tanta experiência... – suspirou, caminhando até ele; que rolou os olhos.
- Não diz merda, . – a olhou de soslaio. – Vem cá ver isso! – o sorriso voltou a habitar seu rosto e ela, finalmente, chegou ao lado dele; seus olhos se arregalaram.
- Pra que tantas armas?!
- Para os alunos. – sorriu, pegando duas delas. – Carregadas! – mordeu o lábio, olhando-as, animado.
- É impressão minha ou, para você, ver armas é como estar vendo uma revista Playboy? – cruzou os braços, encarando-o, confusa. gargalhou, finalmente encarando-a.
- Quase isso. – ainda rindo. – Pega dois daqueles coletes pra nós. – piscou, apontando para um canto da sala, onde haviam vários coletes à prova de balas pendurados.
correu até o lugar dito por e pegou os coletes; colocou um deles e jogou o outro para o namorado.
- E então, professor ? – Ela ergueu a sobrancelha, sorrindo maliciosa.
- Vamos lá, . – Ele sorriu, indo até ela e lhe entregando uma das armas. – Isso tá carregado, cuidado! – avisou, virando-se para frente. – Primeiro: ergue a mão direita com a arma e coloca a esquerda por baixo, assim você vai ter mais firmeza ao atirar. – explicou, ilustrando o que dizia. prestava atenção, mas ainda sem fazer nenhum movimento com sua arma. – Se quiser, eu prefiro assim... caso tenha tempo, deixe só o olho esquerdo aberto, você vai ter uma melhor visão da mira. – ergueu o braço, visualizando o ponto vermelho pintado no boneco. – E depois é só...
O barulho alto do tiro da arma fez com que desse um grito assustado. fechou os olhos com força, por sorte havia acertado na mira.
- Quer me matar de susto?! – ela perguntou, colocando uma das mãos no peito.
- Esqueci os tampões de ouvido... A sala é fechada, por isso soou tão alto. – disse inocentemente, com um sorriso tímido no rosto. Ela rolou os olhos, indo à uma mesinha próxima, onde os tampões estavam. – Sem drama, . Nós dois esperamos que você não precise usar dessa arma, mas se for necessário, tenho certeza de que você não vai perder tempo querendo deixar o barulho menos alto. – pegou um dos tampões e os colocou no ouvido. – Certo, agora faça você, no boneco 3.
- Ok, mas sem pressão... – mordeu o lábio, erguendo o braço direito junto da arma.
- Mira no ponto vermelho e deixa a mão firme, sim? – disse, dando alguns passos para trás. Alguns segundos depois, atirou e acertou. Acertou a parede ao lado do boneco.
- Certo – se virou para encará-lo. estava incrédulo, olhando o buraco do tiro na parede almofadada. – Considere que é a minha primeira vez com uma coisa dessas... Eu fui muito mal? – fez uma careta, com medo da resposta.
- Se você foi mal? – desviou o olhar da parede para encará-la. Ela mordeu o lábio e ele gargalhou, caminhando até ela. – Eu acho melhor você desistir enquanto estamos vivos...
- Não seja tão duro, . – colocou a arma no chão e cruzou os braços.
- Você me deixa duro assim, . – olhou-a sugestivamente ao mesmo tempo em que um sorriso malicioso se plantava em seus lábios. abriu os lábios, surpresa, e lhe deu um tapa forte no braço. Ambos riram. – Tudo bem – massageou o braço, pegando a arma no chão. – Vamos tentar outra vez, pode ser? – sorriu, lhe dando um beijo rápido.
- Certo, senhor pervertido. – riu, virando-se para os bonecos à sua frente. – Meu pai é o , não é possível que pelo menos um pouco dos “bens” – fez aspas com os dedos – dele, eu não tenha herdado.
- é o melhor atirador que eu já conheci em toda a vida. – disse baixo, lembrando-se das primeiras aulas que tivera com o homem.
- Eu prefiro nem saber disso. – deu os ombros, balançando a cabeça. – ?
- Oi?
- Você percebeu que só faz uma semana desde que você voltou? – umedeceu os lábios, voltando a falar: – Parece que já faz uma eternidade que estamos juntos de novo... Há uma semana o meu maior problema era escolher meu vestido de noiva. Hoje meu maior problema é acabar com uma quadrilha de assassinos. – riu sem humor, dando os ombros.
- Acho que é esse o preço que se paga por estar com um assassino. – sorriu amargurado, abaixando a cabeça e olhando para a arma em suas mãos.
- É um preço alto... – sussurrou, buscando o olhar dele. – E que eu, mesmo que indiretamente, estava disposta a pagar desde a primeira vez que coloquei os olhos em você. – sorriu, vendo-o erguer a cabeça com um sorriso no rosto. -
- Às vezes eu me pergunto se sou merecedor de tudo isso... Aaron, você... – olhou em volta, rindo fraco. – E até desse emprego.
- Nós só temos o que merecemos. – sorriu sem mostrar os dentes. Ela levou uma das mãos para o rosto dele, acariciando-o. –É uma loucura que estou disposta a pagar num sanatório se for necessário, desde que seja ao seu lado. – riu, rolando os olhos. – Tão clichê. – deu os ombros, recebendo um sorriso apaixonado dele. Um sorriso que fez seu coração acelerar de forma imensurável.
- Eu ainda vou te dar a felicidade que você tanto anseia. Ainda vamos ser a família mais feliz que esse mundo já viu, eu prometo. – buscou a mão dela no seu rosto e a beijou delicadamente. – Daquelas de conto de fadas, como você sonhou. – riu, vendo-a rir também.
- Mas contos de fadas são muito sem graça... Podemos arrumar um meio termo, onde faremos sexo todos os dias e de vez em quando saímos pra beber, tudo bem? – brincou, recebendo uma gargalhada dele. – Mas agora... – respirou fundo, sorrindo. – Temos que focar nisso aqui. – ergueu a arma que estava em sua mão. – Ou não vamos poder realizar essas coisas tão cedo.
- Você é quem manda. – bateu continência, rindo. – Escuta... – disse baixo, virando o corpo dela para os bonecos e se pondo atrás dela. – Mantem a mão firme, não treme. – ergueu o braço dela, colocando o seu por baixo. – Foca no ponto vermelho e atira. Sem segredo.
- Vou tentar... – mordeu o lábio, tentando manter a concentração mesmo com atrás de si. – Hmm...
E no próximo segundo, a bala estava no ventre do boneco. sorriu, depositando um beijo na nuca dela.
- Parabéns. – sorriu, se afastando dela. – Isso, com certeza, doeria em um ser humano de verdade. – riu, vendo-a erguer os braços, em comemoração. – Agora você vai sozinha, pode ser?
- Podemos atirar os dois juntos? Vai, por favor, assim parece uma cena de filme... – fez bico e ele assentiu, rindo. podia parecer uma criança às vezes. E este era um dos motivos pelo qual era amada. caminhou até o lado dela e ergueu o braço.
- 1, 2... 3!
Dois barulhos altos soaram e lá estavam os tiros nos bonecos. A mira de havia incrivelmente melhorado na terceira bala.
- Estou orgulhoso. – foi até ela, pegando sua arma e colocando no chão, assim como fez com a sua. – Faltam cinco minutos para minhas aulas começarem então temos que aproveitar. Nada de tiros, tudo bem? – enlaçou a cintura dela, sorrindo malicioso.
- Você é quem manda, professor. – sorriu como uma falsa inocente. Ela colocou os braços sobre os ombros do namorado.

aproximou ainda mais seu rosto do dela e roçou seus lábios. puxou entre os dentes seu lábio inferior e ele não aguentou mais enrolações. Precisava de seu sabor, do toque de sua língua. No momento em que suas línguas se encontraram, o conhecido arrepio tomou conta da nuca e braços de ambos, que se apertaram ainda mais no abraço que estavam. aumentou a velocidade do beijo e empurrou sua língua contra a dela, fazendo movimentos de vai e vem. gemeu inconscientemente e entrelaçou os dedos no cabelo dele, puxando-os sem qualquer delicadeza.
Já sentindo a falta de ar nos pulmões, o casal terminou o beijo com um selinho demorado, enquanto respiravam fundo. desceu a boca para o pescoço dela, depositando beijos e mordidas no mesmo. sorriu, mordendo o lábio, enquanto acariciava a nuca do namorado.
- Não tem chance dos seus alunos nos pegarem aqui? – sussurrou, sem deixar de tocá-lo.
- Que horas são? – disse abafado, por sua boca estar contra a pele dela.
- 08h47... – murmurou como um gemido de insatisfação. Ele fez o mesmo, tirando os lábios dela.
- Eles chegam em três minutos. – bufou, colocando as mãos nos bolsos da calça. – Se quiser, pode ficar sentada naquele canto. – apontou para o lado direito da sala, onde havia um pequeno banco. – Assim você aprende mais, sim?
- Tudo bem. – sorriu, caminhando até o lugar indicado. – Faça sua mágica, .
- Só à noite, - se abaixou, pegando as duas armas que estavam no chão e colocando-as em seu lugar. – na minha cama, querida. – piscou, ouvindo o sinal de troca de aulas tocar.
balançou a cabeça em negação e riu, vendo alguns alunos entrarem. Os rapazes cumprimentavam com um aperto de mãos gentilmente e as mulheres, com um beijo e abraço. Mulheres bonitas. Bem bonitas.
Ela cruzou as pernas, observando-as conversarem entre si, enquanto apontavam discretamente para . O clássico de aluna que se apaixona pelo professor. E seria ótimo, se elas não aparentassem ter a mesma idade de .

- Primeiramente: bom dia a todos. – começou, com um sorriso simpático nos lábios. – Sei que alguns de vocês já tiveram aulas com o antigo professor, então tenho certeza que não será difícil ajuda-los. – gesticulou com as mãos, observando cada aluno. – Espero que possamos trabalhar juntos e conseguirmos exercer nossos deveres, em paz. – sorriu sem mostrar os dentes.
- E qual é o nome do professor? – uma das alunas perguntou, rindo. Os outros riram também.
- Ah, claro! – sorriu. – Meu nome é , professor , como preferirem. – respirou fundo, olhando para . – E aquela é uma colega francesa, Sophie Muller. – a mulher acenou, com um sorriso nos lábios. – Ela está com um problema na garganta, portanto não poderá cumprimenta-los como devem. – piscou, voltando a prestar atenção nos outros alunos. – Então, sem mais delongas... Vamos dar início às aulas?
E num uníssono “sim” os alunos tomaram seus lugares para pegarem os coletes à prova de bala, que estavam na mesa próxima a . Alguns alunos a olharam e sorriram. Ela riu, acenando.
- Sem insinuações para a francesinha, rapazes. – disse, frio. – Venham todos pra cá e peguem suas armas.
Ele nunca havia demonstrado ciúmes.
Aquilo era ciúme, não era?
Ciúme.
mordeu o lábio, sorrindo, enquanto assista o restante da aula. Cerca de quarenta minutos depois o sinal anunciando a troca de aulas tocou. Os alunos se despediram do novo professor e a falsa francesa se levantou, sorrindo como uma garota que acaba de ganhar a boneca que tanto quisera. Sentia tanto orgulho. Sentia-se tão apaixonada. Durante toda a aula, sempre que conseguira alguns segundos livres, fazia questão de olhá-la e sorria como um adolescente apaixonado. Ele também estava apaixonado, não estava? estava apaixonado por , assim como ela por ele. Perdidamente e enlouquecidamente.
- E então? Como fui? – Ele perguntou, caminhando até ela.
- Razoável... Não vi nenhum tiro na parede, como o meu. – eles riram e tiraram seus coletes. – Estou brincando. – sorriu, segurando o rosto dele entre as mãos. – Você é um excelente professor. – lhe deu um beijo rápido.
- E você é uma ótima francesa. – piscou, vendo-a gargalhar. – Por hoje eu só tenho essa aula... Em compensação amanhã tenho sete. – fez bico, vendo-a enterrar o rosto em seu pescoço. – O que acha de irmos buscar o Aaron mais cedo?
- É uma ótima ideia. – fungou, sentindo o cheiro daquele perfume tão conhecido de . – Hmm... Mas não vou poder sair com vocês, pra onde quer que seja... – resmungou, voltando a encará-lo.
- Por quê? – franziu o cenho, afagando os cabelos dela.
- Tenho que ir paro trabalho, aquela gráfica me consome! – bufou, vendo-o rir.
- Coitada da minha, ! – passou o nariz pela bochecha dela. Ela arfou.
- Nariz gelado. – riu, respirando fundo. – Vamos, sim? – ele assentiu, fazendo sinal para que ela saísse na frente. Ela o fez.

Não demorou muito até que o casal chegasse ao estacionamento da Universidade. abriu a porta para , que sorriu em agradecimento e entrou no carro prontamente, assim como ele, que correu à porta do motorista e fez o mesmo, colocando o cinto de segurança e ligando o veículo.
ligou o aparelho de som e colocou em qualquer estação de rádio, no volume baixo.
- E a sua mãe? – disparou, vendo-o franzir o cenho e encará-la brevemente, enquanto fazia uma curva.
- Minha mãe?
- É... Você nunca me falou dela, a não ser quando disse sobre o quanto era difícil a convivência. – deu os ombros, colocando as mãos sobre o porta-luvas. – Depois que fugiu, nunca mais teve notícias sobre ela?
- Não . – parou o carro no sinal e a olhou, sorrindo sem mostrar os dentes. – Eu nunca mais tive notícias sobre ela.
- E... E não tem vontade de vê-la?
- Tenho certeza que ela não sentiu a minha falta. – respirou fundo, voltando a encarar o sinal em sua frente, que ficou livre.
- Ela era a sua mãe...
- , por favor, será podemos parar de falar sobre isso? – voltou a manobrar o carro, enquanto dedilhava o volante.
- Você tinha uma relação complicada com a sua mãe. – começou, colocando as mãos sobre o colo. entreabriu os lábios para falar algo, mas ela o interrompeu: – Mas ela nunca foi uma assassina. – suspirou, olhando para suas mãos. – Meu pai é chefe de uma quadrilha de assassinos e nós falamos dele, não falamos? – Ele a olhou brevemente, respirando fundo. – Não estou querendo comparar os casos, porque são completamente distintos. Mas eu realmente acho que ver a sua mãe lhe faria bem... – ergueu a cabeça para olhá-lo, mesmo que ele não pudesse fazer o mesmo, já que estava dirigindo. – Você nunca teve bons momentos com ela? Quando era criança, não sei...
- Você vai insistir mesmo nessa conversa, não vai? – sorriu fraco, olhando-a de soslaio. Ela assentiu, sorrindo animadamente. – Tudo bem, vamos lá. – suspirou, batucando os dedos no volante. – Até os meus doze anos a minha relação com Julia era sensacional. – sorriu nostálgico. – Ela me levava ao colégio, me fazia companhia nas refeições, assistia a filmes e jogos comigo... – riu, sentindo um nó se formar em sua garganta e sua visão embaçar. levou uma das mãos à sua perna e acariciou-a, sorrindo carinhosa. – Me aconselhava com as primeiras paixões do colégio. – pigarreou, suspirando. – Bem, depois eu não sei como e porquê. Mas tudo mudou. Meu pai e eu nos aproximamos muito e minha mãe se afastou... Começou a frequentar grupos de livros, culinária ou não sei o quê. – deu os ombros, passando as costas das mãos nos olhos, querendo secá-los. – E quando meu pai morreu tudo só piorou, entende? Ela era muito apaixonada por ele e acho que de alguma forma sentia que eu era culpado por tudo... – sua garganta apertou e ele manobrou o carro, estacionando-o algumas ruas antes do colégio de Aaron. – E por anos eu senti que era culpado pela morte dele. – disse, entre soluços. colocou as mãos sobre o rosto, tapando-o enquanto chorava.
- Oh, ... – resmungou, levando a mão para as costas dele, acariciando-a. – Eu não sabia que esse assunto iria te deixar desse jeito, desculpe. – mordeu o lábio, vendo-o ainda chorar. – Não chore. – sussurrou, tirando seu cinto de seguranças para poder se aproximar mais. Ela sentou na ponta de seu banco e colocou as duas mãos sobre os cabelos dele, afagando-os. chorou mais e a namorada colocou o rosto sobre a nuca dele, depositando um delicado e carinhoso beijo ali.
respirou fundo, não sabia o que fazer, estava de mãos atadas. Nunca havia o visto daquela forma, nem mesmo quando ele lhe contara sobre sua ex-namorada e a história de ambos. Um aperto tomou conta de seu peito e um nó se apossou de sua garganta, jamais pensara que ver o sofrimento de alguém doeria tanto quanto se fosse em si própria. Doía até mais. Ela não suportava o fato de vê-lo sofrendo, não enquanto estava ali. Não enquanto tinha o direito de fazê-lo feliz.
- , amor... – sussurrou, com a voz embargada.
- Desculpa. – disse, respirando fundo e mantendo a voz mais firme, entretanto, ainda fragilizada.
- Não se desculpe por mostrar suas emoções. – sorriu fraco, descendo suas mãos sobre os ombros dele, ainda acariciando-os. – Eu não achei que esse assunto fosse tão difícil pra você, eu é que tenho que me desculpar.
- Está tudo bem. – ergueu a cabeça devagar, enquanto passava a mão no rosto vermelho, tentando secá-lo. teve vontade de pular em seu colo e abraça-lo até que o mundo acabasse, mas não o fez. Não era hora. – É que... dói bastante lembrar daquela época. – fungou, pigarreando.
- Não se culpe, querido. – sorriu fraco, passeando os olhos pelo rosto dele. – Você não teve culpa de nada. Nada.
- Até três anos atrás eu jurava que tinha. – sorriu amargurado. – Mas nesse tempo junto do Aaron... – o brilho que havia abandonado seus olhos há minutos, havia voltado, assim como o sorriso bobo em seu rosto. – E eu sei que se isso acontecesse comigo e com o meu filho, jamais iria querer que ele se sentisse culpado. – ele voltou a olhar para , que sorria. – Pensando em tudo hoje eu vejo que faria exatamente a mesma coisa que meu pai fez. Dar a minha vida para o meu filho... O meu lugar no barco. – fungou, balançando a cabeça em negação.
- Você é incrível. – sussurrou, aproximando seu rosto do dele e lhe dando um selinho demorado.
- Bem, agora... – respirou fundo, colocando um sorriso animado no rosto. – Vamos esquecer tudo isso e buscar o Aaron? – pegou as mãos dela que estavam em seu rosto e as beijou carinhosamente. sorriu apaixonada e assentiu. Deus, aquele homem podia ser mais incrível do que já era?
- Você é quem manda, papai babão. – riu, voltando a colocar o cinto. ligou o carro e dirigiu até o novo colégio do filho, que estava a poucos km.

Cerca de cinco minutos depois o carro estacionara em frente ao colégio, que estava cheio por carros e pais ansiosos para receber os filhos. saiu do carro e ficou na frente do mesmo. decidiu continuar no banco do carona, enquanto esperava o pequeno sair pelo portão.
Alguns segundos se passaram e ela, que encarava as unhas mal feitas, ouviu um grito animado e virou-se para o portão, onde viu Aaron correndo de braços abertos para o pai, que já dera alguns passos para frente e estava abaixado, também com os braços abertos.
- Papai! – o pequeno gritava com um sorriso que mal cabia em seus pequenos lábios. Não demorou até que ele chegasse até onde estava e o abraçou. O pai, que estava com o mesmo sorriso do filho, o ergueu nos braços e beijou seu rosto, enquanto Aaron apertava os bracinhos em volta de seu pescoço.
mordeu o lábio e sorriu emocionada. Como amava aquela criança. Deixando-se observar ainda mais a cena, pôde ver o quão linda aquela pequena família era. Eles se amavam mais do que qualquer coisa e nada apagaria aquilo. Ela queria fazer parte daquela família. E aquilo só serviu para incentivá-la ainda mais com seu plano inicial, iria batalhar com por um futuro. Um futuro onde conseguiriam a tão desejada e merecida paz. A tão ansiada felicidade.


Capítulo XXII


sentiu o filho abraçá-lo e sorriu ainda mais. Como um ser tão pequeno podia ser tão amado? O pensamento de minutos atrás voltou a invadir sua mente e ele se pôs a pensar: aquele era o sentimento mais puro e intenso que já sentira em toda vida.
Amara muito sua eterna . Amava muito sua namorada , mas nada seria como o amor que sentia pelo filho. Agora entendia porque seu pai havia feito aquilo no barco. Ele daria a vida por seu filho sem pensar sequer uma vez. respirou fundo e colocou Aaron no chão, olhando o pequeno sorriso dele.
- E aí, campeão? Como foi a aula? – pegou a mochila azul que estava em suas costas e colocou-a sem dificuldade nos ombros.
- Boa! – riu, erguendo o dedo polegar, como um “ok”.
- Só boa? Ah, assim não vale. – brincou, pegando-o nos braços novamente. - O pai te trouxe uma surpresa!
- O quê? – perguntou animado, colocando as mãos sobre o rosto do outro.
- 1, 2 e... – disse, virando-se para o carro, onde acenava com um sorriso contagiante.
- Tia ! – exclamou, apontando para ela, que estava a pouco mais de um metro de distancia.
- Meu amor! – Ela sorriu, abrindo o carro e indo até ele. Aaron fez menção em sair do colo do pai e ele logo o colocou no chão, abrindo passagem para que ele corresse até . A mulher se abaixou na altura do pequeno e abriu os braços, recebendo um abraço apertado. Aaron já a amava. Como aquela mulher poderia conquistar a todos em tão pouco tempo? – Como você tá? Eu senti a sua falta nessas horas que passamos separados, sabia? – sorriu, beijando a ponta do nariz dele.
riu enquanto colocava as mãos nos bolsos da calça, observando a cena. Se há um mês lhe dissessem que isso aconteceria, ele certamente riria da pessoa. Tudo era tão inacreditável. Tudo estava acontecendo tão rápido. Tão intenso.
Ele caminhou lentamente para onde e Aaron estava e sorriu para eles, enquanto passava as mãos nas costas do filho.
- Vamos?
- Vamos! – confirmou, dando um beijo na bochecha de Aaron. – Aliás... Vocês vão. – fez bico, colocando o pequeno no chão. – Eu pretendia ir para à grafica, mas depois de pensar um pouco... Vou à casa da Audrey, .
- Vai? – franziu o cenho, apoiando as mãos no ombro do filho, que prestava atenção na conversa dos dois.
- Vou... Ela é a minha melhor amiga e eu sinto sua falta. – suspirou, dando os ombros. – Eu vou tentar conversar com ela, explicar como eu me sinto quanto a tudo isso e vamos ver no que dá. – sorriu fraco.
- Ela vai entender. Ela te ama, não ama? – assentiu, sorrindo verdadeiramente. – E eu também. Nós só queremos seu bem, e se você disser que eu sou o melhor pra você... – olhou-a sugestivamente e a outra gargalhou, dando um tapa fraco em seu braço.
- Não bate no papai, tia ! – Aaron brigou, cruzando os braços.
e se olharam e riram.
- Nós só estamos brincando, filho. – sorriu, afagando os cabelos do pequeno.
- Então eu posso blincar de bater nos amiguinhos?
- Não... Espera. – franziu o cenho, parecendo pensar. – Certo, isso é muito complexo pra sua pequena mente, grandão. – riu, abrindo a porta do carro e colocando-o no banco de trás, em sua cadeirinha.
- Não vá ficar com raiva de mim, hein? – disse, sorrindo carinhosa.
- Não vou! – ele sorriu, mostrando o dedo polegar novamente.
- Isso mesmo, assim eu fico feliz. – colocou parte do corpo para dentro do carro e beijou seu rosto demoradamente. – Bem, eu vou indo, ok? – olhou para .
- Não quer que eu te leve? - Acho melhor não. – sorriu fraco. – Eu pego um táxi no final da rua e chego lá, não é bom darmos bandeira por aí. – suspirou.
- Isso logo vai terminar. – passou a mão pelos cabelos dela, afagando-os carinhosamente.
- Isso nem começou. – mordeu o lábio inferior, sentindo-o beijar sua testa. Ela sorriu com o gesto e ergueu o rosto, beijando-o. – Tenha um bom dia, amor. – sorriu carinhosa.
- Não nos vemos mais hoje?
- Eu acho que não... Vou ter um dia cheio no trabalho e quero descansar quando chegar em casa. – fez bico, enquanto o outro fingia estar incrédulo.
- E se eu oferecesse uma massagem...
- E se nós dois já soubéssemos onde essa massagem fosse chegar? – o interrompeu, rindo logo após. – Até amanhã, professor . – bateu continência, lhe dando um último selinho.
- Você vai até a faculdade amanhã, Sophie Muller? – sorriu de lado, encostando-se no carro.
- Vou! Temos que agilizar esse treinamento, hm? – piscou.
- Tem razão. – sorriu. – Bem, vou levar Aaron pra almoçar. Tenha uma boa conversa com a Audrey. – colocou as mãos no rosto dela, segurando-o. – Boa sorte. – Sussurrou, para logo depois beijá-la rapidamente.
- Obrigada. – sorriu novamente, se afastando. – Até amanhã, meu anjinho! – acenou para Aaron, que correspondeu o gesto. – Até amanhã, meu amor. – mandou beijos no ar. assentiu, com o mesmo sorriso.

então começou a caminhar em direção ao ponto de táxi que estava logo à frente, o sorriso bobo e o frio na barriga ainda não a tinham desacompanhado. Céus, como era bom estar com ele. Como se sentia completa. Se há alguns dias ainda houvesse dúvidas, hoje já não existiam mais. era o homem de sua vida e ela tinha plena certeza disto. Vê-lo chorar hoje mais cedo foi como se parte de si fosse tirada. A dor dele era a sua. Talvez até multiplicada. O sorriso dele era seu bem maior, com ele, já não necessitava de mais nada. Ela podia sobreviver somente em ver aquele sorriso todos os dias. Não havia dinheiro no mundo capaz de fazê-la tão feliz quanto aquilo. Quanto ter ao seu lado. Já não importava mais se o mundo estivesse contra, se seu pai ou sua melhor amiga não o suportavam... Nada seria capaz de trazê-la de volta. Era um jogo sem volta, ela tinha certeza daquilo desde a primeira vez que colocou as peças à mesa. Ao avistar o táxi, logo estendeu a mão em sinal para que ele parasse. Ao entrar no carro, disse o endereço da amiga e sorriu cordialmente. Quando passou em frente à escola, viu que o carro de já não estava mais lá. E, céus, ela já sentia sua falta. Aquilo era loucura. precisava de seus carinhos, beijos e palavras durante todo o seu dia. Certo, ela precisava parar com aquela obsessão ou enlouqueceria... Ainda mais. Rindo fraco, olhou para frente e se viu no pequeno espelho do banco do carro. Os olhos tinham um brilho intenso, as bochechas estavam levemente coradas e o bendito sorriso aberto não saia de seu rosto. Audrey teria de entender que sua felicidade estava com , seja qual fosse seu passado.
O táxi finalmente chegou à porta da casa da amiga e ela desceu, dando uma boa gorjeta ao motorista. Antes de tocar a campainha, respirou fundo, permitindo-se pensar no que diria à Audrey. No entanto, quando percebeu que não adiantaria pensar em mil textos ou explicações, desistiu. Seria sincera e isso bastaria. Não demorou mais de um minuto desde que ela tocara a campainha até que a porta abrisse, revelando Audrey. A garota arregalou os olhos ao ver a amiga ali, contudo, não pareceu brava ou arredia.
- Nós... Podemos conversar? – disse, sorrindo fraco e apontando para dentro da casa da amiga.
- Hm, claro. – sorriu. – Eu só vou... – deu os ombros. – Philip está aí. – fez uma careta, rindo.
- Oh, não era uma boa hora, certo? – sorriu.
- Não se preocupe, ele já estava de saída. – a outra olhou-a desconfiada e ela riu novamente. – Não estou mentindo. Entra. – abriu espaço para que a amiga entrasse e ela o fez. – Só espera um minuto, tudo bem? – assentiu, sentando-se no sofá.
Não passou mais de dez minutos até que Audrey aparecesse junto de Philip, que sorriu ao ver ali.
- Finalmente! – O rapaz ergueu as mãos para o alto, ouvindo a risada das duas. – Se resolvam. – fez uma arminha com as mãos, enquanto apontava para elas; que sorriram. – Tchau meu amor, te vejo amanhã. – sorriu, indo até Audrey e segurando seu rosto. – Amo você. – sussurrou, beijando-a delicadamente.
- Também te amo. – ela sorriu, levando-o até a porta.
abaixou a cabeça e sorriu com a cena que acabara de assistir. Como Audrey estava feliz. Ela podia ver isso com seu sorriso bobo ou os olhinhos brilhando, assim como os seus estavam. Apesar dos pesares, estava incrivelmente contente ao ver que amiga havia, finalmente, encontrado alguém que amasse e que a amasse da mesma forma. Philip era uma pessoa sensacional e tinha certeza de que ele era o cara certo para amiga. Quando a porta se fechou, Audrey se virou para encará-la e os sorrisos se esvaíram. Os ombros de ambas pesaram com a tensão.
- Escuta, eu... – começou, no entanto, Audrey ergueu a mão direita, fazendo com que ela parasse.
- Eu quero que você me escute primeiro, . – respirou fundo, fechando os olhos por alguns segundos. – Eu errei feio quando discuti com você naquele dia. Eu sei, eu sei... Eu sou sua amiga e devia ter te apoiado em tudo o que faz, mas eu simplesmente não pude aceitar que você estava se envolvendo com o cara que te fez sofrer tanto. Com o cara que queria te matar... – A outra fez menção de falar, mas ela continuou: – Mas caramba, me entenda! Eu não queria te ver sofrer de novo. Quantas noites eu não passei em claro com você, segurando sua mão ou a caixa de lencinhos enquanto você chorava por ele? Pelo fato de ter mentido, ou por ter sumido. – deu os ombros, sentindo a voz embargar. – Você é minha melhor amiga e tudo o que quero é te ver feliz. Steve é um cara incrível e eu finalmente vi que você estava sentindo algo... Ao menos tentando sentir. Estava começando a esquecer do ... Você ia casar! – sorriu fraco. abaixou a cabeça, sentindo os olhos começarem a marejar. – Ele era carinhoso, simpático, educado, inteligente, engraçado, tinha uma ótima profissão e te fazia bem. Você entende o que quero dizer? – passou a mão pelos olhos, tentando espantar as lágrimas. – Mas quando aquele maldito do voltou e... Cacete, você já olhou como você está, ?! – riu, apontando para o espelho. – Você está ótima. – ela sorriu, vendo-a sorrir também. – O que aquele homem tem, afinal? Eu sei que fui uma idiota no outro dia por ter agido daquele jeito, por ter falado com você daquele jeito. Mas, como já disse, eu temi que você fosse se machucar de novo... – suspirou, dando alguns passos até ela. – Mas olha só pra você. Eu consigo ver de novo aquela adolescente feliz que adorava ouvir Backstreet Boys no quarto, enquanto dançávamos que nem loucas! – elas riram. – Quer saber? Você está até melhor do que naquela época. Eu devia saber que você só seria plenamente feliz quando estivesse com aquele babaca... – balançou a cabeça, ainda rindo. – Seja lá o que for que ele tenha feito pra te ganhar assim, ele fez um bom trabalho. Eu só espero que ele não apronte mais uma com você ou quem vai matá-lo sou eu. – mordeu o lábio, erguendo a mão para ela. – Me perdoa?
- Sua vaca! – ela riu, indo até ela e abraçando-a com toda a força que tinha em si. – É claro que sim. Obrigada por me entender, eu não sei o que faria sem o seu apoio. – respirou aliviada, afrouxando o abraço e encontrando o olhar emocionado da amiga. – me faz feliz como ninguém jamais fez. Ele é incrível! – riu, vendo a outra balançar a cabeça.
- Vocês estão juntos desde quando? Desde que o Steve descobriu de vocês?
- Sim... Espera. – franziu o cenho. – Como você sabe que o Steve descobriu?
- Ah, qual é, ?! – riu, indo até o sofá e puxando-a. – Philip é o melhor amigo dele! Ele veio aqui no sábado logo de manhã e contou tudo. Estava puto. – rolou os olhos.
- Eu imagino. – riu fraco. – Desse dia eu não quero nem me lembrar! Foi horrível. – suspirou. – Mas agora... Deixa eu te contar do ? – juntou as mãos à sua frente, implorando. Audrey bufou, rolando os olhos. – Por favor, Audy! – fez bico, fazendo a outra rir e assentir. – Ele está tão diferente! Mas diferente de um modo bom, sabe? Está mais carinhoso, mais alegre. E o sorriso dele? Céus! Está ainda mais lindo, mais sincero. – sorriu, passando a mão na testa, tirando a franja cumprida dali. – E o relacionamento dele com Aaron? Meu Deus, ele é um grande pai. Eu sinto tão orgulho. – suspirou, rindo logo depois. – Eu pareço uma idiota falando assim, não pareço? Certo, não precisa concordar! – Audrey jogou a cabeça para trás, gargalhando alto. – Para! – riu também, dando um tapa na perna da amiga. – Ah! Audrey, nós fizemos amor! – disse animada, como uma criança que acaba de dizer que ganhou um ingresso para o parque de diversões. Não deixava de ser, afinal. Audrey deixou de rir e abriu a boca, surpresa.
- Como?! Quando? Me conta!
- Há uns dias... – sorriu envergonhada, colocando o rosto sobre as mãos e rindo. – Ele é incrível!
- Você vai repetir isso quantas vezes, pelo amor de Deus? – gargalhou, tirando as mãos de de seu rosto. – E aí, o sexo é tão bom quanto você sonhava? Te fez ver o céu?
- O quê? Você tá brincando?! – sorriu. – Ele me fez ver o céu, as estrelas, a lua, o paraíso! – gargalhou também. Como sentia falta de rir dessa forma com a melhor amiga. – é perfeito em todos os aspectos. – umedeceu os lábios, suspirando. – Ele... – E quando ela ia terminar a frase, sentiu seu celular vibrando na bolsa. – Um minuto. – pediu, tirando o aparelho de lá e lendo a mensagem que havia sido enviada.

“Chegou à casa da Audrey? Assim que puder me avisa no que deu. Estou torcendo para que tudo fique bem.
Ps: já posso sentir sua falta? Ia dormir um pouco agora a tarde, mas senti um vazio na cama e, cacete, como eu queria te ter nos meus braços agora.”

mordeu o lábio e sorriu boba, enquanto relia cada vírgula da mensagem.
- Certo, me deixa adivinhar... Foi o Don Juan? – sorriu cheia de segundas intenções. fez careta e mostrou o celular a ela; que arregalou os olhos e gargalhou. – Vão para um quarto, por favor!
- Se pudesse, iria mesmo. – riu.
- Me deixa responder esse idiota. – pegou o celular das mãos de , que riu, assentindo.

“Nós já estamos bem, , mas fique sabendo que uma só fora e eu te mato (não antes de cortar teu bem mais precioso, é claro), ok? Cuide bem da minha amiga e estamos acertados!
Ps: não transforme minha melhor amiga em uma ninfomaníaca!”

leu a mensagem e gargalhou. Gargalhar... Fazer aquilo tantas vezes durante o dia era fácil e ela poderia se acostumar. Ô se poderia.
O celular voltou a apitar.

“Fico feliz por isso e pode ficar tranquila, não será preciso. Até porque acho que iria impedir... Haha.
Ps: não posso prometer nada.”

- Certo, já chega de ficar de papinho com o . – brincou, tirando o celular da mão dela.
- Como se eu fosse querer esse daí, por favor?! – rolou os olhos. Ambas riram, para variar.
- Não duvido de nada... Ele é o ser mais apaixonante que esse mundo já viu, acredite. – sorriu, suspirando. – Mas, agora que já estamos bem... Tenho que ir para a gráfica. Por sinal, - olhou para a tela de seu celular, procurando pelas horas. – já estou mais do que atrasada! – se levantou, acompanhada de Audrey. – Obrigada por me entender e você é a melhor amiga que qualquer pessoa pode ter. Melhor ainda por ser a minha melhor amiga. – riu, abraçando-a com força. A outra retribuiu com a mesma intensidade. – Nos vemos no final de semana?
- Claro! Podemos marcar algo como um passeio ao shopping, noite pra ver filmes e fazer coisas de mocinhas. – riu, caminhando até a porta com ela. – E obrigada por me desculpar. – sorriu carinhosa, dando um ultimo abraço em .
- Até o final de semana, então. – deu um beijo em sua bochecha e abriu a porta, saindo logo após ver o aceno de Audy.

Ao atravessar a esquina, não deixou de sorrir abertamente, novamente. Se há uma hora tudo estava maravilhosamente bem, agora então... O mundo estava prestes a cair em suas costas, mas se estivesse com seu amor e sua melhor amiga do lado, tudo ficaria bem. Tudo.
Procurando por um táxi, no entanto, sentiu ser observada. Olhou para trás e não encontrou nada. Voltando a encarar sua frente, andou mais rápido. Sentindo-se desprotegida, decidiu cruzar os braços e encarar seus próprios pés se movimentando. O vento gélido fez seus cabelos saírem de seu rosto, e, com isso, o medo aumentar. olhou para trás novamente e, como antes, não viu nada. Decidiu apressar ainda mais os passos, como numa corrida, e, finalmente encontrou a estrada onde haviam vários carros. Estava segura, finalmente.
Quando avistou o primeiro táxi passar, logo estendeu a mão para que ele parasse. Ele o fez. Ao entrar no veículo, pode respirar fundo e aliviadamente. “Está tudo bem?” foi o que o motorista disse, provavelmente ao ver seu rosto vermelho e sua respiração descompassada. “Sim, está. Só um pouco de frio.” Mentiu. Se não fossem ladrões, ela já tinha certeza de quem eram. Os comparsas de seu pai, era claro. Após dizer que endereço seguir para o motorista, buscou seu celular na bolsa e digitou uma mensagem para .

“Precisamos terminar com isso logo ou eu sinto que vou enlouquecer”
“Terminar com o quê? O que aconteceu? Quer que eu te ligue?”
“Não, não vou conseguir falar... Eu só quero terminar com essa história do logo. Não aguento mais viver como se fosse uma fugitiva espionada por agentes da CIA.”
“Estavam te seguindo? Você está bem?”
“Estou... Eu só... Tem sido difícil. Parece que tudo só piora a cada dia.”
“Eu sinto muito, .”
“Não sinta. Tudo irá terminar bem, não irá?”
“Eu espero que sim, meu amor.”

E aquilo bastou para que os olhos marejados se transformassem em choro. Um choro silencioso e sofrido, que só ela era capaz de entender. A felicidade que sentira há minutos havia se transformado em dor, tristeza e angustia. Quando é que tudo aquilo iria parar? Como iria parar? Ela só queria que mais vidas fossem poupadas e que a felicidade pudesse voltar a tomar conta do seu coração; pura e completamente.

?”
Ela não teve forças para responder. Não queria responder. só precisava de um tempo sozinha, sem ninguém para vigiá-la ou lembrar-lhe que sua vida está fora de controle. Ao sentir os olhos do motorista pelo reflexo do espelho, ela abaixou a cabeça e colocou a mão sobre a testa, cobrindo sua visão. Ninguém precisava saber o que estava acontecendo.

“Eu só quero que saiba que eu te amo e daria minha vida para que você e Aaron não precisassem que passar por tudo isso.”

E mesmo sem responder naquele mesmo minuto, ela tinha certeza de que ele sabia que a recíproca era verdadeira. Ela o amava e daria a vida para que seu filho e ele jamais passassem por mais nenhum sofrimento.
Aquilo precisava acabar o mais rápido possível. E iria.


Capítulo XXIII


- , mais pra baixo! Tá doendo! – resmungou, enquanto sentia o peso do namorado sobre suas costas.
- Se você ficasse parada seria bem mais fácil... – disse, ofegante.
- Quem é que fica parada durante... – se interrompeu, erguendo o quadril e dando a volta por cima dele, invertendo os papéis – uma luta? – sorriu vitoriosa, segurando suas mãos.
- Você está cada vez melhor, querida. Estou orgulhoso. – sorriu, deixando as mãos aliviadas.
- Eu agradeço o elogio, querido. – sorriu também, e no segundo seguinte se levantou, levando-o um pouco para que pudesse prender suas mãos atrás do corpo, sem passagem. Ainda deitados. – Primeira regra: não se distraia.

Duas semanas haviam se passado desde o fatídico dia da pequena perseguição de . Do dia em que ela e Audrey haviam feito as pazes. Do primeiro treinamento.
Nesses quatorze dias suas vidas haviam sido uma constante. Numa hora, tudo de ruim que teriam de passar vinha à tona, colocando-o numa bola de neve sem limite; noutra, a felicidade de estarem juntos já bastava para que tivessem forças para enfrentar a tudo e a todos.
O treinamento de estava cada vez mais pesado e complicado, após algumas aulas de tiro na faculdade onde era professor; ele já a sentia preparada. Nos últimos dias ele a ensinava algumas técnicas de lutas braçais, caso fosse necessário. Era obvio que aquilo não o deixava completamente alegre ou contente. Ele não queria transformá-la numa nova , mas era preciso, não era? Suas vidas estavam em jogos. Paz era a única coisa que pediam aos céus.

- Meu pulso, . Meu pulso! – gemeu fingindo dor e o soltou prontamente. Num movimento rápido ele ergueu o corpo e caiu sobre a namorada, virando o jogo. abriu a boca, surpresa, e, logo depois, sua testa franziu numa feição de puro descontentamento. Já , fez questão de dar aquele sorriso sacana que ela tanto amava ver... Em outras situações. O namorado estava com as pernas em volta de seu quadril, enquanto com as mãos segurava os pulsos dela logo acima da cabeça, impedindo que ela ao menos se mexesse. – Segunda regra, meu bem: não confie em ninguém.
- Você. É. Um. Trapaceiro. – disse, entre os dentes.
- Estou aqui para te treinar para situações difíceis, princesa. Não para brincarmos de lutinha. – murmurou, olhando nos olhos da outra; que suspirou, piscando demoradamente. – Não tenha pena do seu oponente... Pois ele não faria o mesmo por você.
- Mas isso é um treinamento, . Achei que estivesse te machucando de verdade. – bufou, rolando os olhos.
- Tudo bem, você está certa. – sorriu, afrouxando as mãos em seus pulsos. – Mas, nunca, em ocasião nenhuma, tenha dó. – ela assentiu, sorrindo timidamente. – Agora... – mordeu o lábio, olhando-a sugestivamente. – Não acha que já treinamos demais? – sorriu malicioso, enquanto começava a mexer o quadril, fazendo pressão contra ela; que fechou os olhos e umedeceu os lábios. – Hm? – murmurou, começando a simular um vai-e-vem com o corpo, como se estivesse no sexo. gemeu baixo e longamente. – ?
- Oi? – murmurou também, enquanto abria lentamente os olhos. – Continua – soltou os punhos das mãos dele e levou as próprias mãos para as laterais da perna de , tentando – inutilmente – puxá-las para mais perto. – ... – protestou ao ver que ele não correspondê-la. O sorriso sacana continuava ali, e ela não sabia se devia amá-lo ou odiá-lo, no momento.
- O que você quer, amor? – disse, fingindo inocência.
- Não acha que passamos dessa fase, querido? – riu, enquanto erguia o tronco, tirando a própria camiseta. abaixou o corpo, deixando sua boca próxima à dela, que puxou seu lábio dentre os dentes. – Não? – sorriu, lhe dando um selinho.
- É tão mais divertido... – sussurrou, descendo os lábios para seu pescoço, depositando suaves beijos no local. – Meu amor? – chamou, erguendo a cabeça para olhá-la nos olhos.
- Sim? – sorriu, levando uma das mãos aos cabelos dele, afagando-os. O desejo continuava ali, claramente, mas já não se tratava somente disso. – O que foi? – riu fraco, vendo que ele somente a observava. – Você me chama e não diz nada?
- Eu só... Só precisava te olhar. Eu te olharia pela vida inteira, se fosse possível. Você é o ser mais lindo que este mundo já teve o prazer de receber. – disse, como se fosse a coisa mais óbvia do mundo. fez bico, enquanto segurava um sorriso extremamente bobo.
- Por que está me dizendo todas essas coisas, ? – escorregou a mão que estava no cabelo do namorado para o rosto dele, acariciando-o delicadamente.
- Porque eu parei pra pensar agora... E eu te amo. – franziu o cenho, como se acabasse de descobrir isso.
- Eu também te amo, meu amor. Mas não foi isso que perguntei... – riu. – E por que essa cara? Você não me amava antes?
- Não! Não é isso. É claro que eu amava. Nunca deixei de amar, na verdade. – sorriu carinhoso, roçando o nariz na bochecha dela. – Mas só agora me dei conta de que tudo que está acontecendo é real. Que você é real, e está comigo.
- Não é legal deixar uma mulher sem palavras, sabia? – mordeu o lábio, rindo. – Isso só me faz ter mais certeza de que eu realmente quero fazer isso. – olhou em volta, vendo os inúmeros sacos de boxe, colchonetes e pesos. – Quero lutar para você e por você. – roçou os lábios nos dele, como forma de carinho. Ele sorriu, iniciando um beijo. Outro, das centenas que já haviam dado desde sua volta. No entanto, sempre parecia o primeiro... O mesmo arrepio, a mesma sensação de frio na barriga, a troca de sentimentos. Cada beijo era como o primeiro.
À medida que os toques ficavam mais intensos, seus pulmões iam perdendo a força. Com isso, separaram seus lábios com pequenos beijos rápidos e sorriram. voltou à acariciar a pele de seu pescoço com os lábios, não deixando de tocá-la por toda a extensão do corpo; com as mãos. O silêncio era claro e a única coisa que podiam ouvir ali eram os ofegos e suspiros de ambos. Alguns poucos minutos se passaram e sentiu a camiseta de lhe incomodar, e ela precisava de mais toque físico. Com uma agilidade quase que absurda, sua camiseta já estava do outro lado da sala. Eles sorriram abertamente, e, com muito esforço, se levantou do chão. bufou, rolando os olhos; novamente.
- O que foi agora? – disse, impaciente. Ele riu, esticando a mão para que ela pudesse pegá-la.
- Nós estamos numa academia, meu amor. Alguém pode entrar a qualquer momento. – mordeu o lábio, vendo-a se levantar, ainda emburrada.
- Então por que começou? – cruzou os braços, enquanto franzia as sobrancelhas.
- Você fazendo essa birra só me faz ter ainda mais vontade de estar em você. – piscou, roçando o nariz na bochecha dela. – E... Eu tinha esquecido que estávamos aqui. Você me enfeitiçou! – se afastou, erguendo as mãos.
- Você é um filho da mãe, isso sim. – caminhou até outro lado da sala, buscando sua camiseta.
- O que vai fazer?
- Colocar minha camiseta?! – disse, óbvia.
- Pra quê? Mulheres usam... Isso – apontou para o top que ela usava – na academia! E, além do mais, seria muito trabalho colocá-lo para tirá-lo em dois minutos, certo?
- Usam e... – se interrompeu, só então dando conta do que ele falara – dois minutos? – franziu o cenho, colocando a blusa sobre os braços.
- Carros estacionados em esquinas abandonadas servem para isto, . – sorriu malicioso, caminhando até a porta e abrindo-a.
- Você não... Um carro, ? Depois de tanto romantismo? – passou pela porta, incrédula. gargalhou, enquanto começava a andar a frente dela.
- No sexo e na guerra não há regras, não é?
- No amor e na guerra não há regras. – corrigiu, rindo também. – Obrigada. – sorriu, ao vê-lo abrir a porta da academia para ela.
- Tanto faz. – deu os ombros. – Por nada, minha donzela. – e, quando a namorada virou para encará-lo, o sorriso sacana-malicioso-maravilhoso já estava ali. A pequena brasa se transformara em incêndio. – Certo - colocou a mão nos bolsos, procurando as chaves do carro. No entanto, não as encontrou. Os olhos, que antes estavam tomados por excitação, agora pareciam preocupados. – Onde foi que eu meti essa merda de chave?! – disse, no mínimo incrédulo.
- Primeiro: suas chaves estão aqui. – ergueu a mão, sorrindo maliciosa. – Eu peguei há um minuto, quando você abriu a porta da sala de treino para mim. Viu como eu posso ser bem esperta quando necessário? – Ele estava com a boca aberta, surpreso com tudo que ela falara. E aquilo só aumentara sua excitação; que já era bem aparente. – Segundo: onde você meteu as chaves eu já te contei. E agora, você me conta onde vai meter outra coisa? – mordeu o lábio, abrindo a porta traseira do carro e entrando. continuava parado como uma estatua surpreso por tudo que acontecera no ultimo minuto. Aquela mulher havia lhe superado... O enganado. Ela estava esperta demais. E aonde aprendera a falar como uma deusa do sexo? Oh, céus. Ela o enlouqueceria. Como ele a amava.

Já era sexta feira na quente e lotada Nova Iorque. A semana havia sido cheia de treinos, trabalho e... . Não que aquele fosse algo complicado de se lidar. Era como o recreio de suas aulas, na verdade. Hoje, para se livrar um pouco de todas suas tarefas e libertar-se como há anos não fazia, estava com Audrey na casa da amiga. Iriam ver filmes, comer pipoca e doces, falar de homens, sexo e mulheres que odiavam. Como nos velhos tempos. Na semana anterior haviam combinado de fazer o mesmo, mas teve de ser adiado já que Phillip – namorado de Audy – havia tramado um jantar surpresa para a namorada. Nada que tenha sido sofrido para , já que tinha a ótima companhia de , também.
O filme escolhido era “Amizade Colorida”, e as risadas já ecoavam pela casa.
- Existe homem mais lindo, charmoso, sensual e perfeito do que o Justin Timberlake? Não, me diz. É sério! – Audrey disse, enquanto dava uma generosa mordida na barra de chocolate que segurava.
- Existem controvérsias... – riu, recebendo um olhar irônico da amiga. – Certo, certo. Que não me ouça, mas... Timberlake, venha ser meu amigo colorido! – abriu os braços, como se fosse recebê-lo, de fato. Ambas gargalharam, e no mesmo segundo, o celular de Audy começou a tocar com a música “Girl On Fire” da Alicia Keys. Não havia momento mais propício. As amigas se olharam com os olhos arregalados e caíram na risada, ainda mais. Quando respiraram fundo, ela pode atender ao telefone. Dois minutos se passaram.
- Quando vão entender que eu não quero esse bendito cartão? – rolou os olhos, ainda rindo um pouco. somente sorriu, voltando a prestar atenção em Justin Timberla... No filme.
Quando finalmente o filme terminou, ambas estavam com os olhos marejados. - Como eu posso chorar num filme desses? Eu devo ser problemática. – rolou os olhos, enquanto secava os olhos com as costas da mão.
- Somos duas então, amiga. – sorriu, fungando. – Mas agora... – colocou a TV num canal qualquer e se virou para ela. – Me conta tudo! Como está indo essa vida de “quase-casados”?
- Não podia estar melhor. – sorriu. – Aliás, se o mundo não estivesse prestes a cair na minha cabeça, estaria perfeito.
- Sua vida daria um filme. – sorriu, colocando algumas pipocas na boca.
- O problema só seria a classificação: drama, comédia, ação, terror, suspense? Pornô? – brincou, recebendo um tapa na perna. Ambas gargalharam.
- Acho que um misto de tudo, certo? – riu, se arrumando no sofá.
- Sim! – suspirou, enquanto sorria. – Eu queria fazer uma surpresa para o , Audy. – começou, colocando uma almofada sobre o colo. – Nós já conversamos tanto sobre adolescência e... Apesar dele ter tido tudo o que um adolescente sonha: liberdade, viagens, perigo, vidas duplas e dinheiro, ele não se sente completo. Entende? É como se ele tivesse tido uma transação, da fase “pré-adolescente” à “adulto”. Ele nunca foi à um baile de primavera com alguma garota! Nunca foi coroado o príncipe do baile e nem nada perto disso... Não pôde subir numa mesa com uma garrafa de Black Jack na mão enquanto dançava uma música estúpida. Não sem o medo de que recebesse um tiro de bala perdida. – riu sarcástica. – E eu queria, nem que fosse por uma só noite, proporcionar isso a ele.
- Você o ama mesmo, não é? – disse, sorrindo. assentiu, confusa. Ela havia mudado completamente de assunto. – O jeito como se interessa em fazê-lo feliz... Ele tem muita sorte de tê-la, . – colocou o cotovelo no sofá e logo após apoiou a cabeça a mão. – Mas eu tenho sim uma idéia. Aliás, você não poderia ter perguntado para outra pessoa! – arregalou os olhos, se levantando depressa e abrindo uma das gavetas de sua estante. – Aqui. – estendeu dois papeis. – Amanhã minha irmã tem um baile do colégio e me deu esses dois convites. Como eu e Phillip não estávamos com a menor vontade de ir mesmo, não vejo melhor uso. – deu os ombros, enquanto sorria contente.
encarou os convites em suas mãos e mordeu o lábio, sorrindo deslumbrante.
- Tem certeza que Ashton Kutcher não aparecerá a qualquer momento dizendo que estamos no Punk'd? – gargalhou, observando os detalhes do convite. – É coincidência demais! Digo... Como você poderia adivinhar que eu pediria algo assim? E nem tinha como imaginar, já que eu só tive essa ideia agora pouco. Meu Deus! – sorriu, surpresa.
- Dizem que o destino nos prega peças assim... – voltou a apoiar a cabeça no cotovelo, que estava no sofá.
- Mas isso é amanhã! – fez uma careta. – Droga. Nenhuma babá vai querer ficar com Aaro... – parou no meio da frase, passando a olhar sugestiva para a amiga. – Audy...
- Não! Nem me olha assim, . – colocou as mãos à frente, negando. – Eu não vou ficar com esse pequeno capetinha!
- Audrey! Não diz assim, ele é como se fosse meu filho. – riu. – Mas, por favor! – colocou as mãos juntas à frente, como se fizesse uma oração. – Ele é um anjinho, eu juro. Não dará trabalho nenhum. Por mim, sim? – sorriu.
- Não faça essa cara de gato de botas do Shrek. – fez careta, rindo. – Tudo bem, tudo bem... Eu fico. – rolou os olhos, recebendo um gritinho animado de ; que pulou em cima da amiga, abraçando-a. – Saia de cima de mim agora ou eu desisto!
- Certo! – ergueu as mãos, em sinal de rendição. Ambas gargalharam. – Você é sensacional, eu já te disse isso hoje?
- Chantagista. Aproveitadora! – negou com a cabeça, rindo. lhe mostrou a língua. Sem dúvidas, naquele momento, ali haviam duas adolescentes de dezessete anos prestes a saírem no primeiro encontro com o cara que gostavam. Era quase isso, afinal, não era?
- Eu te amo mais, Audyzinha! – agarrou a amiga, enchendo-a de beijos. Audrey gargalhou, tentando afastá-la. Inutilmente.

O relógio já marcava 18h03 quando finalmente havia chegado em sua casa, depois de um dia cheio procurando o vestido que usaria para o tal baile. Depois de muitas voltas, optou para o mais clássico possível: tomara-que-caia colado ao corpo até próximo ao quadril, e, mais embaixo, solto. Como um modelo sereia. O tom era de azul claro. Na cintura, um palmo abaixo do seio, vinha uma faixa média em tom mais escuro. Ela estaria deslumbrante.
Convencer de ir a “um lugar” não fora fácil, já que ele, infelizmente, detestava surpresas. Mas ela não poderia estragar tudo contando para ele, não é? Contudo, no final, ele aceitou. Mesmo incerto sobre o filho na casa de Audrey, acabou deixando.
Ao olhar novamente para o relógio, o ponteiro marcava 19h25. já havia tomado um banho e estava com cabelo e maquiagens feitos. Os cachos caiam em ondas sobre os ombros, deixando o visual sofisticado. Na maquiagem, nada mais do que o básico para a noite. Não era hora de parecer um transformista. O vestido já dizia tudo. E foi quando ela o colocou e se olhou no espelho que o sorriso bobo ocupou seu rosto, ela realmente parecia uma estudante. Uma líder de torcida, para ser mais sincera – o que a deixava mais do que feliz. Após colocar os brincos – delicados, e a pulseira; usou um perfume suave e estava pronta. Da ultima vez que olhara para o relógio, antes de fechar a porta de seu apartamento, se surpreendeu: 19h50. Não estava tão atrasada assim.
O caminho até a casa de não foi tão longo, já que, infelizmente, os minutos daquele dia estavam parecendo voar. desejava com todas suas forças que a noite não fosse assim, já que queria aproveitar o máximo que pudesse. Sintonizou numa rádio qualquer e uma música calma começou. Um sorriso brotou em seus lábios. Aquele definitivamente não era o mais clichê da noite de bailes do colegial. A garota indo buscar pelo par, com seu próprio carro... Com este já sendo pai. Ela riu da ironia e finalmente parou em frente à porta da casa do namorado.
Ela desceu do carro, com o maior cuidado do mundo para não encostar a barra do vestido na grama, e correu até a campainha. Não passou mais de um minuto para que abrisse e a deixasse sem fôlego. havia pedido para que ele usasse algum blazer ou algo mais sofisticado, e, o vendo agora, ela quase caiu para trás. usava uma calça social preta, junto de uma camiseta social branca e um blazer escuro por cima. Os cabelos estavam perfeitamente arrumados com gel e o perfume na medida certa para enlouquecê-la. Ela o nunca havia visto assim... Ele parecia um príncipe. Um príncipe tão lindo que ela jamais sonhou imaginar ver. estava perfeito.
O pensamento dele também não fora diferente. Ao vê-la, ali, tão maravilhosamente linda em sua frente, sentiu vontade de agarrá-la e jamais soltar. Era como uma boneca feita somente para ser observada. Como uma obra prima.
Eles poderiam não ser a mulher e o homem mais lindos do mundo, mas em seus corações e mentes, eram. Um para o outro; eram os seres mais perfeitos que já existiram.

- Eu posso te beijar? – disse, numa inocência tão grande que quis chorar emocionada. Ela sorriu, assentindo. E, no próximo segundo, seus lábios já estavam grudados.
- Tia ! – Aaron chamou, vindo correndo. O casal se separou, sorrindo, e olhou para dentro.
- Meu anjinho! – abriu os braços, abaixando-se na altura dele; que a abraçou com força. – Como você está? Animado para ficar com a tia Audy?
- Ela é legal? – colocou o dedo na boca. observava a cena, abobalhado. Aquilo era mesmo real?
- Ela é muito legal! – abriu os braços, como se pudesse mensurar o que dizia. – Você vai adorá-la. Eu juro!
- Então ta. – sorriu, olhando-a. – ta bonita.
- Aw, isso foi muito gentil, meu amor. Obrigada. – lhe deu um beijo na bochecha e ele correu, para se esconder de vergonha. Ela riu, levantando-se e olhando para .
- Você está maravilhosa. – só então, conseguira dizer algo. Ela sorriu, lhe dando um selinho.
- Você também está incrível, amor. – acariciou seu rosto. – Vamos?
- Vamos... – olhou-a desconfiado. – Vou chamar Aaron e trazer as coisas dele. – disse, entrando na casa e procurando o pequeno. assentiu, entrando e fechando a porta.

Não demorou mais de cinco minutos até que voltasse com Aaron nos braços e uma pequena bolsa onde estavam as coisas do filho. O casal se olhou cúmplice e foram até o carro de , onde guiaram à casa de Audrey. Não foi preciso mais do que vinte minutos para que chegasse ao local desejado. Eles saíram do carro, acompanhado pelo pequeno, e tocaram a campainha. Audrey não demorou a aparecer, sorrindo cordialmente.
- E aí, senhor ? – Ela disse, abraçando-o brevemente. Ele riu.
- Tudo bom, Audrey?
- Tudo sim. Você envelheceu demais nesses três anos! Credo, ta cheio de rugas. – fez careta.
- Audrey?! – deu um tapa no braço da amiga. Os três riram. – Sua chata, cuida bem dele, hein?
- Você vai ser bonzinho, não vai, Aaron? – se abaixou na altura do pequeno; que assentiu, tímido. – Nós vamos nos divertir muito! Até aluguei uns filmes de desenho, espero que goste. Estão em cima da mesa, vê lá. – piscou. Aaron saiu correndo em direção à sala. – Aliás, vocês formam um lindo casal. – sorriu, olhando para os dois de mãos dadas. – E estão lindos. Agora vão logo!
- Você ta me expulsando, sua chata? – fingiu estar incrédula. Elas riram.
- Não. Mas têm de aproveitar, hm?
- Você está certa... Seja lá pra onde formos. – deu os ombros, rindo. – Aqui ta a bolsa com as coisas do Aaron. Caso dê alguma crise de asma, a bombinha ta no bolso da frente... E me liga. As roupas, caso precise tomar um banho, o que acho que não vai ser necessário, já que dei faz umas duas horas. Ele dorme de fralda, ok? Está embaixo das roupas e...
- Eu sei cuidar de uma criança, . – riu, pegando a bolsa.
- Sem preocupação, meu bem. Ela cuidou muito bem da irmã mais nova... Ela só quebrou a perna umas três vezes e teve 20 pontos na cabeça quando era menor. – abanou o ar e ele sorriu sarcástico. Audrey e riram. – Ele vai ficar bem.
- Vai sim. – sorriu.
- Certo. Boa noite, Audrey. Qualquer coisa me liga. – fez um “telefone” com as mãos e apontou para a orelha. Audrey fingiu bater continência. – Tchau filho! – riu, acenando para o pequeno, que já estava entretido vendo as capas dos DVDs. – Acho que ele não vai sentir minha falta. – fez uma careta e ouviu gargalhar.
- Tchau, meu anjinho! – Aaron acenou novamente. – Tchau, Audy, obrigada! – a abraçou. fez o mesmo, agradecendo-a também.
Um minuto e eles estavam no carro. Como o local do baile estava meio longe, tiveram tempo para conversar sobre assuntos aleatórios, como o jogo dos Lakers, a pizza que comeram na quinta-feira, o que fariam no dia seguinte e afins. O assunto “” estava proibido, pelo menos por esta noite.
Quando o GPS avisou que o local estava próximo, parou o carro por alguns segundos.
- É agora que você me diz que mentiu todo esse tempo e é uma armadilha para me estuprar no meio do nada? – brincou, recebendo um tapa forte de . Eles riram. - Idiota. – rindo, pegou uma “faixa” que estava no banco traseiro. – Vou te vendar pra deixar as coisas mais interessantes!
- O que? Ah, não, . Não, não. – negou com a cabeça.
- Por favor, meu amor! – fez bico, enquanto piscava insistentemente os olhos. Ele rolou os olhos, enquanto ria e virava o rosto. – Oba! – comemorou, dando um nó.
- Eu espero que essa seja uma surpresa que compense tudo isso... – suspirou, sorrindo.
- Vai ser. – sorriu, ligando o carro novamente; para estacioná-lo algumas ruas à frente, em frente ao baile. – Pronto, chegamos. Preparado?
- Acho que sim... – umedeceu os lábios, enquanto sorria.
- Certo, espera só um segundo. – disse, e, logo depois saiu do carro. Dois segundos e ela estava abrindo a porta do passageiro, dando uma das mãos à ele. – Isso... Só mais uns passos. – sussurrou.
- Eu to ouvindo uma música alta... – riu, enquanto andava tropeçando no chão de paralelepípedos.
- Shh, shh... – sorriu, entregando à moça da recepção os dois convites. A mulher sorriu, recebendo uma piscadinha de . – Tudo bem, estamos aqui. – parou na entrada, encarando cada detalhe do salão decorado.
Era incrível como quase nada havia mudado desde a época em que ela mesma frequentava tais bailes. As garotas usavam vestidos rodados, dos mais variados preços. Os rapazes riam – alguns já sob efeito de álcool – e corriam atrás de garotas sem par. Os alternativos só queriam saber de ficarem em seu círculo, dançando do modo mais desengonçado e sem se importar se estavam sendo ridicularizados ou não. As líderes de torcida estavam com os caras mais populares, dançando como se não houvesse amanhã. Noutro canto, algumas meninas “normais” dançavam com seus pares também, mas sem a intenção de serem rei ou rainha, somente queriam ser felizes. , definitivamente, se encaixaria naquele grupo.
- Você me trouxe numa boate? – disse, ligeiramente alto, já que a música o impedia de falar normal.
- Na verdade, não – sorriu, indo para trás dele. – Há um tempo você me disse que o que mais queria era ter tido uma adolescência... Da forma mais clichê possível. E eu imagino o quão difícil deve ter sido para você fazer essa transição de “pré-adolescente” para “adulto”, sem ao menos aproveitar uma das melhores fases da vida de alguém. Você amadureceu muito rápido, teve muitas responsabilidades... – colocou a mão na faixa. – E é por isso que hoje eu tentei... Tentei e espero que tenha conseguido... Trazer um pouco disso a você – começou a desamarrar a faixa. – Por esta noite não existem preocupações, você é somente . – desamarrou por completo, tirando-a dos olhos dele. – E tem dezessete anos outra vez.


Capítulo XXIV


(Música do capítulo: Story Of My Life – One Direction. Play quando eu avisar!)

Ao abrir os olhos, encontrou um lugar totalmente distinto do que imaginava. Ao ouvir a batida alta da música dançante, imaginou estar numa boate qualquer – o que ainda não fazia sentido, já que não vestiam roupas tão sofisticadas para isso -, no entanto, as bexigas em tons de pastel logo clarearam sua mente. Olhando brevemente para os lados, viu adolescentes rindo, dançando e comemorando... Juntamente à frase de , tudo fazia sentido agora. “Tem dezessete anos outra vez”. Ele não podia acreditar no que ela havia feito.
Um sorriso brotou em seus lábios e ele riu, olhando para o chão. franziu o cenho, não entendendo. Ele não havia gostado?

- Você não gostou? – mordeu o lábio inferior, na esperança de receber uma frase positiva.
- , - ele voltou a olhá-la – você tem noção do quanto eu te amo? – sorriu e ela suspirou aliviada. – Obrigado por tudo isso, de verdade, mas nós não podemos ficar aqui.
- Oi? – colocou as mãos na cintura, incrédula. – Como não?! , por favor! Nós vamos nos divertir.
- Eu não sei ao menos me portar como um adolescente como os outros. Eu nem me lembro como é dançar com alguém. – deu os ombros, rindo do quão idiota aquela frase saíra.
- Ora! Se for por isso, você pode ficar tranquilo. – sorriu, puxando-o pela mão. Eles foram até a mesa de ponches. – Não há segredo. Só se divirta... Se divirta como jamais imaginou. Não ligue para que os outros vão falar, você não conhece ninguém aqui. – riu, pegando um copo de plástico e colocando o liquido da bacia, dentro. – Só atue. Você não fez isso por seis anos? Só o considere um dos papeis mais importantes da sua vida. – estendeu a mão com o copo, para que ele pegasse.
- Sem preocupações e responsabilidades?
- Com direito a amasso no carro depois do baile, como no colegial. – piscou, rindo.
- Eu acho que posso ter dezessete anos de novo. – sorriu, passando as mãos nos cabelos; bagunçando-os ligeiramente. – Você quer dançar, ? – estendeu a mão, enquanto tomava de uma só vez o ponche e jogava o copo na lata de lixo próxima dali.
- Acho que posso ser boa nisso. – lhe deu um beijo na bochecha, enquanto segurava a mão dele e caminhavam até a pista.
As primeiras notas de uma música começou a tocar e logo a reconheceu: Clarity – Zedd. franziu o cenho, definitivamente não era o tipo de música que estava acostumado a dançar.
Os jovens ao seu lado dançavam e cantavam livremente, como se estivessem num filme. Ele sorriu instantaneamente, aquilo era surreal.
- Vamos, meu amor! – gritou, enquanto ria. – Você é ! Se liberte. – sussurrou em seu ouvido, e, no próximo segundo, a música alcançou seu ápice. Os adolescentes começaram a pular e as garotas a balançarem os cabelos. Como um imã, começou a fazer o mesmo que as garotas. fechou os olhos e deixou a música o levar, logo seus braços se ergueram, balançando-se na melodia da música. A letra era fácil e chiclete, logo saia por seus lábios. Em segundos, ele já se sentia como um daqueles jovens. Ele era um deles.
Novamente, a parte que antecedia o refrão – já no final da música – voltou a tocar. Os alunos começaram a batucar com as mãos no ar, como se tocassem baterias imaginárias. fez o mesmo, enquanto ouvia a gargalhada de .
- Why are you my clarity? – ela cantou e estava feito, a batida forte já estrondava contra o chão, fazendo seus corações acelerarem e os ouvidos ficarem à ponto de explodir. Eles se sentiam vivos de novo. Felizes de novo.
Enquanto a música chegava a seus segundos finais, parou para pensar no quão cabível aquela letra era para a situação que se encontravam. “Se o nosso amor é uma tragédia, por que você é meu remédio?” “Se o nosso amor é insano, por que você é minha claridade?”. Era assim que ela se sentia. era o remédio para a tragédia que sua vida se encontrava. era sua luz quando a escuridão beirava à insanidade.
Outras músicas passaram a tocar e cada vez mais enxergava . Enxergava quem ele era de verdade, por baixo daquela máscara carrancuda que carregara há seis anos. Ele já havia tomado mais alguns ponches, e não estava bêbado; era óbvio, mas estava bem alegre. Tanto pela festa, quanto pela pequena dose de álcool que aquela bebida continha.
Mais algumas músicas se passaram e a luz do palco acendeu: era a hora tão esperada da noite. Os diretores do colégio diriam quem era rei e rainha do baile. e riram, olhando um para o outro. Aquilo deveria significar o mundo para os adolescentes.

- A festa está animada, não está?! – o homem de meia idade disse, rindo. – Um brinde a juventude! – ergueu seu copo, sorrindo. – E agora, o momento mais esperado da noite! Quem serão coroados o rei e rainha do baile?! Veremos agora. – sorriu, abrindo um envelope que segurava. – Oh, céus. Isso é incrível! E pela primeira vez... Duas pessoas que não são estudantes no colégio. – disse, surpreso. – Mas não há regras, não é? – voltou a encarar a plateia. – e !

O senhor disse e abriu a boca, completamente surpresa. arregalou os olhos, enquanto gargalhava. Uma luz forte os encontrou e eles acenaram. puxou , ambos correram até o palco enquanto ouviam dezenas de gritos animados. Algumas garotas os olhavam com indiferença. “Invejosas”, pensou como uma adolescente, de fato.
O casal recebeu as coroas e sorriram cúmplices. Aquilo era mesmo real?

- Primeiramente, obrigada! – disse ao microfone, enquanto ria. – Acho que isso é meio irreal e estou meio que num sonho adolescente, mas obrigada, de qualquer forma! Significa muito para mim. Eu nunca ganhei uma dessas... – colocou a mão na cabeça, pegando a coroa e encarando-a. – Então, por favor, garotas normais e excluídas, acreditem! Eu ganhei minha coroa aos vinte e quatro anos, então... Nada é impossível. – todos riram. Ela saiu, dando espaço para que falasse.
- Bem... Acho que não é como o sonho de um homem ganhar uma coroa num baile colegial, não é? – sorriu, dando os ombros. – E para mim, sinceramente... Isso não diz nada. Não com o status. Mas sim com o valor... Valor emocional. O valor desta coroa, das pessoas que estão aqui hoje e da minha , que me proporcionou tudo isso. – olhou-a e ela sorriu tímida, balançando a cabeça. – Acho que é a experiência completa, amor. – pegou sua coroa nas mãos também, estendendo-a. Ela assentiu, rindo. – Então, é isso... – voltou a virar-se para frente. – Acho que o que posso falar é: se divirtam! Aproveitem o momento o máximo que puderem. E eu não digo só sobre este momento... Mas toda a sua juventude. Da forma mais insana que puderem! – o diretor pigarreou. – E não faltem as aulas! – fez uma careta. Todos riram. – Obrigado. – disse, voltando a colocar sua coroa.

Não foi preciso dizer mais nada. Eles haviam sido ovacionados.
A festa voltou a acontecer, e, alguns minutos depois o bar do lugar abriu. foi capaz de beber algo com mais teor alcoólico. Agora sim ela já o via animado de verdade. O blazer e as coroas já estavam no carro, os primeiros botões da camiseta social estavam abertos e as mangas dobradas. A pequena camada de suor em seu rosto era evidente. só sabia rir e dançar, tamanha felicidade que sentia.
Alguns alunos já haviam socializado com o casal mais velho – que agora pareciam ter, de fato, dezessete anos. Eles eram um deles agora.

- Eu to feliz pra caralho, ! – gritou, para que ela pudesse ouvir. riu, assentindo.
- Eu disse que seria legal! – ergueu os braços, balançando-os na batida da música.
- É a melhor noite da minha vida! – gritou, agora para que todos pudessem ouvir. Ela lhe deu um tapa no ombro, para que ele falasse mais baixo. Ambos riram. Apesar de saber que seus sentidos estavam um pouco entorpecidos pelo álcool, ela sabia que aquelas palavras eram verdadeiras. E isso fazia com que fosse a sua também.
A música que tocava chegou ao final, sendo substituída por Blurred Lines – Robin Thicke. ergueu com uma das mãos o copo de vodka que tomava e, com a outra, puxou para si. Ela jogou a cabeça para trás, gargalhando.
- I know you want it... – cantarolou, enquanto beijava o pescoço dela. – ... I feel so lucky... – mordeu o local, recebendo as mãos da namorada em seus cabelos, bagunçando-os. mexeu os quadris, ainda dançando no ritmo das batidas.
As horas foram se passando, infelizmente rápido demais, como imaginou que fosse, e quando viram os últimos jovens indo embora, se deram conta do quão tarde era. Ao encarar o relógio, , a única sóbria, viu que o ponteiro já marcava 05h58 AM. Ela arregalou os olhos e riu, enquanto estalava os dedos sobre a visão de , para que ele pudesse encará-la.
- Seis horas da manhã, meu amor! Precisamos ir embora. – disse alto, para que ele ouvisse. Alguns segundos se passaram até que as palavras fizessem algum sentido para ele, já que seu raciocínio estava lento motivado pelo álcool em seu corpo.
- Seis?! – abriu a boca e tropeçou no próprio pé. Ele riu. – Mas a festa não acabou de começar? – franziu o cenho, olhando em volta. – Cadê todo mundo?! – arregalou os olhos.
- Estão todos em suas respectivas, ou não, camas. – riu também, puxando-o pela mão.
- Mas, ... – fez bico, como uma criança mal-criada. Ela mordeu o lábio, aquele era um ótimo sinal. Ele foi capaz de relaxar e se divertir tanto, que havia deixado a bebida entorpecê-lo por completo. Sem preocupações.
- Vamos dormir, meu amor. Prometo que teremos outras noites como esta. – piscou, sorrindo. Eles caminharam até a saída do salão e saíram. O sol já estava prestes a raiar. No entanto, ao sair, parou de andar. observou os próprios pés, esperando o que quer que fosse. Certo, ele ficara idêntico a Aaron agindo daquela forma. – Você está sentindo isso também? – sussurrou.
- Sentindo o quê? – ergueu o olhar, ainda entorpecido. – Eu to sentindo sono. – riu, apoiando a cabeça no ombro dela.
- Essa sensação de estar sendo observado... – olhou para os lados, no entanto, não encontrou ninguém.
- Isso é coisa da sua cabecinha. – sorriu bêbado, levando o dedo indicador à ponta do nariz dela.
- Eu realmente espero que seja. – sorriu fraco, voltando a andar e indo até o carro. Ela abriu o a porta para que ele entrasse, colocando seu cinto assim que ele sentou. Contudo, ao tentar sair do carro, ele a puxou, de forma que ela caísse em seu colo.
- Peguei! – gargalhou, tirando o cabelo dela do ombro e começando a beijá-lo. É, a "criança" havia se transformado em um tarado bêbado.
- Agora não, . – riu, lhe dando um selinho e se esquivando, recebendo um gemido de reprovação dele. Quando deu a volta em seu carro, sentiu-se novamente observada e olhou para os lados, novamente não encontrando nada. Aquilo só podia ser coisa de sua cabeça. Sono, talvez. Ela abriu a porta do motorista e entrou, colocando o cinto de segurança. – Mas me diz, você gostou da noite?
- Eu gostei muito. E vou te agradecer devidamente quando meus sentidos estiverem normais. – sorriu, fechando os olhos.
- Eu sei que vai. – riu. – Eu também me diverti. – mordeu o lábio, vendo que ele já havia quase adormecido. – Demais. – e, dito isso, ela ligou o carro, dirigindo até a casa de .


- Não é possível! – o homem gritou, jogando todos os papeis que estavam em sua mesa. – Não pode ser verdade, não pode! – deu um soco na parede ao seu lado, ele estava enfurecido. – Como vocês só viram isso agora? Imbecis! – chutou o pequeno armário de madeira que estava próximo. – Vocês são pago para quê? Há quanto tempo ela vem se encontrado com esse infeliz?! – gritou novamente, enquanto encarava seus empregados. Seu olhar transbordava ira.
- Só hoje conseguimos estas fotos, senhor . Algumas vezes nossos homens viram um cara com ela, mas não imaginaram ser . – um deles disse, com a cabeça baixa.
Nas fotos que acabara de receber, estava saindo de uma festa junto de . Ele parecia embriagado e ela alerta, no entanto, nenhum dos dois sequer olhou para a lente da câmera. Não deviam ter desconfiado de nada.
- Olhe pra mim enquanto fala! – bufou, passando a mão nos cabelos. – Como esse imbecil teve a audácia de voltar? Ele não tem amor ao filho e à vida? – bateu com as duas mãos sobre a mesa, espalmando-as ali. – O inútil acha que é o dono do mundo. Coitado! – riu irônico. – Se ele pensa que isso vai ficar bem... Está completamente enganado. não tem ideia de com quem se envolveu. Ele irá amaldiçoar o dia em que colocou os pés sobre Nova Iorque de novo. – travou o maxilar, deixando um sutil sorriso maldoso ocupar seus lábios.

Já fazia alguns minutos desde havia acordado. Ela já havia tomado um banho e feito uma xícara de café. O programa de culinária que passava na TV estava servindo para distraí-la, enquanto não acordava. O que não demorou muito a acontecer, já que quando o quinto toque do despertador soou; às 13h30, ele levantou. Ela devia ter se lembrado de desativá-lo.
- Eu vou morrer com tanta dor de cabeça! – ele chegou à sala enquanto apertava os olhos e estava com uma das mãos nos cabelos. riu, esticando uma das mãos com o café e pegando um comprimidos para dor de cabeça na mesa de centro, a namorada já estava com tudo preparado. – Obrigado amor. – sorriu fraco, tomando um dos comprimidos e um gole de café logo em seguida. – Não bebo assim desde... Sempre. – riu fraco, sentando-se no sofá.
- Como assim? – franziu o cenho, apoiando a cabeça numa das mãos.
- Nunca cheguei a beber tanto que tenha ficado disperso... – sorriu. – E sorte a minha, porque, que dor filha da puta. – jogou a cabeça para trás, fechando os olhos.
- Bem vindo à sua primeira ressaca de verdade, então. – ela riu, lhe dando um selinho demorado. – E então, o que achou de ontem?
- Foi incrível, . – abriu os olhos e virou a cabeça levemente, para olhá-la. – Obrigado, obrigado, obrigado. Eu te amo e sei que isso não é segredo, mas eu preciso repetir. Foi a melhor noite da minha vida até hoje. – ergueu uma das mãos e acariciou o rosto dela. – Ainda vou ser capaz de te agradecer à altura! Quando essa dor passar, eu juro. – ambos riram.
- Seus sorrisos e suas gargalhadas de ontem à noite já foram capaz de me agradecer. Não existe “obrigado” melhor do que a sua felicidade. – mordeu o lábio delicadamente. – E isso foi muito clichê, eu sei. – riu, fazendo uma careta e encostando a cabeça no ombro dele.
- Eu sou apaixonado por clichês, já que a minha vida não foi nada parecida com isso, você sabe. – riu também, enquanto pegava a mão dela em seu colo e a segurava. – Precisamos ir buscar Aaron. Você já ligou para Audrey?
- Já sim, ele havia acabado de almoçar e estava vendo desenhos. Dormiu melhor do que ela. – riu, erguendo um pouco o olhar para encará-lo e ver um sorriso fraco em seus lábios. – O que foi?
- Não sei... – suspirou. – É besteira minha. Mas, amor, quando acordei me veio uma vaga lembrança sobre você ter falado algo sobre estarmos sendo observados, foi sonho?
- Hm, não. – se levantou, dando os ombros. – Eu tive a impressão de que estávamos sendo observados enquanto saíamos do salão... Mas deve ter sido só impressão mesmo. Eu ando paranóica com tudo isso.
- Vai ver foi isso mesmo, não vejo motivo para nos observarem e não nos terem levado até seu pai... Ainda mais comigo bêbado, nem me defender eu iria poder. – deu os ombros, sentando-se na beira do sofá. Ela assentiu. – ? – chamou. Ela se virou para encará-lo, enquanto voltava com outra xícara de café. – Eu estive pensando sobre aquilo de visitar a minha mãe e... Eu acho que quero. – suspirou. Ela sorriu, voltando a se sentar ao lado dele. – Bom, eu tenho certeza. – sorriu fraco. – Já está mais do que na hora de deixar de bancar o adolescente rebelde que fugiu de casa... Eu preciso vê-la, saber se está bem, conversar e explicar o porquê de ter sumido. Dizer-lhe que já é avó... – riu fraco, encarando os próprios pés.
- E você está esperando o que pra começar a arrumar uma mochila com suas roupas e ir para lá? – deu um gole em seu café. Ele a olhou confuso. – Anda, hoje é domingo. Você já perdeu tempo demais.
- Você está dizendo para eu ir hoje?
- Estou dizendo para irmos agora. Caso, é claro, você queira que eu vá. – sorriu.
- É óbvio que eu quero que vá! – riu, segurando o rosto dela entre as mãos. – Você existe mesmo? Caralho, eu te amo tanto, ! – lhe deu um selinho demorado, depois outro, outro, e outro. Ela gargalhou, assentindo.
- Em carne e osso! – puxou seu lábio entre os dentes. – E eu te amo mais. Agora vá, arrume suas coisas e as coisas do Aaron. Eu vou pegar minhas roupas que estão aqui na sua casa mesmo. – piscou, se levantando e indo até o quarto. Ele se levantou também, seguindo-a.
Não demorou mais de vinte minutos para que tudo ficasse pronto e e saíssem de casa. E se o transito ajudasse, a viagem até Nova Jersey não seria longa. Com mais vinte minutos eles chegaram à casa de Audrey e tocaram a campainha, a mulher logo abriu a porta, sorridente.
- Vocês poderiam ter demorado mais. Aaron é um amor! – disparou, sem mesmo dizer “Bom dia”. Eles riram.
- Eu disse que você o amaria. – piscou, entrando na casa. pediu licença e entrou também. – Meu amorzinho! – abriu os braços, e, assim que o pequeno a viu, veio correndo. – E então, como foi?
- Muito legal! – sorriu, se esquivando do abraço dela. – Papai! – sorriu, abraçando o pai, que o pegou no colo e beijou sua bochecha.
- Nunca mais vamos nos separar por tantas horas, ok? – ele disse, sorrindo. Aaron gargalhou, enquanto sentia a barba rala do pai em seu rosto.
- Ta bom! – sorriu, batendo os pés para que o colocasse no chão, ele o fez. – A tia Audy colocou o filme do Super-Man, papai! – abriu a boca e colocou as mãozinhas no rosto, como se acabasse de descobrir a fórmula da coca-cola.
- Oh, eu não acredito! Tia Audy, da próxima vai ter que me emprestar para eu ver também. – olhou para Audrey, que riu. – Obrigado, Audrey. – sorriu verdadeiramente e ela abanou o ar, dando os ombros.
- Argh, vocês são tão meus! – cruzou os braços. Todos riram. – E você é a melhor amiga do mundo, Audy! – abraçou a amiga, que fez careta.
- Mas agora... Já vamos, né? – disse. Aaron murmurou em reprovação. – Nós vamos viajar, campeão. Vamos à casa da sua avó!
- Avó? Eu tenho uma vovó? – abriu a boca novamente, surpreso.
- É claro que tem. – riu, afagando os cabelos dele. – Coloca seu chinelo e vamos. – caminhou até a pequena bolsa do filho, que estava no sofá. – Está tudo aqui?
- Ta sim, . – sorriu, cruzando os braços. – Boa viagem!
- Obrigada, amiga. – riu, se aproximando dela. – E quando eu voltar, tenho que te contar uma coisa! – sorriu animada.
- O quê? Quando voltar? Não, ! – disse, incrédula.
- Shh, não seja estraga prazeres! Eu tenho que ter certeza ainda. – mordeu o lábio, ao ver se aproximando. – Vamos?!
- Vamos, sim. Dá tchau pra tia Audy, filho.
- Tchau, tia Audy! – acenou, recebendo um abraço apertado da mulher.
- Tchau, lindo! Nos vemos outro dia, hm? – piscou, e ele sorriu, assentindo.
- Obrigado de novo. – sorriu, abraçando-a rapidamente.
- Por nada. – deu os ombros, abrindo a porta de sua casa. – E você me paga, ! – colocou o dedo em riste, recebendo um abraço da amiga, que gargalhou.
- Bye, minha linda. – beijou sua bochecha e saiu, acompanhada de e Aaron.

A viagem fora tranquila, sem trânsito e em meio a risos de e Aaron. jamais pensou voltar à sua cidade, ainda mais daquela forma. Com outra mulher a não ser sua eterna . Como sua mãe reagiria à sua volta? Ela o expulsaria?
E se, pior, ela houvesse morrido? preferiu não pensar na possibilidade. O caminho de árvores e plantações foi se alongando e ele já sentia o cheiro de casa. Da ultima vez que estivera ali, não se lembrava de coisas boas. Esperava, de todo o coração, que tudo mudasse agora.

(Play!)

Mais alguns quilômetros percorridos e ali estava. Sua antiga casa, exatamente do jeito que era. A única coisa diferente ali era a pintura, que agora tinha um tom de verde musgo. Seus olhos inconscientemente encheram-se de lágrima e um pequeno sorriso brotou em seus lábios.
- É aqui? – questionou, ao ver a emoção do namorado.
- É sim. – mordeu o lábio, respirando fundo. Ele a olhou, como se pedisse ajuda. Não sabia como agir.
- Vai dar tudo certo, meu amor. Eu e Aaron estamos aqui, não estamos, meu anjinho?
- Tamo! Chegamo? – ele sorriu, olhando pela janela. O casal riu.
- Chegamos sim, campeão. Você espera só um minuto? – Aaron assentiu e deu um rápido selinho em . Ao abrir a porta do motorista, uma leve brisa passou pelo seu rosto e seu coração acelerou. Era agora.
Ele caminhou depressa sobre a grama verde do jardim e tocou a campainha, sentindo seu ar sumir dos pulmões. Alguns segundos, e, uma criança, que aparentava ter um pouco mais da idade de Aaron, abriu a porta. Onde estava a sua mãe, afinal?
- Oi? – ele sorriu fraco, ao ver a criança o encarando confuso.
- Já disse para não abrir a porta sem me chamar antes, Zacha... – e sua voz sumiu no momento em que viu o homem parado em sua porta. também congelou. Os olhos de ambos encheram-se de lágrima e ela levou a mão ao peito, provavelmente sentindo o coração acelerar. Sua respiração ofegou e ela deu alguns passos a frente, não acreditando no que vira. – ? – seu tom saiu fraco, quase como um sussurro.
- Mãe – disse, também com a voz embargada. E, no próximo segundo, as lágrimas que segurara por tanto tempo já estavam em seu rosto, acompanhadas da respiração ofegante que seu corpo havia tomado.
- Ah, meu Deus! – Julie sorriu, correndo para abraçar o filho. a abraçou com a mesma intensidade. O abraço que ele esperou por tantos anos, antes mesmo até de ir embora. O cheiro que ela tinha... Cheiro de mãe. Como aquele abraço era confortável, ele se sentia seguro. Pela primeira vez em anos, ele se sentia seguro. Era como se nada e nem ninguém fosse capaz de tirá-lo dali, do aconchego de sua mãe. – Isso é mesmo real? – ela disse, em meio ao choro. riu e encarou o rosto da mulher, que parecia até mais novo do que da ultima vez que o vira. – Você já é um homem! Eu... Eu nem acredito que esteja aqui. O que aconteceu? Por que foi embora? Por que nunca me deu notícias? Meu Deus, eu achei que tivesse morrido! – levou a mão à boca, enquanto chorava alto.
- Mamãe?! – a pequena criança que atendera a porta, agora encarava os dois ali, na sala.
- Oh, querido! – ela sorriu fraco. – Este é o seu irmão.
- Irmão? – disse, confuso.
- Eu... Eu me casei de novo, meu filho. Mas, por favor, me explique tudo. Onde está ? Vocês ainda estão juntos? Eu procurei tanto por vocês! – sorriu, abraçando-o novamente.
De todas as vezes que pensara em visitar a mãe, jamais pensou numa recepção tão calorosa quanta esta. Era, definitivamente, melhor do que tudo.
- Eu vou explicar tudo... – ele sorriu também, secando as lágrimas. – E você também tem muito para me dizer. – riu, olhando para o irmão mais novo. – Mas, antes, eu preciso te apresentar a duas pessoas.
Julie franziu o cenho, assentindo. saiu por um minuto e voltou, acompanhado de Aaron e . A mulher sorriu, olhando confusa para o filho.
- Essa criança adorável não é o que estou pensando ser, é? – ela levou a mão à boca de novo, segurando o choro. – Oh, céus, eu ainda pergunto? Ele é a sua cara! – riu, caminhando até Aaron, que estava tímido, encarando o chão. – Você é o meu neto?
Aaron olhou para o pai, que assentiu, emocionado.
- é minha vovó. – deu os ombros, enquanto sorria tímido.
- Oh, Deus! – sorriu emocionada, abraçando o pequeno, que retribuiu. – Você é lindo! – o olhou, analisando cada detalhe de seu rostinho. – E você... – ergueu o olhar para , que lhe sorria simpática. – Deve ser a esposa do meu filho?
- Bem, na verdade não, ainda não. – sorriu, abraçando brevemente a mulher. – Eu sou namorada do .
- É? Oh, desculpe. – sorriu, encarando , confusa. – Ela me lembra muito...
- A , eu sei. – riu fraco, encarando o filho. Julie assentiu, olhando para o pequeno.
- A era minha mamãe que ta no céu. – Aaron disse com a maior naturalidade do mundo, enquanto sorria.
Julie arregalou os olhos e olhou para , que assentiu, abraçando a namorada de lado.
- Ela faleceu no dia em que Aaron nasceu. – suspirou, como doía falar sobre aquilo.
- Eu sinto muito, querido. – suspirou. – Mas, que indelicadeza da minha parte – sorriu fraco. – Como é o seu nome, querida? E me desculpe, novamente.
- Está tudo bem. E, por mais estranho que pareça, meu nome também é . – riu fraco, afagando os cabelos de Aaron.
- Você é uma moça linda. – sorriu.
- Mãe? – a mulher o olhou. – Acho que precisamos conversar, não é? – ela assentiu.
- Zack, vá brincar com e Aaron, meu amor? – o menino assentiu, enquanto dava as mãos para .
- Vocês querem brincar do quê? Conheço várias brincadeiras bacanas! – sorriu, enquanto saía em direção ao jardim da casa, junto das crianças.
- A primeira pergunta que tenho é: por quê? – cruzou os braços, encarando os olhos do filho.
- Nós dois sabíamos que nossa convivência estava péssima, mãe. Mãe. – ele riu sarcástico. – Há quanto tempo eu não te chamava assim? Desde que o meu pai morreu tudo tinha sido uma grande merda. – deu os ombros. Julie fitou o chão. – Eu precisava sair daqui ou um de nós mataria o outro.
- Que bobeira, .
- Você sabe que é sério, mãe. – sorriu fraco. – Nós não nos suportávamos mais. Você pensava que eu havia sido o culpado pela morte do papai... Você me via como um assassino. – engoliu seco ao pronunciar aquela palavra. Ele, de fato, havia se transformado num. - E eu sei, eu sei. Era inconsciente. – suspirou. – Eu precisava encontrar um lugar para mim, fugir daqui. Você me entende? Eu precisava me encontrar, ou iria acabar me perdendo mais. – franziu o cenho, aquilo não fazia sentido. Ele havia se perdido, de qualquer forma. – Qual futuro eu poderia ter aqui? A senhora sabe o quão infeliz eu era. – fitou o chão, sentindo a voz embargar. – A oportunidade veio quando o irmão de morreu e eu não pensei duas vezes ao me juntar a ela para irmos embora daqui. Eu queria liberdade! E eu a tive.
- E por que você não me avisou? Eu te esperei por tanto tempo, .
- Você me deixaria ir embora? Mesmo me maltratando, você ainda iria querer que eu ficasse aqui. Eu era seu filho. Eu sou seu filho. – deu os ombros, sorrindo fraco.
- Já passou, não já? – sorriu fraco. – Eu não quero mais saber do passado. – suspirou. – Ele ficou para trás e não voltará. A única coisa que importa é o presente e o futuro... Sou casada com um homem maravilhoso, tenho um filho que é um anjo e agora ganhei uma nova família. Meu primogênito, um netinho e uma nora. Do que mais posso reclamar? – sorriu, abrindo os braços. a abraçou com força.
- Eu te amo, mãe. – sussurrou. No entanto, a calma que tivera da primeira vez que abraçara ela, já não estava mais ali. Ao ouvir o grito atônico de Aaron e Zack, as vozes masculinas e os xingamentos de ; vindos do jardim, ele se desvencilhou do abraço da mãe e correu até lá. A mulher o acompanhou.
A cena que viu não foi nem um pouco animadora. Zack estava nos braços de um homem do qual não tinha conhecimento. estava nos braços de outro, tentando se soltar, e, quando virou um pouco mais o rosto, o encontrou. O causador de todos os seus problemas, o seu pior inimigo, o pai da mulher de sua vida: , segurando seu filho.
- Sentiu saudades, ? Porque eu senti. – sorriu, abrindo o sorriso mais maldoso que poderia usar. travou. Ele tinha a sua vida nos braços. Literalmente.


Capítulo XXV


(Música do capítulo: Daughtry – Feels Like Tonight. Podem deixar rolando da primeira à última palavra do capítulo!)

não soube o que sentiu primeiro. Ou em maior quantidade. Ódio, medo, raiva, angustia, tristeza, surpresa, ou temor. O dia havia chegado. havia o descoberto com , novamente. A situação era parecida com a de três anos atrás, quando o encontrou no jantar que a namorada havia preparado para que ele conhecesse o sogro. No entanto, agora era mais preocupante. Crianças estavam em risco, e ele daria a vida para que ninguém tivesse um sequer arranhão. Nem Aaron, nem , nem a sua mãe, e, agora, nem o irmão que acabara de conhecer.
Ele voltou a olhar , que tentava a todo modo se desfazer dos braços de um dos comparsas de . O homem estava tendo trabalho, e, por um mísero segundo, sentiu que fizera um bom trabalho.
Trabalho este que agora já não servia mais de nada.
Ao ouvir o grito assustado de sua mãe, viu um dos homens de correrem para segurá-la. Aquilo não havia como piorar. O jogo havia terminado. Game over. Xeque-mate. era o campeão, de novo.

- Larga. O. Meu. Filho. – disse, entre os dentes. As lágrimas de ódio já o cegavam, literalmente.
- Qual é, ? Por que não conversamos primeiro? Eu senti saudades, criança! – riu sarcástico. – E senti a sua falta também, querida. – olhou para , que estava com a mandíbula trincada. Mas, desta vez, ele não sorrira sarcástico.
- Eu. Te. Odeio! – gritou, chutando a pélvis de um dos homens que a segurava. Outro, que estava ao lado de , ergueu uma mão com a arma em punho.
- Calma! – ordenou. – Abaixa isso. – disse, sério. O homem o fez.
A esta altura, as crianças já choravam. olhava para o filho chorando nos braços daquele demônio e a única vontade que tinha era de esquartejá-lo.
- Me dá o Aaron, pai. – disse, tentando manter a calma.
- Como você foi se envolver com um sujeitinho como o , filha? Meu anjo, eu cuidei tanto de você para isso? – negou com a cabeça, parecendo decepcionado.
- Me dá o Aaron. – repetiu, engolindo seco.
- Não, não. – negou com a cabeça novamente e fez um sinal para que dois de seus homens a segurassem novamente. Dessa vez não teve jeito, eles a pegaram.
- sussurrou, e, no próximo segundo, voltara a olhar para . A ira já era absurda. – Vamos lá, - ele riu sarcástico, abrindo os braços e enchendo o peito –, faça logo o que quer. – respirou fundo. – Me mate. Mas os deixe em paz.
- Não! – gritou, se impulsionando para frente, sem sucesso. Os homens a seguraram. – Não, pai, não. Pelo amor de Deus! Eu te imploro. Pai, sou eu, a sua filhinha. – ela disse, já chorando. – Eu prometo vê-lo nunca mais, eu prometo!
Julie já não sabia mais o que fazer a não ser chorar. Onde estava sua vizinhança, afinal?
- Eu não confio mais em você, meu docinho. – sorriu triste, enquanto colocava Aaron no chão, mas ainda o segurava pelos ombros. O pequeno soluçava. – Eu já ouvi essa promessa uma vez, há três anos. – olhou para , que tinha o maxilar travado. Ele não podia ao menos se mexer, já que se o fizesse, sabia que um tiro escaparia da arma de algum dos comparsas de . Todos seguravam alguém importante para ele. – E olha só onde estamos hoje? Você me decepcionou tanto, ! Eu confiei em você. Na sua palavra. – negou com a cabeça, rindo. – Quando você vai aprender que não se pode desafiar pessoas como eu?
- Eu não planejei encontrá-la aqui. Aconteceu. – deu os ombros, vendo o filho. – Me dá o meu filho. – disse, com a voz embargada ao ver o desespero da criança. – Eu não vou tentar nada. Não sou burro a este ponto. Só quero acalmá-lo. – suspirou. , mesmo contra a vontade, deu alguns tapinhas nas costas de Aaron para que ele fosse até o pai. Não aguentava mais o choro ensurdecedor. – Pronto, campeão. – sorriu fraco, abraçando o filho e carregando-o no colo. – Está tudo bem. – colocou a cabeça do filho em seu ombro. O choro foi diminuindo.
- Não é uma cena linda, Garcia? – ironizou, recebendo a risada de seu antigo companheiro.
- Você é um monstro – disse, enquanto chorava. O pai deu os ombros, respirando fundo.
- Eu vou te contar um segredo, filho – disse, respirando fundo. – Nós, na verdade, estamos num desenho do Super-Man. – Aaron arregalou os olhos e olhou para o pai. – Mas você não pode falar que eu contei, ok? – o garoto assentiu. – E você vai ser o herói deste episódio. – sorriu, lhe dando um beijo na bochecha. – Não importa o que aconteça agora, tudo irá ficar bem no final. O bem sempre vence o mal, não é?
aplaudiu e gargalhou. sorriu para Aaron e piscou. A criança sorriu também.
- Agora, sem mais delongas, isso está me cansando. – rolou os olhos. – Deixem a velha e a criança aí. E nem pense em contar a alguém o que viu aqui. – encarou Julie, que assentiu fraco e abraçou Zack, que também chorava. – Jordan, leve o filho do com você.
- Não – disse, colocando as mãos sobre os ombros do filho. – Não, não. , por favor – implorou, sua voz já saía trêmula. – Para onde vai levá-lo? – viu o filho sendo carregado por um dos homens. – !
Aaron o olhou preocupado e ele sorriu nervoso, tentando piscar para o filho. Tinha que acalmá-lo ou ele poderia desencadear uma crise de asma. As lágrimas voltaram a ocupar seus olhos e ele olhou para , desesperado.
- Relaxa, . – sorriu sarcástico. – O levem para o décimo quinto. – apontou para , que franziu o cenho, não entendeu o que aquilo significava. – E quanto à , ela vem comigo. – ordenou, entrando no carro. – Boa viagem, criança. – voltou a olhar para , que o olhou com a mesma intensidade. Não iria abaixar a cabeça diante daquela situação... Ele já estava morto, não estava? Que fosse com dignidade, então.
Enquanto levavam para um carro e para outro, eles não perderam o contato visual. Eles se comunicavam pelo olhar; não precisavam falar para expressar o que sentia. Num segundo, parecia desesperador, noutro; esperançoso. E se não se vissem mais? Ambos não queriam imaginar a possibilidade. Não conseguiriam.
A cena parecia acontecer em câmera lenta: sendo levado para dentro de um carro preto, sem protestar, sabia que um passo em falso poderia ocasionar em alguma tragédia. Já , tentava se soltar dos dois homens que a seguravam, ela dizia coisas das quais ele não conseguia entender. E ele sabia, ela iria lutar até o último segundo. O transe se desvencilhou quando o rapaz ouviu Julie gritar “!”, e então, olhou para a mãe desesperada, abraçando o filho menor. somente sorriu fraco, como se dissesse que tudo ficaria bem. Mesmo não acreditando nem um pouco naquilo.
Contudo, ao olhar na direção de novamente, não a encontrou. Ela já estava dentro do carro. Perdera a ultima chance de ver o amor de sua vida. No ultimo passo, antes de entrar no carro que estava imposto para si; ele olhou para cima. O céu. O que diria daquela cena? Será que ela o via? Ele preferia pensar que não.
No próximo minuto, sentiu sua cabeça ser abaixada por uma dos homens, como um ladrão é colocado dentro de uma viatura por um policial. Aquele estava longe de ser o caso.

- Tão ridículo ao desafiar , . – Josh disse. Aquele maldito tinha mesmo que estar em todo lugar quando fosse pego? – Achou que fosse quem? Deus? – gargalhou.
continuou em silêncio, somente o encarando pelo retrovisor do carro. Seu maxilar continuava trincado, assim como os olhos, num brilho intenso. Imbecis.

A viagem de volta à Nova York foi em silêncio. não queria ouvir o que tinha a dizer. Ele também não sabia o que dizer, na verdade. Se havia algo que fosse capaz de derreter, ao menos um pouco, o iceberg que tinha no peito; era ela.
Uma hora e meia de km percorridos e eles haviam chegado à sede. parecia entediada ao ser levada do carro à sala do pai. O mais velho sentou-se em sua cadeira e encarou a filha, sentada à frente de sua mesa. Ela o olhava com a mesma intensidade de , não temia ou ao menos sentia algum sentimento por aquele homem. Suas pernas estavam largadas, assim como seus ombros. parecia uma adolescente desafiando o pai logo após sair do castigo. Era quase isso, não era?
Alguns minutos se passaram e mais nenhuma palavra tinha sido dita. olhava para suas próprias mãos, já que no momento não era capaz de encarar a própria filha.

- Filha... – começou, umedecendo os lábios. – , não me olhe assim. – respirou fundo, adotando a postura durona de sempre. – Foi você quem errou em voltar a se encontrar com aquele inútil. – ela continuava sem falar, com a mesma feição e expressão corporal de antes. – Você tinha noção do perigo que correu? Ele te mataria três anos atrás! Como pôde ser tão burra? – ela riu, sem humor. – Estou falando sério. Ele queria te matar! Por uma merdinha de vingança. Quem aquele imbecil acha que é? – foi a vez de rir sem humor. já estava quase perdendo a paciência ao vê-lo falando assim de . – Você havia conhecido um homem com caráter! Por que o deixou? Isso se trata daquilo que jovens fazem para irritar os pais? Porque saiba, você conseguiu. – colocou as mãos cruzadas embaixo de seu queixo, para analisá-la.
- Você quer mesmo falar de caráter, papai? – ela sorriu irônica, enquanto erguia uma sobrancelha. – Acho que não é a pessoa mais propícia para isso. – deu os ombros, ainda com a ironia.
- O caso não sou eu. É você. E . – desviou o olhar do dela, pigarreando.
- Eu amo o . – disse, com a feição séria. gargalhou, jogando a cabeça para trás.
- Ora criança! – continuou rindo, negando com a cabeça. – Você nem ao menos sabe o que é amor!
- Sei o suficiente para não senti-lo por você. – disse, entre os dentes. passou de rir e suspirou, apoiando os cotovelos na mesa. – Amamos quem respeitamos, quem nos respeita. Quem é sincero conosco, quem nos faz bem, quem nos faz feliz. E acredite, pai, você não me traz nenhuma dessas coisas.
- Você não sabe o que está dizendo, . - Ah, eu sei. Mas eu sei sim. – ela riu, colocando os cotovelos na mesa também. – Que pai faz o que você fez comigo? O que você está fazendo comigo?
- Eu estou te protegendo, só você ainda não entende. – deu os ombros.
- Me protegendo? – ela sorriu sarcástica. – Me protegendo do quê? Da felicidade?
- Você não conhece o ! Ele foi um dos meus melhores homens. Matou todos que eu impus, sem dor nem piedade. Ele não tem escrúpulos, é como eu. Seu pai, que diz tanto odiar. Como pode me odiar e “amá-lo”? – fez aspas com os dedos.
- Pelo simples fato dele ter se arrependido. – disse, séria. – Diferente de você, meu querido pai, ele se arrependeu. E ele vem pagando por cada segundo do que fez. não teve paz um só minuto! E eu não digo só sobre paz física, mas sobre emocional, também. – suspirou. – Você matou a única pessoa que ele tinha e amava no mundo. - sua voz embargou e ela respirou fundo. – Ele teve a chance de me matar durante dois meses... Você sequer desconfiava que ele estava comigo. – deu os ombros. – Mas ele não o fez. Mesmo sem ao menos me conhecer direito, ele não me matou. Porque percebeu que essa maldita vingança não daria em nada... O que aconteceria quando seu plano fosse consumado? Você sofreria. Ele também. – fungou, tentando segurar o choro que estava preso em seu peito. – descobriu algo muito maior do que o ódio... O amor. O amor que o senhor sempre disse sentir por mim, mas que nunca foi capaz de largar isso aqui para ser um homem de verdade. Com responsabilidades de verdade, com uma família de verdade. Um cara que mal me conhecia desistiu de tudo por mim. – passou a mão nos olhos, secando-os. – Esse , que o senhor tanto fala, perdeu a oportunidade de acabar com você, de vencer pela primeira vez, para ficar comigo. – trancou o maxilar, impedindo que um choro maior viesse. – E é por isso que eu te digo, , que ele não é como você. Ele é muito, muito melhor. Não há comparação, na verdade. E eu o amo... Ah, como amo. – sorriu fraco. – E mesmo sabendo disso, você vai matá-lo. Vai exterminá-lo como se ele não significasse nada... – deu os ombros, enquanto sentia as lágrimas caírem desesperadamente por seu rosto. – É, papai. Você me ama incondicionalmente.
- Isso me parece mais o caso de uma adolescente que se apaixona pelo garoto mau do colégio. – deu os ombros, ignorando completamente as palavras que a filha havia acabado de dizer.
- Você nunca amou ninguém de verdade, não é? – sorriu sem humor, enquanto voltava a se arrumar na cadeira.
- Eu te amo, . – e agora foi a vez dela gargalhar.
- As palavras que eu disse antes entraram por um ouvido e saíram pelo outro. Só pode. – negou com a cabeça, ainda rindo.
- Você está apaixonadinha demais para ter idéia do que está acontecendo. Quando ficar um tempo sem , vai entender o que estou fazendo.
- O que pretende fazer com ele? – respirou fundo, temendo a resposta.
- Eu ainda não sei. – deu os ombros. – Mas só posso te certificar que você nunca mais irá vê-lo.
E aquele foi o ápice das emoções dela. No próximo segundo, já havia se levantando e gritava coisas sem nexo algum, enquanto jogava tudo o que estava sobre a mesa, no chão.
- , se acalme! – se levantou, indo até ela e tentando segurar em seus braços. Alguns homens entraram na sala, mas ele fez sinal para que eles parassem onde estavam. – ! – gritou, mas era como se ela houvesse sido possuída por algo. Os gritos dela ficavam cada vez mais altos e sua força maior. Cada vez que ele pretendia segurá-la, ela socava seu peito. – Filha! – o choro dela já era ensurdecedor e desesperador.
- Não me chama assim! – gritou, enquanto socava o tórax do pai. – Eu te odeio! Eu te odeio! – e, no próximo segundo, ele conseguiu segurar seus pulsos. – Mentiroso! – deu um ultimo grito, e, desabou, caindo no chão. Ainda chorando compulsivamente. fez sinal para que os homens saíssem e eles o fizeram. – Eu te odeio tanto. – disse, já com a voz rouca.
- Eu não tenho escolha. – disse, tentando abraçá-la. – Quando você tiver um filho vai me entender.
se levantou depressa, com o maxilar trincado e os olhos transbordando ódio.
- Não, eu não vou entender. Porque toda vez que eu olhar pra esta criança eu vou ver ali, eu vou amá-la ainda mais. E odiá-lo – apontou para o pai – incondicionalmente. – Eu não vou entender o porquê do meu próprio pai – sussurrou, com a voz quase falha - ter acabado com a vida do pai do meu filho. – levou as mãos à barriga. franziu o cenho.
- O quê? – sua voz saiu como um sussurro, também. Ele se levantou.
- É isso mesmo que você entendeu. – respirou fundo, tentando manter a calma. – Eu to esperando um filho do . – disse, já voltando a chorar. – E ele ao menos sabe... – fungou. – E nem vai saber, não é?
- Você só pode estar brincando... – riu, nervoso.
- Como é saber que sua filha carrega no ventre um pedaço de seu pior inimigo? – sorriu sarcástica. – Como é saber, que, mesmo matando , um dos sempre vai estar por aí? – pigarreou, tentando manter a pose dura de antes. – Você pode tirar o “” do seu caminho, mas ele jamais saíra da sua vida. – deu os ombros, rindo sem humor. – Me diz, pai, me diz como é? O fruto do amor da única pessoa que você diz amar, com a que você mais diz odiar.
- Você vai tirar essa criança. – disse, voltando a se sentar em sua cadeira. Mas sua postura estava longe de ser a confiante de antes.
- O quê? – ela riu, sarcástica. – Me mate primeiro. – caminhou até a frente da mesa novamente, colocando as mãos sobre esta. – Vamos lá, , me mostre o quão frio você é. – sorriu maliciosa, erguendo uma das sobrancelhas. – Pois essa criança não sai de mim, a não ser no nono mês, antes que eu esteja morta.
- Você sabe que eu não seria capaz de matá-la. – respirou fundo, pegando seu telefone. – Mas eu posso esperar nove meses para tirá-la de você. – sorriu maldoso, ligando para um de seus homens.
- O que... O que você vai fazer? – questionou, já sentindo um frio na barriga.
- Você vai ver. – sorriu, esperando seus homens abrirem a porta.
Não fazia mais do que dois dias desde que havia descoberto sua gravidez. Tudo acontecera quando sentira diversas cólicas, mesmo sem estar em período menstrual. Preocupada, foi até seu ginecologista e, após alguns exames, descobriu a recente gravidez. Três semanas, na verdade. A criança não passava de um pequeno feto, ainda. Mas ela já o amava. O amava pelo simples fato de ser um fruto de um amor tão lindo quanto o seu e o de . Saber que, mesmo estando prestes a enfrentar o mundo, Deus havia lhe abençoado com um ser que só faria sua vida melhor. A sua, a de , e, claro, a de Aaron; que ganharia um irmãozinho ou irmãzinha.
esperaria mais uma semana para contar à , planejava preparar um jantar e revelar o pequeno milagre.
Agora, esperando os homens de entrarem, ela não sabia o que pensar. Temia qualquer que fosse a solução que seu pai daria ao “problema”.
Alguns homens entraram na sala, e, com uma olhada para , pegaram-na pelo braço e a levaram para fora da sala. não relutou tanto, a pose confiante e durona havia ficado na sala do pai.
- ...
- Não gosto que me chame assim. – disse, caminhando à frente. – Eu sou o seu pai. - Onde Aaron está?
- Aaron? – franziu o cenho, saindo da sede.
- O filho do . – rolou os olhos.
- Não se preocupe. Ele não sofrerá. Ao menos algum dia se lembrará de e, sinto muito, até de você, querida. – riu malicioso.
- Onde?
- Deixe de ser curiosa, . – entrou no carro, seguido da filha. – Não acha que tem que se preocupar agora com você e com isso que tem na barriga?
- Isso é o que você é. Não se refira ao meu filho como se fosse uma criatura. – respirou fundo, olhando através da janela.
- Tanto faz. – deu os ombros.
E o silêncio voltou a dominar o ambiente. levou uma das mãos ao ventre e suspirou, olhando a janela ao seu lado. Ela queria uma luz... Precisava de uma luz. Sentia que sua história merecia um final feliz. Era como num filme, afinal, não era? Esperava, de todo coração, que aquela fosse a parte onde tudo parece perdido, onde todos choram ou temem o final, mas, algumas cenas mais tarde, tudo fica bem. Um ofego tomou conta de seu peito e ela abaixou a cabeça. O nó havia tomado conta de sua garganta novamente.
- Não o mate. – sussurrou, para que seu pai fosse capaz de ouvir a súplica.
- Já conversamos sobre isso.
- Eu prometo nunca mais vê-lo... Ele vai sequer saber se ainda estou viva. Por favor. – disse, com a voz embargada.
- Eu já ouvi essa história... – riu, negando com a cabeça. – Não seja teimosa, filha. Não foi assim que lhe ensinei.
- Você me enoja. – olhou-o de soslaio.
- E voltamos ao ponto inicial... – rolou os olhos. – Já está cansativo, . Pare.

voltou a olhar a janela, e, quando sentiu o veículo estacionar, procurou algum beco onde seria seu cativeiro ou algo do tipo. No entanto, não encontrou. Estavam numa rua bem movimentada: 462 1st Ave, New York, NY 10016.
Um dos homens de destrancou a porta e ela saiu, acompanhada deste.
Seu pai saiu do outro lado e logo chegou ao seu lado, parando ali e sorrindo em frente ao enorme prédio que tinha à frente.
Por fora, lhe lembrava colégios antigos. As dezenas janelas que o local tinha, no entanto, lhe assustavam. O enorme jardim verde era tranqüilo, e lhe trazia paz. Eles caminharam um pouco mais até a frente do local e um pequeno portão preto vazado apareceu, com os dizeres: “Bellevue Hospital”.
Bellevue... Bellevue... Ela já havia ouvido falar sobre o lugar. forçou a memória: Massy, sua amiga. O primo de Massy estava lá. O primo de Massy era... Esquizofrênico. Sua boca se entreabriu ligeiramente e os ombros pesaram.
- Você me trouxe a um hospital psiquiátrico?


Capítulo XXVI


Música do capítulo. Deem play quando eu falar.

- Eu tentei evitar isso, filha. – deu de ombros. Alguns enfermeiros já abriam os portões. ficou com a respiração ofegante, olhando para o pai e enfermeiros.
- O quê?! – disse, incrédula. Sua voz saíra esganiçada. – Eu não sou louca! – olhou para os enfermeiros, que se aproximavam. – Não encostem em mim! Quem vocês pensam que são? Eu não sou louca! – se debateu quando dois dos enfermeiros a pegaram. – Me larguem! – gritou, chutando o ar.
- Eu disse que era sério, Doutor. Por isso a pressa que tive em mandar um dos meus empregados ligar para cá. Ela teve mais um ataque! – disse, olhando para um dos homens de branco.
- Cala a boca! – gritou, novamente. – Eu. Não. Sou. Louca! – disse pausadamente, ainda com o tom de voz alto. Os enfermeiros começaram a carregá-la.
- Um claro comportamento de aversão ao tratamento. – o Doutor negou com a cabeça, suspirando.
E de repente ela deu um grito, ao mesmo tempo em que se soltou, empurrando os dois enfermeiros que a seguravam.
- Quem precisa de tratamento é ele! – apontou para o pai. – Ele é um assassino! – o homem olhou para trás dela, onde mais enfermeiros chegavam. – Você precisa me ouvir, Doutor. é chefe de uma quadrilha de assassinos de alug... – e, no próximo segundo, havia sido presa por uma camisa de força. – Pelo amor de Deus! – implorou, já sem forças para lutar. A lua já brilhava no céu, iluminando os rostos de todos que estavam ali.
- Cuide dela, Doutor. A única coisa que quero é minha filha saudável novamente. – suspirou, recebendo um sorriso fraco do médico.
- Hipócrita. – disse, entre os dentes, pra logo depois cuspir em . O homem deu um passo para trás, pegando seu próprio lenço e limpando a camiseta.
- Levem-na para dentro e lhe apliquem um calmante. – o homem ordenou para os enfermeiros, que assentiram e começaram a andar com , mesmo que se debatendo, para dentro da instituição.
- Estão me machucando! Argh. – resmungou, tentando colocar os pés no chão. – Eu posso andar sozinha, sabiam? – os enfermeiros não disseram nada. – Eu não vou tentar fugir. – bufou, rolando os olhos. – Isso aqui é mais seguro que uma prisão, não é? – e, dito isso, os homens soltaram o cotovelo dela, deixando-a pisar no chão. – Finalmente. – suspirou, seguindo os passos dos homens. Não tinha mais jeito, ela já estava ali. O jogo estava perdido, afinal.
Não demorou muito até que eles chegassem a um corredor branco com várias portas. Os quartos, provavelmente. Passaram por alguns, e entraram no décimo segundo.
- Como vocês reconhecem se alguém não é louco? Porque se alguém chega aqui falando “eu não sou louco” vocês o prendem. Se eu falar que sou louca, talvez vocês me libertem? – disse, e em seguida, riu. Sim, ela estava rindo. Rir para não se desesperar. Aquela frase soara tão maluca, que a própria já não tinha mais certeza de sua sanidade.
Uma enfermeira apareceu com uma pequena bandeja de comprimidos.
- Eu preciso que tome isso, tudo bem? – a mulher disse. encarou as pequenas drogas brancas na bandeja e depois encarou a mulher. O ódio havia voltado. Ela não estava louca e nem perto disso. Não deveria estar ali, de forma alguma. Descobrira que, há minutos, quando teve a crise de riso, não havia sido por felicidade... Mas o nervoso. A tensão. O ódio. A angústia. Tudo havia se acumulado e afetado seu sistema.
Pessoas têm a capacidade de rirem quando passam por momentos agonizantes, não é?
- O que eu faço para provar que não sou louca? – disse, num sussurro, beirando ao desespero.
- Tome este comprimido e amanhã você terá uma consulta com o Doutor Flerzg e poderá desabafar tudo que está sentindo.
- Ninguém aqui está acreditando que sou alguém totalmente sã, não é? – sorriu sarcástica, olhando para os quatro enfermeiros que a cercavam. – Tudo bem, então que eu vire alguém louca. Pra que tomar calmantes? Vamos deixar isso aflorar. Vamos enlouquecer! – deu os ombros, desafiando-a no olhar.
A enfermeira olhou para os outros e fez um sinal com a cabeça para eles, que se aproximaram de e seguraram seu rosto.
Com um pouco de força, conseguiram abrir a boca dela para que ela engolisse o comprimido. No entanto, assim que o colocaram em sua boca, ela o cuspiu.
- Você realmente está decidida, querida. É muito corajosa. – a mulher riu, caminhando até o pequeno armário no canto da sala e o destrancou, tirando uma seringa - que logo recebeu um liquido quase transparente. – É uma pena que coragem não vale de nada aqui. – sorriu, aplicando a seringa na pele descoberta do braço de , que abafou um grito, mordendo o lábio com força. Força tanta, que foi capaz de fazê-lo sangrar. Mas já não importava. Nada mais importava enquanto o calmante começara a fazer efeito. Os músculos foram relaxando, assim como o sono que já ficara quase insuportável. Ela só tinha vontade de deitar e fechar os olhos, para assim, quem sabe, poder descansar. De tudo.

- O que vocês vão fazer? – disse ao observar sua volta. Ele estava numa espécie de cômodo escuro, iluminado apenas pela luz do pôr-do-sol que entrava pelas frestas da janela enferrujada. Dois homens já estavam na sala; fora Josh e Keaton, que o levara ali. Fazia pouco mais de duas horas desde que o havia encontrado com ... Aqueles minutos pareceram durar uma eternidade. Os mais angustiantes minutos que já viveu. Ver Aaron, , sua mãe e o seu recém-descoberto irmão sob a mira de seu pior inimigo fora uma experiência sufocante. Ele estava de mãos atadas.
- está conversando com a filhinha amada por enquanto. O jeito é esperar. – Keaton disse, dando os ombros e buscando uma garrafa de água que estava sobre uma mesa de madeira próxima dali.
- Mas enquanto isso... – Josh sorriu malicioso, jogando a cabeça de um lado para o outro, estalando o pescoço. – Sabia que aquele tiro que a maldita da fantasminha me deu ainda dói muito? Sempre que chove, eu me lembro dela!
- Ela não poderia ter feito coisa melhor antes de morrer. – disse, sorrindo da mesma forma que o outro. Era óbvio que Josh esperava alguma reação totalmente contrária a dele. Afinal, sabia o quão dolorido seria lembrar-se da morte dela, ainda mais de forma tão esdrúxula. Com isso, não imaginou forma melhor de provocá-lo. havia feito coisa muito, muito inegavelmente melhor antes de morrer. Havia lhe dado Aaron. Havia existido. O outro ficou sério, trincando o maxilar. – Acorrentem-no. – ordenou, para que os outros três fizessem o que ele pedira. respirou fundo, não ia tentar escapar dessa vez. Se pelo menos dois deles não tivessem armas, poderia até tentar algo... Mas não era burro o suficiente para agir com tanta irresponsabilidade. Fora que passara muitos anos sem fazer algo do tipo, acabara perdendo o jeito com lutas braçais.
Não demorou muito até que dois dos homens o puxassem e colocassem duas correntes de metal em seus punhos, terminando de trancá-las com os cadeados em dois guinchos que havia no teto baixo. Os malditos iriam o torturar, ele já sabia. Fechou os olhos por alguns segundos até sentir as cordas apertando fortemente seus pulsos. Ele estava pendurado.
- O que você pretende com isso? – perguntou, ainda com o tom hostil. – Não seria mais fácil erguer essa arma e me matar?

(Play!)

- É tão... Tão mais legal brincar antes. Não é? – piscou, dando as costas e pegando uma das barras de ferro que estavam por perto. – Ou vai dizer que não se lembra de como é sensacional o olhar de pavor das vítimas antes de serem... Deletadas? – riu, voltando a se virar para , enquanto batia com a barra em sua própria mão. sentiu o nó em sua garganta e engoliu a seco. Josh foi capaz de ver pela sua garganta. O homem riu. – Façam o que têm de fazer.
E, com isso, os outros dois homens pegaram um estilete e passaram pela camiseta de , rasgando-a e tirando-a de seu corpo.
Josh caminhou até as costas do inimigo, e sem ao menos avisar bateu com força com o bastão em suas costas. O outro mordeu o lábio com força para não gritar, mas foi impossível segurar um baixo gemido. Sem esperar mais de cinco segundos, bateu novamente num outro ponto de suas costas. Uma pequena camada de suor tomou conta do corpo de , tamanha força que fazia para não gritar e se render. Os olhos estavam fechados, segurando as teimosas lágrimas que queriam cair. A dor era insuportável.
- Sabe, ... Lucy morreu há dois anos. – Josh disse, se apoiando no bastão e dando a volta em , ficando em sua frente. – Abra os olhos enquanto falo. – E, mesmo contra vontade, os abriu devagar. – A imbecil decidiu que queria uma vida normal... – riu, balançando a cabeça em negação. – O quão ridículo isso soa?! “Quero me casar e ter filhos” – imitou uma voz feminina e deu o bastão que segurava para um dos homens presentes. – Ela tentou me convencer de segui-la, mas era óbvia minha decisão. – deu os ombros, estalando os dedos. sentia suas costas quentes e molhadas, provavelmente sangue. Ao olhar brevemente para o chão, teve certeza. – Bom, do resto você já deve imaginar. Ela foi idiota ao ponto de tentar fugir, como vocês fizeram... E, sem surpresas, foi pega por um dos nossos. – bufou, entediado. – Na primeira semana eu até me permiti chorar uma vez por ela, acredita? – gargalhou, balançando novamente a cabeça em negação. – Mas depois percebi que ela só teve o que procurou. Assim como . – sorriu malicioso. – Ninguém pode competir com ...
- Certo. – suspirou, fingindo estar entediado também. – Aceita um chá para continuar contando as fofocas, querida? – ironizou, sorrindo de lado. Josh ficou sério novamente.
- Só estava deixando você descansar um pouco, viu só como sou um bom amigo? Em nome dos velhos tempos. Mas já que não soube aproveitar... – deu os ombros, fechando a mão em punho e levando-a até o estômago de , que quis cair no chão com o quão forte a pancada foi, mas as amarras em seus punhos o impediram de tal feito. O ar faltou em seus pulmões e ele tossiu diversas vezes, tentando voltar a respirar. – me deu carta branca para te torturar um pouquinho... Só me fez, infelizmente, uma exigência: que você estivesse vivo até que ele voltasse.
- Como ele é bom – disse, rouco. Ele poderia morrer, mas morreria com dignidade.
- Só perde para Hitler. – sorriu, para em seguida chutar a pélvis de , que fechou os olhos com força. – Ai. – riu, fazendo careta.
E assim foi a próxima hora. Uma sessão de socos, chutes, cotoveladas e surras com o bastão de ferro. nem sabia mais se havia sangue para sair de seu corpo, que já estava anestesiado.
Seu rosto estava com um corte no supercílio e nos lábios. O nariz, provavelmente quebrado, sangrava absurdamente. Seu tórax estava absurdamente roxo e cheio de cortes, assim com as costas, que mesmo sem ver pôde imaginar o quão ferradas estavam. Seu corpo já não tinha mais força e a única coisa que o segurava eram as correntes presas em seus pulsos. As pernas estavam moles, motivadas pelos chutes e surras com o bastão. Ele estava acabado e sabia que não demoraria muito até que seu corpo já não aguentasse mais.
Seus olhos estavam marejados, mas inchados demais para deixarem que as lágrimas escorressem por seu rosto. O que ele agradeceu por acontecer. A cabeça estava encostada em seu próprio ombro, ou sabia que também não aguentaria sustentá-la.
Josh havia saído e outros dois homens o vigiavam. Não eram os mesmos de anteriormente.
respirou fundo e fechou os olhos, esquecendo-se um pouco das dores e pensando nas pessoas mais importantes de sua vida: Aaron e . Onde eles estariam? Ele temia tanto que o pior tivesse acontecido. deveria estar bem, já que se nem ele mesmo havia mandado matar ainda, quanto mais a sua filha. Agora quanto a Aaron... O que aquela criança poderia fazer para se defender? Ele ao menos sabia o abecedário. E se ele houvesse tido uma crise de asma? Se estivesse sentindo a sua falta, pelo menos metade do que ele próprio sentia do filho? A dor era tanta. Não, a dor física nem se comparava a emocional. Tudo o que estava acontecendo era a sua culpa e ele estava pagando como merecia. Só não queria ter colocado mais pessoas nisso. Pessoas que tanto, tanto amava. Que tanto ama.
Alguns minutos, ou horas – ele já não sabia – se passaram. Josh havia voltado e planejava torturá-lo mais, mas um dos homens o impediu, alegando que o mataria se desse nem que fosse um soco. Ele estava certo.
Com mais um tempo passado, ouviu conversinhas no corredor e uma voz conhecida. . Ele arrumou, ou ao menos tentou, arrumar sua postura. Não queria demonstrar fraqueza, o que já era impossível.
Ao entrar na sala, arregalou os olhos e riu fraco, se aproximando dele.
- Céus! Você está acabado, ! – riu, olhando para Josh. – Ótimo trabalho, White. – piscou, enquanto dobrava as mangas de sua camisa social. rolou os olhos. – Dia ruim? – ironizou, erguendo uma sobrancelha.
- Que nada. Só não é melhor do que transar com a sua filha. – sorriu de lado, erguendo a sobrancelha também.
trincou o maxilar e Josh abriu a boca, surpreso com tamanha coragem do outro. O mais velho deu alguns passos até parar na frente do inimigo e pegou em seu queixo, balançando sua cabeça.
- Eu poderia te esquartejar por isso, infeliz. – jogou a cabeça dele para o lado, soltando seu queixo logo após. – Mas aposto que alguns dias com Josh o fará melhor do que isso. – olhou rapidamente para o homem, que assentiu, sorrindo malicioso. virou-se de costas e se afastou novamente. – Você é um jovem muito corajoso. Sabe disso, não sabe? – virou-se novamente, encarando-o. – Você provavelmente seria meu robozinho favorito.
Josh e os outros respiraram fundo, abaixando a cabeça por alguns segundos. riu fraco, mas verdadeiramente. Robôs. Era isso o que de fato eram.
No entanto, em poucos segundos o clima tenso voltou a tomar conta do ambiente.
- E Aaron e ? – disse baixo, inseguro do que falara.
- Não é da sua conta. – deu os ombros. – Só posso falar que estão em ótimas mãos. – piscou. – Mas, enfim, vou embora. O dia foi muito cansativo! – bufou, caminhando até a porta.
- E o que fazemos com ele, senhor? – Josh disse e não pôde não reparar no “senhor”. Subestimados de merda.
- Se divirtam. – sorriu, olhando-os de soslaio. – Só não o matem... Ainda.

A vida jamais parecera tão complicada quanto agora. Já fazia uma semana desde que aquele inferno havia iniciado. encarava as paredes brancas daquele lugar e refletia em como fora chegar àquele ponto. Seu pai a havia internado em um hospital psiquiátrico... Havia sequestrado Aaron, o filho de ; e a prendido ali, grávida.
As lágrimas escorriam silenciosamente pelo rosto dela, molhando a camiseta branca que vestia. Branco. Camiseta, calça, cama, lençóis, paredes... Não havia uma só coisa ali que não fosse naquele tom sem vida, indiferente. Ele não lhe trazia paz... Pelo contrário, era assustador. Era angustiante.
Poucos minutos depois, uma mulher uniformizada como uma enfermeira de filmes antigos de terror entrou no quarto e a chamou para sair. , mesmo sem vontade, a obedeceu.
- Sabe o que é mais engraçado? – a enfermeira disse, enquanto andava atrás dela. olhou-a de soslaio, ainda caminhando. – Eu assisti às suas quatro consultas com o Doutor Flerzg e você não me parece nem um pouco louca... A não ser que seja uma sociopata num nível de esquizofrenia muito alto, você me parece mais sã do que muitos enfermeiros e médicos por aqui.
- Eu devo agradecer? – sua voz saiu fraca, sem vida... E era assim que ela se sentia. Sem alma. Sem vida.
- Eu não sei. – a mulher sorriu, observando a luz no final do corredor. O pátio já estava próximo. – Não é certo enfermeiras conversarem com pacientes, mas eu vejo o quanto você tem sofrido aqui e acho que é meu dever lhe manter ao menos afastada da depressão...
- Você trabalha para o meu pai? – disse, já colocando os pés na grama verde do jardim. O lugar ainda estava vazio, os outros pacientes chegariam em poucos minutos. O terror começaria em breve.
- Seu pai? – ela riu, balançando a cabeça. – Eu trabalho para o hospital, meu bem. Não se preocupe. – deu de ombros, sentando-se no banco de madeira, pintado de branco também. – Você está grávida, não está? Eu vi seus exames...
- Não existe algum tipo de sigilo médico? – a olhou, confusa.
- Sim, é claro. Mas como sou enfermeira, tenho total acesso a isso. E não é nada ilegal, pode ficar tranquila. – sorriu novamente e permitiu-se dar um breve sorriso, apenas para parecer simpática. – Você está aqui por isso? Pela gravidez?
- Por que tanto interesse no meu caso? Você não tem medo de que eu tenha um ataque esquizofrênico e possa te enforcar agora mesmo? Ou sair por aí gritando que você fede, como tantas outras pacientes fazem com suas enfermeiras? – cuspiu as palavras e a enfermeira, ao contrário do que pensava, começou a rir. deu um mínimo sorriso, enquanto encarava as próprias unhas.
- Eu confio no meu perfume, . – piscou, com um sorriso simpático no rosto. – E como eu te disse antes... Não acho que tenha algum tipo de problema psicológico. Ou se tem, consegue enganar muito bem, devo lhe parabenizar.
- Não, enfermeira Jenna, eu não tenho nenhum tipo de problema psicológico. A não ser, claro, que “amor” seja um. – deu os ombros, erguendo o olhar para o horizonte.
- Amar é definitivamente para loucos. – deu os ombros, sentando-se no banco ao lado dela. – Quer me contar sobre isso? Eu não sou uma psiquiatra, mas posso ser sua amiga aqui dentro. – sorriu, e a outra tinha certeza de que já havia visto aquele sorriso, só não se recordava de onde e em quem.
, no entanto, preferiu ignorar o pensamento. A mulher olhou-a brevemente e respirou fundo, soltando o ar devagar pela boca, logo após. Ela fechou os olhos por poucos segundos e logo começou a falar. Precisava conversar com alguém logo ou acabaria enlouquecendo – de fato.
- Conhece a história de Romeu e Julieta? É basicamente essa. – sorriu sem humor. – Eu me apaixonei pelo pior inimigo do meu pai... E ele se apaixonou por mim. – mordeu o lábio inferior, lembrando-se de . Oh, céus, como ela sentia sua falta. – Pode parecer não tão ruim assim, se não fosse pelo fato de ambos serem... – a olhou, desconfiada. – Terem uma profissão completamente fora do comum. – riu amargurada, voltando a encarar suas mãos em seu colo. – Quando meu pai descobriu sobre minha gravidez, logo me internou aqui... E sabe se lá o que fez com e com o filho dele. – sua voz embargou e ela fechou os olhos, sentindo o coração apertar.
- Mas essa história é... – Jenna começou, mas logo as palavras morreram em seus lábios.
- Agora você realmente deve estar que eu tenho algum problema psicológico. – riu sem humor, secando as lágrimas que caíam de seus olhos.
- Quem nunca teve um amor impossível? Esse só é o caso mais estranho que eu já vi... – sorriu cordialmente, vendo-a colocar o rosto sobre as mãos. – Não fique assim... Pense no filho que está esperando, sim?
- Que vida essa criança vai ter? – disse abafado, já que suas mãos tapavam seu rosto. – A mãe está internada num hospital psiquiátrico, o pai deve estar morto... – sua voz saiu mais baixa do que o normal com a última palavra e um soluço veio logo após. O choro havia voltado. – Eu... Você pode me deixar sozinha, por favor? – implorou, olhando-a nos olhos.
- É claro. – sorriu sem mostrar os dentes e se levantou. – Se precisar de qualquer coisa, estou logo ali, tudo bem? – assentiu. – Aguente firme. – piscou, saindo logo depois.
voltou a encarar o horizonte e seus pensamentos foram para outra atmosfera. Como estava ? Ele ainda estaria vivo? O que ele estava fazendo agora? Eram tantas dúvidas, tanta angustia. A depressão lhe corroía minuto após minuto.
Os outros pacientes começaram a chegar ao jardim; alguns vinham correndo, outros andando normalmente e até alguns engatinhando.
Uma moça se sentou logo ao seu lado, no banco, e a encarou piamente. a olhou de soslaio e pôde ver um sorriso vazio no rosto da outra.
- Como está, minha irmã? – a paciente disse, se aproximando ainda mais dela. continuou em silêncio. – Não fala mais comigo não, é? Sempre vadia! – exclamou, e a outra se virou para encará-la, com os olhos arregalados. – Achei que nossa mãe fosse me deixar aqui sozinha, ainda bem que ela mandou você. – deu os ombros, voltando a olhar para frente. – Ah! – deu um grito e pulou no banco. – Você já deu parabéns para minha filha? É aniversário dela hoje! Espera aí só um minutinho que eu vou chamar ela... – colocou o dedo indicador nos lábios, como se fizesse silêncio, e, logo depois, saiu correndo.
balançou a cabeça, pensando no que acontecera para aquela mulher tão bonita ter se tornado isso. Esquizofrenia, afinal, era causada com o tempo ou as pessoas já nasciam com aquela doença? Essa seria uma pergunta que faria para seu psiquiatra na próxima consulta, sem dúvida.
Alguns segundos se passaram e quando ouviu gritos, olhou para a direção de onde vinham e viu a mulher que estava ao lado dela puxando os cabelos de outra, trazendo-a para o banco. Alguns enfermeiros a impediram, e ela gritou, puxando seus próprios cabelos. “Devolve a minha filha! Minha irmã tem que vê-la!” fechou os olhos, apertando-os, e balançou a cabeça, tapando os ouvidos. Os outros pacientes começavam a gritar junto da mulher, o barulho era infernal. Alguns corriam em círculos, outros gritavam consigo próprio, e outros com as enfermeiras que tentavam acalmá-los.
O choro voltou com mais força e ela se levantou, indo até a enfermeira Jenna.
- Pelo amor de Deus, me tira daqui! Não me deixa enlouquecer junto com eles! – implorou, gesticulando com as mãos. A enfermeira assentiu, puxando-a para o corredor. ainda chorava, sem saber o que fazer.
Quando finalmente chegaram ao quarto da garota, a enfermeira permitiu-se trancar a porta. ainda chorava copiosamente.
- Tudo bem, se acalme. – a enfermeira Jenna disse, sentando-se ao lado dela e afagando seus cabelos. – Eu vou buscar um calmante para você, ok?
- Não! – disse, virando o rosto para encarar a outra. – Oh, por favor... Você já deve estar achando que eu sou, de fato, louca. – riu amargurada.
- ... Qualquer um que estivesse aqui, em suas condições, estaria tendo as mesmas ações que você. – sorriu, confortando-a. – Para ser sincera... Eu já teria enlouquecido. – deu os ombros, recebendo um sorriso tímido de volta.
- Tem certeza de que você não trabalha para o meu pai? – olhou-a desconfiada. Era bondade demais.
- Absoluta. – riu, se levantando e caminhando até a porta. – Acho que estão precisando de mim no jardim, não vai ser um trabalho fácil controlar todos aqueles pacientes. – suspirou, cansada. riu, com a cabeça baixa.
- Eu imagino. Boa sorte.
- Vou precisar! Aliás... Não fale que conversou comigo. Nunca se sabe como podem reagir, não é mesmo? – sorriu fraco. – Nunca confie em ninguém daqui, às vezes quem está do seu lado pode ser o seu pior inimigo. – disse e abriu a porta. No entanto, antes de sair, colocou a cabeça para dentro. – E eu não estou falando sobre mim, ok? – riu, vendo a outra rir também.
Rir. Rir pela primeira vez naquela maldita semana.


Capítulo XXVII


One Day I Will - Lady Antebellum. (podem já dar play!)

piscou pesadamente ao ver que mais uma noite se aproximava. Outra noite sem dormir, agonizante, dolorida e cheia de saudade.
Como nos outros dias, os capangas de Thompson o tiravam das correntes que prendiam seu braço e o trancavam no banheiro, para que ele pudesse fazer suas necessidades e dormir. Sim, dormir. O cubículo era quente e sem janelas, o que deixaria um claustrofóbico numa crise de anos, com certeza. Mas, querendo ou não, aquele chão duro e gelado era como o céu para seu corpo maltratado.
Após fazer o que tinha de ser feito, lavou as mãos e o rosto e se sentou no chão, em frente à privada. A mão foi inconscientemente até a cabeça, segurando-a enquanto o cotovelo se apoiava em seu joelho. Após um suspiro sofrido, as lágrimas começaram a rolar por seu rosto. As lágrimas guardadas durante todas as horas intermináveis do dia estavam ali, dando as caras, como em todos os sete dias desta semana foram. Lágrimas de dor, de saudade, de arrependimento, de culpa.
Sua rotina não passava de ser pego sem o menor cuidado do banheiro e amarrado naquelas correntes, para mais uma sessão incessante e incansável de pancadas. Isso, sem contar com as piadinhas que Josh referia a ele. Sobre o “perdedor”. Thompson ainda não fora vê-lo desde o maldito dia em que o inferno começou em sua vida.
Já havia passado sete dias desde tudo. Sete longos dias. Aquilo era tempo demais para que ele encontrasse uma solução ou achasse o que fazer com . Por que não o matava logo? Pelo simples prazer de fazê-lo sofrer por mais tempo. Em todos os sentidos da palavra.
Sua barriga roncou e ele levou uma das mãos até ela. Era óbvio que estava se alimentando, mas pão e água – literalmente – não eram capazes de satisfazer seu corpo imbecil.
Ao olhar para seu abdômen viu o quão ridículo estava. Além dos imensuráveis machucados que o cobriam, seu estômago formava um rombo gigantesco ali. As costelas já apareciam ligeiramente. Ele respirou fundo novamente e jogou a cabeça para trás, encostando-a aos azulejos frios da parede.

- A que ponto... – ele riu, sem humor. Sua voz estava tão fraca que nem ele mesmo foi capaz de ouvi-la. Fazia exatamente quatro dias desde que nenhuma só palavra era proferida por seus lábios. – A que ponto você chegou, ? – disse para si mesmo, umedecendo os lábios. – Aposto que continuar vivendo naquele quarto e brigando com sua mãe teria sido melhor do que estar aqui. – fez menção aos seus dezessete anos, quando ainda morava com a mãe. – E então você não conheceria ... Não teria Aaron. – suspirou, abaixando um pouco a cabeça e encarando a parede à frente. – E então a sua vida não teria feito sentido. – ele passou os dedos pelo mármore no chão, desenhando linhas imaginárias.

Uma lágrima caiu sobre o mármore e inconscientemente seu pensamento foi a Aaron: onde seu filho estava? Com quem estava? Thompson não tinha escrúpulos, mas não seria capaz de fazer algo com a criança... Seria? Seus punhos se fecharam e ele socou o chão. Não aguentava ao menos pensar na possibilidade, pois sabia que causaria suicídio naquele mesmo minuto. Aaron estava bem, onde quer que fosse, estava sendo bem cuidado.
No entanto, com seu coração egoísta e prepotente, sentia que aquilo não bastava... Ele queria ter o filho nos braços, assistir a um desenho com ele, lhe contar uma historia antes de dormir, brincar. Seu filho merecia um pai... Um pai que o cuidasse, que o protegesse e que, acima de tudo, o amasse. Ele tinha feito aquela promessa para sua eterna , e havia falhado... Havia quebrado aquela promessa.

“- Me promete... Me promete que vai cuidar do nosso filho caso algo acont...
- Não vai acontecer nada, ! Nós vamos cuidar desse filho juntos! Juntos! – disse, com a voz embargada.
- Me promete, .
- ...
- Promete.
- Tá, eu prometo.”

- Me perdoa, . Me perdoa. – sussurrou, trincando o maxilar e sentindo o choro desesperador só aumentar. – Eu falhei... – disse, abrindo os olhos lentamente. – Eu não fui bom o bastante para livrá-lo de todo o mal... – soluçou, passando as costas das mãos nos olhos, secando-os. – Eu tentei. Eu juro que tentei! – deu os ombros, como se ela pudesse vê-lo ou ouvi-lo. – Acho que estou pagando pelos meus pecados, afinal, não é? – sorriu sem humor. – Mas o que eu podia fazer? Você não estava aqui para me ajudar a cuidar de Aaron. Você também não está do meu lado! – chutou a privada. – Você era a mãe dele! Você devia ter me ajudado a cuidar do nosso filho... Nada disso estaria acontecendo agora. Nada! – esbravejou, fungando. Alguns minutos se passaram, minutos em silêncio, somente ocupados pelos ofegos e choro alto de ; que se dera conta das imbecilidades que havia dito. – Eu sinto tanto a sua falta... – sussurrou, erguendo o rosto e olhando para cima, como se ela estivesse ali. Ela não estava. não estava no teto. Seus olhos se voltaram para seu peito, como se houvesse uma visão raio-x e ele pudesse enxergar seu coração. Ali sim, era ali que ela estava. – Me dê forças, . Eu preciso de sua ajuda... Me ajude a sair dessa. Mesmo estando de tão longe, me ajude a passar por isso com vida e cumprir essa promessa. Terminar de escrever meu livro, fazê-lo dele um conto de fadas.

E ao falar “conto de fadas”, seus olhos voltaram a se fechar. Não existiria um conto de fadas sem a sua princesa, por mais clichê que aquela frase soasse.
Um mísero sorriso invadiu seus lábios ao se lembrar de . Seu pequeno tempo com ela havia se tornado eterno. Há pessoas que vivem uma vida inteira com alguém e não sentem metade do que ele sentia por sua garota-mulher.
A cena de uma semana atrás, no baile de primavera, veio à sua mente e o sorriso aumentou alguns milímetros, assim como as lágrimas que escorriam pelos cantos de seus olhos. Aquele havia sido o melhor momento de sua vida, sem pensar duas vezes. As gargalhadas que dera, os sorrisos inacreditáveis. Tudo passava como num filme, em câmera lenta, sobre sua memória. Os passinhos ridículos que dera, a cara dos alunos da escola ao verem que quem ganhara o título de rei e rainha foram não alunos. O sorriso bobo e orgulhoso que lhe dera enquanto ele discursava.
Seus olhos se abriram lentamente e a imagem de seu reencontro com a amada apareceu em suas pupilas.
“- Bob Esponja! – Aaron exclamou, desfazendo-se da mão do pai e correndo até um casal que andara por ali. A mulher usava uma sapatilha com a imagem do desenho.
- Opa! – Ela riu, vendo a criança agarrar sua perna.
- Aaron! – exclamou, correndo até o pequeno. – Descul... – ele sorriu, erguendo o olhar.
Seus olhares se cruzaram e seus corações pulsaram, assim como seus corpos que tremiam mais do que qualquer coisa. Aqueles olhos... Eles reconheceriam aqueles olhos até no inferno. Em outra dimensão. Em outras vidas.”


Seu peito esquentou e ele apertou os olhos. Como queria abraçá-la e dizer que lhe amava. Porque sim, ele a amava. Oh, e como amava... Se antes ainda havia, por menor que fosse, alguma dúvida, agora já não existia mais: ela era a mulher de sua vida. E mesmo que ele nunca mais a visse, que ele morresse no dia seguinte, ele teria certeza disso. Ela fora e sempre seria a personagem principal de sua história.

analisou o céu perfeitamente azul logo acima de sua cabeça, sem nenhuma nuvem. Ela estava deitada na grama verde do Hospital em que estava internada.
Após sentir um leve desconforto no ventre, levou uma das mãos até o mesmo. Seu pequeno pedaço de amor estava crescendo, afinal. Ele ainda podia ser um feto, mas ela já o sentia vivo. Já sentia que estava gerando uma vida... Gerando um “pedaço de amor”, como ela mesma fazia questão de chamá-lo. Aquele, nada mais era, do que uma porcentagem do amor que a uniu com , não era? Aquela criança tinha o DNA dos dois. Era inacreditável pensar naquilo. O amor dos dois havia se misturado, e dado numa nova pessoa. Em alguém que, futuramente, poderia mudar o mundo. sorriu. Aquela criança, mesmo sem saber ou conhecer, teria um pai incrível. Que ela faria questão de cont... Espere, o que ela estava falando? se sentou e franziu o cenho, aquela não era a mulher que conhecia.
Havia alguma, por menor que fosse, chance de ainda estar vivo, não havia? E não só por aquilo, havia a chance de ter uma vida normal com seu filho, mesmo sem , e sabia que, mesmo implorando, seu pai o tiraria de seus braços.
Chega.
Chega de Thompson mandar em sua vida. Chega de ter uma vida cronometrada por seu pai. Ela seria capaz de decidir o próprio destino, e batalhar por ele.
Ao avistar Jenna no jardim, a chamou com a mão. A enfermeira não demorou mais de um minuto para se aproximar e se abaixar ao seu lado.
- Precisa de algo? – a mulher perguntou.
- Na verdade, eu preciso sim. Preciso de liberdade, preciso lutar pelo que quero, por quem eu quero. – disse, decidida. A enfermeira sorriu, assentindo e esticando a mão para que a pegasse. Ela o fez. Ambas se levantaram e foram para o quarto, tendo a certeza de que passariam despercebidas, nada mais do que uma enfermeira levando uma interna para descansar.
- O que foi? – Jenna se sentou na cama de , que andava de um lado para o outro.
- Estou cansada de ter minha vida controlada, Jenna! Eu tenho que buscar a minha felicidade, e acredite, não estou nem perto dela. – riu sarcástica, dando os ombros. - Eu quero viver, quero amar, quero ter uma família. Quero paz! – bufou, desviando o olhar. – Os dias estão passando e eu não tomo nenhuma atitude para mudar isso, o homem da minha vida talvez já esteja até morto a esta hora, mas... Há uma esperança, uma semente de esperança dentro de mim – levou a mão ao peito. – que ainda me mantém sã, que ainda me dá forças para levantar todos os dias. E se ele estiver vivo? E Aaron? O que vai ser daquela criança sem ?! Eu preciso cuidar dele. Eu preciso de , se ele ainda estiver vivo. Eu preciso de liberdade, em todos os sentidos da palavra. – deu os ombros novamente, sentindo um nó se formar em sua garganta. – Você me entende?
Jenna olhou para as mãos por alguns segundos e sorriu fraco, assentindo.
- Mais do que ninguém. – ergueu o olhar, encarando-a. – Mas – respirou fundo –, precisamos tomar uma atitude então, certo?!
- É isso o que estou tentando dizer! Eu preciso sair daqui, fugir... – desviou o olhar. – Fugir – sussurrou, como se acabasse de descobrir a saída. – Eu vou fugir, Jenna! É essa a solução!
- Não é tão fácil assim, . – gesticulou com as mãos, vendo o desapontamento da outra. – Mas também não é impossível. – sorriu fraco, vendo-a sorrir também. – A segurança desse lugar é assustadora, fora que, para onde você iria? Pelo que me contou, seu pai te encontraria facilmente. E, além do mais, você tem mais uma vida para se responsabilizar. – olhou para a barriga dela, que se olhou também.
- Eu sei disso, Jenna, eu sei. Mas não posso mais ver os dias passarem e continuar aqui, vivendo como uma louca, literalmente, deixando a vida passar pelos meus olhos... Que eu morra se sair daqui, ao menos vou morrer com alguma dignidade. - deu os ombros. – Eu posso pegar todas as minhas economias em minha conta e...
- E você acha que suas economias ainda estão lá?! Thompson é esperto demais para isso.
- Você sabe tanto sobre o meu pai. – riu, caminhando até a cama. – Parece até que já o conhece... – franziu o cenho, olhando-a desconfiada.
- Acho que levou muito a sério o que eu disse sobre não confiar em ninguém, nem mesmo quem está do seu lado. – riu, arrumando-se na cama. – Eu não trabalho para ele, . Acredite.
- Eu... Eu sei, desculpa. – suspirou, balançando a cabeça em negação. – Mas me diz, como era a sua vida antes de se tornar enfermeira?
- Mais complicada do que você pensa. – deu os ombros, mexendo nos cabelos. – Fui uma adolescente que cresceu numa cidade pequena e teve vontade de crescer, mudar... Uns tropeços aqui, acolá, e cá estou. – sorriu. – E você? O que era antes de ?
- Alguém muito sem graça. – fez careta. Ambas riram. – Eu era uma garota normal de Nova Iorque, saía com as amigas para festas, era fanática de Backstreet Boys, e sonhava com meu príncipe encantado.
- Sua adolescência deve ter sido bem melhor que a minha. – se levantou, enquanto continuava sorrindo. Ela caminhou até a parede e cruzou os braços.
- E sua vida amorosa, Jenna? – riu. – Você não é casada?
- Já fui quase isso, mas não deu certo... Acho que não era o cara certo. – deu os ombros, novamente. – Mas o assunto aqui é você e não eu: o que pretende fazer nos próximos dias enfurnada aqui?
- Primeiro: nos próximos dias eu não pretendo estar enfurnada aqui. – se esticou na cama, encarando o teto. – Eu vou sair desse lugar, Jenna. Eu preciso sair.
- E qual é o plano?
- Plano... É isso! – se sentou depressa, olhando-a enquanto sorria. – Eu preciso de um plano. E você vai me ajudar!

já estava preso pelas correntes quando menos viu, sobrevivendo a mais uma noite. Aquela situação era ridícula. Dois homens estavam sentados, jogando cartas enquanto cuidavam para que ele fugisse. Se é que aquilo era possível.
Josh já não aparecia há dois dias, e deu graças a Deus por isso. Sabia que, mesmo morrendo no próximo segundo, se ouvisse mais alguma brincadeirinha dele, daria algum jeito de chutar a cara do imbecil.
Dizem que um momento ruim tem várias fases: estar alheio a situação; como se não caísse realmente a ficha do que estava acontecendo, tristeza, sensação de impotência, e, por fim, o ódio. estava em sua última fase, sem dúvida.
Existir ali já não valia mais a pena. Que o matassem logo, então.
Aquilo era tão imaturo da parte de Thompson. Onde estava seu sangue frio? Nem mais sofrimento estava tendo, tudo estava anestesiado, ou pelo menos fisicamente. Por dentro estava um caco, seu peito parecia explodir a cada segundo. Mas, por fora... Por fora era como uma rocha. Ele tentava manter a postura reta e o olhar entediado e desafiador que sempre obteve diante de situações perigosas. Thompson havia reacendido ali. O de cinco anos atrás... O sem escrúpulos, frio, e sem pena de quem fosse.
Cerca de duas horas se passaram e a porta abriu com força. fechou os olhos ao sentir a luz forte entrar pela mesma. Ao ser abrir de abri-los novamente, encontrou Thompson à frente, junto de mais dois homens, incluindo Josh.

- Deu tempo de sentir saudades, ? – Thompson disse, sorrindo sarcástico.
- Nada que uma vida longe de você não resolva. – sorriu sarcástico também. Thompson olhou para Josh, confuso.
- O gato não comeu a sua língua então, ? Voltou a falar?! – Josh deu um passo à frente.
- Só com os especiais. – piscou, ganhando um olhar enfurecido dele; que tentou avançar, mas o chefe colocou um braço em sua frente.
- Acho que já passou da hora de acabarmos com isso, não é?
- Só estava esperando por esse momento, Sr. – forçou um sorriso, enquanto erguia a sobrancelha esquerda.
- Resolveu ser irônico agora, ? Não acho uma boa hora... – Josh riu.
- E existe hora melhor?! É a última hora da minha vida. Não acho que tenha outra oportunidade como esta... – desviou o olhar para Thompson, que o encarava com os olhos cerrados.
- Sei que já disse isso, mas é realmente uma pena que tenha me traído, criança. Você teria um potencial imenso para ser meu sucessor. – soltou o ar pela boca. Josh o olhou de soslaio. – Aprendeu tão bem a ser como a mim...
- Você é ótimo em transformar as pessoas em demônios, Thompson, parabéns. É algo a se orgulhar. – fechou o sorriso, encarando o homem.
- Eu deveria receber um prêmio por isso! Você não acha, White?
- É claro, Sr. – Josh sorriu. rolou os olhos. Aquilo era tão falso.
- Mas, enfim... Vamos logo com isso? Vamos acabar com o problema antes que o problema acabe com nossa paciência. – estendeu a mão e sentiu uma arma ser colocada na mesma, por um de seus empregados.
engoliu seco, mas ainda mantendo a postura ereta de antes. Morreria com dignidade, ao menos.
- Foi um prazer trabalhar com você, . – estendeu a arma.
fechou os olhos e ouviu um barulho alto. No entanto, diferente da queimação que achou que sentiria no corpo, sentiu o clarão da porta sendo aberta à sua frente. Ele abriu os olhos e encontrou uma mulher, que aparentava ter a sua idade, ela estava toda vestida de preto e couro, como as mulheres que trabalham para Thompson costumam usar.
- Que merda é essa?! – Thompson abaixou a arma e olhou para a mulher. – Quem é você?!
- Desculpe atrapalhar, Sr. – engoliu seco, ofegante. – Sou Ellie, fui contratada por Garcia há alguns dias...
- Como Garcia teve a audácia de contratar alguém sem que eu autorizasse?! – questionou, incrédulo, encarando Josh; que deu os ombros. – Certo. O que quer, bonitinha?
- Estão chamando todos no salão! Algo sobre alguma invasão... É melhor os senhores irem rápido. Parece ser sério, me pediram para chamar todos os seus homens. Eu cuido dele. – sinalizou com a cabeça, apontando para .
Os homens trocaram olhares e assentiram, andando em direção à porta. Thompson olhou de soslaio para , que o encarou também.
- Eu volto logo e terminamos, . – dito isso, saiu pela porta, batendo-a.
olhou para Ellie, que olhou de volta. Ela sorriu doce e ele sentiu os olhos encherem-se de lágrima, entretanto, não soube porquê. Talvez fosse a emoção de ter sido salvo, pelo menos até que Thompson voltasse.
Ainda com o olhar no dele, Ellie caminhou até uma pequena escrivaninha e passou a mão pela mesma, derrubando uma chave. olhou para a chave em seus pés e franziu o cenho.
Ao olhar novamente para Ellie, a mulher não disse uma palavra sequer, somente fez sinal para que ele a pegasse. Só então, ele foi capaz de entender. Era a chave dos cadeados de suas correntes. sorriu confuso, vendo-a sorrir também.
- Obrigado. – sussurrou, a mulher somente assentiu e saiu pela porta, como se nada houvesse acontecido.

, ainda meio desconcertado, esticou os pés e conseguiu pegar a chave, para logo chutá-la para cima e pegá-la com a boca. Ele sorriu, ainda tinha os mesmos reflexos de antigamente.
Após esticar um pouco o pescoço, conseguiu levar a chave à uma de suas mãos, mas aquilo não era suficiente para que ele conseguisse abrir o cadeado. Esticando o máximo do braço esquerdo que pôde, conseguiu com muita dificuldade abrir um dos cadeados. Uma das mãos foi solta e ficou fácil para soltar a outra.
Ao sentir-se totalmente liberto, ele respirou fundo. Era hora de liberdade.
Mesmo não sabendo como sairia dali.

- Não gostaria de desabafar mais, ? Sei que tem sido uma semana difícil. – perguntou Flerzg, seu psiquiatra.
- Não. – suspirou, encarando o teto.
- É uma ótima oportunidade para...
- Não estou me sentindo bem. – disse, sentando-se no divã e olhando para o médico. – Posso voltar para o meu quarto?
- O que você tem? Precisa de alguma coisa?
- Preciso me deitar. Vai dizer que não sabe que grávidas sentem muito sono?
- É claro que sei, achei que poderia estar sentindo algum mal-estar.
- Não. – se levantou. – Posso ir?
- Está dispensada. – O doutor se levantou também, caminhando até a porta e abrindo-a. – Se precisar de qualquer coisa é só avisar alguma de nossas enfermeiras.

E mesmo sem responder nada, saiu pelo corredor em direção ao seu quarto, contudo, encontrou Jenna no meio do caminho.

- Jenna! – exclamou, vendo a mulher virar-se em sua direção. – Você sumiu durante toda a manhã, o que houve?
- Estava resolvendo algumas coisas... Mas o que foi? Estava precisando de mim?
- Estava! – sorriu animada, puxando a enfermeira pela mão, até que chegassem em seu quarto. – Certo. Primeiro: bom dia!
Jenna riu.
- Bom dia, , que bom humor é esse?
- Humor de quem está prestes a sair desse inferno. – cruzou os braços, erguendo a sobrancelha.
- Como assim? Thompson mudou de ideia?
- Óbvio que não. – rolou os olhos. – Esqueceu do plano “fuga”? – sussurrou, para que, por mais que as paredes forem almofadadas, ninguém fosse capaz de ouvir.
- Não tirou essa ideia da cabeça ainda? – sorriu, balançando a cabeça.
- Não! Tá maluca? Eu vou sair daqui, Jenna, e eu já tenho um plano.


Capítulo XXVIII


Waiting For Superman - Daughtry. Dêem play quando eu avisar!
encarava seu reflexo no espelho. Os cabelos estavam presos num coque, o rosto limpo; sem algum resquício de maquiagem. O uniforme azul claro – azul para que diferenciassem os pacientes dos enfermeiros – moldava seu corpo.
Havia chegado a hora. A tarde começava a ser trocada pela noite. O céu ainda estava claro, quase na hora do jantar. Não havia hora melhor para fugir.
- Você é quase uma enfermeira. – Jenna comentou, enquanto a observava.
- Será que vai dar certo? – se virou para encarar a enfermeira verdadeira. Ela sorriu carinhosa, abrindo os braços. – Ah, Jenna! – suspirou, correndo para abraçá-la. – Obrigada por estar fazendo tudo isso, obrigada! – disse, com o rosto encostado no ombro da mulher; que agora parecia ser sua mãe, mesmo não aparentando ter mais do que trinta anos.
- Você não tem nada do que agradecer. – sussurrou, afagando os cabelos dela. – Só seja feliz. Faça a sua nova família feliz. – afastou o rosto, para encará-la. – Aproveite como eu não pude... – uma lágrima escorreu pelo seu rosto e ela fechou os olhos brevemente. – Você sabe - suspirou, abrindo-os –, viver como enfermeira num hospital psiquiátrico não é como um sonho de vida. – riu, observando os olhos atentos de .
- Por que está chorando? Não chora, senão eu também vou. – deu um leve tapa no braço dela. Elas riram.
- Estou chorando porque você se tornou uma amiga incrível e agora está indo embora... – fungou, abraçando-a brevemente.
- Você também foi, Jenna! E sem esse papo depressivo! Nós ainda vamos nos ver, ok? E você vai ser uma das minhas madrinhas de casamento.
Jenna riu, balançando a cabeça.
- Eu vou estar lá. – piscou, sorrindo. – Agora, vai logo! Não queremos perder tempo, sim? Eu vou estar no portão dos fundos te esperando. – respirou fundo. - Seja o que Deus quiser! – riu, saindo pela porta.

respirou fundo e levou as mãos à barriga. Ela sorriu brevemente e voltou a olhar seu reflexo no espelho. “Eu vou nos tirar aqui” disse, olhando para seu ventre.
Chega de ter uma vida comandada.
Chega de ser um boneco de ventríloquo.
Era hora de acabar com tudo isso. Ela seria dona de sua própria vida a partir de hoje, e faria o que quiser dela.
Ao olhar para o relógio de pulso que Jenna havia deixado, viu que alguns minutos já haviam passado desde que a enfermeira saíra, era agora.
Após respirar fundo mais uma vez, arrumou a postura e saiu pela porta, com a cabeça baixa.
Todos estavam no refeitório, não havia com o que se preocupar.
Ou quase isso.
Os passos estavam mais rápidos a cada segundo, ela só queria chegar logo até a portaria e enfrentar quem quer que fosse. As aulas com teriam de ter alguma utilidade.
Entretanto, ao virar um dos corredores, encontrou um enfermeiro. Bynes.
- Boa noite, enferm... – cerrou os olhos, tentando enxergar o rosto da mulher. – Thompson?! – disse, incrédulo. – O que pensa que está fazendo?!
, que continuava com a cabeça baixa, engoliu seco e o encarou.
- Oi enfermeiro Bynes! Aliás, você viu o preço dos dinossauros para os feijões verdes que estão de jardim no beco dourado? – abriu a boca, como se estivesse surpresa.
- Céus! Você já tomou seus remédios hoje, ? – colocou o braço em volta do pescoço dela, virando-a e começando a andar em direção ao seu quarto.
- Bem, na verdade... – olhou para ele, enquanto sorria como uma louca. – Acho que quem precisará de remédios aqui é você. – e, dito isso, ela desviou do braço que estava envolto em seu ombro e o puxou para trás, como se o fosse quebrar. O enfermeiro gritou, e ela chutou seu rosto com certa força. O homem amoleceu em seus braços e ela soltou o ar pela boca, suspirando aliviada. Ao olhar para os lados, não viu ninguém, com isso, pegou os braços do homem e o arrastou até o canto do corredor. – Desculpa. – sussurrou, fazendo uma careta e saindo com passos ainda mais apressados até a saída, que parecia não chegar nunca.

Mais alguns passos e, infelizmente, encontrou uma enfermeira, que arregalou os olhos ao vê-la.
- Certo, estou sem muito tempo para conversas, então, desculpe. – deu os ombros, dando um soco forte na cara da mulher, que caiu no chão, já desmaiada também. Benditos treinamentos.
Ela arrastou a mulher até um dos corredores também e a deixou ali.

já conseguia ver os postes de luz acesos no jardim dos fundos. Estava perto. Seu andar agora era praticamente uma corrida. Sua respiração estava ofegante e o coque já estava quase desfeito. No entanto, estava orgulhosa de si mesma.
Não demorou mais de um minuto até que ela passasse pela porta e, também, para que o sinal de rebelião tocasse. Certo, as coisas ficariam complicadas.
Ao avistar Jenna acenando, a garota correu ainda mais e, finalmente, chegou até ela.

- Ai, graças a Deus! – levou a mão ao coração, parando de correr por alguns estantes. Ela olhou para o lado e viu os dois guardas caídos no chão. – O que... – franziu o cenho, olhando para a enfermeira.
- Não importa. Inocentes e fraquinhos demais, devem ser do tipo que têm medo de fantasma. – abanou o ar, rindo. Ela entregou a chave para , que sorriu nervosa, pegando-a.
- Obrigada, Jenna! Obrigada, obrigada. – disse, enquanto abria o portão depressa. A gritaria já tomava conta do Hospital. Enfermeiros corriam de um lado para o outro, atrás dos internos que ficaram desesperados ao ouvirem o sinal ensurdecedor.
- Por nada. Agora vai, depressa!
conseguiu abrir o portão, e, antes de sair, ao ver uma câmera de segurança logo acima de sua cabeça. Ela não pensou duas vezes antes de acenar para ela, sussurrando um “tchau papai”, para, logo após, sua mão se fechar e apenas o dedo do meio continuar esticado. Ela sorriu desafiadora e saiu correndo.
A corrida tomou uma proporção gigantesca, e ela tinha certeza de que se não estivesse grávida, poderia competir em alguma competição futuramente. Rindo de seu próprio pensamento, ela soltou o cabelo e rasgou o uniforme de botões que estava por cima de uma camiseta escura. Agora seria mais difícil descobri-la.
Ela diminuiu o passo da corrida e respirou fundo, tentando recuperar o ar. Olhou para os lados para checar se ninguém a seguia ou prestava atenção. Por sorte, todos os americanos estavam ocupados demais tomando conta de suas próprias vidas.
Ao perceber que estava longe o bastante do Hospital, ela fechou os olhos com força e deixou o choro vir. As lágrimas de alívio rolavam pelo seu rosto, avisando que pelo menos parte de seu pesadelo havia terminado. Uma pequena parte, mas já era algo.
Caminhando mais um pouco, decidiu que iria para a casa de Audrey, Thompson com certeza iria até lá, mas não seria a primeira coisa que pensaria. Era óbvio demais.
Ela respirou fundo, tentando secar as lágrimas, que agora não eram só de alívio, mas de preocupação e angustia. Ela estava livre, mas e quanto a ? E Aaron? O mais velho poderia estar morto. O amor de sua vida poderia estar morto.
O choro aumentou de forma imensurável e ela levou a mão ao peito, doía tanto. No hospital, por pior que fosse, ainda havia certa esperança de que seu pai não houvesse lhe tirado seu maior bem. Mas agora... Agora ela saberia. E temia saber o que de fato havia acontecido.
Cerca de mais uma hora depois, virou na esquina da casa de Audrey e respirou aliviada. Finalmente receberia o abraço da melhor amiga para consolá-la. Um lar que se sentia confortável. E, ao menos um pouco, de felicidade.
Ela tocou a campainha da casa da amiga e cruzou os braços, esperando ansiosamente.
Alguns segundos depois, Audrey abriu a porta e arregalou os olhos, levando a mão à boca para conter a surpresa.

(Podem dar play!)

pulou nos braços da amiga e a abraçou com força. Oh, como era bom abraçá-la.
Contudo, ao abrir os olhos, ainda abraçada a ela, encontrou ele.
Suas pernas perderam a força e seus olhos – que antes estavam marejados – agora já transbordavam lágrimas.
” foi a única coisa que conseguiu dizer, mesmo que com um sorriso. O homem no outro lado da sala tinha os olhos marejados, parecendo tão surpreso quanto ela.
Audrey se afastou da amiga e ela se paralisou. caminhou devagar até a namorada e ela teve forças para fazer o mesmo. Vendo que aquilo demoraria mais do que o necessário, ela correu até seus braços e o abraçou.
O abraçou com toda a força que tinha no corpo.

- – sussurrou, com a voz embargada, enquanto afagava os cabelos dela. Aquele cheiro, aquele abraço... Ele jamais sonhou vê-lo ali. Ainda mais tão cedo.

O choro alto dela repercutiu por todo o ambiente, fazendo com que ele a aconchegasse ainda mais em seus braços.
O misto de sentimentos era inevitável. Saudade, alívio, felicidade, emoção. Somente sentimentos bons, pela primeira vez em dias. fechou os olhos e deixou-se inebriar pelo cheiro natural do amado. Sentir a pele dele na sua, mesmo que por cima daqueles tecidos, era a melhor sensação do mundo. Ela se sentia protegida de novo, segura. Nada e nem ninguém seriam capaz de afastá-la dele de novo. Não antes de lhe tirar a vida.
olhou para cima e encontrou os olhos dele, que brilhavam como os da própria. Eles sorriram involuntariamente e encostaram um no nariz do outro, sentindo o ar quente soprar seus rostos. O sorriso foi inevitável novamente. No próximo segundo, seus rostos se aproximaram ainda mais e seus lábios se roçaram, como se estivessem se acostumando novamente um ao outro. Era como se a felicidade houvesse batido à suas portas novamente.
tomou a iniciativa e iniciou o beijo, levando uma das mãos até a nuca da namorada, acariciando-a.
colocou os braços em volta de sua cintura, aproximando ainda mais seus corpos.
Quando suas línguas se tocaram, por mais clichê que fosse, o conhecido arrepio tomou conta de seus corpos, mas dessa vez ainda mais forte.
O beijo tomou intensidade e eles sorriram entre o mesmo, voltando a se abraçarem fortemente.
- Me diz que não é um sonho, por favor. – ela disse, encostando a cabeça no ombro do namorado.
- Se você está sonhando, eu também estou. – riu, afastando seu rosto do dela e segurando-o entre as mãos.
- Você está vivo. – sussurrou, sentindo a voz embargar novamente. – Você está aqui.
- Eu te amo. – aproximou o rosto do dela, roçando o nariz em sua bochecha. – Eu te amo tanto e como desejei te falar isso enquanto estava longe.
- Eu te amo. Eu te amo demais, . – virou um pouco o rosto, beijando-o brevemente.
- Thompson é um monstro. – Audrey disse e e viraram-se para encará-la, só então lembraram que ela continuava ali. E que aquela era a casa dela.
- Audy! – disse, e então correu para abraçar a amiga, que estava com o rosto úmido, provavelmente emocionada com a cena que acabara de ver. – Que saudade! – a apertou e a outra retribuiu com a mesma intensidade.
- Eu ao menos sabia do que estava acontecendo até chegar aqui há algumas horas. – disse, se afastando de . – Achei que ainda estivessem viajando ou sei lá. – deu os ombros. – Já estava até brava com você por não telefonar. – sorriu fraco, passando a mão nos cabelos de .
- Quem dera estivéssemos. – sorriu sarcástica, voltando a andar na direção de . – Meu Deus, meu amor! O que aconteceu com você? – arregalou os olhos, só então se dando conta do quão machucado ele estava. Com a emoção em que chegou, ao menos reparou em algo, mesmo que fosse daquela imensidão.
- Não importa mais, ... – desviou o olhar, sentando-se no sofá. – Onde você estava?
- É óbvio que importa. O que fizeram com você? Onde você estava? – repetiu a pergunta anterior. As lágrimas voltaram a escorrer por seus olhos e ela também se sentou no sofá.
- Eu vou preparar algum café ou algo para comerem. Já volto. – Audrey disse, saindo brevemente.
- Num lugar terrível demais para te traumatizar por toda a vida. – sorriu fraco, tirando alguns fios de cabelo do rosto dela. – E você? Não chegaram a te machucar, não é? – ficou sério, procurando qualquer que fosse algum ferimento em seu corpo.
- Fisicamente não. – deu os ombros, encostando a cabeça no sofá, enquanto encarava seu rosto. – Fui internada num Hospital Psiquiátrico, .
- O quê?! Mas como? Como Thompson teve coragem?!
- Aquele homem só se importa consigo próprio. – disse, com claro rancor na fala. – Ele não tem escrúpulos. – suspirou. – Mas me admira ele não ter te... Você sabe. – levou a mão até o rosto do amado, que estava machucado.
- Você acredita em milagres? Eu vivi um. – sorriu sem humor. – Thompson estava prestes a apertar o gatilho quando uma mulher entrou na sala, avisando que havia acontecido uma invasão ou algo do tipo. – deu os ombros. – Ela ficou sozinha comigo e – franziu o cenho. sorriu. – me mostrou onde estava a chave para destrancar o cadeado das correntes que seguravam meus braços.
- Correntes?! – questionou, incrédula.
- Você acha muito? É o mínimo. – suspirou, beijando a testa da namorada. – E você? Como saiu do Hospital?
- Tive a ajuda de uma enfermeira amiga. – sorriu ao lembrar-se de Jenna. – Jenna. Uma ótima amiga, por sinal.
riu, olhando para baixo. franziu o cenho.
- A mãe do Aaron também já teve um codinome Jenna, e era justamente uma enfermeira. – sorriu. – Para um trabalho que tivemos no passado... – deu os ombros, lembrando-se dela.
- Talvez ela nos tenha ajudado, também. – sorriu fraco, aproximando o rosto do dele para lhe dar um beijo rápido.
Audrey voltou à sala, segurando uma bandeja com duas xícaras de café e alguns biscoitos.
- Aqui. Se quiserem tomar um banho e descansar, é só ir para o quarto de hóspedes, ok? – disse a amiga. sorriu fraco, assentindo.
- Não podemos ficar aqui, Audrey. – disse, suspirando enquanto pegava uma das xícaras e tomava um pouco do café quente. Ele fez uma careta. – Já faz um bom tempo desde que comi algo que não fosse pão e água. – sorriu amargurado.
- Pão e água? – balançou a cabeça. - E por que não podemos?
- Porque seu pai, com certeza, virá até aqui. Ele vai enlouquecer quando souber que nós dois fugimos no mesmo dia. – deu os ombros, dando uma pequena mordida num biscoito.
- Você tem razão. – suspirou, tomando um pouco de seu café também. Ela também fez uma careta, no entanto, não pelo mesmo motivo de , mas sim pelo enjoo que aquilo lhe causou. – Argh! – sentiu o corpo se arrepiar e levantou, indo até o banheiro. – Já volto.
- ? – sussurrou, levantando-se e indo atrás dela. Ao chegar no banheiro, a viu de joelhos sobre a privada. – Você está bem, meu amor? – se ajoelhou ao lado dela, segurando seu cabelo. Ela somente assentiu, sem fôlego para falar algo. Alguns segundos depois a mulher se sentou e jogou a cabeça para trás, encostando-a a parede. – Melhor?
- Muito. – sorriu fraco, olhando-o. – Precisamos sair daqui, . – umedeceu os lábios, criando forças para se levantar; ela o fez com a ajuda do namorado. – Este é um dos primeiros lugares que Thompson irá me procurar. – foi até a pia e abriu a torneira, lavando o rosto e a boca.
- Certo. – cruzou os braços, parecendo pensar. – Você tem ideia de para onde podemos ir? Algum lugar que o seu pai não faça ideia?
- Na verdade, eu tenho sim. – sorriu, dando uma das mãos a ele e caminhando até a sala. – Audy, você ainda tem a chave da minha casa no campo?
- Tenho! Vou buscar. – se levantou, indo até seu quarto.
- Casa no campo? – questionou, confuso.
- Depois eu te explico melhor. – lhe deu um beijo rápido. Audrey lhe trouxe a chave. – Ótimo! – beijou a chave, permitindo-se ficar ao menos um pouco feliz. – Você está com seu passaporte, ?
O homem a olhou como se ela tivesse feito a pergunta mais absurda do mundo. E realmente era. Eles riram brevemente.
- Ele está no meu quarto, assim como meus cartões, identidade e tudo mais. Mas eu não posso sair daqui!
- E não podemos sair do país assim... Minhas coisas também estão na sua casa. E agora?
- Céus! Vocês já foram mais espertos. – Audrey disse, rolando os olhos. – Eu vou ao seu apartamento, . Pego tudo e enquanto isso vocês se preparam para fugir. Tomem um banho e preparem mantimentos, cobertas e tudo que for necessário. Podem levar a casa inteira consigo, se quiserem. – colocou as mãos na cintura, como se acabasse de ter dito a coisa mais simples do mundo.
- Você não pode ir para lá, Audy! E se Thompson já tiver mandado homens para lá?
- E você acha que Thompson acha tão idiota assim a ponto de voltar para seu apartamento?! , por favor!
- Tem razão. – disse, parecendo pensar. – Mas, de qualquer forma, é muito arriscado.
- Gente, foca em mim. – apontou para si mesma. – Eu não “sei” que vocês foram “sequestrados”, certo? Eu posso, muito bem, ter ido ao apartamento do para ter notícia sobre vocês.
- Você é um gênio! Você. É. Um. Gênio! – sorriu, abraçando a amiga. – Eu te amo tanto, Audy! Obrigada, obrigada, obrigada!
- Eu também te amo, . – sorriu carinhosa. – Agora, depressa, arrumem tudo enquanto eu vou rápido lá. Quanto menos tempo perderem, melhor! – avisou, indo até a porta e abrindo-a. – Vou levar a chave, não façam barulho. Os vizinhos não precisam saber que estão aqui para avisarem ao seu querido papai quando vier fazer a geral aqui em casa.
- Pode deixar, capitã. – sorriu, mandando beijos no ar. Audrey piscou, fechando a porta.

e se encararam, sorrindo fraco. Mesmo sem palavras, eles sabiam o que fazer. Seus corpos se colaram novamente, dessa vez ainda com mais força, e se abraçaram. O abraço que parecia impossível, durante todas as horas e segundo dessa semana.

- Só Deus sabe o quanto me dói dizer isso, mas, acho que temos nos separar. – fungou, beijando o ombro do namorado.
- O quê?! – disse, se desfazendo do abraço.
- Oh, céus! – riu, balançando a cabeça. – Não foi isso o que quis dizer! Disse sobre nos separar do abraço, para fazermos logo tudo o que falta. – riu, segurando o rosto do amado. – Sinto muito, senhor . Você está preso a mim até o fim de sua vida!
- Não irei recorrer. É uma sentença justa. – sorriu sem mostrar os dentes, observando seu rosto. – Agora - respirou fundo, fechando os olhos –, vamos logo com isso ou vamos ficar aqui pela vida inteira, porque eu não estou com a mínima vontade de me afastar de você por um minuto só que seja.
- É recíproco, amor. – sorriu. – Bom, vá tomando o seu banho que eu vou pegar alguma roupa do namorado da Audy. Enquanto isso, vou arrumando alguma comida para levarmos.
- E você, não quer tomar um banho? Pode ir primeiro...
- Eu tomei um banho há poucas horas, meu bem. Vá logo. – e, dito isso, saiu em direção ao banheiro. respirou fundo e foi ao quarto de Audrey, buscando um conjunto de calça jeans e duas camisetas, sendo uma delas de manga longa. Numa gaveta ao lado, decidiu pegar dois conjuntos de roupas de Audrey para si mesma.
pegou uma mochila e colocou as roupas dentro, com exceção das roupas que colocaria.
Ao sentir uma breve tontura, ela se sentou na cama e respirou fundo algumas vezes. Toda aquela agitação não era boa para sua gravidez e ela sabia disso, mas não podia fazer o contrário.
Enquanto ouvia o barulho do chuveiro desligando, sorriu brevemente olhando para a porta, esperando seu amor aparecer. estava ali, atrás daquela porta. A ficha ainda não havia caído que, além de ter conseguido fugir daquele sanatório, ela havia encontrado . Vivo. estava vivo, e ali. Tão perto. Seus olhos encheram-se de lágrima e ela mordeu o lábio. Deus escrevia certo por linhas tortas, realmente. A porta abriu devagar, revelando com uma toalha amarrada na cintura. Ele sorriu assim que a viu ali, também devia sentir o mesmo. Como se fosse um sonho.
- Você está aqui?! - sorriu, vendo-a na cama. Ele franziu o cenho. - E está bem?
- Estou. – sorriu, se levantando e dando as roupas para ele. – Só precisei descansar por alguns minutinhos. Já vou arrumar a comida para levarmos.
- Certo. – assentiu. – Assim que eu terminar de me vestir, vou te ajudar.
- Fica tranquilo. – piscou, mandando beijos no ar e fechando a porta, logo após.
Cerca de vinte minutos se passaram quando a porta da sala abriu, com Audrey andando depressa.
- Vocês já estão prontos, né? É melhor estarem. A rua do Bellevue Hospital está lotada de carros de policia, além dos três carros pretos, que você provavelmente deve saber de quem são, não é, ?
- Droga! – bateu com a mão na mesa. – Mas sim, já está tudo pronto. Peguei duas mochilas, ok? Uma para algumas roupas que peguei para nós e outra com algo para comermos.
- Nem precisava ter avisado, idiota. – riu, indo até o telefone e discando o numero de um ponto de táxi. – Oi! Vocês podem me mandar um táxi o mais rápido possível? Dez minutos? Hm, certo. Obrigada. – desligou, encarando o casal a sua frente. – Eu não tenho lá muito dinheiro em casa - disse, enquanto abria a sua bolsa –, mas acho que isso paga o táxi e ainda dá para alguns dias, né? – estendeu a mão, segurando um pequeno punhado de dinheiro.
mordeu o lábio, abraçando a amiga com força. A outra retribuiu, fechando os olhos com força.
- Você já nem é mais a minha melhor amiga, Audy. É muito mais do que isso. É uma irmã, uma mãe. Eu te amo demais e você sabe disso, obrigada por tudo. Tudo! Você é incrível.
- Me agradeça ficando viva, bem. – sorriu emocionada, se desfazendo do abraço da amiga e olhando para . – E você também, senhor encrenca. – sorriu fraco. assentiu, indo até ela e a abraçando brevemente.
- Eu jamais vou ser capaz de te agradecer por tudo isso, Audrey.
- Repito: agradeçam sendo felizes. Tudo isso vai acabar em breve, e da melhor forma possível. Tenham fé. – sorriu, ouvindo um carro buzinar na frente de sua casa. – Deve ser o táxi, mas fiquem aí, vou checar. – disse, indo até a porta e olhando através do olho-mágico. – Tudo bem. É o táxi. Agora, vão logo!
E, dito isso, o casal se despediu mais uma vez da amiga e entrou no carro. O taxista olhou para , que ainda tinha as marcas de agressão por todo o corpo.
- Semana difícil? – disse, olhando pelo retrovisor.
- Até demais. – riu fraco, segurando a mão de . – Dias, semanas, anos difíceis, meu amigo.
- Tudo tende a melhorar com o tempo. – sorriu fraco. – Tempos difíceis são feitos para nos fazerem repensar sobre a vida... – suspirou. – A vida é toda difícil, cara.
- Eu que o diga.
- E eu. – disse, suspirando.
- Como se pode chegar ao tesouro sem antes escavar todo o túnel? – o homem sorriu fraco. e se entreolharam e ela apoiou a cabeça no ombro do namorado. – Para onde vamos?
- Aqui o endereço. – buscou um pequeno pedaço de papel no bolso e entregou para o taxista. – Por favor. – sorriu cordialmente.
- Certo. – olhou de soslaio para o papel. – Podemos ir por outro caminho? Soube que está tendo uma parada policial a dois quarteirões e não estou com a mínima vontade de enfrentar toda uma burocracia.
- Parada policial? – disse, se arrumando no banco; ficando em alerta.
- Parece que sim. Algo sobre uma moça que fugiu de um Hospital Psiquiátrico...
engoliu seco, olhando rapidamente para .
- Isso é um perigo. – disse, sorrindo confiante. – É claro que podemos ir por outro caminho, estamos com pressa também. – suspirou. O taxista assentiu e sorriu, entrando na próxima rua.
Deus abençoe aquele taxista.


Capítulo XXIX


Música 1. Let Me Go - 3 Doors Down. Play quando eu avisar!
Música 2. Hail To The King - Avenged Sevenfold. Play quando eu avisar!

Não demorou muito até que o casal chegasse a casa no campo; sendo entregues perfeitamente pelo taxista vidente.
fez questão de carregar as duas mochilas, com isso, abriu a porta e o cheiro de poeira veio como vento. Eles tossiram e colocou as mochilas no chão, analisando o local.
Era uma casa como qualquer outra, pacata, porém incrivelmente confortável. Havia somente dois cômodos, uma cozinha e um quarto. Ambos decorados por , ele previu; já que se pareciam com os móveis de seu apartamento. A cozinha era separada do quarto por somente uma bancada, onde serviria como mesa.
- É sua? – ele questionou, ainda olhando em volta.
- É, sim. – sorriu, observando a casa também. – Comprei há alguns anos, ia morar aqui, mas Thompson não achou que seria um bom lugar para residir. Afastada de tudo e todos... Poderia ser perigoso. – deu ênfase na última palavra, rindo do quão absurdo aquilo soava. – Eu disse para ele que vendi e comprei o apartamento em Nova Iorque... E, realmente, eu a vendi. – fez uma pausa. – Para Audrey. – riu, colocando as mãos na cintura e virando-se para olhar , que a encarava como se observasse a obra mais preciosa do mundo. Ela sabia que ele não havia prestado atenção numa só palavra. – Você não concorda?
- É claro que concordo. – sorriu levemente.
- Eu não estava dizendo algo questionável, meu bem. Era somente uma afirmação, e, pelo visto, você não prestou atenção em uma só consoante. – deu um passo em sua direção e tocou seu rosto machucado. – Está doendo? – seu sorriso se murchou, olhando para o rosto do namorado, que continuava com o sorriso no rosto.
- Não mais. – deu os ombros, erguendo uma das mãos e tocando no rosto da amada, também. – Nada mais está doendo. – disse, entretanto, seu sorriso se murchou assim que se lembrou do filho. – Aliás... - umedeceu os lábios, desviando o olhar. – Ainda tem algo sim. Mas não é físico... É emocional, é viral. – suspirou, se afastando. – Onde está Aaron? – um nó se formou em sua garganta.
- ... – ela deu um passo à frente, mas ele colocou a mão, respirando fundo.
- Nós estamos bem, , mas ele não. Só Deus sabe onde ele ta agora, e o que ta fazendo. E se ele estiver sofrendo? E se o merda do Thompson tiver feito algo?!
- Eu acredito que, por pior que seja, ele não seria capaz de machucá-lo, ...
- Será que nunca vamos ficar livres desse cara? – disse, com a voz embargada. foi até ele, colocando uma das mãos em seu ombro. – É de mais pedir isso?
- Não. – sussurrou, abraçando-o. – Não é. – beijou seu maxilar, enquanto afagava seus cabelos. – Eu sinto que está acabando.
- Para qual dos lados? – suspirou, enlaçando a cintura dela.
- Para Thompson. – fechou os olhos, engolindo seco. – O que viveremos ainda está longe de acabar... É só o começo. Um começo conturbado, mas ainda sim, um começo. – sorriu fraco, o sentindo distribuir beijos pelo seu pescoço. – Eu te amo tanto. – disse, ainda sussurrando. – Eu te amo tanto, tanto . Eu faria qualquer coisa para te fazer feliz.
- Exista. – disse, de repente. Ela o olhou, sorrindo. – Ou melhor, ria. Sorria. Do que adianta existir sem ser feliz? Você é minha felicidade, . Você e Aaron. Eu devo ser algo como um clichê ambulante, eu sei. – riu, negando com a cabeça. Ela riu também, mas, no estante seguinte, o beijou.
Outro beijo.

(Play na 1!)

Um novo beijo, como se fosse o primeiro.
No entanto, não era somente uma troca de salivas e o toque dos lábios. Havia muito mais do que o ato físico. Eles podiam passar emoções por aquele beijo. Se sente quando é verdadeiro, não se sente? E aquilo passava de verdadeiro. O conhecido arrepio tomou conta de seus membros e eles sorriram, enquanto andavam devagar até a cama – que estava a poucos metros. Quando caiu na cama, não pôde deixar de rir. Eles pareciam dois adolescentes de novo. tirou sua camiseta e a jogou em qualquer lugar. A luz estava baixa, já que a noite já se iniciava, o que deixava o ambiente ainda mais aconchegante.
se ajoelhou na cama e foi deixando o corpo cair sobre o de , levemente. Outro beijo se iniciou, no entanto, dessa vez havia mais desejo. Ela puxou seu lábio dentre os dentes e ele apertou sua cintura com força, fazendo-a soltar um baixo gemido. Aproveitando a colocação de suas mãos, aproveitou para erguer a camiseta dela; que foi facilmente tirada. inverteu as posições e ficou por cima, recebendo um sorriso malicioso dele.
Oh, aquele sorriso... O sorriso que ansiou tanto ver nestes dias. O sorriso que pensou jamais ter o prazer de observar. O sorriso que fazia o seu sorriso.
Seus dedos acariciaram o abdômen marcado e ela mordeu os lábios, como se pudesse sentir a dor. O namorado buscou a mão que o acariciava e a beijou, como se dissesse que estava tudo bem. Agora estava. Ela sorriu fraco e continuou a traçar linhas imaginárias por seu abdômen, passando para o peito e voltando para baixo, onde agora delineava os oblíquos. Ele mordeu o lábio, enquanto apertava sua coxa, com possessão. foi até o botão de sua calça jeans e o abriu, descendo o zíper logo após. ergueu um pouco o quadril para que a calça passasse sem dificuldade por ali, o que foi um pouco difícil, já que o volume em sua cueca já não era dos menores. riu e desceu sua calça, para voltar distribuindo beijos por toda a extensão do corpo do namorado. Como se pudesse curar cada corte, pancada ou arranhão que estivesse ali.
quase teve certeza de que havia uma curandeira ali, porque milagrosamente seu corpo foi anestesiado. Agora, de fato, já não existia mais sequer alguma dor física.
Levando uma de suas mãos aos cabelos dela, o puxou com certa força, fazendo-a arfar e jogar a cabeça para trás. Ele se sentou na cama e começou a distribuir beijos por toda a extensão do colo da namorada. Primeiro ombros, depois pescoço, e, logo em seguida, seios – mesmo que ainda cobertos pelo sutiã; que, segundos mais tarde, já estava sendo desabotoado. continuava com a cabeça jogada ligeiramente jogada para trás, enquanto sentia as carícias do amado. Quando, finalmente, a peça saiu de seu corpo, sentiu seus seios sendo envolvidos pelas mãos de , massageando-os com delicadeza, porém, intensidade. Ela gemeu longamente, o que só o incentivou a continuar. umedeceu os lábios e os levou até um de seus seios, tocando-os suavemente. entreabriu os lábios e contraiu a barriga. Instintivamente, seu quadril foi mais para frente, tentando tocar – mesmo que por cima do tecido – no membro de ; que suspirou pesadamente. Ele segurou nos cotovelos dela e os ergueu, como se dissesse para ela se levantar um pouco. o fez, ajoelhando-se sobre a cama. O namorado desabotoou sua calça e a desceu o mais rápido que conseguiu. Ao chegar ao final de suas pernas, ela fez questão de tirá-la. Seus peitos se encontraram e o conhecido arrepio do beijo voltou a tocar seus corpos. O calor de suas peles juntas era algo completamente distinto de tudo que já sentiram e sentiriam. Era um fato.
puxou o lábio da namorada entre os dentes e mordeu seu queixo, fazendo-a fechar os olhos, extasiada com as sensações que aquilo lhe trazia.
Já sentindo suas excitações em ponto máximo, sabiam que não agüentariam mais qualquer provocação ou preliminar. voltou a erguer o corpo e desceu sua calcinha, já , desceu alguns centímetros de sua cueca; era impossível tirá-la por completo.
Após algumas estimuladas em seu membro, ele a penetrou delicadamente. ofegou com o contato tão profundo e ergueu o tronco. Aproveitando a posição, a mulher começou a se acomodar em seu colo. estocou uma vez e ela gemeu, fechando os olhos.
Aquela era, sem dúvida, a posição mais carinhosa e intima que já haviam feito. estava sentado na cama, com em seu colo, ambos sendo um só. Ela o abraçou e o namorado beijou sua testa. O sorriso maravilhado estava de volta, agora para ambos.
Após algumas estocadas, se retirou da mulher e inverteu as posições, começando a se deitar com ela. agora estava por baixo, sendo penetrada por ele. O contato de seus olhos agora era mais claro e eles sorriram. Uma fina camada de suor começou a ocupar seus corpos, na medida em que se movimentavam.
Os movimentos de começaram a ficar mais rápidos e mais fortes, com isso, levou as mãos às suas costas, arranhando-as sem piedade. Inebriada com a situação, havia até mesmo esquecido de seus machucados. Não importava, no entanto. também já nem se lembrava mais.
A cama, sem muito uso, começava a ranger insistentemente e uma baixa risada foi incontrolável por ambas as partes. Eles iriam quebrar a cama.
Sentindo-se já quase pronto para seu ápice, levou uma das mãos à região mais sensível de , acariciando-a intimamente. Seus gemidos quadriplicaram e não foi preciso mais de dez segundos para que ela chegasse à seu máximo. Mais algumas estocadas e também chegou, sendo incapaz de segurar um ofego alto. Ambos sentiram o corpo ficar leve e aquele frio na barriga que estavam acostumados. A visão ficou embaçada e eles fecharam os olhos, ainda sem se desgrudar.
Era como um sonho. Como um milagre. Quando estava em seu quarto no Hospital Psiquiátrico, hoje, se encarando no espelho, jamais imaginou terminar seu dia assim. , sem dúvidas, também não. O dia em que iria morrer, acabou se tornando um dos melhores de sua vida. Havia reencontrado seu amor, a mulher de sua vida.
Toda a dor que passara durante a semana havia sido sanada.
As batidas ritmadas de seus corações foram se normalizando, assim como suas respirações. retirou seu membro de e se deitou ao lado da namorada.
- ? – chamou, e ela o olhou sorrindo como uma criança. Ele riu.
- Fala! – exclamou, vendo que ele não diria nada. Ela estava certa. O homem esticou um dos braços ao seu lado, para que ela encostasse a cabeça ali. Ela o fez. – O que foi, amor?
- Nada. – sorriu. – Eu só queria te olhar, te observar... Guardar cada detalhe seu na minha memória.
- Pra que isso? Para quando formos velhinhos você se lembrar de como eu era linda e maravilhosa aos vinte e quatro anos? – brincou, rindo logo após.
- Tenho certeza de que vou te achar ainda mais linda e maravilhosa quando for velhinha. Se isso for possível, é claro. – deu os ombros, rindo também. buscou o lençol que estava em seus pés e o puxou para cima, cobrindo-os. – Ei? – disse, assim que a viu murchar o sorriso e encarar o teto, pensativa. – No que está pensando?
- ... - mordeu o lábio, virando levemente o rosto para encará-lo. – Você pensa em ter outros filhos?
- É claro que penso, . – sorriu de lado, afagando os cabelos dela. – Mas tudo em seu tempo. Quando tudo tiver terminado, estivermos em paz... Será a maior alegria da minha vida. – ela engoliu seco, respirando fundo. – E você?
- Eu queria poder ter escolhido o tempo. – suspirou e ele franziu o cenho, olhando-a confuso. se sentou na cama e encarou as próprias mãos. – Eu juro, , não foi planejado... Eu jamais escolheria ter um filho agora, diante desse terremoto que anda nossas vidas.
- O quê? – sussurrou, sentando-se também. – , você...
- Eu to grávida, . – suspirou, colocando o rosto entre as mãos. Ela sentiu sair da cama rapidamente e ao olhar para ele, o viu colocando sua cueca e andar de um lado para o outro, aflito. – ...
- Isso não está acontecendo de novo, não está. – repetia para si mesmo, como um mantra. – Não, , não! Isso não podia ter acontecido! – disse, já com a voz embargada.
- Eu não tenho culpa! Não se faz um filho sozinha, caso não saiba. - disse, já irritada. O nó em sua garganta já começava a se formar. Ela se levantou e colocou sua calcinha e camiseta.
- Vai acontecer de novo, . Vai acontecer de novo! – exclamou, sentando-se no chão, com as costas encostadas na parede. As lágrimas começavam a escorrer pelo seu rosto e ele entrelaçou as mãos nos cabelos, bagunçando-os.
franziu o cenho, aquela era, de longe, a última reação que esperava dele.
- ... – deu alguns passos em sua direção, e o choro só parecia aumentar.
- Está acontecendo exatamente como há quatro anos. – fungou. – Eu e tendo que fugir do seu pai... Ela estava grávida... Você não pode me deixar também! – a olhou desesperado.
- Meu amor – disse, com a voz embargada, algumas lágrimas já escorriam por seu rosto também –, eu estou aqui. Eu não vou morrer. – negou com a cabeça, se ajoelhando ao lado dele. – Eu não vou te deixar. – buscou a mão dele e a beijou, levando-a até sua barriga. – Nós não vamos. – Olhe pra mim. – pediu e ele obedeceu, ainda com o olhar triste. – era outra pessoa... Era a sua hora. – mordeu o lábio, abraçando-o. – Meu Deus! Eu não sabia como isso te machucava. – sussurrou, afagando seus cabelos.
- Você vê alguma saída no final desse túnel? Porque eu não vejo nenhuma. Pela primeira vez na vida, eu não vejo nenhuma. – soluçou, desfazendo-se do abraço para encará-la. Ela negou com a cabeça, sorrindo fraco. – Por Deus, . Que me matem antes que eu veja você com sequer um arranhão.
- Não diz besteira. – riu fraco, lhe dando um beijo rápido. – Eu preciso que você seja forte agora, mais do que nunca. – ele assentiu, como uma criança que recebe uma ordem da mãe. – Eu preciso que você seja o meu porto-seguro. Nós três precisamos. – sorriu. – Eu, Aaron, e esse pequeno pedaço de amor aqui dentro. – seus olhos encheram-se de lágrima e sorriu também, com os olhos marejados. Ele olhou para a barriga dela e mordeu o lábio. – Você é o homem da casa. O exemplo dos seus filhos. – umedeceu os lábios e voltou a assentir, se levantando.
- Eu vou ser pai de novo. – estendeu a mão para ajudar a se levantar, ela sorriu assentindo. – Ah, . – riu, abraçando-a com força. – Me perdoa... Desculpa por não ter agido da melhor forma. Eu estou feliz, é claro que estou. – encarou seu rosto, sorrindo. – Eu só... Tenho medo que a história se repita.
- Você está proibido de repetir isso, . – colocou as mãos na cintura. – Eu estou aqui, viva. E pretendo continuar assim! E você também, e Aaron também. Nós vamos encontrar uma solução para tudo e vamos formar uma bela família, uma família como as de comercial de margarina. – disse, com o dedo em riste. Eles riram. se ajoelhou à sua frente e ergueu um pouco de sua camiseta.
- Como eu não reparei antes? – disse, encarando a barriga da mulher. – Tem um pequeno eu aí dentro. – levou as mãos até a mesma.
- Por que um “pequeno eu” e não uma “pequena ”? – fingiu estar brava e eles voltaram a rir.
- Certo, um pequeno nós. Melhor? – ela assentiu, sorrindo carinhosa. – Oi, “pequeno nós”! - gargalhou, observando-o. – Eu sou o seu pai... E posso não ser o melhor e mais bonzinho pai do mundo, mas vou me esforçar ao máximo para chegar pelo menos perto disso. Você já tem um irmãozinho... Um irmão que vai te amar mais do que tudo, vai brincar e cuidar de você. – disse, com a voz embargada novamente. – Sua mãe já deve ter conversado bastante com você, né? Mas, de qualquer forma, ela é a mulher mais incrível que eu já conheci em toda a minha vida. – ela suspirou, emocionada. – e eu tenho certeza de que será a melhor mãe do mundo. Você será um garoto de sorte.
- Ou uma garota. – avisou, tirando um sorriso dele.
- Ou a garotinha mais amada deste planeta. – se corrigiu, beijando delicadamente a barriga de , que sorriu emocionada. – Obrigado. – disse, se levantando. – Obrigado por mais este presente. – sussurrou, lhe beijando rapidamente.

Cerca de duas horas mais tarde o casal já estava dormindo sobre a luz da lua que entrava pelas frestas da janela. O dia havia sido cheio e o cansaço já tomava conta de seus corpos e mentes.
Mais algumas horas se passaram e o celular de tocou, assustando-o. Ele se sentou na cama depressa e olhou no visor: Audrey.
Seu coração acelerou e sua boca secou, e se algo tivesse acontecido? Certo. Poderia ser somente ela vendo se haviam chegado bem.
Não era?

- Audrey?
- , me perdoa, eles me obrigaram ou matari... – Audrey disse absurdamente nervosa. fechou os olhos, já sabia o que aconteceria a seguir.
- Não estou mais para brincadeiras, . Chega desse joguinho de gato e rato. Você tem duas opções: ou me diz agora onde está com , ou seu filho morre na próxima hora.
olhou de soslaio para , que também já estava acordada. A mulher estava com o rosto sobre a mão, provavelmente já sabia do que se tratava.
- Me diz o local onde quer se encontrar comigo e eu vou. – disse, respirando fundo.
- irá também.
- Não. não vai!
- Não foi uma pergunta. – disse, frio. – Sem ironias e brincadeiras, . Já disse.
tocou no ombro do namorado, como se dissesse que estava tudo bem.
- Onde e que horas?
- Bom garoto.

E, dito isso, Thompson lhe passou todas as informações necessárias para que ele fosse imediatamente ao local avisado. Ao finalizar a ligação, olhou para , e diferente do que pensara, ela não estava chorando.
- Chegou a hora de dar um ponto final nessa situação. – se levantou, indo até sua mochila e buscando algumas roupas. – E, acredite, meu bem, eu nunca estive tão pronta para destruir isso tudo quanto agora.
respirou fundo, fechou os olhos, e se levantou. Hora de acordar ; o robozinho invencível de Thompson. O orgulho do chefe.
Seria o xeque-mate. A guerra de titãs.

Durante todo o caminho, e se mantiveram em silencio, somente ouvindo o barulho do motor do taxi que os levava. O relógio do carro marcava 05h17 AM. O dia estava para amanhecer.
Dez minutos depois, eles chegaram e logo avistaram dois carros pretos à distancia. O taxi foi embora e o casal deu as mãos.
Dois homens vieram buscá-los, sendo um deles Josh.
- Aposto que achou que não me veria tão cedo!
- Realmente... É um grande desprazer. – disse, sorrindo sarcástico. – E, sabe Josh, eu estou há alguns minutos de, provavelmente, morrer, e não há nada mais no mundo que eu queira fazer tanto quanto quebrar essa sua cara de otário.
- ... – chamou, colocando uma das mãos em seu braço.
- Ora, ora! Será um prazer acabar um pouquinho mais contigo antes de te levar para Thompson. – sorriu também, entregando a arma para o outro homem, que ria.

tirou a jaqueta que vestia e entregou para , que respirou fundo. Ele deu um empurrão em Josh, que cambaleou para trás. Seu olhar se enfureceu e ele veio para cima de com a cabeça em seu estômago. O rapaz segurou sua cabeça e deu um chute em suas partes baixas, o que o fez cair no chão. Um soco bem dado foi dado em seu rosto, fazendo seu nariz sangrar em bicas. fechou os olhos, fazendo careta.
Josh deu um grito de ódio e se levantou, dando um soco no olho de , que gemeu de dor na hora. O outro comparsa de Thompson gargalhava alto e estava prestes a dar um chute em suas partes, também.
Fingindo cair no chão, deu uma rasteira em Josh, que caiu de uma só vez. se levantou depressa e o pegou pelo colarinho, dando dois socos seguidos em seus olhos. Por fim, o ergueu um pouco do chão e lhe deu um soco no queixo, fazendo-o cair para trás, quase desacordado.

- Foi uma boa briga, White. Nada como lembrar se dos velhos tempos, não é? – riu, pegando sua jaqueta com e lhe dando um beijo na testa. Ela sorriu. O comparsa de Thompson fez sinal para que eles o seguissem e eles o fizeram, mas não sem antes chutar a barriga de Josh; que continuava no chão. a abraçou de lado, rindo.
- deve ficar aqui e você, , deve ir até a próxima quadra. Thompson está lhe esperando.
- Não vou deixá-la aqui com você. – deu os ombros, incrédulo.
- Não acho que ela gostaria de ver as próximas cenas... – O homem disse e engoliu seco.
- Quem escolhe o que tem de ver ou não sou eu! – disse, irritada.
- Fique, . – sussurrou, virando-se para encará-la. – Eu vou ficar bem. – mentiu para si mesmo. Só por um milagre aquilo aconteceria.
negou com a cabeça, já com os olhos marejados.
- ... – sussurrou, respirando fundo.
- Shh. – sorriu fraco, pegando seu rosto entre as mãos e beijando-o por toda sua extensão. – Eu te amo. – disse, antes de selar os lábios aos dela.
- Eu te amo. – disse entre o beijo. – Nos vemos logo. – lhe deu um beijo rápido e ele assentiu, sorrindo.
- Quase fui capaz de me comover. – o homem ironizou. – Thompson não tem todo o tempo do mundo. – fez sinal com a cabeça. assentiu e saiu, acenando. sorriu fraco, acenando também.

(Play na 2!)
’s POV
Eu me sentia caminhando para a morte. Cada passo dado era como se a vida fosse se esvaindo. Por míseros segundos, fui capaz de me lembrar de toda a minha vida. Melhores e piores momentos. Havia valido a pena, afinal. Eu deixaria dois pedaços de mim na terra.
Dei um último passo e avistei Thompson de costas, pigarreei e o vi virando-se para mim. O maldito sorriso estava ali. O maldito sorriso que antecedia a morte de algum de seus empregados, era sempre assim. Apesar dos três anos que passei sem ser mais um de seus robôzinhos, eu reconheceria aquele sorriso em qualquer lugar ou época. O sorriso decidido e frio de Thompson.
Se eu pudesse avaliar a minha vida, de certa forma, tudo havia sido sobre aquele homem que agora estava à minha frente. A primeira guinada, em que todos pareciam pequenos perto de mim. O poder que aquele homem havia me dado. O sentimento de ódio que havia plantado em meu coração, fazendo-me não ter piedade de ninguém, seja ele quem for. Fora, também, por sua culpa que minha eterna havia morrido. O maior sofrimento de minha vida, fora sua culpa. E, ao mesmo tempo, como que por um castigo para com tudo o que havia feito, eu me perdi apaixonando-me por sua filha. Dentre bilhões de mulheres no mundo, era ela. Era ela aquela mulher que havia me despertado sentimentos que eu nunca imaginei que poderiam existir. Eu a amava. Oh... E como amava. fora o amor da minha vida. "Apenas um minuto é necessário para que algo se torne eterno". Seja lá quem tenha dito isso, ele estava coberto de razão. Entre anos, eu havia passado poucos meses ao seu lado. E foram esses meses que fizeram minha vida ter valido a pena. Eu não me importaria se iria morrer hoje, nesta mesma hora ou minuto. Se eu pudesse escolher entre viver uma vida inteira sem e/ou Aaron, ou ter estes poucos momentos com os dois, eu não teria dúvidas. Uma vida sem amor, é uma vida perdida.

- Uma... – enumerou nos dedos – duas, três vezes... Você me desafiou três malditas vezes, ! Você é burro ou o quê?
- Provavelmente, sim. Mas, sabe, cada uma dessas vezes valeu totalmente a pena. – sorri desafiador. Eu já estava na merda mesmo, não estava?
- Nem há minutos de morrer você tira esse tom sarcástico? E sim, minutos de morrer, porque dessa vez não vou deixar passar... Sem interrupções. – sorriu, tirando uma arma da parte de trás da calça. Engoli seco. – Ou você acha que escolhi esse lugar à toa? – olhou em volta. Estávamos no que parecia uma montanha, o chão era arenoso e cheio de pequenos buracos. Totalmente deserto. O lugar perfeito para passar despercebido por todos.
- Você pode até me matar, Thompson...
- Eu vou. – me interrompeu.
- ... Mas meu sangue vai continuar por aí. – continuei. – E agora, uma criança que será a mistura do meu sangue com o seu... – ri, aquilo não deixava de ser engraçado. Um humor negro, talvez. – O destino e suas peças. – dei os ombros. O rosto dele se enfureceu completamente e eu suspirei, sorrindo.
- O importante é que o mentor não estará mais aqui para ensinar seus discípulos. – ergueu a arma em punho. Engoli seco e fechei os olhos. Era agora. Esperei pelo momento em que sentiria a bala entrando em meu corpo, me apagando completamente. Mas ele não aconteceu. Ao invés disso, ouvi um grito alto.
- Não!
Fechei os olhos com força, eu reconhecia aquela voz. A reconheceria em qualquer ocasião, em qualquer momento, em qualquer dimensão ou Era. Ela não poderia estar ali. Ela não deveria estar ali.
- ! – gritei inconscientemente assim que vi Thompson virar a arma para ela, no susto.
- Pai, não! – gritou novamente, e, com isso, me virei em sua direção para tirá-la dali. Ela não podia carregar esta imagem em sua memória. Eu queria que ela se lembrasse de mim num momento bom, sorrindo, feliz, ao seu lado. E não sendo morto, pelas mãos de... Infelizmente, seu pai.
Contudo, tudo aconteceu como em câmera lenta. Quando dei os dois primeiros passos para correr, ouvi o barulho alto da bala saindo do cano da arma e os olhos de se arregalarem, em pânico. Não demorou mais de um milésimo de segundo até que eu sentisse a ardência em minhas costas e minhas pernas perdessem a força. Caí de joelhos no chão, a dor era insuportável e estava me matando. Literalmente. A feição desesperada de correndo em minha direção foi agonizante, e, como num último segundo de vida, vi sua boca se movendo e gritando meu nome. Seu rosto foi a última coisa que vi antes da escuridão tomar meus olhos.


Capítulo XXX


Música 1.Daughtry - No Surprise. Play quando eu avisar!
Música 2.Wonderwall - Oasis. Play quando eu avisar!

’s POV
A cena toda acontecera em câmera lenta. Ao me ver ali, virou-se para mim e tentou correr em minha direção, mas Thompson atirou em suas costas. Vê-lo ali, caído, desmaiado, foi como se levassem parte de mim. Meu peito queria explodir e eu queria morrer. Corri até onde ele estava de bruços e me ajoelhei ao seu lado, tentando acordá-lo sem sucesso. A poça de sangue no chão só crescia.
Ergui o olhar para Thompson, que respirava ofegante, acompanhando toda a cena.
- Eu te odeio! Eu te odeio com todas as minhas forças, Thompson, te odeio mais do que tudo no mundo! Eu tenho nojo de ser a sua filha, eu tenho repúdio de ter o seu sangue correndo em minhas veias! EU TE ODEIO! – gritei, chorando desesperadamente. estava morrendo em meus braços e eu não podia fazer nada para salvá-lo. Eu era uma inútil.
Alguns segundos se passaram e, eu já não sei se era fruto de minha imaginação ou estava ouvindo sirenes de policia. Pela reação do meu pai, não era miragem. Ele olhou para os lados desesperado e começou a correr até onde seus outros comparsas estavam. Entretanto, foi em vão. Graças a Deus os policiais o fecharam e o algemaram, assim como todos os outros comparsas. A quadrilha havia acabado. Tudo havia terminado e não estava aqui para ver.
Olhei para em minha frente e chorei ainda mais. Doía tanto vê-lo assim. Ele precisava sobreviver... Ele não podia me deixar. Não podia. Não tinha esse direito!
Alguns policiais vieram até mim e ligaram para uma ambulância, que chegou prontamente. O sol já começava a clarear, anunciando um novo dia começando. Eu já não me importava mais.
Senti dois homens segurando meus cotovelos, me levantando cuidadosamente. Agradeci mentalmente, eu já não tinha mais forças para ao menos falar. Devia estar em choque, ou algo assim. Os enfermeiros colocaram numa maca e levaram ao carro da ambulância. Tudo ainda parecia acontecer em câmera lenta, sem sentido algum. Eu via as bocas daqueles enfermeiros se mexendo enquanto me encaravam atônicos. Tudo que ouvia pareciam palavras embaralhadas, barulho sem significados. Olhei para ensanguentado na maca e meus olhos voltaram a se embaçar. A única coisa que importava agora era ele... Ele precisava ficar vivo. Ele havia me prometido.
Como num clique, o sentido voltou à minha mente. Encarei o rosto pálido de e me ajoelhei à sua frente.
- Você não vai morrer, está me ouvindo? Você tem um filho para cuidar e um que precisa conhecer. Tem uma mulher que te ama aqui pronta para viver uma vida feliz e totalmente ao seu lado. Você está proibido de apagar agora, . Você irá sobreviver e ainda iremos rir disso tudo, certo? Você não tem permissão para partir! Sinto muito querida eterna , mas você ainda não o terá ao seu lado! – olhei para cima, como se pudesse avisá-la. Aquilo poderia soar até ridículo, mas não era. estava proibido de me deixar. As lágrimas voltaram a invadir meu rosto quando um dos enfermeiros me segurou, fazendo-me me sentar novamente.
Os minutos intermináveis se passaram e chegamos ao Hospital do centro. Quatro enfermeiros vieram ajudar a tirar a maca de da ambulância e eu os acompanhei, aflita. Os homens o levaram até um corredor que dizia “Sala de cirurgia”.
- A senhorita só pode vir até aqui. Você pode fazer a ficha do paciente? – um dos enfermeiros me disse e eu assenti, ainda meio confusa.
- Só o salve. – sussurrei e o rapaz assentiu, sorrindo fraco.
Fui até a recepção e dei os dados necessários. Sentei-me na sala de espera e coloquei os pés sobre a cadeira, abraçando minhas pernas. Pela primeira vez na vida, eu me sentia perdida, sem rumo. Não sabia para quem pedir socorro, porque sim, eu precisava de socorro.
- ? – ouvi alguém me chamando e ao olhar para ver quem era, encontrei Steve. – O que aconteceu?
- Steve - sussurrei, sentindo o choro voltar. – Steve! – me levantei, abraçando-o.
- Você está bem? – ele disse, desfazendo-se do abraço.
- ... levou um tiro. – disse, ainda como se as palavras não fossem verdadeiras.
- Meu Deus! Como foi isso? Ele está bem?
- Eu não sei... – sussurrei, voltando a me sentar. – Eu sei que tivemos nossas diferenças, mas, por favor, você que tem carta branca para entrar e sair desses corredores; o ajude? Eu acho que ele está numa cirurgia agora, não sei bem, mas...
- Ei! Calma! – disse, tentando me acalmar. Ninguém conseguiria me acalmar agora, só . – Eu vou fazer tudo que estiver em meu alcance, ok? – suspirou. – Vou mandar algum enfermeiro te dar um calmante também. – assenti. Eu realmente precisava de algo assim ou teria um ataque cardíaco. – Fica bem. – sorriu fraco, saindo.

Olhei para o relógio e já fazia uma hora desde que eu havia chegado ao Hospital e não havia uma sequer notícia de . Aquilo estava me matando.

- ! – ouvi meu nome sendo gritado novamente e me virei para ver quem era. Sorri fraco ao vê-la ali. Audrey. – Ah, meu Deus! – ela disse, correndo até mim e me abraçando com força. – Eu já soube sobre o . Ele vai ficar bem, ok? – assenti. Aquelas palavras só me faziam chorar ainda mais. – Ah, amiga... – sussurrou, afagando meus cabelos. – Eu sinto tanto por tudo que têm acontecido na sua vida... Mas acabou. A quadrilha daquele maldito já foi pega e ele também.
- E se morrer, Audy? Nada terá valido a pena! NADA!
- É claro que terá. , você está livre de Thompson! Você terá paz agora.
- Nada mais importa. – dei os ombros.
- Senhora Thompson?
- Tia !

/'s POV

Ao ouvir aquela voz infantil, virou-se depressa para trás e encontrou Aaron, com um sorriso gigantesco no rosto, ao lado de um policial.
- Aaron – disse, como num sussurro. O choro voltou com força total ao ver aquela miniatura de ali, tão feliz em vê-la. – Ah, meu Deus! Meu amor. – se ajoelhou no chão, abraçando-o com força.
- Sodadi! – o pequeno disse, abraçando-a também. – Cadê papai? – olhou para Audrey e ela fez uma careta, sem saber como ajudar.
- O papai ta dodói, meu amorzinho. Mas logo ele vai estar bem. – sorriu fraco, abraçando-o novamente.
- Ele estava num orfanato próximo, senhora . – o policial disse e arregalou os olhos. – Bom, tenho que voltar com meu trabalho. Logo o delegado a chamará para um depoimento. – dito isso, ele saiu.
- Como você está, meu bem? – questionou, passando a mão nos cabelos levemente encaracolados da criança.
- To bem! Mas poque cês me deixaro lá com as ciancinha? Eu cholei muito!
- Oh, Deus... – sorriu fraco, pegando-o no colo. – Seu papai estava ajudando o Super Man! Você acredita?
- Po isso que ele ta dodói?
- É sim, meu amor. – sorriu seu humor, olhando rapidamente para Audrey. – Como você veio pra cá? Quem te avisou?
- Steve. – ela sorriu. – E relaxa, ele não te ama mais. Está com namorando uma enfermeira, algo assim.
- Fico feliz por ele. – suspirou, tentando sorrir encarando Aaron.
- Nada mais importa ainda, ? – a amiga questionou, mudando de assunto e segurou a pequena mão de seu enteado. – Acho que você tem uma bela importância nos braços.
- Eu te odeio, Audrey. – brincou, sorrindo e beijando a mãozinha do pequeno.
Não demorou mais do que vinte minutos para que Steve viesse até elas. O coração de acelerou e ela jurou que fosse capaz de perder o bebê a qualquer momento.
- O doutor que estava fazendo a cirurgia no me deixou assistir, por isso vim aqui lhe dizer como tudo está.
- Sem discursos morais, Steve, por favor, seja o mais claro e rápido possível. – sussurrou, para que Aaron não ouvisse. O filho de brincava com Audrey.
- O estado dele é critico. – sentiu as pernas perderem as forças e se sentou, sentindo o choro lhe invadir novamente. – Além da bala alojada à nuca, ele estava muito debilitado... Desnutrido, com graves escoliações pelo corpo. Perdeu muito sangue... Várias complicações.
- Chega. Chega... – umedeceu os lábios, negando com a cabeça. – Eu posso vê-lo?
- Através de um vidro, sim. Siga-me. – o fez, ainda meio distante da situação. Ela não conseguia acreditar no que estava acontecendo. – Qualquer coisa nos avise. – ela assentiu e olhou para frente.
estava numa cama, cheio de aparelhos deixando-lhe viver. Seu coração pareceu se desfazer em pedaços ao ver aquilo. Doía. Doía mais do que qualquer coisa. Saber que há horas ele estava brigando com um cara, em sua melhor forma, e agora estava ali, à beira da morte... Era tudo tão inacreditável. Ele estava cheio de vida.
As lágrimas voltaram a escorrer sobre seu rosto, e ela soluçou, tocando o vidro à sua frente, como se pudesse tocá-lo. Como queria tocá-lo... Lhe dizer que o amava, nem que fosse por uma ultima vez.
estava sentada na UTI, ainda em frente ao quarto onde estava, olhando-o através do vidro. As lágrimas não a tinham deixado por um só minuto enquanto ela estava ali. Toda a sua história com passava como um filme em sua mente, desde a primeira vez que o vira, quando ele lhe defendera de seu ex-namorado babaca – ela riu ao se lembrar da situação –, até o ultimo minuto que passou com ele. Quando disseram “eu te amo” um ao outro, da forma mais verdadeira que encontraram. Talvez ele sabia que seria uma despedida, afinal.
Cerca de duas horas já haviam passado e, ao ouvir um barulho alto no quarto, ela se levantou e olhou pelo vidro. A imagem que vira foi a pior que imaginou: o aparelho onde mostrava os batimentos cardíacos de , havia, simplesmente, estabilizado. O coração dele estava parando.
- , ! ! – gritou, batendo a mão contra o vidro. Alguns médicos entraram na sala e ela se desesperou. – ! – gritou novamente, aos prantos. Suas mãos grudaram no vidro e ela fechou os olhos, com a testa encostada no mesmo.

(Play na 1!)

’s POV
Abri os olhos e toda a dor se esvaíra. Eu caminhava sobre um gramado verde úmido. Algumas crianças corriam em minha volta e foi impossível não me lembrar de Aaron. O céu estava num azul puríssimo, sem alguma nuvem sequer. Ao olhar para minha esquerda, vi uma cachoeira, e aquele era o único barulho que se podia ouvir. Da água batendo sobre as pedras. Um cachorro passou correndo por mim e eu ri. Aquele lugar era tão incrível que eu jamais imaginei existir.

- . – ouvi meu nome e me virei para ver quem era. Meus olhos encheram-se de lágrima assim que a vi. Ela abriu os braços e eu corri para abraçá-la. – Ah, que saudade! – suspirou, e eu sorri, me afastando dela. Ela sorriu também. – E não, você não morreu... Ainda não. Na verdade, depende de você. – franzi o cenho. Do que ela estava falando? – Você decide se quer viver ou continuar aqui.
- Eu estou cansado, ... – respirei fundo, piscando longamente. – Eu não tenho nem trinta anos ainda e parece que já vivi oitenta.
- Você ainda nem viveu, . Você somente existiu... Há um mundo novo para conhecer e desbravar. Há pessoas a quem você deve cumprir promessas... – sorriu novamente. – Há um mundo feliz do qual você ainda nem teve o prazer de viver.
- E você? Também não foi justo com você não ter vivido...
- Eu tive uma missão, . Eu não morri a toa. – acariciou meu rosto e eu fechei os olhos. – Lembra? Você foi o meu livro completo, eu só fui alguns capítulos do seu.
- Não é verdade. – suspirei, abrindo os olhos. – Eu sinto tanto a sua falta.
- Eu sempre estarei e sempre vou estar com você . – fechou os olhos, grudando sua testa na minha.
Minha consciência sumiu, dando lugar a uma espécie de filme.

“- Obrigado por ter vindo passar o natal com a gente, Dina. É muito gentil da sua parte. – disse, enquanto segurava o filho e encarava sua babá, que devia ter uns cinquenta anos.
- Isso não é nada, senhor ! Minhas filhas são adultas e estão com seus maridos... Além do mais, quem tem que agradecer aqui sou eu, é uma honra o convite. – disse, meio sem graça.”

“- Você não tem nada do que agradecer. – sussurrou, afagando os cabelos dela. – Só seja feliz. Faça a sua nova família feliz. – afastou o rosto, para encará-la. – Aproveite como eu não pude... – uma lágrima escorreu pelo seu rosto e ela fechou os olhos brevemente. – Você sabe, - suspirou, abrindo-os. – viver como enfermeira num hospital psiquiátrico não é como um sonho de vida. – riu, observando os olhos atentos de .
- Por que está chorando? Não chora senão eu também vou. – deu um leve tapa no braço dela. Elas riram.
- Estou chorando porque você se tornou uma amiga incrível e agora está indo embora... – fungou, abraçando-a brevemente.
- Você também foi, Jenna! E sem esse papo depressivo! Nós ainda vamos nos ver, ok? E você vai ser uma das minhas madrinhas de casamento.
Jenna riu, balançando a cabeça.
- Eu vou estar lá. – piscou, sorrindo”

“- Desculpe atrapalhar, Sr. – engoliu seco, ofegante. – Sou Ellie, fui contratada por Garcia há alguns dias...
- Como Garcia teve a audácia de contratar alguém sem que eu autorizasse?! – questionou, incrédulo, encarando Josh; que deu os ombros. – Certo. O que quer, bonitinha?
- Estão chamando todos no salão! Algo sobre alguma invasão... É melhor os senhores irem rápido. Parece ser sério, me pediram para chamar todos os seus homens. Eu cuido dele. – sinalizou com a cabeça, apontando para .”

“- Aqui o endereço. – buscou um pequeno pedaço de papel no bolso e entregou para o taxista. – Por favor. – sorriu cordialmente.
- Certo. – olhou de soslaio para o papel. – Podemos ir por outro caminho? Soube que está tendo uma parada policial à dois quarteirões e não estou com a mínima vontade de enfrentar toda uma burocracia.”

E quando se afastou de mim, toda a minha consciência voltou. Abri os olhos – marejados – devagar e sorri.

- Você sempre esteve lá. – sussurrei, vendo-a assentir sorrindo. – Você sempre me protegeu, mesmo de longe...
- E agora chegou a hora de você andar com suas próprias pernas. Ser feliz por si só. Está na hora de “descansar em paz”. – ela riu, tocando em meu rosto novamente. – Seja feliz, . Me faça feliz. – sua mão desceu ao meu peito e eu senti um choque no local. – Viva. – outro choque, com mais proporção. Fiz uma careta, sentindo meu peito pular. – Eu amo você. – sorriu, e, um choque ainda maior tomou conta do meu peito, fazendo-me gritar. Fechei os olhos com força e a dor acabou, me trazendo uma incrível calma.

/’s POV

abriu os olhos devagar, vendo tudo embaçado, mas ainda sim melhor do que a escuridão. O ar voltou com força à seus pulmões, fazendo-o sentir-se vivo. Ele sentiu um toque em sua mão e olhou para o lado devagar, encontrando a pessoa que mais desejava no momento. Ela chorava como uma criancinha, mas sorria também, como se estivesse aliviada. riu em meio às lágrimas, encarando o rosto corado de . Ele estava vivo novamente, de fato.

- Papai!

ouviu aquela voz suave e seus olhos fecharam instantaneamente. Uma onda de felicidade invadiu seu peito, e, quando abriu os olhos novamente, encontrou Aaron nos braços de , os dois sorriam estonteantes e não foi capaz de fazer o contrário.
- Você nunca, nunca, nunca, nunca faça isso de novo, ok? Você não tem o direito de nos deixar, . Está proibido. Sinto muito. – disse, levando uma das mãos ao rosto do namorado, acariciando-o.
- Você é quem manda, senhorita. – ele sorriu, virando um pouco o rosto para beijar a mão dela. – Eu senti tanto a sua falta, campeão.
- Eu também! – o pequeno disse, fazendo menção para se abaixar e o fez. Ele beijou a testa do pai, que fechou os olhos e sorriu emocionado.
- Eu cheguei bem perto, . – fez referência a morrer e ela respirou fundo, colocando Aaron no chão.
- Você nasceu de novo, . Há três dias seu coração parou e, do nada, você voltou com uma melhora milagrosa. Até os médicos duvidaram de que isso fosse possível... Você passou da UTI para o quarto em dois dias. – sorriu fraco, descendo um pouco o rosto para lhe beijar rapidamente. – Acabou, meu amor. O pesadelo terminou. – sussurrou, para que Aaron não escutasse.
- O quê?
- Thompson e sua quadrilha foram presos. – arregalou os olhos, surpreso. – E, caso não seja o bastante, Thompson faleceu ontem de manhã numa briga na cadeia, tentando uma fuga. – disse, sorrindo fraco.
- ... – ele mordeu o lábio, ainda com os olhos marejados. – Eu sei que ele era seu pai e...
- Ele havia deixado de ser meu pai há muitos anos, . Eu estou bem, estou aliviada. Tudo acabou, de fato.
fechou os olhos e deixou o choro aliviado aparecer. Aquele era o choro mais feliz que já tinha dado em toda a vida. O pesadelo havia chegado ao fim, finalmente. Ele poderia formar uma família e ser feliz... Ser feliz, sem preocupações. Poderia ter uma vida normal.
- Obrigado, obrigado, obrigado! – disse, em voz alta. riu, secando as lágrimas que rolavam por seu rosto. – Eu sou o cara mais feliz do mundo, ! Eu juro que sou. – abriu a mão para que ela pudesse segurá-la. – Filho? – chamou, esticando a mão também para que o pequeno pudesse segurar alguns dedos. Com a mão perto da barriga de , ele e a acariciou. – , eu estou deitado numa maca, e não ajoelhado. Eu tenho uma agulha na mão que está levando soro para minha veia, e não uma caixa de joias. Estamos num quarto de hospital e não num jantar a luz de velas. – mordeu o lábio, sabendo o que veria a seguir. – Não tenho um emprego, tenho a ficha suja com a polícia, já sou pai e não sei fazer outra coisa a não ser atirar e lutar. Já assassinei pessoas e sou cheio de tatuagem. Não tenho faculdade e nem ao menos uma casa... Não sou o príncipe que você sempre sonhou. – ele riu de sua própria desgraça, assim como ela. – Mas tenho muita vontade de fazê-la feliz... De aprender e ser um homem de verdade. O homem que te merece. E, se você me der à oportunidade de tentar... Você aceita se casar comigo?


Epílogo


(Play na 2! hihi) “- Sim, eu aceito! – disse, ao pé do último degrau da pequena mesinha onde um juiz de pais estava. O vento batia sobre seus cabelos, bagunçando o penteado feito com tanto esmero. Se casar na praia não havia sido uma idéia tão boa assim... Bom, o que era um cabelo desarrumado comparado àquele pôr-do-sol?
- Agora, então, vos apresento o Senhor e a Senhora ! Pode beijar a noiva, !
O casal sorriu cúmplice e se aproximaram, sendo interrompidos pelo mínimo detalhe da enorme barriga de . Eles riram e, em meio a sorrisos, se beijaram.”

olhou para cima, vendo as luzes redondas no teto do hospital e apertou ainda mais a mão de . A dor era quase insuportável, mas ela tinha certeza de que valeria a pena. Era a dor mais prazerosa que já sentira. Ao ouvir mais palavras de incentivo do marido, ela fez força pela última vez. Alguns segundos se passaram e um chorinho de bebê invadiu o quarto. olhou para a criança e mordeu o lábio, enquanto chorava emocionado como um pai babão.
- É uma linda menina! Parabéns!”

O sol das dez da manhã brilhava no céu, iluminando o rostinho das coisas mais preciosas de sua vida. Aaron e Angel brincavam na caixa de areia, próximo aonde a toalha vermelha quadriculada cheia de guloseimas estava, em sua frente e de sua esposa, .
- Não coma areia, Angel! – brigou, se levantando e indo até a pequena, que fazia uma careta enquanto Aaron ria descontroladamente. riu também. – Não ria, idiota. – ela mesma riu, batendo com uma toalhinha nas costas do marido.
Aaron se levantou e foi até o balanço.
- Não vá muito longe, Aaron! – pediu e ele assentiu, sentando-se ali. O balanço começou a se mover sem ajuda e franziu o cenho ao ver o filho sorrir olhando para trás, não havia ninguém ali. Ele se levantou e, num piscar de olhos, viu sua eterna sorrir para ele. Contudo, no próximo segundo, ela havia sumido. Uma luz forte tomou seus olhos, como forma de fresta do sol e ele sorriu. Ela sempre estaria ali. – Aaron, meu amor, vem comer! – chamou e o pequeno saiu do balanço.
- Já vou, mamãe! – disse, enquanto corria na direção dos pais. – Papai, a tia da escola disse que eu desenho muito bem! – sorriu, orgulhoso de si mesmo.
- É mesmo, campeão?! – disse animado e o filho assentiu. o olhou e sorriu. – Parabéns! – Aaron sorriu estonteante e colocou um biscoito na boca, mastigando-o.
pegou a filha nos braços e a ergueu contra o sol, fazendo-a sorrir, ainda sem dentes. Ele colocou a boca na barriga da bebê e fez cócegas.
- Quem é a princesa do papai?!
- E quem é o papai babão? – imitou a voz dele. riu, colocando a filha em seu carrinho. – Eu te amo. – sussurrou, sorrindo carinhosa.
- Eu te amo, . – sussurrou também, lhe dando um beijo rápido.
- Vejam se não é o casal 20? – Audrey disse, ao lado de Phillip. Eles chegavam para o piquenique no parque junto da família .
- Vejam se não é a gorda de Nova Iorque?! – brincou, fazendo menção à gravidez dela. Audrey lhe mandou o dedo do meio e todos riram.
- Eu ia até falar algo, mas me lembrei das habilidades do e... – Phillip disse, fazendo todos gargalharem. Audrey lhe deu um tapa no braço, brincando.
- Meu marido é um gentleman, cala a boca Phillip. – mostrou a língua, virando-se para beijar de novo.
deu os ombros, convencido, e todos voltaram a rir.
Já fazia quase dois anos desde que todo o pesadelo havia terminado e tudo havia ficado bem. Hoje, as maiores preocupações do casal eram para que faculdade seus filhos iriam e qual filme veriam naquela semana. A rotina estava longe de ser motivo de briga, apesar dos filhos, sempre arrumavam um tempo para si. Viagens era o hobby favorito da família, que planejava conhecer cada canto do mundo.
O processo de fora arquivado, fazendo-o retomar seu emprego na faculdade. Agora, além de professor, era aluno. Estava no meio do seu curso de Direito.
e tinham uma vida clichê, eram uma família como qualquer outra e isso não os incomodava em nada.
Aquele era o final mais clichê que eles poderiam pedir. Mas, acima de tudo, o mais feliz. Bom, final não era bem a melhor palavra que eles preferiam usar. Mas sim, “o início de uma nova era”. O início de uma vida cheia de alegria, amor, paz, e, principalmente, clichês.


FIM



Nota da autora (31/08/14): Foram 287 páginas, somando 30 capítulos, e pouco mais de um ano de história. Eu até planejava escrever uma nota não tão grande, mas acho que é meio impossível. Pra começar, acho que seria interessante contar para vocês um pouquinho de como a história começou.
Eu estava focada em escrever uma história diferente de tudo, sem o mínimo clichê (há!). Foi então que pensei em “Angel”(achei mais do que digno essa homenagem aqui no finalzinho <3), que seria o nome original da fanfic. Assisti ao clipe “Lullaby” da banda Nickelback e pensei em tudo: a principal morreria e o principal tendo de cuidar do filho; sozinho, enfrentando as dificuldades de viver sem o amor de sua vida e sendo pai de primeira viagem. Mas... De verdade? Não me agradava aquela história. Ou pelo menos, não exatamente como estava. Foi então que assisti pela milésima vez “Sr. e Sra. Smith” e, como numa brainstorm, toda a idéia veio à minha cabeça. Eu iria fazer diferente de tudo que já tinha lido e pensado: a principal só aparecia no capítulo três ou quarto, e teria o mesmo nome de uma personagem secundária no inicio. Pensei em inúmeros xingamentos que receberia (e recebi), mas fui em frente. A idéia da principal real ser filha do pior inimigo do principal também era genial. Seria como uma vingança! A cada dia me vinha um novo pedacinho da história na cabeça e, quando vi, já estava pensando num nome. “Wonderwall” por quê? Li uma vez que a tradução seria “protetora” (no letras.terra!), e, BAM, era este o nome. O principal sempre teria como protetora a sua melhor amiga. Tudo aconteceu tão rápido que quando vi, já estava mandando o primeiro capítulo pra Brunna, a beta da fic, que, por sinal, merece um parágrafo só dela:
Brubs! Minha linda, muito obrigada por sempre ter me ajudado, aconselhado e opinado sobre o que seria bom ou não para a fanfic. Você se tornou uma grande amiga e que eu pretendo manter ainda por muito tempo! (e precisa betar as minhas futuras fanfics também, né? Puff)
Mas, voltando: como muitas de vocês já sabem, e eu já cansei de repetir isso no grupo, eu comecei em uma comunidade no falecido Orkut, a Webs e Fanfics Brothers, há muito, MUITO tempo. Pra ser mais precisa: cinco anos! As costas e os dedos já doem... ahahahah, mas então, eu não tinha mais do que cinco leitoras mas isso já me deixava imensamente feliz, porque eu estava fazendo algo que amo, e além de tudo, fazendo a vida dessas meninas pelo menos um pouquinho mais feliz. Ganhei amigas incríveis de lá e agradeço muito por isso! Obrigada, meus amores. <3
Com poucos meses, Wonderwall entrou para o top 10 das fanfics mais lidas da semana no FFOBS e meu coração se encheu de alegria! Num site com centenas de fanfics, a minha havia sido a quarta mais lida da semana? É FELICIDADE DEMAIS! Ahahaha, juro pra vocês, eu comecei a pular que nem uma louca em casa, fui contar pra família toda ahahahahah. Então, MUITO, MUITO, um gigantesco obrigada a vocês, queridas leitoras! Cada comentário, cada palavra de apoio de vocês foi muito importante pra mim. Vocês colocaram centenas de sorrisos no meu rosto. Obrigada por toda a cumplicidade durante Wonderwall, foi um prazer imensurável escrever essa história (que se tornou a minha favorita até hoje), ainda mais para leitoras tão assíduas como vocês. Espero, de todo o coração, que tenha gostado da história que eu tenha feito vocês feliz um pouquinho.
Nos vemos MUITO em breve em Ironm4x! Sim, é a minha nova fanfic. Eu vou deixar o link aqui embaixo, caso alguém queira ler! (leiam, vai? :3 ahaah) Um beijo gigantesco à todas, um abraço de urso, e o meu eterno "obrigada"! ♥
@anamercia

Nota da beta: Gente, to apenas sendo intrusa, mas eu não poderia deixar de parabenizar a Ana, essa pessoa maravilhosa! Quero dizer que foi uma honra - e ainda é - ser sua beta e, além de tudo, próxima a você, de certa forma. Você é uma autora maravilhosa, e betar Wonderwall foi um máximo <3. Agora, temos Ironm4x pela frente, e espero que suas leitoras migrem para lá também, hahaha. Parabéns por esse trabalho, que mais sucesso venha em um futuro próximo.

Página da fanfic no facebook
Grupo da fanfic no facebook



comments powered by Disqus




Qualquer erro nessa atualização e reclamações somente no e-mail.



TODOS OS DIREITOS RESERVADOS AO SITE FANFIC OBSESSION.