Always And Never


by Ali

 

Natal.
Compras e presentes.
Frio e neve.
Comida. Muita comida
Mas não é por isso que o natal é o melhor feriado do ano. O natal é o melhor feriado do ano porque é quando nós viajamos até a casa dos meus tios.

Sorri sozinho e dei uma baforada no vidro do carro para que ele ficasse ainda mais embaçado. Já estava bastante, por causa do frio e de nossas respirações.
Estava ansioso.
Minhas pernas batiam no ritmo da música que tocava nos fones do meu ipod.

- ! – A voz da minha mãe foi mais alta do que a música.
- Que foi, mãe? – Perguntei olhando para seu cabelo loiro e curto no banco a frente do meu.
- Você desligou a cafeteira como eu te pedi?
- Desliguei, mãe. – Respondi a mesma coisa pela terceira vez. Minha mãe e sua paixão pela cafeteira. Sério, acho que ela trocaria eu e minha irmã pela cafeteira.
Ela e meu pai continuaram a conversar sobre qualquer assunto chato que não me interessava. Aumentei o volume da música para ter aquela sensação de que estou em um filme e a música faz parte da trilha sonora. No meu caso, eram algumas músicas antigas do Gang Of Four e no meu filme, eu sempre tenho um bando de garotas fit do meu lado.

Olhei para o lado e vi Lucy, minha irmã mas nova, praticamente desmaiada e babando no banco do carro. Ri e voltei a olhar para a janela.
Lucy é diferente da maioria das garotinhas de 9 anos de idade. Não é insuportável nem pentelha e eu não tenho vontade de socá-la (ok, de vez em quando eu tenho sim). Meus amigos vivem se matando com as irmãs mais novas. Lucy é mais madura do que eu e é ela quem me aconselha quando eu acabo me metendo em merda, o que é bem comum.

Como estava demorando para chegar.
A estrada estava branca, só se via o asfalto nas marcas deixadas pelas rodas dos carros. Não nevava mais, mas o céu estava escurecendo já que era fim de tarde.

Netherby não ficava tão longe de Londres, onde eu moro, mas sempre me parece que o tempo não passa quando estou indo para lá. Meus tios moram nessa cidade pequena, onde há espaço para imensas casas estilo filme americano serem construídas e as pessoas o cumprimentam na rua.
Muito estranho, na minha opinião de cidadão londrino.
“Meus tios”, é forma de falar. Eles não são realmente meus tios (o que eu agradeço muito), mas é como se fossem. Não temos parentesco sangüíneo, isso que eu quero dizer. Meu pai e meu tio são amigos desde as fraldas e quando meus avós morreram num acidente de carro, os pais do meu tio passaram a cuidar do meu pai.

Meu celular vibrou no meu bolso. Era uma mensagem de Becky, para variar.

“Me liga quando chegar na casa dos seus tios, está bem, amor? <3”

Desliguei o celular sem responder nada. Não tinha cabeça para Becky e seus coraçõezinhos.
Eu e Becky namorávamos há menos de um mês. Não estava apaixonado nem nada e imagino que ela também não. Era mais uma coisa de comodidade, sabe?

A casa grande e azul com detalhes em preto e branco foi se aproximando. Eles a enfeitavam toda para o natal. Ela estava contornada por luzinhas brancas e havia um boneco de neve no jardim.
Já estava escuro quando meu pai estacionou o carro em frente a porta de entrada. Tinha começado a nevar de novo.
Olhei para a terceira janela da esquerda para a direita do segundo andar, as luzes estavam acesas, mas não conseguia identificar nada lá dentro.
Mal sai do carro e já ouvi aquela barulheira. Cara, aquelas pessoas já ouviram falar em discrição ou lei do silêncio?
Meus tios já estavam ali nos abraçando e ajudando a carregar as malas. Minhas priminhas, Louise e Sam já faziam a maior bagunça para acordar Lucy.
O frio parecia cortar minhas bochechas. Odeio frio. Amo neve. Acho que deveria haver neve no verão.

- Fizeram boa viagem? – Tia Audrey perguntou colocando uma mão em meu ombro e outro no ombro da minha mãe.
- Fizemos sim, tia. – Respondi entrando na casa e agradecendo ao cara que inventou calefação interna. Ele é O cara, você não está entendendo.
Estiquei a cabeça para conseguir uma visão geral das salas, mas não vi nada do que estava procurando.
- Seu filho está um moço, Kate! – Minha tia falou para minha mãe e eu sorri metade envergonhado, metade de saco cheio.
Maldita puberdade. É impressionante como adultos não sabem lidar com ela.
Eu tenho 17 anos, será que elas queria que eu ainda fosse aquele franguinho que eu era antes?
- Ele está, não está? – Minha mãe falava toda orgulhosa. Eu queria vomitar. Coloquei as malas no chão só para ter alguma coisa para fazer. – As meninas não param de ligar lá em casa atrás dele!
Eu tenho que parar de dar o telefone de casa para garotas. Elas não se controlam e ficam ligando o dia todo! É impressionante! Nem tenho tanto assunto assim para falar com nenhuma delas. Prefiro encontros pessoais, se é que você me entende.
- Garanhão! – Meu tio me deu um forte tapa nas costas e eu praticamente cai no chão. Cara, queria ter metade da força que ele tem.
Quando me recuperei, voltei a olhar para frente e a vi descendo a escada. Surgiu um sorriso tão grande no meu rosto que eu até tentei disfarçar para não ficar muito ridículo, mas não deu.
Ela também sorria, mas ela não estava ridícula. Ela tinha aquele sorriso que eu tanto adorava, aquele que dá a impressão de que ela controla tudo. Eu sei, isso não é exatamente algo apaixonante, mas é muito hot.
Seu cabelo estava mais curto, sua maquiagem mais forte e seu corpo me fazia esquecer de que estava entre meus pais e os pais dela. Velho, como ela era gostosa.
Ela parou no último degrau da escada e segurou no corrimão, como que observando toda aquela bagunça. Nossas mães conversavam qualquer coisa sobre como é difícil achar uma empregada competente nos dias de hoje, nossos pais falavam sobre futebol e nossas irmãzinhas corriam para lá e para cá com suas Pollys na mão.
Lucy é madura e tal, mas ainda faz escândalos por suas Pollys e Barbies. Vai entender...
Ela cumprimentou todos da minha família, demorando um pouco mais ao chegar na minha mãe, que queria saber a marca de delineador que ela usava.
Sério, às vezes parece que minha mãe faz essas coisas só para me torturar.
Mal podia esperar para que ela se aproximasse.
Ela finalmente chegou em mim. Eu só queria beijá-la. Ela sorriu, docemente, dessa vez, e envolveu meu pescoço com seus braços. Passei minhas mãos na cintura dela e me aproximei mais ainda. Fechei os olhos sentindo o cheiro bom de xampu que vinha do cabelo dela.
- Oi, . – Ela falou no pé do meu ouvido e eu me arrepiei.
Só ela faz eu me arrepiar. Becky não faz. Nenhuma outra garota faz.
- Oi, .
Ela não se arrepiou, é claro, e depois me soltou. Ela sempre estava no controle. Eu era sempre o controlado.
Não falamos mais nada, mas tenho certeza que se alguém reparasse no jeito que eu olhava para ela, eu teria problemas.

Levamos as malas para cima e passei mais devagar pelo quarto dela, tentando ver se tinha alguma coisa diferente. Estava escuro e a única coisa consegui ver com a luminosidade que ia do corredor até lá foi o imenso quadro em cima da cama com a fotografia tirada por Henri Cartier-Bresson.

O bom da casa dos meus tios, é que tem muitos quartos vagos. Tinha a sorte (põe sorte nisso) de ter um quarto só para mim quando ia para lá.
Acendi a luz, coloquei minha mala e minha mochila no chão. Sempre ficava naquele quarto. As paredes tinham papel de parede xadrez, a cama fofa, com um dos melhores colchões que eu já conheci na vida, estava forrada com uma colcha vinho. Havia travesseiros, travesseirinhos, almofadas e mais almofadinhas lá em cima.
Deitei ali com a barriga para cima assistindo à neve cair pelo vidro da clara bóia e tentei controlar meus hormônios.
“Ela é sua prima, puta que pariu.”
Falava a mim mesmo, mas logo depois também falava:
“Ela não é exatamente sua prima, afinal vocês não dividem o mesmo DNA nem nada do tipo...”

Liguei o celular e respondi qualquer coisa vaga a Becky.
Eu era um péssimo namorado. Lá estava eu, amaldiçoando cada peça de roupa que minha prima vestia.
Já tinha perdido as contas das vezes que tinha traído Becky.
Não nasci para o compromisso. Quando vejo, já estou com outra. Não faço de propósito nem nada.

Ouvi a voz de vindo do andar de baixo. Sem pensar duas vezes, me levantei e corri para a cozinha, onde todos estavam. Ela e minha mãe ajudavam minha tia com os últimos detalhes da ceia enquanto meu pai e meu tio estavam sentados na mesa tomando whisky. As meninas tinham montado o salão de beleza da Polly ou qualquer coisa parecida bem no meio do caminho.

- ! – Meu tio me chamou e sai do batente da porta, onde estava observando todos.
- Hei, tio! – Ele encheu um copo com gelo e whisky e me estendeu. Peguei o copo e me sentei com eles, mas sem tirar os olhos da minha prima.

Sério. Angelina Jolie? Kate Beckinsale? Fergie?
Barangas perto dela.

- Robert! – Meu pai falou fingindo estar bravo. Sim, fingindo, meu pai não se importava que eu bebesse, mas tinha que manter as aparências na frente da minha mãe.
- Faça-me o favor, Mark! Ele faz 18 anos logo! – Meu tio respondeu. Parecia tudo ensaiado. Ri e olhei para minha mãe que nem notava minha existência. – Elas nem estão reparando. – Meu tio falou baixo e apontou para as mulheres. – Já pode parar com esse teatrinho?
Sim, elas nem reparavam. Aquilo que me incomodava um pouco. Como ela sempre me ignorava e como aquilo sempre fazia eu querê-la mais ainda.
- Pode, mas esconde esse copo se ela virar para cá, !
Concordei com meu pai enquanto observava se esticar toda para alcançar algo no alto do armário. Sua blusa subiu alguns centímetros, deixando parte de sua barriga e de suas costas a mostra. Mordi o lábio sonhando acordado. Dei um gole na minha bebida e me obriguei a desviar o olhar.
Tinha que tomar cuidado, não podia deixar esse tipo de coisa acontecer. Estava comendo com os olhos bem do lado do meu pai e do pai dela.
Entrei na conversa sobre caça que eles estavam tendo.
Eu juro que nunca serei um cara de meia idade com hobbies tão toscos quanto os deles.
Queriam até me arrastar para uma temporada de caça no interior.
- Acho que não vai dar, vou estar em semana de provas na escola. – Menti e os dois falaram um “Ah” triste. Quase comecei a rir.
Nunca, na minha vida, que passaria uma semana assassinando animais. Cara, isso é uma coisa selvagem, atrasada e que não faz sentido nenhum para mim.

Meus olhos ainda procuravam , não conseguia me conter. Meu corpo se aquecia quando percebia os olhos dela em mim.

Pouco antes da meia noite, todos nos juntamos na sala de visitas, onde estava a árvore de natal, e trocamos os presentes. Como sempre, eu me dei mal. Quatro camisetas brancas e básicas, uma furadeira (como se eu consertasse muita coisa) e o pior de todos, um desses sprayzinhos para limpar óculos. Adivinhe quem me deu o sprayzinho?
Sim, .
Ela é realmente esperta, cara.
Eu dei um isqueiro para ela porque eu também sou esperto, mas tinha um pacote na minha mochila esperando pelo momento certo.
Mas no geral, não posso reclamar dos meus presentes, afinal, meus pais já tinham me comprado um computador e minha tia tinha colocado duas notas de 50 libras na minha mão.
Já ia poder comprar uma prancha nova pro meu skate.

Meu celular tocou. Vi o nome de Becky no identificador de chamadas. Ia deixar tocar e não atender, mas minha mãe me olhava com aquela cara que ela faz quando acha alguma coisa bonitinha. Ela acha o fato de eu namorar uma garota bonitinho. Claro que ela não sabe o quanto eu não presto. Se soubesse, eu provavelmente ganharia um castigo para a vida toda.
- Hei, Becky! – Tentei parecer animado por falar com ela. Já comentei que às vezes me sinto mal por ser tão galinha?
Bem, eu realmente me sinto. Não que isso me impeça de ser um galinha, mas eu me sinto.
- Feliz natal, bebê!
“Bebê”
Cara, por que ela fala essas coisas?
Não me entenda mal, gosto muito dela, mas alguns detalhes me irritam.
Fui até a sala de jantar para conseguir ouvir melhor o que ela dizia.
- Para você também, Becky!
- Estava pensando, você volta amanhã à noite, né?
- Isso. – Apoiei meus cotovelos na janela assistindo os flocos de neve caírem em cima de nosso carro. Aquela ligação me entediava.
- Talvez nós pudéssemos fazer alguma coisa! Tenho que te entregar seu presente!
- Eu não sei, Becky. – Eu queria ver Becky, o problema era que até aquele momento, tinha esquecido completamente de comprar um presente para ela. Aposto que se ela não tivesse falado nada eu nem lembraria. Passei a última semana preocupado com outro presente. – Acho que eu vou chegar meio tarde.
- Por favor! – Ela insistiu e acabei com pena dela. Eu poderia passar em algum lugar e comprar algum presente para ela.
- Tá bem, assim que chegar em casa, vou para a sua casa!
- Ai, que bom, amorzinho! Estou com tantas saudades!
Aquilo com certeza era mentira, sabia que ela estava ficando com um estudante de intercâmbio italiano. Ele provavelmente estava com ela naquele exato momento.
Não que eu me importasse.
- Eu também estou com saudades! – Menti, mas meio que me senti na obrigação, afinal, eu que sou o namorado oficial dela. – Hei, Becky, preciso ir, meu pai tá me chamando. – Menti de novo, não agüentava mais aquela conversa. Como já falei, ela é uma garota legal e tudo o mais, mas muito cansativa. Muito mesmo. Devia ter arrumado uma namorada mais fácil de se conviver.
- Tá bom então, beijos. – Ela soava desapontada.
- Beijos.
Desliguei rápido para não correr o risco dela falar que me amava e eu ter que falar o mesmo.

Continuei ali, só assistindo a neve e tentando tirar da minha cabeça. Sempre senti aquilo por ela, mas dessa vez estava mais forte. Antes era algo controlável, agora não era mais.

- Engraçado, não ouvi ninguém te chamar, . – Me assustei com a voz dela nas minhas costas, mas estava mais do que animado por ela ter me dado atenção.
Sim, eu estava desse jeito. Parecia um filhotinho de cachorro esperando o dono parar de trabalhar para receber atenção.
Estava acostumado a ser o dono, mas aquela era uma das poucas vezes que era o filhotinho.
Virei e a vi encostada na mesa, com os braços cruzados e aquele jeito só dela de fazer eu me sentir um idiota. É uma coisa meio masoquista, mas adoro me sentir um idiota quando estou com ela.
Ri do comentário dela.
- Faz quanto tempo que você tá ai?
- Tempo suficiente para ter pena dessa tal de Becky.
Coloquei as mãos nos bolsos da calça porque sentia que se elas continuassem soltas, eu as colocaria onde não devia.
- Nem é assim. – Virei os olhos. – Sei muito bem que você é bem pior do que eu! - Ela riu alto, jogando o cabelo para trás e eu dei alguns passos em sua direção. O espaço entre nós era o mínimo. Tirei a mão esquerda do bolso e a coloquei na mesa, me apoiando entre e sua mão. Senti o perfume dela de novo e tive trabalho para não fazer nenhuma besteira. – Eu sei que você tem verdadeiros boy toys.
Ela fez a mesma coisa de novo, riu alto e jogou o cabelo, mas depois ela me olhou dum jeito que fez eu me arrepender de ter falado aquilo.
Eu me dei conta de que eu também era um boy toy dela, de certa maneira.
- O que faz você pensar essas coisas se mim, ?
- Eu tenho as minhas fontes.
Ou seja, sabia o que a mãe dela contava para a minha que me contava depois. Também sabia o que as irmãs dela contavam para a minha, que também me contava depois.
Bem, só o que sabia, era que sempre tinha algum pobre coitado apaixonado atrás dela e que ela fazia questão de ignorá-lo.
Fofoca é foda.

Eu e não nos falávamos muito. Nem pelo telefone, nem pela internet. Só nos víamos uma vez por ano e aquilo já estava bom demais. Qualquer coisa a mais poderia estragar tudo.
Sabia que ela ia direto para Londres, mas nunca me ligava.
Não que eu corresse atrás dela também.

- Você não pode confiar em tudo o que te contam, !

Não resisti e coloquei minha mão sobre a dela, me aproximei mais ainda com plena noção de que já tinha ultrapassado o “limite de segurança” muito tempo atrás. Olhei para a boca dela, que me pareceu mais atraente do que nunca. Um resto de batom, gloss ou qualquer que seja a coisa que as mulheres passam na boca deixava tudo mais irresistível ainda.
Estava ali hipnotizado quando todos foram para a sala de jantar. Entrei em pânico com medo de que pudessem ter visto alguma coisa. Dei um pulo para trás, ficando o mais longe possível de . Ela no entanto, estava mais do que calma. A única coisa que fez ao ouvir o movimento foi virar a cabeça e observar quem se aproximava. Nem o corpo ela mexeu.
Ninguém reparou nada, mas minhas mãos tremiam. Aliás eu tremia inteirinho, igual um filhotinho apavorado. Odeio ser o filhotinho.
já se sentava do outro lado da mesa, conversando com sua mãe como se nada tivesse acontecido.
Como ela pode ter tanto sangue frio?
Sentei em frente a ela e tentei ignorá-la, do mesmo jeito que ela fazia comigo, mas não consegui. Sempre acabava encarando-a, babando. Ou então, tentava puxar assuntos idiotas e todas as vezes, alguém da família se metia no meio da conversa e roubava a atenção dela. Chegava a sentir ciúmes das pessoas da sala. Queria que ela só desse atenção a mim. Eu sou fã de exclusividade às vezes, ok?

Passamos horas na mesa. Conversávamos, ríamos e no final eu já nem sentia ciúmes de ninguém.
Minha família é a mais legal.
Todos ajudamos tia Audrey a tirar a mesa e colocar a louça suja na máquina. Voltamos a nos sentar nos confortáveis sofás da sala, mas bocejei e resolvi subir para o meu quarto. Dei boa noite para todos, mas sabia que não iria dormir.
Subi as escadas e olhei para o quarto dela de novo antes de entrar no meu, aproximei-me da porta e respirei fundo para conseguir sentir o perfume que vinha de lá.
Tive raiva de mim mesmo por estar naquele estado por causa de uma garota.
Finalmente cheguei no meu próprio quarto e fui direto para o banho. O banheiro era bem parecido com o quarto e o resto da casa, todo decorado, com toalhas macias e felpudas penduradas ao lado de sabonetes cheirosos.
Demorei mais do que o normal para deixar o cabelo do jeito que eu gosto. Talvez fosse a ansiedade, mas eu também sou um perfeccionista com o meu cabelo. As garotas amam ele.
Deitei na cama e vi mensagens de texto no meu celular. Duas de Becky falando qualquer coisa melosa, uma de Alison, uma garota que mora na minha rua e é ideal para dias que não tenho nada para fazer e outra de , meu melhor amigo. Ele queria marcar um ensaio para o dia seguinte.
Eu tenho uma banda junto com meus melhores amigos, ela se chama McFly e ainda está meio que na fase de garagem, mas por pouco tempo.
Nós somos realmente bons. Somos mesmo.
Respondi para ele falando que não poderia e depois desliguei o celular. Não estava afim de acordar no meio da noite com alguma mensagem de Becky.
Senti frio por estar apenas de boxers e me cobri com o edredon. Já não nevava mais, mas o frio parecia horrível lá fora. Parecia que só de olhar pela janela eu o sentia.

Olhei para o relógio no meu pulso, já eram 3:45. Eu já devia ter subido há pelo menos uma hora. O sono estava quase me ganhando, mas sumiu segundos depois.
A porta se abriu e vi a sombra dela naquilo que ela chama de pijama, uma calcinha e uma regata justa, entrar no quarto. Ela fechou a porta e eu mal podia respirar.
- Cara, achei que eles nunca fossem dormir! – falou mas eu não conseguia vê-la, tamanho era o escuro. O que era uma pena, já que a visão dos pijamas dela eram como doces para os meus olhos. Deveria haver uma lei: todas as garotas seriam obrigadas a usar pijamas como aqueles.
Senti ela entrando debaixo do edredon e a puxei para mais perto. Ela riu e sentou-se em cima de mim.
Agora eu já conseguia ver seu rosto, pois meus olhos já tinham se acostumado com o escuro. Ela sorria numa mistura daquele sorriso controlador com um extremamente doce.
Como ela conseguia?
Só sei que era muito sexy. Muito mesmo.
Ela baixou a cabeça, mas nem consegui pensar em seu perfume dessa vez. Seus lábios carnudos estavam nos meus e nossas línguas pareciam competir para ver qual se mexia mais rápido. Acho que a dela ganhava.
Ela passava a mão pela minha barriga o que me fazia perder a respiração. Por que eu só fico assim com ela?
Minhas mãos não se decidiam entre as pernas dela e suas costas.
Tudo fazia sentido naquela hora. O porquê de eu estar tão ansioso, quero dizer. Agora que tinha ela nos braços, eu lembrava como era bom isso e como ela sempre foi minha favorita.

Não era a primeira e provavelmente não seria a última vez que eu e minha prima tínhamos uma sessão de amassos. Na verdade, desde os meus onze anos que tínhamos esse pequeno segredo. Com o passar dos natais, a coisa deixava de ser um selinho inocente para coisas no mínimo, mais avançadas. Dois natais atrás, eu deixei de ser virgem. Não sei se aquela foi a primeira vez dela também, só sei que ela parecia saber muito bem o que estava fazendo. Ah, ela sabia sim...
Ela sempre sabe o que está fazendo, de qualquer maneira.

tentava tirar minhas boxers e a ajudei com aquilo. Ela mesma tirou o pijama e eu tentei parar de beijá-la para olhar para ela com mais atenção, mas não consegui parar.
Não sei se o fato daquilo ser tão errado, ou o fato dela ser um sonho ou os dois juntos, que faziam de tudo aquilo algo tão bom.

Quando não me agüentava mais, pedi para ela pegar uma camisinha que eu tinha deixado estrategicamente no criado mudo. Fala se eu não sou um cara prevenido.
Ela abriu o pacote com o dente e ela mesma colocou lá.
Se alguém me perguntasse qualquer coisa, tudo o que eu saberia responder seria: “ ”.
Se você perguntasse o meu nome, a resposta seria “ ”.
Se você me perguntasse a data, receberia a mesma resposta.
Talvez houvessem variações, como “ ”.

Nós estávamos ofegantes e nossos corpos se mexiam no mesmo ritmo. Ela descansou a cabeça em meu peito quando acabamos, estava cansada.
Eu sou foda, mas ela é mais foda do que eu...
Eu não conseguia parar de sorrir e só o que queria era gritar.
Ela beijou meu peito e eu acariciei sua cabeça. Seu cabelo era tão macio.
Ela se levantou e esticou o corpo até o criado mudo novamente. Eu analisava cada centímetro dela, gostando mais e mais de tudo aquilo.
Ela pegou outra camisinha e sorriu para mim como quem pergunta: “Quer?”
Cara, eu tenho muita sorte em tê-la.
- Dessa vez eu fico por cima! – Tentei imitar o sorriso dela, mas sei que não consegui. Ele é único. Ela riu e deixou que eu trocasse de posição.

Estávamos ofegantes de novo alguns (muitos, ok?) minutos depois. Fiquei dando chupões no pescoço dela e depois sai de cima dela.
Ela se levantou e se sentou no sofazinho em frente a janela, provavelmente assistindo o movimento que o vento gelado causava nas árvores. Enquanto isso, eu achava o máximo ficar vendo-a nua.
Às vezes eu pareço um pré-adolescente sem experiência alguma.

- E sua banda? Já está famosa?
Ela perguntou normalmente, como se nós não fôssemos dois primos que tinham acabado de se comer e ela não estivesse pelada em frente a janela. Não que alguém fosse ver alguma coisa naquele escuro e àquela hora. Só sei que não conseguia me concentrar direito.
- Ainda não, a gente continua na fase garagem.
- Não se preocupa, todos passam pela fase garagem.
Ela abraçou os joelhos, com frio, provavelmente.
Sua pele ficava extremamente branca com a luz vindo de fora. Ela estava sem maquiagem, mas mais linda do que nunca. Seu cabelo parecia mais comprido e mais escuro com aquela luz.

- ? – Ela virou-se atenta para mim. Era tão bom ter a atenção dela só para mim. – Eu quero mais !
Ela deu uma gargalhada escandalosa e depois tampou a boca, como que com medo de que alguém tivesse ouvido. Ela voltou para a cama com o corpo gelado e fiz o meu melhor para aquecê-lo.

Quando acordei, uma luz tímida já começava a invadir o quarto. O dia seria nublado. Dias nublados sempre me deixavam meio para baixo, mas eu sorria igual a um babaca.
estava deitada ao meu lado, de costas, dormindo pesado.
Tinha que acordá-la, mas antes, tirei alguns minutos só para observar ela dormindo, respirando, essas coisas...
Senti-me um idiota completo e a acordei.
- . – Beijei sua bochecha. Ela fez uma careta. – Já amanheceu, é melhor você voltar pro seu quarto.
Ela abriu os olhos meio preocupada e conferiu que eu não estava mentindo. Ela se levantou procurando seu pijama, que achei no pé da cama, e o vestiu.
- Esse natal foi legal, !
Estranhei porque ela corou. nunca fica constrangida com nada.
- Foi sim. – Sentei na cama e a chamei para um beijo.
saiu do quarto olhando para os dois lados, procurando qualquer um que pudesse estar fora da cama e me deixou ali, em êxtase, posso dizer.

Acabei pegando no sono e só acordei quando meu pai entrou no quarto avisando que nós teríamos que ir embora mais cedo.
Qualquer problema no trabalho dele.
Não sei, não entendi direito. Nunca absorvo as coisas que as pessoas me falam logo que acordo.
Além do que, estava meio decepcionado por perder horas preciosas de .

Troquei de roupa rapidamente quando o vi pela janela já colocando algumas malas no carro. Xinguei. Queria mesmo ficar mais.
Saí do quarto prestando atenção no quarto de . A porta estava fechada. Xinguei mais ainda. Ela devia estar dormindo e eu provavelmente só a veria em um ano.

Eu costumava encarar essas despedidas duma forma melhor antes. Nos outros anos eu já tinha outra garota na cabeça, mas esse ano não.

- Bom dia, belo adormecido. – Minha tia cumprimentou toda feliz. Todos estavam lá fora, bem, quase todos. Eu era o último que faltava da minha família. – O que você fez a noite para dormir tanto?
Não pude deixar de sorrir de um jeito tarado. Graças a Deus que ninguém sabia o que eu tinha feito durante a madrugada.
Coloquei minha mala no porta malas, ficando só com a mochila nas costas.

Todos começaram a se despedir e eu ficava cada vez com mais raiva, angústia... nem sei qual sentimento era aquele. Eu só queria vê-la.
Estava abrindo a porta do carro quando ouvi a voz dela. Sei que meus olhos se arregalaram e eu sorri.
- , espera! – Ela apareceu na porta meio sem fôlego pois tinha descido as escadas correndo. Vestia um sobretudo preto que ia até a cima dos joelhos e uma espécie de galocha roxa que ia até abaixo dos joelhos. Boa combinação, aliás. Mas é o tipo de garota que pode vestir um saco de batata que continua bonita. Tenho certeza que minha cara estava patética. – Você esqueceu... – Ela fez uma pausa. Estava inventando uma desculpa. Eu me sentia privilegiado. – Você esqueceu de pegar aquela planta pro seu trabalho de biologia!
Criativa.
- Ah sim!
Ela pegou minha mão e corremos para os fundos da casa.
-Se comportem, crianças! – Ouvi minha mãe falando enquanto corríamos o mais rápido que podíamos.
Comportar. Sim. Até parece.

Atrás da casa deles havia uma espécie de bosque. Nós entramos ali correndo. pareceu se assegurar de que estávamos sozinhos e parou bruscamente, me abraçando tão forte que até caímos no chão. Nos beijamos intensamente sem nos importar de estarmos nos molhando com o resto de neve da noite anterior.
Aquilo era típico dela. Surpresas, quero dizer.

- Acho que a gente está sozinho. – Ela falou quebrando o beijo.
- É, acho que não tem ninguém por aqui!

O silêncio era completo, eu só ouvia o quanto o meu coração estava disparado.
Bosta. Coração disparado não! É muito coisa de filme!
sorria. Não o sorriso controlador, nem o tarado, nem o doce. Era simplesmente um sorriso. Eu a abracei apertado. Não queria mais soltar.
- Okay, eu não te trouxe aqui só para te dar uns pegas! – Ela falou se soltando do abraço.
- Não?
- Não. – Ela abriu o casaco com todo o cuidado, desconfio que não tinha nada além de seu “pijama” embaixo. Essa é outra coisa que gosto nela. Até com um sobretudo e uma galocha ela é sexy e sempre me faz ficar imaginando mais. De lá, ela tirou um pacote até meio grandinho, não sei como coube lá dentro. – Feliz natal! – Ela falou me entregando ele.
Depois de desenrolar metros e metros de plástico bolha, meus olhos brilharam. Ela tinha me comprado um vinil original de Entertainment!, o melhor álbum do Gang Of Four. Eu não tinha nenhum aparelho que tocasse vinil, mas essa era uma ótima desculpa para comprar um!
- ! – Nem sabia o que falar. – Isso é muito raro! Isso é o máximo! Obrigado! - Abracei-a de novo. Naquele momento, reparei que o que tínhamos não era puramente físico. Tinha comentado com ela dois natais atrás que queria esse vinil. Ela tinha se lembrado.
- De nada, ! Estava em Leeds, e vi ele bem na vitrine de uma loja de vinis. Eu não podia deixar de comprar pra você!
Ela beijou o canto da minha boca. Cara, eu amava ela. Não amava, amava, quero dizer. Só amava ela naquele momento! Ah, você entendeu...
- Você é o máximo, . - Ela corou de novo. Duas vezes em poucas horas. Inédito. – Eu também tenho uma coisa pra você!
- Sério? – Ela estava curiosa.
- Huhum. – Tirei a mochila dos ombros e de lá tirei um embrulho bem parecido com o dela. Se eu a conheço, ela falaria que eu tinha copiado a idéia dela.
Ela abriu e teve uma reação bem parecida com a minha. A diferença era que ela dava pulinhos e se abanava.
Passei a última semana inteira procurando pelo vinil do primeiro álbum do Siouxsie And The Banshees, banda favorita da , fui achar em uma lojinha empoeirada e velha em Chinatown. Mas todo o trabalho tinha valido a pena, só de ver o sorriso dela.
- Você é o máximo, . – Ela suspirou. – Mas um copião também, viu?
Nós dois rimos, principalmente eu, já que tinha certeza que ela falaria isso. E nos beijamos longamente, sabendo que demoraria para nos encontrarmos de novo.

Bem, é por isso que eu amo o natal.
Por mais que eu nunca veja a , nós sempre temos o natal.

FIM

Aeee! =)
Espero que vocês gostem!
A música do título, Always And Never, é do Silverstein!

Bem, vocês já sabem o comportamento padrão, né?
Críticas, insultos, ameaças e etc, comentem ou mandem e-mail (ali.broccoli@hotmail.com), ok dude?!

Ah sim. Leia as outras fics se tiver tempo:
Getting Into You
Getting Into You - Parte II
Getting Into You - Parte III
I Think We Are Alone Now
Revolution
Just For Now
Grey Skies Turn Blue

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PS: A Mimi é o máximo, assim como a Nat e a Ni.

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